Esquistossomose PDF
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FIOCRUZ-PE
2017
© 2017. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo Cruz & Instituto
Aggeu Magalhães – Fiocruz-PE
CDU 37.018.43
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em sua totalidade, nos termos da licença para usuário final do Acervo de Recursos Educacionais em Saúde
(ARES). Deve ser citada a fonte e é vedada sua utilização comercial.
Ministério da Saúde
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Coordenação Acadêmica
Elainne Christine de Souza Gomes
Coordenação de Produção
Sandra de Albuquerque Siebra
Autores
Elainne Christine de Souza Gomes
Ana Lúcia Coutinho Domingues
Constança Clara Gayoso Simões Barbosa
Designer Instrucional
Sandra de Albuquerque Siebra
Designers Gráficos
Bruno Flávio Espíndola Leite
Déborah Vanessa Pereira da Silva
Juliana Maria Medeiros de Albuquerque
Túlio Fernando Farias de Mesquita
Desenvolvedor
Alexandre Pires Ferreira de Miranda
Diego Marcolino Silva
Avaliação Midiática-Pedagógica
Joselice da Silva Pinto
Revisão do Conteúdo
Jeann Marie Rocha Marcelino
Apoio Técnico
Michelle Juliana Pereira da Silva
Apoio Administrativo
Andreza da Silva Santos
Revisão Ortográfica
Flávio Emmanuel Pereira Gonzalez
Apresentação ......................................................................................... 10
UNIDADE 1
UNIDADE 2
UNIDADE 3
UNIDADE 5
Este livro faz parte do material de apoio do curso EAD “Esquistossomose - Manejo
Clínico e Epidemiológico na Atenção Básica”. Foi elaborado por renomados
especialistas na área de esquistossomose a fim de subsidiar a atualização dos
profissionais que atuam na atenção básica para um manejo clínico e epidemiológico
adequado nos territórios onde a esquistossomose ainda é um problema de saúde
pública.
Questões sociais como o nível de escolaridade e renda apresentam uma relação in-
versamente proporcional à ocorrência dessa parasitose (GOMES et al., 2014). Além disso,
os hábitos culturais e a qualidade de vida da população também devem ser considerados
quando se planejam estratégias para o controle da esquistossomose. Vários foram os rela-
tos de experiências malsucedidas quando tais fatores não foram levados em consideração.
Dentre esses podem-se citar o insucesso do programa de implantação de banheiros rurais
Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
e a concepção negativa acerca das fossas sépticas defendidas por muitos como a solução
para o problema da esquistossomose (ROZEMBERG, 1998).
A primeira iniciativa para o controle dessa endemia foi a implantação do Programa Es-
pecial de Controle da Esquistossomose (PECE) em 1975. Esse programa representava
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Figura 2: Evolução histórica da prevalência para esquistossomose nos cinco estados de maior importância
epidemiológica para a doença, com base nos dados dos três inquéritos nacionais realizados no país.
Fonte de Dados: NOYA et al., 2015; KATZ; COELHO (2016) [Inquéritos de Pellon e Teixeira (1949); do PECE,
(1975-1977) e INPEG (2011-2014)].
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
As estratégias utilizadas neste período, tais como o tratamento em massa das po-
pulações residentes em áreas com alta endemicidade surtiram efeito, e o que pode ser
observado nos anos seguintes é uma redução drástica na ocorrência de casos. Nessa
figura, também é possível constatar o aumento no número de casos de esquistossomose
na década de 90, o que corresponde justamente ao período em que se iniciou o processo
de descentralização da saúde (BRASIL, 2006), no qual as ações do PCE passaram a ser
desempenhadas pela gestão municipal. A partir do ano 2000, a tendência decrescente
no número de casos volta a ser observada, atingindo o menor índice em 2015 (3,85% de
casos diagnosticados).
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Rondônia – neste último, observam-se localidades com prevalência acima de 15%, porcen-
tagem relativa a casos importados de áreas endêmicas em virtude do fluxo migratório de
trabalhadores.
A magnitude dessa doença também pode ser constatada através dos indicadores de
saúde que expressam sua gravidade, tais como a taxa de internação hospitalar e os óbitos
causados pela esquistossomose. Como pode ser observado na Figura 5, a taxa de morta-
lidade por esquistossomose vem caindo desde 1977, quando apresentou seu maior índice
(0,7 óbitos/100 mil habitantes). Já a taxa de internação hospitalar, apesar de apresentar um
decréscimo nas últimas décadas, atingindo 0,1 internamento/100 mil habitantes, registrou
um aumento gradual no número de casos entre 1985 e 1988, quando foi registrada uma
taxa de 2,5 internações por esquistossomose para cada 100 mil habitantes. Mais uma vez,
pode-se observar o impacto positivo dos programas de controle sobre a esquistossomose.
Figura 5: Taxas de internação hospitalar e óbitos por esquistossomose registradas nos Sistema de Informa-
ção Hospitalar (SIH) e Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Sistema Único de Saúde (SUS), no
período de 1977 a 2015.
Fonte de dados: BRASIL, 2015. Sistema de Informações Hospitalares do SUS, Sistema de Informações sobre
Mortalidade.
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
dados mais recentes, o DALYs para a esquistossomose no mundo passou de 4,5 milhões
em 1990 (BRASIL, 2014) para 3,31 milhões em 2010 (HOTEZ et al., 2014). Tal redução si-
naliza que os esforços para reduzir o impacto da esquistossomose sobre a saúde humana
estão surtindo efeito ao redor do mundo.
Figura 7: Evolução temporal do total de casos de esquistossomose e dos casos da forma hepatoesplênica
registrada no período de 16 anos no Hospital das Clínicas de Pernambuco, Brasil, de 1999 a 2014.
Fonte: BARBOSA et al., 2016.
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REFERÊNCIAS
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ENK, M. J. et al. The effect of the number of stool samples on the observed prevalence
and the infection intensity with Schistosoma mansoni among a population in an area of low
transmission. Acta Tropica, 108 (2–3): 222–228, 2008.
GOMES, E. C. S. et al. Risk analysis for occurrences of schistosomiasis in the coastal area
of Porto de Galinhas, Pernambuco, Brazil. BMC Infectious Diseases, 14:101, 2014.
HOTEZ, P.J. et al. The Global Burden of Disease Study 2010: Interpretation and Implications
for the Neglected Tropical Diseases. PLOS Neglected Tropical Diseases, 8 (7): e2865,
2014.
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WHO (World Health Organization). First WHO report on neglected tropical diseases:
working to overcome the global impact of neglected tropical diseases. Geneva: WHO Press,
2010. 172 p.
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
CAPÍTULO 2
Schistosoma mansoni: O Ciclo Biológico
A esquistossomose mansoni é uma parasitose que tem como agente etiológico o hel-
minto Schistosoma mansoni, verme platelminto com simetria bilateral e corpo achatado (do
grego platy: achatado; e helmin: verme), pertencente à classe Trematoda, Digenea, que tem
como principais características a presença de ventosas de fixação (oral e ventral) e corpo
não segmentado (MELO; PINTO, 2016). São endoparasitos da família Schistomatidae (ca-
racterizada por dimorfismo sexual) que infectam o ser humano e, eventualmente, outros
animais vertebrados. Este hemoparasito apresenta um ciclo de vida heteroxênico, tendo
o homem como hospedeiro definitivo e um molusco de água doce do gênero Biomphalaria
como hospedeiro intermediário. Por esse motivo, a enfermidade é rotulada como doença de
veiculação hídrica (MELO; COELHO, 2016).
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Ovo
Miracídio
Forma embrionária do S. mansoni que eclode do ovo quando em contato com a água.
Apresenta um formato cilíndrico e mede cerca de 160 µm de comprimento e 60 µm de largu-
ra (figura 2). Apresenta superfície ciliada e na extremidade anterior encontra-se o terebrato-
rium (papila apical que pode se amoldar como uma ventosa), onde podem ser encontradas
glândulas adesivas e de penetração que, ao liberar enzimas digestivas, auxiliam na fixação
e penetração do miracídio no tegumento do molusco vetor (Biomphalaria) (REY, 2015).
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Esporocisto
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Esporocístos Secundários
Cercárias
Esporocísto primário
Esporocísto secundário
Cercária
Medindo cerca de meio centímetro, a cercária é dividida em corpo (0,2 mm) e cauda
bifurcada (0,3 mm). É importante ressaltar que o corpo é a estrutura que dará origem ao ver-
me adulto e nele pode-se observar dois órgãos de fixação, estruturas primárias que darão
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
origem às ventosas oral e ventral (figura 4). Na ventosa oral, encontram-se as glândulas de
penetração, que liberarão enzimas (proteases) que facilitam a penetração do corpo da cer-
cária. A cauda tem a função de promover o deslocamento no meio aquático, assim que é li-
berada através do tegumento do caramujo. Embora a cercária possa viver até 48 horas, sua
capacidade de penetração no tegumento do hospedeiro definitivo se dá nas suas primeiras
12 horas de vida livre no meio aquático (REY, 2015). Esse processo de penetração do corpo
cercariano no tegumento dura de 5 a 15 minutos (figura 5A). No momento da penetração, a
cercária perde a cauda e se transforma em esquistossômulo (MELO; COELHO, 2016).
Esquistossômulo
Nesta fase evolutiva, a larva alonga-se e adquire o aspecto vermiforme que representa
a fase juvenil do verme (figura 5B). O esquistossômulo migra da epiderme para a circulação
venosa e passa pela circulação pulmonar e sistêmica até chegar ao seu habitat, o sistema
porta intra-hepático, onde se transformará em verme adulto (macho ou fêmea) (REY, 2015).
A B
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Verme adulto
São vermes delgados e longos, apresentando na porção anterior duas ventosas (oral e
ventral) que funcionam como órgãos de adesão e fixação. O macho mede cerca de 1 cm e
tem cor esbranquiçada e tegumento recoberto por tubérculos (REY, 2015). Na região poste-
rior, o macho apresenta o canal ginecóforo, que consiste em uma fenda formada a partir da
dobra lateral do corpo no sentido longitudinal e que tem a finalidade de albergar a fêmea e
fecundá-la. A fêmea tem corpo cilíndrico, mede 1,5 cm e apresenta coloração mais escura
e tegumento mais liso do que o do macho (MELO; COELHO, 2016). Normalmente são en-
contrados macho e fêmea acasalados na circulação das veias mesentéricas de indivíduos
infectados (figura 6).
