O Palacio Dos Urubus Merged PDF
O Palacio Dos Urubus Merged PDF
O Palacio Dos Urubus Merged PDF
URUBUS
6
17
28
39
413
514
615
716
17
8
918
19
10
20
11
21
12
(Dançam Tico-Tico no fubá)
SEGADAS
– O povo prepara um levante, majestade!
NAVARRO
– Meu caro general, não seja romântico. Não vê que o povo me
ama?
SEGADAS
– Perdão, meu rei, minha intenção foi cumprir o meu dever com
urgência e preveni-lo.
NAVARRO
– General, o senhor quase atrapalhou o meu orgasmo para anunciar
um hipotético e pseudolevante?
SEGADAS
– Infelizmente, dado a gravidade da informação que trazia, fui
obrigado a ferir a etiqueta. As revoluções são maléficas, não tem
hora certa para acontecer. Acontecem nas horas mais impróprias.
NAVARRO
– Termine de relatar sua maravilhosa utopia!
SEGADAS
– O levante?
NAVARRO
– Utópico, aqui só existe isso. Agora só desejo que esta tola ideia
“do povo” não tenha partido de um dos meus abomináveis
ministros ou de um dos meus dedicados generais.
SEGADAS
– Majestade!
13
NAVARRO
– De qualquer forma, saiba que usar uma coroa pesa paca!
SEGADAS
– Paca??
NAVARRO
– Influência do meio. Minha linguagem está virando linguajar
ordinário da ilha. Quanto ao “levante”, tudo não passa de
crendices, um conjunto de lendas e costumes da ilha. Cada povo
tem o folclore que merece. O seu pânico é desnecessário, afinal
não se derruba tantos anos no poder com um peido.
SEGADAS
– Derruba-se um rei.
(Dançam La cucaracha)
MULHER
– Ministro! Não acha que Babaneiralle precisa de uma casa de
cultura?
MINISTRO
– Acho que Babaneiralle precisa primeiro de uma casa de
tolerância, depois de cultura. Os projetos prioritários sempre na
frente. É o meu lema.
AVILEZ
– Majestade, é preciso fazer mudanças, o povo sente necessidade
disso.
NAVARRO
– O povo não sente nada, e se sentir não tem direito.
14
30
15
Um grupo dança ao som de Guantanamera.
31
16
O rei, preocupado, consulta o mago
17
NAVARRO
– Barbara? Babaneiralle!!!
18
No bordel Daécia canta Besame mucho.
19
20
41
42
21
22
43
44
23
24
45
46
25
47
26
Cena V
ARAUTO
– Na ilha de Babaneiralle, num dia de sol, o soberano rei Navarro
recebe a delegação comercial da poderosa Company Union
Commercial Oversea Territory Incorporation de Candied Fruits
Tropical.
NAVARRO
– Que estas bananas sirvam para demonstrar os laços de amizade
que nos une.
FOWLLES
– O meu país gostaria de “estreitar” ainda mais as relações com o
seu, entretanto, tudo depende da estabilidade do seu país.
NAVARRO
– Quanto a isso, não há problemas, a minha monarquia é a mais
sólida e estável da face da terra. Aqui o rei sou eu!
FOWLLES
– Assim espero e desejo, mas temos que tomar muita precaução.
Monarquia numa ilha na América?! Isso é muito perigoso!
NAVARRO
– O seu país é contra a Monarquia?
FOWLLES
– De maneira nenhuma. O que tememos é que, pelas circunstâncias
expostas, possa haver mudanças radicais, bruscas, tendenciosas,
de consequências graves para o seu e para o meu país.
27
NAVARRO
– Posso afiançar que não existe a menor probabilidade de
mudanças em Babaneiralle pelos próximos 100 anos!
FOWLLES
– Não esteja tão seguro, majestade. Estou informado sobre fortes
rumores de uma organizada tentativa de tomada de poder.
