Caderno DPC - Segunda Prova (Completo)
Caderno DPC - Segunda Prova (Completo)
Caderno DPC - Segunda Prova (Completo)
SANDRO KOZIKOSKI
Recursos
- Sucedâneos recursais
Ex: As ações impugnativas autônomas muitas vezes também se fazem como recurso
fosse.
Os recursos são previstos no CPC (artigo 496) e são repetidos em legislação especial.
Os sistemas jurídicos são obrigados a trabalhar com dois vetores antagônicos, sendo
estes os valores essenciais os quais a matéria de recurso trata: segurança jurídica X
celeridade processual.
Para dar carga no valor segurança, ampliando as hipóteses recursais, esvazia-se
consequentemente o tempo de resposta jurisdicional X acelerar o tempo de resposta
jurisdicional levaria uma diminuição do leque recursal.
O legislador tenta balancear ambos os vetores impondo limites. Desse modo, não há
como impor insurgências recursais continuadas através de instâncias sucessivas, já que
isso comprometeria o trânsito em julgado.
- Efeito suspensivo
A decisão judicial que é passível de revisão, ou seja, ainda sub judice, não pode produzir
um efeito imediato. Em contrapartida, o beneficiado quer extrair desde logo a fruição, o
beneficio gerado por aquele provimento. Os recursos suspensivos impedem que a decisão
produza alguma eficácia imediata.
Conceder ou não o efeito suspensivo a determinado recurso? O legislador suprime o
efeito suspensivo em alguns casos e concede em outros, isso porque ora se pretende dar
grau para valor segurança e ora para o valor efetividade.
2
- Definição de coisa julgada
Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a
sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.
- Definição de recurso
Especificamente no caso dos recursos, o legislador não positivou expressamente o
conceito de recursos. Por isso, os manuais vão utilizar a definição do professor Barbosa
Moreira: “os recursos representam remédios voluntários* e idôneos, a ensejar dentro da
mesma relação jurídica processual a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a
integração da decisão judicial”.
*Recursos são sempre voluntários, ninguém é obrigado a recorrer, aquele que o faz busca
uma melhor sorte e é preciso sempre uma iniciativa daquele que quer interpor recurso.
A remessa obrigatória pode gerar o mesmo resultado prático do recurso, por forca do
reexame necessário um determinado Tribunal pode cassar uma decisão judicial por
considerá-la lesiva, com a devolução ao juízo de origem ou o Tribunal poderá aplicar o
efeito substitutivo, ou seja, ele proferir uma decisão em que prevalece frente a decisão
substituída. Em outras palavras, uma vez aceito o reexame ele produz os mesmos efeitos
do recurso, causando a cassação da sentença ou a sua reforma. O reexame necessário
ocorre somente nos casos envolvendo a Fazenda Pública e apenas quando houver
decisão condenatória que gere prejuízo ao ente público.
O CPC de 39 chamava essa figura de recurso de oficio, porque o juiz colocava no
dispositivo da sentença, depois de firmar sua convicção, recorrendo de oficio para o
tribunal competente. O próprio magistrado manifestava insurgência contra a decisão recém
proferida. Atualmente, essa figura foi repaginada com a nomenclatura de reexame
necessário ou remessa obrigatória e encontra-se no art. 475 CPC.
Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas
autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida ativa
da Fazenda Pública (art. 585, VI).
§ 1Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, haja
ou não apelação; não o fazendo, deverá o presidente do tribunal avocá-los.
§ 2Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito
controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem
3
como no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do
mesmo valor.
§ 3Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em
jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou
do tribunal superior competente.
Dessa forma, sentenças proferidas contra entes fazendários não produz eficácia imediata
e é necessário que o juiz submeta aquele provimento ao tribunal competente. É necessário
ter esse reexame porque essas situações possuem um interesse público, vez que o
contribuinte que pagará indiretamente as sucumbênciais do processo.
No reexame necessário ou remessa obrigatória, independentemente de haver recurso
voluntário, cabe ao juiz caminhar os autos do processo para o Tribunal, se não esta
decisão não transita em julgado. Por isso, sua natureza jurídica seria de condição de
eficácia da sentença. Caso o juiz esqueça, o momento da execução daquela sentença vai
ser obstado na ausência do recurso, já que sempre será obrigatório evocar aqueles autos
com a submissão daquela decisão ao tribunal competente. Uma das justificativas para
fundamentar esse caráter obrigatório seria o fato de que em muitos Municípios sequer há
procuradores de carreira, sendo muitas vezes meramente contratados advogados
públicos por fora, com isso, qualquer falha ou perda de prazo desses advogados geraria
uma perda ao erário, sendo, portanto, justificável a manutenção do instituto. Porém, a
doutrina muito critica esse instituto por ser uma vantagem excessiva em prol da Fazenda
e por quebrar a isonomia pública.
A nomenclatura de Fazenda Publica envolve as três esferas governamentais (União,
Estados, DF e municípios). O Estado muitas vezes se organiza de forma a prevalecer o
critério de descentralização, então temos unidades de competência administrativa e
autonomia que denominamos de autarquias. Dessa forma, quando há uma sentença
condenatória contra uma dessas autarquias (INSS, por exemplo) ou fundações de Direito
Público, estas são equivalentes ao conceito de Fazenda Pública, cabendo, portanto, o
reexame necessário. Entretanto, as sociedades de economia mista (Banco do Brasil, por
exemplo) ou empresas públicas (mutuário do FSH da Caixa Econômica) não comportam o
reexame necessário, ficando fora desse instituto. Essa exclusão se justifica com base nos
princípios que regem a ordem econômica no Brasil, a CF determina que se o Estado
quiser se inserir na condição econômica, deverá fazê-lo em igualdade de condições, logo,
não pode ter vantagem competitiva em relação as demais empresas.
4
ressaltar que a Fazenda publica se beneficia interpondo o recurso voluntário porque ela
ganha a oportunidade de se manifestar.
Portanto, essa seria a segunda diferença entre esses dois institutos, no reexame
necessário o processo compulsoriamente é remetido ao Tribunal, já no recurso voluntário
ganha-se a possibilidade de fazer um arrazoado, uma possibilidade de fundamentar os
erros e equívocos daquela decisão, ou seja, ganha uma oportunidade de argumentação.
- Tribunais superiores
Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de
seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, arresto,
seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá
requerer Ihe sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos.
§ 3Considera-se também terceiro o cônjuge quando defende a posse de bens dotais,
próprios, reservados ou de sua meação.
Execução de um cheque sem fundo, credor ajuíza uma ação de execução de titulo
extrajudicial, penhora de bens deferida. Penhora o imóvel do cônjuge que não tinha nada
relacionado com aquele cheque. Os embargos de terceiro podem ser postos pelo
cônjuge/terceiro (pessoa estranha à constituição daquela dívida), quem atuará em juízo em
defesa de sua meação. Cônjuge pede proteção de forma a atacar uma decisão judicial.
Logo, esse terceiro entra com uma ação impugnativa autônoma, cria-se uma nova relação
6
jurídica processual distinta da anterior. Sujeito passivo é aquele que agiu gerando ato de
coação indevida, então é o exequente da medida inicial. Ressaltando que só cabe esse
embargo se a dívida não for contraída em prol da unidade familiar.
Vamos observar o seguinte: os recursos servem para corrigir diferentes tipos de vícios de
decisão judicial. Ainda que do ponto de vista da linguagem coloquial a gente possa usar
essas expressões como sinônimas, na verdade, aqui, quando se fala em reforma, por
exemplo, isso tem um sentido técnico processual. Logo, isso é diferente da anulação, que
acarreta outras consequências processuais. Então, Barbosa Moreira diz: “Os recursos
servem para propiciar a anulação, a reforma, o esclarecimento ou a integração da decisão
judicial”. Então, já dá para deduzir que isso pode corrigir diferentes tipos de decisão
judicial.
Exemplo 1 - Decisão foi proferida por juiz impedido. Alguém se insurgiu, conseguiu
demonstrar o impedimento e, então, pediu a anulação. Ora, na medida que eu tiro do
mundo jurídico aquela decisão, outra tem que ser proferida.
7
Pergunta: E quem é responsável pela prolação da outra decisão?”
Resposta: O juízo que tiver anteriormente prolatado a decisão viciada, não
necessariamente o mesmo magistrado. Mesmo porque nessa hipótese de impedimento
terá que ser designado outro magistrado no caso concreto.
Já nos casos em que tiver prolatado outros tipos de vícios na decisão como, por exemplo,
decisão que aplica lei de forma errada no caso concreto, ou seja, eventualmente há
aplicação de direito material que não guardava relação o caso concreto. Para essa
situação se falhou o critério de julgamento, aí, a gente vai pleitear que seja feita a reforma
da decisão. A diferença em termos práticos é a seguinte: quando ocorre a reforma,
prevalece uma substituição da decisão recorrida por outra, mas prevalece a decisão dada
pelo órgão julgador, não haverá um retorno dos autos para a instituição de origem.
Exemplo – O juiz aplicou a técnica de julgamento antecipado da lide (art. 330, CPC) 3.
Utilizou essa técnica por entender que a matéria colocada em julgamento era apenas
cessão de direito. E o pior, o juiz diz assim “o caso comporta julgamento antecipado da
lide, no entanto, observa-se que o autor não produziu provas, portanto, julgo procedente o
pedido.” Tem algo esquisito aqui? Se o caso necessita de produção de prova, então, não é
caso de antecipação, mas se você procurar nos sites de jurisprudência você encontrará
quilos e quilos de jurisprudência nesse sentido.
CUIDADO! Não se pode identificar o juízo a quo como de primeira instância e o juízo
ad quem como de 2º grau.
3 Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença: I - quando a questão de
mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, n ão houver necessidade de produzir prova
em audiência; II - quando ocorrer a revelia (art. 319).
9
Imaginem o caso da estrutura da justiça comum. Temos varas cíveis, de família, fazendo
pública etc. Nos casos da Justiça Federal têm-se as varas federais como juízo de primeira
instância; acima desses órgãos jurisdicionais de primeira instância eu tenho os órgãos de
2ª instância e os TRF’s.4 E, acima desses órgãos de segundo grau, eu tenho os tribunais
de sobreposição. Vamos considerar só os da justiça comum, não vou falar da justiça
especializada (TST, TSE...)
Se o juiz da vara federal profere uma sentença. Então, na medida que uma pessoa quer
interpor um recurso, cabe uma apelação contra essa decisão, ele terá que se reportar ao
tribunal regional federal competente com jurisdição sobre aquela vara. Ele vai pedir o que
na hipótese desse recurso de apelação? Vai pedir dependendo do tipo de vício. Vai pedir
a invalidação ou a reforma de uma decisão. Ele vai estar vinculado o seu pedido.
Para a caracterização e análise dessa pretensão recursal a gente vai se referir à esse
órgão [TRF] como sendo o responsável pelo julgamento, com tem competência para
apreciar aquele recurso, ou seja, esse é o juízo “Ad quem”. E esse aqui [vara federal] é o
juízo “a quo”, aquele que proferiu a decisão recorrida.
A partir daí eu vou ter uma determinada decisão do TRF. A gente chama essa decisão de
acórdão, tem essa menção no art. 1635 do CPC. Mas imaginem que esse acórdão também
violou norma federal e ainda norma constitucional. O interessado ,no caso concreto,
pretende direcionar um recurso para o STJ e outro pra o STF, mas é claro que esse
acesso não é automático.
Pergunta: Mas quando eu me reporto a outro tipo de recurso aqui, seja o recurso especial
(dirigido ao STJ) ou o recurso extraordinário (dirigido ao STF), como fica a terminologia
para o caso desse outro recurso?
4 Atualmente os TRF’s estão em número de 5 por causa de uma liminar do ministro Joaquim
Barbosa que suspendeu a EC 73 e, por isso, não foram criados o sexto e o sétimo tribunal regional
federal.
A figura dos embargos de declaração aparece no art. 5356 do CPC. Esse artigo contempla
um remédio que é voltado para o aperfeiçoamento da decisão judicial. Por que? Porque o
objetivo aqui é que se esclarece as eventuais hipóteses de obscuridade ou contradição,
como também, que se complete aquelas decisões que não julgaram toda a extensão do
que foi pedido. Então, dependendo do vício na decisão você pode pedir a anulação, a
reforma, o esclarecimento ou a integração.
Então, para o embargo de declaração essa distinção entre juízo a quo e juízo ad quem fica
relativizada, ela mais ou menos desaparece. Porque não seria razoável que essa
Pergunta de aluno: Pode falar que os embargos de declara ção podem ser julgados pelo
juízo a quo?
Resposta: Pode falar isso, na verdade, é que aqui é como se quase se confundissem
porque o juízo a quo e o juízo ad quem ficassem centrados no mesmo acórdão.
Quando alguém interpõe um recurso ele está formulando um pedido. Toda vez que se
pede um recurso, o que está sendo pedido é que se formule uma nova decisão. Então,
esse mérito recursal, para que ele seja examinado/adentrado ao mérito do recurso tem
que estar presente em determinados requisitos ou pressupostos, portanto, fala-se numa
análise prévia que antecede o exame de mérito.
Mas preciso estar atento que ao falar disso é até intuitivo que façamos um paralelismo
com o juízo admissibilidade da petição inicial. O professor de processo insistia em dizer
que se a petição inicial estivesse com defeitos ela poderia ser aditada, ou seja,
emendada. Inclusive a jurisprudência atualmente admite a emenda da emenda etc...existe
uma certa complacência com os vícios da petição inicial. Por que? Porque o que está em
jogo é a questão do acesso â justiça, então, a jurisdição tem que ser prestada.
O judiciário não terá pena dele porque a jurisdição já foi prestada se o recorrente que
protocolou o recurso esqueceu de fazer o recolhimento das custas. Então, também tem a
prevalência da decisão recorrida. Em matéria de juízo de admissibilidade não há essa
possibilidade de segunda chance.
REGRA GERAL: Não se conhecem de recurso que não esteja presente os pressupostos
de admissibilidade.
Exemplo: O autor da ação pediu para produzir determinada prova pericial. O juiz da ação
disse que a prova pericial era desnecessária. Então, o autor, que está zeloso pelos seus
interesses e pretende não ter nenhum tipo de risco para demonstração do fato constitutivo
do seu direito, resolve interpor um agravo de instrumento contra aquela decisão
interlocutória que negou a prova. Qual é o mérito desse recurso? O mérito do recurso é
apenas a análise da pertinência ou não da prova, não tem nenhuma ligação com o mérito
da lide.
Haverá recursos em que a coisa se confunde, pois o mérito do recurso é o mérito da lide.
Mas pode ser que não, pode ser que eu esteja diante apenas de uma questão processual.
Exemplo 2: O juiz pode apreciar prescrição de ofício. O autor deduz a sua petição inicial, o
juiz de plano indefere a petição inicial e extingue o processo com resolução de mérito (na
forma do art 2697, IV do CPC) por entender que aquela pretensão está prescrita. Nesse
caso nós vamos ter uma sentença. O autor não concorda com a prescrição, ele deseja
7 Art. 269. Haverá resolução de mérito: IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição;
13
uma análise do tribunal competente e ele interpõe recurso de apelação. Qual que é o
mérito dessa apelação? Só a prescrição. O tribunal só examinará se há ou não prescrição.
Caso o tribunal mantenha a decisão pelo reconhecimento da prescrição, isso pode
acarretar trânsito em julgado, no entanto, se o tribunal afastar a prescrição, o caso volta
para o juízo "a quo" afim de que aquela demanda tenha o seu processamento.
Então, isso deixa claro que o mérito do recurso não é igual ao mérito da lide, o mérito da
lide diz respeito à pretensão/ao pedido que foi apresentado ao juízo, já o mérito do recurso
pode ser uma questão extremamente secundária. Como vimos, no 1º exemplo que eu dei,
ele estava apenas discutindo a questão da produção ou não de uma prova, logo, o mérito
do recurso é diferente do mérito da lide.
Para quem faz estágio no tribunal, pergunta se eles têm a possibilidade de fazer decisão
no atacado. Como ela funciona? Eu distribuo uma determinada ação, nos casos dos
processos eletrônicos, então, eu tenho que dar algumas informações para o sistema sobre
o mérito/natureza daquela pretensão (ex: natureza previdenciária). Então, o sistema
automaticamente classifica os processos.
14
Na verdade, os casos de processo eletrônico são bem legais porque pulam diversas
etapas como a autuação. Por conta disso, no dia seguinte o processo já está pronto para
ser decisivo. Você acha que o juiz vai ler? Ele não vai ler, ele já tem a decisão
parametrizada que se “linka” com a citação do órgão de previdência, INSS. Aí o INSS faz
o que? Direito da repetição. Ele já tem a defesa padrão para esse tipo de matéria e, com
isso, no dia seguinte já tem a defesa postada no sistema. Você acha que o juiz vai ler a
defesa postada no sistema? Não, a justiça federal vai puxar uma sentença no banco de
sentenças (anexa a sentença). Dessa forma, um processo pode durar uns 10 dias.
Mas sabe um detalhe? O sistema da Justiça Ferderal permite que o juiz liste todos os
processos dessa matéria através de um comando no programa. Minha cunhada mostrou
como funciona, o "senhorzinho" do balcão classifica o processo e depois disso não tem
como altera-la, mesmo que vocÊ faça reclamações porque já está tudo parametrizado.
Com essa classificação, ela consegue anexar uma decisão para 10, 15 processos que são
"iguais".
Então, a gente pode brincar de decisão. É uma decisão de ficção porque a gente finge que
provoca o judiciário e o judiciário finge que julga. Mas só os juízes que fazem isso? Não.
Os advogados por conta do modelo de advocacia específico (por ex. captação
massificada) e até de outros fatores como o de coletarização da advocacia brasileira que
induz captação abusiva e induz petição sobre uma matéria que já foi julgada e que não tem
a menor possibilidade de conseguir decisão diversa. Mas o que o advogado faz? Distribui
mesmo assim para pegar o dinheiro do cidadão. Isso gera toda essa repetição que a
gente fala aqui. Sabe qual é o pior? Essa brincadeira chega ao STJ e ao STF,
avolumando as instâncias superiores.
Por isso que eu falei que a gente precisa estar muito consciente que o exame desses
requisitos ou pressupostos é feito no "fio da navalha", se puder filtrar ele será filtrado. Não
estou dizendo que a JF só faz isso, mas é possível a decisão parametrizada, tanto que
tem código de barra na decisão judicial. Esse código de barra é classificatório porque o
CNJ coloca a produtividade como critério para a promoção pessoal. Inclusive, já se sabe
de antemão que se é decisão parametrizada você está produzindo pouco. Caso contrário,
uma pessoa que trabalha na vara previdenciaria (é uma vara homogênea) teria uma
produtividade absurda se comparada com uma pessoa que esteja numa competência
comum (muitos processos diferentes).
Quando é modelo de processo eletrônico, então, a gente tem uma atividade jurisdicional
parametrizada e o que importa mesmo é a racionalidade do sistema.
obs: Alguns tribunais, por exemplo, o TJ/SP está com um tempo médio de 5 anos para
julgar uma apelação a contar da apelação. O TJ/SP atolado do jeito que é, não dá conta do
volume de causas.
PERGUNTA: Qual era a data em que ocorreu o trânsito em julgado do processo? Será a
data que ocorreu o processo no tribunal ou será no momento em que eu fiz o protocolo
intempestivo?
RESPOSTA: Se eu digo que eficácia é retroativa, quer dizer que é nesse instante que eu
tenho trânsito em julgado. Isso pode ser relevante para cálculo de juros moratórios de
16
outras situações específicas do processo. Eu estou explicando o motivo de ser
declaratório: Se é declaratório, retroage. Se retroage, isso pode caracterizar o momento
de trânsito em julgado. Isso tem consequências práticas relevantes. Certo? Então, não é o
tribunal que está tornando o recurso intempestivo, ele já o era. Não é o tribunal que está
dizendo que o recurso é deserto por falta de custas, ele já o era. O tribunal não tem o
poder de mudar essas coisas.
Ainda há pessoas que insistem pelo julgamento dos processos pela ordem cronológica e
no novo CPC passa a ter um dispositivo expresso que fala sobre ordem cronol ógica de
julgamento. É lógico que isso foi pressão da OAB. O discurso que encontramos por aí é o
seguinte: alguns autores falam que se deveria acabar com a influência maléfica de alguns
advogados que tem condições de fazer embargos auriculares ou tráfico de influência e
que estabelecem que deve ser usado o critério cronológico. Mas eu tenho uma crítica que
ninguem pensou: As vezes a gente bate na porta do juiz e o juiz diz "n ão atendo", ainda
mais na primeira instância. No STF é super tranqüilo, é só marcar um horário para a
reunião. O único que não atendia era o Joaquim Barbosa. No STJ também é fácil, mas é
um pouco mais difícil. Mas hoje acabou o problema dos juízes. O advogado se encontra
com o juiz e fala do processo, mas aí o juiz fala "adoraria te ajudar, mas estou seguindo a
lei e o critério de ordem cronológica. Algo mais?". Acabou a conversa
• Via de regra, tal exame é realizado de forma desdobrada ou bipartida (perante o juízo
a quo e perante o juízo ad quem)
O juízo de admissibilidade do recurso, via de regra, é feito em dois momentos distintos:
desdobrado ou bipartido.
Por questões de racionalidade e logística é muito mais fácil o recurso perante o juízo a
quo. Como a gente tem ainda o modelo de processo físico, o que o legislador concedeu?
Se alguém tem interesse em fazer uma apelação, ele tem 2 possibilidades: protocolar a
apelação no próprio juízo a quo ou protocolar no juízo ad quem. Para os advogados que
atuam nas comarcas dos centros não faz a menor diferença, mas para os advogados que
17
atuam nas comarcas interioranas aí a coisa muda de figura porque, se ele mora numa
cidade do interior e deseja apelar por uma decisão do juízo, ele não precisa se deslocar
até a sede do tribunal, ele vai fazer o protocolo da peça no juízo a quo.
Se os requisitos estiverem presentes o que ele fará com o recurso? Remessa pro juízo ad
quem. Se ele não admitir, aí, para algumas situações, teremos outra decisão judicial
passível de recurso, mas não vamos detalhar isso agora. Então, quando o recurso passa
por essa triagem no juízo a quo, ele segue para o juízo ad quem.
8 Art. 463. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:I - para Ihe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte,
inexatidões materiais, ou Ihe retificar erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração .
18
No caso do juízo ad quem...a gente já falou que o juízo ad quem também exerce essa
análise pois, afinal de contas, é dele a competência para o exame de mérito. Ora, quem
pode mais, também pode menos. Então, se ele tem possibilidade de mudar o mérito da
decisão, é lógico q ele pode realizar esse exame quanto aos requisitos ou pressupostos.
Pergunta: Se é o órgão ad quem que dará a palavra final por que faz esse juízo prévio na
esfera do juízo a quo?
Resposta: Filtragem. O que puder ser filtrado na origem, então melhor pq isso não
sobrecarregará o tribunal respectivo. Mas, quando o tribunal realiza o exame e diz assim:
"não estão presentes os requisitos ou pressupostos". Isso significa a inadmissão do
recurso. Quando o tribunal admite o recurso, aí nos passamos para a etapa seguinte que
é o juízo de mérito, e aí só podemos ter 2 cenários. É claro que ainda poderá ter os
provimentos parciais, mas ainda se enquadra como provimento.
obs: A gente fala de admissão e inadmissão para ficar mais fácil em termos didáticos, só
que nos tribunais eles costumam usar uma nomenclatura diferente. Fala-se em "não
conhecimento" e "conhecimento" do recurso. O que significa um recurso não conhecido?
Um recurso que não foi examinado no mérito porque faltou algum ou alguns requisitos ou
19
pressupostos de admissibilidade. Já o recurso conhecido foi o que passou para a fase de
análise do mérito, então, passa-se para a fase de provimento e improvimento. Nas
jurisprudências aparece dessas formas: Recurso conhecido e improvido; recurso não
conhecido; recurso conhecido e provido. Dessa forma, vc consegue acompanhar mais ou
menos a história do processo porque se ele foi provido é porque houve mudança na
sentença anterior. Ou seja, Conhecido ou não conhecido seriam categorias análogas a
admissão ou não admissão, só que por questões de tradução os tribunais costumam usar
uma terminologia diferente.
Então, o projeto do novo CPC traz uma mudança aqui em relação ao sistema atual
(análise sendo feita em 2 momentos diferentes). O que o juiz de primeiro grau vai fazer? A
atividade dele vai ficar mais simples ainda porque ele vai superar tudo isso aqui, pois
todos os recursos vão seguir para o tribunal, aí só o tribunal que fará o juízo de
admissibilidade.
Os responsáveis por essa mudança no CPC eles estavam arguindo o seguinte: “Quando
a gente tem o juízo desdobrado, nos casos em que se tem inadmissão, geralmente
alguém recorre. Então, o que eles queriam "matar" esse outro recurso aqui, Se vai ter um
recurso de qualquer jeito, pq sempre alguém recorre, então que vá um recurso defeituoso,
fora de prazo...não importa”. Daí, a triagem passa a ser direta no tribunal, pulando essa
etapa prévia. Então, hoje o modelo vigente é de juízo de admissibilidade desdobrado, já o
CPC projetado ele supera essa questão e a admissibilidade passa a ser feita em instância
única, antecedendo o exame de mérito. O restante é mais ou menos igual ao que já foi
comentado aqui.
Ele cita o autor como Barbosa Moreira que fala sobre os pressupostos intrínsecos e
extrínsecos, e se formos consultar o livro do Humberto Theodoro Jr, ele classifica como
objetivos e subjetivos.
Na prática, isso não foge muito pois são os mesmos itens e temas, o que muda é a forma
de ajustá-los.
20
Se usarmos o critério pressupostos intrínsecos e extrínsecos, estaremos fazendo uma
análise em relação ao conteúdo da decisão judicial. Se eu falo de um pressuposto
extrínseco, seria em relação a algo de fora dessa decisão judicial. Porém se eu falo de um
pressuposto intrínseco, seria de algo relacionado à alguma parte da decisão judicial.
Por exemplo: Exigência de Preparo (pagamento de custas). Esse procedimento não tem
nada vinculado ou relacionado diretamente com a decisão judicial, então é um pressuposto
extrínseco. Mas se formos analisar a legitimidade para recorrer, devemos verificar quem a
decisão judicial prejudicou, levando a classifica-lo como um pressuposto intrínseco.
Pressupostos Extrínsecos:
1) Tempestividade: Para que um recurso seja conhecido e analisado ele deve ter sido
proposto dentro do prazo fixado em lei.
Em matéria de prazo nós sabemos que eles são próprios, fixados em lei e capazes
de gerar preclusão. Já os prazos do juiz são tidos como impróprios, pois a não
observância não vai gerar nulidade, no máximo o juiz vai levar um puxão de orelha
do CNJ, mas são medidas de caráter administrativo. O que se tem na Teoria
brasileira é que os prazos são próprios, peremptórios (gera preclusão) e cogentes
(não podem ser alterados pelas partes).
O projeto do Novo CPC contém uma regrinha na sua parte geral que vai ao
encontro daquela ideia de flexibilização procedimental. Diz que as partes mediante
consenso, tem a possibilidades de mudar os prazos processuais, o que gera uma
controvérsia inicial, se isso vale para todos os procedimentos processuais.
Esse critério foi muito criticado e pressionado por diversos grupos que pediam a
extinção desse critério, e atualmente o próprio STF não utiliza mais esse critério.
A Corte que criou esse critério já não o utiliza mais, ela deixou de empregar esse
critério enquadrado na chamada ‘’jurisprudência defensiva’’. Só que as cortes
inferiores gostaram da ideia, elas passaram a utiliza-lo como fator de não
conhecimento do recurso. Atualmente, depois do STF deixar de utiliza-lo, a situação
se modificou um pouco, porém algumas vezes as cortes estaduais, o utilizam. Isso
seria punir aquele que tentou colaborar com a prestação jurisdicional, agindo de
boa-fé, e sempre se entendeu que as partes podem se dar por intimadas dos atos
processuais.
Não há um prazo único para os diferentes tipos de recursos, temos algo parecido
no sistema atual no art. 508 do CPC, dizendo que para a maioria o prazo é de 15
dias e especifica alguns recursos. Ele funcionaria teoricamente como uma regra
geral, um parâmetro. Mas temos algumas exceções, como os Embargos de
Declaração (5 dias), o Agravo (10 dias). As entidades fazendárias (Fazenda pública
estadual, federal) utilizam o artigo 188( prazo em dobro). Nos casos em que
existem os litisconsortes, também ocorre essa prerrogativa do prazo em dobro,
desde que tenha gerado sucumbência a todos eles e desde que estejam assistidos
por diferentes advogados, terão o prazo em dobro. Então o artigo 191 fala desse
caso e aponta os requisito objetivo (sucumbência de todos) e o subjetivo (diferentes
procuradores).
Essa situação gera alguns problemas as vezes. Imaginemos uma situação de uma
ação proposta contra 2 réus( ação de usucapião) e são dois os proprietários do
imóvel. A partir dai eles tem o prazo de defesa em dobro, mas o sistema de
acompanhamento processual cria sua própria rotina e pode fazer a contagem pelo
22
prazo simples, que pode gerar uma ideia de perda de prazo falsa. Por exemplo, vai
ocorrer a juntada do último mandado de citação cumprido, em tese começou o
prazo de defesa para ambos. Mas o sistema pode contar somente 15 dias, gerando
um erro. O que se recomenda é que a parte que deseja q utilizar o prazo em dobro,
compareça ao cartório e comunique a sua vontade para evitar algum problema. Não
é uma hipótese de prazo judicial (laudo pericial que é fixado pelo juiz ) , mas sim um
prazo judicial.
Tem uma Súmula do STF que diz que para que se tenha o prazo em dobro, é
preciso que ambos os litisconsortes tenham sofrido sucumbência. Por exemplo, em
um caso de sentença improcedente em relação a um dos réus e condenatória para
outro, esse caso seria de um prazo simples, pois somente um estaria se
prejudicando (sofrendo sucumbência), de acordo com a Súmula 641 do STF (o
prazo volta a ser contado como simples).
O projeto do novo CPC pretende simplificar esses prazos processuais no seu artigo
1.007, que prevê todos os prazos de 15 dias, EXCETO, os embargos de
declaração.
