O Sujeito É As Estruturas Clinicas
O Sujeito É As Estruturas Clinicas
O Sujeito É As Estruturas Clinicas
Agradecimentos ..................................................................................................................... 3
Resumo .................................................................................................................................. 5
Introdução .............................................................................................................................. 6
Objetivos ................................................................................................................................ 8
Método ................................................................................................................................... 9
A Neurose ........................................................................................................................ 16
A Psicose.......................................................................................................................... 20
A Perversão ...................................................................................................................... 24
Referências........................................................................................................................... 32
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo aprofundar o estudo das estruturas clínicas proposto
pelas teorias psicanalíticas freudiana e lacaniana. A metodologia escolhida foi a pesquisa
qualitativa sendo realizado uma pesquisa bibliográfica e para análise dos dados utilizou-se
a análise conceitual. Esse modo de análise busca explorar os conceitos para que desses
possam se criar saberes. O percurso escolhido foi buscar na obra de Freud e Lacan os
textos que referenciavam a questão das estruturas clínicas. A psicanálise começa seu
estudo pela patologia, pois a questão da norma domina a ciência. Entretanto,
principalmente, mas não só, a escola francesa vem desconstruindo a nosografia
psicopatológica e normativa, para um diagnóstico estrutural. Nessa perspectiva o sujeito é
pensado de outra forma, já que a questão da estrutura convoca a pensar o modo que ele, o
sujeito, irá se defender das demandas pulsionais. O sujeito em questão é o do inconsciente,
que é da ordem do simbólico e, portanto, da linguagem. Desta forma tanto a psicose, como
a neurose e a perversão são compreendidas como normais, afinal são faces da subjetividade
de cada um. O que está em questão é o interesse de cada estrutura sendo da neurose o
Outro, da psicose o corpo e da perversão o falo. A diferença entre cada modo de
subjetivação se dá pelo modo de defesa em relação ao significante primordial, a saber, a
castração. Se o sujeito recalca ele é neurótico, se forclui é psicótico e se renega esse
significante é perverso. O neurótico é referido a um centro, e fica preso a este. Precisa abrir
mão de seus desejos incestuoso, entretanto por outro lado ele ganha um lugar subjetivo e
pode falar deste lugar. O psicótico fica sem esta referência, podendo ser qualquer um, se
por um lado é livre por outro ao contrário do neurótico não possui um lugar subjetivo. Já o
perverso reconhece a castração, entretanto insiste em transpor esta. Cada ato perverso é
uma tentativa de apagar o significante primordial. Ao final do estudo, conclui-se que o
diagnóstico estrutural possibilita a compreensão do paciente enquanto sujeito, para além de
uma classificação psicopatológica nosológica, já que este irá direcionar o tratamento.
INTRODUÇÃO
A psicanálise, assim como outras áreas do conhecimento, iniciou seus estudos pela
patologia. Quando Freud começou o estudo das histéricas era necessário isolar a doença,
pois sua intenção era compreender a origem e a causa desta. Para tal, foi dada importância
para os processos psicopatológicos. Então, no princípio, a psicanálise entendia a neurose e
a psicose como doenças. Entretanto, com a influência da escola francesa o paradigma
psicopatológico e nosológico foi substituído pela noção de estrutura. Sendo assim,
compreende-se que a neurose, a psicose e a perversão são nada mais do que faces da
estrutura normal, ou seja, são modos de defesa do sujeito contra a angústia de castração
(Hassan, 1992).
A releitura lacaniana de Freud desconstrói o paradigma de normalidade/patologia,
que dominava a ciência até o momento. A partir desta nova concepção das estruturas
clínicas, a oposição doença/saúde, que é normativa, deixa lugar para alternativas possíveis
de subjetividade. As estruturas clínicas dizem respeito ao modo de expressão do sujeito e,
como todos apresentam uma subjetividade, estas não podem ser compreendidas como uma
questão de saúde ou doença, mas sim como modos de o sujeito lidar com suas angústias
(Oliveira, 1996).
