Design Biofílico Ampliando o Conceito de
Design Biofílico Ampliando o Conceito de
Design Biofílico Ampliando o Conceito de
BRASÍLIA
2021
PEDRO HENRIQUE FERREIRA MUZA
Orientadora:
Prof. ª Dr. ª Raquel Naves Blumenschein
BRASÍLIA
2021
Design Biofílico: Ampliando o Conceito de Sustentabilidade de
Edificações
APROVADA POR:
___________________________________________________
Prof.ª Dr. ª Raquel Naves Blumenschein (PPG-FAU/UnB) (Orientadora)
_______________________________________________
Prof. Dr. Luiz Pedro de Melo Cézar (FAU/UnB) (Examinador Interno)
___________________________________________________
Prof. ª Dr. ª Luciane Cleonice Durante (UFMT) (Examinadora Externa)
__________________________________________________
Prof. Dr. Caio Frederico e Silva (PPG-FAU/UnB) (Suplente)
FICHA CATALOGRÁFICA
Referência Bibliográfica
Cessão de Direitos
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 17
4. MÉTODO .................................................................................................................. 84
5. RESULTADOS ........................................................................................................ 93
Nesse sentido, faz-se necessária uma leitura crítica dos parâmetros de certificação com o
intuito de identificar quais pontos são passíveis de melhorias nos âmbitos ambiental e
social. Por conseguinte, o estudo destes parâmetros de sustentabilidade sob a ótica do
Design Biofílico tem grande potencial em enriquecer todo o processo projetual, em sua
aplicabilidade prática na preservação ambiental e no âmbito social.
Cole (2005) afirma que os sistemas de avaliação mais atuais, com foco na
sustentabilidade, ainda caracterizam uma geração em transição, pois são estruturas que
seguem os critérios das primeiras certificações. A tendência é que surjam novos modelos,
que darão suporte a padrões de edificações mais sustentáveis.
17
Mais recentemente, o conceito de sustentabilidade e suas dimensões vem abarcando
novas áreas e adquirindo um caráter multifacetário. Iaquinto (2018) argumenta, em suas
pesquisas, que se pode enxergar o desenvolvimento sustentável por diferentes óticas e
dimensões, tais como: ecológica ou ambiental, econômica, social, espacial ou territorial,
cultural, política (podendo ser nacional ou internacional), jurídico-política, ética,
psicológica e tecnológica. Essa afirmação está enraizada na conceituação proposta por
Sachs (2002), na qual o autor também argumenta o desenvolvimento como um processo
natural de evolução em “efeito cascata” (SACHS, 2004).
Biofilia é definida por Wilson (1984) como a inclinação inerente ao homem à natureza,
que até em tempos modernos contribui positivamente para a saúde mental e física do ser
humano. A ideia da biofilia origina-se do entendimento de que 99% da evolução da
espécie humana foi condicionada pelo ambiente natural e suas adversidades, e não por
atributos criados artificialmente pelo próprio homem.
As diretrizes afirmadas pela Building Research Establishment - BRE Group (2020) vão
de encontro com as propostas do Design Biofílico. Estabelecem nove parâmetros que
englobam a saúde e o bem-estar físico e psicológico proporcionado por edificações. Além
disso, sustentam a ideia de que essas qualidades do ambiente construído são uma
problemática multifatorial, ou seja, é necessária uma visão holística, não sendo algo que
pode ser sanado por uma ótica isolada destas categorias. Entende-se, aqui, o conceito de
holístico como uma forma de se observar um fenômeno como um todo, conjunto e
complexo. Uma solução de projeto muitas vezes requer uma consciência das interações
multidisciplinares.
Este trabalho tem como escopo analisar e discutir os parâmetros estabelecidos pelos selos
de certificação de sustentabilidade, Building Research Establishment Environmental
Assessment Method (BREEAM), Leadership in Energy and Environmental Design
(LEED) e o Alta Qualidade Ambiental (AQUA), sob a ótica dos conceitos do design
18
biofílico na arquitetura e na construção civil. Assim, tem-se o intuito de caracterizar quais
vetores e padrões de construções certificadas se alinham com o Design Biofílico.
1.1 Justificativa
Fatores psicológicos, como a ansiedade, podem produzir o mesmo efeito que os gases
tóxicos, incluindo problemas respiratórios, dor de cabeça e náuseas. A depressão, que
atinge 5% da população mundial, pode estar associada a gases poluentes. Sintomas
similares aos da depressão também podem ser causados por exposição a metais pesados
e a pesticidas (WESSELY; ROSE; BISSON, 2002).
19
recursos, responder mais efetivamente às partes interessadas e melhorar a qualidade de
vida presente sem comprometer o futuro. É a busca do equilíbrio entre a viabilidade
econômica que mantem as atividades e os negócios, as limitações do ambiente e as
necessidades da sociedade.
Segundo Browing et al. (2014), o Design Biofílico pode reduzir o estresse, melhorar a
função cognitiva e a criatividade, melhorar o bem-estar e acelerar o processo de cura.
Como a população mundial continua se urbanizando, esses benefícios são cada vez mais
importantes. Dada a rapidez com que uma experiência com a natureza pode provocar uma
resposta restauradora e dado o fato de que as empresas dos Estados Unidos da América
(EUA) desperdiçam bilhões de dólares todos os anos em produtividade devido a doenças
relacionadas ao estresse, o projeto que nos reconecta com a natureza - Design Biofílico -
é essencial para fornecer às pessoas oportunidades de viver e trabalhar em lugares e
espaços saudáveis com menos estresse e mais saúde e bem-estar geral.
20
Ambiente Construído (PISAC) acerca dos padrões biofílicos na arquitetura e na
construção e seus impactos na perspectiva de edificações sustentáveis e conforto
ambiental.
Esta pesquisa tem como objetivo identificar diretrizes norteadoras para ampliar o conceito
de construção sustentável, considerando padrões do Design Biofílico, a partir da literatura
científica, da perspectiva do usuário de edificações e dos critérios de avaliação de
certificações de construção sustentável.
O referencial teórico tem como objetivo reunir conceitos da psicologia ambiental, com o
intuito de firmar as bases teóricas que relacionam o espaço construído com a saúde mental
e física do ser humano. Essa parte do trabalho também se destina ao estudo de revisão
bibliográfica sobre o Design Biofílico.
O método de análise parte de uma revisão bibliográfica que busca identificar os padrões
biofílicos em bases científicas. Em seguida, esses padrões são utilizados em pesquisa de
opinião com usuários de prédios existentes do campus da Universidade de Brasília. O
trabalho também utiliza uma análise comparativa dos padrões associados ao Design
Biofílico com os critérios de avaliação de certificações ambientais: o AQUA-HQE, LEED
E BREEAM. Portanto, o trabalho desenvolve-se em três passos principais. O primeiro:
revisão bibliográfica, extraindo os padrões biofílicos mais recorrentes na literatura
científica. O segundo: aplicação de questionário a fim de aferir a afinidade de usuários de
espaços com os padrões identificados pela revisão bibliográfica. E o terceiro: análise das
convergências e similaridades entre os padrões biofílicos apresentados na primeira parte,
alvos da avaliação sobre forma de questionário, com os pré-requisitos de sustentabilidade
de edificações propostos pelas certificações ambientais
22
Figura 1 – Estrutura do trabalho
Fonte: Autor
23
2. DESIGN BIOFÍLICO
Não pode existir uma história da arquitetura dissociada da história da sociedade, bem
como uma história dos lugares dissociada da própria história. Todo espaço construído
surge em um contexto social, político e econômico, e toda obra é o resultado de decisões
políticas e dos conceitos de interesse dos diversos atores sociais, carregando sempre, de
uma forma ou de outra, um peso ideológico. Portanto, os espaços construídos podem ser
considerados um espelho do que é, pensa e faz um determinado grupo de pessoas
enquanto estrutura social (MONTANER, 2007).
Koolhaas (2011) defende em seu texto Junkspace (Espaço-lixo) que os seres humanos
vivem um momento infantário. Não há forma, apenas proliferação de soluções esgotadas.
A regularização é a nova criatividade. Neste mesmo contexto Koolhaas também questiona
as cidades pós-modernas:
24
“Será a cidade contemporânea como o aeroporto contemporâneo, igual a
todos os outros? […] Na medida que a identidade deriva da substância física,
do histórico, do contexto e do real, de certo modo não conseguimos imaginar
que algo contemporâneo – feito por nós – contribua para ela. […] A Cidade
Genérica está no caminho da horizontalidade para a verticalidade. O
arranha-céu parece ser a tipologia final, definitiva. Engoliu todo o resto. Pode
existir em qualquer lugar, em um campo de arroz ou no centro da cidade – já
não faz nenhuma diferença. As torres, agora, não estão mais juntas, estão tão
espaçadas que não interagem. Densidade no isolamento é o ideal.” (MAU;
KOOLHAAS; JENNIFER, 1995)
Baltazar (2010) argumenta que o capitalismo do século XIX conseguiu moldar o espaço
de acordo com suas próprias premissas, planejando-o. Isto significa que, a partir do século
XIX, o espaço planejado tem servido à economia capitalista para controlar (por restrição)
modos alternativos de produção. Em consequência disso, o que se observa atualmente no
design dos espaços é um desajuste do sustentável e do bem-estar humano. Pode-se dizer
que, em certa medida, as cidades e o espaço destinado à convivência se tornaram espaços
apáticos aos usuários, à medida que negam a natureza humana e sua necessidade de
contato com o natural.
Assim como na Psicologia Ambiental, Sommer (1973) argumenta em seu livro "A
conscientização do design" que as pessoas tendem a se acostumar com os ambientes em
que vivem, mesmo que sejam prejudiciais a elas. Para que se quebre a inércia de se viver
em um ambiente hostil, é preciso que se faça um extenso trabalho de conscientização, de
mudanças de hábito. Em uma pesquisa realizada na América do Norte, Dunlap (2011)
apontou que 83% dos estadunidenses expressaram preocupação com a atual qualidade de
vida e problemas ambientais e acreditavam que medidas drásticas deveriam ser tomadas
25
para reverter este quadro. Porém, apenas 18% acreditavam que essas mudanças e hábitos
mais saudáveis com o ambiente deveriam partir delas mesmas.
26
efeitos comportamentais da densidade, fatores comportamentais em ambientes
residenciais e institucionais, recreação ao ar livre e reações à paisagem.