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
tor. Essa larva ciliada se locomove no ambiente aquático e por quimiocinética (atração por
substâncias liberadas pelo caramujo), busca e penetra em moluscos do gênero Biompha-
laria [3], onde se transforma em esporocisto primário e secundário [4], este último respon-
sável pela formação das cercárias (segunda fase larvar), que, após quatro a seis semanas
da infecção do caramujo, são liberadas para o ambiente aquático. As cercárias [5], forma
infectante para o homem, se locomovem ativamente na água e, ao terem contato com o
hospedeiro definitivo, penetram ativamente através da pele [6], processo no qual perdem a
cauda e se transformam em esquistossômulo [7]. Estes ganham a corrente sanguínea e, ao
atingirem as veias do sistema hepático, se fixam, atingem a fase adulta, acasalam [8] e mi-
gram para as veias mesentéricas, onde liberam seus ovos imaturos nos capilares venosos
que irrigam o intestino. Ao atravessarem a parede intestinal, os ovos amadurecem, ganham
a luz intestinal e são eliminados nas fezes do hospedeiro definitivo, dando início a um novo
ciclo de transmissão (REY, 2015; MELO; COELHO, 2016).
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
O habitat natural dessas espécies são coleções hídricas dulciaquícolas de pouca cor-
renteza ou águas paradas, tais como: rios, riachos, canais e áreas alagadas, vivendo pre-
ferencialmente em águas rasas (PIERI et al., 2012). No entanto, vários são os relatos de
encontro dessas espécies em locais adversos, úmidos ou alagados: poças d’água, bueiros,
terrenos baldios alagados e valas de esgoto a céu aberto, demonstrando a capacidade de
adaptação desses animais a diferentes ambientes, tolerando diversas variações físico-quí-
micas.
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Biomphalaria glabrata
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Biomphalaria straminea
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Do ponto de vista biológico, essa espécie libera dez vezes menos cercárias que a B.
glabrata e apresenta baixa susceptibilidade ao S. mansoni (MELO; COELHO, 2016), no en-
tanto, no campo e em laboratório, já foi observada sua capacidade de competir biologica-
mente com a B. glabrata, eliminando-a (BARBOSA; BARBOSA; ARRUDA, 1993; BARBOSA
et al., 2014).
Biomphalaria tenagophila
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Para encerrar este capítulo, dois conceitos relacionados ao molusco vetor e à transmis-
são da esquistossomose precisam ser apresentados: criadouros e focos de transmissão.
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Figura 15: Foco de transmissão clássico da esquistossomose na Zona Rural de Pernambuco, 2015.
Fonte: Acervo pessoal de Elainne Christine de Souza Gomes.
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
Figura 16: Foco de transmissão peridomiciliar da esquistossomose em Zona Urbana de Pernambuco, 2010.
Fonte: Acervo pessoal de Elainne Christine de Souza Gomes.
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
REFERÊNCIAS
BARBOSA, C. S. et al. Study of the snail intermediate hosts for Schistosoma mansoni
on Itamaracá Island in northeast Brazil: spatial displacement of Biomphalaria glabrata by
Biomphalaria straminea. Geospatial Health, 8: 345-351, 2014.
MELO, A. L.; PINTO, H. A. Helmintos. In: NEVES, D. P. Parasitologia Humana. 13. ed. São
Paulo: Editora Atheneu, 2016. p. 215-223.
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Unidade 1 - Esquistossomose: Aspectos Epidemiológicos e Ciclo de Transmissão
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
UNIDADE 2
Manifestações Clínicas da
Esquistossomose
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
CAPÍTULO 3
Manifestações Clínicas da Esquistossomose
A maior parte das pessoas infectadas pelo S. mansoni desenvolve doença crônica
leve, que pode se apresentar com discreta anemia, dor abdominal e mudança do hábito
intestinal com crises de diarreia. Apenas 3 a 7% dos infectados desenvolvem doença mais
grave com hepatoesplenomegalia, fibrose periportal e hipertensão portal, que pode provo-
car episódios de sangramento digestivo e algumas vezes morte do paciente. Há uma forma
intermediária, que ocorre em torno de 20% dos indivíduos parasitados. Esses apresentam
fibrose periportal moderada, mas ainda sem manifestações clínicas de hipertensão portal,
como esplenomegalia ou hemorragia digestiva alta. Essa forma passou a ser mais diagnos-
ticada após o advento da ultrassonografia (USG).
A faixa etária com as maiores taxas de infecção está compreendida entre 15 e 20 anos,
período em que há maior eliminação de ovos nas fezes. Os indivíduos vão se infectando
repetidamente nas áreas endêmicas, e a partir dessa faixa etária começam a desenvolver
imunidade a reinfecções, diminuindo a carga parasitária, tanto por morte natural dos ver-
mes, como por uma diminuição progressiva da eliminação de ovos por par de vermes.
A forma hepatoesplênica (HE) começa a ser vista por volta dos 15 anos de idade, atin-
gindo seu pico aos 30 anos nas localidades de alta transmissão. No Nordeste brasileiro,
após os diversos tratamentos realizados nas populações das áreas endêmicas, ao lado da
diminuição da prevalência da doença ao longo do tempo, observou-se que a maior incidên-
cia da forma HE passou a ocorrer após 50 anos de idade (DOMINGUES; FERRAZ, 2012).
Com base neste apanhado sobre o tema, já é possível ter-se uma ideia dos conteú-
dos que serão apresentados neste capítulo: a fisiopatologia da esquistossomose, as fases
e formas clínicas da doença, os sinais e sintomas mais frequentes e os principais órgãos
acometidos pelo S. mansoni.
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
Papel da Cercária
A penetração das cercárias na pele vai produzir nas primeiras 12 horas uma reação
inflamatória caracterizada por prurido de intensidade variável e exantema maculopapular, a
chamada Dermatite Cercariana, também conhecida como prurido do nadador (figura 1). A
intensidade do quadro depende do número e intensidade da exposição e da resposta imune
do hospedeiro. É pouco percebida em pessoas que vivem em áreas endêmicas, sendo mais
observada na primoinfecção. Também se observam flictenas (pequenas bolhas) e reações
urticariformes. É uma resposta celular de hipersensibilidade tardia com a presença de lin-
fócitos, eosinófilos e células mononucleares, resultando na morte de cerca de metade das
cercárias que penetram na pele (JAUREGUIBERRY; PARIS; CAUMES, 2010).
Papel do Esquistossômulo
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
nos pulmões como pelas reações imunes desencadeadas por substâncias antigênicas li-
beradas pelos vermes. Posteriormente, durante a passagem pelo organismo, ocorrem leu-
cocitose, eosinofilia, linfoadenopatia generalizada, aumento do fígado e baço secundários
à hiperplasia das células do sistema reticuloendotelial (LAMBERTUCCI, 2014). A resposta
ao esquistossômulo é a continuidade da resposta imune desencadeada pela cercária. Ob-
serva-se uma intensa estimulação da resposta inata e adquirida com forte polarização da
resposta Th1(células T helper 1).
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
Cada fêmea de S. mansoni acasalada põe em média 300 ovos por dia. Uma parte des-
tes ovos, graças a enzimas produzidas pelos miracídios e à resposta imune do hospedeiro,
consegue atravessar a mucosa do intestino, chegar à luz intestinal e ser eliminada nas
fezes (DOMINGUES; FERRAZ, 2012). Outra parte dos ovos fica retida na mucosa do intes-
tino, desencadeando reação inflamatória granulomatosa local. Cerca de um terço dos ovos
são carregados pela corrente venosa para o fígado, onde encalham em pequenos ramos
venosos portais pré-sinusoidais, desencadeando também reação granulomatosa local. De
acordo com a quantidade de ovos/granulomas diários que chega ao fígado num período de
anos, decorrente também do número de vermes com que o hospedeiro se contaminou e da
resposta imune deste hospedeiro, ocorre a formação de faixas de fibrose em torno dos va-
sos portais, a chamada fibrose periportal, que é a lesão típica da esquistossomose. Essa
fibrose foi denominada pelos patologistas como Fibrose de Symmers, em homenagem ao
primeiro patologista que a descreveu em 1904 (ANDRADE, 2004).
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
proliferação e ativação dos eosinófilos. Ocorre uma dicotomia de resposta de linfócitos Th1
e Th2, que se regulam reciprocamente. As citocinas produzidas pelas células Th2 down
regulam a produção das citocinas geradas pelas células Th1 e vice-versa; essa imunorre-
gulação é dependente das citocinas IL10 e IL12 (ABATH et al., 2006).
Há uma grande variabilidade de perfis de resposta imune nos homens. Uma respos-
ta mista Th1-Th2 com predomínio das citocinas Th1 é observada geralmente nas formas
agudas. Nas formas crônicas, os pacientes com a forma intestinal ou hepatointestinal (HI)
apresentam um perfil chamado Th0, em que há liberação simultânea de citocinas Th1 e Th2,
e os pacientes com a forma hepatoesplênica (HE) apresentam um predomínio da resposta
tipo Th2 (ABATH et al., 2006). Acha-se que os dois extremos, tanto o paciente que não faz
a modulação dos granulomas e mantém a resposta Th1 continuadamente, quanto o que
desenvolve uma resposta acentuadamente TH2, desenvolverão formas graves da doença
(ABATH et al., 2006).
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
A B
Figura 2- Fibrose de Symmers. (A) Aspecto externo de um fígado fibrosado. (B) Corte de fígado apresentando
tecido fibroso em torno dos ramos da veia porta intra-hepáticos.
Fonte: (A) LAMBERTUCCI, 2006 apud BRASIL, 2014, p. 51. (B) Acervo pessoal de Ana Lúcia C. Domingues.
Por outro lado, as lesões obstrutivas hepáticas provocadas pelos ovos naqueles pa-
cientes que permanecem nas áreas endêmicas se reinfectando continuam a ocorrer e levam
ao longo do tempo à atrofia hepática. Nesses pacientes, observa-se a formação de fibrose
perissinusoidal fina, provocada pelo depósito de colágeno tipo IV nos sinusoides. Essa
deposição é desencadeada pelo elevado regime de hipertensão portal e irá acentuar a atro-
fia hepática por dificultar as trocas metabólicas. O fígado desses pacientes se apresenta
reduzido, com extensas áreas de fibrose e diminuído parênquima hepático. Não constitui
um quadro de cirrose hepática, mas um quadro avançado de fibrose periportal, de difícil
diagnóstico diferencial do ponto de vista clínico, por se apresentar com manifestações de
insuficiência hepática. Apresentam elevação da pressão hepática ocluída e têm a caracte-
rística de ter grande elevação da gama GT, que pode sinalizar essa evolução. A elevação
da gama GT observada em pacientes com a forma HE avançada sugere lesões dos ductos
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
b) Forma Sintomática
Na fase pré-postural, que ocorre nas duas primeiras semanas após a infecção, po-
dem surgir tosse seca, sensação de mal-estar, astenia, cefaleia, anorexia, náuseas e febre.
