Desemparedamento Da Infância
Desemparedamento Da Infância
Desemparedamento Da Infância
Brigitta Blinker
Casa Redonda Centro de Estudos
Children & Nature Network
EMEI Dona Leopoldina
Escola Ágora
Escola Amigos do Verde
Escola da Toca
Escola Rural Dendê da Serra
Escola Santi
Fundação Patio Vivo
Grupo Ambiente-Educação - PROARQ/FAU/UFRJ
International School Grounds Alliance
Lea Tiriba
Maria Farinha Filmes
Matluba Kahn
Projeto Rede - Escola Municipal de Educação Infantil
e de Ensino Fundamental Dulce de Faria Martins Migliorini
Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo
Te-arte Criatividade Infantil
Escola Vila Verde
Prefácio cem horas a fio confinadas nas escolas, lugar obrigatoriamente fre-
quentado por todas as crianças brasileiras a partir dos quatro anos
de idade.
Apresentação.............................................................................................. 10
Movimentos.................................................................................................14
Espaço e tempo para a infância.................................................................... 14
Educação integral, territórios educativos
e bem-estar da comunidade..........................................................................26
Bases legais no Brasil.......................................................................................33
Inspirações..................................................................................................88
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APRESENTAÇÃO
Em 2015, conhecemos a beleza da surpreendente trajetória de oito vimento em sua relação com as experiências da educação integral,
anos da Educação Infantil de Novo Hamburgo, RS, que em um cami- que compreende o sujeito em todas as suas dimensões e amplia as
nho de reflexão e estudo sobre a prática, percebeu a importância de oportunidades de socialização e desenvolvimento. Também fizemos
desemparedar as crianças e ressignificar o pátio escolar. uma revisão das bases legais que subsidiam a presença da natureza
nas práticas pedagógicas e no espaço escolar.
Num mundo onde a educação, sobretudo escolar, continua em gran-
de medida pautada pelo paradigma do desenvolvimento cognitivo, E, por fim, inspirados na publicação Construindo um Movimento
essa Rede Municipal de Educação Infantil, composta por 33 escolas Nacional por Espaços Escolares Verdes em Todas as Comunidades1,
e uma equipe de profissionais engajados, trabalhou em parceria com lançada pela Children & Nature Network em 2016, apresentamos al-
os pais, a comunidade e as crianças na construção de uma proposta gumas ideias e pesquisas sobre os benefícios do brincar livre e do
alicerçada na concepção de uma criança ativa, potente, produtora aprendizado em ambientes naturais no contexto escolar.
de cultura, que necessita e tem a possibilidade de viver em contato
diário com a natureza. Nosso desejo de divulgar essas boas notícias e práticas foi a principal
motivação desta publicação, cuja intenção é sistematizar e descrever
Depois de Novo Hamburgo, conhecemos muitas histórias e relatos alguns caminhos que, em geral, fazem parte do processo de desem-
de experiências pedagógicas valiosas, no Brasil e em outros países, paredamento e ressignificação dos espaços escolares. Apesar de sa-
no universo das escolas privadas e públicas, que incluem o brincar bermos que cada escola ou rede de ensino, a partir de sua realidade,
livre e o aprendizado com a - e na - natureza como prioridade. Ape- constrói a própria história, consideramos que esses caminhos são
sar de muitas vezes essas escolas serem vistas como lugares privi- essenciais, já que podem contribuir para formarmos uma rede muito
legiados por seus espaços, recursos ou equipes, elas mostram ser potente de experiências exitosas de ressignificação e requalificação
possível, mesmo com poucos meios e em condições precárias, ou- dos espaços escolares e não-escolares, a partir da desregulação de
sar tirar bebês, crianças e jovens de dentro das salas para o grande sua natureza emparedada.
mundo que há lá fora.
Esse é o nosso convite para embarcarmos juntos no movimento
Embora o foco da publicação sejam os espaços escolares, iremos mundial que advoga por espaços mais amplos, mais verdes, mais na-
também considerar os espaços externos às escolas, uma vez que se turais, e tempo e liberdade para usufruí-los na vida escolar de todas
influenciam mutuamente, configurando o território vivido de quem as crianças, de todas as idades.
os frequenta. A esse conjunto dentro-e-fora chamaremos territórios
educativos*. Simultaneamente, escolhemos contextualizar esse mo-
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Panorama da Escola Ágora de Ensino Fundamental, em Cotia (SP),
onde muitas atividades são desenvolvidas ao ar livre.
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MOVIMENTOS
Os sintomas e efeitos dessa desconexão compõem um problema cando a entender o que está adoecendo e tornando as crianças
sistêmico que está levando a profundos impactos em todas as nervosas, agitadas, infelizes e com dificuldades de aprendizagem
gerações, especialmente crianças e idosos, afetando a qualidade e convivência na escola. Um conjunto consistente de evidências
de vida em todos os territórios. Os fatores responsáveis por esse científicas, em sua maior parte geradas fora do Brasil, sugere que
cenário, como saúde, planejamento urbano, mobilidade, uso de um dos fatores seja o distanciamento entre as crianças e a na-
eletrônicos, desenvolvimento econômico e social, violência, tureza1,2. Isso porque ambientes ricos em natureza, incluindo as
conservação da natureza e educação, são complexos e estão in- escolas com pátios e áreas verdes, as praças e parques e os espa-
ter-relacionados. Esse cenário, no entanto, varia de intensidade ços livres e abertos para o brincar, ajudam na promoção da saúde
dependendo da classe social e da realidade específica de cada física e mental e no desenvolvimento de habilidades cognitivas,
um, e seus impactos são mais agudos e presentes nas cidades sociais, motoras e emocionais.
e bairros densamente habitados e de alta vulnerabilidade so-
cial, onde as condições para uma infância saudável e plena estão
muito ameaçadas.
