Adjuracao e Exorcismo
Adjuracao e Exorcismo
Adjuracao e Exorcismo
adjuração
e exorcismo
Avenida Higienópolis, 174, Centro AUTOR IA
86020-908 — Londrina/PR Salmanticenses
editorapadrepio.org
CAPA
Klaus Bento
DIAGRAMAÇÃO
Eduardo de Oliveira
DIR EÇÃO DE CR IAÇÃO
Luciano Higuchi
ADJURAÇÃO E EXORCISMO
EDIÇÃO
Éverth Oliveira
© Todos os direitos desta edição
pertencem e estão reservados à R EVISÃO
Editora Padre Pio Douglas Abreu
TRADUÇÃO
Redempti ac vivificati Christi sanguine, nihil Christo Equipe Christo Nihil
præponere debemus, quia nec ille quidquam nobis præposuit. Præponere
Salmanticenses
Adjuração e exorcismo [livro eletrônico] /
Salmanticenses ; [tradução Equipe Christo Nihil
Præponere]. – Londrina, PR : Editora Padre Pio,
2023.
PDF
Título Original: De Adiuratione
ISBN: 978-85-52993-07-0
1. Cristianismo 2. Exorcismo 3. Igreja Católica –
Doutrinas 4. Oração – Igreja Católica 5. Sacramentos
– Igreja Católica I. Título.
SUMÁRIO
PREFÁCIO .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
SOBRE OS SALMANTICENSES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
SOBRE A ADJURAÇÃO
PONTO I
DEFINIÇÃO E CLASSES DE ADJURAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
PONTO II
QUEM PODE ADJURAR? A QUEM SE PODE ADJURAR?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
§1. Quem pode adjurar? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
§2. A quem se pode adjurar? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
PONTO III
ESSÊNCIA E EFICÁCIA DOS EXORCISMOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
§1. Essência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
§2. Eficácia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
§3. Invocações e objetos sagrados.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
PREFÁCIO
Equipe Christo Nihil Præponere
5
A D J U RAÇÃO E EXO RC I S M O
6
P r efác i o
3. Crux sacra sit mihi lux, non draco sit mihi dux. Vade retro, Satana. Nunquam suade
mihi vana. Sunt mala quæ libas, ipse venena bibas. “A Cruz Sagrada seja a minha luz,
não seja o Dragão meu guia. Retira-te, Satanás. Nunca me aconselhes coisas vãs. É
mau o que tu me ofereces, bebe tu mesmo os teus venenos.”
4. Ecce crucem Domini, fugite partes adversæ. Vicit Leo de tribu Juda, radix David.
“Eis a cruz do Senhor; fugi, potências inimigas. Venceu o Leão da tribo de Judá, a
estirpe de Davi.”
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A D J U RAÇÃO E EXO RC I S M O
8
SOBRE OS SALMANTICENSES 5
Benedict Zimmerman
9
A D J U RAÇÃO E EXO RC I S M O
10
S o b r e o s S a l m a n t i c en s es
11
A D J U RAÇÃO E EXO RC I S M O
12
SOBRE A
ADJURAÇÃO
(DE ADIURATIONE)
SALMANTICENSES
Punctum I Ponto I
QUID, ET DEFINIÇÃO E CLASSES
QUOTUPLEX SIT
ADIURATIO? DE ADJURAÇÃO
15
S O B RE A A D J U RAÇÃO
3.º Pode-se dividir esta adjuração em pró- Tertio dividi potest hæc adiura-
tio in propriam et impropriam:
pria e imprópria. Por aquela, invoca-se illa est qua contestamur Deum,
a Deus, ou aos santos na medida em et Sanctos prout ad Deum dicunt
relationem seu iuxta sanctitatem
que se referem a Deus ou conforme a ab eo receptam; ista vero dicitur
santidade dele recebida; por esta, in- quando Sanctos secundum se aut
secundum propria merita et excel-
vocam-se os santos em si mesmos, ou lentiam contestamur. Et ratio est
por referência à excelência e aos mé- quia prima habet summam vim ad
impetrandum, secus vero ista. Sic
ritos próprios. A razão disso é que a
16
P o n t o I : D ef i n i ção e C l a ss es d e Ad j u r ação
communiter DD. supra citati. His primeira tem virtude máxima para
ergo præmissis,
impetrar, ao contrário desta. Dito isso,
17
S O B RE A A D J U RAÇÃO
18
P o n t o I : D ef i n i ção e C l a ss es d e Ad j u r ação
Qualis vero sit culpa si quis præd- santos não devem ser invocados de maneira
ictos comites non observet? Di-
cendum est: quod nisi per falsum
temerária e corriqueira.
numen adiuratio fiat, aut ad rem
graviter turpem obtinendam, reli- 3.º Que culpa tem quem as não observa?
qui defectus in comitibus adiuratio-
nis commissi, regulariter leves cul-
pæ sunt. Videantur Sanchez (num.
Deve-se dizer que, a menos que se adjure
5), Suarez (cap. 4), Palaus (num. 5), em nome de um deus falso ou para obter
Bonacina (num. 11), Leander (a q.
3), et quæ infra dicemus punct. 6, algo gravemente torpe, os demais defeitos
a num. 50. nos requisitos da adjuração são, em regra,
culpas leves.
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Ponto II Punctum II
QUEM PODE ADJURAR? QUI POSSINT
ADIURARE; ET QUI
A QUEM SE PODE SINT ADIURANDI?
ADJURAR?
