Apostila Fadiga
Apostila Fadiga
Apostila Fadiga
RESISTÊNCIA MECÂNICA
(MECÂNICA DA FRATURA E FADIGA)
Edison da Rosa
UFSC - 2002
ANÁLISE DE
RESISTÊNCIA MECÂNICA
DE PEÇAS E
COMPONENTES ESTRUTURAIS
(MECÂNICA DA FRATURA E FADIGA)
APRESENTAÇÃO v
PREFÁCIO vi
REFERÊNCIAS 388
NOMENCLATURA 394
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
Edison da Rosa
darosa@emc.ufsc.br
Florianópolis, agosto de 2002
PARTE 1
CONCEITOS INICIAIS
MERCADO
REQUISITOS
DO PRODUTO
CONCEPÇÃO
MODELO DO SIMULAÇÃO
AMBIENTE DINÂMICA
MODELO DE ANÁLISE DE
ANÁLISE TENSÕES
MODELO DO SIMULAÇÃO
MATERIAL DE FALHA
MERCADO
Assim, com uma estimativa inicial das cargas que agem sobre a
estrutura e das tensões de falha do material, pode ser feito um pré-
dimensionamento, ou projeto preliminar, dos principais componentes
estruturais do equipamento, com base nas expressões clássicas da
Mecânica dos Sólidos. Este projeto preliminar, é óbvio, não apresenta
um grau de segurança uniforme, muitas vezes podendo pecar por falta
ou por excesso. Torna-se assim necessário realizar um estudo mais
detalhado, tomando por base o projeto preliminar. Uma primeira
necessidade é a determinação mais precisa das cargas que agem,
tanto estáticas como dinâmicas. Isto pode ser feito utilizando-se
métodos mais precisos de análise, com o uso de modelos matemáticos
ou através da medida e monitoração das cargas durante a operação do
equipamento, ou de um protótipo, por meio de uma simulação em
laboratório, ou mesmo de um ensaio em campo.
Com as cargas que atuam na estrutura já determinadas, é possível
realizar o dimensionamento da estrutura ou a verificação do projeto
preliminar. Apenas em estruturas bastante simples o número de
variáveis envolvidas é relativamente pequeno, de forma a permitir um
projeto rápido, obtido apenas com o dimensionamento. Em geral é feito
um pré-dimensionamento da estrutura, usando um modelo simplificado
de análise. Em seguida torna-se necessária uma verificação do pré-
dimensionamento, usando a estrutura real definida na etapa anterior.
Este processo de verificação consome a maior parte do tempo de
projeto, já que ele envolve um número bastante grande de detalhes a
ser verificado e calculado, devendo em muitas situações ser refeito
várias vezes, de uma forma iterativa.
Metodologia Moderna de Projeto 9
t
β
x
Registro no tempo θ
y
f(x) γ
Distribuição estatística F
FDE (PSD)
f t
Densidade espectral
MÉTODOS ANALÍTICOS
O mais simples dos métodos analíticos para a análise de tensões
está baseado na metodologia da Mecânica dos Sólidos, porém tem
uma grande desvantagem, já que parte de uma distribuição de tensões,
ou de deformações, pré-concebida, não necessariamente verdadeira, o
que pode levar a erros. Apenas em casos particulares é que aquelas
soluções são corretas. Para estruturas e máquinas mais complexas o
método usual começa a tornar-se muito laborioso e sujeito a erros
decorrentes das simplificações feitas no problema para tornar possível
a solução. Uma análise feita baseando-se nos conceitos da Mecânica
12 Análise de Resistência Mecânica
MÉTODOS NUMÉRICOS
Quando, em casos de estruturas complexas, não é possível tolerar
imprecisões na análise, o uso de Métodos Numéricos torna-se uma
exigência. Devido à limitação dos métodos analíticos é que se
desenvolveram os Métodos Numéricos de Análise Estrutural, que estão
baseados na Mecânica do Contínuo, como a Teoria da Elasticidade e a
Teoria da Plasticidade. Estes métodos possibilitam a análise para
geometrias quaisquer, dando assim grande flexibilidade na solução de
problemas. Os principais Métodos Numéricos em uso são o de
diferenças finitas, o de elementos finitos e o de elementos de contorno.
Pela relativa facilidade de uso, o Método de Elementos Finitos tem uma
aplicação cada vez mais abrangente e generalizada, seguido de perto,
ultimamente, pelo Método de Elementos de Contorno. O Método de
Elementos Finitos é um processo numérico que usa a solução de um
"elemento" de forma geométrica relativamente simples, solução esta
normalmente obtida com auxílio da Mecânica do Contínuo, para então
obter o comportamento de toda uma estrutura, com forma qualquer. A
estrutura sob análise é dividida em um conjunto de elementos com
dimensões finitas. Assim, a partir do comportamento de um elemento, é
obtida a solução da estrutura. O método exige, para ser utilizado de
maneira eficiente, pessoal especializado para preparar o modelo a ser
analisado. Mesmo em casos mais simples estes processos podem se
tornar atrativos, desde que disponível o programa de cálculo, pois
alguns minutos de computador fornecem todos os resultados, com
maior exatidão do que se fosse feita uma análise usual, consumindo
dezenas ou mesmo centenas de horas. Esta etapa não está em
discussão no presente trabalho, existindo várias publicações de
excelente nível, como, por exemplo, as referências [17], [23], [31],
[103], [Fancello].
Metodologia Moderna de Projeto 13
MÉTODOS EXPERIMENTAIS
Outra possibilidade para determinar as tensões no material é usar
uma análise efetuada diretamente sobre o produto. Normalmente o
interesse é sobre os deslocamentos da estrutura, quando carregada,
ou então sobre as tensões e deformações nos pontos críticos. Maiores
detalhes sobre os métodos apresentados podem ser obtidos nas
referências [32], [99]. A análise experimental pode ser feita utilizando:
- Extensômetros de resistência;
- Método de Moiré;
- Foto-elasticidade;
- Métodos holográficos;
- Emissão térmica.
Com o uso de extensômetros de resistência é possível determinar a
solicitação, em termos de deformações, em apenas alguns pontos do
componente, onde foram instalados os extensômetros. Apresentam
como vantagem uma aplicação direta sobre a peça e interpretação
bastante fácil dos resultados obtidos. Exigem, no entanto, um
conhecimento prévio de quais são os pontos mais solicitados, bem
como uma estimativa das direções principais das tensões que agem.
Uma vez conhecido o estado de deformações pode-se obter o estado
de tensões no ponto pelo uso da lei de Hooke, desde que o material
esteja seguramente dentro do regime elástico.
O método de Moiré, bem como a holografia, determina o campo de
deslocamentos na superfície da peça, necessitando uma análise mais
complexa dos resultados. O método de Moiré exige que a peça a ser
ensaiada seja previamente gravada com uma malha e, a menos que as
deformações sejam grandes, torna-se necessário o uso de malhas de
alta precisão, com espaçamento entre linha da ordem de 10 a 50 µm.
Uma análise por foto-elasticidade exige a confecção de um modelo,
da peça, de plástico birefringente, o qual será carregado e submetido a
luz polarizada, que tem o seu plano de polarização alterado, conforme
a solicitação no ponto. Este efeito gera franjas de interferência, que são
linhas de igual tensão cisalhante, ou de igual direção das tensões
principais. A análise dos resultados é bastante trabalhosa, porém
permite obter todo o campo de tensões sobre o modelo.
O método por emissão térmica utiliza um processo de leitura da
temperatura sobre a peça com precisão da ordem de 0,001 °C. A peça
é submetida a um carregamento típico de modo que pode ser obtido
um mapeamento da temperatura que o material da peça atinge sob
carga, devido ao efeito de histerese. Através de uma calibração,
específica para o material, temos definida a relação temperatura-tensão
e assim gera-se um mapeamento do estado de tensões na peça. Este
método é sensível ao valor da tensão equivalente, que caracteriza o
trabalho de deformação gerado em cada ponto e portanto a energia
dissipada na forma de calor.
A figura 1.5 mostra um modelo para análise por elementos finitos de
uma peça, bem como os resultados típicos que obtemos. A figura
14 Análise de Resistência Mecânica
σmáx
Extensômetros
Modelo numérico Peça real
(Strain gages)
σ
CRITÉRIO DE DANO
D=D( ε p; V f )
D = D (σmáx ; τmáx )
ε
D = D ( ∆ε ; N i )
∆ε
.
D = D ( ∆K ; a )
∆K σ
.
ε
ANÁLISE DE CONFIABILIDADE
Pf S = 1 - C S= f ( P I, f 0; T )
Pf D = 1 - C D= f ( f S, f R)
MODELOS DE CONFIABILIDADE
SOBRECARGA DESGASTE
Figura 1.7 - Análise de segurança para falha por sobrecarga e por desgaste.
Modelo numérico
Modelo experimental
CAE/CAD/CAM Análise de falha
Digitalizador 3D Ensaio
CI E Análise dinâmica
Análise numérica
1.7 CONCLUSÃO
Este Capítulo apresentou uma visão geral e abrangente sobre os
princípios sobre os quais todo e qualquer projeto estrutural está
baseado, com uma ênfase bastante grande sobre os últimos
desenvolvimentos e técnicas. Resumidamente podemos dizer que todo
problema de projeto, quanto à capacidade de carga das diferentes
peças e componentes, necessita dos passos:
Definição do carregamento atuante;
Determinação dos modos de falha prováveis;
Caracterização do material para cada modo de falha;
Cálculo da solicitação no material, função do carregamento;
Verificação da segurança do projeto, pelo cálculo da confiabilidade.
Estando executados estes cinco passos, seja de uma forma
seqüencial, seja de uma forma iterativa, no caso de grandes projetos,
esta seqüência é o que podemos caraterizar como sendo a
metodologia recomendada para o desenvolvimento do projeto.
CAPÍTULO 2
u
SISTEMA v
Definição física
R, S
FRATURA
Neste caso vamos considerar inicialmente os modos de falha que
levam à ruptura do material, ou seja, à separação do sólido em duas ou
mais partes. Em geral o processo de desenvolvimento da fratura é
dividido em duas etapas distintas, início da fratura e propagação desta.
Uma fratura pode ser classificada em duas categorias gerais, fratura
dútil e fratura frágil. Uma fratura dútil é caracterizada por uma
apreciável deformação plástica na nucleação e na propagação da
trinca. Uma deformação plástica em nível macroscópico é também
encontrada nas superfícies de falha. Uma fratura frágil nos metais é
caracterizada por uma grande velocidade de propagação da trinca, com
pequena deformação plástica, mesmo em um nível microscópico. Um
metal pode ter uma ruptura dútil ou frágil, dependendo da temperatura,
estado de tensões e velocidade de carregamento. Para simplificar o
desenvolvimento vamos nos restringir a um carregamento estático de
tração, que leva à ruptura.
Neste ponto devem ser deixados bem claros os conceitos de fratura
frágil e de fratura dútil. Isto deve-se à necessidade de diferenciar uma
classificação que pode ser quanto ao aspecto macroscópico da fratura,
24 Análise de Resistência Mecânica
FRATURA DÚTIL
Corpos policristalinos de metais muito dúteis podem se deformar
plasticamente até que a seção transversal fique reduzida a um ponto,
como ilustrado na figura 2.2. Já para a ruptura sob tração, de metais
moderadamente dúteis, a deformação plástica produz uma redução na
seção transversal, provocando um estado triaxial de tração no interior
do material. Esta triaxialidade diminui a capacidade de deformação
plástica e a ruptura pode processar-se por um mecanismo de
nucleação de vazios, em torno de impurezas, no centro do material.
Esta nucleação passa a uma etapa de crescimento destes vazios, com
a continuidade da deformação plástica, até o instante em que os vazios
começam a se unir, levando à ruptura da região central, extendendo-se
após por cisalhamento. O resultado é a familiar fratura tipo cone e taça.
Os modos dúteis de fratura ocorrem como resultado de uma extensiva
deformação plástica, ao menos a nível microscópico, seja por
crescimento de vazios seja por cisalhamento. O modo de falha por
crescimento de vazios ocorre quando a deformação plástica atinge um
nível tal que os vazios originados nas impurezas do material passam a
coalescer, formando uma trinca de dimensões comparáveis com a
geometria do componente. Esta deformação plástica crítica é altamente
sensível ao estado de tensões a que a região está sujeita, medido pela
relação σ m / σ eq, bem como à curva tensão-deformação do material.
Embora o mecanismo metalúrgico de ruptura seja dútil,
macroscopicamente a falha pode ter uma aparência frágil. O critério de
ruptura dútil por cisalhamento é dado pela expressão (2.1) e o critério
para uma ruptura dútil por nucleação, crescimento e coalescimento de
vazios é expresso pela equação (2.2).
τ ≥ τE (2.1)
ε ≥ ε∗ = f (σ / σ )
f m eq (2.2)
Modos de Falha e Confiabilidade 25
FRATURA FRÁGIL
Uma ruptura metalurgicamente frágil é caracterizada pela separação
das duas porções do material segundo um plano perpendicular à
tensão de tração, sendo este um plano atômico da rede cristalina. Este
é o chamado mecanismo de ruptura por clivagem, sendo controlado
pelas tensões de tração que agem perpendicularmente ao plano
cristalográfico de clivagem. Quando esta tensão ultrapassa um valor
crítico tem início o processo de ruptura. A superfície rompida por
clivagem aparece brilhante e granular, devido à reflexão da luz nos
planos de clivagem expostos, enquanto a ruptura por cisalhamento,
quando observada com pequena ampliação, se mostra cinzenta e
fibrosa. Em geral, a superfície rompida apresenta uma ruptura mista,
com uma fração da área fraturada de modo frágil e o restante de modo
dútil. O critério de falha na ruptura frágil é dado pela máxima tensão
normal que atua no material, σ 1, a qual não pode ultrapassar a tensão
crítica de clivagem, σ cl. Assim, o critério de ruptura frágil é:
σ 1 ≥ σ cl (2.3)
τ σ m / σeq σ
σcl
1/3
γ ε*f ε
K I ≥ K IC (2.4)
INÍCIO DE ESCOAMENTO
Em muitas aplicações é necessário que o material esteja
integralmente dentro do regime elástico, para garantir um nível de
deformações baixo e recuperável, como no caso de eixos de alta
velocidade, de modo a manter o balanceamento em serviço, por
exemplo. Outro caso típico é o de dispositivos de medição e de controle
dimensional, em que a rigidez é fundamental e as tensões devem ser
bem inferiores à tensão limite de escoamento. Nestes casos o início de
escoamento já caracteriza a falha do componente. Outro exemplo é
quando se necessita de precisão de posicionamento do mecanismo
que está sendo projetado, onde um pequeno escoamento pode
provocar uma deformação permanente na geometria e levar a uma
conseqüente perda de precisão do dispositivo. Para situações em que
um pequeno escoamento nos pontos de concentração de tensão não é
problema, este modo de falha passa a ser muito conservativo, não
sendo econômico. A falha ocorre no ponto mais solicitado da peça e
assim o critério de falha é:
σ eq máx = σ E (2.5)
PLASTIFICAÇÃO GENERALIZADA
No caso de aplicações em que pode ser tolerada uma deformação
plástica, provavelmente localizada em detalhes que levam a uma
concentração de tensão, considerar como critério de falha o início de
escoamento é muito conservativo. Assim, é mais realista considerar
como falha a situação em que ocorre uma plastificação generalizada na
seção crítica, condição em que a capacidade de suportar carga fica
esgotada. Esta carga é também chamada de carga de colapso plástico.
Modos de Falha e Confiabilidade 27
σ eq = σ E (2.6)
FLAMBAGEM
A falha por flambagem ocorre quando temos uma combinação crítica
de rigidez da combinação estrutura-sistema de aplicação de carga, na
qual os deslocamentos transversais passam a crescer de uma forma
significativa, mesmo com carga constante. Neste caso a peça perde a
sua forma original, alterando a geometria, o que compromete sua
operação em serviço. Este modo de falha é característico de estruturas
esbeltas nas quais ocorrem tensões de compressão. A instabilidade
que leva à falha por flambagem pode ocorrer de um modo global, como
no caso clássico de colunas, ou de uma forma local, quando a
instabilidade fica restrita a uma deformação local nas paredes da peça,
mas que pode levar após a um colapso a nível global da estrutura.
28 Análise de Resistência Mecânica
FADIGA
A fadiga é um processo de redução da capacidade de carga de
componentes estruturais pela ruptura lenta do material, através do
avanço quase infinitesimal da trinca a cada ciclo de carregamento. A
fadiga ocorre pela presença de tensões que variam com o tempo, que
provocam deformações plásticas cíclicas localizadas nos pontos mais
críticos. Estas deformações levam a uma deterioração do material que
dá origem a uma trinca de fadiga que, com o prosseguimento do
carregamento variável, vai crescendo, até atingir um tamanho suficiente
para provocar a ruptura final. O processo de nucleação da trinca de
fadiga depende das tensões cisalhantes cíclicas que atuam, enquanto
que para a propagação são importantes as tensões de tração, que
fazem com que as pequenas trincas que foram nucleadas venham a
crescer e levem à ruptura final. Como os mecanismos que atuam na
nucleação e na propagação são distintos, é necessário usar critérios
diferentes para avaliar uma falha por fadiga na nucleação e na fase de
propagação.
Modos de Falha e Confiabilidade 29
CORROSÃO
A corrosão pode ser definida como a destruição de um corpo sólido
por uma ação química ou eletroquímica não intencional, que
invariavelmente inicia na superfície do corpo. No caso dos metais o
ataque ocorre quase sempre por uma ação eletroquímica, devida à
característica estrutural dos metais, que permite fenômenos como o
movimento de elétrons dentro da rede cristalina. Como os materiais
não metálicos não exibem esta propriedade, eles podem ser atacados
apenas pelos meios corrosivos capazes de reagirem quimicamente
com eles dentro de certas condições. Muitos fenômenos de corrosão
são em essência eletroquímicos e envolvem a presença de um
eletrólito em contato com o metal. Este eletrólito é usualmente uma
solução aquosa de um sal, ácido ou álcali e conseqüentemente este
tipo de corrosão é denominado úmido. Todos os outros fenômenos de
corrosão envolvendo reações químicas entre o metal e um líquido, ou
gás, que não é um eletrólito, são classificados como corrosão a seco.
FLUÊNCIA
Para componentes que operam a temperatura elevadas temos a
presença de outros mecanismos de falha, que se tornam operantes a
temperaturas da ordem de 0,35 a 0,70 TF e superiores, sendo TF a
temperatura absoluta de fusão do material. Nestas temperaturas novos
mecanismos de deformação podem se tornar ativos. Estes
mecanismos passam a provocar no material uma deformação
irreversível que cresce de forma constante com o tempo, mesmo que o
carregamento seja mantido constante. A velocidade com que a
deformação ocorre depende tanto da temperatura a que o material está
submetido como do nível de tensão aplicada. Outro fator a considerar é
o efeito de uma exposição prolongada à alta temperatura sobre a
estabilidade metalúrgica, ou seja, metais encruados irão recristalizar e
sofrer um crescimento de grão, enquanto que as ligas endurecidas por
precipitação podem sofrer um super envelhecimento e perder
resistência devido ao crescimento das partículas de segunda fase.
Outro problema é a oxidação, que se torna sensivelmente mais ativa a
altas temperaturas. Em uma análise mais detalhada a fluência pode
levar a dois modos de falha, um por deformação excessiva da estrutura
e outro por ruptura do material. Neste último caso uma técnica muito
usada é pela definição do chamado parâmetro de Larson-Miller.
DESGASTE
Aqui nos referimos ao desgaste do material, por remoção deste, seja
através do processo de aderência e remoção de partículas do material
de um dos elementos do par de atrito para o outro, seja por
arrancamento de metal por partículas mais duras, que colidem com
este. O primeiro tipo de desgaste é denominado de desgaste adesivo e
depende muito das condições de lubrificação e também da
compatibilidade dos dois metais em contato. O segundo tipo de
desgaste é o tipo abrasivo, onde a principal variável é a dureza do
material. O desgaste abrasivo pode ocorrer pela presença de partículas
duras entre as duas superficies em atrito ou então pelo contato de uma
superfície dura e áspera sobre outra mole. Este último caso foi
praticamente eliminado nos equipamentos atuais pelo uso de um
acabamento esmerado nas superfícies duras.
Modos de Falha e Confiabilidade 31
2.3 CONFIABILIDADE
O projeto de sistemas e componentes estruturais de muitos sistemas
mecânicos, como os veiculares, possuem características peculiares,
quanto ao tipo de solicitação atuante, tipicamente dinâmica e
imprevisível, e quanto aos requisitos da segurança em operação. Esta
segurança deve ser traduzida em parâmetros de projeto, em geral na
forma do tradicional coeficiente de segurança. Com a exigência sempre
crescente de competividade, em termos de desempenho de produto,
redução de custos, e menores prazos de desenvolvimento do produto,
aplicações em casos diferentes do habitual e o uso de modernas
ferramentas de projeto, como os sistemas CAE/CAD/CAM, o
procedimento tradicional de projeto mecânico deve sofrer significativas
reformulações, para fazer frente a estas novas situações. O assunto
deste capítulo procura enfocar um dos pontos que é, ainda hoje,
tratado de uma forma subjetiva, para não dizer empírica, que é da
caracterização dos níveis de segurança adequados a um dado projeto.
O enfoque proposto para a análise de segurança faz uso dos conceitos
probabilísticos, de forma a fornecer uma ferramenta suficientemente
potente para resolver situações onde a solicitação é aleatória,
excitando dinamicamente a estrutura, permitindo uma criteriosa
avaliação do nível de segurança existente ao longo da vida do produto.
A metodologia desenvolvida pode ser aplicada de uma forma bastante
simples, quando no desenvolvimento do projeto preliminar, pelo uso de
um fator de projeto calculado adequadamente, ou então em uma etapa
de avaliação do projeto, onde pode ser acoplada diretamente com os
modernos métodos numéricos de análise de tensões, como o método
de elementos finitos ou de elementos de contorno, ou ainda com
métodos experimentais.