É importante considerar que a psicanálise, mesmo dentro do constructo das
estruturas clínicas, realiza estudos sobre a psicopatologia. A psicopatologia psicanalítica
tem como fundamento que os sintomas são de origem inconsciente, formação de
compromisso entre os dois grandes sistemas, o Inconsciente e o Pré-consciente/Consciente,
resultado de conflitos destes. A relação que se estabelece entre a psicopatologia e a
estrutura é que o sujeito adoecerá somente de acordo com sua estrutura, ou seja, um sujeito
neurótico poderá somente desenvolver uma doença da ordem da neurose, assim como na
estrutura psicótica, uma psicose e na perversão, uma patologia desta ordem, pois é a
estrutura que estabelece as fragilidades e potencialidades de cada sujeito (Antoszczyszen,
2007).
O estudo das estruturas clínicas torna-se pertinente devido à demanda dos pacientes
que procuram os consultórios psicológicos. Em sua maioria, os pacientes não estão
acometidos de transtorno mental, logo não apresentam diagnóstico psicopatológico. O que
estes pacientes possuem é um sofrimento, que podemos compreender como algo intrínseco
ao ser humano. E é a partir do diagnóstico estrutural que se dará a condução do tratamento
destes pacientes.
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OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Objetivos Específicos:
MÉTODO
libido volta para o próprio eu, pode-se pensar no seio, por exemplo. Portanto, o estádio do
espelho é o momento em que o eu é constituído, então a criança sai do autoerotismo para o
narcisismo. Que irá possibilitar a entrada do terceiro. O estádio do espelho é
contemporâneo do primeiro tempo do complexo de Édipo (Garcia-Roza, 2002; Jorge,
2008).
O Édipo, para Lacan, é divido em três tempos iniciando antes da proposta
freudiana, todavia não é antagônica a Freud, pois o próprio Lacan irá afirmar que faz um
retorno a Freud e que ele mesmo é freudiano. O Édipo é um momento de crise que a
criança irá lidar com a angústia de castração, que compreendemos como algo que limita o
sujeito, como grande exemplo de castração poderia se citar a morte. Desde muito cedo a
criança necessita lidar com estas questões do real que são impostas a ela, isso acontece
fundamentalmente no Édipo. O destino que ela dará para estas questões determinará a sua
estrutura, sendo que esta é constante e não passível de mudança (Dor, 2003).
O primeiro tempo é aquele em que a relação é dual entre a mãe e o bebê. A criança
ocupa o lugar de falo para esta mãe, ou seja, a criança é quem completa a mãe e desta
forma os dois tornam-se seres completos. Ela satisfaz, realiza o desejo da mãe (Lacan,
1957-1959/1999). Neste momento cabe explicar o que é o falo. Segundo Plon e
Roudinesco, “se a palavra pênis fica reservada ao membro real, a palavra falo, deriva do
latim, designa esse órgão mais no sentido simbólico (...) investido de suprema potência
(...)” (p. 221). Na obra freudiana não se encontra o termo falo, apenas pênis. Entretanto,
compreende-se que Freud não se referenciou exclusivamente ao órgão real, mas o que este
simbolizava. Portanto, o que está em questão no complexo de castração é o representante
do órgão sexual masculino, ou seja, o falo. Já que isto é o que completaria o sujeito, sendo
o que a mãe deseja e aquilo que a criança acredita ser (Nasio, 1995).
Em um segundo momento, esta posição de ser o falo é questionada sob a égide da
interdição paterna, então a criança fica em uma posição de ser ou não ser o falo da mãe
(Lacan, 1957-1958/1999). O pai fica em uma condição de privador, frustrador e interditor
que tende a catalisar a função de castrador. A castração é uma falta simbólica de um objeto
imaginário, a privação é uma falta real de um objeto simbólico e a frustração é uma falta
imaginária de um objeto real. O pai, enquanto aquele que interdita, irá frustrar a criança.
Este é um ato imaginário, mas o objeto é real porque o pai faz-se saber para a criança como
aquele que tem direito da mãe. Do ponto de vista da mãe, ela é privada, ou seja, ela é
privada de seu filho, porém enquanto objeto simbólico. Essa dupla de frustração e privação
fazem com que a criança se questione sobre sua posição de falo. O que entra em questão é
a dialética de ser ou não ser o falo. (Dor, 2003).
Pergunta de hamet
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modo pelo qual o sujeito se expressa. Neste registro, o sujeito poderá utilizar-se da
metáfora, e é onde os significantes estarão em oposição, estando um referenciado ao outro.
