Design Biofílico Ampliando o Conceito de

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

PEDRO H.F. MUZA

Design Biofílico: Ampliando o Conceito de


Sustentabilidade de Edificações

BRASÍLIA
2021
PEDRO HENRIQUE FERREIRA MUZA

Design Biofílico: Ampliando o Conceito de


Sustentabilidade de Edificações

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Brasília, como parte dos requisitos
necessários para obtenção do título de mestre em
Arquitetura e Urbanismo. Área de concentração:
Sustentabilidade, Qualidade e Eficiência do
Ambiente Construído.

Orientadora:
Prof. ª Dr. ª Raquel Naves Blumenschein

BRASÍLIA
2021
Design Biofílico: Ampliando o Conceito de Sustentabilidade de
Edificações

APROVADA POR:

___________________________________________________
Prof.ª Dr. ª Raquel Naves Blumenschein (PPG-FAU/UnB) (Orientadora)

_______________________________________________
Prof. Dr. Luiz Pedro de Melo Cézar (FAU/UnB) (Examinador Interno)

___________________________________________________
Prof. ª Dr. ª Luciane Cleonice Durante (UFMT) (Examinadora Externa)

__________________________________________________
Prof. Dr. Caio Frederico e Silva (PPG-FAU/UnB) (Suplente)
FICHA CATALOGRÁFICA

Ferreira Muza, Pedro Henrique

Design Biofílico: ampliando o conceito de sustentabilidade de


edificações / Pedro Henrique Ferreira Muza; orientador Raque
Naves Blumenschein. – Brasília, 2021

Dissertação (Mestrado – Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) –


Universidade de Brasília, 2020.

1. Design Biofílico 2. Sustentabilidade 3. Arquitetura 4.


Certificações Ambientais. I. Naves Blumenschein, Raquel,
orient. II. Título.

Referência Bibliográfica

MUZA, P.H.F. Design Biofílico: Ampliando o conceito de Sustentabilidade de


edificações. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de Brasília, Brasília, 2021.

Cessão de Direitos

Autor: Pedro Henrique Ferreira Muza


Título: Design Biofílico: Ampliando o conceito de sustentabilidade de edificações
Grau: Mestre
Ano: 2021

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta


dissertação de mestrado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos
acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte
desta dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem autorização por escrito do autor.
"Grande parte da vida das pessoas se passa sem sentimentos ou
envolvimentos verdadeiros. A tarefa do educador não é apenas ensinar
sobre o ambiente, ou seja, relacionar seus componentes, origens,
materiais e inter-relacionamentos. É também estabelecer a relação entre
a pessoa e seu meio imediato e demonstrar como este afeta sua vida. Não
basta provar que o barulho, o ar viciado e um alto teor de umidade têm
um efeito negativo no rendimento de trabalho.”
(Sommer, Robert. Conscientização do Design, p. 39)
AGRADECIMENTOS

A todas as pessoas que eu amo. E são muitas! Obrigado.


RESUMO

Na arquitetura, o Design Biofílico traz a dimensão restaurativa para o design de espaços,


sugerindo soluções que são centradas no bem-estar e saúde de seus ocupantes. Nesse
sentido, a proposição deste trabalho é focar a sustentabilidade pelo viés antropocêntrico
e biocêntrico, sob a luz da Psicologia e do Design Biofílico. Na construção civil e
arquitetura o conceito de sustentabilidade vem moldando-se ao longo dos anos e
adaptando-se para diversos contextos, interesses e demandas. Nesse cenário a certificação
de edificações sustentáveis exerce papel protagonista na disseminação de novas
tecnologias a serem incorporadas pelo mercado e indústria, visando melhor desempenho
ambiental de edificações. Ademais, pode-se argumentar que a sustentabilidade tem
norteado novos produtos e serviços, sendo pouco relacionada a uma questão chave: O
bem-estar humano. Esta pesquisa tem como objetivo identificar diretrizes norteadoras
para ampliar o conceito de construção sustentável, considerando padrões do Design
Biofílico, a partir da literatura científica, perspectiva do usuário de edificações e dos
critérios de avaliação de certificações de construção sustentável. O método de análise
proposta parte de uma revisão bibliográfica com foco em identificar os padrões biofílicos
na literatura científica. Esses padrões, subsequentemente, são utilizados em pesquisa de
opinião com usuários de edificações existentes do campus da Universidade de Brasília.
A pesquisa também utiliza uma análise comparativa dos padrões associados ao Design
Biofílico com os critérios de avaliação de certificações ambientais: o AQUA-HQE, LEED
E BREEAM. Os resultados apontam para uma convergência e afinidades entre as
certificações ambientais e os padrões biofílicos, com destaque para aspectos que
promovam o bem-estar, salubridade e saúde dos usuários de edificações. O presente
trabalho assume como contribuição ressaltar a importância de trabalhar a sustentabilidade
de edificações pela ótica holística e de forma multifatorial. Urge estabelecer a relação e
os impactos que os ambientes construídos exercem sobre a saúde mental e física dos
usuários. Nesse sentido, o Design Biofílico lança luz sobre a sustentabilidade de
edificações de forma a abarcar conceitos que reforcem a resiliência humana frente aos
ambientes construídos, promovendo saúde e bem-estar.

Palavras-chave: Design Biofílico, Sustentabilidade, Arquitetura, Certificações


Ambientais
ABSTRACT

In architecture, Biophilic Design brings a restorative aspect to the design of spaces,


suggesting solutions centered around the health and well-being of individuals. In this
regard, this work proposes to focus on sustainability through the anthropocentric and
biocentric perspectives, under the light of Psychology and Biophilic Design. In civil
construction and architecture, the concept of sustainability has been shaping up through
the years and has been adapted to different contexts, interests, and demands. Within this
scenario, the certification of sustainable edifices plays a central part in the dissemination
of new technologies to be incorporated by the market and the industry, with the prospect
of buildings with better environmental performances. Furthermore, one could argue that
sustainability has been steering new products and services, but not been much associated
with a key issue: human well-being. This study aims to identify guiding principles to
expand the concept of sustainable construction, taking into account patterns of Biophilic
Design and stemming from scientific literature, construction user’s perspective, and
standards for sustainable building certification systems. The proposed method of analysis
starts from a bibliographic review focused on identifying biophilic patterns in scientific
literature. Subsequently, these patterns are used to survey the users of buildings existent
in the University of Brasília campus. This research also makes a comparative analysis of
the patterns associated with Biophilic Design and the standards for sustainable building
certification systems: AQUA-HQE, LEED E BREEAM. Results indicate there is some
convergence and many affinities between sustainable building certifications and biophilic
patterns, with emphasis on aspects that promote well-being and salubrity of the
construction users. This work seeks to highlight the potential relevance of working
towards buildings sustainability with a holistic and multifactorial approach. It is urgent
to establish the impact that a built environment has on the mental and physical health of
its users. Biophilic Design shines a light on the sustainability of constructions in a way
that encompasses notions that reinforce human resilience in the face of constructed
environments.

Key words: Biophilic Design, Sustainability, Architecture, Sustainable Certifications.


ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 17

1.1 Justificativa .................................................................................................. 19


1.2 Objetivo da pesquisa...................................................................................... 20
1.3 Estrutura do trabalho ..................................................................................... 21

2. DESIGN BIOFÍLICO .............................................................................................. 24

2.1. Psicologia ambiental .................................................................................... 24


2.2 A Hipótese da Biofilia ................................................................................... 28
2.3 Design Biofílico ............................................................................................ 29
2.3.1 Design Biofílico, resiliência e saúde ............................................... 30
2.3.2 Aplicabilidades .............................................................................. 33
2.4. Análise Bibliométrica ................................................................................. 37
2.4.1. Análise no VOSViewer e
prospecção sobre o tema ............................................................... 38
2.5. Padrões Biofílicos na Arquitetura – Revisão Bibliográfica ........................ 41
2.5.1. Especificação dos padrões e critérios
do Design Biofílico ....................................................................... 47
2.5.2. Características dos padrões biofílicos ........................................... 51

2.6. Síntese analítica do capítulo .........................................................................57

3. CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS ....................................................................... 58

3.1 Sustentabilidade e agendas globais ............................................................... 58


3.2. Certificações ambientais na construção civil ............................................... 61
3.2.1. BREAAM ..................................................................................... 65
3.2.2. LEED ............................................................................................ 70
3.2.3. AQUA-HEQ ................................................................................. 74
3.3. Síntese dos critérios das certificações analisadas.......................................... 79

3.4. Síntese analítica do capítulo ........................................................................ 82

4. MÉTODO .................................................................................................................. 84

4.1. Identificação dos padrões biofílicos ............................................................. 85


4.1.1. Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo).......................................... 88
4.1.2. Instituto Central de Ciência (ICC) ................................................. 88
4.2 Questionário de opinião .................................................................................89
4.3. Análise comparativa entre os padrões biofílicos
e as certificações ambientais ........................................................................ 91

5. RESULTADOS ........................................................................................................ 93

5.1. Passo 1: Padrões do Design Biofílico identificados ..................................... 93


5.1.1. Efeitos criados por elementos naturais .......................................... 93
5.1.2. Formas análogas a natureza na composição .................................. 94
5.1.3. Possibilidade de experiências não visuais
(tátil – sonora – olfativa) com elementos naturais ......................... 95
5.1.4. Microclima – Criação de pequenos ecossistemas .......................... 96
5.1.5. Elementos que possibilitem ventilação
e iluminação natural ...................................................................... 96
5.1.6. Enquadramento da paisagem ......................................................... 97
5.1.7. Percurso que instigue o explorar .................................................... 98
5.1.8. Pátina – Registro do tempo ............................................................ 98
5.1.9. Uso de elementos naturais por contraste ........................................ 99
5.1.10. Uso do material em seu estado natural ......................................... 99
5.2. Passo 2: Resultados do questionário........................................................... 100
5.2.1. Dados censitários ........................................................................ 100
5.2.2. Análise dos padrões biofílicos pelo usuário ................................. 104
5.3. Passo 3: Análise das convergências e divergências entre o
Design Biofílico e as Certificações de Sustentabilidade ............................ 115
5.4. Análise geral dos resultados ....................................................................... 120
5.4.1 Possíveis contribuições do Design Biofílico
para a Sustentabilidade de Edificações ......................................... 121
5.4.2. Possíveis contribuições do Design Biofílico
aos critérios de Certificação Ambiental ...................................... 122
5.4.3. Possíveis diretrizes norteadoras identificadas ............................ 123

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 124

6.1. Limitações da pesquisa .............................................................................. 126


6.2. Prospecções futuras do trabalho ................................................................. 126

7. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 127

8.APÊNDICE ............................................................................................................. 136

8.1 Questionário ........................................................................................................... 136


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura do trabalho -------------------------------------------------------------- 23


Figura 2 – Igreja Espírito Santo do Cerrado, Lina Bo Bardi - Uberlândia/MG -------- 34
Figura 3 – Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek Lago Norte, Arquiteto Lelé -
Brasília/DF --------------------------------------------------------------------------------------- 35
Figura 4 – Casa de Vidro, Lina Bo Bardi - São Paulo/SP --------------------------------- 36
Figura 5 – Gráfico de produções científicas acerca do tema ------------------------------ 38
Figura 6 – Gráfico de “Clusters” ou núcleos com palavras-chave mais relevantes ---- 39
Figura 7 – Gráfico gerado com o programa VOSviewer. Relação entre as palavras-
chave mais utilizadas com o ano das publicações ------------------------------------------- 41
Figura 8 – Processo de Revisão Bibliográfica ---------------------------------------------- 42
Figura 9 – Proporção Áurea e a Sequência de Fibonacci ---------------------------------- 55
Figura 10 – Processo de certificação ISO ----------------------------------------------------- 62
Figura 11 – Processo de Certificação BREEAM ------------------------------------------- 66
Figura 12 – Processo de Certificação LEED ------------------------------------------------ 71
Figura 13 – Processo de Certificação AQUA-HQE ---------------------------------------- 72
Figura 14 – Mapa mental do método --------------------------------------------------------- 84
Figura 15 – Etapas para identificação dos padrões biofílicos ----------------------------- 86
Figura 16 – Porção central do Campus Darcy Ribeiro ------------------------------------- 87
Figura 17 – Mapa de manchas – Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo) --------------- 88
Figura 18 – Mapa de manchas – Instituto Central de Ciências (ICC) ------------------- 89
Figura 19 – Processo de Pesquisa de Opinião dos Padrões Biofílicos ------------------- 90
Figura 20 – Processo de análise comparativa:
Design Biofílico x Certificações Ambientais -------------------------------- 92
Figura 21 – Efeitos criados por elementos naturais ---------------------------------------- 93
Figura 22 – Formas análogas à natureza na composição ---------------------------------- 94
Figura 23 – Possibilidade de experiências não visuais
(tátil – sonora – olfativa) com elementos naturais ---------------------------- 95
Figura 24 – Microclima – Criação de pequenos ecossistemas ---------------------------- 96
Figura 25 – Elementos que possibilitem ventilação e iluminação natural -------------- 96
Figura 26 – Enquadramento da paisagem --------------------------------------------------- 97
Figura 27 – Percurso que instigue o explorar ----------------------------------------------- 98
Figura 28 – Pátina – registro do tempo ------------------------------------------------------ 98
Figura 29 – Uso de elementos naturais por contraste -------------------------------------- 99
Figura 30 – Uso do material em seu estado natural ---------------------------------------- 99
Figura 31 – Gráfico Usuários das edificações analisadas -------------------------------- 101
Figura 32 – Gráfico Faixa de Idade --------------------------------------------------------- 102
Figura 33 – Gráfico pessoas com deficiência (PCD) ------------------------------------- 102
Figura 34 – Gráfico frequência de uso ----------------------------------------------------- 103
Figura 35 – Gráfico tempo de permanência média (Dia) -------------------------------- 103
Figura 36 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários
“Elementos que possibilitam a ventilação e iluminação naturais” ---------------------- 105
Figura 37 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários
“Pátina, marcas do tempo” -------------------------------------------------------------------- 106
Figura 38 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários
“Uso de elementos naturais por contraste” ------------------------------------------------- 107
Figura 39 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários
“Uso de materiais em seu estado natural.” ------------------------------------------------- 108
Figura 40 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários
“Enquadramento da paisagem” -------------------------------------------------------------- 109
Figura 41 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários
“Formas análogas a natureza na composição” --------------------------------------------- 110
Figura 42 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários
“Possibilidade de experiências extravisuais (tátil, auditiva)” ---------------------------- 111
Figura 43 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários
“Efeitos visuais criados por elementos naturais” ------------------------------------------ 112
Figura 44 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários
“Microclima –Constituição de pequenos ecossistemas” ---------------------------------- 113
Figura 45 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários
“Caminhos e espaços internos que instigam a exploração” ------------------------------ 114
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Número de publicações por país ----------------------------------------------- 38


Quadro 2 - Núcleos gerados levando em consideração
palavras-chave mais utilizadas ----------------------------------------------------------------- 40
Quadro 3 – Critérios de análise de relevância baseado
em Dresch, Lacerda e Antunes ---------------------------------------------------------------- 43
Quadro 4 - Trabalhos científicos identificados e classificados
quanto a relevância para o presente trabalho ------------------------------------------------- 44
Quadro 5 – Trabalhos científicos utilizados na identificação
dos padrões biofílicos --------------------------------------------------------------------------- 46
Quadro 6 – Padrões Biofílicos que são identificados
nos trabalhos científicos analisados ----------------------------------------------------------- 49
Quadro 7 – Sistema de critérios – BREEAM – In Use Assesses ------------------------- 67
Quadro 8 – Sistema de critérios – LEED – In Use ----------------------------------------- 72
Quadro 9 – Sistema de critérios – AQUA HQE -------------------------------------------- 75
Quadro 10 – Síntese dos critérios das certificações analisadas --------------------------- 79
Quadro 11 – Síntese dos Padrões Biofílicos ----------------------------------------------- 100
Quadro 12 – Padrões Biofílicos x Critérios de certificações ---------------------------- 116
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico


“Elementos que possibilitam a ventilação e iluminação naturais” ---------------------- 105
Tabela 2 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Pátina, marcas do tempo” -------------------------------------------------------------------- 106
Tabela 3 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Uso de elementos naturais por contraste” ------------------------------------------------- 107
Tabela 4 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Uso de materiais em seu estado natural” -------------------------------------------------- 108
Tabela 5 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Enquadramento da paisagem” -------------------------------------------------------------- 109
Tabela 6 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Formas análogas a natureza na composição” --------------------------------------------- 110
Tabela 7 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Possibilidade de experiências extravisuais (tátil, auditiva)” ---------------------------- 111
Tabela 8 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Efeitos visuais criados por elementos naturais” ------------------------------------------ 112
Tabela 9 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Microclima –Constituição de pequenos ecossistemas” --------------------------------- 113
Tabela 10 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Caminhos e espaços internos que instigam a exploração” -------------------------------114
LISTA DE ABREVIAÇÕES

AQUA - Alta Qualidade Ambiental


BIM – Building Information Modeling
BREEAM - Building Research Establishment Environmental Assessment Method
BRE - Building Research Establishment
GBC - Green Building Council
HQE - Haute Qualité Environnementale
ICC – Instituto Central de Ciências
ISO - Organização Internacional de Normatização
LACIS - Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade
LEED - Leadership in Energy and Environmental Design
OMS - Organização Mundial da Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
PCD – Pessoa Com Deficiência
PISAC - Parque de Inovação e Sustentabilidade do Ambiente Construído
UnB – Universidade de Brasília
1. INTRODUÇÃO

As metodologias de certificação edilícias sustentáveis têm um forte viés educacional.


Acabam influenciando as tomadas de decisões projetuais e transformam as ações para
melhorar o desempenho dos edifícios ou para atender as demandas da sociedade e do
mercado. Este efeito aparentemente positivo pode acarretar um julgamento superficial
que adiciona soluções desconectadas. Se um critério de sustentabilidade não é
considerado importante num sistema isto pode servir de desestímulo à sua incorporação,
mesmo quando pertinente (LARSSON, 2002).

Os resultados da pesquisa de Csillag (2007) apontam que a sustentabilidade é dependente


de três pontos envolvendo meio ambiente, sociedade e economia. No caso específico dos
países da América Latina, esta realidade não está consolidada. Apenas 37% dos projetos
latino-americanos e 43% dos projetos brasileiros apresentam soluções nas três dimensões.

Nesse sentido, faz-se necessária uma leitura crítica dos parâmetros de certificação com o
intuito de identificar quais pontos são passíveis de melhorias nos âmbitos ambiental e
social. Por conseguinte, o estudo destes parâmetros de sustentabilidade sob a ótica do
Design Biofílico tem grande potencial em enriquecer todo o processo projetual, em sua
aplicabilidade prática na preservação ambiental e no âmbito social.

Segundo Fossati (2008) é vital salientar que os sistemas atuais de avaliação de


sustentabilidade na arquitetura surgiram com o enfoque no impacto ambiental da
construção civil, com destaque à dimensão de eficiência energética, o que contempla
apenas uma das três dimensões da sustentabilidade (ambiental, econômica e social).

Cole (2005) afirma que os sistemas de avaliação mais atuais, com foco na
sustentabilidade, ainda caracterizam uma geração em transição, pois são estruturas que
seguem os critérios das primeiras certificações. A tendência é que surjam novos modelos,
que darão suporte a padrões de edificações mais sustentáveis.

17
Mais recentemente, o conceito de sustentabilidade e suas dimensões vem abarcando
novas áreas e adquirindo um caráter multifacetário. Iaquinto (2018) argumenta, em suas
pesquisas, que se pode enxergar o desenvolvimento sustentável por diferentes óticas e
dimensões, tais como: ecológica ou ambiental, econômica, social, espacial ou territorial,
cultural, política (podendo ser nacional ou internacional), jurídico-política, ética,
psicológica e tecnológica. Essa afirmação está enraizada na conceituação proposta por
Sachs (2002), na qual o autor também argumenta o desenvolvimento como um processo
natural de evolução em “efeito cascata” (SACHS, 2004).

Nesse sentido a abordagem dos parâmetros de avaliação sobre edificações sustentáveis é


suscetível à incorporação de novas dimensões que podem enriquecer e reforçar os
critérios ambientais e sociais. Assim exposto, o Design Biofílico pode ser uma ferramenta
agregadora aos critérios de avaliação de sustentabilidade.

Biofilia é definida por Wilson (1984) como a inclinação inerente ao homem à natureza,
que até em tempos modernos contribui positivamente para a saúde mental e física do ser
humano. A ideia da biofilia origina-se do entendimento de que 99% da evolução da
espécie humana foi condicionada pelo ambiente natural e suas adversidades, e não por
atributos criados artificialmente pelo próprio homem.

As diretrizes afirmadas pela Building Research Establishment - BRE Group (2020) vão
de encontro com as propostas do Design Biofílico. Estabelecem nove parâmetros que
englobam a saúde e o bem-estar físico e psicológico proporcionado por edificações. Além
disso, sustentam a ideia de que essas qualidades do ambiente construído são uma
problemática multifatorial, ou seja, é necessária uma visão holística, não sendo algo que
pode ser sanado por uma ótica isolada destas categorias. Entende-se, aqui, o conceito de
holístico como uma forma de se observar um fenômeno como um todo, conjunto e
complexo. Uma solução de projeto muitas vezes requer uma consciência das interações
multidisciplinares.

Este trabalho tem como escopo analisar e discutir os parâmetros estabelecidos pelos selos
de certificação de sustentabilidade, Building Research Establishment Environmental
Assessment Method (BREEAM), Leadership in Energy and Environmental Design
(LEED) e o Alta Qualidade Ambiental (AQUA), sob a ótica dos conceitos do design

18
biofílico na arquitetura e na construção civil. Assim, tem-se o intuito de caracterizar quais
vetores e padrões de construções certificadas se alinham com o Design Biofílico.

