CONDOMÍNIO
CONDOMÍNIO
CONDOMÍNIO
CONDOMÍNIO
1. Noções Gerais
O condomínio é uma situação jurídica em que dois ou mais proprietários exercem os
poderes dominiais sobre o mesmo bem. Ou seja: os chamados condôminos praticam ao
mesmo tempo as faculdades de uso, fruição e disposição sobre a coisa, podendo, ainda, se for
o caso, reivindicá-la de terceiros.
Neste sentido, o artigo 1.314 dispõe que “Cada condômino pode usar da coisa conforme
sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la
de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.”
2. Espécies de Condomínio
Já no condomínio pro diviso há um ajuste para o exercício dos poderes dominiais sobre
um espaço delimitado sobre o bem. Neste caso, há apenas indivisão jurídica da coisa, pois,
não obstante cada um dos condomínios exercerem os direitos sobre um espaço delimitado da
coisa, o direito de propriedade é compartilhado por mais de duas pessoas.
2.2.Quanto às Origens
a) Condomínio Voluntário
b) Condomínio Necessário
É o que se origina por imposição forçada da lei, como é o caso das cercas e muros
divisórios de prédios contíguos ou como na situação dos herdeiros que se tornam condôminos
do espólio do sucessor até a realização da partilha de bens.
Para se compreender o conteúdo e o modo pelo qual um condômino pode exercer seus
direitos sobre a coisa é preciso fazer uma distinção entre as relações internas entre os co-
proprietários e as relações externas entre terceiros.
Por exemplo, num condomínio em que o titular A detenha fração ideal de 1/10 sobre o
bem, o mesmo poderá propor ação reivindicatória para proteger o bem como um todo,
independentemente da autorização dos demais.
Já nas relações internas, o direito dos condôminos está limitado quantitativamente, pois
a sua extensão irá depender da cota parte ou fração ideal do respectivo condômino sobre o
bem.
Um determinado bem, como uma fazenda, pode ser utilizada para os mais diversos fins.
Ela pode se destinar, por exemplo, à cultura, à criação de gado ou à indústria, mas o que vai
determinar a destinação dela é a vontade da maioria dos condôminos. É, portanto, neste
sentido que se deve entender esta restrição. O condômino não poderá utilizar o bem para fins
diversos da destinação definida pela maioria dos condôminos.
Cumpre advertir que tal restrição não se aplica ao condomínio pro diviso, uma vez
que nesta modalidade, como visto, o espaço de atuação do condômino está devidamente
delimitado, não havendo razões para se exigir autorização dos demais.
A primeira regra é a de que o condômino responde aos outros pelos frutos que
recebeu da coisa.[3] A título de ilustração, imaginemos a hipótese de um ex-casal que
aguarda o julgamento de uma ação divórcio litigioso, na qual está pendente a partilha definitiva
de bens.
Da mesma forma, se um imóvel for arrendado, os frutos civis (alugueis) serão repartidos
entre os demais condôminos, na falta de estipulação contrária ou disposição de última vontade,
na proporção do quinhão de cada um.[4] Se os quinhões não foram especificados, entende-se
que são iguais.[5]
Portanto, o condômino pode livremente alhear (alienar) ou gravar de ônus real a sua
fração ideal a terceiros. Observa-se que a liberdade é quanto à alienação da fração ideal, o que
significa, a contrario sensu, que o condomínio não poderá alienar o todo sem autorização dos
demais. Se isto acontecer, ter-se-á uma hipótese de ineficácia relativa do negócio jurídico em
relação aos demais condôminos – venda a non domino.
O mesmo se pode dizer quanto aos atos de disposição jurídica parcial, pois nada impede
que o condômino institua um direito real de garantia (penhor, hipoteca ou anticrese) sobre a
sua fração ideal, independentemente de audiência dos demais, nos termos da parte final do art.
1.420,§2º do CC[7].
A restrição propriamente dita não está prevista no capítulo que trata do condomínio, mas
no artigo 504 do Código Civil[8]. Trata-se do chamado direito de preferência, que assiste ao
condômino de um bem indivisível. Assim, no condomínio que tenha por objeto bem indivisível,
o alienante deve notificar previamente os demais condôminos para que estes possam exercer
o seu direito de preferência, tanto por tanto (tanto por tanto significa que o preço oferecido ao
terceiro deve ser o mesmo oferecido ao outro condômino).
Um erro muito comum é imaginar que a venda realizada sem prévia notificação dos
demais condôminos conduz à nulidade ou anulação do contrato. Para não incorrer no erro,
deve-se ter em conta que a preferência não está no plano de validade do contrato, mas, se
exercida dentro do lapso previsto em lei, pode suprimir a eficácia do negócio.
Neste caso, a venda realizada é valida e eficaz, mas os efeitos poderão ser obstados
pelo exercício tempestivo do direito de preferência. E tempestivo é o direito de preferência
exercido no prazo decadencial de até 180 dias.[9]Além de se atentar ao prazo, o condômino
deverá cumprir outro requisito, qual seja: o preço respectivo em juízo.
Destaca-se, por fim, que o art. 504 do Código Civil não faz distinção se a indivisibilidade
é real ou jurídica. A herança, por exemplo, pode ser composta por bens móveis ou imóveis,
divisíveis ou indivisíveis. No entanto, a lei expressamente dispõe que a herança, considerada
como um todo, é bem indivisível.[10]
Exatamente por isso, o STJ já entendeu que, num contrato de cessão hereditária de
direitos, há de ser observado o direito de preferência dos co-herdeiros/condôminos:
Na rubrica das despesas podem ser incluídos quaisquer custos, como tributos, cotas
condominiais, valores gastos com reforma do bem etc. Aliás, algumas dessas despesas são
obrigações propter rem e vinculam o condômino mesmo sem ter ele se obrigado pessoalmente.
