Saúde, Mediação e Mediadores
Saúde, Mediação e Mediadores
Saúde, Mediação e Mediadores
ORG. Carla Costa Teixeira, Carlos Guilherme do Valle e Rita de Cássia Neves
Bibliografia
ISBN 978-85-87942-51-7
1. Antropologia
APRESENTAÇÃO
Esta coletânea reúne artigos de antropólogos vinculados,
sobretudo, aos Programas de Pós-Graduação em Antropologia
Social (PPGAS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) e da Universidade de Brasília (UnB). Trata-se de um dos
resultados obtidos do projeto de intercâmbio Casadinho/Procad
(edital n.6/2011, CNPq/Capes), coordenado pelas professoras Julie
Cavignac e Juliana Melo, intitulado “Conhecimentos tradicio-
nais, direitos e novas tecnologias: interfaces da Antropologia
contemporânea”, financiado durante os anos de 2012 a 2016 pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes). Em relação à produção objetiva do
intercâmbio entre os dois programas de pós-graduação, o projeto
gerou missões de ensino e pesquisa, disciplinas oferecidas por
docentes, participações em bancas examinadoras e eventos
acadêmicos que foram organizados pelos dois programas, tal
como a Semana de Antropologia da UFRN. Foi, aliás, exatamente
durante a 12a Semana de Antropologia, organizada no ano
de 2013, que os três professores organizadores da presente
coletânea, depois de apresentarem suas pesquisas na mesa-re-
donda “Povos indígenas, direitos e políticas públicas”, tiveram
a ideia de um evento acadêmico voltado exclusivamente para
saúde e mediação. A partir desta ocasião, conversamos com
outros professores da UFRN e da UnB, igualmente partici-
pantes do Procad, que pudessem participar de uma atividade
conjunta, tais como as professoras Soraya Fleischer e Rozeli
Porto, ambas com interesse de pesquisa em saúde. Em abril
de 2014, professores e alunos do PPGAS/UFRN e PPGAS/UnB
apresentaram trabalhos de pesquisa, ainda em fase inicial
de elaboração, no Seminário “Antropologia e mediadores no
campo das políticas de saúde”, que foi conduzido em Brasília,
na UnB, sob coordenação de Soraya Fleischer, Carla Teixeira e
professores do curso de saúde coletiva da Faculdade de Ceilândia
(UnB), com o apoio institucional do PPGAS/UFRN e do PPGAS/
UnB. O seminário foi momento ímpar de encontro, diálogo e
discussão entre docentes e estudantes, que puderam assistir e
apresentar trabalhos em três mesas-redondas e diversos grupos
de trabalhos, em que graduandos e pós-graduandos tiveram
a oportunidade de mostrar o andamento de suas pesquisas.
Contamos ainda mais com a participação especial da professora
Claudia Lee Williams Fonseca, da UFRGS, que nos brindou com
a conferência de abertura do evento: “Atingidos de hanseníase:
pleiteando direitos, negociando narrativas”1.
A composição plural do evento supracitado foi um passo
decisivo para ampliar, ainda mais, a proposta de intercâmbio
interinstitucional, oportunizada pelo projeto Casadinho/Procad.
Isso se traduziu no seminário e, por consequência, tal como
veremos, neste livro. Situado na interface entre Antropologia da
Saúde, Antropologia do Estado e da Política, o evento teve como
principal objetivo pensar os diferentes agentes e/ou atores que
estão no desenho, execução e vivência das políticas de saúde.
Como esses agentes se relacionam às políticas de saúde que vêm
sendo implementadas? Atuam como mediadores entre saberes,
práticas e instituições diversas? O que pode se configurar como
“mediação” no campo da saúde e de suas políticas? Como saúde
e mediação podem estar vinculadas à esfera da justiça, da
sexualidade e, em geral, da vida privada?
Luiza Garnelo
Instituto Leônidas & Maria Deane – Fiocruz Amazônia
SUMÁRIO
Parte I – Mediadores e práticas de mediação
1 Mediadores e experts biossociais: saúde, ativismo e a
criminalização da infecção do HIV.................................................... 26
Carlos Guilherme do Valle
2 Estados nacionais, gerações de mulheres e políticas do parir:
analogias e mediações entre Brasil e Espanha...................................76
Rosamaria Giatti Carneiro
3 Assistência sexual a pessoas com deficiência
e mediações em saúde.........................................................................102
Carolina B. de Castro Ferreira
4 Escritos de uma desigualdade em saúde........................................139
Silvia Guimarães
26
Saúde, mediação e mediadores
27
Saúde, mediação e mediadores
28
Saúde, mediação e mediadores
29
Saúde, mediação e mediadores
30
Saúde, mediação e mediadores
31
Saúde, mediação e mediadores
32
Saúde, mediação e mediadores
33
Saúde, mediação e mediadores
34
Saúde, mediação e mediadores
35
Saúde, mediação e mediadores
36
Saúde, mediação e mediadores
37
Saúde, mediação e mediadores
38
Saúde, mediação e mediadores
39
Saúde, mediação e mediadores
40
Saúde, mediação e mediadores
41
Saúde, mediação e mediadores
42
Saúde, mediação e mediadores
43
Saúde, mediação e mediadores
44
Saúde, mediação e mediadores
45
Saúde, mediação e mediadores
46
Saúde, mediação e mediadores
47
Saúde, mediação e mediadores
48
Saúde, mediação e mediadores
49
Saúde, mediação e mediadores
50
Saúde, mediação e mediadores
51
Saúde, mediação e mediadores
52
Saúde, mediação e mediadores
53
Saúde, mediação e mediadores
54
Saúde, mediação e mediadores
55
Saúde, mediação e mediadores
56
Saúde, mediação e mediadores
24 Agradeço a Carla Costa Teixeira por seu comentário sobre este ponto.
57
Saúde, mediação e mediadores
58
Saúde, mediação e mediadores
59
Saúde, mediação e mediadores
60
Saúde, mediação e mediadores
61
Saúde, mediação e mediadores
62
Saúde, mediação e mediadores
63
Saúde, mediação e mediadores
64
Saúde, mediação e mediadores
corrobora para que isso não seja assim”. Ou seja, como educar?
Trata-se de uma pedagogia ativista pautada em uma raciona-
lidade científica e biomédica sobre corpo, risco e saúde, mas
apoiada em uma política dos afetos e das emoções. Nesse caso,
as atividades organizadas (encontros, seminários, oficinas etc.),
as práticas discursivas e a documentação textual acionavam
um verdadeiro trabalho emocional, a sensibilização informada
do poder público, das instâncias jurídicas e dos operadores de
direito, sem contar os profissionais de saúde, também vistos
como pouco familiarizados com o debate mais recente sobre
risco e novas tecnologias de prevenção ao HIV/Aids: “[...] o
nosso papel enquanto movimento social é tentar diminuir esse
intervalo, esse buraco, e conseguir intervir, ir atrás, debater,
discutir, enfrentar essa situação, exigir mais discussão entre
os profissionais de saúde, que eles também aprendam, que isso
também envolve estudo, envolve discussão e tem sido pouco o
que tem sido feito”27.
Assim, os seminários e eventos organizados tinham o
propósito de contemplar uma pauta e uma prática de mediação
sistemática. De algum modo, esta prática tem relação de conti-
nuidade com as atividades de certas ONGs de Aids, tal como a
assessoria jurídica que etnografei. Na perspectiva dos ativistas,
os eventos contribuem para suprir a “falta” de informação e
conhecimento que um público leigo tem sobre a epidemia e as
implicações sociais e políticas, além de morais, das mudanças na
legislação. Mas não apenas aos “leigos”, pois os eventos propõem
informar, esclarecer e sensibilizar certos profissionais, mais
particularmente os experts da área jurídica, a partir de uma
outra expertise, o ativismo biossocial, que teria condições de
articular melhor as relações entre saúde e direitos humanos,
além de questionar ou desconstruir o estigma que a legislação
e as práticas jurídicas podem causar. A ideia de desconstruir
estigmas está presente no histórico institucional de importantes
27 Palavras de Veriano Terto (ABIA) no II Seminário Nacional para
enfrentamento da discriminação, criminalização e violação de
direitos no contexto de HIV e AIDS (26/10/2011).
65
Saúde, mediação e mediadores
ONGs Aids brasileiras, tal como ABIA, GIV e o Grupo Pela Vidda
(Rio e Niterói), tendo em conta o caso da assessoria jurídica
do GPV-RJ. De certo modo, a expertise ativista era afirmada a
fim de questionar o preconceito e até a “ignorância” presente
entre os juristas sobre as questões de saúde e HIV/Aids. Como
eventos que potencializavam significados sobre o viver com
HIV/Aids, a sensibilização de operadores do direito não se res-
tringia ao debate e à discussão jurídica mais formal. Além dos
documentos produzidos e circulados (livros, boletins, arquivos
powerpoint) sobre justiça e direitos humanos em relação a Aids e
saúde, os seminários podiam incluir atividades e performances
culturais que tinham o mesmo propósito político de garantir
informação e sensibilização28.
Considerações finais
66
Saúde, mediação e mediadores
67
Saúde, mediação e mediadores
68
Saúde, mediação e mediadores
30 “ameaça que pesa sobre a vida física se torna sua razão política de
viver” (2012, p. 384).
69
Saúde, mediação e mediadores
Referências
ABIA. Sonia Corrêa afirma que a criminalização da transmissão
do HIV se sobrepõe a outras estratégias na resposta à epidemia. 6
mar. 2015. Disponível em: <http://abiaids.org.br/sonia-correa-a-
firma-que-a-criminalizacao-da-transmissao-do-hiv-se-sobrepo-
e-a-outras-estrategias-na-resposta-a-epidemia/28177>. Acesso em:
1 nov. 2016.
ANZALDÚA, G. Foreword to the second edition. In: MORAGA, C.;
ANZALDÚA, G. (Ed.). This bridge called my back: writings by radical
women of color. Nova Iorque: Kitchen Table, 1983.
ASSUMPÇÃO, L. L. A invenção das ONGs: do serviço invisível à profissão
sem nome. 1993. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Programa
de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1993.
BASS, E. et al. Citizen scientists and activist researchers: building
and sustaining HIV prevention research advocacy in the ‘era of
evidence’. In: SMITH, R. (Ed.). Global HIV/AIDS politics, policy, and
activism: activism and community mobilization. Santa Barbara:
Praeger, 2013.
