Plantas Medicinais

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Apêndice A

Plantas Medicinais
e Fitoterapia na Política
Nacional de Saú­de |
Do Contexto
Internacional ao Nacional

A OMS e a criação do programa de medicina tradicional


Até 1930, as plantas medicinais e os fitoterápicos constituí­ram os principais re­
cursos terapêuticos,a tanto nas práticas populares de cuidados à saú­de em todo o
mundo quanto nas institucionais.
Após a Segunda Guerra Mundialb ocorreu a consolidação do complexo in­
dustrial da saú­dec, alavancada pelo desenvolvimento científico e tecnológico da
indústria farmacêutica, estimulado pela própria guerra, que, por sua vez, teve
como base o isolamento e a síntese de fármacos apoiados no sucesso terapêutico
desses produtos, especialmente dos anti­bió­ticos que auxiliaram na redução da
mortalidade dos soldados durante as batalhas.
Como conse­quência, o desenvolvimento científico na ­área farmacêutica pro­
porcionou o surgimento de importantes inovações terapêuticas (anti­bió­ticos,
hormônios, fármacos com ação no sistema nervoso central, entre outras cate­
gorias terapêuticas) que estabeleceu a biomedicina como modelo hegemônico, e
como parte dele, a medicalização, resultando na criação de um complexo indus­
trial, estimulando a instalação de um modelo hospitalocêntrico.
Entretanto, o excepcional desenvolvimento científico e econômico propor­
cionado pela indústria farmacêutica transnacional não promoveu aos usuá­
rios dos sistemas oficiais de saú­de a universalização do acesso à assistência
aNo final do ­século 19 os métodos utilizados na fitoquí­mica isolam os primeiros alcaloides com desta-
que para a morfina. Entretanto, os medicamentos de síntese somente iniciam sua expansão na década
de 1940 após o advento dos anti­bió­ticos e a importância deles no combate às infecções bacterianas.
bOs EUA se consolidaram como potência econômica mundial exercendo uma importante in­fluên­cia e

papel nas negociações ocorridas no comércio mundial, principalmente no âmbito do GATT (Acordo
Geral sobre Tarifas e Comércio). A partir desse momento ocorreu uma intensificação do processo de
internacionalização da economia.
cA concepção do Complexo Industrial da Saú­de fundamenta-se na dinâmica da estrutura técnico-pro-

dutiva em saú­de, composta pelos segmentos industrial, comercial, de serviços, formativo e de pesquisa
e desenvolvimento.
2  Fitoterapia Contemporânea

farma­cêuticad com o provimento do acesso aos Em 1978, essa organização e o Fundo das Nações
medicamentos alopáticos como proposto por Unidas para a Infância (Unicef) promoveram
este modelo assistencial da saú­de.1 a Conferência Internacional sobre Atenção
No Brasil, houve, a partir de 1940, uma re­ Primária em Saú­de, em Alma-Ata, ex-URSS,
dução drástica da participação das indústrias ressaltando a necessidade de ação urgente dos
farmacêuticas nacionais no mercado devido ao governos, dos profissionais de saú­de, bem como
alto custo gerado pela dependência tecnológica e da comunidade mundial de proteger e promover
pela importação de insumos farmacêuticos com a saú­de dos povos no mundo. Fundamentada
importante reflexo na saú­de pública e na econo­ nessa Conferência, a OMS criou o Programa
mia brasileira, ocorrendo, entre 1958 e 1972, a de Medicina Tradicional (PMT),e segundo o
transferência do controle acionário de 43 empre­ qual o uso integrado da medicina tradicional e
sas, sendo 39,5% das mesmas para capital norte- de plantas medicinais passaria a ser objeto de
americano.1,2 formulação e implantação de políticas públicas
Nesse contexto, a Organização Mundial  da nos sistemas nacionais de atenção à saú­de e do
Saú­de (OMS) diagnosticou o decréscimo da qua­ desenvolvimento de estudos científicos visando
lidade no atendimento médico e nos serviços de a segurança, eficácia e qualidade dos tratamen­
saú­de pública, principalmente nos paí­ses em tos. Para regulamentar essas diretrizes, criou as
desenvolvimento, constatando, na década de Resoluções WHA 31.33 (1978) e 40.33 (1987),
1990, uma distribuição extremamente perversa que reafirmam a importância das plantas medi­
dos medicamentos, uma vez que 23% da popu­ cinais nos cuidados com a saú­de e recomendam,
lação mundial consomem 60% da produção. entre outros aspectos, a criação de programas
Este dado mostra que uma grande parcela da amplos, relativos a identificação, avaliação, pre­
população não tem acesso à assistência à saú­de e paro, cultivo e conservação de plantas usadas em
muito menos à farmacêutica. Isso mostra que as medicina tradicional, bem como assegurar a qua­
recomendações da OMS, debatidas, desde 1975, lidade dos produtos derivados de medicamentos
durante a 28a Assembleia Mundial de Saú­de, não tradicionais, extraí­dos de plantas, pelo uso de
produziram os resultados esperados na qualida­ técnicas modernas e aplicações de padrões apro­
de do sistema médico, tendo em vista que a falta priados e de boas práticas de produção.4,5
de assistência farmacêutica é fruto da ausência A partir da 4a Conferência Internacional
de políticas públicas sólidas para a construção de sobre a Regulação de Medicamentos (ICDRA)f
políticas farmacêuticas.1,3 no Japão, em 1986, as plantas medicinais foram
Por outro lado, foi criada uma lacuna no sis­ incluí­das como elemento importante na formu­
tema oficial, permitindo aos usuá­rios e profissio­ lação de uma política de assistência farmacêuti­
nais de saú­de incorporar alternativas ao sistema ca. No decorrer dessa conferência, foi definida
oficial hegemônico para atender à demanda de uma relação de drogas vegetais mais usadas no
saú­de, principalmente na atenção básica. Assim, mundo, a qual serviria como base para a elabo­
uma situação frequentemente observada pela ração de regulamentos técnicos (monografias).
OMS era o uso das plantas medicinais e outras Durante a 6a ICDRA, em 1991, no Canadá, as
terapias complementares na periferia do sistema monografias, elaboradas sob a coordenação do
oficial de saú­de com o objetivo de suprir as ca­ PMT, foram apresentadas e aprovadas para uso
rências no atendimento básico à saú­de de com­ nos sistemas de saú­de dos Estados-membros
petência do Estado. Dessa forma, a OMS resolveu sob o nome de Monografias sobre Plantas
avaliar e criar regulamentos para recomendar Medicinais Selecionadas.g
aos Estados-membros diretrizes para que agre­ Além disso, a OMS reforçou o compromis­
gassem a medicina tradicional ao sistema ofi­ so de estimular o desenvolvimento de políticas
cial de saú­de como forma de ampliar o acesso públicas a fim de inseri-las no sistema oficial de
à atenção básica e à assistência farmacêutica. saú­de dos seus Estados-membros. Em 2005, a en­
tidade publicou o documento Política Nacional
dConjunto de ações desenvolvidas pelo farmacêutico tendo o

medicamento como insumo essencial e visando ao acesso e ao ePara acessar o portal do referido programa use o link: http://
uso racional. Envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a pro-
www.who.int/medicines/areas/traditional/en/
dução de medicamentos e insumos, bem como sua seleção,
fInternational Conference on Drug Regulatory Authorities
programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da
qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avalia- (ICRDA).
ção de sua utilização, na perspectiva de obtenção de resultados gPara acessar as monografias da OMS, veja no Apêndice B

concretos e da melhoria da qualidade de vida da população. “Pesquisa na Internet”.


Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  3

de Medicina Tradicional e Regulamentação de A partir de 1950, por intermédio da Capes


Medicamentos Fitoterápicosh, em que se discu­ e do CNPq, o governo brasileiro, com o objeti­
te a situação mundial das políticas de Medicina vo de minimizar a dependência e desenvolver a
Tradicional e medicamentos fitoterápicos, rela­ indústria nacional, iniciou a investigação de al­
tando que no Brasil já existe uma proposta em gumas espécies vegetais nativas e das substâncias
discussão para a inclusão das plantas medicinais delas extraí­das, por meio de estudos voltados
e fitoterapia no sistema oficial de saú­de do paí­s, para seleção, melhoramento vegetal e avaliação
o SUS (Sistema Único de Saú­de). das suas características quí­micas e propriedades
Nesse sentido, a OMS trabalha para que os farmacológicas.2,5
Estados-membros adotem as práticas tradicio­ A Capes promoveu uma linha de formação
nais com eficácia comprovada, como ferramenta em farmacologia de produtos naturais, com cur­
para manutenção das condições de saú­de, reco­ sos profissionais em várias universidades, patro­
mendando as plantas medicinais e a fitoterapia cinando também a implantação de núcleos de
como recursos importantes para ampliar o aces­ pesquisa. Isso gerou a estruturação de um siste­
so ao sistema oficial desses paí­ses. ma de pós-graduação, que desempenhou um pa­
pel decisivo na formação de grupos de pesquisa
Políticas de saú­de no Brasil na ­área e con­ti­nua ainda hoje sendo responsável
Paralelamente aos objetivos de ampliar e melho­ por isso.2
rar o acesso aos serviços de saú­de, conforme as Seguindo essas diretrizes, o CNPq elegeu,
recomendações da OMS, há no Brasil uma con­ para o biênio 1965-1966, como prioridades no
junção de fatores, como o crescente interesse setor de biologia e ciên­cias biomédicas, o desen­
industrial por produtos procedentes de plantas volvimento de estudos acerca da ação terapêu­
medicinais (principalmente das indústrias far­ tica de substâncias naturais e o levantamento
macêutica e biotecnológica), a fragilidade do se­ regional da fauna e da flora nacionais. No setor
tor farmacêutico no paí­s e seus reflexos sobre a de quí­mica, trazia como perspectiva a amplia­
soberania nacional, as diretrizes da Convenção ção do quadro de pesquisadores dos centros
sobre Diversidade Biológica (CDB), as poten­ nacionais de quí­mica, destacando os estudos
cialidades da diversidade biológica e cultural de extratos de plantas medicinais em colabora­
brasileiras e a capacidade científica e tecnológi­ ção com o Programa Nacional de Fitoquí­mica e
ca nacional que conduziram o governo federal Farmacologia Tropical.2
a estabelecer diretrizes norteadoras na ­área de Em 1976, o CNPq iniciou um programa de­
plantas medicinais e fitoterápicos.4 nominado Flora, que objetivava apoiar herbários
Contudo, é interessante entender o processo e levantamentos florísticos regionais, que, apesar
de construção dos novos marcos regulatórios de não circunscrever estritamente a ­área de plan­
para o setor no Brasil tendo em vista que ações tas medicinais, foi relevante para o setor, pois
voltadas ao uso sustentável da biodiversidade, tinha como proposta a ar­ticulação com outros
pesquisa e produção de derivados de produtos projetos, como a geração de um Banco Satélite
naturais utilizando plantas medicinais remon­ sobre Farmacologia de Produtos Naturais, criado
tam à década de 1950, a partir da criação do em 1979, por meio de convênio com a Central
Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) e da de Medicamentos (CEME),i cujo objetivo era de­
Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de senvolver estudos farmacológicos sobre plantas
Pessoal de Nível Superior (Capes). Ambas atu­ medicinais. Entretanto, o Programa Flora, fina­
aram como agências de fomento científico e lizado em 1984, não conseguiu disponibilizar os
como parte das ações do governo para absorver dados gerados nos levantamentos florísticos por
as tecnologias que vinham sendo introduzidas causa de problemas de ordem técnica.2
no paí­s, como é o caso da indústria farmacêu­ Assim, a CEME já financiava alguns proje­
tica. Nesse perío­do, o Brasil, utilizando técnicas tos de pesquisa em plantas medicinais desde os
e equipamentos ultrapassados nas ­áreas de quí­ primeiros anos da sua atuação, mas, somente em
mica e farmacologia, apresentava um significati­ 1982, essa instituição constituiu o Programa de
vo atraso técnico-científico em relação aos paí­ses
iA orientação nacionalista dos governos militares propiciou a
europeus e aos EUA.2
criação da CEME em 25/6/1971, inicialmente subordinada à
Presidência da República, sendo considerada uma importante
hDisponívelem: whqlibdoc.who.int/publications/2005/924159 iniciativa do governo brasileiro em termos de planejamento,
3237_part5.pdf. organização e aquisição de medicamentos.
4  Fitoterapia Contemporânea

