Livro Tópicos Essenciais Da Ciência Animal PDF
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Livro Tópicos Essenciais Da Ciência Animal PDF
ALEGRE-ES
CAUFES
2019
CCAE-UFES
Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, Universidade Federal do Espírito Santo
Alto Universitário, s/n, Guararema, Alegre-ES
Telefone: (28) 3552-8955 – Fax (28) 3552-8903
www.alegre.ufes.br/ccae
ISBN: 978-85-54343-22-4
Editor: CAUFES
Novembro 2019
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-54343-22-4
Modo de acesso: http://www.cienciasveterinarias.ufes.br/
topicos-especiais-em-ciencia-animal-teca
Esta publicação é a oitava edição do livro Tópicos Especiais em Ciência Animal, que
desde 2012 vem apresentando coletâneas, visando atualizar os leitores quanto ao conhecimento
técnico na área das ciências veterinárias. Os temas apresentados desde a primeira edição, são
originários de estudos de docentes e discentes do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Veterinárias da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGCV-UFES).
O programa, que tem sua sede no campus de Alegre, no sul do estado e foi criado em
2007, dando início as suas atividades em março de 2008 com duas linhas de pesquisa:
reprodução e nutrição animal, e diagnóstico e terapêutica das enfermidades clinico-cirúrgicas.
Ao longo desses 11 anos de atividades, o PPGCV já desenvolveu inúmeros projetos de pesquisa
e já foram titulados mais de 150 mestres, orientados por docentes doutores formados em
diversas instituições renomadas do Brasil. Muitas foram as pessoas responsáveis pelo
desenvolvimento e crescimento do PPGCV como docentes permanentes, colaboradores,
pesquisadores visitantes, servidores, além de gestores e órgãos de fomento que atuaram como
fortalecedores nessa jornada.
A motivação para dar início a escrita dos tópicos especiais em Ciência Animal (o TECA)
surgiu da busca de promover e divulgar a qualidade da pesquisa gerada pelo PPGCV, que fazem
a formação continuada de inúmeros profissionais das áreas das Ciências agrárias e biológicas.
Desde 2012, em sua primeira edição aliada a I Jornada de Científica da Pós-Graduação em
Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Espírito Santo, a coletânea vem contribuindo
para o conhecimento técnico sobre a ciência animal.
Esta edição do livro apresenta 25 capítulos abordando temas que vão desde estudos de
colágenos, abordagens terapêuticas de doenças, tecnologia de ovos, achados
eletrocardiográficos em cães e gatos e produção de embriões in vitro, entre outros diversos
assuntos interessantes da área da ciência animal.
Alison Zanete de Castro. Instituto Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre, e-mail:
alisonzcastro@hotmail.com
Amanda Maria Miranda Rodrigues dos Santos. Universidade Federal do Espírito Santo, e-
mail: amanda_mmrs@hotmail.com
Délia Chaves Moreira dos Santos. Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail:
deliachavesmoreira@gmail.com
Gilberto Rodrigues dos Santos. Instituto Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre, e-
mail: gilbertosprojetos@gmail.com
Gisele Rodrigues Moreira. Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail:
gisele.moreira@ufes.br
Layon Carvalho de Assis. Instituto Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre, e-mail:
layoncdeassis@gmail.com
Maria Aparecida Zaché. Mestre em educação pela Universidade Federal do Espírito Santo, e-
mail: maria.zache@ifes.edu.br
Paulo Sérgio Cruz de Andrade. Instituto Federal do Espírito Santo - Campus de Alegre, e-
mail: mvpaulojr@gmail.com
Victor Menezes Tunholi Alves. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e-
mail: victortunholi@yahoo.com.br
Capítulo
13
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
O osso está entre os mais complexos e bem organizados tecidos dos organismos
vertebrados. Histologicamente, é composto por uma fase celular e uma matriz óssea
mineralizada, que confere a forma e propriedades mecânicas inerentes ao órgão. A parte
inorgânica da matriz óssea é composta, sobretudo, por cálcio e fósforo, que estão dispostos sob
a forma de cristais de hidroxiapatita [Ca10 (PO4)6 (OH)2] arranjados ao longo das fibras de
colágeno (GARTNER; HIATT, 2014; JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).
O principal componente orgânico da matriz óssea é o colágeno tipo I, que se encontra
disposto em longos feixes e apresenta grande quantidade de ligações cruzadas. A associação
entre os componentes orgânicos e inorgânicos da matriz óssea confere ao tecido resistência e
rigidez características. Sem a matriz inorgânica, o osso mantém seu formato, porém perde a
rigidez, tornando-se extremamente flexível, ao ponto de ser dobrado. Enquanto isso, na
ausência da matriz orgânica o tecido mantém a rigidez, entretanto perde a capacidade de
resiliência, o que o torna quebradiço e facilmente fraturável (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013;
VIGUET-CARRIN; GARNERO; DELMAS, 2006).
Diversos fatores podem alterar as propriedades mecânicas do tecido ósseo e torná-lo
susceptível às fraturas, incluindo a microarquitetura tecidual, mineralização, microtrincas
preexistentes, patologias associadas, e a qualidade e disposição do colágeno (FRIEDMAN,
2006). Dentre os fatores citados, o colágeno representa um papel de destaque, tendo em vista a
complexidade de sua organização e a variedade de alterações patológicas as quais esta molécula
está predisposta. Com isso, objetivou-se neste capítulo, tratar das particularidades
biomoleculares do colágeno tipo I, bem como elucidar seu papel na resistência óssea.
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Capítulo 1. Colágeno tipo I e sua influência sobre a resistência do tecido ósseo
A cada terceira posição helicoidal tripla da cadeia α, existe um resíduo de glicina. Isso
se justifica pela glicina ser aminoácido de cadeia curta, sendo possível que se encaixe no centro
da hélice tríplice. A ligação da glicina na hélice tríplice é fundamental na sua estabilização,
sendo representada pela equação (Gli-X-Y)n. X e Y podem ser representados por qualquer
aminoácido, porém, em cerca de 100 das posições X, a prolina está presente, enquanto a
hidroxiprolina ocupa 100 das posições Y. Tais resíduos de aminoácidos são responsáveis por
contribuir para a característica biomecânica de rigidez do colágeno (BOTHAM; MURRAY,
2017), além de auxiliarem na estabilidade térmica da molécula (BERG; PROCKOP, 1973).
A hidroxiprolina é formada a partir de modificações pós-traducionais dos resíduos de
prolina, reação essa catalisada pela enzima prolil-hidroxilase. Os resíduos de lisina presentes
na posição Y também sofrem conversão em hidroxiprolina pela ação da lisil-hidroxilase, que,
assim como a prolil-hidroxilase, é dependente de ácido ascórbico e α-cetoglutarato como
cofatores. A hidroxilisina recém-formada pode ainda sofrer glicosilação por adição de galactose
ou de galactosil-glicose por uma ligação O-glicosídica. No tecido ósseo predomina a formação
de β-1-galactosil-hidroxilisina, enquanto a pele contém principalmente α-1,2-glicosil-
galactosil-hidroxilisina (PINNELL; FOX; KRANE, 1971; SEGREST; CUNNINGHAM, 1970;
VIGUET-CARRIN; GARNERO; DELMAS, 2006).
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
As cadeias de hélice tríplice de colágeno tipo I formam fibras longas graças à associação
lateral das hélices tríplices sob o formato de fibrilas, com diâmetro variando de 10 até 300 nm,
alinhadas em escalonamento de um quarto (FRATZL, 2008) (Figura 2). Nesse arranjo, formam-
se áreas de sobreposição entre as cadeias, alternadas com áreas de intervalo sem sobreposição,
o que permite que cada fibra fique separada da sua vizinha longitudinalmente a uma distância
de até um quarto de seu comprimento total (BOTHAM; MURRAY, 2017).
Os espaçamentos entre uma cadeia e outra de colágeno, quando alinhadas no modelo de
escalonamento de um quarto, são os locais de ancoragem dos cristais de hidroxiapatita, que, em
consequência desse arranjo, se depositam de forma paralela às fibras. A estrutura e organização
do colágeno limitam o tamanho dos cristais depositados, bem como induzem a direção na qual
esses cristais se orientam (FRATZL et al., 1996; TRAUB et al., 1994; VETTER et al., 1991).
As extremidades das fibrilas são contornadas por domínios globulares não helicoidais,
denominados propeptídeos N-terminal e C-terminal. A clivagem proteolítica dos propeptídeos
resulta em uma molécula em hélice tríplice contendo os telopeptídeos N- e C- terminais
(GARNERO, 2015).
Os grupamentos mais espessos de fibrilas são denominados fibras, variando de 1 a 20
mm de diâmetro. Tais grupamentos são unidos entre si por ligações cruzadas covalentes entre
as fibrilas e entre as hélices tríplices formadas por ação da enzima lisil-oxidase (LOX). Esta
enzima é dependente de cobre, e realiza a desaminação de resíduos de lisina e hidroxilisina.
Após reações químicas específicas, a reação resulta em ligações cruzadas covalentes estáveis,
que desempenham papel fundamental na força de tensão das fibras colágenas (BOTHAM;
MURRAY, 2017).
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Capítulo 1. Colágeno tipo I e sua influência sobre a resistência do tecido ósseo
17
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
18
Capítulo 1. Colágeno tipo I e sua influência sobre a resistência do tecido ósseo
cruzadas enzimáticas, que ficam restritas aos domínios terminais da molécula, a formação de
AGEs propicia ligações por toda a extensão da molécula de colágeno (GAUTIERI et al., 2014).
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
com o aumento da rigidez em tecidos como cristalino, artérias, tendões, cartilagens e ossos,
predispondo tais tecidos a alterações conformacionais relacionadas às suas propriedades
mecânicas (CHEN et al., 2002; LI et al., 2013; TANG; VASHISHTH, 2011; VERZIJL et al.,
2002; ZIMMERMANN et al., 2011).
Os processos finais de alterações pós-traducionais não enzimáticas do colágeno
envolvem a racemização e isomerização, que se caracterizam por serem alterações na
conformação da molécula relacionadas ao envelhecimento. A racemização consiste na
conversão da forma L-enantiomérica para a forma D-enantiomérica, enquanto a isomerização
é definida pela transferência do esqueleto peptídico de um resíduo de aspartil do grupamento
α-carboxilíco para o grupamento β- ou γ-carboxílico (CLARKE, 1987). A isomerização é o
processo gradual que induz alterações na conformação das proteínas, o que acarreta em
alterações funcionais das mesmas. Como o colágeno está entre as proteínas propensas a esse
tipo de modificação bioquímica, as propriedades biomecânicas ósseas podem ser afetadas por
esse fator (VIGUET-CARRIN; GARNERO; DELMAS, 2006).
A resistência característica do tecido ósseo é determinada pela massa tecidual e por sua
rigidez, atribuída principalmente à fase inorgânica da matriz extracelular (CURREY, 1979,
1988; CURREY; BREAR; ZIOUPOS, 1996). O colágeno, por sua vez, contribui em grande
parte para a propriedade de tenacidade presente no tecido (BOSKEY; WRIGHT; BLANK,
1999; THOMPSON et al., 2001; WANG et al., 2001; ZIOUPOS; CURREY; HAMER, 1999;
ZIOUPOS, 2001).
A presença da matriz orgânica no tecido ósseo aumenta a resistência à tração em cerca
de dez vezes. Currey (2003) e Currey et al. (1997) demonstraram o papel do colágeno nas
propriedades mecânicas do tecido ósseo, uma vez que, ao utilizarem radiação ionizante para
danificar o colágeno ósseo, verificaram redução da resistência tecidual. No entanto, os autores
não verificaram alteração no módulo de elasticidade dos ossos testados. Fantner et al. (2004)
também confirmam o papel do colágeno na biomecânica óssea ao degradar a matriz orgânica
por meio de altas temperaturas. Os autores reportam menor elasticidade, força e resistência,
havendo também alterações no comportamento do tecido ósseo trabecular e da aparência das
microfraturas.
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Capítulo 1. Colágeno tipo I e sua influência sobre a resistência do tecido ósseo
O colágeno interfere na resistência óssea não apenas na sua relação com a matriz
inorgânica, mas também pela orientação de suas fibras em relação ao eixo na qual a carga é
direcionada. No tecido ósseo trabecular, composto por fibras colágenas desorganizadas, as
propriedades mecânicas mostram-se inferiores quando comparadas ao osso cortical, mesmo que
o conteúdo mineral seja maior, o que demonstra que a organização e orientação das fibras de
colágeno exercem papel fundamental nas propriedades mecânicas (MAROTTI; MUGLIA;
PALUMBO, 1994).
Ossos longos, como o fêmur, suportam cargas compressivas muito altas no sentido
vertical, com poucos danos à sua estrutura. No entanto, a mesma carga aplicada em sentido
longitudinal resulta em fraturas com mais facilidade. Esse fato é explicado pela orientação dos
ósteons no sentido longitudinal do osso cortical, resistindo a força maior quando a carga é
aplicada no sentido fisiológico (HEŘT; FIALA; PETRTÝL, 1994). Fibras orientadas em
sentido longitudinal são mais comuns nas áreas que suportam cargas tensivas, e as fibras
transversais são mais desenvolvidas nos locais onde a compressão é a força principal
(MARTIN; BOARDMAN, 1993). Puustjärvi et al. (1999) relataram que exercícios em longo
prazo reduzem a densidade mineral óssea sem alterar as propriedades mecânicas, demonstrando
ainda reorganização das fibrilas colágenas sem modificação na maturação da molécula ou
composição da mesma, sugerindo que a reorganização contribui na manutenção da resistência,
mesmo havendo queda na densidade mineral.
As propriedades do colágeno interagem com diversos outros determinantes na
resistência óssea, todos contribuindo para as propriedades mecânicas do tecido. As interações
entre as diferentes propriedades limitam a análise da contribuição exclusiva do colágeno e de
suas modificações bioquímicas. Essa relação complexa cria o desafio na investigação do papel
do colágeno na determinação da resistência óssea (VIGUET-CARRIN; GARNERO;
DELMAS, 2006).
