AULA 10

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AULA 10

V- FASES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO

O processo administrativo pode ter diversas espécies. Exemplo: administração quer


contratar um determinado serviço, assim, precisa abrir um processo licitatório. Em
processo de reconhecimento de aposentadoria, tem-se a apresentação da documentação,
a observância de preenchimento dos requisitos e envio para controle do tribunal de
contas. Processo que discuta mudança de normas de trânsito em uma cidade, será
necessário colher informações de engenheiros de trânsito, urbanistas, da população em
geral.

Cada processo possui atos diferentes, ou seja, procedimentos diferentes. O estudo de


todos os procedimentos é inviável devido a sua diversidade.

Em comum, em todos os processos, encontram-se essas três etapas:

 Fase Introdutória: pode ser iniciado de ofício ou pela provocação do interessado;

Todo processo pode ser iniciado ou (a) de ofício, pela própria administração pública,
por portaria ou por resolução; ou b) pode se dá por provocação do interessado, por
iniciativa do cidadão, pois sempre cabe ao cidadão o direito de petição, essa petição
pode ser uma queixa, uma sugestão, um requerimento. O direito de petição exige o
direito de resposta, a administração precisa dar um retorno ao cidadão, caso contrário, o
direito de petição se reduziria a um direito de falar do cidadão.

Exemplo: em um processo licitatório, se dará uma sucessão de atos próprio da licitação.


Diferente, por exemplo, de um processo que requer aposentadoria. Em um processo
para mudar o sentido de uma via será necessário ouvir especialistas, a população em
geral, para se chegar a uma decisão mais acertada e legitima.

Exemplo:

 Fase instrutória: etapa de produção de provas e de concretização do princípio da


ampla defesa;

A instrução significa o carreamento de provas, a formação de elementos que permitam


uma decisão racional, objetiva por parte da autoridade competente para tomar aquela
decisão. Apresentação de provas, de elementos para guiar a decisão. As partes podem se
manifestar trazendo argumentos e documentos. Todo elemento novo pode contribuir
para a mudança de percepção da administração pública, então sempre que há um
documento, um elemento novo do processo, as partes precisam ter o direito de se
manifestar sobre aquele elemento.

Exemplo: perícia médica em processo para licença em tratamento de saúde.

Exemplo: pedido de indenização por danos sofridos em decorrência de uma obra


pública exigirá uma perícia realizada por um engenheiro.

Exemplo: processo licitatório precisa ser público, acessível a todos os interessados,


ainda que tenha interessados específicos. A contratação é feita com dinheiro público,
assim, cabe a todos os cidadãos interesse de participar.

Exemplo: pedido de indenização, precisa da manifestação do cidadão que pleiteia


aquela indenização e toda a comunidade pois ela que vai bancar a indenização de certa
forma.

Exemplo: processo de desocupação de um imóvel por risco de desabamento.

Os interessados diretos no processo e toda comunidade precisam ter direito de se


manifestar no processo para viabilizar a decisão administrativa.

 Fase decisória: a decisão administrativa é proferida pela autoridade competente, assim


como os atos que levarão ao cumprimento dessa.

A decisão administrativa é o objetivo do processo. Quando se instaura o processo se


deseja que essa decisão seja mais legitima e mais acertada. Os demais atos são
acessórios e a decisão é o fim do processo administrativo. O processo e seus vários atos
visam que a decisão seja mais justa e acertada. Os recursos estão dentro da fase
decisória. Essa fase decisória pode exigir atos de cumprimento da decisão
administrativa.

Exemplo: solicitação para retirar carteira de motorista. Inicia-se com uma petição e em
seguida, na fase instrutória: exame psicotécnico, médico, prova de legislação e prova
prática, quando a administração ver atendido todos os requisitos, ela defere o pedido de
do cidadão, mas ainda precisa executar essa concessão, ou seja, a emissão da CNH para
conferir materialidade a outorga da licença.

Exemplo: ato da defesa civil no sentido de desocupar imóvel com risco de desabar, a
materialização do ato é a desocupação da casa que pode ser forçada.
VI- RECURSO ADMINISTRATIVO

Obs.: as decisões prolatadas na instância administração pública, ainda que esgotem


todas as instâncias dentro da administração pública, elas não transitam em julgado,
porque ainda é possível recorrer ao judiciário devido ao princípio da inafastabilidade da
tutela judicial. Inviabilidade de se impedir a tutela judicial.