Pesquisa de Plantas Medicinais (PPPM), como A partir de 1980, o mundo passou por uma
fruto do Encontro sobre Plantas Medicinais rea­ profunda reestruturação econômica, sustentada
li­zado naquele ano em Brasília, promovido pela na revolução da informática e das comunicações.
própria CEME, visando à autonomia do setor.2,6 Essa nova configuração mundial levou os paí­
Uma das ações do PPPM era agregar compe­ ses desenvolvidos a liderarem a implantação de
tência científica e tecnológica para a pesquisa em um novo sistema internacional de propriedade
plantas medicinais com a finalidade de oferecer intelectual/industrial (PI), que culminou com a
uma opção terapêutica aos sintéticos pela pro­ criação da Organização Mundial do Comércio
dução de fitoterápicos, com base em pesquisas (OMC)j e o reconhecimento de patentes pelos
etnofarmacológicas de preparações de uso po­ paí­ses-membros. O Brasil, como signatário da
pular, à base de plantas medicinais.2,7 OMC, passou a reconhecer patentes para o setor
A estratégia de ação do PPPM consistiu em farmacêutico a partir de 1997.3,9
submeter as plantas medicinais oriundas do co­ Nesse mesmo perío­do, no Brasil, ocorreu a
nhecimento popular a uma série de testes far­ extinção da CEME, cujo episódio é apontado
macológicos, toxicológicos, pré-clínicos, para como um fator que dificultou a implantação da
confirmar, ou não, as propriedades terapêuticas fitoterapia no paí­s, na medida em que a institui­
a elas atribuí­das. As preparações que recebessem ção apoiava um programa de desenvolvimento e
a confirmação da ação medicamentosa seriam produção de fitoterápicos.
pesquisadas até a produção de um fitoterápico. Podemos assinalar a importância do PPPM
Assim, as diretrizes adotadas pelo PPPM se­ para o desenvolvimento científico do segmento
guiam as recomendações da OMS e estimulavam por causa do financiamento de várias pesquisas.
Entretanto, nunca houve implantação de uma
o desenvolvimento da indústria farmacêutica
política governamental que ar­ticulasse a ­área
nacional, constituindo-se no mais importante
como um todo, tanto no que diz respeito ao co­
incentivo à pesquisa na ­área farmacêutica, con­
nhecimento científico quanto à fabricação de
substanciado em forma de programa nacional. medicamentos de origem vegetal.2
Entre os anos de 1983 e 1996, o Programa fi­ Desta forma, podemos considerar que a ins­
nanciou 110 projetos, envolvendo 24 instituições titucionalização da fitoterapia teve início a partir
de ensino e pesquisa e empresas, conseguindo de 1980 com a criação do PPPM/CEME que con­
reunir mais de 50 pesquisadores, tendo sido rea­ siderava as plantas medicinais importantes para
li­zadas análise de 74 plantas, das quais 10 apre­ intensificar a assistência farmacêutica, a produ­
sentavam investigação avançada. Estas pesquisas ção e o mercado de produtos farmacêuticos. Ao
promoveram a rea­li­zação de trabalhos multidis­ mesmo tempo, com a nova Constituição Federal,
ciplinares, estratégicos para desenvolvimento e produziu-se uma intensa atividade regulatória,
produção de fitoterápicos.6,7 aliada, ainda, à criação do Mercado Comum
As propostas da CEME estavam ar­ticu­ do Cone Sul (Mercosul) que demandou intenso
ladas com as orientações preconizadas na 8a trabalho para a harmonização de normas para o
Conferência Nacional de Saú­de, rea­li­zada em setor farmacêutico. A institucionalização do SUS
1986, que, em seu relatório final, propunha a promoveu a participação popular e a ampliação
maior presença estatal na produção farmacêuti­ da autonomia municipal com políticas voltadas
ca, a proibição da propaganda comercial de me­ para a descentralização da saú­de, permitindo
dicamentos, fiscalização rigorosa da qualidade e que secretarias de saú­de estaduais e municipais
comercialização pela vigilância sanitária. Dois reconhecessem a fitoterapia como parte do sis­
anos depois, a CEME organizou o I Encontro tema oficial de saú­de em resposta às reivindica­
Nacional de Assistência Farmacêutica e Política ções de usuá­rios e profissionais de saú­de.10,11
de Medicamentos, que propiciou a elaboração É também interessante verificar que as mu­
de um diagnóstico da situação do setor, em que danças na normatização foram impulsionadas
a nacionalização, a viabilidade tecnológica do pelos novos pressupostos da saú­de pública que
desenvolvimento industrial, as práticas merca­ exigiram que os fitoterápicos, que eram ignora­
dológicas da indústria farmacêutica, o papel dos dos e/ou reconhecidos sob o rótulo de “oficinais”,
diferentes segmentos na produção de medica­
mentos, as práticas alternativas (grifo nosso), jDurante as negociações do Acordo Geral sobre Tarifas e Co-

o não reconhecimento de patentes, a ampliação mércio (GATT), no Uruguai, houve a assinatura do Acordo so-
bre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Rela-
da pesquisa e da assistência farmacêutica foram cionados ao Comércio (Acordo TRIPS), que, em abril de 1994,
apontados como questões relevantes.8 culminou com a criação da OMC.
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  5

à margem da avaliação formal de um registro, • Fórmula mestra ou fórmula padrão: é o docu­


fossem reconhecidos como medicamentos e ti­ mento ou grupo de documentos que especifi­
vessem regras próprias por causa da necessidade cam as matérias-primas e os materiais de emba­
de se regulamentar e reordenar o registro, a pro­ lagem com as suas quantidades, juntamente com
dução e a comercialização desses produtos, em a descrição dos procedimentos e as precauções
um mercado de características amplas e de baixa necessárias para a produção de determinada
qualidade. Esta situação impulsionou a edição de quantidade de produto terminado. Além disso,
novas normas regulatórias para o segmento, re­ fornece instruções sobre o processamento, in­
sultando na publicação da portaria no 6, de 31 de clusive sobre os controles em processo
janeiro de 1995, que, além, das regras para fabri­ • Marcador: é o componente ou classe de com­
cação, registro e comercialização de medicamen­ postos quí­micos (p. ex., alcaloides, flavonoides,
tos fitoterápicos, estabeleceu algumas definições ácidos graxos etc.) presente na matéria-prima
de termos utilizados neste segmento. vegetal, idealmente o próprio princípio ativo,
Após a criação da Agência Nacional de Vi­ e, de preferência, que tenha correlação com o
gilância Sanitária (Anvisa), em 1999, houve a pu­ efeito terapêutico, que é utilizado como referên­
blicação de outras resoluções, tais como a Reso­ cia no controle de qualidade da matéria-prima
lução da Diretoria Colegiada (RDC) no 17  de vegetal e dos medicamentos fitoterápicos
fevereiro de 2000, e a RDC no 48, de 16 de março • Matéria-prima vegetal: a planta medicinal
de 2004, sendo a mais recente a RDC no 26  de fres­ca, droga vegetal ou derivados de droga
13 maio de 2014 que é atual e vigente.12 Como vegetal
conse­quência houve a necessidade de definição • Medicamento: é o produto farmacêutico, tec­
de termos relacionados ao campo da fitoterapia, nicamente obtido ou elaborado, com finalida­
que servem de referência oficial, sem, no entan­ de profilática, curativa, paliativa ou para fins
to, significar que contemplem todos os aspectos de diagnóstico
cognitivo-culturais dessa matéria. O concei­ • Princípio ativo de medicamento fitoterápi­
cos: é a substância, ou classes quí­micas (p. ex.,
to mais recente introduzido foi o de Produto
alcaloides, flavonoides, ácidos graxos etc.),
Tradicional Fitoterápico (PTF) como forma de
quimicamente caracterizada, cuja ação far­
incorporar o conceito de tradicionalidade na
macológica é conhecida e responsável total
legislação sanitária. Tal definição ocorreu com
ou parcialmente pelos efeitos terapêuticos do
a publicação da RDC no 26/2014. A seguir apre­
medicamento fitoterápico
sentamos os principais conceitos estabelecidos • Produto tradicional fitoterápico: obtido com
nas políticas em ordem alfabética: emprego exclusivo de matérias-primas ativas
• Derivado de droga vegetal: são produtos de ex­ vegetais cuja segurança e efetividade sejam ba­
tração da matéria-prima vegetal, como: extra­ sea­das em dados de uso seguro e efetivo, pu­
to, tintura, óleo, cera, exsudato, suco e outros blicados na literatura técnico-científica e que
• Droga vegetal: é a planta medicinal ou suas sejam concebidos para serem utilizados sem
partes, após processos de coleta, estabilização a vigilância de um médico para fins de diag­
e secagem, podendo ser íntegra, rasurada, tri­ nóstico, de prescrição ou de monitoramen­
turada ou pulverizada to. Por isso, não podem se referir a doen­ças,
• Fitoterápico: obtido com emprego exclusivo distúrbios, condições ou ações consideradas
de matérias-primas ativas vegetais cuja segu­ graves, não podem conter matérias-primas
rança e eficácia sejam ba­sea­das em evidências em concentração de risco tóxico conhecido
clínicas e que sejam caracterizados pela cons­ e não devem ser administrados pelas vias in­
tância de sua qualidade. Não se considera me­ jetável e oftálmica. Não se considera produto
dicamento fitoterápico aquele que inclua na tradicional fitoterápico aquele que inclua na
sua composição substâncias ativas isoladas ou sua composição substâncias ativas isoladas ou
altamente purificadas, sejam elas sintéticas, altamente purificadas, sejam elas sintéticas,
semissintéticas ou naturais, nem as associa­
semissintéticas ou naturais e nem as associa­
ções dessas com outros extratos, sejam eles
ções dessas com outros extratos, sejam eles
vegetais ou de outras fontes, como a animal.
vegetais ou de outras fontes, como a animal
• Fórmula fitoterápica: é a relação quantitativa Com a adoção destes novos marcos regula­
de todos os componentes de um medicamen­ tórios, os fitoterápicos passaram a ser reconhe­
to fitoterápico cidos como medicamentos que exigem regras
6  Fitoterapia Contemporânea

diferenciadas em função da necessidade de aten­ (DAF/SCTIE/MS), foi aprovada pela plenária


der as características do segmento. Cabe ressal­ a oficialização de um grupo de trabalhol inter­
tar ainda que o termo fitomedicamento, embo­ ministerial (GTI), coordenado pelo Ministério
ra seja muito usado no Brasil, não é reconhecido da Saú­de, para discutir e elaborar a “Política de
oficialmente. Assim, o uso desse termo não re­ Plantas Medicinais e Medicamentos Fitote­
presenta nenhuma categoria que tenha uma de­ rápicos”, tendo como base o documento aprova­
finição oficial, sendo, portanto, o emprego do do durante o fórum.
termo fitoterápico o correto. Esse documento foi, então, consolidado pelo
GTI, atendendo às recomendações do Seminário
Política Nacional de Plantas Medicinais Nacional de Plantas Medicinais, Fitoterápicos e
e Fitoterápicos (PNPMF) e Política Assistência Farmacêutica, que também previa a
normatização do uso de plantas medicinais e fitote­
Nacional de Práticas Integrativas rapia no SUS, que já contava com vários programas
e Complementares (PNPIC) estaduais e municipais relacionados com o tema.
Como medida para instituir a fitoterapia, foi Nessa trajetória, entre os anos de 1985 e
necessária a discussão de ações em vários seto­ 2005, as plantas medicinais e a fitoterapia foram
res com destaque para a assistência farmacêu­ contempladas em documentos de conferências
tica. Nesse sentido, uma diretriz para fomentar nacionais de saú­de, resoluções interministeriais
a construção de uma política de fitoterápicos e convênios, e em parceria com órgãos do gover­
foi inserida no âmbito da Política Nacional de no e a sociedade civil, até que o MS publicou, em
Medicamentos, em 1998, em que preconiza “... 2006, a Política Nacional de Plantas Medicinais e
deverá ser con­ti­nuado e expandido o apoio às Fitoterápicos (PNPMF).m
pesquisas que visem ao aproveitamento do po­ No bojo dessas discussões, criou-se um outro
tencial terapêutico da flora e fauna nacionais, grande marco regulatório para apoiar e fomen­
enfatizando a certificação de suas propriedades tar o uso seguro e racional de plantas medici­
medicamentosas”.k Outro movimento impor­ nais e fitoterápicos, que foi a Política Nacional
tante foi impulsionado pela 10a Conferência de Práticas Integrativas e Complementares
Nacional de Saú­de, rea­li­zada nesse mesmo ano, (PNPIC),n configurando um marco decisivo do
que preconizava a implantação da fitoterapia na processo de institucionalização dessas aborda­
assistência farmacêutica. gens no SUS, passando a ser a referência para a
Diante disso, a extinta Gerência Técnica de estruturação das práticas integrativas no sistema
Assistência Farmacêutica da Secretaria de Po­ de saú­de brasileiro por empregar um modelo de
líticas da Saú­de constituiu um grupo de Estudo atenção humanizada e centrada na integralida­
de Fitoterápicos para elaboração de uma propos­ de do in­di­ví­duo, contribuindo ao fortalecimento
ta de política nacional para o segmento. dos princípios fundamentais do SUS.
Assim, em 2001, a Proposta de Política Na­ Dessa forma, somente uma Política Nacional
cional de Plantas Medicinais e Medicamentos de Plantas Medicinais e Fitoterápicos configu­
Fitoterápicos foi discutida em um fórum, em ra decisões de caráter geral que apontam rumos e
Brasília, com a participação de profissionais dos linhas estratégicas de atuação governamental, re­
diversos segmentos da ­área de plantas medicinais. duzindo os efeitos da descontinuidade adminis­
O objetivo do fórum era consolidar as sugestões trativa e potencializando os recursos disponíveis
dos grupos de trabalho temáticos, relacionados
com as diretrizes, resultando em um documento lEsse grupo de trabalho contou com a representação da Casa