20
P o n t o II : Q UEM P O D E A D JURAR ? A Q UEM S E P O D E A D JURAR ?
fidelibus, dicitur Marci cap. 16 vers. que se pede; logo, também eles podem adjurar. Se,
17: “Signa autem eos, qui credide-
rint, hæc sequentur: in nomine meo
por outro lado, se trata de adjuração solene, é igual-
dæmonia eiicient”. Et cum Christi mente certo que nem toda criatura, mas somente
discipuli dicerent: “Domine, etiam os ministros da Igreja para isso deputados, i.e., os
dæmonia subiiciuntur nobis in no-
mine tuo”, ait illis Lucæ 10 vers. 19:
exorcistas, podem adjurar solenemente, já que essa
“Ecce dedi vobis potestatem calcan- é a razão de tal adjuração chamar-se solene.
di super serpentes et scorpiones, et
super omnem virtutem inimici, et Pois bem, que a Igreja de Deus tenha rece-
nihil vobis nocebit”. Ex quo testi-
monio clare constat Christum Ec- bido de Cristo ambos os poderes, consta de
clesiæ fidelibus, et specialiter eius
Ministris, concessisse virtutem ad
muitos testemunhos da Sagrada Escritura:
expellendos dæmones ab energume-
nis. Quapropter Ecclesia instituit a) De todos os fiéis é dito: “Estes são os
specialem ordinem Exorcistarum,
in quo confertur singulis potestas
sinais que acompanharão aqueles que
ad adiurandos solemniter dæmones. crerem: em meu nome expulsarão de-
Dicta tenent omnes SS. Patres et
Theologi. Videantur Thyræus (par. mônios” (Mc 16, 17);
3 De locis infestis, cap. 37), Suarez
(lib. 4, cap. 22, num. 1), Torre (II- b) E como os discípulos dissessem: “Se-
II, q. 90, a. 2, disp. 1), Palaus (tract.
14, disp. 4, punct. 3), Sanchez (lib. 2 nhor, até os demônios se submetem a
Summæ, cap. 42, num. 18), Leander nós em teu nome”, Cristo lhes disse:
(tract. 9, disp. 5, tr. 19 et 20) et Trul-
lench (In Decalog. lib. 1, cap. 10, dub. “Eis que vos dei poder de pisar serpen-
14, num. 8). tes e escorpiões, e de vencer toda a for-
ça do inimigo, e nada vos fará dano”
(Lc 10, 17ss), testemunho do qual
claramente se depreende que Cristo
concedeu aos fiéis da Igreja, especial-
mente aos ministros dela, o poder de
expulsar demônios de energúmenos. 6
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S O B RE A A D J U RAÇÃO
6 1.º É igual em todos os homens este poder? Sed rogabis primo: An hæc potestas
sit in omnibus hominibus æqualis?
Ad quod sub distinctione est re-
Resp.: Distingo. Se falamos do poder de spondendum. Quia si loquamur de
Ordem, é igual em todos, pois não se con- Ordinis potestate, hæc in omnibus
est æqualis, cum non ex virtute
fere pela virtude do conferente ou pelos conferentis aut meritis recipientis
méritos do recipiente; logo, assim como na conferatur; unde sicut in ordine
Presbyteratus æqualis omnibus con-
ordem do presbiterato se confere a todos fertur potestas ad consecrandum,
igual poder de consagrar, assim também sic etiam in ordine Exorcistatus
æqualis omnibus tribuitur potestas
na ordem do exorcistado se atribui a todos ad dæmones expellendos. Si vero
loquamur de alia potestate, quæ in-
igual poder de expulsar demônios. Se, no ter gratias gratis datas enumeratur
entanto, falamos de outro poder, enume- (1Cor. 12), experientia constat non
esse in omnibus æqualem, quia Spi-
rado entre as graças gratis datæ (1Cor 12), ritus Sanctus sua dona dividit prout
a experiência mostra não ser ele igual em vult, et ideo videmus plures maiori
et efficaciori præ aliis exorcistis pol-
todos, porque o Espírito Santo divide seus lere virtute ad arcendos ab obsessis
dons como quer. Por isso vemos em muitos dæmones. Ita Torre (II-II, q. 90, a.
2, disp. 5, num. 17).
exorcistas um poder para exorcizar posses-
sos maior e mais eficaz do que em outros.
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P o n t o II : Q UEM P O D E A D JURAR ? A Q UEM S E P O D E A D JURAR ?
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S O B RE A A D J U RAÇÃO
Mas ainda assim não se pode negar que Sed licet hæc ita sint, tamen, nega-
ri non potest quod valde iuvat vitæ
muito ajuda a santidade de vida para ex- sanctitas ad arcendos dæmones:
8 pulsar demônios. Por isso, os que desem- quare enixe curare debent qui hoc
officio funguntur, ut nulla lethalis
penham este ofício cuidem zelosamente peccati conscientia graventur dum
para não ter a consciência agravada por dæmones adiurare tentant; alias, dif-
ficillime optata consequuntur. Quod
mancha de culpa mortal enquanto tentam quidem suaderi potest exemplis eo-
exorcizar demônios; do contrário, ser-lhes- rum, quos legimus spiritus Nequam
ab obsessis eiecisse; nam plerique
-á dificílimo conseguir o que pretendem. ex his egregia sanctitate claruerunt,
O que, de resto, pode ser corroborado ut sacras Historias sedulo evolven-
ti clare patebit. Quapropter Torre
pelo exemplo daqueles que lemos terem (II-II, q. 90, a. 2, disp. 8, a num.
