Elizeu Correa Lira2 PDF
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FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
FICHA CATALOGRÁFICA
3
FOLHA DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
José Marques de Melo, Prof. Dr. (Orientador)
____________________________________________________________________
Professor da casa
____________________________________________________________________
Professor convidado
____________________________________________________________________
Suplente 1
_____________________________________________________________________
Suplente 2
Ao meu querido pai: Eduardo Correa Lira, o alagoano de Palmeira dos índios que, em sua
intrepidez e dedicação, fez dos filhos “flechas na mão do guerreiro” (Salmo 127.4); desta
forma, alavancando-os desde cedo no gosto pela leitura e, possibilitando-os assim, atingirem
alvos intelectuais, profissionais e acadêmicos muito mais altos do que aqueles que ele
próprio, devido às agruras e vicissitudes da infância pobre no agreste nordestino, logrou
alcançar. Guerreiro, em seus 98 anos bem vividos, forjados no crisol das lutas e sacrifícios
que lhe deram esta têmpera que pertence unicamente aos grandes vencedores, receba este
primeiro título de Mestrado auferido entre os seus filhos como justa homenagem pelo seu
heroísmo e devoção à família!
5
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, por que “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo
do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1.17).
“[...] pois nEle vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17.28). De modo que eu nada
tenho que não tenha recebido dEle. Eu nada fiz, que Ele não tenha me guiado e iluminado a
mente ao fazê-lo. Eu nada conquistei, que Ele não tenha me dado forças, inteligência e,
especialmente, ânimo e fé nos momentos difíceis e cruciais desta caminhada acadêmica!
Portanto, a Ele toda a honra e toda a glória!
À minha querida esposa, Rosangela Lira, e ao meu amado filho, Everton R. Lira, pelo
apoio e compreensão mui especialmente no sentido de que ficamos dois anos sem desfrutar
férias regulares com a família.
Aos meus queridos amigos: Dr. Orlando Berti e Ruben H. Dargan, eu não sei se
conseguiria conduzir o meu trabalho – aprofundando as pesquisas e tendo um “Norte”
metodológico – e “combater o bom combate” na arena acadêmica se não fosse a grande
competência professoral de ambos, aliada à generosidade e disposição constantes em
socorrer-me, iluminando o caminho, nos momentos mais críticos. Eu me orgulho de tê-los
como meus amigos e, também, como meus grandes paradigmas de intelectuais do naipe mais
elevado possível e, ao mesmo tempo, engajados às causas sociais!
À amiga Clarissa, pelas verdadeiras aulas que me deu sobre Gêneros Jornalísticos e,
com o seu jeito dócil e sua boa vontade em auxiliar os “desesperados”, inúmeras vezes
atendeu-me, esclareceu dúvidas e me enviou materiais que foram de grande valia à pesquisa e
desenvolvimento do trabalho.
Preciso agradecer ainda aos meus grandes mestres, que me indicaram o melhor
caminho e que me auxiliaram e incentivaram nesta caminhada acadêmica: ao Professor José
Marques de Melo, grande Mestre e meu orientador, em primeiro lugar pela generosidade com
que me acolheu dando-me o altíssimo privilégio de ser mais um dos seus discípulos e, mesmo
eu ainda neófito nas lides e desafios acadêmicos, ele facultou-me a oportunidade de participar
de suas obras e, também, de grandes eventos no campo da Comunicação Social. Obrigado, Dr.
Marques, pelos ensinos teóricos e, acima de tudo, eu lhe agradeço, e à Dona Sílvia, pela
simpatia, atenção e carinho que sempre demonstraram para com as minhas dificuldades de
percurso, dúvidas e solicitações!
Aos colegas do grupo de pesquisa e do programa (não vou tentar nominá-los, pra não
cometer injustiça – esquecendo-me de alguém, mesmo daqueles que, infelizmente,
abandonaram o PPG durante o período...), obrigado pelo companheirismo salutar, pelas trocas
de conhecimentos, pela solidariedade na caminhada e pela amizade e estímulo.
Ao meu cunhado, Natalício José Felício, que, sempre que solicitado, não mediu
esforços e correu atrás para a aquisição dos exemplares do periódico necessários para as
análises e prosseguimento da pesquisa – já que ele não circula aqui em Frutal.
RESUMO
Esta dissertação apresenta um estudo do jornal impresso, com foco no jornal diário,
delimitado no tabloide “Super Notícia”, de Belo Horizonte (MG). A escolha de tal impresso
se deu por ser ele um fenômeno editorial de vendas e de publicidade, dentro dos estilos
reconhecidos como popular e popularesco, com páginas diárias contendo desde notícia
policial até receita de bolo. Ao analisar um objeto jornalístico é necessário verificar de que
modo as matérias são veiculadas nas páginas desse impresso. Para tanto, nossa análise busca
mostrar as relações entre os gêneros jornalísticos para então classificar o objeto de estudo. A
metodologia privilegia a conceituação de jornalismo, notícia, reportagem e jornalismo
sensacionalista e contempla também a pesquisa de campo, com visitas in loco na redação do
periódico e entrevista com seus agentes. Quanto ao método de trabalho, a pesquisa qualitativa
segue o modelo teórico-crítico. Foram feitas análises morfológica e de conteúdo do corpus,
para identificar, caracterizar e classificar o objeto estudado. Do ponto de vista jornalístico, os
aportes teóricos estão ancorados em Marques de Melo e outros autores que construíram teoria
sobre Jornalismo. No que concerne ao objeto de estudo, no segmento tabloide os resultados
apontam para uma nova visão do jornalismo atual.
ABSTRACT
This dissertation presents a study on print newspapers, with a focus on daily newspapers, and
the scope is limited to the tabloid “Super Notícia”, of Belo Horizonte (MG). This particular
publication was chosen because, in terms of sales and advertising, it constitutes a publishing
phenomenon within the class of popular and folksy tabloids, with its pages bringing from
police news to cake recipes. In the analysis of a journalistic object, it is necessary to verify
how the items are communicated in the pages of such a publication. In order to achieve this,
our analysis seeks first to show the relationship which exists among the several journalistic
genres and, subsequently, to classify the present object of study. The methodology used in
this study focuses on the definitions of journalism, news item, journalistic report, and tabloid
journalism, and includes also field research with in loco visits to the editorial offices and
interviews with the editors of the tabloid. As for the method of work, the qualitative research
follows the critical-theoretical model. Morphological and content analyses of the corpus were
conducted in order to identify, characterize and classify the object of study. From the
journalistic point of view, the study leans on the contributions of Marques de Melo and other
authors who have helped to build theories on journalism. With regard to the object of study,
the conclusions obtained within the research point to a new conception about the present-day
tabloid journalism.
RESUMEN
La Esta tesis de maestría presenta un estudio del periódico impreso, con foco en el diario,
delimitado en el tabloide “Super Noticia”, de Belo Horizonte (MG), en Brasil. La elección de
tal impreso si dio por ser un fenómeno de ventas y publicidad, dentro de los estilos
reconocidos como editorial popular y popularizo, con páginas diarias que contienen desde
noticias de policía hasta la receta de la torta. Al analizar un objeto periodístico es necesario
verificar cómo las noticias son publicadas en las páginas de este impreso. Con este fin,
nuestro análisis pretende mostrar las relaciones entre los géneros periodísticos para luego
clasificar el objeto de estudio. La metodología enfatiza el concepto de periodismo, noticias,
reportajes y el periodismo sensacionalista, pero también incluye la investigación de campo,
con visitas en la matriz de la revista y entrevista con sus agentes. En cuanto al método de
trabajo, la investigación es cualitativa y sigue el modelo crítico teórico. Se realizaron análisis
morfológicos y de contenido del corpus, para identificar, caracterizar y clasificar el objeto
estudiado. Desde el punto de vista periodístico, las contribuciones teóricas están anclados en
Marques de Melo y otros autores que construyeron la teoría del periodismo. En relación al
objeto de estudio, en el segmento de tabloide los resultados apuntan a una nueva visión del
periodismo actual.
Lista de Tabelas
Lista de Quadros
Lista de Figuras
Lista de Gráficos
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................16
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................140
REFERÊNCIAS....................................................................................................................145
16
INTRODUÇÃO
com versão online, formato tabloide, que circula já há 12 anos e torna-se destaque como
Ele é um jornal de preço baixo e que, também por isso, é um jornal que vem
alcançando altos índices de venda nas bancas; é editado em Belo Horizonte(MG) pela
“Sempre Editora”, que publica também o jornal “O Tempo”. Desde 2009, segundo o IVC
(2014), está entre os três jornais de maior circulação no País, sendo, inclusive, o campeão de
circulação paga durante os anos de 2010 e 2011, e vice-campeão no ano de 2012.O “Super
pelo custo, pois é vendido por R$0,25 (vinte e cinco centavos de real).
O “Super Notícia” muitas vezes é comparado ao que no século passado foi o jornal
“Notícias Populares”, do Grupo Folha da Manhã, que fez história durante vários anos sendo o
“fama” tende a ser um tanto desfeita, já que ele – por sua estrutura e conteúdo – o Super não
mais pode receber tal rótulo, como ficará explicado no capítulo terceiro desta dissertação.
Após essa breve apresentação de nosso objeto de estudo, devo dizer que a escolha do
tabloide “Super Notícia” como corpus da pesquisa deveu-se em grande parte à participação,
Dr.ª Marli dos Santos, cujo trabalho final foi realizado na companhia de dois colegas
práticas de sensacionalismo no tabloide mineiro que, em 2010, havia logrado o grande feito
17
circulação, conquistada e mantida há décadas. Mas até então, eu ainda nem tinha ideia de tudo
análises do nascedouro e das práticas do sensacionalismo com autores modernos, foram meses
prazerosos de constantes descobertas sobre o fazer jornalístico e a construção das notícias. Foi
que aquela objetividade cantada em prosa e verso nos bancos da graduação não passa de
quimera!
Jornalismo não é ciência exata! E, se até nestas, como está demonstrado sobejamente
objeto observado, que dirá nas práticas do Jornalismo com vistas à construção da notícia que
envolve toda a carga de subjetividade da narrativa das fontes – pois, como se diz no jargão
final, da escolha das palavras por parte do redator e da própria escala axiológica dos editores.
E, ainda, mui especialmente, das posições dos proprietários do jornal que, em última
notícias!
Como é notório, o Brasil é um país com sérias deficiências culturais de base, com
baixos índices de hábitos de leitura e de letramento. Vivemos em uma sociedade que foi
primeiras imprensas nacionais, a chamada elite brasileira passa a ter mais acesso a jornais e
livros. No Século XX ocorre também a influência do rádio que, depois, foi suplantado pela
18
televisão. Agora, no início do Século XXI, estamos vivenciando a hegemonia dos meios
virtuais, notadamente a Internet, com seus milhares de interfaces. Nessa linha do tempo, o
Brasil mudou, sendo que os meios de comunicação têm forte responsabilidade sobre isto.
além dos demais. Muitos começam a fazer parte da vida do brasileiro que, se antes, havia de
escolher entre o que comer e o que ler, escolhia sempre o primeiro. Agora, com maior poder
aquisitivo, uma faixa alargada da classe média tem a oportunidade de consumir, tanto os
(tabloides), por ser o impresso diário mais acessível. Vale lembrar que esse fenômeno vem
ocorrendo em maior número nas grandes cidades, e nas capitais dos estados, onde circulam
diariamente um grande contingente de pessoas que passa um tempo nos transportes públicos,
indo e voltando do trabalho. E este é um fator que tanto permite quanto incentiva as pessoas a
buscarem os periódicos populares, que são publicados em linguagem simples e têm preços
módicos, e que por tais razões caracterizam-se como verdadeiros fenômenos comunicacionais
da contemporaneidade.
Dentre as publicações, cujo exemplar custa menos de R$1,00 (um real), são notórios
exemplos os jornais “Extra” e “Meia Hora” do Rio de Janeiro; o “Agora” de São Paulo; o
“Diário Gaúcho” de Porto Alegre; o “Notícia Agora” do Espírito Santo; o “Aqui” (que circula
Portanto, nosso objeto de estudo é o diário impresso “Super Notícia”, e nosso corpus
de análise é apenas uma edição desse jornal. Foi feita a escolha de estudar justamente o jornal
Horizonte (MG) – fora portanto do eixo Rio-São Paulo – mas que vem se mantendo como um
dos maiores fenômenos editoriais no Brasil. O “Super Notícia” começou a ser publicado em
Paulo, o fato rendeu-lhe uma reportagem no renomado jornal britânico de economia Financial
Times, inserindo-o “na vanguarda da revolução dos tabloides do Brasil” e destacando o fato
de ele ser lido por motoristas de táxi e empregadas domésticas, ou seja, um jornal que tem
Diante de tal realidade, o que se pode afirmar do nosso objeto de estudo como tal,
b) as páginas principais do “Super Notícia” são coloridas, mostrando belos corpos de homens
c) os tabloides e jornais populares usam a linguagem do povo, muitas vezes, com gírias,
jargão de polícia e bandido, e até mesmo termos chulos, o que seria a adoção do critério das
Por isso, mediante tais estratégias, é que o “Super Notícia” vem se caracterizando
Não se deve esquecer que, como enfatiza Alberto Dines (1972), toda a imprensa se
vale do sensacionalismo em maior ou menor grau. No entanto, o que nosso estudo buscou
saber, e de algum modo procurou demonstrar, é em que medida o nosso objeto de estudo é
mais ou é menos sensacionalista. Mediante o exposto, a frase que representa nosso problema
de pesquisa pode ser expressada na seguinte pergunta: “Em que medida as práticas do
sensacionalismo são aplicadas nas pautas do jornal “Super Notícia”, e quais os ingredientes
contidos em suas páginas que fizeram dele um fenômeno editorial em 2010 e 2011?”.
após a escolha do objeto e para definir os objetivos, foi necessário enumerar algumas
evidências para então levantar a hipótese da pesquisa. Nesse sentido, partimos dos seguintes
tipo do jornalismo, tão famoso no século passado, formado pela trilogia “erotismo, polícia e
esportes”;
- de acordo com Dines (1972) o “homem da rua quer sangue, mulher, crime e sexo”, e isto é
mostrado diariamente no “Super Notícia”, o que faz do jornal mineiro ser campeão nacional
em vendas;
- todos os gêneros jornalísticos podem ser encontrados no “Super Notícia”, e eles são
importantes para o entendimento do fenômeno em voga. Por esta razão não podemos ignorar
que no caso do “Super Notícia” há uma boa dose de equilíbrio entre os gêneros presentes e
atrativo e de elemento de sedução junto ao público-leitor pelo fato de a notícia jornalística ser
mundializados, e que, além disso, o jornal tornou-se um bom negócio por ser, ao mesmo
jornal. E, assim, para cumprir o objetivo geral, foi necessário seguir os Objetivos Específicos,
quais sejam:
sensacionalista”;
nas mídias impressas; com apoio teórico dos pesquisadores selecionados, apontar como o
3 – fazer a pesquisa de campo que inclui visita à sede do jornal, entrevista com editores do
jornal, e fazer a análise do conteúdo de uma edição corpus do “Super Notícia”, de modo a
recursos gráficos (o uso das cores), linguísticos, semânticos e ideológicos; ao final das
Para definir a escolha do tema desta dissertação minha justificativa principal é a minha
fenômeno social, a emergência dos jornais ditos “nanicos” é um fato recente na história do
jornalismo brasileiro e por isso mesmo reconhecemos que, neste caso, temos um fenômeno
cuja classificação, se não for considerada poli e multifacetada, não contempla a complexidade
um estudo atualizado das próprias teorias do autor, o professor José Marques de Melo.
Buscamos apoio também nos estudos pioneiros de Luiz Beltrão (Filosofia do Jornalismo), em
Alceu Amoroso Lima (Jornalismo como gênero literário), e outros autores tais como Eugenio
Bucci, Alberto Dines, Marcondes Filho, Ricardo Kotscho, cujas obras tratam dessa temática.
levar em conta as opiniões e juízos de valor daqueles que o veem como uma deformação ou
distorção da notícia, apenas como exagero intencional, com fim meramente mercantilista.
indivíduos entretidos ou até mesmo alienados das questões reais. Ou seja, ao sensibilizar
avaliem todo o quadro que compõe o fato, suas implicações ou desdobramentos, e assim
que o jornal impresso ia morrer; no entanto, o jornal impresso não morreu e – como
Para chegar a essa confirmação, ou seja, que o jornal impresso não está condenado à
morte – pelo menos em tempo próximo – foi feita uma pesquisa qualitativa, no âmbito do
modelo teórico-crítico, que exige do pesquisador uma abordagem teórica inicial – gêneros
fazer as análises do corpus de pesquisa – uma edição do tabloide “Super Notícia”, cujas
Uma pesquisa é qualitativa quando o pesquisador busca sentidos e valores para seu
objeto pesquisado, buscando junto aos teóricos do tema apoio para suas conclusões. Também,
termos, principalmente das cores, mas também de outras expressões, para buscar seus
explicitados os sentidos ocultos nos símbolos ou nos signos (nas imagens e em seus modos de
assalto o negócio da informação. Está mais do que confirmado que o jornal, hoje – todos os
jornais – é um misto de entretenimento e prestação de serviço, antes de ser notícia, que seria
Por fim, para cumprir os objetivos propostos no que se refere à construção textual, a
dissertação está estruturada em três capítulos, como segue. O capítulo primeiro apresenta os
produzia as notícias. O capítulo segundo faz uma breve arqueologia tipológica e identifica os
tipos de jornalismo sensacionalista, contrapõe a busca pela notícia a todo custo versus o
por sua vez, vai examinar, identificar e classificar o objeto do estudo, ou seja, o Jornal “Super
Notícia”, fazendo o estudo de sua dinâmica noticiosa e demonstrando de que modo e com
quais recursos ele veio a se tornar um fenômeno de público e de vendas. Neste capítulo tanto
são apresentadas as análises quanto a entrevista feita com um dos editores do “Super Notícia”.
