Capitulo 9 - Transformacoes Canonicas - TC

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Capítulo 9 – Transformações Canônicas

As Equações de Hamilton e as respectivas Equações de Lagrange têm


o mesmo grau de dificuldade de solução matemática das equações
diferenciais correspondentes.
Entretanto, podemos pensar em uma transformação matemática no
espaço de fase {𝑞𝑘 , 𝑝𝑘 } para novas coordenadas generalizadas e momentos
conjugados {𝑄𝑘 , 𝑃𝑘 }. As transformações matemáticas de interesse Físico
serão aquelas que preservem as E.H. e explorem a existência de variáveis
cíclicas. Note que no capítulo anterior só fizemos transformações no espaço
das configurações 𝑞𝑘 → 𝑄𝑘 .
Uma transformação é chamada canônica se existem 2𝑛 funções
invertíveis *
𝑄𝑘 = 𝑄𝑘 (𝑞, 𝑝, 𝑡) 𝑒 𝑃𝑘 = 𝑃𝑘 (𝑞, 𝑝, 𝑡) 𝑘 = 1, … , 𝑛 (9.1)
e que seja possível encontrar uma função 𝐾(𝑄, 𝑃, 𝑡) tal que ela
satisfaça às E.H. , isto é,
𝜕𝐾 𝜕𝐾
𝑄̇𝑘 = 𝑒 𝑃𝑘̇ = − 𝑘 = 1, … , 𝑛 (9.2)
𝜕𝑃𝑘 𝜕𝑄𝑘
A função 𝐾(𝑄, 𝑃, 𝑡) é chamada Hamiltoniana Modificada ou ainda,
por brevidade, Kamiltoniana
Obviamente, tanto as variáveis originais como as canônicas precisam
obedecer ao Princípio de Hamilton Modificado
𝑡2 𝑡2

𝛿 ∫ [𝑝𝑘 𝑞̇ 𝑘 − 𝐻(𝑞, 𝑝, 𝑡)]𝑑𝑡 = 0 𝑒 𝛿 ∫ [𝑃𝑘 𝑄̇𝑘 − 𝐾(𝑄, 𝑃, 𝑡)]𝑑𝑡 = 0 (9.3)


𝑡1 𝑡1

Lembramos, que em 𝑡1 e 𝑡2 os extremos têm variação nula, isto é,


𝛿𝑞𝑘 (𝑡1 ) = 𝛿𝑞𝑘 (𝑡2 ) = 0 𝑒 𝛿𝑝𝑘 (𝑡1 ) = 𝛿𝑝𝑘 (𝑡2 ) = 0 (9.3𝑎)
𝛿𝑄𝑘 (𝑡1 ) = 𝛿𝑄𝑘 (𝑡2 ) = 0 𝑒 𝛿𝑃𝑘 (𝑡1 ) = 𝛿𝑃𝑘 (𝑡2 ) = 0 (9.3𝑏)
* Nas expressões acima utilizamos notação compacta, substuindo os 2
conjuntos de 2𝑛 variáveis por (𝑞, 𝑝) e (𝑄, 𝑃). Também passamos a usar a
notação de Einstein em que índices repetidos estão somados.
2

Obviamente, os integrandos em (9.3) não precisam ser iguais. A


solução mais geral possível é quando os integrandos diferem por uma
derivada total no tempo de uma função que mistura 2 variáveis (uma antiga
e uma nova) do conjunto (𝑞, 𝑄, 𝑝, 𝑃) e do tempo 𝑡 e uma escala 𝛽
𝑑𝐹(𝑞,𝑄,𝑝,𝑃,𝑡)
𝛽[𝑝𝑘 𝑞̇ 𝑘 − 𝐻(𝑞, 𝑝, 𝑡)] = [𝑃𝑘 𝑄̇𝑘 − 𝐾(𝑄, 𝑃, 𝑡)] + (9.4)
𝑑𝑡

A variação de (9.4), usando (9.3), conduz à variação da integral


𝑡 𝑑𝐹
𝛿 ∫𝑡 2 𝑑𝑡 = 𝛿𝐹[(𝑞, 𝑄, 𝑝, 𝑃), 𝑡2 ] − 𝛿𝐹[(𝑞, 𝑄, 𝑝, 𝑃), 𝑡1 ] = 0
1 𝑑𝑡

Que se anula para qualquer par de variáveis escolhidas (𝑞, 𝑄, 𝑝, 𝑃)


devido às equações (9.3 a e b).
Sobre a constante de escala 𝛽: suponha que definimos novas
coordenadas generalizadas e momentos conjugados por uma escala, a
saber
𝑞𝑘′ = 𝜌𝑞𝑘 𝑒 𝑝𝑘′ = 𝜎𝑞𝑘
Pelo Princípio de Hamilton Modificado
𝑡2 𝑡2

𝛿 ∫ [𝑝𝑘′ 𝑞̇ 𝑘′ − 𝐻′ (𝑞 ′ , 𝑝′ , 𝑡)]𝑑𝑡 = 𝛿 ∫ [𝜌𝜎( 𝑝𝑘 𝑞̇ 𝑘 ) − 𝐻′ (𝑞 ′ , 𝑝′ , 𝑡)]𝑑𝑡 = 0


𝑡1 𝑡1

Então, basta que


𝐻′ (𝑞 ′ , 𝑝′ , 𝑡) = 𝜌𝜎 𝐻(𝑞, 𝑝, 𝑡)
Ou seja, a escala de 𝑞 𝑒 𝑝 simplesmente escala 𝐻.
Em (9.5) se 𝛽 = 1 a transformação é chamada de transformação
canônica, se 𝛽 ≠ 1 ela é chamada de transformação canônica estendida.
Para facilitar, daqui para a frente assumiremos 𝛽 = 1. Podemos
reescrever (9.4) na forma diferencial
(𝑝𝑘 𝑑𝑞𝑘 − 𝑃𝑘 𝑑𝑄𝑘 ) + (𝐾 − 𝐻)𝑑𝑡 = 𝑑𝐹 (9.5)
Com 𝐹(𝑞, 𝑄, 𝑝, 𝑃, 𝑡)
Vamos escolher 𝐹 = 𝐹1 (𝑞, 𝑄, 𝑡) . Ela é conhecida como função
geradora.
De (9.5),
3

