02 SUP13 Modulo2 PDF
02 SUP13 Modulo2 PDF
02 SUP13 Modulo2 PDF
substâncias
psicoativas
São Paulo
2018
ATENÇÃO!!
Crédito institucional, ficha catalográfica e ISBN em processo de registro
na Biblioteca Nacional. A data de liberação do arquivo final será avisada
pelo seu tutor.
EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS
PSICOATIVAS
Introdução
Capítulos
Neurobiologia:
mecanismos de reforço e recompensa e os
efeitos biológicos comuns às drogas de abuso
Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni
Félix Kessler
Flávio Pechansky
Carmen Florina Pinto Baldisserotto
Karina Possa Abrahão
Tópicos
O que influencia a vulnerabilidade à dependência de drogas de
abuso? 10
Um pouco de história 11
Fissura (craving) 18
Bibliografia 23
Sobre os autores 25
oBJETIVOS
99 Conhecer os fatores que podem influenciar no
desenvolvimento da dependência de drogas;
Ao longo do tempo, muitas ideias diferentes sobre esse assunto foram divulga-
das. Hoje, é possível afirmar que existem vários fatores envolvidos nesse processo, como
se pode ver na figura abaixo. As teorias diferem quanto ao peso atribuído aos fatores
que influenciam o desenvolvimento da dependência de drogas.
Genética
Neurobiologia
Comportamento
(personalidade)
Desenvolvimento,
maturação do SNC,
gênero etc.
Ambiente
10
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Por exemplo: quando você come uma comida deliciosa (por exemplo, um bom-
bom de chocolate), mesmo sem estar com fome, a comida é um reforço positivo. Quan-
do você come uma comida de que não gosta, somente porque está com muita fome e
aquela é a única comida disponível, a comida é um reforço negativo, porque alivia uma
sensação ruim, de desconforto – a fome.
No entanto, as pessoas também podem usar drogas porque estão tristes, de-
primidas ou ansiosas e querem aliviar essas sensações ruins – nesse caso, procuram a
droga por seu poder reforçador negativo. Essa propriedade reforçadora da droga, cau-
sando prazer ou aliviando sensações ruins (por exemplo, a síndrome de abstinência na
ausência da droga), aumenta a chance de sua reutilização.
Um pouco de história
Em meados do século XIX, algumas teorias sobre motivação afirmavam que o
comportamento dependente resultava de “instintos subconscientes”. Contudo, nenhu-
ma dessas teorias conseguia explicar adequadamente todos os elementos envolvidos na
dependência de substâncias, incluindo os aspectos psicológicos e neurobiológicos.
11
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Foi no início da década de 40, no século passado, que surgiu uma nova explica-
ção para a dependência, abrangendo conceitos tanto da psicologia como da psiquiatria.
Essa teoria, chamada de “teoria do reforço”, foi testada em laboratórios de pesquisa.
Olds e Milner, em 1954, observaram que ratos batiam as patas em barras para
receber um estímulo elétrico em uma determinada região do cérebro (como observado na
figura abaixo). Ou seja, os ratos apresentavam o comportamento de “autoestimulação”
relacionado a um reforço positivo. Esse comportamento era muito exagerado, a ponto de,
algumas vezes, se sobressair em relação aos comportamentos de comer e dormir.
Os cientistas descobriram
que as mesmas regiões
cerebrais que provocavam
“autoestimulação” também
eram as regiões ativadas
pelas drogas de abuso. Essas
regiões são importantes para
o processamento neural do
reforço positivo.
12
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Sistema de recompensa
cerebral
Cada droga de abuso tem o seu mecanismo de ação particular, mas todas elas
atuam, direta ou indiretamente, ativando uma mesma região do cérebro: o sistema de
recompensa cerebral. Esse sistema é formado principalmente por circuitos neuronais
responsáveis pelas ações reforçadas positivamente. Quando nos deparamos com um
estímulo prazeroso nosso cérebro lança um sinal (aumento de dopamina – importante
neurotransmissor do SNC (Sistema Nervoso Central) – no núcleo accumbens – região
central do sistema de recompensa e importante para os efeitos das drogas de abuso).
Esse sinal de dopamina faz com que o cérebro entenda que os comportamentos realiza-
dos para buscar aquele estímulo prazeroso devem se repetir.
13
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Sistema de
recompensa
cerebral:
caracterizado por
seus componentes
centrais (núcleo
accumbens, área
tegmentar ventral
e córtex
pré-frontal.
Representação de um
corte sagital médio do
encéfalo humano com a
marcação das principais
áreas do sistema de
recompensa cerebral. O
sistema dopaminérgico
mesolímbico está
representado pela
seta em verde e o
sistema dopaminérgico
mesocortical está
representado pela seta
em azul-claro.
14
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
que é responsável pela saliência motivacional e pela valorização de cada estímulo. É im-
portante salientar que existem projeções dopaminérgicas para outras estruturas cerebrais,
tais como o hipocampo, estrutura associada a aprendizagem e memória espaciais; e a
amígdala, estrutura responsável pelo processamento do conteúdo emocional de estímulos
ambientais. O sistema mesolímbico está relacionado ao mecanismo de condicionamento
ao uso da substância, bem como à fissura, à memória e às emoções ligadas ao uso.
A ação das drogas de abuso sobre o sistema de recompensa cerebral pode levar
ao desenvolvimento da dependência.
15
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
O uso repetido de drogas de abuso produz alterações no SNC que podem levar
às alterações comportamentais (tolerância e/ou sensibilização). Essas alterações com-
portamentais contribuem para aumentar a “saliência” do incentivo e o “desejo de con-
sumir mais drogas”.
Para refletir
• Perda de tolerância: após período de abstinência, a tolerância pode ser
perdida, levando a overdoses acidentais.
• Reaquisição da tolerância: após o período de “perda de tolerância”, a
reaquisição ocorre de maneira mais rápida que a aquisição inicial.
• Síndrome de abstinência: Na AUSÊNCIA da droga, muitas dessas
adaptações se tornam disfuncionais e podem desencadear uma série de
sintomas, em geral, opostos aos efeitos agudos da droga e que podem
ser revertidos pela administração de novas quantidades de droga. As
adaptações levam a um novo estado de equilíbrio, mas à custa de
alterações importantes em muitos sistemas, que são funcionais SOB a
ação da droga, mas disfuncionais na ausência dela.
16
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Sensibilização
Tolerância
Dose
Para alguns efeitos (em geral depressores) ocorre tolerância, mas para outros
(estimulantes da atividade locomotora, por exemplo) ocorre sensibilização.
17
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Neurobiologia do processo de
abstinência das drogas de abuso
Nos estados de abstinência das drogas de abuso, em geral, a pessoa apresen-
ta sintomas opostos aos observados quando ela está sob o efeito agudo das drogas.
Nesses casos, observa-se uma “depleção” dos níveis de dopamina (isto é, uma redução
importante devida ao excesso de liberação que ocorreu previamente), principalmente no
núcleo accumbens. Provavelmente isso desencadeia um forte desejo (fissura) de usar a
droga novamente. Além disso, muitos estudos científicos mostram que a atividade de
outras regiões cerebrais também fica alterada durante a abstinência, o que está asso-
ciado a diferentes processos que desencadeiam fissura e possivelmente uma recaída, ou
seja, a reutilização da droga de abuso.
Fissura (craving)
Esse fenômeno é descrito como um desejo urgente e quase incontrolável de
usar a substância, que invade os pensamentos do usuário de drogas, alterando o seu
humor e provocando sensações físicas e modificação do seu comportamento. Vários
estudos relatam que a fissura está ligada tanto a desencadeadores externos (a própria
droga, locais ou situações de uso) como internos (humor deprimido, ansiedade). Pes-
quisas de neuroimagem – por tomografia computadorizada com emissão de fóton único
(SPECT), tomografia por emissão de positron (PET) ou ressonância magnética funcional
(FMRI) – analisaram a fissura utilizando vídeos com imagens relacionadas à droga e
compararam com vídeos neutros e/ou com estímulos eróticos, cenas tristes ou alegres.
Observou-se que, em algumas regiões cerebrais, como o córtex pré-frontal e a amígda-
la, usuários crônicos de cocaína têm o fluxo sanguíneo diminuído (avaliado na SPECT),
e esse dado é semelhante aos observados em algumas alterações psiquiátricas, como
psicose e mania. Observou-se que tanto o uso agudo como o uso crônico de drogas
18
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
provocam mudanças na função cerebral, e que elas persistem por longo tempo após a
retirada da substância. Essas modificações manifestam-se na atividade metabólica, na
sensibilidade e quantidade de receptores sinápticos, e na expressão gênica, gerando
diferentes respostas aos estímulos ambientais.
Papel do ambiente e da
genética
pistas ambientais
Algumas das questões mais discutidas pelos estudiosos da área são:
19
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
qual se colocará a comida do animal, ou levantar da mesa de refeições, faz com que o
cachorro se agite e corra para o local no qual se costuma dar a comida, “antecipando”
a recompensa.
Genética
Os fatores genéticos desempenham outro papel importante no desenvolvimen-
to da dependência química. Estudos epidemiológicos têm estabelecido há muito tempo
que o alcoolismo, por exemplo, possui um componente familiar preponderante, com
uma estimativa de 40% a 60% do risco para o desenvolvimento desse transtorno. Parte
dessa influência é devida a características herdadas por meio dos genes. Como exemplo:
predisposição genética a algumas doenças psiquiátricas ou o nível de prazer sentido
pelo consumo da droga podem estar associados ao desenvolvimento de dependência.
20
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
60 N=353
N=176
40 N=166
20
0
Dependentes de Dependentes de Controles não Controles avaliados
álcool graves álcool menos avaliados
graves
Para finalizar
Segundo alguns autores, a maioria dos aspectos neurobiológicos (estudados
neste capítulo) das dependências pode ser resultante da desregulação dos mecanismos
moleculares, ligados à memória de longo prazo, que futuramente poderão ser modifi-
cados por medicações específicas. Já os comportamentos alterados, decorrentes dessa
desregulação, podem com frequência ser suprimidos, pelo menos por um período, por
mecanismos de controle que requerem funções do córtex frontal (através da lógica e da
razão) e que podem ser treinados pelas técnicas de tratamento psicoterápicas. Contu-
do, devido à natureza desses comportamentos e à intensidade das mudanças biológicas
associadas, não é surpreendente que, apesar dos esforços, ocorram recaídas.
21
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
22
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Bibliografia
BERKE, J. D.; HYMAN, S. E. Addiction, dopamine, and the molecular mechanisms of
memory. Neuron., Mar. 2000;25(3):515-32.
BLUM, K.; NOBLE, E. P.; SHERIDAN, P. J.; MONTGOMERY, A.; RITCHIE, T.; JAGADEESWARAN,
P.; NOGAMI, H.; BRIGGS, A. H.; COHN, J. B. Allelic association of human dopamine D2
receptor gene in alcoholism. JAMA., 18 Apr. 1990;263(15):2055-60.
RIBEIRO, M.; LIMA, L.; FONSECA, V. Neurobiologia da dependência de crack. In: LA-
RANJEIRA, R. O tratamento do usuário de crack. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas,
2012. p. 143-60.
23
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
RITZ, M. C.; CONE, E. J.; KUHAR, M. J. Cocaine inhibition of ligand binding at dopa-
mine, norepinephrine and serotonine transporters: a structure-activity study. Life
Sci., 1990;46(9):635-45.
