Tese - Bicicleta
Tese - Bicicleta
Tese - Bicicleta
Bicicleta e mobilidade
urbana
Modismo ou solução sustentável para o transporte na
cidade de São Paulo
Rafael Della Gatta Soares
Novembro de 2015
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de
Especialista em Gestão Cultural sob orientação do Prof. Dr. Silas Nogueira
Bicicleta e mobilidade urbana:
RESUMO
ABSTRACT
This is a study about the use of bicycles as a means of transportation and urban mobility
instrument, its peculiarities and its strong appeal occurred in recent years in the city of São
Paulo. Will this trend came willing to earn its place as a means of urban transport , relieving
the traffic and pollution of the city or it is only a fad fashion? The relationship between urban
development and sustainable mobility with the use of bicycles in countries around the world
with positive and effective action , will be used as a comparison tool and reference for this
study. Public policies that motivated this trend also will be an issue , as well as cultural
changes that it led in São Paulo city .
1
Trabalho de conclusão de curso apresentado como condição para obtenção do título de Especialista em
Gestão Cultural
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 01
6. A BICICLETA NO BRASIL 17
8. RESTRIÇÕES E POSSIBILIDADES 23
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 26
ANEXOS 28
1. INTRODUÇÃO
A bicicleta surge como alternativa para a mobilidade urbana sustentável de forma econômica
e eficiente. A mobilidade sustentável é uma questão que aparece entre as principais
preocupações das políticas públicas referente a dificuldade de locomoção provocada pelos
congestionamentos de veículos no trânsito urbano. Entretanto essa alternativa sustentável
esbarra, entre outros problemas, na poluição provocada pelos veículos automotores que
utilizam combustível fóssil.
Nos últimos anos a poluição atmosférica em São Paulo vem alcançando níveis alarmantes
conforme os padrões internacionais aceitáveis. A cultura do uso do automóvel foi fortemente
difundida e incentivada no Brasil. Em cidades como São Paulo, as emissões de poluentes dos
veículos automotores respondem pela maior parte da poluição atmosférica, que por sua vez
gera graves problemas de saúde pública, como doenças respiratórias e cardíacas, onerando
ainda mais o Sistema Único de Saúde (SUS)¹.
Desde a sua chegada ao Brasil, a bicicleta foi muito popular entre os trabalhadores ,
especialmente junto aos empregados de indústrias, de pequenos estabelecimentos comerciais e
de serviços das áreas urbanas. Essa situação passou por alterações n final da década de 1950,
com a chegada da indústria automobilística brasileira que consolidou a produção de
automóveis de passeio e a instalação de algumas empresas fabricantes de ônibus para
transporte coletivo e urbano. O uso da bicicleta apresentou acentuada queda na participação
nas principais cidades do país.
¹Só na Região Metropolitana de São Paulo, as emissões de particulados ultrafinos provenientes dos veículos
respondem por internações hospitalares com ordem de grandeza, no SUS, de cerca de 5% para crianças de até 4
anos de idade e por mais de 15% de idosos com mais de 69 anos.
Estima-se que os custos de internações hospitalares decorrentes da poluição por particulados ultrafinos dos
veículos no sistema público de saúde sejam da ordem de R$ 180 milhões por ano para as regiões metropolitanas
de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Na rede privada de saúde, estes custos chegam a ser três vezes maiores
(LPAE/USP, 2009)
A indústria automobilística é detentora de um lobby considerável, seja ele na indústria
metalúrgica, petroquímica ou na construção civil. Dessa forma, por razões ligadas ao
desenvolvimento tecnológico e econômico, o Brasil não tem priorizado as questões
ambientais, gerando um desafio para o desenvolvimento de políticas públicas sustentáveis.
Dessa considerações emergem dois dos três pilares que nortearão esse trabalho. O primeiro
faz referência ao elevado nível de emissão de poluentes e seus malefícios para a vida no
planeta. O segundo considera as consequências dos níveis alarmantes da produção de bens de
consumo e seu breve descarte . Serão utilizados os conceitos de ecossocialismo de Michael
Lowy e da liquidez dos tempos atuais de Zygmunt Bauman para tratar e respaldar o assunto
proposto.
