Oficio de Trevas - 2015 PDF
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Ofício de Trevas
Ofício d e Treva s d a S exta F eira S an ta |3
O OFÍCIO DE TREVAS
I - O nome
O Ofício de Trevas ou as Trevas (Matutina Tenebrarum) é o
Ofício das Matinas e Laudes dos três últimos dias da Semana
Santa. O nome deriva-se:
a) Das trevas naturais de meia-noite ou ao anoitecer, horas
estas destinadas à recitação do ofício.
b) Da prisão de Jesus durante a noite. O Salvador nos diz
que esta hora era a do poder das trevas: hæc est hora vestra et
potestas tenebrarum (Lc 22, 53).
c) Das trevas litúrgicas, pois que durante o ofício se
apagam as luzes da igreja e se vão apagando todas as velas.
d) Das trevas simbólicas da paixão. Quando Jesus morreu,
trevas cobriram a terra. Este ofício, lembrando as trevas do
Calvário, representa o luto comovedor da Esposa de Cristo, da
Igreja. Por isso faltam o invitatório solene, os hinos, o Gloria
Patri; o acompanhamento musical, o Te Deum. Todas as
antífonas, os salmos, as lições tratam do divino Sofredor.
As três primeiras lições são tiradas das lamentações de
Jeremias e formulam na boca da Igreja a dor íntima sobre os
ultrajes feitos ao Filho de Deus e sobre a impenitência histórica
de Jerusalém, figura da impenitência da alma. Historicamente o
ofício divino destes três dias conservou a sua forma antiga.
1. Preparativos.
Do altar retiram-se as toalhas, a cruz e os castiçais. No lado
da epístola, põe-se o candelabro triangular (tenebrário, galo das
trevas) com “15 velas de cera amarela”, as velas do altar devem
ser “ex eadem cera”. No meio do coro coloca-se uma estante
nua para o livro das lamentações.
3. Explicação mística.
Essa cerimônia tão simples é muito rica em significação. Nós
estamos nos dias em que a glória do Filho de Deus se eclipsou
sob as ignomínias da Paixão. Ele, que era a luz do mundo, se
torna um verme e não um homem, causa de escândalo para seus
discípulos. Todos fogem d’Ele; o próprio Pedro o nega. Este
abandono, esta defecção quase geral, é figurada pela sucessiva
extinção das velas do candelabro triangular, e mesmo das do
altar.
No entanto, esta luz desprezada de Cristo, não está extinta,
embora as sombras a tenham coberto. O acólito coloca a vela
misteriosa sobre o altar, o que simboliza Cristo que sofre e
morre sobre o Calvário; em seguida, ele esconde a vela atrás do
altar, simbolizando assim a sepultura de Nosso Senhor, cuja vida
foi apagada pela morte por três dias. Neste momento então, faz-
se escutar um confuso barulho no santuário, que é deixado na
escuridão pela ausência da última vela. Este barulho, unido às
trevas, simboliza a perturbação dos inimigos e as convulsões da
natureza: no momento em que o Salvador expirou sobre a cruz, a
terra tremeu, as rochas se fenderam e os sepulcros foram abertos.
Porém, de repente, a vela reaparece, sem ter perdido nada da sua
luz; o barulho cessa, e todos rendem homenagem ao Vencedor
da morte.
A razão histórica do rito de apagar pouco a pouco as velas do
tenebrário provavelmente é a imitação do modo antigo de contar.
Apaga-se uma vela depois de cada salmo, para constar quantos
foram recitados.
4. As leituras.
a) Primeiro Noturno: Estas são tiradas, em cada um dos três
dias, do livro das Lamentações de Jeremias. Nós aí vemos o
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MATINAS
PRIMEIRO NOTURNO
Salmo 2
É salmo messiânico por excelência. Davi quer erguer um templo ao
Senhor. Deus aceita a boa vontade de seu servo, manda-lhe, porém, dizer
pelo profeta Natan que Ele é que erguerá a casa de Davi a uma sublime
altura, porque o escolhera como Pai do Messias. Fracassarão, portanto,
todas as tramas contra a Casa de Davi. Vendo seu Esposo conduzido à
morte, a Igreja convida-nos a meditar na sua grandeza infinita e apresenta-
nos este salmo que apregoa a divindade do Messias.