Pode ocorrer o trânsito em julgado na esfera administrativa, mas não de forma


definitiva, porque ainda cabe a apreciação em juízo.

Exemplo: na esfera municipal, mesmo que chegue até o prefeito, ainda cabe recurso ao
judiciário.

Dispensa da representação por um advogado, uma vez que a decisão administrativa


ainda pode ser apreciada em juízo. Exemplo: uma pessoa não consegue defender seus
interesses na esfera administrativa, pois não tem preparo técnico, mas ainda pode
defender seus interesses em juízo. Assim, a defesa ruim na esfera administrativa não
tem efeitos tão drástico quanto na esfera judicial, pois, nesse caso, a decisão é definitiva.

Súmula Vinculante do STF – mesmo em processos administrativos disciplinares não é


exigível a presença de advogado, apesar do risco do sujeito perder o emprego.

É um ônus para o indivíduo procurar um advogado, tanto financeiro quanto de tempo. A


defensoria pública não é estruturada de modo a conseguir atender a demanda de defesa
no judiciário, então na esfera administrativa se tornaria mais complicado.

 É o meio formal para se impugnar decisão administrativa.

 Quem possui legitimidade para figurar como parte em um processo administrativo?

Não precisa constituir um advogado.

Os titulares de direitos discutidos no processo;

Aqueles cujos direitos e interesses forem afetados pela decisão;

Obs.: todo processo administrativo respinga nos cidadãos.

Organizações e associações representativas, quanto a direitos coletivos.

Cidadãos ou associações, quanto a direitos difusos.


Obs.: questão ambiental pode ter manifestação de uma organização em defesa do meio
ambiente inclusive interpondo recursos.

Espécies:

✓Recurso Hierárquico Próprio: quando é dirigido à autoridade superior àquela que


proferiu a decisão que está sendo impugnada; independe de previsão legal.

Obs.: a administração pública é sempre organizada de forma piramidal.

✓Recurso Hierárquico Impróprio: direcionado para fora da entidade que proferiu a


decisão; depende de previsão legal.

Obs.: Na UFJF, pode-se ter essa espécie de recurso. O aluno se dirige para o professor,
para o professor da disciplina, depois para a chefia de departamento, depois para o
conselho da unidade e depois para o Congrad, depois vai para o MEC. A UFJF é uma
autarquia e o MEC é uma pessoa jurídica de direito pública distinta.

✓Pedido de Reconsideração: requerimento de reexame à própria autoridade que


proferiu a decisão; artigo 106, Lei nº 8112/90.

Exemplo: juiz deu sentença e depois de publica-la se arrepende da decisão por lembrar
de equívocos seus. O juiz não pode alterar. Contudo, na esfera administrativa, a
autoridade pode rever sua decisão.

✓Revisão: revisão, a qualquer momento, de decisão administrativa, quando surgirem


novas circunstâncias ou fatos novos que tornem inadequadas as sanções aplicadas. É
vedado o agravamento desta. (parágrafo único e caput, artigo 65, Lei nº 9784/99).

Exemplo: pedido de investigação de paternidade foi julgado improcedentes antes de ser


possível o exame de DNA, como surgiu uma circunstância nova que pode ser um meio
de prova, mesmo já tendo o caso transitado em julgado, é possível pleitear a revisão.

De acordo com o art.59, Lei nº 9.784/1999 o prazo para interposição de recursos é de 10


dias.

Obs.: esse prazo pode variar de acordo com a legislação de cada entidade pública.

Em regra, somente possui efeito devolutivo.

Obs.: efeito devolutivo e suspensivo.


O efeito devolutivo é presente em todo e qualquer recurso, porque implica a devolução
para a administração. O mesmo nos recursos judiciais. Devolve a matéria para a
apreciação da autoridade competente.