1.1 Justificativa

O processo de urbanização ao longo do tempo provoca um grande risco ambiental, sendo


potencializado pela busca por crescimento econômico. Segundo dados das Nações
Unidas, quase metade da população mundial mora em cidades. Na América Latina, essa
é a realidade de mais de 70% da população. Este panorama, que era previsto apenas para
2030, aponta para um horizonte preocupante de crescentes impactos ambientais (UM-
HABITAT, 1996).

Frente aos problemas enfrentados atualmente em grandes centros urbanos, como o


aumento exponencial da população, construções irregulares, segregação social e poluição,
as cidades viraram cenário para a adaptação e evolução do ser humano. Nesse sentido, os
espaços construídos e seus efeitos na população podem ser observados no aumento de
doenças na população, tanto psicológicas como fisiológicas. Gases tóxicos, por exemplo,
são considerados “estressores físicos”, causando sintomas como náusea, problemas
pulmonares e, em níveis mais críticos, podem causar convulsões, perda da consciência e
morte (NADAKAVUKAREN, 2000).

Fatores psicológicos, como a ansiedade, podem produzir o mesmo efeito que os gases
tóxicos, incluindo problemas respiratórios, dor de cabeça e náuseas. A depressão, que
atinge 5% da população mundial, pode estar associada a gases poluentes. Sintomas
similares aos da depressão também podem ser causados por exposição a metais pesados
e a pesticidas (WESSELY; ROSE; BISSON, 2002).

Neste cenário de rápida urbanização, os certificados de sustentabilidade desempenham


um papel fundamental no controle dos impactos ambientais e sociais causados pelo
sistema massificado de construção civil. Segundo Silva (2003), buscar uma construção
mais sustentável é fornecer mais valor, poluir menos, ajudar no uso sustentado de

19
recursos, responder mais efetivamente às partes interessadas e melhorar a qualidade de
vida presente sem comprometer o futuro. É a busca do equilíbrio entre a viabilidade
econômica que mantem as atividades e os negócios, as limitações do ambiente e as
necessidades da sociedade.

Por conseguinte, os interesses e parâmetros estabelecidos pelos certificados de


sustentabilidade são ferramentas importantes para o controle dos espaços, para a
preservação ambiental e para garantir o bem-estar social. Este é um ponto de alinhamento
com as ideias e a proposta do Design Biofílico.

Segundo Browing et al. (2014), o Design Biofílico pode reduzir o estresse, melhorar a
função cognitiva e a criatividade, melhorar o bem-estar e acelerar o processo de cura.
Como a população mundial continua se urbanizando, esses benefícios são cada vez mais
importantes. Dada a rapidez com que uma experiência com a natureza pode provocar uma
resposta restauradora e dado o fato de que as empresas dos Estados Unidos da América
(EUA) desperdiçam bilhões de dólares todos os anos em produtividade devido a doenças
relacionadas ao estresse, o projeto que nos reconecta com a natureza - Design Biofílico -
é essencial para fornecer às pessoas oportunidades de viver e trabalhar em lugares e
espaços saudáveis com menos estresse e mais saúde e bem-estar geral.

No âmbito acadêmico da Universidade de Brasília, o alinhamento com os conceitos da


biofilia no ambiente construído e sua padronagem em processos projetuais está presente
em uma das linhas de pesquisas emergentes desenvolvidas pelo Laboratório do Ambiente
Construído, Inclusão e Sustentabilidade (LACIS) e, também, está diretamente ligado ao
Parque de Inovação e Sustentabilidade do Ambiente Construído (PISAC), com a
finalidade de investigar o impacto do Design Biofílico nos âmbitos social e ambiental.

1.2. Objetivo da pesquisa

A pesquisa tem o intuito de colaborar no avanço dos trabalhos científicos já iniciados no


âmbito da Universidade de Brasília (UnB) e no Parque de Inovação e Sustentabilidade do

20
Ambiente Construído (PISAC) acerca dos padrões biofílicos na arquitetura e na
construção e seus impactos na perspectiva de edificações sustentáveis e conforto
ambiental.

1.2.1. Objetivo geral

Esta pesquisa tem como objetivo identificar diretrizes norteadoras para ampliar o conceito
de construção sustentável, considerando padrões do Design Biofílico, a partir da literatura
científica, da perspectiva do usuário de edificações e dos critérios de avaliação de
certificações de construção sustentável.

1.2.2. Objetivos específicos

I. Caracterizar o Design Biofílico, por meio de levantamento na literatura de


conceitos, critérios e padrões.
II. Identificar os critérios de certificações de construção sustentável alinhados com a
biofilia, assegurando experiências de qualidade aos usuários de edificações.
III. Verificar a experiência dos usuários das edificações sobre o Design Biofílico em
seu cotidiano.
IV. Identificar critérios que possam ser incorporados às certificações, propondo
complementações com foco no Design Biofílico.

1.3 Estrutura do trabalho

Este trabalho está estruturado em seis capítulos. No primeiro capítulo se apresenta a


introdução ao tema, justificativa, objetivos e a estrutura do trabalho em geral. O segundo
21
capítulo é destinado à construção do referencial teórico acerca do Design Biofílico e de
seus padrões na arquitetura. Consolidam-se, também, os conceitos da psicologia
ambiental e sua influência na arquitetura e se analisam as definições de desenvolvimento
sustentável. No capítulo três, apresentam-se as etiquetagens de sustentabilidade na
construção civil. O quarto capítulo se propõe a descrever a metodologia utilizada no
trabalho. No capítulo cinco são descritos os resultados alcançados pela pesquisa e,
subsequentemente, apresenta-se as considerações finais e conclusão. A estrutura do
trabalho é sumarizada na figura 1.

O referencial teórico tem como objetivo reunir conceitos da psicologia ambiental, com o
intuito de firmar as bases teóricas que relacionam o espaço construído com a saúde mental
e física do ser humano. Essa parte do trabalho também se destina ao estudo de revisão
bibliográfica sobre o Design Biofílico.

Trata-se também, no referencial teórico, da conceituação e da evolução do conceito de


sustentabilidade, focando na sustentabilidade de edificações e seu impacto na construção
civil. Estuda-se as certificações ambientais, apresentando os aspectos gerais, os sistemas
de pontuação e, por fim, os critérios de avaliação.

O método de análise parte de uma revisão bibliográfica que busca identificar os padrões
biofílicos em bases científicas. Em seguida, esses padrões são utilizados em pesquisa de
opinião com usuários de prédios existentes do campus da Universidade de Brasília. O
trabalho também utiliza uma análise comparativa dos padrões associados ao Design
Biofílico com os critérios de avaliação de certificações ambientais: o AQUA-HQE, LEED
E BREEAM. Portanto, o trabalho desenvolve-se em três passos principais. O primeiro:
revisão bibliográfica, extraindo os padrões biofílicos mais recorrentes na literatura
científica. O segundo: aplicação de questionário a fim de aferir a afinidade de usuários de
espaços com os padrões identificados pela revisão bibliográfica. E o terceiro: análise das
convergências e similaridades entre os padrões biofílicos apresentados na primeira parte,
alvos da avaliação sobre forma de questionário, com os pré-requisitos de sustentabilidade
de edificações propostos pelas certificações ambientais

22
Figura 1 – Estrutura do trabalho

Fonte: Autor

23
2. DESIGN BIOFÍLICO

Neste capítulo se aborda as potencialidades do Design Biofílico na arquitetura. A partir


da psicologia ambiental, explica-se a relação entre os espaços e sua influência na vivência
das pessoas. Na sequência, é exposta a origem da teoria da Biofilia e seu uso como um
artifício de projeto para a arquitetura. Apresentam-se dados bibliométricos a fim de
levantar a relevância do tema, prospecções e tendências relacionadas ao Design Biofílico.
Ao fim deste capítulo, apresentam-se as bases de referencial teórico utilizadas para a
elaboração dos padrões biofílicos na arquitetura.

2.1. Psicologia ambiental

Não pode existir uma história da arquitetura dissociada da história da sociedade, bem
como uma história dos lugares dissociada da própria história. Todo espaço construído
surge em um contexto social, político e econômico, e toda obra é o resultado de decisões
políticas e dos conceitos de interesse dos diversos atores sociais, carregando sempre, de
uma forma ou de outra, um peso ideológico. Portanto, os espaços construídos podem ser
considerados um espelho do que é, pensa e faz um determinado grupo de pessoas
enquanto estrutura social (MONTANER, 2007).

Levando em consideração essa prerrogativa da arquitetura e considerando o contexto


atual, tem-se que a arquitetura, de forma geral, tende a sucumbir aos interesses do
capitalismo exacerbado atual em detrimento das reais necessidades humanas. Neste
sentido o fazer arquitetônico passou a ser um exercício mecânico, repetido à exaustão.

Koolhaas (2011) defende em seu texto Junkspace (Espaço-lixo) que os seres humanos
vivem um momento infantário. Não há forma, apenas proliferação de soluções esgotadas.
A regularização é a nova criatividade. Neste mesmo contexto Koolhaas também questiona
as cidades pós-modernas:

24
“Será a cidade contemporânea como o aeroporto contemporâneo, igual a
todos os outros? […] Na medida que a identidade deriva da substância física,
do histórico, do contexto e do real, de certo modo não conseguimos imaginar
que algo contemporâneo – feito por nós – contribua para ela. […] A Cidade
Genérica está no caminho da horizontalidade para a verticalidade. O
arranha-céu parece ser a tipologia final, definitiva. Engoliu todo o resto. Pode
existir em qualquer lugar, em um campo de arroz ou no centro da cidade – já
não faz nenhuma diferença. As torres, agora, não estão mais juntas, estão tão
espaçadas que não interagem. Densidade no isolamento é o ideal.” (MAU;
KOOLHAAS; JENNIFER, 1995)

Baltazar (2010) argumenta que o capitalismo do século XIX conseguiu moldar o espaço
de acordo com suas próprias premissas, planejando-o. Isto significa que, a partir do século
XIX, o espaço planejado tem servido à economia capitalista para controlar (por restrição)
modos alternativos de produção. Em consequência disso, o que se observa atualmente no
design dos espaços é um desajuste do sustentável e do bem-estar humano. Pode-se dizer
que, em certa medida, as cidades e o espaço destinado à convivência se tornaram espaços
apáticos aos usuários, à medida que negam a natureza humana e sua necessidade de
contato com o natural.

A Psicologia Ambiental tem um caráter multidisciplinar. Ela recebe contribuição de


outras disciplinas, tais como a psicologia, a geografia humana, a sociologia urbana, a
antropologia, o planejamento e a arquitetura. Antes mesmo de seu reconhecimento como
uma área distinta, havia pesquisas realizadas por cientistas comportamentais que já
demonstravam possuir interesses comuns, como, por exemplo, os estudos da interferência
dos fatores do ambiente, a luz, a ventilação dentre outras, sobre o desempenho do homem
em seu trabalho, visando uma maior produtividade.

Assim como na Psicologia Ambiental, Sommer (1973) argumenta em seu livro "A
conscientização do design" que as pessoas tendem a se acostumar com os ambientes em
que vivem, mesmo que sejam prejudiciais a elas. Para que se quebre a inércia de se viver
em um ambiente hostil, é preciso que se faça um extenso trabalho de conscientização, de
mudanças de hábito. Em uma pesquisa realizada na América do Norte, Dunlap (2011)
apontou que 83% dos estadunidenses expressaram preocupação com a atual qualidade de
vida e problemas ambientais e acreditavam que medidas drásticas deveriam ser tomadas

25
para reverter este quadro. Porém, apenas 18% acreditavam que essas mudanças e hábitos
mais saudáveis com o ambiente deveriam partir delas mesmas.

Com a implementação de programas habitacionais de larga escala, no quadro da política


de reconstrução do pós-guerra, os arquitetos e planejadores urbanos, juntamente com os
cientistas do comportamento, se conscientizaram de que o ambiente construído deveria
refletir não somente princípios de construção e estética, mas também outros fatores como
as necessidades psicológicas e comportamentais dos futuros ocupantes (KENNY;
CANTER, 1981). Assim, a Psicologia Ambiental se revela como peça chave para
relacionar o comportamento humano, o seu bem-estar e o espaço construído, formando
uma relação simbiótica de construção e modificação.

"Durante um tempo excessivo aceitamos as formas físicas e as disposições


administrativas baseadas em interpretações superadas da atividade humana.
Ouvimos dizer que as salas de aula devem ter fileiras retas de cadeiras; que
os presos devem ser mantidos em celas separadas, que os estudantes
universitários devem ser companheiros de quarto; que os bancos de jardim
devem ser pesados e indestrutíveis, de forma que os vândalos não os destruam.
Com ou sem filosofia consciente ou reconhecimento explícito do fato, os
profissionais estão dando forma às pessoas, bem como os edifícios."
(SOMMER, 1979a), p. 5)

As seis revisões sobre o campo da Psicologia Ambiental publicadas no Annual Review of


Psychology, entre os anos de 1986 e 1996, mantiveram o foco em temas como percepção,
orientação e representação espaciais; espaço pessoal, privacidade e territorialidade;
efeitos afetivos ou estressores do ambiente; design de espaços internos. As últimas
edições trouxeram referências aos ambientes naturais, porém com foco em seu efeito
sobre os seres humanos, e não o contrário (NICKERSON, 2003).

Craik (1970) identifica os seguintes tópicos de estudos para a Psicologia Ambiental:


avaliação ambiental, percepção ambiental, representações cognitivas do ambiente em
larga-escala, personalidade e ambiente, tomada de decisão ambiental, atitudes do público
quanto ao ambiente, a qualidade do ambiente percebido pelos sentidos, psicologia
ecológica e a análise dos cenários de comportamento, comportamento espacial humano,

26
efeitos comportamentais da densidade, fatores comportamentais em ambientes
residenciais e institucionais, recreação ao ar livre e reações à paisagem.

Sommer (1979a) ainda idealiza que um edifício não precisa apenas corresponder às
mudanças nas circunstâncias sociais e tecnológicas, mas precisa, também, permitir às
pessoas a expressão de suas identidades individuais e coletivas. Sobre a urgente
necessidade de se conhecer as reais diretrizes de projeto por parte de usuários, pode-se
citar o caso do conjunto habitacional Pruitt-Igoe, projetado e construído nos anos 50 em
Saint Louis (Missouri, EUA). Este edifício foi construído seguindo pesquisas realizadas
sobre habitação coletiva no âmbito do Movimento Modernista, pela Universidade de
Harvard, sendo o projeto premiado pelo Instituto Norte-Americano de Arquitetos. Porém,
seu real desempenho foi posto em dúvida por uma série de eventos vândalos e criminosos
que ocorreram no edifício por parte dos moradores, culminando em sua total demolição,
em 1972.

Gunther e Flósculo (2003) argumentam que o que move boa parte das pesquisas em
Psicologia Ambiental é a avaliação e o impacto de obras arquitetônicas e desenhos
urbanos mal fundamentados no que diz respeito às reais necessidades dos usuários.
Ressaltam, também, que é de grande importância o entendimento por parte dos projetistas
dessas reais necessidades do futuro ocupante.

A emblemática demolição do conjunto habitacional Pruitt-Igoe pode ilustrar o quanto


pode ser danoso quando se projeta sem levar em consideração a ocupação e o desejo dos
usuários quanto ao espaço em que querem morar. Pode-se especular que o referido prédio
foi projetado seguindo parâmetros e necessidades que não necessariamente eram as
expectativas e desejos dos moradores.

"Grande parte da vida das pessoas se passa sem sentimentos ou envolvimentos


verdadeiros. A tarefa do educador ambiental não é apenas ensinar sobre o
ambiente, ou seja, relacionar seus componentes, origens, materiais e inter-
relacionamentos. É também estabelecer a relação entre a pessoa e seu meio
imediato e demonstrar como este afeta sua vida. Não basta provar que o
barulho, o ar viciado e um alto teor de umidade têm um efeito negativo no
rendimento de trabalho” (SOMMER, 1979b, p. 39).

27
2.2. A Hipótese da Biofilia

O termo "biophilia" foi cunhado pelo psicólogo social Eric Fromm e mais tarde
popularizado pelo biólogo Wilson (1984). As diversas denotações - que evoluíram dentro
dos campos da biologia e da psicologia e foram adaptadas aos campos da medicina e da
arquitetura - se relacionam com a necessidade de uma (re)conexão com a natureza e os
sistemas naturais. Orians e Heerwagen (1992) sugerem que o ser humano pode estar
geneticamente predisposto a preferir certos tipos de ambientes e paisagens naturais.

Em diversos aspectos, a Biofilia, tal como a Psicologia Ambiental, também se apoia em


uma estrutura transdisciplinar, envolvendo diversos conceitos da biologia, sociologia e
psicologia. Nesse sentido, o objeto de estudo da disciplina se aproxima do caráter e do
instinto humano, considerando que o contato direto com a natureza é de caráter primordial
da essência humana.

Biofilia é definida por Wilson (1984) como a inclinação inerente ao homem à natureza
que até em tempos modernos contribui positivamente para a saúde mental e física do ser
humano. A ideia da biofilia origina-se do entendimento de que 99% da evolução da
espécie humana foi condicionada pelo ambiente natural e suas adversidades, e não por
atributos criados artificialmente pelo próprio homem.

Muito do que se trata ser como normal nos dias de hoje é relativamente recente em
comparação ao tempo de evolução do homem. Muitos dos inventos humanos, tais como
a produção de alimentos em grande escala, as cidades e as tecnologias ligadas à
eletricidade, podem ser considerados recentes se comparados ao período de evolução e
de adaptação do ser humano na Terra. Partindo desde princípio, é possível concluir que o
corpo humano, a mente e os sentidos podem ser mais aptos a responder em situações
naturais do que em situações artificiais e locais criadas pelo próprio ser humano.

O poder curativo de uma conexão com a natureza foi estabelecido pelo estudo de Roger
Ulrich (1993), que compara as taxas de recuperação de pacientes com e sem a natureza.

28
Browning e Romm (1994) sugerem que, com o surgimento do movimento de construção
ecológica no início dos anos 90, foram estabelecidas ligações entre a melhoria da
qualidade ambiental e a produtividade dos trabalhadores. Os ganhos financeiros
decorrentes de melhorias de produtividade terem sido considerados significativos, a
produtividade foi vista como um indicador de saúde e o bem-estar.

Biofilia é a conexão biológica inata da humanidade com a natureza. Isso ajuda a explicar
porque uma visão do jardim pode aumentar a nossa criatividade; por que as sombras e as
alturas instigam fascínio e medo; e porque a companhia animal e passear através de um
parque e ruas arborizadas têm efeitos restauradores e curativos. Biofilia também pode
ajudar a explicar por que alguns parques e prédios urbanos são preferidos sobre outros.

2.3. Design Biofílico

A ideia do design biofílico reforça a ideia de que a mente e o corpo humanos evoluem em
um mundo sensorialmente rico, que permanece crítico para a saúde emocional,
psicológica e espiritual. Em um período da história marcada por grandes indústrias,
manufaturas artificiais, engenharia eletrônica e massivos centros urbanos, representam
apenas uma pequena fração da história evolutiva da espécie humana. A humanidade
evoluiu em respostas adaptativas às condições e estímulos naturais, como a luz do sol,
clima, água, plantas, animais, paisagens e habitats, que permanecem essenciais para os
seres humanos e sua saúde.

Kellert e Finnegan (2011) argumentam que um dos maiores desafios no design biofílico
é abordar a lacunas na arquitetura contemporânea. Nesse sentido, visa propor uma nova
estrutura para beneficiar a experiência de contato com a natureza na edificação e no meio
ambiente natural. Heerwagen et at. (2008) argumentam que este design apresenta uma
nova dimensão aos projetos arquitetônicos, denominado "design ambiental restaurativo".
Além de incentivar e melhorar o contato entre as pessoas e a natureza no contexto urbano,
o design biofílico também visa minimizar impactos ambientais, preservando os recursos
naturais e assumindo estratégias preservação ambiental.

29
A natureza pode ser usada no projeto de edifícios de várias maneiras: formas, materiais,
símbolos e espaços que fazem referências à natureza. Ao longo da história da arquitetura,
o design biofílico se expressou de maneiras diferentes. Nem sempre identificado ou
consciente, transmitiu certa subjetividade usando vários dispositivos que atestam o
vínculo entre a natureza e o ser humano (SÖDERLUND; NEWMAN, 2017a).

A consistência de temas naturais em estruturas, obras de arte e cidades sugere que o


Design Biofílico não é um pensamento emergente. O Design Biofílico pode não ser uma
ramificação única da arquitetura. Ao invés disso, pode ser entendido como a intuição
humana que mostra que as conexões com a natureza são de grande importância para
manter uma existência saudável e equilibrada.

2.3.1. Design Biofílico, resiliência e saúde

Na psicologia, a resiliência, mais estudada na infância, tenta entender como crianças,


adolescentes e adultos são capazes de sobreviver e superar adversidades, apesar de
viverem em condições de pobreza, violência intrafamiliar, doença mental dos pais ou
apesar das consequências de uma catástrofe natural, entre outras (LUTHAR;
DOERNBERGER; ZIGLER, 1993). Atualmente, poucos são os autores que sustentam
ser a resiliência um traço pessoal, inerente ao indivíduo. A visão predominante busca
explicar o fenômeno como processo dinâmico, multidimensional ou ecossistêmico
(WALLER, 2001). Nesse sentido, e para este trabalho, o conceito de resiliência humana
é abordado de forma a relacionar espaços construídos e a dimensão sociológica.

A adaptação positiva permite identificar se houve um processo de resiliência. Esta pode


ser considerada positiva quando o indivíduo alcançou expectativas sociais associadas a
uma etapa de desenvolvimento, ou quando não houve sinais de desajuste. Em ambos os
casos, se a adaptação positiva ocorre, apesar da exposição à adversidade, considera-se
uma adaptação resiliente. A adaptação positiva em relação aos espaços sugere que a

30
disposição espacial em um determinado momento favoreceu ao indivíduo uma melhor
vivência social, proporcionada pelos fatores ambientais.

