Devires - Dossiê Jean Luc Godard
Devires - Dossiê Jean Luc Godard
Devires - Dossiê Jean Luc Godard
1 J A N/ J U L 2 0 0 7
DEVIRES - Cinema e Humanidades
Volume 4 Número 1 Janeiro/Junho 2007
BELO HORIZONTE
PERIODICIDADE SEMESTRAL
ISSN:1679-8503
1
DEVIRES - Cinema e Humanidades
Conselho Editorial Editores
Cláudia Mesquita (UFSC) Anna Karina Bartolomeu
Consuelo Lins (UFRJ) César Guimarães
Carlos M. Camargos Mendonça
Cornélia Eckert (UFRGS)
Roberta Veiga
Cristina Melo (UFPE)
Ruben Caixeta de Queiroz
Denilson Lopes (UFRJ)
Projeto gráfico
Eduardo Vargas (UFMG) Laboratório Devires
Ismail Xavier (USP) Capa
Jair Tadeu da Fonseca (UFSC) Carlos M. Camargos Mendonça, Geraldo Barroso
Jean-Louis Comolli (Paris VIII) Editoração eletrônica
João Luiz Vieira (UFF) Bruno Fabri, Geraldo Barroso
José Benjamin Picado (UFBA) Coordenação de produção
Silvia de Paiva
José Tavares de Barros (UFMG)
Assistentes de produção
Márcio Serelle (PUC/MG)
Bruno Fabri, Carla Maia, Cristiane Lima, Geraldo Barroso
Marcius Freire (Unicamp)
Revisão - Português
Maurício Lissovsky (UFRJ)
Alexandre Silva Habib
Maurício Vasconcelos (USP) Tradução dos resumos
Patrícia Franca (UFMG) Alice Loyola (francês), Marco Aurélio Alves (inglês)
Patrícia Moran (UFMG) Lista de imagens
Phillipe Dubois (Paris III) Conceição Bicalho (p. 5-6), Sara Ramo (p. 12),
Phillipe Lourdou (Paris X) Elias Mól (p. 26), Elisa Campos (p. 36),
Cínthia Marcelle (p. 64), Jeanne Monteiro (p. 84),
Réda Bensmaïa (Brown University)
Fernanda Goulart (p. 122), Maria do Céu Diel (p. 104, 136)
Regina Helena da Silva (UFMG)
Apoio
Renato Athias (UFPE)
Grupos de Estudos em Imagem e Sociabilidade - GRIS/UFMG
Ronaldo de Noronha (UFMG)
Impressão
Sabrina Sedlmayer (UFMG) Segrac
Silvina Rodrigues Lopes (Universidade Nova de Lisboa) Tiragem
Vera França (UFMG) 500
Semestral
ISSN: 1679-8503
2
Sumário
Dossiê Godard
O prazer material de escrever - Entrevista com Alain Bergala, por Mário Alves Coutinho 84
Temática Livre
Gestos dos mortos: Hitchcock, Greenaway e Brakhage - Alexandre Rodrigues da Costa 136
3
4
5
Apresentação
Tal como anunciamos na edição passada, a Devires entra
em uma nova fase, trazendo agora, além dos artigos de
temática livre, um dossiê dedicado ora a um diretor, ora a um
problema teórico-conceitual relevante para a linha editorial
da revista. Com isso, queremos aprimorar a interlocução
entre as múltiplas formas expressivas do cinema e o leque
dos saberes das Humanidades. Temos também novos
nomes em nosso Conselho Editorial, que vieram diversificar
nosso vínculo com os programas de pós-graduação em
Comunicação e em Antropologia.
6
e mais de reunir leituras peculiares em torno de certos
filmes seus, tentando elucidar a constelação de referências
e afinidades inesperadas que eles criam entre as artes, a
história e o pensamento.
7
em uma sala de cinema em Jerusalém, quando simulara
um atentado (na sua mochila, no lugar de bombas, havia
apenas livros). Com o cineasta ela deixara o filme feito em
Saravejo (com uma câmera digital), intitulado Nossa música,
mas dele nada veremos... Se as imagens finais de História(s)
do cinema, em batimentos rápidos, apresentam Godard com
uma flor amarela na boca, em Nossa música o plano final
traz o rosto de Olga, em um Paraíso cercado pelos fuzileiros
navais norte-americanos, e do qual, ao contrário do texto
de Borges, não há esperança de retorno. Não podemos ver
o outro mundo para onde ela foi...