BASTOS, C. Global responses to AIDS: science in emergency.
Bloomington: Indiana University Press, 1999.
BECKER, H. S. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de
Janeiro: Zahar, 2008.
BEZERRA, M. O. Em nome das “bases”: política, favor e dependência
pessoal. Rio de Janeiro: Relume Dumará/NuAP, 1999.
BIEHL, J. G. Will to live: AIDS therapies and the politics of survival.
Princeton: Princeton University Press, 2007.
BIEHL, J. G.; PETRYNA, Adriana. Bodies of Rights and Therapeutic
Markets. Social Research, v. 78, n. 2, p. 359-386, 2011.
BUTLER, J. Precarious life: the power of mourning and violence.
Nova Iorque: Verso, 2004.
CAMERON, E. Criminalization of HIV transmission: poor public
health policy. HIV/AIDS Policy Law Review, v. 14, n. 2, p. 63-75, 2009.
70
Saúde, mediação e mediadores
71
Saúde, mediação e mediadores
72
Saúde, mediação e mediadores
73
Saúde, mediação e mediadores
74
Saúde, mediação e mediadores
75
CAPÍTULO 2
ESTADOS NACIONAIS, GERAÇÕES DE
MULHERES E POLÍTICAS DO PARIR:
ANALOGIAS E MEDIAÇÕES
ENTRE BRASIL E ESPANHA
Rosamaria Carneiro
76
Saúde, mediação e mediadores
77
Saúde, mediação e mediadores
A placa metálica
A primeira cena da estória que me foi contada em
Barcelona, em junho de 2010, era composta por uma mulher
dando à luz, sua comadrona e o marido. Mas quem me contava
era a comadrona Pepe, que acompanhei durante dois meses,
enquanto estive na cidade realizando parte de uma pesquisa
mais ampla sobre os modos de nascer e de parir no Brasil.
78
Saúde, mediação e mediadores
79
Saúde, mediação e mediadores
80
Saúde, mediação e mediadores
81
Saúde, mediação e mediadores
82
Saúde, mediação e mediadores
83
Saúde, mediação e mediadores
84
Saúde, mediação e mediadores
85
Saúde, mediação e mediadores
86
Saúde, mediação e mediadores
87
Saúde, mediação e mediadores
88
Saúde, mediação e mediadores
89
Saúde, mediação e mediadores
A Espanha de outrora
Durante minha pesquisa em Barcelona pude perceber
que as espanholas contemporâneas optam pela maternidade
um pouco, mas não muito, mais tarde do que as brasileiras de
camadas médias que compuseram minha etnografia em São
Paulo. Essa constatação pode nos sugerir que tanto a filha quanto
a mãe da estória da placa metálica tivessem optado por filhos um
pouco mais tarde do que Mércia e Fernanda, respectivamente.
Nesse sentido, uma delas teria dado à luz na primeira metade da
década de 1970 e, portanto, no decorrer do período franquista
e, por tal motivo, na explicação de Pepe, teria vivido no período
em que circulava a premissa de que quanto mais tecnologia,
mais adequado o parto, na esteira dos regimes nacionalistas
desenvolvimentistas. Enquanto, diferentemente, Mércia, que
vivia no Brasil de então, parece enquadrar-se entre as mulheres
dissidentes do modelo “tecno-burocrático” operante e, assim,
negava a cesárea como primeira opção de parto.
O interessante é que na Espanha de outrora também
parecem ter existido mulheres como Mércia, as dissidentes do
modelo da cesárea. Essa ao menos foi a leitura de Helena, coma-
drona parceira de Pepe, também de 50 anos ou menos, enquanto
tomávamos café no MACBA (Museu de Arte Contemporânea de
Barcelona), no intervalo de um seminário de pesquisa do grupo
de pesquisa feminista DUODA da Universitat de Barcelona, no qual
ambas estávamos inscritas como ouvintes. Nessa ocasião, Helena
comentava, ao que me pareceu recordando a sua própria geração,
que as mulheres espanholas dos anos de 1980, pouco antes e logo
depois da queda do período franquista, pressionavam e exigiam
o domínio sobre os próprios corpos, como também acontecera
no Brasil no período de abertura democrática, resistindo ao
controle biomédico e estatal sobre suas vidas. Em seu registro,
essas mulheres questionavam os modelos de parto partindo de
seus corpos, algo que não reconhece mais entre as mulheres que
estão dando à luz na Espanha de hoje, nas “hijas de la pentotal
90
Saúde, mediação e mediadores
91
Saúde, mediação e mediadores
92
Saúde, mediação e mediadores
93
Saúde, mediação e mediadores
94
Saúde, mediação e mediadores
95
Saúde, mediação e mediadores
96
Saúde, mediação e mediadores
97
Saúde, mediação e mediadores
98
Saúde, mediação e mediadores
99
Saúde, mediação e mediadores
Referências
CARNEIRO, R. Cenas de parto e políticas do corpo. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2015.
CAMPBELL, C. A ética romântica e o espírito do consumismo moderno.
Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
CSORDAS, T. Corpo, significado e cura. Porto Alegre: UFRGS, 2008.
DAVIS-FLOYD, R. Perspectivas antropológicas del parto y nacimiento
humano. BsAs: Fundación Creavida, 2009.
DINIZ, C. S. G.. Assistência ao parto e relações de gênero. Elementos
para uma releitura Médico-Social. 1996. Dissertação (Mestrado em
Medicina Preventiva) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 1996.
DUARTE, L. F. D. Formalização e Ensino na Antropologia Social: os
dilemas da universalização romântica. In: ENCONTRO ANUAL DA
ANPOCS, 18, 1994, Caxambu. Anais... Caxambu: ANPOCS, 1994.
DUARTE, L. F. D. A investigação antropológica sobre doença, sofri-
mento e perturbação: uma introdução. In: DUARTE, L. F. D.; LEAL,
O. (Org.) Pessoa, doença e perturbação: perspectivas Etnográficas. Rio
de Janeiro: Fiocruz, 1998.
FLEISCHER, Soraya. Parteiras, buchudas e aperreios: uma etnografia
do cuidado obstétrico não oficial na cidade de Melgaço, Pará. 2011.
EDUNISC, Santa Cruz do Sul, 2011.
FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
FOUCAULT, M. História da Sexualidade I: a vontade de saber. São
Paulo: Editora Graal, 1995.
FOUCAULT, M. O nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
KITZINGER, Sheila. Woman as mothers. London: Fontana, 1978.
RICH, A. Nacemos de mujer: la maternidad experiência e institucion.
Trad. Anna Becciu. Madrid: Catedra, 1996.
100
Saúde, mediação e mediadores
101
CAPÍTULO 3
ASSISTÊNCIA SEXUAL A PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA E MEDIAÇÕES EM SAÚDE32
Carolina Branco de Castro Ferreira
102
Saúde, mediação e mediadores
103
Saúde, mediação e mediadores
37 Assis Silva, 2012; Assis Silva, 2012a; Assis Silva e Assênsio, 2011;
Cavalheiro, 2012; Lopes, 2014; Simões, 2014; Lanna Júnior, 2010;
Fremlin, 2011; Magalhães, 2012.
104
Saúde, mediação e mediadores
105
Saúde, mediação e mediadores
106
Saúde, mediação e mediadores
107
Saúde, mediação e mediadores
108
Saúde, mediação e mediadores
109
Saúde, mediação e mediadores
110
Saúde, mediação e mediadores
111
Saúde, mediação e mediadores
112
Saúde, mediação e mediadores
113
Saúde, mediação e mediadores
114
Saúde, mediação e mediadores
115
Saúde, mediação e mediadores
116
Saúde, mediação e mediadores
Creo que ante todo, todas las personas con o sin discapacidad
debemos ser tratadas por igual, hace unos meses recibi la
llamada de un chico que me comento que tenia un hermano
con cierta discapacidad (autista) y me pregunto si tendria
algun reparo en recibirlo pues estaba en una edad en la que
las hormonas empiezan a alborotarse y bueno de iniciarse
sexualmente, me explico que aunque tenia esta discapacidad
era un chico muy despierto y curioso, y ademas visitaba el
foro con frecuencia y le habian llamado la atencion mis fotos
al principio me tomo por sorpresa y dude un poco, pero me
dije a mi misma porque no? la verdad fue una experiencia
gratificante, fue como enseñarle a un niño a caminar o a
comer solo, hace unas semanas me lo trajeron por 2da vez,
pero esta vez fue la madre del chico quien lo trajo, yo no sabia
como actuar y bueno lo unico que se me ocurrio fue hacer
pasar a la señora al salon de mi casa y conversar con ella con
total naturalidad, en fin no es una situacion facil pues creo
que hay que tener una predisposicion especial, y no todos
somos capaces de asumir segun que situaciones, pero creo
que si con esto ayudamos a dar un poquito de felicidad a
“gente especial” al menos en mi crea una gran satisfaccion
personal, saludos (Sofia Hot – Fórum de discussão sexo e
mercado BCN, 201348).
117
Saúde, mediação e mediadores
118
Saúde, mediação e mediadores
119
Saúde, mediação e mediadores
120
Saúde, mediação e mediadores
121
Saúde, mediação e mediadores
122
Saúde, mediação e mediadores
123
Saúde, mediação e mediadores
Ela segue:
124
Saúde, mediação e mediadores
125
Saúde, mediação e mediadores
52 Agradeço a Laura Lowenkron por ter chamado minha atenção neste aspecto.
126
Saúde, mediação e mediadores
127
Saúde, mediação e mediadores
128
Saúde, mediação e mediadores
129
Saúde, mediação e mediadores
130
Saúde, mediação e mediadores
131
Saúde, mediação e mediadores
55 Agradeço a Adriana Vianna por ter utilizado esse termo nos comen-
tários sobre minha pesquisa.
56 Agradeço a Carlos Guilherme do Valle por ter chamado minha atenção
para vários aspectos na finalização desse texto.
57 As técnicas desse governo também são culturalmente marcadas por
gênero (LOWENKRON, 2013) como sugere Souza Lima (2002) a partir
do par gestar e gerir como léxicos de duas dimensões decupáveis
da mesma operação que permite recortar e descrever nuances no
exercício do poder. Gestar aponta para uma função constitutiva e
pedagógica, de “maternagem”, do ensinar a ser. Gerir estaria relacio-
nado com o controle cotidiano de uma administração que controla
espaços e mantém os desiguais em sues nichos, desenvolvendo assim
uma “pedagogia dos lugares certos”.
