Apostila de TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA
Apostila de TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA
Apostila de TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA
Todo pensador está de certo modo envolvido com as ideias do seu tempo.
Esse é um axioma antigo, porém válido. O contexto sociocultural, os conceitos
filosóficos, o progresso tecnológico, a economia e os conflitos mundiais
interferem indubitavelmente na maneira de pensar, e desde a Reforma até os
nossos dias, não faltaram mudanças. Isso ocorreu de tal maneira e em tão
grande quantidade que, se fossemos enumerá-las uma a uma, milhares de
páginas seriam escritas, e isso não é nenhuma hipérbole.
Em 1831 Darwin partiu para uma viagem ao redor do mundo para fazer
observações científicas, levando na viagem o livro de Charles Lyell, Princípios
de Geologia. Em 1839 ele começou a escrever a obra que se tornaria o seu
legado, concluindo-a em 1844. Não se sabe ao certo por que, mas o fato é que
Darwin levou 15 anos para imprimi-lo. É possível que a razão da demora resida
no temor da indignação que seu livro poderia lançar. Em Origem das Espécies,
Darwin faz a polêmica afirmação de que todos nós procedemos de um ancestral
comum e animalesco, não havendo essencialmente nada que confira dignidade
ao homem. O acaso nos gerou, portanto, não há Deus. Essa é a consequência
lógica da sua cosmovisão.
Esta obra não é fruto de toda uma vida de esmero teológico e nem
tampouco nenhum grande logro acadêmico. Ela é muito simples e até limitada,
oferecendo apenas uma pequena introdução à matéria de teologia
contemporânea. “TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA: Uma análise do
desenvolvimento do pensamento teológico no século vinte”, encontra sua
justificativa na necessidade de conhecermos as mudanças históricas que vêm
acontecendo no cenário teológico mundial. Ela certamente servirá de guia no
estudo da Teologia Contemporânea, podendo ser utilizada por professores nos
seminários.
Kant e sua ideia de autonomia fizeram dessa privação da graça mais que
uma simples moldura teológica: pela primeira vez na história da civilização
ocidental, a natureza foi separada da graça de forma elaborada, consequente e
consciente. No pensamento do homem moderno, a graça foi suplantada pela
ideia de emancipação; o homem tinha que nascer de novo como pessoa
completamente livre e autônoma, emancipada de qualquer pensamento
preconizado. De acordo com essa nova maneira de pensar, até mesmo o
conceito de natureza – conservado da síntese medieval aquiniana – se
transformou, passando a ser uma esfera microcósmica dentro da qual a
personalidade humana podia exercer sua autonomia. A natureza era agora
interpretada como um terreno infinito que o pensamento matemático autônomo
devia controlar.
A influência da obra de Karl Barth nessa nova era da teologia é enorme. Ele
transformou a teologia do século vinte em teologia da crise. Foi ele quem
dominou o ambiente teológico, formulou os problemas e apresentou as
hipóteses de maior relevância, e desde então tem estado no centro da teologia
moderna. Não há nenhuma dúvida de que o pensamento de Barth dominou o
pensamento teológico do seu tempo. Ele produziu um impacto tão grande na
teologia protestante, que todo teólogo do nosso século que quiser estudar
teologia a sério, pode se opor à sua teologia ou acolher suas idéias, mas não
pode jamais ignorá-la se quiser conhecer a situação teológica contemporânea.
3.1- A revolta teológica contra o liberalismo teológico foi uma das mais notórias
características da teologia barthiana.
Barth havia aprendido teologia aos pés de dois grandes teólogos liberais, à
saber: Harnack e Herrmann. O Jesus do mentor de Barth, Harnack, não era o
filho de Deus único e sobrenatural, mas a encarnação do amor e dos ideais
humanistas. A Bíblia do mentor de Barth, Herrman, não era a Palavra infalível
de Deus, e sim um livro extraordinário, ainda que ordinário, cheio de erros e
que exigia uma crítica radical para encontrar a verdade. A medida de toda a
verdade era a experiência, o sentimento. A teologia desses dois mestres e
também a de Barth era o Idealismo teológico, caracterizado por uma profunda
veia de pietismo e de preocupação pela prática da experiência religiosa cristã.
Em 1919, e com muito mais força em 1921, Barth se encarregou de repudiar
grande parte desse liberalismo clássico.
Segundo Barth, pode-se ler a Bíblia sem ouvir a Palavra de Deus. A Bíblia é
simplesmente um livro, mas, pelo menos, um livro através do qual nos pode
chegar a Palavra de Deus. A relação entre Deus e a Bíblia é real, porém
indireta. A Bíblia, diz Barth, “é a Palavra de Deus enquanto Deus fala por meio
dela […] a Bíblia se transforma em palavra de Deus nesse momento”. Para
ele, até que a Bíblia se torne real para nós, até que ela nos fale da nossa
situação existencial, ela não é Palavra de Deus. Esse é o conceito barthiano de
revelação.
Há, sem dúvida, algumas críticas que se pode fazer à obra de Barth. Ele
mesmo reconheceu alguns de seus excessos e poliu boa parte dos argumentos
que enfatizou a princípio, e até certo ponto, pode-se dizer que ele suavizou
algumas idéias mais incisivas. O que passo a expor agora, são algumas
críticas que se podem fazer ao pensamento de Barth.