8
tão valorizada em nossas sociedades capitalistas) em favor
da hospitalidade, do acolhimento ao outro, da criação de um
espaço vazio – denominado agio pelos poetas provençais – e
que designa o lugar próprio do amor. De certa forma não é
nisso que se empenha Judith quando propõe ao embaixador
francês (que salvou os avós e a mãe dela durante a II Guerra
Mundial) uma conversação sobre o conflito israelense-
palestino? Ela propõe: “Não podemos começar a partir daí?
Pela terra, pela promessa, e em seguida, o perdão...”.
César Guimarães
9
Jean-Luc
10
Godard
11
A resposta de Godard
A resposta de
Godard
Bernard Eisenschitz
Historiador, escritor, tradutor e ensaísta de cinema
Editor da revista semestral Cinéma
1
Antes da entrada das galeries Sud, uma prancha com duas
reproduções do Verrou de Fragonard, a imagem de um
monstro esperando uma moça chamada Goddard no plano
de trás – Paulette Goddard em The cat and the canary,
(Elliott Nugent, 1939) e uma frase: “O que é mostrado não
pode ser dito”. O Verrou, que mostra na simultaneidade
tempos sucessivos, desafia a descrição cronológica,
como o faz um cinema anônimo de gênero. Há alguns
outros motivos de pavor para as crianças. No corredor de
entrada, uma imagem destinada aos pequenos alemães
do século XIX: o Struwwelpeter (“Pedro, o descabelado”),
que não corta nem os cabelos nem as unhas e será punido
por onde pecou: seus dedos serão cortados junto com as
unhas. Na frente, um açougueiro coloca três crianças em
uma salgadeira, segundo a lenda de São Nicolas, nome
por vezes atribuído ao açougueiro, como nessa prancha.
Segundo as indicações inscritas na colagem, esse Nicklaus
representa a exposição 2, “o inconsciente”, na qual
entramos, enquanto a jovem Françoise Dolto representa
a exposição 1, “a utopia”, que não se realizou. (É também
uma pista: o poliglotismo de Godard, desde o “Reiters
Morgenlied” de Wilhelm Hauff, dito por Michel Subor
em Le petit soldat, até seus jogos de palavras franglesas,
suas “traduções” do árabe aqui e acolá,1 as nuances da
língua russa para designar a imagem, seu elogio da bella
* Voyage(s) en utopie, JLG, 1946-2006,
lingua italiana, a Babel da Cinecittà em Le mépris e de
À la recherche d’un théorème perdu,
exposição no Centre Pompidou, Paris, Sarajevo em Notre musique, e, aqui, bastante espanhol,
de 11 de maio a 14 de agosto de 2006, sem esquecer o latim).
concepção: Jean-Luc Godard.
Isso para a exposição que foi vista: hoc opus, hic labor
est. Sabemos que quanto mais avançamos num trabalho
de JLG, mais nos fascina descobrir os fios condutores
do labirinto. Sabemos também que Voyage(s) en utopie
desagradou sobretudo aos partidários das exposições de
cineastas, dispositivos, instalações, cineastas transformados
em artistas. Melhor para mim: foram sem dúvida as
mesmas razões que me fizeram percorrer feliz a exposição.
Então, como escapar à idolatria godardiana (não muito
interessante), à paráfrase das intenções manifestas (raras),
assim como ao desdém sumário pela exposição num clima
de “cada qual com o seu trabalho” (que ecoa, quarenta
anos depois, a acusação de desenvoltura e insignificância
formulada desde os primeiros filmes)?
2
Não é de hoje que alguns cineastas experimentais produzem
filmes destinados às galerias.13 Nestes últimos anos, as
exposições consagradas aos cineastas se multiplicaram,
e eles se tornaram cada vez mais artistas que expõem
sua obra ou suas obras, filmes ou produtos derivados,
pendurados em museus ou galerias.