NAVARRO
– A minha resposta é uma gostosa gargalhada. Ah ah ah ah ah! A
propósito, quem os informou sobre esses “sombrios rumores”?
FOWLLES
– Informações secretas da mais alta segurança.
NAVARRO
– Rumores foram e sempre serão rumores. De qualquer forma,
posso afirmar sem o menor receio que a Monarquia em
Babaneiralle nunca esteve tão segura. Entretanto, num provável,
absurdo, suposto atentado contra o rei, meus filhos estão aptos a
me substituir. “Rei morto, rei posto! O Rei morreu, viva o Rei!” O
que existe são boatos espalhados por uns descrentes.
Descontentes, eu classifico como folclóricos! Que mais pode ser
uns poucos raros “estudantes” e “intelectuais”...
FOWLLES
– Existem intelectuais em seu país?
NAVARRO
– Existem. À moda da casa, mas existem. No entanto, não tem o
menor prestígio no governo nem repercussão entre as massas,
não passam de um bando de românticos.
28
FOWLLES
– As informações que tenho recebido é que o movimento visando a
derrubada do status vem do povo, e o povo não faz revolução de
ideias.
NAVARRO
– O povo não tem dinheiro para comprar armas Mister Fowlles, e o
meu país, apesar de pobre, está formando um fabuloso arsenal,
como é do seu conhecimento, pois compramos, dentre outras
coisas, do seu. Eu amo a plebe e sou amado por eles, mas, em
caso de uma rebelião, se for necessário... que outro jeito?
FOWLLES
– Uma multidão coesa, enfurecida e bem liderada, pode levar nítida
vantagem com um exército mal treinado de “generais” indolentes,
acomodados, burocratas e corruptos.
NAVARRO
– Não existe multidão enfurecida, o meu povo vive para o trabalho...
FOWLLES
– O alto índice de desemprego coloca uma massa revoltada de
marginalizados faminta, disposta a qualquer coisa. Isso é muito
perigoso.
NAVARRO
– Isso seria trágico se não fosse cômico.
FOWLLES
– Pois então pode começar a rir.
29
NAVARRO
– Temos o controle de tudo, os pequenos grupos de
desempregados não podem se reunir, são severamente vigiados.
A hipótese de um levante é infundada: além do mais, a minha
figura de Monarca é temida, cultuada, respeitada e amada por
todos! Se não conhecesse bem a posição do seu país; ousaria
dizer que o senhor é um dos conspiradores.
FOWLLES
– Quer dizer que o senhor admite a conspiração.
NAVARRO
– Admito rumores.
FOWLLES
– Não podemos investir no seu país sem segurança.
NAVARRO
– Pois podem investir! Palavra de rei! Não há a menor possibilidade
de mudanças políticas. Me intrigou o senhor estar tão bem
informado a respeito do meu país.
FOWLLES
– Muito mais bem informado do que a sua vá filosofia possa pensar!
30
Cena VI
ARAUTO
– Atenção! Atenção! Por ordem do Justíssimo, Humaníssimo Rei de
Babaneiralle, a palavra OPOSIÇÃO foi abolida do Dicionário e do
Vocabulário. Aqueles que fizerem oposição ao rei serão abolidos
como foi a palavra.
31
Cena VI
ANAYO
– Majestade, a situação econômica do reino é crítica. Verbas para o
Museu Real, esgotadas. Para a Academia Real de Artes,
esgotadas; para o Ministério da Cultura, Saúde e Educação,
esgotadas; Hospital Público, Orfanatos, esgotadas.
NAVARRO
– Ótimo. Feche tudo!
ANAYO
– Até o Hospital? E se alguém ficar doente?
NAVARRO
– Tudo! E deixe essa preocupação para o Ministério da Saúde!
Quem ficar doente que se cure em casa. Ou vá pra Cuba!
ANAYO
– Urge uma contenção imediata de gastos; se me permite uma
opinião, uma coisa precisa ser cortada.
