Simoes, M. Da Graca M. Tese Doutoramento 2010

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1iNTRODUÇÃO

UNIVERSIDAD DE SALAMANCA
Facultad de Traducción y Documentación
Departamento de Biblioteconomia y Documentación

A representação de Etnia e a sua evolução na


Classificação Decimal Universal

Dissertação de Doutoramento apresentada por

Maria da Graça de Melo Simões

Salamanca, Setembro, 2010


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3iNTRODUÇÃO

UNIVERSIDAD DE SALAMANCA
Facultad de Traducción y Documentación
Departamento de Biblioteconomia y Documentación

A representação de Etnia e a sua evolução na


Classificação Decimal Universal

Tese submetida ao Departamento de


Biblioteconomia y Documentación, Facultad de
Traducción y Documentación, Universidad de
Salamanca, como requisito parcial para a
obtenção do grau de “Doutor em Biblioteconomia
e Documentação”.

Programa de Doutoramento: “Metodologias y


líneas de investigación en Biblioteconomía y
Documentación”
Directora: Prof.ª Doutora Blanca Rodríguez Bravo
Director: Prof. Doutor José Antonio Frias Montoya
Doutoranda: Maria da Graça de Melo Simões

Salamanca
Setembro, 2010
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5iNTRODUÇÃO

UNIVERSIDAD DE SALAMANCA
Facultad de Traducción y Documentación
Departamento de Biblioteconomia y Documentación

Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau


de Doutor em Biblioteconomia e Documentação pela Universidad de
Salamanca, Espanha.

Elaborado por Maria da Graça de Melo Simões licenciada em História, Pós-


graduada em Ciências Documentais, Mestre em Ciências da Informação.

Orientado pela Prof.ª Doutora Dª Blanca Rodríguez Bravo, Professora


Titular do Departamento de Patrimonio Artístico y Documental, Universidad
de León.

Co-orientado pelo Prof. Doutor José António Frias Montoya, Professor


Titular do Departamento de Biblioteconomia y Documentación, Universidad
de Salamanca.

Fdo:
_________________________________________________
Maria da Graça de Melo Simões, Msc.
(Doutoranda)

V o B o:
_________________________________________________
Blanca Rodríguez Bravo; Profª Doutora
(Directora)

V o B o:
_________________________________________________
José António Frias Montoya; Prof. Doutor
(Director)
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7iNTRODUÇÃO

À minha Família e aos meus


Amigos, referências primeiras da minha vida
8
9iNTRODUÇÃO

Ogni vita è un’enciclopedia, una biblioteca, un


inventario d’oggetti, un campionario di stili, dove
tutto può essere continuamente rimescolato e
riordinato in tutti i modi possibili.

Ítalo Calvino (Lezioni americane)


10
11iNTRODUÇÃ
O

Agradecimentos
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13iNTRODUÇÃ
O

A elaboração desta Dissertação teve início em Maio de 2007 e foi


concluída em Agosto de 2010. A investigação para a mesma teve lugar em
Salamanca e essencialmente, em Coimbra, onde foi redigida. Ao longo deste
período muitas foram as pessoas que me apoiaram científica e afectivamente.
Deste modo, passo de seguida, a apresentar os meus mais sinceros
agradecimentos:
À Prof.ª Doutora Blanca Rodríguez Bravo e ao Prof. Doutor José Antonio
Frias Montoya, orientadores desta dissertação e meus amigos, a quem devo
os primeiros e fundamentais agradecimentos. Pela responsabilidade científica
que imprimiram a esta investigação, pelas críticas pertinentes, pelas
sugestões de leitura e pela liberdade científica com a qual me orientaram.
Ao Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra, em
particular ao seu Presidente, Prof. Doutor José Fernando Gonçalves, por me
ter facultado todas as condições para o desenvolvimento desta investigação.
Ao Prof. Doutor João Paulo Cardielos, Professor Responsável pela
Biblioteca deste Departamento, da qual me sinto muito honrada em ser a
bibliotecária, agradeço a sua presença e o apoio incondicional que sempre
demonstrou durante o meu percurso académico, em especial nesta
investigação. Obrigado por nunca ter duvidado das minhas capacidades,
sobretudo nos momentos em que eu própria deixei de acreditar. Obrigado,
também, por ter acompanhado de forma tão estreita as actividades desta
Biblioteca e ter assegurado, sobretudo este ano, algumas das tarefas que me
competiam a mim executar, e desta forma me libertar o tempo necessário
para concluir a redacção deste trabalho.
Ao Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação da Faculdade
de Letras da Universidade de Coimbra, ao qual pertenço como Docente do
Curso de Ciência da Informação Arquivística e Bibliotecnómica, agradeço a
aquisição de algumas obras que se revelaram de interesse capital para a
elaboração deste trabalho.
Ao Doutor Pedro Góis, investigador na área da Sociologia cultural, no
CES - Centro de Estudos Sociais, por me ter facultado um conjunto de
referências bibliográficas sobre o conceito Etnia, sem as quais teria sido
14

improvável escrever o capítulo VIII deste trabalho. Agradeço ainda a troca de


impressões que me proporcionou sobre este tema tão aliciante e tão
contemporâneo.
À Prof.ª Doutora Cláudia Isabel Umbelino do Departamento de
Antropologia da Universidade de Coimbra e Colegas pela gentileza que
tiveram em rever o capítulo VIII - Etnia.
À Doutora Inês Cordeiro pelas propostas de leitura, em particular no que
respeita à Classificação Decimal Universal. Agradeço, particularmente, as
conversas que tivemos na Biblioteca Nacional sobre este tema, as quais me
permitiram reequacionar algumas ideias e estratégias.
À Prof.ª Doutora Olga Pombo agradeço a sua generosidade e gentileza
em me facultar um conjunto de artigos sobre a filosofia das classificações,
sem os quais o primeiro e segundos capítulos resultariam empobrecidos.
À Prof.ª Doutora Carmen Castro Caro pela sua orientação no Trabajo de
Grado, estudo que considero propedêutico e imprescindível, no que respeita
ao aspecto metodológico para a elaboração desta investigação.
À Dra. Teresa Pinto Mendes, por mais uma vez ter dividido comigo o seu
saber e sabedoria, o qual me permitiu, frequentemente, novas leituras sobre
o tema da investigação.
À Dra. Isabel Faria e à Dra. Maria da Graça Pericão pelas revisões e
contribuições críticas que deram a este trabalho.
À Dra. Graça Toscano e à Dra. Isabel Sampaio pelo apoio na tradução
da edição alemã da Classificação Decimal Universal (1934-1953), no que
respeita à matéria considerada neste estudo.
À Direcção e funcionários da Biblioteca Nacional de Portugal, à Biblioteca
Nacional de Espanha, à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, à
Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e à Biblioteca
do Departamento de Biblioteconomia y Documentación de la Universidad de
Salamanca, por me terem facultado o acesso à informação, sempre com o
maior profissionalismo e dedicação.
Ao Professor Doutor Mário Kruger por me ter incentivado de forma
continuada ao longo da elaboração deste trabalho, em especial nos momentos
mais delicados e vulneráveis. Agradeço a sua grande amizade e confiança
que, entre outras situações, se traduziu no convite que me endereçou para
15iNTRODUÇÃ
O

partilhar com outros Professores e Amigos deste Departamento as aulas da


cadeira de Metodologia da Investigação do 5º ano da Licenciatura de
Arquitectura.
Um agradecimento particular à Dra Sayuri Goda, minha ex-aluna e
estagiária, pela sua inestimável colaboração no tratamento técnico dos
documentos da Biblioteca deste Departamento, assim como pela sua amizade.
A todos os Colegas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
em particular às Prof.ª Doutoras Maria Manuel Borges, Maria José Azevedo
Santos e ao Prof. Doutor Hans-Richard Jahneke de quem recebi no decurso
deste trabalho as maiores e mais sinceras manifestações de apoio e amizade.
Às Prof. Doutoras Marta de la Mano e Manuela Moro Cabero pelo apoio e
ânimo que sempre me expressaram, enquanto professoras e amigas.
Aos Prof. Doutores Paulo Varela Gomes e Vítor Murtinho, meus Amigos
de sempre, pela troca de impressões, sérias e jocosas, as quais, na maioria
das vezes, me abriram e perspectivaram novos caminhos nesta investigação.
À Dra. Sílvia Damas pela dedicação e paciência na formatação deste
trabalho, nomeadamente no tratamento gráfico das suas imagens.
Aos meus alunos da FLUC e do DARQ/UC que me incutiram o gosto por
ensinar e investigar, e a quem dedico também este trabalho.
A todos aqueles que ao longo deste período privaram mais de perto
comigo, em especial os Colegas e Amigos, pelo apoio e ânimo: Graça
Toscano, Marta Rosete, Maria Rui Umbelino, Maria João Padez, Márcia Mieko,
Maria José Carvalho, Maria João Olaio, Fátima Carvalho, Carmen Galvez,
Soledad Canovas del Castillo, Maria José Martínez-Pereda, António Lopes,
Miguel Maldonado, Cristina Freitas, Joaquim de Almeida, Nuno Grande,
Anselmo, Giorgia e César, Giuseppina Raggi, Carla Ferreira e Sofia Gomes.
Um agradecimento especial à Ana Miguéis, minha Colega e Amiga, pela
sua permanente e carinhosa companhia.
À minha Família sobretudo à minha Irmã e às minhas sobrinhas, Maria e
Leonor (Nónó) por estarem sempre presentes.
Uma referência mais pessoal ao Luis, sempre meu Amigo. Agradeço em
especial todos os anos de cumplicidade. Porque acredito que a cumplicidade e
a amizade se constroem nos períodos delicados e complexos da ausência e do
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silêncio, mais do que pela obra e graça da presença, acredito que a nossa
amizade, terá sempre a dimensão do mundo. Pelas tuas “bromas y tu risas” o
meu eterno e mais carinhoso, Obrigado.
Por último, a todos os amigos, que por um capricho cruel da vida, foram
obrigados a interromper esta viagem. Pelo seu exemplo de vida e pela grande
amizade não posso deixar de mencionar a minha querida amiga Emília e o
meu amigo Miguel Faria. Obrigada, por terem existido na minha vida.
17iNTRODUÇÃ
O

Resumo
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19iNTRODUÇÃ
O

A representação de Etnia e sua evolução na Classificação Decimal


Universal

Este trabalho de investigação procura avaliar até que ponto a


Classificação Decimal Universal, possui competências credíveis para
representar conceitos complexos e evolutivos, seja a nível dos quadros
epistemológicos, seja a nível da sua estrutura. Neste sentido, o objectivo
principal deste trabalho traduz-se em avaliar o comportamento desta
estrutura de organização do conhecimento no que respeita à dinâmica sócio-
cultural do século XX, concretamente no que se refere ao conceito Etnia;
noção que dada a sua natureza evolutiva elegemos para estudo de caso. Esta
dissertação tem a particularidade de tender para uma dupla visão do objecto
de estudo que, deste modo, se manifesta sob duas perspectivas distintas,
porém complementares: uma contextualização epistemológica do objecto e
uma verificação empírica das capacidades do mesmo.
O teste às suas competências no que respeita à representação de
conceitos evolutivos, no caso particular – Etnia, será orientado, de uma forma
geral, em três direcções: ruptura, continuidade e inovação no que concerne
ao paradigma e às teorias da etnicidade que emergiram e se desenvolveram
ao longo do século XX.
Para esta demonstração apoiamo-nos em métodos qualitativos,
essencialmente, num estudo descritivo e num estudo analítico. A aplicação
desta metodologia proporcionou-nos, por um lado, a descrição objectiva dos
dados recolhidos nas cinco edições da Classificação Decimal Universal que
consideramos relevantes para este estudo, por outro, permitiu-nos uma
análise interpretativa, precisa e consistente dos resultados obtidos. Importa,
ainda, referir que a aplicação desta metodologia concorreu para conclusões
sólidas, que nos permitiram validar os objectivos aos quais nos propusemos.
Por último, cumpre mencionar que a primeira parte do trabalho, não
tendo a pretensão de ser mais do que uma reflexão crítica, sob a forma de
síntese, sobre questões relacionadas com os princípios e fundamentos das
classificações em geral e da Classificação Decimal Universal em particular,
assim como, sobre a organização do conhecimento como esteira dos sistemas
de classificação; teve como principal objectivo contextualizar o objecto de
20

estudo num quadro epistemológico e mental, no que respeita à organização e


representação do conhecimento. Para darmos cumprimento a este propósito,
procedeu-se a uma revisão bibliográfica sobre os referidos temas.
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Abstract
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23iNTRODUÇÃ
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The representation of Ethnic concept and its evolution in the Universal


Decimal Classification.

This research seeks to assess to what extent the Universal Decimal


Classification is a credible expert resource to represent complex evolutional
concepts, either at the level of epistemological frameworks, or in terms of its
structure. With that in mind, the main objective of this work is to evaluate the
behavior of this structure of knowledge organization regarding the socio-
cultural dynamics of the twentieth century, specifically in what concerns
Ethnic; concept which, due to its evolutionary nature, we elected as a case
study. This dissertation has the characteristic of tending toward a dual vision
of the object of study which, thus, manifests itself in two distinct but
complementary perspectives: an epistemological contextualization of the
subject and an empirical verification of its capacities.
The test to the subject’s competencies with regard to the representation
of evolutionary concepts in the particular case of Ethnic was guided, in
general, in three directions: rupture, continuity and innovation in relation to
paradigm and theories of ethnicity that emerged and developed throughout
the twentieth century. To demonstrate, we relied on qualitative methods,
essentially, through a descriptive study and an analytical study. This
methodology provided us with, on one hand, the objective description of the
data collected in the five editions of the Universal Decimal Classification which
we consider relevant for this study; on the other hand, it allowed us an
accurate and consistent interpretive analysis of results obtained. We also need
to mention that, this methodology helped us substantiate conclusions which,
allowed us to validate the objectives which we set out to accomplish.
These results led us to conclude that we may consider the Universal
Decimal Classification a dynamic structure of knowledge organization, as it
will adjust to the new paradigms of knowledge and to the contemporary
nature of epistemological models, adapting them to meet the frameworks of
classification. Taking in consideration its nature, and integrating it into the
Western European context, we may state that, in general, this instrument of
representation and information retrieval presents a satisfactory level, in
regard to impartiality/bias in the representation of subjects.
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25iNTRODUÇÃ
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Sumário
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O

Introdução 33
Contextualização do tema e interesses da investigação 35
Objectivos e metodologia 40
Estado da arte 44
Estrutura 46
Bibliografia 50

I Parte Classificações bibliográficas: percurso de uma teoria 53

Capítulo I. Classificar 55
1 Classificar [Definição, objectivos, características] 57
1.1 Classificar [Definição e considerações gerais] 58
1.2 Classificar, classificação e arrumar [Considerações críticas] 61
1.3 Objectivos e princípios subjacentes ao processo de classificar 68
1.3.1 Objectivos 68
1.3.2 Princípios subjacentes à operação de classificar 70
1.4 Políticas de classificação e seus condicionalismos 82
1.5 Procedimentos inerentes à operação de classificar e respectivos
instrumentos de apoio 86
1.6 Ficheiros de autoridade sistemáticos 96

Capítulo II. Classificação 99


1 Classificação [Definição, objectivos, características e estrutura lógica] 101
1.1 Definição 101
1.2 Objectivos 102
1.3 Características gerais 102
1.4 Estrutura lógica 106

Capítulo III. Organização do conhecimento 115


1 Organização do conhecimento [Apontamento histórico] 117
1.1 A organização do conhecimento [Segundo o critério da divisão] 118
1.1.1 Enciclopedismo: definição e caracterização 119
1.1.2 A organização do conhecimento [Percurso histórico] 122
28

1.2 A organização do conhecimento [Segundo o critéro da sistematização] 140


1.2.1 A classificação do conhecimento [Percurso histórico] 141
2 Enciclopedismo e classificação do conhecimento: pontos de
convergência e influências nas classificações bibliográficas 160

Capítulo IV. Sistemas de classificação percursores das


classificações bibliográficas 165
1 Classificações precursoras dos sistemas de classificação de tipo
enciclopédico [síntese geral] 167
1.1 As classificações filosóficas e as classificações científicas 168
1.2 As classificações utilizadas nos catálogos dos livreiros 170

Capítulo V. As classificações bibliográficas de tipo enciclopédico 173


1 As classificações bibliográficas de tipo enciclopédico [Considerações
históricas] 175
1.1 Os grandes sistemas de classificação bibliográfica do século XIX e
inícios do XX [Definição, função, objectivos, composição e tipologia] 179
1.1.1 Definição de sistema de classificação bibliográfica 181
1.1.2 Objectivos e função 183
1.1.3 Composição do sistema [Tabelas principais, tabelas auxiliares, índice e
notação] 184
1.1.4 Tipologia das classificações 188

Capítulo VI. Classificação Decimal Universal 219


1 CDU [Origem e contextualização histórica, definição e função, fundamentos,
características e critérios de aplicação] 221
1.1 Origem e contextualização histórica 222
1.2 Definição e função 225
1.3 Fundamentos e características 227
1.4 Composição 240

II Parte CDU: representação e evolução de um conceito - Etnia 297

Capítulo VII. Objectivos e desenho da investigação 301


1 Objectivos e desenho da investigação 303
29iNTRODUÇÃ
O

1.1 Objectivos 303


1.2 Desenho da investigação 303

Capítulo VIII. Etnia 327


1 Etnia e Grupos étnicos [Definição, caracterização e considerações gerais] 329
1.1 Etnia [Definição, caracterização e considerações gerais] 329
1.2 Grupos étnicos [Definição, caracterização e considerações gerais] 330
1.3 Teorias e paradigmas relativos à etnicidade 333
1.3.1 Teoria da assimilação 337
1.3.2 Teoria do pluralismo 339
1.3.3 Teoria do conflito étnico 342

Capítulo IX. Estudo estatístico da representação e evolução do


conceito Etnia na CDU 349

I-IX Representação e descrição estatística das classes relativas ao conceito


Etnia nas edições da CDU consideradas 351

1 Distribuição deste conceito nas respectivas classes e subclasses e


observação da sua representação percentual nas diferentes edições
da Classificação Decimal Universal (subclasses e número) 352
1.1 Manuel abrégé du répertoire bibliographique universel. 1905 352
1.2 Classification Décimale Universelle: tables de classification pour les
bibliographies, bibliothèques et archives… 1927-1933 375
1.3 Dezimal-Klassifikation: Gesamtausgabe. 1934-1953 392
1.4 Classification Décimale Universelle. 1967-1973 411
1.5 Classification Décimale Universelle. 1990-1993 (Act. em 1998) 434
2 Estudo comparativo da representação do conceito Etnia nas classes
das edições consideradas, em valores absolutos e percentuais, por
edição. 456
2.1 Descrição do comportamento das variáveis 456
2.1.1 Auxiliares de língua 456
2.1.2 Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade 459
2.1.3 Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais 461
30

2.1.4 Religião 463


2.1.5 Ciências sociais [Cada variável no conjunto das diferentes edições – termos
absolutos] 465
2.1.6 Língua 477
2.1.7 Antropologia 480
2.1.8 Literatura 482
3 Considerações finais sobre a representação e evolução do conceito
Etnia ao longo das edições considradas 486

II-IX Análise fundamentada dos resultados 488

1 Análise terminológica e análise conceptual 488


1.1 Análise terminológica: linhas de continuidade e linhas de ruptura em
relação aos paradigmas e teorias da etnicidade 488
1.1.1 Auxiliares de língua 488
1.1.2 Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade 489
1.1.3 Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais 489
1.1.4 Religião 490
1.1.5 Ciências sociais 491
1.1.6 Língua e Literatura 492
1.1.7 Antropologia 493
1.2 Análise conceptual: linhas de continuidade e linhas de ruptura em
relação aos paradigmas e teorias sobre a etnicidade 495
1.2.1 Auxiliares de língua, Língua e Literatura 495
1.2.2 Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade 502
1.2.3 Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais 504
1.2.4 Religião 506
1.2.5 Ciências sociais 508
1.2.6 Antropologia 528

Conclusões 531
Conclusões gerais 533
Conclusões específicas 541
Propostas de melhoria 547
31iNTRODUÇÃ
O

Bibliografia 551

Índice de Figuras 587

Índice de Tabelas 593

Fontes de imagens 597


Introdução 33

Introdução
34
Introdução 35

Contextualização do tema e interesses da investigação

Neste trabalho, de uma forma geral, propomo-nos estudar as


classificações bibliográficas como modelos dinâmicos de organização do
conhecimento. De entre os vários sistemas optámos pela Classificação
Decimal Universal (CDU), restringindo-nos às classes e subclasses que
representam o conceito Etnia e outros com ele relacionados. A opção deste
conceito justifica-se pelo facto de ele apresentar características evolutivas.
As classificações bibliográficas são as principais estruturas de
organização do conhecimento, seja na organização física, seja na organização
abstracta, lógica e sistemática das ideias em catálogos e integram-se nas
linguagens categoriais. Surgiram em meados do século XIX e, desde logo,
foram as principais estruturas de organização do conhecimento: de início na
organização física; mais tarde na organização abstracta, lógica e sistemática
do conhecimento que, nesta situação, se manifestou na arrumação das ideias
em catálogos. Deste modo, até meados do século XX foram consideradas as
principais estruturas da organização do pensamento, situação que se alterou
a partir de então, com a emergência das novas tecnologias. Devido a esta
nova conjuntura, as classificações foram perdendo terreno para as linguagens
documentais baseadas na linguagem natural. Por paradoxal que possa
parecer, foi com o desenvolvimento das novas tecnologias, nomeadamente
com as capacidades de gestão introduzidas pelos computadores que, na
década de 90, elas voltaram a ressurgir.
Como sempre a eficiência na localização física do conhecimento
impõe-se. O livre acesso ao documento por assunto torna-se mais pertinente
do que nunca e a necessidade premente de organizar a dispersão em que se
apresenta a informação (catálogos, bases de dados e a forma caótica de
apresentação do conhecimento na Internet) transforma as classificações em
ferramentas imprescindíveis para a organização do conhecimento por temas,
cujo critério assenta em afinidades semânticas.
A Classificação Decimal Universal (impulsionada pelo espírito universal
de solidariedade científico-cultural do séc. XIX) volta a assumir-se cem anos
depois, como um instrumento pertinente para cumprir esta função. A
vantagem relativamente a quaisquer outros sistemas prende-se com o facto
36

de este ser um sistema de classificação misto, que o torna flexível e capaz de


classificar - arrumar qualquer assunto.
Dada a sua função relevante e imprescindível na organização e
recuperação do conhecimento, levou-nos a testar a sua capacidade no que
respeita à representação de conceitos evolutivos, assim como a sua
imparcialidade na representação dos mesmos.
O projecto de investigação que se apresenta tem a particularidade de
tender para a visão do objecto sob duas perspectivas distintas, porém
complementares: uma contextualização epistemológica do objecto
(classificações bibliográficas, nomeadamente a Classificação Decimal
Universal) e uma verificação da capacidade da mesma na representação,
como já referimos, de conceitos evolutivos. O teste às suas competências de
representação, em particular no que respeita ao conceito Etnia será orientado,
de uma forma geral, em três direcções: ruptura, continuidade e inovação, no
que concerne aos paradigmas e às teorias da etnicidade.
Passamos, de seguida, a expor os interesses que nos levaram a optar
por este tema como objecto de investigação, e também o interesse que este
estudo poderá despertar futuramente na potencialização de outros trabalhos
da mesma natureza.
Dentro do domínio de especialização da nossa investigação – Análise e
representação da informação - escolhemos como área de interesse para um
estudo mais aprofundado as classificações bibliográficas e, mais
concretamente, a Classificação Decimal Universal.
Tal como referimos, o estado caótico em que se apresenta a informação
(nomeadamente em catálogos e bases de dados) faz com que as
classificações, dada a sua natureza e características, se apresentem como os
principais instrumentos de organização do conhecimento. Tal situação justifica
a pertinência de se elaborarem estudos consistentes, para aferir da
credibilidade e fiabilidade desta estrutura de organização do conhecimento, no
que respeita à sua capacidade de representação.
As razões que nos levaram a privilegiar a Classificação Decimal
Universal para um estudo mais exaustivo prendem-se com questões de
natureza utilitária e com questões de natureza científico-técnica.
Introdução 37

No que respeita à primeira, ela tem a ver com o facto deste sistema de
classificação ser o mais usado no nosso país, dado que é o sistema de
classificação utilizado e recomendado pela Biblioteca Nacional no seu papel de
Agência Bibliográfica Nacional. É também um dos sistemas mais usados nas
bibliotecas universitárias, nacionais e públicas do mundo ocidental, entre
outros factores, devido ao facto de ser um sistema de tipo enciclopédico.
Acresce ainda o facto de, ao ser um sistema com uma aplicação tão ampla a
nível geográfico, concorrer para que seja usado como uma linguagem de
permuta de assuntos. Devido a esta circunstância, é por vezes usada como
uma linguagem de interoperabilidade entre outras linguagens.
No que respeita às razões de natureza científico-técnica elas prendem-
se com o facto de entender este sistema de classificação como um dos mais
flexíveis dentro da tipologia das linguagens categoriais, apesar de, na sua
essência, ser um sistema enumerativo. A flexibilidade observada prende-se
com a sua própria estrutura, designadamente com o uso das tabelas
auxiliares, que permitem ao classificador arrumar um documento na classe
epistemológica de acordo com as necessidades mais prementes do serviço,
concorrendo, tal situação, para um compromisso mais estreito entre o
classificador e o utilizador.
Ao contrário dos outros sistemas enciclopédicos que a precederam
(Classificação da Biblioteca do Congresso e a Classificação Decimal de
Dewey), que tiveram origem essencialmente em factores empíricos e
utilitários, a Classificação Decimal Universal nasceu com preocupações
científicas e altruístas: o seu objectivo inicial era ordenar por temas a
compilação de um repertório universal de bibliografia. Nesta medida era um
instrumento de divulgação de toda a literatura cientifico-técnica que até então
fora produzida.
Ao longo dos tempos este tipo de linguagem tem sido alvo de críticas
relativamente à sua estrutura e ao seu conteúdo. Entre outras, salientamos:
os quadros epistemológicos serem desactualizados, as classes e notações que
a constituem serem rígidas; esta situação concorre para que, muitas vezes,
não seja possível representar novos conceitos e/ou o facto deste sistema ser
pouco objectivo e/ou imparcial, na representação dos mesmos. Entre as
críticas apresentadas elegemos para objecto da nossa investigação aquelas
38

que se prendem com a parcialidade e a contemporaneidade dos seus quadros


epistemológicos.
Tal como acontece com todas as outras classificações, a Classificação
Decimal Universal deve possuir mecanismos que lhe permitam representar, de
forma objectiva e imparcial, o conhecimento que é produzido ao longo do
tempo. Apenas deste modo as classificações conseguem espelhar a
mentalidade vigente numa determinada conjuntura temporal.
No nosso entender, o percurso metodológico mais fiável para comprovar
esta realidade passa pela observação e comparação das várias edições e,
mais concretamente, das suas classes. Apenas esta comparação nos permite
fazer uma análise relativamente ao comportamento deste sistema no que
respeita aos quadros mentais de uma determinada época.
A parcialidade ou imparcialidade na Classificação Decimal Universal pode
ser considerada em duas dimensões: uma relativa a questões objectivas,
outra relativa a questões subjectivas.
Relativamente às questões objectivas, elas prendem-se com a sua
própria natureza geográfica. Não podemos deixar de referir que este sistema
foi construído para representar a literatura produzida no Ocidente desde o
século XV ao século XX. Tal situação concorreu para que algumas classes se
apresentassem mais desenvolvidas, em detrimento de outras. Isto porque,
por um lado havia matérias que ainda não existiam e, por outro, se assistia
ao emergir de outras que começavam a fazer parte do ideário mental da
época. Salientamos, como caso mais paradigmático, o da Religião; nela o
Cristianismo, mais concretamente o Catolicismo, manteve-se preponderante
em relação às outras religiões até à actualidade, como poderá observar-se no
desenvolvimento deste trabalho.
No que respeita às razões subjectivas apontamos, entre outras, as que
dizem respeito às questões de natureza política e cultural. Em alguns casos,
devido a preconceitos e juízos valorativos político-culturais, determinados
temas, apesar da sua relevância numa dada época, não se encontram
representados nesta classificação com o nível de desenvolvimento desejável e
que seria de esperar.
Estes motivos concorreram para que determinássemos como principal
interesse deste trabalho o comportamento deste sistema de classificação face
Introdução 39

aos binómios parcialidade/imparcialidade e estagnação/dinâmica, no que


respeita à representação do conhecimento.
No mundo da globalização da informação, que se quer plural e
multidisciplinar, urge estudar as linguagens documentais como meios de
veicular e organizar o conhecimento, identificando as suas fragilidades e
validando as suas competências e capacidades no que se refere à
representação e recuperação da informação.
Os quadros mentais alteraram-se, o asfixiamento das matérias em
classes estanques, que serviam os paradigmas do positivismo, deixaram de
fazer sentido num mundo que se caracteriza pela mutabilidade.
Relativamente aos interesses pessoais, apraz-nos registar o interesse
que sempre nos suscitou o estudo das linguagens documentais,
essencialmente o estudo das classificações bibliográficas. Este interesse radica
no facto de sempre termos acreditado nelas como um instrumento de
garantia, pertinência e precisão na recuperação da informação por assunto,
quer seja na localização de um documento na sua dimensão física (arrumação
numa estante), quer seja na localização de um documento num catálogo ou,
actualmente, num ficheiro de um computador. Neste sentido, consideramos
as classificações bibliográficas como a estrutura de organização do
conhecimento que mais contribui para a organização física e lógica do mesmo,
reconhecendo-lhes uma dupla função no que concerne à sua organização.
O facto deste tipo de linguagem privilegiar a síntese e,
consequentemente, agrupar o conhecimento em categorias – ao contrário das
linguagens vocabulares que o dispersam - contribui para disciplinar o espírito
de quem classifica e de quem pesquisa.
Após a exposição dos interesses científicos e pessoais que nos levaram à
escolha deste tema passamos, de seguida, a referir o interesse que este
trabalho poderá trazer a futuros estudos. Começamos por afirmar que este
projecto de investigação assume particular interesse num momento em que a
organização do conhecimento se debate com a emergência de novos modelos
de representação e acesso ao mesmo. Além de algumas das novas estruturas
de organização do conhecimento, como é o caso das taxonomias e ontologias,
se alicerçarem nos princípios das classificações, listas de encabeçamentos e
tesauros.
40

Neste contexto, cumpre testar a fiabilidade e a pertinência desses


modelos, na medida em que a organização do conhecimento, para o seu
desenvolvimento sustentável, requer instrumentos de indubitável qualidade
científica e técnica. Foi a partir destas premissas que desenvolvemos uma
estratégia metodológica baseada numa dupla abordagem, conceptual e
prática do problema, capaz de dar cumprimento aos objectivos que foram
propostos.
As inovações que esperamos obter com este projecto prendem-se
essencialmente com a componente metodológica. Pensamos, através dela,
construir um novo conhecimento, baseado particularmente numa reflexão
teórica, perspectiva que consideramos essencial, como complemento aos
diversos estudos de natureza empírica produzidos ao longo do tempo - como
se demonstra na revisão bibliográfica incluída no trabalho.
Considerando ainda o aspecto metodológico, pensamos que esta
estratégia poderá servir de modelo para trabalhos análogos, que se centrem
nestes propósitos e natureza. Deste modo, será um factor de uniformidade
que concorrerá, indubitavelmente, para estudos mais coerentes e
consistentes. Também, por isto, entendemos que este projecto é um factor de
inovação.

Objectivos e metodologia

Objectivos

Após a breve contextualização anterior do tema e a exposição dos


interesses que nos motivaram ao seu estudo, passamos a apresentar os
principais objectivos do nosso trabalho:

- analisar o comportamento da Classificação Decimal Universal no


que respeita à representação da dinâmica sócio-cultural do século
XX, mais concretamente no que respeita ao conceito - Etnia.
Introdução 41

Para cumprirmos o objectivo principal tivemos que formalizar um


segundo objectivo:

- aferir até que ponto podemos considerar a Classificação Decimal


Universal como um sistema de classificação imparcial, por isso
fiável, no que respeita à representação e recuperação da
informação.

Ora, para satisfazer estas duas pretensões, de observar a dinâmica ou


estagnação deste sistema, no que respeita à representação de conceitos
evolutivos e de aferir a sua parcialidade ou imparcialidade, recorremos a um
estudo de caso. Este estudo de caso deveria reunir, entre outros requisitos, os
seguintes:

- integrar-se na realidade contemporânea;


- apresentar características próprias de um conceito evolutivo;
- poder ser analisado num período cronológico de aproximadamente
cem anos.

Assim, entre outros conceitos que poderiam ter sido escolhidos para o
nosso estudo de caso, optámos pelo conceito - Etnia, pelo facto de cumprir
todas estas particularidades e pré-requisitos.
Com base neste estudo de caso pretendemos analisar a capacidade de
resposta da Classificação Universal Decimal no que respeita à representação
deste conceito.
Avaliar o comportamento deste sistema de classificação no que concerne
às tendências de convergência e divergência, assim como às linhas de
continuidade e de ruptura relativamente à representação deste conceito
evolutivo, que se manifestou ao longo do século XX em paradigmas
(antropológico e sociológico) e em teorias (da assimilação étnica, do
pluralismo étnico e a teoria da mobilização e conflitos étnicos) é o principal
propósito deste trabalho.
42

Metodologia

Neste ponto iremos expor, de uma forma sucinta, a metodologia que


serviu de suporte ao trabalho de investigação na primeira e segunda partes.
Dadas as particularidades e complexidades construtivas que apresenta a
segunda parte, para uma maior inteligibilidade da mesma, entendemos
preencher o capítulo VII (II Parte) com os objectivos e a metodologia. Os
objectivos aí representados dizem respeito à totalidade do trabalho.
O primeiro passo geral consistiu no desenho da sua estrutura global,
que se foi ajustando naturalmente à medida que a própria investigação ia
avançando. Deste modo fomos programando as fases da investigação em
curso. O seu objectivo consistiu na planificação das acções a executar, com o
propósito de rendibilizar ao máximo o tempo e os recursos disponíveis.
A primeira fase do plano correspondeu à pesquisa bibliográfica. Nessa
etapa foram consideradas a fase do levantamento das fontes bibliográficas
que se revelaram de interesse para o desenvolvimento do trabalho, tanto na
parte teórica como na parte prática; após a sua identificação e recolha
procedemos à selecção e à respectiva descrição.
Só após termos concluído esta primeira fase, procedemos à leitura
exaustiva da bibliografia que foi seleccionada. O objectivo desta leitura
concorreu para adequar a bibliografia aos temas que pretendemos
desenvolver. Uma vez ajustadas as leituras aos temas que pretendemos
desenvolver passamos à fase da análise dos textos bem como ao seu
cruzamento, de forma a proporcionar a construção de um conhecimento novo
e consistente. Nesta etapa, a nossa atenção centrou-se também em possíveis
ideias, que poderiam servir para corroborar algumas teses já então por nós
defendidas. Desta forma, extraímos as referências textuais que se
constituíram em citações.
As citações foram registadas na língua original das obras consultadas
ou, no caso de obras traduzidas, na língua da própria tradução. Elegemos esta
opção para não deturpar o sentido das mesmas. Com o mesmo propósito, em
alguns casos, as citações excedem um parágrafo. Tal situação, no nosso
entender, contribui para o não desvirtuamento das ideias dos autores
originais.
Introdução 43

A maioria dos textos seleccionados apresentava-se em diversos idiomas,


em particular os das edições das classificações bibliográficas que constituíram
a base deste trabalho. Assim, de uma forma geral, os idiomas mais usuais são
o francês, o inglês, o espanhol e o alemão (Classificação Decimal Universal,
1934-1943).
Depois de efectuadas as leituras e a respectiva análise crítica, passamos
à redacção da tese, que incluiu a sua reestruturação, essencialmente no que
respeita à configuração dos capítulos e a toda a organização formal do texto.
A metodologia da investigação que sustenta o tema do nosso trabalho
desenvolveu-se em dois vectores, que se articulam de forma concertada entre
a primeira e a segunda partes: um de ordem teórica, outro de natureza
prática.
Para dar cumprimento aos objectivos desenhados na primeira parte da
investigação, baseamo-nos no método exploratório que assentou
essencialmente numa revisão bibliográfica que passamos a descrever com
maior pormenor no item relativo à bibliografia.
A utilização deste método permitiu-nos aprofundar e ao mesmo tempo
sintetizar os aspectos teóricos relativos a este assunto, em particular os que
se prendiam com os aspectos menos conhecidos e menos estudados.
Este método foi ainda utilizado no VIII capítulo da II Parte, quando
tivemos de apresentar as definições dos conceitos Etnia e Grupos étnicos,
assim como a descrição das teorias da etnicidade. Também este estudo se
baseou numa revisão bibliográfica.
Para dar cumprimento ao segundo propósito do trabalho, que consiste
no desenvolvimento dos objectivos do mesmo, no capítulo IX, seguimos uma
abordagem metodológica diversa.
No primeiro subcapítulo (I-IX) do capítulo IX (Representação e descrição
estatística das classes relativas ao conceito Etnia nas edições da Classificação
Decimal Universal consideradas) foi utilizado o método descritivo1, pelo facto
de nos permitir caracterizar e particularizar os aspectos que se pretendiam
analisar. Nesse sentido, o recurso a este método proporcionou a recolha dos
dados que eram objecto de análise na segunda parte do capítulo. Por fim, no

1
Este método é descrito com maior pormenor no Capítulo II da II Parte.
44

segundo subcapítulo (II-IX) deste capítulo utilizamos o método analítico2. A


aplicação deste método permitiu-nos analisar os resultados obtidos no
primeiro subcapítulo do mesmo (capítulo IX).
De acordo com a estratégia metodológica prevista e, em conclusão,
destacamos que o desenho da investigação aponta para a utilização dos
seguintes métodos: método exploratório, no que respeita essencialmente à
primeira parte do trabalho numa abordagem teórica; método descritivo e
analítico, no que respeita à segunda parte, aqui numa abordagem prática.

Estado da arte

A revisão da bibliografia efectuada para a elaboração deste trabalho


atesta a quase inexistência de estudos de análise, sistematização e de
reflexão crítica sobre a capacidade estrutural e as competências que este
sistema bibliográfico apresenta ao registar novos temas e novas atitudes face
aos mesmos. Esta situação concorreu para reforçar o interesse nesta matéria
como objectivo principal do nosso projecto de investigação.
A literatura mais actualizada mantém-se, de uma forma geral, omissa,
parca e descontínua relativamente ao assunto, o que gera algum desconforto
científico sobre o tema. Ela reflecte como as novas tecnologias têm vindo a
ter uma influência perversa, ao justificarem, em certa medida, o privilégio dos
conteúdos práticos e técnicos, cujo objecto se centra quase sempre em
estudos de caso ou em relatos de experiências localizadas, confinando-se ou
esgotando-se em artigos avulsos em publicações periódicas.
A análise crítica que concorre para uma discussão apurada onde se
coloca em relevo a problematização teórica, a discussão dos fundamentos e
dos novos paradigmas conceptuais do conhecimento, assim como a sua
formalização, é praticamente inexistente.
Para contornar esta carência, geralmente recorre-se a áreas
transversais, como é o caso das Ciências Sociais.
O conhecimento produzido nesta área das classificações bibliográficas
cinge-se, com frequência, ao domínio das questões técnicas e operacionais

2
Este método é descrito com maior pormenor no Capítulo II da II Parte.
Introdução 45

deste sistema, tendência que se verifica, de resto, na maioria da literatura


publicada ao longo de todo o século XX e nos inícios do século XXI.
A literatura produzida centra-se geralmente na procura de soluções para
resolver problemas empíricos do contexto envolvente, que concorrem para o
“limbo”, respeitante ao estudo das capacidades de resposta e eventual
imparcialidade do sistema, sobretudo na representação de temas sensíveis e
conceptualmente evolutivos, como aquele que agora propomos para estudo
de caso - Etnia.
É um facto que, relativamente ao estudo da representação da
informação, no que respeita a estudos desta natureza tais como a religião,
exclusão social, racismo e feminismo, entre outros, actualmente, vão-se
desenvolvendo e publicando trabalhos de relevante interesse científico.
Acontece, porém, que a maioria desses trabalhos são construídos no âmbito
das linguagens vocabulares combinatórias, como podemos verificar na
bibliografia que sustenta este trabalho. A título de exemplo apresentamos os
trabalhos de Berman – Prejudices and antipathies: a tract on the LC Subject
Heads concerning people (1993), de Caro Castro e San Segundo – Lenguajes
documentales y exclusión social (1999), de Norán Suárez e Rodríguez Bravo –
La imagen de la mujer en la Clasificación Decimal Universal (CDU) (2001,) e
os desta última autora sobre a situação da mulher, de que é exemplo La
integración de la mujer en los lenguajes documentales: una utopia necesaria
en la sociedad del conocimiento (2007) e The visibility of women in indexing
languages (2006). Referimos ainda os trabalhos de M. Martínez e Todaro - Las
razas en una lista de encabezamientos de materia en español (2001), assim
como a tese de doutoramento de Muñoz-Alonso - Fundamentación conceptual,
léxica, sintética y metodológica para la articulación de listas de
encabezamientos de materia: aplicación a las ciencias de las religiones
(2005).
Tal como aqui podemos observar, nenhum destes trabalhos aborda a
questão da representação dos temas nas linguagens categoriais.
Foi também esta lacuna que nos motivou a elaborar o presente estudo,
pois, como já referimos, acreditamos que estas estruturas da organização do
conhecimento têm um papel essencial a desempenhar na organização física e
lógica do pensamento.
46

Acrescente-se, como ponto de interesse adicional, a aferição de forma


metódica e sistemática do modo como este sistema se pode considerar um
instrumento fiável (imparcial) da representação do conceito de compromisso
social sustentável, como é o caso da inclusão/exclusão social, mais
concretamente no que respeita a conceitos evolutivos, neste caso particular, o
de Etnia.

Estrutura

Para darmos cumprimento aos objectivos estruturamos o trabalho em


duas partes: uma teórica e outra prática. Na primeira definimos alguns
conceitos e, sempre que se justificou, apresentamos uma reflexão crítica
sobre algumas questões teóricas imprescindíveis para o entendimento geral
do tema em questão. Deste modo, fomos construindo o enquadramento
teórico dos temas abordados. Caracterizando esta abordagem teórica
designamos a primeira parte - Classificações: percurso de uma teoria.
Nela foi nosso propósito contextualizarmos as classificações
bibliográficas na teoria geral da classificação. Com esse objectivo elegemos
para estudo alguns conceitos que foram objecto de migração, da teoria geral
da classificação para as classificações bibliográficas e, em particular, para a
Classificação Decimal Universal (CDU), que consideramos principal objecto do
nosso estudo.
Fizemos depois incidir uma reflexão mais apurada, entre outros
conceitos, sobre as noções de: método dicotómico, hierarquia, exclusividade e
exaustividade, na medida em que os consideramos imprescindíveis para o
estudo da estrutura das classificações bibliográficas, pelo que a sua omissão
concorreria inevitavelmente para perturbadoras ambiguidades conceptuais.
Abordamos ainda conceitos mais gerais, igualmente fundamentais e
relevantes para a inteligibilidade do texto, tais como Classificar e
Classificação.
Em relação ao conceito Classificar, ele foi analisado como processo,
naturalmente. Na sua análise foram considerados os aspectos estruturantes e
os objectivos teóricos inerentes ao acto de classificar completando-o com a
Introdução 47

sistematização das fases e respectivos procedimentos subjacentes a esta


operação.
No que respeita à noção de Classificação, ela foi abordada
essencialmente no que respeita aos princípios lógicos que lhe estão
subjacentes.
Dos seis capítulos que constituem a primeira parte, o primeiro e o
segundo ocupam-se dos dois assuntos precedentes. O capítulo III ocupa-se
da premência que o Homem sempre demonstrou ao longo da história em
organizar-manipular o conhecimento. Primeiro baseando-se tão só em
critérios de pura divisão, na maioria dos casos funcionais e empíricos e, numa
segunda fase, assentando em critérios de sistematização. Deste modo, o
capítulo III funciona como a base da sustentação teórico-prática dos sistemas
de classificação justificando-as num contexto histórico-mental.
Com o intuito de contextualizar as classificações bibliográficas no
percurso histórico da teoria da classificação, no capítulo IV procedeu-se à
sistematização dos seus vários estádios de evolução. Neste percurso
identificamos dois pontos de referência, que entendemos como precursores
das classificações bibliográficas, na medida em que foram grandes focos de
influência, a saber: as classificações do saber ou filosóficas (classificação dos
saberes) e as classificações científicas ou taxonómicas (classificação dos
seres). Além destas e, dada a sua influência e relevância na estrutura das
classificações bibliográficas, introduzimos ainda, neste capítulo, um ponto
relativo às classificações dos livreiros.
No seguimento desta orientação metodológica, no capítulo V procedeu-
se à análise das classificações bibliográficas de tipo enciclopédico, com
especial destaque para as de tipo enumerativo e facetadas, na medida em
que se constituíram como instrumentos incontornáveis de referência dentro
da organização do conhecimento ao longo do século XX. A sua análise incidiu
essencialmente nos seguintes pontos: breve apontamento histórico,
conteúdos, no que respeita à sua adequação aos quadros mentais e
epistemológicos da época, e estrutura. Esta análise permitiu identificar e
avaliar as vantagens, as fragilidades e os motivos que estiveram na causa da
sua decadência a partir dos meados do século XX, assim como as razões do
seu posterior ressurgimento na década de 90.
48

Concluímos a primeira parte com um breve estudo analítico-sintéctico da


Classificação Decimal Universal como estrutura de organização do
conhecimento. Dado que este sistema é o nosso objecto de estudo,
entendemos ser imprescindível a introdução de um capítulo que se ocupasse
dele. É o capítulo VI.
Este estudo comporta uma nota histórica sobre a sua origem,
salientando o espírito universal de solidariedade científica e cultural na qual
foi concebida, que se traduziu na pretensão de representar todo o ideário
epistemológico produzido até essa data num grande catálogo colectivo –
Manuel du Répertoire de Bibliographie Universelle. Neste contexto referimos a
dupla função de organizar o conhecimento, que se manifesta numa
organização física dos documentos e numa outra arrumação abstracta, que se
traduz numa arrumação lógica e sistemática das ideias em catálogos.
A apresentação dos seus fundamentos, características e estrutura serviu
como “pretexto” para identificar os pontos de convergência e de divergência
com as classificações que lhes são mais próximas.
Com o objectivo de entendermos a forma como a Classificação Decimal
Universal se integra e articula com a teoria geral das classificações,
nomeadamente no que respeita aos pontos referentes aos princípios, objecto,
objectivo e método, apresentamos as suas características.
A II Parte deste trabalho de investigação, designada CDU –
Representação e evolução de um conceito – Etnia, apresenta-se mais extensa
do que a I Parte; todavia, contém um número mais reduzido de capítulos. Ela
é formada por três capítulos (VII; VIII e IX), sendo o último constituído por
dois subcapítulos.
Embora procurando equilibrar o número de capítulos, como é desejável
num trabalho desta natureza e procurar uma equidade relativamente ao
número de páginas que os compõem, tal situação revelou-se desadequada.
Ao fazê-lo iríamos fracturar os assuntos, facto que iria concorrer,
inevitavelmente, para a ininteligibilidade da matéria, que se quer
conceptualmente una e consistente.
Nesta II Parte foi nosso propósito formalizar e testar a teoria exposta na
I Parte do trabalho.
Introdução 49

Assim, o capítulo VII encontra-se preenchido com os objectivos do


trabalho e com o desenho metodológico, que aqui se apresenta sob uma
forma específica e exaustiva, dada a complexidade e minúcia dos
procedimentos que tivemos de levar a cabo para dar cumprimento aos nossos
objectivos.
O capítulo VIII ocupa-se das definições e caracterização dos conceitos
Etnia e Grupos étnicos, bem como da descrição dos paradigmas e teorias da
etnicidade. Esta apresentação justifica-se na medida exacta em que ela
constitui a matéria-base sobre a qual se irá proceder à análise dos dados que
são compilados e descritos no capítulo IX. Assim sendo, é um pilar
imprescindível para a elaboração das conclusões. Apenas partindo da matéria
apresentada neste capítulo é possível observar até que ponto a Classificação
Decimal Universal, através da sua estrutura e dos seus conteúdos, se pode
considerar um instrumento eficaz de representação do novo conhecimento,
que é o produto das novas atitudes mentais e dos novos paradigmas
cognitivos emergentes.
O capítulo IX, sendo o mais extenso de todo o trabalho, ocupa-se do
estudo estatístico da representação e evolução do conceito Etnia na
Classificação Decimal Universal. Este encontra-se dividido em dois
subcapítulos, a saber: I-IX – Representação e descrição estatística das classes
relativas ao conceito etnia nas edições da Classificação Decimal Universal
consideradas, e o subcapítulo II-IX - Análise fundamentada dos resultados.
De uma forma sucinta referimos que o subcapítulo I-IX apresenta, num
primeiro ponto, a distribuição do conceito Etnia nas classes deste sistema de
classificação, assim como a sua representação numérica nas referidas classes
das diferentes edições da Classificação Decimal Universal.
Num segundo ponto apresenta-se, de forma objectiva, embora
exaustiva, o estudo comparativo da representação deste conceito nas classes
das diferentes edições, quer em valores absolutos, quer em valores
percentuais. Este ponto descreve o comportamento individual de todas as
variáveis que foram consideradas para esta investigação.
Concluímos este subcapítulo (I-IX) com um terceiro ponto no qual são
apresentadas as considerações finais da representação e evolução do conceito
Etnia.
50

Este bloco de três pontos, que constitue o subcapítulo (I-IX), é


essencialmente suportado por tabelas e gráficos elaborados para este efeito.
O subcapítulo II-IX que, como já referimos, designamos de Análise
fundamentada dos resultados, divide-se, em dois pontos, a saber:

- análise terminológica: linhas de continuidade e linhas de ruptura


em relação aos paradigmas e teorias da etnicidade;
- análise conceptual: linhas de continuidade e linhas de ruptura em
relação aos paradigmas e teorias da etnicidade.

Tal como o nome indica, neste subcapítulo iremos proceder à análise


dos resultados decorrentes dos dados recolhidos, com vista a formalizar as
conclusões que irão dar resposta aos objectivos inicialmente propostos.

Bibliografia

Para o desenvolvimento do plano de estudo relativamente ao conteúdo,


foram privilegiados, essencialmente, dois tipos de obras: aquelas cuja
abordagem do tema proposto se centra na reflexão teórica (estas obras
encontram-se orientadas para a I Parte) e as obras cuja abordagem do tema
proposto se centra em questões de natureza técnica (estas foram
contempladas essencialmente na II Parte).
Assim, para darmos cumprimento aos objectivos desenhados na
primeira parte da investigação, procedeu-se a uma análise criteriosa da
seguinte tipologia de fontes bibliográficas:

a) monografias (manuais e obras específicas (teses e actas de


congressos);
b) artigos de periódicos da especialidade.

Tal como se pode observar nas referências bibliográficas, a bibliografia


consultada situa-se, como não poderia deixar de ser, no campo das Ciências
da Informação, particularmente no que respeita à Representação da
Introdução 51

Informação. Todavia e para completar este estudo foram ainda consultadas


obras das seguintes áreas transversais: Sociologia, Filosofia, (Epistemologia)
História, Antropologia, Geografia, Linguística e Direito.
Em relação à primeira parte, é extenso e diverso o leque de bibliografia
que foi consultado, como se poderá observar não só nas referências
bibliográficas como também nas citações que se encontram ao longo do corpo
do texto.
Assim, na parte teórica recorremos a obras de autores que se
impuseram nesta área pelos seus estudos teóricos, que se situam
preferencialmente entre os anos 60 e 80 do século XX. Entre outros
salientamos, por exemplo: E. J. Coates, A. C. Foskett, Jacques Chaumier,
Sayers, Svenorious, Vickery, Bakewell, Buchanan e Yves Courrier.
Sempre que nos foi possível recorremos às primeiras edições, às obras
originais. Por este facto, as referências bibliográficas abarcam num período
cronológico extenso, que vai desde o século XVI ao século XXI. No período
mais remoto encontramos as obras dos filósofos que nos serviram de base ao
capítulo III, aquele que é relativo à organização do conhecimento, tais como
Juan Huarte de San Juan (séc. XVI), Francis Bacon (séc. XVII) e Buffon (séc.
XVIII).
Nas situações em que não nos foi possível consultar os originais ou as
primeiras edições recorremos naturalmente a traduções e a edições recentes.
Tal foi o caso das obras de Aristóteles, Porfírio e Lineu.
No que respeita aos autores que foram consultados e cujas edições se
situam nos finais do século XIX e inícios do XX salientamos, pelo seu relevo e
influência no mundo das classificações, as obras de La Fontaine e Paul Otlet,
assim como as de Bliss e de Ranganathan.
Muitas outras obras cujas edições datam dos finais do século XX e inícios
do século XXI nos serviram de apoio para sustentar todo o conhecimento que
foi apresentado na primeira parte deste trabalho.
Na parte prática, (II Parte) que se traduz na abordagem específica de
um estudo de caso – CDU: Representação e evolução de um conceito - Etnia
foram abordadas essencialmente cinco edições distintas deste sistema
classificativo, que foram publicadas nos seguintes anos: 1905, 1927-1933,
1934-1953, 1967-1973 e 1990-1993 (este último com as respectivas
52

actualizações de 1998). Todavia, além desta bibliografia específica, de uma


forma geral podemos dizer que, sempre que possível e necessário,
recorremos a todo o tipo de literatura que contribuía com informações
adicionais para a problemática estudada. Assim, para uma melhor
compreensão da estrutura e da filosofia deste sistema de classificação,
recorremos ainda a algumas obras de autores que se debruçaram sobre ele.
Estas leituras proporcionaram-nos uma ideia globalizante sobre a
Classificação Decimal Universal enquanto estrutura de representação e
recuperação do conhecimento. Permitiram-nos também contextualizar e
posicionar este sistema de classificação relativamente aos outros sistemas. De
uma forma geral, este estudo também nos proporcionou uma apreensão
global das suas vantagens e das suas fragilidades, que viemos a encontrar
nesta investigação prática.
Apenas através desta orientação bibliográfica, completada com a
metodologia escolhida, foi possível chegar a conclusões relevantes, que
permitiram identificar e construir novos pontos de referência. Eles
permitiram-nos reconhecer os principais pontos de ruptura, inovação e
continuidade da Classificação Decimal Universal no que respeita à
representação dos novos modelos epistemológicos. Ainda nesta II Parte foram
privilegiados outros tipos de fontes bibliográficas; para o capítulo VII foram
consideradas obras sobre metodologia e técnicas de investigação. A consulta
destas obras permitiu-nos optar pelos métodos que melhor se adequavam ao
objecto do nosso estudo e que melhor se ajustavam ao cumprimento dos
respectivos objectivos.
Para desenvolvermos a matéria que preenche o capítulo VIII, relativo ao
conceito Etnia e às teorias da etnicidade, foram privilegiadas obras no âmbito
da antropologia cultural e da sociologia. Estas obras permitiram ter uma visão
global e, em alguns casos pormenorizada, do assunto abordado. Como é um
tema de grande actualidade optámos por obras que foram publicadas
essencialmente na primeira década do século XXI.
53

I Parte
Classificações bibliográficas: percurso
de uma teoria
54
Classificar 55

Capítulo I
Classificar
56
Classificar 57

1 Classificar [Definição, objectivos, características]

Antes de iniciarmos o estudo das classificações em geral e dos sistemas


de classificação bibliográfica, em particular no que respeita à sua
contextualização na organização do conhecimento e na sistematização do
mesmo, importa referir e comentar o conceito - Classificar. Tal facto, deve-se
à circunstância de este conceito se encontrar estreitamente relacionado com
os conceitos de sistema de classificação e com o próprio conceito de
classificação, considerado em si mesmo. A cumplicidade da sua relação
traduz-se, na prática, em termos de complementaridade.
No plano prático um conceito não sobrevive sem o outro. Neste sentido,
entendemos ser imprescindível para um entendimento inequívoco de toda a
matéria a introdução, de um primeiro ponto, no qual fique claro o conceito de
– Classificar e todas as suas vicissitudes.
Entender este conceito, quanto ao seu sentido semântico, assim como
entender a sua manifestação prática, manifestação essa que pressupõe, a
priori, o uso de um sistema de classificação é, de forma indirecta,
proporcionar o conhecimento de toda a dinâmica de um sistema de
classificação. O sistema de classificação apenas cumpre a função para a qual
foi concebido quando é usado no processo de classificar. Neste sentido, pode
dizer-se que um sistema de classificação que não se adapte a esta condição é
um sistema inanimado.
Salvaguardada a identidade semântica e as suas particularidades
funcionais, cada um dos conceitos - Classificar e Classificação, na prática,
diluiu-se aparentemente, nomeadamente no que respeita aos seus objectivos.
Por esta razão, assumiu-se justificável e indispensável, a introdução do
conceito de classificar logo no primeiro ponto deste estudo.
Deixar claras as especificidades e complexidades conceptuais deste
conceito, assim como as relações de afinidade com outros conceitos
semanticamente vizinhos, é um dos objectivos da primeira parte deste
trabalho.
A reflexão crítica sobre este assunto, é no nosso entender, garante da
precisão terminológica e semântica, que se pretende e se exige num trabalho
desta natureza.
58

1.1 Classificar [Definição e considerações gerais]

Buchanan3 define Classificar como:

[…] the acte of grouping like things together. All the members of a
group – or classe – produced by classification share at least one
characteristic which members of other classes do not possess.

Para Vickery4, esta operação consiste em:

[…] putting together things or ideas that are alike, and keeping
separate those that are different.

Partindo destas definições podemos inferir que este processo consiste na


identificação dos objectos particulares com um grupo de objectos que
possuem características homogéneas, ao mesmo tempo que os identifica
individualmente como parte constituinte desse grupo. Neste sentido, podemos
afirmar que esta operação se traduz na ordenação dos objectos sob uma
mesma perspectiva conceptual.
O acto de classificar é uma operação tão natural que, como Maniez5
refere, podemos dizer que ela nasce de uma prioridade inconsciente do
Homem:

La clasificación es un acto mental que practicamos a diario casi sin


darnos cuenta, de tan natural como es.

A necessidade de organizar segundo uma classificação concorre para


que, na maioria dos casos, se utilizem quadros classificatórios, muitas vezes
construídos de forma inconsciente e baseados em critérios pragmáticos.
De acordo com esta ideia encontramos Buchanan e Seyers. O primeiro,
tal como Maniez, entende que classificar é essencialmente um processo
mental, um recurso intelectual, ao qual o Homem recorre diariamente, muitas

3
BUCHANAN, Brian – Theory of library classification. 1979. P. 9.
4
VICKERY, Brian C. – Classification and indexing in science. 1975. 3rd ed. P. 1.
5
MANIEZ, Jacques – Los lenguajes documentales y de clasificación. 1993. P. 19.
Classificar 59

vezes de forma inconsciente.6 O segundo considera este processo como: […]


el acto primário que realiza la mente para identificar todo el objecto7.
Neste sentido, podemos entender o processo de classificar como uma
actividade mental que o ser humano exerce sobre entidades físicas e
abstractas, de um modo natural e/ou consciente, por forma a agrupá-las,
tendo em conta as suas semelhanças de acordo com um determinado critério.
Classificar assume-se como um acto imprescindível à organização do
universo.
Esta actividade é provocada pela necessidade que o Homem tem de
possuir modelos mentais de referência que lhe possibilitem orientar-se o mais
comodamente possível no universo em que está inserido. A este propósito,
Foucault8 refere que as classificações funcionam no quotidiano do Homem
como:

[…] códigos fundamentais de uma cultura, [...] fixam logo de


entrada para cada homem, as ordens empíricas com que ele há-de
contar.

A ideia de que classificar é um acto natural do Homem, indispensável às


relações que se estabelecem entre si e o mundo que o rodeia, assumindo-se
estas como garante do bem estar e conforto físico e mental do ser humano, é
corroborada por Olga Pombo, quando reconhece as classificações como
esquemas sistémicos naturais e imprescindíveis ao Homem. A este propósito
refere o seguinte:

Na verdade, nada nos parece mais "natural", óbvio e indiscutível


que as classificações dos entes, dos factos e dos acontecimentos
que constituem os quadros mentais em que estamos inseridos.
Elas constituem os pontos estáveis que nos impedem de rodopiar
sem solo, perdidos no inconforto do inominável, da ausência de
"idades" ou "geografias". Só elas nos permitem orientar-nos no

6
BUCHANAN, Brian – Theory of library classification. 1979. P. 10-11.
7
Apud: LASSO DE LA VEGA, Javier - Tratado de biblioteconomia…, 1956. P. 348.
8
FOUCAULT, Michel – As palavras e as coisas. 2005. P. 51-52.
60

mundo à nossa volta, estabelecer hábitos, semelhanças e


diferenças, reconhecer os lugares, os espaços, os seres, os
acontecimentos; ordená-los, agrupá-los, aproximá-los uns dos
outros, mantê-los em conjunto ou afastá-los irremediavelmente.9

O acto de classificar possibilita ao Homem não apenas ordenar os


objectos, mas também, e simultaneamente, consciencializar-se de que os
consegue dominar. O próprio acto de classificar os objectos possibilita ao
Homem o poder de os manipular e deles se apropriar. Esta situação ocorre
devido ao facto de a operação de classificar pressupor, à partida, a
manipulação dos mesmos, sobretudo quando considerados na sua perspectiva
formal.
A necessidade de classificar é uma prática que ultrapassa a própria
dimensão humana. Numa tentativa de criar uma determinada ordem no caos,
podemos ler na Bíblia no Livro do Génesis, que Deus, logo que criou o Mundo,
sentiu a necessidade de classificar os seus elementos. No cumprimento deste
Seu propósito, classificou os animais segundo as suas espécies.

Deus criou os grandes peixes, e todos os animais que têm vida e


movimento, os quais foram produzidos pelas águas, segundo a sua
espécie, e todas as aves segundo a sua espécie […] Que a terra
produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais
domésticos, répteis e animais ferozes, segundo as suas espécies
[…] e todas as árvores, que encerram em si mesmas a semente do
seu género […]10

E ainda, de acordo com o princípio da ordenação, no mesmo texto, na


passagem relativa a Noé e à Arca, Deus ordena a Noé que leve consigo dois
animais de cada espécie, um macho e uma fêmea. Sendo que estes animais
deviam pertencer a uma das duas classes mais abrangentes: à classe dos
animais puros ou à classe dos animais impuros.

9
POMBO, Olga – Da classificação dos seres à classificação dos saberes. [Consult. 3 Nov. 2008]
Disponível em www:<URL:http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/resources/opombo.classificação.pdf
10
Génesis, I, 21, 25, 29.
Classificar 61

1.2 Classificar, classificação e arrumar [Considerações


críticas]

Os conceitos, classificar, classificação e arrumar, na prática são com


frequência considerados para-sinónimos uns em relação aos outros. Esta
situação resulta do facto de as suas fronteiras semânticas serem ténues e de
todos três serem complementares, a ponto de não fazerem sentido uns sem
os outros.
Na sua forma mais elementar, o processo de classificar expressa-se
numa sucessão de dicotomias. Estas dicotomias traduzem-se no agrupar em
conjuntos todos os conceitos com base no critério de afinidade, separando-os
de outros diferentes que irão, por sua vez, constituir outros grupos
homogéneos. Os objectos que constituem estes grupos, através do mesmo
procedimento, poderão ser sujeitos ao mesmo processo dicotómico tantas
vezes quantas forem necessárias.
Partindo da ideia de que este processo se caracteriza por ser um acto
mental, Lasso de La Vega11 na linha de outros autores, entende que este
conceito se traduz no seguinte:

Proceso mediante el cual la razón, ayudada por la memoria,


reconoce las analogías y las diferencias de todas las cosas que
percibimos y concebimos y las ordenamos por alguno de sus
caracteres en grupos o clases en las que tales parecidos y
diferencias aparecen.

Com base nas ideias apresentadas sobre este processo podemos


concluir que, na prática, ele consiste em associar objectos idênticos,
separando-os simultaneamente de objectos diferentes.
Desta ideia comunga Brown,12 ao definir classificar como:

11
LASSO DE LA VEGA, Javier - Tratado de biblioteconomia…1956. P. 348.
12
Apud: Ibidem.
62

[...] un proceso de la mente en cuya virtud las cosas se agrupan


conforme a sus grados de semejanza y se separan de acuerdo con
sus grados de diferencia.

Partindo do princípio da exclusão, os elementos que constituem um


determinado grupo terão de possuir uma ou mais características comuns que
não sejam observadas em nenhum dos outros elementos que formam outro
grupo.
Deste processo de comparação mental resultam grupos de objectos que,
na sua essência, formam sistemas unitários coerentes e estruturados,
estrutura essa que é provocada pelos vários níveis hierárquicos que se
estabelecem entre os objectos que constituem esses grupos. Nesta situação
e, na maioria dos casos, os grupos encontram-se estruturados em subgrupos.
A esta estrutura de conceitos ordenada hierarquicamente que resulta do
processo de classificar chamamos sistema de classificação.
Na prática, por vezes, o conceito de classificar dilui-se no conceito de
classificação e vice-versa, o que demonstra uma grande falta de rigor
terminológico e conceptual.
Além de se entender a classificação como um esquema onde, grosso
modo, se encontra distribuído um conjunto estruturado de conceitos, também
é frequente, na prática, designar, a operação de atribuir um código a um
conceito - classificação.
No nosso entender, apesar desta “promiscuidade” semântica, os dois
conceitos são distintos.
Entendemos por classificar um processo; e por classificação um
instrumento que serve para classificar e, ao mesmo tempo, um produto que
resulta do processo de classificar.
Esta definição, que entendemos para estes dois conceitos, apresentados
num âmbito geral, é também aplicada num contexto específico, como é o caso
da área das Ciências da Informação.
Uma vez transpostos para este plano específico e teórico, o conceito
classificar será sempre entendido como um processo mental de organizar
informação, enquanto o conceito classificação será entendido como um
instrumento que serve para representar e recuperar informação.
Classificar 63

Como já referimos, sendo diferentes na sua natureza, na prática por


vezes há tendência para os sobrepor; isto deve-se ao facto de eles serem
semanticamente intrínsecos e complementares.
É o caso de Emile Littré13 (1801-1881), que no seu dicionário de Língua
francesa, num primeiro plano, distingue os conceitos: Classement,
Classification e Classifier, e num segundo momento, atribui aos dois últimos o
mesmo significado, considerando-os, nesta medida, conceitos equivalentes.

Classement - Le classement est l’action de ranger effectivement


d’après un certain ordre.

Classification – La classification est l’ensemble des règles qui


doivent présider au classement effectif ou qui déterminent
idéalement un ordre dans les objets. – E. Classifier.

Classifier – Faire, établir des classifications. Ranger suivant un


ordre de valeur ou temps.

Esta situação ocorre pelo facto de a própria classificação, como já


observamos, resultar do acto de classificar e de, no próprio acto de classificar,
se usarem sistemas de classificação. O processo de classificar, actividade
empírica - intelectual, pressupõe sempre, para a sua plena concretização, algo
que é, no concreto, um produto de si própria: um esquema de classificação.
A circunstância, de na prática, como já referimos, designarmos ao processo
de atribuição de códigos extraídos de um esquema de classificação, aos
conteúdos dos documentos, classificação, prende-se com o facto de o
processo de classificar se esgotar na atribuição de um código.
Nesta perspectiva, e partindo de um plano teórico, podemos dizer que
ao processo de atribuição de códigos a um conceito e/ou conjuntos de
conceitos que se encontram associados mentalmente corresponde a ideia de
classificar.

13
LITTRÉ, Emile - Dictionnaire de la langue française. 1956-1958. Vol. 2. P. 378-379.
64

O sistema onde se integram os códigos que utilizamos nessa actividade,


assim como ao produto que resulta do acto de classificar, designamos
classificação.
Com esta orientação de pensamento identifica-se Maniez,14 quando
define os dois conceitos da seguinte forma:

Clasificación:

es la acción de distribuir en varias clases, generalmente disjuntas,


un conjunto de objetos;
por otra parte, también es el producto resultante de la operación
precedente cuando esta desemboca en un sistema coherente y
estructurado

Clasificar:

es la operación intelectual por la cual el documentalista atribuye a


una obra un indice correspondiente a una clase de materias,
utilizando un lenguaje de clasificación.

A noção e distinção entre classificar, classificação e arrumação,


encontra-se presente, na literatura francesa e inglesa, embora, por vezes, de
forma implícita e confusa, estas definições numa e noutra, apresentam ainda
algumas particularidades. Para esta confusão concorre o facto de algumas
vezes, as distinções destes conceitos serem feitas a partir de fundamentos de
ordem prática.
Assim, e de acordo com Bernaténé, as noções arrumação e classificação
correspondem, a classement e classification,15 respectivamente.

14
MANIEZ, Jacques – Los lenguajes documentales y de clasificación. 1993. P. 23.
15
BERNATÉNÉ, Henri. – Comment concevoir, réaliser et utiliser une documentation. 3ème éd. rev.
et augm. 1955. P. 27-28. V. tb. DUBUC, René – La classification décimale universelle: manuel
pratique d’utilisation. 1964. P. 3-5.; MEETHAM, Roger – Information retrieval. 1969. P. 84-96.;
MANIEZ, Jacques – Los lenguajes documentales y de clasificación y utilización en los sistemas
documentales. 1992. P. 19-21.
Classificar 65

Cependant il ne faut pas confondre classification et classement. La


première est la détermination du cadre intellectuel dans lequel
seront enfermées les notions retenues, alors le second est la mise
en ordre matériel des documents conservés dans le but de les
retrouver en fonction du plan de classification adopté.

Nesta perspectiva, podemos referir que: Classement corresponde a uma


ordenação física dos documentos que foram previamente classificados por
assunto; Classification corresponde ao processo intelectual de atribuição de
um código extraído de um sistema de classificação.
Observando nós uma distinção explícita entre os conceitos arrumação e
classificação, essa distinção já não é observada no que respeita a classificação
e a classificar. Para este autor, e pelo que se pode inferir deste excerto, estas
duas noções aparecem difusas e diluídas uma na outra.
Também para Richard Roy, os conceitos de classificar e arrumar são
inequívocos, ao ponto de ele afirmar de forma categórica, que: Classifier n’est
pas classer.16
Este autor identifica a operação de Classer com a arrumação física dos
documentos, e a de Classifier com o próprio processo de classificar.
Com base no pensamento destes dois autores, podemos concluir que
existe uma distinção clara entre classificar e arrumar, mas eles não referem a
diferença entre classificar e classificação, pelo que se infere que consideram
os dois conceitos como equivalentes.
Os ingleses, por seu lado, fazem a distinção entre os conceitos
Classification e Order mas, tal como os franceses, não fazem qualquer
distinção entre Classification e Classify.

Classification (s)17 - The action or process of classifying something


or of being classified.

Classify (v.) – To arrange something in categories or groups.

16
ROY, Richard – Classer par centres d’intérêt. (1986) 225.
17
HORNBY, A. S. - Oxford advanced learner’s dictionary of current English. 1995. P. 204.
66

Order – The way in which people or things are placed or arranged


in relation to each other.18

Assim, Classification e Classify correspondem, na prática, ao próprio


acto de classificar os assuntos que constituem o conteúdo dos documentos,
enquanto que o conceito Order se refere à arrumação física dos documentos
classificados por assunto.
A leitura desta posição vai ao encontro da posição francesa. Nela
encontramos apenas a distinção entre Classification (acto de classificar) e
Ordering (ordenar fisicamente). Todavia não faz a distinção entre
Classification e Classify.
Desta forma e, segundo o exposto, infere-se que existem dois conceitos
distintos, todavia indissociáveis, e que se projectam em duas dimensões: uma
que se prende com o aspecto mais teórico, que é traduzida nos termos –
Classifier e Classification, em francês e Classification e Classify em inglês.
Outra que se prende com o aspecto mais prático, que é expressa nos termos
– Classer e Order.
A segunda dimensão insere-se no espírito das primeiras classificações
bibliográficas, como a Classificação da Biblioteca do Congresso, cujo objectivo
era arrumar e ordenar as obras nas estantes por matérias; esta dimensão
limitava-se à Order.
A primeira, numa dimensão mais abstracta e intelectual, refere-se à
classificação das próprias noções do conhecimento, Classification.
Para concluirmos, referimos que na língua portuguesa, e na própria
prática, pouco ou nada se infere das posições expostas; nelas entende-se por
classificação:19

Acção ou resultado de classificar; acção de distribuir por classes,


por categorias […], segundo critérios precisos.

Entende-se por classificar20 o acto de:

18
Ibidem. P. 816.
19
ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA - Dicionário da língua portuguesa, 2001. Vol. 2. P. 837.
20
Ibidem.
Classificar 67

Reunir em classes ou em grupos, com características semelhantes,


segundo um sistema ou método e atribuir uma designação a cada
grupo constituído.

Tal como acontece na língua francesa e na inglesa, na prática, na língua


portuguesa, estes conceitos são também equivalentes.
Na prática, devido a essa afinidade semântica, generalizou-se que o
conceito classificação tem o mesmo sentido do conceito classificar - ordenar
segundo um esquema pré-estabelecido, sendo que, em algumas situações, o
próprio acto de classificar origina a própria classificação, entendida como um
plano, um instrumento.
Relativamente ao conceito de arrumar, a distinção entre este conceito e
os outros dois, como já observámos, é pacífica e explícita.
Segundo o filósofo Perelman,21 o acto de classificar concorre para duas
dimensões distintas em relação ao mesmo objecto: uma de índole pragmática
– arrumação, outra de índole especulativa – classificação.

À partir de l’effort de classer, c’est-à-dire de mettre en ordre des


objets afin de les identifier et de les retrouver facilement, on
aboutit à une double activité: le classement et la classification.

A primeira dimensão, a arrumação na prática, consiste em fazer


corresponder os objectos a uma determinada ordenação estabelecida a priori.
Como refere Perelman,22 na maioria dos casos esta dimensão é condicionada
pelos elementos externos dos objectos como, por exemplo, a sua dimensão.

Souvent d’ailleurs le classement sera conditionné par des éléments


purement extérieurs, tels le poids ou les dimensions, car ce que
l’on y recherche avant tout est la facilité, la maniabilité, des
préoccupations d’ordre pratique.

21
PERELMAN, C. H. – Réflexions philosophiques sur la classification. 1963. P. 231.
22
Ibidem.
68

Segundo este filósofo, na generalidade os critérios subjacentes à


arrumação são ditados por necessidades de ordem prática. Na dimensão
prática o objectivo da arrumação concorre para a identificação de um objecto
particular no menor espaço de tempo possível.
De uma forma geral, podemos dizer que o processo de arrumação, quer
seja a nível de objectivos, quer seja a nível de procedimentos se esgota em
pressupostos de natureza prática.
Esta situação, contudo, não se transpõe para o acto de classificar que,
antes de tudo, é um procedimento que se alicerça em pressupostos mentais,
como verificámos ao longo desta breve exposição.

1.3 Objectivos e princípios subjacentes ao processo de


classificar

Antes de definirmos as políticas e os condicionalismos inerentes ao


processo de classificar, importa apresentar os objectivos e os princípios
teóricos que lhe estão subjacentes.

1.3.1 Objectivos

Da matéria exposta nos pontos (1.1 e 1.2) infere-se que o acto de


classificar tem dois objectivos: um de ordem eminentemente prática, outro de
ordem teórica. Traduzem-se do seguinte modo:

a) Arrumação física dos documentos na estante.

A arrumação dos documentos na estante esteve na base do surgimento


dos grandes sistemas bibliográficos no século XIX, como iremos observar no
desenvolvimento do capítulo IV.
A arrumação dos documentos nas estantes por assuntos tornou-se,
desde cedo, numa prioridade, que as classificações vieram colmatar.
Classificar 69

Relativamente à relação entre a classificação e os livros, Richardson,


bibliotecário da Biblioteca do Congresso, afirmava o seguinte:

[...] os livros são colecionados para uso; são arranjados para uso,
e o uso é o único motivo da classificação.23

Não podemos deixar de referir que a política do livre acesso teve, desde
logo, um papel preponderante na arrumação das obras por assunto e, por seu
lado, no desenvolvimento e expansão dos sistemas de classificação
bibliográficos.
Esta modalidade começou a desenvolver-se nos países anglo-saxónicos,
nomeadamente nos Estados Unidos da América, a partir de finais do século
XIX, em bibliotecas públicas e universitárias.
Segundo este sistema de arrumação, o utilizador poderá encontrar na
mesma estante tudo o que existe numa biblioteca sobre um determinado
assunto e assuntos afins.
A mais-valia deste tipo de arrumação prende-se com o facto de nele o
utilizador não só encontrar as obras que conhece mas aquelas que
desconhece e, nas quais, eventualmente, poderá encontrar a informação de
que necessita.

A informação importante pode bem-estar no outro, no que lhe está


contíguo na prateleira, muito embora isso possa não decorrer
imediatamente do título [...]24

O cumprimento deste objectivo pressupunha a colocação na cota do


documento de uma notação25 extraída de um sistema de classificação.
A este código cumpria representar o assunto versado nesse documento.
Para que a localização fosse rápida e eficaz, seria desejável que esses códigos

23
Apud: SOUSA, José Soares de – Classificação: sistemas de classificação bibliográfica. 1943. P.
27.
24
MOURA, Vasco Graça – A palavra de um escritor. Porto. 1988.
25
Entende-se por notação, um código extraído de um sistema de classificação, e que representa
um assunto. Por uma questão de coerência conceptual, metodológica e de estrutura do trabalho,
este definição e respectiva função serão apresentados no ponto 4, com um desenvolvimento mais
pormenorizado.
70

fossem breves e simples. Apenas através destas duas características é que se


podem juntar e/ou separar os assuntos em grandes sistemas epistemológicos.
Além disso, o facto de ser breve torna-a inteligível para quem procura
numa estante.

b) Arrumação dos assuntos num catálogo sistemático. Neste


catálogo, os assuntos encontram-se ordenados através de um
código de classificação.

1.3.2 Princípios subjacentes à operação de classificar

Para que um processo se torne coerente, eficaz, sustentável e credível,


deve ser alicerçado num conjunto de princípios que, ao longo de todo o
processo, assumam uma função de referência.
De acordo com estas palavras introdutórias, encontramos, em
particular, o processo de classificar, que também assenta num conjunto de
princípios, que passamos a descrever e a comentar com a brevidade possível.
Recomenda-se ao classificador que, para o cumprimento pleno desta
operação, tenha sempre presente estes princípios, pois eles são o garante da
qualidade deste processo.
Dada a estreita proximidade entre a operação de classificar e a de
indexar, muitos dos princípios sobrepõem-se a estes dois processos,
designadamente na primeira fase – análise.
Dada a complexidade deste tema, muitos são os autores que se
debruçaram sobre ele.
Para ilustrar esta situação, entre outros autores elegemos o pensamento
de Fugmann e o de Lancaster. A nossa opção por estes dois autores prende-
se, por um lado, com o facto de serem dois teóricos da Indexação e como o
tema em discussão é essencialmente de natureza teórica, faz todo o sentido
considerar as suas ideias, e por outro por terem orientações diferentes sobre
esta matéria.
Classificar 71

Assim, Fugmann26 apresenta como princípios orientadores cinco axiomas


que, segundo ele, importa estarem presentes ao longo do processo de
indexação, o mesmo acontecendo com o processo de classificação. São os
seguintes:

- Definability;
- Order;
- Sufficient degree of order;
- Representational predictability;
- Representational fidelity.

Lancaster27 vê, na maioria destes axiomas, mais do que princípios


teóricos de indexação propriamente dita, elementos que poderão condicionar
o desempenho dos sistemas de recuperação; a partir disso, propõe dois
princípios para o processo de indexação:

- que inclua todos os tópicos reconhecidamente de interesse


para os usuários do serviço de informação que sejam tratados
substancialmente no documento.
- que indexe cada um desses tópicos tão especificamente
quanto o permita o vocabulário do sistema e o justifiquem as
necessidades ou interesses dos usuários.

Em relação a estes dois princípios que foram apresentados por


Lancaster, permitimo-nos tecer algumas considerações.
Actualmente, com as redes de informação, com a crescente permuta e
cooperação dos vários serviços e com a interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade nos estudos e investigações, não nos podemos permitir
indexar ou classificar o que é apenas do interesse de um perfil de utilizador
adstrito a um determinado serviço, um utilizador presencial.

26
FUGMANN, Robert – Subject analysis and indexing. 1993. Vol. 1. P. 39. Para o desenvolvimento
dos cinco axiomas (Definição, Ordenação, Grau de Ordenação, Previsibilidade e Fidelidade), ler p.
39-67.
27
LANCASTER, Frederick W. – Indexação e resumos, 1993. P. 30.
72

A Norma ISO 5963 no ponto 6.3 é peremptória relativamente a este


assunto, quando postula que a análise deverá ser a mais exaustiva e
específica possível para responder não apenas ao utilizador que se conhece
mas ao potencial utilizador. Neste sentido, estipula que se devem considerar
os assuntos periféricos que são abordados nos documentos.
As novas tecnologias entre outras alterações, trouxeram consigo as dos
quadros cognitivos no que respeita, designadamente, ao privilégio da
interdisciplinaridade. O conceito de “meu utilizador” diluiu-se. Ao utilizador
presencial, aquele que frequenta uma instituição particular, veio juntar-se um
outro tipo de utilizador, aquele que anonimamente consulta os catálogos em
linha.
A indefinição do perfil do utilizador concorre para que se privilegiem
todos os assuntos de um documento que possam ter valor informativo. Nesta
perspectiva, a fronteira entre assunto principal e assuntos periféricos é cada
vez mais ténue. É neste sentido que os princípios da especificidade e da
exaustividade, deverão estar cada vez mais presentes na classificação,
essencialmente na fase da selecção dos conceitos a classificar, todavia sem se
perder de vista a vocação das classificações - Organizar.
Segundo o nosso ponto de vista, podemos sistematizar os princípios que
precedem as operações da indexação e da classificação, em particular no
conjunto de pontos que passamos a apresentar e analisar, em seguida.

a) Qualidade da análise28

A qualidade da classificação resulta, antes de mais, da qualidade da


análise, tal como acontece na indexação. Este princípio é comum às duas
operações, pois ambas partem dela.
É através de uma análise isenta e objectiva que se consegue extrair o
pensamento do autor. Apenas uma análise assente na imparcialidade do
classificador/indexador poderá ser fiável e conducente a resultados
pertinentes na pesquisa.

28
MENDES, Maria Teresa Pinto; SIMÕES, Maria da Graça – Indexação por assuntos: princípios
gerais e normas. 2002. P. 17. Ver tb.: LANCASTER, Frederick W. – Indexação e resumos: teoria e
prática, 1993. P. 75-87.
Classificar 73

Lancaster29 refere dois tipos de erros que podem ocorrer na análise e


que, consequentemente, poderão contribuir para resultados na pesquisa
pouco pertinentes e imprecisos. São eles:

- deixar de reconhecer um tópico que se reveste de interesse


potencial para o utilizador;
- interpretar erroneamente o que trata realmente um aspecto
do documento, acarretando a atribuição de um termo (ou termos)
que sejam inadequados.

Outro ponto importante para a qualidade da análise é o facto de o


classificador/indexador, por um lado possuir conhecimentos na área que
classifica, por outro possuir e desenvolver um espírito analítico/sintético.
A qualidade da análise é a garantia de que, na pesquisa, se recuperam
documentos com informação relevante. A apreensão exacta do conteúdo
informativo do documento concorrerá inevitavelmente para a pertinência da
pesquisa.

b) Interesse do utilizador; características do fundo bibliográfico.

Na selecção dos conceitos ter-se-ão em linha de conta os temas que


constituam informação pertinente para o utilizador do serviço ao qual se
destina a classificação. Por princípio, a selecção dos temas a classificar deverá
corresponder aos objectivos e às características do fundo bibliográfico
concreto e ao utilizador que o consulta, não descurando, todavia, o potencial
utilizador, assim como o utilizador não presencial, como já foi referido.
Se por um lado o classificador não tem uma ideia precisa do utilizador
“global”, produto da generalizada disponibilidade da informação em redes, por
outro conhece o utilizador que está integrado no seu serviço, que tem
objectivos próprios bem definidos e que privilegia um determinado tipo de
pesquisa.

29
LANCASTER, Frederick W. – Indexação e resumos: teoria e prática, 1993. P. 77.
74

Nenhum profissional da informação poderá ficar alheio a esta evidência,


que se traduz numa complexa dualidade – utilizador presencial e utilizador
não presencial, situação que é preciso saber gerir.
Se é necessário privilegiar as matérias que vão ao encontro do tipo de
utilizador bem definido, é também necessário privilegiar as matérias que lhe
são periféricas, mas que são essenciais para o potencial utilizador ou para o
utilizador não presencial. A Norma ISO 5963-1995 (F) é bem explícita,
quando se refere a esta dualidade; fá-lo no seu ponto (6.3.1):30

Un indexeur qui suit les procédures indiquées ci-dessus doit


pouvoir identifier toutes les notions qui ont une valeur potentielle
pour les utilisateurs d’un système d’information dans un
document.

Como proceder face a esta situação? Como responder às necessidades


de informação dos diferentes utilizadores?
Este é o grande desafio que hoje se coloca ao profissional da
informação. Saber gerir a interdisciplinaridade e a transversalidade das
matérias a classificar. Neste capítulo, as tecnologias irão ter um papel
preponderante, não só no que concerne ao output, mas também ao input da
informação. Na nossa perspectiva, o input terá um papel decisivo, pois todas
as formas de acesso à informação estarão relacionadas e condicionadas pela
forma como se introduz a informação e, naturalmente, com os princípios que
lhe estão subjacentes.

c) Especificidade e exaustividade

A especificidade e a exaustividade31 são dois princípios que se encontram


presentes ao longo de todo o processo de classificação.
A especificidade prende-se com o grau de exactidão com o qual são
extraídos os conceitos dos documentos, assim como com o grau de exactidão

30
ISO 5963-1995. P. 577.
31
Ibidem.
Classificar 75

que é usado na representação desses mesmos conceitos, tanto a nível do


termo vocabular, como no caso concreto de uma notação.
A exaustividade está ligada ao número de noções que foram extraídas e
que caracterizam o conteúdo de um documento.
Na classificação cujo propósito é construir instrumentos que permitam
aceder à informação de forma genérica, é desejável que estas duas
características não sejam tão incisivas e tão profundas como acontece no caso
da indexação, cujo objectivo se traduz no acesso à informação pelo específico.
A este propósito Meetham, refere o seguinte:

(The classification is also a very brief description of the document,


and can be called a microabstract).32

Com o acesso alargado à informação que os meios tecnológicos


permitem, preconiza-se que se seleccione o maior número de conceitos
existentes num documento. O alargamento da cooperação em rede verificada
nos serviços de informação, trouxe consigo um maior incremento da
interdisciplinaridade, que se traduz numa imensa diversidade de áreas
temáticas susceptíveis de serem consultadas, o que concorre para que não só
se privilegiem os conceitos principais, mas também os periféricos.
Nos processos de indexação e classificação, muitos são os factores que
condicionam estes princípios. Destacamos os seguintes:

- o fim ao qual se destina o produto da classificação, tal como: a


elaboração de catálogos sistemáticos (impressos ou em linha),
índices impressos, organização de bibliografias e repertórios, cujo
elemento de ordenação seja um código de uma classificação, ou
simplesmente a arrumação dos documentos nas estantes;
- a própria tipologia e suporte dos documentos. Quer isto dizer que,
por exemplo, o nível de exaustividade e especificidade que se
observa num artigo, é superior comparado com o nível destas duas
características quando as consideramos para a classificação uma

32
MEETHAM, Roger – Information retrieval. 1969. P. 98.
76

monografia. Observa-se o mesmo comportamento, relativamente


a estas duas características, no que respeita aos documentos
escritos e aos documentos não escritos, respectivamente;
- o utilizador e o fundo documental também condicionam este
processo. A um utilizador e a um fundo especializados,
corresponderá uma maior exactidão, quer na especificidade, quer
na exaustividade. A opção entre uma notação mais abreviada ou
mais extensa, ou mesmo a escolha de um dado sistema de
classificação, estão condicionados a priori por estes princípios.
A indefinição do perfil do utilizador que hoje se observa, concorre
para que se privilegiem todos os assuntos de um documento que
possam ter valor informativo. Nesta perspectiva, é cada vez mais
ténue a fronteira entre assunto principal e assuntos periféricos, tal
como atrás referimos;
- a ocorrência do número de documentos sobre uma determinada
matéria também irá influenciar a aplicação destes dois princípios.
O nível de especificidade e o de exaustividade serão directamente
proporcionais à ocorrência de um assunto num dado fundo
documental. A uma ocorrência elevada corresponderá um maior
grau de especificidade e exaustividade, e caso ocorra o inverso
esta situação será inversa.
Embora esta prática seja comum às duas operações, dada a
natureza e os objectivos das linguagens categoriais, estes
princípios serão aplicados com uma menor exactidão a este tipo de
linguagens, quando comparadas com as linguagens vocabulares.

Outras particularidades de ordem técnica poderão também condicionar


estes dois princípios. Por exemplo, a dificuldade de um sistema informático
em gerir os ficheiros sistemáticos.
Classificar 77

d) Simplicidade formal

Dado que um código extraído de uma classificação é considerado um


termo de indexação, este deve ser o mais simples possível.33 De uma forma
geral, a literatura sobre classificações apela para a ideia de simplicidade
formal34 relativamente às notações.
A brevidade das notações traz, a todos os níveis, as maiores vantagens,
nomeadamente no que respeita à recuperação da informação e à localização
de uma obra numa estante.
Uma notação breve e simples é uma parte substancial da garantia da
consistência do catálogo sistemático, assim como da inteligibilidade da
arrumação física de uma biblioteca.
Uma notação simples é o garante do primeiro e último objectivo de
qualquer sistema de classificação - a arrumação física e a arrumação lógica e
sistemática do conhecimento.
Para dar cumprimento à simplicidade formal, salvo excepções
justificadas, como é o caso de uma elevada ocorrência de um assunto, devem
evitar-se notações extensas, como as notações compostas.
Esta teoria é aplicável essencialmente a serviços que usam sistemas de
classificações que contemplam auxiliares. O seu uso não pode ser arbitrário e
abusivo. Deverá ter-se presente que o recurso a um auxiliar é sinónimo de
dispersão de um dado tema relativamente ao seu genérico; o uso aleatório
desta prática concorre para o desvirtuar do verdadeiro espírito das
classificações – que é o de agrupar.

e) Pertinência e relevância

Estes dois princípios encontram-se relacionados entre si. Prendem-se


com a utilidade que um documento apresenta para um utilizador. É através

33
Teoria dispersa ao longo da ISO 2788- 1986.
34
Cumpre referir que a ideia de notações breves nem sempre foi considerada. As primeiras
classificações caracterizam-se por apresentarem uma estrutura enumerativa e apresentam,
também, um alto nível de exaustividade. Todavia, a sua aplicação prática concorreu para que se
optasse por notações mais breves.
78

deles que se pode avaliar a eficácia de um sistema de recuperação, na medida


em que nos permitem determinar o nível de satisfação das necessidades dos
utilizadores.35
A pertinência consiste na atribuição de um valor a um documento, em
função da sua utilidade, relativamente a uma eventual necessidade de
informação por parte de um utilizador.
A relevância diz respeito à correspondência que se estabelece entre a
informação contida num documento recuperado por um sistema de
informação, e uma pergunta colocada ao sistema de informação,
relativamente a uma necessidade de informação por parte de um utilizador.
Para uma concretização satisfatória da pertinência e da relevância, neste
contexto particular, é desejável que quando se classifique, se devam
seleccionar apenas os conceitos que tenham valor informativo para quem
pesquisa e, consequentemente, representá-los através de notações que os
traduzam de forma inequívoca, e que se adeqúem às possíveis pesquisas dos
utilizadores.

f) Enquadramento temático

O cumprimento deste princípio tem como ponto de partida os dois


princípios que acabamos de apresentar. Quer isto dizer que, a eleição de um
ou mais temas de um documento, pressupõe, à partida, a determinação da
pertinência e da relevância desse documento face às necessidades de
informação desse serviço.
De acordo com este princípio e com o princípio teórico das
classificações, um documento deverá ser sempre incluído na respectiva
categoria de conhecimento.

35
Esta avaliação determina-se através das taxas de precisão e exaustividade. Ver entre outros
autores, LANCASTER, Frederick W. – El control del vocabulario en la recuperación de la
información. 2002. P. 151-157.
Classificar 79

g) Síntese

Este princípio relaciona-se com a capacidade que alguns sistemas de


classificação (mistos e facetados) têm para especificar os assuntos, nos casos
em que tal prática se justifique.
Se traduzir o específico já era uma prática corrente com a Classificação
Decimal de Dewey, pelo facto de ser uma classificação decimal, foi com a
Classificação Decimal Universal, através do recurso às tabelas auxiliares e,
mais tarde, com a classificação Colon, que esta prática se consolidou.
Estes dois tipos de classificação, devido à sua natureza e características,
trouxeram consigo a possibilidade de representar assuntos compostos e
complexos.
Com elas ultrapassou-se a unidimensionalidade que era atribuída às
classificações enumerativas.
Relativamente à síntese, importa não esquecer que, independentemente
de as classificações serem sistemas pré-coordenados, não se lhes pode pedir
a descrição do conteúdo total de um documento; essa função cabe às
linguagens documentais vocabulares, independentemente de serem pré ou
pós-coordenadas. As classificações têm a função de representar o genérico,
não o pormenor ou o descritivo temático.

h) Coerência e uniformidade

Como em qualquer operação relativa ao tratamento documental, estes


princípios deverão marcar presença obrigatória.
No processo de classificação deve impor-se a coerência da aplicação dos
mesmos princípios, e da manutenção dos mesmos critérios na escolha para a
solução do mesmo caso ou casos análogos. Em casos de dúvida na aplicação
directa dos princípios subjacentes ao uso de uma notação deverá encontrar-se
uma solução análoga, que tenha sido aplicada a casos idênticos.
80

Segundo o princípio teórico subjacente às classificações, cuja função se


manifesta em agrupar e não em separar,36 as notações devem ser simples e
breves: The first quality is simplicity […] the second quality which is important
is brevity37.
Além disso, e para dar cumprimento à sua vocação, deve atribuir-se a
mesma notação aos documentos que versem o mesmo assunto ou assuntos
análogos para não provocar dispersão no catálogo.
Para que não se desvirtue este princípio e, dada a flexibilidade dos
sistemas de classificação, nomeadamente aqueles que usam tabelas
auxiliares, como é o caso dos sistemas mistos e facetados, em nome da
coerência e da consistência do catálogo, torna-se imperativo o uso dos
mesmos critérios de classificação, independentemente dos objectivos da
classificação.
Assim, uma vez tomada uma decisão sobre o uso de uma notação, por
uma questão de uniformidade, todos os classificadores deverão seguir o
mesmo procedimento, face à mesma situação ou situações análogas.
Na representação de um mesmo conceito ou de conceitos análogos não
se deve usar de forma indiscriminada a mesma notação. Ou, para o mesmo
caso ou casos análogos, usar aleatoriamente uma notação extensa e uma
notação abreviada. Aplica-se o mesmo raciocínio no que respeita ao recurso
dos auxiliares.
A uniformidade é o rosto da qualidade de qualquer tipo de catálogo. No
que respeita, em particular, aos catálogos sistemáticos e alfabéticos de
assunto, este princípio impõe que se empregue para a representação do
mesmo conceito sempre a mesma forma de termo.
Neste sentido, a uniformidade e a coerência são o garante da
consistência de qualquer tipo de catálogo, no caso particular do catálogo
sistemático.

36
LASSO DE LA VEGA, Javier – Tratado de biblioteconomia… 1956. P. 257.
37
FOSKETT, A. C. – The subject approach to information. 3rd ed. 1997. P. 165-166.
Classificar 81

i) Estabelecimento de relações intra-linguagem e inter-linguagens

Em cada dia que passa torna-se mais imperativo estabelecer relações


semânticas entre as notações que compõem um catálogo sistemático.
Esta necessidade é imposta pela premência dos catálogos colectivos,
nos quais a um assunto poderão corresponder diferentes notações.
Nesta situação preconizamos o uso de relações, nomeadamente das do
tipo associativo e, em alguns casos, relações de equivalência, tal como
acontece nos catálogos alfabéticos de assuntos.
O estabelecimento das relações de equivalência, concorre, em
determinadas situações, para o controlo do catálogo sistemático.
As relações associativas, por um lado enriquecem as pesquisas, na
medida em que abrem ao utilizador novos horizontes dentro do mesmo
campo semântico, por outro assumem um papel importante no cumprimento
da interdisciplinaridade e transversalidade disciplinar.
Nesta perspectiva entendemos que o estabelecimento destas relações
se assume como uma prioridade nos catálogos em linha.
Parece-nos também que será de grande valia estabelecer relações
entre notações e termos vocabulares e vice-versa, construir relações entre
linguagens categoriais e vocabulares controladas.
Tal prática concorreria, segundo pensamos, para a eliminação do
isolamento e da aversão colectiva a que as classificações estiveram sujeitas
durante anos. Para tal situação concorre o facto de elas usarem códigos que
foram, e continuam a ser considerados cabalísticos para a maioria dos
utilizadores e, por isso, são pouco usados nas pesquisas.
Hoje todo este processo está facilitado com os novos meios
informáticos. Muitos sistemas informáticos estão programados para que,
quando se faz uma pesquisa por termo vocabular, ele esteja associado
automaticamente a um código de classificação. Esta situação apenas é
possível graças a tabelas de correspondência neles integradas.
82

1.4 Políticas de classificação e seus condicionalismos

Para se exercer uma boa prática de classificação assente na


consistência, e que simultaneamente concorra para resultados satisfatórios
em termos de pertinência e de relevância, esta terá de se alicerçar numa boa
política de classificação, na qual os objectivos e os fins que se pretendem
atingir estejam apresentados de forma explícita e inequívoca.
Para o conseguir esta deverá traduzir-se num conjunto de medidas
coerentes, consistentes e harmoniosas.
Na nossa perspectiva, uma política de classificação deverá contemplar,
entre outras, as seguintes medidas:

a) Eleição de um sistema de classificação;


b) Definição dos níveis da exaustividade e especificidade que se
pretendem na classificação;
c) Avaliação das potencialidades do sistema informático que se usa
no que respeita à gestão do ficheiro sistemático;
d) Formação e actualização técnica do pessoal adstrito à classificação.

Passamos, de seguida, a analisar com a brevidade possível cada um dos


pontos acabados de referir.

a) Eleição de um sistema de classificação

A escolha de um sistema de classificação, entre outros aspectos, está


relacionada com os objectivos de um serviço, o grau de exaustividade e a
especificidade que se pretende adoptar.
Considerando estes pontos, poder-se-á optar por sistemas
enumerativos, mistos ou facetados.
Grosso modo, podemos dizer que se optará por sistemas enumerativos
quando se pretende uma classificação genérica e pouco flexível e por sistemas
mistos ou facetados quando se pretende uma classificação mais específica e
dinâmica.
Classificar 83

Independentemente da adopção de qualquer uma destas modalidades, é


um facto que se privilegia sempre a síntese, porque classificar é sobretudo
uma operação sintética. Por paradoxal que isso pareça, é nas situações em
que se classifica partindo de um elevado grau de especificidade, onde está
presente o aspecto analítico, que se observa o maior grau de síntese.
Nestas situações recorre-se a notações extensas, conseguidas na
generalidade através de elementos de sintaxe postulados nas classificações
mistas e facetadas. É através destes expedientes, que mais não são do que
elementos lógicos, que se constroem novas unidades conceptuais: assuntos
compostos ou complexos.
Segundo Bernaténé38, o sistema de classificação deverá, entre outras
qualidades, contemplar as seguintes: ser claro na sua concepção e na sua
apresentação.
Para dar cumprimento a estes princípios, qualquer sistema de
classificação deverá, na prática, materializar a sua concepção teórica, assim
como cobrir todas as áreas do conhecimento necessárias, relativamente a um
serviço particular. Deverá ainda ser homogéneo e harmonioso.

- en premier lieu le plan sera clair dans sa conception;


- ce plan devra être complet, et «couvrir» entièrement la
technique pour laquelle il a été conçu;
- la précision sera également une qualité très appréciée par les
utilisateurs, tant pour l’enregistrement et le classement que
pour la recherche.

Para concluir, importa referir que, antes de mais, se deve conhecer


convenientemente um sistema de classificação. Um classificador deve saber
identificar as mais-valias e as fragilidades da sua estrutura quando pensa
adoptá-la num determinado serviço. Da mesma forma, importa saber quais os
procedimentos técnicos subjacentes ao seu uso, para que possa rentabilizar-
se o mais possível a sua aplicação.

38
BERNATÉNÉ, H. – Comment concevoir, réaliser et utiliser une documentation. 1955. P. 31.
84

b) Definir os objectivos a nível da exaustividade e especificidade que


se deseja com a classificação.

Geralmente, pede-se a quem classifica que represente o conteúdo de


um documento de forma geral, pretensão que vai ao encontro da vocação dos
sistemas de classificação - organizar o conhecimento em grandes classes de
matérias.
Apenas uma classificação na qual se privilegie o geral poderá dar
cumprimento a esta pretensão. Neste aspecto particular, concordamos com
Meetham, quando refere que: Clasificación es una brevísima descripción
temática del documento.39
Este é o procedimento desejável. No entanto na prática nem sempre
assim acontece. Há serviços nos quais, por exigências próprias, têm de usar-
se notações extensas. O facto de se usarem notações extensas ou abreviadas
prende-se com o grau de exaustividade e de especificidade que se encontra
definido na política de classificação de cada serviço.
Poderão ainda existir condicionalismos externos ao serviço que podem
condicionar o grau destes dois princípios, como o facto de um serviço
particular fazer parte de um catálogo colectivo. Nesta situação terá de haver
uma política concertada de classificação, na qual terão sido estipulados os
níveis de exaustividade e de especificidade a seguir por todas as partes
integrantes do catálogo.

c) Avaliação das potencialidades do sistema informático

Antes de se optar por um sistema de classificação deverão avaliar-se as


potencialidades do sistema informático, sobretudo no que respeita à gestão
do ficheiro sistemático. Deverá procurar saber-se entre outras
funcionalidades, se ele permite fazer operações elementares como o controlo
do ficheiro sistemático, a recuperação da informação através de notações
compostas e complexas e outras operações como relacionar semanticamente

39
Apud: GARCÍA GUTIÉRREZ, Antonio - Los lenguajes documentales… 1989. P. 323.
Classificar 85

notações pertencentes à mesma classe, classes diversas ou relacionar este


tipo de linguagem com a linguagem vocabular.

d) Formação técnica de quem classifica

Quando optamos por um sistema de classificação é indispensável saber


se possuímos pessoal com competências para trabalhar com ele.
O uso eficaz de qualquer sistema de classificação depende da formação
técnica do pessoal. Qualquer pessoa que trabalhe com um sistema de
classificação deverá conhecê-lo na totalidade. Quer isto dizer que, para além
de conhecer a sua estrutura, entre outras particularidades, o classificador
deve saber como está organizado o conhecimento nas tabelas principais e nas
tabelas dos auxiliares, assim como as respectivas classes. Resumindo,
conhecer razoavelmente as suas mais-valias e as suas limitações.
As classificações são normalmente acompanhadas por um manual,
todavia, ele não é, na maioria dos casos, suficiente para se ter um
conhecimento para, em situações mais complexas, se classificar com a
consistência e a uniformidade desejáveis; nestes casos, é necessário recorrer
a outras obras da especialidade e proceder à formação de pessoal
especializado.
Além dos conhecimentos técnicos referidos, quem classifica deverá,
dentro das suas possibilidades, procurar desenvolver a nível pessoal um
espírito analítico-sintético, qualidade chave para quem classifica.
A concretização das recomendações acabadas de enunciar concorrerá
inevitavelmente para a eficácia e a eficiência de um serviço que se traduzirá,
por um lado numa melhor localização física dos documentos, por outro na
pertinência e precisão da pesquisa nos catálogos sistemáticos.
86

1.5 Procedimentos inerentes à operação de classificar e


respectivos instrumentos de apoio

Após termos definido os princípios subjacentes ao acto de classificar e


determinado a política de classificação e os seus condicionalismos, cumpre-
nos, neste ponto, descrever com precisão os procedimentos subjacentes à
operação de classificar e apresentar os instrumentos que servem de apoio aos
respectivos procedimentos.
O processo de classificar apresenta uma metodologia semelhante ao
processo de indexação, também se dividindo; como ele em duas fases:
análise de conteúdo e representação do mesmo.
Relativamente ao número de fases em que a indexação e a classificação
se dividem, ele não é consensual, sobretudo no que se refere à primeira.
Numa revisão bibliográfica sobre este assunto, encontramos autores que
propõem para estes processos duas fases, enquanto outros propõem três, e
há ainda outros que propõem um número superior, como acontece com
Ranganathan, que propõe oito fases.
Entre esta diversidade de critérios optámos por apresentar a
metodologia daqueles que postulam para estes processos duas ou três fases.
O critério de escolha prende-se com o facto de o número proposto
coincidir, na prática, com as duas operações consideradas: indexação e
classificação.
Tal como refere Brown,40 a indexação e a classificação baseiam-se no
conteúdo dos documentos e o seu cumprimento passa pela aplicação de uma
metodologia faseada.
Assim, para alguns autores, entre os quais Lancaster,41 as etapas da
indexação por assunto efectuam-se a dois tempos:

a) análise conceptual,
e
b) tradução.