O efeito suspensivo precisa estar previsto em lei. O efeito suspensivo implica a


suspensão dos efeitos da decisão recorrida quando o recurso é interposto. Em regra, no
recurso administrativo não existe esse efeito. Precisa estar previsto em lei. Exemplo:
uma parte pediu isenção tributária, enquanto ela recorre, o debito se constitui, os efeitos
do debito como juros, assim, o cidadão já tem o dever de pagar, mesmo tendo recurso, a
não ser que seja previsto o efeito suspensivo

DEPÓSITO PRÉVIO – INCONSTITUCIONAL

Obs.: pagamento prévio como condição para recorrer é inconstitucional. Isso não
impede que a dívida não seja constituída. Se a parte perde os juros contam desde o
início.

Súmula Vinculante 21

É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens


para admissibilidade de recurso administrativo.

VII- DECADÊNCIA

 A Administração Pública tem a prerrogativa de anular seus atos.

 Mas são todos os atos passíveis de anulação?

 Qual o prazo neste caso?

O art. 54 da lei 9784/99, estabelece um prazo decadencial de 5 anos que impede a


administração de anular ato em caso de boa-fé do cidadão. Contudo, ainda que esse
prazo não tenha sido completado, existe a possibilidade de impedimento da anulação em
razão dos princípios.

VIII - PRECLUSÃO

 É a perda de uma faculdade processual em situações de inércia da parte interessada


(que pode ser tanto a Administração Pública quanto o particular).

Obs.; A inércia é a perda de um prazo.


 Quando é confirmada a inércia da parte? Quando esta deixa de praticar determinado
ato processual dentro do prazo estipulado pela lei.

Obs.: os prazos devem ser observados. Luciana entende que se o direito material que
estiver em risco for um direito mais relevante do que o valor protegido pela definição de
prazos, como segurança jurídica, celeridade no tramite dos processos administrativos,
poderia se ter a prática do ato mesmo depois do prazo. Exemplo: pessoa com grave
enfermidade, mesmo que se perca o prazo, não deveria perder o direito de pleitear,
assim, os prazos não seriam peremptórios, existiria uma relativização da preclusão.

IX - COISA JULGADA ADMINISTRATIVA

 No processo administrativo é considerada hipótese de preclusão máxima ou


consumativa.

 A coisa julgada impede qualquer modificação, seja de ofício, seja por provocação.

X - PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR (PAD)

Instrumento utilizado para apurar e punir possível conduta irregular de agente público
ou indivíduo a ele relacionado, contra a ordem jurídica. É conduzido por comissão de
servidores constituída para tal fim.

Cada entidade pública pode ter o seu processo administrativo disciplinar, como prazos
próprias e autoridades definidas nesse procedimento.

É necessário a constituição de uma comissão para o PAD.

O artigo 142, Lei 8112/1990, estabeleceu três prazos prescricionais que variam de
acordo com a gravidade da sanção disciplinar:

✓ 5 anos: em caso de demissão, cassação de aposentadoria e destituição de cargo em


comissão;

✓ 2 anos: em caso de suspensão;

✓ 180 dias: em caso de advertência.

Com a prescrição, há também a extinção da punibilidade.

A Contagem desses prazos inicia-se no dia em que houve conhecimento do fato e


termina no dia da instauração do Processo Administrativo Disciplinar.
XI – SINDICÂNCIA

Obs.: todo o PAD pode ser precedido por uma sindicância. Na sindicância também há
direito de defesa do servidor, mesmo que a sindicância não implique em sanção. Mesmo
que a lei não fale, existe direito de defesa na sindicância. A sindicância não pode punir o
servidor.

✓ Processo administrativo preliminar, visando apurar indícios sobre a infração e a


respectiva autoria.

✓ Inquisitorial.

Obs.; a sindicância é apenas investigatória.

✓ Busca somente elementos para instaurar futuro PAD.

✓ Pode ensejar aplicação de sanção, em caso de previsão legal específica.

Artigo "Os princípios constitucionais do direito administrativo sancionador no regime


democrático da Constituição de 1988"

 O direito administrativo sancionador é a expressão do efetivo poder de punir estatal,


que se direciona a movimentar a prerrogativa punitiva do Estado, efetivada por meio da
Administração Pública e em face do particular ou administrado.

 A gravidade das sanções previstas na Lei 8.429/1992 deixa claro para o operador do
direito que, em matéria de direito sancionador, deve haver um núcleo comum de
garantias, cuja aplicação não é exclusiva da seara penal.