E mais: as despesas relativas aos impostos, predial e territorial, e às cotas condominiais
dão azo à penhora da quota parte do condômino, mesmo em se tratando de bem de família,
por se tratar de situação excepcional prevista no art. 3º, inciso IV, da Lei 8.009/90[12]. O
precedente abaixo pode confirmar tal afirmação, vejamos:
Optei por trabalhar este tópico das obrigações propter rem em separado, pois o dever do
condomínio de arcar com este tipo de despesa não decorre precisamente do artigo 1.315, do
Código Civil, mas sim em razão de regras específicas que classificam tais despesas como
ambulatórias.
Tanto é assim que o credor poderá exigir o valor integral do condômino simplesmente
por ser este um dos proprietários da coisa.
A regra pode até parecer injusta, mas tem uma lógica, pois o condômino que contratou a
dívida não atuou como representante/mandatário dos demais, mas sim como um mero gestor
de negócio, que depende de ratificação para vincular terceiros ao ato praticado.
É claro que, para evitar o enriquecimento sem causa, aquele que pagou terá ação
regressiva contra os demais, pois, afinal, desde que tenha revertido algum proveito em favor do
condomínio. Mesmo assim, o condômino que não participou do negócio responde perante o co-
proprietário, mas não em relação ao terceiro.
Como visto, as despesas podem ser de naturezas diversas e o surgimento delas pode
ter resultado da vontade geral dos condôminos ou de apenas alguns deles, fatores que influirão
no grau de responsabilidade de cada um.
Em termos técnicos, a renúncia é ato jurídico unilateral, mas que não se confunde com o
abandono, que também é conhecido como derrelicção ou derelição. Ambos são, na verdade,
hipóteses de perda da propriedade[16].
Além de serem classificados como tal, a renúncia e o abandono ainda têm em comum a
circunstância de que o titular da coisa pretende se despojar dela. Representam, portanto,
verdadeira abdicação à coisa.
Ainda na zona de interseção entre os dois institutos, deve-se mencionar que, em ambos
os casos, o bem se torna coisa sem dono (res nullius), já que nada se transmite a ninguém.
Não era para menos, pois se a renúncia beneficiasse alguém, ela não seria um ato de
abdicação ou despojamento, mas sim uma alienação[17].
E se não houver quem faça os pagamentos, a coisa comum será divida, seja pela via
amigável, por acordo entre condôminos capazes, ou pela via contenciosa/judicial, na hipótese
de litígio ou interesse de incapaz. Sendo indivisível o bem, procede-se à alienação do bem,
com a divisão proporcional do preço obtido[19].
3.4.1. Divisão
a) Conceito
Mesmo sendo um direito potestativo, existem situações nas quais o condômino não
poderá pretender a divisão do bem. Por exemplo, nas hipóteses de condomínio necessário,
como é o caso dos muros, cercas e tapumes divisórios de prédios contíguos[21], não faz
sentido o condômino pretender a divisão, pois os marcos divisórios servem para garantir o
“direito de tapagem” que assiste ao titular.
b) Acordo de Indivisão
Seja como for, os prazos voluntariamente fixados poderão ser desconsiderados caso o
juiz se convença da existência de graves razões que justifiquem o rompimento da
comunhão[23]. Ou seja: dependendo do estado de beligerância dos condôminos, nenhum
acordo anterior poderia prevalecer se o imóvel não cumpre a função social.
c) Divisão e Usucapião
O interessado pode optar pelas seguintes vias para se obter a divisão do bem:
Em certas situações o uso comum da coisa pode se mostrar inconveniente, o que pode
ser justificado por diversos fatores, dentre os quais a existência de divergências e conflitos
entre os condôminos, ou ainda, a falta de capacitação técnica para a exploração ou
administração do bem comum, de sorte que, nessas hipóteses, os condôminos podem decidir
pela locação do bem ou podem eleger um gestor para administrá-lo[25].
O Código Civil, à semelhança do que dispõe acerca das sociedades contratuais (art.
1.010), prevê um critério econômico para a deliberação sobre a eleição do administrador.
Assim, a escolha do gestor depende de aprovação por maioria absoluta[26] do valor dos
quinhões e não do número per capita dos condôminos[27].
Agora, se por qualquer motivo não for possível a aprovação pela maioria absoluta do
valor dos quinhões, quem decidirá é o juiz, ouvidos os demais condôminos[28]. Os condôminos
também deverão recorrer ao Poder Judiciário se houver dúvida quanto ao valor dos quinhões,
para se promover a sua avaliação.
d) Demais Deliberações
No entanto, uma coisa é a autorização tácita e outra é oposição expressa. Neste último
caso, seja qual for o regime de administração do condomínio, é necessária a realização de
uma deliberação para se aprovar esse ou aquele negócio. O quorum dessa deliberação é o
mesmo: maioria absoluta do valor dos quinhões.
Os condôminos também poderão decidir pela locação do bem a algum interessado, que
pode ser tanto um terceiro como um próprio condômino. No entanto, este último tem o direito
de preferência nos termos do artigo 1.323.
Sendo assim, cabe o emprego da analogia para se aplicar à espécie as regras dos
artigos 504 e 1.322, que tratam, respectivamente, do direito de preferência em caso de
alienação e dos critérios para se definir a preferência, entre os condomínios, na venda judicial
do bem.
4. Condomínio Necessário
4.1. Conceito
4.2. Características
a) Impossibilidade de divisão
Realmente não faz sentido pensar na alienação da parte ideal de um bem submetido a
condomínio forçado, como no caso dos muros e cercas divisórios ou da parede-meia. O
adquirente de um bem sempre tem em vista a extração das utilidades que este bem pode
proporcionar e não faria sentido a aquisição da meação de uma parede meia se o adquirente
não possui o bem principal, ou seja, o próprio imóvel.
5. Condomínio Edilício
As regras da Lei 4.591/64 poderiam, no máximo, serem aplicadas nas hipóteses omissas
do Código Civil, supletivamente.