40
BROWN, A. G. – Introduction to subject indexing: a programmed text. 1976. Vol. 1. P. 26.
41
LANCASTER, Frederick W. – Indexação e resumos: teoria e prática. 1993. P. 8.
Classificar 87

A opinião de Langridge42 também coincide com a de Lancaster, ao


propor duas fases para o processo de indexação/classificação:

In such circunstances classifying and indexing are seen as the


attempt to link a document with a particular index language, as
represented in the following model:

a) Subject analysis
b) Translation into index language

No geral e na prática, os procedimentos metodológicos subjacentes à


classificação assentam em duas grandes fases. Essas etapas coincidem com
as que são apresentadas por Lancaster para a indexação.

a) análise do documento e definição do seu conteúdo através da


identificação e selecção de conceitos;
b) representação do seu conteúdo através de um signo de um
sistema de classificação.

No entanto, outros autores como J. Rowley,43 Cleveland44 e a própria


Norma ISO 596345 determinam três fases para o processo de
indexação/classificação, a saber:

J. Rowley divide este processo em:

a) Familiarization;
b) Analysis;
c) Conversion of concepts to índex terms.

42
LANGRIDGE, D. W. – Subject analysis: principles and procedures. 1989. P. 98.
43
ROWLEY, Jennifer E. – Abstracting and indexing. 1982. P. 45-46.
44
CLEVELAND, Donald B; CLEVELAND, Ana D. – Introduction to indexing and abstracting. 2nd ed.
1990. P. 104-112.
45
ISO 5963-1985. P. 576.
88

Cleveland segue esta linha e divide o processo em:

a) Content analysis;
b) Subject determination;
c) Conversion to the indexing language.

A Norma ISO 5963-1985 (F) no ponto 4.3 divide-o nas seguintes fases:

a) Examen du document et définitions de son contenu;


b) Identification et sélection des notions principales du contenu;
c) Choix des termes d’indexation.

Em relação ao processo de classificação, circunscrevendo-o ao contexto


prático, iremos observar estas três fases, mas com procedimentos diferentes,
a saber:

1- Análise de conteúdo

Relativamente à natureza da análise de conteúdo, Langridge46 entende o


seguinte:

Subject analysis, then, is based on philosophy and the nature of


documents. It is concerned with identifying individual subjects,
their parts, and the relationships between those parts.

A análise de conteúdo é composta por duas fases que têm objectivos e


procedimentos metodológicos próprios: apreensão global do conteúdo do
documento e identificação e selecção de conceitos.
Interessa referir que a qualidade deste processo não assenta apenas nos
conhecimentos técnicos de quem o faz, nomeadamente, no conhecimento de
técnicas de leitura. A sua optimização pressupõe por parte do classificador
conhecimentos mínimos da matéria a classificar. Assim, esta operação será

46
LANGRIDGE, D. W. - Subject analysis: principles and procedures. 1989. P. 100.
Classificar 89

tão menos morosa e com resultados mais precisos quanto maiores forem os
conhecimentos e a sensibilidade sobre a matéria por parte de quem os
classifica.
É neste ponto que reside a diferença entre a análise humana e aquela
que é feita por um computador, o qual se limita a reconhecer os termos
através de procedimentos objectivos como frequentemente o recurso a
algoritmos. Técnicas como a frequência ou a adjacência são usadas muitas
vezes na sua identificação.

a) Apreensão global do conteúdo do documento.

De uma forma geral, podemos dizer que este ponto se cumpre através
de um processo de análise conceptual. Primeiro determina-se o assunto
principal do documento, que irá corresponder à classe principal. Segue-se
depois a determinação dos assuntos secundários, que se encontram
relacionados com o primeiro e, aos quais, em geral, irão corresponder os
auxiliares.
Importa ter presente desde logo, que classificar consiste em atribuir um
código a um documento, que traduz um assunto, código esse que, por sua
vez, se integra numa classe de matérias dentro de um sistema de
classificação.
O grande objectivo deste processo é integrar cada documento na
estrutura epistemológica de um sistema de classificação, por forma a
construir esquemas sistemáticos do conhecimento. A sua função expressa-se
na eficiente localização dos documentos por parte de quem pesquisa. Esta
função marcará, desde logo, todo o processo de análise.
Através de uma leitura dos principais elementos estruturantes do
documento procede-se à apreensão global do conteúdo do documento.
Esta leitura deverá incidir sobre determinados pontos do documento
como o título,47 o sumário, o resumo, a descrição do tema e o autor que se

47
Nunca devemos classificar apenas pelo título. Se nos casos relativos ao campo científico-técnico
geralmente há correspondência entre o título e o conteúdo, o mesmo não se aplica relativamente
ao campo das artes e das humanidades.
90

encontram nas badanas e na capa do documento, a introdução, conclusões,


índice, anexos e bibliografia. Geralmente os elementos extraídos desta leitura
são suficientes para situar o conteúdo do documento numa classe principal ou
subclasse de uma classificação.
Nos serviços em que se utiliza um sistema de classificação apenas para
arrumação das obras nas estantes, a apreensão global do conteúdo do
documento, na maioria dos casos, será suficiente para atribuição de uma
notação abreviada.
Esta situação também pode ocorrer em serviços que pretendam uma
classificação apenas de referência, como acontece em algumas bibliotecas
públicas e gerais.
Nestes casos, poderá optar-se por um sistema de classificação
enumerativo.
Nesta fase, como instrumentos de apoio, poderemos recorrer a obras de
referência gerais e especializadas, tal como enciclopédias, dicionários,
catálogos, repertórios, etc., e a todo o tipo de informação independentemente
da sua tipologia ou suporte, que entendamos oportuna para a resolução de
eventuais dúvidas.

b) Identificação e selecção de conceitos.

Se existem serviços para os quais é suficiente uma apreensão global do


conteúdo do documento para responderem aos seus propósitos relativamente
à classificação, outros há, porém, para os quais essa prática não é suficiente:
é o caso dos serviços especializados.
Nestes serviços, encontram-se geralmente documentos cujos assuntos
não podem ser representados por uma notação simples devido às exigências
dos utilizadores. Nestes casos o classificador terá de sacrificar o princípio da
simplicidade formal em prol da especificidade.
A especificidade e a precisão dos conceitos a representar exigem uma
atitude face à análise por parte do classificador diferente daquela que se
observa quando a classificação se destina a bibliotecas gerais ou apenas à
arrumação.
Classificar 91

À apreensão global do conteúdo do documento vem juntar-se a análise


conceptual, operação que requer do classificador uma maior concentração e
conhecimento das matérias que irá classificar, para uma melhor compreensão
das mesmas.

Segundo Lancaster:48

[...] o indexador deve ter algum conhecimento do conteúdo


temático tratado e entender a sua terminologia, embora não
precise de ser especialista no assunto.

Ainda de acordo com o mesmo autor, o não conhecimento da matéria


poderá concorrer para uma indexação excessiva. O que acontece a este nível
a quem indexa é, naturalmente, o que poderá ocorrer a quem classifica.
Esta fase pressupõe uma elevada capacidade de análise e de síntese do
classificador. A capacidade de análise é imprescindível para identificar os
conceitos principais e secundários dos documentos. A capacidade de síntese é
fundamental para seleccionar, entre os inúmeros conceitos extraídos, aqueles
que têm um valor informativo efectivo, e aqueles que têm um valor
informativo potencial.
Para se responder a questões colocadas pela interdisciplinaridade,
aconselha-se tanto a selecção dos assuntos principais como dos periféricos,
como já referimos em outros pontos.
Esta operação baseia-se numa leitura analítica, na qual não são apenas
consideradas as partes estruturantes da obra em questão. Também terá de
ser considerada a leitura de inícios de parágrafos de capítulos e atender às
gravuras e respectivas legendas. Terá de atender-se à própria bibliografia
para enquadrar o assunto, aos anexos e material acompanhante, e, se for o
caso, fazer mesmo uma leitura em diagonal.
Quando se trata de artigos, um tipo de documentos caracterizado por
um elevado nível de especificidade, como garante da precisão da análise

48
LANCASTER, Frederick W. – Indexação e resumos: teoria e prática. 1993. P. 80.
92

recomenda-se que se faça uma leitura integral e, se possível, que a análise


seja feita ou acompanhada por especialistas da matéria.
Como instrumentos de apoio recorremos aos que foram referidos no
ponto anterior e à Norma ISO 5963. Não apresentando, na nossa perspectiva,
qualquer procedimento metodológico objectivo, a Norma tem a vantagem de
apresentar um conjunto de pontos orientadores para a análise. Estes pontos
metodológicos conformam-se, nos pontos 4, 5, 6. Eles contribuem para a
uniformidade da análise, quer seja no mesmo serviço ou numa rede de
unidades de informação.
Outro instrumento a considerar nesta fase é a grelha de identificação de
conceitos, também designada por grelha da análise.
Segundo a ISO 5963-1985 (F), esta grelha é constituída por um
conjunto de questões que serão colocadas às matérias que são objecto de
análise. Tem como objectivo possibilitar um melhor reconhecimento dos
conceitos.
Esta grelha, de facto, assume-se como um instrumento precioso para o
reconhecimento de conceitos, sobretudo quando não se dominam as
matérias. Além disso, contribui também para a uniformidade e consistência da
análise.
A concepção destas grelhas não constitui uma novidade. Elas não são
mais do que a adopção, a outro nível, do esquema da análise por facetas de
Ranganathan.
Segundo este autor, toda a análise de um documento deveria estar
sujeita a este esquema que se traduz em cinco categorias, vulgarmente
conhecido pela fórmula PMEST.49
Na sua essência, todos os assuntos deveriam ser analisados sob estas
cinco perspectivas. As facetas têm como função ajudar o classificador a
“desconstruir” os assuntos no processo de análise.
Apesar das classificações facetadas e dos tesauros facetados, terem
como função principal a representação e a recuperação da informação, são
também, nesta medida, instrumentos de apoio à análise.

49
Ver desenvolvimento mais pormenorizado, no ponto relativo à Classificação Colon, (capítulo V).
Classificar 93

A eficácia das classificações facetadas num processo de análise será


tanto maior quanto maior for o domínio da matéria a classificar por parte do
classificador.

2- Representação dos conceitos

A representação dos conceitos é o último procedimento metodológico


relativamente ao processo de classificação. Consiste essencialmente em duas
fases:

a) localização no índice das notações relativas aos assuntos a


classificar e respectiva conferência nas tabelas;
b) construção das notações.

Em relação à alínea a) após a apreensão global do conteúdo do


documento e da identificação e selecção dos conceitos, com a ajuda do índice,
irão localizar-se os assuntos nas respectivas classes.
Como o índice é apenas um instrumento de carácter orientador, de
seguida deverá verificar-se nas tabelas respectivas se as notações extraídas
do índice coincidem com estas. Esta comparação permitirá ter a certeza de
que o número apresentado no índice corresponde ao número que é constante
das tabelas.
Um classificador nunca deverá registar um número extraído de um
índice sem antes o ter conferido na respectiva tabela. A não observância
deste procedimento poderá causar graves erros, que concorrerão
inevitavelmente para a inconsistência do catálogo. Nunca podemos esquecer
que a função de um índice é a de orientar.
Depois desta operação, caso não sejam usadas classificações mistas ou
facetadas, considerar-se-á a notação daquele assunto extraída da tabela
respectiva para fins classificatórios, e o processo de classificação ficará
concluído.
94

No que respeita à alínea b), após a respectiva correspondência entre a


notação extraída do índice e a registada na tabela de classificação, em
determinados casos, é necessário construir a notação.
Esta alínea aplica-se apenas nos casos em que se usam classificações
mistas ou facetadas, pois somente estas classificações, dada a sua natureza e
a sua estrutura, possibilitam a síntese.
Através desta possibilidade podem representar-se assuntos compostos e
complexos. Na prática, a construção da notação consiste em relacionar
índices. Estas podem ser construídas através de um processo de justaposição,
como no caso de uma notação principal e de um auxiliar, ou através de um
processo de relação para o qual se recorre a sinais. Estes sinais encontram-se
registados nas Tabelas auxiliares que compõem alguns sistemas de
classificação.
Para concluirmos este ponto, dado o interesse que a teoria da
classificação de Ranganathan assumiu na história das classificações
bibliográficas, entendemos registar um breve apontamento sobre a
perspectiva deste autor relativamente ao processo de classificar.
Neste sentido, deve ser referido que fases, através das quais se
estrutura o processo de classificar, correspondem em número, às
apresentadas por Ranganathan.50 A diferença entre as fases “convencionadas”
e as apresentadas por este autor reside no facto de uma delas se situar no
plano conceptual e duas se situarem no plano formal, situação distinta da que
postula a ISO 5963, no ponto 4.51
Este autor apresentou um esquema tripartido do processo de classificar
cujas fases designou por: idea plane, verbal plane e notational plane.
Esta nova abordagem do processo de classificar veio contra à ideia
clássica e institucionalizada, que reduzia o acto de classificar a duas fases.
Esta situação ocorria devido ao facto de os assuntos serem
perspectivados apenas numa dimensão. Antes de Ranganathan usavam-se
geralmente classificações enumerativas e hierárquicas, tal como afirma
Esteban Navarro, quando se refere a esta nova abordagem.

50
RANGANATHAN, S. R. – Prolegomena to library classification. 3rd ed. 2006. P. 327-328.
51
ISO 5963-1985. P. 576.
Classificar 95

Esta presentación de la actividad clasificatoria se funda en una


crítica previa de la forma de representar el conocimiento
consistente en la identificación del tema de un documento con
una materia unidimensional extraída de un sistema de clasificación
jerárquico.52

Passamos, de seguida, a uma breve análise de cada uma das fases


propostas por Ranganathan.

a) Plano conceptual [idea plane]

Nesta primeira fase cumpre ao classificador fazer a análise de conteúdo,


interiorizando-o e verbalizando-o por palavras suas.
No final desta primeira fase, o classificador deverá ter extraído do
documento as ideias principais e as secundárias e ainda através de um
processo mental, estabelecer as relações entre elas.
Esta fase concretiza-se no plano conceptual.

b) Plano verbal [verbal plane]

Ao contrário da primeira, esta fase já se desenvolve no plano formal.


Corresponde à representação dos conceitos através de uma notação.
O classificador observa no índice e nas tabelas respectivas se as
notações correspondem aos conceitos extraídos no processo de análise.

c) Plano da notação [notational plane]

Tal como a segunda fase, esta corresponde ao plano formal. Nela o


classificador constrói a notação que irá representar o tema.

52
ESTEBAN NAVARRO, Miguel Ángel – Fundamentos epistemológicos de la clasificación
documental. (1995) 97.
96

Note-se que esta fase apenas se verificará, no caso de se usar em


sistemas de classificações mistas ou facetadas. Esta situação decorre do facto
de apenas este tipo de classificações permitir a construção de notações,
devido ao facto de possuírem um conjunto de elementos de sintaxe que
permite a construção de notações. Devido à sua estrutura, esta terceira fase é
subtraída às classificações enumerativas

1.6 Ficheiros de autoridade sistemáticos

Os ficheiros de autoridade, como a própria designação refere, são


constituídos por registos de autoridade. Os registos de autoridade
propriamente ditos 53
são constituídos pela informação relativa a um
encabeçamento autorizado, e, no caso de um ficheiro de autoridade
sistemático, são as notações e as referências que lhes estão associadas.
A função destes ficheiros é normalizar os pontos de acesso. Esta
normalização efectua-se através do controlo das notações recorrendo-se, para
tal, a remissivas que reenviam das formas preteridas para as eleitas,54 e em
algumas situações recorre-se, também, a notas explicativas.
Neste sentido, o ficheiro de autoridade assume particular importância
em relação ao cumprimento dos princípios da uniformidade e da consistência
relativamente ao catálogo sistemático, constituindo-se, assim, como garante
destes dois princípios.
Ao garantir a uniformidade do catálogo sistemático exclui a
subjectividade deste processo que, muitas vezes, resulta da adopção de uma
ou outra notação escolhida de forma aleatória no mesmo sistema de
classificação ou em sistemas de classificação diversos. Este uso indiscriminado
que exclui, por si, a objectividade desejável a qualquer tipo de catálogo,
muitas vezes é justificado por quem o pratica como sendo a única forma de

53
Existem dois tipos de registos de autoridade: os registos de autoridade propriamente ditos que
estão associados aos profissionais, comuns, e os registos de referência destinados aos
utilizadores. Ver: CARO CASTRO, Carmen – El acceso por materias en catálogos en línea. 2005.
P. 67-77.
54
No caso de um ficheiro de autoridade de assuntos recorrer-se-á também a outro tipo de
remissivas.
Classificar 97

responder a casos particulares de um determinado serviço. Neste sentido


concordamos com Moreno Fernández e Borgoños Martínez quando afirmam:

[…] Pero desgraciadamente, en la mayoría de las ocasiones, es el


propio centro el que decide cuáles son sus encabezamientos
aceptados, espigando los conceptos y los términos que los
representan de aquí y de allá, en función de unas supuestas
necesidades peculiares.55

Apenas a correcta gestão do ficheiro de autoridade sistemático permitirá


resultados de pesquisas pertinentes, concorrendo esta prática para a
diminuição do ruído e do silêncio.
Dado o exposto, preconiza-se que antes de ser registada uma notação,
seja imprescindível a consulta aos respectivos ficheiros de autoridade.
A sua consulta apresenta as seguintes vantagens:

- possibilita atribuir a mesma notação a obras sobre o mesmo


assunto ou assuntos idênticos;
- permite uma economia de tempo, que resulta do facto de os
registos de autoridade se poderem ligar aos bibliográficos,
possibilitando, no caso da notação já existir, não a tornar a editar;
- estabelece a uniformidade, a consistência e a objectividade do
catálogo sistemático.

Outra mais-valia prende-se com a correcção automática das notações.


No caso de erro, aquando da sua introdução, o sistema alertará para
situações que considere anómalas. O mesmo poderá ocorrer em relação à
introdução de novas notações.
No caso da introdução de um assunto igual ou idêntico, o sistema,
através do ficheiro de autoridade, poderá propor uma notação usada em
situações já ocorridas. Como foi validada da primeira vez que foi introduzida,
passou a ser um termo autorizado, pelo que passou a ser autoridade para

55
MORENO FERNÁNDEZ, Luis Miguel; BORGOÑÓS MARTÍNEZ, María Dolores – Teoría y práctica
de la Clasificación Decimal Universal. 1999. P. 288.
98

futuras aplicações.56 A utilização deste procedimento concorrerá para o


cumprimento do princípio da analogia.
A existência de um ficheiro de autoridade e a sua consulta sistemática
contribui ainda para a constituição de uma unidade temática que permite
agrupar os assuntos em classes.
Quanto à sua composição, ela deverá ser exaustiva, e neste sentido
deverá integrar notações simples, compostas e complexas. O facto de integrar
todo o tipo de notações concorre para a possibilidade de se poder determinar
o grau de especificidade e exaustividade usado na classificação.
Como refere McIlwaine,57 qualquer ficheiro de autoridade sistemático
deverá permitir a sua consulta tanto por notação como por termos
vocabulares, para que se possa observar a correspondência entre uns e
outros com o fim de se construir a uniformidade.
Entendemos ser este o melhor método para se obter a correspondência
efectiva entre os dois tipos de linguagem, que resultará na coerência e
consistência do catálogo.
Após a abordagem do conceito Classificar, passamos, no ponto seguinte,
à abordagem do conceito Classificação.

56
MCILWAINE, I. C. – Guia para el uso de la CDU. 2003. P. 257-258.
57
Ibidem.
Classificação 99

Capítulo II
Classificação
100
Classificação 101

1 Classificação [Definição, objectivos, características e


estrutura lógica]

Neste ponto iremos abordar a definição, os objectivos, as características


e a estrutura lógica do conceito classificação.

1.1 Definição

Segundo o dicionário etimológico de Quicherat58, a noção classificação


proveniente etimologicamente do grego clasis = clêsis, um termo que foi
latinizado para classis, é um substantivo utilizado para designar o que é
distribuído mediante um critério pré-determinado.
Na Roma Antiga, entre outras acepções, entendia-se por classe (s. f.):

[…] cada uma das categorias entre as quais eram divididos os


cidadãos segundo a sua riqueza.59

Por seu lado a Enciclopédia Britânica60 entende por classificação o


seguinte:

Classification theory, principles governing the organization of


objects into groups according to their similarities and differences
or their relation to a set criterion.

De acordo com estas noções, entendemos por classificação um plano


estruturado de forma sistemática, construído a priori, que serve para
classificar objectos de acordo com as semelhanças ou diferenças das suas
características, com o fim de os organizar em classes particulares.

58
QUICHERAT, Louis – Novíssimo diccionario latino: etymologico, prosódico, histórico… 1927. P.
231.
59
HOUAISS, António; SALLES, Villar Mauro – Dicionário Houaiss. 2002-2003. P. 954.
60
THE NEW ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. 1995. Vol. 3. P. 334.
102

1.2 Objectivos

O objectivo principal de qualquer classificação é servir para classificar.


Organizar as entidades físicas e abstractas em sistemas, de forma a
constituírem quadros mentais, referências que nos permitam orientar sem
perturbação e distorção no mundo envolvente. É o meio que permite
organizar o espaço perceptível. Concordamos com Olga Pombo, quando refere
que as classificações são:

[…] pontos estáveis que nos impedem de rodopiar sem solo,


perdidos no inconforto do inominável, da ausência de “idades” ou
“geografias”. Só elas nos permitem orientar-nos no mundo à nossa
volta […]61

Devido a este carácter funcional foram atribuídas às classificações,


durante séculos, características essencialmente empíricas e elas foram-se
moldando e desenvolvendo de acordo com as necessidades reais da
sociedade.
O que se observa nas classificações em geral é aquilo que se observa
nas classificações bibliográficas em particular. Ao proporcionarem uma
organização sistematizada do conhecimento, concorrem para uma localização
mais rápida por parte de quem o procura.

1.3 Características gerais

Neste ponto pretendemos apresentar algumas das características


fundamentais das classificações hierárquicas, incidindo a nossa análise sobre
as classificações bibliográficas enciclopédicas.
No que concerne à sua estrutura geral, as classificações são constituídas
por conjuntos de entidades que, por sua vez, constituem sistemas
conceptualmente unitários e amplos, manifestando-se estes num elenco de

61
POMBO, Olga – Da classificação dos seres à classificação dos saberes. [Consult. 3 Nov. 2008]
Disponível em www:<URL:http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/resources/opombo.classificação.pdf
Classificação 103

conceitos organizados de forma sistemática, cuja particularidade comum é a


afinidade62 de uma ou mais características que constituem essas identidades.
Como foi referido no ponto (1.2) do I capítulo na acepção tradicional, a
noção linear de uma classificação é aquela que se prende com a ideia de que
é uma sucessão de dicotomias.63 Nesta acepção, os elementos que a
constituem estão dispostos num determinado espaço classificatório de acordo
com a ausência ou a presença de uma determinada propriedade permitindo,
desta forma, determinar e enunciar, com elevado nível de precisão, o
estabelecimento de uma nomenclatura.
Na prática, o cumprimento deste processo resulta na elaboração de
classes artificiais.
Esta situação decorre do facto de um objecto poder ser classificado, à
partida, sob várias dimensões, o que concorre inevitavelmente para que este
seja passível de ser integrado em mais do que um espaço classificatório, pelo
facto de poder ser inserido em mais do que um domínio conceptual. A
situação mais decorrente e natural acontece quando um objecto é

62
A determinação das afinidades é feita tendo em conta o conjunto das características do ser.
Isto quer dizer que devemos ter em consideração, simultaneamente, o ser completo e as relações
orgânicas que se estabelecem entre os distintos seres.
63
A dicotomia é um processo muito utilizado na classificação dos seres vivos. Apresenta em cada
nível duas alternativas mutuamente exclusivas. Consiste em juntar objectos comuns numa
mesma divisão separando-os simultaneamente daqueles que são diferentes. Por seu lado, os
objectos diferentes irão constituir outras divisões, também elas homogéneas.
A separação e/ou a associação dos objectos nas respectivas classes efectua-se a partir das
características intrínsecas à sua natureza. Devido a este motivo, existem determinados objectos
que, pelo facto de não apresentarem características bem definidas, acabam por não se ajustar a
nenhum domínio particular. Esta circunstância decorre, essencialmente, da relação que as
classificações estabelecem com as estruturas conceptuais que foram pré-estabelecidas
relativamente aos objectos a classificar. Na prática e, na maioria das situações, estes objectos
são classificados de acordo com os seguintes critérios:
- Excepcionalmente integram mais do que uma classe ou uma divisão, desvirtuando, neste
sentido, o princípio puro da estrutura formal das classificações ditas clássicas;
ou
- São registados, na maioria dos casos obedecendo a critérios de analogia ou a critérios de
necessidade de natureza essencialmente empírica a integrar apenas uma das possíveis classes.
A última solução apontada concorre para que se considere a classificação de determinados
objectos demasiado artificial e que, por este facto, na prática seja difícil de se adequar de forma
razoável às situações concretas, condição que leva a considerar estes casos ambíguos e pouco
precisos.
Outra característica deste modelo de classificação prende-se com o facto de a sua aplicação
pressupor a divisão ou subdivisão dos objectos em duas partes. Esta operação poderá ser
efectuada de forma sistemática quantas vezes se entender necessário, baseando-se sempre na
ausência ou na presença de uma determinada característica.
A permissão de tal procedimento concorre para que a divisão e subdivisão dos objectos sejam
feitas de forma sucessiva e infinita dentro de uma mesma classe. Para que este processo decorra,
será apenas necessário estabelecer novos critérios de classificação, através dos quais se irão
estabelecer os níveis de igualdade e desigualdade entre os objectos a classificar.
104

considerado, relativamente quer às suas propriedades de conteúdo, quer às


suas características formais.
Este caso observa-se também com alguma regularidade, nas
circunstâncias em que apenas é considerado o conteúdo dos objectos, como
acontece nos casos em que estes apresentam um conteúdo multidimensional.
Nesta situação, eles poderão ser considerados para fins classificatórios em
mais do que um domínio, dependendo, naturalmente, da diversidade das
características que apresentem.
Na biblioteconomia, a ideia de se atribuir uma classificação aos objectos
segundo as várias facetas foi seguida e defendida por Ranganathan, levando-
o a construir uma classificação por facetas - Classificação Colon. A este
propósito, na obra “Philosophy of library classification” pode ler-se o seguinte:

At the same time they represent the multi-dimensional continuum


of thought. Thus library classification is equivalent to a
representation of a multi-dimensional continuum in a single
dimension.64

No que respeita à estrutura de uma classificação, em geral, associamos-


lhe a ideia de hierarquia que se manifesta na divisão sucessiva dos objectos
subordinados uns aos outros, de acordo com critérios estabelecidos a priori.
A estrutura hierárquica que caracteriza as classificações pode ser um
sistema mono-hierárquico ou um sistema poli-hierárquico. Um e outro são
observados nas classificações bibliográficas. A estrutura mono-hierárquica é
característica das primeiras classificações de tipo enciclopédico (século XIX),
como a Classificação da Biblioteca do Congresso, a Classificação Decimal de
Dewey e a Classificação Decimal Universal e outras, como a Classificação de
Bliss e a Classificação Cólon, apresentam uma estrutura poli-hierárquica.
Para concluirmos este primeiro ponto, referimos ainda duas
características das primeiras classificações bibliográficas de tipo enciclopédico,
que resultam da sua estrutura, aspectos que também são comuns a outro tipo
de classificações do saber, naturalmente. Referimo-nos à exaustividade e à
exclusividade.

64
RANGANATHAN, S. R. Philosophy of library classification. 2006. P. 94.
Classificação 105

Na perspectiva da lógica tradicional e, no que diz respeito ao seu


aspecto formal, uma classificação para ser considerada ideal deve obedecer
essencialmente a dois princípios; são os seguintes:65

a) une classification strictement finie (domaine E fini, nombre


de divisions fini, nombre de classes de chaque division fini, chaque
ensemble de chaque division fini
b) une classification strictement progressive.

Estes dois princípios traduzem-se nos conceitos de exaustividade e de


exclusividade, respectivamente.
Por um lado, todo o objecto terá de poder ser classificado numa
determinada classe e, por outro, qualquer classe terá de enunciar todos os
objectos do domínio que representa, concorrendo, desta forma, para que cada
classe contenha todos os objectos a ela associados semanticamente, situação
que converge, naturalmente, para a exaustividade (alínea a).
A alínea b refere que nenhuma classe ou divisão deverá conter objectos
que se encontrem registados em classes anteriores, convergindo, desta
forma, para a noção de progressão e simultaneamente de exclusividade. O
desejável será que nenhum objecto seja registado nem em classes anteriores
nem nas classes seguintes, devendo apenas integrar uma única classe -
exclusividade.
Todavia, na prática não se observa a inexistência de classificações que
se pautem de uma forma absoluta por estes dois princípios.
Neste sentido, concordamos com Apostel, quando ele refere que:

La plupart des classifications que nous connaissons ne sont ni


exhaustives ni exclusives; la plupart des classifications que nous
connaissons n’ont pas de fondement de division unitaire.66

65
APOSTEL, Leo – Le problème formel des classifications empiriques. 1963. P. 160.
66
Ibidem, p. 194.
106

De acordo com esta orientação, encontramos outros autores, como


Buffon que, na sua obra Histoire naturelle, a propósito da classificação dos
seres num quadro classificatório, refere o seguinte:

[…] c’est que ces grandes divisions que nous regardons comme
réelles, ne sont peu-être exactes, […] nous ne sommes pas sûrs
qu’on puisse tirer une ligne de séparation entre le règne animal &
le minéral […] dans la Nature il peut se trouver des choses qui
participent également des propriétés de l’un & de l’autre […]67

Ao verificar-se na prática, tal situação de exclusividade seria redutora e


inoperante. Seria impossível as classificações progredirem, facto que
concorreria para o seu atrofiamento e claustrofobia semântica - cada objecto
fixa-se a um conceito exclusivo.
Relativamente a esta característica, no que concerne à Classificação
Decimal Universal é sintomático o excerto do seguinte texto de H. la Fontaine
et P. Otlet:

La classification décimale constitue donc une localisation parfaite


des matières […] Elle répond à ce principe essentiel de l’ordre
bibliographique […] une place pour chaque chose et chaque chose
à sa place […] cette idée est de l’essence même du système.68

1.4 Estrutura lógica

Dado o carácter geral que assume a ciência, torna-se impossível ao ser


humano assimilar a sua totalidade. Devido a este facto, houve necessidade de
dividir essa totalidade em ciências particulares,69 de acordo com os diversos
aspectos da realidade.

67
BUFFON, Georges Louis Leclerc – Histoire naturelle, générale et particulière: avec la description
du Cabinet du Roy. 1749-1804. P. 34.
68
LA FONTAINE, Henri ; OTLET, Paul - Création d’un répertoire bibliographique universel. 1896.
P. 18.
69
Entende-se por este conceito, um conjunto de conhecimentos particulares, gerais e metódicos,
que se relacionam com um determinado objecto.
Classificação 107

Por outro lado, o universo constitui-se como um sistema harmonioso no


qual as partes se encontram ordenadas em relação ao todo. Nesta ordenação
observa-se uma hierarquia das causas e dos princípios que determinam, em
última análise, a hierarquia das várias ciências que os abordam.
Essa hierarquia não pode ser determinada de forma arbitrária, mas há
que, por um lado conservar a diferença entre as ciências particulares e, por
outro, respeitar as vicissitudes que as unem, não perdendo de vista as
relações de subordinação; para isso é necessário classificá-las. Para dar
cumprimento a este propósito, ao longo dos tempos surgiram vários sistemas
de classificação, alguns dos quais, dada a sua influência na construção das
classificações bibliográficas, irão ser analisados no ponto relativo à
classificação das ciências. 70

As primeiras classificações a surgirem e que se constituíram uma


referência para a construção de outras classificações foram as classificações
relativas às ciências naturais. São caracterizadas por uma vincada hierarquia,
em que as componentes do objecto de estudo eram geralmente integradas
em taxonomias.
Segundo Lahr, podemos distinguir as classificações sob dois aspectos:
as classificações naturais e as classificações artificiais.71
De acordo com a teoria da classificação natural, todas as classificações
devem obedecer aos seguintes princípios: ao da afinidade natural, ao da
subordinação dos caracteres e ao da série natural.
Relativamente ao princípio da afinidade natural, este apenas é possível
determinar se tivermos em consideração o ser completo e, ao mesmo tempo,
considerarmos as relações orgânicas existentes entre os diferentes seres.72

70
Ver: Capítulo III (1.2).
71
LAHR, C. - Manual de Filosofia: resumido e adaptado do “Cours de Philosophie, 1968. P. 402-
403, distingue uma da outra essencialmente nos seguintes pontos: a primeira apoia-se na
totalidade dos caracteres, a que se esforça por observar o valor real; além deste pressuposto, o
fim que pretende atingir não é directamente prático, mas teórico ou científico; a classificação
artificial pauta-se pelo facto de dar a conhecer toda a natureza dum ser e o conjunto da sua
organização apenas pela situação que ocupa na classificação; acresce ainda o facto de estipular,
de forma clara, as relações que existem entre um ser em particular e os outros do mesmo
género.
72
Na prática, quando se classifica e, de acordo com este princípio, separam-se os caracteres
essênciais dos acidentais reunindo-se num grupo todos aqueles que apresentem um maior
número de caracteres essenciais comuns. O grupo inferior é a espécie.
108

No que concerne ao princípio da subordinação dos caracteres, segundo a


formulação de A. Laurent de Jussieu,73 devem subordinar-se as divisões como
o estão os caracteres em que elas se fundam.
De acordo com este princípio, a ordem dos caracteres essenciais dos
seres não é igual para todos e, nesta medida, uns são subordinados, outros
são dominantes.74
No que respeita ao princípio da série natural, ele prende-se com a
disposição dos grupos que se encontram no mesmo plano.75
Estes princípios, que constituem a estrutura das classificações
hierárquicas, tanto poderão aplicar-se à diversidade da temática cultural e
científica como às classificações de amplitude enciclopédica.
Por isso os encontramos também espelhados nas primeiras
classificações enciclopédicas, nomeadamente na Classificação Decimal
Universal, na medida em que cumpre com eles. Todos os conceitos nela
contidos se encontram dispostos segundo a regra da afinidade, pois na
mesma classe são integrados apenas os que têm afinidade entre si. Além
disso, todos eles se encontram hierarquicamente subordinados de acordo com
as suas propriedades; por último, na Classificação Decimal Universal, tal como
nas outras classificações consideradas, também se constituem grupos da
mesma ordem e que, por isso, têm a mesma importância.
Cumpre referir e deixar claro que o sistema hierárquico, nas
classificações em geral e nas classificações bibliográficas em particular,
independentemente do desenho da sua tipologia, se alicerça nos fundamentos
lógicos aristotélicos.
No que se refere às classificações bibliográficas de tipo enciclopédico, e
em concreto às que são consideradas neste trabalho, o eixo estruturante da
sua constituição hierárquica assenta nas noções aristotélico-escolásticas de

73
Apud: LAHR, C. - Manual de Filosofia: resumido e adaptado do “Cours de Philosophie”. 1968. P.
406.
74
Quando se classifica e, de acordo com esta regra, para determinar os grupos superiores,
comparam-se as espécies entre si, com o objectivo de se reunirem num mesmo grupo mais
alargado chamado género as que apresentarem um maior número de características comuns.
75
Este princípio pressupõe que estes se classifiquem numa ordem progressiva, isto é, do menos
perfeito para o mais perfeito.
Classificação 109

género, espécie, diferença específica, compreensão e extensão, noções que


Aristóteles definiu para estudar o ser.76
Porfírio (c. 232 – c. 304), filósofo alexandrino, na obra Introductio in
Praedicamenta77, define género como:

[…] uma colecção de indivíduos que se comportam de um


determinado modo em relação a um só ser e em relação uns aos
outros […] todos os que entre eles têm um certo parentesco em
relação ao comum ancestral, e o nome que se lhes dá separa-os
totalmente de todas as outras raças78.

Em relação à espécie, o conhecido pensador, entende-a como […] o que


se subordina a um dado género […]79
É através do processo da relação género-espécie que, segundo Porfírio,
pode dividir-se uma categoria geral de forma sucessiva, partindo de um
predicado até chegar-se a uma noção particular.80

80
Fig. 1 - Árvore de Porfírio

76
LAHR, C. no Manual de Filosofia: resumido e adaptado do “Cours de Philosophie”. 1968. P. 316,
entende género como “…. toda a ideia geral que contém debaixo de si outras ideias gerais;
espécie a que encerra apenas indivíduos. A diferença específica é o atributo que, acrescentado ao
género próximo, constitui a espécie.
77
Esta obra foi traduzida para o latim por Boécio sob o nome Isagoge.
78
Porfírio – Isagoge: introdução às categorias de Aristóteles. 1994. P. 53.
79
Ibidem, p. 59.
80
Ver: http://www.riterm.net/actes/2simposio/talamo.htm [Consult. 6 Set. 2009]
110

Dentro deste contexto, Porfírio apresenta um modelo de classificação


dicotómica,81 que é habitualmente designado por Árvore de Porfírio.82 Esta
“árvore”, incluída na Isagoge às Categorias de Aristóteles, baseia-se na teoria
dos predicados deste autor e apresenta um conjunto hierárquico finito de
géneros e espécies, que funciona por dicotomias sucessivas do geral para o
particular, da maior extensão à maior compreensão.
Este processo, que consiste numa exemplificação esquemática da
formação das ideias gerais, encontra-se subjacente a todas as classificações,
não estando estas, contudo, sujeitas a um processo dicotómico, na medida
em que a sua aplicação não cobre a diversidade de todas as especificações.
Relativamente à relação género-espécie e, no que diz respeito à
formação de ideias, esta consiste no seguinte processo: à ideia de género
próximo, junta-se a diferença específica, que irá resultar numa espécie.
No que se refere à estrutura das classificações bibliográficas
consideradas, não podemos perder de vista a concepção das noções
aristotélicas de compreensão de uma ideia e a de extensão de uma ideia.
Segundo Lahr,83 entende-se por compreensão ou conteúdo da ideia o
conjunto dos elementos que a constituem; extensão da ideia é o conjunto dos
indivíduos aos quais ela se estende.
De acordo com o mesmo autor, a compreensão de uma ideia encontra-
se na razão inversa da sua extensão. Assim, quanto maior for a amplitude da
extensão, menor será a amplitude da compreensão. Isto é, quanto mais
simples for a ideia, mais geral ela é; quanto mais composta ela for, tanto
mais particular ela há-de ser, quando comparada com outras ideias da mesma
ordem.
Se fizermos corresponder estes conceitos lógicos à estrutura de uma
classificação, designadamente à de uma classificação bibliográfica, iremos
observar que ao género corresponde uma classe (um conjunto de objectos
que apresentam entre si um certo grau de semelhança). Esta classe pode ser
dividida em espécies, às quais corresponde uma subdivisão (conjunto de

81
Na classificação das ciências, a Árvore de Porfírio teve uma grande influência nas classificações
dicotómicas, de entre as quais salientamos a de Ampère.
82
A Árvore de Porfírio, também chamada Scala praedicamentalis, cuja interpretação é válida, seja
procedendo-se a uma leitura ascendente, seja a uma leitura descendente.
83
LAHR, C. - Manual de Filosofia: resumido e adaptado do “Cours de Philosophie”. 1968. P. 315.
Classificação 111

objectos com atributos comuns), pelo acréscimo de uma diferença específica


(uma característica). O conjunto das espécies forma uma classe.
Tal como já referimos quando definimos o conceito de espécie, esta
pode ser novamente subdividida pelo acréscimo de uma nova diferença
específica, constituindo-se, nestes casos, novas classes que, por sua vez, irão
originar novas espécies e assim sucessivamente.
Num sistema de classificação a hierarquia dos assuntos faz-se sempre a
partir do nível de maior extensão para o de menor compreensão. Isto é, faz-
se do geral para o particular.
Tomando como exemplo a notação 721.23 da Classificação Decimal
Universal, que representa o assunto – “Parques nacionais”, se a
decompusermos observa-se que: 7 (Arte) é um termo geral que representa
um leque considerável de assuntos sendo, nesta perspectiva, um conceito de
grande extensão. No entanto, e simultaneamente, é um conceito vazio de
compreensão na medida em que não limita um assunto específico. Se
considerarmos, o 72 (Arquitectura) verificamos que este termo já representa
um conceito mais limitado, se o relacionarmos com o 7. Neste sentido,
podemos dizer que 72 é uma notação de maior compreensão do que a
notação 7, e de menor extensão relativamente à mesma notação. Este
raciocínio é aplicado a esta cadeia hierárquica até encontrarmos o termo de
maior especificidade – “Parques nacionais”, notação 721.23, ao qual
corresponde um baixo nível de extensão e um alto nível de compreensão.
Ainda, e para concluir, consideramos que as divisões que estão
subordinadas à notação 7 correspondem à sua extensão, enquanto que os
conceitos simples e/ou compostos que a constituem correspondem à sua
compreensão.

7 Arte
72 Arquitectura
721 Arquitectura paisagista
721.2 Composição da paisagem no geral
721.23 Parques nacionais
112

Ainda a propósito desta ideia – construção da estrutura lógica de um


sistema de classificação e, de acordo com a mesma orientação, Sayers,84 na
obra Introduction to library classification, refere o seguinte:

As a new difference is added to the stem a term of reduced


extension and of increased intension is made; each positive term is
at first a genus divided by the difference into two species, one of
which in turn is regarded as a genus in relation to its species; the
process being continued until individuals, who cannot logically be
divided, and are the infima species or most specific terms, are
reached.

Para concluir este assunto, no que diz respeito à relação entre a lógica
formal e a construção da estrutura das classificações, não podemos deixar de
destacar a clareza de pensamento de Paule Salvan, quando menciona que as
relações que regem a ordem natural são as mesmas daquelas que regem as
classificações. Tais relações, como ela refere, fazem-se por via descendente:
da essência à existência, do geral ao particular e do género à espécie.

Des “catégories fondamentales” de longue date reconnues et qui


ont une importance particulière pour l’étude des classifications
permettront de déterminer les relations qui gouvernent un ordre
universel – ordre naturel conforme à la raison allant, par voie
descendante, de l’essence à l’existence, du général au particulier,
du genre à l’espèce.85

Relativamente à influência do pensamento aristotélico nas classificações


bibliográficas, teremos ainda de considerar a noção de categoria, que vai
estar presente em diversas obras ao longo do tempo.86

84
SAYERS, W. C. – An introduction to library classification. 1950. 1968. P. 31. Relativamente a
esta matéria ver o capítulo II desta obra.
85
SALVAN, Paule – Esquisse de l’évolution des systèmes de classification. 1967. P. 3.
86
A ideia de categoria influenciou a obra de alguns autores da Idade Média, como Raimundo
Lullus (1232-1315). Esta noção surge na sua obra Ars Magna. Na idade moderna, esta mesma
noção encontra-se também presente na obra de John Wilkins (1614-1672), Linguagem filosófica.
Classificação 113

Entende-se por categoria uma propriedade sob a qual pode ser


analisado um ser.
Na obra Categorias, Aristóteles, no capítulo IV, apresenta a lista das dez
categorias sob as quais o Ser se pode considerar. São as seguintes:
Substância, Quantidade, Qualidade, Relação, Lugar, Tempo, Posição, Posse,
Acção e Paixão.87
Destas dez categorias, a mais importante é a substância, constituindo-
se desta forma a essência do ser. Na obra citada, Aristóteles, refere-se a ela
nas Categorias nestes termos:

[…] aquilo a que chamamos substância de modo mais próprio,


primeiro e principal – é aquilo que nem é dito de algum sujeito
nem existe em algum sujeito como, por exemplo, um certo
homem ou um certo cavalo.

A diferença entre esta e as outras nove categorias consiste na distinção


entre o género principal do ser e os géneros secundários.
Esta ideia além de já se encontrar no Thesaurus of English words and
phrases (1852) de Peter Roget (1779-1869) vai assumir uma importância
preponderante na estrutura da Classificação Colon (1933) de Ranganathan
(1892-1972).
À luz da lógica aristotélica, Ranganathan constituiu um quadro fixo de
cinco facetas, com vista à classificação de conteúdos temáticos. Era formado
por: Personalidade, Matéria, Energia, Espaço e Tempo. Estas noções
constituem-se como uma grelha de apoio à análise, funcionando como pontos
orientadores para fazê-la.
A categoria deu lugar à faceta, constituindo as diversas facetas os
diferentes ângulos sob os quais se observa a realidade.

87
ARISTÓTELES – Categorias. 1995. P. 20.
114
Organização do conhecimento 115

Capítulo III
Organização do conhecimento
116
Organização do conhecimento 117

1 Organização do conhecimento [Apontamento histórico]

Após a exposição de alguns conceitos, da enumeração de algumas das


suas características, da apresentação dos princípios lógicos sobre os quais se
construíram as classificações no geral e as classificações bibliográficas em
particular, importa agora apresentar uma breve sistematização comentada
acerca da necessidade que o homem sentiu de organizar o conhecimento e de
construir planos de classificação que servissem como instrumentos de
referência de arrumação do mesmo.
Com este ponto pretendemos avaliar em que medida as classificações
bibliográficas, nomeadamente a Classificação Decimal Universal, sofreram
influências de todo este movimento, designadamente no que respeita à
estrutura e no que respeita ao conteúdo.
Para responder aos objectivos enunciados, estruturamo-lo em duas
partes. No ponto (1.1) será descrita e analisada a organização do
conhecimento em si, considerando o critério da divisão e não o critério da
classificação, entendido, este último, como uma sistematização baseada num
plano formal. Para esta circunstância concorreu o facto da quase inexistência
de planos de classificação devidamente formalizados para este fim,
exceptuando-se o caso da Idade Média, com (o Trivium e o Quadrivium).
Neste ponto, articulado com a organização do conhecimento procuraremos
expor e, analisar as necessidades que concorreram para um tal propósito.
Para dar cumprimento a este objectivo, apoiamo-nos em obras de
autores que nos pareceram ser os mais relevantes no desenvolvimento e na
consolidação da organização do conhecimento.
No (ponto 1.2) continuamos a analisar esta temática, partindo da
análise dos planos de classificação mais relevantes que se foram construindo,
e que foram fonte de influência para outros ao longo da história.
Deste modo pretendemos contextualizar as classificações bibliográficas
no plano mais amplo das mentalidades e, ao mesmo tempo, tentar identificar
os pontos de afinidade entre estas e o modelo de organização tipo
118

enciclopédico88. Pretendemos também identificar as influências que os planos


de classificação filosófico-científicos que foram sendo construídos ao longo do
tempo, exerceram sobre este tipo de classificações.

1.1 A organização do conhecimento [Segundo o critério da


divisão]

Neste ponto, iremos referir e analisar a organização do conhecimento


partindo da divisão do mesmo. Isto, porque na sua organização está implícito
o conceito de divisão pois, na prática, o que se pretendia era organizar essas
partes desestruturadas de uma forma lógica, de modo a que constituíssem
um todo orgânico e consistente.
Para uma melhor clarificação desta ideia, passamos a definir o conceito
de divisão.
Entendemos por divisão na sua concepção lógica – aquela que interessa
neste contexto – uma operação que desmembra um todo abstracto e lógico
(ideia geral) nos seus diversos elementos.89
A divisão do conhecimento que foi construída ao longo dos tempos, ao
contrário da sistematização, na maioria dos casos assenta apenas num
critério arbitrário, muitas vezes de natureza empírica, e não em sistemas
organizados segundo os critérios de uma classificação.
Antes de dar início à exposição e análise dos conteúdos sobre esta
matéria, convém ainda registar o significado de um termo que irá ser usado
ao longo da dita exposição. É o termo – enciclopedismo. A introdução deste
termo justifica-se porque, não assumindo, na verdade, o significado formal
que lhe foi atribuído no século XVII, (assente em princípios filosófico-
científicos), as obras que iremos analisar são de tipo enciclopédico. São-no na
medida em que estas também, como era pretensão do movimento
enciclopédico do século XVIII, pretendiam abarcar todo o conhecimento geral
(significado etimológico do termo enciclopédia), razão pelo qual é utilizado
este termo ao longo do ponto (1.1.1).

88
O movimento que designamos de tipo enciclopédico não é considerado na acepção literal do
termo que se usa para o movimento filosófico do século XVIII.
89
LAHR, C. - Manual de Filosofia: resumido e adaptado do “Cours de Philosophie”. 1968. P. 320.
Organização do conhecimento 119

1.1.1 Enciclopedismo: definição e caracterização

Definição

O termo enciclopedismo deriva da palavra enciclopédia que, por sua vez,


deriva do étimo grego “ἐγκύκλιος παιδεία" [enkyklios paideia], que significa
conhecimento geral.
O termo enciclopédia surge no século XVI, na Europa, como um
neologismo. Contudo, é a partir do século XVII, quando o enciclopedismo se
constitui como um movimento, que este termo se vulgariza aproximando-se
do seu significado actual.

Caracterização

O enciclopedismo caracteriza-se por ter sido um movimento filosófico-


cultural sustentado ideologicamente na Razão e no Iluminismo, que nasceu
formalmente em finais do século XVII, inícios do XVIII. Foi na Europa e
essencialmente em França que se desenvolveu, sendo os seus principais
impulsionadores os filósofos das Luzes, entre os quais salientamos os nomes
de Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784) e D'Alembert (1717-1783),
além de Montesquieu (1689-1755), Rousseau (1712-1778) e Buffon (1707-
1788), entre outros, tendo atingido o seu apogeu com A Encyclopédie de
Diderot e de D’Alembert.
Era seu objectivo sistematizar todo o conhecimento humano a partir dos
novos princípios da Razão.
Marcaram este movimento, várias características, a saber:
Exaustividade: pretensão de abarcar todo o conhecimento. Esta
pretensão não é apenas uma particularidade do carácter do movimento,
formalmente instituído no século XVII verificando-se já o mesmo objectivo ao
longo do tempo, em toda a organização do conhecimento que assenta neste
modelo. A exaustividade apresenta, todavia, pontos de fragilidade. Um dos
factores que contribuiu para a precariedade desta característica é o facto de
120

os conhecimentos se desactualizarem muito depressa, radicando esta


circunstância na introdução de novos conceitos e alterações nos já existentes,
consequência do aparecimento de novos saberes que naturalmente, se iam
integrando nos quadros culturais e mentais da época, sobretudo em épocas
de transição, como foram os finais da Idade Média e o Renascimento.
Associada à ideia de compilar o conhecimento universal surge outra
característica: a selectividade. Pelo facto de a organização do conhecimento
ser exaustiva, era necessário criar critérios que permitissem separar o
supérfluo do essencial. Olga Pombo, sobre este assunto, refere o seguinte:

[…] o que a enciclopédia então pretende não é tanto conter em si


a totalidade imensa e indeterminada da produção literária e dos
conhecimentos constituídos, mas ir ao encontro de tudo o que
neles há de essencial, discriminar o que é importante, anular
redundâncias, eliminar insignificâncias, sintetizar a informação
dispersa e caótica.90

Com esta pretensão, a enciclopédia assumia-se como um conjunto


formal de textos que se encontravam ordenados sob determinados critérios,
por vezes pouco definidos, afastando-se da apresentação formal que é
característica de outras obras semelhantes como, por exemplo, os inventários
e os repertórios.
A necessidade de organizar os saberes pressuponha, à partida, que este
tipo de organização do conhecimento se fundasse numa estrutura que
privilegiasse grandes quadros epistemológicos, situação que se verificou até à
Idade Moderna. Até este período e, ao longo dele, o conhecimento era
ordenado em grandes classes temáticas. Apenas na Idade Moderna, como
iremos observar, foi introduzida a ordenação alfabética como critério de
organização das matérias.
O facto de o conhecimento ser organizado em grandes classes concorria
para a unidade semântica, particularidade que seria impossível de existir caso
ele se apresentasse sob outro critério de ordenação como, por exemplo, a

90
POMBO, Olga – Da enciclopédia ao hipertexto. [Consult. 8 Jun. 2008] Disponível em:
www:<URL:http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/enc/cap1p2/genero.htm.
Organização do conhecimento 121

ordem alfabética, sistema de arrumação que, dada a sua natureza, dispersa


os assuntos com afinidades entre si.
O uso de um outro critério poderia concorrer para uma compilação de
tipo inventário ou outro similar desvirtuando, nesta medida, a unidade
semântica.
Importa referir que o facto de este modelo se servir, de forma implícita
ou explícita de quadros epistemológicos, não convergia para a estagnação da
apresentação do conhecimento. A dinâmica mental e social da época
contribuía para que esses quadros se fossem alterando. Eles tinham de se
adequar às necessidades da sociedade que, naturalmente, se caracteriza
relativamente aos aspectos cognitivos, por ser mutável e efémera,
contribuindo essencialmente, para tal situação, as transformações técnicas e
culturais, que dão origem à emergência de novos saberes.
Para se adequar a estes novos paradigmas, a enciclopédia teve de se
adaptar. Para isso, transformou os seus conteúdos, a sua estrutura e os seus
propósitos procurando, deste modo, numa busca incessante, outros critérios
que servissem de base aos recentes quadros epistemológicos, cujo objectivo
último, como referimos, era dar resposta às novas exigências decorrentes dos
comportamentos sociais, culturais e mentais que reflectiam, antes de mais, os
novos paradigmas emergentes.
Outra característica da estrutura do conhecimento enciclopédico, era o
facto de ela ser hierárquica. Esta característica esteve sempre presente na
organização do conhecimento. Em todas as épocas observamos que se dá
relevância a um ou mais saberes em detrimento de outros, de acordo com os
valores e o pensamento do autor ou com a mentalidade do tempo.
A título de conclusão, podemos referir que o seu objectivo enquanto
género literário se manifesta na síntese e na organização do conhecimento,
de forma a proporcionar-lhe um acesso claro, preciso e actualizado. É neste
sentido que entendemos que as enciclopédias são entidades dinâmicas e
funcionais. O mesmo se observa nas classificações bibliográficas que, além de
apresentarem esta característica em comum, em relação a este tipo de obras
também são: exaustivas, selectivas e hierárquicas, tal como elas,
constituindo-se neste sentido suas herdeiras, situação que iremos observar ao
longo deste estudo.
122

1.1.2 A organização do conhecimento [Percurso histórico]

Passamos, de seguida a descrever e a analisar as diversas fases e


características que este movimento assumiu ao longo dos tempos.

1.1.2.1 A organização do conhecimento na Antiguidade

Durante a Antiguidade, na maioria dos casos, a organização do


conhecimento construía-se sem se dar grande relevância a planos de
classificação prévios.
Apesar de encontrarmos reminiscências deste tipo de organização do
conhecimento já no Antigo Egipto, na obra de Amenope (1250 a.C.), é nas
Culturas clássicas91, cerca de 370 a.C., na Grécia e Roma, que primeiro
aparece informação sobre a organização do conhecimento em forma de
enciclopédia temática.
Na Grécia tardia, Speusipus (393-339 a.C.), autor grego, organizou por
temas um conjunto de documentos relativos à História Natural, Matemática e
Filosofia. As citações desta obra, encontradas em outros textos, levam-nos a
concluir que ela exerceu uma influência significativa nos meios académicos de
então e em períodos posteriores. Outros autores a considerar, no que se
refere à organização dos saberes são Porfírio (c. 232 – c. 304), Varrão
(Marcus Terentius Varro (116-27 a.C.), na Roma Antiga e Plínio (Caius Plinius
Secundos (23/4-79).92

91
O enciclopedismo desenvolveu-se em contextos escolares, tanto na Grécia Antiga como em
Roma. Tinha como objectivo preservar as aulas dos professores. Sobretudo em Roma, tinha como
propósito perpetuar o património cultural às gerações vindouras. Eram compilações sistemáticas
do conhecimento, de autoria individual. Apresenta-se como exemplo desta ideia a obra de Varrão,
que cobre as mais diversas áreas do conhecimento, entre as quais salientamos a história,
matemática, filosofia, retórica… etc.
92
A obra de Plínio veio a servir de base ao enciclopedismo medieval. Ainda nos dias de hoje ela
continua a ser uma referência no que diz respeito às áreas de escultura e pintura latinas. As
informações, factos e curiosidades que apareceram registadas na sua obra, provêm de
observações directas e de consultas feitas a obras de outros autores latinos e não latinos.
Em suma, como características comuns ao enciclopedismo do Mundo Antigo, podem destacar-se
as seguintes: eram obras de autores individuais; tinham como objectivo a formação educativa;
tinham como público-alvo pessoas com um elevado nível de instrução que, para a época em
causa, se restringia a uma elite e que apresentava características homogéneas.
Organização do conhecimento 123

É na obra de Plínio, Naturalis Historia,93obra enciclopédica, que


encontramos as primeiras tentativas de classificação. Com este autor a
estrutura da organização do
conhecimento assume, embora de
forma incipiente, uma das
particularidades mais relevantes,
que a caracterizaria até à
actualidade - a organização
sistemática. 94

Cumpre referir que, na


Antiguidade clássica, a organização
do conhecimento antes de reflectir
preocupações de natureza filosófica
traduzia uma preocupação de
natureza empírica. Nela
enfatizavam-se os conteúdos de
natureza prática, atribuindo-se
especial relevância aos temas
relacionados com a Geografia, a
93
Fig. 2 -Naturalis Historia
Medicina e a História.
O propósito da formalização do conhecimento em grandes obras
enciclopédicas, não era propriamente a divulgação extensiva do
conhecimento, porque eram poucos aqueles que então sabiam ler e escrever.
Devido a tal circunstância, estas obras apenas chegavam a eruditos. Na
maioria dos casos, eram elaboradas com o intuito de as oferecer a reis,
pessoas poderosas ou a pessoas da própria família, com fins pedagógicos e
didácticos.95

93
Ver: http://www.w3c.it/talks/2009/storiaWeb/images/naturalisHistoria.jpg [Consult. 2 Set.
2009]
Esta obra veio a servir de modelo para muitas outras, deste tipo, que se escreveram
posteriormente.
94
A sistematização desta obra manifesta-se no seguinte esquema: Cosmografia (Livro II),
Geografia (III-VI), Zoologia e Botânica, incluindo as virtudes terapêuticas atribuídas aos animais
e às plantas (VIII-XXXII), Mineralogia (XXXIII-XXXVII).
95
Marcus Porcius Cato (234-149), mais conhecido como Catão, é um exemplo desta atitude.
Numa obra que intitula Libri ad Marcum filium, (c. 183 a. C.) sistematizou um conjunto de
informações sobre Agronomia, Medicina, Retórica e Guerra, para oferecer ao filho. Com esta obra,
124

Relativamente a este tipo de “sistematização” do conhecimento que se


pauta por características funcionais, salientamos a obra de Varrão, pelo facto
de esta apresentar particularidades práticas e utilitárias. Este autor produziu
três obras, a saber: Disciplinarum libri IX (50 a.C.), Antiquitates rerum
humanarum et divinarum e Imagines. Nestas, em particular na segunda,
Varrão apresenta informações sobre a política, o povo romano, a geografia do
espaço romano, a religião e o governo no Império Romano. Na obra Imagines
apresenta, entre outros, temas que se encontram associados com as artes
liberais e biografias de personagens gregas e romanas.
No quadro que se segue, pretendemos apresentar de forma sistemática
as ideias que foram acabadas de expor:

- Organizar o conhecimento com o fim de o conservar e preservar


Objectivos
- Divulgar a cultura da Antiguidade

Conteúdos - Conhecimento universal (preferência de conteúdos relativos à prática)

- Hierárquica
Estrutura
- Organização do conhecimento em áreas epistemológicas
Tabela 1. Movimento enciclopédico na Antiguidade Clássica

1.1.2.2 A organização do conhecimento na Idade Média

Seguimos este périplo da organização do conhecimento, com uma breve


incursão na Idade Média.
No que respeita a este assunto, a Idade Média foi um período
caracterizado por dois aspectos:

- pela compilação de compêndios e pela Summae;


- pela organização do conhecimento, em geral, segundo o Trivium e
Quadrivium, que naquela época funcionava como uma
classificação.

Marcus Porcius pretendia proporcionar ao filho um conjunto de informações práticas e úteis para
a sua vida.
Organização do conhecimento 125

Neste período, a organização do conhecimento foi construída sob uma


mentalidade teocêntrica. Podemos situá-lo em duas fases distintas.
A primeira, que corresponde à Alta Idade Média, foi caracterizada e
dominada pela obra de Santo Agostinho (354-430), em especial por aquela
que tem por título De Doctrina Christiana, que teve uma influência
preponderante na cultura cristã medieval.
Ainda dentro da orientação cristã medieval, a par desta obra havia
outras muito importantes; dada a sua enorme difusão e prestígio, pois eram
consideradas obras fundamentais para muitos estudiosos e eruditos nessa
época e em épocas posteriores, salientamos as obras de Cassiodoro (490-
580) e as de Santo Isidoro de Sevilha
(560-636).
Cassiodoro96era um grande
entusiasta de obras que tivessem o
propósito de preservar o
conhecimento e a cultura do seu
tempo. Por isso, foi responsável por
diversos trabalhos que tratavam
temas gerais. De entre essas obras
salientamos, a que foi publicada cerca
do ano 551, que dá pelo título de
Institutiones divinarum et sæcularum
litterarum.97
No início do século VII, o Bispo
Isidoro de Sevilha organizou a obra
Etymologiarum sive Originum libri Fig. 3 - Instituitiones divinarum et saecularum
96
litterarum
XX.98

96
Ver: http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/enc/images/veado.jpg [Consult. 12 Dez. 2009].
97
Esta obra é composta por duas partes: a primeira debruça-se sobre as Sagradas Escrituras e a
segunda sobre as sete Artes Liberais.
98
Nesta obra, formada por vinte livros, são versados temas eclesiásticos e temas científicos como
Matemática, Astronomia, Medicina, Anatomia humana, Zoologia, Geografia, Meteorologia,
Geologia, Mineralogia, Botânica e Agricultura. Acrescem ainda a estes temas outros de natureza
geral.
Importa referir que este autor, no Livro X, relativo à etimologia, já utiliza a ordem alfabética. A
adopção de tal critério era pouco utilizada na disposição que era dada à organização dos saberes.
126

Inseridas no movimento escolástico da época, todas as obras que foram


publicadas após Isidoro de Sevilha se encontravam imbuídas do espírito do
tempo. Destas faz parte um conjunto de obras enciclopédicas que foram
organizadas na segunda metade do século X, sob os auspícios de Constantino
VII. Estas obras versavam assuntos de História, de Agricultura, de Medicina,
de Veterinária, de Zoologia e de Direitos jurídicos.
Relativamente à Baixa Idade Média importa referir que, todas as
actividades que foram desenvolvidas neste período serviram como alicerce ao
novo movimento emergente – o Renascimento.
No que respeita à organização do conhecimento, salientam-se as
Summae (Sumas) que eram “comentários” concisos e sistemáticos destinados
a esclarecer um texto. Este género de literatura caracterizava-se por grandes
sínteses que procuravam compreender a totalidade do saber.99
Nos séculos XII e XIII,
quando pela Europa Ocidental
começaram a surgir as primeiras
universidades, surgem também,
em paralelo, as grandes obras de
carácter enciclopédico, cujo
objectivo era apoiarem o ensino
universitário.100
Entre outros autores que se
ocuparam da organização do
conhecimento, na época
considerada, destacamos as obras Fig. 4 - Speculum Majus
100

Eruditionis Didascalica101, de Hugo de S. Victor (1096-1141) e a Speculum


Majus,102 do dominicano Vincent de Beauvais (1190-1264).

99
Entre as Sumas teológicas e filosóficas destacam-se, pela sua excepcionalidade, a Summa
Theologica e a Summa contra gentiles (Suma contra os pagãos e, em especial, os muçulmanos),
de S. Tomás de Aquino.
100
Ver: http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/enc/paginas/vbeauvais/speculum-maius.jpg [Consult. 12
de Dez. 2009].
101
Esta obra, além de apresentar como inovação a organização do conhecimento assente na
filosofia e não na teologia (como era natural na Idade Média), também introduz matérias
relacionadas com a técnica, o que traduz a evolução científica e técnica emergente na Baixa
Idade Média. Este interesse apresenta-se numa parte da obra, a qual se designa - Filosofia
mecânica. Neste capítulo estão representados os temas: lanifícios, balística, navegação,
agricultura, caça e pesca, medicina, tecelagem e teatro. Cumpre referir que, nesta obra, o autor
Organização do conhecimento 127

Na obra Eruditionis Didascalica, Hugo de S. Victor procura, dentro de um


quadro epistemológico, estabelecer a relação entre as ciências e a filosofia.
Para isso, procura desenhar uma classificação dos saberes, partindo não da
Teologia mas da Filosofia. Dentro desta orientação, tenta ensaiar um modelo
epistemológico classificatório segundo os diversos objectos e de acordo com
os métodos das ciências e das artes.
A obra Speculum Majus (Espelho Maior) foi o principal compêndio usado
na Idade Média. Tal como a obra de Hugo de S. Victor, esta pretendia
também abarcar todo o conhecimento.
Esta obra monumental, elaborada entre 1250 e 1260, foi a maior obra
de tipo enciclopédico que foi produzida até ao século XVIII.
Escrita originariamente em latim, no século XIV, foi, mais tarde,
traduzida para francês, facto que revela a importância que ela assumiu,
sobretudo no meio académico.
Após esta breve descrição podemos concluir que a organização do
conhecimento na Idade Média obedeceu essencialmente a três pontos:

1) Uma concepção curricular, onde eram privilegiados os conteúdos e


as questões pedagógicas. Este modelo de educação e ensino
assentava essencialmente no Trivium e no Quadrivium, sistema
que se impôs sobretudo nas Universidades medievais;103

sistematiza a filosofia em quatro partes, a saber: Filosofia Speculativa (teórica); Filosofia práctica
ou activa; Filosofia Mechanica e Lógica ou Sermonialis.
102
Nesta obra o conhecimento encontra-se classificado em três partes: Speculum naturale
(elenca todas as ciências e história natural conhecida na Europa Ocidental do século XIII,
Speculum doctrinale (compilação de todo o saber escolástico da Idade Média); Speculum
historiale (descreve a História do mundo desde a Criação até ao seu tempo e faz uma previsão do
fim do mundo para o ano 2376). É-lhe ainda atribuída uma quarta parte, designada Speculum
morale (apresenta uma selecção de textos de ética. Entre os autores que constituem esta suma
destacam-se Aristóteles e S. Tomás de Aquino). No entanto, a sua autoria é questionada.
103
Este sistema, que não era mais do que um plano de estudos, constava de sete disciplinas
divididas em dois grupos: o Trivium (Lógica, Gramática e Retórica) e o Quadrivium (Aritmética,
Música, Geometria e Astronomia). Pelo facto de ser constituído por sete disciplinas, também era
conhecido pelas sete Artes Liberais. No mundo medieval, estas disciplinas eram consideradas, as
indicadas para a formação do homem. Ao contrário das Artes mecânicas, caracterizadas por
conterem disciplinas relacionadas com aspectos de natureza técnica, as Artes liberais
caracterizavam-se por assentarem em pressupostos metafísicos e filosóficos.
128

2) Uma estrutura hierárquica, na qual cada disciplina tinha um lugar


e uma função predeterminados, com base numa fundamentação
teológica;104
3) Características próprias do modelo de uma compilação.105

Apesar de apresentar particularidades de natureza diversa, a


organização do conhecimento, ao longo da Idade Média, tal como acontecera
já durante a Idade Clássica, caracterizou-se pela funcionalidade.
Se na Idade Clássica se organizava o conhecimento com o intuito de
preservar e de conservar as memórias do Mundo Antigo, na Idade Média a
organização do conhecimento tinha como principal função garantir a moral e a
religiosidade do Homem medieval. Para cumprir este propósito, a sua
organização assentava na erudição que, na maioria dos casos, não ia além da
compilação dos textos dos autores antigos. Este modelo apresentava, por um
lado a vantagem de preservar os autores clássicos, por outro a desvantagem
de o conhecimento se manter estagnado, não registando as transformações e
inovações da actualidade, que se iam verificando à medida que o tempo
passava.
A estas características acresce o facto de se tratar de uma
sistematização que era orientada para os religiosos e, por essa razão, os
textos serem escritos em latim.
Esta particularidade que foi assumida pela organização do conhecimento
ao longo da Idade Clássica e Medieval - ser funcional (estar ao serviço de…)
irá observar-se também na Idade Moderna (séc. XVI-XVIII).

104
Bartholomaeus Anglicus (séc. XIII) De proprietatibus rerum. Nesta obra, o autor organizou o
conhecimento partindo de dois planos, situados em níveis hierárquicos diferentes, a saber: Deus
e o Homem. O criador e as coisas que criou – o metafísico e o material. Importa referir que os
elementos que integram estes dois planos também se encontram ordenados hierarquicamente.
De acordo com esta orientação encontrava-se já a obra de Cassiodoro (490-581), De artibus ac
disciplinis liberalium litterarum. Nesta obra, onde se consagra o modelo que se adoptaria ao longo
da Idade Média, como já referimos, o Trivium e o Quadrivium, o autor estrutura as sete Artes
Liberais segundo uma organização hierárquica.
105
Esta característica é apontada por Santo Agostinho. Este autor entende que deve ser reunida
numa única obra toda a informação necessária para a interpretação e ensino dos textos sagrados.
É neste sentido que a sua obra “enciplopédica” traduz todos os conhecimentos, desde os de
natureza física (medicina, agricultura, geografia, etc.) aos que eram considerados na altura de
natureza transcendental (astronomia, geometria, matemática, etc.).
Organização do conhecimento 129

- Organizar o conhecimento com fim pedagógico e didáctico (Escolástica)


Objectivos
- Divulgação da Teologia e da Fé Cristã

Conteúdos - Conhecimento universal (conteúdos teológicos)

- Hierárquica
Estrutura
- Organização do conhecimento em áreas epistemológicas
Tabela 2. Movimento enciclopédico na Idade Média

1.1.2.3 A organização do conhecimento no Renascimento

Se na Idade Média a organização do saber se encontrava ao serviço de


Deus e da Igreja, na Idade Moderna ela passou a estar ao serviço do Homem.
Para isso, deixou de assumir uma atitude teocêntrica e passou a assumir uma
atitude antropocêntrica.
Os interesses do Homem moderno são terrenos, pautam-se por
características de natureza prática e factual. Com base nestes fundamentos,
pretendia-se um tipo de ensino que respondesse às questões de uma
sociedade laica. A Escolástica, que se impôs nas Universidades medievais e
outras estruturas institucionais de ensino, vinculada essencialmente às
Sagradas Escrituras e aos Padres da Igreja, é, no século XVI, substituída
pelas obras dos autores clássicos e pelas de novos autores que vinculam o
seu conhecimento à Razão e à Fé. A exegese dá lugar à livre interpretação
dos textos.
Privilegiava-se o inédito e o diferente que emergia de uma forma voraz
e alucinante. O conhecimento era na maioria dos casos, produto das
descobertas portuguesas e espanholas,106 que abriram novos mundo ao
mundo até então conhecido.
Emerge pela primeira vez o culto da curiosidade “científica” alicerçada
no valor e na capacidade de interpretação do Homem e não de Deus.
É dentro desta conjuntura, laica e racionalista, que a organização do
conhecimento se irá desenvolver.

106
A viagem de Marco Polo ao Extremo-Oriente (1272-1295), a de Cristóvão Colombo à América
(1492) e a de Vasco da Gama à Índia (1498).
130

No século XVI Rabelais introduz o termo Enciclopédia nas línguas


nacionais.
O Homem renascentista pretende ser, ele próprio, a totalidade do
conhecimento. Neste sentido, tenta abarcar todo o conhecimento possível:
por um lado o saber já consolidado dos clássicos e árabes, por outro os novos
saberes, que vão emergindo de uma forma exponencial mas desordenada.
Foi a simbiose deste conhecimento “híbrido”, composto de novos e de
velhos saberes, que os humanistas procuraram organizar.
A organização do conhecimento observada ao longo dos séculos XV e
XVI, apesar de ser abundante, enferma por ser pouco rigorosa. O Homem
sente-se perdido face ao volume excessivo e à grande diversidade de
conhecimento produzido107, não conseguindo encontrar critérios uniformes
para o organizar.
Nesta tentativa de organização do
conhecimento salientam-se os humanistas
italianos: Domenico Bandini (1335-1418) com
a obra Fons memorabilium universi e Giorgio
Valla (1430-1500) com De expetendis et
fugiendis rebus.
Mais do que uma sistematização
propriamente dita, nestas obras observa-se a
compilação de um conjunto de diversos
conhecimentos entre os quais se destacam a
Filosofia, a Física, a Metafísica, a Música, a
Astrologia, a Política, a Moral, a Medicina, etc.
Ainda108no século XVI, não podemos
deixar de mencionar a obra Dictionarium Fig. 5 - Dictionarium historicum, geographicum
historicum, geographicum et poeticum
108
et poeticum

(1553), do humanista francês Charles Estienne (1504-1564).

107
Como temos referido ao longo deste excerto de texto, o Homem renascentista não só se
preocupou em organizar os novos conhecimentos como em interpretá-los; numa tentativa de
repor a verdade dos textos antigos, ele procura, nestes séculos, volta a ler os originais
interpretando-os, agora, com base na Razão e validando esses saberes com o recurso à
experiência.
108
Ver:http://chez.mana.pf/~sunset.tubuai/1671dictionarium.html [Consult. 12 de Dez. 2009].
Organização do conhecimento 131

Outra obra a considerar também é o Tradentis disciolinis (1531), do


humanista e pedagogo espanhol Juan Luís Vives (1492-1540).109
Embora a obra de Luís Vives apresente os conhecimentos desordenados,
à semelhança das obras de outros humanistas, assume-se como uma das
mais importantes dentro do enciclopedismo renascentista.
Na nossa perspectiva, apesar da notória ausência de critérios de que
enferma a organização do saber na época renascentista, esta assumiu
importância, na medida em que permitiu rectificar os erros que foram
introduzidos pelos medievalistas nas Sumas elaboradas ao longo da Idade
Média, sobretudo no que diz respeito aos textos da Antiguidade110.
Cumpre referir que, até finais do século XV, não era hábito elaborar
sistemas para classificar as ciências, porque este objectivo não era
considerado um fim em si mesmo; além disso, pesa também o facto de a
maioria das ciências não se encontrarem definitivamente autonomizadas.

- Divulgar o conhecimento laico


Objectivos
- Divulgar a cultura da Antiguidade

Conteúdos - Conhecimento universal (construído com base na Razão e na Experiência)

- Hierárquica
Estrutura
Organização do conhecimento em áreas epistemológicas (estrutura inconsistente)
Tabela 3. Movimento enciclopédico no Renascimento

1.1.2.4 A organização do conhecimento na Idade Moderna

No século XVII assiste-se à organização enciclopédica do conhecimento


tal como a entendemos hoje. Às grandes compilações avulsas e dispersas do
saber elaboradas no século precedente sucedem, agora, compilações

109
Humanista espanhol, Juan Luís Vives é um homem do seu tempo. Embora tenha sido um
preconizador das ideias aristotélico-tomistas, na sua obra observam-se características de um
homem comprometido com os ideais humanistas. Foi um pensador que se preocupou com a
educação do espírito mas que também não descurou os cuidados a ter com o corpo. Além disso,
valorizou os métodos indutivos e experimentais como meios de atingir o conhecimento.
Esta orientação é notória na obra Tradentis disciolinis, na qual apresenta um programa de
estudos cujo conhecimento é estruturado segundo a observação dos factos e da razão.
110
Além disso, estes textos, que resultaram de uma nova sistematização, irão também conhecer
novos públicos, pela primeira vez, graças ao aparecimento da imprensa.
132

sistemáticas, que se caracterizam por assentarem num princípio orientador


comum e simultaneamente uniforme.
Foram introduzidos novos elementos epistemológicos e metodológicos
na organização do conhecimento que concorreram, desta forma, para a sua
nova estruturação. Partindo-se de critérios rigorosos e racionais, procedeu-se
a uma classificação do saber.
Ao dogmatismo metafísico conducente a uma hierarquia de saberes
fundada em bases teológicas, e que caracterizou a “sistematização” na Idade
Média, sucede agora uma sistematização baseada em critérios lógicos,
racionais e metodológicos, todavia, hierarquizada.
Deste modo e, tal como se tinha verificado nos séculos anteriores,
também no século XVII, o interesse para sistematizar o saber, observou-se
por parte de alguns filósofos; contudo, desta vez essa sistematização foi feita
em moldes diferentes.
Expressão desta nova orientação epistemológica são as obras dos
filósofos Johann Heinrich Alsted (1588-1638), Encyclopaedia omnium
scientiarum septem tomis distincta, (1630), e de Juan Amós Coménio (1592-
1670), Pansophia (1639), entre outras.
Todos estes autores, nas suas obras, tentaram organizar o
conhecimento que se encontrava disperso, elaborar novos esquemas, enfim,
unificar o conhecimento existente, conservando, todavia, a especificidade de
cada ramo do saber. Este movimento de organização desenvolveu-se no
sentido de perpetuar a especificação de cada saber. Ao mesmo tempo que se
pretendia unificar o conhecimento, concorria-se de forma ingénua e
inconsciente, na nossa perspectiva, para a interdisciplinaridade.
Neste tipo de organização do conhecimento as preocupações
assentavam indirectamente na sua centralização, porque como referimos,
este apresentava-se fragmentada, umas vezes de forma implícita, outras de
forma explícita.
Nesta perspectiva, assistimos a um empreendimento por parte de
alguns autores, destinado a esbater as barreiras entre os ramos do saber.
Neste percurso aproximavam-se os saberes pelas suas afinidades semânticas,
preconizando, desta forma, a interdisciplinaridade. Ao mesmo tempo que os
Organização do conhecimento 133

identificavam, agrupavam-nos de forma sistemática, criando desta forma


novos ramos do saber.
Na obra Encyclopaedia omnium scientiarum septem tomis distincta,111
Alsted, imbuído de um espírito integrador e conciliador, procurou combinar,
de forma pacífica, a cultura cristã com a cultura clássica. De acordo com esta
orientação, colocou ao mesmo nível as ciências teóricas, as ciências práticas e
as artes mecânicas. Revelando um espírito universal procurou organizar nela
todas as áreas do conhecimento humano.
Importa referir que os primeiros quatro livros desta obra apresentam
uma reflexão epistemológica na qual, entre outros temas, são abordados os
que estão relacionados com a origem e a classificação das ciências.
Outro ponto inovador, no que se refere à organização dos saberes, que
se inicia no século XVII e que se irá afirmar e consolidar no século seguinte é
a adopção das línguas individuais na produção destas obras enciclopédicas.
Embora se tenham ainda publicado no início do século XVII algumas
enciclopédias em latim, como a obra Idea methodica (1606), de Mathias
Martini, na qual se aborda a classificação do conhecimento, e a obra Anatomia
ingeniorum et scientiarum (1614) de Antonio Zara (1574-1621), a partir dos
meados do século assistiu-se ao início da produção deste tipo de obras nas
línguas nacionais; simultaneamente a apresentação dos esquemas temáticos
e os respectivos assuntos passam a ser sujeitos à ordenação alfabética.
Das primeiras obras a serem produzidas neste novo modelo destacamos
o Grand dictionnaire historique, généalogique, géographique, etc..., (1674),
organizado por Louis Moréri, o Le dictionnaire universel des arts et sciences
(1694), encomendado pela Academia das Ciências de Paris e, sob a direcção
de Thomas Corneille é publicado o Dictionnaire historique et critique (1697),
organizado sob a responsabilidade de Pierre Bayle.112

111
Esta obra é composta por 35 volumes, divididos em sete partes. Na primeira parte (4
primeiros livros), Alsted apresenta um estudo introdutório de natureza epistemológica sobre a
ciência. Nas outras três partes apresenta todos os ramos do conhecimento. Em primeiro lugar
apresenta a Filologia, que integra as disciplinas do Trivium; segue-se a Filosofia teórica, que
integra, por sua vez as disciplinas do Quadrivium, e outras disciplinas. Segue-se a Filosofia
prática, que engloba um conjunto exaustivo de disciplinas de natureza diversa, mas cujo
denominador comum a todas elas, é o aspecto empírico.
112
Esta última obra teve uma grande repercussão na Europa e teve também uma enorme
influência na produção da Encyclopédie de Diderot e de D’Alembert. Por seu lado, a obra de
Moréri, foi aquela que mais se divulgou na Europa; até ao final do século foi editada seis vezes,
134

Após esta exposição, podemos concluir que, se o Renascimento se viu


confrontado com uma grande quantidade de informação avulsa, uma herdada
e outra inédita, para a qual teve dificuldade em construir técnicas e esquemas
de classificação, o século XVII caracterizou-se sobretudo pelas experiências e
estudos efectuados para uma possível construção de um modelo de
classificação do conhecimento.
Tal situação concorre para que possamos afirmar que, nos séculos XVI e
XVII, a organização do conhecimento não passou de um projecto que foi
umas vezes melhor desenhado do que outras.
No que diz respeito à organização do conhecimento, o século XVIII, traz
consigo a afirmação e a consolidação de dois critérios que já tinham sido
introduzidos no século XVII. Por um lado, a consolidação e a valorização das
línguas individuais no mundo científico e filosófico em detrimento do latim,
facto que concorre para uma maior divulgação do conhecimento universal, na
medida em que este tipo de obras começa a ser consumido por todos aqueles
que sabem ler a sua língua e não por um pequeno grupo de eruditos, na
maioria dos casos eclesiásticos. A adopção das línguas individuais também
concorre para que a produção científica e académica se dissocie e corte o
cordão umbilical com o poder e a produção eclesiástica, que também usava o
latim, ao tempo a língua oficial.
Por outro lado, assiste-se à afirmação e consolidação da ordem
alfabética em detrimento da organização disciplinar do conhecimento, critério
que tinha sido usado até então.
Este novo modelo de organização do conhecimento vai ao encontro da
mentalidade e da sensibilidade deste século.
Se é um facto que, a introdução da ordem alfabética concorre para um
acesso mais rápido e linear à informação, é também uma evidência que esta
nova ordem contribui para a desestruturação do mundo disciplinar que se
tinha instituído e consolidado na Idade Média e que, chegou até à Idade
Moderna constituindo, na nossa perspectiva, uma ordem sagrada do mundo
cognitivo.

tendo também sido traduzida para inglês. Em relação às outras obras produzidas, apresentava a
particularidade de introduzir dados geográficos e biográficos.
Organização do conhecimento 135

Mais uma vez, a organização do conhecimento teve de se ajustar às


novas realidades dos quadros mentais. Para isso, a apresentação sistemática
por assunto é preterida em relação à apresentação por ordem alfabética.
Concordamos com Olga Pombo, quando ela se refere a esta situação. Fá-lo
nos seguintes termos: Ela ajusta-se ao mundo dessacralizado com que o
século XVIII se confronta.113
A adopção desta nova concepção na organização dos saberes concorreu
para que a organização do conhecimento, em termos formais, se aproximasse
da de um dicionário.
Entre as obras publicadas de acordo com este novo conceito destacamos
o Dictionnaire des arts et des sciences (1694), de Theodore Corneille (1606-
1684), elaborado a pedido da Academia das Ciências de Paris, e o Lexicon
thecnicum or a Universal English dictionary of the arts and sciences (1704-
1710), de John Harris,114 que foi encomendado pela Royal Society of London.
Apesar de a primeira ter sido ainda publicada nos finais do século XVII, estas
duas obras assumiram-se como as grandes obras nas quais a organização dos
saberes se efectuou com bases nos dois princípios enunciados:

- o conhecimento aparecia disposto sob apresentação alfabética;


- o conhecimento encontrava-se registado nas línguas nacionais,
caso vertente em francês e em inglês, respectivamente.

O século XVIII assume-se como o corolário do enciclopedismo.


Expressão desta afirmação é a publicação de duas grandes obras: a
Cyclopaedia or an General dictionary of Arts and Sciences (1728)115, de
Ephraim Chambers (1680-1740) e a Encyclopédie, de Diderot e de
D’Alembert.
No que concerne à obra Cyclopaedia or a General dictionary of Arts and
Sciences, esta é apresentada como uma obra original, na medida em que o

113
POMBO, Olga - O século de ouro do enciclopedismo. [Consult. 8 Jun. 2008]. Disponível em
WWW:<URL: http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/enc/cap2p4/secour.htm.
114
John Harris foi o primeiro autor a organizar uma enciclopédia em inglês.
115
Relativamente à Cyclopaedia or a General dictionary of Arts and Sciences. Nesta obra as
entradas apresentam-se sob ordenação alfabética. Acresce referir que ela influenciou a
Encyclopédie de Diderot e de D’Alembert, pelo facto de ter sido proposto a Diderot que a
traduzisse.
136

seu autor constrói uma teia de referências entre as entradas, que vão do
geral para o particular, concorrendo, desta forma, para a unidade. Usando
este expediente, o autor tenta dar uma ordem lógica e unitária aos assuntos
nela tratados e que foram dispersos, naturalmente, pela ordem alfabética.
Esta obra seguiu a mesma orientação adoptada pelo Lexicon thecnicum
or a Universal English dictionary of the arts and sciences, que tem como
particularidades o facto de ser escrita em inglês, não fazer referência a
biografias e favorecer todas as informações sobre ciências, artes e aquelas
que estão relacionadas com o pensamento clássico e contemporâneo116.
Cumpre referir que, esta obra, no que diz respeito à sua organização,
apresenta dois quadros de classificação das ciências. Um deles caracteriza-se
por ser breve e nele poderem observar-se influências da classificação de
Francis Bacon. O outro quadro que é, no essencial, a base desta obra,
caracteriza-se pela evidente influência aristotélica e por ser mais extenso.
Sob a orientação de Denis Diderot
(1713-1784) e de Jean Baptiste le Rond
D’Alembert (1717-1783), foi publicado
em Paris, em 1751, o primeiro volume
da Encyclopédie ou Dictionnaire
raisonné des sciences,117des arts et des
métiers. Esta obra que, originalmente,
tinha começado por ser uma tradução
das obras Lexicon technicum, de John
Harris e Cyclopædia, de Chambers,
seguiu uma trajectória diferente daquela
que se tinha projectado inicialmente,
acabando por ser uma nova obra
alicerçada em novos conceitos.
117
A maior das obras inseridas neste Fig. 6 - Encyclopédie

movimento foi, sem dúvida, a Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des


sciences, des arts et des métiers, de Diderot e de D’Alembert, cujos últimos

116
Note-se que a Encyclopaedia Britannica (1768-1771) adoptou este modelo.
117
Ver: http://clionauta.files.wordpress.com/2010/01/encyclopedie.jpg [Consult. 12 Dez. 2009].
Organização do conhecimento 137

volumes foram publicados em 1772. Durante o período em que foi publicada,


assumiu-se como o expoente máximo da organização do conhecimento.
O impacto desta obra na época foi imenso, graças aos temas que
abordava e à forma como o fazia. De entre eles salientamos os temas sociais,
os económicos, os políticos, os jurídicos e os teológicos.
A Encyclopédie foi considerada nos meios académicos e culturais, do
tempo, como o baluarte do movimento iluminista na Europa.
Era composta por uma taxonomia do conhecimento humano inspirada
na obra de Bacon, Advancement of knowledge. Devido a esta circunstância, o
conhecimento apresentava-se
dividido em três ramos:
Memória, Razão e Imaginação.
Estes ramos encontravam-se
depois subdivididos em outros
ramos do saber, como poderá
observar-se na figura que
apresentamos.
Neste esquema, que é o
reflexo da mentalidade da
época, a Religião aparece
integrada na categoria da Razão,
mais concretamente na parte
relativa à Ciência de Deus.118 Por
curiosidade refira-se que, na
mesma “subcategoria” também
se encontra integrada a Magia 119
Fig. 7 - Sistema do conhecimento humano (Encyclopédie )
Negra.
De uma forma geral, o princípio que estava subjacente a estas
classificações assentava em divisões que se encontravam subordinadas umas
às outras, tal como se observava nas classificações taxonómicas. Este tipo de
classificação, construído com base nesta estrutura, foi o modelo que se impôs
para organizar o conhecimento.

118
A propósito referir-se-á que, o facto de a religião aparecer subordinada a uma capacidade do
Homem, provocou alguns problemas na época.
138

Nos séculos XIX e XX continua a tendência para organizar o


conhecimento universal e para o publicar em grandes obras enciclopédicas ou
em forma de verbetes, nos quais eles se encontravam organizados por ordem
alfabética. Muitas destas obras de tipo enciclopédico já obedeciam a um plano
prévio, no qual se encontravam desenhados os conteúdos que iriam compor a
obra, assim como a ordem que eles assumiriam uns em relação aos outros.
119
Exemplo desta orientação é a Encyclopédie.
Dentro desta linha, foi no século XIX que se construíram as primeiras
classificações bibliográficas de tipo enciclopédico, de entre as quais
salientamos a Classificação Decimal Universal.

- Divulgação do conhecimento laico.


Objectivos
Difusão junto de todos os cidadãos: emprego das línguas nacionais

Conteúdos - Conhecimento universal (construído com base na Razão e na Experiência)

- Hierárquica
Estrutura Organização do conhecimento em áreas epistemológicas (estrutura inconsistente)
- Ordenação alfabética.
Tabela 4. Movimento enciclopédico na Idade Moderna

A título de síntese, apresentamos os seguintes pontos conclusivos:


Interessa referir que toda a organização do conhecimento tinha
subjacente uma estrutura hierárquica mais ou menos vincada. Ao longo dos
períodos considerados, observamos saberes que são ou subordinantes ou
subordinados em relação a outros, de acordo, naturalmente, com as
mentalidades que eram as vigentes na época.
A estrutura hierárquica considerada em si mesma, foi uma característica
irrefutável que se manifestou, de uma forma implícita e/ou explícita, na
apresentação dos saberes dentro de uma estrutura lógica e organizada de
acordo com os valores da época à qual se refere. É neste sentido, por
exemplo, que observamos a Teologia na Idade Média ser considerada o topo
numa escala hierárquica, e na Idade Moderna a mesma disciplina aparecer

119
Ver: http://aix1.uottawa.ca/~sperrier/europe/cours9/images/tree.french.jpg [Consult. 12 Dez.
2009].
Organização do conhecimento 139

subordinada à Razão. As classificações bibliográficas, embora partam de


princípios de natureza diversa, de natureza lógica - também apresentam uma
estrutura vincadamente hierárquica.
No que respeita à organização do conhecimento enciclopédico, será de
referir que lhe subjazem critérios definidos a priori, que se assumem como
coordenadas de referência servindo para individualizar e identificar com
precisão, as várias tipologias relativas à organização do conhecimento ao
longo dos tempos.
As classificações bibliográficas também foram construídas partindo de
princípios considerados a priori. Este princípio salienta-se pela relevância
conceptual e porque é considerado um eixo estruturante. Por exemplo na
Classificação Decimal Universal, a um assunto corresponde sempre o mesmo
código na respectiva tabela de classificação, sendo este determinado, a priori,
independentemente de um documento.
Para concluir esta breve síntese, cumpre referir que, tal como aconteceu
com o movimento enciclopedista, as classificações bibliográficas souberam
interagir com a dinâmica social, o que se traduziu, na prática, por se
adaptarem às novas realidades emergentes, como iremos comprovar na
segunda parte deste trabalho.
No quadro que apresentamos de seguida, pretendemos estabelecer uma
melhor visualização das afinidades existentes entre as principais
características que pautaram este movimento e as principais características
das classificações bibliográficas.

Enciclopedismo Classificações bibliográficas

Objectivos Organização do conhecimento Organização do conhecimento

Conteúdos Representação do conhecimento universal Representação do conhecimento universal

- Sistemas epistemológicos - Sistemas epistemológicos

Estrutura (até à Idade Moderna)

- Alfabética e em sistemas epistemológicos


Tabela 5. Afinidades entre o movimento enciclopédico e as classificações bibliográficas
140

1.2 A organização do conhecimento [Segundo o critéro da


sistematização]

Neste ponto por uma questão de consistência conceptual iremos utilizar


a designação classificação do conhecimento em vez de organização do
conhecimento. Esta circunstância prende-se com o facto de este tipo de
organização se alicerçar, embora de forma embrionária, em quadros
classificatórios.
Ao longo da história do conhecimento e, no que se refere à sua
formalização em termos de organização, observamos que a sistematização foi
uma actividade que esteve sempre presente nas preocupações culturais e
científicas. Isto é, assistimos sempre à construção de sistemas, que consiste
na disposição de forma estruturada dos elementos que constituem um
conjunto, com o fim de formarem um todo organizado. Os elementos que
formam essa estrutura são interdependentes na sua formação e obedecem a
um critério único, de aplicação metódica, como um todo.
Desde sempre se assistiu a uma pretensão de sistematizar o
conhecimento. O movimento de tipo enciclopédico a que fizemos referência no
ponto anterior surge como uma das primeiras formas arcaicas de o
sistematizar. Em paralelo com ele, a partir do século XVI, começam as
primeiras tentativas de classificar as ciências, baseadas em critérios de
natureza sistemática e científica.
Com a introdução deste ponto pretendemos apresentar os primeiros
esquemas formais da classificação do saber, conhecer e analisar as suas
estruturas e as suas características. Este ponto, tal como o anterior (1.1),
assume no estudo do tema em análise um grande interesse, pelo facto de ter
vindo a influenciar a construção dos planos de classificação bibliográfica.
Para dar cumprimento a este propósito iremos basear-nos em
argumentos de carácter filosófico ou científico que marcaram uma posição
irrefutável, ao longo dos tempos, relativamente à classificação do
conhecimento.
Apesar de neste ponto colocarmos a enfâse na classificação das ciências,
todavia, nos pontos (1.2.1; 1.2.2; 1.2.3) falamos em classificação do
conhecimento e não em classificação das ciências. Esta circunstância prende-
Organização do conhecimento 141

se com o facto, de nos períodos aos quais se referem os pontos que


mencionamos, a ciência ainda não se considerar na acepção que teve a partir
do século XVII. Independentemente desta situação, não obstante, ao longo
dos períodos considerados, observou-se a vontade e a tentativa de se
construírem planos para sistematizar o conhecimento.

1.2.1 A classificação do conhecimento [Percurso histórico]

Ao longo deste percurso propomo-nos analisar a obra e o pensamento


de alguns autores que entendemos terem influenciado, de forma directa e
indirecta, a construção das primeiras classificações bibliográficas de tipo
enciclopédico como a Classificação Bibliográfica Universal.

1.2.1.1 A classificação do conhecimento na Antiguidade

Na Antiguidade clássica as classificações propostas tinham como


objectivo a classificação do conhecimento, e não a das ciências na verdadeira
acepção da palavra.
Deste modo, as classificações propostas para a organização do
conhecimento tinham como pressupostos princípios filosóficos.
Platão (428/427 a. C - 348/347 a. C) foi o primeiro filósofo a classificar
o conhecimento humano segundo bases filosóficas. Dividiu-o em três partes:
Física, Ética, Lógica.
Aristóteles (384 a. C - 322 a. C), filósofo grego, contribuiu com os seus
princípios filosóficos para a classificação do conhecimento no Ocidente durante
mais de dois mil anos e foi o primeiro filósofo a debruçar-se sobre a
classificação das ciências.
Os seus fundamentos filosóficos em obras posteriores, no que respeita à
classificação das ciências, serão notórios em autores como: Roger Bacon
(1214?-1294),120 Descartes (1596-1650),121 Comte (1798-1857),122 Spencer

120
Gramática e Lógica; Matemática, Física, Metafísica e moral e, Teologia.
121
Lógica; Matemática, Filosofia, Medicina, Ciências Mecânicas e Ética.
122
Matemática, astronomía, Física, Química, Filosofia e Sociologia.
142

(1820-1903)123 e Bliss (1870-1955)124, entre outros. Todos estes autores


seguiram a proposta aristotélica na classificação que propuseram para o
conhecimento.
Partindo do princípio de qual é o fim das ciências, Aristóteles dividiu-as
baseando-se nas três operações básicas do Homem, a saber: pensar, agir e
produzir. Tendo como alicerces estas três faculdades, divide-as em: ciências
teóricas, ciências práticas e ciências produtivas ou poéticas.
Às ciências teóricas (Moral, Ética, Economia e Política) estava destinado
contemplar a verdade; às ciências práticas (Matemática, Física e Filosofia)
competia determinarem as regras através das quais se devem reger os actos
humanos e às ciências produtivas (Poética, Retórica e Dialéctica), competia
indicarem os meios a empregar na produção das obras exteriores.
Segundo Lahr125, entre outras críticas, esta divisão enferma, por um
lado, por dar pouca relevância às ciências contemplativas e omitir a História,
por outro, pelo facto de as três faculdades: pensar, agir e produzir se
relacionarem de forma intrínseca umas com as outras e, deste modo, não
deixarem espaço para uma classificação.
Apesar das críticas que lhe foram feitas, esta divisão das ciências veio a
influenciar as obras de Juan Huarte (1535-1592), Francis Bacon (1561-1626)
e a própria Encyclopédie.
Ainda na Antiguidade, é de salientar a classificação binária de Porfírio.
Tal como referimos no capítulo anterior, mais do que uma classificação, o
sistema de Porfírio assume-se como a demonstração ténue da técnica de uma
classificação. Como observámos, esta técnica, no essencial, traduz-se na
relação inversa da ideia de extensão e da de compreensão.

1.2.1.2 A classificação do conhecimento na Idade Média

Relativamente à Idade Média, a divisão do conhecimento pautou-se pela


existência de um modelo que dominou todo o Ocidente cristão. Foi o modelo

123
Ciência abstracta (Lógica, Matemática), Ciência abstracta-concreta (Mecánica, Física, Química),
Ciência concreta (Astronomía, Geología, Biología, Psicología e Sociología).
124
Ciências abstractas, Ciências naturais, Ciências físicas, Ciências astronómicas, Ciências
biológicas, Ciências antropológicas.
125
LAHR, C. - Manual de Filosofia: resumido e adaptado do “Cours de Philosophie”. P. 344.
Organização do conhecimento 143

escolástico de Cassiodoro (490-581), designado por Trivium e Quadrivium.


Este modelo de classificação do conhecimento baseou-se nas Sete Artes
Liberais126, de Martius Capella (439). Talvez mais do que um quadro
classificatório, este tenha sido um quadro construído com o fim de dividir e
não de classificar. No entanto, entendemos que seria legítimo fazer-lhe uma
referência neste ponto, porque, na prática, ele apresenta-se como uma
verdadeira classificação do conhecimento usado como plano de estudos nas
Universidades da Idade Média, e veio a ter uma forte influência em outros
sistemas filosóficos de classificação posteriores. São exemplo desta influência
a obra de Konrad Gessner (1516-65) e a de Francis Bacon.

1.2.1.3 A classificação do conhecimento no Renascimento

Em relação a este período, no que


respeita à classificação do conhecimento,
no final do século XV, importa referir a obra
do humanista florentino Angelo
Poliziano127(1454-1494) Panepistemon128
(1495).
Nesta obra, Poliziano estabelece um
sistema classificatório para o conhecimento,
no qual, segundo Ingetraut Dahlberg,
apresenta, de forma esquemática, as
relações entre as ciências ou áreas do
conhecimento. Segundo a mesma autora,
foi com este texto que […] foi iniciado o
“movimento” de elaboração de sistemas de
127
Fig. 8 - Página da obra Panepistemon
classificação.129

126
Das sete Artes Liberais faziam parte: a Gramática, a Dialéctica, a Retórica, a Geometria, a
Astronomia, a Música e a Aritmética.
127
Ver:
http://www.library.illinois.edu/rbx/exhibitions/Florentine%20Printing/POLIZIANOPANEPISTEMON_
001.GIF [Consult. 10 Dez. 2009].
128
Nesta obra o autor agrupou as ciências em três áreas, a saber: Teologia, Filosofia e
Adivinhação. Subdividiu a Filosofia também em três partes: Teorética, Prática e Racional. Da
Filosofia faziam parte a Gramática, a História, a Lógica, a Retórica e a Poética.
144

Cabe aqui referir que, no Renascimento, se esgotava em si próprio o


princípio que era determinado para servir de base à sistematização. Apesar de
algumas experiências pontuais observadas no século XVI, não era usual
construírem-se sistemas de classificação nos quais se apresentassem as
relações entre as várias áreas do conhecimento.
De uma forma geral ao longo deste período, procuravam-se esquemas
classificatórios que permitissem fazer a classificação de todos os domínios do
saber de uma forma autónoma, sem que houvesse possibilidades da
existência de qualquer tipo de relações entre as respectivas áreas. Uma
ciência poderia apenas ocupar um único lugar dentro de um dado esquema
global. O contrário era considerado uma “heresia” científica. Admitir as
possíveis relações que se poderiam estabelecer entre os distintos ramos do
saber ou as perspectivas sob as quais poderia ser considerada uma
determinada área, era algo impensável na época.
Esta posição determinista quanto ao espaço que uma certa área do
saber poderia ocupar num esquema de
classificação, manifesta-se nas obras de
Mário Nizolio e de Juan Huarte, ambas
publicadas na segunda metade do século
XVI.130Ao conceberem um plano
classificatório para os saberes, os dois
autores não consideram as suas relações.
Juan Huarte, que é considerado o
percursor do cartesianismo e do
cognitivismo, na obra Examen de ingenios
(1575), entre outros temas, desenvolveu
metodologicamente uma sistematização
enciclopédica da classificação dos saberes.
Nela apresenta uma distinção inequívoca
dos diferentes ramos de cada saber. De
130
Fig. 9 - Portada da obra: Examen de ingenios
acordo com esta distinção cada ramo

129
DAHLBERG, Ingetraut - Teoria da classificação, ontem e hoje. [Consult. 28 Mai. 2009].
Disponível em WWW:<URL:http://.conexario.com/biti/dahlbergteoria/dahlberg_teoria.htm>.
130
Ver: http://cvc.cervantes.es/img/conjuro_libros/09_examen_ingenios01_600.jpg [Consult. 20
Nov. 2009].
Organização do conhecimento 145

assenta numa faculdade humana diferente. Nesta obra, no capitulo XII, ele
apresenta esta ideia nos seguintes termos:

Esta mesma diferencia hay entre el teólogo escolástico y el


positivo: que el uno sabe la razón de lo que toca a su facultad; y el
otro las proposiciones averiguadas y no más […].131

No corpo deste mesmo capitulo, distingue a teologia positiva da teologia


escolástica argumentando o seguinte:

[…] la teórica de la teologia pertenece al entendimiento y el


predicar, que es su práctica, a la imaginativa.132

Se no capítulo XII separa o


Direito teórico do Direito prático, no
capítulo XIV, divide a Medicina em
duas partes: Medicina teórica e
Medicina prática.
O autor justifica as outras duas
divisões com razões análogas às que
133
foram invocadas para a Teologia.
Terminamos este ponto com a
referência a Konrad Gessner,
naturalista e bibliófilo que, com a sua
obra Bibliotheca Universalis (1545),
trouxe um decisivo contributo à
história das classificações.
Este autor, num suplemento à
referida obra chamado Pandectarium
sive partitionum universalis, Fig. 10 - Portada da obra: Bibliotheca Universalis
133

131
HUARTE DE SAN JUAN, Juan – Examen de ingenios para las ciencias.1989. (Facs. De 1594).
Capitulo XII.[Consult. 12 Jan. 2008]. Disponível em WWW:<URL:http://.books.google.pt/>.
132
Ibidem
133
Ver: http://www.ngzh.ch/Nj1966.gif [Consult. 21 Nov. 2009].
146

classificou por assunto os livros que compunham a obra Bibliotheca


Universalis.
Apesar de ser uma classificação para livros de uma bibliografia impressa
e não para uma colecção de obras de uma biblioteca, não deixa, contudo, de
ser a primeira tentativa para organizar de forma metódica os livros. Por isso
se reconhece este sistema como o primeiro esquema de classificação
bibliográfico.

1.2.1.4 A classificação do conhecimento na Idade Moderna: a


classificação das ciências

A idade Moderna trouxe consigo uma


nova forma de classificar o conhecimento, que
foi a classificação das ciências.
Uma das primeiras classificações de
relevo a considerar nesta época é a de Francis
Bacon. A sua importância e o seu destaque
devem-se à influência que veio assumir
noutras classificações que foram elaboradas
posteriormente.
Bacon, partindo de um pressuposto
subjectivo na orientação aristotélica, classifica
as ciências de acordo com as três faculdades
intelectuais do Homem.134 Assim, segundo
esta orientação, no II Livro De dignitate et Fig. 11 - Portada da obra
134
De dignitate et augmentis scientiarum
augmentis scientiarum, 135
na primeira parte,
denominada Partitiones scientiarum, Bacon apresentou o seguinte plano: as
Ciências da Memória, as Ciências da Imaginação e as Ciências da Razão.
À Memória correspondia a História (História natural, História civil e
História sagrada), à Imaginação a Poesia (épica, dramática e alegórica) e à

134
Ver:
http://www.library.dal.ca/duasc/Bacon/images/thumbnails/G130_DeAugmentisScientiarum_1stPa
risEd.jpg [Consult. 15 Dez. 2009]
135
Este texto é o primeiro da obra Instauratio magna.
Organização do conhecimento 147

Razão a Filosofia (cujo objecto de estudo são Deus, o Homem e a Natureza).