Frente aos problemas enfrentados atualmente em grandes centros urbanos, como o


aumento exponencial da população, altos índices de criminalidade, segregação social e
poluição, as cidades se tornam cenários para a adaptação e evolução do ser humano. Nesse
sentido, os aspectos nocivos da cidade e seus efeitos na população podem ser observados
no aumento de doenças na população, tanto psicológicas como fisiológicas. Gases
tóxicos, por exemplo, são considerados “estressores físicos”, causando sintomas como
náusea, problemas pulmonares e, em níveis mais críticos, podem causar convulsões,
perda da consciência e morte (NADAKAVUKAREN, 2000).

Um fator psicológico, como a ansiedade, pode produzir o mesmo efeito que gases tóxicos,
incluindo problemas respiratórios, dor de cabeça e náuseas (WESSELY, 2000). O número
de pessoas que vive com depressão, segundo a Organização Mundial da Saúde, está
aumentando – 18% entre 2005 e 2015. A estimativa é que, atualmente, mais de 300
milhões de pessoas de todas as idades sofram com a doença em todo o mundo. No Brasil,
cerca de 5,8% da população brasileira sofre de depressão – um total de 11,5 milhões de
casos (OMS, (2017). Sintomas similares causados pela depressão também podem ser
causados por exposição a metais pesados e a pesticidas (WESSELY, 2000)

O nível de estresse, quando dosado, pode ser benéfico para a nossa associação e adaptação
ao meio. Kandel et al. (2013) afirma que o estresse de curto prazo, que aumenta a
frequência cardíaca e os níveis de hormônio do estresse, e que acontece, por exemplo, ao
encontrar um espaço desconhecido e complexo ou olhar sobre um corrimão para 8 andares
abaixo, é sugerido como benéfico para a regulação da saúde fisiológica. Porém, o que se
observa, especialmente em grandes centros urbanos, é alto o estímulo do mecanismo de
estresse do corpo, devido ao modo de vida corrido, à interação com o artificial do entorno
e à pobre vivência proporcionada pelas edificações e cidades como um todo.

As respostas fisiológicas englobam nossos sistemas auditivos, musculoesqueléticos,


respiratórios, circadianos e um conforto físico geral. As respostas fisiológicas
desencadeadas pelas ligações com a natureza incluem relaxamento dos músculos, bem

31
como diminuição da pressão arterial e níveis de hormônio do estresse na corrente
sanguínea (PARK et al., 2009).

A falta de contato com a natureza, bem como o modo de consumo e a negligência com o
meio ambiente fazem com que as cidades se tornem meios hostis à vida humana,
aumentando a frequência de doenças, o estresse e diminuindo a qualidade de vida da
população. O sistema fisiológico precisa ser testado regularmente, mas apenas o
suficiente para o corpo permanecer resiliente e adaptável. As respostas fisiológicas aos
estressores ambientais podem ser amenizadas através do design, permitindo a restauração
dos recursos corporais antes do dano ao sistema ocorrer (STEG, 2007).

A pesquisa aponta para a preferência humana pelo ambiente natural sobre o artificial.
Wilson (1984) popularizou o conceito de biofilia. Este conceito destaca a necessidade de
uma conexão entre a natureza e o ser humano, possibilitando respostas restauradoras na
saúde do indivíduo. Wilson (1979) argumenta que o contato com a natureza é algo que os
humanos necessitam para o bem-estar. O trabalho de Wilson também aponta que os
indivíduos são geneticamente predispostos e programados para responder a estímulos
naturais, tanto fisiológica quanto psicologicamente. Enquanto isso, o termo biofilia já
havia sido usado e definido pelo psicanalista Fromm (1964) em suas produções acerca da
essência do ser humano. Em termos gerais, ele o explicou como o amor do ser humano
pela vida.

Como já apontado anteriormente, o poder de cura de uma conexão com a natureza foi
estabelecido pelo estudo de Ulrich (1993) que compara as taxas de recuperação de
pacientes com e sem natureza. Browning e Romm (1994) sugerem que com o surgimento
do movimento de construção ecológica no início dos anos 1990, ligações foram
estabelecidas entre qualidade ambiental e produtividade do trabalhador. Portanto, pode
ser possível relacionar a importância de a arquitetura para os usuários dos espaços
construídos, enfatizando seu impacto no bem-estar.

Em geral, estudos sobre os impactos dos ambientes e elementos naturais nas pessoas
podem ser observados tanto nos aspectos fisiológicos e psicológicos da saúde. Por
exemplo, os estudos de McCaffrey e Liehr (2016) e Grafetstatter et al. (2017)
demonstram níveis reduzidos de estresse, depressão e ansiedade em pacientes, enquanto

32
Latkowska (2015) e Berger (2017) apontam para redução da dor e do tempo de
recuperação.

Design Biofílico pode ser entendido como quaisquer tentativas, conscientes ou


inconscientes, de reforçar esses laços com o natural, seja por intervenções sutis, como
alusões às formas da natureza em edifícios, seja pela própria natureza moldada pelo
homem e traduzida em parques urbanos e jardins. A identificação de padrões biofílicos
de design mostra o quão sutil a referência a natureza pode ser e, ainda assim, contribuir
significativamente para a experiência positiva do usuário. Quanto mais desses elementos
um espaço contém, maior a chance de fornecer uma experiência restauradora para a
comunidade.

2.3.2. Aplicabilidades

Em projetos de arquitetura, o Design Biofílico parte do princípio de que a saúde de um


ser humano tem uma base biológica, necessitando de contato direto com a natureza.
Assim, estabelece-se que o usuário do espaço tende a se sentir melhor e, por fim,
recupera-se melhor de doenças, ou aumenta sua capacidade de produção, se permitido
este contato imediato com o natural. Segundo o Browing et al. (2014), o Design Biofílico
pode reduzir o estresse, melhorar as funções cognitivas, a criatividade e o bem-estar,
assim como pode acelerar o processo de cura.

33
Figura 2 - Igreja Espírito Santo do Cerrado, Lina Bo Bardi, Uberlândia/MG

Fonte: Fotógrafo Nelson Kon. Disponível em: https://www.nelsonkon.com.br/igreja-espirito-santo-do-


cerrado/

Em ambientes hospitalares, uma pesquisa desenvolvida por Ulrich (1993) focada na


influência que a natureza exercia na recuperação de pacientes demonstrou que pacientes
que foram alocados em quartos com vista para ambientes naturais recebiam alta em 7,96
dias comparados a 8,71 dias para pacientes que não tinham acesso a vistas para paisagens
naturais. Um estudo similar desenvolvido por Beauchemin e Hays (1996) apontou o efeito
do Design Biofílico e da iluminação natural em pacientes com desordem bipolar e
depressão. O estudo concluiu que pacientes confinados com salas sem contato direto com
a natureza demoravam em média 2,6 dias a mais para receber alta em relação a pacientes
com contato direto com plantas e iluminação natural.

34
Figura 3 – Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek Lago Norte, Arquiteto Lelé -
Brasília/DF.

Fonte: Fotógrafo Nelson Kon. Disponível em: http://www.nelsonkon.com.br/centro-de-reabilitacao-


sarah-kubitschek-lago-norte/

Um estudo de caso realizado no escritório administrativo da Universidade de Oregon


(EUA) indicou que o Design Biofílico afeta diretamente o número de faltas na rotina de
trabalho dos empregados – neste caso, a incidência de faltas caia em 10%. O estudo
também demonstrou que empregados que trabalhavam em salas com vista para jardins
tinham uma taxa de 57 horas ausentes por motivos de saúde, que subia para 68 horas em
empregados que trabalhavam em salas com vista direta para outras edificações. O estudo
também demonstrou que o tempo de intervalo tirado por aqueles que não tinham vistas
para os jardins tendia a ser maior, fator que demonstra a diminuição de produtividade por
estes empregados. (ELZEYADI, 2011)

O High Line de Nova York (EUA) é o exemplo mais simbólico sobre Design Biofílico
em espaços públicos. Projetado por James Corner Field, a desativada linha férrea tem
mais de 2 quilômetros de trecho restaurado, integrando na paisagem mais de 300 espécies
de forrações, arbustos e árvores. Mais de quatro milhões de pessoas visitam o High Line

35
por ano, fazendo dele o parque público mais visitado por metro quadrado. Espaços
urbanos integrados com a natureza também ajudam a diminuir consideravelmente a
temperatura do ar urbano e amenizar os efeitos de ilha de calor (FRIENDS OF THE HIGH
LINE, 2020).

O Design Biofílico também pode ser aplicado em projetos residenciais utilizando


decisões de projeto que aproximem os elementos naturais aos usuários. Nesse sentido é
importante que essas decisões tomem por base necessidades higrotérmicas. São
necessários, também, artifícios que possibilitem ventilação e iluminação naturais,
deixando bem marcadas a passagem do tempo e sua variação. Podem ser utilizadas
também matérias com acabamentos naturais e formas da natureza, bem como vegetação
e jardins em contraponto com o ambiente construído.

Figura 4 – Casa de Vidro, Lina Bo Bardi - São Paulo/SP

Fonte: Fotógrafo Nelson Kon. Disponível em: https://www.nelsonkon.com.br/casa-de-vidro/

36
2.4. Análise Bibliométrica

A revisão bibliométrica foi realizada para prospectar o volume de produções que acerca
do tema. A busca pelas produções científicas foi realizada nas bases de dados do Portal
de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível (CAPES),
Superior Web of Science, Scopus e no catálogo de teses e dissertações da CAPES. O
recorte temporal foi estipulado como itens publicados no espaço de dez anos (2010 a
2020). As palavras utilizadas para a busca foram Biophilic Design (Design Biofílico),
Architecture, (Arquitetura) e Sustainability (Sustentabilidade). Nesta fase, foram levados
em consideração o título, o resumo e as palavras-chave do artigo para validar seu uso.
Foram identificados 283 artigos, não se utilizando nenhum outro critério para corte além
do espaço temporal citado.

Nas bases brasileiras, não foi encontrado número significativo de produções que se
enquadrassem no escopo deste trabalho. No catálogo de teses e dissertações, nenhuma
produção foi encontrada. O número de artigos publicados por ano apresenta um aumento
em relação a 2010. Nesse sentido, alguns países se destacam pelo número de publicação,
como Estados Unidos, Itália e China. O aumento de publicações pode ser visualizado no
gráfico (figura 5) e a classificação de países por número de publicações pode ser
constatada no quadro 1.

37
Figura 5 – Gráfico de produções científicas acerca do tema

Fonte: Autor

Quadro 1 – Número de publicações por país


País Publicações Citações
1 Estados Unidos 100 1004
2 Itália 54 412
3 China 47 751
4 Alemanha 35 358
5 Inglaterra 32 562
12 Brasil 15 276
Fonte: Autor

2.4.1. Análise no VOSViewer e prospecção sobre o tema

O VOSviewer (versão utilizada 1.6.15) é um software que possibilita a criação de mapas


a partir de bases de dados. Através dessa ferramenta, é possível criar redes de
relacionamento entre itens como publicações científicas, pesquisadores, organizadores de
pesquisa, países, palavras-chave e termos, considerando critérios como coautoria,
cocitação, citação e conexão bibliográfica.

38
No software, os mapas são o resultado diagramático da análise de algum item. Os itens
são os objetos de interesse, podendo ser publicações, pesquisadores ou termos. Os links
indicam a relação entre dois itens. Para esses links, são atribuídos valores numéricos de
força que são positivos e quanto maiores, maior a relação entre os itens. Os itens são
agrupados em clusters, baseado na força que existe entre os seus links. A junção dos itens
e links forma a rede de dados. Essas redes são apresentadas como mapas na interface do
software.

Com base nos 283 artigos selecionados relacionados ao Design Biofílico, foram gerados
mapas de correlação a partir de palavras-chaves mais relevantes contidas nas produções
científicas. Com isso, pode-se ter um melhor entendimento sobre como o tema é abordado
e relacionado mundialmente. Abaixo tem-se o mapa de correlações produzido com o
software VOSviewer (figura 6). Pode-se dividir em três grupos temáticos principais,
apontados no quadro 2.

Figura 6 – Gráfico de “Clusters” ou núcleos com palavras-chave mais relevantes.

Gráfico gerado a partir do software VOSviewer. Fonte: Autor

39
Quadro 2 – Núcleos gerados levando em consideração palavras-chave mais utilizadas
Núcleo 1 (Vermelho) Núcleo 2 (Azul) Núcleo 3 (Verde)
Benefícios Verde Design Biofílico
Impacto Recuperação Urbanismo Biofílico
Ambiente Exposição Sustentabilidade
Modelo Ambiente Cidades
Design Recuperação do estresse Estrutura verde
Estresse Bem-estar
Design Biofílico
Fonte: Autor

Em outra visualização produzida com a ajuda do VOSviewer (figura 4), pode-se analisar
o surgimento dos assuntos em linha cronológica. Neste caso, a coloração azul se refere a
assuntos mais antigos, indo até o outro extremo, amarelo, que representa temáticas mais
recentes relacionadas ao Design Biofílico. É possível inferir da análise desses mapas que
os temas mais consolidados sobre a biofilia na arquitetura são, em geral, relacionados à
saúde humana, benefícios e recuperação. Já os temas mais novos relacionam-se com
performance, impacto e modelo. Essas palavras podem indicar novas pesquisas e áreas
de interesses na pesquisa do design biofílico. Por exemplo, áreas da arquitetura que
envolvem estudos de impacto, performance energética, simulações computacionais e
BIM (Building Information Modeling).

40
Figura 4 - Gráfico gerado com o programa VOSviewer. Relação entre as palavras-
chave mais utilizadas com o ano das publicações

Fonte: Autor

2.5. Padrões Biofílicos na Arquitetura – Revisão Bibliográfica

Esta parte do trabalho se propõe a identificar quais padrões do Design Biofílico são mais
citados nas produções cientificas. Para tanto, utilizou-se o volume de produções
identificadas no estudo bibliométrico, salvo produções publicadas de 2019 em diante. Os
padrões de seleção nesta etapa foram similares aos aplicados na análise da bibliometria.
Utilizou-se as bases de dados da Web of Science, Scopus e Scielo. Não foram encontradas
publicações relevantes para esta pesquisa no catálogo de teses e dissertações da CAPES.
O recorte temporal utilizado foi do período de 2010 a 2019. As palavras-chave de busca
foram “Design Biofílico”, “Arquitetura” e “Sustentabilidade”. Nesta primeira fase, foi
levado em consideração como critério de seleção o título e as palavras-chave do artigo.
No total, foram identificados 215 artigos publicados. O processo de revisão literária é
explicitado na figura 5:

41
Figura 5 – Processo de Revisão de Literatura

Fonte: Autor

Na segunda fase de seleção de trabalhos, foi feita a leitura dos resumos dos 215 artigos
pré-selecionados na primeira fase. Nessa etapa, foi levada em consideração a adequação
ao tema, bem como a seleção de trabalhos que tinham como foco principal o debate acerca
dos padrões do Design Biofílico na arquitetura. Destes trabalhos, 40 artigos foram
42
selecionados para a terceira etapa de avaliação, que consistiu na leitura integral dos
artigos. A última etapa de seleção levou em consideração o método de análise de
relevância ilustrado por Dresch, Lacerda e Antunes (2015). Conforme a afinidade do
trabalho com a presente pesquisa, o mesmo poderia ser classificado de acordo com o
quadro 3:

Quadro 3 – Critério de análise de relevância baseado em Dresch, Lacerda e Antunes


Qualidade Aspectos
Qualidade de Adequação à Adequação ao foco
execução do estudo questão da revisão do trabalho
Alta O trabalho O trabalho aborda O estudo foi
atende aos exatamente o realizado em um
padrões exigidos assunto alvo da contexto idêntico
para o tema revisão sistemática ao definido para a
em estudo revisão
Média O trabalho possui O trabalho aborda O estudo foi
lacunas em relação parcialmente o realizado em um
aos padrões assunto alvo da contexto
exigidos para o revisão sistemática semelhante ao
tema definido para a
revisão
Baixa O trabalho não está O trabalho apenas O estudo foi
de acordo com os tangencia o assunto realizado em um
padrões exigidos alvo da revisão contexto diverso
pelo tema sistemática
Fonte: Dresch, Lacerda e Antunes (2015) Adaptado

Os padrões de Design Biofílicos podem ser entendidos como soluções formais, técnicas
e ou tecnológicas empregadas em edificações. Os artigos selecionados para este trabalho
tiveram que apresentar alta relevância, ou seja, que apresentam, de forma sistematizada
ou clara, padrões de arquitetura alinhados com o Design Biofílico. O método de análise
foi inspirado nos resultados de um estudo realizado por Terrapin Bright Green (2014),
que consiste na identificação de padrões que favorecem e reforçam os laços entre o

43
ambiente construído e o ambiente natural. Os 40 artigos selecionados foram listados
abaixo (quadro 4) e classificados de acordo com o método de Dresch, Lacerda e Antunes
(2015):

Quadro 4 –Trabalhos científicos identificados e classificados quanto a relevância para


o presente trabalho
Autores Qualidade Adequação Adequação ao Avaliação final
da execução à questão foco do estudo
01 Kambo, A et al. (2019) Alto Alto Alto Alto
02 Tereci, A (2019) Alto Baixo Baixo Baixo
03 McGee, B et al. (2019) Alto Baixo Baixo Baixo
04 Park, SJ, Lee HC. Alto Médio Alto Alto
(2018)
05 Wallmann-Sperlich, B Alto Médio Médio Médio
et al. (2019)
06 Parsaee, M et al. (2019) Alto Baixo Baixo Baixo
07 Xue, F et al. (2019a) Alto Alto Alto Alto
08 Mustafa, FA., Yaseen Alto Alto Alto Alto
FR. (2019)
09 Abdelaal, MS., Alto Médio Médio Médio
Soebarto, V. (2019)
10 Ortegon-Cortazar, L. Médio Baixo Baixo Baixo
Royo-Leva, M. (2018)
11 Abdelaal, MS. (2019) Alto Médio Médio Médio
12 Africa, J et al. (2019) Alto Alto Alto Alto
13 Xue, F. (2019) Alto Baixo Baixo Baixo
14 Mohora, I. (2019) Alto Médio Alto Alto
15 Abdelaal, MS, Médio Baixo Baixo Baixo
Soebarto, V. (2018)
16 Sanchez et al. (2018) Alto Alto Alto Alto
17 Martin, R, Choi.S. Alto Médio Baixo Médio
(2018)
18 Lee, HC, Park, Alto Alto Alto Alto
SJ.(2018)

44
19 Kayihan, KS (2018) Alto Baixo Baixo Baixo
20 Kayihan, KS (2017) Alto Médio Médio Médio
21 Barreiros, C (2018) Alto Médio Médio Médio
22 Purani, K, Kumar, DS. Alto Médio Médio Médio
(2018)
23 Rosenbaum, MS (2018) Alto Baixo Baixo Baixo
24 Söderlund, J, Newman, Alto Médio Médio Médio
P (2017b)
25 Reeve, A (2017) Alto Baixo Baixo Médio
26 Mazuch, R (2017) Alto Baixo Baixo Baixo
27 Gillis, K, Gatersleben, Alto Alto Alto Alto
B (2015)
28 Söderlund, J, Alto Alto Alto Alto
Newman, P (2015)
29 Gray, T, Birrell, C. Alto Médio Médio Médio
(2014)
30 Akande, Q.O., Aduwo, Alto Alto Alto Alto
E.B. (2019)
31 Tahoun, Z.N.A (2019) Alto Alto Alto Alto
32 Gierbienis, M (2019) Alto Médio Médio Médio
33 Fisher, K. (2019) Alto Médio Alto Alto
34 Yen, T.S. (2018) Médio Baixo Baixo Baixo
35 Ramzy, N.S. (2015) Médio Baixo Baixo Baixo
36 Ryan, C.O. et al. Alto Alto Alto Alto
(2014b)
37 Kellert, Calabrese Alto Alto Alto Alto
(2015)
38 Hidalgo, A.K. (2014) Alto Alto Alto Alto
39 Obiozo, R., Smallwood, Alto Médio Médio Médio
J. (2013)
40 Almusaed, A. (2011) Alto Médio Médio Médio
Fonte: Autor

45
Com base na tabela anterior, extraiu-se os autores e trabalhos com classificação de
interesse “Alto” nas três categorias, a fim de fazer uma análise mais profunda. Assim,
foram selecionadas nove publicações. O critério de escolha foi baseado na afinidade de
temas e de metodologia com esta presente pesquisa. Os itens analisados para a escolha
foram: artigos que continham em sua revisão bibliográfica a análise de padrões biofílicos
na arquitetura, trabalhos que propunham uma aplicabilidade dos padrões biofílicos em
prédios existentes, por meio de estudos de caso ou de pesquisa de opinião. Os artigos
estão listados no quadro 5 abaixo:

Quadro 5 – Trabalhos científicos utilizados na identificação dos padrões biofílicos


Tipo Autores Ano Título do trabalho

1 Sung Jun Park, 2019 Spatial Design of Childcare Facilities Based on


Hyo Chang Biophilic Design Patterns
Lee (2019)

2 Mustafa F., 2019 Towards The Application Of Biophilic Parameters


Radhwan In Local
F.(2019) Buildings: A Case Study Of Bilkent School, Erbil
City- Iraq
3 Fei Xue et al 2019 Incorporating biophilia into green building rating
(2019a) tools for promoting health
and wellbeing
4 Kellert (2015) 2015 Nature by Design – The practice of Biophilic
Design
5 Zeinab Nasr 2019 Awareness assessment of biophilic design
Aly Tahoun principles application
(2019)
6 Hyo Chang 2018 Assessment of Importance and Characteristics of
Lee, and Sung Biophilic Design Patterns in a Children’s Library
Jun Park
(2018)

46
7 Akande, Q. O, 2019 Assessment of Biophilic Design Patterns on Skill
Aduwo, E. B. Development, In Minna, Niger State
(2019)
8 Gillis, 2015 A Review of Psychological Literature on the Health
Gatersleben and Wellbeing Benefits of Biophilic Design
(2015)
9 Ryan, C.O. et 2014 BIOPHILIC DESIGN PATTERNS Emerging
al. (2014b) Nature-Based Parameters for Health and Well-
Being in the Built Environment
Fonte: Autor

2.5.1. Especificação dos padrões e critérios do Design Biofílico

A ideia do design biofílico endossa o crescente reconhecimento de que a mente e o corpo


humanos evoluíram em um mundo sensorialmente rico e natural, que permanece
importante para saúde emocional e psicológica das pessoas, bem como para o bem-estar
espiritual. O período das cidades e da grande produção agrícola, industrial e de
manufatura artificial representa apenas uma pequena fração da história evolutiva da
espécie humana.