Ao que vemos, embora a teologia de Barth tenha sido responsável por uma
prática religiosa em que os valores evidenciam a religiosidade do cristão, ele
jamais conseguiu se libertar completamente do liberalismo teológico de seus
mestres Herrmann e Harnack. Ele revoltou-se contra o liberalismo teológico,
argumentou contra ele, mas não pode livrar-se de seus pressupostos. Tal como
Kant, Barth confina Deus ao mundo dos números e apresenta a dialética – a
teologia do paradoxo – como sendo à única teologia possível. Ele exclui a
razão a priori e deixa a porta fechada à percepção humana.
Sua teologia é de suma importância para o século vinte e, de fato, quase todo o
pensamento teológico moderno até a década de setenta envolverá a
perspectiva de Barth. Podemos aceitar seus pressupostos ou acirrar-nos contra
ele, mas nenhum teólogo de nossa época poderá jamais ignorar a teologia
dialética de Karl Barth e sua influência no cenário teológico contemporâneo.
Karl Barth havia desencadeado uma tremenda revolução com seu comentário
aos Romanos, e nos anos que se seguiram, a revolução se ampliou
consideravelmente, se avolumando sob a égide de um novo movimento
teológico denominado “neo-ortodoxia”. Emil Brunner talvez tenha sido um dos
nomes mais conhecidos dessa nova escola, depois, é claro, de Barth.
Brunner foi um teólogo suíço residente nos Estados Unidos que também teve
participação importante no desenvolvimento da teologia neo-ortodoxa. Nascido
em 1889, estudou em Zurich, Berlim e também no Union Theological Seminary,
em Nova Iorque. Tornou-se professor de teologia em Zurich em 1924, e em
1953 deixou a Suíça para tornar-se professor na Universidade Cristã do Japão.
Nesse mesmo terreno, Brunner definiu a revelação como sendo uma ocasião
de diálogo em que Deus se encontra com o homem. Não se pode dizer que a
revelação tenha acontecido, à não ser que ambos os participantes do encontro
– a saber, Deus e o homem – se encontrem.
De fato, Barth insiste tanto nessa idéia que chega ao ponto de negar a
existência de qualquer outra revelação, à parte de Cristo. Para ele, a história da
revelação e a história da salvação vêm a ser a mesma coisa. No Cristo de
Barth, Deus revelou que não queria deixar o homem existir em pecado. Por
isso, Barth insiste em que nunca deveríamos mencionar o pecado, a não ser
que agreguemos imediatamente que o pecado foi derrotado, esquecido e
vencido por Jesus. A reconciliação entre Deus e o homem se efetua por meio
de Cristo. Jesus Cristo é o próprio Deus, isto é, é Deus que se humilha a si
mesmo. Em sua liberdade, Deus cruza o abismo aberto e mostra que ele é
verdadeiramente Senhor.
Na encarnação, Deus se humilha a si mesmo. Barth não quer admitir a
humilhação do homem Jesus. Segundo ele, dizer que a humilhação se refere
ao homem é uma mera tautologia. Que sentido haveria em falar de um homem
humilhado? A humilhação é algo natural no homem. Porém, dizer que Deus se
humilhou a si mesmo, segundo Barth, é entender o verdadeiro significado de
Jesus Cristo como Deus. Ele é o Deus que se humilha, que se revela, e é
também a própria essência da revelação.
4.3- Barth afirma que Cristo, embora haja se humilhado como Deus, foi
exaltado como homem.
Ele se nega a admitir a idéia tradicional dos dois estados de Cristo, humilhação
e exaltação, referindo-se à totalidade do Deus-homem em ordem cronológica.
Para Barth, Deus se humilhou a si mesmo e o homem (a humanidade de
Jesus) foi exaltada. Dizer que o estado de exaltação se refere a Deus também
é mera tautologia. Que sentido haveria em falar em um Deus exaltado? A
exaltação é algo natural em Deus. Segundo Barth, “em Cristo, a humanidade é
humanidade exaltada, assim como a divindade é divindade humilhada. E a
humanidade é exaltada com a humilhação da Divindade”.
Ainda que Barth diz que nem afirma e nem nega a teoria da salvação universal,
sua idéia de “eleição universal em Cristo” parece uma espécie de neo-
universalismo. Além disso, seu repúdio pelas descrições do céu e do inferno
parecem um conceito de salvação bem diferente do que é apresentado nas
Escrituras. O resultado dessa postura “neo-universalista” é a destruição da
gravidade da incredulidade, e deste modo a neo-ortodoxia destrói as
advertências bíblicas contra a apostasia, bem como o chamado ao
arrependimento e à fé.