Esta classificação é expressa pelo autor no seguinte excerto:

Partitio universalis doctrinae humanae, in Historiam, Poesim,


Philosophiam, secundum tres intellectus facultates, Memoriam,
Phantasiam, Rationem […].136

Esta classificação, tal como acontecia com aquela que fora proposta por
Aristóteles, segundo alguns autores não distingue suficientemente as duas
ciências em termos de classificação, por aproximar a História civil da História
natural, já que entre as duas não há analogia possível.137
Esta preocupação de sistematizar e de construir um “esquema”
hierárquico do conhecimento encontra-se também na obra do mesmo autor,
Novum organum sive Indicia de interpretatione naturae (1620). Nela, Bacon
expõe o método indutivo e estabelece as relações hierárquicas que os saberes
devem ter uns em relação aos outros. Expressão desta ideia é o que pode ler-
se na seguinte passagem da referida obra:

[…] a esas dos ciencias teóricas estarán subordinadas dos ciencias


prácticas: á la física, la mecânica; á la metafísica, la magia […].138

Bacon pretendia que todas as informações que estão apresentadas nas


suas obras fossem sujeitas a rigorosos critérios científicos. O seu grande
projecto era construir uma enciclopédia, na qual o conhecimento humano se
encontrasse estruturado em três partes: uma sobre a Natureza, outra sobre o
Homem e uma terceira sobre a acção do Homem na Natureza; todavia, este
seu projecto nunca foi concluído.
Outra obra que importa referir a propósito do tema em análise é a de
Juan Amós Coménio Pantaxia ou Universalis Sapientia.139 Nesta obra é
apresentado um plano sistemático das diferentes ciências e a relação que se

136
BACON, Francis - De dignitate et augmentis scientiarum. 1645. P. 121.
137
LAHR, C. - Manual de Filosofia: resumido e adaptado do “Cours de Philosophie”. P. 344.
138
BACON, Francis – Nuevo órgano. 1892. P. 18-19.
139
Esta obra divide o mundo hierarquicamente em oito níveis: o Possível, o Ideal, o Inteligível, o
Natural, o Artificial, o Moral, o Espiritual e o Eterno.
148

estabelece entre elas. Começa por apresentar as Ciências da natureza,


seguindo-se as Ciências humanas, a Filosofia, e finaliza o seu esquema com a
Teologia.
Nos séculos XVII e XVIII, apesar de se terem observado algumas
alterações à rigidez dos esquemas de sistematização, que se traduziram no
facto de se considerarem as relações entre vários domínios, predominava o
princípio da exclusividade baseada no determinismo. De acordo com ele, um
dado domínio do conhecimento só podia ser classificado numa única área,
sendo-lhe interdita a relação com outros domínios.
Entre os opositores à ideia de monohierarquia, no século XVIII,
encontramos, entre outros percursores, André-Marie Ampère (1707-1788).
Ampère, na sua classificação das ciências, ao contrário de Bacon, parte
de um pressuposto objectivo, facto que concorre para que a sua classificação
adquira características científicas. Partindo de dois princípios: matéria e
espírito, divide as Ciências em Ciências cosmológicas e em Ciências
noológicas ou Ciências do mundo espiritual.140141

140
As ciências cosmológicas propriamente ditas correspondem à matéria inorgânica e podem ser
consideradas abstractas, como a matemática, ou concretas, como a física. As ciências fisiológicas
correspondem à matéria orgânica, destas fazem parte outros dois tipos de ciências: as ciências
médicas e as ciências naturais. As ciências noológicas dividem-se em Ciências noológicas
propriamente ditas, tais como as Ciências filosóficas e as Ciências dialogmáticas (como, por
exemplo, a linguística); estas Ciências integram ainda as Ciências sociais que, por sua vez, se
dividem em Ciências políticas e Ciências etnológicas.
141
Ver: http://www.sabix.org/bulletin/b37/37-28.gif. [Consult. 20 Dez. 2009].
Organização do conhecimento 149

141
Fig. 12 - Plano da divisão das ciências de Ampère

Entre críticas que foram feitas a esta classificação, destacamos as


seguintes: possuir um número excessivo de subdivisões, por vezes ser
arbitrária nos pormenores e não mostrar, de forma suficiente, a relação que
existe entre as ciências.
Na obra Essai sur la philosophie des sciences, or Exposition analytique
d’une classification naturelle […].142 Ampère afirma que, na classificação das
ciências não poderá apenas ser considerada a sua natureza, mas também
deverão ser considerados os diversos pontos de vista sob os quais são
tomados os objectos a classificar. Esta ideia encontra-se de forma explícita no
seguinte excerto:

142
AMPÈRE, André-Marie – Essai sur la philosophie des sciences… 1838. P. VI.
150

Depuis long-temps j’avais remarqué qu’il est nécessaire, dans la


détermination des caractères distinctifs d’après lesquels on doit
définir et classer les sciences, d’avoir égard non seulement à la
nature des objects […] mais encore aux divers points de vue sous
lesquels on considère les objects.

Independentemente do nível de maior ou menor flexibilidade, pretendia-


se que a hierarquização das ciências contribuísse para a localização
inequívoca de cada ciência. Dentro de
um quadro classificatório global, cada
uma deveria ter um lugar
predeterminado e imutável.
Nesta linha de pensamento e,
como expoente máximo deste tipo de
classificações que são baseadas na
hierarquização, referiremos Lineu
(1707-1778). É considerado o “pai” da
moderna classificação biológica e a
sua obra constitui, ainda hoje, uma
ferramenta indispensável para a
investigação dos seres vivos. Na obra
Systema Naturae (1735)143 expõe um
esboço das suas ideias para uma
classificação hierárquica das espécies. Fig. 13 - Portada da obra: Systema naturae
1 44

O144sistema que apresenta, e que dá o nome à obra, baseava-se no


conceito de taxonomia,145 assente numa hierarquia absolutamente redutora,

143
Na obra Systema naturae, Lineu classifica as plantas, os animais e os minerais. Para classificar
as plantas baseou-se nas características sexuais, para os animais e minerais classificou-os pela
sua aparência externa. A hierarquia das taxonomias de Lineu, eixo estruturante deste sistema,
partia da noção de Reino que, por sua vez era dividido em Filos, estes em classes, ordens,
famílias, géneros e espécies e, dentro de cada um, em subdivisões. Foi neste trabalho (10ª ed.
1758), que Lineu iniciou a aplicação geral da nomenclatura binominal zoológica.
144
Ver: http://bibbild.abo.fi/hereditas/linneana/syn.jpg [Consult. 14 Dez. 2009]
145
A ideia de taxonomia não é inédita. No século XVI, entre outros humanistas, que se insurgiam
e lutavam contra o método escolástico, baseado no Trivium e no Quadrivium, na maioria das
Universidades Europeias destaca-se Pierre de La Ramée (1515-1572), lógico e filósofo francês.
Este filósofo, influenciado pelo tratado de Porfírio, no qual se defende uma classificação do
conhecimento baseada em dicotomias, numa tentativa de reformar o ensino tradicional,
Organização do conhecimento 151

que geralmente usava apenas uma característica para classificar os objectos,


como acontecia nas plantas. Tal ideia concorreu para que esta classificação
fosse criticada por outros autores, entre os quais Buffon, que contrapunha ao
fixismo de Lineu uma classificação mais flexível, fundada na observação das
formas inalteráveis da natureza, na identificação dos caracteres essenciais,
relativos aos géneros, às espécies e às classes.
Nas taxonomias enumeravam-se todas as espécies de forma exaustiva.
Este processo foi influenciar as classificações bibliográficas de tipo
enciclopédico pois, tal como o sistema de organização das espécies proposto
por este naturalista, também os assuntos neste tipo de classificações se
encontram enumerados. Por tal ocorrência caracterizam-se estes tipos de
classificações como enumerativas.
A classificação de Lineu foi criticada por outros filósofos naturalistas, que
viram nela um instrumento extremamente compartimentado e assente em
princípios redutores.
Entre autores que criticaram a proposta de Lineu, como já referimos
destaca-se Georges Buffon (1707-1788), naturalista francês, que contrapõe
ao “imobilismo descritivo” da classificação esquemática de Lineu, uma
observação e descrição baseadas na variedade de formas e do
comportamento dos objectos a classificar. Na interpretação dos fenómenos,
este autor assume uma dimensão antropológica: o Homem é o centro. Para
Buffon uma classificação dos objectos apenas faz sentido se tiver em conta a
relação que se estabelece entre o Homem e eles. Ao contrário de Lineu, que
isola e “disseca” os objectos em si próprios, Buffon para efeitos de
classificação dos mesmos, considera a sua relação com o meio envolvente.
Para este naturalista, a natureza só podia ser entendida como um todo.
Sistematizando o seu pensamento em relação à classificação de
conhecimento, podemos afirmar que Buffon considera o Homem como
fundamento primeiro na sua classificação.
Buffon, contrário ao “fixismo” de Lineu, entende que é impossível
compartimentar de forma categórica os objectos em classes, géneros e
espécies, estabelecidos a priori, na medida em que existem sempre

apresenta a substituição dos antigos métodos de memorização pelo método de memória artificial
baseado em tabelas taxonómicas.
152

determinadas particularidades que são comuns a objectos de outras classes,


géneros e espécies. Desta forma, classificar um objecto em qualquer destas
divisões será sempre um processo arbitrário.
Partindo destes princípios, Buffon divide as Ciências em duas classes
principais, a saber: História civil e História Natural. Fá-lo na expressão que se
segue:

On pourroit donc diviser toutes les sciences en deux classes


principales […] la première est l’Histoire Civile, & la seconde,
l’Histoire naturelle […].146

Destas ciências irão ramificar outras, naturalmente.


Importa referir o importante papel que Buffon teve na classificação do
conhecimento. Traduziu-se numa divisão
assente em critérios flexíveis e métodos
que se tentavam adequar às
particularidades dos objectos a
classificar. Buffon, ao contrário de outros
filósofos racionalistas/ experimentalistas,
não se preocupou em estudar um único
método, pois entendia que não havia um
método perfeito que se adequasse à
multiplicidade dos seres.147
Pelo que fica exposto, em relação
à sistematização, observamos que o
século XVIII se caracterizou pela
preocupação de classificar as Ciências
Naturais partindo de critérios racionais e Fig. 14 - Portada do Vol. 2 da obra
147
Histoire naturelle, générale et particulière
científicos. A pretensão de classificar as

146
BUFFON, Georges Louis Leclerc – Histoire naturelle, générale et particulière : avec la
description du Cabinet du Roy. 1749-1804. P.31.
147
Ver: http://images.google.pt/images?hl=pt-
PT&source=hp&q=Histoire%20naturelle%2C%20g%C3%A9n%C3%A9rale%20et%20particuli%C
3%A8re%3A%20avec%20la%20description%20du%20Cabinet%20du%20ro&um=1&ie=UTF-
8&sa=N&tab=wi [Consult. 14 Dez. 2009].
Organização do conhecimento 153

Ciências irá estender-se ao século XIX, no qual assistiremos aos primeiros


ensaios e estudos de sistematização, agora nas Ciências Sociais.

1.2.1.5 A classificação do conhecimento no século XIX: a classificação


das ciências

No século XIX, embora haja algumas excepções, continuou a prevalecer


a sistematização do conhecimento alicerçada na hierarquia.
Esta ideia desenvolveu-se e consolidou-se a ponto de o próprio acto de
construir planos de classificação com vista à sistematização do conhecimento
se ter tornado uma actividade natural entre os filósofos. Era necessário criar
novos quadros classificatórios que, por um lado, permitissem classificar as
novas ciências que se emancipavam da Filosofia natural, e por outro,
servissem para classificar as novas ciências emergentes sobretudo das áreas
sociais, como a Sociologia e a Psicologia.
Os quadros classificatórios deveriam estar, naturalmente, de acordo com
os quadros mentais da época. No caso concreto dentro dos padrões do
Positivismo.
Um dos fundamentos mais relevantes no pensamento do século XIX era
a ideia de progresso. A formalização deste princípio assentava na ordem que
se deveria basear na noção de hierarquia. No século XIX, esta ideia
encontrava-se subjacente a qualquer actividade. Deste modo, vamos
encontrar o conceito de hierarquia na generalidade dos quadros sistemáticos
deste século relativos ao conhecimento, em particular no que se refere à
classificação das ciências. De um modo geral, estes caracterizam-se por
apresentarem esquemas de classificação rígidos, excepcionalmente abertos a
alguma flexibilidade.
Foi desta forma que, ao longo do século XIX, se assistiu à proliferação
de esquemas de classificações seja nas Ciências naturais, seja nas Ciências
sociais.
Esta prática repercutiu-se também na área da biblioteconomia, onde se
iniciou a construção de sistemas de classificação. Nesta área, este movimento
traduziu-se na publicação dos primeiros planos enciclopédicos de classificação
154

biblioteconómicos, cujo objectivo se manifestava na organização do


conhecimento: em catálogos de livreiros, em catálogos de bibliotecas e na
arrumação física das espécies numa biblioteca. É no século XIX que aparecem
formalizados e instituídos os primeiros esquemas enciclopédicos de
classificação bibliográfica.
Entre outras classificações que apareceram no século XIX, salientamos
as de Auguste Comte e Herbert Spencer, dada a importância que tiveram na
construção de outras classificações.
Auguste Comte (1798-1875) foi um filósofo que marcou o pensamento
da segunda metade do século XIX. Da sua obra destaca-se, pela sua novidade
e particularidade conceptual, o facto de ter fundado o Positivismo e a
Sociologia148.
Grosso modo, o Positivismo149 caracteriza-se pela subordinação da
Imaginação à Razão.
O facto de Comte subordinar a Imaginação à Razão, naturalmente não é
sinónimo da sua negação. Para Comte não é possível existir ciência sem
imaginação. A participação da subjectividade, que radica na imaginação, é um
factor imprescindível na elaboração da ciência, o que não se pode perder de
vista é a realidade – a objectividade dos factos.

148
Cumpre referir que Comte procurou sistematizar o progresso humano, num processo que
designou a Lei dos três estados, considerado por alguns autores como o fundamento indiscutível
de toda a sua obra.
Partindo da observação da percepção da ideia de progresso humano, Comte divide a sua evolução
em três estados, a saber: o estado teológico ou fictício, o estado metafísico ou abstracto e o
estado científico ou positivo.
No estado teológico os fenómenos são explicados com o recurso ao sobrenatural, pela
arbitrariedade de entidades sobrenaturais. Nesta fase procuravam-se as primeiras e últimas
causas dos fenómenos.
O segundo estado, o metafísico, apresenta-se como um estado de transição entre o estado
teológico e o estado positivo. Neste estado, apesar de se encontrar ainda a presença de entidades
sobrenaturais na explicação dos factos, já se procuram as causas na própria realidade. Este
estado é caracterizado pelas abstracções personalizadas.
O terceiro estado surge no seguimento e como o corolário dos outros dois. Os factos são
explicados por leis gerais, abstractas e positivas. A procura do absoluto dá lugar ao relativo, o
absoluto, dada a sua natureza, considera-se inacessível.
Importa referir que esta sistematização não é original de Comte. Ela radica na doutrina de Torgot
e, mais tarde, de Condorcet, que também tiveram a pretensão de dividir e classificar a evolução
humana partindo da faculdade intelectual do Homem.
Cumpre referir que esta Lei não é apenas aplicada ao Homem no que diz respeito à sua evolução
colectiva, mas é também aplicada ao ser individual. Assim, a criança explica os factos através do
sobrenatural, o adolescente corresponde ao estado metafísico e o ser adulto consegue atingir o
nível "positivista" das coisas.
149
Numa visão geral, a filosofia positivista caracteriza-se essencialmente pela negação da
aplicação de um único princípio no que concerne à explicação dos fenómenos naturais e sociais e
pela aplicação do método positivo às ciências. Relativamente ao método, este não poderia ser o
mesmo para todas as ciências, dado o facto de a sua natureza ser diversa.
Organização do conhecimento 155

Partindo deste princípio chegamos à seguinte conclusão epistemológica:


a compreensão da realidade apenas é possível partindo da relação contínua
entre o objectivo e o subjectivo e o abstracto e o concreto. É neste
fundamento, simultaneamente dicotómico e dialéctico, que Comte vai basear
todo o seu pensamento, inclusive a própria classificação das ciências.
No geral, o método positivo caracteriza-se pela observação. Para Comte,
qualquer plano de classificação das ciências deveria passar pelo método
positivo, fossem as Ciências naturais ou outras. A este propósito, registamos
o seguinte excerto:

D’un autre côté, la théorie générale des classifications, établie


dans ces derniers temps par les travaux philosophiques des
botanistes et des zoologistes, permet d’espérer un succès réel
dans un semble travail, en nous offrant un guide certain par le
véritable principe fondamental de l’art de classer, qui n’avait
jamais été conçu distinctement jusqu’alors. Ce principe est une
conséquence nécessaire de la seule application directe de la
méthode positive à la question même des classifications, qui,
comme toute autre, doit être traitée par observation, au lieu d’être
résolue par des considérations à priori.150

Concretamente, em relação à classificação das Ciências, Comte


preconiza que estas se devem classificar considerando o seu objecto, partindo
do nível mais simples para o mais complexo. É com base nesta ideia (do nível
mais simples para o mais complexo) que Comte estabelece o seu plano de
classificação das ciências, assente, naturalmente, numa hierarquização.151

150
COMTE, Auguste – Cours de philosophie positive. 1877. P. 49.
151
Ver: http://images.google.pt/images?hl=pt-
PT&um=1&q=Classification+des+sciences+%22Auguste+Comte%22&sa=N&start=63&ndsp=21
[Consult. 14 dez. 2009].
156

151
Fig. 15 - Plano da classificação das Ciências de Comte

De acordo com este raciocínio, e segundo este autor, as ciências não


atingiriam o nível “positivo” ao mesmo tempo. As primeiras a conseguirem
atingir esse estádio foram as Matemáticas, na medida em que esta ciência se
caracteriza por um elevado nível de generalidade e, ao mesmo tempo,
apresenta um objecto de estudo simples e indeterminado. Com base no
mesmo raciocínio seguem-se a Astronomia, a Física, a Química, a Biologia e,
por último, a Sociologia.
Como já referimos, a ordem de organização desta classificação parte do
simples para o complexo e do abstracto para o mais concreto, apresentando-
se este último critério a principal base da classificação de Comte, como
podemos observar na seguinte passagem do Cours de philosophie:

Il faut distinguer, par rapport à tous les ordres de phénomènes,


deux genres de sciences naturelles: les unes abstraites, générales,
ont pour objet la découverte des lois qui régissent les diverses
classes de phénomènes, en considérant tous les cas qu’on peut
concevoir; les autres concrètes, particulières, descriptives, et
Organização do conhecimento 157

qu’on désigne quelquefois sous le nom de sciences naturelles


[…].152

Partindo desta ordem de ideias, a Sociologia, num primeiro momento


designada Física social, é a ciência que Comte considera mais complexa, na
medida em que apresenta como objecto de estudo a Economia, a Ética, a
Filosofia da história, uma parte da Psicologia (a outra parte da Psicologia
encontra-se na Biologia) e a Política. É, portanto, um objecto complexo,
acrescendo ainda a sua dimensão concreta. Devido a este facto, a Sociologia
é a última a atingir o estado positivo.
Dentro deste sistema hierárquico, convém referir que as ciências
concretas se encontravam subordinadas às abstractas e, por, seu lado as
complexas dependiam das mais simples. Além desta dependência, os objectos
de cada ciência particular dependiam dos objectos das outras ciências. Deste
modo, Comte construiu um esquema de classificação hierarquizado mas ao
mesmo tempo criou também uma teia de interrelações entre as várias
ciências.
Resumindo: Comte, na sua classificação das ciências, parte dos
seguintes princípios:
Que na natureza os factos mais simples são também os mais gerais;
que toda a ordem de existência superior considera como pressuposto ordens
de existência mais simples e consequentemente mais gerais.
Conclui-se destes princípios que a dificuldade de conhecer os objectos é
directamente proporcional à sua complexidade. Deste modo, os fenómenos
físicos e químicos, que são os mais gerais e os mais simples, são os que se
apresentam mais fáceis para estudar.
Partindo destas premissas, Comte conclui que a complexidade crescerá
na razão inversa da generalidade e que cada uma das ciências suporá as
ciências mais elementares e gerais. Dado este facto, deve partir-se do estudo
das ciências mais simples e subir gradualmente até às mais complexas.
A classificação de Comte, construída com base nestes fundamentos, tem
a vantagem de ser objectiva e de apresentar com grande clareza o vínculo e a

152
Ibidem, p. 54.
158

hierarquia das ciências. Todavia, esta posição relativamente à classificação


das ciências vai ser criticada por alguns autores, que a consideram demasiado
incompleta e redutora, na medida em que não toma em linha de conta as
ciências que têm por objecto o mundo e o espírito; além disso, criticam
também a dependência que algumas ciências apresentam em relação a
outras.
Embora adoptando a mesma base que ele, um dos autores que criticou
Comte foi Herbert Spencer (1820-1903). Trata-se de um filósofo inglês,
positivista e seguidor das ideias evolucionistas de Charles Darwin, que trouxe
para a filosofia. Um dos seus objectivos era sistematizar todos os
conhecimentos no âmbito da Ciência moderna, aplicando nessa
sistematização os princípios do evolucionismo. Foi dentro deste espírito que
construiu uma classificação para as ciências.
A construção deste novo sistema, no fundo, surge como uma reacção ao
sistema que fora proposto por Comte. Ao mesmo tempo que critica o sistema
e os fundamentos apresentados por este autor na obra Cours de Philosophie,
concebe um novo sistema. Expressão desta ideia é o seguinte excerto, que foi
extraído da obra Classification des sciences:

Dans cet opuscule, consacré en partie à la critique de la


classification de Comte, j’ai prouvé que ni l’ordre de succession
suivant lequel cet auteur dispose les sciences, ni tout autre ordre
suivant lequel on peut les disposer, ne représent, soit leur
dépendance logique, soit leur dépendence historique.153

Concretamente, Spencer classifica as ciências em dois grandes


domínios, de acordo com os seus diferentes aspectos, com os seus objectivos
e com os seus métodos, como ele próprio refere: Elles se partagent en deux
classes, différentes d’aspect, de but et de méthodes.154

Partindo deste princípio, este autor classifica as ciências em dois grupos:

153
Spencer, Herbert – Classification des sciences, 1930. P. 1.
154
Ibidem, p. 5.
Organização do conhecimento 159

- Ciências que estudam as formas sob as quais os fenómenos se nos


apresentam;
- Ciências que estudam os fenómenos em si mesmos.

No primeiro grupo encontramos as Ciências abstractas, das quais fazem


parte a Lógica e as Matemáticas.
No segundo grupo Spencer subdivide-as. Fá-lo em dois grupos de
acordo com os seguintes critérios: aquelas que são estudadas de acordo com
os seus elementos designa-as de Ciências abstracto-concretas, e exemplifica
com a Mecânica, a Física e a Química; e aquelas que são estudadas
integradas no seu conjunto. A este último grupo chama-lhe Ciências concretas
e delas fazem parte a Astronomia, a Geologia biológica, a Psicologia e a
Sociologia.

155
Fig. 16 - Divisão das ciências de Spencer

Os critérios que estão subjacentes à sua classificação diferem daqueles


que foram considerados por Comte, o que concorre para que o seu esquema
de classificação seja diferente. Enquanto Comte considera cada ciência
contendo uma parte abstracta e uma parte concreta, Spencer atribui apenas
uma destas dimensões a cada ciência. 155

155
SPENCER, Herber – Classification des sciences. 1930. P. 6.
160

2 Enciclopedismo e classificação do conhecimento: pontos de


convergência e influências nas classificações bibliográficas

Ao longo do percurso descrito, no que concerne ao enciclopedismo e à


classificação das ciências, não podemos ignorar a influência que, tanto um
como outro movimentos, exerceram sobre as classificações bibliográficas de
tipo enciclopédico, nomeadamente sobre a Classificação Decimal Universal.
Não pretendendo sermos exaustivos quanto aos pontos em que
convergem, referiremos apenas aqueles que, na nossa perspectiva,
exerceram uma influência significativa, nomeadamente quanto aos objectivos,
ao conteúdo e à estrutura.
Relativamente aos objectivos há uma convergência total, na medida em
que tanto as classificações bibliográficas como o enciclopedismo e a
classificação das ciências, propunham, como principal objectivo, a organização
do conhecimento humano para uma melhor localização e compreensão.
Da leitura do exposto ficou claro que a pretensão de todos estes autores
foi a de organizar o conhecimento, independentemente do seu nível de
sistematização, pretensão que é também constatada em qualquer
classificação bibliográfica de tipo enciclopédico. Radicando em razões
diversas, assiste-se, em todos estes meios, a uma procura incessante de
representar o conhecimento universal com o fim de o tornar acessível.
Baseado nesta ideia entendemos que todos eles nasceram alicerçados numa
razão de ordem funcional – organizar o conhecimento para o tornar acessível.
Ao longo de todo o texto assistimos a esta função - da organização do
conhecimento, umas vezes radicada em necessidades de natureza empírico-
culturais, outras radicada em necessidades de ordem científico-culturais.
De acordo com este contexto e, para responder a necessidades de
natureza empírico-culturais, na Antiguidade procedera-se à organização do
saber com o intuito de conservar os valores e a cultura Antiga. Na Idade
Média a organização do conhecimento esteve ao serviço da Igreja e,
directamente, do movimento escolástico. No Renascimento pretendeu-se, com
a organização dos saberes, recuperar a cultura da Idade Antiga e divulgar os
novos conhecimentos. Na Idade Moderna, imbuída do espírito empírico-
Organização do conhecimento 161

racionalista, a organização do conhecimento baseada em fundamentos, agora


de natureza científico-culturais, teve como função sistematizar os saberes
existentes e emergentes, de acordo com os novos parâmetros inerentes ao
conceito da Ciência moderna, para que fossem acessíveis a todos os
indivíduos.
Nas classificações das ciências, esta preocupação manifesta-se na
elaboração de planos estruturados, onde se pudesse organizar de forma
sistemática o conhecimento.
Esta característica funcional também se encontra nas classificações
bibliográficas. A sistematização do conhecimento nelas contida assume, no
essencial, uma função empírica, tal como o enciclopedismo e as classificações
das ciências. Ao organizarem o conhecimento disponibilizam-no de forma
ordenada à sociedade, em catálogos impressos ou em linha e na arrumação
física das obras numa Biblioteca. Com elas, o acesso e a localização do saber
tornam-se mais rápidos, constituindo, deste modo, o meio entre a informação
e aquele que dela necessita.
Relativamente ao conteúdo, quer nas obras de tipo enciclopédico, quer
nos planos de classificação das ciências, quer nas classificações bibliográficas
ele é o mesmo – o conhecimento universal.
É para dar cumprimento a esta função, que encontramos todo o saber
conhecido representado, umas vezes de forma incipiente ou elaborada, outras
de forma simples ou complexa, consistente ou dispersa ou, outras vezes,
exaustiva e/ou incompleta, nestas obras e nos planos de classificação. As
primeiras classificações bibliográficas tiveram também esta pretensão de
expressarem o conhecimento universal, todavia sob forma codificada. Assim,
as primeiras classificações enciclopédicas pretenderam representar nos seus
planos todo o conhecimento que se encontrava já depositado nas bibliotecas e
aquele que deveria, num futuro próximo, nelas ser incorporado. Uma das
mais significativas foi a Classificação da Biblioteca do Congresso, desenvolvida
pela Biblioteca que lhe deu nome, e que surgiu da necessidade sentida por
esta Instituição, de organizar por assunto os seus documentos. Outro caso foi
o da Classificação Decimal Dewey, que foi fruto da mesma necessidade, esta
desenvolvida para responder à organização por assunto das obras do Colégio
de Amherst (Nova Iorque). Por último, a Classificação Decimal Universal, que
162

surgiu para classificar os assuntos das obras que integrariam o Repertório


bibliográfico universal. Este reportório seria constituído por todas as obras
impressas desde Gutenberg até finais do século XIX. Esta classificação, mais
do que as outras, assume pretensão de integrar todo o saber conhecido. A
expressão da mesma encontra-se no seu próprio nome – Classificação
Decimal Universal. Todavia, e independentemente deste aspecto particular,
consideramos as classificações mencionadas como as primeiras classificações
de tipo enciclopédico.
De todas as afinidades comuns que é possível identificar entre o
enciclopedismo, os planos de classificação das ciências e as classificações
bibliográficas, o conteúdo é aquele que é, na nossa perspectiva, mais
evidente.
Atrevemo-nos a afirmar que estas classificações bibliográficas não são
mais do que obras de tipo enciclopédico, cujo conteúdo se apresenta
codificado.
A estrutura das classificações foi, no nosso entender, a característica
que maior influência sofreu dos planos que foram desenhados para a
classificação das ciências.
Em todos os planos de classificação se observa uma hierarquia mais ou
menos explícita. No que diz respeito à estrutura observa-se que, dentro de
cada sistema do saber, há a considerar o facto de determinados autores,
como Comte, já considerarem as relações entre as diversas ciências e
atribuírem a uma ciência, por exemplo, uma dimensão prática e uma
dimensão teórica.
Observa-se também que há outros autores que limitam os campos do
conhecimento em verdadeiras taxonomias impenetráveis, nas quais o
conhecimento, uma vez registado numa dada classe de acordo com um dado
critério, não poderia pertencer a outra, como é o caso da classificação
proposta por Lineu.
Outros autores são de opinião que, uma vez registada uma ciência como
prática não poderá ser considerada como teórica, aplicando-se o mesmo
raciocínio no que respeita ao concreto e ao abstracto, como Spencer propõe
nos princípios que estão subjacentes à sua classificação.
Organização do conhecimento 163

Todas estas características estruturantes vieram a ter uma influência


decisiva nas primeiras classificações bibliográficas. Todas três apresentam
uma estrutura hierárquica, em que os assuntos, em teoria, se encontram
registados em classes com características de uma taxonomia onde, uma vez
registado um assunto, não poderá vir a pertencer a outra classe.
No entanto e, no que se refere à Classificação Decimal Universal, um
assunto poderá ser registado numa outra classe, representando a notação o
mesmo assunto, mas numa outra dimensão; o mesmo facto poderá ocorrer
dentro de uma mesma classe. É nesta acepção dinâmica e interactiva que os
assuntos na Classificação Decimal Universal se associam semanticamente. Ao
mesmo assunto poderá ser atribuída uma dimensão concreta e abstracta,
prática e teórica, de acordo com o valor conceptual do assunto, num
determinado momento, e nesta situação serem-lhe atribuídas duas notações
diferentes.
No estudo que apresentamos, concluímos que o enciclopedismo como
movimento dinâmico se foi adaptando às novas mentalidades emergentes,
manifestando-se esta atitude na alteração e introdução de novos conteúdos e
na alteração da sua estrutura, de forma a responder, com maior eficácia, às
necessidades e questões que lhe eram colocadas.
Dado o interesse deste assunto, é objectivo deste nosso trabalho saber
até que ponto as classificações bibliográficas conseguiram dar resposta à
emergência de novos paradigmas.
Este propósito será concretizado através de um estudo de caso: A
representação do conceito Étnia na Classificação Décimal Universal, que
constituirá o objecto de estudo da segunda parte deste trabalho.
164
Sistemas de classificação percursores das 165
classificações bibliográficas

Capítulo IV
Sistemas de classificação percursores
das classificações bibliográficas
166
Sistemas de classificação percursores das 167
classificações bibliográficas

1 Classificações precursoras dos sistemas de classificação de


tipo enciclopédico [síntese geral]

Tal como observamos no desenvolvimento do capítulo III, desde cedo o


Homem sentiu necessidade de organizar o conhecimento em grandes classes
epistemológicas.
Esta necessidade levou a que fossem criados planos de classificação que
tinham como principal objectivo servir de formato para a organização do
conhecimento.
Neste breve capítulo serão abordados pontos que entendemos
fundamentais para a sua compreensão e contextualização. Para cumprir este
propósito iremos referir as classificações que, não sendo bibliográficas,
exerceram, todavia, uma influência relevante na sua construção.
Para uma maior compreensão dos sistemas de classificação
considerados, nomeadamente a Classificação Decimal Universal, importa
apresentar uma breve suma dos sistemas de classificação que, embora não
tendo sido construídos com o objectivo de organizar o conhecimento numa
biblioteca, não deixam de ser uma referência na história da classificação,
dada a influência que vieram a ter sobre os sistemas bibliográficos. Falamos,
naturalmente, dos sistemas de classificação filosóficos e dos sistemas de
classificação científicos, que já abordámos de forma mais pormenorizada no
ponto anterior, a propósito da organização e sistematização do conhecimento.
Referiremos também, pela sua influência nos sistemas de classificação
bibliográficos, as classificações que foram construídas por bibliófilos e livreiros
para arrumarem os livros nos seus catálogos. Note-se que os séculos XVII e
XVIII foram extremamente prolíficos na elaboração de catálogos de livreiros.
Por último iremos abordar as primeiras classificações bibliográficas e as
influências directas que tiveram nos grandes sistemas enciclopédicos do
século XIX, inícios do século XX.
168

1.1 As classificações filosóficas e as classificações científicas

Como já observamos, antes, as classificações bibliográficas sofreram


grande influência deste tipo de classificações.
Criadas sobre pressupostos filosóficos e/ou científicos, foram essenciais
na concepção e desenvolvimento das classificações bibliográficas que, apesar
de todos os constrangimentos, ainda hoje continuam a ser o instrumento mais
usado para a organização do conhecimento em geral e da arrumação por
assunto numa parte considerável das bibibliotecas.
Apesar da sua natureza e função serem diversas, na medida em que
lhes subjazem fundamentos ontológicos e cognitivos, pelo facto de
pretenderem organizar os saberes e os seres, elas constituíram os seus
alicerces. As classificações bibliográficas, além de pretenderem organizar o
conhecimento e, neste sentido, apresentarem uma faceta cognitiva, também
pretendem arrumar o conhecimento fisicamente nas estantes. Por isso
concordamos com Langridge, quando ele afirma que as classificações
filosóficas estão relacionadas apenas com a natureza do conhecimento e as
classificações bibliográficas não só consideram esta particularidade como
também estão relacionadas com as necessidades do utilizador.156
Apesar de em alguns casos terem existido sistemas que nasceram por
reacção a outros, o facto mais evidente é que em todos eles se encontram
linhas de continuidade, mesmo que em alguns casos elas sejam apenas
residuais. A influência que exerceram uns sobre os outros é por demais
evidente. É por isso que consideramos a influência destes nas classificações
bibliográficas, quer como um percurso absolutamente natural, quer seja a
nível de pressupostos, quer seja a nível de estrutura.
Assim, se fizermos uma breve retrospectiva dos sistemas filosóficos que
abordamos, no respectivo ponto, verificamos que o sistema proposto por
Capella influenciou o sistema proposto por Cassiodoro e este, por sua vez
influenciou o sistema de Konrad Gessner, que como referimos no ponto (1.2)
do III capítulo, classificou por assunto os livros que constituíam a obra
Bibliotheca universalis, facto que trouxe um grande contributo à história das
classificações.

156
LANGRIDGE, D. W. - Subject analysis: principles and procedures. 1989. P. 100.
Sistemas de classificação percursores das 169
classificações bibliográficas

Não sendo uma classificação para arrumação dos livros numa biblioteca,
mas sim uma bibliografia impressa, não deixou de ser inovadora a
preocupação de arrumar os livros por assunto; por isso o seu sistema é
considerado como o primeiro esquema de classificação bibliográfica, como
játivemos oportunidade de mencionar.
No entanto é a Bacon que se deve a maior contribuição para o estudo
dos sistemas de classificação bibliográficos. A classificação que este propõe
para a divisão do conhecimento, apesar de algumas críticas que a apontavam
como linear e redutora, constituiu-se ao longo dos tempos um modelo de
referência na construção de outros sistemas de classificação.
Este novo modelo epistemológico, veio a influenciar outros pensadores
nos séculos posteriores como Diderot e D’Alembert na elaboração da
Encyclopédie, assim como Thomas Jefferson (1743-1826). Este último
adoptou este modelo na classificação da sua biblioteca particular, concepção
que, mais tarde, viria a reflectir-se, na classificação da Biblioteca do
Congresso, que incorporou a sua biblioteca.
Também teve influência na classificação proposta por Jacques-Charles
Brunet (1780-1867), na de William Torrey Harris (1835-1909) que,
invertendo a classificação proposta por Bacon, criou, desta forma, um novo
sistema que, por sua vez foi influenciar, mais tarde, a classificação de Melvil
Dewey (1851-1931).
Relativamente às classificações científicas é de salientar a classificação
proposta por Lineu, na qual se apresenta a hierarquia da classificação
científica dos seres vivos. Esta hierarquia manifesta entre outras, as noções
de classe, género, espécie e taxonomia.
A construção da estrutura desta classificação vai influenciar a estrutura
das primeiras classificações bibliográficas, nomeadamente no que diz respeito
à noção de classe e taxonomia.
Foi de facto, a nível da estrutura que as classificações científicas mais
influenciaram as classificações bibliográficas. É também de referir que, tal
como este tipo de classificações naturalistas, as classificações bibliográficas
pretenderam ser exaustivas e enumerativas. Também elas pretenderam
esgotar todo o conhecimento relativo a um tema na respectiva classe, tal
como aconteceu com as classificações dos animais e das plantas.
170

Tal como a maioria das classificações científicas, as classificações


bibliográficas de tipo enciclopédico, procuraram, na teoria, enumerar os
assuntos, não lhes conferindo qualquer tipo de relação explícita que não fosse
a hierárquica, concorrendo, deste modo, para outra característica – a
exclusividade.

1.2 As classificações utilizadas nos catálogos dos livreiros

A esta proliferação de classificações dos saberes e dos seres com bases


filosóficas e científicas que aparecem a partir, essencialmente, do século XVII,
vieram juntar-se as classificações que foram criadas para organizarem os
livros nos catálogos dos livreiros e bibliografias relativas a bibliotecas públicas
e a bibliotecas privadas.
Tal como aconteceu com as classificações com base filosófica, também
as classificações com bases científicas e as classificações dos livreiros eram
destituídas de características utilitárias. No geral, estes tipos de classificações
não serviam para arrumar os livros por assunto numa biblioteca de forma
sistemática. No entanto, quer umas quer outras foram as classificações que
mais se apróximaram das classificações bibliográficas.
Entre outros critérios, a organização das obras nos catálogos de livreiros
assentava em classificações que tinham subjacente o assunto como norma de
arrumação. Devido ao impacto que algumas das classificações que estiveram
na base da organização destes catálogos tiveram no seu tempo e, em
trabalhos classificatórios posteriores entendemos que seria de grande
interesse salientar alguns desses catálogos, no nosso trabalho.
Assim, entre outros esquemas de classificação propostos para a
ordenação de obras em catálogos impressos, salientamos a classificação
proposta por Aldo Manuzio (1449?-1515), tipógrafo italiano, designada Libri
Graeci impressi, (1498)157, pela influência que exerceu nas classificações
bibliográficas.

157
Esta obra consistia num catálogo de venda de livros gregos, publicado em 1498, no qual eles
se encontravam classificados pela seguinte ordem: Gramática, Poética, Lógica, Filosofia e
Escritura sagrada.
Sistemas de classificação percursores das 171
classificações bibliográficas

No século XVII há a considerar, essencialmente, duas obras: a de


Gabriel Naudé (1600-1653), a Bibliotheca Cordesianae Catalogus (1643), na
qual os livros se encontram classificados em doze classes158 e o Esquema dos
Livreiros de Paris (1678), conhecido também por Sistema francês, cuja a
autoria é incerta. Uns atribuem-
na ao jesuíta francês Jean Garnier
(1612-1681), outros atribuem-na
ao livreiro Gabriel Martin.
Este sistema exerceu
grande influência em outras
classificações como na do
bibliógrafo francês Jacques-
Charles Brunet.
A obra que este autor escreveu,
intitulada Manuel du Libraire et
de l’Amateur de Livres, publicada
em 1810, é uma bibliografia
internacional da qual constam
todos os livros raros editados até
à data da sua publicação.159
Devido à extensão desta
obra, numa tentativa de facilitar a
159
pesquisa, Brunet elaborou um Fig. 17 - Portada da obra: Manuel du libraire

esquema de classificação que designou Table méthodique. Nesta classificação


o conhecimento humano encontra-se dividido em cinco classes160, às quais
correspondiam as cinco primeiras partes do catálogo. Para a sexta parte do
catálogo utilizou o Esquema dos livreiros de Paris.
Apesar de ser considerado um esquema de classificação pouco flexível,
nomeadamente no que respeita às capacidades de adaptação aos novos
campos do saber, que começavam a emergir e de possuir uma notação

158
As classes são: Teologia, Medicina, Bibliografia, Cronologia, Geografia, História, Arte militar,
Jurisprudência, Direito, Filosofia, Política e Literatura.
159
Ver: http://www.bne.es/export/sites/BNWEB1/imagenes/COLECCIONES/Bibliografia8g.jpg
[Consult. 15 Dez. 2009].
160
Teologia, Jurisprudência, História, Filosofia e Literatura.
172

complicada - notação mista (números romanos, árabes e letras) foi muito


utilizado na Europa ao longo de todo o século XIX.
Deverá ainda referir-se que ele veio influenciar alguns esquemas de
classificação: o proposto por Thomas Hartwell Horne (1780-1862), que foi
publicado na obra Outlines for the classification of a Library, a Classificação do
Museu Britânico e a classificação proposta por Edwards Edwards (1812-1886)
na obra Memoirs of Libraries.
Ao longo deste ponto e, a título
de conclusão, podemos dizer que as
classificações bibliográficas têm como
percursores os sistemas filosóficos e os
sistemas das ciências, como os de:
Aristóteles, Cassiodoro, Francis Bacon
e Auguste Comte. Os tipos de
organização e classificação do
conhecimento que apresentaram viriam
a influenciar directamente os modelos
de organização bibliográfica,
nomeadamente os de tipo
hierárquico.161
É de elementar justiça científica
1 61
Fig. 18 - Lombada da obra: Memoirs of libraries

referir que os sistemas dos livreiros também foram importantes, na sua


génese, embora muitos destes esquemas também tenham sido construídos
com base nos sistemas filosóficos e científicos.

161
Ver: http://farm3.static.flickr.com/2479/3845173256_871f55ebc5.jpg [Consult. 16 Dez.
2009].
As classificações bibliográficas do tipo 173
enciclopédico

Capítulo V
As classificações bibliográficas de tipo
enciclopédico
174
As classificações bibliográficas do tipo 175
enciclopédico

1 As classificações bibliográficas de tipo enciclopédico


[Considerações históricas]

Como observamos ao longo dos III e IV capítulos, o Homem desde os


tempos mais remotos, demonstrou a preocupação de construir esquemas que
o ajudassem a organizar o conhecimento.
Primeiro dividindo-o, para uma melhor arrumação; depois
sistematizando-o, obedecendo a métodos e critérios rigorosos.
Porém, chegou uma altura em que foi necessário arrumar os suportes
onde o conhecimento se manifestava – os livros. Nos finais do século XVIII e
inícios do XIX, com a criação das grandes bibliotecas nacionais e
universitárias, que trouxeram consigo o livre acesso, sentiu-se a necessidade
de dar aos livros uma determinada ordem nas estantes. Essa ordem, em vez
de ser ditada por características físicas, como o tamanho, passou a ser
imposta pelo assunto que os livros abordavam.
Face ao desajustamento dos sistemas existentes, pois os que se tinham
construído, essencialmente a partir de finais do século XVI, serviam para
sistematizar o conhecimento e não para arrumar os livros nas bibliotecas, foi
necessário criar novos sistemas. Assim, no século XIX construíram-se os
primeiros sistemas de classificação bibliográfica aceites pela maioria do
mundo ocidental para classificar as obras que se encontravam nas bibliotecas.
Estes esquemas bibliográficos foram precedidos de outros esquemas,
também bibliográficos, pois a urgência de arrumar os documentos nas
bibliotecas foi uma necessidade que se fez sentir ao longo da história. Por
volta de 640 a. C. já se encontram os primeiros resíduos de classificação nas
tábuas de argila da Biblioteca Assíria, do rei Assurbanípal. Ashurbanipal's
library was also classified and catalogued.162
As bibliotecas da Grécia e da Roma Antiga estavam divididas em duas
secções: a pagã e a cristã.
Pela sua importância na história da classificação, referimos mais uma
vez o esquema de classificação de livros de Calímaco163. Este esquema foi

162
THOMPSON, James - A history of the principles of librarianship. 1974. P. 140.
163
Bibliotecário da Biblioteca de Alexandria (260-240 a. C.)
176

inspirado na classificação de Aristóteles. Consistia num catálogo onde as


obras se dividiam pelas profissões dos respectivos autores. O sistema
obedecia a uma ordem cronológica relativamente aos períodos. No que se
referia aos autores, obedecia à ordem alfabética. Para indicar a localização
dos livros usava a primeira palavra do texto. Este esquema era composto por
oito grandes classes, a saber:164

1) Epic writers;
2) Dramatic writers;
3) Writers on law;
4) Philosophical writers;
5) Historical writers;
6) Oratorical Works;
7) Rhetorical Works;
8) Miscellaneous Works.

Segundo James Thompson,165 pode dizer-se com alguma certeza que a


Biblioteca de Alexandria foi organizada por assunto.
De acordo com o mesmo autor, as bibliotecas na Idade Média continuam
a ser arrumadas por assunto, embora algumas vezes elas sejam também
arrumadas pelo tamanho das obras ou pela sua ordem de aquisição.
A partir do século XII, e nos três tipos de bibliotecas existentes:
privadas, pertença dos reis e grandes senhores, universitárias e monásticas,
sobretudo nestas últimas, das quais se conhecem catálogos, as obras eram
arrumadas por tamanhos, autores e temas. As que se encontravam divididas
por temas, estavam divididas em classes.
Geralmente, a sua divisão obedecia aos seguintes critérios: as obras
seculares eram separadas das teológicas, as escritas em latim das escritas em
outras línguas.
Os documentos teológicos eram divididos em categorias, como:
escrituras, comentários, bibliografias, etc., os documentos seculares eram
divididos com base no plano do Trivium e do Quadrivium.

164
Ibidem, p. 141.
165
Ibidem, p. 140 - 141.
As classificações bibliográficas do tipo 177
enciclopédico

The University library of the Sorbonne in the late thirteenth


century, for exemple, was arranged in major subject divisions,
including those of the trivium and quadrivium, plus theology,
medicine and law.166

Ao longo do Renascimento e da Idade Moderna permanece a


organização das bibliotecas e das bibliografias por assunto. Na maioria dos
casos, as classificações usadas na organização de bibliografias, listas de
livreiros e colecções particulares aplicam-se também às bibliotecas. Entre
outras, destacamos pela sua importância o sistema de classificação de Konrad
Gessner que, segundo W. C. Berwick Sayers,167 faz a transição entre a
organização antiga e a organização moderna.
A par destas, utilizam-se ainda classificações arbitrárias e utilitárias, que
enfermam pela inexistência de pressupostos filosóficos e científicos. Todavia,
a arrumação das obras por tamanho continua a prevalecer sobre qualquer
outro critério dado o seu carácter prático.
Foi preciso chegar ao século XIX para se construírem os primeiros
sistemas bibliográficos devidamente estruturados e aceites pelas bibliotecas
da época. Todas as tentativas até então levadas a efeito para tal fim não
tinham resultado. A tarefa de organizar os livros numa biblioteca
apresentava-se mais árdua do que aquela que tinha sido a de classificar as
ciências, isto é, o conhecimento. Devido à sua complexidade, esta tarefa para
alguns autores era um absurdo, como por exemplo para Stanley Jevons, que
na obra Principles of science, dedicou o XXX capítulo ao estudo da
classificação; aí refere o seguinte:

Classification by subjects would be an exceedingly useful method if


it were practicable, but experience shows it to be a logical
absurdity. It is a very difficult matter to classify the sciences, so
complicated are the relations between them. But with books the
complication is vastly greater, since the same book may treat of

166
Ibidem, p. 143.
167
Apud: Ibidem, p. 146.
178

different sciences, or it may discuss a problem involving many


branches of knowledge.168

Neste excerto de texto de Stanley, é manifesta a dificuldade de aplicar,


como método, uma classificação por assunto às ciências, devido às relações
de afinidade que se estabelecem entre elas. Para este autor, tal propósito
ganha maior complexidade se se aplicar aos livros, na medida em que um
livro particular pode tratar de diversos assuntos e, neste caso, ser difícil de
escolher uma perspectiva.
A esse respeito, pode ler-se na mesma página:

A good account of the stean-engine will be antiquarian, so far as it


traces out the earliest efforts at discovery; purely scientific, as
regards the principles of thermodynamics involved; technical, as
regards the mechanical means of applying those principles;
economical, as regards the industrial results of the invention;
biographical, as regards the lives of the inventors. A history of
Westminster Abbey night belong either to the history of
architecture, to the history of the church, or the history of
England. If we abandon the attempt to carry out an arrangement
according to the natural classification to the sciences, and form
comprehensive practical groups, we shall be continually perplexed
by the occurrence of intermediate cases and opinions will differ ad
infinitum as to the details.

Com este fragmento de texto Stanley demonstra a sua perplexidade


face às alternativas possíveis de classificação de determinados assuntos,
motivo que concorre para a sua descrença na classificação dos livros.
Inconscientemente este autor pronuncia-se sobre o modo de classificar
assuntos relacionados, interdisciplinares. Esta situação seria apenas resolvida
de forma cabal com as classificações facetadas, nomeadamente com a
Classificação Colon.

168
JEVONS, W. Stanley – The principles of science: a treatise on logic and scientific method.
1913. P. 715.
As classificações bibliográficas do tipo 179
enciclopédico

Esta perplexidade e descrença nas classificações que tinham como


propósito organizar os livros nas bibliotecas, foi ultrapassada com os grandes
sistemas de classificação bibliográficos.
O percurso histórico dos grandes sistemas de classificação bibliográfica
coincide com o percurso das grandes bibliotecas do séc. XIX.
Na sua essência, as classificações bibliográficas proporcionam a
organização intelectual dos recursos de uma dada unidade de informação.
Reagrupam os mesmos assuntos e os assuntos semanticamente vizinhos e,
ao mesmo tempo, reagrupam fisicamente os documentos que tratam do
mesmo assunto ou de assuntos com afinidades semânticas. Para dar
cumprimento a este objectivo, utilizam um código simbólico que serve para a
organização das obras nas estantes.
Foi em meados do século XIX que se desenvolveram as grandes
classificações bibliográficas, ainda hoje usadas. Isso aconteceu devido ao
crescimento das grandes bibliotecas, designadamente nos Estados Unidos da
América, como o caso da Biblioteca do Congresso.
As classificações bibliográficas foram as primeiras linguagens
documentais controladas. O primeiro destes grandes sistemas foi a
Classificação da Biblioteca do Congresso, à qual se seguiu a Classificação
Decimal de Dewey. Logo a seguir, e também no mesmo espaço geográfico,
apareceram formalmente as primeiras linguagens documentais controladas de
tipo combinatório sendo o primeiro instrumento normalizado a List of Subject
Headings for Use in Dictionary Catalogs (1895), da Biblioteca do Congresso.

1.1 Os grandes sistemas de classificação bibliográfica do


século XIX e inícios do XX [Definição, função, objectivos,
composição e tipologia]

Embora as primeiras tentativas de classificação bibliográfica remontem à


Antiguidade com a de Calímaco, em Alexandria, e se deva o primeiro sistema
de classificação bibliográfico ao bibliófilo seiscentista Konrad Gessner, é, no
século XIX que aparecem os primeiros grandes sistemas bibliográficos. Como
referimos entre outros autores que se preocuparam com as classificações
180

bibliográficas neste século destacamos, pelo interesse das suas classificações


na história das mesmas: E. Edwards, J. C. Brunet, J. Brown, C. Cutter, T. H.
Horne, W. T. Harris e, naturalmente, Melvil Dewey.
Todos estes autores foram herdeiros do espírito metódico, enciclopédico
e racionalista do movimento das “Luzes”, assim como do positivismo.
Para eles apenas um fundo devidamente organizado era digno do nome de
biblioteca. A organização das matérias que continham as obras, deveria seguir
a “ordem natural das ciências”. Devido a esta circunstância, é notória a
influência que tiveram os esquemas de classificação das ciências criados no
decurso dos séculos XVII, XVIII e XIX, sobre as classificações bibliográficas.
A ordem que preconizavam para os documentos deveria permitir uma
organização gnoseológica, fundamentada e funcionalmente metódica como se
se tratasse de uma grande enciclopédia.
Devido a esta ideia e à influência dos modelos anglo-saxónicos do livre
acesso ao documento, prática que se deveria tornar corrente na maioria das
bibliotecas, o modelo de arrumação puramente material, baseada na natureza
física do documento ou assente na ordem de entrada dos documentos, deixa
de fazer sentido. Ao substituí-lo, emerge uma nova ordem de organização
baseada no assunto do documento.
A aplicação deste novo paradigma organizacional pressupõe uma
classificação para ordenar os documentos. É neste contexto e, para dar
cumprimento a esta pretensão que surgem, na segunda metade do século
XIX, os primeiros sistemas de classificação bibliográfica.
À sua construção subjazem dois tipos de preocupações. Uma, de
natureza teórica, pretendia que estas classificações fossem sistemáticas e
baseadas em princípios lógicos. Outra, de natureza empírica, que se prendia
com o facto de estas terem de responder às nacessidades das instituições
para as quais eram criadas.
Por isso, a sua estrutura traduzia, muitas vezes, a estrutura pedagógica
e curricular das instituições académicas, assim como as diversas áreas de
investigação que contemplavam, quando eram criadas para responder a
necessidades de tipo académico, como foi o caso da Classificação Decimal de
Dewey. Outras traduziam necessidades de outra natureza, que não a
As classificações bibliográficas do tipo 181
enciclopédico

académica, como foi o caso da Classificação da Biblioteca do Congresso, cuja


origem assenta em pressupostos de natureza empírica.
Pelo facto de presidirem à sua criação razões idênticas, os primeiros
sistemas apresentam, no seu conjunto, características comuns, a saber:

1) São classificações de tipo enciclopédico, pretendendo abranger


todas as áreas dos saberes;
2) Têm origem no esquema de classificação filosófica do
conhecimento de Francis Bacon;
3) Apresentam uma estrutura hierárquica traduzida na coordenação
das classes principais e subordinação das subdivisões;
4) Todas elas se internacionalizaram.

Para concluir, podemos inferir que os grandes sistemas de classificação


bibliográfica do século XIX assumem duas funções: destinam-se à
classificação efectiva, à ordenação dos documentos de uma biblioteca por
classes temáticas, e são consideradas, também, na organização gnoseológica
e informacional da biblioteca, entendida como um sistema de informação
coerente e estruturado. Por isso, reconhecemos a este tipo de classificações
duas dimensões: enquanto instrumento de classificação do conhecimento
assumem uma dimensão abstracta; enquanto método de arrumação de
documentos nas estantes de uma biblioteca e de estruturação dos respectivos
catálogos sistemáticos, assumem uma dimensão pragmática e material.

1.1.1 Definição de sistema de classificação bibliográfica

A Norma ISO 5127/6-1983 (E/F), define sistema de classificação como:

Langage documentaire destiné à la représentation structurée de


documents ou de données au moyen d’indices et de termes
182

correspondants pour en permettre une approche systématique à


l’aide, si nécéssaire, d’un index alphabétique.169

Uma outra definição que nos pareceu importante, em termos de um


maior esclarecimento, é aquela que apresenta a Encyclopedia of library and
information science e que, por isso, passamos a transcrever:

A library classification is a device for defining specific classes of


information and for showing the relations which exist between
them. In this way it performs its basic function, which is to assist
the retrieval of information from stores (libraries, bibliographies,
indexes) by allowing a searcher first to locate a specific class in
which relevant material is believed likely to be and then to make
adjustments to the search […] by expanding or contracting the
initial class according to whether too little relevant material or too
much nonrelevant material is found in it. The second function is
achieved by collocation, i.e, bringing together in propinquity those
classes which are closely related.170

Partindo destas definições, podemos deduzir que um sistema de


classificação bibliográfica é um esquema controlado e estruturado de
conceitos. Estes apresentam-se distribuídos sistematicamente de forma lógica
em classes, organizados do geral para o particular, em níveis sucessivos de
subordinação hierárquica.
Os assuntos que se encontram agrupados em classes, estabelecem
entre si relações de coordenação e/ou subordinação conceptual hierárquica,
ou seja: classes, subclasses, divisões, subdivisões, secções, etc., estruturadas
do geral para o particular, em que os assuntos são definidos e relacionados de
acordo com níveis opostos de extensão e compreensão.

169
ISO 5127-6:1983 (E/F). In Documentation et information: recueil de normes ISO I, 1988. P.
93.
170
Encyclopedia of library and information science. 1969. Vol. 2. P. 369.
As classificações bibliográficas do tipo 183
enciclopédico

Cada assunto é expresso por um código que o representa de forma geral


ou específica indicando, geralmente, em que contexto ou perspectiva ele se
encontra tratado.
A função de qualquer sistema de classificação é organizar o
conhecimento, para que este possa ser recuperado de forma precisa e
pertinente. Para dar cumprimento a esta função, os códigos de uma
classificação assumem dois objectivos: servem para o representar e para o
recuperar.

1.1.2 Objectivos e função

A classificação bibliográfica tem como principal objectivo organizar o


conhecimento humano em grandes classes epistemológicas, ao mesmo tempo
que o organiza fisicamente nas estantes numa biblioteca.
Tem ainda como função recuperar a informação. Nesta perspectiva e,
segundo Michèle Hudon,171 a uma classificação bibliográfica cumprem três
funções:

1) L’organisation des concepts, des idées et des sujets (function


cognitive)
2) L’organisation des représentations documentaires (fonction
bibliographique);
3) L’organisation des documents eux-mêmes (fonction
bibliothéconomique ou fonction de rangement).172

Na primeira função cabe a uma classificação organizar os assuntos


extraídos de um documento num grande tema, em conjunto com outros
semanticamente afins.
Na segunda função cumpre às classificações representar os documentos
a partir dos assuntos neles contidos.

171
HUDON, Michèle – Le passage au XXIe siècle des grandes classifications documentaires. 2006.
P. 1.
172
Ibidem.
184

Na terceira função compete à classificação arrumar os documentos por


assuntos numa biblioteca, fazendo-o através do recurso a uma notação que,
nesta circunstância, serve igualmente de cota.
Na sua maioria as classificações bibliográficas foram criadas para dar
cumprimento à terceira função, isto é, pretenderam responder a uma
necessidade prática, utilitária - organizar o conhecimento em grandes
sistemas temáticos.

1.1.3 Composição do sistema [Tabelas principais, tabelas auxiliares,


índice e notação]

As classificações bibliográficas do século XIX, inícios do século XX,


caracterizam-se por apresentarem uma estrutura muito semelhante.
Geralmente são compostas por: tabelas principais, tabelas auxiliares,
notação e índice.

Tabelas Principais

As tabelas principais são formadas por classes que se subdividem em


subclasses, sendo esta nomenclatura a essência da estrutura da maioria das
classificações bibliográficas. Muitas vezes as classes são também designadas
por categorias ou sistemas, facto que concorre para que se designe a este
tipo de linguagem, categorial e/ou sistemática.
Cada classe representa um grande tema. A escolha desse tema, como
observamos no capitulo II (1.4), é determinada através da aplicação de uma
característica seleccionada para o efeito - a diferença específica. Cada uma
dessas classes é sujeita a uma nova característica formando, desta maneira,
as subclasses que se podem subdividir novamente dando origem a outras
subdivisões que representam outros assuntos mais específicos. A subdivisão
faz-se sempre de forma hierárquica, obedecendo a uma ordem decrescente:
do geral para o particular.
As classificações bibliográficas do tipo 185
enciclopédico

As classes são formadas por conceitos que ocupam um lugar pré-


definido. Estes conceitos estão relacionados entre si através de relações
hierárquicas, que poderão ser monohierárquicas ou polihierárquicas,
dependendo dos sistemas em que se encontram integradas.
A título de exemplo, referimos a Classificação Decimal de Dewey e a
Classificação Decimal Universal como monohierárquicas e a Classificação
Colon, como uma classificação que apresenta uma estrutura polihierárquica.

Tabelas auxiliares

As tabelas auxiliares são listas de assuntos aos quais corresponde uma


determinada notação, tal como acontece nas tabelas principais, sendo estas
constituídas pelos auxiliares.
Servem para perspectivar o assunto principal em outras dimensões
semânticas, como por exemplo: forma, espaço geográfico, espaço
cronológico, etc. Geralmente os auxiliares são traduzidos por símbolos e
sinais. O grande contributo dos auxiliares prende-se com o facto de trazerem
consigo a possibilidade de se ultrapassar a rigidez que é atribuída às
classificações enumerativas. Com este expediente consegue ultrapassar-se a
unidimensionalidade que lhes é atribuída, isto é, apenas permitirem
representar um assunto numa única perspectiva. Deste tipo de classificações,
e na sua essência, fazem parte a Classificação da Biblioteca do Congresso, a
Classificação Decimal de Dewey e a Classificação Decimal Universal.
Os auxiliares têm como função essencial especificar o assunto ou
representar assuntos compostos e/ou complexos.
186

Notação

Na ISO 5127/6-1983 (E/F), a definição de notação consiste no: […]


ensemble de symboles et de règles d’application utilisés pour la
représentation de classes et de leurs relations. 173

Entre as várias definições possíveis para o conceito - notação,


apresentamos aquele que é referido por Paule Salvan. Para esta autora uma
notação: [...] est constituée par l’ensemble des symboles désignant les
classes et les subdivisions.174

Uma notação é, antes de mais, um termo de indexação controlado, na


medida em que serve para representar e recuperar informação.
De acordo com estas definições, podemos concluir que uma notação é
um código que representa um assunto num sistema de classificação.
A notação, como refere Paule Salvan na sua definição, constitui o
conjunto dos símbolos numéricos ou alfanuméricos que designam e
representam as classes e subdivisões de uma classificação bibliográfica.
Cada código é singular, nunca se repetindo dentro da mesma
classificação.
Dentro das classes estão dispostos hierarquicamente traduzindo a
relação hierárquica entre os assuntos que compõem as classes.
Estes códigos são símbolos artificiais e podem ser alfabéticos, numéricos
ou alfanuméricos, dependendo do sistema em que estão integrados. Quando
são constituídos apenas por letras ou por algarismos denominamos notações
puras, como por exemplo a classificação de Cutter, na sua essência, pois
apenas usa letras,175 o mesmo acontece com a Classificação de Dewey, que só
usa números. Quando as notações são constituídas por letras e por números
são designadas notações mistas; é o caso da Classificação de Bliss e da
Classificação da Biblioteca do Congresso.

173
ISO 5127-6:1983 (E/F). In Documentation et information: recueil de normes ISO I, 1988. p.
95.
174
SALVAN, Paule - Esquisse de l’évolution des systèmes de classification. 1967. P. 13.
175
Nas divisões relativas ao geográfico, este autor usa números.
As classificações bibliográficas do tipo 187
enciclopédico

Na sua grande maioria as notações são mistas; este tipo de notação é


precisamente aquele que permite uma maior flexibilidade na representação
dos assuntos. Devido a este facto, é difícil encontrar classificações com
notações puras.
As notações são usadas para representar os assuntos num catálogo
sistemático, e assim o utilizador pode recuperar, através delas, os
documentos. A notação pode ser utilizada na elaboração das cotas; no
desempenho desta função, cumpre à notação arrumar os documentos
fisicamente nas estantes. Nesta circunstância, a notação desempenha um
papel preponderante nas bibliotecas de livre acesso.
A ordem que os documentos ocupam nas estantes reflecte a ordem
hierárquica que os assuntos têm nas classificações.

Índice

Segundo a Norma ISO 999(1996), entende-se por índice:

Alphabetically or otherwise ordered arrangement of entries,


different from the order of the document or collection indexed,
designed to enable users to locate information in a document or
specific documents in a collection.176

Tal como a definição refere, um índice é um arranjo ordenado de


entradas, que se apresentam de forma alfabética ou outra, diferente da
ordem do documento ou colecção indexada e cuja função é permitir aos
utilizadores localizar a informação num documento ou documentos específicos
de uma colecção.
Partindo desta definição, e tendo em conta as particularidades do
mesmo, podemos definir um índice de uma classificação bibliográfica como
uma lista alfabética constituída, na teoria, por todos os assuntos que
compõem um sistema de classificação. Os assuntos são representados por um

176
ISO – Information and documentation – guidelines for the content, organization and
presentation of indexe, 1996. P. 2.
188

código que, como sabemos, é designado notação. A cada assunto de um


índice corresponde uma ou mais notações que se encontram listadas nas
tabelas principais ou nas auxiliares.
Entre outras particularidades, o índice não inclui expressões
equivalentes para todas as notações de uma classificação, o que concorre
para que, algumas vezes, a um assunto corresponda mais do que uma
notação, dependendo do ponto de vista sob o qual o assunto se encontra
tratado. Nestes casos, as notações são separadas por ponto e vírgula ou por
setas de orientação.
Como qualquer índice, este em particular, tem a função de orientar, no
caso concreto, o classificador no acto de classificar, ao indicar-lhe a notação
relativa a um determinado assunto. Remete o classificador para as notações
de uma tabela principal ou auxiliar, permitindo, assim, localizar os números
correspondentes a um assunto concreto. Este procedimento efectua-se
partindo de uma linguagem natural que é própria de um índice. Os
verdadeiros termos de indexação controlados que compõem um índice e as
tabelas de um sistema de classificação são as notações.
Tal procedimento também se verifica em relação ao utilizador no
momento da pesquisa, quando este consulta um catálogo sistemático.
Neste sentido, podemos afirmar que ao índice cumpre a função de
localizar as notações correspondentes a um determinado assunto concreto.
Qualquer notação extraída de um índice deverá ser sempre confirmada
na respectiva tabela. Nesta medida, um índice deverá ser sempre entendido
como um guia.

1.1.4 Tipologia das classificações

Entre os critérios que era possível adoptar para estabelecer uma


tipologia das classificações optámos pelo conteúdo, coordenação e estrutura.
As classificações bibliográficas do tipo 189
enciclopédico

1.1.4.1 Conteúdo [enciclopédicas e especializadas]

Os primeiros sistemas de classificação bibliográfica que surgiram nos


finais do século XIX, inícios do século XX, caracterizaram-se por pretenderem
abarcar todo o conhecimento, constituindo-se, assim, sistemas de tipo
enciclopédico.
Esta característica prendia-se com dois aspectos: um de âmbito
pragmático e outro de âmbito teórico-prático.
O primeiro relaciona-se com o primeiro objectivo das classificações -
ordenar por matérias as obras de uma biblioteca.
As bibliotecas para as quais tinham sido criadas, bibliotecas públicas e
bibliotecas universitárias, eram depositárias de obras que versavam uma
grande diversidade de matérias. Tal situação justificava que as classificações
que iriam servir para organizar estas matérias, nestas bibliotecas, tivessem
de ser de tipo enciclopédico.
O segundo aspecto prende-se, já numa segunda fase, com a
classificação, não apenas entendida como instrumento utilitário – meio
através do qual se arrumariam as obras nas estantes; mas também como um
instrumento que por outro lado, proporcionaria a ordenação de livros por
assunto em bibliografias nacionais ou internacionais, como foi o caso da
Classificação Decimal Universal.
A esta segunda fase corresponde também a necessidade de se organizar
o conhecimento por grandes temas em catálogos – os catálogos sistemáticos
também designados por catálogos metódicos.
São de tipo enciclopédico, entre outras, as seguintes classificações
bibliográficas: Classificação da Biblioteca do Congresso, Classificação Decimal
de Dewey e Classificação Decimal Universal.
A necessidade de classificações especializadas consolida-se apenas por
meados do século XX, quando há necessidade de representar o conhecimento
de forma específica, para responder por um lado a um tipo de utilizador que
solicitava o pormenor, por outro aos serviços, também eles especializados,
que começaram a proliferar em virtude desse tipo de utilizador.
Estas são constituídas, geralmente, com base num tema mais ou menos
alargado, de acordo com as especificidades dos serviços que as elaboram.
190

Desse tema dependem outros subtemas que se encontram relacionados entre


si através de uma relação hierárquica, tal como acontece nas classificações de
tipo enciclopédico.
Por vezes acontece que algumas classificações especializadas não são
mais do que uma classe desenvolvida de uma classificação de tipo
enciclopédico, editada independentemente, com o índice relativo a essa
classe. Como exemplo deste caso apresentamos algumas classes da
Classificação Decimal Universal.
Este tipo de classificações vem “aparentemente” reduzir os problemas
que as classificações de tipo enciclopédico geravam ao pretenderem
representar todas as áreas do saber. As especializadas limitam o âmbito do
assunto adequando-o, assim, a um determinado perfil de utilizador e de
serviço.
Esta capacidade de especificar permite que estas classificações se
adaptem às empresas e centros de documentação, situação difícil de
acontecer se considerarmos uma classificação de tipo enciclopédico.
Entre as classificações especializadas mais conhecidas, destacam-se,
pela sua difusão e uso a Classificação Decimal Astronáutica, a Classificação da
OCDE e a Classificação da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos.
Foi esta pretensão, que pode considerar-se irreflectida e exagerada, por
parte das classificações, para representarem o conhecimento de forma
específica que as afastou do seu principal objectivo – agrupar.
A ambição de se aproximarem das linguagens combinatórias, ao
pretenderem representar o conhecimento de forma específica; assim como a
introdução dos sistemas informáticos, que de ínicio não conseguiram gerir as
suas particularidades, concorreram para o seu desajustamento como
instrumentos de recuperação da informação após os meados do século XX.
Esta posição apenas veio a inverter-se já no final do mesmo século.
Neste sentido, Chaumier177 refere o seguinte:

177
CHAUMIER, Jacques – Analisis y lenguajes documentales. 1986. P. 12.
As classificações bibliográficas do tipo 191
enciclopédico

El advenimiento de las máquinas para tratar la información, que


pasaron a ser los ordenadores, señalará, hacia los años 60, el
retroceso de las “clasificaciones” en provecho de los “tesauros”
antes de convertirse éstos, en el transcurso de los años setenta,
en el instrumento privilegiado entre todos los sistemas
documentales.

Para representarem a especificidade as classificações socorreram-se de


todas as suas particularidades. Assim, as classificações enumerativas
recorreram a notações específicas, as classificações mistas, como a
Classificação Decimal Universal, usavam e abusavam da sintaxe, recorrendo
para tal ao uso dos auxiliares. As classificações facetadas, como a
Classificação Colon, recorriam ao uso dos dois pontos.
Toda esta especificidade “contra-natura”, relativamente às classificações
enumerativas, e esta flexibilidade proporcionada, designadamente no que
respeita às classificações mistas e facetadas veio redundar, naturalmente, em
notações cabalísticas e, por isso mesmo, ininteligíveis aos utilizadores e
difíceis de gerir pelos computadores, que ainda se encontravam num estado
embrionário, no que respeita a esta matéria.
Neste sentido concordamos com Vickery178, relativamente à flexibilidade,
quando refere que as classificações facetadas desenvolvidas com base nos
trabalhos de S. Ranganathan, resultam numa desvantagem em relação à
pesquisa.
Todavia concordamos que, dadas as suas características, as
classificações por facetas são o tipo que melhor se adapta ao conhecimento
especializado, por se tornar mais fácil analisar um tema específico nos seus
diversos aspectos.

1.1.4.2 Coordenação

Entende-se por coordenação a operação que consiste em estabelecer


uma ou mais relações entre conceitos.

178
VICKERY, B. C. – La classification a facettes. 1963. P. 3.
192

Segundo alguns autores, entre os quais Van Slype e Courrier, a


coordenação poderá dar-se em dois tempos: um no momento da
representação dos assuntos - pré-coordenação, o outro no momento da
pesquisa – pós-coordenação.
Sobre este assunto Courrier refere o seguinte:179

Le premier aspect qui permet de décrire les langages


documentaires est la coordination, en ce sens que l’on distingue
deux types principaux de langages documentaires: les langages
précoordonnés et les langages postcoordonnés.
Les langages précoordonnés sont appelés ainsi parce qu’ils
coordonnent avant le stockage les différents concepts qui forment
un sujet. Il s’agit des langages largement utilisés dans les
bibliothèques: système de classification et listes de vedettes-
matière […]
Les langages postcoordonnés permettent au contraire de
juxtaposer les concepts au moment de l’analyse, de façon à
pouvoir les coordonner après le stockage, c’est-à-dire au moment
de la recherche.

Numa perspectiva pragmática e redutora, Van Slype180 conclui que às


linguagens pré-coordenadas correspondem as linguagens codificadas e às
linguagens pós-coordenadas as linguagens vocabulares.

[…] la coordinación entre los elementos que constituyen la


indización se hace a posteriori, en el momento de la indización y
de la interrogación, y no a priori, en el momento de la construcción
del lenguaje documental, como es el caso de los lenguajes de
clasificación. Por este motivo, se dice que la indización a través de
un lenguaje combinatório se efectua siguiendo el principio de la
post-coordinación.

179
COURRIER, Yves – Analyse et langage docummentaires. 1976. P. 183.
180
SLYPE, Georges Van – Los lenguajes de indización. 1993. P. 22.
As classificações bibliográficas do tipo 193
enciclopédico

Relativamente à coordenação, por princípio e, de uma forma geral, os


sistemas de classificação consideram-se linguagens pré-coordenadas. Para tal
situação concorre o facto de o classificador, no momento da classificação de
um documento, poder estabelecer através de expedientes que elas próprias
proporcionam, nomeadamente as classificações mistas e facetadas, relações
entre conceitos da mesma classe, assuntos compostos, ou entre assuntos de
distintas classes, assuntos complexos. É de referir, contudo, que os primeiros
sistemas bibliográficos, numa primeira fase, não contemplavam esta
possibilidade, tendo vindo a adoptá-la paulatinamente, como foi o caso da
Classificação da Biblioteca do Congresso.
Actualmente, com as funcionalidades que os sistemas informáticos
proporcionam, no momento da recuperação da informação, cada vez será
mais fácil caminhar para a pós-coordenação, sem que para isso seja
necessário recorrer a estes expedientes.
O utilizador, tal como acontece quando usa um tesauro ou outro tipo de
linguagem pós-coordenada, poderá combinar no momento da pesquisa os
assuntos que entender mais adequados, de acordo com a sua necessidade de
informação.
Na nossa perspectiva, esta possibilidade, por um lado contribui para
ultrapassar alguns inconvenientes atribuídos a este tipo de classificações e,
por outro, aproxima-as mais do verdadeiro espírito das classificações –
agrupar.
No que respeita à ultrapassagem dos inconvenientes, esta traduz-se na
permissão de aceder a assuntos compostos ou complexos através de notações
breves. Para esta situação concorre o facto de, através de duas notações com
um nível reduzido de especificidade, o utilizador poder ter acesso à
informação de que necessita. Para que tal situação ocorra é apenas
necessário que o utilizador recorra a uma pesquisa booleana.
Por outro lado, o facto de as notações serem breves permite uma maior
inteligibilidade das mesmas, que para a maioria dos utilizadores ainda
continuam a ser códigos cabalísticos.
Por último, a aplicação de notações breves, concorre para evitar a
dispersão dos assuntos, convergindo, em tal situação, para que os assuntos
se integrem em sistemas epistemológicos mais alargados.
194

1.1.4.3 Estrutura

A estrutura base das classificações bibliográficas do século XIX foi


influenciada pelas classificações desenhadas pelos filósofos e pelos
naturalistas, como já tivemos oportunidade de referir. Deste modo, estas
foram alicerçadas nos princípios da filosofia aristotélico-tomista, e também no
espírito racionalista-empirista do século XVIII.
A influência que mais vinca estes dois pólos tem a ver essencialmente
com dois princípios. Estes irão ser os principais fundamentos teóricos da
estrutura das classificações dos séculos XIX e XX, a saber: a divisão do
conhecimento em classes e a estrutura hierárquica.
Estes princípios marcaram definitivamente a arquitectura destes
sistemas até à actualidade.
Segundo a estrutura das classificações elas podem ser: enumerativas,
mistas e facetadas.
Todavia, relativamente a esta tipologia referimos que não existe
nenhuma classificação que possua uma estrutura pura, tendo em conta,
nomeadamente, os elementos que caracterizam as classificações
enumerativas e as facetadas.
Para obviar a esta limitação, desde cedo as classificações enumerativas,
tais como a Classificação da Biblioteca do Congresso e a Classificação Decimal
de Dewey, sentiram necessidade de incorporar na sua estrutura expedientes
que lhes possibilitassem ir mais além do que representar o aspecto analítico.
Os números elencados nas tabelas principais, que ocupavam um lugar
predeterminado, não eram suficientes para representar um tipo de
conhecimento cada vez mais caracterizado pela interdisciplinaridade. A sua
pretensão traduzia-se, também, na necessidade de representar os assuntos
sob uma forma mais precisa e sintética. Por esta via, a síntese passou a ser
um objectivo cuja concretização passava pela construção de notações
baseadas em auxiliares.
Com o propósito de atingir uma maior inteligibilidade deste assunto, e
para contextualizar a Classificação Decimal Universal, objecto do nosso
estudo, apresentamos, de seguida, uma breve descrição das características
As classificações bibliográficas do tipo 195
enciclopédico

da estrutura de cada um dos tipos referidos. Para um melhor entendimento,


iremos ilustrar cada tipo com um sistema particular.

Classificações enumerativas [Fundamentos e características]

Dentro das classificações enciclopédicas, as classificações de tipo


enumerativo são as mais antigas. Assumem-se como os sistemas
bibliográficos mais tradicionais. Nasceram de uma necessidade prática, que se
consubstancializou na ordenação dos livros nas estantes dentro de grandes
classes de assuntos.
Tal como a própria designação revela, compete-lhes enumerar todas as
matérias. Cada classe deverá, pois, enumerar todos os assuntos da matéria
geral que representa. Na teoria, existe uma independência semântica entre as
classes.
Relativamente ao conteúdo, elas podem ser enciclopédicas, quando
abarcam todas as áreas do conhecimento, ou especializadas quando abarcam
uma área particular dele.
Este tipo de classificações apresenta os seguintes fundamentos e
características:

- uma estrutura monohierárquica, na qual as classes obedecem a


um princípio de dependência lógica e, nas quais os conteúdos mais
específicos se encontram compreendidos em conteúdos mais
gerais. A notação está dependente hierarquicamente da notação
que a precede, encontrando-se esta subordinada à primeira,
naturalmente. Esta hierarquia manifesta-se ao longo das classes e
subclasses. Dentro das classes, as notações apresentam-se sob
uma ordem decrescente, ou seja do geral para o particular;
- o conhecimento encontra-se dividido, apresentando todas as
matérias e as suas subdivisões de forma sistemática em classes e
subclasses, dividindo-se estas, geralmente, em números
consecutivos de 10 subdivisões;
196

- tabelas extensas e exaustivas contendo, na teoria, todas as


matérias possíveis de serem classificadas na prática, seja numa
classificação enciclopédica, seja numa classificação especializada;
- notações puras numéricas e simples, que permitem representar o
analítico. A notação destes sistemas é hierárquica e, regra geral,
expressa a própria estrutura do esquema da classificação;
- unidimensionais, isto é: na teoria, um assunto apenas pode ser
perspectivado sob um ponto de vista, não dando margem para
representar os vários aspectos sob qual é estudado por um
determinado autor;
- são sistemas construídos a priori, em que as notações que as
constituem são determinadas independentemente dos
documentos;
- são linguagens apenas analíticas, na medida em que não possuem
funcionalidades para representar matérias que num documento se
encontram perspectivadas em vários aspectos, muito menos
quando são assuntos compostos ou complexos. Esta situação
advém do facto de nas classes que compõem os sistemas
enumerativos, a sua distribuição ser monolítica, o que concorre
para que não seja possível efectivar a síntese;
- geralmente são de tipo enciclopédico.

Entre outras classificações de tipo enumerativo, escolhemos para


apresentar como exemplo a Classificação Decimal de Dewey, pelo facto de a
Classificação Decimal Universal derivar deste sistema, e também por este
sistema ser aquele que maior impacto teve nas bibliotecas do mundo
ocidental.
Este sistema será analisado quanto à sua origem histórica,
fundamentos, características e composição, elementos de anáise, que, de
resto, serão considerados no estudo dos outros sistemas de classificação.
As classificações bibliográficas do tipo 197
enciclopédico

Classificação Décimal de Dewey

Origem e contextualização histórica

A Classificação Decimal de Dewey, criada por Melvil Dewey (1851-


1931), bibliotecário na Amherst College Library, foi publicada pela primeira
vez em 1876, sob o título: A Classification and Subject Index for Cataloging
and Arranging the Books and pamphlets of a Library. Esta Classificação foi
aquela que mais se disseminou por todo o mundo e foi a mais utilizada no
mundo ocidental, situação que ainda hoje se mantem.
A segunda edição foi publicada em 1885, sob o título: Decimal
classification and relatix index. Apenas na décima sexta edição é que o nome
de Dewey passou a integrar o título.
Nos Estados Unidos da América, nesta época, o livre acesso nas
bibliotecas começava a dar os primeiros passos, situação à qual Dewey não
foi alheio. Esta nova modalidade de acesso aos documentos, pressupunha
uma nova organização dos documentos por parte das bibliotecas.
Dewey, homem da sua época, foi sensível à nova modalidade de acesso
aos documentos, e procurou construir uma classificação que lhe possibilitasse
dar cumprimento a este novo desafio.
A aplicação de tal sistema apenas faria sentido caso os documentos
estivessem arrumados por assunto, de forma sistemática, nas respectivas
estantes. Este facto contribuiu para o grande sucesso deste sistema de
classificação, pois o emprego decimal dos números permitia a localização
relativa dos livros nas estantes. Este facto concorreu para a sua expansão e
memorização.
Outra situação que contribuiu para a sua disseminação mundial foi o
facto de o Instituto Internacional de Bibliografia, em 1885, ter necessidade de
adoptar um sistema para compilar um repertório bibliográfico universal. Tal
situação levou a que se tomasse como base este sistema para criar outro, a
Classificação Decimal Universal.
Outro ponto a salientar prende-se com o facto de, a partir de 1930, as
fichas impressas da Biblioteca do Congresso, passarem a registar as notações
da Classificação Decimal de Dewey.
198

Entre os sistemas de classificação já existentes, Dewey foi influenciado


pelo sistema do tipógrafo Natale Battezzati (séc. XIX). Este sistema tinha sido
proposto ao Congresso de tipógrafos e livreiros realizado em Nápoles em
Setembro de 1871, e foi por ele adoptado como referência para a ordenação
da bibliografia italiana.
Outro sistema que influenciou Dewey foi o sistema de William Torrey
Harris (1835-1909), que este tinha concebido para a St. Louis Public School
Library. Este sistema sofreu influência indirecta do de Francis Bacon. Harris,
usou este sistema de forma inversa. Com base, neste sistema, dividiu o
conhecimento em dez classes principais, sendo cada uma constituída por um
número variável de divisões. A divisão que fez do conhecimento reflecte, no
seu conjunto, a divisão que dele se fazia nos finais do século XIX. Foram estas
características que o sistema de Dewey herdou da classificação de Harris.
Dewey construiu o seu sistema, tal como havia feito Harris, dotando-o
de nove classes principais (1 ao 9) e atribuindo o zero à classe das
generalidades. 181
Para se ter uma ideia mais clara sobre este assunto base, observemos o
quadro que se segue.

181
Fig. 19 - Esquema das classificações de Bacon, Harris e Dewey

BARBOSA, Alice Príncipe – Teoria e prática dos sistemas de classificação bibliográfica. 1969. P.
181

203.
As classificações bibliográficas do tipo 199
enciclopédico

Apesar de ter sido idealizado com o objectivo de responder a


necessidades de ordem prática – arrumar por assunto os fundos
bibliográficos, da Biblioteca do Amherst College, este sistema teve uma base
científica, o sistema de classificação de Dewey, ao contrário do da Biblioteca
do Congresso. Deste modo, caracteriza-se por ser uma classificação
sistemática, com base científica.
Por seu lado, a Classificação da Biblioteca do Congresso é uma
classificação empírica e utilitária: nasceu com o propósito de arrumar livros
nas estantes. Foi-se desenvolvendo de acordo com as necessidades pontuais
da Biblioteca do Congresso. Devido ao aspecto utilitário, as bases científicas,
filosóficas e todos os pressupostos cognitivos teóricos que estiveram e vieram
a estar presentes em outros sistemas de classificação, foram preteridos, neste
sistema particular, em favor do interesse pragmático.
Concordamos com alguns autores, entre os quais Gil Urdiciain, quando
refere que a organização do conhecimento assente em bases teóricas e
abstractas deu lugar ao interesse utilitário.182

Fundamentos e características

Neste ponto do trabalho procuramos apresentar os principais


fundamentos e características da Classificação Decimal de Dewey. A sua
apresentação será o mais breve possível. Esta opção prende-se com o facto
desta classificação apresentar a maioria dos fundamentos e das
características das classificações enumerativas, que já apresentamos no ponto
anterior. Todos os pontos que passaremos a descrever serão desenvolvidos
com um maior pormenor quando caracterizarmos a Classificação Decimal
Universal, objecto do nosso trabalho.
Passaremos a apresentar os fundamentos e características que nos
parecem ser os mais ilustrativos, e que identificam este sistema como
singular.

GIL URDICIAIN, Blanca– Manual de lenguajes documentales. 1996. P. 87-90. Ver tb.
182

BARBOSA, Alice Príncipe – Teoria e prática dos sistemas de classificação bibliográfica. 1969. P.
53-54.
200

a) Sistema decimal

A grande novidade deste sistema foi o uso de uma notação decimal. A


mais-valia desta Classificação consiste no facto de as notações serem
decimais, situação que permite representar os conceitos de uma forma mais
específica, conferindo-lhe ao mesmo tempo uma grande flexibilidade na
representação dos mesmos.
Segundo Dubuc,183 designa-se classificação decimal todo o esquema
sistemático de classificação que empregue uma notação sob a forma decimal
para representar os assuntos nele contidos.

On appelle classification décimale tout schéma systématique de


classement employant pour symboliser les sujets qu’il contient une
notation à forme décimale.

A notação consiste numa sequência de números que não são


considerados inteiros, mas sim decimais: números que são tratados como se
fossem precedidos de zero, vírgula. Cada índice poderá ser dividido no
máximo de dez índices, imediatamente inferiores.
O sistema decimal nunca tinha sido usado para a ordenação de livros
entre si.
O matemático húngaro Tarkas von Bolyai em 1833, e o físico e filósofo
francês André-Marie Ampère em 1834, utilizaram o sistema decimal para
classificar as ciências.
No que respeita à área da bibliografia, o primeiro ensaio de que se tem
notícia, data de 1583, quando François Graudé La Croix de Maine (1552-
1592?) tentou aplicar este sistema à divisão das obras de uma bibliografia.

183
DUBUC, René – La Classification Décimale Universelle. 1964. P. 13.
As classificações bibliográficas do tipo 201
enciclopédico

Em1841790, a Biblioteca de Glasgow


tenta aplicar o mesmo método. Seguiu-se o
método apresentado pelo bibliotecário
americano Nathaniel B. Shurtleff (1810-
1874) na obra A decimal system for the
arrangement and administration of libraries
que foi publicado em 1856.
Estes três sistemas preconizavam
apenas a organização de bibliotecas em
pequenas salas, contendo cada uma 10
estantes de 10 prateleiras numeradas de 1 a
10. Em nenhum destes sistemas se encontra
Fig. 20 - Portada da obra: A decimal system for the
o sistema decimal aplicado aos próprios arrangement and administration of libraries
184

assuntos dos livros.


A primeira vez que isto aconteceu foi com a Classificação Decimal de
Dewey, à qual se seguiu a Classificação Decimal Universal.

b) Sistema a priori

Tal como acontece com os outros sistemas de classificação, a


Classificação Decimal de Dewey é uma linguagem construída a priori. Isto
quer dizer que a sua construção é independente dos documentos,
designadamente a determinação das notações que representam os assuntos.

c) Sistema mono-hierárquico

Como todas as classificações bibliográficas, a Classificação Decimal de


Dewey é caracterizada por ser um plano de classificação hierárquico. Nele, as

184
Ver:
http://books.google.pt/books?id=HB0CAAAAQAAJ&dq=A+decimal+system+for+the+arrangemen
t+and+administration+of+libraries&printsec=frontcover&source=bl&ots=jxe5zRI4T_&sig=6MJdlL
bPJUieTgxGCVPZ2xa_59I&hl=pt-
PT&ei=LakwS8u9A8ei4QaL67mqCA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ved=0CB0Q6AE
wBQ#v=onepage&q=&f=false [Consult. 21 Dez. 2009].
202

notações sucedem-se hierarquicamente do geral para o particular, e


encontram-se subordinadas umas às outras, segundo o nível de especificidade
do assunto que representam.
Cada dígito que se coloque à direita de outro dígito, indica a priori uma
maior especificidade de um determinado assunto.
Cada notação corresponde no sistema a um único assunto.

d) Linguagem pré-cordenada

Numa leitura conceptual, esta situação manifesta-se na possibilidade de


se poder coordenar a priori um ou mais conceitos, quando se constroem as
notações.
Na sua essência este sistema não é pré-coordenado, porque esta
classificação não possui na sua estrutura - base expedientes que lhe
permitam tal funcionalidade. Esta característica traduz-se na prática na
possibilidade de se construirem notações compostas que, por seu lado,
representam assuntos compostos. Esta situação é apenas cumprida devido ao
facto de a Classificação Decimal de Dewey possuir tabelas auxiliares.

e) Sistema exaustivo

A Classificação Decimal de Dewey apresenta como característica, entre


outras, o facto de elencar de forma exaustiva todos os assuntos conhecidos e,
como tal, passíveis de serem classificados.

f) Sistema universal

Relativamente ao seu conteúdo, como classificação que se integra


dentro das de tipo enciclopédico, pretende abranger todas as áreas do saber,
conferindo-lhe esta característica, um carácter universal.
As classificações bibliográficas do tipo 203
enciclopédico

g) Sistema controlado e estruturado

A Classificação Decimal de Dewey é uma linguagem controlada. Esta


característica deve-se ao facto de a cada notação corresponder um único
assunto.
É também uma linguagem estruturada, pelo facto de apresentar
relações hierárquicas, pois assenta numa estrutura vincadamente hierárquica.
Implicitamente apresenta relações associativas, tal como a Classificação
Decimal Universal. Este facto acontece devido ao facto de existirem assuntos
que se poderão encontrar classificados em diferentes classes, dependendo da
perspectiva. Tomando como exemplo o vestuário, este assunto poderá ser
classificado no 155.95 (nos casos em que se estuda a influência que o
vestuário tem no aspecto psicológico); no 391, quando se associa o vestuário
aos usos e costumes; ou no 746.92, quando aparece associado à moda, ao
Design.

Composição

1 Tabelas principais

Neste sistema o conhecimento encontra-se dividido em dez classes


principais que, por sua vez, se encontram subdivididas. Cada classe principal
tem dez divisões e cada divisão encontra-se, por seu lado, dividida em dez
secções, e assim sucessivamente.
Tomando como base a Tabela abreviada francesa, extraída da XXIIe185
edição integral em língua inglesa, passamos a apresentar a estrutura geral
das classes principais:

185
Esta tabela foi publicada em 2003 pela OCLC (Dublin, Ohio), sob a direcção de Joan Mitchell.
Esta edição é composta por quatro volumes, a saber:
Vol. 1: Guia de utilização. Tabelas auxiliares.
Vol. 2: Tabelas principais (005-599).
Vol. 3: Tabelas principais (600-999).
Vol. 4: Índice.
204

000 Informática, informação e generalidades


100 Filosofia e Psicologia
200 Religião
300 Ciências sociais
400 Línguas
500 Ciência
600 Tecnologia
700 Arte e lazer
800 Literatura
900 Geografia e História
Tabela 6. Classes principais da Classificação Dewey

Como podemos verificar, cada classe é composta por três algarismos.


Quando consideramos os grandes campos do conhecimento, isto é, quando
não os subdividimos em divisões ou secções, o sistema impõe que a sua
notação seja preenchida com zeros.
A título de exemplo, podemos observar que na classe 500, o algarismo 5
representa a classe – Ciência, e os dois zeros, representam a divisão e a
secção. Deste modo, a notação 510, é composta pela classe 5, divisão 1 e a
secção mantém-se vazia. O conjunto dos três algarismos representa a
matemática.

2 Tabelas auxiliares

Como a maioria dos sistemas de classificação, também a Classificação


Decimal de Dewey apresenta tabelas auxiliares. Como já referimos, as
notações que integram estas tabelas servem para precisar o assunto principal,
representado pela classe principal. Essa precisão pode expressar-se em
diferentes perspectivas, tal como: históricas, geográficas, cronológicas, etc.
De acordo com a 21ª edição abreviada em língua francesa da
Classificação Decimal de Dewey, são sete as tabelas auxiliares, a saber:
As classificações bibliográficas do tipo 205
enciclopédico

Tabela 1: Subdivisões comuns.


Tabela 2: Regiões geográficas, períodos históricos e pessoas.
Tabela 3: Subdivisões para as artes, a literatura e géneros literários.
Tabela 4: Subdivisões de língua e de famílias de língua.
Tabela 5: Raças, etnias e nacionalidades.
Tabela 6: Línguas.
Tabela 7: Pessoas.186

Dentro destas Tabelas auxiliares damos especial relevância às tabelas 1


e 2, devido ao seu uso. Com um uso mais restrito seguem-se a Tabela 5, e
por último, as Tabelas 3 e 4 (línguas, literatura e artes), que se usam apenas
nestas áreas do conhecimento.

3 Notação

A notação da Classificação Decimal de Dewey tem duas características


fundamentais: é uma notação pura, constituída apenas por algarismos arábes
e, é constituída por números decimais o que concorre para que esta notação
seja hierárquica e apresente uma grande plasticidade.
Na notação desta Classificação há a considerar uma particularidade que
contribui para que se designe notação de síntese. Na prática, esta designação
expressa-se na aplicação de um ponto (.), sempre que se necessita de
expandir, como é o caso das relações entre assuntos. Esta situação traduz-se,
por exemplo, quando precisamos de representar um assunto composto. Neste
caso recorre-se à aplicação da notação de síntese. Aqui síntese significa a
união de dois ou mais elementos de um todo, isto é, a tradução de uma
notação composta.

186
Nesta edição foi suprimida esta tabela, devido ao facto de coincidir com a Tabela 1.
Observava-se uma redundância com a subdivisão comum - 08.
206

4 Índice

Sendo, no geral, em tudo semelhante a qualquer outro índice de um


sistema de classificação, inclui, todavia, entradas remissivas.
O índice apresenta um elevado nível de pormenor, apresentando sob
cada termo todos os pontos de vista relacionados com aquele assunto, assim
como as respectivas notações. Pelo exposto, o índice do sistema da
Classificação Decimal de Dewey é considerado, por muitos autores e
utilizadores deste sistema, como um dos que apresentam uma estrutura mais
eficaz para consulta.

Classificações facetadas [Fundamentos e características]

Outro tipo de classificações a considerar, na análise da estrutura, são as


classificações facetadas.
Uma classificação por facetas é, segundo Vickery:

[…] une table des termes normalisés qu’il est possible d’utiliser
dans une descripcion des documents suivant les matières qu’ils
contiennent. Ces termes sont d’abord groupés en domaines
homogènes […] Dans chacun des domaines, les termes sont
divisés en groupes connus sous le nom de “facettes” et à l’intérieur
de chaque facette ils peuvent être classés hiérarchiquement. Les
facettes sont énumérées dans le shéma suivant une ordre
déterminé […] Cet ordre de combinaison permet de mettre en
évidence l’ordre des relations qui existent entre les différents
termes.187

De uma forma geral, podemos dizer que as classificações de tipo


facetado ou sintético, são aquelas que se baseiam na análise e decomposição
de uma matéria. Para uma matéria ser classificada com base neste sistema, a
matéria-objecto de classificação tem de se decompor nas suas partes

187
VICKERY, B. C. – La classification a facettes. 1963. P. 5.
As classificações bibliográficas do tipo 207
enciclopédico

componentes para, numa segunda fase, através de expedientes que são


próprios desta classificação, se voltarem a unir. Este processo, se por um
lado, permite conservar a autonomia de cada matéria, por outro proporciona
ao classificador uma relativa autonomia para classificar o assunto. Assim
sendo, podemos concluir que cada documento classificado pressupõe a priori
um processo de síntese. Ao contrário das classificações enumerativas, que
distribuem os assuntos pelas suas classes de forma exaustiva e, em muitos
casos, fixa, as classificações facetadas dão liberdade ao classificador para
criar as notações nas situações que se justifiquem.
Por isso concordamos com Foskett, quando refere o seguinte acerca da
Classificação Colon, nomeadamente em relação à autonomia do classificador:

One of the other basic ideas behind CC is that of “autonomy for


the classifier” […] Ranganathan has tried to go one stage further:
to give the individual classifier the means to construct class
numbers for new foci which will be in accordance with those that
the central organization will allow by means of a set of devices or
rules of universal applicability.188

Este tipo de classificações apresenta os seguintes fundamentos e


características:

- uma estrutura polihiercárquica, em que cada categoria pode


aplicar-se a um conjunto de caracteres;
- são classificações de elevado nível de flexibilidade, que lhe é
conferida, pela sua estrutura maleável;
- não apresentam tabelas extensas e exaustivas, devido ao facto de,
através dos seus expedientes, se poderem classificar vários
assuntos, sem para tal necessitarem de estar elencados de forma
exaustiva;
- apresentam notações mistas, constituídas por números e letras.
Devido a estas características estas notações apresentam grande
flexibilidade;

188
FOSKETT, A. C. – The subject approach to information. 1977. P. 343.
208

- apresentam-se multidimensionais: um assunto pode ser


perspectivado sob vários pontos de vista permitindo, desta forma,
representá-lo sob os vários aspectos, de acordo com a perspectiva
do autor.

Dentro das classificações de tipo facetado, escolhemos para exemplificar


a Classificação Colon. A nossa opção baseia-se no facto de este sistema ser
aquele que, dentro dos sistemas facetados, tem maior repercussão e por ter
sido aquele que mais rapidamente se difundiu nas bibliotecas de todo o
mundo. Além disso, veio a influenciar a construção de outros sistemas
facetados.
Este sistema, além de ser usado como instrumento de classificação,
acresce outra mais-valia, como instrumento de análise. A fórmula (PMEST),
usada para classificar os assuntos dos documentos, também pode ser usada
para fazer a análise de qualquer documento, independentemente de este ser
classificado ou não.
Tal como aconteceu com a Classificação Decimal de Dewey, este sistema
será, também, analisado quanto à sua origem histórica, fundamentos e
características e à sua composição.

Classificação Colon

Origem e contextualização histórica

A Classificação Colon, também designada pela Classificação dos dois


pontos, foi idealizada pelo filósofo e matemático Shiyali Ramamrita
Ranganathan (1892-1972).
Devido ao facto de ser bibliotecário da Biblioteca da Universidade de
Madras, e porque pretendia introduzir o livre acesso nesta biblioteca,
Ranganathan estudou os vários sistemas de classificação existentes. Fê-lo,
observando as suas limitações e as suas vantagens, com o intuito de criar um
novo sistema. Após este estudo, concluiu que os sistemas existentes, na sua
maioria, se caracterizavam pela rigidez no que respeita à estrutura. Deste
As classificações bibliográficas do tipo 209
enciclopédico

modo, resolveu construir um novo sistema baseado na flexibilidade das suas


notações; essa flexibilidade traduzia-se essencialmente no uso dos dois
pontos (:).
Ao contrário das classificações bibliográficas anteriores, esta baseou-se
na moderna teoria das classificações. Relativamente a este assunto, cumpre
referir que Ranganathan baseou a sua teoria de classificação na de Bliss189,
com quem mantinha correspondência;190 Bliss era também mentor de uma
classificação de tipo facetado, que foi publicada em 1935, sob o título: A
system of bibliographic classification.
A Classificação Colon, foi publicada pela primeira vez em 1933, e nela se
manifesta a principal teoria deste autor. Com a sua publicação inaugurou-se
uma nova era nos estudos da classificação bibliográfica.
A partir da criação do Classification Research Group, em Londres
(1948), a classificação por facetas passou a ser aplicada a campos do
conhecimento especializados. Contribuiu para tal situação o princípio base da
sua filosofia – um assunto poder ser analisado sob cinco categorias.
Para muitos autores, esta classificação é considerada mais uma reflexão
e um exercício teórico e académico do que propriamente uma classificação.
Ainda que rompa com os sistemas tradicionais de classificação,
nomeadamente com os de estrutura enumerativa, nesta classificação
observam-se algumas linhas de continuidade, tal como a divisão do
conhecimento em classes e a organização do conhecimento dito tradicional.
Independentemente de todas as críticas que lhe foram dirigidas, são
inegáveis o contributo e o impulso teórico e filosófico que trouxe consigo para
o estudo das classificações bibliográficas.
Grosso modo, podemos afirmar que a sua aplicação prática como
sistema de classificação se circunscreveu, de uma forma geral, ao Oriente,

189
Alguns dos pontos subjacentes ao sistema de Bliss e que, de alguma forma, influenciaram o
pensamento de Ranganathan foram:
- Localização alternativa: um determinado assunto podia ser colocado em mais do que um lugar,
ficando a sua localização física ao critério da biblioteca, que passaria a usar esse critério de uma
forma coerente e consistente.
- Utilização de notações breves e concisas: o conhecimento deveria ser representado por
notações sumárias, que não concorressem para a ambiguidade. É de referir que Bliss nunca deu
cumprimento a este princípio.
- Utilização de uma notação mista, ou seja notações alfanuméricas.
190
Na sequência da correspondência mantida com Bliss, em 1937, Colon publicou a sua obra
Prolegomena to library classification, na qual se expressa a sua teoria sobre a qual sustenta a sua
classificação.
210

nomeadamente à Índia. Esta situação prende-se, entre outras razões, com


questões de mentalidade e culturais. Apesar disso, tanto na Europa como nos
Estados Unidos, este sistema foi e continua a ser muito importante, porque se
assume como modelo estruturante do conhecimento. A sua influência, como
já referimos, observa-se não só na construção de outras linguagens de tipo
categorial, mas também na construção de outros tipos de instrumentos da
linguagem combinatória, como é o caso dos tesauros facetados,
nomeadamente no desenvolvimento da parte facetada.

Fundamentos e características

Neste ponto propomo-nos apresentar os fundamentos e as


características essenciais da Classificação Colon. Tal como observámos no
ponto anterior relativamente à Classificação Decimal de Dewey, e como
apenas se trata de um exemplo, esta apresentação pretende ser a menos
exaustiva possível. Concorre, ainda, para a brevidade da apresentação das
características deste sistema de classificação, o facto de elas se diluírem no
ponto relativo às características gerais das classificações facetadas.
Após estas breves palavras de introdução, passamos de seguida a expor
e a analisar os fundamentos e as características que nos parecem ser os mais
particulares da Classificação Colon.

a) Sistema facetado

As principais características deste sistema são as noções de faceta e


focos.
Para a concepção das facetas, Ranganathan foi influenciado pelas
categorias aristotélicas.
Para Ranganathan, a análise de um assunto por facetas significa que um
assunto particular poderá ser perspectivado sob as diversas manifestações
das suas características ou facetas. Esta possibilidade concorre para que este
sistema se torne multidimensional e ilimitado. As facetas são a referência da
As classificações bibliográficas do tipo 211
enciclopédico

Classificação Colon e obedecem a postulados predeterminados. Cada divisão


de uma faceta chama-se foco e uma faceta poderá apresentar um número
indeterminado de focos.
Um assunto pode ter uma faceta base e muitos focos isolados. Nestas
situações ter-se-á uma classe composta.
Cada uma das facetas de um assunto e os focos de cada uma delas, são
considerados como manifestações das cinco categorias fundamentais. Estas
categorias são traduzidas pela fórmula PMEST, tal qual Ranganthan postulou
na sua obra Prolegomena to library classification:

There are five and only five fundamental categories – Time, Space,
Energy, Matter, and Personality. […] This set of fundamental
categories, is, for brevity, denoted by the initionym PMEST.191

Para uma maior inteligibilidade, apresentamos o desdobramento desta


fórmula no quadro que se segue.

Categorias Símbolos
Símbolos das facetas
fundamentais de ligação

Personalidade P , (Vírgula)
Matéria M ; (Ponto e vírgula)
Energia E : (Dois pontos)
Espaço S . (Ponto)

Tempo T ‘ (Apóstrofo)
Tabela 7. Categorias de Ranganathan

Passamos a analisar cada uma destas categorias, também vulgarmente


chamadas facetas.192

Tempo – Ao contrário das outras facetas, esta é de fácil identificação.


Tem como função localizar o assunto num espaço cronológico. Apresenta

191
RANGANATHAN, S. R – Prolegomena to library classification. 2006. P. 398.
192
Ibidem, 398-401. A ordem da sua apresentação é igual àquela que se encontra nesta obra.
212

correspondência com as tabelas cronológicas. Na gramática esta faceta


corresponde ao complemento circunstancial de tempo.

Espaço – Tal como acontece com a faceta tempo, esta também se


assume de fácil identificação. Tem como função localizar o assunto num
espaço geográfico. Corresponde às tabelas geográficas. Na gramática
corresponde ao complemento circunstancial de lugar.