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
Esses sintomas se apresentam com intensidades variáveis e têm uma relação direta com a
carga parasitária e resposta imune de cada indivíduo. Acompanham-se também de leuco-
citose e eosinofilia periférica, que se acentuam após a oviposição, junto com exacerbação
de toda sintomatologia descrita acima. Nesta fase também é possível observar cólicas ab-
dominais e diarreias que surgem com o deslocamento dos casais de vermes para os vasos
mesentéricos, para deposição dos ovos.
A forma aguda pode evoluir 3 a 4 meses após a infecção para formas crônicas da do-
ença, pode involuir espontaneamente sem tratamento ou para a cura, após o tratamento
específico da parasitose. Há descrições de casos de evolução para óbito por complica-
ções como abdome agudo, outras infecções associadas, abscesso hepático piogênico,
enterorragia e choque. Também se descreve evolução rápida para as formas HE, pulmonar,
medular ou pseudotumoral (DOMINGUES; FERRAZ, 2012). No quadro 1, estão listadas as
principais características da forma aguda.
• Doença febril que surge no 15° e/ou 40° dia após a infecção,
causada por uma reação imune à exposição maciça aos antígenos
liberados pelos vermes jovens e pela 1ª oviposição do parasito;
• Pouco frequente nas áreas endêmicas;
• Fases: Pré-postural e Pós-postural.
• Principais sintomas: febre, cefaleia, dores no corpo, cólicas, diar-
reia, tosse seca, sibilos, dispneia, perda de peso.
• Laboratório: leucocitose com eosinofilia acentuada (acima de
1.000 eosinófilos/mm³).
• RX de tórax ou Tomografia: infiltrado na periferia dos pulmões.
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
Nesta forma clínica, inicialmente catalogada como forma intestinal, o principal órgão
acometido é o intestino, estando o fígado não palpável ao exame físico. No entanto, como
na histologia hepática de casos suspeitos da forma intestinal sempre havia a presença de
granulomas no fígado, essa forma clínica passou a ser chamada de HI.
Pode ser observado quadro de diarreia com ou sem sangue nas fezes, acompanhado
de dor abdominal e intercalado por períodos de evacuações normais. Com o evoluir da
enfermidade, pode surgir constipação intestinal, alternando-se aos períodos de diarreia e
evacuações normais. As lesões provocadas pelo S. mansoni ocorrem geralmente no cólon,
principalmente no reto e sigmoide, o intestino delgado é raramente afetado. A morbidade
está relacionada com a intensidade e cronicidade da doença. Tal intensidade pode ser ava-
liada pela estimativa da carga parasitária (CP) através da contagem do número de ovos por
grama de fezes (OPG), passível de ser realizada pelo exame de fezes através do método Ka-
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
to-Katz. A infecção é classificada como leve quando a CP é até 99 OPG; moderada quando
há de 100 a 399 OPG e grave quando são contabilizados mais de 400 OPG (OMS, 2002).
Em crianças, na fase inicial da forma HI, o fígado cresce difusamente, mas, à medida
que a doença avança, o lobo esquerdo vai se tornando mais saliente e endurecido. Isso
ocorre porque, como os vermes ficam mais na veia mesentérica inferior, o lobo esquerdo
acaba recebendo maior quantidade de ovos. Crianças e jovens com contagem de ovos nas
fezes acima de 400 OPG têm risco de evoluir para a forma hepatoesplênica (DOMINGUES;
FERRAZ, 2012).
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Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
Entre as formas HI e HE, existe a Forma Hepática. Essa forma clínica passou a ser
observada após o advento da USG do abdome e ocorre em 20% dos casos nas áre-
as de maior endemicidade. Também podem ser acometidos com a forma H pacientes
mais velhos que foram tratados e apresentaram redução da esplenomegalia e da fibrose
periportal. Caracteriza-se por pacientes que apresentam fibrose periportal moderada ou
mais raramente avançada (fibrose de Symmers), sem esplenomegalia. Para o diagnóstico
dessa forma clínica é necessário o exame de USG, do contrário, casos são erroneamen-
te diagnosticados como a forma HI. Podem ou não apresentar varizes de esôfago, que,
quando presentes, são de fino calibre e não apresentam episódios HDA. A sintomatologia
clínica, digestiva/intestinal, é semelhante à dos pacientes com a forma HI, e as alterações
laboratoriais bioquímicas e hematológicas são semelhantes às dos pacientes com a for-
ma HE. O fígado geralmente é palpável, com lobo esquerdo de consistência endurecida e
superfície irregular (DOMINGUES; FERRAZ, 2012).
O paciente pode permanecer sempre nessa forma sem necessariamente ter que evoluir
para a forma HE. Aqueles mais jovens com carga parasitária maior terão maior risco para
esta evolução e devem ser tratados se continuarem a ter contato com focos de transmissão
da esquistossomose, mesmo se o exame de fezes for negativo.
54
Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
O baço também é aumentado pela hiperplasia das células do sistema retículo endo-
telial. Estes casos apresentam ótima resposta após o tratamento específico com redução
do tamanho do fígado e baço, e muitas vezes involução da forma HE para HI ou Hepática.
Cerca de 50% das crianças e jovens nesta fase ainda não desenvolveram varizes de esô-
fago, ou seja, a hipertensão portal ainda não ocorreu, o que facilita a reversão da forma
clínica. Os outros 50% apresentam varizes de esôfago (figura 3) e já podem desenvolver
episódios de HDA.
55
Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
56
Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
Alguns pacientes podem desenvolver quadro de ascite e edema dos membros infe-
riores transitórios, após o episódio hemorrágico, que cedem espontaneamente após o tra-
tamento da anemia. Devido à boa reserva funcional hepática, 90% dos episódios de san-
gramento digestivo param espontaneamente, e a mortalidade depende da intensidade do
sangramento, da idade do paciente e do número de episódios prévios (LAMBERTUCCI,
2014; DOMINGUES; FERRAZ, 2012).
Nas crianças com a forma HE, observa-se déficit de crescimento ósseo, estatural e
de desenvolvimento sexual, caracterizando o hipoevolutismo esquistossomótico. Esse
quadro regride com a involução do baço após o tratamento específico ou após a esplenec-
tomia (LAMBERTUCCI, 2014; DOMINGUES; FERRAZ, 2012; ANDRADE, 2004). O quadro 4
apresenta as principais características da forma HE e o quadro 5 as principais alterações
bioquímicas e gematológicas da forma HEC.
• Hepatoesplenomegalia;
• Fibrose hepática periportal (tipo Symmers);
• Varizes esofagianas (50% crianças, 80% adultos);
• HDA;
• Queixas dispépticas e intestinais;
• Associação com hipoevolutismo (crianças e adolescentes);
• Hiperesplenismo;
• Forma Descompensada com ascite (10%);
• Reversível após tratamento específico.
• Albumina normal;
• Bilirrubinas normais;
• AST/ALT normais ou levemente elevadas;
• Gamaglobulina elevada em função da IgG;
• Fosfatase alcalina e Gama GT elevadas;
• Plaquetopenia (75% dos casos);
• Leucopenia (60% dos casos);
• Anemia (25% dos casos).
57
Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
nais e a encefalopatia pode ser encontrada em alguns pacientes logo após um episódio
de HDA ou em raros casos em que se desenvolvem grossas redes de circulação colateral.
A figura 6 representa um caso de HED onde é possível visualizar no paciente a ascite e a
circulação colateral.
A grande maioria dos casos de forma HED ocorre pela associação da esquistossomose
com outras condições que causam dano ao tecido hepático como Hepatite crônica B ou C,
alcoolismo crônico, trombose da veia porta e esteato-hepatite. Alguns desses pacientes não
apresentam um fator aparente de descompensação, são os pacientes mais idosos que de-
pendem das distorções intra-hepáticas decorrentes da evolução da própria doença. Há tam-
bém aqueles pacientes que podem apresentar ascite por associação com hipertensão pul-
monar ou com nefropatia esquistossomótica (LAMBERTUCCI, 2014; DOMINGUES; FERRAZ,
2012). No quadro 6, estão listadas as principais causas de descompensação da forma HE.
Quadro 6 – Principais causas de descompensação da forma HE.
58
Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
Forma HE Complicada:
i. Vasculopulmonar
59
Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
detectados pelo ecocardiograma transtorácico tem sido de 10,7 a 13% e pelo cateterismo
cardíaco em torno de 7,7% (FERREIRA et al., 2019; ANDRADE, 2008). Os pacientes podem
evoluir para quadro de insuficiência cardíaca direita e óbito em poucos anos. O diagnóstico
pode ser suspeitado pelo exame clínico, onde pode-se identificar hiperfonese da segunda bu-
lha no foco pulmonar, durante a ausculta cardíaca, ao lado de sintomas de dispneia, tonturas
de esforço, podendo em casos mais graves ocorrer síncope aos esforços. O eletrocardiogra-
ma e RX de tórax reforçam esta suspeita clínica, mas é o ecocardiograma transtorácico e o
cateterismo cardíaco que vão confirmar o diagnóstico (FERREIRA et al., 2009).
A síndrome foi diagnosticada em 26% (18/69) dos pacientes com esquistossomose HE,
portadores de varizes de esôfago, e em 6% de pacientes portadores de fibrose hepática es-
quistossomótica (5/84). Neste último grupo, havia pacientes com forma HI, hepática e HE. To-
dos os pacientes com SHP apresentavam a forma HE. No primeiro grupo dos pacientes com
esquistossomose HE e varizes do esôfago, a presença da SHP teve relação com o aumento
de ALT, alargamento do tempo de protrombina (INR) e elevação das bilirrubinas total e direta.
Na análise multivariada, a elevação da ALT e alargamento do INR foram os fatores de risco
independentes para a ocorrência da SHP, mostrando que também na esquistossomose essa
síndrome está associada com insuficiência hepática. Possivelmente a SHP na esquistosso-
mose seja uma manifestação precoce da chamada forma cianótica em que se descrevia a
presença de microfístulas arteriovenosas (DOMINGUES; FERRAZ, 2012; FERREIRA et al.,
2009).