𝜕𝐹1
𝑝𝑘 = (9.6𝑎)
𝜕𝑞𝑘
𝜕𝐹1
𝑃𝑘 = − (9.6𝑏)
𝜕𝑄𝑘
𝜕𝐹1
𝐾(𝑄, 𝑃, 𝑡) = 𝐻(𝑞, 𝑝, 𝑡) + (9.6𝑐)
𝜕𝑡
Procedimentos:
1) Dada uma função geradora 𝐹1 :
a) Utilizamos (9.6 a) para obter os 𝑛 𝑄𝑘 ´𝑠 em termos de
(𝑞𝑗 , 𝑝𝑗 , 𝑡) conduzindo à 1ª. transformação canônica de
(9.1). Estamos supondo que essa inversão seja possível.
b) O resultado é substituído em (9.6 b) para obter os 𝑛 𝑃𝑘 ´𝑠
em termos de (𝑞𝑗 , 𝑝𝑗 , 𝑡) conduzindo à 2ª.
transformação canônica de (9.1).
c) Os resultados de a) e b) são usados para inverter (9.1),
isto é , obter os (𝑞, 𝑝) em funçao dos (𝑄, 𝑃)
d) Os resultados de c) são usados em (9.6.c) para a
obtenção da Kamiltoniana.
2) Dadas as transformações canônicas (9.1) :
a) Obtemos de (9.1) as variáveis (𝑝, 𝑃) em termos de
(𝑞, 𝑄, 𝑡).
b) As equações (9.6 a) e (9.6 b) são integradas para obter
𝐹1 (𝑞, 𝑄, 𝑡).
Muitas vezes pode acontecer que a função 𝐹1 (𝑞, 𝑄, 𝑡) não seja
a melhor. Por exemplo, uma das várias inversões descritas acima não
seja possível. Podemos pensar em funções geradoras que dependam
de variáveis diferentes.
Se quisermos em função de (𝑞, 𝑃, 𝑡), então, tomamos
𝐹 = 𝐹1 = 𝐹2 (𝑞, 𝑃, 𝑡) − 𝑃𝑘 𝑄𝑘 (9.7)
De (9.5)
𝜕𝐹2 𝜕𝐹2 𝜕𝐹2
𝑝𝑘 𝑑𝑞𝑘 − 𝑃𝑘 𝑑𝑄𝑘 + (𝐾 − 𝐻)𝑑𝑡 = 𝑑𝐹 = −𝑃𝑘 𝑑𝑄𝑘 − 𝑄𝑘 𝑑𝑃𝑘 + 𝑑𝑞𝑘 + 𝑑𝑃𝑘 + 𝑑𝑡
𝜕𝑞𝑘 𝜕𝑃𝑘 𝜕𝑡

Que resulta em
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𝜕𝐹2 𝜕𝐹2 𝜕𝐹2


𝑝𝑘 𝑑𝑞𝑘 + (𝐾 − 𝐻)𝑑𝑡 = −𝑄𝑘 𝑑𝑃𝑘 + 𝑑𝑞𝑘 + 𝑑𝑃𝑘 + 𝑑𝑡
𝜕𝑞𝑘 𝜕𝑃𝑘 𝜕𝑡
Ou seja,
𝜕𝐹2
𝑝𝑘 = (9.8𝑎)
𝜕𝑞𝑘
𝜕𝐹2
𝑄𝑘 = (9.8𝑏)
𝜕𝑃𝑘
𝜕𝐹2
𝐾=𝐻+ (9.8𝑐)
𝜕𝑡

Se quisermos em função de (𝑝, 𝑄, 𝑡), então, tomamos


𝐹 = 𝐹1 = 𝐹3 (𝑝, 𝑄, 𝑡) + 𝑝𝑘 𝑞𝑘 (9.9)
De (9.5)
𝜕𝐹3 𝜕𝐹3 𝜕𝐹3
𝑝𝑘 𝑑𝑞𝑘 − 𝑃𝑘 𝑑𝑄𝑘 + (𝐾 − 𝐻)𝑑𝑡 = 𝑑𝐹 = 𝑝𝑘 𝑑𝑞𝑘 + 𝑞𝑘 𝑑𝑝𝑘 + 𝑑𝑝𝑘 + 𝑑𝑄𝑘 + 𝑑𝑡
𝜕𝑝𝑘 𝜕𝑄𝑘 𝜕𝑡

Que resulta em
𝜕𝐹3 𝜕𝐹3 𝜕𝐹3
−𝑃𝑘 𝑑𝑄𝑘 + (𝐾 − 𝐻)𝑑𝑡 = 𝑞𝑘 𝑑𝑝𝑘 + 𝑑𝑝𝑘 + 𝑑𝑄𝑘 + 𝑑𝑡
𝜕𝑝𝑘 𝜕𝑄𝑘 𝜕𝑡
Ou seja,
𝜕𝐹3
𝑃𝑘 = − (9.10𝑎)
𝜕𝑄𝑘
𝜕𝐹3
𝑞𝑘 = − (9.10𝑏)
𝜕𝑝𝑘
𝜕𝐹3
𝐾=𝐻+ (9.10𝑐)
𝜕𝑡

Se quisermos em função de (𝑝, 𝑃, 𝑡), então, tomamos


𝐹 = 𝐹1 = 𝐹4 (𝑝, 𝑃, 𝑡) + 𝑝𝑘 𝑞𝑘 − 𝑃𝑘 𝑄𝑘 (9.11)
De (9.5)
5

𝑝𝑘 𝑑𝑞𝑘 − 𝑃𝑘 𝑑𝑄𝑘 + (𝐾 − 𝐻)𝑑𝑡 = 𝑑𝐹


𝜕𝐹4 𝜕𝐹4 𝜕𝐹4
= 𝑝𝑘 𝑑𝑞𝑘 + 𝑞𝑘 𝑑𝑝𝑘 − 𝑃𝑘 𝑑𝑄𝑘 + 𝑄𝑘 𝑑𝑃𝑘 + 𝑑𝑝𝑘 + 𝑑𝑃𝑘 + 𝑑𝑡
𝜕𝑝𝑘 𝜕𝑃𝑘 𝜕𝑡

Que resulta em
𝜕𝐹4 𝜕𝐹4 𝜕𝐹4
(𝐾 − 𝐻)𝑑𝑡 = 𝑞𝑘 𝑑𝑝𝑘 + 𝑄𝑘 𝑑𝑃𝑘 + 𝑑𝑝𝑘 + 𝑑𝑃𝑘 + 𝑑𝑡
𝜕𝑝𝑘 𝜕𝑃𝑘 𝜕𝑡
Ou seja,
𝜕𝐹4
𝑄𝑘 = − (9.12𝑎)
𝜕𝑃𝑘
𝜕𝐹4
𝑞𝑘 = − (9.12𝑏)
𝜕𝑝𝑘
𝜕𝐹4
𝐾=𝐻+ (9.12𝑐)
𝜕𝑡
As funções geradoras definidas acima são as principais na literatura. Mas
podemos ter situações mistas: 𝐹̅ (𝑞1 , 𝑃1 , 𝑄2 , 𝑝2 , 𝑡). Neste caso, vocês podem
verificar que devemos escolher 𝐹 = 𝐹1 = 𝐹̅ + 𝑞2 𝑝2 − 𝑄1 𝑃1
Exemplos:
1) Transformação identidade

