A Mostra
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Hematopoese
Tópicos-chave
QQ Locais de hematopoese 2
QQ Células-tronco e células progenitoras hematopoéticas 2
QQ Estroma da medula óssea 4
QQ Regulação da hematopoese 4
QQ Fatores de crescimento hematopoéticos 4
QQ Receptores de fatores de crescimento e transdução de sinais 6
QQ Moléculas de adesão 8
QQ O ciclo celular 8
QQ Fatores de transcrição 8
QQ Epigenética 8
QQ Apoptose 9
Locais de hematopoese
Nas primeiras semanas da gestação, o saco vitelino é um local
transitório de hematopoese. A hematopoese definitiva, entre-
tanto, deriva de uma população de células-tronco observada,
inicialmente, na região AGM (aorta-gônadas-mesonefros). Acre
dita-se que esses precursores comuns às células endoteliais e
hematopoéticas (hemangioblastos) se agrupem no fígado, no
baço e na medula óssea; de 6 semanas até 6 a 7 meses de vida Figura 1.1 Biópsia de medula óssea normal (crista ilíaca poste-
rior). Coloração por hematoxilina-eosina; aproximadamente 50%
fetal, o fígado e o baço são os principais órgãos hematopoé-
do tecido intertrabecular é hematopoético, e 50%, gordura.
ticos e continuam a produzir células sanguíneas até cerca de
2 semanas após o nascimento (Tabela 1.1; ver Figura 7.1b).
A placenta também contribui para a hematopoese fetal. A me- As células-tronco hematopoéticas são escassas, talvez uma em
dula óssea é o sítio hematopoético mais importante a partir de 20 milhões de células nucleadas da medula óssea. Muitas delas
6 a 7 meses de vida fetal e, durante a infância e a vida adulta, são dormentes; em camundongos estimou-se que entrem em
é a única fonte de novas células sanguíneas. As células em ciclo celular aproximadamente a cada 20 semanas. Embora te-
desenvolvimento situam-se fora dos seios da medula óssea; as nham fenótipo exato desconhecido, ao exame imunológico as
maduras são liberadas nos espaços sinusais, na microcircula- células-tronco hematopoéticas são CD34+, CD38– e são negati-
ção medular e, a partir daí, na circulação geral. vas para marcadores de linhagem (Lin_), têm a aparência de um
Nos dois primeiros anos, toda a medula óssea é hema- linfócito de tamanho pequeno ou médio (ver Figura 23.3) e re-
topoética, porém, durante o resto da infância, há substitui- sidem em “nichos” especializados, osteoblásticos ou vasculares.
ção progressiva da medula dos ossos longos por gordura, de A diferenciação celular a partir da célula-tronco passa por
modo que a medula hematopoética no adulto é confinada ao uma etapa de progenitores hematopoéticos comprometidos,
esqueleto central e às extremidades proximais do fêmur e do isto é, com potencial de desenvolvimento restrito (Figura 1.2).
úmero (Tabela 1.1). Mesmo nessas regiões hematopoéticas, A existência de células progenitoras separadas para cada li-
cerca de 50% da medula é composta de gordura (Figura 1.1). nhagem pode ser demonstrada por técnicas de cultura in
A medula óssea gordurosa remanescente é capaz de reverter vitro. As células progenitoras muito precoces devem ser cul-
para hematopoética e, em muitas doenças, também pode tivadas a longo prazo em estroma de medula óssea, ao passo
haver expansão da hematopoese aos ossos longos. Além disso, que as células progenitoras tardias costumam ser cultivadas
o fígado e o baço podem retomar seu papel hematopoético em meios semissólidos. Um exemplo é o primeiro precursor
fetal (“hematopoese extramedular”). mieloide misto detectável, que dá origem a granulócitos, eri-
trócitos, monócitos e megacariócitos, chamado de CFU (uni-
Células-tronco e células progenitoras dade formadora de colônias)-GEMM (Figura 1.2). A medula
hematopoéticas óssea também é o local primário de origem de linfócitos que
se diferenciam de um precursor linfocítico comum. O baço,
A hematopoese inicia-se com uma célula-tronco pluripotente, os linfonodos e o timo são sítios secundários de produção de
que, por divisão assimétrica, tanto pode autorrenovar-se como linfócitos (ver Capítulo 9).