final, que serviria como importante subsídio na Civil e dos ministérios da Integração Nacional; Desenvolvimen-
elaboração de uma política específica para o setor. to, Indústria e Comércio Exterior; Desenvolvimento Agrário;
Ciência e Tecnologia; Meio Ambiente; Agricultura, Pecuá­ria e
Em agosto de 2003, durante o Seminário Abastecimento; Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
Nacional de Plantas Medicinais, Fitoterápicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e da Fundação
e Assistência Farmacêutica, rea­li­zado pelo Oswaldo Cruz e foi instituí­do pelo Decreto no 10.447, em
17/2/2005.
Departamento de Assistência Farmacêutica e mBrasil, 2006b. Decreto no 5.813 de 22/6/2006. Aprova a Polí-
Insumos Estratégicos do Ministério da Saú­de tica Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Diá­rio Ofi-
cial da União, Brasília, 22/6/2006.
kA Portaria no 3.919, de 30/10/1998, que a estabeleceu a Po- nBrasil, 2006a. Portaria no 971 de 3/5/2006. Aprova a Política

lítica Nacional de Medicamentos, representou a consolidação Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC)
formal de diretrizes norteadoras para o SUS e a incorporação no Sistema Único de Saú­de. Diá­rio Oficial da União, Brasília,
das expectativas temporais de diferentes segmentos. 3/5/2006.
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  7

ao tornarem públicas, expressas e acessíveis à Encontra-se também em fase final de elabo­


população e aos formadores de opinião as inten­ ração um curso de prescrição de plantas medici­
ções do Governo no planejamento de programas, nais e fitoterápicos, destinado aos profissionais
projetos e atividades. da atenção básica em parceria com a Fiocruz.
As ações decorrentes dessa Política demons­ Outras parcerias no âmbito do PNPMF foram
tradas no Programa Nacional de Plantas Medi­ promovidas pelo Departamento de Assistência
cinais e Fitoterápicos (PNPMF)o são imprescin­ Farmacêutica (DAF/MS), que a partir de 2012 lan­
díveis para a melhoria do acesso da população a çou editais de apoio à estruturação de arranjos pro­
plantas medicinais e fitoterápicos, inclusão social e dutivos locais (APLs), o que resultou em 44 projetos
regional, ao desenvolvimento industrial e tecnoló­ de assistência farmacêutica em plantas medicinais
gico, à promoção da segurança alimentar e nutri­ e fitoterápicos, 31 na modalidade APLs, 3 projetos
cional, além do uso sustentável da biodiversidade de desenvolvimento de registro de fitoterápicos da
brasileira e da valorização e preservação do conhe­ Rename; totalizando R$ 30.310.069,64 de investi­
cimento secular associado das comunidades e dos mentos entre os anos de 2012 e 2015.
povos tradicionais. O modelo proposto para desen­
volver as diretrizes e ações será discutido a seguir. Diretrizes do Programa Nacional
Assim, ainda que haja muito a ser construí­do,
considera-se que muitos êxitos foram obtidos, de Plantas Medicinais e
por um lado, internamente, na medida em que as Fitoterápicos
diretrizes da PNPIC são realidades no SUS, dan­ Conforme demonstrado anteriormente, o seg­
do suporte à pluralidade e respeito ao usuá­rio. A mento de plantas medicinais e fitoterápicos es­
construção do PNPMF foi um grande exercício teve sempre direcionado no Brasil para setor de
de democracia, visto que a metodologia adotada
pesquisa nas universidades e centros de pesqui­
para a elaboração do documento favoreceu a par­
sa, com ênfase no desenvolvimento tecnológico
ticipação transversal de todos os níveis e instân­
de produtos e distante de uma possível interação
cias do governo e da sociedade. Com essa política,
com o serviço de saú­de. Essa falta de interação
o Brasil atende as diretrizes da OMS, inserindo a
foi fruto da ausência de uma política norteado­
fitoterapia e outras práticas complementares em
ra para o segmento que coloca as universidades,
seu sistema oficial de saú­de, reforçando a visão de
que o sistema público de saú­de brasileiro (SUS) é centros de pesquisa e serviços de saú­de como
modelo mundial em várias ações. parceiros na geração de possíveis polos de desen­
Como perspectiva importante e muito po­ volvimento a partir da incorporação do conheci­
sitiva para a atenção básica no SUS, vale ressal­ mento dessa interação.
tar a criação dos Núcleos de Apoio à Estratégia Hoje, as perspectivas vislumbradas para ga­
Saú­de da Família (NASF) – Portaria GM no 154, rantir a absorção desse conhecimento pelo setor
de 15 de janeiro de 2008 – que possibilita e cria produtivo e a mudança na assistência farma­cêu­
meios para que gestores municipais incluam pro­ tica à população são grandes, nas quais se des­
fissionais habilitados para o exercício das práti­ taca o papel do Estado por meio de um Pro­grama
cas integrativas, conforme determina a PNPIC. Nacional que define as diretrizes de atua­ção e
Em 2015, segundo dados do Programa de Me­ como um agente catalisador do desen­volvimento.
lhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Bá­ Como forma de contemplar todos os atores
sica (PMAQ), 20% das equipes de atenção básica envolvidos no segmento, o Programa teve de tra­
ofertam as práticas interrogativas e complemen­ balhar com os seguintes eixos:
tares, sendo identificados 80 municípios que ofe­ • Ampliação das opções terapêuticas e melho­
recem o serviço de Farmácia Viva. ria da atenção à saú­de aos usuá­rios do Sistema
Em 2013, o Departamento de Atenção Básica Único de Saú­de (SUS), seguindo as recomen­
do Ministério da Saúde (DAB/MS) lançou dois dações da PNPIC
cursos por meio da “Comunidade de práticas” • Uso sustentável da biodiversidade brasileira
inserido na página www.atencaobasica.org.br.: • Valorização e preservação do conhecimen­
um voltado à sensibilização dos gestores e outro to secular das comunidades e dos povos
aos agentes comunitários da saúde. tradicionais
• Fortalecimento da agricultura familiar
oBrasil,Ministério da Saú­de, Portaria Interministerial no 2.960,
de 9/12/2008, aprova o Programa Nacional de Plantas Me-
• Crescimento com geração de emprego e renda,
dicinais e Fitoterápicos e cria o Comitê Nacional de Plantas redutor das desigualdades regionais por meio
Medicinais e Fitoterápicos. de estímulo aos arranjos produtivos locais
8  Fitoterapia Contemporânea

• Desenvolvimento tecnológico e industrial criar diretrizes, considerando os diferentes níveis


• Inclusão social e redução das desigualdades de complexidade da fitoterapia (plantas fresca e
sociais seca, fitoterápico manipulado, industrializado e
• Participação popular e controle social. uso tradicional) (Figura  A.1), que atendessem
às par­ticularidades desse segmento em função
O perío­do que se inicia pode ser apontado
dos possíveis recursos terapêuticos gerados no
como um bom momento para mudanças no seg­
interior dessa cadeia, bem como das diferen­
mento, por meio da alteração do modelo vigente
tes necessidades de recursos técnicos que cada
com a criação de projetos para a implantação das
produto precisa para ser elaborado. Assim, para
diretrizes de uma política nacional de saú­de, em
cada produto gerado na cadeia (remédio caseiro,
que universidades, serviços de saú­de e empresas
droga vegetal, tintura, extrato seco e isolamento
nacionais poderão estabelecer parcerias, valendo-
de bioativos), é importante estabelecer regula­
se da conjuntura favorável ao uso de produtos de
mentos técnicos de acordo com a complexidade
origem vegetal, dada a importância que vem as­
sumindo nos mercados internacional e nacional. da cadeia produtiva. A partir, então, da definição
Além disso, o presente momento é percebido como do produto a ser gerado, torna-se possível esta­
de crise dos produtos sintéticos na ­área farmacêuti­ belecer quatro níveis de complexidade, confor­
ca, ocasionada pelos relatos cada vez mais frequen­ me mostrado na Figura A.2.
tes de efeitos colaterais provocados pelo seu uso e
pelos custos cada vez maiores envolvidos em pes­ Modelos de assistência com
quisa e desenvolvimento de novos fármacos, abrin­ fitoterapia no SUS
do possibilidades para substituição de parte desses Conforme identificado anteriormente, as diretri­
por produtos de origem vegetal, bem como uma zes preconizadas para o trabalho em plantas me­
procura cada vez maior dos usuá­rios por outros dicinais envolvem assistência com vários tipos
produtos terapêuticos, principalmente os de ori­ de produtos que podem ser ofertados aos usuá­
gem vegetal, o que já se constata em vários paí­ses. rios. Para planejar essas atividades, elaboramos
Por sua vez, a nossa biodiversidade favorece um roteiro explicando o que deve ser, de modo
que o desenvolvimento seja rea­li­zado a partir de geral, cumprido para atender às recomendações
cada bioma, representando uma alternativa con­ em função do tipo de produto a ser gerado na
creta e viá­vel para chegarmos a novos produtos, cadeia produtiva.
promovendo inovações na cadeia produtiva de
medicamentos, quebrando o círculo vicioso de Planta fresca
competirmos, utilizando os mesmos paradigmas
de desenvolvimento tecnológico de medicamen­ A planta fresca, in natura, é o recurso terapêutico
tos elaborados em paí­ses cuja biodiversidade não mais frequentemente utilizado pela população,
se compara à nossa.13 como meio mais accessível para manutenção e
A forma de desenvolvimento do segmento, recupe­ração da saú­de.
por agregar várias ­áreas interdependentes do co­ Portanto, o primeiro passo para um trabalho
nhecimento, requer a apreciação de atividades em com plantas medicinais em uma comunidade ou
um amplo espectro, como plantio, coleta, benefi­ em uma unidade básica de saú­de deve ser dedi­
ciamento, extração, identificação de substâncias cado à discussão com os usuá­rios acerca do tema
ativas, desenvolvimento farmacotécnico, estudos para compreender e aprender como eles utilizam
clínico e farmacológico. Neste contexto, para o as plantas. Questões do tipo: onde é adquirida,
desenvolvimento de fitomedicamentos,p a polí­ como identifica, forma de preparo, tipos de doen­
tica tecnológica deve enfatizar a difusão de tec­ ças, com quem aprendeu, entre outras, devem ser
nologias, a agregação de valor aos produtos, bem discutidas no grupo como forma de identificar
como os processos locais de aprendizado, valori­ problemas e propor soluções. Esse processo deve
zando o conhecimento tradicional e tácito.14 ser permanente durante todo o trabalho, abran­
De modo a contemplar todos os segmentos gendo também os membros da comunidade.
envolvidos com a cadeia produtiva e o uso te­ Portanto, por meio da interação com os usuá­
rapêutico de plantas medicinais, foi necessário rios, inicia-se o mapeamento das plantas medi­
cinais, para, então, selecionar aquelas que serão
pConceito oficialmente não reconhecido, mas amplamente
empregadas no cultivo e no beneficiamento vi­
empregado para designar produtos de origem vegetal, geral-
sando à produção das drogas vegetais que serão
mente fitofármacos ou fitoterápicos. Este último é o conceito prescritas ou recomendadas para os usuá­rios da
oficial reconhecido nas legislações vigentes. unidade de saú­de.
Planta fresca Secagem Droga vegetal

Rasura
Moagem

Droga em pó Droga rasurada

Solvente
Spray drier

Cápsulas Extrato seco Extração

Padronização
Álcool + água
(maceração ou
percolação)
Extrato seco padronizado

Tintura / Extrato fluido


Chá, suco, Maceração
sumo oleosa
Chás medicinais

Alcoolatura Produtos para uso oral ou tópico


(tintura da
planta fresca)

Figura A.1 Etapas envolvidas na cadeia produtiva e os possíveis produtos que podem ser gerados a partir da planta medicinal. Esse esquema serve para ilustrar que, de
acordo com o produto a ser obtido, a complexidade do sistema é ampliada.
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  9
10  Fitoterapia Contemporânea

Nível 4

Substância oriunda da biodiversidade por meio de tecnologias


sofisticadas com alto valor agregado e grande potencial de
patentes, em que muitas dessas substâncias constituem-se em
modelos para o desenvolvimento de medicamentos sintéticos

Nível 3

Setor industrial caracterizado pela produção de fitoterápicos


ou de extratos secos para o mercado, cujos produtos seguirão
regulamentos sanitários que estabelecem as boas práticas de
cultivo e de produção, bem como eficácia, segurança e
qualidade

Nível 2

Setor de serviços de saúde em que ocorre a prática de uma


assistência farmacêutica com graus variados de complexidade
tendo em vista que essa assistência dependerá do tipo de
serviço a ser oferecido ao usuário

Nível 1

Uso popular e tradicional de plantas medicinais, caracterizado


como um fenômeno social marcado pelas suas relações
biológicas, sociais, culturais e econômicas

Figura A.2 Esquema mostrando os níveis de complexidade da cadeia de plantas medicinais de acordo com as ca-
racterísticas de cada segmento.