Se escolhermos 𝐹2 = 𝑞𝑘 𝑃𝑘 , teremos
𝜕𝐹2 𝜕𝐹2
𝑝𝑖 = = 𝑃𝑖 ; 𝑄𝑖 = = 𝑞𝑖 ; 𝐾 = 𝐻
𝜕𝑞𝑖 𝜕𝑃𝑖

2) Transformação Pontual

Definimos uma transformação pontual se todos os 𝑓𝑘


𝑓𝑘 = 𝑓𝑘 (𝑞1 , … 𝑞𝑛 , ; 𝑡) 𝑘 = 1, … , 𝑛
São independentes e o sistema é inversível, isto é, podemos
reescrever q´s em função de f´s.
Se escolhermos uma transformaçã pontual geradora , isto é,
𝐹2 = 𝑓𝑘 (𝑞1 , … 𝑞𝑛 , ; 𝑡)𝑃𝑘
Então, de (9.8 b) temos
6

𝜕𝐹2
𝑄𝑖 = = 𝑓𝑖 (𝑞1 , … 𝑞𝑛 , ; 𝑡)
𝜕𝑃𝑖
Ou seja, toda transformação pontual é canônica e ela não mistura as
novas coordenadas generalizadas com os antigos momentos conjugados.
A Kamiltoniana é, em geral, diferente da Hamiltoniana e depende das
derivadas temporais dos f´s.

3) Considere a Hamiltoniana de um oscilador harmônico nas


coordenadas usuais

𝑝2 𝑘𝑞 2 1 𝑘
𝐻= + = (𝑝2 + 𝑚2 𝜔2 𝑞2 ), 𝜔2 =
2𝑚 2 2𝑚 𝑚
A forma quadrática sugere a utilização de senos e cossenos
𝑝 = 𝑓(𝑃) 𝑐𝑜𝑠𝑄 (9.13𝑎)
𝑓(𝑃)
𝑞= 𝑠𝑒𝑛𝑄 (9.13𝑏)
𝑚𝜔
Observe que, com essa escolha a variável 𝑄 é cíclica, pois
𝑓 2 (𝑃)
𝐻= (9.13𝑐)
2𝑚
Dividindo (9.13 a) por (9.13 b) temos
𝑝 = 𝑞𝑚𝜔 𝑐𝑜𝑡𝑄 (9.13𝑑)
A equação acima mostra que a variável 𝑝 em (9.13 d) está sendo
reescrita em função de (𝑞, 𝑄) → 𝐻(𝑞, 𝑝) → 𝐾(𝑞, 𝑄) → 𝐹1 (𝑞, 𝑄)
De (9.6 a,b e c)
𝜕𝐹1 (𝑞, 𝑄) 𝑚𝜔𝑞 2
𝑝= = 𝑞𝑚𝜔 𝑐𝑜𝑡𝑄 → 𝐹1 (𝑞, 𝑄) = 𝑐𝑜𝑡𝑄 + 𝜑(𝑄)
𝜕𝑞 2
A solução mais simples é escolher 𝜑(𝑄) = 0.
𝑚𝜔𝑞 2
𝐹1 (𝑞, 𝑄) = 𝑐𝑜𝑡𝑄 (9.13𝑒)
2
Daí teremos
7

𝜕𝐹1 (𝑞, 𝑄) 𝑚𝜔𝑞 2 𝑓 2 (𝑃)


𝑃=− = = (9.13𝑓)
𝜕𝑄 2𝑠𝑒𝑛2 𝑄 2𝑚𝜔
Onde na última igualdade usamos (9.13 b)
E
𝜕𝐹1 (𝑞, 𝑄) 𝑓 2 (𝑃)
𝐾=𝐻+ =𝐻= = 𝜔𝑃 (9.13𝑔)
𝜕𝑡 2𝑚
As E.H. são:
𝜕𝐾
𝑃̇ = − = 0 → 𝑃 = 𝑐𝑡𝑒
𝜕𝑄
𝐾 = 𝜔𝑃 = 𝐸 = 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 (9.13ℎ)
De (9.13 g)

𝑓(𝑃) = √2𝑚𝜔𝑃 = √2𝑚𝐸 (9.13𝑖)


𝜕𝐾
𝑄̇ = = 𝜔 → 𝑄 = 𝜔𝑡 + 𝛼 (9.13𝑗)
𝜕𝑃
De (9.13 b, i e j) temos

2𝐸
𝑞=√ 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 + 𝛼)
𝑚𝜔 2

Que é a nossa conhecida solução do oscilador harmônico. Claro,


resolver esse problema simples como feito aqui, via transformações
canônicas, é muito insensato.

Transformações Canônicas via Formalismo Simplético

Vamos supor uma transformação canônica reduzida, isto é, que não


depende do tempo.
𝑄𝑘 = 𝑄𝑘 (𝑞, 𝑝) (9.14𝑎)
𝑃𝑘 = 𝑃𝑘 (𝑞, 𝑝) (9.14𝑏)
8

Do Capítulo 8 temos
Definindo a matriz coluna 𝜼 com 2𝑛 linhas
𝜂𝑘 = 𝑞𝑘 , 𝜂𝑘+𝑛 = 𝑝𝑘 , 𝑘 = 1, … 𝑛 (9.15𝑎)
𝜕𝐻
E definindo outra matriz coluna com 2𝑛 linhas tal que
𝜕𝜼