A humanidade evoluiu em respostas adaptativas às condições e estímulos naturais, como


a luz do sol, clima, água, plantas, animais, paisagens e habitats, que permanecem
essenciais para os humanos. Assegurando, assim, o seu desenvolvimento e, em última
instância, a sobrevivência.

Kellert e Finnegan (2011) argumentam que um dos maiores desafios no Design Biofílico
é abordar as lacunas na arquitetura contemporânea. Nesse sentido, visa propor uma nova
estrutura para priorizar, na edificação, a positiva experiência de contato com a natureza.
O Design Biofílico apresenta uma nova dimensão aos projetos arquitetônicos,
denominada “design ambiental restaurativo” (KELLERT; HEERWAGEN; MADOR,

47
2008). Essa dimensão estabelece conexão direta entre os elementos do espaço e as
respostas de cura e mecanismos de recuperação da harmonia e saúde do corpo humano.

A natureza pode ser usada no projeto de edifícios de várias formas: formas, materiais,
símbolos e espaços que fazem referências à natureza. Ao longo da história da arquitetura,
o design biofílico se expressou de maneiras diferentes. Nem sempre identificado ou
consciente, transmitiu certa subjetividade usando vários dispositivos que atestam o
vínculo entre a natureza e a mente humana. e o ser humano (SÖDERLUND; NEWMAN,
2017a).

Quatorze atributos de Design Biofílico que podem ser aplicados ao design de ambientes
construídos e na arquitetura da paisagem foram elencados por Browning et al (2014a).
Enquanto Kellert (2008) em sua pesquisa, categoriza os padrões biofílicos de design em
categorias, tais como “orgânico ou naturalista” e “local ou vernacular” e outras. Dessas
categorias, cerca de setenta características do Design Biofílico podem ser observadas. O
autor argumenta que a classificação desses parâmetros pode ajudar designers a aplicar, de
forma prática, os conceitos de design biofílico no desenvolvimento de projetos.

A primeira categoria do Design Biofílico, orgânico ou naturalista, classifica os elementos


que aludem, direta ou indiretamente, às formas da natureza. É caracterizada pelo contato
com elementos de autossustentabilidade característicos, tais como a predominância de luz
natural, plantas, animais e ecossistemas. Os elementos chamados indiretos incluem
representações do mundo natural através de imagens, metáforas e símbolos. A forma
indireta também pode ser alcançada experimentando com elementos naturais
manipulados por humanos, como vasos de plantas, fontes de água ou aquários.

A segunda dimensão atribuída por Kellert (2008), denominada "local ou vernacular",


refere-se a paisagens e edifícios imbuídos do contexto histórico e cultural de uma
organização social, ligada a uma localidade ou área geográfica. Pode ser entendida como
ações que modificam o ambiente natural partindo de princípios que formam a identidade
coletiva de uma comunidade.

Como explicado, o Design Biofílico compreende um amplo campo de simbologias e


padrões em arquitetura. Pode ser entendido como gestos que aludem direta ou

48
indiretamente a elementos naturais e que proporcionam contato com a natureza para o
usuário dos edifícios. Portanto, estabelecem uma maior conexão entre elementos
construtivos, o natural e o humano, tendo o potencial de impactar positivamente pessoas.
Na tabela abaixo (quadro 6) são listados os padrões biofílicos encontrados
recorrentemente nos trabalhos selecionados na etapa de revisão de literatura.

Quadro 6 – Padrões Biofílicos que são identificados nos trabalhos científicos


analisados
Trabalhos selecionados
Sung Jun Mustafa Fei Xue et Kellert Zeinab Hyo Akande, Gillis, Ryan,
Padrões / Park, Hyo F., al. (2019) (2015) Nas,r Aly Chang Q. O, Gatersle C.O. et al
Critérios Chang Radhwan Tahoun Lee, and Aduwo, ben (2014)
Lee F (2019) (2019) Sung E. B. (2015)
(2019) Jun Park (2019)
(2018)
Luz Natural – - - - - - - - - -
composições e
seus efeitos
Fluxo de - - - - - - - - -
ventilação natural
Água no ambiente - - - - - - -
Presença de - - -
Animais
Paisagem natural - - - - - - - - -
- Enquadramento
da paisagem
Ecossistemas - - - - - - - - -
presentes –
Construção de
Microclimas
Variações da - - - - - - -
natureza –
Tempo, estações
– Marcas ou
Pátina

49
Imagens do - - - - - - - -
natural – Ou seu
uso por contraste.
Materiais naturais - - - - - - - - -
Conexão não - - - - - - -
visual com
natureza (audição,
olfato, tato)
Cores naturais - - - - - - - - -
Formas naturais - - - - - - - - -
Evocação da - - - - - - - -
natureza
Possibilidade de - - - - - - -
experiências
extravisuais
Geometria natural - - - - - - - -
- Formas análogas
Biomímese – - - - - - - - -
Formas análogas
Prospecção e - - - - - - - - -
refúgio
Organização - - - - - - - - -
complexa
Integração de - - - - - - - -
partes com o todo
Espaços de - - - - - -
transição
Mobilidade e - - - - - - -
espaços para
explorar
Vínculo cultural e - - - - - -
ecológico
Fonte: Autor

50
2.5.2. Características dos padrões biofílicos

As características principais dos padrões biofílicos reforçam a ideia de pertencimento e


conexão com a natureza. Nesse sentido, os padrões, em sua maioria, exigem a conexão
direta com elementos e formas naturais. Abaixo, elenca-se algumas diretrizes para o
Design Biofílico, bem como algumas características que podem estar presentes nos
padrões. Essas diretrizes e padrões foram estudadas e percebidas ao longo da revisão
bibliográfica proposta neste trabalho. Em especial, baseada nos trabalhos de Kellert
(2008) e Browning et al (2014).

• Priorizar a natureza real sobre a natureza simulada;


• Priorizar a biodiversidade dos espaços naturais
• Proporcionar oportunidades de exercícios nas proximidades de espaços verdes.
• Estimular conexão visual que pode ser experimentada por pelo menos 5-20 minutos por
dia.
• Layouts internos e móveis que mantenham as linhas de visão desejadas e evitar impedir
o acesso visual a vistas de qualidade.
• Conexões visuais até mesmo em pequenas instâncias da natureza podem ser
restauradoras e particularmente relevantes para intervenções temporárias ou espaços onde
os imóveis são limitados.
• Os benefícios de ver a natureza real podem ser atenuados por um meio digital, que pode
ser de maior valor para espaços que, devido à sua função (por exemplo, unidades
hospitalares), não podem incorporar facilmente a natureza real ou vistas para o exterior.

2.5.2.1. Luz Natural


O projeto de iluminação tem sido usado há muito tempo para definir o espírito de um
espaço e diferentes condições de iluminação provocam diferentes respostas psicológicas.
O impacto da luz do dia no desempenho, humor e bem-estar foi estudado por muitos anos,
em uma variedade de ambientes e, como um campo complexo da ciência e do design, a
luz foi amplamente estudada. O efeito visual da passagem do tempo, gerado pela variação

51
de luz conforme o dia, mostra-se importante para a saúde dos usuários. No âmbito
nacional, a norma de desempenho NBR 15 575 apresenta parâmetros mínimos de
iluminação para os ambientes residenciais. As certificações ambientais também
estabelecem níveis ideais próprios de iluminação para ambientes.

2.5.2.2. Fluxo de ventilação natural


O padrão de variação térmica e de fluxo de ar evoluiu de pesquisas que medem os efeitos
da ventilação natural, sua variabilidade térmica resultante e o conforto, bem-estar e
produtividade do trabalhador. De um modo geral, um crescente descontentamento com a
abordagem convencional do projeto térmico, que se concentra em atingir um certo nível
de desempenho térmico e de ventilação, minimizando a variabilidade. Outro aspecto
importante, viabilizado pelo uso estratégico de aberturas, seria a possibilidade de contato
visual com elementos naturais externos. Potencializando o enquadramento do entorno e
gerando vistas de qualidade.

2.5.2.3. Água no ambiente


O padrão de presença de água evoluiu de pesquisas sobre preferência visual e respostas
emocionais positivas a ambientes contendo elementos de água, tais como a redução do
estresse, o aumento da sensação de tranquilidade, a diminuição da frequência cardíaca e
da pressão arterial, a concentração aprimorada e a restauração da memória induzida por
estímulos visuais complexos e naturalmente fluidos. A presença de água no ambiente
perpassa por diversos itens de salubridade e qualidade do espaço, podendo influenciar,
quando utilizada diretamente, a umidade do ambiente, o conforto térmico e acústico.

2.5.2.4. Animais
A presença de vida animal tem sido parte integrante da experiência das pessoas ao longo
da evolução humana. Ainda assim, sua ocorrência no ambiente construído pode ser
desafiadora e ocasionalmente controversa. O contato com a vida animal pode ser
alcançado por meio de estratégias de design como alimentadores, telhados verdes, jardins,
aquários e o uso criativo de tecnologias. Quando possível, o contato com a vida animal
deve incluir uma diversidade de espécies e enfatizar espécies nativas. Nesse aspecto,

52
pode-se destacar a possibilidade de criação de um ecossistema saudável e integrativo, a
presença de animais de diferentes espécies no ambiente circundante de edificações pode
ser indicativa de um ambiente natural desenvolvido.

2.5.2.5. Paisagem natural, ecossistemas, imagens do natural, materiais naturais


As paisagens naturais e os ecossistemas consistem em plantas, animais, água e solos de
forma conectada. As pessoas tendem a preferir paisagens com árvores, bosques abertos,
presença de água, e outras características típicas de uma savana, configuração importante
na evolução humana. A paisagem natural pode ser importante em diferentes aspectos e
escalas, podendo ter forte apelo visual, como vistas de qualidade. Também, o uso de
materiais ou imagens naturais pode ter caráter metafórico e elucidativo, evocando de
forma indireta a conexão com a natureza.

2.5.2.6. Variações da natureza – Tempo, estações


Assim como a presença de água, esse padrão é suspeito de aumentar as respostas de saúde
positivamente. Em Biophilic Design, Kellert et al (2008) enquadra isso como "Padrões e
Processos Naturais", no sentido de que ver e compreender os processos da natureza pode
criar uma mudança perceptual no que está sendo visto e experimentado. Esse padrão tem
um forte elemento temporal, que pode ser expresso culturalmente. Pode, também, ser
associado a eventuais marcas visuais e físicas causada pela passagem do tempo, sofrido
pelos materiais da edificação.

2.5.2.7. Conexão não visual com natureza


A conexão não visual no espaço construído se dá pela oportunidade de experiências que
evoquem outros sentidos além do visual. Assim, elementos que estimulem o olfato, o tato
e a audição são bem-vindos para enriquecer a experiência espacial. Nesse sentido, o
conforto acústico e olfativo são fatores preponderantes. Sons da natureza, como o da água,
por exemplo, também colaboram para um ambiente restaurativo e rico sensorialmente. A
exemplo, o uso de materiais em seu estado natural pode contribuir para enriquecer o
ambiente e estimular o tato (quando utilizadas diferentes texturas no ambiente).

53
2.5.2.8. Cores naturais
A cor sempre serviu como um fator importante para localizar alimentos, água e outros
recursos, bem como para facilitar o movimento e orientação. O uso efetivo de cor no
ambiente construído pode ser um desafio, dada a capacidade moderna de gerar cores
artificiais, especialmente brilhantes. A aplicação biofílica eficaz de cor deve geralmente
favorecer tons suaves de "terra" característicos de solos, rochas e plantas. Nesse sentido,
a psicologia das cores corrobora para o aspecto desse padrão.

2.5.2.9. Evocação da natureza, Biomímese


A experiência satisfatória da natureza também pode ser revelada por meio de imaginação
e representações fantásticas. Essas representações podem não ocorrer literalmente na
natureza, mas ainda derivam de princípios de design encontrados destacadamente no
mundo natural. Por exemplo, as “asas” da Sydney Opera House sugerem as qualidades de
um pássaro; os vitrais de Notre Dame, uma rosa flor; enquanto o horizonte de algumas
cidades imita a heterogeneidade vertical de uma floresta. Nenhum desses projetos
realmente ocorre na natureza, mas todos eles se baseiam em princípios de design e
características do mundo natural. Elementos naturais também podem ser utilizados como
figuras de contraste com o ambiente artificial, gerando, assim, foco em determinados
elementos na composição dos espaços. Este padrão evoca itens de forma mais subjetiva
e formal, podendo trazer alusões à natureza de forma direta ou metafórica.

2.5.2.10. Geometria natural e formas naturais


Geometrias naturais se referem a propriedades matemáticas comumente encontradas na
natureza. Isso inclui escalas organizadas hierarquicamente e geometrias artificiais
sinuosas ao invés de rígidas. Por exemplo, fractais são uma forma geométrica
frequentemente encontrada no mundo natural, na qual uma forma básica ocorre
repetidamente. Outras geometrias naturais proeminentes incluem escalas ordenadas
hierarquicamente, como a "proporção áurea" e a “sequência de Fibonacci” (figura 9).

54
Figura 9 – Proporção Áurea e a Sequência de Fibonacci

Fonte: Autor

2.5.2.11. Sentimento de refúgio


Este padrão evoluiu de pesquisas sobre preferência visual e respostas de habitat espacial,
bem como da antropologia cultural, psicologia evolutiva e análise arquitetônica. Sugere-
se que os benefícios para a saúde incluam reduções no estresse, tédio, irritação e fadiga,
bem como maior conforto. Um espaço com boas condições de Refúgio dá a sensação de
segurança, proporcionando uma sensação de retiro. Um bom espaço de refúgio parece
separado ou único de seu ambiente circundante; suas características espaciais podem
parecer contemplativas, envolventes e protetoras.

2.5.2.12. Organização complexa


Quer sejam naturais ou construídos, as pessoas tendem a responder positivamente a
ambientes diversificados e ricos em informações e que apresentam uma riqueza de opções
e oportunidades, contanto que a complexidade seja experimentada de forma coerente e
forma legível. Nesse sentido, este padrão apresenta conceituação bastante abstrata,
podendo ter efeitos negativos na experiência do usuário se utilizado de forma equivocada,
uma vez que a complexidade pode trazer desorganização e excesso de informação.

55
2.5.2.13. Espaços de transição, Integração de partes com um todo. Mobilidade e
espaços para explorar
Navegar com sucesso em um ambiente muitas vezes depende de conexões claramente
compreendidas entre espaços, facilitadas por transições. Espaços de transição
proeminentes incluem corredores, limiares, portas, portais e áreas que ligam o dentro e
fora de casa, especialmente varandas, pátios, pátios, colunatas, dentre outros. O conforto
das pessoas e seu bem-estar frequentemente dependem da movimentação livre entre
diversos ambientes. Caminhos claramente compreendidos e os pontos de entrada e saída
são especialmente críticos para promover a mobilidade e sentimentos de segurança,
enquanto sua ausência gera, muitas vezes, confusão e ansiedade.

2.5.2.14. Vínculo cultural e ecológico


Este atributo surge do entendimento de cultura e pertencimento a um lugar por parte de
seus habitantes. Nesse sentido, cria-se um vínculo afetivo e de memória com certos
elementos do espaço. Usar estes artifícios para evocar esta memória de pertencimento e
cultura de um lugar e uma região, pode ter impactos positivos na forma com o que o
usuário enxerga aquele local.

2.6. SÍNTESE ANALÍTICA DO CAPÍTULO

A psicologia ambiental expõe de forma analítica como o meio em que se vive exerce
influência em nossa saúde, forma de viver e até mesmo de pensar e enxergar a realidade.
O caminho oposto também se mostra verdadeiro, somos capazes de influenciar o meio
em que vivemos e somos seres ativos na construção do ambiente construído. Nesse
sentido, a arquitetura ganha dimensões significativas na saúde tanto física como mental e
até mesmo espiritual do indivíduo.

Na hipótese biofílica, fica explícita a relação da evolução humana versus o ambiente


artificial com o qual nos deparamos atualmente. A predileção por ambientes naturais e

56
seus aspectos é explicada pela grande parte do processo evolutivo que a humanidade
passou sendo estimulada pela natureza. O contraponto e dilema atual de centros urbanos
densos e espaços artificiais, como visto na formulação teórica deste capitulo, pode dar
margem ao aumento de doenças respiratórias, ao aumento de estresse e ao aumento de
doenças mentais na população.

Nesse sentido, a proposta do design biofílico é trazer de forma consciente e prática


aspectos da arquitetura que favoreçam esse contato direto ou indireto com elementos
naturais. Estreitando, assim, os laços entre o ambiente construído e o natural, e
favorecendo a saúde humana, na medida em que incorpora uma nova dimensão formal, a
dimensão restaurativa dos espaços construídos. O Design Biofílico também corrobora
fortemente com as linhas teóricas da sustentabilidade do ambiente construído, prezando
por soluções de baixo impacto e de grande respeito ambiental.

Sobre os padrões analisados na literatura científica expostas nessa parte do trabalho, é


possível argumentar que, de forma geral, os critérios são de caráter abrangente e até
subjetivo. Favorecem soluções formais e técnicas de projetação em detrimento do uso de
tecnologias ou soluções incorporadas de forma massificada pela indústria da construção
civil. Nesse sentido, a viabilidade da real implantação desses parâmetros deve ser pensada
cuidadosamente, tendo grande potencial de enriquecer o conceito de sustentabilidade hoje
vigente. Abrange, dessa forma, novas possibilidades de espaços e de avanços na
construção de ambientes mais saudáveis para as pessoas.

57
3. CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS

Neste Capítulo, será abordada a formulação teórica referente à noção de sustentabilidade


desenvolvida ao longo do tempo, tanto no panorama geral, quanto na construção civil.
Este panorama é fundamental para se analisar a origem, a conjuntura e função das
certificações ambientais. Subsequentemente, serão abordados, especificamente, aspectos
relevantes sobre o BREAAM, LEED e AQUA – HQE. A escolha dessas três certificações
dentre as demais foi baseada na relevância e impacto que exercem no cenário nacional e
mundial. Dentre as metodologias particulares dessas três certificações, adotou-se como
modalidade de análise a categoria de prédios existentes – manutenção e operação.

3.1. Sustentabilidade e agendas globais

Conforme os avanços tecnológicos e industriais oriundos da evolução da história humana


no planeta, o uso de matéria-prima extraída da natureza foi sendo feito sem maiores
preocupações sobre seu futuro. Com a percepção de que a natureza é um atributo finito,
a discussão sobre o manejo consciente e desenvolvimento sustentável ganhou relevância.

Elkington (2012) argumenta que a evolução do pensamento sobre ambiente e


sustentabilidade pode ser dividida em cinco momentos. A primeira fase teve início em
1962 com a obra “Primavera Silenciosa” da autora Rachel Carson. Na obra, a autora lança
luz para os problemas da indústria química que produzia de forma descontrolada produtos
nocivos ao meio ambiente e ao ser humano. Em seguida, em 1968, surge o Clube de
Roma, formado por intelectuais e empresários, que trouxe discussões diretamente
relacionadas à preservação ambiental. A partir deste panorama, estudos científicos foram
produzidos enumerando problemas relacionados à degradação do meio ambiente. A
exemplo: o crescimento exponencial da população, o crescimento da indústria sem
fiscalização, a insuficiência na produção de alimentos e o esgotamento dos recursos
naturais.

58
A noção da sustentabilidade origina-se de duas esferas: da biologia, por
intermédio da ecologia, e da economia. Quanto à primeira, alude à
capacidade de regeneração e reprodução dos sistemas ecológicos (resiliência)
diante das perturbações antropogênicas (no uso excessivo dos bens naturais,
desmatamento, fogos, dentre outros) ou ecológicas (terremoto, tsunami, fogo
e outros). Em relação à segunda noção, refere-se à adjetivação de
desenvolvimento, diante da percepção no decorrer do Século XX de que o
paradigma produtivo e de consumo em larga expansão não pode persistir.
Para isso, surge a sustentabilidade sob a ótica da limitação dos recursos
ecológicos e sua gradual e ameaçadora redução. Esse entendimento
palmilhou uma longa trajetória histórica até chegar o que é hoje e as suas
origens mais recentes foram germinadas na década de 1950 quando a
humanidade percebe o risco ecológico planetário, a saber, a poluição nuclear
(NASCIMENTO, 2012, p. 20).

Como elucida Brüseke (1994), um grupo de pesquisadores no início da década de 1970


utilizando-se do discurso de Dennis L. Meadows, publicou um trabalho intitulado
“Limites do Crescimento”. Este estudo enfatizava os problemas oriundos da pressão
exercida pelo crescimento populacional sobre os recursos naturais em um cenário
altamente industrializado e urbano. Mais adiante, acontecia a Conferência de Estocolmo,
em julho de 1972, da qual o Brasil participou.

Em virtude da complexidade da época, a Organização das Nações Unidas (ONU) formou


uma equipe para produzir um documento intitulado Only One Earth (“apenas um
planeta”, em tradução livre). O estudo apontava que a causa da crise ambiental poderia
ter sua gênese no desenvolvimento que utilizava tecnologias agressivas ao meio ambiente.
Também apontava para a questão do progressivo aumento demográfico e do baixo PIB
per capita. Assim, lançou-se luz para outras dimensões do problema, tais como a social,
a econômica e a ambiental (NASCIMENTO, 2012).

