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Arruda
ARRUDA
Organizador
MÉTODOS E PROCESSOS EM
BIÔNICA E BIOMIMÉTICA:
9 788580 39348 4
Amilton J. V. Arruda
(organizador)
Série [designNATUREZA]
Ensaios sobre Design, Biônica e Biomimética
Métodos e processos
em biônica e biomimética:
a revolução tecnológica pela natureza
Amilton J. V. Arruda
Capa
Laércio Flenic
Comitê editorial
Jonatas Eliakim
Amilton J. V. Arruda
Comitê científico
Ph.D. Amilton Jose V. de Arruda – PPGD/UFPE Dr. Jaime Ramos – LABERG/UFPR
Dra. Ana Veronica Pazmino – UFSC M.Sc. Felipe Luis Palombini – UFRGS
Dra. Carla Langella – UniCampania/Itália Dr. Luiz Vidal de Negreiros Gomes – ESDI/UERJ
Prof. Carmelo Di Bartolo – ICS Internation School/Itália M.Sc. Marko Brajovic – BrajovicDesign
Dr. Eduardo Dias – Universidade São Judas Tadeu/SP Dr. Ney Brito Dantas – PPGD/UFPE
M.Sc. Fabrice Vander Broeck – UAM/México M.Sc. Paulo Bago D’Uva – Universidade Minho/UBI/PT
Dr. Frank Anthony Barral Dodd – ESDI/UERJ Dr. Roberto Verschleisser – PUCRio e ESDI
Prof. Fred Gelli – PUCRio Tátil Design M.Sc. Tai Hsuan-An – UCG/GO
Dr. Gabriel Songel Gonzales – UniValencia/Espanha M.Sc. Theska Laila de F. Soares – Éden Design Estratégico
Dra. Geórgia Ribeiro Victor – MedPUC/Rio Dr. Walter Franklin M. Correia – PPGD/UFPE
05 Apresentação
Seção I
FUNDAMENTOS, TEORIAS E ASPECTOS METODOLÓGICOS
DISCIPLINARES APLICADOS NA BIÔNICA E BIOMIMÉTICA
Seção II
COMPREENDENDO E INTERPRETANDO
OS VALORES DA NATUREZA
Seção III
ASPECTOS ESTRATÉGICOS E SISTEMÁTICOS DA BIÔNICA E BIOMIMÉTICA
Seção IV
FERRAMENTAS E MODELOS TECNOLÓGICOS GERADORES
DE CASES EM BIOMIMÉTICA
Agradecimento
A finalização deste livro só foi possível graças ao tempo dedicado no meu
programa de pos-doutoramento através da bolsa do CNPq – Conselho Nacional
de Pesquisa e Desenvolvimento e ao IADE/UNIDCOM/Ph.D Studies Laureate
Internation Universities em Lisboa.
Prof. Amilton Arruda
organizador
Abstract
By observing how nature operates in the creation of its species, one can transpose this same method in the
development of artificial products, constructions, or systems. A raw material for the field of Biomimetics that
studies, among other things, how the “criteria” observed in the most adapted living beings can serve as a basis for
the development of more efficient solutions. Through the method of Analogy, one can imitate structural, formal,
functional or abstract nature characteristics for application in artificial artifacts. This article aims to demonstrate
the basic research method applied by Professor Amilton Arruda at the Biodesign Laboratory of UFPE/BRA, under
an academic perspective, describing and presenting some techniques for this interpretation of the natural world
through the following steps: Photographic Representation , Verbal Description, Layout (drawings) and Models.
Some examples of works by students with their drawings based on Morphological Analogy will be presented. The
result of the application of this method is in the capacity to develop and stimulate the creative capacity of the
students, since the animal, vegetable and mineral kingdoms present an infinity of forms, colors and textures that
can be observed, analyzed, represented and potentially interpreted in Design projects.
Keywords: Design; Diomimetics; Analogies; Methodology.
INTRODUÇÃO
Ao longo da complexa história da Humanidade é possível constatar a aplicação
de soluções biológicas em diferentes períodos, e em diferentes áreas, tais como:
na ciência, tecnologia, arquitetura, arte, design, engenharia, medicina, e outras
mais, têm surgido a cada dia. Essa inspiração na natureza tem gerado uma série
de invenções que possibilita um grande número de inovações e de recursos no
decorrer do tempo.
Para se ter uma ideia do potencial de aprendizagem com essa multidão de
organismos na natureza, Benyus (1997) relembra que basta observar os feitos
incríveis de: algas bioluminescentes, que combinam substâncias para abastecer
suas lanternas orgânicas; ursos polares que se protegem do frio através de
uma camada de pelos transparentes que funcionam como as vidraças de uma
estufa; abelhas, libélulas que excedem a capacidade de manobra dos melhores
helicópteros; formigas que conseguem carregar o equivalente a centenas de
quilos; beija-flores que cruzam o golfo do México com o equivalente a 3ml de
combustível etc.
Embora todo este conhecimento tenha existido ao longo da evolução da vida na
Terra, apenas uma pequena parcela disso tem sido aproveitada, existindo uma
grande parte ainda desconhecida e negligenciada a ser desbravada. Através
de um olhar atento às soluções da natureza, existem uma infinidade de bons
exemplos de eco eficiência, através de organismos que constroem com o mínimo
de desperdício de materiais e energia, e que ainda, coexistem em harmonia com
a biosfera. Evidenciar esta nova forma de perceber a natureza é uma práxis de
uma ciência denominada Biomimética e é bem diferente da ideia de exploração a
que geralmente o Homem a tem associado.
Com o passar dos séculos, muitos nomes utilizaram a natureza para
investigação, o que resultou em acúmulo de conhecimento e aprimoramento
de técnicas e métodos. Muitos estudos foram formulados demonstrando este
processo de interpretação ou tradução de estruturas naturais aplicadas na
fase de criação de artefatos. Um dos métodos mais utilizados das chamadas
Biotécnicas (Biônica, Biomimética, Biodesign etc.) é o da Analogia, seja a
Morfológica, Funcional ou Simbólica, todas apresentam diferentes maneiras de
utilizar a natureza como inspiração, algumas delas inclusive serão mostradas
a seguir, de maneira mais detalhada, através de investigações de alunos do
laboratório de Biodesign na UFPE em Recife.
Biomimética: conceitos e definições
É importante esclarecer que existem outros termos que também relacionam
a natureza com as criações humanas. Biônica, Biodesign e Biomimética são
facilmente confundíveis, pois suas origens, conceitos, métodos e bases de
investigação são realmente muito semelhantes, embora existam algumas
diferenças.
Tentando traçar uma sequência história sobre a origem destes termos, pode-
se começar por Fernandes (2012) que comenta que ambas as terminologias
De acordo com Santos (2010), a Biomimética colabora com a filosofia do design “Desta vez, viemos não para
ambiental, que também tem a visão multidisciplinar onde muitos setores aprender algo sobre a natureza,
para que possamos enganá-la e
industriais podem substituir o método tradicional de projeto e produção dos
controlá-la, mas para aprender
bens de consumo pelo “método” da natureza que é bem mais equilibrado e algo com ela, de modo que
menos oneroso para o ambiente. É o que é evidenciado na fala de Benyus (1997): possamos nos adaptar, de uma
vez por todas e para o nosso
A Biomimética corresponde a uma emulação consciente do gênio da natureza, é
bem, à vida na Terra, da qual
uma abordagem interdisciplinar que reúne mundos muitas vezes desconectados: surgimos. Temos um milhão de
natureza e tecnologia, biologia e inovação, vida e design. Na prática, procura perguntas. Como deveríamos
trazer a sabedoria da vida testada pelo tempo para trazer informações produzir alimentos? Como
valiosas em soluções humanas que criam condições favoráveis à vida; soluções deveríamos fabricar nossos
materiais? Como deveríamos
sustentáveis por empréstimo de insights e estratégias ambientais, ou ainda,
realizar negócios de uma forma
procura ser uma conexão que ajuda a encaixar, alinhar e integrar a espécie que respeite a natureza? À
humana nos processos naturais da Terra. medida que formos descobrindo
aquilo que a natureza já sabe,
Há ainda uma outra forma de uso do termo Biomimética que se refere a
reconheceremos a sensação de
característica de camuflagem que certos animais possuem, onde imitam outras fazer parte, e não de estarmos
espécies para se protegerem de predadores ou para disfarçarem sua presença à parte, da genialidade que nos
como predadores. (Figura 2) rodeia”.
A ANALOGIA NA BIOMIMÉTICA
Apesar de todas estas definições do século XX, Leonardo Da Vinci, embora não
utilizasse estes termos, já se apropriava dos conceitos da Biomimética na prática
desde a época do Renascimento. Gênio reconhecido como um dos primeiros a
estudar as formas e funções presentes na natureza, revelou claramente a sua
busca por mecanismos biônicos através dos seus famosos desenhos na obra Sul
volo degli uccelli (O voo das aves), possibilitando o título de pioneiro a aproximar-
se da realidade de voar por meio da construção de máquinas voadoras.
Arruda (1993) relembra sobre estes estudos e diz que a ideia fundamental do
engenheiro era que o voo humano fosse possível através da imitação mecânica
da natureza, numa tentativa de reproduzir os movimentos das asas do morcego,
entendendo também a base dos movimentos dos pássaros. (Figura 3)
Apesar dos avanços dessa ciência, ainda existem poucos estudos formulados
para o procedimento de interpretação ou tradução de estruturas naturais
para criar sistemas artificiais. Normalmente o que se utiliza, seja na Biônica,
Biomimética, Biodesign ou qualquer Biotécnica é o método empregado da Analogia.
Na antiguidade clássica, ela foi abordada pelos filósofos Aristóteles e Platão
como uma abstração compartilhada, em que os objetos análogos compartilhavam
algo em comum, seja uma ideia, um padrão, uma regularidade, um atributo ou
uma função.
Como método, a Analogia ganha um carácter capaz de vencer problemas através
de um raciocínio lógico, assim como ajuda na tomada de decisões, nos diferentes
campos da criação, percepção e criatividade. Da sua aplicação resulta um amplo
conjunto de soluções para diferentes áreas em conformidade com o interesse e
conteúdo de cada ciência.
Para falar de Analogia é interessante remeter também ao termo Synectics
(Sinergia), que corresponde a uma das técnicas mais promissoras para fomentar
a criatividade, sua característica mais importante está no uso repetido de
analogias que levem a abordagem do problema, sob novos pontos de vista.
Tornou-se parte do vocabulário dos especialistas, quando William Gordon,
em 1961, publicou o livro Synectics, que do grego significa a união de elementos
diferentes e aparentemente irrelevantes.
Segundo Gordon (1961), a Synetics funciona num misto de teoria e técnica. Como
teoria estuda o processo criativo e os mecanismos psicológicos da atividade
criativa, com o objetivo de aumentar as chances de pessoas obterem sucesso
na resolução de problemas. Como técnica, fornece uma repetição capaz de
aumentar as chances de chegar a soluções criativas pelo procedimento de
aproximação. A seguir, Pérez (1999) comenta os quatro tipos de Analogias
definidas por Gordon (1961):
• Analogia Direta: Descreve a verdadeira comparação de fatos,
conhecimentos, objetos, organismos, que possuam algum grau de
semelhança.
• Analogia Pessoal: Descreve uma personificação imersiva no problema.
Começando com a pergunta: Se eu fosse...? Assim ocorre uma fusão
imaginária entre a pessoa e o objeto ou situação, permitindo uma
visão interna sobre os sentimentos, pensamentos e formas de atuação
específicas para cada caso. (Se eu fosse um... me sentiria como?).
• Analogia Simbólica: Seleciona uma palavra-chave e pergunta-se qual
a sua essência, para então experimentar ou sentir os significados
descobertos; usa imagens objetivas e impessoais para descrever o
problema por uma resposta poética. Uma vez criada é uma torrente de
associações.
• Analogia Fantástica: Deixa de lado o pensamento lógico e racional.
Partindo de um problema específico se deixa a porta aberta à fantasia,
conduzindo a soluções imaginárias que estão fora do universo possível.
3.1 Analogia morfológica
A forma, a saber, a figura ou determinação exterior de um corpo, destina-se como
qualquer combinação definida de elementos geométricos que possamos realizar
ou imaginar, é uma característica importante da matéria, já que todos os objetos
reais, vivos ou não, possuem forma própria, particular, que muitas vezes se define
em si mesmos, que os fazem similar a alguns ou diferentes de outros. Pelos objetos
de forma complexa e irregular, como as encontradas na natureza, deve-se dar uma
definição que seja essencialmente indireta e aproximativa. (ARRUDA, 1993)
Figura 6: Exemplos de
Analogia Morfológica – Coluna
estrutural de construção
inspirada na folha da palmeira
leque; Cadeira inspirada na
forma estrutural da borboleta;
Arame farpado inspirado
nos espinhos de plantas e
Alicate inspirado na pinça do
caranguejo.
Fonte: SOARES, 2016
3.2 Analogia funcional
Procura estudar sobre o funcionamento do sistema físico e mecânico natural;
tenta compreender quais funções desempenham tanto no todo, quanto em
suas partes e componentes. Em outras palavras, são evidenciados os atributos
funcionais, qualidades específicas (não morfológica) que se pode mimetizar da
estrutura natural analisada, uma vez que os organismos naturais desenvolveram
habilidades complexas e altamente adaptáveis, se pode transpor essas aptidões
funcionais para aplicá-las em artefatos artificiais. Enquanto morfologicamente
as analogias são limitadas, funcionalmente podem ser múltiplas. (SOARES, 2016)
Versos (2010) cita ainda outro exemplo de Analogia Funcional com a pesquisa
das escamas da pele do tubarão, responsável pelo alto desempenho em
velocidade de locomoção destes animais. Segundo especialistas, a água desliza
através das micro ranhuras na sua pele, reduzindo a fricção. A aplicação deste
estudo em roupas de natação da marca Speedo Fastskin é utilizada por campeões
olímpicos. A textura destas vestimentas baseada nos “dentículos” da pele de
tubarão, tem como vantagens a redução da resistência passiva de cerca de 4% e
também da vibração muscular, aumentando a velocidade e o desempenho dos
atletas. (Figura 9)
Pesquisa de base
• Pesquisa teórica preocupada com aspectos, tais como: adaptação, forma,
função, locomoção, dinâmica, geometria, ciclos da natureza etc.
• Pesquisas com caráter bibliográfico de projetos ou pesquisa, artigos,
monografias, dissertações ou teses com referência na natureza.
• Pesquisas para construção de banco de dados com diversos temas tais
como sistema de locomoção, sistema de articulações, membranas,
embalagens, componentes estruturais na natureza etc.
• Pesquisas com caráter geométrico-morfológico com a finalidade de
entender a resistência da sua estrutura ou forma.
• Pesquisas para utilização de metodologias adaptáveis ao estudo das
estruturas naturais.
Pesquisa aplicada:
• Desenvolvimento de pesquisa completa delineada para aplicação no
Campo Projetual.
• Elaboração, verificação e experimentação de modelos ou protótipos
biônicos.
• Identificação de hipóteses de projeto com base no resultado das
pesquisas e das abstrações geométricas dos modelos biônicos.
• Pesquisas específicas do design dos materiais naturais;
14. Estudo do alho: Uma das características observadas neste estudo foi a
disposição dos dentes de alho no bulbo. A forma como eles se encaixam
e se destacam do talo central representou a síntese do modelo proposto.
(Figura 22)
Figura 26: Banners apresentados em exposição no Centro de Artes de Comunicação da UFPE em 2015, com os trabalhos dos alunos
para o encerramento da disciplina de Biomimética. Fonte: SOARES, 2016
5. CONCLUSÃO
A Natureza é uma fonte inesgotável de inspiração que é abundante e de fácil
acesso para todos. Tanto no reino animal, vegetal ou mineral existe uma
infinidade de formas, cores e texturas, detalhes que podem ser observados,
analisados, representados e interpretados nas Biotécnicas (Biônica, Biomimética
ou Biodesign), utilizadas como técnica criativa com grande potencial de aplicação
em projetos de Design. Observar a qualidade estético-formal de modelos
biológicos é bastante interessante, o que justifica sua coerência em também
utilizá-la em exercícios criativos em cursos de Design.
REFERÊNCIAS
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Resumo
A natureza, com seus inúmeros sistemas viventes, vegetais e animais, oferece à humanidade
ricos conhecimentos, informações e princípios que possam ser aplicados em diversas áreas,
principalmente da ciência e tecnologia. A biônica, como uma ciência ou disciplina, tem uma
relevância especial no tocante à inovação não apenas tecnológica como também estético-
morfológica, na concepção e no desenvolvimento de produtos e edificações. Portanto a biônica
deve ser ensinada em cursos de design e arquitetura, e o método adotado deve ser simplificado,
flexível e motivador, devido ao perfil dos alunos que carecem ainda de informações, teorias e
técnicas.
A aplicação do método de análise biônica nos cursos de design e arquitetura da Puc-GO, desde
a década de 1980, sistematizado e enriquecido de um novo conteúdo – as seis categorias
das características – tem contribuído com bons resultados no ensino da criação de formas
tridimensionais, focada nos aspectos estético, estrutural e funcional.
Abstract
Nature, with its innumerable living systems, plants and animals, offers to humanity rich knowledge,
information and principles that can be applied in several areas, mainly science and technology. Bionics,
as a science or discipline, has a special relevance in terms of innovation not only technological but
also aesthetic-morphological, in the design and development of products and buildings. Therefore
bionics should be taught in design and architecture courses, and the method adopted should be
simplified, flexible and motivating, due to the profile of students who still lack information, theories
and techniques.
The application of the bionic analysis method in the design and architecture courses of Puc-GO, since
the 1980s, systematized and enriched with new content – the 6 categories of characteristics – has
contributed with good results in teaching the creation of three-dimensional forms , focused on
aesthetic, structural and functional aspects.
1 INTRODUÇÃO
1.1 As revelações da natureza
A invenção e a criação dos objetos que constituem nossas realidades
materiais de hoje, mesmo altamente tecnológicos, são largamente baseadas
em princípios revelados pelas formas da natureza. O design de muitos
produtos bem-sucedidos pode ser considerado fruto de uma relação bem-
sucedida com as formas naturais e os fenômenos nelas contemplados.
É importante notar que esse elo está relacionado ao nosso senso estético.
A nossa relação biologicamente estabelecida com a natureza é capaz de
programar nossos sensos e o cérebro para uma resposta positiva quanto à
sensação do bom, do agradável ou do belo em determinados objetos. Isso
se deve à longa interação entre o homem e a natureza, como também à
conquista humana no sentido de conhecer cada vez melhor os seres vivos,
incluindo a sua beleza, por meio da sua sensibilidade e da sua consciência,
portanto, da sua percepção estética.
Faz quase quatro décadas o método de análise biônica tem sido aplicado no
Curso de Arquitetura da Puc-GO e, a partir de 2000, no Curso de Design.
A experiência didática baseada na aplicação desse método tem produzido
resultados satisfatórios no tocante ao desenvolvimento da criatividade e do
senso estético dos alunos.
Em 1978, foram introduzidos por mim na disciplina Desenho e Plástica
do curso de arquitetura dois novos métodos para substituir o tradicional
desenho de observação, com argumento de que os alunos precisavam
perceber mentalmente e descobrir algo novo além daquilo que é observado
visualmente. Assim, o método de análise estrutural e o método de análise
biônica foram introduzido sistematicamente e notou-se uma grande
mudança na participação ativa dos alunos no processo de trabalho e nos
resultados finais.
Durante a década de 1980, elaborei uma proposta que tinha o objetivo
de preparar melhor os alunos para enfrentar as atividades projetuais que
abrangiam o desenho, a criação e a composição de formas bi e tridimensionais. Figura 1: Desenhos de
Essa proposta colocada na prática transformou-se numa metodologia que tem observação, análise das
características, síntese,
sido aplicada até hoje, numa disciplina do segundo semestre do curso. É uma
abstração geométrica, feitos
metodologia de desenho e organização tridimensional da forma, com teorias e durante o processo de estudo
técnicas práticas, que orienta os alunos a criar formas por meio de processos a partir da casca de um
estimuladores da criatividade, baseados em possibilidades de experimentação minúsculo fruto.
critérios, parâmetros e indicações sugestivas tanto para a análise biônica como para
a análise morfológica de objetos em geral. Na minha pesquisa Sementes do Cerrado
e Design Contemporâneo, efetuada em 1999 para a dissertação de mestrado,
as características foram verificadas em alguns frutos do Cerrado, em relação à
envoltura formal, com caráter de contenção, proteção, conservação e liberação
natural de sementes no processo de desenvolvimento, maturação e transformação,
responsável pela grande diversidade de suas características formais e estruturais. A
pesquisa apresentou a proposta de classificação das características em 6 categorias
segundo os diferentes aspectos, com considerações teóricas e práticas sobre as das
mais notáveis.
2 Objetivo geral
• Desenvolver trabalhos práticos da criação de formas, com soluções
estética, estrutural e funcional, inspiradas nos modelos biológicos.
Figura 5: Detalhes de um
modelo biológico, por mais que
sejam minúsculos, possuem
características proveitosas
para descobrir delas princípios
que possam ser aplicados no
processo de concepção de
novas formas.
4. Conteúdo
• Biônica, biônica em design e arquitetura, método de análise biônica.
• Análise formal dos modelos biológicos: funções estéticas e práticas
(estrutura).
• Processos de modelagem: materiais e técnicas.
Figura 7: Análise feita em alho.
5. Procedimentos As películas que envolvem os
• Escolha de um modelo biológico ou de um elemento qualquer, dentes de alho e os próprios
pertencente aos sistemas viventes, desde que apresente certas dentes são interpretados e
características significativas. compostos em grupos internos
e externos e em plaquetas
dispostas da mesma maneira
radial.
Fonte: Shirley Melo Plazza
3 CONCLUSÃO
A biônica é uma área de estudo importante para o ensino de design e de
arquitetura pela sua potencialidade de oferecer conhecimentos, informações
e orientações para trabalhos projetuais com o objetivo de conceber soluções
criativas e inovadoras baseadas em princípios formativos, morfológicos,
estruturais e funcionais descobertos e compreendidos nos inúmeros modelos
oferecidos pela natureza. Portanto, no ensino de design e de arquitetura, a
biônica merece um lugar de destaque oferecendo aos alunos a oportunidade
de desenvolver trabalhos por meio de um processo que envolve observação,
registros gráficos, inspiração, descoberta, análise, síntese, abstração, Figura 12: Vários modelos
experimentais feitos durante
transformação, desenhos, construção de modelos exploratórios, concepção das
o processo da análise
formas alternativas, configuração da proposta final e representação técnica.
biônica. O cartão de papel é o
O método de análise biônica, com técnicas e recursos cada vez mais enriquecidos material mais usado pela sua
plasticidade e flexibilidade.
através de pesquisas, experiências práticas e produção de novos conhecimentos,
deverá se tornar necessário, particularmente no estudo morfológico, e um
importante recurso metodológico em projetos criativos e inovadores.
REFERÊNCIAS
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BONSIEPE, Gui. Teoria y práctica del diseno industrial: elementos para una manualística crítica. Barcelona:
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DOCZI, György. O poder dos limites: harmonias e proporções na natureza, arte & arquitetura. Tradução
Maria Helena de Oliveira Tricca e Júlia Bárány Bartolomei. São Paulo: Mercuryo, 1990.