VALENZUELA, C. F.; HARRIS, A. Alcohol: neurobiology. In: LOWINSON, J. H.; RUIZ, P.;
MILLMAN, R. B.; LANGROD, J. G. (Ed.). Substance abuse: a comprehensive textbook. 3.
ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkings, 1997. p. 119-120.
VOLKOW, N. D.; FOWLER, J. S.; WOLF, A. P.; SCHLYER, D.; SHIUE, C. Y.; ALPERT, R. et al.
Effects of chronic cocaine abuse on abuse ons postsynapticdopamine receptors.
Am J Psychiatry, 1990;147(6):719-24.
24
SOBRE OS
AUTORES
Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni
Biomédica, Mestre, Doutora e Professora Livre-Docente pela Escola Paulista de
Medicina da Universidade Federal de São Paulo, na qual foi pró-reitora de Pós-
Graduação e Pesquisa, chefe do departamento de Psicobiologia e coordenadora
do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia (nota 7 da CAPES), no qual é
orientadora. Coordena a Unidade de Dependência de Drogas (UDED) e o curso
SUPERA, que desenvolveu em parceria com a Secretaria Nacional de Política sobre
Drogas (SENAD, 2006-2017). Orientou 21 teses de Doutorado e 26 de Mestrado e
publicou mais de 120 artigos em revistas indexadas. Editora assistente da revista
Addiction. Researcher ID: B-5736-2011.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6528718059938788.
Félix Kessler
Médico (1995) psiquiatra (1998), com Mestrado e Doutorado em Psiquiatria e
Ciências do Comportamento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da
UFRGS e membro do corpo docente permanente da Pós-Graduação em Psiquiatria
e Ciências do Comportamento da UFRGS. Coordena o Núcleo de Pesquisa Clínico-
Biológico do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas (CPAD) do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (HCPA), do qual foi Vice-diretor por 10 anos. Também
é um dos coordenadores do Mestrado Profissional em Álcool e Drogas do HCPA.
Fez fellowship nas Universidades da Pensilvânia e Kentucky através do programa
Distinguish International Scientist Collaboration Award (DISCA) do National Institute
on Drug Abuse (NIDA). Editor Associado da RBP Psychiatry e Frontiers in Psychiatry
e Diretor Administrativo do Centro de Estudos Luís Guedes CELG) e membro da
Câmara Técnica de Psiquiatria do Conselho Regional de Medicina (CREMERS).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3595921442201029
Flavio Pechansky
Professor Titular e Diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da UFRGS,
e do Centro Colaborador em Álcool e Drogas HCPA/SENAD, localizado no Hospital
de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). É Psiquiatra com especialização em dependên-
cia química desde 1987, além de Mestrado e Doutorado pela UFRGS. Foi fellow
da Johns Hopkins School of Public Health entre 1993 e 1994. Foi Coordenador
do Programa de Mestrado Profissional em Prevenção e Assistência a Usuários
de Álcool e outras Drogas do HCPA, e é professor visitante das Universidades da
Pennsylvania e Kentucky e bolsista de Produtividade 1-D do CNPq. Também é
Chefe do Serviço de Psiquiatria de Adição do HCPA. Tem uma extensa carreira em
treinamento, consultoria e publicações na área de álcool e drogas, com mais de
190 produções incluindo livros, capítulos, editoriais e artigos originais em jornais
Brasileiros e internacionais nas áreas de epidemiologia e tratamento do alcoolismo
e abuso de drogas, experimentação de álcool e drogas por adolescentes, com-
portamentos de risco e transmissão do HIV entre usuários de drogas, e temas
relacionados ao beber e dirigir. Já foi consultor do governo Brasileiro e coordena-
dor ou membro de comitês científicos de instituições internacionais e brasileiras,
bem como editor e membro de conselhos editoriais de periódicos nacionais e
internacionais. É revisor para diversos periódicos científicos e foi Editor Assistente
Regional do periódico Addiction por 10 anos. É Member-at-Large do International
Council on Alcohol, Drugs and Traffic Safety, Membro do Comitê sobre Álcool e
Drogas do Transportation Research Board. Dentre os vários prêmios que recebeu,
destaca-se o Award of Excellence in International Leadership do the National Ins-
titute on Drug Abuse.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3384627608811915
Lattes http://lattes.cnpq.br/4934102605510499
Karina Possa Abrahão
Biomédica, mestre e doutoranda pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-
doutoranda na Universidade de São Paulo e no National Insitute on Alcohol Abuse
and Alcoholism nos Estados Unidos. Neurocientista com interesse em compreen-
der os efeitos do álcool nos sistemas neurais de tomada de decisão. Atualmente,
Professora-Adjunta do Departamento de Psicobiologia da UNIFESP.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1245502652994136
Capítulo 2
Drogas depressoras
(benzodiazepínicos,
inalantes, opiáceos):
efeitos agudos e crônicos
Roseli Boerngen de Lacerda
José Carlos Fernandes Galduróz
Tópicos
Sedativos, hipnóticos e ansiolíticos 31
Inalantes 34
Opiáceos e Opioides 40
Bibliografia 44
Sobre os autores 45
oBJETIVOS
99 Descrever como agem as principais drogas
depressoras do SNC;
Sedativos, hipnóticos e
ansiolíticos
Representam um grupo diversificado farmacologicamente, que inclui os ben-
zodiazepínicos (por exemplo diazepam, clonazepam, alprazolam); os agonistas dos re-
ceptores GABA-A1 (por exemplo, zolpidem, zaleplon); os barbitúricos (por exemplo, fe-
nobarbital, pentobarbital); GHB (gama-hidroxi-butirato), entre outros (CIRAULO, 2014).
Problemas de sono;
Ansiedade e depressão;
31
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
boca, como “lábios leporinos”, um espaço entre o lábio superior da criança, o que requer
cirurgia logo após o nascimento. Mais raramente, a criança pode nascer com problemas
cardíacos (JAVORS et al., 2012).
32
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
ATENÇÃO
LEMBRE-SE
33
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Tolerância e dependência
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prescrição dos benzodia-
zepínicos por períodos entre duas e quatro semanas, no máximo, e apenas nos quadros
de ansiedade ou insônia intensa. É comum haver tolerância a esses medicamentos, isto
é, a pessoa precisa aumentar a dose que foi inicialmente recomendada pelo médico para
obter o mesmo efeito. No entanto, a aplicação dos critérios diagnósticos para transtorno
pelo uso dessas substâncias (APA, 2014) é limitada para essas drogas que têm indicação
terapêutica. Por exemplo: os critérios diagnósticos – grande tempo para obter e consu-
mir a substância e perda de interesse em atividades sociais e recreacionais devido ao
uso – não são indicativos de presença do transtorno pelo uso de benzodiazepínicos se a
pessoa apresenta um grave transtorno de ansiedade (CIRAULO, 2014).
Embora a compra desse tipo de medicamento seja controlada (só podendo ele
ser vendido com a retenção de um receituário especial, chamado de Notificação
B, que tem a cor azul), essas substâncias são bastante abusadas. Há evidências
de que em muitos casos essas drogas são prescritas indevidamente, sendo as
mulheres as que mais abusam delas.
Inalantes
São substâncias consumidas somente por via inalatória (cheirando a substância
volátil). Podem ser solventes (compostos que dissolvem outras substâncias, como por
exemplo: hexano, presente em tintas, ou tolueno, presente em colas); sprays aerossóis
(Triclorofluorometano, presente em sprays para cabelo); gases (óxido nitroso, um anes-
tésico conhecido como gás do riso) e nitritos (sprays desodorantes), entre outros. Para
mais detalhes e exemplos, veja o QUADRO 1.
34
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
ATENÇÃO
SAIBA MAIS
Baixo custo;
35
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
36
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
conjuntivite;
bronquite.
Irritabilidade;
Depressão;
Agressividade;
Paranoia;
37
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Acidentes e lesões;
38
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Preste atenção aos sintomas que vimos acima e perceba se há fortes odores na
roupa ou no hálito, ou sinais de tinta e outros produtos escondidos sob a manga da rou-
pa, se a pessoa parece bêbada ou desorientada, se sua fala está alterada, se ela perdeu
o apetite ou relata náuseas, se está muito desatenta, irritável ou deprimida.
ATENÇÃO
39
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Opiáceos e Opioides
Os opiáceos são substâncias extraídas de uma planta chamada popularmente
de papoula (nome científico: Papaver somniferum), que, após cortada, elimina um líqui-
do leitoso branco, semelhante a um suco, que ao secar passa a ser chamado de ópio, daí
o nome opiáceo (CEBRID, 2007).
Os opiáceos são drogas com grande importância na medicina, pois são podero-
sos analgésicos. Entretanto, também são usados como drogas de abuso, e sua depen-
dência pode se instalar rapidamente.
O ópio pode ser fumado, sendo esse hábito muito difundido no Oriente, princi-
palmente em séculos passados. A partir do ópio obtém-se a morfina (um potente anal-
gésico) e a codeína (potente inibidor da tosse). A partir dos opiáceos naturais podem ser
criados os opiáceos semissintéticos, como a heroína (diamorfina), que é um derivado
diacetilado da morfina. A heroína é mais lipossolúvel (se dissolve em gordura) do que a
morfina e atinge o SNC mais rapidamente (NIDA, 2018).
SAIBA MAIS
40
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Opiáceo ou opioide?
Nem todos os autores da área concordam sobre esse ponto, e muitos usam
as duas palavras como sinônimas, mas em geral usa-se a palavra opiáceo (ou drogas
opiáceas) quando nos referimos àquelas drogas que contêm ou são derivadas do ópio
– podem ser opiáceos naturais (morfina, codeína) ou opiáceos semissintéticos, quando
são resultantes de modificações parciais das substâncias naturais (como é o caso da
heroína), não incluindo as substâncias opióides totalmente sintéticas (segundo a OMS).
A palavra opioide (que siginifica semelhante aos opiáceos) tem sido utilizada
como um termo mais genérico, incluindo tanto substâncias produzidas pelo nosso or-
ganismo, como as endorfinas, encefalinas e dinorfinas como as substâncias totalmente
sintéticas, fabricadas em laboratório e que não são derivadas do ópio, como é o caso
da meperidina, do propoxifeno e da metadona. Neste texto, usaremos os termos como
sinônimos, exceto em relação às substâncias endógenas que denominaremos opióides
endógenos.
Sonolência;
41
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Por outro lado, prescrever de maneira descontrolada deve ser evitado. Nos Es-
tados Unidos existe uma verdadeira epidemia do uso abusivo de opiáceos prescritos.
Como são substâncias com alto poder aditivo e que podem facilmente causar overdose
e morte, a prescrição deve ser monitorada pelo médico.
42
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Sonolência;
Constipação;
Dificuldades de relacionamento;
43
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Bibliografia
APA – AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais. DSM-V. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2014.
FLANAGAN, R. J.; IVES, R. J. Volatile substance abuse. Bull Narcotics, 1994; XLVI (2):50-78.
RENNER JR., J. A.; KNAPP, C. M.; CIRAULO, D. A.; EPSTEIN, S. Opioids. In: KRANZLER, H.
R.; CIRAULO, D. A.; ZINDEL, L. R. (Edit.). Clinical Manual of Addiction Psychopharmaco-
logy, 2. ed. Arlington: APPI, 2014.
RENNER, J. A.; SUZUKI, J. Opiates and prescription drugs. In: JONHSON, B. A. (Ed.).
Addiction Medicine. New York: Springer, 2012. p. 463-493.