A teoria clássica de projeto ignora o fato de que muitas variáveis em
Engenharia não são valores perfeitamente definidos, mas que variam
dentro de um certo intervalo. O processo clássico de projeto, com o uso
de um coeficiente de segurança, é simples e fácil de empregar, mas
peca pela falta de um maior rigor no tratamento quantitativo das
variáveis de projeto. A necessidade de estabelecer uma base mais
racional, com métodos precisos na determinação da performance
estrutural, tornou-se clara com um uso cada vez maior de sistemas
com requisitos de alto desempenho, com custos bastante elevados, o
que implica em uma grande responsabilidade por parte do projetista.
Nestes tipos de aplicações, em que um mínimo de peso, extrema
segurança e confiança no desempenho são exigências primordiais, o
caminho mais aceitável para trabalhar com as variáveis de projeto é
adotar um procedimento probabilístico. A diferença fundamental entre o
método clássico do projeto mecânico e o enfoque probabilístico
consiste no fato de se admitir neste último uma probabilidade de falha.
No método clássico a probabilidade de falha do projeto fica oculta por
um coeficiente de segurança. Por outro lado, com o enfoque
probabilístico, de uma maneira mais condizente com a realidade,
admitimos a existência de uma chance de falha.
32 Análise de Resistência Mecânica
C(t) = N(t) / N 0
dC( t ) 1
h( t ) = −
dt C( t )
Projeto do produto
Política de manutenção
λ
I II III
t
t1 t2
PI = P [ S ≥ R ]
FALHA ?
R(t)
S(t)
λ = fp PI
A PROBABILIDADE DE INTERFERÊNCIA
Vamos considerar que a solicitação que atua sobre o ponto crítico
seja um processo estocástico ergódico, ou seja, um processo aleatório
estacionário, onde as propriedades estatísticas não variam com o
tempo, que é uma hipótese bastante viável, e geralmente feita.
Adicionalmente, vamos adotar para a solicitação a hipótese de que
tenha uma distribuição gaussiana, ou seja, que sua função densidade
de probabilidade siga a distribuição normal. Para a resistência que o
sistema apresenta é possível também adotar, na maioria dos casos,
uma distribuição normal. Com estas hipóteses, então tanto a solicitação
atuante como a resistência seguem distribuições normais, o que
permite que se chegue a soluções analíticas para o cálculo da
probabilidade de interferência. A figura 2.5 ilustra a situação em que
ambas as distribuições são normais, como discutido.
Para o cálculo da probabilidade da interferência é necessário no
entanto trabalhar com a distribuição dos máximos da solicitação S e
não com a distribuição de S diretamente, conforme já comentado. A
distribuição de máximos de S pode ser deduzida a partir do conteúdo
de freqüência de S e temos dois casos extremos. Em um extremo, a
solicitação é tratada como um processo de banda larga, ou seja, o
conteúdo de freqüência de S(f) está distribuido sobre uma ampla faixa
de freqüências, e no outro caso, como um processo de banda estreita,
onde o conteúdo de freqüência fica restrito a uma pequena faixa,
conforme mostra a figura 2.6.
Para a condição em que a densidade espectral é de banda larga, a
distribuição de máximos coincide com a distribuição do sinal, ou seja,
os máximos seguem também uma distribuição normal. Desta forma, a
probabilidade de interferência é calculada diretamente pela expressão
(2.11) abaixo, onde φ(z) é a função de probabilidade acumulada da
distribuição normal, em geral tabelada.
Modos de Falha e Confiabilidade 39
PI = 1 - φ(z) (2.11)
DISTRIBUIÇÃO DA RESISTÊNCIA
DISTRIBUIÇÃO DA SOLICITAÇÃO
S (f) S (f)
f f
onde
n = µR / µS (2.13)
δi = 1 - [z Vi ]2
VR = σR / µR
VS = σS / µS
sendo:
n - Fator de projeto, análogo ao usual coeficiente de segurança;
VR - Coeficiente de dispersão da resistência, um índice da maior ou
menor aleatoriedade das propriedades do material. Pode ser pensado
como um índice de homogeneidade das propriedades do material.
Situa-se, em geral, na faixa de 0,02 a 0,08 para materiais metálicos;
VS - Coeficiente de dispersão da solicitação. Indica o grau de
aleatoriedade da excitação dinâmica que é sobreposta ao valor de
carga estática. É muito dependente da aplicação e do meio ambiente
em que o produto deve operar. Valores típicos na faixa de 0,02 a 0,30.
Para a condição onde a densidade espectral é de banda estreita, a
distribuição dos máximos segue uma distribuição de Rayleigh, cujo
parâmetro de definição é o desvio padrão da distribuição normal da
solicitação. A probabilidade de interferência deve ser calculada entre a
distribuição de Rayleigh dos máximos e a distribuição normal da
resistência. O desenvolvimento analítico leva à expressão:
VS (n - 1) 2
PI = exp - (2.14)
E 2E
onde E vale:
E = VS2 + (n VR ) 2
Modos de Falha e Confiabilidade 41
α = f0 / fp (2.15)
f 02 = m2 / m0 ; f p2 = m4 / m2
onde m i é o momento de ordem i da densidade espectral unilateral W(f)
do sinal da solicitação, [29],
m i = ∫ f i W(f) df (2.16)
PI = [1 - φ (z 1 )] + α PIR [1 - φ (z 3 )] (2.17)
onde PIR é dado para o caso em que α = 1, equação (2.14), como já
visto, e z 1 e z 3 são funções de α, n, VR e VS, [89]. Esta expressão
42 Análise de Resistência Mecânica
DANO SOLICITANTE
DANO RESISTENTE
Figura 2.7 - Dano acumulado, que solicita o material, e dano crítico, que o
material consegue suportar.
∆ε = M N c + B N b (2.19)
Di = ni / Ni (2.21)
D = Σ Di
44 Análise de Resistência Mecânica
D = f0 t [ 2 σS / C] w Γ (1 + w / 2) (2.22)
w=-1/m (2.23)
Tipicamente consideramos como valor limite para o dano que o
material pode resistir, sem romper, o valor unitário. Assim, para haver
segurança é necessário que D < 1.
É possível ainda obter o coeficiente de dispersão do dano, VD desde
que o sistema sob análise seja considerado de baixo amortecimento.
Assim, sendo ξ o coeficiente de amortecimento, e para um número
elevado de ciclos para a ruptura, vem
EXEMPLO 2.1
Nesta seção é apresentada uma aplicação das formulações e procedimentos discutidos,
com o objetivo de ilustrar de forma clara como devem ser usadas em uma situação de projeto.
Um dado componente estrutural deve ser dimensionado para suportar uma solicitação
que apresenta um valor estático (médio) de 25 kN e uma parcela dinâmica com um desvio
padrão de 21 kN. A frequência média do sinal é de 0,38 Hz, tendo um fator de irregularidade de
0,85. Deseja-se uma confiabilidade, quando à falha por sobrecarga, de 50% para uma vida de
18000 horas de operação. O material a ser usado apresenta as propriedades abaixo
Modos de Falha e Confiabilidade 45
σ R = 620 MPa
σ E = 345 MPa
σ N = 2103 N - 0,1921
V R = 0,05
O primeiro passo é calcular qual a probabilidade de interferência que deve ser usada de
modo a garantir a confiabilidade de 50%. Da expressão da confiabilidade, vem
λ = - ln (1 - C) / t , e como λ = PI fp , resulta
PI = - ln (1 - C) / (t fp )
n 3 4 5 6 6,3 6,31
PI 6,31E-2 2,33E-2 2,87E-5 1,41E-7 2,47E-8 2,33E-8
Desta forma, o fator de projeto a usar deve ser de 6,31, que corresponde à relação entre
a média da resistência e a média da solicitação. Assumindo que o critério de falha seja quanto
ao colapso plástico, a tensão resistente que é relevante é a tensão limite de escoamento do
material, o que fornece portanto uma tensão admissível de 54,7 MPa. Esta tensão deve ser
usada com o valor médio do carregamento, no caso a força de 25 kN, o que leva a uma seção
transversal de 457 mm2, e a um diâmetro de 24,1 mm. Adotando 25 mm, o fator de projeto
passa a ser de 6,77, o que leva a uma probabilidade de interferência de 1,39E-9 e a uma
confiabilidade de 96% para a vida prevista. Isto leva a um valor de resistência média da peça
de 170 kN, ou seja, a 6,9 desvios padrão da média da solicitação. Este valor, quando
comparado com a informação de que estamos seguros a três desvios padrão da média, mostra
que esta indicação não se aplica nas situações em que é exigida uma confiabilidade elevada
para o produto, como no caso do presente exemplo.
Para este dimensionamento, a análise de dano é imediata, necessitando-se apenas
calcular o desvio padrão da solicitação em termos de tensões, a partir do desvio padrão da
força atuante, de 21 kN, o que leva a um valor de σS de 42,78 MPa. Usando estes valores,
bem como w = 5,205, resulta
2.6 CONCLUSÃO
Este Capítulo desenvolveu dois pontos diretamente relacionados
com o comportamento de um componente ou equipamento em serviço,
ambos enfocando o aspecto falha. Inicialmente foi apresentado o
conceito de falha, na sua definição funcional e na sua definição física. A
definição física foi detalhada para os principais modos de falha,
classificados como dependentes ou independentes do tempo de vida.
Na seqüência, apresentou um conjunto de técnicas e procedimentos
46 Análise de Resistência Mecânica
F
F
∆d
∆l
F
FR
FE
Fe
Fp
Ff
∆l
### 0 = F / A 0 (3.1)
e = ∫ de
onde
de = dl / l 0
e, portanto, integrando entre o comprimento inicial e o final,
e = ∆l / l 0 (3.2)
σ0
σR
σE
σe
σp
σf
σ0
σE
σe
σ=Ee (3.3)
ep= e - ee (3.4)
σ0
ee ep
( ep ) e
σ0 .
e2
.
e1
.
e2 > e1
.
σE
a) b)
Material dútil com patamar de escoamento Material dútil sem tensão de escoamento definida
d)
c)
σ0
Módulo tangente
σ3
σ2
σ1
e2 e3 e
LM
ε *f = β ⋅ exp −
3 σm OP
N 2 σ eq Q
sendo σm a tensão média, ou hidrostática, existente, calculada como a
média entre as três tensões principais, e σeq é a tensão equivalente
segundo a teoria da máxima energia de distorção.
Comportamento Mecânico dos Materiais 59
ϕ = (A 0 - A f ) / A 0 (3.5)
Início da
σ0
estricção
σR
4
σE
3
σe 2
1
5
0 ef e
σR = Fmáx / A 0 (3.6)
ef = ( lf - l0 ) / l0 ; (3.7)
ϕ = ( A0 - Af ) / A0 (3.8)
Comportamento Mecânico dos Materiais 63
MÓDULO DE ELASTICIDADE
A inclinação da região linear do diagrama tensão-deformação é
denominada de módulo de elasticidade ou módulo de Young. O módulo
de elasticidade é a medida da rigidez do material, ou seja, para
módulos grandes, menores são as deformações elásticas, para um
mesmo nível de tensão. O módulo de elasticidade é necessário para o
cálculo de defleções e de deformações para todo e qualquer elemento
estrutural, sendo um valor importante para a análise e projeto.
O módulo de elasticidade é resultado das forças de atração entre os
átomos, logo, como estas forças não podem ser alteradas sem a
variação da natureza básica do material, o módulo de elasticidade é
uma propriedade intrínseca do material. Ele é alterado, apenas
levemente, pela adição de elementos de ligas, tratamentos térmicos ou
trabalho a frio. No entanto, sofre uma significativa redução de valor com
o aumento da temperatura. Para altas temperaturas o módulo de
elasticidade deve ser medido por métodos dinâmicos. Valores típicos
do módulo de elasticidade, função da temperatura, para materiais de
uso comum em Engenharia, estão listados na Tabela 3.1 a seguir.
TABELA 3.1
Efeito da temperatura sobre o módulo de elasticidade, [MPa].
MATERIAL 20°C 200°C 430°C 540°C 650°C
Aço carbono 207 000 186 000 155 000 134 000 124 000
Aço austenít. 193 000 176 000 158 000 155 000 145 000
Liga de Ti 114 000 97 000 74 000 70 000 -
Liga de Al 72 000 66 000 54 000 - -
Comportamento Mecânico dos Materiais 64
RESILIÊNCIA
A capacidade de um material absorver energia quando deformado
elasticamente e retornar, quando descarregado, às dimensões
originais, é denominada de resiliência. Ela é dada usualmente pelo
módulo de resiliência, que é a energia de deformação por unidade de
volume requerida para as tensões variarem de zero até a tensão limite
de escoamento σE.
σ0
σE
eE e
U r = 0,5 σ E2 / E (3.9)
TABELA 3.2
Módulo de resiliência para alguns materiais.
ESPECIFICAÇÃO MÓDULO DE TENSÃO LIMITE DE MÓDULO DE
DO MATERIAL ELASTICIDADE ESCOAMENTO RESILIÊNCIA
Aço médio carbono 207 000 310,0 0,230
Aço mola 207 000 965,0 2,330
Duralumínio 72 400 124,0 0,110
Cobre 110 000 28,0 0,004
Borracha 1 2,1 2,205
Acrílico 3 400 13,8 0,028
TENACIDADE
A tenacidade de um material é definida como a sua capacidade de
absorver energia, permitindo-se que penetre no regime plástico. A
capacidade de suportar, ocasionalmente, tensões maiores que as de
escoamento, sem romper, é desejada em elementos tais como
engrenagens, correntes, acoplamentos, cabos, etc. A tenacidade pode
ser considerada como a área total sob a curva do diagrama tensão-
deformação. Esta área é a representação de quanto trabalho por
unidade de volume o material pode absorver sem romper. A figura 3.11
mostra curvas tensão-deformação para materiais de alta e baixa
tenacidade. O aço mola tem tensão limite de escoamento mais alta que
um aço estrutural, porém este é mais dútil e tem elongação maior, logo
a área sob a curva do aço estrutural é maior, o que implica em maior
tenacidade. Para materiais dúteis, que possuem um diagrama tensão-
deformação semelhante ao do aço estrutural, a área sob a curva pode
ser aproximada por uma das seguintes equações:
Ut = σR ef (3.10)
Ut = σL ef (3.11)
σ0
Aço mola
σR
σR
Aço estrutural
eE e
U t = 0,667 σ R e f (3.12)
EXEMPLO 3.1.
Uma barra é deformada ao dobro do seu comprimento original. A deformação, quando
calculada pela equação (3.2), será e = 1, já que ∆l = l 0. Se agora, após ser tracionada, for
reduzida à metade do comprimento, temos e = - 0,5, pois ∆l = - 0,5 l 0 , em relação ao novo
comprimento inicial. É intuitivo que estes valores de deformação não são corretos, pois em
valor absoluto a deformação deveria ser a mesma nos dois casos, resultando uma deformação
final nula, mas que não ocorre.
z l
ε = ldε; ε = lnl − lnl 0 ;
0
ε = ln ( l / l 0 ) (3.13)
EXEMPLO 3.2.
Consideremos a mesma barra do exemplo 3.1, sendo deformada ao dobro do seu
comprimento original. A deformação, calculada agora pela equação (3.13), será ε = 0,693, já
que l = 2 l 0. Se agora, após ser tracionada, a barra for reduzida à metade do comprimento,
temos ε = - 0,693, pois l = 0,5 l 0 . Estes valores de deformação são coerentes com a nossa
espectativa intuitiva, onde, em valor absoluto, a deformação é igual nos dois casos, resultando
assim em uma deformação final nula.
Comportamento Mecânico dos Materiais 68
e = ∆l / l
ε = ln ( l / l 0 )
ε = ln ( l 0 + ∆l ) / l 0
ε = ln (1 + e) (3.14)
l / l0 = A0 / A (3.15)
ε = ln A 0 / A (3.16)
Quanto à tensão real, esta é a carga dividida pela área da seção
transversal, em um dado instante. A tensão de engenharia, ou tensão
convencional, é a carga dividida pela área original da seção do corpo
de prova. Considerando o comportamento elástico do material, esta
distinção não é necessária, porque os níveis de deformação são
baixos. Em certos problemas da plasticidade, particularmente quando
do tratamento matemático do teste de tração, é importante a distinção
entre as duas definições de tensão. A tensão real será denotada por σ
e a de engenharia por σ 0 . Assim,
σ=F/A (3.17)
Comportamento Mecânico dos Materiais 69
σ0 = F / A0 (3.18)
σ = σ 0 (1 + e) (3.19)
ε = ln (D 0 / D) 2 (3.20)
ε = 2 ln D 0 / D (3.21)
σ0 σ
σf
σR
σE
εf
e ε
ε f = ln ( A 0 / A f ) (3.22)
ε f = ln [ 1 / ( 1 - ϕ ) ] (3.23)
ε u = ln ( A 0 / A R ) (3.24)
Comportamento Mecânico dos Materiais 72
εy = εz = - ν εx (3.25)
εx = ( σx - ν ( σy + σz )) / E
εy = ( σy - ν ( σx + σz )) / E (3.26)
εz = ( σz - ν ( σx + σy )) / E
γ=τ/G (3.27)
G = E / (2 (1 + ν)) (3.28)
Comportamento Mecânico dos Materiais 73
ε y = - ( ν ε xe + 0,5 ε xp ) (3.29)
EXEMPLO 3.3.
Considerando a equação (3.29), podemos definir um coeficiente de Poisson efetivo,
como sendo a relação entre as deformações totais, nos eixos de interesse. Deste modo, sendo
νeq este valor do coeficiente de Poisson, o seu valor depende da relação entre as parcelas
elásticas e plásticas das deformações. Assim quando a deformação plástica for nula, νeq = ν, e
quando a deformação plástica for muito maior do que a parcela elástica, νeq = 0,5. A tabela
abaixo mostra este comportamento, assumindo ν = 0,30.
σz = ν ( σx + σy ) (3.30)
σ = k εn (3.31)
onde
n - expoente do encruamento
Comportamento Mecânico dos Materiais 76
k - coeficiente de resistência
σ - tensão real
ε - deformação real.
O gráfico em escalas logarítmicas da curva tensão-deformação real,
a partir do início do escoamento, resulta numa linha reta se a equação
(3.31) for satisfeita pelo material. A inclinação desta reta é n, e k é a
tensão real para o ponto onde ε = 1,0.
3
10
Linha elástica
σ k
2
10
Encruamento potencial
1
10
10
0
ε
-5 -4 -3 -2 -1 0
10 10 10 10 10 10
σ = σ E + k ε pn (3.32)
TABELA 3.3
Parâmetros para a curva tensão-deformação com encruamento potencial.
Material Condição n k [MPa]
Aço 0,05% de C Recozido 0,26 541
Aço SAE 4340 Recozido 0,15 654
Aço 0,6% de C Temp. rev. 538-C 0,10 1600
Aço 0,6% de C Temp. rev. 704-C 0,19 1250
Cobre Recozido 0,54 330
Latão Recozido 0,49 920
ε = σ / E + ( σ / k )1/n (3.33)
σe = ( k / E n ) 1 / 1 - n (3.34)
CV [J]
ENERGIA PATAMAR SUPERIOR
Ruptura dútil
Nucleação de vazios
Ruptura frágil
Mecanismo de clivagem
PATAMAR INFERIOR
TRANSIÇÃO T [ oC]
F [N]
CARGA MÁXIMA CARGA DE
CARGA DE
RUPTURA FRÁGIL
PLASTIFICAÇÃO
t [ms]
ENERGIA PRÉ CARGA MÁXIMA
ENSAIO CHARPY
Para os materiais com transição no comportamento dútil-frágil os
ensaios de impacto são muito úteis, sendo o ensaio com corpo de
prova Charpy com entalhe em V o mais difundido, estando incluido em
muitas especificações de projeto e controle de qualidade. O entalhe
provoca restrições à deformação em direções perpendiculares à
direção da máxima tensão principal, ou seja, um estado triaxial de
tensões, com um efeito também de concentração de tensão. O ensaio
Charpy mostrou-se valioso para verificar a suscetibilidade dos aços à
fragilização na presença de entalhes, embora o teste não possa ser
usado diretamente para assegurar o desempenho da estrutura em
serviço. A figura 3.17 ilustra o princípio do ensaio e a geometria do
corpo de prova Charpy com entalhe em V.
A aplicação da carga de impacto é feita por um pêndulo que é
deixado cair e, após a ruptura do corpo de prova, é determinada a
energia absorvida na fratura do material. Esta energia, em Joules [J], é
a medida da tenacidade Charpy do material. Os ensaios são feitos a
diversas temperaturas para o corpo de prova e assim é obtida a
influência desta sobre a tenacidade do material ensaiado. Para os
materiais fragilizáveis existe uma faixa de temperatura em que ocorre a
transição no modo de fratura. Esta transição é detectada por uma
queda brusca na tenacidade, ou seja, o material passa a romper de um
modo predominantemente frágil. A figura 3.18 mostra uma curva da
tenacidade contra a temperatura para um aço de baixa liga. Deve-se
observar que a tenacidade medida pelo ensaio Charpy é distinta da
tenacidade volumétrica, medida pelo ensaio de tração, bem como é
distinta da tenacidade à fratura, medida pelos ensaios de K IC.
Comportamento Mecânico dos Materiais 81
LINHA DE CARGA
10
10
40
r 0,25
55
2
45 o
CV [J]
ENERGIA
Faixa de dispersão
de resultados
Transição T [ oC]
Figura 3.18 - Curva tenacidade versus temperatura para um aço de baixa liga.
FRATURA FRÁGIL
FRATURA DÚTIL
EXPANSÃO
CONTRAÇÃO
F F F
σ1
σ1 : σeq= σE
σcl
T
T1 Tcr T2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para se ter uma margem de segurança suficiente deve-se usar
materiais com uma baixa temperatura crítica. Esta pode ser reduzida
não apenas pela alteração da composição química como, também,
através de um tratamento térmico que refine o grão. As tensões
aumentam nas reentrâncias e nas soldas mal feitas, contribuindo para
uma maior temperatura de transição. Um aumento do tamanho da
estrutura tem o mesmo efeito.