Energia – Esta faceta está associada à acção, ao movimento, à técnica,


ao verbo, ao tratamento, aos procedimentos e às operações. Por analogia
com as outras duas esta corresponderá, na gramática, ao verbo.

Matéria – Tal como acontece com a faceta energia, esta também se


assume de difícil identificação. Geralmente manifesta-se através de um
elemento material, uma propriedade ou qualidade. Compreende entre outros
componentes, métodos, operações, etc. Neste sentido, esta faceta
corresponde ao objecto sobre o qual o processo se manifesta. Corresponderia,
numa expressão gramatical ao complemento directo.

Personalidade – De todas as facetas é aquela que apresenta maior


dificuldade em ser identificada. Um método que se usa para a sua
determinação é a exclusão, isto é, se depois de analisarmos um assunto à luz
de todas as outras facetas nenhuma delas se lhe aplicar, então, por exclusão
de partes, tratar-se-á da faceta personalidade.

Dentro da lógica aristotélica corresponderá à substância, isto é, à


primeira categoria.
Numa linguagem natural, à faceta Personalidade corresponderá o
sujeito.
Através da classificação por facetas podemos analisar um assunto. Isto
é, podemos analisar um documento sob todos os aspectos, através da
fórmula PMEST.
As classificações bibliográficas do tipo 213
enciclopédico

b) Sistema polihierárquico

Como acontece com todos os sistemas de classificação, também a


Classificação Colon é um sistema hierárquico. Porém, ao contrário da
Classificação Decimal de Dewey e de todos os outros sistemas enumerativos,
este apresenta-se como polihierárquico, permitindo que se estabeleçam várias
relações entre os assuntos. Nele, os assuntos encontram-se associados uns
aos outros através de relações de coordenação e de subordinação. Prevê
relações dentro do mesmo assunto e entre os assuntos.

c) Sistema analítico-sintético

Este sistema, devido à sua natureza, permite a construção de notações


compostas.
Na prática dá possibilidade a um classificador de analisar e considerar
um assunto sob as várias perspectivas em que ele se encontra tratado num
documento. Com base na fórmula PMEST, um classificador na fase da análise
poderá interrogar e decompor o assunto de um documento de acordo com
cinco facetas previstas. Aquando da representação dos conceitos
seleccionados num documento, este sistema oferece-lhe expedientes para que
traduza esse assunto composto ou complexo.
Assim sendo, podemos concluir que esta classificação, por um lado,
serve como instrumento de análise – PMEST, e por outro lado, apresenta
mecanismos para a representação dessa análise - os dois pontos.
Como se poderá inferir, esta metodologia analítico-sintética, proporciona
ao classificador um elevado nível de autonomia na classificação dos
documentos e permite a individualização conceptual dos documentos e a
sucessiva introdução de novos assuntos.
Este sistema é a primeira classificação analítico-sintética.
Os dois pontos, principal característica deste sistema, e que o
individualiza dos outros, não constituiu uma inovação. Paul Otlet já os tinha
usado na Classificação Decimal Universal. Nesta classificação, a adopção dos
dois pontos não constitui a base do sistema, como acontecia na Classificação
214

Colon. Eles eram apenas símbolos, como outros, das tabelas auxiliares.
Serviam apenas para representar assuntos compostos e complexos, nos casos
em que tal se justificasse.

d) Sistema exaustivo

A característica de exaustividade não pode ser entendida como nas


classificações enumerativas, nomeadamente na Classificação Decimal de
Dewey, que já tivemos oportunidade de caracterizar. Na Classificação Colon,
esta característica prende-se com o facto de ela proporcionar a divisão de um
assunto de forma exaustiva, até ele ser esgotado no seu conteúdo.
Ao contrário das classificações enumerativas, esta característica não se
reporta à exaustividade das classes, dado que na Classificação Colon esta
situação não ocorre devido à natureza do próprio sistema. O facto de se
poderem representar todos os assuntos através dos expedientes que a
integram, nomeadamente os dois pontos, concorre para que não seja
necessário as classes serem exaustivas.

e) Sistema estruturado

A Classificação Colon apresenta uma estrutura hierárquica. Não sendo


monohierárquica, neste sistema os assuntos também se encontram registados
nas respectivas classes estabelecendo-se entre eles, relações de coordenação
e de subordinação.

f) Notação a posteriori

Na Classificação Colon as notações não são pré-determinadas, elas são


construídas com base no documento. São a análise do documento e,
naturalmente, os conceitos dele extraídos, é que determinam a notação.
As classificações bibliográficas do tipo 215
enciclopédico

Neste sistema, como já referimos a propósito de outras características, não


existe a necessidade de se construirem notações a priori.

g) Sistema universal

No que respeita ao seu conteúdo, não pretendendo ser exaustiva, esta


classificação pretende abranger todo o conhecimento, concorrendo deste
modo para ter um carácter universal.

Composição

a) Tabelas principais

Ranganathan estruturou o seu sistema em 42 classes principais,


subdivididas, por sua vez, em 10 subclasses. Nelas registam-se as disciplinas
tradicionais agrupadas em três rubricas:

- Ciências naturais e aplicadas;


- Ciências humanas;
- Ciências sociais e sua aplicação.
216

193
Fig. 21 - Classes principais da Classificação Colon

193

b) Tabelas auxiliares

Com o propósito de permitir uma flexibilidade, a Classificação Colon


integra na sua estrutura tabelas auxiliares. Estes auxiliares chamam-se
isolados comuns e são representados pelo símbolo (CI).
As tabelas auxiliares são quatro e servem para todo o sistema. Estas
tabelas são constituídas pelos auxiliares de forma, que incluem, além deste
tipo de auxiliares, outras subdivisões comuns. Estas são apresentadas,
geralmente, através das letras minúsculas do alfabeto.
Outro auxiliar é o cronológico, que é representado, também, pelas letras
minúsculas do alfabeto e pelo símbolo (TI). Este representa o tempo, como a
sua própria designação refere.

193
BROWN, A. G.; LANGRIDGE, D. W.; MILLS, J. - Subject análisis and practical classification.
1976. P. 146.
As classificações bibliográficas do tipo 217
enciclopédico

O espaço é outro auxiliar que aparece representado por números em


sequência decimal e pelo símbolo (SI). Representa, naturalmente, conceitos
geográficos.
O último auxiliar é a língua, que também é representada por números
decimais, numa sequência de 1 a 9. O símbolo usado é o (LI).
Tal como os auxiliares no geral estes servem para precisar e especificar
os assuntos.

c) Notação

A notação deste sistema é mista. Na primeira edição, os dois pontos (:)


eram o único símbolo de ligação entre os assuntos; após a 4ª edição foram
introduzidos outros símbolos.
Actualmente esta notação é composta por: símbolos, letras maiúsculas
do alfabeto romano, números árabes, letras minúsculas do alfabeto romano,
letras gregas, hífenes, vírgula, ponto e vírgula, dois pontos, ponto, aspas,
setas e parêntesis.
Outra particularidade que caracteriza a notação do sistema Colon, é o
facto de ela não ser pré-definida, como acontece com as notações da
Classificação Decimal de Dewey e da Classificação Decimal Universal. Esta
situação acontece pelo facto de estas de poderem construir à medida que vão
surgindo os assuntos para classificar.

d) Índice

Tal como acontece com outras classificações, a Classificação Colon


também apresenta um índice, onde se encontram organizados os assuntos
que integram as tabelas.
218
Classificação Decimal Universal 219

Capítulo VI
Classificação Decimal Universal
220
Classificação Decimal Universal 221

1 CDU [Origem e contextualização histórica, definição e


função, fundamentos, características e critérios de
aplicação]

A matéria exposta e analisada neste ponto insere-se, numa perspectiva


lógica, no ponto anterior; por isso este será subsidiário dele.
A Classificação Decimal Universal integra-se nos sistemas de
classificação considerados mistos. Nesta perspectiva, e considerando o
capitulo V (Ponto 1.1.4), os principais tipos de sistemas bibliográficos, faria
todo o sentido que este ponto integrasse a estrutura do anterior, numa linha
que nos parece ser coerente, tanto a nível conceptual, como a nível
estrutural.
A razão de inserirmos esta matéria num ponto independente, prende-se
com o facto de este sistema de classificação ser o nosso objecto de estudo.
Nesta medida, pareceu-nos justificável que a Classificação Decimal fosse
tratada com um maior grau de especificidade, nomeadamente quanto aos
fundamentos e características, estrutura e critérios de aplicação.
Entendemos que a sua apresentação pormenorizada constituirá uma
mais-valia relativamente ao entendimento da segunda parte do nosso
trabalho, que constitui o cerne da tese apresentada.
Por uma questão de coerência e uniformidade relativamente à
apresentação dos outros sistemas de classificação considerados no capitulo
anterior, (Classificação Decimal de Dewey e Classificação Colon), na sua
abordagem iremos utilizar uma metodologia e uma estrutura análogas. No
entanto, e como já referimos, a sua apresentação será mais detalhada,
recorrendo à utilização de exemplos, nos casos que nos parecerem
justificáveis para um entendimento inequívoco.
Esta matéria, no geral, constituiu objecto de estudo de um outro
trabalho académico elaborado pela mesma autora,194 cuja leitura
recomendamos, para um maior desenvolvimento.

194
SIMÕES, Maria da Graça – CDU: fundamentos e procedimentos. 2008.
222

1.1 Origem e contextualização histórica

Em finais do século XIX, a Classificação Decimal de Dewey veio dar


origem a um outro sistema de classificação decimal, também reconhecido e
aplicado num número considerável de bibliotecas no mundo.
A Classificação Decimal Universal, essencialmente, é um sistema de
classificação decimal. Teve a sua origem na Classificação Decimal de Dewey.
Entre outros projectos, o Instituto Internacional de Bibliografia, na 1ª
Conferência Internacional de Bibliografia em 1985, considerou a elaboração
de um repertório bibliográfico universal. Esta responsabilidade ficou a cargo
de dois juristas belgas: Paul Otlet e Henry la Fontaine.
A Classificação Decimal Universal nasceu com o objectivo de ordenar a
compilação de um repertório universal de bibliografia. Para organizar toda a
documentação, necessitava-se de um sistema de classificação que lhes
permitisse uma organização do conhecimento de forma metódica e
sistemática. Esta preocupação foi manifestada por Paul Otlet e La Fontaine na
Conférence Bibliographique Internationale.
Nos oito pontos que constituíam os princípios para a elaboração do
Repertório Bibliográfico Universal, o propósito de adoptar um sistema de
classificação que proporcionasse a arrumação das obras por matérias,
encontra-se exposto no segundo ponto:

Ce répertoire doit donc être à fois alphabétique par noms d’auteur


et méthodique par ordre de matières. Il faut aussi que les matières
connexes soient groupées afin d’éviter au chercheur les
investigations trop nombreuses qui résultent de l’éparpillement des
matières.195

Aparentemente, o sistema de classificação que responderia a estas


solicitações, sobretudo por ser decimal, era a classificação Decimal de Dewey.

195
LA FONTAINE, Henri; OTLET, Paul – Création d’un répertoire bibliographique universel. 1895.
P. 4.
Classificação Decimal Universal 223

Por volta de 1896, a Classificação Decimal de Dewey já era utilizada


com êxito assinalável em várias bibliotecas públicas nos Estados Unidos,
sendo adoptada no total de mais de mil bibliotecas.196
Apesar da Classificação Decimal de Dewey ser um sistema decimal, o
que lhe conferia a possibilidade de expansão dos assuntos, apresentava,
todavia, uma desvantagem: era pouco flexível, devido ao facto de a sua
estrutura ser enumerativa, não permitindo a representação de assuntos
compostos e/ou complexos. Para contornar esta situação, o Instituto
Internacional de Bibliografia solicitou autorização a Melvil Dewey para a
introdução de sinais e símbolos que possibilitassem notações mais extensas,
às quais, naturalmente, corresponderiam assuntos específicos, assim como a
representação de assuntos compostos.
A introdução destes elementos conferiu ao sistema maior poder de
síntese, tornando-o simultaneamente mais flexível e mais pormenorizado.
Este facto foi a contribuição mais significativa que trouxe a nova classificação
– a Classificação Decimal Universal.
Como se pode depreender deste contexto, ao contrário de outros
sistemas de classificação, a Classificação Decimal Universal é, pela sua
natureza, uma classificação bibliográfica, na medida em que o seu principal
objectivo foi organizar por assunto um extenso repertório.
Este propósito é inovador, na época, considerando outras classificações
já existentes, que eram puramente teóricas, como as filosóficas ou científicas.
Ainda coexistia outro tipo de classificações, estas de tipo pragmático e
utilitarista, como era o caso, em primeiro lugar da Classificação da Biblioteca
do Congresso, e num segundo plano a Classificação Decimal de Dewey. Estas
duas classificações tinham como objectivo arrumar os documentos por
assunto nas estantes.
A Classificação Decimal Universal (CDU) teve origem na 5ª edição da
Classificação Decimal de Dewey. Paul Otlet, após ter analisado os sistemas de
classificação conhecidos, como já referimos, optou pelo de Dewey. Para esta
opção contribuíram essencialmente três factores:

196
Ibidem. P. 12.
224

- o conhecimento humano organizado em taxonomias;


- a notação constituída apenas por algarismos árabes;
- o princípio decimal subjacente à sua estrutura.

O primeiro e o segundo argumentos contribuíram de uma forma decisiva


para a universalidade, característica desde sempre atribuída à Classificação
Decimal Universal. Universalidade porque, se por um lado, representava todo
o ideário epistemológico do século XIX, por outro, os números eram
conhecidos no mundo Ocidental, o que concorria para a tornar numa
verdadeira linguagem universal.
Relativamente ao terceiro ponto, o facto de a Classificação Decimal de
Dewey assentar num princípio decimal, permitia-lhe intercalar conceitos de
forma infinita.
Em 1905 foi publicada a sua primeira edição em francês designada
Manuel du Répertoire de Bibliographie Universelle, também chamada
Classificação de Bruxelas, pelo facto de a sede do Instituto Internacional de
Bibliografia se situar nesta cidade. Esta primeira versão foi publicada sob os
auspícios deste Instituto.
Em 1931 o Instituto Internacional de Bibliografia foi transferido para
Haia, onde permaneceu até 1991, passando a chamar-se Instituto
Internacional de Documentação. Entre 1927-1933, sob a sua égide, foi
publicada a 2ª edição em língua francesa, com o título Classification Décimale
Universelle. A extensão desta edição era o dobro do da primeira.
No Congresso Mundial de Documentação, em 1937, alterou-se o nome
do Instituto Internacional de Bibliografia para o de Federação Internacional de
Documentação (FID), designação que se manteve até 1992. Entre outras
tarefas, cumpria a este Instituto, através das suas comissões, a publicação,
em vários idiomas, de novas edições desenvolvidas, médias, abreviadas e
especializadas da Classificação Decimal Universal. Competia-lhe ainda,
publicar periodicamente as Extensions and Corrections to the UDC, onde são
divulgadas as actualizações efectuadas numa ou em outra classe, até à
publicação de novas edições.
A partir de 1992, o controlo das edições e traduções desta Classificação
passou para um Consórcio de Editores com sede em Liège. Uma das primeiras
Classificação Decimal Universal 225

medidas deste Consórcio foi a criação de uma base de dados designada


Master Reference File-MRF. Esta base constitui um ficheiro de referência, que
é actualizado todos os anos após a publicação das Extensions and Corrections
to the UDC.
A Classificação Decimal Universal é o sistema de classificação, desde
sempre preferido na Europa e nos países em desenvolvimento não
anglófonos, formados na tradição europeia de biblioteconomia.
Regra geral é utilizada para a organização física de grandes colecções
em bibliotecas, assim como para a sua inventariação por assunto em
catálogos.
Dadas as suas particularidades, ao longo do tempo, a sua aplicação foi
mais preponderante em serviços especializados do que em serviços de
características gerais.
Enquanto o emprego da Classificação Decimal de Dewey se verifica
geralmente nas bibliotecas dos países anglófonos,197 o emprego da
Classificação Decimal Universal utiliza-se, regra geral, em bibliotecas de
países francófonos, e em países da Ásia, da América Latina e da África.

1.2 Definição e função

Na edição da Classificação Decimal Universal de 1927-1933,198 este


sistema de classificação é definido nos seguintes termos:

[…] classification systématique dans sa disposition et


encyclopédique dans son contenu, - à notation décimale dont les
nombres se combinent entr’eux selon certaines fonctions. –
classification exposée dans des tables à entrées méthodiques et
alphabétiques, - permettant à volonté une indexation sommaire ou
détaillée, - d’application universelle à toutes espèces de

197
A partir de 1930 a própria Biblioteca do Congresso adoptou a Classificação Decimal de Dewey,
nos catálogos impressos. A British Library também usa este sistema para os catálogos
sistemáticos.
198
Institut International de Bibliographie – Classification décimale universelle: tables de
classification pour les bibliographies, bibliothèques et archives… 1927-1933. P. XVI.
226

documents et d’objets – à toutes les collections ou parties d’un


organisme documentaire, - appropriée aux besoins de la science
spéculative et à ceux de l’activité pratique, - susceptible à la fois
d’invariabilité et de développement illimité, - prenant place dans
l’organisation internationale de la Documentation, - conçue elle-
même comme base de l’Organisation mondiale du Travail
intelectuel.

Tendo como ponto de partida esta definição tão completa, podemos


dizer que a Classificação Decimal Universal, como todas as outras
classificações, é uma linguagem documental que se integra nas linguagens de
tipo categorial, pelo facto de o conhecimento se encontrar dividido em
grandes categorias epistemológicas.
Dentro da tipologia dos sistemas de classificação, quanto ao conteúdo, é
uma classificação enciclopédica, na medida em que abarca todos os ramos do
saber. Quanto à estrutura, é um sistema misto, pelo facto de a sua natureza
apresentar características de uma classificação enumerativa - elenca todas as
matérias e as suas subdivisões de forma sistemática em classes e subclasses.
No entanto, como incorpora na sua estrutura tabelas auxiliares, que são
constituídas por um conjunto de expedientes que lhe proporcionam ir mais
além do que representar apenas o aspecto analítico dos assuntos –
característica dos sistemas enumerativos – estas tabelas permitem-lhe
também representar o sintético – característica dos sistemas facetados. Esta
circunstância concorre para que se insira a Classificação Decimal Universal
dentro dos sistemas mistos.
Tal como acontece com as outras estruturas de organização do
conhecimento de tipo categorial, à Classificação Decimal Universal subjaz um
grande princípio – a organização do conhecimento – que se manifesta na
arrumação do mesmo em grandes grupos de matérias, apresentando-se esta
característica a sua principal função.
Tendo como ponto de partida este princípio, na prática ele materializa-
se em duas dimensões distintas:
Classificação Decimal Universal 227

- a organização do conhecimento de uma forma lógica e sistemática


em catálogos; esta arrumação caracteriza-se por ser sintética; o
termo de ordenação é um código numérico que permite ordenar
hierarquicamente o conteúdo dos documentos, possibilitando,
desta maneira, o acesso ao conhecimento pelo geral;
- a organização física dos documentos em estantes, designadamente
nas bibliotecas de livre acesso, permitindo ao utilizador conhecer
as obras que existem numa biblioteca sobre o mesmo assunto e
sobre assuntos afins e, sobretudo, dar a conhecer ao utilizador
obras que desconhece.

1.3 Fundamentos e características

a) Sistema construído a priori

Constitui um primeiro fundamento o facto de a Classificação Decimal


Universal ser, como no geral todas as classificações, uma linguagem
construída a priori, o que quer dizer que as notações foram atribuídas e
fixadas a um determinado assunto, independentemente dos documentos. Os
dígitos que constituem estes códigos também são inalteráveis dentro desse
mesmo código; a sua inversão resultaria na representação de um assunto
distinto.

b) Linguagem pré-coordenada

A pré-coordenação, inerente à constituição das próprias notações das


tabelas principais e das tabelas auxiliares, é também um princípio a
considerar.
O carácter enumerativo deste sistema herdado da Classificação Decimal
de Dewey, não se esgota no elencar dos índices de uma classe. Essa
característica é também inerente à própria notação. Por exemplo, a notação
228

726 Arquitectura religiosa é constituída de uma forma enumerativa pelo


número 7, que representa o conceito Arte, o número 2 que, junto do 7 forma
72 Arquitectura, e o número 6 que, junto do 72 forma o 726 e que representa
Arquitectura Religiosa. Partindo deste exemplo, e abstraindo-nos do plano
formal, concluímos então, numa leitura conceptual, que o 726 é um código
constituído por três conceitos que foram pré-coordenados a priori para
formarem um conceito composto.
Situação análoga ocorre nas notações que compõem as tabelas
auxiliares. A título de exemplo apresentamos o Auxiliar comum de lugar (469)
Portugal. O (4) representa o conceito Europa, o (46) Península Ibérica e o
(469) representa Portugal. Se, em vez de juntar ao (46) o número 9, juntar o
0, esta notação (460) representa o conceito Espanha.
Posto isto, conclui-se que a pré-coordenação na Classificação Decimal
Universal se observa a duas dimensões:

- a posteriori, quando se parte das tabelas auxiliares – é realizada


pelo classificador;
- a priori, quando se tem em conta a própria estrutura da notação.

Após a coordenação, os conceitos que formam a notação fundem-se


num único conceito, perdendo a sua autonomia conceptual de origem.
O alto grau de pré-coordenação na Classificação Decimal Universal,
poderá, por vezes, comprometer a pesquisa, na medida em que se torna
extremamente difícil a um utilizador, saber construir um enunciado de
pesquisa que apresente uma gigantesca cadeia de números, assim como
saber a ordem de citação dos elementos nessa cadeia. Até ao final do século
XX esta circunstância, que era real na maioria das unidades de informação,
tornava-se incontornável.
Com o desenvolvimento dos sistemas informáticos aplicados às
bibliotecas, esta situação alterou-se. O acesso à informação, seja através das
linguagens pré-coordenadas, de tipo vocabular, seja das de tipo categorial,
torna-se mais eficaz e mais amigável. A adopção das pesquisas booleanas a
este tipo de linguagens faz a diferença pela positiva. A estrutura das listas de
encabeçamentos de matéria aproxima-se dos tesauros, na medida em que se
Classificação Decimal Universal 229

deixaram de construir grandes cadeias de termos, (em alguns casos


verdadeiros mini-abstracting), o que facilita a pesquisa. Esta alteração
verificada na estrutura das listas de encabeçamentos de matérias, associadas
às booleanas, concorrem para que um utilizador possa usufruir de toda a
liberdade para coordenar os conceitos. Esta faculdade possibilita ao utilizador
construir ele próprio as suas equações de pesquisa, de acordo com as suas
necessidades de informação. Com as significativas alterações tecnológicas, o
utilizador já não necessita de construir uma cadeia pré-definida de conceitos,
isto é, de acordo com a ordem pela qual foram introduzidos.
Em muitos casos o desconhecimento desta ordem concorria para o
silêncio da informação.
Este tipo de pesquisa que se observou, relativamente às linguagens
vocabulares de tipo pré-coordenado, também se veio a verificar nas
categoriais. Ele traz consigo uma maior flexibilidade nas pesquisas por
classificação, no caso concreto pela Classificação Decimal Universal, na
medida em que os sistemas informáticos vieram proporcionar a pesquisa por
qualquer código que componha a notação composta, independentemente do
lugar que nela ocupa.
Esta funcionalidade resulta numa mais-valia para o utilizador, que não
precisa de saber a ordem pré-definida das notações e, assim, consegue ter
acesso à informação. As alterações informáticas concorreram para valorizar os
sistemas pré-coordenados, no caso concreto a valorização da Classificação
Decimal Universal, como intermediária entre a informação e o utilizador.
Outra vantagem em no que respeita às classificações, nomeadamente
no que respeita à Classificação Decimal Universal como sistema de
classificação misto, prende-se com o facto de se poder representar com
grande especificidade e exaustividade o resultado da análise, através de
códigos sintéticos, algo que as linguagens pós-coordenadas não podem dar.
Com as alterações sofridas relativamente às linguagens categoriais,
estas passam a assumir potencialidades e características que até então eram
apanágio das linguagens pós-coordenadas.
O facto de se poderem fazer pesquisas booleanas, à semelhança das
linguagens pós-coordenadas, foi um valor acrescentado ao incremento das
230

pesquisas por classificação. O recurso aos índices pré-coordenados, para


efeito de pesquisa, é agora uma realidade.

c) Sistema mono-hierárquico

A Classificação Decimal Universal, na sua essência, apresenta uma


estrutura hierárquica, na qual as classes obedecem a um princípio de
dependência lógica, em que os conteúdos mais específicos se encontram
compreendidos dentro dos conteúdos mais gerais, situação análoga aos de
todos os sistemas enumerativos. Será esta a relação hierárquica que se
estabelece entre os códigos que constituem as classes e subclasses.
Estas relações estabelecem-se sempre dentro da mesma subclasse, um
assunto apenas pode ocorrer dentro de uma classe e num determinado ponto
da sua estrutura, encontrando-se de acordo com o princípio da lógica
aristotélica em que uma taxonomia não pode aceitar elementos de outras
taxonomias. Assiste-se, assim, à exclusão de elementos de classes de um
mesmo nível.
Um código está dependente hierarquicamente do código que o precede,
logo, o código que se lhe segue estará subordinado a este, naturalmente.
Dentro de uma subclasse, os códigos apresentam-se por uma ordem
decrescente.
Na teoria, tal como acontece com outros sistemas de base mono-
hierárquica, um assunto apenas poderá ser perspectivado sob um ponto de
vista, conferindo este facto à Classificação Decimal Universal uma dimensão
unidimensional. Esta ideia é expressa por Paul Otlet, na seguinte expressão:

La Classification décimale constitue donc une localisation parfaite


des matières. Elle répond à ce principe essentiel de l’ordre
bibliographique […] une place pour chaque chose et chaque chose
à sa place […] cette idée est de l’essence même du système.199

199
LA FONTAINE, Henri; OTLET, Paul – Création d’un répertoire bibliographique universel. 1895.
P. 18.
Classificação Decimal Universal 231

Como teremos oportunidade de observar ao longo deste trabalho, na


prática, esta característica não corresponde ao preconizado na teoria.
Se tivermos em conta as tabelas auxiliares, a estrutura mono-
hierárquica traduz-se numa estrutura poli-hierárquica, possibilitando, através
destas, representar o mesmo assunto sob várias perspectivas, o que lhe
confere uma dimensão multidimensional.

d) Linguagem exaustiva e específica

A característica atrás enunciada concorre para outras que se encontram


relacionadas com essa: a exaustividade e especificidade.
O facto de numa categoria semântica apenas serem admitidos conceitos
uma única vez sob a respectiva faceta, concorre para que a Classificação
Decimal Universal se apresente como um sistema marcado a priori por estas
duas características.
Tal circunstância leva a que se enumerem a priori todos os assuntos
previsíveis de serem usados num sistema documental, de uma forma
exaustiva. À partida, esta característica confere-lhe, na teoria, a possibilidade
de representar todos os assuntos expressos nos documentos, portanto, um
número infinito de matérias.
À exaustividade (número de conceitos possível de representar), está
associada a especificidade, que tem a ver com o nível de expressão com que
se representa um conceito.
O comportamento relativamente à exaustividade também é observado
no que concerne à especificidade. A estrutura da Classificação Decimal
Universal está desenhada de forma a poderem representar-se, não só
assuntos com um elevado nível de generalidade, mas também assuntos
caracterizados por um elevado nível de especificidade. Para esta última
possibilidade concorrem indiscutivelmente o facto de ser um sistema decimal
e o facto de ser provido de símbolos e signos auxiliares.
232

e) Linguagem decimal

Como já foi referido, esta característica constitui a principal herança do


sistema de Dewey, sendo ainda hoje considerado o principal elo de afinidade
entre os dois sistemas. Consiste no facto de os números das tabelas principais
serem tratados como se fossem números decimais. É esta faceta da
classificação que permite representar o conhecimento até ao infinito.

Termo vocabular Notação Nº Decimal

Ciências Sociais 3 0,3

Política 32 0,32

Formas de organização política… 321 0,321

Origens do governo… 321.1 0,321.1

Apenas desta forma se compreende o facto de o número 3 preceder o


32 e assim sucessivamente. Cada número poderá ser dividido em dez, o que
quer dizer que cada número se poderá dividir em dez conceitos. Como são
considerados números decimais, cada dígito que se juntar à direita representa
um conceito cada vez mais específico, com a particularidade de apenas se
recorrer a números e não a outros elementos como, por exemplo, letras.
Esta possibilidade proporciona ainda o reconhecimento destes códigos
em qualquer parte do mundo independentemente do seu idioma.

f) Linguagem universal

Outra característica herdada da Classificação Decimal de Dewey,


concorreu para a larga difusão e consolidação da Classificação Decimal
Universal no mundo ocidental: o facto de as suas notações serem numéricas
fez com que fosse considerada uma linguagem supralinguística. Sobre este
assunto, pode ler-se, na Création d’un Répertoire Bibliographique Universel, o
seguinte:
Classificação Decimal Universal 233

Cette classification présente un triple avantage. Elle constitue


d’abord une nomenclature des connaissances humaines, fixe,
universelle et pouvant s’exprimer en une langue internationale,
celle des chiffres.200

Ser uma linguagem universal, assume assim, uma dupla dimensão, na


medida em que a sua universalidade lhe é também atribuída pelo facto de ser
enciclopédica quanto ao seu conteúdo, abarcando, na teoria, todo o
conhecimento humano. A este propósito, na edição de 1927-1933, pode ler-se
o seguinte:

Classification encyclopédique des connaissances – La Classification


décimale dans ses développements scientifiques, tend à donner un
inventaire complet de toutes les sciences, de toutes les idées, de
toutes les institutions, de toutes les activités et de tous les
objets.201

Esta particularidade contribuiu para que este sistema fosse, desde logo,
adoptado quer por bibliotecas gerais, quer por bibliotecas especializadas.
Esta característica é endémica à sua génese, na medida em que nasceu,
como sabemos, para organizar por temas o Repertório Bibliográfico Universal.

g) Sistema normalizado

Outro princípio tem a ver com o facto de a Classificação Decimal


Universal ser uma linguagem normalizada. Este fundamento prende-se com a
circunstância de, ao longo da sua história, estar presente a preocupação de a
sua elaboração, desenvolvimento e difusão serem efectuados de acordo com
instruções emanadas de organismos de normalização nacionais e

200
LA FONTAINE, Henri; OTLET, Paul - Création d’un repertoire bibliographique universel. 1895.
P. 5.
201
Institut International de Bibliographie – Classification décimale universelle: tables de
classification pour les bibliographies, bibliothèques et archives… 1927-1933. P. VI.
234

internacionais, tais como a FID e, actualmente, o Consórcio Editor da


Classificação Decimal Universal.
Tal preocupação normativa tem como objectivo garantir uma prática que
se quer uniforme e consistente, com vista a obter resultados pertinentes e
precisos na recuperação da informação.

h) Sistema analítico-sintético

Quando referimos esta característica relativamente às classificações, no


nosso entender, ela poderá ser considerada em duas acepções: uma de
dimensão conceptual alargada e outra de dimensão conceptual reduzida.
No que concerne à primeira acepção, entendemos que todas as
classificações são analítico-sintéticas, na medida em que todas representam
os assuntos que resultam da análise do conteúdo de um documento. Nesta
perspectiva, e partindo do significado linguístico deste termo, é evidente que
todas são analíticas e todas são sintéticas, porque têm como objectivo
representar e disponibilizar o conteúdo resultante da análise dos documentos
de forma abreviada.
Abstraindo da leitura linguística destes termos e analisando-os à luz de
um contexto documental, concluímos que apenas algumas são analítico-
sintéticas. São analítico-sintéticas as classificações facetadas e mistas, devido
ao facto de possuírem expedientes que lhes permitem decompor a análise de
um determinado assunto nas suas várias perspectivas e, ao mesmo tempo,
esses expedientes permitirem representar, de forma sintética, o resultado
dessa análise.
O facto de a Classificação Decimal Universal possuir tabelas auxiliares,
permite-lhe fazer uma análise conceptual exaustiva, que se traduz na
decomposição de cada assunto nas suas várias facetas. Simultaneamente,
mediante um processo de síntese, estes são combinados entre si através dos
expedientes que constituem estas tabelas. Como teremos oportunidade de
observar, geralmente os auxiliares mantêm-se ligados à matéria representada
pelo número principal. Este processo dá origem a notações compostas que
Classificação Decimal Universal 235

representam assuntos compostos e complexos, tal como podemos observar


no exemplo que se segue:

Termo vocabular Notação

Crescimento urbano, meio ambiente, Brasil, séc. 20 711.4:504(81)”19”

i) Sistema semi-facetado

Como temos observado ao longo desta breve exposição sobre os


fundamentos e as características da Classificação Decimal Universal, este
sistema é, na sua essência, enumerativo, circunstância que é notória de
forma explícita. No entanto, também se observam com frequência rasgos
estruturais atribuídos às classificações facetadas. Por este motivo, que
passamos a expor através de alguns exemplos, conclui-se que a Classificação
Decimal Universal é um sistema semi-facetado.
A noção de faceta na Classificação Decimal Universal observa-se a duas
dimensões:

1- Em relação às tabelas auxiliares

Esta primeira dimensão tem a ver com a possibilidade conferida pelas


tabelas auxiliares, através de expedientes “facetados”, isto é, de permitir
perspectivar um assunto em várias dimensões:

Termo vocabular Notação

Pintura renascentista italiana 75.034(=1:450)

Pintura no século XIX 75”18”


236

2- A própria noção de faceta está presente em algumas classes

Esta particularidade concorre para o surgimento de um conjunto de


subclasses resultante da divisão de uma classe, a partir da aplicação de um
determinado princípio ou característica. Para ilustrar esta ideia, apresentamos
o seguinte exemplo, extraído da subclasse 72 Arquitectura.
Se partirmos da faceta edifícios, iremos encontrar na subclasse:

Arquitectura 72
Faceta [Edifícios]
Edifícios religiosos 726
Edifícios com fins educativos 727
Edifícios de habitação 728

Como podemos observar nos exemplos apresentados, encontramos os


edifícios perspectivados em três categorias distintas: religiosos, com fins
educativos e de habitação. Esta tipologia, baseada na faceta imóvel [função],
garante-nos, à partida, que podemos analisar este assunto sob as
perspectivas apresentadas.
Na Classificação Decimal Universal, além das facetas, podemos ainda
encontrar subfacetas. Por exemplo, se partirmos do assunto Máquina e
tomarmos como faceta a noção Transportes, esta possibilitará organizar este
conceito em três subfacetas, como podemos observar no exemplo
apresentado:

Máquinas 62
Faceta [Transportes] 656
Subfaceta [conteúdo]
Transporte de mercadorias 656.13
Transporte de passageiros 656.025

Subfaceta [operação]
Transporte terrestre...656.1/.5
Transporte aéreo 656.7
Classificação Decimal Universal 237

Transporte marítimo 656.61


Subfaceta [Combustível, fonte de calor]
Aquecimento a gás 62-62
Aquecimento eléctrico 62-65

j) Sistema controlado e estruturado

Iniciamos este ponto referindo o controlo morfológico. Neste tipo de


linguagem podemos considerar que existe controlo morfológico, porque a
cada índice corresponde apenas um assunto.
Tal como acontece nas linguagens vocabulares controladas, nas quais se
estabelecem relações sintácticas e semânticas, também nas linguagens
categoriais se estabelece este tipo de relações. É nesta medida que se
considera a Classificação Decimal Universal uma linguagem estruturada. No
entanto, devido à sua natureza, as relações encontram-se implícitas na
própria estrutura.
Neste tipo de linguagem, ao contrário do que acontece nas de tipo
vocabular, as relações que se estabelecem entre os termos, que neste caso se
apresentam sob forma de notações, não são assinaladas através de qualquer
expediente que as torne explícitas e inequívocas, pois, tal como se referiu, na
sua maioria estas relações são inerentes à própria constituição do sistema.
Com o propósito de contribuir para um melhor entendimento deste
ponto, sistematizaram-se as relações de acordo com a tipologia observada na
linguagem vocabular, designadamente nos tesauros:

- Relações sintácticas
- Relações semânticas.

Relações sintácticas

Este tipo de relações pode ser observado na Classificação Decimal


Universal pelo facto de este sistema ser constituído também por tabelas
238

auxiliares. Estas relações são estabelecidas através do recurso aos auxiliares


comuns gerais e aos auxiliares especiais. Podem observar-se em duas
situações distintas: dentro da mesma classe ou entre classes diferentes.
Quando se estabelecem dentro de uma mesma classe ou subclasse
representam assuntos compostos.

Termo vocabular Notação

Imigração, impacto no desenvolvimento económico,


314.74:330.3(4)”19”
Europa, séc. 20

Quando se estabelecem entre classes diferentes representam assuntos


complexos, como, por exemplo:

Termo vocabular Notação

Imposto sobre o tabaco, Espanha 336.22:663.97(460)

Nos casos em que se constroem notações com o recurso aos auxiliares


especiais, os quais, dada a sua natureza, apenas se aplicam a algumas
classes ou subclasses, constituem-se notações que, na teoria, podemos
denominar “sintagmas nominais”. Este facto ocorre por estas notações
apresentarem uma unidade conceptual análoga ao que acontece na linguagem
vocabular, conferida pela circunstância de estes auxiliares se caracterizarem
por uma função sintética de um nível elevado, onde em muitos casos os
conceitos que formam esses índices acabam por se diluir, perdendo assim a
sua autonomia, como podemos observar nos exemplos que se seguem:

Termo vocabular Notação

Teoria da arte moderna 7.036.01

Reabilitação urbanística 711.025


Classificação Decimal Universal 239

Relações semânticas

São as relações semânticas que controlam e estruturam o vocabulário


documental ao nível do significado. Por analogia com as linguagens
vocabulares controladas, também vamos encontrar na Classificação Decimal
Universal relações de tipo hierárquico e associativo.
Em relação às relações de equivalência, importa referir que estas não
são necessárias num sistema de classificação. Se a sua existência num
tesauro ou em listas de encabeçamentos de matérias se justifica para
controlar a sinonímia inerente à linguagem natural, numa classificação esta
razão não tem sentido porque, neste tipo de linguagem, os conceitos são
representados por códigos que, no caso da Classificação Decimal Universal,
são numéricos. Outra razão que pesa para a sua inexistência prende-se, no
nosso entender, com o facto de cada conceito estar integrado e fixo a priori
numa estrutura hierarquizada – classe - que o identifica conceptualmente de
forma inequívoca, anulando, desta maneira, a ambiguidade causada pela
sinonímia.
Vejamos, a título de exemplo, o caso dos minerais. Quando são
abordados numa perspectiva de composição química, classificam-se no 549
Mineralogia; quando são abordados numa perspectiva de exploração,
classificam-se no 622 Mineração.
Relativamente às relações hierárquicas, estas são, por excelência, as
que se estabelecem numa classificação. Na Classificação Decimal Universal
constituem o tipo de relações básicas, pelo facto de este ser um sistema que
apresenta um elevado nível de hierarquização e por ser decimal. Apresentam-
se na sua estrutura de forma explícita, como podemos observar no exemplo
que se segue:

Termo vocabular Notação

Finanças 336

Finanças públicas 336.1

Teoria e métodos da gestão das finanças públicas 336.11


240

No que respeita às relações associativas, elas também estão presentes


na Classificação Decimal Universal. Apesar de, na teoria, se classificar este
sistema como mono-hierárquico, na prática algumas matérias aparecem em
várias subclasses, circunstância que ocorre com significativa frequência.
Esta situação verifica-se devido ao facto de este sistema ser
enciclopédico, abarcando, portanto, todo o conhecimento. Desta forma, uma
matéria poderá ser classificada na perspectiva sob a qual é tratada num
documento, sendo-lhe atribuído o índice (aferido mediante uma análise
criteriosa) que melhor se adequar à situação concreta.
Ela concorre também para que, no índice alfabético, a uma determinada
rubrica corresponda mais do que uma notação. Quando se observa esta
situação, ela é assinalada através de uma seta ou de um ponto e vírgula, que,
desta forma, traduzem as relações de associação.

Termo vocabular Notação

Cartografia 528.9 → 912

Hipoteca 347.27; 347.46; 657.41

1.4 Composição

a) Tabelas principais

A distribuição do conhecimento na Classificação Decimal Universal faz-se


por 10 classes principais, que vão de 0 a 9. Os quadros epistemológicos e a
ordem segundo a qual se encontram dispostos actualmente mantêm-se de
acordo com o estipulado no plano original concebido por Paul Otlet, nos
Principes et règles de la Classification Décimale. Entre outros assuntos
abordados nesta obra, Paul Otlet justifica a ordem geral das matérias
adoptadas por Dewey.202

202
DUBUC, René – La classification décimale universelle. 1964. P. 29.
Classificação Decimal Universal 241

Na classificação de Dewey, como observámos no ponto relativo a esta


matéria, o conhecimento universal encontra-se dividido em nove classes
principais: Filosofia, Religião, Ciências sociais, Filologia, Ciências naturais,
Técnica e ciências práticas, Arte, Literatura e História, e mais uma classe,
onde se encontram classificadas as obras gerais.203 Esta divisão representa o
quadro epistemológico positivista e filosófico do século XIX. Alguns autores
vêem na ordem atribuída às classes a importância que as matérias tinham na
sociedade deste século.
Como sabemos, a Classificação Decimal Universal sofreu influência
directa da Classificação Decimal de Dewey, herdando desta as classes
principais e a notação decimal. Por seu lado, a Classificação Decimal de
Dewey sofreu influências da classificação de William Torrey Harris. Esta
classificação reflectia os programas do ensino universitário norte-americano,
dado que Charles Dewey era bibliotecário do Amherst College Library e, ao
conceber este sistema, fê-lo para organizar os livros desta Biblioteca por
assunto.
Esta preocupação convergiu para a ideia generalizada de que a divisão
do conhecimento apresentada nos sistemas Dewey e Classificação Decimal
Universal tenha concorrido para que estes sejam caracterizados como
sistemas assentes na alta tecnicidade e elitismo académico. Entre os autores
que comungam desta ideia, encontra-se Nicole Robinet, ao referir que estes
sistemas foram: Conçus par des lettrés pour des lettrés.204

203
Confrontar com a Classificação Decimal de Dewey.
204
Cf. ROY, Richard – Classer par centres d’intérêt. (1986). P. 226.
242

Generalidades. Ciência e conhecimento. Organização. Informação. Documentação.


0
Biblioteconomia. Instituições. Publicações

1 Filosofia. Psicologia

2 Religião. Teologia

Ciências sociais. Estatística. Política. Economia. Comércio. Direito. Administração pública.


3
Forças Armadas. Assistência social. Seguros. Educação. Etnologia

4 [Vazia]

Matemática e ciências naturais. Meio ambiente. Matemática. Astronomia. Astrofísica.


5 Investigação espacial. Geodesia. Física. Química. Ciências da terra. Ciências geológicas.
Paleontologia. Ciências biológicas. Botânica. Zoologia

Ciências aplicadas. Medicina. Tecnologia. Agricultura. Transporte. Gestão de empresas.


6
Indústria

7 Arte. Recreação. Entretenimento. Desporto

8 Língua. Linguística. Literatura

9 Geografia. Biografia. História

Tabela 8. Classes Principais da CDU

Na Classificação Decimal Universal, como podemos observar no


esquema apresentado, o conhecimento encontra-se organizado em dez
grandes temas, repartidos respectivamente em dez classes, que vão da classe
0 à classe 9. Importa referir que a classe 4 se encontra actualmente vazia.
Em edições anteriores a 1962 encontrava-se preenchida com a Linguística,
disciplina que hoje se encontra na classe 8, junto da Literatura.
Estas dez classes dividem-se em outras dez áreas e assim
sucessivamente. Dada esta característica estrutural, o seu desenvolvimento
torna-se ilimitado.
As classes principais são o tronco do sistema da Classificação Decimal
Universal. É a partir delas que se desenvolve toda a sua estrutura. É também
às classes principais que se aplicam os números que constam das tabelas
auxiliares, permitindo-lhe uma dinâmica funcional que faz deste sistema uma
classificação mista.
Classificação Decimal Universal 243

Em oposição aos auxiliares, as notações que compõem estas tabelas


chamam-se números principais. Ao contrário dos índices que compõem as
tabelas auxiliares, estes são isentos de qualquer símbolo, sendo a notação
constituída apenas por números árabes.
Os números principais têm como função representar o conteúdo
principal de um documento. Estes números formam as classes e subclasses.
Dentro das subclasses formam-se outras subclasses mais específicas
designadas divisões.
Cada uma das classes é representada por um só dígito, a subclasse por
dois e a divisão por três.

Termo vocabular Notação

Ciências puras 5

Matemática 51

Considerações fundamentais e gerais da matemática. 510

b) Tabelas auxiliares

A técnica de classificar através deste sistema é idêntica àquela que


pressupõe qualquer sistema de classificação.
Como observámos no capitulo I, voltamos a referir, que o próprio acto
de classificar pressupõe a análise prévia do documento, que consiste na
identificação e selecção dos assuntos a classificar. Após a análise, recorre-se
ao índice alfabético para localizar a notação que traduz o assunto identificado,
confirmando-se, de seguida, a correspondência desta nas tabelas principais
e/ou auxiliares. Caso se justifique, ou seja, perante assuntos compostos e/ou
complexos, terá de construir-se a notação.
A eventual complexidade que se poderá encontrar na aplicação deste
sistema decorre, geralmente, do uso das tabelas auxiliares. Assim,
conscientes desta questão, passaremos a apresentar a definição,
características, função e aplicabilidade destas tabelas, socorrendo-nos, para o
efeito, de vários exemplos.
244

Os auxiliares que formam as tabelas da Classificação Decimal Universal


são de dois tipos:

- Auxiliares comuns gerais;


- Auxiliares especiais.

Uns e outros são representados por símbolos e signos, sendo estes


códigos aqueles que conferem a sintaxe à Classificação Decimal Universal. A
sintaxe consiste na associação destes às notações principais, constituindo,
deste modo, uma unidade e formando, simultaneamente, notações
compostas, também designadas por índices compostos. É com base nesta
possibilidade que se pode dizer que os auxiliares trouxeram consigo a síntese,
ao proporcionarem a composição de assuntos compostos e complexos.
Paralelamente, o uso dos auxiliares possibilita, por um lado, um maior
nível de especificidade na representação dos assuntos, e por outro lado uma
restrição conceptual do assunto representado, sendo, de resto, esta a sua
função.
Por exemplo, na notação, 33(450)”19”, o 33 representa o conceito
Economia, notação que foi extraída da classe principal 3 Ciências Sociais; a
esta notação foi associado o Auxiliar de lugar (450), que representa Itália e o
Auxiliar de tempo “19” para a representação do século.
O método de construção de uma notação composta, quando esta é
formada por auxiliares comuns gerais, é o mesmo que se usa quando se
querem construir notações compostas por auxiliares especiais.

Estrutura e dinâmica dos Auxiliares

Tal como se observa em relação às notações das tabelas principais,


estes elementos encontram-se também agrupados e organizados
hierarquicamente formando, deste modo, “classes”.
Mais do que o desenvolvimento de alguns conceitos que constituíam
determinadas subclasses, foi a introdução e o desenvolvimento dos auxiliares
a mais-valia trazida pela Classificação Decimal Universal em relação às
Classificação Decimal Universal 245

classificações já existentes, como a da Biblioteca do Congresso e a Dewey, de


uso alargado e reconhecido já na época. O desenvolvimento e a evolução dos
auxiliares manifesta-se, em termos práticos, como já referimos, na
possibilidade de representar assuntos compostos e complexos que outras
classificações ao tempo não permitiam representar de forma tão sistemática.
Foi esta estrutura dinâmica mais completa, flexível e enriquecedora, que
contribuiu para que este sistema fosse adoptado, desde cedo, em todo o tipo
de bibliotecas. A grande vantagem em relação à Classificação de Dewey, onde
já existiam também auxiliares, reflecte-se na sua diversidade e no seu maior
número. Além disso, há a considerar a introdução dos dois pontos, símbolo
que veio permitir relacionar os assuntos, como iremos observar mais adiante.
Outro ponto a considerar, no que concerne aos auxiliares, é o facto de
estes nesta classificação, ao contrário do que acontece na Dewey, se
encontrarem explícita e individualmente identificados. Isto quer dizer que na
Classificação Decimal Universal, a cada auxiliar corresponde um símbolo que o
caracteriza, identificando, deste modo, o seu significado e distinguindo-o dos
outros auxiliares. Esta diferença formal contribui para que as perspectivas que
representam sejam reconhecidas inequivocamente sem deixar margem à
ambiguidade na leitura conceptual dos índices, contrariamente ao que se
observa na Dewey, onde estes aparecem diluídos na própria notação,
contribuindo para a ambiguidade, sobretudo, para utilizadores que estejam
pouco familiarizados com o sistema.
A introdução dos auxiliares permitia ultrapassar a unidimensionalidade
própria das classificações enumerativas e mono-hierárquicas, características
dos sistemas mais tradicionais, como a Classificação da Biblioteca do
Congresso, contribuindo, deste modo, para a multidimensionalidade que, na
prática, se traduz na flexibilidade do sistema.

Signos e sinais

Antes de iniciarmos o estudo dos auxiliares e, dado o relevo que eles


assumem neste sistema, entendemos que seria útil uma apresentação dos
mesmos.
246

Os signos e sinais são elementos que integram a estrutura da


Classificação Decimal Universal; são geralmente extraídos da ortografia e da
matemática. É através deles que se identificam as perspectivas sob as quais
um assunto está tratado num determinado documento. Além destas
características, são eles que dão forma aos auxiliares.
Os signos que fazem parte do sistema Classificação Decimal Universal
são:

+ / : :: ‘ * () “” - A/Z [] = . … → @

Tipologia dos signos

Os signos dividem-se em dois tipos, sendo o critério de distinção a


função que desempenham no sistema de classificação.
Uns usam-se na notação para representar o conteúdo dos documentos,
outros fazem parte formal das notações. Estes últimos têm como função
auxiliar na leitura das notações e no manuseamento das tabelas.
Segundo a sua função, no acto de classificar podemos sistematizá-los
em:

- Signos classificativos;
- Signos não classificativos.

Signos com função classificatória: função e aplicação

Os signos classificativos permitem representar assuntos compostos ou


complexos e têm uma função sintética, na medida em que permitem associar
assuntos, constituindo, deste modo, os elementos sintácticos do sistema.
Classificação Decimal Universal 247

+ Adição * Asterisco

/ Extensão consecutiva ( ) Parêntesis

: Relação simples “” Aspas

:: Ordenação - Hífen
‘ Apóstrofo A/Z Recurso ao alfabeto
Tabela 9. Signos com função classificatória

+ Adição – Tabela 1a

Este signo, extraído da linguagem matemática, tem o mesmo significado


daquele que lhe é atribuído na aritmética.

Permite representar os assuntos de um documento, que poderão estar


associados semanticamente ou não entre si, mas que se encontram estudados
de forma independente dentro desse documento particular. A única relação de
afinidade entre eles é o facto de se encontrarem estudados no mesmo
documento.
Os assuntos neste documento devem assumir o mesmo nível de
importância e, nas tabelas de classificação, a ordem sequencial não deve ser
consecutiva.
Este signo tem uma função extensiva, pelo facto de permitir formar
índices que combinam vários conceitos, o que lhes confere um significado
extensivo. Geralmente aplicam-se nas seguintes situações:

1) Obra que aborda três temas que estão associados semanticamente


entre si, estudados de forma independente e que não se
encontram elencados na tabela segundo uma ordem sequencial.
2) Obra que aborda dois temas que não estão associados
semanticamente entre si, estudados de forma independente e que
não se encontram elencados na tabela segundo uma ordem
sequencial.
248

Embora seja um signo ao qual não se recorre com grande assiduidade,


ele aplica-se com relativa frequência para coordenar auxiliares geográficos ou
assuntos onde esteja implícita essa noção, como demonstra este exemplo:

Termo vocabular Notação

Arquitectura em Itália e Espanha 72(450+460)

Cultura e arte em Portugal 008+7(469)

Se o último exemplo tratasse de um estudo comparado da cultura e da


arte em Portugal, ou seja, da influência que a cultura portuguesa teve na
arte, o signo de adição teria de ser substituído pelo de relação. Contudo, na
prática, muitas vezes fomentada por indicações de alguns manuais e/ou por
indicação de algumas tabelas, induz-se a que se criem distintos pontos de
acesso para cada assunto estudado.
Este método, sendo, na teoria, absolutamente pacífico, pois
efectivamente trata-se de dois ou mais assuntos independentes, na prática,
poderá, todavia, levar a conclusões erradas. Quando se visualiza num OPAC
pode pensar-se que estamos perante assuntos que são abordados em
documentos diferentes.
Por outro lado, se as tabelas postulam estes signos para assumirem
estas funções, por uma questão de uniformidade, sempre que possível devem
usar-se. A ausência do sinal +, nos casos postulados pelas tabelas, a nosso
ver, só se justifica quando o número de notações a coordenar construa um
índice que, dada a sua extensão, seja ininteligível e prejudique uma prática
que se quer clara e precisa. Nestes casos, as notações devem ser registadas
em separado.

/ Extensão consecutiva – Tabela 1a

Na Classificação Decimal Universal, este signo designa-se por barra


oblíqua ou diagonal e representa extensão.
Classificação Decimal Universal 249

A barra oblíqua permite representar matérias extensas num mesmo


índice, estudadas no mesmo documento, desde que esses assuntos se
encontrem consecutivos nas tabelas, substituindo, deste modo, o signo de
adição.
A técnica de aplicação consiste no registo da primeira notação,
aplicando-se, de seguida, a barra à qual se associa outra notação ou parte
dela (última parte), se for esse o caso.

Termo vocabular Notação

Receita e despesa pública 336.2/.5

Este método tem uma dupla função: por um lado, reduzir os índices, na
medida em que vai suprimir e/ou abreviar as notações ou partes destas que
se encontram compreendidas entre as duas notações; por outro lado,
economizar, em relação aos pontos de acesso, na medida em que apenas se
constitui um índice para representar conceitos complexos ou compostos.
Em alguns casos estes já aparecem constituídos nas tabelas principais e
nas tabelas auxiliares:

Termo vocabular Notação

Formas modernas de governo 321.6/.8

Pequenas Antilhas (729.7/.8)

Tal como o signo de adição +, este constitui um índice amplo,


atribuindo-se-lhe, deste modo, uma função extensiva.
Dentro dos Auxiliares comuns gerais, é o signo através do qual se consegue
atingir um maior grau de síntese, havendo casos em que assume uma função
integrativa.
A teoria preconizada no ponto relativo ao signo de adição + é análoga à
que se aplica a este signo /.
Sempre que se observem as situações prescritas nas indicações das
tabelas, e desde que não colida com a prática usual dos serviços, deve-se
usar a barra oblíqua ou o signo da adição. A adopção de qualquer um destes
250

signos depende, desta forma, da política de classificação usada num


determinado serviço. O seu condicionamento está relacionado com a adopção
de sistemas pós-coordenados ou pré-coordenados.
Como estes signos proporcionam a pré-coordenação, em serviços onde
se opte pela pós-coordenação, só em casos muito restritos se deverá aplicar
tal prática.
O facto de se criar um ponto de acesso para cada matéria – pós-
coordenação – irá proporcionar uma maior liberdade na combinação de
notações na hora da pesquisa. A pós-coordenação também permite recuperar
cada conceito através da respectiva notação, o que concorre para que, nos
casos em que se coloque tal pretensão, o uso da barra oblíqua seja
inadequado.
O uso deste signo, como podemos observar nos exemplos expostos, em
alguns casos fracciona as notações e, noutros casos, elimina-as, pois a barra
“suprime” notações ou parte delas, encontrando-se, todavia, em qualquer
uma destas circunstâncias, subentendidas. No entanto, como não se
encontram efectivamente registadas, geralmente por limitações de software,
não é possível pesquisar pelas notações subentendidas pelo uso da barra
oblíqua, facto que concorre para que sejam consideradas inadequadas a
serviços automatizados, onde, regra geral, se privilegia a pós-coordenação.

: Relação simples – Tabela 1b

Os dois pontos representam uma relação simples ou geral entre


conceitos. Esta relação é reversível.
A relação simples serve para relacionar dois ou vários conceitos quando,
no mesmo documento, estes se encontram estudados uns em relação ao(s)
outro(s). Assim, desde que esta situação se observe, deve recorrer-se a esta
prática. No entanto, existem situações, já previstas nas tabelas, que evitam o
recurso aos dois pontos.
Classificação Decimal Universal 251

Termo vocabular Notação correcta Notação errada

Sociologia económica 316.334 316:33:00

As relações que os dois pontos estabelecem são simples e recíprocas, e


nelas os termos que as compõem têm valores semânticos iguais, situação que
lhes permite inverter a ordem das notações, podendo, deste modo, recuperar-
se o documento através de qualquer uma delas.
Relativamente à ordem de citação dos índices que compõem estas
notações compostas, não se encontram normas precisas para se estabelecer o
registo das mesmas, facto que se atribui à circunstância de o peso dos índices
ser geralmente igual.
Para alguns autores, a ordem a considerar deverá seguir a sequência
dos índices da Classificação Decimal Universal,205 como se observa nos
exemplos que se seguem:

Termo vocabular Notação

Política, bibliografia 016:32

Ética na arte 17:07

Para outros, deverá dar-se prioridade à notação ou notações que


representem o assunto ou assuntos principais do documento,206 como se
verifica neste exemplo:

Termo vocabular Notação

Crescimento urbano, impacto sobre o ambiente 711.4:504

Seguindo este raciocínio e, partindo deste exemplo, infere-se que,


apesar de as matérias serem equivalentes semanticamente, o autor deu
maior relevo ao crescimento urbano, facto que concorreu para que fosse

205
DUBUC, René – La classification décimale universelle : manuel pratique d’utilisation. 1964. P.
55.
206
MORENO FERNANDEZ, Luis Miguel; BORGOÑÓS MARTÍNEZ, María Dolores – Teoría y práctica
de la clasificación decimal universal (CDU). 1999. P. 73.
252

registada em primeiro lugar a notação relativa ao crescimento urbano e, em


segundo, a notação relativa aos danos ambientais.
Muitas vezes estas normas são destituídas por outras de carácter
prático. Um dos factores que contribui para tal, tem a ver com a arrumação
física das obras, quando esta se baseia num sistema de classificação. Nestes
casos dar-se-á primazia à notação que represente o assunto que for mais
relevante para o serviço.
Assim, se este documento, que ilustra o exemplo anterior, fizesse parte
do fundo bibliográfico de uma biblioteca de ciências naturais, provavelmente
teríamos de inverter a ordem das notações.
Ao contrário do sinal de adição e da barra oblíqua, que ampliam o
sentido do índice ao qual se aplicam, as relações expressas pelos dois pontos
restringem o tema.
Na teoria, o número de conceitos que se podem relacionar é ilimitado e,
além desta particularidade, as relações entre os conceitos podem estabelecer-
se entre um número diversificado de categorias. Relativamente a este ponto,
Miguel Benedito207 sistematizou-as da seguinte forma:

1) Relação geral não específica 208

2) Relação direccional: um documento que se dirige a um grupo


específico ou a uma matéria
3) Relação comparativa: um documento que estuda a comparação
entre duas matérias
4) Relação de diferença: um documento que trata o estudo das
diferenças entre duas matérias
5) Relação de influência: um documento que estuda a influência de
um fenómeno ou tema sobre outro. Neste caso, o assunto que
exerce a influência, regra geral, regista-se em segundo lugar

Apesar de ser consensual a ideia de que os dois pontos servem para


relacionar assuntos entre si – e com eles se estabelecerem relações gerais em

207
BENEDITO, Miguel – El sistema de clasificación decimal universal. 1996. P. 29
208
É uma relação de natureza geral em que houve a necessidade de se relacionarem dois
conceitos.
Classificação Decimal Universal 253

que as notações assumem valores semânticos idênticos –, em algumas


situações também lhes está implícita outro tipo de relações, como é o caso
das relações de subordinação:

Termo vocabular Notação

Desenho assistido por computador 741:004 ou 004:741

Arquitectura digital 72:004 ou 004:72

Como podemos observar, em ambos os exemplos existe uma relação


implícita de subordinação. A noção de computador ou informática, nos dois
casos, está subordinada ao desenho e à arquitectura, respectivamente.
Nestes contextos, as noções de subordinação restringem-se aos instrumentos,
sendo desenho e arquitectura os assuntos principais.
Como os dois pontos servem para representar qualquer tipo de relação,
torna-se difícil reconhecer quando estamos perante conceitos apenas
coordenados ou perante conceitos subordinados.
Apesar de a aplicação alargada do uso dos dois pontos ser observada ao
longo das tabelas principais e auxiliares, estes, no entanto, nunca se podem
registar entre uma classe principal e um auxiliar. A sua aplicação apenas é
possível entre números da mesma categoria, isto é, entre duas notações
extraídas da classe principal ou entre duas notações extraídas da tabela
auxiliar.

:: Ordenação – Tabela 1b

Este signo representa uma dupla relação também chamada relação fixa.

Utiliza-se para fixar a ordem das notações que compõem um índice


composto. Entre os conceitos representados existe uma relação de
subordinação. Usam-se os dois pontos para fixar o significado original de cada
índice que compõe a notação composta, evitando, assim, falsas interpretações
em relação ao tema representado.
254

Termo vocabular Notação

Escola de pintura 377::75

Ensino da filosofia 37::1

Da leitura do primeiro exemplo, depreende-se que é um documento que


trata de escolas de pintura e não sobre a pintura nas escolas. Se usássemos
uma simples relação a leitura seria ambígua, na medida em que as duas
leituras seriam possíveis. O mesmo raciocínio é válido para o exemplo relativo
ao ensino da filosofia.
O índice composto pelas duas notações constitui uma unidade, na qual o
número principal é o que precede os dois pontos duplos. Nesta notação o
índice que se encontra depois dos dois pontos duplos está subordinado à
notação que se encontra antes.

‘ Apóstrofo

Este signo representa a integração.

O apóstrofo tem como função a síntese e a integração de conceitos.


Neste sentido, em analogia com a barra oblíqua, este signo proporciona uma
economia de números, pois a função integradora que o caracteriza
proporciona-lhe a fusão de notações, evitando-se, assim, a repetição de
números e o recurso aos dois pontos.
Para se proceder a esta operação, é condição que os índices que
compõem as respectivas notações tenham um radical comum.
Por último, referimos que este símbolo forma o auxiliar especial ‘0/’9,
que, juntamente com os auxiliares –1/-9 e os auxiliares .01/.09 constituem os
auxiliares especiais, que iremos desenvolver noutro ponto deste trabalho. Pelo
facto de integrarem este tipo de auxiliares, este símbolo só poderá ser
aplicado nos casos indicados na tabela.
Classificação Decimal Universal 255

* Asterisco

É um símbolo que introduz elementos externos à Classificação Decimal


Universal.

Este símbolo separa os números da Classificação Decimal Universal dos


signos alfanuméricos ou números que lhes são externos, isto é, os elementos
que não são parte integrante da tabela. Sempre que esta situação ocorre,
recomenda-se que se mencione em nota explicativa a fonte da qual foram
extraídos esses elementos externos.
Recorre-se a este expediente quando se pretende especificar um
assunto através da introdução de uma palavra, símbolo ou número que são
extraídos de fontes externas à Classificação Decimal Universal.
A título de exemplo, referimos a sua aplicação na subclasse 54, quando
é necessário expressar conceitos que se encontram na tabela periódica e na
subclasse 630. No entanto, o seu uso poderá correr ao longo de toda a tabela.
Exemplos:

Termo vocabular Notação

Isótopo de carbono de massa 14 546.26.027*14209

Biologia florestal 630*12210

“” Aspas – Tabela 1g

As aspas são o símbolo que expressa o tempo cronológico.

Determinam a noção de tempo, circunscrevendo um conceito no espaço


temporal. Usam-se nos auxiliares comuns de tempo.
Qualquer indicação cronológica deve ser composta no mínimo por dois
dígitos.

209
Extraído da Tabela periódica.
210
Extraído da Forest Decimal Classification.
256

Termo vocabular Notação

Demografia, Europa, séc. 8-12 317(4)”07/11”

() Parêntesis

O parêntesis curvo, expressa a noção de espaço geográfico e também as


de raça e nacionalidade.

Tem como propósito, não só contextualizar um assunto num


determinado espaço geográfico, mas também serve para perspectivar um
assunto na sua dimensão étnica, nacional e de raça, embora a estes últimos
tenha de adicionar-se um sinal de igual dentro dos parêntesis a preceder os
números.

Exemplos:

Termo vocabular Notação

Artesanato português 745(=1:469)

- Hífen

O hífen quando associado aos respectivos números, tem como objectivo,


representar aspectos relacionados com a propriedade, material e pessoa,
constituindo, nestes casos, os Auxiliares comuns -02, -03, -05,
respectivamente.
Além destes auxiliares ainda constituem os Auxiliares especiais -1/-9.
Classificação Decimal Universal 257

Termo vocabular Notação

Médicos 61-051

Vestuário de linho 677-037.1

Romance 82-31

A/Z – Recurso ao alfabeto

Cumpre-lhe o objectivo de especificar os assuntos recorrendo, para tal,


ao alfabeto.

Tal como os elementos introduzidos pelo asterisco, o signo A/Z, é


também um símbolo externo à Classificação Decimal Universal. Mesmo sendo
um elemento externo a este sistema, o asterisco é aqui omitido, sendo estes
auxiliares aplicados directamente ao índice que os antecede. Entre estes e o
número principal não existe nenhum espaço, constituindo, deste modo, uma
unidade perceptível. Também se torna dispensável referir em nota a origem
destes elementos, ao contrário do que acontece quando se aplica o asterisco.
A notação da Classificação Decimal Universal é pura, como já referimos
no ponto apropriado; no entanto, há situações, designadamente nas
bibliotecas especializadas e noutros serviços especializados, em que se
justifica, dada a ocorrência de um dado assunto, representá-lo de forma
pormenorizada. Perante estes casos particulares, que se caracterizam por um
elevado nível de especificidade, quando se utilizam apenas as notações
numéricas, corre-se o risco de estas se tornarem extremamente extensas e
incompreensíveis.
Para obviar a tais situações, recomenda-se que se recorra a este
expediente A/Z, na medida em que ele restringe numericamente as notações,
tornando-as, simultaneamente, mais inteligíveis. Esta particularidade confere
a este sistema a possibilidade de classificar qualquer assunto
independentemente da sua especificidade, nomeadamente documentos cujos
temas sejam: lugares, nomes de pessoas, instituições, etc.
Estes signos podem manifestar-se em termos simples, em expressões,
siglas, acrónimos, nomes próprios e nomes de instituições. Em muitos casos o
258

recurso a este símbolo é imprescindível, já que nas tabelas, regra geral, não
existem notações para representarem assuntos que incluam nomes próprios.
Quando se aplicam junto a um auxiliar geográfico colocam-se entre
parênteses curvos. No caso de nomes próprios e instituições, seguem-se as
indicações estipuladas nas regras de catalogação no que concerne à forma de
encabeçamentos de autores.
Cumpre referir que o signo A/Z se aplica a todas as classes, uma vez
que são elementos externos à Classificação Decimal Universal. Na literatura
da especialidade, por vezes aparecem associados aos auxiliares comuns
gerais, observando-se a sua recomendação ao longo da tabela.
Para ilustrar esta ideia, apresentamos alguns casos em que a sua
aplicação é considerada mais relevante e necessária:

1) Caso em que se deseja localizar com precisão um assunto na


dimensão espacial, geralmente no que concerne à História e à
Geografia (classe 9), recorre-se ao auxiliar comum de lugar + A/Z.

Termo vocabular Notação

Expedição, Amazónia 910.4(81Amazónia)

2) Caso em que se pretende classificar um documento cujo tema seja


uma biografia individual (subclasse 929).

Termo vocabular Notação

929Gandhi,
Gandhi, Mohandas Karamchand, biografia Mohandas
Karamchand

3) Caso em que se pretende individualizar a obra literária de um


autor independentemente da forma em que se apresente: um
título particular, compilação, estudo, recensão crítica, etc.
(subclasse 82).
Classificação Decimal Universal 259

Termo vocabular Notação

821.133.1-31Hugo,
Os Miseráveis
Victor

4) Caso em que se pretende individualizar a obra de um artista,


arquitecto, escritório de arquitectura ou outra actividade e ainda
para exposições de arte (classe 7).

Termo vocabular Notação

Wright, Frank Lloyd, obra 72Wright, Frank Lloyd

Signos não classificatórios: função e aplicação

= Signo de igual
. Ponto
… Reticências

® Flecha
Tabela 10. Signos não classificatórios

= Signo de igual

Este signo serve para formar os auxiliares comuns de língua e os


auxiliares comuns de raça, grupo étnico e nacionalidade, sendo este último
precedido de parêntesis.

Termo vocabular Notação

Química, dicionário em inglês 54(03)=111

Arte cigana 7.031.4(=214.58)


260

. Ponto

Neste esquema de classificação, o ponto tem uma dupla função. Por um


lado, assume uma função classificatória, quando o concebemos junto dos
auxiliares especiais.01/.09.

Termo vocabular Notação

Teoria da pintura 75.01

Por outro lado, o ponto também assume uma função não classificatória.
Esta situação verifica-se quando faz parte de uma notação e esta é
constituída por mais de três dígitos. Nestes casos regista-se no final de cada
conjunto de três dígitos, contando da esquerda para a direita.
Nesta circunstância, o ponto serve apenas para facilitar a leitura da
notação, assumindo, desta forma, uma função de ordem prática e funcional. A
repetição do ponto dentro de uma notação denuncia a especificidade de um
assunto.

Termo vocabular Notação

Campos de concentração 343.819.5

… Reticências211

Indicam que o número principal ao qual estão ligadas poderá ser mais
especificado.

Estas poderão ser usadas em qualquer lugar da notação. O espaço que


indica poderá ser preenchido por uma notação principal. Ao juntar-se-lhe
outro número, deverá ser respeitada a ordem de pontuação convencionada,
isto é, depois de três dígitos deverá ser colocado um ponto.

211
Este símbolo desapareceu da Classificação Decimal Universal, não se encontrando no Ficheiro
Básico de Referência desde 2000. No entanto, por uma questão de demonstração da dinâmica
deste sistema, entendeu-se que seria de alguma mais-valia integrá-lo neste trabalho.
Classificação Decimal Universal 261

Note-se que as reticências são um recurso de visualização na estrutura


das tabelas, mas não devem aparecer nas notações reais. O espaço deverá
ser preenchido pelos dígitos adequados.

Termo vocabular Notação

Nitratos 661.8...43

Os dígitos que se seguem às reticências podem juntar-se a qualquer


uma das subdivisões de 661.8. Por sua vez,...43, que representa Nitratos,
poderá ser associado a 661.857 Compostos de prata. Partindo deste princípio,
para a representação do conceito Nitrato de prata seria:

Termo vocabular Notação

Nitrato de prata 661.857.43

® Seta

Este signo tem como objectivo remeter o utilizador para notações que
representam conceitos relacionados ou semanticamente próximos aos
expressos pelo número base, sob o qual aparece esta seta indicadora. Neste
sentido é um símbolo de orientação.

Assume a função de uma relação associativa, na medida em que nos


remete para números que representam o mesmo conceito sob outro ponto de
vista. É usada no índice da classificação.

355.016 Antimilitarismo
® 172.4; 343.34
262

Auxiliares comuns gerais [Definição e características]

Designam-se auxiliares comuns gerais as notações que constituem as


tabelas auxiliares da Classificação Decimal Universal e que têm como
característica o facto de poderem ser aplicados a todas as classes principais
do referido sistema 0/9, sem quaisquer restrições a não ser as inerentes à
própria matéria a classificar.
Estes auxiliares são constituídos por símbolos e por sinais (tabelas 1a e
1b) e por outros auxiliares que compõem as restantes tabelas.
Os auxiliares comuns gerais têm como função completar, modificar e
especificar a notação que, em regra, foi extraída de uma classe principal e
que, geralmente, representa o assunto principal de um documento.
Por analogia com as linguagens vocabulares, o auxiliar tem a função de
modificador. Os auxiliares tanto podem alargar o sentido do assunto
representado pela notação principal, como também o podem restringir. É o
caso dos símbolos / e +, que ampliam o sentido da notação principal e o
símbolo :, que o restringe.
Quando associados a uma classe principal, estes auxiliares representam
sempre uma informação adicional, traduzem o assunto principal nas
dimensões em que o assunto é estudado no respectivo documento,
enriquecendo, nesta perspectiva, o assunto principal.

Termo vocabular Notação


Propriedade fundiária, França, séc. 15 332.21(44)”14”

O auxiliar de lugar (44) e o cronológico “14”, perspectivam a


propriedade fundiária numa dimensão espacial e cronológica, tornando, deste
modo, a informação mais precisa e pertinente a quem pesquisa.
Alguns auxiliares, para além de traduzirem uma dimensão analítica,
podem também informar sobre a tipologia do documento, bem como fornecer
informação sobre o seu suporte físico. Nestes casos, estas características são
representadas pelos Auxiliares comuns de forma.
Classificação Decimal Universal 263

Termo vocabular Notação

Mamíferos, África, vídeo 599(6)(086.8)

Dada a sua importância, não podemos deixar de registar uma breve


nota teórica sobre a sua aplicação que, de resto, se enquadra numa doutrina
mais vasta sustentada no principal objectivo das classificações – agrupar em
classes.
Como já foi referido, por uma questão de eficácia prática e de
cumprimento do principal objectivo das classificações, é desejável que as
notações principais sejam breves e simples. Este princípio não é exclusivo das
classes principais, devendo também ser observado no que concerne à
aplicação de qualquer auxiliar. A sua utilização deverá, todavia, ser
determinada em função da ocorrência do assunto num determinado fundo. A
não observância desta regra levará à dispersão do conhecimento no catálogo
sistemático, o que resulta no desvirtuamento do objectivo deste catálogo.

Tipologia

Quanto à sua função, os Auxiliares comuns gerais dividem-se em dois


grupos:

- Independentes;
- Dependentes.

Auxiliares comuns gerais independentes

Os Auxiliares comuns gerais independentes, tanto se podem associar a


uma classe principal, como também se podem registar separados,
constituindo, assim, um ponto de acesso independente.
264

Os auxiliares que constituem este conjunto são:

Tabela 1c – Auxiliares de língua =…

Tabela 1d – Auxiliares de forma (=…)


Tabela 1e – Auxiliares de lugar (1/9)
Tabela 1f – Auxiliares de raça ou nacionalidade (=…)

Tabela 1g – Auxiliares de tempo “…”


Tabela. 11. Auxiliares comuns gerais independentes

Auxiliares de língua (Tabela 1c): Função e aplicação

Símbolo = [Este auxiliar é representado por um sinal de igual]

Estes auxiliares empregam-se quando se pretende expressar a língua


em que se encontra o documento. Dada esta circunstância, é utilizado com
frequência em obras que contêm traduções.
Na prática, este auxiliar é pouco utilizado, uma vez que a informação
que faculta, geralmente está explícita no próprio documento, bem como no
título e outros elementos formais que fazem parte da descrição bibliográfica.
A sua aplicação torna-se útil quando se pretendem organizar os documentos
pela língua. Revela-se de grande importância em serviços212 onde existe
grande número de edições bilingues e/ou multilingues ou quando se pretende
indicar aos utilizadores a língua da qual foi traduzido um determinado texto.
Numa notação, o auxiliar de língua geralmente regista-se depois dos outros
auxiliares. Esta ordem poderá ser alterada, se um serviço pretender organizar
a sua documentação por língua e não pelo assunto principal.
Este auxiliar integra os números compreendidos entre =1/=9. Como
todos os outros auxiliares e, por analogia com as classes principais,
encontram-se organizados de forma hierárquica.

212
Escolas de idiomas.
Classificação Decimal Universal 265

Termo vocabular Notação

Línguas eslavas =16

Línguas eslavas do Oriente =161

Russo =161.1

É a partir deste auxiliar que se formam as línguas e as literaturas


individuais. As subdivisões do 811 Línguas são construídas utilizando a tabela
auxiliar de línguas =1/=9, substituindo o sinal de igual por um ponto, sendo o
mesmo raciocínio aplicável às subdivisões 821.1/.8 Literaturas individuais.
Para efeitos de classificação, uma notação não pode ser substituída por
outra o que quer dizer, que não se pode classificar um estudo sobre uma
língua ou literatura individuais utilizando um auxiliar de língua.
Cada um tem uma função autónoma e específica. Assim, às subdivisões
811 cumpre classificar documentos cujo objecto é ou está relacionado com
estudos de uma língua individual. Os Auxiliares de língua, como já foi
referido, têm como função indicar apenas em que língua está escrito um dado
documento.

Termo vocabular Notação

Literatura espanhola213 821.134.2=113.6

Partindo desta possibilidade conferida por este tipo de auxiliar -


construção de línguas e de literaturas individuais - concluiu-se, na teoria, que,
conhecendo-se os denominadores comuns das línguas e literaturas individuais
– 811 e 821.1, respectivamente – apenas terá de se associar o auxiliar de
língua para se construir qualquer notação relativa às línguas e às literaturas
individuais que se encontram omissas na Classificação Decimal Universal.

213
Texto em sueco.
266

Termo vocabular Notação

Língua italiana 811.131.1

Forma-se a partir de:


811 Língua
=131.1 Língua italiana

Literatura italiana 821.131.1

Forma-se a partir de:


821 Literatura
=131.1 Língua italiana

Regista-se, contudo, que por motivo de eventuais erros, tal prática será
de evitar devendo por isso, consultar-se sempre a tabela de classificação.
De seguida, apresenta-se um conjunto de situações nas quais ocorre com
frequência o uso do auxiliar de língua.

1) Obras em língua original

Nesta categoria incluem-se as obras escritas numa língua individual, da


qual se pretende dar indicação.

Termo vocabular Notação

Política214 32=14’02

2) Traduções

Obras traduzidas de uma língua para outra língua. À notação da classe


principal acrescenta-se a língua que foi objecto de tradução, precedida de
=030, logo seguida da língua na qual se encontra o texto escrito.

214
Texto em grego clássico.
Classificação Decimal Universal 267

Termo vocabular Notação

Física215 53=030.112.2=134.2

3) Dicionários bilingues

Termo vocabular Notação

Língua francesa – língua portuguesa, dicionário 811.133.1(038)=134.3

4) Documentos multilingues

Os documentos multilingues poderão ser classificados recorrendo ao auxiliar


de língua =00, ou aos auxiliares de língua individual apresentados por ordem
crescente.

Termo vocabular Notação

61(035)=00
Medicina, manual216
61(035)=111=131.1=134.3

5) Tradução de obras literárias217

Estas obras classificam-se registando a literatura original da qual foram


traduzidas (obra de criação), acrescentando-se o género literário e o autor, se
as circunstâncias assim o justificarem e, por fim, adicionando-se a língua para
as quais foram traduzidas e o auxiliar especial.03.

215
Texto traduzido do alemão para o espanhol.
216
Texto em inglês, italiano e português.
217
Ver também a informação exposta na subclasse 82, relativamente à aplicação do .03.
268

Termo vocabular Notação


821.134.3-1Camões,
Os Lusíadas218
Luís de=131.1.03

Auxiliares de forma (Tabela 1d): Função e aplicação

Símbolo (0...) [Este auxiliar é representado por um 0 entre parêntesis


curvos]

Os auxiliares de forma utilizam-se para indicar a forma sob a qual se


expressa um assunto; geralmente, apresentam-se junto da notação principal.
Nos casos em que é necessário reunir fisicamente todos os documentos de
um mesmo tipo, a ordem de citação dos elementos pode ser invertida. Esta
situação ocorre com alguma frequência nas seguintes tipologias de
documentos: obras de referência, guias, manuais, teses, legislação.

1) Para o caso de ser necessário reunir todos os dicionários:

Termo vocabular Notação

Física, dicionário (038)53

Grosso modo, estes auxiliares podem subdividir-se em dois grupos:

- Auxiliares que representam a forma extrínseca;219

- Auxiliares que representam a forma intrínseca.

Os primeiros prendem-se com as características físicas de um


documento, que geralmente podemos associar ao suporte, por exemplo, os

218
Tradução para o italiano.
219
A divisão proposta vai ao encontro da referida por McILWAINE, I. C. – Guía para el uso de la
CDU. 2003. P. 56.
Classificação Decimal Universal 269

documentos tridimensionais (sólidos), os documentos sonoros e audiovisuais,


obras de referência, periódicos, etc.
Os segundos prendem-se com a sua apresentação, nomeadamente com
a apresentação histórica, textos legais, etc.
Por vezes, devido a questões de precisão e clareza, convém classificar
um assunto com os dois tipos de auxiliares. Nestes casos, a ordem de citação
dos elementos será:

Notação principal + auxiliar de forma intrínseca + auxiliar de forma


extrínseca.

Termo vocabular Notação

Cinema, história, registo sonoro 791(091)(086.7)

À semelhança das tabelas principais, também os auxiliares de forma se


encontram estruturados hierarquicamente.
Devido ao facto de serem estes auxiliares os que indicam ao utilizador
que consulta um catálogo sistemático a forma sob a qual se encontra
determinada matéria, estes são usados com frequência, contribuindo, desta
forma, para que os resultados da pesquisa sejam mais claros e precisos.
Entre estes destacam-se os que se referem às obras de referência,
publicações periódicas, manuais e outros documentos de ensino, catálogos de
objectos, documentos legais e o auxiliar que expressa a apresentação
histórica.
Recomenda-se especial atenção para a aplicação do auxiliar relativo às
obras de referência, devido ao facto de a sua constituição numérica ser igual
à das notações relativas às mesmas matérias que integram a classe 0. No
entanto, cada um deles assume uma função diferente em termos de
classificação. Enquanto os primeiros representam a forma, os segundos
representam a matéria.
Assim, relativamente à aplicação dos auxiliares, esta justifica-se quando
temos um documento cujo assunto principal se apresente sob a forma de
catálogo ou bibliografia.
270

Termo vocabular Notação

Bibliografia jurídica 34(01)

Em relação à aplicação da notação extraída da classe 0, esta justifica-se


quando temos um documento cujo assunto principal incide sobre o estudo de
catálogos, bibliografias etc.
As dúvidas de aplicação também podem ser extensivas ao uso do
auxiliar (083.82) e o índice 01 e ao uso do auxiliar (09) em relação à classe 9.
O auxiliar (083.82) e os outros números que dependem deste, aplicam-
se a catálogos de objectos, a catálogos de exposições sobre um assunto ou
vários assuntos, sejam colectivas ou individuais, excluindo-se, naturalmente,
desta notação os catálogos bibliográficos.

Termo vocabular Notação


75Picasso,
Picasso, Pablo, catálogo de exposição
Pablo(083.82)
Dinis, Júlio, catálogo de exposição 012Dinis, Júlio

O primeiro exemplo representa um catálogo sobre a obra de um pintor,


o segundo representa um catálogo bibliográfico da obra de um autor
individual.

Relativamente ao (09) e à classe 9.

Termo vocabular Notação

História da vida privada 394(091)220

História de Portugal 94(469)

O primeiro exemplo representa o estudo de um assunto numa


perspectiva histórica, em que este é estudado num período de tempo
alargado ou curto de forma diacrónica. Estudam-se, geralmente, os factores
que lhe estiveram na origem, o seu desenvolvimento e o seu terminus.

220
Também poderá ser classificada em 930.85.
Classificação Decimal Universal 271

O último exemplo estuda o assunto numa perspectiva historiográfica,


onde as fontes históricas, assim como o respectivo método, têm um peso
considerável, ultrapassando, por isso, a mera descrição histórica. Existem, no
entanto, situações nas quais se torna difícil optar por uma ou outra
alternativa. Apenas uma análise cuidada e conjugada com o interesse dos
serviços e dos fundos poderá ditar a opção mais adequada.
Para concluirmos o estudo dos auxiliares de forma, referimos que estes
também são usados nos casos em que se pretendem classificar obras
concretas. Nestes casos, assumem o valor de uma notação extraída das
tabelas principais.

Termo vocabular Notação

O Público (05)Público

Auxiliares comuns de lugar (Tabela 1e): Função e aplicação

Símbolo (1/9) [Este auxiliar é representado por um parêntesis]

Função e aplicação

Os auxiliares comuns de lugar servem para expressar a dimensão


geográfica, a localização ou algum outro aspecto espacial relacionado com o
assunto de um documento.
Relativamente à história geral e à geografia regional, os auxiliares de
lugar já aparecem associados às respectivas notações.
Estes auxiliares são imprescindíveis para a construção das notações que
representam 908 Monografias, 913 Geografia regional e a 94 História em
geral.
272

Termo vocabular Notação

Espanha, estudo monográfico 908(460)

Geografia de Itália 913(450)

História da China 94(510)

No que concerne a esta regra cumpre-nos referir que, até 1994, a


construção da notação para classificar estes três assuntos era diversa. Na
nossa perspectiva, a opção anterior a esta data encontrava-se mais de acordo
com o espírito da classificação, na medida em que preservava de uma forma
mais íntegra e explícita a unidade, a síntese, enfim, a função integradora que
desde sempre caracterizou este sistema, como se pode observar no exemplo
que se segue:

Termo vocabular Notação


952.0221
História do Japão
94(520)222

Como podemos observar no primeiro exemplo, ao dígito 9 foi


acrescentado o auxiliar de lugar (520), constituindo, deste modo, uma
notação simples, situação que não se pode observar no segundo exemplo, no
qual o mesmo assunto é representado por uma notação composta. Concluiu-
se, portanto, que a função de síntese e, sobretudo, a função de integração se
encontram diluídas e difusas.
O mesmo raciocínio é válido para a classificação da geografia e das
monografias.
Quando em serviços especializados, é necessário adoptar um elevado
grau de especificidade para representar um determinado local e a tabela não
o privilegia, deve, nestes casos, recorrer-se a topónimos.

221
Edição anterior a 1994.
222
Edição actual.
Classificação Decimal Universal 273

Termo vocabular Notação

551.435
Dunas de Quiaios
(469.322Quiaios)

Estes auxiliares têm uma expressão muito representativa, que lhes é


conferida pelas possibilidades de representar um amplo campo de conteúdos,
relativo não apenas ao espaço geográfico tal como vulgarmente é conhecido,
como também no que respeita à representação do espaço extraterrestre.

Termo vocabular Notação

Universo 223 (15)

Tal como acontece com os outros auxiliares, geralmente registam-se a


seguir a uma notação principal que representa o assunto específico de um
documento.
No entanto, em casos especiais, quando são suficientemente
significativos para representar de forma clara e inequívoca um determinado
assunto, estes podem expressar-se isolados. Esta situação ocorre, por
exemplo, nos casos de um estudo abrangente de um determinado país ou
região.

Termo vocabular Notação

Amazónia, estudos (811.3)

Outro caso em que estes auxiliares ocorrem independentes das notações


principais observa-se quando se classificam documentos em que importa
destacar o aspecto geográfico, constituindo esse o ponto de interesse do
documento. Nesta situação, inscrevem-se alguns documentos cartográficos.

Termo vocabular Notação

Mapa da China (510)

223
Considerando o espaço cósmico em geral.
274

Quanto à sua estrutura, cumpre referir que a composição desta tabela


particular apresenta um nível de complexidade superior ao das outras tabelas
de auxiliares. Esta apresenta dois grupos de notações fundamentais:

- Notações que representam lugares concretos. Destas fazem parte


as que aparecem enumeradas de forma sistemática na tabela e
que se situam no (0/9);

- Divisões analíticas ou também designadas subdivisões auxiliares


especiais. Sempre que se justifique, estas podem aplicar-se ao
longo de toda a tabela e são introduzidas pelo (-0/-9).

As divisões analíticas ligam-se ao número que as precede através de um


hífen. Estas, tanto podem ser aplicadas a locais concretos e específicos como
continentes, países, cidades ou locais de dimensão ainda mais reduzida, como
também podem ser aplicadas a lugares cuja determinação geográfica seja
pouco precisa, isto é, uma localização geral.

Termo vocabular Notação

Pesca desportiva, Sul de Portugal 799.1(469-13)

Nos casos em que a designação Norte e Sul fazem parte do nome oficial
do país ou da região, estes aparecem registados na tabela com as respectivas
notações e, como tal, devem ser usadas pelo classificador.
A título de curiosidade. informa-se que o hífen verificado nos números
relativos aos pontos cardeais é, nestes índices, substituído por um ponto,
como podemos observar nos exemplos apresentados.

Termo vocabular Notação

Irlanda do Norte (410.7)

Os auxiliares de lugar servem também de referência na construção de


notações que pressupõem os auxiliares de:
Classificação Decimal Universal 275

- língua (=...)
- raça e etnia (=1:...)

Esta possibilidade concretiza-se através da sintaxe entre o auxiliar de


lugar e o auxiliar de raça e etnia, respectivamente. A associação do auxiliar
de raça e etnia ao auxiliar de lugar, permite a construção de notações que
representam conceitos relacionados com os povos associadas a determinados
lugares (=1:1/9).

Termo vocabular Notação

Vida familiar dos romanos 392.3(=1:37)

De igual modo, associando o auxiliar de lugar ao auxiliar de língua,


podem construir-se notações para representar conceitos relacionados com a
expressão linguístico-cultural.

Termo vocabular Notação

Economia, América espanhola 33(7/8=134.2)

Estes auxiliares permitem ainda relacionar e ligar espaços geográficos,


bastando, para este efeito, recorrer aos símbolos prescritos na tabela para
estes casos: dois pontos :, barra oblíqua / e adição +.

Termo vocabular Notação

Relações culturais luso-brasileiras 008(469:81)

Educação, Suíça alemã 37(494.1/.3)

Mamíferos, Ásia e África 599(5+6)


276

Auxiliares comuns de raça, grupo étnico e nacionalidade (Tabela


1f): Função e aplicação

Símbolo (=...) [Este auxiliar é representado por um parêntesis e um


sinal de igual]

Função e aplicação

Estes auxiliares têm como função indicar a nacionalidade ou os aspectos


étnicos estudados num determinado documento. Constituem-se por duas
vias:

- a partir dos auxiliares comuns de língua;


- a partir dos auxiliares de lugar.

A primeira via ocorre quando as notações são relativas a raças e povos


que se identificam pela língua.

Termo vocabular Notação

Árabes (=411.21)

Esta notação formou-se através da língua, no caso concreto, a língua


árabe:
=411.21

A possibilidade de construir as notações a partir da língua é


particularmente prática e cómoda, na medida em que possibilita a formação
de raças ou etnias que não se encontram registadas na tabela. Nestas
situações, apenas se coloca o auxiliar de língua entre parêntesis curvos.

Termo vocabular Notação

Civilização visigótica (=114.3)


Classificação Decimal Universal 277

A segunda via de construção destes auxiliares, como referimos, assenta


nos auxiliares de lugar. Esta possibilidade permite particularizar a população
de um determinado país, representando, por exemplo, um povo identificado
como um estado político:

Termo vocabular Notação

Portugueses (=1:469)

Na construção desta notação apenas teve de recorrer-se ao auxiliar de


lugar, (469) Portugal.
Esta regra é seguida para a representação dos povos do mundo
moderno que não se apresentam registados na tabela. Como a própria tabela
indica no respectivo local, estes devem construir-se partindo do auxiliar de
lugar (4/9), sendo este relacionado com o índice (=1). O mesmo
procedimento aplica-se na construção das notações relativas aos povos
antigos.

Termo vocabular Notação

Sociedade portuguesa, África 316.32(=1:469)(6)


Direito romano 34(=1:37)

Para uma melhor compreensão, apresenta-se, de seguida, um conjunto


de exemplos que ilustram as duas situações expostas.

1) Aplicação dos auxiliares comuns de raça, grupo étnico e


nacionalidade que representam aspectos étnicos ou a
nacionalidade.

Termo vocabular Notação

Rituais ciganos 392.1(=214.58)


Música polinésia 78(=622.82)
278

2) Aplicação dos auxiliares comuns de raça, grupo étnico e


nacionalidade que representam um povo identificado como um
estado político.

Termo vocabular Notação

Vinhos portugueses 663.2(=1:469)

Conclui-se este ponto referindo que este auxiliar também pode ter a
função de uma notação principal, quando a raça, um povo ou uma
nacionalidade é a matéria principal de um determinado documento.

Exemplos:

Termo vocabular Notação

Os ciganos (=214.58)
Os árabes (=411.21)

Auxiliares comuns de tempo (Tabela 1g): Função e aplicação

Função e aplicação

O auxiliar comum de tempo aplica-se quando se pretende localizar ou


limitar cronologicamente o tema de um documento. O seu uso prende-se com
o conteúdo e não com a data de publicação do documento classificado.
Representa-se sempre através de números árabes e, na maioria dos casos,
quando associado a outros auxiliares na construção de uma notação, aplica-se
no final.

Termo vocabular Notação

Pintores portugueses, séc. 20 75-051(=1:469)”19”

A contagem do tempo assenta no calendário cristão, encontrando-se,


todavia, ao longo da tabela outros sistemas distintos do calendário
Classificação Decimal Universal 279

gregoriano. Este tipo de contagem expressa-se através do “3/7” e seu


desenvolvimento. Estes números representam conceitos que se encontram
situados em grandes períodos cronológicos ou conceitos relacionados com
períodos profanos.

Termo vocabular Notação

Primavera “321”

Idade da pedra “631/634”

Idade Média “04/14”

Normalmente, o tempo expressa-se em unidades que vão desde o


século até ao ano. No caso do século, representam-se os dois primeiros
dígitos da respectiva centúria e o ano representa-se através dos 4 dígitos que
o compõem, naturalmente.
Para os anos anteriores ao nascimento de Cristo, regista-se um hífen
antes do número. Aqui, o hífen assume o mesmo significado que lhe é
atribuído na Aritmética.

Termo vocabular Notação

Ano 90 antes de Cristo “-0090”

No caso de se pretenderem representar datas precisas que limitem


temporalmente um determinado acontecimento, a ordem de citação dos
elementos será: ano.mês.dia.
Nos casos em que não se podem determinar os períodos cronológicos de
uma forma precisa, ou quando são acontecimentos que abarcam um período
dilatado de tempo, regista-se o início e o final do período, separando-os
através de uma barra oblíqua.
Em situações de períodos indefinidos utilizam-se as reticências.
Em determinadas situações, este auxiliar também se usa como uma notação
principal.
280

Termo vocabular Notação

Século XX “19”

Auxiliares comuns gerais dependentes

Estes auxiliares designam-se comuns gerais dependentes devido ao


facto de acompanharem em todas as situações a notação principal, pelo que
nunca podem, por si só, constituir um ponto de acesso.

Tipologia

Os auxiliares que constituem este conjunto são:

.001/.009 Tabela 1i – Auxiliares de ponto de vista

-0… Tabela 1k – Auxiliares comuns de características gerais

-02 Auxiliar comum de propriedade


-03 Auxiliar comum de materiais

-05 Auxiliar comum de pessoas e características pessoais


Tabela 12. Auxiliares comuns gerais dependentes
Classificação Decimal Universal 281

Auxiliares de Ponto de vista (Tabela 1i)224 : Função e aplicação

Símbolo .00 [Este auxiliar é representado por um ponto e dois zeros


.00]

Função e aplicação

Estes auxiliares têm como função perspectivar uma matéria nos vários
pontos de vista sob os quais essa matéria poderá ser considerada (teórico
.001, prático .002, económico-financeiro .003, utilização e funcionamento
.004, etc.). Nesta medida, estes auxiliares funcionam como facetas que se
podem aplicar a qualquer notação das tabelas principais.
Servem para representar a perspectiva sob a qual um autor trata uma
determinada matéria, traduzindo, deste modo, os pontos de vista do autor.
Nesta medida, a aplicação deste auxiliar justifica-se quando a perspectiva sob
a qual se encontra tratado um determinado conteúdo, influencia de tal forma
o documento a classificar, a ponto de este ser procurado pelo utilizador mais
pelo seu ponto de vista, do que pelo seu tema principal.
Em relação à ordem de citação, num índice, estes registam-se em
último lugar. No caso de uma notação ser composta por este auxiliar e por um
auxiliar especial, o auxiliar de ponto de vista coloca-se em último lugar.
Nunca se pode começar uma notação por ele.

Termo vocabular Notação

Construção civil, medidas de segurança 69.001.25

No caso de o índice ser constituído também por um auxiliar comum de


lugar ou de tempo, estes registam-se no final.

224
Estes auxiliares foram excluídos da tabela em 1998, pelo facto de serem pouco expressivos;
apesar de na teoria serem extensivos a toda a tabela, na prática geralmente aplicavam-se
essencialmente às classes, 5, 6, 7.
A sua inclusão justifica-se pelo facto de existirem serviços que ainda usam este auxiliar.
282

Auxiliar comum de propriedade (Tabela 1k): Função e


aplicação225

Símbolo -02 [Este auxiliar é representado por hífen zero dois -02]

Função e aplicação

Estes auxiliares servem para especificar a propriedade ou atributos das


entidades representadas pela notação principal.
Registam-se sempre associados ao número principal, não podendo constituir
um ponto de acesso independente.

Exemplo:

Termo vocabular Notação

Poesia anónima 82-1-028

Estes auxiliares não devem ser confundidos com os auxiliares de forma,


(cf. Tabela 1d).
Relativamente a este ponto, há três situações a considerar:

1) Casos em que a forma seja o tema.


Nos casos em que a forma tenha conteúdo informativo, estes
devem ser classificados na classe principal.
2) Casos em que a forma seja parte componente do tema.
Nesta situação, a forma é propriedade intrínseca ao tema e, por
isso, recorre-se ao auxiliar –02.
3) Nos casos em que essa “propriedade” não passe de uma mera
apresentação formal, então, recorre-se à forma.

225
Estes auxiliares, tal como os auxiliares de materiais, pessoa e características pessoais,
fazem parte dos auxiliares comuns de características gerais (Tabela 1k), tendo em comum o
facto de se representarem tipograficamente por traço zero -0. Na ordem de citação encontram-
se subordinados ao número principal ou ao auxiliar especial, se for esse o caso.
Classificação Decimal Universal 283

Auxiliar comum de materiais (Tabela 1k): Função e aplicação

Símbolo -03 [Este auxiliar é representado por hífen zero três -03]

Função e aplicabilidade

Este auxiliar, como o próprio nome indica, representa os materiais e/ou


os elementos que constituem os objectos e/ou produtos.
Aplica-se a todas as classes principais, desde que o aspecto material
esteja subordinado ao assunto, sendo, contudo, nas subclasses 66/67 que a
sua aplicação é mais relevante. A razão desta preponderância prende-se com
o facto de estas subclasses representarem os aspectos relacionados com
fabrico dos produtos, assim como o seu processamento.
Além destas, regista-se também uma aplicação significativa, por razões
óbvias, na subclasse 69 Construção civil e na classe 7, nesta no que respeita
aos materiais usados nos objectos de arte.

Termo vocabular Notação

Construção em betão 69-033.3


Escultura em granito 73-032.5

Uma vez que se trata de auxiliares dependentes, estes não podem ser
registados sozinhos ou na primeira posição de um índice composto,
constituindo-se, nesta medida, sufixos de uma notação principal.
O seu uso requer uma atenção especial para não serem aplicados a
documentos que tratem de estudos gerais sobre materiais (estes casos são
classificados em 620.2) ou a documentos cujo assunto sejam testes de
materiais (estes são classificados em 621.0) ou, por último, a documentos
cujo conteúdo seja a análise química dos produtos (neste caso são
classificados em 543).
Para a representação de materiais compostos, recorre-se à combinação
deste auxiliar com o apóstrofo ‘. Nestes casos, o apóstrofo será registado na
segunda posição, logo a seguir ao -03, evitando, assim, a repetição de um
segundo -03.
284

Termo vocabular Notação

Têxteis de fibras vegetais e sintéticas 677-037.1’4

Auxiliar comum de pessoa e características pessoais (Tabela 1k):


Função e aplicação

Símbolo -05 [Este auxiliar é representado por hífen zero cinco -05]

Função e aplicação

Os auxiliares comuns de pessoa e características pessoais servem para


indicar estas características, desde que não exista uma notação principal ou
auxiliar especial para as representar.
Através dos números –051 e –052, estes auxiliares permitem expressar
os papéis dos agentes activos e passivos, respectivamente.

Termo vocabular Notação

Médico 616-051
Doente 616-052

Sempre que se justifique, podem associar-se a estes (-051 e -052)


outros auxiliares do mesmo tipo que representem outras facetas pessoais (-
053/-054).

Termo vocabular Notação

Crianças doentes 616-052-053.2

Além de se combinarem entre si, estes auxiliares também podem


combinar-se com outro tipo de auxiliares.
Classificação Decimal Universal 285

Termo vocabular Notação

324-052-
Eleitores do sexo feminino, Portugal, década de 80
055.2(469)”198”

Desde que o aspecto pessoal esteja subordinado ao assunto principal,


estes aplicam-se a todas as classes.
Em conclusão, apresentamos alguns exemplos que ilustram a sua
aplicação no que respeita à representação de algumas características
pessoais, tais como profissão, nacionalidade, sexo, parentesco, etc.:

Auxiliares especiais. Secção II

Definição e características

Ao contrário dos auxiliares comuns gerais, estes não se aplicam a todas


as classes ou subclasses. Não sendo a sua aplicação extensiva a todos os
números principais das tabelas, o seu uso é expressamente indicado ao longo
da mesma. É nesta medida e, ao contrário do que acontece relativamente aos
auxiliares gerais, estes encontram-se junto dos números aos quais se
aplicam, dependendo sempre destes. Por tal facto integram-se dentro da
tipologia dos auxiliares dependentes.
Constitui outra sua característica a circunstância de estes auxiliares,
embora não fazendo parte do sistema enumerativo normal das tabelas,
apresentarem uma estrutura hierárquica entre eles análoga à que é
observada nas tabelas principais e nas tabelas dos auxiliares comuns gerais.
Uma diferença a registar entre estes auxiliares e os auxiliares comuns,
prende-se com o facto de a mesma notação dos auxiliares especiais poder ter
diferentes significados quando aplicada a diferentes números. Assim, o seu
significado depende do número principal ao qual estão ligados, circunstância
que não lhes confere um significado próprio.
286

Termo vocabular Notação

Substâncias químicas. Reagentes 54-4

Ensaio 82-4

Representações teatrais. Ensaios. Competições, … 792.09

Crítica literária. Estudos literários 82.09

Existem, contudo, ao longo das tabelas, excepções a esta regra,


observando-se situações em que o mesmo auxiliar, independentemente do
número ao qual esteja ligado, expressa, regra geral, a mesma faceta, seja na
mesma classe, seja em classes distintas.

Termo vocabular Notação


Teoria da arquitectura 72.01

Teoria da pintura 75.01

Teoria. Conceitos...Teorias individuais. 336.01

Teoria e princípios da engenharia mecânica. 621.01

Função

Como os Auxiliares comuns gerais têm como função especificar ou


completar o assunto principal, acresce a esta função geral outra mais
específica, que consiste na expressão de facetas ou diferentes perspectivas do
assunto representado pelo número principal dos quais dependem.

Termo vocabular Notação

Jogos matemáticos 51-8

Técnicas. Perícia profissional. Habilidade. 7.02

Semiótica 81’22
Classificação Decimal Universal 287

Tipologia

Os auxiliares que constituem esta tipologia são:

-1/-9 Hífen
.01/.09 Ponto Zero
`0/´9 Apóstrofo
Tabela 13. Auxiliares especiais

Estes auxiliares, normalmente agrupam-se em duas categorias: o ponto


zero e o hífen designam-se divisões analíticas, distinguindo-se
conceptualmente do apóstrofo, o qual apresenta uma função distinta dos
outros dois, como irá observar-se no ponto respectivo.

Auxiliar especial hífen: Função e aplicação

Símbolo -1/-9 [Este auxiliar é representado por um hífen]

Função e aplicação

O hífen tem uma função analítica ou distintiva e aplica-se para


representar elementos componentes, propriedades e outros pormenores do
assunto expresso pelo número principal.
Entre outras subclasses, aplica-se em 51/52: no 51 representa, entre
outras facetas, as técnicas, os cálculos, os mecanismos e os métodos; no 52
representa as propriedades, os processos e as partes. Aplica-se ainda no 62-
1/-9 e 66-9, em particular, em 62/69, para expressar pormenores mecânicos
e de engenharia. Este auxiliar usa-se ainda em 82-1/-9, para indicar as
formas literárias.
288

Termo vocabular Notação

Molas de borracha 62-272


Poesia 82-1

Auxiliares especiais ponto zero: Função e aplicação

Símbolo .01/.09 [Este auxiliar é representado por ponto zero]

Função e aplicação

Como acontece com o auxiliar especial –1/-9, este tem uma função
analítica. No entanto, a sua aplicação faz-se de uma forma mais ampla e
diversificada ao longo das tabelas, proporcionando, deste modo, a
constituição de conjuntos e subconjuntos de conceitos que se repetem. Esses
conceitos são de natureza diversa, referindo-se, a título de exemplo, os
aspectos relativos a estudos, actividades, processos, operações, instalações e
equipamento, sendo os aspectos mencionados relativos ao assunto
representado pelo número principal ao qual se aplicam. Esta faculdade
permite estudar um assunto sob diversas perspectivas.
Regra geral, encontram-se associados à classe 3 (3.07/.08; 30/39),
assumindo estes um significativo nível de desenvolvimento em 35; à classe 5
(528, 53, 54, 556, 57/59); à classe 6; à classe 7 (7.01/.09), onde se
verificam algumas excepções na sua aplicação; e, por último, às classes 8 e 9.