também dar origem às distintas linhagens celulares. Essas cé- A célula-tronco tem capacidade de autorrenovação
lulas são capazes de repovoar uma medula cujas células-tronco (Figura 1.3), de modo que a celularidade geral da medula, em
tenham sido eliminadas por irradiação ou quimioterapia letais. condições estáveis de saúde, permanece constante. Há conside-
rável ampliação da proliferação no sistema: uma célula-tronco,
depois de 20 divisões celulares, é capaz de produzir cerca de 106
Tabela 1.1 Locais de hematopoese células sanguíneas maduras (Figura 1.3). Em seres humanos,
Feto 0-2 meses (saco vitelino) as células-tronco são capazes de aproximadamente 50 divisões,
com o encurtamento do telômero limitando a viabilidade. Em
2-7 meses (fígado, baço)
condições normais, estão em dormência. Com o envelheci-
5-9 meses (medula óssea) mento, elas diminuem de número, e a proporção relativa que dá
De 0 a 2 anos Medula óssea (praticamente todos os ossos) origem a linfócitos, em vez de células mieloides, também de-
cresce. As células-tronco, com o envelhecimento, também
Adultos Vértebras, costelas, crânio, esterno, sacro e acumulam mutações genéticas, em média dos 8 aos 60 anos,
pelve, extremidades proximais dos fêmures
e essas mutações, driver ou passenger, podem estar presentes
Célula-tronco
pluripotente
CFUGEMM
Célula progenitora
mielóide mista
Célula-tronco
linfóide
CFUbaso
BFUE CFUGMEo
Progenitor CFUEo
de eritroides Progenitor
CFUGM de eosinófilo
CFUMeg Progenitor
CFUE Progenitor de de granulócito Timo
megacariócito e monócito
CFU-M CFU-G
B T NK
Figura 1.2 Diagrama mostrando a célula-tronco pluripotente da medula óssea e as linhagens celulares que dela se originam. Várias célu-
las progenitoras podem ser identificadas por cultura em meio semissólido pelo tipo de colônia que formam. É possível que um progenitor
eritroide/megacariocítico seja formado antes de o progenitor linfoide comum divergir do progenitor mieloide misto granulocítico/monocítico/
eosinofílico. Baso, basófilo; BFU, unidade formadora explosiva; CFU, unidade formadora de colônia; E, eritroide; Eo, eosinófila; GEMM,
granulocítica, eritroide, monocítica e megacariocítica; GM, granulócito, monócito; Meg, megacariócito; NK, natural killer.
Multiplicação
Autorrenovação Diferenciação
(a)
Células
maduras
Figura 1.3 (a) As células da medula óssea perdem a capacidade de autorrenovação com a diferenciação crescente, à medida que amadu-
recem. (b) Depois de múltiplas divisões (mostradas pelas linhas verticais), uma única célula-tronco produz > 106 células maduras.
também em tumores que se originem dessas células-tronco (ver administração de fatores de crescimento, como o fator esti-
Capítulo 11). As células precursoras, contudo, são capazes de mulador de colônias de granulócitos (G-CSF) (ver p. 91).
responder a fatores de crescimento hematopoéticos com au- O processo reverso, de “volta ao lar” (homing), parece de-
mento de produção seletiva de uma ou outra linhagem celular pender de um gradiente quimiocinético, no qual o fator deri-
de acordo com as necessidades. O desenvolvimento de células vado do estroma (SDF-1) que se liga a seu receptor CXCR4
maduras (eritrócitos, granulócitos, monócitos, megacariócitos em células-tronco hematopoéticas tem papel crítico. Várias
e linfócitos) será abordado em outras seções deste livro. interações críticas suportam a viabilidade das células-tronco
e a produção no estroma, incluindo o fator de células-tronco
Estroma da medula óssea (SCF) e proteínas permeantes estromais e seus respectivos re-
ceptores KIT e NOTCH, expressos em células-tronco.