11), Thyræus (cap. 40) dicunt quod
expulsado de possessos espíritos imundos; fere nunquam Exorcista hæreticus
pois muitos deles brilharam por sua emi- dæmonia eiiciet. Tum etiam quia,
experientia teste, nunquam legimus
nente santidade, como ficará claro a quem hæreticos dæmonia eiecisse, ut late
ler com cuidado as histórias sagradas. Eis probant prædicti Doctores locis
citatis exemplo Lutheri, Calvini et
por que dizem Torquemada e Thyreus que aliorum huius classis, qui frustra
um exorcista herético quase nunca expul- pluries hæc mira conati sunt opera-
ri; ergo signum est quod his scelera-
sará demônios. A experiência mesma o tis hominibus non vult Deus, ne in-
comprova, pois nunca se ouviu dizer que firmos pervertant, dictam eiiciendi
dæmones potestatem confere.
hereges tenham expulsado demônios, o
Unde iustissime hæc concludimus
que é amplamente demonstrado pelos re- dicendo: in Ministris huius excel-
feridos doutores com base no exemplo de lentis muneris plures conditiones
requiri, ut ei plene satisfaciant.
Lutero, Calvino e outros dessa laia, que em Primo, quando cum Principe huius
vão tentaram mais de uma vez operar tais Mundi, et tenebrarum harum, qui ut
fortis armatus arcis humanæ atrium
maravilhas; eis, portanto, um sinal de que custodit, Exorcista certamen inire
Deus não quer conceder a tais ímpios, para contendit, debet conscientiam scopa
Sacramenti Pænitentiæ absterge-
não perverterem os fracos, o poder de ex- re. Secundo, ferventi orationi prius
pulsar demônios. insistere. Tertio, proprium corpus
ieiunio affligere. Quarto, cum ma-
gna animi submissione hoc prælium
Escólio. Donde concluímos que, nos ministros aggredi. Quinto, ferventi divino
deste nobre ofício, se requerem muitas condições amore flagrare. Et denique sexto,
para que o cumpram plenamente. Ao descer à ba- solo divino auxilio fretus victoriam
ab eo unice expectare. His ergo
talha contra o príncipe deste mundo e das trevas, armorum præsidiis cataphractus
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securus signa cum veterato hoste que qual valente armado [cf. Lc 11, 21] guarda o
conferre potest.
palácio da cidadela humana, deve o exorcista
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S O B RE A A D J U RAÇÃO
a) de S. Lucas: “Eis que vos dei poder de pisar seu virtus ad adiurandos dæmones;
ergo licite eos adiurare adiuratione
serpentes e escorpiões, e de vencer toda a coactiva possumus, eos compellen-
força do inimigo, e nada vos fará dano” (Lc do ut ab obsessis exeant, nocereque
10, 19); desistant. Divum Thomam sequun-
tur Sanchez (lib. 2 Summæ cap. 42,
num. 15), Bellarminus (tom. 2 De
b) e de S. Marcos: “Em meu nome expulsarão Sacram. lib. 1, cap. 25), Petrus Le-
demônios” (Mc 16, 17). desma (par. 2, tract. 11, cap. 6, con-
cl. 2), Trullench (lib. 1, cap. 10, dub.
Ora, Cristo não deu esse poder somente aos 14, num. 5), Palaus (tract. 14, disp.
4, punct. 3, a num. 3), Suarez (lib.
ministros da Igreja, mas a todos os fiéis: “Es- 4, cap. 3, num. 6), Læssius (lib. 2,
tes são os sinais que acompanharão aqueles cap. 42, dub. 13, num. 70), Leander
(quest. 24, disp. 5 relatæ), Filliucius
que crerem: em meu nome expulsarão de- (tract. 24, cap. 8, num. 207), Bona-
cina (disp. 2, quæs. 1, punct. ult.,
mônios” (Mc 16, 17). Mas tudo isso seria num. 2).
falso se não houvesse em nós um poder
ou virtude para adjurar os demônios; logo,
podemos licitamente adjurá-los com adju-
ração coativa, compelindo-os a sair dos pos-
sessos e a desistir de lhes fazer mal.
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P o n t o II : Q UEM P O D E A D JURAR ? A Q UEM S E P O D E A D JURAR ?
nis, cons. 2), Turreblanca (lib. 9 Iuris racionais e, por consequência, somente é
Spirt. cap. 13), Læssius (lib. 2, cap.
42, dub. 13, num. 72). lícito adjurar criaturas racionais.
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S O B RE A A D J U RAÇÃO
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Punctum III Ponto III
DE EXORCISMORUM
ESSENTIA, ET
ESSÊNCIA E EFICÁCIA
EFFICACITATE DOS EXORCISMOS
AD FUGANDOS
DÆMONES
Quia inter modos dæmones adiu- Pois que entre os modos de adjurar de- 15
randi præcipuus est Exorcismorum
usus, ideo ante omnia de eius es-
mônios o principal é o uso de exorcismos,
sentia, existentia, origine et efficacia cumpre antes de tudo tratar de sua essên-
agendum est, et simul transeunter
nonnulla de aliis exorcizandi for- cia, existência, origem e eficácia, e ao mes-
mulis, seu modis dæmones pellendi, mo tempo, de passagem, diremos algo so-
dicemus.
bre outras formas de exorcizar, i.e., outros
modos de expulsar demônios.