Sommer (1979a) ainda idealiza que um edifício não precisa apenas corresponder às
mudanças nas circunstâncias sociais e tecnológicas, mas precisa, também, permitir às
pessoas a expressão de suas identidades individuais e coletivas. Sobre a urgente
necessidade de se conhecer as reais diretrizes de projeto por parte de usuários, pode-se
citar o caso do conjunto habitacional Pruitt-Igoe, projetado e construído nos anos 50 em
Saint Louis (Missouri, EUA). Este edifício foi construído seguindo pesquisas realizadas
sobre habitação coletiva no âmbito do Movimento Modernista, pela Universidade de
Harvard, sendo o projeto premiado pelo Instituto Norte-Americano de Arquitetos. Porém,
seu real desempenho foi posto em dúvida por uma série de eventos vândalos e criminosos
que ocorreram no edifício por parte dos moradores, culminando em sua total demolição,
em 1972.
Gunther e Flósculo (2003) argumentam que o que move boa parte das pesquisas em
Psicologia Ambiental é a avaliação e o impacto de obras arquitetônicas e desenhos
urbanos mal fundamentados no que diz respeito às reais necessidades dos usuários.
Ressaltam, também, que é de grande importância o entendimento por parte dos projetistas
dessas reais necessidades do futuro ocupante.
27
2.2. A Hipótese da Biofilia
O termo "biophilia" foi cunhado pelo psicólogo social Eric Fromm e mais tarde
popularizado pelo biólogo Wilson (1984). As diversas denotações - que evoluíram dentro
dos campos da biologia e da psicologia e foram adaptadas aos campos da medicina e da
arquitetura - se relacionam com a necessidade de uma (re)conexão com a natureza e os
sistemas naturais. Orians e Heerwagen (1992) sugerem que o ser humano pode estar
geneticamente predisposto a preferir certos tipos de ambientes e paisagens naturais.
Biofilia é definida por Wilson (1984) como a inclinação inerente ao homem à natureza
que até em tempos modernos contribui positivamente para a saúde mental e física do ser
humano. A ideia da biofilia origina-se do entendimento de que 99% da evolução da
espécie humana foi condicionada pelo ambiente natural e suas adversidades, e não por
atributos criados artificialmente pelo próprio homem.
Muito do que se trata ser como normal nos dias de hoje é relativamente recente em
comparação ao tempo de evolução do homem. Muitos dos inventos humanos, tais como
a produção de alimentos em grande escala, as cidades e as tecnologias ligadas à
eletricidade, podem ser considerados recentes se comparados ao período de evolução e
de adaptação do ser humano na Terra. Partindo desde princípio, é possível concluir que o
corpo humano, a mente e os sentidos podem ser mais aptos a responder em situações
naturais do que em situações artificiais e locais criadas pelo próprio ser humano.
O poder curativo de uma conexão com a natureza foi estabelecido pelo estudo de Roger
Ulrich (1993), que compara as taxas de recuperação de pacientes com e sem a natureza.
28
Browning e Romm (1994) sugerem que, com o surgimento do movimento de construção
ecológica no início dos anos 90, foram estabelecidas ligações entre a melhoria da
qualidade ambiental e a produtividade dos trabalhadores. Os ganhos financeiros
decorrentes de melhorias de produtividade terem sido considerados significativos, a
produtividade foi vista como um indicador de saúde e o bem-estar.
Biofilia é a conexão biológica inata da humanidade com a natureza. Isso ajuda a explicar
porque uma visão do jardim pode aumentar a nossa criatividade; por que as sombras e as
alturas instigam fascínio e medo; e porque a companhia animal e passear através de um
parque e ruas arborizadas têm efeitos restauradores e curativos. Biofilia também pode
ajudar a explicar por que alguns parques e prédios urbanos são preferidos sobre outros.
A ideia do design biofílico reforça a ideia de que a mente e o corpo humanos evoluem em
um mundo sensorialmente rico, que permanece crítico para a saúde emocional,
psicológica e espiritual. Em um período da história marcada por grandes indústrias,
manufaturas artificiais, engenharia eletrônica e massivos centros urbanos, representam
apenas uma pequena fração da história evolutiva da espécie humana. A humanidade
evoluiu em respostas adaptativas às condições e estímulos naturais, como a luz do sol,
clima, água, plantas, animais, paisagens e habitats, que permanecem essenciais para os
seres humanos e sua saúde.
Kellert e Finnegan (2011) argumentam que um dos maiores desafios no design biofílico
é abordar a lacunas na arquitetura contemporânea. Nesse sentido, visa propor uma nova
estrutura para beneficiar a experiência de contato com a natureza na edificação e no meio
ambiente natural. Heerwagen et at. (2008) argumentam que este design apresenta uma
nova dimensão aos projetos arquitetônicos, denominado "design ambiental restaurativo".
Além de incentivar e melhorar o contato entre as pessoas e a natureza no contexto urbano,
o design biofílico também visa minimizar impactos ambientais, preservando os recursos
naturais e assumindo estratégias preservação ambiental.
29
A natureza pode ser usada no projeto de edifícios de várias maneiras: formas, materiais,
símbolos e espaços que fazem referências à natureza. Ao longo da história da arquitetura,
o design biofílico se expressou de maneiras diferentes. Nem sempre identificado ou
consciente, transmitiu certa subjetividade usando vários dispositivos que atestam o
vínculo entre a natureza e o ser humano (SÖDERLUND; NEWMAN, 2017a).
30
disposição espacial em um determinado momento favoreceu ao indivíduo uma melhor
vivência social, proporcionada pelos fatores ambientais.
Um fator psicológico, como a ansiedade, pode produzir o mesmo efeito que gases tóxicos,
incluindo problemas respiratórios, dor de cabeça e náuseas (WESSELY, 2000). O número
de pessoas que vive com depressão, segundo a Organização Mundial da Saúde, está
aumentando – 18% entre 2005 e 2015. A estimativa é que, atualmente, mais de 300
milhões de pessoas de todas as idades sofram com a doença em todo o mundo. No Brasil,
cerca de 5,8% da população brasileira sofre de depressão – um total de 11,5 milhões de
casos (OMS, (2017). Sintomas similares causados pela depressão também podem ser
causados por exposição a metais pesados e a pesticidas (WESSELY, 2000)
O nível de estresse, quando dosado, pode ser benéfico para a nossa associação e adaptação
ao meio. Kandel et al. (2013) afirma que o estresse de curto prazo, que aumenta a
frequência cardíaca e os níveis de hormônio do estresse, e que acontece, por exemplo, ao
encontrar um espaço desconhecido e complexo ou olhar sobre um corrimão para 8 andares
abaixo, é sugerido como benéfico para a regulação da saúde fisiológica. Porém, o que se
observa, especialmente em grandes centros urbanos, é alto o estímulo do mecanismo de
estresse do corpo, devido ao modo de vida corrido, à interação com o artificial do entorno
e à pobre vivência proporcionada pelas edificações e cidades como um todo.
31
como diminuição da pressão arterial e níveis de hormônio do estresse na corrente
sanguínea (PARK et al., 2009).
A falta de contato com a natureza, bem como o modo de consumo e a negligência com o
meio ambiente fazem com que as cidades se tornem meios hostis à vida humana,
aumentando a frequência de doenças, o estresse e diminuindo a qualidade de vida da
população. O sistema fisiológico precisa ser testado regularmente, mas apenas o
suficiente para o corpo permanecer resiliente e adaptável. As respostas fisiológicas aos
estressores ambientais podem ser amenizadas através do design, permitindo a restauração
dos recursos corporais antes do dano ao sistema ocorrer (STEG, 2007).
A pesquisa aponta para a preferência humana pelo ambiente natural sobre o artificial.
Wilson (1984) popularizou o conceito de biofilia. Este conceito destaca a necessidade de
uma conexão entre a natureza e o ser humano, possibilitando respostas restauradoras na
saúde do indivíduo. Wilson (1979) argumenta que o contato com a natureza é algo que os
humanos necessitam para o bem-estar. O trabalho de Wilson também aponta que os
indivíduos são geneticamente predispostos e programados para responder a estímulos
naturais, tanto fisiológica quanto psicologicamente. Enquanto isso, o termo biofilia já
havia sido usado e definido pelo psicanalista Fromm (1964) em suas produções acerca da
essência do ser humano. Em termos gerais, ele o explicou como o amor do ser humano
pela vida.
Como já apontado anteriormente, o poder de cura de uma conexão com a natureza foi
estabelecido pelo estudo de Ulrich (1993) que compara as taxas de recuperação de
pacientes com e sem natureza. Browning e Romm (1994) sugerem que com o surgimento
do movimento de construção ecológica no início dos anos 1990, ligações foram
estabelecidas entre qualidade ambiental e produtividade do trabalhador. Portanto, pode
ser possível relacionar a importância de a arquitetura para os usuários dos espaços
construídos, enfatizando seu impacto no bem-estar.
Em geral, estudos sobre os impactos dos ambientes e elementos naturais nas pessoas
podem ser observados tanto nos aspectos fisiológicos e psicológicos da saúde. Por
exemplo, os estudos de McCaffrey e Liehr (2016) e Grafetstatter et al. (2017)
demonstram níveis reduzidos de estresse, depressão e ansiedade em pacientes, enquanto
32
Latkowska (2015) e Berger (2017) apontam para redução da dor e do tempo de
recuperação.
2.3.2. Aplicabilidades
33
Figura 2 - Igreja Espírito Santo do Cerrado, Lina Bo Bardi, Uberlândia/MG
34
Figura 3 – Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek Lago Norte, Arquiteto Lelé -
Brasília/DF.
O High Line de Nova York (EUA) é o exemplo mais simbólico sobre Design Biofílico
em espaços públicos. Projetado por James Corner Field, a desativada linha férrea tem
mais de 2 quilômetros de trecho restaurado, integrando na paisagem mais de 300 espécies
de forrações, arbustos e árvores. Mais de quatro milhões de pessoas visitam o High Line
35
por ano, fazendo dele o parque público mais visitado por metro quadrado. Espaços
urbanos integrados com a natureza também ajudam a diminuir consideravelmente a
temperatura do ar urbano e amenizar os efeitos de ilha de calor (FRIENDS OF THE HIGH
LINE, 2020).