Esperamos que nosso estudo – ainda que de pequeno porte e pouco profundo– venha
lançar um pouco de luz sobre os fenômenos jornalísticos que, de quando em quando, surgem
na cena brasileira.
25
(jornal, revista, rádio, televisão etc.) para difundi-las”. O trabalho jornalístico, portanto,
consiste na captação e no tratamento, por escrito, em depoimento oral, com ou sem recursos
gráficos, da informação em qualquer uma de suas formas e variedades. Luiz Beltrão ensina
26
Temos aqui uma definição competente da atividade do jornalismo, ainda que nos dias
atuais e, principalmente, pela emergência das novas mídias, a preocupação com o “bem
comum” a que se refere Beltrão já esteja fora de cogitação na pauta da maioria dos veículos
jornalísticos que circulam em nossa sociedade. Nesse sentido, José Marques de Melo (2010,
p.23) lembra que Eugênio Bucci1 (2009, p. 22) afirma que “quando apresentava noticiários no
rádio, na televisão ou na internet não praticava jornalismo” (grifo nosso). No decorrer deste
capítulo, então, apresentaremos conceituações a partir das posições teóricas dos profissionais
e estudiosos do jornalismo, no intuito de esclarecer o que vem a ser essa atividade tão rica e
ao mesmo tempo tão controversa, mas que para Beltrão (1960) é uma atividade essencial à
coletividade e que, no mundo social, como lembra Marques de Melo (2010), a cada dia ela se
campo das comunicações sociais, mesmo advertindo que não foi feita, ainda, uma completa
desde os primórdios, tais como Samuel Buckley (Inglaterra), Jacques Kayser (França), Roger
para a contingência de buscar sintonia fina entre as matérias jornalísticas e as expectativas dos
1
Eugênio Bucci foi diretor da Radiobrás, a antiga empresa estatal brasileira de informação (1975-1988), hoje
Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), cf. MARQUES DE MELO (2010).
27
social em que vive cada cidadão, mas também oriundo da iniciação cognitiva que lhe oferece
Uma importante decisão nesse sentido foi tomada no âmbito do Governo Federal pelo
(2010, p. 17) afirma que, assim, amplia-se o universo da “leitura de mundo”, lembrando o
educador Paulo Freire, cuja proposta de formação do cidadão passa necessariamente pela
formação do leitor para “ler” o mundo a sua volta e saber interpretá-lo. Essa leitura, na
maioria dos casos, era feita apenas voltada para o texto literário, com valor estético; com as
mudanças recentes, o texto jornalístico vai servir de suporte para um aprendizado sociológico
e político do mundo. Essa inclusão leva o jornalismo para um campo mais amplo, dentro das
ciências da linguagem, fazendo com que sejam retomadas as discussões sobre meios e
meios, mudam as mensagens. Citada por Marques de Melo (2010) numa leitura crítica, Irene
Machado (2001) corrobora observando que “os meios se diversificaram e tornaram-se mais
novos formatos surgiram”. “Por isso mesmo”, defende Marques de Melo, “torna-se evidente a
retomada do estudo dos gêneros”. Essa retomada vai compreender, necessariamente, pesquisa
28
e aprendizagem. Desse modo, como enfatiza Machado, ambas atenderão uma “necessidade
que a prática da mediação da informação deve perseguir uma verdade possível de ser
dos veículos jornalísticos, é renovada a cada nova edição. Ela não dura, ela prescreve, muda
de lugar, tem validade mínima. A sua melhor forma, afinal, é a notícia – que envelhece em
questão de minutos” (BUCCI, 2009, p. 83). Assim como outros autores, Bucci reconhece que
ideias, a pluralidade de opiniões e o resgate das várias vozes que constroem o cotidiano das
notícias. “O discurso jornalístico é conflito; e, se não for conflito, será impostura. Tudo o que
a atividade jornalística pode sonhar como seu mais sólido suporte é esse mesmo conflito”
é o Estado; e a segunda é o business. Ao mesmo tempo ele deixa de ser independente frente
TV, sites jornalísticos são, cada vez menos, veículos autônomos e, cada vez mais,
29
2009, p. 84-85).
produtos do espetáculo e do entretenimento serem rivais das notícias, pois tanto o jornalismo
[...] A verdade não é a primeira vítima da guerra” (BUCCI, 2009, p. 85). Ao mencionar o
Filho, expostos adiante, de que o entretenimento remete o indivíduo a outro momento que não
o do árduo trabalho, acreditamos que o fator educação contribua bastante com esse cenário.
dependemos de uma sociedade leitora, engajada e interessada na leitura, como citado antes
por Marques de Melo (2010). Como também mencionou o catedrático alagoano, a precária
qualidade do ensino básico brasileiro não contribui para valorizar o interesse pela leitura e
orientar aos alunos sobre sua relevância, na formação de uma visão crítica do mundo.
Uma sociedade que não dá a devida importância à leitura jamais poderá ser uma
sociedade para importar-se com a leitura de jornais. Dentro dessa lógica, o jornalismo perde
espaço para o entretenimento, como alerta Bucci. A educação precisa ser uma aliada do
pela imprensa, não aceitando a mera venda de espaços publicitários, o que vai exigir, a sua
Marilene Felinto (2000) define jornalismo num tom pessoal e despido de ilusões
A escritora, que se tornou jornalista, está dando sua definição dentro de um contexto
por espaço nas páginas dos grandes diários circulantes. Todavia, é válida a sua definição
quando espelhada ao modelo mais antigo de jornalismo eclético, literário, correto. No título
mesmo de seu livro, Felinto, graduada em Letras e Literatura pela USP, e ‘aluna’ de Alberto
Dines, deixa de antemão uma visada de como ela mesma compreende o jornalismo hoje.
Desse modo, a definição de Beltrão, preocupado com “o bem comum”, mesmo sendo válida
eticamente, na prática não mais funciona. O jornalismo de hoje quer, de verdade, veicular
Iniciando com Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, é extensa a lista
particular ao seu trabalho (BARBOSA; MARQUES DE MELO, 2010). Muitos nomes podem
ser adicionados para elencar os pioneiros do jornalismo, mas este não é objetivo de nossa
pesquisa. No entanto, pode-se afirmar com Marques de Melo sobre o jornalismo, que ele é um
notícias, sua função é a de operar esse caráter democrático do direito universal do cidadão às
informações.
que se faça agora a classificação dos tipos de informação que o jornalismo veicula para que
MELO, 2010), já que a partir dessa classificação é que se chega à tipologia da informação, ou
seja, à notícia e ao público que ela alcança, para então analisarmos nosso objeto de estudo, o
jornal Super Notícia. No item a seguir, vamos buscar uma definição para gêneros
imprescindível às sociedades, sobretudo nas democráticas, por ser um meio pelo qual todo o
cidadão tem o direito de se expressar, de divulgar suas ideias e também de, sem
impedimentos, informar-se das ideias alheias, de seus pares e até mesmo de temáticas plurais,
tais como saúde, ecologia, tecnologia, arquitetura, política, economia e tantas outras. O
Devemos nos lembrar, contudo, de que os destinos dessa atividade sempre estiveram
consequência direta dos modos de produção da sociedade onde ela é exercida; e ela se
segmentos hegemônicos do lugar – país, estado, região, cidade – onde essa atividade é
praticada.
Alceu Amoroso Lima, na Introdução de sua obra O jornalismo como gênero literário
(1960, p. 11), lembra, já realizando uma reflexão da sua época, que “a imprensa já foi mais
poderosa do que hoje. Os meios orais de publicidade – o cinema, o rádio, a televisão – vieram
sem dúvida tirar-lhe um pouco de sua considerável importância, como o ‘quarto poder do
Estado’”. Mesmo sem a repercussão imediata da palavra oral, a palavra imprensa tem “um
poder de permanência e, com isso, de convicção mais profundo do que as palavras que as
Amoroso Lima defendia a posição de que, a partir da emergência dos eventos orais
se liberta de sua condição subalterna de apenas informar e, a cada dia, conquista “foros de
verdadeiro gênero literário”. Ele parafraseia Jean Cocteau, afirmando: “Assim como a
Essa discussão de Amoroso Lima, porém, deve ficar aqui apenas como ilustração, já
que sua posição na obra citada toma um rumo que o distancia da posição teórico-histórica de
Marques de Melo, dada a distância temporal que separa os dois estudos. Marques de Melo,
literário, já que ele se inclui em um dos gêneros postulados, como veremos adiante.
poderes constituídos que, de modo implícito ou explícito, procuram sempre manter o controle
sobre sua produção. Pode-se dizer que, por isso, como num processo de mutação natural, mas
de sobrevivência do jornalismo versus a da propaganda –já que os dois precisam andar juntos
33
–, segundo Marques de Melo (2010), do ponto de vista histórico, a invenção dos gêneros
TV. Desdobrando suas próprias pesquisas, Marques de Melo (2010) faz uma nova
utilitário.
gêneros servem ainda para identificar uma determinada intenção, seja de informar, de opinar
ou de divertir. Mas é pela exigência dos leitores e do contexto geral que os conteúdos se
modificam. Sua organização provém do modo pelo qual as empresas de comunicação editam
o conteúdo do jornal.
Marques Melo, a partir desta classificação, reforçada por pesquisa empírica feita por
mais importante de separação entre os textos, matérias, enfim, composições discursivas, como
sugerimos nomear”. Pode-se levar em conta esta posição de Seixas, já que, segundo Marques
imprensa das capitais brasileiras, o que corrobora a definição de Beltrão (1960) de que o
Então, para fechar o círculo virtuoso das posições dos pesquisadores mais atuantes no
Nos fóruns permanentes que tem criado, no intuito de manter viva a discussão da
evolução do jornalismo no Brasil, Marques de Melo tem estado atento ao debate dos gêneros
e acolhe os jovens pesquisadores que, oriundos da área dos estudos da linguagem, buscam
como Amoroso Lima, Mikhail Bakhtin, Antonio Gramsci, Antônio Olinto e outros.
2
Trabalho apresentado no VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do
Maranhão, São Luís), novembro de 2010.
3
Artigo publicado na Revista Alceu, v.11, n.°21, pp.16-33, jul./dez./2010.
35
quando ele afirma que, no jornalismo, os dois gêneros que permanecem vigentes na divisão
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, nos artigos XVIII e XIX 4 , consagra
direito do homem, por excelência, na medida em que permite a toda pessoa ter uma atividade
vários direitos específicos, interligados numa continuidade que a evolução técnica moderna
torna cada vez mais sensível. A declaração identifica a liberdade de expressão como uma das
mais altas aspirações do ser humano, como forma de defesa e de rebelião contra a tirania e
contra a opressão.
opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos
Humanos”.
Amoroso Lima tinha uma definição importante em relação a essa questão. Dentro da
defesa de sua argumentação sobre o jornalismo ser do gênero literário, o autor afirmava o
seguinte:
4
Artigo XVIII – Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a
liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela
prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. # Artigo XIX –
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência,
ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente
de fronteiras. <http://portal.mj.gov.br/>.
5
http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf.
36
público, e o leitor tem o direito de receber uma informação correta. A atividade do jornalismo,
ou seja, a produção do conteúdo que vai criar a notícia, começa na observação e continua na
seja, a reportagem é a notícia pronta para ser entregue ao público leitor. É a notícia embalada
para viagem.
Nessa questão da embalagem, como veremos adiante, sempre entra a força do gênero
sedução, de atração das massas para assegurar a recepção das matérias jornalísticas e para
manter cativos os leitores. Reportagem, portanto, pode-se afirmar, é a notícia embalada com
determinado estilo, com certo caráter que potencializa, ou não, seu poder de recepção junto
aos leitores.
produção” para ver como se constrói aquilo a que chamamos de notícia. De acordo com os
manuais de jornalismo, para fazer a notícia tem-se que seguir um paradigma composto de
elementos constitutivos de perguntas que pedem resposta, quais sejam: ― “o que é?” (o fato
(o local do fato); “como?” (o modo como ocorreu o fato); “por quê?” (a causa de o fato haver
ocorrido).
É evidente que tais questões acabam se desdobrando e outras indagações podem surgir
no contexto de uma notícia, mas estes são os elementos básicos que estruturam uma
reportagem.
37
Isto que se define como “produção da notícia” é algo elementar ao próprio exercício
do jornalismo. Mas nosso estudo não conceituará apenas desse ponto de vista aquela que é a
palavra-chave mais importante do tema pesquisado. Então, para exemplificar o que pode ser
recifense Urariano Mota que, exemplificando com fatos, esclarece em sua matéria, sob vários
responsável pela edição e publicação dos livros didáticos do MEC, na manhã do segundo dia,
ao constatarem que nenhum jornal da cidade noticiou uma linha sequer sobre um evento de
perguntaram por que nenhuma notícia havia sido veiculada? Então, o autor perguntou: ― O
expressão de um fato novo, que desperta interesse do público a que o jornal se destina”, dizem
jamais visto? Esta definição, portanto, tampouco satisfaz; apesar de ela já considerar que seja
6
Matéria de Urariano Mota, publicada em La Insignia. Brasil, agosto de 2005. Disponível em
<http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=740>. Acessado em 26 de julho de 2014.
38
algo “que desperta interesse do público a que o jornal se destina”, mesmo assim ela está
definições dos manuais de “como fazer”. Entretanto, somente tais definições são insuficientes
para fundamentar o tema estudado. Então, vamos aos exemplos práticos. Mota fez uma leitura
Com este exemplo, seguidos de outros na matéria original (que pode ser lida no link da
nota n.º5), o autor então define o que é notícia, do ponto de vista que entendemos “prático”:
E o jornalista argumentou:
Sabemos nós que o mundo se move nem sempre por linhas absolutamente
novas, novíssimas, nunca pressentidas ou anunciadas, bomba, bomba, como
desejam os editores, mas por linhas às vezes em círculos, em voltas
progressivas de espiral, como de resto é a própria história humana.
Concordamos com Mota (2005) quando ele afirma que há quem defina a notícia como
tudo aquilo que possa interessar a alguém (sexo, sangue, esporte), e que notícia (e muitos são
39
mercadoria”. Não interessa a ética, a correção, enfim, nada daquilo que a boa e velha escola
depravar tanto assim uma simples informação? Ele mesmo argumentou, contrapondo uma
resposta: “Uma coisa é o mercado servir-se da notícia para veicular os seus produtos, e outra,
Talvez aqui esteja a raiz da questão que nos direcionará ao foco do estudo: o
sensacionalismo. Mesmo em sua matéria, Mota alertou para o fato, tão comum no jornalismo
diário.
notícia. É com a notícia que o repórter faz a reportagem, que na visão do autor – se a matéria
estiver escrita do modo certo – “o leitor viaja”, acompanha o olhar do repórter e isto é “o
objetivo do jornalismo, é quando o repórter cumpre sua função: mostrar para o leitor – que
não pode estar no local do fato – como tudo aconteceu” (KOTSCHO, 2000, p. 16). Segundo
Noticiar, portanto, é a arte de narrar o acontecido que poderá ou não virar uma
7
Chris & Ray Harris. Faça o seu próprio jornal. Campinas: Papirus, 1991, p. 10.
40
Marques de Melo (2003, p. 66) define “reportagem” como sendo “o relato ampliado
feita pelo jornalista do que ocorreu na realidade, é a imagem que o leitor faz do texto que
garante que ele acredite ou não, assuma ou não o conteúdo da reportagem e se torne um
natureza linguística, pois diferente da linguagem literária, que, via de regra, revela traços de
como a notícia pauta-se por relatar fatos condicionados ao interesse do público em geral, a
receptor. Buscando aprimorar o conceito, quanto aos aspectos inerentes ao gênero em foco,
Assim, Notícia (do inglês NEWS,8 que significa North, East, West, South, as letras
iniciais dos quatro pontos cardeais) é a comunicação ou informação de um fato, em geral fora
compor esse fato; o repórter, ao transformar um fato em notícia, procura responder a sete
que ocorreu o fato); “onde?” (o local do fato); “como?” (o modo como ocorreu o fato); “por
ordena os dados de uma notícia. Desse modo, os elementos em negrito, aqui apresentados, são
desmembrados no Quadro 1 para que sua categorização fique clara para o leitor leigo:
“Desconfiando que sua mulher, a Ana Rosinha, o traía com um vizinho (o Arnaldão),
José da Silva, residente na Rua dos Desiludidos, 46, suicidou-se, ontem, com um tiro no
ouvido.”
todos os periódicos do país, com uma estrutura que segue um padrão de organização e
Márcia Franz Amaral (2001) lembra oportunamente que, muitas vezes, os jornais
populares “optam por agregar valor às notícias e reportagens” e, para isto, “rendem-se
Desse modo, não se tem um jornal padrão, com um formato específico. Cada
8
BROOK, 1998.
