Elisa Donária Aboucauch Grassi

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ELISA DONÁRIA ABOUCAUCH GRASSI

A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA OCLUSÃO NA PRÁTICA


ODONTOLÓGICA

Londrina
2016
ELISA DONÁRIA ABOUCAUCH GRASSI

A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA OCLUSÃO NA PRÁTICA


ODONTOLÓGICA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de Medicina
Oral e Odontologia Infantil da Universidade
Estadual de Londrina, como requisito parcial
à obtenção do título de Cirurgião Dentista.
Orientador: Profª. Dr. Paula Vanessa Pedron
Oltramari Navarro

Londrina
2016
ELISA DONÁRIA ABOUCAUCH GRASSI

A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA OCLUSÃO NA PRÁTICA


ODONTOLÓGICA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de Medicina
Oral e Odontologia Infantil da Universidade
Estadual de Londrina, como requisito parcial
à obtenção do título de Cirurgião Dentista.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________
Orientador: Prof. Drª. Paula Vanessa Pedron
Oltramari Navarro
Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________
Prof. Dr. Paulo Eduardo Baggio
Universidade Estadual de Londrina - UEL

Londrina, _____de ___________de _____.


Dedico este trabalho à Renata, minha avó
paterna, que me orientou para o caminho da
Odontologia...
Aos meus pais e irmãos, minha orientadora,
minha família postiça, minha comunidade e
meus amigos...
AGRADECIMENTOS

À minha professora orientadora, Paula Oltramari, que foi firme e incisiva, me


proporcionando todo o aprendizado necessário e concluindo nosso objetivo no
trabalho.
Ao Professor Paulo Eduardo Baggio, integrante da minha banca examinadora, que
me ensinou a importância da dedicação em nossos trabalhos diários.
Ao meu pai, Sauro, que me deu todo o suporte financeiro e emocional durante esses
5 anos de graduação em Londrina. Sem você, nada disso seria possível.
À minha mãe, Fatima, que foi minha maior base psicológica e exemplo de força.
À minha família postiça, que foi o meu maior presente nesses 5 anos.
Aos meus irmãos, Lucas e Martina, e minha família que sempre me apoiou.
À minha comunidade, São Francisco de Assis, a qual eu também chamo de família.
Aos amigos, pois “Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades. A
falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto.” – Francis Bacon.
Aos meus colegas e professores, em especial àqueles que mais criticam e assim,
nos fazem crescer.
A todos que colaboraram de alguma forma para a realização e finalização deste
trabalho.
EPÍGRAFE

“É preciso tentar não sucumbir sob o peso


de nossas angústias, e continuar a lutar.”
- J.K. Rowling
GRASSI, Elisa Donária Aboucauch. A Importância dos Príncipios da Oclusão na
Prática Odontológica. 2016. 37 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Odontologia). Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2016.

RESUMO

A clínica odontológica engloba diversas modalidades de tratamento. Espera-se que


o profissional realize os procedimentos alcançando objetivos estéticos e funcionais,
com aprovação do paciente, o que representa o sucesso do tratamento.
Considerando a importância dos conhecimentos acerca da oclusão estática e
funcional para os procedimentos em clínica odontológica integrada, realizou-se uma
revisão de literatura a fim de destacar e discutir os principais aspectos relacionados
ao tema. O controle biomecânico da oclusão promove a longevidade dos
tratamentos reabilitadores, minimiza a recidiva ortodôntica, impede o aparecimento
de patologias oclusais, mantém restaurações estéticas em resina composta evitando
possíveis fraturas e/ou desgastes. Na oclusão fisiológica há a transmissão resultante
das forças oclusais para o longo eixo dos dentes posteriores, movimentos de
lateralidade promovidos pelos caninos, guia anterior imediata, contatos dentários
posteriores bilaterais e simultâneos, dimensão vertical de oclusão adequada e RC
coincidindo com a MIH. Porém, quando ocorrem alterações, a oclusão pode tornar-
se patológica e os tratamentos realizados sem os devidos cuidados pouco estáveis.
A má relação dos arcos dentários pode refletir em anormalidades nos dentes e/ou
nos maxilares. Para corrigir aspectos ligados à oclusão há que se devolver ao
paciente, por meio de reabilitação, ajustes oclusais direcionados ou movimentação
ortodôntica, as características de normalidade da oclusão. Para isso, deve-se
realizar abordagem única entre as especialidades, sem comprometer os aspectos
estruturais e funcionais do paciente. Assim, compreende-se que uma oclusão
estática e funcional correta é fundamental para qualquer tratamento odontológico,
visando uma terapêutica com resultados que sejam preservados em longo prazo.

Palavras-chave: Oclusão. Odontologia. Função.


GRASSI, Elisa Donaria Aboucauch. The Importance of Occlusion Principles in
Dental Practice. 2016. 37 f. Course Completion Work (Graduation in Dentistry).
State University of Londrina, Londrina, 2016.

ABSTRACT

Dental practice involves several treatment modalities in which professionals must


achive some aesthetic and functional goals, with patient approval. These aspects will
represent the success of the dental treatment. Considering the importance of
knowledge about static and functional occlusion aspects for dental procedures, this
study performed a Literature Review in order to emphasize and discuss the main
aspects related to the topic. The biomechanical control of occlusion promotes the
longevity of treatments, minimizes orthodontic relapse, prevents the appearance of
occlusal pathologies, maintains aesthetic restorations in composite resin, thus
avoiding possible fractures and/or dental wear. In physiological occlusion there is the
transmission of the occlusal forces to the long axis of the posterior teeth, lateral
movements promoted by the canines, immediate anterior guidance, bilateral and
simultaneous posterior dental contacts, adequate vertical dimension and the position
of centric relation (CR) coinciding with maximal intercuspal position (MIH). However,
the absence of some of these important normal characteristics can damage dental
occlusion, thus requiring dental treatment. The inadequate relation between dental
arches can cause teeth and/or jaws alterations. In order to correct aspects related to
occlusion, the patient must be submitted to dental rehabilitation, occlusal adjustments
and/or orthodontic treatment, with the aim of achieving the majority of the normal
occlusion characteristics. For this purpose, professionals should stablish an
integrated approach among dental specialties, without compromising the structural
and functional aspects of the patient. Thus, it is understood that a correct static and
functional occlusion is fundamental for all dental treatment, aiming at long-term
results.

