Livro O Lugar Da História e Dos Historiadores PDF
Livro O Lugar Da História e Dos Historiadores PDF
Livro O Lugar Da História e Dos Historiadores PDF
(Organizadora)
UNIFAP
Macapá-AP
2018
Copyright © 2018, Autores
Conselho Editorial
Ana Paula Cinta, Artemis Socorro do Nascimento Rodrigues, César Augusto Mathias de Alencar,
Claudia Maria do Socorro Cruz F. Chelala, Daize Fernanda Wagner Silva, Elinaldo da Conceição dos
Santos, Elizabeth Machado Barbosa, Elza Caroline Alves Muller, Jacks de Mello Andrade Junior, Jose
Walter Cárdenas Sotil, Luís Henrique Rambo, Marcus André de Souza Cardoso da Silva, Patricia
Helena Turola Takamatsu, Patrícia Rocha Chaves, Robson Antônio Tavares Costa, Rosilene de
Oliveira Furtado, Simone de Almeida Delphim Leal, Simone Dias Ferreira e Tiago Luedy Silva
ISBN: 978-85-5476-038-0
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................... 09
UMA ANÁLISE DAS HISTÓRIAS SILENCIADAS SOBRE A OCUPAÇÃO
DO MUNICÍPIO DE URUPÁ ...................................................................................... 11
Adelto Rodrigues Barbosa
CULTURA E IDENTIDADE SURDA: A INFLUÊNCIA DA CULTURA
OUVINTISTA ................................................................................................................. 22
Andreia Cristina Siqueira
RESGATE HISTÓRICO: ESTUDO DE CASO NA COMUNIDADE
TABAJARA ...................................................................................................................... 32
Clebson Carlos de Oliveira
Maxson José Barzani Jardim
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO DE
HISTÓRIA ....................................................................................................................... 44
Clebson Carlos de Oliveira
Roger dos Santos Lima
A IMIGRAÇÃO AFRO-ANTILHANA PARA O BRASIL, HISTORIO-
GRAFIA E IDENTIDADE ............................................................................................ 54
Cledenice Blackman
ESTUDOS CULTURAIS NA AMAZÔNIA: TRADIÇÃO E RESISTÊNCIA
NA BEIRA DO MADEIRA ........................................................................................... 67
Eduardo Augusto Melo de Santana Junior
REFLEXÕES SOBRE PATRIMÓNIO, MEMÓRIA E IDENTIDADE: A
CULTURA MATERIAL DO CESIR ............................................................................ 78
Evânia Lima de Barros
OLHARES SOBRE O PATRIMÔNIO CULTURAL NA AMAZÔNIA: NOTAS
SOBRE A HISTÓRIA DO MUSEU ESTADUAL DE RONDÔNIA ENTRE
1964-2012 ........................................................................................................................... 89
Everson Rodrigues de Castro
O PAPEL DA MULHER NA FORMAÇÃO HISTÓRICA E CULTURAL DA
AMAZÔNIA .................................................................................................................... 101
Francisco Allan Alberto dos Santos
Odete Burgeile
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NA REDE
PÚBLICA DE PORTO VELHO – RO .......................................................................... 120
Joel Balduino da Silva Junior
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL E SOCIAL A PARTIR
DAS MEMÓRIAS DE INFÂNCIA EM ÁREAS DE COLONIZAÇÃO DE
RONDÔNIA .................................................................................................................... 137
Joelton Rezende Gomes
HISTÓRIA, CULTURA E IDENTIDADES DE MULHERES NEGRAS DA
COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBOLAS DE PEDRAS
NEGRAS, NO VALE DO GUAPORÉ/RO ................................................................. 146
Joely Coelho Santiago
DESTERRITORIALIZAÇÃO E RETERRITORIALIZAÇÃO: O CASO DA
COMUNIDADE DE SÃO DOMINGOS EM PORTO VELHO/RO ..................... 159
José Gadelha da Silva Junior
MIGRAÇÃO, CULTURA E IDENTIDADE NO INTERIOR DO ESTADO DE
RONDÔNIA: JARU E SUAS REPRESENTAÇÕES ................................................ 175
Kleyton Coelho Castro
Ronaldo Lopes de Oliveira
A MIGRAÇÃO PARA RONDÔNIA PÓS DÉCADA DE SETENTA: UM
OLHAR A PARTIR DOS ESTUDOS CULTURAIS ................................................ 190
Lilian Maria Moser
Eduardo Servo Ernesto
ANÁLISE ICONOGRÁFICA E ICONOLÓGICA REALIZADA COM
ALUNOS DE UMA ESCOLA DO ENSINO FUNDAMENTAL EM PORTO
VELHO, RONDÔNIA ................................................................................................... 207
Maiara Malta Gonçalves
Renato Junior Medeiros Leher
CONSTRUINDO A CASA DE DEUS: O PONTIFÍCIO INSTITUTO DAS
MISSÕES ESTRANGEIRAS E A CRIAÇÃO DA DIOCESE DE MACAPÁ
(1948-1980) ........................................................................................................................ 216
Marcos Vinicius de Freitas Reis
Joel Pacheco de Carvalho
APRESENTAÇÃO
10
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
de todos”.
Seguindo apontamento de Roger Chartier (1990, p 16), “a história cultural tem
como objetivo identificar como em diferentes lugares e momentos uma determinada
realidade social é constituída, pensada, dada a ler”. Para esse autor, as percepções do
mundo social não são discursos neutros, produzem estratégias que tende a impor
autoridade à custa do outro legitimando sua conduta (p, 17). Este pensamento de
Roger Chartier dialoga com Michel De Certeau (2011) no que diz respeito à
importância das práticas cotidianas do sujeito na construção do mundo social; isso
porque tais práticas ganham sustentabilidade a partir da astucias construídas por
aqueles que ocupam o lugar do fraco, um lugar de não poder. “O cotidiano se
inventa com mil maneiras de caça não autorizada (CERTEAU 2011, p38). Para este
autor, a “estratégia postula um lugar suscetível de ser circunscritos como algo
próprio e ser a base de onde se podem as relações com a exterioridade de alvos ou
ameaças” (p, 93). Ao analisar os eventos que aconteceram na ocupação da região do
município de Urupá, nas décadas de 1970 e 1980, é possível perceber as
funcionalidades dessas estratégias cotidianas nas disputas de um lugar de poder, a
posse da terra.
Peter Burke (2011), ao criticar a história cultural e seus pressupostos, aponta a
possibilidades para uma nova história cultural que seja também uma história
antropológica; “Uma possibilidade é falar em variedades de história antropológica”,
(p, 244). Ao fazer observações sobre a história cultural;
12
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
13
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
14
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
atual, continuamos o extermínio dos povos nativos ainda existentes sob o argumento
de que é necessário formar e desobstruir o caminho do progresso de determinada
região. A época o SPI, hoje a FUNAI, velhos coronéis (senadores, deputados) da
política discursam em Brasília a favor do progresso. Os índios já não são mais os
Urupá, são seus irmãos Uru-Eu-Wau-Wau que, na mesma região, são exterminados
pelos aos avanços do agronegócio sobre suas terras. Os citados índios habitam a
Terra Indígena Rio Muqui. A Reserva Florestal Martin Pescador, transformada em
assentamento, está anexa à Terra Indígena Rio Muqui e Reserva Indígena Paacas
Novas. Analisando a regularização fundiária na Reserva Florestal Martin Pescador, é
evidente nos documentos oficiais2 que foram reduzidas a áreas de circulação, de
caçar e pescar dos povos indígenas que sobrevivem na região. Essa aproximação com
os homens brancos historicamente é letal para os povos indígenas.
Com base nos relatos, nas entrevistas realizadas com os seringueiros para a
pesquisa de mestrado, é possível afirmar que os primeiros seringueiros que
ocuparam a região do município de Urupá chegaram no final da segunda metade da
década de 1960, início da década de 1970. Esses homens que chegaram à citada
região, alguns com famílias, outros ainda muito jovens, solitários, buscavam
estabelecer a posse de sua colocação para se livrar das explorações dos seringalistas.
Os seringueiros entrevistados são oriundos de vários estados: Maranhão, Ceara,
Espírito Santo, Acre e Pará. Chegaram por diferentes caminhos, com histórias de
vidas diferentes, mas com objetivos em comuns: livrar-se da vida na pobreza. Para
isso buscavam abrir suas colocações. Uma colocação está para o seringueiro como o
sitio para agricultor. Precisa estar em um local com água potável, geralmente a beira
de rios, precisa que seja uma floresta que tem caças, animais silvestres. A colocação
tem três, às vezes quatro estradas de seringa. Cada estrada tem em média cento e
cinquenta a duzentas árvores de seringa, suficiente para um dia de trabalho do
seringueiro.
No início dos anos de 1970, navegando pelo rio Urupá, passando pelo
Seringal Urupí, de propriedade de Val Madeira e o Seringal Santa Helena de
propriedade de Zé Preste, existia uma grande área de terras devolutas, com floresta
intacta. De acordo com seu Antonio seringueiro (Antonio Alves da Silva,
entrevistado em 15/02/2015), eles (seu pai, Senhor Maximiano, e seus irmãos)
tiveram essa informação através de um amigo, também seringueiro, que tinha aberto
uma colocação nessa região. Com essa informação, embarcaram em uma expedição
exploratória de nove dias remando até aportarem a um local, uma curva do rio
Urupá. Adentraram a mata para fazer um levantamento, encontraram muitas
árvores de seringueiras, castanheiras e caucho3. Uma região com muita caça, o rio
com abundância de peixes, o local ideal para estabelecer uma colocação. Meses
depois, já com toda a família, abriram um pequeno seringal. Anos mais tarde
tiveram quatro colocações, com seringueiros trabalhando para família.
Como o Território Federal de Rondônia, nos anos de 1970, já era permeado
pela euforia da migração, poucos anos se passaram e chegaram outros seringueiros
fugindo das explorações de seringais da região. Foram agregando mais família à
comunidade. O senhor Assis e o Nego Velho tornaram-se genro do senhor
Maximiano e constituíram famílias, abriram suas colocações na região. Os filhos de
seu Maximiano, Raimundo, Antonio e Francisco, também constituíram famílias. Por
consequência, abriram suas colocações. Chegaram outros conhecidos vindos de
outras áreas. Zé Nunes abriu uma colocação, Antonio Catraca e seu companheiro
Carlos também abriram uma colocação.
O trabalho no seringal é um trabalho solitário. Esses homens geralmente
começavam trabalhar por volta das quatro horas da madrugada. Saíam para a mata
com uma poronga na cabeça, ou facho não mão, para iluminar a picada por dentro da
mata e a faca de cortar a seringueira. Faziam dois cortes, modelo espinha de peixe,
quando a árvore da seringueira era grossa, tinha já um corte mestre, na vertical. Ou
seja, só limpavam esse risco mestre e faziam um de cada lado, na horizontal. Ou
cortava na modalidade bandeira, para árvores mais finas. Usavam um corte mestre
na vertical, faziam outro dois na horizontal, mas do mesmo lado, um encima, outro
embaixo.
3 Árvore da família das moráceas, cujo látex dá uma borracha de qualidade inferior.
16
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Esse trabalho na mata era finalizado por volta de onze horas da manhã, o
seringueiro voltava para casa, àqueles solitários faziam almoço, aqueles que tinham
esposa, almoçavam, pegavam um balde para colher o látex. Quando o balde enchia,
despejava o látex dentro de um saco encauchado. Voltava para casa por volta das
dezesseis horas para iniciar o processo de defumação, que terminava por volta das
dezenove horas. No dia seguinte, começava tudo novamente. Nos últimos anos da
existência dos seringais na região de Urupá, os seringueiros trabalharam com a
borracha de prensa, ou borracha de cocho. Nesse modo de trabalho, saiam por volta
de seis ou sete horas da manhã, cortavam todas as árvores até as dezesseis horas. Só
colhiam a borracha, já seca, dois dias depois, quando voltava novamente para cortar
na mesma estrada. Quando chegavam a casa, colocavam a borracha em um caixote,
ou cocho de madeira, e prensavam, unindo-a numa espécie de fardo de borracha. Os
seringueiros só trabalhavam na lavoura de subsistência nos finais de semana. Esses
homens trabalhavam durante o verão amazônico cortando seringa, quando chegava
o inverno amazônico, os rios enchiam, faziam as balsas, comboios com as bolas de
borrachas produzidas, e desciam o rio, até a cidade de Ji Paraná, para venderem suas
produções. Com o dinheiro arrecadado, faziam compras dos viveres necessários para
passar mais um ano na floresta, só voltavam à cidade em casos de doenças.
Ainda de acordo com os relatos de Antonio seringueiro, Assis, entrevistado
em 10/ 02/2015, Galego, entrevistado em 17/09/2015, em meados da última metade
da década de 1970, a Fazenda Candeias ocupou toda a região que hoje pertence ao
município de Urupá. Fato comprovado em documentos oficiais do INCRA, que
mencionam a pretensão da citada fazenda, propriedade do Grupo Zorzi, em legalizar
a posse das 103 mil hectares de terra.
17
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
18
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
19
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
5 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
20
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
21
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
23
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
44), em seu livro intitulado As Imagens do Outro sobre a Cultura Surda, afirma: A
língua de sinais é uma das principais marcas da identidade de um povo surdo, pois é
uma das peculiaridades da cultura surda, é uma forma de comunicação que capta as
experiências visuais dos sujeitos surdos, sendo que é esta língua que vai levar o
surdo a transmitir e proporcionar-lhe a aquisição de conhecimento universal.
Diante dessa vertente podemos perceber que o sujeito surdo tem suas
características culturais que marcam seu jeito de se incluir e relacionar com o mundo
dos ouvintes, uma delas é a linguagem que difere dos grupos de ouvintes, assim
como afirma Gesser, na sua obra Libras que Língua é essa? enfatiza que é:
24
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
fazer uso de sua cultura, alguns ainda não faz uso de sua língua natural, muitas
vezes por falta de informação da família e da comunidade que esta inserida,
deixando assim de usufruir de sua cultura e identidade que e sua língua materna.
Dall’Alba (2013, p. 34) relata que:
25
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
surda o contato com surdos adultos e também com outras crianças surdas, essa
imersão na Comunidade Surda favorecendo a aquisição da língua de sinais.
Onde estiver surdo se comunicando vai haver o uso da Língua de Sinais,
sendo essa o mecanismo de comunicação no meio da comunidade surda, a mesma é
de suma importância para o reconhecimento e resgate da cultura e identidade surda,
através de movimentos históricos e conquistas.
A língua Brasileira de Sinais tem o seu reconhecimento legal, dando força para
toda a comunidade surda e também a seus representantes ouvintes, que faz presente
nessa constante luta.
A Lei n.° 10.436, art. 1º, é clara quando diz que: Art. 1o - É
reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua
Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela
associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de
Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema
lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical
própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e
fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.
(BRASIL, 2002).
Essa oficialização faz parte desse marco histórico, e com muitas conquistas já
alcançadas vem trazendo para os surdos o direito de um profissional interprete para
acompanhar nas atividades acadêmicas, com isso vários surdos se encontra em salas
de aula nas universidades, fazendo valer seus direitos, é de suma importância a
presença de um interprete, o mesmo faz toda a transmissão do conteúdo abordado
pelo professor fazendo assim esse elo entre o surdo e ouvinte.
A cultura ouvintista se predomina como cultura dominante, isso acaba
intimidando o público surdo, haja vista que na maioria das vezes muitos não são
conhecedores da Língua Portuguesa, por se tratar da segunda Língua, De acordo
com Skliar (apud Bernardino, 2000), a comunidade Surda é uma minoria linguística.
A língua de sinais é utilizada por um grupo restrito de usuários que vivem em uma
situação de desigualdade e desvantagem social, os quais participam, restritamente,
na vida da sociedade majoritária, partindo desse pressuposto faz se necessário que os
surdos sejam reconhecidos e respeitados na sociedade. Mesmo diante de restrições a
Libras está cada vez mais citada como língua natural pela sociedade que nos cerca,
Vem ganhando forças sendo inserida nas grades curriculares dos cursos de
26
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
27
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
28
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não é possível concluir o que foi indagado ao longo desse trabalho, e sim
refletir sobre as transformações a qual que caracteriza a cultura e identidade surda na
atualidade, desejando novas conquistas e um olhar diferenciado ao sujeito surdo,
visto que história dessa construção de identidades e culturas surda não é difícil de
entender, haja vista que está evoluindo mesmo diante de vários impactos que venha
registrar ou seja marcantes, no entanto, na atualidade vivenciamos conquistas e
momentos históricos que vem para caracterizar mudanças, turbulências e crises,
mesmo diante desses desafios trás consigo momentos de grandes oportunidades.
Ao entrar no mundo dos surdos e conhecer de fato sobre suas culturas, é
possível entender que a identidade é constituída por diferentes papeis assumido pela
sociedade que a mesma não venha ser homogenia. O que se pode perceber há uma
distinção ser ouvinte e não ser ouvinte e com esse impasse cria vários obstáculos.
A linguagem difere bem esses dois termos que são ouvintes e não ouvintes,
fazendo duas culturas diferentes capazes de se comunicar através da Língua de
Sinais, haja vista que a singularidade existente nos sistemas dessa troca linguísticos
gera uma cultura, enquanto valores, crenças e uma forma de organizar as devidas
trocas sociais, aspectos estes distintos da maioria ouvinte, havendo, assim, a
formação de duas culturas que faz se notório essa inclusão da cultura surda não
somente em ambiente educacional e sim em vários outros ambiente mostrando assim
que tem suas próprias crenças e valores diante a sociedade.
Ao longo dessa pesquisa como interprete de Libras fui surpreendida com tal
cultura, foi onde ampliei meus conhecimentos sobre o povo surdo, suas culturas e
descobrir que seu universo heterogêneo, onde há diversas contradições, que esteja ou
não ligadas diretamente ao sujeito surdo e suas comunidades.
É possível perceber que existem diversos defensores dessa Língua, esses a
maioria ouvintes, afirmam que através da mesma que o sujeito surdo constrói a sua
própria identidade.
Diante dessa vertente é possível se deparar com dois mundos desconhecidos,
o do sujeito surdo em relação ao mundo ouvinte e o mundo do ouvinte em relação
aos surdos. Pelas observações dos aspectos analisados faz se necessárias adequações
29
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
e quebra de paradigmas para que tenha uma boa comunicação e aceitação partindo
desses dois universos.
Para que haja uma aceitação digna dos sujeitos surdos é de suma importância
que conheçam sua história, somente assim estará construindo sua identidade, e
conquistando seu lugar de direito na sociedade buscando através dessas conquistas
condições dignas, com isso organizando para que seus direitos sejam válidos, é
necessário um ele de confiança entre essas duas culturas para que seja feito uma
conscientização visando que os surdos saibam usufruir de suas conquistas ocupando
seus lugares no ambiente escolar, nos bancos de universidades, nas manifestações
culturais, na politica em diversas áreas do conhecimento. Portanto é de suma
importância salientar que somos diferentes possuímos culturas e identidades
diversificadas.
REFERÊNCIAS
30
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
31
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
Velho; Pós-graduado em Gestão Cultura e Políticas Públicas na Amazônia pela Faculdade FIAR (Fa-
culdade Integrada de Ariquemes); Graduado em História pela mesma, bolsista da CAPES. clebson-
carlosdeoliveira@gmail.com
7 Mestrando em História e Estudos Culturais da Universidade Federal de Rondônia, Campus de Porto
Velho; Pós-graduado em Gestão Cultura e Políticas Públicas na Amazônia pela Faculdade FIAR (Fa-
culdade Integrada de Ariquemes); Graduado em História pela mesma, bolsista da CAPES. maxson-
bazane@hotmail.com
32
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
representadas por suas moradias, suas falas e suas atividades do dia a dia.
33
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
“[...] Guaporé e Madeira foi descoberta, em 1742 por Manoel Felix de Lima; a do
Arinos e tapajós, quatro mais tarde por João de Souza de Azevedo, sargento-mór de
ordenanças” (FONSECA, 1880, p. 42).
Brasil apud Fonseca (s.d, p. 01-02) afirma que na Amazônia “A ocupação teve
como características principais a distribuição e a dispersão da população ao longo
dos rios e principais afluentes”. Os rios rondonienses também contribuíram muito
para o processo de ocupação dos alóctones8, que, ao longo dos rios, iniciaram
pequenos povoamentos que deram origem a diversas cidades, já emancipadas, como
município de Porto Velho, Ariquemes, Jaru, Ji-paraná, Pimenta Bueno e outras
cidades (LIMA; VELOSO, 2002).
No século XIX, em Rondônia os rios foram fortemente utilizados por
navegadores que escoavam os produtos conhecidos, como droga do sertão, a
extração do látex, seiva da seringueira uma árvore nativa na região amazônica. No
final do mesmo século, a região norte foi dominada por seringueiros nordestinos,
que fugiam da forte seca do nordeste para embrenharem nos lugares insalubres
cheios de epidemias, período da história brasileira que ficou conhecida como
primeiro ciclo da borracha.
Assim como o século XIX no Século XX a extração do látex teve seus
momentos significantes, este último, não tanto quanto ao primeiro, pois no século XX
o mundo estava vivenciado a segunda Guerra Mundial, ou seja, esse período de
extração do látex teve menos durabilidade, a região Norte do Brasil foi uma grande
fornecedora de matéria prima para os envolvidos na guerra, como os Estados Unidos
que foi um grande patrocinador e principal comprador da borracha brasileira.
Tanto o primeiro quanto o segundo ciclo propiciaram os povoamentos em
regiões da atual Rondônia, utilizando os rios para o escoamento e para o
deslocamento de imigrantes que chegavam para a mão de obra, no mesmo lugar se
estabeleciam suas moradias. No estado de Rondônia, uma pequena comunidade
Tabajara localizada às margens do Rio Machado ou Ji-paraná representa muito bem
esse período de pequenas vilas ao longo dos rios.
35
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
36
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
4 TABAJARA DESASSISTIDA
37
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Apesar de ser uma região que para o cenário nacional representa grande
38
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
39
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Os postes foram deixados por Cândido Mariano da Silva Rondon, este que foi
um dos desbravadores da região onde hoje é Mato Grosso e Rondônia, deixou como
rastro pequenas vilas e demarcou onde na década de 60 iria ser o caminho para a BR-
364, os postes um artefato histórico é vitima do descaso e permanecem abandonados
no local.
Não menos importante para a história, mas também sendo parte da riqueza
histórica, como afirmou Araújo e Moret (2016) tem no lugar uma igreja que a mais de
séculos resiste ao tempo. Tal monumento já foi palco de muitos eventos religiosos
afirmam moradores.
40
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
41
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
pode ser inundada após construção da UHE, onde o projeto prevê a construção da
mesma na cachoeira dois de novembro.