§1. Essência
Exorcismus ergo nihil aliud est Pois bem, o exorcismo nada mais é do que
quam illa ratio, qua dæmones per
Deum adiurantur, et ab obsessis a razão pela qual os demônios são adjura-
exire coguntur. Quæ quidem pro dos em nome de Deus e forçados a sair dos
diversitate temporum diversas sor-
titus est formulas. Nam alius exor- possessos, o que assumiu diferentes formas
cizandi dæmones modus fuit in lege
antiqua, et alius in Evangelica. Si-
segundo a diversidade dos tempos. Pois
quidem in lege antiqua, ait Sanctus um foi o modo de exorcizar demônios no
Epiphanius (Contra Ebionæos cap.
3), iudæos, adhibito nomine Dei
Antigo Testamento, outro na Lei do Evan-
TETRAGRAMMATON, dæm- gelho. Com efeito, na Lei antiga — diz S.
ones adiurasse. Et Iosephus (lib. 4
Antiquit. cap. 4) refert Salomonem Epifânio —, os judeus adjuravam os de-
Exorcismos contra dæmones in- mônios usando o tetragrama do nome de
stituisse, quod non improbat Div.
Thom. q. 6 de Potest. art. 10 ad 3, Deus. [Flávio] Josefo afirma que Salomão
referendus ad numer. 32. Et non le- instituíra exorcismos contra os demônios,
viter indicat Christus Dominus, ubi
calumniantibus iudæis in potestate o que S. Tomás não nega. O mesmo, indi-
Beelzebub eiecisse dæmonia, sic re-
spondet (Lucæ 11): “Si ego in Be-
cou-o Cristo Senhor, quando respondeu
elzebub eiicio dæmonia, filii vestri aos judeus que o caluniavam dizendo que
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S O B RE A A D J U RAÇÃO
16 E mesmo na Lei do Evangelho, não foi ne- Et adhuc in lege Evangelica non
vana apud omnes adiurandi fuit ra-
gligenciada a forma de adjurar: pois Cristo tio: nam alia usus est Christus, alia
utilizou uma, os Apóstolos outra, e os su- Apostoli, et alia Apostolorum suc-
cessores. Christus enim aliquando
cessores dos Apóstolos outra. Com efeito, simplici verbo dæmonia expulit;
Cristo expulsou demônios às vezes só por aliquando diversas orationes et
verba adhibuit: nam cum sanaturus
palavra, às vezes por diversas orações e esset dæmoniacum illum surdum
palavras. Ao curar o possesso surdo-mu- et mutum (de quo Matthæi 9 vers.
32, et Marci 7 vers. 32), primo
do, v.gr., primeiro o tomou à parte dentre ipsum apprehendit et de turba
abduxit, deinde misit digitos suos
a multidão; depois de lhe meter os dedos in auriculam, et expuens tetigit
nos ouvidos, tocou-lhe a língua com saliva; linguam eius, et postea suspi-
ciens in cælum ingemuit, et ait illi
em seguida, levantando os olhos aos céus, EPHPHETHA “quod est adaperi-
deu um suspiro e disse-lhe: “Ephphata, que re; et statim apertæ sunt aures eius,
et solutum est vinculum linguæ
quer dizer abre-te; e imediatamente se lhe eius, et loquebatur recte”. Apostoli
abriram os ouvidos, se lhe soltou a prisão vero in nomine Christi expellebant
dæmonia, brevique formula ad hoc
da língua, e falava claramente”. utebantur, veluti hac: “In nomine
Iesu Christi præcipio tibi dæmon,
Os Apóstolos expulsavam demônios em ut ab hoc homine exeas”. Unde
similis formula usus fuit D. Pau-
nome de Cristo usando fórmulas breves lus, quando condolens de puella
como esta: “Em nome de Jesus Cristo, eu habente spiritum pythonem, dixit
(Actorum 16 vers. 18): “Præcipio
te ordeno, espírito imundo, que saias deste tibi in nomine Iesu Christi exire
ab ea; et exiit eadem hora”.
homem”. S. Paulo usou fórmula semelhante
32
P o n t o III : ES S ÊNCIA E EFICÁCIA D O S EXORCI S MO S
Sed nunc iam Exorcistæ, ex appro- quando, compadecido da jovem que tinha
batione Ecclesiæ, ampliori Exor-
cismorum forma utuntur: nam in um espírito pitônico, disse: “‘Ordeno-te, em
eis miscent plures orationes, aliqua
Evangelia, Sanctorum Litanias,
nome de Jesus Cristo, que saias dela’; e ele
contactum Crucis, aut alicuius re- saiu na mesma hora” (At 16, 18).
liquiæ, et aquam benedictam, ut
constat ex Rituali Romano. Effica-
ciam horum Exorcismorum suadent
Mas, hoje em dia, os exorcistas, com a
clamores, voces, gemitus et eiulatus, aprovação da Igreja, utilizam uma forma
quos in obsessis hominibus sæpiss-
ime dæmones dederunt; et innu-
de exorcismos mais ampla, à qual se acres-
mera exempla eorum, qui nunc a centam muitas orações, alguns evangelhos
dæmonum cruciatibus ipsorum vi
sunt liberati. Et licet veteres Patres e ladainhas dos santos, o contato da Cruz
paucioribus precibus et ritibus in ou de alguma relíquia, e a água benta,
suis exorcismis usi fuerint, ut videri
potest apud Thyræum (par. 3, cap. como se vê no Ritual Romano. A eficácia
46), tamen, ab aliquot sæculis hanc destes exorcismos é corroborada pelos gri-
ampliorem exorcismorum formam,
pietas suasit, eruditio digessit, mi- tos, vozes, gemidos e uivos que os demô-
rabilia comprobant, effectus confir-
mant, et denique Ecclesiæ tolerantia
nios têm produzido muitíssimas vezes nos
corroborat. Unde floci habenda est homens possessos, e pelos inúmeros exem-
hæreticorum censura, quæ nostram
Exorcismorum formam præ antiqua
plos dos que hoje se veem livres da vexa-
carpiunt, cum nihil in ea fit, quod ção demoníaca por força dos exorcismos.