Referências
BATAILLE, Georges. La part maudite. Paris: Les Éditions de Minuit, 1967.
KROHN, Bill. Uma exposição excêntrica de Jean-Luc Godard vale ser vista
de perto. The Economist, 29 de junho de 2006.
LANGLOIS, Henri. Cinéma. In: Paris - New York, Centre Georges Pompidou,
Musée National d’Art Moderne, 1977.
História(s) do
cinema: invenção
da animação
Cyril Béghin
Crítico de cinema nos Cahiers du Cinéma
Chargé de Cours na Universidade de Paris III
movimento. História.
Ferramentas de análise
Como a imagem em movimento pode se analisar a si
mesma? A análise, nas História(s), não é imanente, mas
vem de uma outra, de uma segunda imagem. Não se trata
de revelar uma essência crítica, mas de fazer aparecer
A possibilidade do movimento
Imagens do cinema primitivo ou imagens de animação
aparecem apenas no final do episódio 1B, sob o duplo
golpe de esplendor – e é um leão de Muybridge reanimado
que gira na jaula do quadro seguindo uma decomposição
extrema do movimento, antes de sua retomada no
episódio 3B acompanhado da decomposição analítica
do leão de Eisenstein – e miséria – e é um cervo, cuja
marcha é mesclada às imagens de um filme pornográfico
do início do século. “Esplendor e miséria”, dois animais
e duplo destino da animação: o rosto de uma moça
mesclada a um pássaro de desenho animado ou a
caminhada de outras moças mesclada àquela de um
gato-Muybridge se encadeiam à queda de uma Virgem.
Esplendor ou miséria, a alma continua a mesma, é o
destino que muda – há todo um destino de moças “em
flor/em lágrimas” nas História(s), representantes de
uma virgindade do primeiro cinema, baseada na simples
produção do espetáculo do movimento, sinistramente
desviado. Todas as História(s) se divertem com uma
certa arqueologia da animação, em busca da máxima
simplicidade, a infância da arte (2B) que é também o
mundo perdido . No episódio 2A, por exemplo, a retomada
O instante fatal
“A arte é como o incêndio: nasce daquilo que queima”
(2B). O fogo, a chama como marcas do nervosismo da
animação na imagem reaparece também nas História(s).
O fogo fulgurou desde o episódio 1A, com um trecho do
Fausto, de Murnau, em que as vibrações de uma chama
no primeiro plano se misturam às aparições irregulares
de Cyd Charisse no número musical “Gun Crazy”
em The band wagon (A roda da fortuna, de Vincente
Minnelli, 1953), que é uma variação sobre a mesma
cena do Fausto. é : o cinema substitui . O nervosismo da
chama é consubstancial à dança, e ambas suspendem
instantes mortais – repetição contínua e instantânea
da substituição, da cinematografização do real, sob o
triplo signo da morte, da eterna juventude e da beleza.
Em 2B, o monólogo do major Amberson se mistura ao
desenrolar de uma película numa mesa de montagem,
cujas cintilações se confundem primeiro com os reflexos
cambiantes do fogo em frente ao qual o personagem se
encontra – a mixagem é regulada exatamente no limite
da visibilidade para produzir apenas o essencial, essa
confusão luminosa, essa identidade entre o perpétuo
devir do fogo e a perpétua modificação das imagens no
desenrolar da película.
O batimento e a dança
Assim, o instante fatal não é apenas o da temporalidade
do homem e que o cinema poderia mostrar, segundo
uma leitura heideggeriana das História(s), mas também
o de toda figura de cinema pelo princípio mesmo da
animação. Dizer que o cinema é uma arte do tempo perde
sua banalidade se adotamos o ângulo da animação, da
repetição ritmada dos instantes fatais, se dizemos com
Benveniste que o ritmo é a organização do que está em
movimento, “a forma no instante em que é assumida pelo
que é movente, móvel, fluido” (BENVENISTE, 1966). A
ambição das História(s), então, é mostrar que o ritmo
que as formas cinematográficas assumem não se define
apenas tecnicamente pela regularidade do desenrolar
da película, mas é uma variável que permite o trabalho
de análise, na medida em que esta, como dizia Adorno
(1984), “significa essencialmente tomar consciência
da história imanente acumulada [nas obras de arte]”.
