MBTI e Estilos de Aprendizagem de Línguas PDF
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ESTRANGEIRA
SÃO CARLOS
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA
Existem vários fatores que interferem na aprendizagem de uma Língua Estrangeira (LE),
dentre eles estão os estilos de aprendizagem, que abrangem o domínio cognitivo e o afetivo. O
lado intrínseco do domínio afetivo, que é a personalidade, deve ser considerado um fator
importante para a construção de uma teoria de ensino/aprendizagem de línguas, pois prioriza
o comportamento humano no que concerne ao modo de aprender. Embora os traços de
personalidade ou Tipos Psicológicos possam ser vistos como circunstanciais, ou seja, sem
durabilidade ou confiabilidade, eles podem ser indicadores das necessidades pessoais dos
aprendizes em determinado momento. O objetivo desta pesquisa foi investigar se o Tipo
Psicológico do aprendiz está refletido na maneira pela qual ele processa informações, na sua
motivação e no modo de desenvolver estratégias que o auxiliem a lidar com as mais diferentes
situações de aprendizagem. Conhecer os diferentes Tipos Psicológicos (tais como
extrovertido, perceptivo, julgador, intuitivo) bem como suas características, pode ser de
grande importância para o professor porque, por meio desse conhecimento, será capaz de
identificar melhor as dificuldades de determinado aprendiz ou grupo de aprendizes e lhes
fornecer meios de atenuá-las; quanto ao aprendiz, ele terá condições de buscar maior
autonomia ao aprender uma LE, pois saberá como satisfazer suas preferências e como lidar
com suas dificuldades de aprendizagem. Tendo como embasamento teórico os estudos
realizados pelo psiquiatra Carl Jung, na década de 20, que foram posteriormente revisados e
aperfeiçoados por Myers e Briggs (1987; 1995; 1997) e tomando como referência as
pesquisas desenvolvidas por Ehrman (1996), foram apontadas diferenças de personalidade
bastante relevantes para a aprendizagem. Os dados analisados e interpretados foram coletados
a partir das respostas do MBTI (Myers Briggs Type Indicator), um inventário criado por
Myers e Briggs, que indica o Tipo Psicológico, classificado em quatro dimensões bipolares ou
dicotômicas de acordo com as preferências do aprendiz. Tais dados revelaram as
peculiaridades de cada Tipo, a relação entre as orientações e as habilidades de cada aprendiz e
os fatores que contribuem ou não para o sucesso na aprendizagem de uma LE (inglês) em um
contexto formal.
There are several factors which interfere in foreign language learning. Among them, there are
the learning styles, which comprise the cognitive and affective domains. The intrinsic side of
the affective domain, which is the personality, should be considered as an important factor on
the building of a foreign language teaching/learning theory, because it gives priority to human
behavior concerning the way people learn. Although Personality Traits or Psychological
Types may be regarded as circumstantial, that is, without reliability or strength, they may be
indicators of personal needs during a certain moment. The purpose of this study was to
investigate whether the learner’s Psychological Type is reflected on the way he processes
information, on his motivation and on the way he develops strategies which help him to deal
with the most different learning situations. Knowing the different Psychological Types (such
as extroverted, perceptive, judger, intuitive) as well as their characteristics, may be quite
important for the teacher, because, through this knowledge, he will be able to better identify
the difficulties of a determined learner or a group of learners and provide them with means to
reduce them; in relation to the learner, one will have conditions to search more autonomy
when learning a foreign language, because one will know how to satisfy his preferences and
how to deal with his learning difficulties. By having as theoretical base the studies developed
by the psychiatrist Carl Jung in the 1920s, which were further revised and improved by Myers
and Briggs (1987; 1995; 1997) and having as reference the studies developed by Ehrman
(1996), we pointed out some personality differences which are relevant to the learning
process. We analyzed and interpreted the data, which were collected from the answers given
at the MBTI (Myers Briggs Type Indicator). The MBTI is an inventory developed by Myers
and Briggs, which indicates the Psychological Type, classified into four bipolar or dichotomic
dimensions according to the learner’s preferences. Such data showed the traits of each Type,
the relationship between the orientations and the abilities of each learner and the factors
which contribute or not to the success in a foreign language (English) learning context.
LISTA DE TABELAS
CÓDIGOS DE TRANSCRIÇÃO
[( )] Fala da pesquisadora
(...) Transcrição parcial
(.) Interrupção da fala
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................11
2 ALGUMAS VARIÁVEIS DE APRENDIZAGEM................................................ 18
2.1 Aspectos cognitivos...................................................................................................................... 18
2.2 Aspectos afetivos........................................................................................................................... 21
2.2.1 Autoestima....................................................................................................................................... 24
2.2.2 Inibição............................................................................................................................................. 25
2.2.3 Capacidade de se arriscar.........................................................................................................26
2.2.4 Ansiedade......................................................................................................................................... 27
2.2.5 Empatia............................................................................................................................................ 28
2.2.6 Extroversão.....................................................................................................................................28
2.2.7 Motivação.........................................................................................................................................29
2.3 Estilos de aprendizagem............................................................................................................ 31
2.3.1 Sequencial - aleatório..................................................................................................................33
2.3.2 Concreto - abstrato...................................................................................................................... 34
2.3.3 Dedutivo - indutivo...................................................................................................................... 34
2.3.4 Funcionamento do lado esquerdo e direito do cérebro................................................. 35
2.3.5 Dependência e independência de campo............................................................................. 36
2.3.6 Tolerância à ambiguidade........................................................................................................ 37
2.3.7 Reflexibilidade e impulsividade.............................................................................................. 38
2.3.8 Canais de percepção....................................................................................................................38
2.3.9 Modelo de estilos de aprendizagem proposto por Kolb................................................ 39
2.3.10 Estilos de aprendizagem propostos por Felder e Silverman.......................................42
2.4 Estratégias de aprendizagem................................................................................................... 44
3 TEORIA DOS TIPOS PSICOLÓGICOS.......................................................................... 50
3.1 Panorama histórico – trabalhos com foco em características individuais............ 51
3.2 A teoria desenvolvida por Jung.............................................................................................. 53
3.2.1 A estrutura da personalidade.................................................................................................. 54
3.2.2 Alguns conceitos importantes..................................................................................................59
3.2.3 As atitudes: Extroversão e Introversão............................................................................... 62
3.2.4 As funções........................................................................................................................................ 64
3.2.4.1 Funções da percepção: Sensação e Intuição...................................................................... 66
3.2.4.2 Funções do julgamento: Pensamento e Sentimento....................................................... 68
3.2.5 Formação dos oito Tipos Psicológicos.................................................................................. 70
3.3 Contribuições de Myers e Briggs........................................................................................... 71
3.3.1 Formação dos dezesseis Tipos Psicológicos....................................................................... 73
3.3.2 As atitudes: Julgamento e Percepção...................................................................................74
3.3.3 Processo dominante de cada Tipo......................................................................................... 76
3.4 Desenvolvimento do Tipo.......................................................................................................... 77
3.4.1 Obstáculos para o desenvolvimento do Tipo..................................................................... 78
3.5 Combinações das preferências................................................................................................80
4 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO.......................................................................... 83
4.1 Natureza da pesquisa, participantes, contexto e instrumentos................................. 83
4.1.2 O inventário baseado no MBTI.............................................................................................. 85
4.1.2.1 Histórico do MBTI....................................................................................................................... 88
4.1.3 Observações...............................................................................................................................92
4.1.4 Entrevista.........................................................................................................................................93
5 ANÁLISE DOS DADOS............................................................................................................95
5.1 Descrição dos resultados............................................................................................................95
5.2 Confluências entre Tipos Psicológicos, estilos e estratégias........................................ 96
5.2.1 Tipo E (Extroversão)................................................................................................................... 98
5.2.2 Tipo I (Introversão).............................................................................................................. 100
5.2.3 Tipo N (Intuição)........................................................................................................................ 102
5.2.4 Tipo S (Sensação)....................................................................................................................... 104
5.2.5 Tipo F (Sentimento).................................................................................................................. 106
5.2.6 Tipo T (Pensamento).................................................................................................................107
5.2.7 Tipo J (Julgamento).................................................................................................................. 108
5.2.8 Tipo P (Percepção).................................................................................................................... 109
5.3 Conclusões a partir da análise dos dados......................................................................... 110
5.4 Relação entre os estilos de ensino e os estilos de aprendizagem .......................... 114
5.4.1 Estilo de ensino SP (Sensação e Percepção)................................................................115
5.4.2 Estilo de ensino SJ (Sensação e Julgamento)............................................................. 116
5.4.3 Estilo de ensino NT (Intuição e Pensamento)............................................................. 117
5.4.4 Estilo de ensino NF (Intuição e Sentimento).............................................................. 118
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................120
REFERÊNCIAS......................................................................................................................... 124
APÊNDICES
A - Quadro referente aos Tipos dos aprendizes............................................................131
B - Termo de consentimento livre e esclarecido............................................................132
ANEXOS
A - Inventário de Tipos Psicológicos.................................................................................. 133
B - Entrevista............................................................................................................................... 136
C - Características dos dezesseis Tipos Psicológicos................................................... 145
11
1 INTRODUÇÃO
1
Neste trabalho o conceito de método é condizente com o teorizado por Richards e Rodgers (1982). Segundo os
autores, o método se define a partir de três níveis: approach (abordagem), design (planejamento) e procedure
(procedimento), que formam um sistema interdependente.
12
ensino e uso de uma Segunda Língua (L2) ou de uma LE não devem ser removidas ou
afastadas do âmbito psicológico, mas devem permanecer em contato para se beneficiarem,
como em um processo simbiôntico, de qualquer fonte explanadora que cada um dos lados
possa fornecer ao outro.
O desenvolvimento de pesquisas que visem compreender o aprendiz,
fundamentalmente, como ser humano traz benefícios significativos não apenas para o
professor mas também para o aprendiz. Tal compreensão não requer conhecimentos
profundos de psicologia, já que profissionais do ensino de línguas não possuem suporte
teórico para desvendar ou interpretar o âmago do ser humano e nem lhes compete tal função.
O que se exige, na verdade, são noções gerais sobre a estrutura psíquica dos indivíduos que
auxiliarão um professor consciente a planejar suas aulas com base nos diversos interesses e
preferências de seus alunos.
Nesta pesquisa evidenciamos os Tipos Psicológicos de 28 alunos da 8ª série ou 9º
ano do Ensino Fundamental de determinada escola particular localizada na cidade de
Viradouro/SP e buscamos estabelecer relações entre os Tipos, os estilos e as estratégias de
aprendizagem.
Partindo do pressuposto de que o conhecimento dos Tipos Psicológicos e das
preferências de aprendizagem pode facilitar e enriquecer o relacionamento professor-aluno e,
consequentemente, favorecer uma aprendizagem eficaz, o propósito mais abrangente desta
pesquisa é descrever os Tipos Psicológicos de seus participantes, evidenciando as
características peculiares a cada Tipo e revelando seus estilos de aprendizagem.
O objetivo específico é relacionar as informações concernentes aos Tipos às
estratégias de aprendizagem e, a partir daí, investigar quais fatores psicológicos exercem,
efetivamente, influência sobre a aprendizagem.
Assim, a partir da hipótese de que os Tipos Psicológicos influenciam na
aprendizagem de uma LE, as questões levantadas para direcionar a pesquisa foram:
1. Qual a relação entre os Tipos Psicológicos, os estilos e as estratégias de
aprendizagem?
2. Quais aspectos da personalidade devem ser considerados relevantes para o
processo de aprendizagem de uma LE?
Essas questões surgiram de uma inquietação pessoal relacionada à minha
personalidade. Por ser uma pessoa muito introvertida, sempre tive dificuldade para me
adaptar a determinadas situações em sala de aula, como expor minhas dúvidas ou ideias
para um grande número de ouvintes ou fazer leituras em voz alta. Apesar disso, sempre fui
16
muito determinada e me esforçava para superar alguns percalços, que, para meus colegas de
classe, representavam algo corriqueiro. Frequentemente me perguntava se eu não teria
obtido mais sucesso na aprendizagem ou reconhecimento por parte de professores e colegas
caso fosse mais extrovertida e participasse mais ativamente.
Além da dimensão psicológica Extroversão – Introversão, eu supunha que outros
aspectos da personalidade, de certa forma, também poderiam levar o aprendiz a agir de
determinados modos.
O que antes era um incômodo de aprendiz, agora passou a ser uma preocupação de
professora, já que, em 10 anos ensinando Língua Inglesa, tenho percebido em meus alunos
diferenças de personalidade que muitas vezes dificultam ou, em outros casos, auxiliam sua
aprendizagem. Alguns traços de personalidade estão evidentes em seus estilos de
aprendizagem, em seu modo de agir ou de optar por uma ou outra atividade em classe.
Por acreditar que conhecer o Tipo Psicológico do aprendiz nos permite
compreender melhor seu universo e, consequentemente, nos torna mais capazes de auxiliá-
lo em sua busca pelo conhecimento, desenvolvi esta pesquisa.
Sabemos que a aprendizagem de uma LE é um processo complexo, constituído de
um número significativo de variáveis. As diferenças observadas no desempenho dos
aprendizes não se limitam ou se explicam apenas pelos diferentes estilos de aprendizagem
ou Tipos Psicológicos. De acordo com a classificação feita por Almeida Filho (2005, p. 17),
as variáveis também são de natureza distinta, podendo ser:
Intrínsecas à pessoa, como as:
• afetivas (ligadas a aspectos de personalidade, atitude e motivação),
• físicas (relacionadas a condições de saúde, cansaço e idade) e
• sócio-cognitivas (referentes a estratégias conscientes e inconscientes de
organizar a experiência do contato linguístico com outros em interação na
língua alvo).
Ou extrínsecas, como:
• material didático, técnicas e recurso do método, tempo disponível para o estudo
e condições de exposição às amostras de língua.
Abarcar todas essas variáveis não está nos propósitos e possibilidades desta
pesquisa, por isso, fizemos um recorte e optamos por abordar os Tipos Psicológicos, com
base na tipologia do psiquiatra suíço Carl Jung (1991), por se tratar de uma das mais
17
2
Segundo Doron e Parot (2000), a psicologia humanista abre um espaço teórico e prático entre o behaviorismo e
a psicanálise. Tal movimento vê o homem como um processo em construção, detentor da liberdade e do poder de
escolha. Centra-se na pessoa e não no comportamento.
23
3
Sugestopédia, Silencioso, CLL e TPR não são considerados métodos para alguns autores e estudiosos, mas
técnicas de ensino.
24
errar e que estão constantemente checando sua produção, muitas vezes, sem conseguir se
comunicar; os usuários ótimos ou ideais, que usam o monitor apenas nos momentos
apropriados, ou seja, quando não há interferência na comunicação.