O ecossocialismo constitui uma “corrente de pensamento e de ação ecológica que faz suas as
aquisições fundamentais do marxismo – ao mesmo tempo que o livra das suas escórias
produtivistas. Para os ecossocialistas a lógica do mercado e do lucro – assim como a do
autoritarismo burocrático de ferro e do ‘socialismo real’ – são incompatíveis com as exigências de
preservação do meio ambiente natural”. Almejando “articular as ideias fundamentais do socialismo
marxista com as aquisições da crítica ecológica”, os ecossocialistas, “ainda que critiquem a
ideologia das correntes dominantes do movimento operário [...], sabem que os trabalhadores e as
suas organizações são uma força essencial para qualquer transformação radical do sistema, e para o
estabelecimento de uma nova sociedade, socialista e ecológica. (LOWY, 2005:P. 47,48)
Segundo Lowy (2013: p. 82), “no primeiro volume de O Capital, Marx explica como o
capitalismo esgota , não só as energias do trabalhador, mas também as próprias forças da
Terra” traçando um paralelo entre o esgotamento do trabalhador e o esgotamento do planeta,
logo o desenvolvimento do capitalismo acaba com a natureza. Seu raciocínio segue afirmando
que “essa perspectiva está presente nos escritos de Marx, embora não tenha sido
suficientemente desenvolvida”. E concluí dessa maneira: “Devido a sua dinâmica expansiva,
o capital põe em perigo ou destrói suas próprias condições, iniciando pelo meio ambiente-
uma possibilidade que Marx não teria levado suficientemente em consideração”.
Se a citação acima considera os efeitos das forças produtivas e das relações de produção
sobre o meio ambiente , o que será proposto a seguir menciona a prática do consumo
exacerbado e seu posterior descarte, como elementos que movem a engrenagem da produção
capitalista.
A sobrevivência dessa sociedade e o bem estar de seus membros dependem da rapidez com que
os produtos são enviados aos depósitos de lixo e da velocidade e eficiência da remoção dos
detritos. Nessa sociedade, nada pode reivindicar isenção à regra universal do descarte, e nada
pode ter permissão de se tornar indesejável. (BAUMAN, 2005:p.09)
Muitas vezes o mercado se utiliza do medo alheio como fator para motivar aquisições e,
dessa forma, a sensação de segurança. Bauman trabalha as relações entre a segurança e a
liberdade, e como o medo sugere a sensação de segurança.
A guerra que é simplesmente outra versão atualizada e remontada da eterna luta entre liberdade
e segurança – as duas qualidades igualmente indispensáveis e cobiçadas, reconhecidamente
difíceis de conciliar , de qualquer vida humana suportável ou desejável. (BAUMAN, 2005:
p.128)
Muito dinheiro pode ser ganho com a insegurança e o medo e é. “Os publicitários”, comenta
Stephen Graham, têm explorado deliberadamente o medo generalizado de catástrofes
provocadas pelo terrorismo para incrementar a venda de utilitários esportivos, altamente
lucrativas”. Esses monstros sedentos por gasolina, equivocadamente denominados “veículos
utilitários esportivos”, já alcançaram 45% do total das vendas de automóveis nos Estados
Unidos e estão ingressando no dia-a-dia das cidades como “cápsulas defensivas”. O utilitário
esportivo é:
O terceiro pilar faz referencia as políticas públicas que vigoram no país, alguns elementos
históricos, comparações com outros pais e análises do cenário atual
Desse modo foram considerados alguns fatores que fazem da bicicleta um meio de
transporte capaz de contribuir para a redução do número de veículos motorizados nas
cidades, a preservação do meio ambiente, a disponibilidade de espaço nas cidades, a saúde
humana , a redução da dependência dos combustíveis fósseis e a economia da população.
Esses fatores motivam o conhecimento sobre os benefícios de sua presença no Brasil e sugere
os fatores que favorecem ou limitam o seu uso. (BOARETO, 2010)
A escolha do tema surge em decorrência da atenção com que as políticas públicas brasileiras
para o trânsito começam a perceber a bicicleta como um recurso eficiente de mobilidade
urbana sustentável e como agente da transformação da sociedade, que passa a enxergar o uso
da bicicleta além das atividades recreativas. É válido citar a mudança cultural que o uso da
bicicleta traz a população e como essa população reage a essa condição.
A bicicleta também pode ser vista como recurso democrático de oferta de transporte urbano a
toda a população, destacando a integração social de pessoas atualmente excluídas, levando
direitos da cidadania aos habitantes das cidades. (BANTEL, 2005)
Nos tempos atuais o meio ambiente passou a apresentar sinais claros de desgaste. O
desenvolvimento decorrente da implementação e difusão de práticas tecnológicas,
frequentemente relacionadas a ganhos de produtividade maximização dos lucros, trouxe
diversos benefícios e comodidade ao homem, porém com um custo ambiental considerável.