Apesar de diversos estudos demonstrarem a importância das fibras colágenas nas
propriedades mecânicas do osso, as vias bioquímicas envolvidas nesse processo ainda parecem
pouco esclarecidas (FERREIRA et al., 2012). Knott et al. (1995) sugerem que possa haver
envolvimento das modificações pós-traducionais na molécula de colágeno, como as ligações
cruzadas entre grupamentos pirrol, sem associação evidente com os compostos piridinolina.
Inúmeras pesquisas que utilizam modelos experimentais animais objetivam esclarecer
o papel de cada etapa na biossíntese do colágeno tipo I, por meio da inibição ou potencialização
de determinadas reações químicas. A formação dos compostos de piridinolina, por exemplo,
pode ser inibida pela β-aminopropionitrila ou deficiências nutricionais, como dietas pobres em
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
vitamina B6 ou cobre. A via de inibição, em todos esses casos, funciona pela diminuição da
atividade da LOX, caracterizando-se como redução generalizada da resistência óssea
(VIGUET-CARRIN; GARNERO; DELMAS, 2006).
Oxlund et al. (1995) por meio de experimento com ratos tratados com β-
aminopropionitrila, evidenciaram redução de 45% das ligações cruzadas de piridinolina, o que
resultou em alterações de mineralização e 20 a 30% de perda na capacidade de deflexão,
resistência à flexão e rigidez óssea. Mcnerny et al. (2015) testaram ossos de membros pélvicos
de ratos tratados com β-aminopropionitrila e relataram que a inibição das ligações cruzadas
causadas pelo tratamento afetou o tecido ósseo de forma generalizada, reduzindo a tenacidade
à fratura e a resistência óssea.
Alterações nas propriedades mecânicas ósseas causadas por modificações na estrutura
do colágeno tipo I, como redução da resistência e força à torção também foram reportadas em
fêmures de ratos com mineralização óssea deficiente (LEES et al., 1994), ossos longos de ratos
com deficiências de vitamina B6 (MASSÉ et al., 1996) e frangos com dietas pobres em cobre
(OPSAHL et al., 1982).
Logo, percebe-se que as ligações cruzadas de piridinolina mediadas pela LOX são
fatores importantes no que diz respeito às propriedades mecânicas do tecido ósseo. Como os
experimentos são caracterizados não apenas por alterações nas moléculas de colágeno, mas
também por alterações na matriz inorgânica, nota-se certa dificuldade em determinar o papel
do colágeno isoladamente na biomecânica óssea (VIGUET-CARRIN; GARNERO; DELMAS,
2006).
Em relação ao tecido ósseo trabecular, Banse et al. (2002) explanam que as altas
concentrações de pirrol e baixas quantidades de ligações de piridinolina causam espessamento
e descontinuidade das trabéculas ósseas em corpos vertebrais, enquanto baixas quantidades de
pirrol e altas de piridinolina levam a um adelgaçamento e aparente maior conexão entre as
trabéculas. Os autores ainda comentam que as concentrações equilibradas dos dois compostos
podem refletir na organização normal do tecido ósseo trabecular. Banse, Sims e Bailey (2002),
em pesquisa subsequente no mesmo modelo de corpos vertebrais, demonstraram que a força de
compressão é correlacionada à proporção de piridinolina: desoxipiridinolina, e não aos
compostos em separado, indicando que a variação individual das proporções destas moléculas
é baseada no grau de hidroxilação da lisina.
A formação de ligações cruzadas depende do grau de hidroxilação da lisina, sendo que
a formação da piridinolina necessita de grande quantidade de hidroxilisina, e alterações na
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Capítulo 1. Colágeno tipo I e sua influência sobre a resistência do tecido ósseo
formação desse composto mudarão a ligação cruzada final que será formada (VIGUET-
CARRIN; GARNERO; DELMAS, 2006). A superexpressão dos genes relacionados a essa
reação pode levar ao aumento na taxa de hidroxilação, por consequência, aumentando a
quantidade de ligações cruzadas (PORNPRASERTSUK et al., 2004a; UZAWA et al., 1999),
enquanto a expressão ectópica levaria a fibrilas colágenas mais curtas e mineralização
defeituosa (PORNPRASERTSUK et al., 2004b). Tais achados corroboram o relato de que as
propriedades mecânicas do tecido ósseo estão diretamente correlacionadas às alterações pós-
traducionais sofridas pelo colágeno.
Alterações na glicação do colágeno também são fatores importantes na determinação da
resistência óssea. Wang et al. (2002) mostraram que a pentosidina, um importante AGE, quando
aumentada, é correlacionada a deformações senis nas fibras colágenas em osso cortical humano.
Vashishth et al. (2001) também mostraram essa correlação em osso cortical bovino,
evidenciando que o acúmulo de AGEs foi associado ao enrijecimento das fibras colágenas sem
alterações biomecânicas. Em pesquisas posteriores, Boxberger e Vashishth (2004) relatam
aumento de 29% na rigidez, redução de 71% na deformação e de 47% na força máxima de
fratura, relacionados aos níveis de AGE em ossos corticais humanos frescos e descalcificados.
As propriedades mecânicas do colágeno ósseo podem ser afetadas ainda, por doenças
como diabetes, pois os quadros de hiperglicemia são associados ao aumento da formação dos
AGEs (KOSTOLANSKÁ; JAKUŠ; BARÁK, 2009). Yang et al. (2016) correlacionaram o
aumento dos níveis dos produtos finais de glicação avançada com redução da osteogênese, no
entanto, sem alterar a mineralização óssea de ratos. As ligações cruzadas do colágeno
estabelecidas pelos AGEs são mecanicamente mais frágeis, reduzindo a qualidade óssea por
fazer com que as fibras fiquem fracamente unidas. No diabetes tipo II a resistência óssea se
mostra inversamente proporcional à proporção de AGEs no tecido (FURST et al., 2016). De
forma similar, altas concentrações dos produtos de glicação avançada também são responsáveis
pelo decréscimo na resistência mecânica do tecido ósseo no diabetes tipo I (RUBIN et al.,
2016).
A carbamazepina, uma das drogas mais utilizadas no controle de crises epiléticas,
também possui correlação com a fragilidade óssea. Garip e Severcan (2019) conduziram um
experimento no qual a carbamazepina foi administrada sob a dosagem de 50 mg/kg/dia em ratos
Wistar. Após cinco semanas, os autores relataram redução das ligações cruzadas de colágeno,
além de redução da mineralização e alteração na proporção carbonato: fosfato.
De fato, modificações pós-traducionais na molécula de colágeno são fortemente
associadas às propriedades biomecânicas do osso. Acréscimos na quantidade de ligações
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, pode-se concluir que o colágeno tipo I exerce influência direta na
resistência do tecido ósseo, visto que a orientação das fibras em relação ao eixo natural ao qual
a força é aplicada ao osso determina a resistência do tecido. Além disso, a disposição das
ligações cruzadas entre as moléculas e as fibrilas de colágeno também possuem grande
importância, uma vez que alterações patológicas que desestabilizam essas ligações podem
alterar significativamente as propriedades mecânicas inerentes ao tecido ósseo.
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Capítulo
30
Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
1 INTRODUÇÃO
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
3 MIASTENIA GRAVIS
3.1 ETIOPATOGENIA
A forma congênita da miastenia gravis pode ser tipificada em três categorias: pré-
sináptica, sináptica ou pós-sináptica, dependendo da sua etiopatogenia (DEWEY; COSTA,
2016).
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Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
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Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
A miastenia gravis adquirida é muito mais comum em cães do que em gatos (LORENZ;
COATES; KENT, 2011).
Em cães, as raças de maior predisposição à miastenia gravis adquirida são: Pastor
Alemão, Golden Retrievers e Labradores Retrievers. Sabe-se que cães das raças
Newfoundlands e Dogue Alemão, também apresentam características de hereditariedade para
a forma adquirida da doença. Os cães da raça Akita parecem apresentar maior risco para esta
forma da doença do que qualquer outra raça (LORENZ; COATES; KENT, 2011). A doença,
em sua forma congênita, é descrita com certa frequência em cães das raças Jack Russel Terriers,
Samoieda, Smooth-haired Fox Terriers, Springer Spaniels e Dachshunds-Miniatura (DEWEY;
COSTA, 2016). Cães mestiços apresentam menor risco, quando com parados com cães de raça
pura (SHELTON; SCHULE; KASS, 1997).
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Em gatos, as raças com maior ocorrência de miastenia gravis adquirida são: Somalis,
Abissínios e gatos doméstico de pelo curto (LORENZ; COATES; KENT, 2011). Porém, esta
forma da doença já foi observada em diversas outras raças como Himalaia, Maine Coon, Persa,
Balinese, Bengal, Korat, Manx, Oriental de Pelo Curto, Rex e Scottish Fold (SHELTON; HO;
KASS, 2000). Gatos de raças puras, em geral, apresentam maior predisposição do que gatos
sem raça definida (DEWEY; COSTA, 2016). A forma congênita da doença, já foi relatada em
alguns gatos (LORENZ; COATES; KENT, 2011). Não foram encontradas na literatura,
informações a respeito das raças de gatos com maior predisposição à forma congênita.
Em relação ao sexo como fator predisponente para a miastenia gravis adquirida, sabe-
se que na espécie canina, as fêmeas possuem uma maior predisposição (LORENZ; COATES;
KENT, 2011). Além disso, é observada um discreto aumento da incidência da doença em
animais castrados, quando comparados com animais não castrados (DEWEY; COSTA, 2016).
Em estudos, não foram observadas diferenças significativas entre a incidência de
machos ou fêmeas de gatos com miastenia gravis (SHELTON; HO; KASS, 2000).
Em algumas espécies como humanos, cães e gatos, uma relação bimodal de idade já foi
descoberta para a miastenia gravis adquirida. Em geral, cães são mais acometidos em idades
inferiores a cinco anos ou acima de sete anos, ou mais precisamente, quando estão entre quatro
meses e quatro anos ou entre nove e 13 anos de idade. Já os gatos costumam apresentar a
enfermidade entre dois e três anos, ou posteriormente, entre nove e 10 anos de idade (DEWEY;
COSTA, 2016; LORENZ; COATES; KENT, 2011).
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Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Tabela 1. Sinais clínicos e frequência desses sinais em cães com miastenia gravis focal e
generalizada.
Focal Generalizada
Sinal Clínico Número de Porcentagem Sinal Clínico Número de Porcentagem
cães do total (%) cães do total (%)
M 367 31,8 FG, M 440 38,1
M,FL 7 <1 FG, M, FL 7 <1
M, PL, RA 3 <1 FG, M, RA 34 2,9
M, FL, RA 3 <1 FG, M, PL 3 <1
M, PL 6 <1 FG 77 0,7
M, RA 14 1,2 FG, PL 1 <1
M, MMC 16 1,3 FG, RA 5 <1
FL 13 1,1 FG, M, MMC 15 6,7
FL,PL 2 <1 FG, M, MMC 2 <1
SCV 7 <1 SCV 10 <1
M = megaesôfago; FG = fraqueza generalizada; FL = fraqueza de laringe; PL = paralisia de laringe; RA = redução
ou ausência de reflexo de ameaça; MMC = massa mediastínica cranial; SCV = sintomas clínicos variados -> baixa
motilidade esofágica (n=3), pneumonia crônica (n=1), massa mediastínica cranial somente (n=2), apenas fraqueza
do musculo extraocular (n=1) e fraqueza generalizada com bloqueio cardíaco de terceiro grau (n=3).
Fonte: Adaptada de Shelton, Schule e Kass (1997).
Abordagem clínica
Método de diagnóstico indicado para ambas as formas, congênita e adquirida da doença.
Para uma abordagem satisfatória, é necessário que o profissional levante o máximo de
informações a respeito de seu paciente. Deve-se inicialmente, identificar os sinais clínicos que
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Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
Exames de imagem
Método de diagnóstico indicado para ambas as formas, congênita e adquirida da doença.
Radiografias são úteis para a identificação de megaesôfago, pneumonia aspirativa e massas
tímicas. Em casos em que há a suspeita de megaesôfago, porém não foram achados sinais
radiográficos em radiografia simples, recomenda-se realizar a modalidade de esofagografia
contrastada com solução de bário ou uma fluoroscopia. No entanto, deve-se tomar cuidado com
o risco do paciente inspirar o contraste durante o exame. Outra opção com menor risco é a
cintilografia esofágica, que oferece informações mais precisas sobre a função esofágica.
Exames radiográficos também são úteis na identificação de massas tímicas. Porém, mesmo que
os sinais radiográficos de aumento do timo não estejam presentes, a possibilidade da ocorrência
de timomas não devem ser completamente descartadas. Recomenda-se a realização de exames
de imagem mais elaborados, como tomografia computadorizada e ressonância magnética. Além
dos exames complementares citados, o eletrocardiograma também deve ser realizado, a fim de
descartar um possível bloqueio cardíaco de terceiro grau [(adaptado de Loren, Coates e Kent
(2011); Dewey e Costa (2017); University of San Diego (2017)].
Além disso, em pacientes apresentando uma redução dos receptores de acetilcolina, a resposta
ao cloreto de edrofônio pode ser discreta ou ausente, gerando um falso negativo. Para a
realização do teste, o clínico deve administrar o medicamento por via intravenosa utilizando
um catéter, seguindo a dose de 0,1-0,2 mg por quilograma para cães e 0,25-0,50 mg por gato.
Apesar da curta duração do teste, em casos de exacerbação dos efeitos colinérgicos da droga, o
clínico deverá deixar atropina de forma acessível, caso seja necessária a reversão do efeito. Para
pacientes positivos ao teste, recomenda-se a manutenção do tratamento com neostigmina, por
seu efeito anticolinesterásico de longa duração. Neste caso, o clínico deve associar a aplicação
de atropina (0,02-0,04 mg/kg) ou glicopirrolato (0,01-0,02 mg/kg), ambos por via intramuscular
ou subcutânea anteriormente ao teste, reduzindo a probabilidade de uma crise colinérgica.