44
SOBRE OS
AUTORES
Roseli Boerngen de Lacerda
Professora Titular aposentada do Departamento de Farmacologia e do Programa
de Mestrado e Doutorado em Farmacologia da Universidade Federal do Paraná
(UFPR); Graduada em Biomedicina pela Escola Paulista de Medicina – Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP), 1977; Mestre em Farmacologia pela Escola Pau-
lista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 1979; Doutora
em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 1997; Pesqui-
sadora na Área de Neurociências em temas de drogas de abuso.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5066223821540178
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8366139801463833
Capítulo 3
Álcool:
efeitos agudos e crônicos
Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni
José Carlos Fernandes Galduróz
Denise De Micheli
Ana Paula Leal Carneiro
Tópicos
Álcool é uma droga psicotrópica 49
Álcool e trânsito 59
Álcool e gravidez 69
Dependência de álcool 72
Bibliografia 74
Sobre os autores 76
oBJETIVOS
99 Conhecer o impacto do uso de álcool na saúde dos
indivíduos e sob a perspectiva da saúde pública no
Brasil e no mundo
Epidemiologia do uso de
álcool e impactos na saúde
A partir do ano 2000, foi observada uma redução na proporção de pessoas que
bebem na África, nas Américas, na região do Mediterrâneo e na Europa. Entretanto,
houve aumento do consumo de álcool no sudeste da Ásia.
49
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
O consumo médio mundial por pessoa com 15 anos ou mais passou de 5,5 li-
tros de álcool puro por ano em 2005 para 6,4 litros (equivalente a cerca de 16 litros de
cachaça ou 160 litros de cerveja) no ano de 2010, permanecendo nesse nível em 2016.
VOCÊ SABIA?
Cerca de 30% da população adulta (ou seja, três entre dez pessoas) fazem
uso de risco ou são dependentes de álcool. Essa parcela da população bebe
em altas quantidades, sendo responsável pela maior parte do consumo.
Como você pode ver na Figura 1, há uma grande variação entre a proporção de
pessoas que ingerem bebidas alcoólicas no mundo, sendo maior na Europa, Américas e
Ásia ocidental.
100 2,9
2,2
90
32,2 33,1
80 43
70 54,1 59,9 53,8
60 10,3 10,3
50 12,5
94,9
40 8,1
30 57,5 29 16,6
56,6
20 38,2 44,5
10 23,5
16,9
0
Africa Américass Oriente Médio Europa Sudeste da Pacífico Mundo
Ásia Ocidental
Figura 1 - Porcentagem de pessoas que bebem atualmente, já beberam alguma vez na vida ou nunca beberam nas
diversas regiões do mundo, em 2016, considerando a porcentagem da população de 15 anos ou mais.
50
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
50 47,9 47,1
42,5
39,7
40
30
Pública
20
Privada
10
0
Feminino Masculino
Figura 2 - Uso de álcool no ano entre 50.890 estudantes de Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública e
Privada das 27 capitais brasileiras, por gênero, de acordo com a rede de ensino.
Fonte: VI Levantamento Nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do Ensino
Fundamental e Médio das Redes Pública e Privada de Ensino nas 27 capitais brasileiras, realizado em 2010.
51
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
75
65,2 64,5 66,3
59,3 61,4
57,2
60
% DE USO NA VIDA DE ÁLCOOL
45
30
15
0
Total de Uso na Vida de Masculino Feminino
Álcool
2004 2010
Figura 3: Uso na vida de álcool entre estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública das 27
capitais brasileiras, de acordo com o gênero, comparando-se os anos de 2004 e 2010. (*difere de 2004, p<
0,05); Fonte: https://obid.senad.gov.br/biblioteca/publicacoes/vi-levantamento-nacional-sobre-o-consumo-
de-drogas-psicotropicas-entre-estudantes-do-ensino-fundamental-e-medio-das-redes-publica-e-privada-de-
ensino-nas-27-capitais-brasileiras.pdf/view
% PORCENTAGENS DE PESSOAS
16 13,8 10
14 12,3 12,7 7,7
8 7
12 10,4 10,7 6,5
10 8,7 6
8 3,3 3,6
4 2,9
6
4 2
2
0 0
Figura 4: Dependência de álcool – Brasil e regiões, segundo o II Levantamento Domiciliar, realizado em 2005, nas 108
cidades com mais de 200 mil habitantes, considerando as regiões do país e a faixa etária: adultos (A) e adolescentes (B).
52
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
SAIBA MAIS
5 4,6
4,5 4
PORCENTAGENS (%)
4
3,3
3,5 2,9
3 2,4
2,5 2,2
2
1,5
1
0,5
0
Figura 5 – Porcentagem de pessoas que procuraram tratamento relacionado ao uso excessivo de álcool ou outras drogas.
Fonte: II Levantamento Domiciliar no Brasil (CARLINI et al, 2006).
70 66
59
60 51 49
50 45
40 36
30
20
10
0
Total Homens Mulheres
2006 2012
Figura 6: Prevalência de consumo em binge (beber em até 2 horas 5 ou mais doses (homens) ou 4 ou mais doses
(mulheres), entre adultos que bebem, comparando os anos de 2006 e 2012). Fonte: II LENAD (II Levantamento
Nacional de Álcool e Drogas – Disponível em: https://inpad.org.br/wp-content/uploads/2014/03/Lenad-II-Relatório.pdf
53
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Vamos conhecer um pouco mais sobre as bebidas alcoólicas e seus efeitos no organismo?
O álcool presente nas bebidas alcoólicas é o etanol (fórmula química CH3-CH-
2-OH, ou seja, uma molécula muito pequena e que por isso atinge praticamente todos
os órgãos e tecidos do corpo humano).
54
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
IMPORTANTE
55
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
IMPORTANTE
56
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Linha Contínua: quando foram ingeridos 240 ml de uísque de uma única vez.
57
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
»» Comportamento aparentemente
.
0 01 - 0.05 Subclínico
normal à observação
»» Inércia generalizada
»» proximidade de perda das funções motoras,
resposta a estímulos muito reduzida
»» acentuada incoordenação motora ou
0.25 - 0.40 Estupor
incapacidade de manter-se de pé ou caminhar
»» vômitos, incontinência urinária,
perda de consciência
»» sono ou estupor
»» Inconsciência completa
»» reflexos abolidos ou muito reduzidos
»» hipotermia, incontinência
0.35 - 0.50 Coma
»» prejuízo na circulação e respiração
»» possibilidade de morte por parada
respiratória e hipotermia
Em resumo:
Inicialmente (doses baixas ou na fase inicial do efeito de doses altas), o
álcool age como um estimulante do Sistema Nervoso Central, levando a
sensações de euforia, desinibição, sociabilidade, prazer e alegria.
58
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Por essa razão, diz-se que o álcool tem efeito bifásico no organismo. Entre-
tanto, ele é classificado como uma droga depressora do Sistema Nervoso Central, pois a
fase depressora é mais intensa e prolongada.
Álcool e trânsito
Como o álcool afeta a capacidade de dirigir e aumenta o risco de acidentes de trânsito?
O consumo de álcool, mesmo que em pequenas quantidades, diminui a coordenação
motora e os reflexos. Vários estudos indicam que grande parte dos acidentes é provocada por
motoristas alcoolizados. Mesmo que a pessoa pense que está bem, preste muita atenção e
tome cuidado, pois seu organismo estará funcionando com os reflexos retardados, ou seja,
sua reação para frear ou desviar o carro de um obstáculo será mais lenta.
De acordo com o Código Brasileiro de Trânsito (Lei nº 9.503/1997) e com suas altera-
ções decorrentes da Lei nº 12.76011, em vigor desde dezembro de 2012, todo motorista que
apresentar qualquer quantidade de álcool no sangue estará cometendo infração gravíssima.
O condutor também estará sujeito à suspensão do direito de dirigir por um ano e à retenção
do veículo. É isso mesmo, agora a tolerância é ZERO para o uso de álcool por MOTORISTAS!
1 Conheça mais detalhes sobre Álcool e Trânsito no site do Ministério da Justiça: http://www.justica.gov.
br/news/alcool-x-direcao-uma-mistura-fatal
59
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
O corpo humano só consegue eliminar cerca de 1 dose por hora. Quem beber
3 doses precisa esperar cerca de 2 a 3 horas para que seus níveis de álcool no
sangue se aproximem de zero.
Observação: Devido à margem de erro do bafômetro, não é considerado embriagado um condutor com até 0,05mg/L,
mas para exame de sangue a tolerância é zero. Fonte: arte inspirada no infográfico publicado em: https://g1.globo.
com/carros/noticia/lei-seca-ficou-mais-rigida-nos-ultimos-anos-veja-o-que-pode-e-o-que-nao-pode.ghtml
60
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Diferenças de gênero
2006 2012
50
40 33,7
27,5 27,3
30 21,6
20 8,6 7,1
10
0
Total Masculino Feminino
Tratamento de intoxicação
alcoólica
como lidar com as pessoas enquanto estão intoxicadas pelo álcool (“bêbadas”)?
Há várias maneiras populares de lidar com a intoxicação alcoólica, mas muitas
não têm base científica e nenhuma delas é tão eficaz quanto deixar o tempo passar.
Deixe a pessoa em um local tranquilo e isolado e espere o organismo eliminar o álcool, a
não ser que a pessoa tenha algum sintoma que requeira atenção especial.
Atenção
Dirigir veículos ou operar máquinas são situações de alto risco para pessoas
sob o efeito do álcool! Conscientize as pessoas disso!
57
61
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
SAIBA MAIS
As avaliações foram realizadas tanto pelo próprio paciente como pelos médicos,
meia hora após a administração de glicose e.v. (endovenosa) ou medicação placebo
(soro fisiológico).
62
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Paciente Médico
35
30
NÚMERO DE PACIENTES
25
20
15
10
5
0
Inalterado Melhor Muito Inalterado Melhor Muito
melhor melhor
PLACEBO GLICOSE
SAIBA MAIS
63
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
O que acontece quando se ingere bebidas alcoólicas combinadas com bebidas energéticas?
Comercializadas visando especialmente à população jovem, as “bebidas ener-
géticas” ou energy drinks chegaram ao Brasil por volta de 1996 e logo se popularizaram.
Os fabricantes dessas bebidas dizem que elas podem revigorar, diminuir a sonolência,
aumentar a atenção e até mesmo melhorar o desempenho físico. Devido à sua compo-
sição (cafeína, taurina, glicose e vitaminas do complexo B), elas podem provocar efeitos
estimulantes, mas esses efeitos dependem também da sensibilidade de quem as ingere.
É importante alertar os usuários sobre esses efeitos e mostrar que, ao tornar o sabor
das bebidas alcoólicas mais agradável, as pessoas acabam bebendo mais do que poderiam,
aumentando as chances de terem problemas devidos aos efeitos do álcool (FERREIRA, 2005).
64
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
MITOS OU VERDADES??
Bebidas alcoólicas melhoram o desempenho sexual?
As bebidas alcoólicas podem levar ao aumento do desejo sexual, porque ajudam
a desinibir, mas podem também piorar o desempenho. É importante lembrar que um
drink pode ajudar alguém a relaxar e a se sentir mais desinibido, mas não pode ser con-
siderado um afrodisíaco ou uma poção mágica. Lembre seu paciente de que o interesse
que ele desperta em outras pessoas depende de quem ele é e que, na realidade, nin-
guém acha uma pessoa bêbada mais sedutora ou interessante. Além disso, usar bebidas
alcoólicas nessas situações pode aumentar o risco de envolvimento em comportamen-
tos de risco, como relações sexuais sem uso de preservativos ou dificuldade para dizer
“não”, por prejuízo da crítica.