A primeira lei que autorizou atos processuais por meio eletrônico foi a 10.259/2001 que
criou a Lei dos Juizados Federais e lá permitiu que existisse o modelo de processo
eletrônico. Em seguida, por meio de resoluções ficou permitido o envio de alguns atos via
e-mail, o que gerou algumas complicações pois a peça era impressa e anexada aos autos,
o que gerava um gasto de papel.
Depois veio uma mudança no CPC que falava da intimação eletrônica e por fim a lei
11.419/06 que generalizou o peticionamento eletrônico.
R: Entende-se que essa situação pode ser resolvida chamando o advogado para
assinar a peça, porém se ele não comparecer teremos um caso de irregularidade
formal. A jurisprudência de acordo com a Súmula 115 (nas instâncias excepcionais
não se aplica o artigo 13 do CPC- advogado sem procuração nos autos assina a
peça de recurso especial- não conhecem do recurso) do STJ passou a pensar
sobre esse caso.
Essa Súmula nem fala de recurso sem assinatura (em branco) porém serve de
base para o entendimento desse caso concreto, mas a jurisprudência passou a
aceitar a intimação para regularização.
3) Preparo: Recolhimento das custas recursais (taxa judiciária). Regra do art. 511 do
CPC.
Esse dispositivo prevê que no ato da interposição do recurso deve ocorrer a comprovação
do pagamento. Problema: Advogado tem prazo para apresentação do recurso porém não
tem mais para pagamento no banco (expediente até 16 h) .Os Tribunais consideravam
esse recurso deserto, até que foi provocado o recurso especial repetitivo(multiplicidade de
recursos que se repetem) - art 543 alínea c. Entende-se que o preparo pode ser feito até
o primeiro dia útil subsequente a interposição do recurso. De início a jurisprudência era
contra esse entendimento, mas depois de muitos recursos não conhecidos, com base na
24
leitura do verbo ‘’ comprovar’’ no art. 511 e não ‘’ pagar’’, mudou-se o entendimento.O
STF até editou uma Súmula 484 a respeito disso.
No cenário de processo eletrônico podemos ter algo parecido também. Podemos praticar o
ato processual até a meia-noite do dia do fim do prazo, não há uma limitação do horário de
expediente. Vamos supor que eu esteja trabalhando no escritório 9 horas da noite e esteja
terminando um recurso. Após a sua finalização, decido pagar as custas do preparo no
Internet Bank( serviço online de pagamento), eu posso fazer isso no mesmo dia que irei
postar o recurso? Não, pois temos uma limitação do horário de pagamento na Internet.
Como sairia essa guia? Guia paga? Não, vai sair guia AGENDADA. Um pagamento
agendando não é um pagamento realizado, olha o problema.... Hoje, alguns advogados
estão tendo problema com essa outra situação porque o pagamento agendado está sujeito
a uma provisão de fundos do dia em que foi realizado o seu agendamento. Esse seria um
problema novo, assim como temos também um problema antigo.
Se formos pensar com coerência e de acordo com a Súmula 484, ela também poderá ser
aplicada nesse cenário de processo eletrônico, e a guia agendada deverá ser considerada
guia PAGA .
Mas o CPC no seu art. 519 prevê que se o recorrente conseguir provar o chamado ‘’ justo
impedimento’’ capaz de justificar o não pagamento de custas, o juiz poderá relevar a
deserção e fixará um novo prazo para pagamento. O que seria justo impedimento para um
pode não ser para outro, o que vem gerando muita discussão.
EX: Advogado vai pagar o preparo e vê que não tem dinheiro na carteira, seria esse um
caso? ?
Para ele sim ( hahahahaha) , mas o que os Tribunais passaram a fazer, foi analisar esse
caso sob um ponto de vista objetivo(critérios). Ou seja, não é um problema de ordem
subjetiva, mas sim objetiva.
A dúvida hoje em dia é o que se considera ‘’ diferença’’ a ser recolhida e se isso seria um
valor menor do que o que foi recolhido ou se pode ser maior também. Como a lei não
distinguiu, tem que se considerar as duas situações, a não ser que seja considerada
litigância de má-fe.
25
ESSE PARÁGRAFO NÃO PODE SER UTILIZADO EM JUIZADOS ESPECIAIS. O
enunciado 80 do fórum permanente dos JEC’S considera a inaplicabilidade desse artigo
em Juizados.
O Art. 1020 do Novo CPC, continua o mesmo tipo de tratamento do art. 511 ; Ela prevê
também a não necessidade de preparo de custas para a Fazenda Pública. O inciso III,
regula uma situação complicada em relação ao porte de remessa e retorno . O art 519
passa a integrar um texto inteiro regulando o recurso. Prevê também que o equívoco de
preenchimento de guia não significa deserção.
- Cabimento
Primeiro pressuposto intrínseco fala-se do cabimento do recurso. O recurso deve ser
cabível.
Ex: no caso do mensalão muito se discutiu se eram ou não cabíveis os tais embargos
infringistes de forma a garantir o duplo grau de exame.
Ex: Os Juizados Especiais são micro sistemas normativos com aplicação subsidiaria do
CC. Nestes Juizados os juízes são obrigados a tomar decisões que se assemelham à
decisões interlocutóriais, porém, os diplomas legais dos Juizados não trataram
especificamente de um recurso de impugnação de decisão interlocutória. Dessa forma,
os despachos intelocutórios são do tipo recorrível ou não? Não, a pretensão de recursar
para ser examinada no mérito exige que seja um ato decisório do tipo recorrível.
Já especificamente no caso da lei 12.153, Lei dos Juizados da Fazenda Pública, existe
um dispositivo determinando que não cabe recurso contra as decisões interlocutórias,
logo, o interessado que quiser impugnar estas matérias deve fazer através do recurso
final. Nesse Juizado o legislador concentrou a via recursal para evitar procrastinação.
(b) Adequação
26
Interessado deve usar o recurso correto diante daquela espécie judicial. Necessidade de
usar o recurso adequado de modo que se a decisão for recorrível e o interessado interpor
um recurso errôneo, esse recurso não será aceito para julgamento. Além disso, a
decisão inicialmente atacada irá prevalecer porque houve equivoco do
interessado/advogado. Essa é a regra geral.
No sistema recursal, das sentenças são decisões finais impugnáveis cabe apelação
(recurso ordinário mais amplo) e das decisões interlocutoras impugnáveis via agravo.
É a “pedra de toque” dos recursos porque para cada tipo de ato decisório, em principio, a
lei irá reservar uma modalidade própria de recurso.
Ex: No âmbito dos Juizados Especiais, quando não há previsão recursal nas Leis 9.099
e 10.259 e havendo um problema gerado por aquela decisão em que ofende um direito
líquido e certo do sujeito, ela irá usar um sucedâneo recursal/ação impugnativa
autônoma. Então, nos Juizados especiais, na falta de previsão legal de recurso
prepondera-se o uso do mandato de segurança contra ato judicial.
Entretanto, quando lemos a Lei 11.016 (Lei do Mandato de segurança), existe
expressamente a previsão determinando que não cabe mandato de segurança contra ato
judicial, porque a gente pressupõem que contra ato judicial cabe o recurso.
Só que como o sistema gerou lacunas e inconsistências, a doutrina aplica esse mandato
excepcionalmente quando a decisão judicial for teatrológica, ou seja, uma decisão muito
abusiva e que ofenda direito liquido e certo. Então, o mandato de segurança pode ser
aplicado em caráter excepcional.
- Legitimidade para recorrer (art. 499 CPC ou art. 1009 do Novo CPC)
27
Art. 499. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e
pelo Ministério Público.
§ 1º Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse de
intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial.
§ 2º O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é
parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei.
Parte é quem formula o pedido e em face de quem o pedido é formulado (autor e réu).
Para que as partes tenham legitimidade para recorrer é preciso que elas tenham tido
sucumbência, prejuízo. O que legitima a parte a recorrer não é o simples fato dela ser
parte, mas sim o fato dela ter sofrido prejuízo.
Quando existe sucumbência no processo? Quando foi agredida/frustada uma
determinada expectativa processual. Não seria meramente gerar prejuízo para a parte, as
vezes, apenas o fato dela não ter conseguido um cenário melhor já a legitima à recorrer.
Conceito de sucumbência está dentro da ideia técnica de quebra de expectativa.
É um conceito de exclusão, logo, quem não seja o MP e quem não seja parte para fins
processuais.
Para ser terceiro prejudicado é preciso que comprove o nexo de interdependência entre a
decisão judicial e a situação que foi ocasionada à ele. O terceiro deve ser diretamente
afetado pela decisão judicial.
Terceiro interessado deve demonstrar o interesse recursal para poder recorrer, mas e se
ele não interpor o recurso? Ele perde o direito material? O recurso do terceiro prejudicado
é pra ele uma faculdade, caso ele não interponha o recurso em prazo preclusivo, ele não
fica impedido de buscar a proteção do seu direito por uma ação própria, ele pode usar
uma ação impugnativa autônoma caso queira ampliar o debate probatório.
O recurso do terceiro prejudicado tem que ser feito no prazo do recurso da parte, se ele
perder o prazo tem que ir pela ação impugnativa autônoma.
28
STJ Súmula nº 202 - 17/12/1997 - DJ 02.02.1998
Mandado de Segurança - Terceiro - Condição à Interposição de Recurso
A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona à
interposição de recurso.
Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando,
nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido
citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença
produz coisa julgada em relação a terceiros.
A coisa julgada vincula as partes do processo, ela não prejudica e não beneficia terceiros.
A coisa julgado que atribuiu um direito entre 2 sujeitos vale apenas no contexto da lide
originária. A coisa julgada não é oponível à terceiros. A coisa julgada apenas impede a
rediscussão do tema entre essas pessoas processuais, a coisa julgada não é oponível à
outras lides, isso porque a coisa julgada só pode ser oponível àqueles que se
submeteram ao contraditório, que puderam se fazer ouvir.
As regras que regem o recurso do terceiro prejudicado são as mesmas regras que regem
para as partes (Ex: a contagem de prazo é a mesma para as outras partes do processo,
etc)
Ex: Fazenda Pública sofre uma condenação judicial e quem paga a conta ao final são os
contribuintes. O fato do Estado ter sofrido uma sucumbência não habilita o contribuinte a
interpor recurso em processo alheio, pois o nexo de interdependência pressupõem que
aquela pessoa seja atingida diretamente pela decisão judicial. O contribuinte não é
atingido diretamente, ele é alcançado de uma forma reflexa/indireta, nem ao menos sabe
quando essa decisão irá impactar a arrecadação pública, logo, ele é um terceiro mas
não é um terceiro prejudicado por não ser afetado diretamente.
29
a decisão.
E se o torcedor for sócio? Mesmo cenário do contribuinte. Você não sabe quanto que
aquela condenação pode reverter em termos de custeio da parcela paga ao clube na
mensalidade, não quer dizer que o sócio tenha que se cotizar com a despesa.
Ex: No condomínio que perde uma determinada ação. Os condôminos não podem ainda
assim recorrer porque eles não são afetados diretamente pela decisão judicial.
I - terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo;
Casos em que ele é fiscal da lei, ou seja, está fiscalizando para que a lei seja
corretamente aplicada. O MP apresenta em juízo um parecer, uma manifestação
opinativa. Essa manifestação não vinculante para o juiz, logo, ele pode acolher ou não
este parecer ministerial. Se o parecer não for acolhido na decisão judicial, o MP tem a via
do recurso.
30
É óbvio que o MP nunca será fiscal em casos os quais ele formulou o pedido, em que é
parte. Ou ele atua como parte ou atua como fiscal da lei.
Art. 81. O Ministério Público exercerá o direito de ação nos casos previstos em lei,
cabendo-lhe, no processo, os mesmos poderes e ônus que às partes.
Ex: Então, quando ele entra com uma ação civil pública para pedir que uma determinada
industria cesse o dano ambiental, o MP está agindo como um substituto processual, pois
ele não pede exatamente algo para si, mas sim pedindo a tutela de um direito alheio e
difuso (são de todos e não são de ninguém ao mesmo tempo).
Ex: foi julgada uma ação procedente e o autor conseguiu tudo aquilo que queria, porém,
a verba honorária foi situada no percentual mínimo (art. 20, § 3). O autor vai desejar o
quanto antes o transito em julgado, entretanto, o advogado pode almejar o aumento da
verba honorária.
31
Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que
antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos
casos em que o advogado funcionar em causa própria.
§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de
vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos:
Com isso, a jurisprudência, com base no fato do estatuto da OAB determinar que essas
verbas pertencem aos advogados, determinou que o advogado pode recorrer em nome
próprio contra a decisão que fixou os honorários para obter um aumento.
Advogado não é parte, nem MP e nem terceiro extraordinário, é apenas uma parte
legítima extraordinária.
(b) CADE
É uma autarquia federal responsável por garantir a livre concorrência. O CADE tem a
prerrogativa de comparecer em processo alheio e recorrer das decisões que possam
parecer prejudiciais à concorrência. O CADE não é parte, nem MP e nem terceiro
extraordinário porque não é alguém que sofre prejuízo, é apenas uma parte legítima
extraordinária autorizada pela lei para recorrer pela defesa da livre concorrência.
CADE não pede nada pra ele, somente atua em situações lesivas a livre concorrência e
proteção do consumidor.
- Interesse recursal
É caracterizado pelo binômio necessidade e utilidade.
É preciso que o recurso seja útil para quem dele se utiliza.
Se a decisão gera sucumbência o recurso pode ser necessário. Entretanto, em algumas
situações, a decisão judicial não cria um prejuízo concreto e ainda assim o recurso pode
ser cabível.
Barbosa Moreira: para a caracterização do interesse recursal é necessário um olhar
prospectivo, analisar o que pode ser obtido com o recurso. Se o recurso pode de alguma
frua gerar uma situação melhor do que aquela que tem com a decisão recorrida, o
recurso pode ser aceito para julgamento.
Ex: mesmo a sentença sendo completamente procedente em todos os seus pedidos, mas
com honorários fixados em seu grau mínimo, o autor pode recorrer dessa sentença? O
autor do ponto de vista formal conseguiu tudo aquilo que esperava, do ponto de vista
formal ele não sofreu sucumbência, porém, materialmente a situação dele pode ainda
ser melhorada com a a interposição do recurso para tentar aumentar a verba honorária.
O autor não sofreu formalmente prejuízo, mas materialmente sim.
32
É possível melhorar a situação desse recorrente? Se a resposta for afirmativa há
interesse recursal.
(a)Desistência
Art. 501. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso.
Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o
consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas
por lei.(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
33
Parágrafo único. A alteração do pedido ou da causa de pedir em nenhuma hipótese será
permitida após o saneamento do processo. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº
11.232, de 2005)
Vlll - quando o autor desistir da ação;
Ex: uma advogada entrou com um mandato de segurança para discutir um determinado
crédito tributário. No processo em questão o contribuinte depositou o valor controverso
em juízo para não sofrer sanções do fisco. Se ele saísse vitorioso, levanta o dinheiro ou
se perdesse, converte-se o depósito em renda e estaria pago o tributo. O juiz de primeiro
grau denegou a segurança. A advogada interpôs recurso de apelação.
Neste meio tempo, um dos entes do art. 103 propôs diretamente no STF uma ação de
inconstitucionalidade questionando a mesma lei constituidora do tributo. A ação no
Supremo foi procedente e a lei foi declarada inconstitucional, sendo que esta decis ão do
supremo gera coisa julgada erga omnes, oponível a toda coletividade de pessoas.
Quando a advogada teve ciência da decisão do STF, ela compareceu no Tribunal e
desistiu do recurso. Com isso, o dinheiro depositado converteu-se em renda do fisco
automaticamente. No caso da desistência do recurso prevaleceu a sentença que negava
a segurança pleiteada.
Com isso, aquela ação do STF não teve efeito erga omnes para o caso concreto da
advogada porque quando ela desistiu do recurso, ela aceitou a decisão anterior. Se ela
fosse esperta teria desistido da ação/ desistido do mandato de segurança e pedido o
levantamento do dinheiro alegando que errou o jogo de palavras.
(b)Renúncia
34
Art. 502. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte.
Uma vez proferida determinada decisão judicial e se o recurso é voluntário, a parte pode
de antemão renunciar o direito de recorrer, logo, não pode depois voltar atrás.
A renúncia comunicada no processo serve como fato impeditivo da pretensão recursal,
porque o CPC trabalha com uma lógica de preclusão, ou seja, determinados atos podem
ser prejudiciais a outras atos seguintes que eventualmente poderiam ser praticados.
A partir de que instante podemos falar de renuncia? A partir do momento em que decisão
foi proferida. Só conhecendo a decisão pode-se renunciar do direito de recorrer.
Se renuncia para apenas aquela decisão. A menos que tenha uma renuncia irrestrita que
tenha abrangência o suficiente para alcançar fatos futuros e ainda assim ela seria
discutível, vez que o direito de renunciar pressupõem que você conheça a decisão
judicial que você está desistindo.
(c) Aquiescência
Art. 503. A parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a decisão, não
poderá recorrer.
Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de um
ato incompatível com a vontade de recorrer.
Nos casos de aquiescência, eventual recurso seguinte também não poderá ser aceito.
A palavra aquiescência é utilizada no sentido de aceitação da sentença.
O legislador não quis exemplificar as situações que seriam compatíveis a aquiescência
da sentença. Aqui devemos considerar uma coerência do comportamento da parte. Se
por qualquer razão ela revelar um comportamento que seja equivalente ao de aceitar a
decisão judicial, ela não poderá voltar atrás depois e interpor recurso.
Ou se faz uma coisa ou se interpõem recurso. Se ela praticou algum ato que revele
aceitação da decisão judicial, ela não pode depois voltar atrás.
Ex: ação de despejo julgada procedente. Réu deposita as chaves em juízo para
caracterizar que desocupou o imóvel. Depois desse deposito não se poderia aceitar um
recurso interposto. Esse comportamento é valorado e computado como uma aceitação
da sucumbência no mínimo tácita.
Distinção extraída do art. 505 CPC: “A sentença pode ser impugnada no todo
ou em parte”. Este artigo está relacionado ao recurso de Apelação, mas a regra
que é colocada é considerada como integrante da Teoria Geral dos Recursos. É
como se a gente pensasse assim: o recurso pode ser total ou parcial. Se eu
tenho, por exemplo, uma ação de indenização em que o autor pediu e obteve
dano material e dano moral, pode ser que a insurgência do réu seja contra os
dois capítulos da sentença ou pode ser que ele apenas queira recorrer dos
honorários advocatícios. Se eu tenho um recurso que ataca tão somente a
questão envolvendo honorários advocatícios, por mais absurdo que possa ser
o restante da decisão, o tribunal não pode alterar. Isso, porque aqui é como se
a gente transpusesse a leitura do dispositivo para a seara recursal. O que diz o
princípio dispositivo? “Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão e
quando provocado e nos moldes em que houve a provocação”. Não pode
haver prestação jurisdicional sem pedido. Então eu transponho esse tipo de
leitura do princípio dispositivo para o segundo grau de jurisdição. Esse tipo de
distinção será útil mais tarde quando estivermos estudando o efeito devolutivo
da apelação, porque a questão fica mais técnica e essa questão simples terá
que ser retomada.
Quanto à fundamentação:
2. Fundamentação livre ou vinculada
36
• Fundamentação livre: hipótese em que o recorrente pode construir
argumentativamente aquilo que melhor lhe aprouver. Nesses casos o
recorrente pode dirigir qualquer tipo de crítica à decisão recorrida. Ele pode
criticar a decisão recorrida como melhor lhe interessar. Eventualmente
pode-se falar que a decisão é nula, que a decisão comporta reforma, que a
decisão não aplicou a lei material ao caso concreto, que a decisão aplicou
errado um dispositivo de lei ao caso concreto etc. A a maior parte dos
recursos são considerados de fundamentação livre.
Quanto ao objeto:
3. Comuns ou opcionais
OBS: normalmente os manuais chamam esses recursos comuns de ordinários e os
excepcionais de especiais. Por que o prof. Está evitando essa terminologia e privilegiando
a outra? Para que a gente não confunda aqueles recursos que têm o nome stricto sensu
de ordinário e especial com o gênero classificatório. Aqui eu estou falando de gênero
classificatório, então por questões didáticas o melhor é diferenciar. Quem segue o rol do
art. 496 pode chegar a esse mesmo tipo de classificação. Assim, a apelação, agravo e
embargos infringentes são recursos comuns; Já os embargos de declaração são recursos
38
excepcionais. O art. 496 do CPC é uma espécie do gênero dos recursos ordinários. Por
isso que nós estamos evitando essa nomenclatura.
O que difere uma categoria da outra? Os manuais falam muito que os recursos comuns
são aqueles que se bastam com a mera sucumbência; Ou seja, o que autoriza alguém a
interpor aquela ação? O simples fato desta ter sofrido prejuízo. O que autoriza alguém a
interpor agravo? O simples fato de a pessoa ter sofrido prejuízo; a ideia de sucumbência
em si.
E para o recurso especial? Para que eu tenha acesso ao STJ não é suficiente que eu
apenas tenha sofrido prejuízo; Só isso não me abre essa 3ª instância/grau de jurisdição. Na
verdade eu teria que levar na via do recurso especial que além da minha sucumbência em
si houve ofensa à lei federal.
E com relação ao recurso extraordinário (dirigido para o STF)? Eu não tenho acesso ao
STF apenas porque eu quero; Apenas porque a decisão não foi adequada aos meus
interesses. O que vai me autorizar a interpor o recurso extraordinário é uma sucumbência
qualificada pela ofensa à Constituição. Se no caso concreto a decisão que me gera
prejuízo também ofende à Constituição eu não tenho uma sucumbência simples, mas sim
uma sucumbência qualificada. Por isso que aqui quanto ao objeto esses outros recursos
são considerados excepcionais. Isso porque eles pressupõem um algo a mais, um “plus”,
que é essa qualificação dada à sucumbência. Em termos práticos (não é muito
adequado/correto) a gente pode pensar assim: eu posso apelar porque eu quero, porque
eu sofri prejuízo. Agora, para os recursos extraordinários não é porque eu quero. Eu posso
até querer, mas eu tenho que ver se na situação específica se houve aqueles requisitos
previstos na CF ou na lei que seja aplicável ao caso.
Pergunta do aluno: é possível dizer que todo recurso constitucional é vinculado também?
(Não sei se é exatamente isso – difícil de entender no áudio)
Resposta: Quase sempre é possível fazer essa vinculação porque normalmente os
recursos de fundamentação livre serão considerados comuns e os de fundamentação
vinculada serão tidos por excepcionais. Via de regra dá para fazer esse paralelo. Pode ser
que a gente tenha uma ou outra situação excepcional que a gente irá adequar à medida
que formas trabalhar recursos em espécie. O mais importante é pensar assim (tipo o
comercial da Skin): por que eu posso apelar? Porque eu quero; Porque eu sofri a
sucumbência. Por que eu vou recorrer para o STF ou STJ (RE ou Resp.)? Aí já não é
porque eu quero, uma vez que quanto ao objeto esses recursos são considerados
excepcionais. É preciso que o caso concreto revele aquele “plus”. Pode ser uma ofensa à
CF, à Lei Federal etc.
39
pressupõe-se o que nessa fala? Que ela tem comunhão de interesses com aquele
movimento/com aquela coisa a qual se adere. O recurso adesivo foi
impropriamente chamado dessa forma no Brasil e pode despertar algum tipo de
confusão. No entanto, qual é a lógica/ o que está por trás desse dispositivo do art.
500 do CPC? Ele trata das situações envolvendo sucumbência recíproca (para
autor e réu). Se não há sucumbência recíproca não há recurso adesivo.
40
recíproca ambos podem recorrer, mas imaginem uma hipótese em que apenas o réu
tivesse recorrido. O que o juiz vai fazer? Intimar a parte contrária para oferecer as
contrarrazões. Aí nós vamos ter as contrarrazões do autor. Ocorre que o advogado do
autor pode perceber o seguinte: com o recurso alheio o processo seguirá de qualquer
jeito para o tribunal então vou aproveitar e apresentar conjuntamente com as
contrarrazões o recurso adesivo. Então o recurso adesivo se coloca como um recurso
tardio no seguinte sentido: aquele que não recorreu no início, mas que poderia fazê-lo, na
medida em que ele visualizar o recurso alheio, ele tem uma segunda chance. Vale
ressaltar, no entanto, que essa segunda janela de oportunidades é diferente da primeira.
Então aqui não se fala de prazo, mas sim de momento de interposição do recurso.
A primeira parte de art. 500 do CPC (“Cada parte interporá o recurso,
independentemente, no prazo e observadas as exigências legais”) está falando dessa
primeira janela de oportunidades, que abre para ambas as partes. A segunda parte do
art. 500 CPC (“Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer
deles poderá aderir a outra parte”) fala da sucumbência recíproca. O verbo “aderir” deve
ser entendido aqui como “pegar carona”, seguir a oportunidade e não como indicador de
comunhão de interesses; Mesmo aquela parte que não iria recorrer o faz porque o
recurso da outra parte já será encaminhado para o tribunal de qualquer jeito.
De onde surgiu essa figura? Do direito português e alemão. No entanto em
Portugal e na Alemanha a nomenclatura é melhor porque lá eles falam em recurso
subordinado. No Brasil eles rotularam como adesivo e aí parece que o recorrente
adesivo tem o mesmo interesse que o recorrente principal e não é isso; Cada um está
buscando a sua própria sorte. Apenas o que ocorre é que aquele que não recorreu no
início ganha uma segunda chance.
O art. 500 CPC ao dizer que (“O recurso adesivo fica subordinado ao recurso
principal”) indica o quê? Note-se que supostamente quem interpôs o recurso adesivo
apenas foi motivado pelo recurso alheio porque em tese ele estava aceitando a decis ão
originária. Se acontecer de esse recurso não ser conhecido porque não houve
recolhimento de custas ou por qualquer outro defeito, o adesivo também não será
admitido. Isso porque as duas partes já tiveram a oportunidade de interpor o recurso.
Além disso, o prazo para responder o recurso alheio (art. 500, I CPC) é outro prazo,
referente a essa segunda janela de oportunidades. No mesmo prazo de resposta eu
posso apresentar duas peças separadas: 01 para as contrarrazões e 01 para o recurso
adesivo.
OBS: Na prática o recurso adesivo é mais comum nas apelações, muito embora
seja possível em outras hipóteses também (art. 500, II CPC). Além disso, na prática, é
mais comum para as partes que perderam o prazo inicial e/ou que a princípio não
queriam pagar custas e que aproveitam a situação principalmente para pedir aumento de
honorários advocatícios.
41
Leitura recomendada: Ronald Dworkin (regras X princípios) à critérios de resolução de
antinomias.
1. Princípio do duplo grau de jurisdição: assegura a possibilidade de reexame das
decisões jurídicas desfavoráveis; Controle dos atos decisórios.
Garantia constitucional? Mero princípio infraconstitucional do Direito Brasileiro? Se
nós entendermos como garantia constitucional é difícil restringir a interposição de
recursos. É uma cláusula essencial do devido processo legal? A
doutrina/jurisprudência brasileira diverge sobre o tema.
Obs: Pacto San José da Costa Rica (Direitos Humanos) – art. 8º9
STF: os tratados internacionais são normas supralegais. Assim, coloca o segundo
grau de jurisdição como um princípio supralegal.
Professor acredita que é um princípio infraconstitucional que comporta
relativização.
Novo CPC: debate sobre a aplicação de efeito suspensivo à apelação.
Consequência da retirada desse efeito: posso recorrer, mas já sofro os efeitos da
sentença; Ela é auto-executável (a parte não tem como “ganhar tempo”). A própria
Câmara não quer que o efeito suspensivo da sentença seja retirado.
9 ARTIGO 8 – Pacto San José da Costa Rica
Garantias Judiciais
1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo
razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente
por lei, na apuração de qualquer acusação pena formulada contra ela, ou para que se determinem
seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não
se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena
igualdade, às seguintes garantias mínimas:
a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por tradutor ou intérprete, se não
compreender ou não falar o idioma do juízo ou tribunal;
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;
c) concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparação de sua
defesa;
d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de
sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor;
e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado,
remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio nem
nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presente no tribunal e de obter o
comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre
os fatos.
g) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada; e
h) direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.
4. O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá se submetido a novo
processo pelos mesmos fatos.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os
interesses da justiça.
42
Novo CPC: tendência de manter o duplo grau de jurisdição, mas buscar inibir o uso
abusivo dele.
Pontos positivos:
• Segurança jurídica: a partir da possibilidade de revisão haveria uma maior
adequação da decisão judicial (tribunal colegiado, com juízes mais
experientes e que ascenderam na carreira por mérito: mais debate,
decisões qualitativamente melhores, possibilidade de correção de decisões
proferidas de má-fé).
Críticas:
• Jacques Derrida (autor francês): “desconstrutivismo no discurso jurídico”.
Debate radical: coloco em xeque mesmo as “verdades” mais óbvias (ex: lei
da gravidade). Você “tensiona” os argumentos; Os testa. De fato a questão
da segurança jurídica é verdade na prática? Ela tem que ser pensada como
princípio estruturante da sociedade e não simplesmente do meio jurídico.
Será que as indefinições/mudanças no processo não geram maior
insegurança? (Ex: sentença favorável cassada pelo tribunal superior).
Tribunais colegiados de fato geram mais debate? Art. 55710 – possibilidade
de decisão monocrática do relator (a exceção está virando regra). Hoje
residualmente nós temos julgamentos colegiados. E mesmo nos
julgamentos colegiados o debate é muito reduzido. Nós trocamos o
subjetivismo de um grau pelo o do outro. Hoje o TST trabalha muito com
julgamento por extensão, por exemplo; Assim chega a julgar até 8.000
processos em uma tarde. Outra questão: o juiz mais experiente julga
necessariamente melhor? No ponto de vista científico não é possível fazer
esse prognóstico.
- Consagração explícita no CPC de 1939 (art 809) de modo que a parte não poderia
"usar ao mesmo tempo, de mais de um recurso"
Na legislação antiga constava uma regra didática onde a parte não poderia "usar ao
mesmo tempo, de mais de um recurso". Então, esse princípio aponta que para cada
decisão judicial haverá apenas 1 recurso cabível. O problema é que quando a gente fala
dessa lógica de unirrecorribilidade a gente pressupõe um sistema processual
suficientemente claro a ponto de evitar qualquer tipo de confusão, mas na prática, por
questões de dubiedade das palavras ou então diante de lacunas constante no
ordenamento, aí esse princípio cederá espaço para o PRINCÍPIO DA FUNGIBIIDADE.