𝜕𝐻 𝜕𝐻 𝜕𝐻 𝜕𝐻
= = −𝑝̇𝑘 , = = 𝑞̇ 𝑘 , 𝑘 = 1, … , 𝑛 (9.15𝑏)
𝜕𝜂𝑘 𝜕𝑞𝑘 𝜕𝜂𝑛+𝑘 𝜕𝑝𝑘
Seja 𝑱 uma matriz 2𝑛 𝑥 2𝑛 tal que
0 𝑰
𝑱=( ) (9.15𝑐)
−𝑰 0
Onde 0 é a matriz nula 𝑛 𝑥 𝑛 e 𝑰 é a matriz identidade 𝑛 𝑥 𝑛
(generalização de uma das matrizes de Pauli).
Então as equações podem ser escritas na forma simplética (palavra
que vem do grego e significa entrelaçado, foi cunhada por H.Weyl em 1939)
𝜕𝐻
𝜼̇ = 𝑱 (9.15𝑑)
𝜕𝜼
Vemos que 𝐻(𝑞, 𝑝) = 𝐻(𝜼).
Definindo um vetor coluna 𝝃 com 2𝑛 linhas
𝜉𝑘 = 𝑄𝑘 , 𝜉𝑘+𝑛 = 𝑃𝑘 , 𝑘 = 1, … 𝑛 (9.16𝑎)
Derivando em relação ao tempo (9.14 a e b)
𝜕𝜉𝑘
𝜉𝑘̇ = 𝜂̇ 𝑘, 𝑗 = 1, … 2𝑛
𝜕𝜂𝑗 𝑗
Ou definindo a matriz jacobiana transformação
𝜕𝜉𝑘
𝑀𝑘𝑗 = (9.16𝑏)
𝜕𝜂𝑗
Em notação matricial
𝝃̇ = 𝑴𝜼̇ (9.16𝑐)
De (9.15 d)
𝜕𝐻
𝝃̇ = 𝑴 𝑱 (9.17)
𝜕𝜼
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Se invertermos (9.14 a e b) teremos 𝐻(𝝃) e


𝜕𝐻 𝜕𝐻 𝜕𝜉𝑗 𝜕𝐻
= = 𝑀𝑗𝑘
𝜕𝜂𝑘 𝜕𝜉𝑗 𝜕𝜂𝑘 𝜕𝜉𝑗
Em notação matricial
𝜕𝐻 𝜕𝐻
= 𝑴𝑡 (9.18)
𝜕𝜼 𝜕𝝃
De (9.17 e 18)
𝜕𝐻
𝝃̇ = 𝑴 𝑱 𝑴𝑡 (9.19)
𝜕𝝃
Como (9.15 d) também vale para 𝝃
𝜕𝐻
𝝃̇ = 𝑱 (9.20)
𝜕𝝃
Ou seja
𝑴 𝑱 𝑴𝑡 = 𝑱 (9.21)
A equação acima é condição necessária e suficiente para que uma
transformação independente do tempo seja canônica.
A matriz 𝑴 é chamada de matriz simplética.
A equação (9.21) é chamada de condição simplética para que uma
transformação seja canônica.
Pode-se mostrar que mesmo quando a transformada canônica
depende do tempo, isto é, não é restrita, a condição simplética (9.21)
continua sendo necessária e suficiente para que a transformação seja
canônica.

Transformações Canônicas Infinitesimais (TCI)


Vamos supor que as novas variáveis 𝑄, 𝑃 difereciem apenas
infinitesimalmente das originais 𝑞, 𝑝.
𝑄𝑘 = 𝑞𝑘 + 𝑑𝑞𝑘 (9.22𝑎)
𝑃𝑘 = 𝑝𝑘 + 𝑑𝑝𝑘 (9.22𝑏)
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Em notação matricial
𝝃 = 𝜼 + 𝒅𝜼 (9.22𝑐)
Ou seja, a transformação está infinitesimalmente próxima da identidade e,
conforme nosso exemplo 1 (pag. 5) a função geradora será
𝐹2 = 𝑞𝑘 𝑃𝑘 + 𝜖𝐺(𝑞, 𝑃, 𝑡) (9.23)
Onde 𝜖 é um parâmetro infinitesimal e 𝐺 é uma função diferenciável
chamada de função geradora da transformação canônica infinitesimal. De
(9.8 a)
𝜕𝐹2 𝜕𝐺
𝑝𝑘 = = 𝑃𝑘 + 𝜖
𝜕𝑞𝑘 𝜕𝑞𝑘
Ou
𝜕𝐺
𝑑𝑝𝑘 ≡ 𝑃𝑘 − 𝑝𝑘 = −𝜖 (9.24𝑎)
𝜕𝑞𝑘
De (9.8 b)
𝜕𝐹2 𝜕𝐺
𝑄𝑘 = = 𝑞𝑘 + 𝜖
𝜕𝑃𝑘 𝜕𝑃𝑘
Ou
𝜕𝐺
𝑑𝑞𝑘 ≡ 𝑄𝑘 − 𝑞𝑘 = 𝜖 (9.24𝑏)
𝜕𝑃𝑘
As equações (9.24 a e b) podem ser combinadas em uma só
𝜕𝐺
𝑑𝜼 = 𝜖 𝑱 (9.24𝑐)
𝜕𝜼
Na secção anterior demonstramos que qualquer transformação canônica
num tempo fixo 𝑡0 satisfaz a condição simplética (9.21). Se agora, num
tempo infinitesimalmente próximo (𝑡0 + 𝑑𝑡), a condição simplética estiver
satisfeita, então para qualquer tempo finito 𝑡 a condição continuará
valendo já que podemos ver o intervalo finito (𝑡 − 𝑡0 ) como uma sucessão
infinita de TCI.
De (9.22 c) e (9.24 c), a matriz Jacobiana
𝜕𝝃 𝜕2𝐺
𝑴= = 𝑰 + 𝜖𝑱 (9.25)
𝜕𝜼 𝜕𝜼𝜕𝜼
11

Onde o 2º. Termo é uma matriz quadrada simétrica , 2𝑛 𝑥 2𝑛, cujos


elementos são
𝜕2𝐺 𝜕2𝐺
) =
𝜕𝜼𝜕𝜼 𝑘,𝑗 𝜕𝜂𝑘 𝜕𝜂𝑗

Tomando a transposta de (9.25) e lembrando que 𝑱 é antisimétrica, temos

𝒕
𝜕2𝐺
𝑴 = 𝑰 − 𝜖𝑱 (9.26)
𝜕𝜼𝜕𝜼
A condição simplética é

𝒕
𝜕2𝐺 𝜕2𝐺
𝑴𝑱𝑴 = (𝑰 + 𝜖𝑱 ) 𝑱 (𝑰 − 𝜖𝑱 )
𝜕𝜼𝜕𝜼 𝜕𝜼𝜕𝜼
Que até 1ª. ordem será

𝒕
𝜕2𝐺 𝜕2𝐺
𝑴𝑱𝑴 = 𝑱 + 𝜖𝑱 − 𝜖𝑱 =𝑱
𝜕𝜼𝜕𝜼 𝜕𝜼𝜕𝜼
Conclusão: Qualquer Transformação Canônica, dependente do tempo ou
não, satisfaz a Condição Simplética.
• Ao utilizarmos Transformações Canônicas, nós teremos a liberdade
de escolher o formalismo de Geradores ou o Simplético, aquele que,
no momento, levar a um tratamento mais simples.
• A Transformação Identidade é Canônica.
• Se uma Transformação é Canônica, a Transformação Inversa também
será Canônica.
• Duas Transformações Canônicas sucessivas (Operação Produto)
definem uma Transformação que também é Canônica.
• A Operação Produto é Associativa.