Key words: Occlusion; Dentistry; Function


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 11

2 OCLUSÃO – CONCEITO ..................................................................................... 13


2.1 OCLUSÃO FISIOLÓGICA ........................................................................................... 13
2.2 OCLUSÃO PATOLÓGICA .......................................................................................... 14
2.3 OCLUSÃO DE TRATAMENTO..................................................................................... 20

3 CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO ESTÁTICA IDEAL .................................... 22

4 CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL ................................. 24


4.1 DIFERENÇA DE RC PARA MIH 1,5MM ..................................................................... 24
4.2 DIMENSÃO VERTICAL DE OCLUSÃO (DVO) ADEQUADA .............................................. 28
4.3 FORÇA OCLUSAL NO LONGO EIXO DOS DENTES POSTERIORES .................................. 29
4.4 CONTATOS POSTERIORES BILATERAIS SIMULTÂNEOS ............................................... 31
4.5 GUIA LATERAL ....................................................................................................... 32
4.6 GUIA ANTERIOR ..................................................................................................... 34

5 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 35

6 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 37

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 38
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Aspecto intrabucal frontal, lateral direito e oclusal inferior de uma oclusão
fisiológica....................................................................................................................13

Figura 2 - Aspecto intrabucal frontal e lateral esquerdo de uma oclusão patológica,


que necessita de tratamento......................................................................................26

Figura 3 - Posição de Máxima Intercuspidação Habitual, com o máximo de contatos


dentários.....................................................................................................................23

Figura 4 - Manipulação bilateral para obtenção da relação cêntrica.........................27

Figura 5 - Posição de Máxima Intercuspidação Habitual, com o máximo de contatos


dentários.....................................................................................................................27

Figura 6 - Imagem ilustrativa sobre a DVO adequada, onde ocorre a distância entre
dois pontos localizados nos maxilares quando os elementos de oclusão estão em
contato........................................................................................................................29

Figura 7 - Imagens ilustrativas sobre os contatos posteriores bilaterais


simultâneos................................................................................................................32

Figura 8 - Imagens ilustrativas representando a guia canino e função em grupo,


respectivamente.........................................................................................................34

Figura 9 - Imagem ilustrativa da presença da guia anterior......................................35

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Força máxima de mordida x sexo x dente................................................29


1. INTRODUÇÃO

A Odontologia vem se preocupando cada vez mais com a estética e a


função dentária, com vistas a oferecer aos pacientes um sorriso harmonioso e
saudável, sinônimo de beleza e saúde. A união do conhecimento das diversas
especialidades odontológicas, organizadas de forma sistemática, sempre com base
no pilar principal de sustentação da Odontologia como ciência – a Oclusão -
resultará numa abordagem única, do diagnóstico ao plano de tratamento,
enfatizando a perspectiva estética, mas sempre acompanhada dos aspectos
estruturais, funcionais e biológicos do paciente. (ELLWANGER, et al., 2011).
Fatores hereditários, congênitos ou adquiridos podem ocasionar alterações
dentárias que, depois de tratadas pela Ortodontia, ainda não alcançam os resultados
estéticos esperados. Algumas dessas limitações podem ser solucionadas pela
Dentística Restauradora, que possibilita a reanatomização dentária por meio da
utilização de resinas compostas diretas. O controle periodontal, especialmente de
pacientes com histórico de perda óssea, mostra-se fundamental para possibilitar a
execução do tratamento e manter a longevidade dos dentes.
A reabilitação oral é capaz de devolver ao paciente a função mastigatória
adequada, muitas vezes comprometida com a perda de alguns elementos dentários,
além de restabelecer a correta dimensão vertical. Em complementação a esse
preceito, o sucesso clínico e a longevidade dos tratamentos reabilitadores com
prótese convencional ou próteses sobre implantes estão diretamente relacionados
ao controle biomecânico da oclusão. Nesse sentido, a história odontológica do
paciente desempenha importante papel no planejamento global, para que assim se
realize a determinação final da oclusão. (ELLWANGER, et al., 2011). Desta forma,
condutas integradas são organizadas para guiar os profissionais sobre o papel de
cada uma das especialidades no contexto da clínica integrada. Assim, para alcançar
excelência estético-funcional é preciso integração entre as especialidades
odontológicas.
Abordar um paciente de forma interdisciplinar para reabilitação estética do
sorriso significa combinar as características dentárias e periodontais com os
aspectos faciais. (ALMEIDA,1999). Esses procedimentos clínicos integrados

11
dependem da complexidade de cada caso, auxiliados ou complementados entre si,
muitas vezes por várias especialidades ao mesmo tempo. (SANITÁ et al., 2009).
A literatura é unânime em afirmar a importância do tratamento
multidisciplinar, no que se refere aos requisitos estético-funcionais, onde a união das
especialidades melhorou a compreensão das etapas necessárias para a sequência
ideal do tratamento (FRANCISCONI et al., 2012). Desta forma, este trabalho
objetivou revisar e discutir os principais aspectos da Oclusão estática e funcional
para o tratamento em Clínica Odontológica Integrada, de maneira que os Cirurgiões-
Dentistas adquiram o conhecimento necessário para o sucesso e a longevidade dos
procedimentos.

12
2. OCLUSÃO – CONCEITO

2.1 OCLUSÃO FISIOLÓGICA

Para que uma oclusão seja fisiológica é necessário que se siga alguns
quesitos, tais como: possuir a transmissão de resultante das forças oclusais para o
longo eixo dos dentes posteriores, contatos dentários posteriores bilaterais e
simultâneos, apresentar dimensão vertical de oclusão adequada, guias laterais e
anterior e a relação cêntrica coincidir com a máxima intercuspidação habitual
(FIGURA 1) (PEGORARO, 2004).

Figura 1- Aspecto intrabucal frontal, lateral direito e oclusal inferior de uma oclusão
fisiológica. (Fonte: Arquivo Pessoal)

Nenhuma oclusão presente na cavidade bucal, livre de patologia e disfunção


pode ser considerada anormal, sugerindo uma extensa variedade na morfologia
oclusal acompanhada de um bem-estar físico e psicológico. (SBRAGIA, 2002).
Em uma oclusão fisiológica ou orgânica, no final do fechamento mandibular,
a ação dos músculos elevadores promove o assentamento dos côndilos nas fossas
mandibulares do osso temporal, (denominado posição de relação cêntrica)
coincidindo com o máximo de contatos dentários bilaterais (denominada máxima

13
intercuspidação ou oclusão dentária). Como resultado, a mandíbula assume uma
posição estável denominada oclusão em relação cêntrica (ORC), na dimensão
vertical de oclusão (DVO). Em seguida o relaxamento dos músculos elevadores gera
a dimensão vertical de repouso (DVR). Nos movimentos excursivos da mandíbula,
os dentes posteriores devem desocluir pela ação da guia anterior e das guias
laterais, em perfeita harmonia com os demais componentes do aparelho
estomatognático. (FERNANDES NETO, 2006).
As oclusões com aspectos de normalidade tanto estéticos quanto
funcionais, apresentam, no mínimo, quatro das seis chaves de ótima oclusão
definidas por Andrews (1972), sendo que a relação interarcos (a primeira das
Chaves de Oclusão de Andrews) deveria estar obrigatoriamente presente em todos
os casos. Ao analisar funcionalmente a oclusão, verifica-se que os movimentos
mandibulares em protrusão e em lateroprotrusão direita e esquerda, não devem
apresentar interferências oclusais em nenhum destes movimentos. Sob
manipulação, o fechamento da mandíbula deveria apresentar contatos posteriores
simultâneos bilaterais, inclusive nos caninos, além de não haver diferença entre a
posição de máxima intercuspidação (MIH) e a posição de relação cêntrica (RC).