Ressaca
Em um curto período (8 a 12 horas) após a ingestão de grande quantidade de
álcool, pode ocorrer a “ressaca”, que se caracteriza por: dor de cabeça, náusea, vômitos,
sede intensa, fadiga, dor muscular, vertigem, aumento da sensibilidade à luz e aos sons,
ansiedade, irritabilidade, tremores e sudorese. A ressaca pode decorrer dos efeitos de-
sidratantes do álcool e ser considerada uma “síndrome de abstinência” leve, com sinto-
mas opostos aos da intoxicação alcoólica que aparecem após a queda rápida dos níveis
de álcool no sangue. Os sintomas da ressaca estão relacionados também ao acúmulo de
acetaldeído no organismo.
65
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
causar menos ressaca do que bebidas com muitos congêneres, como vinho tinto e uís-
que. Consumir muitos líquidos sem álcool, como suco e água, antes e de modo alternado
com bebidas alcoólicas, também ajuda a evitar a desidratação característica da ressaca.
CUIDADO!
O acetaminofem deve ser evitado, pois aumenta a toxicidade do álcool no fígado.
SAIBA MAIS
53
66
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
= +
Saiba:
67
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Consumo de álcool
Embora em doses baixas o uso de vinho possa reduzir o risco de morte por pro-
blemas cardíacos, em altas doses pode provocar cardiomiopatias. Além disso,
ainda não está provado se esse possível efeito “benéfico” do vinho é devido ao
álcool ou a outras substâncias, como taninos e flavonoides, ou ainda ao estilo
de vida das pessoas. Essas conclusões surgiram a partir de estudos epidemioló-
gicos. Como o uso de álcool aumenta a chance de acidentes ou morte precoce
(por violência ou outras doenças), a redução de mortes por doenças cardíacas
(que em geral ocorrem em pessoas mais idosas) pode ser reflexo disso.
Por ser metabolizado no fígado, este é um dos órgãos mais afetados pelo con-
sumo de álcool, sendo a cirrose hepática um dos problemas mais graves.
A dosagem de enzimas hepáticas como a GGT, TGO, TGP pode ajudar no acom-
panhamento de pessoas dependentes de álcool. A enzima GGT é uma das mais sensíveis
aos efeitos do consumo de álcool. Quando os pacientes percebem “melhora” em seus
exames alterados tendem a manter a redução do uso.
68
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
TGO: Transaminase-Glutâmico-Oxaloacética; VCM: Volume Corpuscular Médio das Hemácias; TGP: Transaminase-
Glutâmico-Pirúvica.
O VCM pode ser aumentado tanto pelo uso de álcool como pelo de tabaco.
Álcool e gravidez
O consumo de álcool durante a gravidez expõe o feto aos seus efeitos, prin-
cipalmente nos primeiros meses. Mulheres que consomem de 2 a 3 doses de bebida
alcoólica por dia têm 11% de chance de ter uma criança com a Síndrome Alcoólica Fetal.
63
61
69
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
A criança com essa síndrome, em geral, apresenta alterações dos traços faciais,
anormalidades labiais, retardo do crescimento, dificuldade de socialização, problemas
cardíacos e alterações globais no desenvolvimento e funcionamento intelectual, geran-
do problemas de aprendizado, de memória e de atenção. O consumo de quatro ou mais
doses diárias aumenta o risco para 20%.
70
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Fotos cedidas pela Prof. Ann P. Streissguth, do Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais da Escola de
Medicina da Universidade de Washington.
71
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Dependência de álcool
A pessoa que ingere bebidas alcoólicas de modo excessivo pode desenvolver,
ao longo do tempo, a dependência do álcool. No próximo Módulo você verá os critérios
usados para diferenciar os padrões de uso do álcool, distinguindo o consumo de baixo
risco para o desenvolvimento de doenças da dependência.
72
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
SAIBA MAIS
3. Para fazer coisas consideradas difíceis (isso depende muito de cada pessoa;
por exemplo: falar com pessoas estranhas ou em público, abordar alguém do
sexo oposto etc.);
73
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Bibliografia
ABP BRASIL – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Suplemento especial sobre
dependência do álcool. Revista Brasileira de Psiquiatria. 26 (Suppl.1), Maio 2004.
DIMEFF, L. A.; BAER, J. S.; KIVLAHAN, D. R.; MARLATT, G. A. Alcoolismo Entre Estudan-
tes Universitários - Uma Abordagem de Redução de Danos: São Paulo, Unesp, 2002.
EBRAHIM, I. O.; SHAPIRO, C. M.; WILLIAMS, A. J.; FENWICK, P. B. Alcohol and Sle-
ep I: Effects on Normal Sleep. Alcoholism: Clinical and Experimental Research, 2013;
37(4):539-549.
74
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global status report on alcohol and health. Ge-
neva, 2018. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. Disponível em: http://apps.who.int/iris/
bitstream/handle/10665/274603/9789241565639-eng.pdf?ua=1
69
75
SOBRE OS
AUTORES
Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni
Biomédica, Mestre, Doutora e Professora Livre-Docente pela Escola Paulista de
Medicina da Universidade Federal de São Paulo, na qual foi pró-reitora de Pós-
Graduação e Pesquisa, chefe do departamento de Psicobiologia e coordenadora
do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia (nota 7 da CAPES), no qual é
orientadora. Coordena a Unidade de Dependência de Drogas (UDED) e o curso
SUPERA, que desenvolveu em parceria com a Secretaria Nacional de Política sobre
Drogas (SENAD, 2006-2017). Orientou 21 teses de Doutorado e 26 de Mestrado e
publicou mais de 120 artigos em revistas indexadas. Editora assistente da revista
Addiction. Researcher ID: B-5736-2011.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6528718059938788.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8366139801463833
DENISE DE MICHELI
Psicóloga (1997), Doutora (Departamento de Psicobiologia) na Universidade Fe-
deral de São Paulo (2000), com Pós-Doutorado em Ciências (Departamento de
Pediatria) na Universidade Federal de São Paulo. Professora Adjunta IV do Depar-
tamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo. Coordenadora do
Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde na Infância e Adolescência da
UNIFESP. Researcher ID: B-7715-2016
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2246867228137055
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2289598157467696
Capítulo 4
Drogas estimulantes
(anfetaminas, cocaína
e outros):
efeitos agudos e crônicos
Roseli Boerngen de Lacerda
Marcelo Santos Cruz
Cocaína 81
Anfetaminas 85
Nicotina 88
Bibliografia 91
Sobre os autores 92
oBJETIVOS
Estimulantes do SNC
Existem várias substâncias que, apesar de possuírem diferentes mecanismos
de ação, apresentam em comum a capacidade de estimular o SNC. Entre elas, pode-
mos citar: a cocaína, uma substância natural retirada das folhas da planta Erythroxylum
coca, originária da América do Sul; as anfetaminas, classe de substâncias sintéticas que
incluem os anorexígenos (mazindol, anfepramona, femproporex), medicamentos para
tratar narcolepsia, déficit de atenção e hiperatividade (metilfenidato), drogas de rua,
como a metanfetamina (normalmente fumada na apresentação de pedras – ice/cristal)
e os derivados com propriedades alucinógenas (metileno dioximetanfetamina – MDMA);
a nicotina, substância natural encontrada na planta Nicotiana tabacum (tabaco); a ca-
tinona, uma substância natural encontrada na planta Catha edulis (khat), originária da
África Oriental, e seus derivados sintéticos (por exemplo, 3,4-metilenodioxipirovalerona)
conhecidos como “sais de banho” (NIDA, 2018).
Cocaína
Da folha de coca se extrai a cocaína, que pode se apresentar na forma de pó, de
pedra (crack) ou de pasta (merla). O pó normalmente é cheirado ou aspirado pelo nariz
e pode também ser diluído e injetado por via venosa, enquanto o crack e a merla são
fumados numa espécie de cachimbo.
Quando a cocaína é cheirada sob a forma de pó, tem que ultrapassar a mucosa
do nariz até chegar aos vasos sanguíneos. Quando é injetada ou fumada, chega ao cérebro
muito mais rapidamente, pois cai direto nos vasos sanguíneos e é daí impulsionada pelo
coração para o cérebro. Como o tempo de absorção pela mucosa do nariz é muito maior, o
início dos efeitos mentais pode levar até 15 minutos, desaparecendo em cerca de 30 minu-
tos. Já o uso injetável ou fumado produz efeitos em cerca de 15 segundos, desaparecendo
após aproximadamente 15 minutos. Quanto mais rápidos são o início e o término do efeito,
maior a velocidade de estabelecimento de dependência (NAPPO & NOTO, 2001).
81
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
ATENÇÃO
Tanto o uso da cocaína como das anfetaminas por via injetável (pó da
cocaína ou da metanfetamina) ou fumadas (crack ou merla para cocaína e
ice/cristal para metanfetamina) gera dependência muito rapidamente.
SAIBA MAIS
EFEITOS AGUDOS
Euforia e sensação de energia
Irritabilidade e paranoia
Hipertermia
82
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Midríase
Náusea
Convulsões
Arritmias cardíacas
Hipertermia grave
EFEITOS CRÔNICOS
Desnutrição e anorexia
Paranoia e alucinações
83
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Fadiga
Perturbação do sono
Mudanças no apetite
Irritabilidade
SAIBA MAIS
84
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Anfetaminas
São substâncias sintéticas – não existem na natureza, sendo produzidas em
laboratórios – que foram usadas inicialmente para diminuir o cansaço, afastar o sono e
reduzir o apetite.
No Brasil, a principal forma de uso das anfetaminas é por via oral, tendo um iní-
cio de ação mais lento e um efeito que dura cerca de 8 a 10 horas. A chance de induzir
dependência fica muito maior (potencial de abuso) quando o tempo para início do efeito
é rápido e a duração do efeito é curta. Exatamente o que acontece com o ice/cristal
(grande problema nos EUA).
ATENÇÃO
Até 2011, no Brasil, muitas pessoas consumiam essas drogas, sob a forma de
remédios ou fórmulas, com o objetivo de emagrecer. O consumo brasileiro aumentou
em 500% de 1997 a 2005, principalmente entre mulheres, que utilizavam “fórmulas”
prescritas por médicos produzidas em farmácias de manipulação. Nem sempre elas eram
informadas dos seus riscos e do seu potencial de desenvolvimento de dependência. Em
10 de outubro de 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou
Resolução proibindo a fabricação, manipulação, prescrição, aviamento, venda e o uso
de anfetaminas, e restrições ao uso de outro inibidor do apetite, a sibutramina. No en-
tanto, essa resolução foi suspensa pelo Senado Federal em 2014 e a ANVISA publicou
85
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
a RDC 50/14 com medidas para o retorno da venda desses medicamentos. Em julho de
2017, a Câmara dos Deputados aprovou a Lei Nº 2431/11, que autorizou a produção,
comercialização e consumo sob prescrição médica dos anorexígenos sibutramina, anfe-
pramona, femproporex e mazindol (esses três últimos anfetamínicos). Essa batalha ainda
está longe de chegar ao fim (CFM, 2017).
86
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
ATENÇÃO
Outra forma de uso das anfetaminas ocorre entre motoristas de caminhão, que
as utilizam para conseguir permanecer acordados, enquanto dirigem por longas distân-
cias e por mais tempo do que seria prudente. “Rebites”, ou “arrebites”, são os nomes
pelos quais essas drogas são conhecidas pelos motoristas, que as compram em farmá-
cias, restaurantes e postos de gasolina de beira de estrada. Hoje em dia, pela facilidade
em comprar e pelo custo, esse uso vem sendo substituído pelo crack.
