Livro Da Cor Edgar Moura
Livro Da Cor Edgar Moura
Livro Da Cor Edgar Moura
DA COR
Edgar Moura
Moura, Edgar
Da Cor / Edgar Moura - Santa Catarina:
iPhoto Editora, 2016
ISBN 978-85-63565-27-x
iPhoto Editora
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Índice
Apresentação 13
Prefácio 14
Introdução 15
CAPÍTULO 1................................................................................. 19
AS CORES 19
“Nassau for Dummies”: As quinze causas
das cores para os piores alunos da classe 23
Os quinze mecanismos das cores 31
CAPÍTULO 2 ................................................................................. 51
O QUE FAZ O COLORISTA 51
Fogo, fumaça e poeira 51
Correção de cor/Marcação de luz
(Color correction/Color grading) 55
As três fases da correção de cor 56
As normas (Broadcast legality) 57
Pixels (Picture elements) 60
Um céu de brigadeiro, azul, e o voo por instrumentos 63
Os instrumentos: Waveform e Vectorscope 64
Vocabulário 67
Para onde isso vai? 68
Vocabulário, ainda: Gamut 72
Vetor é cor 73
A correção primária 77
O segredo da correção primária está nas parade curves 78
Correção primária feita nos gráficos RGB 79
Os pretos primeiro 79
Antes, vocabulário e Photoshop 80
As curvas metem medo e as curvas são a salvação 81
Uma piscada de olho para o Photoshop 83
Photoshop e correção de cor digital: a diferença 83
A curva Gamma-Tempo deu nas curvas Luma/RGB 87
A lua crescente, o sol nascente e um ponto de vista 87
Ainda as primárias: filtros e visuais pré-programados 91
Telecine, primárias e secundárias 93
A correção secundária 93
Pele, grama e céu: correção secundária e as possibilidades 95
Identificação, separação e correção 96
Separação eletrônica 97
Separação por área 97
O mistério da cor de Luma, a Vermelha 98
O look 101
Instagram 105
Mouses, jogos e DaVinci 107
O programador, o software e Darthvader 108
A direção de fotografia acabou 111
O bom gosto e a arte do colorista 112
Cartier-Bresson 119
A cor pop
129
A arte e o colorista 130
As ferramentas: HSL/baixas, médias e altas 131
Aces: o futuro é para sempre 134
CAPÍTULO 3 ...................................................................136
O QUE FAZ O FOTÓGRAFO 136
O quadro 138
Fotografia e movimento 140
CAPÍTULO 4 ...................................................................141
COMO O FOTÓGRAFO FAZ O QUE FAZ 141
O filme 143
RGB progressivo 145
Gilberto Braga
Prefácio 2 em 1
“Bom, realmente ainda não devo ter sido claro. Vou simplificar a
coisa”, repliquei, esclarecendo que eu queria conhecer a técnica “base-
light de maquiagem eletrônica” que fazia as velhas (old ladies) parecerem
jovens. Aí a velha senhora resmungou alguma piada feminista, que eu não
entendi, emburrou de vez e quase me botou para fora da suíte. Mexeu
lá nuns botões (sim, hoje eu sei em quais botões ela mexeu e para que
servem, já digo já, mais adiante, mas deixe-me continuar a história) e fez o
que eu já tinha visto mil vezes os meus amigos coloristas fazerem, quan-
do estão “marcando a cor” de um filme: “separou” a pele por luminância e
deu um blur, o que fez a cara da atriz ficar tão difusa quanto quando usa-
mos um filtro pro-mist na câmera. A velha colorista olhou para mim com
desprezo e perguntou se estava bom assim. Como era uma missão oficial
da televisão, eu não podia titubear e, mesmo constrangido, perguntei se
aquilo era o baselight. Aí a ficha caiu — a ficha da colorista. A mulher abriu
um sorriso (de gozação) e disse: “Sir, baselight não é uma técnica, é o
nome do software de correção de luz da nossa firma, a FilmLight”.
1
O DaVinci/Resolve usa a tecla Blur da página de cor (Blur tab/Color page). O Assimilate Scratch tem
opções Blur no menu Texture e o FilmLight Baselight tem um plug-in.
2
Todos são controles para borrar e atenuar (blur/softening) e são usados em áreas que foram previamente
“separadas” usando Seleções HSL (Qualifiers HSL) ou máscaras (power windows).
E isso (a introdução) ainda nem acabou, ainda tem mais isto: o pro-
blema da fotografia é enfiar o mundo dentro da foto. Ele não cabe lá. Sem-
pre ficará alguma coisa de fora. E nem estou falando de enquadramento.
Falo de cores e contrastes. O mundo é cheio de contrastes e de cores que
nenhum sistema de fotografia, analógico ou digital, consegue captar. Há
que se fazer concessões. Por mais que estejamos acostumados a olhar as
fotos como sendo a imagem do mundo, sabemos que muita coisa ficou
de fora. É verdade que nunca será possível comparar a foto com a rea-
lidade, colocar uma ao lado da outra para ver se esta ficou igual àquela.