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Salmo 21
As circunstâncias históricas deste salmo parecem ser as vexações do filho
revoltoso Absalão. Cristo sofre ainda as vexações maiores, dos filhos
ingratos. Davi fugitivo é uma comovente figura do Messias. A alma que ora,
como Davi e o Messias, nas suas humilhações e perseguições, encontra o
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Salmo 26
Neste salmo Davi descreve seus sentimentos, quando das primeiras
perseguições, antes de ser ungido rei em Hebron. Deus é a luz que o guia,
espera que passarão os dias de aflição, que ele escapará com vida e poderá
louvar o Senhor: a antífona é extraída do 3º e 4º versículos, onde se fala das
falsas testemunhas que se contradizem. O salmo exprime os sentimentos do
Salvador durante a Paixão. Compenetremo-nos também desses mesmos
sentimentos.
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T
ETH.O Senhor houve por bem destruir as muralhas da
Filha de Sião. Já esticou sua linha de pedreiro, não
desiste de demolir. TET. Iam caindo pelo chão os seus
portões, despedaçadas as trancas. Rei e autoridades estão fora,
lei já não há, nem mesmo os profetas encontram as visões do
Senhor.
J
OD. Já sem fala sentam-se na terra os anciãos de Sião,
vestindo roupas de luto, jogam pó na cabeça. Baixaram a
cabeça até o chão as jovens de Jerusalém.
C
APH. Lágrimas derretem-me os olhos, as entranhas em
alvoroço, minha bílis pelo chão se derramou com a
derrota de meu povo, ao ver crianças e bebês
desfalecendo pelas ruas da cidade.
Jerusalém, Jerusalém, converte-te ao Senhor, teu Deus.
Primeiro responsório
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L
AMED. Perguntam às suas mães: “Onde há pão?”
enquanto, como feridos, desfalecem pelas ruas da
Cidade, exalando sua vida no regaço de sua mãe.
M
EM. A quem te comparar? Quem se te assemelha,
filha de Jerusalém? Quem te poderá salvar e consolar-
te? Virgem, filha de Sião? Grande como o mar é teu
desastre: quem te curará?
N
UN. Teus profetas viram, para ti, vazio e aparência;
não revelaram tua falta para mudar sua sorte,
serviram-te oráculos de vazio e sedução.
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S
AMECH. Todos os que vão pelo caminho batem suas
mãos ao ver-te, assobiam e meneiam a cabeça contra a
filha de Jerusalém: “É esta a cidade chamada a mais
bela, a alegria de toda a terra?”Jerusalém, Jerusalém, converte-te
ao Senhor, teu Deus.
Segundo responsório
A
LEF. Eu sou o homem que conheceu a miséria sob a
vara de seu furor. ALEF. Ele me guiou e me fez andar
na treva e não na luz; ALEF. Só contra mim está
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B
ET. Consumiu minha carne e minha pele, despedaçou
os meus ossos. BET. Edificou contra mim e envolveu
minha cabeça de tormento. BET. Fez-me habitar nas
trevas como os que estão mortos para sempre.
G
UIMEL. Cercou-me com um muro, não posso sair;
tornou pesadas minhas cadeias. GUIMEL. Por mais que
grite por socorro ele abafa minha oração. GUIMEL.
Murou meus caminhos com pedras lavradas, obstruiu minhas
veredas.Jerusalém, Jerusalém, converte-te ao Senhor, teu Deus.
Terceiro responsório
SEGUNDO NOTURNO
Salmo 37
É um dos salmos morais. Davi torturado pelas doenças, abandonado dos
amigos, perseguido pelos inimigos, reconhece que tinha merecido tais
provações pelos seus pecados. Aceita das mãos divinas o castigo, ora e
espera em Deus. Davi representava o Messias sofrendo pelos nossos pecados
e é também um modelo para cada um de nós. Este salmo é a consciência de
sermos pecadores, é a aceitação das penas como expiação dos nossos
pecados e uma súplica ardente e humilde.