NAVARRO
– Cortada só se for a sua cabeça! Aumente os impostos! Para que
serve o povo? OU a senhora pretende desenvolver alguma tese
marxista?
ANAYO
– Claro que não, Majestade!
NAVARRO
– E agora, o que sugere?
32
ANAYO
– Majestade, tenho um plano inovador. Podemos industrializar o
país!
NAVARRO
– Indústrias em Babaneiralle? Delírio! Sem capital? Loucura! Sem
transporte, sem energia? Suicídio! Sem mão-de-obra
especializada? Burrice! Deboche!
ANAYO
– Todo Know-how estrangeiro, é claro! Penso numa indústria
plausível.
NAVARRO
– Qual?
ANAYO
– Turismo.
NAVARRO
– Turismo? Nesse inferno verde? O que podemos oferecer ao
turista? Mosquitos, cólera, dengue, zica, chicungunya?
ANAYO
– Existe muita gente sedenta de conhecer países exóticos. Tribos
selvagens! Aves raras! Jiboias! E é o que não nos falta! Basta
divulgarmos a sua existência. Emoção e diversão!
NAVARRO
– E nesse clima selvagem eu, como rei da selva, devo assumir o
lugar de Tarzan?
ANAYO
– Não majestade! Até porque lhe falta porte físico para isso.
33
NAVARRO
– O que foi que você disse?
ANAYO
– Não me interprete mal, não quis fazer nenhuma alusão entre
Vossa Alteza e Tarzan.
NAVARRO
– Aceito as suas desculpas.
ANAYO
– O que me diz do meu plano turístico, Majestade?
NAVARRO
– Digo que vou dispensar o Bobo da Corte. Tendo o senhor como
Ministro, o Bobo é totalmente dispensável.
34
Cena VII
ALAROON
– Por medidas de calor, sugiro tirarmos o capuz. Afinal, somos todos
conspiradores, já é horas de nos conhecermos melhor.
ANAYA
– Senhores Ministros! O que tanto se temia aconteceu devido à
ignorância do povo e à crise mundial de papel: os nossos
panfletos foram usados para fins escusos.
AVILEZ
– Escusos? Como assim?
ANAYA
– Não me faça ser tão claro.
MANFREDO
– Pois eu acho que o povo foi muito sábio ao colocar aquele papel
da no vaso sanitário! Que outro melhor fim poderia ter?
ALAROON
– Apesar desse pequeno e inesperado contratempo, a revolução
está em marcha!
AVILEZ
– Em marcha à ré! O povo não sabe!
ALAROON
– Mas corre à boca pequena no palácio que o rei anda desconfiado
de uma possível conspiração.
35
Discórdia geral, confusão, todos falam ao mesmo tempo. No auge
do atrito, Manfredo toma as rédeas da situação.
MANFREDO
– Parem! Parem com isso senão corto a cabeça de vocês e faço a
revolução sozinho!
ANAYA
– Não seja, sobretudo selvagem e mal-educado!
AVILEZ
– Acho que devemos adiar para esfriar o esquema de repressão.
MANFREDO
– Por mim fazia essa droga de revolução hoje mesmo, agora!
ALAROON
– Está bem! Então a revolução será antecipada para 22 de abril.
Vamos para votação.
MANFREDO
– Creio que todos concordam (Em tom ameaçador).
AVILEZ
– Neste dia o rei não estará dando uma recepção?
ALAROON
– Mais um bom motivo. Todos estarão muito ocupados com a festa,
seremos rápidos, sutis, estonteantes, nossa ação será
verdadeiramente desconcertante. Quando pensarem em reagir,
será tarde!
ANAYA
– Fica combinado assim, quando Alaroon acabar de declamar seu
poema, será deflagrada a revolução, entendido Manfredo?!
36
MANFREDO
– Muito bem, qual será o poema que servirá de sinal para iniciarmos
a revolução?
ALAROON
– (Bombasticamente) O Cromo!
MANFREDO
– O quê?