O simbólico está implicado com outro e com o inconsciente, que é estruturado como uma
linguagem (Hassan, 1992). Entretanto, não significa que o inconsciente se reduz ao
simbólico ou que o simbólico se reduza ao inconsciente, mas que o inconsciente recalcado
que é descrito por Freud, e o retorno deste faz parte do simbólico.
O conceito de simbólico fica indissociado aos conceitos de significante, forclusão e
nome do pai. Pois o significante é a essência do simbólico, é a articulação de continuo de
um significante a outro, que se estabelece a cadeia e, portanto, a possibilidade da
linguagem. A forclusão faz com que o simbólico desapareça porque dessa forma não há a
inscrição do nome do pai, sendo que é esse o intermediador da lei da ordem do simbólico,
a saber, a proibição do incesto (Plon & Roudinesco, 1998).
A articulação entre os três registros irá produzir o nó borromeano. Este, refere-se a
intersecção dos três registros, é o que ao mesmo tempo unifica e o que particulariza cada
registro. Qualquer coisa jamais deixa de existir (imaginário), ou deixa de não se escrever
(real), ou deixa de se representar (simbólico), então é nesta articulação que os três registros
se sustentam e se constrangem, é no nó, portanto, que se encontra a realidade psíquica.
Então, o nó é um vazado, um buraco onde se instala o objeto a que é causa de desejo
(Vorcaro, 2009). Tudo começa pelo real, ele constitui a base estruturante do sujeito, o
simbólico, e esse possibilita a constituição de imaginário, originalmente faltoso. Porém, se
formos seguir a representação de Lacan Real-Simbólico-Imaginário (R-S-I), como é um
continuo ficaria da seguinte forma ... R-S-I-R-S-I ..., logo o imaginário também incide
sobre o real. Percebe-se que os três registros estão amarrados entre si, e que o simbólico
está sempre entre o real e o imaginário, como se tivesse duas faces, uma para o real e outra
para o imaginário (Jorge, 2008).
Os três registros se repetem incessantemente e indestrutivelmente fazem coincidir o
desejo e a lei paterna. O fantasma e o sintoma que sustentam e constrangem as condições
de gozo. O nó borromeano é o pai-vertido, portanto não é a norma de relação entre os três
registros. Há um ponto central que é a intersecção entre o real, o simbólico e o imaginário
onde se localiza o objeto a. Esse seria o objeto que satisfaria o sujeito, porém ele é perdido
e faltoso (Vorcaro, 2009).
Cabe-nos pensar um pouco sobre o objeto a. Este é um objeto faltoso, perdido que o
sujeito busca sempre reencontrá-lo. Esse objeto se situa no centro do nó borromeano como
já citado e é o motor da estrutura, sendo a própria causa da estrutura. Ele participa dos três
registros por estar na intersecção, entretanto por se tratar de um objeto inexistente,
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inapreensível o que importa deste é justamente seu registro no real. Pois é um objeto que
não possui em si um nome ou imagem, ele é causa de desejo porque opera no furo da
estrutura, em um vazio. Para além do registro real do objeto a e o que é apreensível é o que
Lacan irá chamar de imagens de a. Essas são as representações de cada sujeito que são
construídas pelo simbólico, através dos significantes do Outros, ou seja, o objeto que
satisfaz parcialmente a pulsão é justamente as imagens de a, visto que o objeto enquanto tal
é perdido. Por isso, que Freud sempre irá referir que o encontro com o objeto sempre é um
reencontro (Jorge, 2008).
Revisados estes conceitos agora é possível dissertar sobre as grandes estruturas
clínicas: a neurose, a psicose e a perversão. Ressaltamos que estas estruturas ainda
admitem subdivisões, todavia este trabalho não suportaria tamanha profundidade.
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AS ESTRUTURAS CLÍNICAS
A Neurose
A Psicose
forcluído é a castração. Vejamos que o paciente do homem dos lobos não revela a sua ama,
a quem era sua confidente, sobre sua alucinação, porque esta lhe remete diretamente aquilo
que é insuportável para ele, então lhe falta a palavra (Lacan, 1953-1956/1985).