Termo vocabular Notação

Isótopos 54.02

Arte renascentista 7034

Literatura irlandesa, crítica 821.111(417).09


Classificação Decimal Universal 289

Auxiliar especial apóstrofo: Função e aplicação

Símbolo ‘0/’9 [Este auxiliar é representado por um apóstrofo]

Função e aplicação

Este auxiliar tem essencialmente uma função sintética e, sobretudo,


integrativa, proporcionando, deste modo, a representação de assuntos
compostos através de notações complexas. Esta função aproxima-o da função
exercida pela barra oblíqua.
O apóstrofo, dada a sua natureza, aparece com menor frequência que
os outros auxiliares especiais. Em alguns casos, aparece enumerado na
íntegra junto das respectivas notações; noutros casos, deriva de números
principais mediante subdivisões paralelas.

Casos enumerados na íntegra:

Termo vocabular Notação

Literatura grega clássica 821.14’02

Culturas nómadas 903’1

Ortografia 81’35

Casos derivados:

Termo vocabular Notação

Partido nacionalista liberal republicano 329.17´23´12

Forma-se a partir de:


329.17 Partido nacionalista
329.23 Partido republicano
329.12 Partido liberal
290

Ordem de citação dos elementos226

Definição e objectivos

Entende-se por ordem de citação a disposição que é atribuída aos


elementos que constituem uma notação composta.
Como temos observado ao longo deste trabalho, para representar o
conteúdo de um documento, muitas vezes é necessário construírem-se índices
compostos, que são formados pelas notações extraídas das tabelas principais
e pelas notações extraídas das tabelas comuns e especiais.
Por uma questão de uniformidade e de coerência nos produtos
resultantes da classificação – como são os catálogos sistemáticos e as
bibliografias temáticas – e também por razões de coerência na ordenação
física das obras nas estantes - torna-se imprescindível a existência de regras
de ordenação que regulem e prescrevam, dentro do possível, uma ordem que
garanta a consistência destes produtos, com vista a uma maior eficiência e
eficácia na recuperação da informação.
Após a consulta de alguns manuais e da própria Classificação Decimal
Universal, concluiu-se que não se impõe uma regra universal em relação à
ordem de citação dos auxiliares. Ao longo das leituras efectuadas deparámos
com regras díspares relativamente a este aspecto. No entanto, dentro da
diversidade encontrada, todos os autores consultados convergem em dois
pontos:

- a ordenação dos elementos deverá ser efectuada do geral para o


particular e os números registados da esquerda para a direita;

- a ordem dos elementos é inversa à ordem sequencial apresentada


nas tabelas da Classificação Decimal Universal.

226
McILWAINE, I. C. – Guia para el uso de la CDU. 2003. p. 48-55; 110-111; BENITO, Miguel – El
sistema de Clasificación Decimal Universal, 1996, p. 53; LÓPEZ-HUERTAS PÉREZ, María José –
Estructura de la Clasificación Decimal Universal. 1999. P. 221-222. DÍEZ CARRERA, Carmen –
Técnicas y regimen de uso de la CDU. 1999. P. 28-30.
Classificação Decimal Universal 291

Com base nestes princípios conclui-se que o procedimento normal a


seguir será então:

Notação principal + Auxiliares especiais + Auxiliares comuns

Ordem de citação dos auxiliares comuns gerais

Em relação aos auxiliares comuns gerais, salvo excepções, deverá


seguir-se a seguinte ordem:

Número principal + Auxiliares dependentes + Auxiliares independentes.

A ordem que se recomenda na citação destes elementos é a seguinte:

Índice principal + Ponto de vista ou matéria + Raça e nacionalidade +


Lugar +Tempo + Forma + Língua

Termo vocabular Notação

Artesanato português, França, ensaio em


língua portuguesa
745(=1:469)(44)(042)=134.3

Literatura inglesa, Espanha, séc. 19,


antologia em língua espanhola
821.111(460)“18”(082)=134.2

Excepções à ordem convencionada

A ordem convencionada para o uso dos auxiliares, como vimos, não é


categórica, pelo que o classificador, sempre que se justifique por interesse do
serviço, poderá alterá-la. Deste modo, consideram-se situações excepcionais
as seguintes:
292

1) Situação em que o tempo antecede o espaço

Regra geral, observa-se o inverso, constituindo esta excepção uma


regra para alguns autores,227 tal como podemos observar no seguinte modelo
de citação:

Número principal + Auxiliar comum de pessoa + tempo + lugar + forma


+ língua

Termo vocabular Notação

Arte barroca, séc. 16, Itália, tese em língua


72.034”15”(450)(043)=111
inglesa

A situação observada ocorre devido a questões de ordem lógica,


pretendendo-se com ela contribuir para um melhor entendimento do assunto
expresso na notação.

2) Situação que se prende com os textos legislativos – decretos,


éditos, ordenações, posturas, etc.

Nestes casos o auxiliar de forma precede o auxiliar de tempo. Importa


referir que a ocorrência de tal situação se justifica para determinar que a data
corresponde ao texto legislativo e não à matéria.

Termo vocabular Notação

Horário de trabalho, decreto-lei de 1976 331.31(094.1)”1976”

227
McILWAINE, I. C. – Guia para el uso de la CDU. 2003. P. 49. V. T.: BATLEY, Sue –
Classification in theory and practice. 2005. P. 102-104.
Classificação Decimal Universal 293

3) Situação em que o auxiliar precede a classe principal

Como observamos atrás, todos os autores estão de acordo ao


considerarem o primeiro elemento de ordenação uma notação extraída das
classes principais. Todavia, por questões de ordem prática, designadamente
no que respeita à arrumação física, essa ordem pode ser invertida:

Termo vocabular Notação

Economia, dicionário (038)33

Ordem de citação dos auxiliares especiais

Para a citação dos auxiliares especiais não se verifica uma ordem tão
convencional como a que é observada nos auxiliares comuns gerais. Regra
geral, colocam-se imediatamente junto ao número principal ao qual estão
associados. Há casos em que se aplica apenas um auxiliar e existem casos em
que se observa a combinação com outros auxiliares especiais e/ou comuns,
como se pode depreender dos seguintes exemplos:

a) Casos relativos à aplicação de um auxiliar especial

Termo vocabular Notação

Romance português 821.134.3-31

b) Casos onde se observa a sua aplicação numa cadeia homogénea (o


mesmo tipo de auxiliar)

Termo vocabular Notação

Teoria da arte moderna 7.036.01


294

c) Casos onde se observa a sua aplicação numa cadeia heterogénea


(com os três tipos de auxiliares especiais)

Termo vocabular Notação

Novela inglesa, estudo 821.111-32.09


Partido monárquico liberal, oposição 329.2’1.05

d) Aplicação conjunta dos dois tipos de auxiliares

Termo vocabular Notação

Arquitectura românica, Espanha, tese 72.033(460)(043)

Dado o número significativo de excepções, recomenda-se que, por


questões de uniformidade e de consistência do catálogo, após a eleição de um
critério, este seja utilizado por todos os classificadores de um serviço, ou
pelos vários classificadores de uma rede, se for esse o caso.

[…] Cet ordre doit être étudé avant tout en fonction des besoins
exacts des utilisateurs de la collection classée: il est essentiel qu’il
soit adopté préalablement une fois pour toutes, qu’il soit
clairement expliqué et motivé, et enfim rigoureusement suivi. 228

Neste sentido, a inclusão deste ponto pretende, acima de tudo, ser um


contributo para a sensibilização da aplicação sistemática de um só critério,
como garante da pertinência na recuperação da informação por tema.

c) Notação

A notação do sistema Classificação Decimal Universal é uma notação


pura e decimal. É constituída por algarismos árabes.

228
DUBUC, René – La classification décimale universelle. 1964. P. 150.
Classificação Decimal Universal 295

Devido ao facto de a Classificação Decimal Universal prever um tipo de


expediente externo ao sistema – Auxiliar A/Z, que se integra nos Auxiliares
Comuns Gerais, nas situações em que se aplica –, a notação torna-se mista.
Outra particularidade a considerar prende-se com o facto de, na sua
essência, este sistema ser constituído por notações simples. No entanto,
devido à existência das tabelas auxiliares, estas, quando aplicadas aos
números principais, transformam uma notação simples numa notação
composta.
Esta característica torna a notação flexível, permitindo-lhe representar o
assunto nas suas diversas facetas, concorrendo, deste modo, para que se
ultrapasse a rigidez das notações puras construídas a priori.
A notação apresenta uma estrutura hierárquica, característica comum a
toda a estrutura do sistema. Por este facto, ao algarismo da direita
corresponderá sempre um maior grau de especificidade.
Tem a notação como característica principal o facto de ser decimal, o
quer dizer que cada algarismo se pode dividir em dez sucessivamente, o que,
na teoria, torna a divisão infinita.
Para facilitar a leitura da notação coloca-se um ponto de três em três
algarismos, sendo que este ponto não tem valor classificatório.

d) Índice

O índice, como todos os índices de uma classificação, é uma lista


alfabética constituída, na teoria, por todos os assuntos que compõem o
sistema aos quais corresponde a respectiva notação relativa às tabelas
principais ou auxiliares. Neste sentido, é constituído pela rubrica e pela
referência, que neste caso é uma notação.
O índice não inclui expressões equivalentes para todas as notações de
uma classificação, o que concorre para que, algumas vezes, a uma expressão
corresponda mais do que uma notação distinta, dependendo do ponto de vista
sob o qual o assunto é tratado. Nestas circunstâncias, como já foi referido em
outros pontos, as notações são separadas por ponto e vírgula ou por setas de
orientação.
296

Na medida em que agrega todas as perspectivas sob as quais um


assunto é tratado na classificação, o índice permite, neste caso concreto, o
reagrupamento dos assuntos que ficam dispersos na classificação.

Liberdade
condicional 343.26, 343.84
da vontade 159.947
de associação 342.72; 351.75

A principal função do índice é remeter para as notações de uma


classificação, permitindo assim localizar os números correspondentes a um
assunto concreto. Este procedimento faz-se partindo de uma linguagem
natural, já que os termos que compõem um índice não são controlados.
O índice permite ao utilizador e ao profissional procurar rapidamente em
que classe e sob que notação está classificado qualquer conceito expresso em
linguagem natural.
Qualquer notação extraída de um índice deverá ser sempre confirmada
na respectiva tabela. Neste sentido, um índice deverá ser sempre visto como
um instrumento de localização, como um guia.
297

II Parte CDU:
representação e evolução de um
conceito - Etnia
298
299

Nota prévia à II Parte

Na primeira parte deste trabalho pretendeu apresentar-se uma


contextualização e reflexão teórica sobre as classificações bibliográficas no
geral, e sobre a Classificação Decimal Universal em particular.
O estudo apresentado, seguindo a própria dinâmica estrutural das
classificações bibliográficas, foi efectuado do geral para o particular.
Seguindo esta orientação, foram, em primeiro lugar, apresentados e
analisados conceitos que estão estritamente associados às classificações
bibliográficas, designadamente o conceito: Classificar. Partindo da sua
definição, foram abordadas as suas complexidades e afinidades semânticas
relativamente ao conceito de classificação.
Além deste aspecto e com o intuito de o posicionar de forma clara e
precisa relativamente ao conceito – Classificação, foram ainda considerados,
com o recurso ao texto de alguns teóricos da Indexação/Classificação, os seus
princípios e os seus procedimentos.
De seguida, passou-se à definição do termo Classificação. A
apresentação das suas características e da sua estrutura lógica, no geral, e o
das classificações bibliográficas, em particular, constituíram este ponto como
um dos mais relevantes da parte considerada.
A organização do conhecimento, primeiro considerada numa acepção de
mera divisão, pautada por critérios essencialmente funcionais, e depois
considerada sob a forma sistemática, obedecendo a verdadeiros planos
estruturados de classificação, concorreu para que este ponto se constituísse
como esteira mental, no que respeita à contextualização lógica e cognitiva das
classificações bibliográficas. Tal circunstância, deve-se ao facto de estas
surgirem como herdeiras legítimas das suas características, assumindo-se,
deste modo, elas próprias, como instrumento dinâmico e privilegiado da
organização do conhecimento.
Num plano mais específico, e com o propósito de contextualizar a
Classificação Decimal Universal no movimento dos grandes sistemas
bibliográficos de tipo enciclopédico, apresentou-se uma descrição dos planos
300

de classificação que lhe foram percursores e que, de forma directa e/ou


indirecta, vieram a influenciar a sua estrutura.
Para concluir esta parte de reflexão crítica, foi apresentada, com a
brevidade possível, a filosofia do sistema da Classificação Decimal Universal,
que se traduziu na apresentação dos seus fundamentos e da sua estrutura.
Entendemos que, apenas partindo desta teoria estrutural se poderá entender
a dinâmica deste sistema, no que respeita à representação e organização
lógica das novas emergências sociais e mentais.
Tendo em conta este fio condutor, a segunda parte do trabalho pretende
assumir-se como uma demonstração concreta das suas capacidades de
resposta a estas novas realidades, essencialmente no que respeita a dois
segmentos: imparcialidade e dinâmica. No primeiro segmento com base na
análise dos resultados, pretendemos verificar se existe da parte deste sistema
objectividade em representar o conhecimento; no segundo pretendemos
averiguar se se observam alterações, que se manifestam na introdução de
novos assuntos e eliminação de outros no que respeita à evolução conceptual.
O estudo qualitativo dos dados, apoiado na quantificação dos mesmos e
na análise dos resultados compõe, na sua maioria, o corpo da segunda parte
deste trabalho.
Com o recurso a grelhas de recolha de dados e a gráficos, nos quais se
encontraram reflectidas as variáveis consideradas na amostragem, iremos
avaliar até que ponto os termos e os conceitos que constituem essas variáveis
expressam, de uma forma objectiva, os paradigmas e teorias da etnicidade,
considerados, evidentemente, num dado período cronológico, no caso
concreto o século XX. O objectivo específico da II Parte do nosso trabalho é
saber até que ponto existe ruptura ou continuidade, divergência ou
convergência entre as classificações e os paradigmas e teorias da etnicidade.
Objectivos e desenho da investigação 301

Capítulo VII
Objectivos e desenho da investigação
302
Objectivos e desenho da investigação 303

1 Objectivos e desenho da investigação

1.1 Objectivos

Neste ponto passamos a registar, de forma sucinta, os objectivos que


expusemos de forma mais pormenorizada na Introdução. São os seguintes:

- Analisar o comportamento da Classificação Decimal Universal no


que respeita à representação da dinâmica sócio-cultural do século
XX, concretamente no que respeita ao conceito Etnia.
- Aferir até que ponto pode considerar-se a Classificação Decimal
Universal um sistema de classificação imparcial, por isso fiável, no
que respeita à representação e recuperação da informação.

1.2 Desenho da investigação

Depois da exposição teórica, baseada numa revisão bibliográfica, sobre


o universo conceptual das classificações em geral, e cujo propósito foi
contextualizar a Classificação Decimal Universal no que respeita à sua
dimensão semântica e à sua dimensão formal relativamente à organização do
conhecimento, passamos, de seguida, a descrever a metodologia que foi
utilizada no desenvolvimento deste estudo.
Assim, para dar cumprimento aos objectivos que nos propusemos,
desenhámos a seguinte estratégia, que passamos a registar e a desenvolver:

1ª Fase
Objectivo: Recolha de dados

a) Universo
b) Amostra
c) Critérios para a selecção das unidades de análise
d) Delimitação do objecto – unidades de análise.
304

2ª Fase
Objectivo: Análise de dados

a) Crítica dos dados recolhidos


b) Análise terminológica
c) Análise conceptual.

Antes de darmos início à descrição dos itens considerados, cumpre


referir que o paradigma metodológico que sustenta o desenho da investigação
em curso é de natureza qualitativa. O argumento que apoia esta eleição em
detrimento do paradigma quantitativo, que tem como objectivo a
quantificação objectiva dos dados relativos ao fenómeno estudado, prende-se,
naturalmente, com a natureza da investigação e com o cumprimento do seu
objectivo primordial. Mais do que quantificar dados, perseguindo
inclusivamente objectivos que se vinculam à generalização dos resultados,
pretendemos analisá-los em profundidade, para melhor compreender a sua
natureza e complexidade. Para darmos cumprimento a esta pretensão,
entendemos que o melhor caminho a seguir seria o paradigma qualitativo.
Para concluirmos esta breve introdução à abordagem metodológica
pretendida, não podemos deixar de referir que a concretizamos com um
estudo de caso.
A nossa opção por esta estratégia metodológica prende-se com o facto
de entendermos ser aquela que nos permite um estudo profundo e exaustivo
do objecto de estudo, ao mesmo tempo que nos proporciona, por um lado,
um conhecimento alargado do objecto e, por outro, um estudo pormenorizado
do tema em discussão. Permite ainda o estudo de um fenómeno complexo
que envolve diversas variáveis, como é o caso do nosso estudo.
Além deste argumento, teve ainda um peso considerável na nossa
escolha o facto de o estudo de caso, uma vez aplicado a uma única situação,
geralmente ser suficiente para a compreensão de outros casos similares.
Acresce ainda referir que esta metodologia é também usada, segundo Robert
K. Yin229, em investigações que apresentam as seguintes características:

229
Yin, Robert K. – Estudo de caso. 3ª ed. 2005. P. 32.
Objectivos e desenho da investigação 305

- Investigar um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto


da vida real e, especialmente quando os limites entre o fenómeno
e o contexto não estão claramente definidos.

Estes foram, entre outros, os factores que maior impacto tiveram na


nossa decisão, o que concorreu, naturalmente, para que tivéssemos optado
por esta modalidade metodológica, na medida em que ela se ajustava ao
nosso objectivo. A escolha de tal metodologia leva-nos a pensar que, partindo
da representatividade e evolução do conceito Etnia na Classificação Decimal
Universal, será possível avaliar, com um razoável nível de segurança, por um
lado as capacidades estruturantes deste sistema em se adequar aos novos
quadros mentais emergentes, concretamente no que se refere à elasticidade
das classes, subclasses e das próprias notações, relativamente à
representação e organização de novos conhecimentos.
Por outro lado, permitir-nos-á avaliar até que ponto este sistema, em
questões de representação das mentalidades e ideologias, é refractário ou
evolutivo, no que respeita à introdução de novos quadros epistemológicos.
De acordo com as suas características, esta abordagem metodológica
apresenta a vantagem de, ao estudarmos o conceito Etnia, podermos
estender o seu estudo a outros conceitos evolutivos que se encontravam
enraizados na vida real e contemporânea como, por exemplo, o feminismo ou
a exclusão social. A relevância destes conceitos na sociedade e nas
mentalidades actuais deveria, em nosso entender, concorrer para a
elaboração de estudos nos quais se sedimentassem estas realidades tão em
voga na actualidade.
Dentro dos métodos possíveis para sustentar e caracterizar os itens
apresentados na primeira fase da investigação que respeita à recolha de
dados, apoiamo-nos no método descritivo. Esta escolha prende-se com o
facto de entendermos ser este o método que melhor se adequa à fase da
recolha de amostras e à descrição das unidades de análise, de forma a
resultar da sua aplicação a constituição de um corpo de dados consistente que
permita, em última análise, uma interpretação pertinente e objectiva dos
dados, de forma a criarmos tese.
306

No seu todo e, de uma forma geral, a primeira fase do desenho


metodológico é uma etapa de simples caracterização do universo de estudo,
bem como dos critérios subjacentes à recolha das amostras, para além da
explicação das limitações e das condicionantes principais envolvidas na
concretização dos objectivos propostos, sem qualquer implicação analítica ou
interpretativa. Foi este facto, entre outros enunciados neste trabalho, que nos
levou a optar por um estudo descritivo.
O método descritivo apresenta como características essencialmente o
facto de se basear na observação dos dados, assim como o seu registo
objectivo, com o intuito de permitir uma análise consistente dos dados ou
fenómenos. Ao descrever os dados ou factos, permite relacionar a posteriori
as variáveis entre si ou com outras variáveis diferentes, no caso concreto com
os paradigmas e as teorias da etnicidade.
Para a escolha deste método, contribuiu ainda o facto de ele
proporcionar elementos para uma análise nos moldes que acabamos de
referir, tendo em conta a função das variáveis envolvidas tal como as
apresentamos. Com base nestes argumentos entendemos ser este o método
adequado para apoiar a primeira fase da nossa metodologia.
Relativamente às etapas do estudo, a primeira fase do desenho
metodológico tem como objectivo a recolha de elementos que irão constituir,
naturalmente, um corpo de dados sobre o qual irão incidir as análises
necessárias, concretamente a análise terminológica e a conceptual.
Assim, de acordo com a ordem dos itens apresentados na primeira fase,
passamos ao desenvolvimento dos mesmos:

Primeira fase: Recolha de dados

a) Universo

Relativamente ao universo considerado para a escolha das edições das


classificações usadas, ele torna-se difícil de quantificar em termos precisos.
Esta situação decorre do facto de não podermos determinar com exactidão o
Objectivos e desenho da investigação 307

número de edições da Classificação Decimal Universal que foram publicadas


ao longo do século XX. Podemos precisar que, até 1953, foram publicadas
três edições. A partir desta data torna-se quase impossível saber quantas
mais foram publicadas. Na origem de tal situação encontram-se os seguintes
argumentos: por um lado os países, individualmente, passaram a ter a
possibilidade de publicar as suas edições da Classificação Decimal Universal
de acordo com as suas necessidades específicas, edições estas que eram
devidamente submetidas a aprovação e respectivamente autorizadas pela FID
e, mais tarde, pelo Consortium. Esta circunstância concorreu para a
proliferação de um número considerável de edições desenvolvidas, médias e
abreviadas.
Por outro lado, a passagem da responsabilidade editorial pelas diversas
instituições: Institut International de Bibliographie, The International
Federation for Information and Documentation (FID) e, por último, o UDC
Consortium, concorreu, também, para um “descontrolo”, no que se refere a
uma contabilização das ditas edições.
Assim, entre outras edições possíveis de um universo analítico que,
como vimos é impossível de determinar com precisão, escolhemos
intencionalmente cinco; fizemo-lo de acordo com os critérios que passaremos
a descrever no ponto seguinte.
Antes, porém, deverá referir-se que estas cinco edições não são
modelos representativos de uma população, em termos de comparação com
vista à generalização, tal como acontece num estudo estatístico clássico; são,
antes, representativas de características e de situações de importância cabal
para dar cumprimento aos objectivos primordiais do estudo. Neste sentido, os
objectivos deste estudo não têm o propósito de ser quantitativos, mas
analítico-interpretativos.

b) Amostra

Para a concretização do nosso objectivo de estudo baseamo-nos em


cinco unidades de análise, concretamente em cinco edições do sistema,
Classificação Decimal Universal, a saber:
308

Manuel Abrégé du répertoire bibliographique universel, 1905;


Classification Décimale Universelle: tables de classification pour les
bibliographies, bibliothèques et archives…, 1927-1933; edição alemã Dezimal-
Klassifikation (Gesamtausgabe). 3 International Ausg. Berlin : Beuth-Vertrieb,
1934-1953; Classification Décimale Universelle, 1967-1973 e Classification
Décimale Universelle, 1990-1993, (actualizada em 1998).

c) Critérios para a selecção das unidades de análise

Relativamente à selecção das unidades de análise, elas pautam-se, no


geral, pelos seguintes argumentos:
Foram seleccionadas apenas as edições desenvolvidas (1905; 1927-
1933; 1934-1953) e as edições médias (1967-1973; 1990-1993) da
Classificação Decimal Universal. A opção por tabelas de edição desenvolvidas
e médias, prende-se com o facto de estas edições nos proporcionarem um
desenvolvimento mais exaustivo do seu conteúdo do que as tabelas
abreviadas, concorrendo, deste modo, para uma melhor localização da
matéria.
O facto de utilizarmos duas edições médias a partir de 1967 tem a ver
com a circunstância de, por um lado, estas edições apenas existirem a
partirdesta data, por outro elas serem suficientemente desenvolvidas para
nos permitirem fazer um estudo exaustivo e credível do assunto que nos
propomos estudar. Por esta circunstância, optámos pelas edições médias
desenvolvidas em detrimento das desenvolvidas, pelo facto de estas últimas
apresentarem um elevado nível de desenvolvimento e deste modo, poderem
dispersar o conhecimento. Tal situação poderia perturbar a descrição e análise
dos dados.
Consideramos como primeira unidade de análise a 1ª edição da
Classificação Decimal Universal, publicada em 1905. Esta opção prende-se
com o facto de ela ser a primeira edição deste sistema de classificação e, por
isso, considerarmos o seu conteúdo como uma referência para a leitura da
segunda edição e das outras que se seguem. Entendemos que seria
importante ter uma visão global da forma como as matérias que são
Objectivos e desenho da investigação 309

consideradas no nosso estudo se encontravam referenciadas, quanto à


terminologia e quanto à disposição dos seus conteúdos.
No que respeita à opção pela 2ª edição (1927-1933), a sua escolha
baseou-se essencialmente no facto de se distanciar da primeira edição, em
termos cronológicos, de aproximadamente trinta anos, critério que decidimos
para a selecção das unidades de análise, pelas razões já enunciadas. Acresce
ainda o facto de o espaço cronológico considerado abarcar a Primeira Guerra
Mundial, período durante o qual se observaram grandes convulsões sociais,
políticas, culturais e mentais e que, de alguma forma, têm a ver com a
matéria em estudo. É ainda um período caracterizado, no aspecto das
mentalidades, por ideias que fazem parte do universo do paradigma
antropológico, no que respeita ao conceito Etnia. De acordo com esta linha de
orientação antropológica encontramos conceitos tais como: raça,
colonialismo, povos colonizados, indígenas, tribos, etc. Como tal, pareceu-
nos que poderia ser uma mais-valia para o nosso estudo observar até que
ponto esta edição espelhava esta realidade ou ela se encontrava omissa nela.
Relativamente à edição alemã (1934-1953) e à sua escolha, ela
prendeu-se com o facto de ter sido uma edição que foi publicada ao longo da
Segunda Guerra Mundial, por um país que foi um dos principais beligerantes.
Além disso, foi um perído no qual se assistiu a um significativo embate de
ideias. Desta colisão ideológica resultou a valorização conceptual de alguns
termos em detrimento de outros. Outros conceitos e os seus significantes
foram quase eliminados da comunicação, por se entender que eram
pejorativos e denunciavam uma ideologia que não era bem vista pela maioria
dos países que entraram na guerra. Alguns conceitos como, por exemplo,
imperialismo, xenofobia, raça, racismo, refugiados, minorias, nacionalismo,
etc., passaram a ser considerados social e ideologicamente incómodos.
Muitos destes conceitos foram desenvolvidos na Alemanha, por este
tempo, num contexto de guerra. Devido a esta situação, entendemos que
seria interessante observar de que modo estas ideias, que se encontram
plenamente integradas no nosso tema, aparecem representadas nesta edição.
Deste modo, abrimos uma excepção para esta edição, ao não respeitar
o período de intervalo entre a publicação das respectivas edições que nos
propusemos adoptar. Entendemos que não consultar esta edição seria uma
310

lacuna, na medida em que, através da sua observação, podemos verificar com


alguma segurança possível a imparcialidade ou parcialidade do sistema
relativamente a este tema.
No que respeita à edição de 1967-1973, a sua escolha baseou-se
essencialmente no facto de ser a primeira edição média desenvolvida que foi
editada sob os auspícios da FID.
O facto de esta edição ser média desenvolvida poder-nos-ia levar a
pensar numa ruptura metodológica, na medida em que as outras três edições
anteriores são desenvolvidas, todavia, tal não se verifica. Nesta edição e na
seguinte, a de 1990-1993(1998), também ela edição média, observamos, de
uma forma geral, a mesma linha de continuidade, quer no que respeita à
estrutura, quer no que respeita à disposição dos conteúdos. A única diferença
observada restringe-se à especificidade da representação dos assuntos. Os
resultados obtidos com base nesta edição, salvo as alterações que se
traduzem na eliminação e introdução de assuntos próprios de uma nova
edição, em nada se distinguem das outras edições.
Relativamente à última edição considerada, publicada em 1990-1993
com alterações de 1998, foi a que elegemos para interrompermos as recolhas
de dados. As razões prendem-se essencialmente com o facto de ser a última
edição publicada pelo Consortium no século XX. Como não era nosso
propósito considerarmos outras edições a não ser as que foram publicadas no
século XX, desde que elas nos facultassem dados suficientes para a
elaboração do nosso estudo, o que se verificou, terminamos a recolha de
dados com esta edição.
Como podemos observar, as classificações seleccionadas encontram-se
compreendidas, cronologicamente, entre 1905 e 1998, o que perfaz um
período de cobertura analítica de aproximadamente cem anos (noventa e três
anos). Ainda, considerando-se este intervalo, optámos por seleccionar as
edições publicadas num período que mediasse, sensivelmente, trinta anos. Tal
critério prende-se com o facto de entendermos ser este período de tempo
razoável para se empreenderem e consequentemente se observarem
alterações culturais e mentais na sociedade. Além disso, nesta edição, foi
também considerado o facto de os anos de publicação coincidirem com
períodos paradigmáticos da História. De acordo com esta linha de raciocínio e,
Objectivos e desenho da investigação 311

excepcionalmente, foi ainda considerada a edição alemã Dezimal-


Klassifikation (Gesamtausgabe). 3 International Ausg. Berlin: Beuth-Vertrieb,
1934-1953, independentemente de esta quase coincidir com a publicação da
edição francesa de 1927-1933.
Antes de iniciarmos a exposição de todos os procedimentos, cumpre
referir que, para um melhor entendimento da distribuição das matérias
consideradas, em cada uma das classificações observadas levamos a cabo a
descrição dos conteúdos e estrutura das tabelas de auxiliares e subclasses
consideradas. Este procedimento foi efectuado em todas as edições.
Passamos, de seguida, a apresentar os critérios subjacentes à selecção
e recolha dos elementos, em cada uma das edições mencionadas, sobre os
quais incidiu a análise e que, por isso, se constituíram variáveis.230
Partimos da definição do conceito Etnia para identificarmos os elementos
conceptuais fundamentais que se iriam constituir em variáveis.
Após uma revisão bibliográfica feita em obras de referência, tais como
dicionários gerais e da especialidade, assim como em outras tipologias de
documentos, definimos o conceito Etnia. Observamos que ele assenta,

230
As variáveis são características que são medidas, controladas ou manipuladas numa
investigação. Entre os vários aspectos que são considerados na sua distinção, consideramos o
papel que assumem numa determinada pesquisa e na forma como podem ser medidas.
Neste sentido, constituíram-se como variáveis deste trabalho, variáveis de tipo qualitativo e
independentes, por serem aquelas que melhor se adequam ao objectivo desenhado: demonstrar
em que medida as classificações são dinâmicas, enquanto instrumentos de organização do
conhecimento.
Esta opção prende-se, naturalmente, com a sua própria natureza. Designam-se variáveis
qualitativas, porque são difíceis de mensurar, isto é, não se podem quantificar de forma
objectiva. Porém, podem ser codificadas para terem significado.
Estas variáveis servem para comparar dados. Permitem fazer associações entre elas, quando é
considerada mais do que uma, como é o caso desta investigação.
Além disso, são instrumentos adequados para a construção de tabelas onde se representa a
distribuição da frequência das mesmas, conduzindo-nos estas, se o desejarmos, a resultados
percentuais, informação que se revela fundamental para uma análise crítica.
Outro ponto que pesou na sua eleição foi o facto de serem as variáveis mais simples de tratar do
ponto de vista da análise descritiva, método que usamos para demonstrar a nossa hipótese de
trabalho.
São variáveis independentes, porque não são controladas nem manipuladas pelo investigador.
312

essencialmente, nas seguintes características primordiais: língua, religião,


costume, raça, antropologia, literatura e pertença regional. Estes elementos,
que constavam em todas as definições que encontrámos, umas vezes de
forma implícita outras de forma explícita, passaram então a enquadrar-se no
nosso estudo como variáveis.
Com estes elementos constituímos uma grelha conceptual, que
funcionou como um filtro na recolha dos dados. Passamos, de seguida, a
apresentar essa grelha conceptual. Nela serão registadas as noções que dão
consistência ao conceito Etnia, assim como as classes da Classificação
Decimal Universal que lhes correspondem:

Noções que
constituem o Classes da Classificação Decimal Universal
conceito – Etnia

Língua Auxiliares de língua; Língua e Literatura

Raça e
Auxiliares de raça e nacionalidade
Nacionalidade

Religião Religião

Ciências sociais (Antropologia cultural, Direito,


Costumes
Educação, Política, Economia, … etc.)

Antropologia Ciências puras

Tabela 14. Grelha de análise

Como pode verificar-se na grelha que se apresenta e, de acordo com a


selecção destes elementos, foram escolhidas as classes e respectivos
auxiliares que os representavam e, neste sentido, foram constituídas como
variáveis deste trabalho.
Assim, fizemos corresponder a estes elementos as classes da
Classificação Bibliográfica Universal nas quais se encontravam representados,
a saber: Auxiliares de língua, Auxiliares de raça e nacionalidade, Auxiliares de
Objectivos e desenho da investigação 313

pessoa; 2 Religião; 3 Ciências sociais; 4 Língua; 5 Ciências puras; e 8


Linguística e Literatura.
Após termos efectuado este procedimento verificamos as matérias
específicas dentro de cada uma delas e que correspondiam à nossa matéria.
Assim, destas classes foram extraídas as notações que representavam
de uma forma inequívoca os conceitos relacionados com o conceito Etnia, ou
que com eles se encontravam associados de forma semântica. Para
concretizarmos este procedimento, percorremos, ao longo de quatro meses
consecutivos, nove grupos classificatórios (tabelas de auxiliares e subclasses)
de cinco edições (três desenvolvidas e duas médias desenvolvidas). O volume
de dados percorrido foi de aproximadamente trinta e quatro mil entradas.
Este percurso, sistemático e metódico, foi levado a cabo numa atitude
comparativa, procurando estabelecer as relações relevantes entre as variáveis
identificadas. Considerando este volume de entradas, percorremos notação
por notação e fomos de forma minuciosa e gradual através de um processo de
selecção eliminando as notações que não correspondiam ao objectivo
pretendido e privilegiando aquelas que se integravam no nosso propósito. A
título de exemplo apresentamos as seguintes notações:

341.233.1 Tutelle internationale


341.234 Droits des minorités
341.236 Responsabilité des Etats du chef des actes de leurs
fonctionnaires ou nationaux

A notação que se encontra a verde foi a eleita, na medida em que se


enquadrava na nossa matéria de estudo; as outras foram preteridas. Este
percurso foi usado para todas as classes consideradas. Foi um processo que
descrevemos como exaustivo e pormenorizado, na medida em que cada
tabela de auxiliares e subclasses que correspondiam às variáveis consideradas
foram depuradas, notação por notação, para que a recolha de dados fosse a
mais exaustiva e completa possível. Quando se encontravam assuntos
relacionados com o conceito Etnia, eram extraídos das respectivas tabelas e
registados de imediato nas grelhas que foram construídas a priori para o
efeito. Este procedimento foi efectuado uniformemente para todas as edições.
314

Estas notações foram registadas numa tabela individual. Deste modo, foi
criada uma tabela para cada variável e para cada edição. Estas tabelas tinham
como objectivo o registo da recolha de dados. Cumpre referir que estas
tabelas de recolha de dados se encontram localizadas nos pontos do trabalho
adequados, embora dispersas ao longo do capítulo IX - Estudo estatístico da
representação e evolução do conceito Etnia na Classificação Decimal
Universal.
De seguida aos procedimentos previamente descritos, ainda na recolha
dos dados, procedeu-se do seguinte modo:
Para auxiliar na comparação dos dados, a partir da segunda edição
usámos a seguinte metodologia no registo dos dados: registámos em letra
corrente todos os assuntos que tinham continuidade nas edições seguintes, a
negro e assinalámos a verde os assuntos que apareciam pela primeira vez.
Foram, ainda, assinalados entre parêntesis rectos e a amarelo-torrado os
assuntos que eram eliminados231 de edição para edição. Foi desta forma que
foram sendo, paulatina e sistematicamente recolhidos todos os dados
julgados relevantes para procedermos à análise.
Após esta recolha, foram contabilizadas também de forma exaustiva
todas as entradas relativas aos Auxiliares e subclasses, nas quais se
encontrava abordada a matéria considerada. Depois de se efectuar o registo
numérico, numa segunda fase, foram também contabilizadas apenas as
entradas relativas ao conceito Etnia, que perfazem aproximadamente quatro
mil e seiscentas entradas num total de aproximadamente trinta e quatro mil.
Este procedimento permitiu apurar o diferencial entre o total de entradas
registadas nas tabelas auxiliares e subclasses respectivas e o número de
entradas relacionado com o conceito Etnia, que ronda aproximadamente vinte
e nove mil e quatrocentas.

Total de entradas Entradas Diferencial de


relacionadas com entradas
Etnias

34000 4600 29400

231
A edição na qual se observa um maior número de entradas eliminadas é na de 1967-1973.
Esta situação deve-se ao facto de esta edição ser a primeira edição média desenvolvida. As
edições que tinham sido publicadas anteriormente (1905, 1927-1933, 1934-1953) são
desenvolvidas.
Objectivos e desenho da investigação 315

Depois desta contabilização e, com o objectivo de nos proporcionar


informação quantitativa e individualizada, organizada de forma sistemática e
susceptível de ser mais facilmente analisada, elaborou-se um conjunto de
gráficos, cujos procedimentos de elaboração iremos descrever no ponto
relativo à análise.

d) Delimitação do objecto – unidades de análise

No que respeita à delimitação do objecto, temos a referir o seguinte:


Dado que a Classificação Bibliográfica Universal é publicada em diversos
países do mundo, optámos por utilizar, nas nossas análises, as edições que
foram publicadas no contexto europeu. Esta opção prende-se com o facto de
termos verificado, inicialmente, que a primeira e segunda edições foram
publicadas na Europa e, por uma questão de uniformidade, seguimos essa
linha. Outro argumento que pesou na nossa decisão foi o facto de a
Classificação Decimal Universal ter sido construída por dois europeus, Paul
Otlet e Henri La Fontaine. Estes autores criaram este sistema de classificação
com o objectivo de resolver uma necessidade que se diz internacional, mas
que, na prática, se identificava com a realidade europeia – a organização de
um repertório bibliográfico internacional.
Relativamente ao espaço temporal, as classificações consideradas
circunscrevem-se ao século XX. O primeiro argumento prende-se com razões
de natureza lógica. A primeira classificação data de 1905 e a última que foi
editada pelo Consortium até à data do início deste trabalho foi publicada em
1990-1993, com actualizações em 1998.
Acresce ainda o facto de termos circunscrito o objecto do estudo de caso
ao século XX. Isto porque, à semelhança da Classificação Decimal Universal, o
conceito Etnia é uma noção que consideramos moderna/contemporânea, que
nasceu e se desenvolveu ao longo deste século. É nesta medida que
observamos o nascimento e morte de paradigmas, assim como assistimos à
emergência e decadência das teorias relativas ao mesmo conceito. A
propósito desta ideia, importa referir que o conceito etnicidade surge e
316

desenvolve-se apenas a partir da década de 60 do século XX, como


poderemos observar no ponto relativo à descrição do objecto de estudo.
Por todas estas razões que, como verificamos, resultam mais de uma
imposição e condição natural das próprias unidades de análise e objecto do
nosso estudo de caso do que de uma escolha, tivemos de nos circunscrever
ao século XX.
Outro requisito que tivemos em conta na delimitação das unidades de
informação foi a entidade que publicou as classificações que usamos. De
acordo com este requisito, apenas utilizamos classificações que foram
publicadas pelo próprio organismo responsável pela edição da Classificação
Decimal Universal ou sob o seu auspício. Este critério prende-se com o facto
de este organismo ser o único com autoridade para editar ou autorizar a
publicação deste sistema, seja uma edição abreviada, uma edição média ou
uma edição desenvolvida. Por esta circunstância, entendemos ser esta a
melhor opção.
Podemos verificar que a edição de 1905 e a de 1927-1933 foram
publicadas pelo Institut International de Bibliographie, a edição de 1967-1973
pela Fédération Internationale de Documentation (FID) e a edição de 1990-
1993(1998) foi publicada pelo UDC Consortium. A edição alemã de 1934-1953
foi publicada pela Deutschen Normenausschuss. Como pode observar-se,
todas as edições seleccionadas foram editadas sob a responsabilidade de
Organismos normativos, facto que lhes confere credibilidade.
Objectivos e desenho da investigação 317

Classificaç ões Editora País Ano

Manuel abrégé du répertoire Institut International


Bruxelles 1905
bibliographique universel de Bibliographie

Classification Déc imale Universelle :


tables de classific ation pour les Institut International
Bruxelles 1927-1933
bibliographies, bibliothèques et de Bibliographie
arc hives

Dezimal-Klassifikation Deutsc hen


Berlin 1934-1953
(Gesamtausgabe) Normenaussc huss

Fédération
Classification Déc imale Universelle Internationale de Bruxelles 1967-1973
Doc umentation (FID)

Classification Déc imale Universelle UDC Consortium Liège 1990-1993

Tabela 15. Classificações consideradas neste estudo

Segunda fase: análise dos dados recolhidos

Após a descrição da primeira fase relativa à recolha de dados, antes de


passarmos à descrição metodológica da segunda fase, importa referir que o
corpo de dados obtidos na primeira fase em termos de relevância e
pertinência se revelou adequado para responder às perguntas da investigação
em curso.
Neste sentido, podemos afirmar que as entradas (notações e respectivas
explicações) registadas nas grelhas reflectem, de forma cabal, os resultados
das recolhas. Como verificamos na alínea relativa aos critérios usados na
selecção das unidades de análise, cada variável, na grelha correspondente, foi
contabilizada com fins comparativos. Com o propósito de melhor visualizar,
representar e analisar o volume de dados observados e seleccionados, foram
construídos gráficos. Com a elaboração destes gráficos pretendemos
responder às seguintes questões:
318

1- Saber de que forma se encontra distribuído este conceito nas


respectivas classes e subclasses e observar a sua representação
percentual nas diferentes edições da Classificação Decimal
Universal (subclasses e número).

2- Elaborar um estudo comparativo da representação do conceito


Etnia nas classes das edições consideradas, em valores absolutos e
percentuais, por edição.

3- Apresentar um conjunto de considerações finais sobre a


representação e a evolução do conceito Etnia ao longo das edições
que foram consideradas.

Assim, para responder ao primeiro ponto, procedeu-se à elaboração de


um conjunto de gráficos circulares. A sua construção assentou no número de
subclasses e no número total de entradas que ocupa o conceito Etnia nas
edições consideradas. Estes gráficos projectam a percentagem das
respectivas variáveis relativamente ao total das respectivas subclasses e ao
número de entradas nas mesmas. A sua construção teve como objectivo
permitir uma melhor visualização do número de subclasses e de entradas
relativas às variáveis que foram consideradas.
Para a sua construção desenhou-se o seguinte plano:
Após o levantamento das matérias que consideramos relevantes para o
estudo da nossa temática, para uma análise mais objectiva e consistente,
passamos, de seguida, ao registo da frequência das respectivas ocorrências,
de forma a permitirem a elaboração de gráficos que nos facilitem a leitura
destas mesmas ocorrências.
Para dar cumprimento a este propósito, iremos proceder a duas
operações: a primeira consiste em estabelecer a percentagem relativa ao
número de subclasses que esta rubrica ocupa no conjunto das subclasses que
constituem as variáveis consideradas.
A segunda operação consiste, numa primeira etapa, no levantamento
numérico de todas as entradas que constituem cada uma das variáveis; numa
segunda etapa proceder-se-á ao levantamento de todas as entradas que se
Objectivos e desenho da investigação 319

ocupam do assunto que é objecto de estudo. Para este efeito, consideramos


como entradas, as subclasses, divisões e subdivisões.
Estes procedimentos permitem-nos, por um lado obter a proporção do
espaço que ocupam as subclasses relacionadas com conceito Etnia, no total
de cada classe, por outro, obter a proporção das entradas relativas a estas
matérias nas respectivas classes e subclasses.
Com o propósito de se obterem resultados quantificáveis e mais
facilmente comparáveis, estes procedimentos serão aplicados a todas as
edições da Classificação Decimal Universal que foram consideradas para este
trabalho. Dispensamos a contabilização do primeiro procedimento pelo facto
de o número de subclasses ser, geralmente, o mesmo ao longo de todas as
edições consideradas.
Para responder ao segundo ponto foi elaborado um novo conjunto de
gráficos de barras. Dividimos este conjunto de gráficos em dois subconjuntos:
um deles representa o número absoluto de entradas sobre o conceito Etnia
relativamente a cada variável ao longo de cada edição, o outro representa a
mesma realidade em termos percentuais. Com estes dois tipos de gráficos
pretendeu fazer-se um estudo comparativo do comportamento das variáveis
que foram consideradas ao longo das diferentes edições.
Para responder ao terceiro ponto foram elaborados dois gráficos: um
gráfico cumulativo relativo a todas as entradas que constituem as classes
consideradas neste estudo (trinta e quatro mil) e o número total de entradas
relativas ao conceito objecto de estudo que foram extraídas dessas classes
(quatro mil e seiscentas). Estes números permitiram-nos determinar em
termos percentuais a representatividade do conceito Etnia no total das
entradas.
No segundo gráfico deste conjunto de dois, encontram-se projectados os
valores percentuais de todas as variáveis relativas ao conceito considerado no
que respeita a cada edição. Ele tem como fim permitir uma leitura diacrónica,
em termos percentuais, da evolução deste conceito ao longo das edições.
No final de cada gráfico procedeu-se à respectiva leitura.
A leitura efectuada foi uma leitura comparativa, na qual foram sendo
destacados os níveis de preponderância e os níveis menos expressivos de
cada uma das variáveis que foram consideradas e registados os pontos de
320

estabilidade, recessão e evolução das mesmas, ao longo das edições


analisadas.
Utilizamos esta metodologia para todos os gráficos.
Após a apresentação pormenorizada dos critérios para a selecção das
unidades de análise e os procedimentos que foram usados, passamos, de
seguida, a descrever as variáveis.
De uma forma geral, na segunda fase da investigação pretendemos
analisar ao mesmo tempo e de forma comparada, as cinco classificações
seleccionadas, no que respeita às variáveis consideradas: Língua, Religião,
Ciências Sociais, Antropologia e Literatura.
O método geral que sustenta esta segunda fase é o método analítico.
Este método é um complemento ao estudo descritivo, na medida em
que vai analisar os dados que resultaram da aplicação do método descritivo.
Como o próprio nome indica, tem como objectivo a análise do produto
resultante dos procedimentos que foram empregues na recolha dos dados.
Nesta investigação, a aplicação deste método, no essencial, manifesta-
se na comparação dos dados resultantes da primeira fase com um conjunto
de variáveis que se seleccionaram para o efeito. Estas variáveis resultaram de
um modelo teórico-metodológico que foi criado com base nos paradigmas e
teorias da etnicidade. Assim, podemos dizer que a técnica usada nesta
segunda fase é a análise comparativa.
Portanto, a análise comparada e fundamentada desta informação irá
permitir-nos demonstrar o objectivo central deste trabalho de investigação –
observar até que ponto as classificações bibliográficas do contexto europeu do
século XX conseguem representar e organizar os novos conhecimentos
emergentes neste mesmo século; ao mesmo tempo, importa averiguar se as
podemos considerar estruturas da organização do conhecimento imparciais e
dinâmicas. Isto é: por um lado, pretende saber-se se representam o
conhecimento de uma forma objectiva, sem se deixarem influenciar pelas
correntes dominantes políticas, sociais e culturais e, por outro, se
representam a evolução das correntes sócio-culturais, assim como os quadros
mentais que se manifestaram neste século.
No que respeita à análise do corpo de dados, ela foi efectuada com base
em duas perspectivas:
Objectivos e desenho da investigação 321

a) análise terminológica;
b) análise conceptual.

Apesar da análise terminológica e da análise conceptual se completarem


e, num plano teórico quase se sobreporem e, por isso, serem passíveis de se
analisarem em conjunto, decidimos analisá-las separadamente, pelo facto de
serem elementos de naturezas diferentes. Além disso, o volume e a
diversidade dos dados que foram obtidos na fase da recolha permitem-nos e
simultaneamente condicionam-nos a proceder a estes dois níveis de análise.
A distinção entre estes dois níveis justifica-se ainda, pelo facto de
pretendermos contemplar as propostas analíticas dadas pela revisão da
literatura e, especialmente, pelas demarcações teórico-metodológicas
(paradigmas e teorias da etnicidade) daí decorrentes.

Análise terminológica

A análise da terminologia prende-se, como é evidente, com os termos


que foram empregues para a designação dos assuntos que se encontram
registados nas grelhas de acordo com as variáveis consideradas. Estes termos
são as explicações que nos aparecem associadas às notações. Como
poderemos inferir, estas designações acabam por se identificar com um
determinado modelo mental e cultural. Na análise de todas as variáveis
utilizamos o mesmo modelo de análise que foi referenciado previamente.
O modelo teórico-metodológico que dá sustentação à análise dos dados
recolhidos na fase prévia é constituído pelos paradigmas antropológico e
sociológico e as respectivas teorias. No último encontram-se integradas as
teorias da assimilação étnica, do pluralismo étnico e do conflito étnico, que
consideramos as mais relevantes para o nosso estudo.
Para a construção deste modelo recorreu-se à literatura específica sobre
o tema-problema – Etnia. Com o recurso ao dito modelo pretendemos
“regular” a análise dos dados e verificar a sua pertinência ou não, para o caso
em questão.
322

Neste sentido, para a análise terminológica recorremos aos elementos


de análise que se encontram registados nas grelhas de resultados.
Como já referimos, estes elementos que, em última análise, compõem
as variáveis, foram sujeitos a uma comparação meticulosa e exaustiva com o
modelo baseado nos paradigmas e teorias previamente criado.
Esta comparação permitiu-nos identificar e associar, como era nosso
objectivo, determinados termos simples ou compostos aos paradigmas e às
teorias consideradas. Foi através desta comparação que conseguimos
observar se existia uma linha de continuidade, de ruptura e/ou de inovação
entre os paradigmas e teorias considerados e as classificações. Esta
observação permitiu-nos ainda identificar as linhas de convergência ou
divergência entre as edições consideradas e o modelo conceptual. Saber, por
exemplo, se as edições de 1905 e 1927-1933 convergem no sentido em que
representam termos que se encontram relacionados com o paradigma
antropológico, que era aquele que vigorava neste período; saber se as edições
de 1967-1973 e 1990-1993(1998) se encontram de acordo, no geral, com o
paradigma sociológico ou se, pelo contrário, divergem e se aproximam do
paradigma antropológico. O mesmo raciocínio é válido para as demais teorias
que foram consideradas.
O procedimento levado a cabo para o cumprimento deste propósito
traduziu-se no levantamento de todas as variáveis e na sua consequente
análise terminológica. Deste modo, partimos das grelhas de análise, num total
de trinta e seis, e fomos comparando todos os termos (mil duzentas e vinte
cinco entradas) que as constituíam com os termos que definem e
caracterizam os paradimas e teorias abordados no nosso estudo sobre o
conceito Etnia.
Em muitos casos, para validar alguns termos, fomos observando as suas
frequências de ocorrência.

Análise conceptual

Neste nível de análise irão privilegiar-se os conteúdos. Tal como


aconteceu com a análise terminológica, a análise de conteúdo baseou-se
Objectivos e desenho da investigação 323

essencialmente nas grelhas de resultados. Com o propósito de obtermos uma


análise mais consistente, os resultados destas grelhas foram completados
com os elementos percentuais que resultaram da elaboração dos gráficos,
sobretudo daqueles que se referem à frequência de cada uma das variáveis e
ao seu percurso individual, ao longo das respectivas edições.
Ao contrário do que foi observado no item anterior, este tipo de análise
incide sobre os conceitos. À semelhança do que observamos anteriormente,
com este passo metodológico pretendemos verificar também os pontos de
continuidade e de ruptura no que respeita aos paradigmas e às teorias
consideradas. Esta análise será feita a nível conceptual entre as edições
seleccionadas, indicando, sempre que possível, as suas frequências de
ocorrência.
Pretendemos ainda observar até que ponto as edições da Classificação
Decimal Universal reflectem os paradigmas e as teorias a nível conceptual, e
verificar se a Classificação Decimal Universal consegue acompanhar as
alterações que ocorreram, sobretudo as sociais e as mentais, integrando
conceitos novos e eliminando outros. Como já referimos, para responder a
esta questão, optámos metodologicamente por estabelecer duas cores quando
registamos os assuntos nas respectivas grelhas.
Este procedimento metodológico concorreu para que distinguíssemos, de
uma forma imediata, os novos conceitos que eram inseridos e aqueles que
iam sendo eliminados ao longo das edições.
No que respeita à sua análise específica, utilizámos o mesmo
procedimento que descrevemos para a análise dos termos, neste ponto, no
que concerne ao aspecto conceptual.
Fizemos um levantamento de todas as variáveis e das respectivas
grelhas, as mesmas consideradas na análise anterior, verificamos em todas as
entradas os conceitos que se encontravam representados e, se estes se
enquadravam nos paradigmas e teorias consideradas.
Para completar esta análise, com o propósito de chegarmos a
conclusões o mais objectivas possível, procedemos também, tal como
tínhamos feito na análise dos termos, à observação das frequências de
ocorrência para determinados conceitos nas respectivas tabelas.
324

Assim, fomos observando e analisando as entradas que se foram


mantendo ao longo das edições consideradas, as novas entradas, as entradas
que foram eliminadas e as que, em alguns casos, voltaram a ser
reintroduzidas.

Entradas
Tipos de análise Fases da análise
manipuladas
- Observação e análise das entradas que se mantiveram
ao longo das ediç ões c onsideradas
- Observação e análise das entradas que foram
introduzidas pela primeira vez 2 32
Terminológica - Observação e análise das entradas eliminadas 1225
- Observação e análise das reentradas
- Aferiç ão da aplicação dos paradigmas e teorias da
etnicidade.
- Observação e análise das entradas que se mantiveram
ao longo das ediç ões c onsideradas
- Observação e análise das entradas introduzidas pela
primeira vez
Conc eptual - Observação e análise das entradas eliminadas 1225

- Observação e análise das reentradas


- Aferiç ão da aplicação dos paradigmas e teorias da
etnicidade.
Tabela 16. Tipos de análise e respectivas fases
232

Este minucioso procedimento deu-nos condições para aferir se um dado


conceito se encontrava ou não integrado num determinado paradigma ou
numa das teorias da etnicidade que descrevemos.
Sempre que se justificou recorremos a dados estatísticos para completar
e esclarecer determinadas ideias.
Foi apenas com base neste exaustivo trabalho, que foi possível fazer
uma análise consistente, não se observando qualquer desvio que
comprometesse a sua interpretação em termos de ambiguidade. Tal situação
concorreu para uma análise objectiva e a obtenção de conclusões sólidas.

232
Este número de entradas corresponde àquele que foi efectivamente analisado, quer no que
respeita à forma, quer ao conteúdo. Ele foi extraído das quatro mil e seiscentas entradas relativas
às entradas sobre Etnias que se encontram registadas nas edições consideradas. O diferencial
entre este número e o total (quatro mil e seiscentas) corresponde ao desenvolvimento dos
Auxiliares de língua, Língua, Literatura e Religião, que não foram considerados na sua
especificidade, pelo facto de que não iriam acescentar nada de significativo à análise nem às
conclusões.
Objectivos e desenho da investigação 325

Este procedimento rigoroso e minucioso conferiu ao nosso estudo a


fiabilidade e a consistência que julgamos desejável num trabalho desta
natureza.
Concluiremos esta abordagem metodológica referindo algumas
fragilidades com as quais deparamos na elaboração deste trabalho,
concretamente nesta II Parte.
A primeira fragilidade metodológica prende-se com o facto de termos
utilizado dois tipos diferentes de edições relativas à Classificação Decimal
Universal. As edições Manuel abrégé du répertoire bibliographique universel
(1905), Classification Décimale Universelle: tables de classification pour les
bibliographies, bibliothèques et archives… (1927-1933) e Dezimal-
Klassifikation: Gesamtausgabe (1934-1953), que são edições desenvolvidas;
as edições Classification Décimale Universelle (1967-1973) e Classification
Décimale Universelle (1990-1993) (actualizada em 1998), que são médias
desenvolvidas.
Esta situação deveu-se ao facto de nos ter sido impossível aceder a
edições desenvolvidas a partir da década de 60 do século XX, período
cronológico que nos interessava considerar para o nosso estudo.
Apesar da opção tomada não ter influenciado os resultados, entendemos
que este trabalho enferma, neste ponto particular, de uma certa falta de
uniformidade e de consistência que são desejáveis num trabalho desta
natureza.
Outra fragilidade prende-se com a própria estrutura de algumas das
edições que foram consideradas. O facto de algumas subclasses não
apresentarem os elementos que as constituem de forma precisa e explícita
concorreu, como podemos verificar na II Parte do trabalho, para não
podermos apresentar os dados estatísticos da forma objectiva como
pretendíamos e, por esse facto, em alguns casos escusarmo-nos a apresentar
os respectivos gráficos.
326
Etnia 327

Capítulo VIII
Etnia
328
Etnia 329

1 Etnia e Grupos étnicos [Definição, caracterização e


considerações gerais]

1.1 Etnia [Definição, caracterização e considerações gerais]

Segundo o Dicionário de língua portuguesa contemporânea233, o termo


Etnia deriva do étimo grego ethnos, que significa povo. O mesmo dicionário
apresenta esta definição também no âmbito sociológico como: grupo humano
de dimensão variável com unidade linguística e cultural.
Os gregos usavam este termo quando se queriam referir aos povos
bárbaros ou aos povos gregos não organizados segundo o modelo da cidade-
estado. Neste sentido, este termo também assumia a conotação de
estrangeiro.
O significado desta palavra, apesar de ter sido conotado com outros
como, por exemplo, gentio ou pagão, na Idade Moderna, em oposição aos
cristãos, nunca se afastou semanticamente do seu significado original,
preservando este sentido ao longo dos séculos XIX e XX.
No Dicionário breve de sociologia,234 entende-se por Etnia:

População constituída por indivíduos com a mesma origem e com a


mesma cultura, fundamentada na mesma língua, história e
território.
Devido aos acontecimentos históricos que alteraram fronteiras e
povos, torna-se difícil conseguir localizar correctamente uma etnia.
Apesar disso, o sentimento de pertença dos seus membros
continua a ser o elemento fundamental para descrever a situação
de etnia.

Geralmente, o conceito Etnia e, mais concretamente, o de Minoria


étnica, são conceitos que o senso comum associa ao de exclusão social. Neste

233
ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA – Dicionário da língua portuguesa contemporânea.
2001. P. 1613.
234
PITÉ, Jorge – Dicionário breve de sociologia. 1997. P. 55.
330

sentido, algumas vezes são relacionados com as franjas da população que


muitas vezes por intolerância são marginalizadas pelos outros elementos que
a compõem. Falar de etnias, em muitos casos, é sinónimo de ostracismo
social.
De uma forma geral, associa-se este conceito a um segmento da
sociedade que se distingue dos demais elementos da mesma, que constituem
relativamente a estes uma maioria, pela língua ou dialecto, raça/etnia e
religião.

1.2 Grupos étnicos [Definição, caracterização e considerações


gerais]

Após uma revisão bibliográfica sobre a definição deste conceito feita em


vários dicionários encontramos, grosso modo, duas acepções: uma, que
descreve o Grupo étnico como uma unidade orgânica caracterizada pela
homogeneidade sustentada na noção de nacionalismo, raça e cujos membros
partilham uma cultura própria; outra de âmbito mais restrito, identifica o
Grupo étnico como uma minoria social que partilha uma ideologia, costumes e
instituições comuns. Nesta última acepção entende-se um Grupo étnico como
uma célula social dentro de uma sociedade mais ampla.
Segundo Narrol.235 e partindo de uma abordagem antropológica,
entende-se por Grupo étnico uma população que:

- perpetua-se biologicamente de modo amplo,


- compartilha valores culturais fundamentais, realizados em patente
unidade nas formas culturais,
- constitui um campo de comunicação e de intercação,
- possui um grupo de membros que se identifica e é identificado por
outros como se constituísse uma categoria diferenciável de outras
categorias do mesmo tipo.

235
Apud: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne – Teorias da etnicidade. 1998. P. 189-
190.
Etnia 331

Partindo desta abordagem antropológico-etnográfica, podemos


identificar quatro características que, grosso modo, identificam um Grupo
étnico: diferença racial, diferença cultural, barreiras linguísticas e, por vezes,
alguma hostilidade em relação a outras sociedades. Apesar de serem, na
maioria dos casos, numericamente minoritários relativamente ao todo social,
apresentam determinadas crenças e costumes, que permitem identificá-los
em relação à comunidade à qual pertencem.
Esta concepção tradicional de Grupo étnico, que assenta essencialmente
na diferença cultural, concorre para que estes grupos sejam encarados como
mundos separados, alicerçados nas características morfológicas das culturas
que os suportam.
No âmbito de uma abordagem sociológica e, de acordo com o Dicionário
de Sociologia236, identificam-se os grupos étnicos com os movimentos sociais
das populações urbanas, que se começaram a observar a partir da década de
60 do século XX. Os indivíduos que integravam estes grupos viviam em
bairros degradados. Os membros destes grupos identificavam-se por
comungarem de um mesmo projecto comum que, na maioria dos casos, se
manifesta na defesa de uma língua, costumes e origens comuns.
Neste sentido, um Grupo étnico assume-se por evidenciar um conjunto
de singularidades, tais como: uma particularidade linguística, um conjunto de
práticas regulares e comuns no que respeita à cultura e à herança de um
património histórico comum. Todavia, é a valorização do significado destes
“símbolos” que imprime coerência e continuidade a estes grupos. É também o
significado destes símbolos que os particulariza, através de um “processo
dicotómico” em relação a outros grupos.
Estes grupos, alicerçados numa consciência de identidade comum,
legada por uma herança também comum, constituem-se, em última análise,
como modelos de referência a seguir por parte dos membros do próprio
grupo. Nos casos em que estes se encontram “integrados” num espaço social
que detém o poder, portanto dominante, são hostilizados, pelo facto de não
serem considerados membros da sociedade local. É neste contexto que surge

236
MAIA, Rui Leandro, ed. – Dicionário de sociologia. 2002. P. 183.
332

o conceito de Minoria étnica, ou Grupo minoritário que, na maioria dos casos,


é discriminado.
Em geral, na base desta discriminação não se encontra apenas um
preconceito social “efémero e mutável”, mas razões de natureza histórica e
estrutural.
Há casos em que os grupos étnicos se podem identificar com um
território, com uma estrutura social organizada e coesa, construída sobre os
seus princípios enquanto possuidores e defensores de uma identidade
particular.
Em outros casos, porém, apresentam uma estrutura amorfa e dispersa,
na qual não existem referências homogéneas, a não ser aquelas que
constituem as bases para o identificar como grupo étnico individualizado, isto
é, um conjunto de referências que servem de fronteira relativamente a outros
grupos étnicos.
Ao longo da história e, na maioria dos casos, por razões de vária
natureza, estes grupos foram identificados como uma ameaça para o espaço
social no qual se encontravam “integrados”, isto é, para a maioria dominante.
Nos casos em que constituem sociedades externas, são considerados
como uma ameaça para outras sociedades.
Devido a esta situação, ao longo da história os grupos étnicos, que
constituem minorias, frequentemente foram discriminados nos direitos mais
elementares que assistem a um ser humano.
Foi apenas a partir da segunda metade do século XX, nas sociedades
democratas, que estes grupos começaram a usufruir dos mesmos direitos
daqueles que constituíam, numericamente, a maioria da sociedade. O
corolário desta situação, em muitas sociedades, manifesta-se na protecção
social, cultural e políticas de que são objecto.
Neste sentido, muitos grupos étnicos usufruem de um estatuto que lhes
permite conservar e preservar a sua cultura, religião e língua, sem serem
discriminados.
Este reconhecimento manifesta-se em diversos diplomas legislativos, de
natureza variada, mas que apresentam, em comum, o mesmo objectivo: lutar
contra a discriminação e a exclusão social das etnias.
Etnia 333

Entre outros diplomas legislativos, pela sua relevância internacional,


salientamos: Declaração universal dos direitos humanos (Art. 1, 2, 7 e 23);
Convenção dos direitos civis e políticos; Convenção internacional sobre
Direitos económicos, sociais e culturais (Art. 2, 14, 24, 26 e 27); Convenção
para a prevenção e castigo de crime de genocídio (Art. 1 e 2); Convenção
para a eliminação de toda a forma de discriminação racial (Art. 2, 5 e 6);
Convenção dos direitos das crianças (Art. 2, 17, 28, 29 e 30); Convenção
contra a discriminação da educação (Art. 3 e 5); e a Convenção da
Organização Internacional do Trabalho OIT sobre povos indígenas e tribais
(Art., 2, 3, 6 e 7).
Todavia, actualmente, em muitas das sociedades ditas democráticas,
apesar de se empreenderem esforços para tal, ainda não se cumpre o Artigo
1, da Declaração universal dos direitos humanos:

Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos.


São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns
aos outros com espírito de fraternidade237.

1.3 Teorias e paradigmas relativos à etnicidade

Antes de iniciarmos o estudo particularizado de cada uma das teorias,


importa referir que este tema foi marcado, de uma forma geral, por dois
grandes modelos: o primeiro é o que assenta essencialmente na antropologia
cultural, e se situa cronologicamente nos finais do século XIX e primeira
metade do século XX. O segundo é o modelo sociológico assente
essencialmente em estudos sociológicos, que emerge a partir da segunda
metade do referido século.
O modelo antropológico, que se sustenta essencialmente nos estudos
efectuados no âmbito da antropologia cultural, que foram levados a cabo em
África e na América do Sul, caracteriza-se por descrever as sociedades ditas

237
ONU. Assembleia Geral – Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em
www:<URL: http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm#01. [Consult. 30 Mai.
2008].
334

“primitivas”, numa acepção que é, na maioria dos casos, decorrente de


sistemas coloniais arcaicos e estáticos. Muitas destas sociedades “primitivas”
não eram mais do que o resultado da aplicação de taxonomias construídas a
priori, e aplicadas às novas culturas que se encontravam nas explorações,
conforme se ia tendo contacto com estes continentes. Nesta perspectiva e, no
nosso entender, as taxonomias tornaram-se um instrumento ao serviço da
ordem colonial, que serviam para classificar os grupos étnicos de uma forma
objectiva, tendo em conta apenas as suas diferenças culturais, sendo este
dado considerado o elemento de fronteira em relação aos outros grupos
étnicos e ao próprio povo colonizador. Este sistema de classificação, racional e
erudito, aplicado de uma forma arbitrária tanto pelos etnólogos como pelos
administradores coloniais, concorreu inevitavelmente para a criação de grupos
étnicos fictícios. Neste sentido, muitas “tribos” foram “inventadas” e
“reinventadas”.
Este modelo, em especial, durante a segunda metade do século XX,
sofreu consideráveis alterações. Tal situação deve-se ao facto de, por esta
altura, os assuntos relacionados com os grupos étnicos e todas as questões
associadas às etnias, terem sido perspectivados à luz de uma abordagem
sociológica. Esta perspectiva, como irá verificar-se ao longo da exposição das
teorias da etnicidade, irá privilegiar a interacção social. Nesta abordagem o
estático dá lugar ao dinâmico.
Os trabalhos efectuados pelos sociólogos e pelos antropólogos,238 que
baseavam os seus estudos em trabalhos de campo, convergiram para o
mesmo denominador comum: os grupos étnicos não podiam ser considerados
em si próprios, isolados, tendo em conta apenas as suas especificidades
culturais, mas, pelo contrário, deveriam ser considerados como uma entidade
que se destaca pela diferenciação cultural entre grupos que interagem num
espaço de relações interétnicas. Neste sentido, a teoria anterior, que sustenta
a definição de grupo étnico como um conjunto de pessoas que apresenta
traços culturais diferentes, é considerada redutora e ultrapassada. Esta nova
corrente pretende, acima de tudo, averiguar quais, e sob que condições, um
grupo chega a existir como uma identidade étnica consciente de si própria.

238
Cumpre referir que estes sociólogos, na sua grande maioria, fizeram estudos sobre os
imigrantes na sociedade americana, e os antropólogos fizeram incidir os seus estudos de campo
essencialmente nas “sociedades exóticas” de África.
Etnia 335

Pretendia-se, em última análise, entender os processos da sua construção e


as formas como interagem. Neste sentido, a objectividade característica da
corrente etnológica foi substituída pela subjectividade da corrente defendida,
na sua maioria, por sociólogos e por parte de alguns antropólogos culturais.
Na Europa do século XX, a utilização do termo “étnico”, pelo senso
comum, está estritamente relacionada com a noção de Raça.
Na primeira metade deste século a noção “étnico” encontra-se associada
ao conceito - Colonialismo, na segunda metade do referido século encontra-se
relacionada com o conceito - Imigração.
Nas duas concepções o étnico é aquele que é diferente do “outro”. Esta
perspectiva tinha mais ênfase e relevo no espaço social europeu.
De uma forma geral podemos dizer que a primeira acepção está
relacionada com uma concepção antropológica, em que a diferença cultural
assume um papel preponderante na classificação dos ditos grupos étnicos.
Nesta acepção salienta-se a ideia de Raça e Tribo, sendo esta última
noção considerada como uma especificidade da sociedade não-ocidental.
Caracteriza-se ainda por ser uma noção isolada de forma absoluta e
discreta.
O estatuto destes grupos é considerado sob uma abordagem estática e
objectiva, sendo classificados, como já referimos, segundo tabelas
taxonómicas antropológicas.
A partir da segunda metade do século XX, mais concretamente após a
reprovação das teorias racistas (1945), que estiveram na base do Nacional -
socialismo, teorias que tinham sido desenvolvidas essencialmente entre a
Primeira e Segunda Guerras e, de acordo com as normas jurídicas e
socialmente aceites, o termo Raça é progressivamente substituído pelo termo
Etnia. Se, no que respeita à forma, existe de facto uma ruptura, no que
respeita ao conteúdo semântico deste termo, ele mantém-se, na medida em
que os imigrantes extra-europeus continuam a ser identificados como o
“outro”, o estranho em relação ao europeu. É neste contexto que a tribo dá
lugar ao grupo étnico. O seu estudo, baseado nesta nova concepção, alicerça-
se, a partir deste momento, nas propriedades de um processo social, em
detrimento das características de grupo que os individualizam como grupo
336

coeso e homogéneo. Nesta perspectiva concordamos com Eriksen,239 quando


refere que: […] os aspectos dinâmicos e racionais substituíram os aspectos
estáticos e o processo tornou-se mais importante que a estrutura.
A tomada de consciência desta nova atitude, em última análise,
concorre para que o estudo destes grupos seja considerado sob a forma como
a diversidade étnica é socialmente articulada e preservada, e não como os
seus aspectos culturais são distribuídos.
Neste sentido, podemos dizer que existe uma valorização da abordagem
sociológica em relação à abordagem etnológica.
Todavia, e apesar desta evolução, é vulgar no senso comum adoptar-se
o termo etnia ou tribo para designar as “sociedades primitivas”.
Com o propósito de procedermos a uma análise pautada pela maior
acuidade possível, no que respeita à representação e evolução deste conceito
nas edições das classificações consideradas, passamos, de seguida, a expor e
a analisar, com a maior brevidade possível, as teorias e paradigmas
relativamente ao conceito de Etnia e à sua evolução ao longo do século XX.
Durante o século XX, entre outras, podemos identificar, essencialmente,
quatro teorias: a teoria da assimilação, a teoria do pluralismo, a teoria do
conflito étnico e a teoria da mobilização étnica.
Segundo Joseph Hraba,240 estas teorias podem ser reduzidas a dois
grandes paradigmas: o primeiro paradigma assenta no conceito de
modernidade e enfatiza a liberdade individual, correspondendo ao modelo do
liberalismo clássico (primeira metade do século XX). O segundo paradigma,
também assente no conceito de modernidade, enfatiza o crescimento
organizacional e o efeito deste no crescimento da etnicidade, na sociedade
moderna. Este segundo paradigma situa-se na segunda metade do século XX.
Assim, segundo o mesmo autor, a teoria da assimilação e a teoria do
pluralismo identificam-se com o primeiro - o individualismo liberal. Por outro
lado, a teoria do conflito étnico que, segundo este autor, actua como
transição para a teoria da mobilização étnica, situa-se no segundo paradigma.

239
Apud: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne – Teorias da etnicidade. 1998. P. 64.
240
HRABA, Joseph; HOIBERG, Eric – Ideational origins of modern theories of ethnicity: individual
freedom vs. organizational growth. P. 381.
Etnia 337

1.3.1 Teoria da assimilação

Uma das teorias a considerar no âmbito da sociologia é a da unicidade


liberal, essencialmente caracterizada pela liberdade de escolha, pela ausência
de constrangimentos sociais e pela liberdade individual.
Na sociologia liberal os grupos raciais e étnicos são vistos como grupos
“folclóricos” e estáticos no processo social. Esta concepção estática, que já
tinha sido denunciada pelo sociólogo americano Everett Hughes, na década de
40 do século XX, relativamente aos grupos étnicos, ganhou um novo fôlego
na década de sessenta, com o antropólogo cultural Fredrik Barth, ao
considerá-los como uma identidade colectiva e dinâmica.
Esta nova concepção é construída e transformada na interacção dos
grupos sociais, através de processos de exclusão e inclusão que, em última
análise, fixam os limites do próprio grupo e determinam, ao mesmo tempo, os
elementos que o integram ou não.
Na perspectiva de Fredrik Barth, a etnicidade caracteriza-se por um
conjunto de acções e reacções de um grupo com outros grupos. A fronteira
entre os grupos étnicos não se estabelece a partir do critério das diferenças
culturais, mas da interacção social. Nesta perspectiva, podemos entender a
etnicidade como um processo evolutivo e, acima de tudo, como uma relação
social. Esta abordagem opõe-se à abordagem etnológica, que considera os
grupos étnicos um conjunto imutável e intemporal de aspectos culturais.
Nesta acepção, o Grupo étnico aparece estigmatizado, como um somatório de
indivíduos que possuem, como denominador comum, a pertença e comunhão
da mesma cultura. Nela, entre outros aspectos, relevamos a língua, rituais,
crenças, valores, etc. que se herdam dos ancestrais e se transmitem aos
descendentes, construindo-se, desta forma, uma história de grupo intemporal
e estática.
A teoria da assimilação, tal como a define a teoria das relações cíclicas
da Escola de Chicago, integra-se no paradigma do individualismo liberal, e é
considerada como uma das últimas etapas do processo de integração social.
De acordo com o postulado por esta Escola, a assimilação é precedida
pelo ciclo da competição, o ciclo do conflito e por último o da adaptação.
Segundo a mesma Escola, ela é entendida como uma fusão que permite a
338

integração dos diferentes grupos numa sociedade cultural comum. Em última


análise, a assimilação é, antes de mais, um processo que se resume à
dissolução dos grupos étnicos e à absorção dos seus elementos pela
sociedade na qual se encontram inseridos. Ainda, e segundo a mesma Escola,
esta apenas será completa quando: […] os imigrantes e os nativos
partilharem os mesmos sentimentos, as mesmas lembranças e as mesmas
tradições241.
Para muitos autores, como por exemplo Park e Burgess242, a assimilação
não pode ser confinada à aniquilação das culturas minoritárias, na maioria das
vezes identificada com os imigrantes, em benefício da cultura da comunidade
de acolhimento. Segundo estes autores, a integração destes grupos na
sociedade de acolhimento não passa pela destruição dos seus valores e do
seu modo de vida. A solução para tal questão encontra-se num compromisso
entre grupos mais alargados e inclusivos.
Estudos efectuados nesta área comprovaram que, na sociedade
americana, a integração caracterizada pela pluralidade de diversos tipos de
vida e valores, se tornou uma mais-valia para determinados grupos sociais,
ao permitir-lhes aceder a posições económicas e políticas de relevo dentro da
sociedade global. Um caso de sucesso deste tipo de “assimilação” foi o caso
dos judeus. O aproveitamento dos recursos económicos, políticos e
psicológicos da própria comunidade judaica concorreu para o sucesso deste
grupo na sociedade global norte-americana. Foi a partir destas observações
que, durante a década de 50 do século XX, se desenvolveram as teorias da
integração. Estas teorias entendem que a sociedade deve absorver um novo
elemento sem, contudo o destituir da sua estrutura-base. As teorias
funcionalistas, que se observaram ao longo dos anos 50 do século XX,
definem a integração dos imigrantes e dos grupos minoritários como um
processo, segundo o qual a sociedade consegue absorver estes novos
elementos sem, contudo, eliminar os seus eixos estruturantes.
Todavia, apesar desta posição dominar a década de 50, a assimilação
continua a ser entendida como um processo de aculturação em que os grupos
étnicos são absorvidos e se diluem na sociedade de acolhimento.

241
POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne – Teorias da etnicidade. 1998. P. 65.
242
Apud: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne – Teorias da etnicidade. 1998. P. 65.
Etnia 339

Nesse sentido, a aculturação do étnico pressupõe, à partida, dois


elementos que interagem: por um lado, os próprios grupos étnicos, que se
constituem como os proponentes a candidatos da assimilação; no lado
contrário a sociedade global, entendida nesta perspectiva como um todo
integrado.
Para concluir a descrição desta teoria cumpre referir que esta se alicerça
nos fundamentos das sociedades industriais, cujo objectivo se manifesta no
universalismo e na padronização dos comportamentos sociais. O meio de
atingir esta universalidade passaria pela escolarização e pela cultura de
massas.
A filosofia liberal da sociologia americana (décadas de 50 e 60) prevê
nesta teoria, plasmada essencialmente na assimilação dos emigrantes, um
processo inevitável e irreversível.

1.3.2 Teoria do pluralismo

A partir dos anos 60, a teoria da assimilação começa a ser colocada em


causa devido aos estudos efectuados com base em observações empíricas
que, na maioria, se manifestavam em casos de estudo.
Na sociedade americana, os resultados que se previam com a sua
aplicação estão longe daqueles que eram esperados. Num estudo elaborado
por dois sociólogos, Glazer e Moynihan, verificou-se que em Nova Iorque
continuavam a existir grupos étnicos muito bem definidos, ao ponto de ser
possível identificar cinco grupos: negros, porto-riquenhos, judeus, italianos e
irlandeses. Esta observação veio gerar algum desconforto e desconfiança, na
medida em que, teoricamente, e de acordo com a teoria da assimilação, esta
heterogeneidade já não deveria existir.
Um estudo elaborado no seio destes grupos veio concluir que eles
apresentavam uma nova identidade étnica, que nada ou pouco tinha a ver
com os antigos valores e comportamentos culturais que os imigrantes da
primeira geração tinham trazido dos seus povos e geografias de origem, e
que, por seu lado, os elementos da segunda geração tentavam a todo custo
esconder. Perante tal evidência, concluiu-se que esta nova etnicidade era o
340

produto da combinação do antigo sentimento de pertença a um Grupo étnico


particular com experiências vividas na sociedade de acolhimento.
Na prática, a sociedade apresentava-se como um tecido social,
composto por um conjunto de subsociedades que, relativamente à estrutura
se mantinham separadas, mas que dificilmente se conseguiam distinguir
através das diferenças culturais.
Testemunho de que a aculturação dos imigrantes e a padronização dos
estilos de vida urbana não vingaram, de acordo com a doutrina preconizada
pela teoria da assimilação, é o facto de muitos dos grupos étnicos instalados
nos Estados Unidos da América como, por exemplo, os italianos, continuarem
a atribuir uma grande importância aos valores étnicos, como alavanca da
mobilização colectiva.
Se era um facto irrefutável que as particularidades culturais dos
distintos grupos étnicos se tinham vindo a diluir paulatinamente, na medida
em que se constatava uma certa uniformização cultural, era também
irrefutável que as diferenças étnicas não tinham desaparecido e eram um
recurso de mobilização colectiva.
Esta situação, que tem como epicentro a tendência para o
desaparecimento das diferenças étnicas, ao mesmo tempo que,
paradoxalmente, se constituíam como fonte de mobilização colectiva, tal
como nos Estados Unidos da América, foi também observada na África
moderna e na Europa. Em África manifestou-se nos movimentos tribalistas;
na Europa manifestou-se nos movimentos regionalistas.
Em África, ao mesmo tempo que os antigos costumes tribais tendiam a
desaparecer, como consequência do desenvolvimento das cidades e da
inclusão dos seus elementos na vida urbana, e também como consequência
da influência dos mass-média nas comunidades tribais, a consciência da
identidade étnica, por um lado, tendia a diluir-se, mas, ao mesmo tempo,
assumia-se como um factor importante de mobilização colectiva.
O mesmo processo observou-se nos movimentos regionais na Europa.
Neste sentido, assistiu-se, como refere Horowitz243 ao paradoxo da
etnicidade. Por um lado, nomeadamente nos países mais evoluídos, observa-

243
Ibidem, p. 71.
Etnia 341

se a redução da diversidade cultural, por outro, as distinções étnicas tendem


cada vez mais a afirmar-se dentro de um outro contexto.
Neste contexto alternativo, e, ao contrário do que postulavam as teorias
assimilacionistas, não era a separação e o isolamento dos grupos étnicos que
relevava a identidade e consciência étnica, mas sim o compromisso que estes
assumiam face à sociedade global, e que se manifestava nas actividades que
exerciam na mesma. É a partir do momento em que as minorias étnicas se
inserem na sociedade global, que estas começam a tomar consciência das
suas particularidades culturais enquanto grupo. É então, a partir deste
momento, que se tornam um recurso da mobilização colectiva. Esta situação
seria impossível quando as minorias viviam em zonas periféricas e lhes era
negado o acesso a determinadas actividades.
As teorias de assimilação, tal como eram entendidas pelos defensores,
concorriam para que os estudiosos não conseguissem vislumbrar as
permanências étnicas.
Pelo exposto, podemos concluir que a teoria do pluralismo étnico
entende a sociedade como o conjunto de grupos que tende a preservar a sua
identidade cultural, na qual não existe lugar para o hóspede e para o
hospedeiro. Uma sociedade onde cada elemento tem um lugar próprio e
igualmente legítimo. Assim, na sociedade americana ser um afro-americano
passou a não ser sinónimo de ser meio americano, mas sim a ser um
elemento tão americano como qualquer outro elemento da sociedade. Nesta
circunstância, a pertença étnica de cada um deixa de ser um obstáculo à
ascensão social e até, em determinados casos, passa a constituir uma mais-
valia para essa ascensão. Em última análise, no caso americano, as
especificidades étnicas representam a própria natureza da identidade do povo
americano.
Se até à década de 70 ser-se étnico era um desprestígio, agora,
tomando como ponto de partida a teoria do pluralismo, ser-se étnico é
sinónimo de prestígio.
342

1.3.3 Teoria do conflito étnico

Ao longo dos anos 70 do século XX, assistiu-se, essencialmente nos


Estados Unidos da América, ao ressurgimento da importância dos grupos
étnicos, nomeadamente no que respeita ao seu papel na definição das
identidades sociais. Nessa década observou-se ainda a ênfase e valorização
do conteúdo que a pertença étnica representa para cada indivíduo.
Assim, e de acordo com esta nova orientação pluralista, o facto de se
pertencer a um Grupo étnico deixou de ser um obstáculo à aspirada igualdade
social, sendo a etnicidade considerada, nesta perspectiva, uma alavanca para
a mesma, manifestando-se na participação activa no que respeita à vida
política e económico-social. É neste sentido que o termo étnico deixa de ser
identificado com o imigrante, com aquele que é estrangeiro, e começa a ser
aplicado a todos os grupos que constituem a própria sociedade americana.
Deixa de ser um estigma e transforma-se num compromisso.
Contudo, esta paridade relativamente aos grupos étnicos que formam a
sociedade americana, não deixa de ser ingénua e aparente, na medida em
que se observa um fosso entre os grupos étnicos constituídos pelos negros e
os grupos étnicos constituídos pelos brancos.
Muitos autores, entre os quais Gleason244, vêm neste renascimento
étnico uma resposta de natureza ideológica e política dos grupos étnicos
brancos, para confrontar os grupos étnicos negros. Partindo desta rivalidade
racial, a etnicidade passa a ser valorizada de forma positiva na sociedade
americana, constituindo-se os grupos de origem europeia os mais
considerados.
A etnicidade constitui-se, assim, em movimento ideológico.
Perante esta nova perspectiva desenham-se vários cenários: há autores
que vislumbram nesta nova atitude um comportamento estratégico, com vista
à obtenção de melhores condições de competição, situação que é
paradigmática das sociedades modernas; para outros autores, ela é
considerada como uma nova forma de organização social característica do
novo paradigma das sociedades contemporâneas. Face a este novo modelo, o
problema que importa resolver já não é o estudo do processo de integração

244
Apud: Ibidem, p. 74
Etnia 343

dos imigrantes, mas o estudo dos factores que se encontravam na origem da


conservação e preservação da etnicidade na sociedade americana. Tal
situação concorre para que se observe uma transferência do âmago da
questão. O problema, que até aqui residia na “periferia social”, constituída
pelas especificidades dos imigrantes, passa agora a residir na própria
sociedade americana.
Os autores mais radicais rejeitam a ideia do renascimento étnico e
entendem que, a longo prazo, se irá assistir a uma assimilação destes grupos.
Existem ainda outros autores que vêm no etnic revival um indicador de
que as diferenças étnicas deixaram de ser um obstáculo à ascensão social.
A etnicidade, dentro das teorias da mobilização, tem como objectivo
incitar o grupo à realização de propósitos políticos.
Nesse sentido, referimos que esta teoria foi colocada em prática por
grupos que competiam pelo poder na África contemporânea.
De uma forma geral, esta teoria traduz-se na organização de grupos, de
acordo com orientações étnicas, com o propósito de suportarem a competição
económica e política. Na maioria das situações estes grupos não passam de
instrumentos constituídos de forma artificial, cuja existência é mantida para
obter dividendos colectivos, quase sempre políticos e económicos.
Nestas teorias, cuja identidade e ideologias são sustentadas para
exercer influência na política, economia e sociedade, a etnicidade é
perspectivada numa dimensão de solidariedade de grupo, que emerge em
casos de situações de conflito entre indivíduos que aspiram a interesses
comuns.
Na maioria dos casos a manifestação mais evidente dos conflitos étnicos
é o confronto violento, que não só põe em causa as perspectivas económicas
das regiões em que eclodem, como colocam muitas vidas em perigo,
terminando frequentemente em casos de genocídio, como sucedeu no Ruanda
ou nos Balcãs.
Estes confrontos étnicos ocorrem numa geografia dispersa, como poderá
observar-se pelos seguintes exemplos: Burundi, Sudão, Indonésia, Oriente
Médio, Afeganistão, Irlanda do Norte, entre tantos outros países.
Na Europa, este tipo de conflitos assenta essencialmente em questões
de reivindicação de nacionalismos que, na maioria das situações, se
344

encontram relacionados com a falta de perspectivas de melhores condições de


vida.
Outro factor determinante nos conflitos étnicos frontais é o próprio
sentimento nacionalista, que se manifesta no desagrado de ver os símbolos
da sua identidade (língua, cultura, traços fenotípicos, religião e raça) a serem
submetidos a um poder estranho, com o qual, na maioria dos casos, não
existe qualquer tipo de vínculos de identidade.
Os laços que se criam nestes grupos, por um lado podem ser
aglutinadores dos membros da sociedade, mas por outro também poderão ser
fracturantes, quando são aproveitados por líderes oportunistas que vêem
neles uma forma de mobilizar a sociedade e, com esta situação, se permitem
colher dividendos políticos e económicos.
Ao longo do século XX, aquele que consideramos o conflito mais
marcante é sem dúvida o do nacionalismo exacerbado mesclado por um
profundo sentimento de racismo, como o que se manifestou na Alemanha no
período da segunda Guerra Mundial. Como todos sabemos, este sentimento
nacionalista/racista, sustentado pelo Partido do Nacional-Socialismo (1933-
1945), conduziu ao holocausto.245
Na linha do renascimento dos nacionalismos, assistimos por toda a
Europa a complexos processos de autonomia e separação nacionalista, umas
vezes manifestados sob forma de conflitos latentes, outras sob a forma de
conflitos frontais e bélicos. Para ilustrar esta realidade apresentamos como
exemplos os casos dos conflitos étnicos que se desenvolveram nos Balcãs com

245
Entre os artigos considerados em programa, constituído por vinte e cinco pontos, do
Nacional-Socialismo, publicado em 1920 pelo Partido Nazi, faziam parte ideias como:
pangermanismo, racismo e antissemitismo.
A atitude alemã face à raça, nesta época, concorreu para que estas noções, fossem
consideradas pejorativas e proibitivas. A ela estava associada a noção de racismo, que ao longo
da história justificou actos abomináveis como a escravatura ou o genocídio.
Face a esta situação, começou a usar-se, em substituição de Raça o termo Etnia que, na
verdade, são conceitos diferentes, porque se baseiam em naturezas diversas.
Apesar da desvalorização do termo Raça, ele continuou e continua a ser usado nos
dicionários de Ciências sociais, assim como nos catálogos de bibliotecas, como por exemplo no
Catálogo da Biblioteca do Congresso e no Catálogo da Biblioteca Britânica.
Etnia 345

o desmembrar da Jugoslávia (a Independência da Bósnia; a Questão Basca);


A Questão Irlandesa e os Conflitos no Cáucaso (a Questão da Chechénia).
Ao longo do século XX, ainda relacionada com os problemas de
identidade nacional, assistiu-se a uma situação que, não assumindo, no geral,
contornos de confronto étnico, teve uma importância decisiva no
desenvolvimento da teoria da mobilização e da teoria do conflito étnico – a
imigração em larga escala.
Foi nos Estados Unidos da América, por volta de meados do século XX,
que foram elaborados, de forma consistente e sistemática, os primeiros
estudos sociológicos sobre este tema. O factor que concorreu para este
estudo foi o facto de a sociedade Norte-Americana se consciencializar que o
“étnico”, tal como era definido pelo senso comum, não era apenas o índio da
América Central e do Sul ou o aborígene australiano descritos pelos
antropólogos. Era sobretudo aquele que era parte integrante da própria
sociedade Norte-Americana, constituindo-a como um todo. Os “étnicos” eram
os negros e os brancos, não sendo estes últimos anglo-saxões. Eram os
imigrantes da primeira geração, que tinham chegado aos Estados Unidos no
século XIX e inícios do séc. XX.
Esta realidade, que se observou nos Estados Unidos, veio também a
verificar-se, num presente futuro, na Europa, nomeadamente em França. Aos
problemas levantados pelo ressurgimento dos movimentos regionalistas e às
reivindicações das minorias etnolinguísticas, veio juntar-se a
consciencialização crescente de que a França era constituída por cidadãos de
diversas etnias, como bascos, bretões, corsos, etc., e que estes não estavam
dispostos a diluirem-se numa sociedade global mas, muito pelo contrário,
pretendiam manter as suas identidades culturais.
O segundo grande factor desta destabilização da identidade comum foi a
imigração, que se observou essencialmente entre a década de 40 e a década
de 60. O contingente destes imigrantes era constituído, sobretudo, por
pessoas oriundas das antigas colónias da África do Norte e da África Negra,
por aqueles que pediam asilo, e também por aqueles que fugiam, por um lado
dos regimes comunistas, por outro, das ditaduras latino-americanas e
africanas. A estas origens acresciam ainda todos os europeus que viviam nos
346

restantes países da Europa, e que anteviam em França um país de novas


oportunidades.
Toda esta situação concorreu para que, gradualmente, se desenvolvesse
e propagasse um sentimento de xenofobia e racismo, que se ia manifestando,
não sob forma de confronto aberto, mas sob outras formas mais sofisticadas e
“controladas”.
Este cenário, caracterizado por relações inter-étnicas, concorreu para a
elaboração de estudos sociológicos sobre as mesmas, à semelhança do que
ocorria nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Evidentemente que estes
temas também foram objecto de reflexões e discussão públicas, chegando,
como se assiste actualmente, a ser assunto de debate na Assembleia
Nacional, em alguns países, como por exemplo em França.
Todas estas manifestações de conflitos étnicos, que se observaram em
França, Estados Unidos e Grã-Bretanha, viriam a ocorrer em outros países da
Europa, ao longo da segunda metade do século XX, continuando todavia,
ainda hoje, a observar-se. Identificada esta circunstância, apresentamos,
como exemplo, os seguintes casos:
O caso português a partir de 1974. Neste caso podemos identificar duas
situações distintas. Por um lado, a descolonização de África, que trouxe
consigo a inevitabilidade da chegada de pessoas negras e brancas que aí
habitavam. Por outro, o aparecimento dos movimentos separatistas das Ilhas;
em Espanha, com os movimentos separatistas, como os Bascos; na Bélgica,
com os movimentos separatistas Flamengos e Valões, que arrastaram
consigo, entre outros, os aspectos linguísticos.
Assim, nas culturas que supomos homogéneas, podemos observar três
tipos de conflitos étnicos, que radicam em três factores distintos: por um lado
os conflitos étnicos radicados em questões de regionalismos, na Europa
(França, Grã-Bretanha e Espanha); os conflitos linguísticos, na Bélgica e no
Canadá e, por último, os conflitos étnicos nacionalistas no Leste Europeu e os
conflitos tribais em África.
A estes três factores acresce um quarto – a religião. Esta situação
ocorre com maior incidência nas regiões disseminadas por todo o Oriente. São
os casos do Próximo e Médio-Oriente, dos conflitos entre os Judeus e os
Etnia 347

Muçulmanos e no Extremo-Oriente, o caso do Tibete e da China, ou o do


Ceilão (Sri Lanka).
Pelo exposto podemos concluir que este assunto, além da sua
actualidade, é caracterizado por um elevado nível de complexidade, que se foi
manifestando, ao longo de todo o século XX, assumindo umas vezes formas
pacíficas, outras vezes formas profundamente violentas.
Além de lhe identificarmos estas características, reconhecemos-lhe,
sobretudo, o interesse que naturalmente representa para uma melhor
compreensão do homem como ser individual, e como agente social que
interage com outros homens.
Nesta perspectiva, entende-se o Homem como produto de uma dupla e
complexa identidade. Por um lado, possuidor de uma identidade que é
construída pelo legado herdado dos seus ancestrais, por outro, construída
pelas experiências que diariamente vai acumulando na interacção com os
seus pares.
Assim, entre tantos outros temas de inegável interesse que reuniam, a
priori, todas as condições para serem eleitos como objecto de estudo,
optámos por este, da etnicidade, na medida em que o consideramos da maior
relevância para o desenvolvimento e crescimento da dignidade humana e da
condição de relacionamento entre os grupos sociais.
Outro motivo que foi considerado para a sua selecção, este de natureza
mais técnica, foi o facto de ser um conceito evolutivo e, deste modo, permitir
observar e testar, com base nas classificações bibliográficas consideradas, as
diversas alterações pelas quais passou ao longo do século XX. Para comprovar
esta evolução, nada melhor do que as diversas teorias que se foram formando
ao longo do século XX, integradas em diferentes paradigmas. Como
observamos, por vezes foram consideradas sob uma abordagem antrológico-
etnológica; em outras situações foram inscritas numa abordagem de natureza
mais sociológica.
Pelos motivos acima expostos, reconhecemos neste assunto um elevado
interesse e, por isso, o elegemos como objecto de estudo de caso.
Apenas um assunto que fosse objecto de tantas e tão inúmeras
mutações, ao longo de um período tão breve e limitado, numa visão
estrutural, serviria para verificar se a Classificação Decimal Universal se
348

adequa eficazmente aos novos quadros mentais, que foram emergindo ao


longo do século XX. Neste sentido, pensamos que a adopção deste tema é,
entre outras possíveis, uma das que mais se ajusta para verificar a
credibilidade e a contemporaneidade deste instrumento de representação e
recuperação da informação.
Desta forma, baseando-nos na definição de etnia, iremos seleccionar
nas edições consideradas as várias classes e os vários auxiliares que
representam as características deste conceito - material que já tivemos
oportunidade de enunciar em pontos anteriores, e que, por ser redundante,
nos dispensamos de voltar a enunciar.
Estudo estatístico da representação e evolução do 349
conceito Etnia na CDU

Capítulo IX
Estudo estatístico da representação e
evolução do conceito Etnia na CDU
350
Estudo estatístico da representação e evolução do 351
conceito Etnia na CDU

I-IX Representação e descrição estatística das classes relativas


ao conceito Etnia nas edições da CDU consideradas

Como já antes referimos, este capítulo estrutura-se em dois


subcapítulos (I-IX e II-IX). Neste subcapítulo apresentamos o estudo
estatístico da representação e evolução desta matéria nas classes
seleccionadas, enquanto que no segundo subcapítulo apresentaremos a
análise fundamentada dos resultados dos dados estatísticos.
Para uma melhor compreensão do desenvolvimento deste primeiro
subcapítulo, iremos recorrer, como referimos no capítulo relativo ao desenho
metodológico, à seguinte abordagem:

1- Distribuição deste conceito nas respectivas classes e subclasses e


observação da sua representação percentual nas diferentes
edições da Classificação Decimal Universal (subclasses e número).

2- Estudo comparativo da representação do conceito Etnia nas


classes das edições consideradas, em valores absolutos e
percentuais, por edição.

3- Apresentação de um conjunto de considerações finais sobre a


representação e a evolução do conceito Etnia ao longo das edições
consideradas

Após esta breve introdução sobre os procedimentos passamos a


apresentar e a desenvolver a primeira parte deste capítulo, começando pelo
ponto um:
352

1 Distribuição deste conceito nas respectivas classes e


subclasses e observação da sua representação percentual
nas diferentes edições da Classificação Decimal Universal
(subclasses e número)

1.1 Manuel abrégé du répertoire bibliographique universel.


1905

Apesar de não constar no seu nome a designação Classificação Decimal


Universal, para muitos autores esta obra é a primeira edição formal deste
sistema de classificação. Foi publicada em 1905, pelo Institut International de
Bibliographie.
Esta edição estrutura-se em duas partes, a saber:
A primeira é constituída por uma parte introdutória, na qual é registada
um conjunto de informações gerais sobre o Instituto Internacional de
Bibliografia e o Repertório Bibliográfico Universal.
A segunda é constituída pelo próprio sistema de classificação. Esta parte
encontra-se estruturada em quatro divisões: na primeira são expostas as
regras de aplicação deste sistema; a segunda diz respeito às tabelas
principais (0-9), a terceira integra as tabelas dos auxiliares (subdivisões
comuns) e a quarta constitui o Índice alfabético.
Todas as classes são introduzidas por um pequeno sumário das matérias
que contemplam, precedidas pelas respectivas notações. Segue-se um
esquema geral das divisões principais da respectiva classe e uma lista de
outras matérias que se encontram relacionadas com o tema principal da
classe considerada.
De acordo com a ordem que se encontra na própria tabela, iniciamos o
nosso trabalho com os Auxiliares de Língua.
Estudo estatístico da representação e evolução do 353
conceito Etnia na CDU

Auxiliares de Língua: Estrutura e conteúdo

Como se refere na breve apresentação desta subclasse, estes Auxiliares


podem aplicar-se a todas as obras que foram e/ou são escritas numa
determinada língua.
Relativamente aos Auxiliares considerados e registados nesta edição,
quanto à sua estrutura, eles encontram-se desenvolvidos deste modo: Língua
inglesa =2; Língua alemã =3; Língua francesa =4; Língua italiana =5; Língua
espanhola =6; Latim =7; Grego =8 e a notação =9 para outras línguas.
Partindo do observado, podemos sistematizar estes auxiliares em três
grupos.
O primeiro integra os auxiliares de =2/=6, que correspondem ao
conceito de língua moderna; o grupo de auxiliares =7/=8 diz respeito às
línguas clássicas e, por último, o auxiliar =9 corresponde às línguas que não
se encontram registadas nos dois grupos anteriores e que, em última análise,
expressam as línguas que, na época, eram as mais consideradas no mundo
ocidental, devido ao facto de serem usadas na produção escrita.
Relativamente ao conteúdo, como podemos inferir da sua estrutura, ele
é composto por todas as línguas que existem ou que já existiram.
Como o objectivo do nosso trabalho é o estudo da representação dos
assuntos sobre o conceito Etnia e assuntos com ele relacionados, na tabela
que se segue foram apenas registadas, de forma desenvolvida, as notações
relacionadas com este assunto, critério que, de resto, será usado para o
estudo e para a elaboração de todas as outras tabelas que se seguem.
354

[=2/=6 Auxiliaires de langues individuelles]


[=7/=8 Langues classiques]
=91 Langues indo-européenes, indo-germaniques ou aryennes
=92 Langues sémitiques
=93 Langues hamitiques ou khamitiques
=94 Langues dites touraniennes. Langues ouralo-alta-ïques
=95 Langues de l’Asie
=96 Langues de l’Afrique
=97 Langues de l’Amérique du Nord
=98 Langues de l’Amérique centrale et des Antilles
= 99 Langues malayo-polynésiennes
Tabela 17.Table des subdivisions par langues ou idiomes

Neste caso concreto, (Auxiliares de língua) serão contabilizadas as


subclasses, cujo conteúdo representa as línguas (vivas e mortas), que na
época eram as mais utilizadas no mundo ocidental. Estas, como temos
oportunidade de observar na tabela, ocupam as subclasses [=2/=8], sendo as
outras línguas, que na sua maioria serão utilizadas por povos de outras
culturas e etnias, registadas no =9 e seu desenvolvimento.
De acordo com o considerado, registamos:
Sete subclasses que representam as línguas individualmente
consideradas, como: a Língua inglesa, Língua francesa, Língua italiana, Latim,
Grego antigo, entre outras; e uma subclasse na qual se registam as Línguas
integradas numa só subclasse que, na maioria dos casos, são menos usadas
no “dito mundo ocidental e civilizado”. Destas destacamos, entre outras pelo
número de pessoas que a usavam, a Língua russa =91.7, a Língua árabe
=92.7, a Língua chinesa =95.1. Outras línguas são consideradas nesta
subclasse, das quais destacamos as seguintes: =96.2 Língua dos
bosquímanos, = 97.15 Língua dos Sioux ou Língua dos Esquimós =99.37. O
total de subclasses é de oito.
Relativamente ao número de entradas relacionadas com o conceito
Etnia, nos dois grupos de subclasses considerados, foram observadas as
seguintes ocorrências:
Estudo estatístico da representação e evolução do 355
conceito Etnia na CDU

Entre as subclasses =2/=8 foram registadas aproximadamente noventa


entradas, na subclasse =91 foram registadas aproximadamente trezentas
entradas.
O total de entradas nesta subclasse é de aproximadamente
quatrocentas.
Partindo dos valores relativos à contagem das subclasses que se
ocupam desta matéria, elaboramos o gráfico que se segue. Da sua leitura
podemos verificar que a ocorrência das subclasses que apresentam uma
maior percentagem diz respeito àquelas que representam as Línguas
individualmente consideradas (87%), cabendo ao grupo das Línguas
integradas numa só subclasse uma representação substancialmente inferior,
que se traduz em (13%).

Fig. 22 - Distribuição das subclasses consideradas

No que respeita à distribuição das entradas relativas às matérias


consideradas, e de acordo com o registo das mesmas na respectiva tabela
desta edição, chegamos aos seguintes resultados percentuais: 23% de
356

entradas dizem respeito ao grupo das Línguas individualmente consideradas e


77% traduzem o grupo das Línguas integradas numa só subclasse,
assumindo-se este grupo como preponderante.
Registamos ainda o facto de a relação de proporcionalidade verificada
para os dois grupos de línguas correntes ser inversa nestes dois gráficos
situação que irá ser analisada no ponto relativo à Análise dos resultados.

Fig. 23 - Distribuição das entradas das subclasses

Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade: Estrutura e conteúdo

Relativamente a estes Auxiliares, cumpre referir que esta edição não os


contempla de forma desenvolvida e explícita. Aparecem registados a seguir
aos auxiliares de lugar e a preceder os de língua, sob o nome: (=) Peuples
répandus en plusieurs pays (Subdivisions ethniques).
Refere-se neste ponto que a sua formação tem como base as línguas.
Estudo estatístico da representação e evolução do 357
conceito Etnia na CDU

Les subdivisions suivantes sont empruntées à la classification de


langue.246

Esta ideia aparece reforçada no seguinte excerto do texto, localizado na


introdução à divisão 572 Anthropologie. Etnologie. Etnographie, no ponto C,
que se designa Races et variétés humaines:

Au point de vue bibliographique, l’uniformité et la concordance


étant avant tout désirables, il n’y a donc aucun inconvénient à
identifier la classification par races avec la classification par
langues. En conséquence, on a formé une table de subdivisions
communes par races, en empruntant toutes les divisions de 4
Linguistique et en les faisant précéder du signe conventionnel
(=…).
Ex.: 4.926 Langue arabe
247
(=926) Race árabe.

Os auxiliares que aparecem registados nesta subdivisão “étnica” são os


seguintes:

(= 2) Anglais en général. Anglo-Saxons


(= 3) Allemands en général. Races germaniques
(= 7) Latins en général. Races latines
(= 91) Aryennes. Races indo-européennes
(= 918) Slaves en général
(= 92) Sémites en général
(= 924) Juifs
(= 927) Arabes
Tabela 18. Subdivisions ethniques: Peuples répandus en plusieurs pays

246
Institut International de Bibliographie – Manuel du répertoire bibliographique universel. 1905.
Peuples répandus en plusieurs pays (Subdivisions ethniques).
247
Institut International de Bibliographie – Manuel du répertoire bibliographique universel. 1905.
Classe 5. Divisão 572.
O exemplo da citação foi incorrectamente construído, uma vez que as línguas árabes se
encontram representadas sob a notação 492.7.
358

Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade.