As demais hipóteses formuladas por Krashen (1985) são: 1) Hipótese da Aquisição/
Aprendizagem, 2) Hipótese da Ordem Natural e 3) Hipótese do Insumo. A primeira implica
na distinção entre adquirir e aprender. Segundo Krashen, adquirir é um processo
subconsciente, idêntico ao processo que a criança utiliza ao aprender sua primeira língua; e
aprender é um processo consciente que resulta em saber sobre a língua.
A segunda hipótese se deriva das pesquisas que indicam um percurso na aquisição
de traços gramaticais formais. De acordo com tal hipótese, o aprendiz apresenta uma ordem
em sua produção se estiver envolvido em atividades de comunicação natural, porém, essa
ordem é perturbada caso ele tenha que desenvolver atividades que exijam ou permitam a
utilização de conhecimento metalinguístico obtido por meio da aprendizagem.
A terceira hipótese está relacionada à anterior no sentido de que o aprendiz se move
em um contínuo de desenvolvimento à medida que recebe insumo compreensível em L2.
Esse tipo de insumo é aquele um pouco além de sua atual competência, em termos de
complexidade sintática e é representado pela fórmula i+1. Segundo Krashen (1985), um
insumo muito simples (i+0) ou muito complexo (i+2; i+3...) não é eficaz no processo de
aquisição de L2. O primeiro por já ser conhecido e o segundo por estar além da capacidade
de compreensão do aprendiz, não podendo ser transformado em intake (insumo absorvido).
Segundo Almeida Filho (2005), a partir da década de 80, o foco das pesquisas
voltou-se para os processos internos de aquisição e valorizou-se a intervenção de fatores
afetivos na aprendizagem de uma nova língua. Segue uma relação de fatores afetivos que
podem influenciar na aprendizagem de uma LE:
2.2.1 Autoestima
2.2.2 Inibição
Aprendizes bem sucedidos são aqueles que têm coragem de se arriscar e de cometer
erros, sem medo de qualquer atitude repressora. Para Brown (2000), os conceitos de
autoestima e de capacidade de correr riscos estão intimamente relacionados. Segundo o
autor, aprendizes que já vivenciaram situações de sucesso terão menor relutância em se
arriscar, pois acreditam que o risco faz parte do caminho para se alcançar bons resultados.
Por outro lado, aprendizes que enfrentaram situações de fracasso e que, consequentemente,
possuem baixa autoestima, tenderão a ser mais receosos diante de uma situação em que
tenham que correr riscos.
Algumas das razões que fazem o aprendiz ter medo de se arriscar são: nota baixa,
reprovação por parte do professor e punição ou vergonha impostos por si próprio. Fora da
27
sala de aula, o aprendiz teme não conseguir se comunicar, parecer ridículo e, finalmente,
perder sua identidade.
A fossilização4 também pode ocorrer devido à falta de predisposição em se arriscar,
já que o aprendiz se inibe e não esclarece suas dúvidas, criando condições para que algumas
estruturas erradas se fossilizem.
2.2.4 Ansiedade
4
Fossilização é um fenômeno que diz respeito à incorporação relativamente permanente de formas linguísticas
incorretas na competência linguística do aprendiz (BROWN, 2000, p. 231).
28
2.2.5 Empatia
2.2.6 Extroversão
2.2.7 Motivação
Brown (2000, p. 114) afirma que uma longa lista de estilos de aprendizagem tem
sido identificada por educadores e psicólogos. Entretanto, somente alguns estão sendo
empregados em pesquisas de LE. De acordo com Murad (2004), mais de 30 instrumentos de
avaliação de estilos de aprendizagem já foram desenvolvidos nos últimos trinta anos, como o
Inventário de Estilo de Aprendizagem de Kolb (1976) e o questionário de Felder e Silverman
(1988).
Antes de abordar as características dos estilos de aprendizagem, será apresentada
uma distinção feita por Brown (2000), entre processo, estilo e estratégia, cujos conceitos serão
os adotados neste trabalho. Posteriormente, serão apresentadas definições de estilos de
aprendizagem feitas por outros autores, para possíveis comparações.
Segundo Brown (2000), a forma pela qual cada indivíduo aprende e o modo como
ele enfrenta um problema parecem depender de uma ligação amorfa entre personalidade e
32
cognição; essa conexão é denominada estilo cognitivo. Quando os estilos cognitivos estão
especificamente relacionados a um contexto educacional, no qual fatores afetivos e
fisiológicos entrelaçam-se, recebem a designação de estilos de aprendizagem. Tal
conceituação feita por Brown deixa clara a diferença entre estilos de aprendizagem e estilos
cognitivos, termos que, para muitos, são sinônimos. Na verdade, os estilos de aprendizagem
são mais complexos, pois abarcam não apenas o domínio cognitivo, mas também o afetivo
que, por sua vez, constitui-se de uma parte intrínseca, que é a personalidade, e de uma parte
extrínseca, as variáveis sócio-culturais. Ehrman (1996) explica que os estilos cognitivos não
estabelecem ligação com sentimentos e relações interpessoais e que estão mais próximos de
modelos computacionais.
Reid (1995) descreve estilo como a melhor maneira de o aprendiz absorver,
processar e reter novas informações e habilidades. Os estilos, segundo ele, se concretizam
pelas estratégias de aprendizagem. Paiva (2007) afirma que os estilos são características
internas nem sempre conscientes e acrescenta que as estratégias de aprendizagem – ações
realizadas pelos aprendizes, geralmente, de forma consciente – são associadas aos estilos para
impulsionar a aprendizagem.
Para Schmeck (1988), estilos de aprendizagem são os traços de cada indivíduo
relacionados à sua carga genética e à experiência prévia e, por essa razão, só é possível
observá-los quando manifestados pelo comportamento em uma situação específica.
Segundo Santos, Bariani e Cerqueira (2000, p. 50), os estilos são caracterizados
como “tendências diferenciadas nas formas de aprender, relacionar os dados da realidade e de
elaborar conclusões sobre eles”.
Estilos de aprendizagem constituem-se de emoção (aspecto afetivo) e cognição.
Segundo Brown (2000), muitos autores alegam que os estilos são características estáveis em
adultos. Entretanto, conforme pondera o autor, este é um ponto de vista questionável, já que o
mesmo indivíduo pode evocar estilos diferentes, dependendo do contexto em que está
inserido. Ehrman (1996) explica que muitos modelos de estilos de aprendizagem são
bipolares, representando um continuum do comportamento. Dessa forma, ninguém pode optar
por um dos polos sempre. Na verdade, ambos são acessados, com mais ou menos frequência,
dependendo da ocasião.
Uma das características individuais mais importantes é a flexibilidade. Quando o
aprendiz é capaz de alternar seus estilos de acordo com as circunstâncias, ou seja, com o
professor e com o curso no qual ele está inserido, provavelmente, ele terá maiores chances de
obter êxito.
33
Segundo Brown (2000), o aprendiz sequencial quer aprender passo a passo, seguindo
uma ordem lógica, geralmente estabelecida em um livro. Esse tipo de aprendiz provavelmente
se sentirá frustrado com atividades abertas como conversações livres. Possui a necessidade de
concluir uma atividade antes de iniciar outra. Gosta de repetições e drills (exercícios
mecânicos, de fixação).
Ehrman (1996) afirma que os aprendizes sequenciais podem se sentir subjugados por
situações caóticas, especialmente se não são aprendizes autoconfiantes com uma história
prévia de sucesso na aprendizagem.
Para agradar aprendizes com esse estilo, o professor deve oferecer uma aula mais
previsível no que concerne à estrutura a ser ensinada, à ordem dos exercícios e ao tempo
necessário para se concluir as atividades.
Os aprendizes aleatórios, por outro lado, tendem a considerar a própria aprendizagem
sequencial, portanto, alternam de uma matéria para outra frequentemente, com o intuito de
torná-la menos entediante. Tais aprendizes geralmente demonstram grande tolerância à
ambiguidade. Por não seguirem uma sequencialidade, são julgados como aprendizes não
muito bons por observadores externos, que veem em seu modo de agir certa falta de
organização.
34
Para que o aprendiz aleatório sinta-se satisfeito, os professores devem lhe dar o
máximo de liberdade que ele consiga administrar e devem lhe oferecer apoio para que ele seja
um aprendiz autônomo e autossuficiente sem se perder.
modelos ou exemplos. O processo indutivo começa com dados e busca a generalização, que
pode ser extraída. O aprendiz dedutivo é aquele que parte de uma regra e a aplica a casos
reais; durante o processo dedutivo, o aprendiz testa uma regra ou generalização diante dos
fatos.
Dunn e Dunn (1978), cuja pesquisa se concentra em variáveis ambientais que possam
afetar os estilos de aprendizagem, afirmam que os dois hemisférios do cérebro realizam
funções diferentes. O esquerdo se associa ao pensamento linear, analítico, enquanto o direito
rege o pensamento integrativo, espacial e as emoções.
De acordo com Brown (2000), aprendizes que possuem o lado esquerdo do cérebro
como dominante, preferem ensino dedutivo e lidam melhor com o abstrato, com rotulação e
organização. Quando há o predomínio do lado direito do cérebro, os aprendizes percebem e
lembram imagens visuais, táteis e auditivas. Tais aprendizes optam por um ensino indutivo e
preferem generalizações, metáforas, reações emocionais e expressões artísticas.
Enquanto a maioria das funções do hemisfério esquerdo está relacionada à produção
convergente, ou seja, à obtenção da resposta correta, as funções do lado direito estão
envolvidas com a produção divergente, que envolve a imagem, por meio da qual a
criatividade surge.
Ehrman (1996) formulou uma lista de características associadas ao lado direito e ao
lado esquerdo do cérebro:
indisciplinado, causando vergonha naqueles que se sentem mais confortáveis com esse
canal.
Existem vários fatores que tornam difícil a adaptação de um aluno cinestésico à
sala de aula. Um deles já foi mencionado anteriormente, que se refere à socialização em sala
de aula. Em salas com aprendizes adultos, principalmente, a tendência é permanecer cada
um em seu lugar, o que deixa o aprendiz cinestésico impaciente. A lotação das salas
também é um problema, porque atividades que envolvam movimentação tornam-se
inexequíveis.
Para satisfazer a cada uma das preferências por um canal de percepção as aulas
devem ser flexíveis. É importante que o professor dê opções para os alunos: ao invés de
pedir que eles sempre realizem uma atividade com o livro fechado, por exemplo, deve-se
alternar, deixando-os ver ou ouvir o conteúdo. Técnicas típicas do Resposta Física Total,
jogos e role plays (desempenho de papéis) em pequenos grupos são atividades muito bem
aceitas por aprendizes cinestésicos.
As pesquisas em estilos de aprendizagem ajudam os professores a perceber que
todas as pessoas aprendem de formas diferentes, independente de seu nível de capacidade.
Todos precisam estar cientes de que não existem formas certas ou erradas, mas existem
estilos mais apropriados para uns do que para outros. Embora alguns estilos sejam mais
prezados do que outros, a flexibilidade exigida por situações diversas nos faz pensar na
importância de todos os estilos.
De acordo com Kolb (1976), a aprendizagem poderia ser divida em quatro etapas de
um processo cíclico:
Dimensão de Compreensão
Dimensão do Processamento
relação interpessoal, embora, algumas vezes, possa ser um pouco impaciente e grosseiro.
Aprende melhor sozinho do que em grupo.
O assimilador aprende, principalmente, por Observação Reflexiva e Conceituação
Abstrata. Dentre os quatro tipos é o que tem uma abordagem mais cognitiva, preferindo
pensar a agir. Possui um raciocínio indutivo e é muito hábil na construção de modelos
abstratos e teóricos. Consegue aprender por meio de conversas que conduzem a um caminho
de reflexão e lógica. Está mais preocupado com ideias e conceitos do que com pessoas. A
melhor maneira de ensinar um assimilador é com aulas expositivas que comecem com um
alto nível de conceitos, para que ele possa chegar aos detalhes. Não gosta de aprender por
meio de brincadeiras, já que adota uma postura séria.
O aprendiz convergente tem como características predominantes a Conceituação
Abstrata e a Experimentação Ativa. É bom na resolução de problemas, em tomadas de
decisões e na aplicação de ideias. Interessa-se por saber como as coisas funcionam na
prática. Obtém bom resultado em inventários convencionais de inteligência. Demonstra
certa reserva ao expressar seus sentimentos e prefere lidar com problemas técnicos a tratar
de questões interpessoais. Prefere trabalhar sozinho, de modo atento e independente. Opta
pelo ensino dedutivo.
O aprendiz divergente aprende melhor pela Experiência Concreta e Observação
Reflexiva. Tem bom relacionamento interpessoal, é muito imaginativo e consciente de
significados e valores. Observa situações concretas sob diversas perspectivas.
Frequentemente quer saber o porquê de tudo e, a partir de um pequeno detalhe, consegue
construir o todo. Tende a ser orientado por seus sentimentos, é interessado por pessoas e
gosta de receber feedback construtivo.
com mais facilidade do que veem – figuras, diagramas, fluxogramas, filmes e demonstrações.
envolve observar e coletar dados por meio dos sentidos. Tais aprendizes são mais detalhistas,
memorizam fatos com facilidade, saem-se bem em trabalhos práticos (laboratório, por
exemplo). Tendem a ser mais cautelosos do que os intuitivos. Por outro lado, a aprendizagem
intuitiva envolve a percepção indireta ou inconsciente, por meio dos mecanismos da memória,
relações. Sentem-se mais confortáveis em lidar com novos conceitos, abstrações e fórmulas
para outras pessoas. Aceitam bem o trabalho em grupo e mostram-se inquietos ao assistir uma
reflexivos como inertes, enquanto os reflexivos tendem a julgar os ativos como apressados.
Compreendem o contexto geral do que estão aprendendo, mas têm dificuldade de explicar
como chegaram àquela conclusão. Tais aprendizes geralmente têm problemas de leitura e
O quadro seguinte traz a correlação entre os estilos apontados por Felder e Silverman
Estratégias Metacognitivas
• Organização avançada • Planejamento Funcional
• Atenção direcionada • Automonitoramento
• Atenção seletiva • Produção adiada
• Autogerenciamento • Autoavaliação
Estratégias Cognitivas
• Repetição • Imagem
• Recurso • Representação auditiva
• Tradução • Palavra-chave
• Agrupamento • Contextualização
• Anotação • Elaboração
• Dedução • Transferência
• Recombinação • Inferência
Estratégias Sócio-Afetivas
• Cooperação • Busca por esclarecimento
Quadro 7 – Estratégias de Aprendizagem. Adaptado de O’Malley e Chamot (1990)
46
5
Segundo Ellis, contexto linguístico refere-se à língua que envolve um ponto gramatical específico e que pode
influenciar na escolha do aprendiz por uma forma particular; o contexto situacional é aquele no qual a
comunicação real acontece. Fatores situacionais, tal como a pessoa com quem o aprendiz está conversando,
podem influenciar na escolha da forma linguística. (Ellis, 1997, p. 141 e 143)
47
formal (treinar uma palavra nova, por exemplo), contribuem para o desenvolvimento da
(tentar estabelecer diálogo com falantes nativos, por exemplo) auxiliam o desenvolvimento
de habilidades comunicativas.
indireta sobre a aprendizagem, ao passo que para Wenden e Rubin (1987) tais estratégias
compensatórias permitem que o aprendiz use a língua, apesar de não ter pleno conhecimento
responsáveis pelo lado emocional, tendo como função diminuir a ansiedade e aumentar a
autoestima, por exemplo. As estratégias sociais ajudam o aprendiz no sentido de que sua
aprendizagem ocorre a partir da interação com o outro, para quem ele pode pedir
(1990).