REFERÊNCIAS
43
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
to Velho; Pós-graduado em Gestão Cultura e Políticas Públicas na Amazônia pela Faculdade FIAR
(Faculdade Integrada de Ariquemes); Graduado em História pela mesma, bolsista da CAPES. cleb-
soncarlosdeoliveira@gmail.com
11 Graduando em Pedagogia pela Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Participa do
46
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
ressalva que “As atuais gerações convivem com informações obtidas por imagens e
sons, e essa situação tem provocado mudanças substantivas na escolarização.”, Nem
sempre estas informações que chegam para os telespectadores possuem valores
educacionais nem cientificamente pedagógicos.
Uma das problemáticas para os educadores é que “Os alunos, por crescerem
em uma sociedade permeada de recursos tecnológicos são hábeis manipuladores da
tecnologia e a dominam com maior rapidez e desenvoltura que seus professores.”
(BRASIL, 2000, p. 108). Sendo assim carecem aos educadores conhecer e
compreender as variáveis técnicas educacionais dando coerência significativa ao
ensino-aprendizagem, até por que:
O estudante não deve ser visto apenas como quem usa a informática
enquanto instrumento de aprendizagem, mas também como aquele
que conhece os equipamentos, programas e conceitos que lhe
permitam a integração ao trabalho e o desenvolvimento individual e
interpessoal. (BRASIL, 2000. p. 61).
47
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
48
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
50
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
51
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
52
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
53
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Com isso, fica evidente a relevância da ilha antilhana de Barbados que funcio-
nou como um ponto, uma área estratégica, de descanso, comércio, suprimentos de
materiais e alimentos, além da possibilidade, de suprimento de mão de obra necessá-
Mestra em História e Estudos Culturais e pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educação, Filoso-
fia e Tecnologias – GET vinculado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondô-
nia - IFRO.
54
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
12 Assim como ocorreu na Revolução Industrial ocorrida na Europa, precisamente, na Inglaterra que
motivou o êxodo urbano. Com a emancipação política nas colônias britânicas das Antilhas a imigra-
ção passou a ser uma alternativa e/ou obrigação de buscar melhoria socioeconômica Nogueira
(1959), Ferreira R. (2005), Tomlinson (1912), Craig (1947) dentre outros [Grifo Nosso].
55
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Com uma densidade demográfica com cerca de 700 pessoas por Km2,
no período da emancipação dos escravos e um aumento da
população desde então, Barbados não tem estado preparado para
produzir oportunidades de emprego, em consequência, ocorreram
muitas ondas de imigração. Em tempos diferentes, imigrantes tinham
ido para Trinidad, Guiana, Suriname, América Central, zona do
Canal do Panamá, EUA e Reino Unido (MARCPHERSON, 1963,
p.73).
56
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
caribexaba.htm. Acesso em: 15 de dez. de 2006 [Anexo B] organizado por BLACKMAN, Cledenice.
Do mar do Caribe à beira do Madeira: A comunidade antilhana de Porto Velho. Dissertação de
Mestrado. Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Porto Velho, 2015.
58
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
16 SOUZA, Márcio. Breve História da Amazônia. São Paulo: Marco Zero, 1994. Conversas informais
com representante da família Redman originária de Manaus salientou que na capital do Amazonas
teve até um bairro como o que ocorreu no Barbadian Town em Porto Velho [...].
59
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
17 Barbadianos foi um termo construído historicamente, porém atualmente dar conta de um universo
de imigrantes afro-antilhanos que chegaram ao Brasil, precisamente em Porto Velho no início do sé-
60
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
culo XX. Com a pesquisa iniciada em 2006 por meio da monografia: Os barbadianos e as contradi-
ções da historiografia regional, posteriormente com a dissertação intitulado: Os negros antilhanos
em Porto Velho (2010) e na sequência com a dissertação nomeada: Do mar do Caribe à beira do
Madeira: A comunidade antilhana de Porto Velho (2015) trabalhos acadêmicos produzidos pela au-
tora deste artigo. Comprovamos e identificamos alguns e algumas negros e negras imigrantes das
Antilhas inglesas como: Barbados, Granada, Guiana Inglesa [...]. Por isso, mencionamos que esse
grupo deveria ser mencionado como os antilhanos ingleses.
18 HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade/ Stuart HALL; Tradução: Tomaz Tadeu
Em vista disso, por intermédio da pesquisa realizada nos livros atas que
consta quase cinco mil nomes de trabalhadores efetivados, aposentados, pensionistas
da Extinta Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Localizado no arquivo do 5º Batalhão
de Engenharia e Construção – BEC em Porto Velho (1994), em pesquisa realizada nos
jornais no período de 1917 à 1990, processos encontrados no Centro de
Documentação do Tribunal de Justiça de Rondônia, registro de nascimento, óbito
dentre outras documentação confrontando as bibliografias e a memória local
19 Trabalho monográfico que teve como finalidade apresentar algumas contradições existentes no
discurso vigente da Historiografia Regional sobre os barbadianos de Porto Velho que são conhecidos
como os trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Utilizamos nesta pesquisa obras
regionais que mencionam os afro-caribenhos confrontando com entrevistas dos barbadianos e seus
descendentes. Além da utilização de pesquisas recentes sobre essa temática. Mostrando a
diversidade étnica, social e cultural desse grupo que foi reduzido a certos conceitos ambíguos e
contraditórios (BLACKMAN, 2007). Orientadora: Prof.ª Drª Lilian Maria Moser e Co-Orientadora
Profª. Drª. Marta Valéria de Lima.
20 BLACKMAN, Cledenice. Do mar do Caribe à beira do Madeira: A comunidade antilhana de Porto
Velho. Dissertação de Mestrado. Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Porto Velho,
2015.
62
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
63
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
ABUD, Daniel Lamela; MORAES, Iranilda Silva; SILVA; Patrícia Oliveira da;
BARBOSA, Rafaela Pinheiro; SANTOS, Viviane Corrêa. Migração de retorno: entre
significados e materialidades. UFPA Trabalho apresentado no XVI Encontro
Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu - MG – Brasil, de
29 de setembro a 03 de outubro de 2008. Disponível em:
http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2008/docspdf/ABEP2008_965.pdf.
Acesso em 15 de abr. de 2010.
ACRÔNICA. Caribexaba. Disponível em: http://www.acronica.com.br/
colunistas_paulo_depaula_caribexaba.htm. Acesso em: 15 de dez. de 2006.
ALMEIDA, Paulo Roberto de. A economia internacional no século XX: um ensaio
de síntese. Rev. bras. polít. int. vol.44 no.1 Brasília Jan./Jun 2001. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
73292001000100008>. Acesso: 03 de jan. de 2015.
BHABHA, Homi K. O local da Cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço
de Lima Reis, Glaúcia Renate Gonçalves. 2ª Edição. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2013.
BLACKMAN, Cledenice. Os Barbadianos e as contradições da Historiografia
Regional. Monografia (Bacharelado em História). Fundação Universidade Federal de
Rondônia – UNIR. Porto Velho, 2007.
______. Negros Antilhanos em Porto Velho. Dissertação de Mestrado em História.
Área de Concentração: História, Cultura e Imaginário. Universidade Pablo de
Olavide (Espanha). Em parceria com a Universidade de Múrcia (Espanha) e a
Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR (Brasil), 2010.
______. Imigrantes antilhanos de Porto Velho. CAMPOS, A. P.; GIL, A. C. A.;
SILVA, G. V. da; BENTIVOGLIO, J. C.; NADER, M. B. (Org.) Anais eletrônicos do III
Congresso Internacional Ufes/Université Paris-Est/Universidade do Minho:
territórios, poderes, identidades (Territoires, pouvoirs, identités). Vitória: GM
Editora, 2011, p. 1-12. Disponível em: <https://oestrangeirodotorg.files.wordpress.
com/2014/12/os-imigrantes-antilhanos-de-porto-velho.pdf>. Acesso em: 30 de abr.
de 2017.
______. Do mar do Caribe à beira do Madeira: A comunidade antilhana de Porto
Velho. Dissertação de Mestrado. Fundação Universidade Federal de Rondônia –
UNIR. Porto Velho, 2015.
CANDAU, Vera Maria Ferrão; RUSSO Kelly. Diferenças culturais e educação:
construindo caminhos. Editora: Sete Letras. Rio de Janeiro. 2011.
CANTANHEDE, Antônio. Achegas para História de Porto Velho. Manaus. 1930.
64
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
65
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
66
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
68
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
cultura é feita não somente por grupos privilegiados, isto é, a classe dominante, mas
também pela classe trabalhadora, pelos grupos da base da pirâmide social, pois são
importantes para se compreender o homem, a sociedade, as mudanças que ocorrem
pelas transformações econômicas, pelas decisões políticas, dando novos significados,
novos conceitos à realidade em volta e a própria história.
Outro membro fundador dos Estudos Culturais foi Richard Hoggart (1973),
com sua obra As utilizações da Cultura, lançada em 1957. Essa obra aborda uma
história cultural dos trabalhadores ingleses, analisando as transformações que
ocorreram na classe trabalhadora na primeira metade do século XX. Hoggart (1973)
faz uma descrição sobre o cotidiano da vida no lar, costumes, convívio, hábitos
alimentares, cômodos, móveis. Estuda a tradição da linguagem presente em
provérbios populares, do imaginário social vindo da tradição. Essa relação entre a
tradição e a modernidade é presente na obra quando fala da resistência em meio às
transformações, quando afirma que:
69
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
70
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Essa paisagem que povoou o imaginário europeu no início do século XVI ficou
fortemente marcada nos registros sobre a Amazônia. Na medida em que os europeus
faziam o reconhecimento da região, realizando o contato com as tribos indígenas,
mais eles iam absorvendo os elementos de um sentido ecológico do empreendimento
colonizador, como observa Leandro Tocantins,
71
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
72
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
73
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
No criar e expressar sua fé, suas festas, suas músicas através da cultura,
encontramos diversas manifestações de caráter folclórico e popular nessas beiras de
rios. Nos grandes centros urbanos da Amazônia encontramos artistas expressando
74
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
[...] Para essa festa acontecer, escolhiam uma moça índia da tribo
vitoriosa, para fazer o papel de vaqueira. Era escolhido também um
índio jovem que representava a tribo derrotada, ele fazia o papel de
boi. Na hora da festa, a tribo toda se reunia em círculo para cantar e
dançar. Um índio meio coroa jogava versos enquanto a tribo toda
fazia o refrão “Arriba, seringandor!”. Durante a dança a índia
vaqueira tentava lançar o índio-boi e jogá-lo no meio do círculo. O
moço-boi tentava escapar, mas durante algum tempo, já cansado, era
vencido e atirado ao chão. Os instrumentos utilizados na dança do
seringandor eram o gambá, o xeque-xeque e o reco-reco. Quando a
dança passou a ser a diversão do povo civilizado acrescentaram o
pandeiro na lista dos instrumentos [...] (MINHAS RAÍZES, 2007, faixa
6)
75
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
76
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas 1: magia e técnica, arte e política. 8ª ed. São
Paulo: Ed. Brasiliense, 2013.
CABRAL, Josélia Fontenele Batista. Olhares sobre a realidade do ribeirinho: uma
contribuição ao tema. Presença Revista de Educação, Cultura e Meio Ambiente,
Porto Velho: Maio, Nº 24, Vol. 1, p. 2-3, 2002.
CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e sair da
modernidade. 4ª ed. São Paulo: EDUSP, 2003.
CEVASCO, Elisa Maria. Dez lições sobre estudos culturais. 2. ed. São Paulo:
Boitempo, 2003.
CUNHA, Euclides da. À margem da história. 1ª ed. São Paulo: Martin Claret, 2006.
GONDIM, Neide. A invenção da Amazônia. 1ª ed. São Paulo. Marco Zero, 1994.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2014.
HOGGART, Richard. As utilizações da cultura. Lisboa: Presença, 1973.
LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura amazônica: uma poética do imaginário. 1ª
ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2001.
MINHAS RAÍZES. Em cada som, uma história (CD). Brasil: 2007.
MOURA, ZUCCHETTI, MENEZES. Cultura e resistência: a criação do popular e o
popular da criação. Estudos RBEP. 2011.
SERRA, Nara Eliana Miller. O caminho para o Desenvolvimento Sustentável em
Populações Tradicionais Ribeirinhas. Dissertação de Mestrado – Fundação
Universidade Federal de Rondônia - UNIR. – Porto Velho: 2005.
TOCANTINS, Leandro. Amazônia: natureza, homem e tempo. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, Ed. Civilização Brasileira, 1982.
WILLIAMS, Raymond. Uma tradição do século XIX. Cultura e Sociedade: de
Coleridge a Orwell. 1ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2011.
77
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
22 Artigo elaborado como requisito parcial para seleção do Mestrado Acadêmico em História e Estudos
Culturais da Universidade Federal de Rondônia - MHEC/UNIR.
23 Mestranda em História e estudos culturais pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR.
78
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
79
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
80
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Com esse novo direcionamento do olhar, os objetos que antes eram apenas
parte, muitas vezes ilustrativas, das fontes empregadas em uma determinada
pesquisa, passam a ser então o seu principal documento. Contudo, vale ressaltar que
este campo de estudo, não deve examinar o objeto pelo objeto, ou seja, o objeto
material tomado em si mesmo, mas sim os seus usos, as técnicas envolvidas na sua
manipulação, as suas apropriações sociais, a finalidade pela qual foi confeccionado e
a sua necessidade social e cultural.
Recuando um pouco mais no tempo, os estudos culturais começaram de
maneira tímida, entre os anos de 1800 a 1950, sendo chamado de história cultural
clássica, pois os seus principais teóricos partiam dos cânones literários para fomentar
as discussões das artes, filosofia, ciência entre outras áreas de conhecimentos, para
ampliar as interpretações entre as culturas que eram produzidas na época, tais quais,
poemas, pinturas, obra de artes, entre outros. Por transitar entre esses dois mundos,
levando a cultura erudita até as massas, a história cultural fora considerada inferior,
“[...] foi descartada pelos seguidores de Leopold von Ranke, considerada marginal
ou amadorística, já que não era baseada em documentos oficiais dos arquivos e não
ajudava na tarefa de construção do Estado” (BURKE, 2004, p. 17).
Sobre a ótica de Raymond Williams, que foi um dos principais propulsores
da história cultural, a sua compreensão de cultura ganha uma conotação mais ampla,
incluindo desde as manifestações ditas populares, tanto quanto, às consideradas
cultura eruditas. Desta forma, poderia discutir as questões culturais sem empregar
juízo de valor, considerando todo o tipo de cultura ou prática cultural, sem sobrepor
uma a outra ou até mesmo atribuí-las a uma classe social. Nesse sentido, Hoggart
compartilhava dos mesmos ideais de Williams, pois não faziam distinções entre as
culturas produzidas pelas diferentes classes sociais (CEVASCO, 2003, p. 21).
Aprofundando um pouco mais os ideais desses dois autores, é importante
salientar, que ambos pertenciam às famílias que vinham das classes do proletariado e
ganharam bolsas de estudo para cursar a universidade, sendo que mais tarde, se
tornaram militantes no movimento formado por intelectuais britânicos
denominando-o a nova esquerda, os quais ajudaram a instituir.
81
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Para ele, as influências dessas publicações para as massas, têm as suas causas
e seus efeitos, e não podem ser pensados nessa relação dialética entre causas e
consequências. Em seus discursos, também criticava determinadas tendências
intelectuais que tratava as classes dos trabalhadores com um sentimento ora
compadecido, ora por meio de certa nostalgia.
Contrapondo Hoggart, com a obra Cultura e Sociedade, Williams faz um
apanhado do uso da palavra cultura procurando compreender como as
transformações ocorridas na literatura das últimas décadas do século XVIII e a
primeira metade do XIX, influenciavam a sociedade. Segundo Cevasco, a obra de
Williams significou “[...] um mergulho histórico nos modos pelos quais a cultura foi
sendo concebida ao longo da história inglesa moderna” (CEVASCO, 2003, p. 13).
Contudo, para esse trabalho, a principal contribuição de Raymond, refere-se
aos seus estudos sobre a cultura material:
82
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
83
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
84
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
85
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Refletindo sobre essa afirmação, fica evidente que esse processo vem
ocorrendo na aldeia onde vive o grupo étnico objeto da pesquisa, os Pahíter Suruí,
pois sofrem influências culturais ocidentais, mesmo que lentamente. Uma
constatação desses acontecimentos, referem-se ao fato que o grupo deixou de
produzir o Ritual de Criação do Mundo, característico da sua identidade, para
comemorar festas como o natal e aniversários, datas que representam as culturas
ocidentais.
Mesmo ocorrendo todas essas influências por parte de culturas externas no
grupo étnico dos Pahíters e após um grande intervalo de doze anos sem realizar o
Ritual de Criação do Mundo, a festa realizada em 2011, sofreu grandes transforma-
ções, mas que ainda conservou as principais características do ritual tradicional.
24 Dicionário Aurélio: A palavra Essência é usada no sentido de aquilo que é o mais básico, o mais
central, a mais importante característica de um ser ou de algo.
86
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
87
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Altas,
2002.
HALL, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu
da Silva e Guaraci Lopes Louro. Rio de Janeiro: Lamparina, 2014.
HOGGART, Richard. As utilizações da cultura. Lisboa: Presença, 1973.
LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. (Coleção primeiros passos) 5 ed.
São Paulo: Brasiliense, 2006.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Trad. Bernardo Leitão [et.Al.] 5. ed.
Campinas, SP. Editora UNICAMP, 2003.
MARETTO. Luís Carlos; SURUÍ. Almir Narayamoga; SILVA. Adnilson de Almeida.
Ritual Mapimaí – A Festa de Criação do Mundo dos Paiter Suruí Mapimaí. Ateliê
Geográfico - Goiânia-GO, v. 9, n. 1, p.163-182, abr/2015.
Página do Dicionário Aurélio, disponível http://www.dicionarioinformal.com.br/
dicionario-aurelio-online/, acesso no dia 18 de outubro de 2015.
Página do CESIR, disponível http://www.cesir.unir.br/cesir.html, acesso no dia 02
de novembro de 2016.
88
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
rondoniense.
Porém deste segundo período em diante, tendo em vista as mudanças políticas
ocorridas após o final da Ditadura Civil-Militar no país, o Museu Estadual de
Rondônia começa a ser ressignificado como uma instituição que remetia às
“realizações” do regime militar, representado em Rondônia, pelo Coronel Jorge
Teixeira de Oliveira e isso fez com que a existência do Museu Estadual fosse
paulatinamente sendo esvaziado de sentido e chegasse até o momento das
construções das Hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio marcado pelo descaso e quase
abandonado.
Para entendermos como ocorreram essas modificações de entendimento por
parte do poder público estadual sobre a importância do Museu Estadual de
Rondônia, faz-se necessário, elaborar uma contextualização histórica dos indícios que
demarcaram os espaços de estruturação do museu estudado, com o objetivo de
compreendermos como o patrimônio cultural, pensado aqui como “objeto de uma
política pública”, foi sendo reconfigurado ao longo da trajetória do Museu Estadual
de Rondônia.
Assim na próxima seção abordaremos os conceitos que utilizamos para
perceber as transformações das políticas públicas para o patrimônio e em especial do
Museu estudado e as disputas políticas acerca da (re)significação do mesmo, a partir
de alguns conceitos com os quais dialogamos, são eles: representações, trabalhado pelo
historiador cultural Roger Chartier; patrimônio cultural abordado a partir das relações
com o campo da museologia por Leandro Brusadin e Heloísa Helena Costa; e museu
discutido a partir da perspectiva institucional do ICOM26 sob o prisma do museólogo
George Rivière.
26 Na tradução livre do inglês para o português, temos o Conselho Internacional de Museus, entidade
internacional ligada aos museus.
90
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
91
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
27 Para um melhor aprofundamento, ver: Santos, M. S. dos. História, Tempo e Memória: Um estudo a
partir da observação feita no Museu Imperial e no Museu Histórico Nacional. Dissertação de Mes-
trado. IUPERJ, 1989.
92
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
93
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
94
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Dentro desse prisma, esse indício das divergências entre Ary Pinheiro e o Ten.
Cel. Manuel Meneses, é representativo de que a área do patrimônio não foi
construída de forma linear e pacífica, e que esses discursos não estiveram apartados
das divergências no âmbito político local. E no caso específico dessas lutas simbólicas
perceptíveis através dos discursos de políticos e de parte da elite letrada territorial
que busca se solidificar dentro das estruturas de poder existentes, isto pode assim
demonstrar que, em parte, os governos militares no Brasil do pós-1964, segundo
afirma o doutor Lúcio Ferreira de Menezes, esse processo “[...] tinha por objetivo
manipular a construção de uma identidade, transmitir o sentimento de
pertencimento a um território através da cultura material (SILVA, 2012, s.p.)”.
O que percebemos até aqui, é que a história do Museu Estadual de Rondônia
foi caracterizada, inicialmente, tanto por divergências políticas entre o médico Ary
Pinheiro e o governo territorial, nada que tenha levado a rupturas significativas na
estrutura e domínio exercido pelas elites políticas e econômicas do território, quanto
por uma precariedade substancial no tocante ao espaço físico (SECEL, 2015, p. 15; A
TRIBUNA, 1979b apud SILVA, 2012, s.p.), praticamente inexistente ou numa
hipótese, no máximo improvisado, junto a outros espaços com fins públicos já com
seus respectivos destinatários.
Existem indicações de que de 1965 a 1976, o Museu funcionou no prédio do
atual Juizado da Infância e Juventude da comarca de Porto Velho, na Av. Rogério
Weber com Av. Carlos Gomes, com salas que tinham sido cedidas pela Divisão de
Educação, atual Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) (SECEL, 2015, p. 12).
Em 1976, o Museu Estadual de Rondônia foi desativado e em 1979 ele foi
reinaugurado em uma das salas do palácio Getúlio Vargas, antiga sede do Governo
do Estado de Rondônia e atual “futuro” Palácio da Memória Presidente Vargas, com
apenas parte do acervo, este organizado de maneira improvisada e sem o devido
tratamento técnico para a preservação daqueles bens culturais (SECEL, 2015, p. 12).
Em 1985, o Museu Estadual de Rondônia foi novamente desativado e seu acervo foi
transferido para o prédio onde funciona o prédio do atual SEBRAE (Serviço
Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas), porém em 1987, o museu foi
reinaugurado novamente em um prédio localizado na Av. Sete de Setembro, no atual
prédio onde funciona o SATED/RO (Sindicato dos Artistas e Técnicos em
95
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Espetáculos de Diversão).