A sociedade de consumo consegue tornar permanente a insatisfação. Uma forma de causar esse
efeito é depreciar e desvalorizar os produtos de consumo logo depois de terem sido alçados ao
universo dos desejos do consumidor. Uma outra forma , ainda mais eficaz, no entanto, se
esconde da ribalta: o método de satisfazer toda necessidade/ desejo/ vontade de uma forma que
não pode deixar de provocar novas necessidades / desejos / vontades. O que começa como
necessidade deve terminar como compulsão ou vício. E é isso que ocorre, já que o impulso de
buscar nas lojas, e só nelas, soluções para os problemas e alívio para as dores e a ansiedade é
apenas um aspecto de comportamento que recebe a permissão de se condensar num hábito e
ainda é estimulado a fazê-lo. (Bauman, 2005:p.106)
É evidente que a corrida louca atrás do lucro , a lógica produtivista e mercantil da civilização
capitalista e industrial nos leva a um desastre ecológico de proporções incalculáveis. [...].
[...] Até a recente preocupação com o meio ambiente deve sua popularidade à percepção de um
vínculo entre o uso predatório dos espaços planetários e as ameaças ao fluxo suave das
atividades autocentradas da vida líquida. (BAUMAN, 2010: p.17- 20)
Segundo Lowy (2004), o objetivo supremo do progresso técnico para o socialismo de Marx
não é o crescimento infinito de posses (“o ter”) e sim a redução da jornada de trabalho e o
crescimento do tempo livre (“o ser”), em outras palavras, não é produzir uma quantidade
infinita de bens, mas sim reduzir a jornada de trabalho , dar ao trabalhador tempo livre para
participar da vida política, estudar, jogar, amar . “Portanto Marx fornece as armas para uma
crítica radical do produtivismo e, notadamente, do produtivismo capitalista”. (LOWY, 2013:
p.82)
A grande contribuição da ecologia foi – e volta a ser – nos feito tomar consciência dos perigos
que ameaçam o planeta, consequência do atual modo de produção e consumo. O crescimento
exponencial das agressões contra o meio ambiente e a ameaça crescente de uma ruptura do
equilíbrio ecológico configura um cenário catastrófico que põe em questão a sobrevivência da
vida humana. A principal fraqueza do ecologismo político é ignorar a conexão necessária entre
o modelo produtivista e o capitalismo, de conduzir a ilusão de um” capitalismo verde”, ou de
reformas capazes de controlar os excessos desse modelo, como por exemplo as “ecotaxas”.
(LOWY, 2004:p.05)
Outra iniciativa do Ministério das Cidades foi a aplicação do Estatuto da Cidade (Plano
Diretor participativo, Plano Diretor de Mobilidade das Cidades) e o anteprojeto de lei da
Política Nacional de Mobilidade Urbana (propondo a integração das políticas de transporte
com as de desenvolvimento urbano, a melhoria do transporte coletivo, a racionalização do
uso dos motorizados individuais, e a valorização dos meios de transporte não-motorizados),
demonstram que o Brasil está em sintonia com as tendências mundiais de incentivo à
mobilidade urbana sustentável. No entanto, há uma grande lacuna entre os planos redigidos
nos órgãos burocráticos e o que acontece nas ruas das cidades.
O novo Plano Diretor da cidade de São Paulo foi concebido pelo Poder Executivo e
encaminhado à Câmara Municipal em Setembro de 2013. (P.M.S.P, 2014)
2.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O sistema produtivo capitalista funciona com base em fontes de energia fósseis – o carvão e o
petróleo -, responsáveis pelo aquecimento global, de modo que um processo de transição ao
socialismo só é possível quando houver a substituição dessas formas de energia pelas energias
renováveis, que são a água, o vento e , sobretudo, a energia solar (LOWY, 2013: p.83)
Velocidade, e não duração , é o que importa. Com a velocidade certa pode-se consumir toda a
eternidade do presente contínuo da vida terrena.[...] No mundo passado , onde o tempo
caminhava bem mais lentamente e resistia à aceleração, as pessoas tentavam fechar o tortuoso
fosso entre a pobreza de uma vida curta e mortal e a riqueza infinita do universo eterno com
esperanças de reencarnação ou ressurreição. (BAUMAN, 2005: p.15)
Para a mobilidade urbana sustentável, foi citado o conceito utilizado pela Agência Nacional
de Transportes Públicos, que afirma: “Mobilidade urbana sustentável é o resultado de um
conjunto de políticas de transporte e circulação que visam proporcionar o acesso amplo e
democrático ao espaço urbano , através da priorização dos modos de transporte coletivo e não
motorizados de maneira efetiva, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável” (ANPT,
2003)
Veículos não motorizados, em geral, e a bicicleta, em particular, são elementos cruciais para
tornar as cidades mais sustentáveis. Segundo Tiwari (2008), estes veículos são um dos mais
eficientes meios de transporte disponíveis, além de utilizar formas de energia renovável.