Quando a gente olha esses 2 princípios podemos considerar que há um conflito entre
eles, só que dentro daquela lógica prepositiva de Dworking a antinomia dos
princípios é apenas aparente, então, para a maior parte das situações concretas
prevalecerá o princípio da unirrecorribilidade. Apenas alguns casos usaremos o
princípio da fungibilidade, este por sua vez aponta uma leitura totalmente diversa porque
ele permite aceitar o recurso erroneamente interposto como se correto fosse.
Em termos práticos, isso acarreta o seguinte caso concreto. De acordo com o art 267, VI:
"quando não ocorrer qualquer das condições da ação como a possibilidade jurídica, a
legitimidade das partes e o interesse processual;" haverá extinção do processo sem
resolução de mérito. Numa hipótese de litisconsórcio passivo, o juiz ao receber a petição
inicial, considera um dos réus como parte ilegítima. Então, o juiz diz: "Diante da
ilegitimidade passiva de C, extinguo o processo sem resolução de mérito EM RELAÇÃO à
ELE". Esse ato decisório, do ponto de vista da classificação atual do CPC, se identifica
como sentença. O problema é que é apenas uma sentença PARCIAL pq o processo
SEGUIRÁ ADIANTE EM RELAÇÃO AOS OUTROS SUJEITOS DO PROCESSO.
O que são sentenças parciais? É um ato decisório cujo o conteúdo se identifica com a
regra do art 267 ou do 269. Mas apesar de ser uma sentença parcial, apesar do recurso
cabível ser a apelação, para manter uma coerência do sistema recursal, a gente tem uma
decisão agravável. Então, depois da lei 11.232, o STJ passou a entender que para
esses casos nós temos que entender aí o cabimento de AGRAVO DE
INSTRUMENTO.
A possibilidade de sentenças parciais no sistema pode causar uma quebra dessa lógica
que o princípio da singularidade quis apontar, pois, a partir disso, questiona-se sobre qual
é o recurso cabível. Por que? Porque se houver interposição de apelação, todo o
processo será levado para a análise do tribunal e isso inclusive prejudicará os
demais figurantes que permaneceram na relação processual. Mas, quem olha do
ponto de vista da regra do art 267, não vai ter nenhuma dúvida em afirmar que o processo
chegou ao fim para aquele que foi excluído. Com isso, foi flexibilizado a lógica trazida pelo
princípio da singularidade porque, apesar dele funcionar como uma diretriz para a maioria
de casos, ele não era aplicado para os casos com dúvida objetiva. Para estes casos,
aplica-se o princípio da fungibilidade.
EX2: O autor formula vários pedidos. O juiz deve conhecer prescrição de ofício (art 219,
§5º15) e reconhece que um dos pedidos está prescrito e declara a prescrição em relação a
15 Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando
ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição. (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
§ 5º O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.
46
alguns pedidos. Qual a natureza jurídica desse ato decisório q reconheceu a
prescrição de um dos pedidos? De acordo com o art. 269, IV, a prescrição extingue o
processo com resolução de mérito. Mas, o pronunciamento pela prescrição, ainda que
parcial, se enquadra como sentença. Então, se for assim, qual o recurso cabível? Na
verdade, como dito antes, à medida que ocorre a apelação contra este ato decisório, se
quebra um pouco a lógica do sistema porque haverá uma apelação que levará TODO
o processo para o tribunal, paralisando inclusive os pedidos que não foram
julgados.
Então, essa lei veio para aperfeiçoar o processo de execução dos títulos judiciais, mas
como eles tinham a intenção de aperfeiçoar a tutela executiva, eles acabaram, na
verdade, mudando o conceito legal de sentença e despertando um problema sério nessa
lógica da singularidade. Na verdade, a gente pode inclusive pensar pela lógica de quem
está ou quem foi excluído do processo. Voltando ao primeiro exemplo, qual a natureza
jurídica desse ato decisório? Para quem fica no processo é uma mera decisão
interlocutória, mas para quem foi excluído, trata-se de sentença. Então, começo a
quebrar a lógica q para cada tipo de decisão há um só recurso cabível. O exemplo
dois também se encaixa aqui porque quando o juiz quebra a sentença ao adiantar a
prescrição ou decadência, que normalmente é vista como uma decisão prolatada numa
fase mais adiantada do processo, ele está realizando uma sentença parcial.
Aparentemente, está julgando apenas um dos pedidos e isso podia levar o processo como
um todo para o tribunal.
- Julgado do STJ deliberando pelo uso de agravo de instrumento, mesmo no caso que
exclui litisconsorte (STJ, REsp. 645.388-MS. Rel. Min. Hélio Q. Barbosa)
Processo
REsp 645388 / MS
RECURSO ESPECIAL
2004/0029113-0
Relator(a)
T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento
15/03/2007
Data da Publicação/Fonte
DJ 02/04/2007 p. 277
Ementa
47
RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. RECURSO CABÍVEL. FUNGIBILIDADE.
EXCLUSÃO POR ILEGITIMIDADE. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. AGRAVO DE
INSTRUMENTO.
1. "(...) I - O ato pelo qual o juiz exclui litisconsorte tem
natureza jurídica de decisão interlocutória, sujeita, portanto, a
interposição do recurso de agravo. II - não se admite o princípio da
fungibilidade recursal se inexistente dúvida objetiva na doutrina e
na jurisprudência a respeito do cabimento do recurso na espécie.
Inaplicável, ademais, referido princípio, em virtude do recurso
inadequado não ter sido interposto no prazo próprio" (REsp
164.729/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira).
2. Ainda que observadas as alterações produzidas no Código de
Processo Civil pela Lei n. 11.232/2005, máxime a redação dada ao §1º
do artigo 162, percebe-se que o legislador manteve a referência às
decisões extintivas do processo, com ou sem a resolução do mérito.
Todavia, o que se verifica na espécie, como fartamente destacado, é
a continuidade do feito; daí, porque, o manejo do recurso de
apelação, ao invés do agravo de instrumento, não autoriza a adoção
da fungibilidade recursal, porque consubstancia erro grosseiro.
3. Recurso não conhecido
Então, via de regra: um só recurso para cada decisão. Se houver dúvida subjetiva - que
não é uma dúvida de índole particular, que não é uma dúvida de um doutrinador específico,
mas sim, nesses casos em que a própria doutrina e a jurisprudência chegam à um
consenso - seria uma grande sacanagem o órgão julgador apenas julgar o que considera
cabível. Então, a gente tem uma COMPLEMENTARIEDADE entre os dois princípios. O
princípio da fungibilidade é aplicado para essas situações de dúvida objetiva. Se eu
tenho alguma dúvida do q fazer no caso concreto, então eu tenho que estudar mais.
Agora, se eu for estudar a situação e vejo que não há consenso nas doutrinas e
48
jurisprudência, então, eu uso o princípio da fungibilidade. Que funciona como uma
técnica de salvamento, na prática. Qual é o conceito? É salvar o recurso erroneamente
interposto como se fosse o correto, para que em última análise, permitir o exame da
questão material q esteja subjacente ao caso. Com isso, foi flexibilizado a lógica trazida
pelo princípio da singularidade porque, apesar dele funcionar como uma diretriz para a
maioria de casos, ele não era aplicado para os casos com dúvida objetiva. Para estes
casos, aplica-se o princípio da fungibilidade. Logo, não vai importar qual é o entendimento
do órgão julgador pois, se há dúvida objetivo, então não conhecer o recurso interposto
porque eu acho como correto algum outro é uma grande injustiça.
Esse princípio está expressamente previsto no CPC de 39, mas se vocês checarem o
CPC 73 ele define com mais clareza as regras. De fato, essas regras são colocadas de
maneira bem taxativa, o problema é que existem situações limítrofes que apresentam
dúvidas sobre a própria natureza jurídica do ato decisório.
Exemplo: Incidência de falsidade documental
Quem oferece um incidente de falsidade vai arguir que o documento é falso e o juiz vai
decidir essa decisão incidental. Essa decisão ela não se enquadra nos rols dos art 267 e
269. Então, não há a menor dúvida q a decisão q julga o incidente de falsidade é
apenas uma decisão interlocutória. Mas, a situação se complica quando eu analiso art
39516 do código porque eu posso ficar com dúvida, no entanto, não é sentença, é decisão
interlocutória. Então, percebam que por conta dessa integridade da lei, dessa falta de
integridade do sistema jurídico, quem trabalha com a interpretação literal do art 395 e
queira recorrer uma decisão como essa pode interpor uma apelação, mas quem fizer a
leitura pelo art 162,§ 1º17 vai interpretar que é apenas uma questão incidental e vai
interpor um AGRAVO. Quando se analisa os julgados do STJ, você percebe que há
casos em que a parte interessada se insurgiu via apelação e outros que se insurgiu via
agravo. Para esses casos que podemos enxergar como dúvida objetiva.
Pergunta: Mas esse caso específico é pacífico entender que o princípio da fungibilidade é
aplicável?
Professor: Todo caso que podemos compreender como uma hipótese de dúvida
objetiva, ele tem um tempo em que a dúvida se coloca e aquela dúvida tem q se
pacificar num sentido ou outro. Essa dúvida do exemplo, eu diria que ainda se aplica a
técnica de fungibilidade, agora a tendência q tem sido pacificada é pelo cabimento do
agravo. Mas se você perguntar isso daqui a 10 anos, creio que não se aplicará mais o
princípio da fungibilidade porque à medida que há a integralidade do sistema, a técnica da
fungibilidade deixa de ser importante. Só que a gente não pode ter a ingenuidade de crer
ex: Problema recente de parametrização (Lei federal e CF/88 tratam do mesmo tema
como direito adquirido, coisa julgada, ato jurídico perfeito)
Eu tenho um acórdão no tribunal que negue vigência a ato jurídico perfeito. Qual é o
recurso a ser interposto? Especial alegando ofensa à lei federal ou extraordinário
alegando q houve ofensa À constituição? Talvez ambos, mas para essas situações é
possível aplicar o princípio da fungibilidade. Os casos que atualmente temos pela via
de salvamento do princípio de fungibilidade talvez daqui a 10 anos eles não sejam mais.
Então, À medida que o sistema evolui e novas leis vão surgindo, há a possibilidade
de aplicação dessa técnica porque ela é uma técnica de salvamento/residual.
Professor: Se eu tenho uma decisão que gerou sucumbência recíproca (as duas partes do
processo recorreram) é natural q eu tenha 2 recursos e o tribunal possa perfeitamente
dar provimento a 1 recurso q vai gerar reflexo na situação alheia. Para esses casos
haverá ofensa À esse princípio? NÃO, porque apenas pela força do PRÓPRIO
recurso a parte não poderá ter sua situação agravada, mas nada impede que isso
ocorra por conta do provimento do recurso alheio.
Professor: Sim, quando houver os 2 recursos, eles vão ser distribuídos lá no tribunal por
uma mesma relatoria (até porque estão acumulados no mesmo processo) e nos teremos
um julgamento simultâneo de ambos. Espera-se q o tribunal tenha o mínimo de coerência.
Na maioria das vezes acaba sendo prejudicial para o recurso alheio.
Professor: Também porque você continua falando na proteção do princípio porque por
força do PRÓPRIO recurso é que não poderá ter uma situação agravada e nada
impede q isso ocorra por conta do provimento do recurso alheio.
18 Súmula 45 do STJ "No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda
Pública."
51
Então, esse princípio ele é aplicável aos recursos, mas, vimos no início do semestre, que o
instituto do reexame necessário ou da remessa obrigatória (utilizado em casos em q a
fazenda pública esteja sofrendo sucumbência em uma sentença, então, ela não terá
eficácia até passar pelo crivo do tribunal ad quem) não é recurso porque ele é
compulsório/automática e recurso é automático.
Por fim, vale ressaltar, q o princípio da proibição da reformatio in pejus, por ser um dos
princípios informativos da teoria geral dos recursos, é aplicável ao cenário dos processos
judiciários e não necessariamente no cenário dos processos administrativos. Quando
a gente fala de proc. adm, seja aquele q tenham a regência da lei 9.784/99 [...]a atividade
administrativa como um todo é pautada no princípio da estrita legalidade, por isso, os
manuais de dto adm dizem que a administrar é aplicar a lei por ofício. Então, o
administrador público não tem opção, em tese, só há uma opção a ser considerada. O
reflexo desse raciocínio é o seguinte: Numa hipótese de processo administrativo
disciplinar movido contra determinado servidor. Após instalado a sindicância e o processo
administrativo disciplinar, seja aplicado a este servidor uma penalidade de puxão de
orelha. Caso ele queira recorrer da decisão, o administrador, como ele não tem
opção valorativa (atividade estritamente vinculada a ponto de haver apenas uma lei
de regência da situação concreta), mas se aquela penalidade foi aplicada de maneira
equivocada, o recurso dele poderia ser considerado inclusive para uma situação de
maior agravamento da pena como, por exemplo, uma exoneração do serviço público
ou algo muito mais grave. Então, em vez de puxão de orelha, uma suspensão de 90
dias, por ex.
52
Então, o que eu quero dizer o seguinte: PARA O PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR VOCÊS DEVEM CONSIDERAR QUE EM PRINCÍPIO NÃO SE APLICA O
PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS. Por que? Porque a atividade
administrativa é estritamente vinculada e, por isso, só há uma lei regente ao caso
concreto. Isso poderia implicar, eventualmente, uma situação de agravamento por conta
do recurso recorrente.
Qual o prazo das contrarrazões? Por questões de isonomia, é o mesmo prazo dado ao
recorrente. O art. 508 do CPC atual diz que o prazo para responder o recurso é de 15
dias, igual ao prazo dado para se recorrer na maioria dos casos elencados.
É importante apontar que o art 508 apresenta 2 núcleos verbais: "para interpor"
"responder recurso". É claro que tem que se manter a simetria com prazos distintos nos
casos de exceção com prazos distintos.
Espera-se que aquilo seja um problema que cresce há anos. Se eu falo que a decisão é
obscura, contraditória ou que há um ponto omisso, então, na verdade, essa situação
apresenta problema para ambos as partes. Então, ninguém iria resistir ao aperfeiçoamento
da lógica processual, visto que, a lógica dos embargos é aperfeiçoar a decisão e ninguém
em tese quer ser contrário a essa premissa
2) Quem tem q julgar é o juiz, de modo que o embargado não exatamente iria
contribuir.
Quem tem que esclarecer o ponto omisso é o juiz, (não entendi) seria a oitiva do
embargado. O embargado não teria muito para contribuir com o reparo
19 Art. 537. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias; nos tribunais, o relator apresentará os
embargos em mesa na sessão subseqüente, proferindo voto.
54
Pergunta: No caso dos embargos declaratórios, a parte prejudicada não poderia requerer
a multa ou só poderia ser aplicada de oficio?
Professor: A doutrina costuma compreender que a multa do art 538 é aplicada de ofício. A
parte pode até atravessar uma petição para informar q a outra parte passou dos limites,
mas essa petição não é ela q vai ser determinante para a aplicação da multa desse artigo
porque é o juiz que pode considerar a conduta improba e aplicar de ofício. A parte pode
até pedir, não há problema, mas ele não é determinante, assim como os demais
casos de litigância de má-fé.
Ex: Imagine que uma sentença tenha sido proferida, publicada e intimado as partes. No
prazo recursal, uma delas interpõe embargos de declaração (prazo de 5 dias) e a outra, q
não viu nenhum defeito naquele ato decisório, desde logo interpôs apelação (15 dias).
Esses recursos têm prazos diferentes, mas isso não é um problema para o processo
eletrônico (porque quando eu for "postar" a minha apelação e vejo que já existe um
embargo de declaração da outra parte, eu vou esperar q ele seja decidido), no entanto, as
coisas se complicam no processo físico porque se eu for ao fórum após o prazo de 5 dias
e pergunto se há algum embargo de declaração e recebo uma resposta negativa do
funcionário. Mas, na verdade, os embargos estão esperando a juntada em um lugar que
não foi inicialmente localizado. O QUE ACONTECE NESSE CENÁRIO? O embargo
consiste em algum esclarecimento e pode ser que eles resultam em alguma
modificação na decisão originária, por conta disso, aquele que precipitou o seu
recurso terá uma chance de aditar as suas razões e esse aditamento é norteado por
esse princípio da complementaridade.
Nelson Nery Jr que primeiro escreveu sobre esse princípio e a doutrina como um todo
assimilou essa ideia.
Professor: Só é possível esse aditamento de razões nos casos em que ocorreu uma
mudança na decisão originária.
55
- Assimetria em matéria de prazo
Destaco que esses casos podem ser mais recorrentes nos casos de assimetria de prazo.
PROBLEMA: O problema com esse princípio é se ele é bem aceito ou não, mas sim, qual
o prazo para ser realizado esse aditamento pois há divergência entre a doutrina e
alguns julgados. A confusão existe porque não há tratamento legal sobre a matéria e
alguns autores defendem que o prazo para aditar seja o mesmo prazo que ele tinha para
recorrer, mas há alguns julgados apontando que para esse cenário deve ser usado o
prazo dado no art. 18521 do CPC (Quando a lei não prevê prazo específico, o prazo será
de 5 dias)
Pergunta: Então, mudando agora a pergunta...se, por exemplo, eu não apelo no prazo de
15 dias e o MP, posteriormente, interpõe embargo declaração q é provido pelo juiz...só q
eu não apelei, meu direito precluiu, mas agora tenho interesse em interpor recurso por
conta dessa modificação causada pelo provimento do embargo de declaração.
20 Art. 236. No Distrito Federal e nas Capitais dos Estados e dos Territórios, consideram-se feitas as intimações
pela só publicação dos atos no órgão oficial.
§ 2o A intimação do Ministério Público, em qualquer caso será feita pessoalmente.
21 Art. 185. Não havendo preceito legal nem assinação pelo juiz, será de 5 (cinco) dias o prazo para a prática de
ato processual a cargo da parte.
22 Art. 322. Contra o revel que não tenha patrono nos autos, correrão os prazos independentemente de intimação,
a partir da publicação de cada ato decisório. (Redação dada pela Lei nº 11.280, de 2006)
Parágrafo único O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se
encontrar.
56
Professor: Isso se encaixa no q vamos falar na próxima aula que é sobre os efeitos dos
recursos. Seu exemplo é um caso do efeito interruptivo e decorre do caput do art 538
do CPC q diz o seguinte " Os embargos de declaração interrompem o prazo para a
interposição dos recursos seguintes". No exemplo que eu dei uma das partes não
sabia o que uma das partes acabou fazendo, é um caso de HIPÓTESE DE CASUÍSMO
(Cada parte adotou um comportamento e isso gerou um recurso precipitado). Então, eu
tenho q ir para a teoria geral do processo e relembrar sobre qual a diferen ça entre
interromper prazo e suspende-lo.
OBS: ISSO NÃO TEM NADA A VER COM O RECURSO ADESIVO PORQUE ESTE É
INTERPOSTO NO PRAZO DE RESPOSTA DO RECURSO ALHEIO. AQUI ESTAMOS
FALANDO DE EFEITO DE RECONTAGEM.
Professor: Não é preclusão porque você tem q pensar que os embargos de declaração
corrigem alguns pontos da decisão. Imagine q eu tenho uma ação de alimentos e o réu
foi condenado a pagar verba alimentar de dez salários mínimos, mas a parte não sabe se
10 salários mínimos estaduais ou nacional e, por conta disso, interpõe embargo de
declaração. Ai o juiz diz que é nacional por conta de x, y e z. Agora q eu entendi, eu
continuo insatisfeito e farei um outro recurso (um outro tipo). Logo, não há preclusão
para mim porque, veja, o prazo para o embargo de declaração é de 5 dias, mesmo q
eu interponha no quinto dia, eu ainda tenho prazo para interpor uma apelação, por
exemplo. Então, mesmo sem o embargo de declaração, eu ainda teria q continuar a
contar o prazo.
Mas não é assim hoje? Não necessariamente porque, por mais q eu fale de
instrumentalidade das formas, a praxis/o modus operandi dos tribunais brasileiros foi
sempre de praticar uma jurisprudência defensiva, ou seja, uma jurisprudência para
tentar esvaziar as quantidades númericas que hoje empacam o cotidiano das
cortes. Então, essa coisa de recurso antes do prazo que não poderia ser reconhecido; o
recurso em que a parte preparou a guia, mas preencheu de forma equivocada...para tudo
isso o novo cpc coloca regras taxativas.
Por exemplo, preencheu errado a guia? Então o juiz não pode considerar deserto o
recurso, no máximo, pode ouvir a fazenda pública (questiona-la se identificou um depósito
no dia x, tal hora) para saber se ele é deserto ou não. O que isso significa em termos
práticos? A substituição de 1 modelo q acaba prejudicando o jurisdicionado por esse
paradigma do princípio da prevalência da decisão de mérito. Pode ser q seja mudado o
nome.
Recursos em Espécie:
Trabalhamos até aqui, as questões envolvendo Teoria Geral, mas agora vamos partir
para a sequência da análise dos recursos em espécie. Então a gente considera mais ou
menos como referência aquela regra do Art. 496.’’ São cabíveis os seguintes recursos:
I - apelação;
II - agravo; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
58
III - embargos infringentes;
IV - embargos de declaração;
V - recurso ordinário;
Vl - recurso especial; (Incluído pela Lei nº 8.038, de 25.5.1990)
Vll - recurso extraordinário; (Incluído pela Lei nº 8.038, de 25.5.1990)
VIII - embargos de divergência em recurso especial e em recurso
extraordinário. (Incluído pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)’’
Esse artigo estabelece um rol taxativo dos recursos e coloca em primeiro plano a Apelação.
Quando então trabalhamos o tema envolvendo a apelação, muitas dessas questões destacadas
acabam sendo referência para o exame de outros recursos em espécie. Então vamos mais ou
menos estudando por comparação, as outras figuras recursais frente a apelação.
Recursos em espécie:
• 1)Apelação :
a) Cabimento:
R: No máximo ela encerra a fase de conhecimento na 1 instância. A partir dai, com a interposição
do apelo, o caso será deslocado a um Tribunal de 2 Grau.
Retomando, então ‘’APELAÇÃO é o recurso cabível para impugnar decisão . Os artigos : 267 e 269
do CPC, trabalham aquelas situações, cujos conteúdos nós podemos considerar como sendo
sentença.
• Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela
Lei nº 11.232, de 2005)
I - quando o juiz indeferir a petição inicial;
Il - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa
julgada;
Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade
jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;
Vll - pela convenção de arbitragem; (Redação dada pela Lei nº 9.307, de 23.9.1996)
Vlll - quando o autor desistir da ação;
IX - quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;
X - quando ocorrer confusão entre autor e réu;
XI - nos demais casos prescritos neste Código.
§ 1o O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e Ill, o arquivamento dos autos, declarando
a extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a falta em 48
(quarenta e oito) horas.
§ 2o No caso do parágrafo anterior, quanto ao no II, as partes pagarão
proporcionalmente as custas e, quanto ao n o III, o autor será condenado ao pagamento
das despesas e honorários de advogado (art. 28).
§ 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não
proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que
a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responder á
pelas custas de retardamento.
60
§ 4o Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o
consentimento do réu, desistir da ação.
• Art. 269: Haverá resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)
I - quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor;(Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido; (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
III - quando as partes transigirem; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição; (Redação dada pela Lei
nº 5.925, de 1º.10.1973)
V - quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação. (Redação dada
pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
O pronunciamento judicial reconhece prescrição. Então a gente deduz lá do Art. 269, ‘’ IV - quando
o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição’’, que se for prescrição de toda a pretensão do
autor, vai se encerrar o procedimento em 1 instância. Esse ato decisório se enquadra como
sentença.
Apelação pode ser aplicada para impugnar quaisquer tipos de sentenças, sejam elas proferidas no
processo de conhecimento , do processo cautelar, ou das pouquíssimas sentenças conhecidas de
extinção da execução. Vejam só, como se encerra o processo de execução?
Eu destaquei pra vocês, aquilo que aparece nos manuais clássicos. O professor Luiz
(não compreendi) chama a apelação de ‘’Recurso Padrão’’. Já o professor Nelson Luiz
Pinto chama de ‘’Recurso Típico’’, enquanto o professor Jose Carlos Barbosa Moreira
chama de ‘’ Recurso por Excelência’’. Percebemos então que essas expressões são
equivalentes, mas o que a doutrina quer destacar com isso?
61
R: Quer destacar que o estudo da apelação, serve de parâmetro para o exame das demais figuras
recursais. Ou seja, alguns temas aqui aplicados para o estudo da Apelação, vão servir para exame
das outras modalidades.
Temos que considerar que a Apelação é um recurso de ‘’ampla devolutividade’’, podendo ser
parcial ou total. Se olharmos o Art. 505,
Art.505 ‘’ A sentença pode ser impugnada no todo ou em parte.’’, percebemos essa característica.
percebemos que é facultado ao interessado discutir sobre toda a sucumbência sofrida ou sobre
alguns de seus capítulos. Quando se fala em ‘’ampla devolutividade’’, é preciso lembra que a
Apelação pode servir para pedir a anulação da sentença(nos casos de erro de procedimento); ou
para pedir a reforma da sentença(quando não se concorda com o critério de julgamento aplicado).
Não sei se vocês vão se recordar, mas quando estávamos nas primeiras aulas falando do conceito
de recursos, destacamos que eles podem servir para atacar diferentes vícios das decisões
judiciais(procedimentais ou de conteúdo). Algumas vezes, posso não estar concordando com o
procedimento adotado pelo juiz . EX: ele realizou o julgamento antecipado da lide, quando não era
o caso(falha de procedimento). Mas podem ter casos em que o procedimento foi correto, mas eu
não concordo com o critério adotado por ele, ai pediria a REFORMA.
Nada impede que os pedidos sejam feitos de forma combinada, baseando-se numa lógica de
eventualidade. Quando se trabalha a defesa do réu, fala-se desse princípio, pois ele só tem uma
chance de defesa, fazendo com que ele apresente defesas excludentes entre si. Mas a gente tolera
uma certa esquizofrenia discursiva diante do fato de que há um momento preclusivo para a defesa.
Então se dá ao interessado apenas uma oportunidade para recorrer, é possível que a parte
interessada peça a anulação. Porém se o Órgão não entender que essa seja cabível, que se
conceda então, a sua reforma. Esses pedidos podem vir articulados na apelação.
O mais importante nesse artigo 505 do CPC, é o entendimento do ‘’ tantum devolutum quantum
apellatum’’, um brocardo em latim que é antigo mas continua valendo, apesar de não ser a língua
que falamos. Mas ele serve aqui pra marcar o seguinte: Se o apelante delimitou o seu pedido, o
Tribunal não poderá julgar pedidos outros que não foram objeto de impugnação. Na prática,se a
decisão judicial tiver diferentes capítulos, o Tribunal poderá transitar e eventualmente modificar os
pedidos ou capítulos impugnados. Aqueles que não foram objeto de impugnação, serão
62
considerados como preclusos, ainda que se entenda que o critério adotado não foi adequado, se o
mesmo não foi objeto de impugnação. Decisão não recorrida é decisão que não pode ser revista.
Pergunta: Nesse caso de erro material, se o advogado entrou com recurso errado, o que deveria
ter acontecido?
R: Se tratando de juizado, a principiologia que o rege , é diferente da comum(civil). Ela aponta para
um pouco mais de informalidade, pois senão não dá para aceitar o que aconteceu na sua narrativa.
O que eu entendi é que ‘’jogaram no processo uma sentença, com matérias que não eram
discutidas no caso. Na prática, alguém copiou e colou, colocaram no modelo errado e assinaram
como sentença com um fundamento esquisito. Nesses casos, quando há uma fundamentação
inadequada a gente pode falar em até duas coisas: 1) a interposição de um recurso cabível para
alegar a nulidade do julgamento, pois aquela sentença não está fundamentada corretamente no
caso concreto. 2) pedido de reforma da sentença, pois a regra de direito material possivelmente
aplicada ali, não tem nada a ver com o caso concreto.
Ex: é como se eu aplicasse a regra de despejo num divórcio, ou seja, o discurso não vai casar né .
Então ele poderia pleitear a anulação ou reforma. No caso concreto consideraram que foi feito o
Recurso Inominado de forma errônea e consideraram corretos os embargos de declaração, para
que o magistrado de 1 grau, adequasse a sua fundamentação.
Na aula passada falamos sobre essa questão de fungibilidade, porque nós temos que ver essas
questões com mais flexibilidade. Senão caímos na lógica de que todo mundo pode errar, menos o
advogado.’’ Não importa se a sentença julgou algo que nunca pediram, o que não se pode é errar o
recurso.’’ Isso vem sendo mitigado pelo princípio da fungibilidade. O que a Turma Recursal fez, foi
considerar que houve erro de direito. Possivelmente eles entenderam que essa matéria é passível
de apreciação ex officio, determinaram a devolução a juízo ‘’a quo’’.
Poderiamos evitar maiores problemas com o conhecimento do recurso, pois a sentença era nula,
por um erro de aplicação do direito. Devemos ver também que nem toda violação de direito
material é de ordem pública. Tem situações em que o Tribunal pode anular o processo não
exatamente por aquilo que as partes pediram, mas porque uma situação de ordem pública.
Vamos pensar numa situação hipotética envolvendo um menor incapaz. Durante toda a etapa
inicial do processo, ao invés de se ter a participação do MP, ele não foi chamado para se
manifestar. O processo então chegou numa fase em que foi proferida uma sentença, e a parte
insatisfeita interpôs recurso. O tribunal só pode julgar o que foi pedido, não pode julgar algo que
não foi pedido, mas quando envolver matéria de ordem pública, pode ser enfrentado em qualquer
etapa. Esse processo então ficou sem a oitiva do MP. Nesse caso, o tribunal focado no ‘’ tantum
devolutum quantum apellatum’’, não tem outra alternativa senão anular todo o processo, pois
essa falha é passível de ser apreciada ex officio. Quando temos esse erro procedimental, o
63
processo volta para a primeira instância, para o MP ser ouvido e depois de uma nova sentença e
outro recurso, ele pode chegar ao Tribunal pela segunda vez.
Pergunta do aluno:
R: Sim, esse vai ser o efeito translativo. É porque vamos falar aqui na sequência, os efeitos típicos
do recurso. Esses efeitos são: efeito devolutivo e o efeito suspensivo. Só que eventualmente,
podem ocorrer essas situações que eu expliquei, ai seria o efeito translativo, ou seja, o exame de
uma nulidade, gera um julgamento que vai comprometer não só a decisão judicial, mas também
vai contaminar outros atos processuais.