Analisar uma obra de cinema será analisar seu próprio
movimento enquanto este, resultante da seqüência
ritmada dos instantes fatais, secreta as síncopes e as
explosões que abrem cada imagem à sua relação essencial
a um Outro: o por-vir, morte ou nascimento, queimadura
ou aparição, o instante fatal de Sartre leitor de Heidegger
(cf. o início de Saint Genet); o Senhor, o contracampo
ou a segunda bobina, cuja figura tutelar é Orson Welles
em todas as História(s); e combinando esses dois
Outros, a História, que não é a dimensão monumental
Referências
ADORNO, Theodor. L’essai comme forme. In: Notes sur la littérature. Traduit
de l’allemand par Sibylle Muller. Paris: Flammarion, 1984.
SARTRE, Jean-Paul. Saint Genet: ator e mártir. São Paulo: Vozes, 2002.
Godard,
Glauber e o
Vento do leste:
alegoria de um
1
(des)encontro
Mateus Araújo Silva
Doutor em filosofia pela Univerdade de Paris I e pela UFMG
Ensaísta de cinema e tradutor de Glauber Rocha para o francês
“impossibilidade de encontro entre os que ela mostra se aparenta mais a um desencontro ou, no dizer
tropicalistas do terceiro mundo e os de Gorin, a uma “impossibilidade de encontro”.53 O objeto da
conceitualistas do primeiro em busca de
sua alegoria é antes a ruína de uma esperança, pressentimento
uma revolução no meio” (E-mail citado
por Almeida, 2005: 11, n.7), exemplo talvez do fim da miragem de uma frente única contra o cinema
dos limites e do desgaste, apontados imperialista. O que a seqüência da encruzilhada encena é o
por Xavier (2004: 15), da articulação
mundial dos cinemas novos após a fracasso de Godard em ir buscar no cinema do terceiro mundo
euforia dos anos 60. uma fonte de inspiração e um método válido para um cinema
LESAGE, Julia. Godard-Gorin’s Wind from the East: looking at a film political.
Jump Cut, n. 4, Nov/Dec 1974, p. 18-21.
MACBEAN, James Roy. Vent d’Est, or Godard and Rocha at the Crossroads. Sight
and Sound, Vol. 40, n. 3, Summer 1971, p. 144-50. Incluído em Macbean,
James Roy. Film and Revolution. Bloomington: Univ. of Indiana Press, 1975.
[Trad. bras. de Priscila Adachi in Almeida (org.), 2005, p. 58-77].
MELLEN, Joan. Wind from the East. Film Comment, vol. 7, n.3 , Fall 1971,
p. 65-67.
MONACO, James. The New Wave. New York: Oxford Univ. Press, 1976, ch. 10,
Godard: Theory and Practice, The Dziga-Vertov Period, p. 213-252.
PIERRE, Sylvie. Glauber en exil. [entrevista a Mateus Araújo Silva; Cyril Béghin].
In: BAX, Dominique et al. (Dir.), Glauber Rocha / Nelson Rodrigues. Bobigny:
Magic - Cinéma, 2005, p. 14-19.
ROCHA, Glauber. Le siècle du cinéma. [2006b]. Ed. française établie par Cyril
Béghin et Mateus Araújo Silva. Trad. Mateus Araújo Silva. Bobigny / São Paulo:
Magic Cinéma / Yellow Now / Cosac Naify, 2006.
ROCHA, Glauber et al. Deus e o diabo na terra do sol. Rio de Janeiro: Civilização
brasileira, 1965.
SILVA, Mateus Araújo. Rocha et Rouch, d’une transe à l’autre. In: BAX,
Dominique et al. (Dir.). Glauber Rocha / Nelson Rodrigues. Bobigny: Magic
- Cinéma, 2005.
SILVA, Mateus Araújo; BÉGHIN, Cyril. “Avant-propos” et “La glace à trois faces
du Siècle du Cinéma: critique, histoire et théorie”. In: ROCHA, Glauber. Le siècle
du cinéma. São Paulo: Magic Cinéma / Yellow Now / Cosac Naify, 2006.