Ressaltando a questão do meio ambiente, afirma que, enquanto os transportes motorizados são
uma das mais poluidoras de todas as atividades humanas, o ciclismo é o modal menos
poluente, pois não gera poluição sonora ou de emissões tóxicas. Por isso, considera, há
necessidade de se fazer com que o ciclismo se torne mais popular.
A bicicleta veio para preencher uma necessidade da vida do homem e está até hoje integrada
com o ser humano. A história de sua invenção ainda gera discussões acerca de quem a
inventou. A história da bicicleta começou no ano de 1790, época em que o conde francês J. H.
Sivrac, concebeu o "celerífero", veículo arcaico de duas rodas, ligadas por uma trave de
madeira, em forma de cavalo impulsionado por movimentos alternados dos pés sobre o chão e
só andava em linha reta já que não tinha direção. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007),
Mais tarde em 1818 a bicicleta foi aperfeiçoada pelo barão alemão Karl Friederich Von
Samerbram que adaptou uma direção ao celerífero e criou a Draisienne, com uma roda
dianteira que se movia ao redor de um eixo vertical, e uma barra transversal que permitia girar
a roda para a direita e para a esquerda (guidão). Esse aparelho ainda era movido pela ação dos
pés sobre o solo. (VIEIRA S. 2007)
Já em 1855 o primeiro pedal foi concebido pelo francês Ernest Michaux, que o instalou num
veículo de duas rodas traseiras e uma dianteira; os pedais eram ligados à roda dianteira. Em
1861, Pierre Michbaux recebe uma draisienne para reparos. Seu filho Ernest teve a ideia de
colocar uma manivela na roda dianteira, nasce o velocípede com sua roda dianteira
desproporcionalmente maior em relação à traseira e um pé de vela dianteiro. O velocípede foi
aperfeiçoado com o tempo, surgindo os freios, os pneus com válvula para encher de ar, os
pedais passaram para o centro da bicicleta jogando a tração para a roda traseira. A
popularidade da já chamada bicicleta era enorme. (EDWARDS A. ,LEONARD M., 2009:
p.6-20)
No Brasil, a primeira fábrica de bicicletas foi a Caloi, fundada por Luigi Caloi, em 1898,
funcionando inicialmente como oficina e empresa de representação, passando após a 2ª guerra
mundial a fabricar bicicletas genuinamente brasileiras. (CALOI, 2015)
4. AUTOMÓVEL, BICICLETA E MOBILIDADE URBANA
Quanto à infraestrutura estritamente dentro do município de São Paulo , essa já não permite
uma circulação decente de automóveis e ônibus: a velocidade média é de 22Km/h e, nas horas
diárias de pico, o congestionamento chega a 120 Km e a velocidade média dos veículos sobre
rodas desce para 18,5 Km/h. Aproxima-se portanto da velocidade de um corredor de maratona
(20 Km/h) ou de uma carroça puxada por cavalos (26 Km/h). (WILHEIM, 2013: p.14)
Nessas ocasiões, considera-se que, do ponto de vista financeiro, o seu preço é acessível e o
custo da manutenção baixo, estando, portanto dentro do orçamento da maior parte da
população, podendo, assim, ser considerada como um fator de inclusão de pessoas a um
recurso de mobilidade.
A democracia está em perigo quando os indivíduos são incapazes de traduzir sua miséria
privada em preocupações públicas e ação coletiva. Como as corporações multinacionais
moldam cada vez mais os conteúdos da maior parte da grande mídia, privatizando o espaço
público, o engajamento cívico parece cada veza mais impotente, e os valores públicos se
tornam invisíveis. Para muitas pessoas hoje em dia, a cidadania foi reduzida ao ato de comprar
e vender mercadorias (inclusive candidatos), em vez de aumentar o escopo de suas liberdades e
direitos a fim de ampliar as operações de uma democracia substancial. (BAUMAN, 2005: p.
163)
Descrevendo o ciclismo, Tiwari (2008) distinguem-no das demais formas de transporte pela
dimensão, vulnerabilidade e velocidade. Essas características destacam a atenção que o
ciclista deve receber das regras e medidas de apoio à atividade. Esse autor procura mostrar a
fragilidade da bicicleta frente aos benefícios que trazem ao meio urbano buscando a reflexão
sobre a necessidade de segurança no trânsito. Nesse contexto duas possibilidades poderão ser
utilizadas: a ciclovia e a ciclofaixa.