As plantas mapeadas podem ser identificadas estudo, pode-se proceder à instalação de um ban­
e classificadas pela natureza do seu emprego. co de dados informatizado, organizado com re­
Plantas de uso tradicional daquela região, gistros de estudos científicos sobre essas espécies.
cujas informações científicas ainda inexistam Hoje em dia, grande parte das informações
ou sejam incipientes, carecem de mais estudos pode ser coletada com auxílio da internet, e os
para se afirmar a segurança de uso ou a própria endereços eletrônicos citados no Apêndice B,
efi­cácia. Somente com a identificação corre­ “Pesquisa na Internet”, servem como fontes de
ta é possível recorrer a pesquisas bibliográficas pesquisa segura. Os dados obtidos podem ser
para certificar o seu uso (mais informações no organizados na forma de memento para que os
Capítulo 3 referente à botânica). Nessa etapa, é profissionais de saú­de orientem e indiquem aos
fundamental que um botânico assegure a identi­ usuá­rios como usar as plantas.
dade das espécies vegetais. Caso alguma espécie Deve-se adquirir plantas medicinais de hortos
em questão não seja devidamente identificada, oficiais (universidades, centros de pesquisa, jardim
recomenda-se não introduzi-la oficialmente botânico) já identificadas, pois são oficialmente
para utilização terapêutica na unidade de saú­de. aceitas como medicinais, incluí­das, portanto, na
Essa medida visa proteger os usuá­rios do uso de farmacopeia brasileira e códigos farmacêuticos
plantas potencialmente tóxicas. análogos, para cuja atividade farmacológica os seus
A partir da identificação das espécies utiliza­ constituintes quí­micos ativos sejam conhecidos.
das pela população, devemos proceder a um estu­ Atenção especial deve ser dada para a im­
do bibliográfico para a certificação de segurança plantação e a manutenção de hortos oficiais de
e propriedades terapêuticas. Aproveitando esse espécies medicinais, pois a manutenção deve
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  11

seguir a garantia de boas práticas de cultivo or­ Daí a importância da secagem, um método de
gânico, preservando a qualidade do ar, do solo e conservação bastante eficaz quando bem condu­
da água. A horta também serve de espaço para zido. A desidratação inibe a atividade enzimática,
discutir temas ligados à saú­de, à alimentação e retardando a deterioração e, consequentemente,
ao meio ambiente. preservando características como cor e aroma
O elenco de plantas selecionadas deve ser de que indicam boa qualidade da droga vegetal. O
espécies agronomicamente compatíveis com as processo pode ocorrer por métodos naturais em
condições ecológicas da região, partindo-se para nível doméstico, ou artificiais, com fins de co­
o cultivo dessas espécies em sistema orgânico ou mercialização ou para uso na unidade de saú­de.
agroflorestal, com objetivo de produção de plantas A matéria-prima vegetal deve ser processada
medicinais com teores homogêneos de princípios de acordo com as boas práticas de beneficiamen­
ativos e livres de qualquer componente tóxico. to, oriunda de hortos oficiais de espécies medi­
O cultivo de espécies medicinais tem par­ cinais, obtida de cooperativas, de associações de
ticularidades. É comum a produção de vegetais produtores, de extrativismo sustentável ou de
sem a quantidade de princípios ativos desejada, outros, com alvará ou licença dos órgãos com­
por alguns possíveis erros cometidos no manejo petentes para tal. O horto e o beneficiamento de­
da planta medicinal; isto é, cultivo, colheita, se­ vem contar com um responsável técnico.
cagem etc. Assim, na implantação de uma horta O perío­do de armazenamento da droga vege­
medicinal, deve-se estar atento a algumas pecu­ tal deve ser o menor possível, visando reduzir as
liaridades inerentes ao metabolismo vegetal, pois perdas de princípios ativos; preferencialmente o
certas plantas só produzem princípios ativos local deve ser escuro, arejado, seco, limpo e com
quando cultivadas a pleno sol, algumas a meia controle de umidade. O material armazenado
sombra e outras à sombra constante. A época de deve ser inspecionado com fre­quência e, no caso
plantio, o espaçamento e a época de colheita das do ataque de insetos ou fungos, recomenda-se
espécies também são va­riá­veis importantes. Para eliminá-lo.
esse trabalho, deve-se contar com auxílio técnico As hortas têm alguns objetivos: serem utili­
de um engenheiro agrônomo ou técnico agrícola zadas como espaços educativos e objeto de pro­
capacitado na equipe. moção de saú­de. Já as plantas podem ser empre­
Na colheita, deve-se estar ciente da parte da gadas frescas, ou enviadas para secagem e serem
planta a ser utilizada, bem como da época e do manipuladas em oficinas farmacêuticas por pro­
horário mais indicados para colher. Como regra fissionais habilitados e depois serem receitadas
geral, devemos colher partes de plantas adultas, por profissionais capacitados. Aqui, o memento
com desenvolvimento vegetativo pleno e com elaborado serve de guia para orientar os prescri­
bom aspecto fitossanitário. Devemos sempre co­ tores acerca de indicações, doses, modo de prepa­
lher com tempo seco, de preferência pela manhã ro e possíveis reações adversas e efeitos colaterais
(após a evaporação do orvalho) ou no final da quando conhecidos. É importante que o serviço
tarde, quando o dia não estiver muito quente, estimule a criação de protocolos de atendimen­
por causa da facilidade de evaporação de algu­ to em que os resultados terapêuticos possam ser
mas substâncias da planta. Não se recomenda avaliados e servir como fonte de conhecimento
colheita após um perío­do prolongado de chuvas, para o desenvolvimento de novos produtos.
pois o teor de princípios ativos pode diminuir Os hortos são fundamentais também como
em função do aumento do teor de umidade. Esta banco de mudas identificadas botanicamente
umidade pode, também, prejudicar a secagem que podem ser distribuí­das com segurança para
e facilitar o aparecimento de microrganismos a implantação ou manutenção de hortas institu­
(fungos e bactérias) no material colhido, que cionais, comunitárias ou caseiras.
deve ser acomodado com cuidado em recipien­
tes limpos, como cestas, caixas ou sacos, para ser Fitoterápico industrializado
transportado para a secagem. No que se refere aos industrializados, a Anvisa
criou, por meio da RDC 26/2014, duas catego­
Planta medicinal seca (droga vegetal) rias: medicamentos fitoterápicos (MF) e produ­
Nem sempre é possível o consumo de plantas tos tradicionais fitoterápicos (PTF). Conforme
medicinais frescas, principalmente de espécie essa resolução, a indústria farmacêutica deve
que apresente como droga vegetal a flor e que seguir regras específicas para registro e/ou noti­
somente floresça em determinada época do ano. ficação desses produtos.
12  Fitoterapia Contemporânea

Deste modo, a RDC 26/2014 definiu como MF com fins medicinais. As diferenças entre os pro­
os que passaram por testes clínicos padronizados dutos foram resumidas na Tabela A.1.
para avaliação de segurança e eficácia. Já os PTF Ainda, como forma de estimular a produção
são estabelecidos por meio da comprovação do re­ industrial foi criada instrução normativa (IN) no
gistro da eficácia e do uso seguro no ser humano 02/2014, como anexo à RDC 26/2014, que define
em literatura por um perío­do de 30 anos. Ressalta- duas listas: a primeira com uma “lista de medi­
se que produtos elaborados por comunidades tra­ camentos fitoterápicos de registro simplificado”
dicionais não são passíveis de registro ou notifi­ e a outra uma “lista de produtos tradicionais fi­
cação conforme os princípios da RDC no 26/2014 toterápicos de registro simplificado”, conforme
e, por sua vez, não devem ser comercializados Tabelas A.2 e A.3.

Tabela A.1 Diferenças entre as categorias: medicamento fitoterápico e produto tradicional fitoterápico.
Medicamento fitoterápico Produto tradicional fitoterápico
Diferenças
(MF) (PTF)*
Comprovação de Segurança e Por estudos clínicos Por demonstração de tempo de uso
Eficácia/Efetividade (SE) (tradicionalidade)
Boas Práticas de Fabricação (BPF) Segue a RDC no 17/2010 Segue a RDC no 13/2013
Informações do fitoterápico para o Disponibilizadas na Bula Disponibilizadas no Folheto informativo
consumidor final
Formas de obter a autorização de Registro ou Registro Registro, Registro simplificado*** ou
comercialização junto à Anvisa simplificado** Notificação
*PTF são uma nova classe de medicamentos criada pela Anvisa com o intuito de deixar mais claro para a população se o
produto que ela está utilizando passou por todos os testes clínicos de segurança e eficácia ou se foi aprovado por tempo de
uso tradicional seguro e efetivo. ** Os de registro simplificado obedecem à Tabela A.2. *** Os de registro simplificado obe-
decem à Tabela A.3.

Tabela A.2 Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado.


1. Nomenclatura botânica Aesculus hippocastanum L.
Nome popular Castanha-da-Índia
Parte usada Sementes
Padronização/marcador Glicosídeos triterpênicos expressos em escina anidra
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Fragilidade capilar, insuficiência venosa
Dose diária 32 a 120 mg de glicosídeos triterpênicos expressos em escina anidra
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
2. Nomenclatura botânica Allium sativum L.
Nome popular Alho
Parte usada Bulbo
Padronização/marcador Alicina
Derivado vegetal Extratos/óleo
Indicações/ações terapêuticas Coadjuvante no tratamento da hiperlipidemia e hipertensão arterial leve a
moderada, auxiliar na prevenção da aterosclerose
Dose diária 3 a 5 mg de alicina
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
(continua)
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  13

Tabela A.2 Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado. (continuação)


3. Nomenclatura botânica Arctostaphylos uva-ursi (L.) Spreng.
Nome popular Uva-ursi
Parte usada Folha
Padronização/marcador Derivados de hidroquinonas expressos em arbutina
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Infecções do trato urinário
Dose diária 400 a 840 mg de derivados de hidroquinonas expressos em arbutina
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sob prescrição médica
Não utilizar continuamente por mais de 1 semana, nem por mais de
5 semanas/ano. Não usar em crianças com menos de 12 anos
4. Nomenclatura botânica Centella asiatica (L.) Urb.
Nome popular Centela, Centela-asiática
Parte usada Partes aéreas
Padronização/marcador Derivados triterpênicos totais expressos em asiaticosídeo
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Insuficiência venosa dos membros inferiores
Dose diária 36 a 144 mg de derivados triterpênicos totais expressos em asiaticosídeo
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
5. Nomenclatura botânica Actaea racemosa L.
Nome popular Cimicífuga
Parte usada Raiz ou rizoma
Padronização/marcador Glicosídeos triterpênicos expressos em 23-epi-26-desoxiacteína
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Sintomas do climatério
Dose diária 2 a 7 mg de glicosídeos triterpênicos expressos em 23-epi-26-desoxiacteína
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sob prescrição médica
6. Nomenclatura botânica Cynara scolymus L.
Nome popular Alcachofra
Parte usada Folhas
Padronização/marcador Derivados de ácido cafeoilquínico expressos em ácido clorogênico
Derivado vegetal Extrato
Indicações/ações terapêuticas Colagogo e colerético. Tratamento dos sintomas de dispepsia funcional e de
hipercolesterolemia leve a moderada
Dose diária 24 a 48 mg de derivados de ácido cafeoilquínico expressos em ácido
clorogênico
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
(continua)
14  Fitoterapia Contemporânea

Tabela A.2 Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado. (continuação)