Dentre os efeitos colaterais de um paciente em crise colinérgica, estão a bradicardia e
broncoconstrição. Para a forma focal da doença em gatos, em geral não são observadas
respostas significativas, exceto em caso de acometimento palpebral, sendo mais fácil a
visualização da resposta [(adaptado de Loren, Coates e Kent (2011); Dewey e Costa (2017);
University of San Diego (2017)].
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Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
imunossupressora, caso contrário, o teste pode indicar um resultado falso-negativo, uma vez
que este é baseado na dosagem de anticorpos. Em relação à amostra a ser enviada, é necessário
envio 1-2 mL de soro por Correios na modalidade “standard overnight” (transporte durante à
noite) ou “second day service” (serviço/entrega no dia seguinte) [(adaptado de Loren, Coates e
Kent (2011); Dewey e Costa (2017); University of San Diego (2017)].
Biopsia muscular
Especificamente sobre o diagnóstico da MG realizado por biopsia muscular, as
alterações histológicas no músculo são ausentes ou inespecíficas, mas quando ocorrem, são
atrofia por desuso e fibrose (SANTOS; ALESSI, 2010).
Na MG adquirida, a biópsia muscular é pouco realizada, pois o quadro clínico e as
provas terapêuticas estabelecem o diagnóstico na maioria dos casos, no entanto quando as
lesões estão presentes, há atrofia de fibras tipo II com focos ocasionais de infiltrado linfocitário
e alterações no padrão da junção neuromuscular à microscopia eletrônica, como simplificação
das pregas pós-sinápticas e redução do número de receptores de acetilcolina na membrana
sarcoplasmática (BLEGGI TORRES; NORONHA, 1994).
Sugere-se que a biopsia muscular pode ser inconclusiva em alguns casos devido a alguns
fatores como: escolha inapropriada do grupo muscular a ser biopsiado; fase clínica inicial do
processo sem lesão muscular estabelecida e em que a análise da biópsia demonstra apenas
alterações mínimas. Assim, caso uma nova biópsia seja realizada em grupo muscular adequado
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Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
3.6 TRATAMENTOS
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
presentes, os efeitos colaterais são sialorréia, fasciculação, diarreia e vômito. Nesses casos, as
doses devem ser reduzidas. Para pacientes com problemas para ingerir medicações orais, pode-
se administrar piridostigmina através do gastrotubo ou neostigmina parenteral, até que o
problema de ingestão seja resolvido e o tratamento com piridostigmina oral possa ser realizado.
A neostigmina por via parenteral tem ação mais rápida, porém mais curta (seis horas) que a
pirigostigmina por via oral (DEWEY; COSTA, 2016).
O resultado à terapia com anticolinesterásico varia bastante. Por exemplo, em humanos
a forma focal ocular da doença dificilmente é controlada com esse tratamento apenas. Já cães,
respondem de forma satisfatória, sendo observado um melhor resultado em cães com
manifestações apendiculares do que em cães com megaesôfago. Essa variação pode ser
relacionada ao fato das drogas anticolinesterásicas não cessarem a resposta autoimune, mas
apenas amenizá-la de certa forma (DEWEY; COSTA, 2016).
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Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
fulminante da doença. Na medicina veterinária, essa primeira técnica não é corriqueira devido
ao seu alto custo e carência de equipamentos, porém, acredita-se que tenha um bom resultado
também na forma fulminante em animais. Ainda não se tem certeza sobre o mecanismo de
atuação, mas a teoria é de que os anticorpos exógenos acabam por se ligar aos anticorpos
autoimunes, impedindo que os mesmos bloqueiem os receptores de acetilcolina sobre a fibra
muscular. Não foi observada diferença significativa entre a terapia com anticorpos intravenosos
ou a administração de metilprednisolona para o tratamento da forma aguda da doença
(DEWEY; COSTA, 2016).
A plasmaferese, funciona como uma técnica de filtração do plasma do paciente
miastênico, com o intuito de remover da circulação sanguínea os anticorpos contra os receptores
de acetilcolina. Em humanos ainda não se tem comprovação científica da eficácia da
plasmaferese e em cães, a informação que se têm é de apenas um cão que foi submetido à
técnica associada à terapia com prednisona e o resultado foi a remissão da doença (DEWEY;
COSTA, 2016).
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Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Nutrição
Fornecer alimentos e locais elevados para facilitar a chegada do alimento até o
estômago, reduzindo a regurgitação. Para cães, existe uma cadeira que os posiciona de forma
bipedal no momento da alimentação, chamada de “Bailey Chair”. Recomenda-se manter o
animal em posição bipedal, por pelo menos 10-15 minutos, após a ingestão de alimentos. Deve-
se oferecer alimentos semissólidos. Para os animais que continuarem apresentando
regurgitação, a sondagem nasogástrica, esofágica ou a colocação de um gastrotubo, deve ser
cogitada. O profissional deve sempre dar preferência à nutrição enteral, pois se assemelha mais
à condição fisiológica normal, é mais segura e gera menos custos, porém, em casos onde isso
não é possível, a nutrição parenteral deve ser realizada (DEWEY; COSTA, 2016).
Suporte respiratório
Para pacientes com fraqueza grave que necessitem de auxílio respiratório, recomenda-
se ventilação mecânica (DEWEY; COSTA, 2016).
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Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
como o omeprazol e pantoprazol. Essa segunda classe de medicamento apresenta uma atividade
antiácida mais eficaz (DEWEY; COSTA, 2016).
Para doenças que podem ser transmitidas de forma hereditária, na medicina veterinária,
uma maneira tradicional de se evitar que os genes se perpetuem, é remover da reprodução os
animais portadores (CRUZ, 2011).
Em cães com miastenia gravis adquirida, em geral, o prognóstico é reservado, devido à
essa espécie apresentar maior predisposição à ocorrência de megaesôfago e pneumonia
aspirativa. Porém, para cães que não apresentam fraqueza de laringe e pneumonia aspirativa
severa, o prognóstico é favorável. A remissão espontânea da miastenia gravis, pode ocorrer em
alguns cães, principalmente jovens, mesmo que estes não tenham sido submetidos à terapia com
imunossupressores. Essa remissão é associada com o reestabelecimento dos níveis séricos
normais dos anticorpos contra os receptores de acetilcolina (DEWEY; COSTA, 2016). Cães
da raça Dachshound miniatura com a síndrome congênita, pode ocorrer remissão espontânea
com o avanço da idade (LORENZ; COATES; KENT, 2011).
Em gatos miastênicos com a forma adquirida, o prognóstico em geral, é mais positivo
do que em cães. Isso ocorre devido à menor frequência de fatores agravantes, como
megaesôfago e pneumonia aspirativa, em gatos do que em cães (DEWEY; COSTA, 2016).
Além disso, em gatos, é observada uma melhor resposta à tratamentos com imunossupressores,
do que com drogas anticolinesterásicas (LORENZ; COATES; KENT, 2011).
Em humanos com miastenia gravis adquirida que não apresentam complicações, o
prognóstico pode ser considerado de favorável à excelente (DEWEY; COSTA, 2016).
4 REFERÊNCIAS
BLAKEY, T. J. et. al. Congenital myasthenic syndrome in a mixed breed dog. Frontiers in
Veterinary Science, Lausanne Switzerland, v. 4, n. 173, p. 1-6, 2017.
49
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
CRUZ, C. Mitos e realidades na criação (III): devemos afastar da reprodução os animais com
genes indesejáveis? Revista Cães & Companhia, São Paulo, v. 39, p. 40-41, 2011.
DEWEY, C. W; COSTA, R. C. Practical guide to canine and feline neurology. 3th ed. New
Jersey: John Wiley & Sons inc, 2016.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica, 12. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
LORENZ, M. D.; COATES J. R.; KENT M. Handbook of Veterinary Neurology. 5th ed.
Missouri (USA): Saunders, 2011.
SANTOS, R. de L.; ALESSI, A. C. Patologia Veterinária, 2. ed. São Paulo: Roca, 2010.
SHELTON, G. D.; SCHULE, A.; KASS, P. H. Risk factors for acquired myasthenia gravis in
dogs: 1,154 cases (1991-1995). Journal of the American Veterinary Medical Association,
California, v. 211, n. 11, p. 1428-1431, 1997.
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Capítulo 2. Miastenia gravis – revisão de literatura
SHELTON, G.D.; HO, M.; KASS, P. H. Risk factors for acquired myasthenia gravis in cats:
105 cases (1986 – 1998). Journal of the American Veterinary Medical Association,
California, v. 216, n. 1, p. 55-57, 2000.
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
Driéle Lutzke 1
Caio Vaz Baqui Lima 2
Franciely Mota de Oliveira 3
Karina Preising Aptekmann 4
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Capítulo 3. Atualização sobre os sarcomas em sítio de injeção em gatos
1 INTRODUÇÃO
Desde os anos 90, foi especulada uma associação entre a administração de alguns
imunobiológicos nos gatos e o subsequente desenvolvimento de tumores, principalmente
fibrossarcomas (HENDRICK; GOLDSCHMIDT, 1991).
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Nos Estados Unidos, no ano de 1985, a vacina contra a raiva foi modificada devido a
exigência da utilização de vírus inativados na sua fabricação, na qual era necessária a utilização
de adjuvantes, principalmente de alumínio. Esta modificação permitiu que sua administração
fosse por via subcutânea, o que tornaria o ato vacinal mais confortável e menos estressante para
o animal, e o espaço interscapular se tornou um local típico para a injeção de vacina (GRACE,
2011).
No mesmo ano, uma vacina com vírus morto da leucemia felina (FeLV - Feline
Leukemia Virus), associada a adjuvante, também foi aprovada e comercializada nos Estados
Unidos, sendo amplamente adotada (GRACE, 2011).
No final da década de 1980, a Pensilvânia e diversos outros estados americanos
tornaram a vacina contra a raiva em gatos uma conduta obrigatória. Esses eventos resultaram
em um aumento significativo na administração de vacinas em gatos. Paralelamente, foi
observado um aumento no número de neoplasias mesenquimatosas, em região interscapular,
região de flanco e lateral do tórax, locais habitualmente utilizados para injeções (HENDRICK
et al., 1992). Devido à localização e as mudanças nas práticas veterinárias da época, estes
tumores foram associados à vacinação e relatados pela primeira vez por Hendrick &
Goldschmidt, em 1991 (HENDRICK; GOLDSCHMIDT, 1991).
Outro fato observado foi o aumento na ocorrência dos sarcomas em gatos mais jovens,
com idade em torno de 8 a 11 anos. Comparativamente, os sarcomas espontâneos acometem
gatos mais idosos (DODDY et al., 1996), e se desenvolvem principalmente em cavidade oral,
região de cabeça, extremidade distal de membros e dígitos (SKORUPSKI, 2016).
A verdadeira incidência dos sarcomas em sítio de injeção ainda é desconhecida e
variável de acordo com a localidade estudada. A estimativa mais comum conhecida é de 1 caso
para cada 1.000 a 10.000 vacinas administradas, o que é considerada uma prevalência muito
baixa, frente a importância da vacinação desses animais (KISSEBERTH, 2012). No Reino
Unido, um estudo desenvolvido em 2007, estimou uma incidência ainda menor para os
sarcomas associados à vacina, sendo 1 caso para 5.000 a 12.500 doses de vacinas administradas
(DEAN; PFEIFFER; ADAMS, 2013).
Um estudo retrospectivo conduzido na Polônia, englobando dados entre os anos de 1998
a 2014, revelou que mais de 13% de todas as amostras de tecido ressecadas de gatos e 45% das
amostras de tumores cutâneos e subcutâneos felinos examinados histopatologicamente, foram
reconhecidos como sarcomas em sítio de injeção. A prevalência foi de 16 casos em 10.000
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Capítulo 3. Atualização sobre os sarcomas em sítio de injeção em gatos
gatos atendidos por clínico/cirurgião geral e 85 casos em 10.000 gatos atendidos por serviços
especializados em oncologia veterinária (KLICZKOWSKA et al., 2015).
3 ETIOPATOGÊNESE
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
4 ASPECTOS CLÍNICOS
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Capítulo 3. Atualização sobre os sarcomas em sítio de injeção em gatos
Figura 1: Gato apresentando formação nodular em região interescapular, local comum de aplicação de vacinas e
medicamentos. Este animal já foi submetido à remoção cirúrgica, com recidiva local em menos de 3 meses.
Fonte: O autor. (2019).
57
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
afetados. Desta forma, além de apatia e inapetência, animais com metástase pulmonar podem
apresentar dispneia e intolerância ao exercício, ou até mesmo sinais neurológicos, quando há
infiltração pelo espaço intervertebral e compressão medular (DALECK et al., 2016).
Uma forma multicêntrica, com o surgimento de múltiplas massas cutâneas e
subcutâneas em membros e tronco, altamente agressiva e metastática, já foi relatada em gatos
com menos de 3 anos de idade, onde o surgimento do tumor é desencadeado pelo vírus do
sarcoma felino (FeSV- Feline Sarcoma Virus) (GRACE, 2011), que consiste num híbrido
verdadeiro, resultante da combinação entre o genoma do FeLV e proto-oncogenes celulares do
gato, não estando associado ao ato vacinal (DALECK et al., 2016).
5 DIAGNÓSTICO
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Capítulo 3. Atualização sobre os sarcomas em sítio de injeção em gatos
51%, frente aos sarcomas de outras origens, que apresentam apenas 15% de células
inflamatórias (DODDY et al., 1996). Kliczkowska et al. (2015) reconheceram a presença de
material semelhante a adjuvante em macrófagos intratumorais e a presença de células gigantes
em menos de 50% dos casos de seu estudo. Presença de cicatrização e inflamação perilesional,
agregados de linfócitos na periferia tumoral, pleomorfismo celular moderado, e marcada
necrose intralesional foram características significativamente identificadas em sarcomas em
sítios de injeção.