superstitionem redolere possit; quin
potius omnia sunt sancta, pia et ad E conquanto os antigos Padres usassem de
finem intentum satis commoda; et poucas orações e ritos em seus exorcismos,
fere omnia ex Scriptura et Sanctis
Patribus selecta. Unde his omissis, há alguns séculos a piedade tem sugerido;
a erudição, gerado; os prodígios, compro-
vado; os efeitos, confirmado; e a tolerância
da Igreja, corroborado a forma mais ampla
de exorcismos. É, pois, ridícula a censura
dos hereges à nossa forma de exorcizar em
favor da antiga, pois nada há nela que pos-
sa aparentar superstição; antes, pelo con-
trário, tudo é santo, piedoso e adequado ao
fim pretendido; quase tudo, enfim, tirado
da Escritura e dos Santos Padres.
33
S O B RE A A D J U RAÇÃO
§2. Eficácia
17 dificuldade. Têm os exorcismos virtude Inquires primo: An Exorcismi ha-
beant virtutem ex opere operato ad
ex opere operato para expulsar demônios e dæmones expellendos, nocivaque
coibir animais nocivos? animalia arcenda? Ante resolutio-
nem supponendum est, hic non
loqui de virtute physica, quia, etsi
Antes da resolução, supomos não tratar-se hanc non repugnet adesse in exorci-
de virtude física, porque, ainda que não re- smis ad dæmones abigendos, ut late
probat Torre (II-II, q. 90, disp. 15),
pugne terem-na os exorcismos para repelir cum videmus ignem inferni, etsi
demônios (pois vemos o fogo do Inferno, corporalis sit, agere physice instru-
mentaliter in spiritus; tamen nec
apesar de corpóreo, agir físico-instrumen- nobis necessaria ad finem intentum
talmente sobre os espíritos), ela não nos é est, nec adest urgens motivum ad
eam stabiliendam; quapropter so-
necessária para alcançar o fim tencionado, lum in præsentiarum nobis sermo
est de virtute morali per modum
nem há motivo urgente para demonstrá-la; impetrationis.
por essas razões, falaremos aqui somente
Quo supposito ad difficultatem
da virtude moral por modo de impetração. propositam respondetur affirma-
tive. Primo, quia Divus Thomas
Solução. Suposto isso, responde-se afir- (III, q. 71, a. 3), inquirens “An ea
quæ aguntur in Exorcismo, aliquid
mativamente à dificuldade proposta. efficiant?” sic in corpore articuli re-
spondet: “Dicendum, quod quidam
1.º Porque S. Tomás, ao perguntar-se “se dixerunt ea quæ in exorcismo agun-
tur, nihil efficere, sed solum signifi-
o realizado no exorcismo produz algum care; sed hoc patet esse falsum per
efeito”, assim responde no corpo do arti- hoc quod Ecclesia in Exorcismis,
imperativis verbis utitur ad expel-
go: “Alguns disseram que as coisas reali- lendam dæmonis potestatem: puta,
zadas no exorcismo nada produzem, mas cum dicit ‘ergo maledicte diabole
exi ab eo’ etc.; et ideo dicendum
somente significam; mas é evidente que est, quod aliquem effectum habent,
differenter tamen ab ipso baptismo”.
isso é falso, pois que a Igreja, nos exor- Idem dicit in 4, distinc. 6, q. 2, a. 3,
cismos, usa de palavras imperativas para quæstiunc. 2. Et deinde explicans
quem effectum efficiant, ait quod
repelir o poder do demônio (por exemplo, per Exorcismos excluditur duplex
quando diz: ‘Portanto, maldito diabo, sai impedimentum salutaris gratiæ
percipiendæ, quorum primum est
dele’ etc.); e por isso se deve dizer que al- extrinsecum, in quantum dæmones
gum efeito têm, mas de modo diferente do extrinsece impediunt nobis con-
sequi gratiam baptismi; secundum
batismo”. vero est intrinsecum, scilicet, in
quantum homo ex labe originalis
Diz o mesmo no Comentário às Sentenças. peccati habet sensus præclusos ad
percipienda salutis mysteria. Unde
E depois, ao explicar que efeito produzem, concludit quod prædicti Exorcismi
34
P o n t o III : ES S ÊNCIA E EFICÁCIA D O S EXORCI S MO S
non præcise significant, sed etiam diz que pelos exorcismos se remove um
aliquid efficiunt, a Deo impetrando
ablationem prædicti duplicis impe- duplo impedimento à recepção da graça
dimenti, quo dæmon salutem animæ
impedire nobis conatur. Tunc sic:
salvífica, o primeiro dos quais é extrínse-
sed eiusdem rationis sunt Exorcismi co, enquanto os demônios nos impedem
quibus adiuratur puer baptizandus,
ac energumenus liberandus; ergo, si
extrinsecamente de alcançar a graça do
ex Divi Thomæ mente Exorcismus batismo; o segundo é intrínseco, enquanto
in baptismo semper aliquod ope-
ratur in ordine ad dæmonis expul- o homem, pela mancha do pecado origi-
sionem, idem dicendum est de aliis nal, tem os sentidos preclusos à intelecção
energumenorum exorcismis.
dos mistérios da salvação. Donde conclui
que tais exorcismos não só significam, mas
também algo produzem impetrando de
Deus a remoção desse duplo impedimento,
com o qual o demônio tenta impedir a sal-
vação de nossa alma.