Por fim, destaca-se que o Código de Defesa do Consumidor não se aplica nas relações
entre os condôminos e o condomínio edilício, por inexistir, no caso, relação de consumo, nos
termos do artigo 2º e 3º do CDC. A propósito, consigne-se que esta é a orientação do STJ:
O condomínio edilício é tema de suma importância nos tempos atuais, pois engloba em
seu objeto uma infinidade de edificações “de um ou mais pavimentos, construídos sob forma de
unidades isoladas entre si, destinadas a fins residenciais ou não residenciais”, tais como
“escritórios, garagens, mercados, estações rodoviárias, shopping centers, vilas residenciais,
loteamentos fechados e até cemitérios particulares com jazigos individuais ou coletivos.[35]”
A fração ideal, que pode ser expressa de forma decimal ou ordinária na convenção de
condomínio, representa o quinhão do proprietário da unidade autônoma no condomínio. Antes
da alteração proporcionada pela Lei 10.931/04, essa fração ideal era proporcional ao valor da
unidade imobiliária, conforme previa a antiga redação do §3º do art. 1.331, do CC.
Como visto, as áreas particulares do condomínio edilício são aquelas que estão sujeitas
ao domínio exclusivo do proprietário. A cada uma delas é atribuída uma fração ideal nas áreas
comuns, que representa a parcela de propriedade que o titular da unidade autônoma tem no
condomínio.
Outra condição especial para uma unidade autônoma, é que ela tenha necessariamente
um acesso para via pública, pois ela não pode ficar encravada no fundo das outras áreas
privativas[37].
Por fim, é importante assinalar que o titular da área privativa exerce suas faculdades
dominiais com plena liberdade e exclusividade sobre o seu espaço, devendo cumprir sua
função social e sujeitando-se, também, às restrições decorrentes do direito de vizinhança e
demais normas de ordem pública.
Em razão do condomínio existente, os titulares das frações ideais das áreas comuns não
podem exercer os poderes de uso, fruição e disposição com a plenitude exercida sobre suas
respectivas áreas particulares.
E mesmo que conste como área comum na mencionada escritura, nada impede a
possibilidade de conversão para área privativa conforme aprovação unânime realizada em
assembléia extraordinária.
a) Conceito
Mas o problema surge quando não há essa correspondência. Ou seja: alguns titulares
das unidades ficam prejudicados, sem ter um local reservado para o estacionamento de seus
veículos. Em situações como essa, a solução é a realização de um sorteio para a fruição das
vagas, mas sem definitividade. Isso significa que pode ser criado um rodízio para a utilização
para que todos possam fruir de maneira equilibrada e justa das vagas disponíveis.
c) Natureza Jurídica
O Código Civil alude às vagas de garagem, no 1§º do art. 1.331, referindo-se a elas
como “abrigos para veículos”. Pelo contexto da norma, a natureza jurídica da vaga seria a
de propriedade exclusiva. No entanto, isso só acontece quando for atribuída à vaga uma
fração ideal específica e individualizada, representativa da cota parte do condômino na
comunhão. Isso é comum nos chamados edifícios garagem, que se destinam à exploração do
ramo de estacionamentos.
Por fim, a natureza jurídica da forma será a de área comum quando “a sua utilização for
facultada a todos os condôminos no espaço coletivo”[40].
Essa análise, que a princípio apresentaria fins meramente acadêmicos, tem uma
importância conseqüência prática: é que a vaga de garagem, desde que devidamente
individualizada com matrícula e registro próprios, pode ser objeto de penhora, pois não integra
o bem de família para efeitos da proteção conferida pela Lei 8.009/90. Neste sentido, o
precedente do STJ abaixo:
Embora o Código Civil qualifique a vaga de garagem como área privativa (art. 1.331,§1º),
ele restringe o poder de fruição e disposição do titular, que não poderá alienar ou alugar a vaga
a pessoas estranhas, salvo autorização expressa na convenção de condomínio. Tal restrição
se justifica principalmente por questões de segurança. Justamente por isso, se o condômino
não tiver autorização para alienar e alugar, não terá liberdade para doar ou celebrar contrato de
comodato.
Poderia até ser definido como pessoa jurídica, mas a posição majoritária da doutrina
ainda concebe o condomínio como “ente despersonalizado”, pelo fato de ter a possibilidade de
assumir algumas posições jurídicas, como a capacidade processual (art. 12, IX do CPC), a
possibilidade de ter um CNPJ para efeitos fiscais, a titularidade de uma conta corrente etc.
No entanto, algumas dificuldades práticas surgem como conseqüência da falta de
atribuição da personalidade jurídica ao condomínio. Por exemplo, o condomínio não pode
adquirir o terreno vizinho para ser a ele incorporado. Outra situação: num processo de
execução, o condomínio, embora tenha capacidade processual, não pode arrematar ou
adjudicar o bem sobre o qual recai débito condominial. É mesmo um contrassenso!
5.8.1.1.Conceito
Trata-se do ato jurídico, bilateral (negócio jurídico) ou unilateral (testamento), entre vivos
ou causa mortis, que dá origem ao condomínio edilício. Este, portanto, resulta de uma
declaração de vontade materializada, nos termos do código civil (art. 1.332, 1ª parte), “por ato
entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de Registro de Imóveis”.
5.8.1.2.Requisitos Formais
O Código Civil, no mesmo art. 1.332, estabelece um núcleo básico de informações que
necessariamente deverão constar do instrumento de instituição, isso sem contar com as
demais exigências estabelecidas em lei especial.
O proprietário do terreno que tem capital para financiar por conta própria a construção é
naturalmente o responsável pela instituição do condomínio edilício. No entanto, geralmente é
necessária a captação externa de recursos para viabilizar o empreendimento da construção e,
consequentemente, a venda das unidades autônomas.
5.8.2.1.Conceito
Podemos dizer, grosso modo, que a convenção funciona como uma Constituição do
condomínio edilício, ao definir regras básicas e modeladoras do padrão de conduta a ser
exigido dos condôminos. Trata-se, então, de uma norma que dita os direitos e deveres dos
condôminos.
Mais do que definir direitos e deveres, a convenção de condomínio pode conter outras
normas definidoras de sua responsabilidade perante os condôminos. Pensando na
responsabilidade civil, por exemplo, imagine se um dos condôminos agride fisicamente outro
co-proprietário dentro das áreas comuns. O condomínio edilício, ente despersonalizado,
responde objetivamente pelos danos ocasionados à integridade física (direito de
personalidade) da vítima?