7. Nomenclatura botânica Echinacea purpurea (L.) Moench
Nome popular Equinácea
Parte usada Partes aéreas floridas
Padronização/marcador Soma dos ácidos caftárico e chicórico
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Preventivo e coadjuvante na terapia de resfriados e infecções dos tratos
respiratório e urinário
Dose diária 13 a 36 mg da soma dos ácidos caftárico e hicórico
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sob prescrição médica
8. Nomenclatura botânica Ginkgo biloba L.
Nome popular Ginkgo
Parte usada Folhas
Padronização/marcador Ginkgoflavonoides (22 a 27%) expressos em quercetina, kaempferol e
isorhamnetina; e terpenolactonas (5 a 7%) expressos em ginkgolídeos A, B, C
e bilobalídeo
Marcador negativo
Ácidos gincólicos em quantidade inferior a 5 mg/g
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Vertigens e zumbidos (tinidos) resultantes de distúrbios circulatórios, distúrbios
circulatórios periféricos (claudicação intermitente) e insuficiência vascular
cerebral
Dose diária 26,4 a 64,8 mg de ginkgoflavonoides e 6 a 16,8 mg de terpenolactonas
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sob prescrição médica
9. Nomenclatura botânica Glycine max (L.) Merr.
Nome popular Soja
Parte usada Sementes
Padronização/marcador Isoflavonas
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Coadjuvante no alívio dos sintomas do climatério
Dose diária 50 a 120 mg de isoflavonas
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
10. Nomenclatura botânica Glycyrrhiza glabra L.
Nome popular Alcaçuz
Parte usada Raízes
Padronização/marcador Ácido glicirrizínico
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Coadjuvante no tratamento de úlceras gástricas e duodenais
Dose diária 200 a 600 mg de ácido glicirrizínico
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
Não utilizar continuamente por mais de 6 semanas sem acompanhamento
médico
(continua)
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  15

Tabela A.2 Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado. (continuação)


11. Nomenclatura botânica Hypericum perforatum L.
Nome popular Hipérico
Parte usada Partes aéreas
Padronização/marcador Hipericinas totais expressas em hipericina
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Estados depressivos leves a moderados
Dose diária 0,9 a 2,7 mg de hipericinas expressas em hipericina
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sob prescrição médica
12. Nomenclatura botânica Mentha x piperita L.
Nome popular Hortelã-pimenta
Parte usada Folhas
Padronização/marcador 35 a 55% de mentol e 14 a 32% de mentona
Derivado vegetal Óleo essencial
Indicações/ações terapêuticas Expectorante, carminativo e antiespasmódico
Dose diária 60 a 440 mg de mentol e 28 a 256 mg de mentona
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica – Expectorante, carminativo e antiespasmódico
Venda sob prescrição médica – Tratamento da síndrome do cólon irritável
13. Nomenclatura botânica Panax ginseng C. A. Mey.
Nome popular Ginseng
Parte usada Raiz
Padronização/marcador Ginsenosídeos Rg1, Re, Rb1, Rc, Rb2, Rd, Rf e Rg2 (Rf e Rg2 apenas para
identificação)
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Estado de fadiga física e mental, adaptógeno
Dose diária 8 a 16 mg de ginsenosídeos Rg1, Re, Rb1, Rc, Rb2 e Rd
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
Utilizar por no máximo 3 meses
14. Nomenclatura botânica Paullinia cupana Kunth
Nome popular Guaraná
Parte usada Sementes
Padronização/marcador Metilxantinas expressas em cafeína
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Psicoestimulante e astenia
Dose diária 15 a 70 mg de metilxantinas expressas em cafeína
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
(continua)
16  Fitoterapia Contemporânea

Tabela A.2 Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado. (continuação)


15. Nomenclatura botânica Pimpinella anisum L.
Nome popular Erva-doce, Anis
Parte usada Frutos
Padronização/marcador Transanetol
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Expectorante, antiespasmódico, carminativo e dispepsias funcionais
Dose diária 0 a 1 ano: 16 a 45 mg de transanetol;
1 a 4 anos: 32 a 90 mg de transanetol;
Adultos: 80 a 225 mg de transanetol
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
16. Nomenclatura botânica Piper methysticum G. Forst.
Nome popular Kava-kava
Parte usada Rizoma
Padronização/marcador Kavalactonas
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Ansiolítico e insônia
Dose diária 60 a 210 mg de kavalactonas
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sob prescrição médica. Utilizar no máximo por 2 meses
17. Nomenclatura botânica Plantago ovata Forssk.
Nome popular Plantago
Parte usada Casca da semente
Padronização/marcador Índice de intumescência
Derivado vegetal Droga vegetal pulverizada (pó)
Indicações/ações terapêuticas Coadjuvante nos casos de obstipação intestinal
Tratamento da síndrome do cólon irritável
Dose diária 3 a 30 g do pó
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica – Coadjuvante nos casos de obstipação intestinal
Venda sob prescrição médica – Tratamento da síndrome do cólon irritável
18. Nomenclatura botânica Polygala senega L.
Nome popular Polígala
Parte usada Raízes
Padronização/marcador Saponinas triterpênicas
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Bronquite crônica, faringite
Dose diária 18 a 33 mg de saponinas triterpênicas
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
(continua)
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  17

Tabela A.2 Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado. (continuação)


19. Nomenclatura botânica Frangula purshiana (DC.)
Nome popular Cáscara-sagrada
Parte usada Casca
Padronização/marcador Derivados hidroxiantracênicos expressos em cascarosídeo A
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Constipação intestinal ocasional
Dose diária 20 a 30 mg de derivados hidroxiantracênicos expressos em cascarosídeo A
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
Não utilizar continuamente por mais de 1 semana
20. Nomenclatura botânica Salix alba L., S. purpurea L., S. daphnoides Vill., S. fragilis L.
Nome popular Salgueiro-branco
Parte usada Casca
Padronização/marcador Salicina
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Antitérmico, anti-inflamatório e analgésico
Dose diária 60 a 240 mg de salicina
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
21. Nomenclatura botânica Senna alexandrina Mill.
Nome popular Sene
Parte usada Folhas e frutos
Padronização/marcador Derivados hidroxiantracênicos expressos em senosídeo B
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Laxativo
Dose diária 10 a 30 mg de derivados hidroxiantracênicos expressos em senosídeo B
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
22. Nomenclatura botânica Serenoa repens (W. Bartram) Small
Nome popular Saw palmetto
Parte usada Frutos
Padronização/marcador Ácidos graxos
Derivado vegetal Extrato
Indicações/ações terapêuticas Hiperplasia benigna da próstata e sintomas associados
Dose diária 272 a 304 mg de ácidos graxos
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sob prescrição médica
(continua)
18  Fitoterapia Contemporânea

Tabela A.2 Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado. (continuação)


23. Nomenclatura botânica Tanacetum parthenium (L.) Sch. Bip.
Nome popular Tanaceto
Parte usada Folhas
Padronização/marcador Partenolídeos
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Profilaxia da enxaqueca
Dose diária 0,2 a 0,6 mg de partenolídeos
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sob prescrição médica
Não usar de forma contínua
24. Nomenclatura botânica Vaccinium myrtillus L.
Nome popular Mirtilo
Parte usada Frutos maduros
Padronização/marcador Antocianosídeos expressos em cloreto de cianidina-3-O-glicosídeo
Marcador negativo máximo de 1% de antocianidinas expressos em cloreto de
cianidina
Derivado vegetal Extratos seco aquoso, metanólico ou etanólico
Indicações/ações terapêuticas Fragilidade e alteração da permeabilidade capilar, insuficiência venosa
periférica
Dose diária 110 a 170 mg de antocianosídeos expressos em cloreto de cianidina
3-O-glicosídeo
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
25. Nomenclatura botânica Valeriana officinalis L.
Nome popular Valeriana
Parte usada Raízes
Padronização/marcador Ácidos sesquiterpênicos expressos em ácido valerênico
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Sedativo moderado, hipnótico e no tratamento de distúrbios do sono
associados à ansiedade
Dose diária 1 a 7,5 mg de ácidos sesquiterpênicos expressos em ácido valerênico
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sob prescrição médica
26. Nomenclatura botânica Zingiber officinale Roscoe
Nome popular Gengibre
Parte usada Rizomas
Padronização/marcador Gingeróis (6-gingerol, 8-gingerol, 10-gingerol, 6-shogaol)
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Profilaxia de náuseas causadas por movimento (cinetose) e pós-cirúrgicas
Dose diária Crianças acima de 6 anos: 4 a 16 mg de gingeróis
Adulto: 16 a 32 mg de gingeróis
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
(continua)
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  19

Tabela A.2 Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado. (continuação)


27. Nomenclatura botânica Zingiber officinale Roscoe
Nome popular Gengibre
Parte usada Rizomas
Padronização/marcador Gingeróis (gingerol, gingerdionas e shogaol)
Derivado vegetal Droga, fresca ou seca, pulverizada (pó)
Indicações/ações terapêuticas Profilaxia de náuseas e vômitos durante a gravidez
Dose diária Adulto: 1 a 2 gramas do rizoma em pó (equivalente a 8 a 16 mg de gingeróis
na droga vegetal)
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica

Tabela A.3 Lista de produtos tradicionais fitoterápicos de registro simplificado.


1. Nomenclatura botânica Arnica montana L.
Nome popular Arnica
Parte usada Capítulo floral
Padronização/marcador Lactonas sesquiterpênicas totais expressas em tiglato de di-hidro-helenalina
Derivado vegetal Extratos
Alegação de uso Equimoses, hematomas e contusões
Concentração da forma 0,16 a 0,20 mg de lactonas sesquiterpênicas totais expressas em tiglato de
farmacêutica di-hidro-helenalina por grama ou 0,08 mg de lactonas sesquiterpênicas
totais expressas em tiglato de di-hidro-helenalina por m
Via de administração Tópica
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
Não usar em ferimentos abertos
2. Nomenclatura botânica Calendula officinalis L.
Nome popular Calêndula
Parte usada Flores
Padronização/marcador Flavonoides totais expressos em hiperosídeos
Derivado vegetal Extratos
Alegação de uso Cicatrizante, anti-inflamatório
Concentração da forma 1,6 a 5 mg de flavonoides totais expressos em hiperosídeos por 100 g ou
farmacêutica 0,8 a 1 mg de flavonoides totais expressos em hiperosídeos por m
Via de administração Tópica
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
3. Nomenclatura botânica Eucalyptus globulus Labill.
Nome popular Eucalipto
Parte usada Folhas
Padronização/marcador Cineol
Derivado vegetal Óleo essencial/extratos
Alegação de uso Antisséptico das vias respiratórias superiores e expectorante
Dose diária 14 a 42,5 mg de cineol
Via de administração Oral e inalatória
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
(continua)
20  Fitoterapia Contemporânea

Tabela A.3 Lista de produtos tradicionais fitoterápicos de registro simplificado. (continuação)


4. Nomenclatura botânica Glycyrrhiza glabra L.
Nome popular Alcaçuz
Parte usada Raízes
Padronização/marcador Ácido glicirrizínico
Derivado vegetal Extratos
Alegação de uso Expectorante
Dose diária 60 a 200 mg de ácido glicirrizínico
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
Não utilizar continuamente por mais de 6 semanas sem acompanhamento
médico
5. Nomenclatura botânica Hamamelis virginiana L.
Nome popular Hamamélis
Parte usada Folhas
Padronização/marcador Taninos totais expressos em pirogalol
Derivado vegetal Extratos
Alegação de uso Uso interno: alívio sintomático de prurido e ardor associado a hemorroidas
Uso tópico: hemorroidas externas e equimoses
Concentração da forma Uso interno: 420 a 900 mg de taninos totais expressos em pirogalol
farmacêutica Uso tópico: 0,35 a 1 mg de taninos totais expressos em pirogalol por
100 mg ou 3,5 a 10 mg de taninos totais expressos em pirogalol por m
Via de administração Tópica e interna
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
6. Nomenclatura botânica Harpagophytum procumbens DC. ex Meissn. e H. zeyheri Decne
Nome popular Garra-do-diabo
Parte usada Raízes secundárias
Padronização/marcador Harpagosídeo ou iridoides totais expressos em harpagosídeos
Derivado vegetal Extrato aquoso ou hidroetanólico (30 a 60%)
Alegação de uso Alívio de dores articulares moderadas e dor lombar baixa aguda
Dose diária 30 a 100 mg de harpagosídeo ou 45 a 150 mg de iridoides totais expressos
em harpagosídeos
Forma farmacêutica Comprimido revestido gastrorresistente
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
7. Nomenclatura botânica Matricaria recutita L.
Nome popular Camomila
Parte usada Capítulos florais
Padronização/marcador Apigenina-7-glicosídeo e derivados bisabolônicos calculados como
levomenol
Derivado vegetal Extratos/tintura
Alegação de uso Uso oral: antiespasmódico intestinal, dispepsias funcionais
Uso tópico: anti-inflamatório
Dose diária Uso oral: 4 a 24 mg de apigenina-7-glicosídeo
Concentração da forma Uso tópico: 0,005 a 0,05 mg de apigenina-7-glicosídeo por 100 g ou 100 m
farmacêutica e 0,004 a 0,07 mg de derivados bisabolônicos calculados como levomenol
por 100 g ou 100 m
Via de administração Oral e tópica, tintura apenas tópica
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
(continua)
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  21