60
Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
A lesão renal seria o resultado de uma reação imunológica mediada pela formação de
imunocomplexos depositados nos glomérulos. Demonstrou-se, através da IMF indireta, depó-
sitos de imunoglobulinas, principalmente a IgG seguida da IgM, IgE, IgA (a menos frequente);
complemento (C3, C4) e fibrinogênio. Os antígenos foram caracterizados como polissacarídeos
de alto peso molecular, existentes somente no intestino do verme adulto – antígenos catódicos
e anódicos circulantes (CCA/CAA). Do ponto de vista histológico, as lesões são predominante-
mente glomerulares. Nas fases iniciais, há uma glomerulonefrite proliferativa mesangial e, com a
evolução, passa a ser membranoproliferativa. Podemos encontrar também glomeruloesclerose
focal e segmentar (GESF), assim como proteína amiloide (DOMINGUES; FERRAZ, 2012).
O Linfoma Esplênico do tipo nodular, não Hodgkin, tem sido descrito como compli-
cação rara da forma hepatoesplênica, ocorrendo principalmente em mulheres acima de 40
anos. Andrade e Abreu (1971) descreveram 9 casos de esquistossomose HE avançada, en-
tre 863 esplenectomias pesquisadas. Sabe-se que linfoma também pode surgir em outras
condições de esplenomegalia parasitária crônica, tendo sido descrito em casos de malária
crônica na África. Deve-se suspeitar naqueles pacientes que apresentam baço muito au-
mentado, endurecido e de crescimento rápido (ANDRADE, 2008).
É pouco frequente em nosso meio e muito frequente no Egito. Admite-se que isso ocor-
re devido à cepa parasitária. Ocorrem verdadeiros tumores que se formam ou por excesso
de ovos localizados em certa região, muitas vezes associados a par ou pares de vermes,
61
Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
ou por uma reação conjuntiva hiperplástica acentuada do organismo aos ovos, havendo
granulomas e excesso de fibrose em torno. Simulam neoplasia maligna, daí a denominação,
e quase sempre o diagnóstico é cirúrgico ou por biópsia. Localizam-se frequentemente no
intestino e peritônio. Quando ocorrem fora da região abdominal, constituem as formas ec-
tópicas que farão parte de outro capítulo.
Por ordem de frequência, os locais mais acometidos são cólon descendente e sigmoi-
de, íleo terminal, retroperitônio, intestino delgado e jejuno. As lesões podem crescer para a
luz do intestino, sendo pólipos únicos ou múltiplos, e o principal sintoma é o sangramento.
Podem crescer na parede do intestino, e nestes casos originam lesões estenosantes, cujo
sintoma é de obstrução ou semiobstrução intestinal; ou podem crescer para fora do intes-
tino, no peritônio, podendo alcançar grandes volumes, serem palpáveis e causar sintomas
compressivos. Em alguns casos, palpa-se uma massa não endurecida, poucas vezes do-
lorosa na fossa ilíaca esquerda. Trata-se de uma fibrose pericolônica, resultante da depo-
sição maciça de ovos no tecido adiposo pericolônico associado a forte reação inflamatória
fibrosante. Respondem muito pouco ao tratamento específico da parasitose e não evoluem
para malignidade (DOMINGUES; FERRAZ, 2012; ANDRADE, 2008; 2004).
CONSIDERAÇÕES DO CAPÍTULO
62
Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
REFERÊNCIAS
63
Unidade 2 - Manifestações Clínicas da Esquistossomose
64
UNIDADE 3
Diagnóstico e Terapêutica da
Esquistossomose
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
CAPÍTULO 4
Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
De acordo com a história e manifestações clínicas do paciente, o diagnóstico pode
indicar o estágio evolutivo da doença: forma aguda ou crônica.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da esquistossomose pode ser visto sob duas óticas, individual e cole-
tiva, visando sempre o controle da doença. O foco do programa de controle da esquistos-
somose atualmente é a redução da morbidade e o controle da doença através de medidas
66
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Até o momento, não existe a “técnica ideal” para o diagnóstico, mas as caracterís-
ticas necessárias desse deveriam ser: facilidade de comercialização, coleta e transporte;
estabilidade dos reagentes e instrumentos requeridos; sensibilidade para detectar baixas
cargas parasitárias; produção de poucos resultados falsos positivos; alta especificidade,
principalmente para o diagnóstico de cura após a eliminação do parasita (WEERAKOON et
al., 2015).
EXAME DE FEZES:
Métodos Qualitativos: sedimentação e concentração;
Métodos Quantitativos: Kato-Katz (Ovos por Grama de Fezes – OPG)
(0-99 OPG: infecção leve; 100-399 OPG: infecção moderada;
≥ 400 OPG: infecção grave).
BIOPSIA RETAL E HEPÁTICA.
REAÇÃO DE CADEIA POLIMERASE (PCR).
IMUNODIAGNÓSTICO: Pesquisa de Antígenos Circulantes
(CCA: Soro e Urina; CAA: Soro).
EXAME CLÍNICO:
Formas Clínicas: Aguda, Hepatointestinal (HI),
Hepatoesplênica (HE);
Formas Especiais: Pulmonar, Renal, Medular.
PROPEDÊUTICA:
Ultrassonografia (USG);
Tomografia Computadorizada (TC), Ressonância Magnética (RM);
Marcadores Bioquímicos de Fibrose Hepática.
IMUNODIAGNÓSTICO:
Pesquisa de Anticorpos;
Elisa, Imunofluorescência.
67
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Exames de Fezes
O achado de ovos nas fezes permanece sendo o teste padrão ouro para o diagnós-
tico da esquistossomose. Os ovos são facilmente detectados e identificados pela micros-
copia óptica, devido a sua forma com espículo lateral. São mais usados, nos laboratórios
particulares, os métodos de concentração e sedimentação, que não são quantitativos e
não permitem estimar a carga parasitária dos indivíduos infectados. Neste caso, deve ser
realizado mais de um exame, em torno de três, para se obter maior probabilidade de diag-
nóstico. A técnica quantitativa de Kato-Katz, desenvolvida em 1972, é a mais usada nos
trabalhos de campo até hoje e é utilizada pelo Programa de Controle da Esquistossomose.
É uma técnica rápida, simples, não dispendiosa e recomendada pela Organização Mun-
dial de Saúde para uso em toda área endêmica do mundo (KATZ; CHAVES; PELLEGRINO,
1972; OMS, 2002).
Essa técnica dá uma ideia da carga parasitária do indivíduo, fator diretamente rela-
cionado ao surgimento e gravidade das manifestações clínicas no doente. Através desse
método é possível diagnosticar os casos da doença e calcular a sua prevalência na comu-
nidade, o que permite visualizar a magnitude da parasitose e estabelecer metas de redu-
ção e controle da enfermidade. A sensibilidade da técnica depende da carga parasitária e
da prevalência da doença na região. Com uma amostra de fezes e fazendo 2 lâminas por
amostra, a técnica permite que sejam diagnosticados de 70 a 80% dos casos das formas
assintomática e HI e de 30 a 40% dos casos da forma HE. Em áreas de alta endemicidade,
o Kato-Katz tem padrão ouro, porém, em áreas de baixa prevalência, analisando-se uma lâ-
mina por amostra, o Kato-Katz só diagnostica de 40 a 58% dos casos; já com duas lâminas,
obtém-se 68%. Por isso, em tais áreas, preconiza-se fazer uma amostra de fezes com 3
lâminas para aumentar o potencial de diagnóstico. Fezes diarreicas e uso de medicamentos
ou suplementos que alterem a cor das fezes, como sulfato ferroso e vitaminas do complexo
B, podem diminuir a sensibilidade do método (DOMINGUES; FERRAZ, 2012; LIMA; GUR-
GEL, 2010; WEERAKOON et al., 2015).
68
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Biópsia do Reto
Realizada ao nível das válvulas de Houston, por ser um método invasivo, só é indicada
atualmente em casos especiais de diagnóstico, quando os exames parasitológicos são re-
petidamente negativos ou para avaliação de novos fármacos antiesquistossomóticos, oca-
sião em que se faz o oograma (classificação de ovos imaturos, maduros e mortos). Na forma
HE, a biópsia retal tem positividade de 50 a 70% e nas formas HI e assintomática de 100%
(DOMINGUES; FERRAZ, 2012; LIMA; GURGEL, 2010; WEERAKOON et al, 2015).
Biópsia Hepática
Tem indicação nas formas hepatoesplênicas quando se quer fazer diagnóstico diferen-
cial em relação a outras hepatopatias, já que nessas formas a presença de ovos nas fezes é
pouco expressiva ou mesmo ausente. Pode-se encontrar granulomas com restos ovulares,
ou mesmo o pigmento esquistossomótico, que é um marcador da doença, além da fibro-
se em torno dos espaços Porta. Muitos pacientes podem ter doença hepática associada,
que chamamos de Doença Hepática Crônica Mista. Tais associações podem dar-se com
Hepatites B ou C ou com alcoolismo crônico. Geralmente evoluem para um quadro de cir-
rose hepática com um componente de hipertensão portal mais acentuado que as cirroses
não associadas à esquistossomose (DOMINGUES; FERRAZ, 2012; ANDRADE, 2004).
Permite identificar o DNA do parasita e é 10 vezes mais sensível que o exame para-
sitológico pela técnica de Kato-Katz. Trata-se de uma técnica baseada na amplificação
de um segmento específico de gene alvo. É bastante específica para o diagnóstico do S.
mansoni e permite quantificar o DNA do verme, que consiste numa avaliação indireta da
carga parasitária. Pode ser realizada nas fezes, urina, ou amostras de biópsias. Tem sido
realizada usando-se diferentes técnicas de PCR. Embora seja técnica altamente sensível e
específica, é bastante complexa e dispendiosa e, por falta de investimentos industriais dos
setores público e privado, só tem sido utilizada até o momento em experimentos científicos
(DOMINGUES; FERRAZ, 2012; WEERAKOON et al., 2015).