HSUAN-AN, Tai. Sementes do cerrado e design contemporâneo. Goiânia: Editora da UCG, 2002.
_____. Desenho e organização bi e tridimensional da forma. Goiânia: Editora da UCG, 1997.
MARGOLIN, Victor; BUCHANAN, Richard. The idea of design. London: The MIT Press, 1995.
Abstract
This paper aims to report on the experiments with the Bionic theme, at the time so called,
carried out with research of students of the Mechanical Engineering Course involved with the
REENGE Project (1996-1997), at the Federal University of Santa Maria, UFSM, RS. Here, we
present methodological descriptions of procedural tactics and operational techniques for the
development of associative research among living beings and industrial product designs.
Keywords: Bionics, Biomimicry, Industrial Design and Engineering.
1. introdução
Da biologia à biomimética, passando pela biônica
Este texto tem como objetivo relatar as experiências com o tema Biônica
realizadas com pesquisa de alunos do Projeto REENGE (1996-1997), na
Universidade Federal de Santa Maria. Aqui, apresentam-se descrições sumárias
de táticas e técnicas metodológicas usadas em pesquisas associativas entre os
seres vivos e projetos de produtos industriais.
Papanek (1971), Gui Bonsiepe (1976), Fabricio Vanden Broeck (1981), e Carmelo
di Bartolo (1981; 1986)6.
A aprendizagem de projeto de produto industrial, seja Engenharia, Arquitetura,
ou Desenho industrial tende a ser detalhado em disciplinas específicas e, em
sua maioria, desassociadas em suas matérias. Há um consenso, contudo,
de que o conhecimento desenvolvido em disciplinas criativas de Biônica ou
em cursos de criatividade baseados na Biomimética, inclinam-se para o
efetivo relacionamento de distintos saberes e, cada vez mais, no necessário
interrelacionamento profissional e, mais, num saudável compartilhamento,
dividido em distintos momentos de projetação. (Figura 1)
Figura 1: Diferenças
Entretanto, não há registros oficiais de quem proferiu ou escreveu pela primeira esquemáticas entre Ciências
vez a palavra Biônica no Brasil. O que sabemos é que, em meados dos anos Puras ou de Origem (A);
1970, na Escola Superior de Desenho Industrial, ESDI, da Universidade do Estado Ciências de Interseção ou
Cruzamento (a, b, c, d, e, f); e
do Rio de Janeiro, UERJ, e na Escola de Belas Artes da Universidade Federal
Ciências de Propagação ou
do Rio de Janeiro, UFRJ, o Prof. Roberto Verschleisser já realizava, em suas Difusão (B) de conhecimento
disciplinas de Desenho Industrial, exercícios relacionados à educação criativa e em Biônica. (Baseado em
projetual com base em aprendizados inspirados e tomados da fonte da Natureza. Gérardin, 1968).
Temos informação de que, no início dos anos 1980, Prof. Carlos Antonio Ramirez
Righi, então professor do Curso de Desenho Industrial da Universidade Federal de
Pernambuco, CDI/UFPE, demonstrava valorizar didaticamente a Biônica, pois foi o
responsável por indicar a inclusão do tema como um dos pontos para a prova escrita
de concurso destinado à seleção de professor para projeto de produto da UFPE.
Sabe-se também que, no segundo semestre de 1984, alunos do 7º período do
CDI/UFPE realizaram Minicurso Experimental em Biônica. E, ainda no âmbito da
UFPE, Recife, PE, foi fundado o Grupo de Estudos em Biônica, em 13 de setembro
de 19867. Esse grupo congregava alunos e professores do CDI/UFPE que, em
junho desse mesmo ano, haviam participado do Primeiro Curso de Atualização em
Biônica, promovido pelo Laboratório de Desenvolvimento de Produto/Desenho
Industrial (LDB-DI), em seu Centro de Capacitação de Docentes de Desenho
Industrial de Santa Catarina, Canasvieiras, Florianópolis.
Esse curso, pioneiro no Brasil, foi ministrado pelo Prof. Fabricio Vanden
Broeck da Universidade Autônoma Metropolitana da Cidade do México. Dele
participaram professores de várias instituições brasileiras que oferecem curso
de bacharelado em Desenho Industrial. Muitos desses professores8 foram os
autores de ideias seminais para o desenvolvimento da Biônica em seus estados.
Na atualidade, temos no Brasil professores dando continuidade aos projetos de
produto baseados na metodologia Biônica. Esses professores, alguns com título
de Mestre obtido em uma das escolas de Design – Istituto Europeo di Design,
Milão, na Itália – de maior importância nos anos de 19809.
Neste texto, procuramos caracterizar a Biônica como “didática” apropriada
à formação de futuros profissionais e professores de projeto de produto em
Engenharia, Arquitetura e Desenho Industrial, pois essa metodologia, inspirada
nos elementos vivos, pode ser compreendida como o estudo das: (i) associações
Com respeito ao tema central da pesquisa aqui apresentada, Dr. Frei Otto, da
Universidade de Stuttgart, nos anos de 1960, pregava a necessidade de se
observar mais as estruturas naturais a fim de se criar “uma nova arquitetura
natural”14. E, se por um lado, Otto falava em termos de estruturas naturais
aplicadas à forma da arquitetura, Matila Ghyka, D’Arcy Thompson e György
Doczi nos ensinam a compreender, respectivamente, a “matemática da forma”15,
como se dá o “crescimento na forma natural”16. Estes temas relativos às
formas naturais sua estrutura, composição, textura tensão, resistência etc., têm
chamado atenção de vários pesquisadores. Podemos destacar, por exemplo,
os seguintes trabalhos: Carmelo di Bartolo, em 1981, apresentava pesquisa
acerca das qualidades formais da Natureza17 para serem aplicados a modelos
biônicos. Vítor Lotufo e seus colegas, nos anos 1980, prepararam um dos bons
livros publicados no Brasil sobre estruturas geodésicas18. Por volta de 1985,
um grupo de alunos comandados pelo professor Carmelo di Bartolo, apresentam
a monografia Strutture Gotiche, Strutture Naturali19. No ano seguinte, Fabricio
Vanden Broeck, resumiu em seu livro Las estruturas en ia naturaleza y en ia
técnica20 as ideias seminais para a origem deste presente trabalho.
Para caracterizarmos com maior precisão os sistemas naturais nos quais
queremos desenvolver este trabalho devemos retornar à classificação
apresentada por Gui Bonsiepe21 que, em realidade, é uma confirmação de da
classificação feita por Offner22. Conforme D. H. Offner, os sistemas existentes
nos seres vivos podem ser classificados em: Sistemas de Transposição da
Matéria; Sistemas de Transferência de Informação; Sistemas de Transferência de
Controle de Movimentos; Sistemas de Transferência de Energia23.
No nosso caso o que nos interessa é identificar, observar, analisar e estudar,
particularmente, os Sistemas de Transferência e Controle de Movimentos,
uma vez que são os sistemas que nos podem dar a chave para a realização de
nossos objetivos: aplicá-los a estruturas artificiais, ou seja, aquelas projetadas e
desenhadas por seres humanos.
PRIMEIRA PARTE
2. Estruturas do reino vegetal
Formação, flexão, fixação
Entre os objetivos gerais desta pesquisa, destacava-se a observação de
formas estruturais do reino vegetal tendo em mente os aspectos relativos à
configuração, rigidez localizada, nervuras etc. Buscava-se, assim, compreender
como resistem aos esforços a que são submetidos (e.g. tração, flexão, rotação)
de forma única ou combinada. Sendo a forma combinada a mais frequente
pois, por exemplo, num galho de uma árvore qualquer submetido ao vento os
esforços de torção no galho não aparecem somente devido a um movimento
rotacional deste em torno do seu eixo, mas de todos os movimentos que o vento
o submeter. Também estamos atentos a outros exemplos, de estruturas que
resistem ao corte e a fadiga. O que se tinha em vista, era encontrar estruturas
que comportassem forças axiais, flexoras, torcionais, cisalhantes etc., de formas
vegetais de possível mimetização industrial.
Quadro 1. A
rtifícios Metodológicos (3MMM) Projetos em Biônica
Segunda Parte
4. Estruturas vegetais servindo de impulso
à projetação
O princípio de desenvolvimento escolhido, como já citamos, é baseado nas
didáticas sugeridas por Gomes, e Amilton Arruda, porém adaptada as nossas
necessidades de acordo com o em três fases e implementada com uma quarta,
para melhor ajustar-se ao projeto REENGE.
Onde no desenrolar desta primeira fase, Preparação do Projeto, procuramos
coletar informações acerca do argumento de pesquisa a ser estudado, através
de consultas de trabalhos como os de Fabrício Vanden Broeck, Gui Bonsiepe,
30
Victor Amaral Lotufo, Norbert Wiener, Matila C. Ghyka, H. E. Huntley , dentre
outros presentes na Bibliografia.
E, através destas leituras, optamos por pesquisar sobre as estruturas naturais,
quanto a sua forma, resistência à tração, compressão, flexão e torção; e sua
composição.
Segundo o Aurélio (1975), define-se estrutura como a “disposição e a ordem das
partes de um edifício, tendo também aplicação nos seres vivos, na Botânica, na
Geologia, Física e Sociologia”. Estrutura é uma palavra muitas vezes associada/
confundida com o termo “construção”, mas, no entanto, esta trata do ato de dar
estrutura à forma, função e informação de algo.
Para a Biologia, estrutura se refere a constituição anatômica e histológica. Na
Física, a estrutura está presente onde existe material. Na Arquitetura, utiliza-se
esse termo para expressar tudo aquilo que resiste a cargas. Por isso, percebeu-
se que “estrutura” – seja esta macroestrutural, mesoestrutural, microestrutral
– está em tudo que nos rodeia, apresentando-se ora na forma, ora na função,
ora na informação de algo que assegura um funcionamento cibernético.
Aqui, por “cibernético”, compreende-se “o ato de levar um sistema de coisas
ligadas entre si, a desenvolver um conjunto de operações automáticas para
31
atingir um determinado fim” . Quis-se, portanto, mostrar que o conhecimento
e o emprego de estruturas, quando adequado, é de vital importância para a
otimização qualitativa/quantitativa no desenvolvimento de projetos. Salientou-
se, assim, que, ao longo de sua história natural, as estruturas vegetais também
vêm sofrendo mutações no intuito de se adaptar melhor ao meio-ambiente.
Foram essas estruturas vegetais que serviram de impulso à criatividade neste
projeto.
Quando este esforço é de tração numa dada direção, provoca uma contração
na seção lateral da peça. Este fenômeno é conhecido como efeito d A relação
Figura 2e: Rotação
entre as deformações em cada direção, nos fornece a constante chamada de
coeficiente do Poisson, a saber:
uυ = E2 / E1.
Material E (kg/cm2)
Membrana do osso 82
Polietileno 14280
Figura 4: Gráfico demonstrando
Madeira 142800 a fase plástica do material e
ponto possível de ruptura.
Vidro comum 714000
Alumínio 714000
Bronze 1224000
Diamante 12224000
Figura 5.
Por sua vez, a energia de deformação elástica é um tipo de energia definida
como a capacidade de se realizar trabalho. Todo material elástico sob esforço,
contém energia de deformação independentemente do tipo de esforço.
Ressalta-se também que as estruturas naturais sofrem com o efeito de escala, pois
parte da evolução das formas na natureza pode ser explicada pelo efeito de escala,
devido a qual a evolução das formas é também uma evolução de tamanhos.
As primeiras formas de vida consistiam em amebas e outros organismos
unicelulares cujas diferenças substanciais eram pequenas. Nesses organismos,
a estrutura protetora consistia em uma membrana formada pela tensão
superficial das substâncias orgânicas. A escala de tensão superficial tem a
resistência suficiente para dar coesão ao organismo. À medida que foram
Figura 8: Radiografia da concha
de um Náutilo de Câmaras aparecendo outras formas de vida de dimensões maiores, a membrana foi
(Náulilus Pompiluis), uma concha endurecendo e diferenciando-se, primeiro mantendo uma analogia da tensão
marinha moderna. As sucessivas superficial em termos de elasticidade, como podemos constatar em muitos
câmaras do Náutilo estão moluscos. Logo, o progressivo endurecimento gerou o exoesqueleto de
construídas sobre a estrutura crustáceos, insetos e outros animais. (Figura 8)
de uma espiral logarítmica. A
medida que a concha cresce, o Com os tamanhos superiores foram aparecendo novas soluções qualitativas,
tamanho das câmaras aumenta, que combina uma estrutura rígida e uma membrana externa em tensão, citando
mas seu formato permanece o caso dos mamíferos.
inalterado (veja H. E. Huntley, p.
3). Exemplo do crescimento de Também com o passar do tempo como já citamos, novas soluções estruturais
um organismo mantendo a sua para aumentar o tamanho dos organismos sem aumentar seu peso e assim
analogia de tensão superficial diminuir sua quantidade de material foram surgindo. As plantas necessitam
inicial. de grandes áreas para absorver energia do sol e assim poder realizar a
fotossíntese. Para garantir a sua rapidez necessária, pequenos caules lançam-se
sobre as folhas com um mínimo de material. Todas estas informações coletadas
em revisões literárias e na observação da natureza como um todo, levaram-nos
a escolher o estudo das estruturas dos vegetais como argumento de pesquisa,
onde então a partir de agora passamos a observar os vegetais de forma mais
qualitativa e se possível quantitativa no que tange a sua composição, forma e
resistência. (Para maiores informações e definições sobre resistência dos mate
riais e estruturas naturais, veja W. A. Nash e Fabrício Vanden Broek). (Figura 9)
Terceira Parte
5. Movimentos e elementos de simetria
Neste momento, o “argumento de pesquisa” já é conhecido. Assim, começou-
se a procurar fontes de informação a respeito das estruturas vegetais, suas
formas, organização, inflorescência, nomes científicos, composição etc. A
primeira investigação foi realizada na Biblioteca Central da Universidade Federal
de Santa Maria, RS. Nesse recinto, percebeu-se a carência de material para
estudo sistemático de determinados vegetais que apresentam características
interessantes para aplicação em projetos de produtos, criativamente, orientados
pela Biônica. Por exemplo, pouco encontramos sobre o Bambu33, o Capim Santa
Fé e o Capim Anoni, vegetais estes encontrados facilmente na região de Santa
Figura 9: Exemplo de como a
natureza otimiza as estruturas
Maria, Rio Grande do Sul.
para que os organismos Então para os primeiros estudos utilizamos livros sobre Botânica Sistemática,
tenham uma determinada
forma com o mínimo de vistos que eram abundantes em nossa biblioteca, tais como o de Alfreda William
material. Thames34. Com este livro analisamos plantas, como a samambaia e a margarida,
Colênquima
O colênquima (Figura 18), tecido de sustentação, trata-se de conjunto de células
extensíveis com considerável grau de plasticidade e funcionam como tecido de
suporte nos órgãos em crescimento. Possuem protoplastos e paredes celulósicas
espessas. Geralmente, ocupam uma posição periférica nos órgãos em que
aparecem e podem aparecer na forma de faixas discretas.
Parênquima
É o tecido fundamental das plantas, encontradas na medula e no córtex dos
caules e das raízes etc. Com paredes delgadas, vacuolizadas e com protoplastos
vivos. Podem ter paredes secundárias de lignina como no xilema secundário. Figura 16: Cyperus Baspan. SSP
O parênquima é afetado pela pressão e tensão superficial, na qual estas forças Juacóides.
afetam a forma do tecido, moldando-o na forma de um poliédrico, com média de
14 facetas, como mostra a Figura 19.
Esquerênquima
As paredes celulares são paredes secundárias espessas e as células geralmente
não têm protoplastos vivos quando maduras. Apresenta função semelhante
ao colênquima, porém não tem conteúdo vivo e é lignificado. Pode ser dividido Figura 18: Amostras do
colênquima.
em esclerócitos e fibras, tendo as fibras especial atenção devido sua grande
utilização económica.
São alongadas com extremidades pontiagudas e podem aparecer sozinhas
ou em feixes. São conjuntos de feixes que constituem as fibras duras (sisal)
ou fibras macias como o linho, são principalmente fibras de linho. As fibras
produzidas pelas plantas têm sido aproveitadas economicamente há muitos
séculos. Existem evidências de que o algodão foi usado entre 7.200 a 5.200 a.C.,
em Tenhuacam, Vale do México, entretanto, o algodão é obtido a partir dos pelos Figura 19: Micrografia
da testa da semente e não é uma fibra verdadeira no sentido botânico. eletrônica mostrando os
Astroesclerócitos ramificados
Aproximadamente 1.000 anos atrás, o povo do deserto de Utah, nos Estados
nos espaços aéreos colunares,
Unidos, sabia como extrair as fibras vegetais, talvez pela mastigação de parte que pode ser uma maneira
das plantas e como moldá-las numa corda; cordames de vários tipos têm sido de aumentar a resistência do
encontrados nas cavernas a níveis que datam de 9.201 a.C. Uma bolsa completa Pecúlo.
Figura 20: Cortes longitudinal e A seguir, observamos o mesmo elemento da Figura 23, porém envolvido por uma
transversal da fibra da videira. mola helicoidal que possa proporcionar maior flexibilidade ao modelo biônico.
Aqui, apresentam-se as caraterísticas necessárias para que o modelo possa
ser flexionado e no momento da liberação de carga, possa retornar à curvatura
inicial. A Figura 24 mostra a esfera que serve como elemento de articulação e
junção ao imaginado “joelho”.
A Figura 21 apresenta uma bifurcação em Y que poderia ser configurada em
outras letras para utilização como gancho ou ligação para novas ramificações
estruturais. Têm, por base ou fonte de inspiração, as saliências existentes nas
figuras naturais estudadas. A Figura 22 exibe modelo com extremidade cônica,
sendo uma pontiaguda e outra cônica, indicando base de apoio. Esta base
é inspirada na saliência natural que as fibras apresentam. Observem-se os
detalhes da base.
A Figura 23 apresenta um modelo com de uma canalização ocorrendo
simultaneamente. Aqui, as mangas que contraem a base cônica-esférica,
encontram-se apenas nas junções para que seja possível um sistema que uma
as barras laterais. Estas barras laterais podem ser distribuídas de acordo com o
lado onde seja solicitado os maiores esforços. Na base observa-se um dos tipos
de ligações entre os tubos que podem existir.
No detalhe da Figura 23 ainda pode-se sugerir dois distintos modos de união
entre os tubos. Essas ligações poderiam ser feitas, através de uma vista da
Figura 21: Corte de possível Figura 22: Modelo, a partir Figura 23: Modelo, a partir Figura 24: Modelo, a partir
modelo para a estrutura da da estrutura da videira, mola da estrutura da videira, com da estrutura da videira, com
videira. Detalhe do cilindro em hélice para flexibilidade/ extremidade bifurcada em Y extremidades cônicas.
externo. resiliência. invertido.
Ou imaginando de outra forma, este círculo de feixes poderia assumir uma forma
helicoidal ao combinarmos um conjunto deles, como aquela em que o caule da
videira (gavinha) assume ao enroscar-se em um tronco, ilustrado na comparação
entre as Figuras 35 e 36.
Este tipo de disposição traria adaptabilidade a estrutura a qualquer tipo de
irregularidade que se encontrasse no local onde se dispõem.
Todos estes elementos citados formam a parede celular das células ou melhor,
cada uma das paredes. Os sentidos de progressão dentro de cada parede são
diferentes, e isto faz com que os elementos fiquem cruzados, aumentando a
resistência da parede celular, com um mínimo de material. A Figura 40 ilustra
estas paredes com cortes realizados na parede celular, formando algo parecido
com um bolo em camadas.
Figura 37: Caule da videira A estrutura resultante assemelha-se a um cabo de aço, com seus fios de aço
(gavinha) enrolada em um tronco.
entrelaçados sobre um arame mais grosso central. Esse arame central seria o
interior da célula e os fios a parede. Veja a Figura 41.
No entanto, as células são encontradas em grandes quantidades, e uma
exercendo pressão sobre a parede das outras, fazendo com que sua forma seja
semelhante a de um polígono qualquer, como é mostrado na Figura 42, para uma
forma sextavada.
A hemicelulose também conhecidas como meio-celulose, não possuem
Figura 38: Ligação de duas
composição química definida, pois é composta de muitas substâncias em
moléculas de Bglicose, base da
formação da celulose. quantidades aleatórias, como glicose. Ela é o constituinte que preenche as
células, tal como a argamassa o é na construção civil (enchimento). Caracteriza-
se por ser higroscópica e por isso é facilmente removível com água quente
quando analisada em laboratório. É quebradiça e pode ligar-se com outras
moléculas polares.
A lignina é uma substância aromática tridimensional, altamente estável, mais
estável que a própria celulose, pois é composta por álcoois que são mais fortes
que as pontes de hidrogênio da celulose. Ao contrário da hemicelulose, a celulose
Figura 39. Pontes de hidrogênio; não pode ser quebrada, pois é mais estável. A lignina é uma cadeia de álcoois
partes da microfibrilas e o local conifenílicos e álcoois simafíbicos obtidos pela hidrogenação da Fenilalamina
das pontes de hidrogênio.
(formada pelo radical Benzênico que progressivamente transforma-se em Ácido
Cinânico e Cirívico, devido a perda de Amônia, e sucessivamente em Álcoois
Conifenílicos e Simafíbicos, como ilustra a Figura 43.
Por extrativos, consideram-se todos os elementos que se encontram infiltrados na
célula. É graças aos extrativos, a lignina, a hemicelulose e a celulose que as células
apresentam uma extraordinária resistência, sendo que até hoje o homem não
Figura 40: “Bolo em camadas”, conseguiu criar um material tão resistente quanto a célula, em relação a seu peso.
mostrando a organização O radical benzeno é formado por seis átomos de carbono e também seis
dos feixes de moléculas nas
hidrogênios ligados à carbonos, distribuídos segundo uma simetria, como
camadas da parede celular.
a mostrada na Figura 44 deduzida pela difração de nêutrons. Nela estão
claramente visíveis o anel de benzeno com curvas fechadas, linhas de contorno,
que identificam a densidade dos elétrons e sua distribuição simétrica.
As análises micrográficas permitiram que observações da anatomia das
plantas fossem feitas, formalmente, que para entendê-las iremos classificar
as células em dois tipos, que segundo nomenclatura contemporânea são:
1. Prosenquimáticas; 2. Parenquimáticas. 3. As células Prosenquimáticas,
Figura 41: Detalhe de um cabo caracterizam-se por apresentar a parede celular espessa, muito lignificada,
de aço. atuando na condução da seiva bruta. Elas atuam também na sustentação
Análise macrográfica
A macrografia é o estudo ou análise da planta a olho nu, e com ela podemos
observar as seguintes características: A madeira, caule, é composta de medula,
madeira propriamente dita e a casca. A Figura 51 mostra as disposições destas
partes no caule, e nela também podemos identificar outros elementos, como
o câmbio vascular (limite da madeira com a casca), que é onde se produz as
células para a casca e para a madeira, e com põem-se apenas de uma camada
de células, com somente parede primária, para facilitar a troca de material.