132
Saúde, mediação e mediadores
133
Saúde, mediação e mediadores
134
Saúde, mediação e mediadores
Referências
ASSIS SILVA, C. A. Cultura Surda: agentes religiosos e a construção
de uma identidade. São Paulo: Terceiro Nome, 2012.
ASSIS SILVA, C. A.. Deficiência e Direitos Humanos em debate:
história do movimento social e transformações recentes.
In: ENCONTRO ANUAL DA ANDEPH – DIREITOS HUMANOS,
DEMOCRACIA E DIVERSIDADE, 7., 2012, Curitiba. Anais... Curitiba:
Andeph, 2012.
ASSIS SILVA, C. A.; ASSÊNSIO, C. B. Setembro Azul: mobilização
política nacional a favor das escolas bilíngues para surdos. Ponto
Urbe, São Paulo, v. 9, p. 1-13, 2011.
BUTLER, J. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo.
In: LOURO, G. L. (Org.). O corpo educado. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2001.
CARRARA, S. Moralidades, racionalidades e políticas sexuais no Brasil
contemporâneo. Mana, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 323-345, 2015.
CAVALHEIRO, A. M. Com outros olhos: uma etnografia da
“cegueira” e “deficiência visual”. 2012. Dissertação (Mestrado
em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
DAS, V. Stigma, contagion, defect: Issues in the Anthropology of
Public Health. Trabalho apresentado durante a Conferência do
National Institute of Health (NEH), 2001.
DAS, V.; ADDLAKHA, R. Disability and Domestic Citizenship: Voice,
Gender, and the making of the Subject. Public Culture, v. 1, n. 3, 2001.
DEBERT, G. G.; OLIVEIRA, Amanda Marques de. A feminização
da violência contra o idoso e as delegacias de polícia. Mediações,
Londrina, v. 17, n. 2, 2012.
FERRAZ, C. V.; LEITE, G. S.. Comentários Artigo 23 – Respeito pelo
Lar e pela Família. Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência – Novos Comentários, 2014.
135
Saúde, mediação e mediadores
136
Saúde, mediação e mediadores
137
Saúde, mediação e mediadores
138
CAPÍTULO 4
ESCRITOS DE UMA
DESIGUALDADE EM SAÚDE
Silvia Guimarães
139
Saúde, mediação e mediadores
140
Saúde, mediação e mediadores
141
Saúde, mediação e mediadores
142
Saúde, mediação e mediadores
143
Saúde, mediação e mediadores
144
Saúde, mediação e mediadores
145
Saúde, mediação e mediadores
146
Saúde, mediação e mediadores
147
Saúde, mediação e mediadores
148
Saúde, mediação e mediadores
149
Saúde, mediação e mediadores
150
Saúde, mediação e mediadores
151
Saúde, mediação e mediadores
152
Saúde, mediação e mediadores
153
Saúde, mediação e mediadores
154
Saúde, mediação e mediadores
155
Saúde, mediação e mediadores
156
Saúde, mediação e mediadores
157
Saúde, mediação e mediadores
158
Saúde, mediação e mediadores
159
Saúde, mediação e mediadores
160
Saúde, mediação e mediadores
161
Saúde, mediação e mediadores
162
Saúde, mediação e mediadores
163
Saúde, mediação e mediadores
164
Saúde, mediação e mediadores
165
Saúde, mediação e mediadores
166
Saúde, mediação e mediadores
167
Saúde, mediação e mediadores
168
Saúde, mediação e mediadores
Considerações finais
Com relação aos povos indígenas, há processos de cons-
trução diferenciada de vidas e condições de existência, os
profissionais de saúde atuam em tais processos, mediam as
relações e situações de saúde dos povos indígenas. Criam uma
disputa de responsabilidades entre profissionais em área, da
CASAI e do hospital, eximem-se de seus afazeres e produzem
as condições em que se efetivam intervenções que acabam por
ampliar o sofrimento.
É possível ver, na biografia de Helena, relacionarem-se
os primeiros agentes do governo que se impuseram sobre os
Xavante e os profissionais de saúde do presente. Ao longo de toda
história Xavante e de vida de Helena, esses agentes do Estado estão
mediando um biopoder, mecanismos e estratégias de construção
da desigualdade nos corpos dos Xavante. Helena herdou todas as
implicações da efetivação do poder tutelar que anulou o modo de
vida Xavante, limitou seu território e inseriu os Xavante em um
contexto de desigualdade em saúde. Os profissionais de saúde
em área acabaram por mediar situações que se inscreveram na
existência corporal, na vida familiar e social, no adoecimento
e na morte de Helena, sua condição de vida de sofrimento e a
negligencia para deixá-la morrer. Estava marcado no corpo de
Helena, nas feridas, nas mutilações, nas dores, nas tristezas, nos
medos, o valor da vida de uma mulher indígena.
169
Saúde, mediação e mediadores
Referências
COIMBRA, C.; SANTOS, R. Saúde, minorias e desigualdade: algumas
teias de inter-relação, com ênfase nos povos indígenas no Brasil.
Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, 2000.
COIMBRA Jr., C. Ε. Α.; FLOWERS, N. M.; SANTOS, R. V.; SALZANO, F.
M. The Xavante in Transition: Health, Ecology, and Bioanthropology
in Central Brazil. Ann Arbor: University of Michigan Press, 2002.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. Diabetes Mellitus. Brasília:
Ministério da Saúde, 2006.
FASSIN, D. L’espace politique de la santé: essai de généalogie. Paris:
PUF, 1996.
FASSIN, D. Another Politics of Life is Possible. Theory, Culture &
Society, v. 26, p. 44-60, 2009.
FLEISCHER, S. O “grupo da pressão”: notas sobre as lógicas de “con-
trole” de doenças crônicas na Guariroba, Ceilândia/DF. Amazônia,
Revista de Antropologia, v. 5, n. 2, 2013.
FREITAS, J.; FREITAS, F. Influência da mudança do hábito ali-
mentar na prevalência de diabetes na área indígena Xavante.
Estudo de caso – Reserva Indígena São Marcos. Boletim de Pesquisa
e Desenvolvimento. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, 2004.
FOUCAULT, M. História da sexualidade 3: o cuidado de si. Rio de
Janeiro: Ed. Graal, 1985.
GARNELO, L. Política de Saúde Indígena no Brasil: notas sobre as
tendências atuais do processo de implantação do subsistema de
atenção à saúde. In: GARNELO, L.; PONTES, A. Saúde Indígena: uma
introdução ao tema. Brasília: MEC/SECADI, 2012.
GERHARDT, T. E. Itinerários terapêuticos em situações de pobreza:
diversidade e pluralidade. Cad. Saúde Pública, v. 22, n. 11, p. 2449-
2463, 2006.
GOFFMAN, I. Manicômio, prisões e conventos. São Paulo: Ed.
Perspectiva, 1974.
170
Saúde, mediação e mediadores
171
PARTE II
Mediadores e mediações em questão
CAPÍTULO 5
PODER E GOVERNO NAS
MEDIAÇÕES DE AGENTES
COMUNITÁRIAS DE SAÚDE
Carla Costa Teixeira
173
Saúde, mediação e mediadores
174
Saúde, mediação e mediadores
175
Saúde, mediação e mediadores
176
Saúde, mediação e mediadores
177
Saúde, mediação e mediadores
178
Saúde, mediação e mediadores
179
Saúde, mediação e mediadores
180
Saúde, mediação e mediadores
181
Saúde, mediação e mediadores
182
Saúde, mediação e mediadores
183
Saúde, mediação e mediadores
184
Saúde, mediação e mediadores
185
Saúde, mediação e mediadores
186
Saúde, mediação e mediadores
187
Saúde, mediação e mediadores
188
Saúde, mediação e mediadores
189
Saúde, mediação e mediadores
190
Saúde, mediação e mediadores
191
Saúde, mediação e mediadores
192
Saúde, mediação e mediadores
193
Saúde, mediação e mediadores
194
Saúde, mediação e mediadores
195
Saúde, mediação e mediadores
196
Saúde, mediação e mediadores
197
Saúde, mediação e mediadores
198
Saúde, mediação e mediadores
199
Saúde, mediação e mediadores
200
Saúde, mediação e mediadores
201
Saúde, mediação e mediadores
202
Saúde, mediação e mediadores
203
Saúde, mediação e mediadores
204
Saúde, mediação e mediadores
205
Saúde, mediação e mediadores
206
Saúde, mediação e mediadores
207
Saúde, mediação e mediadores
208
Saúde, mediação e mediadores
209
Saúde, mediação e mediadores
210
Saúde, mediação e mediadores
211
Saúde, mediação e mediadores
212
Saúde, mediação e mediadores
213
Saúde, mediação e mediadores
214
Saúde, mediação e mediadores
Referências
ABRAMS, P. Notes on the difficulty of studying the state. In:
SHARMA, A.; GUPTA, A. (Ed). The anthropology of the state: a reader.
Oxford: Blackwell Publishing, 2006. p. 112-130.
BORNSTEIN, V. J.; STOTZ, E. N. O Trabalho dos agentes comunitá-
rios de saúde: entre a mediação convencedora e a transformadora.
Trabalho, educação e saúde, Rio de Janeiro, v. 6, n. 3, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 399, de 22 de feve-
reiro de 2006. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do
SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do referido Pacto. Brasília:
Ministério da Saúde, 2006.
DAS, V. The signature of the State. In: DAS, V.; POOLE, D. (Ed.).
Anthropology in the margins of State. Santa Fe: School of American
Research Press, 2004.
DEAN, M. Governmentality: power and rule in modern society.
London: SAGE Publications Ltd., 2010.
FOUCAULT, M. Aula de 1º de fevereiro de 1978. In: ______. Segurança,
território, população: curso dado no Collège de France (1977-1978).
São Paulo: Martins Fontes, 2008.
GAVALOTE, H. S. et al. Desvendando os processos de trabalho do
agente comunitário de saúde nos cenários revelados na Estratégia
Saúde da Família no município de Vitória (ES, Brasil). Ciência &
Saúde Coletiva, v. 16, n. 1, 2011.