42
passar por um processo de transformação que se deu de modo rápido e contínuo. Conforme
Amaral (2001, p.30), “o público leitor passa a ser visto como consumidor”, o que constata a
afirmação de a notícia ser tratada como mercadoria. Toda modificação nos formatos e na
distribuição das matérias tem como objetivo primeiro alcançar os leitores e consequentemente
vender jornal.
No prefácio de Jornalismo popular, Amaral (2011) lembra que o mercado dos jornais
populares cresceu e sofreu muitas alterações, pois o público leitor desse segmento (classes B,
Por isso, a distribuição das matérias segue um padrão mínimo. Assim, como não há
um modelo, uma padronização, de acordo com o público que o jornal quer alcançar, as
9
NORBERTO, 1978.
43
Outros cadernos poderiam ainda ser acrescentados a estes do modelo, tais como
Culinária, Jardinagem, Arquitetura, Carro e Moto, etc., mas estes do quadro são os mais
Vale ressaltar que esta estrutura é mais comum nos dias atuais e que muita coisa
mudou dos antigos jornais para os de hoje, e dos médios para os grandes jornais, os de grande
circulação.
articulação de diálogo entre cidadãos e suas representações sociais, e que, porque esse diálogo
sensacionalismo há exagero e desproporção, quer no aspecto gráfico quer nos temas quer na
linguagem usada. Quando essa linha orientadora e esse estilo caracterizam a generalidade das
matérias publicadas e se repete ao longo do tempo, podemos dizer que estamos diante de um
também outros recursos para manter uma proximidade maior como leitor. Por exemplo,
espaços reservados para ouvir o público reclamar sobre problemas nas comunidades, serviços
de utilidade pública em geral. O entretenimento também é explorado por essa mídia. Notícias
sobre celebridades, sobre cultura– shows, filmes, novelas – diversos temas que possam
HQ publicada aos domingos cuja personagem era “um menino, desdentado sorridente,
orelhudo, vestido com uma camisola de dormir amarela”. As falas do menino não eram
escritas em balões e sim na camisola. Acontece que, por causa desse camisolão amarelo, ele
ficou conhecido como Yellow Kid, e “passou a ser um registro simbólico para os críticos do
estilo sensacionalista de Pulitzer e Hearst”. Isto ocorreu porque certo dia “ErvinWardman, do
Press, referiu-se em artigo à ‘imprensa amarela’ de Nova York, dando uma conotação
pejorativa à cor” e a partir daí o termo passou a ser usado como sinônimo de imprensa
jornal sensacionalista. Rosa N. Pedroso (2001, p. 50) chama atenção para o fato de que “[a]
separação aparente entre grande imprensa e imprensa popular sugere a existência de um (sic)
45
outro tipo de jornalismo, o sensacionalista, mas como se este fosse um segmento próprio e
mais circulam no Brasil, sendo que o jornal-objeto deste estudo aparecia na cabeça da lista.
Pelas definições que vimos até aqui, já “poderíamos” elencar os jornais de maior
É bom sempre lembrar que, embora pelo senso comum se atribuam todos os exageros
estamos falando aqui daquilo que acontece no cotidiano dos grandes jornais, da dita
“imprensa séria”.
Esta, como lembra Modernell, sempre se pautou pelas regras e cânones dos manuais
de redação que, em geral, “desaconselham ou vetam o uso de adjetivos [...] como medida
MODERNELL, 2012, p. 44) lembra que isso se tornou uma obsessão profissional durante o
século XX:
sua obra paradigmática Espreme que sai sangue: “[...] É visto que o sensacionalismo ocorre
informação interna não irá desenvolver melhor. [...] A prática sensacionalista é também
conteúdo pela forma” (AMARAL, 2011, p. 21). Angrimani sublinha essa definição,
postulando:
Santos (1998) não apenas endossa essa afirmativa como, também, concentra a sua pesquisa no
apropriadamente, situa a emoção como “ponto de partida” em suas análises dos elementos
sexo, idade, cor, religião e classe social. Isso faz de qualquer pessoa um receptor potencial”
necessidade latente no ser humano de buscar explicações e sentido para a vida nas coisas do
13), atuariam como se fossem “âncoras emocionais” para os indivíduos em seu cotidiano de
instâncias psíquicas, determinadas pela psicanálise”. Nesse caso, segundo o autor, os textos
tendências sádicas dos leitores; e é por essa razão “que o sensacionalismo se instala e mexe
48
com as pessoas” e é este, também, o seu “destaque” ou diferencial dos “informativos comuns”
própria de seus sonhos, desejos, temores e horrores” (2001, p. 51). Um jornal para ser
discurso que usa imagens fortes, expressadas pelos adjetivos apropriados a fim de alcançar as
emoções dos indivíduos, apelar para a violência e exagerar nas tintas para impressionar
imediatamente o leitor.
Vale ressaltar que Marques de Melo, em Jornalismo brasileiro (2003), faz excelente
139).
capítulo, percebemos que o cenário que se forma, envolvendo a má qualidade do ensino – que
gera a necessidade de busca por satisfação no entretenimento e não nos estudos, na aquisição
vez mais atraentes. Isso já ocorre se considerarmos os aparelhos celulares que são pessoais e
foram desenvolvidos para entreter os jovens que, durante horas, se distraem com jogos
eletrônicos, músicas, filmes, redes sociais e até mesmo informações. E todo esse conteúdo
deve ser revestido de uma camada de sensacionalismo, seja no modo como as informações
são apresentadas, ou na maneira como a indústria do entretenimento explora esse setor, com o
Nesse cenário erigido por Marques de Melo, quem lucra são as empresas jornalísticas,
pois o enfraquecimento do ensino torna-se um forte aliado da mídia, uma vez que, sem o
ou crítica e os produtos oferecidos nas páginas dos jornais, revistas, espaços publicitários de
televisão, rádio e sites raramente são contestados. A falta de cultura crítico-midiática leva o
público a quase não questionar o trabalho escravo ou infantil em seu processo de produção, as
causas de crimes ambientais por grandes empresas multinacionais, cujos lucros nem ficam no
país da produção. Enfim, os espectadores das campanhas publicitárias não terão parâmetro
para julgá-las e condená-las. E o que é ainda mais grave, as práticas ilegais da companhia
50
imprensa acabam sendo coniventes com as empresas que são mais fortes, associando o fator
muito menos com o meio ambiente. A sociedade, além de nada ganhar, ainda perde. Perde em
Kotscho (2000, p. 8) explica que o jornalista pode fazer sua matéria de muitas
maneiras distintas, mas que isto depende da pessoa que escreve. Para tal, segundo ele, o
jornalista precisa ser “pessoa honesta, [que] tenha caráter e princípios”. Ignacio Ramonet
Sensacionalismo tem o mesmo peso que faltar com a verdade?, questiona Ramonet:
“Ora, o único meio de que dispõe um cidadão para verificar se uma informação é verdadeira é
mesma coisa, não resta mais do que admitir esse discurso único” (1999, p. 45) e confiar nele
o fato de uma empresa de qualquer natureza exigir e perseguir o lucro. Mesmo os cidadãos
51
menos politizados ou engajados, ou que não entendem a dinâmica dos negócios, têm a
mínima noção de que o jornal lucra de alguma forma, mesmo que seja só pela venda de
exemplares; ou, no caso da televisão, com a venda dos espaços publicitários. Mas esse
procedimento é correto? É aceitável que a imprensa omita, distorça, selecione o que interessa
aos seus clientes anunciantes, ignore informações de interesse, troque o conteúdo cujo teor
Por ser a imprensa uma instituição de caráter público, é preciso que o público exija tal
postura. Não se pode esperar que a imprensa se redima, que abra mão dos lucros e faça
jornalismo por vocação. A questão não é tão simples e depende de um amplo debate social.
Sem qualidade informativa – e isso se refere à verdade –, em nada a imprensa contribui para a
democracia do país. Ramonet (1999, p. 51) afirma que “o setor midiático foi conquistado, por
sua vez, pelo neoliberalismo, e a informação tende a ser cada vez mais subtratada por
jornalistas precários, à mercê da corveia, os que trabalham à sua maneira e fabricam uma
de um jornalismo alicerçado pelo capital, o que reforça ainda mais o esgotamento desse
modelo:
Nossa revisão de literatura nos permitiu verificar que a missão do jornalismo é com a
verdade. Afirmam Bill Kovach e Tom Rosenstiel: “Já que as notícias são o material que as
pessoas usam para aprender a pensar sobre o mundo além de seus próprios mundinhos, o mais
importante é que essa informação seja boa e confiável” (KOVACH; ROSENSTIEL, 2004, p.
61). A ‘verdade’ pode ser usada como marketing do jornal, ressaltam os autores: “À medida
promessa de veracidade e precisão logo se tornou uma parte poderosa até mesmo das
A verdade é tão subjetiva, pois há várias verdades, há várias versões para o mesmo
fato – há ainda os valores morais que nos ensinam e que carregamos ao longo de nossa vida, e
interferem na verdade. Por isso, cobrar a verdade no jornalismo torna-se uma missão quase
impossível, uma vez que os jornalistas buscam as suas fontes de acordo com a relevância dos
fatos e do quanto eles conhecem desse fato que se trata na matéria. Como questionar a
reportagem a respeito da verdade? Teríamos que encontrar a fonte e checar se tudo o que foi
53
dito foi realmente dito daquela forma apresentada nos veículos de comunicação. Ou seja,
demandará um tempo que os cidadãos, que não são jornalistas, não terão como cumprir.10
explicam que:
Os próprios jornalistas nunca tiveram uma noção clara do que querem dizer
com veracidade. Por sua própria natureza, o jornalismo é reativo e prático,
não filosófico ou introspectivo. Não existe muito reflexão escrita dos
jornalistas sobre esses assuntos, e o pouco que existe não é lido pela maioria
dos profissionais do ramo. As teorias de jornalismo ficam nas cabeças dos
acadêmicos, e grande parte dos jornalistas sempre desvalorizou o ensino
profissional, argumentando que a única forma de aprender o ofício é por
osmose nas tarefas do dia a dia (KOVACH; ROSENSTIEL, 2004, p. 66).
Este trecho foi selecionado para compor esta pesquisa por responder uma parte das
profissionais que precisa ser apontada e, seria bom, resolvida. Se há de fato um ponto
insustentável no jornalismo, ele se refere à formação dos profissionais que o praticam. Desse
10
Por conta disso, Kotscho (2000) afirma que lugar de jornalista é na rua, para poder “ver” como as coisas
acontecem.
54
modo, buscar a verdade é quase impossível dada sua inesgotável maleabilidade, uma vez que
são múltiplas as versões e as vozes envolvidas nos fatos. Porém, a verdade jornalística é
muito mais do que simples precisão. Ela “é um processo seletivo que se desenvolve entre a
matéria inicial e a interação entre o público leitor e os jornalistas, ao longo do tempo. Esse
2004, p. 68). Prosseguem os autores: “É isso que o jornalismo procura – uma forma prática e
funcional de verdade. Não a verdade no sentido absoluto ou filosófico. Não a verdade de uma
equação química. Mas o jornalismo pode – e deve – perseguir a verdade num sentido por
Insistimos com os autores Kovach e Rosenstiel por apontarem na obra questões que
sobre a verdade. Registra Muniz Sodré na obra A narração do fato, que a credibilidade “é a
pedra de toque das relações de confiança entre o público e o jornal e, portanto, o principal
informação e o leitor” (SODRÉ, 2012, p. 42-43). Por outro lado, um repórter não pode se
esquecer de que “o texto e as fotos têm exatamente a mesma importância dentro do jornal”,
como afirma Kotscho, lembrando que fotógrafo e repórter devem trabalhar juntos, um
importando-se com o trabalho do outro (KOTSCHO, 2000, p. 20). Até porque as imagens têm
Uma mercadoria, como é a notícia, tem a obrigação de ser objetiva e neutra com
relação aos fatos? Seriam esses os requisitos básicos para que a notícia fosse consumida? Se o
porque há audiência? O leitor se dispõe a crer na versão oferecida pelo profissional. Sodré
irrupções maléficas na boa consciência jornalística, que não é imune às enormes pressões da
do fato e à consequente perda de rigor na transposição do que já foi pactuado com o público-
Márcia C. Flausino afirma que as notícias são entendidas apenas quando ocorre a
“compreensão das relações de forças – ideológicas, sociais, econômicas etc. – que culminam
na sua produção e veiculação. Esta produção se constitui num dos mecanismos mais eficazes
utilizados na definição do que é considerado real para uma sociedade” (BARROS et al, 2001,
p.104).
Uma estratégia do jornalismo atual é direcionar a emoção do leitor com o uso calculado de
adjetivos colocados propositalmente no texto. No entanto, da mesma forma que pintar o urubu
de verde não o torna papagaio, apenas um urubu “desvirtuado” e estranho ao grupo, eliminar
os adjetivos, trocando-os por outra categoria de palavras, não desfaz essa carga de
correto e o mais próximo da verdade do fato seria o esperado pelos leitores. Todavia, não é o
56
que encontramos hoje na imprensa. O sensacionalismo continua sendo a arma certeira para
vender jornal.
junho de 1969), Marques de Melo (1972) lembra que o sensacionalismo, em várias épocas, é
observado como objeto de estudo, e cita Roberto Lyra que, em conferência no Caco, afirmou:
“Não se conseguiu até hoje, e [...] não se conseguirá conter o sensacionalismo na imprensa,
nossa pesquisa quando, já em 1969, declarava que “a questão [do sensacionalismo] ainda se
coloca com as mesmas características, se bem que visualizada numa outra dimensão”
Neste estudo, buscamos deixar claro que – embora fazendo uma leitura crítica do
11
LYRA, R. Sensacionalismo. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1933.
57
Concordamos com Marques de Melo quando ele afirma que os jornais populares são
imprescindíveis para o exercício da democracia jornalística, já que eles atuam num âmbito
apartado dos grandes conglomerados de notícia e que, por isso, os “nanicos” ficam no nível
do povo, aproximam-se mais da linguagem do povo, levando uma mensagem mais realista
Preâmbulo. Para estruturar este segundo capítulo exploramos o termo que classifica o objeto
de pesquisa da dissertação, o jornal Super Notícia, já antes considerado como um periódico
“sensacionalista”. No percurso do capítulo, primeiramente são levantadas as diferenças entre
os termos “sensacionalista” e “popular”, para depois examinar a temática e, a partir de sua
classificação, analisar como o “sensacionalismo” é percebido. Analisando as transformações
culturais que ocorrem no texto jornalístico, de modo geral, considera-se sobretudo de que
modo o tema é eticamente tratado. A seguir, com base nas posições dos teóricos do
jornalismo, apresenta-se um levantamento das características de um jornal sensacionalista.
Dentre os jornais brasileiros, levantaram-se exemplos daqueles periódicos que podem ser
considerados sensacionalistas, de modo a apontar também os graus de sensacionalismo
contido nesses veículos. A pesquisa verifica como o sensacionalismo é aplicado hoje na mídia
jornalística – diária, semanal e mensal. A questão do sensacionalismo neste estudo deve ser
considerada tanto do ponto de vista das comunicações sociais, quanto tratada como fenômeno
dos tempos atuais, isto é, como uma tendência da mídia para suscitar, no leitor, emoções
imediatas e descartáveis.
faz uma interessante advertência que nos orienta na categorização desse objeto
comunicacional jornalístico:
59
Mesmo com essa defesa, Dines antecipa sua posição logo na introdução do ensaio,
afirmando que a abordagem para “imprensa sensacionalista” deveria ser vista como “imprensa
popular”, já que (naquele momento) ele não via o jornalismo brasileiro com essa
característica, que para ele soa algo pejorativo, como demonstram suas palavras: “A palavra
‘sensacionalista’ [...] pode dar [...] uma conotação crítica à nossa imprensa, que ela não
merece” (idem, p. 13). Contrapondo o pensamento de Dines, muitas vezes, dentro do contexto
significados e ocorrências nem sempre andam juntos. Fica evidente que é tênue a linha que
Para efeito de clareza deste estudo, verificamos no léxico o que diz cada um desses
“popular”. A partir de então, poderemos ter uma visão atualizada dessa questão, já que é por
meio da língua que, ao apreender o significado das expressões em uso, chegamos ao sentido
das mensagens. No Dicionário Caldas Aulete (online), o verbete para “sensacionalismo” diz:
No Dicionário Houaiss (online) a definição do termo aparece com apenas dois itens,
seu uso. Agora, veremos o termo “popular” em suas variações, de acordo com os mesmos
O termo pode tanto ser “adjetivo comum de dois gêneros” quanto “substantivo
masculino e feminino”, dependendo de a qual objeto ele se refere. Contudo, ainda que este
verbete enfatize as variações do substantivo, ele não refere o termo enquanto sendo verbo
(verbo popular, que expressa o ato de “tornar populoso”). O Dicionário Michaelis (online)
12
Referente ao “Sensacionalismo”, estilo literário que orienta para: [1] as sensações em geral; [2] o olhar como
principal sentido; e [3] o predomínio das sensações visuais e auditivas.