.
PARTE 2
FALHA ESTÁTICA
CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO
4.1. INTRODUÇÃO
As tensões calculadas nos diversos componentes e peças
estruturais, pelo uso das expressões da Mecânica dos Sólidos, são
valores nominais, ou seja, são válidos apenas se fôr satisfeita uma
série de condições, [97], que na grande maioria dos casos reais não
ocorre, pois as regiões mais prováveis de falha são as que contém
seções com alterações da geometria, o que faz com que a distribuição
de tensões fique perturbada, ocorrendo pontos onde temos um
Concentração de Tensão 92
σ0 = M / Wf (4.1)
Wf = b h2 / 6 (4.2)
σ0 σ máx σ0
M M
H h
σ máx
Kt = (4.3)
σ0
EXEMPLO 4.1
Vamos considerar a distribuição de tensões em uma placa, submetida a uma solicitação
de tração, contendo um orifício circular de raio a, como mostra a figura 4.3. A solução deste
problema, pela Teoria da Elasticidade, leva às expressões abaixo para o estado de tensões em
um ponto de coordenadas (r , θ), sendo α = a / r , [107]. É importante observar que nos pontos
com θ = 0 e θ = π a tensão tangencial atinge o valor de - σ 0, ou seja, é compressiva.
σ r r = σ 0 [ ( 1 - α 2 ) + ( 1 - α 2 ) ( 1 - 3 α 2 ) cos ( 2 θ ) ] / 2 (4.4)
σ θ θ = σ 0 [ ( 1 + α 2 ) - ( 1 + 3 α 4 ) cos ( 2 θ ) ] / 2 (4.5)
τ r θ = - σ 0 [ ( 1 - α 2 ) ( 1 + 3 α 2 ) cos ( 2 θ ) ] / 2 (4.6)
Concentração de Tensão 95
2a
σ0 θ σ máx = 3 σ 0 σ0
σ /σ0
3 σ máx = 3 σ 0
σθθ
2
1
σrr
a
r/a
0
0 1 2 3 4 5 6
Uma análise similar, realizada também pela Teoria da Elasticidade, para a geometria de
um orifício elíptico em uma placa infinita sob tração, leva à expressão (4.7), onde a é o semi-
eixo da elípse, perpendicular à direção de atuação do carregamento e b é o semi-eixo paralelo
à direção do carregamento. Desta expressão vemos que para orifícios elípticos, alongados, é
fácil obtermos valores de K t da ordem de 5 ou mais, o que é preocupante em termos de
segurança. Para o caso onde a = b a elipse passa a ser uma circunferência e portanto resulta
K t = 3, como é de se esperar, considerando o resultado anterior. O valor de K t algumas vezes
é referido como K te, para referir ao caso do furo elíptico.
Kt=1+2(a/b) (4.7)
2b
σ0 2a
σ0
σ máx
Kt= 1 + 2 ( a / b )
EXEMPLO 4.2
Neste exemplo vamos considerar uma placa com orifício circular submetida a um estado
biaxial de tensões, com igual intensidade nas duas direções. O carregamento aplicado sobre a
placa está esquematizado na figura 4.6. Podemos determinar as tensões nos pontos críticos
pelo uso do princípio da superposição, pois o comportamento elástico é uma hipótese para a
definição de K t.
A tensão nominal na direção y induz uma tensão de tração igual a 3 σ 0 nos pontos A, e
uma tensão compressiva, igual a - σ 0, nos pontos B. Para a tensão nominal horizontal, nos
pontos A temos uma tensão compressiva de - σ 0 e nos pontos B desenvolve-se uma tensão
de tração de 3 σ 0. Sobrepondo os dois carregamentos, resulta que os pontos A e B terão uma
tensão máxima dada por
σ máx = 3 σ 0 - σ 0 = 2 σ 0 (4.8)
σ0
A A
σ0 σ0
σ0 σA = σB = 2 σ0
EXEMPLO 4.3
Vamos tratar agora o problema de uma placa plana com orifício circular, submetida a
tensões de intensidade diferentes nas bordas ( σ X; σ Y ). A geometria e o carregamento do
problema estão indicada na figura 4.7.
σY
A A
σX σX
σY
Figura 4.7 - Placa com furo sob a ação de cargas em direções ortogonais.
Concentração de Tensão 98
σA=3σY-σX (4.9)
σB=3σX-σY (4.10)
Vemos assim que o efeito de concentração de tensão depende dos valores particulares
das tensões que atuam no local considerado, bem como do tipo de solicitação imposta. Estas
expressões podem ser particularizadas para outros casos de carregamento, que levam a
tensões principais de diferentes magnitudes. No primeiro caso é considerado um reservatório
cilíndrico de parede fina, sob pressão interna. O outro caso é de um tubo cilíndrico de parede
fina, sob torção. A seguir são destacados estes casos particulares, onde é aplicado o princípio
de superposição sobre o campo de tensões provocado por uma e por outra tensão principal.
- Reservatório cilíndrico.
Para reservatórios cilíndricos longos, de parede fina, podemos dizer que a tensão
longitudinal σ Y é a metade da tensão circunferencial σ 0, a tensão nominal do reservatório. De
acordo com as equações anteriores, que fornecem as tensões nos pontos A e B, obtemos que
o fator de concentração de tensão no ponto crítico é de 2,5, pois pode-se escrever, neste caso:
σ A = 3 σ 0 / 2 - σ 0 = 0,5 σ 0 (4.11)
σ B = 3 σ 0 - σ 0 / 2 = 2,5 σ 0 (4.12)
τ = M / ( 2 A t) (4.13)
σB=3(-σ0)-σ0=-4σ0 (4.14)
σA=3σ0-(-σ0)=4σ0 (4.15)
σ0 = p D / 2 t
σ0 / 2
B τ
A A σ0 σ0
σ
B
σ0 / 2
σA = 0,5 σ0
σB = 2,5 σ0
σ0 = τ = M / ( 2 A t )
- σ0 τ
B σ0
A
A σ
B σ0 - σ0
σA = 4,0 σ0
σB = - 4,0 σ0
M
TABELA 4.1
Fator de concentração de tensão para os casos de carregamento estudados.
Tração uniaxial K t = 3,0
Tração equibiaxial K t = 2,0
Reservatório cilíndrico K t = 2,5
Torção pura K t = 4,0
EXEMPLO 4.4
Neste exemplo vamos considerar uma placa com orifício circular, mas agora com largura
finita, submetida a um estado uniaxial de tensões de tração. A figura 2.1 do Apêndice 3 fornece
os correspondentes valores. No caso deste gráfico deve ser observado que as curvas foram
obtidas usando a área plena da placa para definir a tensão nominal, o que não é usual no caso
de concentração de tensão. Assim, vamos determinar os valores do fator de concentração de
tensão com base na área líquida. A tabela na figura abaixo fornece os valores de K t a partir
das curvas da figura 2.1.
r
h
c
Para obter o valor de K t baseado na tensão nominal calculada na área líquida devemos
inicialmente reconhecer que a tensão máxima que atua no material, para uma dada carga,
independe da definição de K t, logo, sendo K t1 o fator de concentração de tensão baseado na
área plena e K t2 o correspondente fator baseado na área líquida,
σ máx = K t1 σ 01 e, logicamente, σ máx = K t2 σ 02.
As tensões nominais são σ 01 = F / A 1 e σ 02 = F / A 2. Igualando as tensões máximas,
Concentração de Tensão 101
K t1 F / A 1 = K t2 F / A 2,
K t2 = K t1 ( h - 2r ) / h , ou, K t2 = K t1 ( 1 - 2r / h ) e finalmente,
K t2 = K t1 ( 1 - r / c )
Kt
3,5
3,0 c
2,5
r/c
2,0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
Figura 4.11 - Fator de concentração de tensão para uma placa de largura finita
sob tração, baseado na tensão nominal da área líquida.
Concentração de Tensão 102
a) c)
Kt
r b) d)
σ eq máx = σ E (4.16)
σ 1máx = σ R (4.17)
σ 1máx = σ 0 K t (4.18)
σ R = σ 0R K t
σ 0R = σ R / K t (4.19)
Concentração de Tensão 105
RUPTURA DÚTIL:
Se agora o material apresentar alguma deformação plástica no ponto
crítico, o cálculo como feito acima apresentará erros grosseiros, pela
redistribuição de tensões na seção. Assim, o critério de ruptura a ser
usado é diferente do de ruptura frágil. O critério de ruptura dútil pode
ser considerado baseado em deformações, que é o mais correto, ou
então baseado em tensões, que não é tão preciso. No caso do critério
baseado em deformação, o limite desta para o início do coalescimento
dos vazios depende da triaxilidade do estado de tensões no ponto,
sendo designado por εf*, capítulo 2.
Uma forma mais simples é considerar a fratura ocorrendo quando a
deformação atingir εf, da curva tensão-deformação real. Os critérios
baseados em tensão são mais simples de aplicar, porém tem uma
menor precisão do que os critérios baseados em deformação. Neste
caso o limite é a tensão real de fratura, σf. Uma maneira mais
conservativa é adotar diretamente σR como o valor limite da tensão
máxima atuante no material.
Resumidamente temos então quatro critérios para avaliar a ruptura
dútil, dois baseados em deformação e dois baseados em tensão.
Limite na deformação:
εeq máx.= εf* (depende da relação σm. / σeq.)
εeq máx.= εf (depende apenas do material)
Limite na tensão:
σmáx.= σf (depende apenas do material)
σmáx.= σR (depende apenas do material)
σ máx = σ R (4.21)
temos, portanto
σ 0R ≥ σ R / K t (4.22)
Concentração de Tensão 106
K R= σ R / σ 0R (4.23)
KR ≤ Kt (4.24)
σ0 K t
Distribuição
Elástica
Distribuição
Elastoplástica
σ0 σ0 K t
σmáx
qR = ( KR - 1 ) / ( Kt - 1 ) (4.25)
TABELA 4.2
Valores do fator estático de sensibilidade ao entalhe [91].
Carregamento lento q.R
Aço temperado e revenido 0,15
Aço só temperado 0,25
Ferro fundido 0,00
Carregamento de impacto q.R
Materiais dúteis 0,4 a 0,6
Materiais duros e frágeis 1.0
Ferro fundido 0,5
σ0 K t
σR
σR
σ0
EXEMPLO 4.5
A peça esquematizada na figura 4.16 é contruida com um aço SAE-ABNT 4340,
laminado a quente, com as seguintes propriedades:
σ E = 635 MPa
σ R = 825 MPa
ε f = 0,57
Determinar:
a) A tensão máxima para uma carga de tração de 100 kN.
b) Idem, porém para uma carga de flexão de 1,5 kNm.
c) As cargas de início de escoamento para tração e flexão.
d) A carga de ruptura, por impacto, sob tração.
SOLUÇÃO:
a) A barra com uma carga de tração de 100 kN está esquematizada na figura 4.16. A
tensão máxima é dada por
σ máx = σ 0.K t
onde o fator K t é obtido em função do tipo do carregamento e da geometria da peça, nos
gráficos de anexos, no Apêndice 3. Quanto à σ 0 , é a tensão nominal determinada de acordo
com a especificação do gráfico de K t. O gráfico 1.1 do Apêndice 3 se adapta perfeitamente
para este caso. As grandezas necessárias para o uso deste são:
r / d = 0,05
D / d = 1,5
Concentração de Tensão 109
r=5
D = 150 d = 100
b = 20
A tensão nominal na seção líquida, de dimensões 100 x 20, será dada por:
σ 0 = F / 2000
σ 0 = 50 MPa
Com as duas relações geométricas podemos obter do gráfico
K t = 2,7
Com o valor de σ 0 e o fator K t, temos o valor da tensão máxima como
σ máx = 2,7.50 = 135 MPa
Como o valor da tensão máxima é bem menor que σ E, significa dizer que o material
está trabalhando dentro da faixa elástica, logo o uso de K t é válido.
b) O modelo, com carga de flexão de 1,5 kNm, está esquematizado na figura 4.17.
A tensão máxima é dada novamente por:
σ máx = σ 0.K t
Usando as relações anteriores, e através do gráfico 1.2, obtemos o valor K t = 2,2. A
tensão nominal, segundo o gráfico, é calculada por:
σ 0 = 6.M / b.d 2
logo
σ 0 = 45 MPa
σ máx = 2,2.45 = 99 MPa
A tensão σ máx é menor do que a de escoamento, logo, K t pode ser aplicado no cálculo,
sem problemas.
Concentração de Tensão 110
σ0 σmáx
σ E = σ máx = K t σ 0 e
σ0=σE/Kt
σ0 σ máx
M M
q.R = ( K R - 1 ) / ( K t - 1 )
K R = 1 + q.R.( K t - 1 )
Da Tabela 4.2, temos para carregamentos de impacto e materiais dúteis, 0,4 < q.R < 0,6.
Adotando q.R = 0,5, resulta:
σ 0R = σ R / K R
σ 0R = 445,95 MPa
F R = σ 0R.b.d
F R = 891 900 N
F R = 892 kN
Esta força é que causa a ruptura da peça por uma solicitação de impacto, de acordo com
o calculado.
Concentração de Tensão 112
EXEMPLO 4.6
A peça ilustrada na figura 4.19 é solicitada por uma carga de impacto, conforme
mostrado. Para determinar a sensibilidade estática do material, sob o efeito de concentração
de tensão, foi ensaiado um corpo de prova sob tração, figura 4.20, com carga de impacto. A
carga de ruptura do corpo de prova foi de 13,2 kN. Determinar a carga de ruptura para a peça.
Material: Aço SAE-ABNT 4130 com dureza 365 HBN.
σ R = 1427 MPa
σ E = 1358 MPa
SOLUÇÃO:
a) Determinação de q s pela análise do ensaio com o corpo de prova, figura 4.20.
σ 0R = F / A
σ 0R = 672 MPa
65 30 65
r1
16 24
10 20
1 2
80 80
160 4
K t = f( D/d ; r/d );
K t = 2,64
q.R = (K R - 1) / (K t - 1)
q.R = 0,68
Concentração de Tensão 113
r 0,5
5 10
80 80
c) Carga de ruptura
Como foi comentado anteriormente, a seção crítica está localizada em x = 80 mm, e o
entalhe que existe neste local é um orifício, como detalhado na figura 4.22. O fator de
concentração de tensão, para esta geometria e carregamento, é fornecido pelo gráfico 2.2 do
Apêndice 3, onde, para obtermos os valores do fator de concentração de tensão são
necessárias as seguintes relações:
r / c = 0,4
c / e = 1,0
K t = 1,05
Como a carga é de impacto e existe plastificação, devemos determinar o fator de ruptura
usando o fator estático de sensibilidade ao entalhe.
K R = 1 + q.R ( K t - 1 )
onde q.R é o fator de sensibilidade ao entalhe determinado pelo ensaio com o corpo de prova,
ou seja, q.R = 0,68.
K R = 1 + 0,68 ( 1,05 - 1 )
K R = 1,03
30
20 10
Região crítica
F R = 9200 N
A análise completa desta peça deverá ainda incluir os outros modos de falha prováveis
de ocorrer, tais como:
- Escoamento por contato no orifício de aplicação de carga;
- Escoamento generalizado na área líquida da seção 1;
- Escoamento generalizado na seção 2.
ANÁLISE PLÁSTICA
σy
τ xy
σx σx
τ xy
σy
U d = (( σ 1 - σ 2 ) 2 + ( σ 1 - σ 3 ) 2 + ( σ 2 - σ 3 ) 2 ) / 12 G (5.3)
σ 1 = σ ET
σ2 = 0
σ 3 = σ EC (5.4)
τ máx = σ E / 2
U d = 2 σ 1 / 12 G
TABELA 5.1
Expressões da tensão equivalente segundo as teorias de falha por início de
escoamento mais usuais.
TEORIA ENSAIO PEÇA
TMTC (Tresca) τ eq = σ E /2 τ eq = ( σ 1 - σ 3 ) / 2
τ xy
σx σx
τ xy
σE ≥ σ1 - σ3 (5.8)
σY
σE
− σE
σX
σE
− σE
σ 1 < σ ET ; σ RT
(5.9)
σ 3 > σ EC ; σ RC
σET σRT
σEC
σRC
σY
σRT
− σRC σX
σRT
− σRC
( σ 1 - σ 2 ) 2 + ( σ 1 - σ 3 ) 2 + ( σ 2 - σ 3 ) 2 < 2 σ E2 (5.10)
σY
σE
− σE
σX
σE
− σE
τ = σ E / 3 = 0,577 σ E (5.12)
1 - Tração uniaxial.
σ 1 = σ; σ 2 = 0; σ3 = 0
2 - Torção pura.
σ 1 = τ; σ 2 = 0; σ3 = - τ
MATERIAIS FRÁGEIS
A falha nestes materiais é em geral por ruptura, ocorrendo um
crescimento instável de pequenos defeitos, como porosidades e
inclusões, através de uma fratura por clivagem. Este crescimento
instável leva à ruptura final.
126 Análise de Resistência Mecânica
MATERIAIS DÚTEIS
A falha por deformações plásticas ocorre por escorregamento dos
planos atômicos, com movimento intenso das discordâncias. A fratura
dútil por sua vez ocorre por um crescimento e coalescimento de vazios
que são formados em torno de impurezas do material e um
cisalhamento final leva à ruptura.
Desta forma, os modos de falha mais comuns são:
- Ruptura Frágil;
- Escoamento ou colapso plástico;
- Ruptura Dútil.
O uso das teorias de falha apresentadas adapta-se aos dois
primeiros modos. Para ruptura frágil, em peças isentas de defeitos, a
Teoria da Máxima Tensão Normal é suficientemente exata, embora a
teoria de Mohr seja mais precisa em certas situações, [98]. No caso da
existência de defeitos é obrigatório o uso da teoria da Mecânica da
Fratura, objeto de estudo dos capítulos 6 e 7.
Para falha devida ao início de escoamento, a teoria mais exata é a
da Máxima Energia de Distorção, porém a Teoria da Máxima Tensão
Cisalhante apresenta resultados não muito diversos, sendo de uso
mais simples que a primeira. Para a falha por escoamento, tratada de
uma forma genérica, o uso da Teoria da Máxima Energia de Distorção
ou da Máxima Tensão Cisalhante é uma questão pessoal, já que os
resultados práticos não são muito diferentes, quando é usada uma ou
outra teoria.
Quando desejamos um maior aprofundamento sobre o
comportamento mecânico do material, devemos dividir a falha por
escoamento em duas partes, uma de início do processo de deformação
plástica e outra de continuidade da deformação. Para o início do
escoamento, o movimento das discordâncias inicia quando é atingido
um estado crítico no material, que é melhor representado, de acordo
com resultados experimentais, pela energia de distorção. Assim, como
orientação, podemos considerar que a Teoria da Máxima Energia de
Distorção é recomendada para uma análise de início de escoamento,
enquanto que a Teoria da Máxima Tensão Cisalhante é recomendada
para a análise de deformação plástica, após o início do escoamento, já
que modela melhor o mecanismo de deformação plástica pelo
escorregamento dos planos atômicos, o qual está diretamente
relacionado com a tensão cisalhante que age. Para a ruptura dútil,
estas teorias baseadas em modelos mais simples não se adaptam, e
assim é necessário um desenvolvimento teórico mais adequado,
baseado no nível de deformação plástica que ocorre no ponto crítico e
na triaxialidade do estado de tensões neste ponto, [25, 37, 60].
An á l i s e Pl á s ti c a 127
TABELA 5.2
Comparação das teorias de falha para os quatro casos apresentados.
M M
dA
y
LN
CG
ε1
σ1
Distribuição de deformações
ε1
σ1
Material
plastificado
Distribuição de tensões
Σ F = 0 ou ∫A σ dA = 0
Σ M = 0 ou ∫A σ y dA = M
onde:
σ - Tensão normal, atuando na área dA;
y - Distância do eixo z à área dA.
Distribuição de tensões
T a
C b
Forças resultantes
σ3
σ2
σ1
Distribuição de deformações
ε1 ε2 ε3 σ1 σ2 σ3
Distribuição de tensões
σE
σ1
Distribuição de deformações
εE σ1 σE
σE
Distribuição de tensões
M = ∫A σ y dA (5.13)
σ / y = σ E / ( h / 2 ) e logo,
σ = σ E y / ( h / 2 ).
ME = σE b h2 / 6 (5.14)
M P = σ E bh2 /4 (5.15)
σE
σE
Comportamento elástico
εE σE
σE
Início de escoamento
σE
σE Material
plastificado
εE σE
Material
σE plastificado
k = 1,5
TABELA 5.3
Fator de forma para algumas seções, para flexão e torção.
Tipo de seção Flexão Torção
Seção retangular 1,5 -
Seção circular 1,7 1,33
Seção em losango 2,0 -
Seção tipo I 1,06 a 1,18 -
Por outro lado, é lógico que, quanto à flexão elástica, uma seção do
tipo I é muito mais resistente, por apresentar um momento de inércia
maior, porém uma vez iniciado o escoamento neste tipo de seção,
rapidamente atingimos a carga de plastificação, devido ao baixo valor
de k. Para uma seção tubular a figura 5.14 mostra o fator de forma em
função do tipo de carregamento. É importante salientar que a equação
(5.16) é válida apenas para situações em que a seção transversal é
constante, sem efeitos de concentração de tensões, pois estes afetam
a carga de início de escoamento, conforme deduzido acima, na
obtenção do valor de 1,5 para a seção retangular. Assim, para o cálculo
da carga de início de escoamento o efeito de concentração de tensões
é importante e deve ser usado, mas para a determinação da carga de
plastificação este não tem efeito, não sendo considerado. O fator de
forma, como definido, pela relação entre carga de plastificação e a
carga de início de escoamento, seria afetado pelo fator de
concentração de tensão. Assim, o fator de forma na realidade vale
somente para o caso em que Kt é unitário, ficando a relação entre a
carga de plastificação e a de início de escoamento, no caso com
concentração de tensão, dada pelo produto k.K t.