69
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Métodos Imunológicos
São métodos indiretos que não fazem diferenciação entre infecção ativa ou passada,
nem se relacionam com a intensidade da infecção. Podem apresentar reações cruzadas
com outras helmintíases, com outras espécies de Schistosoma, e com antígenos de cer-
cárias de outros animais. Às vezes, necessita-se realizar mais de uma técnica no mesmo
material para se ter certeza do diagnóstico, procedimento que é utilizado quando se quer
fazer diagnóstico de esquistossomose medular. Podem ser usados antígenos do verme ou
antígenos ovulares, dependendo da técnica. As técnicas mais usadas atualmente são: (1)
hemaglutinação indireta, com sensibilidade de 60 a 90%, que utiliza antígeno de verme
adulto; (2) imunofluorescência indireta, que também utiliza antígenos de verme e tem
sensibilidade de 85%, sendo positiva mais precocemente em torno da quarta semana de
infecção, pois pesquisa anticorpos da classe IgM; (3) ELISA, que utiliza antígenos solúveis
de ovos e tem sensibilidade de 95%. A desvantagem do Elisa é o tempo gasto para sua
realização. O Fast-Elisa diminuiu o tempo gasto para execução sem alterar a sensibilidade
e especificidade. Em locais de baixa prevalência da esquistossomose, essas técnicas
podem ser utilizadas, lançando-se mão de papel de filtro e punctura ungueal para a cole-
ta de amostra (DOMINGUES; FERRAZ, 2012; LIMA; GURGEL, 2010; WEERAKOON et al.,
2015).
Nas áreas de média e alta endemicidades, esses testes não são indicados, pois
praticamente todos os indivíduos nativos da região tiveram alguma infecção e, portanto, te-
rão resultados positivos, o que vai ocasionar estresse desnecessário. Como se sabe que o
teste permanece positivo anos após a cura da parasitose e que o parasito vive em torno de
10 anos nas pessoas que se afastam do foco, muitas vezes um teste positivo indica apenas
uma infecção no passado. Portanto tais testes de pesquisa de anticorpos são indicados
apenas:
70
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
As técnicas que pesquisam antígenos circulantes são 100% específicas para detectar
infecção ativa, porque dependem da presença do verme vivo e apresentam relação com a
intensidade da infecção. Não são ainda disponíveis comercialmente, por serem métodos
dispendiosos e por se ter dificuldade em obter anticorpos monoclonais em quantidade su-
ficiente. A mais utilizada é a técnica ELISA-sanduíche e os antígenos mais utilizados são o
CAA e CCA (antígenos anódico e catódico circulantes). São antígenos produzidos no tubo
digestivo dos vermes adultos e excretados na circulação do hospedeiro. Esses antígenos
são eliminados na urina, podendo também ser aí pesquisados, principalmente o CCA.
71
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
para o CCA X KK) (COLLEY et al., 2013). O uso desse teste não tem se expandido pelo cus-
to (COLLEY et al., 2013; DOMINGUES; FERRAZ, 2012; WEERAKOON et al., 2015).
Ultrassonografia (USG)
72
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Posteriormente esse protocolo foi revisto, em 1996, na cidade de Niamey, Nigéria, quando
foi elaborado o Protocolo de Niamey, utilizado até hoje. Esse protocolo utiliza lâminas ou
padrões preestabelecidos de textura hepática, chamados de Padrões de Imagem, que vão
da letra A (fígado normal) até F (fibrose muito avançada) (DOMINGUES, 2008). O quadro
3 apresenta as principais alterações observadas em cada padrão de fibrose estabelecido
pelo Protocolo de Niamey, e nas figuras 1, 2, 3 e 4 é possível constatar tais alterações para
os padrões de fibrose C, D, E e F.
DC; EC;
FC
73
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
74
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Foi observado que a FPP tem relação com a forma clínica da doença, ou seja, as
formas mais avançadas têm FPP mais acentuadas, e também que varizes de esôfago só
ocorrem em pacientes com fibrose mais avançadas. A FPP se relaciona também com a
intensidade da pressão portal (DOMINGUES; FERRAZ, 2012; DOMINGUES, 2008). Então,
através da USG, é possível dizer se o paciente tem forma HI, hepática ou HE. Na forma HI,
não há FPP, ou quando ocorre esta é leve, padrão C. Na forma hepática, sempre há FPP,
que pode ser padrão D ou mesmo E, sem esplenomegalia; e na forma HE, a FPP geralmen-
te é do padrão E ou F e o paciente tem esplenomegalia e algum outro sinal de hipertensão
portal (DOMINGUES; FERRAZ, 2012).
Tem se mostrado uma técnica mais sensível que a ultrassonografia do abdome para
diagnóstico de fibrose periportal por conseguir separar fibrose de infiltração gordurosa e
mostrar casos erroneamente diagnosticados pelo ultrassom do abdome, como fibrose cen-
tral. A ressonância magnética não é exame operador dependente e permite também ava-
liar o tamanho do fígado e baço e a presença de circulação colateral. A desvantagem da
ressonância magnética á o custo e a complexidade da aparelhagem para uso em campo
(LAMBERTUCCI, 2014; DOMINGUES; FERRAZ, 2012; DOMINGUES, 2008).
Marcadores Séricos
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Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
A NÍVEL INDIVIDUAL:
• Curar ou melhorar a sintomatologia
• Reduzir ou prevenir a morbidade da doença
• Promover a cura parasitológica
A NÍVEL DA COMUNIDADE:
• Reduzir a intensidade da infecção
• Reduzir a prevalência da doença
• Reduzir a transmissão da infecção
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Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
O praziquantel (PZQ)
O praziquantel é utilizado no Brasil em dose única. Nos pacientes com forma hepato-
esplênica ou com outras doenças graves associadas, o tratamento deverá ser realizado sob
supervisão médica. A dose recomendada pelo MS é de 60 mg/kg para crianças maiores de
2 anos com peso superior a 10kg e até 15 anos com peso maior que 30kg (tabela 1) e de 50
mg/kg para adultos (tabela 2).
77
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Efeitos Adversos:
O medicamento tem como efeitos adversos: náuseas, vômitos, tonturas, dor abdomi-
nal, cefaleia e urticária. Dor abdominal e urticária são efeitos adversos secundários à morte
dos vermes, os demais são efeitos da droga. Em geral, esses efeitos têm intensidades de
leves a moderadas, podendo ser tratados com medicação sintomática. Se o paciente referir
vômitos em tratamento anterior, o tratamento atual deve ser precedido pelo uso de metro-
clopramida, meia hora antes da ingestão do medicamento, e deve ser fracionado em duas
a três doses a depender da intensidade dos vômitos. Lembrar que, quando se fraciona o
tratamento, o intervalo entre a primeira e última dose nunca deve ultrapassar 6 horas, por-
que vai diminuir o efeito da medicação.
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Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Interação Medicamentosa:
Contraindicações:
TEMPORÁRIAS:
• Gestação, amamentação
• Desnutrição, anemia acentuada
• Infecções intercorrentes
DEFINITIVAS
• Insuficiência hepática grave (ascite, icterícia)
• Insuficiência cardíaca descompensada
TRATAMENTOS INVASIVOS
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Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
pica, consegue-se controlar a maior parte dos episódios agudos. Atualmente o tratamento
cirúrgico vem sendo indicado essencialmente na prevenção da recidiva hemorrágica (DO-
MINGUES; FERRAZ, 2012).
80
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
endoscópico destas varizes, cujo resultado é muito satisfatório devido à remoção do baço.
Na experiência do Serviço de Cirurgia do Hospital das Clínicas da UFPE, após esplenec-
tomia com desvascularização da grande curvatura do estômago, ligadura da veia gástrica
esquerda, esclerose endóscópica pós-operatória, a recidiva hemorrágica no 5° ano foi de
14,4% e a mortalidade tardia de 5,4% (DOMINGUES; FERRAZ, 2012; EVANGELISTA NETO
et al, 2012).
De início, faz-se tratamento clínico baseado nos sintomas do paciente até que o diag-
nóstico etiológico seja confirmado, o que geralmente ocorre na quarta semana após a in-
fecção, pelo exame parasitológico de fezes.
81
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
O uso de prednisona é iniciado na dose de meio mg/kg/dia, em dose única pela manhã.
No dia seguinte de seu início, ou quando o paciente estiver apto a receber o tratamento com
PZQ, isto é, sem sintomas, administra-se esta droga em dose única após o café da manhã.
O corticoide é mantido na mesma dose por 7 a 10 dias quando se faz o desmame lentamen-
te, até suspensão completa após 20 a 30 dias do tratamento. Estes prazos dependem da
reação de cada paciente e da intensidade da sintomatologia apresentada na forma aguda.
Como o verme jovem responde mal ao PZQ, todo paciente de forma aguda deve ser
retratado após 6 meses, para garantir a cura da doença. Nesse segundo tratamento, não é
necessário o uso da prednisona. Este esquema de tratamento está resumido no quadro 6.
O modo de cuidar destas três formas vai depender se estamos em campanha de tra-
tamento, ou acompanhando pacientes individuais em uma Unidade de Saúde ou Consul-
tórios. Durante campanha de saúde, de tratamento de grande número de indivíduos, não
é preciso diferenciar as três formas, pois a reação após uso da droga é semelhante. Seria
interessante nessas campanhas tentar identificar apenas os indivíduos de forma hepatoes-
plênica, nem que seja por exame clínico, evitando tratar principalmente os pacientes que
tiverem antecedentes de hemorragia digestiva alta.
Antes de administrar o PZQ aos pacientes com as três formas, é interessante pergun-
tar se eles tiveram algum episódio febril nos últimos 3 dias, quadro de vômitos e diarreia
para evitar tratar alguém que já esteja com provável infecção viral ou bacteriana que vai
atribuir seus sintomas à droga recém-tomada. Também se pergunta se já tomaram PZQ e
se tiveram algum efeito colateral, para prevenir novas reações. Se for indivíduo do sexo
feminino em idade fértil, indagar sobre possível gestação.
82
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Se possível, o paciente deve ficar em observação por uma a duas horas após o tra-
tamento. Caso o paciente vomite num intervalo inferior a meia hora da ingestão do medi-
camento, este não foi absorvido, e a dose deverá ser repetida com os cuidados descritos
acima, num outro dia. Se o vômito ocorreu num intervalo superior, 1 a 2 horas após ingestão
da droga, esta já foi absorvida e vai fazer o efeito desejado. Deve-se tratar apenas o sintoma
colateral do paciente. Deve-se fazer controle de cura após o 4° mês do tratamento. Esses
cuidados descritos estão resumidos no quadro 7.
83
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Nesta fase, o tratamento é feito ainda em ambulatório. Não é preciso internar o pacien-
te. Deve-se tentar melhorar o estado geral e nutricional do paciente, tratando outras parasi-
toses e anemia associadas. Fazer USG do abdome para confirmar o diagnóstico da forma
HE e afastar outras doenças, como cirrose hepática, calazar, leucemias, linfomas. Após
isso, faz-se o tratamento com PZQ, semelhante ao da forma HI. O tratamento específico
com PZQ deve ser repetido nesta forma por 2 a 3 vezes com intervalo de 2 a 3 meses entre
as doses. O objetivo é estimular a reabsorção da fibrose periportal. A fibrose é um processo
dinâmico com contínua produção e reabsorção de matriz extracelular. Após o tratamento,
os mecanismos de reabsorção se tornam mais ativos que os de produção. Quanto mais
recente a fibrose, ou seja, mais jovem o paciente tratado, a velocidade e intensidade de
reabsorção serão maiores.