A mais segura é a ciclovia – uma pista própria destinada à circulação exclusiva de bicicletas,
separada fisicamente do tráfego comum. Outra opção é a ciclofaixa – parte da pista de
rolamento comum, delimitada por sinalização especifica e com destinação às bicicletas.
Tantas mudanças de infraestrutura nas cidades para adequá-las ao bom uso da bicicleta como
transporte urbano tem um custo considerável para o município. Na cidade de São Paulo o
custo médio do km de ciclovia gira em torno de R$ 300.000,00 (BOARETO, 2010). Será que
a população seria beneficiada com mais esse ônus financeiro ? No que diz respeito às cidades, os
benefícios da bicicleta para a população estão essencialmente ligados à qualidade de vida, qualidade
do ambiente e às economias geradas a longo prazo .(C.E. 2000):
Por outro lado, é necessário não esquecer que a bicicleta constitui um aliado dos transportes
públicos na procura de uma minimização do impacto do automóvel na cidade. A
complementaridade entre a bicicleta e os transportes públicos deve ser reforçada. Isto
significa a possibilidade de estacionar em segurança nas paradas dos transportes públicos e a
possibilidade de transportar a bicicleta nos veículos dos transportes públicos.
Existem estudos que mostram que sistemas cicloviários criados sobre reais linhas de desejo de
viagem podem carregar muito mais que três mil bicicletas / hora, o que permite inúmeras
possibilidades de integração da bicicleta com outros modos de transportes, principalmente em
equipamentos de transferência intermodal, de forma que se possa no limite chegar a um tipo de
integração total, tanto física, quanto operacional e tarifária. Além da integração uma outra
possibilidade que a bicicleta apresenta em relação aos outros modos de transportes é a
interpenetração, ou seja, a possibilidade de se transportar a própria bicicleta em outros modos
de transportes. Existe a alternativa, que depende de um bom desenho operacional, de carregar a
própria bicicleta dentro de trens ou metrôs. (BIANCO, 2008: p.3)
Conhecido em todo mundo, o ciclismo teve sua prática essencialmente esportiva separada do
emprego da bicicleta como lazer, iniciada em meados do século XIX, na Inglaterra, logo que
os aperfeiçoamentos na fabricação do veículo possibilitaram o alcance de maiores
velocidades. Em 1865, já existiam na Inglaterra alguns círculos entusiastas do esporte, e vinte
anos depois, com sua difusão por toda a Europa, era fundada na França, a União Ciclística
Internacional. Desde a primeira Olimpíada da época moderna, em Atenas-1896, o ciclismo
integra os jogos Olímpicos. (EDWARDS A.,LEONARD M., Fixed 2009,6-20)
• Vantagens à saúde;
Segundo o GEIPOT (2001), o espaço viário necessário para transportar 150 pessoas é de
230m² se for a pé, 100m² se for ônibus, 375m² se forem usadas bicicletas e 2.400m² se o
modo de transporte for o automóvel (com taxa de ocupação de duas pessoas por veículo).
Percebe-se aí o alto grau de ineficiência dos automóveis, com uma taxa de ocupação da via
6,4 vezes maior que a bicicleta, além do impacto negativo devido a congestionamento, tendo
como consequência os custos por tempo de deslocamento, redução de produtividade, dentre
outros.
A presença da bicicleta como transporte urbano em países europeus faz parte do cotidiano
das pessoas. Os relatos da Comissão Europeia (2000) demonstram o quanto as cidades
estimulam o uso da bicicleta além do incentivo à socialização dos automóveis e restrições ao
seu uso nos centro urbano. Copenhagem tem um terço de sua população (milhão e trezentos
mil habitantes )se deslocando ao trabalho de bicicleta.
Em Parma (176 000 habitantes), 19% de todas as deslocações são efetuadas em bicicleta,
contra 20% em Amsterdã (um pouco menos de um milhão de habitantes). Em Ferrara
(160.000 habitantes), a utilização da bicicleta representa 31% dos deslocamentos entre o
domicílio e o emprego. (BICIINCITTA, 2015)
A Suíça não é um país plano: a bicicleta é, todavia, utilizada em 23% de todas as deslocações
em Basileia (230.000 habitantes), construída em ambas as margens de um cotovelo do Reno, e
em 15% das deslocações em Berna onde numerosas ruas apresentam um declive de 7%. O
Reino Unido é um país úmido: em Cambridge (100.000 habitantes), 27% das deslocações
fazem-se, no entanto, em bicicleta. (C.E. 2000)
Pensando na América Latina, a cidade de Bogotá teve ações pioneiras criando 180 novos
parques e construiu 200 km de vias exclusivas para as bicicletas. Esse exemplo de uma capital
sul-americana significa que a cidade optou por incluir as pessoas e não os automóveis.