Flexão
1,5
di
Torção
do
Tração di / do
1,0
0 0,5 1,0
σE
Material h - 2c h
plastificado
M = σE Wf [ 1 + 2 ( c / h ) - 2 ( c / h )2 ]
M / M E = (1 + 2 ξ - 2 ξ 2 ) (5.17)
ξ 2 - ξ + 0,5 (M / M E - 1) = 0
ξ = [ 1 - ( 1 - 2 ( M / M E - 1) ) 1/2 ] / 2 (5.18)
εE ε máx
h - 2c h
ε max RS F IJ UV −1/ 2
T GH
M
= 1− 2 −1
εE ME KW (5.19)
TABELA 5.4
Evolução da profundidade plastificada relativa e da deformação máxima.
M/ME ξ ε máx /ε E M/ME ξ ε máx /ε E
1,000 0,000 1,000 1,450 0,342 3,162
1,100 0,053 1,118 1,460 0,359 3,536
1,200 0,113 1,291 1,470 0,378 4,082
1,250 0,146 1,414 1,480 0,400 5,000
1,300 0,184 1,581 1,490 0,429 7,071
1,350 0,226 1,826 1,495 0,450 10,000
1,400 0,276 2,236 1,498 0,468 15,811
1,420 0,300 2,500 1,499 0,478 22,361
1,440 0,327 2,887 1,500 0,500 Ö∞
M / ME M / ME
1,5 1,5
Linha elástica
1,0 1,0
MP MP
Região plastificada
MP MP
Rótula plástica
σE
σE
M1
M1
σE
σE σ σr
σr = σE - M1 / Wf
| σr | < ( k - 1 ) σE (5.22)
σ
σE
εr
ε
σr
σ
σE
σ
εr
ε
σr
Figura 5.22 - Efeito de uma nova carga, maior que a anterior, sobre σ r e ε r..
σr = σE - σ0 Kt (5.23)
σr = - σE (5.24)
σ0 K t
Distribuição
Elástica
Distribuição
Distribuição Elastoplástica
Residual
σE
σr σ0 2 σE
Distribuição
Elástica
Distribuição
Distribuição Elastoplástica
Residual
σ0 K t
- σE σE
σr σ0 2 σE
EXEMPLO 5.1
Determinar a tensão e deformação residuais na fibra mais externa para uma viga de
seção retangular submetida a um momento fletor que plastifique 50% da altura da seção, bem
como M E e M P. As características da seção transversal e do carregamento são dados a
seguir. O material é um aço SAE-ABNT 1018 com as seguintes propriedades:
E = 210 000 MPa
σ E = 220 MPa
SOLUÇÃO:
Conforme visto anteriormente, para uma seção retangular as cargas sob flexão para
início de escoamento e de plastificação são:
ME=σEbh/6 M E = 73,3 kNm
M = M E (1 + 2 ξ - 2 ξ 2 )
e para plastificação de 50% da seção tem-se c = 50 mm. Assim, ξ = 1/4 e logo, substituindo,
M = M E (1 + 2 (1/4) - 2 (1/4) 2 )
M = 100,83 kNm
εE ε máx= 2 εE
200 h/2 h
h/4
A tensão residual é
146 Análise de Resistência Mecânica
σr=σE-M/Wf
onde
W f = 333333 mm
logo
σ r = - 82,5 MPa
A deformação residual é calculada a partir da deformação na fibra externa, quando do
carregamento, que no caso vale 2 ε E , menos a deformação elástica da descarga.
ε E = 0,00105
2 ε E = 0,00210
ε r = ε - ε elástico
ε r = 0,00066
σ
ε E = 0,00105
σE
( 220 )
σ ( 302,5 )
εr
( 0,00066 )
0,00210 ε
ε e = 0,00143
σr
( -82,5 )
Pm Pb
+ +
+
- -
α ∆T
∆T
ε
σE
Figura 5.28 - Tensões térmicas numa barra fixa nas duas extremidades.
σ máx = Pm + Pb + F (5.25)
150 Análise de Resistência Mecânica
M M
F Pb Pb
= + +
Pm Pb F
(Pm + Pb )/ σE
1,4
1,2
1,0
0,6
0,4
0,2
Figura 5.31 - Região de falha por colapso plástico para uma seção retangular,
sob cargas de tração e de flexão. A região interior define as tensões
admissíveis adotadas pela norma da ASME.
Para uma seção retangular sob flexão pura, a falha ocorre quando
Pb = 1,5 σ E. Sob tração axial a falha ocorre para Pm = σ E. O código
ASME para reservatórios sob pressão (Seção III e Seção VIII, divisão
2) estabelece um coeficiente de segurança de 1,5, limitando assim
Pm < σ E / 1,5
Pm + Pb < σ E e (5.26)
Pm + Pb + Q < 2.σ E
CAPÍTULO 6
σmáx = σ 0 (1 + 2 a / b) (6.1)
onde:
σmáx - tensão nominal
2a - eixo maior da elípse
2b - eixo menor da elípse
σ0
2b
2b ρ lim
ρ 0
2a 2a
σ0
Kt= 1 + 2 ( a / b ) Kt oo σ máx oo
Figura 6.1 - Placa com orifício elíptico, que no limite tende a uma trinca.
ρ = b2 / a
σ0
2a
σ0
Carga
P1
δP
P2
δu
a + da
Deslocamento
u1 u2
0,5 ( P 1 - P 2 ) u 1 (6.4)
0,5 P 1 ( u 2 - u 1 ) (6.5)
Chamando
dP = P 1 - P 2 e du = u 2 - u 1 (6.6)
dU = - 0,5 u dP (6.7)
dV = - 0,5 P du (6.8)
du = C dP (6.10)
dU < dS (6.13)
dU > dS (6.14)
σ cr2 = 2 E γ / π a (6.15)
onde
σ cr - Tensão crítica
E - Módulo de elasticidade
γ - Densidade de energia de superfície
a - Dimensão característica da trinca.
S = ∫A γ dA
σ 2cr π a = 2 E γ (6.16)
Carga
P1
δP
da da P2
dU
a
2a
a + da
u1
K te = 1 + 2 ( a / b ) (6.17)
K te = 1 + 2 a/ρ (6.18)
π
K I = lim σ máx ⋅ ρ ⋅ (6.19)
ρ⇒ 0 2
2b
2b ρ lim
ρ 0
2a 2a
Kt= 1 + 2 ( a / b ) K I = σ0 π a
F I π
ρ⇒ 0 GH
K I = lim σ 0 1 + 2
a
ρ JK ρ
2 ; K I = lim
ρ⇒ 0
σ0 ρ
π
+ lim σ a π
2 ρ⇒ 0 0 (6.20)
K I = σ0 π ⋅ a (6.21)
σ cr2 π a = 2 E γ,
K IC = 2 ⋅ E ⋅ γ , segundo Griffith.
EXEMPLO 6.1
Para a geometria de Griffith, a solução exata do fator de concentração de tensão é a da
expressão da figura 6.5, o que leva que o fator de intensidade de tensão é calculado a partir de
K I = lim σ 0 ( 1 + 2 a / ρ ) ρ π /2
ρ 0
y σy
τ xy
σx σx
r τ xy
θ σy
x
2a a
R| σ U|
x R| 1 − sen ( θ / 2) sen ( 3 θ / 2)U|
S| σ V| =
y
KI
2πr
cos(θ / 2) S| 1 + sen ( θ / 2) sen ( 3 θ / 2)V| (6.22)
Tτ W
xy T sen ( θ / 2) cos( 3 θ / 2) W
Estas expressões são exatas apenas para r ⇒ 0, sendo uma boa
aproximação com r << a, já que correspondem ao termo predominante
de uma expansão em série da solução exata do problema. Na prática é
aceitável usar as equações (6.22) para o cálculo das tensões para
valores de r até 10% do tamanho da trinca, sem comprometer o
resultado. O exemplo 6.2 ilustra de forma clara estes aspectos.
Mecânica da Fratura 165
σy
σy = σ 0 a / 2r
x, r
2a a r
EXEMPLO 6.2
Para a geometria de Griffith, a solução exata para a distribuição de tensões à frente da
trinca, é fornecida pela expressão abaixo, com θ = 0, obtida a partir da teoria da elasticidade.
Nesta equação z é a soma a + r.
166 Análise de Resistência Mecânica
σ0
σy =
1 - a 2/ z 2
A solução aproximada, conforme (6.22), é σ y', que pode ser escrita como:
σy' = σ 0 a / 2r
A solução aproximada apresenta valores cada vez menores da tensão porque no limite a
tensão cai a zero, para pontos muito afastados da trinca, o que não corresponde às condições
de contorno do problema, ou seja, σ y deve tender ao valor da tensão nominal, σ 0, como
ocorre com a solução exata do problema.
K I = lim σ y 2 π r (6.23)
r 0
EXEMPLO 6.3
Vamos considerar um aço de alta resistência, que apresenta um comportamento
macroscopicamente frágil quando da ruptura. Para um aço assim, valores típicos do módulo de
elasticidade e da tenacidade à fratura, são: E = 200 000 MPa e K IC = 40 MPa √m.
Desejamos saber qual o valor da sua densidade de energia de superfície. Para tal,
vamos considerar a igualdade entre K IC e 2.E.γ, como pode ser deduzido. Assim,
K 2I C
γ=
2E
γ = 4,0 kJ / m2
Este valor, para a densidade de energia de superfície, na realidade não é correto, tendo
em vista que o mecanismo de fratura não é por clivagem, ou seja, a energia consumida no
processo de fratura não é usada exclusivamente para a ruptura das ligações atômicas. Uma
grande parte desta energia é usada para deformar plasticamente o material à frente da trinca,
formando uma camada de material plastificado sobre a superfície rompida. Assim, quando da
aplicação do critério de Griffith para materiais metálicos foi proposta uma modificação, onde é
incluida uma parcela de energia consumida pelo trabalho de deformação plástica, junto à
energia de superfície. Assim, para um acréscimo em da no tamanho da trinca, a energia
consumida passa a ser
γ+γp
Y = lim ( K t / K te ) (6.25)
ρ 0
2a
a 2a 2a
σ0 σ0 σ0
Kt
K I = lim
ρ
σ 0 ρ π K te
0
K te 2
Mecânica da Fratura 169
Kt
K I = lim
ρ 0
. ρlim0 σ 0 ρ π K te
K te 2
K I = Y σ0 π a (6.26)
TABELA 6.1
Fator geométrico para placa de largura finita, com trinca central.
a/w Y
0,1 1,01
2w
0,2 1,03
0,3 1,06
0,4 1,11 2a
0,5 1,19
0,6 1,30 σ0
TABELA 6.2
Fator geométrico para placa de largura finita, com trinca na borda.
a/w Y
0,0 1,12
w
0,1 1,19
0,2 1,37
0,3 1,67 a
0,4 2,11
0,5 2,83 σ0
TABELA 6.3
Fator geométrico para placa com trinca na borda, sob flexão.
Y M
a/w
0,1 1,02
w
0,2 1,06
0,3 1,16
0,4 1,32 a
0,5 1,62
0,6 2.10 M
Mecânica da Fratura 171
TABELA 6.4
Fator geométrico para placa com trinca nas duas bordas, sob tração.
a/w Y
0,0 1,12
2w
0,2 1,12
0,3 1,13
0,4 1,14 a a
0,5 1,15
0,6 1,22 σ0
TABELA 6.5
Fator geométrico para placa com força concentrada na trinca. A força
F0 é a força por unidade de espessura.
F0
F0
KI=
π a F0
2a
TABELA 6.6
Fator geométrico para placa com força concentrada, equilibrada pela
tensão nominal no outro extremo. A força F0 é a força por unidade de
espessura.
F0
F0
K I = 0,5 π a (σ 0
+
π a )
2a
σ0
172 Análise de Resistência Mecânica
TABELA 6.7
Fator geométrico para placa com duas trincas. a partir de um furo.
L/r Y
0,1 0,82
L 2r
0,2 0,98
0,4 1,05
0,6 1,05 2a
1,0 1,02
2,0 1,00 σ0
TABELA 6.8
Fator geométrico para placa com trinca excêntrica.
Y = sec π λ sen x
2
2 x 2w
λ=a/w1 e
ε =e/w w1 2a
x=2 λε
σ0
TABELA 6.9
Fator geométrico para barra circular com trinca concêntrica.
a/D Y
0,0 1,12
D
0,1 1,15
0,2 1,48
a d
0,3 2,38
0,4 6,13
0,45 16,55 σ0
Mecânica da Fratura 173
EXEMPLO 6.4
Uma situação bastante comum é a formação de trincas a partir de pontos de
concentração de tensão, como por exemplo a nucleação nas bordas de um furo. A solução
exata deste tipo de problema depende da geometria particular que se está analisando, o que
muitas vezes dificulta obtermos uma solução na literatura. Uma maneira aproximada para o
cálculo do fator de intensidade de tensão pode ser usada, considerando dois casos limites. No
primeiro caso a trinca é muito pequena, quando comparada com as dimensões do detalhe que
gera a concentração de tensão. Neste caso a trinca está totalmente imersa no campo de
174 Análise de Resistência Mecânica
tensões dominado por σ máx, ou seja, para o tamanho da trinca o gradiente de tensões é muito
suave. Para esta condição limite podemos usar o modelo onde a trinca é considerada como
sendo uma trinca externa em uma placa sob tração, conforme Tabela 6.2.
L
2r a=L
2a a 2a
σ0 σmáx σ0
A tensão nominal que atua sobre a trinca será a própria tensão σ máx devida à
concentração de tensão. Assim, usando a nomeclatura da figura 6.10, o fator de intensidade de
tensão será
K I = 1,12 K t σ 0 πa
e para uma concentração de tensão provocada por um furo circular, como K t = 3,0, vem:
K I = 3,36 σ 0 πa
Para comparar esta solução com os dados da Tabela 6.7, devemos usar uma nova
definição para o tamanho da trinca, ou seja,
K I = 3,36 σ 0 πL
α
K I = 3, 36 σ0 πa
1+ α
Esta expressão é exata para L tendendo a zero, ou, o que é equivalente, α tendendo a
zero. A tabela abaixo fornece os valores do fator geométrico correspondente a esta expressão
aproximada e os valores da solução exata, conforme Tabela 6.7.
No caso de trincas longas, com L > r ou α > 1, a existência do furo é irrelevante, ou seja,
é como se houvesse apenas a trinca na chapa. Neste caso o fator de intensidade de tensão é
calculado como
K I = σ0 πa
ou seja, Y é unitário, pois recaimos na geometria de Griffith. Este valor constante é portanto
independente de α.
1
Solução para trincas longas, Y = 1
Das curvas da figura 6.11 fica evidente que a aproximação para trincas curtas deve
realmente ser limitada para α < 0,1, e que a solução para trincas longas apresenta bons
resultados já para α > 0,2. Estes valores particulares de α são, no entanto, específicos para a
geometria tratada.
176 Análise de Resistência Mecânica
EXEMPLO 6.5
Uma geometria de defeito que se apresenta com bastante frequência em problemas
práticos tridimensionais é o de uma trinca com projeção elíptica, ou semi elíptica. Neste caso o
fator de intensidade de tensão varia ao longo da frente da trinca, como este exemplo mostra.
a a
2a
2c c
2c
1
Trinca elíptica interna: Y= f (β )
φ
2
Trinca circular interna: Y=
π
1
Trinca semi elíptica na face: Y = 1,12 f (β)
φ
1
Trinca um quarto de elípse, na aresta: Y = 1,12 2 f (β)
φ
Mecânica da Fratura 177
Estas expressões fazem uso da integral elíptica do segundo tipo, φ, que depende da relação
entre os semi-eixos da elípse, conforme a tabela abaixo.
a/c 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
φ 1,00 1,02 1,05 1,10 1,15 1,21 1,28 1,35 1,42 1,49 1,57
f (β ) = [ sen2 β + ( a / c )2 cos2 β ] 1/ 4
Quanto à função f(β), esta caracteriza a variação do fator geométrico, e logo do fator de
intensidade de tensão, ao longo da borda da trinca, ou seja, a solicitação na frente da trinca é
variável ponto a ponto, ao contrário dos casos vistos até agora, onde a solicitação na borda da
trinca era independente do ponto considerado.
O cálculo da função depende do ângulo β, que é obtido com o
uso de uma circunferência auxíliar, circunscrita à elipse, conforme
indicado pelo esquema ao lado. Pela expressão da função f(β),
β vemos que esta assume um máximo, igual à unidade, para pontos
sobre o semi eixo menor da elipse, ou seja, β = 90°, atingindo um
mínimo para os pontos sobre o semi eixo maior, β = 0°. Desta forma
os pontos mais propensos a iniciar a propagação da trinca são os
pontos próximos aos extremos do semieixo menor, aumentando
este, fazendo com que a trinca elíptica tenda assim a uma trinca
circular, onde f(β) é constante ao longo de todo o perímetro da trinca, como pode ser visto,
fazendo a = c na expressão de f(β). Uma geometria de trinca semi elíptica é bastante comum
em peças onde a trinca tem origem a partir de um defeito superficial, que nucleia a trinca e esta
vai penetrando no material.
F = 20 kN
DETALHE DA
TRINCA
1500 15
2,5
EXEMPLO 6.6
Calcular o fator de intensidade de tensão, K I , para a geometria e o carregamento que
estão indicados na figura 6.13.
SOLUÇÃO:
O fator de intensidade de tensão para esta geometria é dado pela equação (6.26), onde
Y é obtido conforme o exemplo 6.5 acima, no caso para uma trinca semi elítica.
1
Y = 1,12 f (β )
φ
onde
a = 2,5 . 10 -3 m
2c = 15 . 10 -3 m
e φ é uma integral elíptica do segundo tipo, que é função de a/c, conforme a tabela do exemplo
6.5. Para a/c = 0,33 e interpolando os valores da tabela obtemos φ de 1,1150. Para esta
mesma geometria, vem que
f (β ) = [ sen2 β + ( a / c )2 cos2 β ] 1/ 4
K I = 1, 003 ⋅ σ 0 π ⋅ a
R 4 − Ri4
Wf= e
4 Re
W f = 89 289 mm 3
1 ( 20000 ) ⋅ (1500 )
σf =
8 89 289
σ f = 42 MPa
K I = 1, 003 ⋅ 42 π ⋅ 0, 0025
K I = 3,73 MPa ⋅ m
Mecânica da Fratura 179
PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO
Como a solução de K I é baseada no comportamento elástico linear
do material, é possível o uso do princípio da superposição de efeitos. O
seu uso permite a solução de muitos problemas pela combinação de
soluções já conhecidas, sejam soluções de uma mesma geometria,
submetida a diferentes carregamentos, ou diferentes geometrias, com
uma superposição de condições de contorno. Os exemplos que
seguem permitem que se tenha uma visão da metodologia e da
potencialidade da aplicação do princípio da superposição.
2w 2w
: + =
σ0 2a − σ0
σ0 σ0
KI = ?
1 2 3
EXEMPLO 6.7
Determinar o fator de intensidade de tensão para uma trinca central com carregamento
de pressão interna atuando nas suas faces, conforme figura 6.14.
SOLUÇÃO:
Este problema pode ser resolvido pelo princípio da superposição, considerando as três
geometrias ilustradas na figura 6.14. O caso número 3 é de uma placa sem trinca, logo o fator
de intensidade de tensão é nulo. As duas outras situações são para uma placa com trinca
central, onde a presença da trinca, no caso 2, está sendo compensada pelas tensões atuantes
nas faces desta trinca, na geometria 1, fazendo o papel que o material deveria realizar, na
transferência de carga da parte superior para a parte inferior, na região trincada. Deste modo a
superposição das geometrias 1 e 2, com as correspondentes condições de carregamento,
equivale a uma placa sem trinca. Assim é possível escrever, como K 3 = 0,
180 Análise de Resistência Mecânica
K3=K1+K2
K1=-K2
K 2 = - σ0 π⋅ a
E logo,
K I = σ0 π⋅ a
σ0
σ0
F F
2w
= + -
2a 2w
F F
σ0 σ0
KI = ?
1 2 3 4
EXEMPLO 6.8
Determinar o fator de intensidade de tensão para uma trinca que inicia em um orifício de
rebite, onde este suporta a carga transmitida pelo painel, conforme figura 6.15.
SOLUÇÃO:
Vamos novamente decompor a situação sob análise em outras situações já conhecidas,
como mostra a figura 6.15. Os casos 2 e 3 estão colocados nas tabelas 6.1 e 6.5, tendo assim
soluções conhecidas. Colocando a solicitação do material em termos do fator de intensidade
de tensão, podemos escrever
K1=K2+K3-K4
Mecânica da Fratura 181
K1+K4=K2+K3
2.K1=K2+K3
Porém,
K2=σ0 πa
F0
K3 =
πa
1 Fσ F0 I
K1 =
2
πa
H 0 +
πa K
K1 = σ 0 πa
1 FG 1 + σ IJ
2 H πσ K 0
1FG 1 + σ IJ
2H πσ K
Y=
0
onde a tensão σ é dada abaixo, lembrando que F0 é força por unidade de espessura da placa
que forma o painel considerado.
F0
σ=
a
EXEMPLO 6.9
Determinar K I para a geometria e carregamento ilustrados na figura 6.16. Adotar um
valor σ E = 560 MPa. Considerar, para a força F que está atuando, o valor da força de
plastificação da seção, reduzida por um coeficiente de segurança n = 2,5.
SOLUÇÃO:
A força de trabalho será a força de plastificação da seção líquida dividida por n.
F = FP / n
onde:
F = força de trabalho.
FP = força de plastificação.
n = coeficiente de segurança.