Em um caso desta natureza, o STJ entendeu que não, salvo se o dever jurídico de agir e
impedir a ocorrência do resultado estiver presente previsto na respectiva convenção
condominial. Ou seja: um bom exemplo em que a convenção de condomínio serve como
parâmetro para definir direitos nas relações com os condôminos. Vejamos a ementa do
precedente mencionado:
5.8.2.2.Natureza Jurídica
a) Natureza Institucional
Outro fundamento para sustentar a natureza estatutária é o de que grande parte das
normas, como se verá adiante, possui natureza cogente, sendo por isso inderrogável pela
vontade das partes.
a) Deliberação
b) Forma
Destarte, o documento que exterioriza a vontade dos condôminos pode ser a escritura
pública ou o instrumento particular, como dispõe o §1º do Art. 1.334.
c) Eficácia
Em termos práticos, se a convenção foi aprovada, mas não foi registrada, não se poderá
exigir de um terceiro adquirente de um apartamento, por exemplo, que ele assuma despesas
extraordinárias que extrapolem os valores usuais com gastos no condomínio. Isso porque ele
não tinha ciência formal do ato e, com isso, os efeitos não podem alcançá-lo.
Em contrapartida, os titulares de direito real, possuidores ou detentores das unidades
autônomas imediatamente se submetem aos efeitos da convenção, como fica nítido na parte
final do art. 1.331, caput: “[...] e torna-se, desde logo, obrigatória para os titulares de direito
sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse ou detenção.
Mas é importante destacar que alguns efeitos do ato, mesmo sem o registro da
convenção, atingem terceiros adquirentes. Ora, seria enriquecimento sem causa imaginar que
um terceiro pudesse ficar isento do pagamento das cotas condominiais básicas sob o
fundamento de que não há registro da convenção. Nesta hipótese específica, mesmo sem o
registro, o terceiro que assume a posição de condômino é obrigado a arcar com os
pagamentos.
Inclusive, a Súmula 260 do STJ pode ser invocada como fundamento para a afirmação
feita acima: “A convenção de condomínio aprovada, ainda que sem registro, é eficaz para
regular as relações entre os condôminos.”
d) Conteúdo
Com efeito, a partir dos artigos 1.332 a 1.334 e do Enunciado de número 504 do CJF,
pode-se montar o seguinte quadro:
e) Cláusulas Dispositivas
A lei não impõe uma norma como essa, mas, uma vez estabelecida, ela cria o dever
jurídico e a responsabilidade civil por fato de outrem.
Por outro lado, se a convenção for omissa a respeito deste tema específico, os
condôminos prejudicados pelo furto ou avaria de seus veículos não poderão acionar o
condomínio para o pagamento da indenização, pois se não há o dever jurídico, não há se falar
na obrigação de reparar o dano.
Enfim, tanto o promitente comprador como o cessionário de direitos, por não ostentarem
ainda o título de propriedade, não gozam dos mesmos direitos do proprietário. O §2º do art.
1.331 deixa isso muito claro: “§ 2o São equiparados aos proprietários, para os fins deste
artigo, salvo disposição em contrário, os promitentes compradores e os cessionários de
direitos relativos às unidades autônomas.”
O exame do conteúdo mínimo definido pelo art. 1.334 exige a abertura de um tópico
específico para facilitar a análise pontual das cláusulas cogentes que figuram naquele
dispositivo.
d) Sanções
e) Regimento Interno
Mas uma ressalva deve ser feita: não se pode esquecer que o quorum para a alteração
da destinação do edifício, ou da unidade imobiliária, é de unanimidade, conforme prescreve o
artigo 1.351, 2ª parte, vejamos: “Art. 1.351. Depende da aprovação de 2/3 (dois terços) dos
votos dos condôminos a alteração da convenção; a mudança da destinação do edifício, ou da
unidade imobiliária, depende da aprovação pela unanimidade dos condôminos.(Redação dada
pela Lei nº 10.931, de 2004)”
Registre, por fim, que o quorum para a alteração do regimento será aquele fixado na
convenção condominial, tal como prevê o Enunciado 248, da III Jornada do CJF: – “Art.: 1.334,
V: O quorum para alteração do regimento interno do condomínio edilício pode ser livremente
fixado na convenção.”
O artigo 1.335 contempla um núcleo essencial de direitos que cada titular de uma
unidade autônoma possui junto ao condomínio edilício. São eles: “I - usar, fruir e livremente
dispor das suas unidades; II - usar das partes comuns, conforme a sua destinação, e contanto
que não exclua a utilização dos demais compossuidores; III - votar nas deliberações da
assembléia e delas participar, estando quite.”
Para efeito de organização da matéria, optei por listar alguns comentários sobre os
direitos essenciais dos condôminos, conforme se segue:
A faculdade de fruição do titular da vaga de garagem, que pretende, por exemplo, aliená-
la ou alugá-la, pode ser suprimida pela convenção de condomínio, como visto acima. E mesmo
que o proprietário tenha autorizar para alienar ou alugar a vaga, deverá oferecer primeiro a um
condômino, que tem direito de preferência em relação a estranhos/terceiros.
Não se pode olvidar que o condomínio edilício não se confunde com o condomínio
voluntário tradicional, de modo que não se pode estabelecer, no primeiro, o direito de
preferência dos demais condomínios na hipótese de alienação da área privativa, pois resultaria
em excessiva restrição da faculdade de dispor da coisa.
Observe que o art. 1.335, diversamente do que está previsto para o condomínio geral
(art. 1.314[48]), foi omisso ao dispor sobre o direito do proprietário de uma unidade autônoma
de reivindicar a posse de quem injustamente detenha ou possua uma área comum.
Legitimidade ativa para a ação petitória:É Legitimidade Ativa para a ação petitótia:É
concorrente, pois tanto o condomínio – ente exclusiva do condomínio edilício. O
despersonalizado – como os condôminos condômino só tem ação petitória para
podem reivindicar o bem de terceiros. defender agressões à posse sobre sua
respectiva unidade autônoma.