2.2 OCLUSÃO PATOLÓGICA

A oclusão patológica refere-se a uma condição oclusal que necessita de


tratamento, está associada a lesões traumáticas ou distúrbios nas estruturas de
suporte dos dentes, músculos e ATM (articulação temporomandibular). (Figura 2)
(SBRAGIA, 2002).
Pegoraro em 2004, exemplifica algumas patologias encontradas
frequentemente na cavidade bucal:
- Contato prematuro: refere-se a qualquer contato oclusal que prematuramente
impede o fechamento mandibular na posição de MIH, RC ou ORC; ou que
interfira nos movimentos excursivos. Um contato prematuro não interfere
necessariamente com a função e parafunção ou causa patologias oclusais.
Eles podem surgir de causas naturais (crescimento e desenvolvimento da
mandíbula ou erupção dentária), causas adquiridas (colocação de
restaurações, prótese, tratamento ortodôntico, etc.) ou causas disfuncionais
14
(patologias musculares ou da ATM). Podem ainda, ser consequência de uma
série de patologias musculares ou da ATM, ao invés da causa das mesmas;
portanto, é importante que os procedimentos de ajuste oclusal nunca sejam
indicados na fase aguda das Disfunções Temporomandibulares (DTM).
- Interferência oclusal: constitui uma relação de contato oclusal que interfere de
alguma forma com a função ou parafunção. A presença de uma interferência
oclusal define os chamados traumas oclusais, que podem ser primários ou
secundários. Enquanto o primeiro diz respeito a interferências que atuam
sobre dentes com suporte periodontal sadio, a segunda é relacionada a
dentes previamente comprometidos por doença periodontal inflamatória e,
consequentemente, debilitados em relação ao suporte ósseo. (PEGORARO,
2004). É o contato oclusal não fisiológico que dificulta ou impede o completo
fechamento mandibular em ORC sem causar desvio, no entanto causando
instabilidade à mandíbula. Ocorre sempre que houver contato oclusal
prematuro entre cúspide e fossa ou entre cúspide e crista marginal
(embrasura) de dentes antagonistas. Tal contato promove instabilidade aos
côndilos, hiperatividade muscular e estresse ao periodonto. (PEGORARO,
2004).
- Mobilidade dentária: uma consequência muito comumente encontrada nas
oclusões patológicas, que se apresenta quando existem interferências
oclusais ou hábitos parafuncionais deletérios, em que o mecanismo de um
contato oclusal adequado é rompido, interferindo na ligeira e temporária
intrusão dentária, a qual promove uma série de eventos fisiológicos
necessários para a manutenção da normalidade, ocasionando uma perda
óssea e consequente mobilidade dentária. (PEGORARO, 2004).
Quando forças traumáticas são aplicadas a um periodonto sadio, há uma
fase de aumento da mobilidade, caracterizada por alterações vasculares
patológicas, com consequente aumento da atividade osteoclástica nas regiões de
pressão. Todavia, após se estabilizar em uma nova posição, o dente permanece
com mobilidade, sem que ocorra aumento na sua magnitude ou qualquer alteração
biológica. (PEGORARO, 2004). Contudo, na presença de forças oclusais anormais
aplicadas a dentes que possuam doença periodontal, esses não respondem com
mudanças de adaptação à demanda e continuam em trauma, levando os dentes à
15
mobilidade progressiva. Nesses casos, o trauma oclusal pode acelerar o índice de
perda de inserção periodontal e óssea. Os sintomas de trauma oclusal são dor ou
desconforto na região periodontal, hipermobilidade dentária e migração patológica
dos dentes com consequente impacção alimentar. Já os sinais de trauma oclusal se
manifestam através da mobilidade dentária progressiva, da migração dentária
patológica e padrões anormais de desgaste oclusal. Radiograficamente, detecta-se
ausência da lâmina dura lateralmente ou na região do ápice do dente, variação na
espessura da membrana periodontal e reabsorção óssea. (PEGORARO, 2004).
Quando os pacientes apresentam uma condição periodontal satisfatória, as
interferências oclusais respondem a esse traumatismo com desgaste da estrutura
dentária. Os desgastes podem ser localizados isoladamente na região posterior ou
anterior, tornando-se presente no aparecimento de contatos oclusais anormais
durante os movimentos laterais. (PEGORARO, 2004). Esse desgaste dentário
também pode aparecer de forma localizada em caninos, ocorrendo majoritariamente
em pacientes jovens, quando se utiliza de uma posição incorreta para dormir ou há a
presença de alguma atividade parafuncional (bruxismo, por exemplo). Além do
desgaste localizado, o desgaste dentário generalizado pode estar presente. O
mesmo é relacionado a atividades parafuncionais em pacientes não susceptíveis à
instalação de Doença Periodontal Inflamatória. Deve-se analisar a diminuição da
DVO, decorrente de perdas e desgaste dental, quando associado a necessidade de
procedimentos de reposição de elementos dentários ou reabilitação oral.
(PEGORARO, 2004).
Acrescenta que o trauma de oclusão pode gerar algumas lesões
cervicais, as quais se apresentam em forma de cunha e com bordas cortantes.
Ainda que, os dentes sofrem três tipos de estresse durante o sistema mastigatório:
compressão, tração e cisalhamento. As forças de tensão que agem sobre o dente
causam a ruptura das ligações químicas entre os cristais de hidroxiapatita e, à
medida que as ligações entre os cristais vão sendo partidas, pequenas moléculas de
água podem penetrar nos espaços formados, impedindo uma nova união química
entre os cristais. Com a permanência das forças de tensão, as microrrupturas podem
se propagar e a estrutura cristalina, uma vez rompida, torna-se cada vez mais
susceptível à dissolução química e mecânica, causadas, respectivamente, por
ácidos presentes nos fluidos bucais e pela escovação. Apesar de, os pré-molares
16
superiores, os molares e os caninos serem os elementos mais afetados por essas
lesões, pode ser que aconteça isoladamente, devido à interferências oclusais, ou de
uma forma generalizada, devido a uma atividade parafuncional como o bruxismo.
(PEGORARO, 2004).

Figura 2- Aspecto intrabucal frontal e lateral esquerdo de uma oclusão patológica,


que necessita de tratamento. (Fonte: Arquivo Pessoal)

Ainda, dentre a patologias que podem ter origem oclusal destacam-se as


disfunções temporomandibulares (DTMs), que apresentam sinais e sintomas que
variam desde dores faciais, dor e ruídos na ATM, até dores de cabeça e dificuldade
de abertura ou movimentação mandibular. Quando a patologia é relacionada à
questão muscular, mialgias e até dores miofasciais se tornam presentes. Entretanto,
existem também os processos patológicos articulares, os quais englobam as
patologias envolvidas no relacionamento côndilo/disco articular e os processos
inflamatórios e degenerativos que provém dessas alterações estruturais.
(PEGORARO, 2004).
A princípio, acreditava-se que as DTMs apresentavam etiologia
exclusivamente de origem oclusal, de maneira que após o tratamento ortodôntico ou
protético, a DTM desapareceria, assim que fosse corrigido o problema. Entretanto,
não há diferença nos sinais e sintomas de DTM entre os pacientes que eram
tratados ortodonticamente e os não tratados. A conclusão destes estudos foi de que:
existe um relacionamento muito pequeno entre os problemas de DTM e o tratamento
ortodôntico. Assim, a suposição de que os problemas de DTM eram derivados
exclusivamente de problemas oclusais não é válida. Outros fatores estão associados

