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O Meio Ambiente Na Constituição Federal de 1988

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O meio ambiente na Constituição Federal de 1988

A Constituição representa um marco na legislação ambiental, pois além de


ter sido a responsável pela elevação do meio ambiente à categoria dos
bens tutelados pelo ordenamento jurídico, sistematizou a matéria
ambiental e estabeleceu o direito ao meio ambiente sadio como um direito
fundamental do indivíduo.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE ANTES DA


CF/88

Embora a fase de exploração desregrada dos recursos ambientais


tenha persistido ao longo da história da humanidade, o meio ambiente
tornou-se a grande preocupação de todas as comunidades do nosso
planeta nas últimas décadas, seja pelas mudanças provocadas pela ação
do homem na natureza, seja pela resposta que a natureza dá a essas
ações.

No Brasil, a proteção ao meio ambiente surge no contexto legal a


partir de diversas normas esparsas, sendo que o próprio Código de 1916 é
considerado norma percursora dessa proteção ao tratar, nos direitos de
vizinhança, do uso nocivo da propriedade.

Na década de 80, em virtude da grande influência exercida pela


Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em
Estocolmo, em 1972, houve o aumento da consciência ecológica,
intensificando, pois, o processo legislativo na busca de proteção e
preservação do meio ambiente.
Nesse contexto, quanto à legislação infraconstitucional, é
necessário a lembrança de 02 (dois) marcos legislativos: a Lei nº
6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, segundo
a qual há que se assegurar a “manutenção do equilíbrio ecológico,
considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo”,
nos termos do art. 2º, inciso I, da referida norma; e a Lei nº 7.347/85, a
qual disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos
causados ao meio ambiente, possibilitando o acesso coletivo à Justiça
para defesa do meio ambiente.

Frise-se que conquanto tenha surgido após o advento da


Constituição de 1988, a Lei nº 9.605/98, na sua qualidade de norma
infraconstitucional, merece ser destacada, visto que dispõe sobre as
sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente.

2 A TUTELA CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE

A Constituição Federal de 1988 representa um marco na legislação


ambiental brasileira, pois além de ter sido a responsável pela elevação do
meio ambiente à categoria dos bens tutelados pelo ordenamento jurídico,
sistematizou a matéria ambiental, bem como estabeleceu o direito ao meio
ambiente sadio como um direito fundamental do indivíduo. Sem olvidar que
de forma inovadora, instituiu a proteção do meio ambiente como princípio
da ordem econômica, no art. 170.

Segundo as palavras de Silva (2004), a Constituição foi, portanto, a


primeira a tratar deliberadamente da questão ambiental, trazendo
mecanismos para sua proteção e controle, sendo tratada por alguns como
“Constituição Verde”.

A referida Carta Magna aborda a matéria em apreço em diversos


títulos e capítulos, seja mediante referências explícitas ou implícitas.
Contudo, é em capítulo específico, o de número VI, em seu artigo 225, que
se encontra todo o arcabouço norteador do direito ambiental brasileiro.

Passemos, a seguir, à exposição dos principais temas relacionados


ao meio ambiente na CF/1988.

2.1 DA EQUIDADE INTERGERACIONAL

É cediço que o sentido literal da expressão “Equidade


Intergeracional” significa igualdade entre as gerações. Nesse contexto, ao
associar tal significado ao teor do artigo 225, caput, da CF/88,
compreende-se que a presente geração não pode usufruir de todo o
recurso fornecido pelo meio ambiente de modo a deixar para as próximas
gerações um saldo mínimo. Vejamos.

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Com base nisso, percebe-se que o citado dispositivo está revestido


de uma “natureza dúplice”, ou seja, o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações é, ao
mesmo tempo, direito e dever fundamental do Poder Público e de toda
coletividade.
No mais, cumpre observar que ao ser taxado de essencial à sadia
qualidade de vida, o meio ambiente tornou-se indissociável de uma vida
saudável, vinculando o ambiente equilibrado a uma condição
imprescindível para acesso à saúde.

Desse modo, oportunas são as palavras de (FERREIRA FILHO,


1997, p. 102), o qual discorre que “o direito ao meio ambiente equilibrado é
um direito de solidariedade, pertencente à terceira geração de direitos
fundamentais, provindo do direito à vida, por intermédio do direito à
saúde”.

2.2 DA OBRIGATORIEDADE DA INTERVENÇÃO ESTATAL

A Constituição de 1988 também consignou expressamente o dever


de o Poder Público atuar na defesa do meio ambiente, tanto no âmbito
administrativo, quanto no âmbito legislativo e até na esfera jurisdicional,
cabendo ao Estado adotar as políticas públicas e os programas de ação
necessários para cumprir esse dever imposto.