48
Estratégias Diretas
1. Estratégias de Memória
• Ligações mentais (agrupamento, associação, elaboração, inserção de palavras novas
em determinado contexto)
• Utilização de imagens e sons (uso de imagens, mapeamento semântico, uso de
palavras-chave, lembrança dos sons)
• Revisão (visualização estruturada)
• Aplicação (associação com atividade física ou com sensações, uso de técnicas
mecânicas).
2. Estratégias Cognitivas
• Prática (repetição, combinação, reconhecimento e uso de fórmulas e modelos
comuns às regras existentes no sistema da língua)
• Recebimento e envio de mensagens (obtenção da ideia rapidamente, utilização de
recursos para receber e transmitir mensagens)
• Análise e raciocínio (raciocínio dedutivo, análise contrastiva, tradução e
transferência)
• Criação de estruturas para input e output (anotações de aula, resumos e realces).
3. Estratégias Compensatórias
• Adivinhação inteligente (utilização de dicas linguísticas ou outras dicas)
• Superação de limites na fala e na escrita (utilização de mímica ou gesto, alternância
para a língua materna, pedido de ajuda, seleção de tópico, criação de palavras,
circunlóquio ou uso de sinônimos, evitação parcial ou total de determinado assunto).
Estratégias Indiretas
1. Estratégias Metacognitivas
• Centralização da aprendizagem (criação de um panorama e associação do assunto
novo ao conhecimento já adquirido; adiamento da fala para enfoque na compreensão
auditiva, atenção voltada a um ponto específico)
• Organização e planejamento da aprendizagem (definição de metas e objetivos,
planejamento de uma tarefa, busca por oportunidades de fala)
• Avaliação da aprendizagem (automonitoramento e autoavaliação).
2. Estratégias Afetivas
• Diminuição da ansiedade (utilização de técnicas como respiração profunda, risadas,
música, meditação)
• Autoencorajamento (pensamento positivo, autorrecompensa)
• Medição da temperatura emocional (elaboração de diário, atenção aos avisos do
corpo, compartilhamento dos sentimentos ou sensações com outras pessoas).
3. Estratégias Sociais
• Questionamentos (pedir esclarecimentos)
• Cooperação
• Empatia (desenvolver compreensão cultural e entender pensamentos e sentimentos
alheios).
Quadro 8 – Estratégias diretas e indiretas. Adaptado de Oxford (1990)
Oxford (1990) explica que, de maneira geral, o uso das estratégias de aprendizagem
leva a um maior nível de proficiência; aprendizes eficientes selecionam estratégias de forma
organizada e sistemática, considerando as exigências da tarefa e sendo capazes de verbalizar
suas escolhas.
49
Quando o indivíduo entra em contato com o meio ambiente físico e social ele tende
a agir e reagir de determinada maneira que o caracteriza. Como nem todas as pessoas
manifestam as funções da vida psíquica (perceber, pensar, imaginar, compreender) do
mesmo modo e algumas agem de maneira similar a outras, foram criadas, ao longo dos
tempos, tipologias que pudessem classificar os indivíduos de acordo com suas preferências
e atitudes. As tipologias apenas ordenam, não julgam nem estereotipam, pois não existem
Tipos corretos ou incorretos, superiores ou inferiores, mas simplesmente semelhantes ou
diferentes:
A tipologia psicológica não tem a finalidade (...) de dividir as pessoas em categorias,
mas significa antes uma psicologia crítica que possibilite uma investigação e
ordenação metódicas dos materiais empíricos relacionados à psique. É (...)
instrumento crítico para o pesquisador em psicologia que precisa de certos pontos de
vista e diretrizes para ordenar a profusão quase caótica das experiências individuais.
(...) A tipologia representa uma ajuda para a compreensão das variações mentais (...)
(JUNG, 1991, p. 509).
Antes dos estudos realizados pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1885 - 1961) e
das conclusões por ele obtidas, houve vários trabalhos importantes sobre as diferenças
individuais e sobre a classificação do homem realizados por outros estudiosos. Um dos
primeiros exemplos do reconhecimento explícito das diferenças individuais está entre os
gregos há mais de 2000 anos, que pode ser percebido na frase de Teofrasto, na obra
Caracteres: “Por que será que, apesar de toda a Grécia descansar sob o mesmo céu e todos os
gregos serem educados de forma semelhante, todos nós somos diferentes em termos de
personalidade?” (EYSENCK; EYSENCK, 1987, p. 19).
Conforme explica Pacheco (1998), a citação acima reflete o questionamento de um
observador da conduta humana, que, aos 99 anos, intriga-se com o fato de que, apesar de os
indivíduos viverem em meios semelhantes, submetidos a processos educacionais e imersão
cultural bastante equivalentes, apresentam características comportamentais muito pessoais que
os tornam diferentes uns dos outros.
O próprio Jung admite serem bem antigas as tentativas de, por um lado, “resumir em
certas categorias as infindas diferenças dos indivíduos humanos” e, por outro, “derrubar a
aparente uniformidade de todos os homens pela caracterização mais precisa de certas
diferenças psíquicas” (JUNG, 1991, p. 470).
Os trabalhos desenvolvidos na primeira década do século vinte remetem aos
estudos feitos por Hipócrates, vinte e cinco séculos antes, que explicavam que o corpo
humano era composto de quatro elementos: ar, água, fogo e terra e que esses elementos
correspondem, no corpo vivo, a: sangue, fleuma, bile amarela e bile negra. A partir da teoria
de Hipócrates, o médico grego Cláudio Galeno teve a ideia de descrever o comportamento
humano a partir de quatro temperamentos 7, de acordo com a mistura desigual dos quatro
elementos: sanguíneos, se predominasse o sangue; fleumáticos, se predominasse a fleuma;
coléricos, se houvesse predomínio da bile amarela e melancólicos, caso predominasse a bile
negra.
7
Segundo explicações de Pacheco (1998, p. 21), os termos personalidade, temperamento e caráter são
erroneamente utilizados para se referirem à mesma identidade individual. Segundo ela, o termo caráter não é
apropriado porque está impregnado de conotação de aceitabilidade moral, de julgamento de valor. O
temperamento, por sua vez, é determinado pelos humores (secreções glandulares) do corpo e refere-se ao clima
químico em que se desenvolve a personalidade, sendo de origem hereditária. Assim, o termo personalidade
parece ser mais adequado, pois possibilita uma abordagem do indivíduo em sua completude e que se organiza na
sua interação com o meio.
52
8
O termo atitude, presente na teoria dos Tipos, não deve ser confundido com a palavra de uso corriqueiro que
designa ‘modo de agir ou proceder’, mas deve ser pensado como “uma disposição da psique de agir ou reagir em
certa direção.” (JUNG, 1991, p.395)
55
9
Jung menciona que o inconsciente coletivo recebeu essa designação porque é desligado do inconsciente
individual e totalmente universal, pois seus conteúdos podem ser encontrados em toda parte.
56
formar uma totalidade, que é o Self. Assim, o desenvolvimento do Self significa o mais alto
grau de diferenciação e desenvolvimento de todos os aspectos da personalidade humana. O
processo psicológico pelo qual o Self se forma denomina-se processo de individuação:
A individuação, em geral, é o processo de formação e particularização do ser
individual e, em especial, é o desenvolvimento do indivíduo psicológico como ser
distinto do conjunto, da psicologia coletiva. É, portanto, um processo de
diferenciação que objetiva o desenvolvimento da personalidade individual (...)
(JUNG, 1991, p. 426)
(arquétipos) que as impulsionam (KEIRSEY; BATES, 1984). Para os outros teóricos essa
afirmação é verdadeira no que concerne aos arquétipos, entretanto, para eles, há a
superioridade de um único instinto, enquanto para Jung, um instinto não deve ser
considerado mais importante do que outro. O importante, segundo ele, é a disposição
natural do indivíduo para a Extroversão ou Introversão, combinada com a preferência por
uma das quatro funções psicológicas básicas – Sensação, Intuição, Pensamento e
Sentimento – que identifica o Tipo Psicológico de cada um.
Para uma melhor compreensão da teoria da personalidade, segue uma figura
ilustrando o modelo psíquico proposto por Jung11:
C = Complexos A = Arquétipos
Figura 2 – Modelo psíquico de Jung. Adaptado de Silveira (2006)
11
É importante esclarecer que o modelo junguiano da psique não se desenha a partir da relação conflituosa das
instâncias psíquicas (Id, Ego e Superego), como o proposto por Freud.
59
já que ele só tem noção de que tais fatos ocorrem com ele ou com o outro, mas não
conseguem reagir a nada.
Outro conceito importante é o da oposição. Segundo Jung (1991), a oposição existe
em qualquer parte da personalidade, relacionando a função inferior (a menos diferenciada ou
desenvolvida das funções) à função principal. O conflito entre os opostos não cessa nunca,
pois, segundo Jung, sem as tensões geradas pelos elementos em conflito não há energia e, sem
energia, não há personalidade.
A tipologia junguiana deve ser interpretada adotando-se uma concepção de
dimensões contínuas das possibilidades de adaptação do indivíduo à realidade, uma vez que
as funções opõem-se entre si aos pares, em um continuum no qual um dos opostos tende a se
desenvolver mais, constituindo-se em função principal, auxiliado por uma das funções que
também se desenvolveu mais do que sua oposta. As demais funções tendem ao
subdesenvolvimento, tornando-se funções inferiores, no sentido de subdesenvolvidas, e
tendem a permanecer mais próximas das camadas inconscientes.
Persona e sombra são dois conceitos muito empregados por Jung. A persona, que
representa a personalidade pública, intermedeia o ego e o mundo real. Tal conceito é derivado
da palavra latina equivalente à máscara, e se refere às máscaras usadas pelos atores no teatro
grego para dar significado aos papéis que representavam. O primeiro passo no processo de
Individuação (que resulta na formação do Self) é o desnudamento da Persona, pois, embora
esta tenha funções protetoras importantes, ela é também uma máscara que esconde o Self e o
inconsciente (JUNG, 1991).
A sombra é o centro do inconsciente pessoal, o núcleo do material que foi
reprimido da consciência. A sombra inclui as tendências, desejos, memórias e experiências
que são rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis com a persona e contrárias aos
padrões e ideais sociais.
De acordo com Jung (2000), a sombra é uma parte viva da personalidade e, por
essa razão, quer comparecer de alguma forma. Não é possível anulá-la argumentando, ou
torná-la inofensiva por meio da racionalização. Esse problema é extremamente difícil, pois
não desafia apenas o homem total, mas também o adverte acerca do seu desamparo e
impotência.
A sombra usa as funções do julgamento e da percepção de modo relativamente
infantil e primitivo, sem permissão da consciência. Justamente por isso, as ações realizadas
pela sombra sempre geram arrependimento ou indignação: “Por que eu fiz isso? Eu não
tinha a intenção...”. (MYERS e MYERS, 1995, p. 84). Tal manifestação explica algumas
61
12
Introjeção se refere à assimilação inconsciente de um conteúdo, enquanto projeção refere-se a um processo de
dissimilação ou expulsão de um conteúdo para ou na direção de um objeto (JUNG, 1991, p. 430).
62
13
As palavras Extroversão e Introversão têm origem latina. A primeira significa voltar-se para fora: extra = para
fora, vertere = voltar-se, enquanto Introversão significa voltar-se para dentro: intro = para dentro, vertere =
voltar-se.
63
O indivíduo introvertido não vai ao encontro do objeto, mas está sempre em posição
de retirada dele. Está fechado para o acontecimento externo, não participa, tem acentuado
desprazer social quando se encontra em meio a um grande número de pessoas. Em grandes
reuniões, sente-se só e perdido. Sua ansiedade em relação ao objeto não reside no temor, mas
no fato de lhe parecer negativo, exigente, impositivo e, até mesmo, ameaçador. Com
referência ao mundo, emprega um elaborado sistema de segurança que se compõe de
escrupulosidade, cautela, meticulosidade angustiada, precaução, exatidão sofrida e uma
desconfiança sempre atenta. Em suma, tal indivíduo só aceita aquilo que é elaborado a partir
de muitas razões subjetivas.
Aquele cuja atitude introvertida é predominante possui um limitado círculo de
amigos e conhecidos. Sua vida psíquica transcorre totalmente no íntimo subjetivo e fica oculta
ao mundo exterior. Seu retraimento sobre si mesmo não significa renúncia plena ao mundo,
mas busca de sossego, pois só assim é capaz de dar sua contribuição para a vida da
comunidade.
Por ser muito reservado, o introvertido se expressa em poucas palavras e pressupõe
que sua fala resumida seja suficiente para atingir o outro. Tal fato, muitas vezes, faz com que
outras pessoas encarem isso como uma atitude arredia.
Uma pessoa desse Tipo corre o risco de imergir de forma demasiada em seu mundo
interior, perdendo ou atenuando o contato com o ambiente externo, tornando-se absorta em
suas reflexões.
Jung (1991) usa a expressão “acento numinal” 14 (p. 508) para descrever a questão
da realidade psíquica dos indivíduos extrovertidos e introvertidos. Isso significa que, para o
extrovertido, as qualidades positivas, de importância e valor recaem em primeiro lugar
sobre o objeto, que desempenha em todos os processos psíquicos o papel preponderante,
condicionador e orientador. Para o indivíduo introvertido, tais valores recaem sobre o
sujeito.
O indivíduo introvertido deve evitar tomar decisões sob pressão, pois tal decisão,
possivelmente, não será a mais correta, de acordo com seus princípios. Se assim o fizer, ficará
incomodado e terá um desgaste muito grande, fazendo várias reflexões sobre sua atitude
posteriormente.
Jung (1991) conclui que não pode haver um Tipo puro no sentido de possuir apenas
um dos mecanismos, ficando o outro completamente atrofiado. Todo indivíduo possui os dois
14
O termo numinal é derivado da palavra latina numen, que significa força ou poder divino atribuído a objetos e
seres contemplados com admiração.