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MOVIMENTOS
Os sinais dados pelas crianças em sua relação com ambientes na- as rotinas e o tempo escolar, reconhecendo no valor do brincar e
turais demonstram a capacidade que esses espaços têm de acolher do aprender com a - e na - natureza um dos elementos centrais de
tanto sua pulsão expansiva, de movimento ou interação, quanto uma educação vinculada com a própria vida.
sua necessidade de introspecção e solidão, e apontam para a ne-
cessidade de mudanças em diversos campos como saúde, família, O Grupo Ambiente-Educação (GAE), ligado ao Programa de Pós-
educação e urbanismo. -Graduação em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urba-
nismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PROARQ/FAU/
Acreditamos que uma das peças desse complexo panorama que UFRJ), defende a ideia de que os pátios escolares sejam pensados
precisa mudar são os espaços educativos escolares e urbanos e a como elementos do sistema de espaços livres das cidades8. Enten-
forma como a criança e todos nós os habitamos. Assim, nos reuni- de-se que espaços livres urbanos são os vazios urbanos ou as áreas
mos a um movimento mundial que procura dar luz à importância da livres de edificações: quintais, jardins privados ou públicos, praças,
naturalização dos espaços escolares e à ressignificação do seu uso. parques, ruas, avenidas, rios, florestas, mangues, praias ou sim-
plesmente vazios urbanos9.
Segundo a arquiteta Mayumi Souza Lima,“a escola é o único espaço
que as cidades oferecem universalmente como possibilidade de re- “A complexidade e a diversidade de funções e categorias do sistema de
conquista dos espaços públicos e populares – domínio das ativida- espaços livres urbanos justificam o interesse em entender o papel e a
des lúdicas – que as crianças e jovens perderam na cidade capita- importância dos pátios escolares como ambientes de lazer e socializa-
lista e industrial” 6. Para muitas famílias com dificuldade de prover ção - absorvendo funções antes atribuídas às praças de vizinhança - e
o que consideram essencial, a escola torna-se uma aliada, sendo como protagonistas o processo educativo - o que implica reconhecer a
o único lugar onde, bem ou mal, as crianças terão experiências influência do entorno e de suas características socioespaciais” 10.
típicas da infância. Em muitos casos, elas passam dez horas por
dia no ambiente escolar. E, assim, os pátios escolares vêm resistindo como lugares de so-
cialização, de troca, de convívio, bem como de experimentação e
Algumas pesquisas7,32,33,40 nos dão pistas de que as crianças têm exploração, sendo redutos da circulação de saberes, hábitos, cos-
pouco contato com a natureza nesses espaços. A razão mais apa- tumes, rituais e brincadeiras que fazem parte da cultura da infân-
rente é o fato de parte das escolas não possuir ambientes naturais cia e que têm sido transmitidas entre pares por gerações. “Se para
ou espaços que potencializem o brincar e o aprender ao ar livre. os educadores o lócus central do processo educativo é a sala de aula,
De fato, é notável que em alguns casos os pátios escolares sofrem para os estudantes é o pátio. Pois é lá que eles praticam e atualizam
com a supressão dos seus espaços, seja por serem considerados de o motivo principal que os faz estarem ali, na escola: o encontro com
pouca importância em termos pedagógicos, ou pelo aumento da o outro, com os outros” 10.
demanda por vagas e outras infraestruturas. Porém, uma análise
mais profunda do processo educacional aponta a necessidade de Brincar na areia, participar de piqueniques à sombra das árvores,
refletirmos e requalificarmos também as práticas, a organização, pendurar-se nelas, encantar-se com o canto dos pássaros ou com
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MOVIMENTOS
a beleza das flores, tomar banho de chuva, cultivar uma horta, Essas experiências do passado e tantas outras que estão aconte-
criar uma escultura a partir de um galho e descobrir como a vida cendo agora, algumas das quais apresentadas no Capítulo 4, “Ins-
se desenvolve são experiências importantes que colocam a crian- pirações”, e muitas outras sistematizadas na plataforma A Criança
ça frente à beleza e ao mistério da vida. Simultaneamente, a quali- e o Espaço13, nos mostram que com criatividade, coragem, políticas
dade sistêmica da natureza oferece à criança a noção de comple- públicas que incentivem e regulamentem inovações e a participa-
xidade e interdependência, valores fundamentais para pensar sua ção de todos, poderemos superar as dificuldades e desempare-
ação no mundo e as próprias relações sociais, incluindo reflexões dar as infâncias, conforme nos inspira Lea Tiriba14: “É fundamental
sobre o paradigma antropocêntrico. Portanto, se esses momen- investir no propósito de desemparedar e conquistar os espaços que
tos não tiverem lugar na escola ou em outros territórios educati- estão para além dos muros escolares, pois não apenas as salas de
vos, talvez não aconteçam na vida de grande parte das crianças, aula, mas todos os lugares são propícios às aprendizagens: terreiros,
empobrecendo o repertório de experiências que elas podem (e jardins, plantações, criações, riachos, praias, dunas, descampados;
devem) vivenciar. Experiências estas que permitem à criança se tudo que está no entorno, o bairro, a cidade, seus acidentes geográ-
misturar ao mundo construindo aprendizagens significativas e ficos, pontos históricos e pitorescos, as montanhas, o mar... Além de
subjetividades. se constituírem como espaços de brincar livremente e relaxar, esses
lugares podem também ser explorados como ambiente de ouvir his-
Temos um país de dimensões continentais, com uma riquíssima e tórias, desenhar e pintar, espaços de aprendizagem em que se traba-
generosa diversidade ambiental e climática, bem como tradições lha uma diversidade de conhecimentos.”
culturais e heranças ancestrais ancoradas na natureza. Temos ins-
pirações e uma história rica em experiências pioneiras de apro-
ximação entre a educação e a natureza, como foram os parques
infantis estruturados pelo Departamento de Cultura da cidade de
São Paulo na década de 1930, sob a direção de Mário de Andrade,
implementados em diferentes bairros operários como forma de
complementar a educação pública infantil no contraturno escolar11.