Desta forma a força de plastificação, na seção líquida, é
FP = 70 . 12,7 . 560 = 498 kN
e a força de trabalho, F = 498 / 2,5 = 199 kN. Deste modo a tensão nominal vale
σ 0 = 131 MPa
182 Análise de Resistência Mecânica
K I = σ0 πa
1FG 1 + σ IJ
2H πσ K
0
com
2a = 50 + 2 . 7 = 64 mm
σ 0 = 131 MPa
F = 15,57 kN / mm
Assim, temos
K I = 45,5 MPa√m
F F
120
50
12,7
F
σ0
Mecânica da Fratura 183
KI
σE = (6.27)
2 π rp
184 Análise de Resistência Mecânica
σy
σy = σ 0 a / 2r
σE
x, r, ε
2a rp
a r
rp =
FG IJ
1 KI
2
H K
2π σE
(6.28)
Mecânica da Fratura 185
rp =
FG IJ
1 KI
2
H K
6 π σE
(6.29)
Y
X
a eq = a + r p (6.32)
σy σy
σy = σ 0 a / 2r σy = σ 0 a / 2r
σE σE
zona plastificada
x, r, ε x, r, ε
rp rp
a r a r
Y
X
Z
b
a W
B
K I = Y ( a eq ) ⋅ σ 0 ⋅ π⋅a eq (6.33)
EXEMPLO 6.10
Determinar r p e K I para a placa ilustrada na figura 6.23, onde temos os dados abaixo.
Considerar um material com espessura igual a 2 mm e com uma tensão limite de escoamento
de 300 MPa.
2a = 200 mm
2W = 400 mm
σ 0 = 100 MPa
Mecânica da Fratura 189
Y
X
2a
Z
2W
SOLUÇÃO:
Considerando o material como elastoplástico ideal podemos prever que a zona na ponta
da trinca vai escoar, logo a determinação do K I deve levar em conta este fato.
A verificação do estado de tensões é feita comparando a espessura com os valores
limites, Bmáx e Bmín ,
Bmín = 2,5 (K I / σ E )2
Bmáx = 0,3 (K I / σ E )2
sendo que K I é dado por:
K I = Y ( a eq ) ⋅ σ 0 ⋅ π ⋅ aeq
Para a / W = 0,5 vem Y = 1,19, tabela 6.1, e logo,
K I = (1,19) . (100) . π ⋅ 0, 1
K I = 66,7 MPa m
Substituindo este valor nas equações acima, tem-se:
Bmín = 123,6 mm
Bmáx = 14,8 mm
Uma vez que t = 2 mm, temos que t << Bmáx, logo ocorre um estado plano de tensões no
material. A partir deste dado, a equação para a determinação do raio de plastificação será
dada por:
1 FG K IJ 2
2π H σ K
I
rp =
E
r p = 7,9 mm
Com este resultado, o comprimento equivalente da trinca será
190 Análise de Resistência Mecânica
a eq = 100 + 7,9
a eq = 107,9 mm
A partir de a eq calculamos o fator de intensidade de tensão, usando a trinca equivalente:
a eq / W = 0,54
Interpolando os dados da tabela 6.1, Y = 1,234, e logo,
(B ; a ; W - a) > 2,5 (K Q / σ E ) 2
KC
KIC
B
B máx B mín
b=W-a a
F
B W
EXEMPLO 6.11
Verifique se o ensaio com o corpo de prova do tipo CT como o ilustrado na figura 6.26 é
válido, sabendo que σ E = 750 MPa.
SOLUÇÃO:
As características do fator geométrico deste corpo de prova são dadas na geometria 18,
Apêndice 4, sendo válidas para
H = 1,2 W
0,3 < a/W < 0,7
F
KQ= Y
B W
194 Análise de Resistência Mecânica
a/W 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 0,70
Y 5,85 6,50 7,32 8,34 9,60 11,26 13,54 16,78 21,54
38, 3
KQ= 10, 4 = 71253 = 71,2 MPa m
0, 025 0, 050
Logo as dimensões satisfazem o critério da ASTM, de serem maiores que B mín e assim,
K IC = 71,2 MPa√m.
A
J= (6.36)
2 ⋅B ⋅ b
K 2I C
JI =
E ⋅ (1 − ν2 )
2
KI =J E (6.38)
BK E
= 0,1 ⋅ (6.39)
BJ σE
JI C
- Pontos experimentais
∆a
O ensaio para medir J IC deve ser feito com o uso de vários corpos
de prova, onde cada corpo de prova ensaiado não precisa ser levado à
ruptura, ou seja, a carga aplicada é suficiente apenas para uma
pequena propagação estável da trinca. Assim, cada corpo de prova tem
o valor de J, calculado pelo trabalho realizado pelo sistema de
aplicação de carga, bem como um valor do crescimento da trinca, ∆a.
O conjunto de resultados é registrado em um gráfico e uma reta é
ajustada ao pontos experimentais. A interseção desta reta com a reta
da equação (6.40), que fornece o valor de J em função do crescimento
da trinca dependendo apenas da deformação plástica à sua frente, sem
que ocorra portanto ruptura do material, fornece agora o valor de J IC,
conforme mostra a figura 6.28.
J = 2 ∆a σ E (6.40)
LMK OP
IC
2
= 5⋅
LM CVN − 0,05OP com unidades ksi . √in, ksi, lb-ft
Nσ Q
E NσE Q
3 - Na temperatura de transição da aparência da fratura (FATT)
considerar K IC como a média aritmética entre os dois valores acima.
4 - Na temperatura de -320° F adotar K IC = 25 ksi √in.
5 - Unir os pontos obtidos por segmentos de retas e manter K IC
constante no patamar superior.
250 250
K IC σE
K IC
200 200
150 150
σE
100 100
50 50
0 0
-200 0 200 400 600 T,°F
KIC = Y . σc . π ⋅ a (7.1)
ou seja,
200 Análise de Resistência Mecânica
K IC
σc = (7.2)
Y⋅ π⋅a
W
σR
1 2 3
1 a
K I = K IC
2
3
a [m]
a=W
v=
KI
⋅
r
⋅ sen θ / 2 ⋅
LM
2
− cos 2 θ / 2
OP
G 2π N
1+ ν Q (7.4)
EXEMPLO 7.1
Para um material elastoplástico ideal, usando o conceito de trinca equivalente,
determinar o deslocamento δ entre as faces, no extremo da trinca, devido ao escoamento.
SOLUÇÃO:
Usando a expressão para o deslocamento de um ponto em um material elástico, dada
acima, vamos considerar este ponto como sendo o extremo da trinca física, porém calculando
os deslocamentos através da trinca equivalente, vem
δ = 2 . v ( rp ; π )
v ( rp ; π ) = KI /G . rp / 2 π ( 2 / (1 + ν))
1FG K IJ 2
2π H σ K
I
r =
p
E
e logo.
v = 2 . KI2 / (π . E . σE )
Resulta assim
202 Análise de Resistência Mecânica
δ = 4 . KI2 / ( π . E .σE )
para um estado plano de tensões. Uma análise mais exata, para a geometria de Griffth,
considerando um material elastoplástico ideal, levada a cabo por Dugdale, leva a uma
expressão do tipo
8 σE ⋅ a π⋅σ
δ= ⋅ ln sec (7.5)
π E 2 ⋅ σE
Trinca real
δ x, r
rp
a
aeq
EXEMPLO 7.2.
Para um aço carbono estrutural temos as propriedades mecânicas abaixo listadas. Qual
o valor de δIC , ou seja, do deslocamento de abertura da trinca na condição quando KI = KIC?
SOLUÇÃO:
Com as expressões anteriormente vistas calculamos:
δIC = 0,000 84 m
δIC = 0,840 mm
rp = 49 mm
Mecânica da Fratura Elastoplástica 203
KIC = 60 MPa . m
E = 210 000 MPa
σE = 1370 MPa
que resultariam em
EXEMPLO 7.3.
A peça ilustrada é parte de um escarificador, para preparo do campo para a aragem.
Sendo constituido de um aço SAE-ABNT 4340, temperado e revenido, determine a força de
plastificação e o máximo tamanho de uma trinca superficial que pode ser admitida, para uma
força de trabalho igual à metade da força de plastificação da seção crítica. Usar l = 600 mm,
h.= 60 mm, B = 20 mm, a = 3 mm, σE = 1370 MPa e KIC = 60 MPa . m .
- 1 2
+ h h
Trinca l
B
a
F
Equilibra o momento Detalhe da trinca
Equilibra o momento
SOLUÇÃO:
Para a solução deste problema é necessário considerar que para o cálculo da carga de
plastificação deve ser utilizada a altura efetiva da seção, ou seja, de 57 mm. Já para os
cálculos da mecânica da fratura é convencional a tensão ser calculada na área plena e logo h =
60 mm.
204 Análise de Resistência Mecânica
M = σE
B ⋅ h2
4
b
1 − 4 ⋅ α2 g
e quanto a força F,
F = 2 . α . h . B . σE
α = ( l / h) 2 + 1 4 - l / h
Para este exemplo, l / h = 10,53, logo α = 0,01187. Neste caso então a força é calculada
como 2 . α . h . B . σE, resultando um valor de 37,1 kN. Devemos assim usar uma força de trabalho
de 18,5 kN.
b) Análise da fratura para uma força de 18,5 kN. Sobrepondo os efeitos de tração e
flexão no cálculo de KI, os correspondentes fatores geométricos são Yt = 1,12 e Yf = 1,02.
KI = KIt + KIf
K π ⋅ a = Yt . σt . π ⋅ a + Yf . σf . π ⋅ a
σt = 15,41 MPa
σf = 925,0 MPa
Yf = f( 3 / 60 ) = f( 0,05 )
Yf = 1,02
Yt = 1,12
F F ⋅ 600
K I = 1, 12 π ⋅ 0, 003 + π ⋅ 0, 003
1200 12000
Mecânica da Fratura Elastoplástica 205
Igualando este valor de KI calculado com KIC , obtemos a força crítica que leva a trinca
de 3 mm à instabilidade. Deste modo,
F = 11,5 kN
Adotando agora um aço do tipo SAE-ABNT 1045, que possui σE = 700 MPa e KC = 200
MPa m temos:
F = 2 . α . h . B . σE = 18,9 kN
e) Para ruptura frágil, com uma trinca de a = 3 mm, a força máxima pode ser obtida da
mesma forma que no item (c),
1, 12 F ⋅ 0, 6
200 = ⋅ F ⋅ π ⋅ 0, 003 + 1, 06 ⋅ π ⋅ 0, 003
1200 12
F = 38 kN
que é superior à força de plastificação total obtida no item (d). O raio de plastificação calculado
fornece r = 13 mm, e é, no caso, maior que o admitido pela Mecânica da Fratura Elástica
Linear. Assim, para este material a ruptura é essencialmente dútil, não podendo ser prevista
corretamente pelo uso dos procedimentos vistos até o momento.
rp =
1 K FG IJ 2
2 π σE H K (7.3)
e logo
K = Y . σ . π (a + rp ) (7.4)
206 Análise de Resistência Mecânica
e substituindo rp,
K = Y .σ. π a+
LM 1 KFG IJ OP
2
MN 2π σEH K PQ
K2 = Y2 . σ2 . π . (a + 1/2π . (K / σE )2 )
K2 = Y2 . σ2 . K2 . / 2 . σ2E + Y2 . σ2 . π . a
K = Y . Yp . σ . π a (7.6)
Yp = 1
K LM 1 KC FG IJ OP
2 −1/ 2
σC = C π ⋅ a +
Y MN 2 σE H K PQ (7.9)
Mecânica da Fratura Elastoplástica 207
e por Dugdale
2 ⋅ σE L π FK IJ 2 OP
⋅ arc cos exp M −
σC =
MN 8 ⋅ a GH Y ⋅ σ K
C
π E PQ (7.10)
EXEMPLO 7.4
Vamos considerar uma placa metálica com uma trinca central (Center Cracked Panel),
π ⋅a
com as características abaixo. Considere Y2 = sec .
2⋅W
W = 300 mm
KC = 200 MPa m
σR = 440 MPa
σ 2W
440
2a K I = K IC
2
1- Y=1
1
2 - Y = f( a / W )
3 - Dugdale
a [m]
a = W = 0,30
é obtida pela mesma equação, porém usando Y segundo a equação da secante, dada acima e
a curva 3 é obtida por Dugdale, equação (7.10).
σC = KIC / [ Y . π ⋅ a ]
EXEMPLO 7.5
Calcular a força crítica para a viga abaixo ilustrada e determine a carga de falha,
sabendo que o material é um aço SAE-ABNT 4340 com dureza Brinell de 409 HBN e de
características:
σE = 1370 MPa
σR = 1470 MPa
σf = 1560 MPa
εf = 0,38
KIC = 60 MPa m
SOLUÇÃO:
A tensão nominal devida à flexão é
6 ⋅M F ⋅ 400
σ0 = 2
= 5
b⋅h 1, 5 ⋅ 10
Y = Y ( a / W ) = Y ( 0,0333 )
Y = 1,0
KI = σC . π ⋅ 0, 005
σC = 479 MPa
FC = 179,6 kN
Mecânica da Fratura Elastoplástica 209
pela aplicação direta da Mecânica da Fratura Elástica Linear. Notamos que, para um estado
plano de tensões, rp = 0,31 mm.
150
400
40
σC = 464,5 MPa
logo
FC = 174 kN
Não existe grande diferença entre as duas soluções porque o material é relativamente
frágil, ou seja, grande σE e baixo KIC , logo apresenta um raio de plastificação pequeno.
Uma solução mais exata para o problema de flexão, devida a Hayes e William [4], para
esta geometria, fornece
δ* = 2 . π . G . δ / ( 1 + ν ) . σE . W
2⋅π⋅G
2
K IC
δ *c = (7.11)
(1 + ν) ⋅ W E ⋅ σE2
210 Análise de Resistência Mecânica
π 2
K IC
δ *c = (7.12)
(1 + ν ) W ⋅ σ E
2 2
e substituindo os valores resulta δ*C = 0,0238. Do gráfico da figura 12 da referência [4], temos
σ / σE = 0,34 e logo σC = 465 MPa, não havendo quase diferença com a solução anterior
porque o comportamento é quase elástico linear.
EXEMPLO 7.6
Na segunda parte do exemplo 7.3, ao adotarmos um aço mais tenaz, para uma trinca de
3 mm, a zona plástica na ruptura possuía um raio de 13 mm para um ligamento de 57 mm,
invalidando a aplicação da Mecânica da Fratura Elástica Linear. Vamos aplicar agora a
Mecânica da Fratura Elastoplástica na avaliação.
SOLUÇÃO:
Pelo uso das expressões da Mecânica da Fratura Elasto Plástica, usando apenas a
tensão de flexão, pelo conceito da trinca equivalente,
L FK IJ OP
2 −1/ 2
⋅ Mπ ⋅ a + G
KC
σC
N H Y⋅σ K
C
=
Y M E PQ
σC = 674 MPa
Logo
FC = 13,5 kN
L π FK IJ 2
OP
⋅ arc cos exp M −
2 ⋅ σE
σC =
MN 8 ⋅ a ⋅ GH Y ⋅ σ K
C
π E PQ
σC = 699 MPa
Logo
FC = 14 kN
Usando a solução de Hayes e William,
2
* π K
δC = ⋅ IC 2
(1 − ν ) W ⋅ σ E
2
Mecânica da Fratura Elastoplástica 211
δ *C = 2, 529
o que nos leva a uma plastificação completa da seção. Assim, é provável que não ocorra
ruptura, mas sim uma deformação plástica acentuada, pois σE = 700 MPa.
EXEMPLO 7.7
Vamos fazer a análise da ruptura que ocorreu durante o reabastecimento de um
reservatório de gás pressurizado (cilindro de oxigênio), conforme referência [1]. O material do
cilindro é um aço carbono-manganês, temperado e revenido, com
σE = 517 MPa
σR = 687 MPa
KC= 209 MPa m
SOLUÇÃO:
Uma vez que a trinca é longitudinal a tensão que leva a sua abertura é a tensão
tangencial σt . Em reservatórios cilíndricos sob pressão interna,
σt = ( p . D ) / ( 2 . t )
212 Análise de Resistência Mecânica
σt = 288 MPa.
6,5 5,9
76
L π FK IJ 2
OP
⋅ arc cos exp M −
2 ⋅ σE
σC =
MN 8 ⋅ a ⋅ GH Y ⋅ σ K
C
π E PQ
σC = 517 MPa
KC = 209 MPa m
a = 0,038 m
Para trincas longitudinais passantes, segundo Folias [3], em cilindros sob pressão
interna, o fator geométrico é dado por
F
Y = G 1 + 1, 255 ⋅
2
I 4
1/ 2
H
a
R⋅ t
− 0, 0135 ⋅
a
J
R t K
2
⋅
2
Mecânica da Fratura Elastoplástica 213
resultando assim
Y = 1,87
2 ⋅ σE F π ⋅K I
⋅ arc cos exp G −
2
σC =
H 8 ⋅ a ⋅ Y ⋅ σ JK
IC
(7.14)
π 2
E
2
KIC = Y σIC πa
e substituindo,
RS L π 2 σ 2I C OPUV
T MN
2
σ C = ⋅ σE ⋅ arc cos exp − ⋅ (7.15)
π 8 σE2 QW
Dowling e Townley generalizaram esta expressão colocando ao
invés das tensões, as cargas que correspondem às situações limites,
ou seja, usando a nomenclatura dos Capítulos anteriores, chamando
de Q a carga generalizada, que pode ser uma força, um momento, uma
pressão, uma diferença de temperatura, etc, temos:
Qf Qf
= ⋅
LM
8 π Q
⋅ ln sec ⋅ f
OP −1/ 2
(7.17)
Q I C QL π N
2
2 QL Q
pois em um gráfico de Qf / QIC versus Qf / QL , este fica linear quanto a
Qf, permitindo uma análise imediata sobre os efeitos de alterar a carga
sobre a estrutura, conforme mostra a figura 7.8.
Mecânica da Fratura Elastoplástica 215
Q / Q IC
1,0
Região de Linha de falha
falha
frágil Região de
transição
Controle de carga
Região de
falha
Controle de deslocamento
0 dútil
0 1,0 Q / QL
Q / Q IC
Linha de carregamento
1,0
Ponto de trabalho
0
0 1,0 Q / QL
EXEMPLO 7.8
Refaça o exemplo 7.5, calculando agora a carga de falha pelo método de Dowling e
Townley. Qual a carga de trabalho para um coeficiente de segurança igual a 2 ?
SOLUÇÃO:
Aplicando diretamente a Mecânica da Fratura Elástica Linear, a carga de falha prevista
será portanto QIC, e pela análise limite é determinada a carga de colapso plástico, QL,
QIC = 179,6 kN
QIC / QL = 0,233
Qf
=
2 LM
⋅ arc cos exp −
π 2 Q 2I C
⋅
OP
QL π N 8 2
QL Q
Qf
= 0,2304
QL
logo
Qf = 177,6 kN
Mecânica da Fratura Elastoplástica 217
2
R[J/m ]
K = 60 MPa m
a [ mm ] a 0 = 50 mm ∆a [ mm ]
R, G
2
1
a0 a
- Definir a geometria;
- Determinar o carregamento;
- Calcular KI = Y . σ . π ⋅ a ;
- Calcular rp para EPD e comparar com: a; (W - a) e B;
- Decidir quanto ao estado de tensões existente, EPT, EPD ou misto;
- Decidir quanto a KIC ou KC , avaliando os valores relativos de B e rp;
- Decidir quanto à MFEL ou MFEP comparando a e (W - a) com rp.
- Aplicar as expressões correspondentes para determinar a tensão
crítica de falha e avaliar o grau de segurança existente.
PARTE 3
.
CAPÍTULO 8
O FENÔMENO DA FADIGA
8.1 - INTRODUÇÃO
A grande maioria das estruturas de engenharia está sujeita a cargas
que são de um modo geral variáveis no tempo, embora muitas vezes
sejamos levados a crer que o carregamento seja estático, em uma
primeira observação. Uma falha por fadiga ocorre dentro de uma gama
bastante ampla de ciclos de carga, desde valores da ordem de 10
ciclos até mais de 10 7, 10 8 ciclos. É lógico que o número de ciclos que
o componente resiste depende do nível da solicitação, pois com uma
maior carga dinâmica temos uma vida baixa, sensivelmente reduzida
quando comparada com uma situação onde a solicitação cíclica é
menor, o que leva a uma maior vida. Como situações práticas do
número de ciclos esperados ao longo da vida do componente os
exemplos que seguem são ilustrativos.
EXEMPLO 8.1
- Um reservatório pressurizado, usado para armazenar um fluido sob pressão, é um
exemplo de carregamento estático, porém quando o fluido é drenado, a pressão baixa ao valor
atmosférico. Com uma drenagem a cada 2 meses, ao longo da vida útil do reservatório,
usualmente de 10 a 20 anos, o número de ciclos de pressurização e despressurização será de
60 a 120 ciclos. Estamos portanto na presença de um problema de fadiga, embora com um
pequeno número de ciclos esperados ao longo da vida.
EXEMPLO 8.2
- Implemento agrícola. Com a operação de um implemento em condições adversas,
temos uma sobrecarga ocorrendo na média de, por exemplo, duas vezes por dia. Sendo o
implemento usado durante 50 dias por ano, na época do preparo do campo, resultam assim
1000 ciclos devidos à sobrecarga, para um período de vida útil de 10 anos.
EXEMPLO 8.3
- Mola de suspensão de automóvel. A vida de fadiga para uma mola de suspensão de
um automóvel é considerada para projeto como sendo da ordem de 200 000 ciclos. Esta vida
considera que a carga atuante seja a carga máxima esperada em serviço. Isto implica em
aproximadamente 50 ciclos por dia para uma vida de 10 anos.
EXEMPLO 8.4
- Motor a reação. Um motor a jato possui uma velocidade de rotação do eixo bastante
elevada e assim a flexão pelo peso próprio poderia provocar um efeito de fadiga. No entanto,
devido à rigidez exigida para este eixo, isto não ocorre. Por outro lado, as pás das turbinas e os
discos centrais destas sofrem um carregamento cíclico cada vez que o motor é acionado, pela
ação das forças centrífugas e do gradiente de temperatura, que causa tensões térmicas. Neste
caso cada ciclo é formado pela ação de liga-desliga do motor. Sendo acionado uma média de 4
vezes por dia, ao longo de 15 anos teremos acumulados 15000 ciclos de operação,
considerando 250 dias de uso por ano.