Outra característica destes sujeitos é o discurso vazio, marcado por neologismos, e
por uma verborréia, ou seja, repetem as palavras como papagaios, sendo estas sem
significado, por isso podem passar de um assunto a outro. Não há metáfora como referido
acima, as palavras possuem apenas um significado, não há espaço para a simbolização
(Calligaris, 1989). Algo importante de salientar aqui é que no neurótico há um sujeito
suposto saber, ao menos um detém o saber, entretanto este saber comporta erros, pois a um
deslizar de significantes. Já no caso do psicótico há apenas um saber, por isso que há
impossibilidade da metáfora (Calligaris, 1989). Na psicose há uma certeza e isso que faz o
questionamento ser ausente nas alucinações e delírios desses sujeitos. Esses sujeitos tem
plena convicção de suas construções, pensamentos, que podem ser percebidos nos relatos
do presidente Schreber. Além desses, pode-se observar nos discursos religiosos onde só há
espaço para uma verdade e essa é inquestionável (Coriat & Pisani, 2001).
A forclusão possibilita que o sujeito não possua interditos internos, porém lhe nega
uma filiação. O sujeito sempre estará em busca de algo que possa cobrir o furo deixado por
este mecanismo. No sujeito neurótico há uma falta que é origem do desejo, pois lhe falta o
falo, ou seja, o que lhe faz completo, já que ele é interditado. Já na psicose o sujeito se
posiciona como aquele que preenche a falta e por isso é “completo”, entretanto lhe falta à
filiação que lhe garante um lugar, preso a um centro que o direcione (Calligaris, 1989).
Como citado acima, a castração volta sobre o real, quando não pode ser
simbolizada. Isto ocorre porque a castração demanda o sujeito o tempo todo, pois os
limites se apresentam continuamente para todos. Quando o significante primordial é
evocado pelo sujeito só há o vazio, então, a realidade é modificada pelo sujeito. Freud
(1924/2007b) escreve que o sujeito modifica sua realidade para poder lidar com a angústia
de castração. O psicótico poderá encontrar algo que o interdite no externo. O sujeito poderá
utilizar o trabalho, a religião, o estudo entre outros, como algo que lhe garanta a filiação.
Então, para o psicótico o trabalho falará dele. Como ele não possui o ponto central que
amarra todos os demais significantes, pois este foi forcluído, poderá encontrar algo que lhe
situe. Pensando clinicamente um exemplo pertinente para visualizar como o sujeito lida
com a questão da filiação, é alguém que recebe um diagnóstico e se utiliza deste para falar
de si.
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A Perversão
A renegação (Verleugnung) é o mecanismo da perversão. Etimologicamente este
termo refere-se à negação da negação, então o que é negado duas vezes, se torna presente.
É como uma equação matemática onde negativo com negativo é igual a positivo. O que é
renegado é a castração, portanto o sujeito que se utiliza deste mecanismo pode triunfar
sobre a castração. A renegação causa no sujeito uma cisão psíquica, de um lado ele
reconhece a castração, recalca, de outro lado ele “nega” este significante. É por isso que o
sujeito consegue transpor a lei (Valas, 1990).
Segundo Roudinesco e Plon (1998) este é um mecanismo descrito por Freud que é
caracterizado pela recusa de uma realidade negativa, ou seja, da falta no outro. Neste caso,
o que o sujeito irá negar é a ausência de pênis na mulher, onde havia falta, agora há
presença.
Pode-se referir que a marca da renegação é realizar a fantasia que no neurótico está
recalcada. Neste sentido, Freud refere que a neurose é o negativo da perversão (Jorge,
2010). Há perda da realidade tanto na psicose como na neurose, entretanto enquanto o
psicótico delira, o neurótico fantasia e recalca e o perverso realiza esta fantasia. Falando
imaginariamente o perverso é aquele que realiza o incesto (Freud, 1924/2007b; Jorge,
2010).
Freud (1927/2007) faz a diferenciação entre renegação e escotomização. Ele
escreve que a segunda refere-se à anulação, ao apagamento da percepção da ausência de
pênis na mulher. Já na renegação o sujeito reconhece a falta, entretanto irá negar. O
perverso irá cobrir a falta, ou seja, utilizará um objeto que inutilize o registro real da falta.
Nesse artigo o fetichismo é apresentado como modelo de estudo das perversões.