Ou, ainda, a Escola de Aplicação ao Ar Livre Dom Pedro II, a qual
se estabeleceu como instituição de ensino experimental localizada
no interior de um parque público (atual Parque da Água Branca,
em São Paulo) e que tinha como objetos centrais de sua pedago- O programa Criança e Natureza produziu diversos vídeos que
gia a educação física e a natureza12. E, finalmente, há a experiência são ótimos recursos complementares a essa publicação, incluindo
pioneira e inspiradora da Escola Parque em Salvador, ou do Centro Verdejando o Aprender (disponível em: http://bit.ly/2GU3fGA)
Educacional Carneiro Ribeiro que, dentre as muitas realizações de e a entrevista de Lea Tiriba sobre desemparedar as crianças na
Anísio Teixeira, foi a que alcançou maior repercussão no Brasil e escola (disponível em: http://bit.ly/2GSRSPf).
em diversos países.
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MOVIMENTOS
lar apartada da educação formal e informal, como se a criança-aluna colar. Faz-se também necessário ampliar a concepção de que o
não fosse a que também é a criança-filha ou a criança-cidadã. Nessa aprendizado só ocorre dentro dos espaços escolares, especial-
perspectiva, outros saberes e dimensões, tais como a arte, a ética, a mente as salas de aula, e valorizar todo e qualquer espaço da es-
cidadania, a sensibilidade e a natureza, tornam-se tão importantes cola, interno ou ao ar livre, assim como os espaços extramuros.
quanto o conhecimento científico. A educação integral aqui é enten- Tudo é potencialmente território educativo e, portanto, sujeito a
dida de maneira mais ampla do que o regime de horário oferecido acolher a intencionalidade pedagógica.
pelas escolas ou da composição de atividades em turno e contratur-
no. A ideia de educação integral tem por base favorecer o desenvol- Os territórios educativos são, portanto, constituídos por comunida-
vimento integral do estudante, por meio da diversificação de ativida- des de aprendizagem formadas por atores que estão dentro e fora
des oferecidas nos tempos e espaços escolares e não-escolares. da escola. O conceito de comunidade de aprendizagem pressupõe
um diálogo intersetorial em torno de um “projeto educativo e cultural
Goulart propõe que, “a essência dessa proposta parte do princípio próprio para educar a si (a comunidade de aprendizagem), suas crian-
que, para garantir uma educação básica de qualidade, é preciso consi- ças, seus jovens e adultos, graças a um esforço endógeno, cooperativo
derar que a concretude do processo educativo compreende fundamen- e solidário, baseado em um diagnóstico não apenas de suas carências
talmente a relação de aprendizagem das crianças e dos adolescentes mas, sobretudo, de suas forças para superar essas carências” 17. Signifi-
com sua vida e com a vida da comunidade. Para dar conta dessa qua- ca potencializar agentes educativos enquanto instituições formado-
lidade, é necessário que o conjunto de conhecimentos sistematizados e ras, incluindo na escola as práticas comunitárias, bem como articular
organizados no currículo escolar também inclua práticas, habilidades, os saberes acadêmicos com os espaços de educação não formal.
costumes, crenças e valores que estão na base da vida cotidiana e que,
articulados ao saber acadêmico, constituem o currículo necessário à Na comunidade de aprendizagem, o território urbano passa a ser
vida em sociedade. A educação integral precisa da escola, mas também potencialmente educativo. Nesse sentido, a cidade é compreendi-
de seu entorno, da comunidade, do bairro, de toda cidade” 16. da como território vivo, permanentemente concebido, reconcebi-
do e produzido pelos sujeitos que a habitam. Trata-se de associar
Como nos inspira um provérbio africano, para educar uma crian- a escola ao conceito de cidade educadora, pois a cidade, no seu
ça é preciso toda uma aldeia. Todos os espaços, tempos, pes- conjunto, oferecerá intencionalmente às novas gerações experiên-
soas e oportunidades da aldeia. Mas, para isso, a escola também cias contínuas e significativas em todas as esferas e temas da vida16.
precisa se reorganizar em seus tempos, espaços e relações. Para
que uma escola se proponha a desenvolver a educação integral, Consequentemente, o conceito de educação integral aliado ao
é necessário que ela repense os espaços educativos disponíveis de território educativo faz com que a própria cidade tenha que
aos estudantes, seja ela uma escola de educação infantil, ensino se repensar, adaptando os espaços públicos para melhorar a mo-
fundamental ou médio. É preciso levar os espaços escolares para bilidade ativa de crianças e adolescentes, constituindo-se como
além das salas de aula e potencializar um uso pelos estudantes uma cidade mais amigável à infância. Quando as crianças e ado-
que transcenda as tradicionais funcionalidades da instituição es- lescentes tentam sair dos muros da escola e usufruir os espaços
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MOVIMENTOS
da cidade, percebemos o quanto isso é dificultado pelo fato de as relação, mas é possível inferir que as escolas representam uma par-
estruturas urbanas serem pensadas para os adultos e para o flu- cela significativa das áreas públicas em uma cidade. Afinal, a maioria
xo de veículos, do trabalho e do consumo, impondo desafios para das comunidades tem uma escola. E toda escola tem algum tipo de
que se possa experimentar a cidade como local de convivência e pátio. Muitos são cobertos de concreto e fechados para a população.
de uso democrático. Vale lembrar que o poeta Mário de Andra- Poucos são usufruídos em sua plenitude pelos estudantes. Esses es-
de, nos idos de 1935, propôs que as crianças fossem parâmetro paços representam uma incrível perda de oportunidades para todas
de urbanidade. Para ele, a infância não seria completa sem o seu as crianças, especialmente aquelas de comunidades vulneráveis.
entorno, e o crescimento da criança e da cidade deveriam ser
equivalentes e estar harmonizados18. Então faz sentido perguntar:
Experiências de políticas públicas no Brasil como o Bairro Escola, na O que pode acontecer quando o espaço escolar quebra o cimento e
Rede Municipal de Nova Iguaçu (RJ), e a Escola Integrada de Belo Ho- ganha terra, areia e árvores? Teríamos uma rede de espaços livres
rizonte (MG), são exemplos de como é possível fazer uma articulação dentro da cidade se tornando mais naturais, mais verdes, impac-
intersetorial para aumentar a diversidade de oferta de atividades aos tando positivamente toda a comunidade.