Pelo que é observado na tabela 2, verificamos que os povos que eram


mais conhecidos, isto é, aqueles que constituíam o mundo ocidental, ocupam
três subclasses (=2/=7), ocupando os outros povos apenas uma subclasse
(=91). O total das subclasses é de quatro, encontrando-se vazias as
subclasses de (=4/=6) e a subclasse (=8).
No que respeita ao levantamento das entradas específicas, existem três
para os povos ditos ocidentais e cinco para todos os outros povos, o que
perfaz um total de oito entradas.
De acordo com o gráfico apresentado, podemos observar que a variável
que regista um valor percentual superior é aquela que se refere às matérias
relativas aos povos de cultura não-ocidental, 75%, povos que identificamos,
de uma forma geral, com a matéria objecto de estudo. Com uma
percentagem menos significativa segue-se a variável que representa os povos
ditos de cultura ocidental, 25%.

Fig. 24 - Distribuição das subclasses consideradas


Estudo estatístico da representação e evolução do 359
conceito Etnia na CDU

Relativamente à percentagem do número de entradas que estas ocupam


nas respectivas subclasses, verifica-se a mesma situação que foi observada
no gráfico anterior. A variável predominante é aquela que representa os
povos que, na sua maioria, se integram no objecto de estudo - Etnia,
assumindo 63% do todo considerado. A variável relativa aos povos, que o
senso comum designa por civilizados e que, na maioria dos casos, se
identificam com aqueles que ocupam uma hegemonia política e económica
sobre os outros, tendo sido em alguns casos potências colonizadoras, regista
uma percentagem pouco expressiva em relação à variável predominante. O
seu valor traduz-se em 37%. Referimos que esta situação é análoga aquela
que se observa na variável Auxiliares de Língua.

Fig. 25 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 2 – Religião e Teologia: Estrutura e conteúdo

A estrutura e o respectivo conteúdo desta classe revelam a importância


atribuída à religião Cristã, nomeadamente no que respeita ao Catolicismo. A
supremacia deste assunto relativamente a outros é, por si só, uma evidência.
360

A subclasse 27 encontra-se preenchida apenas com assuntos


relacionados com a Igreja Católica. Neste sentido, esta subclasse é
relativamente às outras subclasses que compôem esta classe a mais
homogénea e consistente relativamente ao conteúdo.
A assimetria que se verifica no desenvolvimento das suas subclasses é,
desde sempre, um ponto de fragilidade deste sistema, que concorre para as
diversas e abundantes críticas que lhe são feitas.
Relativamente à subclasse 29, ponto fulcral do nosso tema de estudo,
ela engloba as religiões que não foram consideradas nas subclasses
anteriores.
Assim, sob as divisões 292 à 299, classifica-se, como sabemos, tudo o
que diz respeito às religiões que não sejam cristãs, seja sob o ponto de vista
científico, crítico, sociológico e histórico, seja sob o ponto de vista dogmático,
polémico, apologético e prático.
Nesta divisão são classificadas as várias religiões correspondentes aos
diversos grupos étnicos, como poderá observar-se na tabela.
Nesta primeira edição, esta classe estrutura os seus conteúdos da
seguinte forma: 21 Religião natural. Teologia racional; 22/28 Religião cristã.
Cristianismo; 23 Teologia dogmática. Teologia sistemática; 24 Teologia
prática, moral, mística e ascética; 25 Teologia pastoral; 26 Igreja; 27 História
da Igreja e do Cristianismo. Patrística; 28 Igrejas e seitas cristãs diversas.
Cristianismo; 29 Religiões não cristãs. História das religiões.
Como podemos observar, relativamente ao seu conteúdo, ela estrutura-
se, essencialmente, em três grupos: 21 Religião natural. Teologia racional;
22/28 Religião Cristã. Cristianismo; 29 Religiões não cristãs. História das
religiões.
Pelo facto de a divisão 299 ser aquela que contém a matéria que
interessa para o nosso estudo, esta foi objecto de maior desenvolvimento,
com vista a proporcionar uma análise mais pormenorizada.
Dada a sua natureza, esta classe, relativamente a outras que compõem
este Sistema de classificação, é aquela que apresenta uma maior
homogeneidade a nível conceptual. Mantém, todavia, relações privilegiadas de
afinidade semântica com as classes: 1, 3 e 8.
Estudo estatístico da representação e evolução do 361
conceito Etnia na CDU

Na tabela que se segue, tal como procedemos na anterior, iremos


registar as notações que representam assuntos sobre e relacionados com o
conceito Etnia, neste caso concreto, a religião.

22/28 Religion chrétienne. Christianisme


29 Religions non-chrétiennes
291 Science des religions
292 Religion chez les Grecs et les Romains
293 Religion chez les Germains et les Wendes
294 Religions des Indous
295 Parsisme. Mazdéisme. Mithriacisme
296 Judaïsme
297 Islamisme. Mahométisme
298 Mormonisme
299 Religion chez les diverses races
299.1 Aryas. Indo-européens
299.2 Sémites
299.3 Religion chez les races Hamitiques
299.4 Touranien, peuples ouro-altaïque, Finnois, Mongols…
299.5 Religion chez les races asiatiques
299.6 Races africaines. Races noires
299.7 Races Nord-Américaines et de l’Amérique Centrale. Peaux-
Rouges
299.8 Races Sud-Américaines
299.9 Races Malayo-Polynésiennes
Tabela 19. Classe 2 - Religion

A estrutura desta classe e respectivo conteúdo permitem observar que a


religião professada na maioria do mundo ocidental é o Cristianismo, por esse
facto ela ocupa, exceptuando uma subclasse, toda a classe 2.
O Cristianismo ocupa sete subclasses, situando-se estas entre o 22/28.
As Religiões não-cristãs, estas, professadas na maioria por culturas que não
se identificam com a cultura daqueles que professam o Cristianismo,
pertencendo muitas dessas pessoas que a constituem a grupos étnicos, ocupa
uma subclasse, o 29. O total das subclasses desta classe é de nove, não
sendo a 20 preenchido.
362

Cumpre referir que o Cristianismo é representado neste sistema de


classificação por aproximadamente mil e cem entradas, as Religiões não-
cristãs por cento e doze. O total desta classe perfaz sensivelmente mil
duzentas e vinte entradas.
Partindo dos valores apresentados na tabela anterior, podemos observar
os seguintes valores percentuais:
No que se refere à distribuição da matéria objecto de estudo nas
subclasses que constituem esta classe, ela assume uma percentagem pouco
relevante, 13%, quando comparada com a matéria que, na maioria dos casos
não se encontra relacionada ou não traduz o objecto de estudo. É o caso da
religião cristã que ocupa 87%, na qual o catolicismo é constituído por um
número considerável de entradas.
O gráfico que se apresenta é, por si só, a tradução destas expressões.

Fig. 26 - Distribuição das subclasses consideradas

Em relação à distribuição das entradas nas respectivas subclasses, elas


apresentam sensivelmente a mesma percentagem que as observadas no
gráfico anterior. Assim, como se pode observar neste gráfico, o Cristianismo
ocupa um espaço percentual de 91% e as Outras religiões que, na sua
Estudo estatístico da representação e evolução do 363
conceito Etnia na CDU

maioria coincidem com os cultos religiosos professados pelas diversas etnias,


ocupam uma percentagem quase irrelevante, quando comparada com a do
Cristianismo: 9%.

Fig. 27 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 3 - Ciências sociais: Estrutura e conteúdo

Esta classe estrutura os seus conteúdos nas seguintes subclasses: 30


Sociologia em geral; 31 Estatística; 32 Política; 33 Economia política; 34
Direito; 35 Administração e Direito administrativo; 36 Assistência, seguros e
pensões; 37 Ensino e educação; 38 Comércio, transportes e comunicações;
39 Usos, costumes e folclore.
Relativamente ao conteúdo, esta classe é constituída por matérias
relacionadas com as Ciências sociais. Ao contrário da classe 2, é uma classe
bastante heterogénea, relativamente aos conteúdos, como podemos observar
através da sua estrutura.
364

Abrange matérias que vão desde a sociografia à etnografia. Neste


sentido, e considerando as outras classes que compõem este sistema, a
classe 3 é aquela que apresenta um conteúdo mais heterogéneo. Este
aspecto, que observaremos ao longo da análise de algumas das suas
subclasses, manteve-se desde esta primeira edição até à última. No entanto,
e apesar da diversidade de temas que trata, ela apresenta um denominador
comum entre todas as subclasses que a integram: todas elas tratam de um
aspecto relacionado com a organização social. Este aspecto confere-lhe uma
unidade semântica. Esta classe apresenta afinidades com as classes: 1, 5, 6 e
9.
Na tabela que se segue, tal como aconteceu com as duas classes
anteriores, registam-se as notações que consideramos significativas em
termos de representatividade do conceito considerado para estudo, assim
como os assuntos que com ele estão relacionados de forma significativa.

308 Conditions de la vie politique et sociale en général des divers pays,


régions, villes, peuples et races. Géographie sociale.
312 Démographie. Population
312.9 Répartition et composition de la population à divers points de
vue
312.91Selon les lieux de naissance ou d’origine (nationalité, indigénat)
312.97 Selon les religions
312.991 Selon les langues et les races
323 Politique intérieure
323.1 Mouvement et questions des nationalités, des races et des
langues
325 Colonisation. Migration
325.1 Immigration
325.2 Emigration
325.354 Traitement des indigènes
326 Esclavage, servitude, servage, émancipation
326.1 Commerce des esclaves. Traite
326.2 Contrats de servitude
326.3 Serfs et servage. Formes diverses de servitude personnelle
326.4 Lutte contre l’esclavage. Antiesclavagisme
326.8 Abolition de l’esclavage.
329 Partis politiques et sociaux
Tabela 20. Classe 3 - Sciences sociales et Droit
Estudo estatístico da representação e evolução do 365
conceito Etnia na CDU

329.3 D’après la religion


329.31 Catholiques
329.32 Anticléricaux
329.4 D’après la race et la langue
340 Droit en général. Droit compare
340.5 Législation comparée. Jurisprudence ethnologique et droit des
peuples primitifs en général
341 Droit international
341.012 Principe des nationalités
341.5 Droit international privé [Situation des étrangers]
342 Droit constitutionnel. Droit public
342.7Droit primordiaux et garanties des citoyens et des associations
342.71 Qualité de citoyen: Nacionalité
342.724 Egalité des races et des religions. Situation des juifs, des
races étrangères et primitives
342.731 Liberté de conscience et des cultes
342.814 Nationalité, race, religion
343 Sciences pénales
343.42 Contre la liberté des cultes
343.431 Asservissement. Esclavage
343.957 Ethnographie criminelle. Criminalité chez les différentes races
347 Droit privé. Droit civil
347.167 Religion et race
347.167.1 Religion
347.167.2 Race
347.176 Nationaux ou régnicoles ; étrangers ou aubains
347.177 Gens livres et gens de conditions servile. Serfs
348 Droit ecclésiastique. Droit civil ecclésiastique. Droit canonique
348.1/.7 Droit ecclésiastique catholique ou Droit canonique
348.8/.9 Droit ecclésiastique des autres églises
351 Activités propes aux administrations publiques
351.756 Mesures de police à l’égard des étrangers
371 Pédagogie et pédagogues
371.9 Education de catégories spéciales de personnes
371.94 Esclaves libérés. Nègres
371.95 Indiens
371.96 Orientaux. Enseignement des indigènes dans les pays non
civilisés
371.98 Etrangers
371.99 Coéducation des races
Tabela 20. Classe 3 - Sciences sociales et Droit
366

377 Education religieuse, morale et cléricale


377.8 L’Eglise chrétienne et l’instruction
377.9 L’Eglise non chrétienne et l’instruction
391 Costumes et parures
392 Coutumes relatives à la vie privée
392.1 Naissance. Baptême. Circoncision
392.2 Sacrifices humains
392.21 Sacrifices et exposition des enfants
392.22 Sacrifices des vieillards
392.4 Fiançailles. Promesse de mariage. Courtisage
392.5 Mariage. Noces. Polygamie. Monogamie
393 Mort. Traitement des morts. Funérailles. Rites mortuaires.
Cérémonies funèbres
393.1 Enterrement
393.2 Crémation. Inacinération
393.3 Embaumement. Momies
393.4 Exposition des morts
393.9 Coutumes spéciales relatives aux funérailles. Danses funébres.
Mutilation des cadavres. Veuvage
394 Vie publique. Habitudes. Relations et manifestations diverses de la
vie sociale.
394.3 Jeux. Danses. Bals
394.8 Duel, suicide
397 Populations nomades. Gypsies
398 Folklore proprement dit
398.1 Traditions primitives
398.2 Légendes, contes, narrations traditionnelles
398.21Conts
398.221 Sagas
398.22 Saga mythologique
398.3 Superstitions, croyances, usages populaires divers
398.31 Feu
398.312 Culte du feu
398.314 Divination par le feu
398.318 Feu dans les maladies
398.32 Localités surnaturelles
398.332.1 Fêtes du printemps
398.332.2 Fêtes de l’été
398.332.3 Fêtes de l’automne
398.332.4 Fêtes de l’hiver
Tabela 20. Classe 3 - Sciences sociales et Droit
Estudo estatístico da representação e evolução do 367
conceito Etnia na CDU

398.4 Le monde surnaturel


398.41 Les êtres surnaturels…
398.411 Fées, ondines, elfes
398.412 Lutins
398.414 Esprits
398.42 Apparitions surnaturelles. Apparitions aériennes. Fantômes
398.6 Enigmes, rébus, devinettes, symboles, formulettes, devises
399 Usages de la guerre
Tabela 20. Classe 3 - Sciences sociales et Droit

Como podemos observar na tabela apresentada, o assunto Etnia e


outros temas com ele relacionados aparece pulverizado por toda a classe 3.
Nas dez subclasses que constituem esta classe, esta matéria encontra-se
representada em sete, a saber: 30, 31, 32, 34, 35, 37 e 39.
O total de entradas das sete subclasses perfaz aproximadamente quatro
mil e setecentas, encontrando-se divididas da seguinte forma: Subclasse 30
Généralités, três entradas (corresponde a três divisões: 301, 304, 308);
subclasse 31 Statistique, quarenta e duas entradas; subclasse 32 Politique,
setenta e cinco entradas; subclasse 34 Droit, législation, jurisprudence, duas
mil e oitocentas entradas; subclasse 35 Droit administratif. Administration,
mil e quinhentas entradas, 37 Enseignement, cento e noventa entradas;
subclasse 39 Coutumes. Folklore, cem entradas.
Relativamente ao assunto estudado, ele apresenta o seguinte número
de entradas: 30 Généralités, uma entrada (corresponde à divisão: 308);
subclasse 31 Statistique, cinco entradas; subclasse 32 Politique, dezassete
entradas; subclasse 34 Droit, législation, jurisprudence, vinte e três entradas;
subclasse 35 Droit administratif. Administration, duas entradas, 37
Enseignement, dez entradas; suclasse 39 Coutumes. Folklore, quarenta e três
entradas. O número total de entradas relativamente à representatividade
deste assunto no conjunto destas subclasses é de cento e uma entradas.
O apuramento do número das subclasses que se ocupam destas
matérias na classe 3, permitiu-nos chegar aos resultados que se expressam
no gráfico que se segue. Assim, quanto à distribuição desta matéria pelas
subclasses que constituem a classe 3, podemos observar que a percentagem
368

que traduz a frequência de subclasses que incluem o nosso objecto de estudo


é preponderante, 70%, quando comparada com a daquelas que não incluem
estes assuntos, 30%.
Contudo, quando analisamos a frequência da representatividade dos
assuntos relacionados com etnias no conjunto de todas as divisões destas
subclasses, verificamos que essa frequência é de apenas 2% (cento e uma
entradas entradas num total de quatro mil e setecentas).

Fig. 28 - Distribuição das subclasses consideradas

No que respeita à distribuição de entradas nas respectivas subclasses,


como pode observar-se no gráfico que se segue, ela apresenta percentagens
muito diversificadas. Os seus valores situam-se entre o 1%, relativo ao
Direito, e os 43%, relativos aos Costumes. Devido à sua expressão
percentual, realçamos ainda as subclasses relativas às Generalidades e à
Política, com 33% e 23%, respectivamente.
Estudo estatístico da representação e evolução do 369
conceito Etnia na CDU

Fig. 29 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 4 - Filologia e Linguística: Estrutura e conteúdo

No que respeita aos conteúdos, de uma forma genérica, esta classe


trata de todos os assuntos relacionados com a língua em geral e com as
línguas em particular. Assim, representa todos os assuntos que se prendem
com a linguística entendida como ciência da língua, assuntos sobre filologia
literária, assuntos sobre o ensino das línguas e aborda, também, todos
aqueles que são assuntos relacionados com as línguas individuais.
É uma classe que se relaciona directamente com os auxiliares comuns
de língua.
Deste modo e, como podemos observar, os seus conteúdos encontram-
se estruturados de acordo com o modelo apresentado para os auxiliares de
língua. Assim, divide os seus conteúdos na seguinte estrutura: 4
Generalidades; 41 Filologia geral e comparada; 42 Língua inglesa; 43 Língua
alemã; 44 Língua francesa; 45 Língua italiana; 46 Língua espanhola; 47
Língua latina; 48 Língua grega 49 Outras línguas.
Partindo destes dados, podemos dizer que esta classe se organiza,
basicamente, em três partes: 4/41 Generalidades e Filologia; 42/48 Línguas
individualmente consideradas; e 49 Línguas integradas numa só subclasse.
370

Passamos, de seguida, a apresentar a tabela onde se encontram as


notações que consideramos objecto de estudo do nosso trabalho. 248

[42/49 Philologie spéciale] 246


491 Langues Indo-européenes, indo-germaniques ou aryennes
492 Langues sémitiques
493 Langues hamitiques ou khamitiques
494 Langues dites touraniennes. Langues ouralo-altaïques
495 Langues de l’Asie
496 Langues de l’Afrique
497 Langues de l’Amérique du Nord
498 Langues de l’Amérique du Sud
499 Langues malayo-polynésiennes
Tabela 21. Classe 4 - Philologie. Linguistique

O caso das línguas é muito semelhante ao dos Auxiliares de língua.


Assim, no que se refere às línguas mais utilizadas e mais comummente
aceites no mundo ocidental, que se localizam entre as subclasses 42/48, elas
perfazem nesta edição o número aproximado de oitenta entradas. No que
respeita às línguas que eram usadas por outros povos que não os europeus, o
número aproxima-se das trezentas entradas, o que perfaz um total
sensivelmente de quatrocentas entradas nesta subclasse.
Tal como observamos nos Auxiliares de língua, também na classe 4 se
verifica a mesma situação, como nos é dado observar pelo gráfico que
apresentamos. As Línguas individualmente consideradas ocupam um número
de subclasses que se traduz em 86% do todo, enquanto as Línguas integradas
numa só subclasse ocupam um espaço de 14%.

248
O parêntesis recto será introduzido nas tabelas em todos os casos em que seja registada
informação externa às tabelas originais.
Estudo estatístico da representação e evolução do 371
conceito Etnia na CDU

Fig. 30 - Distribuição das subclasses consideradas

Relativamente à percentagem do número de entradas observa-se a


situação inversa. As Línguas individualmente consideradas apresentam uma
percentagem mínima, 3%, quando comparadas com a percentagem expressa
pelas Línguas integradas numa só subclasse, 97%.

Fig. 31 - Distribuição das entradas das subclasses


372

Classe 5 - Ciências puras: Estrutura e conteúdo

Esta classe debruça-se sobre as ciências puras. Fazem parte dela os


seguintes assuntos: Matemática 51; Astronomia 52; Física 53; Química 54;
Geologia 55; Paleontologia 56; Antropologia e Biologia 57; Botânica 58 e
Zoologia 59.
Na subclasse 57 Antropologia. Biologia encontramos, na divisão 572
Antropologia. Etnologia. Etnografia, referência às raças e variedades
humanas.
Na introdução a esta divisão pode ler-se que a classificação das raças e
dos povos não apresentava ainda um carácter definitivo no quadro
epistemológico da época. Devido a esta indefinição, foram feitas muitas
tentativas de classificação para estipular um quadro classificatório para esta
matéria. Após estes ensaios, chegou-se à conclusão que a melhor solução
para responder a este caso, seria o recurso à língua. Como já referimos no
ponto sobre os Auxiliares de Raça, grupo étnico e nacionalidade, este foi o
meio usado para completar determinados assuntos puramente antropológicos.
Nesta introdução podemos ainda ler que nela serão classificados todos
os documentos relativos não apenas ao conjunto das raças, mas também os
assuntos relativos a cada uma das raças em particular.
De acordo com o exposto, apresentamos um breve desenvolvimento
desta divisão, na qual passamos a registar as notações que se encontram
directamente relacionadas com o nosso tema. 249250251

57 Sciences biologiques
572 Anthropologie. Ethnologie. Etnographie
572.6 Caractères sociaux et ethniques en général 248
[572.7] Classification des races et des peuples 249
572.9 Anthropologie spéciale. Ethnologie. Races, peuples en particulier
et variétés humaines diverses 250
Tabela 22. Classe 5 - Sciences pures

249
Em casos que se justifique relacionar com a classe 3 e com a classe 4.
250
Em casos que se justifique relacionar com os Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade.
251
Em casos que se justifique relacionar com os Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade,
Auxiliares de lugar e Auxiliares de tempo.
Estudo estatístico da representação e evolução do 373
conceito Etnia na CDU

No que diz respeito à subclasse 57 Sciences biologiques, cuja divisão


572 é ocupada com a Antropologia, Etnologia e Etnografia, ela contém,
aproximadamente duzentas e setenta entradas, quatro das quais se
encontram preenchidas por assuntos relacionados com o conceito Etnia.
Tal como podemos observar no gráfico que se segue, a matéria objecto
de estudo ocupa uma percentagem irrelevante, que se traduz em 1% da
subclasse 57.

Fig. 32 - Distribuição das entradas das divisões da subclasse 57

Classe 8 - Literatura. Belas Letras: Estrutura e conteúdo

Quanto ao conteúdo, a classe 8, de uma forma geral, integra a literatura


em geral, estudos literários, assim como as obras de literatura propriamente
dita, isto é, obras das diversas línguas particulares.
Tal como se observa na classe 4, encontra-se estritamente relacionada
com os Auxiliares de língua.
Estrutura-se da seguinte forma: 8.0 Escritos sobre literatura; 82
Literatura inglesa; 83 Literatura alemã; 84 Literatura francesa; 85 Literatura
374

italiana; 86 Literatura espanhola; 87 Literatura latina; 88 Literatura grega; 89


Literatura de línguas individuais.
Assim, à semelhança do que aconteceu nas outras classes relacionadas
com esta, podemos sistematizar os seus conteúdos nos seguintes conjuntos:
80 Literatura em geral; 82/89 Literatura relativa às línguas individualmente
consideradas; 89 Literaturas integradas numa só subclasse e que, por este
motivo, não foram consideradas em 82/89.

Passamos, de seguida, a apresentar a tabela que nos dá conta dessa


ocorrência.

[82/89 Littérature des diverses langues]


[891 Littératures Indo-européenes, indo-germaniques ou aryennes]
[892 Littératures sémitiques]
[893 Littératures hamitiques ou khamitiques]
[894 Littératures dites touraniennes. Littératures ouralo-altaïques]
[895 Littératures de l’Asie]
[896 Littératures de l’Afrique]
[897 Littératures de l’Amérique du Nord]
[898 Littératures de l’Amérique du Sud]
[899 Littératures malayo-polynésiennes]
Tabela 23. Classe 8 – Littérature. Belles-Lettres

Relativamente à classe 8, ela segue muito de perto os números que se


observam nos Auxiliares de língua e os que se manifestam na classe 4 –
Língua.
O número de entradas entre as subclasses 82/89 é de sete.
Para este número reduzido contribui o facto de a tabela postular que se
subdividam as literaturas individuais de acordo com as línguas que são
indicadas na classe 4. Devido a tal facto, consideramos para o estudo
estatístico os dados que são apresentados explicitamente na classe 4. De
acordo com esta informação, recordamos que a variável Línguas
individualmente consideradas apresenta uma percentagem 3% e a variável
Línguas integradas numa só subclasse expressa uma percentagem de 97%.
Estudo estatístico da representação e evolução do 375
conceito Etnia na CDU

1.2 Classification Décimale Universelle: tables de classification


pour les bibliographies, bibliothèques et archives… 1927-
1933

Esta edição apresenta pela primeira vez a designação de Classificação


Decimal Universal, nome que se manteve até à actualidade. Do título faz
parte um complemento de título extenso, que descreve toda a tipologia de
documentos à qual se aplica. Foi publicada entre 1927-1933 pelo Institut
International de Bibliographie, tal como aconteceu com o Manuel abrégé du
répertoire bibliographique universel.
Apesar de ter sido publicada pelo mesmo editor, esta edição apresenta
uma estrutura diferente da anterior. A matéria que integrava a primeira parte
(sobre o Instituto Internacional de Bibliografia e sobre o Reportório
Bibliográfico Universal), é eliminada nesta edição.
Assim, esta edição apresenta-se estruturada em dois volumes:
O primeiro é composto pelos princípios e regras da Classificação Decimal
Universal; nele, entre outros assuntos, consideram-se as regras de aplicação
dos auxiliares. É composto ainda pelas tabelas principais (0-9). Tal como
observamos na edição de 1905, também nestas as classes principais são
precedidas por um breve sumário das matérias que integram.
O segundo volume é composto pelas tabelas dos auxiliares e pelo índice
alfabético.
Partindo do mesmo critério utilizado na 1ª edição, iniciamos o registo
das notações que representam assuntos relacionados com o conceito Etnia e
outros assuntos com elas associados pelos auxiliares de Língua.

Auxiliares de Língua: Estrutura e conteúdo

Na tabela C, tal como se observou na edição anterior, encontram-se


registados todos os assuntos relativos às línguas individuais. Como auxiliares
comuns que são, estes podem ser usados ao longo de todo o sistema. Assim,
e à semelhança da 1ª edição, as línguas contempladas nesta tabela são as
376

seguintes: Língua inglesa, à qual corresponde a notação =2; Língua alemã,


notação =3; Língua francesa, notação =4; Língua italiana, notação =5;
Língua espanhola, notação =6; Latim, notação =7; Grego, notação =8; as
outras línguas que não foram contempladas nas notações referidas,
encontram-se registadas no =9.
Desta forma, constituem-se essencialmente 3 grupos, tal como
observamos na edição anterior: =2/=6; =7/=8; =9, que contemplam os
mesmos assuntos que se apresentam registados na 1ª edição.
Pelo exposto verificamos que elas quer a nível de conteúdo, quer a nível
de estruturas são muito idênticas.

[=2/=6 Auxiliaires de langues individuelles]


[=7/=8 Langues classiques]
=91 Langues indo-européenes
=92 Langues sémitiques
=93 Langues hamitiques ou khamitiques
=94 Touraniennes
=95 Langues de l’Asie
=96 Langues de l’Afrique
=97 Langues de l’Amérique du Nord
=98 Langues de l’Amérique du Sud
= 99 Langues océaniennes
Tabela 24. Table des Subdivisions de langues

O número de entradas que constitui esta subdivisão é idêntico ao da


anterior, observando-se aproximadamente um total de trezentas e trinta
entradas, correspondendo cerca de setenta às Línguas individualmente
consideradas e cerca de duzentas e setenta às Línguas integradas numa só
subclasse, das quais fazem parte as línguas usadas na maioria por povos que
não são ocidentais.
De acordo com os resultados expressos no gráfico que se apresenta,
podemos referir que as línguas individualmente consideradas continuam a
apresentar uma menor percentagem, 21%, quando comparada com a
percentagem ocupada pelas Línguas integradas numa só subclasse, 79%.
Estudo estatístico da representação e evolução do 377
conceito Etnia na CDU

Fig. 33 - Distribuição das entradas das subclasses

Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade: Estrutura e conteúdo

Nesta edição estes Auxiliares continuam a não figurar de forma


desenvolvida. Situam-se no mesmo ponto da tabela, mas apresentam a
designação alterada. Se na edição anterior se designavam Peuples répandus
en plusieurs pays, nesta edição passam a designar-se: Peuples et races
répandus en plusieurs pays.
Tal como acontece na edição anterior, esta edição refere também que
estes Auxiliares são formados através da língua, e apresenta uma breve
exposição das línguas mais significativas.
Afirma também que os povos e as tribos são classificados sob a notação
572.9 com o auxiliar de lugar respectivo.

Termo vocabular Notação

Tribo de Bamargwato 572.9(681.1)


378

Termina ao referir que o estudo das raças e dos povos se encontra


registado em 572.9 Antropologia especial. Etnologia.

Exemplo:

Termo vocabular Notação

Antropologia dos semitas, anatomia. 572.9(=92):611

Estes Auxiliares continuam a não ser referenciados numa tabela


específica, apresentando-se registados no final da Tabela E Subdivisões de
lugar.

(= 2) Anglais en général. Anglo-Saxons


(= 3) Allemands en général. Races germaniques
(= 7) Latins en général. Races latines
(= 91) Aryens. Races indo-européennes
(= 918) Slaves en général
(= 92) Sémites en général
(= 924) Juifs
(= 927) Arabes
Tabela 25. Subdivisions ethniques : Peuples et Races
Répandus en plusieurs pays

Relativamente a estes Auxiliares, eles são constituídos nesta edição por


um total de oito entradas sendo três relativas aos povos de cultura ocidental,
e correspondendo cinco entradas, a Outros povos. No que respeita ao número
e à sua distribuição, são exactamente iguais aos da primeira edição, 37%
Povos de Cultura Ocidental; 63% Outros povos. Por este motivo dispensamo-
nos de apresentar o gráfico.

Classe 2 – Religião e Teologia: Estrutura e conteúdos

Na edição considerada não se encontram alterações significativas no que


respeita à estrutura e aos conteúdos. Continuam a observar-se três grupos
Estudo estatístico da representação e evolução do 379
conceito Etnia na CDU

distintos de conteúdos: 21 Religião natural. Teologia racional; 22/28 Religião


Cristã. Cristianismo; 29 Religiões não cristãs.
Nesta classe e segundo a introdução à mesma, as matérias que nela
devem ser registadas são aquelas que tratam a religião de acordo com as
seguintes perspectivas: as religiões propriamente ditas; as diversas questões
que se prendem com a religião; os países e localidades onde se exercem as
religiões; os grupos étnicos que as professam; os períodos históricos nos
quais se situam.
Nesta introdução são também referidas regras de aplicação e
mencionadas as relações mais susceptíveis de se efectuarem, seja entre a
mesma classe, seja entre classes distintas, dependendo, naturalmente, da
perspectiva sob a qual o assunto é tratado.
Apesar das alterações não serem significativas, entendemos dever
registá-las, na medida em que as consideramos elementos expressivos para
uma análise sociológica.

22/28 Religion chrétienne. Christianisme


29 Religions diverses
291 Questions religieuses
292 Religion des Grecs et des Romains
293 Religion des Germains et des Wendes
294 Religions des Indous
295 Parsisme. Zoroastrianisme. Mazdéisme. Mithriacisme
296 Judaïsme
297 Islamisme. Mahométisme
[298 Mormoisme]
299 Autres religions
299.1 Religions des Aryas. Indo-européens
299.2 Religions des Sémites
299.3 Peuples Hamitiques
299.4 Touraniens, peuples ouro-altaïques.
299.5 Peuples asiatiques
299.6 Races africaines, races noires
299.7 Peuples Nord-Américains et peuples de l’Amérique centrale.
Peaux-Rouges
Tabela 26. Classe 2 – Religion. Théologie
380

299.8 Peuples Sud-Américains


299.9 Peuples Malayo-Plolynésienes
Tabela 26. Classe 2 – Religion. Théologie

No que respeita à classe 2, tal como observamos nas rubricas


anteriores, os números não se distanciam significativamente dos da 1ª
edição; esta matéria, no total, apresenta cerca de mil e trezentas entradas,
correspondendo mil e duzentas ao Cristianismo 22/28, e cerca de cem às
Religiões não cristãs, 29.
Tal como se pode observar no gráfico que se segue e, à semelhança do
que observamos no anterior, o Cristianismo continua a ser a variável
preponderante em termos percentuais, apresentando 92% de entradas,
enquanto que a percentagem relativa ao segmento Outras religiões apresenta
8%, afigurando-se, neste caso, pouco significativo.

Fig. 34 - Distribuição das entradas das subclasses


Estudo estatístico da representação e evolução do 381
conceito Etnia na CDU

Classe 3 - Ciências sociais: Estrutura e conteúdos

Relativamente a esta classe, tal como observamos nas anteriores, não


existem alterações significativas no que respeita à estrutura. Relativamente
ao conteúdo observa-se a introdução de novos assuntos.
À semelhança do observado na classe 2, também esta classe é
precedida por uma introdução, na qual se expõem as regras de aplicação,
quer a nível técnico, quer a nível de conteúdo.
Relativamente ao conteúdo, esta refere que nela serão representados os
assuntos relativos à sociedade em geral, as diversas espécies de sociedade e
os seus elementos, órgãos e estrutura, assim como as ciências e as
disciplinas, tais como a sociologia, economia social, etc. Outras questões
sociais como questões filosóficas, religiosas, científicas, técnicas, artísticas,
geográficas ou históricas também serão contempladas, desde que se
encontrem tratadas sob o ponto de vista social.
Importa referir que a designação dos assuntos se torna mais específica,
como é o caso, por exemplo, da divisão 323.1 Mouvements et questions des
Nationalités. Races et Langues.
Como referimos, apesar desta matéria não apresentar alterações
relevantes, entendemos útil apresentar a respectiva tabela, para se
observarem as novas introduções de assuntos.

308 Sociographie. Description générale des sociétés. Situation,


conditions et état de la vie politique et sociale en général des divers
pays, régions, villes, peuples et races. Géographie sociale.
312 Démographie. Population
312.15 Natalité d’après les races
312.25 Mortalité suivant les races (blancs, nègres, juifs, indiens,
chinois)
312.9 Répartition et composition de la population à divers points de
vue
312.91 Selon les lieux de naissance ou d’origine (nationalité, indigénat)

312.97 Selon les religions


312.991 Selon les langues et les races
Tabela 27. Classe 3 - Sciences sociales
382

312.97 Selon les religions


312.991 Selon les langues et les races
321 L’Etat, les sociétés, les classes sociales
321.2 Hordes, tribus, clans,… castes, gentes. Phratries, curies
323 Politique intérieure
323.1 Mouvement et questions des nationalités, des races et des
langues
325 Migration. Colonisation
325.1 Immigration
325.2 Emigration. Expatriation
325.22 Protection des émigrants
325.23 Emigrations saisonnières
325.28 Transport des émigrants
325.3 Politique coloniale, indigène. Colonies et possessions
extérieures…
325.32 Colonisation et migration intracontinentales. Transfert de
populations. Déportations en masse
325.33 Colonisation et migration intérieures…
325.352 Gouvernement indigène. Chefferies. Conseils indigènes
325.354 Sujets indigènes. Traitement et statut des indigènes.
Politique indigène.
325.4 Colonisation passiv e. Etude des colonies particulières
325.5 Ty pes de colonisation
326 Esclavage, servitude, servage, émancipation
326.1 Commerce des esclaves. Traite
326.2 Contrats de servitude. Coolies
326.3 Serfs et servage. Formes diverses de servitude personnelle…
326.4 Lutte contre l’esclavage. Antiesclavagisme
326.7 Théorie en faveue de l’esclavage. Esclavagisme
326.8 Abolition de l’esclavage.
329 Partis politiques et sociaux
329.3 D’après la religion
329.31 Catholiques
329.32 Anticléricaux
329.4 D’après la race et la langue
340 Droit en général. Droit comparé
340.5 Législation comparée. Jurisprudence ethnologique et droit des
peuples primitifs en général
341 Droit international
341.012 Principe des nationalités. Droit des peuples
341.234 Droits des minorités
Tabela 27. Classe 3 - Sciences sociales
Estudo estatístico da representação e evolução do 383
conceito Etnia na CDU

341.41 Infractions diverses comm ises à l’ etranger ou par des


étrangers. Application de la loi pénale quant aux lieux
341.42 Décisions judiciaires étrangères en m atière crim inelle
341.43 Expulsion, Exclusion, refoulement, renvoi des
étrangers. Réfugiès politiques. Droit d ’asile
341.5 Droit international privé [Situation des étrangers]
342 Droit public
342.7 Droits primordiaux. Garanties assurées aux citoyens et
associations
342.71Statut et capacité politique en général. Nationalité. Indigénat.
Citoyennat
342.711 Naturalisation
342.712 Nationalité originaire
342.714 Abdication de nationalité. Droits supranationaux
342.717 Droits politiques accordés aux étrangers
342.721 Liberté individuelle. Esclavage. Servage. Inviolabilité
de la personne hum aine.
342.724 Egalité des races et des religions. Situation des juifs, des
races étrangères et primitives
342.725 Emploi des langues. Langues nationales officielles
342.731 Liberté de conscience et des cultes
342.814 Nationalité, race, religion
342.827 Représentation des m inorités…
343 Sciences pénales
343.221.52 Sauvages et prim itifs
343.42 Liberté des cultes
343.431 Asservissement. Esclavage. Traite. Servitude

343.975 Ethnographie criminelle. Criminalité chez les différentes races

347 Droit privé. Droit civil


347.167 Religion et race
347.167.1 Religion
347.167.2 Race
347.173 Indigènes et colons dans les colonies
347.176 Nationaux ou régnicoles ; étrangers ou aubains
347.177 Gens livres et gens de conditions servile. Serfs
348 Droit ecclésiastique. Droit civil ecclésiastique. Droit canonique
348.1/.7 Droit ecclésiastique catholique ou Droit canonique
348.8/.9 Droit ecclésiastique des autres églises
351 Activités propres aux administrations publiques
351.756 Mesures de police à l’égard des étrangers
368 Assurance
Tabela 27. Classe 3 - Sciences sociales
384

368.834 Esclavage
371 Pédagogie et pédagogues
371.9 Education de catégories spéciales de personnes
371.974 Esclaves libérés. Nègres
371.975 Indiens. Peaux-rouges
371.976 Orientaux. Occidentaux.
371.98 Nationalités étrangères. Ecoles spéciales pour étrangers.
Ecoles des minorités nationales. Ecoles crées à l’étranger
371.99 Coéducation des races
377 Education religieuse, morale et cléricale
377.8 L’Eglise chrétienne et l’instruction
377.9 L’Eglise non chrétienne et l’instruction
391 Vêtements, costumes. Parures
391.8 Masques
391.91 Tatouages
391.92 Mutilations et déformation : anneaux dans le nez et les
oreilles, perforation des lèv res, etc.
392 Coutumes relatives à la vie privée
392.1 Naissance. Baptême. Circoncision. Puberté, majorité
392.11 Coutumes prénatales
392.12 Naissance
392.123 Avortem ent, infanticide, infanticide systém atique
392.14 Baptêm e
392.15 Circoncision
392.17 Rituels de puberté
392.18 Rituels de m ajorité
392.2 Sacrifices humains
392.21 Sacrifices et exposition des enfants
392.22 Sacrifices des vieillards
392.23 Sacrifices de prisonniers
392.24 Hom icides rituéliques
392.241 Décapitations
392.242 Hom mes tigres, homm es panthères
392.27 Mutilation des victim es
392.4 Fiançailles. Promesse de mariage. Courtisage
392.5 Mariage
392.51 Coutumes nuptiales. Noces
392.52 Jus prim ae noctis. Droit du seigneur
392.53 Agamie
Tabela 27. Classe 3 - Sciences sociales
Estudo estatístico da representação e evolução do 385
conceito Etnia na CDU

392.54 Form es diverses du mariage


392.541 Mariage par groupes
392.542 Endogam ie, exogam ie
392.543 Mariage consanguin
392. 544 Polyandrie, polygam ie
392.546 Mariage par rapt
392.547 Mariage par achat
392.57 Coutumes au cours du m ariage. Période de
m enstruation
392.62 Concubinage. Mariage m organatique
392.63 Célibat, célibat rituel
392.64 Prom iscuité
392.65 Prostitution, prostitution sacrée
392.81 Rites du repas. Coutum es y relatives
392.83 Aliments prohibés, im purs
392.84 Végétarism e rituélique
392.89 Cannibalism e. Anthropophagie
393 Mort. Traitement des morts. Funérailles. Rites mortuaires.
Cérémonies funèbres
393.1 Enterrement. Ensevelissement. Inhumation
393.2 Crémation. Incinération
393.3 Embaumement. Momies. Masques de morts
393.4 Expositions des morts. Veillée des morts
393.9 Coutumes spéciales relatives aux funérailles
393.93 Danses funèbres.
393.94 Oraisons funèbres. Chants funèbres
393.95 Offrandes funèbres. Repas funèbres
393.97 Mutilation des cadavres
394 Vie publique. Vie sociale. Vie populaire. Habitudes. Relations et
manifestations diverses. Sociabilité.
394.24 Représentations populaires. Mystères, allégories,
pantomim es, farces
394.3 Jeux. Danses. Bals
394.8 Duel, suicide
397 Populations nomades. Gypsies
398 Folklore proprement dit
398.1 Traditions primitives
398.2 Légendes, contes, narrations traditionnelles
398.21 Contes
398.22 Sagas
Tabela 27. Classe 3 - Sciences sociales
386

398.221 Saga mythologique


398.222 Saga chrétienne ou légende proprement dite
398.3 Superstitions, croyances, usages populaires divers
398.31 Le feu
398.312 Culte du feu
398.314 Divination par le feu
398.318 Feu dans les maladies
398.32 Localités surnaturelles
398.33 Jours de fêtes
398.332.1 Fêtes du printemps
398.332.2 Fêtes de l’été
398.332.3 Fêtes de l’automne
398.332.4 Fêtes de l’hiver
398.4 Le monde surnaturel
398.41 Les êtres surnaturels…
398.411 Fées, ondines, elfes
398.412 Lutins, nutons, gnomes
398.413 Dragons
398.414 Esprits
398.42 Apparitions surnaturelles. Apparitions aériennes. Fantômes
398.6 Enigmes, rébus, devinettes, symboles, formulettes, devises
[399 Usages de la guerre]
Tabela 27. Classe 3 - Sciences sociales

Referimos que de um total de dez subclasses, a matéria abordada


encontra-se repartida por oito.
No que respeita ao número de entradas desta classe, ela é constituída
aproximadamente por cinco mil e quinhentas, que se encontram repartidas
pelas seguintes subclasses: 30 Sciences sociales (geral), três entradas; 31
Statistique, com setenta e três entradas; 32 Politique com cento e vinte
entradas; 34 Droit. Législation. Jurisprudence, com cerca de três mil cento e
cinquenta entradas; 35 Administrations publiques, com cerca de mil e
quatrocentas entradas; 36 Assistance. Assurance et œuvres sociales, com
cerca de trezentas entradas; 37 Enseignement, duzentas e setenta e oito
entradas; 39 Ethnographie. Coutumes. Folklore, aproximadamente cem
entradas.
Estudo estatístico da representação e evolução do 387
conceito Etnia na CDU

A matéria considerada encontra-se representada por: uma entrada na


subclasse 30; sete na subclasse 31; vinte e nove entradas na subclasse 32;
trinta e nove entradas na subclasse 34; duas entradas na subclasse 35; duas
entradas na subclasse 36; dez entradas na subclasse 37; e oitenta e três
entradas na subclasse 39. As entradas relacionadas com a matéria que é
objecto de estudo perfazem um total de cento e oitenta e três.
Relativamente à distribuição destas matérias nas respectivas subclasses
podemos observar que a percentagem da subclasse 39 Costumes 83%,
continua a ser aquela que apresenta um maior peso percentual. Seguem-se-
lhe a subclasse 30 Ciências sociais (Generalidades) com 33% e a subclasse 32
Política com 24%.
Todavia, quando analisamos a frequência da representatividade dos
assuntos relacionados com etnias no conjunto de todas as divisões destas
subclasses, verificamos que essa frequência é de apenas 3% (cento e oitenta
e três entradas num total de cinco mil e quinhentas).

Fig. 35 - Distribuição das entradas das subclasses


388

Classe 4: Filologia e Linguística: Estrutura e conteúdos

Nas observações gerais relativas a esta classe refere-se que nela


deverão ser classificadas a Linguística propriamente dita, considerada como
ciência da língua e também na perspectiva de fenómeno natural. À
semelhança da edição anterior, nela serão ainda classificados os estudos
científicos das diversas línguas existentes ou daquelas que já existiram.
Assim, a Linguística geral ou a Filologia comparada propriamente dita é
classificada sob a subclasse 41.
O estudo das diversas línguas em particular será classificado nas
subclasses 42/49.
Nesta introdução à classe 4 são descritos, de uma forma pormenorizada,
determinados conceitos relacionados com esta matéria, para que não
resultem ambiguidades semânticas aquando da sua classificação.
Apesar de se observar uma homogeneidade relativamente à estrutura e
aos conteúdos, quer no que respeita aos conteúdos, quer no que respeita à
estrutura, para uma melhor compreensão, optámos por apresentar a
respectiva tabela.

42/49 Langues et dialectes divers


491 Langues Indo-européenes, indo-germaniques, indo-germaniques
ou aryennes
492 Langues sémitiques
493 Langues hamitiques ou khamitiques
494 Langues dites touraniennes. Langues ouralo-altaïques
495 Langues de l’Asie
496 Langues de l’Afrique
497 Langues de l’Amérique du Nord
498 Langues de l’Amérique du Sud
499 Langues d’Océanie
Tabela 28. Classe 4 - Philologie. Linguistique

Registamos o facto de a divisão 498 se passar a chamar Langues de


l’Amérique du Sud e a divisão 499 ter passado a designar-se Langues
d’Océanie.
Estudo estatístico da representação e evolução do 389
conceito Etnia na CDU

No que se refere às Línguas individualmente consideradas, que se


encontram representadas entre as subclasses 42/48, perfazem nesta edição o
número aproximado de cento e vinte e oito entradas. No que respeita às
línguas que se encontram entre as divisões 491/499, elas são representadas
por cerca de trezentas e setenta entradas, o que perfaz um total de cerca de
quinhentas entradas, no conjunto das duas subclasses.
Relativamente à percentagem das Línguas, como podemos observar,
regista-se um peso substancial no que respeita à variável Línguas integradas
numa só subclasse, 74%, cabendo uma percentagem menos significativa à
variável Línguas individualmente consideradas, 26%.

Fig. 36 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 5 - Ciências puras: Estrutura e conteúdo

No que respeita à classe 5 Ciências puras, e à subclasse 57 Ciências


biológicas, em particular, mantêm-se as divisões 571/572 sob a designação
390

Anthropobiologie. Ao 571 corresponde a Arqueologia pré-histórica e ao 572 a


Antropologia. Etnologia.
No breve preâmbulo que precede a divisão 572 podemos ler a definição
de Antropologia. Aí, este conceito é considerado, no sentido lato, como a
ciência que estuda o homem em todas as suas expressões e manifestações e,
no sentido restrito, como a ciência da diversidade da tipologia humana.
Para efeitos de classificação, nela serão apenas classificados os
documentos que se situem no sentido restrito, independentemente do seu
ponto de vista.

57 Sciences biologiques
572 Anthropologie. Ethnologie
572.2 Diversité de l’espèce humaine. Races, types variétés
[572.6] Caractères sociaux et ethniques en général
[572.7] Classification des races et des peuple
572.9 Anthropologie spéciale. Ethnologie. Races, peuples en particulier
et variétés humaines diverses 251
Tabela 29. Classe 5 - Sciences pures

No252que respeita à subclasse 57, as entradas são sensivelmente as


mesmas, diminuindo as entradas relativas à divisão 572, que dizem respeito
ao conceito Etnia e assuntos com elas associados. Nesta edição encontram-se
apenas três entradas como podemos observar na Tabela 29.
Relativamente aos valores percentuais, eles são iguais aos da primeira
edição: 1% Assuntos relacionados com etnias e 99% Outros assuntos. Por
este facto, abstemo-nos de apresentar o respectivo gráfico.

252
Em casos que se justifique relacionar com os Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade,
Auxiliares de lugar e Auxiliares de tempo.
Estudo estatístico da representação e evolução do 391
conceito Etnia na CDU

Classe 8 – Literatura e Belas Letras: Estrutura e conteúdos

De acordo com as observações gerais, no que respeita a esta classe, os


assuntos que se poderão classificar nela são todos aqueles que se referem à
literatura entendida no sentido restrito e entendida também no sentido lato.
No sentido restrito serão classificadas as obras literárias propriamente
ditas, consideradas nos diversos géneros literários. Serão ainda classificadas
as obras originais, traduções, resumos e adaptações, assim como os estudos
sobre as obras literárias, quer seja numa perspectiva histórica, crítica,
polémica, comentário, etc. Serão ainda considerados os estudos teóricos e
técnicos, a crítica e a história da literatura.
De uma forma geral, podemos dizer que serão classificados nela o
conjunto das obras escritas numa língua em particular e todos os documentos
que se identifiquem com o estilo literário.
A distribuição destes conteúdos segue, no geral, a estrutura da mesma
classe da edição anterior. Todavia, há a referir que no desenvolvimento da
subclasse 89 desapareceram as seguintes divisões: 896 Littératures de
l’Afrique; 897 Littératures de l’Amérique du Nord e 898 Littératures de
l’Amérique du Sud. No geral, não se observam diferenças significativas, nem a
nível de estrutura, nem a nível de nomenclatura.

[82/89 Littérature des diverses langues]


891 Littératures indo-européenne[s], slaves, lettes
892 Littératures sémitiques
893 Littératures hamitique[s], copte, éthiopienne
894 Littératures touraniennes : mongole, turque
895 Littératures orientales : chinoise, japonaise
[896 Littératures de l’Afrique]
[897 Littératures de l’Amérique du Nord]
[898 Littératures de l’Amérique du Sud]
899 Littératures polynésiennes
Tabela 30. Classe 8 – Littérature. Belles-Lettres
392

O número de entradas que perfazem as subclasses 82/89 é de dez. As


Literaturas individualmente consideradas ocupam nove entradas e a subclasse
89, Literaturas integradas numa só subclasse, ocupa vinte e uma entradas.
Esta circunstância prende-se com o facto de esta subclasse se encontrar
desenvolvida, ao contrário das outras.
De acordo com o expresso no gráfico, podemos referir que os resultados
percentuais traduzem uma preponderância no que respeita ao segmento
Literaturas integradas numa só subclasse, 70%, apresentando o segmento
Literaturas individualmente consideradas uma percentagem inferior que se
traduz em 30%, quando comparada com o outro segmento considerado.

Fig. 37 - Distribuição das entradas das subclasses

1.3 Dezimal-Klassifikation: Gesamtausgabe. 1934-1953

Esta edição, relativamente à 2ª edição da Classificação Decimal


Universal (1927-1933), contém mais 7000 entradas, e é constituída por 5
volumes, a saber:
Estudo estatístico da representação e evolução do 393
conceito Etnia na CDU

a) O 1º volume contém uma introdução, que apresenta o conteúdo a


estrutura da mesma e inclui ainda exemplos. Apresenta regras de
aplicação deste Sistema. Além desta informação, contém as
tabelas dos auxiliares comuns e dos auxiliares especiais. Contém
ainda as classes principais (0-2).
b) O 2º volume é composto pelas classes principais (3 e 4).
c) O 3º volume é composto pela classe 5.
d) O 4º volume é composto pelas classes (6-9).

Apresenta ainda um índice alfabético em 3 tomos; o primeiro integra os


assuntos de A-G, o segundo os assuntos de H-R e o terceiro os assuntos de S-
Z. Todos estes tomos constituem o 5º volume.
À semelhança do que fizemos para as edições anteriores, passamos de
seguida ao registo das notações.

Auxiliares de Língua: Estrutura e conteúdo

Na edição alemã Dezimal-Klassifikation: Gesamtausgabe, de 1934-1953,


os Auxiliares de língua, como se pode observar na respectiva tabela, não
sofreram alterações significativas relativamente à edição anterior, quer no
que respeita à estrutura, quer no que respeita ao conteúdo.
Registamos, todavia, a alteração das línguas clássicas, que na edição de
1927-1933 se encontravam representadas sob as notações =7/=8, e que
agora passam a ser registadas apenas na notação =7, libertando-se a notação
=8 para registar as línguas eslavas.
Registamos ainda o facto de os auxiliares de língua portuguesa e o
auxiliar de língua espanhola se terem separado, sendo o auxiliar da língua
espanhola =60 e o auxiliar da língua portuguesa =690. No grupo das línguas
australianas, malaicas e indonésias foram também acrescentadas outras
línguas individuais como, por exemplo, =992.213 Malaiisch auf Sumatra;
=992.216 Südmalaiisch.
394

[=2/=6 Allgemeine Anhängezahlen Sprachen und


sprachstämme]
=7 Klassische Sprachen
=81 Slavische Sprachen im allgemeinen
=9 Orientalische und sonstige
=91 Indogermanische Sprachen
=92 Semitische Sprachen
=93 Hamitische Sprachen
=94 Turanische Sprachen
=95 Asiatische Sprachen
=96 Afrikanische Sprachen
=97 Nord-und mittelamerikanische Sprachen
=98 Südamerikanische Sprachen
=99 [Austronesisch. Indonesisch. Malaiisch Sprachen]
Tabela 31. Allgemeine Anhängezahlen der Sprache

Relativamente ao número de entradas que constitui a tabela dos


Auxiliares de língua, elas perfazem aproximadamente quatrocentas,
encontrando-se distribuídas do seguinte modo: cerca de cem ocupam-se das
Línguas individualmente consideradas, clássicas e eslavas, e cerca de
trezentas representam as Línguas integradas numa só subclasse.
Como pode observar-se nas edições anteriores, também nesta a variável
preponderante diz respeito à variável Línguas integradas numa só subclasse,
75%, apresentando a variável Línguas individualmente consideradas uma
percentagem de apenas 25%.
Estudo estatístico da representação e evolução do 395
conceito Etnia na CDU

Fig. 38 - Distribuição das entradas das subclasses

Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade: estrutura e conteúdo

Ao contrário do que se observa na edição anterior, nesta, este tipo de


Auxiliares já se encontram desenvolvidos e devidamente estruturados,
constituindo uma tabela própria: Tafel e. Rassen und Völker.
Como pode observar-se na tabela que se segue, foram acrescentadas
notações para representar as raças, as etnias e os povos num âmbito geral.
Esta tendência irá observar-se também na edição de 1967-1973. Exemplo
desta orientação são as notações (=1-5) para os povos colonizados e o
(=1.100) para os povos cosmopolitas.
A contrastar com esta tendência generalista, no que respeita à
representação das raças podemos observar também a possibilidade que esta
tabela proporciona relativamente à representação dos povos considerados
individualmente. Para que isso se verifique, a tabela propõe uma subdivisão
de acordo com a tabela dos Auxiliares de lugar. É neste sentido que
encontramos a notação: (=1.4)//(=1.9) Völker bestimmter Länder.
396

(=1-5) Koloniale Rassen und Völker


(=1-6) Mischlinge
(=1-81) Autochtone Rassen
(=1-82) Kreolen
(=1-86) Rassen in konventioneller Bedeutung. Rassen-
angehörigkeit in bezung auf die Nationalität
(=1.100) Kosmopoliten
(=1.2) Völker bestimmter geographischer Gegenden
(=1.3) Völker bestimmter Länder des Altertums
(=1.4)//(=1.9) Völker bestimmter Länder
(=2) Weisse Rasse im allgemeinen. Abendlãndische Rassen.
Nordische Rassen
(=20) Engländer. Angellsãchsische Rasse
(=3) Deutsche. Germanische Rassen
(=71) Lateiner. Lateinische Rassen
(=81) Slaven, allgemein
(=9) Orientalische Rassen im allgemeinen. Farbige Rassen
(=91) Arier. Indogermanische Rassen
(=92) Semiten, allgemein
(=924) Juden. Israeliten
(=927) Araber
Tabela 32. Rassen und Völker

Esta tabela é formada por vinte entradas. Por analogia com as outras
edições, também nesta, cinco delas representam o objecto de estudo.
As vinte entradas, como pode observar-se na Tabela 32, não expressam
de forma clara e precisa as notações relativas aos povos específicos. Devido a
este facto, que nada contribui para o rigor numérico que exige a elaboração
dos gráficos, neste ponto particular não procederemos à elaboração do gráfico
respectivo. Contudo, esta matéria será objecto de análise no ponto adequado.

(Tabela I k) Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais

Nos aditamentos que esta edição apresenta, já refere este tipo de


auxiliares, apesar de não os apresentar de forma estruturada.
Estudo estatístico da representação e evolução do 397
conceito Etnia na CDU

Nela são apresentados o Auxiliar -053, que representa características


relacionadas com a idade, o Auxiliar -055, que representa características
segundo o sexo, o Auxiliar -056, que representa características relacionadas
com o carácter físico ou mental, o Auxiliar -057, que representa a pessoa
segundo a actividade profissional e o Auxiliar -058, que representa a pessoa
segundo a situação social.
Cumpre referir que o Auxiliar -054, que representa as características
segundo a nacionalidade ou a raça, ainda não consta nesta edição.

Classe 2 – Religião e Teologia: Estrutura e conteúdo

No que respeita a esta temática, nesta edição não se encontram


alterações nem relativamente às edições anteriores, nem relativamente aos
conteúdos, nem no que respeita à estrutura, como podemos verificar na
tabela que se segue.

22/28 Christliche Religion


29 Allgemeine und vergleichende Religionswissenschaft.
Nichtchristliche Religionen
291 Allgemeine und vergleichend Religionswissenschaft
292/299 Nichtchristliche Religionen
293 Religionen der germanischen und baltisch-slavischen Völker
294 Indische Religionen
295 Persische Religionen
296 Nachbiblisches judentum
297 Islam. Mohammedanismus
299 Sonstige Religionen
299.1 Religionen der Arier
299.2 Religionen der Semiten
299.3 Religionen hamitischer Völker
299.4 Religionen turanischer und uro-altaischer Völker
299.5 Religionen ostasiatischer Völker
299.6 Religionen afrikanischer Völker
299.7 Religionen nord-und mittelamerikanischer Völker
Tabela 33. Classe 2 – Religion
398

299.8 Religionen südamerikanischer Völker


299.9 Religionen worgeschichtlicher Volksstämme und nichtzivilisierter
Völker
Tabela 33. Classe 2 – Religion

Relativamente ao número de entradas desta classe, deve referir-se que


elas se mantêm quase inalteráveis, relativamente à edição anterior. As
entradas desta classe perfazem aproximadamente mil trezentas e cinquenta.
O Cristianismo ocupa cerca de mil e duzentas e cento e trinta entradas que
dizem respeito às religiões não cristãs, dizendo o remanescente das duas
variáveis respeito a temas gerais sobre Religião e Teologia.
No gráfico que se apresenta podemos observar que o segmento
Cristianismo continua a ser a religião que ocupa a maior percentagem, 90%,
ocupando o segmento Outras religiões uma percentagem pouco relevante,
10%.

Fig. 39 - Distribuição das entradas das subclasses


Estudo estatístico da representação e evolução do 399
conceito Etnia na CDU

Classe 3 Ciências sociais: Estrutura e conteúdos

No que respeita à estrutura e conteúdos desta classe, eles são


sensivelmente iguais aos da edição de 1927-1933.
Relativamente a esta matéria, ela encontra-se distribuída por 8
subclasses. A subclasse 30 Soziologie. Soziale Frage. Soziographie; 31
Statistik; 32 Politik. Allgemeine Staatslehre; 34 Recht. Rechtswissenschaft; 35
Öffentliche Verwaltung. Kriegskunst. Kriegswissenschaften; 36 Fürsorge.
Volkshilfe. Versicherung. Zusammenschlüsse zu sozialen Zwecken; 37
Erziehung. Unterricht; 39 Völkerkunde. Volkskunde. Sitte. Brauchtum.
Volksleben. Folklore.

308 Bedingungen des politischen und sozialen Lebens. Soziale Lage


einzelner Länder, Völker und Rassen. Sozialgeographie
312 Bevölkerungswissenschaft
312.15 Geburten nach Abstammung, Rasse, Volkstum, Sprache
312.151 Nach Abstammung
312.152 Nach Rasse
312.153 Nach Volkstum
312.154 Nach Sprache
312.25 Sterblichkeit nach Abstammung, Rasse, Volkstum, Sprache
312.251 Nach Abstammung
312. 252 Nach Rasse
312.253 Nach Volkstum
312.254 Nach Sprache
312.6 Physische Beschaffenheit Bevölkerung. Rasse, Grösse…
312.9 Verteilung und Zusammensetzung der Bevölkerung.
Bevölkerungsdichte
312.91 Nach Geburtsorten oder Heimatsorten
312.95 Nach Abstammung, Rasse, Volkstum, Sprache
312.951 Nach Abstammung
312.952 Nach Rasse
312.953 Nach Volkstum
312.954 Nach Sprache
312.99 Nach Religion, sozialer Lage, Klassen, Bildungsgrad
321 Gesellschaft. Staat
Tabela 34. Classe - 3 Sozialwissenschaften. Recht. Verwaltung
400

321.2 Horden. Stämme. Dorfgemeinschaften. Kasten


323 Innere Politik
323.1 Nationale Bewegungen. Nationale Fragen. Rassen. Srachen.
Nationale Minderheiten. Irredenta
323.112 Verteillung und Verbreitung von Rassen und
Nationalitäten
323.113 Rassen- und Staatsangehörige im Ausland
323.114 Irredentismus. Rassische Expansionsbestrebungen
323.12 Bewegungen gegen bestimmte Rassen und
Nationalitäten
323.13 Bewegungen zugunsten bestimmtere Rassen und
Nationalitäten
323.15 Nationale Minderheiten. Optanten
323.34 Sklaven. Leibeigene
325 W anderung. Kolonisation. Besitzungen. Schutzgebiete
325.1 Einw anderung
325.2 Auswanderung
325.22 Schutz von Auswanderern
325.23 Saisonauswanderer. Im Ausland arbeitende Saisonarbeiter.
Sachsengänger
325.25 Emigranten
325.252 Freiwillige Emigranten
325.254 Flüchtlinge. Vertriebene
325.28 Beförderung von Ausw anderern
325.3 Aktive Kolonisation
325.32 Kolonisation und W anderungen innerhalb eines Erdteiles
325.33 Kolonisation und W anderungen innerhalb eines Landes.
Binnenw anderung. Binnenkolonisation. Siedlung
325.352 Selbständige Regierung in Kolonien. Dominien
325.354 Behandlung und Zustand der Eingeborenen.
Eingeborenenpolitik
325.4 Passive Kolonisation
325.5 Typen von Kolonien
326 Sklaverei. Dienstbarkeit. Schutzherrschaft. Befreiung
326.1 Sklavenhandel. Mädchenhandel
326.2 Kulis
326.3 Leibeigene. Sklaven. Formen der persönlichen Abhängigkeit
326.4 Bekämpfung der Sklaverei
326.7 Bergünstigung der Sklaverei
326.8 Abschaffung der Sklaverei
329 Politische Parteien
329.3 Nach Religione
Tabela 34. Classe - 3 Sozialwissenschaften. Recht. Verwaltung
Estudo estatístico da representação e evolução do 401
conceito Etnia na CDU

329.31 Katholiken
329.32 Antiklerikale
329.37 Antisemiten
[329.4 D’après la race et la langue]
340 Recht im allgemeinen. Vergleichende Rechtswissenschaft
340.5 Vergleichende Rechtswissenschaft
341 Internationales Recht
341.012 Grundsatz der Nationalitäten. Recht der Nationalitäten
341.234 Recht der Minderheiten
341.41 Im Ausland begangene strafbare Handlungen. Von
Ausländern begangene strafbare Handlungen
341.42 Wirkung ausländischer Strafrechtsurteile
341.43 Ausweisung. Politische Flüchtlinge. Asylrcht
341.52 Ausländern gewährt Rechte. Recht zur Niederlassung
341.53 Rechtliche Beziehungen zwischen Inländer und
Ausländern
342 Öffentliches Recht. Staatsrecht. Verfassungsrecht
342.7 Grundrechte. Staatsbürgerrechte
342.71 Staatsbürger. Politischer Zustand. Voraussetzungen.
Nationalität. Indigenat. Bürgerrecht
342.711 Einbürgerung. Naturalisation
342.712 Angeborene Staatsangehörigkeit. Ursprüngliche
Staatsangehörigkeit. Bürgerrecht durch Geburt
342.714 Verzicht auf die Staatsangehörigkeit. Überstaatliche Rechte
342.717 Politische Rechte von Ausländern
342.72/.73 Rechte von Staatsburgen. Staat und Einzelperson
342.721 Persönliche Freiheit. Leibeigenschaft. Sklaverei.
Unverletzlichkeit der Person. Willkürliche Verhaftung
342.724 Gleicheit von Rassen und Religionsbekenntnissen. Stellung
fremder Rassen und primitiver Rassen
342.725 Sprachen. Amtliche Landessprache
342.731 Freiheit von Religionsbekenntnissen. Gewissensfreiheit.
Freiheit von Kultus und Gottesdienst
342.814 Staatsangehörigkeit. Rasse. Religion
342.827 Minderheitenvertretung. Verhältnismässige Vertretung.
Proportionalw ahlsystem. Absolute oder relative Mehrheit. Quorum.
Umkehrbarkeit von Stimmen
343 Strafrecht
343.221.52 W ilde. Urmenschen
343.42 Strafbare Handlungen gegen die Freiheit der Religionsübung
343.431 Knechtung. Sklaverei. Menschenhandel
343.975 Kriminalethnographie. Kriminalität verschiedener Rassen
Tabela 34. Classe - 3 Sozialwissenschaften. Recht. Verwaltung
402

347 Zivilrecht
347.167 Religion. Abstammung. Rasse
347.167.1 Religion
347.167.2 Abstammung. Rasse
347.173 Eingeborene. Ansiedler in Kolonien
347.176 Staatsangehürige. Inländer. Ausländer
347.177 Freie. Unfreie. Leibeigene. Hörige. Sklaven
348 Kirchenrecht
348.1/.7 Katholisches Kirchenrecht
348.1/.6 Inneres Kirchenrecht der Katholisches Kirche
Kanonisches Recht
348.7 Ausseres Kirchenrecht der Katholisches Kirche.
Kirchenstaatsrecht
348.8/.9 Kirchenrecht der übrigen
348.83 Anglikanisches kirchenrecht
348.84 Protestantisches Kirchenrecht
348.841 Lutherisches Kirchenrecht
348.842 Reformiertes Kirchenrecht
348.85 Presbyterianisches Kirchenrecht
348.87 Methodistisches Kirchenrecht
348.94 Buddhistisches Kirchenrecht
348. 96 Jüdisches Kirchenrecht
348.97 Islamisches Kirchenrecht
351 Eigentliche Aufgaben der öffentlichen Verw altung
351.756 Überwachung von Ausländern. Fremdenpolizei
351.756.1 Nationalisierung. Naturalisierung
368 Versicherungsw esen
368.41 Unfallversicherung
368.412.5 Inländische und ausländische Arbeitnehmer
368.412.52 Ausländische Arbeitnehmer
[368.834 Esclavage]
371 Schulorganisation. Unterrichtsorganisation. Erziehungssysteme
371.9 Erziehung besonderer Gattungen von Personen
371.97 Erziehung sonstiger besonderer Gattungen
371.974 Erzichung befreiter Sklaven. Negererzichung
371.975 Indianererzichung
371.976 Erziechung von Orientalen
371.98 Erziechung von Ausländern
371.99 Koedukation von Rassen
Tabela 34. Classe - 3 Sozialwissenschaften. Recht. Verwaltung
Estudo estatístico da representação e evolução do 403
conceito Etnia na CDU

[377 Education religieuse, morale et cléricale]


[377.8 L’Eglise chrétienne et l’instruction]
[377.9 L’Eglise non chrétienne et l’instruction]
379 Schule und Öffentlichkeit. Schulpolitik. Öffentliche Schulen.
Privatschulen
379.35 Geist der Erziehung. Schulpolitik vom religiösen und
konfessionellen Gesichtspunkt
379.355 Schulpolitik vom religiösen und konfessionellen
Gesichtspunkt
379.363 Schulpolitik und nationale, konfessionelle oder
sprachliche Minderheiten
391 Kleidung. Trachten. Schmuck
391.8 Massken. Larven
391.91 Tätowierungen. Bemalungen
391.92 Künstliche Missbildungen und Verstümmelungen. Ohrringe.
Nasenringe. Trepanationen usw
391.98 Schmuck von Tieren, Pflanzen und Sachen
392 Sitte und Brauch im Privatleben
392.1 Geburt. Taufe. Beschneidung. Pubertät. Geschlechtsreife.
Mündigkeit. Grossjährigkeit
392.11 Gebräuche vor der Geburt
392.12 Geburt
392.123 Abtribung. Kindesmord. Engelmacherei
392.14 Taufe
392.15 Beschneidung
392.17 Mannbarkeitserklärung. Initiationszeremonien. Jünglingsweihe
392.18 Mündigkeitserklärung
392.2 Tötung von Menschen
392.21 Töten una Aussetzen von Kindern
392.22 Töten von alten Menschen
392.23 Töten von Gefangenen
392.24 Rituelle Tötungen
392.241 Kopfjägerei
392.242 Tötungen durch Tiger-und Panthermenschen
392.244 Ritueller Kindermord
392.27 Verstümmelungen von Opfern
392.28 Wüteriche. Werwölfe. Vam pyre
392.4 Hofmachen. Flirt. Eheversprechen. Verlobung
392.42 Hofm achen. Flirt. Fensterln
392.44 Ehev ersprechen
392.46 Verlobung
Tabela 34. Classe - 3 Sozialwissenschaften. Recht. Verwaltung
404

392.5 Heirat. Eheschliessung


392.51 Hochzeitsgebräuche
392.52 Jus primae noctis. Herrenrecht
392.53 Agamie. Ehelosigkeit. Hagestolzc. Junggesellen. Alte Jungfern
392.54 Eheformen
392.541 Gruppenehe
392.542 Ehen innerhalb und ausserhalb von Stämmen
392.543 Ehe unter Blutsverwandten
392.544 Vielmännerei (Polyandrie). Vielweiberei (Polygamie)
392.544.1 Vielm ännerei
392.544.2 Vielweiberei
392.545 Einehe
392.546 Ehe mittels Frauenraub
392.547 Ehe mittels Brautkauf
392.57 Lebensgewohnheiten in der Ehe. Menstruationsgebräuche usw
392.6 Beziehungen zwischen den Geschlechtern
392.62 Konkubinat. Morganatische Ehe
392.63 Zölibat. Religiöse Eheverbote
392.64 Promiskuität
392.65 Prostitution
392.81 Gebräuche beim Zubereiten und Geniessen von Speisen
392.83 Verbotene Speisen
392.84 Religiöser Vegetarismus
392.86 Gebräuche beim Zubereiten und Geniessen von
Getränken. Trinksitten
392.89 Kannibalismus. Menschenfresserei
393 Tod. Leichenbehandlung. Leichenbegängnisse. Totenbräuche.
Leichenfeiern
393.1 Erdbestattung. Beerdigung
393.2 Feuerbestattung. Einäscherung
393.3 Einbalsamierun. Mumien. Totenmasken
393.4 Aufbahrung von Leichen. Totenwachen
393.7 Trauer
393.9 Besondere Gebräuche bei Bestattungen
393.93 Totentänze
393.94 Totengebete. Leichengesänge. Totenklage
393.95 Opfergaben bei Bestattungen. Leichenschmäuse
393.951 Opfergaben
393.952 Leichenschm äuse
Tabela 34. Classe - 3 Sozialwissenschaften. Recht. Verwaltung
Estudo estatístico da representação e evolução do 405
conceito Etnia na CDU

393.97 Leichenverstümmlungen
393.98 Witwenstand. Witwerstand
393.988 Witwenverbrennung
394 Öffentliches Leben. Gesellschaftliches Leben. Volksleben
394.24 Volksunterhaltungen, z. B. Sackhüpfen, Wurstschnappen,
Wettkle
394.3 Spiele. Reigen. Tänze. Bälle
394.8 Zweikampf. Duell. Selbstmord
394.84 Zweikampf. Duell
394.86 Selbstmord. Harakiri
397 Nomadenvölker. Zigeuner
398 Folklore im engeren Sinne
398.1 Wesen der volkstümlichen Überlieferung
398.2 Erzählungen. Märchen. Sagen. Legenden. Schwänke. Schnurren
398.21 Märchen
398.22 Sagen
398.221 Mythologische Sagen
398.222 Christliche Sagen. Legenden
398.25 Schwänke. Schnurren
398.3 Volksglaube. Volksbrauch. Aberglaube
398.31 Das Feuer
398.312 Feueranbetung
398.314 Wahrsagung aus Feuer
398.318 Feuer bei Krankheiten
398.32 Glaube und Brauch in bezug auf bestimmte örtlichkeiten
398.33 Glaube und Brauch in bezug auf bestimmte Zeiten und Feste
398.332.1 Frühling
398.332.2 Sommer
398.332.3 Herbst
398.332.4 Winter
398.4 Die übersinnliche Welt
398.41 Gut und böse Geister
[398.411 Fées, ondines, elfes]
[398.413 Dragons]
[398.414 Esprits]
398.42 Gespenster. Spuk. Irrlichter usw
398.43 Die elem entarische Welt. Elementargeister
398.431 Erdgeister. Gnom e. Kobolde. Heinzelm ännchen.
Berggeister
Tabela 34. Classe - 3 Sozialwissenschaften. Recht. Verwaltung
406

398.432 Wassergeister. Undinen. Nixen


398.433 Luftgeister. Sylphen. Elfen
398.434 Feuergeister. Salamander
398.44 Drachen. Lindwürmer
398.46 Riesen. Zwerge
398.47 Hexen
398.6 Rätsel. Scherzfragen. Scherzreden. Sinnsprüche. Wahlsprüche
398.8 Volkslieder
398.81 Heim atlieder. Vaterlandslieder
Tabela 34. Classe - 3 Sozialwissenschaften. Recht. Verwaltung

Relativamente ao número de entradas, elas são constituídas


aproximadamente pelo seguinte: subclasse 30, cento e setenta entradas;
subclasse 31, cento e trinta entradas; subclasse 32, cento e setenta entradas;
subclasse 34, duas mil e novecentas entradas; subclasse 35, duas mil e
trezentas entradas; subclasse 36, mil e cem entradas; subclasse 37, nocentas
e setenta entradas e a subclasse 39, duzentas e noventa entradas, o que
perfaz um total de aproximadamente seis mil entradas.
Relativamente à matéria objecto de estudo, ela ocupa nestas oito
classes as seguintes entradas: subclasse 30, uma entrada; subclasse 31,
dezanove entradas; subclasse 32, trinta e nove entradas; subclasse 34,
cinquenta e duas entradas; subclasse 35, três entradas; subclasse 36, quatro
entradas; subclasse 37, doze entradas, e a subclasse 39, cento e oito
entradas, o que perfaz um total de duzentas e trinta e sete entradas relativas
a esta matéria.
O gráfico apresentado revela a realidade percentual das entradas que se
ocupam da matéria objecto de estudo observada nas edições anteriores.
Assim, esta matéria continua a ser preponderante na subclasse 39 Costumes,
seguindo-se-lhe as subclasses 32 e 31. Estas variáveis representam os
seguintes valores percentuais: 37%, 23% e 15%, respectivamente.
No entanto, quando verificamos a frequência da representatividade dos
assuntos relacionados com o conceito Etnia no conjunto de todas as divisões
destas subclasses, verificamos que essa frequência é de uns inexpressivos 4%
(duzentos e trinta e sete entradas, num total de seis mil).
Estudo estatístico da representação e evolução do 407
conceito Etnia na CDU

Fig. 40 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 4 - Filologia e Linguística: Estrutura e conteúdos

Tal como observamos na edição anterior, esta classe é constituída pela


subclasse 40 Allgemeines, 41 Allgemeine Sprachwissenschaft und Philologie,
42/49 Einzelne Sprachen und Sprachstämme, sendo este último conjunto
subdividido da seguinte forma: 42/46 Romanische Sprachen; 42/48
Abendländische Sprachen e 49 Orientalische Sprachen. Afrikanische Sprachen.
Amerikanische Sprachen. Ozeanische Sprachen.
É nesta última notação e no seu desenvolvimento que se encontra o
maior número de línguas usadas pelas culturas que, de forma geral, se
designam por etnias.
408

42/49 Einzelne Sprachen und Sprachstämme


491 Indogermanische, indogermanische oder arische Sprachen
492 Semitische Sprachen
493 Hamitische Sprachen
494/499 Isolierende und agglutinierende Sprachen
495 Asiatische Sprachen
496 Afrikanische Sprachen
497/498 Amerikanische Sprachen
497 Nordamerikanische und mittelamerikanische Sprachen
498 Südamerikanische Sprachen
499 Austronesische (maliisch-polynesische) Sprachen.
Australische Sprachen. Papuasprachen. Tasmanische Sprachen.
Antarktische Sprachen
Tabela 35. Classe 4 - Philologie. Linguistique

Os conteúdos que formam as subclasses representadas nesta tabela são


expressos pelo seguinte número de entradas: subclasses 42/48, que
representam as Línguas individualmente consideradas e que, como já
referimos, são as mais usadas nas culturas europeias e em alguns países
colonizados por estas, apresentam cerca de setenta entradas. A subclasse 49,
que representa as Línguas integradas numa só subclasse, é constituída por
aproximadamente seiscentas e setenta entradas, o que perfaz um total de
setecentas e trinta entradas.
O gráfico que apresentamos de seguida, demonstra uma realidade
semelhante àquela que observamos nos Auxiliares de Língua. A percentagem
relativa à variável Línguas integradas numa só subclasse, 90%, é amplamente
superior à percentagem relativa à variável Línguas individualmente
consideradas, cujo valor percentual se manifesta num inexpressivo 10%.
Estudo estatístico da representação e evolução do 409
conceito Etnia na CDU

Fig. 41 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 5 - Ciências puras: Estrutura e conteúdos

Relativamente à classe 5, Ciências puras e à subclasse 57, Ciências


biológicas em particular, mantém-se a divisão 572 sob a designação
Anthropobiologie.
Em comparação com a edição francesa de 1927-1933, o assunto objecto
de estudo apresenta a mesma estrutura e o mesmo número de entradas, tal
como podemos observar pela tabela que apresentamos. Dado este facto,
dispensamo-nos de apresentar o seu número. Ao fazê-lo concorreríamos para
a redundância.

57 Biologische Wissenschaften
572 Anthropologie
572.2 Verschiedenartigkeit der Menschen. Rassen. Arten.
Abarten
572.9 Spezielle Anthropographie. Die einzelnen Rassen.
Rassenkunde im allgemeinen
Tabela 36. Classe 5 - Sciences pures
410

Classe 8 – Literatura e Belas Letras: Estrutura e conteúdos

Em relação a esta classe, ela continua a ser constituída por todas as


matérias que encontramos na tabela da edição anterior. Esta estrutura-se
essencialmente em dois grandes grupos: 8-1/-9 Besondere Anhängezahlen
zur Kennzeichnung der Dichtungsgattungen (géneros literários) e pelo
conjunto formado pelas notações 82/89 Die Literatur der einzelnen Nationen,
Völker, Stämme usw (literaturas individuais), sendo este último conjunto o
considerado para objecto de estudo, em especial o desenvolvimento da
subclasse 89, como podemos observar na tabela que se segue.

82/89 Abendländische Literaturen


89 Örientalische Literatur
891 Indoeuropäische, indogermanische oder arische Literatur
892 Semitische Literatur
893 Hamitische Literatur
894/899 Literatur der isolierenden und agglutinierenden Sprachen
894 Turanische Literatur
895 Asiatische Literatur
899 Polynesische Literatur
Tabela 37. Classe 8 – Schöne Literatur (Wortkunstwerke)

O número de entradas entre as subclasses 82/88, que representa as


Literaturas individualmente consideradas é de setenta e cinco e a subclasse
89 que representa as Literaturas integradas numa só subclasse e o seu
desenvolvimento, ocupa trinta e oito entradas.
De acordo com os valores projectados no gráfico que se segue podemos
referir, relativamente às variáveis consideradas, que estas apresentam uma
situação inversa à observada no gráfico (Fig. 41). Assim, a variável relativa às
Literaturas integradas numa só subclasse, apresenta uma percentagem de
34%, portanto inferior, relativamente à percentagem da variável das
Literaturas individualmente consideradas, que apresenta um valor superior,
expressando-se este em 66%.
Estudo estatístico da representação e evolução do 411
conceito Etnia na CDU

Fig. 42 - Distribuição das entradas das subclasses

1.4 Classification Décimale Universelle. 1967-1973

Esta edição apresenta uma particularidade face às outras edições


consideradas: é a primeira edição média desenvolvida. Estas edições surgiram
devido ao facto de as edições abreviadas que se iam publicando em diversas
línguas apresentarem as matérias pouco desenvolvidas, não dando, desta
forma, uma resposta adequada aos serviços que as utilizavam. Por outro lado,
as classificações completas eram de difícil manuseamento e aplicação, devido
ao elevado nível de desenvolvimento que apresentavam.
Por isso para contemplar uns e outros, o Comité Central de Classification
decidiu elaborar uma tabela média desenvolvida. A tal propósito, pode ler-se
no prefácio desta edição o seguinte:

Le Comité Central de Classification (CCD) de la Fédération


Internationale de Documentation (FID), qui détient l’autorité
suprême pour les questions de C.D.U. […] décida en l’année 1962
de commencer la préparation d’une édition de la C.D.U. dont le
412

contenu devrait se situer entre l’édition abrégée et l’édition


complète.253

Quanto à sua estrutura, apresenta dois volumes.

O primeiro é constituído pela Introdução, na qual são apresentadas a


natureza e características do sistema, assim como algumas regras de
aplicação do mesmo, nomeadamente no que respeita aos auxiliares.
É ainda constituído pelas tabelas dos auxiliares comuns e pelos auxiliares
especiais. A estas tabelas seguem-se as tabelas principais, que são
constituídas pelas classes principais (0/9).
O segundo volume é constituído pelo índice alfabético, relativo aos
assuntos que integram as tabelas auxiliares e as tabelas principais.
Ao contrário das outras edições anteriores, esta já não contempla a
Classe 4. O seu conteúdo foi, como sabemos, transferido para a classe 8.
Após esta breve introdução, passamos ao registo da informação
pertinente para o nosso estudo.

Auxiliares de Língua: Estrutura e conteúdo

Esta tabela de classificação já apresenta algumas diferenças no que


respeita ao conteúdo, e no que respeita à estrutura relativamente à edição
alemã de 1934-1953 e às outras edições que foram consideradas.
Nesta edição os Auxiliares de língua integram a tabela I C.
Em termos de classificação continuam a ter a mesma função: exprimir a
língua em que um documento está escrito.
Relativamente aos conteúdos desta subdivisão, eles sofreram alteração.
Pela primeira vez aparece, de forma explícita, a noção de poliglota na notação
=00, assim como uma notação para tradução, =03.2/.9//=2/=9. Aparecem
também outras notações para representar os conceitos de línguas vivas,
línguas mortas e línguas artificiais, =083; =084 e =089, respectivamente.

253
FEDERATION INTERNATIONAL DE DOCUMENTATION (FID) – Classification Décimale
Universelle. 1967-1973. (Preface).
Estudo estatístico da representação e evolução do 413
conceito Etnia na CDU

Assiste-se ainda à aglutinação das línguas clássicas sob a notação =7.


Casos há em que se observa um maior nível de especificação no que respeita
a estes auxiliares.
Relativamente à estrutura, ela apresenta-se, de uma forma geral,
idêntica àquela que é apresentada nas edições anteriores. Todavia algumas
subclasses que eram usadas para representar determinadas línguas, dada a
sua especificidade, nesta edição passam a ser divisões.
Tendo em conta as alterações observadas, e antes de apresentarmos a
tabela onde figuram os elementos que são objecto de análise, podemos
observar, no que respeita à estrutura, que a subdivisão de língua se
caracteriza por três conjuntos de notações:

=00/=089 Generalidades
=20/=883 Línguas mais correntes
=91/99 Outras línguas

Note-se ainda que, com alguma frequência, se observam saltos de


subclasses para divisões e vice-versa.
Para concluir, referimos ainda que, pela primeira vez, aparecem
subdivisões, o que se justifica dada a especificidade que esta edição
apresenta nesta matéria relativamente às outras edições.

Exemplo:

Termo vocabular Notação

Língua persa moderna =915.5

Passamos, de seguida, a apresentar a tabela relativa aos Auxiliares de


língua, no que se refere às Línguas individualmente consideradas, assim como
os Auxiliares de língua relativos às Línguas integradas numa só subclasse,
muitas das quais, salvaguardando algumas excepções, são faladas por grupos
étnicos, designadamente as que integram as subclasses =91/=99.
414

=20/=883 Auxiliaires de langues individuelles [Línguas


correntes]
=91 Langues indo-européennes, indo-germaniques ou aryennes
=92 Langues sémitiques
=93 Langues chamitiques
=941 Langues mandchoues
=951 Chinois
=961 Hottentot
=97/=98 Langues autochtones américaines (indiennes)
=97 Langues autochtones de l’Amérique du nord et de
l’Amérique centrale
=98 Langues autochtones de l’Amérique du sud
=99 Langues austronésiennes (malayo-polynésiennes)
Tabela 38. Table I c - Divisions communes de langues

Relativamente aos Auxiliares de língua são compostos numericamente


por quarenta e quatro línguas individuais, que integram as mais usadas; as
línguas menos conhecidas apresentam-se em número de setenta. As duas
perfazem um total de cento e catorze línguas individuais, que se situam nesta
tabela entre as subclasses =20/=91.
Como se observa no gráfico que se apresenta, os Auxiliares das Línguas
relativos às Línguas individualmente consideradas manifestam uma
percentagem de 39% e os Auxiliares relativos às Línguas integradas numa só
classe apresentam um valor percentual mais elevado, que se traduz em 61%.
Estudo estatístico da representação e evolução do 415
conceito Etnia na CDU

Fig. 43 - Distribuição das entradas das subclasses

Tabela (If) - Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade: estrutura


e conteúdo

Relativamente a estes Auxiliares e considerando os seus conteúdos,


podemos estruturar esta Divisão Comum em seis conjuntos temáticos:
O primeiro, que designaremos por Raças e povos no sentido comum do
termo, compreende as subclasses (=081/=088); o segundo grupo
compreende os povos de regiões físicas determinadas e situa-se no (=1.2); o
terceiro grupo diz respeito às nacionalidades particulares do Mundo Antigo,
tema que se encontra representado no (=1.3); as notações (=1.4/.9)
compreendem as Nacionalidades particulares do Mundo Moderno. Por último
consideramos as notações (=2/=9), que representam, nesta edição, as
diversas raças e nacionalidades, assim como os grupos linguístico-culturais.
Da sistematização apresentada podemos observar que nesta matéria as
diferenças são significativas. Para termos uma visão geral das alterações
existentes passamos a apresentar a seguinte tabela:
416

(= 081/=088) Races et peuples en général


(=1.2) Peuples de territoires geographiques déterminés
(= 1.3) Peuples de pays déterminés de l’Antiquité
(=1.4)/(=1.9) Peuples de différents pays
(=2/=9) Races et nationalités variées. Groupes linguistico-
culturels
(=2) Race blanche en général. Races occidentales
(=20) Race anglo-saxonne
(=3) Race germanique
(=4) Race romane
(=71) Latins. Race latine
(=81) Slaves en général
(=9) Races orientales en général. Races de couleur
(=91) Ariens. Races indo-germaniques
(=92) Sémites, en général
(=924 )Juifs, Israélites
(=927) Arabes
(=95) Races asiatiques. Mongols
(=951) Chinois
(=96) Races africaines (autochtones). Nègres
Tabela 39. (Table 1 f) Divisions communes de races et de peuples

No que respeita aos Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade, de


uma forma geral eles apresentam um total de vinte e duas entradas,
encontrando-se distribuídos da seguinte forma: onze entradas representam
conceitos de natureza geral; duas representam os povos Antigos e catorze
entradas representam as diferentes raças. Apresenta ainda uma entrada que
se pode desenvolver de acordo com os Auxiliares de lugar modernos, no caso
de se pretender representar os povos modernos. O facto de este último tipo
de Auxiliares não se apresentarem de forma discriminada e precisa, concorreu
para a impossibilidade de apresentarmos a sua distribuição de uma forma
objectiva, como é o pretendido. Ao fazê-lo perderíamos significado, ao mesmo
tempo que concorreríamos para a ambiguidade.
Acresce ainda o facto de a metodologia que foi usada na construção dos
gráficos se basear em dados explícitos nas tabelas, circunstância que concorre
para afastarmos qualquer tipo de informação subentendida.
Estudo estatístico da representação e evolução do 417
conceito Etnia na CDU

Todavia, os resultados obtidos através da leitura da tabela, respectiva,


tal como acontece em outras situações análogas, serão objecto de análise nos
pontos adequados. Esta situação também se verifica neste tipo de Auxiliares
da edição anterior.

(Tabela I k) Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais

Importa referir que é a primeira vez que, este tipo de Auxiliares,


aparecem devidamente estruturados, e tal como o nome indica, servem para
representar as características de pessoa, desde que não exista uma notação
principal ou um Auxiliar especial para as representar.
Estes Auxiliares também contemplam, na notação -054, que representa
questões relacionadas com as etnias, nacionalidade e/ou raça, como podemos
observar na tabela que se segue.
Numa breve nota de aplicação aos mesmos são apresentadas indicações
relativamente ao seu uso.

-05 Personnes
-054 D’après la nationalité ou la race
-054.1 Appartenant à une race fortement métissée
-054.2 Appartenant à une race peu métissée
Tabela 40. (Table I k) Personnes

Nesta tabela, os Auxiliares de pessoa, perfazem um total de cento e oito


entradas. Destas, três apresentam características afins da matéria objecto de
estudo e cento e cinco apresentam outras características relativas ao conceito
de pessoa.
A percentagem da variável Auxiliares de pessoa segundo a
nacionalidade apresenta o valor de 3%. A variável relativa aos Outros tipos de
Auxiliares de pessoa apresenta uma percentagem de 97%.
418

Fig. 44 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 2 – Religião e Teologia: Estrutura e conteúdo

Relativamente a esta classe, tal como acontece com a edição em língua


alemã, não se encontraram alterações significativas. No que respeita à
estrutura há a salientar a introdução da divisão 298 Diversas religiões
europeias. Esta divisão foi eliminada das edições de 1927-1933 e da de 1934-
1953.
Há ainda a referir a alteração da designação de algumas subclasses e
divisões.
Apesar de não se encontrarem grandes alterações de estrutura e
conteúdos, observam-se alterações substanciais em relação ao número de
entradas. Observa-se a mesma situação no que se refere à sua distribuição
pela Religião cristã e pela Religião não-cristã.
Estudo estatístico da representação e evolução do 419
conceito Etnia na CDU

[22/28 Religion chrétienne. Christianisme]


29 Religions diverses
291 Science et Histoire comparée des religions
292 Religion des Grecs (anciens) et des Romains (ancien[s]),
Mythologie classique
293 Religion des Germains et des Wendes
294 Religions des Hindous
295 Religions perses
296 Religion juive
297 Islamisme. Mahométisme
299 Autres religions
299.1 Religions des Aryas
299.2 Religions des Sémites
299.3 Religions des peuples hamitiques. Egyptiens
299.4 Religions des peuples touraniens et peuples ouro-altaïques.
Finnois. Mongols. Magyars. Samoyèdes. Tartares, tribus sibériennes.
Lapons
299.5 Religions des peuples asiatiques orientaux
299.6 Religions des peuples africains. Cafres. Bantous. Hottentots.
Baschimans. Bassoutos. Berbères. Gallas
299.7 Religions des peuples nord-américains et peuples de l’Amérique
centrale
299.8 Religions des peuples sud-américains. Précolombiens. Caraïbes.
Incas. Peruviens. Chibchas
299.9 Religions des peuples malayo-polynésiens. Australiens. Papous.
Mélanésiens. Malais. Micronésiens. Polynésiens
Tabela 41. Classe 2 - Religion. Théologie

Quantificando os dados observados, registamos aproximadamente


quinhentas entradas relativas ao Cristianismo e aproximadamente cem para
as religiões não-cristãs, o que perfaz um total aproximado de seiscentas
entradas para todas as religiões.
Apesar de se ter observado esta alteração numérica das entradas, o
Cristianismo continua a ocupar as mesmas sete subclasses que já ocupava na
edição anterior. Estas encontram-se compreendidas entre os números 22/28.
As religiões não-cristãs continuam a ocupar apenas a subclasse 29.
420

Neste gráfico continuamos a verificar a percentagem hegemónica da


variável Cristianismo, 83% sobre as percentagens relativas à variável Outras
religiões, 17%.

Fig. 45 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 3 – Ciências sociais. Direito. Administração

No que respeita a esta classe, de uma forma geral, ela mantém a


estrutura que foi observada nas outras edições, notando-se, contudo, uma
certa tendência para a especificação das notações, facto que concorre para
que apresente um maior número de subdivisões; é o que acontece, por
exemplo, em 312.991 Selon les langues et les races.
O número significativo de subdivisões que se observa nesta tabela, no
geral, e no desenvolvimento dos assuntos sobre o conceito Etnia e com elas
relacionados, traduz, naturalmente, a especificidade destas matérias na
mesma.
Estudo estatístico da representação e evolução do 421
conceito Etnia na CDU

Ainda relativamente ao conteúdo, e no que respeita a esta temática,


verifica-se que foram introduzidas algumas matérias relativamente à edição
de 1927-1933; observa-se também a eliminação de outras.
Estas e outras alterações irão ser consideradas no capítulo relativo à
análise dos resultados.

308 Conditions de la vie politique et sociale. Situation sociale des


différents pays, peuples et races. Géographie sociale.
3 12 Demographie. Population
[ 312.15 Geburten nach Abstam mung, Rasse, Volkstum,
Sprache ]
[312.151 Nach Abstam mung]
[312.152 Nach Rasse]
[312.153 Nach Volkstum ]
[312.154 Nach Sprache]
[ 312.25 Sterblichkeit nach Abstam m ung, Rasse, Volkstum ,
Sprache ]
[312.251 Nach Abstam mung]
[312. 252 Nach Rasse]
[312.253 Nach Volkstum ]
[312.254 Nach Sprache]
[312.6 Physische Beschaffenheit Bev ölkerung. Rasse,
Grösse…]
312.9 Répartition et composition de la population. Densité de la
population
[312.91 Nach Geburtsorten oder Heimatsorten]
312.95 Selon la descendence, la race, la nation et la langue
[312.951 Nach Abstam mung]
[312.952 Nach Rasse]
[312.953 Nach Volkstum ]
[312.954 Nach Sprache]
312.99 Selon la religion, les conditions sociales, les classes, le degré
d’instruction
[321 Gesellschaft. Staat]
[321.2 Horden. Stäm me. Dorfgem einschaften. Kasten]
323 Politique intérieure
323.1 Mouvements nationaux. Questions nationales. Minorité[s]
nationales
323.11 Composition de la population d’après les nationalités. Mèlange,
séparation, extension des races, langues et nationalités
323.12 Mouvements contre certaines races ou nationalités
Tabela 42. Classe 3 - Sciences sociales. Droit. Administration
422

323.13 Mouvements en faveur de certaines races ou nationalités


323.14 Exagérations nationalistes (Supériorité raciale)
323.15 Minorités nationales
323.17 Autonom ie et autodéterm ination des nationalités
[323.34 Sklaven. Leibeigene]
325 Migration, colonisation, possession
325.11 Colonisation et migration dans un pays
325.14 Immigration, immigrant
325.2 Emigration, émigrant
325.25 Emigrants, proscrits, évacués, personnes déplacées, déportés
325.25:2 Pour des cause religieuses
325.25:572.9 Pour des causes racistes
325.254 Réfugiés, personnes déplacées
325.27 Rapatriement
[325.28 Beförderung von Auswanderern]
325.3 Colonisation en général. Politique Coloniale
[325.32 Kolonisation und Wanderungen innerhalb eines
Erdteiles]
[325.33 Kolonisation und Wanderungen innerhalb eines
Landes. Binnenwanderung. Binnenkolonisation. Siedlung]
[325.352 Selbständige Regierung in Kolonien. Dom inien]
[325.354 Behandlung und Zustand der Eingeborenen.
Eingeborenenpolitik]
[325.4 Passive Kolonisation]
325.45 Organisation intérieure et administration des colonies
et quelques territoires non souverains. Politique vis- à- vis des
indigènes
325.45- 054. 2 Population indigène en voie de dév eloppement
325.45- 058.57 Population indigène év oluée
325.452 Gouvernem ent indigène. Chefferies. Conseils
indigènes
[325.5 Typen von Kolonien]
326 Esclavage, lutte contre l’esclavage
326.1 Commerce des esclaves
326.2 Contrats de servitude. Coolies
326.3 Serfs et servage. Formes diverses de servitude personnelle…
326.4 Lutte contre l’esclavage
[326.7 Bergünstigung der Sklaverei]
326.8 Abolition de l’esclavage
329 Partis politiques et sociaux
329.3 Partis et mouvements à tendance religieuse
329.31 Catholiques
Tabela 42. Classe 3 - Sciences sociales. Droit. Adminidtration
Estudo estatístico da representação e evolução do 423
conceito Etnia na CDU

329.32 Anticléricaux
329.36 Partis et m ouvem ents à tendance antireligieuse
[329.37 Antisemiten]
329.4 Partis et m ouvem ents à buts racistes ou linguistique[s]
340 Droit en général. Droit comparé
340.5 Jurisprudence ethnologique. Droit des peuples primitifs.
Différences et analogies entre les droits de différents peuples, races et
époques.
341 Droit international
341.012 Principe des nationalités. Droit des nationalités
341.234 Droit des minorités
341.41 Infractions diverses commises à l’étranger ou par des
étrangers. Application de la loi pénale quant aux lieux
341.42 Effet du jugement étranger de droit pénal
341.43 Expulsion. Réfugiés politiques. Droit d’asile
341.5 Situation des étrangers
[341.52 Ausländern gewährt Rechte. Rechte zur
Niederlassung]
[341.53 Rechtiche Beziehungen zwischen Inländer und
Ausländern]
342 Droit constitutionnel. Droit public
342.7 Droits premordiaux. Droits des citoyens… garantis a l’étranger…
342.71 Qualité de citoyen. Nationalité
342.711 Naturalisation
342.712 Nationalité originaire
342.714 Renonciation à la nationalité. Droits supranationaux. Option
342.717 Droits politiques accordés aux étrangers
[342.72/.73 Rechte von Staatsburgen. Staat und Einzelperson]
342.721 Liberté individuelle
342.724 Egalité des races et des religions
[342.725 Sprachen. Am tliche Landessprache]
342.731 Liberté de religion. Liberté de conscience et du culte
342.814 Nationalité. Race. Religion
342.827 Représentation des minorités…
343 Droit pénale
343.221.52 Sauvages et primitifs
343.42 Infractions contre la liberté des cultes
343.431 Asservissement. Esclavage, traite, servitude personnelle
343.975 Ethnographie criminelle. Criminalité chez les différentes races
347 Droit civil
Tabela 42. Classe 3 - Sciences sociales. Droit. Administration
424

[347.167 Religion. Abstam mung. Rasse]


[347.167.1 Religion]
[347.167.2 Abstam mung. Rasse]
[347.173 Eingeborene. Ansiedler in Kolonien]
[347.176 Staatsangehürige. Inländer, Ausländer]
[347.177 Freie. Unfreie. Leibeigene. Hörige. Sklaven]
348 Droit ecclésiastique
[348.83 Anglikanisches kirchenrecht]
[348.84 Protestantisches Kirchenrecht]
[348.841 Lutherisches Kirchenrcht]
[348.842 Reform iertes Kirchenrcht]
[348.85 Presbyterianisches Kirchenrcht]
[348.87 Methodistisches Kirchenrcht]
[348.94 Buddhistisches Kirchenrcht]
[348. 96 Jüdisches Kirchenrcht]
[348.97 Islamisches Kirchenrcht]
[371.9 Education de catégories spéciales de personnes]
348.1/.7 Droit ecclésiastique catholique
348.8/.9 Droit ecclésiastique des diverses églises (non catholique)
351 Activités propres à l’administration politique
351.756 Surveillance des étrangers. Police pour les étrangers. Statut
des étrangers
[351.756.1 Nationalisierung. Naturalisierung]
[368 Versicherungswesen]
[368.41 Unfallv ersicherung]
[368.412.5 Inländische unäusländische Arbeitnehm er]
[368.412.52 Ausländische Arbeitnehm er]
[368.834 Esclavage9
[371 Schulorganisation Unterrichtsorganisation.
Erziechungssysteme]
[371.9 Erziechung besonderer von Personen]
[371.97 Erziechung sonstiger besonderer Gattungen]
[371.974 Erzichung befreiter Sklaven. Negererzichung]
[371.975 Indianererzichung]
[371.976 Erziechung von Orientalen]
[371.98 Erziechung von Ausländern]
[371.99 Koedukation]
376 Education. Formation et enseignem ent de catégories
particulières de personnes
Tabela 42. Classe 3 - Sciences sociales. Droit. Administration
Estudo estatístico da representação e evolução do 425
conceito Etnia na CDU

376.66 Enfants de personnes itinérantes, nom ades, marins,


bateliers
376.68 Enfants d’étrangers
376.7 Education de groupes nationaux spéciaux, m inorités
376.72 Groupes religieux ou confessionnels
376.74 Groupe ethniques ou linguistiques
[379 Schule und Öffentlichkeit. Schulpolitik. Offentliche
Schulen. Privatschulen]
[379.35 Geist der Erziehung. Schulpolitik vom religiösen und
konfessionellen Gesichtspunkt]
[379.355 Schulpolitik vom religiösen und konfessionellen
Gesichtspunkt]
[379.363 Schulpolitik und nationale, konfessionellen oder
sprachliche Minderheiten]
391 Costumes. Costume folklorique. Modes. Décorations
391.8 Masques
391.91 Tatouages
391.92 Mutilations et déformations. Anneaux dans le nez et les
oreilles, trépanations, etc.
391.98 Parures des animaux. Ornements et vêtements
392 Coutumes et usages dans la vie privée
392.12 Naissance
392.14 Baptême
392.15 Circoncision
392.17 Rituels de puberté
392.18 Rituels de majorité
392.2 Mort de personnes, par ex. : de personnes âgées, de
prisonniers. Décapitation. Loups-garous
[392.21 Töten una Aussetzen v on Kindern]
[392.22 Töten von alten Menschen]
[392.23 Töten von Gefangenen]
[392.24 Rituelle]
[392.241 Kopfjägerei]
[392.242 Tötungen durch Tiger-und Pantherm enschen]
392.27 Mutilation des victimes
[392.28 Wüteriche. Werwölfe. Vam pyre]
392.4 Courtisage. Flirt. Promesse de mariage. Fiançailles
[392.42 Hofm achen. Flirt. Fensterin]
[392.44 Ehev ersprechen]
[392.46 Verlobung]
392.5 Mariage
Tabela 42. Classe 3 - Sciences sociales. Droit. Administration
426

392.51 Coutumes nuptiale. Noces


392.52 Jus primae noctis. Droit du seigneur
392.53 Agamie. Célibat. Vieux garçons. Vieilles filles
392.54 Formes diverses du mariage
[392.541 Gruppeneche]
[392.542 Ehen innerhalb und ausserhalb von Stämm en]
[392.543 Ehe unter Blutsv erwandten]
392.544 Union multiples (Polygamie)
[392.544.1 Vielm ännerei]
[392.544.2 Vielweiberei]
[392.545 Einehe]
392.546 Mariage par rapt
392.547 Mariage par achat
[392.57 Lebensgewohnheiten in der Ehe.
Menstruationsgebräucheusw]
[392.6 Beziehungen zwischen den Geschiechtern]
392.62 Concubinage. Mariage morganatique
[392.63 Zölibat. Religiöse Ehev erbote]
[392.64 Prom iskuität]
392.65 Prostitution
392.81 Rites du repas. Coutumes y relatives
392.83 Aliments prohibés
[392.84 Religiöser Vegetarism us]
392.89 Cannibalisme. Anthropophagie
393 Mort. Traitement des morts. Funérailles. Rites mortuaires.
Cérémonies funèbres
393.1 Enterrement. Ensevelissement. Inhumation
393.2 Crémation. Incinération
393.3 Embaumement. Momies. Masques des morts
393.4 Exposition des morts. Veillée des morts
393.7 Deuil
393.9 Coutumes spéciales relatives aux funérailles. Danses funébres.
Mutilation des cadavres. Veuvage
[393.93 Totentänze]
[393.94 Totengebete. Leichengesänge. Totenklage]
[393.95Opfergaben bei Bestattungen. Leichenschmäuse]
[393.951 Opfergaben]
[393.952 Leichenschm äuse]
395.97 Mutilation des cadavres
Tabela 42. Classe 3 - Sciences sociales. Droit. Administration
Estudo estatístico da representação e evolução do 427
conceito Etnia na CDU

[393.98 Witwenstand. Witwerstand]


[393.988 Witwenverbrennung]
394 Vie publique
394.24 Représentations populaires. Mystères, allégories, pantomimes,
farces
394.3 Jeux. Danses. Bals
[394.8 Zweikam pf. Duell. Selbstm ord]
394.84 Duel
394.86 Suicide
397 Types spéciaux de populations au point de vue de leurs mœurs et
coutumes. Peuples primitifs. Populations nomades. Gipsies. Tziganes
398 Folklore proprement dit
398.1 Traditions primitives
398.2 Contes. Légendes. Anecdotes. Bouffoneries. Facéties
[398.21 [Märchen]
[398.22 Sagas]
[398.221 Saga m ythologique]
398.3 Superstitions, croyances populaires, usages populaires divers
398.31 Croyance et usage en relation avec le feu
[398.312 Feueranbetung]
[398.314 Wahrsagung aus Feuer]
[398.318Feuer bei Krankheiten]
398.32 Croyance et usage en relation avec les localités surnaturelles…
[398.33 Glaube und Brauch in bezug auf bestimm te Zeiten
und Feste]
398.332 Fêtes principales et époques principales
398.332.1 Fêtes du Printemps
398.332.2 Fêtes de l’’Eté. Solstice d’Eté
398.332.3 Fêtes de l’Automne
398.332.4 Fêtes de l’Hiver
398.4 Le monde surnaturel
398.41 Bons et mauvais esprits
398.42 Apparitions surnaturelles. Apparitions aériennes. Fantômes
[398.43 Gespenster. Spuk. Irrlichter usw]
[398.431 Erdgeister. Gnom e. Kobolde. Heinzelm ännchen.
Berggeister]
[398.432 Wassergeister. Undinen. Nixen]
[398.433 Luftgeister. Sylphen. Elfen]
[398.434 feuergeister. Salam ander]
398.44 Dragons
Tabela 42. Classe 3 - Sciences sociales. Droit. Administration
428

398.46 Géants. Nains


[398.47 Hexen]
398.6 Enigmes. Rebus. Devinettes
398.8 Chants populaires
Tabela 42. Classe 3 - Sciences sociales. Droit. Administration

No que respeita a esta classe, tal como observado nas outras edições, o
objecto de estudo distribui-se por um número significativo de subclasses, a
saber: 30; 31; 32; 34; 35; 37; 39. Deste modo, num total de dez subclasses,
esta matéria encontra-se presente em sete subclasses. O total de entradas
das sete subclasses referidas é de aproximadamente três mil, encontrando-se
estas distribuídas pelas subclasses referidas da seguinte maneira: setenta e
oito, cem, duzentas, mil duzentas, novecentas, quinhentas e cento e trinta,
respectivamente.
A matéria de estudo, nestas subclasses, traduz-se nos seguintes
valores: subclasse 30 Sociologie, uma entrada; subclasse 31 Statistique,
quatro entradas; subclasse 32 Politique, vinte e seis entradas; subclasse 34
Droit. Jurisprudence, vinte e nove; subclasse 35 Activités propres à
l`administration publique, duas entradas; subclasse 37 Educaction.
Enseignement. Formation. Loisirs, seis entradas; subclasse 39 Ethnologie.
Folklore, coutumes. Moeurs, usages. Vie sociale, cinquenta e nove entradas, o
que perfaz no total cento vinte e sete entradas, acerca desta matéria.
Atendendo aos valores projectados no gráfico que se apresenta, verifica-
se uma percentagem considerável no que respeita à variável da subclasse 39
Costumes, que apresenta uma percentagem de 45%. A esta seguem-se a
subclasse 32 Política, que apresenta uma percentagem de 13% e a subclasse
31 Estatística, que regista uma percentagem de 4%.
Ao observarmos a frequência da representatividade dos assuntos
relacionados com o conceito Etnia no conjunto de todas as divisões destas
subclasses, verificamos que é de apenas 4% (cento e vinte e sete entradas
num total de três mil) tal como o observado na edição anterior.
Estudo estatístico da representação e evolução do 429
conceito Etnia na CDU

Fig. 46 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 4 – Filologia e linguística

Esta classe nesta edição encontra-se vazia. O seu conteúdo passou para
a classe 8.

