Nazareno_Affonso
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As idéias contidas neste livro, ilustradas por centenas de exemplos práticos implantados em
cidades, aglomerados e regiões urbanas em nosso País, ilustram as propostas da ANTP de
construção de novos paradigmas para a mobilidade urbana.
Sobre a mobilidade
A mobilidade é um atributo das pessoas e dos agentes econômicos no momento em
que buscam assegurar os deslocamentos de que necessitam, levando em conta as
dimensões do espaço urbano e a complexidade das atividades nele desenvolvidas.
Na mobilidade, os indivíduos podem ser: pedestres, ciclistas, usuários de transportes
coletivos, motoristas.
Podem afetar a mobilidade fatores como: a renda, a idade, o sexo e por fatores permanentes
ou provisórios que limitam a capacidade do indivíduo. As condições de acessibilidade
também são afetadas pelo meio urbano: características dos terrenos e o tratamento físico
dado às vias e aos passeios, a existência de redes regulares de transporte urbano, a
qualidade dos seus serviços e o seu preço, a sinalização e os sistemas de controle do uso do
sistema viário e a existência ou não de ciclovias.
Não existe uma política pública de mobilidade visando à acessibilidade para todos, embora
muitas conquistas devam ser destacadas, tais como a Constituição Brasileira, que define a
essencialidade do serviço de transporte público; o Código de Trânsito Brasileiro, que
enumera os instrumentos para a regulação pública do uso do sistema viário, disciplinando
seu uso pelos seus diferentes atores; as Leis Federais 1.048/01 e 1.098/01, que enumeram
as medidas para tornar acessível o ambiente urbano para os indivíduos com redução de
mobilidade.
Na falta dessa política, estão criadas as condições ideais para que o setor automobilístico
exerça a sua hegemonia. Excluindo os casos em que os interesses dos diferentes setores do
capital e dos trabalhadores confluíram, no passado, para a instalação de serviços públicos
de transporte, na grande maioria das cidades brasileiras o problema da mobilidade está
entregue às iniciativas e meios disponibilizados pela sociedade, com grande ênfase às
soluções que incentivem o uso dos automóveis.
Curso MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL
Tema:Mobilidade Cidadã para Todos-Uma outra mobilidade é possível
7 de outubro de 2004 Urbanista: Nazareno Stanislau Affonso
A mobilidade é função pública destinada a garantir a acessibilidade para todos e que, para
tal, exige a obediência a normas e prioridades as quais respondam às diferentes
necessidades de deslocamento, contribuindo para a redução dos efeitos negativos
provocados pelo uso predominante do automóvel.
Mais custos para o transporte público. A tais efeitos, adicionam-se os prejuízos causados
ao desempenho dos ônibus urbanos, principalmente a redução da sua velocidade, em
decorrência da ocupação das ruas pelos automóveis. Com isto, aumentam os custos do
transporte público. Em muitas grandes cidades do País, a velocidade dos ônibus está muito
abaixo de 20 km/h, quando o desejável (e possível, com tratamento adequado) é 25 km/h.
Recente pesquisa nacional mostrou que a velocidade média dos ônibus no pico da tarde, em
ruas onde não há vias delimitadas para esses veículos de transporte coletivo, é de apenas
14,7 km/h (CNT, 2002). Em grandes cidades, um número crescente de pessoas chega a
gastar 45 minutos em seus deslocamentos, da porta de casa até o ponto final. O
congestionamento provocado principalmente pelos automóveis aumenta os custos
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operacionais dos ônibus, em valores que chegam a 16% no caso da cidade de São Paulo e
10% no Rio de Janeiro (ANTP/IPEA 1998).
Mais mortos e feridos no trânsito. Nas últimas décadas, o Brasil foi paulatinamente
ocupando um lugar entre os campeões mundiais de violência de trânsito, reflexo da
insuficiência das medidas de controle público da velocidade na via e nos veículos, da
impunidade dos responsáveis por mortos e feridos no trânsito e da deficiência da
fiscalização das condições dos veículos e do comportamento dos usuários.
Dados oficiais (Denatran,2000) estimam que, no País, ocorram anualmente cerca de 20 mil
mortes no trânsito no local próprio local dos acidentes e que outras 20 mil pessoas morrem
em decorrência desses mesmos acidentes, mas posteriormente. Al;em disso, há cerca de
350 mil vítimas feridas, das quais aproximadamente 150 mil tornam-se portadores de
deficiência ou de necessidades especiais devido à gravidade dos ferimentos sofridos. Dentre
todas essas vítimas sobreviventes, de 60% a 80% são pedestres, a maioria das quais com
seqüelas permanentes, cujas repercussões econômicas e sociais atingem valores de R$ 5,3
bilhões anuais (Pesquisa ANTP/IPEA – Custos de Acidentes no Trânsito no Brasil – 2002).
