Esse
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O termo interdisciplinaridade não possui ainda um sentido único e estável, no entanto, a definição acima
pode ser considerada um princípio das suas inúmeras distinções terminológicas(12).
Interdisciplinaridade também é uma questão de atitude. "É uma relação de reciprocidade, de mutualidade,
que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida diante do problema do conhecimento, ou seja, é a
substituição de uma concepção fragmentária para unitária do ser humano". Está também associada ao
desenvolvimento de certos traços da personalidade, tais como: flexibilidade, confiança, paciência, intuição,
capacidade de adaptação, sensibilidade em relação às demais pessoas, aceitação de riscos, aprender a agir na
diversidade, aceitar novos papéis(5,12).
O projeto interdisciplinar envolve questionamentos sobre o sentido e a pertinência das colaborações entre as
disciplinas, visando um conhecimento do "humano". E, nesse sentido, a interdisciplinaridade é chamada a
postular um novo tipo de questionamento sobre o saber, sobre o homem e sobre a sociedade. Não é uma
"moda, mas corresponde a uma nova etapa de desenvolvimento do conhecimento. Também não se trata de
postular uma nova síntese do saber, mas, sim, de constatar um esforço por aproximar, comparar, relacionar e
integrar os conhecimentos(7).
Partindo do conceito de disciplina como "uma maneira de organizar e delimitar um território de trabalho, de
concentrar a pesquisa e as experiências dentro de um determinado ângulo de visão", podemos estabelecer
diferentes níveis de interdisplinaridade, conforme o grau de integração das disciplinas que são reagrupadas
num determinado momento. Vários autores têm estabelecido classificações diferentes para expressar as
modalidades possíveis de interdisciplinaridade. Dentre elas, a mais conhecida é a distinção realizada por
Erich Jantsch, que consta de cinco níveis, a saber(5):
multidisciplina: justaposição de disciplinas diversas, com a intenção de esclarecer os seus elementos
comuns, mas desprovidas de relação aparente entre elas;
pluridisciplina: justaposição de disciplinas, mais ou menos vizinhas, nos domínios do conhecimento,
visando a melhoria das relações entre elas. Ex: Física e Química;
disciplinaridade cruzada: abordagem baseada em posturas de força, em que a possibilidade de comunicação
está desequilibrada, pois uma das disciplinas predomina sobre as outras;
interdisciplinaridade: interação existente entre duas ou mais disciplinas, em contexto de estudo de âmbito
mais coletivo, no qual cada uma das disciplinas em contato é, por sua vez, modificadas e passa a depender
claramente uma(s) da(s) outra(s). Resulta em enriquecimento recíproco e na transformação de suas
metodologias de pesquisa e conceitos;
transdisciplinaridade: é o nível superior da interdisciplinaridade, em que desaparecem os limites entre as
diversas disciplinas; a cooperação é tal que se fala no aparecimento de uma nova macrodisciplina. Cita-se,
como exemplo, a elaboração de marcos teóricos como a teoria geral dos sistemas, o estruturalismo, a
fenomenologia, o marxismo.
Esse modelo de classificação pressupõe que os campos disciplinares são estruturas compostas por uma
axiomática teórica e uma matriz metodológica, com princípios e conceitos decodificáveis, que interagem
entre si, produzindo relações convergentes. Os campos disciplinares, no entanto, não são estruturas, mas sim
instituídos por uma práxis. A produção organizada do conhecimento científico se realiza em uma complexa
rede institucional operada por agentes históricos concretos, ligada estreitamente ao contexto sóciopolítico
mais amplo. Desse modo, não são os campos disciplinares que interagem entre si, mas sim os sujeitos na
prática científica cotidiana. Propõe-se, então, uma redefinição do modelo de transdisciplinaridade, baseada
na possibilidade de comunicação não entre os campos disciplinares, mas entre os agentes em cada campo,
por meio da circulação, não dos discursos, mas pelo trânsito dos sujeitos dos discursos(8).
Há diferentes opiniões sobre o que constitui verdadeiramente a interdisciplinaridade, mas considera-se que
só se pode falar em interdisciplinaridade a partir do momento em que essa comunicação ou diálogo gerar
integração mútua dos conceitos entre as disciplinas, constituindo novo conhecimento ou buscando a
resolução para um problema concreto(13).
O ensino baseado na interdisciplinaridade tem grande poder estruturador, pois os conceitos e procedimentos
encontram-se organizados em torno de unidades mais globais, em que várias disciplinas se articulam(5).
Dessa maneira, passamos, a seguir, ao estudo da relação entre interdisciplinaridade e saúde, particularmente,
na sua expressão coletiva.
INTERPROFISSIONALIDADE
Já a interprofissionalidade vincula-se: à noção do trabalho em equipe de saúde, marcado pela reflexão sobre
os papéis profissionais, a resolução de problemas e a negociação nos processos decisórios, a partir da
construção de conhecimentos, de forma dialógica e com respeito às singularidades e diferenças dos diversos
núcleos de saberes e práticas profissionais6
O princípio da interprofissionalidade é critério fundamental que orienta equipes multiprofissionais na
Estratégia Saúde da Família. A ação profissional, no entanto, parece ser marcada por uma lógica
caracterizada pela delimitação estreita de territórios de cada categoria, conformando um quadro de disputa
entre as lógicas contraditórias da profissionalização e da interprofissionalidade. Esta é compreendida como a
síntese de um processo de integração de saberes e de colaboração interprofissional, processos estes
mediados pelos afetos.