Histologicamente, os fibrossarcomas são os tipos tumorais mais reconhecidos
(CARNEIRO et al., 2018; KLICZKOWSKA et al., 2015). Osteossarcomas,
rabdomiossarcomas, liomiossarcomas, condrossarcomas e lipossarcomas, também tem sido
descritos (DALECK et al., 2016), assim como linfomas, os quais em sua forma cutânea, e em
áreas comumente usadas para injeção, apresentam caráter mais agressivo e angioinvasivo que
o linfoma cutâneo não relacionado ao sítio de injeção (ROCCABIANCA et al., 2016),
característica também observada com relação aos sarcomas. Devido a presença de grandes áreas
de necrose, pode ser necessário mais de um fragmento tumoral, e de diferentes áreas para um
diagnóstico mais fidedigno (DODDY et al., 1996).
Além da confirmação histológica, são necessários exames complementares como
hemograma, bioquímica sérica, urinálise e sorologia para FIV/FeLV para avaliar a condição
geral do animal, caso este seja submetido a cirurgia, ou alguma outra terapia (GRACE, 2011;
KISSEBERTH, 2012).
Ao mesmo tempo, exames de imagem são fundamentais para o estadiamento clínico do
animal. Sendo assim, para a pesquisa de metástases pulmonares, a radiografia torácica em três
incidências ainda é o exame mais utilizado, e para a pesquisa de metástases em abdômen, a
ultrassonografia é o exame recomendado (DALECK et al., 2016). A tomografia
computadorizada pode ser utilizada para um estadiamento clínico mais preciso (FORREST,
2016), mas a ausência de metástases visíveis não exclui o risco de disseminação tumoral
microscópica (GRACE, 2011).
O conhecimento das medidas tumorais, assim como a invasividade local do tumor é
fundamental para o planejamento cirúrgico. Neste contexto, a tomografia computadorizada e a
ressonância magnética, auxiliam no dimensionamento tumoral e estimativa de margens laterais,
e principalmente profundas, de forma mais sensível, que aquelas estimadas clinicamente, para
a ressecção total do tumor (FERRARI et al., 2015), além disso, a tomografia computadorizada
auxilia no planejamento e monitoração da resposta ao tratamento radioterápico (FORREST,
2016).
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
6 TRATAMENTO
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Capítulo 3. Atualização sobre os sarcomas em sítio de injeção em gatos
Se a terapia de radiação for considerada, esta pode ser utilizada antes ou após o
procedimento cirúrgico (KISSEBERTH, 2012), ou quando a cirurgia é contraindicada, podendo
ser também associada a quimioterapia. A radioterapia em doses altas proporciona benefícios
clínicos quanto ao intervalo livre de doença para aqueles gatos que foram submetidos a apenas
uma intervenção cirúrgica. Este mesmo benefício não foi observado em gatos submetidos a
múltiplas cirurgias para a remoção de sarcomas em sítio de injeção (ROSSI et al., 2019).
A braquiterapia com irídio-192 foi muito bem tolerada pelos gatos, e a taxa de recidiva
local e tempo de sobrevida foi comparável a outras formas de radioterapia adjuvante, tendo
como principal efeito colateral, deiscência de sutura e alterações cutâneas, como alopecia e
hiperpigmentação (BLOCH et al., 2019). O uso de nanopartículas de ouro em cultivos celulares
aumentou a eficácica da terapia de radiação, porém seu mecanismo de ação e toxicidade para o
paciente precisa ser melhor estudado (BENTON et al., 2018).
A associação da imunoterapia a cirurgia e radioterapia, aparenta caráter promissor no
tratamento dos sarcomas em sítio de injeção, reduzindo o risco de recidiva, e quando esta
ocorre, demora mais a acontecer (JAS et al., 2015).
Protocolos quimioterápicos como terapêutica isolada só são recomendados para tumores
não ressecáveis e/ou com metástases, com o intuito paliativo, do contrário eles não devem ser
considerados como terapia definitiva. Seu uso pré-operatório pode reduzir o tamanho tumoral,
e com isso facilitar a ressecção cirúrgica (GRACE, 2011). Também tem sido empregado como
forma de sensibilização previamente à terapia de radiação (KISSEBERTH, 2012) ou prevenção
de metástases (SKORUPSKI, 2016).
Em estudo conduzido por Martano et al. (2005), o uso da doxorrubicina pós-cirúrgica,
não interferiu no tempo livre de doença, nem na sobrevida global, quando comparado ao grupo
tratado apenas com cirurgia. Sua forma lipossomal não produziu uma melhor taxa de resposta,
comparada a doxorrubicina tradicional (POIRIER et al., 2002).
Recentemente, duas novas linhagens de células do sarcoma felino em sítio de injeção,
B4 e C10, foram desenvolvidas e a expectativa é que elas auxiliem bastante nas pesquisas sobre
a quimiorresistência. Em laboratório, o uso da doxorrubicina de forma isolada não apresentou
resultados clínicos relevantes na inibição dessas células. Porém, a associação de salinomicina
a essas novas linhagens, apresentou propriedades potencializadoras e/ou sinérgicas com a
doxorrubicina. Apesar dos resultados serem promissores, estudos que avaliem o mecanismo de
ação, toxicidade e dose tolerável da salinomicina em gatos, ainda são necessários (BORLLE et
al., 2019).
61
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
62
Capítulo 3. Atualização sobre os sarcomas em sítio de injeção em gatos
7 PREVENÇÃO
Figura 2: Desenho esquemático representando algumas das regiões atualmente recomendadas para a vacinação em
gatos (em verde). As áreas demarcadas de vermelho devem ter seu uso evitado para a aplicação de vacinas.
Fonte: SCHERCK et al. (2013).
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Cada paciente deve ser observado individualmente, com base nas informações do
animal, do ambiente, da densidade populacional e aos agentes infecciosos que o mesmo possa
estar exposto, de forma com que se trace o esquema vacinal ideal para cada indivíduo
(SCHERK et al., 2013). Ao mesmo tempo, o médico veterinário deve anotar o local e a data de
qualquer administração, e buscar variar o local de aplicação (DALECK et al. 2016). Os tutores
devem ser esclarecidos com relação aos riscos das doenças preveníveis por vacinação, a
obrigatoriedade da vacinação de alguns tipos de antígenos, e também à possibilidade do
desenvolvimento do sarcoma em sítio de injeção (KISSEBERTH, 2012).
Além disso, aplicações subcutâneas ou intramusculares de medicamentos devem ser
avaliadas quanto a sua verdadeira necessidade e benefício ao animal, frente o risco de
desenvolvimento do sarcoma em sítio de injeção, devendo sempre que possível o uso da via
oral (DALECK et al. 2016).
O exame eventual dos locais de aplicação deve ser ensinado e estimulado, de forma com
que se diagnostique precocemente qualquer alteração de volume que persista por mais de 3
meses; se houver o crescimento de uma massa maior que 2 cm no local, independente do tempo
de injeção; ou se a massa formada tem tido aumento menos após 1 mês após a aplicação
(SCHERK et al., 2013), visto que uma grande parte dos sarcomas em sítio de injeção ainda são
diagnosticados em estágios avançados, o que pode influenciar nas possibilidades terapêuticas e
prognóstico do animal (KLICZKOWSKA et al., 2015).
8 REFERÊNCIAS
BENTON, J. Z. et al. Gold nanoparticles enhance radiation sensitization and suppress colony
formation in a feline injection site sarcoma cell line, in vitro. Research in Veterinary
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
1
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: bia.giostri@gmail.com
2
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: leticiaazeredof@gmail.com
3
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: ligiaisabelle@gmail.com
4
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: yurialmeida03@gmail.com
5
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: marcos.zanini@ufes.br
6
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: fabiane.santos@ufes.br
69
Capítulo 4. Tripanossomatídeos de potencial zoonótico que acometem cães domésticos na América
Latina
1 INTRODUÇÃO
70
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
2016; BASSO et al., 2007; BASSO et al., 2016; CALDAS et al., 2019; GUEDES et al., 2002;
MAHMOUDVAND et al., 2015; SANTOS et al., 2012; SANTOS et al., 2016a).
Adicionalmente por participarem da mesma família evolutiva, os tripanossomatídeos
causadores da DC e Leishmanioses compartilham muitas características morfológicas e
estruturais, possibilitando o surgimento de reações cruzadas em determinados métodos
diagnósticos, de modo a necessitarem de maior atenção dos profissionais na divulgação dos
resultados e investimentos em pesquisas de testes metodológicos com maior especificidade
(DARIO et al., 2017; LUCIANO et al., 2009; MATOS et al., 2015; SOUZA et al., 2009).
71
Capítulo 4. Tripanossomatídeos de potencial zoonótico que acometem cães domésticos na América
Latina
72
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
73
Capítulo 4. Tripanossomatídeos de potencial zoonótico que acometem cães domésticos na América
Latina
3 CÃES
Os cães estão propensos às infecções naturais de acordo com o meio onde habitam,
comportamento alimentar como a ingestão de insetos e animais silvestres, exercício de
atividades de suporte aos serviços militares e policiais e de caça e também com o estilo de vida
dos proprietários. Os locais de maior risco são tanto a zona rural quanto a zona urbana, com
74
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
ênfase principalmente nas regiões próximas às matas como os parques e reservas naturais
(CARDINAL et al., 2018; CRUZ et al., 2010; GÜRTLER; CARDINAL, 2015; PORFIRIO et
al., 2018).
Neste contexto, a atribuição da função de sentinela aos cães que demonstram sinais
clínicos como reservatórios domésticos (sintomáticos e assintomáticos) para os
tripanossomatídeos podem colaborar na detecção dessas enfermidades na incidência e
prevalência da infecção humana (HALLIDAY et al., 2007). Visto que esses animais participam
do ciclo domiciliar e peridomiciliar do parasito, integrando uma ampla variedade de
ecorregiões, biótopos, espécies de flebotomíneos e triatomíneos (ANDRADE et al., 2015;
BARROSO et al., 2015; BEZERRA et al., 2014; CARVALHO et al., 2015; GÜRTLER;
CARDINAL, 2015; RENDÓN et al., 2015). Adicionalmente, os cães têm capacidade olfativa
aguçada e superior à humana, quando treinados são capazes de localizar colônias de
triatomíneos (MICHELETTI et al., 2016; ROLÓN et al., 2011). Contudo, o custo para a
inclusão dos animais nesta atividade é elevado (VAIDYANATHAN; FELDLAUFER, 2013).
75
Capítulo 4. Tripanossomatídeos de potencial zoonótico que acometem cães domésticos na América
Latina
76
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
4 REFERÊNCIAS
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
85
Capítulo 5. Infecções fúngicas multirresistentes: uma ameaça à saúde animal
Capítulo
86
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
Os fungos são organismos que oferecem muitos benefícios para a sociedade moderna
em função de sua utilização nas indústrias farmacêutica, de bebidas e de alimentos. Em
contraste, os patógenos fúngicos são ameaças emergentes para os seres humanos, animais,
plantas e insetos com potencial para causar mortalidade, morbidade e perda econômica. Surtos
associados a alterações antropogênicas do ambiente (mudanças climáticas e desastres naturais)
podem ocasionar doenças humanas, animais e vegetais (VERWEI et al., 2009).
O impacto dos patógenos fúngicos sobre a saúde animal é significativo. A crescente
resistência antifúngica é uma ameaça ao sucesso clínico e a propagação de espécies
multirresistentes é preocupante. Sendo assim, o uso racional dos antifúngicos e o conhecimento
dos mecanismos moleculares que governam a resistência dos patógenos fúngicos a tais
compostos é fundamental na prevenção da resistência.
Embora os mecanismos que conferem resistência e os fatores genéticos que influenciam
sua emergências sejam conhecidos, a resposta dos fungos ao estresse causa adaptação e
tolerância a drogas e pode comprometer a terapia com antifúngicos. Por outro lado, o
conhecimento atual dos mecanismos pelos quais a resistência às drogas antifúngicas evolui em
populações experimentais e em ambientes clínicos permite rever as opções atuais de tratamento
antifúngico e a discussão sobre estratégias promissoras para impedir a evolução da resistência
fúngica aos medicamentos. Ao lidar com a resistência a drogas antifúngicas como um problema
evolutivo, existe potencial para melhorar a utilidade dos tratamentos atuais e acelerar o
desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas (PERLIN; RAUTEMAA-RICHARDSON;
ALASTRUEY-IZQUIERDO, 2017).
O gênero Malassezia inclui doze espécies de leveduras lipofilicas, muitas das quais são
associadas principalmente a doenças humanas e caninas. Malassezia pachydermatis é
encontrada colonizando a pele e as mucosas de cães e gatos saudáveis. Apesar de fazer parte da
microbiota cutânea normal, Malassezia spp. podem se tornar patogênica sob certas
circunstâncias (CAFARCHIA; OTRANTO, 2008).
87
Capítulo 5. Infecções fúngicas multirresistentes: uma ameaça à saúde animal
As leveduras Malassezia foram classificadas em pelo menos 14 espécies, das quais oito
foram isoladas da pele humana, incluindo Malassezia furfur, Malassezia pachydermatis,
Malassezia sympodialis, Malassezia slooffiae, Malassezia globosa, Malassezia obtusa,
Malassezia restrita, Malassezia dermatis, Malassezia japonica e Malassezia yamatoensis
(PROHIC, et al., 2016)
A patogenicidade de cepas de Malassezia spp está relacionada ao sistema imunológico
do hospedeiro. Alterações destes mecanismos de defesa podem levar ao aumento ou redução
da regulação genômica e proteômica dos microrganismos refletindo na produção de fatores de
virulência ou antígenos (CAFARCHIA; OTRANTO, 2008).
Malassezia pachydermatis é uma levedura lipofílica que coloniza o estrato córneo e os
locais das mucosas dos cães. Condições de crescimento favoráveis no ambiente local permitem
a multiplicação excessiva deste organismo, que pode então funcionar como um patógeno
oportunista secundário. Os cães podem apresentar otite por Malassezia, dermatite (localizada
ou generalizada) ou ambas. Os sinais clínicos são variáveis e incluem eritema, alopecia, prurido
leve a severo, exsudação gordurosa e descamação. Lesões secundárias incluem escoriações,
liquenificação, hiperpigmentação e exsudação. Em casos generalizados, um odor rançoso é
comumente relatado (CHEN; HILL; PETER, 2005).