(BOARETO, R., 2010: p.26)
Tiwari (2008) descreve o transporte não motorizado como parcela significativa do tráfego
total das cidades asiáticas. Em Xangai, Hanói, Kanpur e Tóquio um grande trânsito das
mesmas. Há ocasiões, no correr do dia, em que até 70% do transporte acontece com veículos
não motorizados.
Em Tóquio as bicicletas são usadas como meio de locomoção para se chegar a outros modais,
como estações de trens ou aos shoppings, logo toda viagem de transporte motorizado público
envolve viagens por transporte não motorizado para seu acesso.
6. A BICICLETA NO BRASIL
Desde sua chegada ao Brasil, a bicicleta foi muito popular entre os trabalhadores,
especialmente junto aos empregados de indústrias, de pequenos estabelecimentos comerciais e
de serviços das grandes áreas urbanas. Esse quadro sofreu modificações no final da década de
50, com o surgimento da indústria automobilística brasileira que viabilizou a produção de
automóveis de passeio e a instalação de algumas empresas fabricantes de ônibus para
transporte coletivo urbano. O uso da bicicleta experimentou acentuada queda na participação
do trânsito nas principais cidades do país. Esse momento coincidiu também com a
substituição dos bondes elétricos por ônibus movidos a diesel. (MINISTÉRIO DAS
CIDADES, 2007)
Essa dinâmica cria um circulo vicioso: a degradação do espaço público causada pela
construção de infraestruturas viárias como avenidas, túneis e viadutos nas áreas centrais força
os habitantes a se mudarem para outras áreas habitáveis, o que, por sua vez, gera a
necessidade de urbanização destas novas áreas.
Essa publicação teve enorme relevância devido ao seu pioneirismo. Na época de sua
elaboração, não havia no Brasil quantidade significativa de exemplos relevantes a serem
apresentados, motivo pelo qual foram buscados no exterior, em especial na Holanda e na
França. Isso permitiu o estabelecimento de informações técnicas e parâmetros para geometria,
sinalizações horizontal e vertical, pavimentação, e organização espacial para diferentes
trechos, além de considerações sobre o paisagismo de vias cicláveis, estacionamentos e
normas diversas para infraestrutura cicloviária.
No início dos anos 1990 em São Paulo foi elaborada a Lei Municipal 10.907 / 90 que: Dispõe
sobre a destinação de espaços para ciclovias no Município de São Paulo e dá outras
providências.
Segundo dados do Ministério das Cidades (2007) e estudos da Associação Nacional dos
Transportes Públicos – ANTP, 7,4 % dos deslocamentos feitos no Brasil são realizados de
bicicleta, o que representam mais de 15 milhões de viagens diárias.
A incorporação da bicicleta nas cidades deve fazer parte de uma política de mobilidade
urbana que considere o desenvolvimento dos meios não motorizados de transporte, a fim de
promover a inclusão social, a redução da poluição e a melhoria da saúde pública, contribuindo
assim para a construção de cidades sustentáveis, o que é um direito estabelecido no Estatuto
da Cidade (Lei Federal 10.257/2001).
São Paulo apresenta uma dinâmica urbana de incessante movimento, com escassos espaços
para o gozo, individual ou coletivo , de paisagens, cujo potencial natural foi desperdiçado pela
cupidez com que cada lote foi edificado. Os espaços públicos encontram-se degradados , seja
no aspecto físico de difícil uso pelos pedestres, seja pela sinalização defeituosa , e pelos muros
hostis que por vezes cercam quarteirões inteiros , de propriedades privadas. (WILHEIM, 2013,
p.8)
A primeira vista a cidade de São Paulo não se mostra propícia ao uso da bicicleta, tanto como
transporte como para lazer: topografia acidentada, clima instável, sistema viário
congestionado e tráfego agressivo são motivos razoáveis para desencorajar o paulistano a
utilizar a bicicleta em suas viagens cotidianas ou simplesmente passear e praticar atividade
física em suas vias. Em algumas ocasiões foram registradas tentativas de encorajar o uso da
bicicleta como modalidade de transporte por parte da administração pública paulistana. Nos
anos 1990, a legislação municipal instituiu a obrigatoriedade de construir ciclovias nas novas
avenidas. Também nesta ocasião foram criadas 6 ciclovias, totalizando quase 32 Km em
quatro parques municipais, porém foram ações isoladas sem uma coordenação geral vinculada
a um programa específico. (MALATESTA, 2012,)
São Paulo não é, a princípio, uma cidade amigável aos deslocamentos ciclísticos. Além dos
problemas advindos da carência de espaços apropriados para a inserção do tráfego ciclístico
na sua malha viária, acrescenta-se o despreparo do condutor paulistano, tanto motorista como
ciclista, para o convívio harmonioso e seguro das suas modalidades no espaço urbano.