Na década de 1990, o acervo foi novamente removido e encaminhado para o
prédio da Oficina da EFMM, sem continuidade de abertura de visitação ao público,
tendo em 1994 sido o Museu Estadual de Rondônia reativado no prédio conhecido
como “Casa do Bispo”, situado na Av. Presidente Dutra com Av. Dom Pedro II e
posteriormente, no ano de 1997, segundo a Yêdda Borzacov, o acervo foi novamente
transferido, agora para o prédio da Administração da EFMM (Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré), onde permanece, há aproximadamente 16 anos de forma
“provisória (BORZACOV, 2007 apud SECEL, 2015, p. 14)”.
E por fim, apesar da precariedade patente do ambiente físico, assim como da
problemática em torno da preservação que lhe é intrínseca, logo em seguida
podemos destacar que o acervo do Museu Estadual de Rondônia, apesar das
condições adversas, é portador de informações e conhecimentos importantes para a
preservação da memória dos grupos que amalgamaram a cultura rondoniense.
Entretanto, após mais de 4 décadas de descaso por parte do Poder Público
estadual, representado pelas diversas denominações instituições para a pasta da
cultura, atualmente SECEL (Superintendência Estadual do Esporte, da Cultura e do
Lazer do Estado de Rondônia), assim como também por parte da esfera federal, ante
a ausência de efetivas políticas de preservação que fossem dirigidas pelo IPHAN
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em relação ao acervo e ao
patrimônio do Museu Estadual, foi somente a partir do ano de 2009 que esse
panorama, no mínimo caótico, começou a se modificar em relação as políticas
voltadas para o patrimônio deste Museu rondoniense.
Neste prisma, a partir dos impactos surgidos da construção das duas usinas
hidrelétricas no Rio Madeira, é que o Estado de Rondônia, no campo da cultura,
atuará, entre outras medidas tomadas, para articular-se com o setor privado
interessado e/ou àqueles que fossem parte integrante do projeto das usinas, no
sentido de concretizar as políticas de preservação do patrimônio histórico-cultural
local, o que influenciou, sobretudo, a aprovação da Lei 2.746/2012, que instituiu o
Sistema Estadual de Cultura (SEC).
Inicialmente, dentre os indícios históricos que podem ter influenciado no
projeto de revitalização do Museu Estadual de Rondônia nesta fase contemporânea,
96
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
97
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Guaporé, Joaquim Vicente Rondon, como bastante exemplares nas primeiras décadas
após a criação do museu rondoniense.
De outro modo, percebemos também que a partir de meados do ano de 2009, a
história desse museu rondoniense, começou a se modificar de forma considerável,
pois com os impactos econômicos das Usinas Hidrelétricas no Rio Madeira no Estado
e a participação da iniciativa privada em cooperação técnica com a Superintendência
Estadual de Esporte, da Cultura do Lazer do Estado de Rondônia (SECEL) contribuiu
para o processo de revitalização do acervo completo do museu através do trabalho
de curadoria, que acabou culminando na formulação do projeto de requalificação do
museu denominado “Projeto da Memória Presidente Vargas”, local que, espera-se,
abrigará exposições, pesquisas, etc., relacionadas a memória e ao patrimônio cultural
do Estado.
REFERÊNCIAS
98
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
99
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
100
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
avançar nessa questão” [...] "Vamos ter que começar a lutar de novo. Vai ser um des-
perdício de energia. Estávamos num patamar que podia avançar muito mais. É um
atraso" (ARBEX & BILENKY, 2016, p.1).
Segundo a Presidente da entidade Rio Como Vamos, Rosiska Darcy de Olivei-
ra: “[...] inacreditável que tenhamos retrocedido quase três décadas. Foram duas
grandes perdas: o fato de não termos nenhuma ministra e o desaparecimento da Se-
cretaria das Mulheres” (MACEDO & ROXO, 2016, p.1); Manoela Miklos (curadora do
blog #AgoraÉqueSãoElas, da Folha de São Paulo) afirma que a falta de diversidade
nos quadros do ministério de Temer é "perversa", e "tem uma dimensão simbólica,
mas também diz muito do que podem ser as políticas públicas capitaneadas por um
grupo tão pouco diverso". Ela vê com preocupação um governo que, já em sua com-
posição, trata a desigualdade com tanta naturalidade (ARBEX & BILENKY, 2016,
p.1).
Esta situação tem impactos inquietantes em todas as regiões do país e, em
maior grau, na Amazônia, dada a sua extensão territorial, sua densidade demográfi-
ca e escassa infraestrutura. O que já é difícil em meio à moderna civilização com co-
municação “onlinerealtime”, e onde é fácil se defender e denunciar, em situações de
isolamento e dependência fica ainda mais tenebroso, e muito mais desafiador admi-
nistrar.
A verdade é que sempre foi assim para as mulheres - na cidade, no campo, nas
florestas, nos seringais - para cada passo arduamente trilhado, para cada espaço la-
boriosamente conquistado, se enfrenta periodicamente significativos retrocessos co-
mo este que se vivencia agora. Por isso é preciso ir mais além, pressionar por políti-
cas públicas que deem azo a um sistema de desenvolvimento permanente que possi-
bilite às mulheres auto condução e autodeterminação. Aliás, não só as mulheres
(porque não homens também?) e sim a todas as pessoas oprimidas – continuamente
usurpados em seus direitos e explorados no decorrer da história. É preocupante que,
observadas as tendências, isso aponta para o agravamento; não parece que o trata-
mento equitativo e igualitário será propiciado pelo poder constituído. “Bela, recatada
e do lar”? Eis a questão.
Diante da situação que se instalou, é de fundamental importância investigar os
fatores determinantes de dominação e, principalmente, do processo de libertação,
102
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
para que este possa ser disseminado e acelerado através de (ou mesmo apesar das)
políticas públicas, semeando e cultivando o despertar das consciências, num desa-
brochar do ser humano pleno, sem liames quanto a gênero, raça ou classes sociais,
sempre senhor de seu destino e autor de sua história.
Assim sendo, o presente estudo tem como objetivo geral mapear as formas de
dominação ao longo da história da ocupação da Amazônia brasileira e pontuar os
casos de resistência e quebra de paradigmas por parte das mulheres, valorosas guer-
reiras na conquista da natureza. Por objetivos específicos elegeu-se: relatar a trajetó-
ria das mulheres neste processo; identificar as principais formas de opressão de gê-
nero nos diversos períodos; identificar algumas estratégias de reação à dominação e
opressão utilizadas por estas mulheres.
Justifica-se a pesquisa pela inegável importância de se buscar igualdade, como
previsto na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF1988):
Sair dessas letras (por enquanto mortas) para concretizar os sonhos da nação
através de seus constituintes e estabelecido na Carta Magna é o desafio daqueles que
assumem a missão de modificar o status quo, porque receberam a oportunidade de
acessar as ferramentas para realizar essas mudanças através da educação. E educação
só vale se gerar mudanças, para melhor; uma nação inteira financia isso.
Darci Ribeiro, estoico e heroico até o fim, em sua última obra, “Confissões”
apregoa: “[...] Quero muito que estas minhas Confissões comovam. Para isso as
escrevi, dia a dia [...] Sem nada tirar por vexame ou mesquinhez nem nada
acrescentar por tolo orgulho. [...] querendo mais vida, mais amor, mais saber, mais
103
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
travessuras”. (RIBEIRO, 1997, p. 12). Para mudar o mundo, tão importante quanto
saber como, é fundamental o fazer, a disposição, a atitude.
104
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
105
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
costumes, e até mesmo sua língua. Desse modo, o índio brasileiro – principalmente a
mulher nativa -se constituiu desde sempre em peça descartável nas mãos dos
colonizadores.
A Cabanagem ocorreu durante a Regência, de 1935-1840: "foi um movimento
nativista popular armado, que envolveu grupos indígenas autônomos, a massa de
índios das aldeias, índios destribalizados (chamados de tapuias), os caboclos
mestiços, os negros" (FREIRE, 1991, p. 62;). Ao final, porém, o Amazonas ainda era a
"única unidade política que não havia sido portugalizada e que permanecia
majoritariamente indígena" (RODRIGUES, 2009; FREIRE, 1991, p. 62). E não falava
português, pois o nheengatu continuava sendo a língua de comunicação comercial e
popular. É importante entender a resistência à dominação e o papel desempenhado
por mulheres neste episódio da história brasileira, a primeira insurgência em terras
do Brasil.
Nas palavras de Caio Prado Jr (1975), a cabanagem foi o único movimento
regencial em que as camadas mais pobres do povo conseguem ocupar efetivamente o
poder de toda uma Província e mantê-lo, mesmo por pouco tempo.
Cabano era o pobre, moravam em barracos de madeira e bambu, em alagados,
em meio a cobras, mosquitos, vermes e fome. Mesmo trabalhando tanto, vivia mal,
porque os frutos de sua lida iam para latifundiários e comerciantes que dominavam a
província. “A região se agitara desde que D. Pedro I enviara mercenários ingleses
que assassinaram patriotas brasileiros no porão de um navio [...] justiceiros armados
atacavam fazendas e levavam bens para ser distribuídos entre os carentes”. O cônego
Batista Campos era muito querido por pregar o Evangelho da Revolução. Costumava
benzer as armas dos rebeldes, daí o apelido de Padre benze-cacetes. Assumindo
enormes proporções, acabou fora de controle. Em Belém, o governador acabou morto
a golpe de tacapes e seu corpo arrastado pelas ruas enquanto o povo em festa cuspia
nele (FREIRE, 1991, p. 65).
106
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Um dos líderes dos cabanos, Raymundo Hilário foi preso (e morto 48 horas
depois) junto com sua mãe, Margarida de Jesus e conduzidos a Belém. O tenente
relatou em ofício de 1936:
108
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
109
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
110
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
eram patrões, coronéis, cultores das letras, filhos, profissionais liberais ou grandes
comerciantes. Insinuações sobre os modos, a moda, afetividade, sociabilidade e
sexualidade feminina transpareciam com certa frequência nas páginas dos jornais,
“baluartes da moralidade” que, atentos, vigilantes questionavam comportamentos
que consideravam inconvenientes.
111
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
descer ladeiras com filhos nos quadris, encerar a casa com argila, cozinhar no fogão a
lenha, a passar as roupas na brasa, etc. A ausência de mulheres brancas e 'honradas'
na mata fez com que os seringueiros recorressem a mulheres índias e as prostitutas,
buscando nelas suprir toda falta que uma mulher podia causar.
O ato de retirar as prostitutas das ruas e dos cabarés de Manaus e enviá-las aos
seringais cumpria assim duas funções sociais distintas: 'limpar' as ruas de Manaus
que vivia o auge da Belle Époque e satisfazer as necessidades ardentes dos
seringueiros. Com o passar dos anos, as migrações foram aumentando e a diferença
entre a quantidade de homens e de mulheres nos seringais foi diminuindo, um maior
equilíbrio entre os gêneros foi se estabelecendo, com a vinda de pessoas dos mais
diversos lugares, em maior número do Nordeste. Ao chegarem, as mulheres foram se
agrupando as outras que já residiam nos seringais, na maioria das vezes essas eram
esposas ou filhas de seringalistas, seringueiros ou de comerciantes locais. Estudos
apontam várias tentativas de amenizar a falta de mulheres nos seringais do
Amazonas, desde encomendá-las às casas aviadoras até retirá-las à força dos cabarés
de Manaus e enviá-las aos seringais. Não eram raros os casos de confinamento da
mulher:
112
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
113
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
A urbanização da cultura cabocla está dividida em duas fases: a que vai dos
anos 1920 ao final da década de 1960, e desta aos dias atuais, ambas caracterizadas
por intenso êxodo rural. Por mais paradoxal que possa parecer, a formação cultural
da sociedade cabocla é produto, tanto da riqueza da economia da borracha e suas
contradições culturais e de classe, quanto do extremo isolamento aliado à profunda
estagnação econômica.
Ao final dos anos de 1960, com a política de integração nacional promovida
pela ditadura militar, foram adotadas duas políticas para a Amazônia Brasileira: a
primeira, geopolítica, com o objetivo de refazer e reforçar os laços entre a região e o
restante do país, principalmente com a região centro sul; a segunda, de inspiração
econômica (cujo objeto era reabrir a Amazônia ao processo de desenvolvimento
extensivo do capitalismo)alia o grande capital monopolista, o capital colonialista e o
Estado autoritário, dominando por fim toda a Região Norte.
Sob o slogan Integrar para não entregar, usado pelo Estado brasileiro como
justificativa para a recolonizarão amazônica, acaba por se mostrar como uma falácia.
A preocupação não era com a população nativa. Na visão de Barros (2017, p.2)
[...] integrar a Amazônia ao Brasil para que ela não parasse nas mãos
de colonizadores estrangeiros. E então o Estado pôs a desmatar a
região e desterritorializar comunidades quilombolas e comunidades
114
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Diniz (1999; 2004) chama a atenção para os desafios encontrados por mulheres
que vivem num contexto social de pobreza, em que a mulher é vista como inferior e
não tem o mesmo status, poder e direitos de mulheres de outras classes sociais. A
autora aponta ainda para a presença de práticas discriminatórias de gênero e raça e
ressalta que mulheres indígenas recebem pouca atenção em todo o continente com
consequente impacto na qualidade de vida dessas mulheres.
Elas pertencem a um contexto repleto de desigualdades: classe social de baixa
115
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
116
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
117
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
118
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
119
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
30 Mestre em História e Estudos Culturais pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR. licencia-
do em História pela UNIR – Universidade de Federal de Rondônia, 2002. É Professor da rede pública
Estadual e Municipal de Porto Velho, há 25 anos. Mestre da 2ª turma 2013, do curso de História e Es-
tudos Culturais pela UNIR. Atualmente desenvolve projetos com o título: Os Estudos Afros brasilei-
ro nas Escolas públicas de Porto Velho, Lei Federal 10.639/03. Pesquisador na linhagem da cultura
história e religiosidade afro-brasileira na Amazônia.
120
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
121
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
e africana.
122
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
123
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
124
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
125
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
campo dos valores, das representações sobre o negro, que professores e alunos
negros, mestiços e brancos possuem. Esses valores nunca estão sozinhos. Eles, na
maioria das vezes, são acompanhados de práticas e estereótipos que precisam ser
revistos para construirmos princípios éticos e realizarmos um trabalho sério e
competente com a diversidade étnico-racial na escola.
Nesse sentido, percebemos que é preciso abrir esse debate e tocar nessa
questão tão esquecida nas escolas. Caso contrário, continuaremos acreditando que a
implementação de práticas antirracistas no interior da escola só dependerá do maior
acesso à informação ou do processo ideológico de politização das consciências dos
docentes. Reafirmo que é preciso construir novas práticas. Julgo ser necessário que os
educadores se coloquem na fronteira desse debate e que a cobrança de novas
posturas diante da questão racial passe a ser uma realidade, não só dos movimentos
negros, mas também dos educadores, dos sindicatos e dos centros de formação de
professores do movimento das mulheres negras, dos movimentos sociais pluralistas
e multiculturais.
4 DISCRIMINAÇÃO RACIAL
126
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
mas para a qual se pretende que esse trabalho venha a colaborar, já que se perfilam
formas como alunos e professores se relacionam com alunos negros, como os
professores silenciam e se omitem, não intervindo em casos de discriminações e
identificando percepções, preconceitos, estereótipos e, também, como na
comunidade escolar diversos atores se expressam sobre temas relacionados à raça. A
invisibilidade da diversidade dos papéis e funções exercidos pelos homens e
mulheres negros, por exemplo, nas ilustrações dos livros didáticos, pode ser
corrigida, solicitando-se à criança que descreva outras atividades exercidas pelas
mulheres e homens negros que constituem sua família, que moram na sua rua e que
frequentam seu local de encontros religiosos e de lazer, etc. Nessa oportunidade,
convém fazer a criança identificar a importância das profissões estigmatizadas,
mostrando a sua utilidade para a sociedade. Não ser visível nas ilustrações do livro
didático, além de aparecer desempenhando papéis subalternos, pode contribuir para
a criança que pertence ao grupo étnico-racial invisibilidade e estigmatizado
desenvolver um processo de auto rejeição e de rejeição ao seu grupo étnico/racial
(MUNANGA, 2005, p. 153).
Vale ressaltar que a presença do negro nos livros didáticos, frequentemente
mostra-o como o escravizado, sem referência ao seu passado de homem livre antes
da escravidão e às lutas de libertação que desenvolveu no período da escravidão e
desenvolve até hoje por direitos de cidadania. Todos esses fatores invisíveis podem
ser problematizados se o professor se comprometer com as questões étnico-raciais e
com a temática afro-brasileira, conscientizando os seus alunos, contando e
esclarecendo sobre a história e a cultura afro-brasileira, de Zumbi dos Palmares, de
Dandara, esposa de Zumbi, dos quilombos, de suas revoltas e insurreições ocorridas
durante a escravidão, contando o que foi a organização sócio-político econômica e
cultural na África pré-colonial; e também sobre a luta das organizações negras,
juntamente com os movimentos sociais hoje, no Brasil e nas Américas. Seguindo
essas análises, Vera Maria Candau (2003) pontua que:
– “Sim! Foi um dia quando fomos tirar uma foto na sala de aula, eu
me posicionei junto com eles, para tirar a foto e daí um colega disse:
Sai daí sua negrinha! vai estragar a foto”.
128
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
129
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
130
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
131
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Mas não se sustenta uma guerra, não se sofre uma enorme repressão,
não se assiste ao desaparecimento de toda a família para fazer
triunfar o ódio ou o racismo. O racismo, o ódio, o ressentimento, o
desejo legítimo de vingança não pode alimentar uma guerra de
libertação” [...] É verdade que as intermináveis exações das forças
colonialistas reintroduzem os elementos emocionais na luta, dão ao
militante novos motivos de ódio, novas razões para sair em busca do
colono para matá-lo”. Mas o dirigente compreende dia após dia que o
ódio não poderá constituir um programa. Entretanto, a função
terapêutica da violência adquire um significado mais consequente se
a ligarmos aos trechos de Os condenados da terra, que mostram como
a violência revolucionária da guerra de libertação permite ao
colonizado libertasse e superar a violência fratricida em que se
consome a si próprio devido à alienação causada pelo jugo colonial
(FANON, 1968, p. 46).
Dessa maneira, Stuart Hall (2002) aponta para o fato de que o sistema colonial
pelo qual se refere Fanon(1968)
marcou para sempre as sociedades dominadas, foram muitas as experiências
de dominação em cada território no qual o colonizador aportava. A diversidade era
pretexto para a imposição de valores, de costumes culturais. Para Hall, a diferença se
constitui, nesses casos, em ameaça e deixa de ser uma possibilidade de crescimento,
assim;
132
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
O autor revela que a própria sucessão de termos que foram cunhados para se
referir ao colonialismo, demonstra a intensidade com a qual uma importante
bagagem política, conceitual, epistemológica estava atrelada com que cada um deve
ser compreendido discursivamente – colonização, imperialismo, neocolonial,
dependência, Terceiro Mundo. Hall explicita que, o desafio está em compreender
esses termos, em suas contradições internas e as relações que construíram
historicamente os fatos as próprias consequências do colonialismo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face aos relatos apresentados através das pesquisas realizadas nas duas
escolas públicas em Porto Velho, percebe-se o quanto a questão afro-brasileira e
africana, precisam ser trabalhadas nas escolas e na sociedade. Diante dos resultados
nas duas escolas, podemos concluir através dos relatos colhidos que há uma
necessidade muito grande em discutir essas questões nas nossas escolas públicas.
Observa-se que a lei e a prática não andam sendo bem desenvolvidas como deveriam
no ambiente escolar. A maioria das escolas não se faz lembrar, ou não dá importância
sequer ao Dia Nacional da Consciência Negra 20 de Novembro. O que faz com que
só aumente a invisibilidade social e o silenciamento em relação à história e cultura
afro-brasileira e africana em nossas escolas e na sociedade. Podemos comprovar esse
fato através das entrevistas fornecidas pelos depoentes e também dos questionários
aplicados nas duas escolas.
A legislação vigente evidencia a necessidade de tratar da história e cultura
africana e afro-brasileira como elementos importantes, indispensáveis na formação
social, escolar e acadêmica. Nesse sentido, a criação das referidas leis aponta, ao
mesmo tempo, para uma necessidade e para uma omissão. Ou seja, se por um lado, o
Brasil avança ao reconhecer a importância de tais temáticas no contexto educacional;
133
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
134
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
CEVASCO, Maria Eliza. As Dez Lições Sobre os Estudos Culturais. São Paulo: Bom
tempo Editorial, 2003.
CANDAU, Vera Maria Ferrão. Sociedade multicultural e educação: tensões e
desafios. In: CANDAU, Vera Maria Ferrão (Org.). Cultura(s) e educação: entre o
crítico e o pós-crítico. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
D’ADESKY, J. Pluralismo étnico e multiculturalismo: racismos e anti-racismos no
Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2001.
______. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In:
MOREIRA, Antônio Flávio; CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo diferenças
culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis – RJ: Vozes, 2008.
EVARISTO, Conceição. Literatura Negra: Uma poética de nossa afro-brasilidade.
Dissertação (Mestrado) – Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1996. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, Mazza
Edições, 2002. p. 19-36.
FANON Frantz. Os condenados da terra. Trad. Adriano Caldas. Rio de Janeiro:
Fator, 1983.
GOMES, Nilma. Lima. Cultura Negra e Educação. Rio de Janeiro: Revista Brasileira
de Educação, 2002. n. 22.
HALL, Stuart. Da diáspora – identidades e mediações culturais. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2002.
______. A Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A. 2002.
HOGGART, R. As utilizações da cultura. [Tradução Maria do Carmo Cary]. Lisboa:
Presença, 1973.
HERNANDEZ, Leila Leite. A África na Sala de Aula: Visita à História
Contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005.
Lei 10.639/03 (LDBEN) de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Fonte:
www.cartacapital.com.br/.../racismo-na-midia-entre-a-negacao-e-o-reconhecimento
acesso em 29 de julho de, 2014.
Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007. Disponível em: <<www.sinpro.org.br/arqui
vos/afro/diretrizesrelacoesetnico-raciais.pdf>>. Acesso em 25/09/2014.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom (org.) (Re). Introduzindo a história oral no Brasil. São
Paulo: FFLCH/USP, 1996.
MUNANGA. Kabengele (Org.). Superando o Racismo na escola. Brasília: Ministério da
Educação Fundamental, 2005.
135
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
136
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
mágica da vida, mas que pela busca do Eldorado muitas vezes foi escrita com dor
pelas mãos calejadas do trabalho e que em alguns poucos casos alternavam entre o
lápis e a enxada? Ser criança em Rondônia, por exemplo, durante a década de
setenta, no auge da colonização, conduziu a sociedade a essa contemporaneidade e
diante do exposto torna-se necessário a compreensão dessa colonização a partir da
visão das crianças daquele período para complementar de forma ainda mais precisa
esse capítulo tão importante para a história da população Rondoniense.
138
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
139
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
140
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
sociedade rondoniense.