GUPTA, A. Red Tape. Durham; London: Duke University Press, 2012.
HERZFELD, M. The social production of indifference: exploring the
symbolic roots of Western bureaucracy. Chicago: The Univ. of
Chicago Press, 1993.
HULL, M. S. Documents and Bureaucracy. Annual Review of
Anthropology, v. 41, p. 251-67, 2012.
LEMKE, T. The government of living beings: Michel Foucault.
Biopolitics: an advanced introduction. New York; London: New York
University Press, 2011.
LOTTA, G. S. Saberes Locais, Mediação e Cidadania: o caso dos
agentes comunitários de saúde. Saúde Sociedade, São Paulo, n. 21,
supl.1, p. 210-222, 2012.
215
Saúde, mediação e mediadores
216
CAPÍTULO 6
COMO TERCEIROS:
REFLEXÕES ENTRE AGENTES INDÍGENAS
DE SAÚDE NO ALTO TAPAJÓS (PA)
217
Saúde, mediação e mediadores
218
Saúde, mediação e mediadores
219
Saúde, mediação e mediadores
220
Saúde, mediação e mediadores
221
Saúde, mediação e mediadores
222
Saúde, mediação e mediadores
223
Saúde, mediação e mediadores
224
Saúde, mediação e mediadores
225
Saúde, mediação e mediadores
226
Saúde, mediação e mediadores
seriam aprendizes – pois não é assim que tais pessoas são esco-
lhidas. Os xamãs/pajés, como já disse, possuem fundamental
papel na mediação dos saberes, na medida em que integram
politicamente, influenciam e, portanto, ajudam a construir
itinerários terapêuticos dos Munduruku. Logo, as constantes
tensões com a equipe de saúde não são simplesmente um índice
para a presença ou ausência de adesão. A adesão aos tratamentos
de saúde nunca foi um problema individual, e nessa medida,
jamais poderia ser pensado a partir dessa lógica. O problema
está em entender que diversidade de coisas e situações estamos
chamando de mediação e o porquê. Assim como afirma Valle
(2015), a mediação não deve ser pensada como um fenômeno
autônomo ou um novo domínio de investigação. Entretanto, é
preciso reconhecer a importância de refletir sobre a mediação
“em situações de etnicidade” (2015, p. 9-10).
Se o agente indígena de saúde é somado ao contexto da
saúde indígena como mediador cultural, tal mediação pode
ser interpretada num sentido estrito, pautado pelo discurso de
oposição sobre as noções divergentes sobre a causalidade das
doenças (oposição entre biomedicina e xamanismo) – como se
o objetivo da mediação fosse operar o desvio entre a teoria e a
prática. O problema é que o conflito epistêmico começa muito
antes, começa na história de formação das próprias enfermeiras;
no modelo dos improvisos efetuados pelas técnicas de enfer-
magem em aldeia e que se constitui numa forma de prestígio
social; em como a administração pública se organiza em torno
do que privilegia como sendo – neste caso – “informações sobre
saúde” e no modo como instrumentaliza esse conhecimento
(SOUZA LIMA, 2002b).
Sempre considerei notável, por exemplo, como um
pequeno repertório de meia-dúzia de vocábulos (que tratavam
de sintomas específicos de dor) concedia ao profissional de
saúde, com algum tempo de trabalho nas aldeias, a autoridade de
que precisava para dispensar maiores participações do Agente
227
Saúde, mediação e mediadores
228
Saúde, mediação e mediadores
229
Saúde, mediação e mediadores
230
Saúde, mediação e mediadores
231
Saúde, mediação e mediadores
232
Saúde, mediação e mediadores
233
Saúde, mediação e mediadores
234
Saúde, mediação e mediadores
Considerações Finais
A abordagem simmeliana do conflito (SIMMEL, 1955)
possibilita pensar a mediação como produtora de diferenças,
e não como produto de diferenças apenas. Afinal, qual conflito
os Agentes Indígenas de Saúde estão mediando? Eles estão
arbitrando um jogo, um debate de termos definidos ou sua
agência se constitui na terceiridade da tríade entre povos indí-
genas, profissionais de saúde e Agentes Indígenas de Saúde, cuja
complexidade da agência está imiscuída numa série de outras
pertenças simultâneas?
A mediação dos agentes indígenas de saúde foi relida cri-
ticamente à luz da relação com os profissionais da enfermagem,
mediante o vínculo que, institucional e cotidianamente, tem se
construído entre as duas categorias. Além disso, a associação
das políticas sociais que deram origem aos Agentes Indígenas
de Saúde, através do modelo dos agentes comunitários, surgido
alguns anos antes, se estabelece entre os profissionais de saúde
como uma continuidade dos eixos básicos do Programa de Saúde
da Família aplicados ao Subsistema de Saúde Indígena. Ao mesmo
tempo, sabemos que a expansão de categorias profissionais no
campo da enfermagem é um processo histórico de longo prazo
e que essa é uma chave de leitura para compreender a produção
de ambiguidades no campo da saúde (DIAS DA SILVA, 2014).
Questionando a ambiguidade como chave de leitura
para interpretar a realidade cotidiana dos Distritos Sanitários
Especiais Indígenas meu intuito foi o de explicitar que o pró-
prio conceito de mediação não é autoevidente, tendo de ser
referenciado contextualmente para ser compreendido. Os
profissionais de saúde que, efetivamente, participavam do
cotidiano da assistência em saúde indígena eram oriundos de
segmentos populares, camponeses, ribeirinhos, urbanos, entre
outros. Eram formados em enfermagem, em nível universitário
e/ou técnico, mas nem por isso comungavam de uma visão
235
Saúde, mediação e mediadores
236
Saúde, mediação e mediadores
237
Saúde, mediação e mediadores
238
Saúde, mediação e mediadores
Referências
ABRAMS, P. Notes on the difficulty of studying the State. Journal of
Historical Sociology, v. 1, n. 1, 1988.
ALVES, Paulo C.; SOUZA, Iara. M. A. Escolha e avaliação de trata-
mento para problemas de saúde: considerações sobre o itinerário
terapêutico. In: ALVES, Paulo et al. Experiência da doença e narrativa.
Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999.
ATHIAS, R.; MACHADO, M. A saúde indígena no processo de
implantação dos Distritos Sanitários: temas críticos e propostas
para um diálogo interdisciplinar. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,
v. 17, n. 2, p. 425-431, 2001.
BORNSTEIN, V. J.; STOTZ, E. N. Concepções que integram a forma-
ção e o processo de trabalho dos agentes comunitários de saúde:
uma revisão da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, n. 1, p.
259-268, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Política
Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. 2ª edição. Brasília:
Fundação Nacional de Saúde, 2002. 40p.
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Formação inicial para agen-
tes indígenas de saúde: módulo introdutório. Brasília: Fundação
Nacional de Saúde, 2005. 50p.
CABRAL, Ana L. L. V et al. Itinerários terapêuticos: o estado da arte
da produção científica no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, v. 16, n. 11,
p. 4433-4442, 2011.
CAMARGO, K. R. A Biomedicina. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio
de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 45-68, 1997.
CARDOSO, M. D. Saúde e povos indígenas no Brasil: notas
sobre alguns temas equívocos na política atual. Cad. Saúde
Pública [online], v. 30, n. 4, p. 860-866, 2014.
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Sobre o pensamento antropológico.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
DIAS da SILVA, C. Cotidiano, Saúde e Política: uma etnografia dos
profissionais da saúde indígena. Tese (Doutorado em Antropologia)
– Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília,
Brasília, 2010.
239
Saúde, mediação e mediadores
240
Saúde, mediação e mediadores
241
Saúde, mediação e mediadores
242
Saúde, mediação e mediadores
243
CAPÍTULO 7
“TAMO JUNTO” − MEDIAÇÕES LEIGAS
NA AJUDA MÚTUA ENTRE “ADICTOS”
Rosa Virgínia Melo
244
Saúde, mediação e mediadores
245
Saúde, mediação e mediadores
246
Saúde, mediação e mediadores
247
Saúde, mediação e mediadores
248
Saúde, mediação e mediadores
249
Saúde, mediação e mediadores
250
Saúde, mediação e mediadores
251
Saúde, mediação e mediadores
Aprendendo a partilhar
Assim como os parentes do residente da comunidade
terapêutica, eu, se quisesse conhecer a Fazenda do Senhor Jesus,
teria que ter uma frequência regular no grupo de ajuda mútua,
para aprender as regras locais e não atrapalhar o tratamento, ou
seja, para ser socializada no idioma local. Tal medida revelou-
se fundamental para a compreensão do projeto terapêutico, e
proporcionou uma aceitação de minha presença na CT. Além de
cumprir o protocolo ao frequentar “as salas”, pude acompanhar
expectativas e dificuldades de alguns sujeitos que queriam
252
Saúde, mediação e mediadores
253
Saúde, mediação e mediadores
254
Saúde, mediação e mediadores
255
Saúde, mediação e mediadores
256
Saúde, mediação e mediadores
Não foi ruim usar a droga, ruim foi ter perdido o controle
sobre a droga. Comecei a perceber que estava negligenciando
meu lugar de pai, preferindo o bar aos meus filhos, à esposa...
A sociedade vai te tratar mal se você não faz o que ela diz
que tem que ser feito... Ter problema me fortalece, me ajuda a
resolver as coisas da minha vida. Gosto quando cobram meu
tabagismo. Me fortalece a procurar parar.
257
Saúde, mediação e mediadores
258
Saúde, mediação e mediadores
259
Saúde, mediação e mediadores
260
Saúde, mediação e mediadores
Estou aqui, vocês acham que é só para ajudar vocês... mas é para
me ajudar, sem vocês eu não consigo. Antes, ficava brigando
com a doença – não vou, não vou usar, mas usava. Resolvi fazer
outra coisa, quando queria a droga, ia ler um livro, levantava,
bebia uma água, comia um doce. “Pronto, passaram-se 2 horas.
Agora é fazer algo bom para o tempo passar”... Eu estou aqui
para saber quem eu sou. Talvez nunca saiba completamente,
mas já sei um pouco mais. Tirando as máscaras, as mentiras.
Reconhecendo o medo, a fraqueza. Que a pior mentira é aquela
que eu contava para mim mesmo. ( EX-M 1 - ex-residente,
monitor na Fazenda. Fonte: Diário de Campo).