61
popular. Verbo (1191) (t.d.) m.q.povoar. Etimologia lat. Popŭlo ,as, āvi,
ātum, are (tb.popŭlor,āris,ātussum,āri) 'espalhar-se em ou invadir em grande
número uma região; devastar, arrasar'; datação no Eluc.
s.v.cajom1Homonímiapopulares (2.ap.pl.)/populares (pl.popular(adj.2g.).
Paronímia populo(1.ap.s.)/pópulo(s.m.); popular adjetivo de dois
gêneros(sXIV). 1.relativo ou pertencente ao povo, especialmente à gente
comum. ‹indignação popular›2.feito por pessoas simples, sem muita
instrução‹arte popular›3.relativo às pessoas como um todo, esp. aos
cidadãos que compõem o povo de um país, estado, cidade.‹voto
popular›4.encarado com aprovação ou afeto pelo público em geral‹político
p.› ‹artista p.› ‹santo popular no nordeste do Brasil›5.aprovado ou querido
por uma ou mais pessoas; famoso, célebre‹ser popular junto à
garotada›6.que prevalece junto ao grande público, especialmente às massas
menos instruídas‹crendice popular›7. dirigido às massas
consumidoras‹música p.›8.adaptado ao nível cultural ou ao gosto das
massas‹edição popular de um clássico da literatura› ‹espetáculo p.›9. ao
alcance dos que não são ricos; barato‹ingressos a preços p.› (popular)
substantivo feminino 10.acomodação de menor preço, nos estádios
desportivos; substantivo masculinos XV; homem do povo; anônimo‹um p. foi
ferido na confusão› ‹logo, populares se ajuntaram em volta para assistir ao
acontecimento›. Etimologia: do lat.populāris,e'do povo, público, popular';
verpopul-;f.hist.SXIVpopullares, sXV popular; Sinonímia e Variantes como
adj.: ver antonímia de arbitrário; vertb. sinonímia decomum; Antonímia
impopular; como adj.: ver sinonímia de arbitrário; vertb.antonímia
decomum; Homonímiapopulares(pl.)/populares(fl.popular).
Por que a preocupação com o léxico? Numa pesquisa que trata de discurso
sensacionalista no jornal é necessário atentar para o emprego das palavras. Por isso, tomamos
como base alguns dos dicionários brasileiros de língua portuguesa mais consultados, para
De acordo com Dines (1972), para categorizar um veículo jornalístico, antes, temos
que examinar os discursos por ele veiculados. Neste caso, a verificação se faz, principalmente,
por meio do levantamento dos adjetivos e dos verbos e de como essas palavras aparecem nos
títulos e manchetes. Mas é majoritariamente o emprego dos adjetivos o que permite, portanto,
temático são expressos através das palavras e do seu ordenamento nas frases, de modo a dar
imagens chocantes –, de modo geral, opera de imediato no leitor, dada a capacidade de o olhar
humano fazer uma rápida leitura dos objetos observados (leitura semiótica).Os outros dois, o
sensacionalismo linguístico e o temático, exigem uma função mínima de leitura e, nessa ação,
o texto é importante.
estratégicos. Com relação a essa estratégia empregada na linguagem, Angrimani diz que:
Por outro lado, e até mesmo como estratégia de adaptação e sobrevivência, após o
advento massivo do acesso aos meios virtuais, os jornais paulatinamente passaram por
63
modificações. Márcia F. Amaral adverte que a linguagem jornalística vem sofrendo mudanças
sensacionalistas –sem considerar que tais critérios não sejam sinônimos – formam hoje, para
estudo. Amaral (p. 14) lembra que houve uma ampliação da oferta desses veículos, e que
esses jornais democratizam “a informação jornalística para setores da população com baixa
“sensacionalista”, verificaremos o que dizem os autores que dão suporte ao estudo. Claudia
Lemos (2001, p. 59), citando pesquisa de Porto (1999), menciona que “os jornais populares da
violência. O resultado seria uma aproximação no modo de tratar o tema”, entre os jornais que
atendem às várias classes sociais brasileiras. Lemos lembra ainda que os editores do Extra
(jornal pesquisado por essa autora) fazem questão de marcar a diferença entre o seu jornal e
“as publicações que consideram ‘populares no mau sentido’, ou popularescas, onde existe
bom e outro mau; um positivo e outro negativo. Os editores desses jornais defendem uma
social, como já postulara Aristóteles na Grécia antiga, ou ainda para informar a população
sobre uma realidade cotidiana e banal. As duas hipóteses são, certamente, válidas. Por
exemplo, Claudia Lemos (2001, p. 59) reproduz a fala de um editor entrevistado por ela, em
que ele defende sua linha editorial, sensacionalista de gosto popular, explicando:
Eu escrevo para o cara que mora lá em Campo Grande [RJ], tenho 30 mil
leitores lá. Aquele cara lida com a violência diariamente. De repente, ele
passa na rua e vê um assalto, vê uma aglomeração, vê um cerco a um banco.
Ele está dentro de um trem, dentro de um ônibus, e no dia seguinte ele quer
saber o que aconteceu. E eu tenho que responder pra ele (BARBOSA, 2001,
p. 59).
Rosa Nívea Pedroso (2001) enfatiza o outro lado da discussão sobre a qualificação dos
periódicos, afirmando que os “jornais produzidos para as classes populares, como são
2001, p. 47). Isto nos faz entender que o jornal popular se destina às classes trabalhadoras, do
povo, e que o jornal de elite atende ao público da classe privilegiada, dita alta. Mesmo assim,
sabemos que tanto uns quanto outros veiculam matérias de gosto sensacionalista, pois vemos
o sensacionalismo como um fenômeno de uma época. E como não poderia ser diferente, o
fator econômico (diga-se lucrativo) se faz presente no processo de produção do jornal, desde a
mídias, principalmente dos jornais, é que a insegurança das ruas reflete nas manchetes de
jornais e revistas porque, de modo geral, a população acossada pelo temor acaba interessada
pelo tema da violência para ficar informada e, de algum modo, poder se proteger. Infere-se
que a cultura do medo move um forte esquema de oferta de segurança, seja em serviços ou
produtos (cercas elétricas, alarmes, carros blindados, câmeras espiãs e outros). Neste caso o
jornal tanto publica matérias sobre segurança contra a violência quanto vende anúncios de
65
produtos afins. Entretanto, como afirma Marques de Melo, do ponto de vista da notícia, por
meio do jornal a imprensa cumpre seu papel primordial de informar a população, já que
torno das comunicações e são elas que regem os desejos, as expectativas, os anseios, de modo
que a sociedade acabou criando um círculo vicioso em torno da mídia impressa. Ana Rosa
Ferreira Dias corrobora nossa linha de argumentação quando afirma que “o jornal, à
sociais, é revelador dos valores e preocupações dos grupos” (DIAS, 2008, p. 47).
torna evidente a necessidade de esse tipo de imprensa hoje ser objeto de estudo acadêmico –
,obrigando os estudiosos a seguir rumos novos, operando um novo olhar na busca de novos
paradigmas.
Minas Gerais – Super Notícia e Aqui –, enquadram-se, também, nesse grupo dos novos
jornais populares. Nosso objeto de estudo é o Super Notícia, o de maior circulação. Esses dois
periódicos disputam um mesmo público leitor. O Super Notícia é publicado pela Sempre
Editora, e o Aqui pelos Diários Associados, que também publica o Aqui em outras regiões. O
66
baixo valor de capa do jornal na banca é o grande trunfo para que ele seja lido pelo público de
menor poder aquisitivo. Vale lembrar que o Super Notícia era vendido por um preço e que,
depois de um tempo, para enfrentar a concorrência, reduziu 50% seu valor de capa para
igualar-se com os demais e poder, assim, disputar o mesmo público leitor. Como afirma
Amaral (2001), este é um mercado ainda em expansão e nos quais formatos e linguagens se
cultura em geral e nas comunicações, especificamente. À medida que as mudanças vão sendo
discurso, seguido de perto pelo modus operandi da notícia, Pedroso corrobora essa visão ao
afirmar:
Marques de Melo (2012), em sua obra sobre a história do jornalismo, confirma essa
tempos – atestam uma estratégia de atualização para manter-se vigente. Ainda que a ética
“A verdade é que os limites da liberdade não pertencem apenas à ordem jurídica; são
aos profissionais de imprensa que expressa compromissos e anseios, assim como deveres e
posturas da classe jornalística. Esse código, para cumprir sua função, acompanha as
relação ao tema desta pesquisa, o Código de Ética enfatiza claramente que “não se pode fazer
O Artigo 11, inciso II, ressalta que “o jornalista não pode divulgar informações de
O atendimento à ética se choca com um fator apontado por Cremilda Medina (1978
apud MARQUES DE MELO, 2012, p. 221) sobre o fato de a notícia se tornar “mercadoria”,
assumindo o perfil de mais um “produto à venda”. Para Marques de Melo (2003, p. 22 apud
da Costa (2010, p. 45) lembra que Marques de Melo considera ainda que, “devido à censura
São duas vertentes teóricas que alimentam uma oposição. Para aqueles que prezam um
jornalismo ético, opinativo, sem atrelamento ao capital, sem concessão aos patrões, o
13
FONTE: <http://www.fenaj.org.br/mobicom/manual_de_assessoria_de_imprensa.pdf>.
68
jornalismo está com os dias contados: “A comunicação jornalística, como fenômeno social
próprio das sociedades industriais, pode desaparecer totalmente nos próximos 20 ou 30 anos”
(MARTINEZ ALBERTOS, 1988 apud MARQUES DE MELO, 2012, p. 223). Para os que
buscam o lucro, o jornal é um bom negócio e a notícia, uma mercadoria a ser vendida
diariamente. Marques de Melo pondera sobre tal posicionamento e afirma que “ao invés do
gêneros jornalísticos:
Diante dessa constatação fica mais fácil entender as mudanças operadas nos institutos
Para que acompanhem o ritmo da História, os institutos éticos e legais sempre serão
atualizados para cumprir sua função social. Luiz Beltrão, em sua obra pioneira Iniciação à
Lei n.º2.083, de 12/11/195314 que, em seu exacerbado afã de defender o Estado, criava um
absurdo: “Quem ousar denunciar pela imprensa um criminoso, correrá o risco de ser afinal
condenado como caluniador; bastando para isso que o processo seja devidamente instaurado
14
FONTE: <http://www.jusbrasil.com.br/topicos/12140507/artigo-9-da-lei-n-2083-de-12-de-novembro-de-
1953>.
69
pelo ofendido e que este, nos termos do Art. 12, letra b, não permita a prova da verdade...”
De acordo com Beltrão, desde 1888 os códigos que estabelecem princípios e normas
“para os homens que fazem os jornais” vão sendo transformados e ajustados para que se
tempos, interferem nas disciplinas da profissão e geram leis que se tornam, na mais das vezes,
Desde a época do império, o Brasil sempre manteve vigentes várias leis para regular a
imprensa, para dificultar a função do jornalismo que quisesse expor verdades contrárias aos
desejos dos senhores do poder. Beltrão não defende quem quer que seja. Ele, já naquele
momento, denunciava a falta de orientação ética aos futuros jornalistas nos cursos existentes,
as leis que apenas defendiam àqueles que estavam no poder, e ao jornalismo praticado em
certas oficinas, demonstrando em seus escritos todo o seu desagrado em relação a tal. Suas
Trazendo a discussão para os dias atuais, Márcia Coelho Flausino explica que as
notícias, como produto de uma cultura, também passam por fases que identificam o estado de
espírito do momento:
O jornalismo, que antes guardava uma aura romântica, hoje perde lugar para
uma lógica que não é nem ideológica, política ou ética, mas mercadológica.
A notícia é um produto de consumo. Os fatos, ao se tornarem notícia, são
embelezados para atrair a atenção do público. [...] O que no passado era uma
missão, com toda sua carga ideológica, atualmente é prestação de serviço,
cujo principal objetivo é fornecer o que o leitor deseja. [...] A notícia é,
assim, transformada numa mercadoria cuja identidade é feita de fórmulas e
pesquisas de audiência (FLAUSINO, 2001, p. 105).
jornalismo, em particular, sempre foram “regrados” pelas instituições que estão no poder. Na
formação da sociedade brasileira, quando o governo era imperial, quem de fato regia
procedimentos e posturas eram a Coroa e a Igreja Católica. De certo modo, ainda hoje a
censura da igreja de vez em quando alcança certos segmentos sociais com relação à exibição
no início da República, por algum tempo ainda, continuou em vigor a lei portuguesa de
imprensa de 1821. Somente em 1922 foi escrito um projeto que, depois, foi transformado na
Outras leis foram erigidas e revogadas desde então. Hoje, os jornais populares não são
alvo dessa gestão de controle, e eles proliferam na medida mesma em que a sociedade se
segmenta e se estratifica.
camada, serve um tipo de jornal e um dado nível de sensacionalismo, como veremos no item a
seguir.
71
Para tentar esclarecer neste estudo a gênese do sensacionalismo foi feita uma escolha
pelo caminho da antropologia, que para nós representa uma trilha mais segura por esta
considerar os princípios da cultura humana a partir do arcaico, dos mitos e dos textos sagrados
cristãos. Sem entender essa questão, desse modo, todas as caracterizações do jornalismo
sensacionalista caem na mesma trilha de tantos outros estudos, que seguem a linha da
psicanálise freudiana ou a linha crítica marxista ou ainda a da semiótica. Nossa escolha não
tem juízo de valor em relação às outras, apenas ela vai nos dar uma rota segura para tratar do
isto é, rende mais matérias. Segundo Andreza Galiego (2014), quando outros profissionais
podem comentar uma notícia, quando testemunhas, acusados e curiosos são entrevistados,
está aberta a cadeia que identifica uma notícia “sensacional”. A partir daí, outras matérias são
escritas em torno de casos parecidos e mais pessoas são entrevistadas. Uma notícia
mas não explica o fundamento que subjaz no sensacionalismo que é a questão da “carga
pulsional”, que desvela ou até mesmo justifica essa faceta do homem, que o leva a buscar a
Ana Rosa Ferreira Dias (2008, p. 99), citando Ramão Gomes Portão (1972, p. 25),
Dias concorda com Portão quando este afirma que o público quer “sangue e mulher, crime e
sexo”, mas que, segundo o autor, “diante da ação da censura esses ingredientes devem ser
comunicação de massa, principalmente quando o tema é a violência” (p. 97). Ela lembra que
Barbosa Lima Sobrinho, em 1923, “já solicitava tolerância e compreensão para o fenômeno
15
Disponível em <http://www.casadosfocas.com.br/o-sensacionalismo-nosso-de-cada-dia/>.
73
Interessante notar que a discussão evolui e de tempos em tempos o tema dos gêneros
do jornalismo volta à baila. Marques de Melo (2012, p. 224) lembra que o estudo dos gêneros,
considerado na década de 1980 – para tornar-se, agora, até objeto de estudo no segundo grau.
Isto, porque o jornal foi inserido na plataforma do MEC pelos Parâmetros Curriculares
Melo, citando Costa (2008), por ser uma exigência curricular, “motivou pesquisadores a
2012, p. 244).
Retomando a questão de Ramão Portão, de atender à lei sem desatender ao leitor, Ana
Rosa F. Dias (2008, p. 99) afirma que nesses “últimos anos, no entanto, tem-se procurado
atender mais ao leitor do que à lei”, já que têm sido constantes ações frustradas de censura a
Todavia, entendemos que, a partir do momento em que a escola toma o jornal como
classificar e perceber o jornal. Talvez esse fator também possa ser somado às razões que
fazem com que mais jornais apareçam porque mais leitores buscam o jornal para ler. Uma
Portão acredita que o jornalista tem a obrigação de saber o que seu leitor quer ler:
“Não se queira dar ao leitor de Notícias Populares uma página minuciosa de O Estado de S.
Paulo sobre a situação no Vietnã” (p. 25). Disso pode-se inferir que a evolução operada nos
gêneros jornalísticos caminha junto às mudanças que se dão no tecido social como um todo.
Quanto mais um povo for educado, melhores jornais os leitores irão exigir. Desse modo, a
74
qualidade do conteúdo seguirá a onda. Por outro lado, considerando o que Portão sublinhou
na I Semana de Estudos de Jornalismo (1969), sabemos que há jornalista que faz jornal para si
e para seus amigos, em busca de elogios recíprocos ainda que as vendas encalhem, e há
aqueles que fazem um jornal preocupado com as camadas menos instruídas, que preferem
imagens no lugar do texto. Mas o que Portão explica é que “se o jornal vende um dia matéria
No que diz respeito ao sensacionalismo, Dias lembra que violência é o ingrediente que
mais chama atenção na manchete do jornal, e aqui, embora em outra chave epistemológica,
retomamos a questão pulsional de que fala Danilo Angrimani; ao entendermos essa questão
talvez possamos compreender a atração humana pelo violento. De acordo com a teoria
freudiana, do nível pulsional decorre o nível de violência buscado pelo leitor. Portanto, tanto
por esse viés humano da psicanálise (Freud) quanto pela teoria antropológica da vítima
Para tratar dessa questão da violência, buscamos apoio em René Girard16, já que ele é
direção engendra a rivalidade mimética que é a fonte da violência. Para explicar na prática
essa “rivalidade mimética”, o jornal que mostra diariamente a violência dos crimes cumpre
uma função simbólica, já que oferece a cena proibida para que o mimetismo acorra. Edgar de
16
René Girard é conhecido por suas teorias que consideram o mimetismo instintivo a origem da violência
humana que desestrutura e reestrutura as sociedades, fundando o sentimento religioso arcaico. Ele se autodefine
como o antropólogo da violência e do simbolismo religioso. O professor Girard completou 91 anos em 25 de
dezembro de 2014. Ele é considerado um homem paradoxal por ser um antropólogo cristão. FONTE:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Girard>.