Tabela A.3 Lista de produtos tradicionais fitoterápicos de registro simplificado. (continuação)


8. Nomenclatura botânica Maytenus ilicifolia Mart. ex Reiss., M. aquifolium Mart.
Nome popular Espinheira-santa
Parte usada Folhas
Padronização/marcador Taninos totais expressos em pirogalol
Derivado vegetal Extratos
Alegação de uso Dispepsias, coadjuvante no tratamento de gastrite e úlcera
Dose diária 60 a 90 mg taninos totais expressos em pirogalol
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
9. Nomenclatura botânica Melissa officinalis L.
Nome popular Melissa, Erva-cidreira
Parte usada Folhas
Padronização/marcador Ácidos hidroxicinâmicos expressos em ácido rosmarínico
Derivado vegetal Extratos
Alegação de uso Carminativo, antiespasmódico e ansiolítico leve
Dose diária 60 a 180 mg de ácidos hidroxicinâmicos expressos em ácido rosmarínico
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
10. Nomenclatura botânica Mikania glomerata Spreng., M. laevigata Sch. Bip. ex Baker
Nome popular Guaco
Parte usada Folhas
Padronização/marcador Cumarina
Derivado vegetal Extratos
Alegação de uso Expectorante e broncodilatador
Dose diária 0,5 a 5 mg de cumarina
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
11. Nomenclatura botânica Passiflora edulis Sims
Nome popular Maracujá, Passiflora
Parte usada Partes aéreas
Padronização/marcador Flavonoides totais expressos em vitexina
Derivado vegetal Extratos
Alegação de uso Ansiolítico leve
Dose diária 30 a 120 mg de flavonoides totais expressos em vitexina
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
12. Nomenclatura botânica Peumus boldus Molina
Nome popular Boldo, Boldo-do-chile
Parte usada Folhas
Padronização/marcador Alcaloides totais expressos em boldina
Derivado vegetal Extratos
Alegação de uso Colagogo, colerético, dispepsias funcionais e distúrbios gastrintestinais
espásticos
Dose diária 2 a 5 mg alcaloides totais expressos em boldina
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
(continua)
22  Fitoterapia Contemporânea

Tabela A.3 Lista de produtos tradicionais fitoterápicos de registro simplificado. (continuação)


13. Nomenclatura botânica Sambucus nigra L.
Nome popular Sabugueiro
Parte usada Flores
Padronização/marcador Flavonoides totais expressos em isoquercitrina
Derivado vegetal Extratos
Alegação de uso Mucolítico/expectorante, tratamento sintomático de gripe e resfriado
Dose diária 80 a 120 mg de flavonoides totais expressos em isoquercitrina
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
14. Nomenclatura botânica Silybum marianum (L.) Gaertn.
Nome popular Milk thistle, Cardo-mariano
Parte usada Frutos sem papilho
Padronização/marcador Silimarina expressos em silibinina
Derivado vegetal Extratos
Indicações/ações terapêuticas Hepatoprotetores
Dose diária 200 a 400 mg de silimarina expressos em silibinina (por UV), 154 a 324 mg
de silimarina expressos em silibinina (por HPLC)
Via de administração Oral
Restrição de uso Venda sem prescrição médica
15. Nomenclatura botânica Symphytum officinale L.
Nome popular Confrei
Parte usada Raízes
Padronização/marcador Alantoína
Derivado vegetal Extrato
Alegação de uso Cicatrizante, equimoses, hematomas e contusões
Concentração da forma 0,03 a 0,16 mg de alantoína por 100 mg
farmacêutica
Via de administração Tópica
Restrição de uso Venda sem prescrição médica. Utilizar por no máximo 4 a 6 semanas/ano
Não utilizar em lesões abertas
16. Nomenclatura botânica Uncaria tomentosa (Willd. ex Roem. & Schult.) DC.
Nome popular Unha-de-gato
Parte usada Casca do caule e raiz
Padronização/marcador Alcaloides oxindólicos pentaclíclicos
Derivado vegetal Extrato
Alegação de uso Anti-inflamatório
Concentração da forma 0,9 mg de alcaloides oxindólicos pentaclíclicos
farmacêutica
Via de administração Extrato
Restrição de uso Venda sem prescrição médica. Não utilizar em gestantes, lactantes e
lactentes
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  23

Como conse­quência, as espécies constantes Products ‒ HMPC/European Medicines Agency


nessas listas (Tabelas A.2 e A.3) podem ser co­ ‒ EMA). Outras espécies também podem ser
mercializadas por meio de registro simplificado registradas como produto tradicional fitote­
ou notificação junto à Anvisa sem a necessidade rápico desde que a segurança e eficácia sejam
de comprovação adicional de eficácia, segurança comprovadas pela presença nas monografias de
e qualidade visto que os critérios foram previa­ fitoterápicos de uso tradicional da Comunidade
mente estabelecidos na legislação sanitária. Europeia (Community herbal monographs with
Espécies que não fazem parte das listas de traditional use) elaboradas pelo HMPC/EMA.
medicamento fitoterápico de registro simplifi­ Na perspectiva de ampliar a segurança e a efi­
cado ou de produto tradicional fitoterápico de cácia, a RDC no 26/2014 definiu ainda duas listas,
registro simplificado podem ter a segurança, uma contendo “espécies que não podem ser uti­
eficácia e qualidade comprovadas como me­ lizadas na composição de produtos tradicionais
dicamento fitoterápico pela presença nas mo­ fitoterápicos“ e outra com “espécies vegetais com
nografias de fitoterápicos de uso bem estabe­ restrições para o registro/notificação de medi­
lecido da Comunidade Europeia (Community camentos fitoterápicos e produtos tradicionais
herbal monographs with well established use) fitoterápicos”. As Tabelas A.4 e A.5 referentes às
elaboradas pelo Comitê de Produtos Medicinais espécies que não podem ser utilizadas, são divi­
Fitoterápicos (Committee on Herbal Medicinal das em espécies vegetais (73) e de fungos (17).

Tabela A.4 Lista de espécies que não podem ser utilizadas na composição de produtos tradicionais
fitoterápicos.
Nomenclatura
Família botânica Nome popular Justificativa
Acoraceae 1. Acorus calamus Cálamo Devido ao seu teor de b-asarona, foi
considerada imprópria para consumo
humano por ser cancerígeno

Anacardiaceae 2. Lithraea Aroeira-brava, aroeira- Contém urushióis que formam


brasiliensis bugre, pau-de-bugre haptenos e provocam reações de
3. Lithraea Falsa-aroeira-brava, aroeira- hipersensibilidade na pele com
molleoides branca, bugreiro queimação, eritema e prurido
intenso, seguido do desenvolvimento
de vesículas
Apocynaceae 4. Allamanda Alamanda, alamanda- Contém toxialbuminas que causam
cathartica amarela, alamanda-de- náuseas, vômitos, cólicas, diarreia,
flor-grande desidratação
5. Asclepias Oficial-de-sala, paina-de- Contém glicosídeos cardioativos
curassavica sapo (asclepiadina) que provocam irritação
de boca e faringe, com salivação
intensa e dificuldade de deglutição,
náuseas, vômito e dor abdominal,
distúrbios do equilíbrio, sonolência e
prostração, alterações
cardiovasculares que podem levar à
morte devido à fibrilação ventricular

6. Nerium oleander Espirradeira, oleânder Contém glicosídeos cianogênicos


(oleandrina) e alcaloides
(estrofantina) que provocam náuseas,
vômitos, cólicas, diarreia com muco e
sangue; taquicardia
7. Calotropis procera Algodão de seda, ciúme, Contém glicosídeos cardiotônicos
leiteiro, queimadeira
8. Prestonia Caapi Essa espécie contém dimetiltriptamina
amazonica (DMT), o qual pertence ao grupo da
triptamina e que causa intensos
efeitos no SNC
(continua)
24  Fitoterapia Contemporânea

Tabela A.4 Lista de espécies que não podem ser utilizadas na composição de produtos tradicionais
fitoterápicos. (continuação)
Nomenclatura
Família Nome popular Justificativa
botânica
Apocynaceae 9. Cryptostegia Criptostégia, unha-de- Contém substancias tóxicas que
grandiflora moça, viúva-alegre provocam disritmia cardiovascular,
extrassístole prematura, diminuição
da frequência cardíaca, fibrilação
10. Thevetia Chapéu-de-napoleão Contém glicosídeos cardiotônicos com
peruviana efeitos similares aos digitálicos
11. Haemadictyon - Espécies desse gênero contêm
spp. dimetiltriptamina (DMT), a qual
pertence ao grupo da triptamina e
causa intensos efeitos no SNC
Araceae 12. Dieffenbachia Comigo-ninguém-pode Contém cristais de oxalato de cálcio e
seguine substâncias lipofílicas insaturadas
presentes em torno desses cristais
que são tóxicos
Aristolochiaceae 13. Aristolochia spp. - Espécies desse gênero contêm ácidos
aristolóquicos que são potentes
agentes nefrotóxicos e
carcinogênicos
14. Asarum sp. Cop. - Espécies desse gênero contêm ácidos
aristolóquicos que são potentes
agentes nefrotóxicos e
carcinogênicos
Asteraceae 15. Ageratum Camará-opela, catinga-de- Contém alcaloides pirrolizidínicos que
conyzoides barrão, catinga-de-bode, são hepatotóxicos
catinga-de-borrão
16. Baccharis Miomio Contém tricotecenos macrocíclicos que
coridifolia provocam hipotermia, dor
abdominal, diarreia, anorexia,
desidratação, taquicardia, agitação e
morte
17. Petasites spp. Petasites Contém alcaloides pirrolizidínicos que
são hepatotóxicos
18. Senecio spp. Erva-de-são-tiago, tasna, Contém alcaloides pirrolizidínicos que
tasneira são hepatotóxicos
19. Tussilago farfara Tussilago Contém alcaloides pirrolizidínicos que
são hepatotóxicos
Boraginacea 20. Heliotropium Algumas espécies desse Espécies que pertencem a esse gênero
spp. gênero são conhecidas possuem em sua constituição
como borragem-brava, química alcaloides do tipo
cravo-de-urubu, crista- pirrolizidínico que são hepatotóxicos
de-galo, crista-de-peru,
fedegoso, gervão-branco,
dentre outros nomes
21. Cynoglossum Língua-de-cão Contém alcaloides pirrolizidínicos que
officinale são hepatotóxicos
Cactaceae 22. Lophophora spp. Peiote As espécies desse gênero contêm
mescalina que atua no SNC
provocando náuseas, vômitos,
depressão, pânico, confusão, medo
etc.
23. Opuntia Cacto Contém mescalina que atua no SNC
cylindrica provocando náuseas, vômitos,
depressão, pânico, confusão, medo
etc.
(continua)
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  25

Tabela A.4 Lista de espécies que não podem ser utilizadas na composição de produtos tradicionais
fitoterápicos. (continuação)
Nomenclatura
Família Nome popular Justificativa
botânica
Campanulaceae 24. Lobelia inflata Lobelia Contém alcaloides com núcleo
piperidina (lobelina, isolobelina) que
atuam no SNC, cujos efeitos tóxicos
incluem sudorese, náuseas, vômitos,
diarreia, tremores, taquicardia,
confusão mental, convulsões,
hipotermia, coma e morte
Cannabaceae 25. Cannabis sp. Maconha, diamba Espécie criminalizada no Brasil. Contém
substâncias psicoativas
Celastraceae 26. Catha edulis Khat Contém o alcaloide catinona, um
estimulante similar à anfetamina, que
causa excitação e euforia
Colchicaceae 27. Gloriosa superba Gloriosa Contém alcaloide colchicina que é
altamente tóxico
Combretaceae 28. Combretum Sipaúba, cipaúba Contém substâncias nefrotóxicas
glaucocarpum
Convolvulaceae 29. Ipomoea carnea Algodão-bravo, canudo Contém alcaloides psicoativos que
subsp. fistulosa causam náuseas, midríase,
alucinações, redução dos reflexos,
30. Ipomoea Flor-da-virgem, glória-da-
diarreia, hipotensão
burmanni (Rivea manhã
corymbosa)
31. Ipomoea Campainha, corda-de-viola
hederacea
32. Ipomoea violacea Glória-da-manhã
(Ipomoea
tricolor)
33. Argyreia nervosa Cordão de seda
Dennstaedtiaceae 34. Pteridium Samambaia Contém substâncias carcinogênicas
aquilinum (ptaquilosídeo)
Erythroxylaceae 35. Erythroxylum Coca Contém alcaloide cocaína
coca
Euphorbiaceae 36. Aleurites fordii Árvore-do-tungue, Contém toxialbumina e saponinas que
castanha-purgativa, tung provocam náuseas, vômitos, cólicas
abdominais e diarreia, seguidos de
sede, secura
37. Aleurites Nogueira-brasileira, -
moluccanus nogueira-de-iguape,
noz-da-índia
38. Jatropha curcas Mandubiguaçu, pinha-de- Contém jatrofina (curcina) que provoca
purga, pinhão-bravo irritação das mucosas de estômago e
intestino, causando náuseas, diarreia
39. Manihot Mandioca-brava, Contém glicosídeos cianogênicos que
esculenta mandioca-mulatinha, interferem na condução de oxigênio
mandioca-preta, para as células. Provoca vômitos,
manipeba diarreia, sonolência, dores
abdominais, convulsões musculares,
torpor e coma
40. Pedilanthus Dois-irmãos, picão, Contém ésteres de forbol e outros
tithymaloides sapatinho-de-judeu, diterpenoides que são cáusticos,
sapatinho-do-diabo, irritantes e carcinogênicos
sapatinho-dos-jardins
(continua)
26  Fitoterapia Contemporânea