Das propriedades que descrevemos nos itens acima, concluimos que


as Transformações Canônicas formam um Grupo.
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Parênteses de Poisson
O Parênteses de Poisson de 2 funções 𝑢(𝑞, 𝑝) 𝑒 𝑣(𝑞, 𝑝) com relação às
variáveis canônicas 𝑞, 𝑝 é definido pela expressão (escalar) bilinear
𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑢 𝜕𝑣
[𝑢, 𝑣]𝑞,𝑝 = − (9.27)
𝜕𝑞𝑖 𝜕𝑝𝑖 𝜕𝑝𝑖 𝜕𝑞𝑖
Ou, no formato matricial
𝜕𝑢 𝑡 𝜕𝑣
[𝑢, 𝑣]𝜂 = ( ) 𝑱 (9.28)
𝜕𝜼 𝜕𝜼
Suponhamos que 𝑢 𝑒 𝑣 sejam umas 2𝑛 variáveis canônicas 𝑞, 𝑝 . Então,
teremos,
[𝑞𝑗 , 𝑞𝑘 ]𝑞,𝑝 = [𝑝𝑗 , 𝑝𝑘 ]𝑞,𝑝 = 0 (9.29𝑎)

[𝑞𝑗 , 𝑝𝑘 ]𝑞,𝑝 = −[𝑝𝑗 , 𝑞𝑘 ]𝑞,𝑝 = 𝛿𝑗,𝑘 (9.29𝑏)

As equações acima podem ser sumarizadas no formato matricial


[𝜼, 𝜼]𝜂 = 𝑱 (9.30)
Onde [𝜼, 𝜼] é uma matriz quadrada 2𝑛 𝑥 2𝑛, cujos elementos 𝑙𝑚 são
[𝜂𝑙 , 𝜂𝑚 ].
Na transformação canônica de 𝑞, 𝑝 para 𝑄, 𝑃 ou de 𝜼 para 𝝃 temos
𝜕𝜉𝑖 𝜕𝜉𝑖 𝜕𝜉𝑖 𝜕𝜂𝑗
𝑑𝜉𝑖 = 𝑑𝜂𝑗 → = = 𝑀𝑖𝑗 𝛿𝑗,𝑘 = 𝑀𝑖𝑘
𝜕𝜂𝑗 𝜕𝜂𝑘 𝜕𝜂𝑗 𝜕𝜂𝑘
Onde 𝑀 é a matriz Jacobiana 2𝑛 𝑥 2𝑛
𝜕𝝃
=𝑴 (9.31)
𝜕𝜼
Se usarmos em (9.28) um dos 2𝑛 𝜉 no lugar de 𝑢, 𝑣 teremos
𝜕𝝃 𝑡 𝜕𝝃
[𝝃, 𝝃]𝜂 = ( ) 𝑱
𝜕𝜼 𝜕𝜼
Ou
[𝝃, 𝝃]𝜂 = 𝑴𝑡 𝑱 𝑴

Da condição simplética segue que


13

[𝝃, 𝝃]𝜂 = 𝑱 (9.32)


Os Parênteses de Poisson de (9.30) e (9.32), envolvendo diretamente as
variáveis canônicas 𝑞, 𝑝 e sua transformação canônica 𝑄, 𝑃, são chamados
de Parênteses de Poisson fundamentais.
Conclusão: Os Parênteses de Poisson fundamentais são invariantes
frente uma transformação canônica !!
Em outras palavras, a invariância dos Parênteses de Poisson frente a
uma transformação canônicas é completamente equivalente à Condição
Simplética para uma transformação canônica.
Vamos agora mostrar que qualquer (todos) os Parênteses de Poisson
são invariantes frente à uma transformação canônica, não somente os
Parênteses de Poisson fundamentais.
Sejam 2 funções 𝑢 𝑒 𝑣 dependentes das variáveis canônicas 𝑞, 𝑝.
𝜕𝑣 𝜕𝑣
= 𝑴𝑡
𝜕𝜼 𝜕𝝃
Trocando 𝑣 por 𝑢 e transpondo
𝜕𝑢 𝑡 𝜕𝑢 𝑡
( ) =( ) 𝑴
𝜕𝜼 𝜕𝝃
De (9.28)
𝜕𝑢 𝑡 𝜕𝑣 𝜕𝑢 𝑡 𝜕𝑣
[𝑢, 𝑣]𝜂 = ( ) 𝑱 = ( ) 𝑴 𝑱𝑴𝑡
𝜕𝜼 𝜕𝜼 𝜕𝝃 𝜕𝝃
Da condição simplética
𝜕𝑢 𝑡 𝜕𝑣
[𝑢, 𝑣]𝜂 = ( ) 𝑱 = [𝑢, 𝑣]𝜉 (9.33)
𝜕𝝃 𝜕𝝃
Logo, todos os Parênteses de Poisson são invariantes por transformações
canônicas !!
Como os Parênteses de Poisson são os mesmos qualquer que seja a
transformação canônica, vamos suprimir os índices 𝜂 ou 𝜉 e escreveremos
simplesmente, [𝒖, 𝒗]
14

A idéia principal por trás das transformações canônicas é que as


Equações de Hamilton de movimento são invariantes por essas
transformações.
Similarmente, a invariância dos Parênteses de Poisson (PP, daqui por
diante) frente transformações canônicas. Então, toda equação que
possamos expressar que esteja escrita somente em função dos PP serão
também invariante por transformações canônicas (TC, daqui por diante).
Uma Mecânica Clássica expressa somente em termos de PP tem a transição
para a Mecânica Quântica facilitada pois os PP se transformam em
comutadores de operadores.
Por conseguinte, dado o papel importante dos PP, vamos analisar
algumas de suas propriedades algébricas.
1) [𝑢, 𝑢] = 0 (9.34𝑎)
2) [𝑢, 𝑣] = −[𝑣, 𝑢] 𝑎𝑛𝑡𝑖𝑠𝑖𝑚𝑒𝑡𝑟𝑖𝑎 (9.34𝑏)
3) [𝑎𝑢 + 𝑏𝑣, 𝑤] = 𝑎[𝑢, 𝑤] + 𝑏[𝑣, 𝑤] 𝑙𝑖𝑛𝑒𝑎𝑟𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (9.34𝑐)
𝑎 𝑒 𝑏 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠
4) [𝑢𝑣, 𝑤] = [𝑢, 𝑤]𝑣 + 𝑢[𝑣, 𝑤] (9.34𝑑)
5) [𝑢, [𝑣, 𝑤]] + [𝑣, [𝑤, 𝑢]] + [𝑤, [𝑢, 𝑣]] = 0 (9.34𝑒)
A expressão 5) é chamada de Identidade de Jacobi , cuja
demonstração está na lista de exercícios.
O PP [𝑢, 𝑣] pode ser visto como uma operação produto de 2 funções.
Enquanto na Aritmética o produto de 3 números é associativa:
(𝑎𝑏)𝑐 = 𝑎(𝑏𝑐), a Identidade de Jacobi mostra que no caso PP ela é não
associativa.
As propriedades (9.34 b, c, e) formam uma Álgebra não associativa
que é chamada Álgebra de Lie.
Nós já conhecemos algumas entidades matemáticas que também
satisfazem a Álgebra de Lie:

• O produto vetorial [𝐴⃗, 𝐵


⃗⃗] → 𝐴⃗ 𝑥 𝐵
⃗⃗
• O comutador de 2 matrizes [𝐴, 𝐵] → 𝐴𝐵 − 𝐵𝐴
É esta última entitade, o comutador de 2 matrizes, que permite fazer
a transição da Mecânica Clássica para a Mecânica Quântica através do
princípio da correspondência
15

𝑖
[𝑢, 𝑣] → (𝑢𝑣 − 𝑣𝑢)

À esquerda 𝑢, 𝑣 são funções clássicas, à direita 𝑢, 𝑣 são operadores
quânticos.
Outro invariante por TC é o chamado Parênteses de Lagrange que
hoje tem só um interesse basicamente histórico e o deixaremos como um
trabalho proposto.
Finalmente, temos também um invariante “geométrico” por TC que
é o Volume no espaço de fases.
Um volume infinitesimal no espaço de fase das coordenadas
canônicas (𝑞, 𝑝) vale
(𝑑𝜂) = 𝑑𝑞1 , 𝑑𝑞2 , … , 𝑑𝑞𝑛 𝑑𝑝1 , 𝑑𝑝2 , … , 𝑑𝑝𝑛
Um volume infinitesimal no espaço de fase das coordenadas
canônicas transformadas (𝑄, 𝑃) vale
(𝑑𝜉) = 𝑑𝑄1 , 𝑑𝑄, … , 𝑑𝑄𝑛 𝑑𝑃1 , 𝑑𝑃2 , … , 𝑑𝑃𝑛
Como sabemos, esses volumes se relacionam pelo módulo do
determinante da matriz Jacobiana
(𝑑𝜉) = |det 𝑀|(𝑑𝜂)
A matriz Jacobiana é ortogonal, logo
𝑀𝑡 = 𝑀 −1 → 𝑑𝑒𝑡(𝑀𝑀𝑡 ) = [det(𝑀)]2 = 𝑑𝑒𝑡(𝐼) = 1
Portanto,
|det 𝑀| = 1
E um volume de tamanho qualquer em uma região arbitrária do espaço de
fase

𝑉 = ∫ … ∫(𝑑𝜂) (9.35)

É um Invariante Canônico.
16

Mecânica Clássica no formalismo de Parênteses de Poisson


Suponha uma função dependente das variáveis canônicas do tempo,
isto é, 𝑢(𝑞, 𝑝, 𝑡). Tomando a derivada temporal total e usando as E.H.
𝑑𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝐻 𝜕𝑢 𝜕𝐻 𝜕𝑢
= 𝑞̇ 𝑖 + 𝑝̇𝑖 + = − +
𝑑𝑡 𝜕𝑞𝑖 𝜕𝑝𝑖 𝜕𝑡 𝜕𝑞𝑖 𝜕𝑝𝑖 𝜕𝑝𝑖 𝜕𝑞𝑖 𝜕𝑡
Logo,
𝑑𝑢 𝜕𝑢
= [𝑢, 𝐻] + (9.36)
𝑑𝑡 𝜕𝑡
Ou, na forma simplética
𝑑𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝐻 𝜕𝑢
= 𝜼̇ + = 𝑱 + (9.37)
𝑑𝑡 𝜕𝜼 𝜕𝑡 𝜕𝜼 𝜕𝜼 𝜕𝑡
A Expressão (9.36) é a equação de movimento generalizada para uma
função arbitrária de 𝑢 em termos de PP. As E.H são casos particulares.
Substituindo 𝑢 por 𝑞 𝑜𝑢 𝑝 em (9.36)
𝑞̇ 𝑖 = [𝑞𝑖 , 𝐻] 𝑒 𝑝̇𝑖 = [𝑝𝑖 , 𝐻] (9.38𝑎)
Ou, na forma simplética
𝜼̇ = [𝜼, 𝐻] (9.38𝑏)
As equações (9.38 a ou b) são as E.H. utilizando PP. Se fizermos, em
(9.36), 𝑢 = 𝐻, teremos
𝑑𝐻 𝜕𝐻
=
𝑑𝑡 𝜕𝑡
• Se 𝑢 é 𝑢𝑚𝑎 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑜𝑣𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 então
𝜕𝑢
[𝐻, 𝑢] = (9.39)
𝜕𝑡
• Se, além disso, 𝑢 não depende explicitamente de 𝑡, então o PP
se anula
[𝐻, 𝑢] = 0 (9.40)
• Se 𝑢 𝑒 𝑣 são constantes de movimento então podemos
construir uma 3ª. constante de movimento a partir da
identidade de Jacobi (9.34 e). Basta fazer 𝑤 = 𝐻 o que resulta
em
17

[𝐻, [𝑢, 𝑣]] = 0 (9.41)