64
3.2.4 As funções
15
De acordo com Jung (1991, p. 431), irracional significa tudo o que não se pode fundamentar com a razão,
como por exemplo, os fatos elementares (a terra possuir uma lua, o cloro ser um elemento químico). Existem
algumas decisões, entretanto, que são tomadas inconscientemente, conforme ressalvam Kroeger, Thuesen e
Rutledge (2002, p. 33): ao sentir um vento forte (captação de informação) o indivíduo rapidamente segura seu
chapéu (tomada de decisão).
65
Todo ser humano possui as quatro funções, mas, durante seu desenvolvimento,
devido à diversidade das circunstâncias, cultiva (e diferencia) mais uma das funções,
tendendo a apoiar-se em larga medida nessa função para se adaptar. As exigências sociais e
profissionais, por exemplo, fazem com que a pessoa privilegie uma função à outra, porque é
mais condizente com sua natureza ou porque lhe é mais útil no seu desempenho profissional.
Essa função mais diferenciada é chamada de função principal, função superior ou função
dominante.
Perante um problema, o indivíduo deve usar todas as quatro funções para solucioná-
lo, independente de serem estas funções mais ou menos desenvolvidas: Sensação, para coletar
informações relevantes sobre tal problema; Intuição, para pensar em todas as medidas que
podem ser tomadas para saná-lo; Pensamento, para determinar as consequências; Sentimento,
para considerar o impacto dessas consequências nas pessoas envolvidas.
Na maioria dos casos, uma segunda ou até uma terceira função também se
desenvolve (função auxiliar), mas a quarta permanece em estado latente no inconsciente,
razão pela qual Jung lhe dá o nome de função inferior (VON FRANZ, 1975, p. 44). O
modelo abaixo ilustra qual seria a função inferior se a função Pensamento fosse a mais
desenvolvida:
Pensamento (1ª função – função principal)
Sensação (função auxiliar) Intuição (função auxiliar)
Sentimento (4ª função – função inferior)
perceptivas, que, segundo Jung, trazem ajuda benfazeja ao Pensamento. A função auxiliar é
útil apenas à medida que serve à função principal, sem pretender, com isso, autonomia de
seu serviço.
Há a possibilidade de existirem indivíduos cujo Pensamento esteja no mesmo nível
do Sentimento, tendo ambos a mesma força motivadora consciente. Em tal caso, porém, não
se trata de Tipo diferenciado, conforme explica Jung, mas de um Pensamento e Sentimento
relativamente subdesenvolvidos. Por outro lado, são poucos os indivíduos que pertencem a
um Tipo puro, ou seja, caracterizado pelo predomínio absoluto de uma dessas funções, sendo
comum encontrar Tipos mistos: pensadores pragmáticos (Pensamento + Sensação),
pensadores especulativos (Pensamento + Intuição), afetivo-intuitivos (Sentimento + Intuição),
afetivo-sensoriais (Sentimento + Sensação).
Capta o que está ao redor por meio dos cinco sentidos. A atenção
Sensação é dirigida a fatos, à realidade presente.
Funções da
Percepção
Capta as informações indiretamente por meio do inconsciente,
(irracionais)
Intuição incorporando ideias ou associações. Possui foco nas
possibilidades futuras.
Segue um processo lógico e objetivo de julgamento, visando à
Pensamento impessoalidade. Apóia-se no critério de “verdadeiro ou falso”.
Funções do
Julgamento Considera valores subjetivos para julgar ou tomar decisões.
(racionais) Sentimento Rejeita o processo analítico e demonstra apreciação pelo outro.
Tipo Intuição precisa do Tipo Sensação Tipo Sensação precisa do Tipo Intuição para:
para:
- trazer à tona fatos pertinentes - trazer à tona novas possibilidades
- encarar as dificuldades com realismo - lidar com as dificuldades com menos
- ater-se a detalhes importantes aborrecimento
Tipo Sentimento precisa do Tipo Tipo Pensamento precisa do Tipo Sentimento
Pensamento para: para:
- analisar - persuadir
- organizar - conciliar
- ser mais enérgico ao tomar decisões - prever a reação dos outros
Quadro 11 – Uso dos opostos. Adaptado de Myers e Myers (1995, p. 119)
auxiliar em sua obra, o aprofundamento da mesma ocorreu a partir dos estudos de Myers e
Briggs.
Conforme explicado anteriormente, Jung havia criado três pares dicotômicos:
Extroversão – Introversão, Sensação – Intuição e Pensamento – Sentimento. Com o objetivo
original de determinar qual das quatro funções deveria ser a mais importante (função
dominante) para cada indivíduo, Isabel Myers e Katharine Briggs identificaram uma quarta
dimensão, Julgamento – Percepção, que indica o tipo de vida que a pessoa adota. Embora
Jung não tenha explicitado em sua obra esse par opositivo, Myers e Briggs conseguiram
desvelá-lo nos escritos do psiquiatra.
Assim, Sensação, Intuição, Pensamento e Sentimento referem-se às funções
psíquicas (como já havia sido proposto por Jung) e cada uma delas pode ocorrer tanto de
maneira extrovertida quanto introvertida. Julgamento e Percepção são descritos como
atitudes, ao lado de Introversão e Extroversão (EHRMAN, 1996)18.
Cada um dos polos de uma dimensão passou a receber uma letra correspondente à
palavra em inglês:
Extraversion19 Introversion
E I
(Extroversão) (Introversão)
Sensing INtuition20
S N
(Sensação) (Intuição)
Thinking Feeling
T F
(Pensamento) (Sentimento)
Judging Perceiving
J P
(Julgamento) (Percepção)
Quadro 13 – Atitudes e preferências
18
Conforme esclarece Ehrman (1996), além de existir uma dimensão chamada Julgamento (J) e Percepção (P),
há também a função perceptiva, que se refere à Sensação e Intuição e uma julgadora, que está ligada a
Pensamento (T) e Sentimento (F), conforme já havia proposto Jung. Tal distinção se faz importante para que não
surjam confusões.
19
“Extroversion” foi primeiramente grafado por Jung como “Extraversion”.
20
Intuição foi representado pela segunda letra da palavra, ou seja N, porque a letra I já havia sido utilizada para
representar Introversão.
73
A disposição dos Tipos Psicológicos não é aleatória, já que os Tipos opostos entre si
estão sempre posicionados na linha diagonal, com um intervalo de um quadrado entre eles. Na
figura acima, estão representados pela mesma cor para facilitar a visualização.
O Tipo, na verdade, não se resume à simples junção das características peculiares
derivadas de cada uma das quatro preferências, mas é determinado pela interação de tais
preferências. ISTJ, por exemplo, refere-se ao Tipo Introversão, Sensação, Pensamento e
Julgamento e traz consigo o amálgama resultante das atitudes e funções preferenciais.
O modelo de personalidade proposto por Myers-Briggs resume-se às respostas de
quatro questões:
1. Para onde, primeiramente, o indivíduo direciona sua energia?
2. Como o indivíduo prefere processar informações?
3. Como o indivíduo prefere tomar decisões?
4. Como o indivíduo prefere organizar sua vida?
74
Figura 4 - Orientação de cada uma das preferências. Adaptada de Myers e Myers (1995).
Indivíduos do Tipo Julgamento acreditam que a vida deva ser vivida de modo
planejado e bem decidido. Aqueles do Tipo Percepção já optam pela espontaneidade e pela
flexibilidade.
A atitude da Percepção envolve o uso habitual de uma das funções perceptivas
(Sensação ou Intuição) ao interagir com o mundo exterior, enquanto a atitude do Julgamento
está relacionada às funções julgadoras (Pensamento ou Sentimento).
Quenk (2000) afirma que, sem fazer esforço consciente, os indivíduos que se
orientam pelo Julgamento são organizados e estruturados, cumprindo com observância
horários e prazos.
Quando a atitude Julgamento predomina, o indivíduo tem o desejo de chegar a uma
conclusão e a uma decisão de modo imediato. Seu foco é no produto e não no processo. Isso
pode ser um problema para o Tipo Julgamento, porque o fato de ele querer resolver uma
questão o mais rápido possível, para ver o resultado, o faz desconsiderar algumas
possibilidades que poderiam ser importantes.
A obsessão por atingir metas dentro de determinados prazos pode trazer frustrações
para os indivíduos do Tipo Julgamento, pois, caso não consigam cumprir tais metas, se
sentirão desmotivados. Tais indivíduos também não conseguem lidar muito bem com
situações imprevistas, pois estas transtornam o que eles haviam planejado.
Quando a Percepção é a atitude predominante, há a necessidade de se coletar
(perceber) grande número de informações antes de se chegar a alguma conclusão. Dessa
maneira, quando o indivíduo que se orienta pela Percepção recebe determinado prazo, ele
toma o término desse prazo como o ponto de partida e não como um ponto final para decidir
ou realizar algo.
Diferentemente do Tipo Julgamento, seu oposto, o Tipo Percepção demonstra ser
tolerante à desordem do ambiente físico, pois fica tão absorto com o que faz ou pensa que
negligencia a ordem e manutenção de seu espaço pessoal (KURI, 2004).
Indivíduos do Tipo Percepção começam a realizar muitas atividades ao mesmo
tempo e, por terem dificuldade de se regrar em relação a prazos, não conseguem priorizar
uma atividade em relação à outra, perdem seu foco e se acumulam de afazeres, não
concluindo muitos deles.
Conforme esclarecimentos anteriores em relação à possível compreensão errônea do
significado de alguns termos tais como Pensamento e Sentimento, deve-se chamar atenção
também para o significado das atitudes opostas Julgamento (Judging) e Percepção
(Perceiving), que não devem ser confundidas com atitudes julgadoras ou apenas perceptivas.
76
Quando se tem uma atitude relacionada ao Julgamento, o indivíduo espera que tudo seja
muito bem organizado e resoluto; quando se tem uma atitude ligada à Percepção, deseja-se
obter o máximo de informação possível antes de se chegar a uma conclusão. Geralmente, a
atitude do Julgamento atua com o Pensamento ou o Sentimento (funções julgadoras),
enquanto a atitude da Percepção se apoia na Sensação ou Intuição (funções perceptivas)
para que o indivíduo chegue a uma conclusão.
outro lado, quando I combina-se com P, a função dominante está na terceira letra (F ou T).
Em relação ao Tipo extrovertido, ocorre o inverso, ou seja, quando a última letra for J, a
função dominante será a representada pela terceira letra, correspondente a uma função
julgadora; no caso de a última letra ser P, a função dominante será representada pela
segunda letra, correspondente a uma função perceptiva.
O quadro seguinte traz os 16 Tipos relacionados, cada qual com o processo
dominante representado pelas letras sublinhadas.
Provavelmente, a dimensão com raízes mais profundas e que aparece mais cedo é a
da Extroversão – Introversão. Até mesmo uma criança nos seus primeiros anos de vida é
capaz de demonstrar inclinação para uma vida mais sociável ou contemplativa. Myers e
Myers (1995, p. 168) citam como exemplo o caso de duas irmãs gêmeas de três anos de idade
que, embora vivam no mesmo ambiente, sob condições idênticas, já demonstram diferenças
claras em seu modo de agir, de conversar, de se relacionar com as pessoas, já que uma é
extrovertida e a outra é introvertida.
22
In every stage there is a simple form, in which the differentiation of the prevailing function has only just
begun, and its modes of adaptation are still being tentatively tried out, although a clear preference for typical
forms of adaptation can already be observed. At a later stage the dominating function has found its forms,
controlling these with great assurance. Anything that is not in accord is, at this stage, suppressed. With a few
people there follows a still further stage, in which the other functions are permitted more development, to
compensate for any one-sidedness, and the pronounced typical figure is again modified to some extent by the
unfolding of a fuller and richer expression of human nature.
79
A tabela de Tipos pode ser dividida de várias formas. Por exemplo, pode-se obter um
modelo de personalidade comum simplesmente destacando as letras que aparecem no meio de
cada Tipo, correspondentes às funções (S ou N e T ou F). Assim, as pessoas podem ser
descritas como ST, SF, NT ou NF, o que auxilia na identificação dos estilos de aprendizagem.
Outro modelo comum, representando o temperamento, é formado pelas combinações SJ, SP,
NF e NT, que são usadas para se descrever comportamentos e valores (EHRMAN, 1996).
Segundo Shindler (2005), também é possível descrever um perfil para os Tipos
Psicológicos enfocando apenas as funções psicológicas S-N (Sensação - Intuição) dentro das
atitudes I-E (Introversão – Extroversão), permitindo a formação de quatro combinações: IS,
IN, ES e EN, conhecidas como “Tipos Acadêmicos”. Um perfil sintético de cada um desses
Tipos é apresentado no quadro a seguir:
81
4 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
A pesquisa será caracterizada por sua natureza, seus participantes, seu contexto e
seus instrumentos, para que se consiga visualizar e compreender todos os aspectos envolvidos
na coleta de dados.
classe possui em média 25 alunos. Seu corpo docente é composto por 48 professores, desde o
Infantil 1 até o terceiro ano do Ensino Médio.
É uma escola franqueada, com material didático apostilado. As aulas do Ensino
Fundamental e Médio ocorrem no período da manhã e o período da tarde é reservado para
atividades esportivas, plantões de dúvida e desenvolvimento de projetos. O Ensino Infantil
funciona nos dois períodos. Possui uma boa estrutura, com recursos tecnológicos
disponibilizados aos alunos, como TV, DVD, internet e anfiteatro equipado com telão para
apresentações de aula. As salas de aula têm um aspecto agradável, com paredes recém
pintadas, lousa bem conservada, carteiras limpas e dispostas em fileiras.
O sistema de avaliação é bimestral e a média que os alunos devem obter é 6.0. As
recuperações são semestrais, sendo que ao término do quarto bimestre, além da recuperação
obrigatória, os alunos que não obtiveram a média necessária passam pela recuperação final,
que geralmente ocorre na segunda e terceira semanas de dezembro.
Participaram da pesquisa 28 alunos, todos da 8ª série ou 9º ano do Ensino
Fundamental, com idades que variam entre 14 e 15 anos. Dentre os participantes, havia 20
meninas e 8 meninos, todos com um nível de conhecimento básico de Língua Inglesa. Tais
quesitos (sexo e nível de conhecimento do idioma estudado) não serão levados em
consideração para a análise dos dados, entretanto, seu registro é importante para que se
conheça melhor o perfil dos participantes. Esses alunos foram selecionados pelo fato de serem
os mais velhos dentre os alunos com os quais trabalho na escola pesquisada e já com a idade
mínima requerida para responder ao inventário - 14 anos. Outra razão por termos escolhido
tais alunos é que eles compõem uma das maiores salas da escola, com 30 alunos inicialmente,
o que pôde contribuir com o fator heterogeneidade.
A coleta de dados foi feita por mim no decorrer do primeiro semestre letivo de 2008
durante as aulas de Língua Inglesa que ministrei. As aulas ocorriam uma vez por semana e
tinham duração de 50 minutos cada - 10h 40m às 12h 20m.