O Fenômeno da Fadiga 225
EXEMPLO 8.5
- Mola de válvula de um motor de combustão interna de quatro tempos. Com uma
rotação média do motor de 2 000 rpm, a válvula é acionada 1 000 vezes por minuto. Para uma
vida de 200 000 km, temos, portanto, 2,4.10 8 ciclos, a uma velocidade média de 50 km/h.
EXEMPLO 8.6
- O eixo de um motor elétrico, operando a 1 750 rpm, ao longo de 1 000 horas de uso,
sofre 10 8 ciclos, o que corresponde a uma utilização apenas esporádica do motor. No caso de
um uso mais intenso, da ordem de 50 horas semanais, temos 2,7.10 9 ciclos ao longo de 10
anos de vida.
Direção de escorregamento σ
τ
Detalhe
τ
τ
Superfície
livre
τ τ
σ
Estágio I Estágio II
τ
Linhas de repouso,
ou linhas de praia
Provável ponto de
nucleação da trinca
Zona de ruptura final
Ruptura por
cisalhamento
Controle de força σ
F σmáx
σ
∆σ
t ε
σmín
∆l
σ
Controle de deslocamento
ε
ε mín
t ε
ε máx
∆ε
∆εe = ∆σ / E (8.2)
σ
∆ε e ∆ε p
∆σ
∆ε
σa
∆σ
∆σ ε
∆ε
∆σ
∆ε p
∆ε
Laços de histerese
ε
σ σ
ε ε
t
∆ε ∆ε
σ
B σ σ
t B
σ σ
A1
ε ε
ε
0,01
0,0
0,01
onde temos
∆εe / 2 = ∆σ / ( 2E ) (8.6)
resulta
Estática Estática
350 350 350 Estática
Estática
Estática Cíclica Cíclica
Cíclica
σ Curva cíclica
Curva estática
450
ε
0,01
Corpo de prova
Componente
Produto completo
Detalhe
Registro de carga
Solicitação em bloco Amplitude constante
Complexo, realístico, industrial.
Simples, básico, pesquisa.
K I C1
K I C2
σmáx
σa
σa σm
∆σ
∆σ
σmín
∆σ = 2 σa σm = ( σmáx + σmín ) / 2
R = σmín / σmáx σa = ( σmáx - σmín) / 2
σa
4
10
σR σa
σm = 0
3
10
2 Curva de Woehler
10
10 2 3 4 5 6 7 8
10 10 10 10 10 10 10
ε máx
εa
t
∆ε
ε mín
1 2 3
σN
σN σF
8 8
10 N 10 10 N 10
σN/σR
+ +
0,8 +
+
++ ++ + +
0,6 + + +
+ +20%
+
+
-20%
0,4
0,2
0
2 3 4 5 6 7 8
10 10 10 10 10 10 10 10 N
σa
σR
σN = 0,8 σR
σF = 0,5 σR
N
2 3 4 5 6 7 8
10 10 10 10 10 10 10
σa 1,0
σR
0,8
0,6
0,4 - +
- -
0,2
- -+
-+
- +
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
σm
σR
250
σF
σF = 0,5 σR
σF = 0,35 σR
500 σR
EXEMPLO 9.1 -
Estimar a curva σ - N para o aço SAE-ABNT 4340, com dureza de 353 HBN.
A tensão limite de resistência do material é obtida da dureza Bienell, que para um aço
liga Ni - Cr - Mo é relacionada como:
?
2 4
N
3 5 6
10 10 10 10 10
Tendo-se este valor podemos estimar o diagrama σ - N, para flexão rotativa como:
960
600
900
510
810
348
σN = C Nm (9.1)
C = σN N-m (9.3)
N = ( σ / C )1/m (9.4)
∆εe = ∆σ / E (9.5)
266 A n á l i s e d e R e s i s tê n c i a M e c â n i c a
∆εp = ∆ε - ∆εe
∆ε e ∆ε p
σa
∆σ ε
∆ε p
∆ε
∆ε 10 N
tr
-1 Fadiga de baixo ciclo Fadiga de alto ciclo
10
-2
10
Deformação elástica Deformação total
-3
10 Deformação plástica
N
-4
10
2 3 4 5 6 7 8
10 10 10 10 10 10 10
N
tr
εf = ln (1 - ϕ)-1 e assim
M = 0,5 ln (1 - ϕ)-1
M = εf 0,6
B = 3,5 σR / E
∆ε - ∆εF = D Nf (9.13)
MÉTODO DE MORROW.
Uma outra maneira de apresentar a curva ε - N é através da
equação de Morrow [ ], que considera não o número de ciclos, mas sim
o número de reversões de carga, diferenciação que, para um
carregamento cíclico do tipo senoidal, é irrelevante, mas que faz
diferença quando a carga é do tipo aleatório, onde a definição de ciclo
não é óbvia. Segundo Morrow a tensão alternante, para N ciclos de
carga, ou 2N reversões, é dada por σf' = (2N)b, sendo σf' uma
constante do material, que pode ser aproximada pela tensão real de
R e s i s tê n c i a à F a d i g a d o s M a t e r i a i s 271
EXEMPLO 9.2
Estimar a curva ε - N para o aço SAE-ABNT 4340, com dureza de 370 HBN, que
apresenta as propriedades εf = 0,84 e E = 210 000 MPa.
SOLUÇÃO:
Como foi comentado, a formulação que apresenta resultados bastantes bons para a
maioria dos materiais é a de Manson, também conhecida como método das inclinações
universais. Adotando este método, e da equação (9.12),
Dos dados:
εf - deformação real de fratura no ensaio estático
εf = 0,84
logo:
1260
∆ε = 3,5 N - 0,12 + 0,840,6 Nf - 0,6
210 000 f
100
∆ε
10-1
∆εe
-2
10
10-3
∆εp
10 -4
100 101 102 103 104 105 106 107
N
Di = ni / Ni (9.21)
D = Σi Di (9.22)
EXEMPLO 9.3
Um aço possui a sua curva σ - N dada por σ = 3207 N - 0,201, conforme a figura abaixo.
σ
3
5.10
800 500
n=?
300
200
2 3 4 5 6 7
10 10 10 10 10 10 N
Qual o número de ciclos que o material deverá suportar sob um carregamento com 300
MPa de amplitude, se antes foi solicitado por 5.103 ciclos de 500 MPa de amplitude ?
SOLUÇÃO:
Será adotado que o dano final é D = 1, para caracterizar a falha. Foram aplicados n1 =
5.103 ciclos no nível inicial. Se a curva σ - N é a definida acima, então
N = (3 207/σ) - 1/0,201
N1 = 10 365 ciclos
Assim restam 0,518 de dano admissível, para os blocos de carregamento cíclico
subsequentes, pois o dano provocado no primeiro nível de carga foi, para σ1= 500 MPa,
D1 = n1 / N1 = 5 000/10 365 = 0,482
e logo D2 = 1 - D1 = 0,518.
Para o segundo bloco, com σ = 300 MPa,
N2 = (3 207/300) - 1/0,201
N2 = 13 1600 ciclos, e logo
n = 0,518 . N = 68 174 ciclos
2 2
será o máximo número de ciclos que ainda poderá ser aplicado.
10.1 - INTRODUÇÃO.
No Capítulo anterior o comportamento quanto à resistência à fadiga
de um material foi analisado para cargas cíclicas alternantes, ou seja,
de média zero, e com amplitude constante, através do diagrama σ - N
ou então do diagrama ε - N. Para um componente mecânico não nos é
possível aplicar diretamente estes resultados, pois os mesmos são
válidos apenas para os corpos de prova, porque existem vários
aspectos que alteram a resistência à fadiga do componente, em
relação aos resultados obtidos no ensaio com os corpos de prova. As
278 Análise de Resistência Mecânica
1 - ACABAMENTO SUPERFICIAL.
O corpo de prova tem a sua superfície retificada ou muitas vezes
polida, enquanto que o componente mecânico é apenas usinado ou
mesmo é usado no estado bruto de fabricação, como de laminação, de
forjamento, de solda ou de fundição. Estas diferenças são importantes,
principalmente para vidas elevadas, acima da vida de transição do
material. Um acabamento superficial de pior qualidade em geral
degrada a resistência à fadiga da peça, diminuindo em muito a sua vida
útil. Esta redução de vida pode ser de 103 vezes ou mais.
2 - TAMANHO.
O corpo de prova é em geral de pequeno diâmetro, com um
pequeno volume de material solicitado pelas tensões máximas, o que
reduz as heterogeneidades que podem existir no volume. Nas peças de
grandes dimensões as regiões centrais são mais sujeitas a
segregações, inclusões e outros defeitos metalúrgicos, o que
compromete a resistência da peça. Existe também o efeito aparente do
tamanho, quando comparamos carga de tração com carga de flexão,
pela existência de deformações plásticas não levadas em conta no
cálculo, em geral elástico, das tensões nominais de flexão.
3 - CONFIABILIDADE.
É plenamente conhecido que o processo de falha por fadiga
apresenta uma considerável dispersão de resultados. Assim, quando o
nosso projeto deve usar os dados da resistência de fadiga com um
nível de segurança que considere a dispersão existente, a tensão de
esistência à fadiga deve ser corrigida por este efeito. Isto faz com que a
tensão limite de fadiga fique abaixo do correspondente valor médio,
quando é necessária uma confiabilidade superior a 50%.
4 - TEMPERATURA.
Quando o componente que está sendo projetado deve trabalhar a
uma temperatura distinta da temperatura em que os ensaios de fadiga
foram realizados é necessária uma correção na resistência à fadiga do
material para adequá-la à temperatura de trabalho. Em geral ocorre
uma pequena queda da resistência à fadiga para temperaturas até 200
a 250 °C. Acima deste valor de temperatura a queda é mais acentuda.
Resistência à Fadiga dos Componentes 279
5 - GEOMETRIA.
Os corpos de prova possuem seção uniforme, com uma transição
suave para os extremos onde são fixadas as garras, enquanto que nos
componentes mecânicos sempre existirão variações bruscas da
geometria que acarretarão concentrações de tensão. Estes pontos de
concentração de tensão tem uma importância bastante grande, pois é a
partir deles que a falha inícia. Uma grande parcela deste Capítulo é
dedicada à discussão do problema de concentração de tensão.
6 - CARGA.
Na grande maioria dos casos os ensaios de corpos de prova de
fadiga a solicitação é simples, ou seja, de apenas um tipo, de flexão,
tração ou torção. Para os componentes mecânicos reais normalmente
existe uma superposição de vários tipos de solicitações, tornando
necessária uma análise do efeito combinado. O modo de tratamento
apresentado neste Capítulo considera apenas o caso de
carregamentos em fase, em que a direção das tensões principais não
muda. Para o caso de carregamento fora de fase o problema ainda
hoje não apresenta unanimidade quanto a forma de tratamento.
7 - OUTROS EFEITOS.
Outras variáveis tais como tensões residuais, tratamentos
superficiais, ambiente agressivo etc., também influenciam na vida do
componente mecânico em relação à vida dos corpos de prova. Isto faz
com que devamos levar em consideração estes efeitos quando do
projeto de produtos que irão trabalhar naquelas condições.
Pelo efeito cumulativo destes aspectos é necessário distinguir entre
a resistência à fadiga do material, medida através de ensaios,
realizados com corpos de prova, e a resistência à fadiga da peça
propriamente dita, que é a resistência que esta apresentará quando em
serviço. Como foi comentado, a resistência à fadiga do material,
caracterizada pelos diagramas σ - N ou ε - N, é afetada pelo conjunto
de efeitos citados. Sendo assim, a forma de atacar o problema
depende do tipo de diagrama usado, ou em outras palavras, depende
da variável usada para definir o nível de solicitação no material, seja a
tensão ou a deformação atuante, consiste em estudar separadamente
os efeitos sobre cada um dos dois tipos de diagramas comentados no
Capítulo anterior.
Ensaio de peças
k1 = σF' / σF (10.2)
onde
σF' - tensão limite de fadiga do corpo de prova com acabamento real;
σF - tensão limite de fadiga do corpo de prova polido.
1,0 POLIDO
k1 RETIFICADO
USINADO
0,0
500 1000 1500
σR
INFLUÊNCIA DO TAMANHO.
Se fabricarmos, do mesmo material, vários grupos de corpos de
prova de diâmetros diferentes, chega-se, através do ensaio de fadiga, à
conclusão que a tensão limite de fadiga diminui com o aumento do
diâmetro. Esta dependência tem um caráter assintótico, o que leva a
crer que quando os corpos de prova se tornarem suficientemente
grandes, a tensão limite de resistência à fadiga deixa de diminuir com o
aumento do diâmetro. A redução da tensão limite de resistência à
fadiga correspondente ao aumento das dimensões da peça é
denominada de efeito de tamanho e é considerada na equação (10.1)
pelo fator de tamanho, k2. Este efeito deve ser interpretado como uma
consequência evidente de que a tensão máxima numa peça, ou corpo
de prova, não caracteriza totalmente o processo de falha por fadiga, e
que o limite de resistência à fadiga não é uma função apenas das
propriedades do material. A melhor maneira de quantificar este efeito é
a de acumular, sistematizar e analisar os dados experimentais, pois
ainda não existe um modelo teórico que forneça resultados confiáveis.
Uma orientação quanto ao valor de k2 a usar em um projeto de fadiga
para vida infinita é dado na figura 10.3, para solicitações de flexão e de
torção. Os dados mostrados indicam que para carga de tração este
efeito de tamanho não é relevante, fornecendo k2 = 1,0.
1,0 TRAÇÃO
k 2
0,9
0,8
FLEXÃO
AÇO LIGA
FLEXÃO
AÇOS CARBONO
0,7
0,6
TORÇÃO PARA
QUALQUER AÇO
Para flexão, o fator k2 pode ser obtido da figura 10.3, quando usada
uma análise elástica. Se for feita uma análise elastoplástica, com o uso
do diagrama tensão-deformação cíclico, devemos usar o valor k2 = 1.
Os esquemas da figura 10.4 dão a idéia da dimensão característica
para o uso da figura 10.3.
INFLUÊNCIA DA CONFIABILIDADE.
O projeto de peças e componentes mecânicos, ou estruturais,
quanto à falha por fadiga do material deve ser feita, para uma dada
vida, com um nível de segurança adequado, nível este que, para o
caso da fadiga, deve considerar a dispersão de resultados inerentes ao
processo de falha. Deste modo, o nível de segurança é interpretado
com base na Teoria da Probabilidade, definindo assim a confiabilidade
para um certo nível de tensão como a probabilidade de que a peça não
falhe por fadiga, na vida considerada. Os dados de dispersão dos
Resistência à Fadiga dos Componentes 285
FLEXÃO
LN LN LN d
TRAÇÃO
d
k3 = 1 - 0,08 Z (10.4)
Confiabilidade Valor de Z
0,50 0,00
0,90 1,29
0,95 1,65
0,99 2,33
EFEITO DA TEMPERATURA.
Quando o material deve trabalhar a temperaturas distintas do
ambiente, as propriedades mecânicas alteram-se e portanto a
resistência à fadiga também é influenciada. Este efeito da temperatura
deve ser obtido a partir de dados experimentais, seja através de um
levantamento em laboratório ou por busca na literatura especializada.
Quando tal não for possível, uma estimativa do efeito, para altas
temperaturas, pode ser feita pelo uso da equação (10.5) abaixo [3],
para uso em temperatura na faixa de 450 °C a 550 °C, no caso de
aços. Acima de 550 °C a falha por fluência do material passa a ser
importante e pode interagir com o mecanismo de fadiga, exigindo uma
análise mais elaborada.
EFEITO COMBINADO.
Com o efeito combinado dos diferentes fatores, a tensão σF' é
determinada e como os efeitos diminuem conforme a vida fica menor, é
usual se considerar que a curva de resistência à fadiga da peça
converge para a curva do material para 103 ciclos, como na figura
abaixo.
σ
Curva do material (corpos de prova)
σF
Curva da peça
σF'
N
Resistência à Fadiga dos Componentes 287
100
80
σ
60
40
30
20
Kt = 2
10
8
6
Kt = 4
4 Kt = 5
3 8
2 3 4 5 6 7
10 10 10 10 10 10 10
N
1,0 4
3
0,8 2 σR
1 1 - 400 MPa
0,6 2 - 700 MPa
3 - 1000 MPa
0,4 3 - 1400 MPa
AÇO
0,2 LIGA ALUMÍNIO
0
0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
RAIO DO ENTALHE, r [ mm ]
1,0
0,8
0,6
0,4
AÇOS LAMINADOS E TEMPERADOS (HB > 200)
0
0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
RAIO DO ENTALHE, r [ mm ]
Kf = 1 + q (Kt - 1) (10.8)
SOLICITAÇÃO
Solicitações Nominais Solicitações no Ponto
K t
σ0 K f σmáx σ
σ0 ε0 K σ ε máx
K ε
ε0 Concentração de tensão ε
e de deformação
ENFOQUE DA
ANÁLISE NO ANÁLISE DE
SEGURANÇA
PONTO CRÍTICO
RESISTÊNCIA
Resistência Resistência
do Material do Ponto
σ= CN m
σ σ
b c
ε= BN +MN
N N
ε Fatores de correção ε
N N
Figura 10.7 - Procedimento geral para a análise de fadiga, com ênfase sobre o
comportamento no ponto crítico da peça .
292 Análise de Resistência Mecânica
EXEMPLO 10.1:
Qual o coeficiente de segurança para vida infinita do eixo, cuja seção crítica está
esquematizada abaixo, submetido à flexão, se a tensão nominal varia ciclicamente com
amplitude de 65 MPa, (tensão média zero)?
Dados:
D = 80 mm
d = 55 mm
r = 2 mm
Aço SAE-ABNT 1045, com 225 HBN
εf = 1,04
σR = 724 MPa
σE = 634 MPa
SOLUÇÃO:
Para chegarmos ao coeficiente de segurança é necessário estimar o valor de σF , como
os passos a seguir indicam.
d D
σF = 0,5·(724)
σF = 362 MPa
Esta curva fica alterada, para a peça, em função dos fatores de acabamento superficial e
de tamanho, os quais serão introduzidos a seguir.
Fator de acabamento superficial, da figura 10.1,
k1 = 0,84 (σR = 724 MPa)
Fator de tamanho, da figura 10.3,
k2 = 0,78 (d = 55 mm)
O menor dos dois diâmetros da peça é o usado na determinação de k2 , porque as
tensões nesta região são maiores, ou seja, é o diâmetro da seção crítica.
Sendo assim,
σF' = k1 k2 σF = 0,84·0,78·362
σF' = 237 MPa
O valor de σN não é alterado pelos fatores de correção, porque para fadiga a baixo ciclo,
k1 e k2 tendem a zero. O fator de concentração de tensão, devido à geometria da peça, será
considerado para o cálculo das tensões aplicadas à mesma, e não para a construção do
diagrama σ - N. O fator de concentração de tensão para fadiga é dado pela equação (10.8).
Kf = 1 + q·(Kt - 1)
Para esta geometria, com as seguintes relações,
D 80
= = 1,45
d 55
r 2
= = 0,04
d 55
Isto significa dizer que a peça tem uma margem de segurança de 70%, quanto ao
carregamento, para a vida infinita.
294 Análise de Resistência Mecânica
1 - ACABAMENTO SUPERFICIAL.
O fator k1 de acabamento superficial deve ser usado na análise, só
que atuando apenas na parte elástica da deformação total, pois para
vidas curtas não existe um efeito acentuado do acabamento superficial,
uma vez que a grande deformação plástica dos materiais mascara o
efeito das irregularidades superficiais. Devemos usar k1 quando os
dados do material foram obtidos a partir de corpos de prova retificados
e polidos. Se os corpos de prova forem somente retificados, ou mesmo
apenas usinados, o fator k1 não deve ser empregado.
2 - TAMANHO.
O fator de tamanho não é relevante pois as deformações são
calculadas para o ponto mais solicitado, a partir das características
cíclicas do material. Quando o cálculo é feito a partir de uma tensão
nominal elástica, mesmo no ponto crítico, surge a necessidade do
emprego do fator de tamanho, como descrito no uso da curva σ - N.
3 - GEOMETRIA.
O efeito de concentração de tensão é plenamente atuante, porém é
mais conveniente que seja encarado como fator de aumento de
solicitação da peça, do que como um fator de redução de resistência,
pois o efeito das descontinuidades geométricas será, muitas vezes,
variável ao longo do eixo do número de ciclos, dificultando a análise se
o efeito for considerado como uma redução da resistência.
Os efeitos decorrentes do acabamento superficial e de pontos com
concentração de tensão serão comentados a seguir, sendo os demais
efeitos, para este caso da curva ε - N, aplicados somente em situações
especiais. Quando a solicitação que atua no ponto crítico é calculada
considerando as deformações plásticas existentes, verifica-se que o
único efeito atuante sobre a curva ε - N é o fator de acabamento
superficial. Isto é considerado com a aplicação do fator k1 sobre a
parcela elástica da deformação total da resistência à fadiga do material.
A deformação total é definida como
∆ε = ∆ε e + ∆ε p
A figura 10.9 representa esta equação, para uma escala logarítmica.
Como comentado o efeito do acabamento superficial é importante só
para vidas superiores a Ntr. e assim este efeito é considerado como:
∆ε = k1 ∆ε e + ∆ε p (10.9)
Resistência à Fadiga dos Componentes 295
∆ε
∆ε p
∆ε e
∆ε e k 1 (PONTO CRÍTICO)
N tr N
X
0
X1 X2 ε
A) B)
respectivamente como
Kσ = σ /σ0 (10.10)
Kε = ε/ε0 (10.11)
σ , ε - tensão, deformação no ponto mais solicitado
σ0 , ε0 - tensão, deformação, valores nominais na seção
Kσ , Kε - fatores de concentração de tensão e deformação
A partir destas definições podemos afirmar que:
Para o regime elástico Kσ = Kt
Kε = Kt
Para o regime elastoplástico Kσ ≤ Kt
Kε ≥ Kt
Verificou-se que para a análise de fadiga usando o diagrama ε - N, o
uso de Kf no lugar de Kt, é mais exato, ajustando-se melhor aos
resultados experimentais, e assim, as desigualdades passam a ser
Kσ ≤ Kf
Kε ≥ Kf
A obtenção de Kε, para a determinação de εmáx, de modo a usar o
diagrama ε - N, é função do estado de tensões na peça e desta forma
temos as duas situações limites, de um estado plano de tensões e de
um estado plano de deformações.