SILVERMAN, Kaja; FAROCKI, Harun. Speaking about Godard. New York and
London: New York University Press, 1998.
VALENTINETTI, Claudio. Glauber, um olhar europeu. São Paulo: Instituto Lina Résumé: L’article propose un parallèle
Bo e P. M. Bardi, 2002.
entre les programmes esthétiques de J.-L.
XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. (1a Godard et Glauber Rocha, en concentrant
ed. 1975). 3a ed. revista e ampliada. S. Paulo: Paz e Terra, 2005. son attention sur l’épisode de leur
collaboration pour une scène de Vent
XAVIER, Ismail. Sertão Mar - Glauber Rocha e a estética da fome. [1983a]. São d’est (Godard et Gorin, 1969). Celle-ci
Paulo: Brasiliense, 1983. est analysée à la fois comme la pièce-
XAVIER, Ismail. Glauber Rocha: em tempo de revisão crítica. [1983b]. Entrevista
maîtresse du dialogue effectivement
a Vinícius Dantas, Folha de S. Paulo, 13/11/1983, Folhetim n. 356, p. 9-11. entretenu par les deux (ou trois)
cinéastes et comme sa représentation
XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, allégorique.
cinema marginal. São Paulo: Brasiliense, 1993.
Mots-clés: Jean-Luc Godard. Glauber
XAVIER, Ismail. O cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
Rocha. Jean-Pierre Gorin. Vent d’est.
XAVIER, Ismail. Prefácio. In: ROCHA, Glauber. Revisão crítica do cinema brasileiro.
2. ed. revista e aumentada. São Paulo: CosacNaify, 2003, p. 7-31.
XAVIER, Ismail. Prefácio. In: ROCHA, Glauber. Revolução do Cinema Novo. 2. ed.
revista e aumentada. São Paulo: CosacNaify, 2004, p. 13-27. Abstract: This article draws a parallel
between J.-L. Godard and Glauber Rocha’s
XAVIER, Ismail. Prefácio. In: ROCHA, Glauber. O Século do Cinema. [2006a]. 2. aesthetic programs, concentrating its
ed. revista e aumentada. São Paulo: CosacNaify, 2006, p. 9-31.
attention on the episode of Rocha’s
XAVIER, Ismail. Maquinações do olhar: a cinefilia como “ver além”, na imanência. collaboration with a scene of Vent
In: Lopes, Ana Silvia; Médola, Davi; Araújo, Denize Correa; Bruno, d’est (Godard and Gorin, 1969). This
Fernanda (orgs.). XV Compós – Imagem, visibilidade e cultura midiática. Porto is analyzed, at the same time, as a
Alegre: Ed. Sulina, 2007, p. 21-45. key element of the dialogue actually
engaged between the two (or three)
WOLLEN, Peter. Godard and counter Cinema: Vent d’est. Afterimage, London, n.
filmmakers by the end of the 60’s, and
4, Fall 1972. Depois, incluído em Wollen, Peter. Readings and Writings, London:
New Left Books, 1982 e em Nichols, Bill (Ed.), Movies and Methods, Vol. II.
as its allegoric representation.
Berkeley: Univ. of California Press, 1985, p. 500-509.
Keywords: Jean-Luc Godard. Glauber
Rocha. Jean-Pierre. Gorin, Vent d’est,
third world cinema.
Viver o filme
Maurício Vasconcelos
Doutor em Letras pela USP
Professor da área de Literatura Comparada da USP
12
Ainda o jovem homem – O retrato oval –
Raoul revende Nana
Referências
BARTHELME, Donald. Vida de cidade. Trad. Jaime Prado Gouvêa. Rio de
Janeiro: Artenova, 1975.
HELDER, Herberto. Photomaton & vox. 2. ed. Lisboa: Assírio & Alvim,
1987.
LANCELOTTI, Mario. De Poe a Kafka: para una teoría del cuento. Buenos
Aires: Editorial Universitario de Buenos Aires, 1965. Résumé: Une révision de Vivre sa vie
sous le signe de la lecture/littérature.