Os instrumentos escolhidos foram: um inventário baseado no MBTI (Myers-Briggs
Type Indicator - Indicador de Tipos Myers-Briggs), observações de comportamento e uma
entrevista semiestruturada, que serão explicitados mais adiante nos itens 4.1.3 e 4.1.4.
Definidos os instrumentos de pesquisa, resolvemos iniciar a coleta de dados com o
inventário, que foi respondido duas vezes em um prazo de 4 meses 23. A sua reaplicação foi
necessária para compararmos os dados e validá-los. Inicialmente havia 30 participantes,
23
As questões foram respondidas durante as aulas de Língua Inglesa, que foram replanejadas para que houvesse
tempo suficiente para as duas aplicações, sem atrapalhar o conteúdo previamente estipulado pela escola.
85
porém, dois foram transferidos da escola no decorrer do semestre, o que não lhes permitiu
responder ao inventário novamente e, por essa razão, seus dados não foram considerados na
pesquisa.
É importante esclarecer que, antes de responder ao inventário baseado no MBTI
(Anexo A), os aprendizes, por serem menores de idade, entregaram a seus pais ou
responsáveis um Termo de Consentimento (Apêndice B) constando a descrição da pesquisa
da qual seus filhos ou tutelados participariam, dos riscos que correriam, do sigilo dos dados e
da não obrigatoriedade em participar. Não houve qualquer objeção. Tanto o Termo de
Consentimento, como o projeto de pesquisa, passaram pela aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisas da UFSCar.
Além do inventário, realizamos entrevistas e fizemos observações para verificar a
relação dos dados fornecidos.
Decidimos que a coleta de dados deveria ser feita apenas no primeiro semestre de
2008 para que a análise e a organização dos dados fossem iniciadas a partir do segundo
semestre. Separamos os inventários respondidos e selecionamos algumas respostas das
entrevistas para ilustrar os dados fornecidos pelos inventários. As observações
comportamentais serviram de sustentação e complementação para redigirmos as conclusões
acerca de cada dimensão psicológica.
24
http://www.ilanet.com.br/cgi-local/portal/bin/view/Persona/TesteDePersonalidade. O site foi criado em maio
de 2007 por Gregório Bittar Ivanoff, engenheiro eletricista, graduado pela Escola de Engenharia Mauá e Mestre
pela Escola Politécnica da USP, com atividade de pesquisa sobre a relação entre ambientes e organizações
virtuais e processos organizacionais seguros de desenvolvimento de software.
87
Concluindo, a escolha feita deve ser a mais confortável, natural e automática, ou seja,
os respondentes devem pensar na atitude que tomariam ou como se sentiriam em uma
situação normal, sem que estivessem expostos a qualquer tipo de pressão ou coerção.
Todos os aprendizes responderam ao inventário em papel impresso e após concluídas
as respostas, recolhi todos as folhas para a análise dos dados. Tal análise começou com a
transferência dos dados para o inventário disponível online, que permitiu que se descobrisse o
Tipo Psicológico de cada um imediatamente após o envio das respostas. Quando passadas as
respostas dos aprendizes para o computador, automaticamente, o software programado gera o
resultado do Tipo do respondente.
Após a verificação de cada Tipo, foram comparados os dados fornecidos pelos
aprendizes com as informações presentes na descrição de cada Tipo disponibilizadas pelo site
e com a teoria explicitada nos livros Introduction to Type (MYERS; KIRBY; MYERS, 1987),
Gifts differing: Understanding Personality type (MYERS; MYERS, 1995), Ser humano é ser
diferente (MYERS; MYERS, 1997) e Essentials of Myers-Briggs Type Indicator Assessment
(QUENK, 2000).
A seguir será apresentado um breve histórico do MBTI contextualizando sua
idealização e todos os preceitos envolvidos em sua elaboração.
mesmo. Em relação aos Tipos, algumas preferências podem ficar mais ou menos intensas.
Entretanto, aquelas que são inatas, são insubstituíveis.
Este trabalho também não pretende contestar as imperfeições do Indicador de Tipos;
entretanto, defende o fato de que é mais fácil reconhecer os erros, localizar suas causas e
tentar amenizá-los. Para Medeiros (1976), um princípio básico em que indicadores de
comportamento se firmam é o de colher amostras do comportamento para nelas estudar a
intensidade da característica em exame. Sua vantagem é que, em curto prazo, com menos
erros de julgamento, apontam aspectos importantes do comportamento.
Ainda segundo Medeiros (1976), os possíveis erros nas indicações de
comportamento geralmente estão ligados a desinteresse ou fadiga do indivíduo que está sendo
avaliado; imprecisão ou inadequação do instrumento de medida; desconforto com o ambiente
e com o examinador. Quenk (2000) acrescenta que respondentes com sérios distúrbios
psicológicos e que estão sob o efeito de alguma substância química também podem levar a
resultados inválidos.
Por essa razão, o examinador deve analisar os dados fornecidos pelos aprendizes e
compará-los aos hábitos desses aprendizes em sala de aula e a entrevistas complementares,
para que consiga concluir se as respostas dadas nos inventários condizem com a realidade ou
são apenas tipos criados ou idealizados por eles.
Gagné (1967), um dos expoentes do cognitivismo, chama atenção para outro ponto
importante: muitas vezes, a adaptação da prática de ensino por parte do professor tem como
base apenas sua crença e a observação informal. De acordo com o autor, alguns professores
alteram seu modo de ensino a partir da impressão causada pelos alunos, sem qualquer teoria
explícita. Tal decisão, conforme ele acrescenta, pode ser benéfica, mas há grandes chances de
ser ineficiente ou até mesmo prejudicial. Assim, os inventários de personalidade são uma
alternativa válida para serem aplicados a pessoas ou grupos quando se quer conhecê-los
melhor, seja para lidar mais habilmente com eles, seja para ajudá-los no presente ou para
prever reações futuras.
Conforme alertam Berens e Nardi (1999), a personalidade não pode ser medida, mas
mapeada. Ao se fazer tal mapeamento é necessário levar em conta, não somente as
informações dadas no inventário, mas também as respostas das entrevistas e as observações
feitas.
Finalmente, é necessário ter ciência de que o Tipo Psicológico não explica tudo,
embora seja um importante constituinte da complexa personalidade humana.
92
4.1.3 Observações
classe. Outros, que ficam inquietos na carteira durante as aulas, não perdem a oportunidade de
correr ou fazer brincadeiras com o colega, o que demonstra sua necessidade de extravasar sua
energia.
4.1.4 Entrevista
Além do MBTI, optamos por fazer entrevistas como instrumento de pesquisa, pois,
conforme ressalta Ehrman (1996), embora os questionários sejam muito úteis, muito se pode
conseguir por meio de entrevistas e técnicas de observação. Além disso, Lüdke e André
(1986, p. 34) defendem que a entrevista “permite a captação imediata e corrente da
informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados
tópicos” e ainda permite correções, esclarecimentos e adaptações.
Após os aprendizes responderem ao primeiro inventário no início do semestre,
consideramos pertinente fazer uma entrevista com os mesmos, elaborando questões
relacionadas àquelas propostas no inventário (ver questões abaixo). Tal procedimento foi
muito útil, pois, assim, foi possível traçar um perfil complementar ao demonstrado pelos
inventários. A entrevista feita pode ser classificada como semiestruturada, condizente com a
seguinte descrição de Seliger e Shohamy (1989, p. 167): “a entrevista semiestruturada
consiste de questões específicas e definidas de antemão, mas, que, ao mesmo tempo, permite
que o entrevistador faça as adaptações necessárias.”
Seguimos um conjunto de questões previamente definidas, mas desenvolvidas sob
condições muito semelhantes ao de uma conversa informal. Com esse tipo de entrevista,
devemos ficar atentos para dirigir, no momento que acharmos oportuno, a discussão para o
assunto que nos interessa, fazendo perguntas adicionais para elucidar questões que não
ficaram claras ou ajudar a recompor o contexto da entrevista, caso o respondente tenha
dificuldade com o tema ou tenha fugido dele.
As entrevistas foram realizadas durante os meses de abril e maio, quando todos os
aprendizes já haviam respondido ao MBTI. A partir das respostas dadas pelos aprendizes,
pudemos verificar se havia contradições entre o que foi dito por eles e o que foi revelado nos
inventários.
A entrevista, destinada a todos os aprendizes, era composta de seis questões fixas.
Entretanto, as respostas dadas, algumas vezes, exigiam complementação ou esclarecimentos
e, portanto, eu fazia outras perguntas direcionadas que variavam de aprendiz para aprendiz.
94
Conforme cada aprendiz dava suas respostas, elas eram registradas por mim por meio de
anotações (Anexo B).
Questões:
1) Você prefere fazer trabalhos em grupo ou individualmente?
2) Quando você tem que entregar um trabalho, por exemplo, você o faz com
antecedência; faz na véspera, mas consegue entregar em dia ou se esquece de fazer e pede
para o professor prorrogar o prazo de entrega?
3) Quando o professor está explicando a matéria, você presta atenção e anota tudo o
que ele fala; se concentra, mas não faz nenhuma anotação ou encontra um meio de conversar
com o colega?
4) Ao ler um texto em inglês, você se preocupa com a tradução das palavras
isoladamente ou você tenta compreender o todo, o contexto?
5) Durante as aulas de Língua Inglesa, qual dessas atividades você se sente menos
confortável em realizar: leituras em voz alta, role plays, exercícios escritos ou seminários?
6) Quando você tem alguma dúvida, você procura solucioná-la sozinho, pergunta
para a professora ou a ignora?
FEVEREIRO/0
TIPOS 8
N° Respondentes
ESFJ 4
ESFP 2
ESTJ 5
ESTP 4
ENTP 1
ENFP 2
ENFJ 1
ISTP 1
ISFP 3
ISFJ 2
ISTJ 1
INTP 0
INTJ 0
TOTAL 26
25
Para conferir a variação do Tipo de cada um dos aprendizes, ver Apêndice A.
96
Por meio das respostas dadas pelos alunos, tanto nos inventários como nas
entrevistas e pelas observações no decorrer do semestre, foi possível correlacionar os Tipos
Psicológicos com os estilos e as estratégias de aprendizagem. Considerando as divisões
taxonômicas das estratégias de aprendizagem relatadas na seção 2.4, julgamos que as
97
classificações de O’Malley e Chamot (1990) e Oxford (1990) são as mais completas e, por
essa razão, foram escolhidas para sustentar nossa análise.
Convém fazermos alguns esclarecimentos quanto a dois casos excepcionais. As
respostas de A4 e de A24 (A = Aprendizes) relativas ao primeiro inventário e às questões
feitas durante a entrevista demonstraram algumas ambiguidades, que foram finalmente
corroboradas no segundo inventário, o qual apresentou uma variação muito grande do Tipo
Psicológico em relação ao que foi revelado no primeiro inventário (ver Apêndice A). Por essa
razão, os dados de tais aprendizes, considerados não confiáveis, não foram mencionados na
análise feita logo a seguir, na qual cada dimensão Psicológica foi descrita, a partir das
respostas obtidas no inventário e na entrevista.
No primeiro inventário, as respostas de A4 revelaram que ele era ESTJ e no segundo,
INTJ; as respostas de A24 demonstraram que ele era, primeiramente, ISTP e, posteriormente,
ESTJ. Comparando as respostas dos dois aprendizes no primeiro e no segundo inventários,
apenas 17 questões (ou 53%) em um total de 32, eram equivalentes.
A4 respondeu no inventário: “Tenho os pés no chão”. Entretanto, afirmou na
entrevista que, por ser “meio desligada”, copiava todo o conteúdo da lousa para que pudesse
lembrar mais facilmente do assunto quando fosse estudá-lo. A24 havia optado pela seguinte
resposta do primeiro inventário: “Sou rigoroso com prazos”. Entretanto, este rigor não era
demonstrado em sala de aula, conforme pude observar. Ao ser questionado, durante a
entrevista, sobre a entrega de trabalhos, ele afirmou que muitas vezes se esquecia de fazer os
trabalhos, tendo que fazer às pressas, no dia.
Os aprendizes A4 e A24, sucumbidos ao desejo de parecerem “alunos exemplares”,
deixaram de revelar suas reais preferências, descrevendo-se como aqueles que sempre
cumprem prazos, que priorizam a organização e que são alunos disciplinados. No entanto,
por meio de observações e entrevistas, pudemos notar respostas incoerentes e, muitas vezes,
talvez, inventadas.
A seguir, faremos uma exposição dos estilos e estratégias associados a cada Tipo.
Cada característica foi extraída das entrevistas e dos dados fornecidos pelos aprendizes ao
responderem ao inventário. Preferimos tratar de cada dimensão separadamente, ao invés de
abordar o Tipo completo, porque, assim, torna-se mais fácil compreender sua singularidade.
As respostas de todos os aprendizes citados abaixo estão transcritas no Anexo B.
98
A27 (ENFP) – [(Os seminários)]são melhores que prova, porque a gente estuda o
que vai falar, fala rapidinho e depois fica livre.
A11 (ISTJ) – Eu prefiro os exercícios escritos. Quando tem seminário eu fico tão
nervosa que eu não consigo falar nada (...)
Quanto às estratégias sociais, A3, A10, A20 e A22 afirmaram que preferem fazer
trabalhos em grupo apenas quando os integrantes são escolhidos por eles, e não pelo
professor, pois assim eles podem trabalhar com aqueles com quem têm mais afinidade.
A3 (ISFJ) (...) Se for um grupo de pessoas que eu conheço e sei como trabalham, eu
prefiro, senão, eu acho melhor fazer sozinha mesmo. Se o grupo for formado por
pessoas da “mesma panelinha” (...) eu prefiro ficar fora.
A10 (ISFP) – Eu gosto de fazer em grupo, mas só se for com o pessoal da turma, que
a gente já está acostumado. Grupo escolhido por sorteio é muito ruim (...) porque a
gente não tem muita afinidade e não consegue fazer um bom trabalho.
101
A11 disse que prefere realizar trabalhos em dupla porque tem mais chance de
participar e de expor suas ideias.
A11 (ISTJ) – (...) Quando tem muita gente, ninguém consegue conversar direito
(...), eu prefiro fazer em dupla.
Um dos problemas enfrentados pelos aprendizes Tipo Introversão é que, em uma sala
com muitos alunos extrovertidos, eles têm menos chances de participar, pois, diferentemente
dos introvertidos, os extrovertidos não precisam de tempo para refletir e se antecipam na fala,
não dando espaço para os introvertidos.
A15 declarou que fazer trabalho sozinho é mais cômodo porque assim ele consegue
pensar melhor, sem pressão por parte dos demais integrantes.
A15 (ISTP) – Sozinha, porque assim ninguém fica me pressionando. Eu faço no
tempo que eu achar melhor.