Se comparadas as realidades vividas pelas crianças do período colonial com as
da contemporaneidade perceberemos as surpreendentes diferenças. Ser criança hoje
é sinônimo de aprendizado, crescimento, felicidade e segurança. Embora os
propósitos citados anteriormente não atinjam cem por cento da nossa infância
atualmente, na década de setenta a situação era bem mais alarmante, uma vez que a
criança mesmo estando no seio familiar formado era conduzida a um crescimento e
responsabilidade precoce.
Stuart Hall (2015) descreve esse cidadão como “o produto das novas diásporas
criadas pelas migrações pós-coloniais. Eles devem aprender a habitar, no mínimo,
duas identidades, a falar duas linguagens culturais, a traduzir e a negociar entre
elas”.
É sabido que ser criança consiste também em estar inserida socialmente. Como
ser um adulto honrado, de caráter digno e de boa conduta se não houver uma
infância que tenha contribuído para tal? Conhecer a meninice daqueles que
desbravaram a floresta amazônica revela fatos importantes que passariam
despercebidos aos olhos adultos, uma vez que a criança traz consigo essa dinâmica
no olhar conforme Pinto e Sarmento (1997, p.25) relatam:
141
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
142
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
143
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
5 CONCLUSÃO
Viajar no tempo, reviver emoções e captar a essência da história que nos faz
cidadão social, político e histórico. Essas são talvez as maiores emoções que o
percurso do ser cidadão desperta em cada um de nós. No entanto é preciso a cada dia
e a cada nova descoberta valorizar e instigar o conhecimento humano acerca da
formação da identidade cultural da sociedade em que cada indivíduo está inserido.
A história de um povo tem a importante função de contribuir para o
sentimento de “pertencimento” a um grupo de passado comum, que compartilha
memórias de acontecimentos marcantes. Ela garante o sentimento de identidade de
um povo com seu país, estado, enfim com a realidade a que se pertence, portanto se
torna fundamental o ser humano conhecer a sua história para através disso conhecer
e valorizar os elementos que compõem a sua trajetória seja social, política ou cultural
apresentada aqui a partir do olhar e da realidade infantil em áreas de colonização.
Vimos no decorrer deste artigo situações experimentadas pelas crianças que ao
acompanharem os pais no processo de migração acabavam por encarar realidades
desconhecidas e que a partir desse cenário ofertado necessitaram adaptar-se ao novo,
agregando assim a cultura já adquirida em seus lugares de origem com os costumes
nativos desta terra.
É importante destacar e concluir que embora a infância no então Território
Federal de Rondônia tenha sido envolta em trabalho precoce e dificuldades, foi nesse
contexto que a identidade do cidadão rondoniense se formou, garantindo assim um
cenário rico em diversidade cultural na sociedade contemporânea.
REFERÊNCIAS
BURKE, Peter. Cultura Popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia de Bolso,
144
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
2010.
COSTA, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal,1989.
CUNHA, Euclides da. À margem da história. São Paulo: Martin Claret, 2006.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 51 ed. São Paulo: Global, 2006.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A,
2015.
KUHLMANN JR., M. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto
Alegre: Mediação, 1998.
MOSER, Lílian Maria. Formação de Capital Social e o Ideário do Desenvolvimento
Sustentável no Mundo Rural Rondoniense: A Organização dos Sistemas
Alternativos de Produção dos Produtores de Ouro Preto D’oeste – RO. Tese de
doutorado NAEA. UFPA/2006.
PINTO, Manuel; SARMENTO, Manuel Jacinto. (coord.) As crianças: contexto e
identidades. Braga: Centro de Estudos da Criança - Universidade do Minho, 1997.
145
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
33 Dentre eles, destacamos: FIABANI, Adelmir. Mato, palhoça e pilão: o quilombo, da escravidão às
comunidades remanescentes. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
34 Publicado na obra Multiculturalismo na Amazônia: o singular e o plural em reflexões e ações/Nair
148
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
149
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
150
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
151
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
A coleta de dados foi feita nos anos de 2014 a 2016, no referido local e no
município de Guajará-Mirim/RO. Nesta etapa da pesquisa, utilizamos como
referência os estudos de Delgado (2006), que apresenta uma metodologia para a
pesquisa com História Oral e discute sobre a importância da memória para a
constituição das identidades:
35 Dentre eles, destacamos: DUBOIS, Jean et alii. Dicionário de Linguística. São Paulo, Cultrix, 1989.
36 ANGENOT, Geralda de Lima Vitor; ANGENOT, Jean-Pierre; MANIACKY, Jacky. Glossário de
bantuísmos brasileiros presumidos. Disponível em: Revista Língua Viva, Vol. 3 Nº 1 (2013). Publi-
cada no site: http://www.periodicos.unir.br/index.php/linguaviva. Acessado em: 10/04/2016.
152
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
153
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Além deste cuidado com a educação, Dom Rey revitalizou, a partir de 1934, a
antiga tradição do Vale do Guaporé: a Festa do Divino Espirito Santo. Na
comemoração pela passagem do Batelão do Divino Espírito Santo na Comunidade,
as mulheres ficam responsáveis pela preparação da comida, organizam as rezas e
cantos religiosos, além das danças e limpeza da capela da Igreja. Outras festividades
religiosas comemoradas na comunidade é a de São Francisco de Assis, festejada no
dia 04 de outubro; a outra é a de Nossa Senhora da Imaculada Conceição dos
Veneráveis, festejada em 08 de dezembro. Alguns moradores realizam os festejos em
suas residências para o pagamento de promessas pelas graças recebidas.
As pessoas nascidas na comunidade crescem mantendo a devoção em honra
ao Senhor Divino Espírito Santo, São Francisco de Assis e Nossa Senhora da
Imaculada Conceição dos Veneráveis. Todas as crianças participam das festividades
religiosas; as meninas ajudam as mães na organização da festa e os meninos são
treinados desde cedo para cantar e serem remeiros no Batelão do Divino Espírito
Santo que, depois da semana santa sobe o Rio Guaporé, parando em cada localidade
ribeirinha, alimentando e mantendo viva a fé dos católicos.
Os moradores descendentes de negros cultivam a roça com plantações de mi-
lho, feijão, mandioca, batata, amendoim, abóbora e fava, e pequenos pastos com a
criação de bovinos e suínos, além da criação de aves. A conservação dos caminhos e a
limpeza em toda a comunidade são feitos pelos homens que usam enxadas, roçadei-
ras e trator.
Segundo os idosos, a água colocada dentro do ouriço, ou a água do umbigo do
ouriço, ajuda na cura da anemia, hepatite, desnutrição e ajuda a repor a energia do
corpo. Já a castanha esmagada ajuda a cauterizar feridas do corpo. O alecrim é
queimado como incenso e usado no preparo de banhos. O manjericão também é
usado como incenso para receber os recém-nascidos e espantar maus espíritos.
Os devotos acreditam que a Festa do Divino é uma manifestação popular,
onde se une a espiritualidade e o folclore para agradecer ao Espírito Santo os dons e
as graças recebidas durante o ano anterior. O Divino Espírito Santo é representado
por uma pomba (sinônimo de mensageiro) e possuidor de sete dons: Sabedoria,
Entendimento, Ciência, Conselho, Fortaleza, Piedade e Temor de Deus. A pomba que
o representa possui sete raias ou sete fitas. Hoje são representadas por inúmeras
154
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
delas, pois uma pessoa pode acrescentar outras em pagamento a uma promessa. Os
devotos mantêm a tradição de usar no pulso uma fita tirada da coroa, para que seja
abençoado com os dons representativos do símbolo religioso ou no pedido de desejos
para que o Divino abençoe e realize a solicitação do devoto.
O acesso fluvial para a comunidade dificulta algumas transações, como ir ao
Banco, ao Posto de saúde ou realizar as compras mensais, fazendo com que os
moradores se desloquem, mensalmente, para os municípios mais próximos, como
por exemplo: Costa Marques, São Francisco e Cacoal.
Conforme Dubois (2001, p. 364) o léxico é: "Um conjunto das unidades que
formam a língua de uma comunidade, de uma atividade humana, de um locutor,
etc". Para Mattoso Câmara Jr, na obra, dicionário de Linguística e Gramática (2009, p.
194), léxico é: “[...] o conjunto de vocábulos de que dispõe uma língua dada. Em
sentido especializado, a parte do vocábulo corresponde às palavras ou vocábulos
providos de semantema, ou vocábulo que é lexema. [...].”
Os negros do Guaporé assimilaram traços linguísticos indígenas, espanhóis e
portugueses. Assim, a partir do contato, o léxico dessas línguas influenciou o léxico
da população do Vale do Guaporé, que, em sua maioria, era negra. Dessa forma, os
vocábulos introduzidos no falar guaporense criaram peculiaridades lexicais que, de
certa forma, modificaram o léxico que a população negra utilizava cotidianamente.
Assim, considerando-se que as palavras se distribuem no léxico, por associação de
significados, formando campos semânticos, compreende-se que o léxico expresso
pelas mulheres negras entrevistadas reflete as marcas identitárias linguísticas da
Comunidade Quilombola de Pedras Negras.
A partir dos relatos registrados nos depoimentos das mulheres negras da Co-
munidade remanescente de quilombolas de Pedras Negras e do contato com familia-
res, que também relataram suas histórias de vidas, informalmente, foi possível re-
constituir, de certa forma, a memória e a identidade coletivas. Tal procedimento foi
fundamental para o reconhecimento das singularidades, representações e, conse-
155
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
156
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
157
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
158
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
37 Mestre em Letras pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Jornalista e professor universitá-
rio. Membro do Grupo de Estudos sobre Aquisição da Linguagem (GEAL/UNIR).
159
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
160
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
3 IDENTIDADE E CULTURA
res que compreendem a identidade como algo que está em constante movimento.
Fazemos uso das explicações de Stuart Hall (1998) e Homi Bhabha (2013) que não
tratam a cultura como um produto estabelecido, mas como um conjunto de patrimô-
nios constituídos e que se reinventam e se ressignificam no curso das gerações. O
homem é um ser completamente adaptável. Nessa perspectiva, ele é o resultado do
meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acu-
mulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas
gerações que o antecederam. Para Homi Bhabha (2013), nenhuma cultura pode ser
jamais unitária em si mesma, nem simplesmente dualista do ponto de vista da rela-
ção do “eu” com o “outro”. O mesmo autor defende que existe um terceiro espaço
chamado de “entre-lugares” onde os sujeitos se formam. Esse “entre-lugares” seria
uma espécie de “excedentes da soma” das partes da diferença que, na maioria das
vezes, são expressas como raças, classe, gêneros e outros.
A identidade sob a perspectiva existencialista pode ser entendida como algo
que se move, se transforma. Algo não fixo que pode ser negociado, renegociado,
significado ou ressignificado, dependendo do espaço e do tempo em que se encontra
o sujeito. A esse respeito Bauman (2005) aborda a questão da identidade como fruto
da contemporaneidade. Ele faz uma metáfora para explicar esse dinamismo
característico do processo de transição entre a modernidade e a fase atual, tratando-a
a partir de mudanças globais. Para esse fim, utiliza o conceito de “modernidade
líquida” ou “fluidez”.
162
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
39 Tomamos o contexto não necessariamente como o ambiente físico, o momento e o lugar da enuncia-
ção. Conforme Maingueneau (2013) estão relacionados ao contexto o conhecimento de mundo, ou a
memória, e o contexto, isto é, as sequências verbais encontradas antes e depois da unidade a obser-
var.
40 Em Orlandi (1999) a noção de formação discursiva é básica na análise discursiva, pois permite com-
preender o processo de produção de sentidos. Define-se por aquilo que numa formação ideológica
dada, a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica dada – determina o que pode
e deve ser dito.
163
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
vai além de uma simples sequência de signos no decorrer de uma frase ou proposi-
ção. O enunciado não é nem inteiramente linguístico nem exclusivamente material,
mas indispensável para que se possa dizer algo carregado de sentido. Para Foucault
(2012, p. 104), o enunciado “é uma função de existência que pertence, exclusivamen-
te, aos signos, e a partir da qual se pode decidir, em seguida, pela análise ou pela in-
tuição, se eles fazem sentido ou não.” Logicamente, para que possamos compreender
o enunciado, precisamos mobilizar saberes diversos, recorrer à memória, tecer hipó-
teses, remeter-nos ao contexto que permeia esse enunciado, pois “a própria ideia de
um enunciado que possua sentido fixo fora de um contexto torna-se insustentável.
[...] o que se quer dizer é que, fora do contexto, não podemos falar realmente do sen-
tido de um enunciado” (MAINGUENEAU, 2002, p. 21).
É sob o ponto de vista dos conceitos abordados que vamos tratar os discursos
apresentados pelos sujeitos desta pesquisa. Entendemos que, como tarefa, a Análise
de Discurso não procura o sentido “verdadeiro” nas palavras. Ao considerar o ho-
mem e sua história, bem como as condições de produção da linguagem e as inter-
relações entre sujeitos e a língua, o que faz é oferecer caminhos para diferentes inter-
pretações. É nesse sentido que age o analista, a partir do texto como unidade que
permite o acesso ao discurso, fazendo verificações, tomando-o “como lugar da repre-
sentação física da linguagem: onde ela é som, letra, espaço, dimensão direcionada,
tamanho. É o material bruto. Mas, é também espaço significante” (ORLANDI, 1996,
p. 60).
5 DESTERRITORIALIZAÇÃO E RETERRITORIALIZAÇÃO
164
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
41 “São fatores de persistência, ou permanência, os que contribuem para a continuidade dos modos
tradicionais de vida; e de transformação, os que representam a incorporação aos padrões modernos”.
(CANDIDO, 2010, p. 232)
165
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
166
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
6 ANÁLISES E RESULTADOS
DP1a: Isso aqui já era campo, trinta e cassetada de ano que eu era
dono disso aqui. Já era desmatado. Então, quando eu vim pra cá,
quando foi pra vim pra cá, eu num aceitei dinhero, que eu morava lá,
dinhero de casa, fiz a negociação com ele, eu num quero dinheiro de
casa. O que eu tive aqui você bote lá. Por exemplo, lá tinha água
incanada, na minha casa, eu tinha tudo, como pobre, mas eu tinha
minhas coisa arrumada.
Tinha água incanada, nas casa tudo. Eu falei, ó, eu vô querê que você
faça estrada pra mim, porque lá eu tinha estrada, ligando a minha
casa, eu tinha água incanada, na minha casa, eu tinha casa boa pra
mim morá, então, isso quero que faça pra mim. Eu num quero
dinhero dessas coisa, eu num quero, eu quero a benfeitoria. [grifo
nosso]
Por meio desse discurso, podemos observar o desapego aos bens materiais e a
tudo aquilo que o dinheiro, possivelmente proveniente da venda da casa, poderia
comprar. Como a intenção do ribeirinho não era lucrar com a venda das benfeitorias
da propriedade, ele não aceitou fazer nenhum tipo de negócio com os representantes
da usina ou receber algum recurso financeiro, porque dinheiro, nessas circunstâncias,
não era o seu objetivo. Uma das marcas desse discurso é a simplicidade da vida
167
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
168
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
42 Para Wagley (1988, p. 157), “quando um brasileiro diz minha família, refere-se, geralmente, a um
grande grupo constituído, não só por seus próprios parentes, como também pelos de sua mulher. [...]
Em geral, à unidade menor chama de ‘minha mulher e filhos’ reservando a palavra ‘família’ para o
círculo mais amplo de parentes”.
169
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Neste caso analisado, mesmo o ribeirinho tendo ido para uma propriedade
não muito distante da área alagada, cerca de dois quilômetros, isso não foi o
suficiente para que ele continuasse com a mesma rede de relações, pois os outros
moradores da comunidade de São Domingos também tomaram rumos diferentes e
foram continuar suas vidas em outros espaços.
A reterritorialização, assim como a desterritorialização, é um processo
extremamente desgastante, principalmente, neste caso que estamos analisando, pois
o homem possui um comportamento bastante familiarizado com a mata, os rios, e
tudo aquilo que compõe o universo ribeirinho. Para se ter uma ideia da dimensão
dessa relação entre o ribeirinho e o seu espaço vivido, além dos fatores econômicos,
ligados aos recursos naturais e à subsistência do grupo, o imaginário popular dos
povos da floresta mantém um sistema de representações ligado à conservação da
natureza, segundo Diegues (1993, p. 47), revelador da “existência de um complexo de
conhecimentos adquiridos pela tradição herdada dos mais velhos, de mitos e
simbologias que levam à manutenção e ao uso sustentado dos ecossistemas
naturais”.
Por isso, o ribeirinho ao dizer que gosta da nova propriedade onde está
morando com a família, mas sente muita saudade da antiga localidade, deixa
transparecer em seu discurso a dor provocada pelo processo de desterritorialização e,
mais que isso, deixa evidente que os modos tradicionais de vida, mantidos na
comunidade de São Domingos e a relação com o novo espaço não conferem os
mesmos sentidos. Isso é o que fica subentendido com o enunciado “Hoje, eu tô morano
cum minha família, mas que eu assim, ó, você acredita que é aquela saudade, aquela coisa... eu
num esqueço nunca na vida! Nunca, nunca”, [grifo nosso], ou seja, todo o tempo que
ele passar no sítio Bom Jardim não será suficiente para esquecer a vida que levava na
comunidade de São Domingos. Ao mesmo tempo em que vai significando a história,
o ribeirinho vai se constituindo em sujeito ao produzir o discurso, pois existe uma
ligação essencial entre a materialidade das palavras e a sua exterioridade, a memória
(ORLANDI, 1996, p. 14). E como os sentidos não estão nas palavras, mas além delas,
é possível perceber os jogos de sentidos possíveis que permeiam os discursos em
contextos de acontecimentos importantes como os que estamos investigando
(desterritorizaliação e reterritorialização).
170
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
DP2a: Foi muita tristeza. Aqui, num tem mais pexe, é poco demais e
é muito concorrido demais, é muita gente. Aí, só que num tem, num
dá pa mim pescá. Pexe mermo, aqui, pa gente sobrevivê de pexe, lá
de cima da cachoera aqui num dá não.
Sobre a pesca, tirô o nosso lazê né. Durante 5 ano, nóis nunca pescô aqui. O
mais difíci foi a pessoa se adaptá aqui né, se acustumá, agora, depois que se
acustuma... Mas no cumeço, durante um ano, pá pudê se acustumá foi difíci.
[grifo nosso]
171
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
172
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
173
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso e Leitura. São Paulo: Cortez Editora, 2012.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Interpretação - Autoria, leitura e efeitos do trabalho
simbólico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e Discurso: Uma Crítica à Afirmação do Óbvio. 3ª ed.
São Paulo: Editora da Unicamp, 1997.
SILVA, Maria das Graças S. N. O Espaço Ribeirinho. São Paulo: Terceira Margem,
2003.
174
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
43 Graduado na área de Ciências Sociais pela Universidade Luterana do Brasil – ULBRA. Graduado na
área de História pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR. E-mail: k.coelho7176@gmail.com.
44 Graduado na área de História pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR. E-mail: camposoli-
veira3@bol.com.br.
175
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
2 CULTURA
177
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
fazer dinheiro com a agropecuária, muitos verdes presentes, uma mina de ouro. Em
contrapartida, era o sonho de pessoas de origem humilde querendo um pedaço de
terra e desse pedaço de terra tirar o sustento e viver tranquilamente com uma posse e
ter orgulho de dizer “essa terra é minha”.
Na região onde hoje se situa o Estado de Rondônia, sofreu influencias de
vários outros lugares no que se refere a cultura, desde a construção da Estrada de
Ferro Madeira Mamoré com a intensa vinda de gregos, africanos, japoneses, chineses,
italianos, espanhóis, portugueses entre outras etnias e raças, como também o
processo de colonização nas décadas de 1970 e 1980, onde houve um processo de
migração para essa região. Conforme Valdir Aparecido de Souza (2011, p. 32):
migrantes que geralmente eram do centro-sul do país com fortes ligações com a
agricultura. As cidades encontradas nessa região são: Ariquemes, Jaru, Ouro Preto,
Ji-Paraná, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena (SOUZA, 2011, p. 34).
No campo da cultura no interior de Rondônia em específico a cidade de Jaru,
se encontram algumas festividades que representam a região. Uma cultura arraigada
nos costumes de quem se situa na zona rural, mesmo estando em locais urbanos,
essas festividades trazem a memória do cidadão jaruense suas origens, onde muitos
lembram dos seus antepassados, nos quais viveram no campo.
179
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
lugar.
Em Jaru interior de Rondônia, existe uma festa que se destaca pela sua
popularidade, apesar de ser nova no ramo, tem esbanjado elegância e currículo para
tal evento. A Festa Junina da Avenida Tiradentes, surgiu em 2005 com uma
disposição de um grupo de vizinhos, o intuito inicial era de juntar algumas famílias e
se divertir, todos deveriam se vestir a caráter, ou seja, de caipira, as mulheres com
vestidos floridos, os homens de camisa quadriculada, cada um deveria trazer um
prato característico da culinária da época, inclusive alguns queriam vender os pratos
e de fato foram vendidos por um valor simbólico, apenas cinquenta centavos,
improvisaram um caixa e tiveram a quantia arrecadada no valor de dezesseis reais,
esse valor foi doado a APAE, por sugestão de um dos participantes o “Seu Freitas”.
As barracas foram construídas dentro do quintal da residência, foi elaborada uma
fogueira, mas com preocupação com a segurança do lugar, não foi acessa, pois o local
era pequeno.
Antes que terminasse a festa os participantes já estavam matutando como
deveria ser a do ano seguinte, já não queriam realizar no quintal da “Dona Cida”,
pois o local ficou muito pequeno. Cada ano vem aumentando o número de
participantes e de apoiadores, os próprios idealizadores do evento quando a data do
evento se aproxima, mobilizam-se para arrecadar fundos para a festa junina da
Avenida Tiradentes. Percorrem as ruas de Jaru, andando pelos comércios solicitando
ajuda dos empresários. Contratam participações como bandas locais para animar o
público presente, a participação de uma quadrilha famosa na região por nome de
“Quadrilha da Vaca Morta”, essa quadrilha circula por todo o Estado de Rondônia
abrilhantando as festas caipiras da região com sua tradicional dança.
No ano de dois mil e quinze essa festa foi realizada pela décima primeira vez
com muito sucesso, com a presença da liderança política da região e empresários, a
festa da Avenida Tiradentes ficou muito famosa na região trazendo pessoas das
cidades vizinhas para participarem, tudo isso acontece por causa de um povo que
não deixa de comemorar e relembrar suas raízes caipiras, representadas na cultura
180
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
do interior, onde todos relembram os migrantes que deram inicio a região vivendo
do campo, e que através destes hoje a cidade se encontra fundada e estruturada.