Classe 5: Ciências puras: estrutura e conteúdo

Nesta edição a Antropologia ocupa a divisão 572.


Esta divisão pode estruturar-se em quatro grandes grupos. O primeiro
ocupa as subdivisões 572.1/.4 e corresponde às Generalidades da espécie
humana e Origens do Homem. À subdivisão 572.5 corresponde a
Somatologia; à subdivisão 572.7 corresponde a Morfologia e à subdivisão
572.9 correspondem os assuntos de Antropologia especial, tais como raças,
povos em particular e Etnologia.
Relativamente aos conteúdos propriamente considerados, podemos
observar que apresentam um maior nível de desenvolvimento,
essencialmente no que respeita à Antropologia especial, representada sob a
subdivisão 572.9.
430

57 Sciences biologiques
572 Anthropologie
572.2 Diversité de l’espèce humaine. Races, types, variétés
572.79 Anthropobiologie. Physiologie des races. Pathologie
des races
572.795 Mélanges de races. Croisements de races
humaines
572.9 Anthropologie spéciale. Races, peuples en particulier.
Ethnologie
572.9(=… ) Races et variétés humaines divisées par groupes
ethniques
572.94 Europides. Race blanche
572.95 Mongoloïdes, race jaune (y compris les races
indiennes)
572.96 Négrides, race noire (y compris les races
mélanésiennes et australiennes)
Tabela 43. Classe 5 - Sciences pures

Em relação à subclasse 57 Sciences biologiques, é formada por cerca de


quatrocentas entradas, ocupando a matéria de estudo na divisão 572
Anthropologie, nove entradas.
De acordo com este gráfico, podemos observar uma percentagem
extremamente significativa no que respeita à variável Outros Assuntos, 98% e
uma percentagem irrelevante em relação ao todo, no que concerne à variável
Assuntos relacionados com etnias, 2%.
Estudo estatístico da representação e evolução do 431
conceito Etnia na CDU

Fig. 47 - Distribuição das entradas das divisões da subclasse 57

Classe 8 - Linguística. Filologia. Literatura: Estrutura e conteúdo

É nesta classe que se observam as alterações de fundo no que respeita


à estrutura. Este facto prende-se com a eliminação da classe 4 Linguística e
Filologia, o que obrigou a que os conteúdos que esta classe compreendia
passassem para a classe 8.
Nesta circunstância e, segundo o ponto de vista estrutural, esta classe
passou a dividir-se em duas subclasses: a subclasse 80 Linguística e Filologia
gerais e a subclasse 82 Literatura em geral.
No que respeita à subclasse 80 Linguística e Filologia esta, por sua vez,
divide-se essencialmente em três grupos: 800 Questões gerais relativas à
língua, 801 relativas à Linguística e Filologia gerais e as subdivisões 802/809,
Línguas individuais. É sobre este último grupo que nos iremos deter para uma
análise mais pormenorizada, porque é nele que se encontra a matéria
relacionada com o nosso objecto de estudo.
432

Por último, cumpre referir que estas subclasses apresentam uma


estrutura e conteúdos diversos daqueles que assumem na edição de 1927-
1933, como se pode verificar na tabela que se segue.

802/809 Langues individuelles


809 Langues orientales, africaines et autres
809.1 Langues indo-européennes (indo-germaniques, aryennes)
809.2 Langues sémitiques
809.3 Langues hamitiques
809.41 Langues ouralo-altaïques
809.5 Langues asiatiques
809.6 Langues africaines: nègres, etc.
809.7 Langues amérindiennes septentrionales et centrales
809.8 Langues amérindiennes méridionales
809.9 Langues austronésiennes, malayo-polynésiennes et
d’Australasie
82/89 Littérature individuelle
891.1 Littératures indiennes en général
892.4 Littérature hébraïque
892.7 Littérature arabe
893.1 Littératures égyptiennes (anciennes)
894.35 Littérature turque
894.511 Littérature hongroise (magyare)
894.541 Littérature finnoise
895.1 Littérature chinoise
895.6 Littérature japonaise
Tabela 44. Classe 8 - Linguistique. Philologie. Littérature

Em relação à classe 8, ela é constituída por cerca de quatrocentas


entradas.
Destas entradas, cerca de cento e cinquenta correspondem às divisões
802/809 Langues individuelles, setenta e duas são relativas às Línguas
individualmente consideradas e setenta e cinco correspondem à divisão 809,
que representa a variável Línguas integradas numa só subclasse que, nesta
edição, se denomina Langues orientales, africaines et autres.
Assim, as Línguas individualmente consideradas representam 49%, e as
Línguas integradas numa subclasse representam uma percentagem de 51%.
Estudo estatístico da representação e evolução do 433
conceito Etnia na CDU

Fig. 48 - Distribuição das entradas das subclasses

As subclasses 82/89 Littérature individuelle ocupam nesta classe trinta e


uma entradas, sendo nove delas representativas das literaturas que se
encontram relacionadas com o objecto de estudo, e vinte e duas relativas às
Literaturas individualmente consideradas.
No que respeita à distribuição das entradas relativas à subclasse da
Literatura, observa-se algo semelhante ao que foi observado no gráfico
anterior; assim, a variável Literaturas integradas numa só subclasse,
apresenta uma percentagem de 71% e a variável Literaturas individualmente
consideradas apresenta uma percentagem de 29%.
434

Fig. 49 - Distribuição das entradas das subclasses

1.5 Classification Décimale Universelle. 1990-1993 (Act. em


1998)

Esta tabela baseia-se essencialmente em dois trabalhos distintos: a


selecção oficial EMI publicada na edição média desenvolvida (2. Auflage,
1978/1985, FID 550) e a edição média internacional em língua inglesa
(1985/1988, FID 571).
Esta edição da Classificação Decimal Universal (edição média
internacional), publicada entre 1990-1993, é composta por dois volumes.
O primeiro volume é formado pela introdução, na qual é apresentada
uma breve história deste sistema, os princípios, a estrutura dos conteúdos e
algumas regras de aplicação relativas aos auxiliares. Contempla ainda as
tabelas dos auxiliares gerais e dos auxiliares especiais, assim como as tabelas
principais constituídas pelas classes 1-5. Termina com o índice alfabético
relativo às matérias que compõem as tabelas que o constituem.
O segundo volume é constituído pelas tabelas que integram as classes
6-9 e pelo índice alfabético respectivo.
Estudo estatístico da representação e evolução do 435
conceito Etnia na CDU

Relativamente a esta edição, serão contempladas e observadas as


classes consideradas nela, assim como as alterações que lhes foram
introduzidas publicadas em 1998. Cumpre referir que estes aditamentos
compõem o 3º volume desta edição.
Passamos, de seguida, a registar as entradas observadas nos Auxiliares
de Língua e que se relacionam com o nosso objecto de estudo – Etnia.

Auxiliares de Língua: Estrutura e conteúdo

Se em relação aos volumes que foram publicados entre 1990-1993 não


se observam grandes alterações, quer de estrutura quer de contudo, em
relação ao volume que foi publicado em 1998, as alterações verificadas são
significativas, nomeadamente no que respeita à Tabela 1 (C) Divisões comuns
de língua. Estas alterações manifestam-se essencialmente na introdução de
novas notações, que representam novos assuntos. As alterações são também
notórias no que respeita à estrutura específica.
Entre outras, referimos a introdução do apóstrofo para representar as
origens e períodos da língua, assim como as fases relativas ao
desenvolvimento da mesma. Neste auxiliar importa referir, em particular, o
auxiliar =…’282 proposto para representar os Dialectos. Línguas locais e
regionais.
Relativamente às alterações introduzidas a esta edição em 1998,
devemos ainda considerar os Auxiliares de língua propriamente dita.
Nesta edição os Auxiliares de língua encontram-se sistematizados em
dois grandes grupos:

- Auxiliares de línguas naturais =1/=8


- Auxiliares de línguas artificiais =9.

De acordo com estas alterações, os Auxiliares comuns de língua


estruturam-se em três grandes grupos:
436

=…’0/=…’282 Origens e períodos da língua. Fases de desenvolvimento.


=00/=03 Questões gerais, como assuntos relacionados com textos
originais e traduções.
=1/=9 Línguas naturais e línguas artificiais.

Passamos apresentar a tabela relativa aos Auxiliares de língua,


considerando as alterações que foram introduzidas em 1998.

=1/=9 Langues (naturelles et artificielles)


=1/=8 Langues (naturelles)
=1 Langues indo-européenes en général
=21/=22 Langues indo-iraniennes
=29 Langues indo-européenes mortes
=34 Langues méditerranéennes mortes
=35 Langues caucasiennes
=41 Langues afro-asiatiques
=51 Langues ouralo-altaïques
=61 Langues austro-asiatiques
=71 Langues indo-pacifiques
=8 Langues des indiens d’Amérique (Amérindien)
=81 Langues nord-amérindiennes en général
=87 Langues amérindiennes centrales et septentrionales
=9 Langues artificielles
Tabela 45. (Table 1c) Divisions communes de langue

Relativamente ao número de entradas dos Auxiliares de Língua, que


representam as Línguas individualmente consideradas e aquelas que são
utilizadas por povos que, na maioria, constituem a nossa matéria, =1/=8
Langues (naturelles), é de duzentas e cinquenta e cinco entradas,
aproximadamente.
Este número de entradas distribui-se pelos seguintes conjuntos de
línguas: =11/=15 (Langues germaniques en général; Langues classiques;
Langues romanes; Langues celtiques), que se encontam representados por
cerca de setenta e sete entradas, as outras línguas que se situam entre as
notações =16/=8 (Langues slaves et baltes; Langues indo-iraniennes;
Estudo estatístico da representação e evolução do 437
conceito Etnia na CDU

Langues méditerranéennes mortes; Langues caucasiennes; Langues afro-


asiatiques; Langues hamitiques; Langues ouralo-altaïques; Langues paléo-
asiatiques; Langues austronésiennes; Langues des indiens d’Amérique entre
outras), apresentam cerca de duzentas entradas.
Relativamente à percentagem destas duas variáveis, assume
sensivelmente os mesmos valores que assumia na edição anterior. A variável
Auxiliares das Línguas integradas numa só subclasse apresenta 72% das
entradas consideradas e a variável relativa aos Auxiliares das Línguas
individualmente consideradas apresenta uma percentagem de 28%.

Fig. 50 - Distribuição das subclasses consideradas

Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade: estrutura e conteúdo

Relativamente aos Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade


podemos observar que a sua estrutura, no geral, se mantém idêntica à da
edição anterior, considerando-a até à notação (=1.4/.9). Todavia, a estrutura
438

sofre alterações substanciais a partir da notação relativa às Raças e diversas


nacionalidades e aos grupos linguístico-culturais (=2/9).
Interessa ainda referir a introdução da notação (=089), que representa
o conceito Raças produzidas artificialmente.
De uma forma geral e, relativamente ao conteúdo, observamos que esta
tabela apresenta um maior nível de especificação em relação às anteriores.
Tendo em conta a estrutura e os conteúdos, podemos sistematizá-los a
partir do (=11/=8), Raças e diversas nacionalidades. Grupos linguístico-
culturais.
A notação (=11/=2) integra as Raças e povos Indo-europeus; outro
grupo a considerar é o (=2/=8), que compreende as Raças orientais,
africanas e outras raças. Inclui também as raças e povos de cor.
Para uma observação mais pormenorizada passamos a apresentar a
tabela relativa a este assunto, na qual se inscrevem as alterações verificadas,
quer a nível de estrutura, quer a nível de conteúdos.

(=11/=8) Races et peuples en général


(=1.2) Peuples de régions physiques déterminées
(= 1.3) Nationalités particulières du Monde ancien
(=1.4/.9) Nationalités particulières du Monde moderne
(=11/=8) Races et nationalités variées. Groupes linguistico-culturels
(=11/=2) Race et peuples Indo-Européens
(=11/=19) Races blanches en général. Races occidentales.
«Européens»
(=11) Races et peuples germaniques
(=111) Races et peuples parlant l’anglais. Races et peuples «anglo-
saxons». Peuples
(=112.2) Anglophones
parlant allemand. Germanophones
(=13) Races et peuples romans. Races et peuples latins
(=133.1) Races et peuples parlant français. Races et peuples gaulois.
Francophones
(=16) Races et peuples slaves en général. Slaves
(=2/=8) Races orientales, africaines et autres. Races et peuples de
couleur
(=21) Races et peuples indiens
(=214.58) Peuple romani. Tsiganes
(=41) Races et peuples Afro-Asiatiques
(=411) Races et peuples sémites
(=411.16) Hébreux. Juifs. Israélites
Tabela 46. (Table 1f) Divisions communes de races et de nationalités
Estudo estatístico da representação e evolução do 439
conceito Etnia na CDU

(=411.21) Arabes
(=414) Races et peuples d’Afrique noire. Noirs
(=512.3) Races et peuples mongoliques, mongols
(=521) Japonais
(=581) Races et peuples sinitiques. Chinois
(=62) Austronésiens
(=622.82) Polynésiens
(=72) Peuples aborigènes d’Australie
(=81/=82) Peuples amérindiens du Nord (Indiens d’Amérique du Nord)
(=87) Peuples amérindiens du Sud et du Centre (Indiens d’Amérique
du Sud)
Tabela 46. (Table 1f) Divisions communes de races et de nationalités

No que respeita aos Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade,


são representados por um total de vinte e sete entradas.
Deverá referir-se que, neste cômputo, apenas foram consideradas as
entradas relacionadas com as nacionalidades particulares do Mundo antigo,
Mundo moderno, (=1.3/=1.4/9) e as notações que representam as raças e
nacionalidades diversas (=2/=8).
Apesar de metodologicamente ser difícil identificar quais os povos que
se classificam no grupo dos comummente mais conhecidos e que se integram,
de forma geral, nos parâmetros da cultura ocidental, por uma questão de
coerência entendemos seguir o critério das edições anteriores no que respeita
ao seu registo. Desta forma, registamos oito entradas para os povos que se
situam entre as notações (=1.3/=1.4/9) e dezaseis entradas para todos os
outros povos, notações (=2/=8).
Importa referir que, de acordo com a metodologia desenhada para o
levantamento das entradas, apenas contemplámos aquelas que se encontram
registadas de forma explícita nas respectivas tabelas. Deste modo, não foi
contemplado o número de entradas relativo quer ao desenvolvimento do
(=1.3) Nationalités particulières du Monde ancien, quer ao desenvolvimento
da notação (=1.4/.9) Nationalités particulières du Monde moderne. Para esse
efeito e, seguindo as indicações de aplicação desta Tabela 1(f), teríamos de
recorrer à Tabela 1c, relativa às subdivisões de lugar.
440

Dada esta circunstância, tal como já aconteceu em situações análogas


com as outras edições consideradas, não apresentamos o gráfico
254
respectivo.

Tabela (1k) Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais

Estes são, sem dúvida, os auxiliares que, nesta edição, sofreram um


maior desenvolvimento. Aparecem registados sob a notação -054. Para uma
maior especificação das características que se pretendem representar, em
alguns casos recorre-se a outros auxiliares, como acontece, por exemplo, com
os de lugar e os de raça e grupo étnico.

Exemplos:

Termo vocabular Notação

Pessoas de cor -054(=9)

Termo vocabular Notação

Membros de minorias nacionais =054.57(=083)

De acordo com o exposto, passamos a representá-los na tabela que se


segue.

-05 Personnes
-054 Personnes considérées d’après leurs caractéristiques éthniques,
nationalité, citoyenneté, etc.
[- 054.1 Appartenant à une race fortem ent m étissée]
[- 054.2 Appartenant à une race peu m étissée]
- 054.4 Résidents (nationaux ou étrangers)
- 054.5 Résidents nationaux. Citoyens d’un pays
- 054.51 Nationaux par la naissance
Tabela 47. Table 1(k) -05. Personnes

254
Ver o mesmo tipo de auxiliares nas edições de 1934-1953 e 1967-1973.
Estudo estatístico da representação e evolução do 441
conceito Etnia na CDU

- 054.52 Citoyens naturalisés


- 054.57 Mem bres de m inorités nationales
- 054.6 Résidents étrangers. Résidents extérieurs
- 054- 62 Résidents étrangers. Colons
- 054.64 Étrangers hostiles. Envahisseurs
- 054.65 Prisonniers de guerre
- 054.68 Non résidents. Visiteurs étrangers
- 054.7 Expatriés. Exilés. Rapatriés. Emigrants. Apatrides
- 054.72 Migrants volontaires. Im m igrants. Emigrants
- 054.73 Réfugiés. Personnes déplacées
- 054.74 Exilés politiques. Personnes déportées. Clandestins
- 054.75 Rapatriés
- 054.78 Apatrides
Tabela 47. Table 1(k) -05. Personnes

Relativamente a estes Auxiliares, nesta edição eles contabilizam, no


total, aproximadamente duzentos e setenta, constituindo o grupo
representado sob a notação -054 Personnes considérées d’après leurs
caractéristiques éthniques, nationalité, citoyenneté, etc., um número de
dezassete entradas.
Apresentando-se este tipo de auxiliares, no geral, com uma
percentagem muito idêntica à da edição anterior, contudo observa-se uma
ligeira subida no que respeita à variável Auxiliares de pessoa segundo a
nacionalidade que, nesta edição, apresenta uma percentagem de 6%, contudo
a variável Outros auxiliares assume a maior percentagem 94%.
442

Fig. 51 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 2 – Religião e Teologia: Estrutura e conteúdo

Em relação a esta classe, é de referir que não se encontram alterações


significativas relativamente aos conteúdos considerados para a análise.
Todavia, no que diz respeito à classe em geral será de referir que se
observam alterações, essencialmente no que diz respeita à sua estrutura.
Para proporcionar um maior nível de especificação nas matérias foi alargada a
utilização dos Auxiliares analíticos (-0/-9).

Exemplo:

Termo vocabular Notação

Padres 271-393

Para que se tenha uma ideia mais clara dos seus conteúdos, passamos a
apresentar a respectiva tabela das entradas que representam os assuntos
objecto de estudo.
Estudo estatístico da representação e evolução do 443
conceito Etnia na CDU

[22/28 Religion chrétienne. Christianisme]


29 Religions diverses et cultes non chrétiens
291 Questions religieuses. Histoire comparée des religions.
Hiérologie
292 Religion des Grecs (anciens) et des Romains (anciens),
Mythologie classique
293 Religions anciennes et mythologies des Scandinaves, Baltes
et Slaves
294 Boudhisme. Brahmanisme. Religions des Hindous
295 Religions perses. Parsisme. Zoroastrisme (Zoroastre).
Mazdéisme (Avesta). Mithraïsme
296 Religion juive
297 Islam. Mahométisme. Sectes sunnites
298 Religions et mouvements religieux récents
299 Autres religions
299.1 Religions des Aryas, indo-européens
299.2 Religions des Sémites
299.3 Religions des peuples hamitiques, de l’Egypte ancienne
299.4 Religions des peuples touraniens et peuples ouralo-
altaïques. Finnois. Mongols. Magyars. Samoyèdes. Tartares,
tribus sibériennes. Lapons
299.5 Religions des anciens peuples asiatiques orientaux
299.6 Religions des peuples africains. Cafres. Bantous.
Hottentots. Boschimans. Bassoutos. Berbères. Gallas, etc.
299.7 Religions des peuples de l’Amérique du Nord et de
l’Amérique centrale
299.8 Religions des peuples indiens de l’Amérique du sud (sud-
américains). Précolombiens. Caraïbes. Incas. Péruviens.
Chibchas
299.9 Religions des peuples malayo-polynésiens. Aborigènes
australiens. Papous. Mélanésiens. Malais. Micronésiens.
Polynésiens
Tabela 48. Classe 2 - Religion. Théologie

Assim, quantificando os dados observados, registamos


aproximadamente quinhentas e quarenta entradas relativas ao Cristianismo e
aproximadamente cento e trinta entradas relativas às Religiões não-cristãs, o
que perfaz um total aproximado de seiscentas e setenta entradas para todas
as religiões.
444

Apesar de se ter observado esta alteração numérica relativamente às


entradas, deverá referir-se que o Cristianismo continua a ocupar o mesmo
número de subclasses (sete), as subclasses 22/28 e as Religiões não-cristãs a
ocupar (uma), a subclasse 29.
Relativamente a esta classe, mais uma vez observamos o predomínio
das subclasses relativas ao Cristianismo 22/28, com 81%, relativamente à
variável Outras religiões, que apresenta uma percentagem de apenas 19%.

Fig. 52 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 3 – Ciências sociais. Direito. Administração: Estrutura e conteúdo

No que respeita a esta classe, considerando esta edição, ela apresenta


uma estrutura no seu geral idêntica às das edições anteriores.
Acontece que, ao longo dela, nomeadamente no que respeita à matéria
objecto de estudo, em determinados casos a estrutura da subclasse mantém-
se, alterando contudo os seus conteúdos; como por exemplo a notação 340.5.
Esta notação surge na estrutura da edição de 1967-1973 e na edição de
1990-1993(1988), alterando-se, no entanto, os respectivos conteúdos.
Estudo estatístico da representação e evolução do 445
conceito Etnia na CDU

Todavia, a nível de estrutura das notações, podemos verificar que elas


apresentam um maior nível de desenvolvimento quando comparadas com as
das edições anteriores. Esta situação prende-se com o facto de as matérias
consideradas apresentarem um maior nível de especificidade.
Relativamente aos conteúdos que são tomados em linha de conta na
nossa área de estudo, comparando-os com as edições anteriores, eles
encontram-se contemplados num maior número de divisões. Damos como
exemplo as divisões 314 Demografia. Estudo da população e a introdução do
316 Sociologia que contempla, de uma forma significativa, este assunto.
É ainda notório o crescimento desta matéria ao longo de toda a classe,
como pode observar-se na tabela que apresentamos.

308 Sociographie. Etudes descriptives de la société


312 Statistique de la population
312.9 Statistique de répartition, distribution et de composition de la
population. Densité de la population
312.95 Selon la filiation, l’origine sociale, la race, la nationalité, la
langue
312.99 Selon la religion, la condition sociale, la classe sociale,…
314 Dém ographie. Etude de la population
314.045 Migrations forcées
314.156 Politique dém ographique en relation avec les
questions nationalistes et raciales. Politique raciste. Politique
de génocide, etc.
314.7 Migrations
314.72 Migrations internes
314.74 Migrations internationales, v ers des pays étrangers.
Migrations externes
314.742 Im m igration
314.743 Emigration
314.745.2 Expatriation et expatriés. Réfugiés. Personnes
déplacées. Evacués. Expulsés. Déportés. Exilés
314.745.4 Rapatriem ents et rapatriés
316 Sociologie
316.273 Psychologie ethnique. Ethnopsychologie
316.323.3 Sociétés esclavagistes
Tabela 49. Classe 3 - Sciences sociales
446

316.323.8 Sociétés coloniales et néo-coloniales


316.324.3 Sociétés nomades
316.343.43 Population autochtone
316.347 Stratification sociale sur base de l’origine nationale,
raciale, ethnique ou de l’appartenance religieuse
316.347.2 Majorités. Minorités
323 Politique intérieure. Affaires intérieurs. Politique interne
323.1 Mouvements et problèmes nationalistes, populaires, ethniques.
Minorités nationales. Minorités ethniques
323.11 Composition de la population d’après les nationalités. Mélange,
séparation, extension des races, langues et nationalités
323.113 Ressortissants nationaux à l’étranger
323.118 Séparation des races. Ségrégation raciale
323.12 Mouvements contre certaines races ou nationalités
323.13 Mouvements en faveur de certaines races ou nationalités
particulières
323.14 Chauvinisme. Ethnocentrisme. Racisme
323.15 Minorités nationales et ethniques
323.17 Autonomie et autodétermination des nationalités
325 Migration. Colonisation
325.11 Migrations internes. Exode rural. Déplacement de population
325.14 Immigration. Immigrants. Immigrés. Politique d’immigration
325.2 Emigration. Émigrant. Politique d’émigration
325.25 Emigrants. Expatriés. Exilés. Proscrits
325.25:2 Pour des causes religieuses
325.25:572.9 Pour des causes racistes
325.254 Emigrants forcés. Evacués. Personnes déplacées. Réfugiés.
Exilés. Déportés
325.27 Rapatriement
325.3 Colonisation en général. Politique coloniale
325.45 Organisation et administration des colonies et quelques
territoires non souverains
[325.45- 054.2 Population indigène en voie de
dév eloppement]
[325.45- 058.57 Population indigène év oluée]
325.452 Gouvernement indigène et ses organes administratifs.
Parlement indigène
325.454 Traitement et statuts des populations indigènes.
Statut politique des populations indigènes. Respect du statut
politique des populations indigènes
326 Esclavage. Travail forcé
326.1 Traite des esclaves. Commerce des esclaves
326.3 Servage
Tabela 49. Classe 3 - Sciences sociales
Estudo estatístico da representação e evolução do 447
conceito Etnia na CDU

326.4 Lutte contre l’esclavage


326.8 Abolition de l’esclavage. Affranchissement. Libération
327 Relations internationales. Politique m ondiale. Affaires
étrangères…
327.39 Mouvem ents d’intégration et de rassem blem ent basés
sur des principes linguistiques, ethniques, raciaux, religieux ou
géographiques
327.58 Citoyens et nationaux à l’étranger. Problèm es des
m inorités nationales en voie de naturalisation sur le plan de la
politique étrangère
329 Partis politiques et mouvements à caractère politique
329.3 Partis et mouvements basés sur des objectifs religieux
329.36 Partis et mouvements basés sur des objectifs antireligieux
329.4 Partis et mouvements basés sur des objectifs ethniques,
raciaux, linguistiques
329.42 Mouvem ents pronant la séparation des races
(Apartheid)
[340 Droit international]
[340.5 Jurisprudence ethnologique. Droit des peuples primitifs.
Différences et analogies entre les droits de différents peuples,
races et époques]
341 Droit international
[341.012 Principe des nationalités. Droit des nationalités]
341.215.43 Colons. Imm igrants. Em igrants. Dom icile.
Résidence
341.234 Droit des minorités
341.41 Infractions pénales commises à l’étranger
[341.42 Effet du jugem ent étranger de droit pénal]
341.43 Expulsion. Rapatriement. Déportation…
341.485 Génocide. Meurtre d’individus appartenant à des
groupes nationaux, ethniques, ou raciaux en vue de leur
exterm ination
[341.5 Situation des étrangers]
341.95 Statut des étrangers en droit privé
342 Droit public. Droit constitutionnel. Droit administratif
342.7 Droits fondamentaux. Droits de l’homme
342.71 Nationalité. Citoyenneté
342.711 Naturalisation
342.714 Renonciation à la nationalité. Droits supranationaux. Option
342.715 Perte de nationalité. Apatrides
342.717 Droits politiques des étrangers
342.721 Liberté individuelle. Habeas corpus. Inviolabilité de la
personne
Tabela 49. Classe 3 - Sciences sociales
448

342.724 Egalité raciale. Libre choix du culte. Egalité religieuse. Egalité


d’opinion philosophique, de race et de couleur. Minorités ethniques
342.725 Droits linguistiques. Langue nationale. Langue
m aternelle. Langues officielles et assim ilées
342.731 Liberté de conscience. Liberté de culte, de religion
342.814 Nationalité, race, religion
342.827 Représentation des minorités…
343 Droit pénal. Infractions pénales
343.42 Infractions contre la liberté des cultes
343.431 Asservissement. Esclavage. Commerce des esclaves. Traite
des esclaves
343.343.6 Passage illicite des frontières. Emigration illégale,
clandestine
343.4 Infractions contre les libertés fondam entales, contre les
droits de l’hom me
[343.957 Ethnographie crim inelle. Crim inalité chez les
différentes races]
347 Droit civil
347.176.2 Etrangers. Nationaux étrangers
348 Droit ecclésiastique
348.1/.7 Droit ecclésiastique catholique
348.8/.9 Droit ecclésiastique des diverses églises (non catholiques)
351 Activités propres à l’administration publique
351.756 Contrôle des étrangers. Police des étrangers. Statut des
émigrés. Permis de séjour. Visas
364 Problem es sociaux requerant aide et assistance. Typologie
de l’aide sociale
364.146 Pluralité culturelle (par les différences dans les
m œurs et les coutum es
37 Education. Enseignem ent. Formation. Loisirs
37.043 Facteurs collectifs. Education com m une ou séparée
(intégration ou ségrégation de race, de sexe, etc.).
Coéducation. Mixité.
376 Education, formation et enseignement de catégories spéciales de
personnes. Ecoles spéciales
376.66 Education de personnes itinérantes, sans domicile fixe. Enfants
de nomades, de gitans, de bateliers, etc.
376.68 Education des étrangers, des immigrés
376.7 Education de groupes spéciaux et de minorités nationales
376.72 Education de groupes de religion particulière, d’individus
appartenant à des groupes religieux ou confessionnels particuliers
376.74 Education de groupes appartenant à des races, des ethnies,
des langues particulières
391 Costumes. Habillement. Costumes nationaux. Mode. Parures.
Ornements
391.8 Masques. Masques couvrant le visage. Dominos
Tabela 49. Classe 3 - Sciences sociales
Estudo estatístico da representação e evolução do 449
conceito Etnia na CDU

391.91 Tatouages. Peintures sur le corps


391.92 Mutilations décoratives rituelles. Sgnes décoratifs rituels.
Boucles d’oreille. Anneaux dans le nez. Pincement des lèvres, etc.
Scarifications
[391.98 Parures des animaux. Ornements et vêtements]
392 Coutumes, habitudes, usages relatifs à la vie privée
392.12 Naissance. Coutumes relatives à la naissance
392.14 Baptême
392.15 Circoncision
392.17 Cérémonies d’initiation. Rites relatifs à la puberté. Rites de
passage. Rites d’initiation
392.18 Passage de l’adolescence à l’âge adulte. Obtention de la
majorité
392.2 Meurtres d’êtres humains. Meurtre de prisonniers, de personnes
âgèes. Sacrifices humains. Meurtres rituels. Chasseurs de têtes. Loups-
garous
392.27 Mutilations sacrificatoires
392.4 Temps des rencontres. Fiançailles. Engagement pré-nuptial.
Promesse de mariage. Temps des accordailles
392.5 Mariage. Temps des épousailles. Engagement nuptial
392.51 Coutumes relatives au mariage
392.52 Droit supposé du seigneur féodal. Droit de cuissage. Droit du
seigneur
392.53 Célibat. Agamie. Célibataires. Vieilles filles
392.544 Polygamie. Polyandrie. Polygynie
392.546 Mariage par capture. Rapt nuptial
392.547 Mariage par achat
392.62 Concubinage. Mariage morganatique. Union libre. Mariage
coutumier
392.63 Célibat rituel. Abstinence, non consom mation du
m ariage pour des raisons religieuses
392.65 Prostitution
392.81 Coutumes relatives à la préparation et à la consommation de la
nourriture. Coutumes alimentaires
392.83 Aliments interdits
392.89 Cannibalisme. Anthropophagie. Ingestion de chair humaine
393 Mort. Traitement des morts. Funérailles. Rites mortuaires
393.1 Inhumation. Enterrement
393.2 Crémation. Incinération. Bûchers funéraires
393.3 Embaumement. Momies. Masques des mortuaires
393.4 Exposition des morts. Veillée des morts. Ultimes hommages
393.7 Deuil
Tabela 49. Classe 3 - Sciences sociales
450

393.9 Autres coutumes funéraires. Cortèges funèbres. Danses et


chants funèbres. Fêtes funéraires. Offrandes. Immolation et
incinération des veuves. Mutilation des cadavres.
394 Vie publique. Vie sociale. Vie quotidienne…
394.3 Jeux. Danses. Bals
394.84 Duel
394.86 Suicide. Hara-Kiri
397 Types spéciaux de populations au point de vue de leurs mœurs et
coutumes. Peuples primitifs. Populations nomades. Gipsies. Tziganes
398 Folklore proprement dit
398.1 Traditions primitives
398.2 Légendes populaires. Contes populaires. Hiostoires fabuleuses.
Sagas, Anecdotes. Bouffoneries. Facéties
398.3 Coutumes et croyances populaires. Superstitions. Histoires de
« Vieilles femmes »
398. 31 Croyance et coutumes relatives au feu. Feux du solstice.
Pyromancie. Pyrolâtrie. Grands feux. Feux de la Saint-Jean.
398.32 Croyances et coutumes relatives à des endroits particuliers.
Cimetières. Ruines. Forêts. Sources. Croyances et coutumes relatives
à des époques et à des fêtes particulières
398.332 Fêtes et époques principales
398.332.1 Fêtes du Printemps
398.332.2 Fêtes de l’Eté. Solstice d’Eté
398.332.3 Fêtes de l’Automne
398.332.4 Fêtes hivernales
398.4 Le monde surnaturel
398.41 Bons et mauvais esprits. Démons. Diables. Croque-mitaines.
Cauchemars. Epouventails
398.42 Fantômes. Revenants. Feux-follets
398.43 Monde élém entaire. Esprits de la terre. Esprits de la
nature. Gnôm es. Fées. Elfes. Lutins
398.44 Dragons
398.46 Géants. Nains
398.6 Devinettes. Enigmes. Rébus…
398.7 Livres de songes. Clef des songes. Interprétation
populaire des rêv es
398.8 Chants populaires. Chansons traditionnelles…
Tabela 49. Classe 3 - Sciences sociales

No que respeita ao assunto objecto de estudo, ele encontra-se


distribuído na classe 3, por oito subclasses. O total de entradas destas oito
subclasses é de aproximadamente quatro mil e trezentas entradas,
encontrando-se estas distribuídas da seguinte forma: 30 Sciences sociales en
Estudo estatístico da representação e evolução do 451
conceito Etnia na CDU

général. Théories, méthodologie et méthodes des sciences sociales.


Sociographie, cento e trinta entradas, encontrando-se uma entrada sobre este
tema na divisão 308. Segue-se a subclasse 31 Statistique. Démographie.
Sociologie, com cerca de quatrocentas entradas, com vinte e duas entradas
sobre o tema abordado. A subclasse 32 Politique. Science Politique, apresenta
cerca de trezentas entradas, sendo trinta e sete entradas desta subclasse
ocupadas com assuntos relacionados com o objecto de estudo. Segue-se a
subclasse 34 Droit. Jurisprudence. Législation, que ocupa nesta classe
aproximadamente mil e quinhentas entradas, encontrando-se trinta ocupadas
com assuntos associados ao conceito Etnia. A subclasse 35 Administration
Publique. Gouvernement. Affaires militaires, ocupa aproximadamente
novecentas entradas, sendo duas entradas dedicadas ao tema em análise. A
subclasse 36 Assistance sociale. Prévoyance et aide sociales. Assurances,
ocupa cerca de seiscentas entradas, traduzindo-se este tema em duas delas.
A subclasse 37 Education. Enseignement. Formation. Loisirs, apresenta cerca
de seiscentas entradas, encontrando-se sete destas ocupadas com a matéria
objecto de estudo. Por último, segue-se a subclasse 39 Ethnologie.
Ethnographie. Coutumes. Usages. Traditions. Art de vivre. Folklore, com cento
e trinta entradas; destas, cinquenta e nove representam o nosso objecto de
estudo. O total de entradas nesta classe, sobre este assunto, é de cento e
cinquenta e nove.
Como poderá observar-se no gráfico que se segue, no que respeita à
distribuição das entradas das subclasses consideradas, continua a predominar
a subclasse 39, a subclasse 32 e a subclasse 31; com 45%; 19% e 6%,
respectivamente.
Quando analisamos a frequência da representatividade dos assuntos
relacionados com o conceito Etnia no conjunto de todas as divisões destas
subclasses, verificamos que essa frequência é de 4%, tal como observamos
nas outras duas edições anteriores (cento e cinquenta e nove entradas num
total de quatro mil e trezentas).
452

Fig. 53 - Distribuição das entradas das subclasses

Classe 4 – Filologia e linguística

Esta classe nesta edição encontra-se vazia, porque o seu conteúdo


passou para a classe 8.

Classe 5 - Ciências puras: Estrutura e conteúdo

A matéria relativa ao conceito Etnia e outros assuntos afins localizada na


divisão 572 da subclasse 57, encontra-se estruturada conforme o que
observamos na edição anterior, o mesmo acontecendo com os seus
conteúdos.
Salientamos, todavia, que se assiste a alterações no que diz respeito à
terminologia, como podemos verificar na tabela que se segue.
Estudo estatístico da representação e evolução do 453
conceito Etnia na CDU

57 Biologie. Sciences biologiques en général


572 Anthropologie. Ethnologie. L’origine de l’Homme
572.2 Diversité, hétérogénité de l’espèce humaine. Races.
Types physiques. Variétés
572.79 Anthropobiologie. Physiologie des races. Pathologie des
races
572.795 Mélanges de races. Croisements de races humaines
572.9 Anthropologie spéciale. Ethnologie. Races particulières.
Théorie des races
[572.9(=… ) Races et variétés humaines divisées par
groupes ethniques]
572.94 Formes europides. Race blanche. Race caucasoïde
572.95 Formes mongoloïdes. Race jaune. Race amérindienne
572.96 Formes négroïdes. Race noire, nègre. Races
mélanésienne et australoïde
Tabela 50. Classe 5 – Sciences pures

Nesta edição a subclasse 57 Biologie. Sciences biologiques en général é


constituída por cerca de quatrocentas entradas, sendo oito delas
representativas da matéria em estudo.
O valor das percentagens das variáveis consideradas é igual ao que foi
observado na edição anterior, pelo que nos subtraímos à elaboração do
respectivo gráfico.

Classe 8 - Linguística. Filologia. Literatura: Estrutura e conteúdo

Nesta edição continuam as alterações já observadas na edição anterior,


nomeadamente no que se refere à estrutura.
Observa-se o mesmo eixo estruturante verificado na edição anterior e
manifesta-se na divisão desta classe em duas subclasses. Contudo, as
notações que representam os respectivos assuntos, assim como o seu
desenvolvimento são diferentes, por isso, passamos a descrevê-los.
Mantém-se a subclasse 80, que se ocupa das Questões gerais relativas à
Linguística, à Literatura e à Filologia.
454

Observa-se a introdução da subclasse 81, que traduz os conceitos


relativos à Linguística e às Línguas, ocupando a Literatura em geral a
subclasse 82. Na divisão 821 são registadas as literaturas relativas às línguas
particulares.
A estrutura desta classe contempla abundantemente os Auxiliares
especiais, nomeadamente o Apóstrofo, no que respeita à subclasse 81, e o
Hífen, -1/-9, na subclasse 82, para traduzir os géneros literários.
Apresenta-se, de imediato, a respectiva tabela.

811 Langues
811.1 Langues Indo-Européennes en général
811.21/22 Langues indo-Iraniennes
811.29 Langues mortes indo-européennes
811.41 Langues Afro-Asiatïques
811.42 Langues Nilo-sahariennes
811.51 Langues Ouralo-Altaïques
811.58 Langues Sino-Tibétaines
811.8 Langues des indiens d’Amérique
821 Littératures relatives à des langues particulières
Tabela 51. Classe 8 - Langue. Linguistique. Philologie. Littérature

No que respeita à subclasse 80 Linguistique. Philologie. Langage.


Langues e à subclasse 82 Littérature en général, elas perfazem um total de
aproximadamente seiscentas entradas. Destas, cerca de quatrocentas e
cinquenta constituem a subclasse 80 e cerca de cento e setenta constituem a
subclasse 82.
No que concerne à matéria objecto de estudo, ela é representada nas
duas subclasses consideradas através dos seguintes números: duzentas e
cinquenta dizem respeito às línguas que representam um património
linguístico na sua maioria pouco divulgado e conhecido pela maioria da
sociedade ocidental; quarenta e três traduzem o património linguístico desses
mesmos povos.
Relativamente à distribuição das entradas destas duas variáveis, cumpre
referir que as Línguas individualmente consideradas apresentam uma
percentagem de 15% e que a variável Línguas integradas numa só subclasse
Estudo estatístico da representação e evolução do 455
conceito Etnia na CDU

apresenta uma percentagem de 85%, sendo, por isso, a variável


predominante.

Fig. 54 - Distribuição das entradas das subclasses

No que respeita à subclasse 82 Literatura, tal como já foi referido em


situações semelhantes ao longo do presente ponto, não elaboramos o gráfico,
pelo facto de os elementos que se encontram registados de forma explícita
nesta subclasse desta edição, não nos facultarem os elementos precisos e
objectivos para a elaboração do mesmo. Situação análoga ocorre nos
Auxiliares comuns de Raça e Nacionalidade255. Todavia, através dos elementos
que nos são dados a observar, podemos inferir que o número de entradas
relativamente à variável Literatura integrada numa só subclasse é inferior
quando comparada com variável Literatura individualmente considerada,
assistindo-se, deste modo, a um crescimento da variável Literatura
individualmente considerada relativamente à edição anterior.

255
Ver edições: 1934-1953; 1967-1973 e 1990 (1998).
456

2 Estudo comparativo da representação do conceito Etnia nas


classes das edições consideradas, em valores absolutos e
percentuais, por edição.

Para um melhor entendimento do processo de evolução da


representação do conceito Etnia na Classificação Decimal Universal passamos,
de seguida, a apresentar um conjunto de gráficos, que dizem respeito a cada
uma das variáveis consideradas neste estudo. Cada gráfico representa o
percurso de cada uma das variáveis ao longo das respectivas edições. Essa
leitura, de acordo com os gráficos apresentados, será feita em termos
absolutos (número de entradas) e em termos percentuais (relativamente ao
peso que cada variável assume dentro de cada subclasse).
A leitura dos gráficos será feita com base numa comparação, na qual
serão referenciados os níveis de preponderância e os níveis menos
expressivos de cada uma das variáveis entre si e entre os seus pares, ao
longo das edições consideradas. Sempre que for possível, será também
referenciado o comportamento das variáveis relativamente aos seguintes
parâmetros: estabilidade, recessão e evolução.
Estes procedimentos têm como objectivo observar o seu comportamento
ao longo de um período aproximado de cem anos. Esta metodologia será
aplicada a todos os gráficos que se seguem.

2.1 Descrição do comportamento das variáveis

Neste ponto iremos registar o comportamento de cada variável ao longo


das edições consideradas.

2.1.1 Auxiliares de língua

Relativamente ao gráfico que se apresenta, revela valores no que


respeita ao segmento Línguas individualmente consideradas que, ao longo das
edições, oscilam entre quarenta e quatro entradas registadas na edição de
Estudo estatístico da representação e evolução do 457
conceito Etnia na CDU

1967-1973 e as cem entradas na edição de 1934-1953. O segmento Línguas


integradas numa só subclasse apresenta uma oscilação entre as duzentas
entradas verificadas na edição de 1990-1993(1998) e as trezentas registadas
nas edições de: 1905 e 1934-1953.
De acordo com estes dados, verificamos que a variável Línguas
integradas numa só subclasse é preponderante em relação à outra variável.
Relativamente ao comportamento das variáveis consideradas, ele pauta-
se, no geral, pela oscilação com percurso regressivo da variável
preponderante, Línguas integradas numa só subclasse, que regista trezentas
entradas na primeira edição e duzentas na última edição.
Esta variável apresenta uma oscilação relativamente ao número de
entradas que se verifica ao longo das edições. Assim, apresenta o pico de
entradas nas edições de 1905 e 1927-1933, (trezentas), observando-se o
nível mais baixo de entradas na edição de 1967-1973, (setenta), voltando a
recuperar na edição de 1990-1993(1998) na qual regista duzentas entradas.
Relativamente à variável Línguas individualmente consideradas, apesar
de não se assumir como a variável preponderante, é aquela que se inscreve
num quadro de evolução, apesar de apresentar picos de contracção, como
acontece na 2ª edição com setenta entradas, quando comparada com as
noventa entradas registadas na 1ª edição, ou se compararmos as quarenta e
quatro entradas registadas na edição de 1967-1973, com as cem registadas
na edição de 1934-1953. Todavia, apresenta uma retoma de trinta e três
entradas na edição de 1990-1993(1998), registando setenta e sete entradas,
como podemos observar no gráfico. Este valor torna-se mais significativo se
tivermos em conta que as duas últimas edições são médias desenvolvidas.
458

Fig. 55 - Auxiliares de língua

Relativamente ao gráfico que se apresenta as varáveis em termos


percentuais este revela valores referentes ao segmento Línguas
individualmente consideradas, que oscilam ao longo das edições entre os 21%
(1927-1933) e os 39% (1967-1973). O segmento Línguas integrado numa só
subclasse apresenta uma oscilação entre os 61% (1967) e os 79% (1927-
Estudo estatístico da representação e evolução do 459
conceito Etnia na CDU

1933). De acordo com estes dados, verificamos que a variável Línguas


integradas numa só subclasse é preponderante em relação à outra variável.
No que respeita ao comportamento das variáveis consideradas, ele
pauta-se, no geral, pela recessão da variável preponderante, Línguas
integradas numa só classe, que regista 77% na primeira edição e 72% na
última. No percurso considerado, esta variável perde 5 pontos percentuais.
Todavia, será de referir que a oscilação verificada por esta variável
apresenta níveis manifestamente irregulares, apresentando-se o pico 79% na
segunda edição. A partir desta edição começa a verificar-se uma recessão,
assumindo esta o valor mais baixo (61%) na edição de 1967-1973.
Relativamente à variável Línguas individualmente consideradas, apesar
de não se assumir como a variável preponderante é, todavia, aquela que se
inscreve, num quadro de evolução, embora discreta, apesar de apresentar
picos de contracção como acontece na 2ª edição. Apresenta uma
percentagem de 23% na primeira edição e 28% na última apresentando ao
longo do seu percurso um ganho de 5 pontos percentuais. Assume o seu pico
percentual, 39%, na edição de 1967-1973.

2.1.2 Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade

Em relação ao gráfico que se segue podemos observar no que respeita


às variáveis Povos de cultura ocidental e Outros povos, nos anos em que nos
foi possível determinar os valores e, com base nos quais elaboramos o
respectivo gráfico, a variável Outros povos mantém o mesmo valor, cinco
entradas. O mesmo acontece à variável Povos de cultura ocidental que
apresenta três entradas, nas duas edições consideradas.
Relativamente a estas variáveis elas pautam-se pela estabilidade, quer
no que respeita à variável preponderante Outros povos, quer no que respeita
à variável Povos de cultura ocidental.
Apesar da hegemonia pertencer à variável Outros povos, a amplitude
relativa ao número de entradas observadas entre as duas variáveis
apresenta-se pouco expressiva, manifestando-se em duas entradas.
460

Fig. 56 - Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidades

Em relação ao gráfico que apresenta as variáveis em termos


percentuais, podemos observar no que respeita às variáveis Povos de cultura
ocidental e Outros povos, que estas, tal como aconteceu com o gráfico
anterior mantêm os mesmos valores. Os Povos de cultura ocidental
apresentam 37% (1905; 1927-1933) e a variável Outras povos apresenta um
valor de 63% (1905; 1927-1933). Os valores percentuais entre as duas
Estudo estatístico da representação e evolução do 461
conceito Etnia na CDU

variáveis registam uma amplitude de (26%), pertencendo a hegemonia à


variável Outros povos, tal como acontece quando a consideramos em valores
absolutos. Cumpre referir que, o comportamento observado relativamente a
este tipo de Auxiliares é igual aquele que se verifica nos Auxiliares de Língua
e Literatura. Isto é: a variável que nos aparece como preponderante, não é
aquela que maior peso tem na estrutura deste sistema.
Avaliados os dados, podemos afirmar que estas variáveis se pautam
pela estabilidade percentual, quer no que respeita à variável preponderante,
Outros povos, que apresenta 63% na primeira e na segunda edições, quer no
que respeita à variável Povos de cultura ocidental, que apresenta uma
percentagem de 7% em cada uma das edições mencionadas.

2.1.3 Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais

Como já foi referido aquando da elaboração dos outros gráficos relativos


a estas variáveis, apenas são considerados os dados das edições de 1967 e
1990-1993(1998), pelo facto de esta variável apenas ser integrada neste
sistema a partir de 1967.
Apesar de se verificar uma significativa diferença de entradas
relativamente à variável Auxiliares de pessoa segundo a nacionalidade, três e
dezassete entradas (1967-1973; 1990-1993(1998) respectivamente, é a
variável Outros auxiliares de pessoa que é a preponderante, apresentando
cento e cinco e duzenta e setenta entradas nas edições de 1967; 1990-
1993(1998), respectivamente.
Os dois segmentos: Auxiliares de pessoa segundo a nacionalidade e
Outros Auxiliares de pessoa, apresentam um aumento que se manifesta em
mais do dobro das entradas, se compararmos os mesmos nas edições
consideradas, apresentando as duas uma significativa evolução.
462

Fig. 57 - Auxiliares de Pessoa

Este gráfico apesar de projectar valores percentuais, é muito idêntico ao


anterior. Assim, verifica-se uma diferença percentual relativamente às duas
variáveis consideradas: 97% (1967-1973) e 94% 1990-1993(1998). Apesar
de ser a variável Outros auxiliares de pessoa que se assume como
preponderante, é o segmento Auxiliares de pessoa segundo a nacionalidade
que mais cresce em termos percentuais ao longo do período considerado, 3
Estudo estatístico da representação e evolução do 463
conceito Etnia na CDU

pontos percentuais, traduzindo-se no dobro da percentagem, quando


comparamos as duas edições. Deste modo, a variável Outros auxiliares de
pessoa entra em regressão, tal como pode verificar-se no gráfico relativo aos
valores absolutos.

2.1.4 Religião

Os resultados expressos neste gráfico permitem-nos fazer a seguinte


leitura: a amplitude entre as duas variáveis ao longo do período considerado é
absolutamente clara e significativa. O Cristianismo é a variável
preponderante, oscilando entre as mil e duzentas entradas nas edições de
1927-1933 e 1934-1953 e as quinhentas e quinhentas e quarenta entradas
nas edições de 1967-1973 e 1990-1993(1998), respectivamente.
Neste gráfico também podemos verificar que, além de a variável Outras
religiões assumir um valor menos expressivo, quando comparada com a
variável Cristianismo, ela cresceu dezoito entradas ao longo do período
considerado.
No que respeita às variáveis consideradas observamos que a variável
preponderante Cristianismo entra em recessão a partir da edição alemã. É
nesta edição, a par da edição de 1927-1933, que esta variável atinge o seu
pico de crescimento de mil e duzentas entradas.
A variável Outras religiões, não sendo a variável preponderante, é
aquela que regista uma evolução mais uniforme ao longo das edições
consideradas, situando-se entre as cento e doze entradas (1905) e as cento e
trinta na última edição considerada.
464

Fig. 58 - Religião

Os resultados expressos no gráfico relativo aos valores percentuais


traduzem os mesmos resultados que foram observados no gráfico que
apresenta os valores em termos absolutos. O Cristianismo é a variável
preponderante, oscilando entre os 92% (1927-1933) e os 81% registados em
1990-1993(1998).
Estudo estatístico da representação e evolução do 465
conceito Etnia na CDU

Da leitura deste gráfico também podemos verificar que, além de a


variável Outras religiões apresentar um valor pouco significativo, tendo em
conta a variável Cristianismo, ela cresceu de 9% para 19% ao longo do
período considerado, ganhando neste período 10 pontos percentuais sendo,
desta forma, aquela que mais cresce a partir da edição de 1927-1933.
Deste modo, a variável preponderante Cristianismo entra em recessão a
partir desta edição (1927-1933), sendo nesta mesma edição que esta variável
atinge o seu pico de crescimento, 92%, situação, que de resto, se pode
observar também no gráfico relativo aos valores absolutos.
Na primeira edição (1905) ela regista 91% e na última edição (1990-
1993(1998) regista 81%, perdendo ao longo deste período 10% para a
variável Outras religiões. Esta variável (Outras religiões) regista na edição de
1905, 9% das entradas e, na edição de 1990-1993(1998) regista 19%. Deste
modo, e tal como já tínhamos observado no gráfico anterior, é das duas
variáveis consideradas aquela que apresenta um crescimento mais
consistente.

2.1.5 Ciências sociais [Cada variável no conjunto das diferentes edições –


termos absolutos]

Para um melhor entendimento do seu comportamento passamos, de


seguida, à apresentação dos resultados de cada uma das variáveis que
compõem esta classe nas diferentes edições consideradas.
Generalidades: no que respeita a esta variável observamos que o seu
valor não ultrapassa uma entrada em todas as edições.
Estatística: relativamente a esta variável, ela apresenta, de uma forma
geral, flutuações entre as cinco entradas na edição de 1905 e as vinte e duas
entradas na edição de 1990-1993(1998).
Devido ao facto da passagem da edição desenvolvida de 1934-1953
para a edição média desenvolvida de 1967-1973, observa-se um decréscimo
de quinze entradas assistindo-se, contudo, a uma recuperação de dezoito
entradas logo na edição seguinte (1990-1993(1998).
466

Política: nesta variável, à semelhança do que foi observado na variável


anterior, verificam-se também algumas oscilações, embora pouco
significativas; é de assinalar uma ligeira subida da 1ª edição (1905) para a de
1927-1933 (doze entradas) e desta para a edição de 1934-1953 (dez
entradas).
Economia: esta variável não apresenta qualquer número de entradas,
devido ao facto desta subclasse não fazer referência ao tema em estudo.
Direito: esta variável apresenta flutuações significativas que oscilam
entre as edições de 1905, vinte e três entradas e, trinta e nove entradas na
edição de 1934-1953.
De acordo com o número de entradas projectadas no gráfico, podemos
verificar uma evolução até à edição de 1934-1953. A partir desta edição
assiste-se a um decréscimo das entradas. Todavia, não podemos considerar
este facto significativo, dada a circunstância de as edições que se lhes
seguem serem médias desenvolvidas.
Administração Pública: esta variável apresenta valores quase
inexpressivos relativamente às outras variáveis, que se manifestam em duas
entradas em todas as edições, exceptuando-se a edição alemã, que apresenta
três entradas.
Assistência Social: esta variável apresenta valores muito idênticos à
variável anterior, que se traduzem nos seguintes números: dois, quatro e
dois, que correspondem à edições de 1927-1933, 1934-1953 e 1990-
1993(1998), respectivamente, e zero entradas nas edições de 1905 e 1967-
1973.
Ensino: como se pode observar no gráfico, esta variável manifesta uma
diminuição, que se traduz na redução de três entradas entre as edições de
1905 e a de 1990-1993(1998).
Comércio: nesta variável verifica-se a mesma situação que foi
observada na variável Economia.
Costumes: esta variável apresenta um aumento da primeira (1905) para
a segunda edição (1927-1933), que se manifesta em quarenta entradas. A
edição de 1934-1953 é aquela que apresenta um maior desenvolvimento
desta matéria, apresentando cento e oito entradas. Entre a edição de 1967-
Estudo estatístico da representação e evolução do 467
conceito Etnia na CDU

1973 e a de 1990(1993) assistimos à eliminação de uma entrada. Por isso,


podemos referir que esta variável apresenta dois tipos de comportamentos:
um entre a primeira e a segunda edição, que se traduz numa inflação; outro,
que se situa entre a segunda edição e a última e que se expressa numa
pequena depressão.

Descrição dos resultados das variáveis relativamente a cada edição


[Termos absolutos]

No que respeita à edição da Classificação Decimal Universal de 1905,


observamos que as variáveis que se assumem como preponderantes são as
seguintes: os Costumes, com quarenta e três entradas, o Direito com vinte e
três e a Política com dezassete entradas. Seguem-se outras duas variáveis
que, no conjunto, assumem valores substancialmente inferiores quando
comparados com as variáveis predominantes; são elas: o Ensino, com dez
entradas e a Estatística, com cinco entradas.
Relativamente à edição de 1927-1933, verificamos que as variáveis que
se apresentaram preponderantes na edição anterior continuam a sê-lo nesta.
Assinalamos um acréscimo relativamente à variável Costumes que passa,
nesta edição, a registar oitenta e três entradas; segue-se a variável Direito,
que apresenta trinta e nove entradas.
No que concerne às variáveis Ensino e Estatística, continuam a ser
aquelas que mais se aproximam das edições preponderantes: nesta edição
registam sete entradas. A Estatística e o Ensino conservam o mesmo número
de entradas que tinham na edição anterior, dez entradas.
Na edição alemã de 1934-1953 continua a observar-se a preponderância
das três variáveis anteriores.
As variáveis Costumes e Política apresentam uma subida significativa
relativamente à edição de 1927-1933, que se traduz em cento e oito e trinta
e nove entradas, respectivamente.
468

No que concerne às variáveis Estatística e Ensino, elas apresentam


também uma subida nesta edição. A Estatística apresenta dezanove entradas
e o Ensino regista doze.
No que respeita à edição de 1967-1973, continuamos a verificar a
mesma situação que foi observada nas edições anteriores. Apesar de algumas
alterações no número de entradas causadas em parte, como já referimos,
pelo facto de esta edição ser média desenvolvida, o que diminui
significativamente o seu número, as variáveis Costumes, Direito e Política
continuam a consolidar a sua posição, assumindo-se, portanto, como
variáveis preponderantes.
A variável Costumes apresenta cinquenta e nove entradas. Quanto à
variável Direito, apresenta vinte e nove entradas.
A variável Política, apesar de diminuir o número de entradas, apresenta
nesta edição vinte e seis entradas, não se afastando muito dos valores que
apresenta na edição anterior (1934-1953), apesar de esta ser desenvolvida.
No que respeita às variáveis Estatística e Ensino, continuam a ser
aquelas que mais se aproximam das variáveis preponderantes. Em relação à
variável Estatística apresenta quatro entradas.
Relativamente à variável Ensino, tal como aconteceu com a variável
anterior, assistimos também a uma descida; nesta edição apresenta seis
entradas.
Relativamente à edição de 1990-1993(1998), a preponderância continua
a pertencer às variáveis Costumes, Política e Direito.
Assim, nesta edição a variável Costumes apresenta cinquenta e oito
entradas, o Direito trinta e a Política vinte e sete.
No que respeita às variáveis Estatística e Ensino, elas apresentam o
seguinte comportamento: a variável Estatística apresenta uma subida
acentuada relativamente às outras edições; como podemos verificar no
gráfico, nesta edição apresenta vinte e duas entradas. No que respeita à
variável Ensino, regista sete entradas, mais uma do que a edição anterior.
Estudo estatístico da representação e evolução do 469
conceito Etnia na CDU

Fig. 59 - Ciências Sociais


470

Fig. 60 - Ciências Sociais


Estudo estatístico da representação e evolução do 471
conceito Etnia na CDU

Descrição de cada variável no conjunto das diferentes edições – [Termos


percentuais]

Os resultados que o gráfico (Fig. 60) traduz são o reflexo da


representação percentual de todas as subclasses da classe 3 Ciências Sociais,
com especial incidência para aquelas que expressam o nosso objecto de
estudo.
Usando o mesmo critério aplicado na leitura do gráfico anterior (Fig.
59), passamos a descrever os resultados de cada uma das variáveis, das
respectivas subclasses, agora em valores percentuais.
Generalidades: esta variável caracteriza-se ao longo das edições
consideradas por dois resultados distintos: nas duas primeiras edições
apresenta 33% de percentagem e nas outras três edições consideradas 1%.
Ao longo deste período perde 32% de representatividade entre as edições de
(1905; 1927-1933) e as de (1934-1953/1990-1993(1998).
Estatística: relativamente a esta variável, ela apresenta valores que se
situam entre os 12% na edição de 1905 e os 6% na edição de 1990-
1993(1998). Perde neste espaço de tempo 6 pontos percentuais para as
outras variáveis consideradas. O valor percentual com maior expressividade é
registado na edição de 1934-1953, 15%. De uma forma geral, esta variável
apresenta flutuações pouco acentuadas, exceptuando a registada entre a
edição de 1934-1953 e a edição de 1967-1973, (11%).
Política: no que respeita à Política observa-se, em traços gerais, a
mesma situação que se verifica na variável anterior. Esta regista o maior
valor percentual na edição de 1927-1933 (24%) e o menor na edição de
1967-1973 (13%). As oscilações entre os valores das edições consideradas
verificam-se sobretudo entre a edição de 1934-1953 e a de 1967-1973.
Economia: tal como foi referido na descrição do gráfico anterior, esta
variável não apresenta qualquer valor relativamente ao objecto de estudo.
Direito: no que respeita a esta variável, importa referir que os seus
valores percentuais oscilam entre 1% nas duas primeiras edições e 2% nas
três últimas edições.
472

Administração pública: esta variável, devido à sua frequência quase


nula, apresenta 0% em todas as edições que foram consideradas.

Assistência Social: esta variável apresenta os mesmos valores que


foram observados na variável Administração pública, 0%, exceptuando-se na
edição de 1927-1933, na qual regista um inexpressivo 1%.
Ensino: no que concerne a esta variável, ela apresenta o seu valor mais
expressivo na primeira edição (1905) 5%, registando 1% a partir da edição
de 1934-1953 até à última edição. Deste modo, traduz uma perda de 4%
para as outras variáveis que foram consideradas.
Comércio: pelas razões que foram invocadas para a Economia, esta
variável apresenta um valor de 0%.
Costumes: no que respeita a esta variável, ela é a que apresenta uma
percentagem mais expressiva ao longo das edições consideradas, atingindo o
seu pico na edição de 1927-1933, (83%) e o valor menos expressivo
relativamente às outras edições na de 1934-1953 (37%).
Como podemos verificar no gráfico em questão é uma das variáveis que
apresenta oscilações mais acentuadas ao longo das edições. Estas oscilações
traduzem-se em ciclos de regressão e ciclos de crescimento, como iremos
observar no ponto que segue.

Descrição dos resultados das variáveis relativamente a cada edição


[Termos percentuais]

Relativamente à Classificação Decimal Universal de 1905, observamos


que as variáveis que se assumem como preponderantes são as seguintes: os
Costumes com 43%, as Generalidades com 33% e a Política com 23%. A
variável que mais se aproxima destas é a Estatística com 12%. Como
podemos verificar no gráfico considerado todas as outras variáveis se situam
abaixo deste valor.
No que concerne à edição de 1927-1933, relativamente ao factor
preponderância, assistimos à mesma situação verificada na edição anterior.
Assinalamos, contudo, um crescimento extremamente significativo da variável
Estudo estatístico da representação e evolução do 473
conceito Etnia na CDU

Costumes que regista 83%. Segue-se a variável Generalidades com 33% e a


variável Política com 24%. Tal como se verificou na edição anterior, a variável
que se apresenta mais próxima destas três é a variável Estatística com 10%.
Na edição alemã de 1934-1953 observam-se alterações significativas no
que respeita ao factor preponderância relativamente às duas edições
anteriores.
Nesta edição (1934-1953) as variáveis Costumes e Política continuam a
ser as variáveis preponderantes registando 37% e 23%, respectivamente. A
alteração mais significativa verifica-se na variável Generalidades que, a partir
desta edição, irá sempre registar um inexpressivo 1%. A variável que se
encontra mais próxima destas três é o Direito com 2%.
No que respeita à edição de 1967-1973, a variável Costumes continua a
liderar as percentagens nesta edição registando 45%. Segue-se a Política com
13% e a Estatística com 4%. A variável Direito continua a ser a variável que
mais se aproxima das variáveis preponderantes.
Relativamente à edição de 1990-1993(1998), a preponderância continua
a pertencer às variáveis Costumes, com os mesmos 45% que foram
registados na edição anterior. Seguem-se a Política e a Estatística com 19% e
6%, respectivamente. Tal como temos verificado ao longo das outras edições,
a variável Direito é aquela que se lhes aproxima, com 2%.

Descrição do comportamento geral das variáveis da classe 3 [Termos


absolutos e termos percentuais]

No que respeita às subclasses da classe 3, que nesta situação se


constituem como variáveis partindo dos parâmetros estabilidade, recessão e
crescimento, podemos registar o seguinte comportamento em número de
entradas:
De uma forma geral todas as variáveis apresentam oscilações, que se
traduzem, umas vezes em recessão, outras vezes em evolução. Este
comportamento de recessão ou de evolução verifica-se de uma forma
moderada, não apresentando, no geral, de uma edição para a outra saltos
474

significativos. Cumpre ainda referir que, em alguns casos, se observa uma


linha de estabilidade.
Relativamente à estabilidade, temos a registar, quanto às variáveis, o
seguinte: Generalidades que assume sempre o mesmo valor ao longo das
edições consideradas (uma entrada), a variável Administração Pública que
apenas apresenta uma oscilação de uma entrada. Registamos ainda neste
item a Assistência social, cuja oscilação registada ao longo das cinco edições
da Classificação Decimal Universal se situa entre as duas entradas, se
compararmos todas as edições. Esta circunstância concorreu para que a
tenhamos integrado neste parâmetro.
No que respeita ao parâmetro da recessão salientamos a variável
Ensino. Esta variável apresenta na 1ª edição dez entradas subindo para doze
na edição de 1934-1953, e entra em recessão a partir da edição de 1967-
1973, apresentando metade das entradas verificadas na edição anterior (seis
entradas).
Relativamente ao conjunto das variáveis que se integram num quadro
de evolução, temos a considerar os Costumes, a Estatística, a Política e o
Direito.
A variável Costumes, no conjunto das outras variáveis, é a
preponderante em todas as edições. Na edição de 1905 regista quarenta e
três entradas evoluindo para as cento e oito na edição de 1934-1953. Entra
em recessão a partir desta edição, facto que não é expressivo, se tivermos
em linha de conta que a edição de 1967-1973 é uma edição média
desenvolvida. Além disso, se compararmos o número de entradas da edição
de 1905 (quarenta e três) com o número de entradas das duas edições
médias consideradas, (cinquenta e nove (1967-1973) e cinquenta e oito
(1990-1993(1998), estes são superiores ao número daqueles que esta
variável apresenta na 1ª edição. Por esta razão, integramos os Costumes no
conjunto das variáveis que apresentam uma evolução.
A variável Direito apresenta o mesmo comportamento que é registado
na variável Costumes. Na primeira edição (1905) regista vinte e três
entradas, sendo por isso uma das variáveis preponderantes, posição que vai
reforçar nas edições seguintes, apresentando trinta e nove entradas na edição
de 1927-1933 e cinquenta e uma na edição alemã de 1934-1953,
Estudo estatístico da representação e evolução do 475
conceito Etnia na CDU

constituindo-se, desta forma, nestas duas edições como a segunda variável


preponderante.
A partir da edição de 1967-1973 entra em recessão pelos mesmos
motivos que invocamos para explicar a recessão da variável anterior. Todavia,
esta variável não só apresenta mais uma entrada na edição de 1990-
1993(1998), quando comparada com a edição anterior, passando de vinte e
nove entradas para trinta, como também, e à semelhança do que observamos
na variável Costumes, o número que apresenta na última edição (trinta
entradas) é superior ao apresentado na edição de 1905 (vinte e três
entradas).
Relativamente à evolução salientamos a Estatística e a Política como as
duas variáveis que apresentam um crescimento significativo em relação às
outras variáveis. Tal como se observa nos parâmetros anteriores, apesar de
se verificarem oscilações, a evolução faz-se sem grandes sobressaltos.
Assim, a Estatística, apesar de não ser uma variável preponderante, é a
variável que apresenta um crescimento mais significativo, se tivermos em
conta o número de entradas registado na primeira edição (cinco) e o número
registado na última edição (vinte e duas). Ao longo deste período esta
variável apresenta um crescimento de dezassete entradas.
Assinalamos o maior pico de crescimento entre a edição de 1967-1973
(quatro entradas) e a de 1990-1993(1998) (vinte e duas entradas),
apresentando esta variável um aumento de dezoito entradas.
A Política é do conjunto das variáveis preponderantes aquela que regista
uma evolução mais estável ao longo das edições consideradas. Esta variável
regista dezassete entradas na primeira edição e vinte e sete na última, o que
perfaz um crescimento de dez entradas. Entre a edição de 1927-1933 e a
edição de 1934-1953 também se observa um crescimento de dez entradas,
mantendo-se, assim, de uma forma geral, uma estabilidade. A partir da
edição de 1934-1953 esta variável entra em recessão, pelos motivos já
mencionados nas variáveis anteriores. Todavia, termina numa posição
confortavelmente positiva relativamente ao número de entradas, se
compararmos a edição de 1990-1993(1998) ( vinte e sete entradas) com a
edição de 1905 (dezassete entradas).
476

Tal como procedemos no ponto relativo à leitura dos resultados


apresentados em valores absolutos, passamos, de seguida, a descrever o
comportamento geral das variáveis da classe 3, partindo dos valores
percentuais.
À semelhança do verificado no gráfico relativo ao número de entradas
(Fig. 59), de uma forma geral todas as variáveis apresentam oscilações que
se traduzem, umas vezes em recessão, outras em evolução. Este
comportamento verifica-se de uma forma paulatina, não apresentando, de
uma edição para a outra, no geral, saltos significativos, observando-se em
alguns casos uma linha de estabilidade.
Relativamente à estabilidade, temos a registar as seguintes variáveis:
Generalidades nas duas primeiras edições assume uma percentagem de 33%
e nas três últimas uma de 1%. Apresentando o mesmo percurso de
estabilidade, segue-se a Assistência social que, à excepção da edição de
1927-1933 na qual regista 1%, nas outras edições regista 0%. Por último, de
acordo com este parâmetro, registamos o Direito que assume 1% nas duas
primeiras edições e 2% nas três últimas.
No que respeita ao parâmetro da recessão, ao contrário do observado
no gráfico relativo ao número de entradas, as variáveis que entram em
recessão são: a Estatística, a Política e o Ensino, sendo que esta última
também já se encontrava em recessão no gráfico relativo à Fig. 59.
A Estatística perde metade dos pontos percentuais (6%) entre a edição
de 1905 (12%) e a edição de 1990-1993(1998), 6%. A Política entre as duas
edições consideradas perde 4% registando, deste modo, 23% na primeira
edição e 19% na última. Nesta linha de recessão converge também o Ensino;
esta variável regista 5% na edição de 1905 e 1% de 1990-1993(1998)
perdendo, deste modo, 4% no percurso considerado. A partir da edição de
1934-1953 entra numa linha de estabilidade, registando ao longo das três
últimas edições 1%.
No que respeita à evolução percentual, a única que se inscreve neste
quadro é a variável Costumes, com uns tímidos 2% entre a edição de 1905
(43%) e a de 1990-1993(1998) (45%).
Importa referir, exceptuando alguns casos, que os valores apresentados
relativamente a todas as variáveis consideradas são produto de oscilações,
Estudo estatístico da representação e evolução do 477
conceito Etnia na CDU

que em todos os casos se traduzem em regressão e crescimento, como


podemos verificar através dos valores projectados nos respectivos gráficos.

2.1.6 Língua

O gráfico que representa os valores absolutos em termos de entradas,


expressa uma manifesta preponderância da variável Línguas integradas numa
só subclasse, quando a comparamos com a variável Línguas individualmente
consideradas.
A variável Línguas integradas numa só subclasse apresenta uma
oscilação entre as seiscentas e sessenta entradas registadas na edição de
1934-1953 e as duzentas e cinquenta registadas na edição de 1990-
1993(1998). A variável Línguas individualmente consideradas apresenta
valores que flutuam entre as oito entradas (edição de 1905) e as setenta e
duas (edição de 1967-1973).
Relativamente ao comportamento das variáveis consideradas,
apresentamos as seguintes observações: as duas apresentam significativas
oscilações, que se caracterizam pela descida e pela subida bruscas de cada
uma delas. A variável preponderante, Línguas integradas numa só subclasse,
regista trezentas entradas na primeira edição e mais do dobro na edição de
1934-1953 (seiscentas e sessenta entradas), para apresentar uma brusca
descida (setenta e cinco entradas na edição de 1990-1993(1998). Como
podemos observar, apresenta o seu valor mais relevante na edição de 1934-
1953 e o nível mais reduzido na de 1967-1973. Apresenta uma forte recessão
nesta última edição, observando-se uma retoma na edição de 1990-
1993(1998), que se traduz em mais cento setenta e cinco entradas.
No que respeita à variável Línguas individualmente consideradas, ela
apresenta um comportamento extremamente irregular. Começa com oito
entradas na edição de 1905, atinge o pico do número das entradas na edição
de 1927-1933 com cento e vinte e oito, e apresenta uma recessão na edição
de 1934-1953 (setenta entradas).
478

Quanto às edições médias desenvolvidas verifica-se uma descida no


número de entradas na edição de 1990-1993(1998) (quarenta e três),
relativamente à edição de 1967-1973, que apresenta setenta e duas.

Fig. 61 - Línguas

O gráfico relativo aos valores percentuais, no que respeita a esta


variável, expressa uma manifesta preponderância da variável Línguas
Estudo estatístico da representação e evolução do 479
conceito Etnia na CDU

integradas numa só subclasse, quando a comparamos com a variável Línguas


individualmente consideradas, tal como tínhamos registado de acordo com a
leitura do gráfico que representa os valores absolutos.
A variável Línguas integradas numa só subclasse, apresenta uma
oscilação entre os 51% (1967-1973) e os 97% (1905), enquanto a variável
Línguas individualmente consideradas apresenta valores percentuais que
flutuam entre os 3% (1905) e os 26% (1927-1933).
Neste gráfico verificamos um comportamento semelhante ao ocorrido no
gráfico anterior no que respeita ao comportamento das variáveis
consideradas. Deste modo, importa destacar os seguintes registos: as duas
variáveis apresentam oscilações por vezes acentuadas, que se caracterizam
pela regressão ou crescimento de uma delas em relação à outra.
Estas oscilações manifestam-se nos seguintes comportamentos
percentuais: a variável preponderante, Línguas integradas numa só subclasse,
que regista 97% na primeira edição e 85% na última, perde 12 pontos
percentuais ao longo do percurso considerado. Esta apresenta o seu valor
percentual mais significativo na primeira edição, 97%, e o nível mais
reduzido, 51% na edição de 1967-1973. Como podemos observar, esta
variável entra em recessão a partir da primeira edição, observando-se uma
retoma situada nos 90% na edição de 1934-1953, seguindo-se uma baixa
logo na edição de 1967-1973, na qual regista 51%, para ir retomar a sua
posição preponderante logo na edição seguinte, com 85%.
Relativamente à variável Línguas individualmente consideradas, apesar
de não ser a variável preponderante, é aquela em que se observa uma
pequena evolução, embora tímida e extremamente irregular.
Este comportamento observa-se no seguinte percurso: na primeira
edição apresenta uma percentagem de 3%, à qual se segue uma subida na
segunda edição que se manifesta em 26%, para na edição alemã (1934-
1953) se observar uma contracção, registando nesta edição 10%. Na edição
de 1967 observa-se o maior pico de crescimento, 49%, ao qual se segue uma
nova contracção na edição de 1990-1993(1998), na qual regista 15%.
480

2.1.7 Antropologia

No gráfico que se segue podemos observar a nítida superioridade da


variável Outros assuntos. Os valores desta variável atingem o seu pico nas
edições médias desenvolvidas, (1967-1973), (1990-1993(1998)),
apresentando estas edições igual número de entradas, quatrocentas.
Se compararmos a variável Outros assuntos com a variável Assuntos
relacionados com etnias, esta última apresenta valores pouco significativos,
que se situam entre quatro e oito entradas, relativos à primeira e última
edição considerada. Observa-se ainda que a oscilação relativamente aos
valores que esta apresenta ao longo das edicões é inexpressiva.
No que respeita às variáveis consideradas, elas assumem um
comportamento ao longo das diversas edições, que se caracteriza, de uma
forma geral, pela estabilidade. A variável Outros Assuntos, nas edições de
1967-1973 e de 1990-1993(1998), como podemos observar no respectivo
gráfico, apresenta o mesmo número de entradas (quatrocentas). E entre a
primeira e a terceira edições apresenta um número de entradas muito
semelhante, diferindo apenas em três.
Deste modo, esta variável apresenta um nítido e contínuo crescimento.
A variável Assuntos relacionados com etnias apresenta um crescimento de
quatro entradas entre a edição de 1905 (quatro entradas) e a última edição,
na qual regista oito entradas. No que concerne às oscilações relativas ao
crescimento, ela apresenta um percurso idêntico ao da outra variável
considerada.
Estudo estatístico da representação e evolução do 481
conceito Etnia na CDU

Fig. 62 - Antropologia

No gráfico que se apresenta relativamente aos valores percentuais,


podemos observar, tal como verificamos na leitura do gráfico relativo aos
valores absolutos, que a variável Outros assuntos é a preponderante,
atingindo um valor de quase 100% em relação à variável Assuntos
482

relacionados com etnias, que não ultrapassa os 2% (1967, 1990-


1993(1998)).
Observa-se ainda que a oscilação relativamente a esta variável é
inexpressiva, traduzindo-se em 1% a cada ano.
No que se refere à variável Assuntos relacionados com etnias, ela
assume um comportamento semelhante ao observado na outra variável.
Regista 1% nas três primeiras edições e 2% nas duas últimas,
traduzindo-se esta oscilação em 1%.
Relativamente às duas variáveis consideradas, podemos afirmar que ao
longo das diversas edições, elas assumem um comportamento que se
caracteriza, de uma forma geral, pela estabilidade. A variável Outros assuntos
assume 99% na primeira e segunda edições, valor que assume também,
como se poderá observar no gráfico, na edição alemã. Nas edições de 1967-
1973 e de 1990-1993(1998), como se poderá observar no gráfico, assume
um valor de 98%.
No percurso das edições consideradas observa-se, portanto, uma perda
de um ponto percentual.
No que se refere à variável Assuntos relacionados com etnias, ganha um
ponto percentual ao longo das edições consideradas, observando-se, deste
modo, um percurso que é inverso ao da outra variável.

2.1.8 Literatura

As variáveis que se apresentam no gráfico relativo aos valores absolutos


caraterizam-se essencialmente por registarem um nível significativo de
oscilações relativamente ao número de entradas que apresentam.
A variável Literaturas integradas numa só subclasse apresenta uma
oscilação entre as 600 entradas (1905) e as catorze entradas na edição de
1967-1973. A variável Literaturas individualmente consideradas apresenta
números que flutuam entre as três na edição de 1905 e as setenta e cinco
entradas na edição de 1934-1953.
Com base neste gráfico podemos também observar, embora de uma
forma gradual, o crescimento da variável Literaturas individualmente
Estudo estatístico da representação e evolução do 483
conceito Etnia na CDU

consideradas. Comportamento inverso é o da variável Literaturas integradas


numa só subclasse.
No gráfico considerado verificamos, nas duas primeiras edições, a
preponderância da variável Literaturas integradas numa só subclasse.
Assim, esta variável apresenta uma oscilação entre os 34% (1934-
1953) e os 97% (1905), e a variável Literaturas individualmente consideradas
apresenta valores percentuais que flutuam entre os 3% (1905) e os 66%
(1934-1953).
Com base nestes valores podemos observar, embora de uma forma
gradual, uma crescente percentagem da variável Literaturas individualmente
consideradas que se traduz em (63%). O mesmo se observa, mas de forma
inversa, relativamente à variável Literaturas integradas numa só subclasse.
Esta apresenta um acentuado decréscimo percentual, entre a primeira edição
e a edição de 1934-1953 que se manifesta em (63%).
484

Fig. 63 - Literatura

Apresenta o seu valor mais relevante, relativamente ao crescimento na


primeira edição, 97%, e o nível mais reduzido, 34%, na edição de 1934-1953.
A recessão acontece a partir da primeira edição, observando-se uma queda
progressiva ao longo de todas as edições, até atingir o valor mais baixo em
1934-1953.
No que respeita à variável Literaturas individualmente consideradas,
apesar de não ser a variável preponderante é, todavia, aquela que apresenta
Estudo estatístico da representação e evolução do 485
conceito Etnia na CDU

uma evolução. Esta evolução regista-se logo entre a primeira edição (3%) e a
segunda (30%). Entre uma e outra regista-se um crescimento de (27%). A
partir da segunda edição observa-se um crescimento contínuo, que culmina
na edição de 1934-1953 em 66%.
Com base no exposto na tabela, no que respeita à aplicação desta
subclasse, supomos que o crescimento da divisão 821 Literaturas relativas às
línguas particulares deverá crescer de forma exponencial de acordo com os
Auxiliares de língua. Esta circunstância acontece devido ao facto de a tabela
neste ponto particular recomendar que se classifiquem as línguas individuais
segundo a Tabela de auxiliares de língua 1(c).
Deste modo, e tendo em conta o gráfico relativo aos Auxiliares de
Língua (Fig. 55), a variável Línguas integradas numa só classe apresenta uma
ligeira descida ao longo das edições consideradas, (5%) entre a primeira e a
última edição. A variável Línguas individualmente consideradas apresenta um
percurso inverso: uma subida de (5%). Regista 23% na primeira edição e
28% na segunda.
486

3 Considerações finais sobre a representação e evolução do


conceito Etnia ao longo das edições considradas

Com o propósito de sintetizar esta parte, apresentamos um gráfico


cumulativo das entradas, no qual se observará o diferencial entre o total das
entradas que compõem todos os auxiliares e classes considerados ao longo
deste estudo, e o número total de entradas destas variáveis relativamente ao
conceito Etnia.

Fig. 64 - Distribuição total de entradas

O gráfico apresentado permite-nos verificar que, num universo de 100


% (trinta e quatro mil entradas), apenas uma fatia de 14% (quatro mil e
seiscentas) diz respeito ao assunto estudado, correspondendo 86% ao
número de entradas relativas aos assuntos que não se ocupam deste tema
(29.400 entradas).
Para completarmos esta ideia e termos uma noção clara da
representação e evolução desta matéria, finalizamos este subcapítulo com a
Estudo estatístico da representação e evolução do 487
conceito Etnia na CDU

apresentação de um gráfico no qual pode observar-se o comportamento do


conceito Etnia ao longo das edições que foram consideradas.
Os dados projectados nos gráficos reflectem o peso percentual deste
tema nas classes seleccionadas. Podemos observar que é nas edições de 1905
e de 1934-1953 que a representação do conceito Etnia apresenta uma
percentagem maior. A regressão que se observa na edição de 1967-1973,
tem a ver com o facto de ela ser uma edição média desenvolvida. Todavia,
exceptuando esse facto, apesar de não se observarem valores muito
significativos, as oscilações que se observam não são significativas: regista-se
uma flutuação entre os 2% e 1%, como podemos verificar no respectivo
gráfico. Tal circunstância leva-nos a concluir que, de uma forma geral, existe
uma estabilidade percentual relativamente a esta matéria ao longo das
edições consideradas.

Fig. 65 - Distribuição de entradas relativas ao conceito Etnia por edição


488

II-IX Análise fundamentada dos resultados

1 Análise terminológica e análise conceptual

Como já referimos, partindo das edições da Classificação Decimal


Universal consideradas neste estudo, em particular, das variáveis usadas ao
longo deste trabalho, iremos analisar as linhas de continuidade e de ruptura
no que respeita aos paradigmas e teorias da etnicidade.
Referimos que esta análise, será feita sob duas perspectivas:
terminológica e conceptual.

1.1 Análise terminológica: linhas de continuidade e linhas de


ruptura em relação aos paradigmas e teorias da etnicidade

1.1.1 Auxiliares de língua

Os termos que se encontram registados nas subclasses =9 para


designar as línguas, não sofreram alteração entre a edição de 1905 e a edição
de 1934-1953.
As designações das línguas que integram estas subclasses coincidem
com as grandes áreas geográficas às quais se encontram associadas. Assim,
na sua nomenclatura encontramos, nomes como: Línguas da Ásia, Línguas da
África, etc.
A partir da edição de 1990-1993(1998), a par da alteração da estrutura,
também se observou uma pequena alteração na sua designação.
Neste sentido, os Auxiliares de língua, embora continuando associados a
grandes áreas geográficas, estas contudo em alguns casos apresentam
designações mais restritas, como é o caso das Línguas dos índios da América
e a Língua dos ameríndios do norte em geral.
Desta breve exposição infere-se que, a par da presença do elemento
geográfico, que continua a ser o preponderante na designação das línguas,
Estudo estatístico da representação e evolução do 489
conceito Etnia na CDU

nesta edição observa-se a introdução de um elemento que revela a


componente povo.

1.1.2 Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade

No que respeita a esta matéria, podemos registar dois aspectos


importantes: nas edições de 1905 e 1927-1933 para designar estes auxiliares
usam-se, entre outros termos, o de raça e nunca se utiliza, de forma explícita,
o termo povo. Este facto leva-nos a admitir a predominância do conceito raça
sobre o conceito povo. Neste caso, observa-se a presença do paradigma
antropológico.
Na edição alemã de 1934-1953 aparece pela primeira vez o termo povo
em simultâneo com o termo raça. Todavia, nas designações continua a
verificar-se a preponderância do termo raça sobre o termo povo. A edição de
1967-1973 também apresenta esta situação. Este facto apenas se altera na
edição de 1990-1993(1998), na qual verificamos que estas duas noções
aparecem em igualdade de circunstâncias.
Nesta última edição é notória a presença do segundo paradigma da
etnicidade, o sociológico, em que a noção de raça é progressivamente
substituída pela noção de povo, tendência que se verifica a partir da edição
alemã.
No que respeita à presença dos paradigmas da etnicidade, registamos
que até à edição alemã se observa o paradigma antropológico, sendo que a
partir desta edição se começa a vislumbrar o paradigma sociológico, através,
naturalmente, dos termos que nela se encontram registados.

1.1.3 Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais

Como já foi referido, este tipo de Auxiliares apenas surge pela primeira
vez na edição de 1967-1973. A terminologia utilizada nesta edição apresenta
490

algumas particularidades que a identificam com a concepção antropológica,


como é o caso da presença da palavra raça.
Na edição de 1990-1993(1998) este conjunto de auxiliares aparece mais
desenvolvido e, neles também se observa a introdução de novos termos que
se apresentam vinculados à nova concepção sociológica, tais como: Membros
de minorias nacionais, Imigrantes ou Residentes estrangeiros. Além desta, a
designação raça é eliminada destes auxiliares.

1.1.4 Religião

No que respeita à terminologia aplicada na classe 2 – Religião, sofre


uma alteração a partir da edição de 1927-1934. Na edição de 1905
encontramos expressões como: Religion chez les diverses races, para
designar uma divisão, seguindo-se um conjunto de subdivisões (299.3,
299.5/299.9), que também usam a mesma terminologia. A partir da edição
de 1927-1934, embora numa subdivisão apareça ainda o termo Raça: Races
africaines, races noires (299.6) para designar a religião dos povos negros, o
termo raça é, em todos os outros casos, substituído pelo termo povos, o que
faz deste caso particular uma excepção. Entendemos esta alteração como o
pronuncio do paradigma sociológico. Esta alteração vai ser consolidada nas
edições que se seguem.
Desta ocorrência inferimos que possa ter havido uma influência da nova
acepção do conceito Raça que, como sabemos, se difundiu em reacção às
ideias xenófobas germanistas. A partir dos meados do século XX, este termo
começa a ter uma carga pejorativa e, em sua substituição, passam a usar-se
noções como povo ou etnias.
É de referir que a própria edição alemã (1934-1953) também adopta
estas novas noções, eliminando o termo Raça na classe relativa à Religião,
como demonstram as seguintes expressões: Religionen afrikanischer Völker;
Religionen nord-und mittelamerikanischer Völker e Religionen
südamerikanischer Völker.
Estudo estatístico da representação e evolução do 491
conceito Etnia na CDU

1.1.5 Ciências sociais

Os termos empregues na classe 3 suscitam-nos os seguintes


comentários: até à edição alemã de 1934-1953 a terminologia empregue para
a designação dos assuntos que se encontram registados na classe
considerada enquadram dentro do paradigma antropológico que marcou,
como sabemos, a primeira metade do século XX. Assim, na edição de 1905 é
com alguma frequência que encontramos em diversas subclasses os termos:
Raça, Indígenas, Escravatura, Servidão.
O que se observou nesta edição continua a observar-se na edição de
1927-1933. Esta situação é reforçada quando assistimos à introdução de
novos assuntos que, muitas vezes, se manifestam no aditamento de mais
uma divisão ou uma subdivisão. A nomenclatura à qual se recorre para
explicar as respectivas notações são termos que também têm a ver com o
paradigma antropológico. Assim, e dentro deste espírito surgem-nos, entre
outros, termos como: tribos, clans, conselho de indígenas, selvagens e
primitivos, indígenas e colonos e criminalidade de acordo com a raça.
Todavia, já encontramos novos termos que se aproximam do paradigma
sociológico, como é o caso dos termos Direito das minorias e Representação
das minorias.
Na edição alemã, de uma forma geral, mantém-se a mesma
terminologia.
No que respeita à edição de 1967-1973, assistimos à eliminação de
determinados termos que são conotados com o paradigma antropológico.
Palavras como Raça aparecem com menor frequência e em alguns
casos, palavras que se identificam com este paradigma são eliminadas. Entre
as palavras eliminadas salientamos as seguintes: Tratamento e estatuto dos
indígenas, Diversas formas de servidão pessoal, Selvagens e primitivos,
Criminalidade de acordo com as diferentes raças, Colonização e migração
intercontinentais, etc. Em simultâneo com a eliminação destes termos,
assistimos à introdução de outros novos, mais próximos do novo paradigma,
que se caracteriza pela sua natureza sociológica. Naturalmente, estes novos
492

termos servem para designar os assuntos que representam os temas


decorrentes da nova conjuntura sociocultural.
Dentro desta nova dimensão sociológica referimos termos como
Minorias nacionais, Autonomia e autodeterminação das nacionalidades,
Grupos étnicos ou linguísticos, Repatriados, Educação de grupos especiais,
minorias, termos esses que se encontram repartidos nas divisões relativas à
Demografia, à Política interna, à Migração e à Educação.
Estas alterações terminológicas que se integram, na sua maioria, dentro
do paradigma sociológico, continuam a revelar-se na edição de 1990-
1993(1998). Nesta edição encontramos novos termos que não veiculam
apenas este novo paradigma, mas que são indicadores da teoria do conflito
étnico. Nesta perspectiva, embora se continuem a encontrar termos
associados ao paradigma antropológico, é inegável a introdução de novos
termos que denunciam as novas teorias emergentes no que respeita à
etnicidade, mormente, como já foi referido, no que concerne à teoria do
conflito. A título de exemplo apresentamos os seguintes termos : na divisão
da Demografia encontramos: Política demográfica em relação com as
questões nacionais e raciais. Política racista. Política de genocídio. Refugiados.
Pessoas deslocadas. Na divisão da Sociologia encontramos expressões como:
Estratificação social com base na origem nacional, racial e étnica. Psicologia
étnica. Etnopsicologia, Separação de raças. Segregação racial. Na divisão
relativa às Relações internacionais e Política externa encontramos, entre
outros, os termos: Movimentos de integração baseados nos princípios
linguísticos, étnicos e raciais, Problemas das minorias nacionais…, Apartheid.

1.1.6 Língua e Literatura

Nas edições de 1905 e de 1927-1933, tal como acontece com os


Auxiliares de língua, também a designação das línguas e das literaturas
coincide com as grandes áreas geográficas, com as quais se encontram
relacionadas. Neste sentido, entre outras designações, encontramos as
seguintes: Línguas da América do Norte e Literatura da Ásia.
Esta situação é repetida na edição de 1934-1953.
Estudo estatístico da representação e evolução do 493
conceito Etnia na CDU

Todavia, é de referir que nestas edições já se observam, quer na língua,


quer na literatura, designações que têm a ver com o nome dos povos ao qual
se encontram ligadas. Deste modo, encontramos as seguintes expressões:
Línguas Indo-europeias; Literaturas polinésias ou Literatura semítica.
A partir da edição de 1967-1973, com a concentração da língua e da
literatura na classe 8, assistimos, quer no que respeita às línguas, quer no
que respeita à literatura, a designações baseadas na noção de povo. Deste
modo encontramos as seguintes designações: Línguas africanas, Literatura
hebraica, Literatura chinesa ou Literatura japonesa.
Relativamente a este assunto, na edição 1990-1993(1998), mantém-se
a tendência que se começou a desenhar nas edições de 1927-1933 e 1934-
1953 e que se consolidou na edição de 1967-1973, nomeadamente no que
respeita à Literatura. Assim, nesta edição, continua a manter-se a noção de
povo que aparece referenciada de forma implícita, como pode observar-se nas
seguintes expressões: Línguas indo-iranianas; Línguas dos índios da América,
ou no caso da Literatura, em que esta herda e se individualiza através do
nome da própria língua de um povo. A título de exemplo, apresentamos as
seguintes designações: Literatura húngara, Literatura finlandesa e Literatura
vietnamita, entre outras.
Também nesta classe, relativamente à sua terminologia, se observa,
apesar de forma indirecta, uma propensão inequívoca para a utilização do
elemento povo e nacionalidade, componente que se encontra associada
essencialmente à Literatura e, em última análise, às características étnicas,
nomeadamente no que respeita ao paradigma sociológico.

1.1.7 Antropologia

No que respeita a esta variável e no que concerne à terminologia


empregue ao longo das diferentes edições, ela mantém-se idêntica. Deste
modo, observam-se em todas as edições duas expressões, raça e étnico, que
se identificam com os dois paradigmas da etnicidade: antropológico e
sociológico, respectivamente.
494

Na edição de 1967-1973 e na edição de 1990-1993(1999), apesar de se


diversificar a terminologia devido ao facto de se especificarem mais os
conceitos relacionados com este tema, a terminologia usada, todavia, não
apresenta alterações substanciais para que sejam consideradas objecto de
análise. No nosso entender, esta situação verifica-se, pelo facto de se tratar
de um tema que pertence às Ciências puras, cuja terminologia é caracterizada
pela denotação e objectividade. Nesta área pretende-se que os termos usados
não sofram alterações significativas.
A título de síntese e, no que concerne ao percurso da terminologia
relativamente aos paradigmas e às teorias da etnicidade, podemos referir que
as classificações consideradas traduzem, embora de forma gradual, essas
mesmas teorias e a sua evolução, apesar de, na maioria dos casos, a
terminologia que se identifica com a concepção antropológica continue a ser a
mais significativa.
Assim, e a este propósito, podemos dizer que as edições de 1905, 1927-
1933 e 1934-1953, embora, esta variável apresente alguns rasgos
característicos do paradigma sociológico, traduzem, de um modo geral, o
paradigma antropológico, ao contemplar um conjunto de expressões que se
identificam com este paradigma.
Contudo, nas edições de 1967-1973 e 1990-1993(1998), estes termos,
apesar de em alguns casos se manterem, em outros são substituídos por
expressões que estão mais próximas do novo paradigma emergente – o
paradigma sociológico. É neste paradigma que elas vão encontrar
sustentabilidade ao representarem os novos conceitos.
Neste sentido, e considerando os três vectores sob os quais nos
propomos analisar este assunto, podemos referir que assistimos a uma
ruptura terminológica entre as primeiras edições e as duas últimas. Esta
ruptura concorreu inevitavelmente para uma inovação, na medida em que
houve necessidade de se adoptarem novos termos para representar novos
conceitos.
Por outro lado, e em simultâneo, assistimos também a um percurso de
continuidade, na medida em que se observa uma presença constante de
determinados termos desde a edição de 1905, que se identificam com a
perspectiva antropológica.
Estudo estatístico da representação e evolução do 495
conceito Etnia na CDU

1.2 Análise conceptual: linhas de continuidade e linhas de


ruptura em relação aos paradigmas e teorias sobre a
etnicidade

1.2.1 Auxiliares de língua, Língua e Literatura

Pelo facto de estas três variáveis apresentarem comportamentos muito


similares ao longo das edições consideradas, como poderemos observar nos
gráficos respectivos e na sua descrição, entendemos por uma questão de
uniformidade proceder à sua análise em conjunto.
Como já foi dito aquando da descrição dos mencionados Auxiliares e no
que respeita aos seus conteúdos, importa referir que estes são constituídos
por dois grandes grupos. Um primeiro formado pelas línguas mais conhecidas
e utilizadas no mundo ocidental e um segundo, constituído pelas línguas que,
ao tempo, eram as menos usadas e conhecidas no mundo ocidental, línguas
que, de resto, constituem o objecto de análise do presente estudo.
Tal como observamos na análise das tabelas consideradas e nos
respectivos gráficos relativamente ao número de entradas, este último grupo
de línguas que designámos por Línguas integradas numa só subclasse, para
uma maior flexibilidade no que respeita ao seu tratamento, são aquelas que
ocupam um maior número de entradas ao longo de todas as edições. Se é um
facto irrefutável que esta variante assume uma posição significativa e
preponderante relativamente à outra variável, Línguas individualmente
consideradas, categoria que integra as línguas mais usadas no mundo
ocidental, também é um facto que, paradoxalmente, relativamente ao seu
peso nestas tabelas, se observa o inverso. Tal circunstância prende-se com o
facto de cada uma das línguas integradas na categoria Línguas
individualmente consideradas ser representada individualmente numa
subclasse própria, o que concorre para que cada uma ocupe uma subclasse e
todas as outras se encontrem agrupadas numa única subclasse.
Pelo exposto, podemos fazer a seguinte leitura:
496

Relativamente aos Auxiliares de língua, Língua e Literatura, de uma


forma geral assiste-se a uma linha de continuidade no que respeita aos
conteúdos. Apesar de se assistir ao longo das edições consideradas a uma
predominância relativamente ao número de entradas do segmento Auxiliares
de línguas integradas numa só subclasse, é um facto que, a partir da edição
de 1967-1973, se assiste à individualização de alguns Auxiliares de língua que
se encontravam integrados com outros auxiliares numa só classe. Deste
modo, nesta edição observamos uma maior equidade no que respeita à
representação deste tipo de Auxiliares, na medida em que estes já aparecem
considerados individualmente, à semelhança do que acontecia nas edições de
1905 e de 1927-1933, no que respeita às línguas usadas no mundo ocidental.
Neste sentido, podemos observar uma certa ruptura na organização dos
assuntos que se traduz, naturalmente, na “valorização” de algumas línguas,
designadamente daquelas que se encontram integradas na variável Línguas
integradas numa só subclasse, que aparecem registadas individualmente,
como já foi referido.
A situação observada nos Auxiliares de língua também se verifica no que
respeita à variável Língua. Apesar de apresentarem comportamentos mais
irregulares ao longo das edições consideradas, como mencionamos, é um
facto que se assistiu, à semelhança da situação que ocorreu nos Auxiliares de
língua, à “valorização” de algumas línguas que se integravam no segmento
Línguas integradas numa só subclasse. Essa circunstância é denunciada pela
distribuição dessas línguas na própria estrutura da subclasse. Línguas que se
encontravam diluídas numa subclasse, passam agora a ser registadas de
forma individual numa divisão ou subdivisão. Outras línguas, que se
encontravam dependentes de outras, deixam de o ser. É o caso da língua
portuguesa, que nas edições de 1905, 1927-1933 é registada na divisão 469,
encontrando-se esta subordinada à subclasse 46, Língua espanhola. A partir
da edição alemã de 1934-1953, a língua espanhola e a língua portuguesa
passam a ser representadas com as notações 460 e 469, respectivamente.
Uma e outra passam a depender da subclasse 46, que representa as Línguas
Ibéricas, critério que se mantém até à actualidade.
Como nos foi dado observar no ponto referente ao estudo que levamos
a cabo sobre o objecto que foi considerado para servir de estudo de caso –
Estudo estatístico da representação e evolução do 497
conceito Etnia na CDU

Etnia, a língua é uma componente deste conceito, que assume um peso


considerável na sua definição e na sua compreensão. Esse interesse encontra-
se presente, desde logo, em todas as descrições que encontramos na revisão
bibliográfica para definir os conceitos: Etnia, Grupos étnicos e Etnicidade.
No estudo que fizemos relativamente às teorias e paradigmas da
etnicidade, a Língua apresenta-se como um dos factores que mais os
influencia e os condiciona, sendo, por isso, um agente dinâmico.
Como podemos observar no estudo estatístico que apresentamos
relativamente a estas variáveis, elas acompanham, de forma discreta, mas
evolutiva, o percurso deste conceito – Etnia.
Encontramos a Língua, tanto na abordagem antropológica, como na
abordagem sociológica da etnicidade, considerada como um dos elementos
eleitos para estabelecer a “fronteira” entre etnias. Por ser um elemento tão
relevante na construção e identidade de um povo, ela encontra-se presente e
desenvolvida com um nível significativo em todas as edições deste sistema de
classificação que foram consideradas.
Na leitura dos gráficos relativos a esta variável podemos observar,
embora de forma gradual e progressiva, o seu ajustamento aos paradigmas
que foram emergindo relativamente à etnicidade.
Nas edições de 1905, 1927-1933 e 1934-1953 é manifesta a sua
relevância, tanto no que respeita aos seus Auxiliares, como no que respeita à
Classe 4 Língua, quando nos referimos à representação do conceito Etnia.
Estas edições, quer no que respeita à sua estrutura, quer no que
respeita à distribuição dos seus conteúdos, revelam uma considerável
aproximação com o paradigma antropológico, na medida em que dão
relevância às línguas usadas na cultura ocidental, ao atribuírem uma
subclasse para cada língua que, ao tempo, era considerada das mais
relevantes para a cultura ocidental. Apresentamos como exemplo, o caso da
língua inglesa, que ocupa a subclasse 42. A mesma situação ocorre com a
língua francesa, subclasse 44, e com a língua espanhola, subclasse 46, entre
outras.
As línguas que integram este grupo encontravam-se identificadas com
países que neste período eram considerados hegemónicos no panorama
498

internacional, no que respeita aos aspectos políticos, culturais e sociais. Além


disso, importa referir que todos estes países eram potências coloniais, facto
que assumia um peso considerável no modelo antropológico. Em
determinados casos estes sistemas coloniais não permitiam a difusão das
línguas dos povos colonizados, eliminando por vezes algumas das suas
línguas e dialectos.
Por este facto é que observamos as línguas e algumas das suas
variantes, assim como os dialectos que, em muitos casos, eram falados por
um número de pessoas muito superior relativamente ao das sociedades
ocidentais, como é o caso da língua chinesa, serem classificados sob a
subclasse 49 em conjunto com todas as outras línguas. Ao contrário das
línguas ocidentais, quando são registados individualmente ocupam uma
divisão ou uma subdivisão. Veja-se o caso da língua chinesa, à qual é
atribuída a subdivisão, 495.1 nas edições de 1905, 1927-1933 e na edição
alemã de 1934-1953.
A edição de 1967-1973 é aquela que apresenta a mais profunda
alteração na Língua no que respeita à sua estrutura, com a transferência da
classe 4 para a classe 8; no entanto, no que se refere aos conteúdos e à sua
organização, apresentam-se quase inalteráveis. A única alteração substantiva
refere-se ao facto de as línguas em vez de serem representadas numa
subclasse são-no numa divisão. Será preciso esperar pela edição de 1990-
1993(1998), mais concretamente pelas suas actualizações de 1998, para se
observarem alterações substanciais.
Nesta edição verificam-se, de facto, alterações quanto à estrutura, que
resultam, em última análise, da organização dos seus conteúdos. Nela
também se podem observar alguns aspectos do paradigma sociológico que,
como sabemos, se tinha consolidado na década de 60 do século XX,
nomeadamente no que respeita à teoria do pluralismo que defendia, como
referimos, a preservação da identidade cultural étnica, na qual naturalmente
se insere o património linguístico de cada povo.
É dentro deste espírito de equidade linguística que observamos, nesta
edição, todas as línguas a serem classificadas a partir da divisão 811. Tal
situação concorre para que não se verifiquem assimetrias linguísticas quanto
à sua representação. Deste modo, não se observa o predomínio de umas
Estudo estatístico da representação e evolução do 499
conceito Etnia na CDU

línguas sobre outras como acontece ao longo das anteriores edições, nas
quais era evidente a hegemonia de algumas. Era o caso das línguas inglesa,
alemã e francesa, entre outras, todas elas associadas à cultura ocidental.
Pelo facto de se observar o predomínio das línguas relacionadas com a
cultura ocidental e com os povos colonizadores até à edição de 1967-1973,
isso não quer dizer que as classificações tenham descurado as outras línguas.
Desde a edição de 1905, que observamos elencadas, quase de uma
forma exaustiva, todas as outras línguas que, na maioria dos casos, se
identificam com etnias. Em algumas situações estas línguas pertencem a
grupos étnicos que, relativamente ao número de pessoas, à expressão e à
divulgação da sua cultura, assim como à sua influência económico – política
em relação a outras sociedades, assumem linguisticamente o interesse de
uma outra língua de um país ocidental. É o caso da língua chinesa e da língua
japonesa. Acontece, porém, que, ao contrário da situação verificada até à
edição de 1967-1973, estas encontravam-se integradas na mesma subclasse:
Línguas asiáticas, tratamento que, de resto, é extensivo a qualquer outra
língua que se apresentasse inserida no conjunto designado por Línguas
orientais, africanas e outras.
Estes factos levam-nos a pensar que as classificações bibliográficas
nunca foram indiferentes às línguas dos povos ditos étnicos; além disso,
devemos considerar o facto de as línguas aparecerem, a partir da edição de
1990-1993(1998) associadas a áreas mais restritas relativamente à
nacionalidade, situação que concorre para que as classificações se aproximem
do paradigma sociológico. Embora numa perspectiva diferente, como já
referimos, a língua é um elemento que se encontra presente, tanto no
paradigma antropológico, como no sociológico. Na óptica do paradigma
antropológico, ela aparece como um elemento que distingue as várias
culturas, e com frequência é considerada como um elemento valorativo e
distintivo no que se refere às línguas de outras culturas que não sejam as
ocidentais. Na perspectiva do paradigma sociológico, a língua surge como um
elemento aglutinador, que serve para identificar e valorizar um determinado
grupo étnico e, por esse facto, é enaltecida e protegida em muitas culturas de
acolhimento de imigrantes. Esta concepção integra-se sobretudo na teoria do
500

pluralismo étnico e na teoria da mobilização étnica nas quais entre outros


aspectos, se preserva a língua como componente de integração e interacção
de um determinado povo.
De uma forma geral, o que observamos nos Auxiliares de Língua e na
própria Língua, não irá observar-se na Literatura. Esta circunstância prende-
se com o facto de esta variável ganhar um peso significativo e continuo a
partir da 3ª edição (1934-1953).
A informação apresentada nos gráficos manifesta esta mesma ideia.
Assim, apesar de serem as Literaturas integradas numa só subclasse, aquelas
que, de uma forma geral, predominam até à edição de 1927-1933, são
contudo as literaturas que se localizam na variável Literaturas individualmente
consideradas aquelas que assumem um peso preponderante. Tal como
observamos nas Línguas, também as Literaturas que se encontram associadas
às línguas dos povos europeus ou com eles relacionadas são aquelas que
aparecem destacadas. É o caso da literatura americana, que já aparece
destacada da literatura inglesa na edição alemã de 1934-1953, sendo-lhe
atribuída a notação 820(73).
Pelas razões mencionadas, poderemos inferir que, tanto a Língua como
a Literatura, de uma forma geral, se identificam com o paradigma
antropológico até à edição alemã de 1934-1953.
Esta tendência, contudo, irá alterar-se progressivamente. Assim, da
edição de 1905 para a edição de 1927-1933, encontramos algumas alterações
se bem que quase imperceptíveis. Aparecem já identificadas a Literatura
romena e a Literatura portuguesa, individualmente. Esta tendência irá ser
reforçada em todas as outras edições que se seguem.
Assim e, dentro de um espírito de mudança, na edição alemã à
Literatura corresponde o respectivo povo, orientação que se identifica com o
paradigma sociológico. Esta tendência irá encontrar uma forma mais
consistente nas edições posteriores. Nesta edição podemos ainda observar
referências de forma explícita às literaturas individuais, que ainda não se
observavam nas edições anteriores. Tal acontece por exemplo com as
literaturas sueca, russa, ucraniana, polaca e checa, entre outras. Neste ponto
em particular, observamos a valorização de outras literaturas europeias
Estudo estatístico da representação e evolução do 501
conceito Etnia na CDU

associadas a povos que até então eram inexpressivos num quadro de


património literário europeu.
Na edição de 1967-1973, apesar de ela ser uma edição média
desenvolvida, a variável Literaturas individualmente consideradas aumenta
consideravelmente de número. Na edição de 1990-1993(1998) recomenda-se
que as literaturas individuais sejam construídas de acordo com os Auxiliares
de língua, Tabela 1(c). Com a aplicação desta recomendação o número das
literaturas individuais aumenta significativamente, circunstância que irá
reforçar o paradigma sociológico, na medida em que vai fortalecer os
patrimónios literários considerados em si mesmos, acentuando o
multiculturalismo literário, aspecto que se encontra contemplado na teoria do
pluralismo étnico e da mobilização étnica.
Pelo exposto podemos inferir que, a partir da 2ª edição, se observou
uma ruptura continuada, embora paulatina, na linha de deixarem de serem
apenas algumas literaturas, nomeadamente no que respeita às literaturas
europeias e com a língua destas relacionadas, a serem registadas de uma
forma explícita.
Após a observação dos dados projectados nos gráficos e dos próprios
conteúdos das tabelas, podemos supor que é a partir da edição de 1967-
1973, que surgem, embora de modo discreto, as teorias que se enquadram
no paradigma sociológico, consolidando-se esta tendência na edição de 1990-
1993(1998). Entre elas salientamos a da teoria do pluralismo étnico e a da
mobilização étnica. Este aspecto radica no facto de as línguas e as literaturas
se organizarem sob conjuntos cada vez mais específicos, que se identificam
com determinadas nacionalidades mais restritas, quando comparadas com as
anteriores edições. Esta circunstância concorre para que estes elementos
surjam individualizados, ao mesmo tempo que os valoriza como património
linguístico e literário.
Baseando-nos, mais uma vez, nos dados projectados nos gráficos,
podemos tecer as seguintes considerações:
Assiste-se, embora de uma forma progressiva, à transição do paradigma
antropológico para o sociológico, assim como à teoria da assimilação étnica
para a teoria do pluralismo étnico, isto devido à progressiva individualização
502

das línguas e literaturas. Esta variável é marcada de uma forma geral pela
continuidade do paradigma antropológico, antevendo-se, todavia, a partir da
edição alemã, uma evolução gradual a caminho do paradigma sociológico. De
acordo com os mesmos dados estatísticos, quando comparamos os valores
expressos na edição de 1905 com os que são apresentados na edição de
1990-1993(1998), verificamos que houve uma evolução continua do
paradigma sociológico, embora caracterizado por alguma inconsistência.