R: Porque você não está somente caçando uma decisão judicial. Você está eventualmente
anulando toda uma fase de procedimentos.
Imaginem essa situação: Um caso que teve um julgamento com base na revelia, e o réu estava
arguindo desde o início do processo, a nulidade da citação. Ai, o juiz de 1 grau não acolheu o
argumento da nulidade dessa citação e proferiu sentença contra esse réu. Esse réu apela dessa
sentença, mas continua insistindo na questão da nulidade da citação. Se o Tribunal conhecer da
matéria de ordem pública, reconhecendo a nulidade da citação, ele não vai estar caçando somente
uma sentença, mas também outros atos processuais.
O Art. 513 do CPC diz ‘’ Da sentença caberá apelação (arts. 267 e 269).’’
O texto do código projetado é mais ou menos parecido (art. 1022) que diz no caput a mesma coisa
do atual. O que aparece de novidade, é o parágrafo primeiro que diz assim ‘’ As questões
resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de
instrumento, têm que ser impugnadas na apelação.’’ Na prática, esse artigo do Código projetado
nos remete a um outro modelo de preclusão.
Vamos imaginar uma situação : Alguém apresentou petição inicial (distribuição); Quando o réu foi
citado, ele ofereceu impugnação ao valor da causa e contestação. Num primeiro momento, o juiz
da causa rejeitou a impugnação ao valor da causa.Nós temos um incidente, que inclusive no
modelo atual é autuado a parte. Dessa decisão que julga o incidente, o sistema vigente comporta o
recurso de agravo de instrumento ou agravo retido para impugnação. Cabe ao interessado
impugnar a matéria aqui, quando ela está sendo julgada.
Com a proposta do novo código, esse tipo de matéria, não é impugnada de plano. Uma vez
proferida a sentença, e o interessado resolver apelar, ele pode impugnar o conteúdo da sentença e
das decisões anteriores que não tenham sido objeto de agravo de instrumento. O modelo atual
trabalha com um sistema de preclusão, ou seja, decisão não impugnada é decisão preclusa.
Ninguém atualmente consegue imaginar uma apelação discutindo questões superadas na relação
64
processual. O que o legislador quis com o novo código foi que se tivesse que se ‘’encher o saco’’ do
Tribunal , que fizesse isso de uma vez só, não por meio de recursos interlocutórios, mas sim por
meio de um recurso final. É como se concentrássemos o acesso ao Tribunal apenas por ocasião do
recurso final.
O processo trabalhista sempre foi assim, desde o advento da CLT(década de 40), se trabalhou um
modelo de preclusão diferente do aplicado na jurisdição ordinária. No caso do processo civil temos
a lógica da preclusão. Quando eu tenho uma decisão interlocutória da qual eu não goste, o modelo
atual remete a interposição de um recurso (agravo de instrumento ou retido), e se eu não o fizer
ocorrerá a preclusão. O advogado trabalhista, quando ele está numa audiência e seu adversário
apresenta uma testemunha suspeita, ele oferece uma contradita, que será julgada pelo juiz na
hora. Se ele rejeitar essa contradita, o advogado falará para consignar em ata o seu protesto,
evitando a preclusão. Ele pode avaliar depois a conveniência ou não de recorrer desse ato, pois se
sair uma sentença favorável a ele, estará tudo bem. Porém, se ele perder com a prova irregular, ele
pegará um fato já superado(testemunha suspeita), pois ele tem a prerrogativa por ter feito o
protesto em audiência, que não existe no processo cível. Esse novo modelo quer evitar que
questões pequenas cheguem ao Tribunal ‘’picadas’’ em prol de um modelo de recorribilidade
concentrada( um único recurso no final).
Pergunta da Aluna: Se eu entrar com um agravo de instrumento e eu perco, posso voltar com esse
debate na apelação?
R: Aqui Não, temos que verificar que ele fala que somente podemos suscitar isso no final, se você
não fez uso do agravo. Porque se você fez uso do agravo, está recorrida a matéria, já teve acesso
ao juízo ‘’ad quem’’.
Vou complicar um pouco, pois vocês tem que ver que essas questões podem ser discutidas em
contrarrazões. Ex: O réu ofereceu impugnação ao valor da causa, através de contestação. O juiz
julgou improcedente essa impugnação, logo o autor não teve que recolher nenhuma diferença
monetária de custas e o processo caminhou. Na sentença o pedido do autor foi considerado
improcedente, levando o mesmo a apelar. Quem vai oferecer contrarrazões? O réu ? Mas vejam
bem, ele pode chamar atenção ao valor da causa errado. O valor da causa não tem nada a ver com
a sentença por si só, em princípio nas contrarrazões, iria somente contrargumentar o que foi
defendido na apelação, mas ele pode também indicar isso, pensando em uma chance do Tribunal
reconhecer essa apelação da parte autora( lógica do ‘’mas vai que .....’’);
Não vou trabalhar novamente a recorribilidade das sentenças parciais, pois já trabalhamos isso
quando falamos de fungibilidade;
65
b)Forma de interposição do Recurso: Por meio de petição escrita (impressa ou
digital) .Ela tem que seguir o que está previsto no Art. 514 :A apelação, interposta por
petição dirigida ao juiz, conterá:
I - os nomes e a qualificação das partes;
II - os fundamentos de fato e de direito;
III - o pedido de nova decisão.
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
Apelação sem pedido de nova decisão é considerada INEPTA e será considerado irregular e
não será aceito para julgamento.
• Local de protocolo: A apelação é protocolada na 1 Instância, pois é muito mais fácil para o
advogado que está lá nas comarcas interioranas protocolar o recurso diretamente no
processo. Se exigíssemos que essa apelação tivesse que ser protocolada diretamente no
órgão julgador, o interessado teria que se deslocar até a sede do tribunal. É claro que no
cenário de processo eletrônico, esse é um problema que tende a desaparecer, mas no
cenário atual, isso faz toda a diferença. Então a peça da apelação é apresentada no juízo ‘’a
quo’’.
R: Ele cuidará do juízo de admissibilidade. Reparem só: o juiz que proferiu sentença,
intimou as partes, e um dos interessados interpôs apelação, esse juiz não tem mais a
prerrogativa de mudar ou alterar o que ele decidiu, pois prevalece a regra do Art 463 do
CPC : Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: (Redação dada pela Lei nº 11.232,
de 2005)
I - para Ihe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais, ou Ihe
retificar erros de cálculo;
II - por meio de embargos de declaração.
Ou seja, quando são proferidas essas decisões (sentenças, acórdãos e decisões interlocutórias,
depois de publicadas, o juiz não pode mais alterá-las, a não ser nessas duas hipóteses elencadas
acima (do art 463), podendo faze-las ‘’ex officio ‘’
• Uma hipótese de inexatidão material: nome errado. Ex: José da Silva propôs ação de
despejo contra o Fulano de tal. Na inicial estava tudo correto mas na sentença erraram o
nome. Nesse caso o padrão de julgamento do juiz ficou claro, o que ocorreu foi somente
uma inexatidão material, no sentido de uma falta de correspondência entre o nome correto
da parte e o atribuído na sentença. A fundamentação não entra nessa questão, pois se ele
pudesse mudar essa fundamentação, ele poderia mudar o sentido dela e isso não é
aceitável, pois poderia até modicar uma procedência/improcedência. Em alguns casos
66
podemos ter até casos de erro de digitação de endereço em casos de despejo, pois as teclas
podem estar próximas ou por falta de atenção do digitador.
• O erro de cálculo entra mais ou menos nessa mesma lógica: não se pode mudar o
critério.Se eu tiver falando de uma ação de alimentos por exemplo, em que o juiz
sentenciou ‘’ Condeno o réu ao pagamento das parcelas de alimentos vencidas no importe
de X reais. Porém ao fazer essa conta, ele errou na operação de multiplicar, basta que
alguém ali provoque o tema através de uma petição avulsa ou ele mesmo pode corrigir esse
erro caso perceba. A correção desse erro aritmético não muda o sentido dessa decisão.
Mas se ele estiver falando assim: Com relação ao pagamento das parcelas vencidas, ao invés do
Igpm coloco outro índice. Ai não tem nada a ver com erro de cálculo, seria uma hipótese de
mudança de critério de julgamento, padrão de decisão( o art. 463 não autoriza isso) .
Então, esse juiz não poderá modificar nada, no máximo poderá cuidar de uma situação de logística.
Presentes todos os pressupostos recursais, ele recebe o recurso, intima a parte contrária, uma vez
oferecidas as contrarrazões ou não, ele mandará o processo para o Tribunal.
• Efeito da apelação: No que diz respeito ao seu efeito, o Art. 520 diz : ‘’A
apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no
entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que:
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
I - homologar a divisão ou a demarcação; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
67
II - condenar à prestação de alimentos; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
III - (Revogado pela Lei nº 11.232, de 2005)
IV - decidir o processo cautelar; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; (Redação
dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem. (Incluído pela Lei nº
9.307, de 23.9.1996)
VII - confirmar a antecipação dos efeitos da tutela; (Incluído pela Lei nº 10.352, de
26.12.2001)’’
Nesse artigo fala-se no seu duplo efeito (devolutivo e suspensivo) e essa é a regra geral. O que eu
quero deixar claro é que no modelo atual, o juiz não tem discricionariedade, ele não vai fazer por
‘’achismo’’ ou valoração. O sistema atual não dá margem ao juiz, para ele decidir qual efeito
atribuir à sentença. Quando se fala no duplo efeito(1 parte do dispositivo) ou somente no
devolutivo(2 parte do dispositivo), ele está na prática, aplicando a regra do art. 520 ou regra de
legislação especial. Depois disso temos as hipóteses de EXCEÇÃO: Quando não há a hipótese de
efeito suspensivo automaticamente., o que significa dizer que a sentença desde logo passa a
produzir eficácia(é auto exequível) .
Ainda vou retomar esse tema, porém só quero ressaltar que quem lê apressadamente o art. 518,
quando se fala que o juiz ‘’ declara os efeitos da apelação’’, pode imaginar que aquilo revela um
juízo discricionário, porém ele é um JUÍZO VINCULADO, ou seja, o juiz seguirá os critérios da lei.
Para os casos do duplo efeito, é o duplo efeito e para os casos do efeito devolutivo, o efeito
devolutivo. Não importa se no processo tem um amigo ou um inimigo dele, advogado gente boa
ou chato.
O efeito DEVOLUTIVO está ligado a matéria que será devolvida para a apreciação do tribunal. Já o
efeito SUSPENSIVO está ligado ao fato de a decisão judicial produzir ou não alguma eficácia
imediata.
Eu não vou falar detalhadamente desses efeitos , mas com estou tratando do recurso, vou
somente tecer alguns comentários. Esse é um dos temas que tem gerado maior debate no novo
CPC, pois muitos defenderam o fim do efeito suspensivo de forma automática. O código vigente
coloca o efeito suspensivo para maior parte dos casos, quase como uma maneira absoluta. Então
qual a consequência dessa escolha para o código atual? Se eu interponho o recurso e ele é
recebido no duplo efeito, se a sentença não vai produzir eficácia imediata, eu estaria protelando o
resultado final do caso, afastando o objeto litigioso daquela parte que saiu vencedora. Então, a
doutrina critica muito a regra do art.520 que coloca o juiz de 1 grau como um instrutor do
processo, como se fosse um figurante na ação processual, pois a decisão que vale mesmo é a do
Tribunal, a que vem depois. Não importa muito no sistema atual a qualidade dos argumentos que
68
aparecem na apelação, pois se eu apelar e colocar um argumento minimamente aceitável, eu já
estou protelando essa eficácia.
Alguns autores defendem que a sentença tem que ser auto exequível de imediato, e buscaram
inspiração no Código italiano que defende essa ideia de execução imediata da sentença, não
impedindo que a parte ‘’vencida’’ busque um melhor resultado com um apelação. Quando
jogamos um efeito suspensivo de maneira geral, estamos deixando a seguinte mensagem: Existe a
sentença, mas a decisão que vale mesmo é a do Tribunal. Seria quase como um incentivo ao uso
desses recursos ordinários, um estímulo ao recurso de apelação. O máximo que a pessoa pode
perder entrando com uma apelação e ‘’ perdendo’’, seria pagar os juros moratórios, mas são
baixos, pois não há uma sucumbência agregada.
A opção do novo cpc de atribuir o efeito devolutivo às sentenças, contribui com a celeridade, não
necessariamente e prol da segurança jurídica, pois você permite que parte vitoriosa inicie os atos
de execução e o Tribunal depois dê provimento ao recurso. Pode ser que você tenha que desfazer
os atos já iniciados, mas alguns pensadores afirmar que esse é um risco que vale a pena ser
corrido.
Uma última coisa que eu gostaria de ressaltar, a gente continua fazendo reformas legislativas de
‘’orelhada’’, pois a discussão aqui segue um dogmatismo exegético: de um lado o time dos que
acham que deve ser assim e do outro lado o time dos que acham que deve ser assado. Mas aqui
não seria um caso de se considerar as estatísticas ? O que elas dizem a respeito do í ndice de
sentenças reformadas? Os dados do CNJ dizem que o índice de reforma tem ficado em torno de 15
%, ou seja, apenas 15 % das sentenças são modificadas, o que leva a entendermos que esse efeito
suspensivo fica ‘’sobrando’’, protelando algo. Mas tem alguns Tribunais que seguem uma lógica
inversa, são os chamados ‘’ pontos fora da curva’’, por exemplo, o Tribunal do Piauí com 89 % de
índice de reforma. Nesse caso o efeito suspensivo faz sentido pois deve estar ocorrendo muita
presepada que vai contra a lógica da segurança jurídica.
O que eu quero falar é que não precisa ser tão extremista e radical, como se fosse uma fé religiosa.
Acho que os efeitos deveriam ser mais estudados hoje em dia, sujeitos a uma análise estatística.
69
Essa expressão devolutiva vem do modelo de processo do Direito Peninsular Português.
Quando se tinha a provação de uma decisão, muitas vezes, como a corte com
competência para rever esse pensamento estava muito distante, as partes que estavam
envolvidas no litígio faziam pedido de reconsideração para a própria autoridade, ou seja,
estamos falando ai da própria devolução da matéria, quando quem tinha decidido o caso
recebia o recurso e devolvia-se para ele a competência de analisar o caso. A partir dai a
ideia de devolutividade foi expandida para explicar até o modelo de duplo grau de
jurisdição.
a) Plano horizontal: órgão ad quem não pode promover a alteração da sentença, com
respeito àquilo que não foi objeto do pedido de nova decisão
Essa devolutividade pode se dar numa perspectiva horizontal, ou seja, para o mesmo
órgão que então tinha proferido a decisão. O cáput do art. 515 do CPC fala do efeito
devolutivo em sua perspectiva horizontal
Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
Ou seja, vale dizer que é feita nos limites da impugnação feita pelo recorrente.
No plano horizontal, a devolutividade é limitada ao pedido que está sendo feito pelo
apelante. Dentro daquilo que foi pedido o tribunal pode transitar e eventualmente mudar a
sentença recorrida.
Ex: Embargos de declaração são julgados pelo mesmo juízo que proferiu a decisão
embargada, com isso, há ai uma devolutividade horizontal vez que só é possível que o
órgão julgador analise o ponto omisso, contraditório ou oposto.
b) Plano vertical: órgão ad quem pode examinar todas as questões que foram
70
suscitadas e debatidas perante o juízo a quo
Isso pode implicar em uma situacao que o Tribunal mantenha a decisão originária, mas
por fundamento diverso. O Tribunal transita por todos os argumentos colocados pelas
partes, ele não fica refém ao argumento que foi eleito pela sentença recorrida.
Ex: uma inicial de acidente de trânsito em que o autor alega a culpa do Réu por este
dirigir sem habilitação e embriagado. O juiz julga procedente o pedido do autor e define
que quem teve culpa foi o réu em virtude dele trafegar embriagado, ou seja, a sentença
fala apenas de um fundamento da causa de pedir do autor. Réu recorreu. O que
acontece? Esses dois parágrafos falam que o Tribunal poderá examinar matéria que não
tenha sido suscitada e debatida na sentença, desde que ela conste no processo. Assim,
aquele fundamento que não foi considerado pela sentença pode ser aplicado pelo
Tribunal. Com isso, nesse caso, o Tribunal pode manter a condenação do réu e
reconhecer que não foi efetivamente comprovado a embriaguez, mas que diante da falta
de habilitação ficaria presumida a culpa.
RESUMO: No plano horizontal, a devolutividade fica sempre marcada pelo pedido feito
pelo apelante, ou seja, o Tribunal não pode julgar matéria que não tenha sido objeto de
um pedido especifico. É o principio dispositivo aplicado no âmbito recursal: nenhum juiz
prestará a tutela jurisidicional senão e quando provocado. O Tribunal só pode dispor
sobre aquele capítulo que foi objeto do recurso.
No plano vertical, a devolutividade é sempre plena, no sentido dela permitir que o Tribunal
transite livremente em relação a quaisquer argumentos das partes, quer eles tenham sido
ou não enfrentados pela sentença.
71
A ideia de livre convencimento do juiz determina que o juiz pode construir uma t écnica
argumentativa de eleger um determinado fundamento como sendo suficiente para aquela
decisão que ele esta proferindo. Assim, mesmo uma causa de pedir/defesa ampla que
envolva varias matérias, a fundamentação pode girar em torno apenas de alguns
aspectos da causa de pedir ou dos fundamentos de defesa.
Com isso, o plano vertical pode transitar em relação a todas as questões ventiladas no
processo. O Tribunal pode inclusive chegar no mesmo prognostico da decisão recorrida,
mas por fundamentos diferentes e isso é possível porque o Tribunal não fica refém das
questões enfrentadas pela sentença. Isso porque se o tribunal ficasse refém das
questões enfrentadas pela sentença recorrida, o Tribunal faria tão somente uma espécie
de conferência do caso e todos sabemos que a atividade julgadora vai muito al ém dessa
mera conferencia do raciocínio silogístico adotado pela decisão recorrida.
RESUMO: Todo recurso sem exceção é dotado de feito devolutivo, o que vai diferenciar
um recurso de outro é o âmbito da devolutividade. Existem recursos que são capazes de
devolver todo o conteúdo da decisão judicial e recursos em que a devolutividade é
restrita e pontual.
Ex: no caso do acidente de transito, a petição inicial pediu dano material e dano moral. A
sentença julgou esses dois pedidos procedentes e fixou verbas de sucumbência para o
réu. A condenação imposta para o réu tem toda a extensão, logo, o réu pode recorrer de
toda a sucumbencia sofrida, mas o réu pode também fracionar sua insurgência. Ele pode
somente não concordar com a condenação envolvendo o dano material ou só estar
insatisfeito com as verbas de sucumbencia.
Vamos supor que o réu só recorra do dano material. O tribunal vai pode rever o restante
daquela decisão judicial? Os demais capítulos ficam preclusos, porque ai teríamos uma
coisa julgada progressiva, ou seja, não foi matéria de insurgência da parte que sucumbiu
e não poderá mais ser alterada.
72
existia indício de prova de que o Réu estava embriagado, de que transpôs sinal de
transito e todos os outros argumentos da inicial ou defesa que desejar.
O tribunal transita entre todos os fundamentos da causa de pedir e da defesa, ainda que a
sentença não tenha apreciado essas matérias. Lógico que seria razoável esperar que a
sentença de primeira instancia tivesse enfrentando todos os argumentos colocados pelas
partes, isso seria o ideal, porém, na pratica, o livre convencimento motivado aponta para
a ideia de que o juiz pode pinçar o seu convencimento sopesando uma prova em
detrimento de todas as coisas, acaba abrindo espaço para um decisionismo.
Ex: Naquele caso do acidente, por exemplo, o réu diz que vendeu o carro antes do
acidente e por isso seria parte ilegítima. Vem a sentença proferindo a ilegitimidade com a
extinção do julgamento baseando-se no art. 267. Quem pode apelar? O autor. Nesta
apelação o autor consegue provar que aquele réu é parte legitima para aquela pretensão
que ele formulou. Assim, se o Tribunal cassa a sentença de carência, ele em tese poderia
prosseguir a apreciar o mérito da questão para saber se aquele autor tem ou não o direito
a indenização ou o Tribunal poderia devolver aquela situação a primeira instancia para que
esta examino o mérito do litígio.
73
• Polemicas e debates sobre esse parágrafo terceiro:
1- Quando surgiu esse dispositivo muita gente falou que ele era inconstitucional por ferir o
duplo grau de jurisdição. Nesse caso, voltamos a uma questão já trabalhada aqui
anteriormente, a questão é saber se o duplo grau tem ou não matriz constitucional.
O que sabemos é que nesse parágrafo o legislador procurou privilegiar a celeridade do
julgamento final do mérito. Uma justificativa para esse parágrafo seria o fato de que se o
Tribunal apenas tivesse que simplesmente devolver aquele processo para a primeira
instancia, ele teria que aguardar a provação de uma nova sentença, agora sim de mérito, e
esta poderia inclusive ser objeto de outro recurso de apelação. É por isso que falamos da
Teoria da causa madura, ou seja, se a prova colocada no processo for suficiente, o
Tribunal pode prosseguir no julgamento.
74
julgamento. O apelado nas contrarrazoes vai dizer que é hipótese de carência da ação,
mas, em atenção ao principio da eventualidade, com Tribunal realmente prosseguindo no
julgamento, no mérito também vai defender que este apelante não tem razão. Portanto,
esta pergunta de que o pode é faculdade ou poder-dever envolve questões pragmáticas
do dia a dia da advocacia. E ainda, tem prevalecido o entendimento de que é um poder-
dever.
Ex: O réu se defendeu com a argumentação de que ele é parte ilegítima para responder
pelo prejuízo do acidente de carro, está falando em ilegitimidade. Se o juiz acolher o
argumento de ilegitimidade, ele não adentrará nas questões de mérito, como por exemplo
analisar a extensão do dano, qual é o valor da indenização e etc. O que esse parágrafo
traz é uma situação em que o tribunal possa superar a sentença de carência e esteja
também autorizado a enfrentar o mérito.
RESUMO: Para alguns autores que se posicionaram logo quando a regra entrou em
vigência (2001) determinava que isso era uma faculdade, ou seja, que se o tribunal não
quiser, ele não é obrigado a enfrentar mérito. Já em 2004, quando veio a diretriz
constitucional da razoável duração do processo como um direito fundamental, a doutrina
mudou de posicionamento e começou a defender que é um poder-dever. Com isso,
apesar do texto falar pode, a maioria da doutrina entende que é um poder-dever e que o
tribunal deve adentrar no mérito se a causa estiver madura para julgamento.
RESUMO: Em algumas situações o tribunal terá que simplesmente cassar a sentença sem
resolução de mérito e devolver o caso para a primeira instancia, já para outras situações,
quando a causa estiver madura para julgamento, o tribunal pode prosseguir com a analise
de mérito.
Ex: A lei de locações. No procedimento das ações de despejo, a apelação interposta pelo
réu tem tão somente o efeito devolutivo. O réu pode recorrer, mas a apelação interposta
não obsta que seja expedido um mandato de despejo. Em termos práticos, o que falamos
é “você pode até recorrer, mas desde que saia agora”. É claro que isso gera um grau de
transtorno caso o recurso seja provido, isso porque as partes terão que ser restituídas no
status anterior e isso pode gerar prejuízos, perdas e danos e contratempos.
Isso tudo depende do tipo de processo que a gente quer, pode ser mais garantista ou
mais célere. Infelizmente, a celeridade e segurança estão em pratos diferente da balança,
se você da carga em um, você deixa outro desprotegido. Quando você prevê a segurança
jurídica, você está deixando de dar o objeto da decisão para o outro.
O professor Luiz Guilherme Marinoni trabalha a questão da distribuição do tempo de
duração do processo. Ele colocou o seguinte debate: quando nós temos um sistema
recursal que dá ênfase para o efeito suspensivo, na prática, o autor da demanda está
carregando nas costas todo o ônus de duração do processo, basta que alguém continue
recorrendo e que este recurso seja dotado de efeito suspensivo para que aquele autor não
tenha acesso ao bem da vida que ele está perseguindo. Quando você tira o efeito
suspensivo, em tese, você reparte um pouco melhor a distribuição do tempo de duração do
processo.
• Momento da suspensão
O efeito suspensivo decorre do que? Decorre da mera interposição do recurso, do
recebimento desse recurso ou do provimento? Ele está presente a partir de que instante?
Do provimento não é, porque senão estaríamos em um cenário em que apenas os
recursos providos teriam gerado efeito suspensivo. Na pratica não é isso o que acontece,
o simples fato de alguém recorrer já impede por si só que a parte tire proveito da decisão
recorrida.
Está relacionado com a admissão? Também não, porque se você considerar isso você teria
que trabalhar em um cenário temporal em que a decisão está produzindo eficácia desde
logo. Se você dizer que o efeito suspensivo só vem com a admissão, é como que se
durante o intervalo de tempo da publicação da sentença até a interposição da apelação a
decisão estivesse gerando eficácia.
Ex: Na data do dia 30/9 foi publicada uma sentença e as partes foram intimadas. Se a
parte interpor apelação no decimo quinta dia do prazo, e se a admissão do recurso
ocorresse numa data adiante, isto seria inviável na prática, porque seria o mesmo que
dizer que aquela sentença teve eficácia por 15 dias.
Com isso, a doutrina defende que o efeito suspensivo decorre tao somente da mera
78
expectativa de que o recurso seguinte cabível seja dotado de efeitos suspensivos.
Quando foi proferido uma decisão judicial, para vocês saberem se estará ou não havendo
esse efeito suspensivo, voces tem que analisar qual é o recurso seguinte. Esse recurso
seguinte é do tipo suspensivo ou não? Se o recurso seguinte for do tipo suspensivo, esse
cenário de mera expectativa de haver um recurso suspensivo já suspende a eficácia da
decisão. Se a parte não recorreu, a partir o instante da término do prazo de interpor
recurso já ocorreu o transito em julgado e aquela decisão anterior já estará produzindo
seus efeitos. É quase que como tivesse um efeito suspensivo sobrestado no tempo,
independentemente de alguém ter pedido o recurso ou não, essa suspensão ocorre
temporariamente e automaticamente. Essa é a posição majoritária da doutrina brasileira.
Se isso não for deste jeito, nesse lapso temporal que vai do tempo zero, da prola ção da
decisão, até o dia da interposição do recurso, a qual pode decorrer dai 15 dias, se esse
efeito só vem com a apresentação do recurso, é como se você entendesse que a partir da
prolação da decisão você já pode executar o efeito da sentença e tirar uma série de
consequências praticas daquela decisão. Por isso que a doutrina pratica defende que o
efeito suspensivo depende da análise do recurso seguinte, quando você olha pro art. 520
você consegue entender que a maioria dos casos o simples fato de haver uma apelação
do tipo suspensiva, ela sobresta a eficácia da sentença.
Quando falamos de uma ação de alimentos poderíamos ter no mínimo quatro tipos de
situações:
• a) ação de alimentos;
Ação daquele que não tinha alimento, foi em juízo e pediu a condenação do réu ao
pagamento de alimentos. Aqui se pede condenação, logo, é uma sentença condenatória
que determina pagamento de quantia. Se houver apelação ela será recebida no efeito
devolutivo. Em termos práticos o réu pode apelar, mas ele é obrigado a efetuar o
pagamento desde logo porque essa sentença já é auto executável.
80
Ex: essa situação acontece quando quem recebia alimentos atinge a maioridade.
Ps.: Os alimentos são irrepetíveis, quem consumiu consumiu. Não é possível pedir ação de
regresso em casos que envolvam alimentos pagos. É uma questão de direito material em
que se subtende-se que eles foram utilizados para subsistência.
Que tipo de alimentos são esses? Os alimentos decorrentes das relações parentais, de
afinidade ou decorrentes de atos ilícitos (alimentos indenizativos)?
Ex: Pedir indenização pela morte do pai que morreu em uma acidente causado por um
caminhão. Vai pedir indenização pelo tempo em que aquela pessoa teria expectativa de
vida, ou seja, pede alimentos. Sentença julga procedente o pedido de alimentos desses
parentes. Em contrapartida, a empresa que pagaria esses alimentos interpõem apelação.
Essa apelação tem efeito suspensivo ou não?
O que os juízes fazem é aplicarem aos alimentos indenizativos um raciocínio diverso aos
alimentos decorrentes das relações parentais ou de afinidade. O que esse juiz está
declarando? Ele está falando que o sujeito que pede alimentos indenizativos precisa
menos do que aquele que tem alimentos em decorrência de relação de afinidade ou
parental. Para o professor isso é completamente errado, isso porque o Direito civil não
hierarquiza os alimentos. Se não há hierarquia, por que o processo civil tende a dar
tratamento distinto para situações em que o hipossuficiente está com o mesmo problema?
Isso ocorre por uma questão ideológica em que o capital acaba prevalecendo e também
pelo discurso da repetição já falado anteriormente. Não é da natureza das coisas que seja
assim, é apenas uma questão cultural.
O professor iniciou a aula informando que foi tratado o ponto sobre os efeitos t ípicos do
recurso de apelação e seu efeito devolutivo (Art. 520). Depois disso, falou que dentro das
exceções falada na aula passada não há efeito suspensivo nelas. Começou a aula falando
sobre o Art. 1.025 do novo CPC para complementar a aula passada e fechar o tópico em
questão.
83
§ 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa
pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento
do recurso, ou, sendo relevante a fundamenta ção, houver risco de dano grave ou
difícil reparação.
§ 5º Quando o pedido for formulado por peti ção autônoma e os autos
já estiverem no respectivo tribunal competente para julgar o recurso de apelação, é
dispensável a formação do
instrumento de que trata o § 3º, inciso II.
§ 6º A apreciação do pedido de concessão de efeito suspensivo ao recurso de apelação
nas hipóteses do § 1º competirá ao: I – juiz prolator da decisão apelada, no período
compreendido entre a interposição do recurso em primeiro grau e a distribuição ao relator
no tribunal de segundo grau; II – relator designado, depois da distribuição do recurso no
tribunal de segundo grau.