75
No grupo primitivo, esta violência, por paroxismo, se focaliza numa vítima arbitrária,
cuja eliminação reconcilia o grupo. Esta vítima é, para Girard, sagrada e constitui a gênese do
mito e dos interditos. Nesse sentido, a função do sacrifício seria o de apaziguar a violência e
impedir e explosão de conflitos cada vez mais crescentes, que é o que ocorre hoje, em nossa
Nosso entendimento de tal questão pode ser explicado do seguinte modo: levando em
consideração a teoria de Girard sobre que a multidão busca simbolicamente, todos os dias,
uma vítima para a expiação do mal social, o desejo dessa expiação simbólica recai sobre a
leitura do jornal que apresenta cenas de crimes, que quanto mais violentos, mais apropriados
se mostram para a catarse simbólica. Como diz Pedroso, a leitura das notícias violentas opera
carga de raiva implícita na multidão que precisa ser expelida a cada dia. E o jornal
76
sensacionalista cumpre essa função de “altar do sacrifício” onde as vítimas expiatórias são
Na leitura da notícia, o leitor libera de modo projetivo a sua própria violência contida,
e assim pode, pelo faz-de-conta, vingar-se da façanha criminosa das personagens naquele
texto jornalístico. Um exemplo dessa projeção pode ser observado quando ocorre um crime
bárbaro e os jornais acompanham a saga da captura do criminoso. Quando ele, enfim, é preso
e ocorre sua condenação, o público respira aliviado. Ou seja, a multidão sequiosa de justiça vê
(2004),18pode-se começar a entender o fascínio que o público sente pelos relatos cruéis,
Gabler (1999) diz que as artes precisam de certo conhecimento para a sua
compreensão, requinte e de uma cultura pessoal mais rebuscada, enquanto
que a vida como forma de entretenimento está ao alcance de todos e é do
interesse da maioria (NEGRINI; TONDO, 2009, p. 4).
17
GIRARD, René. A violência e o sagrado. (Tradução de Martha Conceição Gambini). São Paulo: Paz e Terra,
Edunesp, 1990.
18
GIRARD, René. O bode expiatório. (Tradução de Ivo Storniolo). São Paulo: Paulus, 2004.
77
Pulitzer e Hearst foram os responsáveis pela criação de tal gênero jornalístico. Entretanto, há
registros que atestam a origem da imprensa sensacionalista na França e nos Estados Unidos;
na França, entre os anos 1560 e 1631, surgiram em Paris os primeiros jornais franceses:
francês Gazzette se parecia com os jornais sensacionalistas que são feitos atualmente,
parte frontal e que comportavam título, ilustração e texto”, que eram vendidos nas ruas, eram
parricídios, cadáveres cortados em pedaços”, e outras atrocidades mais. Como o século XVII
jornal Publick Occurrences, editado apenas em 25 de setembro, informava seus leitores sobre
aos nomes de Hearst e Pulitzer, no final do século XIX, como já dito no capítulo primeiro. O
New York World, editado por Joseph Pulitzer, em 1890, obteve um lucro líquido de US$ 1,2
milhão, fazendo com que seu editor se vangloriasse em editorial: “Nenhum outro jornal do
mundo conseguiu a metade disso”. Hearst, por sua vez, filho de milionário, quando jovem
trabalhou como foca de Pulitzer e, mais tarde, comprou um jornal com o qual veio a tornar-se,
a ferramenta da qual lançaram mão para conquistar seu público e para disputar o domínio do
Como lembra o autor (Idem), “num mundo ainda sem TV e com poucas alternativas de
exemplares/dia, o que era também uma mina de dólares para os bolsos de seus editores e
sócios.
No Brasil, a partir de 1840, os folhetins foram os primeiros textos dos quais se pode
capítulos de literatura que mantinham cativo um segmento de leitores, como também crônicas
e sessões diversas, com os famosos “classificados”, que eram anúncios pagos para solicitar ou
oferecer serviços (AMARAL, 2006). Machado de Assis, que foi assíduo cronista e também
publicou capítulos de livros em folhetins, refere essa prática em alguns de seus contos, como
um ensaio preliminar daquilo que ocorre hoje entre os meios de comunicação, em que um
jornal ou site potencializa a atuação da TV ou outro meio fazendo comentários acerca dos
programas.
“imprensa marrom”, segundo Angrimani, é uma possível apropriação do termo francês para
cimarron, que é como eram chamados os escravos fugidos e em situação ilegal, ainda no
79
século XVII, de onde ficou “o senso de ‘marrom’ como coisa ilegal, clandestina”.
grupos de comunicação. Por isso dizemos que a espetacularização da notícia – que caracteriza
Pela história do jornalismo que se conhece, essa onda é cíclica. Por isso, pode-se
afirmar que a história do jornalismo impresso sempre passou por transformações. Com o
passar do tempo mudou o formato das histórias, ou seja, o modo como elas são contadas. Foi
criando uma linguagem própria para a modalidade, uma linguagem quase padrão do
evolução da sociedade, como já enfatizamos. Junto atais mudanças, na disputa das mídias, os
“rótulos” foram sendo criados para classificar os jornais que circulavam entre a população.
Segundo Manuel Pinto (2004), “um jornal generalista pode (e deve) ter assuntos
que não ajuda muito a debater o assunto, ao reduzir o problema a uma dicotomia entre ‘bons’
negativo ou positivo, dependendo de como ele é recebido (entendido) pelo estudioso que o
analisa. Aquele sensacionalismo feito no final do século XIX, citado por Angrimani, 19 que
19
Na guerra entre os Estados Unidos e Espanha, iniciada em 1898, Hearst mandou um repórter e um ilustrador a
Cuba, um dos territórios recentemente tomados. O ilustrador deu uma volta por Havana, conversou com as
pessoas e, achando tudo tranquilo, enviou telegrama a Nova York, pedindo para voltar. Hearst então teria
respondido: “Por favor, fique. Você fornece as ilustrações e eu consigo a guerra.” (EMERY; EMERY, 1984
apud ANGRIMANI, 1995, p. 23).
80
público, foi necessário criar um novo tipo de sensacionalismo para que mesmo as notícias
Artes, ECA) da Universidade de São Paulo (USP), tomou como sua primeira tarefa de
natureza cultural uma reunião para instituir a Semana de Estudos do Jornalismo, ideia
profissionais e de formadores de opinião que pode ser considerado, até hoje, de primeira
linha. O tema escolhido foi “Jornalismo sensacionalista”. De acordo com o contexto que esta
pesquisa mostrou até aqui, podemos afirmar que o tema da I Semana de Estudos do
Jornalismo (1969, com os textos publicados em 1972), continua atual por suscitar ainda hoje –
nossa pesquisa.
81
que torna a discussão do sensacionalismo muito rica e multifacetada. Já expusemos até aqui
opiniões de vários participantes, mas um em especial chama nossa atenção, não por ser um
profissional do jornalismo, e, sim, por ser um homem de alta responsabilidade e por ser um
admiração em seus ouvintes quando disse que, do ponto de vista da ética, o sensacionalismo
era bom. Pela importância de seu posicionamento, apresentaremos aqui os principais tópicos
de sua argumentação, cujo texto se encontra publicado na íntegra no livro organizado por
Interessante notar o ponto de vista democrático do religioso que fala com a nítida
excluídos de Luiz Beltrão – não tem vez numa sociedade capitalista e, como tal, desigual e
por isso mesmo injusta. Seguindo seu discurso, Arns agora cumprimenta os jornalistas
20
Paulo Evaristo Arns (O.F.M.) (14 de setembro de 1921) é um frade franciscano, sacerdote católico brasileiro;
foi o quinto arcebispo de São Paulo, tendo sido o terceiro prelado dessa Arquidiocese a receber o título de
cardeal. Atualmente é arcebispo-emérito de São Paulo e protopresbítero do Colégio Cardinalício. Fonte:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Evaristo_Arns>.
21
ARNS, Paulo E. Ética e sensacionalismo, pp.83-91. In: José MARQUES DE MELO (Coord.). Jornalismo
sensacionalista. Documentos da I Semana de Estudos de Jornalismo 1969. São Paulo: Comunicação e Artes:
ECA-USP, 1972.
82
que se projetam “até onde o povo está” para contar seus dramas e seus problemas:
Sobre a questão de a grande imprensa – a imprensa que não põe o pé na lama –,Arns
cita o “Esquadrão da Morte”,22 afirmando que este era um assunto que a grande imprensa
pouco abordava. Sobre essa realidade, ele afirma: “Ele é mais lembrado, muito mais
lembrado, muito mais focalizado pela imprensa sensacionalista do que pela outra imprensa.”
Por causa das notícias veiculadas à época acerca dos crimes contra pessoas que não tinham
Arns podem causar admiração, mas, sobretudo, levar à reflexão, já que trata do assunto tanto
pelo ponto de vista legal quanto pelo lado daquele que está próximo ao problema e sua
22
O Esquadrão da Morte foi uma organização paramilitar surgida no final dos anos 1960, em São Paulo, cujo
objetivo era perseguir e matar supostos criminosos tidos como perigosos para a sociedade. Começou
comandado pelo policial Astorige Correa, aclamado pela população e pela mídia da época; depois, a
organização passou a agir sem critério e a vender segurança para contraventores e traficantes, e sabe-se que ela
foi responsável por muitos crimes. Naquele final de década (1969), o esquadrão já se configurava como um
sério problema social, político e de direitos humanos.
FONTE:¹<http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquadr%C3%A3o_da_Morte_(Brasil)> // década (1969), o esquadrão
já se configurava como um sério problema social, político e de direitos humanos. FONTE²
<http://www.omartelo.com/omartelo23/materia2.html>.
83
cotidianidade e que, dentro do sistema social e jurídico, também tem direitos e que, nas tais
circunstâncias, seu direito à vida – que é o mais importante na escala dos direitos do homem –
está sendo violado. E Arns prossegue em sua defesa do gênero sensacionalista, dizendo algo
A partir dessa posição, pode-se concordar com Arns quando ele afirma que há dois
O positivo seria aquele que, como ele mesmo define, aborda os temas que, apesar do
Por outro lado, o negativo é aquele “do crime, do erotismo, do noticiário dramatizado
de forma a causar dentro do povo o impacto que leva à imitação”. E ele ainda menciona um
exemplo para corroborar sua opinião expressada, relatando um diálogo que teve com o diretor
de uma penitenciária na qual ele fazia visitas mensais para conversar e orientar os presos.
Esse diretor comentava com o religioso sobre um preso que já cumprira toda sua pena,
sensacionalismo, Arns resume as razões que o faziam entender dessa tal forma a questão,
pessoa humana” (ARNS, 1972, p. 86).Uma forte argumentação de Arns acerca da temática
abordada pelo jornalismo sensacionalista levanta a questão da escolha sobre o que noticiar,
Uma lição de humanismo dentro desse artigo de Arns vem a seguir em sua
argumentação, quando ele narra um exemplo aparentemente banal. Ele conta que um repórter
85
foi entrevistar um criminoso e este ofereceu com detalhes a perversão de seu crime. De
acordo com Arns, quando o jornalista perguntou ao criminoso o que diria “a mãe” dele a
respeito daquelas suas atitudes, o criminoso respondeu irônico: “Minha mãe morreu quando
eu era criança”. A essa altura de sua discussão Arns afirma que, embora o jornalista tenha
explorado apenas este aspecto em sua matéria, ainda assim, mesmo sem ter tido essa intenção,
o jornalista acabou por tocar no assunto que fez com que muitos leitores pensassem no
assunto da mãe como valor para o filho: “Ele despertou para todo um público valores
aprofundados desta mulher” (p.87). Não obstante Arns narrar que o jornalista usou a figura da
mãe como engodo para atrair a atenção do leitor, mesmo assim ele fez algo capaz de chamar
atenção para um problema que deveria fazer todo jornalista e toda a sociedade refletir:
Mas, na verdade, esse engodo serviu para elevar, para fazer entrar na notícia
um valor ético profundo, que fará toda a sociedade pensar sobre o problema:
como é que eu posso contribuir, como é que eu devo contribuir para aqueles
que não têm mãe, ou para aqueles que têm e que não souberam cumprir a sua
obrigação? Nesse sentido, a pessoa humana deve sempre merecer a primeira
atenção, mesmo quando se apresentam as fraquezas do indivíduo (ARNS,
1972, p. 87, grifo nosso).
Outra questão muito séria e que Arns abordou foi a “sugestibilidade dos indivíduos”.
Segundo ele, “através de resultados de pesquisas nós sabemos que uma entre três e cinco
pessoas é sugestionável. Por isso, nessa luta em favor da pessoa humana, redobra a nossa
suas projeções indébitas, os suicídios por contágio” (ARNS, 1972, p. 87). Na continuidade de
sua explanação, Arns lembra uma colocação, em forma de conselho ético, do papa Pio XII à
desse nome não deve oprimir ninguém, mas deve compreender e fazer compreender os
reveses e até mesmo os erros cometidos. Explicar não é necessariamente desculpar, mas é
sugerir já o remédio, é realizar obra positiva e construtiva”. E ele completa a ideia afirmando:
86
“É nesse sentido que nós pensamos: o caminho legal deveria vir depois do caminho
profissional de uma certa ética que se tornasse uma ética mesmo de classe”.
humanidade, fazer com que os países não desenvolvidos entrem em concerto das nações
pesquisa, no sentido de que o campo das comunicações é muito sério e que não se deve citar
são levadas a cometer crimes por imitação depois de assistirem à TV ou lerem um caso no
jornal que as impressione de modo profundo. Por isso, recuperamos aqui sua fala:
Para finalizar esta parte das argumentações de Arns, não podíamos deixar de lado um
importante comentário acerca da leitura dos jornais. Após suas considerações acerca do leitor,
de que esse indivíduo que lê também deve se conscientizar e se informar para não ficar apenas
com as sensações fáceis, as sensações superficiais, ele retoma o caráter positivo desse
jornalismo, quando cita sua importância na formação do homem simples, da mulher do povo,
que lê e que se instrui ao ler, que se habilita ao exercício da crítica a partir da leitura
causa, temos que lembrar que passadas quase cinco décadas desse evento, que Marques de
Melo tão oportunamente organizou e dirigiu, temos que concordar com Arns quando ele diz
que a imprensa sensacionalista, e igualmente os jornais que ela publica, tem dupla
Na introdução de seu livro Vida: o filme, Neal Gabler (1999) relata o seguinte:
Ainda que na época não tivesse como sabê-lo, em 1960 o romancista Philip
Roth levantou uma das questões fundamentais de nossa época: quais as
chances de a ficção poder continuar competindo com as histórias reais?
Qualquer um que folheasse os jornais diários veria que a vida se torna tão
estranha, suas reviravoltas tão mirabolantes que, lamentava-se Roth, “o
escritor norte-americano da metade do século XX dá um duro danado para
tentar entender, depois descrever e em seguida tornar crível boa parte da
realidade americana. Ela bestifica, enoja, enfurece e acaba sendo uma
espécie de constrangimento à parca imaginação do autor. Nossos talentos
estão sendo constantemente superados pela atualidade e a cultura produz
quase todos os dias dados de fazer inveja a qualquer romancista.”
(GABLER, 1999, p. 11, grifo do original).
Na sequência dessa citação, Gabler faz outra referência importante para sua análise e
que serve para o que queremos enfatizar nesse item. O autor menciona o historiador Daniel
frase: “Estamos a ponto de nos tornar o primeiro povo da história a ter sido capaz de fazer
suas ilusões tão vívidas, tão convincentes, tão ‘realistas’ que podemos até viver nelas” (1999,
89
p. 12). Então Gabler pontua que, enquanto Roth falava do melodrama da vida real, Boorstin
fenômeno básico. Ou seja, a transformação cultural de um povo que passa a dar mais atenção
e crédito à fantasia do que à realidade mesma em que se insere. Como disse o historiador, é
uma sociedade que transformou a realidade em ficção e vice-versa. E Gabler (1999, p.12)
afirma:
Não é preciso olhar além dos noticiários diários para perceber o quanto isso
é verdade hoje em dia. Não se trata de minimizar os excessos da imprensa
barata, da imprensa marrom e dos tabloides para admitir que, nos quase
quarenta anos que nos separam do ensaio de Roth, o noticiário tenha se
tornado um fluxo constante daquilo que poderíamos chamar de “lifies” –
uma fusão de lifee movie, ou seja, vida e filme – inseridos no veículo vida,
projetados na tela da vida e exibidos pela mídia tradicional, cada vez mais
dependente do veículo vida.
celebridades chegam a ocupar os espaços da mídia por semanas e até meses a fio, mostrados e
ouve mais falar naquilo. Portanto, o autor concorda que o entretenimento tradicional tem
como objetivo “distrair” o público para fazer as pessoas esquecerem os problemas. Talvez, o
Para finalizar este capítulo, no qual se discorreu sobre o sensacionalismo e suas formas
organizar o I Encontro de Jornalismo em São Paulo justamente para debater e ouvir os pares
autores a gênese desse modo de mostrar as notícias a que chamamos sensacionalismo e, por
fim, fizemos a ponte entre o sensacionalismo e o entretenimento. Como ficou exposto nas
realidade.