Por várias razões, muitos teólogos têm entendido mal a neo-ortodoxia. Essa
corrente teológica pretende, entre outras coisas, ser um retorno ao ensino dos
reformadores. A razão de ser da neo-ortodoxia é atacar o otimismo do
liberalismo clássico e as corrupções da teologia católica romana. É sua
intenção por em evidência a centralidade absoluta da pessoa de Cristo, a
transcendência de Deus e a necessidade de revelação. Naturalmente, todos
esses pontos básicos estão em harmonia com o conceito evangélico. Apesar
disso, como se pode observar, a neo-ortodoxia se separa da fé cristã histórica
não somente em algumas esferas pouco relevantes, mas também em seus
conceitos básicos. Recomendamos as obras de Barth, Bultmann e Brunner –
bem como de outros teólogos neo-ortodoxos – por sua influência e contribuição
para o cenário teológico contemporâneo, mas a apreciação dessas obras deve
ser feita com cautela e com espírito crítico.
No mesmo ano em que Karl Barth publicou seu comentário aos Romanos,
apareceram mais dois livros acerca de temas neotestamentários que
anunciavam uma nova mudança nos estudos críticos. O livro Die
Formgeschichte des Erxrngeliums, de Martin Dibelius (1883-1947), foi o
responsável por popularizar o jargão teológico crítica formal. Outro livro, Der
Ráhmen der Geschichte Jesus (1919), de Karl L. Schimidt, pretendia ser o
golpe de misericórdia dos liberais contra a confiabilidade do Evangelho de
Marcos. Porém, mais que a estes dois nomes, a coluna vertebral dessa nova
mudança estaria associada a um outro nome: Rudolf Bultmann. O livro de
Bultmann que revolucionou a história dos estudos da Bíblia foi History of the
Synoptic Tradition (História da tradição dos Sinóticos), escrito em 1921. A
influência de Bultmann no campo da crítica sobrepujou a de Dibelius.
O método crítico de Bultmann é de fato, importante. Até mesmo os seus
críticos, tais como Oscar Cullmann e Joachim Jeremias, ao refutar as
conclusões de Bultmann, usam uma adaptação do seu método crítico. Aos
poucos, Inglaterra e Estados Unidos, bem como outros países com tradição no
estudo da teologia, ainda que receosos quanto à nova matéria que estava
associada principalmente ao nome de Bultmann, acolheram vários
pressupostos da crítica formal.
O labor do crítico formal é mostrar que a mensagem de Jesus, tal como temos
nos sinóticos, é em grande parte espúria, tendo sofrido acréscimos por parte da
comunidade cristã primitiva. Com respeito à confiabilidade da Bíblia, Bultmann
vai mais além, e afirma que a Bíblia não é a Palavra inspirada de Deus em
nenhum sentido objetivo. Para ele, a Bíblia é o produto de antigas influências
históricas e religiosas, e deve ser avaliada como qualquer outra obra literária
religiosa antiga.
A crítica formal também nos recorda o caráter ocasional dos Evangelhos. Cada
um deles foi escrito com uma idéia, em uma ocasião histórica específica, como
por exemplo, Mateus para os judeus, e Marcos e Lucas para os gentios. Como
tais, expressam em primeiro lugar uma preocupação vital com a problemática
da época. E por último, a crítica formal nos lembra que os Evangelhos não se
interessavam grandemente por detalhes geográficos e cronológicos, como a
comunidade cristã ortodoxa havia pensado e praticado anteriormente.
A crítica formal parece esquecer que o lapso de tempo entre os fatos históricos
e os documentos escritos é mínimo. Quando Bultmann e outros críticos da
Bíblia dizem que a narrativa evangélica está repleta de fábulas que se
acumularam durante o período entre a tradição oral e a palavra escrita, eles
esquecem que o intervalo entre os fatos acontecidos e o registro desses fatos é
muito pequeno. O primeiro relato documental foi feito por Marcos e as
evidências demonstram que ele foi escrito cerca de vinte e cinco anos após os
eventos por ele narrados. O problema em dizer que o NT está repleto de
material lendário é que vinte e cinco anos é muito pouco tempo para se formar
uma lenda. Quando as primeiras versões evangélicas começaram a circular,
muitas das testemunhas oculares estavam vivas e poderiam facilmente
desmascarar os escritores, caso estes fossem impostores e estivessem
inserindo mitos na narrativa. O que ocorre, porém, é justamente o contrário: os
Evangelhos foram recebidos com muita alegria e divulgados pelas igrejas.
Esta inserção mítica, segundo Bultmann, também foi utilizada para transformar
Jesus. A pessoa histórica de Jesus, segundo esse professor, se converteu
rapidamente em um mito do cristianismo primitivo, e é por isso que Bultmann
argumenta que o conhecimento histórico de Jesus não tem valor para a fé
cristã primitiva, pois o quadro apresentado pelo Novo Testamento é de índole
essencialmente mítica. Os fatos históricos acerca de Jesus se transformaram
em uma história mítica de um ser divino e preexistente que se encarnou e
expiou com seu sangue os pecados de todos os homens, ressuscitando
também dentre os mortos e subindo ao céu e, segundo se cria, regressaria
rapidamente para julgar o mundo e iniciar uma nova era. Esta história também
foi embelecida com histórias milagrosas, vozes celestes e triunfos sobre
demônios. Bultmann afirma que toda essa apresentação que o Novo
Testamento faz de Jesus não passa de mito., isto é, do reflexo do pensamento
pré-científico das pessoas do século primeiro, que criaram esses mitos para
entenderem melhor a si mesmos. Esses mitos, segundo ele, não tem nenhuma
validade para o homem do século vinte, que acredita em hospitais, e não em
milagres; em penicilina, e não em orações. Para transmitir com eficácia o
evangelho ao homem moderno, devemos despojar o Novo Testamento dos
mitos e encontra o Evangelho por trás dos Evangelhos. É este processo de
descobrimento que Bultmann chama de desmitologização.