 Não é relevante, para que se dê ampla aplicabilidade ao estatuto constitucional de


garantias fundamentais, que se esteja na seara do crime, da improbidade ou da infração
administrativa (tributária, ambiental, eleitoral etc.). Todo infrator, criminoso, agente
ímprobo são qualitativamente alcançados pelo núcleo de garantias da Carta de 1988.

 No entanto, a natureza jurídica do direito sancionador é a mesma, seja no direito


penal, seja no direito administrativo (ou tributário, ambiental, eleitoral, improbidade
etc.). O Estado é o detentor do jus puniendi, sendo prerrogativa sua prever,
normativamente, os casos nos quais alguém será sancionado pela sua conduta ilícita.

 Encontra-se no direito sancionador, seja administrativo ou penal, um núcleo comum


de garantias que é extraído diretamente da própria Constituição Federal. Como ensina
Medina Osório, há núcleos estruturantes dos direitos fundamentais dos acusados em
geral, na perspectiva da submissão às cláusulas do devido processo legal e do Estado de
Direito (OSÓRIO, 2009)

 Para Binenbojm (BINENBOJM, 2014), além das cláusulas do devido processo legal,
do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LIII, LIV e LV), destacam-se as seguintes
garantias que compõem um núcleo comum do direito sancionador: o princípio da
legalidade, sob o viés da tipicidade (arts. 5º, II e XXXIX, e 37, caput); os princípios da
segurança jurídica e da irretroatividade (art. 5º, caput, XXXIX e XL); os princípios da
culpabilidade e da pessoalidade da pena (art. 5.°, XLV); o princípio da individualização
da sanção (art. 5º, XLVI); e os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade (arts.
1º e 5º, LIV)

 Nesse contexto, é preciso que o juiz, ao analisar as condutas que se imputam como
ímprobas ao sujeito ativo, verifique a ocorrência de subsunção fático descritiva à
lesividade ou tipicidade material. No caso da improbidade administrativa, a submissão
do conceito legal (tipicidade formal) à lesividade assume uma relevância muito maior,
se compararmos a casos de subsunção a crimes de previsão normativa mais fechada.

 O percurso que começa com a tipicidade formal é marcadamente insuficiente para


justificar uma subsunção normativa a um tipo sancionatório, com tamanha abertura
hermenêutica. O exame da lesividade da conduta, ou tipicidade material, deve
sobrelevar ao da tipicidade formal, sendo seguido pelo exame da antijuridicidade da
conduta e da culpabilidade.

 Em 16 de junho de 2021 foram aprovadas pela Câmara dos Deputados diversas


mudanças na Lei 8.429/1992, que ficaram conhecidas como “Nova Lei de Improbidade
Administrativa” (PL 2.505/2021). A Lei, expressamente, passa a exigir o exame de
tipicidade material ou de lesividade para a configuração dos atos de improbidade
administrativa.

 Com destaque ao Art. 3º e 5º da Lei.

Em relação as infrações administrativas, essa lei de improbidade, já há uma abertura


semântica dos casos em que permite a sanção administrativo. Precisa ter a definição
certa do ato improbo (imoral).

Artigo "Princípios do processo administrativo" Por Thiago Marrara


Os princípios como instrumentos valorativos, imanentes a sistemas jurídicos, assumem
funções bastante poderosas e impactantes da prática quotidiana, que abarcam ao menos:

(i)a de orientação teleológica do legislador, uma vez que eles impõem balizas e dirigem
a atividade legiferante;

(ii) a de orientação teleológica da Administração Pública, já que os agentes públicos e


os particulares que operam como delegatórios devem levá-los em conta na elaboração e
edição de atos normativos, atos administrativos e atos opinativos, bem como na
execução de atos materiais;

(iii) a de alinhamento da interpretação, pois os princípios, como pilares do sistema,


fazem convergir as normas que se espalham pelo ordenamento jurídico em favor de um
mínimo de coesão e harmonia; e

(iv) a de integração de lacunas, pois dos princípios se extraem mandamentos concretos e


bem definidos, úteis ao preenchimento de vazios deixados pelo legislador no direito
positivo.

Em que os princípios tratados aqui serão:

(i)ampla defesa;

(ii) contraditório, no qual se inclui a motivação;

(iii) gratuidade;

(iv) transparência;

(v) oficialidade, incluindo a vedação da renúncia de competência;

(vi)formalismo mitigado;

(vii) isonomia;

(viii) boa-fé e proteção da confiança e

(ix) razoabilidade, aqui utilizada como sinônimo de proporcionalidade em sentido


amplo.