ALAROON
– O Cromo, não conhece não?
MANFREDO
– Não.
ALAROON
– (Tira do bolso um papel). Então ouça. “Na alcova fria e quente/
Pobre demais, se não erro, / Repousa um moço doente / Sobre
uma cama de ferro. / Pede-lhe baixo inclinada / Sua mulher, que
adormeça / Em cuja perna curvada / Ele reclina a cabeça. / Vem
uma loira figura / Com a colher de tintura, / Que ele recusa num
ai! / Mas o solícito anjinho /Diz-lhe com riso e carinho: Bebe que
água doce, papai!”
AVILEZ
– (Emocionado) Perfeito! Nada político!
ANAYA
– Por isso mesmo formidável (enxuga uma lágrima).
ANAYA
– Derrubamos a monarquia sim! Entretanto, não transformaremos o
país numa anarquia.
37
ALAROON
– Não abriremos as portas do palácio para as Massas.
AVILEZ
– Evidente. Tudo não passa de estratégia, só com planos populares
é que conseguiremos capitalizar a simpatia do povo. Reformas
serão prometidas, mas não serão cumpridas.
ALAROON
– O Golpe...
AVILEZ
– Não convém chamar nosso movimento de GOLPE. É
terrivelmente antipopular.
ALAROON
– A sua quase obsessão pela palavra POPULAR me assusta.
AVILEZ
– Tudo não passa de manobras terminológicas para conseguir o
maior número de adeptos.
ALAROON
– Manfredo concordará com um governo um tanto antipopular?
Derrubamos a monarquia e estabelecemos a Tatrarquia!
AVILEZ
– Manfredo será o primeiro elemento a cair em desgraça, a ser
expurgado do partido, depois de uma Revolução Gloriosa!
ANAYA
– Nesse caso, quem será o SEGUNDO?
38
Cena IX
DANNA
– Soube que seu povo é uma raça pestilenta, fedorenta, indolente,
preguiçosa, miserável, menor. É verdade?
MORENO
– Claro, um bando de mestiços... Só podia dar nisso.
DANNA
– O senhor é daqui?
MORENO
– Não, nasci na Europa.
Foco no rei
SEGADAS
– Majestade, sinto informar nessa noite de festa a gravidade interna
do país. Há uma agitação muito grande nos arredores do palácio,
sinto cheiro de um levante.
NAVARRO
– Levante agora tem cheiro?
SEGADAS
– Tudo indica que o povo está pronto para fazer uma revolta.
NAVARRO
– Uma revolta?
39
SEGADAS
– Quais as providências a serem tomadas, majestade?
NAVARRO
– Fujamos!!
SEGADAS - Fugir??
NAVARRO
– Foi o meu primeiro impulso, dei vasão.
ALAROON
– Suspendamos a revolução!
AVILEZ
– Agora é impossível.
ANAYA
– Eu sempre fui contra.
ALAROON
– Temo não conseguirmos ter mais o controle da situação.
ANAYA
– Se a revolução acontecer hoje teremos a 3ª guerra mundial.
Vocês já pensaram o que pode ocorrer com a delegação
estrangeira aqui?
ALAROON
– Confesso que nunca houve um dia tão impróprio para deflagrar o
movimento.
40
AVILEZ
– Antes tarde do que nunca. Eu tinha previsto isso.
Foco no rei
SEGADAS
– Majestade, a situação é muito mais séria do que pensávamos,
existe realmente um levante armado.
NAVARRO
– Fujamos!!
SEGADAS
– Majestade, pense em outra coisa!
NAVARRO
– Não consigo isso parece uma ideia fixa.
SEGADAS
– (Decidido, enérgico) Acionemos o nosso Esquema de Segurança!
LÍRIO
– (Entusiasmado) Perfeitamente, meu General! (Vai se afastando e
volta de repente) General! Uma informação. Eu desconheço
completamente qualquer Esquema de Segurança a ser acionado.