261
Saúde, mediação e mediadores
Na perseverança
262
Saúde, mediação e mediadores
263
Saúde, mediação e mediadores
264
Saúde, mediação e mediadores
265
Saúde, mediação e mediadores
266
Saúde, mediação e mediadores
267
Saúde, mediação e mediadores
268
Saúde, mediação e mediadores
269
Saúde, mediação e mediadores
270
Saúde, mediação e mediadores
Conclusão
A construção social da doença da dependência química
organiza-se em um sistema fechado de relações posicionadas
que se irmanam no compartilhamento de um sentido dominante
construído e atualizado via discurso dos tipos exemplares da
mediação leiga, aqueles que, além de manterem-se “limpos”,
atuam a autoridade legitimada pela racionalidade do método.
Os exegetas distribuem abraços e exalam os signos da superação
advindos daqueles que se afirmam de modo interessado, dada
a conexão entre auto e mútua ajuda, dimensão fundamental
do método de A. A., a evangelização.
A eficácia, sempre relativa, da construção da ideia de
doença como acusação e ao mesmo tempo caminho para a recu-
peração, é aqui compreendida como resultado de um conjunto
271
Saúde, mediação e mediadores
272
Saúde, mediação e mediadores
273
Saúde, mediação e mediadores
Referências
BERRIDGE, Virgínia. Dependência: história dos conceitos e teorias.
In: EDWARDS, G.; LADER, M. A natureza da dependência de drogas.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
BASTIDE, Roger. O sagrado selvagem. In: ______. O sagrado selvagem
e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
BATESON, Gregory. The cybernetics of “Self”: a theory on alcoho-
lism. In: ______. Steps to an ecology of mind. San Francisco: Chandler
Pub, 1972.
BOURDIEU, Pierre. A dissolução do religioso. In: ______. Coisas ditas.
São Paulo: Brasiliense, 1990.
CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2002.
DE LEON, George. A Comunidade Terapêutica: teoria, modelo e
método. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
DUARTE, L. F. D. Aonde caminha a moralidade?. Cad. Pagu, n. 41, p.
19-27, 2013.
DUARTE, L. F. D. Ethos privado e modernidade: o desafio das religi-
ões entre indivíduo, família e congregação. In: DUARTE, L. F. D. et
al. (Org.). Família e Religião. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2006.
DUARTE, L. F. D. Dois regimes históricos das relações da
Antropologia com a psicanálise no Brasil: um estudo da regulação
moral da pessoa. In: AMARANTE, P. (Org.) Ensaios: subjetividade,
saúde mental, sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000.
DUARTE, L. F. D.; GIUMBELLI, E. As concepções cristã e moderna da
pessoa: paradoxos de uma continuidade. Anuário Antropológico, n.
93, p. 77-111, 1995.
DULLO, E. Paulo Freire, o testemunho e a pedagogia católica. Revista
Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 29, n. 85, p. 49-61, 2014.
DUMONT, L. O individualismo: uma perspectiva antropológica da
ideologia moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.
274
Saúde, mediação e mediadores
275
Saúde, mediação e mediadores
276
CAPÍTULO 8
ENTREMEANDO RELAÇÕES DE PODER:
ITINERÁRIOS ABORTIVOS E OS/AS
DIFERENTES MEDIADORES/AS EM SAÚDE
277
Saúde, mediação e mediadores
278
Saúde, mediação e mediadores
279
Saúde, mediação e mediadores
280
Saúde, mediação e mediadores
281
Saúde, mediação e mediadores
282
Saúde, mediação e mediadores
283
Saúde, mediação e mediadores
284
Saúde, mediação e mediadores
285
Saúde, mediação e mediadores
286
Saúde, mediação e mediadores
287
Saúde, mediação e mediadores
288
Saúde, mediação e mediadores
106 Neste sentido ver Fernanda Tussi (2010); Soraya Fleischer (2012).
289
Saúde, mediação e mediadores
290
Saúde, mediação e mediadores
291
Saúde, mediação e mediadores
292
Saúde, mediação e mediadores
293
Saúde, mediação e mediadores
294
Saúde, mediação e mediadores
295
Saúde, mediação e mediadores
296
Saúde, mediação e mediadores
297
Saúde, mediação e mediadores
Conclusão
O texto traz uma reflexão sobre a maneira pela qual
sujeitas/os reconhecidas/os como agentes mediadores, formais
e informais, interferem em itinerários abortivos realizados por
mulheres em abortos inseguros. Nele, analisamos alguns relatos
e experiências vividas por duas mulheres que interromperam a
gravidez, finalizando os procedimentos em hospitais/materni-
dades. Estas iniciaram o abortamento em locais não hospitalares
com comprimidos de Misoprostol/Cytotec® revendidos por
diferentes agentes mediadores no “mercado paralelo”, por vezes
misturados a outras substâncias. Tais relatos, amiúde, acionam
elementos comuns e bastante significativos para análise.
Num primeiro momento, chama atenção o longo e depre-
ciativo processo pelo qual passam as mulheres nesses itinerários
abortivos, o qual poderia ser evitado se não fosse o descaso e a
negligência do Estado. Essa instituição, quando não proporciona
às/aos cidadãs/os serviços públicos de forma apropriada, acaba
por produzir, conforme observa Silvia Portugal (2007), desigual-
dades e conflitos, abrindo caminho para a ação de redes sociais,
as quais incluem diferentes saberes que se revelam a partir de
uma heterogeneidade de agentes mediadores. Segundo Portugal:
298
Saúde, mediação e mediadores
299
Saúde, mediação e mediadores
300
Saúde, mediação e mediadores
301
Saúde, mediação e mediadores
Referências
AQUINO, E. M. L. et al. Qualidade da atenção ao aborto no Sistema
Único de Saúde do Nordeste brasileiro: o que dizem as mulheres?..
Revista ciência e saúde coletiva [online], v. 17, n. 7, p. 1765-1776, 2012.
AQUINO, E. M. Entrevista do Mês. Agosto, 2016. Disponível em:
<http://www.analisepoliticaemsaude.org/oaps/>. Acesso em:
07/08/2016.
AREND, S. F.; ASSIS, G. de O.; MOTTA, F. de M. Não conta pra
ninguém: o aborto segundo as mulheres de uma comunidade
popular urbana. In: ______ (Org.). Aborto e Contracepção: histórias
que ninguém conta. Florianópolis: Insular, 2012. p. 97-136.
ARRILHA, M. M. Misoprostol: percursos, mediações e redes sociais
para o acesso ao aborto medicamentoso em contextos de ilegali-
dade no Estado de São Paulo. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 7, p.
1785-1794, 2012.
ÁVILA, M. B.; CORRÊA, S. Direitos sexuais e reprodutivos: pauta
global e percursos brasileiros. In: BERQUÓ, E. (Org.). Sexo & Vida:
panorama da saúde reprodutiva no Brasil. Campinas: Editora da
Unicamp, 2003.
BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
BALZA, M. Rompendo o Silêncio: Aborto e violência institucional no aten-
dimento do hospital/maternidade Santa Catarina, Natal-RN. Relatório
de Pesquisa CNPq, 2015. (Projeto de pesquisa: Práticas e representações
de Profissionais de Saúde relativas ao aborto legal e suas relações com
mulheres usuárias do SUS em hospitais/maternidades no RN. Edital
MCTI/CNPq/SPM-PR/MDA Nº 32/2012 – 2015.)
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.
BRASIL. Presidência da República. Código Penal. 1940. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.
htm>. Acesso em 26 ago. 2017.
302
Saúde, mediação e mediadores
303
Saúde, mediação e mediadores
304
Saúde, mediação e mediadores
305
Saúde, mediação e mediadores
306
Saúde, mediação e mediadores
307
PARTE III
Mediações em distintos campos de articulação
CAPÍTULO 9
SAÚDE INDÍGENA NO NORDESTE:
COMPREENSÕES E PERSPECTIVAS
SOBRE MEDIAÇÃO E DILEMAS
DA INTERCULTURALIDADE
309
Saúde, mediação e mediadores
310
Saúde, mediação e mediadores
311
Saúde, mediação e mediadores
312
Saúde, mediação e mediadores
313
Saúde, mediação e mediadores
314
Saúde, mediação e mediadores
315
Saúde, mediação e mediadores
316
Saúde, mediação e mediadores
317
Saúde, mediação e mediadores
318
Saúde, mediação e mediadores
Pankararu
319
Saúde, mediação e mediadores
320
Saúde, mediação e mediadores
321
Saúde, mediação e mediadores
Truká
322
Saúde, mediação e mediadores
323
Saúde, mediação e mediadores
324
Saúde, mediação e mediadores
325
Saúde, mediação e mediadores
326
Saúde, mediação e mediadores
327
Saúde, mediação e mediadores
Xukuru do Ororubá
328
Saúde, mediação e mediadores
329
Saúde, mediação e mediadores
330
Saúde, mediação e mediadores
331
Saúde, mediação e mediadores
332
Saúde, mediação e mediadores
333
Saúde, mediação e mediadores
334
Saúde, mediação e mediadores
335
Saúde, mediação e mediadores
336
Saúde, mediação e mediadores
337
Saúde, mediação e mediadores
338
Saúde, mediação e mediadores
Referências
BASTA, Paulo. Entrevista. RADIS, Rio de Janeiro: Escola Nacional de
Saúde Pública Sergio Arouca; Fiocruz, n .138, mar. 2014.
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Política Nacional de Atenção
à Saúde dos Povos Indígenas. 2 ed. Brasília: Fundação Nacional de
Saúde/ Ministério da Saúde, 2002. 40p.
BRASIL. Relatório da 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena.
Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 383p.
BOCCARA, G. La interculturalidad en Chile: entre culturalismo y
despolitización. In: LANGDON, E. J.; CARDOSO, M. D. (Org.). Saúde
Indígena: políticas comparadas na América Latina. Florianópolis:
Ed. da UFSC, 2015. p. 195-216.
CASCUDO, L. C. História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro: Mec, 1955.
CAVIGNAC, J. A etnicidade encoberta: “índios” e “negros” no Rio
Grande do Norte. Mneme, Natal, v. 4, n. 8, 2003. Disponível em:
<http://www.periodicos.ufrn.br>. Acesso em: 6 set. 2013.