17
à etiologia das DTMs, tais como alterações musculares e articulares, que devem ser
considerados e avaliados ao início do tratamento. (BÓSIO, 2004).
Outras alterações oclusais que necessitam de tratamento, mas que nem
sempre conferem caráter patológico, são as más oclusões. Isso porque o paciente
pode se adaptar à sua presença e permanecer de forma assintomática. Porém, em
longo prazo, as más posições dentárias podem dificultar a higienização causando
comprometimento periodontal e estético do paciente. Desta forma, recomenda-se
intervenção.
O termo má oclusão representa todos os desvios dos dentes e dos maxilares
da normalidade, tais como, má posição individual dos dentes e/ou dos dentes em
relação às bases ósseas (sagital, vertical e transversal). A má relação dos arcos
dentários pode refletir anormalidades nos dentes, nos maxilares ou em ambos.
(PINTO et al, 2008).
O sistema de classificação das más oclusões, desenvolvido por Angle,
tornou-se o mais conhecido e utilizado no mundo até a atualidade, provavelmente
pela simplicidade de compreensão e abrangência. Okeson cita que, para um
diagnóstico ortodôntico correto, seria necessária a clara compreensão do que é uma
oclusão dentária normal ou ideal e descreveu os aspectos dentários que
considerava representativos desta oclusão. Quando em oclusão, cada arco dentário
descreve uma curva graciosa e os dentes estão posicionados em harmonia com
seus adjacentes e com os dentes do arco oposto. O arco inferior deveria ser um
pouco menor que o superior de forma que, em oclusão, as superfícies vestíbulo-
linguais dos dentes superiores projetar-se-iam levemente sobre as dos inferiores e a
chave de oclusão estaria localizada na altura dos primeiros molares permanentes. A
relação correta seria aquela em que a cúspide mésio-vestibular do primeiro molar
superior estaria posicionada no sulco mésio-vestibular do molar inferior. Baseando-
se no posicionamento desses dentes, ANGLE, E. H. classificou as más oclusões em
Classes I, II e III com suas divisões e subdivisões.
1) Classe I de Angle: A cúspide mésio-vestibular do primeiro molar
inferior oclui na área do nicho entre o segundo pré-molar e o
primeiro molar superior; a cúspide mesio-vestibular do primeiro
molar superior alinha-se diretamente sobre o sulco vestibular do
primeiro molar inferior; a cúspide mesio-palatina do primeiro molar
18
superior está situada na área da fossa central (FC) do primeiro
molar inferior.
2) Classe II de Angle: o primeiro molar inferior está distal à relação
molar de Classe I. A cúspide mesio-vestibular do primeiro molar
inferior oclui na área da FC do primeiro molar superior; a cúspide
mesio-vestibular do primeiro molar inferior alinha-se com o sulco
vestibular do primeiro molar superior; a cúspide distopalatina do
primeiro molar superior oclui na área da fossa central do primeiro
molar inferior.
Classe II de Angle - divisão 1: tem por característica a protrusão dos
incisivos superiores que apresentam uma inclinação axial labial.
Apresenta um bom alinhamento dentário, entretanto observa-se
uma curva de SPEE acentuada, normalmente com aumento de
over-jet, devido a uma vestibularização dos incisivos superiores,
podendo ou não ter over-bite acentuado.

Classe II de Angle - divisão 2: os incisivos centrais superiores


encontram-se lingualizados e os incisivos laterais superiores
vestibularizados. Há um over-bite acentuado, podendo ou não ter
over-jet acentuado. A função muscular e respiração ocorrem
normalmente.

Subdivisão: caso os molares de um lado exibam relações de classe


I e o outro lado relação de classe II, é denominado de subdivisões
direita ou esquerda, conforme o lado que a chave de oclusão classe
II for apresentada.

3) Classe III de Angle: os molares inferiores estão mesialmente em


relação aos molares superiores. A cúspide distovestibular do
primeiro molar inferior está situada no nicho entre o segundo pré-
molar e o primeiro molar superiores; A cúspide mesio-vestibular do
primeiro molar superior está situada sobre o nicho ente o primeiro e
o segundo molar inferiores; A cúspide mesiopalatina do primeiro
19
molar superior está situada na fossa mesial do segundo molar
inferior. (ANGLE, E. H.; 1899).
Posteriormente, Angle redefiniu a classificação e modificou o conceito
anteriormente descrito, salientando também a participação dos maxilares na
determinação das más oclusões. Com o surgimento do cefalostato, em 1931, foi
possível estudar o crescimento facial por meio de telerradiografias obtidas de forma
padronizada. O diagnóstico, que outrora fora embasado principalmente no estudo
dos modelos, a partir de então, passou a contar com novas informações
provenientes das análises cefalométricas, fornecendo maiores subsídios para o
planejamento da terapia ortodôntica. (MALTAGLIATI et al., 2006).

2.3 OCLUSÃO DE TRATAMENTO

Oclusão de tratamento ou oclusão terapêutica é o termo usado para nomear


o tratamento oclusal empregado para corrigir inter-relações estruturais ligadas à
oclusão traumática (ajustes oclusais ou desgastes seletivos; tratamento ortodôntico;
tratamento protético e esplintagem). Essa nomenclatura também é usada para
descrever o planejamento oclusal na restauração de superfícies oclusais de tal
forma que um mínimo de adaptação anatômica e fisiológica seja necessária.
(SBRAGIA, 2002).
A oclusão terapêutica deve apresentar radiograficamente, a mesma
disposição radicular daquela presente na oclusão normal. Na arcada superior,
incisivos centrais e laterais de cada quadrante devem encontrar-se ligeiramente
convergentes. Os caninos mantêm uma discreta inclinação para a distal, assim como
os demais dentes, com exceção dos segundos molares que devem se apresentar
inclinados para a mesial. Os incisivos inferiores devem aparecer verticalizados e a
partir dos caninos os dentes remanescentes aumentam gradativamente a inclinação
de seus ápices para a distal.
A correção da inclinação axial dos dentes por meio de aparelhos
ortodônticos, pode prevenir uma exposição pulpar durante o preparo protético e
também melhorar as condições periodontais do paciente. (ALMEIDA,1999).
Entretanto, o estabelecimento de uma oclusão que alcance todos os critérios
gnatológicos, por meio ortodôntico, em alguns casos não é possível, especialmente
20
em pacientes periodontalmente comprometidos. Nestes casos, é preciso aceitar
alguns desvios oclusais, dentro do que se estabelece como fisiológico. (TESCH;
URSI; DENARDIN, 2004). Antes de iniciar um tratamento por meios ortodônticos, é
importante que se identifique e documente qualquer sinal ou sintoma de DTM, pois
se sintomas dolorosos aparecerem durante o tratamento, a terapia deveria ser
modificada, interferências oclusais pesadas deveriam ser aliviadas e as forças, com
intenção de distalizar dentes, eliminadas ou alteradas. (BÓSIO, 2004).