Assim, consoante o teor do § 1º do art. 225 da CF/1988, foram


fixadas as regras a serem obedecidas pelo Poder Público, com vistas à
efetividade dos supracitados direitos, quais sejam:

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder


Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o


manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do
País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e


seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e
a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade


potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,


métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente; 

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a


conscientização pública para a preservação do meio ambiente

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas


que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade. 

Dentro desse contexto, merece destaque o disposto no inciso IV, o


qual remete ao Princípio da Avaliação Prévia dos Impactos Ambientais
das Atividades de Qualquer Natureza.

Tal princípio preceitua a necessidade de atuação preventiva


para que se consiga evitar os danos ambientais, tendo em vista que
as agressões ao meio ambiente são, em regra, de difícil ou impossível
reparação.
Normalmente, a avaliação prévia de impactos ambientais é efetuada
por meio de Estudo de Impacto Ambiental (EIA), instrumento essencial e
obrigatório para toda e qualquer atividade suscetível de causar significativa
degradação do meio ambiente, como já dito.

Frise-se, por fim, a imprescindibilidade de transparência


(publicidade) das informações referentes ao EIA.

2.3 DA PARTICIPAÇÃO E COOPERAÇÃO COLETIVA

Apesar de a intervenção do estado ser obrigatória e indispensável


para a proteção ambiental, ela não é exclusiva. O particular também é
titular do dever de prevenção e defesa do meio ambiente, isto é, a
administração do "patrimônio" ambiental deve se dar sempre com a
participação direta da sociedade.  

Fundamentalmente, existem três mecanismos de participação direta


da população na proteção da qualidade ambiental, reconhecidos pelo
Direito brasileiro.

Em primeiro lugar, há de se mencionar a participação nos


processos de criação do Direito Ambiental, com a iniciativa popular nos
procedimentos legislativos (art. 61, caput e § 2º, da CF), a realização de
referendos sobre leis (art. 14, inc. II, da CF) e a atuação de representantes
da sociedade civil em órgãos colegiados dotados de poderes normativos.

Por conseguinte, a sociedade pode atuar diretamente na defesa do


meio ambiente participando na formulação e na execução de políticas
ambientais, por intermédio da atuação de representantes da sociedade
civil em órgãos colegiados responsáveis pela formulação de diretrizes e
pelo acompanhamento da execução de políticas públicas. Exemplo disso é
a discussão de estudos de impacto ambiental em audiências públicas (art.
11, § 2º, da Resolução 001/86 do Conama).

Finalmente, o terceiro mecanismo de participação popular direta na


proteção do meio ambiente é por intermédio do Poder Judiciário, com a
utilização de instrumentos processuais que permitem a obtenção da
prestação jurisdicional na área ambiental. Ilustrando tal ideia, tem-se a
ação civil pública ambiental da Lei 7.347/85, que possibilitou o acesso
coletivo, bem como a ação popular, art. 5º, inciso LXXII, da CF,
reconhecida esta como direito fundamental de todos os cidadãos
brasileiros.

2.4 DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA E REPARAÇÃO INTEGRAL

Consoante o estabelecido no § 3º do art. 225, da CF/1988,


determinou-se que os infratores das normas de proteção ao meio
ambiente, sejam pessoas físicas ou jurídicas, ficam sujeitos a sanções
penais, civis e administrativas. Logo, cumpre ressaltar que a introdução da
possibilidade de sanções penais para pessoas jurídicas consiste em uma
grande inovação da Carta Magna.

Com efeito, a responsabilidade do degradador pelos danos


ambientais causados é objetiva, ou seja, independentemente da existência
de culpa e pelo simples fato da atividade (art. 14, §1º, da Lei 6.938/81).
Ademais, há a imposição de reparação integral do prejuízo causado, que
tem como objetivo propiciar a recomposição do meio ambiente, na medida
do possível, no estado em que se encontrava antes da ocorrência do dano.

No mais, por ter sido recepcionado pelo dispositivo constitucional


sob análise, cumpre discorrer sobre o Princípio do Poluidor-Pagador, o
qual impõe ao degradador o dever de arcar com as despesas de
prevenção, reparação e repressão da poluição, ou seja, estabelece que o
causador da poluição e da degradação dos recursos naturais deve ser o
responsável principal pelas consequências de sua ação, ou omissão.

O principal objetivo de tal princípio é a internalização das


externalidades ambientais, isto é, dos custos de prevenção dos danos.
Permite-se que tais externalidades repercutem nos custos finais de
produtos e serviços cuja produção seja poluente.

2.5 DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE

A função social da propriedade foi reconhecida expressamente pela


Constituição de 1988, nos artigos 5º, inciso. XXIII, 170, inciso III e 186,
inciso II.