A legitimação só será concorrente em
situações excepcionais, quando o uso do
espaço comum for exclusivo de um ou mais
condôminos ou indispensável ao exercício do
direito de usar, fruir ou dispor de uma ou mais
unidades autônomas.
A divisão estabelecida neste quadro foi elaborada com base no entendimento do STJ
sobre a matéria, como se vê no precedente abaixo:
No que se refere à utilização das áreas comuns são feitos os seguintes comentários:
O exercício exclusivo do contato físico com a área comum, ainda que por tempo
prolongado, não gera a usucapião em favor do condômino. O contato com a coisa, nesta
hipótese, não é qualificado como posse, mas como mera detenção, pois atos de mera
permissão ou tolerância não induzem posse (art. 1.208, do CC). Além do mais, o art. 3º da Lei
4.591/64, aplicável supletivamente diante da omissão do Código Civil, prescreve que as áreas
comuns são insuscetíveis de utilização exclusiva por qualquer condômino.
Entretanto, se o contato físico de uma área comum (como um sótão, depósito, casa de
empregado) por tempo prolongado é exercido não por um condômino, mas por um terceiro, aí
sim é possível a usucapião de áreas comuns.
Assim, por exemplo, se um morador exerceu posse exclusiva de uma área comum por
tempo prolongado, a omissão dos demais condôminos quanto àquela situação fez gerar uma
legítima expectativa, no detentor, da estabilidade daquela situação no tempo. Assim, os
condôminos, que poderiam impugnar o uso exclusivo (art. 1.335, I), acabaram por ver
suprimido os efeitos do seu direito potestativo, sendo obrigados a tolerar a posse exclusiva,
enquanto existir justificativa para tanto.
a) Legitimados
5.9.5.1. Destinatários
Já que os possuidores diretos em geral são destinatários dos deveres, caso um deles
venha a descumprir a lei ou as normas internas do condomínio, o débito decorrente será da
coisa em si (propter rem), de forma que o proprietário poderá ser responsabilizado civilmente,
mesmo não tendo sido ele quem infringiu o dever.
Em relação a este dever específico, são feitos alguns comentários de maior relevo, como
se segue.
a) O Valor da Contribuição
Logo, não é ilegal estabelecer cotas igualitárias[53] para todos os condôminos, desde
que previsto na convenção.
Em desfecho, ressalta-se que a despesa de uma área comum, mas de uso exclusivo por
parte de apenas algumas pessoas, não poderá ser suportada por todos os condôminos, como
prescreve o art. 1.340[54]. Realmente não faria sentido imputar ao titular de uma unidade que
não tem qualquer tipo de proveito com a área comum utilizada exclusivamente por outros, pois
haveria um enriquecimento sem causa da parte de quem efetivamente se beneficia com o uso
e fruição da coisa.
A decisão acaba por contrariar a natureza jurídica da obrigação propter rem, pois se o
nome do promitente vendedor ainda figura no registro de imóveis, ele é o proprietário e, em
linha de princípio, deveria responder solidariamente ao pagamento do débito. Segue abaixo a
ementa da decisão comentada:
I - A teor da jurisprudência desta a. Corte, a responsabilidade pelas
despesas de condomínio, ante a existência de promessa de compra e
venda, pode recair tanto sobre o promissário-comprador quanto sobre
o promitente-vendedor, a depender das circunstâncias do caso
concreto (ut EREsp nº 136.389/MG, Relator o Senhor Ministro Sálvio
de Figueiredo Teixeira, DJ de 13/9/99);
II - Esclareça-se, entretanto, que, com tal assertiva, não se está a
afirmar que a legitimação passiva ad causam da ação que objetiva o
adimplemento das despesas condominiais ficará, em qualquer
hipótese, ao alvedrio do autor da ação, que poderá optar,
aleatoriamente, pelo promitente-vendedor ou pelo compromissário-
comprador, tal como entenderam as Instâncias ordinárias. Na
verdade, revela-se necessário aferir com quem, efetivamente, restou
estabelecida a relação jurídica material;
III - Como é de sabença, as despesas condominiais, assim
compreendidas como obrigações propter rem, são de
responsabilidade, em princípio, daquele que detém a qualidade de
proprietário do bem, ou, ainda, de titular de um dos aspectos da
propriedade, tais como a posse, o gozo ou a fruição;
IV - Não há, assim, qualquer relevância, para o efeito de se definir a
responsabilidade pelas despesas condominiais, se o contrato de
promessa de compra e venda foi ou não registrado, pois, conforme
assinalado, não é aquele que figura, no registro, como proprietário,
que, necessariamente, responderá por tais encargos;
V - Para a correta definição do responsável pelos encargos
condominiais, em caso de contrato de promessa de compra e venda,
deve-se aferir, pontualmente, se houve efetiva imissão na posse por
parte promissário-comprador (ainda que em caráter precário) e se o
condomínio teve ou não o pleno conhecimento desta. Presentes tais
circunstâncias, a responsabilidade pelas despesas condominiais deve
ficar a cargo do promissário-comprador, no período em que tiver
exercido a posse do bem imóvel;
VI- Recurso Especial provido. (STJ, REsp 1.079.177/RS)
c) Responsabilidade do Adquirente
d) Responsabilidade do Locatário
O atraso no pagamento das parcelas do condomínio traz à tona uma série de encargos
que deverão ser suportados pelo inadimplente. Comecemos pela cláusula penal compensatória
ou multa moratória.
No regime da Lei 4.591//64, precisamente em seu art. 12,§2º, a cláusula penal moratória
podia ser fixada em até 20% sobre o valor do débito.
Em 1990, com a aprovação do CDC (Lei 8.072), questionou-se se esta cláusula penal
não deveria ser reduzida ao patamar de 2%, conforme previsto no artigo 52,§1º no “Estatuto
Consumeirista”
Todavia, a situação mudou completamente com o Código Civil de 2002 que, em seu
artigo 1.336, §1º, limitou a fixação da multa moratória ao patamar de 2%, em semelhança ao
CDC.