Além dos tratamentos reabilitador e ortodôntico, as terapias da oclusão


podem ser desenvolvidas por meio do uso de placas oclusais, ajuste oclusal,
esplintagem periodontal, entre outros. O tratamento das DTM, por exemplo, envolve
desde um aconselhamento, até a utilização de placas oclusais, administração de
medicamentos e procedimentos de fisioterapia. Uma quantidade significativa da
população que apresenta algum sintoma durante a vida voltará à “normalidade” sem
a necessidade de tratamento e, portanto, os tratamentos irreversíveis devem ser
amplamente discutidos. (PEGORARO, 2004). Quando a mobilidade dentária se faz
presente, pode-se realizar uma terapia básica, que envolve a instituição de um
programa rígido de Higiene e Fisioterapia Oral (HFO), ajuste oclusal das áreas de
interferências oclusais e, eventualmente, esplintagem periodontal dos dentes
abalados. Na doença periodontal inflamatória, muitas vezes torna-se imprescindível
a realização da cirurgia periodontal para raspagem e alisamento radicular, a fim de
se exonerar as bolsas periodontais presentes. Pacientes com trauma oclusal e que
necessitam de procedimentos protéticos, a recomendação básica é de se tentar
obter uma esplintagem dos elementos de suporte, pela construção de coroas com
cúspides baixas e fossas rasas, associadas a uma desoclusão anterior e lateral
rápida e eficiente. Os controles periódicos são de extrema importância, a fim de
observar o nível de suporte ósseo, grau de higienização do paciente e mobilidade
dos elementos de suporte. (PEGORARO, 2004).

21
3. CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO ESTÁTICA IDEAL

Angle, em 1899, emitiu a primeira definição de oclusão ideal, que foi


baseada na relação sagital dos primeiros molares superiores permanentes.
Acreditava-se que a harmonia facial do paciente seria alcançada com o alinhamento
de todos os dentes ocluídos em uma relação molar normal. (ANGLE, E. H.; 1899)
Andrews (1972), complementando este conceito avaliou a oclusão natural
de 120 pacientes com oclusão normal não tratada. Ele corroborou com Angle sobre
a relação do primeiro molar na definição da oclusão adequada e acrescentou outros
parâmetros no seu trabalho, definindo 6 chaves para a oclusão perfeita, que consiste
em (Figura 3):
Chave I) Relação Molar: a cúspide mesiodistal do primeiro molar superior
permanente deve ocluir no sulco entre as cúspides mesial e mediana do primeiro
molar inferior; a superfície distal da cúspide disto-vestibular do primeiro molar
superior permanente oclui na superfície mesial da cúspide mesiovestibular do
segundo molar inferior;
Chave II) Angulação da coroa (mesiodistal): refere-se à angulação do longo
eixo da coroa dos dentes, sendo a porção gengival do longo eixo de cada coroa
posicionada distalmente em relação à porção incisal, variando de acordo com a
anatomia de cada dente;
Chave III) Inclinação da coroa (vestibulolingual): inclinação vestíbulo-lingual
do longo eixo da coroa. A inclinação de todas as coroas apresenta-se da seguinte
forma:
- Dentes anteriores (incisivos centrais e laterais): a inclinação da coroa
anterior superior e inferior é suficiente para resistir à extrusão dos dentes anteriores
e também para permitir o posicionamento adequado distalmente dos pontos de
contato dos dentes superiores na sua relação com os dentes mais baixos,
permitindo a oclusão adequada das coroas posteriores.

- Dentes posteriores superiores (caninos aos molares): existe uma


inclinação da coroa lingual nos elementos posteriores superiores. É constante e
semelhante a partir dos caninos através dos segundos pré-molares e se torna
ligeiramente mais acentuada nos molares.

22
- Dentes posteriores inferiores (caninos aos molares): A inclinação da
porção lingual da coroa nos dentes inferiores posteriores aumenta progressivamente
a partir dos caninos através dos segundos molares.

- Chave IV) Ausência de rotações;

- Chave V) Presença de pontos de contato definidos, com ausência de


diastemas;

- Chave IV) Plano oclusal deve apresentar-se plano ou com a Curva de


Spee suave.

Figura 3- Aspecto intrabucal de uma oclusão perfeita (dentadura permanente).


(Fonte: Arquivo Pessoal)

23
4. CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL

Aos aspectos estáticos da oclusão, as seguintes características


funcionais são fundamentais para a conclusão dos casos ortodônticos:
- Os dentes devem apresentar posição de máxima intercuspidação (MIH), com
a mandíbula em relação cêntrica (RC), ou com desvio máximo de 1,5mm;
- Em relação cêntrica, todos os dentes posteriores devem apresentar contatos
oclusais axiais, e os dentes anteriores devem manter uma distância de 0,0005
polegada entre eles;
- Durante a laterotrusão, os caninos devem desocluir os dentes posteriores
(guia canino);
- Durante a protrusão, os dentes anteriores superiores devem ocluir com os
dentes inferiores anteriores e o primeiro pré-molar ou o segundo pré-molar
(em casos de extração), visando desocluir todos os dentes posteriores (guia
anterior imediata);
- Nenhuma interferência deve estar presente no lado de não trabalho
(balanceio). (OLTRAMARI et al, 2007)

4.1 DIFERENÇA DE RC PARA MIH 1,5MM

O conceito de “relação cêntrica” surgiu devido à busca de uma posição


mandibular estável e reproduzível que pudesse permitir a reabilitação protética
(PALASKAR; MURALI; BANSAL, 2013). Nas últimas seis décadas a RC assumiu ser
a posição mais retrusiva das cabeças dos côndilos nas fossas articulares, todavia,
atualmente, sabe-se que a relação articular ideal só é alcançada quando os côndilos
estão em suas posições mais súpero-anteriores na fossa articular, apoiados nas
vertentes posteriores das eminências articulares com os discos articulares
interpostos.
Essa posição não apresenta nenhuma relação com contatos dentários. Os
côndilos assumem esse posicionamento quando os músculos elevadores são