36
2.4. Análise Bibliométrica
A revisão bibliométrica foi realizada para prospectar o volume de produções que acerca
do tema. A busca pelas produções científicas foi realizada nas bases de dados do Portal
de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível (CAPES),
Superior Web of Science, Scopus e no catálogo de teses e dissertações da CAPES. O
recorte temporal foi estipulado como itens publicados no espaço de dez anos (2010 a
2020). As palavras utilizadas para a busca foram Biophilic Design (Design Biofílico),
Architecture, (Arquitetura) e Sustainability (Sustentabilidade). Nesta fase, foram levados
em consideração o título, o resumo e as palavras-chave do artigo para validar seu uso.
Foram identificados 283 artigos, não se utilizando nenhum outro critério para corte além
do espaço temporal citado.
Nas bases brasileiras, não foi encontrado número significativo de produções que se
enquadrassem no escopo deste trabalho. No catálogo de teses e dissertações, nenhuma
produção foi encontrada. O número de artigos publicados por ano apresenta um aumento
em relação a 2010. Nesse sentido, alguns países se destacam pelo número de publicação,
como Estados Unidos, Itália e China. O aumento de publicações pode ser visualizado no
gráfico (figura 5) e a classificação de países por número de publicações pode ser
constatada no quadro 1.
37
Figura 5 – Gráfico de produções científicas acerca do tema
Fonte: Autor
38
No software, os mapas são o resultado diagramático da análise de algum item. Os itens
são os objetos de interesse, podendo ser publicações, pesquisadores ou termos. Os links
indicam a relação entre dois itens. Para esses links, são atribuídos valores numéricos de
força que são positivos e quanto maiores, maior a relação entre os itens. Os itens são
agrupados em clusters, baseado na força que existe entre os seus links. A junção dos itens
e links forma a rede de dados. Essas redes são apresentadas como mapas na interface do
software.
Com base nos 283 artigos selecionados relacionados ao Design Biofílico, foram gerados
mapas de correlação a partir de palavras-chaves mais relevantes contidas nas produções
científicas. Com isso, pode-se ter um melhor entendimento sobre como o tema é abordado
e relacionado mundialmente. Abaixo tem-se o mapa de correlações produzido com o
software VOSviewer (figura 6). Pode-se dividir em três grupos temáticos principais,
apontados no quadro 2.
39
Quadro 2 – Núcleos gerados levando em consideração palavras-chave mais utilizadas
Núcleo 1 (Vermelho) Núcleo 2 (Azul) Núcleo 3 (Verde)
Benefícios Verde Design Biofílico
Impacto Recuperação Urbanismo Biofílico
Ambiente Exposição Sustentabilidade
Modelo Ambiente Cidades
Design Recuperação do estresse Estrutura verde
Estresse Bem-estar
Design Biofílico
Fonte: Autor
Em outra visualização produzida com a ajuda do VOSviewer (figura 4), pode-se analisar
o surgimento dos assuntos em linha cronológica. Neste caso, a coloração azul se refere a
assuntos mais antigos, indo até o outro extremo, amarelo, que representa temáticas mais
recentes relacionadas ao Design Biofílico. É possível inferir da análise desses mapas que
os temas mais consolidados sobre a biofilia na arquitetura são, em geral, relacionados à
saúde humana, benefícios e recuperação. Já os temas mais novos relacionam-se com
performance, impacto e modelo. Essas palavras podem indicar novas pesquisas e áreas
de interesses na pesquisa do design biofílico. Por exemplo, áreas da arquitetura que
envolvem estudos de impacto, performance energética, simulações computacionais e
BIM (Building Information Modeling).
40
Figura 4 - Gráfico gerado com o programa VOSviewer. Relação entre as palavras-
chave mais utilizadas com o ano das publicações
Fonte: Autor
Esta parte do trabalho se propõe a identificar quais padrões do Design Biofílico são mais
citados nas produções cientificas. Para tanto, utilizou-se o volume de produções
identificadas no estudo bibliométrico, salvo produções publicadas de 2019 em diante. Os
padrões de seleção nesta etapa foram similares aos aplicados na análise da bibliometria.
Utilizou-se as bases de dados da Web of Science, Scopus e Scielo. Não foram encontradas
publicações relevantes para esta pesquisa no catálogo de teses e dissertações da CAPES.
O recorte temporal utilizado foi do período de 2010 a 2019. As palavras-chave de busca
foram “Design Biofílico”, “Arquitetura” e “Sustentabilidade”. Nesta primeira fase, foi
levado em consideração como critério de seleção o título e as palavras-chave do artigo.
No total, foram identificados 215 artigos publicados. O processo de revisão literária é
explicitado na figura 5:
41
Figura 5 – Processo de Revisão de Literatura
Fonte: Autor
Na segunda fase de seleção de trabalhos, foi feita a leitura dos resumos dos 215 artigos
pré-selecionados na primeira fase. Nessa etapa, foi levada em consideração a adequação
ao tema, bem como a seleção de trabalhos que tinham como foco principal o debate acerca
dos padrões do Design Biofílico na arquitetura. Destes trabalhos, 40 artigos foram
42
selecionados para a terceira etapa de avaliação, que consistiu na leitura integral dos
artigos. A última etapa de seleção levou em consideração o método de análise de
relevância ilustrado por Dresch, Lacerda e Antunes (2015). Conforme a afinidade do
trabalho com a presente pesquisa, o mesmo poderia ser classificado de acordo com o
quadro 3:
Os padrões de Design Biofílicos podem ser entendidos como soluções formais, técnicas
e ou tecnológicas empregadas em edificações. Os artigos selecionados para este trabalho
tiveram que apresentar alta relevância, ou seja, que apresentam, de forma sistematizada
ou clara, padrões de arquitetura alinhados com o Design Biofílico. O método de análise
foi inspirado nos resultados de um estudo realizado por Terrapin Bright Green (2014),
que consiste na identificação de padrões que favorecem e reforçam os laços entre o
43
ambiente construído e o ambiente natural. Os 40 artigos selecionados foram listados
abaixo (quadro 4) e classificados de acordo com o método de Dresch, Lacerda e Antunes
(2015):
44
19 Kayihan, KS (2018) Alto Baixo Baixo Baixo
20 Kayihan, KS (2017) Alto Médio Médio Médio
21 Barreiros, C (2018) Alto Médio Médio Médio
22 Purani, K, Kumar, DS. Alto Médio Médio Médio
(2018)
23 Rosenbaum, MS (2018) Alto Baixo Baixo Baixo
24 Söderlund, J, Newman, Alto Médio Médio Médio
P (2017b)
25 Reeve, A (2017) Alto Baixo Baixo Médio
26 Mazuch, R (2017) Alto Baixo Baixo Baixo
27 Gillis, K, Gatersleben, Alto Alto Alto Alto
B (2015)
28 Söderlund, J, Alto Alto Alto Alto
Newman, P (2015)
29 Gray, T, Birrell, C. Alto Médio Médio Médio
(2014)
30 Akande, Q.O., Aduwo, Alto Alto Alto Alto
E.B. (2019)
31 Tahoun, Z.N.A (2019) Alto Alto Alto Alto
32 Gierbienis, M (2019) Alto Médio Médio Médio
33 Fisher, K. (2019) Alto Médio Alto Alto
34 Yen, T.S. (2018) Médio Baixo Baixo Baixo
35 Ramzy, N.S. (2015) Médio Baixo Baixo Baixo
36 Ryan, C.O. et al. Alto Alto Alto Alto
(2014b)
37 Kellert, Calabrese Alto Alto Alto Alto
(2015)
38 Hidalgo, A.K. (2014) Alto Alto Alto Alto
39 Obiozo, R., Smallwood, Alto Médio Médio Médio
J. (2013)
40 Almusaed, A. (2011) Alto Médio Médio Médio
Fonte: Autor
45
Com base na tabela anterior, extraiu-se os autores e trabalhos com classificação de
interesse “Alto” nas três categorias, a fim de fazer uma análise mais profunda. Assim,
foram selecionadas nove publicações. O critério de escolha foi baseado na afinidade de
temas e de metodologia com esta presente pesquisa. Os itens analisados para a escolha
foram: artigos que continham em sua revisão bibliográfica a análise de padrões biofílicos
na arquitetura, trabalhos que propunham uma aplicabilidade dos padrões biofílicos em
prédios existentes, por meio de estudos de caso ou de pesquisa de opinião. Os artigos
estão listados no quadro 5 abaixo:
46
7 Akande, Q. O, 2019 Assessment of Biophilic Design Patterns on Skill
Aduwo, E. B. Development, In Minna, Niger State
(2019)
8 Gillis, 2015 A Review of Psychological Literature on the Health
Gatersleben and Wellbeing Benefits of Biophilic Design
(2015)
9 Ryan, C.O. et 2014 BIOPHILIC DESIGN PATTERNS Emerging
al. (2014b) Nature-Based Parameters for Health and Well-
Being in the Built Environment
Fonte: Autor
Kellert e Finnegan (2011) argumentam que um dos maiores desafios no Design Biofílico
é abordar as lacunas na arquitetura contemporânea. Nesse sentido, visa propor uma nova
estrutura para priorizar, na edificação, a positiva experiência de contato com a natureza.
O Design Biofílico apresenta uma nova dimensão aos projetos arquitetônicos,
denominada “design ambiental restaurativo” (KELLERT; HEERWAGEN; MADOR,
47
2008). Essa dimensão estabelece conexão direta entre os elementos do espaço e as
respostas de cura e mecanismos de recuperação da harmonia e saúde do corpo humano.
A natureza pode ser usada no projeto de edifícios de várias formas: formas, materiais,
símbolos e espaços que fazem referências à natureza. Ao longo da história da arquitetura,
o design biofílico se expressou de maneiras diferentes. Nem sempre identificado ou
consciente, transmitiu certa subjetividade usando vários dispositivos que atestam o
vínculo entre a natureza e a mente humana. e o ser humano (SÖDERLUND; NEWMAN,
2017a).
Quatorze atributos de Design Biofílico que podem ser aplicados ao design de ambientes
construídos e na arquitetura da paisagem foram elencados por Browning et al (2014a).