A medula óssea constitui-se em ambiente adequado para so-
brevida, autorrenovação e formação de células progenitoras
Regulação da hematopoese
diferenciadas. Esse meio é composto por células do estroma e
por uma rede microvascular (Figura 1.4). As células do estroma A hematopoese começa com a divisão da célula-tronco em
incluem células-tronco mesenquimais, adipócitos, fibroblas- duas, das quais uma a substitui (autorrenovação), e a outra
tos, osteoblastos, células endoteliais e macrófagos, e secretam compromete-se em diferenciação. Essas células progenitoras
moléculas extracelulares, como colágeno, glicoproteínas (fibro- precocemente comprometidas expressam baixos níveis de fa-
nectina e trombospondina) e glicosaminoglicanos (ácido hia- tores de transcrição, que podem as comprometer com linha-
lurônico e derivados condroitínicos) para formar uma matriz gens específicas. A seleção da linhagem de diferenciação pode
extracelular, além de secretarem vários fatores de crescimento variar tanto por alocação aleatória como por sinais externos
necessários à sobrevivência da célula-tronco. recebidos pelas células progenitoras. Vários fatores de trans-
Células-tronco mesenquimais são críticas na formação crição (ver p. 8) regulam a sobrevivência das células-tronco
do estroma. Juntamente com os osteoblastos, elas formam (p. ex., SCL, GATA-2, NOTCH-1), ao passo que outros estão
nichos e fornecem os fatores de crescimento, moléculas de envolvidos na diferenciação ao longo das principais linhagens
adesão e citoquinas que dão suporte às células-tronco, como, celulares. Por exemplo, PU.1 e a família CEBP comprome-
por exemplo, a proteína indentada, que permeia as células tem células para a linhagem mieloide leucocitária, ao passo
estromais, liga-se a um receptor NOTCH1 nas células-tronco que GATA-2, depois GATA-1 e, a seguir, FOG-1 têm um pa-
e, então, torna-se um fator de transcrição envolvido no ciclo pel essencial na diferenciação eritropoética e megacariocítica.
celular. Esses fatores de transcrição interagem de modo que o reforço
As células-tronco são capazes de circular no organismo e de um programa de transcrição possa suprimir o de outra li-
são encontradas em pequeno número no sangue periférico. nhagem. Os fatores de transcrição induzem a síntese de pro-
Para deixar a medula óssea, elas devem atravessar o endotélio teínas específicas para cada linhagem celular. Por exemplo, os
vascular, e esse processo de mobilização é aumentado pela genes eritroide-específicos para a síntese de globina e heme
têm sítios de ligação para GATA-1.
Célula inicial
Proliferação G-CSF
Monócito
Diferenciação
G-CSF
Neutrófilo
G-CSF
Maturação
Supressão
da apoptose
G-CSF
Célula final
G-CSF Ativação de fagocitose,
Ativação destruição, secreção
funcional
Figura 1.5 Fatores de crescimento podem estimular a proliferação de células primitivas da medula óssea, dirigir a diferenciação para um ou
outro tipo de célula, estimular a maturação celular, suprimir a apoptose ou afetar a função de células maduras pós-mitóticas, como ilustrado
nesta figura para o fator estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF) em relação a um progenitor primitivo mieloide e a um neutrófilo.
SCF
FLT3-L
PSC
IL-3 IL-3
TPO
CFU-GEMM
GM-CSF GM-CSF
BFUEMeg
CFU-GMEo
BFUE
IL-5
CFUE CFUM CFUG
Figura 1.6 Diagrama do papel dos fatores de crescimento na hematopoese normal. Múltiplos fatores de crescimento agem nas células-
-tronco primitivas e progenitoras da medula óssea. EPO, eritropoetina; PSC, célula-tronco pluripotente; SCF, fator de célula-tronco; TPO,
trombopoetina. Para outras abreviaturas, ver Figura 1.2.
Fator de
crescimento
Membrana plasmática
Quinase Pl3
JAK
AKT
JAK
Apoptose
STATs RAS
bloqueada
RAF
Núcleo
Dímeros ativos de STAT MAP-quinase
MYC, FOS
M Expressão
gênica
Ativação da
expressão gênica
G2 G1
E2F
S
Rb
p53
Dano no DNA
Figura 1.7 Controle da hematopoese por fatores de crescimento. Os fatores agem em células que expressam o receptor correspondente.