Somam se a estes problemas as dificuldades de operar e fiscalizar o veículo bicicleta
Uma recente pesquisa publicada no Jornal da USP (2015: p.9) sobre dados preliminares de
uma pesquisa sobre os deslocamentos feitos com bicicletas na Região Metropolitana de São
Paulo mostra que houve queda no período de 2007 a 2012: o numero de ciclistas passou de
6,3 para 5,4 por 1.000 habitantes, o que reverte o cenário de aumento verificado ente 1997
(quando havia 3,9 ciclistas por 1.000 habitantes) e 2007.
Essa tendência de queda é influenciada pela redução no número de ciclistas entre os mais
pobres, que passaram de 9 para 6 a cada 1.000 habitantes, entre 2007 e 2012. Entre os mais
ricos ocorreu o inverso: aumentou de 2,5 para 4,5. As informações fazem parte do estudo
“Correlates, travel paterns and times trending of bicycling in São Paulo – Brazil e foi baseada
na pesquisa “Origem e Destino da Região Metropolitana de São Paulo de 1997 e 2007’
realizada pelo Metô de São Paulo e na” pesquisa de Mobilidade Urbana 2012”, também do
Metrô. (JORNAL DA USP, 2015: p.9)
Ainda no artigo do Jornal Da USP (p.9) o pesquisador Thiago Herick de Sá relata que
historicamente, o uso da bicicleta na cidade de São Paulo é associado a falta de opção dos
mais pobres em relação a outros modos de transporte, o que contribui para explicar o
crescimento do uso do modal entre 1997 e 2007. No entanto, a partir de 2007, essa tendência
foi influenciada por questões econômicas.
Os mais pobres continuam morando longe do centro e do trabalho. O modo encontrado para
minimizar o impacto dessas distâncias territoriais na cidade foi adquirir um carro ou uma
moto.
Entre os mais ricos ocorreu o inverso. Houve uma mudança de comportamento como o
reconhecimento da bicicleta como um modo inteligente e sustentável de se deslocar,
sobretudo no centro expandido onde as distancias são menores e a infraestrutura para
conexões com outros modais é melhor. (JORNAL DA USP, 2015, p.9)
Quando o trabalhador passa a abdicar do uso da bicicleta , optando por outro meios de
transporte para ir ou voltar do trabalho, significa que poderemos ter certa redução dos
usuários de bicicleta em um futuro próximo. Isso porque o trabalhador–ciclista tinha esse
hábito enraizado no seu modo de vida e ao substituí-lo por outra forma de locomoção , muitas
vezes seduzido por suaves prestações amigáveis , motores potentes, individualidade e status ,
está comprometendo a sua capacidade de poupança, a sua saúde física e econômica, e
elevando o seu endividamento.
Segundo Bianco (2008, p.4) “a imagem que o ciclista tem ao usar a bicicleta como meio de
transporte, dentro de uma sociedade que desenvolveu no imaginário das pessoas a ideia que o
automóvel é o símbolo máximo de status e liberdade, ao passo que associou o ciclista a ideia
do fracasso”. Tradicionalmente o uso da bicicleta está relacionada, na melhor das hipóteses,
o dentro das possibilidades de lazer. Recentemente essa característica tem se alterado,
projetando o uso da bicicleta como sistema alternativo e viável. Essa imagem alternativa tem
motivado muitas pessoas que se identificam com causas sustentáveis a pedalar pela cidade.
O fato do uso da bicicleta estar previsto no Código Brasileiro de Trânsito – CTB, promulgado
pela lei federal nº 9503 de setembro de 1997, representa uma possibilidade a favor do seu uso
como veículo de mobilidade urbana sustentável. A bicicleta está referida nos artigos 61,
parágrafo 1º; artigo 58, parágrafo único; artigos 59 e 201.
No meio urbano, esse veículo de duas rodas vem ganhando destaque através de medidas e
projetos implementados nacional e internacionalmente. No Brasil, o Ministério das Cidades
confirma essa política com a criação do Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta –
Bicicleta Brasil, citado anteriormente. Entre ruas e avenidas, carros e ônibus, a bicicleta
assume diversas finalidades. Grupos de pessoas a utilizam como meio de transporte para
estudar, trabalhar ou para garantir seu próprio sustento. Enfim, pessoas que trabalham
pedalando. Tudo isso pode ser acrescentado aqueles que pedalam em seus momentos de lazer.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao examinar a realidade das cidades brasileiras, verifica-se que já ocorre rotineiramente o uso
da bicicleta como meio de transporte para o trabalho, estudo e atividades de lazer. Poucas
são, porém, as pesquisas que identificam o número dos usuários de bicicletas e a segmentação
dessa população.