Nesse sentido, os termos conhecidos como pecado, carne, temor e morte são
apenas explicações míticas da vida fora da fé. Em termos existenciais, pode-se
dizer que significam uma vida escrava das realidades tangíveis, visíveis e que
perecem.
A vida de fé.
Parte do mundo teológico do século vinte gira em torno de uma palavra alemã,
Heilsgeschichte, que pode ser traduzida para a língua portuguesa como história
da salvação. A palavra ganhou um significado mais pleno dentro da teologia
ocidental contemporânea após os escritos do teólogo suíço, perito no Novo
Testamento, o Dr. Oscar Cullmann. Ainda que o significado e origem de
heilsgeschichte remonta aos teólogos alemães do século dezenove, como
J.C.K. von Hofmann e Adolf Schlater, o Dr. Cullmann é a pessoa que
popularizou o termo no século vinte.
A Heilsgeschichte (daqui por diante nos referiremos a ela apenas por história
da salvação), como escola de interpretação teológica insiste principalmente na
história e na revelação de Deus na história. O tempo, para Cullmann, é algo no
qual Deus atua para realizar a salvação do homem em Cristo. A revelação e a
redenção divina estão baseadas em realidades históricas bem objetivas, e não
em mitos levantados pela igreja, como afirma Bultmann, porém, ao enfatizar a
história como veículo da revelação, Cullmann consequentemente está privando
a Escritura de ser o dado básico da religião cristã. O dado básico passa a ser a
história santa e a Escritura passa a ser apenas uma constante desse dado
definitivo, e não uma realidade em si mesma. Como afirmou George Ernest
Wright, perito em Antigo Testamento da mesma escola, “a revelação se dá em
fatos históricos, não em palavras. Devemos entender o Novo Testamenticomo
testemunho dos atos reveladores de Deus”.
Apesar da crítica que Cullmann faz do uso da crítica formal por parte de
Bultmann, em última análise, o uso que ele mesmo faz do criticismo faz
distinção entre a Bíblia e a palavra de Deus. Cullmann chama o relato Bíblico
da criação e a segunda vinda de mitos, o que mostra que ele não está
totalmente disposto a admitir a realidade da revelação como verdade infalível
contida na Escritura.
Com raízes que penetram os princípios éticos de homens como Karl Barth,
Rudolf Bultmann e Paul Tillich, com princípios teológicos mais existencialistas
que puritanos, mais neo-ortodoxos do que propriamente ortodoxos, o
movimento chamou a atenção da opinião publica em 1966, quando o Dr.
Joseph Fletcher, professor de ética social no Seminário Episcopal de
Cambridge, Massachusetts, publicou o livro Situation Ethics. O livro de
Robinson, Honest to God, também ajudou a propagar as idéias do movimento.
Ainda quanto ao futuro, Moltmann diz que o homem não deve olhá-lo
passivamente; ele deve participar ativamente na sociedade. A tarefa da igreja é
não é apenas se informar sobre o passado para mudar o futuro. É também
“pregar o Evangelho de tal forma que o futuro se apodere do indivíduo e lhe
impulsione a agir de modo concreto para mudar o seu próprio futuro. O
presente em si mesmo não é importante. O importante é que o futuro se
apodere da pessoa no presente”.
O principal propósito da igreja é ser o instrumento por meio do qual Deus trará
a “reconciliação universal e social”. A participação da igreja na sociedade
poderá utilizar a revolução como meio apropriado, mesmo que ela não seja
necessariamente o único meio. Neste avançar para o futuro, o problema da
violência versus não-violência recebe o nome de “problema ilusório”. A questão
não é a violência em si, e sim se o uso da violência foi justificado ou
injustificado. Essa tendência pragmática em que os fins justificam os meios é
uma tendência muito forte dentro da Teologia da Esperança.
Assim como na “Teologia Secular”, aqui também pode ser vista uma profunda
consciência para com o mundo. A idéia de Moltmann de considerar a Bíblia
desde o começo como um livro escatológico pode parecer um atrativo para o
cristão ortodoxo. Realmente um assunto tão importante quanto a escatologia
não deveria ocupar as últimas páginas em nossos livros de teologia
sistemática. Porém, qualquer conservador certamente saberá reconhecer os
erros patentes de Moltmann, bem como os horrores que traria a sua visão
ética.
Ainda que Moltmann revista sua escatologia de conceitos bíblicos, seu sistema
está mais fundamentado no marxismo do que em Cristo. O primeiro livro de
Moltmann, “Teologia da Esperança” nasceu de um dialogo com o ateu alemão
Ernst Bloch, e quando lemos o seu segundo livro, vemos que nesse
intercâmbio, Moltmann assimilou muitas idéias de Bloch.