Alguns aprendizes, como A3, A10, A15 e A22 afirmaram que quando têm uma
dúvida, evitam perguntar ao professor. Como estratégia, consultam os colegas ou buscam
sanar a dúvida sozinhos, recorrendo ao próprio material ou à internet.
A3 (ISFJ) – Às vezes eu pergunto para a professora, mas eu não gosto de
perguntar muito não.
A10 (ISFP) – Se eu sei que é algo que não aprendi ainda, sobre um assunto que o
professor está falando naquele momento, eu até pergunto, mas se for uma dúvida
sobre alguma coisa que já aprendi, aí eu fico com vergonha, né? Nesse caso eu
procuro depois, tipo na internet.
A15 (ISTP) – Eu não costumo perguntar, não. Eu sempre pergunto para meus
colegas. Não gosto de ficar perguntando muito.
A22 (ISFJ) – Às vezes eu peço para alguma colega perguntar pra mim. Com
alguns professores eu tenho vergonha de perguntar, com outros não.
O medo de se arriscar é muito maior para os introvertidos. Por imaginar que um erro
diante de seus colegas e professores pode colocá-los em uma situação acuadora, eles evitam
se pronunciar. Muitas vezes, sentem vontade de se expressar, mas a pressão criada em sua
cabeça é tão grande, que sua vontade torna-se sufocada pela ansiedade.
O Tipo introvertido, principalmente quando associado à função Pensamento,
apresenta grande dificuldade em transmitir seus pensamentos ou descrever sua coerência de
raciocínio para os outros. Isso pode levar o aprendiz a sentir uma forte ansiedade vinculada
não apenas à aceitação por parte dos demais colegas, mas também em relação à comunicação
em geral (PLASTINA, 2005).
102
A27 (ENFP) – Eu me distraio muito. Às vezes o assunto é até interessante, mas daí
eu me lembro de alguma coisa mais interessante ainda e para não esquecer, eu
tenho que contar para alguém.
A17 (ENFP) – Até começo procurando uma palavrinha ou outra, mas dá muito
trabalho, eu prefiro mesmo ler duas ou mais vezes e entender(...)
entendedores da linguagem poética, sendo que também são talentosos quanto à comunicação
escrita e verbal.
Comparado ao Tipo Sensação, os intuitivos preferem a diversidade de ideias e são
mais tolerantes à ambiguidade; geralmente demonstram alto grau de autonomia nos seus
estudos e valorizam o conhecimento pela sua essência. Quando crianças, são capazes de ler
histórias consideradas avançadas para sua capacidade abstrativa.
Os Tipos Sensação como A2, A7 e A8, demonstraram que precisam entender todas
as palavras do texto, ou seja, traduzi-las, para se sentirem satisfeitos. Apoiam-se quase
totalmente no uso literal das palavras.
A2 (ESFP) – Se eu vejo que o texto é interessante, pelo título ou pela foto, eu gosto
de entender tudo “tintim por tintim” porque se eu não entendo uma palavra, eu não
consigo entender o texto inteiro direito (...)
A8 (ESFJ) – Eu até leio o texto inteiro e procuro compreender pelo contexto, mas
sempre é bom procurar a tradução das palavras.
são muito difíceis, porque até então seu foco de atenção era voltado para a realidade
concreta, ou seja, tudo que lhes cercava, que eles podiam ver, tocar e manipular. Ao
entrarem em contato com um ambiente formal de ensino, no qual eles não podem agir como
antes, torna-se necessário algum tempo para adaptação.
A7 (ESFJ) – (...) eu prefiro fazer sozinha, porque quando me reúno com meus
colegas, eles conversam muito, dão palpites inúteis, e eu não consigo me
concentrar direito (...) eu prefiro fazer sozinha e, se for o caso [(tem professores
que exigem que o trabalho seja em grupo)] eu até me disponho a colocar o nome
deles [(dos outros integrantes do grupo)] no trabalho (.)
em todas as oportunidades nem sempre o fazem com o intuito de participar, mas de querer
se exibir para os colegas ou para os professores.
Devemos ponderar que um aprendiz introvertido, que tem consciência de
determinadas estratégias e sabe utilizá-las, também pode obter sucesso – gravando e
ouvindo sua voz, ouvindo falantes nativos por meio de TV, internet, revistas, estudando
fonética. Além disso, o introvertido tem a tendência, como estratégia metacognitiva, de
refletir muito antes e durante sua fala, o que o leva à autocorreção e a menos erros de
concordância. Um aprendiz extrovertido, por exemplo, tende a ser mais despreocupado e
falar livremente, sem acessar seu monitor, cometendo alguns erros. Dependendo da
associação com Julgamento ou Percepção, e das estratégias concernentes a cada um, tais
erros podem ser corrigidos ou cristalizados. O mesmo ocorre em relação às outras
habilidades. Em relação à escrita, por exemplo, o indivíduo caracterizado como intuitivo
terá propensão maior para a escrita, porque gosta de criar e deixar sua imaginação à solta.
Porém, se seu Tipo não possuir uma categoria relacionada à organização ou ordenação, as
ideias serão incoerentes e vagas.
A dimensão Sensação e Intuição, segundo Ehrman (1996), representa os estilos de
aprendizagem por excelência. Essa associação se explica porque ambas as funções são
utilizadas na obtenção de informações, o que envolve, evidentemente, o ato de aprender.
Indivíduos que se orientam pela Sensação ou Intuição diferem um do outro mesmo
quando demonstram interesse pela mesma matéria. Os Tipos N gostam dos princípios, da
teoria e dos porquês, enquanto os Tipos S preferem a aplicação prática, o “o quê” e o
“como”.
Aprendizes do Tipo P, segundo palavras de Keirsey e Bates (1984), não se adaptam à
estrutura formal de uma sala de aula: carteiras enfileiradas, estudantes voltados para a lousa,
pouca liberdade de circulação. Tais aprendizes precisam de espaço e de liberdade de
locomoção, sendo descritos, muitas vezes, como hiperativos. Frases consideradas motivadoras
pelo Tipo Julgamento como “Você vai precisar disso para passar no vestibular.” ou “Você
precisa se esforçar hoje para colher os frutos amanhã.” não produzem nenhum efeito nos
aprendizes do Tipo Percepção, pois eles apenas se preocupam em viver bem o hoje e
necessitam ter o livre-arbítrio para descarregar o impulso do momento, participar de
atividades físicas, aprender em uma atmosfera descontraída.
O fato de um aluno ser introvertido e de não tirar suas dúvidas com o professor, por
exemplo, não lhe impede de ser um bom aprendiz, desde que ele saiba utilizar estratégias que
amenizem tais bloqueios. O aprendiz do Tipo Percepção não terá problemas com notas se
113
conseguir entregar seus trabalhos em dia. Se ele prefere criar seus próprios prazos e, ao
mesmo tempo, conseguir cumprir o que lhe foi exigido, não importa se faz seus deveres às
pressas ou com antecedência.
Chega-se à conclusão de que conhecer e saber lidar com as estratégias de
aprendizagem são fundamentais para que o aprendiz se torne mais autônomo e consiga suprir
suas dificuldades.
Em relação à segunda questão, pode-se concluir que as características relativas às
dimensões E e I, J e P podem ser percebidas mais facilmente do que aquelas das duas outras
combinações (N - S; F - T): um aluno extrovertido geralmente participa mais das aulas, tem
menos medo de se arriscar e de esclarecer suas dúvidas; o aprendiz do Tipo introvertido é o
que mais sofre com ansiedade, fica mais receoso ao levantar uma questão, ao ler textos em
voz alta e facilmente se intimida com algum comentário que não lhe agrada; o Tipo julgador é
aquele que, provavelmente, cumpre tudo o que lhe foi proposto no tempo estipulado,
demonstra-se responsável e não adia tarefas e, por outro lado, o Tipo perceptivo é mais
flexível, não se atém muito a prazos ou regras, fator que pode prejudicar seu desempenho.
A Introversão e a Extroversão são essenciais para se explicar o comportamento e a
reação do aprendiz diante de algumas situações em sala de aula. Não se pode afirmar nem
cogitar que um Tipo é melhor do que o outro, já que cada um possui características próprias,
que não são, necessariamente, certas ou erradas, e a partir de tais características, indivíduos
introvertidos ou extrovertidos trilham diferentes caminhos de aprendizagem, ambos com
chance de êxito.
Conforme resposta dada por alguns aprendizes classificados como introvertidos e por
observações comportamentais, pudemos concluir que a introspecção interfere no uso do
monitor (ver KRASHEN, 1985) e no filtro afetivo. Quanto ao monitor, os aprendizes do Tipo
introvertido são classificados como usuários excessivos, porque se monitoram o tempo todo.
Por outro lado, os extrovertidos tendem a ser subusuários, pois apenas se preocupam em
exteriorizar o que pensam, não se preocupando com a possibilidade de cometerem erros. No
que concerne ao filtro afetivo, a introspecção pode levar a um grau de ansiedade e
insegurança muito grandes, prejudicando o desempenho do aprendiz. Se não houver uma
relação de afinidade entre professor e aluno, provavelmente haverá problemas na
aprendizagem.
Ellis (1997) afirma que a personalidade pode influenciar no grau de ansiedade e na
coragem de se arriscar ao usar uma LE ou L2, conforme pôde ser observado nos Tipos
introvertidos. Independentemente da relação com os outros processos que compõem o Tipo
114
(S, N, F, T, J ou P), os introvertidos demonstraram que são mais ansiosos em atividades que
lhe exigem exposição – seminário, leitura em voz alta, role plays e têm mais medo de se
arriscar do que os extrovertidos, evitando esclarecer dúvidas com o professor, ou mesmo
tecendo um comentário mais subjetivo sobre algo. Em relação à ansiedade, Brown (2000)
afirma que é necessário haver um grau de ansiedade moderado para que o aprendiz esteja em
estado de alerta e se prepare para determinada ocasião – a chamada ansiedade colaborativa.
A dimensão Julgamento e Percepção mostrou-se também muito patente na análise
dos dados, pois está relacionada ao modo como o aprendiz prefere orientar sua vida – de
modo organizado e estruturado; ou de forma adaptativa e espontânea – o que,
consequentemente, implica nas suas atitudes diante de atividades rotineiras e de prazos
prefixadas pela escola.
As funções Sensação e Intuição, relacionadas ao modo de perceber o mundo e
adquirir informações e as funções Pensamento e Sentimento, ligadas ao modo de julgar,
obviamente, contribuem para que haja diferenças no modo de aprender, conforme exposto
anteriormente na descrição dos estilos e estratégias de cada preferência. Entretanto, as
peculiaridades de cada função não se manifestam tão claramente como ocorre com as atitudes
(E - I; J - P) e só puderam ser identificadas e analisadas a partir do MBTI, das entrevistas e de
observações comportamentais.
A partir de nossas conclusões, consideramos pertinente expor as correlações
existentes entre o estilo de ensinar e o estilo de aprender, já que um pode exercer influência
sobre o outro.
O professor do Tipo SP deve ponderar sobre o fato de que existem alunos que não
são tão autônomos como ele esperava que fossem. Tais aprendizes precisam da aprovação do
professor para dar andamento ao seu trabalho e recorrem a ele várias vezes. Nesse caso, o
professor ator deve agir de modo centrado e sanar as dúvidas desses aprendizes. Outros, não
se sentem confortáveis com situações inusitadas, com atividades abertas, com o excesso de
ideias apresentadas de uma só vez, portanto, para evitar tal desconforto, o professor pode
explicitar no início de cada aula a sequência de atividades proposta para aquele dia, bem
como seus objetivos e implicações. Pode também variar entre exercícios estruturados e
exercícios abertos, sempre explicando o propósito de cada um. Para agradar aprendizes do
Tipo J, que sentem a necessidade de cumprir prazos e evitar delongas, o professor pode
estipular prazos e estabelecer metas, como se fosse um jogo, instigando, assim, o espírito de
competitividade dos alunos.
De acordo com pesquisa realizada por Keirsey e Bates (1984) em vários estados dos
Estados Unidos, o Tipo SJ é o mais comum entre os professores.
Professores desse Tipo estão interessados em inserir seus alunos na sociedade. Eles
geralmente são responsáveis, dependentes, preocupados com as necessidades alheias, estão
sempre buscando criar e preservar a harmonia social. Em sala de aula conseguem ter uma
rotina bem estabilizada, pois sua prática é previamente planejada, com apresentações
sequenciais e articulações claras. Possuem autodisciplina e exigem que seus alunos se
comportem segundo as normas da instituição onde trabalha.
Sua relação com os alunos não é de muita proximidade, porém, também não se
distanciam muito. Tendem a se aproximar mais de alunos que respeitam suas ordens e
demonstram grande devoção em ajudá-los com a aprendizagem; perdem a paciência
facilmente com alunos desregrados e que, aparentemente, não estão interessados em aprender.
Tais professores avocam para si toda a responsabilidade da sala de aula; apenas dão
liberdade aos alunos quando houver um contrato muito claro das consequências que podem
ter. Quando avaliam seus alunos, não deixam de fazer críticas ou elogios, para que sua medida
de avaliação não deixe dúvidas.
De modo geral, professores SJ trabalham muito bem em uma estrutura
organizacional. Podem opinar de modo contrário à direção ou criticar determinadas atitudes
vindas de seus superiores; entretanto, fora do ambiente escolar são leais e protegem os
117
interesses de sua instituição e de todos aqueles que nela atuam. Tais professores oferecem
estabilidade à escola, são representantes altamente responsáveis da sociedade e esperam o
mesmo de seus alunos.
Sua prática gera alguns conflitos, especialmente, com aprendizes do Tipo NT
(Intuição e Pensamento) e SP (Sensação e Percepção). Aprendizes NT não concordam com as
críticas vindas do professor, pois são muito independentes e relutam em seguir quaisquer
interesses intelectuais que contradigam os seus. Esses aprendizes são muito autônomos e
preferem fazer algumas atividades sem a prévia autorização do professor. Nesse caso, o
professor SJ, ao avaliar os aprendizes, deve fazer seus apontamentos circunstanciadamente,
para que eles entendam a razão pela qual receberam determinada nota ou conceito. Se houver
apontamentos genéricos, os aprendizes tenderão a encontrar brechas para discordar do
professor. Em relação aos aprendizes Tipo SP, que gostam de novidades e de muita ação, é
necessário planejar algumas atividades que possam ser, esporadicamente, acrescentadas ao
roteiro de aulas. Agindo assim, o professor não se sente desconfortável por não seguir um
plano de aula e, ao mesmo tempo, surpreende os alunos com atividades diferentes.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das análises feitas, pudemos verificar que há uma relação muito estreita
entre os três objetos investigados, pois os estilos estão enraizados nos Tipos e as estratégias,
por sua vez, decorrem das necessidades também determinadas em grande parte pelo Tipo dos
aprendizes. Chegamos à conclusão de que o Tipo determina uma série de diferenças naturais
e previsíveis no que diz respeito ao estilo de aprendizagem e à resposta do aprendiz aos
métodos e técnicas de ensino. A compreensão do Tipo pode auxiliar a explicar a razão pela
qual alguns aprendizes compreendem e gostam de determinado modo de ensino enquanto
outros não o compreendem e o rejeitam.