CRUZ, K. R. da; COELHO, E. M. B. A Saúde indigenista e os desafios
da Particip(ação) indígena. Saúde & Sociedade, São Paulo, v. 21, supl.
1, p. 185-198, 2012.
FIALHO, Vânia. Desenvolvimento e associativismo indígena no Nordeste
brasileiro: mobilizações e negociações na configuração de uma
sociedade plural. Tese (Doutorado) − Programa de Pós-Graduação
em Sociologia/UFPE, Recife, 2003.
FOLLÉR, Maj-Lis. Intermedicalidade: a zona de contato criada
por povos indígenas e profissionais de saúde. In: LANGDON, E. J.;
GARNELO, L. (Org.). Saúde dos Povos Indígenas: reflexões sobre antropo-
logia participativa. Rio de Janeiro: Contracapa/ ABA, 2004. p. 129-147.
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. 23 ed. São Paulo: Graal, 2007.
GADAMER, Hans-Georg. O caráter oculto da saúde. Petrópolis: Vozes, 2006.
LANGDON, E. J. Uma avaliação crítica da atenção diferenciada
e a colaboração entre antropologia e profissionais de saúde. In:
LANGDON, E. J.; GARNELO, L. (Org.). Saúde dos Povos Indígenas: refle-
xões sobre antropologia participativa. Rio de Janeiro: Contracapa/
ABA, 2004. p. 33-51.
LEITE, Maurício. Entrevista. RADIS, Rio de Janeiro: Escola Nacional
de Saúde Pública Sergio Arouca; Fiocruz, n .138, mar. 2014.
339
Saúde, mediação e mediadores
340
CAPÍTULO 10
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
INDÍGENA EM SAÚDE:
IMAGINÁRIOS, PRÁTICAS E (DES)
ENQUADRES METACOMUNICATIVOS
341
Saúde, mediação e mediadores
342
Saúde, mediação e mediadores
343
Saúde, mediação e mediadores
conselhos não são fixas. Nota-se que ao longo dos quinze anos
de existência dos conselhos as trajetórias pessoais mais diversas
foram percorridas: filhos de usuários se tornaram profissionais
de saúde (agentes indígenas de saúde) ou representantes de
organizações indígenas, algumas delas prestadoras de servi-
ços; profissionais de saúde inicialmente ocupantes de funções
subalternas chegaram aos níveis mais altos de gestão distrital.
Além de interrogar sobre a identidade, o funcionamento
das instâncias de participação indígena manifesta a incongru-
ência entre uma noção de representatividade do senso comum
no âmbito do Sistema Único de Saúde e modos indígenas de
organização, representação e procedimentos de tomada decisões
(GARNELO et al., 2003; SHANKLAND, 2009). Notou-se que, ainda
que os conselhos tenham função deliberativa, na maioria das
vezes suas proposições não eram atendidas (FERREIRA, 2012);
eram determinadas principalmente pela dimensão burocrático
-administrativo-operacional em detrimento da dimensão política;
suas reuniões costumavam parecer um grupo de trabalho dos
funcionários das instituições gestoras e executoras e não um
grupo heterogêneo de pessoas com postura crítica (LANGDON;
DIEHL, 2007, referindo-se às reuniões do Distrito Sanitário Especial
Indígena do Interior Sul do Brasil). Estes fatores convergem para
a observação de Shankland (2009) de que os Conselhos Distritais
de Saúde são um espaço democrático inclusivo, mas não aberto a
transformações, o que dificulta a efetiva participação indígena.
Menéndez (2009) apresenta uma reflexão sobre o desvão
entre os imaginários e práticas de participação social em saúde que
pode ser produtiva para tentar compreender o que acontece nos
espaços de controle social da saúde indígena no Brasil. Ele distingue
a participação social em termos de recursos (mão de obra para
aumento da cobertura, por exemplo) e em termos de população
organizada que intervém na tomada de decisões em todas as etapas
dos programas de saúde, de sua concepção à avaliação. Em termos
de recursos (mão de obra), no Brasil tem-se observado a contratação
344
Saúde, mediação e mediadores
345
Saúde, mediação e mediadores
346
Saúde, mediação e mediadores
347
Saúde, mediação e mediadores
348
Saúde, mediação e mediadores
349
Saúde, mediação e mediadores
350
Saúde, mediação e mediadores
351
Saúde, mediação e mediadores
352
Saúde, mediação e mediadores
353
Saúde, mediação e mediadores
354
Saúde, mediação e mediadores
355
Saúde, mediação e mediadores
356
Saúde, mediação e mediadores
357
Saúde, mediação e mediadores
358
Saúde, mediação e mediadores
359
Saúde, mediação e mediadores
360
Saúde, mediação e mediadores
Referências
ATHIAS, R.; MACHADO, M. A saúde indígena no processo de
implantação dos Distritos Sanitários: temas críticos e propostas
para um diálogo interdisciplinar. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 17, n. 2, p. 425-431, 2001.
BATESON, G. Uma teoria sobre brincadeira e fantasia. In: RIBEIRO,
B. T.; GARCEZ, P. M. (Org.). Sociolinguística interacional: antropologia,
linguística e sociologia em análise do discurso. Porto Alegre: Age, 1998.
p. 57-69.
BAUMAN, R. Verbal art as performance. Massachusetts: Newbury
House, 1977.
BAUMAN, R. Story, performance and event: contextual studies of oral
narrative. Cambridge: Cambridge University Press, 1986.
BAUMAN, R.; BRIGGS, C. L. Poetics and performance as criti-
cal perspectives on language and social life. Annual Review of
Anthropology, n. 19, p. 59-88, 1990.
BATAGELLO, R.; BENEVIDES, L.; PORTILLO, J. A. C. Conselhos de
Saúde: controle social e moralidade. Saúde & Sociedade. São Paulo, v.
20, n. 3, p. 625-634, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção à Saúde dos
Povos Indígenas. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2000.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 755, de 18 de abril de
2012. Dispõe sobre a organização do controle social no Subsistema
de Atenção à Saúde Indígena. Disponível em: <http://bvsms.saude.
gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0755_18_04_2012.html>. Acesso
em: 15 set. 2016.
CARDOSO, M. D. Políticas de saúde indígena no Brasil: do modelo
assistencial à participação política. In: LANGDON, E. J.; CARDOSO,
M. D. (Org.). Saúde indígena: políticas comparadas na América
Latina. Florianópolis: Editora UFSC, 2010. p. 83-106.
COHN, A. Estado e sociedade e as reconfigurações do direito à
saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 9-18, 2003.
361
Saúde, mediação e mediadores
362
Saúde, mediação e mediadores
363
Saúde, mediação e mediadores
364
CAPÍTULO 11
DO “CLUBE DO CARIMBO”
À ÉTICA DAS RELAÇÕES:
A CRIMINALIZAÇÃO DA TRANSMISSÃO
DO HIV NA MÍDIA E NAS EXPERIÊNCIAS
DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS126
Mónica Franch
365
Saúde, mediação e mediadores
366
Saúde, mediação e mediadores
367
Saúde, mediação e mediadores
368
Saúde, mediação e mediadores
369
Saúde, mediação e mediadores
370
Saúde, mediação e mediadores
371
Saúde, mediação e mediadores
372
Saúde, mediação e mediadores
373
Saúde, mediação e mediadores
374
Saúde, mediação e mediadores
375
Saúde, mediação e mediadores
376
Saúde, mediação e mediadores
377
Saúde, mediação e mediadores
378
Saúde, mediação e mediadores
379
Saúde, mediação e mediadores
380
Saúde, mediação e mediadores
381
Saúde, mediação e mediadores
382
Saúde, mediação e mediadores
383
Saúde, mediação e mediadores
384
Saúde, mediação e mediadores
385
Saúde, mediação e mediadores
142 Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS. A nota foi
posteriormente retirada do ar, mas pode ser acessada em: <http://
revistaladoa.com.br/2015/03/noticias/caso-clube-carimbo-unaids-
declara-preocupacao-com-abordagem-imprensa-brasileira>.
143 Disponível em: <http://www.aids.gov.br/noticia/2015/departamento-de-dst
-aids-e-hepatites-virais-teme-retrocesso-e-aumento-de-discriminacao->.
144 Ver, entre outras, as notas da ABIA - Associação Brasileira
Interdisciplinar de Aids. A nota pode ser acessada em: <http://
abiaids.org.br/abia-condena-reportagem-exibida-no-fantastico-
sobre-o-clube-do-carimbo/28188>; a resposta do ativista Diego
Callisto, que foi entrevistado na primeira reportagem do Fantástico,
mas que não aprovou a edição de sua fala: <http://ladobi.uol.com.
br/2015/03/30-fatos-hiv-aids-fantastico-clube-carimbo/>.
386
Saúde, mediação e mediadores
387
Saúde, mediação e mediadores
388
Saúde, mediação e mediadores
389
Saúde, mediação e mediadores
390
Saúde, mediação e mediadores
391
Saúde, mediação e mediadores
392
Saúde, mediação e mediadores
393
Saúde, mediação e mediadores
394
Saúde, mediação e mediadores
395
Saúde, mediação e mediadores
396
Saúde, mediação e mediadores
397
Saúde, mediação e mediadores
398
Saúde, mediação e mediadores
399
Saúde, mediação e mediadores
147 O risco de que nos fala Lúcio limita-se ao contágio, não respondendo
ao imperativo médico, que também indica a necessidade de usar
camisinha entre soropositivos, pela possibilidade de reinfecção. O risco
que Lúcio tematiza é, portanto, aquele ligado à responsabilidade com
a transmissão do vírus, o risco, portanto, na relação com terceiros.
400
Saúde, mediação e mediadores
401
Saúde, mediação e mediadores
148 No caso de Diego Callisto, além de pontual, deturpada: ver < http://ladobi.
uol.com.br/2015/03/30-fatos-hiv-aids-fantastico-clube-carimbo/>.
149 Não estou querendo dizer que o movimento ONG/Aids seja o único
mediador possível das experiências das PVHA, nessa matéria espe-
cífica. Como o trabalho de Valle (2011) parece apontar, há muitos
silêncios também no que diz respeito às questões ligadas ao risco de
transmissão, mas certamente trata-se de um ator importante que
esteve, no meu entender, sub-representado ao longo deste debate.