2.4 Cavalgada
181
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
182
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
3 IDENTIDADE
183
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
em imigração e migração faz com que os indivíduos levam sobre si uma diversidade
louvável de valores culturais por uma esfera de diferentes localidades, esse processo
se resulta no que se domina choque cultural, logicamente isso acontece pelo fato de
se colocar diferentes pensamentos e valores culturais num determinado espaço,
Canclini (2008) denominou esse processo de hibridação.
Utilizando dos meios sociológicos para desvendar tal movimento dessa região
no interior de Rondônia, segundo Bittencourt (2014) “a reflexão sobre o conceito de
identidade é uma tarefa multidisciplinar, pois nenhum discurso epistemológico é
capaz de resolver isoladamente essa questão”, para auxilio dessa missão deve-se
utilizar as ideologias e analises de Stuart Hall (2006), esse pensador verificou três
visões de identidade que durante o decorrer da história foram desenvolvidas. Na
primeira visão encontra-se a clássica identidade do sujeito do iluminismo onde
observa que a identidade desse homem é o centro essencial do “eu”, possuído,
unificado e dotado de capacidade de razão, consciência e ação. Esse centro consistia
num núcleo interior que nascia com ele e se desenvolvia e sempre permanecendo o
mesmo. O segundo sujeito era o sociológico em que o núcleo interior não era
autônomo e auto-suficiente, mas era uma reflexão da crescente complexidade do
mundo moderno e a consciência que o sujeito era formando na relação com outras
pessoas mediando valores, sentidos, representações e símbolos, ou seja, cultura. De
acordo com essa teoria o “eu real” ainda existe, porém ele é modificado e num
diálogo com os mundos culturais exteriores, esse processo é chamado de interação. O
terceiro e ultimo sujeito é o pós-moderno, esse se dificulta, pois não tem uma
identidade fixa, essencial permanente. A identidade se torna móvel e adaptável num
processo continuo de acordo com sistemas culturais que o rodeia. Diferentemente do
sujeito do iluminismo que se define biologicamente, esse sujeito pós-moderno se
define historicamente, assumindo identidades diferentes em conjunturas
diferenciadas, num processo de deslocamentos identitários continuados.
Na década de setenta existiu um fluxo migratório para as terras de Rondônia.
O país contempla momentos políticos conturbados, as relações de poder estão
envoltos de um estado civil-militar, a busca por terras acontece de forma
descontrolada, o governo prometendo o que não podia subsidiar. O fluxo migratório
principalmente do centro sul do país, Rondônia se torna uma saída geopolítica, para
184
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
185
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
186
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
A memória tem o poder de trazer ao presente aquilo que se passou, que está
arraigado na lembrança do passado. Ao relembrar o passado aparecem formas de
vivências de determinado lugar social através de referências significativas e
imaginários de um determinado grupo social. Ernesto (2014) acrescenta “pensamos a
memória coletiva como fundadora de uma temporalidade, uma estética, uma
identidade, uma construção social da realidade, que designa a representação que
fazemos de nós na sociedade que nos circunda”.
A identidade de Jaru é construída conforme a memória coletiva existente na
atualidade, onde se percebe um povo sofrido que veio de outras regiões em boa parte
de situação financeira desagradável para se instalar em terras para plantar, colher e
viver. Uma cidade onde a identidade se reflete na força de vencer. Quando se
observa um jaruense, principalmente aqueles imigrantes das décadas de 70 e 80,
percebe um cidadão gasto pela labuta diária na agropecuária, mesmo tendo apenas
um “barraco” olha para traz e diz: “a vida não foi fácil, mas batalhei e venci”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
187
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
189
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 AMAZÔNIA OU AMAZÔNIA(S)?
48 Esse termo não possui definição única e pode ser utilizado, entre outras maneiras, para descrever
elementos estéticos com relação ao ambiente urbano da Modernidade ou do chamado movimento de
Pós Modernidade (HARVEY, 2014). Utilizado a partir na lógica do discurso do governo militar da
época (1970), seria, conforme Moser (2006), uma forma de integrar a região amazônica a outras áreas
do país, o que foi feito entre outros aspectos a partir da implementação de projetos econômicos na
região. A mensagem política dessa lógica, por parte desse estado, é transmitida transversalmente,
na qual a Amazônia não era “produtiva” graças a sua lógica extrativista, logo, esse espaço só poderia
ser uma região se fosse inserido nela o sentido econômico e social do capital financeiro e empresari-
al.
191
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
192
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
193
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
vez que apresenta uma dada relação produtiva da família com a terra, com o traba-
lho, com a produção econômica, gerando uma produção simbólica no convívio en-
tre pessoas que compartilham essas práticas que, ao serem compartilhadas no âmbi-
to de uma cultura, geram uma temporalidade49.
Essa institucionalização de uma temporalidade está baseada no trabalho co-
mo uma norma ética e, dessa forma, problematizar o cotidiano de migrantes centro-
sulistas que se dirigiram a Rondônia pós década de 1970, por meio da noção de e-
thos colono, é perceber as várias reconstruções de significados no âmbito social e cul-
tural que migrantes institucionalizaram em sua memória coletiva, com relação à
migração para Rondônia, o que será aprofundado mais à frente ao se refletir sobre o
discurso ufanista de heróis e pioneiros por parte desses migrantes.
mantinha um diálogo entre parte da sociedade civil, como latifundiários e grandes empresários.
194
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
195
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
minifúndios e latifúndios.
Os projetos de colonização tinham uma justificativa institucional registrada
em relatórios do INCRA, SEDAM, além do discurso de “vazio demográfico”,
proferido pelo militar no exercício da presidência, General Emílio Garrastazu
Médici, em alusão aos riscos de grupos narcotraficantes nas fronteiras do país,
entretanto, as verdadeiras razões estavam relacionadas à manutenção da estrutura
fundiária das regiões nordeste e sudeste do país, a isso se ligando as razões
estruturais para a presença de projetos de colonização na Amazônia projetados pelo
Estado. Assim:
196
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
197
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
198
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Ainda para Moser (2006), na maioria das vezes, os homens como patriarcas
deixavam a família no seu local de origem que, no dizer da época, ‘vinham na fren-
te’, para dar início ao roçado, construir um “barraco” e, em um período de alguns
meses, buscar a família ou mandar buscar através dos seus parentes ou conhecidos
e muitas vezes nesse retorno vinham outros parentes. Todas essas estratégias que
trouxeram movimentos humanos para a Amazônia, pós década de setenta, são ele-
mentos políticos presentes nas estratégias do governo civil-militar para Amazônia
que foram consubstanciados no programa PIN - Política de Integração Nacional.
199
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Figura 3– Propagando estatal para atrair nordestinos durante a segunda guerra mundial
52 O imaginário construído pela questão dita acima é ainda muito forte entre os rondonienses; basta
olhar o hino de Rondônia que em várias passagens faz referência a essa forma de “herói” e
“pioneiro”, ou mesmo a última propaganda da Assembleia Legislativa de Rondônia, em 2015,
financiada com o dinheiro público e veiculada em rede de TV aberta no estado, com o seguinte
trecho: “Diante de tanta beleza só nos resta trabalhar, porque todos nós somos destemidos
pioneiros”. Reflete-se que, se uma equipe contratada de publicitários decide realizar uma
propaganda com esse enfoque político é porque sabe que essa simbologia será consumida e aceita,
uma imagética de Rondônia como terra de heróis que, ao invés de mostrar, na realidade, esconde.
Essa estratégia de marketing esconde possibilidades de reflexão a respeito de outros grupos sociais
que também são rondonienses e são extremamente vulneráveis, do ponto de vista do acesso à
cidadania. Ainda ligando à cidadania a ideia de ser, ao dizer da propaganda, um “destemido
pioneiro”, o que também não garante acesso a condições positivas de bem-estar social, bastando
para isso perceber a qualidade no acesso a serviços públicos básicos como saúde e educação em
Rondônia.
201
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
54Pensou-se
este termo a partir de (EDGAR; SEDGWICK, 2003). São grupos com práticas de significa-
ções comuns e compartilhadas no âmbito de uma cultura.
204
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
205
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
206
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
2 ICONOGRAFIA E ICONOLOGIA
208
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
seguir:
210
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Fonte: http://www.efecade.com.br/1907-estrada-de-ferro-madeira-mamore/
211
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
212
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
sétimo e oitavo anos, onde alguns relataram o abandono atual da estrada de ferro. E
um aluno do sétimo ano relatou ter conhecido a história através da leitura do livro A
Ferrovia do Diabo.
Sobre as percepções iconográficas e iconológicas dos alunos, pode-se afirmar
que, por não possuírem arcabouço teórico suficiente nessas séries, não foi encontrado
um nível de interpretação iconológica nas respostas. Já os dois primeiros níveis da
análise de imagens de Panofsky puderam ser identificados nas respostas.
O primeiro nível, o pré-iconográfico, descritivo, pôde ser obervado no objeto
principal citado: o trem. Foi o objeto que mais chamou a atenção, e é o principal
objeto da foto. Além disso, um dos alunos citou as cores vibrantes da locomotiva.
Seria esse um indício do punctum de Roland Barthes (2012)? O punctum é algo que
fere, que prende a atenção do telespectador da imagem. É algo que não foi
propositalmente colocado pelo autor da imagem, mas que não poderia deixar de
estar lá. O autor da fotografia interferiu na escolha do objeto, no ângulo. Ora, mas
por se tratar de uma foto colorida, seria inevitável a apresentação das cores. Mas
somente um aluno as considerou vibrantes. Isso provavelmente chamou sua atenção
a ponto de ser necessário descrever no questionário. Já alguns alunos não tiveram
sua atenção prendida por nada. E era essa a resposta dada: nada. Barthes (2012) nos
fala das fotos unárias, que são aquelas banais, que não despertam interesse e atenção
das pessoas. Um dos alunos disse se tratar apenas de uma locomotiva, na opinião
dele não era nada demais, mesmo este mesmo aluno sabendo que a imagem remetia
à construção da história local.
O segundo nível de análise está relacionado ao conhecimento cognitivo do
observador. A maioria dos alunos afirmou ter conhecido a história através dos
professores, e essa grande maioria sabia qual o nome do local e a relação com a
criação de Porto Velho, mesmo que de forma superficial, sem reflexões profundas.
Alguns dos alunos do sexto ano tiveram esse contato no Ensino Fundamental I, pois
isso é percebido pelas respostas, que remetiam aos professores. Bem como os alunos
do sétimo e do oitavo anos demonstraram esse conhecimento. Porém, ao que tudo
indica, esses últimos alunos ou ainda traziam memórias do Ensino Fundamental I, ou
possivelmente estudaram anteriormente no Ensino Fundamental II em outras
escolas, pois sabe-se que na escola pesquisada não é aplicado, por opção, o ensino de
213
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
214
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
afirma que o documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, mas sim
produto de uma sociedade. Sociedade essa a detentora do poder na época de sua
produção. Esses documentos possuem uma intencionalidade inconsciente, mesmo
esquecidos. O historiador tem a função de estar atento e analisar esses documentos
antes de transmiti-los.
REFERÊNCIAS
215
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
57 Professor Adjunto da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Doutor em Sociologia pela UFS-
CAR. Coordenador do Grupo de Pesquisa CEPRES - Centro de Estudos Políticos, Religião e Socie-
dade. E-mail: marcosvinicius5@yahoo.com.br.
58 Graduando em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Amapá-UNIFAP, membro
59 Dom Luciano Mendes, presidente da CNBB em 1992. A citação do bispo é para a apresentação do
livro de Piero Gheddo: O PIME, uma proposta para a missão, de 1989.
217
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
para as Missões Exteriores foi criado pelo Mons. Pietro Avanzini, em Roma, com as
mesmas características do seminário milanês. Em 1912, os dois institutos propuseram
à Propaganda Fide que fossem unificados, fato que aconteceu só em 1926 através do
documento Motu Proprio Cum Missionalium Opera, do Papa Pio XI; e assim foi criado o
Pontifício Instituto das Missões Exteriores, com sede em Milão (NEGRI, 1996).
Mesmo antes da unificação os dois institutos já possuíam diversas missões por
vários países, segundo as orientações da Propaganda Fide: Egito, Sudão, Paraguai,
Estados Unidos, China, Albânia e países do Oriente Médio, dentre outros
(PIMENTEL, 2015). Estas missões tiveram sua paralização nos anos que seguiram à
Segunda Guerra mundial (1939-1945), por conta da situação interna de alguns países:
padres foram expulsos, inclusive, ou foram proibidos de entrar, tendo que retornar à
Itália, impedindo-se assim suas atividades missionárias. Um caso peculiar aconteceu
no então Território Federal do Amapá (TFA) com os missionários da Sagrada
Família, os quais supostamente tiveram que deixar a região por conta de sua
nacionalidade, uma vez que pertenciam ao principal país do eixo, a Alemanha.
Quase contemporaneamente aumentavam os pedidos para que o PIME se
fizesse presente no Brasil, resultando na vinda de vários missionários para o País
(que ajudariam na situação da igreja local em estado de emergência e necessidade); e
em dezembro de 1946 deu-se a chegada dos três primeiros padres do Pontifício
Instituto. Com a procura de novas terras para a atividade missionária dos jovens
padres que não podiam ir para as tradicionais áreas de missão (África, Ásia e
Oceania), o Brasil tornou-se um dos principais núcleos de atuação do PIME. Entre os
três primeiros missionários, o superior deles, padre Attilio Garré, ficou em São Paulo,
o segundo, padre Aristides Piróvano, foi para o Amazonas, e o terceiro, padre José
Maritano, dirigiu-se para Assis, no interior de São Paulo (GHEDDO, 1989).
218
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Fonte: http://seminariopime.blogspot.com.br/p/pime.html
Portanto, aos poucos o trabalho do PIME foi atingindo áreas mais afastadas
dos grandes centros, as quais eram prioridade do instituto. Além disso passou a
estimular a participação leiga nas pastorais, através da criação de irmandades e
movimentos de comunidades eclesiais de base (CEBs), a partir de meados dos anos
1960.
Com a relação à chegada do Pontifício Instituto no Norte do País, em 1947 o
219
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
padre Aristides Piróvano fez uma viagem de exploração no estado do Pará, para
estudar a possibilidade de o PIME iniciar uma missão nessa área. Ao mesmo tempo,
o bispo de Manaus oferecia campos de apostolado em sua diocese (DONEGANA,
2016). A Amazônia era então considerada, neste sentido, área de cristianização
imatura, apesar de não ser uma região de paganismo, como ocorria na Ásia, África e
Oceania. Porém, era um território que, apesar ser habitado por uma população
predominantemente católica, podia ser considerado como um campo de missão, pois
aqui a igreja não fora fundada de modo estável, dependendo quase que
exclusivamente de leigos e de meios provenientes do exterior (LOBATO, 2013).
Assim, os padres do PIME se engajaram primeiramente no estado do Amazonas,
onde fundaram a diocese de Parintins, e posteriormente foram para Belém. Em 1948
deu-se a chegada do instituto no território Federal do Amapá, a pedido do Bispo de
Santarém, Dom Anselmo Pietrulla (até aquela data a igreja de Macapá fazia parte da
prelazia de Santarém). A proposta foi logo aceita, mas dependia de uma visita dos
padres à região.
Dom Anselmo, preocupado com as difíceis condições que os padres tinham
encontrado no TFA, recorreu à nunciatura para que insistisse junto a eles a não
desistirem da missão. Em resposta, Dom Carlo Chiarlo, o núncio apostólico escreveu-
lhe:
Não tema, que os Missionários do PIME voltem atrás. Exatamente porque o Território
é tão abandonado, eles o aceitarão. Disseram-me que procuravam uma zona de missão; pois
bem, encontraram-na. Não se preocupe, se a situação é tão grave assim como o senhor o
descreveu, o Amapá é o lugar ideal para os missionários do PIME. O senhorio não os
conhece bem (COLOMBO, 2008 apud CUNHA, 2013, p. 13).
O padre Aristides Piróvano, contando com um grupo de 13 sacerdotes (recém-
chegados da Itália), deixou a cidade de Belém e chegou à Macapá para assumir a
igreja carente da presença estável de padres (DONEGANA, 2016). Neste momento,
deu-se o início da presença do PIME no Território Federal do Amapá. No recém-
criado território, os padres irão se deparar com uma religiosidade e um espaço
totalmente diferente dos que estavam acostumados em missões anteriores, pois:
220
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
221
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Era uma área muito grande [...] tudo era decidido em Santarém, a
região era muito grande, por isso vieram vários padres pra cá, vieram
13 padres, o nosso superior Dom Aristides Piróvano foi quem
trabalhou para cortar de Santarém. Aí em 1949 veio a ordem de
Roma: agora aqui era a prelazia de Macapá”
60 Dante Bertolazzi é padre do PIME, e chegou no Amapá no ano de 1971 para desenvolver suas ativi-
dades missionárias a pedido de Aristídes Piróvano. Atualmente exerce a função de superior regional
(que engloba os estados do Amapá e Pará). Entrevista concedida em 3 jul. 2016.
61 Trecho da entrevista com o padre Dante Bertolazzi, concedida em 20 out. 2016.
222
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
No ano de 1961 o padre Biraghi criou aqui duas salinhas de aula, que
depois foi se ampliando. Era chamada de porto de Macapá, que se
tornou mais tarde a escola Padre Simão Corridori. Essa escola foi a
primeira escola do município de Santana, e era também uma forma
de evangelização. Os padres naquele tempo lançavam mão de quê?
De escolas, cinema, esporte e rádio, também para evangelizar.
62 Padre José Cláudio Gomez Barros é pároco da paróquia Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, Santa-
na. Este sacerdote, natural de Gurupá (pertencente as ilhas do Pará), migrou nos anos 60 para o mu-
nicípio de Serra do Navio por motivos de trabalho. Já na região, entrou em contato com o padre Ân-
gelo Biraghi, que o levou para o seminário. Na condição de sacerdote, ele desempenhou várias ativi-
dades missionárias no município de Santana, inclusive construindo novas igrejas.
63 A Voz Católica, n. 57, 27 nov. 1960.
223
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
o cine João XXIII, criado em 1946, que funcionava ao lado da catedral de São José.
Ambos os cinemas divertiam o público com uma programação variada, pois não
apresentavam apenas filmes religiosos.
A procura por esses espaços era grande, isso pelo fato de o território contar
com apenas três cinemas: os dois citados e o Cine Teatro Territorial, o qual começou
a funcionar a partir de 1946 sob a assinatura de um contrato com a Twenty Century
Fox, que passou a apresentar longas metragens em Macapá. Cabe lembrar que nesta
época não havia televisão nas casas amapaenses, o que tornava mais atraente conhe-
cer e frequentar os cinemas que exibiam as programações.
Esses espaços de sociabilidade garantiam com mais facilidade a evangelização,
principalmente da juventude, que os frequentavam constantemente. Sobre esse as-
pecto o padre José Cláudio relatou que:
224
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Fonte: https://porta-retrato-ap.blogspot.com.br/2012/01.
64 Extraído de <https://porta-retrato-ap.blogspot.com.br/2012/01/especial-independente-esporte-
clube-50.html>. Acesso em: 15 de março de 2017
225
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Dom Aristides teve grande importância para o crescimento das obras missio-
nárias, e através de sua influência e contato com as lideranças eclesiásticas de Roma,
pôde avançar nas atividades evangelizadoras. Exemplo disso foi a vinda para Amapá
do industrial Marcello Candia, que construiu inúmeros espaços físicos para atender
principalmente aos pobres da região.
Foi a convite de Dom Aristides Piróvano que o italiano Marcello Candia veio
morar na cidade de Macapá, no ano de 1965. Candia foi um grande empresário com
formação em química e ciências biológicas que herdou de seu pai uma das mais im-
portantes indústrias europeias no campo da química. Através da amizade com o pre-
lado amadureceu a ideia de se tornar um missionário leigo com preferência pelos
pobres, para ajudá-los. Ele escrevia bastantes cartas, inclusive para o bispo, falando
de sua vontade. Após a reconstrução de sua fábrica (que explodiu no ano de 1955 por
conta de um acidente), decidiu vender tudo e vir para o Brasil colocar em prática su-
as vontades de missionário (GHEDDO, 1989).
É importante considerarmos as ações evangelizadoras do italiano, pois através
delas o catolicismo, na região do território, se fortaleceu ainda mais, pelo fato de ha-
ver um contato mais intenso com a população. Exemplos disso são os hospitais e a-
brigos para menores que foram construídos. Suas ações estavam voltadas de maneira
mais intensa à assistência médica, o que o levou a ser considerado um dos maiores
pioneiros do progresso na Amazônia neste campo de atuação. Dom Piróvano, neste
sentido, era seu maior protetor na cidade de Macapá, e concedeu-lhe em 1965 o título
de missionário leigo da prelazia. A maior construção, no campo da assistência médi-
ca, no território foi o hospital São Camilo, na capital Macapá (GHEDDO, 1989).
Segundo Gheddo (1989), a cidade de Macapá no ano 1965 contava com apro-
ximadamente 18.000 (dezoito mil) habitantes, e o hospital projetado por Candia e
Dom Piróvano (que conseguiu o terreno para a sua construção) nos anos cinquenta
parecia desproporcional às necessidades da região, mas hoje é perfeitamente ade-
quado a uma das maiores cidades da Amazônia. Conforme o autor, a obra teve início
no dia 25 de janeiro de 1960, na periferia de Macapá, e enfrentou várias dificuldades,
tanto para se encontrar material de construção no local quanto a própria falta de tra-
balhadores. Era o próprio Dom Aristides que supervisionava a obra, junto com al-
guns padres e leigos do PIME. Com o grande financiamento de Marcello Candia,
226
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Fonte: http://casteloroer.blogspot.com.br
Neste ínterim, havia uma certa desconfiança, por parte do governador militar
do território, Ivanhoé Gonçalves Martins, em relação à construção de um hospital
para ser doado ao Amapá. Segundo Gheddo (1989), ele suspeitava frequentemente
do italiano:
227
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Além do hospital São Camilo, que foi a obra mais importante de Marcello
Candia, e pela qual foi chamado a Macapá por Dom Aristides, outras merecem
destaque no campo da assistência social e também no que tange à estruturação e
crescimento da igreja, entre elas o convento em Macapá, chamado de Carmelo, para
as monjas carmelitas, e a construção de um seminário para os camilianos dentro do
recinto do hospital São Camilo.
Suas ações chegaram ao município de Santana com a construção da casa da
hospitalidade, que foi dirigida pelo padre Luis Brusadelli, do PIME. Ela hospeda
crianças e adolescentes abandonados, além de portadores de necessidades especiais.
Além desta, houve também a construção de vários leprosários por diferentes estados
da região Norte para atender, principalmente, aos portadores de hanseníase. O mais
importante deles é o leprosário de Marituba, fundado em 1978, cuja construção foi
tocada por Aristides Piróvano.