Mais recentemente, Agendas Globais estressam o contraponto entre o desenvolvimento


humano e o meio ambiente. Diversas visões de mundo por parte de países e entidades
constituem barreiras, tendo estes diferentes papéis, com maior ou menor relevância na
tomada de decisões. Nos extremos da discussão aparecem posicionamentos radicais sobre
a preservação do meio ambiente e atores que defendem a continuidade do modelo
atualmente. Entre estes há um espectro de posições que buscam o equilíbrio entre

59
desenvolvimento e preservação, em uma perspectiva de promoção da equidade e da
sustentabilidade socioambiental (VEIGA, 2006).

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92),
realizada no Rio de Janeiro em 1992, 20 anos após a Declaração de Estocolmo, teve como
principal objetivo obter, através de negociações, a redução na concentração de gases
estufa na atmosfera, limitando a interferência do homem nos sistemas climáticos.
A Eco 92 coloca em evidência a necessidade de uma cooperação mais unitária entre
países, governos e entidades globais, bem como declarações afirmadas em Estocolmo. Na
ocasião, publicou-se a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
documento que marca os alicerces para programas que incitam a cooperação internacional
em prol do desenvolvimento sustentável (IICA, 1994).

Também na Eco 92 se discutia temas da construção civil e sustentabilidade. Discussão


que levou a produção do capítulo sete da Agenda 21. Um pouco depois, em 1996, um
novo documento foi criado com o mesmo propósito de ação, The Habitat Agenda,
abordando temas sobre centros urbanos e construções (CIB UNEP-IETC, 2002).

A adoção pela ONU deu peso político ao conceito de sustentabilidade, que teve seus
princípios pactuados pelos países na Eco 92 e materializados em cinco documentos:
Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento; Convenção
sobre Mudanças Climáticas; Declaração de Princípios sobre Florestas; Convenção sobre
a Biodiversidade e Agenda 21 (PNUD, 2000).

Em 1996, na Habitat II, em Istambul, a urbanização passou a ser vista como uma
oportunidade, e as cidades, enquanto vetores de desenvolvimento. A Conferência de
Istambul foi fundamental para o reconhecimento internacional do direito à moradia e
influenciou, no Brasil, marcos importantes, a exemplo da aprovação do Estatuto da
Cidade (2001), a criação do Ministério das Cidades em 2003 e, em seguida, do Conselho
das Cidades em 2004.

O Brasil, após um período de falta de vontade política do governo sobre o


assunto, retomou o processo de articulação com a sociedade e apresentou sua
Agenda 21 em julho de 2002, incluindo entre seus temas as Cidades

60
Sustentáveis. A discussão sobre qualidade devida nas cidades vem de longo
tempo mas só tomou vulto nos últimos dez anos, graças aos impulsos dados
pela Rio-92 e pela Conferência Habitat II, assim como pela necessidade de
dar transversalidade às questões ambientais, inclusive no contexto das
políticas urbanas que representam o grande desafio (MMA, 2003, p. 35).

Nos documentos oriundos do Habitat I e II, pode-se perceber uma mudança de enfoque
sobre as cidades e o seu impacto no desenvolvimento e consolidação das organizações
sociais. Tanto os ambientalistas quanto os urbanistas defendem a ideia de reconfigurar a
paisagem urbana tendo como parâmetros e diretrizes as estratégias ecológicas, o
equilíbrio energético, o conforto ambiental, a pegada ecológicas, dentre outros (MMA,
2003).

Em setembro de 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU), aprovou um


apanhado de objetivos que vinham sendo desenvolvidos desde 2012 no âmbito da
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20): os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030), contendo 17 objetivos globais
e 169 metas para promover a inclusão social, o desenvolvimento sustentável e a
governança democrática em todo o mundo entre 2016 e 2030.

O Conselho Internacional para a pesquisa de Inovação em Construção (2002) define a


construção sustentável como um processo de práticas integrativas e holísticas para
estabelecer o equilíbrio entre o meio ambiente e o ambiente construído, assim como criar
edificações que reforcem a dignidade humana e estimulem a igualdade econômica.
Assim, pode-se dizer que a sustentabilidade resulta de uma análise multifatorial
complexa, sendo importante levar em consideração diversos atores da sociedade.

3.2. Certificações ambientais na construção civil

Especificamente no panorama da construção civil, um dos marcos e contribuições para a


sustentabilidade foi a elaboração da Agenda 21 da construção sustentável publicada em
1999 pela CIB. No documento, foram detalhados as diretrizes, os conceitos e os aspectos

61
desafiadores no que tange à industrialização. Este documento tratava ainda de táticas de
ação, terminologias e diretrizes globais que poderiam auxiliar agendas mais locais a serem
criadas na realidade de cada país (CIB UNEP-IETC, 2002).

John et al (2001) argumenta que uma nova Agenda 21 para Construções Sustentáveis foi
desenvolvida em 2002 para a realidade de países em desenvolvimento. Nesse sentido, a
agenda incorpora novos desafios vivenciados por esses países, estimulando a troca de
conhecimento e discussão acerca de possíveis gargalos.

Pode-se dizer que é importante apresentar e estabelecer critérios e condições adequadas


de ordem técnica e legal para se alcançar níveis de sustentabilidade na construção civil.
É de igual importância que os serviços prestados atendam aos princípios éticos e de
produção sustentável com a intenção de promover a qualidade de vida. Para isso, foram
criados indicadores que podem ter diferentes nomes, tais como “selo verde”, “selo
ambiental”, “etiquetagem sustentável”, etc., mas que possuem os mesmos objetivos
(BIAZIN; GODOY, 2000).

Um marco na consolidação de movimentos como estes se deu com a criação da


Organização Internacional de Normatização (ISO) em 1946. Esta organização de caráter
não governamental reúne cerca de 157 países com o objetivo unificar e padronizar normas
industriais. Segundo a ISO, a normatização pode proporcionar ferramentas práticas para
as três dimensões do desenvolvimento sustentável: social, ambiental e econômica. Desta
maneira, um dos principais pontos positivos da normatização é a proteção ao consumidor,
uma vez que define critérios que permitam conferir a qualidade dos serviços e produtos
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). O processo de
certificação é demonstrado pela figura 10 abaixo:

Figura 10 – Processo de certificação ISO

Fonte: ISO (adaptado)

62
Lopes (2013) argumenta que, na construção civil, a certificação ambiental pode funcionar
como ferramenta para difundir ações sustentáveis no setor. Cria também condições para
cobrar processos de inovação dos empreendimentos, estabelecendo um processo de
gestão dos possíveis impactos gerados pela construção. Por se tratarem de sistemas de
classificação que geram níveis e metas a serem alcançadas, as certificações ambientais
podem direcionar o setor da construção civil para atitudes mais alinhadas com os
conceitos da sustentabilidade. Esse processo pode gerar um processo contínuo alinhado
com a maioria das agendas sustentáveis no mundo.

Segundo Fossati (2008), é vital salientar que os sistemas atuais de avaliação de


sustentabilidade na arquitetura surgiram com o enfoque no impacto ambiental da
construção civil, com destaque à dimensão de eficiência energética, o que muitas vezes
contempla apenas uma das três dimensões da sustentabilidade (ambiental, econômica e
social).

Cole (2005) afirma que os sistemas de avaliação mais atuais, com foco na
sustentabilidade, ainda se caracterizam como uma geração em transição, pois são
estruturas que seguem os critérios das primeiras certificações. A tendência é que surjam
novos modelos, que darão suporte a padrões de edificações mais sustentáveis.

As metodologias de certificação edilícias sustentáveis têm um forte viés educacional.


Acabam influenciando as tomadas de decisões projetuais e transformam as ações das
metodologias para melhorar o desempenho dos edifícios ou para atender as demandas da
sociedade e do mercado. Este efeito aparentemente positivo pode acarretar um julgamento
superficial que adiciona soluções desconectadas. Considerando um cenário que critérios
de sustentabilidade não são considerados importantes num sistema, isto pode servir de
desestímulo a sua incorporação, mesmo quando pertinente (LARSSON, 2004).

Capanema (2008) argumenta que, assim como os outros métodos de avaliação de


desempenho ambiental mais populares no mundo, os modelos de certificação de
sustentabilidade têm sofrido constantes renovações ao longo dos anos, englobando novas
tecnologias e necessidades da sociedade. Há também interesse em elevar os patamares de

63
referência ao passo em que as práticas tidas como avançadas anteriormente passam a ser
absorvidas pelo mercado da construção civil.

No Brasil, houve recentemente uma profusão de certificações ambientais em diversas


áreas e também especializadas e focadas na construção civil. Grande parte delas
importadas de sistemas internacionais ou adaptadas para o panorama brasileiro. A minoria
das certificações foi cunhada nacionalmente. Atualmente há mais de 30 certificações
atuando em diversas áreas da cadeia produtiva brasileira. As principais e mais atuantes
no processo construtivo estão listadas abaixo:

• Procel Edifica
• BREEAM in use
• Selo Sustentabilidade Condominial Falcão Bauer
• LEED
• AQUA – HQE
• Selo CONPET
• Selo Certificação da Acessibilidade Falcão Bauer
• WELL
• GBG Zero Energy

Essas certificações podem ser classificadas como voluntárias, no sentido de que sua
obtenção não é obrigatória para o início ou gestão de qualquer empreendimento. No mais,
oferecem vantagens comerciais devido ao panorama no qual os consumidores atualmente
procuram alternativas mais sustentáveis de consumo (SEBRAE, 2016).

No Brasil, o selo de sustentabilidade mais utilizado na construção civil é o LEED, que


também é a ferramenta metodológica mais utilizada mundialmente. Em número de
etiquetagem o selo AQUA (que é baseado no HQE) fica em segundo lugar no panorama
nacional. Em 2012, O Brasil já figurava em quarto lugar entre os países com maior
número de áreas certificadas pelo sistema, segundo ranking da GBC Brasil (GBC, 2015).

Em 2014, um estudo global desenvolvido pela Kantar Media visava entender o padrão
dos consumidores e seus interesses em escala global. No Brasil, a pesquisa ficou ao

64
encargo do IBOPE Media Brasil, sendo entrevistada uma amostra de 20.000 pessoas. Os
dados brasileiros apontaram que 69% da população estaria inclinada a pagar mais por
produtos sustentáveis, o que mostra, de forma expressiva, sua preocupação com questões
ambientais. Nesse quesito o Brasil ficou atrás apenas de países como República
Dominicana (83%), Equador (74%) e China (71%), sendo a média global de 45%
(IBOPE, 2014).

Com o passar do tempo, é possível inferir que as certificações, de modo geral, foram
englobando novas categorias e critérios de avaliações. Recursos para se atualizar, e
também para melhor atender as demandas da sociedade e do mercado da construção civil
e indústria. Mais recentemente, critérios que abarcam a saúde mental e fisiológica das
ocupantes têm sido um grande diferencial na pontuação das certificações. Outro aspecto
importante é a incorporação de métodos que avaliam a opinião do usuário em relação ao
conforto das edificações nos próprios sistemas de avaliação das etiquetagens.

3.2.1. BREEAM

Segundo Fossati (2008), o BREEAM é o mais conhecido e mais utilizado método de


certificação do mundo, tendo sido utilizado como base para a elaboração de diversos
sistemas em outros países, chegando a receber, em 2005, o prêmio The Best Program
Award na World Sustainable Building Conference, em Tóquio. Segundo dados do
Building Research Establishment - BRE (2018) há atualmente mais de 565.942
edificações certificadas pelo método BREEAM no mundo, além de mais de 2.275.78
registradas. O processo de certificação pode ser acompanhado na figura 7.

O BREEAM é uma certificação de sustentabilidade internacional que apresenta


categorias diversas, com diferentes focos de pontuação, de forma a abranger
particularidades:

• BREEAM Communities, para macroplaneamento de novas comunidades ou


projetos de recuperação;

65
• BREEAM Infrastructure, para projetos de infraestruturas do domínio público;
• BREEAM New Construction, para construções novas (habitação e edifícios
comerciais);
• BREEAM In-Use, para edifícios comerciais existentes;
• BREEAM Refurbishment and Fit-Out, para reabilitação de edifícios
(habitação e edifícios comerciais).

Figura 11 – Processo de Certificação BREEAM

Fonte: BRE (adaptado)

A Avaliação do BREEAM envolve nove categorias, sendo uma décima dedicada


exclusivamente à inovação. Essas categorias são ramificadas em 57 questões objetos de
avaliação e pontuação. Quando o projeto atinge uma margem de pontuação inferior a
30%, ele é desclassificado. Entre 30 e 45%, o projeto atinge a classificação “Passou”.
Acima de 45% e abaixo de 55%, o projeto é tido como “Bom”. Entre 55 e 70% o projeto
é classificado como “Excelente” e, acima disso, tem-se a classificação de “Excepcional”
(BRE, 2016).

66
No quadro 7, são compilados os parâmetros retirados do manual do BREEAM. Para fins
da pesquisa, foi adotado o manual que contempla o tipo de uso de edificações existentes,
“BREEAM in use”. Nesse sistema, a avaliação é feita em duas partes, sendo a primeira
referente a itens da edificação em si, e a segunda parte, com itens referentes à manutenção
e à gerência da edificação.

Quadro 7 – Sistema de critérios – BREEAM – In Use Assesses


Sistema de critérios – BREEAM In Use Assesses

Categoria Parte 1 Parte 2


Performance da edificação Processos de gestão
1. Gerenciamento - Não avaliado - Manual de construção ou
de uso
- Engajamento e resposta
- Politicas de manutenção
e procedimentos
- Concessão sustentável
(prédios comerciais)
2. Saúde e bem-estar - Nível de luz natural - Conforto Térmico
- Nível de iluminação - Politicas de tabagismo
interna e externa - Gerenciamento da
- Automação de qualidade do ar
iluminação (prédios internamente
comerciais) - Desempenho acústico
-Minimizando - Prevenção de doenças
aquecimento interno por respiratórias
insolação (apenas - Gerenciamento de água
residencial) potável para consumo
- Controle do conforto (apenas comercial)
pelo usuário
- Ventilação natural e
monitoramento da
qualidade do ar

67
- Disponibilização de
áreas de descanso e
acessos
para o espaço interno /
externo
- Design Inclusivo
- Fornecimento de água
potável para consumo
(apenas comercial)
- Gerenciamento de riscos
aleatórios (apenas
residencial)
3. Energia - Eficiência energética da - Desempenho energético
envoltória operacional
- Eficiência de sistemas de - Auditoria energética
serviços instalados - Relatório de consumo
- Geração de energia energético
renovável - Redução de emissão de
- Capacidade de carbono
monitoramento energético
- Eficiência energética de
luzes do exterior e
elevadores
4. Transporte - Modos alternativos de - Não avaliado
transportes
- Proximidade de pontos
públicos de transporte
- Proximidade de pontos
convenientes
- Segurança de pedestre e
ciclistas
5. Água - Monitoramento de água - Consumo de água
- Reciclagem de água

68
- Eficiência das instalações - Relatório do consumo de
e equipamentos água
hidráulicos - Estratégias para
- Prevenção e detecção de manutenção e
vazamentos melhorando os sistemas
- Uso de fontes hidráulicos
alternativas de água
6. Recursos - Pesquisa das condições - Procedimentos
- Instalações de sustentáveis
reutilização e reciclagem - Otimizar uso, reuso e
- Inventário de recursos reciclagem
- Futuras adaptações
7. Resiliência Acompanhamento de - Planos de emergência e
riscos de alagamentos de riscos físicos
- Mitigação dos impactos relacionados ao clima
do escoamento superficial - Riscos relacionados a
da água mudanças de clima
- Avaliação de riscos e - Riscos sociais
perigos naturais - Gerenciamento de risco
de incêndio
- Gerenciamento de risco
de segurança
8. Uso do solo e - Áreas arborizadas - Relatórios ecológicos
ecologia - Características - Gerenciamento de
ecológicas de áreas biodiversidade
naturais
9. Poluição - Minimização de poluição - Redução do período
de rios noturno – Poluição
- Estoque de químicos luminosa
- Qualidade do ar local
- Potencial de aquecimento
global por fluidos
refrigerantes

69
-Detecção de vazamentos
de fluidos refrigerantes
Fonte: BREEAM - Adaptado. Disponível em: https://files.bregroup.com/breeam/BREEAM-In-Use-
International_What-BIU-Assesses.pdf

3.2.2. LEED

A certificação LEED foi fundada em 1993, quando o US Green Building Council


(USGBC) iniciou pesquisas no sentido de fornecer à indústria estadunidense de edifícios
sustentáveis um sistema que pudesse definir e mensurar o que seria um Green Building.
Para tal, foram estudados os sistemas existentes e foi formado um comitê exclusivo para
esse fim. A composição do mesmo era diversa e englobava diversos agentes da indústria
da construção civil, entre eles arquitetos, advogados, empreendedores, ambientalistas e
industriais (GBC, 2015)

Para obter o certificado LEED é preciso uma análise da equipe de projeto e pelos
investidores, considerando o ciclo de vida da edificação. Considerando a possibilidade da
etiquetagem, é importante escolher uma das categorias oferecidas pelo método LEED. O
processo de requerimento pode ser feito pela internet. É preciso fornecer a documentação
para atestar as práticas obrigatórias ao longo do processo. Na última etapa é realizada uma
revisão geral do projeto junto com a documentação ao longo do processo. Após toda essa
verificação, define-se a concessão ou não do certificado ao empreendimento (GBC,
2015). O processo de certificação LEED pode ser acompanhado na figura 12.

• LEED NC (New Construction & Major Renovation): novas construções ou


grandes reformas;
• LEED CS (Core & Shell): envoltória do empreendimento e sua estrutura principal,
destinado às edificações que comercializarão o espaço interno depois;
• LEED CI (Commercial Interiors): escritórios de alto desempenho;
• LEED ND (Neighborhoods Developments): bairros e desenvolvimento de
comunidades;

70
• LEED Schools: concepção e construção de escolas;
• LEED EB® (Existing Buildings): eficiência operacional e manutenção de edifício
já existente;
• LEED Healthcare®: unidades de saúde;
• LEED Retail NC e CI®: lojas de varejo.

Figura 12 – Processo de Certificação LEED

Fonte: GBC (adaptado)

O LEED oferece em seu escopo de classificação alternativa de categorias que abrangem


diversas fases da vida de uma edificação. Por exemplo, as categorias podem ser destinadas
à fase de concepção de projetos, construção e operação. Toda a metodologia de avaliação
desse sistema especifica sete categorias subdivididas em áreas específicas passíveis de
pontuação, tais como: eficiência do uso da água, espaços sustentáveis, energia e
atmosfera, materiais e recursos, qualidade ambiental interna, inovação e processos de
créditos de caráter regional. No total, pode-se pontuar até 100-110 pontos, variando o
nível do selo a depender da pontuação alcançada (GBC, 2015). O número total de pontos
possíveis soma 110 pontos. Sendo possível atingir classificações como: Certificado: 40
– 49 pontos – Silver: 50 a 59 pontos – Gold: 60 a 79 pontos – Platinum: mais de 80 pontos.

O quadro 8 abaixo compila os critérios previstos no manual LEED V4 – Para prédios em


operação e manutenção. O sistema também usa categorias fixas e critérios subsequentes
de pontuação.

71
Quadro 8 – Sistema de critérios – LEED – In Use
Categoria Critérios
1. Localização e transporte - Transporte alternativo
2. Terrenos sustentáveis - Política de gestão do terreno (item
obrigatório)
- Desenvolvimento do terreno, proteger
ou restaurar habitat
- Gestão de águas pluviais
- Redução de ilhas de calor
- Redução da poluição luminosa
- Gerenciamento do terreno
- Plano de melhorias do terreno
3. Eficiência Hídrica - Redução do uso de água do interior
(item obrigatório)
- Medição da água do edifício (item
obrigatório)
- Redução do uso da água no exterior
- Uso de água de torre de resfriamento
- Medição de água
4. Energia e Atmosfera - Melhores práticas de gestão de
eficiência energética (item obrigatório)
- Desempenho mínimo de energia (item
obrigatório)
- Medição de energia do edifício (item
obrigatório)
- Gerenciamento fundamental de gases
refrigerantes
- Comissionamento de edifício existente
– análise
- Comissionamento de edifício existente
– implementação
- Comissionamento contínuo
- Otimizar desempenho energético

72
- Medição de energia avançada
-Resposta à demanda
- Energia Renovável e compensação de
carbono
- Gerenciamento avançado de gases
refrigerantes
5. Materiais e Recursos - Política de compras e resíduos (item
obrigatório)
- Política de manutenção e reforma das
instalações (item obrigatório)
- Compras – em andamento
- Compras – lâmpadas
- Compras – Manutenção e reforma das
instalações
Gerenciamento de resíduos sólidos – Em
andamento
Gerenciamento de resíduos sólidos –
Reformas e Ampliação das instalações
6. Qualidade do ambiente interno - Desempenho mínimo de qualidade do ar
(item obrigatório)
- Controle Ambiental de fumaça de
tabaco (item obrigatório)
- Política de limpeza verde (obrigatório)
- Programa de gerenciamento da
qualidade do ar
- Conforto térmico
- Iluminação interna
- Luz natural e vistas de qualidade
- Limpeza verde- Avaliação de eficiência
de limpeza
- Limpeza verde – Produtos e materiais
- Limpeza verde – Equipamentos
- Gerenciamento integrado de pragas

73
- Pesquisa de conforto do ocupante
7. Inovação - Inovação
- Profissional acreditado LEED
8. Prioridade regional - Prioridade regional: Crédito específico
Fonte: GBC US – Adaptado. Disponível em: https://www.usgbc.org/resources/leed-v4-building-
operations-and-maintenance-current-version.