Tal entendimento se baseou principalmente no art. 2.035, p. único do Código Civil, que
dispõe: “Art. 2.035. [...] Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar
preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a
função social da propriedade e dos contratos.”
E aqui uma advertência: o código civil não operou efeitos retroativamente. Ou seja: se os
débitos foram gerados durante a vigência da Lei 4.591/64, antes, portanto, de 11/03/03, o fato
se subordina aos preceitos dela, de forma que a multa moratória será de 20%.
Ressalta-se, também, que esta discussão é acirrada, pois colocam em choque garantias
constitucionais. Em regra, a lei nova não poderá regular os efeitos futuros de um ato jurídico
perfeito, pois haveria violação legal do princípio constitucional do direito adquirido (art. 5.ª,
XXXVI, da CR/88). De outro norte, o princípio da função social não permite a fixação de
encargos abusivos nas relações contratuais, e daí a escolha do art. 2.035, p. único, como
norma determinante para encontrar a solução correta para este hard case.
Mas o fundamento apontado como principal, no leading case em que a matéria foi
examinada no STJ, em 14 de junho de 2005, foi o de que a convenção de condomínio possui
natureza estatutária, o que autoriza a imediata aplicação da regra do Código Civil: “Despesas
de condomínio. Multa. Aplicação do Código Civil de 2002, art. 1.336, § 1°. Precedentes da
Corte. 1. A natureza estatutária da convenção de condomínio autoriza a imediata aplicação do
regime jurídico previsto no novo Código Civil, regendo-se a multa pelo disposto no respectivo
art.1.336, § 1°.” (STJ, REsp 722904/RS)
A prática é espúria, pois aqueles que eventualmente não conseguirem honrar com o
pagamento na data prevista, serão onerados com a multa compensatória superior ao teto legal
(2%), só que camuflada dentro do valor da cota condominial, como se fizesse parte da
despesa.
Sobre este tema, inclusive, foi aprovado o Enunciado 505 nas Jornadas de Direito Civil,
confira-se: É nula a estipulação que, dissimulando ou embutindo multa acima de 2%, confere
suposto desconto de pontualidade no pagamento da taxa condominial, pois configura fraude à
lei (Código Civil, art. 1336, § 1º), e não redução por merecimento.
g) Juros moratórios
Os juros moratórios representam outro encargo a que estarão sujeitos os condôminos
inadimplentes com o dever de pagamento das cotas. Não há problema algum na cumulação
dos juros com a cláusula penal, pois a primeira é um encargo que representa o preço devido
pela indisponibilidade do capital não entregue pelo condômino no prazo fixado, enquanto a
segunda é uma penalidade pelo inadimplemento.
Portanto, a princípio o limite dos juros dependerá do que foi convencionado. Somente
em casos omissos, é que a própria lei fixa 1%. Neste caso, em virtude da redação do art.
1.336,§1º, pergunta-se: É possível a fixação de juros moratórios em percentuais superiores a
1%?
No exame dos fundamentos utilizados no voto deste recurso especial, julgado pela
Terceira Turma do STJ, verifica-se que os ministros fizeram menção ao veto presidencial que
não autorizou a modificação do art. 1.336,§1º do Código Civil pela Lei 10.931/04. Segue o
trecho do veto mencionado no voto do recurso em análise:
O novo Código Civil estabeleceu o teto de dois por cento para as multas condominiais,
adequando-as ao já usual em relações de direito privado. A opção do Código Civil de 2002,
diploma legal profundamente discutido no Congresso Nacional, parece-nos a mais acertada,
pois as obrigações condominiais devem seguir o padrão das obrigações de direito privado. Não
há razão para apenar com multa elevada condômino que atrasou o pagamento durante poucas
semanas devido a dificuldade financeira momentânea.
Ademais, observe-se que o condomínio já tem, na redação em vigor, a opção de aumentar
o valor dos juros moratórios como mecanismo de combate a eventual inadimplência
causada por má-fé. E neste ponto reside outro problema da alteração: aumenta-se o teto
da multa ao mesmo tempo em que se mantém a possibilidade de o condomínio inflar
livremente o valor dos juros de mora, abrindo-se as portas para excessos.
Por fim, o dispositivo adota fórmula de cálculo da multa excessivamente complexa para
condomínios que tenham contabilidade e métodos de cobrança mais precários, o que poderá
acarretar tumulto na aplicação rotineira da norma, eliminando pretensas vantagens.
(Mensagem n.º 461/2004, DOU 03/08/2.004 – sem destaques no original)
f) Cobranças Constrangedoras
Além dos limites legais à fixação dos encargos, o Condomínio também sofre outra
restrição em relação às medidas adotadas para a cobrança dos valores em atraso. Configura
ato ilícito uma cobrança constrangedora, como a não autorização para a utilização dos espaços
comuns (piscinas, churrasqueiras), exposição ostensiva da posição de devedor mediante a
afixação de aviso no hall de entrada, enfim, toda e qualquer prática que se mostrar abusiva
configura ato ilícito e sujeita o condomínio a reparar o dano provocado.
a) Fundamento do Dever
Este dever, previsto no inciso II do art. 1.336, é corolário do dever geral de abstenção de
não causar dano a terceiros (neminem laedere). Para tanto, impõe-se uma obrigação de não
fazer para que a obra realizada por um condômino não ponha em risco a incolumidade do
prédio e de seus moradores. Procura-se evitar a criação de uma interferência externa
prejudicial à segurança e a saúde dos demais condôminos.
Outra regra que se relaciona com a estabilidade e solidez do prédio é a prevista no artigo
1.346 do Código Civil, que impõe a obrigatoriedade de contratação de um seguro de dano
específico, com cobertura contra incêndio e destruição, total ou parcial do prédio.
Observa-se que o Código Civil impõe a obrigação, mas não dispõe sobre o prazo em
que ela deverá ser cumprida, muito menos comina uma penalidade para o seu
descumprimento. Neste caso, as regras da Lei 4.591/64 se aplicam supletivamente diante da
omissão da lei geral e posterior.