No sistema que está sendo discutido no Senado eles tinham tirado o efeito suspensivo
como regra geral da apelação. Nessa versão da Câmara dos Deputados voltoou o efeito
suspensivo e eles foram de alguma forma ainda mais zelosos em prol da segurança pq o
texto do art. 1.025 fala que mesmo nos casos em que a apelação não seja dotada do
efeito suspensivo, em tese é possível q esse efeito seja concedido pelo relator (Art. 1025,
§4º, primeira parte).
O sistema atual então ele tem o efeito suspensivo em decorrência da lei. Mas no padrão
que está sendo trabalhado no 1025, se vcs observarem o §3º, ele fala que mesmo nos
casos em que não subsistem os efeitos suspensivo o efeito suspensivo pode ser pedido
para o relator. Então, esse modelo que está sendo proposto é ainda mais garantidor em
prol da segurança jurídica do que o regime atual. Então, passa o formulário de pedido para
o relator que eventualmente possa conceder o efeito suspensivo dentro dos parâmetros q
estão sendo apontado e isso vai evitar q aquela decisão produza eficácia imediata. Na
verdade, isso evita a EXECUÇÃO PROVISÓRIA DO JULGADO.
Agora vamos falar de outro tema que é conexo com o processamento da apelação e ainda
está ligado nessa fase inicial de admissão. Nas aulas anteriores nos tratamos da admissão
84
por recurso de apelação. Então eu falei do art. 518 do CPC que fala que interposta a
apelação, o juiz intima o apelado para oferecer as contrarrazões e aí se estiverem
presentes os demais requisitos e pressupostos o recurso é encaminhado para o tribunal.
Só que a lei 11.276/06 ela criou a súmula impeditiva de recursos. Então, na verdade, esse
recurso está previsto no §1ª do 518 do CPC. O que se coloca nesse artigo é q o juiz pode
deixar de receber, pode inadmitir a apelação, todas as vezes em q a sentença apelada
estiver alinhada com o entendimento do STF OU STF.
O que se procurou ambientar para explicar a regra? Se essa sentença está alinhada com
entendimento sumulado dos tribunais superiores, haveria uma probabilidade muito
reduzida dela vir a ser aceita no tribunal ad quem. Por conta dessa perspectiva alta de
que ela venha a ser confirmado, o legislador preferiu bloquear o processamento da
apelação. Essa apelação, ainda que protocolada nos autos, ela não é encaminhada para o
tribunal. Nesse caso, vejam que o juiz não está somente analisando os pressupostos de
admissibilidade comuns (análise de preparo, tempestividade, regularidade formal etc), na
verdade, ele está olhando o mérito da apelação e se o apelante está discutindo o
fundamento da sentença alinhada com a súmula do tribunal superior. Então, a tarefa do
juiz, que antes era feita no automático, ela aumentou um pouco mais.
Se vcs conversarem com um advogado mais antigo, ele irá relatar q esse despacho de
admissão da apelação era muitas vezes feito por carimbo nos autos pq o juiz se limitava a
apenas verificar os pressupostos comuns e já aceitava a apelação. Pq não havia interesse
no juiz em verificar os fundamentos jurídicos tragos na apelação e muito menos no que
estava alinhado nas súmulas dos tribunais superiores pq isso era preocupação do tribunal
e o juiz não se preocupava com essa tarefa. Mas, por conta do princípio de duração
razoável do processo, da acelaração do tempo final de duração da demanda, se criou a
técnica da súmula impeditiva de recurso. Veja que NÃO ESTAMOS FALANDO DE
SÚMULA VINCULADA - que continua apenas de prerrogativa do Supremo. O que se diz
aqui é q A SÚMULA - DE QUALQUER TRIBUNAL - SEJAM AS SÚMULAS VINCULANTES
OU AS NORMAIS (Jurisprudência dominante localizada no FINAL DOS COMP ÊNDIOS)
TODAS ELAS SENDO UTILIZADAS COMO FUNDAMENTO DECIS ÓRIO NA
SENTENÇA, ELAS VÃO BLOQUEAR A POSSIBILIDADE DE INSURGÊNCIA DA PARTE
CONTRÁRIA.
85
VÍNCULO/PARENTESCO biológico23. Se o juiz fundamentar sentença na súmula 301 e a
sentença for de procedência o réu, em tese, poderia apelar. Pq em tese? Pq, caso seja
protocolada a apelação, qual é a etapa seguinte q o juiz deve adota? A do § 1º do Art. 518.
O que implica em dizer que essa apelação será INADMITIDA NA ORIGEM. Então, como
se imagina q aquele seria o entendimento do tribunal, evita-se que o processo chega-se a
ele com esse desfecho provado. Na verdade, esse desfecho provado ele é antecipado
para a primeira instância.
Pergunta: Eu posso não querer fazer o teste e não ser o pai... (inaudível)
Professor: Aqui nós temos que separar a solução dada no art. 518, §1º - em prol da
valorização das súmulas julgadas nos tribunais superiores - do problema contextual ligado
a essas questões do direito ao reconhecimento da ascendência genética, do direito à
prova e do contraponto da direito a intimidade. O que o supremo teve que enfrentar essas
situações, inclusive em HCs, pq muitas vezes determinados juízos num afã de fazer a
prova pericial determinavam condução coercitiva da pessoa a ponto de se extrair dela
material genético para exame de tipagem. Então, o STF compreendeu que há um direito
fundamental à intimidade só que como na outra ponta tb há direitos fundamentais
igualmente dignos para a proteção, então, dentro desse conflito de direitos fundamentais,
o STF solucionou o vácuo legislativo e aí resolveu valorar na base de uma presunção de
que existe a relação de parentesco. Então, como a parte afasta a presunção? Se
submetendo ao exame. Essa jurisprudência acabou prevalecendo e, logicamente, ela
acabo virando súmula vinculada como passo seguinte.
EXEMPLO 2: Pessoa foi fazer compras no supermercado e teve o seu carro furtado.
Nesse caso se discute se é de responsabilidade ou não do estabelecimento o roubo
de pertences, visto q muitas vezes nós temos uma placa escrita "não nos
responsabilizamos por pertences roubados..etc". Dentro da ambiência da proteção
consumerística, o estacionamento é uma comodidade em prol da atividade-fim do
estabelecimento. Então, se houvesse uma recusa em idenizar do estabelecimento,
poderia ter uma ação civil indenizatória cobrando o prejuízo. Após o contraditório, o juiz
resolveu aplicar na sentença a súmula 130 do STF "Olha, esse caso, diante da proteção
consumerísta, considerando que o furto ocorreu durante o período de estadia daquela
pessoa na dependencia do estabelecimento, então, presume-se a culpa do
estabelecimento, conforme súmula 130 do STF".
23 Já ocorreu uma discussão no STF se a pessoa podia ser obrigada a se submeter ao teste. O STF
compreendeu que isso era invasivo demais e quebraria o direito de intimidade. Mas como na outra
ponta tem o direito fundamental de conhecimento da ascendência genética. Então, o STF se
orientou da seguinte forma: se a pessoa recusa de ir ao teste, ninguém pode obriga-la de maneira
coercitiva, só que a recusa é considerada como uma presunção da existência do vínculo biológico
de parentesco. Por isso, o STJ, depois de observar o jurisprudência do SUPREMO e de pautar a sua
própria jurisprudência, ele editou a SÚMULA 301: " Em ação investigatória, a recusa do
suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade."
86
O que gera trazer a súmula 130 do STF, de acordo com o art 518, §1º? Ainda que o
estabelecimento apele, na prática, a ação "não vai pra frente", ela fica INADMITIDA NA
ORIGEM. Por isso que o nome do dispositivo é SÚMULA IMPEDITIVA DO RECURSO. É
como se a gente estivesse dando uma maior importância para as matérias sumuladas nos
tribunais superiores. Imagina-se que com ida do processo para o tribunal, o tribunal
chegaria a essa mesma conclusão e, por isso, antecipa-se a inadmissão.
Bom, eu dei 2 exemplos que podem ser resolvidos por um única súmula e aí fica fácil
pensar na aplicabilidade do art.518,§1º. No entanto, existem n situações (maioria dos
casos que envolvem aplicação de súmula) em q a matéria discutida não se resolve no
entendimento sumulado, pois eu posso ter sentenças complexas cuja a fundamentação
em parte esteve alinhado com o entendimento sumulado e em outra parte está tratando
de outros assuntos que não necessariamente tem o respaldo de súmulas do superior.
Então, O QUE FAZER COM UMA EVENTUAL APELAÇÃO INTERPOSTA?
Quando temos esse tipo de ação, temos uma discussão de n matérias pq a pessoa está
discutindo sobre deteriminados conteúdos de cláusula contratual, cláusula de vencimento
antecipado da dívida, prática sobre capitalização de juros, cumulação de determinados
índices com correção monetário...). Na verdade, a causa de pedir dessas ações revisionais
é bastante ampla. O que vai acontecer na sentença proferida nessas situações? Vamos ter
uma sentença tb bastante complexa pq ela vai tratar de matérias variadas e aí que tem um
problema pq para algumas dessas matérias sumuladas pode haver súmula de tribunal
superior e para outras não. Por exemplo: Para a capitalização de juros tem a súmula 121
do STF. Incidência de comissão de permanência e correção monetária tem a súmula 30 do
STJ. Ma, cads vão surgir tb questões que são do caso concreto e o juiz tem q fazer a sua
fundamentação não necessariamente na interpretação do direito dado pelo tribunal
superior, mas teve q se basear no conjunto probatório, argumento de doutrinas, na
verdade, outros tipos de PRECEDENTES DE TRIBUNAL Q NÃO SÃO PRECEDENTES
SUMULADOS. A confusão vem daí, pois, por exemplo, se eu tiver uma sentença de
procedência TOTAL numa ação como essa, caso o banco resolva apelar, ADMITI-SE OU
NÃO O RECURSO? Ao meu ver, e aqui é a leitura da melhor leitura dogmática do tema,
seria o juiz receber o recurso PARCIALMENTE E INADMITI-LO NAQUELES CAPÍTULOS
EM QUE ELA ESTEJA ALINHADO À SUMULAS DO TRIBUNAL SUPERIOR.
24 Dado importante: 30% das ações nos tribunais se referem à contratos bancários (Ação revisional de conta corrente,
ação revisional de conta de crédito). Então, dá para imaginar que isso impacta o cotidiano dos tribunais.
87
inadmissão PARCIAL É UMA INADMISSÃO POR FICÇÃO pq o processo segue como um
todo para o tribunal, mas na prática a gente considera que uma parte está preclusa e outra
é ainda passível de revisão pela corte. Esse dispositivo cria então uma espécie de COISA
JULGADA PROGRESSIVA pq a coisa julgada não se forma de uma vez só, ela se forma
por capítulos (tem q se considerar os cap. sumulados e os não sumulados). Na prática, os
juízes não aplicam o art 518 nas situações complexas pq eles não estão acostumados com
essa situação, eles consideram que o único trabalho deles é fazer chegar a sentença para
o tribunal.
Cotidianamente os tribunais proferem sentenças, que vão aos pouco sendo sedimentadas
e que numa hora viram súmulas. Os demais precedentes, qnd o juiz de primeiro grau
CITA na sentença um acórdão do STF ou STJ isso NÃO É SUFICIENTE PARA O
IMPEDIMENTO DA APELAÇÃO. Entenderam a questão da gradação? Só súmulas nesses
casos!
O NCPC ele vai além pq ele fala o seguinte " que haverá inadmissão da apelação nos
casos de entendimento sumulado ou JÁ JULGADOS MEDIANTE REGIME DE RECURSO
REPETITIVO".
Os recurso repetitivos nós vamos examinar mais adiante, mas há uma técnica que é
adotada pelos tribunais superiores de seleção de casos paradigmáticos com
sobrestamento de todos os demais processos similares q versam sobre a mesma mat éria.
Então, qnd temos uma leva de processos envolvendo o mesmo tema, por ex. casos
envolvendo direitos individuais homogêneos, não há sentido prática em mandar todos os
casos para o tribunal superior. É como se a corte de origem tivesse o seguinte papel: ela
tem que pinçar aqueles casos q sejam REPRESENTATIVOS da controvérsia e onde os
argumentos tenham sido melhor explicitados e depois disso esses casos são
encaminhados para o tribunal superior. Os demais ficam estancados na origem, eles vão
aguardar o julgamento daquele recurso selecionado. É como se a gente tivesse uma
técnica de julgamento por AMOSTRAGEM, não vão se julgar centenas de processos
iguais, é melhor separar os casos mais ilustrativos envolvendo a mesma matéria. Depois
do julgamento da tese no tribunal superior, aquela decisão se projeta para os demais
casos similares. Então, vejam q essas técnicas elas são construídas em prol da seguinte
lógica: MAIOR VALORIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DE TRIBUNAL SUPERIOR.
OBS: Esse tema do art 518 é muito comentado em provas de concurso e tende a ficar
mais visado pq o NCPC d á uma INTERPRETAÇÃO AMPLIADA PARA ESSAS
SITUAÇÕES.
Para essa situação, a parte recorrente ela pode atacar essa outra decisão, a de
inadmissão de recurso? SIM!Ela vai interpor o recurso (AGRAVO OU ALGO NESSE
SENTIDO) não mais para discutir a decisão anterior recorrida, mas para discutir a decisão
de INADMISSÃO. O que ela vai falar nesse recurso contra a decisão de inadmissão
"PELO AMOR DE DEUS, MEU CASO É DIFERENTE PQ A SÚMULA NÃO É APLICÁVEL
A MINHA SITUAÇÃO".
Existe uma outra situação mais complexa (q nem vou exigir em prova)...há uma
ingenuidade no Brasil que a jurisprudência por si só melhora o ambiente de segurança
jurídica. Eu acho que a aprender com a COMMON LAW para criar uma cultura
precedentialista que seja capaz de se adaptar a realidade brasileira. Mas esses verbetes,
esses enunciados de súmula, eles tem uma pretensão universializante que as vezes cai
no mesmo problema da lei. Ora, se a lei não nos dá necessariamente a segurança jurídica
desejável, o que nos impele a afirmar que a jurisprudência irá garantir? Olhem a súmula
vinculante 12 STF. O art 206, IV fala da gratuidade das universidades públicas e a súmula
25 Há um dilema na matéria de direitos de reais sobre se o contrato de gaveta que não é necessariamente averbado na
matrícula do imóvel se ele merece proteção e se ele é oponível perante 3º. Pq, percebem, a prática brasileira consagrou
os cttos de gaveta (as vezes as pessoas compram o imóvel com base num compromisso de compra e venda) e não
transfere pq quer economizar para não pagar imposto, dívida de 3º e tem medo q o imóvel seja alcançado. Então,
eventualmente, o imóvel fica com a titularidade do antigo proprietário. Aí esse antigo prop. se envolve num tipo de
problema que desperta uma ação judicial (ex: execução de título extrajudicial, ação de cobrança...) aí a justiça acha o
imóvel e vai lá no âmbito da execução judicial e faz a penhora. Isso eventualmente colide com o dto do promissário
comprador (aquele q tem o ctto na gaveta).
89
vinculante confirma isso. Aí a gente imagina que essa súmula vai abarcar e resolver
realidades que são muito complexas, por exemplo, a universidade pode cobrar por curso
de língua a parte? pode cobrar taxa de vestibular? Então, vejam que mesmo que o juiz
faça a linkagem do caso concreto com a súmula de tribunal superior, pode ser q o caso
em si revele particularidades q não se exaurem no conteúdo sumulado. É por isso que a
gente tb tem que pensar que a decisão de INADMISSÃO ELA COMPORTA RECURSO
PQ ELA TEM Q TER UM CONTROLE DESSA ATIVIDADE DECISÓRIA.
Súmula Vinculante 12: "A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola
o disposto no art. 206, IV, da Constituição Federal."
Essa súmula que eu dei de exemplo, está intencionada a resolver certas questões, mas
não quer dizer que ela apazigúe de forma geral n outros problemas correlatos e as vezes
a gente pinça esses enunciados imaginando que eles são totalizantes e acabam
resolvendo o caso concreto. A realidade, no entanto, é muito mais complexa e exige
soluções mais sofisticadas.
Os comentaristas do CPC dizem que esse artigo chancelou o "ctrl c + ctrl v" pq qnd se
tem sentença sobre determinada matéria ela pode ser reproduzida para demais situações
envolvendo direito individual homogêneo com o mesmo pano de fundo, com a mesma
temática. Então, o texto redacional não é um primor pq ele fala q qnd houver "sentença de
total improcedência em outros casos idênticos", mas se são casos idênticos deveria
ocorrer extinção do processo sem resolução de mérito por litispendência. Então, na
verdade, esse artigo está falando de casos similares, parecidos q envolvem a mesma
causa de pedir. São essas petições padronizadas q muitas vezes geram sentença
padronizadas.
- Crítica: O texto dessa lei é ruim26 pq intuitivamente eu posso pensar que cada ju ízo
está autorizado a criar a sua própria jurisprudência sobre determinado assunto. Isso
seria o caos! Então, como podemos fazer uma interpreta ção desse artigo de acordo
com os parâmetros constitucionais? Uma INTERPRETA ÇÃO DE SALVAMENTO DO
ART 285-A.O artigo pode ser aplicado qund o juiz considerou que é um
entendimento já passificado em tribunal superior. Isso evita que cada ju ízo
individualmente considerado cria a sua própria jurisprudência.
EXEMPLO: Caso que envolve assinatura básica de serviço de telefonia fixa comutada.
26 Tem uma ADIN, mas ela nunca teve liminar e até hj está empilhada, mas está tudo bem pq a gente presume a
constitucionalidade da lei, não a inconstitucionalidade.
91
A discussão desse caso é que se diz que o código do consumidor proíbe a venda casada
de produtos, então, é proibido que a pessoa assine uma linha e já tenha q levar o pacote x,
y, z. Por quanto disso ocorreram muitas ações que requisitavam a devolução do dinheiro
da assinatura básica com serviços comutados. Só esqueçaram um detalhe: o serviço de
telefonia ele é passivo tb, tem um serviço passivo q está a sua disposição pq vc não o uso
apenas qnd vc liga, mas qnd tb te ligam e. por isso, que se tem a questão da tarifa. Aí
alguns dizem que a cobrança seria feita na ligação de origem, mas aí tb tem lligação a
cobrar tb. Por conta dsso, a jurisprudência disse que não cabe essa história de repetição,
mas uma coisa é o tribunal superior falar isso e outra um juiz individualmente falar isso
O que isso tem haver com apelação? É q o art 285-A diz assim: "qnd houver sentença de
total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação (do réu) e
proferida sentença". Nesse caso, o RÉU PODE APELAR. E o q ele vai dizer na apelação?
"Juiz, meu caso é totalmente diferente do caso q vc considerou".
92
- Chegando um recurso no tribunal, teremos OS SEGUINTES ATOS:
1) REGISTRO (art. 547, CPC)
Art. 547. Os autos remetidos ao tribunal serão registrados no protocolo no dia de sua
entrada, cabendo à secretaria verificar-lhes a numeração das folhas e ordená-los para
distribuição.
Parágrafo único. Os serviços de protocolo poderão, a critério do tribunal, ser
descentralizados, mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau.
É o primeiro ato e foi pensado como uma necessidade de uma nova autuação,
necessidade de uma nova identificação númerica etc. O CNJ criou o padrão de registro
numérico único dos processos e que começa em sua origem e deve se manter até o final,
independente se passar pelo tribunal A, B ou C. Ainda assim, há espaço para o registro no
sentindo que foi apresentado aquele recurso, q chegou aquele processo nos autos do
tribunal e aí é feito a numeração das folhas e ordenação para a distribuição.
- Publicidade: Ato processual público que qualquer pessoa pode acompanha-lo. É lógico
que hoje a distribuição é feita por meio de sorteio eletrônico, então, é lógico q esse
acompanhamento é relativo pq não se chega ao ponto de se querer auditar os programas
internos de distribuição etc.
- Alternatividade: Os processos são identificados por matéria, por tipo de recurso e eles
serão distribuídos aos integrantes do tribunal de modo que no final de um determinado
espaçamento de tempo cada qual daqueles juízes tenha recebido a mesma quantidade de
trabalho por matéria. Então se a gente tem um tribunal de 100 juízes, verifica-se quem tem
competência cível e daqueles que tem competência cível nós vamos pegar o cenário das
apelações que são classificadas por natureza de recurso (apelação, agravo etc). Então,
distribuí uma apelação para o juiz, ele sai do sorteio seguinte, distribuí para outro juíz e
aquele tb sai do sorteio seguinte e assim por diante até q todos tenham uma rodada
daquele tipo de recurso. Como o sistema é eletrônico e, na verdade, ele considera o
intervalo de tempo, então, todos terão o mesmo volume de trabalho.
- SORTEIO: Mas vejam só, a distribuição serve para indicar o relator, mas a gente tem que
observar que no momento em que se escolhe o relator do caso, eu já saberei de antemão
quais serão os demais juízes do quórum do julgamento e qual será o órgão. Pq? Pq todos
os juízes estão vinculados a um determinado órgão fracionário. Então, eu tb falo em
93
SORTEIO PARA SE EVITAR UM CERTO DIRIGISMO. Qnd não se tinha os modelos de
software de gestão eletrônica da distribuição o sorteio era feito com aquele globo comum
em bingo (comum tb em quermesses), aí sorteavão caso x e se colocava uma etiqueta em
cima. Aí eu sorteio o seguinte, pego outra etiqueta e coloco aqui e pronto (nesse momento
ele faz gesticulações em sala para explicar, tentei explicar o melhor possível). Logo, é
óbvio q os sistemas manuais davam margem a um sistema de fraudel, por isso, esse
modelo eletrônico é mais confiável. É claro q eu não posso ser ingênuo e achar que não
possa haver nenhum tipo de manipulação, mas fica um pouco mais difícil e não é uma
coisa tão extensível assim, fácil de ser praticado.
obs: Eu falo em ÓRGÃO FRACIONÁRIO para não falar em turma, câmara e assim por
diante pq, via de regra, os tribunais chamam os seus órgãos fracionários de câmara
(câmaras cível, criminal etc). As câmaras vão sendo criadas por especialização e de
acordo com a necessidade e contingência da Corte. A Justiça Federal chama esses órgãos
de TURMAS. Então, a gente está falando das mesmas composições fracionárias, apenas
mudam-se os rótulos, por isso, é melhor falar em Órgãos Fracionários.
Parágrafo único. O relator fará nos autos uma exposição dos pontos controvertidos sobre
que versar o recurso.
§ 2o O revisor aporá nos autos o seu "visto", cabendo-lhe pedir dia para julgamento.
94
§ 3o Nos recursos interpostos nas causas de procedimentos sumários, de despejo e nos
casos de indeferimento liminar da petição inicial, não haverá revisor. (Redação dada pela
Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
Percebe-se que não há sorteio do revisor, então, quem será o revisor? No art. 551, §1º diz".
Será revisor o juiz que se seguir ao relator na ordem descendente de antigüidade". Pode
parecer confuso, mas é bem simples. É assim: Os juízes chegam no tribunal em
momentos diferentes e a CF consagra a promoção por merecimento e antiguidade, então,
a medida q os juízes chegam, eles vão sendo alocados em determinados órgãos
fracionários.
Exemplo: 1ª câmara cível do TJ/RJ. Aí eu tenho lá o juiz mais antigo, 2º mais antigo e
assim sucessivamente numa ordem decrescente de antiguidade. Então, o que esse artigo
diz é...supondo por hipótese que tenha sido sorteado esse indivíduo como relator de uma
ação (apontou para o quadro, não sei para que juiz) quem será o seu revisor natural na
ordem seqüencial? Será o juiz que se seguir a ele na ordem decrescente de antiguidade.
Então, aqui nós já temos a vinculação desses dois juízes ao julgamento daquele caso
concreto. Mas o artigo 555 diz que Agravo e Apelação têm que ser votados com 3
participantes (o quórum de votação tem q ser 3). Então, o juiz que se seguir a eles será
categorizado como TERCEIRO VOTANTE. O 3º votante como não tem um nome especial
ele é chamado de VOGAL. Esses dois últimos não são votados, mas eles já chegam
automaticamente na pauta de julgamento pq o órgão fracionário está composto dentro de
uma sequência.
PERGUNTA: E se for sorteado o mais novo da turma, não tem ninguém depois dele
naquela sequência de antiguidade? Aí, para q a gente tenha ALTERNATIVIDADE no
volume de trabalho, será o revisor dele O MAIS ANTIGO. O que faz sentido pq vai dar
cultura para o tribunal, pontuar as jurisprudências já existentes, vai passar um pouco da
experiência etc. E aí, logicamente, o segundo mais velho terá a condição de vogal.
Então, como isso funciona DE FORMA CÍCLICA, acaba q todos tiveram o mesmo volume
de trabalho, seja na condição de relator, revisor ou vogal.
O mais antigo do tribunal tb tem uma competência administrativa pq ele fica com as
incumbências de presidente do órgão fracionário, então, ele terá algumas atividades como
do controle da pauta, de alinhar com a secretaria quais são os casos q irão para
determinada sessão de julgamento. quantos são e assim por diante
ALUNO: É comum eles mudarem câmara, turma...? Pq, caso contrário, eles sempre ficam
nesse ciclo.
Professor: Essa pergunta tem q ser considerada dentro da seguinte perspectiva: Depende
da cultura de cada tribunal. Cada tribunal tem um perfil e uma característica própria (o
prof. diz q pode falar, mas não pode provar isso) pois tem tribunais q adquirem identidade
própria, como um viés mais vanguardista da sua jurisprudência ou mais conservador, seja
pelo perfil de rotatividade e os demais membros internos tb vão dar os critérios de remoção
de um juiz, de uma câmara cível ou criminal etc. Então, eu diria q não é comum, mas q tb
não é raro. Não tem nada de excepcional nisso, ocorrendo de forma mais intensa em um e
menos em outro por questão de cultura própria.
OBS: O revisor tem um ato muito importante q ele vai praticar q é o seguinte: ELE VAI
PEDIR DIA PARA O JULGAMENTO.
Notem que o relator faz o relatório. O relatório não é o voto dele, é relatório. Ele relata o q?
Relata os parâmetros do caso e dos argumentos do recurso. Em seguida, os autos v ão
para o revisor que faz a revisão e pede dia para o julgamento. O que é isso? Ele vai pedir
para o presidente do órgão fracionário, ao qual eles estiverem vinculados, q seja incluído
aquele caso na pauta de julgamento. Nesse momento, o presidente vai articular com a
secretaria do tribunal. Ele fala "aqui nós vamos colocar a sessão de dia x", então, eles vão
distribuindo o trabalho de acordo com a capacidade de cada tribunal.
PERGUNTA: Mas quantos casos eles julgam por tarde, tem um limite disso? De novo,
cada tribunal tem a sua própria identidade. Tem tribunais q julgam muitos casos numa
tarde e outros menos. É claro que as câmaras especializadas irão julgar mais casos que
as não especializadas (câmara residual). Tb tem a velocidade relacionada com a matéria,
por exemplo, no tributário tem muita matéria repetida enquanto que no direito de família
cada caso é um caso. Então o presidente do tribunal ele ajusta isso com o chefe de
secretaria q esteja vinculado. Então, eles vão colocar lá uma média de 200 a 300
julgamentos.
5) INCLUSÃO EM PAUTA
96
Art. 552. Os autos serão, em seguida, apresentados ao presidente, que designará dia para
julgamento, mandando publicar a pauta no órgão oficial.
§ 3o Salvo caso de força maior, participará do julgamento do recurso o juiz que houver
lançado o "visto" nos autos
O art. 552 ele fala q tem q ter um intervalo mínimo de 48h entre a intimação das partes e a
sessão de julgamento: ""§ 1o Entre a data da publicação da pauta e a sessão de
julgamento mediará, pelo menos, o espaço de 48 (quarenta e oito) horas."
"Os autos serão, em seguida, apresentados ao presidente, que designar á dia para
julgamento, mandando publicar a pauta no órgão oficial" (AS PARTES PRECISAM SER
NOTIFICADAS SOBRE A PUBLICAÇÃO DESSA PAUTA" .
obs: Tem uma outra situação que gera muita nulidade por conta desse artigo é que os
sistemas informáticos do tribunal faz o seguinte: Vinculam o processo e catalogam os
advogados. Isso ocorre no Registro, então, o processo X, tem parte Y e advogado Z. Aí,
eles consideram q digitar nomes pode dar problemas pq eu posso digitá-lo errado, aí, a
intimação pode vir errada, então, vamos fazer por número da OAB. Então, se ocorrer uma
distração do servidor na secretária, ele pode errar o número da OAB e intimar o advogado
errado. Aí depois de um tempo o caso baixa para a instância de origem certificaram q não
teve recurso em trânsito em julgado. Então, nesse caso, a certidão tem q ser
desconstituída depois pq não teve a prévia intimação. Tem muita jurisprudência e casos
nesses sentidos. Eles anulam com o mesmo caso da súmula 117 pq não teve a intimação
prévia em 48h de antecedência. Mas o advogado não sabe? As vezes sabe, mas as vezes
não. As vezes ele pode saber, mas espera para ter anulação.
97
ex: Em vez de intimar o advogado de número 123456/RJ, eles intimam o advogado
123456/SP.
Então estávamos tratando na aula passada o processamento dos recursos em Segunda Instância.
Na verdade nós trabalhamos isso de forma a continuar a explicação. No programa que eu passei
para vocês isso constava em um tópico adiante, logo nós entramos nesse tópico para darmos
prosseguimento ao raciocínio. Eu estava falando dos principais atos que ocorrem nessa tramitação
na Segunda Instância. Nós falamos do registro, da distribuição, da manifestação do revisor, da
inclusão do processo em pauta (entre o dia que ela é marcada e o aviso das partes tem que ter um
mínimo de 48 h). Temos uma Súmula que trata dos casos em que a parte não recebeu essa
comunicação prévia.
Qual o sentido dessa regra para falar dessa comunicação prévia da pauta?
No dia da sessão de julgamento é possível que haja a sustentação oral. Essa sustentação muitas
vezes é questionada se vale mesmo a pena. Temos hoje em dia essa situação de volume enorme
de trabalho e eu acho que vale a pena sim. É sempre interessante usar esse recurso não para
repetir as questões batidas e explicadas, sobre as quais os Tribunais já possuem um
posicionamento, mas sim para explorar o conjunto probatório e chamar a atenção para alguma
peculiaridade do caso. Veja que temos uma realidade que é paradoxal, pois quando há a
designação da pauta de julgamento, os relatores acabam levando para o dia da sessão a sua
proposta de voto pronta, preparada. Na verdade eles tem a minuta do acórdão já previamente
redigida, elaborada pelas assessorias e etc.