SEGADAS
– Pois trate de inventar um imediatamente. Já que não existe
nenhum!
41
DANNA
– Soube que quando ocasionalmente o seu povo vai ao estrangeiro,
costuma “furtar” pequenos objetos, garfos, facas, cinzeiros,
bijuterias, como souvenir. É verdade?
MORENO
– É, senhora, cultivamos esse hábito. Ainda não conseguimos furtar
grandes objetos de maior valor, o que é mais uma prova do nosso
subdesenvolvimento. Como vê, os discípulos ainda não se
igualaram aos mestres que nos colonizaram. Nosso estágio ainda
é de “Ladrões de Souvenir”.
PEMENNA
– Em homenagem especial à ilustre delegação amiga que honra
Babaneiralle com sua visita, um raro momento de ternura e
lirismo, na doce voz do grande poeta Alaroon Ramora la Fuentes.
Aplausos gerais
ANAYA
– Vá, mas não recite. Lembre-se que Manfredo só espera seu sinal
para invadir o palácio.
ALAROON
– Não posso desobedecer a vontade do rei.
ANAYA
– Você é ou não é um revolucionário?
ALAROON
– Sou revolucionário, mas não sou suicida.
42
Alaroon vai caminhando até o palanque, triste, indeciso, trêmulo e
depois de uma série de mesuras
ALAROON
– Majestade! Senhoras, senhores... Eu estou rouco!!!
NAVARRO
– (Temeroso) O que está acontecendo?
SEGADAS
– A revolta cresce, majestade, o palácio real corre sérios riscos de
ser invadido.
NAVARRO
– E a minha ordem de aniquilar esse bando de moleques
agitadores?
SEGADAS
– Virou contraordem!
NAVARRO
– O que fez o General Lamego?
SEGADAS
– Aderiu ao movimento.
NAVARRO
– É o fim! Passe o comando para Anaton Castro, mande arrasar
esses anarquistas!
43
SEGADAS
– Essa ordem é impossível de ser cumprida, majestade.
NAVARRO
– Por que? Anaton ... morreu?
SEGADAS
– Não, ele é um dos cabeças do movimento! O que vamos fazer??
NAVARRO
– Por hora mandar a orquestra tocar uma série de mambos para
não alarmar os presentes. Maestro! (Azúcar) Mambo!!
ALAROON
– E agora o que vou fazer?
ANAYA
– Tudo, menos declamar.
AVILEZ
– Eu te proíbo de declamar!
ALAROON
– Se eu não obedecer, morro!
AVILEZ
– Ótimo! Pois, morra, faz muito bem! Será o mártir que faltava à
Revolução.
ANAYA
– Coragem! Morra!
44
Foco na comitiva
DANNA
– O senhor é o empregado oficial do rei?
MORENO
– Ministro, senhora! Primeiro Ministro de Vossa Majestade.
DANNA
– Engraçado, o senhor é Ministro? (Rindo)
MORENO
– Por mais incrível ou mirabolante que esse fato ou que a minha
cara possa parecer, SOU. Ou a senhora julgava que eu fosse o
Bobo da Corte?
DANNA
– O senhor tem muito humor... Como devo dizer... Senso de Humor!
PEMENNA
– Agora com vocês a voz que é um bálsamo, Alaroon Gil Ramora La
Fuentes!
AVILEZ
– Não vá! Pense na importância da paz mundial.
ALAROON
– Tenho de ir. Trate de avisar a Manfredo que a revolução está
suspensa até terceira ordem.
AVILEZ
– Se ao menos eu soubesse onde ele está!
45
ALAROON
– Procure pelo palácio, ele deve estar misturado com os presentes.
ANAYA
– Suplico que não vá!
AVILEZ
– O que vai fazer?
ALAROON
– (Afastando-se) Vou salvar a minha pele.
MANFREDO
– (Zangado) Mil vezes merda! Há 3 horas que espero ver essa
poesia declamada, para invadir o palácio e toda hora um
adiamento. A Revolução já está atrasada uma hora e meia.