3.2.3. AQUA-HQE

Hilgenberg et al. (2011) esclarece que o certificado AQUA nasce em 2007 tendo como
referencial o Sistema Francês Haute Qualité Environnementale (HQE). Para a obtenção
do certificado AQUA existem referenciais específicos para quatro categorias
consolidadas (edifícios de escritórios e escolas; hotéis; edifícios comerciais; e edifícios
habitacionais). O referencial para edifícios em operação está ainda em fase de testes. Há
projeto para desenvolvimento de referenciais para certificação de prédios hospitalares,
estradas, bairros e complexos esportivos. Deste modo, o AQUA configura uma
certificação com amplo espaço para experimentação.

No processo de etiquetagem do AQUA, dois grandes critérios são levados em


consideração: a qualidade do ambiente e a gestão predial. O primeiro avalia o
desempenho arquitetônico proposto pelo projeto e também aspectos técnicos do edifício.
O segundo visa avaliar o sistema de gestão e como os atributos das edificações são
monitorados. Essa estrutura de avaliação possibilita uma análise mais detalhada da
edificação e seu funcionamento (VANZOLINI, 2016).

Pode-se dizer que o método de avaliação do AQUA abrange de forma inclusiva o ciclo
de vida das edificações, contemplando variáveis como a construção de novos
empreendimentos, reformas e operabilidade. Esta certificação pode ser aplicada em
edifícios comerciais, residências. Também leva em consideração aspectos urbanísticos.
O processo de certificação proposta por este selo é ilustrado na figura 9 abaixo:

74
Figura 13 – Processo de Certificação AQUA-HQE

Fonte: Fundação Vanzolini (Adaptado)

A Avaliação no sistema AQUA parte de critérios separados em 14 categorias. Nessas


categorias o empreendimento pode ter classificações como: Base (práticas correntes ou
desempenho regular), Boas Práticas ou Melhores Práticas (pontuação máxima). Para
obter a certificação AQUA, o projeto ou edifício deve alcançar, no mínimo, 2 categorias
de nível “Melhores práticas”, 4 no nível “Boas práticas” e, no máximo, 7 no nível “Base”
(VANZOLINI, 2016)

O quadro 9 abaixo compila os critérios previstos no manual AQUA para edificações já


em uso.

Quadro 9 – Sistema de critérios – AQUA HQE


Sistema de critério AQUA - HQE
Categoria Critérios
1. Edifício e seu entorno - Análise e controle dos modos de
deslocamento

75
- Medidas tomadas pelo utilizador para
limitar o impacto ambiental dos
deslocamentos

2. Produtos, sistemas e processos - Escolhas construtivas que garantam a


construtivos durabilidade e a adaptabilidade das áreas
privadas
- Escolhas de produtos tendo em vista
limitar os impactos ambientais das áreas
privativas
- Escolha dos produtos tendo em vista
limitar os impactos da edificação sobre a
saúde humana
- Escolha integrada do mobiliário

3. Canteiro de obras - Otimizar a valorização e o


acompanhamento dos resíduos de
renovação do utilizador
- Limitação dos incômodos e da poluição
no canteiro de obras geridos pelo
utilizador
- Gestão dos resíduos dos trabalhos de
conservação e manutenção realizadas pelo
utilizador em suas áreas privadas
4. Energia - Assegurar o acompanhamento dos
consumos de energia
- Compras e usos responsáveis

5. Água - Redução do consumo de água


- Assegurar o acompanhamento dos
consumos de água
- Práticas do utilizador visando reduzir seu
consumo de água

76
6. Resíduos - Otimizar a valorização e o
acompanhamento dos resíduos de
atividade do utilizador
- Gestão do processo de coleta e dos fluxos
de resíduos de atividade do utilizador

7. Conservação – manutenção -Conservação e manutenção simplificadas


dos sistemas das áreas privadas
- Acompanhamento e controle dos
consumos das áreas privadas
- Automatização e regulação dos sistemas
de controle das condições de conforto
- Assegurar a perenidade dos
desempenhos dos equipamentos nas
renovações

8. Conforto Higrotérmico - Assegurar o acompanhamento e a


manutenção dos equipamentos
responsáveis pelo conforto higrotérmico
- Arranjo do ambiente visando a otimizar
o conforto higrotérmico dos ocupantes
9. Conforto Acústico - Assegurar a interface com os ocupantes
com relação ao critério acústico
- Posicionamento dos espaços dento em
vista a qualidade acústica das áreas
privadas
- Qualidade do ambiente acústico nas
áreas privadas
- Assegurar a qualidade acústica nas
renovações

77
10. Conforto visual - Manutenção do sistema de iluminação
das áreas privativas
- Arranjo do ambiente das áreas privadas
considerando a iluminação natural
- Arranjo do ambiente das áreas privativas
considerando a iluminação artificial

11. Conforto olfativo - Gestão e manutenção do sistema de


ventilação das áreas privativas
- Garantia de ventilação eficaz nas áreas
privativas
- Tratamento de odores desagradáveis das
áreas privativas
12. Qualidade dos espaços - Otimizar a limpeza das áreas privativas
- Limitar o impacto ambiental e sanitário
da limpeza das áreas privadas
- Presença de condições de higiene
específicas nas áreas privativas
13. Qualidade do ar - Otimizar a manutenção do sistema de
ventilação tendo em vista a qualidade do
ar interno
- Acompanhamento e controle da poluição
do ar interno
14. Qualidade da água - Controle da temperatura e proteção da
rede interna
- Controle do risco de doenças
respiratórias (legionelose)
Fonte: Fundação Vanzolini. Adaptado. Disponível em: https://vanzolini.org.br/aqua/wp-
content/uploads/sites/9/2017/01/AQUA-HQE-GP-US-2017-01.pdf

78
3.3. Síntese dos critérios das certificações analisadas

Com a análise separada de cada certificação ambiental, foi possível constatar alguns
pontos de convergência em suas formatações. As três etiquetagens apresentam categorias
bem definidas, abarcando itens multidisciplinares e integrativos. No quadro 10 abaixo,
procurou-se dividir os critérios por categorias que são comuns entre as certificações
escolhidas.

Quadro 10 – Síntese dos critérios das certificações analisadas


Categoria Critérios BREEAM LEED AQUA-
HQE
Bem-estar e Saúde Ventilação natural e • • •
monitoramento
Conforto térmico e • •
controle pelo usuário
Disponibilidade de áreas • • •
de descanso-
restauradores
Design inclusivo • •
Fornecimento de água •
potável para consumo
Uso de água de torre de • • •
resfriamento
Controle Ambiental de •
fumaça de tabaco
Luz natural e vistas de • • •
qualidade
Pesquisa de conforto do • •
ocupante
Controle do risco de • • •
doenças respiratórias

79
Tratamento de odores • •
desagradáveis das áreas
privativas
Assegurar a qualidade •
acústica nas renovações
Edifício e Entorno Modos alternativos de • • •
transporte
Proximidade de pontos • • •
públicos
Proximidade de pontos • • •
convenientes
Segurança do pedestre e •
ciclistas
Áreas arborizadas •
Características ecológicas • •
de áreas naturais
Plano de melhorias do
terreno
Eficiência de sistemas Eficiência energética da • • •
e energia envoltória
Eficiência de sistemas de • • •
serviços instalados
Capacidade de • • •
monitoramento
energético
Geração de energia • • •
sustentável
Automatização e •
regulação dos sistemas de
controle das condições de
conforto
Monitoramento da água • • •

80
Prevenção e detecção de • • •
vazamentos
Uso de fontes alternativas • • •
de água
Energia Renovável e • • •
compensação de carbono
Controle ambiental Minimizar poluição de •
Natural rios
Cuidado com químicos •
Qualidade do ar local •
Mitigar potenciais de • • •
aquecimento global por
fluixos tóxicos
Detecção de fluidos • • •
refrigerantes
Avaliação de riscos e • • •
perigos regionais
Mitigação dos impactos • • •
do escoamento de água
Acompanhamento de • • •
riscos de alagamento
Redução de ilhas de calor • • •
Redução da poluição • • •
luminosa
Desenvolvimento do • • •
terreno, proteger ou
restaurar o habitat
Gerenciamento Política de compras e • • •
resíduos
Gerenciamento de • • •
resíduos sólidos
Inovação • • •

81
Escolhas construtivas que • • •
garantam a durabilidade e
a adaptabilidade das áreas
privadas
Gerenciamento de • • •
limpeza sustentável do
ambiente
Gerenciamento de risco • • •
Fonte: Autor

3.4. SÍNTESE ANALÍTICA DO CAPÍTULO

Ao longo do tempo, a discussão sobre sustentabilidade foi sendo ajustada conforme as


necessidades e desafios de cada época. O surgimento do conceito de desenvolvimento
sustentável foi um marco importante para que a humanidade conseguisse de forma
racional processar os danos e prejuízos que o progresso trazia para os recursos naturais.
O surgimento das agendas globais também configura um grande avanço nesse sentido.
Com elas, pode-se colocar metas e objetivos coletivos mais palpáveis e evidentes,
podendo assim gerar esforços globais mais realistas e adequados para a realidade de cada
país.

É possível dizer que as agendas mais recentes de sustentabilidade, a agenda 2030 da ONU
e o HABITAT III, além da clara preocupação com os recursos naturais e de conceitos
como reciclagem e redução da poluição, também colocam no centro da discussão sobre
sustentabilidade a saúde e o viés sociológico da questão. Assim, pode-se dizer que a
sustentabilidade atualmente é enxergada de forma multidisciplinar e integrada, partindo
do pressuposto de que a sustentabilidade dos processos e a proteção dos recursos naturais
passam pela saúde humana e por atributos sociológicos.

Os selos de sustentabilidade na construção civil têm grande peso e são importantes na


inserção de novas técnicas e tecnologias por parte da indústria e da cadeia produtiva.

82
Surgidos no início dos anos 90, é comum que ao longo do tempo os selos surgidos
evoluam, incorporando novas necessidades e tendências de cada período.

Nesse sentido, as certificações passam a ter um caráter educativo quanto à proposição de


novas abordagens a serem incorporadas no exercício de projetos. É possível verificar que
mais recentemente os selos acrescentaram em seus parâmetros itens que fazem referência
aos cuidados com a saúde de seus ocupantes. Item que também pode ser visto como uma
mudança no paradigma da sustentabilidade que outrora era exacerbadamente pautada em
tecnologia e na palavra “eficiência”.

Pode ser observado também que os critérios adotados pelas etiquetagens têm grande viés
sistemático e pragmático, priorizando soluções tecnológicas e de caráter industrializado
e replicável. Desta maneira, dando pouca margem para inovação e para itens que abordem
de maneira mais específica conceitos como forma, criatividade de soluções alcançadas e
a real opinião dos usuários.

83
4. MÉTODO

Neste capítulo, evidencia-se o método utilizado para o trabalho. O desenvolvimento da


pesquisa proposta foi estruturado em três passos metodológicos (Figura 14) e está
descrito abaixo:

A- Revisão bibliográfica, extraindo os padrões biofílicos mais recorrentes na


literatura científica;

B- Aplicação de questionário a fim de aferir a afinidade de usuários de edificações


com os padrões identificados pela revisão bibliográfica;
C- Análise dos critérios de certificações ambientais de sustentabilidade,
considerando os selos BREEAM, LEED e AQUA, com o intuito de identificar as
similaridades de critérios e padrões contidas nessas certificações;

C1- Análise das convergências e similaridades entre os padrões biofílicos


apresentados na primeira parte, alvos da avaliação sobre forma de questionário, com
os pré-requisitos de sustentabilidade de edificações propostos pelas certificações
ambientais.

Figura 14 – Mapa mental do método

Fonte: Autor

84
Para fins metodológicos, utilizou-se na pesquisa a triangulação de informação. Segundo
Stake (1995) a triangulação de métodos é um tipo de análise que abarca diferentes
ferramentas para clarificar o significado, ampliando possíveis interpretações, por meio da
adição de diferentes fontes na pesquisa. A triangulação também pode ser entendida de
maneira ampla, podendo ser definida como a combinação de métodos diversos para
analisar o mesmo objeto de pesquisa. Deste modo, pode ser argumentado que a
triangulação de métodos e dados proporciona um entendimento mais profundo do objeto
de análise, por se tratar de uma alternativa qualitativa de abordagem que utiliza diferentes
fontes, análises e dados (DENZIN; LINCON, 2005).

4.1. Identificação dos padrões biofílicos

Essa parte da pesquisa visa identificar padrões na arquitetura que envolvam elementos
naturais em sua composição, em edificações institucionais na Universidade de Brasília,
levando em consideração as possibilidades apontadas pelo Design Biofílico. Essa parte
da pesquisa também teve como objetivo verificar junto aos usuários das edificações as
hipóteses acerca dos padrões biofílicos na arquitetura e seus subsequentes efeitos.

A análise dos padrões biofílicos foi dividida em duas etapas de pesquisa. A primeira
contemplou o reconhecimento destes padrões do referencial teórico acerca do Design
Biofílico e de observações destes aspectos em dois prédios institucionais da Universidade
de Brasília. A forma descritiva de padrões foi adotada com o propósito de potencializar e
facilitar o acesso a informações correlatas ao Design Biofílico. As etapas para a
identificação dos padrões biofílicos são descritas na figura 15:

85
Figura 15 - Etapas para identificação dos padrões biofílicos

Fonte: Autor

A escolha das edificações alvo de análise levou em consideração os aspectos formais das
edificações e suas afinidades com os padrões identificados previamente na revisão
bibliográfica. Escolheu-se o Instituto Central de Ciências (ICC), marcado em verde na
figura 16, por se tratar de um edifício de grandes proporções, abarcando fluxo importante
no cotidiano da UnB. Também, trata-se de um dos edifícios mais antigos da universidade.
O Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo), marcado em azul na figura 16, foi escolhido
por configurar um contraponto em relação ao ICC, uma vez que se trata de uma edificação
recente, abarcando uso e vivências diferentes.

86
Figura 16 - Porção central do Campus Darcy Ribeiro: Em azul – Memorial Darcy
Ribeiro (Beijódromo). Em verde: Instituto Central de Ciências (ICC).

Fonte: Autor

Como uma primeira análise, teve-se acesso a desenhos de planta baixa e cortes das
edificações. Este material foi a base para perceber a articulação dos espaços como um
todo, e, em outro momento, foi utilizado para mapear as manchas de influências no
espaço. Os mapas dessas manchas foram importantes para identificar os padrões
biofílicos nas edificações. Subsequentemente, desenvolveu-se mapas de manchas (figuras
17 e 18) pelos edifícios a fim de registrar onde estes padrões consonantes com o design
biofílico podem exercer maior influência no espaço.

A análise levou em consideração, primeiramente, os estímulos visuais no espaço.


Segundamente, a sensação causada pelos elementos naturais em contraponto com o
ambiente construído. E em um terceiro momento, visou-se analisar de forma mais
objetiva os materiais e volumes que compunham cada espaço. Os mapas de influência
sugiram de anotações da repetição de padrões e seu impacto sensorial analisado no local.

87
4.1.1. Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo)

O edifício em memorial a Darcy Ribeiro é um centro cultural e de pesquisa projetado pelo


arquiteto João Filgueiras Lima (Lélé) e localizado no campus da Universidade de Brasília.
O edifício teve sua construção finalizada no ano de 2010, possuindo aproximadamente
2.454 metros quadrados. A edificação é em sistema modulado metálico em formato de
“oca”, onde o seu átrio principal abriga um jardim e uma estrutura que facilita a passagem
e conversão de ar natural de forma passiva. A edificação abriga um auditório, acervos
literários e salas de aula.

Figura 17 – Mapa de manchas – Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo)

Fonte: Autor

4.1.2. Instituto Central de Ciência (ICC)

O ICC foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer logo nos anos 50 na concepção da
Universidade de Brasília. Atualmente o edifício linear abarca diversos departamentos e

88
cursos, tais como comunicação social, veterinária, arquitetura e urbanismo, entre outros.
A estrutura do edifício é feita de concreto armado aparente modular e impressiona pela
sua escala, possuindo 120 mil metros quadrados e 720 metros de extensão. Dentre a sua
modulação, intercalam-se espaços abertos e jardins em sua composição. O edifício abarca
anfiteatros, salas de aula, centros acadêmicos e faculdades diversas.

Figura 18 – Mapa de manchas – Instituto Central de Ciências (ICC)

Fonte: Autor

4.2. Questionário de opinião

O questionário foi desenvolvido visando validar os padrões biofílicos apontados pela


revisão bibliográfica. Para isso, utilizou-se um questionário online de forma anônima no
qual os usuários dos edifícios poderiam opinar julgando sentenças pela escala Likert. A
plataforma de perguntas e coleta de dados utilizada foi o questionário online "Google
Forms". A ficha de perguntas foi dividida em dois momentos. Na primeira etapa, visou-
se coletar dados do perfil do usuário como: faixa de idade, função que desempenha,
frequência de uso dos espaços e tempo médio de permanência dos espaços.

A etapa subsequente do questionário era constituída por dez afirmações, sendo cada uma
correspondente a um padrão biofílico, podendo serem avaliadas numa escala de 1 a 5.

89
Sendo 1 correspondente a "discordo totalmente" e 5 a “concordo totalmente”. Yaremko
et al. (1986) afirmam que a ferramenta de questionário em pesquisas não possui o intuito
de medir as habilidades do respondente, ao invés, metrifica opiniões, interesses. O
processo completa da pesquisa de opinião utilizada está resumida pela figura 19 abaixo:

Figura 19 – Processo de Pesquisa de Opinião dos Padrões Biofílicos

Fonte: Autor

90
Foi desenvolvida uma versão teste do questionário, disponibilizado por duas semanas
para validação. A partir desta primeira amostragem, foi possível corrigir e avaliar
possíveis lacunas da pesquisa. Como o modo de resposta era uma plataforma digital, foi
identificado que o questionário estava muito extenso, deixando os usuários desmotivados
a responder.

Nos estudos de Dillmann levantados por Rodeghier (1996) para reduzir os custos de um
questionário e aumentar o seu alcance, é recomendado que se faça parecer uma tarefa
breve para o respondente, além de eliminar possibilidades de sua exposição a
constrangimentos e de reduzir seu esforço físico e mental ao responder. A versão final do
questionário foi distribuída via e-mail para a comunidade acadêmica (Professores, alunos,
funcionários e possíveis visitantes) durante todo o mês de maio de 2019 e nas duas
primeiras semanas de junho do mesmo ano. Ao final deste período, foi recebido respostas
de 510 usuários. O questionário na íntegra está disponibilizado como anexo I.

É importante salientar que uma limitação desta pesquisa é que os dados coletados não
podem servir de dados estatísticos aplicados. Os dados levantados têm o intuito apenas
de corroborar com a formulação teórica de acordo com o Design Biofílico.

4.3. Análise comparativa entre os padrões biofílicos e as


certificações ambientais

Este trabalho propõe-se a analisar de forma comparativa os critérios de avaliação


propostos pelas certificações ambientais apresentadas, com os padrões biofílicos de maior
recorrência na literatura científica. Desta forma, essa etapa apresenta uma síntese
comparativa com o intuito de identificar convergências e divergências estre os padrões
estabelecidos pelas certificações ambientais, e o Design Biofílico. O esquema a seguir
(figura 20) ilustra o caminho percorrido para esta análise:

91
Figura 20 – Processo de análise comparativa: Design Biofílico x Certificações
Ambientais

Fonte: Autor

92
5. RESULTADOS

Este capítulo destina-se a apresentar os resultados obtidos com desenvolvimento dos


passos propostos pela metodologia. Passo 1: Identificar os padrões biofílicos a partir da
literatura científica. Passo 2: Aferir afinidades dos padrões biofílicos e a opinião de
usuários de edificações existentes. Passo 3: Analisar comparativamente os critérios das
certificações sustentáveis e os padrões biofílicos. Em sequência, faz-se uma análise das
possíveis contribuições do Design Biofílico para as certificações e o para o conceito de
sustentabilidade de edificações.

5.1. Passo 1: Padrões do Design Biofílico identificados

A partir do referencial teórico apresentado e da revisão de literatura, foi possível


identificar dez padrões biofílicos mais presentes em trabalhos científicos. Estes padrões
também foram utilizados na etapa de pesquisa de opinião, a fim de aferir a afinidade dos
usuários com os padrões. Estes estão listados abaixo:

5.1.1. Efeitos criados por elementos


naturais

Este padrão pode ser identificado pela


presença de elementos que causem um efeito
de forma indireta e espontânea no espaço.
Um exemplo disso pode ser a reflexão da luz
por meio da água presente na edificação. Ou
elementos que causem desenhos diferentes

Figura 21 - Efeitos criados por conforme a variação de luz e sombra do dia.


elementos naturais. Pode-se argumentar que o trabalho com a
(Beijódromo). Fonte: Autor

93
iluminação na arquitetura pode ter um viés
holístico ao considerar o desempenho
lumínico como uma terapia da cor, ciência
medicinal e psicologia das cores. Nesse
sentido, a luz natural é ferramenta curativa
no corpo humano pois afeta seu metabolismo
(REA, 2000).

5.1.2. Formas análogas à natureza na


composição

A criação de um espaço pode, muitas vezes,


usar como inspiração formas oriundas da
natureza, e isso pode ser estendido também
para a estrutura e a forma com que os
espaços internos da edificação se
relacionam. Podem também ser identificadas
Figura 22 - Formas análogas à em elementos de fachadas, revestimentos e
natureza na composição aplicações. Para Dias (2017) a arquitetura é
(Beijódromo). Fonte: Autor
multifacetária, sendo abordada por
diferentes óticas. Na observação da natureza,
pode-se compreender mecanismos, adaptar e
aplicar referências de soluções. Um exemplo
foi a prática de processo criativo utilizada
nos estudos de Leonardo Da Vinci ao estudar
a anatomia de pássaros para desenvolver
seus estudos de máquinas voadoras.