Secundo eadem assertio ostenditur: 2.º Prova-se a mesma asserção. Com efei- 18
nam, ut diximus (tract. 6, cap. 5,
punct. 3, num. 50) et NN. Salmant. to, os sacramentais, embora não tenham ex
Scholastic. (Tom. 11, tract. 32, dispt. opere operato o <poder de causar> imedia-
10, dub. 2, nu. 19) sacramentalia,
licet ex opere operato non habeant tamente a remissão dos [pecados] veniais,
causare immediate remissionem produzem-no ao menos mediatamente,
venialium, tamen saltem mediate
eam efficiunt, impetrando auxilia ad impetrando auxílios para os atos pelos
actus, per quos immediate et forma-
liter venialia remittuntur (et hæc est
quais imediata e formalmente são perdoa-
mens nostra dicto loco stabilita, ut dos os veniais. Logo, os exorcismos, embo-
attente consideranti constabit; et iam
notarunt NN. Salmant. numer. 22 in
ra não tenham ex opere operato o <poder
fine, licet alicui diversa videatur). de> causar a expulsão total do demônio,
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S O B RE A A D J U RAÇÃO
sempre causam ex opere operato algum Ergo Exorcismi, licet ex opere ope-
rato non habeant causare dæmonis
efeito pertinente e conducente à expulsão expulsionem totalem, tamen semper
do demônio. ex opere operato causant aliquem ef-
fectum pertinentem et conducentem
ad dæmonis expulsionem.
É patente a consequência. Com efeito,
Patet consequentia; nam ideo sacra-
os sacramentais, segundo a opinião mais mentalia iuxta nostram, et certiorem
certa, seguida por nós e pelos doutores, Doctorum opinionem, semper ex
opere operato producunt aliquem ef-
sempre produzem ex opere operato algum fectum in ordine ad venialium remis-
efeito em ordem à remissão dos veniais: sionem: quia, cum Ecclesia habeat
sufficientem virtutem ad consequen-
porque a Igreja, tendo suficiente virtude dum prædictum effectum a Deo, per
para alcançar de Deus esse efeito, pedin- modum impetrationis illam exoptan-
do; et alias, instituantur prædicta sa-
do-o por modo de impetração, e instituí- cramentalia ad prædictum effectum,
dos os sacramentais para isso, <a mesma potest eis prædictam virtutem com-
municare. Sed Ecclesia habet vim
Igreja> lhes pode comunicar tal virtude. ad impetrandum a Deo expulsionem
dæmonis, et quidquid ad hoc con-
Ora, a Igreja tem o poder de impetrar de ducere potest; et alias, instituit ad
Deus a expulsão do demônio e quanto hoc prædictos Exorcismos. Ergo, si
ob hanc rationem sacramentalia ex
pode conduzir a isso; e, além disso, insti- opere operato causant, saltem me-
tuiu os exorcismos para tal fim. Logo, se, diate, venialium remissionem, etiam
exorcismi habent ex opere operato
por esta razão, os sacramentais causam ex causare, aut dæmonis expulsionem,
opere operato, ao menos mediatamente, a aut saltem aliquem effectum ad eam
immediate conducentem.
remissão dos pecados veniais, também os
exorcismos têm o <poder de> causar ex
opere operato a expulsão do demônio, ou
pelo menos algum efeito a ela imediata-
mente conducente.
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2.ª Para outros, os exorcismos não expulsam o Alii vero dicunt, quod non causant ita
infallibiliter ex opere operato expulsio-
demônio infalivelmente ex opere operato assim nem dæmonis, sicut Sacramenta con-
como os sacramentos conferem a graça, e a tal ferunt gratiam; et quod hæc diversitas,
diversidade assinalam uma tríplice causa: a) por ex triplici capite oritur. Primo, ex parte
Exorcismorum, quia ex institutione
parte do próprio exorcismo, que, por instituição divina non sunt adeo efficacia, sicut
divina, não é tão eficaz como os sacramentos; Sacramenta. Secundo, ex parte Exorci-
starum, quia ad hoc munus negligenter
b) por parte do exorcista, quando não se prepa- præparantur. Tertio, ex parte obsesso-
ra adequadamente para o ofício; c) por parte do rum, vel quia in peccatis existunt, aut
possesso, quer por estar ou ter estado em pecado, extiterunt, vel quia eis non expedit ut
cito curentur, ne graviora peccata com-
quer por não lhe convir uma cura tão rápido, de mittant, vel forte id evenit ob aliorum
modo a não cometer pecados mais graves, ou tal- peccata, aut utilitatem, aut quia ad glo-
vez por pecados de outrem, ou porque é útil, ou riam Dei valde conducit. Sic Thyræus
citatus (cap. 47), Torre (num. 4) et Le-
porque concorre para a glória de Deus. ander (q. 58).