alunos. Esses projetos de educação integral levantaram os espaços
ociosos, em seus territórios, que pudessem inicialmente ser usados Num mundo onde, até 2030, 60% da população viverá em cida-
em oficinas no contraturno (por exemplo igrejas, praças, clubes), des20, cada metro quadrado de área verde conta, já que as reser-
bem como aproximaram-se da comunidade próxima às escolas para vas que temos são raras, preciosas e muitas vezes inacessíveis para
a identificação de saberes locais que foram valorizados e oferecidos
em práticas educacionais. Inspirado por essas experiências, surge
em 2007 o Programa Mais Educação do Ministério de Educação, sis-
tematizando uma política nacional de educação integral que chegou
a ser implantada em 60 mil escolas públicas em todo o Brasil*.
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MOVIMENTOS
grande parte das pessoas. A cidade de São Paulo tem 2,6 m² de Bases legais no Brasil
área verde por habitante. A Organização das Nações Unidas (ONU)
recomenda 12 m² de área verde por habitante21. Imagine o impac- O que está previsto e como pode orientar mudanças
to nesse número se pudéssemos contabilizar os espaços escolares
como áreas verdes!
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MOVIMENTOS
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Am- Tanto os Parâmetros Básicos para Infraestrutura quanto as
biental 29 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil des-
cação Infantil apontam que, além dos espaços da escola, o tacam que os espaços escolares e as propostas pedagógicas
trabalho educativo deve levar em consideração o contexto e o devem adaptar-se às condições geográficas, climáticas, econômi-
entorno em que a escola está inserida como ambiente de apren- cas e socioculturais de cada contexto. As Diretrizes Curriculares
dizado: os biomas e territórios em que se situam e a diversidade Nacionais para a Educação Ambiental orientam que as propos-
sociocultural dos estudantes. tas pedagógicas devem considerar o respeito à idade e à especi-
ficidade das fases em que a criança se encontra. Compreendendo
Outro documento também serve como referência para a concep- que respeitar as especificidades da infância significa respeitar a
ção dos espaços escolares, os Parâmetros Básicos de Infraes- necessidade de brincar e conhecer o mundo através de todos os
trutura para Instituições de Educação Infantil. Ele destaca que sentidos, faz-se fundamental “desemparedar” as crianças para os
“os espaços na educação infantil devem ser variados de forma a fa- espaços externos à sala de aula e à escola, a fim de favorecer que
vorecer diferentes tipos de interação e que o professor tem papel a interação com o ambiente seja mais diversificada e, portanto,
importante como organizador dos espaços onde ocorre o proces- mais rica em termos de aprendizado e desenvolvimento.
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aos níveis dos ensinos fundamental e médio. O levantamento da
documentação oficial, que oferece parâmetros para a infraestru-
tura e o uso dos espaços escolares, é muito restrito à educação in-
fantil, como atesta o box a seguir, mesmo depois da implantação do
ensino fundamental de nove anos em 2001. Nossa análise permite
apontar que há muito a avançar no sentido de assegurar às crian-
ças maiores e aos jovens seu direito de aprender, explorar, brincar
e encontrar-se com a - e na - natureza no ambiente escolar.
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DESEMPAREDAMENTO DA INFÂNCIA: A ESCOLA COMO LUGAR DE ENCONTRO COM A NATUREZA
Caminhos para o
desemparedamento e para
a implementação de pátios
escolares naturalizados
E m seu estudo fundamental, no qual tenta entender as relações em São Paulo foi um pedido das crianças.
entre o visível estado de desequilíbrio ambiental e o aprisio-
namento das crianças nas instituições de cuidado e escolarização, escolares. Para isso, precisamos reconhecer e escutar suas outras
Lea Tiriba faz a seguinte provocação: “o que seria possível em ter- formas de expressão que vão muito além da palavra, como os ges-
mos de inovação pedagógica se os adultos se permitissem acompa- tos, os grafismos, o brincar e também as narrativas orais e escritas.
nhar as crianças, seguir a trilha dos desejos delas” 33? Trabalhos como os do programa Território do Brincar, do Alana;
do pesquisador Gandhy Piorski34; do Mapa da Infância Brasileira
Segundo Tiriba, “as crianças têm verdadeiro fascínio pelos espaços (MIB); do Projeto Infâncias; e do Criacidade são alguns exemplos
externos porque eles são o lugar da liberdade” 33, onde as vivências que podem servir de inspiração de como observar, registrar e dar
têm fruição, onde o adulto não controla seus corpos e o desenvol- voz aos dizeres das crianças e incluí-las no processo de mudança
vimento integral é a prioridade, e não apenas o desenvolvimento do espaço e das rotinas. Essa postura exige acreditar que a criança
das capacidades intelectuais. sabe o que é bom para si e que também é competente e tem su-
ficiente intimidade consigo mesma para ser protagonista do seu
É fundamental ouvir as crianças por meio de suas diversas lin- próprio processo de aprendizagem. E, claro, é necessário que o
guagens, afinal são elas que vão de fato habitar o espaço escolar. adulto tenha uma concepção de conhecimento e de aprendizagem
Perguntar e sobretudo observar onde, como, quando, com quem que supõe um encontro de aprendizes, educador e criança juntos,
e com que materiais elas brincam levará a muitas pistas de como na grande aventura de viver35.
o espaço pode ser melhor aproveitado. As crianças podem (e de-
sejam!) contribuir com a transformação ou desenho dos espaços E o que elas dizem?