402
Saúde, mediação e mediadores
Referências
BOYER, D. From Media Anthropology to the Anthropology of
Mediation. In: FARDON, R.; HARRIS, O.; MARCHAND, J. H. (Ed). The
SAGE Handbook of Social Anthropology. London: SAGE Publications
Ltda, 2012. p. 411-422.
BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas:
Papirus, 1996.
CHAMPAGNE, P.; MARCHETTI, D. L’information médical sous
contrainte [A propos du “scandale du sang contamine”]. Actes de la
recherche en sciences sociales, v. 101-102, p. 40-62, 1994.
COHEN, S. Folkdevils and moral panics: the creation of mods and
drockers. London: MacGibbon & Klee, 1972.
DAS, V. Ordinary Ethics. In: FASSIN, Didier (Ed.). A Companion to
Moral Anthropology. Chichester: John Wiley & Sons, 2012. p. 133-149.
DUMONT, L. O individualismo: uma perspectiva antropológica da
ideologia moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1985.
FAUSTO-NETO, A. AIDS recepção: a contaminação da AIDS pelos
discursos sociais. Revista FAMECOS, Porto Alegre, n. 13, p. 94-102,
dezembro 2000.
FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de
Janeiro: Ed. Graal, 1993.
FRANCH, M. et al. Sorodiscordância entre casais gays em João Pessoa:
conjugalidade, práticas sexuais e negociação do risco. Relatório de
pesquisa. João Pessoa, Depto. de Ciências Sociais/UFPB, CNPq, 2013.
GALVÃO, J. Aids e imprensa: um estudo de antropologia social.
Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) − Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1992.
GUIMARÃES, M. HIV/AIDS não é sentença de morte: uma análise
crítica sobre a tendência à criminalização da exposição sexual e a
transmissão sexual do HIV no Brasil. Rio de Janeiro: Abia, 2011.
HERZLICH, C.; PIERRET, J. Uma doença no espaço público: a Aids
em seis jornais franceses. Physis, v. 15, p. 71-101, 2005.
403
Saúde, mediação e mediadores
404
Saúde, mediação e mediadores
405
CAPÍTULO 12
O GRITO SILENCIOSO DE
UM LOUCO INFRATOR:
ESTUDO DE CASO SOBRE A MEDIDA DE
SEGURANÇA NO DISTRITO FEDERAL
“Quem era? [...] Era apenas um? Eram todos? Havia ainda
possibilidade de ajuda? Existiam objeções que tinham sido
esquecidas? Sem dúvida, estas existiam. A lógica, na verdade,
é inabalável, mas ela não resiste a uma pessoa que quer viver.
Onde estava o juiz que ele nunca tinha visto? Onde estava o
alto tribunal ao qual ele nunca havia chegado? Ergueu as mãos
e esticou todos os dedos. Mas na garganta de K. colocavam-se
as mãos de um dos senhores, enquanto o outro cravava a faca
profundamente no seu coração e a virava duas vezes. Com os
olhos que se apagavam, K. ainda viu os senhores perto de seu
rosto, apoiados um no outro, as faces coladas, observando o
momento da decisão. – Como um cão – disse K. Era como se a
vergonha devesse sobreviver a ele. ” (Franz Kafka, O processo)
406
Saúde, mediação e mediadores
407
Saúde, mediação e mediadores
408
Saúde, mediação e mediadores
Metodologia
Este estudo de caso é resultado de uma pesquisa desenvol-
vida no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
(TJDFT). O objetivo, ao analisar o caso de K., é entender a
trajetória de um sentenciado no cumprimento da medida de
segurança, bem como as consequências que essa sentença traz.
Para tanto, foi realizada uma análise documental do processo
e do prontuário do referido sentenciado.
A pesquisa mais ampla sobre a medida de segurança
visava a conhecer o perfil sociodemográfico de toda a popula-
ção que cumpria essa sentença no Distrito Federal. Foi, assim,
realizado, entre 1º de outubro de 2013 e 29 de julho de 2014, um
levantamento quanti-qualitativo mediante a análise documental
de todos os processos e prontuários das pessoas que estavam
internadas, em tratamento ambulatorial e em desinternação
condicional no período supracitado. K. compunha esse universo.
Todos os aspectos éticos preconizados pela Resolução
nº 466, de 12 de dezembro de 2012 (BRASIL, 2012), do Conselho
Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, que regulamenta
pesquisas feitas com seres humanos no país, foram observa-
dos e assegurados. Essa pesquisa, que faz parte do projeto
“Estudos em bioética, direitos humanos e gênero”, vinculado à
Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília (FCE/UnB),
foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Instituto de Ciências Humanas (CEP/IH) dessa universidade
(CAAE:16027013.5.0000.5540).
409
Saúde, mediação e mediadores
O processo de K.
K. é um indivíduo que, ao ser considerado inimputá-
vel pela Justiça, foi não apenas desresponsabilizado por suas
ações, como também destituído de sua humanidade. Ler seu
processo e seu prontuário e escrever sobre ele são tentativas
de devolver a voz a alguém, como tantos outros que cumprem
medida de segurança, que é usualmente silenciado. É importante
mencionar, contudo, que esta tentativa é um tanto frustrada
porque a vida que aqui se recria surge de discursos sobre K.
São, sobretudo, os saberes e fazeres jurídico e psiquiátrico que
aparecem neste estudo. O próprio sentenciado, e também a sua
família, assim como outras pessoas e/ou instituições envolvi-
das na aplicação dessa sentença, constitui o “fora do texto”,
que, embora ausente, presentifica e revela, com veemência, o
contexto no qual o embate pelo poder-saber sobre a loucura (e
a criminalidade) é travado.
No momento da realização da pesquisa, K., natural de
Brasília, tinha 36 anos, era solteiro, possuía o ensino funda-
mental incompleto e não tinha profissão. Foi heteroclassificado
como pardo pelo IML.
De acordo com as informações contidas no processo e no
prontuário de K., a mãe dele faleceu quando ele tinha 13 anos
e, desde então, ele e sua irmã passaram aos cuidados da avó
paterna. Posteriormente, o pai casou-se com outra mulher e
tiveram uma filha. K. começou a trabalhar na infância, ven-
dendo jornal, engraxando sapatos e vigiando carros. Ele tem
um histórico de internações psiquiátricas desde 1992, fugas
de casa e comportamentos considerados bizarros. O pai de K.
percebeu que havia algo de estranho quando o filho começou
a ficar isolado, desenhar com fezes nas paredes e falar sozi-
nho. Ainda segundo os registros consultados, K. apresentava
dificuldades na escola e era considerado diferente. Gostava de
viver nas ruas, andava com bêbados, dormia no meio deles e
bebia água de poças.
410
Saúde, mediação e mediadores
411
Saúde, mediação e mediadores
412
Saúde, mediação e mediadores
413
Saúde, mediação e mediadores
414
Saúde, mediação e mediadores
415
Saúde, mediação e mediadores
416
Saúde, mediação e mediadores
417
Saúde, mediação e mediadores
418
Saúde, mediação e mediadores
419
Saúde, mediação e mediadores
420
Saúde, mediação e mediadores
421
Saúde, mediação e mediadores
422
Saúde, mediação e mediadores
Referências
Brasil. Código de Processo Penal. Decreto-Lei n° 3.689, de 3 de
outubro de 1941. Diário Oficial da União, 3 out. 1941.
Brasil.Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940. Diário Oficial da União, 7 dez. 1940.
Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Diário Oficial da União, 1988.
Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providências. Diário Oficial da União, 19 set. 1990.
BRASIL. Portaria/SNAS nº 224, de 29 de janeiro de 1992. Diário
Oficial da União, 29 jan. 1992.
Brasil. Portaria GM/MS nº 106, de 11 de fevereiro de 2000. Institui os
serviços residenciais terapêuticos. Diário Oficial da União, 11 fev. 2000a.
Brasil. Portaria GM/MS nº 1.220, de 7 de novembro de 2000. Dispõe
sobre a criação do serviço residencial terapêutico em saúde men-
tal, da atividade profissional do cuidador em saúde, do grupo de
procedimentos de acompanhamento de pacientes e do subgrupo
de acompanhamento de pacientes psiquiátricos, do procedimento
de residência terapêutica em saúde mental, dentre outros. Diário
Oficial da União, 7 nov. 2000b.
Brasil. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção
e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e
redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da
União, 6 abr. 2001.
Brasil. Portaria GM/MS nº 336, de 19 de fevereiro de 2002.
Estabelece CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPSad. Diário Oficial
da União, 19 fev. 2002.
Brasil. Portaria GM/MS nº 246, de 17 de fevereiro de 2005. Destina
incentivo financeiro para implantação de serviços residenciais tera-
pêuticos e dá outras providências. Diário Oficial da União, 17 fev. 2005a.
423
Saúde, mediação e mediadores
424
CAPÍTULO 13
A MEDIAÇÃO COMO
CONTRIBUIÇÃO ANTROPOLÓGICA
PARA AS PRÁTICAS EXTRAMUROS
NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL
Lilian Leite Chaves
151 Ouro Preto, antiga capital mineira, cidade monumento desde 1938
e Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1980, localiza-se a aproxi-
madamente 92 quilômetros de Belo Horizonte. A cidade se destaca
devido à sua importância histórica, cultural e econômica proveniente
da exploração do ouro no período colonial brasileiro.
425
Saúde, mediação e mediadores
426
Saúde, mediação e mediadores
427
Saúde, mediação e mediadores
428
Saúde, mediação e mediadores
429
Saúde, mediação e mediadores
430
Saúde, mediação e mediadores
A perspicácia de Socorro
A cidade de Ouro Preto é marcada por íngremes ladeiras
pavimentadas com paralelepípedos, por escadarias e becos.
Os casarões geminados – com portas e janelas ligando a casa à
rua – são lares, comércios, consultórios, bancos e repartições
públicas. As calçadas de pedras são estreitas e escorregadias, o
que faz com que andar pela cidade exija muita atenção e reflexo
para se desviar de outros corpos. Socorro começava a transitar
por esse ambiente antes mesmo da abertura dos comércios e
repartições, permanecendo em trânsito até de noite, passando
repetidas vezes por algumas ruas. A Rua São José, apelidada de
Rua dos Bancos, era uma das ruas pela qual Socorro passava
muitas vezes ao dia. A importância dessa rua se deve à sua
localização no centro da cidade e à quantidade de comércios,
clínicas, serviços e bancos. Resumidamente, essa rua tinha bons
fornecedores de papéis. Toda vez que eu buscava por Socorro,
a Rua São José era o ponto para onde eu me dirigia e de onde
eu começava a segui-la.