O que significa que [𝑢, 𝑣] é uma constante de movimento !!
Se encontrarmos uma TC que faça com que as cooordenadas
generalizadas e os momentos conjugados sejam, simultâneamente,
constantes de movimento, teremos resolvido completamente o problema.
Esse método será mostrado no capítulo 10 – Teoria de Hamilton Jacobi.
De (9.24c), temos
𝜕𝐺
𝑑𝜼 = 𝜖 𝑱 (9.41𝑏)
𝜕𝜼
De (9.28), fazendo 𝑢 → 𝜼 𝑒 𝑣 = 𝑢
𝜕𝑢 𝑡 𝜕𝑣 𝜕𝑢
[𝑢, 𝑣]𝜂 = ( ) 𝑱 → [𝜼, 𝑢] = 𝑱
𝜕𝜼 𝜕𝜼 𝜕𝜼
Se escolhermos 𝑢 = 𝐺 então
𝑑𝜼 = 𝜖[𝜼, 𝐺] (9.42)
Tomando o infinitésimo 𝜖 = 𝑑𝑡 𝑒 𝐺 = 𝐻, obtemos
𝑑𝜼 = [𝜼, 𝐻] 𝑑𝑡 (9.43)
Na equação acima vemos que a Hamiltoniana evolui os valores de 𝜼 num
instante 𝑡 para os seus valores num instante infinitesimalmente posterior
𝑡 + 𝑑𝑡. Compondo teremos a evolução temporal do sistema.
Em resumo: a Hamiltoniana é a função geradora do movimento do
sistema com o tempo (em quântica, é o operador de evolução temporal).
Até aqui vimos a TC de maneira passiva: uma função qualquer
𝑢(𝑞, 𝑝, 𝑡) tem um ponto 𝐴 do espaço de fase (𝑞, 𝑝) mapeado no ponto 𝐴′
do espaço de fase (𝑄, 𝑃) e, obviamente , é passivo pois 𝑢(𝑞, 𝑝, 𝑡) =
𝑢(𝑞(𝑄, 𝑃), 𝑝(𝑄, 𝑃), 𝑡)
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Com a Hamiltoniana como função geradora, a TC é ativa, movendo


um ponto de espaço de 𝐴(𝑞, 𝑝) para um outro ponto 𝐵(𝑄, 𝑃) no mesmo
espaço de fase

Isto é particularmente interessante, quando o gerador depende


continuamente de um único parâmetro. Quando esse gerador é a
Hamiltoniana, TC infinitesimais levarão a uma curva que corresponde à
trajetória temporal do sistema no espaço de fase !
Para uma TC infinitesimal usando (9.41b) e (9.33)
𝜕𝑢 𝑡 𝜕𝑢 𝑡 𝜕𝐺
𝑑𝑢 = 𝑢(𝜼 + 𝒅𝜼) − 𝒖(𝜼) = ( ) 𝑑𝜼 = 𝜖 ( ) 𝑱 = 𝜖[𝑢, 𝐺] (9.44)
𝜕𝜼 𝜕𝜼 𝜕𝜼
Se pensarmos 𝜖 = 𝑑𝛼, como o parâmetro único infinitesimal que faz
𝑢 evoluir. Podemos escolher (o que, em hipótese alguma, representa algum
tipo de restrição) o valor inicial 𝛼0 = 0 como sendo o valor desse parâmetro
quando o sistema está na sua configuração inicial 𝑢(𝛼 = 0) = 𝑢0 (seja ela
qual for). De (9.44)
𝑑𝑢
= [𝑢, 𝐺] (9.45)
𝑑𝛼
Derivando uma segunda vez teremos
𝑑2𝑢 𝑑𝑢
= [ , 𝐺] = [[𝑢, 𝐺], 𝐺]
𝑑𝛼 2 𝑑𝛼
De modo que a expansão de Taylor
𝑑𝑢 𝛼 2 𝑑2𝑢 𝛼 3 𝑑3𝑢
𝑢(𝛼) = 𝑢0 + 𝛼 ) + ) + ) +⋯
𝑑𝛼 𝛼=0 2! 𝑑𝛼 2 𝛼=0 3! 𝑑𝛼 3 𝛼=0
𝛼2 𝛼3
𝑢(𝛼) = 𝑢0 + 𝛼[𝑢, 𝐺])0 + [[𝑢, 𝐺], 𝐺])0 + [[[𝑢, 𝐺], 𝐺], 𝐺] + ⋯ (9.46)
2! 3! 0

Se 𝛼 = 𝑡, 𝑢(𝛼) = 𝑢(𝑡), 𝐺 = 𝐻 a expansão acima é de uma exponecial. No


𝑖𝐻𝑡
formalismo de Heisenberg da Mecânica Quântica será 𝑒 ℏ
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• Exemplo 1 - Translação
Seja uma partícula de massa 𝑚 se movendo em uma dimensão 𝑥, com
aceleração constante 𝑎. Vamos escolher 𝑞 = 𝑥. Como a força é constante, seu
𝑑𝑉
rotacional é zero e existe energia potencial 𝐹 = − 𝑑𝑥 = 𝑚𝑎 → 𝑉(𝑥) = −𝑚𝑎𝑥.
Logo,
𝑝2 𝑝2
𝐻= + 𝑉(𝑥) = − 𝑚𝑎𝑥
2𝑚 2𝑚
Na equação (9.46), fazendo 𝛼 = 𝑡 , 𝑢 = 𝑥 e 𝐺 = 𝐻, teremos
𝑝
[𝑥, 𝐻] =
𝑚
1
[𝑝, 𝐻] = 𝑎
[[𝑥, 𝐻], 𝐻] =
𝑚
[[[𝑥, 𝐻], 𝐻], 𝐻] = [𝑎, 𝐻] = 0 … 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑠 𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑜𝑟𝑑𝑒𝑚 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟

𝑝0
A solução é , com condições iniciais 𝑥(𝑡 = 0) = 𝑥0 ; 𝑥̇ (𝑡 = 0) = 𝑣0 = 𝑚

𝑝0 𝑎𝑡 2
𝑥 = 𝑥0 + 𝑡+
𝑚 2
• Exemplo 2 – Rotação
Vamos supor uma partícula girando em torno do eixo 𝑧. Sejam 𝑥, 𝑦 as
coordenadas dessa partícula no plano perpendicular ao eixo 𝑧,
Chamando 𝑞1 = 𝑥, 𝑞2 = 𝑦, 𝑞3 = 𝑧 e 𝑝1 = 𝑚𝑥̇ , 𝑝2 = 𝑚𝑦̇ , 𝑝3 = 𝑚𝑧̇ O
vetor momento angular dessa partícula será
𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
|𝑞1 𝑞2 𝑞3 |
𝑝1 𝑝2 𝑝3
E sua componente 𝑧
𝐿3 = (𝑞1 𝑝2 − 𝑞2 𝑝1 )
Os PP serão
zero zero zero
=𝟏
8
[𝑞1 , 𝐿3 ] = {[𝑞1 , 𝑞1 ]𝑝2 + 𝑞1 [𝑞1 , 𝑝2 ] − [𝑞1 , 𝑞2 ]𝑝1 − 𝑞2 ⏞
[𝑞1 , 𝑝1 ]}

[𝑞1 , 𝐿3 ] = −𝑞2 𝑜𝑢 [𝑥, 𝐿𝑧 ] = −𝑦 (9.47𝑎)