Qual a vantagem de oferecer sustentação oral se de alguma maneira a minuta já está previamente
definida?
98
Professor: Sim, de um só e os juízes tem essa humildade de muitas vezes quando há uma
peculiaridade de um caso, o próprio relator adapta o voto na hora da sessão ou se ele não se sentir
confortável pede vistas novamente, e é quase como uma retirada do caso de pauta para que ele
possa estuda-lo melhor. Como vivemos nessa realidade de muita massificação do judiciário, fugir
desses votos padronizados é uma tarefa que inicialmente compete ao advogado, cabe a ele dar o
destaque que ele achar que o caso mereça.
• Sessão de Julgamento:
O CPC lida com a matéria no art. 554 :’’ Na sessão de julgamento, depois de feita a exposição da
causa pelo relator, o presidente, se o recurso não for de embargos declaratórios ou de agravo de
instrumento, dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente e ao recorrido, pelo prazo
improrrogável de 15 (quinze) minutos para cada um, a fim de sustentarem as razões do recurso.’’
Já falamos que nos casos de apelação e agravo são 3 os juízes votantes e o processo funciona da
seguinte forma: Anunciado o caso para julgamento feito pelo presidente (ex: anúncio do número
25 da pauta), o caso volta para o relator que irá realizar a leitura do relatório (preparado
anteriormente e anexado aos autos). Mas nessa oportunidade, com a leitura do relatório, os
demais votantes tem condições para que possam se inteirar do caso.
Na Justiça Cível quando há a intenção de oferecer a sustentação oral, tem um prazo preclusivo para
pedir a palavra ali na Sessão. Os órgãos jurisdicionais atualmente tem uma complexidade enorme,
devido ao volume de processos que são pautados, muitas vezes, os pedidos e o uso da palavra já
obedecem uma metodologia própria, tem umas peculiaridades como inscrição prévia e etc. O
tratamento legal fala apenas em: terminada a leitura do relatório, o advogado levanta a mão e
pede a palavra a Vossa Excelência para fazer sua sustentação oral. O presidente do órgão defere o
uso da palavra ao advogado, e ai o Código dá um prazo de 15 minutos para cada uma das partes, e
se houver litisconsórcio esse prazo pode ser dividido entre eles ou somente um advogado fala por
todos.
Então funciona assim: Leitura do Acórdão – pedido da palavra para sustentação oral- sustentação
oral- devolução da palavra ao relator(leitura do seu voto).
O art. 554 diz: ‘’ Na sessão de julgamento, depois de feita a exposição da causa pelo relator, o
presidente, se o recurso não for de embargos declaratórios ou de agravo de instrumento, dará a
palavra, sucessivamente, ao recorrente e ao recorrido, pelo prazo improrrogável de 15 (quinze)
minutos para cada um, a fim de sustentarem as razões do recurso.’’
Terminada essa etapa, vamos ter em seguida, a coleta dos votos. O art. 556 do CPC diz ‘’ Proferidos
os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento, designando para redigir o acórdão o
relator, ou, se este for vencido, o autor do primeiro voto vencedor.’’
99
Uma vez proferidos os votos, o presidente do órgão fracionário, anuncia o julgamento. Ele diz:’’ A
Câmara, por maioria ou unanimidade conheceu do recurso/não conheceu do recurso; deu
provimento ou negou. Nessa oportunidade fica definido quem irá lavrar o acórdão, pois a estrutura
do CPC foi formatada dentro da seguinte lógica: Como é um órgão colegial (ocorreu um debate
anterior), o acórdão viria do que ficasse acordado no julgamento em conjunto. O CPC diz que
quem lavrará o acórdão será o relator, ou se ele ficou vencido, o 1 juiz que tenha defendido a tese
que foi vencedora.
R: Pois seria muito estranho pedir para um votante que não concorda com uma determinada tese,
ter que lavrar um acórdão sobre uma matéria que ele discorda, por isso que se tem essa questão
de preferência. Ou seja, quando for julgamento por maioria, se o relator ficou vencido, o
responsável pela lavratura do acórdão seria o juiz da tese vencedora(pode ser o revisor ou o 3
votante).
Enquanto não for proclamado o resultado final do julgamento, é licito a qualquer dos juízes,
rever o seu posicionamento. Nós podemos ter o seguinte caso: O relator apresentando uma
proposta de voto, em seguida o revisor apresenta suas ponderações e ressalvas e uma proposta de
voto oposta a do relator. Essa proposta diversa poderia fazer com que o relator mudasse de
opinião e o CPC no art. 555 que diz: ‘’ No julgamento de apelação ou de agravo, a decisão será
tomada, na câmara ou turma, pelo voto de 3 (três) juízes. (Redação dada pela Lei nº 10.352, de
26.12.2001)
O § 2o desse artigo é o famoso auxílio dos universitários, pois prevê a retirada de pauta daquele
processo para ‘’vistas’’ do juiz. Nesse caso o julgamento é suspenso e será retomado quando o
processo retornar ao órgão julgador.
100
Pergunta da Aluna: Professor, mas esse pedido de vista tem um momento específico para ocorrer,
por exemplo, depois da sustentação oral do advogado?
R: Então, isso tem que ocorrer antes de serem proclamados os votos. Com ou sem sustentação,
depois do voto do relator- passa a palavra ao revisor, se o revisor não se sentir preparado para
proferir sua decisão, ele pode pedir vistas, retirando o processo de pauta, ele é suspenso, e é
dispensada nova publicação de pauta. Pode acontecer um caso de ocorrer o voto do relator e do
revisor, mas quando chega na vez do 3 votante , ele pode pedir vistas. Pode ocorrer do relator
votar num sentido e o revisor em outro diverso, logo, esse 3 votante tem a responsabilidade do
desempate e pode querer pedir vistas para ter mais certeza e confiança do seu voto.
O § 3o foi acrescentado no CPC porque teve um ex ministro do STF que ficou conhecido como
‘’engavetador geral da república’’, pois quando ele se aposentou, tinham processos conclusos no
gabinete com pedidos de vistas há mais de 4 anos, pois não havia uma previsão de sanção para
quem fizesse isso. Esse era um método para retardar o julgamento e não para uma melhor análise
do caso concreto. A lógica então é assim: Se o responsável pelo pedido de vistas não trouxer o caso
na 1 sessão subsequente, ele pode ter o processo requisitado.
• EMENTA:
O art. 563 diz’’ Todo acórdão conterá ementa’’. A ementa foi considerada produtiva num cenário
de não informatização como temos atualmente. Hoje em dia, para que se faça a pesquisa de
jurisprudência de uma corte, é só entrar em um site de busca, digitar as palavras-chaves e você
verá os julgamentos realizados na semana anterior. Mas numa lógica de mundo analógico, a
ementa foi trabalhada através de palavras chaves para facilitar a catalogação da jurisprudência. Se
você fala em : Responsabilidade Civil; Culpa Concorrente; essas palavras já dão uma ideia do teor
da matéria em questão, para facilitar a catalogação.
Mas temos que considerar que a ementa é parte do acórdão, mas quando houver divergência ou
ela não for fidedigna ao conteúdo do acórdão, o que é que vale?
R: Sempre o conteúdo que vale, pois na prática, é como se a gente imaginasse a ementa com uma
finalidade diversa. Em algumas situações não é raro ver advogados interpondo embargos de
declaração contra um determinado acórdão para dizer que o conteúdo da ementa não bate com o
do acórdão. Tecnicamente esses embargos seriam até desnecessários, pois o que vale é o
conteúdo da decisão, principalmente no seu dispositivo e fundamentação. Na realidade a ementa
poderia ser retificada, corrigida a posteriori, pois ela não é parte essencial da decisão, apesar do
texto do art. 563.
Se vocês falarem com algum relator ou desembargador que a ementa que eles fizeram não ficou
muito adequada, apesar dela já ter sido publicada, seria oportuno que ela fosse retificada. Mas
eles não vão entender isso nunca, pois eles trabalham em uma lógica de que acórdão e ementa
são uma coisa só.
101
Com relação ao conteúdo do acórdão, o art. 564 diz : Lavrado o acórdão, serão as suas conclusões
publicadas no órgão oficial dentro de 10 (dez) dias.’’ No caso de ter um acórdão não unanime, é
possível que se publique o voto divergente. No Brasil consagrou-se uma metodologia em que
apesar de voto ser tomado pela decisão da maioria, é aceitável que se tenha a publicação desse
voto oposto. Alguns países do mundo, tem práticas forenses muito distintas, como por exemplo a
Suprema Corte Norte Americana, que tem o acórdão assinado pelo chefe da Corte e os acórdãos
são muito bem construídos e escritos para que não se tenha excessos. Se pegarmos alguns
acórdãos emblemáticos do STF, vamos ter uma dificuldade muito grande para precisarmos os
chamados ‘’argumentos determinantes da decisão’’. Se olharmos o julgado do STF que chancelou
a hipótese do casamento gay, temos que todos os ministros apresentaram seus votos enormer e
alguns deles tem mais de 100 páginas. Tem uma série de informações que ficariam melhor
enquadradas como sociologia jurídica e uma certa redação literata, numa linguagem rebuscada
que dificulta o conhecimento dos ‘’ fundamentos determinantes’’. Então quando temos esse
modelo que permite a divulgação do voto divergente, o acórdão vira um mosaico que dificulta um
padrão de uniformidade da jurisprudência. É a hora de se pensar em uma ‘’ Teoria da Decisão
Judicial’’, pois os acórdãos que temos são muito confusos e bagunçados com muita coisa
desnecessária e seria interessante que se abandonasse essa prática de lavratura do voto
divergente. Percebam que o problema entre o público e o privado no Brasil transparece na decisão
judicial. A divergência é saudável, mas estou falando da publicação do acórdão com os votos
divergentes, isso tende a gerar um problema na construção de sentido da decisão judicial. O
integrante do colegiado deixa de representar um grupo para se posicionar no campo do privado.
Pergunta da Aluna: Essa publicação da tese divergente tem alguma relação com os embargos
infringentes?
R: Sim, pois esses embargos são muitas vezes motivados por esse voto divergente. Mas vejam,
podemos ter esses embargos de divergência e o dispositivo da decisão não ser unanime. O votante
as vezes pensa em não divergir pois isso dá mais problema, pois pode aumentar o volume de
trabalho dele e ele não quer isso para a vida dele. Mas vamos ver isso mais pra frente.
Quero tratar agora dos incidentes que podem ocorrer no julgamento perante os Tribunais. Quando
falamos disso sempre pensamos nos casos da 1 instância : Impugnação ao valor da causa,
suspeição do juiz. Mas eles ocorrem também nos Tribunais. Vamos falar dos principais, o 1 é o de
uniformização de jurisprudência previsto nos art. 476 e seguintes.
Incidentes na 2 Instância:
102
na turma, câmara, ou grupo de câmaras, solicitar o pronunciamento prévio do tribunal
acerca da interpretação do direito quando:
II - no julgamento recorrido a interpretação for diversa da que Ihe haja dado outra turma,
câmara, grupo de câmaras ou câmaras cíveis reunidas.
A legitimidade aqui é conferida a qualquer juiz votante e também às partes, de acordo com o
seu parágrafo único. É como se a parte disse ao Tribunal que seria melhor resolver a bagunça ali
instaurada antes de avaliar o seu recurso. Por que as partes não fazem isso? Temos que fazer uma
ressalva pois muitas vezes temos escritórios especializados em uma matéria e eles poderiam
promover uma jurisprudência quase que própria. Os juízes não usam pois é um trabalho extra
( suspende o julgamento, apura a tese, e só depois continua o julgamento com a tese).
Parágrafo único. Em qualquer caso, será ouvido o chefe do Ministério Público que funciona perante
o tribunal.’’
O Tribunal agora dá uma interpretação, tendo em vista que o julgamento do caso concreto foi
paralisado, saiu para o âmbito desse Plenário Maior, e se ele decidir por maioria absoluta de seus
membros, a tese vencedora será objeto de Súmula. As Súmulas da jurisprudência são enunciados
breves que são dominantes
103
indicar; reconhecendo o interesse público na assunção de competência, esse órgão colegiado
julgará o recurso.’’ (Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
Imaginem um tema que possa gerar polêmica, mas que ainda não tenha enfrentamento dos
Tribunais brasileiros. Quando vocês veem certas leis que surgem e eventualmente vão sendo
colocadas em prática, e despertam um cenário de polêmica, na medida em que esses casos
chegam no cotidiano de uma corte, o relator tem que ter a sensibilidade de prevenir a divergência
jurisprudencial. Aqui nós estamos falando de divergência já instaurada, confusão já está formada
nesse primeiro cenário. Aqui a lógica é de prevenir a divergência.
Vamos imaginar a Lei Maria da Penha, na possibilidade de aplicação das medidas protetivas
para casais gays. Isso já foi muito discutido e hoje se entende que há a possibilidade de aplicação
dessas medidas protetivas para esses casais. Mas se esse tema de julgamento chega numa corte de
2 grau, o relator pode perfeitamente imaginar que aquele tema já vai despertar posições
diferentes, e medida que os recursos são distribuídos para diferentes órgãos fracionários, mas a
lógica é de evitar a divergência.
O que é defendido nesse § 1o’ é que ao invés desse órgão fracionário julgar o tema sozinho,
desloca-se o tema para órgão plenário maior, aonde vai estar toda a galera reunida e lá imagina-se
que eles terão uma oportunidade de debater previamente o assunto e evitar que ocorram a partir
daí posições diferentes sobre a matéria.
Esse incidente de uniformização pode ser suscitado por qualquer juiz(relator, revisor ou
vogal) e também pelas partes interessadas. Aqui esse outro incidente pode ser tomado apenas
pela provocação do relator(legitimidade restrita). Vocês podem notar que o legislador foi bastante
preocupado com essa questão da divergência jurisprudencial, pois isso gera um efeito cascata no
âmbito das instâncias de 1 grau, e para evitar todos os problemas dai decorrentes, são pensadas
todas essas técnicas de padronização.
A cláusula de reserva de plenário foi pautada num ambiente de controle difuso, pois se nós
entendêssemos que um juiz de 1 grau pudesse declarar a inconstitucionalidade, ele teria ,mais
poderes que os membros do STF. Num sistema de controle difuso, todo juiz é um juiz
constitucional, mas quando o juiz do caso concreto deixa de aplicar lei ou ato normativo que
reputa inconstitucional, temos o afastamento daquela regra do caso concreto ( afastamento inter
partes).
105
Parágrafo único. Versando a preliminar sobre nulidade suprível, o tribunal, havendo
necessidade, converterá o julgamento em diligência, ordenando a remessa dos autos ao juiz, a
fim de ser sanado o vício. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
O processo chega no Tribunal, registro, distribuição, relator,etc etc etc. Imagine que
o relator constate nulidade sanável, o juiz determinará a conversão do julgamento em diligência
para corrigir aquele problema. Ex: Foi interposta apelação na 1 instância, o juiz recebendo a
apelação disse’’ Recebo a apelação. Encaminhe-se os autos ao Tribunal Competente, mas
esqueceram de intimar as partes contrárias para oferecimento de contrarrazões. A falta de
resposta do recurso cabível é nulidade absoluta ou relativa? Relativa né! O art. 560 diz que se o
Tribunal receber esse tipo de nulidade, não dará sequência ao julgamento, primeiro tem que
ocorrer a correção dessa nulidade.
Pergunta da Aluna: Depois que apresenta contrarrazões tem que passar tudo de novo por aqueles
trâmites para checar?
Falamos até agora sobre aquilo que quebra o padrão e foge da lógica da sequência da ordem do
processo no Tribunal.
• Julgamento Monocrático:
Vamos falar dos poderes do relator e da regra do Art. 557’’ O relator negará seguimento a
recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou
com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal
Superior. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
106
§ 1o-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com
jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá
dar provimento ao recurso. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
Ele está falando da singularização dos julgamentos, dos julgamentos monocráticos, decisões de
gabinete. Vimos que no modelo do CPC o legislador pensou no encaminhamento do caso a um
julgamento colegiado. Em prol da celeridade o legislador tem criado técnicas para fugir do
julgamento colegiado. As pesquisas estatísticas que estão sendo feitas mostram que aquilo que foi
pensado como regra de exceção, hoje acaba representando a maior parte dos julgamentos
praticados nos Tribunais brasileiros. Quando surgiu essa regra do art. 557, falou-se ai em
inconstitucionalidade dele por ferir o duplo grau de jurisdição. De fato, estamos substituindo uma
decisão de 1 grau por uma decisão de um outro juiz do Tribunal. Mas isso foi deixado de lado logo
pois esse artigo deixa o colegiado como uma retaguarda para aqueles casos em que a posição do
relator é de inconformismo, e o art. 557 chancela uma espécie de recurso dirigido pelo colegiado.
Esse artigo tem 3 núcleos desses poderes do relator : 1)Negativa de Seguimento: ele pode negar
seguimento a recurso manifestamente inadmissível(intempestivo, sem preparo, sem regularidade
formal), improcedente*, prejudicado ou em confronto** com Súmula ou jurisprudência( Tribunal
ou STF).
*Nós sempre pensamos nessa categoria como uma questão de mérito, ‘’ O julgamento foi pela
improcedência da causa’’, logo imaginamos o vocábulo improcedência com uma análise de mérito
da questão. Ele quer dizer que o recurso improcedente não precisa ser levado pro plenário,** mas
para interpretarmos de uma forma coerente com a regra temos que alinhar com a questão do
papel da jurisprudência desses Tribunais Superiores. Se eu estou sustentando no recurso uma tese
contrária ao entendimento Sumulado imagina-se que quando meu recurso chegar no colegiado,
ele seja previsível.
A doutrina já discutiu muito texto desse artigo e os autores enxergam problemas variados nessa
redação. O texto fala em ‘’jurisprudência dominante no Tribunal Superior’’, não fala só ‘’Súmula’’.
Por exemplo, o tema de família. Vamos pensar nos dias atuais, qualquer discussão relacionada a
esse tema foi muito modificada e um entendimento antigo já não serve como parâmetro, pois o
ambiente era outro totalmente diferente. Hoje temos a proteção da família no texto
Constitucional(qualquer forma de organização familiar) e a facilitação dessas diferentes formas de
união.
3) O relator também pode negar provimento ao recurso – Art. 557 § 1o Da decisão caberá
agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, e, se não
houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o
agravo, o recurso terá seguimento. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998) . Então, quando
ocorre esse julgamento? Naquela etapa preliminar em que o caso chegou ao gabinete do
relator, A sequência é a seguinte: feito o registro do processo, distribuição, e o próximo ato é
o envio do caso para o gabinete do relator. Nessa oportunidade já o relator pode aplicar essas
técnicas de julgamento monocrático. Só que o relator está vinculado a um órgão fracionário,
mas se eu estiver descontente com a posição desse relator, ocorrerá uma interposição de
agravo para o órgão colegial, que funciona como uma retaguarda. O relator deu o primeiro
combate e o órgão colegial é chamado para analisar a decisão.
108
causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do
respectivo valor. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998) ‘’ Se uma pessoa teve um
recurso julgado monocraticamente e recorre e o colegiado considera que ali só há intenção
protelatória, ele pode ser taxado por essa multa prevista. Você deveria atacar o julgamento
do relator e questionar os pontos defendidos por ele(contextualizar o erro do relator).
Esse tipo de técnica dos julgamentos monocráticos, está previsto para a Justiça Ordinária, e
não foi pensado no do âmbito dos Juizados Especiais. A lei dos Juizados Especiais fala de
um sistema recursal diferente ( Colégio recursal de 3 juizes), mas eu considero que essa
técnica deveria ser aplicada para eles pois propicia celeridade . Apesar de não haver
previsão expressa, o art 557 tem sido utilizado por analogia.
Aula passada:
109
Quando se fala em Agravo, está-se falando do prejuízo/ ofensa gerada para a parte. Nesse
caso, a ofensa em si serviu como nomenclatura para o próprio recurso, como uma figura de
linguagem da língua portuguesa. Então é importante fazer a seguinte leitura: o nome do recurso é
Agravo, mas existem as suas variáveis, que na verdade descrevem modalidades de interposição
distintas. Então, no CPC atual há uma referência ao “Agravo Retido”, ao “Agravo de Instrumento” e
aos chamados “Agravos Internos”. Porém é importante notar que trata-se do mesmo recurso, pois
a gênese de todas essas figuras é uma só: o Agravo é usado para impugnar decisões
interlocutórias, quaisquer que sejam elas. O que muda de uma figura para outras é o
procedimento (forma de interposição). Então, uma coisa sou eu falar no Agravo, outra coisa sou
eu adicionar as suas adjetivações. Quando nós nos deparamos com as suas adjetivações, na
verdade nós estamos trabalhando técnicas procedimentais distintas. Agravo é o gênero.
O Agravo surgiu na experiência do Direito medieval português para evitar que as apelações
tivessem um uso deturpado. Isso porque sempre se pensou nas apelações contra as decisões finais
dos processos (sentenças). Porém, como ao longo da relação processual o juiz é obrigado a
resolver diversos incidentes, logo percebeu-se que havia uma necessidade de uma figura recursal
para atacar essas decisões interlocutórias. Então essa figura migrou para o ordenamento jurídico
brasileiro, inicialmente através das Ordenações e depois no CPC de 1939 falou-se em três tipos de
Agravo: 1) Agravo de Petição; 2) Agravo no Auto do Processo; 3) Agravo de Instrumento. Já o CPC
de 1973 buscou simplificar essas figuras processuais que eram consideradas muito complexas.
Sendo assim, ele eliminou do Processo Civil o “Agravo de Petição”; Mudou a nomenclatura do
chamado “Agravo no Auto do Processo”, que passou a se chamar “Agravo Retido” e manteve a
nomenclatura do “Agravo de Instrumento”. Atualmente, o “Agravo de Petição” só é encontrado no
processo trabalhista porque ele é previsto na CLT. No processo trabalhista ele serve para impugnar
as decisões interlocutórias que são proferidas na fase de execução. Quando o processo trabalhista
está na fase de execução e o juiz eventualmente delibera pela penhora de um bem, delibera por
uma forma de expropriação, resolve os incidentes da fase executiva, a parte que se sentir
prejudicada por esse tipo de decisão fará uso do chamado Agravo de Petição. Para o Processo Civil
atual, no entanto, não se usa esse expediente. O CPC de 1973 trabalhou a figura do Agravo Retido,
manteve o Agravo de Instrumento e apontou em alguns artigos esparsos os chamados Agravos
Internos, Inominados e Regimentais. Quando se fala dessa terceira categoria, nós estamos falando
da impugnação de decisões monocráticas, pelas decisões proferidas pelo relator (no âmbito dos
tribunais), baseado na regra do art. 557 CPC.
110
Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao
recurso.
§ 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão
competente para o julgamento do recurso, e, se não houver
retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo
voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento.
§ 2o Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o
tribunal condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um
e dez por cento do valor corrigido da causa, ficando a interposição de
qualquer outro recurso condicionada ao depósito do respectivo valor.
Ou seja, o CPC de 1973 fez referência a três tipos de Agravo, mas esse recurso talvez tenha
sido o que mais sofreu revisões legislativas. Quando foi pensado o CPC de 1973 e que se falou no
Agravo de Instrumento, a interposição dele se dava da seguinte forma: quando a parte quisesse
agravar de instrumento contra uma determinada decisão interlocutória, a parte apresentava uma
petição dirigida ao juiz que proferiu a decisão interlocutória dizendo assim: “Não gostei. Quero
interpor agravo de instrumento contra essa decisão. Desde logo indico para traslado (para se
fazerem as cópias) as seguintes peças dos autos (....)” . Então a sistemática da interposição se dava
da seguinte forma: a parte apresentava um requerimento para o juiz, pedindo que o cartório, a
serventia jurisdicional extraísse fotocópias das peças tais, tais e tais (que ele enumerava – todas
aquelas que ele desejasse que fossem fotocopiadas); O Juiz, recebendo aquela manifestação,
intimava a parte contrária dizendo assim: “Olha, o fulano não gostou da decisão que eu proferi. Ele
está dizendo que deseja que a matéria seja apreciada pelo Tribunal e por isso interpôs o agravo,
indicando tais peças. E você, indica quais peças?”. Aí a parte contrária indicava também as peças
para que fossem fotocopiadas (não existia processo eletrônico!). Depois de feitas as nomeações
respectivas, o juiz intimava novamente aquele interessado (o agravante) para que ele fizesse o
recolhimento de custas. Então, com alguma sorte, o agravo chegava no Tribunal alguns meses
depois. A parte que quisesse questionar essas decisões interlocutórias tinha um acesso retardado
ao Tribunal porque dependia da serventia jurisdicional. Então os advogados começaram a reclamar
por um acesso mais rápido e imediato ao Tribunal. Então, isso influenciou a redação da Lei
9.139/95, que mudou radicalmente a forma de interposição do Agravo de Instrumento. Porque o
Agravo de Instrumento replica um caderno processual, contendo peças que são levadas para a
apreciação imediata do tribunal. Assim, o Agravo de instrumento passou a ser de
responsabilidade da parte, ou melhor, do seu advogado. Sendo assim, essa lei facilitou muito a
forma de interposição do agravo de instrumento. Então, quando o advogado se depara com uma
decisão que lhe é desfavorável, na verdade é ele que corre contra o tempo. Se ele tiver alguma
diligência, logo após tomar ciência de decisão já pode estar com todas as peças e até com a minuta
do Agravo para protocolo no Tribunal. O Agravo de Instrumento quebrou também uma outra lógica
da Apelação, porque a gente sempre falou aqui que a apelação é protocolada no juízo a quo (no
mesmo juízo que proferiu a sentença impugnada). O Agravo de Instrumento foi pensado dento de
111
uma lógica de acesso imediato à Corte que irá julgá-lo. Então, quando a parte apresenta as peças e
a minuta diretamente no Tribunal, ganha-se na questão da agilidade.
Ex: ação de alimentos em que foi fixado verba alimentar em decisão interlocutória
(alimentos provisionais) na base de X salários mínimos para a parte ré efetuar o pagamento. Aí
quando a parte é intimada para aquele processo, já sabe que há uma decisão obrigando-lhe a
pagar X reais a título de verba alimentar. Nesse caso, o advogado orientará o seu cliente dizendo
que existem duas situações: você pode se defender no processo através da contestação (defesa
tradicional), mas essa decisão está proferindo eficácia imediata, portanto, caso você não tenha
como fazer o pagamento desta verba alimentar, terá que recorrer desde logo. Caso contrário, esses
alimentos vão se acumulando e podem chegar até ao caso de decretação de prisão cível etc. Então,
qual é o recurso indicado para esse cenário? Como a ideia aqui é que a parte tenha acesso
imediato ao Tribunal, ela vai formar um instrumento de agravo, ou seja, vai fotocopiar as peças do
processo originário para evitar que o processo originário saia do local em que se encontre, que ele
possa continuar tramitando, mas com um instrumento em si a parte tem condição de levar aquela
matéria, aquele tema, diretamente ao Tribunal.
Além disso, desde 1973 o CPC passou por inúmeras alterações e diversas leis ampliaram os
poderes do juiz de 1º grau. Sendo assim, é natural que nós tenhamos mais tutelas de urgência, por
exemplo, e isso replica no número de Agravos que chegam à 2ª instância. Quando o CPC de 1973
foi criado só eram admissíveis alguns tipos de Liminares, como as do procedimento cautelar, as
liminares das ações possessórias, alguns procedimentos especiais que tinham a prerrogativa de
liminar (ex: despejo). O procedimento ordinário não permitia a concessão de provimentos de
urgência. Porém, em 1994, foi generalizado no Brasil o cabimento de Tutela Antecipada. Hoje a
maioria das decisões contêm algum pedido de Liminar, algum tipo de tutela de urgência. E as
decisões de 1º grau podem ser concessivas do que a parte autora pediu negando o que foi
solicitado. É evidente, portanto, que alguém vai se sentir prejudicado com essa Liminar e isso
deságua em uma recorribilidade interlocutória (recurso de Agravo para o Tribunal de 2º grau).
Então, o que o legislador fez foi: ampliar os provimentos de urgência e ampliar os poderes dos
juízes; Mas isso acabou sobrecarregando as Cortes de 2º grau, que passaram a se preocupar com
112
o volume de recursos de agravo. É por isso que a lei mais recente, de 2005, foi em um viés
contrário, buscando restringir o seu cabimento (Lei 11.187/05).
113
X - quando ocorrer confusão entre autor e réu;
XI - nos demais casos prescritos neste Código.
§ 1o O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e Ill, o arquivamento dos
autos, declarando a extinção do processo, se a parte, intimada
pessoalmente, não suprir a falta em 48 (quarenta e oito) horas.
§ 2o No caso do parágrafo anterior, quanto ao no II, as partes pagarão
proporcionalmente as custas e, quanto ao n o III, o autor será
condenado ao pagamento das despesas e honorários de advogado
(art. 28).
§ 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria
constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na
primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá
pelas custas de retardamento.
§ 4o Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não
poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação.
Não há portanto, um rol exaustivo de quais são as decisões interlocutórias agraváveis. Na verdade,
como existe mais de um tipo de agravo, o operador do direito tem que estar atento a qual
modalidade de agravo que será cabível diante de uma situação concreta. É preciso pensar assim:
existe um tipo de agravo mais elaborado, mais formal, que é o agravo de instrumento; Existe o
114
agravo mais simples, que é o Retido e, para os provimentos em 2º grau e perante os Tribunais
Superiores, para impugnação das decisões monocráticas, há o Agravo Interno ou Inominado ou
Regimental ou Agravinho (sinônimos!). O último é aquele que é voltado para a impugnação das
decisões monocráticas.
Para saber quando é cabível uma ou outra forma de agravo é preciso checar o interesse
recursal da parte agravante.