A teologia de Moltmann tem maior dívida com Nietzche, com Overback e com
Feurbach do que com Paulo, Pedro ou João. Ela é mais marxista que bíblica, e
mais filosófica que teológica. Em seu afã de refutar as teologias não-ortoxas do
seu tempo, Moltmann ultrapassou o limite do bom senso e acabou por propor
uma teologia quase tão nociva quanto aquela a que ele se dedicou a refutar.
Essa teologia do Deus finito e temporal, e que ainda incita a rebeldia e a
revolução, não pode ser teologia bíblica. Ela é antes, um tropeço, um
escândalo e uma nociva ameaça à sã doutrina.
Os críticos de também parecem indicar que, sobre esta base, Pannenberg não
pôde explicar de modo satisfatório a razão da incredulidade. Se a fé está
baseada exclusivamente no conhecimento da história e esta é o seu único
fundamento, Porque foi que quando Paulo pregou em Atenas uns creram e
outros zombaram?
Embora ele tenha sido um teólogo católico, alguns dos seus comentaristas
mais apaixonados são cientistas e teólogos protestantes. Sua influência pode
ser percebida até mesmo nos países que compõem o nosso terceiro mundo.
Francisco Bravo, estudioso equatoriano, publicou uma obra meticulosa sobre
Teilhard. Suas idéias lograram arrancar elogios até mesmo de Dom Hélder
Câmara, arcebispo do Recife.
A teologia de Chardin não permite que a graça seja graça, e nem permite que o
pecado seja pecado. A proclamação da evolução constante por parte de
Chardin nunca se vê alterada pela realidade bíblica do pecado no homem. Por
essa mesma razão, a doutrina bíblica do juízo quase não se vê na obra de
Teilhard. O mal, para ele, é uma superabundância da estrutura de um mundo
em evolução, que se manifesta em planos diferentes, através da desordem
material, morte, solidão e angústia.
A ideia de Teilhard de união do universo com Cristo, sendo que o universo
representa o corpo orgânico de Cristo ainda em evolução, apresenta dois
grandes inconvenientes: Primeiro, tal união tem como consequência lógica a
deificação da criação (panteísmo). Em segundo lugar, a cristologia de Chardin
transforma o Cristo da Bíblia em um Cristo cósmico. Em última análise, o
resultado de tal união é a perda tanto do mundo, como de Cristo.
De origem norte-americana, essa nova escola teológica tem como seu maior
expositor o professor Dr. Charles Hartshorne, da Universidade de Chicago. A
teologia do processo como escola teológica é uma tentativa de restabelecer a
doutrina de Deus em um mundo extremamente cético. Assim como as outras
teologias radicais surgidas no século vinte, a teologia do processo também
toma por empréstimo alguns pressupostos de uma vertente filosófica
contemporânea, a saber, a filosofia do processo, elaborada pelo famoso
matemático e filósofo, Alfred North Whitehead (1861-1947), que por sua vez,
elaborou sua filosofia em torno de algumas idéias de Charles Darwin.
Ao negar o conhecimento que Deus possa ter de fatos ainda não ocorridos, a
teologia do processo põe em risco a credibilidade das Escrituras, pois se Deus
não tem nenhum conhecimento dos fatos ainda não ocorridos, como pode fazer
predições sobre o futuro? A conseqüência lógica do seu sistema é que não
pode haver predição ‘cem por cento’ segura na Bíblia, pois parece altamente
improvável que um ser que não tenha presciência plena dos contingentes
futuros saiba o que acontecerá. A Bíblia na afirma categoricamente: “Deus não
é homem para que minta”, mas se Deus é ignorante em relação a grandes
períodos da história futura, de que maneira qualquer uma das profecias
preditivas das Escrituras poderia ser qualquer coisa além de probabilidades?
A teologia do processo aniquila a fé que o crente tem em Deus, e não somente
isso mas também retira o próprio Deus Soberano do cenário e introduz em seu
lugar uma divindade caricata, impotente, penteísta e consequentemente, finita.
Apesar de não ter formado uma escola específica, é provável que somente
Rudolf Bultmann tenha exercido uma influencia igual no cenário teológico
mundial. Sua profunda erudição e seus conhecimentos de história, filosofia,
psicologia, arte e análise política, além de sua especialidade, a teologia, lhe
renderam o título de “teólogo dos teólogos”, apelido pelo qual é conhecido hoje
nos círculos acadêmicos.
Este Ser (com maiúscula), paradoxalmente não é nem uma coisa nem um ser.
Ele esta além do ser ou das coisas. Deus não é apenas o Ser, mas também o
poder de Ser por si mesmo, e isso foge a nossa compreensão. Não podemos
compará-lo a nada a fim de defini-lo, pois mesmo que o considerássemos
como o ser mais elevado, o estaríamos reduzindo a um objeto e uma criatura.
Por isso, para Tillich, afirmar a existência de Deus é tão ateu quanto negá-la,
isso porque o Ser transcende à existência. Ele é a resposta simbólica do
homem para a sua busca de bravura para superar as situações que o limitam,
tais como o ser e o não-ser que tanto o angustiam.