POE, Edgar Allan. Ficção completa, poesia e ensaios. Trad. Oscar Mendes.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001. Les contes “The oval portrait” d’Edgar
Poe, et “City life” de Donald Barthelme
SCHEFER, Jean-Louis. Du monde et du mouvement des images. Paris: Cahiers fournissent des éléments d’analyse de la
du cinéma, 1997. construction fragmentaire travaillée dans
le film, en douze tableaux.
O azul de dois
mundos
Roberta Veiga
Doutoranda em Comunicação pela UFMG
Professora da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC-MG
Referências
AUMONT, Jacques. O olho interminável – cinema e pintura. São Paulo: Cosac
& Naify, 2004.
O prazer
material
de escrever
Entrevista com Alain Bergala
Por Mário Alves Coutinho
Doutor em Literatura Comparada pela UFMG
AB: Hoje, Godard diz que não escreve nem três linhas, pois
quer procurar tudo nos livros. Grosso modo, ele faz colagens
de citações. Durante todo o tempo, Godard está sempre
folheando algum livro, e apropriando-se de um fragmento.
Quando ele lê uma revista, por exemplo, ele arranca uma
página e a classifica. Ele rasga livros também. Godard não
tem nenhum respeito pelo objeto livro. Se ele encontra
uma citação que o agrada, mesmo sendo um belo livro, ele
arranca a página e diz: “Isto pode me servir”. Desta maneira,
diz alguma coisa, ele parte de uma palavra que vai iniciar
um encadeamento ou uma relação. Quando vai responder,
Godard já esqueceu a questão, pois tudo está baseado em
uma palavra ou uma idéia. Isso funcionava muito bem com
Serge Daney. Daney jogava muito esse tipo de jogo com ele.
Isso também explica um pouco o seu ato de tomar, cortar,
colar. Para ele, a palavra não passa de uma matéria, é algo
físico.
Como animais
que morrem
Stella Senra
Doutora em Ciências da Informação pela Universidade de Paris II
1
Um dos motivos do interesse sempre renovado pelo
documentário e razão, talvez, da sua grande vitalidade, vem
da convergência que ele cultivou, ao longo de sua história,
entre busca estética e postura política. Apesar do prestígio de
que o gênero tem se beneficiado nos últimos anos no Brasil,
o crítico Jean-Claude Bernardet detectou uma “acomodação”
na produção mais recente, em virtude de um rebaixamento
da sua “contundência política” e da tendência a uma certa
“complacência estética” (BERNARDET, 2003: 8). Acatando
esse diagnóstico, tentarei dar prosseguimento à discussão,
propondo, no entanto, um deslocamento em relação ao campo
em que ela tem se situado. Ao buscar ampliar os limites do
debate, meu intuito será contribuir para o restabelecimento
desta convergência estético-política, se não constitutiva, pelo
menos decisiva para a vitalidade do documentário.
2
Abrir-se para as novas formas e usos das imagens tanto na arte
quanto na vida contemporânea, atentar para a constituição da
nova sensibilidade que emerge da renovação e da ampliação
da visualidade – essas são condições imperativas para
aprendermos a ver diante das novas modalidades de exercício
da visibilidade que a sociedade contemporânea nos propõe.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Qu’est-ce que la philosophie?. Paris: Les Abstract: The text proposes an amplification
Editions de Minuit, 1991. of the debate on documentary films, taking
into account two concomitant phenomena:
EPSTEIN, Jean. Bonjour Cinéma. In: XAVIER, Ismail. A experiência do cinema. (1) the appearance and generalization, in
Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983. contemporary society, of new uses of images
LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. and, above all, of their introduction into
visual arts; (2) the need for seeking a
MARÓN, Karen. Cada dia é um novo suplício para os iraquianos. Folha de S. new view about Brazil, one that can
Paulo, 19-03-2006, Caderno Mundo, p. A35 include the changes that this country has
undergone through the last twenty years.
OLIVEIRA, Francisco de. Crítica à razão dualista. O ornitorrinco. São Paulo:
Boitempo, 2003.
Keywords: Visual Arts. Visuality. Market.
Consensus.
Entre o mar e
o deserto: o
olhar intruso
Denilson Lopes
Doutor em Sociologia pela UnB
Professor da Escola de Comunicação da UFRJ
Referências
BEUGNET, Martine. Claire Denis. Manchester: Manchester University
Press, 2004.