Um imenso aparato de normas e bases educacionais está instalado para ensinar as pessoas
viverem no trânsito sem atrapalhar a fluidez. Os espaços vivenciais de trânsito para crianças
ensinam como devem se proteger dos automóveis e se portar segundo os ditames da
fluidez. Os números de acidentes e vítimas denunciam as condições de vida a que estão
submetidos os seres humanos mais frágeis (idosos, crianças e portadores de deficiência),
que têm o seu direito de ir e vir com segurança submetidos ao “bom, andamento do
tráfego”.
transporte clandestino, por peruas e vans, sua maior expressão – sem mencionar a crescente
utilização de motocicletas para deslocamentos de pessoas e bens. Tal processo, em curso,
tem implicações gravíssimas para a eficiência e a qualidade de vida nas cidades e constitui
uma ameaça à sobrevivência do transporte público regular e integrado.
AS TENDÊNCIAS DA MOBILIDADE
O Brasil está passando por grandes transformações demográficas, sociais e
econômicas, que vão alterar as características das nossas cidades e da circulação de
pessoas e mercadorias.
Este novo perfil econômico se expressa na distribuição dos novos empregos, na redução
dos empregos tradicionais, na ampliação das atividades autônomas e do mercado informal,
na ampliação da inserção da mulher no mercado de trabalho, no aumento do contingente de
estudantes e do tempo empregado pela sociedade na formação e treinamento da mão-de-
obra.
A isso se soma o crescimento dos fluxos do comércio de bens e serviços que, na esteira das
mudanças operadas nas organizações industriais, cada vez mais, se constituem em
atividades em si, incumbindo-se de estocar insumos e mercadorias e de distribuí-las para
industrias, estabelecimentos atacadistas e varejistas e também consumidores finais,
alimentando-os just-in-time, de acordos com os respectivos horários de funcionamento. Um
expressão das mudanças em curso nas lógicas e fluxos de bens está no crescimento do uso
de motos para funções de entrega de produtos e de mensagens, que, no momento atual,
representa um fator crescente de ocorrências com vítimas no trânsito das grandes cidades.
por pessoa, por dia), assim como a dificuldade de acesso de parcela da população ao
transporte público;
Finalmente, a população do País poderá crescer de 169 milhões de pessoas em 2000, para
cerca de 200 milhões no ano de 2010, sendo que cerca de 165 milhões (83%) deverão
morar em áreas urbanas. Com isto, poderemos ter mais 28 milhões de habitantes nas áreas
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QUADRO INSTITUCIONAL
A gestão dos serviços de transporte coletivo nas regiões metropolitanas, onde é maior a
complexidade dos problemas, enfrenta, entre outras, a dificuldade de haver superposição
dos sistemas intermunicipal e do município central. A gestão metropolitana, atribuída aos
estados pela Constituição Federal de 1988, não logrou nenhum resultado exemplar,
observando sim, ações e políticas muitas vezes divergentes entre os governos do Estado e
do Município sede, inviabilizando uma política integrada de mobilidade na região.
A experiência em curso na Região Metropolitana de Goiânia poderá indicar um caminho
novo e exeqüível, especialmente se considerado que a Emenda Constitucional no 19, de 4
de junho de 1998, autoriza os entes federados, por meio de lei, a estabelecer consórcios
públicos para gestão associada de serviços, com a possibilidade de transferência de
encargos, bens e pessoal para sua realização.
No âmbito das relações entre Municípios, Estados e União, essa condição se expressa na
superação dos conflitos devidos à superposição de competências que se entrelaçam e se
desdobram em outras, como nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, entre o
município central e o agente metropolitano, com reflexos nas políticas setoriais. Esse
quadro se agrava sobremaneira com as injunções de governos de partidos divergentes, dos
interesses econômicos dos operadores privados municipais e metropolitanos e pelo
distanciamento do Executivo e do Legislativo na priorização na agenda social e política dos
crescentes problemas do transporte urbano e, especialmente, metropolitano.
A atuação do Estado deve ter como foco a qualidade do serviço, a garantia dos direitos dos
usuários e a fiscalização das condições de trabalho dos trabalhadores do sistema. O Estado
deve usar o processo de licitação como meio de democratizar o acesso ao mercado e de
regular os contratos com o setor privado e, da mesma forma, deve preservar as condições
para que o setor provado exerça suas atividades, combatendo o transporte clandestino e a
concorrência ruinosa.
Para que se conquiste a Paz no Trânsito requer a inclusão, na agenda do País, dos seguintes
pontos: a cidadania no trânsito, com maior rigor na fiscalização da velocidade; a formação
adequada de recursos humanos técnicos para estudar e propor soluções sobre novas bases
da mobilidade; a universalização de programas de educação de trânsito, tendo como base
educar para a mobilidade de todos e não mais de formar novos motoristas; a busca de meios
para impedir que o Código de Trânsito Brasileiro seja mutilado em seus princípios, e que a
impunidade deixe de ser uma regra.