Aposto que se eu sair daqui para mijar, esse imbecil recita. Daqui
a pouco esqueço tudo... Como é mesmo que termina o poema.
(Declama baixinho).
SEGADAS
– O povo marcha a golpe para o palácio, restam poucas
possibilidades de determos a marcha.
NAVARRO
– Precisamos tomar uma atitude enérgica e rápida!
SEGADAS
– Exato!
46
NAVARRO
– Alguma estratégia, meu general?
SEGADAS
– Além da fuga, que agora admito, nenhuma!
NAVARRO
– Você é general para estas horas! Trate de bolar um plano eficiente
para evitar nossa queda!
SEGADAS
– Bem, eu tenho uma ideia muito arriscada e audaciosa, mas pode
dar certo.
NAVARRO
– Qual?
SEGADAS
– Aderirmos ao movimento!
ALAROON
– (meio tom) Seja o que Deus quiser! (Falando para os presentes)
Declamarei para todos os presentes, apesar da violenta e repentina
inflamação das minhas cordas vocais, a...a...a (Num só fôlego) A
poesia de Edgar Alan Poe...O CORVO!
MANFREDO
– MERDA! Se não tivesse palavra eu largaria essa bagunça de
revolução! Dei um duro danado para conseguir decorar o
CROMO e, na hora H esse puto improvisa mudando tudo! O pior
é que eu não sei onde começa nem onde termina esse tal de
corvo.
47
Enquanto isso a rainha passa em cena sequestrada por um sujeito
encapuzado
IMPERIALINA
– Que triste fim meu Deus! Eu, Rainha Imperialina, a Grande!
Terminar minha vida à luz do luar, sob ameaça descortês de um
horripilante facão de cortar bananas!
PEMENNA
– Meu rei, uma desgraça! Uma terrível desgraça acaba de
acontecer!
NAVARRO
– Uma a mais, uma a menos, não me assusta mais, diga o que
aconteceu.
PEMENNA
– Nossa estimada-amada Rainha Imperialina foi cruelmente
degolada como uma galinha.
MANFREDO
– Abaixo a monarquia!
ALAROON
– Prendam esse louco!
LÍRIO
– Majestade o povo está entrando no palácio!
NAVARRO
– Sem me pedir audiência??
48
FOWLLES
– Exijo garantias para toda a nossa comitiva.
NAVARRO
– Garantias! Eu que vos peço!
FOWLLES
– Somos completamente neutros nessa revolta.
SEGADAS
– Paralisadas!
NAVARRO
– Além de mau general você é um péssimo humorista.
SEGADAS
– Majestade, a bem da verdade houve uma debandada. Os
soldados não obedeciam as minhas ordens.
NAVARRO
– E fizeram muito bem, só um imbecil poderia obedecer a ordens
suas. (Furioso) Você é um capitão banana! Considere-se
demitido!
SEGADAS
– (Feliz) Obrigada Majestade! Assim posso aderir ao movimento
sem peso na consciência.
NAVARRO
– Traidor!
49
SEGADAS
– Lembre-se majestade, que nem demissão eu pedi. Fui demitido,
portanto não traí ninguém. Peço licença para me retirar.
NAVARRO
– Onde vais?
SEGADAS
– Aderir ao movimento, juntar-me aos rebeldes!
NAVARRO
– Me diga uma coisa, as prisões têm aquecimento?
SEGADAS
– Não, Alteza.
NAVARRO
– O maior erro da minha gestão, foi não instalar aquecedores nas
prisões. (Muda de tom) Agora, suma traidor! Infame! Selvagem!
Ingrato! Caudilho!
ANAYA
– É melhor a gente aguardar os acontecimentos para ver como fica.
ALAROON
– Depois da situação delineada saberemos qual a correta posição
assumiremos.
50
ANAYA
– Certo. Nada de precipitações.