Todas essas ações elencadas mostram como era precária a presença do Estado
no território federal, que crescia demograficamente. Nesse sentido, a criação desses
espaços por parte da igreja católica tinha a função de preencher esta lacuna de
abandono por parte do Estado, ao mesmo tempo em que a instituição firmava sua
importância política e ideológica diante do advento do Brasil como um país
republicano laico. O próprio movimento de criação de dioceses reflete esta
preocupação, especialmente na Amazônia. No Amapá a igreja reforçava sua
importância frente a uma população que vivia em péssimas condições sanitárias, com
pouca oferta de ensino público e de espaços de lazer, como cinema.
Em entrevista com o padre Dante Bertolazzi, ele deixa claro que a criação
desses espaços de evangelização era primordial para a formação do povo amapaense
e se tornava também o foco e um dos objetivos dos padres para assim forjar uma
massa de católicos seguidores do catolicismo oficial, sendo assim um pilar da
Diocese:
228
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Assim, pode-se afirmar que uma das preocupações dos padres estava
relacionada ao campo da evangelização. De fato, não era interessante para o líder do
PIME no território (no recorte em questão a cúpula da igreja católica no Amapá era
representada pelos Bispos, na ocasião: Dom Aristides Piróvano e posteriormente
Dom José Maritano) afirmar para o Papa que a região estava pronta para ser elevada
à diocese se a evangelização e a formação dos amapaenses não estivesse sendo feita,
e com bons resultados; daí a preocupação dos padres com certos desvios por parte
dos católicos. Tais desvios referem-se à conduta moral que o amapaense deveria
seguir, baseada na ética do trabalho, na conduta familiar e religiosa, sobretudo de
acordo com o que os padres colocavam como correto. Além disso, as pessoas
deveriam seguir os preceitos de um catolicismo oficial pregado pelos padres do
PIME, aquele baseado nos sacramentos, em detrimento do catolicismo popular, que
era bastante característico na região.
Os padres travaram uma verdadeira batalha contra o catolicismo popular,
porém tais investidas não tiveram muito êxito, pois, mesmo com o aumento da
sacramentalização, os padres observaram que muitos católicos a viam como forma de
conter “mau olhado”, além de que muitos católicos ainda continuavam atribuindo
mais importância aos aspectos do catolicismo popular, às imagens de santo, às festas,
arraiais, etc. Havia uma preocupação, do ponto de vista quantitativo, que deu certo,
mas o mesmo não se pode dizer do ponto de vista qualitativo. Neste sentido, formar
o povo era uma das prioridades dos padres.
Sua santidade o Papa Joao Paulo II, com a Bula “a conferência dos
bispos do Brasil”, por ele assinada no dia 14 de novembro de 1980,
elevou a prelazia de Macapá, sufragânea da arquidiocese de Belém
do Pará, à categoria e dignidade de Diocese, concedendo ao seu Bispo
privilégios e direitos, obrigações e encargos que cabem a todos os
bispos residenciais.65
65 Trecho do decreto de criação da Diocese de Macapá, documento que foi redigido pelo então núncio
apostólico do Brasil, Dom Carmine Rocco, em 1981.
229
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
estruturas físicas, igrejas, paróquias, cúria, etc. para equipar a igreja local e assim a
circunscrição eclesiástica ser autossuficiente. No que tange à evangelização, falam-se
de espaços físicos criados pelos padres do PIME para educar o povo na fé cristã, e
assim assegurar sua hegemonia; e também de certos embates entre a ortodoxia
clerical e o catolicismo popular, fruto da preocupação dos padres com certos
“desvios” daquilo que eles consideravam correto. Agora, a atenção se voltará mais
para o trabalho e o discurso dos padres no sentido de criar espaços físicos que eram
primordiais à diocese, o desejo dos clérigos em elevar a prelazia e, por fim, seus
benefícios.
As primeiras ações da igreja para a elevação de uma diocese têm início com a
criação de uma prelazia, que é um caminho para a futura diocese, mas, por não ser
ainda autossuficiente, é confiada a uma ordem religiosa, congregação ou a um
instituto. Este caminho foi seguido na igreja do Amapá. No ano de 1903 foi criada a
prelazia de Santarém e toda a região do Amapá passou a ser atrelada à essa nova
prelazia (antes a igreja fazia parte do bispado do Pará), porém era uma região muito
extensa que não contava com a presença de muitos sacerdotes. Até o ano de 1903
achavam-se no território apenas três padres: o paraibano Marcos Santiago em
Mazagão e os franceses Francisco Rellier em Macapá e Feliciano Fusey em Amapá66.
Até o ano de 1904, a região do Amapá contava apenas com três igrejas: a matriz de
São José em Macapá, a de Nossa Senhora da Assunção em Mazagão e a do Divino
Espírito Santo em Amapá. Com a chegada da congregação Sagrada Família houve
um aumento relativo do número de igrejas e obviamente de padres na região do
Amapá, porém as visitas pastorais, que eram chamadas de “desobriga”, ainda eram
feitas de forma descontínua, em função do tamanho do território e pelo pequeno
número de sacerdotes. Esta atuação esporádica só teve fim com a chegada dos padres
do PIME em 1948. Sob a liderança de Aristides Piróvano teve início a primeira ação
para a criação da futura diocese de Macapá.
Sendo assim, no caso do Amapá, o PIME foi o instituto que Roma confiou para
a evangelização dessa área, fortalecendo a igreja católica numa região de fronteira
caracterizada pela pouca presença do Estado. Quando os primeiros padres chegaram
se depararam com uma grande prelazia, na região da Amazônia, a qual a igreja do
Amapá estava atrelada, mas um ano após a chegada do Pontifício Instituto a igreja
amapaense foi desmembrada da igreja de Santarém. Em entrevista com o padre
Dante Bertolazzi, atual superior regional do PIME, ele esclarece que foi através da
intervenção de Aristídes Piróvano junto à Roma que pôde ser criada a nova prelazia:
Aqui era uma região muito grande [...] Foi Dom Piróvano, o nosso
superior Dom Aristides Piróvano foi quem trabalhou pra cortar de
Santarém, como tudo era decidido em Roma, tinha que explicar a
situação. Ai em 1949 veio a ordem de Roma, agora aqui era prelazia
de Macapá, aqui tudo era PIME.
67 Jornal A Voz Católica (edição especial dos 25 anos do PIME no Amapá), n. 627, ano XIV, 15 jul. 1973.
231
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Fonte: https://porta-retrato-ap.blogspot.com.br
68 O Território Federal do Amapá foi criado em 1943 e só foi extinto com a constituição de 1988. Olivei-
ra (2011) diz que as ações modernizantes eram fruto da política integracionista de Getúlio Vargas,
assim, o Amapá vivenciou essa postura, impulsionado pelo trinômio “sanear, educar e povoar”. Ja-
nary impulsionou a instalação da companhia extrativista de manganês ICOMI S.A, cumprindo as di-
retrizes emanadas pelo governo Federal. A exploração das riquezas minerais de maneira racional e
organizada, implantando o trabalho produtivo, seria o vínculo de ligação do território com o restan-
te do País e o promotor do desenvolvimento e engrandecimento da nação.
232
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
que foi criado pelos padres do PIME no ano de 1959. O jornal trazia em suas páginas
vários temas ligados à moral e a condutas familiares, instruindo como deveria ser o
modelo de família ideal (OLIVEIRA, 2011).
Para melhor compreensão, o periódico de 8 de janeiro de 1961 traz a seguinte
citação:
E que “andou milhares de quilômetros por nove longos meses e o fruto de tão enorme
trabalho foi admirado por todos os amapaenses”.
Em seguida, o articulista do jornal fala sobre os projetos e desejos do Bispo
para o Amapá, inclusive a construção do hospital São Camilo:
Fonte: https://porta-retrato-ap.blogspot.com.br/2010/04/
234
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
grande salto quantitativo do número de paróquias após o ano de 1959, poucos anos
após a chegada dos primeiros padres.
Era uma das prioridades dos padres do PIME, sob a liderança dos bispos
prelados, criar igrejas e fundar novas paróquias que atendessem às demandas
demográficas do território, no município de Santana. Pode-se notar esse movimento.
Em entrevista com o padre José Cláudio ele esclarece em seu relato que:
[...] esses são passos que vão se dando, de acordo com o crescimento
da cidade, o número de pessoas aumenta e a igreja vai
crescendo...por exemplo: eu vejo uma área que está crescendo e lá
não tem igreja, eu vou lá e construo uma capela, é claro que tem que
ter a aprovação do Bispo, eu mesmo reformei muitas igrejas e escolas
também, no bairro Paraíso construí a São Bento, em 1979, a São Lucas
no Marabaixo, já construí e reformei muitas igrejas e escolas.
71 No ano de 1960 o Mons. Arcângelo Cerqua, visitando o Amapá, relatou: “tive a agradável surpresa
de constatar um inesperado desenvolvimento da vida católica. Todo bairro possui uma igreja ou
uma capela”. Isso mostra um pouco do trabalho dos padres do PIME, nos seus primeiros anos de a-
tuação no Território. O crescimento da igreja com a construção de espaços físicos de culto era uma
das prioridades. Fonte: A Voz Católica, n. 53, de 30 out. 1960.
235
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
A presente citação deixa muito claro o porquê das ações dos padres do PIME.
Estes agiam no sentido de estruturar a igreja com o pensamento de que futuramente
esta circunscrição seria elevada à diocese, que para o Pontifício Instituto é o ápice de
todo esse trabalho. O padre entrevistado esclarece que a prelazia necessitava de
recursos humanos (sacerdotes) para a igreja se tornar mais estável, e pode-se
constatar que esse era um desejo do Bispo Dom Aristides Piróvano, pois o periódico
A Voz Católica dizia que:
Dom Aristides me mandou pra cá, pois ele tinha a vontade de criar o
seminário e também que houvesse seminaristas, para futuramente ter
um clero diocesano e poder tocar a diocese. Os Bispos do PIME se
preocupavam bastante com a animação missionária e a parte
financeira também tinha que ser estruturada. As escolas nesse
sentido ajudavam bastante, a gráfica... a pastoral do dízimo é coisa
recente.
O segundo Bispo da prelazia, Dom José Maritano, ainda sobre esta temática,
afirmava que:
Aqui não tinha quase nada, o dinheiro que vinha pra cá não dava,
não tinha escolas para atender a todos, nem água, energia, o povo era
muito humilde, não tinha essa infraestrutura que você ver hoje, não
tinha quase igrejas e o povo ia crescendo né.
Após este longo período, a igreja do Amapá, através das ações dos padres do
PIME, estava finalmente estruturada, com recursos próprios, um número suficiente
de igrejas, seminário, grupos de apostolado, várias pastorais, centros catequéticos,
bíblicos, dentre outros, para continuar o trabalho de evangelização do povo
74 Ibid.
238
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
239
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
240
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
que a presente pesquisa esteve mais preocupada, não apenas para a confirmação das
hipóteses, mas, muitas vezes, pela vontade de contribuir para o crescimento dos
estudos sobre religião, partindo de uma análise das relações locais.
FONTES
ENTREVISTAS
PERIÓDICOS
Jornal A Voz Católica, n. 53, de 30 out. 1960; n. 55, de 13 nov. 1960; n. 57, de 27 nov.
1960; n. 63, de 23 jan. 1961; n. 68, de 12 fev. 1961; n. 569, de 03 jan. 1971; (edição
especial dos 25 anos do PIME no Amapá), n. 627, de 15 jul. 1973.
241
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
CUNHA, Welison Couto da. Fronteiras de fé: o Pontifício Instituto das Missões
Estrangeiras, de Milão ao Amapá (1926-1965). Anais da IX Semana de História da
Unifap, Macapá, AP, 2013.
DONEGANA, Constanzo. PIME: traços de uma bela História. São Paulo: Ed. Mundo
e Missão, 2016.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A idade média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Ed.
Brasiliense, 2006.
GHEDDO, Piero. O PIME, uma proposta para missão. São Paulo: Loyola, 1989.
______. Marcello Candia; o empresário dos pobres. São Paulo: Eletrônica, 1989.
LOBATO, Sidney da Silva. A cidade dos trabalhadores: Insegurança Estrutural e
táticas de sobrevivência em Macapá (1944-1964). Tese de Doutorado. Departamento
de História da FFLCH DA USP, São Paulo, 2013.
NEGRI, Teodoro. 1850-2000, A caminhada do PIME. São Paulo: Ed. Mundo e
Missão, 1996.
OLIVEIRA, Tatiana Pantoja de. A voz de Deus no lar amapaense: potencialidades de
pesquisa no jornal A Voz Católica. In: AMARAL, Alexandre et al. (Org.). Do lado de
cá: fragmentos de história do Amapá. Belém: Açaí, 2011.
PIMENTEL, Walbi Silva. A igreja dos pobres: origem e desenvolvimento das CEBs
no Amapá (1966-1983). Monografia. Programa de Especialização em História e
Historiografia da Amazônia da Universidade Federal do Amapá, Macapá-AP, 2015.
242
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
244
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
[...]. Neste caso, compreende-se que a cachaça era uma “moeda” e produto
estratégico na economia do Brasil colonial, bem como um elemento que alicerçou o
processo de ocupação e colonização de todas as regiões interioranas brasileiras, por
meio dos “processos migratórios”.
Na Amazônia, desde a colonização, os engenhos eram produtores/fabricantes
de “agoas ardentes” (cachaça), que segundo Leandro Tocantins (1982, p. 27)
transformou-se “durante um longo período da história colonial, uma fonte ativa de
produção”. O autor destaca ainda os relatos dos naturalistas Spix e Martius (1938,
apud TOCANTINS, 1982, p. 55) em que era comum, “destilar considerável parte da
aguardente em cachaça e licores finos”. Em outras palavras, os engenhos na
Amazônia não tiveram sucesso com a produção açucareira, mas sim na fabricação
expressiva de aguardente (BARATA, 1915 apud TOCANTINS, 1982, p. 55).
Tocantins (1982, p. 75-77) destaca que na Amazônia,
tiveram ânimo para enfrentar a floresta e os possíveis “inimigos” presentes nela, nem
que fosse necessário usar da força e do poder de embriaguez para submetê-los a
“civilização” que se impunha ao longo dos séculos na Amazônia brasileira.
248
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
249
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
4 CONCLUSÃO
77 Brasil: TURISMO. Conheça Rondônia, vale a pena conferir as belezas naturais. <http://www.
ouropretoonline.com/modules/news/article.php?storyid=25889>. Acesso em 23 de março de 2017.
78 LIMA, Natália. Estande do Crea-RO é destaque na 70ª SOEA. 19/10/2013. <http://www.crearo.
REFERÊNCIAS
ALAN ALEX. Brasil : TURISMO. Conheça Rondônia, vale a pena conferir as belezas
naturais.
<http://www.ouropretoonline.com/modules/news/article.php?storyid=25889>.
Acesso em 23 de março de 2017.
AVELAR, Endrio B. Cascudo, cachaça e a história das bebidas no Brasil. Disponível
em <https://minhateca.com.br/leonardo.efege> Acesso em 15 de Fevereiro de 2015.
CALDAS, Alberto Lins. Oralidade – texto e história para ler a história oral. São
Paulo: Edições Loyola, 1999.
CAMARA CASCUDO, Luis da. PRELÚDIO DA CACHAÇA. Etnologia, História e
Sociologia da aguardente no Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Limitada, 1986.
______. Dicionário do Folclore Brasileiro. 10.ed. – edição ilustrada – São Paulo:
Global, 2001.
DEL PRIORE, Mary & VENANCIO, Renato. UMA BREVE HISTÓRIA DO BRASIL.
1ª reimp.- São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.
ESCOSTEGUY, Ana C. Uma Introdução aos Estudos Culturais. Revista FAMECOS.
Porto Alegre. Nº 9. Dezembro 1998. Semestral.
GONDIM, Neide. A Invenção da Amazônia. São Paulo: Ed. Marco Zero, 1994.
HOLANDA, Sérgio Buarque. RAÍZES DO BRASIL. 26.ed.- São Paulo: Companhia
251
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
252
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
título era: Estudo sobre a introdução de elementos regionais às religiões Afro-Brasileiras: uma
análise em três casas de culto de Porto Velho/RO.
253
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
O termo caboclo como é entendido pela antropóloga Déborah Lima (1999) nos
conduz a acreditar que caboclo é inevitavelmente o mestiço, o curiboca, aquele que
recebeu ao longo dos anos uma parcela genética, social e étnica de várias ‘raças’ que
se instalaram no Brasil, do negro, do branco, do índio, tornando-se a
representatividade do que é o povo brasileiro, uma verdadeira miscelânea de credos,
cores e ‘raças’, engrossando o maior contingente populacional do Brasil.
Tomando como exemplo uma típica comunidade cabocla do Estado do Pará,
o antropólogo Eduardo Galvão em suas pesquisas assinalou que a cultura cabocla é
intensamente perpassada pela cultura do branco e do não-branco, resultando numa
cultura única de passividade e permealibilidade das duas culturas onde elas se
fundem nos hábitos caboclos distados em toda a região amazônica. Numa
“comunidade cabocla típica, do Pará, na qual este ser humano mestiço e a cultura
cabocla são arquétipos estruturados, produtos de um processo histórico de séculos,
[onde] o índio está no passado remoto” (SILVA, 2007, p. 364).
É pertinente conjecturar que a cultura cabocla, que ladeia boa parte da região
norte do país, é composta de um misto da cultura rural amazônico e sertanejo
nordestino, onde ainda existe espaço para as lendas, mitos, práticas, hábitos,
255
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
256
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
com a ‘linha’ a qual pertencem a exemplo da linha das matas, representada pelos
índios ‘selvagens’, a linha dos caboclos de pena (índios aculturados), vaqueiro ou
boiadeiro, dos mineiros, dos pretos-velhos e, algumas vezes podem se apresentar na
linha da realeza africana ou europeia.
Mundicarmo Ferretti em sua brilhantíssima exposição, nominada ‘Tambor de
mina e umbanda: o culto aos caboclos no Maranhão’ (1996/1997), atentamente
observa qual o comportamento espiritual dos caboclos em terreiros no Estado do
Maranhão. No dizer de Mundicarmo Ferretti todos os caboclos:
257
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
259
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Fonte: MORAES (2012, p. 259). Jean-Pierre Fonte: MORAES (2012, p. 282). Jean-Pierre
Chabloz - Cartaz Mais borracha para a Chabloz - Jean-Pierre Chabloz - Cartaz
vitória, 1943. Vai também para a Amazônia, protegido
pelo SEMTA, 1943.
260
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
261
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
262
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
263
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
do a qual se a sigla for pronunciável como se fosse palavra (Libras) ela deve ser escrita com apenas a
inicial maiúscula.
85 Segundo a Lei 10.436/2002, as pessoas surdas são reconhecidas por terem perda auditiva, assim,
compreendem e interagem com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultu-
ra principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras.
264
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
265
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
as crianças surdas.
No contexto atual, a presença de intérprete em sala de aula, pode ampliar tais
mediações em função da experiência cotidiana em fazer-se fluente na língua, ou seja:
o imprescindível contato com a Comunidade Surda pratica essa que seria desejada
também quanto aos demais profissionais envolvidos no ambiente escolar, tais como:
professores bilíngues, orientadores, supervisores, psicólogos, secretários, tendo em
vista ser fundamental o domínio da língua para o desenvolvimento e constituição
dos sujeitos surdos em paridade a seus congêneres ouvintes.
Assim, a proposta da educação bilíngue para as pessoas surdas, contemplaria
não só o direito linguístico e o acesso aos conhecimentos sociais e culturais na sua
língua de domínio, mas também uma maior inserção de professores, dentre outras
categorias profissionais compostas de pessoas surdas no ambiente escolar, onde os
aspectos metodológicos, sociais e curriculares próprios à condição da surdez,
tornassem-se um referencial efetivo no ensino a esses (SKLIAR, 2000).
Na perspectiva inclusivista, a garantia teórica da presença de um intérprete
em sala de aula, implicaria que o aluno surdo, bem como os alunos e professores
ouvintes já conhecessem os rudimentos da Libras para uma comunicação
minimamente eficaz, mas, pelo contrário, grande parte desses mesmos alunos e
professores, não sabem ou, mal entendem Libras, sem mencionar as próprias
crianças surdas e, como se não bastasse, a carência de intérpretes fluentes é cada vez
maior em função da demanda crescente, imposta através do Decreto n° 5.626 de
dezembro de 2005, uma conquista das lutas sociais travadas pela Comunidade Surda.
No artigo 22, do referido Decreto, afirma-se o dever das instituições
responsáveis pela educação básica em garantir a inclusão de alunos Surdos através
de escolas e classes de educação bilíngue, assegurando a inclusão educacional
através das:
266
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
A partir dos Estudos Culturais (Hall, 2000) e suas relações com os estudos
literários, apresentaram-se novos aportes teóricos e metodológicos, como o estudo da
cultura popular e a fenomenologia do cotidiano, considerando-se uma sociedade cuja
dominância dá-se através dos meios de comunicação de massa, abrangendo as
possíveis formas midiáticas em suas expressões e considerando como características
da própria contemporaneidade, a diversidade das formas de produção cultural.
Referenciados nesses, e, a partir da década de 70, os Estudos Surdos
procuraram problematizar as representações dominantes (SAID, 2011, p.45) do
“ouvintismo” sobre as identidades surdas, enquanto categoria hegemônica e
colonizadora, a partir da qual os surdos estariam obrigados a olhar-se enquanto
ouvinte, olhar esse, onde ocorrem as narrativas sobre as percepções enquanto
deficientes, e/ou não ouvintes, percepções essas "que legitimam as práticas
terapêuticas habituais”. (ibid. p.15)
Nessa perspectiva é que o termo “ouvintismo” passa a emergir
conceitualmente em sua forma hegemônica e colonizadora, ao ser localizado na
relação de poder desigual entre os dois grupos, relação essa em que “um não só
controla e domina o outro, mas também tenta impor sua ordem cultural ao(s)
grupo(s) dominado(s)”. (WRIGLEY, 1996, p.72)
Tendo em vista uma abordagem multiculturalista, há que mencionar a
necessidade de consideração do envolvimento não só das culturas raciais, de classes,
de gênero, dentre outras, mas também quaisquer situações culturais (SÁ, 2002, p.90)
nas quais outros aspectos sejam levados em conta, além do intercâmbio e interação
entre Surdos e ouvintes.
267
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
268
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
270
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
94 Raul Seixas.
271
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
<http://www.uhelp.com/entenda-os-diferentes-graus-de-perda-auditiva/>. Acesso
em: 20 de outubro de 2016.
FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica, 1ª Edição, Martins Editora, São
Paulo, 2008.
IBGE, Censo de 2010. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/popul/
default.asp?t=3&z=t&o=25&u1=1&u2=1&u3=3&u4=1&u5=1&u6=1> Acesso em: 05
de outubro de 2016.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A
Ed. 2000.
HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Estudos Culturais na Academia. In: Seminário
Trocas Culturais na Era da Globalização, 1996, Rio de Janeiro.
MONTANARI, Fernando Antonio Pires O Conceito de Deficiência na Convenção
da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Disponível na internet em:
<http://www.revistareacao.com.br/website/Edicoes.php?e=94&c=944&d=0>.
Acesso em: 19 de outubro de 2016.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política de
educação inclusiva. Disponível na Internet em: < http://portal.mec.gov.br/politica-
de-educacao-inclusiva >. Acesso em: 08 outubro de 2016.
SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, Poder e Educação dos Surdos. Manaus:
Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2002.
SAID, Edward W. Cultura e imperialismo; tradução Denise Bottmann. São Paulo,
Companhia das Letras, 2011.
SEIXAS, Raul. Prelúdio. Letra e música. Disponível em: http://letras.mus.br/raul-
seixas/165312. Acesso em 08 de outubro de 2016.
SKLIAR, Carlos (Org.). Atualidade da educação bilíngue para Surdos: interfaces
entre pedagogia e linguística. Porto Alegre: Mediação, 1999.
______. A surdez: um olhar sobre as diferenças. 4ª Ed. Porto Alegre: Mediação, 2010.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora
da UFSC, 2008.
QUADROS, R. M. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Artes Médicas.
Porto Alegre. 1997.
RAMOS, Clélia Regina. LIBRAS - A Língua de Sinais dos Surdos Brasileiros. Artigo,
2005. Disponível em: < http://www.editora-arara-azul.com.br/pdf/artigo2.pdf >.
Acesso em: 15 de outubro de 2016.
WRIGLEY, Owen. The politics of deafness. Washington: Gallaudet University Press,
1996.
272
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
2 O VODU E O HAITI
274
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
A Cerimônia de Bois Caiman (1791) apresenta o vodu não apenas como uma
religião dos haitianos, mas também como um elemento cultural da história do Haiti,
marcada pelo preconceito. Hurbon (1987, p. 68) entende que o Vodu, “como religião
e cultura por excelência das camadas populares é taxado de superstição primitiva, ao
mesmo tempo em que seus adeptos são explorados pelas classes dominantes”. O
Vodu predominantemente nas comunidades rurais haitianas é apresentado como
motivo de atraso dessas regiões, justificativa daqueles que projetaram a missão
colonizadora dos moradores dessas comunidades via catolicismo pelo qual a igreja
defendia que esse povo se tornaria desenvolvido.
Segundo Métraux (1958, p. 11), o Vodu é a religião tradicional dos haitianos, o
remédio para todos os males, a satisfação de suas necessidades e a esperança de suas
vidas. O autor afirma ainda que o vodu para os haitianos é algo que dá sentido à
pesada existência cotidiana, produzindo o alívio para os sofrimentos, a segurança e a
proteção dos deuses, bem como a defesa das feitiçarias e as armas necessárias para
empreender os ataques contra os inimigos.
Os inimigos não eram apenas os colonizadores, mas também a Igreja Católica
que via no Vodu a adoração ao profano, por isso os adeptos do vodu eram
perseguidos e considerados pessoas que tinham um pacto com o demônio.
A respeito dos cultos africanos, Handerson (2010 p. 160) salienta que a essa
perseguição não aconteceu apenas no Haiti, mas também no Brasil. Segundo o autor,
em meados do século XX, entre os anos de 1920 e 1942, houve várias perseguições
policiais contra o Candomblé na Bahia. Houve um delegado chamado Pedro
Azevedo Gordilho que perseguiu violentamente o Candomblé baiano. Algumas
pessoas escondiam os objetos pertencentes ao Candomblé dizendo que cultuavam
apenas os santos católicos.
Price Mars (1998, p. 32) completa o que diz Métraux, afirmando que o vodu é
uma religião, porque o culto devotado aos seus deuses reclama um corpo sacerdotal
hierarquizado, um conjunto de altares de cerimônia, e enfim, toda uma tradição oral
que, apesar de não ter chegado até nós sem alteração, foi o que garantiu a
276
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
277
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
278
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Dimensão ecológica (os objetos do Vodu dividem o mesmo espaço no templo Vodu
com os objetos do Catolicismo (imagens, velas, garrafas, santos católicos e os loas do
Vodu), b) a dimensão dos ritos e das cerimônias, as festas e as atividades do Vodu
coincidem com as grandes celebrações da Igreja Católica, como o Natal, o dia 2 de
novembro (dia dos mortos) e a quaresma, c) a dimensão das representações coletivas,
pois vários santos católicos têm correspondência no Vodu e no Candomblé.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
279
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
280
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
282
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Este artigo pretende trazer algumas reflexões sobre este cenário na capital
rondoniense à luz da proposta de Manuel Castells de uma teoria do poder da
comunicação, referencial riquíssimo que nos permite, nesse contexto, através de
vários de seus conceitos, compreender muitos pontos que se destacam nesse caso
analisado.
Na primeira pesquisa encomendada pela Rede Amazônia, também a cargo do
Ibope, divulgada em 24/08/2016, Mauro Nazif, atual prefeito e candidato à reeleição,
tinha 16% das intenções de votos; Léo Moraes tinha 16%, Sobrinho, 22%, Pimentel,
10%; Ribamar Araújo 10% e Hildon e Pimenta tinham 3% das intenções de votos.
Mauro Nazif (PSB) teve como vice a vereadora Ana Maria Negreiros (PDT) e a
maior coligação, “Porto Velho mais forte” (PSD/PDT/PSB/PC do B/PTC/REDE/
PPL/PV/PHS/SD), tentava a reeleição, mas era visto como aquele que não fez nada
pela cidade, cansada de ver obras paradas há anos - como o caso dos viadutos -
atribuído ao terceiro colocado nas pesquisas, Roberto Sobrinho (PT), ex-prefeito por
dois mandatos consecutivos (2005-2008, 2009-2012), vice Ferreira, não fez coligação e
sua candidatura se manteve sub judice. Léo Moraes, deputado estadual (PTB), teve
Amado Rahal (PP) como seu vice, coligação “Abrace Porto Velho” (PTB/PP/PRP/
283
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
284
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
285
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
que 43,44% dos entrevistados disse acessar à rede diariamente, enquanto 42,27% não
acessa nunca; o percentual de pessoas que acessam um dia na semana ou menos foi
de 2,31%, dois dias por semana 2,44%, três dias por semana 2,18%, quatro dias na
semana 1,09%, acessam cinco dias na semana 0,96% e 0,87% acessam a internet seis
dias na semana. Não sabe equivaleu a 1,48% e outros 2,96% não respondeu. Dos
entrevistados 33,5% acessam a internet pelo telefone celular, enquanto 10,8% por
computador, e 2% por tablet; 65% tem acesso à rede de computadores em casa;
17,39% acessam a rede uma hora por dia, já 9,76% disseram ficar conectados 24 horas
por dia.
As possibilidades permitidas pela conexão à internet são muitas e o alcance
não se compara ao da TV: gravação de vídeos com postagem em sites, blogs, e
compartilhamento para milhares de pessoas, como observado no ocorrido com
trecho do debate eleitoral em que o ataque de Pimentel ao ex-promotor Hildon
postado numa rede social.
286
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
assim, uma fragmentação das forças políticas no jogo de poder nas casas de leis” (p.
103). Em suas conclusões percebeu que “as interações e relações sociais estabelecidas
que norteia a tomada de decisões políticas” (SIC, 2015, p. 181).
Desde 1993, com a eleição de José Guedes, o PSDB não elegia um prefeito em
Porto Velho. Em 2012 Mariana Carvalho foi a candidata do partido, mas não chegou
ao segundo turno, em 2008 Hamilton Casara teve uma campanha inexpressiva, em
2004 Everton Leoni chegou em terceiro no primeiro turno.
Em 2016, após o resultado do primeiro turno, em que teve 57.954 votos (27,2%
dos votos válidos) Hildon disse, em entrevista à SICTV, que tinha percepção durante
a campanha que seria possível ir para o segundo turno, mas não esperava terminar o
primeiro à frente dos concorrentes. No último levantamento do Ibope, em
30/09/2016, o candidato tinha 9% das intenções dos votos válidos. Léo Moraes, que
liderava com Nazif as duas últimas pesquisas do instituto, nessa data apareceu com
26% das intenções dos votos válidos.
No segundo turno, a pesquisa de intenção de voto do Ibope de 28/10/2016,
dois dias antecedendo a eleição, apontava 54% dos votos para Hildon e 33% para
Léo, com margem de erro de 4%. O percentual de votos branco/nulo/nenhum era de
8%, e 5% não sabiam ou não responderam. Em levantamento que antecedeu a esse,
Dr. Hildon aparecia com 51%, Léo Moraes, 35%, brancos e nulos eram 10% e não
sabiam, 4%.
Hildon foi eleito com grande folga sobre Léo Moraes no 2º turno, em
30/10/2016, com 65,15% do total de votos válidos (148.673 votos); Leo Moraes teve
34,85% (79.534 votos). Importante destacar que nessa eleição o índice de abstenção foi
de 18,64%, os votos brancos somaram 7.203 (2,77%) e 40.018 votos nulos (15,37%),
bem acima do indicado pelas pesquisas de intenção que antecederam o pleito e que
ilustram a tendência mundial de descontentamento do eleitor com a representação
política (Casteslls, 2009).
Castells (2009, p. 347) ao longo de toda a publicação, analisa vários episódios
políticos em diferentes países, em diferentes contextos, observa uma possível
conexão entre a “política da mídia, a política de escândalos e a queda da confiança
nas instituições políticas” e lança uma questão decisiva: “como essa desconfiança
crescente entre cidadãos afeta a participação e comportamento do ponto de vista
287
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
político?” Elenca seis possibilidades para o cidadão, que aqui resumimos seus
aspectos principais: 1) mobilização contra determinada opção política, um “padrão
geral de política negativa” – o que nas eleições analisadas seria contra Nazif e
Sobrinho; 2) mobilização por ideologia levando a força organizacional a um partido e
tomar esse partido para si, se transformando em eleitorado indispensável; 3) voto de
protesto com apoio a um terceiro candidato – ou os últimos colocados nas pesquisas,
como tem sido observado no Brasil, onde a multiplicidade de partidos e candidaturas
é vasta; 4) “se juntar em torno de um candidato insurgente que desafia o sistema
político por dentro” (CASTELLS, 2009, p. 347) exemplifica as eleições de Lula no
Brasil em 2003 e Obama nos Estados Unidos em 2008, ou um candidato insurgente de
fora do sistema (cita as primeiras candidaturas de Chavez na Venezuela, Morales na
Bolívia e Correa no Equador) – nessa opção poderíamos considerar a candidatura de
Hildon nas eleições de Porto Velho em 2016; 5) deixar de votar quando nenhuma das
opções anteriores for possível – o que Castells considera como uma clara “última
escolha” de quem ainda tenta se fazer ouvir - ou 6) “aprofundar a mobilização social
fora do sistema político”(2009, p. 350).
Deixar de votar ou invalidar o voto foi o que fez parte expressiva do
eleitorado nas eleições analisadas em Porto Velho, como vimos, considerando o
número de abstenções (18,64%), votos nulos (15,37%, ou 40.018) e brancos (2,77% ou
7.203).
5 CONCLUSÃO
288
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
289
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
Rondônia – UNIR. Professor do curso de Licenciatura em Pedagogia pela – UNIR. Participa do gru-
po de pesquisa “Políticas Públicas e Gestão Territorial na Amazônia” da Pró-Reitoria de Pós-
Graduação e pesquisa da UNIR/CNPq. Endereço eletrônico: hugo.fotopoulos@unir.br.
290
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
291
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
deixando de lado as relações entre os diferentes grupos sociais ao longo dos tempos.
[...] o povo não é visto como agente do processo histórico.” (NEMI, 1996, p. 20). Estes
fatores deixam a margem os “heróis” da nossa realidade, descontextualizando os
agentes que construíram e que constroem o processo de formação da historicidade
local.
Destarte o ensino de História nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental deve
priorizar a história de vida que o aluno possui, partindo das relações históricas seja
com os seus familiares, seja na compreensão do bairro, da sua cidade, do estado,
dentre outros.
292
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
293
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
294
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
sala de aula.
O professor não deve ficar interligado apenas no livro didático, mas necessita
ter um viés de possibilidades para que o ensino e aprendizagem de História no
Ensino Fundamental sobrevenham, ele “[...] deve ter o intuito de introduzir o aluno
na leitura das diversas formas de informação, com a visão histórica dos fatos e dos
agentes.” (PEREIRA; PACHECO, p. 6). Outros autores como Piaget (1973. P. 16)
ressalta esta versatilidade do “[...] professor deixe de ser um expositor satisfeito em
transmitir soluções prontas; o seu papel deveria ser aquele de um mentor,
estimulando a iniciativa e a pesquisa”. Os autores supracitados ressaltam quão
diversificados os educadores devem ser com relação ao ensino.
A interdisciplinaridade é essencial para a aprendizagem, através dela é
possível à junção de outras disciplinas, possibilitando uma assimilação significativa
por parte da criança, Nemi (1996, p 23) atribui que a articulação das “[...] disciplinas
história e geografia devem integrar-se entre si e com as outras áreas do conhecimento
– línguas, ciências e matemática.”. A proposta de interdisciplinaridade além de criar
uma maior interação entre as disciplinas esta mesma proposta abre um “leque” de
possibilidades para a melhor compreensão daquilo que está sendo discutido em sala
de aula.
É importante a utilização de recursos didáticos ou ferramentas tecnológicas
diversificando o ensino centrado e contextualizando os métodos. A sociedade atual
decorre por diversas transformações inclusive tecnológicas e a escola deve estar
preparada para estas mudanças, para os Parâmetros Curriculares Nacionais existe
uma:
5 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
296
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
297
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
Não era a primeira vez que a fórmula “sanear para produzir” seria aplicada à
região. Segundo Francisco Foot Hardman, medidas com características semelhantes
foram implantadas no decurso da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré,
principalmente após a chegada dos médicos sanitaristas Oswaldo Cruz e Belisário
Penna, ocorrida no dia 26 de junho de 1910 (HARDMAN, 2005, p. 117). Ambos havi-
am assinado um contrato de prestação de serviços com a Madeira Mamoré Rail-
way102, com fins de elaborar e coordenar a execução de ações que pudessem resolver
101 Professor Adjunto do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre,
Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Doutor em História
Social pela Universidade de São Paulo (USP).
102 Companhia encarregada da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré executada entre 1907
e 1912, ligando a cidade de Porto Velho, no período pertencente ao Estado do Amazonas, à Cidade
298
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
de Guajará Mirim, que pertencia ao Estado do Mato Grosso, como parte do Tratado de Petrópolis
assinado entre Brasil e Bolívia, em 1903, pelo qual o atual Estado do Acre foi anexado ao território
brasileiro.
103 Segundo Carlos Chagas, “como fatores etiológicos da malária, encontram-se na Amazônia as três
espécies conhecidas do Plasmodium humano; o Plasmodium vivax, parasito da terçã benigna, o Plasmo-
dium malariae, parasito da quartã, e o Plasmodium immaculatum, parasito da terça grave ou tropical
(IOC, 1913, p. 40).
104 Instituição criada pelo Governo Federal através da Lei nº2543 de 05 de janeiro de 1912.
105 Relatório Sobre As Condições Médicas do Vale do Amazonas apresentado a S. Ex.ª o Snr. Dr. Pedro
de Toledo, Ministro da Agricultura e Comércio pelo Dr. Oswaldo Gonçalves Cruz. Rio de Janeiro:
299
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Entre os fatores que podem ter contribuído para a forma como o jornal A Noite
discorreu sobre a viagem da comissão chefiada por Calor Chagas à Amazônia,
ressalte-se os resultados alcançados no combate à febre amarela na cidade do Rio de
Janeiro, na primeira década do século XX. Ao assumir a DGSP, em 26 de março de
1903, Oswaldo Cruz definiu como meta extinguir as epidemias de febre amarela na
Capital da República. No dia 8 de março de 1907, quase quatro anos após, afirmou
estar ciente de que havia cumprido o que se propusera, encaminhando um
documento ao Presidente Afonso Pena, com o seguinte teor:
107 Oswaldo Cruz. O Hospital, Órgão da Sociedade Médica do Hospital São Francisco de Assis, vol.
XIII, janeiro de 1938, nº 01, p. 01.
108 Samuel Benchimol ressalta que estes dados, recolhidos das obras de Rodolfo Teófilo – História da
vimento como resultante de uma ação das elites que, para ficarem livres de indesejá-
veis, trataram de “expatriá-los dentro da própria pátria”. Esta concepção sustenta
que a grande maioria dos que vieram para a Amazônia eram flagelados da seca no
nordeste brasileiro, doentes que se amontoavam nas ruas das cidades litorâneas, cau-
sando transtornos para os moradores destas localidades e para os grupos políticos
que estavam no poder (CUNHA, 1999, p. 130).
Benchimol trata os fluxos migratórios para a Amazônia como consequência do
“deslocamento da fronteira econômica pela supremacia da borracha” (BENCHIMOL,
1977, p. 154). Este fator teria atraído um grande número de moradores do semiárido
nordestino para a região, promovendo o contato entre modos de vida e personalida-
des bastante distintas. Esses migrantes, pelo menos conceitualmente, seriam os “obje-
tos” de estudo dos cientistas do Instituto Oswaldo Cruz.
A expedição do Instituto Oswaldo Cruz ao vale do Amazonas ocorreu entre
outubro de 1912 e março de 1913. Cerca de dois meses antes de seu início, o jornal A
Noite publicou matéria com o título: “A campanha pelo saneamento do vale
Amazônico vai ser iniciada pelo Dr. Oswaldo Cruz”, com informações básicas sobre
os trabalhos de pesquisa que os sanitaristas realizariam e a infraestrutura que deveria
ser instalada na região. O texto também explicava que várias turmas seriam
incumbidas do serviço, sendo a chefiada por Carlos Chagas apenas uma delas:
Manaus foi a cidade que serviu como ponto de partida para os sanitaristas e
também onde realizaram as primeiras atividades de pesquisa e assistência médica.
109A campanha pelo saneamento do vale amazônico vai ser iniciada pelo Dr. Carlos Chagas. A Noite,
Rio de Janeiro – RJ, 19 de agosto de 1912, ano II, nº 342, p. 02.
302
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
110O tratamento indicado no período, segundo consta no relatório de 1913, havia sido descoberto pelo
médico Gaspar Vianna e era realizado através da aplicação de emético, por injeções intravenosas (I-
OC, 1913, p. 50).
303
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
304
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
cões e adjacências, o que explicaria os motivos de terem mantido contato com grupos
tão restritos de pessoas. As observações feitas por Eduardo Thielen reforçam esta
concepção:
Nos seringais, que podiam ter 100, 200, até 300 fregueses, como eram
chamados os seringueiros, os médicos puderam examinar apenas
crianças e os poucos adultos que constituíam a família dos
proprietários, além do contingente mais limitado de empregados
residentes nos barracões da margem (THIELEN, et al 2001, p. 118).
305
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
A terceira parte do relatório foi escrita por Carlos Chagas e aborda “a epide-
miologia geral da grande Amazônia” (IOC, 1913, p. 39). Na introdução consta o re-
gistro sobre a forma como historiadores, literatos e naturalistas criaram fantasias a-
terradoras acerca da região caracterizando-a, em decorrência de sua morbidade, co-
mo um espaço incompatível com a vida humana (Idem). Observe-se que esta afirma-
ção seria pouco adequada se fizesse referência aos séculos XVI e XVII. Segundo o
historiador Auxiliomar Silva Ugarte, nos relatos sobre a Amazônia produzidos no
decorrer dos dois séculos por cronistas como Diogo Nunes, Francisco Vasquez, Gas-
par de Carvajal e Alonso Rojas, para citar alguns, prevalecem preceitos “utilitaristas”
com “projeções intervencionistas”. Por esta perspectiva, enalteceram o clima, flora e
fauna da região, enfatizando suas características edênicas. (UGARTE, 2009).
Nos escritos de Chagas percebe-se uma tentativa de distanciamento da dico-
tomia paraíso-inferno. Ao invés disso, destaca-se a falta de acesso das populações da
Amazônia, principalmente as que residiam em seu interior, às pesquisas da medicina
experimental, caracterizadas como as “únicas capazes de trazer esclarecimentos aos
problemas patológicos que ali esperavam solução” (IOC, 1913, p. 39).
Na perspectiva do sanitarista, a medicina experimental aparece como uma for-
306
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
111 O município, Tarauacá – AC, 22 de dezembro de 1912, ano III, nº 117, p; 02.
307
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
308
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
112 Ibidem.
113 O Cruzeiro do Sul, 21 de abril de 1907, nº 04, ano II, p. 01.
309
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
ose nasal e cutânea, caracterizadas por perdurarem por longos anos, serem extensi-
vas e provocarem deformidades nos infectados. Uma forma diferenciada da doença,
no entanto, chamou a atenção, tratava-se de outra modalidade de leishmaniose cutâ-
nea, que os sanitaristas não conheciam de pesquisas anteriormente realizadas. As
características da doença foram assim descritas:
114 Doença provocada pela ação da espirocheta Castellani. Sua diferença no aspecto clínico com relação à
sífilis era a absoluta ausência de ataque as mucosas pelos agentes da bouba. Durante a expedição ao
vale do Amazonas, os sanitaristas ministraram em pacientes com sintomas da doença uma medica-
ção denominada como “Salvarsan” obtendo, segundo disseram, “resultados dos melhores” (IOC,
1913, p. 52).
115 De acordo com Oswaldo Cruz, circulavam na Amazônia, no ano de 1910, teorias que relacionavam
o surgimento do beribéri ao consumo de arroz mofado (CRUZ, 1910, p. 34). As síndromes clássicas
que segundo Carlos Chagas contribuía para a identificação da moléstia eram a síndrome cardíaca e a
polinevrite (IOC, 1913, p. 46).
310
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
de condições mórbidas, sem que fossem realizadas observações precisas que conside-
rassem, por exemplo, suas síndromes clássicas. Estas formulações foram fundamen-
tais para que os sanitaristas confrontassem determinadas crenças que circulavam na
região sobre a intensidade com a qual a doença se manifestava, ressaltando que, so-
mente após os estudos e pesquisas realizadas, compreendiam os abundantes relatos a
respeito da presença do beribéri na Amazônia, fazendo a ressalva de que casos “ver-
dadeiros” de beribéri, tal qual conheciam de “estudos clássicos”, eram relativamente
raros (Idem, p. 47). Lepra116 e ancilostomíase também estavam entre os males que
chamaram a atenção, pela frequência com que identificaram portadores, no entanto,
os relatos sobre estas duas doenças foram bastante exíguos.