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CAMINHOS PARA O DESEMPAREDAMENTO
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CAMINHOS PARA O DESEMPAREDAMENTO
Formação dos educadores deiras que envolviam algum tipo de risco, como subir em árvores
ou fazer uma fogueira. Se conseguimos acessar como esses mo-
É preciso relembrar e permitir espaços mentos foram importantes, divertidos e ricos para nós, talvez pos-
e tempos de encantamento samos vencer o medo e permitir que as crianças sob nossos cuida-
dos também vivenciem experiências parecidas.
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CAMINHOS PARA O DESEMPAREDAMENTO
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CAMINHOS PARA O DESEMPAREDAMENTO
O encontro da educação ambiental Mãe – O que você quer dar de presente para a professora no dia
com o brincar dela?
Menino – Uma “coba”! (referindo-se a uma minhoca).
Mãe – Uma minhoca? Mas isso a professora não vai gostar.
tudo do tema brincar e a implantação de uma proposta de educa- Seguem os dois nessa discussão, quando depois de
ção ambiental e sustentabilidade. imaginar várias coisas, a mãe pergunta:
A equipe percebeu que era necessário pensar uma forma concreta – Mas por que você acha que a professora vai gostar
de envolver as crianças na proposta de educação ambiental, uma de ganhar uma minhoca?
vez que conceitos como reciclagem, conservação e até mesmo
natureza eram muito abstratos para elas. Então, uma peça funda- Ao que ele responde:
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CAMINHOS PARA O DESEMPAREDAMENTO
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CAMINHOS PARA O DESEMPAREDAMENTO
Escola Santi, São Paulo (SP) – situada ao lado da Avenida Quintal da Márcia, em Nova Iguaçu (RJ) – a Escola Municipal
Paulista, no coração do caos urbano, essa escola está Profa. Irene da Silva Oliveira usa o quintal de uma moradora
implantando o projeto Escola sem Paredes, em parceria com do bairro para fazer oficinas de educação ambiental. A Márcia,
a Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz dona do quintal, acabou se envolvendo tanto que passou a
– UMAPAZ, que tem levado algumas turmas para ter aulas desempenhar papel de educadora e não de “emprestadora de
no Parque Ibirapuera, trocando a sala de aula por um espaço quintal”. Outra coisa interessante é que, a cada dois meses, os
aberto. Segundo sua diretora, Adriana Cury: “estamos do lado pais vivenciam um dia de oficina, igualzinho ao de seus filhos41.
do Ibirapuera, então por que não levar as crianças até lá?”
EMEI Prof. Ernest Sarlet, Novo Hamburgo (RS) – transpor
seus muros e habitar a praça vizinha era o desejo dessa
escola. Embora a praça fosse ao lado, era preciso fazer um
trajeto longo, principalmente para os bebês, que ainda não
caminham. Para facilitar o acesso, a escola abriu um portão
que dá liberdade para as crianças transitarem entre os
dois espaços. Posteriormente, escreveu um projeto e captou
recursos para a compra de um brinquedo de madeira para
a praça, que pode ser usado tanto pelos alunos como pela
comunidade escolar, num diálogo com a cidade.
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CAMINHOS PARA O DESEMPAREDAMENTO
A praça mais próxima da escola, aquela que seria ótima para le-
var as crianças, está suja, maltratada e sem equipamentos?
Que tal incentivar as famílias e os vizinhos do bairro a cuidarem e
manterem esse espaço para que as crianças e todos possam usu-
fruir de seus benefícios? Para ajudar nesse movimento, o programa
Criança e Natureza e o Movimento Boa Praça elaboraram o manual
Como ser um Boa Praça (disponível em: http://bit.ly/2GUODaR),
com dicas e orientações para ocupar e revitalizar espaços públicos.
Escolas da Floresta42,43*
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CAMINHOS PARA O DESEMPAREDAMENTO
• Brincar livre e autônomo – as crianças se inspiram nas pró- As Escolas da Floresta são um exem-
prias ideias, escolhem seus próprios caminhos e têm liberda- plo muito inspirador sobre o aprovei-
de para explorar e experimentar desenvolver aquilo que as mo- tamento de áreas naturais públicas
tiva. São elas quem aponta como será cada encontro. (parques urbanos) por atividades edu-
cacionais regulares, em um modelo
• Uso de material solto, ferramentas e fogo – as crianças que se mostra benéfico tanto para o
dispõem de ferramentas e utensílios, além de todos os re- parque quanto para a comunidade es-
cursos naturais presentes no ambiente, como água, tron- colar envolvida.
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CAMINHOS PARA O DESEMPAREDAMENTO
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Composição, organização
E se o clima está frio e chuvoso?
e uso dos espaços
O inverno é frio e com períodos prolongados de chuva e por isso
as crianças, às vezes, passam longos períodos sem poder ir
para o pátio com o argumento de que podem adoecer. Mas todas
Ninhos, cabanas, troncos altos, água:
desejos de nossas almas
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quedos (ex. balanços, casinha) ou estruturas (ex. quadras) devem Esconderijos: criar ou aproveitar cantinhos escondidos e som-
ficar próximos a uma área natural ou, se não houver, árvores e bras que ofereçam às crianças momentos de isolamento, privaci-
plantas podem ser incorporadas a esses espaços. dade, sonho, contemplação e brincar solitário.
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Sugestão de composição
dos espaços escolares
Ambientes /
Detalhamento
Elementos
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Os espaços da Escola Ágora 5. Mangueira: ponto de encontro, importante referência para to-
dos os alunos que em seus galhos sobem, brincam, conversam e
(Ensino Fundamental, Cotia, SP)
se equilibram.