Podemos identificar quando termina o crescimento de uma célula, pois se obtêm
a parede secundária (camada de força), determinando a vida da célula que segue:
• divisão;
• crescimento; Figura 50: Filotaxia das plantas.
• parede secundária;
• lignificação (mais resistente);
• morte.
Isto tudo é identificado porque a madeira (xilema) é quem conduz a seiva bruta, e
caracteriza-se por ser morta. Já a casca (floema), é composta de células vivas e
conduz a seiva elaborada.
Com isto, podemos concluir que a videira estudada anteriormente era uma planta
jovem, pois ainda não apresentava a madeira entre a medula e os condutores
de seiva elaborada, floema. Outra conclusão a que se chega, é que se a casca de
uma árvore for removida, ela está condenada à morte, pois não há como mandar Figura 51: Corte do tronco
seiva elaborada para a raiz da árvore, que morrerá à míngua, e, assim, deixará de de uma árvore mostrando a
mandar seiva bruta para o ápice da árvore, matando-a por completo. madeira e a casca.
Fazendo uma observação mais apurada do corte transversal do tronco da
árvore, ainda podemos identificar a sua Idade, contando o número de círculos
claros ou escuros concêntricos no caule, sendo a parte clara a fase de maior
crescimento da planta, que ocorre na primavera; e a parte escura de menor
crescimento, no Inverno.
Na mesma figura, ainda podemos observar linhas radiais identificando as células
com sentido radial, e as transversais, concêntricas, que indicam a disposição da
maioria das células.
As células transversais executam todas as funções vistas até agora, e as radiais
tem uma peculiaridade, que são ser células vivas que servem de condução da
seiva elaborada para aquelas células que ainda se encontram vivas dentro da
madeira, pois num tempo passado, estas células que ainda se encontram vivas
faziam parte da casca (parte sempre viva) antes da árvore crescer radialmente.
Também é interessante a observação de que a medida que a árvore fica velha, seu
crescimento radial diminui, aproximando as linhas escuras (inverno) das linhas
claras (primavera). O fenômeno da madeira trincar com o passar do tempo, depois
de morta a árvore e cortada, também pode ser entendida macroscopicamente,
que é devido à hidrogenação da planta (água), que quando morta evapora a água,
fazendo com que ocorra uma contração das células sem vida.
Quarta Parte
6. Realização do projeto
Aperfeiçoamento do modelo biónico videira
Neste capítulo trabalharemos em cima dos debuxos anteriormente realizados
para o possível modelo, realizando modificações no mesmo para acrescentá-
lo mais algumas características da videira, bem como aperfeiçoar falhas já
identificadas.
Comecemos imaginando que as tubulações demostradas na Figura 52, possuem
Figura 52: Tubulação sextavada
forma sextavada, como o que realmente acontece com as células de condução e
com topos fechados e
aberturas laterais. a condução seja feita radialmente.
A condução é feita radialmente e os tubos são fechados nas extremidades.
Este círculo de feixes hexagonais na qual os cilindros (I) servem como fixação
para as mangueiras que devem encaixar nos cilindros das tubulações. Alguns
destes cilindros devem ser ocos, permitindo a passagem do material conduzido
de um lado para o outro do círculo de feixes. No mesmo desenho, os sextavados
extremos são os elementos que suportam os feixes de fibras, análogos aos
cubos imaginados.
As aberturas da passagem de matéria localizados nas tubulações, podem ser
colocadas ou posicionadas nos cilindros fixos dos círculos, que adquirem uma
forma nova, evitando problemas de vazamento de matéria nas tubulações ao se
movimentar o mecanismo como um todo visto que o círculo mantém sempre a
Figura 53. Aberturas da mesma posição em relação as tubulações.
passagem da matéria sobre os
cilindros dos círculos. O cilindro, agora apresenta em seu centro a forma sextavada com rasgos para
encaixarem-se dentro das raias do círculo, sendo que sobre a forma sextavada
encontram-se as aberturas de passagem da matéria, mantendo a trajetória
espiral de condução.
A Figura 53 apresenta um sistema que possibilita curvar a tubulação, mostrando
Figura 54: Círculo de feixes. em corte uma espécie de manga flexível que se desloca no interior de um dos
lados da tubulação, permitindo que mudanças de direções sejam feitas sem que
ocorra vazamento matéria conduzida.
Outra mudança diz respeito aos feixes de fibras que se posicionavam nos tubos,
que agora são substituídos por um único cabo. Um cabo de aço envolvido por Figura 56: Vista em Perspectiva
uma mola flexível por uma mola flexível para proporcionar o retorno do modelo a do modelo biônico da videira.
sua posição ereta.
utomação do modelo
A
Para que o modelo pudesse ser flexionado, sem que algum dos cabos fosse
tracionado, na qual sistemas de roldanas posicionadas em cada um dos pontos
onde fixa-se os cabos, permite que os mesmos sejam liberados a medida que a
tração neles aumente ou diminua, e que ocorra uma deformação angular na mola
de compensação que tem a função de enrolar o cabo em uma roldana e fazer
com que o sistema retorne a posição inicial após retirado o esforço.
Matéria-prima utilizada
A matéria-prima utilizada foi o papelão de caixas de sapatos, devido a sua
facilidade de obtenção com um custo praticamente zero, pois todos tínhamos a
disposição em casa. Este mesmo material é de fácil manuseio e trabalhabilidade,
o que não exigiu maquinário especial para a construção e modelagem das peças
constituintes do modelo.
Também foi usada a cola tenaz, o elástico comercial, mangueiras plásticas e
folhas de ofício como matérias-primas e acessórias.
O tenaz foi usado para selar e dar formatos determinados as peças. O elástico
em substituição as molas e cabos que iriam propiciar o movimento do modelo
com a sua volta a posição normal (ereta), automaticamente. As mangueiras
plásticas para dar flexibilidade ao sistema.
E as folhas de ofício, como acabamento para as peças, visto que o papelão
(matéria-prima), vem com diferentes colorações e propagandas de tênis e
sapatos, o que não deixaria o modelo com uma coloração uniforme.
A folha de ofício, acabou por fim, em também aumentar a rigidez do modelo, pois
a mesma era colada com tenaz em toda e superfície das peças.
Ferramentas utilizadas
Figura 57: Antena de 3 estágios
Como ferramenta para construção das peças foram utilizadas canetas, lápis,
simulando o crescimento tesoura, régua, esquadro, papel manteiga, compasso de ponta seca, faca, arame
longitudinal do modelo. e muita criatividade
A caneta e o lápis para riscar sobre o papelão o formato das peças com o
auxílio da régua e do esquadro. Esta demostra a importância da Biônica para a
Engenharia, que é o exercício da criatividade. A tesoura para cortar o papelão no
formato desenhado. O compasso de ponta seca para copiar medidas padrões.
E a criatividade como ferramenta de integração das partes para que resultasse
no modelo proposto.
Contribuição
Como maior contribuição que esperamos ter deixado é a aprovação da Biônica
como um excelente meio de:
• Estimular os estudantes de engenharia de desenho projetual em matérias
básicas, por exemplo, física, química, biologia, matemática, desenho etc.
• Despertar a Biônica como uma técnica de longo prazo para o desenvolvimento
da criatividade.
• Aumentar o grau de consciência dos envolvidos com a prática projetual
da cultura material, por exemplo, engenheiros, arquitetos, desenhadores
industriais, sobre o ambiente natural e os seus elementos como fonte de
inspiração.
• Demonstrar que o questionamento sobre como se faz, como funciona, de que
é feito, para que serve etc. é fundamental para que estudantes do terceiro
grau ampliem os seus conhecimentos adquiridos na graduação e, desse juízo,
possam tornar os seus pensamentos produtivos mais divergentes daquilo que
se encontra dogmaticamente e previamente estabelecido, seja na prática diária
de suas profissões ou nos caminhos da pós-graduação e do ensino superior.
Projetos de pesquisa em Biônica podem se tornar grandes fontes de divisas não
só para industrialistas mas também para os países os quais apoiam este tipo de
investigação. Portanto, esperamos que, pequenas empresas acreditem nesta
técnica como modo de conseguir dar grandes saltos qualitativos em questões de
desenvolvimento de tecnologia endógena e em desenvolvimento e crescimento
industrial.
7 AGRADECIMENTOS
A equipe deste projeto, Professor Luiz Vidal Negreiros Gomes, Professor Amo
Udo Dallmeyer Professor Leonardo Nabaes Romano, Professora Jumaida Maria
Rosito, Professor Nilton Marquiori, Professor Adelino Alvarez, Professora Vera
Siqueira, a Técnica Elcy Batistella, a colega Lilia Weber Brum, o colega Hugo Sário
Scheid, por todas as ilustrações presentes nas figuras, e as instituições CNPq e
CT/UFSM pela iniciativa na criação e participação no programa REENGE.
Referências
1. GÉRARDIN, Lucien. Bionics. London: World University Library, 1968, p. 11. Nota: Esse livro foi escrito
originalmente em francês. No ano de lançamento da edição inglesa (1968) o livro foi também publicado
na Itália. Desconhecemos edição portuguesa desse trabalho.
2. David H. Offner (1923-2015), PhD e professor do Mechanical Engineering Department da University
de Illinois. Em 1995, professor David Offner lançou o livro Design Homology: An Introduction to Bionics,
com conteúdos que vão desde “Introdução à Homologia em Desenho Projetual até à Morfologia do
Desenho Natural, passando por questões de projeto/desenho naturais”. Disponível em: https://books.
google.com.br/books?redir_esc=y&hl=ptBR&id=YJQAAAAMAAJ&focus=searchwithinvolume&q=.
3. Von GIERKE, K. W. D.; OIESTREICHER, H. L. (Editors). Principles and Practices of Bionics. Slough:
Technivision Services, 1970.
4. PAPANEK, Victor. Diseñar para el Mundo Real. Madri: H. Blume, 1977, p. 190; di BARTOLO, Carmelo.
Construzioni Leggere Nell Árchitettura. Milano: Istituto Europeo do Design, 1986, p. 95; BONSIEPE, Gui.
Teoría y Práctica del Diseño Industrial. Barcelona: Gustavo Gili, 1975, p. 125-134; VANDEN BROECK, Fabricio.
Bionique, Biodesign. Lousanne: Ecole Cantonale des Beaux-Arts et d’Art Apppliqué, 1981, p. 3-5; VANDEN
BROECK, Fabricio. Biodeseño: Una Filosofia de Proyectación. Manuscrito do autor. México, 1986, 16p.
32. Revista Cidade Nova, Ano XXVI ne 8, agosto de 1984. THAMES, Alfreda William. Botânica
Sistemática. 92 Edição. Ribeirão Preto: Gráfica e Editora Andrade, 1977; CUTTER, Elizabeth G. Anatomia
Vegetal. 22 Edição. São Paulo: Roca.
33. HALLlDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos da Física. 42. ed. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos, p. 174-177.
34. RAO, A. G.; KOLI, Madhavi. Bamboo Craft Design. Mumbai: IIT, IDC, 1994.
35. THAMES, Alfreda William. Botânica Sistemática. 9. ed. Ribeirão preto: Gráfica e Editora Andrade,
1977, p. 15.
36. O Brasil é país que mais tem espécies de margarida no mundo. São mais de duas mil, espalhadas
de Norte a Sul, um desafio e tatno para cerca de 40 profissionais que dedicam a vida a conhecer e
desvendar os mistérios de uma família tão vaiada que inclui alface, alcachofra e camomila. Cf., AZEVEDO,
Ana Lúcia. Profissão Margaritólogo. O Globo. Segundo Caderno, Sábado 16 de dezembro de 2017, p. 4.
37. THAMES, Alfreda William. Botânica Sistemática. 9 ed. Ribeirão preto: Gráfica e Editora Andrade,
1977, p. 15.
38. CUTTER, Elizabeth G. Anatomia Vegetal. 20 ed. São Paulo: Roca, 1986, p. 70-75.
Resumo
Este artigo apresenta uma reflexão sobre a necessidade da prática interdisciplinar com
conhecimentos relacionados a biologia, ecologia e biotecnologia no campo do design.
O artigo enfatiza que a biônica e biomimética devem ser incentivadas como abordagens
importantes em prol da inovação e sustentabilidade. A pesquisa documental mostra a diferença
de Biônica e Biomimética e sua importância relacionada a um maior conhecimento da natureza
que podem servir de auxílio ao desenvolvimento de produtos mais inovadores e adequados
ao meio ambiente. Como resultado, o artigo defende a necessidade de pesquisas sólidas de
sistemas naturais e de uma relação interdisciplinar com saberes relacionados a biologia como
forma de encontrar soluções para o projeto de produtos sustentáveis.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Biônica; Biomimética; Ensino de design.
Abstract
This paper presents a reflection on the need of interdisciplinary practice with knowledge related to
biology, ecology and biotechnology in the field of design. The article emphasizes that bionics and
biomimetics should be encouraged as important approaches to innovation and sustainability.
The documentary research shows the difference of Bionics and Biomimetics and their importance
related to a greater knowledge of nature that can serve as aid to the development of products more
innovative and appropriate to the environment. As a result, the article advocates the need for solid
research on natural systems and an interdisciplinary relationship with biology-related knowledge as a
way to find solutions for sustainable product design.
Keywords: Interdisciplinary; Bionics; Biomimetics; Teaching design.
1 Introdução
O conhecimento do designer de produtos organiza-se a partir de conhecimentos
para criar soluções que se materializam em artefatos. O conhecimento
está profundamente atrelado à cultura e à sociedade, lembrando que estas
transformam-se, evoluem, progridem e regridem. Para Tronca (2006, p. 65)
o saber hoje tem que ser repensado considerando-se a grande massa de
informação e saberes.
Complexo pode ser Sabe-se que o processo de design é complexo, pode parecer que complexidade
entendido como um tecido supõe confusão, desordem, incerteza, mas ordem e desordem são processos
de acontecimentos, ações, constitutivos da complexidade e, portanto do processo de design; dessa forma,
interações, determinações, o pensamento do designer deve ser abrangente, multidimensional, capaz de
acasos que constitui o processo.
compreender a complexidade envolvida e construir novos conhecimentos que
levem em considerações novas problemáticas.
As relações das fases projetuais que constituem o processo de design devem
ser presididas por integrações de métodos, conhecimentos e teorias de diversas
disciplinas. Assim, o processo de design não é apenas constituído pelas fases
projetuais, mas pelas ações que se estabelecem entre elas. O conjunto dessas
relações constitui a organização do processo projetual.
Se considerarmos que dentro do processo de projeto há uma sequência de passos
que partem de uma necessidade ou um problema até a solução ou produto,
entende-se que deveria existir em cada passo um conjunto de ações que deveriam
O modo de pensamento ser realizadas por uma equipe interdisciplinar formada por indivíduos com pontos
ou de conhecimento
de vista cognitivamente diversos permitindo uma inter-relação de múltiplas ideias,
fragmentado, monodisciplinar
e simplesmente quantificador, informações, opiniões, teorias em intercambio contínuo.
tomando como critério de A complexidade da dimensão da sustentabilidade exige uma postura diferente
construção o ponto de vista
do designer, este artigo propõe que o design seja um campo que abrace um
(o paradigma) de um ramo
do saber autodeterminado corpo de conhecimentos diversos para se tornar um campo de design orgânico
ou disciplina, com todos os que integre de forma reflexiva e responsável disciplinas que permitam um
seus interesses subjacentes, é desenvolvimento sustentável. Parafraseando Japiassu (2066) é necessário
responsável pela prevalência que as instituições de ensino criem lugares permanentes de trocas e debates
de uma inteligência bastante
permitindo aos diversos “especialistas” colocar em comum suas experiências.
míope ou cega na medida em
que é sacrificada a aptidão Para Tronca (2006, p. 76) “considerando o mundo em constante transitoriedade,
humana normal de religar os onde o conhecimento evolui de forma incontrolável e a quantidade de
conhecimentos em proveito
novas informações disponíveis é cada vez maior, é impossível que maneiras
da capacidade de separar ou
desconectar. (JAPIASSU, 2006, reducionistas de aprendizagem persistam”.
p. 15)
2 A interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade surgiu como uma nova atitude frente ao saber. Ela
reconhece as disciplinas, mas promove, num exercício coletivo de saberes
(integração possibilitada pela continua intercomunicação). Na concepção de
Demo (1997, p. 114) (...) a interdisciplinaridade representa a orquestração
intrínseca das disciplinas, fazendo convergir seus pontos diversificados
de origem. Para Fazenda (1991, p. 31) (...) seu princípio é sempre o mesmo:
Figura 2: O beija-flor-de-
pescoço-vermelho (Archilochus
colubris) voa mais de 800
quilômetros, do litoral sul da
América do Norte ao México.
Os beija-flores percorrem
tantos quilômetros com o
equivalente de 3 mililitros de
combustível.
Figura 7: Segundo
procedimento.
Fonte: Adaptado de Ramos,
1993, p. 39.
Figuras 8 e 9: Libélula e
Dragonfly.
A natureza leva seus limites A natureza é movida a energia solar; usa apenas a energia de que precisa; adapta
a sério, produzir alimentos a forma à função; recicla tudo; recompensa a cooperação; confia na diversidade;
de acordo com a capacidade
exige especialização geograficamente localizada; inibe excessos; “explora o
produtiva da terra, manter um
equilíbrio energético.
poder dos próprios limites” (BENYUS, 1997)
A natureza como mentora: a Biomimética é uma nova forma de ver e valorizar
a natureza. Se baseia não no que podemos extrair da natureza, mas no
que podemos aprender com ela. As soluções encontradas na natureza são
eficazes. A estrutura natural do reino animal, vegetal ou mineral é regulada na
sua evolução por precisas leis da física para se adequar ao meio ambiente. A
Biomimética surge na década de 90 no meio de uma série de informações em
relação as problemáticas ambientais, por este motivo traz no seu conceito uma
abordagem mais ética e reflexiva.
A natureza sempre utiliza a menor quantidade de matéria e energia para
obter o máximo desempenho. O entendimento de como a natureza faz isto,
fornece base para o desenvolvimento de produtos que aproveitem melhor as
características dos materiais, processos e descarte.
As frutas como a laranja, tangerina são produtos e embalagens que apresentam
“absoluta coerência entre forma, função, consumo e descarte”. Cada receptáculo
é embrulhado individualmente por meio de películas, todas elas protegidas por
Figura 13: Laranja. uma casca forte e biodegradável. (Figura 13)
O floco de neve pode apresentar uma configuração variável determinada por
forças como a temperatura, umidade, velocidade do vento formando uma grande
variedade de configurações com a mesma matéria-prima. (Figura 14)
5 Conclusão
A natureza é uma fonte inesgotável de exemplos de soluções eficientes que
podem servir de modelos na resolução de problemas humanos. Ela pode
contribuir na concepção de produtos inovadores e sustentáveis. Para isto,
Figura 16: Abelha.
designers necessitam de apoio interdisciplinar da biologia técnica, biônica,
Pela aerodinâmica a abelha biomimética, para poder entender e aplicar os conhecimentos dos sistemas
não deveria conseguir voar. Mas
naturais. (Figura 16)
como ela não sabe disso, voa
do mesmo jeito. Mary Kay Ash Este artigo teve como objetivo apresentar os conceitos de biônica e biomimética
Os cientistas sempre tiveram e perceber que temos na natureza uma transformação de energia e matéria de
dificuldade para entender o voo
dimensões gigantescas, um sistema tecnológico que trabalha com um fator de
dos insetos porque, segundo
cálculos simplificados, os bichos rendimento eficiente e que se mantem por quatro bilhões de anos.
não deveriam ser capazes de É importante que frente aos mais diversos problemas ambientais os futuros
se manter no ar por causa das
profissionais que desenvolvem produtos utilizem a biônica e biomimética de
asas muito pequenas.
Os cálculos, no entanto, forma consciente em seus trabalhos. Evitar que uma simples analogia formal
estavam errados por enxergar de um sistema natural seja denominada de aplicação biônica. Espera-se que
as asas dos insetos como este trabalho sirva de incentivo para que professores insiram conhecimentos de
plataformas estáticas, como biônica e biomimética nas suas disciplinas.
as dos aviões. Na verdade, o
movimento delas consegue
Referências
criar pequenos vórtices no ar, o
BENYUS, Janine M. Biomimética – inovação inspirada na natureza. São Paulo: Cultrix, 1997.
que permite o voo.
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TRONCA, Dinorah Sanvitto. Transdisciplinaridade em Edgar Morin. Caxias do Sul. RS, 2006.
Resumo
É possível perceber como algumas coisas na natureza, apesar do aspecto orgânico, parecem
precisamente e milimetricamente calculado sobre um padrão matemático.
Em muitos desses padrões estão escondidas algumas sequências matemáticas das mais
importantes. Uma delas e mais exploradas é a sequencia de fibonacci que converge para a proporção
áurea (1,618033…). Outras que demonstraremos no texto, são os fractais, os fluxos, as ramificações
dentre outras. Procuraremos demonstrar que mesmo por traz deste sistema caótico e de ordem ao
mesmo tempo, seus princípios e construções possuem uma base comum.
Palavras-chaves: Padrões e natureza; Lei constructual; Biodesign.
Abstract
It is possible to see how some things in nature, despite the organic aspect, seem precisely and millimetrically
calculated on a mathematical pattern.
In many of these patterns are hidden some mathematical sequences of the most important. One of them
and more explored is the fibonacci sequence that converges to the golden ratio (1.618033 ...). Others
that we will demonstrate in the text, are the fractals, the flows, the ramifications among others. We will
try to demonstrate that even behind this chaotic and orderly system at the same time, its principles and
constructions have a common basis.
Keywords: Patterns and nature; Construction law; Biodesign.
1. Introdução
Um dos aspectos mais interessantes da natureza, do ponto de vista do
designer, é a sua formidável coerência formal e estrutural. Como vários autores
apontaram e, em particular, Peter S. Stevens em seu livro Patterns in Nature,
por trás da aparente diversidade de formas e soluções na natureza, há uma
unidade porque todos derivam da combinação de alguns padrões e princípios de
construção básicos.
Figura 3: Rio fluindo, seguindo o A explosão é um padrão de expansão espacial rápida que se manifesta quando a
padrão do meandro. urgência se impõe: o exemplo mais imediato é a explosão, em seu sentido literal,
2. Tudo flui
Na natureza, o que percebemos como formas são apenas “quadros” de uma
sequência de mudanças contínuas na busca de um equilíbrio dinâmico. Essas
sequências de mudanças constituem fluxos.
Este princípio é válido para qualquer forma de energia em qualquer das suas
manifestações: massa, informação, etc. Na natureza, um sistema aberto por
definição, as fontes de energia são múltiplas e diversas, o que gera diferenças
acentuadas no potencial energético: se ativa então os fluxos que colocam em
movimento fluidos de diferentes naturezas e em diferentes direções, gerando
uma combinação complexa de turbulência, fluxos laminares, explosões, todos
esses fenômenos que mostram padrões que também encontramos em muitas
outras manifestações, inclusive animadas.
Não é difícil ver um paralelo entre a semente, sua transformação em uma planta
através da expansão e ramificação e o que acontece com o núcleo do cristal de
neve, sua expansão através de uma certa explosão (constituída por apenas seis
raios) e as ramificações sucessivas dos raios.