Enquanto Kellert (2008) em sua pesquisa, categoriza os padrões biofílicos de design em
categorias, tais como “orgânico ou naturalista” e “local ou vernacular” e outras. Dessas
categorias, cerca de setenta características do Design Biofílico podem ser observadas. O
autor argumenta que a classificação desses parâmetros pode ajudar designers a aplicar, de
forma prática, os conceitos de design biofílico no desenvolvimento de projetos.
48
indiretamente a elementos naturais e que proporcionam contato com a natureza para o
usuário dos edifícios. Portanto, estabelecem uma maior conexão entre elementos
construtivos, o natural e o humano, tendo o potencial de impactar positivamente pessoas.
Na tabela abaixo (quadro 6) são listados os padrões biofílicos encontrados
recorrentemente nos trabalhos selecionados na etapa de revisão de literatura.
49
Imagens do - - - - - - - -
natural – Ou seu
uso por contraste.
Materiais naturais - - - - - - - - -
Conexão não - - - - - - -
visual com
natureza (audição,
olfato, tato)
Cores naturais - - - - - - - - -
Formas naturais - - - - - - - - -
Evocação da - - - - - - - -
natureza
Possibilidade de - - - - - - -
experiências
extravisuais
Geometria natural - - - - - - - -
- Formas análogas
Biomímese – - - - - - - - -
Formas análogas
Prospecção e - - - - - - - - -
refúgio
Organização - - - - - - - - -
complexa
Integração de - - - - - - - -
partes com o todo
Espaços de - - - - - -
transição
Mobilidade e - - - - - - -
espaços para
explorar
Vínculo cultural e - - - - - -
ecológico
Fonte: Autor
50
2.5.2. Características dos padrões biofílicos
51
de luz conforme o dia, mostra-se importante para a saúde dos usuários. No âmbito
nacional, a norma de desempenho NBR 15 575 apresenta parâmetros mínimos de
iluminação para os ambientes residenciais. As certificações ambientais também
estabelecem níveis ideais próprios de iluminação para ambientes.
2.5.2.4. Animais
A presença de vida animal tem sido parte integrante da experiência das pessoas ao longo
da evolução humana. Ainda assim, sua ocorrência no ambiente construído pode ser
desafiadora e ocasionalmente controversa. O contato com a vida animal pode ser
alcançado por meio de estratégias de design como alimentadores, telhados verdes, jardins,
aquários e o uso criativo de tecnologias. Quando possível, o contato com a vida animal
deve incluir uma diversidade de espécies e enfatizar espécies nativas. Nesse aspecto,
52
pode-se destacar a possibilidade de criação de um ecossistema saudável e integrativo, a
presença de animais de diferentes espécies no ambiente circundante de edificações pode
ser indicativa de um ambiente natural desenvolvido.
53
2.5.2.8. Cores naturais
A cor sempre serviu como um fator importante para localizar alimentos, água e outros
recursos, bem como para facilitar o movimento e orientação. O uso efetivo de cor no
ambiente construído pode ser um desafio, dada a capacidade moderna de gerar cores
artificiais, especialmente brilhantes. A aplicação biofílica eficaz de cor deve geralmente
favorecer tons suaves de "terra" característicos de solos, rochas e plantas. Nesse sentido,
a psicologia das cores corrobora para o aspecto desse padrão.
54
Figura 9 – Proporção Áurea e a Sequência de Fibonacci
Fonte: Autor
55
2.5.2.13. Espaços de transição, Integração de partes com um todo. Mobilidade e
espaços para explorar
Navegar com sucesso em um ambiente muitas vezes depende de conexões claramente
compreendidas entre espaços, facilitadas por transições. Espaços de transição
proeminentes incluem corredores, limiares, portas, portais e áreas que ligam o dentro e
fora de casa, especialmente varandas, pátios, pátios, colunatas, dentre outros. O conforto
das pessoas e seu bem-estar frequentemente dependem da movimentação livre entre
diversos ambientes. Caminhos claramente compreendidos e os pontos de entrada e saída
são especialmente críticos para promover a mobilidade e sentimentos de segurança,
enquanto sua ausência gera, muitas vezes, confusão e ansiedade.
A psicologia ambiental expõe de forma analítica como o meio em que se vive exerce
influência em nossa saúde, forma de viver e até mesmo de pensar e enxergar a realidade.
O caminho oposto também se mostra verdadeiro, somos capazes de influenciar o meio
em que vivemos e somos seres ativos na construção do ambiente construído. Nesse
sentido, a arquitetura ganha dimensões significativas na saúde tanto física como mental e
até mesmo espiritual do indivíduo.
56
seus aspectos é explicada pela grande parte do processo evolutivo que a humanidade
passou sendo estimulada pela natureza. O contraponto e dilema atual de centros urbanos
densos e espaços artificiais, como visto na formulação teórica deste capitulo, pode dar
margem ao aumento de doenças respiratórias, ao aumento de estresse e ao aumento de
doenças mentais na população.
57
3. CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS
58
A noção da sustentabilidade origina-se de duas esferas: da biologia, por
intermédio da ecologia, e da economia. Quanto à primeira, alude à
capacidade de regeneração e reprodução dos sistemas ecológicos (resiliência)
diante das perturbações antropogênicas (no uso excessivo dos bens naturais,
desmatamento, fogos, dentre outros) ou ecológicas (terremoto, tsunami, fogo
e outros). Em relação à segunda noção, refere-se à adjetivação de
desenvolvimento, diante da percepção no decorrer do Século XX de que o
paradigma produtivo e de consumo em larga expansão não pode persistir.
Para isso, surge a sustentabilidade sob a ótica da limitação dos recursos
ecológicos e sua gradual e ameaçadora redução. Esse entendimento
palmilhou uma longa trajetória histórica até chegar o que é hoje e as suas
origens mais recentes foram germinadas na década de 1950 quando a
humanidade percebe o risco ecológico planetário, a saber, a poluição nuclear
(NASCIMENTO, 2012, p. 20).
59
desenvolvimento e preservação, em uma perspectiva de promoção da equidade e da
sustentabilidade socioambiental (VEIGA, 2006).
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92),
realizada no Rio de Janeiro em 1992, 20 anos após a Declaração de Estocolmo, teve como
principal objetivo obter, através de negociações, a redução na concentração de gases
estufa na atmosfera, limitando a interferência do homem nos sistemas climáticos.
A Eco 92 coloca em evidência a necessidade de uma cooperação mais unitária entre
países, governos e entidades globais, bem como declarações afirmadas em Estocolmo. Na
ocasião, publicou-se a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
documento que marca os alicerces para programas que incitam a cooperação internacional
em prol do desenvolvimento sustentável (IICA, 1994).
A adoção pela ONU deu peso político ao conceito de sustentabilidade, que teve seus
princípios pactuados pelos países na Eco 92 e materializados em cinco documentos:
Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento; Convenção
sobre Mudanças Climáticas; Declaração de Princípios sobre Florestas; Convenção sobre
a Biodiversidade e Agenda 21 (PNUD, 2000).
Em 1996, na Habitat II, em Istambul, a urbanização passou a ser vista como uma
oportunidade, e as cidades, enquanto vetores de desenvolvimento. A Conferência de
Istambul foi fundamental para o reconhecimento internacional do direito à moradia e
influenciou, no Brasil, marcos importantes, a exemplo da aprovação do Estatuto da
Cidade (2001), a criação do Ministério das Cidades em 2003 e, em seguida, do Conselho
das Cidades em 2004.
60
Sustentáveis. A discussão sobre qualidade devida nas cidades vem de longo
tempo mas só tomou vulto nos últimos dez anos, graças aos impulsos dados
pela Rio-92 e pela Conferência Habitat II, assim como pela necessidade de
dar transversalidade às questões ambientais, inclusive no contexto das
políticas urbanas que representam o grande desafio (MMA, 2003, p. 35).
Nos documentos oriundos do Habitat I e II, pode-se perceber uma mudança de enfoque
sobre as cidades e o seu impacto no desenvolvimento e consolidação das organizações
sociais. Tanto os ambientalistas quanto os urbanistas defendem a ideia de reconfigurar a
paisagem urbana tendo como parâmetros e diretrizes as estratégias ecológicas, o
equilíbrio energético, o conforto ambiental, a pegada ecológicas, dentre outros (MMA,
2003).
61
desafiadores no que tange à industrialização. Este documento tratava ainda de táticas de
ação, terminologias e diretrizes globais que poderiam auxiliar agendas mais locais a serem
criadas na realidade de cada país (CIB UNEP-IETC, 2002).
John et al (2001) argumenta que uma nova Agenda 21 para Construções Sustentáveis foi
desenvolvida em 2002 para a realidade de países em desenvolvimento. Nesse sentido, a
agenda incorpora novos desafios vivenciados por esses países, estimulando a troca de
conhecimento e discussão acerca de possíveis gargalos.
62
Lopes (2013) argumenta que, na construção civil, a certificação ambiental pode funcionar
como ferramenta para difundir ações sustentáveis no setor. Cria também condições para
cobrar processos de inovação dos empreendimentos, estabelecendo um processo de
gestão dos possíveis impactos gerados pela construção. Por se tratarem de sistemas de
classificação que geram níveis e metas a serem alcançadas, as certificações ambientais
podem direcionar o setor da construção civil para atitudes mais alinhadas com os
conceitos da sustentabilidade. Esse processo pode gerar um processo contínuo alinhado
com a maioria das agendas sustentáveis no mundo.
Cole (2005) afirma que os sistemas de avaliação mais atuais, com foco na
sustentabilidade, ainda se caracterizam como uma geração em transição, pois são
estruturas que seguem os critérios das primeiras certificações. A tendência é que surjam
novos modelos, que darão suporte a padrões de edificações mais sustentáveis.
63
referência ao passo em que as práticas tidas como avançadas anteriormente passam a ser
absorvidas pelo mercado da construção civil.
• Procel Edifica
• BREEAM in use
• Selo Sustentabilidade Condominial Falcão Bauer
• LEED
• AQUA – HQE
• Selo CONPET
• Selo Certificação da Acessibilidade Falcão Bauer
• WELL
• GBG Zero Energy
Essas certificações podem ser classificadas como voluntárias, no sentido de que sua
obtenção não é obrigatória para o início ou gestão de qualquer empreendimento. No mais,
oferecem vantagens comerciais devido ao panorama no qual os consumidores atualmente
procuram alternativas mais sustentáveis de consumo (SEBRAE, 2016).