Quando nos deparamos pela primeira vez com a obra de Paul Tillich, temos a
impressão de estar diante de um incrível tratado teológico produzido por uma
mente enciclopédica, precisa, sutil e tremendamente criativa. No entanto, sua
teologia não é especificamente cristã, e sim uma “tradução” da linguagem
teológica em termos teosóficos e ontológicos. As vezes essa tradução nos
ajuda a ver as coisas sob uma luz mais clara e profunda, porém na maioria das
vezes, sua tradução faz violência tanto ao Espírito quanto à letra que ele
traduz.
Há várias objeções que se pode fazer à teologia de Tillich, entre elas a sua
rejeição da Bíblia como palavra de Deus. Seguindo os moldes neo-ortodoxos e
liberais, ele argumenta que a Bíblia, interpretada da maneira tradicional, não é
aplicável aos problemas da nossa época. Por esta causa, Tillich utiliza a
filosofia para analisar os problemas mais profundos da existência do homem
contemporâneo. No entanto, a maior falta dele não foi substituir a teologia pela
filosofia. Como escreveu o crítico Kenneth Hamilton, “sua maior falha foi
substituir a Palavra de Deus pela palavra do homem”.
Sua cristologia também é uma fraude. Tillich reduz Jesus a um mero símbolo, o
que faz dele um absoluto nada. Essa teologia diluída poderia ser bastante
aceitável para um budista ou um hindu. Religiosos de ambos os grupos
certamente abraçariam com alegria seus pressupostos, exceto pela sua
afirmação de que só ele foi e é o Cristo. A soteriologia de Tillich não tem
significado concreto, exceto como um símbolo a mais para descrever uma
situação existencial que não tem relação com o Deus Vivo.
Até aqui a nossa abordagem tem sido principalmente teórica, passando pelas
principais escolas teológicas da era contemporânea. Temos analisado as
doutrinas dessas escolas e em nenhum momento fugimos da responsabilidade
de apresentar o nosso parecer. A análise que fazemos dessas propostas
teológicas encontra seus pressupostos na ortodoxia bíblica, conforme já foi dito
no capítulo primeiro. Apesar da relevância dos problemas até aqui levantados,
a influência dessas escolas teológicas na nossa teologia e em nossas
denominações é pequena, ou quase nula. Muitos dos programas teológicos até
aqui apresentados foram postos em caráter de informação, e talvez o leitor
nunca se depare com os problemas aqui levantados, salvo nas esferas
seculares, onde o liberalismo teológico e o naturalismo têm estado ativo e
presente. Nas comunidades eclesiásticas brasileiras, quase não vemos
influência desses movimentos, a não ser um ou outro incidente recente de
pastores que abraçaram a teologia relacional, apresentada por nós no capítulo
dez sob o título de “teologia do processo”. Porém, à partir desse capítulo,
abordaremos três correntes teológicas cuja presença é marcante no Brasil, e
cujos pressupostos tem de alguma maneira modelado a forma de fazer teologia
no Brasil. A primeira dessas três escolas, de origem netamente Latina, é a
Teologia da Libertação.
Sob a palavra “libertação”, não está subentendida a obra de Cristo por nós, e
sim os ideais do marxismo. A palavra, dentro desse movimento teológico
significa:
Libertação social para melhores condições de vida, uma mudança radical nas
estrutura, resultante da criação contínua de uma nova maneira de ser e de uma
revolução permanente.
Embora Hugo Assman e Dom Hélder Câmara sejam dos nomes que
representam o pensamento da teologia da libertação no Brasil, atualmente é o
Dr. Leonardo Boff que está no centro do debate sobre a teologia da libertação.
Como membro do conselho editorial da Editora Vozes entre 1970 e 1985, Boff
participou da coordenação e publicação da coleção “Teologia da Libertação”.
Em 1984, em razão de suas teses ligadas à teologia da libertação,
apresentadas no livro “Igreja: Carisma e Poder”, foi submetido a um processo
no Vaticano. Em 1985, foi interrogado pelo cardeal Joseph Ratzinger (o atual
papa Bento XVI), então prefeito da Congregação da Doutrina e da Fé, órgão
herdeiro da Inquisição, e condenado a um ano de “silêncio obsequioso”, sendo
também deposto de todas as suas funções editoriais e de magistério no campo
religioso. Dada a pressão mundial sobre o Vaticano, a pena foi suspensa em
1986, podendo retomar algumas de suas atividades.
Outros três livros que proporcionaram as bases sobre a qual foi construído o
movimento pentecostal foram Guia para a Santidade e A Promessa do Pai, da
irmã Phoebe Palmer, uma das principais líderes metodistas, e Tongue of Fire
(Língua de Fogo), de William Arthur. Aos que procuravam receber a segunda
obra de graça, era ensinado que cada cristão precisa esperar pela promessa
do batismo no Espírito Santo, fazendo uma interpretação pessoal de Lc 24.49.
c) São dispensacionalistas.
Isso, porém, não significa que não haja pentecostais sérios e ortodoxos. Há
muitos que ainda prezam pela pregação bíblica e que mantém o perfeito
equilíbrio entre a unção, a erudição e o conhecimento teológico. Conhecemos
muitos assim, e enquanto existirem esses, creio que o movimento contará com
certa credibilidade. No entanto, o atual quadro do pentecostalismo, sobretudo
no cenário nacional, faz-nos pensar na necessidade e porque não dizer,
urgência de uma nova reforma religiosa dentro do próprio movimento: uma
nova restauração da fé apostólica.