3. Conclusão
Os padrões que vemos e concebemos de forma isolada na natureza estão na
realidade vinculados entre si e fazem parte de um fenômeno único promovido
pela necessidade de expansão e distribuição uniforme de energia em um
ambiente de constante mudança, sempre em movimento: o fluxo, sistema
caracterizado por dois estados, um de concentração e o outro de expansão que
se alternam entre si de forma indefinida.
O fluxo se manifesta tanto no inanimado como no animado em resposta à 2ª lei
da termodinâmica e ao princípio básico de todas as formas: a Lei Constructual
proposta por Bejan que pode ser resumida da seguinte forma:
REFERÊNCIAS
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Abstract
Through this article we intend to analyze the possibilities of the use of natural analogies as a source of
inspiration to solve human problems. The research also aims to identify the potential of the use of these
analogies, by Bionics or Biomimetics, in the search for alternatives for the creation and development of
products less harmful to the environment. The opportunities arising from the new technologies in the
expansion of this field of study are highlighted.
Keywords: Bionics; Biomimetics; Design; Sustainability.
1. Antecedentes
Ao longo da história da existência humana na terra a natureza sempre ofereceu
ao homem um vasto catálogo de soluções para problemas variados.
No processo evolutivo os organismos mais adaptados às condições do meio
ambiente sempre tiveram maiores chances de se reproduzir. Isso faz com
que características que resultem em eficiência e funcionalidade, passem
para as gerações seguintes. Por outro lado, os seres que não possuem essas
características tendem a desaparecer.
Os primeiros humanos usavam a experiência dos processos naturais como fonte
de inspiração para resolver seus problemas cotidianos. A forma dos peixes pode
ter servido de inspiração para a configuração das primeiras canoas. As primeiras
choupanas apresentavam semelhanças com os ninhos dos pássaros. A ponta do
arpão, usado desde a idade da pedra, é semelhante ao ferrão dos insetos e aos
espinhos de algumas plantas.
Desde os primórdios os humanos tiveram também de batalhar contra ameaças
existentes na natureza. Na luta contra animais e plantas perigosas, inundações,
fogo e fome o homem desenvolveu, além das ferramentas, outros meios para
poder controlar e não ser controlado pelas forças naturais. Essa aparente
oposição entre o homem e o meio ambiente natural contribuiu para um
afastamento entre o ser humano e a sabedoria existente na natureza.
Na busca de respostas para seus problemas, o homem pode obter avanços
significativos se voltar a utilizar as soluções existentes no meio natural,
aproveitando o potencial dessas lições e encarando a natureza – não mais como
ameaça que deve ser eliminada – mas como fonte de inspiração consciente
capaz de oferecer alternativas para a solução dos problemas e necessidades
humanas. (Ramos, 1993).
Embora existam muitos exemplos do uso de analogias naturais para o
desenvolvimento de artefatos ao longo da história, a sistematização desse
conhecimento ainda é relativamente recente.
Nos anos 60 surgem iniciativas com o objetivo de integrar a biologia e a
engenharia. O major Jack Steele usou termo Bionics (Biônica), para nominar “a
ciência dos sistemas cujo funcionamento foi copiado de sistemas naturais ou
que apresentam características específicas de sistemas naturais ou ainda que
lhes são análogos” (Arruda, 2012).
Também nos anos de 1960 surge o termo Biomimetics (Biomimética) cunhado
por Otto H. Schmitt com o objetivo de sistematizar conhecimentos para estudar
e replicar os métodos, projetos e processos existentes na natureza. (VINCET,
2006)
Mas foi Janine Benyus, cofundadora do Biomimicry Institute, a responsável
pela popularização do termo Biomimetismo (Biomimicry). Benyus define a
Biomimética através da delimitação de três abordagens: natureza como
modelo; natureza como medida e natureza como mentora. Essas abordagens
2. A
Biomimética e Sustentabilidade ambiental
– atualidade e futuro.
Entre os grandes problemas da atualidade destacam-se os impactos ambientais
causados pelas atividades humanas que podem ser vistos na deterioração dos
recursos hídricos, na destruição da floresta, redução na camada de ozônio,
na acumulação de ozônio na troposfera, no efeito estufa, chuva ácida e na
acumulação de resíduos sólidos.
A estudante de Design, Lilian Van Daal, desenvolveu uma cadeira inspirada nas
células das plantas, impressa em 3D a partir de um único material. Produtos
mono material são também mais fáceis de reciclar. O objetivo da estrutura da
Figura 2: Cadeira impressa em cadeira foi o de proporcionar flexibilidade e resistência, bem como o de explorar
3D as possibilidades de produção no local oferecidas pelo processo de impressão 3D
Fonte: Griffiths, 2017 (Griffiths, 2017).
Usamos materiais que duram 400 anos para construir objetos de vida útil
extremamente curta. Novos materiais inspirados a partir de materiais
produzidos por sistemas naturais abrem novas possibilidades para o uso de
matérias biodegradáveis ou recicláveis.
mas que além disso, apresenta uma configuração que imita a forma da teia para
dar flexibilidade e resistência ao conjunto (Autoconception, 2017)
No nível macro temos muito a aprender com a natureza, não apenas com
relação à formas e materiais, mas também com relação a comportamentos e
funcionamentos do sistema como um todo. A Ecologia Industrial e a Economia
Circular imitam a natureza ao criar sistemas de produção onde o resíduo de um
é a matéria prima do outro. Tenta-se produzir sem gerar lixo como acontece na
natureza.
No nível micro as possibilidades também são incontáveis. O desenvolvimento
da nanotecnologia abre novas oportunidades para o desenvolvimento de novos
Figura 3: Assento com superfície
materiais e sistemas. Peças coladas são difíceis de separar o que dificulta ou
em teia desenhado para
inviabiliza a reciclagem. Para resolver esse problema a Ford desenvolveu um envolver o corpo e distribuir o
sistema de união de peças baseado na pata da lagartixa. Esse sistema usa nano peso.
tubos para criar uma fita adesiva sem cola. “As pontas dos dedos das patas Fonte: Autoconception, 2017
da lagartixa fazem com que elas grudem em superfícies sem nenhuma tensão
superficial e, quando quiserem se soltar, o façam com extrema facilidade e sem
deixar resíduos. Exatamente o tipo de propriedade que a companhia automotiva
buscava” (Rodrigues, 2015)
3. Considerações finais
Apesar de existirem centenas de exemplos, nos quais o ser humano usou a
natureza como fonte de inspiração para resolver problemas variados, pode-
se dizer que a aplicação de princípios naturais em projetos ainda é incipiente
frente as incontáveis oportunidades que a natureza oferece. O conhecimento
sobre os princípios que regem os sistemas naturais depende de muita pesquisa
e a aplicação desses princípios depende da existência de tecnologias ainda em
desenvolvimento. Entretanto, existe um potencial muito grande de expansão
para o uso da Biomimética já que se as soluções existentes na natureza tendem
ao infinito os problemas humanos também são muitos.
Vivemos em uma era com grandes oportunidades e inovação no campo da
Biomimética. Os avanços recentes na biotecnologia e na nanotecnologia
permitem o desenvolvimento de novos materiais. Graças à impressão 3D
podemos produzir materiais com formas inspiradas no mundo natural que antes
eram muito complexas para serem fabricadas pelos processos tradicionais.
As patentes de Biomimética, os artigos acadêmicos e os subsídios de pesquisa
aumentaram mais de cinco vezes desde o ano 2000, de acordo com um relatório
citado por Bagley, (2014). O projeto “Perfis Profissionais para o Futuro da
Indústria Paranaense,” promovido pela Federação das Indústrias do Estado
do Paraná – Fiep identifica a Biônica como um dos domínios importantes para
formação de profissionais para o futuro. (Souza, 2015)
Tudo leva a crer que Biomimética deve aparecer cada vez mais em evidência
no futuro próximo. A humanidade tem usado a tecnologia e a indústria para
construir cada vez mais rapidamente esse nosso mundo artificial. Nesse
Referências
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Resumo
O mundo esta em um período de transição. As sociedades estão experienciando uma ruptura nos
seus modelos mais tradicionais. Diante dessa situação, aparentemente, caótica, surge a oportunidade
de re-imaginar o futuro, de pensar as relações estabelecidas com o ser humano, com as empresas
e com a natureza. Enquanto a disponibilidade de recursos naturais é comprimida pelo crescimento
populacional e por padrões de produção inadequados, as organizações procuram referências para
crescer de modo sustentável. A Biomimética, ciência que tem a natureza como inspiração, é uma
importante ferramenta nesse processo de mudança para um mundo sustentável e de inovações
disruptivas, no qual é necessário readequar as indústrias, repensar as lideranças e o impacto
de cada ação para o planeta. Para isso, a Biomimética ensina como olhar para os organismos
naturais para resolver problemas complexos. Os negócios dependem da natureza, e a busca por
soluções sustentáveis é, além de uma boa prática, uma condição necessária para a manutenção da
competitividade.
Palavras-chave: Biomimética; Inovação; Sustentabilidade; Problemas complexos; Negócios
sustentáveis.
Abstract
The world is in a period of transition. Societies are experiencing a rupture in their more traditional models.
Faced with this seemingly chaotic situation, the opportunity arises to re-imagine the future, to think about
the relationships established with the human being, with companies and with nature. While the availability
of natural resources is constrained by population growth and inadequate production patterns, organizations
are seeking references to grow sustainably. Biomimética, a science that has nature as inspiration, is an
important tool in this process of change towards a sustainable world and of disruptive innovations, in
which it is necessary to re-adjust industries, rethink the leaderships and the impact of each action for the
planet. For this, Biomimetics teaches how to look at natural organisms to solve complex problems. Business
depends on nature, and the search for sustainable solutions is, in addition to good practice, a necessary
condition for maintaining competitiveness.
Keywords: Biomimicry; Innovation; Nature; Complex problems; Sustainable Business.
1. Introdução
A lagarta ao deixar o casulo passa por horas de esforço contínuo para que possa
transformar-se em borboleta; alguns observadores científicos experimentaram
cortar o casulo para facilitar a vida da borboleta porém, notaram que sem o esforço,
a borboleta não pode voar e, consequentemente, não sobrevive por muitas horas.
Por meio do exemplo da borboleta, conforme sugere Pauli (2014) pode-se encarar
as crises como as formas de pressão capazes de energizar os seres humanos em
busca de novas soluções. Dessa maneira, as pessoas tornam-se mais conscientes
da necessidade da (r)evolução necessária para que haja a mudança.
A globalização foi responsável por uma grande transformação social, econômica e
ambiental. Antigamente, o lucro e o crescimento desenfreado eram os principais
norteadores das indústrias que visavam o crescimento do setor industrial. Esse
modelo de produção elevou o consumo de bens e, consequentemente, aumentou
a necessidade da extração dos recursos naturais. Os desafios atuais para reduzir
os impactos dessa extração dos recursos naturais não exigem, portanto, soluções
fragmentadas. Diante dos estágios da economia como extração, produção,
distribuição, consumo e descarte percebe-se a necessidade de novos valores
industriais que apresentem soluções sistêmicas e interligadas.
A maneira com que tudo está conectado interfere diretamente na perspectiva
dos negócios. Atualmente, há uma nova visão sendo compartilhada na qual é
notável a importância de criar uma ecoreestruturação nos processos produtivos.
A biomimética que tem como mentora a natureza, traz a ótica da importância da
adequação das indústrias nesse redimensionamento de atitudes empresariais. A
natureza se adapta e se adequa diante dos seus propósitos e necessidades, onde a
interdependência dá uma perspectiva holística que sintetiza unidades em um todo.
A soma dos conhecimentos disponibilizados pela natureza é a inspiração para
essa nova maneira de projetar. Leonard (2010, p. 11) afirma que “para que um
sistema exista dentro de outro, deve respeitar os limites do primeiro”, o que
complementa a visão de Benyus (2006, p. 13) na qual “uma espécie não pode
ocupar um nicho que se aproprie de todos os recursos naturais”.
Dessa forma, se tem um aprendizado sobre crescimento com sustentabilidade
através da natureza. A biomimética é a ótica que ensina o que se pode fazer por
intermédio do que a natureza faz e, conforme Benyus (2006), a partir disso, criar
condições propícias a vida. Ou seja, condições que permitam a vida prosperar, o
que adiciona à afirmação de Baumeister (2013) na qual biomimética é aprender
através da natureza e, então, emular as formas naturais, os processos e os
ecossistemas para criar projetos sustentáveis que se adaptem e se adequem
diante dos seus propósitos e necessidades.
Logo, a biomimética utiliza a natureza como modelo na qual inspira-se ou imita
para resolver problemas humanos. Utiliza, também, a natureza como medida
baseando-se em 3,8 bilhões de anos de evolução para avaliar o que é criado. A
natureza como mentora torna possível um mundo liderado e potencializado pela
genialidade da natureza, ou seja, a natureza não apenas para extrair bens, mas
como fonte de ideias.
Nesses mais de 3.8 bilhões de anos, foram criadas estratégias vencedoras pela
seleção natural, as quais foram adotadas por todos os ecossistemas complexos
e maduros. Pode-se considerar, conforme DeYoung e Hobbs (2009), que muitas
das soluções práticas de design são encontradas na natureza e essas ideias
surgem de diferentes reinos e espécies sejam plantas, animais ou pessoas.
Logo, cientistas e engenheiros estão aprendendo, cada vez mais, a olhar para a
natureza afim de encontrar soluções para problemas complexos.
Algumas empresas encontraram maneiras de minimizar a quantidade
de material que utilizam em seus processos produtivos baseando-se na
biomimética e, inclusive, já existem diversos tipos de produtos que utilizam a
biomimética como referência nos projetos, criação e desenvolvimento. Segundo
DeYoung e Hobbs (2009), a forma dos submarinos assemelha-se a das baleias,
inclusive a propulsão traseira com hélices é equivalente ao empurrão da cauda
do animal, outro exemplo é uma garrafa de água que absorve e armazena a
umidade do ar e a transforma em água potável imitando o processo de captura
e armazenamento de água do besouro da Namíbia, que habita o deserto da
Namíbia e se utiliza desse mecanismo para sobreviver. Então, nos locais onde há
escassez de água, se houvessem garrafas ou caixas d’água que fizessem esse
tipo de captação, não haveria desprovimento desse recurso natural.
Outro exemplo biomimético, citado por DeYoung e Hobbs (2009), é o carro
desenvolvido pela Mercedes-Benz a partir da forma do Peixe-Cofre (Figura 1),
isso faz com que o carro Bionic tenha força extra e peso reduzido, apresentando
economia de combustível em comparação a um veículo convencional de potência
equivalente.
4. CONCLUSÃO
A importância da interdependência aplicada aos negócios tendo como inspiração
a mais sábia de todas as comunidades, a natureza, é apresentada neste artigo.
Na natureza cíclica dos processos ecológicos, o foco das empresas deixa de
ser em posicionamento apenas, e passa a ser também em propósito visando
o desenvolvimento sustentável. Essa abordagem têm como objetivo melhorar A maioria das pessoas
a vida no planeta e também a vida das pessoas, de maneira que não basta pensam na complexidade
a empresa ser somente rentável, é preciso que tenha valor compartilhado e em termos do número de
agregue valor ao mundo. componentes de um sistema
ou do número de combinações
Dessa forma, a biomimética orienta, e contempla conceitos, princípios e práticas que se deve considerar para
que contribuem para o desempenho sustentável das empresas através da tomar uma decisão [...], mas
compatibilidade com o desenvolvimento sustentável da sociedade, incentivando a complexidade reside em
encontrar a melhor solução de
as empresas a irem além das suas obrigações legais e motivando-as para que
um número astronômico de
sejam parte do desenvolvimento sustentável como um todo. Conforme Sterman
possibilidades.
(2000, p. 21):
Quanto mais otimiza-se recursos e energia e produz-se em ciclos fechados,
mais reconhecesse o impacto das ações, e mais consciente se é do papel
desempenhado no Planeta. Há uma grande rede que conecta todos os
ecossistemas do Planeta. Entender a interdependência das relações é, portanto,
essencial para a existência dos seres humanos e para a existência das empresas.
Logo, é possível que uma empresa saudável financeiramente possa existir em
um planeta saudável. Ismail et al. (2015) reitera que: Talvez o atributo mais
importante para uma
Em um mundo volátil, o entendimento que a organização tem sobre o mundo organização em termos
exterior imprescindivelmente deve acompanhar a realidade, e isso, requer que se de aprendizagem seja a
assuma riscos. Segundo Diamandis e Kotler (2012, p. 51) “o atual mundo global e experimentação, o que é
exponencial é bem diferente daquele que nosso cérebro evoluiu para entender”. particularmente difícil para as
grandes organizações, uma
Sendo assim, considerando as grandes mudanças que ocorrem constantemente vez que elas tendem a se
e exponencialmente, acredita-se que a biomimética é um dos agentes que concentrar na execução em vez
promovem transformações em empresas e na sociedade com impactos de na inovação.
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Resumo
A utilização de metodologias baseadas na Biomimética pode ser uma estratégia interessante
para incentivar a criatividade, tendo em vista que a busca de soluções na natureza provavelmente
se utilizará de linhas de raciocínio em que os alunos terão de utilizar inferências e estruturar o
pensamento de modo lateral ao invés de vertical.
Palavras-chave: Biomimética; Metodologia de projeto; Ensino de design.
Abstract
The use of methodologies based on Biomimicry can be an interesting strategy to encourage creativity, since
the search for solutions in nature will probably be used lines of reasoning in which students will have to use
inferences and structure the thinking in a lateral way rather than in a vertical way.
Keywords: Biomimicry; Project methodology; Teaching design.
1. Introdução
Já se foi o tempo em que ao falarmos sobre Biomimética, Biônica ou Biodesign1,
recebíamos de volta olhares de estranhamento, quando não de reprovação.
Pior ainda quando falávamos de Luigi Colani, por exemplo, soávamos quase
heréticos, o que podia nos render o exílio temporário à marginalidade dos
círculos discentes e docentes. Não que hoje em dia esses termos sejam de
domínio do público, mas ao menos são mais populares por conta do culto à
sustentabilidade – não entremos aqui no mérito das distorções do conceito em
si – e do ecologicamente correto.
1
Estes são três termos que
se confundem entre si por Hoje as soluções fabulosas e miraculosas povoam os posts do Facebook e os
se referirem à utilização da incontáveis blogs pseudo-especialistas em Design e tecnologia que pululam a
natureza como referência world wide web.
na busca de soluções por
problemas, apesar de que Tanto no mercado como no ambiente acadêmico, o que já foi delírio e
em princípio todos eles têm posteriormente vanguarda hoje parece se encaminhar novamente para uma
origem e enfoque diversos. mudança de status passando a ser chamado, quem sabe, de “bola da vez”.
Numa diferenciação breve,
a Biomimética se refere Apesar da resistência e desconfiança iniciais, da confusão de termos e das
à disciplina popularizada distorções normalmente promovidas pela popularização das novas ideias,
principalmente pela escritora a Biomimética vem se firmando como caminho metodológico por conta da
estadunidense Janine Benyus
consistência e engenhosidade de suas ideias, além da perseverança e fé – sim,
à frente da Biomimicry Guild
acho que fé cabe bem aqui – dos visionários, sonhadores, teimosos ou como
e Biomimicry 3.8, enquanto a
Biônica tem seu nascimento preferirem se referir a todos que desde o início tem insistido na ideia de se
com as pesquisas feitas referenciar na natureza para resolver problemas.
nos laboratórios da NASA
É essa paixão, ou fé, que tem me levado a estudar o tema desde meio da década
no início dos anos 60 pelo
Major Jack Ellwood Steele. O de 1980 e adotar desde 2009 a natureza como tema central em uma das
termo Biodesign por sua vez propostas na disciplina de projeto tridimensional no terceiro semestre do curso
é uma criação do designer de Design da universidade em que leciono, como ferramenta para desenvolver
Luigi Colani para definir sua através do exercício do projeto o raciocínio lateral, o design conceitual, a
ideologia projetual.
ampliação do repertório e as estratégias de projeto.
1 + 1 + 1 + 1 = 1 1 1 1
1
SP Editora, 2014.
Por último, esse tipo de projeto se mostra propício à utilização de metodologias
ativas – afinal a cooperação é usual na natureza – o que pode incentivar
engajamento dos alunos e comprometimento em relação aos objetivos
pretendidos pelo grupo.
3. A proposta
Após uma aula teórica sobre como o homem vem interagindo coma a natureza
através do tempo2 e sobre a disciplina Biomimética, os alunos receberam um
briefing com as seguintes orientações para o projeto:
Os alunos deverão formar grupos de até 4 integrantes e selecionar um
organismo vivo, estrutura ou sistema da natureza e estuda-lo através de
pesquisa bibliográfica, vídeos e visitas em campo. Todo material recolhido será
3
o ter que traduzir a
A transformado em análises gráficas3 a fim de elaborar estratégias a serem
informação para as análises
aplicadas para resolver algum tipo de problema através de um produto que pode
gráficas o aluno estabelece
uma relação de raciocínio ser conceitual – com possibilidade do recurso da “caixa preta”4 – ou exequível.
e de compreensão da
estrutura mais profunda a Objetivos
fim de poder representa- • Conscientizar da necessidade de uso de planejamento do projeto mesmo
la de modo mais eficiente. que sem seguir uma metodologia específica e declarada.
Pontos que antes poderiam
passar despercebidos devem • Ampliar repertório e desenvolver senso de estética e criatividade.
ser observados com mais
• Propor inovação através do estudo estético-morfológico da natureza.
atenção por conta dessa
representação. • Desenvolver a capacidade de criar configurações tridimensionais.
• Aprimorar os instrumentos de pesquisa e o empirismo.
4
caixa preta é um figura
A
que substitui a informação • Demonstrar a importância do design conceitual.
que não se tem em um
• Introduzir os conceitos do biomimetismo para uso no desenvolvimento do
projeto. Pode se referir à uma
projeto como alternativa metodológica.
tecnologia que ainda não se
domina ou mesmo a dados
que não se possui. Metodologia
O trabalho seguirá a seguinte ordem de ações:
• Seleção do objeto de estudo.
• Pesquisa em relação a este objeto de estudo recolhendo dados através
de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo.
• Análises gráficas segundo as categorias descritas a seguir:
a) Análise formal: diz respeito à estrutura formal externa do objeto de estudo;
• 6. Prototipagem;
• 7. Apresentação.
4. desenvolvimento
Em poder destas informações os alunos trabalharam em grupos iniciando por
pesquisas na internet, canais especializados na TV por assinatura, na biblioteca
da universidade, em parques, no zoológico de São Paulo e no Jardim Botânico de
São Paulo.
A princípio os grupos se mostraram razoavelmente perdidos dada a novidade da
proposta, a liberdade de ação e a enorme variedade de possibilidades de objetos
para estudo. Este é um momento em que o professor teve que atuar como
mentor e auxiliar no gerenciamento das fases do projeto tomando cuidado para
não interferir demasiadamente.
Dois procedimentos foram utilizados nessa fase inicial. O mais comum foi,
partindo de um objeto, ver quais conceitos poderiam se extraídos e quais
problemas esses conceitos poderiam resolver. Um segundo caminho – menos
usual – foi partir de um problema e buscar estruturas que pudessem trazer
respostas.