Em 2014, um estudo global desenvolvido pela Kantar Media visava entender o padrão
dos consumidores e seus interesses em escala global. No Brasil, a pesquisa ficou ao
64
encargo do IBOPE Media Brasil, sendo entrevistada uma amostra de 20.000 pessoas. Os
dados brasileiros apontaram que 69% da população estaria inclinada a pagar mais por
produtos sustentáveis, o que mostra, de forma expressiva, sua preocupação com questões
ambientais. Nesse quesito o Brasil ficou atrás apenas de países como República
Dominicana (83%), Equador (74%) e China (71%), sendo a média global de 45%
(IBOPE, 2014).
Com o passar do tempo, é possível inferir que as certificações, de modo geral, foram
englobando novas categorias e critérios de avaliações. Recursos para se atualizar, e
também para melhor atender as demandas da sociedade e do mercado da construção civil
e indústria. Mais recentemente, critérios que abarcam a saúde mental e fisiológica das
ocupantes têm sido um grande diferencial na pontuação das certificações. Outro aspecto
importante é a incorporação de métodos que avaliam a opinião do usuário em relação ao
conforto das edificações nos próprios sistemas de avaliação das etiquetagens.
3.2.1. BREEAM
65
• BREEAM Infrastructure, para projetos de infraestruturas do domínio público;
• BREEAM New Construction, para construções novas (habitação e edifícios
comerciais);
• BREEAM In-Use, para edifícios comerciais existentes;
• BREEAM Refurbishment and Fit-Out, para reabilitação de edifícios
(habitação e edifícios comerciais).
66
No quadro 7, são compilados os parâmetros retirados do manual do BREEAM. Para fins
da pesquisa, foi adotado o manual que contempla o tipo de uso de edificações existentes,
“BREEAM in use”. Nesse sistema, a avaliação é feita em duas partes, sendo a primeira
referente a itens da edificação em si, e a segunda parte, com itens referentes à manutenção
e à gerência da edificação.
67
- Disponibilização de
áreas de descanso e
acessos
para o espaço interno /
externo
- Design Inclusivo
- Fornecimento de água
potável para consumo
(apenas comercial)
- Gerenciamento de riscos
aleatórios (apenas
residencial)
3. Energia - Eficiência energética da - Desempenho energético
envoltória operacional
- Eficiência de sistemas de - Auditoria energética
serviços instalados - Relatório de consumo
- Geração de energia energético
renovável - Redução de emissão de
- Capacidade de carbono
monitoramento energético
- Eficiência energética de
luzes do exterior e
elevadores
4. Transporte - Modos alternativos de - Não avaliado
transportes
- Proximidade de pontos
públicos de transporte
- Proximidade de pontos
convenientes
- Segurança de pedestre e
ciclistas
5. Água - Monitoramento de água - Consumo de água
- Reciclagem de água
68
- Eficiência das instalações - Relatório do consumo de
e equipamentos água
hidráulicos - Estratégias para
- Prevenção e detecção de manutenção e
vazamentos melhorando os sistemas
- Uso de fontes hidráulicos
alternativas de água
6. Recursos - Pesquisa das condições - Procedimentos
- Instalações de sustentáveis
reutilização e reciclagem - Otimizar uso, reuso e
- Inventário de recursos reciclagem
- Futuras adaptações
7. Resiliência Acompanhamento de - Planos de emergência e
riscos de alagamentos de riscos físicos
- Mitigação dos impactos relacionados ao clima
do escoamento superficial - Riscos relacionados a
da água mudanças de clima
- Avaliação de riscos e - Riscos sociais
perigos naturais - Gerenciamento de risco
de incêndio
- Gerenciamento de risco
de segurança
8. Uso do solo e - Áreas arborizadas - Relatórios ecológicos
ecologia - Características - Gerenciamento de
ecológicas de áreas biodiversidade
naturais
9. Poluição - Minimização de poluição - Redução do período
de rios noturno – Poluição
- Estoque de químicos luminosa
- Qualidade do ar local
- Potencial de aquecimento
global por fluidos
refrigerantes
69
-Detecção de vazamentos
de fluidos refrigerantes
Fonte: BREEAM - Adaptado. Disponível em: https://files.bregroup.com/breeam/BREEAM-In-Use-
International_What-BIU-Assesses.pdf
3.2.2. LEED
Para obter o certificado LEED é preciso uma análise da equipe de projeto e pelos
investidores, considerando o ciclo de vida da edificação. Considerando a possibilidade da
etiquetagem, é importante escolher uma das categorias oferecidas pelo método LEED. O
processo de requerimento pode ser feito pela internet. É preciso fornecer a documentação
para atestar as práticas obrigatórias ao longo do processo. Na última etapa é realizada uma
revisão geral do projeto junto com a documentação ao longo do processo. Após toda essa
verificação, define-se a concessão ou não do certificado ao empreendimento (GBC,
2015). O processo de certificação LEED pode ser acompanhado na figura 12.
70
• LEED Schools: concepção e construção de escolas;
• LEED EB® (Existing Buildings): eficiência operacional e manutenção de edifício
já existente;
• LEED Healthcare®: unidades de saúde;
• LEED Retail NC e CI®: lojas de varejo.
71
Quadro 8 – Sistema de critérios – LEED – In Use
Categoria Critérios
1. Localização e transporte - Transporte alternativo
2. Terrenos sustentáveis - Política de gestão do terreno (item
obrigatório)
- Desenvolvimento do terreno, proteger
ou restaurar habitat
- Gestão de águas pluviais
- Redução de ilhas de calor
- Redução da poluição luminosa
- Gerenciamento do terreno
- Plano de melhorias do terreno
3. Eficiência Hídrica - Redução do uso de água do interior
(item obrigatório)
- Medição da água do edifício (item
obrigatório)
- Redução do uso da água no exterior
- Uso de água de torre de resfriamento
- Medição de água
4. Energia e Atmosfera - Melhores práticas de gestão de
eficiência energética (item obrigatório)
- Desempenho mínimo de energia (item
obrigatório)
- Medição de energia do edifício (item
obrigatório)
- Gerenciamento fundamental de gases
refrigerantes
- Comissionamento de edifício existente
– análise
- Comissionamento de edifício existente
– implementação
- Comissionamento contínuo
- Otimizar desempenho energético
72
- Medição de energia avançada
-Resposta à demanda
- Energia Renovável e compensação de
carbono
- Gerenciamento avançado de gases
refrigerantes
5. Materiais e Recursos - Política de compras e resíduos (item
obrigatório)
- Política de manutenção e reforma das
instalações (item obrigatório)
- Compras – em andamento
- Compras – lâmpadas
- Compras – Manutenção e reforma das
instalações
Gerenciamento de resíduos sólidos – Em
andamento
Gerenciamento de resíduos sólidos –
Reformas e Ampliação das instalações
6. Qualidade do ambiente interno - Desempenho mínimo de qualidade do ar
(item obrigatório)
- Controle Ambiental de fumaça de
tabaco (item obrigatório)
- Política de limpeza verde (obrigatório)
- Programa de gerenciamento da
qualidade do ar
- Conforto térmico
- Iluminação interna
- Luz natural e vistas de qualidade
- Limpeza verde- Avaliação de eficiência
de limpeza
- Limpeza verde – Produtos e materiais
- Limpeza verde – Equipamentos
- Gerenciamento integrado de pragas
73
- Pesquisa de conforto do ocupante
7. Inovação - Inovação
- Profissional acreditado LEED
8. Prioridade regional - Prioridade regional: Crédito específico
Fonte: GBC US – Adaptado. Disponível em: https://www.usgbc.org/resources/leed-v4-building-
operations-and-maintenance-current-version.
3.2.3. AQUA-HQE
Hilgenberg et al. (2011) esclarece que o certificado AQUA nasce em 2007 tendo como
referencial o Sistema Francês Haute Qualité Environnementale (HQE). Para a obtenção
do certificado AQUA existem referenciais específicos para quatro categorias
consolidadas (edifícios de escritórios e escolas; hotéis; edifícios comerciais; e edifícios
habitacionais). O referencial para edifícios em operação está ainda em fase de testes. Há
projeto para desenvolvimento de referenciais para certificação de prédios hospitalares,
estradas, bairros e complexos esportivos. Deste modo, o AQUA configura uma
certificação com amplo espaço para experimentação.
Pode-se dizer que o método de avaliação do AQUA abrange de forma inclusiva o ciclo
de vida das edificações, contemplando variáveis como a construção de novos
empreendimentos, reformas e operabilidade. Esta certificação pode ser aplicada em
edifícios comerciais, residências. Também leva em consideração aspectos urbanísticos.
O processo de certificação proposta por este selo é ilustrado na figura 9 abaixo:
74
Figura 13 – Processo de Certificação AQUA-HQE
75
- Medidas tomadas pelo utilizador para
limitar o impacto ambiental dos
deslocamentos
76
6. Resíduos - Otimizar a valorização e o
acompanhamento dos resíduos de
atividade do utilizador
- Gestão do processo de coleta e dos fluxos
de resíduos de atividade do utilizador
77
10. Conforto visual - Manutenção do sistema de iluminação
das áreas privativas
- Arranjo do ambiente das áreas privadas
considerando a iluminação natural
- Arranjo do ambiente das áreas privativas
considerando a iluminação artificial
78
3.3. Síntese dos critérios das certificações analisadas
Com a análise separada de cada certificação ambiental, foi possível constatar alguns
pontos de convergência em suas formatações. As três etiquetagens apresentam categorias
bem definidas, abarcando itens multidisciplinares e integrativos. No quadro 10 abaixo,
procurou-se dividir os critérios por categorias que são comuns entre as certificações
escolhidas.