87
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Nicotina
A nicotina, a substância aditiva presente nas folhas de tabaco, produz alguns
efeitos semelhantes aos demais estimulantes, como a sensação de bem-estar, porém
de forma mais branda do que a euforia provocada pelos outros estimulantes, como a
cocaína. Essa substância também estimula o sistema de recompensa do cérebro e induz
adição/dependência intensa e rápida.
88
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
da nicotina, o tabaco contém mais de quatro mil substâncias, algumas das quais asso-
ciadas ao desenvolvimento de cânceres. As substâncias presentes na fumaça do tabaco
(e em outros tipos de fumaça, incluindo a fumaça da maconha) são as responsáveis
por problemas respiratórios como câncer de pulmão (90% dos casos), bronquite, asma,
enfisema e outros problemas como cânceres de outros órgãos (boca, laringe, faringe,
esôfago, bexiga, rins, pâncreas e colo do útero), leucemia, catarata e pneumonia. Ni-
cotina e vários componentes da fumaça do tabaco aumentam o risco de o indivíduo ter
infarto e arritmias, problemas de aorta e acidentes vasculares no cérebro, pernas e ou-
tros órgãos. O fumo também provoca gastrite, úlcera de estômago e duodeno, infecções
respiratórias, alergias, infertilidade, impotência e alterações do feto (baixo peso, parto
prematuro, problemas de desenvolvimento) em mulheres que fumam durante a gravidez
(NIDA, 2018).
Além disso, a fumaça do tabaco atinge as pessoas que convivem com fuman-
tes, os chamados “fumantes passivos”. Entre os problemas descritos estão o maior risco
de câncer de pulmão, doenças cardíacas, tosse, diminuição da capacidade respiratória,
bronquite. Crianças expostas à fumaça do tabaco tem risco maior de ter infecções audi-
tivas, asma grave, infecções pulmonares e morte súbita (NIDA, 2018).
89
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
SAIBA MAIS
90
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Bibliografia
ABESO – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA O ESTUDO DA OBESIDADE E DA SÍNDROME ME-
TABÓLICA. Diretrizes brasileiras de obesidade. 3. ed. São Paulo: Abeso, 2009.
BEECH, R.; SINHA, R. Cocaine. In: JONHSON, B. A. (Ed.). Addiction Medicine. New York:
Springer, 2012. p. 397-416.
NAPPO, S. A.; NOTO, A. R. Anfetaminas e análogos. In: SEIBEL, S. D.; TOSCANO JR., A.
(Org.). Dependência de drogas. São Paulo: Atheneu, 2001. p. 10-119.
ONCKEN, C. A., GEORGE, T. P. Tobacco. In: KRANZLER, H. R.; CIRAULO, D. A.; ZINDEL, L.
R. (Edit.). Clinical Manual of Addiction Psychopharmacology, 2. ed. Arlington: APPI, 2014.
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: preventing and managing the global
epidemic. Report of a World Health Organization Consultation. Geneva: WHO, 2000. p.
256. WHO Obesity Technical Report Series, n. 284.
91
SOBRE OS
AUTORES
Roseli Boerngen de Lacerda
Professora Titular aposentada do Departamento de Farmacologia e do Programa
de Mestrado e Doutorado em Farmacologia da Universidade Federal do Paraná
(UFPR); Graduada em Biomedicina pela Escola Paulista de Medicina – Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP), 1977; Mestre em Farmacologia pela Escola Pau-
lista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 1979; Doutora
em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 1997; Pesqui-
sadora na Área de Neurociências em temas de drogas de abuso.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5066223821540178
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3536956625860134
Solange Aparecida Nappo
Possui graduação em Farmácia e Bioquímica pela Universidade de São Paulo
(1976), Mestrado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (1981) e
doutorado em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (1996). Atualmen-
te é Pesquisadora Científica do CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas) do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP), Professora de Pós-Graduação do Departamento
de Medicina Preventiva da UNIFESP e Professora Adjunta- Campus Diadema da
Universidade Federal de São Paulo. Tem experiência na área de Saúde Coletiva,
com ênfase em estudo qualitativo, atuando principalmente nos seguintes temas:
crack, drogas psicotrópicas, dependência, cocaína e em Vigilância Sanitária com
atuação na área de consumo de medicamentos.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4675292090990088
Capítulo 5
Crack:
um capítulo à parte...efeitos agudos e crônicos
Marcelo Santos Cruz
Renata Werneck Vargens
Marise de Leão Ramôa
Ana Regina Noto
Tópicos
O que é o crack? 97
Epidemiologia 98
Abordagens terapêuticas 107
Conclusão 113
Bibliografia 114
Sobre os autores 119
oBJETIVOS
99 Conhecer as características do Crack e dados
epidemiológicos;
O que é o crack?
O crack é um tipo de cocaína em cristais com aparência de “pedras”, diferente
do cloridrato de cocaína, que é apresentado em “pó”. A forma de uso é fumada e seus
efeitos são mais intensos.
97
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Epidemiologia
O surgimento do uso do crack no Brasil foi detectado por redutores de danos (pro-
fissionais que compõem o Programa de Redução de Danos) que trabalhavam com usuários
de drogas injetáveis no início da década de 90. Na ocasião, foi também publicado o primeiro
estudo científico sobre o uso de crack no país, em São Paulo (Nappo et al, 1994).
Entre os anos de 2011 e 2012, para delinear com mais detalhes o perfil dos
usuários de crack e estimar com a dimensão e distribuição no Brasil, foi realizada a
“Pesquisa Nacional Sobre o Uso de Crack” (Bastos e Bertoni, 2014). Entre os residentes
das 26 capitais do país e Distrito Federal, a estimativa indireta de usuários regulares de
crack foi de 0,54% da população de referência, o que em números absolutos representa
cerca de 250 mil pessoas.
98
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
DESTAQUE
99
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
A ação da droga no
Sistema Nervoso Central
O fato de fumar o crack faz com que as substâncias cheguem ao pulmão, que é
um órgão intensamente vascularizado e com grande superfície, levando a uma
absorção instantânea. Através do pulmão o crack cai quase imediatamente na
circulação cerebral, chegando rapidamente ao cérebro. Com isso, os efeitos apa-
recem muito mais rápido do que por outras vias. Em 10 a 15 segundos os pri-
meiros efeitos do crack já ocorrem, enquanto que os efeitos após cheirar o “pó”
(cocaína em pó) acontecem após 10 a 15 minutos, e após a injeção, de 3 a 5 mi-
nutos. Essa característica faz do crack uma droga “poderosa” do ponto de vista
do usuário, já que o prazer acontece quase que instantaneamente após seu uso.
Com o uso de crack, essa região pode ser estimulada enormemente, causando
sensações de prazer que excedem aquelas experimentadas em situações normais. No
cérebro também existem importantes centros de memória, localizados na região do
hipocampo e da amígdala cerebral. Esses centros ajudam a lembrar o que foi feito para
levar o indivíduo ao estado de prazer. Quando a pessoa faz uso de crack, essas regiões
registram memória de pessoas, lugares, objetos e situações que levaram àquela sen-
sação. Assim, diversos estímulos associados a essas memórias podem ativar o desejo
de voltar a experimentar aquela situação prazerosa. É o mesmo fenômeno que ocorre
quando o indivíduo sente o cheiro de uma comida e seu organismo sofre reações antes
mesmo de ele se alimentar.
100
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
O efeito do crack no
cérebro é muito
rápido, pois a droga é
absorvida no pulmão
(a), vai diretamente
para o coração (b) e de
lá para o cérebro (c)
sem passar pelo fígado,
como acontece quando
a cocaína é aspirada ou
injetada.
Danos físicos
Intoxicação
Os efeitos do crack aparecem quase imediatamente depois de uma única dose.
Esses efeitos incluem aceleração do coração, aumento da pressão arterial, agitação psi-
comotora, dilatação das pupilas, aumento da temperatura do corpo, sudorese, tremor
101
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Abstinência
Como para outros aspectos, a abstinência de cocaína inalada é mais estudada
do que a do crack. No entanto, nada faz supor que haveria diferenças importantes nos
sintomas apresentados, mas, sim, na sua intensidade. A experiência clínica sugere que o
início dos sintomas de abstinência do crack seja mais rápido e os sintomas, mais intensos,
do que os da abstinência da cocaína inalada. Ou seja, os sintomas da abstinência do crack
seriam mais intensos e de surgimento mais rápido do que os da abstinência de cocaína.
102
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Vias aéreas
o pulmão é o principal órgão exposto aos produtos da queima do crack.
Os sintomas respiratórios agudos mais comuns são: tosse com produção de es-
carro enegrecido, dor no peito, com ou sem falta de ar, presença de sangue no escarro
e piora de asma. A tosse é o sintoma mais comum, estando presente em até 61% dos
casos, e a presença de sangue no escarro foi relatada em até 26% dos pacientes. O
escarro escuro é característico do uso de crack e é atribuído à inalação de resíduos de
carbono de materiais utilizados para acender o cachimbo com a droga. Atenção especial
deve ser dada ao tratamento de pacientes com tuberculose. Muitas vezes esses pacien-
tes convivem em ambientes fechados, dividem os instrumentos de consumo da droga e
apresentam baixa adesão ao tratamento, favorecendo, dessa forma, a disseminação do
bacilo da tuberculose.
Coração
O uso do crack promove vasoconstricção periférica e o aumento da frequência
cardíaca e da pressão arterial, podendo ocorrer isquemias e infartos agudos do músculo
cardíaco, mesmo com quantidades mínimas da droga. Há ainda risco de arritmias cardí-
acas e outros problemas no músculo cardíaco (AFONSO; MOHAMMAD; THATAI, 2007).
Sistema nervoso
O uso de crack pode resultar em uma variedade de manifestações neurológicas,
incluindo acidente vascular cerebral (derrames cerebrais), dor de cabeça, tonturas, infla-
mações dos vasos cerebrais, atrofia cerebral e convulsões.
103
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Trato digestivo
Os sintomas mais comuns são náusea, dor abdominal e perda de apetite.
SAIBA MAIS
104
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Outros
Várias situações já foram relacionadas ao uso de crack, como lesões no fígado,
rins, músculos, infecções oculares, lesões de córnea e queimaduras em mãos, boca,
nariz e rosto.
105
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Danos psíquicos
Alterações cognitivas
O crack afeta o cérebro de diversas maneiras. A ação vasoconstritora (contra-
ção dos vasos sanguíneos) diminui a oxigenação cerebral, alterando-o tanto estrutural
quanto funcionalmente. O uso dele pode prejudicar as habilidades cognitivas (inteli-
gência) envolvidas especialmente com a função executiva e com a atenção. Esse com-
prometimento altera a capacidade de solução de problemas, a flexibilidade mental e a
velocidade de processamento de informações.
Alguns efeitos são rapidamente revertidos pela abstinência, mas outros per-
sistem por semanas, mesmo depois de a droga não ser mais detectável no cérebro. A
reversibilidade desses efeitos com a abstinência prolongada ainda é incerta. As altera-
ções cognitivas devem ser levadas em conta no planejamento do tratamento desses
pacientes. O prejuízo cognitivo pode interferir na adesão ao tratamento proposto e na
elaboração de estratégia de enfrentamento de situações de risco.