Os trabalhos se iniciaram com a recolha de dados pelos alunos e
consequentemente pelo maravilhamento perante a riqueza do mundo natural.
O nosso modo de vida atual por vezes não permite que esse contato se dê
da forma que ocorria em anos passados e até em outras gerações. Nosso
relacionamento com o mundo natural cada vez mais se faz por meio de
interfaces eletrônicas e virtuais e a experiência da volta desse contato mais Figura 2: Fases dos estudos
próximo não acontece de impunemente. por meio de análises gráficas
5 Resultados
As soluções e posturas dos grupos foram as mais diversas. Desde
conservadoras e retraídas, onde os alunos não conseguiam se desvencilhar
do pensamento raso ou do estado da arte, até o completo “desvario” de ideias
6. Conclusão
Não há dúvidas de que todos os alunos nestes nove anos de execução da
proposta tenham alcançado ao menos quatro dos sete objetivos listados no
briefing. Mesmo aqueles com maiores dificuldades ou menos interesse no
assunto reconhecem a importância da proposta e o valor que esta agrega à sua
educação.
O projeto tem sido revisado e atualizado ano a ano devido às mudanças na
tecnologia – o movimento maker deu grande impulso no que diz respeito às
possibilidades de prototipagem –, o perfil dos estudantes e na consciência
ecológica, ética e social da população.
Referências
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engenharia. São Paulo, Studio Nobel, 2000.
Abstract
The process of appropriation of the world by the human species involves the mimesis (imitation) of characteristics
and diverse elements made available by Nature. From the resources and coded abstractions, the artifices (from the
arts to the sciences) expanded our physical-cognitive capacity and potentiated interference on the Planet. The artificial
advance provided ideological-scientific achievements, revolutionized production, but alienated the perception of Life and
compromised the Biosphere under intense systematic exploration. Although the manipulation of the environment has
occurred since periods of total dependence even under the perspective of abundance, during the Prehistory and Antiquity
the scale of anthropic impact was reduced (dependent on the technological condition) and solved by natural resilience.
However, the industrial model (eighteenth century) imposed a new massified condition through mechanization, which
irreversibly transformed the way of producing, of living and perceiving Nature, subject to exploitation justified by market
ideologies. Current planetary emergencies confirm scientific warnings published in the 20th century. And require an
urgent cultural reformulation through the artificial, oriented towards ecosystemic sustainability. The Biomimicry, through
its principles – nature as a model, measure and mentor – allows us to meet the requirements of interdisciplinarity,
the interdependence of bioinspired Design with the integration of biological knowledge to the design methodologies.
This work describes abstractions, mimetic syntheses, the natural-artificial dialectic and the contribution of Biological
Systematics to identify, classify and organize natural characteristics applicable to technologies through Biomimetics.
Keywords: Mimesis; Technologies; Design; Biomimicry; Systematics.
3. DESIGN
O Design se transforma em uma integração técnica-científica ampliada
pela arte entre o humano e os artefatos. É a atividade interdisciplinar que
interliga métodos e processos com o objetivo de definir formas que atendam
necessidades e aspirações humanas: configuração necessária para funções,
“Design é uma atividade
atributos e características desejáveis, aspectos de uso e de produção:
projetual que consiste em Apesar das diferenças conceituais, o Design se firmou como indispensável para
determinar as propriedades
a racionalização dos modelos produtivos antes mesmo do advento da indústria
formais dos objetos a serem
(MORAES, 2008; CARDOSO, 2004). A elaboração clara e objetiva do projeto é
produzidos industrialmente. Por
propriedades formais, entende- relevante, mesmo nos modos artesanais de produção. Conclui-se que o processo de
se não só as características Design é uma síntese interdisciplinar e multifatorial para aplicação tecnológica que
exteriores, mas sobretudo, agrega conhecimentos e, dessa maneira, favorece o progresso científico global de
as relações estruturais e uma sociedade. Investir em Design se tornou fundamental para o desenvolvimento
funcionais que dão coerência a
tecnológico (BONSIEPE, 2011, 2012; PAPANEK, 2006, MORAES, 2008).
um objeto, tanto do ponto de
vista do produtor quanto do Os métodos em Design, segundo Bonsiepe (2012), são similares aos das
usuário.” (ICSID, 1958) ciências exatas. Munari no sugestivo “Das Coisas nascem Coisas” (2009),
[mimese e replicação] apresenta um modelo de método para produção de
artefatos descrito por etapas genéricas aplicáveis a tipos diversos de atividade
(figura a seguir). O método de projeto genérico segue uma sequência de fases
dependentes e consequentes que permitem avaliações ao longo do processo e
comparações com procedimentos de outras áreas do conhecimento:
A sequência linear sintetiza o modelo hierárquico centralizado das metodologias
comuns de projeto hegemônicas. Segundo Bonsiepe (2012) essa disposição deve
ser repensada, reformulada para mimetizar o modo natural, de acordo com as
exigências ou emergências globais, por meio da interação e da interdependência
sistêmica. Essa mudança de postura também é defendida por projetistas de
outras áreas do conhecimento. No contexto do modelo industrial comum que
replica a lógica cartesiana sistematicamente (como a sequência de Munari), os
processos criativos são condicionados pela capacidade técnica. Os modelos e
as metodologias de projeto hegemônicos estão comprometidos com interesses
particulares (corporativos) que colocam em risco o meio natural [suporte vital]
através da saturação artificial (BONSIEPE, 2011; KAZAZIAN, 2009; PAPANEK,
2006). A percepção emergente de um planeta limitado impõe a adoção de
um novo paradigma capaz de emular os sistemas biológicos cuja maneira de
produzir é descentralizada, conjunta, integrada, contínua e sincrônica.
Entre as abordagens metodológicas que reafirmam a dependência do artificial
ao seu suporte natural, a Biomimética é a mais integrativa pois permite
4. INDÚSTRIA
A indústria se tornou o veículo mais contundente de transformação cultural dos
últimos três séculos devido à massificação, sobretudo dos códigos informados
através de produtos. Por outro lado, a influência artificial permite reformular a
cultura e transformar a sociedade através dos artefatos (CAPRA, 1982,1996;
KAZAZIAN, 2009; FLUSSER, 2007; CARDOSO, 2008; BENYUS, 2011; PAPANEK,
2006). Considerando essas características e fatores desde as origens até
o estabelecimento efetivo do modo industrial, podemos definir o Design –
enquanto interface entre a sociedade e o aparato artificial – como a ferramenta
mais importante para a proposição de um novo modelo técnico-cultural:
“Numa época de produção em
massa, quando tudo deve ser A atividade de projetar foi, portanto, fundamental para a indústria, antes,
planejado e projetado, o design durante e após sua implantação e o Design se confirma como propositor técnico-
se tornou a ferramenta mais cultural.
poderosa com a qual o homem
molda suas ferramentas e 4.1 Modelo industrial e desenvolvimento sustentável
ambientes (e, por extensão, a
Os fatores que proporcionaram o surgimento da indústria estão relacionados
sociedade e ele mesmo). Isso
exige alta responsabilidade a uma perspectiva de abundância de recursos, supremacia da espécie humana
social e moral do designer.” sobre a natureza e ideologias orientadas para expansão do mercado:
(PAPANEK, 2006)
• Concentração de capital, gerada pelo mercantilismo das metrópoles
centrais.
• Desenvolvimento de geradores de força motriz a vapor para a geração
de energia (substitutas das forças da natureza: ventos, quedas d’água,
animais – característica das sociedades campesinas na produção
artesanal).
• Substituição de mão-de-obra por meios mecânicos, máquinas e
engenhos.
• Desenvolvimento dos meios de transporte e mudança na relação com o
tempo, o espaço e outros aspectos da existência.
• Mudança na organização social e relações de trabalho.
OLIVIERI (2001, p. 10-11)
5. BIOMIMETICA
A Biomimética [bios = vida; natureza; mimesis = imitação, cópia] pode ser definida
Figura 3: Janine Benyus
como a imitação (em vários níveis) da natureza para utilização em projetos. Pode
(esquerda) Yoseph Bar-Cohen
(centro) e Bharat Bhushan ainda ser descrita como método de aplicação de tecnologias disponibilizadas
(direita). pela biosfera e interpretada como prática, ferramenta ou instrumento auxiliar
metodológico que promove a integração dos conhecimentos biológicos para
aplicações diversas (ARRUDA, 2003; BENYUS 2011; BAR-COHEN 2006;
BHUSHAN, 2009).
A primeira descrição e uso do termo é atribuída ao engenheiro biomédico Otto
H. Schmitt que, na década de 1950, investigava formas, processos, mecanismos
“A Biomimética tem como e características naturais utilizáveis em aplicações tecnológicas (BENYUS,
objetivo principal aplicar na 2011; BAR-COHEN, 2006). Porém, uma técnica anterior, denominada Biônica,
produção da cultura material já aplicava tecnologias da natureza em artefatos de alta tecnologia (ARRUDA,
(artefatos), elementos obtidos 2002; BAR-COHEN, 2006; BROECK, 2003).
através da observação da
natureza e dos seres vivos Como área de pesquisa científica para fins artificiais, a biomimese promove
nela presentes, diferenciando- inúmeras vantagens para os projetistas por permitir avaliações de projetos
se, assim, da Biônica, cujo já testados no meio natural durante eras e, assim, comprovar diretamente a
foco principal atualmente se
eficácia de suas soluções (BENYUS, 2011; BAR-COHEN, 2006; BROECK, 2003;
encontra no campo de uma
ARRUDA 2002). Ademais, por ser uma área de investigações da complexidade
nova interpretação formal
e funcional da natureza”. da biosfera, sua atuação abrange uma multiplicidade de disciplinas e
(ARRUDA, 2002) conhecimentos.
A Biomimética propõe um retorno às nossas origens abstrativas e aos princípios, “O campo da Biomimética
esquecidos ou abandonados durante nossa evolução artificial, que consideram é altamente interdisciplinar.
toda a natureza como fonte de vida e conhecimentos. A revolução Biomimética Envolve a compreensão de
(BENYUS, 2011) proporcionará uma mudança cultural que deve compreender a funções biológicas, estruturas
visão sistêmica, holística ou ecológica e, além de assegurar o futuro da biosfera, e princípios de vários objetos
indicará uma nova maneira de produzir e administrar empresas. encontrados na natureza por
biólogos, físicos, químicos e
Enquanto abordagem metodológica, a mimese bioinspirada aproveita soluções cientistas de materiais, Design
já investigadas ou verificáveis na natureza com o objetivo de aplicá-las aos e fabricação de dispositivos de
artefatos de maneira sistêmica (BENYUS 2011, BAR-COHEN 2006, BROECK interesse comercial.” (BHUSHAN,
2003, ARRUDA 2002). Para alcançar essa condição, a mimese é conduzida para 2009)
além da forma e seus atributos, integrando a produção artificial com o modo de “Olhar para a natureza e
funcionar da natureza. O som emitido por animais é uma das aplicações biônicas observar como funciona,
mais emblemáticas devido à sua origem e uso inicial na esfera militar, porém se aprendendo suas formas
tornou extremamente útil em sistemas de navegação e localização ao redor do de sobrevivência e meios de
planeta. Outro exemplo do potencial tecnológico é a hidrofobia da flor de lótus, evolução (...) é, definitivamente,
uma excelente solução para
que ocorre em ambientes úmidos, muitas vezes enlameados, mas permanece
vários problemas que a
enxuta, limpa, característica desejável em revestimentos diversos:
sociedade atual se depara.
A Biomimética é, portanto, uma disciplina que pretende tornar o artificial mais Esta ciência tem o objetivo
próximo ao natural como resposta às emergências decorrentes do modelo de integrar-se em áreas
hegemônico atual e ao distanciamento provocado pelas tecnologias relativos à cuja criação humana está
natureza e ao homem. Para tanto, propõe reformular gradativamente o paradigma envolvida, como a engenharia,
a arquitetura e o design, mas
atual de produção – justificado pelo mercado de consumo no qual a Indústria e o
buscando ainda influenciar uma
Design têm papel decisivo – para um novo modelo, fundamentado em princípios
filosofia de autossuficiência
naturais (BENYUS 2011, BAR-COHEN 2006, BROECK 2003, ARRUDA 2002).
em outras áreas industriais”.
(ARRUDA, 2002)
6. BIOMIMÉTICA PARA A BIODIVERSIDADE
Para a Biomimética, todas as formas de vida e elementos na Biosfera são
passíveis de análise, pois a adaptação evolutiva e interação ecossistêmica
contribuem para otimizar aplicações tecnológicas diversas aos projetos. As
soluções de design estão informadas na anatomia e na composição dos seres,
desde os mais simples aos mais complexos.
A necessidade de preservação ambiental evoluiu na proporção da interferência
humana: à medida que os riscos e ameaças se tornaram mais complexos e
Figura 6: Biodiversidade
estimada.
8. SISTEMÁTICA E TAXONOMIA
“A taxonomia é uma ciência
Inicialmente denominada sistemática, a taxonomia surgiu da botânica e por isso sintética, baseada em dados
está, por método e conceito, incluída na primeira, mais abrangente: de diversas áreas como a
morfologia, anatomia, citologia,
A atividade de sintetizar e organizar tais informações, além de uma necessidade genética, citogenética química
lógica, traz grandes implicações na interpretação da realidade e do universo. e atualmente em dados
O crescente impacto antrópico e as influências da Tecnosfera sobre a Biosfera moleculares. Cada nova técnica
demonstram que o ordenamento sistemático é uma necessidade imprescindível desenvolvida numa dessas
áreas da ciência, oferece
para a compreensão da Vida e as possíveis aplicações tecnológicas:
possibilidades para aperfeiçoar
A apuração de características segundo critérios de classificação gera os esquemas nos quais estão
complexidade. A taxonomia, (assim como outras áreas tecnológicas, inclusive o delineadas as relações entre
os organismos. Nesse sentido,
modelo industrial), definiu a padronização como técnica, ferramenta, condição
o acúmulo de dados e a sua
conceitual e método de análise. Os critérios diversos utilizados na origem interpretação nunca cessam”.
de suas descrições e as consequentes divergências que geravam conceitos (WEBBER, 2007)
9. CONCLUSOES
Para o contexto de Projeto (Design), algumas técnicas são semelhantes à
investigação de similares, segundo critérios específicos: formas (estrutura
morfológica), função, processo de fabricação (origens, ocorrência), material,
texturas e cores. A busca por padrões de comportamento social, que faz parte
da atividade de projeto, pode ser observada nos métodos de classificação de
espécies que interagem em grupos. Tomando como critérios de abordagem
Biomimética os princípios descritos por Benyus (2012), podemos descrever
níveis de categorização interdependentes, interseccionados. Através da
investigação biológica, algumas características distintivas (táxons, critérios
de classificação) podem satisfazer mais de uma necessidade de projeto, como
descrito por Broeck (2003) e analisados a partir da sua posição nas classificações
taxonômicas.
A maior contribuição que a sistemática biológica pode oferecer para
as aplicações tecnológicas através da Biomimética é a identificação de
especificidades que distinguem espécimes capazes de originar transformações
filogenéticas e adaptativas. No entanto podemos definir alguns aspectos que a
sistemática ressalta:
• Observação e análise.
• Abstração e categorização.
• Terminologia específica para interdisciplinaridade.
• Detalhamento e classificação.
• Integração e interação.
• Disponibilização sistemática.
• Aplicação.
Compreendemos dessa maneira, que os esforços para sistematizar o
conhecimento biológico tem uma importante contribuição para projetos por
disponibilizar a análise de elementos passíveis de aplicação. As ilustrações,
os detalhamentos e as indicações funcionais promovem aplicações diretas,
previsões de utilização e incrementam a criatividade.
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Resumo
O presente trabalho apresenta resultados de pesquisa em estruturas autoportantes empregando
o sistema estrutural de tensão integral (tensegrity) aplicado nas áreas do design, arquitetura,
engenharia e medicina. Metodologias ativas de pesquisa e aprendizagem foram desenvolvidas
utilizando modelos experimentais no meio físico e social. Recentes avanços nas pesquisas em
estruturas tensegrity orientaram o desenvolvimento de protótipos que introduzem o sistema
biotensegrity na arquitetura sustentável e no desenho de modelos didáticos do corpo humano. Os
modelos desenvolvidos através de estudos em biomimética aplicam tecnologias têxteis e ligações
flexíveis em biomateriais, apropriados ao ambiente e capazes de absorver esforços e cargas
especiais, que se assemelham à constituição fisiológica dos animais vertebrados e do corpo humano.
Palavras-chave: Estruturas autoportantes; Tensegrity; Biotensegrity; Biomateriais; Estruturas de
membrana; Biomimética.
Abstract
The present paper present research results in self-supporting structures employing the tensional
integrity structural system applied in the design, architecture, engineering and medicine. Active
methods of research and learning developed using experimental models in physical and social
environments. Recent advances in research on tensegrity structures have guided the development
of prototypes that introduce the biotensegrity system into sustainable architecture and in the design
of didactic models of the human body. The models developed through studies in biomimetics apply
textile-based technologies and flexible connections in biomaterials, environmentally compatible and
capable of absorbing forces and special loadings, which are similar to the physiological constitution of
vertebrate animals and the human body.
Keywords: Self-supporting structures; Tensegrity; Biotensegrity; Bio-based materials; Membrane structures;
Biomimetics.
INTRODUÇÃO
A sustentação da vida se realiza a partir de uma profunda relação entre forças,
formas e energias. Durante milhões de anos, a vida vem desenvolvendo e
aprimorando estruturas e organizações da matéria, de micro a macro sistemas
complexos em coexistência, sistemas vivos que constituem a vida no planeta
Terra. Esses sistemas vivos se auto-organizam e influenciam uns aos outros
em um conjunto de inter-relações que configuram unidades de unidades em
interação dinâmica. A Física emprega a palavra interação para se referir a
ações recíprocas entre elementos que cooperam e, por isso, se transformam,
modificando seu comportamento interno e sua natureza externa (Capra, 2002).
A natureza é capaz de produzir sofisticadas formas interdependentes de vida
e sistemas informacionais em redes eletromagnéticos, a partir de dispositivos
de atração e repulsão. Uma característica comum a todos os sistemas vivos é
a economia de energia para um máximo de performance, pois observamos que
na natureza não há desperdício de energia para o desempenho das funções
essenciais aos sistemas vivos (Otto, 1998). O funcionamento de um sistema vivo
exige comunicação entre as partes que o constituem. As partes de um sistema
interagem e se solidarizam mantendo uma unidade, uma organização dinâmica
que configura organismos autônomos, de células a planetas. Esta forma de
Figura 1: Geometrias estruturação cooperativa permite a sustentabilidade do sistema vivo em um
geodésicas a partir retículas nível de átomos mas também na escala da comunidade humana, na escala
triangulares planetária e também na escala cósmica. No funcionamento de um sistema
Fonte: Lotufo e Lopes, 1981. vivo, o comportamento das partes é refletido no funcionamento do “todo”, que
por sua vez, irá apresentar propriedades novas, inexistentes em suas partes.
“Uma estrutura fractal é Concordamos com Milton Santos, que a diversificação da natureza se configura
uma estrutura cuja resolução em padrões dinâmicos, onde o movimento é essencial à vida. A humanidade
permanece coerente em acrescenta o dado social da produção aos processos biológicos, complexificando
diferentes graus ou níveis de
as interações presentes nos sistemas vivos (Santos, 2002).
observação. Em outras palavras,
ela é construída com desenhos As formas produzidas pela natureza nos levam a perceber organizações nos
repetitivos que se reorganizam
processos de formação da matéria formando redes micro e macrocósmicas,
em diferentes níveis para
produzir uma forma que estruturas solidárias e resilientes. Sua organização pode ser percebida através de
conserva uma estrutura de base retículas de triângulos, originando complexas organizações espaciais geodésicas,
análoga. Assim acontece com entre os quais podemos observar tetraedros, octaedros, icosaedros, dodecaedros
um feto, um cristal, uma encosta
e outras geometrias esféricas complexas, ver Figura 1 (Lotufo e Lopes, 1981).
rochosa vista de avião ou
observada em escala humana. Segundo Joel Rosnay, com a repetição de formas geométricas em proporções
As formações dos cristais de
harmoniosas, formam-se espirais, formas estas que produzem padrões
rocha e de gelo, a estrela do
mar, a rosa, a petúnia, o jasmim- essenciais à sustentação da vida. O embrião humano, por exemplo, apresenta
estrela, a teia de aranha, os uma forma espiral, que vai desenrolar-se dentro do útero em um movimento
rabos dos cavalos marinhos, os espiralado, assim como um broto de samambaia. Este autor apresenta
furacões, as asas de borboleta, organizações complexas que se formam a partir de leis simples e usa como
a foz de rios, as cadeias de
montanhas ou os relâmpagos, exemplo as estruturas fractais:
como também a constituição do As formas espirais estão relacionadas aos processos da vida, observados na
corpo humano, são exemplos
apresentados para representar forma espiralada em dupla hélice encontrada no DNA, que segundo Bueno,
a natureza fractal das formas representa uma estrutura fundamental para toda a biologia e desvela a
naturais” (Rosnay, 1997). importância da forma desde o nível de complexidade mais elementar dos seres
Através de uma analogia com uma peça de roupa sendo torcida, as autoras
demonstram que o dobrar é consequência da tensão que se desenvolve à
medida que o tecido é torcido em direções opostas, até que haja a flexão, assim
como acontece nas rotações do ombro e da mão que se enrolam em direções
opostas até que o cotovelo se dobre, conforme mostra a Figura 4 (Victor, 2010).
experiência são apreendidas pelos sentidos, para que só depois se possa ter
uma compreensão a nível cortical do que se tornou aprendizado (Saramago,
2000). Assim, aprendemos que a prática de fazer objetos é essencial para o
aprendizado. O título de Livre Desenho aponta para o sentido de estimular a
criação e a imaginação investigando o que é primordial no gestual do homem
em sua relação com os objetos que manipulamos e construímos. São utilizados
materiais pouco processados, próximos ao seu estado natural, gerando
economia nos meios de produção, redução no consumo de energia e baixo
impacto ecológico. São desenvolvidas pesquisas visando aplicações práticas do
bambu, da terra crua e de fibras naturais tais como o algodão, a piaçava, o sisal,
o coco, entre outras, em construções leves e econômicas com aplicação imediata
de seus resultados no meio físico e social, junto às comunidades envolvidas.
Neste sentido, prática e teoria se completam, dando suporte à percepção e ao
entendimento geométrico e construtivo do que está sendo pesquisado, evitando
a alienação dos agentes em relação aos processos produtivos. A construção de
modelos em pequena escala para o estudo e o desenvolvimento são métodos de
Figura 8: Linha miofascial investigação e de compreensão da relação entre forma, organização, estrutura e
espiralada.
função, que ajudam a desenvolver o aparelho cognitivo dos pesquisadores através
Fonte: Myers, 2003.
da prática artesanal e da prototipagem com matérias acessíveis, acrescentando
variáveis intuitivas ao processo de elaboração racional, favorecendo insights
criativos e procedimentos inovadores no desenho de estruturas.
Em 1992, foi desenvolvido no LILD uma estrutura geodésica empregando
colmos de bambu e conexões pontuais em aço ligadas por um compósito de
sisal e betume conforme mostra a Figura 9 (Ripper et al., 1995). Procedimentos
(a) de montagem e desmontagem da estrutura apresentaram desgaste acelerado
das peças componentes em função das juntas pontuais rígidas desenvolvidas.