HK K HK K
σ ε
(10.18)
f f
EXEMPLO 10.2:
Determinar o momento fletor que provoca uma fissura de fadiga em 105 ciclos, usando o
diagrama ε - N, na peça esquematizada na figura 10.11, considerando um aço SAE-ABNT
4340, com 350 HBN.
d D
Dados
D = 150 mm
d = 100 mm
r = 5 mm
E = 200000 MPa
σEC = 758 MPa
σR = 1240 MPa
εf = 0,84
SOLUÇÃO:
σR − 0,12 − 0,6
∆ε = 3, 5 + εf
0,6
N N
E
Substituindo os valores vem
1240 − 0,12 − 0,6
∆ε = 3, 5 N + 0, 84
0,6
N
200000
logo
F 0, 9007 IJ
=G
1/ 0,48
N tr
H 0, 0217 K ; Ntr = 2350 ciclos
Como a falha deverá ocorrer em 105 ciclos, está caracterizada a fadiga de alto ciclo, e
consequentemente o fator de acabamento superficial influencia de forma apreciável a curva ε -
N para o ponto crítico, logo:
∆ε = 0,0050
∆ε
σ
σ0
ε0
∆ε 0
Estas grandezas nominais estão representadas na figura 10.13. Para prosseguir com os
cálculos é necessário determinar a amplitude da tensão nominal. Se o material está no regime
elástico
302 Análise de Resistência Mecânica
σ0 = ε0 E
σ0 = 0,00115.200000
σ0 = 230 MPa
Como a tensão de escoamento cíclica, σEC , é bem maior do que σ0 , garante-se que o
comportamento na seção nominal é elástico, logo o momento fletor alternante que causa esta
tensão nominal é
Mf = σ 0 Wf
e para a seção em questão
πd3 π 1003
Wf = =
32 32
3
Wf = 98175 mm
logo:
Mf = 22,6 kNm
EXEMPLO 10.3:
Para a peça do exemplo 10.2, determinar qual o momento fletor alternante que provoca
uma fissura de fadiga em 105 ciclos, usando o diagrama σ - N.
SOLUÇÃO:
A equação para a curva σ - N do material é dada por
σ N = C ⋅ Nm
e conforme visto no Capítulo 9, as constantes C e m são calculadas por
log σ1 / σ 2
m=
log N1 / N2
C = σ1 / N1
m
C = 3 514 MPa
Portanto a equação σ - N é
σN = 3 514 · N - 0,1831
Calculando para 105 ciclos, σN = 426 MPa.
Quanto à solicitação, esta pode ser obtida da tensão nominal que leva à falha em 105
ciclos, ou seja,
σ0 = M / Wf = σN / Kf
Do exemplo 10.2, Wf = 98 175 mm3 e Kf = 2,175 e assim
σo = 195,8 MPa
e logo
Mf = 19,2 kNm
Nota-se que o valor do momento obtido é próximo daquele do Exemplo 10.2, obtido pelo
uso do diagrama ε - N, uma vez que o problema é de fadiga a alto ciclo.
EXEMPLO 10.4:
Para a mesma peça do exemplo 10.2, determinar:
a) O momento fletor que provoca uma fissura por fadiga em 2000 ciclos, usando o
diagrama ε - N.
b) Idem ao item a, porém usando o diagrama σ - N.
SOLUÇÃO:
a) A equação ε - N é:
σ0 = 407,85 MPa
M = σ0 · Wf = 407,85 · 98175
M = 40,04 kNm
σ F'
σ F' / K t
3 6 N
10 10
σ F'
σ F' / K f
EXEMPLO 10.5:
Refazer o exemplo 10.4, item b, usando o diagrama ε - N e a curva tensão-deformação
cíclica, adotando Kε = Kf para o cálculo de ε.
SOLUÇÃO:
Do exemplo 10.4 temos que, para N = 2000 ciclos, a tensão σ - N é de 887 MPa, obtida
pelo uso do diagrama ε - N. A deformação deverá ser obtida da curva tensão-deformação
cíclica. Da equação (8.1),
e da equação (9.17)
n' = b/c = 0,12
σf ' 1655
k' = =
ε f ' 0, 730,12
n'
ε0 = 3,9.10 -3
Como a tensão de escoamento cíclica é σEC = 758 MPa, εEC = σEC /E = 3,79.10-3 , logo
ε0 está na faixa plástica. O cálculo de ###0 deverá ser feito pela curva tensão-deformação
cíclica, conforme a equação (8.1).
A deformação nominal plástica ε0p é
ε0p = ε0 - ε0 /E
Como não conhecemos ε0 , temos um sistema não linear de duas equações.
Substituindo uma equação na outra,
σ 0 = k ' ( ε 0 − σ 0 / E )n'
ou
−3
σ 0 = 1719 ( 3, 9.10 − σ 0 / 2.105 )0,12
e fazendo algumas tentativas encontramos σ0 = 686 MPa, que está próximo à tensão limite de
escoamento. O momento fletor será portanto
M = σ0 · Wf = 686 · (98175)
M = 67,3 kNm
que é um momento que difere apenas em 7% do obtido no exemplo 10.4, quando foi usada a
curva ε - N. Sem dúvida o uso da curva σ - N é muito mais simples para resolver problemas a
baixo ciclo que o uso das curvas ε - N e curva tensão-deformação cíclica, principalmente se a
tensão σ0 não estiver dentro do regime elástico.
∆ε = (1 / ∆ σ ) K f ∆ε 0 E
2 2
(10.21)
O gráfico das duas equações é visto na figura 10.16 para um
caso geral. Por outro lado a curva da equação (10.21) representa
sempre uma hipérbole, chamada hipérbole de Neuber. O ponto
correspondente ao estado de tensões e deformações que está
ocorrendo no fundo do entalhe é o ponto de intersecção das duas
curvas, a curva correspondente à hipérbole de Neuber e a
correspondente à curva tensão-deformação cíclica. Na figura 10.16 o
ponto A é o correspondente ao estado de tensões e deformações
nominais e a solução para o estado local de tensões e deformações é o
ponto D. O ponto C representa a solução pelo uso da regra linear.
De forma geral, conhecidas as tensões e deformações nominais, σ0
e ε0, as constantes k' e n' da curva tensão-deformação cíclica do
material e o fator de concentração de tensão representado por Kf, o
sistema de equações (10.21) nos dará a tensão e a deformação que
ocorrem no fundo do entalhe, respectivamente σ e ε. A solução pode
se obtida graficamente, com o traçdo das curvas, ou, para certos casos
particulares da curva tensão-deformação, analiticamente. No caso de
uma curva tensão-defromação geral a solução não é simples, uma vez
que não é possível explicitar qualquer uma das incógnitas, e o
problema deve ser resolvido iterativamente, a partir de uma estimativa
inicial, até a convergência dos resultados.
308 Análise de Resistência Mecânica
Kσ =Kf
FG ∆ε / ∆ε IJ − 1/ 2
H ∆σ / ∆σ K
0
(10.33)
0
Desde que
∆σ0 /∆ε0 = E
então podemos escrever:
Kσ = Kf [E∆ε/∆σ] - 1/2 (10.34)
Substituindo as expressões para ε - N e σ - N,
Kσ =Kf
LM cMN + BN hE OP
c b
− 1/2
MN BN E PQ b
(10.35)
Kσ =Kf 1
LM M c −b OP − 1/ 2
N B
N
Q (10.36)
Kε
Kf
EPT
2
EPD
1,0
10.6 - COMENTÁRIOS.
Quando se usa o diagrama σ - N ou ε - N em peças entalhadas, sob
um estado plano de deformação:
a) Se Kf for usado para amplificar o carregamento, usando σ=Kf σ0 ,
como nos exemplos 10.1, 10.3 e 10.4, a solução será razoavelmente
precisa para fadiga a altos ciclos (valores semelhantes aos obtidos via
diagrama ε - N e ε = Kf εo, exemplos 10.2 e 10.4. Para fadiga a baixo
ciclos o uso da curva σ - N dará resultados cada vez mais
conservativos quanto menor a vida, enquanto que usando a curva ε -N
os valores são razoáveis. Então para o regime de alto ciclo é
indiferente o uso da curva σ - N ou da curva ε -N, da forma acima,
b) Se calcularmos σ do diagrama σ - N, em baixo ciclos, e obtivermos ε
da relação tensão-deformação cíclica, e aplicarmos ε0 = ε/Kf , como no
exemplo 10.5, os resultados obtidos também serão razoáveis, embora
o processo de cálculo torne-se muito mais laborioso se ε0 não estiver
no campo elástico. Um outro problema no uso do diagrama σ - N, para
baixo ciclo, é que este diagrama normalmente não é disponível para
vidas inferiores a 1000 ciclos;
c) Pode-se usar o outro procedimento não detalhado aqui, mas
ilustrado na figura 10.15, de usar Kf como correção na extremidade de
vida infinita da curva σ - N. Automaticamente a correção é atenuada
quando se reduz a vida, até 103 ciclos, quando o fator aplicado torna-se
unitário. Neste caso, como a intensificação de tensão é aplicada sobre
o diagrama de resistência, o valor de σ obtido para uma dada vida já
corresponde ao valor nominal σ0.
d) De forma geral é recomedável usar ε - N para baixo ciclo, e σ - N
para alto ciclo.
Estas conclusões estão resumidas na Tabela 10.4, onde temos os
principais valores obtidos na resolução dos exemplos 10.2 a 10.5.
312 Análise de Resistência Mecânica
σmáx σmáx
σm σmáx
σmín
σa
σm
σmín
σm σm
σmín
σ máx + σ mín
σm = (11.1)
2
e a amplitude da tensão aplicada, ou tensão alternante, é
σ máx − σ mín
σa = (11.2)
2
σ
σmáx
t
σm Alternada
σa σ
Flutuante
σ
t
σmín
Pulsante
σa
σN N = 10
3
5
N = 10
N = 10 7
σE / σR / σf σm
σa
Curva do material
σF
σF' Curva do componente
10 3 10 6 N
σa
Curva de iso-vida, ou N constante
σN
?
σR σm
σa
σF = σR / 3
σR σm
σa
σN
σF
σR σm
σa
σN
σF
σE σR σm
σa
σmáx = σE
σN
σF
σE σR σm
σa
σN
σF
σR σm
Figura 11.10 - Critério de Gerber. Este critério foi apresentado por mostrar um
bom ajuste com os resultados experimentais, à época coletados por
Gerber. O critério adota uma curva quadrática, passando por σN e σR,
simétrica em relação ao eixo vertical.
σa
σN
k σE
σE σL σR σm
σa
σN
σR σf σm
Figura 11.12 - Critério de Morrow (1965). Este critério considera que o máximo
valor que a tensão média pode assumir é a tensão real de fratura, pois
o valor de σR não corresponde à ruptura do material e sim à condição
de instabilidade plástica do ensaio de tração.
σa
σN
σF
σR σm
Figura 11.13 - Critério de Smith. Este critério procura ajustar-se aos resultados
experimentais de materiais frágeis, ou de alta resistência, com elevado
efeito de concentração de tensão. Nestes casos, os pontos
experimentais formam uma curva com forma côncava, sendo inviável o
uso dos critérios anteriores, que não são conservativos para estes
casos.
O Efeito de Solicitações Médias 323
σa
σmáx = σE
σN
σF
σProp
σE σR σm
Soderberg σA / σN = 1 - σM / σE (11.3)
Goodman modificado σA / σN = 1 - σM / σR (11.4)
Morrow σA / σN = 1 - σM / σF (11.5)
Gerber σA / σN = 1 - (σM / σR)2 (11.6)
σA / σN = (1 - σM / σR) / (1 + σM / σR ) (11.7)
324 Análise de Resistência Mecânica
σa σa
σN σN
N
10
3
10
6
N σR σf σm
Escalas logaritmicas Escalas lineares
EXEMPLO 11.1:
SOLUÇÃO:
A tensão limite de fadiga do material é:
σN = 960 MPa
A curva σ - N é dada por
σ = C Nm, onde
m = - log (σN / σF' ) / 3 = - log (960/274) / 3
m = - 0,18
σ = 3329 N - 0,18
EXEMPLO 11.2:
Para os dados considerados no exemplo 11.1, responda:
a) Para uma tensão alternante, devida à flexão rotativa, de 400 MPa, qual a tensão média que
leva à falha em 104 ciclos, devida a uma força axial sobreposta ?
326 Análise de Resistência Mecânica
σA
103
634
4
533 10
419
105
279 6
10
σE = σEC (11.8)
σr = σE - σ0 Kt (11.9)
vem
σr = σ0 (Kσ - Kt ) (11.11)
σ0 .K t
σ σ0 σ
σE σmáx = σ E
σ0 máx
σ0
σ0 m
σ0 mín
ε0 ε t t t
σmín
σr
σmáx = σ0máx Kt + σr
σmáx = σ0máx Kt + (σE - σ0máx Kt )
σmáx = σE (11.12)
σmín = σ0mín Kt + σr
σmín = σ0mín Kt + (σE - σ0máx Kt)
σmín = σE - Kt (σmáx - σmín)
σm = (σmáx + σmín ) / 2
σm = σ0m Kt + σr
O Efeito de Solicitações Médias 329
σm = σE - σ0a Kt (11.14)
σa = (σmáx - σmín ) / 2
σa = Kt σ0a (11.15)
σ a = σ EC (11.17)
σm = 0
σ a = K t ⋅ σ 0a
(11.18)
σm = σ 0m
n = OA / OB (11.19)
n = σM / σm
n = σA / σa (11.20)
σA / σa = σM / σm (11.21)
σA / σN = 1 - σM / σR (11.22)
O Efeito de Solicitações Médias 331
σa
Reta de carregamento
σN
A
σA Ponto de falha
B
σa
Ponto de trabalho
O
σm σM σR σm
e também
σA = σa σM / σm
F
[kN]
3 28
φ4
17,5 17,5 t
35
EXEMPLO 11.3.
Considere a figura 11.20, com a peça sendo fabricada com um material com ###EC = 722 MPa
e σR = 1200 MPa. O carregamento apilicado é trativo, entre 8 kN e 28 kN. Determinar a
condição de segurança para vida infinita.
SOLUÇÃO:
A tensão limite à fadiga é:
###f = 0,425 ###R
###f = 510 MPa
###F' = k1 ###F = 0,76 . 510
###F' = 387,6 MPa
Para esta geometria, Kt = 3,1, baseado na área plena, e o fator de sensibilidade ao
entalhe é q = 0,91, logo
Kf = 1 + q (Kt - 1) = 1 + 0,91 . 2,1 , logo Kf = 2,91
A = 35 . 3 = 105 mm2
0
Força de plastificação total
Fp = 67,15 kN
Força de início de escoamento
FE = 24,45 kN
As tensões nominais são:
Fmáx 28 000
σ 0máx = =
A0 105
Fmín 8 000
σ 0mín = =
A0 105
Como σ0máx Kf = 776 MPa > ###EC, ocorre um escoamento localizado, ficando uma
tensão residual no ponto interno do orifício igual a:
O Efeito de Solicitações Médias 333
Nota-se que ###máx = ###M + σA = 722 = ###EC, o que mostra que o procedimento está correto.
Conclusão: A vida será finita, pois o ponto está um pouco acima da linha de Goodman,
conforme pode ser visto na figura 11.21. O coeficiente de segurança, para a vida infinita é:
L σ + σ OP
n= M a m
−1
Nσ σ Q
N R
n=
LM 277 + 444, 7 OP −1
= 0 , 92
N 387 1 200 Q
o que confirma que não há segurança quanto à vida infinita.
σa
[MPa]
σ 'F = 387,6
277
N = 106
444,7 σR σm [MPa]
EXEMPLO 11.4:
Para a peça do exemplo 11.3 determinar a vida, com o carregamento cíclico variando
entre 10 kN e 40 kN.
SOLUÇÃO:
Este exemplo será resolvido pelo método da tensão residual. As tensões nominais
devidas ao carregamento imposto são:
σr = 722 - Kf σ0máx
σr = - 497 MPa
Logo
σm = Kf σ0m + σr
σm = 265 MPa
σa = Kf σao = 458 MPa
Para este carregamento espera-se que o componente tenha vida finita. Para determinar
esta vida, é necessário o uso das curvas σa - σm para outras vidas, além da curva
correspondente a σF. Do critério de Goodman modificado, figura 11.22, temos
σa
σN =
1 − σm σR
σN = 588 MPa
Entrando com o valor de σN = 588 MPa na curva σ - N, obtemos o valor da vida N como
segue:
σ = 2090 N -0,122
e é plotada na figura 11.22.
σa
[MPa]
588
458
Fσ I 1/ m
F 588 I −1/ 0,122
N=
HCK =
H 2090 K
N
, N = 32 697 ciclos
EXEMPLO 11.5:
Refazer o exemplo 11.4, adotando agora o método de tensão média nominal.
SOLUÇÃO:
Do exemplo 11.4 temos:
σ
[MPa]
σ 1 = 900
588
σF' = 387
3 32697
10 10
6 N
σa
σN =
1 − σm σR
458
σN =
1 − 238 1200
σN = 571 MPa
Da equação do diagrama σ - N, para a peça tem-se
Fσ I 1/ m
N=
HCK
N
N=
H 2090 K
N = 41 585 ciclos
O Efeito de Solicitações Médias 337
que pode ser comparada com a vida de 32697 ciclos obtida no exemplo 10.4. Apesar do
método ser mais grosseiro, frequentemente a discrepância entre os resultados dos dois
métodos é irrelevante, se comparada com a discrepância dos resultados dos ensaios de
fadiga.
σa
[MPa]
σN = ? 571
σa = 458
σf', εf' Tensão e deformação correspondentes à falha por fadiga com uma
reversão de carregamento (2N = 1). São aproximadamente os
valores reais, de tensão e deformação, no ponto de ruptura no
ensaio estático de tração, respectivamente.
338 Análise de Resistência Mecânica
εe =
σ ′f − σ m
E
b g
⋅ 2N
b
(11.28)
∆ε =
LM 2 σ′ − 2 σ′ OP ⋅ N
1+b
f
1+b
m b
+ ε ′f ⋅ 21+ c Nc (11.31)
N E E Q
onde (εf' - εm ) foi simplificado para εf', dado que εf' >> εm em geral.
Pode-se compactar a nomenclatura chamando
O Efeito de Solicitações Médias 339
B = 21+b σf' /E
M = εf' 21+b (11.32)
D = 21+b /E
∆ε = [B - D σm] Nb + M Nc (11.33)
εe εp
σ'f ε'f (2N)c
(2N)b
E
σ 'f σm ε'f εm
3, 5 ⋅ σR −0,12
∆ε = ⋅N + ε 0f ,6 ⋅ N−0,6 (11.34)
E
340 Análise de Resistência Mecânica
∆ε e ∆ε p
3,5 σR N - 0,12 ε f0,6 N - 0,6
E
σR σm εf εm
Figura 11.26 - Diagrama com as curvas ∆εe - σm e ∆εp - εm, segundo o modelo
de Coffin-Manson.
∆ε =
b
3, 5 ⋅ σR − σ m g ⋅N
−0,12
b
+ ε f − εm g 0,6
⋅ N−0,6 (11.37)
E
O Efeito de Solicitações Médias 341
EXEMPLO 11.6:
A peça ilustrada abaixo, parte do sistema de um trem de aterrisagem de um caça a jato,
deve ser dimensionada para resistir ao menos a 104 ciclos de carga, cujo registro típico está
mostrado no lado do esquema da peça. O material da peça é um aço SAE-ABNT 4340 com
350 HBN de dureza.
a) Qual a espessura adequada, para um coeficiente de segurança igual a 1,4, usando o
método de Morrow?
b) Usando as dimensões obtidas no ítem a), calcular a amplitude de deformações
admissível pelo critério de Coffin-Manson, e comparar com o valor obtido no item anterior.
SOLUÇÃO:
a) As propriedades mecânicas do material, conforme as tabelas do Apêndice 1 são:
F
[kN]
70
F F
14 48
30
t
- 12
Para este material temos Ntr = 2350 ciclos e, do método das inclinações universais, b = -
0,12, c = -0,6. Do gráfico 2.9 de fatores de concentração de tensão, Kt = 2,4, baseado na área
projetada do furo, igual, por sua vez, ao produto do diâmetro do furo pela espessura da peça.
Para N = 104 ciclos, como Kf = Kt = 2,4, obtemos Kε= 3,6. As constantes da equação (11.33)
são:
1+b
2
B= ⋅ σ ′f
E
B = 0,0152
M = εf' 21+b = 0,963
D = 21+b / E = 9,2 10 -12
εa = Kε ε0a
se ε0a < εE então resulta que
εa = Kε σ0a / E
Igualando a deformação aplicada à deformação admissível, fornecida pela equação
(11.33) e usando o coeficiente de segurança n,
∆ε = 2n εa = 2n Kε σ0a / E
∆ε = 2n Kε Fa / AE
A tensão média é
σm = Fm / A
Então
∆ε = [B - D σm] Nb + M Nc
b
2n K ε Fa D Fm N b c
+ = BN +MN
A ⋅E A
isolando a área A,
F 2n K F + D F N I cB N h
H E K
ε b b c
A= a
m +MN
Substituindo os valores,
FG 2 ⋅ 1, 4 ⋅ 3, 6 ⋅ 3 ⋅ 10 4
9, 2 IJ F 0, 0512 ⋅ 0, 331 + 0, 96 ⋅ 4 I
A=
H 2 ⋅ 10 11
+
10
12
⋅ 18000 ⋅ 0, 331
K H 10 K
3
O Efeito de Solicitações Médias 343
A = 1,77.10-4 m2
Como A = d · t,
t = 12,6 mm
σ 0a −3
∆ε = 2n K ε = 8, 45 ⋅ 10
E
Pode-se verificar a precisão dos cálculos usando a área A, obtida, para calcular
∆ε = [B - Dσm] Nb + M Nc
Fm 18 000
σm = = −4
A 1, 77 ⋅ 10
σm = 102 MPa
∆ε = [0,0152 - (9,2 . 10-12 ) 102 . 106 ] N -0,12 + 0,963 . N -0,6
∆ε −3
ε 0a = = 1, 19 ⋅ 10
2K ε
como
σm −4
εm = = 5, 1⋅ 10 < εE
E
∆ε =
3, 5 ⋅ bσ R − σm g ⋅N −0,12
+ bε − ε g
f m
0,6
⋅N
−0,6
E
344 Análise de Resistência Mecânica
∆ε =
a
3, 5 ⋅ 1240 − 102 f ⋅N −0,12
c
+ 0, 84 − 5, 1⋅ 10 h
−4 0,6
⋅N
−0,6
11
2 ⋅ 10
o que mostra que, para σm e εm dados, este critério fornece um valor de amplitude de
deformação alternante admissível superior ao do critério de Morrow para o mesmo problema.