21 Mas a primeira solução não parece fazer senti- Sed primam solutionem non ca-
do. Com efeito, se os exorcismos têm virtude ex pimus: nam si Exorcismi ex opere
operato habent virtutem ad dæm-
opere operato para expulsar demônios, tal virtude ones expellendos, eius virtus debet
há de ser infalível quando não há óbice por parte esse infallibilis, ubi obex ex parte
do energúmeno, pois o que tem virtude ex opere energumeni non adest, cum virtus,
quæ est talis ex opere operato, non
operato não depende das disposições do operante dependeat in effectum producendo,
para surtir efeito. É o caso dos sacramentos, que, a dispositione operantis; ut patet
por causarem ex opere operato a graça no sujeito in Sacramentis, quæ, quia ex opere
operato causant gratiam in subiecto
não indisposto, pelo simples fato de serem recebi- non indisposito, hoc ipso quod a su-
dos num sujeito disposto conferem infalivelmente biecto disposito recipiantur, etsi mi-
a graça, sem embargo da indisposição do minis- nister sit indispositus, infallibiliter
gratiam conferunt. Et similiter: quia
tro. Por semelhança, aplica-se o mesmo: dado que per sacramentalia ex opere operato
os pecados veniais são perdoados mediatamente mediate remittuntur venialia, ideo
e ex opere operato pelos sacramentais, somos for- cogimur ad assignandum infallibi-
liter prædictum effectum, hoc est,
çados a deduzir infalivelmente tal efeito, i.e., que quod infallibiliter impetrent auxilia
infalivelmente impetram auxílios que movem aos moventia ad actus, per quos venia-
atos com que são formalmente perdoados os pe- lia formaliter remittuntur; etiam
si, qui recipit prædicta auxilia, non
cados veniais, mesmo se quem recebe tais auxílios eis utatur ad eliciendos actus, qui-
não os utilize para produzir os atos com que são bus venialia formaliter remittuntur.
formalmente perdoados. Logo, se os exorcismos Ergo, si Exorcismi habent ex ope-
re operato virtutem ad dæmones
têm virtude ex opere operato para expulsar demô- expellendos, necesse est quod eis
nios, é necessário atribuir-lhes algum efeito por assignemus aliquem effectum, quem
eles produzido infalivelmente em ordem à predita infallibiliter in ordine ad prædictam
expulsionem producant.
expulsão.
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Quapropter dicimus cum communi Por esta razão, dizemos com a sentença co- 22
sententia: Exorcismos habere virtu-
tem ex opere operato ad expellen-
mum que
dos dæmones; ac proinde addimus,
infallibiliter semper hunc effectum
causare. Sed pro huius solutionis CONCLUSÃO 4.ª
intelligentia, nota quod hæc dæm-
onum expulsio considerari potest
Os exorcismos têm virtude ex opere ope-
dupliciter: primo, complete et per- rato para expulsar demônios,
fecte; secundo, incomplete et im-
perfecte, seu vialiter. Primo modo
dicit expulsionem totalem dæmonis
e por isso acrescentamos que sempre cau-
a corpore obsessi, ita ut nullo modo sam infalivelmente este efeito.
in eo remaneat; secundo modo non
dicit hanc expulsionem totalem, sed
vialem, seu inchoatam, in quantum Para compreender esta solução, note-se
potestas et virtus dæmonis in ordine que a expulsão dos demônios pode ser
ad torquendum obsessum (de qua
infra n. 44, punct. 5) aliquomodo considerada de dois modos: primeiro,
per eos minuuntur et attenuantur, completa e perfeitamente; segundo, in-
taliter quod deinceps non ita acriter
obsessum torqueat, et ad mala pro- completa e imperfeitamente, ou transito-
vocet; et hæc dicitur expulsio vialis,
et inchoata, quia est via et princi-
riamente [vialiter]. O primeiro significa
pium qua pervenitur ad ultimam et expulsão total do corpo do possesso, a
perfectam dæmonis expulsionem.
ponto de não permanecer nele de modo
algum; o segundo não significa expulsão
total, mas vial ou incoada, na medida em
que, pelos exorcismos, se diminuem e ate-
nuam de algum modo o poder e a força
do demônio para atormentar o possesso,
de forma que já não o possa atormentar
tão cruelmente nem provocá-lo ao mal, e
chama-se expulsão transitória [vialis] ou
incoada, porque é a via e o começo pelo
qual se chega à expulsão última e perfeita
do demônio.
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S O B RE A A D J U RAÇÃO
23 Feita essa observação, respondemos que Hoc ergo sic notato, respondemus:
quod Exorcismi ex opere operato
os exorcismos têm virtude ex opere opera- habent virtutem ad expellendos
to para expulsar demônios com expulsão dæmones, vel expulsione perfecta
et completa, vel saltem expulsione
perfeita e completa, ou pelo menos com imperfecta et viali; ac proinde in-
fallibiliter semper aliquem ex his
expulsão imperfeita e transitória; logo, effectibus consequuntur: nam vel
produzem sempre infalivelmente algum causant expulsionem totalem et
perfectam, si Deo placet, vel saltem
destes efeitos, pois causam ou expulsão to- expulsionem vialem et imperfectam,
tal e perfeita, se a Deus aprouver, ou pelo vires adversarii attenuando.
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25 2. A segunda coisa que expulsa demônios Secunda, quæ dæmones expellit, est
Crux Christi, quæ dupliciter abigere
é a Cruz de Cristo, a qual os pode repelir potest dæmones. Primo, tamquam
duplamente: a) primeiro, como causa ins- causa instrumentalis, qua Deus uti-
tur ad eos arcendos, eo modo, quo
trumental usada por Deus para os repri- in Historiis Ecclesiasticis legimus,
mir. Como lemos nas crônicas da Igreja, media cruce ut instrumento, plura
miracula edita fuisse: tam sanitatem
por intermédio da Cruz como instrumen- conferendo, morbos profligando,
venenum innoxie bibendo; quam
to, muitos milagres foram feitos, quer resti- dracones enecando, fluctus maris
tuindo-se a saúde, eliminando-se doenças, reprimendo, ignem extinguendo
aut innoxie calcando, ut satis veri-
bebendo-se veneno sem dano, quer matan- simile docent Thyræus (part. 3, cap.
do-se monstros, reprimindo-se as ondas 42, num. 18) et Torre citatus (disp.