A resistência dos fungos aos azóis pode ser causada por alterações na biossíntese de
esteróis (mutações na enzima alvo do fármaco, diminuindo a afinidade da enzima pelo
fármaco), pela expressão aumentada do gene alvo (ERG11) que codifica esta enzima ou pelo
aumento do efluxo, por exemplo, pela superexpressão de genes que codificam proteínas de
membrana das transportadoras do transportador ABC (CDR1 / CDR2) (KANO, 2018).
88
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
89
Capítulo 5. Infecções fúngicas multirresistentes: uma ameaça à saúde animal
diferem geneticamente e também em virulência, nem todas as espécies são equivalentes em sua
distribuição geográfica e capacidade de causar doença.
H. capsulatum também são fungos termicamente dimorficos, que apresentam sua forma
patogênica de leveduras unicelulares a 37 ˚C e sua forma saprófita de hifas multicelulares a
25 ˚C (BOYCE; ANDRIANOPOULOS, 2015).
Os morcegos têm sido associados ao crescimento da histoplasmose há muitos anos,
esses animais abrigam o fungo que podem ser isolados de suas fezes e de outros tecidos.
Entretanto, surtos em humanos ou animais domésticos, como cães são freqüentemente
identificados (DEEPE JR, 2018). Essa é a micose sistêmica mais comumente diagnosticada em
cães é a segunda infecção fúngica mais comumente relatada em gatos (LIN BLACHE; RYAN;
ARCENEAUX, 2011). A infecção ocorre pela inalação de conídios a partir da fase de micélio,
que posteriormente se converte na forma de levedura. A infecção pode ser disseminada,
subclínica ou causar doença pulmonar granulomatosa clínica. Sinais gastrintestinais também
podem ocorrer principalmente em cães (BRÖMEL; SYKES, 2005).
O itraconazol é o antifúngico de escolha para os tratamentos de histoplasmose
(LINBLACHE; RYAN; ARCENEAUX, 2011), entretanto falhas do tratamento já foram
relatadas (AULAKH et al., 2012; WILSON et al., 2018).
90
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
animais, dependendo das condições as quais são submetidos (MATTEI; BEBER; MADRID,
2014).
Em animais domésticos como cães, gatos, coelhos e outros roedores, os dermatófitos
são frequentemente isolados de infecções de pele. Mas é importante ressaltar que,
principalmente em regiões tropicais e subtropicais, onde temperatura e umidade são maiores e
favorece o crescimento fúngico, alguns animais podem ser portadores assintomáticos, e por
isso, fontes de infecção para os proprietários, destacando o potencial zoonótico das
dermatofitoses (MATTEI; BEBER; MADRID, 2014; PAL; MAHENDRA, 2017).
Existem mais de 30 espécies de dermatófitos que pertencem a três gêneros:
Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton. Microsporum spp e Trichophyton spp são os
principais agentes etiológicos de micoses superficiais em animais (BOND, 2010), sendo
Microsporum canis definida como a espécie mais isolada de infecções em cães e gatos (PAL;
MAHENDRA, 2017). Dentre as raras infecções animais por espécies antropofílicas, se
destacam aquelas causadas por Epidermophyton floccosum e Trichophyton tonsurans (BOND,
2010). M. gypseum, M. persicolor, T. equinum, T. erinacei, T. mentagrophytes, T. rubrum, T.
tonsurans e T. verrucosum são espécies de dermatófitos já isoladas de infecções em cães e gatos
e outros animais, como cavalos, roedores e ruminantes. Animais de estimação exóticos, como
porcos, coelhos e chinchilas podem ser portadores assintomáticos ou apresentar infecção
principalmente por T. mentagrophytes var. mentagrophytes e Microsporum spp (MATTEI;
BEBER; MADRID, 2014).
O tratamento tópico consiste no uso de xampus, cremes, géis ou soluções contendo
enilconazol, clotrimazol ou uma combinação de miconazol com clorexidina (que
separadamente são pouco efetivos) (PERRINS; BOND, 2003). Os antifúngicos sistêmicos mais
usados são itraconazol, cetoconazol, fluconazol, terbinafina e griseofulvina, sendo itraconazol
e terbinafina considerados os mais eficazes. Os demais apresentam maior potencial para causar
efeitos adversos (MORIELLO et al., 2017). Lufenuron é outro fármaco que já foi sugerido para
o tratamento das dermatofitoses em animais, porém, estudos mostraram que este não exerce
atividade inibitória in vivo ou in vitro, e, portanto, seu uso como antifúngico é questionável e
não aconselhado (ZUR; ELAD, 2006).
91
Capítulo 5. Infecções fúngicas multirresistentes: uma ameaça à saúde animal
92
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
fluconazol, itraconazol, voriconazol, entre outros (SIDRIM; ROCHA, 2004). O modo de ação
da anfotericina B e dos compostos azólicos (principalmente fluconazol, itraconazol e
cetoconazol) tem como alvo a membrana celular fúngica, onde polienos ligam-se ao ergosterol,
presente na membrana dos fungos susceptíveis, formando poros, o que resulta na
permeabilidade exacerbada da membrana (Figura 1). Em consequência, ocorre o
extravasamento de moléculas, levando à morte celular (GOODMAN; GILMAN, 1996).
93
Capítulo 5. Infecções fúngicas multirresistentes: uma ameaça à saúde animal
6.1 AZÓIS
94
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
6.2 POLIENOS
95
Capítulo 5. Infecções fúngicas multirresistentes: uma ameaça à saúde animal
6.3 GRISEOFULVINA
6.4 ALILAMINAS
96
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
6.5 EQUINOCANDINAS
97
Capítulo 5. Infecções fúngicas multirresistentes: uma ameaça à saúde animal
98
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
9 AGRADECIMENTOS
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104
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
105
Capítulo 6. Patógenos de importância zoonótica em populações de mamíferos silvestres
1 INTRODUÇÃO
106
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
2.1 Leishmania
107
Capítulo 6. Patógenos de importância zoonótica em populações de mamíferos silvestres
108
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
com os marsupiais e roedores, deixando claro que o ciclo de T. cruzi varia de acordo com o
ambiente e diversidade de hospedeiros (VAZ, 2006).
3.1 Lyssavirus
109
Capítulo 6. Patógenos de importância zoonótica em populações de mamíferos silvestres
O HEV é um vírus de RNA de fita simples não envelopado (BOADELLA, 2015) que
apresenta pelo menos quatro genótipos conhecidos por infectar seres humanos. Os genótipos 1
e 2 foram identificados apenas em seres humanos e são responsáveis pela maioria dos surtos
nos países em desenvolvimento (LU; LI; HAGEDORN, 2006). Acredita-se que os genótipos 3
e 4 estejam envolvidos na transmissão zoonótica e tenham sido isolados de suínos (porcos
domesticados e javalis), veados, mangustos, coelhos, bovinos e humanos (MENG, 2010). Cepas
adicionais não conhecidas por infectar seres humanos também foram identificadas em ratos e
galinhas, e a diversidade genética do HEV está apenas começando a ser entendida. O papel dos
roedores selvagens (Rattus spp.) como reservatórios na epidemiologia e transmissão de HEV
não são claros, mas sua onipresença em ambientes urbanos e propensão inigualável para
transportar patógenos zoonóticos os tornam alvo óbvio de investigação (LACK; VOLK;
BUUSCHE, 2012).
O vírus da hepatite E (HEV) está entre as principais causas de hepatite aguda em países
em desenvolvimento, representando importante problema de saúde pública em relação aos
casos de hepatite viral aguda transmitido entericamente, em que os surtos surgem mais
frequentemente por meio da contaminação fecal ou após alagamentos, devido água e alimentos
contaminados (AGGARWAL, 2011). Além disso, a transmissão zoonótica de HEV por meio
do consumo de carne de veado (Muntiacus reevesi) malcozida foi confirmada (YAZAKI et al.,
2003), e a detecção de HEV em muitos hospedeiros mamíferos, em especial os silvestres, sugere
110
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
o potencial para múltiplas fontes zoonóticas de infecção por HEV em países industrializados
(MENG, 2010).
Entretanto, há ausência de estudos ligando a vida selvagem com os humanos e poucos
dados sobre a ecologia da população selvagem estão disponíveis, o que dificulta a identificação
de fatores de risco para HEV. Em todo o mundo, há vários casos humanos de infecções por
HEV, mas o conhecimento sobre o consumo de animais silvestres infectados e a doença clínica
em humanos é em grande parte carente (BOADELLA, 2015). Enquanto isso, a prevenção
baseada no congelamento de carnes de javali e veado, uma vez que previne a infecção pelo
HEV, e a conscientização dos profissionais expostos, por exemplo, criadores de porcos,
veterinários e caçadores, podem ajudar a prevenir a infecção pelo HEV (CARPENTIER et al.,
2012).
3.3 Hantavírus
111
Capítulo 6. Patógenos de importância zoonótica em populações de mamíferos silvestres
Mamoré (MELO, 2017). Diversos roedores são apontados no Brasil como os principais
reservatórios dos vírus causadores da síndrome cardiopulmonar em humanos, são eles de
acordo com o Ministério da Saúde (2013), Necromys lasiurus, Oligoryzomys utiaritensis,
Calomys aff. callosus, Akodon montensis e Holochilus sciurus.
112
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
113
Capítulo 6. Patógenos de importância zoonótica em populações de mamíferos silvestres
114
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
115
Capítulo 6. Patógenos de importância zoonótica em populações de mamíferos silvestres
6 AGRADECIMENTOS
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Capítulo 6. Patógenos de importância zoonótica em populações de mamíferos silvestres
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120
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
121
Capítulo 7. Parâmetros eletrocardiográficos nas sobrecargas atrioventriculares e marcadores
precoces de arritmia – revisão de literatura
1 INTRODUÇÃO
122
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
O ECG deve sempre ser utilizado como auxílio diagnóstico em todos os animais
cardiopatas ou com forte suspeita. Apesar de ser utilizado principalmente na detecção de
arritmias, o ECG fornece informações indiretas a respeito das alterações morfológicas das
câmaras cardíacas (TILLEY; SMITH, 2008).
As hipertrofias das câmaras cardíacas podem ser consideradas, de modo genérico, como
concêntricas e excêntricas. Nas hipertrofias concêntricas ocorre aumento de massa ventricular
decorrente do aumento da espessura da parede e redução dos diâmetros cavitários. Tal condição
surge em decorrência de um aumento de resistência à ejeção ou à sobrecarga de pressão
(aumento da pós-carga). Nas hipertrofias excêntricas ocorre um aumento de massa ventricular
e da espessura da parede ventricular, mas com aumento dos diâmetros cavitários. Esta condição
surge em decorrência da sobrecarga de volume (aumento da pré-carga) (WARE, 2015).
Uma vez que várias condições associadas são responsáveis pelas alterações de ondas no
traçado eletrocardiográfico, tais como dilatação, hipertrofia, atraso na condução, aumento da
pressão e redução da distensibilidade de câmaras cardíacas, o termo “anormalidade” tem sido
aplicado em detrimento de outros como hipertrofia, strain, sobrecarga ou atraso na condução.
Essa é a recomendação da International Society For Computerized Electrocardiography. No
entanto, a Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos
Eletrocardiográficos utiliza o termo “sobrecarga” para estas alterações (FURTADO, 2012;
PASTORE et al., 2016).
Dentre os principais parâmetros eletrocardiográficos avaliados na detecção de
sobrecargas atriais estão a duração e amplitude de onda P, índice de Macruz, eixo de onda P e
área de P (FURTADO, 2012; SOTO-BUSTOS et al., 2017). Para a avaliação de sobrecarga
ventricular são utilizados o critério de Cornell, eixo e polaridade do complexo QRS, amplitude
de onda R e S e polaridade da onda T (PASTORE et al., 2016; PELLEGRINO et al., 2016;
SOTO-BUSTOS et al., 2017).
123
Capítulo 7. Parâmetros eletrocardiográficos nas sobrecargas atrioventriculares e marcadores
precoces de arritmia – revisão de literatura
uma onda maior que 40 milissegundos (ms) para felinos e cães de pequeno e médio porte, sendo
que em cães de grande porte esse valor pode ultrapassar 50 ms (PASTORE et al., 2016;
TILLEY, 1992). Aumento na duração de onda P foram identificados em estudos avaliando a
SAE de cães e gatos (PELEGRINO et al., 2016; SOTO-BUSTOS et al., 2017).
Por ser uma alteração frequentemente registrada nas alterações da valva mitral, como a
doença valvar crônica de mitral (DVCM), o aumento de duração desta onda recebe o nome de
onda P mitrale. Algumas cardiopatias congênitas, como estenose aórtica e persistência do ducto
arterioso, também podem exibir P mitrale no traçado eletrocardiográfico. Associado ao
aumento de duração da onda P, esta pode apresentar um entalhe, que em alguns casos, é
atribuído à distúrbios de condução do nodo sinusal ao nodo atrioventricular (FILIPPI, 2011;
PASTORE et al., 2016).
O desvio de eixo médio de onda P para esquerda é um dos parâmetros que sugere
aumento do átrio esquerdo (AE), sendo calculado da mesma forma que o eixo médio do
complexo QRS (FILIPPI, 2011). Apesar deste tema ser pouco descrito na literatura, em um
estudo com cães em decúbito lateral direito, comparou-se registros eletrocardiográficos obtidos
pelos métodos convencional e computadorizado e observou valores maiores do eixo de P no
método computadorizado (WOLF; CAMACHO; SOUZA, 2000). Outro estudo determinou o
eixo de onda P na avaliação de cães diagnosticados com DVCM e verificaram baixa
sensibilidade e especificidade desta medida na detecção de SAE (SOTO-BUSTOS et al., 2017).