O vocábulo fetiche vem do latim factitiuns que significa feito com intencionalidade,
sendo que em francês é fetiche e para o português feitiço (Hassan, 1992). Portanto, será
algo que enfeitiça o sujeito que o seduz de tal maneira que o captura. Então, o fetichismo
poderá ser uma saída para os perversos, pois lhe garantem certo triunfo sobre o significante
da castração (Valas, 1990). Cabe lembrar que a estrutura perversa é diferente de
perversidade. A perversão é como o sujeito irá responder a castração. A perversidade pode
estar presente em alguns perversos, mas não é ela que caracteriza a estrutura, já que a
perversidade diz respeito à maldade e a crueldade. Este esclarecimento se faz necessário
porque a estrutura é o modo como o sujeito se constitui, desta forma não estará enquadrada
em questões morais. Entretanto a perversidade é julgada pela moral e condenada por esta
(Valas, 1990).
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tensão que sobre no ICS. Já o gozo do Outro seria, por sua vez, um gozo total onde não
haveria tensão alguma, que pode ser associado à própria morte, como a ausência de tensão
ou ao ato incestuoso. Entretanto, o gozo total, ou gozo do outro não passa de uma ficção
algo que não pode ser atingido, de uma miragem (Nasio, 1993). Aparentemente esse, no
caso da perversão, é obtido a preço da transgressão. Entretanto o perverso está sempre
preso ao gozo do Outro, o que esse sujeito busca incessantemente é tapar o furo do outro,
desse modo fica desconstruída por completo a associação de perversão e perversidade já
citada acima. O perverso fica preso em suas encenações e descobre com horror o limite de
sua montagem imaginária. Essa montagem é a tentativa de provar a não existência da
diferença entre os sexos (Dor, 1996). Se a castração remete ao limite, a finitude, então se
pode compreender que é isso que o perverso não suporta. Na verdade, a castração é um
significante insuportável para todos os sujeitos, pois ela ataca a onipotência infantil. O ato
perverso seja lá qual for é sempre um triunfo sobre este significante. Então, o perverso não
se torna autônomo por transpor a lei, mas sim um escravo do gozo do Outro (Dor, 1996;
Julien, 2009). O perverso acaba por se identificar imaginariamente com a mãe, por supor
que esta possua o falo. Então, ele ultrapassa o primeiro tempo do Édipo onde a dialética é
se ser ou não ser o falo, entretanto nega a diferença dos sexos por ter que possuir o falo que
é o desejo de sua mãe (Dor, 1996, Oliveira, 1996). Dor (1996) afirma que o perverso faz
com que a mãe tenha um falo, para que a diferença seja apagada, desta forma tira o pai de
cena, pois se a mãe é faltante e deseja um falo, a criança lhe deu um. Pode-se perceber que
é um circuito que a criança coloca um falo na mãe e se identifica com ela.
Conforme citado acima, ser o falo da mãe é possuir uma identificação fálica. Para
que se possa prosseguir na caracterização da estrutura perversa são necessários alguns
esclarecimentos. A criança possui certeza de sua identificação fálica, e para que esta seja
questionada é imprescindível que o pai atue como mediador. O pai se presentifica para a
criança de três modos o pai real, o pai imaginário e o pai simbólico. O pai real é a pessoa o
genitor ou não, é o ser que se coloca. O pai imaginário é o produto de projeções da mãe e
da própria criança, que formarão a imagem paterna, sendo que para a criança é esse que lhe
importa, muito mais que o real, pois é esta construção imaginária que configura o pai. Já o
pai simbólico é aquele atribuído da função fálica, ou seja, o portador do falo e por sua vez
o detentor da lei. A mãe deixa em suspenso o seu desejo, pois em seu discurso esse devia
remeter ao pai simbólico, com isso o questionamento da identificação fálica da criança fica
em suspenso permitindo desta forma uma identificação perversa em virtude da economia
do desejo (Dor, 1991).
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por tinta. Além da questão ser repetida continuamente sem poder pensar era apenas a
tradução em ato. Um aspecto muito interessante desse caso é a questão de apagar tudo após
o gozo, que se trata de um apagar o que de certa forma era a diferença, pois se a marca de
caneta era para que sua mãe lhe encontrasse na multidão, isso causa a diferença, se apagar
a marca desaparece a diferença. Então, os riscos de tinta possuem uma função dupla,
ambígua que é de servir como fetiche, ou seja, de ocupar o lugar de falo para não ter que se
confrontar com a angústia de castração. E também para poder ser apagado simbolizando o
triunfo do perverso sobre a castração.