Existem importantes convergências entre o relatório de 1910, produzido por
Oswaldo Cruz sobre as condições sanitárias do rio Madeira, e o relatório elaborado
em 1913, pela comissão liderada por Carlos Chagas. Em ambos, por exemplo,
percebe-se que o impaludismo era o problema a ser enfrentado, o que seria feito
utilizando-se dos recursos da medicina experimental. Os cenários onde esta e outras
moléstias seriam combatidas, no entanto, apresentavam conformações bem
diferentes. De acordo com o médico Djalma Batista: “Enquanto Cruz encontrara no
Madeira um serviço médico organizado e bem provido de recursos, Chagas fora
deparar nos rios percorridos apenas um ou outro médico permanente” (BATISTA,
1972, p. 21).
Utilizando os relatos feitos quando da passagem da comissão pelo Território
do Acre, percebe-se que inexistia qualquer tipo de assistência médica gratuita para a
população, o que não impedia que os prefeitos departamentais fizessem constar, em
seus relatórios e prestações de contas, dispêndios supostamente realizados com a
organização de serviços sanitários e pagamentos de remunerações a médicos. Em sua
edição de nº 121, datada de 27 de julho de 1913, o jornal Folha do Acre publicou maté-
ria com intenção de defender o intendente de Rio Branco e membro do Partido Cons-
trutor do Acre, João de Oliveira Rôla, após este ter a lisura de sua administração co-
locada em suspeição. De pronto, o periódico explicou a origem das despesas da Pre-
116 Segundo os sanitaristas, predominava na Amazônia a modalidade clínica da lepra na “forma ner-
vosa”, o que dificultava o diagnóstico da doença e contribuía para que os doentes se mantivessem no
convívio coletivo e “orientando-se no convívio social com absoluta despreocupação da terrível mo-
léstia” (idem, p, 52).
311
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
feitura:
117 O Acre em barbaria. Folha do Acre, Rio Branco – AC, 27 de julho de 1913, ano III, nº 121, p. 01
118 Idem.
312
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
Relatórios:
CRUZ, Oswaldo Gonçalves. Relatório sobre as Condições Médico-Sanitárias do
Valle do Amazonas, apresentado a S, Exª o Snr. Pedro de Toledo, Ministro da
Agricultura, Indústria e Comércio, pelo Dr. Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro: Typ. do
Jornal do Commercio, de Rodrigues & C. 1913.
313
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Jornais:
A Noite, Rio de Janeiro – RJ, 26 de agosto de 1912, ano II, nº 348, p. 01.
A Noite, Rio de Janeiro – RJ, 19 de agosto de 1912, ano II, nº 342, p. 02.
O município, Tarauacá – AC, 22 de dezembro de 1912, ano III, nº 117, p; 02.
Folha do Acre, Rio Branco – AC, 27 de julho de 1913, ano III, nº 121, p. 01.
314
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
questões de ensino de História geraram muitas polêmicas oriundos desta nova proposta de ensino
de História que pretendia excluir esse campo de pesquisa da educação básica, entre os vários deba-
tes, destacamos a postura dos docentes das regiões Norte e Nordeste das áreas de História Antiga e
Medieval que se posicionaram criticamente contrários a essa visão excludente e preconceituosa, ver:
http://anpuhro.blogspot.com
315
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
121 Carta da ABREM sobre a Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: www.abrem.org Aces-
sado em: 04 jan. 2017.
122 Para consultar o Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil ver: http://dgp.cnpq.br/dgp/faces/
123 Estão disponíveis no Portal do Mec. Ver: http://portal.mec.gov.br/ Acessado em: 04 jan. 2017.
317
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
cultura histórica (RÜSEN, 2014; 1994). Essa cultura histórica refere-se às diferentes
estratégias de pesquisa, de criação artística, da educação escolar, da luta política pelo
poder e das instituições não escolares. São muitas dimensões que atendem a seguinte
periodização do ensino de História no Brasil conforme Maria Schmidt (2012, p. 78):
“construção do código disciplinar da história no Brasil (1838-1931); consolidação do
código disciplinar da história no Brasil (1931-1971); crise do código disciplinar da
história no Brasil (1971-1984); reconstrução do código disciplinar da história no Brasil
(1984-?)”.
Na primeira fase (1838-1931), a História da Europa Ocidental era sinônimo de
verdadeira História da Civilização, ressaltando as biografias de homens ilustres, de
datas e de batalhas. O ensino de história medieval era visto sob influência do
pensamento liberal francês. O modelo francês instalou-se e o estudo da Idade Média
deu-se nos mesmos padrões do da Antiguidade. Desta forma, iniciava-se a Idade
Média com os povos “bárbaros” germânicos, depois o Império Bizantino sobretudo o
reinado de Justiniano, as “invasões” árabes, o império Carolíngio e Carlos Magno,
feudalismo até a estruturação da Igreja Católica (NADAI, 1993, p. 146 e 148), numa
perspectiva de mostrar as formas de governo, relações de dominação entre senhores
feudais e camponeses, ou uma imagem da “Idade das Trevas” com fome, miséria,
sem produção de conhecimento, consolidando a teoria das “três ordens” da
sociedade estabelecidas por Adalberon de Laon do século XI (ideologia da Igreja da
época), os que rezam (clero), os que trabalham (os camponeses) e os que combatem (a
nobreza).
Na segunda fase (1931-1971), permeados pela ideia de criar uma nação irreal,
mascarando as desigualdades sociais, impondo a dominação oligárquica, o ensino de
história medieval seguia a certos aspectos, a divisão do quadripartismo histórico –
antiguidade, medieval, moderna e contemporânea -, ou na versão dos modos de
produção – comunidade primitiva, escravismo, feudalismo, capitalismo e socialismo.
Assim, a história medieval era associada a história da Europa sob grande influência
do positivismo, com memorização excessiva e predominância do factual. (NADAI,
1993, p. 150). Praticamente a Idade Média era sinônimo de feudalismo, isso era o
resultado de um processo de construção negativo e pejorativo, de uma valorização
dos acontecimentos exclusivamente políticos e de conteúdos tradicionais. Nos anos
318
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1950 e 1960, o ensino de história estava mantendo fortes relações de poder com o
Estado e veio a crise no código disciplinar da História principalmente na questão da
autonomia da disciplina (SCHMIDT, 2012, p. 85). Ademais, a primeira tese de
doutorado em história medieval foi no ano de 1942 na Universidade de São Paulo,
sendo que os próximos anos poucas teses foram defendidas sobre a temática em foco.
Na terceira etapa (1971-1984), configurou num período de crise em virtude da
consolidação do ensino de Estudos Sociais no Brasil, o que ameaçou a existência da
disciplina História, restrita ao segundo grau. Além de História e Geografia
configurarem numa única disciplina no ensino básico, havia ameaça aos docentes e
profissionais de História através da censura e perseguições políticas no período da
ditadura militar. O ensino era raso (Schmidt, 2012, p. 86). Neste período o ensino de
história medieval estava associado aos estudos sociais. A religião cristã é muito
valorizada e conservadora, assim a história medieval ensinada era a partir da ideia
de superioridade religiosa do Ocidente perante o islamismo e paganismo
escandinavo, o que revela a dificuldade em lidar com a alteridade de se colocar no
lugar do outro num dos períodos mais conturbados da nossa história.
Por fim, no momento atual (1984-?), a disciplina história voltou a ser lecionada
no ensino básico e optativa no ensino médio a partir de 2018. Vale lembrar o papel
fundamental da ANPUH na luta pela volta da obrigatoriedade da disciplina história
no ensino médio, entre outros desafios. A constituição do Grupo de Trabalho de
História Medieval da Associação de História (ANPUH) em 1988 e o estabelecimento
da Associação Brasileira de Estudos Medievais (ABREM) em 1996, ambos
impulsionaram a consolidação da área de estudos medievais no Brasil. Os PCN’s de
1998 tem dado ênfase na temporalidade cronológica. No final deste período, nos anos
80 e 90, houve uma grande expansão de programas de pós-graduação com
dissertações e teses em história medieval, em filosofia medieval, literatura medieval
ou história da arte medieval, o que contribuíram para o crescimento das publicações
e mudanças gradativas nos livros didáticos sobre as temáticas relacionadas com o
período. Contudo nos dias atuais, a Idade Média reproduzida pelo cinema e pela
indústria cultural criaram um medievo mais “fantasiado”, repleto de clichés,
romântico, irreal e estereotipado com a figura de magos, dragões, guerreiros,
monstros, princesas, etc. Atualmente, os livros didáticos ainda possuem muitos
319
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
estereótipos e erros ao referirem a Idade Média, isso tem gerado muitas críticas dos
especialistas sobre o material didático, entre os vários medievalistas, destacamos
Edlene Silva (2011), Nilton Mullet Pereira (2009), José Rivair Macedo (2008), dentre
outros.
Por que estudar história medieval na escola básica? Em primeiro lugar, porque
contribui para as diversas propostas de ensino e as práticas docentes, viabilizando
outras concepções de História, comprometidas com a emancipação dos alunos e
ainda ajuda na compreensão dos outros e do lugar em que os homens ocupam na
sociedade, nas Amazônias, no Brasil, no mundo. Em segundo lugar, o uso de fontes
variadas e múltiplas de história medieval, permite conhecer este patrimônio cultural,
desenvolver temas específicos como as relações de gênero, ter diálogo com outras
disciplinas, com as outras memórias, com a cultura escolar, com a História oficial e as
suas contradições. Em terceiro lugar, entender que as propostas curriculares estão
relacionadas com o poder e quem define a História a ser ensinada nas escolas do
ensino fundamental e médio estão diretamente relacionados a ele. Enfim, porque
propor novas formas de pensar a Idade Média na sala de aula contribui em muito
para diminuir o desconhecimento desse patrimônio cultural, também é uma forma
de debater as controvérsias sobre o período. Como docente eu penso que ainda há
muita coisa a ser discutida, mas o principal é manter o foco na formação e no
desenvolvimento da consciência histórica nos estudantes (RÜSEN, 2014).
124 Carta aberta dos Professores universitários da Região Norte e Nordeste do Brasil, disponível no
site: http://anpuhro.blospot.com Acessado em: 04 jan. 2017.
320
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Por que estudar história medieval no Brasil? Não podemos criar hierarquias
do conhecimento apreendido na Universidade e nas escolas de ensino fundamental e
médio, mas estimular um vínculo maior entre as escolas e as Universidades, para que
se formem profissionais mais comprometidos com o ensino público, com
conhecimentos múltiplos e com consciência das diferentes correntes historiográficas.
“... jovens que têm o direito de compreender por que a língua que
falam é mais próxima da língua de Camões que podem suspeitar, que
na fruição da leitura de uma peça de Ariano Suassuna está a
densidade do movimento Armorial, que inclui a Idade Média (!) e
que devem conhecer a formação cultural política de seu país, não o
fim de construir linhas ininterruptas entre o passado e o presente,
mas para analisarem as escolhas da sociedade de que fazem parte.”125
Por que estudar Idade Média nas regiões Amazônicas? Primeiramente, porque
vivemos num mundo globalizado e temos contatos com experiências humanas das
mais diversificadas, recebemos imigrações nas Amazônias de pessoas de vários
continentes e partes do mundo, enfim há uma necessidade de pensar a História
Global e a História Conectada. Em segundo lugar, porque é preciso reconhecer os
usos e ecos da Medievalidade, em sua própria experiência enquanto sujeitos
históricos, além de reconhecer as apropriações das mídias e indústria cultural
contemporânea sobre essa temática.
125 Carta da ABREM sobre a Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: www.abrem.org. Aces-
sado em: 04 jan. 2017.
126 Carta da ANPUH-RJ sobre a Base Nacional Comum Curricular. Ver: http://site.anpuh.org/index.
a África muçulmana nasceu na Idade Média e foi para a Europa no século VIII. Como
entender a Primavera árabe da contemporaneidade? Ainda mais no momento atual
em que a islamofobia fomentada pela mídia ou redes sociais cresce no mundo e no
Brasil. Estudar o medievo para compreender o outro e respeitar a sua religião é
imprescindível, sobretudo no Brasil na qual as manifestações de intolerância religiosa
vem aumentando nos últimos anos.
Em resumo, respondemos em parte quais seriam as possibilidades de pesquisa
para a área de história medieval para um estudante de graduação na construção do
seu TCC e iniciação científica ou de um discente de pós-graduação na elaboração da
sua dissertação de mestrado ou tese de doutorado. Desde análise das representações
da Idade Média no material didático, no cinema, na mídia, nos quadrinhos, nos jogos
eletrônicos à análise de fontes escritas ou não escritas do período que muitas vezes
estão disponíveis pela internet, até o estudo da medievalística brasileira ou
estrangeira.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
323
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
FONTES
REFERÊNCIAS
ASFORA, Wanessa et al. Faire l’histoire du Moyen Âge au Brésil. In: Bulletin du
Centre d’études médiévales d’Auxerre, 12 (2008), p.125-144.
BASTOS, Mario Jorge da Motta & RUST, Leando Duarte. Translatio Studii. A
História medieval no Brasil. In: Signum, 10 (2008), p.163-188.
BITTENCOURT, Circe Maria F. Ensino de História: fundamentos e métodos. São
Paulo: Cortez, 2005.
FRANCO JÚNIOR, Hilário, BASTOS, Mario Jorge da Motta & RUST, Leando Duarte.
Historiographie et médiévistique brésilienne: une aproche d’ensemble. In:
MAGNANI, Eliana (dir.). Le Moyen Âge vu d’ailleurs: voix croisées d’Amérique
latine et d’Europe. Dijon: Editions Universitaires de Dijon, 2010, p. 39-52.
LIMA, Douglas Mota Xavier de. História Medieval na Amazônia: trajetória, desafios
e perspectivas. In: Signum, 18 (2017), n. 1., p. 159-177.
MACEDO, José Rivair. Os estudos medievais no Brasil. Catálogo de dissertações e
teses: Filosofia, História e Letras (1990-2002). Porto Alegre: UFRGS, 2003.
324
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
325
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
130Acadêmico do curso de História da Fundação Universidade Federal de Rondônia UNIR. Foi pro-
fessor de História e História de Rondônia na Escola Marcelo Candia da Rede de Educação Marcelina,
no município de Porto Velho.
326
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Portanto este texto segue na linha dos novos conceitos acerca da metodologia
de pesquisa documental, pois os questionários são vistos como registros importantes
a serem analisados na produção das ciências históricas. Esta ampliação de novos
olhares na metodologia já citada, ganha impulso pelas mudanças na historiografia,
assim
327
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Pela definição de Antônio Gil (1999), percebe-se como o uso desta técnica,
possui grande importância nas produções de história, permite ao pesquisador extrair
variadas informações de diversificadas temáticas, cabendo confecciona-lo de acordo
com seus objetivos. Também se torna importante frisar de acordo com exposto por
Gil, estes procedimentos de coleta de informações tratam não simplesmente de
construção de dados, mas pode buscar compreender as relações dos homens, visão
bastante próxima da ciência histórica, pois segundo Bloch
131 Nome fictício da escola, por questões éticas não será dada a identificação da instituição.
328
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
N° de Citações
42
36
31 30 29 29 28 27 26
Ver: PALITOT, Aleksander Allen Nina. Rondônia Uma História. Editora Imediata, 2016.
132
TEIXEIRA, Marco e FONSECA, Dante. História Regional (Rondônia). Porto Velho: Rondoniana, 1998.
329
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
N° de Citações
26
23 22 22
18 18
16
N° de Citações
15
14
13
10
Ao observarmos estes dados dos três primeiros gráficos, parece algo natural os
discentes terem mencionados, pois estes devem ser os temas da composição do
currículo da disciplina de História de Rondônia. Mas acompanhamos os 4 e 5
respectivamente:
330
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
N° Citações
40
37
32 32 32 32
28 27
Festival Flor Cemitério de Haitianos em Cemitério Dia do Cheia do rio Dia de Nossa Cemitério da
do Maracujá Santo Porto Velho dos Evangelho Madeira Senhora Candélaria
Antônio Inocentes 2014 Auxiliadora
N° de Citações
16
12
10 9 8
5 4 3
331
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Dessa fronteira
De nossa Pátria
Rondônia trabalha febrilmente
E nas oficinas
E nas escolas
A orquestração empolga toda gente
Braços e mentes,
Forjam cantando
A apoteose
Deste rincão
E com orgulho, exaltaremos
Enquanto nos palpita o coração
mesmo tratar de temas como feriados religiosos, e da própria religião nesta região,
vejo este ponto, relacionado com a perspectiva de apresentar a história somente
através do viés dos acontecimentos econômicos.
Também é preciso enfatizar, que muitos dos aspectos sociais desta sociedade
são deixados de lado, a cidade não se dividia somente por uma linha, mas nas
definições de status eram os Categas ou as Mundiças, a distinção encontrava-se no
vestuário ou nos locais de enterramento dos cemitérios (Nogueira, 2016). Conhecer a
importância do Terreiro de Santa Barbará e sua líder, é perceber um local de
resistência e abrigo para aqueles excluídos da cidade moderna, a biografia da
fundadora é conhecer a representação de um confronte numa época de lideranças
masculinas (Lima, 2001). A reflexão de Elza Naldai sintetiza esta crítica, pois
333
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
reflexo deste modelo atual onde se projeta a disciplina e a quais devem ser os seus
objetivos para a formação dos discentes.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta discussão não foi dito que os temas monumentos não devem ser
estudados, mas deve-se apresentar novas formas de seu estudo. Pois tantos os
documentos e os monumentos devem fazer parte do estudo da história, e esta
problematização deve ser transmitida para os discentes.
Este estudo visa suscitar reflexões para debates e não dizer quis devem ser as
soluções para esta realidade, pois ele ainda está em gestação, entretanto espera-se um
olhar criterioso com usos e finalidades da disciplina de História de Rondônia.
Espera-se a continuação do debate com duas reflexões, seja para os temas
monumentos ou o distanciamento dos alunos com a literatura regional. Para a
primeira, Lana Siman salienta:
334
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
335
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
discursos e imagens no ensino de história. Orgs: SIMAN, Lana Maria de Castro &
FONSECA, Thaís Nivia de Lima e. São Paulo: Autêntica, 2007.
SOUZA, Valdir Aparecido de. Rondônia: uma memória em disputa. Tese de
Doutorado no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 2011.
TEIXEIRA, Marco e FONSECA, Dante. História Regional (Rondônia). Porto Velho:
Rondoniana, 1998.
ANEXO I
Frente:
336
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
Verso:
337
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
1 INTRODUÇÃO
Neste ensaio apresentamos breve relato das experiências construídas com base
no projeto de extensão denominado “História em Imagem: Rondon e as expedições
telegráficas”, desenvolvido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Rondônia no segundo semestre de 2015.
O projeto contou com a colaboração dos pesquisadores do Núcleo de Estudos
Históricos e Literários do IFRO e dos demais professores de História, Geografia e
Artes do Campus Calama, vinculados a outros grupos de pesquisa. Foi desenvolvido
com recursos financeiros do IFRO, mediante edital do Departamento de Extensão do
Campus Porto Velho Calama.
A proposta integrou ensino, pesquisa e extensão com vistas a realizar uma
instalação fotográfica e de artefatos culturais referentes à biografia de Marechal
Rondon e seus trabalhos na implantação da linha telegráfica que interligaria o Mato
Grosso ao Amazonas. Essa instalação foi proposta como mediação para a construção
do conhecimento histórico escolar, por entendermos que,
Para que o ensino de História [...] seja levado a bom termo, (...), torna-
se necessário que o professor inclua, como parte constitutiva do
processo ensino/aprendizagem, a presença de outros mediadores
culturais, como os objetos da cultura material, visual ou simbólica,
que ancorados nos procedimentos de produção do conhecimento
histórico possibilitarão a construção do conhecimento pelos alunos,
tornando possível “imaginar”, reconstruir o não-vivido, diretamente,
por meio de variadas fontes documentais (SIMAN, 2004, 88).
133Doutora em Geografia pela UFPR. Mestre em História pela USP. Docente do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia.
338
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
2 OBJETIVOS
339
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
3 METODOLOGIA
340
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
verbais, até o uso documental, em que é explorada como recurso para esclarecer
sobre questionamentos históricos. Em que é utilizada em relação a um dado
problema de pesquisa.
No ensinamento de Mauad e Lopes (2012, p. 263),
341
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
342
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
do mito.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
343
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
344
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
neto de indígenas, mas acreditada capacidade técnica, foi designado para coordenar
expedições telegráficas no interior do Brasil, dentre as quais a que interligaria Cuiabá
à Vila de Santo Antonio do Madeira, vila que nos interessa em particular por ter sido
um núcleo formador de Porto Velho (hoje um de seus bairros).
A construção das Linhas Telegráficas Mato Grosso-Amazonas foi um dos
maiores projetos desenvolvidos pelo Estado brasileiro no início do século XX e sua
conclusão, em maio de 1915, foi de suma relevância para a integração do noroeste
brasileiro ao restante do país, para a própria construção do Estado de Rondônia e
para o desenvolvimento do município de Porto Velho. O projeto oportunizou ainda
levantamentos topográficos, botânicos e registros cartográficos, fotográficos e
etnológicos. Destaque-se que o embora o projeto original previsse cabeamento de
Cuiabá a Manaus, os trabalhos foram encerrados em Santo Antonio do Madeira, em
função dos macro interesses políticos da época.
O Estado de Rondônia, criado pela Lei Complementar n. 41, de 22 de
dezembro de 1981 tem em seu nome uma homenagem ao sertanista, e o município de
Porto Velho teve a gênese de sua ocupação no antigo porto, abandonado pelos
militares quando da conclusão do trabalho de cabeamento. Foi a partir daquele porto
que Farqhuar reiniciou o trabalho da construção da ferrovia Madeira-Mamoré,
dando início a um núcleo de povoamento que, ao se expandir, concorreria para a
criação do município de Porto Velho.
O estudo acerca da construção da linha telegráfica Mato Grosso-Amazonas é
de vital importância para a compreensão da história local e regional, bem como para
lançar luzes sobre a mentalidade vigente no Brasil da época. Mentalidade essa que,
no início do século XX, considerava o noroeste do Brasil (o que hoje chamamos de
região amazônica), como um vasto vazio demográfico. Nessa região havia territórios
que, por uma questão de defesa da segurança e soberania nacional, deveriam ser
integrados: o Acre, o Alto Purus e o Juruá, razão pela qual foi atribuída à Comissão
Construtora de Linhas Telegráficas do Mato Grosso a missão de civilizar e integrar o
sertão amazônico, por meio do progresso técnico representado pelo telégrafo.
Conforme Maciel (1999, p. 167):
345
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
346
O lugar da história e dos historiadores nas Amazônias Veronica Aparecida Silveira Aguiar (org.)
REFERÊNCIAS
348