94
5.1.3. Possibilidade de experiências
não visuais (tátil – sonora – olfativa)
com elementos naturais

Outra forma de conexão com a natureza é a


possibilidade de experiências que agucem
não só a percepção visual, mas também o
tato, o som e o olfato. Este padrão pode ser
identificado em forma de variação de
Figura 23 - Possibilidade de
experiências não visuais (tátil – texturas nos revestimentos, água em
sonora – olfativa) com movimento, vegetação com odores
elementos naturais
(Beijódromo). Fonte: Autor característicos e assim por diante. O som do
ambiente se torna cenário da arquitetura,
propagando-se nas adjacências da
edificação, condicionada pelo vendo, ruído
urbano, áreas verdes e elementos naturais do
cenário criado na implantação. Para ilustrar,
o som de elementos naturais no meio
edificado, como o som de água corrente,
pode ter efeitos restauradores e calmante
(DIAS; ANJOS, 2017).

95
5.1.4. Microclima – Criação de
pequenos ecossistemas

Um dos artifícios criados no controle e


conforto térmico de edificações é a criação
de microclimas utilizando elementos
naturais que amenizem o clima na escala do
prédio. Lamberts (2007) define microclima
como a escala mais próxima ao nível da
Figura 24 - Microclima –
Criação de pequenos edificação, podendo ser concebido e alterado
ecossistemas (Beijódromo). pelo arquiteto. As particularidades
Fonte: Autor
climáticas do local podem representar
benefícios ou dificuldades adicionais.

5.1.5. Elementos que possibilitem


ventilação e iluminação natural

A ventilação e a iluminação natural dos


espaços construídos aumentam
significativamente o bem-estar de seus
usuários, seja por aspectos de higiene ou de
aspectos psicológicos. A variação destes
dois pontos no espaço e a percepção destes
Figura 25 - Elementos que aumentam significativamente a experiência
possibilitem ventilação e
positiva do usuário com o espaço. Dentre as
iluminação natural
(Beijódromo). Fonte: Autor várias vantagens da iluminação natural em
espaços edificados, pode-se afirmar que a
mesma contribui significativamente para a
higienização do espaço e varia a carga
térmica interna visando o conforto

96
ambiental. Mais diretamente no corpo
humano, a iluminação natural age de forma
a estimular hormônios, a produção de
vitamina D, pode reduzir o cansaço visual,
reduzir as taxas de estresse e aumentar
significativamente as taxas de produtividade
em ambientes laborais (LAMBERTS;
DUTRA; PEREIRA, 1998; VIANNA e
GONÇALVES, 2001).

5.1.6. Enquadramento da paisagem

Este padrão pode ser observado na intenção


de aberturas da edificação de forma a
valorizar a paisagem em seu entorno,
criando, assim, uma conexão visual mais
acentuada e de destaque com o entorno
imediato. Em seu trabalho, Ferrara (2007)
evidencia o papel das aberturas em
Figura 26 - Enquadramento da
paisagem (ICC). Fonte: Autor ambientes, que possibilitam dar
materialidade ao movimento, como, por
exemplo, o enquadramento dá significado e
um papel de destaque no espaço.

97
5.1.7. Percurso que instigue o explorar

Ambientes que agucem a percepção de


explorar no usuário e causem a sensação de
surpresa e descoberta. Espaços ricos o
suficiente para estimular a curiosidade em
descobrir e que, em um segundo momento,
dê condições para que o próprio usuário
possa mapear mentalmente o ambiente. Este
Figura 27 - Percurso que
instigue o explorar (ICC). padrão diz respeito à conformidade espacial
Fonte: Autor interna da edificação, o ambiente não é
apreendido de uma só vez pelo usuário,
existindo a necessidade de explorar suas
nuances para entender o todo.

5.1.8 Pátina – Registro do tempo

Para Ruskin (1849), a pátina é a mancha


dourada do tempo. É entendida como a
camada que se cria pela exposição do
material às condições naturais em que o
prédio se insere. Cria, assim, um registro
histórico da composição volumétrica em

Figura 28 - Pátina – registro do relação ao próprio ambiente e intempéries


tempo (ICC). Fonte: Autor que o edifício está exposto. Guardado (2013)
argumenta que a noção de tempo adiciona
uma nova dimensão à edificação.
Considerando a passagem do tempo como
agente de transformação dos materiais da

98
edificação, cria-se um vínculo temporal e
espacial com o usuário.

5.1.9. Uso de elementos naturais por


contraste

Este padrão pode ser identificado como o


uso de elementos naturais em ambientes
construídos de forma a criar um contraponto
no contexto do ambiente interno. Pode
aparecer através de jardins internos, do uso
da água em ambientes fechados, de paredes
verdes, etc. Estabelece uma relação de
Figura 29 - Uso de elementos
surpresa com o usuário.
naturais por contraste (ICC).
Fonte: Autor

5.1.10. Uso do material em seu estado


natural

O uso de materiais em seu estado natural


confere uma conexão direta com referências
naturais e ecossistema, bem como uma
relação mais harmônica com sua
implantação e com a paisagem em que se
insere. Todos estes elementos instigam
diretamente o usuário. O concreto armado,
Figura 30 - Uso do material em apesar de ser um material composto, evoca o
seu estado natural (ICC). Fonte:
Autor uso da pedra de forma moldada. Segundo
Dias e Anjos (2017), os sentidos palpáveis

99
das edificações são registrados pelo corpo
devido ao contato direto da pele com os
materiais da edificação. As diferentes
texturas empregadas em uma edificação
podem, por exemplo, ter função de guia para
usuários portadores de limitações visuais.

No quadro abaixo (quadro 11) apresenta-se de forma resumida os dez padrões


identificados por este trabalho e, subsequentemente, utilizados nas demais etapas de
análise propostas.

Quadro 11 – Síntese dos Padrões Biofílicos.


Padrões Biofílicos
01 Efeitos visuais criados por elementos naturais
02 Formas análogas a natureza na composição
03 Possibilidade de experiências extravisuais (tátil, auditiva)
04 Microclima –Constituição de pequenos ecossistemas
05 Elementos que possibilitam a ventilação e iluminação naturais
06 Enquadramento da paisagem
07 Caminhos e espaços internos que instigam a exploração
08 Pátina, marcas do tempo
09 Uso de elementos naturais por contraste
10 Uso de materiais em seu estado natural
Fonte: Autor

5.2. Passo 2: Resultados do questionário

5.2.1. Dados censitários

100
Na primeira etapa do questionário, houve a caracterização do usuário, bem como a
identificação do prédio a ser analisado por ele nas perguntas subsequentes. Neste quesito,
o usuário poderia escolher analisar mais de um prédio por vez, podendo escolher entre o
ICC (Instituto de Ciência Central) e o Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo). As análises
referentes ao ICC correspondem a 66% das respostas. Fato que pode ser atribuído pela
escala maior da edificação e por abarcar, além de áreas administrativas, salas de aula e
laboratórios.

O corpo de respostas (figura 31) também foi constituído majoritariamente por discentes
da universidade, sendo 74%. Professores foram 12%, com 61 respostas, funcionários e
visitantes somaram, juntos, 14%. A faixa de idade dos respondentes (figura 32) mais
expressiva foi entre 30-45 anos (40%), seguida da faixa de idade 15-30 anos (39%). 108
pessoas alegaram ter mais de 45 anos e não houve respostas de usuários com idade menor
de 15 anos.

Figura 31 – Gráfico Usuários das edificações analisadas

TIPO DE USUÁRIO

Visitante 24

Funcionário 48

Professor 61

Aluno 377

Fonte: Autor

101
Figura 32 – Gráfico Faixa de Idade
FAIXA DE IDADE

45+ 108

30-45 Anos 204

15-30 Anos 198

0-15 Anos 0

Fonte: Autor

Perguntou-se também se o usuário possuía algum tipo de deficiência física (figura 33).
Para fins desta análise, reduziu-se as possibilidades apenas para o âmbito locomotor,
visual e auditivo. Apenas 3 usuários relataram possuir limitações locomotoras. Sobre a
frequência de uso dos espaços (figura 34), 44% dos usuários alegaram fazer uso frequente
das edificações e 37% das respostas vieram de usuários esporádicos (ao menos 2 dias da
semana). O tempo de permanência diário nos prédios analisados foi dividido em 4 faixas
diferentes, sendo estes: menos de 1 hora, de 1 a 4 horas, de 4 a 8 horas e mais de 12 horas.
230 respondentes (45%) afirmaram passar de 1 a 4 horas nas edificações, 29% passam de
4 a 8 horas por dia, usuários que passam menos de 1 hora configuram 20%, com 100
respostas, e pessoas que experienciam os espaços por mais de 12 horas representam 6%
(ver figura 35).

Figura 33 – Gráfico pessoas com deficiência (PCD)

102
Fonte: Autor

Figura 34 – Gráfico frequência de uso


FREQUÊNCIA DE USO

Frequente (menos que 5 dias da semana) 224

Diário (5 dias da semana) 99

Esporádico 187

Fonte: Autor

Figura 35 – Gráfico
TEMPO tempo de permanência
DE PERMANÊNCIA MÉDIA média
(DIA) (Dia)

Mais de 12 horas 30

4 a 8 horas 150

1 a 4 horas 230

Menos de 1 hora 100

Fonte: Autor

103
5.2.2. Análise dos padrões biofílicos pelo usuário

Nesta etapa, o usuário foi convidado a julgar afirmações relacionadas diretamente aos dez
padrões previamente identificados. Tendo como ferramenta a escala Linkert, foi possível
avaliar a inclinação dos respondentes acerca da conformidade da pesquisa com suas
próprias experiências. Para validação de um padrão, a frequência de respostas no espectro
4-5 deveria ser superior à das respostas no espectro 1-2, sendo as respostas de número 3
(meio da escala) consideradas neutras para a avaliação.

Dos padrões analisados, apenas dois deles não somaram pontuação positiva superior de
conformidade, expressando desconexão entre as duas hipóteses com as experiências do
usuário, sendo eles: “Elementos que possibilitam a ventilação e iluminação naturais”
(tabela 1 e figura 36) e “Pátina, marcas do tempo” (tabela 2 e figura 37). A
inconformidade destes dois padrões pode apontar para as condições inapropriadas de
manutenção das edificações analisadas, por exemplo, quanto à limpeza e quanto a
equipamentos e materiais, especialmente os relativos ao conforto térmico.

104
Tabela 1 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Elementos que possibilitam a ventilação e iluminação naturais”

A temperatura interna do edifício é agradável e há aberturas suficientes


para ventilação natural.

Escala Respostas

1 90 18%
2 120 24%
3 120 24%
4 114 22%
5 60 12%
total 510
Fonte: Autor

Figura 36 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários


“elementos que possibilitam a ventilação e iluminação naturais”

A TEMPERATURA INTERNA DO EDIFÍCIO É AGRADÁVEL


E HÁ ABERTURAS SUFICIENTES PARA VENTILAÇÃO
NATURAL.
120

120

114
90

60

1 2 3 4 5

Fonte: Autor

105
Tabela 2 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico “Pátina,
marcas do tempo”

As condições de manutenção do edifício (estado dos materiais,


condições dos jardins) tornam a experiência no prédio mais prazerosa.

Escala Respostas

1 69 14%
2 147 29%
3 111 22%
4 105 21%
5 78 15%
total 510
Fonte: Autor

Figura 37 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários


“Pátina, marcas do tempo”
AS CONDIÇÕES DE MANUTENÇÃO DO EDIFÍCIO
(ESTADO DOS MATERIAIS, CONDIÇÕES DOS JARDINS)
TORNAM A EXPERIÊNCIA NO PRÉDIO MAIS
PRAZEROSA.
147

111

105

78
69

1 2 3 4 5

Fonte: Autor

Os padrões de maior unanimidade foram: “Uso de elementos naturais por contraste”


(tabela 3 e figura 38), “Uso de materiais em seu estado natural” (tabela 4 e figura 39),
“Enquadramento da paisagem” (tabela 5 e figura 40) e “Formas análogas a natureza na
composição” (tabela 6 e figura 41). A boa avaliação destes padrões pode ser explicada
pelo uso de forma direta ou análoga de elementos e formas da natureza de forma a aguçar
de maneira mais intensa a percepção visual dos usuários. Para entender a importância do
estimulo visual na arquitetura, Santaella (1998) salienta que 75% da percepção humana é
oriunda de estímulos visuais. Tal característica se dá pela importância evolutiva humana

106
da visão para a sobrevivência. A audição seria responsável por 20% dos estímulos
percebidos no espaço e o tato, paladar e olfato somariam os outros 5% restante. Este fato
pode explicar o fato de a questão visual ser aspecto preponderante no entendimento e
ambientação dos espaços arquitetônicos.

Tabela 3 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico “Uso de


elementos naturais por contraste”

Os jardins e elementos naturais (Plantas, espelhos d'água) são um


ponto positivo no prédio.
Escala Respostas

1 15 3%
2 21 4%
3 42 8%
4 102 20%
5 330 65%
total 510

Fonte: Autor

Figura 38 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários “Uso de elementos


naturais por contraste”
OS JARDINS E ELEMENTOS NATURAIS
(PLANTAS, ESPELHOS D'ÁGUA) SÃO UM
PONTO POSITIVO NO PRÉDIO.
330
102
42
21
15

1 2 3 4 5

Fonte: Autor

107
Tabela 4 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico “Uso de
materiais em seu estado natural”
O uso de materiais em seu estado natural (concreto aparente,
aço, vidro) e a estrutura aparente enriquecem a experiência
sensorial no prédio.
Escala Respostas

1 27 5%
2 30 6%
3 90 18%
4 141 28%
5 222 44%
total 510
Fonte: Autor

Figura 39 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários “Uso de materiais em seu
estado natural”
O USO DE MATERIAIS EM SEU ESTADO
NATURAL (CONCRETO APARENTE, AÇO, VIDRO)
E A ESTRUTURA APARENTE ENRIQUECEM A
EXPERIÊNCIA SENSORIAL NO PRÉDIO.
222
141
90
30
27

1 2 3 4 5

108
Tabela 5 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Enquadramento de paisagem”
Estando dentro do edifício, ter contato visual com a paisagem
ao redor do prédio é agradável.
Escala Respostas

1 21 4%
2 30 6%
3 69 14%
4 147 29%
5 243 48%
total 510
Fonte: Autor

Figura 40 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários “Enquadramento da


paisagem”
ESTANDO DENTRO DO EDIFÍCIO, TER CONTATO
VISUAL COM A PAISAGEM AO REDOR DO PRÉDIO
É AGRADÁVEL.

243
147
69
30
21

1 2 3 4 5

Fonte: Autor

109
Tabela 6 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico “Formas
análogas a natureza na composição”

A forma externa do edifício é convidativa e instiga a descobrir


seus espaços internos.
Escala Respostas

1 60 12%
2 63 12%
3 78 15%
4 120 24%
5 189 37%
total 510
Fonte: Autor

Figura 41 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários “Formas análogas a


natureza na composição”
A FORMA EXTERNA DO EDIFÍCIO É CONVIDATIVA
E INSTIGA A DESCOBRIR SEUS ESPAÇOS
INTERNOS.
189
120
78
63
60

1 2 3 4 5

Fonte: Autor

Subsequentemente, o padrão “Possibilidade de experiências extravisuais (tátil, auditiva)”


(tabela 7 e figura 42) também expressou receptividade com 54% de opiniões favoráveis.
Este fato corrobora para ressaltar a importância dos estímulos sensoriais oriundos de
elementos naturais percebidos pelo usuário no espaço, assim como seus efeitos benéficos.
Pode-se dizer que parte da compreensão dos espaços é oriunda de estímulos sensoriais
provocada pela ambientação. A transformação de um espaço em lugar só pode ocorrer
pelo reconhecimento e criação de um vínculo de afeto entre o usuário e o lugar. Isso
ocorre concomitantemente entre os estímulos sensoriais provocados pelo espaço e a
memorização do mesmo pela apreensão do conjunto (TUAN, 1997).

110
Tabela 7 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Possibilidade de experiências extravisuais (tátil, auditiva)”
O espaço interno do prédio possibilita experiências positivas
que instiguem outros sentidos além da visão, como
experiências auditivas, olfato e tato.
Escala Respostas

1 60 12%
2 99 19%
3 81 16%
4 174 34%
5 96 19%
total 510
Fonte: Autor

Figura 42 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários “Possibilidade de


experiências extravisuais (tátil, auditiva)”
O ESPAÇO INTERNO DO PRÉDIO POSSIBILITA
EXPEIÊNCIAS POSITIVAS QUE INSTIGUEM OUTROS
SENTIDOS ALÉM DA VISÃO, COMO EXPERIÊNCIAS
AUDITIVAS, OLFATO E TATO.
174
99

96
81
60

1 2 3 4 5

Fonte: Autor

Os padrões “Efeitos visuais criados por elementos naturais” (tabela 8 e figura 43),
“Microclima – Constituição de pequenos ecossistemas” (tabela 9 e figura 44) e
“Caminhos e espaços internos que instigam a exploração” (tabela 10 e figura 45), critérios
que envolvem iluminação natural e sensação térmica, também alcançaram maior
receptividade na opinião dos usuários. Vienna e Gonçalves (2001) argumentam que uma
iluminação ineficiente em espaços construídos pode gerar uma série de prejuízos aos seus
usuários. Dentre eles, pode-se citar cansaço visual, baixa produtividade e dores de cabeça.
Para Neto (1980), o desafio de se utilizar a iluminação natural na arquitetura parte da

111
dificuldade de seu controle por meio de estratégias projetuais. A luz natural varia
significativamente no intervalo de minutos, podendo sua variação chegar a intervalos de
100 a 200%, principalmente quando há indicação de movimentação de nuvens no céu.

Tabela 8 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico


“Efeitos visuais criados por elementos naturais”
A iluminação natural no interior do prédio é suficiente para as
atividades na maior parte do dia.
Escala Respostas

1 69 14%
2 96 19%
3 135 26%
4 132 26%
5 78 15%
total 510
Fonte: Autor

Figura 43 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários “Efeitos visuais criados
por elementos naturais”
A ILUMINAÇÃO NATURAL NO INTERIOR DO
PRÉDIO É SUFICIENTE PARA AS ATIVIDADES NA
MAIOR PARTE DO DIA.
135

132
96

78
69

1 2 3 4 5

Fonte: Autor

112
Tabela 9 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Microclima –Constituição de pequenos ecossistemas”

As condições dos espaços internos fazem sentir-se confortável


o suficiente para passar longos períodos de tempo.
Escala Respostas

1 56 11%
2 111 22%
3 156 31%
4 115 23%
5 66 13%
total 510
Fonte: Autor

Figura 44 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários “Microclima –


Constituição de pequenos ecossistemas”
AS CONDIÇÕES DOS ESPAÇOS INTERNOS FAZEM
SENTIR-SE CONFORTÁVEIS O SUFICIENTE PARA
PASSAR LONGOS PERÍODOS DE TEMPO.
156

115
111

66
56

1 2 3 4 5

Fonte: Autor

113
Tabela 10 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Caminhos e espaços internos que instigam a exploração”

O percurso e disposição interna dos espaços no prédio é


convidativo e de fácil compreensão.
Escala Respostas

1 42 8%
2 84 16%
3 150 29%
4 126 25%
5 108 21%
total 510
Fonte: Autor

Figura 45 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários “Caminhos e espaços


internos que instigam a exploração”
O PERCURSO E DISPOSIÇÃO INTERNA DOS ESPAÇOS
NO PRÉDIO É CONVIDATIVO E DE FÁCL COMPREESÃO.
150

126

108
84
42

1 2 3 4 5

Fonte: Autor

Com base na análise geral dos resultados do questionário, é possível inferir que, mesmo
nos casos de padrões biofílicos de caráter mais subjetivo e abstrato, houve uma boa
assimilação destes por parte dos respondentes. Pode-se argumentar também que o nível
de aceitação ou reprovação dos padrões propostos estava sujeito às condições existentes
das edificações, tais como: condições de manutenção, implantação e orientação da
edificação, estado de conservação, layouts internos, número de ocupação dos ambientes,
dentre outros.

114
As condições reais das edificações podem ser ilustradas pela série de figuras (21 a 30)
que ilustram os padrões biofílicos utilizados nesse trabalho. Mesmo com estas variáveis,
os aspectos formais e conceituais propostos pelos padrões biofílicos mostrou-se
preponderante, sendo avaliados positivamente na maioria dos casos ilustrados na
pesquisa. Nesse sentido, infere-se que a pesquisa de opinião corrobora com a formulação
teórica que os padrões propostos pelo Design Biofílico podem impactar positivamente a
experiência do usuário das edificações.

5.3. Passo 3: Análise das convergências e divergências entre o


Design Biofílico e as Certificações de Sustentabilidade

A análise levou em consideração os padrões biofílicos identificados na literatura


científica na etapa de revisão bibliográfica. Com isso, procurou-se estabelecer relações
destes padrões com os itens dos critérios de certificação e pontuação analisados também
neste trabalho. Os itens de convergência foram elencados no quadro 12 abaixo:

115
Quadro 12 - Padrões Biofílicos x Critérios de certificações

Padrão biofílico Critério de certificação Certificação Análise

01 Efeitos visuais criados por Nível de luz natural BREEAM, LEED, Estes itens se relacionam diretamente com as
elementos naturais AQUA categorias que promovem saúde e bem-estar por parte
Nível de iluminação BREEAM, LEED, das certificações ambientais. Todas as certificações
interna e externa AQUA analisadas apresentam critérios que abarcam a
iluminação natural, bem como a sua variabilidade.

02 Formas análogas a natureza Sem item relacionado Padrão Biofílico de difícil assimilação por parte das
na composição metodologias de avaliação propostas pelas certificações
ambientais. Parte pode ser explicada pelo seu cunho
subjetivo.