O estudo das estruturas clínicas proporciona que a subjetividade que havia caído em
descaso, seja novamente questão para a psicologia. O conceito de sujeito aparece para se
falar dessa subjetividade, que é singular de cada um. Por isso, sujeito e individuo não são o
mesmo, sendo que sujeito é uma função que está atrelada ao simbólico, e portanto ao
significante. O sujeito é desprovido de substância, pois o mais importante é saber qual o
lugar que esse ocupa na estrutura, pois ele ocupa o lugar entre dois, ou seja, entre a pulsão
e o inconsciente. Se a pulsão é um conceito fronteiriço entre o que é da ordem do orgânico
e do psíquico, e o inconsciente é da ordem do psíquico, o sujeito é algo que não pode ser
capturado, não pode ser apreendido, a não ser pelo discurso, porque o sujeito é efeito da
linguagem. Entretanto a um paradoxo, pois o inconsciente é um conceito que está para dar
conta do que é o sujeito, ou seja, por existir um sujeito é que o inconsciente foi pensado. O
sujeito é anunciado por Freud no texto a injeção de Irma, este é um sonho que o próprio
Freud teve e nesse podemos perceber que ele anuncia a questão do sujeito. Porque o sujeito
é o entre dois, onde brota o desejo. Se o desejo só pode estar onde há falta, da mesma
forma o sujeito está ali, pois é o sujeito do inconsciente, que é efeito de linguagem e
portanto efeito da estrutura, ou seja, o sujeito é reconhecido pela forma que este se
estruturou. A questão retorna ao princípio, pois as estruturas são modos de como o sujeito
irá lidar com o significante da castração, que consequentemente determinará a amarragem
dos demais significantes, porque o valor do significante não está em seu significado e sim
que um sempre irá remeter ao outro dando ideia de um continum. Por fim, cabe o clínico
escutar o sujeito através da sua subjetividade, para além de um simples olhar
fenomenológico e empírico (Cabas, 2010; Oliveira, 1996; Vorcaro, 2009).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
demasia dificultando a compreensão. Então, por mais que o trabalho tenha atingido seus
objetivos a sensação é que sempre está faltando algo, visto que por mais que se aprofunde
este assunto ele nunca se esgotará.
Portanto é evidente que o trabalho não esgotou o assunto das estruturas clínicas,
visto que se pode admitir algumas subdivisões: a neurose pode ser dividida em histeria,
obsessão e fobia. Todas estas estão sob recalcamento, porém apresentam particularidades.
Na psicose da mesma forma temos a esquizofrenia, a paranoia e a melancolia. Já no caso
da perversão fica mais complicado, pois é muito variada apresentando diversos
desdobramentos. Entretanto de modo geral pode-se pensar no fetichismo, na
homossexualidade, no sadismo, no masoquismo, no voyeurismo, no exibicionismo, faces
da estrutura perversa que estão descritos na literatura desde Freud. Ainda no ponto de vista
teórico o estudo admite aprofundamentos na perspectiva do desenvolvimento libidinal ao
longo do ciclo da vida. Nesse sentido a ampliação do estudo das estruturas se da pelos
pontos de fixação nas fases oral, anal e fálica, apontando as consequências constitucionais
do sujeito. Além disso, poder-se-ia aprofundar sobre a questão da drogadição, se essa
estaria restrita ou não a uma única estrutura. Portanto, há possibilidades de expandir este
trabalho, qualificando cada vez mais a formação profissional em psicologia, por ampliar as
perspectivas teóricas.
Já como trabalhador na saúde mental do município o diagnóstico das estruturas
clínicas se faz muito pertinente, pois permite compreender o sujeito na sua subjetividade.
A partir do modo de estruturação do sujeito/usuário/paciente, que está inserido na rede
pública, o projeto terapêutico singular (PTS) tem como objetivo um tratamento direcionado
para o sujeito em questão e não apenas para a sua classificação psicopatológica nosológica.
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