Esse rol se fragmenta em dois subgrupos: os princípios predominantemente


relacionados com o andamento processual (i a vii, principalmente) e os referentes ao
conteúdo das decisões estatais (viii e ix), que permeiam e movimentam o processo e
que o concluem.

Princípio da ampla defesa

A ampla defesa aceitará mitigação, ou melhor, diferimento, em situações nas quais a


Administração Pública, no uso de seus poderes cautelares, não dispuser de
condições de garantir as manifestações do interessado antes da tomada de uma
decisão emergencial – tal como dispõe o art. 45 da LPA federal.18 Nessas situações
excepcionalíssimas, de defesa diferida, os interessados se manifestarão
posteriormente à decisão administrativa cautelar (...)

O princípio da ampla defesa se desdobra em uma série de outros direitos básicos dos
interessados e que podem ser resumidos a:

(i) Direito de petição a todo e qualquer órgão público (art. 5º, XXXIV da
Constituição; art. 3º, III da LPA; art. 9º do Código de Defesa dos Usuários de
Serviços Públicos) (...)

(ii) Direitos de representação e de substituição (...)

(iii) Direito de produção de provas (art. 2º, parágrafo único, X e art. 3º, III da LPA).
A despeito dessas características comuns com o processo judicial, o direito
administrativo apresenta algumas peculiaridades.

(iv) Direito a permanecer calado, que é extremamente relevante para impedir que
um indivíduo venha a ser forçado a falsamente declarar aquilo que deseja a
Administração Pública.

(v) Direito à interposição de recursos (...)

(vi) Direito à revisão da decisão sancionatória (art. 65 da LPA)(...)

Princípio do contraditório

Do princípio do contraditório se extraem direitos e deveres correlatos próprios,


modulados conforme as características dos diversos tipos de processo
administrativo, e que se sintetizam em:

(i) Direito à citação;


(ii) Direito a intimações de todos os atos processuais que possam afetar a
posição jurídica dos interessados, destacando-se prazo razoável para que se
manifestem.
(iii) Direito de acompanhamento de provas, materializado na faculdade de se
acompanhar a produção de provas ao longo do processo, como perícias,
inspeções, oitiva de testemunhas, busca e apreensão e tantas outras.

(iv) Direito de acesso constante aos autos, que inclui basicamente o direito à
obtenção de vista e de cópias dos autos, bem como a certidões (art. 46).

(iv) Direito à motivação das decisões, consistente na apresentação explícita, clara


e congruente dos fundamentos de fato e de direito que sustentam as decisões
processuais, liminares ou finais (art. 50, § 1º da LPA). A motivação não é
obrigatória em todas as situações e nem sempre será prévia; em certos
casos excepcionais, ela poderá ser diferida, como se vislumbra em
decisões cautelares inaudita altera parte (art. 45 da LPA)

Princípio da gratuidade

"É inconstitucional a exigência de depósito prévio ou arrolamento prévio de dinheiro e


bens para admissibilidade de recurso administrativo” Súmula Vinculante n. 21, de 2009,
sugerida pela Ministra Ellen Gracie com base na decisão do RE 388.359/RE.

Essa afirmação se sustenta em dois dispositivos relevantes da LPA federal. De um lado,


o art. 2º, parágrafo único XI, enumera, dentre o rol de critérios do processo
administrativo, a proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as
previstas em lei. De outro, o art. 56, § 2º prescreve que, salvo exigência legal, a
interposição de recurso administrativo independe de caução.