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Salmo 39
Saul desobedece e é rejeitado. Em seu lugar é escolhido Davi, o homem
segundo o coração de Deus. Davi protesta obediência ao Senhor. Este salmo
é essencialmente messiânico; S. Paulo o emprega quando fala de Jesus
Cristo homem que veio fazer a vontade do Pai.
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Salmo 53
Este belo salmo é uma comovente oração do homem que, posto entre as
mais graves provações, mas certo já da libertação, propõe render graças a
Deus. Assim também, o Messias, pela trama da Sinagoga, é traído por um
discípulo e abandonado pelos amigos.
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Pater noster,secreto
Quarta Leitura
Do Tratado de Santo Agostinho, Bispo, sobre os Salmos (Sl 63, 2)
P
rotegeste-me da conspiração dos malvados, da multidão
dos malfeitores. Contemplemos nossa Cabeça. Muitos
mártires sofreram tais tormentos; mas nenhum deles tem
o brilho da Cabeça dos mártires; nela contemplamos
melhor o que eles experimentaram. Foi protegido da multidão
dos malfeitores, protegido por Deus; protegida sua carne pelo
próprio Filho e pela humanidade que possuía. De fato, ele é
Filho do homem, e Filho de Deus. Filho de Deus por causa de
sua condição divina. Filho do homem por causa da condição de
servo, tendo o poder de entregar sua vida e de retomá-la
(cfFl2,6.7; Jo 10,18). Que puderam fazer-lhe os inimigos?
Mataram o corpo, mas não mataram a alma. Atenção. Não
bastava que o Senhor exortasse os mártires com a palavra, se não
confirmasse as palavras com o exemplo.
Quarto responsório
Quinta Leitura
S
abeis que os judeus se reuniram com desígnios
malignos e qual era a multidão de obreiros da
iniquidade. Que iniquidade? A de querer matar nosso
Senhor Jesus Cristo. “Eu vos mostrei inúmeras boas obras”,
disse ele. “Por qual delas quereis lapidar-me?” (Jo 10, 32).
Sustentou todos os seus enfermos, curou todos os seus doentes,
pregou o reino dos céus, eles antes os aborrecessem e não o
médico que os curava; e eles, ingratos diante de todas essas
curas, como os frenéticos devido à febre alta, enlouquecendo
contra o médico que viera curá-los, excogitaram o plano de
matá-lo. Pareciam querer experimentar se ele era
verdadeiramente homem, com a possibilidade de morrer, ou algo
acima dos homens, que não permitisse sua morte. Conhecemos
quais as suas palavras, pelo livro da Sabedoria, de
Salomão:“Condenemo-lo a uma morte vergonhosa.
Experimentemo-lo, para apreciar a sua serenidade; se é na
verdade Filho de Deus, ele o libertará”. (Sb 2,18-20).
Quinto responsório
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Sexta Leitura
A
fiaram, qual espada, suas línguas. Não digam os judeus:
Não matamos o Cristo. O motivo por que o entregaram
ao juiz Pilatos foi para que eles mesmos parecessem
imunes do crime de sua morte. Pois, ao lhes dizer Pilatos:
“Tomai-o vós mesmos e matai-o”, responderam: “Não nos é
permitido condenar ninguém à morte” (Jo 18, 31). Queriam fazer
recair a iniqüidade do crime sobre o juiz, que era um homem;
mas por acaso enganavam ao juiz que é Deus? O ato de Pilatos,
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Sexto responsório
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TERCEIRO NOTURNO
Salmo 58
Em seu ódio, Saul põe cerco à casa de Davi para matá-lo. A esposa de
Davi, filha de Saul, salva-o, fazendo-o fugir. De seu esconderijo Davi
contempla os soldados de Saul que não conseguem encontrá-lo. Este salmo é
a oração da alma angustiada, mas sempre confiante em Deus.