Todo paciente de forma HE, mesmo os que não apresentem antecedentes de HDA,
devem realizar endoscopia digestiva alta (EDA), para pesquisa de varizes do esôfago e pre-
venção dos surtos de HDA, conforme já foi tratado anteriormente. Os pacientes da forma
HE que permanecem nas áreas endêmicas com algum contato com focos de transmissão
devem ser retratados, mesmo que não se detectem ovos nas fezes. As crianças, uma vez
por ano; e os adultos, de 2 em 2 anos. No quadro 8, estão os cuidados do paciente com
forma HEC sem HDA.
84
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
encaminhado para um centro onde possa ser melhor investigado e prevenidos novos sur-
tos hemorrágicos. Só depois é que se deve pensar no tratamento com PZQ. O tratamento
feito antes de tratar as varizes do esôfago pode desencadear o aparecimento de um novo
episódio de HDA.
Pacientes em tal condição perdem proteína pela urina, evoluem com diminuição da al-
bumina e presença de edemas periféricos e, por fim, apresentam insuficiência renal crônica
(IRC). Estes casos devem ser encaminhados para hospital terciário, pois vão necessitar de
acompanhamento por nefrologista. Caso a doença renal esteja ainda em fase compensada,
têm indicação de tratamento com PZQ. Deve-se fazer 3 séries de tratamento para se ter
certeza da morte de todos os vermes. Como a lesão renal é provocada por depósitos de
complexos antígenos/anticorpos nas membranas glomerulares, e os antígenos são aque-
les liberados pelos vermes vivos CCA e CAA, estes devem ser eliminados para que novos
glomérulos não sejam lesados. Como os glomérulos não se regeneram, as lesões não me-
lhoram após o tratamento da parasitose. Tenta-se apenas estabilizar o quadro do paciente.
Se o diagnóstico é feito numa fase mais avançada da doença, pouco se pode fazer pelo
paciente, pois a lesão não responde ao uso de corticoide nem imunossupressor. O paciente
vai evoluir para IRC e necessitar de diálise.
Estes pacientes deverão ser encaminhados para hospital de referência para melhor
investigação da função hepática e tratamento da hepatite. Se a função hepática estiver nor-
mal, o tratamento da esquistossomose com PZQ deve ser feito antes do início do tratamen-
85
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
to do vírus, caso contrário, tratar primeiro a hepatite e, caso a função hepática se normalize
após o tratamento viral, se efetuará o tratamento da esquistossomose.
Deverão ser encaminhados para hospital de referência, onde serão investigados para
se descobrir a causa da descompensação e tratar, se possível. O tratamento desses pa-
cientes é primordialmente sintomático, visando o controle da ascite.
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Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
Estes casos, pela gravidade e urgência em iniciar o tratamento precoce, devem ser
encaminhados para hospitais de referência no tratamento de casos graves da esquistosso-
mose. O tratamento destes pacientes deve ser iniciado o mais cedo possível para se obter
remissão completa do quadro do paciente. Antes de iniciar o tratamento, deve-se tentar
afastar outras causas de mielorradiculopatias: traumática, tumoral ou viral; e confirmar no
paciente o diagnóstico de infecção por esquistossomose, através de teste imunológicos
realizados no LCR e no soro. Além de parasitológicos de fezes e/ou biópsia retal.
87
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
é feito pelo anatomopatológico. Após cirurgia e nos casos de polipose, deve-se fazer o
tratamento específico com PZQ. Nestes casos, fazem-se 3 tratamentos com períodos mais
curtos entre eles, 1 mês, para que a droga alcance as lesões, que por serem encistadas,
encapsuladas, há certa dificuldade de a droga chegar a estas regiões com concentrações
suficientes para matar os casais de vermes aí existentes. Nos raros casos de polipose dis-
seminada em todo o cólon, associa-se prednisona ao PZQ na dose de 0,5 mg/kg/dia por 1
a 2 meses.
CONSIDERAÇÕES DO CAPÍTULO
88
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
REFERÊNCIAS
BARRETO, A. V. et al. New index for the diagnosis of liver fibrosis in schistosomiasis mansoni.
Arquivos de Gastroenterologia. 54; (1): 51-56, 2017.
KATZ, N., CHAVES, A.; PELLEGRINO, J. A simple device for quantitative stool thick smear
technique in Schistosomiasis mansoni. Revista Do Instituto de Medicina Tropical de São
Paulo, 14, 397–400, 1972.
89
Unidade 3 - Diagnóstico e Terapêutica da Esquistossomose
TEIXEIRA, C. F. et al. Detection of Schistosoma mansoni eggs in feces through their interaction
with paramagnetic beads in a magnetic field. PLOS Neglected Tropical Diseases 1: e73,
2007.
WEERAKOON, K. G. A. D.; GOBERT, G. N.; CAI, P.; MCMANUS, P. Advances in the Diagnosis
of Human Schistosomiasis. Clinical Microbiology Reviews, 28(4): 939- 967, 2015.
90
Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
CAPÍTULO 5
As Formas Ectópicas da esquistossomose: diagnóstico e
manejo
CONCEITOS GERAIS SOBRE AS FORMAS ECTÓPICAS DA ESQUISTOS-
SOMOSE
O acesso dos ovos do S. mansoni aos vários órgãos ocorre por embolização na circu-
lação sistêmica, o que geralmente resulta em granulomas isolados e sem maior significação
clínica, ou através da migração anômala de casais de vermes. Nestes casos, uma maior
quantidade de ovos pode vir a ser depositada em locais restritos e assim provocar lesões
focais, expansivas, com importantes repercussões clínicas, a depender do local ou do ór-
gão atingido (ANDRADE, 2008).
A passagem de vermes adultos e ovos do sistema portal para outros setores por vias
colaterais pode ocorrer através das anastomoses da mesentérica inferior com o plexo retal
e deste com as pudendas internas, desse modo, os ovos podem atingir o reto e tecidos pe-
rirretais, assim como os órgãos genitais masculinos e femininos (COELHO et al., 1965). As
anastomoses da mesentérica inferior com o plexo venoso vertebral de Batson também po-
dem facilitar a disseminação de ovos e vermes para o sistema nervoso central e medula es-
pinhal, causando a neuroesquistossomose, que é considerada a forma ectópica mais grave
92
Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
da doença, pela frequência e gravidade das manifestações clínicas (ANDRADE, 2008). Com
o aumento da pressão portal que ocorre na forma hepatoesplênica, há formações de várias
circulações colaterais porto-cava que vão explicar a presença de ovos e/ou vermes nos
pulmões, tireoide e vários outros tecidos (COELHO et al., 1965).
Há três trabalhos realizados no Brasil nos quais houve revisão de necropsias realizadas
em diferentes períodos, revelando percentuais distintos de formas ectópicas da esquistos-
somose. Esses trabalhos estão resumidos no quadro 1.
Andrade e Bina (1983) reviram 3.505 necrópsias em Salvador (BA), no período de 1956
a 1975, encontrando 232 casos de forma hepatoesplênica (HE). No estudo, relataram tam-
bém predomínio do sexo masculino e maior frequência na terceira década de vida. Já Gon-
çalves, Fonseca e Pittella (1995) fizeram revisão de 1.863 necrópsias, no período de 1971 a
1996, identificando 313 casos de esquistossomose, com predomínio da forma hepatointes-
tinal (67,4%), seguida da hepatoesplênica sem acometimento pulmonar (24,9%).
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
Neste capítulo, serão abordados os casos de formas ectópicas, dando atenção espe-
cial àquela considerada a mais frequente e grave, a neuroesquistossomose. Além desta, se-
rão apresentadas outras formas ectópicas que cursam com lesões expansivas, focais, em
um ou vários órgãos, muitas vezes simulando tumores. Pela inespecificidade das manifes-
tações clínicas, essas formas ectópicas são diagnosticadas após procedimento cirúrgico
ou biópsias. Tendo em vista sua raridade, os casos de formas ectópicas não neurológicas
da esquistossomose são geralmente publicados como relato de casos.
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
NEUROESQUISTOSSOMOSE
Mielorradiculopatia esquistossomótica
Patogênese
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
tações clínicas. Estas só apareceriam nos raros casos de migração de vermes (PITTELLA,
1991).
Nas áreas endêmicas, os médicos que atuam numa Unidade de Saúde da Família
(USF) devem estar atentos à doença, pois atendem os pacientes no início dos sintomas,
ainda com o quadro neurológico normal. Os pacientes apresentam apenas a tríade clínica
prodrômica de dor lombar, parestesias de MMII e distúrbio urinário (BRASIL, 2006). No
quadro a seguir, estão as principais manifestações clínicas da MRE:
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
Diagnóstico da MRE
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
(A) (B)
100
Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
Grande parte desses diagnósticos são afastados pela história clínica, realização de RX
da coluna, tomografia ou RNM. Para outros diagnósticos são utilizados testes sorológicos
para cada doença (ADEEL, 2015; LAMBERTUCCI; SILVA; AMARAL, 2007).
Tratamento da MRE
Na maioria dos pacientes que respondem ao tratamento, a melhora se inicia nos pri-
meiros dias após o início do corticoide e continua durante os primeiros meses de tratamen-
to. Pode haver reaparecimento de alguns sintomas, associado com a diminuição da dose
do corticoide. Nessas situações, o aumento para dose anterior é acompanhado de melhora.
101
Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
Esquistossomose Cutânea
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
Esquistossomose Vesical
Esquistossomose Tireoideana
Miocardite Esquistossomótica
O acometimento cardíaco pelo S. mansoni, não tem relação com a forma cardiopul-
monar. Trata-se do acometimento do miocárdio por ovos e granulomas com ou sem reação
inflamatória. Os ovos podem chegar ao coração através de fístulas arteriovenosas pulmo-
nares. O paciente pode cursar sem sintomas aparentes ou com quadro de insuficiência
cardíaca. Os diagnósticos dos casos descritos foram feitos todos após exames anatomo-
patológicos (LUCENA; MALTA, 1994).