Princípio da transparência

Na esteira da Constituição, editou-se um grande número de diplomas legais para se


estimular e garantir a transparência dos processos administrativos:

(i) A Lei de Licitações e Contratos, que garante a qualquer cidadão o direito de


impugnar licitações, de participar de audiências públicas para controlar
minutas de atos convocatórios de licitações de grande vulto e de obter acesso
a qualquer contrato administrativo;
(ii) A Lei do Habeas Data, que expande esse remédio para além das hipóteses
constitucionais ao autorizar sua impetração para assegurar o conhecimento
de dados do impetrante, para viabilizar a retificação de dados e para – aí a
novidade infralegal – determinar certas anotações nos assentamentos do
impetrante (art. 7º).
(iii) A Lei de Transparência (Lei Complementar n. 131), que modificou a Lei de
Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n. 101). Ao fazê-lo, instituiu
inúmeros mecanismos para garantir a acessibilidade de informações fiscais,
tais como o dever de o Estado liberar ao conhecimento e acompanhamento
da sociedade, em tempo real, as informações pormenorizadas sobre a
execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso
públicos.
(iv) A Lei de Acesso à Informação, que prevê a publicidade como regra geral da
Administração Pública, trata de hipóteses de publicidade ativa e passiva (...)

Princípio da oficialidade

O princípio da oficialidade ou impulso oficial no processo administrativo nada mais


é que a tradução dessas tarefas constitucionais, ou melhor, da função estatal (não
exclusiva, é claro) de promover e tutelar interesses públicos primários em favor de
direitos fundamentais.

Na etapa de abertura ou instauração, o princípio da oficialidade sustenta o poder de


a Administração iniciar processos administrativos a despeito de requerimentos, de
denúncias ou representações externas.

Nos termos do art. 51, § 2º da LPA federal, se a Administração Pública considerar


que o interesse público assim o exige, o processo prosseguirá a despeito de renúncia
ou desistência.

Princípio do formalismo mitigado

Formalidades acessórias, secundárias, inúteis, não devem ofuscar as reais


finalidades do processo. Mais importante é que o processo administrativo funcione,
cumpra suas finalidades e, no seu curso, garanta os direitos e interesses tutelados
individuais, coletivos e difusos. O formalismo mitigado foi expressamente
consagrado na LPA federal no art. 2º, parágrafo único, inciso VIII e inciso IV.
Princípio da isonomia

Em primeiro lugar, a isonomia exige que os agentes públicos que atuam no processo
administrativo em posição capaz de influenciar a construção da decisão guardem um
mínimo de impessoalidade em relação aos interessados. Em segundo lugar, a
despeito da estruturação usualmente bipartite do processo administrativo, a isonomia
exige que se confira idêntica possibilidade de defesa e de produção de provas aos
interessados e à Administração.

Princípio da boa-fé e proteção da confiança

O princípio da boa-fé e da proteção da confiança se revela em incontáveis


mandamentos processuais, de que são exemplos:

- A necessidade de respeito à jurisprudência administrativa (limitando a


discricionariedade decisional), mandamento que se origina da teoria dos fatos
próprios ou da vedação do “venire contra factum proprium”. Em outras palavras, a
Administração Pública se vincula a seus posicionamentos passados no sentido de
gerar um padrão decisório para o futuro que, por fomentar a crença legítima dos
cidadãos, exigirá fundamentação ao ser alterado.

- A vedação da aplicação retroativa de nova interpretação administrativa (ou


vinculação à coisa julgada administrativa), que assegura ao interessado a
manutenção de decisões administrativas que lhe beneficiaram ainda que a
Administração venha a alterar seu posicionamento para o futuro. Essa disposição
consta expressamente do art. 2º, parágrafo único, inciso XIII da LPA.

- A revisão de sanções administrativas, ou seja, o direito de o interessado obter a


redução ou extinção da sanção administrativa contra ele cominada, pendente ou em
execução, quando fatos novos ou circunstâncias relevantes demonstrarem a
inadequação do ato punitivo (art. 65 da LPA federal).

- A decadência do poder anulatório de atos administrativos benéficos, em proteção


dos interessados de boa-fé, desde que transcorrido o prazo quinquenal. Esse
mandamento está contido no art. 54 da LPA federal.

Princípio da Razoabilidade
Grosso modo, a ação estatal será razoável ao observar simultaneamente as regras (i)
da adequação, ou seja, ao mostrar-se capaz de atingir o fim público que justifica sua
prática (correlação lógica entre interesse público primário concretamente
considerado e o conteúdo do ato estatal); (ii) da necessidade, isto é, ao se confirmar
como a ação menos restritiva dos direitos fundamentais dentre as medidas
adequadas disponíveis à Administração Pública no momento da decisão e (iii) da
proporcionalidade em sentido estrito, ao revelar que os benefícios por ela gerados
superam os malefícios.

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