Este mesmo resultado foi observado em humanos, quando compararam o eixo médio de P com
técnicas de alta precisão como o ECO e ressonância magnética (LEE et al., 2007; TSAO et al.,
2008).
Outros parâmetros avaliados na detecção de SAE são a área de onda P e o Índice
Macruz, ambos realizados na derivação II. A área de onda P é avaliada por meio do produto
entre a amplitude de P e metade da duração de P. O índice de Macruz é descrito como a relação
da duração de P e duração do segmento PR (FURTADO, 2012; SOTO-BUSTOS et al., 2017).
Apesar de descritos com frequência em humanos, relatou-se apenas um único estudo na
medicina veterinária que comparou cães saudáveis com cães afetados pela DVCM, onde
verificou-se um aumento significativo nos valores destes parâmetros em cães no estágio B2 da
doença, indicando que estes parâmetros são sugestivos de SAE, embora sua ausência não exclua
o aumento de AE (SOTO-BUSTOS et al., 2017).
A área do componente negativo final da onda P (amplitude x duração), medido na
derivação CV5RL, onde a onda P geralmente é bifásica, constitui o índice de Morris (MORRIS
124
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
et al., 1964). É um parâmetro muito utilizado na medicina humana, sendo que uma fase negativa
terminal de P com área maior que 4 milivolts por segundo (mV/s) caracteriza uma SAE em
humanos (Figura 1) (FURTADO, 2012; LEE et al., 2007; PASTORE et a., 2016; TSAO et al.,
2008).
Na sobrecarga atrial direita (SAD), a onda P apresenta maior voltagem na derivação II,
sendo maior que 0,4 mV em cães de raças pequenas, e maior que 0,5 mV em cães de raças
grandes. Nos gatos, observa-se uma onda P maior que 0,2 mV (TILLEY, 1992).
Em humanos, complexos do tipo qR, qRs, QR e Qr, na derivação precordial V1, é um
sinal indireto de SAD, na ausência de fibrose miocárdica (PASTORE et al., 2016; SODI-
PALLARES; BISTENI; HERMAMM, 1962). Outro sinal indireto de SAD avaliado na
medicina humana é a presença de complexos QRS de baixa voltagem na V1, nitidamente visível
quando comparado com os complexos QRS das outras derivações. Acredita-se que a baixa
voltagem do complexo QRS nesta derivação seja devida à interposição da câmara atrial direita
hipertrofiada. O desvio de eixo elétrico de onda P para direita e o índice de Macruz também são
indicativos deste tipo de sobrecarga (PASTORE et al., 2016; PENALOZA-TRANCHEZI,
1972).
Na sobrecarga biatrial pode ser observada a associação dos achados eletrocardiográficos
de sobrecarga atrial esquerda e direita (FILIPPI, 2011; FURTADO, 2012).
125
Capítulo 7. Parâmetros eletrocardiográficos nas sobrecargas atrioventriculares e marcadores
precoces de arritmia – revisão de literatura
126
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
127
Capítulo 7. Parâmetros eletrocardiográficos nas sobrecargas atrioventriculares e marcadores
precoces de arritmia – revisão de literatura
quando esta onda apresentar em cães, valores superiores à 0,35 mV na derivação II; 0,8 mV na
CV6LL e/ou 0,7 mV na CV6LU. Pode-se observar uma onda S profunda nas derivações II, III
e em aVF, em alguns casos, esta onda pode estar maior que a R em CV6LL (TILLEY, 1992;
WARE, 2015). A razão entre onda R e S menor que 0,87 na CV6LU também é sugestivo de
SVD (FILIPPI, 2011).
O complexo QRS em formato de “W” (Figura 2) é um dos achados que pode ocorrer
neste tipo de sobrecarga. A onda T positiva na V10 também é uma alteração descrita na SVD,
exceto nos cães da raça Chihuahua em que isto pode ocorrer de forma fisiológica (TILLEY;
SMITH, 2008; WARE, 2015).
Figura 2: Esquema eletrocardiográfico representativo de um cão com complexo QRS em forma de W em aVL,
apontado pela seta. Velocidade: 25 mm/s, amplitude N.
Fonte: Arquivo pessoal (2018).
128
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
129
Capítulo 7. Parâmetros eletrocardiográficos nas sobrecargas atrioventriculares e marcadores
precoces de arritmia – revisão de literatura
de arritmias (TSE; YAN, 2016). Marcadores baseados nestas anormalidades incluem a duração
do complexo QRS e a dispersão do QRS (QRSd) (TSE; YAN, 2016).
A duração do QRS avalia a velocidade de condução, medida no intervalo entre o início
e o fim do complexo QRS, medido nas derivações II, CV6LL e CV6LU (KURL et al., 2012).
Ao passo que a QRSd avalia a diferença na velocidade de condução entre duas regiões
miocárdicas por meio da diferença máxima entre a duração do QRS na CV5RL e CV6LU
(PETERS; PETERS; THIERFELDER, 1999).
Em humanos com cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito foram reportadas
diferenças significativas nestes parâmetros quando comparados com pessoas saudáveis. Além
disso, a QRSd revelou-se um forte preditor de morte súbita cardíaca (PETERS; PETERS;
THIERFELDER, 1999). Resultados semelhantes foram observados em outros estudos
realizados em pessoas com cardiomiopatia hipertrófica (BIAGINI et al., 2016; BONGIOANNI
et al., 2007; HAGHJOO et al., 2009; OSTMAN-SMITH et al., 2009).
A repolarização cardíaca é dependente do processo de abertura e fechamento dos canais
iônicos localizados na membrana plasmática, sendo mediada pelos influxos e efluxos
transmembrana dos íons. Este mecanismo determina a duração do intervalo QT, que varia com
a FC média e, por esse motivo, deve-se realizar a correção do intervalo QT com base no valor
da FC, determinando-se, assim, o QT corrigido (QTc) (TSE; YAN, 2016; WARE, 2015). O
prolongamento e a instabilidade do intervalo QT são descritos como preditores de arritmias
ventriculares em humanos (BADRAN et al., 2011; DEBONNAIRE et al., 2015; OSTMAN-
SMITH et al., 2009) e animais (BRÜLER et al., 2018; ROMITO et al., 2018; VAN DER LINDE
et al., 2005; WARE et al., 2015).
Var der Linde et al. (2005) propuseram um método para o cálculo de instabilidade total,
instabilidade de curto e longo prazo dos intervalos QT a partir de traçados do ECG de cães
anestesiados, refletindo a instabilidade da repolarização. A metodologia deste estudo permitiu
não só determinar a presença, mas também quantificar a instabilidade por meio destes três
diferentes marcadores de dinâmica de repolarização.
Este método foi utilizado posteriormente em cães com DVCM, em que o prolongamento
e a instabilidade do intervalo QT tiveram relação significativa com o desenvolvimento de
arritmias ventriculares, sendo que a instabilidade de QT foi maior em estágios mais avançados
da doença, período em que os animais são mais susceptíveis a desenvolver arritmias; e o
prolongamento do intervalo QT apresentou diferença significativa entre os estágios B1 e B2 da
130
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
131
Capítulo 7. Parâmetros eletrocardiográficos nas sobrecargas atrioventriculares e marcadores
precoces de arritmia – revisão de literatura
Figura 3: Esquema eletrocardiográfico representativo das medidas eletrocardiográficas Tpico-Tfinal (A), JT (B) e
JTpico (C).
Fonte: Arquivo pessoal (2018).
132
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
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137
Capítulo 8. Achados eletrocardiográficos nas principais cardiopatias adquiridas em cães e gatos –
revisão de literatura
Capítulo
138
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
Dentre as principais doenças cardíacas adquiridas em cães e gatos estão a doença valvar
crônica de mitral (DVCM), cardiomiopatia dilatada (CMD), cardiomiopatia hipertrófica
(CMH), cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito (CMAVD) e efusão pericárdica
(EP) (BAUMGARTNER; GLAUS, 2004), seguem os achados eletrocardiográficos em cada
uma delas.
139
Capítulo 8. Achados eletrocardiográficos nas principais cardiopatias adquiridas em cães e gatos –
revisão de literatura
140
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Figura 1: Esquema eletrocardiográfico representativo de um cão com entalhe no complexo QRS. As setas apontam
para o entalhe na onda R na derivação III. Ajuste de calibração 10 mm/mV. Velocidade do papel 50 mm/s.
Fonte: Winter; Bates (2018).
Cães acometidos pela DCVM podem apresentar ritmo sinusal, contudo é comum a
presença de taquicardia sinusal, que ocorre como resposta do coração para repor o equilíbrio
hemodinâmico alterado pela diminuição do débito cardíaco provocado pela ICC consequente à
DCVM (WARE, 2015). Além disso, pode-se observar uma relação inversa entre a sobrecarga
atrial esquerda (SAE) e a presença de arritmia sinusal respiratória, como observado em um
estudo com cães da raça Cavalier King Charles Spaniel, que concluiu que o desaparecimento
da variação fisiológica da FC ocorre com o aumento da gravidade da doença e paralelamente
ao aumento da FC (RASMUSSEM et al., 2011).
141
Capítulo 8. Achados eletrocardiográficos nas principais cardiopatias adquiridas em cães e gatos –
revisão de literatura
A CMD é uma doença miocárdica primária progressiva que resulta em dilatação das
câmaras cardíacas e disfunção sistólica, muitas vezes levando à ICC e óbito (SIMPSON et al.,
2015). Sem nenhuma causa conhecida, esta doença afeta principalmente raças grandes e
gigantes, porém, também pode estar presente em raças menores. Dentre as raças mais
predispostas encontram-se o Doberman Pinscher (WESS et al., 2017), mas já descrita nas raças
Boxer, Dogue Alemão, São Bernardo, Deerhound Escocês, Cocker Spaniel, Wolfhound
Irlandês, Labrador Retriever, Terra Nova e Buldogues (WARE, 2015).
Conforme a função de bomba sistólica e o débito cardíaco se agravam, e os mecanismos
compensatórios são ativados, ocorre dilatação progressiva da câmara cardíaca
(remodelamento). Esses mecanismos aumentam a FC, a resistência vascular periférica e a
142
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
retenção de volume. A perfusão coronariana pode ser comprometida pelo baixo fluxo sanguíneo
anterógrado e pela pressão ventricular diastólica elevada. Além disso, a isquemia miocárdica
compromete a função miocárdica e predispõe ao desenvolvimento de arritmias. Manifestações
clínicas devido a diminuição no débito cardíaco e ICC direita ou esquerda são comuns em cães
com a doença (BORGARELLI et al., 2001).
No ECG, pode se observar um aumento da duração da onda P e do complexo QRS, estas
alterações são sugestivas de sobrecarga de AE e VE, respectivamente. A amplitude da onda R
pode estar aumentada, normal ou ainda apresentar-se reduzida (WARE, 2015). Uma onda R
maior que 3,0 mV na derivação II é um indicativo de sobrecarga do VE, contudo, se apresentar
baixa voltagem pode ser sugestiva de efusão pleural (TILLEY; SMITH, 2008). Esta baixa
voltagem das ondas R em consequência de uma degeneração miocárdica global pode ocorrer
nos estágios mais avançados da doença (FILIPPI, 2011). A depressão no segmento ST pode
estar associada a isquemia miocárdica ou a insuficiência cardíaca (WARE, 2015).
Apesar da CMD ser pouco descrita em raças de pequeno e médio porte, em cães da raça
Cocker Spaniels já foram descritos aumento da amplitude de onda R, infradesnível do segmento
ST, maior profundidade de onda Q e aumento de duração do complexo QRS (PEREIRA et al.,
2004). O traçado eletrocardiográfico pode também apresentar padrão de bloqueio de ramo ou
outro distúrbio de condução intraventricular (FILIPPI, 2011; WARE, 2015).
Pode-se encontrar uma taquicardia sinusal devido ao elevado nível de catecolaminas
circulantes que aumentam a condutividade do nodo atrioventricular. Em cães com CMD,
verificou-se uma FC média de 175 batimentos por minuto (bpm), sendo que em animais que já
estavam em um estágio avançado de insuficiência cardíaca, esse valor foi ainda mais elevado
(MARTIN; STAFFORD JOHNSON; CELONA, 2009).
A FA é identificada com frequência em cães com CMD e geralmente surge
repentinamente com os sintomas clínicos, acredita-se que isto ocorra pelo fato de que os animais
se encontram em uma fase compensada da doença, também conhecida como fase oculta, e o
desenvolvimento da FA desencadeia uma descompensação e aparecimento dos sinais clínicos.
Contudo, esta alteração pode permanecer no animal afetado como uma arritmia subclínica,
sendo tolerada de meses a anos antes do desenvolvimento da ICC (BORGARELLI et al., 2001;
O’GRADY; O’SULLIVAN, 2004).
Os CVPs são comumente documentados em animais com CMD. Para esta alteração,
assume-se que o monitoramento por Holter de 24 horas torna-se útil no registro de CVPs
frequentes e vem sendo empregado principalmente como ferramenta de rastreamento da doença
143
Capítulo 8. Achados eletrocardiográficos nas principais cardiopatias adquiridas em cães e gatos –
revisão de literatura
em Doberman Pinschers, já que esta raça apresenta uma forma mais grave da doença e provável
caráter hereditário. Acredita-se que para esta raça, valores menores que 50 CVPs isolados em
24 horas são considerados normais e os valores entre 50 e 300 CVPs por 24 horas é uma
evidência para desenvolvimento de CMD oculta (WESS et al., 2017).