Ex: a parte pediu a produção de uma determinada modalidade probatória, como uma prova
pericial. O juiz disse que não há necessidade de produção daquela prova naquele momento; Essa
prova é impertinente e protelatória. Se o juiz indefere nós estamos falando de uma decisão
interlocutória que prejudicou a parte que pediu a produção de provas. Mas qual é a atitude que o
advogado deve adotar nesse caso? Se ele está tolido de produzir a prova isso não quer dizer
necessariamente que o desfecho do caso está prejudicado porque ele pode conseguir um
resultado favorável na demanda mesmo sem a produção daquela prova. No entanto, é melhor ele
se precaver e interpor um agravo retido, evitando a preclusão. Ele faz isso ao invés de pedir para o
Tribunal de imediato a produção daquele prova que foi indeferida, assim, o agravo dele
115
(processado de forma oral ou escrita) fica retido nos autos, não sendo processado de imediato. O
agravo retido tem uma devolutividade imprópria porque ele não devolve a matéria para uma nova
apreciação no instante seguinte. Sendo assim, o processo segue adiante até o proferimento da
sentença. Pode ser que esta seja favorável à parte que havia pedido a prova indeferida e aí não
haverá nenhum prejuízo, não havendo necessidade de insistir naquela temática. Porém, caso ele
tivesse se deparado com uma sentença desfavorável, teria uma razão a mais para levar aquele
tema para o Tribunal, reiterando o seu interesse na temática. Então, quando o processo chegar no
Tribunal, ele usará da mesma oportunidade para tartar de duas questões: a incidental (que não
ficou preclusa) e a decisão final (outro recurso – bastante provável). Isso porque o recurso final
“leva de carona” os agravos que tenham ficado retidos, pendentes de apreciação. Aí o tribunal terá
que julgar primeiro os agravos retidos e depois, se for o caso, julgar a apelação oponível contra a
decisão final. Por outro lado, se a parte se der por satisfeita com a sentença, o agravo que ela havia
interposto fica sem efeito, pois desapareceu o interesse recursal, ele não é mais útil/necessário
(art. 523 CPC).
Ex: Ação de inventário. Um herdeiro insatisfeito com o plano de partilha feito pelo
inventariante pede a remoção do inventariante. Não adianta esperar que o inventário chegue ao
fim, que a partilha seja homologada, para aí sim recorrer para o Tribunal pedindo a remoção do
inventariante: até chegar nisso o inventário já acabou! O interesse recursal da parte exige uma
resposta imediata do tribunal.
Ex: Comerciante ação de falência. Suponha que o juiz, por decisão liminar, faz o decreto
de quebra. Na verdade o decreto de quebra é um decreto de falência. O sujeito não pode deixar de
ser comerciante e perder o acesso aos seus bens, que serão revertidos em proveito da massa falida
para depois recorrer; Ele precisa de uma resposta imediata do Tribunal para reverter ou bloquear
essa situação. Por isso que o agravo de instrumento é tão útil para os advogados. Além disso, ele é
bem simples de ser proposto (especialmente nos processos eletrônicos).
Sobre o art. 527 CPC: estabelece um checklist/ roteiro para o juiz. Ele é fruto de decisão de
gabinete (monocrática). Quando é possível negar seguimento a um recurso (inciso I)? Se ele for
intempestivo, protocolado sem preparo (exceção: justo impedimento), protocolado sem as peças
obrigatórias, por exemplo. Inciso II: imperativo categórico (não é uma mera possibilidade). O que é
converter o agravo de instrumento em agravo retido? Essa conversão é fictícia. O agravo retido não
é encaminhado ao tribunal, enquanto que o de instrumento tem as fotocópias e replica um
caderno processual. Então, o que ocorre na prática? Primeiro o julgador irá verificar se estão
presentes todos os pressupostos recursais. Depois, ele passa para o inciso II, onde ele irá verificar
se o caso demanda urgência e desperta a análise imediata ou se situação concreta é daquelas que
não desperta interesse recursal, podendo aguardar uma decisão que será proferida mais adiante.
Isso, porque se o advogado fez o diagnóstico errado da situação (fez o agravo de instrumento
quando era possível fazer uso do agravo retido), a correção do erro dele se dará com a regra do
inciso II. Por isso que eu disse que quem faz o primeiro prognóstico da situação da parte é o
advogado. Caso ele “forçe a barra” para que seja entendido que trata-se de situação de urgência, o
relator pode dizer que não, que a situação pode esperar e, portanto, ele converte o recurso, que
volta para a 1ª instância (tribunal originário). Por isso que se fala na conversão; Com ela é como
se o recurso permanecesse retido. O que faz com que ele não seja julgado naquele momento ali.
No inciso III há ainda uma diferença importante para o recurso de apelação porque os efeitos deste
estão previstos em lei. O juiz não tem discricionariedade quando recebe a apelação, apenas aplica
a regra do art. 520 CPC (será recebida no duplo efeito ou no efeito devolutivo nos casos especiais).
Nesse sentido, o recurso de agravo tem efeito suspensivo? Efeito suspensivo automático não,
117
mas o relator, presentes os requisitos da urgência, pode agregar efeito suspensivo a ele. Por isso
que os advogados gostam tanto do agravo de instrumento! Isso porque além de promover acesso
imediato ao Tribunal, pode haver esse pronunciamento liminar do relator, afastando uma decisão
proferida pelo tribunal de 1º grau.
Ex: Licitação AGU volta e meia impetra agravo de instrumento e obtém liminar com efeito
suspensivo no Tribunal, havendo a cassação da decisão de 1ª instância.
Inciso III: O que o juiz de 1ª instância faz no seu dia a dia (lógica simplificada)? Defere ou
indefere as pretensões das partes. Sendo assim, as suas decisões ou têm um viés negativo ou
positivo. Quando eu peço para o juiz e ele defere o meu pedido, a parte contrária pode pedir a
suspensão dessa decisão que está produzindo efeitos. Mas quando eu peço algo para o juiz e ele
nega o meu pedido não há produção de efeitos. No entanto, eu posso recorrer para o Tribunal e
pedir para que ele me dê em antecipação de tutela o que o juiz de 1º grau não deu.
Ex: Leilão com irregularidades demanda urgência! Suspende-se a decisão para depois o
tema ser julgado pelo colegiado (dá menos trabalho do que revisar todo o leilão).
Ex: Ação possessória invasão de uma área. Aí o proprietário ou possuidor ajuíza ação de
reintegração de posse, mas o juiz indefere. A parte ainda assim pode recorrer para o Tribunal.
Como se trata de decisão interlocutória e há urgência, trata-se de caso de agravo de instrumento.
Nesse sentido, a parte levará as provas para o Tribunal de 2ª instância, indicando a verossimilhança
do seu direito e mostrando o problema de urgência existente. Se essa situação se consolidar no
tempo haveria prejuízos para a parte. O Tribunal nesse caso irá seguir o roteiro do 527 e
constatará: não é hipótese de negação de seguimento; não é possível fazer a conversão porque há
problema de urgência; o que ele faz (inciso III)? Não é efeito suspensivo, mas o relator pode
antecipar a tutela jurisdicional (antecipar a decisão que seria dada pelo colegiado mais adiante).
Nesse sentido, o relator pode atribuir efeito suspensivo para as decisões positivas (que estão
gerando efeitos) e antecipar a tutela recursal para as decisões negativas (que não foram
concedidas). No último caso, pede-se que o Tribunal dê a decisão que foi negada pela Corte de 1ª
instância.
118
IV - poderá requisitar informações ao juiz da causa, que as prestará
no prazo de 10 (dez) dias;
V - mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício
dirigido ao seu advogado, sob registro e com aviso de recebimento,
para que responda no prazo de 10 (dez) dias (art. 525, § 2o),
facultando-lhe juntar a documentação que entender conveniente,
sendo que, nas comarcas sede de tribunal e naquelas em que o
expediente forense for divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á
mediante publicação no órgão oficial;
VI - ultimadas as providências referidas nos incisos III a V do caput
deste artigo, mandará ouvir o Ministério Público, se for o caso, para
que se pronuncie no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II
e III do caput deste artigo, somente é passível de reforma no
momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a
reconsiderar
Prova: 06/11.
Na aula anterior falamos de uma certa contextualização que deve ser feita no primeiro
momento pelo advogado para saber se emprega o agravo retido ou de instrumento. Em
seguida falamos que caso se faça opção inadequada, ou seja, a situação concreta não
desperta nenhum tipo de risco imediato, o relator, ao seguir a sequencia do art. 527,
poderá determinar a conversão do agravo de instrumento em retido. Também
119
comentamos que no agravo retido a interposição se dá de forma simples, basta a
apresentação nos autos e ele fica sujeito a hipótese do requerimento de reiteração (art.
523).
O agravo é um recurso interposto contra uma decisão do processo que está na primeira
instancia e esse processo permanecerá nessa primeira instância. A recorribilidade é em
apartado, sendo que é necessário levar informações que o tribunal não possui.
- “Formação” do instrumento
Temos que pensar por analogia. A apelação é inserida nos próprios autos do processo, o
juiz de 1ª instancia já expediu sua sentença única e já cumpriu com o ofício jurisdicional,
assim, após a interposição de apelação, o juiz apenas cuidará da logística e fará chegar ao
tribunal. Já no agravo não há apenas uma decisão interlocutória no processo, elas podem
ser inúmeras e se a cada momento de interposição de agravo os autos saíssem
fisicamente da 1ª instancia para o tribunal de destino, nós teríamos paralisações
sucessivas.
Ex: ação de falência. Há uma etapa do chamamento dos credores, quando ele deve
demonstrar o seu crédito. Portanto, há uma etapa de julgamento dos créditos, toda vez
que o juiz julga a habilitação de crédito, ele está proferindo uma decisão interlocutória com
hipótese cabível do recurso de agravo. Qual modalidade de agravo? Se fosse agravo
120
retido nós estaríamos dizendo para o credor o seguinte “você não ter sido reconhecido
como credor, fique tranquilo, só aguardar o término do processo de falência com o
pagamento de todas as dívidas possíveis e esvaziamento da massa falida, ai sim você
pode recorrer ao tribunal”. Não tem como, a resposta é o agravo de instrumento para
propiciar que esse credor desde logo se dirija ao tribunal. Ele vai levar ao tribunal com
esse agravo não todo o caderno processual, só o contexto daquela decisão agravada e
demonstração de seu credito.
Art. 525. A petição de agravo de instrumento ser á instruída: (Redação dada pela Lei n º
9.139, de 30.11.1995)
II - facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis. (Redação dada
pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
a) Peças obrigatórias: (i) certidão de intimação; (ii) procurações das partes; (iii)
decisão
agravada.
1- A própria decisão agravada. Sem esta o tribunal não tem como analisar o efeito
devolutivo do recurso.
2- A procuração do agravante e agravado, porque o juiz da causa tem acesso aos autos e
sabe quem tem poderes de representação para peticionar no processo, como a
recorribilidade é feita em apartado, quando surge essa figura no tribunal, ele precisa
saber se quem peticionou esse agravo é um advogado habilitado e o agravante será
chamado a responder o agravo, por isso, é necessário ter procuração.
Finalidade: saber se quem está recorrendo tem ou não poderes e no caso da parte
contrária vai servir para intimá-lo na pessoa de seu advogado.
121
O cotidiano traz riquezas de situações, as quais devemos nos precaver para não ter o
recurso negado. Falamos na aula anterior que se faltar as peças obrigatórias, o relator
poderá negar seguimento ao agravo. Um recurso defeituoso dificilmente será corrigido,
só existe uma oportunidade única para recurso e essa é uma oportunidade é preclusiva.
Exceções:
1- Pode ser que não tenha a peça processual do agravado. Quando tem a procuração lá
na primeira instancia, só pegamos os documentos e xerocamos para juntar ao agravo.
Mas e quando não se formou o contraditório pleno na primeira instância?
Ex: alguém ajuiza uma ação possessória alegando esbulho ou turbação em sua posse.
Ele ajuiza a ação e faz o endereçamento à um determinado réu. Logo depois o juiz nega
a concessão da liminar. Quando temos uma negativa, temos uma decisão interlocutória.
Ele precisa de um provimento de urgência, logo, o recurso é o agravo de instrumento. O
sujeito vai xerocar as peças do caderno processual até aquele momento.
O que acontece nesse exemplo? O autor vai agravar para o tribunal numa fase em que o
réu ainda não foi citado. Assim, o setor de análise do gabinete do relator ao verificar o
checklist vai notar que não há procuração do agravado. Nesse caso, em tese, poderia
haver uma decisão denegatória do agravo por faltar uma peça obrigatória. Um advogado
zeloso junta um translado integral dos autos e pede na primeira instancia uma certidão
explicativa, onde o juiz a quo declarará que até o presente momento não houve
constituição de advogado por parte do réu. Com essa certidão o tribunal tem essa
informação de que ele deixa de apresentar peça obrigatória não por descuido, mas por
um contexto factual do caso concreto.
Ex: Existem leis específicas que dispensam aos advogados a exibição de procuração. A
União não dá procuração aos seus advogados, a delegação do advogado da união
decorre exclusivamente de lei. Nesse caso específico, se tratando de um processo
envolvendo a Fazenda Pública, pode acontecer contextualmente que a pessoa irá
procurar no caderno processual a procuração do advogado da união e não irá encontrar.
Não tem necessidade que ela esteja, haja vista que a delegação que é dada para esse
advogado decorre de lei. Assim, nesse cenário poderá ser desconsiderada a exigência
de procuração de ambas as partes, mas convém que isso seja explicado por meio de
certidão.
122
Esses são dois exemplos simples cuja situação cotidiana acaba discutindo a
admissibilidade de agravo por supostamente faltar peça obrigatória. O correto então é
que se houver algumas dessas situações, que se leve ao tribunal uma certidão
explicativa para que o tribunal não nega o prosseguimento do agravo.
Nesses casos o próprio agravado não poderia, quando fosse chamado, esclarecer a
situação? O tribunal não irá fazer uma valoração se foi apenas um esquecimento da
outra parte ou não. Ele não vai poder distinguir o que foi esquecimento, má fé, lapso ou
descuido. O tribunal analisa a lógica de que deve estar presente as peças essenciais no
agravo. Por isso, para evitar uma inadimissão, o agravante terá o cuidado de informar
para o tribunal os motivos de ter deixado as peças obrigatórias.
No caso do agravo é diferente, o mecanismo da lei 9.139 buscou propiciar uma resposta
imediata do tribunal. Como é o advogado que extrai essas peças e forma o agravo de
instrumento, ele não combina com seu ex adverse se ele quer mandar também algum
documento junto ao tribunal. Quando ele protocola o agravo, ele tem sua peti ção de
recurso construída unilateralmente com os documentos obrigatórios e facultativos. O
agravado só virá a se manifestar depois. Por isso que nessa fase inicial de
admissibilidade o relator irá checar as peças obrigatórias, dai a importância da certidão
explicativa.
3- Certidão de intimação
Como estamos falando de agravo, o tribunal tem que checar uma coisa básica: o recurso
foi apresentado dentro do prazo? Ele é tempestivo?
123
Esse problema não existe no caso da apelação. A apelação é interposta nos autos e o
processo como um todo sobe para o tribunal. Como o agravo é formado em apartado, ou
seja, o advogado que extrai as peças e diz que está recorrendo de uma determinada
decisão, ele tem o ônus de mostrar para o tribunal que ele está recorrendo
tempestivamente. Assim, para simplificar o acesso imediato ao tribunal, o agravante faz
prova de sua tempestividade, ele apresenta a certidão de quando ele foi intimado sobre a
decisão que recorre. Ele demonstra para o tribunal que o recurso dele é tempestivo.
Ex: Certidão mostra que foi intimado no dia 10, interpôs recurso no dia 18, como são 10
dias para recorrer, o recurso é tempestivo.
Exceção:
Essa certidão de intimação é de fato obrigatória? Será que eu não posso falar de
tempestividade presumida?
Ex: a decisão agravada está datada no dia 20/10 e protocolou o agravo no dia 23/10. É
intuitivo que aquele agravo é tempestivo, isso porque não decorreu automaticamente 10
dias entre a prolação da decisão judicial e a interposição do agravo.
Por isso, o STJ está caminhando para uma jurisprudência consolidada julgada em
repetitivo. Em um recurso especial repetitivo foi julgado que há sim a possibilidade de
considerar a tempestividade presumida em certos casos, como, por exemplo, quando n ão
ocorrer o interstício de 10 dias entre a decisão recorrida e a interposição do recurso.
Portanto, para certos casos pode ser dispensada a certidão obrigatória do art. 25, I.
Apesar de dispensável pela jurisprudência do STJ, é sempre desagradável que o foco do
recurso desvirtue para uma questão processual. Não raro o judiciário cria um
deslocamento da questão de mérito para discutir uma questão processual muito
secundária. Por isso que o professor aconselha que na prática os advogados continuem
colocando certidões porque vai evitar uma discussão secundária que pode obstar a
análise de mérito do recurso.
124
OBS: Recurso especial repetitivo é uma técnica para sedimentar jurisprudência das
cortes superiores. Quando existem situações de vários processos discutindo a mesma
matéria, o tribunal superior pode dar destaque à alguns desses casos e julgar aquele
caso emblemático. Sendo que aquela decisão vai ser estendida aos casos similares.
b) Peças facultativas.
São aquelas que servem para mostrar o que se pretende no recurso. Aqui não teríamos
como elencar quais são as peças facultativas a serem apresentadas com o agravo, mas
é intuitivo. Essas peças vão se delimitar no caso concreto, sendo peças que servem
para demonstrar o direito que se quer fazer valer. São documentos recomendáveis para a
sua situação específica.
Ex: na ação de alimentos, vamos pensar num caso com uma liminar fixando alimentos
provisórios que ele não tem condições de pagar sem prejuízo do próprio sustento. Esse
réu vai ao tribunal agravar alegando que o valor está além da sua capacidade de
pagamento. O que ele tem que demonstrar ao tribunal? Provas e documentos factuais
que comprovem sua impossibilidade de pagamento. Ele vai então anexar seu contra
cheque, extratos bancários, etc.
Sigilo de dados existe sim, porém, nada impede que o sujeito exiba voluntariamente, ela
vai abdicar do sigilo de dados.
c) Peças essenciais
Professor vai citar essa categoria intermediária que está fora do texto da lei.
125
Se você vai recorrer ao tribunal, é razoável que você demonstre o contexto da lide onde
foi proferido aquela decisão agravada. Como isso se dá em termos práticos? Você vai
levar ao tribunal cópia da petição inicial, cópia da contestação, etc. São peças que não
foram destacadas com ênfase pelo legislador, mas são importante para que o tribunal
saiba em que contexto foi proferida aquela decisão interlocutória.
Art. 525. A petição de agravo de instrumento será instruída: (Redação dada pela Lei nº
Tem que ter o preparo do agravo. Se faltar o preparo, o recurso é deserto e nao tem
como corrigi-lo.
Como o agravo é direcionado direto para o tribunal, ele admite postagem no correio. Essa
regra foi pensada para os advogados das comarcas interioranas, evitando que ele tenha
que se deslocar até a capital só para interpor o agravo.
E se faltar as peças obrigatórias? Sem as peças, o recurso não será aceito para
julgamento. Ai teremos uma decisão denegatória, denegativa de seguimento (art. 527,
inciso I)
Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (tr ês) dias, requererá juntada, aos autos do
processo de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua
126
interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso.
(Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
• Objetivo da regra:
Vale ressaltar que uma vez interposta a sentença, o juiz não pode alterá-la. O juiz
cumpriu com seu dever jurisdicional. Como estamos falando de decisão interlocutória, ela
não é uma decisão final do processo, então ela é provisória, dessa forma, o agravo de
instrumento permite o chamado juízo de retratação (professor ressaltou que essa parte é
muito importante).
Diferentemente do que acontece com a apelação, o juiz quando a recebe ele não pode
mudar a sentença que ele proferiu. No agravo a lógica é outra, como não há ainda uma
decisão final daquele processo, essa decisão interlocutória tem caráter provisório e pode
ser substituída por uma decisão contrária inclusive.
Esse art. 526 vai desencadear o juízo de retratação. Portanto, o juiz a quo é convidado a
repensar o que ele tinha antes decido.
É obrigatório que o juízo a quo faça essa manifestação. Protocolado o recurso, o sujeito
é obrigado a comunicar o recurso apartado e o juiz terá que se manifestar sobre a
decisão anterior. Sendo que, caso ele exerça o juiz de admissão positivo, o juiz terá que
informar e comunicar ao tribunal sobre sua retratação e justificar o motivo dele estar
mudado a sua opinião. O tribunal não faz juízo de valor, a ação ainda é na presidência
daquele juízo de primeira instância.
127
b) facilitar o acesso do agravado às peças formativas do instrumento de agravo.
Art. 526 Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que
argüido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo. (Inclu ído pela Lei
nº 10.352, de 26.12.2001)
Esse art. 526 surgiu com a Lei 9139/05 e foi inserido o parágrafo único que não existia
antes de 2005. A punição caso ele não comunique o juízo em 3 dias seria a inadmissao
do recurso. Hoje é o agravado que informa que o agravante não juntou no prazo de 3
dias a petição do art. 526. Ele apresenta ao tribunal uma certidão dada pelo juiz a quo
informando que não houve essa manifestação imposta pelo texto da lei. O tribunal vai
ficar sabendo por essa certidão.
Hoje surgiu uma dúvida entorno desse parágrafo único. O parágrafo não fala qual é o
prazo que o agravado tem para apresentar essa informação de que o agravante não
comunicou o juízo a quo.
Temos duas correntes de pensamento: A primeira diz que o agravado tem que falar no
prazo da resposta dele, no prazo das contrarrazões. A segunda diz que o agravado pode
falar isso a qualquer tempo enquanto não julgado definitivamente o agravo, já que a lei
não fala especificamente de prazo. Para o professor a melhor corrente seria aquela que
determina que é possível a qualquer tempo, isso porque a lei não estipula um prazo e
pelo fato de ser matéria de ordem pública, não tem porque limitá-la à um prazo não
estipulado em lei.
128
Após a interposição do agravo, este vai ser julgado a partir dai pelo tribunal, e o relator
vai seguir o roteiro do art. 527:
Vale ressaltar que esse art. 527 é uma sequência exata do tramite do agravo no tribunal.
I - negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos casos do art. 557; (Reda ção dada pela Lei
nº 10.352, de 26.12.2001)
III - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipa ção de
tutela, total ou parcialmente, a pretens ão recursal, comunicando ao juiz sua decis ão;
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
VI - ultimadas as providências referidas nos incisos III a V do caput deste artigo, mandar á
ouvir o Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de 10 (dez) dias.
(Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)
129
Primeira hipótese que o relator pode fazer é negar seguimento liminarmente ao agravo.
Inicialmente vai verificar todos aqueles requisitos essenciais e gerais de todos os
recursos.
Se de fato for caso de urgência, ele não poderá fazer a conversão. Vai passar para o
inciso III, onde há a analise do contexto concreto. O relator pode atribuir efeito suspensivo
ou conceder a antecipação da tutela recursal.
O relator poderá solicitar informações ao juízo da causa. Esse dispositivo foi pensando
como se houvesse uma possibilidade de ampliar a convicto do tribunal com informa ções
novas.
Ele pode apresentar documentos inéditos que não constavam no caderno processual
original? Pode, mas também depois vai ter que levar esses documentos inéditos para a
primeira instância. E se ele apresentar esses documentos inéditos com as contrarrazões,
o relator terá que dar vista ao agravante.
• Novo CPC
NCPC (Câm. Deputados). Art. 1.028. Al ém de outras hipóteses previstas em lei, cabe
agravo de instrumento contra decisão interlocutória que:
I – conceder, negar, modificar ou revogar a tutela antecipada;
II – versar sobre o mérito da causa;
Muitas das discussões aqui eram controvertidas porque elas caiam naquele contexto de
sentenças parciais. Então, para evitar dúvida o legislador previu o cabimento do agravo
de instrumento nestes casos.
NCPC (Câm. Deputados). Art. 1.029. O agravo de instrumento ser á dirigido diretamente
ao tribunal competente, por meio de peti ção com os seguintes requisitos:
I – os nomes das partes;
II – a exposição do fato e do direito;
A preclusão temporal, quando você não pratica o ato no tempo e momento oportuno
quando você tem a oportunidade de faze-la.
132
Ex: art 511, parágrafo 2º. Se o preparo for feito a menor, a pessoa será intimada a
complementar. Depois de transcorrido o prazo para complementação é que será
decretada a deserção do recurso. O decurso do prazo se compara com a preclusão
temporal, como se fosse uma preclusão tácita.
A preclusão consumativa, depois que você consumou a pratica de um ato, você não tem
como mais repeti-la.
A preclusão lógica, quando você pratica uma ato em determinada linha, você não pode
depois adotar uma postura oposta.
Ex: renuncia o direito de recorrer, logo, não pode depois querer interpor recurso.
O novo CPC vai abolir com o agravo retido. Isso quer dizer que não vai poder recorrer
sobre essas decides interlocutórias ao longo do processo? Claro que não, ele poderá
faze-lo. A sinalização dada pelo legislador é que ou ele deverá desde logo interpor
agravo de instrumento contra as decisões mencionadas no art. 1029, ou para as outras
que não despertam situação de urgência e risco imediato, ele apenas fará o registro do
seu protesto. Quando for o caso de ter a decisão final, ele irá verificar se ainda faz
sentido recorrer daquelas decisões menores que ficaram pra trás. Se ele entender que
sim, quando ele recorrer da decisão final, ele irá não só decorrer da sentença em si,
como de todos os pronunciamentos anteriores colocados no processo.
Muitos vão dizer que o novo CPC extinguiu o agravo retido, porém, na verdade ele fez
muito mais do que isso, ele derrubou e modificou o sistema de preclusão. O acesso ao
133
tribunal continua sendo garantido as decisões com aspecto de urgência (art. 1028) e as
menores vão ser recorridas ao tribunal em um único momento (art. 1029). Podemos falar
que o legislador aposta no principio novo, o da recorribilidade concentrada. Ao inv és de ir
para o tribunal vários incidentes de agravo e depois mais a apelação final, a ideia é que
se concentre as manifestações no tribunal em uma única oportunidade. Invés de ficar
analisando questões pontuais picadinhas, o tribunal irá analisar tudo de uma vez. Esse
novo principio foi feito com objetivo de descongestionar o tribunal, sendo que exigiria
também dos mesmos uma maior qualidade e atenção no julgamento dos casos, vez que
estaria julgando um número menor de processos em função da concentração.
• Os agravos internos.
Estamos falando daqueles que são usados não contra as decisões de primeira instancia,
mas sim os agravos que são usados contra as decisões interlocutoras proferidas no dia a
dia do tribunal. Interposto contra as decisões de gabinete, as decisões monocráticas do
relator. Ou seja, é uma modalidade de agravo utilizada na esfera dos Tribunais, voltada
ao controle dos atos decisórios do relator.
Objetivo desse agravo: existe para que tenhamos um controle das decisões monocráticas
do relator. O juiz natural do recurso é o órgão colegial, então, quando um relator se
pronuncia sobre uma determinada questão, se este pronunciamento monocrático gerou
uma insatisfação, a pessoa prejudicada poderá se reportar ao órgão colegiado. Se não
fosse assim, não teríamos a garantia do duplo grau de jurisdição para as situações em
que o relator se pronuncia monocraticamente. Caso a decisão do relator gere
insatisfação, existe a possibilidade de recorrer ao colegiado.
Esses agravos estão sujeitos aos prazos previstos nos segmentos internos dos tribunais.
O texto de lei do CPC não dá mais nenhum detalhamento sobre esse agravo, não fala
sobre prazo ou requisitos de admissibilidade. Os dispositivos ligados ao agravo interno
não dão exatamente os demais detalhadamentos, por isso, esses prazos específicos são
contemplados no regimento interno do tribunal e o padrão é a recorribilidade em 5 dias.
134
Ex: art. 527, Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III do
caput deste artigo, somente é passível de reforma no momento do julgamento do agravo,
salvo se o próprio relator a reconsiderar. (Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)
Ou seja, nos pronunciamentos baseados nos incisos II e III não cabe recurso, por
exclusão, o inciso I cabe recurso se o relator negou o prosseguimento daquele agravo
(ex: intempestivo, sem preparo, faltou alguma peça, etc). Contra esta decisão do inciso I
caberá agravo interno.
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agr ário, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho;
A regra é que os direitos, deveres e ônus processuais só podem ser criados pela União.
Só que o art. 24 trata nas competências concorrentes entre União e Estado a
possibilidade de legislar sobre procedimentos. Falar de prazo ou forma d tramitação,
quem vai julgar no âmbito da corte são todos procedimentos, não é uma criação de uma
regra inédita do direito processual, é disciplinar aquilo que está na lei geral do CPC.
Portanto, os regimentos internos podem trabalhar situações procedimentais por conta da
deixa da constituição federal em seu art. 24, inciso IX ou XXI (professor não sabe qual) e
pelo art. 125, quando fala da auto organização dos tribunais em que cada tribunal pode
se organizar dentro da sua autonomia.
Se vcs fizerem uma varredura na legislação brasileira vcs vão encontrar mais de 40
institutos que começam com o vocábulo embargos. Então, nem sempre, esses diversos
institutos terão a mesma natureza jurídica.
Art. 530. Cabem embargos infringentes quando o ac órdão não unânime houver
reformado, em grau de apela ção, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente
ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos ser ão restritos à matéria objeto
da divergência
No entanto, por vezes o legislador definiu que a palavra embargo significa defesa,
ou seja, algo parecido com uma constestação no sentido lato sensu. Por exemplo, o art.
1.102 quando ele fala da defesa oponível na chamada ação monitória. Quando vcs
estiverem trabalhando os procedimentos especiais, perceberão que a ação monitória é
cabível quem tenha prova escrita sem eficácia de título executivo. Por exemplo, alguém
escreve em um bilhete "prometo pagar a quantia x em tal data". O bilhete escrito dessa
forma (sui generis) não tem os requisitos formais de um título executivo, mas por se tratar
de obrigação reconhecida em documento escrito da emissão do devedor, o art. 1. 102
permite o emprego da ação monitória. O que tem de peculiar no procedimento dessa
ação? Uma vez ajuizada, o devedor é chamado para se defender. Qual é a defesa q ele irá
apresentar? Embargos. Logo, no caso do art. 1.102 o vocábulo "embargo" está servindo
para rotular um instituto de natureza de defesa típica, como se fosse uma contestação.
136
Art. 1.102-C. No prazo previsto no art. 1.102-B, poder á o réu oferecer embargos, que
suspenderão a eficácia do mandado inicial. Se os embargos n ão forem opostos, constituir-
se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em
mandado executivo e prosseguindo-se na forma do Livro I, T ítulo VIII, Capítulo X, desta
Lei. :§ 1o Cumprindo o réu o mandado, ficará isento de custas e honorários advocatícios;§
2o Os embargos independem de pr évia segurança do juízo e serão processados nos
próprios autos, pelo procedimento ordin ário. § 3o Rejeitados os embargos, constituir-se- á,
de pleno direito, o título executivo judicial, intimando-se o devedor e prosseguindo-se na
forma prevista no Livro I, Título VIII, Capítulo X, desta Lei.