A ligação de um fator de crescimento a seu receptor ativa as vias JAK/STAT, MAPK e fosfatidilinositol-3-quinase (PI3K) (ver Figura 15.2),
o que provoca ativação transcricional de genes específicos. E2F é um fator de transcrição necessário para a transição celular da fase G1
para a fase S. E2F é inibido pelo gene supressor de tumor Rb (retinoblastoma), o qual pode ser ativado indiretamente por p53. A síntese e
a degradação de diversas ciclinas estimulam a célula a passar pelas diferentes fases do ciclo celular. Os fatores de crescimento também
podem suprimir a apoptose pela ativação de AKT (proteína-quinase B).
Domínio de
transativação RNA-polimerase
+ Transcrição
Domínio de
fatores acessórios
ligação com DNA
Figura 1.8 Modelo para controle de expressão gênica por um fator de transcrição. O domínio de ligação com DNA de um fator de transcri-
ção liga uma sequência amplificadora específica adjacente a um gene estrutural. O domínio de transativação, então, liga uma molécula de
RNA-polimerase, aumentando sua ligação com a TATA box. A RNA-polimerase inicia a transcrição do gene estrutural para formar mRNA.
A translação do mRNA pelo ribossomo gera a proteína codificada pelo gene.
de transcrição (STAT) da família dos fatores de transcrição. centro da hematopoese. A desregulação da proliferação celular
A consequência é a dimerização e a translocação desses, do também é a chave do desenvolvimento de neoplasias malignas.
citoplasma para o núcleo, através da membrana nuclear. Den- A duração do ciclo celular varia de tecido para tecido, mas os
tro do núcleo, dímeros STAT ativam a transcrição de genes princípios básicos são comuns a todos. O ciclo é dividido em
específicos. Um modelo para o controle da expressão gênica uma fase mitótica ( fase M), durante a qual a célula se divide
por um fator de transcrição é mostrado na Figura 1.8. A im- fisicamente, e uma interfase, durante a qual os cromossomos
portância clínica dessa via foi comprovada pelo achado de se duplicam e a célula cresce antes da divisão (Figura 1.7).
uma mutação que ativa o gene JAK2 como causa da policite- A fase M é subdividida em mitose, na qual se divide o núcleo,
mia vera (ver p. 166). e citocinese, em que ocorre a fissão celular.
JAK também pode ativar a via MAPK, que é regulada por A interfase é dividida em três estágios principais: fase G1,
RAS e controla a proliferação. Quinases PI3 fosforilam lipí- na qual a célula começa a orientar-se no sentido da replicação;
dios do inositol, os quais têm um amplo espectro de efeitos fase S, durante a qual o conteúdo de DNA é duplicado e os
em sequência, incluindo ativação de AKT, que causa bloqueio cromossomos se replicam; e fase G2, na qual as organelas são
de apoptose e outras ações (Figura 1.7; ver Figura 15.2). Do- copiadas, aumentando o volume citoplasmático. Se as células
mínios diferentes da proteína receptora intracelular podem repousarem antes da divisão, elas entram em um estágio G0,
sinalizar para diferentes processos (p. ex.; proliferação ou su- em que podem permanecer por longos períodos. O número
pressão de apoptose) mediados por fatores de crescimento. de células em cada estágio do ciclo pode ser avaliado pela ex-
Um segundo grupo, menor, de fatores de crescimento, in- posição da célula a um agente químico ou a um marcador
cluindo SCF, FLT-3L e M-CSF (Tabela 1.3), liga-se a recepto- radioativo que se incorpore ao DNA recém-formado ou por
res que têm um domínio extracelular semelhante ao das imu- citometria em fluxo.
noglobulinas, ligado por uma ponte transmembrana a um O ciclo celular é controlado em dois checkpoints, que
domínio tirosinoquinase citoplásmico. A ligação de fatores agem como freios para coordenar o processo de divisão no fim
de crescimento resulta na dimerização desses receptores e na das fases G1 e G2. Duas classes principais de moléculas con-
consequente ativação do domínio de tirosinoquinase. A fosfo- trolam esses checkpoints, as proteinoquinases ciclina-depen-
rilação de resíduos de tirosina no próprio receptor gera sítios dentes (Cdk), que fosforilam alvos proteicos em sequência,
de ligação para proteínas sinalizadoras que iniciam complexas e as ciclinas, que se ligam às Cdks e regulam sua atividade.
cascatas de eventos bioquímicos, resultando em alterações na Um exemplo da importância desses sistemas é demonstrado
expressão gênica, na proliferação celular e na prevenção de pelo linfoma de células do manto que resulta da ativação
apoptose. constitucional da ciclina D1 como resultado de uma translo-
cação cromossômica (ver p. 223).