USO DO DIAGRAMA σ - N.
Quando temos um carregamento combinado, é prática comum tomar
como referência a curva σ - N para uma solicitação de flexão rotativa, e
corrigir as tensões atuantes para este diagrama. Analisando
inicialmente uma carga de tração, mais flexão, as tensões médias dos
dois tipos de carregamento podem ser somadas diretamente, para um
comportamento elástico do material. No caso das tensões alternadas é
necessário que consideremos a diferença na resistência à fadiga sob
tração e sob flexão, que está refletida pelo uso do fator k6. A definição
de k6 pode ser vista voltando a seção 9.4, onde fizemos a estimativa
das curvas σ - N. Para um carregamento de flexão rotativa, em aços
forjados, σf = 0,5 σR em 106 ciclos, enquanto que para carregamento
de tração-compressão, σf = 0,425 σR, então a tensão limite de
resistência à fadiga axial é igual a 0,425 / 0,5 = 0,85, ou seja, 85% da
resistência à fadiga sob flexão rotativa, como comentado na Capítulo 9.
Esta relação entre a resistência à fadiga sob carga axial e carga de
flexão, para a vida desejada, é justamente a definição do fator de
carga, k6, e, portanto, para vida infinita, no caso de aços com suas
curvas σ - N estimadas como recomendado, temos k6 = 0,85.
Usando a curva σ - N para flexão rotativa como referência para
caracterizar a resistência à fadiga, é necessário que a tensão
alternante devida à carga de tração-compressão seja corrigida pelo
inverso de k6, aumentando assim a solicitação que estaria agindo no
material para compensar a menor resistência à fadiga que o material
apresenta, aparentemente, sob carga axial. No ponto mais solicitado
temos portanto as solicitações, corrigidas para usar a curva σ - N para
flexão rotativa.
O Efeito de Solicitações Médias 345
σm = σmt + σmf
σ at
σa = + σ af (11.38)
k6
d
σ m eq = σ m2 f + 3τ m2 i
1/ 2
O término da vida útil de uma estrutura, por sua ruptura brusca, fica
definido pelo fator de intensidade de tensão crítico, KIC ou KC, conforme
estejamos em um estado plano de deformações ou não. A vida útil
entretanto depende da velocidade de crescimento da trinca, desde um
tamanho microscópico até o tamanho crítico requerido para ruptura
final. A velocidade de propagação da trinca depende da solicitação que
está atuando. O fator de intensidade de tensão fornece um parâmetro
único, que descreve a magnitude do estado de tensões existente nas
proximidades do extremo da fissura, e como sua propagação é um
fenômeno localizado, dependendo portanto deste estado de tensões, o
conceito do fator de intensidade de tensão pode ser usado para um
enfoque quantitativo na interpretação do comportamento de
propagação da trinca por fadiga.
R>0
a
σ2 σ3
σ1 σ4
∆K = Y∆σ π a (12.1)
da K MÁX = K C
dN
-4
10
Região A
-5
10
Região B
-6
10
Região C
-7
10 m
å = C (∆K)
-8
10
10
-9
∆K
1 ∆K 0 10 10
2
a
[m/ciclo] AÇO SA 387 - 2 - 22
-7
10
UM ESPAÇO ATÔMICO
-8 POR CICLO
10 R ∆K 0
0,05 9,0
-9
10 R = 0,5 a 0,8 0,30 6,9
R = 0,05
0,50 5,1
-10
10 0,80 5,1
R = 0,3
-11
10
3 4 5 6 7 8 9 10 20 30 ∆ K
K K K
t t
R = -1 R=0 R = 0,1
∆ K0
[MPa m ] 16
14
12
10
8
AÇO DE BAIXA
RESISTÊNCIA
6
4
AÇO DE ALTA
RESISTÊNCIA
2 ∆ K 0 = 2,2 - 0,8 R
0,5 1,0 R
Figura 12.5 - Variação de ∆K0 com a tensão média, representada pelo fator de
simetria do ciclo, R, para aços de alta e baixa resistência.
A Propagação de Trincas de Fadiga 353
0,5 1,0 R
Figura 12.6 - Efeito do fator de simetria do ciclo sobre ###K0 para aços com
vários tamanhos de grão.
EXEMPLO 12.1:
Uma peça fabricada com o aço SAE-ABNT 1045 com as propriedades, 225 HBN de
dureza e σE = 634 MPa, é solicitada ciclicamente de forma que tenhamos ###K = 10 MPa m e
R = 0,1, qual o valor do raio de plastificação na região do extremo de uma pequena trinca, no
instante de carga máxima?
SOLUÇÃO:
Para determinar a carga no instante de máximo, devemos usar a definição do fator de
simetria do ciclo, R, na forma:
R = Kmín / Kmáx
Kmín = R Kmáx
∆K = Kmáx - Kmín
∆K = Kmáx - R Kmáx
∆K = Kmáx (1 - R)
Kmáx = ∆K / (1 - R)
rp = 1,6 10-5 m = 16 µm
å = C (∆K)m (12.2)
Extremidade da trinca
σ
t
σ
t
σ
C ( ∆K I )m
Forman propôs então a equação å=
(1− R ) K C − ∆K I
å = C ( 1− R )m ⋅ K Imáx n
a
da / dN ~ ∆a / ∆N da / dN
∆a
∆N
N ∆K
å = C ∆Km (12.14)
å = da / dN (12.15)
∆K = Y∆σ πa (12.16)
da / dN = C ( Y∆σ πa )m (12.17)
da
dN = (12.18)
C ( Y∆σ πa )m
A Propagação de Trincas de Fadiga 359
z
N2
N1
dN =
1
C ( Y ∆σ π )m
za 2 −m / 2
a1
a da
1 a11−m / 2 − a12−m / 2
N12 = N2 − N1 = (12.19)
C ( Y∆σ π )m m / 2−1
1 a
N12 = N2 − N1 = ln 2 (12.20)
C ( Y∆σ π ) 2
a1
da
dN
∆K
∆K0
N
EXEMPLO 12.2:
Uma placa com 1,0 m de largura de aço SAE-ABNT 1020, laminado a frio, é submetida a
esforços cíclicos entre 200 MPa e -50 MPa. As propriedades mecânicas deste aço são:
σE = 630 MPa
σR = 670 MPa
E = 207 000 MPa
KC = 104 MPa m
360 Análise de Resistência Mecânica
Qual a vida de fadiga que pode ser esperada, se qualquer defeito na borda da chapa é
detectada quando for maior do que 1 mm? Use a equação 12.6 para obter a velocidade de
propagação.
SOLUÇÃO:
Quando a chapa possui defeitos acima de 1 mm estes são removidos. Qualquer defeito
até 1 mm passa desapercebido, logo o máximo tamanho inicial da trinca é de 1 mm.
Para esta geometria temos ∆KI = 1,12 ∆σ πa , desde que a trinca seja suficientemente
pequena. Isto é válido no início da vida, mas no fim desta a trinca será bem maior. O tamanho
crítico da trinca, no ponto de carga máxima, pode ser obtido, em uma primeira aproximação:
KI = KC = 1,12 σ πa
σ = 200 MPa
KC = 104 MPa m
= G
1F K I
J
2
π H 1, 12 ⋅ σ K
C
aC
aC = 0,0686 m
−0,5 −0,5
1 0, 001 − 0, 0686
N12 =
−11
(1, 12 200 π )
3
10 0, 5
EXEMPLO 12.3:
Para aumentar a vida de propagação de uma dada estrutura, podemos aumentar KC,
com o que a trinca cresce mais antes de se tornar instável. Outra alternativa é diminuir o
tamanho inicial dos defeitos, fazendo com que a trinca leve mais tempo para crescer até o
tamanho crítico. Para ilustrar a importância relativa entre as duas alternativas, vamos
considerar um material que segue a lei de Paris-erdogan, com o expoente m = 4. Isto leva a
uma equação de N12 que pode ser escrita na forma:
FG 1−
m
− a2
1−
m
IJ e como m = 4,
N12 = constante . a1
H K
2 2
N12 = constante . a1 − a 2 d −1 −1
i
A Propagação de Trincas de Fadiga 361
Se agora, ao invés de alterar KC, for mantido o mesmo material, mas com o uso de um
controle de qualidade mais acurado, de modo que apenas as trincas menores que 5 mm
passem desapercebidas, a1 = 0,005 m, logo,
Assim, é muito mais conveniente diminuir o tamanho inicial da fissura, com um controle
mais rigoroso, do que usar um material mais sofisticado, de alta tenacidade, onde o ganho de
vida é percentualmente muito baixo, menos de 10% no exemplo dado.
ai = a1 + ∑i ∆ai
a adm
a det
t
t1 t2 t3
σ
MFEL
σR MFEP
α σ0
σ0
a1 a3 a2 a
EXEMPLO 12.4:
Em um sistema de trem de aterrisagem de um avião de tamanho médio, uma das peças
mais críticas é o êmbolo do sistema hidropneumático de suspensão, já que este recebe todo o
carregamento de carga axial e de flexão. A geometria do componente está ilustrada a seguir,
com a indicação do ponto crítico.
100
DETALHE r=4
75 DETALHE
120
σE = 1370 MPa
σR = 1470 MPa
σf = 1560 MPa
εf = 0,48
KIC = 60 MPa m
A Propagação de Trincas de Fadiga 365
σ
σE
1,6
EM VÔO
EM TERRA
ATERRISAGEM
SOLUÇÃO:
A tensão nominal, quando do impacto, será considerada igual a σE / 1,6, o que leva a
um carregamento idealizado do tipo mostrado na figura 12.14.
A vida de fadiga para nucleação será obtida pelo uso da curva ε - N, estimada pelo
método das inclinações universais,
e substituindo os valores,
856
∆ε0 = ∆σ0 /E
onde ∆σ0 será 856 MPa do carregamento idealizado na figura 12.14. Logo
∆ε0 = 0,00429
O fator de concentração de tensão, para uma carga de flexão para a geometria da peça,
é Kt = 2,1 e como o raio é muito grande, podemos assim adotar Kf = Kt, logo:
Kf = 2,1
A concentração de deformação será neste caso também igual a 2,1 pois estamos em um
caso predominante de um estado plano de deformação. Assim, a deformação no ponto crítico
será
N = 26700 ciclos
A Propagação de Trincas de Fadiga 367
2c
a2
a1
Y = 1,12 / φ ; (φ = 1,22)
Y = 0,92
aC = (KIC / Yσ)2 / π
ac = G
F 60 IJ
1
2
π H 0, 92 ⋅ 856 K
aC = 1,85 mm
Vamos fazer uma tentativa de cálculo, dividindo a vida em quatro parcelas iguais de
3750 ciclos, conforme esquematizado abaixo.
É lógico que o tamanho da trinca a2, admitido como o tamanho existente ao fim do
intervalo entre inspeções, deve ser menor que aC. Vamos calcular a2 como o tamanho crítico
para uma carga 60% maior que a real de impacto.
= G
1F K IJ 2
π H Y ⋅ 1, 6 ⋅ σ K
IC
a2 a2 = 0,00072 m = 0,72 mm
O tamanho a1 será obtido a partir da informação que N12 = 3750 ciclos, ou seja, usar a
propagação desde a1 até a2 em 3750 ciclos. Para um aço martensítico,
−10 1−1125
, 1−1125
,
10 a1 − a2
3750 = ⋅
1, 35 ⋅ 10
−10
d0, 92 ⋅ 856 ⋅ π i 2,25
1, 125 − 1
a1-0,125 = 3,22441
a1 = 0,000086 m = 0,086 mm
PROCEDIMENTO GERAL
Tendo sido detectado um defeito em uma estrutura de
responsabilidade, por meio de um ensaio não destrutivo, o
procedimento discutido a seguir é usado na análise sobre o risco que a
presença do defeito apresenta. O procedimento está baseado na teoria
e metodologia da Mecânica da Fratura, sendo formado por uma série
de passos, que levam a uma quantificação que permite uma tomada de
decisão criteriosa, sobre a continuidade do uso, ou não, do
componente em análise.
KImáx > KC
z z
N2 a2
dN = ( C ( ∆σ Y πa )m ) −1 da
N1 a1
m −1 a12− m / 2 − a11− m / 2
N12 = ( C ( Y∆σ π ) ) (12.26)
1− m / 2
Se ocorrer m = 2,
ai Ö Yi Ö ∆Ki Ö ∆a Ö aj Ö ∆Ni
aj Ö Yj Ö ∆Kj Ö ∆a Ö ak Ö ∆Nj
ai Ö Yi Ö ∆Ki Ö N(∆σi) Ö ∆a Ö aj
aj Ö Yj Ö ∆Kj Ö N(∆σj) Ö ∆a Ö ak
A Propagação de Trincas de Fadiga 373
ai Ö ∆σ Ö Yi Ö ∆Ki Ö ∆a
aj Ö ∆σ Ö Yj Ö ∆Kj Ö ∆a
KC = Y Yp (ασ0) π a1MÁX ou
C 2 1
a1 MÁX Y 2 = K
( Ypα σ 0 )2 π
KI = Y Yp σ0 π a1
A Propagação de Trincas de Fadiga 375
σ
σL
ασ 0 TENSÃO DE ENSAIO
σ0 TENSÃO DE TRABALHO
K c = Y Yp s 0 πa
a1máx ac a
a12−m / 2 − a11−m / 2
N12 = m≠2
C (1− m / 2) ( ∆σ YYp π ) m
376 Análise de Resistência Mecânica
ln ( a2 / a1 )
N12 = m=2
C ( ∆σ Y Yp π )2
( α Yp )m−2 − 1 1
N12 = ⋅ m≠2
CK c
m− 2
b
(m / 2 − 1) π ⋅ Y∆σ g 2
(12.28)
2
N12 = ln( αYp ), m=2 (12.29)
C ( Y∆σ π )2
EXEMPLO 12.5
Seja um reservatório construido com aço ASTM A572, GR 50, que opera a -40ºC,
devendo ter uma vida prevista de 10.000 pressurizações. Determinar a taxa de sobrecarga
para assegurar esta vida, sabendo que para a geometria do defeito provável, Y.σ0 = 250 MPa.
Os dados relevantes do material são:
KIC = 63 MPa m
å = 10-11 (∆K)3
σE = 345 MPa
σR = 450 MPa
SOLUÇÃO:
Falta separar os fatores α e Yp, pois os fatores estão acoplados, já que Yp = f (α.σ0).
Considerando σ0 = 250 MPa e σL = 389 MPa, de acordo com o modelo de Dugdale, eq (7.8),
vem
A Propagação de Trincas de Fadiga 377
σE
Yp = 8 ln (sec πσ 0 / 2σE )
πσ 0
A tabela abaixo mostra uma das maneiras de se obter o valor de α, no caso, por
tentativas. No cálculo dos valores foi usada a tensão σL.
Logo o fator de sobrecarga a usar, de acordo com o esquema proposto, será 1,31, o que
leva a uma tensão nominal no ensaio de sobrecarga, α.σ0= 327,5 MPa.
am = C (KIC /σE)2
am = C (δC /εE )
RESUMO DA SEÇÃO XI DO
ASME BOILER AND PRESSURE VESSEL CODE [2].
Essa seção diz respeito a inspeções em serviço de vasos sob
pressão, com requisitos quanto aos procedimentos para inspeção,
intervalos destas inspeções, caracterização das indicações, etc. No
Capítulo IBW 3000, são fornecidos os padrões para a aceitabilidade
dos defeitos, em termos de percentagem de área, para várias
categorias de componentes de soldas. Quando a indicação de defeito
for maior do que a admissível, uma análise mais detalhada, de acordo
com o Apêndice A da norma, deve ser feita, com base na Mecânica da
A Propagação de Trincas de Fadiga 379
a [mm]
∆ K = (1 - R) K C
2
10
JC
1
10
∆K=∆ K0
0
10
-1
10
-2 ∆σ
10
2σ (1 - R) σ (1 - R) σ
F E R
∆ σ = (1 - R) σ E
a [mm]
∆ K = (1 - R) K C
2
10
1
10
∆K=∆ K0 JC
0
10
-1
10
-2 ∆σ
10
2σ (1 - R) σ (1 - R) σ
F E R
13.3 - CONCLUSÕES
No método usual de tratar o problema de fadiga, baseado nos
trabalhos pioneiros de Wöhler, a variável de controle que atua sobre o
material é a tensão. Neste caso o conceito de tensão limite de fadiga
encontra plena justificativa e é a base de todo o estudo. O processo
visa dimensionar o componente de modo a impedir a formação de
trincas. De uma forma geral o material se comporta elasticamente,
com excessão dos pontos onde ocorrem concentração de tensões, de
modo que o limite de escoamento do material pode ser ultrapassado.
Em componentes isentos de fissuras iniciais e que devem durar
indefinidamente, o processo é ainda hoje válido.
386 Análise de Resistência Mecânica
a [mm]
∆ K = (1 - R) K C
2
10
1
10
∆K=∆ K0 MFEP
MFEL
0
10
JC
-1
10
COFFIN - MANSON
WHOELER - GERBER
-2 ∆σ
10
2σ (1 - R) σ (1 - R) σ
F E R
d - Diâmetro
d0 - Diâmetro inicial
E - Módulo de elasticidade longitudinal
EPD - Estado plano de deformações
EPT - Estado plano de tensões
e - Espessura
e - Deformação de engenharia (convencional)
ef - Deformação de fratura; elongação
ex - Deformação na direção do eixo x
ey - Deformação na direção do eixo y
ez - Deformação na direção do eixo z
F - Força; tensão de pico
FE - Força de início de escoamento
FL - Força de colapso plástico
Fmáx - Força máxima
FP - Força de plastificação da seção
FIC - Força de ruptura frágil
FR - Força de ruptura
G - Módulo de elasticidade transversal
H - Módulo tangente
I - Momento de inércia de área
J - Momento polar de inércia de área
KC - Tenacidade à fratura
Kf - Fator de concentração de tensão para fadiga
K máx - Valor máximo de K I no ciclo de carga
KN - Fator de concentração de tensão para vida finita
KR - Fator de ruptura
Kt - Fator teórico de concentração de tensão
KI - Fator de intensidade de tensão no modo I
K II - Fator de intensidade de tensão no modo II
K III - Fator de intensidade de tensão no modo III
K IC - Tenacidade fratura em um EPD
K Iscc - Limite de sensibilidade para corrosão sob tensão
Kσ - Fator de concentração de tensão, no regime plástico
Kε - Fator de concentração de deformação, no regime plástico
396 Análise de Resistência Mecânica
k - Fator de forma
k - Coeficiente de resistência, na curva tensão-deformação estática
k' - Coeficiente de resistência, na curva tensão-deformação cíclica
k1 - Fator de acabamento superficial
k2 - Fator de tamanho
k3 - Fator de confiabilidade
k4 - Fator de temperatura
L - Fator de restrição da deformação plástica
lf - Comprimento final
l0 - Comprimento inicial
l - Comprimento instantâneo
M - Constante da equação de Coffin-Manson; momento
ME - Momento de início de escoamento
ML - Momento de colapso plástico
MP - Momento de plastificação da seção
MR - Momento de ruptura
M IC - Momento de ruptura frágil
MFEL - Mecânica da fratura elástica linear
MFEP - Mecânica da fratura elasto-plástica
m - Expoente da curva tensão-vida
N - Número de ciclos para falha
N tr - Número de ciclos de transição
n - Número de ciclos aplicados
n - Coeficiente de segurança, ou fator de projeto
n - Expoente de encruamento estático
n' - Expoente de encruamento cíclico
ni - Número de ciclos aplicados
Pb - Tensão primária de flexão
PI - Probabilidade de interferência
Pm - Tensão primária de membrana
p - Pressão
pm - Pressão média
Q - Carga generalizada; fator de intensificação de tensão
QE - Carga generalizada de início de escoamento
QF - Carga generalizada de falha
N o m e cla t u r a 397
σ eq - Tensão equivalente
σF - Tensão limite de fadiga do material
σ'F - Tensão limite de fadiga da peça
σf - Tensão real de fratura
σL - Tensão limite, média entre σ E e σ R.
σM - Tensão média, resistente
σm - Tensão média, solicitante
σ máx - Tensão máxima na seção ou no ciclo de carga
σ mín - Tensão mínima do ciclo de carga
σN - Tensão alternante, para vida de N ciclos
σp - Tensão limite de proporcionalidade
σR - Tensão limite de resistência
σR - Desvio padrão da resistência
σS - Desvio padrão da solicitação
σr - Tensão residual
σx - Tensão normal na direção x
σy - Tensão normal na direção y
σz - Tensão normal na direção z
σ IC - Tensão de falha para fratura frágil
σ0 - Tensão nominal
σ1 - Tensão principal
σ2 - Tensão principal
σ3 - Tensão principal
τE - Tensão cisalhante de início de escoamento
τR - Tensão cisalhante limite de resistência
τ máx - Tensão cisalhante máxima
τ xy - Tensão cisalhante no plano xy