Mas o alvo da fotografia é a reprodução fiel da natureza (o.k., artistas,
o.k., não é bem assim, sabemos, ninguém quer apenas retratar a natureza
exatamente como ela é, queremos sempre interpretá-la, tudo bem) e, se
quisermos ser hiper-realistas e fazer da foto a imagem perfeita da realida-
de, sabemos que há restrições técnicas. Mesmo não sendo fotógrafos,
nem cientistas, sabemos que muito fica de fora. As cores sofrem até mais
do que os contrastes. Não o vermelho da maçã, o azul do céu ou o verde
das matas. Eles estarão lá, RGB, mas mais pobres e sem as sutilezas que
existem na natureza. São essas as limitações das máquinas de reprodu-
ção da realidade, que são as câmeras, e este é o trabalho do fotógrafo:
reproduzir, gravar, cores e contrastes. É aí que o colorista chegou para aju-
dar o fotógrafo. Seu trabalho é outro, é de extração. É conseguir arrancar
da imagem que o fotógrafo fez, tudo o que ficou escondido.

A fotografia digital e a correção de cor estão chegando mais perto
do que a fotografia fotoquímica jamais conseguiu. Para o desespero dos
puristas. Eu, incluso. Mas não adianta espernear, é assim. E se a fotografia
conseguir gravar, roubar da natureza, as suas cores e contrastes, é o colo-
rista, na correção de cor, quem vai extrair isso da imagem e conseguir fa-
zer tudo aparecer. Por isso, é importante conhecer essas duas disciplinas,
a fotografia digital e a correção de cor. Elas são irmãs siamesas, nunca
mais existirá uma sem a outra. A fotografia digital não sabe nada, só grava.
A correção de cor também não sabe nada, mas, as duas e os dois, fotó-
grafo e colorista, juntos, podem tirar de bits and bytes o que nunca antes
havia sido extraído da natureza. A fotografia está, então, nas nossas mãos.
AS CORES
1 – refletida
2 – absorvida
3 – dispersada
4 – transmitida
Qualquer um desses fenômenos, juntos ou separados, pode dar
“uma cor” a uma “coisa”. As sutilezas começam aqui, como era de
se esperar: onde não conseguimos precisar os termos que estamos
usando. Nesse caso, o que é mesmo que estamos chamando aqui de
uma “coisa”? Sem começar a filosofar, assim como a Mônica explica-
va para o Eduardo, na música Eduardo e Mônica, “coisas sobre o céu,
a terra, a água e o ar”, posso dizer que todas as coisas, ao serem to-
cadas por uma luz, podem ser consideradas “objetos”. Admitido isto,
o problema é que as perguntas começam a vir em cascata depois que
conseguimos dar a primeira resposta ao primeiro problema. Quer di-
zer, assim que conseguimos resolver um problema, aparece um outro
que estava escondido atrás do primeiro. Por isso, é sempre bom lem-
brar onde começamos. Foi aqui: até descobrir que havia quinze cau-
sas para as coisas serem coloridas, só me tinha ocorrido uma causa,
e isso depois de entender (mais ou menos) como funcionava a luz. A
primeira causa das cores que eu entendi foi esta: um cubo é vermelho
porque reflete a luz vermelha³. Não há dúvida de que, em se tratando
de um cubo pintado de vermelho, a luz se reflete na superfície do ob-
jeto. Na tinta. É a primeira coisa em que pensamos quando pensamos
em cores, em objetos coloridos: pensamos em coisas pintadas, pen-
samos em tintas. Não pensamos em um objeto sólido composto de
um único elemento, como o ferro, por exemplo, que, mesmo depois
de quebrado, fatiado, pulverizado, esfarelado, mesmo assim, ainda
mantém a sua cor original.
3
Vou assumir que já concordamos que a luz é a do sol; que sabemos que é uma luz “branca”, e que a “luz branca” é
composta de “todas as cores”. Que essa luz “branca”, ao bater no “cubo vermelho”, vai ser refletida em parte e ferir a
nossa retina, dando “vermelho”.
nas mãos. Porém, atrás da primeira, estão mais quatro bailarinas es-
condidas, enfileiradas, uma atrás da outra. Assim, essa primeira res-
posta não respondia à segunda pergunta, que era a seguinte: “Tudo
bem, há uma reflexão do vermelho, mas... por quê?” E esta, por sua
vez, leva a outras: o que quer dizer “a luz foi refletida”? Como pode
a luz “bater e voltar”? Bate em quê? Volta por quê? Para responder a
tudo isso, vamos à versão “Nassau for Dummies”: As quinze causas
das cores para os piores alunos da classe”.
Dou, aqui, a lista inteira das quinze causas das cores segun-
do Kurt Nassau, mas em outra ordem, diferente daquela original, que
está no livro. Sigo a ordem das perguntas que me fui fazendo e das
respostas que fui me dando. Primeiro, eu faço a pergunta que me fiz
sobre a cor da “coisa”. Depois, dou a causa dessa “coisa” ser co-
lorida. Essas explicações estão bastante simplificadas, sem as suas
razões atômicas, moleculares ou óticas. A seguir, vem a lista original
do Nassau, com todas as suas causas “complicadas” (para quem não
ficou satisfeito, como eu, com as simplificações). A única “melhoradi-
nha” que eu dei na lista dele foi separar o que é fonte de luz do que é
transformação da radiação original em uma cor. Ao contrário da “lista
para os piores alunos da classe”, onde, em primeiro, vem a pergunta,
depois, a resposta, na lista original do livro vem primeiro a razão da
“coisa” ser colorida e, só depois, os exemplos. Lá eu adicionei uns
comentários, em itálico.