24
ativados sem interferência oclusal. (OKESON, 2000). A relação cêntrica é bastante
utilizada para tratamentos reabilitadores (protéticos e ortodônticos) e em alguns
casos de patologia relacionados estritamente à oclusão, em que tal posição deve ser
utilizada como guia nos procedimentos de ajuste oclusal por desgaste seletivo.
Em contrapartida, a posição de máxima intercuspidação habitual (MIH)
ocorre quando há o relacionamento dos dentes na sua máxima intercuspidação,
ocluindo o maior número possível de contatos entre os dentes superiores e
inferiores, independentemente da posição condilar (FIGURA 5). (PEGORARO,
2004).
A posição de oclusão na relação cêntrica pode ser alterada e isso ocorre
frequentemente após procedimentos odontológicos de reconstrução oclusal.
(OKESON, 2000).
Os músculos da mastigação funcionam mais harmonicamente e com menor
intensidade quando os côndilos estão em relação cêntrica, enquanto os dentes
estão em máxima intercuspidação. (OKESON, 2000). Entretanto, dificilmente isso
ocorre e, quando acontece, aplica-se o termo Oclusão em Relação Cêntrica (ORC).
(PEGORARO, 2004).
Outra característica, identificada em indivíduos saudáveis se faz
presente quando o côndilo de rotação se movimenta posteriormente para a posição
de intercuspidação (MIH) durante a etapa de fechamento do ciclo. Por esta razão,
algum grau de movimento posterior condilar para a MIH é normal durante a função.
Na maioria das articulações, este movimento gira em torno de 1mm mais ou menos.
A posição mais superior e posterior para o côndilo não é uma posição fisiológica ou
anatomicamente saudável, pois nela a força pode ser aplicada à porção posterior do
disco, lâmina retrodiscal inferior e aos tecidos retrodiscais. Como os tecidos
retrodiscais são altamente vascularizados e bem supridos por fibras nervosas
sensoriais, eles não estão estruturados anatomicamente para receber força, e,
portanto, quando aplicada nessa área, pode provocar dor e/ou causar danos.
(OKESON, 2000).
É de extrema importância que o cirurgião-dentista considere os
posicionamentos RC e MIH em conjunto durante o tratamento, a partir do
diagnóstico para a sua realização. A posição RC raramente coincide com a posição
MIH na maioria da população, cerca de 90% das pessoas têm um desvio de até
25
1,75mm entre estas duas posições. Nos casos em que este desvio altera a relação
sagital entre os arcos superior e inferior, parece óbvio que o diagnóstico e o
planejamento ortodôntico do tratamento devem ser elaborados com base no exame
do paciente em RC. Quando este protocolo é negligenciado, pode-se obter um
diagnóstico incorreto e fazer um planejamento incorreto do tratamento para a
verdadeira má oclusão. A fim de se obter o melhor planejamento para o tratamento,
a manipulação bilateral da mandíbula deve ser realizada em RC desde o primeiro
exame clínico e, posteriormente, de modo que a mecânica ortodôntica é dirigida
para se obter uma oclusão ideal estática e funcional. A manipulação do paciente em
RC deve ser frequentemente realizada a fim de manter a diferença entre RC e MIH
dentro dos limites fisiológicos (até 1,75mm) durante o curso do tratamento (FIGURA
6). Como o tratamento ortodôntico altera gradualmente os contatos dentários, se um
desvio entre RC e MIH maior que 1,5mm é detectado na fase de conclusão, a
posição dos dentes deve ser corrigida para eliminar os contatos prematuros que
causam esta discrepância, ou mesmo ajustes oclusais parciais devem ser feitos para
eliminar esses contatos. Também é importante ressaltar que os desvios entre RC e
MIH até 1,5mm não devem ser superestimados, pois apenas discrepâncias maiores
do que 4mm poderiam resultar em um maior risco do paciente desenvolver sinais e
sintomas de disfunção temporomandibular (DTM). (OLTRAMARI et al., 2007).
A compreensão da relação cêntrica é uma parte integrante da decisão
clínica realizada em diversos procedimentos restauradores. De todos os
relacionamentos da mandíbula, um cirurgião-dentista deve gravar que a RC é a
única posição clinicamente confortável, reproduzível e lógica, e a relação da
mandíbula deve ser feita de modo mais crítico e importante. O registro dessa
posição é útil na capacidade de planejar vários procedimentos de tratamento
(FIGURA 4). Uma perda da relação cêntrica pode ocasionar uma perda na precisão
da confecção dos aparelhos e levar a uma falha em um tratamento protético. Não há
praticamente nenhum aspecto clínico da Odontologia que não seja prejudicado por
uma desarmonia entre a articulação dos dentes e da posição da RC da articulação
temporomandibular. (PALASKAR; MURALI; BANSAL, 2013).

26
Figura 4- Manipulação bilateral para obtenção da relação cêntrica. (Fonte: Arquivo
Pessoal)

Figura 5- Posição de Máxima Intercuspidação Habitual, com o máximo de contatos


dentários. (Fonte: Arquivo Pessoal)

Figura 6 – Diferença de RC e MIH ≤1,5mm. (Fonte: Arquivo Pessoal)

27
4.2 DIMENSÃO VERTICAL DE OCLUSÃO (DVO) ADEQUADA

A Dimensão Vertical de Oclusão (DVO) é a posição vertical da mandíbula


em relação à maxila, medida entre dois pontos definidos previamente, um no terço
médio da face ou no nariz, e o outro no terço inferior da face ou mento, quando os
dentes superiores e inferiores estão em contato intercuspídeo na posição de
fechamento máximo, ocluindo as cúspides vestibulares dos dentes inferiores
posteriores e as cúspides linguais dos dentes superiores posteriores com as áreas
das fossas centrais antagônicas (FIGURA 6). Quando o paciente possui uma DVO
estável e correta, seu espaço funcional livre se apresenta de 2 a 4mm. Isso ocorre
durante o contato simultâneo e homogêneo de todos os dentes possíveis,
fornecendo uma máxima estabilidade para a mandíbula enquanto minimiza a
quantidade de força aplicada em cada dente durante a função. (OKESON, 2000)
A DVO influencia a harmonia facial, a articulação das palavras e
comprimento de trabalho dos músculos. O corpo humano trabalha de maneira
compensatória e, por esse motivo, quando o fechamento da mandíbula na posição
de RC cria uma condição oclusal instável, o sistema neuromuscular rapidamente
inicia uma ação muscular apropriada para localizar a posição mandibular que irá
resultar numa condição oclusal mais estável. Por esta razão, a posição RC das
articulações pode ser mantida apenas quando está em harmonia com uma condição
oclusal estável, permitindo o funcionamento efetivo enquanto minimiza o dano a
qualquer componente do sistema mastigatório. A musculatura é capaz de exercer
uma força muito maior aos dentes do que a necessária para a função, então é
importante estabelecer uma condição oclusal que possa receber forças pesadas
com a menor possibilidade de dano ao mesmo tempo. (OKESON, 2000).
A dimensão vertical pode ser alterada durante a mecânica ortodôntica fixa
ou ortopédica, devido a alguns movimentos extrusivos, na finalidade de se corrigir as
más oclusões esqueléticas. Normalmente isso se torna comum em indivíduos com
má oclusão de Classe II de Angle. Todavia, a alteração da dimensão vertical
coincide com o desenvolvimento vertical da face em indivíduos em crescimento. Ele

28
indica que estas alterações poderiam acontecer geralmente como consequência dos
processos de crescimento craniofacial. (OLTRAMARI, 2007).

Figura 6- Imagem ilustrativa sobre a DVO adequada, onde ocorre a


distância entre dois pontos localizados nos maxilares quando os elementos de
oclusão estão em contato. (Fonte: Arquivo Pessoal)

4.3 FORÇA OCLUSAL NO LONGO EIXO DOS DENTES POSTERIORES

A força oclusal aplicada em cada indivíduo varia de acordo com sua


estrutura facial, gênero, musculatura, posição dentária, entre outros (TABELA 1).
Quando uma pessoa apresenta os arcos maxilar e mandibular relativamente
paralelos, ela tende a aplicar mais força oclusal do que alguém que possui
divergências marcantes entre maxila e mandíbula. A variação da força também
ocorre em relação ao gênero e o local, onde o homem apresenta uma força máxima
maior do que as mulheres, assim como os primeiros molares também desenvolvem
mais força do que os incisivos centrais.

Tabela 1- Força máxima de mordida x sexo x dente

Homens Mulheres Incisivo Central Primeiro Molar

Força máxima 53,6 a 64,4 kg 35,8 a 44,9kg 13,2 a 23,1 kg 41,3 a 89,8 kg
de mordida
Fonte: Okeson, 2000

29
A força máxima de mordida pode aumentar com a idade até a adolescência.
Também tem sido demonstrado que pessoas podem aumentar sua força de mordida
máxima com a prática e com exercícios. Consequentemente, a dieta de uma pessoa
influenciará diretamente o desenvolvimento da força de mordida, pois os alimentos
mais duros, quando ingeridos frequentemente e em grande quantidade, podem
influenciar o desenvolvimento muscular. Com alimentos mais duros, a mastigação
ocorre predominantemente nas áreas de primeiro molar e segundo pré-molar. A
força de mordida de indivíduos com prótese total é somente ¼ daquela dos
indivíduos com dentes naturais. (OKESON, 2000).