Quadros psiquiátricos
As complicações psiquiátricas são o principal motivo de busca por atenção mé-
dica e podem decorrer tanto da intoxicação aguda quanto da abstinência. A prevalência
de transtornos mentais é maior entre usuários de crack, se comparados a usuários de
cocaína inalada.
106
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Consequências sociais
Em São Paulo, um estudo com profissionais do sexo que usavam crack mostrou
que a maioria dessas mulheres é jovem, mãe, com baixa escolaridade, vive com fami-
liares ou parceiros e é sustentada por ela mesma. A maioria trocava sexo por crack dia-
riamente (de um a cinco parceiros por dia), não escolhia nem o parceiro, nem o tipo de
sexo, nem exigia o uso da camisinha. Também em São Paulo, um estudo de seguimento
(follow-up) de cinco anos com 131 pacientes que estiveram internados mostrou que
18% morreram no período estudado. A taxa de mortalidade anual (2,5%) era 7 vezes
maior do que a da população geral da cidade. A maioria dos que morreram eram homens
de menos de trinta anos, solteiros e com baixa escolaridade. As causas externas foram
responsáveis por 69% dessas mortes, sendo 56,6% por homicídio, 8,7% por overdose
e 4,3% por afogamento. Entre as causas naturais (não externas), 26,1% foram por HIV/
AIDS e 4,3% por Hepatite B.
Abordagens terapêuticas
O tratamento da dependência do crack reside, em sua maior parte, em aborda-
gens psicoterápicas e psicossociais. Os resultados de pesquisas sobre o uso de medica-
ções no tratamento da dependência do crack são apresentados adiante, e tornam clara
a sua pouca eficácia, pelo menos até o momento. Além disso, a hospitalização, quando
107
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
necessária, não é suficiente no tratamento desses quadros. Deve ser feita uma avaliação
abrangente, considerando a motivação do paciente para o tratamento, seu padrão de
uso da droga, comprometimentos funcionais, problemas clínicos e psiquiátricos associa-
dos. Informações de familiares e amigos podem ser acrescentadas. Condições médicas
e psiquiátricas associadas devem ser tratadas de maneira específica.
Farmacoterapia
Apesar de grande quantidade de estudos científicos ter pesquisado os trata-
mentos farmacológicos para a dependência de cocaína, incluindo estudos recentes es-
pecíficos para a dependência de crack, até o momento não existe qualquer medicação
aprovada especificamente para o tratamento da dependência de cocaína, seja em pó ou
sob a forma de crack.
Abordagem psicossocial
A revisão dos estudos científicos realizada pela Agência Nacional para Trata-
mento do Uso Prejudicial de Substâncias da Grã-Bretanha, em 2002, já enfatizava que
há evidências de tratamentos eficientes para dependência do crack. De fato, os autores
afirmam que tratar dependência de crack não é nem difícil nem necessariamente implica
em habilidades totalmente novas.
108
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Por esse motivo, é importante saber que usuários de crack mais frequente-
mente procuram tratamento em serviços informais, dirigidos para as suas necessidades,
que contam com pessoas que conhecem os problemas com o crack e as demandas dos
usuários, que podem, inclusive, ser promovidos por ex-usuários.
109
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Muitos usuários veem um lugar para onde ir como um primeiro passo na bus-
ca por tratamento. Por isso, locais que oferecem atendimentos para outros problemas
(como saúde mental, emergência e serviços sociais) são uma ótima fonte de informa-
ções sobre serviços para dependência de álcool e outras drogas. Segue um exemplo de
Abordagem Psicossocial:
110
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
111
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Crack e a desfiliação
Muitos usuários de drogas são expulsos de suas comunidades por regras esta-
belecidas pelo tráfico ou pela milícia. Dessa forma, a rua passa a se constituir
enquanto espaço para os “desfiliados”. Estes não contam mais com estruturas
sociais como família, comunidade, pátria. A desfiliação surge como uma ruptura
em relação às normas de reprodução social hegemônicas, que controlam a ins-
crição social. O trabalho sustentável e a sociabilidade sociofamiliar são os princi-
pais responsáveis pela integração e inserção. A ausência desses dois elementos
caracteriza a situação de desfiliação como “um modo particular de dissociação
do vínculo social”. A zona de integração seria aquela em que o sujeito dispõe de
garantias de um trabalho permanente e conta com suportes relacionais sólidos;
a zona de vulnerabilidade “associa precariedade do trabalho e fragilidade relacio-
nal”, e a zona de desfiliação “conjuga ausência de trabalho e isolamento social”.
ATENÇÃO
112
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Conclusão
Para concluirmos este capítulo sobre o crack dentro de uma perspectiva psicos-
social, é importante reforçar que a abordagem ao usuário deve considerar não somente
os sintomas e os efeitos da droga no seu corpo e psiquismo, mas também os fatores
sociais e culturais presentes em seu contexto, que, em algumas situações, podem se
configurar como fatores de risco e, em outras, como fatores de proteção para o uso de
crack. O desafio dos profissionais da área de saúde se situa na capacidade de olhar o
usuário de forma integral, compreendendo o seu contexto social e identificando as situ-
ações de vulnerabilidade às quais está exposto, para que, assim, seja possível otimizar
as potencialidades e minimizar os riscos.
113
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Bibliografia
CARLINI, E. A.; GALDURÓZ, J. C. F. (Coord.). II Levantamento Domiciliar sobre o Uso
de Drogas Psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país
– 2005. Brasília: SENAD; São Paulo: CEBRID/UNIFESP, 2007.
ANDRADE, T.; BASTOS, F.; LEAL, E.; BERTONI, N.; VILLAR, L. M. et al. Key drug use,
health and socio-economic characteristics of young crack users in two Brazilian
cities. International Journal of Drug Policy. Source, v. 24, issue 5, p. 432-438, 2013.
CRUZ, M. S. O crack e sua espiral compulsiva. O Estado de São Paulo. 12 julho 2009,
Seção Aliás: J5.
ACKERMAN, J. P.; RIGGINS, T.; BLACK, M. M. A review of the effects of prenatal cocai-
ne exposure among school-aged children. Pediatrics, 2010;125(3):554-65.
AFONSO, L.; MOHAMMAD, T.; THATAI, D. Crack whips the heart: a review of the cardio-
vascular toxicity of cocaine. Am. J. Cardiol., 2007;100(6):1040-3.
AMATO, L.; MINOZZI, S.; PANI, P. P.; DAVOLI, M. Antipsychotic medications for cocai-
ne dependence. Cochrane Database Syst Rev. 18 Jul. 2007;(3):CD006306.
BASTOS, F. I.; BERTONI, N. Pesquisa Nacional sobre o uso de crack: quem são os
usuários de crack e/ou similares no Brasil? Quantos são nas capitais brasileiras? Rio de
Janeiro: Editora ICICT/FIOCRUZ, 2014.
BAUM, M. K.; RAFIE, C.; LAI, S.; SALES, S.; PAGE, B.; CAMPA, A. Crack-cocaine use ac-
celerates HIV disease progression in a cohort of HIV-positive drug users. J Acquir
Immune Defic Syndr., 1 Jan. 2009;50(1):93-9.
114
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
CASTELLS, X.; CASAS, M.; PÉREZ-MAÑÁ, C.; RONCERO, C.; VIDAL, X.; CAPELLÀ, D. Ef-
ficacy of psychostimulant drugs for cocaine dependence. Cochrane Database Syst
Rev., 17 Feb. 2010;2:CD007380.
CRUZ, M. S. Cocaína. In: EGYPTO, A. C.; ALBERTANI, H.; COSTA, I.; CAVASIN, S.; SIMO-
NETTI, V. (Org.). Tá na roda: uma conversa sobre drogas. São Paulo: J. Sholna, 2003. p.
159-71.
DACKIS, C. A.; O’BRIEN, C. P. Cocaine dependence: a disease of the brain’s reward cen-
ters. J Subst Abuse Treat., 2001;21(3):111-7.
DUAILIBI, L. B.; RIBEIRO, M.; LARANJEIRA, R. Profile of cocaine and crack users in
Brazil. Cad Saúde Pública, 2008;24(Suppl 4):S545-57.
FALCK, R. S.; WANG, J.; SIEGAL, H. A.; CARLSON, R. G. The prevalence of psychiatric
disorder among a community sample of crack cocaine users: an exploratory study
with practical implications. J Nerv Ment Dis., 2004;192(7):503-7.
FOX, H. C.; AXELROD, S. R.; PALIWAL, P.; SLEEPER, J.; SINHA, R. Difficulties in emotion
regulation and impulse control during cocaine abstinence. Drug Alcohol Depend.,
2007;89(2- 3):298-301.
115
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
GOLDER, S.; LOGAN, T. K. Correlates and predictors of women’s sex trading over time
among a sample of out-of-treatment drugs abusers. AIDS Behav., 2007;11(4):628-40.
HOFF, A. L.; RIORDAN, H.; MORRIS, L.; CESTARO, V.; WIENEKE, M.; ALPERT, R. et al.
Effects of crack cocaine on neurocognitive function. Psychiatry Res., 1996;60(2-
3):167-76.
MINOZZI, S.; AMATO, L.; DAVOLI, M.; FARRELL, M.; LIMA REISSER, A. A.; PANI, P. P. et
al. Anticonvulsants for cocaine dependence. Cochrane Database Syst Rev., 16 Apr
2008;(2):CD006754.
NAPPO, S. A.; SANCHEZ, Z. V. D. M.; OLIVEIRA, L. G.; SANTOS, A. S.; CORADETE JR., J.;
PACCA, J. C. B. et al. Comportamento de risco de mulheres usuárias de crack em
relação a DST/AIDS. São Paulo: CEBRID/UNIFESP, 2004.
NAPPO, S. A.; GALDUROZ, J. C. F.; NOTO, A. R. O uso do “crack” em São Paulo: fenô-
meno emergente? Rev ABP-APAL, 1994; 2(16): 75-83.
116
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
NOTO, A. R.; GALDURÓZ, J. C. F.; NAPPO, S. A.; FONSECA, A. M.; CARLINI, C. M. A.;
MOURA, Y. G. Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas entre Crianças e Ado-
lescentes em Situação de Rua nas 27 Capitais Brasileiras – 2003. São Paulo: CEBRID/
UNIFESP, 2004. 246 p.
NTA – NATIONAL TREATMENT AGENCY FOR SUBSTANCE MISUSE. Research into prac-
tice 1b. Aug 2002.
NUIJTEN, M.; BLANKEN, P.; VAN DEN BRINK, W.; HENDRIKS, V. Cocaine Addiction Tre-
atments to improve Control and reduce Harm (CATCH): new pharmacological treat-
ment options for crack-cocaine dependence in the Netherlands. BMC Psychiatry, 19 Aug
2011;11:135.
NUNES, C. L.; ANDRADE, T.; GALVÃO-CASTRO, B.; BASTOS, F. I.; REINGOLD, A. Asses-
sing risk behaviors and prevalence of sexually transmitted and blood-borne infec-
tions among female crack cocaine users in Salvador - Bahia, Brazil. Braz J Infect Dis.,
2007;11(6):561-6.
PECHANSKY, F.; KESSLER, F. H.; DIEMEN, L.; BUMAGUIN, D. B.; SURRATT, H. L.; INCIARDI,
J. A. Brazilian female crack users show elevated serum aluminum levels. Rev. Bras.
Psiquiatr., 2007;(1):39-42.