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Salmo 87
Este salmo é o canto de um leproso afastado do convívio social, proibido
até de frequentar o templo de Deus; alguém, portanto, que em vida é já um
morto para os seus semelhantes. Além desse sofrimento moral, traz um corpo
em chagas, num mar de dores. É uma comovedora alusão a Cristo com o
corpo chagado da flagelação e coroação, que será colocado nas sombras do
sepulcro, mas há de ressuscitar e dar louvor a Deus.
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Salmo 93
Quantas vezes os maus tripudiam sobre os justos, aproveitando da
posição social que Deus lhes deu, para cometerem injustiças e maldades!
Mas Deus é o juiz justiceiro e haverá um dia das contas e um triunfo final da
justiça. O cristão é um homem da eternidade e sabe, a exemplo de Jesus,
suportar tudo, aguardando da justiça divina o prêmio da própria paciência e
a punição dos impenitentes.
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Sétima Leitura
Da Epístola do Apóstolo São Paulo aos Hebreus.
(Hb4, 11-15)
E
sforcemo-nos, portanto, por entrar neste repouso, para
que ninguém repita o acima referido exemplo de
desobediência. A Palavra de Deus é viva, eficaz e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes. Penetra até
dividir alma e espírito, articulações e medulas. Ela julga os
pensamentos e as intenções do coração. E não há criatura que
possa ocultar-se diante dela.Tudo está nu e descoberto aos seus
olhos, e é a ela que devemos prestar contas.Temos um sumo
sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus.
Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos. Com
efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de
nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como
nós, com exceção do pecado.
Sétimo responsório
A
proximemo-nos então, com toda a confiança, do trono da
graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a
graça de um auxílio no momento oportuno.Todo sumo-
sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos
homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e
sacrifícios pelos pecados. Sabe ter compaixão dos que estão na
ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de
fraqueza. Por isso, deve oferecer sacrifícios tanto pelos pecados
do povo, quanto pelos seus próprios.
Oitavo responsório
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Nono responsório
LAUDES
1. Ant.Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou à morte por
amor de todos nós.
Salmo 50
Súplica penitencial, com reconhecimento do pecado e com pedido de
perdão: frente à acusação feita por Deus, só resta ao homem confessar o
próprio pecado.
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Salmo 142
O justo suplica a Deus, pois sabe que Ele é o defensor dos oprimidos. O
apelo é sempre à misericórdia, pois diante de Deus ninguém é inteiramente
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justo. “Ninguém é justificado por observar a Lei de Moisés, mas por crer em
Jesus Cristo” (Gl 2, 16).
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Salmo 84
No Salvador caído por terra, Deus abençoou a sua terra (Orígenes).
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Cântico de Habacuc(3,2-19)
O Profeta Habacuc anuncia e descreve a aparição do Senhor para vingar
o Seu povo, oprimido pelos seus inimigos. É um cântico cheio de majestade e
poesia; é verdadeiramente belo, tudo nele respira temor, confiança e alegria.
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Salmo 147
O salmista exorta o povo de Israel a louvar a Deus por ter sido
restaurada a cidade santa e publica as maravilhas de Deus. Os cristãos, à
vista das maravilhas da Redenção, tem muito mais motivos para louvar a
Deus, e devem ler ou cantar este salmo com espírito de verdadeira ação de
graças.
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Cântico de Zacarias
(Lc1, 68-79)
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R O
éspice, quæsumus, lhai com amor, ó
Dómine, super hanc Senhor, esta vossa
famíliam tuam, † família, pela qual
pro qua Dóminus noster nosso Senhor Jesus Cristo
Jesus Christus non dubitávit não duvidou se entregou às
mánibus trad inocéntium, * mãos dos inimigos e sofreu
et crucis subíre torméntum. o suplício da cruz.
E conclui em voz baixa:
Qui tecum vívit et regnat Que convosco vive e
in unitáte Spíritus Sancti reina, na unidade do Espírito
Deus, per ómnia sæcula Santo Deus, por todos os
sæculórum. Amen. séculos dos séculos. Amém.