A) EMBARGOS DE TERCEIRO
Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turba ção ou esbulho na posse de
seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, dep ósito, arresto,
seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá
requerer Ihe sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos.
Embargo de terceiro servem para q aquele q não era parte no processo e foi
alcançado por um determinado ato de constrição pela decisão judicial (afetado em seu
patrimônio ou posse). Notem só q nesses caso, os embargos de terceiro estão
representando uma nova relação jurídica processual: A ação de embargos de terceiros.
Art. 736. O executado, independentemente de penhora, dep ósito ou caução, poderá opor-
se à execução por meio de embargos.
Qndo forem estudar o processso de execução, vcs vão tb estudar o modelo atual da
defesa do executado qnd ele se defende por meio de embargos à execução. ESSES
EMBARGOS À EXECUÇÃO TEM NATUREZA JURÍDICA DE AÇÃO.
137
• “Denominador comum” entre os diferentes institutos (Pontes de Miranda):
movimento horizontal dirigido aos próprios juízes ou juízo.
Em todas essas situações rotuladas pelo legislador por embargo, nós estamos falando
de certos pedidos que são feitos perante A PROPRIA AUTORIDADE JUDICIÁRIA QUE
DECIDIU/AUTORIZOU/ACEITOU algo. É como se fosse uma espécie de MOVIMENTO
HORIZONTAL DIRIGIDA À PRÓPRIA AUTORIDADE JUDICIÁRIA QUE DEU CAUSA AO
OFERICIMENTO DE EMBARGO. Então, se verifica uma certa COERÊNCIA na utilização
desse vocábulo. PONTES DE MIRANDA identificou esse denominador comum entre os
instittutos que são rotulados com o emprego da palavra embargo.
Esse recurso é previsto no art 530 no CPC. Ao observar a letra desse artigo,
percebe-se que é um recurso sui generis pq é cabível apenas nos tribunais segundo grau
e ele é oponível apenas em certas situações específicas (depois do julgamento de
apelação ou, eventualmente, após a apreciação de ação rescisória).
138
Esse recurso veio do direito português. Na verdade, no ano de 1976, foi modificada
a legislação portuguesa, então, o brasil que buscou inspiração nessa legislação,
atualmente, é o único país do mundo que ainda mantém um recurso com essas
características que são: ele é cabível DEPOIS que o tribunal julgou ou a apelação ou
depois de ação rescisória.
b) Acórdãos por maioria de votos (2x1); " Cabem embargos infringentes quando o acórdão
não unânime" - Acórdão é um tipo de decisão específico (art. 555) onde participam 3 juízes.
Se são 3 q votam e não existe empates, então só há 2 placares aceitáveis: unanimidade
(3x0) ou por maioria de votos (2x1). Então, qund se tratar de decisão não unânime (por
maioria de votos) talvez seja cabível os embargos infringentes.
Há uma discussão muito forte sobre a conveniência ou não de manter esses tais
embargos infringentes, pois alguns autores são a favor da manutenção desse recurso pq
eles consideram que os tribunais estejam assolados por uma uma síndrome da
unanimidade pq é muito comum ter decisões unânimes pq divergir dá trabalho (fica
obrigado a lavrar voto apartado e ele assume um ônus de trabalho a mais do q ele já tem),
então, por razões pragmáticas, é comum que os votantes SIGAM o relator. Qnd então há
um voto divergente, alguns AUTORES falam q isso demonstra q a situação deva ser
olhada com mais cuidado. De acordo com o prof. Athos Gusmão Carneiro esses recurso
não raro são provido.
139
B) pela supressão: prof. Egas D. Moniz de Aragão;
> VCS TEM QUE CONHECER O ART 530 NÃO PARA SABER AS HIPÓTESES DE
CABIMENTO, MAS É QUE SE VCS FOREM INTERPOR RECURSO PARA OS
TRIBUNAIS SUPERIORES (AÍ INTERESSA PQ HÁ MUITA INTERPOSIÇÃO DOS
RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIOS) VCS TEM Q SABER JÁ SE EXAURIU
A INSTÂNCIA LOCAL. Então, qnd estivermos falando do recurso especial ou
extraordinário, precisamos destacar que o ACESSO AOS TRIBUNAIS SUPERIORES
NÃO PODE PULAR ETAPAS. Só vai aceitar esses recursos diante das decisões finais.
Logo, se a parte tinha disponível para ser utilizado os embargos infringentes, mas deixou
de usá-los e depois, equivocadamente, empregou recurso especial ou extraordinário
ocorre uma PRECIPITAÇÃO dos OUTROS RECURSOS (o tribunal não VAI CONHECÊ-
LOS pois vão trabalhar com a lógica de q não faz sentido trabalhar numa instância de
sobreposição se vc tinha ainda chance de resolver seu problema na INSTÂNCIA LOCAL).
> Súmula 207 do STJ: "É inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos
infringentes contra o acórdão proferido no tribunal de origem."
140
sentença > apelação >> 3x0
>> 2x1
Por isso q o texto do art 530 é auto explicativo " quando o acórdão não unânime
houver reformado', logo, só é cabível se ocorrer reformulação e o placar ficar 2 (juiz da 1ª
instância + voto divergente no acórdão) x 2 (maioria dos votos do acórdão)
Por conta disso, tb se infere que quando há confirmação da sentença não se pode
falar em embargos infringentes pq é como se eu falasse que há 3 votantes com a mesma
opinião (o juiz da sentença + a maioria dos votos x o voto divergente na apelação).
• PROCEDIMENTO E EFEITOS
> CABIMENTO : ART 530 “quando o acórdão [não unânime] houver[ reformado], em grau
de [apelação], a [sentença de mérito], ou houver [julgado procedente a ação rescisória]. Se
o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto de divergência”.
Então, verificar, nessa ordem:
1º - Em qualquer processo cabe embargos infringentes? Não, apenas nos processos que
ao chegarem na instância superior, ou seja, apenas em casos de APELAÇÃO E AÇÃO
RESCISÓRIA.
2º - Em qualquer acórdão? Não, tem se verificar a REFORMA.
3º - Tem que se fazer o contraste entre as posições votantes para a gente se chegar
nesse tipo de resultado (Se houver EMPATE TÉCNICO)
Art. 531. Interpostos os embargos, abrir-se- á vista ao recorrido para contra-raz ões; após,
o relator do acórdão embargado apreciará a admissibilidade do recurso.
> CONTRARRAZÕES
Art. 531, PRIMEIRA PARTE" Interpostos os embargos, abrir-se-á vista ao recorrido para
contra-razões..."
Princípio da dialecidade (qnd alguém interpõe recurso, deve ser chamada a outra
parte para se conhecer contrarrazões"
142
> EXAME DE ADMISSIBILIDADE
Art. 532. Da decisão que não admitir os embargos caberá agravo, em 5 (cinco) dias, para
o órgão competente para o julgamento do recurso.
>> Admissão: processamento conforme dispuser Regimento Interno (CPC, art. 533).
Art. 534. Caso a norma regimental determine a escolha de novo relator, esta recair á, se
possível, em juiz que não haja participado do julgamento anterior. (Para se evitar a
tendência inata do ser humano de se agarrar as suas próprias posições/convicções, sejam
elas quais forem. )
NCPC (Câmara Deputados). Art. 955. Quando o resultado da apelação for, por
decisão não unânime, no sentido de reformar sentença de mérito, o julgamento terá
prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, a
serem convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em número
suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às
143
partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os
novos julgadores.
O embargo infringentes voltaram, mas com uma feição diferente. O art 955
TRANSFORMA os embargos infringentes com NATUREZA RECURSAL como UM MERO
INCIDENTE EM SEGUNDA INSTÂNCIA. PQ? pq o texto do art. 955 diz o seguinte "o
julgamento terá [prosseguimento em sessão] a ser designada com a presença de [outros
julgadores]...", então, ele dá uma feição como se fosse um incidente na apelação ou ação
rescisória, logo, não tem mais o formalismos como nova peça, novo prazo, novo sorteio,
novo relator e tratamento como hj está previsto. É como se falasse: "estamos empatados?
então chama mais gente para votar". Então, não mais votado por 3 juízes, mas pelo
número de julgadores do regimento interno q otribunal prevê.
Pergunta: Ele pode mudar o acórdão q antes ele tinha proferido? NÃO. Julgou, então está
julgado. Aí terá o julgamento via embargos infringentes
ART 535 -
Art. 535. Cabem embargos de declara ção quando: (Redação dada pela Lei nº 8.950, de
13.12.1994)
II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. (Reda ção dada
pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
- SUI GENERIS: Pq eles não deveriam gerar nenhum tipo de embaraço entre advogados
e juízes, mas cotidianamente é que os embargos de declaração criam certos desgastes
entre os operadores do direito.
144
- Problematização da teoria da decisão judicial
• Natureza jurídica:
Já houve muita discussão sobre este tema pq alguns autores entendiam q esse
recurso por ser muito restrito (focado na resolução da obscuridade, contradição ou
omissão) e a devolutividade q ele gera é reduzida. Afinal de contas, o órgão julgador só vai
se focar nisso. No CPC de 73 ele falava de embargos de declaração em duas partes
distintas (oponíveis contra sentença e contra acórdões) e isso gerou uma discussão sobre
sua natureza. HJ não dúvida q ele tem NATUREZA JURÍDICA DE RECURSO
No entanto, não foi solucionado um problema q é o seguinte: No art. 535 ele fala
assim "Art. 535. Cabem embargos de declara ção quando: I - houver, na sentença ou no
acórdão, obscuridade ou contradição; II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-
se o juiz ou tribunal.". Dentro dessa lógica dogmática para o juízo formalista é claro q está
previsto expressamente q cabe embargo de declaração contra sentenças e acórdãos,
MAS NÃO FOI NADA DITO SE CABE OU NÃO CONTRA DECISÕES
INTERLOCUTÓRIAS.
- Argumentos para justificar o cabimento dos embargos dec. diante das decisões
interlocutórias:
Então é como se a gente dissesse que se o juiz do acórdão se equivou, então cabe
embargo de declaração. E se esse juízo (apontou para o quadro) se equivou tb cabe pq é
a mesma decisão interlocutória. A mesma não, ela substitui a outra.
• NOVO CPC
PARA ELIMINAR ESSE PROBLEMA, o NCPC diz em seu art. 1038 "cabe embargo de
declaração contra TODAS AS DECIS ÕES JUDICIAIS" independente de eu rotula-la
147
como decisão interlocutória, sentença ou acórdão. Não é q eu elimino essas classificações,
mas é que essas classificações é da DOUTRINA. A burrice ao interpretar o art. 535 é q a
gente imagina q há uma ontologia naquela classificação como se um biologo foi na selva e
pegou uma espécie, criou em laboratório, recriou e a partir dali classificou e descreveu
todas as suas particularidades. Não é assim pq o direito é um produto cultural, é uma
linguagem, é aquilo q nós falarmos q é, por isso não é uma ciência exata q dá para se criar
um conhecimento científico daquilo. Logo, SENTENÇA, ACÓRDÃO etc são conceitos
jurídicos POSITIVOS. Então, decisão EMBARGÁVEL é uma construção q algum dia
alguém fez e, a partir da repetição, criou-se uma VERDADE.
O texto atual ele não fala do elemento DÚVIDA pq a redação do CPC DE 73 falava no
cabimento de 4 hipóteses: omissão, obscuridade, contradição e dúvida. Bom, a omissão e
a contradição são objetivas ("ou elas estão lá ou elas não estão"), já a dúvida é algo
subjetivo, sou eu q considero q a decisão. Então, foi retirada a dúvida pq dava muita
confusão. No entanto, no art 48 da Lei n. 9.099/95 (JEC) foi baseada no CPC, mas aí
veio a reforma dele e esqueceram de modificar isso no anteprojeto do JEC. Então, acabou
ficando com o cabimento de 4 hipóteses no Juizado Especial e aí os operadores fazem de
conta q não existe e aí quando alguém fala em dúvida a assemelha a obscuridade.
Bom estávamos na aula passada falando do ponto 7, estava tratando do cabimento de embargos
de declaração. Por último nós falamos do artigo 575, porque ele vem hoje com uma espécie de
lacuna pois ele não prevê especificamente o cabimento de embargos de declaração contra as
chamadas decisões interlocutórias. Superado esse problema, e tendo em vista que vimos a
possibilidade de uma interpretação supletiva, mas os que temos que examinar são aqueles vícios
que autorizam o emprego dos embargos declaratórios. Falamos do problema que o Código de
1973 falava do elemento dúvida e replicado na Lei de Juizados. Com relação ao tema
‘’Obscuridade’’, temos aqui a principal dificuldade para verificar se são ou não cabíveis os
embargos de declaração, pois esse tema envolve um certo subjetivismo. O que eu posso
considerar obscuro pode ser muito claro para outra pessoa. Eu que não entendo nada de f ísica
quântica vou ter dificuldade em assimilar qualquer discurso a respeito do tema, mas ele pode ser
muito familiar para outras pessoas. Dentro dessa lógica, se a gente transpor esse tipo de raciocínio
para o ambiente do poder judiciário, são cabíveis as considerações que falamos na aula passada a
respeito da necessidade de construir uma ‘’ Teoria da Decisão Judicial’’, e que inclusive
recomende aos operadores do direito, o uso de uma linguagem coloquial, com frases simples e
148
que possam evitar o emprego daquelas palavras que tem ambiguidade. Por exemplo: o camelo
aqui trabalhou demais. O camelo é um animal que anda no deserto. É óbvio que o mesmo
vocábulo ai está inserido numa construção frasal e claro que temos significados diversos para essa
mesma palavra usada com 2 sentidos muito diferentes. O idioma português é traiçoeiro na medida
em que ele pode induzir leituras diferentes para um mesmo termo e por ai vai.
Então a questão aqui da obscuridade envolve no 1 plano uma dificuldade maior da sua
caracterização. Em 2 plano um pouco de humildade na aceitação do cabimento de embargos de
declaração, pois as vezes o juiz parte de uma ingênua pressuposição de que ele está sendo muito
claro. Assim como qualquer outra pessoa que esteja discursando(professor, jornalista,
apresentador, radialista, presidente) podem ter uma falsa impressão de que estão passando uma
mensagem clara e o destinatário não está entendendo nada. Mas aqui vale um pouco do que já foi
dito antes. Do ponto de vista dogmático, a obscuridade, pode estar presente, tanto na
fundamentação da decisão, como no dispositivo. Então seria possível tanto interpor embargos de
declaração na medida em que eu não compreendi o fundamento decisório, como eventualmente
se o dispositivo daquela decisão não ficou exatamente muito claro.
Nos casos seguintes quando o Código fala de contradição e omissão é mais fácil constatar a
ocorrência dessas hipóteses no caso concreto. Percebam que a contradição é objetivável, quando
é que eu tenho contradição? R: Quando eu tiver 2 passagens contidas na decisão judicial que
sejam excludentes entre si.
Então se eu falo em obscuridade a gente cai numa certa margem de discussão se ela é ou não
obscura. Quando a gente fala de contradição, é mais fácil para evidenciar isso, fica bem mais fácil
de demonstrar, pois basta que eu contraponha aquelas passagens que sejam excludentes entre si.
Mas é preciso que essas passagens excludentes sejam internas(contidas na própria decisão
embargada). Vejam que na aula passada eu falei um pouco da responsabilidade dos juízes de
enxergarem com um pouco de tolerância os embargos de declaração, pois muitas vezes eles
rejeitam na suposição de que aquilo que eles decidiram antes foi muito claro. Há um pouco de
excesso na postura de julgamento dos juízes, mas os advogados também tem responsabilidades
nesse estado de coisas, pois ele faz uso desses embargos de declaração, fala na ocorrência de
contradição, mas pode não ser uma hipótese real de cabimento dos embargos. Muitas vezes o
advogado fala numa ‘’pseudo ‘’ contradição e usa elementos externos a essa decisão para
sustentar o cabimento desses embargos de declaração. Uma das hipóteses mais frequentes em
que isso acontece é quando diz ao juiz assim: ‘’ Vossa excelência está sendo contraditório com o
texto da lei . Na verdade estou me valendo de um elemento externo a decisão para falar do
cabimento dos embargos. Eu posso até estar correto, com razão, mas temos que ter a percepção
de que para uma hipótese como essa os embargos de declaração não são um remédio adequado,
149
pois quando dizemos ‘’ O juiz está sendo contraditório com o texto da lei’’, pode ser que ele esteja
deixando de aplicar a lei porque ela é inconstitucional, não é aplicada ao caso concreto, foi
revogada tacitamente por outra, ou porque trata de hipótese distinta. Se eu considero que o juiz
aplicou a lei de forma errada ao caso concreto, o recurso cabível não são os embargos, e pode ser
que eu tenha uma opção de um recurso seguinte. Imaginem que um juiz de 1 grau tenha aplicado
errado a lei, não posso usar embargos para esse caso, pois pode ser a que a decisão dele seja
muito clara na fundamentação que ele adotou. Pode ser que ele tenha utilizado a técnica do
direito anglo-saxão de distinção, e o vaso concreto não se amolda àquele juízo de subsunção da
norma à hipótese descrita. Se ele diz o porque de estar aplicando a lei, posso me valer de outro
recurso (apelação, recurso especial, recurso extraordinário e etc). Os advogados cometem alguns
erros que enchem o saco, pois imagine isso num efeito cascata numa quantidade enorme de
processos. Outro erro muito forçado que muitas vezes o advogado tenta caracterizar contradição:
‘’ Vossa excelência está sendo contraditório com a prova A, B ou C’’, não tem nenhuma contradição
nesse caso. Pois o que entra em cena é a gente considerar o chamado ‘’princípio do livre
consentimento’’, no qual o juiz aprecia livremente a prova. Então, se ele aprecia livremente a
prova, ele pode estar deixando evidenciado o porque ele deixou a prova A em detrimento da prova
B. Se eu não concordo com o critério valorativo que ele adotou, os embargos de declaração não
são adequados e ele deveria utilizar um outro recurso. Se eu estou falando de uma sentença e eu
digo ‘’ A sentença é contraditória com a prova X do processo’’, isso não seria um caso de embargos
de declaração. Se eu quero discutir o critério de julgamento adotado pelo juiz teria que interpor
apelação, ou outro recurso. O que eu estou dizendo é que é frequente os advogados forjarem
embargos de declaração, é como se eles tivessem dado aquela cavadinha do penalty, tentar criar
uma situação falsa. Há a situação de posturas exageradas de juízes, mas ocorrem muitos abusos
por parte dos advogados. Falamos aqui que todo acórdão conterá ementa, às vezes o texto da
ementa não corresponde ao que foi decidido, mas seria só um problema de má elaboração dela. Ai
o advogado diz assim ‘’ A ementa é contraditória ao conteúdo’’, mas não há contradição nisso, pois
o que vale sempre é a fundamentação do acórdão. A ementa existe para fins classificatórios,
estatísticos e etc. Logo , quando houvesse essa ‘’pseudo’’ contradição, eu poderia então pedir uma
simples correção dessa ementa. É claro que existem acórdãos ruins também, exemplo: Acórdão do
TJ SP: tem 3 laudas. A 1 lauda tem uma ementa de 3 linhas, a 2 lauda tem uma fundamentação de
3 parágrafos e a 3 lauda tem uma assinatura e um campo de dispositivo com uma única frase.
Como esse acórdão é muito pobre, a gente tenta entender o que está subentendido em uma
ementa ou algo parecido, e ai os advogados acabam fazendo o uso dos embargos nesse caso. O
que eu to falando é que tecnicamente seria a hipótese de uso de outro recurso, e essas situações
que eu falei estão ali no roteiro que foi passado.
A 3 Hipótese de cabimento dos embargos: Omissão- Aqui é mais fácil de caracterizar o cabimento
dos embargos de declaração. Pois omissão significa uma decisão citra petita, que não enfrentou
todos os pedidos formulados pelas partes ou que não julgou todas as questões relevantes. Para
esse caso, os embargos de declaração servem para integrar a decisão anterior.
150
Quando a gente fala de obscuridade ou contradição vou ter uma decisão que se presta para
esclarecer o que ficou decidido(decisão embargada). Com a omissão eu busco a integração do
julgado, busco o julgamento daquilo que ainda não foi decidido.
Do ponto de vista prático vou ter : decisão judicial – interposição dos embargos pela parte
interessada- juiz ou tribunal vão proferir outra decisão. Qual a natureza jurídica dessa última
decisão aqui?
R: A decisão materialmente una, aquela que se dá com a justaposição das duas. Pois senão eu
poderia ficar com a impressão de que esse outro recurso aqui só poderia atacar essa aqui. Se é
uma decisão integrativa, essa outra figura recursal vai atacar os fundamentos que estão aqui nessa
decisão, mas também podem ser atacados os fundamentos colocados aqui. Materialmente é uma
só decisão, mas formalmente ela é dupla. ]
- Pergunta inaudível R: Quando a gente pensa aqui neste outro cenário, a possibilidade agora de
interpor um novo recurso, se eu to dizendo que esse recurso pode atacar os fundamentos dessa
decisão, e também aqueles da decisão integrativa, talvez você esteja preocupado com a questão
desse prazo aqui, que surge entre o julgamento dessa decisão, e essa outra. Mas ai temos uma
questão prejudicial: o efeito interruptivo dos embargos de declaração. No art. 538 ele diz: ‘’ Os
embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por
qualquer das partes. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
151
elevada a até 10% (dez por cento), ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso
ao depósito do valor respectivo. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994).’’
Interromper o prazo significa que quando for o caso de se reiniciar essa contagem, ela se dará
por inteiro, devolvendo por inteiro a oportunidade.
O juiz quando vai julgar vai ter que decidir a questão em si. Não precisa dizer necessariamente
que a doutrina erra em um ponto por um motivo e não aplica a outra por um outro motivo, ou a
prova dos autos apontou uma outra coisa. Ele poderia dizer o seguinte ‘’ Considero que a
jurisprudência mais recente seria outra...’’, ou seja, com um único argumento ele matou 3
argumentos anteriores, isso tem gerado um fator de desgaste entre juízes e advogados, pois o
advogado as vezes quer ver enfrentado cada um de seus argumentos colocados em sua peça.
Quando se fala de omissão, é porque ele alega que o juiz não enfrentou todos os argumentos
apontados por ele. Mas veio uma jurisprudência que se construiu no Brasil que diz assim :’’ o que
se espera do juiz é o julgamento das questões e não o enfrentamento um a um de todas as
questões’’ ou pelo menos isso não seria necessariamente obrigatório, mas se a autoridade
judiciária quiser fazê-lo nada a impede. É lógico que é mais fácil dizer ‘’ o juiz não é obrigado a
enfrentar um a um todos os argumentos’’, do que ele ter que enfrentar todas as questões
analiticamente.
152
O CPC traz o dever de fundamentação, basta que eu tivesse uma fundamentação mais geral
que eventualmente pudessem ter sido repelidos todos os argumentos usados pelas partes.
Imaginem uma ação de responsabilidade civil, na qual a parte pede indenização por culpa do réu.
A culpa do réu, que é a questão a ser decidida, pode estar sendo construída por diferentes
argumentos. A parte pode dizer que o condutor do veículo agiu com culpa porque dirigia sob
excesso de velocidade e esse excesso de velocidade é questão de julgamento?
R: Não necessariamente, mas a culpa é. A parte autora pode dizer que a culpa do réu vem do
fato dele ter infringido uma regra de trânsito, mas pode ser que isso não seja uma questão de
julgamento, pois a culpa é a questão principal de julgamento. E ele poderia dizer que ele estava
dirigindo sem estar habilitado. Imaginem que o juiz na sentença tenha dito: ‘’ Quem está dirigindo
sem habilitação presume-se culpado’’, ou seja com um único argumento matou 3. É dentro dessa
lógica que está a jurisprudência atual, que distingue pedido, questão e argumento. Com base
nisso se construiu essa racionalidade de que não é necessário o enfrentamento um a um dos
argumentos. Isso tem gerado um desconforto para a parte dos advogados, pois ao mesmo tempo
que tem um problema pragmático no volume de trabalho dos juízes, temos também decisões
lacônicas (generalistas), pois se aplicarmos o ‘’copia e cola’’ no caso concreto, o juiz não está
obrigado a enfrentar todos os argumentos e questões, e você conseguiria rejeitar embargos de
declaração que são sérios( tem uma certa pertinência).
Dentro desse tema o Novo CPC prevê no art 499(versão Câmara dos Deputados NÃO ACHEI.
Ou seja, fala que o juiz ou o tribunal passam a ser obrigados a enfrentar um a um todos os
argumentos usados pelas partes. Não se considera fundamentado, as decisões generalistas
cabíveis a qualquer hipótese. A associação dos magistrados não viu isso, passou no debate e o
pessoal colocou depois. Quando eles acordaram para o problema, eles se desesperaram pois isso
pode ser um grande problema para a prestação dos serviços jurisdicionais. Não basta citar o artigo
da lei ou da jurisprudência, mas tem que explicar o motivo de ter usado um argumento e o de não
ter utilizado um outro. Talvez seja o único artigo que eles desejam tirar desse projeto do Senado.
Nós podemos ter aqui uma situação que do ponto de vista prático pode atrasar e atrapalhar o
andamento da prestação jurisdicional, pois os juízes têm um volume de trabalho muito maior do
que o aceitável. Para que essa regra possa ser minimamente otimizada, os advogados têm a
responsabilidade de apontarem os argumentos contrários a aqueles que alguém tenha trazido. Se
o juiz tem que fundamentar todas os seus argumentos, as peças da parte contrária passam a ser
fundamentais. O juiz não pode mais dizer ‘’ o contrato faz lei entre as partes’’ pois isso seria um
conceito indeterminado. Quem vê precedente não vê fundamento determinante, o fato de eu ter
um precedente, não me permite conhecer exatamente quais são os seus fundamentos. Então esse
153
artigo pode ser a grande pedra no sapato dos juízes doravante, pois esse artigo exige um dever de
motivação substancial, ou seja, não basta ter uma decisão formalmente fundamentada, mas
preciso também de uma substancialmente fundamentada. Quando se fala em levar em
consideração o argumento da parte, entra em cena um aspecto de contributividade. O advogado e
as partes têm algo a contribuir na construção da decisão judicial. Possivelmente vocês ainda
ouvirão muito sobre esse dispositivo e ele vai exigir que a gente construa uma nova ‘’Teoria da
Decisão Judicial’’, pois preciso saber o que é uma fundamentação adequada.
O Art. 536 do CPC diz ‘’ Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida
ao juiz ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não estando sujeitos a
preparo. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)’’
Ela deve ser escrita como regra geral, pois excepcionalmente nos Juizados tem a possibilidade do
modo oral, mas isso não tem significância prática nenhuma.
R: Pois supostamente o erro foi do judiciário e não teria porque fazer a pessoa arcar com esse ônus
e os atos judiciais para o julgamento desses embargos são mínimos.
• Procedimento: Art, 537 ‘’ O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias; nos tribunais,
o relator apresentará os embargos em mesa na sessão subseqüente, proferindo voto.’’
Fica subentendido que não haverá espaço para contraditório, são uma exceção ao
princípio da dialeticidade, pois supostamente a correção do problema aproveita para
todos, e não teria o porquê de alguém ser contra um esclarecimento ou a integração da
decisão embargada.
• Efeitos:
154
1) Geram o efeito devolutivo restrito a matéria embargada: (todos os recursos são dotados de
efeito devolutivo)- nesse caso ela é LIMITADA a solução do ponto omisso, obscuro ou
contraditório, a ideia é a de correção desses pontos, se possível, sem outras mudanças no
conteúdo da decisão embargada.
2) Gera o efeito interruptivo: A interposição desses embargos desde que tempestiva interrompe
o prazo para os recursos seguintes. Temos que fazer uma comparação com o que está na lei
9.099 (Juizados). Eu já comentei na aula passada que o anteprojeto daquilo que acabou sendo
transformado na lei 9.099, foi apresentado no Congresso no ano de 1994. Só que nesse
mesmo ano foi editada uma lei 9.850 que mudou vários dispositivos do sistema recursal. Antes
o Código falava na suspensão de prazo, mas o anteprojeto, buscando aquele regime que
constava nessa lei, trouxe lá a situação dos Juizados. No âmbito dos Juizados, quando temos a
decisão judicial, se a parte contrária interpor embargos de declaração suspendem o prazo
judicial. No regime da jurisdição comum, eles interrompem. O legislador então alterou o
Código e esqueceu de mudar o anteprojeto em tramitação, mas acabou sendo aprovado
daquela forma. Depois de julgados os embargos de declaração nos Juizados, a parte queira
fazer o uso do chamado recurso inominado. Esse recurso, de acordo com o art. 42 da lei 9.099
tem prazo de 10 dias para ser interposto. Como eu conto esse prazo?
155
Mas afinal de contas, o que é que caracteriza o efeito interruptivo? R: É a mera interposição
dos embargos? É o conhecimento deles? Ou é o julgamento de mérito deles? Vamos
responder de trás pra frente. Não é o provimento pois pouco importa se os embargos de
declaração vão ser providos ou não. E também não está relacionado ao conhecimento ou não ,
pois isso pode gerar as vezes algumas confusões. O que a jurisprudência e doutrina falam é
que a única coisa que precisa ser observada é a interposição tempestiva ! Quando
falamos dessa situação de aproveitar ambas as partes, imaginem que estou acompanhando o
site de um determinado Tribunal e eu vejo que foi anotada uma movimentação de embargos
de declaração. Essa anotação foi feita ali no site, não fui ver o processo físico. Eu que quero
continuar recorrendo ainda naquele caso, como vi que o efeito interruptivo aproveita para
todos vou esperar deitado para ver o que acontece. Mas se aqueles embargos foram
intempestivos, eles não interromperam prazo nenhum. Como eu fiquei esperando, acabo me
deparando com o trânsito em julgado e vou ficar impossibilitado de continuar recorrendo.
156
O STF vive com muita matéria de repetição e aconteceram algumas coisas no passado que
preocuparam (decisões desconectadas de razões), então eles criaram uma roupagem para corrigir
um defeito que eles próprios tinham gerado.
157