(b) Visando o desenvolvimento de estruturas mais acessíveis e capazes de absorver
melhor sobrecargas provenientes de forças de montagem/desmontagem
Figura 9: Protótipo de estrutura
e forças de uso, foi desenvolvido um domo geodésico aplicando o sistema
geodésica de bambus
estrutural tensegrity, utilizando conexões excêntricas em giro, conforme
tubulares com juntas pontuais.
(a) Geodésica aplicando observamos na Figura 10 (Moreira et al., 2003). O sistema foi insprirado nos
juntas pontuais na Lagoa de modelos tensegritoy desenvolvidos por Kittner e Quimby (1988).
Araruama-RJ. (b) Conexão O desenvolvimento de sistemas tensionados aplicando colmos de bambu como
pontual de aço, sisal e betume
elemento estrutural, nos levou ao estudo e desenvolvimento das estruturas
tensegrity. São estruturas formadas por elementos que se conectam, se erguem,
se sustentam, se equilibram e se integram em formas espaciais a partir do
equilíbrio entre forças de tensão e forças de flexo-compressão aplicadas em
seus membros estruturais constituintes, feitos geralmente de tubos de bambu,
cabos e membranas têxteis. Essas estruturas apresentam tecnologias acessíveis,
processos simplificados de fabricação, montagens leves e um amplo potencial de
sustentabilidade na área do desenho de produto e da construção civil.
As Figuras 11, 12 e 13 apresentam modelos e protótipos de estruturas tensegrity
desenvolvidos no LILD entre as décadas de 90 e 2000.
Foram desenvolvidas ponteiras em materiais rígidos, tais como aço e madeira,
e ponteiras em materiais flexíveis, tais como lonas e malhas têxteis de fibras
sintéticas, para a construção de estruturas tensegrity visando uma melhor
(c)
(a) (b)
(d)
Figura 14: Ponteiras estruturais aplicadas em estruturas tensegrity. (a) Ponteira em lona têxtil de
(a) PVC e poliéster. (b) Ponteira em lona têxtil de PVC e poliéster para conexão articulada de 2 barras
de bambu. (c) Ponteira flexível em rede de polietileno trançada. (d) Ponteira rígida em madeira da
espécie Manilkara spp. e malha de poliamida.
(b)
CONCLUSÃO
A compreensão do corpo humano como um sistema biotensegrity, propõe um
novo método de compreensão da arquitetura da biomecânica organizacional
psico-motora humana. Propõe um novo paradigma de compreensão do corpo
humano no âmbito das pesquisas e práticas fisioterapêuticas, capazes de
alavancar processos criativos. Pesquisas em andamento vem contribuindo
significativamente na transformação do estado de conhecimento, estabelecendo
novos modelos mentais de cognição através de modelos físicos, que incentivam
processos de inovação quando aplicados em áreas do conhecimento como a
arte, arquitetura, design, engenharia e medicina. Novos métodos de ensino,
de formulação de objetivos, processos de decisão e estratégias utilizados
resultam em novas formas de diagnosticar e tratar o corpo. Estas práticas têm
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos pesquisadores Ana Branco Nogueira, Ana Freitas
Machado, Giuliano Balsini, João Bina, Lucas Alves Ripper, Luís Eustáquio Moreira,
Luís Vicente Barros, Marcelo da Fonseca e Silva, Nicolas Gomez e Patrick
Stoffel pela importante contribuição dedicada à presente pesquisa. Os autores
agradecem ao CNPQ, à CAPES, à FAPERJ e à LUPO pelo apoio concedido no
desenvolvimento da presente pesquisa.
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Resumo
Este artigo, pretende suportar a criação de um posto de apoio ao socorro, tendo como base de
inspiração, a natureza. O argumento da pesquisa, passa pela compreensão da disciplina da biónica, na
observação da sua integração nas áreas científicas e práticas, e a sua aplicação na origem de novos
produtos. Por último, o projeto, segue um dos ramos do “método bidirecional para o design biónico”
(VERSOS; COELHO, 2013), respeitando requisitos e objetivos previamente fundamentados.
Palavras-chave: Design biónico; Desenvolvimento de produto; Reaproveitamento de materiais;
Biossistemas; Engenharia.
Abstract
This article intends to support the creation of a relief station, based on nature, inspiration. The research’s
argument consists of understanding the bionic discipline, observing its integration in scientific and practical
areas, and its application in the origin of new products. Finally, the project follows one of the branches
of the “bidirectional method for bionic design” (VERSOS; COELHO, 2013), respecting previously justified
requirements and objectives.
Keywords: Bionic design; Product development; Reuse of materials; Biosystems; Engineering.
1 INTRODUÇÃO
É uma realidade que a biónica, parece transportar o sentido do “bem para todos
os males”. A sua relevância nas novas tecnologias é fundamental. O fundamento
que suporta esta disciplina, baseia-se na mais pura essência do mundo que nos
rodeia. É na base desta relação, e no know how capitalizado pelo homem, que
se apela cada vez com mais frequência, para a biónica. Aqui procuram-se as
soluções que favorecem o equilíbrio de todo um sistema interdependente, do
qual, inevitavelmente fazemos parte.
Para desenvolver produtos de uma maneira sustentável, requerem-se a
utilização de metodologias que são essenciais para definir caminhos, metas e
escortinar orientações técnicas. Porém, o seu uso destas, não cria nem garante
o sucesso do produto.
O método tem a particular incumbência, de orientar o utilizador no processo,
mas cabe ao autor decidir as opções a tomar.
Assim, a aplicação de métodos de caráter biónico na criação de produtos, merece
atenção aos critérios essenciais para o sucesso do processo. Está fortemente
depende da pesquisa e da organização de bases de dados, que se assumem
uma mais valia para a assertividade e aceleração de todo o processo criativo. O
foco na tentativa de aproximar o artificial, aos sistemas e ao aspeto analógico,
é o exemplo da tendência evolutiva da disciplina. Este último facto, deve-se
particularmente às circunstâncias geradas nos últimos anos, pela evolução dos
materiais, dos processos e das engenharias. Existe ainda a proposta do método
biónico bidirecional. Este, consiste em orientar para a direção da solução biónica
do problema de design e para a orientação na direção do problema de projeto
para a solução biónica.
2 A BIÓNICA
É um grande privilégio podermos olhar à volta na observação do que a natureza
nos oferece, e tirar partido do contributo de uma entidade que conta com mais
de quatro milhões e meio de anos de experiência. Uma vez que a natureza e o
universo levam do homem milhões de anos de vantagem em todas as matérias,
copiar os exemplos que esta nos oferece ao contrário de tentar supera-los, é
uma atitude inteligente.
Apesar de muitos autores referirem a biónica como sinónimo da biomimética,
ambas definições apresentam algumas diferenças.
A definição dada por Neuman implica que “a Biónica tem a ver com as interações
entre biossistemas e o seu ambiente”, e Nachtigall, um dos pioneiros alemães em
Bionica, reconhece “a importância de aprender e inspirar a partir da natureza, em
vez de copiar diretamente os seus princípios para soluções técnicas” (apud, EMAMI;
TASHAKORI; TASHAKORINIA, 2008, p. 2).
Mais concretamente, o termo biónico, surge em 1960 por intermédio de Jack
Steele, numa conferência da US Air Force. O nome refere-se à elaboração de
novos sistemas ou conjunto de funções, baseadas em sistemas similares que
existem na natureza.
Quanto à biomimética, tem origem em 1969 por Otto Schmidt, que definiu como
sendo um processo de imitação de estrutura ou função biológica, ou material,
com o objetivo de produzir um produto artificial (ARRUDA, 2013).
Considerando isto, em ambos os casos se recorre à natureza para produzir
uma resposta para a resolução de problemas concretos do dia-a-dia. De
facto, quando o assunto é desenvolver, investigar e encontrar soluções, os
investigadores, empreendedores, engenheiros e designers, recorrem com
frequência à natureza como fonte de inspiração, por uma razão muito simples:
Durante milhões de anos, a natureza foi criando soluções de sucesso, para
resolver problemas reais. Durante esses milhões de anos, essas soluções foram
intensamente testadas e adaptadas ao meio.
“Depois de quatro milhões de anos, só vive o que funciona”. A natureza não
aceita a inépcia e a ineficiência, o que é denominado por “seleção natural”.
Este campo está cada vez mais desenvolvido, tanto na criação de novos
produtos, novos modelos e processos, sistemas de defesa efetivos do corpo
humano e até das sociedades.
Na consequência da pesquisa e recorrendo à tecnologia atual, as soluções de
matriz biónica e biomimética, podem ser enquadradas de várias maneiras:
• Por meio da replicação de métodos de fabricação natural.
• Copiando sistemas da natureza como a fita de velcro.
• Imitando princípios organizacionais e comportamentais dos animais.
Este produto tem que servir para arrumar pequenos equipamentos como cordas
coletes insufláveis, caixa de primeiros socorros, dispositivos de comunicação etc.
Requisitos Objetivos
Guardar equipamentos diversos Organização eficaz
Armazenamento por classe e tipo de equipamento Organização eficaz
Resistente ao vandalismo e aos agentes externos Otimização da geometria
Fixo e oscilante quando sofre influência do vento ou toque Otimização da geometria
Abertura fácil, mas condicionada Otimização da geometria
Formato agradável que faz um enquadramento harmonioso em espaços Otimização da geometria
urbanos distintos
Traduzir uma imagem de confiança e segurança Comunicação eficaz
Organização eficaz
Destaca-se visualmente através de luz Comunicação eficaz
Requisitos de sustentabilidade Objetivos
Materiais recicláveis ou reutilizados
Facilidade de manutenção e reparação Organização eficaz
Peso reduzido Otimização da geometria
Figura 8: Esboços de
exploração
de conceito.
Fonte: imagem dos autores.
11 CONCLUSÃO
Como referido anteriormente, nem todos os problemas tem resolução com
origem na natureza. Recorrendo a um processo de inspiração nesta área, é
essencial o conhecimento do contexto, da sua origem, e conhecer exemplos de
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Resumo
Este capítulo tem como objetivo investigar potencial da integração entre parametrização da forma,
prototipagem rápida e preceitos biomiméticos, em resposta a questões bioclimáticas apresentadas
por um artefato gerador de microclima para o clima quente e úmido. Este artefato funcionaria como
sombreador paramétrico e concomitantemente, elaborado de forma a mitigar o efeito de ilha de
calor. Os procedimentos metodológicos desta pesquisa são baseados no método desenvolvido pelo
Biomimicry Group 3.8 (2011). A pesquisa utiliza métodos qualitativos e quantitativos em um estudo
de caso dividido em cinco etapas. Primeiro é realizado uma contextualização através de uma revisão
bibliográfica e do estudo de modelos naturais que evoluíram de forma a mitigar o calor. Segundo, é
estabelecido princípios e critérios de design utilizando técnicas de brainstorm. Terceiro, estabelece
um modelo paramétrico/algorítmico que colabora com a produção de modelos responsivos a partir da
inclusão de uma simulação de incidência de radiação. Quarto, utiliza prototipagem rápida e técnicas
de formação para materializar o protótipo idealizado. Quinto, apresenta uma avaliação comparativa
do desempenho térmico dos materiais aplicados nos protótipos.
Palavras-chave: Bioclimatologia; Biomimética; Parametrização; Fabricação digital;
Abstract
This paper aims to investigate the potential integration of parameterization, rapid prototyping and
biomimetic principles, in response to bioclimatic issues presented by a microclimate generator artifact for
the hot and humid climate. This artifact functions as parametric shading device and, concomitantly assists
in mitigating the heat island effect. The research uses qualitative and quantitative methods through a case
study divided into five stages. First it is conducted a contextualization through a literature review and study
of natural models that have evolved to mitigate the heat. Second, it established principles and design criteria
using brainstorming techniques. Third, it was established a parametric/algorithmic model that works with
the production of responsive models from the inclusion of a radiation incidence of simulation. Fourth, it uses
digital manufacturing tools for rapid prototyping and training techniques to materialize the idealized model.
Fifth, presents a comparative evaluation of the thermal performance of materials used in prototypes.
Keywords: Bioclimatology; Biomimicry; Parameterization; Digital fabrication;
1. INTRODUÇÃO
O estudo de caso proposto
nesse capítulo venceu o Prêmio A poluição e impacto ambiental provocados pela construção civil causam
Museu da Casa Brasileira, várias consequências, tais como: mudança da paisagem natural, aquecimento
categoria protótipo de das áreas urbanas (efeito de ilha de calor), aumento do consumo de energia,
construção, em 2016. aumento da poluição, dentre outros. Um projeto de arquitetura que não respeita
Capítulo modificado e a paisagem e a infraestrutura local contribui para o aparecimento de graves
inicialmente publicado no livro problemas urbanos. Entre os principais está o aumento da temperatura e
Modelos e protótipos do LM+P, poluição nas concentrações urbanas.
UFPB.
A crescente valorização da arquitetura sustentável e a necessidade de revisão
dos valores vêm trazendo abordagens mais complexas. A concepção do projeto
passou a ser mais criteriosa e prever medidas conservacionistas. Os estudos
sobre complexidade nas últimas décadas também ascendem à importância de
uma visão mais holística em projeto. Dentro desse contexto, uma das correntes
de pesquisa em crescimento é a Biomimética. A biomimética trata do estudo das
lógicas da natureza, modelos e performance visando aplicação aos artefatos e
atividades do homem.
Concomitantemente as discussões de sustentabilidade, a produção de projetos
de arquitetura vem passando por mudanças de paradigma, algo semelhante ao
período de popularização do acesso a computação gráfica. Na última década,
vem ocorrendo uma difusão de técnicas de modelagens que utilizam processos
algorítmicos e paramétricos, além da popularização da fabricação digital. Ambos
colaboram com a eficientização de processos e possibilitam realizar links com
simulação e bases de dados que colaboram na criação de soluções eficientes e
até inovadoras. A fabricação digital facilita processos de prototipagem rápida,
estudo de sistemas novos e até produção de elementos arquitetônicos.
Este trabalho aborda o link que pode ser estabelecido entre a biomimética,
modelagem paramétrica/algorítmica e prototipagem. As três áreas em
conjunto, podem colaborar com a criação de elementos arquitetônicos
mais eficientes, otimizados, possibilitando a inclusão de bases de dados e
simulações de desempenho para estabelecer soluções e guiar a produção de
formas complexas. Com base nesses argumentos, este trabalho foca neste elo
como tendo potencial para pesquisas na área de projeto, arquitetura e design
sustentável.
O objetivo é investigar o potencial da integração entre parametrização da
forma, prototipagem rápida e preceitos biomiméticos, em resposta a questões
bioclimáticas para o clima quente e úmido. O trabalho utiliza um estudo de caso
apresentado por um artefato gerador de microclima. Este artefato funcionaria
como sombreador paramétrico e concomitantemente, responde, de forma a
mitigar o efeito de ilha de calor. O universo de estudo é a Região Metropolitana
de Recife-PE, porém a discussão é válida para climas quentes e úmidos
semelhantes a Recife.
O trabalho aplica metodologia desenvolvida pelo Biomimicry group 3.8 que visa
gerar soluções biomiméticas. Utiliza estratégias de emulação e identificação
de soluções da natureza para mitigação da influência do calor (elenco de
2. Contextualização
A etapa de contextualização aborda questões como Biomimética, sua conexão
com a bioclimatologia e o estudo de modelos naturais que colaboram com
a mitigação de calor. Essa etapa serve de base teórica para elaboração do
brainstorming e início do estudo de caso do artefato.
Figura 1: Definição de
performance. Fonte: Traduzido
e adaptado pela autora a partir
de Oxman (2010).
3. Métodos
A proposta é concebida a partir da adaptação do método desenvolvido pelo
Biomimicry group 3.8 (2011). A intenção é abordar processos de design em
sustentabilidade que intencionam obter uma solução robusta, e passível de
evolução. Não é a intenção obter uma resposta definitiva, mas sim, de identificar
hipóteses e estratégias possíveis, que amplie a discussão sobre mitigação
de calor através de processos passivos. O desenvolvimento da proposta está
baseado nas seguintes etapas:
4. Resultados
Esta etapa visa identificar funções para artefatos arquitetônicos que emulem
o efeito das árvores no microclima urbano. As funções foram identificadas com
base na leitura feita do contexto de Recife e dos problemas causados pela escolha
de materiais nas construções. A Tabela 3 apresenta funções recomendadas para
artefatos que visem mitigação do calor para o clima de Recife:
São eles:
7. Uso de hidrogéis.
Figura 3: Funcionamento do
modelo paramétrico gerado.
4.4 Prototipagem rápida
A impressora 3D utilizada é da marca Z-corporporation modelo Zprinter 310
plus. Ela utiliza pó e aglomerante e é baseada em uma patente do MIT (Instituto
de Tecnologia de Massachusetts). A impressora é propriedade do Laboratório
de Maquetes (LabMaq) da UFRN, que cedeu o uso para a pesquisa. O Software
da ZPrint converte um arquivo com um modelo 3D em outro com secções
transversais ou fatias que estão entre 0,0762 e 0,2286 mm de espessura
(dependendo da resolução escolhida para impressão). A impressora imprime
estas secções, uma após a outra, a partir da parte inferior do modelo até o
topo. O modelo 3D foi convertido para o formato STL, padrão para uso em
ferramentas de fabricação digital, e então enviado ao software da impressora
que o converteu em fatias de impressão. Foram impressos objetos em escala de
1:5 (12x12 cm) e 1:4 (20x20cm) (Figuras 5 e 6). Figuras 5 e 6: Elemento
modulares recém impressos.
4.5 Formação
A formação utilizou os modelos impressos como base para fabricação de fôrmas.
As fôrmas foram realizadas em silicone industrial. Uma vez produzidas as
fôrmas, iniciou-se a etapa de prototipagem visando a reprodução dos elementos
nos materiais propostos. O ideal para reprodução era o uso de fôrmas metálicas
e uso de prensas industriais para produzir os elementos. Porém para etapa de
prototipagem a compressão foi realizada manualmente usando os elementos
impressos para comprimir a massa dentro das fôrmas.
Foi utilizado fibra de coco seca e processada para extrair apenas a celulose. Este
material já é utilizado abundantemente na indústria paisagística e agraria. A
razão para o uso de fibra de coco nessas indústrias é sua conhecida propriedade
higroscópica. A fibra absorve umidade do meio ambiente e pode ser utilizada
para melhorar as propriedades do solo. Também são resistentes o suficiente
para produção de placas, as quais, são utilizadas para fazer vasos, substituir o
xaxim e elaborar jardins verticais.
O aglomerante utilizado é uma resina bi-componente a base de óleo vegetal
de mamona. As resinas são resistentes a altas e baixas temperaturas. Sendo
aplicadas atualmente na indústria de telecomunicações, alimentícia (para
fabricação de plásticos sem componentes tóxicos), automobilística e náutica.
O hidrogel utilizado é o poliacrilato de sódio (Figura 7). É um sal sódico do
ácido poliacrílico. Este composto tem a capacidade de absorver água em uma
proporção entre 200 a 300 vezes o valor de sua massa. Segundo Sandonato
(2011), esses polímeros superabsorventes possuem um período de meia vida de
Figura 7: Poliacrilato de sódio 5 a 7 anos na natureza e possuem propriedades de biodegradação. Este material
hidratado. também é utilizado na indústria agrária para melhorar as características de solos
Fonte: autor. e reduzir o efeito de períodos de seca.
A mistura da resina e da fibra de coco se deu de maneira a preservar as
propriedades da fibra. Entre camadas de fibra com a resina foi adicionado o
hidrogel, que não estava hidratado. O resultado foi elementos resistentes e leves
que podem ser deformados possibilitando uso em superfícies com curvaturas
(Figuras 8 e 9).
Figuras 8 e 9: A esquerda,
elemento (escala 1:5) ao ser
retirado da fôrma. A direita,
as propriedades da resina
permitem curvatura do
elemento.
Fonte: autor.
Gráfico 1: dados de
temperaturas levantados no
ensaio.
5. Conclusões
Este trabalho objetivou investigar o potencial da integração entre
parametrização da forma, prototipagem rápida e preceitos biomiméticos, em
resposta a questões bioclimáticas. O trabalho investiga esta integração através
do estudo de caso de um artefato gerador de microclima para o clima quente
e úmido, utilizando a cidade de Recife como referência. De maneira geral, a
pesquisa cumpriu o objetivo geral e apresentou um processo que aplicou uma
metodologia que visa processos bioinspirados. O estudo de caso evoluiu até
a etapa de prototipagem, que possibilitou realizar um teste de desempenho
térmico usando método comparativo para avaliar potenciais dos princípios
estabelecidos.
A revisão bibliográfica contribuiu com a compreensão da decomposição do
tema da dissertação e clareza das temáticas abordadas. A partir da revisão
bibliográfica é possível identificar o link que pode ser estabelecido entre
abordagens como a biomimética, bioclimatologia, parametrização da forma
e prototipagem rápida aplicados ao design de edifícios. A bioclimatologia
se integra, e é complementar aos preceitos da biomimética. Os processos
Referências
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Resumo
Este artigo apresenta práticas e experiências de uma pesquisa multidisciplinar através da análise da
natureza e suas implicações em projetos. Resultou de uma dissertação de mestrado desenvolvida
no Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal de Pernambuco. O tema
principal é biomimética, área da ciência que visa o estudo das estratégias da natureza tendo-a como
princípio e inspiração para solução de problemas de design. A contextualização dessa pesquisa
partiu da problemática ambiental relacionada com o design e os processos de fabricação de
artefatos aquáticos. A pesquisa foi estruturada através do enquadramento das etapas de projeto de
uma abordagem metodológica desenvolvida pelo Biomimicry Institute 3.8, denominada Biomimicry
DesignLens, se trata de um método flexível para processos criativos com aplicação de modelos
da natureza na criação de soluções inovadoras e sustentáveis no design de artefatos. Quando
processos de design paramétrico foram incorporados à fabricação digital, se permitiu atingir um
nível de materialização muito próximo das estratégias da natureza. Verificou-se que a aplicação de
tecnologias digitais tem grande relevância para o futuro das áreas de projeto, principalmente quando
alinhadas aos princípios de sistemas biológicos.
Palavras-chave: Biomimética; Agave; Design paramétrico; Fabricação digital.
Abstract
This article presents practices and experiences of a multidisciplinary research through the analysis of nature
and its implications in projects. It resulted from a master’s thesis developed in the Graduate Program in
Design of the Federal University of Pernambuco. The main theme is biomimetics, an area of science that
aims to study the strategies of nature taking it as a principle and inspiration for solving design problems. The
contextualization of this research was based on environmental issues related to the design and manufacturing
processes of aquatic artifacts. The research was structured through the framework of the design steps of a
methodological approach developed by Biomimicry Institute 3.8, called Biomimicry DesignLens, it is a flexible
method for creative processes with application of nature models in the creation of innovative and sustainable
solutions in design artifacts. When parametric design processes were incorporated into digital manufacturing,
Figura 1: Imagem de it allowed itself to reach a level of materialization very close to nature’s strategies. It was verified that the
abertura. application of digital technologies has great relevance for the future of the project areas, especially when
Fonte: https://www.s- aligned with the principles of biological systems.
wings.surf/.2018. Keywords: Biomimicry; Agave; Parametric design; Digital fabrication.