Tabela A.4 Lista de espécies que não podem ser utilizadas na composição de produtos tradicionais
fitoterápicos. (continuação)
Nomenclatura
Família Nome popular Justificativa
botânica
Euphorbiaceae 41. Cnidoscolus Favela Contém substâncias cianogênicas
phyllacanthus
42. Euphorbia Avelox Contém látex tóxico
tirucalli
Fabaceae 43. Abrus precatorius Alcaçuz-da-américa, cipó- Contém toxialbuminas, especialmente
L. de-alcaçuz, grãos-de- abrina, nas sementes e raízes
rosário, jequiriti, juqueriti,
olho-de-cabra
44. Anadenanthera Angico Contém alcaloides, especialmente
macrocarpa bufotenina que é uma triptamina
relacionada ao neurotransmissor
45. Anadenanthera Angico-de-curtume, serotonina
peregrina angico-vermelho
46. Crotalaria sp. Crotalária Contém alcaloides pirrolizidínicos que
são hepatotóxicos
47. Piptadenia Angico Contém alcaloides, especialmente
macrocarpa bufotenina, que é uma triptamina
relacionada ao neurotransmissor
48. Piptadenia Angico serotonina
peregrina
49. Sophora Feijão-mescal Contém mescalina que atua no SNC
secundiflora provocando náuseas, vômitos,
depressão, pânico, confusão, medo
etc.
50. Spartium Giesta-dos-jardins Contém alcaloides quinolizidínicos
junceum (esparteína e citisina) que atuam no
sistema nervoso simpático e
parassimpático
Lamiaceae 51. Salvia divinorum Sálvia Contém salvinorina A que é
responsável por seus efeitos
alucinógenos e que, dependendo do
modo e da quantidade consumida,
provoca alucinações,
despersonalização e desrealização
Loganiaceae 52. Spigelia Arapabaca, espigélia, erva- Contém alcaloide espigelina, o qual
anthelmia lombrigueira e tem efeito semelhante à estricnina
lombrigueira
53. Strychnos - Contém estricnina
gauthierana
54. Strychnos ignatii -
(Ignatia amara)
Malpighiaceae 55. Banisteriopsis Cabi, caupuri, jagupe, mariri Contém alcaloides do grupo das
caapi b-carbolinas (harmina, harmalina)
que são estimulantes do SNC
(inibidores da monoaminaoxidase A)
Malvaceae 56. Sida acuta Guanxuma, vassoura Contém alcaloides psicoativos
Meliaceae 57. Melia azedarach Cinamomo, cardamomo, Contém alcaloide neurotóxico
jasmim-de-cachorro, (azaridina) que provoca náuseas,
jasmim-de-soldado vômitos, cólicas e diarreia, que
podem evoluir para confusão mental,
torpor e coma
(continua)
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  27

Tabela A.4 Lista de espécies que não podem ser utilizadas na composição de produtos tradicionais
fitoterápicos. (continuação)
Nomenclatura
Família Nome popular Justificativa
botânica
Moraceae 58. Ficus pumila Fícus Contém substâncias tóxicas que
causam fotodermatite grave

Myristicaceae 59. Virola sebifera Pau-de-sebo, virola, ucuuba Contém substâncias psicoativas
(alcaloides indólicos triptaminérgicos)

Nitrariaceae 60. Peganum Arruda da Síria Contém alcaloides do grupo das


harmala b-carbolinas (harmina, harmalina)
que são estimulantes do SNC
(inibidores da monoaminaoxidase A)

Papaveraceae 61. Argemone Cardo-bento, cardo-santo, Contém alcaloides tóxicos


mexicana papoula-do-méxico

62. Papaver Papoula Produz alcaloides com núcleo


bracteatum fenantreno, sendo a morfina o mais
importante

Phytolaccaceae 63. Petiveria alliacea Amansa senhor, guiné, pipi, Contém substâncias tóxicas para o SNC
tipi

Plumbaginaceae 64. Plumbago Louco Contém substâncias tóxicas


scandens desconhecidas

Ranunculaceae 65. Consolida ajacis Esporinha Contém alcaloides ajacina e delfinina


que provocam irritação gástrica e no
SNC

Rubiaceae 66. Palicourea Café-bravo, erva-de-rato, Saponinas tóxicas e ácido


marcgravii palicourea monofluoracético que causam
cólicas, tremores musculares,
dispneia, taquicardia, convulsões

Solanaceae 67. Brugmansia Saia-branca, trombeteira- Contém alcaloides tropânicos


arborea branca, trombeta-branca, (escopolamina, hiosciamina, atropina)
trombeta-cheirosa que provocam náuseas, vômitos,
edema cutâneo

68. Brugmansia Aguadeira, babado, saia- Contém alcaloides tropânicos


suaveolens branca, sete-saias (escopolamina, hiosciamina, atropina)
que provocam náuseas, vômitos,
edema cutâneo

69. Brunfelsia Manacá Contém inibidores da


uniflora monoaminaoxidase que são
estimulantes do SNC

70. Datura spp. Figueira-do-inferno, Contém alcaloides tropânicos


figueira-brava,
quinquilho, zabumba

71. Nicotiana glauca Charuteira, charuto-do-rei, Contém alcaloide (nicotina) que age
tabaco-arbóreo sobre os sistemas cardiovascular,
endócrino e nervoso central
72. Nicotiana Tabaco
tabacum

Verbenaceae 73. Lantana camara Câmara, cambará Contém triterpenos hepatotóxicos


(lantanina, lantadene A, lantadene B)
que provocam náuseas, vômitos,
diarreia, fraqueza, letargia, cianose,
fotossensibilização
28  Fitoterapia Contemporânea

Na Tabela  A.4 encontram-se as espécies vege­ Tabela A.6 Lista de espécies vegetais com restrições
tais organizadas por ordem alfabética de famí­ para o registro/notificação de medicamentos
lia botânica. Observa-se que as famílias com fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos.
maior número de espécies que não podem ser Espécie Restrição
utilizadas são: Apocynaceae e Fabaceae, am­
Arnica spp. O IFAV só pode ser utilizado
bas com 8, seguidas de Euphorbiaceae com 7, para uso externo
Asteraceae e Convolvulaceae, ambas com 5 es­
Espécies com A exposição diá­ria de
pécies. A Tabela A.5 contém as espécies de fun­ alcaloides alcaloides pirrolizidínicos
gos. A Tabela A.6 cita as espécies com restrição pirrolizidínicos não pode ser superior a
de uso. 1 ppm, ou seja, 1 mg/g
Mentha pulegium Só pode ser utilizado se a
posologia proposta para o
Tabela A.5 Espécies de fungos que não podem ser produto não exceder uma
utilizadas na composição de produtos tradicionais dosagem diá­ria de tujona de
fitoterápicos. 3 a 6 mg

Gênero/Espécie Justificativa Ricinus communis Só pode ser utilizado o IFAV


óleo fixo obtido
 1 Amanita spp. Fungo da família exclusivamente das
Amanitaceae que sementes
produz amatoxinas
Solanum (quaisquer Se o IFAV for para qualquer
 2 Aspergillus fumigates espécies) uso que não o externo, não
pode conter mais que 10 mg
 3 Aspergillus nidulans
(dez miligramas) de
Fungos produtores de alcaloides esteroidais
 4 Aspergillus niger
aflatoxinas
 5 Aspergillus sydowi Symphytum O IFAV só pode ser utilizado
officinale para uso externo
 6 Aspergillus terreus
IFAV: insumo farmacêutico ativo vegetal.
 7 Claviceps paspali Produz micotoxina que
afeta o SNC
 8 Conocybe spp. Contém psilocibina, No sentido de esclarecer e promover o re­
alcaloide indólico que gistro e a notificação de produtos fitoterápicos a
apresenta efeito no Anvisa publicou o Guia de Orientação para re­
SNC
gistro de Medicamento Fitoterápico e registro e
 9 Epidermophyton Dermatófito patogênico notificação de Produto Tradicional Fitoterápico,
floccosum considerado de grande importância para o setor
10 Geotrichum Afetas os pulmões ou regulatório das indústrias farmacêuticas produ­
candidum outros órgãos toras de fitoterápicos no país.
causando geotricose
Atualmente, o Brasil possui oito resoluções
11 Gymnopilus spp. Contém psilocibina, vigentes específicas para MF e PTF e 26  gerais
alcaloide indólico que que complementam o arcabouço regulatório para
apresenta efeito no
SNC
estas categorias de produtos. Todas essas resolu­
ções encontram-se no V Consolidado de Normas
12 Microsporum Dermatófito patogênico da Coordenação de Medicamentos Fitoterápicos
audouinni
e Dinamizados (COFID/GGMED/Anvisa).
13 Microsporum canis Dermatófito patogênico
14 Psylocybe spp. Contém psilocibina, Fitoterápico manipulado
alcaloide indólico que
apresenta efeito no
O fitoterápico magistral é obtido a partir de fór­
SNC mulas magistrais e oficinais e é preparado em es­
tabelecimentos farmacêuticos habilitados pela vi­
15 Rhizopus oligosporus Não encontrada
gilância sanitária para manipular esses produtos.
16 Stropharia cubensis Contém psilocibina, A maior parte desses estabelecimentos é privada.
alcaloide indólico que No âmbito do SUS foi criada a Farmácia Viva,15
apresenta efeito no
SNC inspirada no modelo desenvolvido na década de
1980 na Universidade Federal do Ceará pelo pro­
17 Trichophyton spp. Dermatófito patogênico
fessor Francisco José de Abreu Matos.
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  29

A Farmácia Viva tornou-se tão importante • Atender ao perfil epidemiológico da popula­