Devemos lembrar que, da mesma forma que os estudos culturais chegam a consenso
acerca da inclusão daquelas manifestações culturais – antes tidas como subcultura – como
válidas e agregadoras de valor aos indivíduos, é preciso também que se chegue à visão
receptiva acerca da contribuição dos jornais populares. Tal contribuição precisa ser percebida
tanto no sentido de que esses jornais propiciam informação às pessoas simples – aquelas que
contemplarem um grupo social que, por não pertencera elites culturais, tem seus próprios
apresentando os dados sobre nosso objeto de estudo, o jornal Super Notícia, fazendo a análise
de suas páginas e, por fim, desvendando os segredos dos motivos pelos quais esse periódico
passou a ser, desde seu surgimento, um jornal de sucesso na mídia jornalística brasileira.
91
Preâmbulo: Logo no prefácio de seu livro Jornalismo popular, Márcia Franz Amaral já
adverte os estudantes de Comunicação Social, professores e pesquisadores: “O mercado dos
jornais populares cresceu, mudou, e quem só conhece o chavão sensacionalista para tratar do
tema, precisa se atualizar” (AMARAL, 2011, p. 9). Falando sobre a “inovação estrutural dos
sistemas de comunicação”, em franco desenvolvimento “há bastante tempo”, Rodrigo Alsina
(2009) coteja, como uma das suas características salientes, a integração das diversas
tecnologias da comunicação aliada ao imperativo capitalista da busca incessante por melhores
resultados. Segundo ele, a produção e difusão de grande parte das mensagens e imagens que
formam o entorno simbólico das pessoas unificam-se em um intuito empresarial. Ou seja, em
todas as etapas artísticas da mídia, o processo criativo se sujeita aos imperativos do capital,
isto é, obter os maiores lucros e com os menores custos. Essa dinâmica influi, decisivamente,
na forma e no conteúdo do produto da mídia. O computador tornou-se a ferramenta útil por
excelência para a edição de revistas de tiragem limitada. Presenciamos o surgimento do jornal
eletrônico. Na atualidade, jornais do mundo todo podem ser lidos pela internet. Tendo isso em
vista, o escritor espanhol vaticina: “A informação na internet pode chegar a mudar o conceito
da imprensa ou ainda da mídia de maneira geral” (ALSINA, 2009, p. 57). E nós confirmamos
que sim, ele mudou. Não da forma como pensavam (e previram) os neo-apocalípticos e
catastrofistas, apregoadores da inexorável morte do velho e bom jornal impresso, é bem
verdade. Mas mudou. No que pesem os dobres fúnebres desses e o entusiasmo hilariante dos
deslumbrados com as novas tecnologias digitais, o jornal impresso sobreviveu e passa bem.
Reinventou-se.
23
MARQUES DE MELO, 2012, p. 65.
24
Idem, p. 70.
92
Ao perpassar a história da imprensa brasileira, que teve seu início assinalado pela
imprensa em Minas Gerais foi postergada, sofrendo um grande atraso em relação a outras
Tendo isso em mente, considerando-se a divisão proposta por Sodré (1999) das quatro
1840); Imprensa Informativa e Literária (1840-1889) e Grande Imprensa (1889 até os dias
atuais), além de ter o seu ingresso tardio na imprensa nacional, Minas Gerais demorou a
apenas em 1927, portanto mais de quatro décadas depois, iniciou a sua quarta fase (Grande
25
MARTÍN-BARBERO, 2009, p. 95 (grifo nosso).
26
Idem, p. 200 (grifos nossos).
93
hegemonia e chega ao final da década de 1960 como a “única publicação eclética regional”.
Sobre essa derrocada da tardia imprensa mineira, a pesquisadora Ângela Carrato apresenta a
seguinte posição:
Segundo a pesquisadora, essa foi a época do êxodo dos grandes jornalistas mineiros
para outros campos mais promissores tais como São Paulo e Rio de Janeiro, onde obteriam
A maioria se dirigiu para São Paulo, onde, no final dos anos 60, surgiram
duas experiências revolucionárias na imprensa: os lançamentos da revista
semanal Veja, do Grupo Abril, e do vespertino Jornal da Tarde, da família
Mesquita, que já possuía o Estado de S. Paulo. [...] Deixam o Estado, entre
1965 e 1970, pelo menos 120 jornalistas, número que correspondia a 30%
dos profissionais na ativa. Dos que saíram, a quase totalidade havia sido das
“escolas” do Binômio, Última Hora, Diário de Minas e Correio de Minas.
Em comum, vários dos que se mudaram tinham o desprezo e a antipatia para
com o Estado de Minas e o jornalismo tradicional praticado pela Rua Goiás
(Idem, p. 102).
Brasil a partir de 1964. Não obstante o momento em que grandes publicações que haviam
94
apoiado o movimento de março de 64, “já desiludidas com os rumos autoritários tomados
pelos novos ocupantes do poder, empreendiam caminho de volta”, o então principal jornal
grandes publicações de alcance nacional. Assim, mais uma vez, vários jornais surgiram em
políticos mineiros que atuavam fora do espectro conservador do jornal Estado de Minas:
Dono da Sempre Editora Ltda. e de um dos melhores parques gráficos do país, o grupo
empresarial de Vittorio Medioli presta serviços para mais de duzentas empresas. O que o
publicações tais como os jornais Pampulha, O Tempo Betim e a revista Super TV, mas, sim,
informações colhidas diretamente em sua matriz em Belo Horizonte, durante nossa visita
“Qual a razão maior do sucesso do Super Notícia?” Nesse ponto, emerge aquela
baratinho porque vende mais?”. Tentando responder a essa e a outras perguntas sobre o
sucesso editorial do tabloide mineiro, a pesquisadora Renata Kelly de Arruda em seu trabalho
Para dar conta dos objetivos deste capítulo temos que descrever o objeto de estudo em
todas as suas características e ainda fazer a análise e conteúdo de suas páginas. Vamos
descrever e analisar uma edição tomada como corpus de pesquisa e tudo o que nela estiver
relacionado com o nosso estudo: “A segunda edição do Super Notícia de número 4.505,
considerado em todo o mundo. De acordo com Silvia Zampar, são comuns três medidas de
jornal: o Standard (56 x 32cm), o Tabloide (27 x 30cm) e o Berliner (26 x 40cm), lembrando
Pode-se dizer que o Super é um jornal no modelo tabloide, já que está impresso em
sete colunas de 38 centímetros. Sua periodicidade é diária, com circulação média (CMD) de
325.264 exemplares (IVC, out.2014). Quanto à cobertura, ele circula em mais de quatrocentas
cidades de Minas Gerais, além de Brasília (DF), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ),
Guarapari (ES) e Vitória (ES). Não se pode dizer (ainda) que seja cobertura nacional, mas
como abrange os Estados mais populosos e a capital do País temos que reconhecer que sua
27
Silvia Zampar no TuDiBão: <http://tudibao.com.br/2010/07/jornais-papeis-formatos.html>.
97
segmentos masculino e feminino, como se pode observar no Gráfico 01, que representa os
o público-leitor feminino (47%), mas acreditamos que esses números, na prática, sofrem
variação.
Como as aferições de público geralmente são feitas no ato da compra nas bancas, por
amostra, pode-se inferir que os jornais, depois de adquiridos por seu suposto leitor, são lidos
por mais de uma pessoa e, com certeza, o mesmo exemplar é lido por homens e mulheres,
jovens e idosos.
Quanto à faixa etária, cabe comentar que o público leitor do Super é majoritariamente
formado por jovens. Isso salta aos olhos ao verificarmos as três primeiras faixas do gráfico; se
as somarmos, veremos que 64% dos leitores do Super se concentram na faixa de idades entre
10 e 39 anos. Se adicionarmos a essas as outras duas faixas daqueles leitores que ainda não se
Este fator demonstra que, com seus textos curtos, entretenimento, cores quentes e
visual ousado, belas mulheres em trajes sumários e, especialmente, promoções voltadas para
A seguir, o Gráfico 02, apresenta os percentuais desse leitor por faixa etária.
Como a propaganda continua sendo a alma de todo negócio porque neste quesito
“negócio” e “público” são irmãos siameses, vale relatar uma observação feita durante nossa
visita à sede do Super em Belo Horizonte. Enquanto procedíamos à análise do nosso corpus
de setembro de 2014, deparamos com uma página inteira da edição (p.11) com o
encerramento da promoção “Garoto e Garota Super 2014”. Logo abaixo da chamada em caixa
alta: VOTAÇÃO TERMINA HOJE (letras com 20 x 10 cm), temos o critério (três meninos e
três meninas com a maior pontuação na escolha popular irão à final do concurso em
Como foi possível observar, o Super quer conquistar e continuar fidelizando a faixa
etária jovem, que é o público leitor mais promissor, por ser consumidor atualizado e mais
capítulo segundo, a mídia hoje joga com o entretenimento e com a predisposição de esse
público jovem querer mostrar-se, pois dá prazer o simples fato de aparecer nas mídias sociais,
na qual cada fotografia, cada selfie passa a ser importante para a pessoa porque é um
o Super Notícia se orgulha de ser um “instrumento de inclusão social” com forte ênfase na
prestação de serviços. Como vamos apresentar a seguir, seu conteúdo é variado e o público
Vale lembrar ainda que os dados dos gráficos e tabelas que usamos aqui estão
arquivados na própria Sempre Editora, que faz parte do grupo empresarial que publica o
Super Notícia, cuja fonte de dados é o Ipsos: Estudos Marplan EGM, Grande BH, out.2013 a
set.2014.
por várias razões, dentre elas o fato de os jornais populares serem motivadores da leitura de
Pessoas que não possuíam o hábito de leitura de jornais, agora leem o Super
diariamente no caminho para o trabalho, na hora do almoço e nos pequenos
intervalos que surgem na correria do dia a dia. Mais do que um jornal, o
100
No quesito classe social, o Super atinge um amplo espectro, como podemos observar
Como pontua a pesquisadora Marise Baesso Tristão, é preciso lançar novos olhares
sobre os jornais populares, mas que esses olhares sejam desprovidos de preconceitos e do
Num artigo publicado sob o título “Páginas do cotidiano no jornal popular mais
Belisário afirma:
constatamos alguns fatos que são objeto de preocupação dos teóricos que escrevem sobre o
jornal e o jornalismo brasileiro, dentre eles o mais relevante é a briga que ainda existe entre a
notícia e a publicidade, como relataremos a seguir. Bruna Reis de Lima, a relações públicas
da “Sempre Editora”, por meio de entrevista e releases nos passou a informação de que a
Sempre Editora inaugurou seu novo parque gráfico em outubro de 2010. Duas rotativas,
equipamentos mais importantes são as impressoras rotativas offset (modelo Geoman), com
Sempre Editora implantar arrojados projetos de aumento de circulação de seus dois principais
28
A ManRolandAGé uma empresa alemã, fabricante de máquinas de impressão offset em bobina para jornais,
offset comercial em bobina e offset plana para a impressão de jornais, publicidade, publicações e embalagens.
FONTE: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Manroland>.
102
leitor com o melhor da informação e com sua melhor apresentação. Em 2004, o parque
foi uma das primeiras a adotar o CTP no Brasil para produzir jornal.
Com circulação total dos seis títulos dos veículos impressos, ultrapassando seiscentos
mil exemplares por dia, a Sempre Editora detém 90% do total de leitores de jornal da Grande
Belo Horizonte, segundo dados de Ipsos (Ipsos: Estudos Marplan EGM, Grande BH,
pela Sempre Editora (veículos do grupo mais impressão de terceiros). O total de leitores de O
O Super Notícia é produzido por uma equipe de cerca de vinte pessoas, composta pelo
editor-chefe Rogério Maurício, subeditores Geremias Sena e Luiz Cabral Inácio; os redatores
Renato Torres, Felipe Pedrosa, Raphael Ramos, mais três repórteres e cinco estagiários. Na
jornal e que, por isso, ele figura entre os três diários mais vendidos do país.
Editora, e numa entrevista feita com o editor Rogério Maurício, consideramos mais
detidamente a pergunta recorrente que marca presença em todos os estudos sobre o tablóide
belo-horizontino acerca de seu sucesso: “Qual a razão maior do sucesso do Super Notícia?”
Nesse ponto, como citamos anteriormente, emerge a questão do chamado “Efeito Tostines”:
“O Super vende mais porque é baratinho (ele custa apenas R$0,25 – preço de cinco balinhas,
como anunciamos, sendo que, de antemão, já sabemos que a luta é desigual. Conversando
2014, ele nos informou que “há uma briga constante entre o pessoal da publicidade e a turma
transformação em empresa, o que resulta em um jornalismo mercantilista, que tem como meta
precípua o lucro. Daí a tensão constante entre os jornalistas e a turma da publicidade, como
acontece na redação do Super Notícia. Nesse contínuo “cabo-de-guerra”, quem sai perdendo
são os jornalistas e os leitores. Como produto, a notícia perde seus atrativos, pois, para
Sobre isto, vale enfatizar com Kothe (1987) que “a transformação da obra literária em
reversão radical no modo anterior de relacionar o alto e o baixo da sociedade com o alto e o
baixo das obras”, quaisquer que sejam os textos, valendo também para o jornal. Podemos
inferir daqui o apreço dos editores por matérias interessantes, com “cores fortes e cenas
vívidas” para chamarem a atenção do leitor logo de relance, sem se preocuparem com o
conteúdo intelectual: vale o que aparece. Assim, além de o espaço da notícia ser reduzido, ela
ainda precisa ser “notável e vistosa” para competir com o festival de cores e de formas dos
anúncios de produtos que, diga-se de passagem, são obras de criatividade de alto padrão. O
tão necessária visita à Redação do jornal Super Notícia, em Contagem, na Grande Belo
Horizonte. Quando lá chegamos, o impacto do que vimos superou as expectativas. Eles foram
conseguimos com eles informações sobre coisas do jornal que não é comum eles relatarem
aos visitantes. Valeu a pena conhecer in loco e conversar com os editores. Eles nos abriram as
portas. A redação deles é fantástica. Mesmo tendo trabalhado em uma editora, a sensação que
fica é de termos aprendido mais sobre jornalismo nas horas que passamos lá em companhia da
Face ao que presenciamos (em princípio, sempre buscando ver além do que eles
os setores, podemos afirmar que o Super Notícia não é um jornal sensacionalista. Por seu
design, pelo emprego de cores e de distribuição de signos gráficos, pela distribuição das
matérias nas páginas, ele é, sim, um fenômeno comunicacional e mercadológico. Tudo nele é
sentido, eles não se valem da exploração do “mundo cão” (como o fizeram e ainda o fazem
alguns jornais menores Brasil afora), mas se valem, e muito bem, da prestação de serviços,
das promoções, da arte de “saber jogar” com a paixão que os mineiros têm por seus dois times
principais de futebol e pelas mulheres. E isso eles sabem como fazer, melhor do que ninguém.
Acreditamos que, face ao Super e outros jornais que surgem Brasil afora, estamos
diante da reinvenção dos jornais – que se assumem, sem falso pudor, como produto, como
mercadoria e como veículo dela. Este jornal, como pudemos verificar pessoalmente, segue um
modelo híbrido em que vale juntar e promover o reencontro do jornalismo padrão com o
popular, assimilar com o cotidiano das pessoas, sem deixar de conquistá-las para que no dia
principal na hierarquia da redação do Super Notícia, durante a qual ele nos passou
Elizeu Lira (EL). A que o senhor atribuiria, em primeiro lugar, o sucesso do Super
Notícia?
Rogério Maurício (RM). O sucesso do Super não pode ser atribuído a apenas um
fator, mas a um conjunto de fatores. Entre eles: formato (tabloide), conteúdo (popular),
preço (acessível), distribuição (bem-feita) e conjuntura econômica favorável
(crescimento da classe média). Tudo isso, claro, aliado ao comprometimento da
empresa e da equipe em fazer um trabalho jornalístico de qualidade.
EL. Quais são os pontos de distribuição do Super Notícia? Ele é distribuído, também,
fora da Grande Belo Horizonte?
RM. O Super é distribuído em 372 cidades de Minas Gerais. São cerca de 5.400
pontos de venda em todas as regiões do Estado.
EL. Quantas pessoas trabalham diretamente com o Super Notícia na Redação?
RM. O Super Notícia é uma das publicações da Sempre Editora, que edita também o
jornal diário O Tempo e os jornais semanários Pampulha, O Tempo Contagem e O
Tempo Betim, além da revista semanal SuperTV. Também temos o portal O Tempo
Online. As redações do Super, do portal e de O Tempo trabalham integradas. Os
repórteres produzem material para todas as plataformas e produtos. Assim, temos mais
de cem jornalistas envolvidos na produção de notícias. Exclusivamente para o Super
107
RM. O Super também já está passando pelas transformações dessa nova era digital.