SILVA DE LIMA, M.; FARRELL, M.; LIMA REISSER, A. A.; SOARES, B. Withdrawn: antidepres-
sants for cocaine dependence. Cochrane Database Syst Rev., 17 Feb 2010;(2):CD002950.
117
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
SOARES, B.; LIMA REISSER, A. A.; FARRELL, M.; SILVA DE LIMA, M. Withdrawn: do-
pamine agonists for cocaine dependence. Cochrane Database Syst Rev., 17 Feb
2010;(2):CD003352.
WILSON, T.; DEHOVITZ, J. A. STD’s, HIV, and crack cocaine: a review. AIDS Patient Care
STDS, 1997;11(2):62-6.
118
SOBRE OS
AUTORES
Marcelo Santos Cruz
Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas pela Universi-
dade do Estado do Rio de Janeiro (1980), mestrado em Psiquiatria, Psicanálise e
Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996) e doutorado em
Psiquiatria, Psicanálise e Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(2001). Atualmente é médico do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, onde coordena o Programa de Estudos e Assistência ao Uso
Indevido de Drogas. Foi por duas vezes vice-Presidente da Associação Brasileira
Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas - ABRAMD. Tem experiência na área de
Medicina, com ênfase em Álcool e Drogas, atuando principalmente nos seguintes
temas: álcool, drogas, dependência e tratamento.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3536956625860134
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5663605043464277
Marise de Leão Ramôa
Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (1988), mestrado em Psicologia (Psicologia Clínica) pela Pontifícia Univer-
sidade Católica do Rio de Janeiro (1999) e doutorado em Psicologia (Psicologia
Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2005). Professora/
pesquisadora do Laborat/EPSJV/Fiocruz Professora da graduação em Psicologia
da Universidade Santa Úrsula (USU). Tem experiência na área de Educação pro-
fissional em Saúde Mental, álcool e outras drogas, em Psicologia, com ênfase em
Psicologia Clínica, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise, saúde
mental, toxicomania, infância e juventude.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1155028964220506
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1146514655934224
Capítulo 6
Drogas perturbadoras
(maconha, LSD-25,
êxtase e outros):
efeitos agudos e crônicos
Roseli Boerngen de Lacerda
Ana Regina Noto
Tópicos
Drogas perturbadoras 124
Anticolinérgicos 130
Canabinoides – maconha 132
Bibliografia 137
Sobre os autores 138
oBJETIVOS
99 Conhecer quais são as drogas perturbadoras do SNC
(Sistema Nervoso Central) e caracterizá-las;
Drogas perturbadoras
São denominadas perturbadoras ou alucinógenas as plantas e as substâncias
que, quando consumidas, produzem uma série de distorções qualitativas no funciona-
mento do cérebro, como delírios, alucinações e alteração na capacidade de discriminar
medidas de tempo e espaço. Esse conjunto de efeitos caracteriza um estado que os
usuários conhecem como “viagem”. Essas drogas também podem ser chamadas de psi-
coticomiméticas, psicodislépticas ou psicodélicas.
124
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
125
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Sinestesia (fusão dos sentidos, ex.: “ver um som”, “ouvir uma cor”);
SAIBA MAIS
Anos após uma pessoa ter usado LSD, ela ainda pode sentir uma
reação conhecida como flashback (retorno de sensações experimentadas
anteriormente, porém sem ter usado a droga). Atualmente, o flashback
está englobado dentro de um quadro denominado “distúrbio de percepção
persistente”.
Náuseas e vômitos.
VOCÊ SABIA?
126
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
SAIBA MAIS
127
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
SAIBA MAIS
FEAs – Feniletilaminas
(mescalina e êxtase)
Assim, a sua pureza varia muito, podendo incluir cafeína, metanfetamina, efe-
drina, ketamina ou outros contaminantes. Além disso, frequentemente é associado ao
consumo de álcool ou maconha. A associação de outras substâncias à MDMA aumenta
muito o risco de problemas mais graves.
128
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Redução do apetite.
129
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
O êxtase foi inicialmente considerado uma droga com poucos efeitos adversos.
Porém, com a popularidade do uso, foram surgindo relatos de confusão mental, ansie-
dade, pânico, despersonalização e flashbacks. Esses efeitos podem surgir durante ou
mesmo dias após o uso. Não é possível saber se é efeito do próprio êxtase ou dos con-
taminantes que são frequentemente misturados nos comprimidos. Esses efeitos podem
persistir e, nesses casos, é importante que a pessoa procure ajuda (psicoterapia ou uso
de medicação para aliviar os sintomas).
Anticolinérgicos
Os agentes anticolinérgicos, muitos dos quais são usados como medicamentos,
apresentam efeitos alucinógenos apenas em doses muito elevadas (em doses tóxicas).
Entre os naturais, o chá de lírio (ou trombeteira, saia branca, Datura stramonium) é o
mais consumido no Brasil. É conhecido em Curitiba, como chá de buti. Também o Atro-
veran®, disponível para compra em farmácias, contém uma substância natural, a atro-
pina, presente na planta Atropa beladona, que, em quantidades superiores às usadas
terapeuticamente, produz também alucinações.
130
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
boca seca
taquicardia,
lentificação intestinal
retenção urinária.
perda da memória.
131
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Anestésicos dissociativos
(fenciclidina e ketamina)
Os principais representantes desse grupo são a fenciclidina e a ketamina.
A fenciclidina (PCP ou “pó de anjo”) foi muito usada nos Estados Unidos, mas
não existem evidências de uso significativo no Brasil. Por outro lado, a ketamina vem
sendo usada, principalmente a partir da década de 90, associada ao contexto da música
eletrônica, em diferentes países (inclusive no Brasil).
A maioria dos usuários de êxtase, por exemplo, relata ter também usado ke-
tamina. A forma de uso predominante parece ser a aspirada (como o uso da cocaína).
Canabinoides – maconha
O uso da maconha acompanha a história do homem. Existem referências sobre
o seu uso há mais de 12.000 anos. Dependendo da época, ela foi utilizada por seus
132
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
efeitos psicológicos, com os mais diversos fins medicinais, e suas fibras foram usadas na
confecção de cordas e roupas.
O efeito euforizante da planta foi descoberto na Índia (entre 2000 e 1400 a.C.),
onde era utilizada para estimular o apetite, curar doenças venéreas e induzir sono.
Com o passar do tempo, foi sendo feita uma seleção das espécies de plantas
com maiores teores de THC:
133
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Em 1990, foi descoberto um receptor para THC com alta densidade no córtex,
hipocampo, cerebelo e estriado, que estaria relacionado, respectivamente, a pensamen-
to fragmentado, amnésia, incoordenação motora e euforia.
134
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
No resto do corpo:
Olhos avermelhados, boca seca e taquicardia.
135
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
saiba mais
136
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Bibliografia
BATTISTI, M. C.; NOTO, A. R.; NAPPO, S. A.; CARLINI, E. A. A profile of ecstasy (MDMA)
use in São Paulo, Brazil: an ethnographic study. J Psychoactive Drugs, 2006;38(1):13-8.
CARLINI, E. A.; NOTO, A. R.; FONSECA, A. M.; CARLINI, C. M.; OLIVEIRA, L. G. II Levanta-
mento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo
as 108 maiores cidades do país – 2005. São Paulo: Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas – CEBRID/SENAD, 2007. 468 p.
COMIS, M. A.; NOTO, A. R. Reasons for not using ecstasy: a qualitative study of non
-users, ex-light users and ex-moderate users. BMC Public Health, 14 May 2012;12:353.
137
SOBRE OS
AUTORES
Roseli Boerngen de Lacerda
Professora Titular aposentada do Departamento de Farmacologia e do Programa
de Mestrado e Doutorado em Farmacologia da Universidade Federal do Paraná
(UFPR); Graduada em Biomedicina pela Escola Paulista de Medicina – Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP), 1977; Mestre em Farmacologia pela Escola Pau-
lista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 1979; Doutora
em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 1997; Pesqui-
sadora na Área de Neurociências em temas de drogas de abuso.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5066223821540178
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1146514655934224
Capítulo 7
Problemas sociais 147
Bibliografia 157
Sobre os autores 159
oBJETIVOS
99 Identificar quais são os problemas relacionados ao uso
abusivo de substâncias;
Problemas associados ao
uso de substâncias
Como visto no Módulo anterior, grande parte da população brasileira faz uso de
álcool, tabaco ou de outras drogas. O uso dessas substâncias, muitas vezes, é associado
a atividades culturais, informais e prazerosas e pode ocorrer sem causar danos, como
é o caso de festas e confraternizações, nas quais a pessoa usa de modo controlado e
limitado. No entanto, o uso frequente ou mesmo a utilização em quantidade excessiva,
em uma única situação, pode provocar problemas graves, tanto para a pessoa que usa
como para as demais. Esses problemas, que podem ser sociais ou relacionados à saúde
física ou mental, são o tema deste capítulo.
Os danos podem ser provocados pelos efeitos psicoativos das drogas no funcio-
namento mental (como é o caso de um acidente em que a vítima ou o agressor perde a
capacidade de avaliação dos riscos pelo uso do álcool); pela dependência (um indivíduo
pode deixar progressivamente de realizar atividades e até de cumprir com suas respon-
sabilidades, porque só consegue agir sob efeito da substância de que é dependente) ou
pelos efeitos tóxicos da droga no corpo (como é o caso do câncer de pulmão, relaciona-
do ao uso do tabaco).
142
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Formas e
padrão de Quantidade de
uso de álcool substâncias
e outras utilizadas
drogas
Efeitos
Efeitos
tóxicos e Dependência
psicoativos
outros efeitos
(intoxicação)
bioquímicos
De acordo com o Relatório sobre Álcool e Saúde nas Américas, coordenado pela
Organização Pan-Americana de Saúde (PAHO, 2015), em 2012, o álcool foi associado a
mais de 300 mil mortes, sendo a cirrose a principal causa. No Brasil, em 2010, cerca de
143
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
70 homens a cada 100 mil habitantes morreram por condições agravadas pelo álcool.
Entre adolescentes, o álcool foi apontado como o maior fator de risco à saúde, superan-
do de longe os riscos relacionados a qualquer outra droga. No mesmo ano, 14 mil mor-
tes de crianças e adolescentes nas Américas foram atribuídas ao álcool (PAHO, 2015).
144
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
doenças e traumatismos. Com base num padrão de medida conhecido como anos de vida
perdidos ajustados por incapacidade (DALY), avaliou-se a carga imposta à sociedade por
mortes prematuras e anos vividos com incapacidades.
O projeto sobre a carga global das doenças mostrou que o tabaco e o álcool
eram causas importantes de mortalidade e incapacidade em países desenvolvidos, com
o aumento previsto do impacto do tabaco em outras partes do mundo.
De acordo com os dados da Tabela, fica evidente que a carga das doenças
devidas ao consumo de substâncias psicoativas consideradas em seu conjunto é impor-
tante: 8,9%, em termos de DALYs. Contudo, os resultados da carga global das doenças
realçam o fato de que a maior parte dos problemas de saúde no mundo é devida mais
a substâncias lícitas do que ilícitas. Entre os dez principais fatores de risco, em termos
da carga das doenças evitáveis, o tabaco era o quarto e o álcool o quinto, em 2000, e
continuam no topo da lista de 2010 e nas previsões para 2020. Os danos atribuídos ao
tabaco e ao álcool são especialmente graves entre homens, nos países desenvolvidos
(principalmente na Europa e na América do Norte).