A cavidade bucal recebe a atuação de diversas forças, as quais promovem o


equilíbrio oclusal. O alinhamento da dentição nos arcos dentários, por exemplo,
ocorre como resultado de forças multidirecionais complexas atuando nos dentes
durante e após a erupção. Quando os dentes irrompem eles são direcionados para
uma posição onde forças opostas estão em equilíbrio. As principais forças opostas
que influenciam a posição dentária originam-se da musculatura circundante. Os
lábios e as bochechas proporcionam forças linguais, assim como do lado oposto dos
arcos dentários está a língua, que produz forças vestibulares sobre a superfície
lingual dos dentes. Ambas as forças, aplicadas na face pelos lábios e bochechas e
na face lingual pela língua, são leves, porém constantes. Estas são os tipos de força
que a qualquer momento podem mover os dentes dentro dos arcos dentários. Essas
forças agem neutralizando e estabilizando as posições dentárias. A determinação da
estabilidade posicional é pelos músculos que exercem forças de tração através da
articulação e previnem o deslocamento das superfícies articulares. As forças
direcionais desses músculos determinam a posição articular ideal ortopedicamente
estável. (OKESON, 2000).
Quando um dente é contatado numa ponta de cúspide ou numa superfície
relativamente plana como a crista marginal ou no fundo de uma fossa, a força
resultante é dirigida verticalmente através do longo eixo. O processo de direcionar
as forças oclusais através do longo eixo do dente é conhecido como carga axial.
Para que essa força seja bem aceita e dissipada, o ligamento periodontal se faz
presente, convertendo uma força destrutiva (pressão) numa força aceitável (tensão),
através das fibras que o compõe, estimulando a formação de osso. De uma maneira
30
geral, ele pode ser considerado como um amortecedor natural que controla as forças
da oclusão no osso, contribuindo para a estabilidade oclusal. A carga axial pode ser
alcançada por dois métodos: o primeiro se dá pelo estabelecimento de contatos
dentários ou sobre as pontas de cúspides ou em superfícies relativamente planas
que estão perpendiculares ao longo eixo do dente. Estas superfícies planas podem
ser as bordas das cristas marginais ou o fundo das fossas. Com este tipo de contato,
as forças resultantes serão direcionadas através do longo eixo do dente. O segundo
método requer que cada cúspide, ao contatar uma fossa oposta, estabeleça três
contatos ao redor da verdadeira ponta de cúspide. Quando se consegue isso, a
força resultante é direcionada através do longo eixo do dente. Ambos os métodos
eliminam as forças fora do eixo, permitindo dessa forma que o ligamento periodontal
absorva efetivamente as forças potencialmente nocivas ao osso e possa,
essencialmente, reduzi-las. (OKESON, 2000).

4.4 CONTATOS POSTERIORES BILATERAIS SIMULTÂNEOS

A relação oclusal dos dentes é estabelecida quando as duas arcadas se


encontram. Já o alinhamento dentário interarcos se refere à relação dos dentes do
arco superior com o inferior. (OKESON, 2000). Os dentes superiores estão
posicionados mais vestibularmente, desta forma, na região posterior as cúspides
vestibulares dos dentes inferiores ocluem nas áreas de FC dos dentes superiores.
Da mesma forma, as cúspides palatinas superiores ocluem nas áreas da fossa
central dos dentes inferiores (FIGURA 8). (OKESON, 2000). Para que essa relação
seja efetivada, os contatos oclusais devem ser simultâneos em ambos os lados dos
arcos dentais e devem estar presentes em todos os dentes posteriores, pois quanto
maior for o número de contatos por dente, mais distribuídas estarão as forças
oclusais. Isso permitirá uma estabilidade oclusal, um fator importante para promover
o equilíbrio oclusal. (OLTRAMARI et al., 2007).

31
Figura 7- Imagens ilustrativas sobre os contatos posteriores bilaterais
simultâneos. (Fonte: Arquivo Pessoal)

4.5 GUIA LATERAL

Durante o movimento lateral da mandíbula, espera-se que ocorra a


desoclusão dos dentes posteriores, a qual pode ser provida somente pelo canino
(guia canino) ou auxiliado pelos dentes posteriores de uma maneira uniforme
(função em grupo). (PEGORARO, 2004).
De maneira geral, a guia canino é a mais indicada quando se espera um
equilíbrio oclusal, pois os caninos possuem as raízes mais longas e mais largas, e,
portanto, a melhor proporção coroa/raiz. Outras características tornam os caninos
mais aptos a realizar a desoclusão, tais como: o fato dos mesmos serem envolvidos
por osso compacto denso, o qual tolera melhor as forças do que o osso medular
encontrado ao redor dos dentes posteriores, a presença de uma melhor proporção
coroa-raiz, seu impulso sensorial e o efeito resultante sobre os músculos da
mastigação (menos músculos são ativados quando os caninos contatam durante os
movimentos excêntricos do que quando os dentes posteriores contatam). Sendo

32
assim, quando a mandíbula se movimenta numa excursão laterotrusiva direita ou
esquerda, os caninos superiores e inferiores são os dentes apropriados para
contatar e dissipar as forças horizontais enquanto desocluem ou desarticulam os
dentes posteriores. (OKESON, 2000).
Durante o tratamento ortodôntico, a orientação lateral por meio do canino é
mais fácil do que a função de grupo, porque mecanicamente é muito mais fácil de
estabelecer o contato num único dente do que distribuir os contatos
simultaneamente em todos os dentes posteriores. Apesar da guia canino ser a mais
recomendada, cada indivíduo possui uma anatomia própria e, portanto, na ausência
da mesma é necessário que se consiga uma desoclusão menos traumática possível.
Visto que os caninos são os únicos dentes que sozinhos são capazes de proceder
uma desoclusão suportando as forças geradas, a alternativa mais vista, quando os
dentes caninos não apresentam uma posição apropriada para aceitar as forças
horizontais seria a desoclusão pelos dentes posteriores de maneira conjunta,
evitando a sobrecarga individual. Alguns exemplos de situações em que a função
em grupo deve ser estabelecida são: problemas periodontais nos caninos, casos de
agenesia atípica dos incisivos laterais superiores, extração do incisivo inferior,
desgaste dos caninos, ou em qualquer caso em que o primeiro pré-molar substitui o
canino. (OLTRAMARI et al., 2007).
As próteses totais com guia canino conferem menor atividade aos músculos
elevadores. Com isso, tem sido defendido que a reabsorção óssea é prevenida
graças à redução das atividades parafuncionais. A habilidade proprioceptiva da
fibromucosa alveolar é capaz de coordenar a função neuromuscular, apesar da
completa perda dos dentes, especialmente os caninos, dentes que apresentam a
maior propriocepção. (ROCHA; BRASIL NETO, 2008).