Temos mais de 25 mil assinaturas digitais do Super. É um caminho sem volta. Cada
vez mais as pessoas vão acessar informações de smartphone, tablet, etc. Temos que
nos adequar a essas plataformas, mas também temos que reinventar o jornal impresso
a cada dia. Por enquanto, estamos conseguindo manter os leitores do tradicional jornal
impresso. Espero que consigamos mantê-los por longos anos.
Como já foi comentado anteriormente, as novas tecnologias não mais podem ser
suportes eletrônicos de leitura permitem acesso em qualquer lugar que o leitor esteja. Aliado a
esse fator, podemos citar também o fato de que o Brasil se posiciona entre os países com
maiores índices de uso de internet, segundo a FGV e a Fundação Telefónica (2012). 29 E o que
se pode deduzir disso é que esta é uma plataforma que aí está e que veio para ficar. Agora que
já sabemos o que é o Super Notícia e como ele é feito, analisemos a sua morfologia.
A análise a seguir é a parte mais importante deste capítulo pelo fato de contemplar os
do jornalismo em geral.
29
Para saber mais <MID.sumario.pdf>.
110
30
O Super Notícia, contrariamente do que pensávamos e do que pensa a maioria das pessoas, não está restrito à
Grande BH; ele circula em mais de quatrocentas cidades de Minas Gerais, além de Brasília, São Paulo, Rio de
Janeiro, Guarapari e Vitória. Para atender a esses leitores mais distantes, existe a primeira edição, cujo deadline
ocorre entre 20h20 e 20h30,e a segunda edição, que atende leitores da Grande BH; esta, mais robusta, com o
caderno Classificados, é fechada até às 22h30. Como informam os editores, em dias de clássicos ou finais do
campeonato estadual de futebol – especialmente quando jogam o Cruzeiro ou o Atlético Mineiro –,o
fechamento é postergado para meia-noite ou até para 0h30 do dia subsequente, para que o jornal possa trazer o
placar do jogo e os comentários dos analistas, com reportagens para satisfazer os fanáticos apreciadores do
futebol.
111
aproximadamente dois terços do jornal (exatos 60,7%) são tomados pela publicidade. Isso
ressalta a vocação mercadológica e utilitarista do jornal que, começando com um encarte que
funciona como uma “falsa primeira página”, quase que integralmente dedicado à loja de
materiais de construção Santa Cruz Acabamentos, passa pela verdadeira capa, que inicia com
a “Promoção do Selo” (Junte tantos, para ganhar um jogo de cozinha Tramontina) e termina
com a propaganda da agência de viagens do próprio grupo empresarial a que pertence o jornal
Sobre isso alerta a pesquisadora Tyciane Cronemberger Viana Vaz (2013) em seu
É pertinente o alerta feito por Vaz, no que tange ao periódico mineiro. Muitas vezes,
textos ou a imagem. Isso ocorreu na edição analisada aqui, como já havia ocorrido na edição
com um pequeno símbolo cuja imagem remete à genitália masculina, e com os seguintes
tentar associar, para os leitores, uma pretensa solução dos seus problemas ou limitações que
impeçam uma vida sexual ativa e altamente satisfatória, com as imagens de virilidade dos
jogadores; isso, sem contar com a fama de garanhões e pegadores que eles ostentam nos
Uma palavra que tem se tornado cada vez mais frequente é “sutileza” e todas
as suas variantes, geralmente empregadas indevidamente para ações
jornalísticas ou publicitárias. Nenhum jornal usa de sutileza para informar.
Se ele pretende informar, significa que a intenção se encontra inserida na
agenda. Portanto, é programada, proposital. Não existe a frase: “Vou
informar, mas não quero que o leitor perceba.” Ora, então para que
informar? Pode haver, sim, direcionamento específico, mas não
comunicação “subliminar”, como alguns defensores de teorias conspiratórias
acreditam. Mesmo que alguém esteja conspirando, as mensagens aparecem,
sejam “cifradas” ou claramente compreensíveis. Já ouviu o seguinte:
“Agente secreto revela...”? Se ele revelou e se dizia “agente secreto”, então
nada mais é secreto e tampouco se encontra em segredo31.
manchete tanto nos jornais esportivos quanto em cadernos de esportes foi: “Cristiano Ronaldo
Catarinense enunciava:
Uma estátua erguida no Funchal, na Ilha da Madeira, está dando o que falar.
Só por ser de Cristiano Ronaldo, ídolo português e campeão do mundial de
clubes pelo Real Madrid, já seria o suficiente para a homenagem rodar o
mundo, mas essa tem um “quê” de especial. O volume no calção da versão
de bronze de CR7 deixou algumas pessoas desconfortáveis nas redes sociais.
Já a mídia internacional comentou sobre a “proporção anatômica” do
31
Ruben Dargã Holdorf em entrevista a Elizeu Corrêa Lira, por e-mail, em 29 de dezembro de 2014.
32
Disponível em: <http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/esportes/noticia/2014/12/cristiano-ronaldo-
inaugura-estatua-na-ilha-da-madeira-com-um-atributo-a-mais-4669292.html>.
113
por outro o Super Notícia se vale desse recurso imagético para atrair e cativar seus leitores.
número 4.603 – exatamente aquela que nós acompanhamos de perto a elaboração. Na capa,
logo abaixo da “Notícia do Dia”: FIM TRÁGICO PARA PROFESSORA, no canto esquerdo
aparece Joana Machado vestindo apenas uma calcinha de renda cor preta e com a
INÚMEROS PARCEIROS. Personal trainer revela que perdeu as contas de quantos homens
passaram por sua vida e ainda deixa claro que tamanho é documento.
mulher-objeto. Ao seu lado, vestindo apenas uma sunga e postado de frente aparece o jogador
os dizeres: BOM DE BOLA. A chamada alardeia: Atleta colombiano, que joga no Real
forma que, ao mesmo tempo em que com a mão esquerda o futebolista puxa para baixo o trajo
sumário, aparece a sua mão direita como se estivesse “tangenciando” as nádegas da “bem-
Analisando o boom editorial dos jornais populares, a jornalista Mabel Dias dos Santos
Mas, por que utilizar o corpo feminino para vender jornais? Por que exibir
imagens de mulheres com seus corpos em trajes minúsculos ou nuas como
estratégia de venda para atrair consumidores? A mídia – neste caso, o jornal
impresso – reforça a violência simbólica, associando a mulher a um objeto
de consumo, de prazer e de lazer dos homens. Bourdieu (1999, p.14) afirma
que para compreender a dominação masculina em uma sociedade
contemporânea é fundamental considerar as estruturas inscritas na
objetividade e na subjetividade dos corpos. Para os corpos existirem no
mundo social eles precisam estar inseridos em uma cultura, deixando assim
de ter um aspecto físico para assumir um significado cultural. A mídia é uma
instituição que normatiza o simbólico, ao construir representações do sexo
feminino, a partir da exploração de seus corpos (SANTOS, 2014, p. 1).
Não obstante a crítica ácida aos jornais populares como agentes promotores dessa
paraibana lembra que isso não é apenas praticado por estes: “O uso do corpo feminino como
meio para atrair consumidores é um fato presente na mídia em geral, e não só nos jornais tidos
como populares”:
Este é indubitavelmente um dos mais fortes chamarizes do tabloide mineiro para atrair
e cativar o seu público leitor que, como vimos, é majoritariamente composto por jovens. No
entanto, a bem da verdade, ressalve-se que o Super Notícia não vive só da exposição diária de
belas mulheres seminuas; existem espaços nobres do jornal tais como o “Alô redação” (página
2) e o “Panelaço” (página 6) nos quais os leitores podem fazer-se ouvir expondo as suas
soluções para os problemas que os afligem. Dessa forma, os cidadãos das classes C, D e E,
que como foi visto perfazem impressionantes 68% do público leitor do jornal, mormente sem
voz e marginalizados pelo rolo compressor das políticas neo-liberais, encontram ressonância
prática profissional no promover o bem e a justiça, dando voz aos excluídos e marginalizados
pelos que detém o poder, que sintetiza o que há de melhor no fazer jornalístico:
O jornalista está obrigado a tentar ser justo e impiedoso (devo ter sido mais
impiedoso do que justo). E a provar o tempo todo que é independente. Pois
não basta ser. Tem que parecer. O mundo não se divide entre bandidos e
mocinhos. O mocinho de hoje pode ser o bandido de amanhã – e vice-versa.
Mas sei – ou posso saber – quando estou diante de um bandido no exercício
da bandidagem. Devo ouvi-lo para que se defenda. Jamais, contudo, o
tratarei como à sua vítima. Ela será mais bem tratada. Porque creio
sinceramente – por mais que isso traia uma visão romântica do jornalismo –
que a imprensa existe, antes de tudo, para socorrer os aflitos. E afligir sem
dó os seus algozes (NOBLAT, 2012, p. 64-65).
se pacificamente com o bater de tampas e panelas – rasga o verbo no chamar os cidadãos para
Além do “Panelaço”, o Super Notícia mantém seções e colunas diárias tais como:
“Meu Dinheiro”, em que o consultor financeiro Carlos Eduardo Costa fornece dicas e
orientações oportunas sobre economia doméstica, como organizar as finanças e como fazer
um orçamento e manter um bom controle contábil das finanças pessoais; “Utilidade Pública”
com os principais números telefônicos de uso comum dos cidadãos (Polícia Militar, Cemig,
Copasa, Samu, etc.); o informe diário da Loteria Mineira e das diversas loterias mantidas pela
Sobre isso pontua Vaz (2013) em seu alentado estudo doutoral “Jornalismo utilitário-
Em seguida, Vaz nos fornece dicas valiosas sobre a boa prática do jornalismo
utilitário:
enunciados por Vaz, desprendendo-se assim daquela imagem estigmatizada dos velhos jornais
“espreme que sai sangue” que, como instrumento de uma nota só, usavam e abusavam das
Ao analisar o modo pelo qual a mídia impressa brasileira constrói as figuras dos
Um exemplo que pode ser considerado nesta análise se encontra na edição que nos
em cor branca ocupam um espaço de 19 por 25centímetros e estão chapadas sobre um fundo
escuro. Num tamanho sete vezes menor, aparece logo abaixo o subtítulo: “Decisão polêmica,
que virou caso de polícia, aconteceu após uma briga entre o estudante de 11 anos e um
professor”.
Na página 3, onde a matéria é publicada como “NOTÍCIA DO DIA”, ela aparece com
a seguinte manchete em cores vermelhas sob um fundo branco: CONFUSÃO COM ALUNO
Conversando com Geremias Sena, um dos subeditores do Super Notícia, ele nos
informa que os indicativos (índices) das editorias seguem o seguinte padrão: (a) Esportes: cor
verde; (b) Variedades: cor azul; (c) Cidades: cor vermelha. Seguindo esse esquema, pode-se
deduzir que a matéria faz parte do índice Cidades, porque está presente na manchete a cor
vermelha.
diversos tipos de conteúdo sejam imediatamente reconhecíveis, o que nos ajuda a processar
rapidamente o material que estamos lendo” (AMBROSE, 2009, p. 132). O autor enfatiza em
seu estudo sobre as cores que elas têm a capacidade de provocar as mais diversas reações
emocionais nos leitores. “Por consequência, as cores costumam ser descritas com palavras
emotivas, como fria, quente, relaxante ou animada, e a maioria está associada a adjetivos
Segundo pesquisa feita no site “Significado das Cores”,33 várias atribuições são dadas
às cores, como descrito aqui: preto é a cor do mistério e se associa à ideia de morte, de luto e
de terror. Este significado serve para o Ocidente, porque em outras culturas pode ter outro
premere, “apertar, espremer” expressava a noção de que se tratava de uma cor onde existiam
33
Disponível em:<http://www.significadodascores.com.br/>.
121
agressividade ou o poder. [...] Simboliza perigo, fogo, sangue, paixão, destruição, raiva,
do coração. Análise etimológica: «“A palavra vermelho tem sua origem no latim vermillus,
extraído o corante carmim utilizado em tintas, cosméticos e até como aditivo alimentar”.»34.
representações simbólicas que as cores carregam, nós podemos fazer as seguintes leituras e
interpretações:
ESCOLA”, temos toda carga do arbítrio e da injustiça projetada contra a tal escola e,
indefesa da maldade dos educadores, aqueles que deveriam guiá-lo e protegê-lo. Análise
etimológica: «“A palavra ‘Pedagogia’ tem origem no grego paidós (criança) e agodé
(condução)”. Assim, a palavra grega Paidagogos é formada pelas palavras paidós (criança) e
agogos (condutor). Portanto, “pedagogo significa condutor de crianças, aquele que ajuda a
conduzir o ensino”»;35
ação arbitrária perpetrada contra o menor; afinal, lugar de criança é na escola. Logo, esta
criança está sendo cerceada em seu direito mais fundamental como cidadão: o direito à
34
Para saber mais: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Vermelho>.
35
FONTE: <http://educador.brasilescola.com/trabalho-docente/professor-pedagogo-condutor-de-criancas-a-
empreen.htm>.
122
c) por se tratar de uma “criança especial”, o ato arbitrário – principalmente da forma como é
d) o fundo preto – a cor da morte – indica a morte, a falência da educação ao cometer tamanha
questão remetida ao âmbito policial: “Garoto foi afastado após briga com professor, que virou
caso de polícia”.
Não obstante o uso do vermelho indicando o índice “CIDADES”, nos casos policiais
contra o estudante. A Tabela 01 apresenta o levantamento dos temas abordados pelo jornal
Pela amostra, os temas com maior índice de presença são, equivalentes, o Esporte e a
virilidade, potência (sexo, prazer), mas, também, encontram-se presentes signos de violência,
123
arbítrio e poder. Já Educação, Direito, Política e Saúde pontuam iguais com uma ocorrência
Junto ao arsenal de promoções e com o espaço dado aos leitores 36 vêm os carros-
chefes do Super Notícia. Diariamente aparece na capa uma modelo, atriz bonita em trajes
“Notícia do Dia” é aquela que ocupa a manchete principal, que se conecta diretamente à
violência; mas, quando diz respeito a esta, nem de longe se faz lembrar o jornal Notícias
setembro de 2014, logo abaixo da “Notícia do Dia”, abordando a polêmica em torno do garoto
autista que teria sido expulso da escola depois de se envolver numa briga com o seu professor
de Língua Inglesa, encontra-se a primeira notícia que poderia ser considerada de caráter
sensacionalista: HOMEM MATA MÃE COM DUAS FACADAS (Tudo em caixa alta e em
No que pese toda a carga pulsional presente nesta notícia, por sinal: a mais “pesada”
na edição que analisamos, há de se deixar claro que o fato é abordado de forma bem sucinta –
direto ao ponto – e sem tons de exacerbação. Como em todas as matérias de violência com
36
O Super Notícia, diferente da maioria dos periódicos, não publica editoriais; no entanto, na segunda página,
depois da coluna diária “Meu Dinheiro”, com o consultor financeiro Carlos Eduardo Costa, e depois da charge
do dia e de vários serviços, tais como “O Tempo em BH” e os resultados das loterias, vem a seção de cartas
“Alô Redação”, onde os leitores escrevem criticando os políticos, comentando os mais recentes escândalos, e
onde também dão sugestões para artigos e reportagens e contam as mazelas do cotidiano em seus bairros e
cidades.
124
Essa nova postura dos jornais voltados para os segmentos mais populares da
população tem ensejado muitos estudos e pesquisas científicas. Num deles, bastante
de Brasília, Luiz Martins da Silva e Fernando Oliveira Paulino, acompanharam por cerca de
90 dias – entre dezembro de 2012 e fevereiro de 2013 –, as edições dos jornais Aqui DF,
Jornal na Hora H!, Metro, Destake Coletivo. Como conclusão basilar de sua vasta pesquisa,
Ressaltamos que, embora não seja nossa pretensão precípua fazer aqui uma análise do
discurso jornalístico nas páginas do Super Notícia, temos plena consciência das
intencionalidades subjacentes a cada imagem, em cada uma das cores utilizadas, cada texto,
Roberto Leiser Baronas (2011), em seu livro Ensaios em análise de discurso: questões
Notícia, o jornal mais lido pelos mineiros”, depois de pontuar que os populares “são jornais
que apostam no texto mais romanceado e de sensações, tendo, ainda, no fait divers o seu
grande filão”, Tristão (2012, p. 16) lembra a crítica pertinente que Marcondes Filho faz ao
particulariza fenômenos sociais”. A esta altura, Tristão mais uma vez cita Marcondes Filho:
iguala-se a esse tema, Tristão (2012) lembra que as mudanças operadas nas redações da
maioria dos jornais brasileiros, na última década do século XX e primeira do século XXI,
Cidade não bastou para modificar o tratamento da notícia policial, que, na maioria das vezes,
alívio nos leitores, principalmente na imprensa popular” (p.34-35). Na edição usada como
Nos dois primeiros, temos um com o título “Brigas constantes”, com o fundo
vermelho e descrição do caso. No outro bloco, sob o título “Decisão da justiça”, com fundo
para que o leitor faça a opção de ler depois da leitura da notícia, apresenta informações
127
técnicas com o título “Detalhes sobre o autismo”, que descreve a deficiência e a legislação
02, os temas que levantamos nos dois jornais da Sempre Editora; sendo que, para tanto,
usamos exemplares de edições do mesmo dia – posterior à nossa visita à redação dos jornais:
quarta-feira, 17/12/2014.
atuando de forma totalmente integrada, as diferenças gráficas e editoriais entre eles são
flagrantes. Por exemplo: no canto superior esquerdo da capa, o Super Notícia já começa com
uma promoção: “Promoção Super Notícia Muda Minha Vida”. No canto superior direito
aparece uma modelo famosa de costas, com o dorso desnudo e, em tom provocante e sensual,
publicitárias. Jornais tais como o Super também usam esse recurso que, além de fazer
economia espacial, age como uma “quase terceira dimensão”, efeito análogo ao do outdoor,
que atrai o olhar distante, imediatamente. Nas edições analisadas, as imagens de homem e
surpresa é também um recurso visual empregado no Super. Entretanto, vale lembrar que um
corpo, a partir do momento em que é estampado num plano, torna-se discurso, mensagem.