Moléculas de adesão
Fatores de transcrição
Uma grande família de moléculas de glicoproteínas, cha-
madas de moléculas de adesão, medeia a ligação de células Fatores de transcrição regulam a expressão gênica pelo con-
precursoras da medula, leucócitos e plaquetas a vários com- trole da transcrição de genes específicos ou de famílias de ge-
ponentes da matriz extracelular, ao endotélio, a outras super- nes (Figura 1.8). Eles contêm ao menos dois domínios: um
fícies e umas às outras. As moléculas de adesão na superfície domínio de ligação ao DNA, como um zíper de leuquina ou
de leucócitos são denominadas receptores e interagem com hélice-alça-hélice, que se liga a uma sequência específica do
moléculas (chamadas de ligantes) na superfície de células-alvo DNA, e um domínio de ativação, que contribui para a mon-
potenciais, como, por exemplo, o endotélio. As moléculas de tagem do complexo de transcrição em um gene promotor.
adesão são importantes no desenvolvimento e na manutenção Mutação, deleção ou translocação de fatores de transcrição
das respostas inflamatória e imunológica, e nas interações de são a causa subjacente de muitos casos de neoplasias hemato-
plaquetas e leucócitos com a parede dos vasos. lógicas (ver Capítulo 11).
O padrão de expressão das moléculas de adesão em cé-
lulas tumorais pode determinar seu modo de disseminação Epigenética
e sua localização tecidual (p. ex., o padrão de metástases de
Diz respeito a alterações no DNA e na cromatina que afetam
células carcinomatosas e o padrão folicular ou difuso de cé-
a expressão de outros genes, não relacionados aos que afetam
lulas de linfomas). As moléculas de adesão também podem
a sequência de DNA.
determinar que as células circulem na corrente sanguínea ou
O DNA é enrolado ao redor de histonas, um grupo de
permaneçam fixas no tecido. Há, também, a possibilidade de
proteínas nucleares especializadas. Esse complexo – croma-
determinarem parcialmente a suscetibilidade de células tumo-
tina – é firmemente compactado. Para que o código do DNA
rais às defesas imunológicas do organismo.
possa ser lido, os fatores de transcrição e outras proteínas pre-
O ciclo celular cisam ligar-se fisicamente ao DNA. As histonas são guardiãs
desse acesso e, assim, da expressão dos genes. As histonas po-
O ciclo de divisão celular, geralmente designado simplesmente dem ser modificadas por metilação, acetilação e fosforilação,
como ciclo celular, é um processo complexo que se situa no que podem ocasionar aumento ou diminuição da expressão
de genes e, assim, alterar o fenótipo da célula. A epigenética receptor de TNF, via seu domínio de morte intracelular. Um
também diz respeito a alterações no próprio DNA, como me- exemplo desse mecanismo é mostrado por células T citotóxi-
tilação, que regula a expressão genética em tecidos normais e cas ativadas, expressando ligante Fas que induz apoptose em
tumorais. A metilação de resíduos de citosina para metilci- células-alvo. A segunda via faz-se pela liberação de citocromo
tosina resulta em inibição da transcrição de genes. Os genes c das mitocôndrias. O citocromo c liga-se à APAF-1 que, en-
DNMT 3A e B estão envolvidos na metilação, e TET 1,2,3 tão, ativa as caspases. O dano ao DNA induzido por irradia-
e IDH1 e 2 na hidroxilação com consequente ruptura da ção ou por quimioterapia pode agir por essa via. A proteína
metilcitosina e restauração da expressão gênica anterior (ver p53 tem um papel importante em “sentir” quando há dano
Figura 16.1). Esses genes estão frequentemente mutados nas ao DNA. Ela ativa a apoptose, aumentando o nível celular de
neoplasias mieloides (ver Capítulos 13, 15 e 16). BAX, que estimula a liberação de citocromo c (Figura 1.9).