79
Tratamento de odores • •
desagradáveis das áreas
privativas
Assegurar a qualidade •
acústica nas renovações
Edifício e Entorno Modos alternativos de • • •
transporte
Proximidade de pontos • • •
públicos
Proximidade de pontos • • •
convenientes
Segurança do pedestre e •
ciclistas
Áreas arborizadas •
Características ecológicas • •
de áreas naturais
Plano de melhorias do
terreno
Eficiência de sistemas Eficiência energética da • • •
e energia envoltória
Eficiência de sistemas de • • •
serviços instalados
Capacidade de • • •
monitoramento
energético
Geração de energia • • •
sustentável
Automatização e •
regulação dos sistemas de
controle das condições de
conforto
Monitoramento da água • • •
80
Prevenção e detecção de • • •
vazamentos
Uso de fontes alternativas • • •
de água
Energia Renovável e • • •
compensação de carbono
Controle ambiental Minimizar poluição de •
Natural rios
Cuidado com químicos •
Qualidade do ar local •
Mitigar potenciais de • • •
aquecimento global por
fluixos tóxicos
Detecção de fluidos • • •
refrigerantes
Avaliação de riscos e • • •
perigos regionais
Mitigação dos impactos • • •
do escoamento de água
Acompanhamento de • • •
riscos de alagamento
Redução de ilhas de calor • • •
Redução da poluição • • •
luminosa
Desenvolvimento do • • •
terreno, proteger ou
restaurar o habitat
Gerenciamento Política de compras e • • •
resíduos
Gerenciamento de • • •
resíduos sólidos
Inovação • • •
81
Escolhas construtivas que • • •
garantam a durabilidade e
a adaptabilidade das áreas
privadas
Gerenciamento de • • •
limpeza sustentável do
ambiente
Gerenciamento de risco • • •
Fonte: Autor
É possível dizer que as agendas mais recentes de sustentabilidade, a agenda 2030 da ONU
e o HABITAT III, além da clara preocupação com os recursos naturais e de conceitos
como reciclagem e redução da poluição, também colocam no centro da discussão sobre
sustentabilidade a saúde e o viés sociológico da questão. Assim, pode-se dizer que a
sustentabilidade atualmente é enxergada de forma multidisciplinar e integrada, partindo
do pressuposto de que a sustentabilidade dos processos e a proteção dos recursos naturais
passam pela saúde humana e por atributos sociológicos.
82
Surgidos no início dos anos 90, é comum que ao longo do tempo os selos surgidos
evoluam, incorporando novas necessidades e tendências de cada período.
Pode ser observado também que os critérios adotados pelas etiquetagens têm grande viés
sistemático e pragmático, priorizando soluções tecnológicas e de caráter industrializado
e replicável. Desta maneira, dando pouca margem para inovação e para itens que abordem
de maneira mais específica conceitos como forma, criatividade de soluções alcançadas e
a real opinião dos usuários.
83
4. MÉTODO
Fonte: Autor
84
Para fins metodológicos, utilizou-se na pesquisa a triangulação de informação. Segundo
Stake (1995) a triangulação de métodos é um tipo de análise que abarca diferentes
ferramentas para clarificar o significado, ampliando possíveis interpretações, por meio da
adição de diferentes fontes na pesquisa. A triangulação também pode ser entendida de
maneira ampla, podendo ser definida como a combinação de métodos diversos para
analisar o mesmo objeto de pesquisa. Deste modo, pode ser argumentado que a
triangulação de métodos e dados proporciona um entendimento mais profundo do objeto
de análise, por se tratar de uma alternativa qualitativa de abordagem que utiliza diferentes
fontes, análises e dados (DENZIN; LINCON, 2005).
Essa parte da pesquisa visa identificar padrões na arquitetura que envolvam elementos
naturais em sua composição, em edificações institucionais na Universidade de Brasília,
levando em consideração as possibilidades apontadas pelo Design Biofílico. Essa parte
da pesquisa também teve como objetivo verificar junto aos usuários das edificações as
hipóteses acerca dos padrões biofílicos na arquitetura e seus subsequentes efeitos.
A análise dos padrões biofílicos foi dividida em duas etapas de pesquisa. A primeira
contemplou o reconhecimento destes padrões do referencial teórico acerca do Design
Biofílico e de observações destes aspectos em dois prédios institucionais da Universidade
de Brasília. A forma descritiva de padrões foi adotada com o propósito de potencializar e
facilitar o acesso a informações correlatas ao Design Biofílico. As etapas para a
identificação dos padrões biofílicos são descritas na figura 15:
85
Figura 15 - Etapas para identificação dos padrões biofílicos
Fonte: Autor
A escolha das edificações alvo de análise levou em consideração os aspectos formais das
edificações e suas afinidades com os padrões identificados previamente na revisão
bibliográfica. Escolheu-se o Instituto Central de Ciências (ICC), marcado em verde na
figura 16, por se tratar de um edifício de grandes proporções, abarcando fluxo importante
no cotidiano da UnB. Também, trata-se de um dos edifícios mais antigos da universidade.
O Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo), marcado em azul na figura 16, foi escolhido
por configurar um contraponto em relação ao ICC, uma vez que se trata de uma edificação
recente, abarcando uso e vivências diferentes.
86
Figura 16 - Porção central do Campus Darcy Ribeiro: Em azul – Memorial Darcy
Ribeiro (Beijódromo). Em verde: Instituto Central de Ciências (ICC).
Fonte: Autor
Como uma primeira análise, teve-se acesso a desenhos de planta baixa e cortes das
edificações. Este material foi a base para perceber a articulação dos espaços como um
todo, e, em outro momento, foi utilizado para mapear as manchas de influências no
espaço. Os mapas dessas manchas foram importantes para identificar os padrões
biofílicos nas edificações. Subsequentemente, desenvolveu-se mapas de manchas (figuras
17 e 18) pelos edifícios a fim de registrar onde estes padrões consonantes com o design
biofílico podem exercer maior influência no espaço.
87
4.1.1. Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo)
Fonte: Autor
O ICC foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer logo nos anos 50 na concepção da
Universidade de Brasília. Atualmente o edifício linear abarca diversos departamentos e
88
cursos, tais como comunicação social, veterinária, arquitetura e urbanismo, entre outros.
A estrutura do edifício é feita de concreto armado aparente modular e impressiona pela
sua escala, possuindo 120 mil metros quadrados e 720 metros de extensão. Dentre a sua
modulação, intercalam-se espaços abertos e jardins em sua composição. O edifício abarca
anfiteatros, salas de aula, centros acadêmicos e faculdades diversas.
Fonte: Autor
A etapa subsequente do questionário era constituída por dez afirmações, sendo cada uma
correspondente a um padrão biofílico, podendo serem avaliadas numa escala de 1 a 5.
89
Sendo 1 correspondente a "discordo totalmente" e 5 a “concordo totalmente”. Yaremko
et al. (1986) afirmam que a ferramenta de questionário em pesquisas não possui o intuito
de medir as habilidades do respondente, ao invés, metrifica opiniões, interesses. O
processo completa da pesquisa de opinião utilizada está resumida pela figura 19 abaixo:
Fonte: Autor
90
Foi desenvolvida uma versão teste do questionário, disponibilizado por duas semanas
para validação. A partir desta primeira amostragem, foi possível corrigir e avaliar
possíveis lacunas da pesquisa. Como o modo de resposta era uma plataforma digital, foi
identificado que o questionário estava muito extenso, deixando os usuários desmotivados
a responder.
Nos estudos de Dillmann levantados por Rodeghier (1996) para reduzir os custos de um
questionário e aumentar o seu alcance, é recomendado que se faça parecer uma tarefa
breve para o respondente, além de eliminar possibilidades de sua exposição a
constrangimentos e de reduzir seu esforço físico e mental ao responder. A versão final do
questionário foi distribuída via e-mail para a comunidade acadêmica (Professores, alunos,
funcionários e possíveis visitantes) durante todo o mês de maio de 2019 e nas duas
primeiras semanas de junho do mesmo ano. Ao final deste período, foi recebido respostas
de 510 usuários. O questionário na íntegra está disponibilizado como anexo I.
É importante salientar que uma limitação desta pesquisa é que os dados coletados não
podem servir de dados estatísticos aplicados. Os dados levantados têm o intuito apenas
de corroborar com a formulação teórica de acordo com o Design Biofílico.
91
Figura 20 – Processo de análise comparativa: Design Biofílico x Certificações
Ambientais
Fonte: Autor
92
5. RESULTADOS
93
iluminação na arquitetura pode ter um viés
holístico ao considerar o desempenho
lumínico como uma terapia da cor, ciência
medicinal e psicologia das cores. Nesse
sentido, a luz natural é ferramenta curativa
no corpo humano pois afeta seu metabolismo
(REA, 2000).
94
5.1.3. Possibilidade de experiências
não visuais (tátil – sonora – olfativa)
com elementos naturais
95
5.1.4. Microclima – Criação de
pequenos ecossistemas
96
ambiental. Mais diretamente no corpo
humano, a iluminação natural age de forma
a estimular hormônios, a produção de
vitamina D, pode reduzir o cansaço visual,
reduzir as taxas de estresse e aumentar
significativamente as taxas de produtividade
em ambientes laborais (LAMBERTS;
DUTRA; PEREIRA, 1998; VIANNA e
GONÇALVES, 2001).
97
5.1.7. Percurso que instigue o explorar
98
edificação, cria-se um vínculo temporal e
espacial com o usuário.
99
das edificações são registrados pelo corpo
devido ao contato direto da pele com os
materiais da edificação. As diferentes
texturas empregadas em uma edificação
podem, por exemplo, ter função de guia para
usuários portadores de limitações visuais.
100
Na primeira etapa do questionário, houve a caracterização do usuário, bem como a
identificação do prédio a ser analisado por ele nas perguntas subsequentes. Neste quesito,
o usuário poderia escolher analisar mais de um prédio por vez, podendo escolher entre o
ICC (Instituto de Ciência Central) e o Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo). As análises
referentes ao ICC correspondem a 66% das respostas. Fato que pode ser atribuído pela
escala maior da edificação e por abarcar, além de áreas administrativas, salas de aula e
laboratórios.
O corpo de respostas (figura 31) também foi constituído majoritariamente por discentes
da universidade, sendo 74%. Professores foram 12%, com 61 respostas, funcionários e
visitantes somaram, juntos, 14%. A faixa de idade dos respondentes (figura 32) mais
expressiva foi entre 30-45 anos (40%), seguida da faixa de idade 15-30 anos (39%). 108
pessoas alegaram ter mais de 45 anos e não houve respostas de usuários com idade menor
de 15 anos.
TIPO DE USUÁRIO
Visitante 24
Funcionário 48
Professor 61
Aluno 377
Fonte: Autor
101
Figura 32 – Gráfico Faixa de Idade
FAIXA DE IDADE
45+ 108
0-15 Anos 0
Fonte: Autor
Perguntou-se também se o usuário possuía algum tipo de deficiência física (figura 33).