Por outro lado, existe a aplicação de materiais naturais, como o Buriti e o Agave
que apresentam propriedades de leveza, resistência e flutuação. É uma tentativa
de tornar a concepção destes artefatos em algo mais ecológico e integrado à
natureza. Entretanto, somente a aplicação de materiais naturais não garante
que sejam considerados produtos sustentáveis, pois os processos de produção
permanecem os mesmos e continuam seguindo contra os ensinamentos e
ciclo de vida da natureza. Outro fator carente de inovação é que as pranchas
produzidas com estes materiais apresentam menor desempenho técnico por
conta do peso final do produto.
Na busca de soluções inovadoras e sustentáveis em projetos de design, não se
pode deixar de lado os requisitos funcionais. O produto que não apresenta um Figura 5: Estabilizadores
bom desempenho técnico, apesar de ter aplicação de matérias-primas orgânicas hidrodinâmicos desenvolvidos
pela empresa S- Wings –
não se consolida como produto inovador e torna-se de difícil aceitação na
Biomimetic Fins. O design
sociedade, não permitindo uma quebra de paradigma para um estilo de vida mais biomimético das quilhas é
integrado à natureza (KAZAZIAN, 2010). inspirado nas barbatanas dos
peixes, proporcionando mais
Neste ponto, surge outro fator de grande relevância, ainda mais quando controle e propulsão do que a
se projeta com foco na sustentabilidade. A falta da busca de soluções para tração das quilhas clássicas.
problemas diversos, inspirados pelos ensinamentos que a natureza tem a Fonte: https://www.s-wings.
surf/. 2018.
dar e no modo como se resolve por si própria de forma bastante equilibrada.
A biomimética é uma
A Biomimética difundida por Benuys (2003) surge com esta proposta. Uma
abordagem inovadora que
abordagem multidisciplinar recente da ciência que atua através da aprendizagem busca soluções sustentáveis
das estratégias da natureza que podem ser convertidas em tecnologia e para os desafios humanos,
materializadas como soluções com bases ecológicas. Quando aliada à tecnologia emulando padrões e
estratégias testados pelo
se torna uma ferramenta com poder de inovação técnico/sustentável excepcional. tempo da natureza.
Esta pesquisa foi guiada pela abordagem metodológica DesignLens Biomimicry Fonte: Biomimicry Institute 3.8.
Thinking. Trata-se de um método ou ferramenta desenvolvida pelo Biomimicry
As plantas maximizam a
Institute 3.8 e que vem sendo aperfeiçoada desde os anos noventa. A proposta resistência enquanto reduzem
é projetar soluções de design com bases sustentáveis, atuando mais próximo os materiais, incorporando
da natureza. Esta abordagem foca nos ensinamentos da natureza, que aliada à elementos tetraédricos que
podem ser empilhados em
tecnologia representa potencial de inovação em design e sustentabilidade. Nesta contêineres hexagonais.
pesquisa verificou-se que a aplicação de tecnologias digitais tem impactos Fonte: Biomimicry Institute 3.8.
positivos para os processos de concepção de artefatos aquáticos, principalmente
quando alinhadas aos princípios de sistemas biológicos.
Neste sentido, quando processos de design paramétrico são incorporados à
fabricação digital, permite-se atingir um nível de materialização muito próximo
das estratégias da natureza. Inspirando-se nos ensinamentos dos sistemas
biológicos, o crescimento e desenvolvimento ocorrem através da deposição de
elementos naturais que atuam num Optimum (KAZAZIAN, 2010) de economia
de matéria e energia, utilizando o mínimo necessário dentro de um ciclo de vida
sustentável bem resolvido.
Figura 6: Seção transversal da
Esta pesquisa foi validada levando em consideração diretrizes e requisitos para
madeira de balsa.
sustentabilidade através da verificação dos Princípios da Vida do DesignLens – Fonte: https://psmicrographs.
Biomimicry Thingking. Assim como, a impressão 3D de um protótipo da estrutura com/sems/flowers-plants/.
bio-inspirada gerada no formato de uma seção de uma prancha de surf como 2018.
A Natureza é um supersistema tecnológico que transforma grandes quantidades A utilização econômica dos
de energia, matéria-prima e lixo de forma limpa e equilibrada. A ciência recursos naturais e das
interdisciplinar biônica pode fornecer valiosos serviços pioneiros à pesquisa e ao fontes de energia, bem como
a devolução e o tratamento
desenvolvimento. Na visão de Bluchel (2009), se com todo esse conhecimento,
de detritos e produtos
aumentasse a disposição para aprender com a natureza de maneira abrangente secundários em um processo
em questões funcionais e transferir o aprendizado para as condições humanas, de reaproveitamento. A técnica
então nós também aprenderíamos, talvez, o que a natureza pratica de maneira das plantas e dos animais não
causa barulho nem lixo, nem
visivelmente perfeita:
uma atmosfera carregada
Outros autores compartilham da mesma visão através da Biomimética, que com poluição, nem águas
mortas. Os sistemas biológicos
etimologicamente, vem do grego: bios (vida) e mimesis (imitação). Benyus (2003)
são designers, arquitetos
define a biomimética como sendo uma abordagem da inovação que busca e engenheiros brilhantes.
soluções para desafios humanos ao emular padrões e estratégias testados pelo (BLUCHEL, 2009).
tempo na natureza. Vem sendo fortemente difundida para que aprendamos
a compreender a ordem natural das coisas, uma compreensão complexa do
ecossistema para promover uma real adaptação do homem ao meio. A autora
defende que devemos tratar a natureza como modelo, medida e mentora do
design, sendo estes os princípios-base da biomimética:
• Natureza como modelo: Estudar os modelos da natureza e imitá-los
ou usá-los como inspiração, com o intuito de resolver os problemas
humanos.
• Natureza como uma medida: Usar o padrão ecológico para julgar a
relevância e a validade das nossas inovações. Após bilhões de anos de
evolução, a natureza aprendeu o que funciona, o que é mais apropriado e
o que perdura.
• Natureza como um mentor: Nova forma de observar e avaliar a natureza.
Preocupar-se não no que podemos extrair do mundo natural, mas no
que podemos aprender com ele. Os seres vivos, em conjunto, mantêm
uma estabilidade dinâmica, continuamente manipulando recursos sem Figura 10: Biblioteca de
desperdícios. estruturas naturais open
source. Inspiração em
O objetivo é criar produtos, processos e políticas – novos modos de vida – estratégias da natureza. Muitas
que sejam bem adaptados à vida na Terra a longo prazo. A ideia central é estruturas da natureza pode
que a natureza possui 3,8 bilhões de anos de evolução e já resolveu muitos atender a indústria com a
dos problemas com os quais estamos lidando. Animais, plantas e micróbios aplicação de soluções naturais
são engenheiros consumados. Depois de bilhões de anos de pesquisa e para realizar inovações
sustentáveis.
desenvolvimento, as falhas são fósseis e o que nos rodeia é o segredo da
Fonte: https://www.
sobrevivência (BENYUS, 2003).
lilianvandaal.com. 2018.
A natureza sabe o que funciona e o que perdura, assim realiza o aparentemente
impossível: cria formas que ao mesmo tempo são semelhantes e diferentes. O
fato é que sempre se encontra um padrão básico central na natureza. Tudo está
ligado pelas proporções formadas pelo padrão básico. Segundo Bluchel (2009)
como todos os sistemas biológicos, cada célula minúscula é uma parte minúscula
do sistema todo, na escala manométrica, representa um cosmos fascinante em
nível atômico e molecular. Algo que impressiona são as dimensões inimagináveis
que ultrapassam os limites da capacidade de reconhecimento.
4 BIOMIMICRY THINKING
Enquanto método ou ferramenta é uma estrutura que se destina a ajudar as
pessoas a praticar a biomimética ao projetar qualquer artefato. São etapas
de pesquisa, projeto e tomadas de decisões que fornece o contexto para onde
seguir; como; o quê; e porque a biomimética se encaixa no processo de qualquer
disciplina ou em qualquer escala de design. Inclui quatro áreas que fornecem os
valores para o processo: Escopo, Descobrindo, Criando e Avaliando. A abordagem
não é rígida, e pode-se percorrer o diagrama de forma sequenciada (Biology)
ou aleatória (Biology to Design). A abordagem nesta pesquisa é denominada
Challenge to biology (Biomimicry Institute 3.8, 2015).
5 AGAVE
O Agave ou Sisal (Agave sisalana Perrine) da família Agavaceae é um vegetal
exótico e invasor de dunas e restingas no litoral brasileiro, uma espécie
introduzida, comumente encontrada em vários estados. Segundo Ulysséa (2010)
além de ser uma planta invasora e dominante, prejudica o estabelecimento e
desenvolvimento das espécies de flora nativa não oferecendo alimento à fauna
local.
O Brasil é o maior produtor mundial, o cultivo é direcionado para a produção e
Figura 13: Diagrama confecção de cordas e artigos de artesanato através da utilização das fibras
Biomimicry Thinking de suas folhas, sendo responsável por cerca de 70% do mercado mundial de
– Challenge to Biology – fibras duras. O pendão floral da planta é utilizado na cobertura de casas e na
Biomimicry DesignLens. construção de cercas, porém não possui valor comercial comparável à fibra da
Fonte: Biomimicry Institute 3.8, folha. Dentre muitas outras opções de utilização, está a fabricação de blocos
(2014).
para pranchas de surf, utilizando-se o tecido parenquimático do escapo floral,
que possui propriedades de leveza e resistência.
O processo de reprodução do Agave ocorre no escapo floral, Silva et al. (2008)
descrevem que surgem pequenas folhas estreitas e pontiagudas localizadas
ao redor do ápice do pendão no momento de inflorescência. O ‘caule’ se
transforma em um pedúnculo floral que pode atingir de seis a oito metros
de altura. Surgem escamas parecidas com folhas, então emite entre vinte e
quarenta ramos que, por sua vez, originam grupos tendo em torno de quarenta
flores cada. Por se tratar de uma planta monocárpica, ela floresce uma só vez
durante o ciclo vegetativo, morrendo posteriormente. Após a queda das flores,
desenvolvem-se sobre a panícula novas plantas chamadas “bulbilhos” medindo
entre seis e dez centímetros e possuindo de seis a oito folhas e pequenas raízes
adventícias. Estes bulbilhos caem no solo após três meses e atuam como órgão
Figura 14: Fibras de sisal (Aga- de propagação de novas plantas.
ve sisalana).
Fonte: https://www.publi- O estado ideal para utilização do pendão como matéria-prima é quando a
cdomainpictures.net/en/view planta seca e morre naturalmente, encerrando o ciclo de vida que vai de sete
-image.php?image=14457& a doze anos. Ulysséa (2010) explica que desta forma não há desmatamento,
picture=sisal-fibre. ao contrário, a retirada do meio ambiente nesta região se torna uma prática
benéfica para o bioma local, pois se trata de uma espécie invasiva que não serve
de alimento neste ecossistema. Contudo, o autor ainda ressalta a importância
desta planta para a economia local.
O Agave é uma rica fonte para a produção de fibras naturais, esta espécie tem
grande importância para a economia do semiárido brasileiro. O Brasil é o maior
produtor e exportador de fibras de Sisal, produto que se destaca por sua ampla
utilização doméstica, industrial e, mais recentemente, no reforço de compósitos
poliméricos (GONDIM, 2009, apud MARTIN et al., 2009).
Desta forma, pode-se verificar que a pesar de ser uma espécie introduzida
em nosso bioma, tem grande importância no cenário nordestino. Entretanto
Figura 15: Plantação de Agave. há um reflexo positivo no meio ambiente onde outras espécies vegetais não
Fonte: http://www.wikiwand. se adaptam. Gera renda e emprego para famílias locais através do plantio e
com/pt/Sisal, (2015). produção de fibras através das folhas, dentre outras aplicações.
Ademais, com todo o potencial de mercado que o Agave possui, existe ainda, A agaveicultura ocupa uma
muita pouca atenção para utilização e comercialização do pendão floral no extensa área de solos pobres
estágio final do ciclo de vida da planta, quando se transforma em uma matéria na região semiárida de alguns
estados do Nordeste, sendo
muito leve. Uma boa alternativa para que esta parte do vegetal seja mais bem
inclusive a única alternativa
aproveitada é justamente a utilização para fabricação de blocos para pranchas
de cultivo com resultados
de surf. Ulysséa (2012) desenvolve pesquisas e trabalha com a produção de econômicos satisfatórios para
blocos de pranchas de surf com aplicação do agave. Em 2001 iniciou a produção a região. Cobertura do solo,
de blocos e afirma as qualidades do produto final como pranchas de surf. geração de emprego e renda
são outras razões que tornam o
Atualmente as pranchas fabricadas são bem aceitas quanto à surfabilidade, plantio comercial desse vegetal
qualidade e resistência, no entanto, apesar de o Agave ser um material leve e extremamente relevante para
orgânico, estes artefatos não atingem a média de peso referente às pranchas as regiões produtoras, seja no
produzidas com espumas poliméricas nem apresentam inovações no design aspecto econômico, social ou
da estrutura e nos requisitos ambientais. Portanto, neste contexto se faz ambiental (NETO, 2012, apud
necessário inovar nos processos de concepção destes artefatos para que SUINAGA et al., 2006; MARTIN
se consiga otimizar o produto final tanto do ponto de vista estrutural como et al., 2009).
ambiental.
A pesquisa e aplicação da biomimética é um meio eficaz para inovações bio-
inspiradas seguindo o modelo da natureza. Entender porque o escapo floral
do Agave apresenta estratégias de leveza e resistência foi o ponto de partida.
Para tanto, foi necessário investigar em escala micro a estrutura celular que
compõem o pendão floral da planta através do estudo da biologia em anatomia
vegetal. Informações sobre a anatomia celular do Agave podem contribuir
sobremaneira para que se atinja um optimum em concepção de estruturas leves
e resistentes com baixo consumo de matéria e energia. Figura 16: Pendão floral do
agave sendo colhido ao final do
Por tanto, com base nestes dados que a escolha do Agave como elemento seu ciclo de vida. Matéria-prima
natura e fonte de inspiração se justifica alinhado aos princípios da biomimética e leve e resistente.
de sustentabilidade. Entretanto, como publicações sobre a estrutura anatômica Fonte: Surfline.com. 2018.
dessa espécie são inexpressivas fez-se necessário realizar uma pesquisar sobre
anatomia vegetal e posteriormente realizados experimentos em laboratório
com auxílio de métodos de microscopia de amostras de Agave, com intuito de
produzir imagens de alta resolução para avaliar a estrutura celular do escapo
floral do vegetal. Este processo será detalhado mais a frente.
6 ANATOMIA VEGETAL
A organização do corpo vegetal das plantas terrestres, conforme descreve Taiz
& Zeiger (2004), são estruturalmente reforçadas para suportar sua massa à
medida que elas crescem em direção à luz e contra a força da gravidade. Bem
Figura 17: As propriedades
como, transportar água e sais minerais do solo para os locais de fotossíntese, de leveza e resistência, assim
desenvolvimento e de crescimento. como, boa flutuação, são
imprescindíveis para um
A planta é uma entidade organizada que se desenvolve seguindo um padrão
bom desempenho técnico e
definido que resulta em estruturas e formas bem características, principalmente
usabilidade das pranchas de
em escala microscópica. Basicamente, a estrutura primária do corpo vegetal surf.
é composta pela raiz, caule e folha. Estes são os órgãos vegetativos e são Fonte: https://www.agavesurf.
constituídos basicamente dos mesmos tecidos primários que estabelecem três com. 2018.
O termo célula deriva-se do sistemas de tecidos: dérmico (ou revestimento); fundamental (ou preenchimento):
latim cella, cujo significado e de condução (ou vascular). Estes sistemas de tecido apresentam padrões de
é despensa ou câmara.
distribuição bem característicos, basicamente a planta é revestida pelo sistema
Inicialmente, foi empregado
na biologia em 1665, pelo
dérmico, que envolve o sistema fundamental, que contém o sistema vascular
botânico inglês Robert Hooke, (APEZZATO-DA-GLÓRIA & GUERREIRO, 2006; TAIZ & ZEIGER, 2004).
para descrever as unidades
Glória & Guerreiro (2006) afirmam que o conhecimento da célula vegetal tem
individuais de uma estrutura
do tipo favos de mel, que ele
possibilitado grandes avanços na história e compreensão da Biologia. Outros
observou em cortiça, sob um autores descrevem que no século XVII, já eram realizados estudos microscópicos
microscópio primitivo. (TAIZ & rudimentares em células vegetais:
ZEIGER, 2004).
Por tanto, há tempos que as células são consideradas as unidades estruturais
e funcionais que constituem os organismos vivos. Uma diferença fundamental
entre os vegetais e os animais é justamente a presença de uma parede celular
rígida que delimita as células vegetais. Trata-se de uma parede mecanicamente
forte, porém relativamente delgada. Esta é uma das características mais
significativas da célula vegetal, a presença da parede que envolve externamente
a membrana plasmática e o conteúdo celular (APEZZATO-DA-GLÓRIA;
GUERREIRO, 2006; TAIZ; ZEIGER, 2004).
Segundo Taiz & Zeiger (2004), as “câmaras” da cortiça que foram observadas no
microscópio de Hooke eram na verdade, lumes vazios de células mortas. O lume
é o espaço limitado pela parede da célula vegetal. Desta forma as migrações
celulares são impedidas, pois as células estão ligadas firmemente umas às
outras. É válido ressaltar que as funções fisiológicas e bioquímicas dos vegetais
dependem das estruturas, da forma estrutural dos diversos tecidos, como por
exemplo, o armazenamento de substrato no parênquima, a condução de água no
xilema, propriedades mecânicas etc.
O parênquima é um tecido de preenchimento simples, constituído de células
vivas. Podem ter formatos diversos – poliédricas; cilíndricas ou esféricas, mas
em geral, são células isodiamétricas multifacetadas. Apresenta múltiplas faces,
ou seja, muitos lados possuindo aproximadamente as mesmas dimensões.
Apezzato-da-Glória & Guerreiro (2006) descrevem que o tecido parenquimático
está distribuído em quase todos os órgãos da planta: raiz, caule e folhas. As
células parenquimáticas geralmente possuem paredes delgadas e podem
dispor-se em uma ou mais camadas, entre o tecido de condução; entre a parte
viva e a não viva do sistema vascular e seus elementos de transporte.
Sobre a morfologia e arquitetura básica de paredes celulares, organização,
composição e síntese de paredes celulares primárias e secundárias, Raven et
al. (2007) descrevem que a parede celular é a principal característica da célula
vegetal; é o que determina a sua estrutura, esta tem relação direta com suas
funções. Uma das funções principais é permitir a permeabilidade da água e de
várias substâncias. A parede celular determina em grande parte o tamanho e o
formato da célula, fator que contribui para a forma final do órgão vegetal. Sendo
assim, o autor distingue os tipos celulares pela estrutura de suas paredes. As
paredes destas células podem possuir uma ou mais camadas que podem ser
observadas através da utilização de técnicas microscópicas.
A parede celular que delimita uma célula pode também variar em espessura,
ornamentação e frequência de pontoações etc. Apesar dessa diversidade
morfológica, as paredes celulares comumente são classificadas em dois
tipos principais, primárias e secundárias. As paredes celulares primárias são
tipicamente finas (menos de 1 µm), o que caracteriza células jovens e em
crescimento. As paredes celulares secundárias são depositadas quando a maior
parte do crescimento está concluído, são mais espessas e resistentes que Apesar da formação da
as primárias as células de xilema, tais como as encontradas na madeira, são parede secundária, é mantida
notáveis por possuírem paredes secundárias altamente espessadas, reforçadas a comunicação de células
por lignina. As paredes de algumas células diferenciadas (especializadas), como vizinhas. No crescimento
por exemplo, as fibras e elementos traqueais, estas possuem paredes espessas da parede secundária,
determinadas zonas mantêm-
e multicamadas (TAIZ & ZEIGER, 2004).
se abertas. Tal zona da parede
Em relação à estrutura e composição das paredes celulares, estas apresentam celular é chamada pontoação.
um modelo básico. Em síntese a parede primária é composta por apenas uma Do grande espessamento da
camada, ao passo que, frequentemente as paredes secundárias possuem várias parede celular resultam desta
maneira, autênticos canais
camadas e diferem da parede primária em estrutura e composição. Embora
de pontoação. A pontoação
possua arquitetura variada, as diferentes células necessitam se comunicar com
permite a condução da
as outras, e o fazem por determinados espaços vazados localizados na parede água, com isso a passagem
celular, as pontoações e os campos de pontoação (TAIZ & ZEIGER, 2004). é grandemente facilitada
(NULTSCH, 2000).
Segundo os autores, no local onde está presente o campo de pontoação, durante
a formação da parede secundária, geralmente nenhum material de parede é
depositado.
Quanto à rigidez da parede, esta se deve à presença de lignina, outro
componente muito importante em muitos tipos de células, que providencia
resistência à compressão e rigidez à parede celular. A lignina é comumente
encontrada em paredes de células vegetais que têm função mecânica ou de
sustentação. A lignina impõe resistência à compressão, enquanto confere
rigidez. Neste sentido, as paredes secundárias devem sua resistência e rigidez à
lignina (RAVEN et al., 2007; TAIZ & ZEIGER, 2004).
A lignificação determina o aumento da resistência mecânica, também
está associado à certa perda de elasticidade. A rigidez mecânica da lignina
fortalece os caules e o tecido vascular, permitindo o crescimento ascendente e
possibilitando que a água e os sais minerais sejam conduzidos através do xilema.
Por tanto, podemos concluir segundo a literatura, que quando uma planta morre,
ou seja, encerra seu ciclo de vida, as células também morrem, então o substrato
se vai juntamente com a água através de processos químicos onde os elementos
passam de um estado sólido para líquido com muita facilidade à temperatura
ambiente de forma limpa, retornando os nutrientes ao meio ambiente. O que
lhe resta basicamente de matéria seca nas paredes primárias das células é algo
em torno de 30% do seu peso, assim como, nas paredes secundárias o que resta
é algo em torno de 70% do peso. A planta perde grande quantidade de peso, o
que permanece são paredes celulares lignificadas, ficando só matéria leve e com
espaços vazios no interior das células e nos espaços intercelulares ou lacunas
intercelulares, que são preenchidos com ar, desta forma restam apenas câmaras
vazias e tubos ocos. (TAIZ & ZEIGER, 2004).
7 DESENVOLVIMENTO
Há quatro áreas em que se desenvolve o processo: definição de escopo,
descoberta, criação e avaliação. As diversas etapas da pesquisa caminham
juntas e são interdependentes, identificadas de forma diluída no diagrama do
Biomimicry DesignLens. O processo apresenta o detalhamento das etapas e fases
de método. O diálogo ocorre de forma contígua durante o desenvolvimento
desta pesquisa.
Seguindo estes passos e suas etapas específicas, esta pesquisa integra-
se de forma bem-sucedida às estratégias e princípios da vida no design de
artefatos. Inicialmente, foi definido o contexto e a problemática, em seguida
realizado uma revisão bibliográfica, coleta análises de dados em laboratório e os
procedimentos de modelagem paramétrica para conversão das estratégias do
modelo biológico em uma estrutura bio-inspirada para pranchas de surf.