Myers e Myers (1995) citam uma frase dita por determinado professor que ilustra a
importância de se entender o porquê das diferenças relacionadas às preferências e como isso
pode amenizar o sentimento de culpa ou frustração por parte do professor quando a
produção de seu aluno é muito aquém da esperada:
Uma das maiores frustrações de se ensinar é que você está sempre roubando o
Peter para pagar o Paul. Você planeja algo para atingir um grupo de alunos,
sabendo que, fazendo desta forma, você vai se afastar de outro grupo. É, até certo
ponto, consolador descobrir que existe uma explicação perfeitamente
compreensível.27 (MYERS e MYERS, p. 139, 1995) – Tradução nossa.
Educadores responsáveis não podem ignorar que o planejamento de uma aula e a aplicação de
determinadas técnicas de ensino/aprendizagem dependem de algumas variáveis, como
diferenças comportamentais dos aprendizes, diferenças dos níveis de conhecimentos, estilos
de aprendizagem e diversas experiências de vida.
Independentemente de atuar em escola de ensino regular ou em uma escola de
idiomas, o professor deve estar ciente de que seus alunos são diferentes um do outro e que
cada um demonstra determinada preferência pela forma como as informações lhe são
apresentadas. Assim, é importante que ele não utilize apenas uma técnica, privilegiando
determinado estilo de aprendizagem, pois os alunos que não se adaptarem a tal prática,
possivelmente tenderão à desmotivação e à dificuldade de aprendizagem. Por outro lado, o
professor não deve agir de modo simplista, preocupando-se em atender cada aluno de
acordo com seu estilo de aprendizagem ou com seu Tipo Psicológico, pois assim, ele
impedirá que o aprendiz desenvolva outras habilidades, prejudicando seu processo
evolutivo. É importante que o aluno também se desvencilhe de sua zona de conforto e
busque o significado de “aprender a aprender” de forma autônoma.
Na prática, não existem modelos ou métodos ideais e a eficiência na elaboração e
na utilização de planos de aula depende da habilidade e do senso de plausibilidade do
professor (PRABHU, 1990), pois ele tem à sua disposição estratégias e um conjunto de
princípios, procedimentos e técnicas, que devem ser utilizadas, afeitas ou descartadas,
dependendo do que ele considerar plausível naquele determinado contexto.
O professor também deve refletir sobre sua prática de ensino na sala de aula. A
partir de análises críticas de seu plano de aula ele será capaz de concluir se está ou não
criando oportunidades para seu aluno usar uma diversidade de estratégias de aprendizagem.
Caso não esteja, é necessário que, antes de qualquer alteração do conteúdo, ele faça uma
autoavaliação para compreender melhor seus estilos de ensino e, dessa forma, consiga fazer
as adaptações de modo consciente.
Professor e aluno devem estar cientes de suas preferências, procurando se adaptar
às diversidades existentes e encontrar estratégias que possam facilitar a aprendizagem e o
ensino.
O objetivo que se espera alcançar ao identificar os Tipos Psicológicos é poder usar
essas informações como um ponto de partida para nortear as possíveis acomodações
metodológicas de ensino. A partir de tudo o que foi exposto neste estudo, concluímos que
uma prática de ensino eficiente deva percorrer um caminho que busque acomodar as
preferências identificadas, tentando equilibrar a maneira como se ensina.
122
Se pensarmos nas variáveis afetivas, por exemplo, devemos considerar que elas não
podem ser impostas por ninguém. Nenhum professor conseguirá sustentar a motivação de um
aprendiz por muito tempo sem que este esteja propenso a aceitar essa condição. Motivação,
autoestima alta e ansiedade baixa apenas serão constantes na vida do aprendiz se forem
desejadas por ele. Dessa forma, compete aos professores criar um ambiente que favoreça o
despontar dessas variáveis propícias ao bom desempenho do aprendiz. Isso implica que eles
precisam descobrir, ou até mesmo ajudar o aprendiz a descobrir o que realmente o motiva,
quais são suas potencialidades, suas fraquezas, seus objetivos pessoais. Ser capaz de entender
fatores da personalidade e conduzir o aprendiz em direção ao autoconhecimento são parte
dessa tarefa profissional.
É necessário frisar que o professor não pode chegar a determinadas conclusões a
partir de simples conjeturas. Por melhor que sejam suas intenções, ele não deve tomar
atitudes baseadas apenas em observações pessoais do comportamento dos alunos, pois isso
pode trazer consequências indesejadas. Com esta pesquisa, pudemos comprovar que o uso
de instrumentos apropriados impede que cometamos erros de julgamento. Alguns aspectos
da personalidade não são tão evidentes como parecem e apenas um estudo mais
aprofundado revelará dados confiáveis.
A utilização de um instrumento, como o MBTI, para identificar o Tipo Psicológico
do aprendiz torna-se um passo muito importante para o autoconhecimento, que pode levar à
autonomia e, por fim, a um melhor nível de aprendizagem.
Compreender os Tipos Psicológicos torna-se útil porque, assim, seremos capazes
de entender que, sendo diferentes, todas as pessoas têm seu valor, seus pontos fortes e
fracos e todos devem ser tratados com respeito.
Finalmente, a pesquisa realizada pretende legar três aplicações voltadas para o
ensino/aprendizagem de línguas:
A primeira volta-se para os benefícios envolvendo o aprendiz, o principal expoente
inserido na tríade – aprendiz, professor, método de ensino. Ao conhecer seu Tipo
Psicológico e seus estilos de aprendizagem, o aprendiz torna-se apto a identificar e adequar
suas estratégias de aprendizagem. Tendo consciência de suas preferências e potencialidades,
ele buscará alternativas para se sentir mais confortável em um contexto originalmente
adverso e terá as ferramentas necessárias para construir a própria autonomia.
Outro benefício está no fato de que ele não mais se sentirá “o diferente”, mas
simplesmente, “mais um diferente”, já que não existem aprendizes exatamente iguais.
123
Apesar de existirem semelhanças entre alunos de uma mesma sala de aula, por exemplo, são
as diferenças que formam a individualidade e a identidade de cada aprendiz.
A segunda está relacionada ao professor de LE que, muitas vezes, se decepciona
por não despertar interesse em seus alunos para determinados conteúdos ou por constatar
um resultado muito aquém do esperado. Conhecer melhor os aprendizes alivia, de certa
forma, a pressão gerada em torno dos professores, que são sempre apontados como os
principais responsáveis pela aprendizagem. Tal conforto não representa a isenção de
responsabilidade, pois ao investigar e descobrir as preferências dos alunos, o professor terá
condições de elaborar um plano de aula com novos subsídios que agreguem valores à sua
abordagem.
Quando professores e alunos compreenderem as diferenças entre seus estilos (de
ensinar e de aprender), possivelmente, a comunicação e, consequentemente, a aprendizagem
serão estimuladas.
A terceira refere-se ao método, que não pode ser visto como um “pacote fechado”,
único e imutável, o qual simplifica questões complexas, à medida em que considera os
aprendizes como essencialmente iguais, sem levar em conta suas peculiaridades. Os
professores, impulsionados pela experiência profissional e por pesquisas constantes, devem
conseguir agir de modo consciente, criando e aperfeiçoando técnicas que levem o aprendiz a
adquirir competência na língua-alvo.
Como já foi defendido e sustentado neste estudo, não existe um método ideal, que
agrade e atinja a todos. Entretanto, a partir do conhecimento dos Tipos, é possível adaptar o
método com atividades que acomodem os diferentes estilos e preferências dos aprendizes.
Quanto maior a variedade de formas de assimilação do conteúdo a que o aprendiz estiver
exposto, maiores serão as chances de ele aprender e construir seus conhecimentos.
Variar atividades, dar um tom mais lúdico às aulas, encorajar a capacidade de se
arriscar dos aprendizes, alternar entre exercícios sequenciais e aleatórios, promover
aprendizagem cooperativa, utilizar materiais diversos para elucidar melhor a teoria, motivar
a tolerância à ambiguidade, ora estipular prazos, ora deixar que os próprios aprendizes
trabalhem desprendidos de qualquer obrigatoriedade são algumas das alternativas que
podemos adotar em sala de aula. Ao conhecer os Tipos Psicológicos e suas características,
torna-se mais fácil saber o que é plausível para determinado contexto e surgem, dessa
forma, diversas possibilidades de adaptar as técnicas inseridas nos mais diversos métodos.
124
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WENDEN, A.; RUBIN, J. Learner Strategies in Language Learning. New Jersey: Prentice
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Alunos ESFJ ESFP ESTJ ESTP ENTP ENFP ENFJ ISTP ISFP ISFJ ISTJ INTP INTJ
A1 I II
A2 I/II
A3 I II
*A4 I II
A5 I II
A6 I/II
A7 I/II
A8 I/II
A9 II I
A10 I/II
A11 I II
A12 II I
A13 I/II
A14 I/II
A15 I II
A16 I II
A17 II I
A18 II I
A19 I/II
A20 II I
A21 II I
A22 I II
A23 I/II
*A24 II I
A25 I/II
A26 I/II
A27 II I
A28 II I
*A4 e A24 = devido à grande variação constatada entre o primeiro e o segundo resultados, os dados
apresentados por esses dois respondentes não foram considerados na pesquisa.
132
_______________________________________________________
Lileni M. Drugovich Belonsi
Rua 15 de Novembro, 540. Viradouro/SP – Cep. 14.740-000
Tel: (17) 3392-1413. Cel: (117) 9604-8817 e-mail: lmdrugovich@yahoo.com.br
______________________________ _______________________________________
Nome Assinatura do responsável
133
ANEXO A – Inventário de Tipos Psicológicos com base no MBTI (Myers Briggs Type
Indicator - Indicador de Tipos Myers-Briggs)
Este inventário foi desenvolvido com base na teoria de Carl G. Jung, Katharine Briggs e
Isabel Myers.
Para cada linha, faça um X na opção que melhor se encaixa no seu perfil. Somente escolha a
coluna do meio quando estiver muito indeciso.
ANEXO B – Entrevista
A22 (ISFJ) – Se for com as minhas amigas, tudo bem. Se for com “aqueles” meninos
[(apontou um grupo de meninos)] nem pensar (.)
PP – Por quê? Eles não trabalham direito?
A22 – Ah, eles só brincam, fazem palhaçada.
******
A15 (ISTP) – Sozinha, porque assim ninguém fica me pressionando. Eu faço no
tempo que eu achar melhor.
******
A11 (ISTJ) – Em dupla.
PP – Por quê?
A11 – Porque quando tem muita gente, ninguém consegue conversar direito (...) eu
prefiro fazer em dupla.
PP – E se o professor escolher seu(sua) parceiro(a)?
A11 – Aí vai complicar. Vai depender da pessoa, se eu gosto ou não... Tem um
pessoalzinho meio metido na sala, que gosta de “se aparecer”. Tem também aqueles que
sempre te culpam quando o trabalho não sai do jeito que eles gostam, sabe?
******
A19 (ESTJ) – Às vezes sozinho, às vezes em grupo. Depende do tipo de trabalho (...)
Eu não gosto de ficar inventando histórias, fazendo redação. Justamente nesses casos a gente
tem que fazer sozinho.
******
*A4 (ESTJ) – Em grupo, só que às vezes a gente trabalha em grupo e só um faz tudo
(...) Prefiro grupos de três, no máximo.
******
*A24 (ISTP) - Eu prefiro fazer em grupo, porque um ajuda o outro.
2) PP – Quando você tem que entregar um trabalho, por exemplo, você o faz
com antecedência; faz na véspera, mas consegue entregar em dia ou se esquece de fazer
e pede para o professor prorrogar o prazo de entrega?
A25 (ESFP) – Os últimos eu “andei” esquecendo, mas alguns eu lembro. De vez em
quando eu faço aqui na classe, rapidinho, e entrego para o professor (...) Às vezes eu consigo
tirar nota igual aqueles que fizeram o trabalho em casa, “bonitinho”.
PP – Você faz ou copia de alguém?
138
A25 – Ah, um pouco eu faço e o outro pouco eu copio, senão não dá tempo, né?
[(risos)]
******
A9 (ENFJ) – Eu faço com antecedência e já ponho na minha bolsa para não correr o
risco de esquecer no dia. Sou um pouco esquecida, minha mãe é que fica brava comigo
quando eu esqueço apostila em casa (...) Pode acontecer também de dar problema no
computador. Uma vez eu fui imprimir um trabalho que deveria ser entregue no outro dia de
manhã. Você acredita que a impressora parou de funcionar? Eu fiquei desesperada, né? Tinha
até pensado em faltar “da” aula, mas minha mãe não deixou. Eu vim chorando pra escola e fiz
a minha mãe trazer meu trabalho mais tarde. Foi um sufoco!
******
A14 (ESTJ) – Às vezes eu faço na véspera, mas se é um trabalho mais extenso, eu
começo a fazer bem antes. Nunca entreguei um trabalho depois da data.
******
A12 (ESTP) – Depende da hora da aula. Se “é” na primeira aula eu faço um dia
antes, senão eu dou um jeito de fazer na escola no mesmo dia.
PP – E dá tempo?
A12 – Dependendo do trabalho dá (.) Aí também depende da nota. Se valer só um
ponto, e eu não estiver precisando de nota nem compensa fazer, né?
******
A1 (ESTP) – (...) Quando eu faço, eu entrego no dia, senão depois não adianta, né?
******
A16 (ESFJ) – Se eu não tenho muitos compromissos, eu prefiro começar a fazer
antes. Se eu adio a tarefa, eu fico pensando nela e nem consigo dormir direito à noite. [(risos)]
É pior ficar adiando.
******
A21 (ESTJ) – Faço antes. Só se for um trabalho muito curtinho, uma redação, por
exemplo, eu faço na véspera.
******
A3 (ISFJ) – Eu faço antes. Costumo fazer todos os trabalhos na sexta-feira (...) Às
vezes passo a tarde inteirinha fazendo trabalhos. Eu prefiro assim porque eu já fico livre no
fim de semana e durante a semana eu aproveito pra estudar e fazer as tarefas.
******
139
*A4 (ESTJ) – Eu não fico preocupada em fazer antes. Eu tento entregar em dia, mas
não fico aflita com datas (...) Eu tento desencanar.
******
*A24 (ISTP) – Eu lembro de fazer antes, mas quando é muito difícil eu deixo pra
fazer depois e aí (...) Eu termino aqui na sala, quando dá [(risos)].
A27 (ENFP) – Eu me distraio muito. Às vezes o assunto é até interessante, mas daí
eu me lembro de alguma coisa mais interessante ainda e para não esquecer, eu tenho que
contar para alguém.