Para fins desta análise, reduziu-se as possibilidades apenas para o âmbito locomotor,
visual e auditivo. Apenas 3 usuários relataram possuir limitações locomotoras. Sobre a
frequência de uso dos espaços (figura 34), 44% dos usuários alegaram fazer uso frequente
das edificações e 37% das respostas vieram de usuários esporádicos (ao menos 2 dias da
semana). O tempo de permanência diário nos prédios analisados foi dividido em 4 faixas
diferentes, sendo estes: menos de 1 hora, de 1 a 4 horas, de 4 a 8 horas e mais de 12 horas.
230 respondentes (45%) afirmaram passar de 1 a 4 horas nas edificações, 29% passam de
4 a 8 horas por dia, usuários que passam menos de 1 hora configuram 20%, com 100
respostas, e pessoas que experienciam os espaços por mais de 12 horas representam 6%
(ver figura 35).
102
Fonte: Autor
Esporádico 187
Fonte: Autor
Figura 35 – Gráfico
TEMPO tempo de permanência
DE PERMANÊNCIA MÉDIA média
(DIA) (Dia)
Mais de 12 horas 30
4 a 8 horas 150
1 a 4 horas 230
Fonte: Autor
103
5.2.2. Análise dos padrões biofílicos pelo usuário
Nesta etapa, o usuário foi convidado a julgar afirmações relacionadas diretamente aos dez
padrões previamente identificados. Tendo como ferramenta a escala Linkert, foi possível
avaliar a inclinação dos respondentes acerca da conformidade da pesquisa com suas
próprias experiências. Para validação de um padrão, a frequência de respostas no espectro
4-5 deveria ser superior à das respostas no espectro 1-2, sendo as respostas de número 3
(meio da escala) consideradas neutras para a avaliação.
Dos padrões analisados, apenas dois deles não somaram pontuação positiva superior de
conformidade, expressando desconexão entre as duas hipóteses com as experiências do
usuário, sendo eles: “Elementos que possibilitam a ventilação e iluminação naturais”
(tabela 1 e figura 36) e “Pátina, marcas do tempo” (tabela 2 e figura 37). A
inconformidade destes dois padrões pode apontar para as condições inapropriadas de
manutenção das edificações analisadas, por exemplo, quanto à limpeza e quanto a
equipamentos e materiais, especialmente os relativos ao conforto térmico.
104
Tabela 1 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Elementos que possibilitam a ventilação e iluminação naturais”
Escala Respostas
1 90 18%
2 120 24%
3 120 24%
4 114 22%
5 60 12%
total 510
Fonte: Autor
120
114
90
60
1 2 3 4 5
Fonte: Autor
105
Tabela 2 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico “Pátina,
marcas do tempo”
Escala Respostas
1 69 14%
2 147 29%
3 111 22%
4 105 21%
5 78 15%
total 510
Fonte: Autor
111
105
78
69
1 2 3 4 5
Fonte: Autor
106
da visão para a sobrevivência. A audição seria responsável por 20% dos estímulos
percebidos no espaço e o tato, paladar e olfato somariam os outros 5% restante. Este fato
pode explicar o fato de a questão visual ser aspecto preponderante no entendimento e
ambientação dos espaços arquitetônicos.
1 15 3%
2 21 4%
3 42 8%
4 102 20%
5 330 65%
total 510
Fonte: Autor
1 2 3 4 5
Fonte: Autor
107
Tabela 4 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico “Uso de
materiais em seu estado natural”
O uso de materiais em seu estado natural (concreto aparente,
aço, vidro) e a estrutura aparente enriquecem a experiência
sensorial no prédio.
Escala Respostas
1 27 5%
2 30 6%
3 90 18%
4 141 28%
5 222 44%
total 510
Fonte: Autor
Figura 39 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários “Uso de materiais em seu
estado natural”
O USO DE MATERIAIS EM SEU ESTADO
NATURAL (CONCRETO APARENTE, AÇO, VIDRO)
E A ESTRUTURA APARENTE ENRIQUECEM A
EXPERIÊNCIA SENSORIAL NO PRÉDIO.
222
141
90
30
27
1 2 3 4 5
108
Tabela 5 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Enquadramento de paisagem”
Estando dentro do edifício, ter contato visual com a paisagem
ao redor do prédio é agradável.
Escala Respostas
1 21 4%
2 30 6%
3 69 14%
4 147 29%
5 243 48%
total 510
Fonte: Autor
243
147
69
30
21
1 2 3 4 5
Fonte: Autor
109
Tabela 6 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico “Formas
análogas a natureza na composição”
1 60 12%
2 63 12%
3 78 15%
4 120 24%
5 189 37%
total 510
Fonte: Autor
1 2 3 4 5
Fonte: Autor
110
Tabela 7 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Possibilidade de experiências extravisuais (tátil, auditiva)”
O espaço interno do prédio possibilita experiências positivas
que instiguem outros sentidos além da visão, como
experiências auditivas, olfato e tato.
Escala Respostas
1 60 12%
2 99 19%
3 81 16%
4 174 34%
5 96 19%
total 510
Fonte: Autor
96
81
60
1 2 3 4 5
Fonte: Autor
Os padrões “Efeitos visuais criados por elementos naturais” (tabela 8 e figura 43),
“Microclima – Constituição de pequenos ecossistemas” (tabela 9 e figura 44) e
“Caminhos e espaços internos que instigam a exploração” (tabela 10 e figura 45), critérios
que envolvem iluminação natural e sensação térmica, também alcançaram maior
receptividade na opinião dos usuários. Vienna e Gonçalves (2001) argumentam que uma
iluminação ineficiente em espaços construídos pode gerar uma série de prejuízos aos seus
usuários. Dentre eles, pode-se citar cansaço visual, baixa produtividade e dores de cabeça.
Para Neto (1980), o desafio de se utilizar a iluminação natural na arquitetura parte da
111
dificuldade de seu controle por meio de estratégias projetuais. A luz natural varia
significativamente no intervalo de minutos, podendo sua variação chegar a intervalos de
100 a 200%, principalmente quando há indicação de movimentação de nuvens no céu.
1 69 14%
2 96 19%
3 135 26%
4 132 26%
5 78 15%
total 510
Fonte: Autor
Figura 43 – Gráfico de barras com as avaliações dos usuários “Efeitos visuais criados
por elementos naturais”
A ILUMINAÇÃO NATURAL NO INTERIOR DO
PRÉDIO É SUFICIENTE PARA AS ATIVIDADES NA
MAIOR PARTE DO DIA.
135
132
96
78
69
1 2 3 4 5
Fonte: Autor
112
Tabela 9 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Microclima –Constituição de pequenos ecossistemas”
1 56 11%
2 111 22%
3 156 31%
4 115 23%
5 66 13%
total 510
Fonte: Autor
115
111
66
56
1 2 3 4 5
Fonte: Autor
113
Tabela 10 – Frequência de respostas à afirmação referente ao padrão biofílico
“Caminhos e espaços internos que instigam a exploração”
1 42 8%
2 84 16%
3 150 29%
4 126 25%
5 108 21%
total 510
Fonte: Autor
126
108
84
42
1 2 3 4 5
Fonte: Autor
Com base na análise geral dos resultados do questionário, é possível inferir que, mesmo
nos casos de padrões biofílicos de caráter mais subjetivo e abstrato, houve uma boa
assimilação destes por parte dos respondentes. Pode-se argumentar também que o nível
de aceitação ou reprovação dos padrões propostos estava sujeito às condições existentes
das edificações, tais como: condições de manutenção, implantação e orientação da
edificação, estado de conservação, layouts internos, número de ocupação dos ambientes,
dentre outros.
114
As condições reais das edificações podem ser ilustradas pela série de figuras (21 a 30)
que ilustram os padrões biofílicos utilizados nesse trabalho. Mesmo com estas variáveis,
os aspectos formais e conceituais propostos pelos padrões biofílicos mostrou-se
preponderante, sendo avaliados positivamente na maioria dos casos ilustrados na
pesquisa. Nesse sentido, infere-se que a pesquisa de opinião corrobora com a formulação
teórica que os padrões propostos pelo Design Biofílico podem impactar positivamente a
experiência do usuário das edificações.
115
Quadro 12 - Padrões Biofílicos x Critérios de certificações
01 Efeitos visuais criados por Nível de luz natural BREEAM, LEED, Estes itens se relacionam diretamente com as
elementos naturais AQUA categorias que promovem saúde e bem-estar por parte
Nível de iluminação BREEAM, LEED, das certificações ambientais. Todas as certificações
interna e externa AQUA analisadas apresentam critérios que abarcam a
iluminação natural, bem como a sua variabilidade.
02 Formas análogas a natureza Sem item relacionado Padrão Biofílico de difícil assimilação por parte das
na composição metodologias de avaliação propostas pelas certificações
ambientais. Parte pode ser explicada pelo seu cunho
subjetivo.
03 Possibilidade de experiências Assegurar a qualidade AQUA, BREEAM Pode-se argumentar que a qualidade da acústica dos
extravisuais (tátil, auditiva) acústica espaços e as outras experiencias sensoriais são itens de
Tratamento de odores BREEAM, AQUA, grande importância ao se medir o bem-estar dos
desagradáveis das áreas LEED usuários nas edificações.
privativas
116
04 Microclima – Constituição de Características ecológicas BREEAM Esse critério está relacionado à importância da
pequenos ecossistemas de áreas naturais preservação da vegetação nativa e sua integração com a
Gerenciamento de BREEAM edificação, estabelecendo relação de salubridade com o
biodiversidade ambiente artificial.
Relatórios ecológicos BREEAM
05 Elementos que possibilitam a Ventilação natural e BREEAM, LEED, Estes itens se relacionam diretamente com as categorias
ventilação e iluminação monitoramento da AQUA que promovem saúde e bem-estar por parte das
naturais qualidade do ar certificações ambientais. Assim, apresentam critérios
importantes para ambientes salubres e de qualidade para
Conforto Térmico BREEAM, LEED, os ocupantes.
AQUA
Prevenção de doenças BREEAM, LEED,
respiratórias AQUA
06 Enquadramento da paisagem Luz natural BREEAM, LEED, O item se refere à necessidade de aberturas que
AQUA proporcionem a permeabilidade visual e a passagem de
Vistas de qualidade LEED iluminação natural. Vistas de qualidade estão
117
diretamente ligadas com o conceito de enquadramento
da paisagem.