LACK, Roland-François. Good work, little soldier: text and pretext. Journal
of European Studies, 2004, v. 34, p. 34-43.
DIRLIK, Arif. There is more in the rim than meets the eye: thoughts
on the “Pacific Idea” In: DIRLIK, Arif. The postcolonial aura. Boulder:
Westview, 1997.
JASPER, David. The sacred desert: religion, art, and culture. Victoria:
Blackwell, 2004.
LAING, Heather. The rhythm of the night: refraiming silence, music and
masculinity in Beau Travail. In: MERA, Miguel; BURNAND, David (orgs.).
European Film Music. Hamphsire: Ashgate, 2006.
MARKS, Laura. The skin of the film. Durham: Duke University Press,
2000.
Gestos dos
mortos:
Hitchcock,
Greenaway e
Brakhage
Alexandre Rodrigues da Costa
Doutor em Literatura Comparada pela Faculdade de Letras da UFMG
Professor de Literatura da Faculdade Pitágoras
Mas eis que sempre nos perguntamos: ainda não é muito cedo
para morrer? Ao servirem o coquetel, Charles e Brando se traem
com suas próprias palavras – “Matamos pelo prazer do perigo
e de matar. Estamos vivos. Verdadeira e maravilhosamente
vivos” –, pois eles, tão concentrados em seu intento de se
excluírem do mundo, esquecem que, em seu plano, a comida,
em suas infinitas combinações, resiste ao fluxo que a dissolve,
a mistura. Não percebem que, de repente, em vez deles, cada
uma das formas que ela aparenta ter torna-se o centro do
mundo e os mantém mais próximos da morte.
Referências
AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Trad. Marina Appenzeller.
Campinas, São Paulo: Papirus, 2004.
BOGDANOVICH, Peter. Este é Orson Welles. Trad. Beth Viera. São Paulo:
Globo, 1995.
BRAKHAGE, Stan. Stan and Jane Brakhage (and Hollis Frampton) Talking. In:
Brakhage Scrapbook, ed. Robert A. Haller. New Palz, New York: Documentext,
1982.
CALVINO, Italo. Palomar. Trad. Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Résumé: Cet article analyse la présence
Letras, 1994. de la mort dans les travaux d’Alfred
CAMPER, Fred. Stan Brakhage’s films. In: By Brakhage – an anthology. The Hitchcock, Peter Greenaway et Stan
Criterion Collection DVD, 2003. Brakhage, dans le but de percevoir
comment ces réalisateurs utilisent le
CIORAN, E. M. Breviário de decomposição. Trad. José Thomaz Brum. Rio de corps comme une forme pour inverser
Janeiro: Rocco, 1989. le regard, au moment où ils cherchent,
au moyen du cadavre, à refléter le vide
COSTA, Flávia Cesarino. O primeiro cinema. São Paulo: Scritta, 1995.
de l’image, les fausses apparences sur
GREENAWAY, Peter. Interviews. Edited by Vernon Gras and Marguerite Gras. lesquelles se basent toutes choses.
University Press of Mississipi/Jackson, 1991.
Mots-clés: Mort. Cadavre. Image. Regard.
HITCHCOCK, Alfred. In: TRUFFAUT, François. Hitchcock e Truffaut
– entrevistas. Trad. Maria Lucia Machado. 3. ed. São Paulo: Brasiliense,
1986.
LISPECTOR, Clarice. Laços de família. 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
Abstract: This article analyzes the
1982.
presence of death in the works of Alfred
SERRES, Michel. Os cinco sentidos. Trad. Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Hitchcock, Peter Greenaway and Stan
Bertrand Brasil, 2001. Brakhage, with the purpose of perceiving
how those directors use the body as a
SIMBOLO, Noel. Alfred Hitchcock. Rio de Janeiro: Record, 1969. form to inverting the look, at the moment
in that they seek, through the cadaver, to
TRUFFAUT, François. Hitchcock e Truffaut – entrevistas. Tradução de Maria
Lucia Machado. 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. reflect the emptiness of the image, the
fake bottom on which all the things are
born.