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Exemplos de usos dos espaços da livre, como é chamado o recreio: árvores, plantas, bichos, minerais,
construções, brinquedos confeccionados pelos próprios alunos,
Escola Ágora em projetos e atividades além de acontecimentos variados. Dele emana, portanto, uma ri-
queza de palavras, episódios e paisagens que podem suscitar con-
versas e escritas carregadas de sentido. No contexto da alfabetiza-
Amarelinha maluca ção, o segundo ano realiza atividades diversificadas apoiadas nessa
fonte rica e dinâmica que é o espaço da escola. Uma delas consiste
Os espaços abertos possibilitam a realização de diversas ativi- na divisão da turma em grupos de proximidade quanto ao domí-
dades de contagem e desenvolvimento de noções espaciais. A nio da escrita, os quais saem pela escola com as seguintes tarefas:
aprendizagem que passa pelo corpo, articulando sentidos e inte- escrever uma lista de palavras de coisas da escola (nomear); es-
lecto, é muito significativa nas séries iniciais. Uma das propostas crever pequenas frases ou orações que mostrem coisas que estão
vivenciadas pela turma do segundo ano é a amarelinha maluca: acontecendo nos diferentes espaços da escola (informar); elaborar
um aglomerado de formas circulares ou ovais contendo, cada a descrição de um lugar ou paisagem para que outros colegas leiam
uma, numerais da família do dez, desordenados em termos de se- posteriormente e descubram de que local se trata (descrever).
quência. O desafio das crianças é percorrer a amarelinha pisando
apenas nas casas combinadas: sequências corretas crescentes ou
decrescentes com intervalos de dez em dez, por exemplo.
Medições
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Escolha dos materiais disponíveis Os estudos realizados pelo pesquisador da infância Ghandy Pior-
sky apontam que o contato com a materialidade advinda da natu-
para as crianças reza é essencial para um mergulho nos sentidos. Para Piorski, é na
Em contato com diferentes texturas e elementos relação que a criança estabelece com o mundo das substâncias e
as crianças realizam suas ideias matérias, da corporeidade e da artesania, que reside o relâmpago
na imaginação da brincadeira53. E, então, a criança dá vazão à sua
vontade de construir, criar, montar, fazer – acessando diferentes
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Utensílios de cozinha de louça, madeira ou metal: panelas, chalei- que as afasta do contato com a água, e de que se machuquem, que as
ra, colheres de pau, talheres etc. ajudam as crianças a conhecerem afasta do contato com o fogo, oferecendo oportunidades frequentes
a materialidade original e acionam a imitação do mundo real, por de interação e manejo seguro dos quatro elementos. Exemplos: as-
meio da brincadeira, com mais inteireza e profundidade. sar alimentos em uma fogueira, queimar objetos de barro feitos pelas
crianças em forno, plantar, construir cabanas, brincar com manguei-
Materiais não estruturados: restos de madeiras (toquinhos, tábuas, ra e baldes, cavar túneis em um tanque de areia, empinar pipa etc.
tocos maiores), tecidos, cascas, sementes, pedras, palha, conchas,
cordas, arames etc. favorecem o potencial criativo das crianças. Brin- Ferramentas: as crianças têm muito interesse e atração por tudo
car com “partes soltas” 54 é um convite a um mundo de possibilidades, que é de verdade. Causa frustração e impotência manusear ferra-
que ampliam o repertório e a imprevisibilidade das narrativas e expe- mentas de “mentirinha”, feitas de matéria plástica. Devagar, sob su-
riências, expandido a autoria do fazer e do aprender. pervisão dos adultos, é possível introduzir gradualmente as crian-
ças no manuseio de ferramentas simples como martelo, chave de
Elementos naturais: terra, areia, ar, água, barro e fogo. Esses elemen- fenda e serra, ampliando o alcance do seu fazer e satisfazendo seu
tos trazem, cada um deles, uma mensagem diferente e especial para desejo de replicar o mundo dos adultos, construindo objetos que
as crianças. Precisamos vencer o medo de que as crianças adoeçam, elas mesmas escolham.
Nessa escola a casinha foi equipada com materiais de verdade. Participar de uma fogueira é uma experiência rara
para muitas crianças urbanas.
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Por que é importante brincar
e aprender com a – e na –
natureza na escola?
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Escola é lugar de
experimentar-se Os espaços escolares são mais ricos quando
contêm elementos naturais combinados com
Espaços escolares e outros territórios educativos mais verdes e ricos em Mais diversidade de terrenos e
elementos naturais aumentam as possibilidades de atividade física, por recursos naturais = mais atividade
R PO
meio de um repertório de brincadeiras e atividades mais diversificadas física, desafios, diversidade de O CO
e complexas, engajando crianças e jovens com diferentes habilidades,
movimentos e domínio corporal. D
interesses, gêneros e idades55. J OS
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TO DA Você já observou que
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PAR liberdade e tempo para
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brincar em espaços abertos
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E S e naturais favorece a
curiosidade, a concentração,
o interesse e a disposição
para aprender?
Árvores, pedras, troncos,
rampas, degraus = correr, cair,
pular, escalar, equilibrar-se!
Esse material foi inspirado na publicação Construindo um Movimento Nacional por Espaços
Escolares Verdes em Todas as Comunidades1, lançada pela Children & Nature Network em 2016.
Escola é lugar de
encontros e de
Num mundo onde estar longe de adultos é cada vez mais raro, esses
espaços representam oportunidades de privacidade e refúgio para que
sentir-se bem
crianças e jovens entrem em contato consigo mesmos em momentos
de introspecção ou estabeleçam trocas com seus pares.
sentido, significado
relações, contextos e sua interdependência. A natureza pode
contribuir nesse processo, nos ensinando sobre sua própria
e interesse
diversidade, apontando a potência que há na diferença entre os
indivíduos e seus caminhos de aprendizagem.
Esse material foi inspirado na publicação Construindo um Movimento Nacional por Espaços
Escolares Verdes em Todas as Comunidades1, lançada pela Children & Nature Network em 2016.
Inspirações
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INSPIRAÇÕES
Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Dona Lepoldina – “Nosso objetivo principal é resgatar o espaço do quintal
São Paulo (SP) e da rua que as crianças perderam nesses últimos
tempos, e fomentar momentos para os rituais da
Vencedora do Prêmio Desafio 2030 - Escolas Transformando o cultura da infância.”