Tratamento
105
Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
CONSIDERAÇÕES DO CAPÍTULO
Neste capítulo, foi possível conhecer um pouco mais sobre a esquistossomose e suas
inúmeras formas e manifestações clínicas. Especialmente no que tange à MRE, é funda-
mental que todos os profissionais que atuam na Atenção Básica à Saúde estejam atentos
aos sinais e sintomas iniciais dessa forma ectópica da doença, tendo em vista a gravidade
das lesões e comprometimento neurológico e motor. A partir de um diagnóstico e trata-
mento precoces, pode-se minimizar e reverter danos neurológicos, refletindo, assim, num
melhor prognóstico para a doença.
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Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
REFERÊNCIAS
ADISA, J. et al. Primary infertility associated with Schistosoma mansoni: a case report
from the Jos plateau, north central Nigeria. African Journal of Heath Science, 12(4):
563-5, 2012.
107
Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
108
Unidade 4 - As Formas Ectópicas da Esquistossomose: Diagnóstico e Manejo
ZWANG, J.; OLLIARO, P. L. Clinical efficacy and tolerability of praziquantel for intestinal and
urinary schistosomiasis: a meta-analysis of comparative and non-comparative trials. PLOS
Neglected Tropical Diseases, 8: e3286, 2014.
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Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
CAPÍTULO 6
Diagnóstico Malacológico e Parasitológico para o
Controle da Esquistossomose
Agora que já foi apresentado um amplo conteúdo sobre os aspectos clínicos da es-
quistossomose, desde o ciclo de transmissão da doença, passando pelas manifestações
e formas clínicas até o diagnóstico e tratamento, será retomada a visão epidemiológica
desta enfermidade, no que tange ao seu diagnóstico e controle por meio de medidas de vi-
gilância em saúde. Neste capítulo, serão abordados conteúdos relacionados aos inquéritos
malacológico e parasitológico, bem como conceitos relacionados ao espaço geográfico na
ocorrência da esquistossomose e como estratégias simples de reconhecimento do território
podem auxiliar os serviços de saúde da identificação de áreas de risco para transmissão da
doença.
Inquérito Malacológico
•Ações de Campo
O inquérito malacológico possibilita a identificação e visualização da distribuição geo-
gráfica dos moluscos vetores da esquistossomose na localidade. Inicia-se com o Reconhe-
cimento Geográfico para identificar as coleções hídricas que devem ser georreferencia-
das e classificadas em função de sua importância epidemiológica em criadouros ou focos.
111
Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
Como já apresentado no capítulo 2, criadouro é toda coleção de água doce com a presen-
ça do caramujo vetor e sua importância epidemiológica é assim definida: (1) ter condições
ecológicas que favorecem a existência de caramujos vetores; (2) servir à comunidade local
como fonte de água para consumo, banho, lavagem de roupa, pesca ou qualquer outro
tipo de contato; (3) apresentar indícios de contaminação fecal. Esses fatores determinam a
potencialidade na transmissão da doença (PIERI; FAVRE; BARBOSA, 2012).
Figura 1: Criadouros temporários: ilustração da influência dos períodos climáticos sobre os focos de transmis-
são da esquistossomose em Porto de Galinhas, Ipojuca, PE.
Fonte: Acervo pessoal de Elainne Christine de Souza Gomes.
112
Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
Figura 2: Criadouro permanente de B. straminea em região rural da Zona da Mata pernambucana, São Lou-
renço da Mata, PE.
Fonte: Acervo pessoal de Elainne Christine de Souza Gomes.
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Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
A coleta de moluscos deve ser realizada de forma periódica para monitorar a densida-
de populacional de caramujos e a taxa de infecção natural ao longo do tempo. A perio-
dicidade deve levar em conta fatores como a existência de caramujos e pessoas infectadas
nos arredores da coleção hídrica, a perenidade dos criadouros, etc. Os caramujos coleta-
dos devem ser enviados para os laboratórios de referência para esquistossomose no prazo
de 24 horas para a sua devida classificação e/ou diagnóstico de infecção.
Vale ressaltar que os municípios que possuam áreas endêmicas devem ser capazes
de realizar os procedimentos acima descritos e que as informações geradas nos inquéritos
malacológicos devem ser inseridas do Sistema de Informação do Programa de Controle
da Esquistossomose (SISPCE). Caso algum município necessite de treinamento da equipe
técnica para realização de qualquer etapa relacionada ao inquérito malacológico, esse deve
solicitar apoio à Secretaria Estadual de Saúde.
• Procedimentos de Laboratório
Diagnóstico Malacológico
O objetivo do diagnóstico malacológico laboratorial é identificar a espécie por meio
das características morfológicas do caramujo e comprovar a infecção dos caramujos co-
letados em campo. A observação dos caramujos eliminando cercárias permite confirmar a
transmissão da doença (identificação dos focos de transmissão) numa localidade. Em áreas
onde existem casos de esquistossomose, mesmo quando o caramujo não libera cercárias,
é possível que ele esteja infectado. Neste caso, a detecção do DNA e das formas interme-
diárias do S. mansoni no caramujo pode indicar uma possível transmissão da esquistosso-
mose na localidade, representando um foco potencial de transmissão, já que existe DNA
do parasito no caramujo, ou seja, ele está infectado pelo S. mansoni (GOMES et al., 2016).
114
Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
115
Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
intermediários. Abaixo segue uma representação esquemática da PCR tipo nested para
identificação de DNA do S. mansoni em caramujos Biomphalaria (ABATH et al., 2002; 2006)
(figuras 4 e 5).
Figura 4: Fluxograma das etapas de extração do DNA de caramujos Biomphalaria pelo método de fenol-clo-
rofórmio.
Fonte: Rodrigo Loyo (2017).
Figura 5: Representação esquemática da técnica de PCR tipo “nested” e dos procedimentos da eletroforese.
Fonte: Rodrigo Loyo (2017).
116
Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
Controle Malacológico
O controle dos caramujos abrange o uso de moluscicidas (controle químico), agentes bio-
lógicos e controle ambiental. O controle químico foi muito utilizado nas décadas de 60 e 70,
para redução da população dos moluscos hospedeiros intermediários, quando se objetivava o
controle da transmissão da esquistossomose. A partir dos anos 80, com o advento de medica-
mentos mais eficazes e baratos, o objetivo da vigilância passou a ser o controle da morbidade,
com ênfase no tratamento dos casos humanos e o uso de moluscicidas desde então é reco-
mendado apenas em caráter complementar, quando devidamente justificado. Outro aspecto
que tornou o uso de moluscicida irracional se dá pelo fato de se mostrar prejudicial ao meio
ambiente, uma vez que dizimava todas as formas de vida aquática, além disso, os caramujos
que sobreviviam conseguiam repovoar o ambiente em poucos meses. O produto químico usa-
do para controle de moluscos é a Niclosamida, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária para uso em ação de saúde pública. O uso de moluscicidas é recomendado de forma
integrada com outras ações para contribuir para a eliminação da esquistossomose em áreas de
risco (WHO, 2017).
a) A escolha adequada das medidas de controle dos moluscos vetores deve ser precedi-
da por estudos locais, mapeando as variáveis ecológicas e epidemiológicas relacionadas
à existência do criadouro e ao risco enquanto foco de transmissão de doença.
b) O controle dos caramujos deve fazer parte de um conjunto integrado de medidas de
combate à esquistossomose.
c) O saneamento seria o controle efetivo para a esquistossomose.
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Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO
Uma vez que a equipe de vigilância em saúde tenha definido as áreas a serem traba-
lhadas, devem ser realizadas reuniões com os profissionais da Atenção Básica da área onde
acontecerão os inquéritos, já que esta é a responsável pela população adstrita e terá papel
importante em todas as atividades de controle da esquistossomose que serão realizadas
na referida área. Estas reuniões visam discutir as estratégias de controle descritas a seguir.
Antes de iniciar a entrega dos potes para a coleta das fezes, a equipe responsável por
esta atividade deve numerá-los de acordo com uma sequência predefinida pela própria
equipe (que corresponderá ao número da amostra). Nos potes, deve constar também as
iniciais dos moradores. Para facilitar o trabalho de campo, pode-se utilizar o número do
prontuário da família, seguido de uma letra que indicará a pessoa dentro daquele núcleo
familiar (figura 6).
Identificação:
Prontuário 23
23 - A
MJS
A => Maria José da Silva
118
Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
Uma vez identificados os potes, deve-se proceder à visita às casas para entrega dos
recipientes e a equipe deve anotar os dados de cada residência numa ficha personalizada,
na qual identifique o número dos potes entregues por residência, bem como o nome com-
pleto e idade de cada morador correspondente à numeração do pote. Deve ser acordado
com o morador o dia em que a equipe retornará para coletar os potes com material fecal
(geralmente, os agentes retornam no dia seguinte).
De posse do material para exame, bem como das fichas correspondentes devidamente
preenchidas, os agentes encaminham as amostras para o laboratório do município para re-
alização dos exames pelo método Kato-Katz (figura 7). Como se sabe, trata-se de um exa-
me parasitológico de rotina para a detecção dos ovos de S. mansoni, que tem a vantagem
de ser facilmente realizado, pela facilidade de preparação e conservação, e de possibilitar a
estimativa da carga parasitária do paciente (KATZ; CHAVES; PELLEGRINO, 1972). No labo-
ratório, deverão ser confeccionadas as listas com pacientes positivos para esquistossomo-
se e outras verminoses, as quais serão encaminhadas para as equipes de saúde da família
para cabíveis tratamento dos casos. Os indivíduos que apresentam até 99 ovos por grama
de fezes (OPG) são classificados como portadores de baixa carga parasitária; os com 100
a 399 OPG são considerados pessoas com intensidade moderada de infecção; e aqueles
que possuem mais de 400 OPG têm uma infecção elevada (OMS, 2002). É fundamental se
avaliar a carga parasitária individual e coletiva para ter-se uma ideia da gravidade da doença
na comunidade.
119
Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
O território no qual o indivíduo está inserido tem papel de grande importância na de-
terminação dos agravos e no espaço/ambiente podem ser desvendadas algumas situações
que determinam a condição de saúde das populações. O cenário epidemiológico tem es-
treita relação com a atuação dos indivíduos no espaço onde residem, sendo moldada, em
última instância, pelas relações sociais, culturais, econômicas. É dentro dessa perspectiva
que a Estratégia Saúde da Família está fundamentada, sendo o reconhecimento, divisão e
mapeamento do território algumas das primeiras ações desenvolvidas para a implantação
de uma USF (BRASIL, 2000). Como falado anteriormente, a identificação e o mapeamento
de um território estão cada dia mais fáceis de serem realizados, tendo em vista os inúmeros
recursos de navegação virtual. Portanto, neste tópico, serão apresentados alguns instru-
mentos que podem otimizar o mapeamento da área de uma USF e sua atualização contínua
a partir da construção de mapas georreferenciados.