PP – Durante a explicação do professor?
A27 – É [(risos)].
******
A20 (ISFP) – Eu não anoto porque se escrevo, eu não presto atenção, mas também eu
não converso.
******
A22 (ISFJ) – Eu gosto de anotar, porque eu entendo mais (...) Eu tento não conversar
porque eu acho que é chato para o professor e para quem quer prestar atenção.
******
*A4 (ESTJ) – Só converso um pouquinho com as minhas amigas, mas “bem” de vez
em quando (...) Eu sou meio desligada, então, eu copio tudo o que está na lousa porque fica
mais fácil para lembrar depois na hora de estudar.
*A24 (ISTP) – Eu converso bastante, mas, mesmo quando converso, eu presto
atenção [(risos)] e quando o professor explica e pede para eu parar, eu paro. Quando o assunto
é muito difícil eu escrevo uns lembretes.
A5 (ENTP) – Eu tento entender o texto todo, porque se eu for procurar palavra por
palavra, eu fico duas horas procurando (.) Eu sei que o ideal é procurar entender o contexto.
******
A17 (ENFP) – Até começo procurando uma palavrinha ou outra, mas dá muito
trabalho, eu prefiro mesmo ler duas ou mais vezes e entender. Com música eu faço assim
também.
******
A26 (ESTJ) – Se tem um monte de palavras que eu não sei eu tenho que procurar. Se
for só uma ou duas palavrinhas, tudo bem (.) Mas eu gosto de entender tudo, porque às vezes
você acha que significa uma coisa e tem um significado totalmente diferente (...) O pior é
quando você procura alguma palavra no dicionário e nenhum significado se encaixa no texto.
******
A27 (ENFP) – Eu, não! Eu sempre entendo tudo [(risos)].
******
*A4 (ESTJ) – Eu leio inteiro e depois eu vejo as palavras que eu não entendi (...)
******
*A24 (ISTP) – Eu tento entender primeiro (.) Só quando não entendo nada eu
procuro o significado das palavras.
PP – E os seminários?
A27 – São melhores que prova, porque a gente estuda o que vai falar, fala rapidinho
e depois fica livre.
******
A18 (ESFP) – Eu prefiro os seminários. Os professores sempre me elogiam dizendo
que eu falo bem (...) Eu sempre fico com nota boa.
******
A6 (ISFP) – Não sei (.) Depende do exercício. Tem uns exercícios escritos que são
cansativos. Mas fazer seminário, ficar na frente falando (.) acho que é pior.
******
A11 (ISTJ) – Eu prefiro escrever (.) Quando tem seminário eu fico tão nervosa que
eu não consigo falar nada (.) Antes era pior, mas agora eu estou melhorando, só que eu
continuo muito ansiosa. Dependendo do assunto, eu fico pensando umas duas semanas antes
no seminário (...) Quanto tem role plays só entre nós eu não ligo, mas se tem que apresentar
aqui na frente (.) aí eu não gosto.
******
A5 (ENTP) – Sei lá. Ficar fazendo exercícios é chato, mas tem seminário que a gente
tem que decorar o que vai falar, não pode ler (.) aí fica difícil.
******
*A4 (ESTJ) – Ah, eu não gosto de nada que tenha que falar.
PP – Explique melhor.
*A4 (ESTJ) – Eu tenho vergonha de ter que explicar pra todo mundo. Eu prefiro
escrever (...)
******
*A24 (ISTP) – (...) Eu prefiro escrever mesmo. Dá vergonha falar para os outros.
Quando eles sabem e a gente erra alguma coisa, todo mundo ri [(risos)].
A27 (ENFP) – Eu pergunto mais quando o professor é legal. Uma vez eu fiz uma
pergunta pra um professor, ele olhou pra mim e não respondeu. Deve ter achado a pergunta
“boba”. Depois desse dia eu nunca mais perguntei nada pra ele. Todo mundo ficou olhando
pra mim dando risada [(risos)].
******
*A4 (ESTJ) – Eu costumo perguntar. Se eu tenho uma dúvida quando estou
estudando, eu anoto e pergunto depois.
******
*A24 (ISTP) – Eu só pergunto quando a dúvida é muito grande mesmo. Agora,
quando tem que perguntar em inglês, aí eu não pergunto.
145
Assim como todos os indivíduos do Tipo introvertido, os ISTJs obtêm sua energia a
partir do mundo interior dos pensamentos. Suas decisões são tomadas somente após todas as
possibilidades terem sido esgotadas. Valorizam a tradição e a lealdade. São os guardiões das
instituições tradicionais e o adjetivo mais apropriado para eles é confiável. Além disso, são
descritos como quietos, sérios, perseverantes, metódicos e realistas. São muito
comprometidos com o que dizem e quando empenham sua palavra, ela deverá ser honrada até
o fim. Organizam sua vida a partir de uma base lógica, enfatizando a análise e a determinação.
São pacientes com seu trabalho e com procedimentos de uma instituição, embora nem sempre
sejam pacientes com os objetivos individuais das pessoas dessa instituição. Trabalham com
eficiência para satisfazer seus objetivos. Entretanto, sua função lógica faz com que eles se
rebelem contra quaisquer exigências ou expectativas sobre algo que não lhes faça sentido. São
observadores vivazes e capazes de compreender bem as situações que ocorrem ao seu redor e
não demonstram vulnerabilidade às críticas.
Assim como todos os indivíduos que se orientam pelo Sentimento, os ISFJs preferem
lidar com fatos e pessoas, e suas decisões são tomadas com base em valores pessoais. São
quietos, leais, responsáveis, amigáveis, cuidadosos e bons observadores. É o menos hedonista
de todos os Tipos e os indivíduos assim classificados empenham-se em cumprir suas
obrigações, dedicando-se horas para cumprir suas metas, acreditando que o trabalho é bom e
que a diversão precisa ser ganha. Têm um extraordinário senso de responsabilidade e um
destacado talento para executar rotinas que exigem procedimentos repetitivos e sequenciais.
Raramente são felizes trabalhando em locais onde as regras mudam constantemente.
146
Procedimentos ditados por manuais são seguidos com exatidão. Se outras pessoas ignoram
tais procedimentos padronizados de operação, os ISFJs ficam irritados, apesar de, nem
sempre, demonstrarem essa reação. Geralmente, essas reações não manifestadas são
interiorizadas e experimentadas como fadiga ou tensão muscular. Possuem uma vida
organizada e estão sempre preocupados com o modo como o outro pode se sentir. Sentem-se
satisfeitos por cuidar das necessidades alheias e fazem o serviço de modo gentil e solícito.
ISFJs podem experimentar certo desconforto quando colocados em posição de autoridade em
relação aos outros e tendem a fazer tudo sozinhos em vez de insistir para que os outros façam
seus trabalhos. Como resultado, frequentemente estão sobrecarregados de tarefas.
Especulações e teorias não intrigam os ISFJs, que optam por tratar de assuntos mais práticos e
realistas. Os ISFJs são frequentemente incompreendidos e desvalorizados. Tanto sua presença
quanto suas contribuições são vistas como certas ou já garantidas, portanto, não são
valorizadas. Isso pode levá-los a nutrir um sentimento de ressentimento que lhes corrói
internamente, causando-lhes muito sofrimento.
Preferem lidar com fatos e tomar decisões sob uma perspectiva lógica. Apresentam
grande interesse em ciência prática e aplicada, especialmente no campo da mecânica. São
quietos, reservados e até certo ponto adaptáveis. São bons em resolver problemas
organizacionais, que exijam ser muito bem pensados. Têm uma curiosidade natural para
entender como as coisas funcionam e podem parecer impulsivos, formulando ideias
surpreendentes ou fazendo algo imprevisível; são bons em análise lógica, e gostam de fazer
uso dela em questões práticas. Assim como os ISFPs, os ISTPs se comunicam por meio da
ação e demonstram pouco interesse em desenvolver habilidades verbais. Essa falta de
interesse na comunicação pode ser confundida como “incapacidade para aprender” ou
“dislexia”. Entretanto, quando tais indivíduos se aproximam de uma ferramenta de qualquer
complexidade eles rapidamente aprendem a usá-la e utilizam um léxico preciso para falar
sobre suas características.
Têm preferência por lidar com fatos e pessoas e tomam decisões com base em
valores pessoais. São quietos, sensíveis, atenciosos, criativos e gentis. Necessitam ter seu
próprio espaço e trabalhar dentro de seu tempo. Gostam das relações interpessoais, desde que
148
seu ciclo se restrinja a uma única pessoa ou a um grupo pequeno. Apreciam o presente e
tendem a não gostar de confronto ou conflito. Demonstram discordâncias, mas não
demonstram suas opiniões ou valores. Geralmente não se importam em liderar, mas são
seguidores leais. Algumas vezes não demonstram preocupação com seus deveres por estarem
mais interessados em desfrutar o momento presente e não quererem se aborrecer com
precipitações exageradas. O temperamento de um ISFP é muito difícil de observar e, por essa
razão, é o mais incompreendido de todos os Tipos. Modestos e reservados, são pessoas muito
calorosas e entusiásticas, mas tendem a não mostrar esse lado de si mesmas a não ser para
aqueles que eles conhecem e confiam plenamente. Em alguns casos eles se manifestam por
meio de ações, fazendo uma atividade artística, por exemplo, em outros, não há qualquer
manifestação e sua reticência torna-se a única manifestação.
Tais indivíduos são os que exibem pensamento e linguagem mais precisos de todos
os Tipos. Assim como os outros indivíduos que se orientam pelo Pensamento, suas decisões
são tomadas com base em princípios lógicos. São flexíveis, quietos e um pouco teimosos. Por
serem intuitivos, não gostam de rotina e estão sempre em busca de novas experiências. Optam
pela teoria e pela abstração e demonstram mais interesse por ideias do que por interação
social. Trabalham melhor quando têm que resolver problemas complexos, que requerem a
aplicação do intelecto. Para eles, o mundo existe, principalmente, para ser compreendido. A
149
realidade é trivial, mera arena para prover ideias. É essencial que o universo seja
compreendido e que tudo o que é afirmado a respeito do universo seja afirmado corretamente,
com coerência e sem redundância. Esse é o propósito final de um INTP; não importa se os
outros aceitem ou não suas verdades.
Possuem uma vida flexível, constituída de uma série de atividades que lhes
interessam. O fato de viverem completamente no presente faz com que seja difícil enxergar
além do “momento atual” e, assim, consigam planejar suas atividades com antecedência. São
impulsivos, otimistas, amigáveis e considerados os mais divertidos e generosos de todos os
Tipos. Buscam diversão em tudo o que fazem. Gostam de ação e estão sempre envolvidos em
alguma atividade. Dão assistência às pessoas sem esperar nada em troca. Gostam de resolver
problemas urgentes e demonstram bom desempenho em situações práticas que envolvam
pessoas. Evitam ao máximo a ansiedade, tentando se concentrar no lado positivo dos fatos e
transformando tudo o que fazem em algo prazeroso. Tendem a ser céticos quanto a teorias e
quanto a fatos que não tenham experimentado antes. Evitam ficar sozinhos e procuram
companhia sempre que possível, encontrando facilmente, já que sua presença é muito
150
reverenciada por todos. A função Sentimento os torna muito lenientes como disciplinadores,
principalmente porque os erros alheios são sempre compreendidos ou ignorados pelos
indivíduos deste Tipo.
Assim como todos os intuitivos, preferem lidar com modelos e possibilidades. Suas
decisões são tomadas com base em valores pessoais e, portanto, são mais preocupados em
lidar com as pessoas do que os ENTPs. São flexíveis, compreensíveis, imaginativos,
entusiasmados e criativos. Sempre procuram novas ideias que possam beneficiar outras
pessoas. São observadores atentos e penetrantes, capazes de se concentrar intensamente em
outro indivíduo e, ao mesmo tempo, estar consciente do que ocorre ao redor. Sua atenção
nunca é passiva, vaga ou casual, mas sempre direcionada. Por serem muito perceptivos,
podem cometer sérios erros de julgamento, o que lhes causa desconforto. Tais erros são
resultados de percepções corretas e julgamentos errados. Aproveitam as oportunidades
conforme surgem e conseguem encontrar soluções rápidas para as dificuldades. Por estarem
interessados em possibilidades, os ENFPs veem sentido em todas as coisas e preferem manter
muitas opções abertas. Podem negligenciar detalhes e planejamento e gostam de trabalhos que
envolvam variedade e experimentação. Não gostam de seguir regras, portanto, rejeitam
trabalhos em que tenham que enfrentar muita rigidez. Geralmente encontram razões
convincentes para justificar suas vontades ou preferências.
relações interpessoais. São mais suscetíveis de considerar como os outros podem afetar seus
projetos do que como seus projetos podem afetar os outros.
Assim como todos os indivíduos que se orientam pela Sensação, estão mais
interessados em perceber a realidade por meio dos sentidos. Por essa razão, tendem a ser
práticos e hábeis com coisas materiais e reais. Dão prioridade aos detalhes ao invés de se
aterem a conceitos e estratégias. Gostam de trabalhar em locais onde possam obter resultados
imediatos, visíveis e tangíveis. Preferem organizar e conduzir atividades a serem conduzidos.
Sentem-se confortáveis em avaliar os outros e tendem a julgar o desempenho de uma pessoa
em termos de procedimentos operacionais usuais, sendo que, algumas vezes, podem ser
abruptos com aqueles que não seguem as regras corretamente. Nem sempre estão dispostos a
ouvir pacientemente pontos de vista divergentes e geralmente tendem a tomar decisões
precipitadas. São muito organizados e responsáveis.
Esse é o Tipo mais “masculino” de todos, já que caracteriza um número maior de
homens do que os outros Tipos.
Liderança é a força propulsora e necessidade básica dos ENTJs. A Intuição faz com
que eles se interessem mais pelas possibilidades futuras, sendo estas óbvias ou não. Tal
função também alimenta seu interesse intelectual, sua curiosidade acerca de novas ideias, sua
tolerância por teoria, seu gosto por problemas complexos, sua intravisão e preocupação com
possibilidades e consequências futuras. São sinceros e extremamente decididos. Os ENTJs
tendem a controlar a vida, organizando tudo o que for necessário para cumprir seus objetivos.
Desenvolvem e implantam amplos sistemas para resolver problemas organizacionais. Têm
uma motivação interna por liderança que é acompanhada por uma capacidade de captar
noções complexas com rapidez, de absorver uma grande quantidade de informações, e de tirar
conclusões rápidas e decisivas. Geralmente exercem o papel de executivos ou diretores,
agindo de modo impessoal. Podem parecer intolerantes com pessoas que não buscam altos
padrões para si mesmos ou que não são boas no que fazem. São habilidosos em questões que
envolvam explicações e discursos dialéticos. Geralmente são bem informados e estão sempre
procurando se atualizar sobre os mais diversos assuntos.
153