Muitos excessos têm sido cometidos desde então, mas isso não desqualifica o
movimento. Na verdade, esses excessos ocorrem bem na fronteira de dois
movimentos contemporâneos com muita força em nosso país: o
pentecostalismo e o neo-pentecostalismo. Apesar da semelhança semântica,
quero ressaltar que a dissimile é maior que qualquer afinidade que estes dois
nomes possam sugerir.
A marca registrada das igrejas neopentecostais no Brasil tem sido a ávidez por
dinheiro. Escandalos envolvendo o Bispo da IURD, Edir Macedo e
recentemente com o bispo Estevão Hernandes e com a ua esposa, a também
bispa Sônia Hernandes, da igreja Renascer, têm se tornado corriqueiros. Não é
nossa intenção inquerir até que ponto a arrecadação feita nas denominações é
lícita. Apenas queremos chmar a atenção para algo que se tornou o principal
enfoque do neopentecostalismo: a teologia da prosperidade.
John Ankerberg e John Weldon nos ajudam a interpretar o texto de Isaías 53:4-
5 com o seguinte comentário: “No hebraico a palavra “sarar” (em hebraico,
rapha), pode-se referir à cura física ou à cura espiritual. O contexto deve
determinar se um dos sentidos ou ambos são empregados. Por exemplo, em 1
Pedro 2:24, Pedro se refere à cura espiritual (citando a Septuaginta), e em
Mateus 8:17, Mateus se refere à cura física (citando o texto hebraico
massorético). Segundo Paulo Romeiro, do ICP (Instituto Cristão de Pesquisas),
“não podemos esquecer também que, quando Jesus curou a sogra de Pedro
(Mateus 8:14-17), a expiação de Cristo ainda não havia acontecido. Portanto,
usar esta passagem para dizer que a cura divina, total e perfeita, está garantida
na expiação com base em Isaías 53:4, 5 é forçar o texto e não reflete uma boa
exegese”. Ele também afirma que dizer que a enfermidade é conseqüência da
falta de fé ou pecado na vida do crente constitui-se numa falácia bíblica. “Basta
examinar as Escrituras para notarmos que verdadeiros servos de Deus
passaram privações e dificuldades em suas trajetórias a serviço do Senhor”.
Para ratificar sua asserção, ele menciona o profeta Eliseu, que apesar de ter
sido um grande profeta de Deus e de ter tido um ministério marcado por muitos
feitos sobrenaturais, morreu em conseqüência de sua enfermidade. Será que
ele não tinha fé ou estava em pecado? Muito pelo contrário, pois a Bíblia diz
que um soldado morto, após ser colocado na sepultura de Eliseu, tocou em
seus ossos e ressuscitou (2 Reis 13:14-21). Um outro exemplo citado por ele é
o de Jó. Seu sofrimento não foi causado por confissões pessimistas, pecados
ocultos ou falta de fé, nem tampouco foi o diabo quem decidiu provar Jó. A
iniciativa partiu de Deus.
Muitos pregadores da confissão positiva declaram que toda enfermidade
procede do diabo. O pastor Jorge Tadeu, líder das igrejas Maná, em Portugal,
afirma que “Deus só pode dar o que Ele tem. Para Deus lhe dar uma doença
teria que pedi-la emprestada ao diabo, o que é uma idéia absurda”, mas o
ensino de Jorge Tadeu é contrário ao que diz a Bíblia. Por acaso Deus teve
que tomar a lepra emprestada do diabo para colocá-la em Miriã? A lepra de
Miriã foi provocada por Deus (cf. Números 12:10).
Segundo Michael Horton, não existe nenhuma grande diferença entre estes
dois vocábulos, que seriam como os sinônimos “enorme” e “imenso” no
português. Ele declara que “os ensinadores da fé inventavam uma falsa
distinção de significado entre essas duas palavras gregas. Rhema, dizem eles,
é a “palavra’” que os crentes usam para “decretar” ou “declarar” a fim de trazer
prosperidade ou cura para esta dimensão”. Em uma linguagem mais coloquial,
o vocábulo rhema é o “abracadabra” que os neopentecostais pronunciam para
materializar o objeto desejado. Depois vem logos, ou “a palavra de revelação”
que é a palavra mística, direta, que Deus fala aos iniciados. O termo pode-se
referir também à Bíblia, mas é geralmente empregado no contexto de sonhos,
visões e comunicações particulares entre Deus e seu “agente”. Dessa forma,
podemos perceber no movimento neopentecostal duas fontes de autoridade:
uma objetiva – a Bíblia, e outra subjetiva, a revelação ou palavra da fé. Assim,
quando alguém lê uma referência na literatura do pregador da fé à “Palavra de
Deus”, ou “agir sobre a Palavra” e outras, o autor pode não está mais se
referindo à Palavra de Deus escrita, a Bíblia, mas ao seu próprio “decreto”
(rhema) ou uma palavra pessoal de Deus para ele (logos).