[𝑞2 , 𝐿3 ] = 𝑞1 𝑜𝑢 [𝑦, 𝐿𝑧 ] = 𝑥 (9.47𝑏)
[𝑞3 , 𝐿3 ] = 0 𝑜𝑢 [𝑧, 𝐿𝑧 ] = 0 (9.47𝑐)

Se girarmos as coordenadas generalizadas de um ângulo 𝜃 finito


em torno do eixo 𝑧 teremos novas cooordenadas generalizadas 𝑋, 𝑌, z. O
gerador dessa rotação é 𝐿𝑧 , de maneira que compondo rotações
infinitesimais [ 𝑋)𝜃=0 = 𝑥 𝑒 𝑌)𝜃=0 = 𝑦 ]
20

De (9.46)
𝜃2 𝜃3 𝜃4
𝑋(𝜃) = 𝑥 + 𝜃[𝑋, 𝐿𝑧 ]0 + [[𝑋, 𝐿𝑧 ], 𝐿𝑧 ]0 + [[[𝑋, 𝐿𝑧 ], 𝐿𝑧 ], 𝐿𝑧 ] + [[[[𝑋, 𝐿𝑧 ], 𝐿𝑧 ], 𝐿𝑧 ] , 𝐿𝑧 ] + ⋯
2! 3! 0 4! 0

[𝑋, 𝐿𝑧 ]0 = −𝑦

[[𝑋, 𝐿𝑧 ], 𝐿𝑧 ]0 = −𝑥

[[[𝑋, 𝐿𝑧 ], 𝐿𝑧 ], 𝐿𝑧 ] = 𝑦
0

[[[[𝑋, 𝐿𝑧 ], 𝐿𝑧 ], 𝐿𝑧 ] , 𝐿𝑧 ] = 𝑥
0

Logo,

𝜃2 𝜃3 𝜃4 𝜃2 𝜃4 𝜃3
𝑋(𝜃) = 𝑥 − 𝜃𝑦 − 𝑥 + 𝑦 + 𝑥 … = 𝑥 (1 − + … ) − 𝑦 (𝜃 − +⋯)
2! 3! 4! 2! 4! 3!

Ou seja

𝑋(𝜃) = 𝑥 𝑐𝑜𝑠(𝜃) − 𝑦 𝑠𝑒𝑛(𝜃)

Seguindo mesmo procedimento, teremos

𝑌(𝜃) = 𝑥 𝑠𝑒𝑛(𝜃) + 𝑦 𝑐𝑜𝑠(𝜃)

Que corresponde a girar o sistema de um ângulo 𝜃 em torno do eixo 𝑧 no sentido anti-


horário.

É claro, que o que foi feito acima é um tour de force para problemas até simples.
A equação (9.46) não representa um método preferido por ninguém para resolver
problemas de Mecânica Clássica.

Muito importante, fundamental mesmo, é o PP das componentes do momento


angular

[𝐿𝑖 , 𝐿𝑗 ] = 𝜖𝑖𝑗𝑘 𝐿𝑘 (9.48)

Onde 𝜖𝑖𝑗𝑘 é o tensor de Levi-Civita definido por

0 𝑝𝑎𝑟𝑎 2 í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒𝑠 𝑞𝑢𝑎𝑖𝑠𝑞𝑢𝑒𝑟 𝑟𝑒𝑝𝑒𝑡𝑖𝑑𝑜𝑠


𝜖𝑖𝑗𝑘 = { 1 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑢𝑚𝑎 𝑝𝑒𝑟𝑚𝑢𝑡𝑎çã𝑜 𝑝𝑎𝑟 𝑑𝑒 1,2,3 𝑖, 𝑗, 𝑘 = 1,2,3 (9.49)
−1 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑢𝑚𝑎 𝑝𝑒𝑟𝑚𝑢𝑡𝑎çã𝑜 í𝑚𝑝𝑎𝑟 𝑑𝑒 1,2,3

E o PP de uma componente com o módulo ao quadrado do momento angular


2
𝐿 = 𝐿2𝑥+ 𝐿2𝑦 + 𝐿2𝑧

[𝐿𝑖 , 𝐿2 ] = 0 (9.50)

As demonstrações de (9.48) –(9.50) ficarão para a lista de exercícios.


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Pular secção (9.7) do Goldstein

O Teorema de Liouville

É um teorema da Mecânica Estatística. Como é impossível resolver as equações


diferenciais de movimento de 1 mol de uma substância, já que envolve um número de
moléculas igual ao número de Avogrado ~1023 , o que se pode fazer é obter médias de
uma grandeza física qualquer (calor específico, magnetização, polarização, etc). Para
isso, preparamos e inicializamos um grande número sistemas de maneira igual (igual de
um ponto de vista macroscópico, por exemplo, mesma Temperatura, Pressão,
Volume...) e analisamos a evolução temporal de todos esses sistemas. Esse conjunto de
sistemas é chamado de ensemble.

No espaço de fase esse ensemble corresponde a um volume infinitesimal 𝑑𝑉


𝑑𝑁
contendo um número de sistemas 𝑑𝑁 , em outras palavras, com densidade 𝐷 = . Os
𝑑𝑉
sistemas do ensemble estão inicialmente no instante 𝑡1 em volta do ponto [𝑞(𝑡1 ), 𝑝(𝑡1 )]
(veja figura) e evoluem, sob a ação da Hamiltoniana para um instante 𝑡2 . Isto significa
que

𝑑𝐷 𝜕𝐷
= [𝐷, 𝐻] + (9.51)
𝑑𝑡 𝜕𝑡

Os pontos iniciais no volume 𝑑𝑉 em torno de [𝑞(𝑡1 ), 𝑝(𝑡1 )] estarão em torno do


ponto [𝑞(𝑡2 ), 𝑝(𝑡2 )] ligados por uma TC. Pela equação (9.35) , temos que um certo
volume no espaço de fase não muda com o tempo. Todos os sistemas do ensemble
estarão em volta deste novo ponto → 𝑑𝑁 é constante no tempo. Logo,

𝑑𝐷
=0 (9.52)
𝑑𝑡

A equação (9.52) é a expressão matemática do Teorema de Liouville que afirma


que a densidade de sistemas na vizinhança de algum ponto do espaço de fase não muda
com o tempo.

Obs.: O Tensor de Levi-Civita pode ser escrito


1
𝜖𝑖𝑗𝑘 = [𝛿 −𝛿 + 𝛿𝑖,𝑘+1 −𝛿𝑘,𝑖+1 +𝛿𝑘,𝑗+1 −𝛿𝑗,𝑘+1 ]
2 𝑗,𝑖+1 𝑖,𝑗+1

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