Neste caso, aplica-se o art. 13 a 18 da mencionada lei, que regula a matéria de forma
muito mais minuciosa que o Código Civil. Fiquemos apenas com o art. 13:
5.9.5.5. Dever de Não Alterar a Forma e a Cor da Fachada, das Partes e Esquadrias
Externas (Art. 1.336, III)
5.9.5.6. Dever de dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e
não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos
possuidores, ou aos bons costumes. (Art. 1.336, IV)
a) Considerações Gerais
Este último dever imposto pelo art. 1.336, IV pode ser dividido em duas partes, mas que
estão, digamos, intercaladas. A primeira parte do dispositivo se refere ao dever que o
condômino tem de não alterar a destinação de sua unidade em relação ao prédio. Ou seja: se o
condomínio é residencial, o condômino não pode fazer da sua unidade um comércio.
Pode existir, como no exemplo acima, uma interligação entre os dois deveres impostos
no artigo em análise, na medida em que a prática comercial em um edifício de residências
pode gerar ruídos em excesso, a ponto de comprometer o sossego e a salubridade dos demais
moradores.
Neste ponto, tudo o que foi dito sobre os direitos de vizinhança, acerca do uso anormal
da propriedade e das medidas postas à disposição dos prejudicadas são aplicáveis aqui, no
condomínio edilício.
Afirma-se que o condomínio é um foco intenso de conflitos e discórdias. Não é a toa que
usam o trocadilho “condemônio” para se referir a ele. Justo por isso, o Código Civil estabelece
uma série de sanções a serem aplicadas em caso de descumprimento dos deveres. Vejamo-
las:
i) Suporte Fático.
Em primeiro lugar, deve-se deixar claro que a multa prevista no Art. 1336,§2º tem como
suporte fático a seguinte conduta: violação de algum ou alguns dos deveres previstos nos
incisos II a IV do art. 1.336.
Por se tratar de uma pena, ela se sujeita aos meus postulados de uma sanção penal –
não pode haver crime sem lei anterior que o defina, nem prévia cominação legal. É o princípio
da legalidade que orienta a necessidade de previsão anterior. E um detalhe: quando o
dispositivo se refere a “ato constitutivo”, ele parte do pressuposto de que o condomínio pode ter
sido constituído pela Escritura Declaratória de Instituição, que contempla tanto o ato instituição
como a convenção propriamente dita.
Em qualquer das situações acima apontadas, o limite da pena é de até cinco vezes o
valor da contribuição, sem prejuízo das demais perdas e danos que poderão ser apuradas no
caso concreto.
a) Pressuposto Fático
No entanto, esta multa pode ser elevada para até o décuplo do valor da cota, na
possibilidade do comportamento do condômino gerar incompatibilidade de convivência com os
demais. Por exemplo, o condômino “anti-social” que faz uso constante de drogas em sua
residência e ainda prejudica os vizinhos com ruídos excessivos.
Um interessante desta previsão legal é que ela não é clara com relação ao procedimento
exigido para a fixação da sanção. Interpretando o parágrafo com o caput, entendo que o
quorum de aprovação é o mesmo, ou seja, de 3/4 dos condôminos restantes.
O que se altera é o valor máximo da pena, que pode alcançar o décuplo do valor da
cota, pena esta que incidirá periodicamente até ulterior deliberação pela assembléia.
Deste Enunciado podemos inferir que são dois os fundamentos apontados para a
possibilidade de exclusão do condômino nocivo: a função social da propriedade e a vedação ao
abuso de direito.
Além disso, são exigidos os seguintes requisitos para a exclusão: i) ineficácia das penas
pecuniárias (ou seja: a pena de exclusão é residual ou subsidiária, devendo ser aplicada
como ultima ratio); ii) deliberação na assembléia sobre o ajuizamento da ação de exclusão
e iii) observância das garantias inerentes ao devido processo legal.
Em resumo, para os que defendem essa possibilidade, a exclusão não seria uma forma
de perda da propriedade, mas uma interdição ao exercício da faculdade de uso diretamente
pela pessoa do infrator. Neste caso, se o condômino anti-social foi o proprietário, este pode
exercer o poder de fruição para alugar o imóvel para terceiros. Ainda não se propõe a venda
compulsória da unidade em juízo, como no direito alemão.
Por fim, ressalta-se que a polêmica aparece nos tribunais brasileiros, sendo que, em
alguns casos, a tese de exclusão foi acolhida, e em outros, afastada. Vejamos primeiramente
as decisões que não acolheram a tese de exclusão. A primeira delas, do TJSP, argumentou
que a sanção não tem previsão legal, vejamos:
A cobrança das despesas condominiais pode ser realizada extra ou judicialmente. Neste
último caso o condomínio tem capacidade processual, devendo ser representado pelo síndico.
Destarte, o procedimento cabível é o sumário, nos termos do art. 275, II do CPC. Admite-se,
ainda, a possibilidade de ajuizamento de ação monitória em se tratando de prova escrita sem
força de título executivo.
b) Procedimento Executivo
A redação atual do art. 585 não diz outra coisa: Art. 585. São títulos executivos
extrajudiciais: [...] V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de
imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;
Na análise do voto há um trecho que revela nitidamente a posição que o STJ passou a
adotar. Na verdade, o Tribunal deu às expressões “impostos, taxas e contribuições” um
alcance genérico até alcançar o ponto em comum entre as espécies tributárias e os débitos
condominiais, que seria a natureza propter rem da obrigação. Além disso, o princípio da
vedação ao enriquecimento ilícito e o da igualdade entre os condôminos também foi invocado.
Eis uma parte do trecho mencionado:
Atribui-se à indigitada expressão um alcance genérico, sem conotação de caráter fiscal que
qualifica, de forma restritiva, as demais ressalvas insertas no mesmo inciso IV. Alexandre Mars
Carneiro, advogado no Rio de Janeiro, vincula tais obrigações condominiais às
obrigações propter rem, observando mais que “como, pois, admitir-se, senão ad aburdo, que
um condômino inadimplente não possa ser coertado a satisfação sua co-participação nas
despesas comuns, que resultam da interpenetração de direitos proporcionais e coexistentes, e
tenham os demais condôminos, ad aeternum, que suportar esta desigualdade de conduta?