144
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
145
Capítulo 8. Achados eletrocardiográficos nas principais cardiopatias adquiridas em cães e gatos –
revisão de literatura
146
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
147
Capítulo 8. Achados eletrocardiográficos nas principais cardiopatias adquiridas em cães e gatos –
revisão de literatura
3 REFERÊNCIAS
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Capítulo 8. Achados eletrocardiográficos nas principais cardiopatias adquiridas em cães e gatos –
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Capítulo 8. Achados eletrocardiográficos nas principais cardiopatias adquiridas em cães e gatos –
revisão de literatura
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152
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
153
Capítulo 9. Caracterização de metodologias aplicadas no estudo bioquímico e sistemático de
Pseudosuccinea columela (Mollusca: Gastropoda) (Say, 1817)
1 INTRODUÇÃO
Figura 1: (A) Morfologia externa de Pseudosuccinea columella. (B) Conjunto anatômico dos órgãos de P.
columella e a concha que recobria os tecidos, da esquerda para a direita.
Fonte: Os autores.
154
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Figura 2: Morfologia interna reprodutiva de Pseudosuccinea columella, com a glândula de albúmen evidenciada
pela sigla gla, e estruturas anexas dos órgãos reprodutores do molusco.
Fonte: UETA, 1977.
155
Capítulo 9. Caracterização de metodologias aplicadas no estudo bioquímico e sistemático de
Pseudosuccinea columela (Mollusca: Gastropoda) (Say, 1817)
2 METODOLOGIA
156
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Glândula
albuminosa
Massa
cefalopediosa
Glândula digestiva
Figura 3: Fotografia de macroconjunto dos órgãos de Pseudosuccinea columella, com esquemas diferenciando as
principais estruturas encontradas.
Fonte: Os autores.
157
Capítulo 9. Caracterização de metodologias aplicadas no estudo bioquímico e sistemático de
Pseudosuccinea columela (Mollusca: Gastropoda) (Say, 1817)
de glicose livre é estabelecida a partir da utilização de kits para diagnóstico laboratorial, para
isto, faz necessário a obtenção de uma alíquota de 10µl de hemolinfa, relativo a cada grupo
experimental. Adiciona-se ao volume inicial, 1 ml do reagente de cor, composto por: solução
tampão de fosfato 0,05M, pH 7,45±0,1; aminoantipirina (0,03mM) e 15mM de p-
hidroxibenzoato de sódio; um mínimo de 12kU de glicose oxidase e 0,8 kU de peroxidase por
litro, sequencialmente, a determinação sérica de glicose é medida por meio da leitura em
espectrofotômetro, com absorvância máxima em 510 nm, utilizando uma solução aquosa de
100mg/dl (PINHEIRO; GOMES, 1994).
A mensuração da atividade da lactato desidrogenase na hemolinfa de moluscos
hospedeiros, é estabelecida por meio de uma sequência de reações químicas que resultam em
um complexo corado. Para a ocorrência destas reações, mistura-se 1ml de solução de substrato
(solução 0,1M de lactato, 0,005M de o-fenantrolina em Tris 0,2M pH 8,8) adicionados a uma
gota de solução 0,012M de sulfato de ferro amoniacal (alúmen férrico) e 25µl de amostra. A
solução resultante é submetida a 37ºC por 2 minutos, em seguida acrescenta uma gota de
solução contendo NAD (15,82 mmol de nicotinamida adenina dinucleotídeo) e FMS (3,73mmol
de fazina metassulfato). A solução final será novamente homogeneizada e incubada por 5
minutos a 37°C, onde a absorbância será lida em espectrofotômetro em 510nm, padronizada
por uma solução de LDH 350 U.I/l (BISHOP; ELLIS; BURCHAM, 1983).
Já a determinação das concentrações séricas de ácido úrico se fará a partir de uma
alíquota de 50 µl da amostra (hemolinfa), esta deve adcionada a 2ml da solução do reagente de
cor, composta por tampão fosfato de sódio 100mmol/l (pH 7,8) contendo 4mmol/l diclorofenol-
sulfonato, 4- aminoantipirina 0,5 mmol/l, 120U≤ uricase, 4,980U≤ ascorbato oxidase, 1.080U≤
peroxidade. Em seguida, procede a homogeneização e incubação da solução resultante a 37ºC
durante 5 minutos. Por sua vez, a concentração hemolinfática de ureia é estabelecida pela adição
de 2 ml de solução composta por 60 mmol de salicilato de sódio, nitroprussiato de sódio, 34
mmol, mais EDTA dissódico 1,35 mmol, em 2 µl de urease e 20 µl de hemolinfa. As leituras
são a partir de espectrofotômetro a 520 nm e 600nm de absorvância, respectivamente tendo os
resultados expressos em mg/dl (BISHOP; ELLIS; BURCHAM, 1983; CONNERTY; BRIGGS;
EATON, 1955).
As atividade enzimática da alanina e aspartato aminotransferases (ALT e AST) serão
obtidas a partir da incubação prévia a 37ºC durante 5 minutos da solução reagente composta
por L-alanina a 0,2M ou L-aspartato a 0,2M, mais α-cetoglutarato e tampão fosfato de sódio a
0,1M pH 7,4, em seguida, 100µl (para ALT) e 200µL (para AST) de hemolinfa são
158
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
159
Capítulo 9. Caracterização de metodologias aplicadas no estudo bioquímico e sistemático de
Pseudosuccinea columela (Mollusca: Gastropoda) (Say, 1817)
2.1.3.2 Histologia
160
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
métodos de coloração tecidual que poderão ser utilizados para o estudo histopatológico em
moluscos gastrópodes, dentre os quais destacam-se: o método da hematoxilina e eosina (Figura
4), tricrômico de Masson, tricromo de Gomori, coloração especial com o ácido Periódico de
Schiff (PAS) e método de Von Kossa.
Figura 4: Fotomicrografia de histologia dos tecidos de Pseudosuccinea columella com coloração HE, evidenciando
a glândula de albúmen (GA), glândula digestiva (GD) e suas respectivas medições nas imagens, A- Barra 460.53
µm; B- Barra 162.79 µm C- Barra 40.70 µm, para GA e D- Barra 388.89 µm; E- Barra 162.79 µm; F- Barra 40.70
µm, para GD.
Fonte: Os autores.
162
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
163
Capítulo 9. Caracterização de metodologias aplicadas no estudo bioquímico e sistemático de
Pseudosuccinea columela (Mollusca: Gastropoda) (Say, 1817)
3 CONCLUSÃO
4 REFERÊNCIAS
164
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
KAPLAN, L. A.; PESCE, A. J. Clinical chemistry, Thirdth ed. Mosby, St. Lous, 1996.
165
Capítulo 9. Caracterização de metodologias aplicadas no estudo bioquímico e sistemático de
Pseudosuccinea columela (Mollusca: Gastropoda) (Say, 1817)
166
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
10
167
Capítulo 10. Palatabilidade e aceitabilidade de medicamentos de uso oral por cães e gatos
1 INTRODUÇÃO
168
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
169
Capítulo 10. Palatabilidade e aceitabilidade de medicamentos de uso oral por cães e gatos
presença de grupamentos hidroxila (OH) nos açúcares, glicóis, álcoois, aldeídos, cetonas,
amidas e ésteres, principalmente. Alguns aminoácidos, pequenas proteínas, ácidos sulfônicos,
ácidos halogenados e sais inorgânicos de chumbo e berílio também produzem dulçor. Já os
compostos orgânicos nitrogenados são os principais responsáveis pelo sabor amargo. Por fim,
o sabor umami é relacionado à presença do aminoácido L-glutamato. O gosto metálico, alcalino,
adstringente, refrescante e ardente são considerados sabores secundários (HUANG et al., 2006;
STRAPASSON et al., 2011).
De maneira geral, cães e gatos não possuem preferência pelo sabor salgado em função
do baixo número de receptores sensoriais para este gosto ao longo da língua. Os gatos possuem
elevada capacidade de detectar a presença de aminoácidos, inclusive, L-glutamato, o que
favorece a preferência dos sabores doce e umami. Já os cães têm uma preferência pelo sabor
doce quando comparado aos demais. Ambas as espécies são sensíveis ao sabor amargo, sendo
este preferido pelos gatos quando comparado ao sabor ácido. Cabe ressaltar que a percepção
acentuada do amargor evita a ingestão de substâncias tóxicas presentes em determinadas
plantas, uma vez que estas são frequentemente amargas (HUANG et al., 2006; HU; SHI, 2013;
MOLYNEUX; RALPHS, 2007; SHANG et al., 2017; THOMPSON; DAVIDOW, 2013;
WATSON, 2011). Estudos apontam que a presença de ácidos graxos também pode ser
percebida quimicamente pelas células gustativas, desempenhando papel diferencial na
palatabilidade (MIZUSHIGE; INOUE; FUSHIKI, 2007). Além dos fatores fisiológicos, o
hábitos alimentar dos tutores pode influenciar na preferência e aceitação dos sabores
(GOUVÊA et al., 2018).
A percepção olfativa é determinada por um período de latência, duração da passagem
da molécula odorante pelo muco nasal até a sua ligação a receptores. Essa percepção é
aumentada quando o animal está com fome e diminui quando está alimentado. A ingestão de
alimentos está, dessa forma, diretamente ligada ao olfato, de tal forma que o gosto dos alimetos
é captado também pela cavidade nasal (BARBIERI, 2019). Segundo Pizzato e Domingues
(2008), o olfato de diferentes raças dos cães é variável conforme a raça, a superfície da mucosa
olfativa, o número de receptores presentes e, a anatomia facial dos animais. A sensibilidade
olfativa também está correlacionada com a pigmentação da mucosa olfativa, e com fatores
como idade, sexo, ambiente e uso de medicação. A grande diferença entre o homem e os cães
encontra-se no diâmetro interno do nariz, onde estão localizadas as células sensórias do olfato.
Estima-se que um homem adulto possua 5 milhões destas células, enquanto um cão da raça
Pastor Alemão, tenha 220 milhões e um Cocker, 67 milhões (VADUREL; GOGNY, 1997).
170
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
171
Capítulo 10. Palatabilidade e aceitabilidade de medicamentos de uso oral por cães e gatos
172
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
173
Capítulo 10. Palatabilidade e aceitabilidade de medicamentos de uso oral por cães e gatos
observada. No entanto, de maneria geral, o estudo demonstrou que o LNS é altamente palatável
para cães e gatos saudáveis (VERBRUGGHE; JANSSEN; HESTA, 2012).
A baixa adesão à antibioticoterapia é um dos fatores que contribui para os crescentes
relatos de casos de resistência ao uso de antibióticos na população de felinos e, o aumento da
palatabilidade de formulações veterinárias, pode melhorar a aderência ao tratamento. Cron et
al. (2014), avaliaram a aceitabilidade de gatos por três diferentes apresentações da
marbofloxacina: comprimidos, comprimidos palatáveis e comprimidos em fase
desenvolvimento farmacotécnico (nomeado EFEX). Testes de aceitação foram realizados em
24 gatos para comparar a ingestão espontânea e o consumo total dos produtos farmacêuticos.
Os resultados indicaram que o EFEX foi mais palatável que a apresentação comprimido
palatável e igualmente palatável ao comprimido.
Halos et al. (2015) compararam a preferência de cães por duas formulações de
ectoparasiticidas orais, disponíveis comercialmente na forma de comprimidos mastigáveis,
contendo os fármacos afoxolaner (NexGard®) ou fluralaner (Bravecto®). Os autores realizaram
dois experimentos empregando 225 cães, separados em dois grupos (110 e 115 animais), para
os quais os comprimidos mastigáveis contendo afoxolaner ou fluralaner foram oferecidos.
Todos os animais tiveram a oportunidade de sentir o cheiro dos dois produtos. Em seguida, os
produtos foram oferecidos simultaneamente para cada cão, durante 4 dias consecutivos. O
consumo individual e o comportamento relacionado foram avaliados. Um total de 573
comprimidos mastigáveis de afoxolaner (71,9%) e 224 de comprimidos mastigáveis de
fluralaner (28,1%) foram consumidos voluntariamente. A razão geral de consumo foi de 2,56
NexGard® para 1 Bravecto®, sendo o primeiro considerado preferido. Em um estudo
semelhante, Carithers et al. (2016), compararam a preferência de cachorros pelo afoxolaner
(NexGard®) e o sarolaner (Simparic®). A relação entre ambos foi de 4,4 para 1, sendo o
NexGard® considerado preferido.
Em um estudo realizado por Sivén et al. (2017), os autores relatam a aceitação voluntária
de somente 35% dos medicamentos oferecidos à uma população de 90 gatos, evidenciando a
necessidade de desenvolver medicamentos com palatabilidade apropriada e de livre aceitação
pela população felina, destacando a disponibilidade de formas farmacêuticas de fácil
administração.
Aleo et al. (2018), avaliaram a preferência e a aceitabilidade de formulações de
comprimidos contendo flavorizantes denominados palatáveis em comparação com um
comprimido placebo de açúcar, empregando dois grupos de cães: um contendo somente animais
174
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
da raça Beagle e outro contendo animais de diferentes raças. Quatro estudos foram delineados
e os autores concluíram que houve grande variabilidade na preferência e aceitação dos animais
pelas formas farmacêuticas, principalmente, em função do sabor e odor das preparações
oferecidas, além da ocorrência de variação dos resultados em função dos grupos de animais
estudados.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 REFERÊNCIAS
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179
Capítulo 11. Sistemas de liberação de fármacos baseados em micro e nanopartículas
Capítulo
11
1
Universidade Federal do Espírito Santo, email: nubyacosta@hotmail.com
2
Universidade Federal do Espírito Santo, email: drielelutzke@gmail.com
3
Universidade Federal do Espírito Santo, email: gabriel.n.moulin@hotmail.com
4
Universidade Federal do Espírito Santo, email: marcos16viana@gmail.com
5
Universidade Federal do Espírito Santo, email: duvargass@hotmail.com
6
Universidade Federal do Espírito Santo, email: pharmacotecnica@yahoo.com.br
7
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, email: suzana2994@gmail.com
180
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
181
Capítulo 11. Sistemas de liberação de fármacos baseados em micro e nanopartículas
Partículas com diâmetro maior ou igual a 1 µm (1000 nm) são conhecidas como
micropartículas, enquanto aquelas cujo diâmetro é menor que 1µm são denominadas
nanopartículas (DIMER et al., 2013). A ciência que estuda estas últimas é chamada
nanotecnologia. Por definição, nanotecnologia se refere à pesquisa e desenvolvimento de
materiais, estruturas, dispositivos e sistemas, nos níveis atômico, molecular e macromolecular,
em escala de aproximadamente 1 - 100 nanômetros, com vistas a fornecer uma compreensão
fundamental dos fenômenos que o fundamentam.