07 Caminhos e espaços internos Sem item relacionado Padrão Biofílico de cunho abstrato e de difícil
que instigam a exploração assimilação por parte das metodologias de avaliação
propostas pelas certificações ambientais.
08 Pátina, marcas do tempo Sem item relacionado Padrão Biofílico de cunho abstrato e de difícil
assimilação por parte das metodologias de avaliação
propostas pelas certificações ambientais.
09 Uso de elementos naturais por Áreas arborizadas BREEAM Áreas arborizadas, mesmo que ao redor do sítio de
contraste Disponibilização de áreas BREEAM construção da edificação, apresentam contrate visual
de descanso e acessos com a área construída. Áreas de descanso externas
para o espaço interno / podem ter um potencial de proporcionar bem-estar e
externo experiências de qualidade.
10 Uso de materiais em seu Sem item relacionado Padrão Biofílico de cunho abstrato e de difícil
estado natural assimilação por parte das metodologias de avaliação
propostas pelas certificações ambientais.
Fonte: Autor
118
Os padrões biofílicos “Formas análogas a natureza na composição”, “Caminhos e espaços
internos que instigam a exploração”, “Pátina, marcas do tempo” e “Uso de materiais em
seu estado natural” não apresentaram critérios equivalentes ou parecidos nas certificações
ambientais analisadas. Estes padrões podem ser entendidos como critérios mais
subjetivos por abordarem itens das composições arquitetônicas que remetem a decisões
mais estéticas e formais. Nesse sentido, pode-se argumentar que, por se tratarem de itens
mais subjetivos, não seriam de fácil assimilação por parte de critérios avaliativos.
119
qualidade do ar, especificamente com odores e antitabagismo, fazem convergência com
o padrão biofílico “Possibilidade de experiências extravisuais (tátil, auditiva)”. Pode-se
argumentar que a qualidade da acústica dos espaços e as outras experiencias sensoriais
são itens de grande importância ao se medir o bem-estar dos usuários nas edificações.
Na análise dos padrões biofílicos identificados na literatura científica por meio da revisão
bibliográfica, é possível inferir uma consistência na base de referências teóricas sobre o
tema. Nesse sentido, pode-se afirmar que os autores analisados apresentam critérios e
padrões biofílicos semelhantes entre si. Também, na análise bibliométrica, constatou-se
um crescente número de produções científicas que relacionam sustentabilidade, design
biofílico e arquitetura.
120
Com Base na análise dos critérios de certificações ambientais (BREEAM, LEED e
AQUA-HQE), pode-se inferir sensível convergência entre os critérios por elas exigidos,
por apresentarem, de forma geral, grande similaridade entre si. Este fato pode apontar
para um alinhamento atual, uma tendência de mercado da construção civil, maior
exigência por parte dos consumidores e uma maior consciência sobre sustentabilidade por
parte dos profissionais da construção civil. É possível identificar critérios correlatos mais
específicos abordando a saúde e opinião dos usuários na análise das pontuações.
Frente a uma arquitetura apática, “cinza” e com soluções replicadas à exaustão, pouco
espaço resta para o campo de experimentação. O Design Biofílico enriquece o debate
sobre edificações sustentáveis ao adicionar o conceito de “Design restaurativo”. Este,
diferencia-se por elaborar padrões construtivos na arquitetura que fortalecem a resiliência
humana e que promova ambientes salubres e de qualidade para seus ocupantes.
121
Adicionar elementos construtivos que fazem alusão, direta ou indireta, ao ambiente
natural, enriquece positivamente a experiência do usuário. Muitas vezes, pode-se dizer
que os efeitos na saúde, física e mental, dos usuários das edificações ocorre de forma
inconsciente. Como demonstrado no questionário de opinião, o usuário é capaz de
apontar, mesmo nos padrões biofílicos mais abstratos e subjetivos, de forma intuitiva
como se sente em relação a experiências proporcionadas pelo ambiente construído. Este
fato pode explicitar o quão rico pode ser levar em consideração a opinião dos ocupantes
no processo de design de edificações.
No geral, pode-se afirmar que os critérios propostos pelas certificações analisadas, são de
cunho objetivos e analíticos, dando pouca margem para se mensurar itens mais subjetivos
e abstratos dos espaços. Esse fato pode ser explicado pela própria metodologia e processo
desenvolvidos pelas certificações. Em sua maioria, utilizam métodos de avaliação
empregando Scorecards e Checklists em que se objetiva atingir uma certa pontuação.
Nesse sentido, pode-se argumentar que a formatação desses instrumentos de avaliação
deixa pouca margem para avaliar ou aferir itens de cunho mais subjetivos das edificações.
122
É possível argumentar que o resultado do questionário de opinião dos usuários proposto
pelo presente trabalho pôde indicar que mesmo no caso de itens mais abstratos e
subjetivos indicados pelo Design Biofílico, houve uma boa assimilação e entendimento
por parte do respondente. Fato que pode sinaliza a necessidade de ter instrumentos
avaliativos que contemplem questões mais complexas e subjetivas, e que acompanhem,
as atualizações e avanços no que se refere a sustentabilidade de edificações.
Como já mostrado nos resultados da pesquisa, existe uma convergência entre os padrões
biofílicos e os critérios exigidos pelas certificações ambientais analisadas. Pode ser dito
que a inclusão de itens avaliativos de cunho mais subjetivo e abstrato também cria maior
potencialidade em se alcançar edificações mais saudáveis e sustentáveis. Para ilustrar,
observa-se a recente inclusão de categorias como a de saúde e bem-estar, assim como
critérios de “vista de qualidade”, “controle de odores” e “áreas arborizadas”. Por
conseguinte, itens elencados pelo Design Biofílico, com características restauradoras da
saúde humana, podem servir como parâmetros avaliativos para espaços mais saudáveis e
sustentáveis.
123
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que se refere ao Design Biofílico, pode-se constatar que seus atributos e teoria estão
enraizados em questões já consolidadas. Parte-se de conceitos tanto estudados pela
literatura da ciências biológicas, como o termo cunhado por Wilson (1984), quanto na
psicologia ambiental, quando se relaciona o efeito dos espaços, naturais ou construídos,
na saúde do ser humano. Nesse sentido, é possível afirmar que o Design Biofílico não
traz em si ferramentas inovadoras atuais. Mas, seus parâmetros propostos ganham caráter
124
inovador ao serem empregados na arquitetura como ferramenta restaurativa, isto é, como
elementos que proporcionam uma experiência restaurativa na saúde física e mental do
usuário.
Os resultados do presente trabalho também apontam para uma afinidade dos usuários de
edificações e sua percepção positiva com os padrões biofílicos na arquitetura. Pode-se
perceber que o apelo por aspectos da edificação que sensibilizam os sentidos,
especialmente a visão, exercem grande participação na experiência positiva e
restauradora do usuário ao interagir com o ambiente construído.
Foi possível constatar que, de modo geral, entre as certificações analisadas, há uma
preocupação e foco com a saúde física e mental dos usuários. Nesse sentido, pode-se dizer
que novas dimensões da sustentabilidade estão sendo exploradas e levadas em
consideração na classificação de edificações sustentáveis. As dimensões social e
psicológica ganham notoriedade nos sistemas de pontuação propostos pelas etiquetagens
analisadas.
125
de edificações de forma a abarcar conceitos que reforcem a resiliência humana frente aos
ambientes construídos.
Com o presente trabalho, foi possível analisar as possibilidades do Design Biofílico e seus
padrões na arquitetura de forma a envolver, também, no processo, a percepção do usuário
das edificações. Também foi possível analisar comparativamente os parâmetros do
Design Biofílico com os critérios abordados pelas certificações ambientais mais
utilizadas. Com isso, prospecta-se ser possível o desenvolvimento de uma ferramenta
ambiental avaliativa com foco voltado para os padrões biofílicos, a psicologia dos espaços
e de bem-estar do usuário.
O Design Biofílico também pode ser estudado e analisado pela ótica do urbanismo. Neste
trabalho, focou-se apenas na dimensão da escala edilícia. Nota-se alguns trabalhos
recentes na direção de uma escala maior de análise, sendo possível, assim, desenvolver
futuramente estudos e pesquisas relacionando os padrões biofílicos na esfera urbanística.
126
7. REFERÊNCIAS
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Biophilic Design and Calm Computing Principles to Improve Well-Being and
Performance. [s.l.] Springer International Publishing, 2018.
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Rocky Mountain Institute, 1994.
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M. Books, 2012.
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Wellbeing. . In: THE ARCHITECTURAL SCIENCE ASSOCIATION. New Zeland:
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<www.periodicos.unb.br/index.php/sust/article/download/10054/7378>. Acesso em: 21
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JOHN, V. M.; SILVA, V. G.; AGOPYAN, V. Agenda 21: uma proposta de discussão
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Comunidades Sustentáveis. 2 Econtro latino Americano Sobre Edificações e
Comunidades Sustentáveis, 2001.
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LAMBERTS, R. Desempenho térmico de edificações - Notas de aulaUFSCB
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131
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Application of Biophilic Parameters in Local Buildings: a Case Study of Bilkent
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ROOM, J.; BROWNING, W. Greening the Building and Bottom Line. Increasing
Productivity Through Energy-Efficient Design. [s.l.] Rocky Mountain Institute,
1994.
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into green building rating tools for promoting health and wellbeing, p. 98–112,
2019a.
YEN, T. S. From Biophilic Architecture to Biophilic Cities. In: Dense and Green
Building Typologies. [s.l.] Springer, Singapore, 2018.
135
8. APÊNDICE
8.1 Questionário
Assim, cada pergunta do questionário tem como base um dos pontos citados, a fim de
correlacionar a experiência dos usuários com as hipóteses estipuladas pela primeira fase
da pesquisa.
136
PARTE I
Faixa de Idade:
0-15 Anos
15-30 Anos
30-45 Anos
45+
Tipo de usuário:
Aluno
Professor
Funcionário
Vistante
Outro
Prédio analisado:
ICC (Instituto Central de Ciências)
Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo)
Mais de 12 horas
8 a 12 horas
137
4 a 8 horas
1 a 4 horas
Menos de 1 hora
PARTE II
138
• Estando dentro do edifício, ter contato visual com a paisagem ao redor do
prédio é agradável.
Fim do questionário
139
140