O transporte público tem como principal receita, aquela recolhida dos passageiros. O vale
transporte – financiado, na maior parte, pelos empregadores –, cobre os custos das viagens
de cerca de 38% dos usuários, ao passo que as gratuidades (idosos, portadores de
deficiência, policiais, militares) correspondem, na média do sistema, a 7% da demanda de
passageiros.
Região Metropolitana de São Paulo ao adotar, por quase 8 anos, a destinar os recursos do
Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para aplicação no sistema
metro-ferroviário metropolitano.
com gerenciamento eletrônico do motor; veículos de piso baixo, que facilitarão o seu uso
por parte dos idosos, pessoas com dificuldades de locomoção e portadores de deficiência;
portas em ambos os lados para utilização em corredores especiais; eliminação do posto de
cobrança ou elementos de aferição dos passageiros internos ao veículo, no caso de
cobrança externa nas paradas.
O automóvel, comparado com o ônibus, consome, em média, 6,4 vezes mais área de via,
produz 17 vezes mais poluição, gasta 12,7 vezes mais energia e custa 8 vezes mais para
transportar um passageiro.
Os problemas têm sido minimamente reduzidos pelo fato de os automóveis produzidos pela
indústria nacional serem obrigados a sair de fábrica com equipamentos que reduzem a
quantidade de poluentes por quilômetro rodado, obedecendo à regulamentação do
Programa de Controle de Poluição Veicular – Proconve. Também contribui para esse
processo a ações empreendidas por algumas cidades brasileiras de controle , nas ruas, da
emissão de poluentes por veículos.
Hoje se utiliza o gás natural nos transportes em mais de 147 países. O Brasil possui cerca
de 290.000 mil veículos rodando com esse combustível. Estima-se que esse número chegue
a um milhão em 2005. Além disso, o Brasil possui arcabouço legal e normativo que permite
a operação eficiente de veículos movidos a gás natural, incluindo o sistema de certificação
de componentes e de avaliação da conformidade às normas existentes, com 39 entidades
inspetoras credenciadas. A tecnologia envolvida na fabricação e conversão dos motores,
distribuição, compressão e armazenamento são de completo domínio no País, existindo em
operação, hoje, 730 oficinas convertedoras, sendo o consumo para o uso em táxis, veículos
pequenos e médios, e frotas cativas de empresas, atualmente, o grande alavancador do
consumo do gás natural no país.
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Estas experiências indicam no sentido de se construir uma política energética que aponte
para dois grandes objetivos:
CIDADE E SOCIEDADE
Uma melhor qualidade de vida para as cidades brasileiras implica na adoção de medidas
para garantir uma mobilidade que permita a todos o uso coletivo da cidade e o acesso aos
serviços, bens e oportunidades existentes; que garanta a segurança e minimize os fatores
geradores de acidentes e mortes; que atue diretamente na melhoria das condições
ambientais, reduzindo a poluição e os desperdícios de energia; que potencialize o
desenvolvimento econômico e reduza os custos e o tempo empregados na produção; que
promova a articulação entre os diferentes segmentos sociais contribuindo para a
manutenção da solidariedade social e da coesão geográfica , eliminando ou minimizando a
formação de guetos.
Matriz de deslocamentos
Agir na matriz urbana dos deslocamentos e sobre a distribuição das funções urbanas
no território é a condição para influir nas necessidades de deslocamento. A melhor
distribuição dos serviços essenciais como educação e saúde, assim como do
comércio e dos equipamentos de lazer e cultura, contribui para reduzir as
necessidades de viagens, com ganhos para os indivíduos e para a comunidade.
Ações neste sentido, em diversas cidades e regiões, apontam para a necessidade da adoção
de políticas de zoneamento, que promovam padrões de uso e ocupação do solo
(densidades), que contribuam para a descentralização das atividades econômicas combinada
a outros usos. Estas ações também adotam como diretrizes: a regularização das parcelas
informais da cidade, por meio da reurbanização e regularização fundiária; a condução da
política habitacional, privilegiando a consolidação de áreas já ocupadas; a previsão de redes
integradas de transporte público e trânsito nas expansões urbanas e o controle da
implantação de novos pólos geradores de trânsito.
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O controle dos pólos geradores de tráfego: Grandes construções e ocupações que ocorrem
na cidade – escolas, centros de escritórios, shopping-centers, precisam ter sua instalação
submetida a regras e limites definidos pela municipalidade. O novo Código de Trânsito
Brasileiro e o Estatuto da Cidade tornam esta análise obrigatória mas deve haver controle
social para sua efetivação plena;
privada, de modo que as calçadas possam ser construídas pelos moradores, a partir de
orientação técnica fornecida pelo poder público.
O transporte público regular está presente nos municípios com mais de 30 mil habitantes,
estando disponível para cerca de 122 milhões de brasileiros. O ônibus é o meio principal
disponível. Em 12 capitais e respectivas regiões metropolitanas, o metrô ou trem
metropolitano contribuem para facilitar a mobilidade urbana e em duas grandes cidades, há
serviços de barcas com demanda significativa - Rio de Janeiro e Salvador.