DALYs
Tabaco 3,4 0,6 6,2 1,3 17,1 6,2 4,1
Álcool 2,6 0,5 9,8 2,0 14,0 3,3 4,0
Drogas ilícitas 0,8 0,2 1,2 0,3 2,3 1,2 0,8
Fonte: Organização Mundial da Saúde, 2004.
145
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Adaptado por de “Danos causados por drogas no Reino Unido: Análise multicriterial de decisão por David Nutt, Leslie
King and Lawrence Phillips do Independet Scientific Committee on Drugs.“
146
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
SAIBA MAIS
De acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas recentemente publicado
(2018) pela Organização Mundial de Saúde, cerca de 275 milhões de
pessoas em todo o mundo (cerca de 5,6% da população mundial) entre
15 e 64 anos, usaram drogas pelo menos uma vez em 2016. Cerca de
31 milhões de pessoas que usam drogas sofrem de transtornos por uso de
drogas. prejudiciais ao ponto em que possam necessitar de tratamento. As
estimativas iniciais sugerem que, globalmente, 13,8 milhões de jovens entre
15 e 16 anos usaram cannabis no ano anterior à pesquisa, o equivalente
a 5,6%. Cerca de 450.000 pessoas morreram como resultado do uso de
drogas em 2015. Destas mortes, 167.750 estavam diretamente associadas
a transtornos decorrentes do uso de drogas (principalmente overdoses).
As demais foram indiretamente atribuíveis ao uso de drogas e incluíram
mortes relacionadas ao HIV e à hepatite C adquiridas por meio de práticas
injetáveis inseguras. Leia o relatório completo em: https://www.unodc.org/
wdr2018/prelaunch/WDR18_Booklet_1_EXSUM.pdf
Problemas sociais
No mundo todo, nas últimas décadas, ficaram evidentes os problemas sociais
associados ao consumo de álcool e outras drogas. É possível pensar em fatores que
influenciam o consumo de drogas, tais como desemprego, más condições de saúde e
educação, falta de opções de lazer etc., que podem contribuir para o consumo de álcool
e outras drogas. Além disso, o consumo de drogas pode agravar os problemas sociais de
um indivíduo, da família, da comunidade e do país.
No Brasil, da mesma forma que em outros países, nas últimas décadas tem
ocorrido aumento da criminalidade, da violência, da superlotação das prisões, com re-
beliões nas cadeias. Jovens e seus familiares podem se ver envolvidos por uma mistura
de ausência de emprego estável com remuneração justa, falta de opções de lazer, difi-
culdades escolares, dificuldades nos relacionamentos da família, convivência constante
com atividades criminosas, violência e carência de políticas de assistência pública.
147
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
148
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Violência
No caso da violência, o consumo de álcool pode ser observado tanto en-
tre os agressores quanto entre as vítimas. Em processos de homicídio ocorridos
entre 1995 e 1998, em Curitiba, 53,6% das vítimas e 58,9% dos autores dos
crimes estavam sob efeito do álcool no momento do ocorrido (DUARTE, CARLINI-
COTRIM, 2000). Em um levantamento nacional, envolvendo 7.939 domicílios, em
33,5% dos casos foi relatado histórico de violência domiciliar, sendo 17,1% com
agressores alcoolizados (Fonseca et al, 2009).
Problemas disciplinares;
Baixa produtividade;
149
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Repercussões médicas do
uso abusivo de álcool e
outras drogas
Muitos pacientes usuários de drogas e principalmente dependentes de álcool ou
tabaco procuram, primeiramente, as Unidades Básicas de Saúde em busca de ajuda para
tratar de problemas clínicos (médicos) que vêm apresentando. Uma boa parte desses
pacientes não menciona o uso abusivo de substâncias, caso não seja questionado pelo
profissional de saúde, e alguns chegam até a negar tal uso.
Fígado
O fígado é um órgão comumente atingido pelo uso pesado de álcool. Há vários
níveis de prejuízo e geralmente os sintomas podem demorar muito a aparecer, mesmo
quando já há dano grave.
150
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Pancreatite
O álcool também pode induzir pancreatite (inflamação do pâncreas) aguda ou crô-
nica, que causa dor, vômito, constipação intestinal, o que requer em alguns casos a hospi-
talização do paciente para tratamento. A pancreatite crônica pode ainda levar à falência da
produção de importantes substâncias, como a insulina, provocando diabetes mellitus.
ATENÇÃO
Por isso, é muito importante orientar pacientes diabéticos para que evitem
o consumo de álcool.
Síndrome Disabsortiva
A síndrome disabsortiva pode ocorrer por efeito deletério do álcool sobre a
mucosa intestinal, somada à baixa produção de enzimas digestivas, produzindo diarreia
crônica e causando no paciente a deficiência de uma série de nutrientes (folato, vita-
minas, dentre outros). Vale ressaltar que esse quadro também é agravado devido à má
alimentação e consequente ingestão insuficiente de nutrientes.
Sistema Cardiovascular
O uso abusivo de álcool parece aumentar significativamente as chances de o
indivíduo apresentar hipertensão arterial, além de ter ação tóxica direta sobre o músculo
cardíaco, levando à miocardiopatia alcoólica, que ocasiona sintomas de cansaço aos mí-
nimos esforços, falta de ar e sinais de edema (inchaço nas pernas). Cerca de um quinto
151
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
dos pacientes com arritmia atrial (alterações do ritmo cardíaco) apresentam diagnóstico
de uso abusivo crônico de álcool.
Sistema Nervoso
O álcool é capaz de causar diversos problemas neurológicos, tanto no nível cen-
tral (Sistema Nervoso Central) quanto no nível periférico (Sistema Nervoso Periférico).
Dentre as doenças do SNC relacionadas ao alcoolismo, a síndrome de Wernicke-Korsakoff
é uma das mais relevantes, caracterizada pela encefalopatia de Wernicke, com sinais de
falta de coordenação motora, alterações dos movimentos dos olhos e confusão mental.
Geralmente, após a síndrome de Wernicke-Korsakoff, segue-se a amnésia de Korsakoff,
caracterizada por perda de memória recente (dificuldade de fixar fatos novos).
152
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Sistema Endócrino
Mulheres e homens que fazem uso abusivo crônico de álcool exibem alterações
hormonais que podem levar, nos homens, à atrofia (diminuição) dos testículos, desen-
volvimento de mamas e impotência; e nas mulheres diminuição da fertilidade e meno-
pausa precoce.
Tabaco
O tabagismo é a terceira maior causa de morte evitável no mundo. Segundo a
OMS, 4,9 milhões de pessoas morrem a cada ano por doenças causadas diretamente
pelos componentes do cigarro. O tabagismo tem consequências graves para a saúde dos
fumantes e também das pessoas diretamente expostas à fumaça (fumantes passivos).
Câncer
Cerca de 85% dos cânceres de pulmão são causados pelo tabagismo. O uso
crônico do tabaco também pode levar ao desenvolvimento de câncer na cavidade oral,
laringe, faringe, esôfago e estômago. Cânceres no pâncreas, rins e bexiga também são
comuns entre tabagistas.
153
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Sistema Respiratório
O tabagismo pode causar desde uma tosse crônica (pigarro), até doenças crô-
nicas e graves do pulmão, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e o en-
fisema pulmonar que, em estágio avançado, levam o paciente a depender de aparelhos
para respirar, a hospitalizações prolongadas ou mesmo à morte.
Na gravidez
As mulheres que fumam durante a gravidez têm 70% mais chances de sofrerem
aborto espontâneo, 40% a mais de risco de parto prematuro e nascimento de bebês de
baixo peso. Os filhos de fumantes também estão mais sujeitos a desenvolver infecções
respiratórias e ao agravamento dos quadros alérgicos, apenas pela exposição constante
à fumaça do cigarro.
IMPORTANTE
O cérebro também pode ser atingido por problemas de origem vascular, que
causam ataques isquêmicos transitórios e acidentes vasculares cerebrais, podendo dei-
154
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
xar sequelas motoras e cognitivas (memória). O efeito tóxico direto e continuado da co-
caína sobre o cérebro pode aumentar as chances de o indivíduo apresentar convulsões
e múltiplos infartos silenciosos, que levam a prejuízos da memória em longo prazo.
Com o uso crônico por aspiração pelo nariz, a mucosa nasal passa a apresentar
lesões ulcerosas e sangrantes e torna-se importante porta de entrada de micro-orga-
nismos, como o vírus da hepatite C, que pode ser contraído e disseminado pelo com-
partilhamento do canudo utilizado para aspirar o pó. Pode ocorrer também necrose do
septo nasal.
O uso da cocaína injetável (bem como de outras drogas por essa via) expõe o
indivíduo a inúmeras doenças infecciosas como a AIDS, endocardite infecciosa,
hepatites B e C, entre outras, ocasionadas pela introdução direta dos micro-or-
ganismos no corpo por agulhas contaminadas.
155
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
156
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Bibliografia
BABOR, T. F.; CAETANO, R.; CASSWELL, S.; EDWARDS, G.; GIESBRECHT, N.; GRAHAM, K.
et al. Alcohol: no ordinary commodity. Research and public policy. New York: Oxford
University Press, 2003.
BANCO MUNDIAL (THE WORLD BANK). Development in practice: curbing the epidemic:
governments and the economics of tobacco control. Washington: The World Bank, 1999.
GEBARA, C. F. P., FERRI, C. P.; BHONA, F. M. C.; VIEIRA, M. T.; MOURA, L. L.; NOTO, A.
R. Psychosocial factors associated with mother-child violence: a household survey.
Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 2017, 52: 77 – 86.
NUTT, D. J.; KING, L. A.; PHILLIPS, L. D. Drug harms in the UK: a multicriteria decision
analysis. The Lancet, 2010, 376: 1558–1565.
157
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento
Pan American Health Organization (PAHO). Regional Status Report on Alcohol and
Health in the Americas. Washington, DC : PAHO, 2015. Disponível em: https://www.
paho.org/hq/dmdocuments/2015/Alcohol-Report-Health-Americas-2015.pdf Acesso
em: 25 setembro 2018.
POMEROY, C.; MITCHELL, J. E.; ROERIG, J.; CROW, S. Medical complications of psy-
chiatric illness. Washington: American Psychiatric Publishing, 2002.
_____. Report on the global tobacco epidemic, 2008. Disponível em: <http://www.
who.int/tobacco/mpower/2008/en/>. Acesso em: 30 novembro 2011.
158
SOBRE OS
AUTORES
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3536956625860134
Marisa Flávia Felicíssimo
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1999),
residência médica em Psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(IPUB) e especialização para atendimento psicossocial a usuários de álcool e dro-
gas (IPUB/Ministério da Saúde). Atualmente realizando afiliação profissional no Ad-
diction Behavior Research Center, University of Washington como parte do 2007-
2008 NIDA Hubert Humphrey Drug Abuse Research Fellowship Program realizado
na Virginia Commonwealth University, USA. É psiquiatra concursada da Secretaria
Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, trabalhou nos últimos 4 anos no Nucleo
de Atenção ao Alcoolismo e Drogadicção, realizando acompanhamento especiali-
zado, coordenação de equipe multidiciplinar e capacitação de agentes de saúde.
Participação em pesquisas na área de álcool e drogas realizadas no PROJAD/IPUB/
UFRJ e em ensaios clínicos de psicofarmacologia no Centro de Pesquisa Sandra
Ruschel do Hospital Mário Kröeff, RJ.Temas de interesse: Álcool, Drogas, redução
de danos, políticas públicas, capacitação profissional e avaliação de serviços
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0862194547756192
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1146514655934224