Os meus primeiros encontros com Socorro foram marcados
por indiferença, eu a cumprimentava, oferecia papéis e canetas,
e ela se desviava de mim. Eu a seguia e ela entrava em casarões
e em becos me fazendo perdê-la de vista. Depois de semanas da
minha insistente presença, Socorro passou a responder os meus
cumprimentos e a aceitar os papéis e canetas que eu oferecia.
Através da oferta de uma caneta consegui os primeiros segundos
de conversa que iam além de um cumprimento, a primeira
autorização para acompanhá-la em seus trajetos e a primeira
promessa de que ela conversaria comigo para o trabalho que
eu estava realizando. As nossas conversas se davam de maneira
fragmentada, mas ela se esforçava em me explicar porque ela
andava pelas ruas “Eu fico assim na rua porque a moto quebrou minha
cabeça toda assim. Eu fui atropelada nas Lajes, que a moto quebrou a
minha cabeça, num posso ficar parada, cê sabe, né?”.
431
Saúde, mediação e mediadores
432
Saúde, mediação e mediadores
A ausência de Raimundo
Depois de 2010, a minha presença pelas ruas de Ouro Preto
seguindo e acompanhando loucos de rua se dava por outro enfo-
que, o de levar a sério o que eles elaboravam sobre as suas expe-
riências, buscando o que era relevante para cada um (CHAVES,
433
Saúde, mediação e mediadores
434
Saúde, mediação e mediadores
435
Saúde, mediação e mediadores
436
Saúde, mediação e mediadores
Cíntia e a curatela
Todos os dias, por volta de 13 horas, Cíntia sentava-se
de frente à porta do Fórum esperando pela chegada da juíza
do município. Ela acenava para a juíza e pedia para que esta a
adotasse como filha. Cíntia me contou da sua admiração pela
juíza e do desejo de ter uma nova família através da adoção. Na
época, ela tinha 32 anos, cabelos loiros e curtos, e andava pelas
ruas portando uma prancheta de madeira e papéis nos quais
escrevia poesias e desenhava rostos e casarões. Quando não
estava escrevendo e nem desenhando, Cíntia se oferecia como
guia para os turistas, tirava fotos e contava histórias sobre a
Inconfidência Mineira. Cíntia se autodeclarava escritora, poeta,
artista, guia de turismo e inconfidente.
A minha aproximação de Cíntia se deu através de fotos.
Numa tarde, pedi que ela me fotografasse e passamos mais de
uma hora caminhando pela cidade. Nos dias seguintes comprei
algumas de suas poesias e permiti que ela fizesse o desenho
do meu rosto. Desde a primeira interação, Cíntia explicou que
andava pelas ruas porque era muito sofrido ficar em casa sem
fazer nada, ainda mais sob os efeitos colaterais dos remédios,
que impediam que ela se concentrasse em algo simples, como ver
televisão ou ler um livro. As ações que ela executava lhe rendiam
algum dinheiro, gasto em necessidades pontuais (lanches e
produtos baratos). Cíntia, num misto de revolta e resignação,
revelou que não podia trabalhar porque era interditada e rece-
bia a LOAS. A expressão “receber a LOAS” é uma metonímia
comumente usada para se referir ao recebimento do Beneficio
da Prestação Continuada/BPC regulamentado pela Lei Orgânica
de Assistência Social/LOAS (BRASIL, 1993).
Das pessoas que eu acompanhei, Cíntia era a mais nova, a
que há menos tempo perambulava pelas ruas (mais de 5 anos)
e a que mantinha ligação cotidiana com o serviço de atenção
em Saúde Mental do município. Para ela, tanto o tratamento
437
Saúde, mediação e mediadores
438
Saúde, mediação e mediadores
439
Saúde, mediação e mediadores
440
Saúde, mediação e mediadores
441
Saúde, mediação e mediadores
442
Saúde, mediação e mediadores
443
Saúde, mediação e mediadores
444
Saúde, mediação e mediadores
445
Saúde, mediação e mediadores
446
Saúde, mediação e mediadores
447
Saúde, mediação e mediadores
448
Saúde, mediação e mediadores
449
Saúde, mediação e mediadores
Considerações finais
Curiosamente, os loucos de rua que os ouro-pretanos
classificavam como pertencentes à esfera pública, parte da
singularidade local, guiaram o meu olhar para trajetórias mani-
comiais, limitadoras de suas potencialidades, e para serviços
de atenção e assistência. Os loucos de rua apontaram para
dificuldades que também poderiam ser cotidianas para aqueles
que não possuíam a mesma integração ou abertura da cidade.
Com isso, demonstraram que as definições sobre loucura sempre
conformam aqueles que passam pelos portais de hospitais
psiquiátricos e dos CAPS, definições que continuam a ressoar
neles, mesmo que perambulem há muitos anos pelas ruas.
O movimento tortuoso da argumentação nesse texto aponta
para a forma como o meu olhar foi se movendo e sendo conduzido
em ziguezague entre espaços, expectativas e interesses. Pelas ruas,
foi direcionado às esferas de atenção, aos cuidados, à clínica; pelas
esferas de atenção foi guiado para a necessidade de se inserir na
rua. A mediação atribuída a mim partiu desse trânsito no qual
a cada conversa se descortinavam ligações entre loucos de rua
e as esferas de cuidado, loucos de rua e suas famílias, famílias e
ouro-pretanos, e também, loucos de rua e ouro-pretanos. Dois
pontos precisam ser retidos desse caminho de pedras: o tipo de
mediação suscitado pelas minhas ações e o desdobramento dessa
mediação como contribuição antropológica para as práticas
extramuros no campo da saúde mental.
O trânsito por diversos espaços permitiu o meu acesso
a grupos sociais e universos de significação distintos que ora
se complementavam, ora disputavam realidades. O trânsito se
justificava pela minha credencial de pesquisadora em campo
que, lidando com loucos que perambulavam pela cidade, também
precisava perambular. No entanto, se a mediação já estava
presente no meu esforço de construir algum conhecimento a
respeito da experiência de loucura atualizada em Ouro Preto e
450
Saúde, mediação e mediadores
451
Saúde, mediação e mediadores
Referências
AMARANTE, P. (Coord.). Loucos pela vida: a trajetória da Reforma
Psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009.
AZEVEDO, E. La nave và. Olympia: Cadernos de Saúde Mental de Ouro
Preto, Ouro Preto, ano 1, n. 1, 2004.
AZEVEDO, E. et al. Práticas inclusivas extramuros de um Centro de
Atenção Psicossocial: possibilidades inovadoras. Saúde em Debate,
Rio de Janeiro, v. 36, n. 95, p. 595-605, out./dez. 2012.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assun-
tos jurídicos. Lei 8742. Lei Orgânica de Assistência Social. Brasília: 1993.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm>.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Secretaria de
Atenção à Saúde. Legislação em Saúde Mental 1990 -2004. Brasília:
Ministério da Saúde, 2004.
CHAVES, L. “Esse negócio de loucura, cê sabe né, fia”: integração
e diferenciação pelas ruas de Ouro Preto. 2009. Dissertação
(Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação
em Antropologia Social, Universidade de Brasília, Brasília, 2009.
CHAVES, L. Loucura e experiência: seguindo loucos de rua e suas
relevâncias. 2013. Tese (Doutorado em Antropologia Social) –
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade
de Brasília, Brasília, 2013.
GEERTZ, C. Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da
cultura. In: ______. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC,
2008.
GEERTZ, C. “Do ponto de vista dos nativos”: a natureza do enten-
dimento antropológico. In: ______. O saber local. Petrópolis: Vozes,
2007.
KINOSHITA, R. Contratualidade e reabilitação psicossocial. In:
PITTA, A. (Org). Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec,
1996.
LANCETTI, A. Clínica Peripatética. São Paulo: Hucitec, 2012.
452
Saúde, mediação e mediadores
453
VELHO, G. Biografia, trajetória e mediação. In: VELHO, G;
KUSCHNIR, K. (Org.). Mediação, Cultura e Política. Rio de Janeiro:
Altiplano, 2001.
VELHO, G. Metrópole, cosmopolitismo e mediação. Horizontes
Antropológicos, Porto Alegre, v. 16, n. 33, p. 15-23, jun. 2010.
VILELA, C. Hospícios da Terra Santa no Brasil. 2015. Tese (Doutorado
em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
SOBRE OS AUTORES
Carla Costa Teixeira
Possui mestrado em Antropologia pelo Museu Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991) e doutorado
em Antropologia pela Universidade de Brasília (1997). É
professora associada IV da Universidade de Brasília, tendo
sido professora visitante na Simon Fraser University (CA)
durante seu pós-doutoramento. Pesquisa sobre Antropologia
da política e da saúde, atuando sobre os temas da etno-
grafia das instituições e da vida política, e das políticas de
governo com ênfase na saúde indígena.
455
Saúde, mediação e mediadores
456
Saúde, mediação e mediadores
Marcos Pellegrini
Tem graduação em medicina pela Universidade Federal de São
Paulo. Seu mestrado e doutorado foram em Antropologia Social
pela Universidade Federal de Santa Catarina. É professor do
Instituto de Antropologia, do Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Saúde e do Programa de Pós-Graduação Sociedade e
Fronteiras da Universidade Federal de Roraima. Tem interesse de
pesquisa em antropologia da saúde, etnologia e saúde indígena,
linguagem e performance.
457
Saúde, mediação e mediadores
458
Saúde, mediação e mediadores
Rozeli Porto
É mestre e doutora em Antropologia Social pela UFSC. Fez pós-
doutorado pela Universidad de Sevilla (Espanha). Atualmente,
é professora do Departamento de Antropologia e do Programa
de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Dentre seus interesses
de pesquisa, atua em antropologia do corpo e da saúde, gênero
e direitos reprodutivos, aborto e violência.
Silvia Guimarães
Possui mestrado e doutorado em Antropologia pela Universidade
de Brasília. Atualmente é professora de Antropologia na UnB
e no Programa de Pós-Graduação em Ciências e Tecnologias
em Saúde e no Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e
Terras Tradicionais. Realiza pesquisa nas áreas de etnologia
indígena, saúde indígena e saúde popular.
459