Como essa mensagem atua no campo do simbólico, cada leitor vai fazer sua leitura e captar
um sentido próprio.
Um recurso gráfico que chama atenção no cabeçalho da capa do Super – além das
cores fortes – é que o preço está bem visível, encimando o código de barras. O conjunto preço
formando assim uma imagem harmoniosa para os olhos de quem olha (Anexos). De qualquer
modo, cores, formatos, estratégias de localização dos ícones e dos símbolos, tudo atua –
repetimos – no campo simbólico das percepções humanas. Entre o dito/ escrito e o não dito/
não escrito; entre o explícito/ mostrado e o oculto/ sugerido, entre o belo das formas corporais
e o cruel contido nos relatos das notícias (crimes e acidentes graves, por exemplo) há um
universo de ambiguidades; estas, a sua vez, são discursos ocultos a serem desvelados,
fizemos a opção de comparar outro jornal produzido pela mesma editora do Super Notícia, o
dezembro de 2014, dia posterior à nossa visita à Sempre Editora, para que pudéssemos fazer o
129
estudo comparativo e, ao mesmo tempo, enfatizar alguns detalhes de produção dos dois
No Gráfico 05, pode-se visualizar os percentuais de cada segmento que são publicados
informativas, 11 (6,3%) são opinativas, 27 (15,6%) são utilitárias e 54,6% dizem respeito a
Outros. Na classificação, em Outros se relacionam os textos que não são jornalísticos, como:
informes publicitários, o que perfaz 31,9% do total do grupo. Isso significa que, mesmo
fortíssima no Super Notícia. Com certa diferença, o jornal O Tempo apresenta percentuais de
jornal mais sisudo e conservador e que conta com quarenta páginas, foram analisadas 299
unidades de informação. Destas, 136 (45,4) são informativas, 29 (9,6%) são opinativas, 48
por exatos 50% deste grupo. É importante ressaltar, nesse caso, que este percentual expressivo
se dá por conta da ocupação de três páginas normais do jornal – não se trata de caderno de
concursos públicos das prefeituras de Belo Horizonte e Contagem, das empresas estatais de
Minas Gerais (tipo Cemig, Gasmig, Copasa, etc.) e das empresas estatais ligadas ao governo
Já enumeramos opiniões de vários autores, mas repetimos o que diz Marques de Melo,
que o jornal é fruto de uma necessidade social e vem se reinventando para continuar a ser
132
produto, meio e mensagem. E, ao que tudo indica, é isso que vem ocorrendo com o periódico
Fugindo das guerras napoleônicas que assolavam a Europa, ao chegar ao Brasil com a
corte portuguesa e instituir aqui a sede do reino de Portugal e d’Além-Mar, o infante dom
João criou a imprensa nacional. Isto confirma que, além de necessidade social, os jornais
diário de sua época, cuja consulta é necessária às gerações futuras, inclusive para descobrir os
mais finos estímulos da vida pretérita” (MARQUES DE MELO, 1972, p. 33). Marques de
Melo lembra também que a primeira tentativa de realizar estudos psicossociais, tomando a
seus alunos “um trabalho prático nesse sentido – o da tabulagem e contagem das seções, por
Arthur Ramos de Araújo Pereira (Pilar, AL, 7 de julho de 1903 * Paris, 31 de outubro de 1949) foi um médico
37
psiquiatra, psicólogo social, etnólogo, folclorista e antropólogo brasileiro. Um dos principais intelectuais de sua
época, teve grande destaque nos estudos sobre o negro e sobre a identidade brasileira, e foi também importante
no processo de institucionalização das Ciências Sociais no Brasil. Fonte: <pt.wikipedia.org>.
133
aspectos da vida, dos interesses, das tendências, das atitudes e da opinião do público” (Ibidem,
p. 38-39).
informação, no sentido de atender aos anseios e às exigências do público leitor, quais sejam:
um jornal pode ser definida através da comparação entre os elementos utilizados na sua
se às leis do mercado, enfrenta concorrência e precisa utilizar recursos próprios para atrair
contemporâneo adquire uma forma dotada de atrativos visuais que chamam e/ou prendem a
atenção do leitor, conduzindo-o à sua escolha entre as demais publicações disponíveis nas
bancas. Por outro lado, verifica-se uma complementação dessa estrutura motivacional com a
134
consumidor das informações uma sensação de realidade, fornecendo-lhe imagens vivas dos
fatos, aproximando-o, portanto, dos acontecimentos. Esse, aliás, é um recurso defensivo que o
jornalismo gráfico utiliza para competir com a televisão e o cinema, veículos audiovisuais,
que noticiam os fatos com riqueza de imagens, dando a impressão ao espectador de que ele é
É interessante destacar que Marques de Melo escreveu isso em 1972 38; portanto, há
mais de quarenta anos, mais de quatro décadas, quando nem se imaginava ainda que haveria
com a acuidade intelectual que o notabilizou entre os pares da academia, foi capaz de
digital, ele visualiza já um futuro que destoa do vozerio que ecoa na mídia comum.
Para Marques de Melo (1998), a atualidade é definida por Luiz Beltrão como vivência
“do cotidiano, do presente, do efêmero, procurando (o Jornalismo) nele penetrar e dele extrair
o que há de básico, fundamental e perene, mesmo que essa perenidade valha, apenas, por
alguns dias ou por algumas horas”. Sem atualização não teríamos o presente. E o passado
Por outro lado, é preciso considerar que os meios de comunicação de massa, como
receptor, e, em certo sentido, em vez de guiar a opinião pública, deixam-se guiar por esta. Em
outras palavras, diríamos que no regime capitalista os meios de comunicação de massas são
38
MARQUES DE MELO, J. Estudos de jornalismo comparado. São Paulo: Pioneira, 1972.
39
MARQUES DE MELO, J. Teoria da comunicação: paradigmas latino-americanos. Petrópolis: Vozes, 1998.
135
isso mesmo, procuram atender sempre às expectativas do público consumidor, para conservá-
lo. É claro que existem veículos orientados para a manifestação de determinadas ideias ou
opiniões. São aqueles mantidos por grupos políticos ou setores que defendem interesses
específicos. Mesmo assim, é um ponto que se vem afirmando cada vez mais: esses veículos
atuam em função do seu público. Não teríamos aí uma subordinação à opinião pública, mas à
A partir do que afirma Marques de Melo, podemos inferir em relação ao Super Notícia
que ele pertence, sim, a um grupo de forte poder econômico e que tem todas as características,
subordinado ao seu público-alvo e à demanda no mercado, fazendo com que se possa aventar
público leitor. Este é um processo que os jornais usam, para o bem e para mal.
do jornalismo de padrão mais tradicional. Quanto ao caso de se afirmar que o nosso objeto de
estudo pode ser classificado como um jornal sensacionalista, esta é uma questão bastante
discutível. Não se pode negar que a equipe de profissionais – como nos citou textualmente o
editor Rogério Maurício na entrevista supra – emprega recursos do jornalismo popular com
uma carga de sensacionalismo – cores fortes, letras garrafais, notícia policial na capa –, mas
136
no cômputo geral das análises do conteúdo não ficou patente que tais recursos ultrapassam a
Resgatando o que o editor nos disse a esse respeito, em sua entrevista, nós vemos que
Nesse ponto, o veterano jornalista comenta sobre a nova pauta dos jornais populares e
acrescenta que, embora as matérias sobre violência não sejam hoje o carro-chefe do Super
Notícia e da nova safra de jornais populares, elas ainda rendem manchetes e vendem jornais
Nesse ponto, para fechar as nossas análises sobre a presença das práticas
sensacionalistas no jornal Super Notícia e, por extensão, nos jornais tidos como populares e
de desavença espalhados por toda parte, dissipando-os ao propor-lhes uma saciação parcial”
Como foi colocado no capítulo dois, o nosso entendimento de tal questão pode ser
explicado do seguinte modo: levando em consideração a teoria de Girard sobre que a multidão
busca simbolicamente, todos os dias, uma vítima para a expiação do mal social, o desejo
dessa expiação simbólica recai sobre a leitura do jornal que apresenta cenas de crimes, que
quanto mais violentos, mais apropriados se mostram para a catarse simbólica. Como diz
Pedroso, a leitura das notícias violentas opera como um “faz-de-conta” que permite o
extravasamento da tensão. É como se houvesse uma carga de raiva implícita na multidão que
precisa ser expelida a cada dia. E o jornal sensacionalista cumpre essa função de “altar do
Foi verificado exaustivamente nesse estudo que a notícia, para ser objeto de interesse
do leitor e para induzir o seu consumo, como qualquer outro produto, não pode prescindir dos
fortes que captem a atenção dos leitores, os textos – por melhores que sejam em conteúdo e
relevância – não passam de “pratos vegetarianos”: nutritivos e saudáveis, mas sem nenhum
apelo ou atrativos visuais! Como alertam os velhos manuais de redação: “Um título bem feito
‘vende’ uma reportagem. Ou uma edição. Um título ruim consegue esconder um magnífico
Considerando-se que o próprio Deus usou métodos variados para apresentar os Seus
inequívoca que nunca esteve e jamais estará preso a um único método: “Havendo Deus,
outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos
dias, nos falou pelo Filho [...]” (Hebreus 1.1-2, grifos nossos). Se Ele que, pelos cânones da
(Possui todo o poder), Se vale de recursos heterodoxos, inusitados e extraordinários (Por que
não dizer: sensacionalistas?) ao apresentar aos homens a Sua Lei Magna, o Decálogo Moral,
que dirá os falhos e imprecisos reles mortais! Arns, com maestria contextualiza esse evento no
Outro fator de peso a ser levado em conta no que concerne ao uso de recursos
(imagem parada), é que se antes esses recursos eram importantes, hoje, eles se tornam
Considerando-se tudo o que foi exposto, o que se pode dizer é que o Super Notícia é
um jornal feito com muita competência e perspicácia porque eles dosam as quantidades de
matérias a fim de que o público leitor tenha satisfeitas as suas expectativas. Como dizem os
pesquisadores:
Com base nesse postulado – claro e sucinto – podemos reforçar a nossa opinião de que
não é possível classificar o nosso objeto de estudo como sendo um jornal sensacionalista. Ele
é, sim, um veículo atual e que atende a uma faixa de público de amplo estrato social. Ou seja,
seu público leitor está entre as classes sociais B, C, D e E. E, Pelo fato de tratar de assuntos de
variada gama temática e de interesse de seus leitores, o periódico se mantém entre os mais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
irmã do Escotismo: fundado pelo tenente-general britânico Robert Stephenson Smyth Baden-
fazendo novas descobertas, por vezes surpreendentes, a cada passo dado rumo ao
ocasiões, são lugares pedregosos ou caminhos íngremes e difíceis de escalar. Não poucas
vezes, precisamos retroceder um ou dois passos para, em seguida, podermos avançar outros
Tanto em uma situação como noutra, não existe nada mais reconfortante e que nos
traga maior iluminação e segurança à caminhada quanto saber que se está pisando “terreno
sagrado” já desbravado por tantos pioneiros! Ao trilhar sendas já abertas por eles, neste caso
pesquisador brilham com mais intensidade. Recupera-se a confiança de estar seguindo o rumo
um pouco além dos predecessores. Fazer avançar a Ciência, nem que seja um “tiquim”, como
Foi este o sentimento que nos invadiu ao proceder à pesquisa sobre as práticas e/ou
que por si mesmo já seria o bastante para validar os esforços feitos, sacrifícios despendidos e
141
recursos gastos – acreditamos que a presente pesquisa traga ao menos um pequeno contributo
à Academia. Quiçá, gostaríamos que ela reaquecesse nos alunos de PPG de Comunicação
Social o desejo da pesquisa sobre os jornais populares, pois, com certeza, há muito a ser
pesquisado, dito e escrito ainda concernentes a eles e ao fenômeno comunicacional que eles
Confessamos que não foi pouco trabalho concluir a pesquisa sobre o sensacionalismo,
buscando mostrar suas faces – de acordo com a avaliação e critério de vários estudiosos do
tema – e por final dar a nossa contribuição. Acreditamos ter alcançado nossos objetivos de
pesquisa, que eram bastante arrojados e até um tanto pretensiosos, como sempre ocorre com
expomos a seguir.
“Como saber quando um jornal é sensacionalista?”, acreditamos que o conteúdo dos capítulos
primeiro e segundo respondem a contento a todas essas indagações. Reconhecemos que mais
poderíamos ter dito e mais autores poderiam haver sido cotejados, mas não tivemos
do sensacionalismo em maior ou menor grau” para colocar seu jornal nas bancas todas as
procurou demonstrar, e acreditamos haver alcançado tal propósito, em que medida o nosso
142
objeto de estudo se vale de estratégias sensacionalistas, sem deixar de ser um jornal sério e
comprometido com seu público-leitor. Desse modo, nosso problema de pesquisa expresso na
seguinte pergunta: “Em que medida as práticas do sensacionalismo são aplicadas nas
pautas do jornal “Super Notícia”, e quais os ingredientes contidos em suas páginas que
fizeram dele um fenômeno editorial em 2010 e 2011?”, foi respondido, quando afirmamos
que o “Super Notícia” usa a velha fórmula infalível, colocando na capa aquilo a que se chama
Portanto, os pressupostos que amparam nossa hipótese foram confirmados ao final das
tipo do jornalismo, tão famoso no século passado, formado pela trilogia “erotismo, polícia e
esportes”;
- de acordo com Dines (1972) o “homem da rua quer sangue, mulher, crime e sexo”, e isto é
mostrado diariamente no “Super Notícia”; ainda que, ressalve-se: sem cair no vulgar como a
- todos os gêneros jornalísticos podem ser encontrados no “Super Notícia”, e eles são
importantes para o entendimento do fenômeno em voga. Por esta razão não podemos ignorar
que no caso do “Super Notícia” há uma boa dose de equilíbrio entre os gêneros presentes e
notícia jornalística ser hoje um produto altamente rentável no mundo financeiro e no ranking
dos negócios mundializados, e que, além disso, o jornal tornou-se um bom negócio por ser, ao
verdadeira.
Quanto aos objetivos do trabalho, o Objetivo Geral de analisar uma edição do “Super
Notícia” de modo a verificar a ocorrência de práticas sensacionalistas nas pautas do jornal foi
cumprido no capítulo terceiro, e conta com o apoio visual dos Anexos. Assim sendo, os
Objetivos Específicos também foram cumpridos e não mais é necessário enumerá-los aqui.
Vale ressaltar apenas que a entrevista realizada com um dos editores do “Super
Notícia” foi de grande valia para este estudo, pois ali, na presença ativa e solícita de Rogério
Maurício, que tão gentilmente respondeu a todas as minhas perguntas, pude constatar e deixei
“Super Notícia”, não pode ser “rotulado” com apenas um adjetivo. Ele é um jornal que, repito,
emprega todos os recursos do sensacionalismo elencado nas teorias jornalísticas, mas seu
conteúdo é rico, bem escrito e seus leitores encontram ali tudo o que procuram e por isso ele é
quase totalidade deles superada. Além das dificuldades de tempo, face aos inúmeros
compromissos de ordem pessoal, familiar e eclesiástica, já que este neopesquisador atua como
líder religioso em uma vasta comunidade compreendida por quase 20 cidades do Pontal do
Triângulo Mineiro. Por isso, tivemos as dificuldades materiais, ou seja, o acesso às grandes
70.000 habitantes – e dificuldades operacionais. Como o jornal “Super Notícia”, que compõe
o corpus de nossa pesquisa, não circula em nossa cidade, para adquiri-lo, tivemos que apelar à
boa vontade de familiares residentes na capital mineira para a aquisição e preservação dos
período de um mês – com o foco nas manchetes de notícias sobre violências – mas,
infelizmente, isso não foi possível! Rodamos a cidade inteira à procura de uma máquina de
Scanner que reproduzisse a página inteira do jornal e, depois de várias informações sobre
comércios que dispunham desse equipamento, veio a triste constatação: não existe aqui em
virtual. Mesmo assim, frações das imagens estão disponíveis aos leitores que queiram
E esperamos que a leitura de nosso trabalho seja feita por jovens pesquisadores que
queiram e possam seguir adiante e superar as falhas e inconsistências que o nosso não
conseguiu suplantar.
145
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