Quando se diz que a propriedade privada tem uma função social, na


verdade está se afirmando que ao proprietário se impõe o dever de
exercer o seu direito de propriedade em benefício da coletividade.

Nesses termos, ao estabelecer no art. 186, inciso II, que a


propriedade rural cumpre a sua função social quando ela atende, entre
outros requisitos, à preservação do meio ambiente, a Constituição está
impondo ao proprietário rural o dever de exercer o seu direito de
propriedade em conformidade com a preservação da qualidade ambiental.
Logo, se ele não o fizer, o exercício do seu direito de propriedade será
ilegítimo.

2.6 OUTROS TEMAS RELACIONADOS AO MEIO AMBIENTE


PRESENTES NA CF/1988
Além do art. 225 e da referência à ordem econômica, encontramos
normas relacionadas ao meio ambiente nos capítulos que tratam:

a) dos direitos e deveres individuais e coletivos, consagrando


princípios de direito ambiental internacional e a defesa dos interesses
difusos;

b) da organização dos Estados, quando trata da competência


ambiental. Neste caso, ressalte-se que a competência legislativa
concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal, em matéria
ambiental, vem definida no art. 24 da CF/1988 e, no âmbito da
competência administrativa, não se pode olvidar a recente edição da Lei
Complementar 140/2011, a qual “fixa normas, nos termos dos incisos III, VI
e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da CF/1988, para a
cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência
comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção
do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à
preservação das florestas, da fauna e da flora;

c) da organização dos poderes, estabelecendo, entre as funções


institucionais do Ministério Público, a promoção do inquérito civil e ação
civil pública;

d) da política agrícola e fundiária, bem como da ordem social.


A qualidade ambiental
A qualidade ambiental refere-se aos estudos das variações no meio ecológico e social,
que afetam o bem estar dos seres vivos, em especial dos seres humanos. Esse termo
é utilizado para caracterizar as condições ambientais segundo normas e padrões pré-
estabelecidos. Sua manutenção e a difusão de sua importância para a preservação da
vida são extremamente relevantes na sociedade contemporânea.

No Brasil o controle ambiental é implementado através de programas e ações que


buscam reduzir o impacto negativo sobre os meios físicos, biológicos, sociais e
econômicos, promovendo uma melhor qualidade de vida para a população. O controle
da qualidade ambiental brasileira é de competência do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que vinculado ao Ministério do
Meio Ambiente possui, entre outras funções, o dever de propor e editar normas e
padrões de qualidade ambiental.

Entre os programas e projetos implementados com essa finalidade encontram-se o


Programa Boas Práticas de Laboratórios (BPL), o Programa de Recursos Hídricos, o
Programa de Gerenciamento de Resíduos Perigosos, o Projeto de Gerenciamento e
Avaliação de Substâncias Químicas, o Programa Nacional do Gerenciamento Costeiro
e o Projeto de Mineração e Meio Ambiente.

O BPL é um programa que visa o credenciamento de laboratórios que realizam estudos


ambientais. Trata-se de um sistema da qualidade que diz respeito à organização e às
condições sob as quais estudos em laboratórios e campo são planejados, realizados,
monitorados, registrados, relatados e arquivados. o Programa de Recursos Hídricos,
por sua vez, atua sob a forma de ações no monitoramento da qualidade da água no
país.

O Programa de Gerenciamento de Resíduos Perigosos tem como objetivo disciplinar


em todo território nacional a produção, transporte, reaproveitamento, comercialização,
disposição final, importação para reciclagem e exportação desses resíduos,
classificados como todos aqueles que, provenientes da indústria, são inflamáveis,
corrosivos, reativos, tóxicos e passíveis de causar doenças. Já o Projeto de
Gerenciamento e Avaliação de Substâncias Químicas visa realizar estudos e formular
propostas e estratégias de estabelecimento de ações mais eficazes para o controle das
fontes de contaminação ambiental de substâncias químicas, priorizando agrotóxicos,
preservativos de madeira e produtos químicos perigosos.

Ao Programa Nacional do Gerenciamento Costeiro compete reduzir a progressiva


deterioração do Meio Ambiente ao longo do litoral brasileiro. Para tanto, estabelece
parâmetros técnicos e instrumentos que orientem o uso e a ocupação da Zona
Costeira, promovendo um ambiente socialmente justo, econômico e ecologicamente
viável. Por fim, o Projeto de Mineração e Meio Ambiente visa estabelecer estratégias e
proporcionar a realização das atividades de extração mineral, sem comprometer a
qualidade ambiental, aplicando o conceito de aproveitamento sustentado e integrado
do recurso natural.

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