Mutatis mutandis, ter-se-ia, por parte do condômino inadimplente, relapso, um enriquecimento
sem justa causa e em prejuízo dos demais condôminos, a desigualar os direitos iguais a
todos (A Lei nº 8.009/90 e a penhorabilidade de unidade condominial familiar, in Rev. Forense,
Vol. 327, Pág. 9)
5.10.1. Síndico
O Síndico funciona como órgão administrador do condomínio, que deve zelar pelo
cumprimento da convenção. Ele é eleito pela assembléia geral, podendo ser condômino ou
não, para exercer um mandato de até 2 anos, admitidas, em casos omissos, sucessivas
reconduções.
A administração poderá ser remunerada ou não. No primeiro caso, pode ser definido um
valor determinado a ser pago para o síndico ou pode este ser beneficiado indiretamente, com a
exclusão ou redução no pagamento da cota condominial.
Por fim, o síndico exercerá a administração sobre as áreas comuns, mas poderá ter
acesso às unidades autônomas se um dano ocasionado no interior do espaço privado
repercutir para as áreas comuns ou para outras unidades.
O mandato no qual o síndico foi investido lhe permite a realização dos chamados atos de
administração ordinária, necessários à preservação dos serviços indispensáveis ao
funcionamento normal do prédio. No entanto, os atos de maior relevância devem constar na
pauta de deliberações da convenção do condomínio. Ademais, como se verá adiante, existem
dois tipos de assembléias: ordinária, que deve ser convocada anualmente e a extraordinária,
que pode ser convocada em situações relevantes ou emergenciais.
II. representar, ativa e passivamente, o condomínio, praticando, em juízo ou fora dele,
os atos necessários à defesa dos interesses comuns;
a) Síndico como “Presentante Legal”
Seja como for, o condomínio pode optar por uma administração dissociada da
representação, pois a assembléia poderá a assembléia investir outra pessoa, em lugar do
síndico, em poderes de representação. (art. 1.348,§1º). Portanto, no condomínio edilício, nem
sempre quem administra também representa o condomínio. Este representante, aliás, não
manterá qualquer vinculação com o síndico, mas com a assembléia geral.
c) Delegação de Poderes
Como visto, o síndico poderá concentrar os poderes de administração e representação,
ou ter apenas o primeiro. Em qualquer caso, se não houve óbice na convenção e houver
aprovação na assembléia, o síndico poderá delegar as funções de administração ou
representação, se for o caso, a terceiros[62]. Daí que se pode dizer, a princípio, que os
poderes do síndico são delegáveis, observadas estas condições.
d) Questões Processuais
Para além desta questão conceitual, observa-se muita confusão dos operadores do
direito no momento de identificar a legitimidade ativa do condomínio para esta ou aquela
demanda, ou mesmo na escolha do procedimento judicial adequado para certa situação.
Correta foi a decisão, pois a ação reivindicatória é a ação do proprietário não possuidor
contra o possuidor não proprietário. E mais: a reivindicatória pressupõe a existência de áreas
delimitadas para se entregar ao reivindicante a parte que se postula, mas no caso das áreas
comuns de um condomínio, nenhum condômino tem propriedade sobre uma parte concreta e
individualizável. Ao contrário, cada condômino é titular de uma fração ideal e abstrata que lhe
permite o uso e gozo sobre as partes comuns. Então, por tais fundamentos, caberia, quando
muito, uma ação possessória.
Ainda no que tange à ação reivindicatória para a defesa das áreas comuns, a
legitimidade, em linha de princípio, é exclusiva do condomínio. Somente haverá legitimidade
concorrente quando o uso do espaço comum for exclusivo de um ou mais condôminos ou
indispensável ao exercício do direito de usar, fruir ou dispor de uma ou mais unidades
autônomas[63].
VII - cobrar dos condôminos as suas contribuições, bem como impor e cobrar as
multas devidas;
a) Conselho Consultivo
Trata-se de órgão de natureza fiscal, composto por três condôminos, e instituído pela
Assembléia Geral. A função dos conselheiros consultivos é basicamente a de fiscalizar a
atuação do síndico.
A destituição do síndico, que não poderá ser ad nutum, mas devidamente motivada,
pode ser feita a qualquer tempo pela assembléia geral, mediante voto favorável da maioria
absoluta dos membros. Dentre os motivos que permitem a destituição estão a prática de
irregularidades, recusa à prestação de contas, administração inconveniente etc.
A convocação dever ser feita, como regra, pelo síndico, mas na omissão um quarto dos
condôminos poderá fazê-lo.
A convocação da AGE pode ser feita da mesma forma que a da AGO, ou seja, pelo
síndico ou por um quarto dos condôminos. A diferença é que a AGE pode ser convocada
sempre que for necessário, e as matérias que serão deliberadas são todas aquelas de
interesse dos condôminos e que não estão listadas no artigo 1.350. Toda a matéria que não for
de competência da AGO, poderá ser deliberada na AGE.
Para cada tipo de matéria o Código estabelece um determinado quorum para a sua
aprovação. Portanto, mesmo com a convocação de todos os condôminos, para a aprovação de
certas matérias é necessária a presença do número de condôminos titulares de um percentual
de fração ideal suficiente para a aprovação da proposta.
a) Quorum Ordinário
Para as questões gerais do condômino, dois critérios podem ser utilizados para a
aprovação das matérias: 1º) o critério econômico, baseado na maioria absoluta das frações
ideais, que se aplica na omissão da convenção; 2º) critério numérico (per capita), em que a
formação da maioria absoluta se dá pelo número de condôminos, e não pela fração ideal.
Maioria absoluta (1ª 2/3 (dois terços) 3/4 (três quartos) Unanimidade
Convocação) e
Relativa (2ª
Convocação)