para a política de saú­de do Ceará que, em 1999, ção: a seleção das plantas medicinais conside­
as ações com plantas medicinais e fitoterapia na radas as principais patologias que acometem a
saú­de pública foram oficializadas, por meio da população na atenção básica
Lei Estadual 12.951, de 7/10/1999, que dispõe • Ser de fácil cultivo/manejo: as espécies vege­
sobre a Política de Implantação da Fitoterapia tais devem estar adaptadas ao local de cultivo,
em Saú­de Pública, sendo posteriormente regu­ garantindo boa produção desse insumo vege­
lamentada pelo Decreto 30.016, de 30/12/2009. tal e regularidade da oferta nos serviços
Nesse regulamento técnico, foram instituí­das as • Dispor de forma e fórmula farmacêuticas via­
boas práticas para o cultivo, manejo, coleta, pro­ bilizadas para definição e padronização delas.
cessamento, beneficiamento, armazenamento e
dispensação de plantas medicinais, orientação A seleção das espécies medicinais, a correta
para a preparação de remédios de origem vege­ identificação botânica das matrizes, o cultivo se­
tal, bem como a preparação de fitoterápicos e sua gundo boas práticas agrícolas, em ­área livre de
dispensação. Estabeleceu, ainda, três modelos de contaminação, com água de boa qualidade, são
Farmácias Vivas, a partir dos tipos de atividades os primeiros cuidados a serem observados, vi­
rea­li­zadas: sando assegurar a qualidade de todo o processo,
da planta medicinal ao medicamento. Tais cui­
• Farmácia Viva I: neste modelo são desenvol­ dados são imprescindíveis para assegurar que a
vidas as atividades de cultivo, a partir da ins­ população tenha acesso aos produtos nas suas
talação de hortas de plantas medicinais em diferentes formas com qualidade, segurança e
unidades de farmácias vivas comunitárias eficácia.
e/ou unidades do SUS, tornando acessível à
Cabe ressaltar que, diferente da legislação do
população assistida a planta medicinal in na-
estado do Ceará, a legislação federal não previu
tura e a orientação sobre corretos preparação
modelos, conforme descrito anteriormente, e
e uso dos remédios caseiros
sim estabeleceu critérios de boas práticas em far­
• Farmácia Viva II: neste modelo são rea­li­zadas
mácias vivas, por meio da RDC 18/2013.16 Essa
as atividades de produção/dispensação de
plantas medicinais secas (droga vegetal). Para resolução deve ser obedecida por todos os ser­
tanto, deve possuir uma adequada estrutura viços de saú­de do SUS que adotarem a Farmácia
de processamento da matéria-prima vegetal, Viva. De certa forma, tal medida produz con­
visando tornar acessível à população, droga fusão visto que municípios querem adotar mo­
vegetal de qualidade. Poderá desenvolver as delos seguindo a resolução do estado do Ceará
atividades previstas no modelo I quanto o correto é seguir a legislação federal.
• Farmácia Viva III: este modelo se destina Além disso, em 2011, foi lançada a 1a edição do
à preparação de “fitoterápicos padroniza­ Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia
dos”, preparados em ­áreas adequadas para as Brasileira (FFFB) que oficializa formulações e as
operações farmacêuticas, de acordo com as padroniza, as quais foram selecionadas a partir
Boas Práticas de Preparação de Fitoterápicos do levantamento dos produtos utilizados nos
(BPPF), visando ao provimento das unidades programas de fitoterapia municipais que apre­
do SUS. O modelo III poderá ainda rea­li­zar as sentaram os produtos e as formas farmacêuticas
atividades previstas para os modelos I e II. utilizadas. Das formulações apresentadas de es­
pécies vegetais e formas farmacêuticas comuns
No âmbito nacional, a Farmácia Viva foi re­ nos serviços de fitoterapia, fez-se uma seleção
conhecida pelo Ministério da Saú­de por meio da dando preferência para as constantes da re­
Portaria GM/MS 886/2010,15 a qual instituiu a lação de espécies vegetais de interesse do SUS
Farmácia Viva no âmbito do Sistema Único de (RENISUS). No Formulário estão registradas
Saú­de (SUS), sob gestão estadual, municipal ou informações sobre a forma correta de preparo
federal (definida no capítulo de assistência far­ e as indicações e restrições de uso de cada es­
macêutica). Na definição do elenco das plantas
pécie, sendo os requisitos de qualidade defini­
medicinais devem ser observados os seguintes
dos nas normas específicas para as farmácias
critérios:
vivas.17 A Tabela A.7 apresenta um resumo das
• Ter eficácia e segurança terapêutica com­pro­ espécies, partes utilizadas, formas farmacêuticas
vadas e indicações.
30  Fitoterapia Contemporânea

Tabela A.7 Espécies, partes utilizadas, formas farmacêuticas e indicações contidas na 1a edição do FFFB.
Forma
Nome científico Nome popular Parte usada Indicação
farmacêutica
1 Achillea millefolium L. Mil-folhas e Partes aéreas Infusão Aperiente, antidispéptico,
(Sinonímia Achillea mil-em-rama secas Tintura anti-inflamatório e
alpicola (Rydb.) Rydb.) antiespasmódico
2 Achyrocline satureioides Macela, marcela Sumidades Infusão Antidispéptico,
(Lam.) DC. (Sinonímia e marcela-do- floridas antiespasmódico e anti-
Achyrocline candicans campo secas inflamatório
(Kunth) DC.)
3 Arctium lappa L. Bardana Raízes secas Decocto Antidispéptico, diurético e
(Sinonímia Arctium anti-inflamatório
chaorum Klokov e Lappa
major Gaernt.)
4 Arnica montana L. Arnica Flores secas Infusão – uso Anti-inflamatório em
externo contusões e distensões,
Gel nos casos de equimoses e
Pomada hematomas
5 Baccharis trimera (Less.) Carqueja e Partes aéreas Infusão Antidispéptico
DC. (Sinonímia Baccharis carqueja- secas
genistelloides var. trimera amarga
(Less.) Baker e Molina
trimera Less.)
6 Calendula officinalis L. Calêndula Flores secas Infusão – uso Anti-inflamatório e
externo cicatrizante
Tintura – uso Anti-inflamatório em
externo afecções da cavidade oral
Gel Antisséptico e cicatrizante
Creme
7 Casearia sylvestris Sw. Guaçatonga, Folhas secas Infusão Antidispéptico
(Sinonímia Anavinga erva-de-bugre
samyda C. F. Gaernt., e erva-de-
Casearia affinis Gardner lagarto
in Hooker e Casearia
attenuata Rusby)
8 Cinnamomum verum J. Canela e canela- Cascas secas Infusão Aperiente, antidispéptico,
Presl (Sinonímia do-ceilão antiflatulento e
Camphora mauritiana antiespasmódico
Lukman., Cinnamomum
zeylanicum Blume e
Laurus cinnamomum L.)
9 Citrus aurantium L. Laranja-amarga Flores secas Infusão Ansiolítico e sedativo leve
(Sinonímia
Citrus aurantiifolia
(Christm.) Swingle e
Citrus vulgaris Risso.)
10 Cordia verbenacea DC. Erva-baleeira Folhas secas Infusão – uso Anti-inflamatório
(Sinonímia Varronia externo Anti-inflamatório em dores
curassavica Jacq.) Pomada associadas a músculos e
tendões
11 Curcuma longa L. Cúrcuma, açafroa Rizomas Infusão Antidispético e anti-
(Sinonímia e açafrão-da- secos Tintura inflamatório
Amomum curcuma Jacq. terra Colerético, colagogo,
e Curcuma domestica hipolipemiante,
Valeton) antiespasmódico,
antiflatulento e anti-
inflamatório
(continua)
Apêndice A  •  Plantas Medicinais e Fitoterapia na Política Nacional de Saúde  31

Tabela A.7 Espécies, partes utilizadas, formas farmacêuticas e indicações contidas na 1a edição do FFFB.
(continuação)
Forma
Nome científico Nome popular Parte usada Indicação
farmacêutica
12 Cymbopogon citratus (DC.) Capim-santo, Folhas secas Infusão Antiespasmódico,
Stapf (Sinonímia capim-limão, ansiolítico e sedativo leve
Andropogon cerifer capim-cidró,
Hack., Andropogon capim-cidreira
citratus DC. e e cidreira
Andropogon citriodorum
hort. ex Desf.)
13 Cynara scolymus L. Alcachofra Folhas secas Infusão Antidispéptico
(Sinonímia Cynara Tintura Antidispéptico,
cardunculus L.) antiflatulento,
antiemético, diurético e
antiaterosclerótico.
Coadjuvante no
tratamento de
hipercolesterolemia leve a
moderada e da síndrome
do intestino irritável
14 Echinodorus macrophyllus Chapéu-de- Folhas secas Infusão Diurético leve e anti-
(Kunth) Micheli couro inflamatório
(Sinonímia
Alisma macrophyllum
Kunth e Echinodorus
scaber Rataj.)
15 Hamamelis virginiana L. Hamamélis Cascas secas Decocção Anti-hemorroidal
(Sinonímia – uso
Hamamelis androgyna externo
Walter, Hamamelis
corylifolia Moench e
Hamamelis dioica
Walter.)
16 Illicium verum Hook F. Anis-estrelado Frutos secos Infusão Expectorante e
(Sinonímia Illicium san-ki antiflatulento
Perr.)
17 Justicia pectoralis Jacq. Chambá, Partes aéreas Infusão Expectorante
(Sinonímia chachambá e secas
Dianthera pectoralis trevo-cumaru
(Jacq.) J.F. Gmel.,
Ecbolium pectorale
(Jacq.) Kuntze e Justicia
stuebelii Lindau.)

Considerações finais encapsulados, xarope, preparados a partir das


plantas cultivadas in loco pelos postos de saú­de.
A implantação da assistência farmacêutica ou do
Para um sistema con­ti­nuado de estudos de
serviço de fitoterapia, a curto prazo, pode atender validação de plantas, acompanhamento e con­
às demandas de medicamentos por meio de: (a) trole de qualidade, recomenda-se a participação
recomendação de uso de plantas frescas, selecio­ de instituições de pesquisa e universidades onde
nadas, produzidas em hortas caseiras ou comu­ existam cursos de biologia, agronomia, farmácia,
nitárias, montadas a partir de um horto-matriz medicina, enfermagem etc. Parcerias com farmá­
pré-instalado; (b) distribuição de plantas secas cias-escolas ou com escolas de saú­de pública da
empacotadas para preparação de chás e outros região ou, ainda, centros de ciên­cias da saú­de de
remédios caseiros; e (c) distribuição de fitote­ universidades que mantenham elos com serviços
rápicos sob diversas formas de dispensação far­ de apoio técnico-científico, envolvendo pessoal,
macêuticas, especialmente, pós ou extratos secos material e bibliografia.
32  Fitoterapia Contemporânea

A publicação do Programa Nacional conso­   9. Negri B. Política Federal de Assistência Farma­


lidou e reconheceu oficialmente a inserção das cêutica 1990 a 2002. Brasília: Ministério da Saú­de,
plantas medicinais e fitoterapia no SUS, aten­ 2002.
dendo às reivindicações dos profissionais de saú­ 10. Brasil. Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990.
Dispõe sobre as condições para promoção, pro­
de pública e usuá­rios. teção, recupe­ração da saú­de, a organização e o
As grandes vantagens dessa atividade são: funcionamento dos serviços correspondentes e dá
proporcionar desenvolvimento, gerar emprego, outras providências. Diá­rio Oficial da União, 20
tecnologias de cultivo, de beneficiamento e de set 1990.
produção, ampliar a assistência farmacêutica e 11. Brasil. Ministério da Saú­de. Práticas integrativas e
fortalecer o SUS. complementares em saú­de: uma realidade no SUS.
In: Revista Brasileira de Saú­de da Família. Ano IX,
Referências bibliográficas Edição especial, maio de 2008.
12. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
  1. Bermudez J. Remédio: saú­de ou indústria? A pro­ Resolução RDC no 26, de 13 de maio de 2014, e
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Relume Dumará, 1992. bre o registro de medicamentos fitoterápicos e o
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2004. 13. Bôas GKV, Gadelha CAG. Oportunidades na in­
  3. Chaves GC, Oliveira MA et  al. A evolução do dústria de medicamentos e a lógica do desenvolvi­
sistema internacional de propriedade intelectual: mento local ba­sea­do nos biomas brasileiros: bases
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e acesso a medicamentos. In: Cad. Saú­de Pública, Saú­de Pública. v.23, n.6, 2007, p. 1463-71.
23, n.2, 2007, p. 257-67. 14. Bôas GKV. A nova política de plantas medicinais e
  4. Mascarenha G. A biodiversidade brasileira no âm­ fitoterápicos. In: Buss PM et al. Medicamentos no
bito do acordo Trips. In: Rev. Bras. Inovação, v.3, Brasil: inovação e acesso. Rio de Janeiro: Editora
n.2, 2004, p. 393-416. Fiocruz, 2008.
  5. Simões CMO, Schenkel EP. A pesquisa e a produ­ 15. Brasil. Ministério da Saú­de. Portaria GM no 886,
ção brasileira de medicamentos a partir de plantas de 20 de abril de 2010. Institui a Farmácia Viva no
medicinais: a necessária integração da indústria âmbito do Sistema Único de Saú­de (SUS).
com a academia. In: Rev. Bras. Farmacog., v.12, 16. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária
n.1, 2002, p. 35-40. (Anvisa). Resolução de Diretoria Colegiada –
  6. Amaral ACF. et  al. A fitoterapia no SUS e o RDC no 18, de 3 de abril de 2013. Dispõe sobre as
Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais da boas práticas de processamento e armazenamento
Central de Medicamentos. Ministério da Saúde, de plantas medicinais, preparação e dispensação
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Es­ de produtos magistrais e oficinais de plantas me­
tra­tégicos, Departamento de Assistência Farma­ dicinais e fitoterápicos em farmácias vivas no âm­
cêutica. Brasília: Ministério da Saú­de, 2006. bito do Sistema Único de Saú­de (SUS).
  7. Sant’ Ana PJP, Assad ALD. Research programme 17. Brasil. Ministério da Saú­de. Agência Nacional
on natural products of CEME. In: Quí­m. Nova, de Vigilância Sanitária (Anvisa). RDC no 60, de
v.27, n.3, 2004, p. 508-12. 10 de novembro de 2011. Aprova o Formulário de
  8. Bonfim JRA, Mercucci VL (Orgs.). A construção Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, 1a edição
da política de medicamentos. São Paulo: Hucitec e e dá outras providências. Diá­rio Oficial da União,
Sobravime, 1997. 11 de novembro de 2011.

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