São recentes as iniciativas no sentido de favorecer o uso da bicicleta no Brasil. Além da falta
de infraestrutura viária, há falta de estacionamentos adequados, integração com os demais
modos públicos e coletivos de transporte urbano, tecnologia de apoio ao veiculo, treinamento
e educação, tanto de ciclistas quanto dos condutores dos demais veículos que circulam nas
vias das cidades brasileiras.
A amplitude da questão da mobilidade urbana, assim como a complexidade dos temas nela
envolvidos definem o problema como crucial dentro do planejamento das cidades. Essa
disciplina tem sido desafiada por outros temas igualmente cruciais, compondo o quadro de
perplexidade, instabilidade e perspectivas polêmicas deste início do século XXI. Herdeiro da
crise interna ao capitalismo, decorrente da relativa autonomia e domínio do setor financeiro
sobre o restante da economia, o século em sua primeira década revela desafios de ordem social,
ambiental e econômica. (WILHEIM, 2013, p.22)
A crescente preocupação com os problemas concernentes a preservação da natureza, tanto
pela sociedade civil quanto pelo poder público, volta-se inevitavelmente ao ciclismo, onde a
bicicleta assume um importante papel no discurso da sustentabilidade, daí seu compromisso
com a sociedade, a natureza e o meio ambiente.
Sobrevivemos em um mundo marcado cada vez mais pela interdependência entre povos e
nações. Tal processo se reflete nas diversas sociedades onde cada vez mais é necessária uma
integração entre seus mais variados setores e culturas, a fim de buscar uma solução para a
atual crise que é ao mesmo tempo conjuntural e civilizatória. Nesse sentido a bicicleta aparece
como uma importante aliada nessa busca, pois ela é considerada um meio de transporte não-
motorizado, tendo sua utilização voltada para os mais diversos fins no espaço urbano, se
configurando numa peça fundamental na solução dos problemas de mobilidade urbana e de
valiosa ajuda na redução de gases do efeito estufa, logo trabalhos e pesquisas no campo da
integração da bicicleta com os demais modos devem ser incentivados, pois, só assim haverá
uma evolução contínua e consistente do modo cicloviário que trará benefícios a toda
sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALOI (2015) website, Disponível em < http://www.caloi.com.br > Acesso em: 08 de set. de
2015.
MALATESTA, Maria Ermelinda B. A história dos estudos de bicicleta na CET – São Paulo :
Companhia de Engenharia de Trafego, 2012. 58p.- (Boletim Técnico da CET, 50)
MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007, Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades, Coleção
Bicicleta Brasil, caderno 1, Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana,
Brasília.
ONU (1987) REPORT of the World Commission on Environment and Development: Our
Common Future - Brundtland Disponível em: <http://www.undocuments.
net/ocf-02.htm#I> Acesso em 18 de set. de 2015
TIWARI, G. (2008) Bicycles – an integral part of urban transport system in South Asian
cities. Disponível em <http://wwwudesc.br/ciclo/workshop>. Acesso em 22 de ago. de
2015.
WILHEIM J.(2013) , Mobilidade Urbana, um Desafio Paulistano; Estudos Avançados, 27
O planejamento cicloviário tem seu reflexo percebido pela sociedade de diferentes formas e sempre de maneira
positiva – Fonte Boareto R. (2010)
Ciclo dos congestionamentos. A necessidade de fluidez provoca o aumento da capacidade das vias, estimulando
o uso do carro. O aumento do número de veículos nas vias gera novos congestionamentos, alimentando um ciclo
vicioso que degrada o espaço público. Mas, como o espaço urbano é finito, este processo não pode ocorrer de
forma contínua. - Fonte Boareto R. (2010)
Ciclovia Ciclofaixa
O gráfico acima mostra a o grande uso do transporte público no Brasil se comparado aos Estados Unidos e a
países da Europa, o que não é exatamente em consequência da eficiência do sistema de transporte e sim um
reflexo da baixa renda do brasileiro.( Fonte ANTP 2006)
Emissões mundiais de CO2 por setores
Fonte: 1 Caloi – Monark – CBB. 2 n/d . 3 Revista Istoé Dinheiro / Caloi – Novembro 2004