8 ESCOPO
• Definir contexto: Esta fase foi detalhada no início do artigo, na própria
definição do contexto e problemática da pesquisa. Assim como os
objetivos e objeto de estudo (modelo biológico) e o referencial teórico
exposto na revisão bibliográfica.
• Identificar função: Identificação das funções necessárias para o
desempenho do artefato: leveza e resistência. As funções identificadas
serão investigadas em um modelo natural.
• Integrar princípios da vida: Ao integrar os princípios, ficou claro
que existe a possibilidade de aplicação de meios alternativos de
materialização com soluções sustentáveis bio-inspiradas. Aqui foram
elencados alguns princípios que estreitam uma relação mais aprofundada
com as propriedades e estratégias a serem alcançadas nesta pesquisa.
Neste ponto inicia-se a direcionar o foco para a solução da problemática.
Os princípios elencados são:
Replicar as estratégias que funcionam repetindo abordagens de sucesso;
Desenvolver design multifuncional com múltiplas aplicações para uma solução
leve e elegante; Aplicar processos de baixo ou reduzido consumo energético
minimizando o consumo de energia em processos; Ajustar forma à função
selecionando pela forma ou padrão com base na necessidade; Combinar
modularidade e componentes agrupados, encaixar várias unidades dentro de cada
outra progressivamente do simples ao complexo; Auto-organização representado
por uma estrutura de Voronoi; Usar materiais e energia facilmente disponíveis
construindo com materiais abundantes e acessíveis com maior aproveitamento
da energia; Construir seletivamente com um pequeno subconjunto de elementos;
Montar relativamente poucos elementos em formas elegantes; Decompor os
produtos em constituintes benignos usando uma química em que os resultados
de decomposição não resultem em nenhum subproduto prejudicial; Combinar
modularidade e componentes agrupados; Cultivar relacionamentos cooperativos
encontrando valor através de interações vitoriosas;
9 DESCOBRINDO
• Descobrir modelo natural: Nesta fase apresenta-se o modelo natural.
A espécie Agave sisalana Perrine se apresenta como objeto de estudo
desta pesquisa. Informações relevantes sobre suas características e
classificação botânica, sua importância para economia local, assim
como, a aplicação nos processos de produção de pranchas de surf foi
apresentadas na etapa “Descobrindo” (revisão bibliográfica).
• Abstrair estratégias biológicas: Para cumprimento desta fase, foi de
grande relevância a revisão bibliográfica realizada sobre anatomia vegetal
para entendimento de como são as estruturas celulares dos tecidos
vegetais em escala micro. Em seguida foram realizados experimentos
para identificação e análise dos elementos que compõem as paredes
celulares do Agave para que se possa aprender suas estratégias e
convertê-las em design por um processo de abstração e criatividade.
Segundo Maier et al. (2013) o processo de abstração de características
de estruturas biológicas leves e complexas em um componente técnico
produtivo deve ser adaptado à realidade local. Um obstáculo importante para
a transferência das estratégias de estruturas leves naturais para soluções
técnicas é a sua geometria peculiar. Uma vez que as estruturas de leveza natural
possuem irregularidades e muitas vezes têm formas extremamente complexas,
em síntese é necessário simplificar e adaptar estes princípios para o design. Esta
abstração e simplificação da forma têm sido usadas em diferentes métodos
biomiméticos, mas até então possui um componente arbitrário, ou seja, depende
da criatividade e competência do pesquisador que executa a abstração.
Com o auxílio da professora bióloga e pesquisadora Dra. Emília Arruda do
Laboratório de Anatomia Vegetal da Universidade Federal de Pernambuco
(LAVeg – UFPE) e do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE),
foram realizados experimentos de dissociação, microtomia e de lâmina
utilizando amostras de AGAVE para identificação dos tipos de células presentes
no tecido vegetal através de microscopia óptica.
definidas células com maior diâmetro possuindo paredes finas, para pontos de
reforço, foram definidos tubos longitudinais com paredes espessadas e para
a superfície da borda, células mais densas. A solução pensada foi o Voronoi,
onde as células foram escalonadas com furos nas paredes, depois receberam
tratamento de suavização da forma com união final dos elementos.
Teste piloto foi tomado como base apenas uma secção de uma prancha de
surf para recebimento desta estrutura bio-inspirada, pois já seria o suficiente
para validação parcial desta pesquisa e da aplicação das estratégias do agave
em artefatos aquáticos com auxílio da tecnologia. De fato, são incontáveis as
possibilidades de artefatos que podem receber esta aplicação estrutural com
propriedades de leveza e resistência. Com a lógica da diferenciação das células
bem definidas, cada célula é um elemento individual, porém são reconhecíveis
e agrupadas por padrões. Em cima desta malha bidimensional com padrão de
Voronoi, aplicou-se a função de extrusão para configurar os “canaletas” iniciais.
A Figura 23 apresenta a configuração de uma malha nos elementos cilíndricos
determinando os campos de pontoação, onde foi aplicada a estratégia da
pontoação. Essas regiões tornam-se vazadas, reduzindo o peso e otimizando
a economia de matéria-prima e proporcionando flexibilidade de uma forma que
não compromete a resistência da estrutura do artefato, distribuindo os pontos de
tensões ao longo de cada elemento isolado e em conjunto por toda estrutura. Esta
mesma abstração foi aplicada em todas as células.
protótipo, neste momento foi possível fazer esta verificação, pois são
princípios relacionados às revisões finais para serem incorporados em
replicações.
O princípio evoluir para sobreviver pode ser atendido por completo quando ocorre
a assimilação e integração de erros, incorporando-os na forma de aprendizado
para que não se repita em novas aplicações das estratégias. Isto pode ser
incorporado através da remodelação de informações introduzidas no ambiente
de projetação, neste caso o Grasshopper, que trabalha com inputs, onde a
mudanças destes cria novas possibilidades de solução.
O princípio adaptar-se às condições de mudança mantém a sua integridade através
da autorrenovação, adicionando matéria e energia para melhorar a estratégia.
No caso desta pesquisa, após a análise detalhada do protótipo, verificou-se
que a resistência da estrutura esta foi alcançada, apresenta-se bastante eficaz.
Quanto à leveza, esta também foi atendida, mas percebeu-se que a espessura
de toda estrutura pode ser reduzida. Onde, em um novo ciclo produtivo
esta otimização de matéria e energia representa melhores desempenhos,
adaptando-se às condições de mudança em prol do aperfeiçoamento do
sistema. Em relação à descentralização da aplicação das estratégias, estas
podem ser aplicadas em qualquer localidade e condição local, adaptando-se
ao input do projeto conforme as diretrizes de configuração fazendo uso de
materiais naturais locais.
Também no sentido de adaptar-se à novos cenários, as estratégias que funcionam
no vegetal e que foram convertidas ajustando forma à função em uma estrutura
paramétrica. Porém esta estratégia pode ser direcionada para outras condições
ambientais e diversos artefatos, por exemplo: embarcações no geral, barcos,
lanchas, caiaques, remos para caiaques e SUP (Stand up paddle), decks de cais em
portos, mobiliário no geral, artefatos esportivos, bicicletas, skates, automóveis,
tecnologias aeroespaciais, na arquitetura as aplicações são incontáveis, assim
como na construção civil. Estas estratégias também podem ser direcionadas para
isolamento térmico e acústico dentre inúmeras outras aplicações.
Do mesmo modo, o princípio ser eficiente em materiais e recursos foi
atendido seguindo os processos da natureza que se desenvolve adicionando
matéria-prima e energia locais somente onde é necessário. Este princípio foi
representado pelo processo de fabricação digital através da impressão 3D
atuando por processos de adição. Já a integração de processos de reciclagem
com materiais que são reconhecidos pelo ciclo de realimentação do sistema
complementa a eficiência energética e otimização de material.
Para finalizar, o princípio ser localmente ligado e responsivo, pode ser atingido
com ciclos de feedback, usando e principalmente ajustando as informações
geradas ao longo de toda a pesquisa, envolvendo as informações obtidas com
as análises do protótipo elencando os Princípios da Vida. Estes fatores são
na verdade, respostas para melhoramento das estratégias, onde se devem
envolver as informações em fluxos cíclicos para modificar e readequar o sistema
e melhorando-o como um todo.
13 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta forma, completa-se um ciclo inteiro e as quatro etapas da metodologia
DesignLens Biomimicry Thinking – Desafio de biologia. O processo de
desenvolvimento da pesquisa gerou discussões e resultados durante todo o
trajeto ao apresentar os meios em cada etapa e a forma como foi concluída cada
uma. A efetivação de cada uma destas etapas gerou diretrizes e parâmetros
com base nos Princípios da Vida. Esta foi uma das principais características
identificadas quando se caminhou através das fases dos diagramas, foi
necessário recorrer e desenvolver um diálogo com o embasamento teórico
que apresentou elementos geradores de discussões, tomadas de decisões e
conclusões.
Esta pesquisa buscou informações na natureza, com intuito de se descobrir
soluções técnicas e sustentáveis para a produção de pranchas de pranchas
de surf, onde as soluções propostas nesta pesquisa apresentam grande
potencial de inovação em design e sustentabilidade através do design
biomimético. De fato, a estrutura das paredes celulares do caule do Agave,
apresentaram as estratégias necessárias para funções de leveza e resistência,
e consequentemente flutuação para pranchas de surf. Concluiu-se que o agave
só aplica a lignina em quantidades mínimas somente onde é necessário para
que proporcione à planta a sustentação e resistência mecânica com economia
de peso. Devido ao fato da planta ter um período de crescimento em altura
bastante rápido, alcançando mais de sete metros no momento de florescência,
precisa atuar com leveza e economia de matéria. Portanto na linha deste
raciocínio, o Agave atua em um optimum de economia de matéria e energia como
se imaginou nas etapas iniciais de descobrimento do modelo natural.
De fato, a intenção não era a de reproduzir uma cópia fiel da natureza e sim
emular suas estratégias e princípios convertidos para área projetual. Conseguiu-
se atingir os objetivos da pesquisa ao aplicar as estratégias do Agave na solução
estrutural e processos de produção de pranchas surf para que se tornem
condizentes com os ensinamentos da natureza. Quando os processos de
fabricação digital foram incorporados, a configuração e execução das estratégias
demonstrou ser de grande eficiência, o que fez com se pensasse em aplicações
para diversos artefatos. Vale salientar que o escopo desta pesquisa não adentra
na investigação e definição dos materiais mais adequados para produzir
pranchas dentro desta perspectiva.
O protótipo da estrutura foi impresso em ABS, um termoplástico rígido e leve,
com flexibilidade e resistência na absorção de impactos, muito utilizado na
fabricação de produtos moldados para direcionamentos diversos. Porém a
escolha deste material se trata apenas do material mais acessível e disponível
para impressão. Esta peça se trata de um protótipo para estudo volumétrico e
analítico da estrutura aplicada. O desenvolvimento de um material convergente
aos princípios da vida é um próximo passo para melhoramento e refinamento
de aplicação dos princípios da vida, neste caso o material deve se adequar aos
processos naturais de reciclagem do meio ambiente.
14 REFERÊNCIAS
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Resumo
A complexidade presente na natureza é incontestável, e cada vez mais designers buscam
compreendê-la no intuito de suprir suas necessidades formando o mundo artificial, como se observa
na Biomimética. No contexto das abordagens e processos, assim como, da atuação na complexidade
há o Metadesign, que surge como suporte instrumental e ferramental. Logo, este trabalho explora a
relação entre a Biomimética e o Metadesign, correlacionando suas características e estabelecendo o
uso de máquinas abstratas como estratégia de processo de design. Percebe-se que é possível atuar
em níveis de abstração diferentes, assim como, trabalhar no espaço de possibilidades no contexto do
Design Paramétrico e obter a concretude.
Palavras-Chave: Biomimética; Metadesign; Máquina abstrata; Design paramétrico.
Abstract
The complexity present in nature is undeniable, and more and more designers seek to understand it in order
to meet their needs forming the artificial world, as seen in Biomimicry. In the context of the approaches
and processes, as well as of the performance in complexity there is the Metadesign, which appears as an
instrumental and tooling support. Therefore, this work explores the relationship between Biomimicry and
Metadesign, correlating its characteristics and establishing the use of abstract machines as a design process
strategy. It is realized that it is possible to act in different levels of abstraction, as well as to work in the
space of possibilities in the context of Parametric Design and obtain concreteness.
Keywords: Biomimicry; Metadesign; Abstract machine; Parametric design.
2. METADESIGN E A NATUREZA
Se observarmos atentamente, é possível dizer que a forma que a Natureza
provém seus “designs” se assemelha com o Metadesign. Isto se dá pela forma
de percebê-la num nível em que apresenta em seu amplo catálogo de produtos
(sistemas naturais), nichos ou conjuntos de tipos de designs. Tomemos como
o consumidor possa definir as realizações que queira com esta ideia, de acordo
com suas necessidades e possibilidades de aplicação. Assim, a ideia é vista como
uma semente capaz de gerar inúmeras variações manipuláveis e adaptáveis
a mudanças conforme as vontades do usuário, com caráter evolutivo assim
como o é na natureza. No contexto proposto aqui, entende-se que este “DNA
artificial” é reconhecido como a estratégia no espaço de possibilidades, sendo
ou fazendo parte de uma máquina abstrata, independentemente do nível de
abstração em que esteja. Ou seja, não se empenha em trabalhar um objeto
final individualizado, mas sim em trabalhar o projeto do processo a partir de
estratégias que permitam ter as características flexíveis conforme é dada ao
Metadesign. Que conduza ao projeto de vários outros produtos (sejam eles
finais ou não) seguindo características pertinentes ao desejado no resultado.
Desta forma, é possível vislumbrar uma gama de tipos de produtos provenientes
podendo haver o controle das emergências geradas pelo produto no cenário de Figura 4: Exemplo do uso do
complexidade em que se insere, o designer deve considerar a capacidade de um Design Paramétrico associado
sistema se auto-organizar com o passar do tempo. Para Vassão (2010) esta a inspiração na natureza.
característica está associada aos seres vivos, ou seja, a natureza. A Arquiteta e Designer Neri
Oxman, estuda a interseção
4. METADESIGN E DESIGN PARAMÉTRICO entre o design computacional,
fabricação digital, ciência dos
Fazendo mais sentido ao propósito do design na complexidade, Vassão (2010) matérias e biologia sintética.
reafirma a condição do uso de meios digitais. Ao abordar o uso de algoritmos, ele Gemini é uma “chaise acústica”,
cria uma relação estrita entre o projetista e o uso da computação, tomando estes executada em processos
computacionais e fabricação
digital, feita de madeira maciça
no formato de concha e uma
intricado revestimento celular
composta por um material que
absorve o som.
Fonte: http://neri.media.mit.edu/
algoritmos como uma máquina, ou elemento desta, pois, ela define de fato, e
cria parâmetros para os projetos. Este ambiente de atuação, delimitado por
regras e condicionantes, fórmulas etc., seria o que o autor chama como espaço
de possibilidades, que o designer tem dentro da projetação na complexidade.
Há uma compreensão dentro do Design, Arquitetura e Arte que o processo
computacional é um intermediário procedimental na criação de entidades, que
por sua vez geram um programa completo, como também, considera instruções Figura 5: Mushtari, se trata de
isoladas através de pacotes de softwares que dê determinadas operações, tais uma impressão 3D baseado
na função e forma do trato
como Photoshop (imagem), Illustrator (vetor), Rhinoceros (CAD) etc.
intestinal, foi idealizado
Ainda dentro do contexto, observa-se o Design Paramétrico, mais difundido para consumo e digestão
em projetos de arquitetura do que design de produto, porém vem tomando de biomassa. Nos trechos
translúcidos há movimentos
proporções maiores nesta área a cada dia. Com ele, utiliza-se de softwares CAD
peristálticos da matéria,
(Computer Aided Design) que trabalhem com algoritmos generativos e por meio de que suportam o fluxo de
parâmetros, sejam estes de qualquer ordem, mas que estejam fundamentados, cianobactérias, convertendo luz
pois ajudam a grupos de designers e arquitetos utilizar a computação como um do dia em sacarose consumível.
processo, e não mais uma mera representação do objeto final. Pode-se alterar Fonte: http://neri.media.mit.edu/
1
Grasshopper é um plug-
in apropriado ao design
se algumas que se fazem presentes, tanto em conceito como em prática, no paramétrico do software de
desenvolvimento de uma estratégia gerada através do parametricismo no modelagem 3D em NURBS –
espaço de possibilidades do software Grasshopper1. Rhinoceros.
4.1 Ferramental e Grasshopper
Segundo Vassão (2010) o Metadesigner pode ser auxiliado pelas seguintes
ferramentas: Abstração, Diagramas, Procedimentos e Emergência. De acordo
com seus conceitos visto anteriormente, elas se subdividem em vários aspectos
conforme elucida o autor. Trataremos aqui somente as que identificamos no
percurso dado pela experiência de uso com o software Grasshopper durante o
ano de 2015 em que estive imerso na pesquisa para a dissertação de Mestrado
em Design. A isto pode-se entender de maneira genérica o funcionamento do
software, e ao mesmo tempo, associar o que se designa com tudo o que vimos
até aqui, que é unir o conhecimento complexo existente na natureza com o
ambiente propício a modelagem de uma estratégia – um meta-objeto.
Como forma de exemplificar a relação entre o metadesign e a biomimética,
iremos usar como exemplo um projeto realizado através de uma vasta pesquisa,
sendo parte dela o resultado de um workshop desenvolvido com alunos do
curso de Design da UFPE (Caruaru-PE) que contou com o auxílio do BI/OS
(startup em Arquitetura e Design). A inspiração foi o tecido parenquimático de
Cereus Jamacaru DC., mais conhecido como Mandacaru. A proposta do workshop
foi de obter estratégias sem recorrer ao desenvolvimento de um produto
final materializado, de modo que a estratégia possa ser adequada ao seu uso
numa máquina abstrata. Nesse caso, se trata de uma Superfície que retém
e armazena água da umidade do ar e da chuva, aplicada num equipamento
urbano.
Figura 6: Exemplo da
interface dos componentes no
grasshopper
Fonte: autor.
Figura 7: Encapsulamentos de
dispositivos em escala gradual,
gerando caixas-pretas
Fonte: Vassão (2010).
Em função disto, uma estratégia iniciada pode adquirir novas diretrizes ou ter
alguma retirada, ocasionando novas aplicações e novos direcionamentos para o
script iniciado, ou melhor dizendo, paro o DNA Artificial iniciado. Em função disto,
uma estratégia iniciada pode adquirir novas diretrizes ou ter alguma retirada,
ocasionando novas aplicações e novos direcionamentos para o script iniciado, ou
melhor dizendo, paro o DNA Artificial iniciado (Figura 11 e 12).
Logo, no contexto do Metadesign, fica claro que as máquinas abstratas podem
ser direcionadas para a atuação em níveis de abstração mais próximo da
REFERÊNCIAS
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generativo. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Engenharia e
Faculdade de Arquitetura, Porto Alegre, 2010.
Resumo
Os materiais naturais apresentam diversas propriedades de grande interesse para aplicações em
design e engenharia, bem como para projetos baseados no estudo de biônica. Essas propriedades
derivam de sua microestrutura, a qual é composta por um complexo arranjo morfológico. Este
capítulo aborda as possibilidades da combinação de duas técnicas avançadas para o estudo desses
materiais: a Análise por Elementos Finitos (FEA) e a Microtomografia de Raios X (µCT). As técnicas são
exemplificadas através da realização de uma simulação 3D de um ensaio mecânico na microestrutura
parenquimática do bambu. A combinação de técnicas resulta em uma análise tridimensional de alta
resolução, não invasiva e com alta precisão morfológica, levando a um grande potencial para um
melhor entendimento da funcionalidade microestrutural dos materiais naturais.
Palavras-chave: Biônica; Design & Tecnologia; Materiais naturais; Bambu.
Abstract
Natural materials have several properties of great interest for design and engineering applications, as well
as for projects based on the study of bionics. These properties derive from their microstructure, which is
composed of a complex morphological arrangement. This chapter discusses the possibilities of combining
two advanced techniques for the study of these materials: Finite Element Analysis (FEA) and X-ray
Microtomography (µCT). The techniques are exemplified by performing a 3D simulation of a mechanical test
on the parenchymatic microstructure of bamboo. The combination of techniques results in a high-resolution,
noninvasive, and three-dimensional analysis with a high morphological accuracy, leading to a potential for a
better understanding of the microstructural functionality of natural materials.
Keywords: Bionics; Design & Technology; Natural materials; Bamboo.
1. INTRODUÇÃO
Os materiais naturais foram os primeiros a serem explorados pelo homem em
diversas situações, de pequenos utensílios à construção de residências (ASHBY,
2012). Desse modo, parte de suas vantagens surge exatamente de sua grande
versatilidade e disponibilidade. Um mesmo material, como uma determinada rocha
por exemplo, pode ser atualmente utilizado de diversas formas: desde atributos
estruturais, como elemento de construção; estéticos, como em rochas ornamentais,
e até funcionais, como lã de rocha em aplicações de isolamento térmico e acústico.
A flexibilidade de aplicações torna os materiais naturais úteis em diversas
indústrias. Entretanto, as grandes responsáveis por suas bem-sucedidas
aplicações são suas múltiplas propriedades constitutivas (ASHBY; JOHNSON,
2011). Da suavidade ao toque do couro, da resistência e conforto das fibras
de algodão (tricomas), ao isolamento termoacústico da cortiça (felema)
vista na Figura 1, as características dos materiais naturais são de tal modo
surpreendentes que, além de serem diretamente empregadas, têm sido
estudadas a fim de buscar meios de melhorar as ideias de projeto, através
do estudo de biônica (KINDLEIN JÚNIOR; GUANABARA, 2005; RAVEN; EVERT;
EICHHORN, 2013). Assim, é possível destacar o desenvolvimento industrial de
materiais sintéticos que, em sua concepção, foram também bioinspirados, como
por exemplo, tecidos de poliuretano (PU), fibras de poliéster (PSF), bem como
rolhas de polipropileno expandido (EPP).
Figura 1: A cortiça, proveniente Dentre os materiais naturais mais antigos utilizados pelo homem, bem como com
da casca do sobreiro (Quercus
maior complexidade microestrutural encontram-se muitas plantas (LESKO, 2012).
suber) é um material com
extraordinárias propriedades Os materiais vegetais possuem diversas propriedades mecânicas interessantes,
de isolamento. como resistência à tração e à flexão, baixa densidade, isolamento térmico, entre
Fonte: Autores. outros, as quais são derivadas de sua anatomia. E são essas propriedades
que os tornam objetos de grande interesse industrial e científico, como para
projetos de biônica. Contudo, um melhor entendimento de sua microestrutura e,
consequentemente, de suas propriedades, pode ser alcançado com a utilização do
estado da arte em tecnologias 3D não invasivas e de alta resolução. Este capítulo
aborda a combinação das técnicas de microtomografia computadorizada de raios
X com análise por elementos finitos, apresentando as tecnologias bem como os
potenciais científicos de seu estudo em materiais vegetais.
REFERÊNCIAS
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