P53 também suprime o ciclo celular para impedir que a célula
Apoptose lesada se divida (Figura 1.7). O nível celular de p53 é rigi-
A apoptose (morte celular programada) é um processo re- damente controlado por uma segunda proteína, a MDM2.
gulado de morte celular fisiológica pelo qual células indivi- Depois da morte, as células apoptóticas expõem moléculas
duais são estimuladas a ativar proteínas intracelulares que as que levam à ingestão por macrófagos.
levam à própria morte. Morfologicamente, é caracterizada Assim como as moléculas que favorecem a apoptose, há
por encolhimento celular, condensação da cromatina nu- várias proteínas intracelulares que protegem as células contra
clear, fragmentação do núcleo e quebra do DNA em sítios a apoptose. O exemplo mais bem-caracterizado é a BLC-2,
internucleossômicos. É um processo importante de manu- protótipo de uma família de proteínas relacionadas, algumas
tenção da homeostasia tecidual na hematopoese e no desen- das quais são antiapoptóticas, e outras, como a BAX, são
volvimento dos linfócitos. pró-apoptóticas. A proporção intracelular de BAX e BCL-2
A apoptose resulta da ação de cisteínas-protease intrace- determina a suscetibilidade relativa das células à apoptose
lulares, denominadas caspases, que são ativadas depois da (p. ex., determina a sobrevida de plaquetas) e pode agir pela
clivagem e levam à digestão de DNA por endonuclease e de- regulação da liberação de citocromo c pelas mitocôndrias.
sintegração do esqueleto celular (Figura 1.9). Há duas vias Muitas das alterações genéticas associadas a doenças ma-
principais pelas quais as caspases são ativadas. A primeira é a lignas diminuem a velocidade de apoptose e prolongam a so-
sinalização por meio de proteínas da membrana, como Fas ou brevida celular. O exemplo mais claro é a translocação do gene
Fator de morte,
p. ex., ligante Fas
APOPTOSE
Caspases Domínio
Liberação de de morte
citocromo c
Procaspases
Proteína
Inibe BAX aumentada
p53
BCL-2
Expressão
BCL-2 do gene BAX
aumentada Dano
ao DNA
Drogas
citotóxicas
Fator de sobrevivência,
Radiação
p. ex., fator de crescimento
Figura 1.9 Representação da apoptose. A apoptose é iniciada via dois estímulos principais: (i) sinal por meio de receptores da membrana
celular, como receptor de Fas ou fator de necrose tumoral (TNF), ou (ii) liberação de citocromo c da mitocôndria. Os receptores de membrana
sinalizam apoptose por um domínio intracelular de morte levando à ativação de caspases que digerem DNA. O citocromo c liga-se à proteína
citoplasmática Apaf-1, levando à ativação de caspases. A relação intracelular de pró-apoptóticos (p. ex., BAX) e antiapoptóticos (p. ex., BCL-2)
da família BCL-2 pode influenciar a liberação de citocromo c. Fatores de crescimento aumentam o nível de BCL-2, inibindo a liberação de
citocromo c, ao passo que o dano de DNA, ativando a p53, aumenta o nível de BAX que, por sua vez, aumenta a liberação de citocromo c.
da BCL-2 para o lócus da cadeia pesada de imunoglobulina mutações frequentes que as inativam em doenças hematopo-
na translocação t(14; 18) no linfoma folicular (ver p. 222). éticas malignas.
A superexpressão da proteína BCL-2 torna as células B malig- Necrose é a morte de células e de células adjacentes de-
nas menos suscetíveis à apoptose. A apoptose é o destino nor- vido a isquemia, trauma químico ou hipertermia. As células
mal da maioria das células B que são selecionadas nos centros incham e há perda da integridade da membrana plasmática.
germinativos linfoides. Em geral, há um infiltrado inflamatório em resposta à li-
Várias translocações que levam a proteínas de fusão, como beração dos conteúdos celulares. Autofagia é a digestão de
t(9; 22), t(1; 14) e t(15; 17), também resultam em inibição organelas celulares por lisossomos. Pode estar envolvida em
da apoptose (ver Capítulo 11). Além disso, genes que codifi- morte celular, porém, em algumas situações, também está
cam proteínas envolvidas na mediação de apoptose quando envolvida na manutenção da sobrevida celular por nutrien-
há dano ao DNA, como a p53 e a ATM, também sofrem tes reciclados.
QQ A hematopoese (formação das células sanguíneas) QQ Moléculas de adesão são uma ampla família
RESUMO
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