Em seu afã de apresentar uma teologia que pudesse se adequar aos padrões
mundanos e às crenças seculares, muitos teólogos do século vinte perderam
completamente o senso de direção. Como homens loucos, eles corriam
desesperados em busca de uma associação que pudesse “salvar” à teologia. A
Bíblia cada vez mais parecia um livro ultrapassado e cada vez mais os teólogos
procuravam muletas seculares para amparar à Bíblia. Vemos isso na teologia
do padre católico Teilhard Chardin. Esse teólogo católico teve a mente tão
doutrinada pelas teorias evolucionistas que chegou a apresentar o próprio
Deus, aquele que a Bíblia descreve como imutável, como um Ser em evolução.
Não é preciso dizer que ele teve que fazer um esforço hercúleo e muita
eisegese para conciliar o criacionismo bíblico e o evolucionismo, duas teorias
totalmente opostas uma à outra.
Reservamos os dois últimos capítulos para abordar dois movimentos que estão
em acelerado crescimento em nosso país, à saber, o pentecostalismo e o
neopentecostalismo. Nascido na Califórnia, o moderno movimento pentecostal
teve como principal pregador o pastor William Seymour, e o principal teólogo e
sistematizador das doutrinas pentecostais foi Charles Parham. Não foi apenas
a importância dessas duas teologias no cenário brasileiro que lhe renderam um
lugar especial neste trabalho, mas também a dissociação dessas dois
movimentos das demais escolas contemporâneas de intrepretação teológica. O
pentecostalismo, como já vimos, encontra suas raízes no Movimento de
Santidade e tem em John Wesley seu principal antecessor. Trata-se de uma
tentativa de voltar à fé cristã primitiva, de tal forma que o movimento foi
chamado em seus primórdios de Restauração da Fé Apostólica. Muitos
excessos foram cometidos nessa tentativa de retorno ao modo de culto
primitivo, mas isso não desqualifica o movimento como um todo. De modo
geral, podemos perceber no pentecostalismo certo frescor. Ele surge como
chuva serôdia em meio ao árido cenário teológico do século vinte e mantém-se
na contramão de Bultmann, Barth, Tillich e dos demais teólogos de influência
no século vinte. Hoje, mais de um século depois, olhamos ao nosso redor e
indagamos pelas igrejas liberais e neo-ortodoxas. Como disse o Rev.
Hernandes Dias Lopes em palestra no congresso Vida Nova de Teologia, “as
igrejas liberais nasceram fadadas ao fracasso”. É simplesmente impossível
encontrar uma só igreja liberal com membresia superior a cem membros. As
igrejas pentecostais, ao contrário, vivem abarrotadas e há constante
necessidade de se construir novos templos.
A terceira conclusão é que embora seja muito difícil escapar do nosso invólucro
cultural, não devemos sujeitar a nossa teologia às novas tendências, correntes
filosóficas e modismos pós-modernistas, à fim de agradar as mentes
contemporâneas. Essa tentativa foi feita no século passado por neo-ortodoxos
e liberais, e fracassou. No entanto, aquelas igrejas que permaneceram fiéis à
tradição reformada e ao cristianismo histórico, permanecem até hoje. A razão
disso é que o homem não está simplesmente buscando uma doutrina para
concordar; ele está em busca de uma fé para viver. A necessidade do homem
ainda é a salvação. É por isso que um evangelho sem cruz, sem salvação,
ressurreição ou imposições morais, ainda que pareça agradável aos ouvidos no
início, logo será abandonado: Ele fatalmente fracassa por não pode satisfazer
às exigências da alma humana.
Diante de tudo o que temos exposto, ainda permanece uma pergunta: Até que
ponto nós somos ortodoxos? Muitos teólogos do século passado se perderam
nas idéias do seu tempo de tal forma que as suas abordagens dificilmente
podem ser consideradas cristãs. E a nossa teologia? Ela ainda pode ser
considerada cristã? Ora, hoje estamos analisando a teologia do século vinte,
mas amanhã serão analisados os pressupostos teológicos do século vinte e
um. O que dirão da nossa teologia? Ou será que nós não temos pressupostos?
Sim, os temos. E na verdade, nós analisamos e julgamos a teologia
contemporânea à luz das nossas pressuposições, isso porque, como bem
afirmou o controverso Rudolf Bultmann, “é impossível exegese sem
pressupostos”. Portanto, nesse início de século, faz-se necessária a avaliação
dos nossos paradigmas e não apenas a simples adequação dos mesmos à
interpretação bíblica. Precisamos olhar para os erros do passado e com muita
cautela construir a teologia do futuro. Devemos nos esforçar ao máximo para
fazer da Bíblia o nosso pressuposto básico, se quisermos construir um edifício
teológico bem alicerçado para o futuro.
Meras repetições
Em suas canções
Deus já me deu sua palavra e é por ela que ainda guio o meu viver!
É proibido pensar.
Bibliografia consultada
ALMEIDA, Abraão de. Teologia Contemporânea – Rio de Janeiro: CPAD
BARTH, Karl. Comentário aos Romanos. São Paulo: Novo Século, 2000.
[…] Também foram utilizadas várias resenhas dos livros de Barth, Brunner,
Bultmann, John Robinson, Paul Tillich, Teilhard Chardin, Leonardo Boff, entre
outros, bem como artigos compilados da internet.