Nosso Mundo Marcia Covelo Harmbach, diretora
A partir de 2012, essa escola na zona oeste de São Paulo reformulou Casa Redonda Centro de Estudos – Carapicuíba (SP)
seu projeto político-pedagógico e, buscando referências na peda-
gogia Freiriana (Paulo Freire) e Regiana (Reggio Emília/Loris Mala- Educação Infantil, integrante do Mapa de Inovação
guzzi), tem trabalhado com três eixos: a arte, a educação ambiental e Criatividade na Educação Básica
e o brincar. Seus espaços educadores buscam resgatar as relações
indivíduo-escola-bairro-comunidade-bioma, sustentando os prin- Ao longo dos seus 30 anos de existência, a Casa Redonda vem
cípios da alfabetização ecológica e da permacultura, aliados aos de sendo um espaço na natureza, aberto ao encontro sensível com
Paulo Freire sobre a necessidade da construção da autonomia e da a infância, que recebe todas as manhãs cerca de trinta crianças
relação dialógica com crianças e adultos. para brincarem em liberdade de movimento, fluxo e caminhos.
Nesse espaço, que se tornou uma importante referência brasilei-
Seu projeto visa a reflexão e a construção de tempos e espaços que ra em educação infantil e estudos sobre a cultura da infância, as
proporcionem a vivência da infância e o contato com a natureza, crianças se relacionam natural e diretamente com os elementos,
procurando transformar a escola em um lugar para encontros entre nossos indispensáveis companheiros do cotidiano: a água, a terra,
as pessoas, os animais e as plantas, por meio de múltiplas linguagens. o fogo e o ar, em harmonia com as estações do ano. Uma manhã
na Casa Redonda é como estar diante de um cenário vivo, onde
os atores-autores agem espontaneamente, como pequenas pul-
sações de vida em movimento e, assim, definem seus espaços e
tempos de brincar.
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INSPIRAÇÕES
Ensino Fundamental
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INSPIRAÇÕES
“Nosso mérito foi resistir, ao longo desse tempo todo, a Escola Dendê da Serra - Serra Grande (BA)
pressões: de famílias ou de professores, que sugeriram que
diminuíssemos a “hora livre”, nosso tempo pós-lanche ou Educação Infantil e Ensino Fundamental, integrante
pós-almoço, em que os alunos podem circular livremente da Rede de Escolas Transformadoras no Brasil
por um determinado espaço, sem a tutela de professores ou
de bedéis. A proibição de brinquedos vindos de casa, bem Até 15 anos atrás, a região de Serra Grande, localizada entre Itacaré
como de jogos eletrônicos e celulares, também favorece e Ilhéus, era praticamente inacessível. Com a abertura de uma es-
o espírito criativo das crianças, que encontram espaço e trada, todo o contexto desse remanescente da Mata Atlântica mu-
dispõem de tempo suficiente para ocupá-lo60.” dou. A pequena comunidade, de forte herança indígena e africana,
Terezinha Fogaça de Almeida, diretora passou a conviver com um afluxo de pessoas vindas de outros lo-
cais e diversas pressões ambientais, sociais, culturais e econômi-
Escola Amigos do Verde - Porto Alegre (RS) cas. Atualmente, a comunidade busca caminhos para preservar a
biodiversidade de seu território e também sua cultura, por meio de
Educação Infantil e Ensino Fundamental, integrante da Rede de alternativas de desenvolvimento sustentável que procuram situá-
Escolas Transformadoras no Brasil e do Mapa de Inovação -la nesse novo panorama socioeconômico.
e Criatividade na Educação Básica
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INSPIRAÇÕES
A Associação Pedagógica Dendê da Serra faz parte desse contexto Escola Santi - São Paulo (SP)
e enfrenta o desafio de adaptar a pedagogia Waldorf à realidade
de Serra Grande, atendendo alunos de todas as origens, principal- Educação Infantil e Ensino Fundamental
mente famílias de baixa renda da vila e da zona rural. A aprendiza-
gem se da por meio de experiências e a natureza é palco de diver- Com medidas simples e muita vontade, a Escola Santi promoveu
sos momentos da rotina e da prática pedagógica. As crianças têm diversas mudanças em seu espaço e práticas a partir de 2016. Pa-
liberdade e são incentivadas a explorar os rios, o mar e a mata, na redes foram trocadas por janelas de vidro com vista para o jardim
região do entorno da escola, e frequentemente visitam uma Reser- e luz natural. Hortas verticais, trepadeiras, minhocários, compos-
va Particular do Patrimônio Natural (RPPN) que cuida das matas, tagem e uma boa dose de criatividade aproximaram a Santi – uma
nascentes e da foz do principal rio. escola situada a três quadras da Avenida Paulista em São Paulo – da
natureza. São 720 alunos, de 1 a 14 anos, envolvidos em processos
“Em nossa escola não há muros e estamos cercados de que incluem coletar folhas, procurar insetos, cuidar das plantas,
matas, capoeiras e rios. Temos alunos de diferentes origens, acompanhar o surgimento de flores e participar de exposições
com diferentes maneiras de se relacionar com a natureza. sensoriais. Em 2017, teve início o projeto Escola Sem Paredes, uma
Há os meninos que correm, saltam e sobem em árvores com parceria com a UMAPAZ, por meio do qual alunos de cinco anos
a maior facilidade; há crianças que vêm de uma realidade realizam atividades no Parque Ibirapuera. Lá, as crianças são in-
mais urbana e chegam na escola mostrando insegurança, centivadas a fazer observações da natureza em atividades lúdicas e
falta de equilíbrio e coordenação motora, medo ou nojo de convite à exploração.
de bichos, terra, areia… Ao longo do tempo, é visível como
evoluem, estimuladas pelo exuberante entorno verde, “É muito fácil notar o envolvimento e o encantamento
cheio de vitalidade. Vão perdendo os medos, exercitam os das crianças com todas as propostas de interação com a
movimentos que lhes causavam dificuldades, ganham mais natureza, seja num estudo específico ou nas atividades
segurança no âmbito motor. Por outro lado, as crianças que de arte e brincadeiras. A relação com os espaços da escola
vêm da zona rural, muitas vezes acostumadas com uma também mudou para melhor. Alguns jardins estavam lá e as
atitude mais predatória em relação à natureza, passam por crianças só passavam por eles. Hoje esses jardins são delas.