1.2.2 Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade

No que respeita a este tipo de auxiliares, importa referir que se


observou uma evolução conceptual relativamente a este tema, a partir da
edição alemã de 1934-1953, que se aproxima do paradigma sociológico.
Se nas edições de 1905 e 1927-1933 encontramos conceitos que se
identificam com os parâmetros do paradigma antropológico, como é o caso da
noção de raça, como de resto já foi referido no ponto relativo à análise
terminológica, com a edição alemã de 1934-1953 dá-se uma alteração nesta
situação.
Na tabela dos Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade desta
edição, aparece pela primeira vez a noção de povo, como já referimos. Além
disso, o facto de a noção de raça e a noção de povo se encontrarem mais
desenvolvidas e específicas, concorre para uma aproximação ao paradigma
sociológico. Esta tendência vem a consolidar-se na edição de 1967-1973 e,
mais tarde, na edição de 1990-1993(1998), na qual continua a observar-se
uma maior especificidade destes conceitos.
Na linha de transição do paradigma antropológico para o sociológico, a
partir da edição alemã, também podemos observar a noção de grupos
linguístico-culturais. Esta noção aparece também nas edições de 1967-1973 e
1990-1993(1998). Este conceito integra e manifesta, em si próprio, algumas
particularidades do conceito Etnia, a saber: cultura e língua. Apesar de serem
particularidades que se identificam com os dois paradigmas, elas assumem
um papel diverso nos mesmos. Como já referimos no paradigma
antropológico, a língua e a cultura são elementos que se empregam para
Estudo estatístico da representação e evolução do 503
conceito Etnia na CDU

distinguir e separar grupos étnicos, sendo, por isso, critérios de identificação


dos diferentes grupos. No paradigma sociológico estes elementos são
entendidos como factores que, naturalmente, servindo também para
identificar os diferentes grupos étnicos, não são, todavia, considerados
critérios primordiais para tal, nem se esgotam nesse papel redutor. Neste
paradigma eles são considerados elementos que, interagindo com outros
elementos culturais, religiosos e outros, concorrem, deste modo, para formar
e identificar as comunidades étnicas. Comunidades que são constituídas por
um grupo étnico ou vários grupos étnicos e que fazem parte de um processo
evolutivo e não estático, como preconiza o paradigma etnológico.
A disposição dos elementos que constituem estas tabelas nas três
edições consideradas, leva-nos a pensar que elas se aproximam mais do
modelo sociológico, designadamente da teoria do pluralismo étnico e da teoria
da mobilização étnica, do que das ideias do modelo antropológico e das
teorias de assimilação étnica.
Se estes auxiliares nas edições de 1933-1954, 1967-1973 e 1990-
1993(1998) manifestassem a teoria da assimilação étnica e outras teorias
funcionalistas, não faria sentido a notação relativa aos grupos linguístico-
culturais na medida em que estas teorias entendem que as diferenças que
constituem os grupos étnicos, essencialmente a dos grupos minoritários,
deveriam ser absorvidas através de um lento processo de assimilação por
parte da comunidade acolhedora ou dominante.
O facto de se observar uma especificação tem a ver com a circunstância
de nestas edições se ter considerado a noção de pluralismo linguístico e
cultural, assim como a sua interacção, por este facto estes dois conceitos
aparecerem interrelacionados. Como já foi referido, esta circunstância
concorre inevitavelmente para o paradigma sociológico e para a teoria do
pluralismo.
Assim, por um lado podemos dizer que se assiste a uma ruptura
conceptual no que respeita a este tipo de auxiliares nas edições de 1905,
1927-1933 e, nas que se seguem; por outro observamos a existência de uma
certa continuidade conceptual entre a edição alemã e as francesas de 1967-
1973 e a de 1990-1993(1998).
504

1.2.3 Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais

Como já referimos, é na edição de 1967-1973 que estes Auxiliares


aparecem pela primeira vez de forma estruturada. Na edição alemã de 1934-
1953 eles já aparecem, mas de forma dispersa, não obedecendo à estrutura
habitual das tabelas de classificação. Além disso, os auxiliares que aparecem
referenciados nesta edição não se enquadram no nosso objecto de estudo.
Relativamente ao aspecto conceptual, na edição de 1967-1973 estes
Auxiliares identificam-se em parte com o paradigma antropológico e em parte
com o paradigma sociológico. Tal circunstância observa-se na medida em que
estes Auxiliares representam conceitos que se encontram relacionados com a
raça, conceito estritamente relacionado com o paradigma antropológico, como
também se encontram assuntos relacionados com o conceito nacionalidade
que, como sabemos, se aproxima do paradigma sociológico e com as teorias
do pluralismo étnico e as teorias do conflito étnico.
Apesar de estas edições apresentarem a noção raça, conceito
antropológico que caíu em desuso a partir da década de 50 do século XX, é
um facto que também incluem outros que, como referimos, se identificam
com o paradigma sociológico, como é o caso da nacionalidade.
Importa ainda referir que, em relação ao tratamento destes Auxiliares,
seja no que se refere à raça, seja no que se refere à nacionalidade, esta
edição postula que estes elementos sejam considerados de igual forma, ao
determinar que tanto os conceitos relativos à raça como os relativos à
nacionalidade deverão ser tratados (subdivididos) segundo os Auxiliares
comuns de lugar (tabela Ie). Existe neste propósito uma equidade no que
respeita à sua aplicação.
Relativamente à edição de 1990-1993(1998), tal como já referimos, eles
apresentam-se mais desenvolvidos. O desenvolvimento e crescimento destes
Auxiliares, nesta edição, traduz-se pela introdução de novos conceitos, que se
encontram relacionados com questões de: residência num país estrangeiro ou
nacional, de nacionalidade, entre as quais as que se relacionam com minorias
nacionais e estrangeiras. Nestes auxiliares podemos ainda observar a
representação de conceitos relacionados com estrangeiros, prisioneiros,
refugiados, exilados, repatriados, etc.
Estudo estatístico da representação e evolução do 505
conceito Etnia na CDU

Se na edição anterior (1967-1973) observamos a coexistência dos dois


paradigmas: antropológico e sociológico, de resto num período em que já se
justificaria a predominância do paradigma sociológico relativamente ao
antropológico, na medida em que alguns conceitos já se encontravam
desactualizados, como é o caso da noção de raça na edição de (1990-
1993(1998), observamos nitidamente o predomínio do paradigma sociológico,
assim como das teorias do pluralismo étnico e das teorias do conflito étnico.
Alguns assuntos foram eliminados, como é o caso do conceito raça e
prevaleceram outros, como é o caso do conceito nacionalidade. Acresce ainda
o facto de se observarem outros conceitos que já tivemos oportunidade de
referir, e que se enquadram nestas duas teorias e neste paradigma. É o caso
das noções relativas aos membros de minorias nacionais, residentes
estrangeiros, emigrantes e imigrantes, refugiados ou repatriados.
Assim, se na edição de 1967-1973 asistimos a um comportamento
relativamente aos conceitos que podemos integrar na noção de continuidade
conceptual, na edição de 1990-1993(1998) assistimos a uma ruptura
conceptual que se traduziu num corte com o paradigma antropológico.
O paradigma antropológico foi, pois, substituído pelo paradigma
sociológico.
Esta ideia é manifestada nos dados estatísticos nos quais se observa um
crescimento de quatorze entradas da variável Auxiliares de pessoa segundo a
nacionalidade entre a edição de 1967-1973 e a edição de 1990-1993(1998).
Apesar de esta variável apresentar um valor pouco expressivo, (três
entradas na edição de 1967-1973 e dezassete entradas na edição 1990-
1993(1998) ele não deixa, contudo, de ser significativo no que diz respeito à
leitura dos paradigmas da etnicidade. As dezassete entradas expressam o
crescimento do paradigma sociológico ao representarem assuntos que
traduzem não só o assunto em estudo, mas também os assuntos que se
encontram situados neste paradigma, como já tivemos oportunidade de
referir.
506

1.2.4 Religião

A Religião é um assunto que se encontra estruturado essencialmente em


dois segmentos conceptuais: um diz respeito ao Cristianismo e outro diz
respeito às Outras religiões. O primeiro é, desde a primeira edição, aquele
que apresenta um maior número de conceitos.
De todos os conceitos, que se constituíram como variáveis no nosso
trabalho é aquele o que mais se aproxima do paradigma antropológico, devido
ao facto de privilegiar, de forma inequívoca, uma religião em relação a outras
– O Cristianismo. Acresce o facto de esta religião ser a dominante no
Ocidente, essencialmente na Europa, espaço que, até meados do século XX,
se assumiu, de uma forma geral, como uma potência colonizadora. Deste
modo, o Cristianismo associava-se, de uma forma geral, também aos povos
colonizadores, aspecto que é considerado no paradigma antropológico.
As religiões dos grupos étnicos eram desvalorizadas face à religião
cristã. Estas eram, na maioria dos casos, religiões que nada tinham a ver com
a religião institucionalizada, alicerçada em dogmas e doutrina. Eram com
frequência fundamentadas em superstições, magia e rituais. Esta perspectiva
das religiões professadas pela maioria dos grupos étnicos é representada não
na Classe 2 – Religião, mas na Subclasse 39 - Etnografia; isto, porque a
natureza religiosa, nestes casos, acaba por se diluir e expressar mais numa
prática de vida do que propriamente numa doutrina.
O facto das edições da Classificação Decimal Universal terem
privilegiado o Cristianismo, ao longo do século XX, em detrimento das outras
religiões, concorre para que as edições consideradas se afastem da teoria do
pluralismo étnico, na qual todas as religiões têm o seu lugar.
Ao analisarmos os termos que representavam os conceitos de Religião
no ponto respectivo, verificamos que, ao longo das duas primeiras edições
(1905; 1927-1933), a terminologia usada denunciava conceitos que se
encontravam associados ao paradigma antropológico, como por exemplo o
caso da divisão designada Religião de outras raças, assim como todas as suas
subdivisões. Apesar de na edição de 1927-1934 podermos observar
indicadores que denunciam alguma alteração, todavia, ainda na edição
considerada, encontramos, ao longo desta classe, o conceito Raça, para
Estudo estatístico da representação e evolução do 507
conceito Etnia na CDU

identificar religiões que não são professadas pela maioria dos indivíduos de
cor branca.
Nesta edição aparece já a referência ao conceito Povo para designar
outras religiões que não se identificassem com Cristianismo, religião que,
nesta altura, se identificava, na sua maioria, com os povos Europeus.
A partir da edição alemã de 1934-1953, a noção Raça é eliminada no
que se refere aos conceitos religiosos, sendo substituída pelo noção Povo,
tendência que, de resto, já se desenhava na edição anterior, ideia que se irá
manter ao longo das edições seguintes: (1967-1973; 1990-1993(1998). A
partir desta edição, a expressão Religião de outras raças é substituída pela
expressão Outras religiões ou Religiões não-cristãs. Se nas edições anteriores
já se desenhavam três grupos para representar as religiões individuais, é a
partir desta edição que estes três grupos de religiões nos aparecem bem
definidos; fazem-no sob as notações 27 Catolicismo,; 28 Diversas igrejas
cristãs, 29 Outras religiões.
De acordo com este ponto de vista e, apesar da Religião católica
representar, entre todas as outras religiões, o peso mais significativo,
podemos inferir, neste caso particular, que já se encontram alguns matizes do
paradigma sociológico. A partir da edição alemã (1934-1953) começa a surgir
de forma clara a teoria do pluralismo étnico. Esta teoria defende a
preservação dos valores culturais de todas as etnias, entre os quais se
encontram os religiosos. Como sabemos, esta teoria veio confluir na teoria da
mobilização étnica, na medida em que o facto de pertencer a uma
determinada comunidade étnica detentora, naturalmente, de recursos
económicos e culturais e com um sólido património religioso; é com
frequência um meio para a mobilização social, quando devidamente
aproveitado como é, por exemplo, o caso do povo judeu. No âmbito de um
pluralismo religioso, todas as religiões devem ser consideradas. É deste
modo, embora de uma forma desigual, que vemos as várias religiões
representadas nas edições da Classificação Decimal Universal a partir da
edição de alemã, observando-se, contudo, a sua ausência na edição de 1967-
1973.
508

A título de síntese referimos que, neste ponto relativo à Religião,


observamos haver, de uma forma geral, uma continuidade do paradigma
antropológico, embora, como referimos, no período anterior já se encontrem
alguns apontamentos conceptuais relativos ao paradigma sociológico ao longo
das edições consideradas, apontamentos esses que, embora se observem de
forma esporádica, irão aumentar de frequência nas duas últimas edições
(1967-1973 e 1990-1993(1998).
De acordo com a leitura dos gráficos, podemos inferir que, apesar de ser
categórica e evidente em todas as edições a hegemonia do Cristianismo,
também é evidente que, a partir da edição de 1933-1954, há uma subida de
entradas relativa à variável Outras religiões. Deste modo, com base nos
dados disponíveis, não podemos dizer que se assistiu a uma ruptura
conceptual. Assumindo-se o paradigma antropológico como o mais
significativo, é também um facto evidente que se assistiu a um crescimento
do paradigma sociológico que se traduziu, essencialmente, na subida da
variável Outras religiões a partir da edição alemã (1934-1953), seja em
termos absolutos, seja em termos percentuais, como poderemos observar na
projeção dos gráficos respectivos.

1.2.5 Ciências sociais

Na análise desta variável, dada a diversidade de temas que nela é


contemplada, optamos por analisar cada item per si, integrando-o e
comparando-o simultaneamente com cada uma das edições consideradas.
Assim, no que respeita à Sociografia, divisão 308, cumpre-nos tecer as
seguintes considerações a nível conceptual: entre as edições de 1905 e 1967-
1973 observa-se uma homogeneidade de assuntos. Nesta divisão e ao longo
das três edições, são representados assuntos relacionados com as condições
de vida política e social de diversos países, regiões, povos e raças.
Relativamente à edição de 1990-1993(1998), apesar de se observarem
alterações relativamente à terminologia, como já foi referido no respectivo
ponto, o conteúdo mantém-se igual.
Estudo estatístico da representação e evolução do 509
conceito Etnia na CDU

Assim, relativamente a esta divisão que representa a sociografia dos


países e regiões, a nível conceptual não se observaram alterações no período
considerado (cerca de Cem anos). Dado o inexpressivo número de entradas, o
que demonstra um fraco desenvolvido deste assunto, não é possível
determinar o paradigma ou as teorias que lhe estão subjacentes.
No que respeita à subclasse 31 Estatística e, em concreto à divisão 312,
que representa a Demografia e a população, ao contrário do que se observou
na Sociografia, apresenta algumas alterações ao longo do período em estudo,
permitindo através dos assuntos que representa, identificar os paradigmas e
as teorias da etnicidade.
Entre a edição de 1905 e a edição de 1967-1973 observou-se um
aumento considerável de entradas, com vista à introdução de novos conceitos
e à especificação de alguns outros que já existiam.
Assim, entre a edição de 1905 e a de 1927-1933 foram acrescentados
os seguintes assuntos: a natalidade e a mortalidade segundo a raça. Na
edição de 1934-1953, encontramos um maior desenvolvimento no que
respeita aos aspectos demográficos, concretamente no que se relaciona com a
natalidade e com a mortalidade. Segundo esta orientação vamos observar
assuntos como o nascimento segundo a condição social, nascimento segundo
a raça, nascimento segundo a nacionalidade e nascimento segundo a língua.
A especificidade que se observa no desenvolvimento do conceito
nascimento é paralela áquela que se observa no desenvolvimento do conceito
mortalidade, encontrando-se este aspecto especificado, de forma explícita,
nas raças: brancos, negros, judeus, indianos e chineses.
Na edição de 1967-1973, de uma forma mais abreviada, apresentam-se
as mesmas temáticas que acabamos de mencionar. O facto de os conceitos
serem representados de uma forma mais abreviada prende-se com a
circunstância de esta edição ser média desenvolvida, ao contrário das outras
duas, que são edições desenvolvidas e, por isso, apresentam os assuntos sob
uma forma mais desenvolvida.
Por último, na edição de 1990-1993(1998) observam-se alterações
significativas relativamente ao conteúdo.
510

A divisão que até esta edição passou a representar conteúdos sobre


Demografia e população, passa agora a representar apenas a Estatística da
população. Observa-se a introdução do 314, que representa a Demografia e
os estudos da população.
Ao compararmos a edição de 1990-1993(1998) com as outras edições
consideradas neste estudo, iremos observar, relativamente aos conteúdos da
subclasse 31, que eles são, na generalidade, os mesmos. A alteração
conceptual verifica-se no que respeita às notações da divisão 314, ao
introduzir novos assuntos relacionados com o conceito Etnia. Deste modo,
pela primeira vez, na subclasse 31 vamos encontrar, entre outros assuntos,
os seguintes: Migrações forçadas, politica racista, questões nacionalistas e
raciais, política de genocídio, imigração, emigração, refugiados, exilados,
expulsos e pessoas deslocadas.
Estes novos conceitos observados à luz dos paradigmas e teorias da
etnicidade, concorrem, no nosso entender, para uma alteração de paradigma,
se os compararmos com aqueles que se podem observar nas edições
anteriores. É um facto que se observam, nesta edição, alguns resíduos do
paradigma, que entendemos ser o preponderante nas edições anteriores – o
paradigma antropológico, veja-se o caso dos conceitos: Densidade
populacional segundo a raça, segundo a origem social e segundo a língua. No
entanto, é por demais evidente a presença do paradigma sociológico,
essencialmente a teoria do conflito étnico. Conceitos como Política racista
questões nacionalistas e raciais, migrações forçadas ou refugiados exilados e
expulsos são a prova real dessa discriminação que sustenta a teoria do
conflito étnico.
Os conceitos migrações, migrações internas, imigração e emigração, por
seu lado, sustentam e denunciam a teoria do pluralismo étnico que, em
muitos casos, concorreu para a teoria do conflito étnico, como já referimos no
respectivo ponto.256
Por isso, entendemos que, a par de uma linha de continuidade
conceptual, existe também uma linha de ruptura ao nível dos paradigmas.
A introdução da divisão 316 Sociologia, na subclasse 31, cujos assuntos
nela representados se relacionam com o nosso objecto de estudo, concorre e

256
Ver: Descrição das teorias da etnicidade
Estudo estatístico da representação e evolução do 511
conceito Etnia na CDU

vem consolidar a nossa ideia de que nesta subclasse se observa uma


continuidade e simultaneamente uma ruptura conceptual, como poderemos
verificar no período que se segue.
Nesta divisão encontramos alguns assuntos que se relacionam com o
paradigma antropológico, tais como: Sociedades esclavagistas, sociedades
coloniais e neo-coloniais, estratificação social com base na nacionalidade,
raça, étnia ou de pertença religiosa. Por outro lado, encontramos também
conceitos que se identificam com o paradigma sociológico, tais como,
Psicologia étnica, etnopsicologia, maiorias e minorias etnicas.
Estes elementos são reforçados com os dados estatísticos relativos a
esta subclasse. Apesar de se observarem algumas hesitações nos dados, que
em alguns casos se manifestam em contracções, o resultado desta subclasse
apresenta um crescimento de dezassete entradas se compararmos o número
da primeira edição (cinco entradas) com o da última (vinte e duas entradas).
Registamos também a subida do número de entradas entre a edição de 1967-
1973 e a de 1990-1993(1998).
Em última análise, importa referir que esse crescimento expressa a
transição do paradigma antropológico para o sociológico, assim como a
consolidação da teoria do pluralismo étnico e a teoria do conflito étnico.
Relativamente à Política, representada na subclasse 32, importa referir,
para a nossa análise, os seguintes assuntos e o seu desenvolvimento
representados nas seguintes divisões: Política interna 323, Migração e
colonização 325, Escravatura e trabalho forçado 326, Relações internacionais
327 e Partidos políticos 329.
A edição de 1905 é parca neste assunto apresentando, no que concerne
ao mesmo, uma única entrada com a notação 323.1 Movimento e questões
das nacionalidades, das raças e das línguas.
A edição de 1927-1933, na divisão 321 relativa ao Estado, às sociedades
e classes sociais encontramos a subdivisão 321.2, que representa os
assuntos: tribos, clans, castas e fratrias.
Na divisão 323 Politica interna, esta é apenas composta por uma
entrada: Movimentos e questões de nacionalidades, de raças e de língua.
512

Na edição alemã de 1934-1953, na divisão 321 Sociedade. Estado,


encontramos a mesma entrada que foi observada na edição anterior. Todavia,
na divisão 323 iremos encontrar um conjunto de novas entradas que ainda
não se encontram contempladas na edição anterior. Entre outros casos, que
se poderão observar na Tabela 34, salientamos: Distribuição da população
segundo a raça e a nacionalidade, Movimentos contra certas raças ou
nacionalidades, Movimentos a favor de certas raças ou nacionalidades,
Minorias nacionais e Escravos. Servos.
Relativamente à edição de 1967-1973, na divisão 323 Política interna,
observamos todos os assuntos encontrados na edição anterior e ainda a
introdução da subdivisão 323.14 Exageros nacionalistas (Superioridade
racial), assim como o conceito Autonomia e autodeterminação das
nacionalidades, subdivisão 323.17.
Na edição de 1990-1993(1998) verificamos a entrada de dois novos
assuntos: Estrangeiros, subdivisão 323.113 e Separação das raças.
Segregação racial, na subdivisão 323.118.
Pelo exposto, verificamos que existe de uma forma geral uma
continuidade em relação aos temas, se compararmos as edições. Os temas
que se encontram presentes ao longo das edições denunciam o paradigma
antropológico. Esta realidade é confirmada pela consistência conceptual
observada na edição de 1905 e na edição de 1927-1933, na medida em que
as duas edições apresentam as mesmas entradas, traduzindo ambas este
paradigma. Contudo, a partir da edição alemã de 1934-1953 começa a
vislumbrar-se uma alteração de paradigma com a introdução de assuntos que
se encontram relacionadas com o paradigma sociológico e as teorias do
pluralismo étnico e do conflito étnico.
Esta nova orientação irá desenvolver-se ao longo da edição de 1967-
1973, consolidando-se na edição de 1990-1993(1998), a qual apresenta todas
as entradas, dentro desta linha, que se encontram representadas na edição
alemã e na edição francesa de 1967-1973, acrescentando ainda outras
relacionadas com os estrangeiros e o racismo, dois assuntos que se
identificam sobretudo com a teoria do conflito étnico.
No que respeita à colonização e migrações, divisão 325, podemos
presenciar um cenário idêntico ao observado no que se refere à Política
Estudo estatístico da representação e evolução do 513
conceito Etnia na CDU

interna. Podemos verificar na edição de 1905 e nesta divisão o registo de três


assuntos, a saber: Imigração, Emigração e Tratamento de indígenas.
Na edição de 1927-1933 vamos encontar estes mesmos assuntos, se
bem que apresentados de uma forma mais desenvolvida. Entre outros
encontram-se registados os seguintes: Protecção dos emigrantes, transporte
dos emigrantes, colonização e migração intracontinental, deportação em
massa e governo de indígenas.
A edição alemã de 1934-1953 além de todas as entradas que se
encontram nas edições anteriores, apresenta mais duas novas: Emigração
voluntária, Refugiados. Deslocados, Colonização passiva e Tipos de
colonização.
A edição de 1967-1973, além de introduzir duas entradas às existentes,
nesta edição elimina alguns assuntos, tais como: Colonização e migração
intracontinental, Colonização e migração interiror, Governo de indígenas e
Tratamento e estatuto dos indígenas.
Em relação aos novos termos será de referir que eles se encontram
apresentados sob forma específica. Assim, no que respeita à entrada para
emigrantes, proscritos, evacuados, pessoas deslocadas e deportados,
assuntos que se encontram integrados na mesma entrada, em casos que se
justifique recomenda-se a divisão: por causas religiosas, por causas racistas.
Por último, no que respeita à edição de 1990-1993(1998) importa referir
a eliminação das entradas População indígena em vias de desenvolvimento e
População indígena evoluída e a reentrada do assunto Tratamento e estatuto
dos indígenas.
Relativamente a este assunto específico deverá referir-se que, na linha
do que se observou nos temas já analisados e que constituem a subclasse 32
Política, também nesta subdivisão 325, e ao longo das edições consideradas,
observamos, no geral, uma continuidade da maioria dos assuntos nela
representados. Os assuntos representados nas três primeiras edições têm a
particularidade de se integrarem nos dois paradigmas. Por um lado
encontramos assuntos que se identificam com o paradigma antropológico,
como por exemplo Tratamento de indígenas, Colonização e migração
intracontinental e Governo de índigenas, e por outro lado, assuntos que se
514

integram no paradigma sociológico, entre os quais salientamos os seguintes:


Imigração, Protecção dos emigrantes e Refugiados. Deslocados.
Partindo desta constatação, entendemos que estas edições indicadas
representam um compromisso entre estes dois paradigmas. Todavia, na
edição de 1934-1953, já se observam alguns indícios de transição para o
paradigma sociológico. Nas edições de 1967-1973 e 1990-1993(1998) com
base na análise dos assuntos que representam esta temática e naqueles que
eliminam, leva-nos a inferir que estas se encontram mais próximas
conceptualmente do paradigma sociológico do que do paradigma
antropológico.
Relativamente à divisão 326 Escravatura e servidão, na edição de 1905
ela é composta por cinco entradas que se encontram relacionadas com a
escravatura e com a servidão. Entre outros assuntos nela representados
salientamos o comércio de escravos, a luta contra a escravatura, os servos e
a servidão.
Na edição de 1927-1933 encontramos todos os assuntos observados na
edição de 1905 e ainda uma outra entrada, que representa a Teoria em favor
da escravatura. Esclavagismo.
Na edição alemã de 1934-1953 não se encontram alterações
relativamente a este assunto. Encontram-se todos os assuntos representados
na edição anterior.
É, contudo, na edição de 1967-1973, que vamos encontrar alterações
significativas. O número de entradas diminui; entre elas salientamos
Contratos de servidão, Servos e escravatura, Teoria em favor da escravatura.
Esclavagismo.
Na edição de 1990-1993(1998), observam-se as entradas registadas na
edição anterior e a reentrada do conceito Servidão.
Relativamente a este assunto e à sua representação nas edições
consideradas, podemos referir que é um assunto pouco expressivo e que a
sua representação apresenta um baixo nível de consistência, na medida em
que ao longo das várias edições assistimos à introdução de novas entradas, à
eliminação de outras e ainda à reentrada de outras.
No que respeita aos paradigmas da etnicidade entendemos que este
tema, de uma forma geral e ao longo de todas as edições consideradas, se
Estudo estatístico da representação e evolução do 515
conceito Etnia na CDU

identifica com o paradigma antropológico, devido aos assuntos que


representa.
Relativamente à matéria em estudo, a edição de 1990-1993(1998)
introduz na divisão 327 Relações internacionais. Política mundial. Desta
divisão apresentamos duas entradas com ela relacionadas, a saber:
Movimentos de integração baseados em princípios linguísticos, étnicos,
raciais, religiosos ou geográficos e Cidadãos nacionais no estrangeiro, e
Problemas das minorias em via de naturalização de acordo com o plano da
política para estrangeiros.
Como poderemos observar, estes novos assuntos, introduzidos apenas
nesta edição relativamente aos paradigmas da etnicidade, identificam-se com
o paradigma sociológico. Dentro deste paradigma podemos vislumbrar a
teoria da assimilação étnica, na medida em que estes assuntos fazem
referência à integração de estrangeiros na comunidade acolhedora,
nomeadamento no que diz respeito aos movimentos de integração e à
naturalização de estrangeiros.
No que concerne à divisão 329 Partidos políticos, as edições de 1905 e
1927-1933 privilegiam os mesmos assuntos. As duas edições representam
este assunto segundo a religião (católicos e anticlericais), a nacionalidade, a
raça e a língua.
Na edição alemã de 1934-1953, no que se refere a esta divisão,
constam os assuntos contemplados nas outras edições, é introduzida uma
nova entrada, Antisemitismo e elimina-se, outra: Partidos políticos segundo a
raça e a língua, o que traduz, neste caso, a teoria de assuntos étnicos.
Na edição de 1967-1973 encontramos alguns assuntos que se
encontram nas edições anteriores, observamos a reentrada do assunto
Partidos e movimentos com tendência antireligiosa e a eliminação do assunto
Antisemitismo.
Relativamente à edição de 1990-1993(1998), na linha das outras
edições, esta apresenta a maioria dos assuntos nelas representados e
acrescenta um outro novo conceito Movimentos relativos à separação das
raças (Apartheid).
516

De acordo com o exposto e, no que respeita à Política, podemos inferir


que se assiste, embora de forma não linear, a uma continuidade da maioria
dos assuntos de umas edições relativamente às outras. Estes assuntos,
registados nas edições consideradas, denunciam uma componente que se
identifica com o paradigma antropológico. Todavia, a partir da edição de
1934-1953 assiste-se à introdução de assuntos que denunciam o paradigma
sociológico, como é o caso do conceito Antisemitismo nesta mesma edição e
do conceito Apartheid, na edição de 1990-1993(1998) que identificamos com
a teoria do conflito étnico.
A partir destes dados entendemos que há uma evolução de paradigmas
e uma representação da realidade social e política.
Completando estes elementos com os dados estatísticos relativos à
Política e, a título de síntese, assistimos, de uma forma geral, a um
crescimento exponencial ao longo das edições consideradas, que se quantifica
em dez entradas entre a primeira edição e a última. Em última análise, este
número traduz um crescimento do paradigma sociológico e das teorias a ele
associadas.
No que respeita ao Direito, subclasse 34, tema no qual encontramos
alusão ao nosso objecto de estudo, encontra-se referenciado nas seguintes
divisões: 340 Direito geral e Direito comparado, 341 Direito internacional, 342
Direito constitucional e direito público, 343 Direito penal, 347 Direito privado,
348 Direito Eclesiástico.
Todas as tabelas das edições consideradas, exceptuando as edições de
1934-1953 e 1990-1993(1998), das quais foi eliminada a divisão 340,
apresentam nela uma entrada que se relaciona com a nossa matéria de
estudo. Verifica-se que, ao longo das edições, este assunto vai alterando a
sua terminologia, dependendo da forma mais ou menos exaustiva sob a qual
representa o conceito. Assim, nas edições de 1905 e 1927-1933 aparece sob
a expressão Jurisprudência etnológica e direito dos povos primitivos em geral.
Na edição de 1967-1973 este assunto apresenta-se sob uma forma mais
abrangente, na medida em que nele são consideradas as diferenças e as
analogias entre os direitos dos diferentes povos, raças e épocas.
No que concerne à divisão 341 Direito internacional, entre a edição de
1905 e a edição de 1927-1933 observa-se uma considerável evolução a nível
Estudo estatístico da representação e evolução do 517
conceito Etnia na CDU

conceptual. Esta evolução continuará a manifestar-se nas edições seguintes


mas a um ritmo mais lento.
Deste modo, às duas entradas sobre este tema que se encontram
representadas na edição de 1905 e que reflectem temas relacionados com os
princípios das nacionalidades e a situação dos estrangeiros, a edição de 1927-
1933 acrescenta, entre outros assuntos, os seguintes: Direitos das minorias,
a expulsão, exclusão, reenvio de estrangeiros, refugiados políticos e direito de
asilo. A edição alemã de 1934-1953 contempla todas estas entradas e
acrescenta mais duas relacionadas com as relações jurídicas entre os
nacionais e os estrangeiros. No que respeita à edição de 1967-1973 e à
edição de 1990-1993(1998), na primeira não se verificam alterações
significativas; na segunda, se por um lado se mantêm algumas entradas
consideradas nas outras edições, como por exemplo o Direito das minorias,
por outro observamos a introdução de novas matérias, tais como Genocídio.
Morte de indivíduos que pertencem a grupos nacionais, étnicos, ou raciais em
vias de extermínio. Nesta edição e nesta divisão, observamos ainda a
eliminação das entradas relativas aos Príncipios das nacionalidades e Direitos
dos povos, assim como a entrada relativa à Situação dos estrangeiros.
Na divisão 342, relativa ao Direito constitucional e ao Direito público,
encontram-se registados assuntos que se relacionam com os Direitos
humanos.
Assim e, logo na edição de 1905, encontramos conceitos associados a
este assunto como, por exemplo, Igualdade das raças e das religiões.
Situação dos judeus, das raças estrangeiras e primitivas. Liberdade de
consciência e de cultos e nacionalidade, raça e religião.
Na edição de 1927-1933, a par dos assuntos observados na edição
anterior, são introduzidos outros assuntos relacionados com a nacionalidade e
com os estrangeiros. Outros conceitos novos devem também ser considerados
objecto de relevo; é o caso do emprego das Línguas oficiais e da Liberdade
individual.

Na edição alemã de 1934-1953 não se verificam alterações conceptuais.


Apresenta os mesmos assuntos que foram considerados na anterior.
518

A edição de 1967-1973, de uma forma geral inclui todos os assuntos


representados nas edições anteriores eliminando, todavia, dois assuntos
relacionados com o Estado e as liberdades individuais e com o emprego das
línguas oficiais.
A edição de 1990-1993(1998), tal como observamos na edição anterior,
também representa todos os assuntos das edições anteriores, verificando-se
ainda a reentrada do assunto relacionado com as línguas oficiais, línguas
nacionais e direitos líguísticos, assunto que tinha sido eliminado na edição de
1967-1973.
Para terminar este tema - Direito, dado o interesse dos conceitos que
regista nas suas divisões, passamos à análise do Direito penal, Direito civil e
Direito eclesiástico.
No que respeita ao Direito penal, divisão 343, a edição de 1905 regista
conceitos que se encontram relacionados com a liberdade de culto, com a
servidão e a escravatura e com a criminalidade associada às diferentes raças.
A edição de 1927-1933 regista os mesmos assuntos observados na
edição anterior e acrescenta um novo relacionado com os selvagens e
primitivos.
Relativamente às edições de 1934-1953 e de 1967-1973, não há
observações significativas a registar relativamente às anteriores.
Na edição de 1990-1993(1998) observam-se algumas alterações a nível
de conteúdos no que respeita ao Direito penal. Assim, verificamos, de uma
forma geral, a presença dos mesmos assuntos que se encontram registados
nas edições anteriores, a introdução de novos assuntos e a eliminação de
outros. Entre os novos assuntos introduzidos encontram-se os relacionados
com a emigração clandestina, a passagem ilícita nas fronteiras, as infracções
contra as liberdades fundamentais, contra os Direitos do Homem.
Relativamente ao Direito civil, divisão 347, observamos que a edição de
1905 regista os seguintes assuntos, que se encontram relacionados com este
tema: Religião e raça, nacionais e estrangeiros, pessoas livres e servos.
A edição de 1927-1933 aos assuntos que apresenta registados na edição
anterior acrescenta o assunto relativo aos indígenas e colonos nas colónias.
A edição de 1934-1953 representa os mesmos assuntos que a anterior.
Estudo estatístico da representação e evolução do 519
conceito Etnia na CDU

Na edição de 1967-1973 este assunto foi eliminado. Todavia, voltará a


ser reintroduzido na edição de 1990-1993(1998) com uma entrada relativa
aos estrangeiros e nacionais estrangeiros.
Por último, e no que concerne ao Direito eclesiástico, nas edições de
1905 e de 1927-1933, são registadas duas entradas que se relacionam com o
nosso objecto de estudo, a saber: Direito eclesiástico católico e Direito de
outras igrejas.
Na edição de 1934-1953 este assunto é apresentado sob estas duas
entradas; todavia, no que respeita às igrejas não católicas esta entrada
encontra-se subdividida nas várias igrejas como, por exemplo, Igreja
anglicana, Igreja budista, Judaísmo, Islamismo, etc.
Nas edição de 1967-1973 e 1990-1993(1998) a especificidade na
representação deste assunto é eliminada e ele passa a ser representado
novamente pelas duas entradas que constavam das edições de 1905 e 1927-
1933.
De acordo com os conteúdos expostos, podemos inferir que a eles se
aplicam tanto o paradigma antropológico como o paradigma sociológico,
assim como as teorias do pluralismo étnico e do conflito étnico.
Por vezes, como iremos observar, os paradigmas não se adequam aos
períodos cronológicos correspondentes; apesar disso, tal situação não invalida
que se reconheçam as características destes paradigmas ou teorias nos
períodos considerados.
Deste modo, podemos referir que é o paradigma sociológico e as teorias
do pluralismo étnico e do conflito étnico que prevalecem. Todavia, ao longo da
análise dos conteúdos encontramos alguns matizes pontuais relativamente ao
paradigma antropológico. Neste sentido e, de uma forma geral, ao longo
desta subclasse observa-se mais do que uma continuidade linear de um
paradigma, assiste-se ao seu crescimento, no caso concreto, ao do paradigma
sociológico e das teorias a ele associadas.
Concretizando estas ideias, podemos verificar que na divisão 340 Direito
em geral e Direito Comparado se encontra o paradigma antropológico
presente ao longo de todas as edições, numas de forma mais incidente do que
520

em outras. Os assuntos nela abordados, como jurisprudência etnológica e


direito dos povos primitivos, são assuntos conotados com este paradigma.
Todavia, no que concerne às entradas que se encontram representadas
sob a rubrica de Direito Internacional, elas identificam-se com o paradigma
sociológico. A importância que assumem os assuntos associados aos
princípios das nacionalidades, a situação dos estrangeiros, o reconhecimento
das minorias e questões relacionadas com a expulsão, exclusão, refugiados
políticos e direito de asilo, são matérias muito caras ao paradigma sociológico.
Paradigma que se constrói, em parte, sobre estas questões como observamos
no respectivo ponto. Acresce a esta situação o facto de algumas delas se
encontrarem associadas à Imigração, que consideramos ser um dos pilares
deste paradigma independentemente da teoria da etnicidade que assume.
A introdução na edição de 1990-1993(1998) de assuntos que se
encontram inseridos no Direito internacional, tais como o Genocídio e a Morte
de indíviduos pertencentes a grupos étnicos ou raciais em via de extermínio,
concorrem para que nela possamos identificar a teoria do conflito étnico.
No segmento do Direito público identificamos ainda o paradigma
sociológico e a teoria do pluralismo étnico.
Este paradigma encontra-se presente quando nesta divisão são
abordadas matérias relativas à igualdade de raças e das religiões, quando se
menciona a situação dos judeus, das raças estrangeiras, da liberdade de
consciência de cultos e de nacionalidade. É também significativa a alusão,
neste ponto, aos direitos linguísticos. Todas estas matérias vão ao encontro
da teoria do pluralismo étnico, na medida em que privilegiam temas que se
identificam com as características desta teoria e que, de forma geral, se
podem sintetizar no respeito e na aceitação das particularidades de cada
povo: nacionalidade, raça, religião, língua, etc. Estes são alguns dos
elementos que vemos expressos na divisão relativa ao Direito público e que,
devido à sua natureza, os identificamos com o paradigma sociológico e com a
teoria do pluralismo étnico.
No que respeita ao Direito penal, ao Direito civil e ao Direito eclesiástico,
também estes três segmentos, de uma forma geral, pautam-se pelo
paradigma sociológico.
Estudo estatístico da representação e evolução do 521
conceito Etnia na CDU

É nesta conformidade que observamos, no Direito penal, assuntos


relacionados com a emigração clandestina, assuntos que têm a ver com as
infracções contra as liberdades fundamentais e contra os Direitos do Homem.
No Direito civil, observam-se questões relacionadas com os estrangeiros
e com os nacionais.
No Direito eclesiástico o registo de duas entradas, uma relativa ao
Direito canónico e outra ao Direito de outras religiões, concorre para uma
equidade conceptual. A edição alemã chega mesmo, como podemos verificar
na respectiva tabela, a particularizar as igrejas mais conhecidas no mundo, no
segmento relativo ao Direito de outras religiões.
Pelo exposto, infere-se a presença de características não só do
paradigma sociológico mas também e, em particular, da teoria do pluralismo
étnico, neste ponto concreto, ao prescrever penalizações relativamente ao
incumprimento das liberdades fundamentais e dos Direitos do Homem. Estas
divisões, ao expressarem estes aspectos, estão a manifestar-se a favor do
pluralismo étnico, que se traduz na liberdade de culto, linguístico e cultural e
que, como observamos na teoria do pluralismo étnico, funcionam como um
recurso de mobilização social.
Relativamente aos dados estatísticos, como já verificamos, apresentam
relativamente a esta matéria um crescimento da 1ª edição para a última de
sete entradas. O facto de não se assistir a grandes oscilações ao longo das
edições, traduz-se no âmbito conceptual numa linha de continuidade do
paradigma sociológico que, como observamos, é aquele que é mais evidente
no tema considerado. Sintomático desta ideia é o facto de a edição de 1934-
1953 apresentar cinquenta e uma entradas e a edição de 1967-1973
apresentar vinte e nove. Sendo a primeira uma edição desenvolvida e a
segunda uma edição média, seria de supor uma oscilação mais evidente,
situação que, contudo, não se verifica. Esta circunstância, em conjunto com a
natureza dos dados que analisamos nas tabelas relativas a este tema,
concorre para que possamos inferir que existe uma consistência e
continuidade a nível conceptual. Deste modo, ao longo da análise dos
conteúdos, podemos observar que não se assiste a rupturas semânticas
verificando-se, nesta perspectiva, com alguma frequência, a eliminação de
522

alguns assuntos numa edição particular para depois, na edição seguinte,


serem novamente introduzidos.
A título de síntese, relativamente a este item, podemos referir que o
paradigma sociológico se manteve, de uma forma geral, ao longo de todas as
edições, inclusivamente nas primeiras, nas quais seria suposto verificar-se a
presença do paradigma antropológico.
Realtivamente à subclasse 35 Administração pública, a
representatividade da matéria objecto de estudo é quase nula. Assim, nas
edições de 1905 e 1927-1933 esta matéria apenas tem uma entrada
relacionada com as medidas policiais relativas aos estrangeiros. Na edição de
1934-1954 observa-se a introdução de uma nova entrada sobre questões
relacionadas com a naturalidade, entrada esta que irá ser eliminada na edição
de 1967-1973. Nesta medida, na edição de 1967-1973 e na edição de 1990-
1993(1998) encontra-se apenas inscrita uma entrada, aquela que já se
encontrava registada na edição de 1905 e na de 1927-1933.
Dada a parca informação disponível, não nos é possível fazer uma
análise mais pormenorizada deste assunto representado na subclasse 35,
sobretudo no que diz respeito à aplicação das teorias e paradigmas da
etnicidade.
No que respeita à subclasse 36 Assistência social. Seguros, o assunto
objecto de estudo ainda não se encontra contemplado na edição de 1905.
Na edição de 1927-1933 este assunto aparece pela primeira vez, com
uma única entrada sobre escravatura. Na edição alemã de 1934-1953
encontramos registadas três novas entradas relacionadas com seguros contra
acidentes de estrangeiros. Na edição de 1967-1973 esta subclasse é
eliminada; voltará a surgir na edição de 1990-1993(1998) com a divisão 364
Problemas sociais. Tipologia de ajudas sociais. Nesta divisão podemos
observar uma entrada relacionada com a pluralidade cultural (de acordo com
os diferentes hábitos e costumes).
Relativamente à observação da aplicação dos paradigmas e teorias da
etnicidade, apesar da reduzida informação de que dispomos, podemos
identificar, de uma forma geral, os dois paradigmas, o antropológico na
primeira edição com a alusão à escravatura e o sociológico, concretamente a
Estudo estatístico da representação e evolução do 523
conceito Etnia na CDU

teoria do pluralismo étnico, na edição de 1990-1993(1998), com a referência


ao pluralismo cultural.
Deste modo, assistimos a uma evolução conceptual, que se manifesta
também na evolução dos paradigmas.
No que respeita à subclasse 37 Educação e pedagogia, nas edições de
1905 e 1927-1933, seja na divisão 371 Pedagogia e pedagogos, seja na
divisão 377 Educação religiosa, ambas apresentam assuntos relacionados com
o nosso objecto de estudo. Nelas podemos observar os seguintes assuntos:
educação de escravos livres, negros, índios, orientais, estrangeiros e uma
alusão à coeducação de raças. A par destes assuntos, registados na divisão
371, podem ainda observar-se na divisão 377 duas entradas: uma é relativa à
instrução cristã e a outra à instrução não-cristã.
Na edição de 1934-1953 observamos algumas alterações de conteúdo
que passamos a referir: a eliminação da divisão 377, que diz respeito, como
já foi referido, à instrução cristã e à instrução não-cristã e a introdução da
divisão 379 relativa às Escolas públicas; escolas privadas e Politica escolar.
Nesta divisão são desenvolvidos assuntos relativos ao ensino relacionado com
aspectos religiosos e ao ensino relacionado com as questões linguísticas.
Na edição de 1967-1973 observa-se a eliminação das divisões 371
Pedagogia e 379 Escolas públicas e escolas privadas e assiste-se à introdução
da divisão 376 Educação, formação e ensino de categorias particulares de
pessoas. Nesta nova divisão são privilegiados os seguintes assuntos: Ensino
para crianças de pessoas itinerantes, nómadas e marinheiros, crianças
estrangeiras, educação de grupos nacionais especiais, minorias, grupos
religiosos e grupos étnicos e linguísticos.
No que respeita à edição de 1990-1993(1998) ela apresenta todos os
assuntos observados na edição anterior e acrescenta um outro relacionado
com a educação mista ou separada relativamente à segregação de raças, de
sexo, etc.
Relativamente à aplicação dos modelos de etnicidade nesta subclasse,
pelos conteúdos analisados podemos inferir que nas duas primeiras edições
(1905; 1927-1933) se observa o paradigma antropológico, na medida em que
os seus conteúdos apresentam, no geral, características deste modelo. A
524

título de exemplo podemos referir os seguintes assuntos: educação para


escravos livres e educação para as diferentes raças.
A partir da edição de 1967-1973 observamos a aplicação do paradigma
sociológico ao privilegiar assuntos relativos à educação de crianças
estrangeiras, de minorias e de grupos étnicos e linguísticos.
Apesar de os indicadores não se apresentarem de uma forma tão
evidente como em outras subclasses que já consideramos neste estudo, não
deixa, contudo, de ser perceptível uma evolução de paradigmas.
Os dados estatísticos apresentam uma recessão desta matéria, que se
manifesta numa redução do número de entradas entre a primeira e segunda
edições (três entradas).
Para a elaboração de uma análise consistente e credível não nos
podemos ficar pela leitura quantitativa destes dados; nesta situação, tal
atitude concorreria para uma leitura conceptual atrofiada e desvirtuada, na
medida em que, por vezes, os dados recolhidos e apresentados nas tabelas
nos proporcionam uma leitura que converge exactamente no sentido
contrário. Neste sentido, os assuntos nelas registados apresentam um
crescimento semântico que converge para os quadros mentais dos períodos
considerados.
No que respeita à subclasse 39, é aquela que ao longo de todas as
edições apresenta um maior número de assuntos relacionados com o nosso
objecto de estudo. Tal circunstância decorre do facto de esta subclasse
representar, na generalidade, assuntos relacionados com os costumes e
cultura de determinados povos.
Assim, os temas predominantes nesta subclasse são: os costumes
relativos à vida privada, a morte e os assuntos culturais com ela relacionados,
os costumes relativos à vida pública, especificamente no que se refere às
manifestações sociais e ainda os assuntos associados ao folclore em sentido
restrito, como por exemplo as tradições populares e a sabedoria popular.
A edição de 1905, entre outros assuntos, aborda aqueles que se
encontram relacionados com os temas descritos no período anterior.
Na edição de 1927-1933 podemos observar todos os temas que se
encontram registados na edição anterior. Os temas referidos nesta edição, na
sua maioria encontram-se mais desenvolvidos. Assim, nesta edição, a divisão
Estudo estatístico da representação e evolução do 525
conceito Etnia na CDU

391 apresenta-se mais desenvolvida e regista os seguintes assuntos:


máscaras, tatuagens e mutilações. Este desenvolvimento de temas observa-
se também na divisão 392. Nesta divisão podemos observar assuntos
relacionados com os costumes de nascimento, baptismo e com os rituais de
puberdade e maioridade. Outro tema que apresenta um nível de
desenvolvimento considerável nesta edição é aquele que se refere aos
sacrifícios humanos e aos costumes de casamento e vida em comum.
Nesta divisão são ainda introduzidos assuntos associados aos hábitos e
dieta alimentar. Outros assuntos que são introduzidos pela primeira vez de
forma desenvolvida são aqueles que dizem respeito aos rituais da morte.
Na divisão relativa à vida pública e ao folclore propriamente dito não se
observam alterações significativas relativamente à edição anterior.
Nesta edição foi elimada a entrada relativa aos costumes de guerra.
No que respeita à edição de 1934-1953 como podemos observar nas
tabelas, verifica-se sensivelmente o mesmo número de entradas. Nesta
edição assistimos à introdução de novos temas e também à eliminação de
outros.
Assim, na divisão 391 verificamos a introdução de um assunto
relacionado com o enfeite dos animais, com os ornamentos e trajes, na
divisão 392 verificamos a entrada, entre outros, dos seguintes assuntos:
rituais associados ao sacrifício de crianças, vampiros, lobisomens, namoro,
votos de noivado, poligamia e monogamia, concubinato, proibições religiosas
relacionadas com o casamento, celibato, etc.
Na divisão 393 assistimos à introdução de assuntos relacionados com o
luto, oblação, viuvez e ritos com ela relacionados. Encontram-se ainda
registados os conceitos: duelos e suicídios.
A divisão 398, na qual é representado o folclore propriamente dito, é
aquela que apresenta uma maior introdução de entradas, nela observamos as
seguintes: farsas, gnomos, ninfas, duendes, gigantes, bruxas e outros
elementos relacionados com o mundo da fantasia.
É também nesta divisão que se encontram os assuntos que foram
eliminados: fadas, elfos, dragões e espíritos.
526

A edição de 1967-1973 é caracterizada essencialmente pela eliminação


de um conjunto de assuntos que se encontram registados nas divisões 392,
relacionados com os Costumes da vida privada, 393 Rituais associados à
morte e na divisão 398 Foclore.
Assim, assuntos relacionados com os sacrifícios humanos, tais como os
assuntos relacionados com as promessas de casamento, a corte e o
casamento, nesta edição encontram-se representados no geral. Os assuntos
também relacionados com os rituais da morte passaram a ser representados
de uma forma mais abreviada.
No folclore também é eliminado um conjunto significativo de entradas
relacionadas com o mundo fantástico e imaginário.
Na edição de 1990-1993(1998) encontravam-se quase todas as
entradas registadas na edição de 1967-1973 observando-se, contudo, a
eliminação da entrada relativa à ornamentação dos animais e a reentrada do
celibato e a não consumação do casamento por razões religiosas. Por último,
na divisão relativa ao folclore propriamente dito assistimos também à
reentrada dos assuntos relativos aos espirítos da terra, aos livros de canções
e à interpretação popular dos sonhos.
No que respeita à adequação dos paradigmas étnicos e das teorias da
etnicidade a esta subclasse 39, podemos observar duas perspectivas.
Relativamente às edições de 1905 e de 1934-1953, tendo em conta os
seus conteúdos, podemos identificar o paradigma antropológico. Nestas
edições e no que concerne à subclasse referida encontramos assuntos que se
prendem com culturas diversas, entre as quais culturas tribais, que se
encontram ainda num estado da sociedade muito próximo do concreto.
Expressões desta ideia são os seguintes assuntos, registados na divisão
relativa à vida privada 392 de entre os quais destacamos: os sacrifícios e
exposição das crianças, o infanticídio sistemático, rituais de puberdade, os
homícidios como ritos, o canibalismo e a antropofagia. Outro assunto a
considerar porque denúncia este aspecto, é o caso do tratamento dos
cadáveres na divisão 393. Na divisão relativa ao folclore propriamente dito
398, encontra-se registado um número considerável de entradas que
denunciam esse tipo de sociedades nas quais se vive ainda muito ligado aos
aspectos concretos, ao sobrenatural e às superstições. Entre outros assuntos
Estudo estatístico da representação e evolução do 527
conceito Etnia na CDU

igualmente significativos registamos os seguintes: superstições e crendices, o


culto do fogo, os seres sobrenaturais (fadas, elfos, gnomos), os fantasmas,
etc.
Destes povos que vivem ainda neste estádio, encontramos registado na
divisão 397, o grupo étnico - os ciganos.
É um facto que este tipo de povos mais próximos da natureza do que
dos meios urbanos se encontra igualmente mais próximo do paradigma
antropológico do que do paradigma sociológico.
A edição de 1934-1953 acrescenta um número considerável de entradas
sobre este tema, relativamente à edição de 1927-1933. Este número deve-se
sobretudo ao desenvolvimento de algumas entradas.
Nesta situação encontramos alguns casos que se inscrevem na divisão
relativa à vida privada 392 e na divisão 398 relativa ao folclore.
Esta edição apresenta os conteúdos muito próximos dos das edições
anteriores, por este facto entendemos que ela também se identifica com o
modelo antropológico.
A edição de 1967-1973, em relação à edição anterior caracteriza-se pela
eliminação de um significativo número de entradas que, na maioria dos casos,
são subdivisões. Esta situação prende-se com o facto de ser uma edição
média e não uma edição desenvolvida como a anterior. Apesar de se verificar
esta circunstância, mantêm-se os assuntos principais que foram considerados
na edição anterior; por este facto esta edição também expressa o paradigma
antropológico. Este modelo, pelas razões aduzidas para as edições anteriores,
também se encontra traduzido na edição de 1990-1993(1998).
Para completarmos esta análise de conteúdo relativa à subclasse
considerada, importa referir, apoiando-nos nos dados estatísticos, que entre a
1ª edição (1905) e a edição de 1934-1953, este assunto foi crescendo em
termos de entradas. Verifica-se também nas edições médias desenvolvidas
que é a variável que apresenta um maior número de entradas relativamente
às outras variáveis. Relativamente ao peso percentual que esta representa ao
longo das edições, assistimos a uma ligeira subida entre a 1ª edição e a
última.
528

A título de síntese, relativamente à classe 3 Ciências sociais será de


referir que ela se pauta pelos dois paradigmas: o antropológico e o
sociológico.
Também identificamos as teorias do pluralismo étnico e a teoria do
conflito étnico em algumas subclasses, como a Estatística e a Política.
De uma forma geral observamos, não uma ruptura conceptual, mas uma
continuidade ao longo das várias edições. Reflexo desta situação é a
subclasse 39, na qual, como verificamos, se observa a continuidade do
paradigma antropológico.

1.2.6 Antropologia

Relativamente a este tema, que se encontra representado na divisão


572 da subclasse 57 Ciências biológicas, na edição de 1905 ele aparece
expresso em três entradas, que representam os seguintes assuntos: as
características sociais e étnicas em geral dos povos, a classificação das raças
e dos povos e por último a antropologia especial.
Na edição de 1927-1933 observa-se a eliminação dos assuntos
relacionados com as características sociais e étnicas, assim como a
classificação das raças e dos povos. É introduzido, todavia, um novo assunto
associado semanticamente à diversidade da espécie humana: Diversidade de
raças.
Por sua vez, a edição alemã de 1934-1953 apresenta o mesmo número
de entradas e os mesmos assuntos que a edição anterior.
No que respeita à edição de 1967-1973, ela acresce aos conceitos que
emigraram da edição de 1934-1953 outras novas entradas. Entre elas
salientamos a Antropobiologia, a Fisiologia das raças, a Patologia das raças e
os Diversos tipos de raça.
Por último, a edição de 1990-1993(1998) apresenta todos os assuntos
da edição anterior, excluindo a entrada relativa aos diversos tipos de raça
humana.
Ao observarmos os assuntos representados nas tabelas, é evidente que
se verifica uma evolução nos assuntos a partir da edição de 1967-1973. Esta
Estudo estatístico da representação e evolução do 529
conceito Etnia na CDU

evolução é tão mais relevante se considerarmos que estas últimas edições são
médias desenvolvidas ao contrário das outras três, que são desenvolvidas.
Por este facto entendemos que há uma evolução significativa.
Quanto à aplicação dos paradigmas e teorias da etnicidade, entendemos
não ser pertinente fazê-lo neste assunto por duas razões. Por um lado,
porque as teorias consideradas são das Ciências sociais, enquanto que a
matéria representada nesta divisão pertence às Ciências aplicadas; por outro,
porque ao fazê-lo teríamos que ter um conhecimento razoável da evolução
das teorias no âmbito da biologia relativamente a este assunto, o que neste
caso concreto não acontece.
Daí que fazermos qualquer análise neste sentido seria cientificamente
despropositado e inadequado.
530
Conclusões 531

Conclusões
532
Conclusões 533

Neste capítulo pretendemos apresentar as conclusões que resultaram


deste trabalho de investigação. Elas são apresentadas sob dois itens:
Conclusões gerais e conclusões específicas. As conclusões gerais vão
incidir, por um lado, na primeira parte do trabalho, na qual se descreve a
essência e natureza das classificações bibliográficas e em particular, as da
Classificação Decimal Universal e, por outro na segunda parte do mesmo, na
qual se aborda a representação e a evolução do conceito Etnia. Assim, neste
capítulo propomo-nos registar as macro-ideias que resultaram da articulação
das duas partes desta investigação. Nelas iremos destacar quatro ideias-
chave. As três primeiras prendem-se directamente com os objectivos do
nosso trabalho e irão abordar questões relacionadas com a dinâmica e a
imparcialidade deste sistema na representação dos conceitos; a quarta
prende-se com a natureza da estrutura da própria Classificação Decimal
Universal.
As conclusões específicas irão debruçar-se essencialmente sobre o
estudo de caso – Etnia. Nelas pretendemos registar algumas ilações relativas
à sua representação e evolução na Classificação Decimal Universal. Por isso,
iremos registar algumas ilações que pela sua pertinência e relevância, foram
pontos conclusivos relativos a este tema.
Tais ilações foram sendo registadas ao longo da análise dos resultados
das tabelas e dos gráficos apresentados.

Conclusões gerais

1) Dinâmica e contemporaneidade da Classificação Decimal Universal

A primeira conclusão geral a registar prende-se com o facto de termos


observado ao longo deste trabalho que as classificações bibliográficas são
entidades dinâmicas e, como tal, se foram gradualmente ajustando aos novos
paradigmas do saber, adaptando para tal os seus quadros classificatórios,
com o fim de dar-lhes resposta.
534

James Thompson,257 na breve história que apresenta sobre os esquemas de


classificação, permite-nos constatar também esta realidade.
Todavia, esta resposta, apesar de se verificar ter decorrido, na maioria
dos casos, em tempo útil, pois verifica-se um acompanhamento das
mentalidades que se traduz na representação dos novos modelos
epistemológicos, essa resposta, foi morosa e por vezes incompleta.
Assim, e partindo sobretudo da II Parte do nosso trabalho podemos
concluir que os planos de classificação sempre acompanharam as evoluções e
revoluções epistemológicas, as mudanças de paradigmas e as alterações
parcelares ocorridas nas mentalidades.
Para poderem ser estruturas abrangentes e representativas da
totalidade das disciplinas e do horizonte do saber, constituindo-se em si
próprias instrumentos de recuperação da informação referentes a todas as
disciplinas e modalidades da produção intelectual já existente, e para
poderem abarcar as novidades cognoscitivas mais imediatas, tiveram de
adaptar de forma diacrónica os seus esquemas epistemológicos.
Daí poder afirmar-se que os planos de classificação foram e são
modelados pela evolução das mentalidades e pela evolução científica. O
surgimento de novas disciplinas e as transformações do estatuto
epistemológico das existentes ditam as suas alterações.
O presente trabalho é sintomático desta ideia de progresso gradual no
que respeita à representação de conceitos evolutivos, no caso concreto o de
Etnia.
Assim, como verificamos na primeira parte do trabalho, na qual a
sistematização e a evolução do conhecimento apresentam, no geral, um
percurso caracterizado mais pelo crescimento contínuo do que por grandes
rupturas epistemológicas, também na Classificação Decimal Universal isso
acontece, como podemos observar através do estudo estatístico do conceito
Etnia. Os valores projectados nos gráficos dão-nos conta de um crescimento
não linear, pautado por oscilações que se manifestam por fases de regressão
e de crescimento. As classificações, neste sentido, apresentam um
comportamento dinâmico.

257
THOMPSON, James – A history of the principles of librarianship. 1974. P. 139-149.
Conclusões 535

Ora, este tipo de comportamento ajusta-se à própria evolução da


sociedade, que também se vai transformando, num processo contínuo mas
não linear, pautado quase sempre por retrocessos e avanços sucessivos.
Trata-se de um processo que como tivemos oportunidade de observar,
sobretudo na primeira parte do trabalho, é caracterizado pela introdução de
novos conceitos e pela aniquilação e reformulação de outros.
Este percurso sinuoso também se encontra destacado nas tabelas, nas
quais se encontram registados os conceitos relacionados com o conceito
Etnia.
O déficite que encontramos nas mesmas, não se prende com a
adequação dos seus quadros classificatórios aos quadros epistemológicos
emergentes, mas sim ao número pouco significativo de entradas e ao seu
desenvolvimento, como podemos verificar no estudo estatístico; num
universo de aproximadamente trinta e quatro mil entradas, apenas quatro mil
e seiscentas se relacionavam com este tema.

2) Evolução formal e evolução conceptual

A segunda conclusão vem completar a primeira, na medida em que


aborda a contemporaneidade dos modelos epistemológicos e a forma como
eles se encontram representados na Classificação Decimal Universal, situação
que por si já revela uma dinâmica social e mental.
No capítulo relativo à análise dos dados recolhidos concluímos que, no
que respeita ao conceito estudado - Etnia, expresso em quatro mil e
seiscentas entradas de um total de trinta e quatro mil, observamos que estas
apresentam e se adequam, de uma forma geral, aos modelos epistemológicos
que foram surgindo ao longo do século XX, relativamente a este tema.
De uma forma geral, nas variáveis analisadas ao longo das edições
objecto de estudo, concluímos que mais do que observarmos uma ruptura dos
paradigmas considerados, observamos, antes, em muitas situações, um
compromisso dos dois (antropológico e sociológico) devido ao facto de os
encontrarmos na mesma edição, e por vezes, dentro da mesma variável,
como acontece, por exemplo, com a variável Costumes.
536

Ainda relativamente aos paradigmas e teorias da etnicidade, pela leitura


das tabelas e gráficos elaborados, concluímos, por um lado que existe um
ajustamento significativo entre o paradigma antropológico que se encontra
sobretudo nas duas primeiras edições (1905; 1927-1933), seja a nível de
conteúdos, seja a nível formal; por outro, assistimos a uma presença
significativa do paradigma sociológico a partir da edição alemã de 1934-1953.
Na edição de 1967-1973 e na de 1990-1993(1998) verificamos não só a
presença do paradigma sociológico mas também a das teorias do pluralismo
étnico e do conflito étnico, que se desenvolveram e se impuseram ao longo da
segunda metade do século XX. O caso mais paradigmático da representação
destas teorias observa-se na edição de 1990-1993(1998), com a introdução
da divisão relativa à Sociologia, na qual se encontram abordados assuntos
referentes a esta temática.
Ainda no que respeita à representação da contemporaneidade e, que
como referimos no último período, se manifesta na presença dos paradigmas
e teorias da etnicidade nas edições consideradas, não podemos deixar de
referir, a título de exemplo, uma situação observada nas edições de 1934-
1953 e 1967-1973. Na edição alemã aparece o assunto Antisemitismo, na
edição francesa de 1967-1973, este assunto é eliminado. Entre outros
assuntos aos quais podíamos recorrer para apresentar a contemporaneidade
desta classificação, pareceu-nos que dada a sua natureza e as mentalidades
da época seria este o mais significativo.
No que respeita à evolução formal, em particular, de acordo com análise
da mesma e que se encontra registada no capítulo relativo à análise dos
resultados, podemos concluir, de uma forma geral, que houve um
ajustamento da terminologia que serve para explicar as notações das
respectivas tabelas.
Como poderemos observar ao longo do ponto respectivo a partir da
edição alemã, essencialmente nas edições que se seguem a esta, há uma
adequação dos termos às novas correntes epistemológicas.
Assim, concluímos que ao longo das edições consideradas, assistimos a
um movimento dinâmico que fluiu, de forma lenta, mas progressiva e
consistente, seja na perspectiva formal, seja na perspectiva conceptual, tal
como se observa na história do próprio conhecimento.
Conclusões 537

Pelo exposto na primeira e segunda conclusões, entendemos ter


respondido ao primeiro objectivo do nosso trabalho que consistia em:

- Analisar o comportamento da Classificação Decimal Universal, no


que respeita à representação da dinâmica sócio-cultural do século
XX, concretamente no que respeita ao conceito Etnia.

3) Imparcialidade da Classificação Decimal Universal

A terceira conclusão prende-se com a imparcialidade da Classificação


Decimal Universal no que respeita à representação dos assuntos.
Para respondermos a esta questão de uma forma isenta, não nos
podemos esquecer da origem e do contexto mental no qual nasceu nem do
objectivo para o qual foi criada. Ignorarmos estas questões seria construir um
raciocínio viciado que concorreria inevitavelmente para falsas conclusões.
Como sabemos, a Classificação Decimal Universal nasceu da
Classificação Decimal de Dewey que reflecte, antes de mais, um espírito
ocidental, em particular o americano. Tal situação acontece, como sabemos,
devido ao facto de esta ter sido criada para responder a uma necessidade de
organização do conhecimento, conhecimento esse que traduzia os modelos
mentais da sociedade ocidental.
A Classificação Decimal Universal, como herdeira da Classificação
Decimal de Dewey, não só lhe herdou a estrutura mas também lhe herdou, de
uma forma geral, os seus conteúdos. Esta situação era compreensível e
normal para a época, se tivermos em conta que as duas foram publicadas
com aproximadamente trinta anos de diferença e este sistema de
classificação, tal como a Classificação Decimal de Dewey, também seria usado
para organizar o conhecimento ocidental.
Esta situação concorre para que se encontrem umas áreas mais
desenvolvidas que outras. O presente trabalho é espelho do exposto. É o caso
da Classe 2 – Religião, na qual o Cristianismo, por ser a religião predominante
no Ocidente, assume uma posição dominante quando comparada com as
538

outras religiões, ou o caso das Línguas e Literaturas, Classes 4258 e 8,


respectivamente.
Como verificamos ao longo do nosso trabalho, apesar de o número de
entradas relativas às Línguas que não se identificam com a cultura ocidental
ser sempre preponderante ao longo das edições consideradas, as línguas que
se identificam com a cultura ocidental, apresentando-se embora num número
mais reduzido em termos de importância relativamente às outras e à
estrutura deste sistema, são as preponderantes. Deste modo, elas aparecem
representadas em subclasses, enquanto que as outras aparecem
representadas sob a forma de divisões ou subdivisões.
Assim, se aferirmos a imparcialidade ou parcialidade deste sistema num
contexto global e em termos absolutos, teremos de concluir que ele é parcial.
Se, no entanto, o considerarmos em termos relativos às considerações que
expusemos, não poderemos dizer que é um sistema parcial, na medida em
que representa a realidade para a qual foi criado.
Também ao longo do nosso trabalho, fomos verificando pelo número de
entradas e pelos assuntos registados nas respectivas tabelas, que esta
realidade tende a alterar-se, fruto evidentemente, das mutações mentais que
se foram verificando ao longo do tempo. São notórias, embora incipientes, as
mudanças verificadas, por exemplo na Religião a variável Outras Religiões
que sobe 3% relativamente às entradas quando comparamos a primeira
edição (1905; 20%) com a edição de (1990-1993(1998); 23%).
Relativamente aos outros assuntos que foram objecto de análise no
nosso trabalho, de uma forma geral e, de acordo com os paradigmas e teorias
da etnicidade, que são referência de aferição no que respeita à representação
desta temática, concluímos que, de uma forma geral, o conceito Etnia se
encontra representado com imparcialidade, nomeadamente no que concerne à
edição alemã. Dado o período em que foi publicada, poderia levar a supor que
nesta edição encontrássemos distorções conceptuais ou imparcialidade na
representação dos assuntos. Como podemos verificar no capítulo relativo à
descrição do comportamento das variáveis e análise das mesmas, esta
apresenta um comportamento isento quando comparada com as edições de
1927-1933 e 1967-1973. É aquela que apresenta um maior número de

258
A partir da edição de 1967-1973, como é sabido, a Classe 4 fica vazia.
Conclusões 539

entradas relativamente a este tema, quando comparada com as outras


edições desenvolvidas e é a edição em simultâneo com a de 1990-1993(1998)
que apresenta maiores rasgos de contemporaneidade. Das edições
desenvolvidas é aquela que discrimina as religiões não-cristãs e é a edição
que nos Auxiliares de raça e nacionalidade, no seu desenvolvimento, recorre à
noção de povo, como já foi referido no capítulo da análise. Com a referência a
esta noção ela apresenta marcas de contemporaneidade e aproxima-se do
paradigma sociológico. Através do estudo estatístico e da sua análise,
concluímos que, mais do que pecar por imparcialidade, consideramos o facto
de, infelizmente, os assuntos relacionados com esta temática se encontrarem
pouco desenvolvidos e, em alguns casos, apresentarem um nível deficitário de
actualização.
Esta circunstância, no nosso entender, e baseando-nos na literatura que
foi consultada sobre este assunto, poderá estar relacionada, em parte, com o
facto dos conceitos - Etnia e Etnicidade, se terem apenas consolidado de uma
forma consistente a partir da década de 60 do século XX e, por isso, apenas
terem começado a aparecer referências explícitas a eles a partir da edição de
1967-1973. Outro argumento que poderá ter contribuído para esta situação é
o facto de estes conceitos serem semanticamente pluridisciplinares e, por
esse facto, as suas referências se encontrarem disseminadas nas diferentes
classes da classificação, o que concorre para uma dispersão semântica que,
por sua vez, torna difícil afirmar categoricamente que existe efectivamente
imparcialidade na representação dos assuntos neste sistema de classificação.
Todavia, no que se refere a este tema em particular, ao observarmos a
presença dos dois paradigmas, de uma forma geral, ao longo das edições
consideradas, podemos afirmar que este sistema foi imparcial na sua
representação.
Deste modo respondemos ao segundo objectivo deste trabalho que se
propunha:

- Aferir até que ponto podemos considerar a Classificação Decimal


Universal um sistema de classificação imparcial, por isso fiável, no
que respeita à representação e recuperação da informação.
540

4) Estrutura

Ao procedermos à análise das entradas relativas ao conceito Etnia nas


edições consideradas, não podemos deixar de observar e reflectir sobre a
estrutura na qual se encontram integradas. Outro argumento que pesou na
introdução deste ponto foi o facto de o conteúdo e a estrutura nas
classificações bibliográficas serem dois conceitos indissociáveis, e por isso se
condicionarem fortemente um ao outro. Por estas razões entendemos
apresentar, a título de conclusão geral, algumas ilações que fomos extraindo
do nosso estudo sobre a estrutura.
Se por um lado entendemos que apenas uma classificação259 de base
decimal como a Classificação Decimal Universal poderá representar este tipo
de conceitos evolutivos e multidisciplinares como é o caso do conceito - Etnia,
por outro achamos que a sua unidimensionalidade é uma característica que
pode ser negativa para a representação do mesmo. Tal situação concorre para
que, em alguns casos, como nos foi dado observar na elaboração do nosso
trabalho, seja necessário recorrer a expedientes sintácticos (auxiliares) para
representar determinados conceitos. Apresentamos, a título de exemplo, a
representação dos seguintes assuntos: Deportados devido a causas religiosas
ou Deportados devido a causas racistas (325.25:2; 325.25:572.9),
respectivamente. Estes casos concorrem inevitavelmente para notações
extensas, que em nada beneficiam a inteligibilidade das mesmas por parte de
quem recorre às mesmas.
Concluímos, portanto, que esta característica estática não beneficia em
nada a representação deste tipo de conceitos. A sua representação não se
adequa ao princípio postulado por Paul Otlet, que refere que a cada objecto
deverá corresponder um único código, princípio registado na 1ª edição da
Classificação Decimal.
De uma forma geral, observamos que os novos assuntos relativos a este
tema se iam integrando de uma forma adequada nas classes e subclasses que
existiam, contribuindo, deste modo, para a construção de um mapa
conceptual actualizado.

259
Excluímos as classificações facetadas como a Colon Classification e a Bliss Classification, pelo
facto de serem pouco usadas, devido à sua multidimensionalidade na representação dos
assuntos.
Conclusões 541

A situação que observamos relativamente a este assunto não pode ser


considerada como uma referência geral no que diz respeito à actualização dos
quadros classificatórios deste sistema, pois é um ponto do qual enferma por
ser oneroso e difícil de gerir.

Conclusões específicas

As conclusões especificas, serão registadas do geral para o particular;


deste modo, passamos a apresentá-las:

1) A primeira conclusão específica relativa ao objecto de estudo de caso


– Etina prende-se com a reduzida percentagem que o número de entradas
acerca desta matéria representa no total das classes e subclasses em que se
encontra expressa. Num universo de 100%, ela representa 14%
(aproximadamente quatro mil e seiscentas) correspondendo os outros 86%
(aproximadamente a vinte nove mil e quatrocentas entradas) a outras
matérias que não se encontram relacionadas com este tema.
A avaliar pelos números apurados, entendemos que é uma percentagem
pouco expressiva.

2) Relativamente à representação que este assunto regista em termos


percentuais ao longo das edições, assistimos, de uma forma geral, a uma
estabilidade percentual entre elas, o que revela que o número de entradas
relativamente ao total de cada uma das edições se mantém sensivelmente
estável. O conjunto das edições desenvolvidas, a de 1905 e a de 1934-1953,
regista o mesmo valor percentual 16%, e a edição de 1927-1933 regista
14%. A oscilação varia (2%), valor que não é significativo.
Nas duas edições médias desenvolvidas a oscilação é de (1%) na edição
de 1967-1973; (9%), e na de 1990-1993(1998) (10%).
Os resultados levam-nos a concluir que, apesar de se tratar de um valor
inexpressivo, houve uma evolução global na representação deste assunto.
542

3) A edição alemã é aquela que regista, de uma forma geral, o maior


número de entradas absolutas e valores percentuais relativamente à maioria
das variáveis que foram consideradas. Esta edição apresenta as subclasses
relativas a estes assuntos, quando é o caso, significativamente desenvolvidas.
É também a edição que faz, com maior frequência, a transição entre o
paradigma antropológico e o paradigma sociológico. Tendo em conta o
período em que foi desenvolvida (2ª Guerra mundial) e o país onde foi
publicada, não podemos deixar de a considerar uma edição progressista para
a época, e de a consideramos uma edição isenta, devido aos assuntos que
representa260, como tivemos oportunidade de verificar ao longo da análise.

4) Auxiliares de língua e Língua

No que respeita a estas variáveis apresentamos as seguintes


conclusões:
Começamos por referir que estas variáveis são aquelas que apresentam
um maior desenvolvimento nas edições objecto de estudo, quando
comparadas com as outras variáveis. Tal circunstância reveste-se de extrema
importância, dado o facto de a Língua ser de entre as componentes que
formam este conceito complexo, aquela que se reveste de maior peso.
Os dados estatísticos relativamente aos Auxiliares de língua e à Língua,
apontam para um percurso muito idêntico ao longo das edições que foram
objecto de estudo; por isso apresentamos as suas conclusões em conjunto.
Quer no que respeita aos valores registados, seja aos valores absolutos
em termos de entradas, seja aos valores percentuais que estas variáveis
assumem nas respectivas edições, a variável Línguas integradas numa só
subclasse (Auxiliares) e Línguas integradas numa só subclasse, tanto nas
edições desenvolvidas como nas edições médias desenvolvidas assumem-se,
geralmente, como variáveis preponderantes relativamente às variáveis

260
Os assuntos aos quais nos referimos são os relativos ao conceito Etnia, pois apenas estes
foram objecto de análise.
Conclusões 543

Línguas individualmente consideradas (Auxiliares) e Línguas individualmente


consideradas.
A par da preponderância e desenvolvimento consideráveis, apesar das
flutuações que apresentam, estas assumem também um nível de algum modo
significativo de estabilidade, que se traduz numa média de 73% no que
respeita aos Auxiliares de Língua e de 79% no que respeita às Línguas.
Como tivemos oportunidade de referir e explicar no ponto relativo à
análise, a preponderância desta variável não reflecte o peso desta matéria
nas respectivas edições, que até à edição de 1990-1993(1998) é inferior à
variável Línguas individualmente consideradas. Todavia, não podemos deixar
de salientar que a sua especificidade nas edições objecto de estudo
representa um reconhecimento das mesmas como um património a
considerar.
No que se refere ao comportamento dos Auxiliares de Língua e à própria
Língua no que respeita ao ajustamento das mesmas aos modelos da
etnicidade que emergiram ao longo do século XX, estas variáveis apresentam
um percurso evolutivo, identificando-se, de uma forma geral, as três
primeiras edições com o paradigma antropológico e as duas últimas edições
médias desenvolvidas, em particular a de 1990-1993(1998), com o modelo
sociológico e as respectivas teorias.
Relativamente a este assunto, importa referir que a edição alemã, como
já referimos, marca o ponto de transição para o paradigma sociológico,
apresentando já conteúdos que se identificam com este paradigma, como
podemos observar na tabela 34.

5) Literatura

Apesar de esta variável apresentar consideráveis semelhanças de


comportamento relativamente às outras duas variáveis que apresentamos no
anterior ponto conclusivo, devido ao facto de a Literatura basear a sua
formação na Língua, como sabemos, todavia, esta pauta-se por algumas
particularidades.
544

De uma forma geral, as Literaturas integradas numa só subclasse


apresentam-se preponderantes até à edição de 1927-1933 inclusivé. Ao longo
das edições consideradas esta variável apresenta uma média de
representatividade de 68%.
No entanto, são as Literaturas individualmente consideradas que
assumem um maior peso na estrutura deste sistema de classificação, dada a
circunstância de elas serem representadas individualmente numa subclasse,
até à 3ª edição, tal como acontece na Língua.
Contudo, a partir desta edição, esta situação irá alterar-se a partir das
edições médias desenvolvidas, como poderá observar-se nos gráficos
respectivos, seja no que respeita ao número de entradas, seja em termos
percentuais.
Ainda com base nos dados estatísticos, podemos observar que, a partir
essencialmente da edição de 1967-1973, as duas variáveis irão aproximar-se
significativamente, o que concorre para que haja uma equidade entre as
Literaturas individualmente consideradas e as Literaturas integradas numa só
subclasse. Esta circunstância, em termos semânticos traduz-se na valorização
dos patrimónios literários individuais, situação que já tivemos oportunidade
de explicar no ponto relativo à análise.
Integrando o conceito - Literatura, na evolução do próprio conceito de
etnicidade, observamos que este, a partir da 3ª edição (1934-1953), começa
a apresentar indicadores do paradigma sociológico, tendência que irá afirmar-
se na edição de 1967-1973 e consolidar-se na edição de 1990-1993(1998),
com a individualização das Literaturas.

6) Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade

Como referimos no ponto relativo à análise, esta variável pauta-se por


dois comportamentos que se encontram perfeitamente identificados.
Até à edição de 1934-1953 pauta-se pelo paradigma antropológico; a
partir desta aproxima-se, de forma significativa, do paradigma sociológico.261

261
Esta leitura foi baseada, não em dados quantitativos, pois a partir da edição da edição de
1934-1953, inclusive, dada a estrutura da esta tabela 1(f), não nos foi possível determinar o
Conclusões 545

Daqui concluímos que houve um crescimento conceptual no que respeita


aos modelos da etnicidade.
O facto mais relevante e que, por isso, passamos a registar, manifesta-
se no reconhecimento dos vários grupos linguístico-culturais a partir da 3ª
edição (1934-1953).
Como podemos observar no gráfico respectivo, a frequência da variável
Outros povos, aquela que se identifica com o nosso objecto de estudo,
apresenta ao longo destas duas edições uma estabilidade que se traduz numa
média de 63%.

7) Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais

Devido ao facto de estes Auxiliares apareceram pela primeira vez na


estrutura da edição de 1967-1973, não apresentamos conclusões mais
completas.
Com base nos dados recolhidos permitimo-nos tecer as seguintes
conclusões:
Na edição de 1967-1973 é visível a existência dos dois paradigmas:
antropológico e o sociológico. Já na edição de 1990-1993(1998) se observa,
no que repeita a esta matéria, o predomínio do paradigma sociológico
assistindo-se, deste modo, a uma ruptura conceptual entre os dois
paradigmas mencionados.
O crescimento do paradigma sociológico não é só notório nos conteúdos
que se encontram registados nas tabelas, mas também nos dados
estatísticos.
Deste modo, a variável Auxiliar pessoa segundo a nacionalidade,
variável que se identifica com o nosso objecto de estudo, regista o dobro das
entradas quando comparamos os valores das duas edições; o mesmo
acontece em relação ao valor percentual. Para terminar, importa registar que
a média de oscilação entre as duas edições é de 4,5%.

número de entradas. Dado este facto baseamo-nos nos conteúdos representados nas respectivas
tabelas.
546

8) Religião

A variável sobre a qual vão incidir as conclusões, neste caso concreto a


variável Outras religiões, à semelhança do que se verifica com as anteriores,
é aquela que se relaciona com o nosso objecto de estudo.
Esta variável, quando comparada com a outra variável considerada,
Cristianismo, apresenta-se como a menos expressiva, seja em termos
absolutos seja em termos percentuais, apresentando uma média de
representação de 12,6%.
Apesar de apresentar os valores menos significativos, é aquela que a
partir da 2ª edição (1927-1933) apresenta um crescimento contínuo. Este
crescimento reflecte-se, essencialmente, a partir da edição de 1934-1953, na
presença do paradigma sociológico neste tema; apesar disso, não podemos
dizer que se assistiu a uma ruptura de paradigmas, mas sim a um
crescimento de um paradigma e das teorias com ele associadas, no caso
concreto ao paradigma sociológico.

9) Ciências sociais

A análise dos dados registados nas tabelas e nos gráficos relativamente


a esta variável permite-nos apresentar as seguintes conclusões:
Tal como referimos no ponto relativo à análise, esta classe é
caracterizada pela presença dos dois paradigmas: o antropológico e o
sociológico. A reforçar esta ideia encontramos em subclasses como a
Estatística e a Política matérias que se identificam com as teorias do
pluralismo étnico e do conflito étnico.
No que respeita a estes paradigmas, ao longo desta classe e no percurso
das edições, de uma forma geral, não assistimos a uma ruptura conceptual,
mas sim a uma continuidade, pautada, todavia, pelo crescimento do
paradigma sociológico.
Como podemos observar pelo número de entradas que esta classe
apresenta e pela distribução das mesmas na sua estrutura, podemos concluir
que das classes que foram analisadas e dentro da Classificação Decimal
Conclusões 547

Universal esta classe é a mais sensível a esta matéria. Encontra-se presente


entre sete e oito subclasses das dez que a constituem, dependendo este
número das edições consideradas. Dada a sua heterogeneidade temática,
podemos concluir que é aquela que apresenta uma maior representatividade
deste tema, na medida em que nela é registada uma diversidade de assuntos
relacionados com o conceito Etnia. Devido à sua natureza conceptual,
(conceito pluridisciplinar), esta noção encontra-se distribuída pela quase
totalidade deste sistema de classificação, e desta classe em particular.
Todavia, esta relevância não se encontra expressa de forma numérica
nos gráficos que apresentamos, apesar de, exceptuando o caso das línguas,
ser a variável que apresenta um maior número de entradas.
A pouca relevância desta matéria é-nos dada pelos seus baixos níveis de
frequência na respectiva subclasse. A título de exemplo, recordamos que a
média de percentagem da sua frequência é de 3%. Como podemos observar,
a percentagem que é registada nas duas edições médias desenvolvidas
(1967-1973 e 1990-1993(1998) é igual à registada na edição de 1934-1953.
Este facto leva-nos a concluir que se assistiu a uma valorização destas
matérias, nomeadamente na edição de 1990-1993(1998), com a introdução
da Sociologia 316, na subclasse da Estatística, na qual se encontra registado
um número significativo de entradas sobre este tema. De resto, este facto
concorreu para a consolidação do paradigma sociológico e das teorias com ele
relacionadas, como tivemos oportunidade de observar ao longo da análise
deste ponto.

Propostas de melhoria

Tendo como base todo o trabalho que foi desenvolvido e, em particular,


as conclusões acabadas de expor, apresentamos, de seguida, um breve
conjunto de propostas gerais com vista a melhorar a construção das
classificações, para se tornarem mais eficazes na representação e
recuperação da informação. Iremos estruturá-las sob dois itens: conteúdo e
estrutura.
548

Conteúdo

1) Sugerimos que este sistema de classificação proceda de um modo


mais regular a revisões dos seus quadros epistemológicos, por forma a que
estes se ajustem o mais possível às alterações da própria dinâmica social. O
incumprimento de tal propósito irá concorrer inevitavelmente para a sua
desactualização no que se refere à representação e consequente recuperação
do conhecimento.

2) Relativamente às eventuais actualizações, que se poderão manifestar


na introdução de novos conceitos, na eliminação de outros ou na sua
reintegração, à semelhança do que acontece em outras linguagens
documentais como é o caso de alguns tesauros, na edição onde tal situação
ocorra, deverão ser listadas todas essas situações no final do texto.

3) Para que estas propostas sejam exequíveis, entendemos que deverão


ser elaborados mais estudos desta natureza, por forma a que se ajustem os
conceitos do modo mais adequado possível nos respectivos quadros
epistemológicos.
É apenas através destes estduos que poderão ser definidos com precisão
e rigor o quadro epistemológico no qual se integra um determinado conceito.

4) Propomos ainda que, sempre que tal seja possível, os temas, por
uma questão de uniformidade e consistência, deverão apresentar um
desenvolvimento semelhante nas respectivas classes.

Estrutura

1) Dada a interoperabilidade entre as linguagens documentais que


actualmente se observa, entendemos que as classificações, respeitando
naturalmente a sua natureza e a sua estrutura de base, se deveriam
Conclusões 549

aproximar o mais possível de outro tipo de linguagens – as vocabulares.


Deste modo, a primeira proposta a fazer prende-se com a forma como os
conteúdos se encontram estruturados nas respectivas classes.
Pensamos que, à semelhança dos tesauros e das listas de
encabeçamentos de matérias, as classificações deveriam apresentar relações
associativas entre as notações, sempre que isso fosse possível e desejável.
Ao implementar-se esta estrutura, ela iria possibilitar relacionarem-se os
assuntos entre si no corpo do sistema de classificação, à semelhança do que
acontece nos tesauros e listas de encabeçamentos de matérias.
Importa referir que este tipo de relações já se encontram implícitas,
como já foi referido no capítulo relativo à descrição da Classificação Decimal
Universal, no índice da própria tabela.
Esta possibilidade iria também concorrer para uma melhor localização
dos assuntos que apresentam relações semânticas de afinidade. É o caso do
assunto que nos serviu de objecto de estudo – Etnia, que se caracteriza por
ser um assunto complexo.
Em última análise, esta situação que, na prática, se manifestaria numa
rede conceptual, iria convergir para uma maior consistência na representação
do assunto e, consequentemente, para uma maior pertinência no que respeita
à recuperação da informação.

2) Propomos também que as notações sejam o menos extensas


possível. Como observamos ao longo da parte teórica do nosso trabalho,
todos os autores convergem na ideia de que as notações se devem apresentar
simples e breves. Esta ideia vem, de resto, ao encontro do principal objectivo
de qualquer sistema de classificação, que é organizar o conhecimento em
classes epistemológicas. Ora, quanto maior for a especificidade de uma
notação, maior será a dispersão do conhecimento. Esta função de exprimir o
assunto pelo específico pertence às linguagens vocabulares; é neste sentido
que ambas se complementam. No caso de ser necessário especificar um
assunto dever-se-á recorrer aos respectivos auxiliares. No nosso caso de
estudo os auxiliares mais usados seriam os Auxiliares de raça, grupo étnico e
nacionalidade e os Auxiliares comuns de pessoa e características pessoais.
550

Deste modo, proporciona-se à instituição optar por uma notação mais


específica ou mais breve, sendo contudo, como referimos, a última
possibilidade a mais correcta, de acordo com os princípios de uma
classificação.

3) Por último, em prol da uniformidade da estrutura das classes,


entendemos que estas, dentro do possível, deveriam manter uma estrutura o
mais semelhante possível, quer dentro de cada edição, quer em diferentes
edições, isto é, no caso de novas edições ou de actualizações.
A concretização desta proposta iria concorrer para uma maior
uniformidade e consistência na representação dos assuntos. Tal medida
evitaria as fragilidades com que nos deparamos na elaboração deste trabalho,
e que descrevemos no capítulo relativo à metodologia.
551

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Índice de Figuras
588
589

Figura 1 - Árvore de Porfírio 109


Figura 2 - Naturalis Historia 123
Figura 3 - Institutiones divinarum et sæcularum litterarum 125
Figura 4 - Speculum Majus 126
Figura 5 - Dictionarium historicum, geographicum et poeticum 130
Figura 6 - Encyclopédie ou Dictionnaire… des sciences, des arts et des
métiers 136
Figura 7- Sistema do conhecimento humano (Encyclopédie) 137
Figura 8 - Panepistemon 143
Figura 9 - Examen de ingenios 144
Figura 10 - Bibliotheca Universalis 145
Figura 11 - De dignitate et augmentis scientiarum 146
Figura 12 - Plano da divisão das ciências de Ampere 149
Figura 13 - Systema Naturae 150
Figura 14 - Histoire naturelle, générale et particulière 152
Figura 15 - Plano da classificação das Ciências de Comte 156
Figura 16 - Divisão das ciências de Spencer 159
Figura 17 - Manuel du Libraire et de l’Amateur de Livres 171
Figura 18 - Memoirs of Libraries 172
Figura 19 - Esquema das classificações de Bacon, Harris e Dewey 198
Figura 20 - A decimal system for the arrangement and administration of
libraries 201
Figura 21 - Classes principais da Classificação Colon 216
Figura 22 - Distribuição das subclasses consideradas [Auxiliares de Língua] 355
Figura 23 - Distribuição das entradas das subclasses [Auxiliares de língua] 356
Figura 24- Distribuição das subclasses consideradas [Auxiliares de raça, grupo

étnico e nacionalidade] 358


Figura 25 - Distribuição das entradas das subclasses [consideradas [Auxiliares

de raça, grupo étnico e nacionalidade] 359


Figura 26 - Distribuição das subclasses consideradas [Religião] 362
Figura 27 - Distribuição das entradas das subclasses [Religião] 363
Figura 28 - Distribuição das subclasses consideradas [Ciências sociais] 368
590

Figura 29 - Distribuição das entradas das subclasses [Ciências sociais] 369


Figura 30 - Distribuição das subclasses consideradas [Língua] 371
Figura 31 - Distribuição das entradas das subclasses [Língua] 371
Figura 32 - Distribuição das entradas das subclasses [Ciências puras] 373
Figura 33 - Distribuição das entradas das subclasses [Auxiliares de Língua] 377
Figura 34 - Distribuição das entradas das subclasses [Religião] 380
Figura 35 - Distribuição das entradas das subclasses [Ciências sociais] 387
Figura 36 - Distribuição das entradas das subclasses [Língua] 389
Figura 37 - Distribuição das entradas das subclasses [Literatura] 392
Figura 38 - Distribuição das entradas das subclasses [Auxiliares de Língua] 395
Figura 39 - Distribuição das entradas das subclasses [Religião] 398
Figura 40 - Distribuição das entradas das subclasses [Ciências sociais] 407
Figura 41 - Distribuição das entradas das subclasses [Língua] 409
Figura 42 - Distribuição das entradas das subclasses [Literatura] 411
Figura 43 - Distribuição das entradas consideradas [Auxiliares de Língua] 415
Figura 44 - Distribuição das entradas das subclasses [Auxiliares comuns de

pessoa e características pessoais] 418


Figura 45 - Distribuição das entradas das subclasses [Religião] 420
Figura 46 - Distribuição das entradas das subclasses [Ciências sociais] 429
Figura 47 - Distribuição das entradas das subclasses [Ciências puras] 431
Figura 48 - Distribuição das entradas das subclasses [Língua] 433
Figura 49 - Distribuição das entradas das subclasses [Literatura] 434
Figura 50 - Distribuição das entradas das subclasses [Auxiliares de língua] 437
Figura 51 - Distribuição das entradas das subclasses [Auxiliares comuns de

pessoa e características pessoais] 442


Figura 52 - Distribuição das entradas das subclasses [Religião] 444
Figura 53 - Distribuição das entradas das subclasses [Ciências sociais] 452
Figura 54 - Distribuição das entradas das subclasses [Língua] 455
Figura 55 - Auxiliares de Língua 458
Figura 56 - Auxiliares de raça, grupo étnico e nacionalidade 460
Figura 57 - Auxiliares de pessoa 462
Figura 58 - Religião 464
Figura 59 - Ciências Sociais [1] 469
591

Figura 60 - Ciências Sociais [2] 470


Figura 61 - Línguas 478
Figura 62 - Antropologia 481
Figura 63 - Literatura 484
Figura 64 - Distribuição total de entradas 486
Figura 65 - Distribuição de entradas relativas ao conceito Etnia por edição 487
592
593

Índice de Tabelas
594
595

Tabela 1 - Movimento enciclopédico na Antiguidade Clássica 124


Tabela 2 - Movimento enciclopédico na Idade Média 129
Tabela 3 - Movimento enciclopédico no Renascimento 131
Tabela 4 - Movimento enciclopédico na Idade Moderna 138
Tabela 5 - Afinidades entre o movimento enciclopédico e as classificações 139
Tabela 6 - Classes principais da Classificação Decimal de Dewey 204
Tabela 7 - Categorias de Ranganathan 211
Tabela 8 - Classes Principais da Classificação Decimal Universal 242
Tabela 9 - Signos com função classificatória 247
Tabela 10 - Signos não classificatórios 259
Tabela 11 - Auxiliares comuns gerais independentes 264
Tabela 12 - Auxiliares comuns gerais dependentes 280
Tabela 13 - Auxiliares especiais 287
Tabela 14 - Grelha de análise 312
Tabela 15 - Classificações consideradas neste estudo 317
Tabela 16 - Tipos de análise e respectivas fases 324
Tabela 17 - Subdivisions par langues ou idiomes [1905] 354
Tabela 18 - Subdivisions ethniques [1905] 357
Tabela 19 - Classe 2: Religión [1905] 361
Tabela 20 - Classe 3: Sciences sociales et Droit [1905] 364
Tabela 21 - Classe 4: Philologie. Linguistique [1905] 370
Tabela 22 - Classe 5: Sciences pures [1905] 372
Tabela 23 - Classe 8: Littérature. Belles-Letres [1905] 374
Tabela 24 - Subdivisions de langues [1927-1933] 376
Tabela 25 - Subdivisions ethniques [1927-1933] 378
Tabela 26 - Classe 2: Religion. Théologie [1927-1933] 379
Tabela 27 - Classe 3: Sciences sociales [1927-1933] 381
Tabela 28 - Classe 4: Philologie. Linguistique [1927-1933] 388
Tabela 29 - Classe 5: Sciences pures [1927-1933] 390
Tabela 30 - Classe 8: Littérature. Belles-Letres [1927-1933] 391
Tabela 31 - Allgemeine Anhängezahlen der Sprache [1934-1953] 394
Tabela 32 - Rassen und Völker [1934-1953] 396
596

Tabela 33 - Classe 2: Religión [1934-1953] 397


Tabela 34 - Classe 3: Sozialwissenschaften. Recht. Verwaltung [1934-1953] 399
Tabela 35 - Classe 4: Philologie. Linguistique [1934-1953] 408
Tabela 36 - Classe 5: Sciences pures [1934-1953] 409
Tabela 37 - Classe 8: Schöne Literatur (Wortkunstwerke) [1934-1953] 410
Tabela 38 - Divisions communes de langues [1967-1973] 414
Tabela 39 - Divisions communes de races et de peuples [1967-1973] 416
Tabela 40 - Persones [1967-1973] 417
Tabela 41 - Classe 2: Religion. Théologie [1967-1973] 419
Tabela 42 - Classe 3: Sciences sociales. Droit. Administration [1967-1973] 421
Tabela 43 - Classe 5: Sciences pures [1967-1973] 430
Tabela 44 - Classe 8: Linguistique. Philologie. Littérature [1967-1973] 432
Tabela 45 - Divisions communes de langue [1990-1993(1990)] 436
Tabela 46 - Divisions communes de races et de nationalités
[1990-1993(1990)] 438
Tabela 47 - Persones [1990-1993(1990)] 440
Tabela 48 - Classe 2: Religion. Théologie [1990-1993(1990)] 443
Tabela 49 - Classe 3: Sciences sociales [1990-1993(1990)] 445
Tabela 50 - Classe 5: Sciences pures [1990-1993(1990)] 453
Tabela 51 - Classe 8: Linguistique. Philologie. Littérature [1990-1993(1990)] 454
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