AVILEZ
– De qualquer maneira tenho duas bandeirolas no bolso, uma
republicana e outra monárquica, fico aguardando para ver se
meto a mão no bolso direito ou esquerdo.
Foco no rei
MORENO
– Meu rei, sempre fui contra o regime monárquico...
NAVARRO
– Até tu Brutus?
MORENO
– Não entenda mal alteza, estou do vosso lado.
NAVARRO
– Obrigada pela franqueza, nesse momento confesso que até eu
THE KING! Sou contra a monarquia.
MORENO
– Estou pronto para organizar a defesa!
NAVARRO
– Ótimo, mas prefiro que você organize minha fuga!
MORENO
– Fugir majestade! O país ficara como um barco sem rumo!
NAVARRO
– Babaneiralle nunca teve rumo. Sempre foi e será um país à deriva.
51
MORENO
– Devemos lutar, resistir, mesmo sem chance.
NAVARRO
– Então lute por mim. Era de palavras assim que eu estava
precisando ouvir. Ficarei eternamente agradecido. Desejo sair
daqui com vida.
ERANDON
– Morte ao rei sanguinário! Reacionário! Vendido!
NAVARRO
– (Apoteótico) Nunca tantos! Num só dia! Num só país! Numa só
Revolução! Traíram TANTO!
ANATON
– Prendam este homem!!
ANAYO
– Está na hora de assumirmos o comando da revolução, antes que
o idiota do Anaton faça.
AVILEZ
– Se é que já não fez!
ANAYO
– Anaton! Anaton! A vitória desse movimento também me nos
pertence, somos uns dos conspiradores, pode perguntar ao...
52
ANATON
– Considerem-se incomunicáveis!
ANAYO
– (Inconformado) Eu? Eu preso? Fui um dos conspiradores mais
ativos! Crítico! Analista! Tramei a revolta, marquei o DIA. Sou um
dos legítimos DONOS da REVOLUÇÃO.
ALAROON
– Pelo que vimos a revolução já tem dono. E será grande tolice
reivindicarmos nossos direitos autorais.
AVILEZ
– Pobres colegas, morreram por nada. Bem fizemos nós, que
embora indignados não manifestamos todo nosso repúdio.
FOWLLES
– Avise aos seus homens que se um fio dos nossos cabelos for
tocado, promoveremos um violento bloqueio econômico.
LAMEGO
– Os julgamentos dos principais implicados do Ancian Regime, será
feito agora, sumariamente, sem nenhum direito de petição de
recurso de defesa, dado a gravidade dos inúmeros crimes
cometidos contra o povo e contra a Pátria. Os demais membros
da “família-real”, assim como a corte e os seus ex-
ministros...terão seus bens desapropriados e confiscados pelo
Novo Estado. A I das punições legais devidas.
MORENO
– General! O senhor esqueceu de incluir um nome na relação.
53
LAMEGO
– Qual?
MORENO
– O seu!
LAMEGO
– Pela gracinha você será o primeiro a ser punido. Tragam a
GUILHOTINA.
ALAROON
– Eu sabia que isso ainda iria acabar virando Revolução Francesa!
FOWLLES
– Um momento! Há muito tempo que a ONU adotou o fuzilamento
como única forma de execução. Sejamos civilizados!
LAMEGO
– Suspendam a guilhotina, preparem um pelotão de fuzilamento!
54
Cena X
VARGAS
– Tem certeza que não existe nenhum perigo de contragolpe?
LAMEGO
– Contragolpe?
ANATON
– Senhores! Lembrem-se que as únicas pessoas que não estão presas
em Babaneiralle somos nós.
VARGAS
– Não sei não. Quem pode garantir que a essa hora eles não estejam
realizando uma Assembleia Geral monstra.
LAMEGO
– Mas onde?
VARGAS
– Na cadeia. Lá estão reunidos o rei, os príncipes, seus ministros, o
mago, alguns oficiais e toda a Corte.