120
Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
Para iniciar uma atividade de espacialização das informações, é necessário ter uma base
cartográfica ou um sistema de informações geográficas para a inclusão dos dados a serem
analisados. É necessário também coletar dados dos pontos das variáveis que se deseja de-
monstrar no mapa: casos de doenças, focos, criadouros, pontos de lixo, coleções hídricas, etc.
Figura 8: Croqui elaborado manualmente, sem uso de GPS, do bairro Sotave II, Jaboatão dos Guararapes,
Pernambuco. Observam-se a delimitação das ruas, numeração de quarteirões e casas, coleções hídricas,
criadouros e focos dos moluscos vetores identificados.
Fonte: Acervo do Laboratório e Serviço de Referência em Esquistossomose - IAM/Fiocruz.
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Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
Figura 9: Modelo de croqui georreferenciado e ajustado pelo software GPS TrackMaker PRO.
Fonte: Acervo pessoal de Elainne Christine de Souza Gomes.
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Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
CONSIDERAÇÕES DO CAPÍTULO
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Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
REFERÊNCIAS
ABATH, F. G. et al. Single-tube nested PCR using immobilized internal primers. BioTechniques,
Natick, v. 33, n. 6, p. 1210-1214, Dec. 2002.
BARBOSA, C. S. et al. Quality control of the slides by Kato-Katz method for the parasitological
diagnosis of schistosomiasis infection by Schistosoma mansoni. Jornal Brasileiro de
Patologia e Medicina Laboratorial, v. 53, n. 2, p. 100-104, 2017.
KATZ, N.; CHAVES, A.; PELLEGRINO, J. A simple device for quantitative stool thick-smear
technique in Schistosomiasis mansoni. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São
Paulo, v. 14, n. 6, p. 397-400, jan. 1972.
124
Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
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Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
CAPÍTULO 7
A atuação da USF na Vigilância em Saúde para
Esquistossomose
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Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
claro desse tipo de vigilância é o controle das populações de moluscos vetores da esquis-
tossomose (BRASIL, 2009a).
As ações de vigilância sanitária são voltadas para o controle de produtos e serviços que
oferecem riscos à saúde da população, como alimentos, produtos de limpeza, cosméticos
e medicamentos. Realiza também a fiscalização de serviços de interesse da saúde, como
escolas, hospitais, clubes, academias, parques e centros comerciais, onde são exercidas
atividades que podem causar danos ao trabalhador e ao meio ambiente. Já a vigilância
da saúde do trabalhador realiza estudos, ações de prevenção, assistência e vigilância aos
agravos à saúde relacionados ao trabalho (BRASIL, 2009a). Essas duas últimas formas de
vigilância estão diretamente relacionadas aos serviços prestados aos usuários do sistema
de saúde, nos quais é possível avaliar a adequação do serviço para atender a demanda do
usuário ou avaliar as condições de trabalho que impossibilitam a prestação de uma assis-
tência de qualidade.
Dentro dessa perspectiva, é possível afirmar que a Atenção Básica à Saúde, através
da Estratégia Saúde da Família, apresenta todos os requisitos para executar ações de Vi-
gilância em Saúde para Esquistossomose. Algumas das ações específicas dentre as de
cada uma das vigilâncias acima descritas são listadas a seguir: levantamento dos casos de
esquistossomose, identificação de surtos e/ou epidemias da doença, notificação de casos,
identificação e monitoramento de criadouros de Biomphalaria sp. e de focos de transmis-
são, averiguação da validade dos medicamentos e avaliação da infraestrutura da unidade
de saúde para atendimento ao paciente, através do Programa Nacional de Melhoria do
Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ – AB). A vigilância à saúde, além de to-
das as ações já descritas, tem por objetivo finalístico a promoção à saúde dos indivíduos
doentes ou expostos ao risco de adoecer da parasitose, sendo esse também um dos pilares
da Atenção Básica à Saúde e objetivo primordial da Estratégia Saúde da Família.
Dentro da estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS), a Atenção Básica (AB) é o pri-
meiro nível de atenção à saúde e caracteriza-se por um conjunto de ações, nos âmbitos
individual e coletivo, que abrange a promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos,
diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde (BRASIL, 2012). Desde 1994,
o Ministério da Saúde (MS) utiliza a Estratégia da Saúde da Família (ESF) como porta de en-
trada da AB. Essa estratégia integra práticas multidisciplinares desenvolvidas por equipes
que se responsabilizam pela saúde da população da sua área de abrangência, consideran-
do a realidade local e as diferentes necessidades dos grupos populacionais. Atualmente o
MS incorporou, dentre as atribuições dos profissionais da ESF e da Vigilância em Saúde, a
atuação no controle da esquistossomose, de forma integrada, respeitando as especificida-
des de cada profissional, especialmente, o trabalho do Agente Comunitário de Saúde (ACS)
e do Agente de Combate às Endemias (ACE). As atribuições desses profissionais devem
127
Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
Vale ressaltar que, em todas as áreas com indícios de transmissão da doença e inde-
pendente do índice de positividade, a equipe da vigilância epidemiológica deve atuar em
parceria com os demais integrantes da secretaria de saúde do município, em especial com
as equipes de Saúde da Família, visando à continuidade das ações de vigilância e controle
da doença e maior impacto sobre sua incidência e prevalência (BRASIL, 2008).
De forma mais específica, o Caderno de Atenção Básica n. 21, que trata da Vigilância
em Saúde da Esquistossomose e outras doenças transmissíveis, apresenta as atribuições
específicas de cada membro da AB no controle da esquistossomose (BRASIL, 2008):
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Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
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Unidade 5 - O Papel da Unidade de Saúde da Família na Vigilância em Saúde para Esquistossomose
Médico(a):
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Enfermeiro(a):
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Auxiliar/Técnico(a) de Enfermagem:
Como foi possível observar, muitas atribuições específicas são inerentes a todos os
membros de uma equipe da ESF, ficando claro o caráter integrado das ações que devem
ser realizadas na AB para que se possa ter sucesso nas medidas de vigilância da doença.
Nessa perspectiva, vale ressaltar que o primeiro passo para que se possa controlar ou eli-
minar a esquistossomose está relacionado à identificação dos casos e das áreas de risco
para transmissão, no que diz respeito a uma investigação epidemiológica em âmbito local,
como apresentado na figura 1 a seguir.
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Área Indene: onde não há registro de transmissão da esquistossomose. Essa pode ser
subclassificada em:
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Áreas Focais: surgimento de focos de transmissão dentro de uma área até então inde-
ne. É o resultado da não contenção de uma área indene vulnerável.
• Caso suspeito
Indivíduo residente e/ou procedente de área endêmica com quadro clínico sugestivo
das formas: aguda, crônica ou assintomática da doença e com história de contato com as
coleções de águas onde existam caramujos eliminando cercárias. Todo suspeito deve ser
submetido a exame parasitológico de fezes (BRASIL, 2014a).
• Caso confirmado
Todo indivíduo que apresente ovos de Schistosoma mansoni em amostras de fezes, te-
cidos ou outros materiais orgânicos e/ou formas graves de esquistossomose: aguda, hepa-
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* Caso descartado
Aquele que não atenda a definição de caso confirmado.
*Em áreas focais de transmissão dos estados do Pará, Ceará, Piauí, Rio de Janeiro,
São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, também é
recomendada a notificação dos casos.
• Em área Endêmicas
Devem ser notificadas apenas as formas graves da esquistossomose e registradas no
SINAN. Em municípios endêmicos dos estados de Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Minas
Gerais, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe, os casos diag-
nosticados no serviço ou através de inquéritos coproscópicos realizados pela vigilância
devem ser registrados no Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistos-
somose – SISPCE.
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Partindo desse pressuposto, o papel da Educação em Saúde (ES) como fator de pre-
venção e controle de doenças é consenso no âmbito do SUS (BRASIL, 2014a). Nesse sen-
tido, o Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação, criou em 2007 o
Programa Saúde na Escola (PSE). A iniciativa tem por objetivo contribuir para a formação in-
tegral dos estudantes por meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, com
vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento
de crianças e jovens da rede pública de ensino (BRASIL, 2009b).
O PSE consolida uma prática que há tempos vem sendo realizada de forma pontual e
intermitente em algumas localidades do país. A partir desse programa, é possível estimular
as atividades de educação em saúde, visando alcançar uma mobilização social pautada
em novas práticas de participação e controle social. A interação das equipes de saúde da
atenção básica com a comunidade através da escola permite compreender as concepções
e a forma de vida da população para propor estratégias de prevenção e controle das do-
enças em parceria com a comunidade (escolas, igrejas e organizações sociais). Apesar de
o PSE propor algumas diretrizes para as estratégias de educação em saúde, não existem
métodos padronizados para as ações, pois trata-se de um processo social no qual cada
situação deve ser enfrentada com uma atitude experimental que permita planejar e reorien-
tar as ações quando necessário. Apesar disso, o Manual de Vigilância da Esquistossomose
Mansoni propõe algumas estratégias educativas para prevenção e controle da parasitose
(BRASIL, 2014a):
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Como se sabe, o saneamento básico é uma das medidas mais efetivas para o controle
da esquistossomose e de muitas outras doenças infectoparasitárias. No entanto, tal medida
depende de ações político-administrativas que fogem às competências de uma Unidade
de Saúde da Família. No entanto, algumas ações educativas relacionadas às medidas de
saneamento ambiental podem estimular a própria comunidade a intervir de forma proativa
nos problemas relacionados à transmissão da esquistossomose (BRASIL, 2014a). Segue
abaixo uma lista de ações que podem ser implementadas visando o saneamento ambiental:
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CONSIDERAÇÕES DO CAPÍTULO
Neste último capítulo, foi possível realizar um apanhado sobre grande parte dos con-
teúdos abordados ao longo deste curso com o objetivo de ratificar as possibilidades de
controle da esquistossomose por meio das ações de vigilância em saúde desenvolvidas
pela Atenção Básica nas Unidades de Saúde da Família. Tais ações vão desde o diagnós-
tico situacional e monitoramento da doença até a realização de medidas de intervenção
individuais e coletivas. Também foi possível abordar a importância das ações de educação
na promoção da saúde e prevenção da esquistossomose em áreas de risco para ocorrência
da doença.
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REFERÊNCIAS
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GOMES, E. C. S. et al. Risk analysis for occurrences of schistosomiasis in the coastal area
of Porto de Galinhas, Pernambuco, Brazil. BMC Infectious Diseases, v. 14, p. 101, 2014.
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