03 Possibilidade de experiências Assegurar a qualidade AQUA, BREEAM Pode-se argumentar que a qualidade da acústica dos
extravisuais (tátil, auditiva) acústica espaços e as outras experiencias sensoriais são itens de
Tratamento de odores BREEAM, AQUA, grande importância ao se medir o bem-estar dos
desagradáveis das áreas LEED usuários nas edificações.
privativas

116
04 Microclima – Constituição de Características ecológicas BREEAM Esse critério está relacionado à importância da
pequenos ecossistemas de áreas naturais preservação da vegetação nativa e sua integração com a
Gerenciamento de BREEAM edificação, estabelecendo relação de salubridade com o
biodiversidade ambiente artificial.
Relatórios ecológicos BREEAM

05 Elementos que possibilitam a Ventilação natural e BREEAM, LEED, Estes itens se relacionam diretamente com as categorias
ventilação e iluminação monitoramento da AQUA que promovem saúde e bem-estar por parte das
naturais qualidade do ar certificações ambientais. Assim, apresentam critérios
importantes para ambientes salubres e de qualidade para
Conforto Térmico BREEAM, LEED, os ocupantes.
AQUA
Prevenção de doenças BREEAM, LEED,
respiratórias AQUA

06 Enquadramento da paisagem Luz natural BREEAM, LEED, O item se refere à necessidade de aberturas que
AQUA proporcionem a permeabilidade visual e a passagem de
Vistas de qualidade LEED iluminação natural. Vistas de qualidade estão

117
diretamente ligadas com o conceito de enquadramento
da paisagem.

07 Caminhos e espaços internos Sem item relacionado Padrão Biofílico de cunho abstrato e de difícil
que instigam a exploração assimilação por parte das metodologias de avaliação
propostas pelas certificações ambientais.

08 Pátina, marcas do tempo Sem item relacionado Padrão Biofílico de cunho abstrato e de difícil
assimilação por parte das metodologias de avaliação
propostas pelas certificações ambientais.

09 Uso de elementos naturais por Áreas arborizadas BREEAM Áreas arborizadas, mesmo que ao redor do sítio de
contraste Disponibilização de áreas BREEAM construção da edificação, apresentam contrate visual
de descanso e acessos com a área construída. Áreas de descanso externas
para o espaço interno / podem ter um potencial de proporcionar bem-estar e
externo experiências de qualidade.

10 Uso de materiais em seu Sem item relacionado Padrão Biofílico de cunho abstrato e de difícil
estado natural assimilação por parte das metodologias de avaliação
propostas pelas certificações ambientais.

Fonte: Autor

118
Os padrões biofílicos “Formas análogas a natureza na composição”, “Caminhos e espaços
internos que instigam a exploração”, “Pátina, marcas do tempo” e “Uso de materiais em
seu estado natural” não apresentaram critérios equivalentes ou parecidos nas certificações
ambientais analisadas. Estes padrões podem ser entendidos como critérios mais
subjetivos por abordarem itens das composições arquitetônicas que remetem a decisões
mais estéticas e formais. Nesse sentido, pode-se argumentar que, por se tratarem de itens
mais subjetivos, não seriam de fácil assimilação por parte de critérios avaliativos.

Atributos que são classificados em categorias de saúde e bem-estar nas certificações


ambientais apresentaram boa ligação com os padrões biofílicos. Itens que convergem para
a necessidade de iluminação e ventilação natural aparecem como critério para as três
certificações analisadas. Nos padrões biofílicos, elas podem ser identificadas como
“Elementos que possibilitam a ventilação e iluminação naturais” e “Efeitos visuais
criados por elementos naturais”, itens de grande importância no relacionamento saudável
entre os usuários e a edificação.

O padrão biofílico de “Microclima – Constituição de pequenos ecossistemas” apresentou


grande similaridade com os itens estabelecidos pela certificação BREEAM no que diz
respeito à preocupação com os impactos ambientais no sítio onde a edificação de
encontra. Esse critério também está relacionado à importância da preservação da
vegetação nativa e sua integração com a edificação, estabelecendo relação de salubridade
com o ambiente artificial.

O item do design biofílico “Enquadramento da paisagem” instiga a necessidade do


contato visual e conexão direta com a natureza. Essa característica pode ser um fator que
afeta sensivelmente e pode diminuir o estresse dos usuários. Este item apresenta
convergência com o critério da certificação LEED – “Vistas de qualidade”. O item
“Enquadramento da paisagem” também pode ser analisado como uma necessidade de
iluminação natural nos espaços. Nesse sentido, iluminação natural é contemplado pelas
três certificações analisadas.

As certificações ambientais mostram preocupação com itens que contemplem sentidos


humanos além da visão. A preocupação com a qualidade acústica dos espaços e com a

119
qualidade do ar, especificamente com odores e antitabagismo, fazem convergência com
o padrão biofílico “Possibilidade de experiências extravisuais (tátil, auditiva)”. Pode-se
argumentar que a qualidade da acústica dos espaços e as outras experiencias sensoriais
são itens de grande importância ao se medir o bem-estar dos usuários nas edificações.

De modo geral, os critérios de avaliação das certificações ambientais analisadas no


presente trabalho apresentam itens objetivos. Por se tratar de uma metodologia de análise
objetiva no formato de pontuação, as certificações não apresentam margem para itens que
sejam ou pendam para o subjetivo, como questões puramente estéticas ou formais. Nesse
sentido, pode-se dizer que os padrões biofílicos apresentam maior flexibilidade neste
quesito, apresentando itens que fazem referências mais subjetivas. Mesmo assim, é
possível inferir que, de modo geral, pode-se relacionar os padrões biofílicos com as
categorias de análise das certificações ambientais que abarcam itens de salubridade e
saúde e bem-estar.

5.4. Análise geral dos resultados

Na análise dos padrões biofílicos identificados na literatura científica por meio da revisão
bibliográfica, é possível inferir uma consistência na base de referências teóricas sobre o
tema. Nesse sentido, pode-se afirmar que os autores analisados apresentam critérios e
padrões biofílicos semelhantes entre si. Também, na análise bibliométrica, constatou-se
um crescente número de produções científicas que relacionam sustentabilidade, design
biofílico e arquitetura.

Os padrões biofílicos identificados e utilizados na etapa de questionário da pesquisa


apresentaram sensível afinidade com a opinião dos respondentes, corroborando com a
teoria levantada pela literatura científica sobre o assunto. Os aspectos ambientais,
propostos pelo Design Biofílico, podem exercer grande influência sobre a percepção do
usuário sobre os espaços, refletindo em sua condição de saúde e bem-estar, tanto de forma
temporária quanto de longo prazo.

120
Com Base na análise dos critérios de certificações ambientais (BREEAM, LEED e
AQUA-HQE), pode-se inferir sensível convergência entre os critérios por elas exigidos,
por apresentarem, de forma geral, grande similaridade entre si. Este fato pode apontar
para um alinhamento atual, uma tendência de mercado da construção civil, maior
exigência por parte dos consumidores e uma maior consciência sobre sustentabilidade por
parte dos profissionais da construção civil. É possível identificar critérios correlatos mais
específicos abordando a saúde e opinião dos usuários na análise das pontuações.

Ao comparar os padrões biofílicos e os critérios de avaliação propostos pelas certificações


ambientais analisadas, pode-se argumentar que existe uma convergência no que diz
respeito a exigências que promovam o bem-estar físico e mental de seus ocupantes. Em
alguns critérios, pode-se perceber a preocupação de privilegiar aspectos de iluminação,
ventilação, vistas de qualidade, entre outros. Estes aspectos ressaltam a necessidade de
conceber-se ambientes salubres.

5.4.1 Possíveis contribuições do Design Biofílico para a Sustentabilidade


de Edificações

É possível constatar, no cenário atual, grande convergência de itens interdisciplinares no


conceito de edificações sustentáveis. Devido a variados fatores e vetores, seja eles
econômicos, sociais, ambientais, novas dimensões podem ser compreendidas e analisadas
sustentavelmente. Nesse sentido, o Design Biofílico corrobora ao adicionar um viés
biológico e antropocêntrico na busca por se alcançar edificações sustentáveis e saudáveis
para os usuários.

Frente a uma arquitetura apática, “cinza” e com soluções replicadas à exaustão, pouco
espaço resta para o campo de experimentação. O Design Biofílico enriquece o debate
sobre edificações sustentáveis ao adicionar o conceito de “Design restaurativo”. Este,
diferencia-se por elaborar padrões construtivos na arquitetura que fortalecem a resiliência
humana e que promova ambientes salubres e de qualidade para seus ocupantes.

121
Adicionar elementos construtivos que fazem alusão, direta ou indireta, ao ambiente
natural, enriquece positivamente a experiência do usuário. Muitas vezes, pode-se dizer
que os efeitos na saúde, física e mental, dos usuários das edificações ocorre de forma
inconsciente. Como demonstrado no questionário de opinião, o usuário é capaz de
apontar, mesmo nos padrões biofílicos mais abstratos e subjetivos, de forma intuitiva
como se sente em relação a experiências proporcionadas pelo ambiente construído. Este
fato pode explicitar o quão rico pode ser levar em consideração a opinião dos ocupantes
no processo de design de edificações.

5.4.2. Possíveis contribuições do Design Biofílico aos critérios de


Certificação Ambiental

No geral, pode-se afirmar que os critérios propostos pelas certificações analisadas, são de
cunho objetivos e analíticos, dando pouca margem para se mensurar itens mais subjetivos
e abstratos dos espaços. Esse fato pode ser explicado pela própria metodologia e processo
desenvolvidos pelas certificações. Em sua maioria, utilizam métodos de avaliação
empregando Scorecards e Checklists em que se objetiva atingir uma certa pontuação.
Nesse sentido, pode-se argumentar que a formatação desses instrumentos de avaliação
deixa pouca margem para avaliar ou aferir itens de cunho mais subjetivos das edificações.

Percebe-se, atualmente, uma tentativa de flexibilizar os sistemas de pontuação quando se


observa alguns esforços por parte das certificações. Mais recentemente, é possível
constatar a aderência por parte das certificações de novas ferramentas avaliativas que
contemplem itens mais subjetivos de avaliação. Como, a exemplo, a inclusão de
questionário de opinião do usuário como quesito de pontuação, ou a obrigatoriedade de
treinamentos da equipe gestora do empreendimento alvo da avaliação.

Assim, observa-se que a participação do usuário no processo de design das edificações


pode ser de grande valia na concepção de espaços mais saudáveis e de maior conforto
para seus ocupantes. Como já formulado pela psicologia ambiental e pelo teórico Sommer
(1979) a participação ativa das pessoas no processo de construção dos espaços que
habitam proporciona experiencias positivas e restauradoras para a saúde mental e física.

122
É possível argumentar que o resultado do questionário de opinião dos usuários proposto
pelo presente trabalho pôde indicar que mesmo no caso de itens mais abstratos e
subjetivos indicados pelo Design Biofílico, houve uma boa assimilação e entendimento
por parte do respondente. Fato que pode sinaliza a necessidade de ter instrumentos
avaliativos que contemplem questões mais complexas e subjetivas, e que acompanhem,
as atualizações e avanços no que se refere a sustentabilidade de edificações.

5.4.3. Possíveis diretrizes norteadoras identificadas

É possível ressaltar a importância da opinião do usuário de edificações no processo de


mapeamento das necessidades de adequações e ajustes do espaço construído. Muito
recentemente, discute-se o processo de avaliação pós-ocupacional, que pode abarcar
metodologias que incluam a avaliação das necessidades e percepções do usuário quanto
a esse espaço. Porém, pode-se argumentar que ela é feita de forma tardia, visto que o
processo de projeto, etapa com maior flexibilidade de mudanças, encontra-se concluído.

Assim, a integração de ferramentas avaliativas desse gênero aos processos de projeto e


de certificação ambiental pode significar maior assertividade no desenvolvimento de
estratégias projetuais que levem em consideração o conforto, a saúde e o bem-estar dos
usuários. Essa integração já pode ser observada, por exemplo, no processo de certificação
LEED.

Como já mostrado nos resultados da pesquisa, existe uma convergência entre os padrões
biofílicos e os critérios exigidos pelas certificações ambientais analisadas. Pode ser dito
que a inclusão de itens avaliativos de cunho mais subjetivo e abstrato também cria maior
potencialidade em se alcançar edificações mais saudáveis e sustentáveis. Para ilustrar,
observa-se a recente inclusão de categorias como a de saúde e bem-estar, assim como
critérios de “vista de qualidade”, “controle de odores” e “áreas arborizadas”. Por
conseguinte, itens elencados pelo Design Biofílico, com características restauradoras da
saúde humana, podem servir como parâmetros avaliativos para espaços mais saudáveis e
sustentáveis.

123
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível dizer que a construção do conceito de sustentabilidade de edificações vem


sofrendo adaptações e evoluções, incorporando novas diretrizes e necessidade da
sociedade, construção civil, e outros fatores. É importante que se enxergue a
sustentabilidade de forma holística. Abarcando a interdisciplinaridade como ferramenta
de análise da realidade como um todo, e integrando diversas dimensões e diretrizes para
que se tenha melhores resultados na construção de edificações sustentáveis.

A definição de “tripé da sustentabilidade” levando em consideração apenas três


dimensões principais da sustentabilidade, a econômica, a social e a ambiental, pode ser
considerada, atualmente, desatualizada, quando aplicada a edificações. Recentemente, é
possível argumentar que a sustentabilidade de edificações ganha novas dimensões. Para
ilustrar, é possível citar as dimensões política, psicológica, cultural e diversas outras,
assim como já conceituava Sachs (2002).

É notório também, recentemente, a busca por ferramentas e diretrizes que proporcionem


e que privilegiem o bem-estar do usuário frente ao ambiente construído. A salubridade
dos espaços e o papel do ambiente construído na saúde física e mental dos ocupantes vêm
sido discutido amplamente, tanto pela arquitetura e construção civil, quanto pela
psicologia e medicina. É possível identificar esses esforços no surgimento de legislações
e normas que regulam parâmetros básicos de salubridade, na popularização de
ferramentas assistivas e classificatórias sobre conforto ambiental, desempenho de e
sustentabilidade das edificações, e também, na literatura científica.

No que se refere ao Design Biofílico, pode-se constatar que seus atributos e teoria estão
enraizados em questões já consolidadas. Parte-se de conceitos tanto estudados pela
literatura da ciências biológicas, como o termo cunhado por Wilson (1984), quanto na
psicologia ambiental, quando se relaciona o efeito dos espaços, naturais ou construídos,
na saúde do ser humano. Nesse sentido, é possível afirmar que o Design Biofílico não
traz em si ferramentas inovadoras atuais. Mas, seus parâmetros propostos ganham caráter

124
inovador ao serem empregados na arquitetura como ferramenta restaurativa, isto é, como
elementos que proporcionam uma experiência restaurativa na saúde física e mental do
usuário.

É possível argumentar que os parâmetros e padrões propostos pelo Design Biofílico na


arquitetura se alinham com as questões mais recentes abordadas pela sustentabilidade.
Tanto na preocupação em desenvolver espaços mais saudáveis para os usuários, quanto
na preocupação ecológica de preservação de recursos e a minimização de impactos
ambientais oriundos da prática profissional da construção civil.

Os resultados do presente trabalho também apontam para uma afinidade dos usuários de
edificações e sua percepção positiva com os padrões biofílicos na arquitetura. Pode-se
perceber que o apelo por aspectos da edificação que sensibilizam os sentidos,
especialmente a visão, exercem grande participação na experiência positiva e
restauradora do usuário ao interagir com o ambiente construído.

A análise das três certificações ambientais (BREEAM, LEED E AQUA-HQE) e seus


respectivos critérios de avaliação mostrou uma grande convergência de itens, podendo
ser inferido que os vetores e critérios de avaliação sobre sustentabilidade se apresentam
constantes e similares, levando em consideração a abordagem individual de cada uma das
certificações. Isso pode indicar uma tendência da construção civil, que adota parâmetros
parecidos para classificar uma edificação como sustentável.

Foi possível constatar que, de modo geral, entre as certificações analisadas, há uma
preocupação e foco com a saúde física e mental dos usuários. Nesse sentido, pode-se dizer
que novas dimensões da sustentabilidade estão sendo exploradas e levadas em
consideração na classificação de edificações sustentáveis. As dimensões social e
psicológica ganham notoriedade nos sistemas de pontuação propostos pelas etiquetagens
analisadas.

Em suma, o presente trabalho assume como potencialidade ressaltar a importância de


trabalhar a sustentabilidade de edificações pela ótica holística e de forma multifatorial.
Urge estabelecer a relação e os impactos que os ambientes construídos exercem sobre a
saúde mental e física dos usuários. O Design Biofílico lança luz sobre a sustentabilidade

125
de edificações de forma a abarcar conceitos que reforcem a resiliência humana frente aos
ambientes construídos.

6.1. Limitações da pesquisa

O presente trabalho se vale do levantamento de dados oriundos das bases de pesquisa


científica a fim de compilar dados sobre sustentabilidade e o Design Biofílico. Os dados
qualitativos levantados por pesquisa de opinião têm o intuito, apenas, de corroborar com
a literatura científica levantada. Deste modo, não tendo como objetivo a análise
puramente estatística dos dados levantados.

6.2. Prospecções futuras do trabalho

Com o presente trabalho, foi possível analisar as possibilidades do Design Biofílico e seus
padrões na arquitetura de forma a envolver, também, no processo, a percepção do usuário
das edificações. Também foi possível analisar comparativamente os parâmetros do
Design Biofílico com os critérios abordados pelas certificações ambientais mais
utilizadas. Com isso, prospecta-se ser possível o desenvolvimento de uma ferramenta
ambiental avaliativa com foco voltado para os padrões biofílicos, a psicologia dos espaços
e de bem-estar do usuário.

O Design Biofílico também pode ser estudado e analisado pela ótica do urbanismo. Neste
trabalho, focou-se apenas na dimensão da escala edilícia. Nota-se alguns trabalhos
recentes na direção de uma escala maior de análise, sendo possível, assim, desenvolver
futuramente estudos e pesquisas relacionando os padrões biofílicos na esfera urbanística.

126
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135
8. APÊNDICE

8.1 Questionário

Padrões Biofílicos na Universidade de Brasília – Questionário

O questionário a seguir tem o intuito de validar os pontos levantados no primeiro


estágio da pesquisa que relaciona a biofilia e os espaços construídos. Tendo como
objeto de análise três edifícios da Universidade de Brasília (Reitoria, ICC, Memorial
Darcy Ribeiro), hipóteses foram levantadas relacionando o bem-estar e o conforto dos
usuários com elementos naturais ou estruturas que fazem alusão a elementos da
natureza. Estas hipóteses foram classificadas e denominadas Padrões Biofílicos:

1.Efeitos visuais criados por elementos naturais


2. Formas análogas a natureza na composição
3.Possibilidade de experiências extravisuais (tátil, auditiva)
4.Microclima –Constituição de pequenos ecossistemas
5. Elementos que possibilitam a ventilação e iluminação naturais
6. Enquadramento da paisagem
7. Caminhos e espaços internos que instigam a exploração
8. Pátina, marcas do tempo
9. Uso de elementos naturais por contraste
10. Uso de materiais em seu estado natural

Assim, cada pergunta do questionário tem como base um dos pontos citados, a fim de
correlacionar a experiência dos usuários com as hipóteses estipuladas pela primeira fase
da pesquisa.

136
PARTE I

Faixa de Idade:
0-15 Anos
15-30 Anos
30-45 Anos
45+

Tipo de usuário:
Aluno
Professor
Funcionário
Vistante
Outro

Portador de necessidades especiais?


Locomotora
Visual
Auditiva
Não se aplica

Prédio analisado:
ICC (Instituto Central de Ciências)
Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo)

Frequência de uso do espaço:


Diário (5 dias da semana)
Frequente (menos que 5 dias da semana)
Esporádico (visitas eventuais)

Tempo de permanência média (em 1 dia):

Mais de 12 horas
8 a 12 horas

137
4 a 8 horas
1 a 4 horas
Menos de 1 hora

PARTE II

• A iluminação natural no interior do prédio é suficiente para as atividades


na maior parte do dia.

Discordo totalmente 1 - 2 - 3 - 4 - 5 Concordo totalmente

• A forma externa do edifício é convidativa e instiga a descobrir seu


espaço interno.

Discordo totalmente 1 - 2 - 3 - 4 - 5 Concordo totalmente

• O espaço interno do prédio possibilita experiências positivas que


instiguem outros sentidos além da visão, como experiências auditivas, olfativas
e tato.

Discordo totalmente 1 - 2 - 3 - 4 - 5 Concordo totalmente

• As condições dos espaços internos fazem sentir-se confortável o


suficiente para passar longos períodos de tempo.

Discordo totalmente 1 - 2 - 3 - 4 - 5 Concordo totalmente

• A temperatura interna do edifício é agradável e há aberturas suficientes


para ventilação natural.

Discordo totalmente 1 - 2 - 3 - 4 - 5 Concordo totalmente

138
• Estando dentro do edifício, ter contato visual com a paisagem ao redor do
prédio é agradável.

Discordo totalmente 1 - 2 - 3 - 4 - 5 Concordo totalmente

• O percurso e disposição interna dos espaços no prédio é convidativo e de


fácil compreensão.

Discordo totalmente 1 - 2 - 3 - 4 - 5 Concordo totalmente

• As condições de manutenção do edifício (estado dos materiais, condições


dos jardins) tornam a experiência no prédio mais prazerosa.

Discordo totalmente 1 - 2 - 3 - 4 - 5 Concordo totalmente

• Os jardins e elementos naturais (Plantas, espelhos d'água) são um ponto


positivo no prédio.

Discordo totalmente 1 - 2 - 3 - 4 - 5 Concordo totalmente

• O uso de materiais em seu estado natural (concreto aparente, aço, vidro)


e a estrutura aparente enriquecem a experiência sensorial no prédio.

Discordo totalmente 1 - 2 - 3 - 4 - 5 Concordo totalmente

Fim do questionário

139
140

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