14, num. 8). Secundo, ut obiectum
do mar, extinguindo-se fogo ou pisando-o contristans, et horrorem dæmonibus
sem dano, o que Thyreus e Torquemada en- incutiens, eo quod in eo Christus
eos devicit, ut ait Apostolus ad Co-
sinam ser bastante verossímil. b) Segundo, loss. 2; ac proinde malunt, potius
como objeto que os contrista e aterroriza, cum dedecore obsessum incolumen
deserere, quam cum molestia cru-
por ter sido nele que foram derrotados por cem substinere. Quocirca sicut canis
Cristo, como diz o Apóstolo (cf. Cl 2, 15), e odit baculum quo percussus est, ita
et diabolus Crucem detestatur et
por isso preferem a vergonha de deixar in- fugit. Unde Origenes (Homil. 6 in
cap. 5 Exodi) ait: “Timor, et tremor
cólume um possesso a suportar a moléstia cadunt super dæmones, cum signum
da Cruz. Nesse sentido, assim como o cão in nobis viderint Crucis fideliter
fixum”. Et hic modus fugandi dæm-
odeia o bastão que o feriu, também o diabo ones nobis probabilior videtur, sicut
detesta a Cruz e foge dela. Daí dizer Oríge- et visus iam est NN. Salmanticensi-
bus Scholasticis (tom. 11, trac. 22,
nes: “Temor e tremor abatem-se sobre os disp. 10, dub. 1, num. 9).
demônios, ao verem sobre nós o sinal da
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Tertia res quæ dæmones abigit, est 3. A terceira coisa que afasta demônios é 26
usus Reliquiarum Sanctorum: quod
plurimis exemplis omissis, constat
o uso de relíquias dos santos, o que, afora
ex Actibus Apostolorum cap. 19 ver. muitos outros exemplos, consta dos Atos
12, ubi de Apostolo Paulo dicitur:
“Virtutesque non quaslibet facie- dos Apóstolos, quando se diz do Apósto-
bat Deus per manum Pauli; ita ne lo Paulo: “Deus fazia milagres não vulga-
etiam super languidos deferrentur
a corpore eius sudaria, vel semicin- res por mão de Paulo, de tal modo que até,
ctia, et recedebant ab eis languores, sendo aplicados aos enfermos os lenços e
et spiritus nequam egrediebantur”.
Modus autem huius fugæ operandæ aventais que tinham tocado no seu corpo,
est, quia, cum dæmones odio et in-
vidia in Sanctos, dum in hoc mun-
não só saíam deles as doenças, mas tam-
do degerunt, tabescerent, tum quia bém os espíritos malignos se retiravam”
cognoscebant occupatores sedium
quas ipsi in cælo possederant, tum
(19, 11s). O modo por que se opera esta
quia ab ipsis sæpissime Dei gratia fuga é que, como os demônios se consu-
confortatis superantur; nunc eorum
reliquiis visis, horrescunt et contri- miam de ódio e inveja aos santos em vida,
stantur, ac proinde earum præsent- já por saberem que seus tronos no Céu se-
iam non valentes ex odio et metu
substinere, fugiunt et ab obsessis riam ocupados por eles, já por terem sido
recedunt. Ita Thyræus (cap. 43) et derrotados muitíssimas vezes por eles,
Torre (disp. 14, citata, num. 4).
fortalecidos pela graça de Deus, agora, ao
verem suas relíquias, se aterrorizam e se
entristecem, e por isso, não podendo, por
ódio e medo, suportar a presença delas, fo-
gem e se afastam dos possessos.
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b) O segundo deste gênero é a água lustral Secundo huius generis est aqua lu-
stralis, seu ab Ecclesia benedicta,
ou benta pela Igreja, que a destina espe- quam specialiter Ecclesia ordinat ad
cialmente para afugentar demônios e repe- dæmones fugandos et morbos pel-
lendos, ut constat ex oratione qua
lir doenças, como consta da oração usada ab Ecclesia benedicitur, ubi a Deo
para abençoá-la, na qual se pede a Deus exoratur ut: “Creatura tua” (scilicet
aqua) “mysteriis tuis serviens ad
que “esta tua criatura”, i.e., a água, “ser- abigendos dæmones, morbosque
pellendos divina gratia summat ef-
vindo aos teus mistérios, receba da graça fectum” etc.
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fujam na presença da Cruz, costumam apa- rat Deus. Crux imago Christi pro
nobis in Cruce pendentis. Et si
recer de novo; mas quando se lhes asperge ab aqua benedicta tollas effectum
água benta, fogem de modo tal, que já não præfatum, aqua sola est, quia ex vi
suæ consecrationis ad illud institu-
voltam. Por isso, com razão diz Torquema- ta est”.
da: “No uso da água benta creio haver mais
força instrumental para expulsar demônios
do que nas relíquias dos santos ou na ima-
gem da Cruz, pois que a relíquia e a Cruz
têm por si um uso distinto da expulsão de
demônios. As relíquias são penhores dos
santos; às quais Deus tem em grande conta,
por terem sido órgãos de obras eminentes.
O crucifixo é imagem de Cristo pendente
da Cruz por nós. Mas se da água benta tira-
res o referido efeito, é somente água, já que,
por força de sua consagração, foi instituída
para tal efeito”.
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