outro aprendizado importante. Despertam para um olhar Talvez o principal seja uma mudança de olhar, de percepção
de curiosidade, carinho e proteção e passam a observar e – isso não depende de espaço nem de dinheiro. Apreciar
descobrir as características e o encanto de cada ser vivo. uma nuvem, ouvir os pássaros, brincar na chuva, andar
De uma maneira ou de outra, o contato com o ambiente descalço, coletar folhas e galhos, encontrar bichinhos no
natural em volta da escola, com a intermediação dos jardim. Brincar livre, sem elementos estruturados. Trocar
educadores ou nos momentos do brincar livre, tem impacto brinquedos de plástico por pedaços de madeira. Não custa
profundamente transformador em todas as crianças.” nada e o efeito é maravilhoso.”
Silvia Reichmann, fundadora e professora Adriana Cury Sonnewend, diretora geral
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INSPIRAÇÕES
Em 2016, pular, correr, saltar, plantar, colher e cozinhar deixou de Agora, na cidade, as crianças também plantam, colhem, cozinham
ser um privilégio dessas crianças da zona rural de Itirapina, quan- e compostam. Imersas em meio a uma horta agroflorestal urbana,
do a ideia da educação sistêmica passou a ser desenvolvida tam- espiral de ervas, viveiros de mudas e bioconstruções, cuidam e ob-
bém no meio urbano, por meio de uma parceria com a Secretaria servam suas árvores crescerem e têm a oportunidade de brincar e
Municipal de Educação. O foco era a Escola Professora Dulce de explorar os ambientes verdes que a cidade proporciona. Afinal, a
Faria Martins Migliorini, o Dulce, uma escola de período integral cidade inteira pode ser educadora!
que atende cerca de 170 crianças em educação infantil e ensino
fundamental I. Nascia, então, o Projeto Rede. Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo (RS)
O primeiro passo foi a reformulação do currículo do período da Durante oito anos, entre 2008 e 2016, a equipe de educação in-
tarde, levando a natureza para dentro da escola e as crianças para fantil da Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo, numa par-
fora das salas de aula, transcendendo os muros da escola. Mais de ceria com profissionais de 33 escolas - diretores, coordenadores
30 oficinas semanais foram criadas para escolha autônoma das pedagógicos, professores, merendeiros, secretários de escola e
crianças, de forma multisseriada, proporcionando a transformação profissionais de serviços gerais - estudou, refletiu, amadureceu
das pessoas, das relações e dos espaços. e mudou a forma e a organização dos tempos, dos espaços esco-
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INSPIRAÇÕES
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DESEMPAREDAMENTO DA INFÂNCIA: A ESCOLA COMO LUGAR DE ENCONTRO COM A NATUREZA DESEMPAREDAMENTO DA INFÂNCIA: A ESCOLA COMO LUGAR DE ENCONTRO COM A NATUREZA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DESEMPAREDAMENTO DA INFÂNCIA: A ESCOLA COMO LUGAR DE ENCONTRO COM A NATUREZA DESEMPAREDAMENTO DA INFÂNCIA: A ESCOLA COMO LUGAR DE ENCONTRO COM A NATUREZA
Material de apoio vez de temê-lo. A natureza é o ambiente ideal para que a criança
se depare com situações que a ajudarão a aprender sobre seus
limites e possibilidades. Disponível em: http://bit.ly/2HaQTIa.
disseminar o debate provocado por essa publicação. Especialistas na temática criança e natureza, internacionalmente
conhecidos, falam sobre a importância de a criança se relacionar
com ambientes naturais, e sobre como a escola e outros espaços
Desemparedar as crianças na escola de formação, além da própria família, podem contribuir, fortale-
cer e se comprometer com a fluidez e permanência dessa relação.
Nesta entrevista, a professora Lea Tiriba chama a atenção para a Disponível em: http://bit.ly/2IumWCn.
importância de desemparedar as crianças na escola, permitindo
que elas se relacionem com os elementos do mundo natural, para
que possam realizar plenamente seu potencial, indo ao encontro Verdejando o aprender
de sua própria natureza. Disponível em: http://bit.ly/2GSRSPf.
Este vídeo inspira a reflexão sobre o que é de fato importante nos
espaços escolares, sugerindo que “desemparedar” as crianças e
Educação Infantil e o livre brincar na natureza oferecer a elas elementos naturais para brincar no dia a dia escolar
é fundamental para seu desenvolvimento físico, psíquico e social.
A educadora Marcia Harmbach conta, a partir de sua experiência Disponível em: http://bit.ly/2GU3fGA.
como diretora da EMEI Dona Leopoldina em São Paulo, o quanto é
fundamental garantir para a criança, no espaço escolar, o brincar
livre na natureza para seu desenvolvimento cognitivo, social e psí- A criança que se sente capaz
quico. Disponível em: http://bit.ly/2HaRLfJ.
A entrevista com o instrutor de atividades ao ar livre Fabio Rai-
mo discute o valor do risco para o desenvolvimento da criança,
Quando o risco vale a pena demonstrando como o brincar ao ar livre na natureza é a prática
mais propícia para que as crianças aprendam a lidar com seus me-
Este vídeo demonstra como é fundamental para o desenvolvi- dos, superar seus limites e sentir-se capazes de interagir em se-
mento da criança aprender a correr - e avaliar - riscos para tor- gurança com o ambiente e com o mundo. Disponível em: http://
nar-se um adulto resiliente e capaz de explorar o mundo, em bit.ly/2En6OA8.
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ALANA PROGRAMA CRIANÇA E NATUREZA
DESEMPAREDAMENTO DA INFÂNCIA: a Escola como Lugar de Encontro com a Natureza
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