13a. Por que a luz passa pelo vidro, que é sólido, e não passa
por mim, que não passo pelo vidro?
Pergunte para o médico que opera o raio-X. Pergunte por que
ele se esconde atrás de uma parede de chumbo. O raio-X passa por
você como a luz passa pelo vidro. Vocês dois são sólidos, mas as
“luzes” são diferentes. O raio-X passa por você, mas não passa pelo
chumbo. Se o médico passasse o dia inteiro exposto à “luz” do raio-X,
ele ia ficar mais preto (ionizado, diz-se em física) do que o bronzeado
(tão ironizado por aí) da Vera Fischer.
Não se preocupe, não vou falar de teoria quântica. Não sou físico,
por isso mesmo, sei que não entendo nada de teoria quântica e não vou
ficar aqui falando do que não sei, embora saiba que está na moda. Tan-
to está na moda que, hoje em dia, todo mundo tem uma teoria quântica.
Pessoal. Até madames e cartomantes andam usando mecânica quânti-
ca para explicar a “energia que há entre nós”. Não deveriam. O próprio
Niels Bohr (que foi quem inventou a coisa) e Richard Feynman, Nobel de
Física, avisam: “Qualquer um que declare que a teoria quântica é clara,
na realidade, não a compreende”. Na dúvida, assista ao Ariano Suassu-
na cantar o funk “Rutherford/Bohr”, no Youtube, que a coisa fica clara.
1. FONTES DE LUZ
Cor causada por simples excitação de átomos e vibração de moléculas.
E assim foi. Em todo o cenário, era tanta fumaça, que mal dava
para enxergar alguma coisa. Nos exteriores, a mesma coisa: tanto fa-
zia se era dia ou noite, fumaça e poeira. Noturnas? Fogo! Tochas! Fle-
chas incendiárias. Breu, azul e fogo! Deu certo? Deu. Tanto deu, que a
série que a Globo apresentava na mesma época, na mesma hora, teve
que mudar de horário por ter sua audiência ameaçada.
Agora... na hora da gravação, era tanta fumaça no estúdio, que a
cenógrafa, revoltada, foi reclamar com a direção: “Assim nem vale a pena
fazer cenário, não se vê nada”. O diretor, que já tinha visto o resultado
dos testes e que tinha comprado e apoiado a ideia, mandou a moça ir dar
uma olhada na “correção de cor”, “para ver como é que vai ficar”.
Desconfiada, a cenógrafa sentou ao lado do colorista e pediu
para ver o material. Já sabendo da confusão, de propósito, o colorista
começou mostrando a “base”, que é o material como sai da câmera,
sem correção de cor. A mulher ficou furiosa! “Tá vendo? Não se vê
nada!”. Click, o colorista apertou o Enter do look da correção de cor
já feita e... “Ooohhh!”. A fumaça desapareceu e só ficaram os raios de
luz entrando pelas colunas e tocando em Jesus ressuscitado! Tudo
bem, não tinha ainda Jesus na época, visto que Davi e Golias é coisa
de 3 mil anos antes de Cristo, mas “luz de milagre” se faz assim, com
fogo, fumaça e poeira! Graças a Deu... ao colorista!
Correção de Cor/Marcação de Luz
(Color Correction/Color Grading)
6
VAN HURKMAN, Alexis. Color Correction Handbook. Peachpit Press.
HULLFISH, Steve. The Art and Technique of Digital Color Correction. Focal Press.
fotografia não morreu. O diretor de fotografia não foi para casa. Cada
um faz seu trabalho. Então, o que faz o colorista?
Pela ordem:
“As normas” (das transmissões de televisão/broadcast legality)
“A correção primária” (exposição correta)
“A correção secundária” (arte)
AS NORMAS (BROADCAST LEGALITY)
Não é bem assim, pixels não são “fogos de artifício”, isso seria
uma metáfora, já que os pixels são, sim, pontos luminosos, como são
pontos luminosos os fogos de artifício, vistos de longe, espocando na
noite. Agora não, ainda não necessitamos de metáforas, agora a coisa
é para valer e é assim: pixels são lâmpadas. Lâmpadas independen-
tes, ligadas a uma fonte de energia. Cada pixel é ligado a uma fonte de
energia elétrica... independente. Cada pixel pode acender ou apagar
ou ter a intensidade que a gente quiser. É isso que é “marcar a luz”.
É isso que chamamos de “corrigir a cor” de um filme. É a capacidade
do colorista de alterar a energia elétrica destinada a cada pixel. É esse
controle que dá ao colorista o poder de mudar as cores. É isso que
nos dá o controle das cores. Nas telas de TV.