33
Figura 8- Imagens ilustrativas representando a guia canino e função em
grupo, respectivamente. (Fonte: Arquivo Pessoal)

4.6 GUIA ANTERIOR

A guia anterior ocorre no movimento protrusivo quando os incisivos


entram em contato e promovem a desoclusão dos dentes posteriores, (MONNERAT;
MUCHA, 1998) protegendo-os de contatos direcionados para fora do longo eixo
(FIGURA 10) (PEGORARO, 2004). O ideal é que os dentes posteriores não
participem da oclusão durante os movimentos mandibulares excursivos, de maneira
que esta desoclusão seja obtida às custas dos dentes anteriores. Assim, durante o
movimento de protrusão maxilar, as bordas incisais inferiores deslizam nas
superfícies palatinas dos incisivos superiores, promovendo a total desoclusão.
(OLTRAMARI et al, 2007).
Quando a mandíbula protrui ou se movimenta lateralmente, as bordas
incisais dos dentes inferiores ocluem com as superfícies palatinas dos dentes
anteriores superiores. A inclinação dessas superfícies palatinas determina a
quantidade de movimento vertical da mandíbula. Se as superfícies forem muito
inclinadas, a porção anterior da mandíbula irá fazer um trajeto bem inclinado. Se os
dentes anteriores tiverem pouco traspasse vertical, eles irão fornecer pouca guia
vertical durante o movimento mandibular. A guia anterior não é considerada um fator
fixo, mas um fator variável. Ela pode ser alterada por procedimentos dentários como
restaurações, tratamento ortodôntico. Ela também pode ser alterada por condições
patológicas tais como cáries, hábitos e desgastes dentários. (OKESON, 2000).

34
Figura 9 - Imagem ilustrativa da presença da guia anterior. (Fonte: Arquivo Pessoal)

5. DISCUSSÃO

A literatura é unânime em afirmar a importância da oclusão para o


tratamento multidisciplinar. Desta forma, este trabalho revisou os principais aspectos
da Oclusão estática e funcional para o tratamento Odontológico Integrado, com
intuito de assegurar o sucesso e a longevidade dos procedimentos.
Com relação aos aspectos estáticos para uma oclusão ideal, as seis chaves
de oclusão devem verificadas conforme a metodologia preconizada por Andrews
(1972). Apesar dessas diretrizes, em alguns casos é aceitável que não sejam
atingidos todos os objetivos, como por exemplo, pacientes com ausências dentárias
múltiplas e condição periodontal comprometida. Além disso, é de extrema
importância ressaltar que esses objetivos só podem ser esperados em indivíduos
com bom relacionamento entre a maxila e a mandíbula, pois naqueles indivíduos
com discrepância esquelética, que serão tratados compensatoriamente, os
parâmetros de normalidade serão alterados, guiados no sentido de buscar a melhor
estética e função possíveis para o caso. (MALTAGLIATI et al, 2006).
Entretanto, é inadmissível que esses objetivos estáticos não sejam atingidos
quando seriam possivelmente alcançáveis. A ocorrência concomitante das
características das seis chaves para uma oclusão ótima, o que caracterizaria um
paciente com oclusão normal não tratada, é muito rara na população. Portanto, não
se pode enxergar rigidamente como insucesso a ausência de um ou mais destes
fatores, mas sim usar como guia de tratamento esses parâmetros para o diagnóstico
em busca de qualidade no tratamento dos pacientes.

35
Considerando a oclusão funcional, Okeson (2000) relatou que a estabilidade
é obtida quando a posição de relação cêntrica dos côndilos coincide com a posição
de máxima intercuspidação dos dentes. Entretanto, as condições oclusais ideiais
não são alcançadas apenas com os contatos dentários iguais e simultâneos. A
anatomia de cada indivíduo varia e por esse motivo, é necessária a avaliação
individual de cada caso, a fim de se estabelecer o contato ideal para a pessoa, sem
que se siga um padrão. A direção e a magnitude das forças aplicadas em cada
dente devem ser examinadas criteriosamente. (OKESON, 2000). Pegoraro 2004,
propõe a necessidade da presença do disco articular interposto entre o côndilo e a
fossa mandibular, contudo muitos pacientes adaptam-se à anteriorização
permanente do disco sem grandes consequências, tornando esse assunto bastante
questionável. (PEGORARO, 2014).
Quando a boca se fecha, os côndilos devem estar em relação cêntrica e,
nesta posição, deve haver contatos homogêneos de todos os dentes posteriores. Os
dentes anteriores se contatam um pouco mais suavemente que os posteriores,
porém é importante que ocorra o maior número possível de contatos dentários na
região posterior, com forças axiais; e, na lateralidade, possuir guias de contato no
lado de trabalho para desocluir o lado oposto imediatamente. Considerando a guia
lateral, a possibilidade favorável é fornecida pelos caninos, que se mostram
anatomicamente preparados para suportar essas cargas. No movimento protrusivo
(guia anterior), deve haver contatos dentários dirigidos pelos dentes anteriores para
desocluir os posteriores, diminuindo a força de contração dos músculos da
mastigação. (MONNERAT; MUCHA, 1998; (BARBOSA et al, 2004). O
estabelecimento da guia anterior efetiva atua evitando e prevenindo as indesejáveis
interferências posteriores, que por sua vez contribuem para um estado de
descoordenação e hipercontração muscular.
O relacionamento entre os dentes anteriores no desempenho de variadas
funções deve ocorrer de forma equilibrada para a obtenção da oclusão mutuamente
protegida. O formato da concavidade palatina dos dentes ântero-superiores,
juntamente com o grau de trespasse horizontal e vertical entre os dentes irá refletir
no funcionamento da guia anterior. As funções básicas da guia anterior são a incisão
dos alimentos, fonética, estética e proteção dos posteriores durante a mastigação,
por meio da oclusão mutuamente protegida, sendo talvez um dos fatores de maior
36
valor nas reabilitações parciais ou totais do sistema estomatognático. (MATOS;
GIRUNDI, 2016).
Por outro lado, embora a presença das guias anterior e lateral represente na
maioria dos casos um indicativo para uma boa oclusão, caso as estruturas do
sistema mastigatório funcionem eficientemente e sem patologia, a configuração
oclusal também é considerada fisiológica e aceitável, não importando os contatos
dentários específicos. (BARBOSA et al., 2004).
Assim, uma correta oclusão individual é determinada mais pelo seu
funcionamento e efeito sobre os tecidos periodontais, articulação temporomandibular
e musculatura, do que pelo seu perfeito alinhamento dentário em cada arco e pela
relação estática dos arcos entre si. (SBRAGIA, 2002).

6. CONCLUSÃO

Os princípios de oclusão são de extrema importância para a prática


odontológica, pois o sucesso dos tratamentos depende muito da eficiência do
Cirurgião-Dentista em analisar corretamente os critérios de uma boa oclusão. Apesar
de ser raro que um indivíduo apresente todos esses critérios, torna-se imprescindível
a busca daqueles que são alcançáveis.
Desde a realização de uma restauração unitária até uma completa
reabilitação bucal, quando não realizadas corretamente, podem acarretar a perda do
tratamento realizado, assim como desencadear iatrogenias. Desta forma, após
revisão literária, pode-se concluir que o conhecimento da área é substancial a
qualquer especialidade dentro do âmbito odontológico.

37
REFERÊNCIAS

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anteriores, comparando pacientes tratados ortodonticamente e jovens com
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