LAMEGO
– Realmente corremos perigo, tantos adversários do Novo Regime
reunidos na prisão é uma temeridade.
ANATON
55
- O que adianta tramar se estão presos, impossibilitados de saírem de
lá?
LAMEGO
– Para acabar com essa preocupação e ameaça, tenho a solução.
ANATON
– Qual?
LAMEGO
– Executemos todos!
VARGAS
– Confesso que a ideia sugerida pelo general é excelente.
LAMEGO
– O rei de Babaneiralle já uma carta fora do baralho!
ANATON
– Conferiu o borderô?
LAMEGO
– Conferi. Tudo em ordem.
ANATON
– Foram vendidos todos os ingressos?
LAMEGO
– Os ingressos estão esgotados para os 3 dias, não há mais lugar
disponível. (Satisfeito) Lotação esgotada!!
56
ANATON
– Então podemos começar o show!!
LAMEGO
– Eu, general Lamego, proclamo no dia de hoje a extinção da
MONARQUIA! Nesta data cívica está proclama (Pausa,
suspense) A REPÚBLICA DE BABANEIRALLE!
LAMEGO
– Libertamos o povo do Rei Tirano. De hoje em diante eu me auto
proclamo presidente! Todos os vestígios do antigo regime serão
varridos da nossa lesada Pátria. Todos os bens ilicitamente
acumulados pelo regime monárquico, roubados de vocês! Serão
readquiridos pelo Estado e para o Estado.
ANATON
– Os condenados, côrte e colaboradores do antigo regime serão
executados hoje! Consideramos a todos o direito de manifestarem
suas últimas palavras.
AVILEZ
– Sem nós vocês não sabem nem como apagar as luzes desse
país!
ANATON
– (Imediatamente) Pelotão! Preparar! Apontar! Fogo!
57
ALAROON
– É isso que dá fazer revolução com analfabetos, para analfabetos!
E pensar que ao invés de estar aqui eu poderia estar lendo Ilíada
e Odisseia de Homero!
ANATON
– (Imediatamente) Pelotão! Preparar! Apontar! Fogo!
MORENO
– Uma pergunta. Essa venda está lavada? Meus olhos não
suportam poeira.
ANATON
– (Imediatamente) Pelotão! Preparar! Apontar! Fogo!
MANFREDO
– Sabia que ainda acabava entrando em fria. Isso é que dá fazer
revolução com frescos!
ANATON
– (Imediatamente) Pelotão! Preparar! Apontar! Fogo!
ARAUTO
– Segundo dia de execução!
DAÉCIA
– Faço questões de deixar bem clara uma coisa, jamais podia
imaginar que 4 homens, reunidos no meu quarto, pudessem estar
fazendo política e não sacanagem!
ANATON
– (Imediatamente) Pelotão! Preparar! Apontar! Fogo!
VARGAS
– Qual o seu último desejo?
58
PEMENNA
– Cheirar o meu rapé! Espirrar! E depois morrer...
ANATON
– (Imediatamente) Pelotão! Preparar! Apontar! Fogo!
LÍRIO
– Minha vontade é que os briosos soldados desse valente pelotão
ficassem sensibilizados e não disparassem esses fuzis...
ANATON
– Fogo!!
RESTON e MARIEL
– Viva o rei! Viva a Monarquia!!
ARAUTO
– Terceiro dia de Execução!
ANATON
– Usamos a cabeça deixando os reis para o último dia. A arena está
superlotada!
LAMEGO
– A renda de hoje ultrapassou todas as expectativas! Pena que
alguns generais estejam foragidos.
VARGAS
– Hoje só teremos a execução dos reis. O público espera por este
momento emocionante.
59
Os reis entram em cena, altivos, calmos, firmes. A multidão vaia
estrondosamente. Os reis vão se desconcentrando.
LAMEGO
– Estamos dispostos a ouvi-los pela última vez. Se tiverem alguma
coisa a declarar, falem agora ou calem-se para sempre!
60