Estudos sobre as aplicações da nanotecnologia na medicina veterinária têm crescido nas
últimas décadas, principalmente, no que diz respeito ao desenvolvimento de SLMFs para o
tratamento e diagnóstico de doenças (SCOTT, 2007). No presente capítulo serão apresentados
o conceito e os principais aspectos que caracterizam alguns dos SLMFs de desempenho
terapêutico avançado nanoparticulados mais estudados na atualidade.
2 SISTEMAS NANOPARTICULADOS
2.1 LIPOSSOMAS
182
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
183
Capítulo 11. Sistemas de liberação de fármacos baseados em micro e nanopartículas
local onde exercerá a ação terapêutica (TOPETE; BARBOSA; TABOADA, 2015). Entre os
fármacos comumente utilizados na farmacoterapia veterinária, há relatos de pesquisas
envolvendo o preparo de micelas poliméricas contendo doxorrubicina e ivermectina
(HOUSHAYMI et al., 2019; LIN et al., 2016; SENEVIRATHNE et al., 2017; ZHOU et al.,
2018).
2.3 DENDRÍMEROS
As nanopartículas lipídicas sólidas (NLSs) são formadas pela dispersão de lipídeos com
alto ponto de fusão em solução aquosa, não requerendo o uso de solventes orgânicos na sua
produção. Assim como os demais sistemas nanoparticulados, as NLSs demonstram grande
capacidade de encapsular fármacos hidrofílicos e lipofílicos em sua matriz lipídica (DIMER et
184
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
185
Capítulo 11. Sistemas de liberação de fármacos baseados em micro e nanopartículas
186
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
2.7 NANOCRISTAIS
187
Capítulo 11. Sistemas de liberação de fármacos baseados em micro e nanopartículas
188
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
189
Capítulo 11. Sistemas de liberação de fármacos baseados em micro e nanopartículas
190
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS
191
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195
Capítulo 12. Abordagem terapêutica no controle da dor em aves
Capítulo
12
1
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: marieta.kuster@hotmail.com
2
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: amanda_mmrs@hotmail.com
3
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: leotrivilin@gmail.com
196
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
197
Capítulo 12. Abordagem terapêutica no controle da dor em aves
expressa pela verbalização, mas nas aves o reconhecimento da dor é determinado apenas pela
interpretação do comportamento exercido por elas (HAWKINS; PAUL-MURPHY, 2014).
A manifestação da dor pode variar de acordo com a espécie, pois a sensibilidade também
varia, seja na resposta consciente ou na resposta aos métodos analgésicos empregados. É
importante também atentar-se aos hábitos da espécie em questão, por exemplo, aves noturnas
devem ser observadas a noite onde apresentam maior atividade e onde possivelmente será
notado alteração comportamental. Saber o comportamento normal da espécie também é
fundamental para poder reconhecer um comportamento atípico (HAWKINS; PAUL-
MURPHY, 2014; LE MAHO et al., 1992).
No geral alguns comportamentos das aves evoluíram para a sobrevivência das espécies,
isso inclui por exemplo, posição estática quando observadas no intuito também de demonstrar
menor fragilidade perante os predadores, o que dificulta a avaliação da dor (MATHEWS, 2000).
Dentre as alterações de comportamento que levam a associação com dor aguda ou
crônica está o mau cuidado com as penas. As aves têm o hábito frequente de limpeza e
impermeabilização das penas (OLIVEIRA; SOUZA; SILVA, 2014). A falta desse cuidado pode
estar relacionada com a dor, porém, a limpeza obsessiva e exagerada pode indicar presença de
dor crônica. Alterações no comportamento social das aves como o isolamento de uma ave em
relação aos demais do bando também podem indicar que este indivíduo está com dor (LE
MAHO, et al., 1992).
A confiabilidade nos métodos para avaliação de dor nas aves ainda é muito subjetiva.
Uma forma de conseguir melhor avaliação, inclusive da resposta terapêutica em relação a dor
é criar critérios baseados em um repertório de comportamentos apresentados pelo animal que
pode sugerir a presença ou não de dor. O uso de etogramas pode ser válido para criação de
escalas para observação da dor, visto que, conhecendo comportamentos normais da espécie é
mais fácil pressupor alterações de comportamento como manifestação dolorosa no paciente. A
garantia de que a dor de uma ave foi eficientemente tratada depende de observações antes e
depois da intervenção terapêutica (HAWKINS; PAUL-MURPHY, 2014).
3 ANALGESIA PREVENTIVA
198
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
surge com o intuito de prevenir essa sensibilidade administrando-se analgésicos antes que o
estímulo nocivo seja realizado, além de melhorar a recuperação e diminuir potencialmente a
dosagem de anestésicos empregados no protocolo cirúrgico (HAWKINS; PAUL-MURPHY,
2014; LONGLEY, 2008; WALL, 1994).
A analgesia preventiva tem sido cada vez mais implementada na medicina veterinária,
sendo que o uso de opióides, anti-inflamatórios não esteroides (AINE) e/ou anestésicos locais
podem impedir a transmissão de estímulos dolorosos para o sistema nervoso central, podendo
diminuir o desconforto no pós-operatório pela diminuição da inflamação e da dor, contribuindo
para recuperação mais rápida do paciente (HAWKINS; PAUL-MURPHY, 2014).
3.1 OPIÓIDES
O termo opioide passou a ser empregado aos derivados advindos da purificação do ópio.
São amplamente utilizados no tratamento de dores intensas, principalmente em pós-cirúrgicos
ou traumatismos. Após a sua absorção, o fármaco opioide é rapidamente distribuído aos tecidos
dependendo do grau de lipofilia do agente, chegando assim, ao cérebro e impedindo que
estímulos nocivos cheguem ao sistema nervoso central. Podem ser classificados como
agonistas, agonistas parciais, agonistas/antagonistas mistos ou antagonistas, dependendo à qual
receptor específico se ligará (LAMONT; MATHEWS, 2014; WELCH; MARTIN, 1997).
Existem três receptores principais de ligação dos opioides: os tipo µ, responsáveis pela
analgesia, depressão respiratória, sedação, dependência física e euforia; os tipo κ também
relacionados à analgesia e em menor grau com sedação e depressão respiratória; e os receptores
tipo δ responsáveis primeiramente pela analgesia, mas com influência também na modulação
de funções cognitivas e dependência física (BENNET, 1994; MARTINS et al., 2012). Existe
uma escassez de dados sobre a distribuição, densidade e função dos receptores opioides nas
aves, porém estudos mostraram que os receptores kappa e delta de pombos são mais
proeminentes no proencéfalo e mesencéfalo quando comparados aos receptores mu e que, 76%
dos receptores do proencéfalo são do tipo kappa, cujas funções analgésicas nas aves ainda
precisam ser melhor investigadas. Isso poderia explicar o motivo de algumas espécies de aves
não responderem tão bem aos agonistas de mu como os mamíferos (HAWKINS; PAUL-
MURPHY, 2014; MANSOUR, et al., 1988).
199
Capítulo 12. Abordagem terapêutica no controle da dor em aves
3.1.1 Butorfanol
3.1.2 Morfina
A morfina é um agonista de receptor mu, seu uso é incomum na medicina de aves pelos
efeitos analgésicos encontrados em estudos serem controversos, como pouca analgesia ou
hiperalgesia nas aves, além de poder provocar incoordenação e sedação no paciente (HUGHES,
1990a, 1990b). A dose mínima em aves deve ser de 2 mg/kg a cada 2 horas para manter a
mesma concentração plasmática a nível terapêutico preconizado para seres humanos (SINGH
et al, 2010).
200
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
3.1.3 Fentanil
O fentanil também é um agonista dos receptores tipo mu e, assim como a morfina, pouco
utilizado em aves. Visto que estudos prévios relacionados ao padrão de receptores opioides
realizados com a morfina (que é o padrão para estudo de opióides mu) trouxeram dados clínicos
conflitantes ou inconclusivos a respeito da dosagem utilizada em aves de produção com
diferenças bruscas nos valores utilizados (HAWKINS; PAUL-MURPHY, 2014; HUGHES,
1990a; SCHNEIDER, 1961). A dose de 0,02mg/kg intramuscular em cacatuas-brancas
(Cacatua alba) não foi suficiente para promover a analgesia, apenas com o aumento da dose
para 0,2mg/kg SC observou-se efeitos analgésicos, porém, com efeito de hiperatividade em
algumas aves (HOPPES, et al., 2003).
3.1.4 Tramadol
201
Capítulo 12. Abordagem terapêutica no controle da dor em aves
202
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
3.2.1 Meloxicam
É um AINE seletivo para COX-2 muito utilizado na medicina veterinária devido à alta
potência analgésica e anti-inflamatória, além de poucos relatos de efeitos adversos e a
possibilidade do uso contínuo por maiores períodos. É indicado para dores musculoesqueléticas
e pós-operatório de diversas espécies (PAUL-MURPHY; LUDDERS, 2001). Atualmente,
existem formulações em comprimidos e para uso injetável. Estudos mostraram que a dose de
1mg/kg em psitacídeos, via intramuscular a cada 12 horas, foi suficiente para promover
analgesia, sendo que a mesma dose ministrada via oral apresentou menor biodisponibilidade
(COLE et al., 2009; MOLTER et al., 2009).
3.2.2 Piroxicam
É um AINE não seletivo, porém com maior ação sobre a inibição da COX-1 do que na
COX-2. Além de ação anti-inflamatória também possui ação antitumoral. Em mamíferos
apresenta boa biodisponibilidade quando administrado por via oral, no entanto, estudos a
respeito da farmacocinética não foram realizados em aves, apesar de até o momento também
não haver relatos de toxicidade nas aves (HAWKINS; PAUL-MURPHY, 2014). Geralmente é
utilizado para tratamento por período prolongado de patologias articulares em aves da ordem
Gruiformes (HANLEY, 2005).
3.2.3 Carprofeno
O mecanismo de ação deste fármaco não está completamente esclarecido, mas ele é um
fraco inibidor das enzimas clico-oxigenases, porém ainda assim possui efeito anti-inflamatório
considerável, o que o torna mais seguro em relação aos outros AINEs. Seu mecanismo
terapêutico está relacionado também a inibição da fosfolipase A2. A administração do
carprofeno pode ser feita por via oral ou parenteral (intramuscular ou subcutânea) nas doses de
5-10 mg/kg com intervalo de 12 horas (HAWKINS et al., 2018).
203
Capítulo 12. Abordagem terapêutica no controle da dor em aves
3.2.4 Cetoprofeno
3.2.5 Celecoxibe
3.2.6 Dipirona
É um AINE que inibe a enzima COX-3, que é uma variante da COX-1, sendo esta
encontrada principalmente no sistema nervoso, gerando uma ação central, podendo diminuir a
dor e a febre (CHANDRASEKHARAN, 2002). Pode ser utilizado como monoterapia, porém o
uso concomitante com outros analgésicos promove boa analgesia e menor propensão a efeitos
colaterais como sangramentos e alterações gastrointestinais. (DE ABAJO, 2011). A dipirona é
comumente usada em aves, sendo preconizada a dose de 20-25 mg/kg a cada 8 horas por via
oral, intramuscular, subcutânea ou intravenosa (HAWKINS et al., 2018; VIANA, 2007).
204
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
3.3.1 Lidocaína
3.3.2 Bupivacaína
A bupivacaína é um fármaco que promove anestesia local por longos períodos e por
isso, é de escolha para cirurgias em mamíferos. São apresentadas nas formulações de 0,25%,
0,5% e 0,75%, fato que pode possibilitar o uso sem diluição para aves (HAWKINS; PAUL-
MURPHY, 2014). A dosagem máxima para mamíferos é de 2 mg/kg, mas o uso da bupivacaína
em patos-reais (Anas platyrhynchos) com a mesma dose mostrou menor duração no tempo de
anestesia (MACHIN; LIVINGSTON, 2001). Em galos domésticos (Gallus gallus) a
bupivacaína na dose de 4 mg/kg foi eficiente para anestesia de plexo braquial, sem sinais de
toxicidade (MELO et al., 2004). O mesmo foi demonstrado em patos, porém com doses mais
205
Capítulo 12. Abordagem terapêutica no controle da dor em aves
Das formulações medicamentosas utilizadas em aves cerca de 90% é fornecida pela via
oral (VERMEULEN; DE BACKER; REMON, 2002). Entretanto, é importante ressaltar que
algumas características anatômicas e fisiológicas das aves podem interferir na
biodisponibilidade do fármaco, como por exemplo, a presença do inglúvio, que é uma dilatação
do esôfago onde o conteúdo ingerido fica armazenado por longos períodos, impedindo uma
resposta terapêutica rápida esperada de alguns medicamentos como os AINE’s. Outra
característica importante é que no estômago mecânico (moela), algumas aves tem a tendência
a acumular pedrinhas para ajudar na trituração do alimento, tais materiais muitas vezes em meio
a secreção estomacal, podem liberar íons que são capazes de interagir quelando ou precipitando
alguns princípios ativos e interferindo na sua eficácia. Sendo assim, é importante conhecer a
fisiologia e anatomia do paciente para melhor eficiência no tratamento (HUEZA, 2008).
Na administração por via oral é preferível o uso de fármacos sob forma de suspensão ou
solução. Existe a opção de fornecimento na água de bebida, o que as vezes não é aconselhado,
pois alguns medicamentos hidrolisam facilmente na água, além do fato que fatores que levam
a menor ingestão hidríca, como alteração de sabor, dor, doenças previamente instaladas,
interferirão na biodisponibilidade do fármaco para a ave. Logo, o fornecimento diretamente no
bico ou por sonda esofágica (gavagem) é o mais aconselhado, ou o fornecimento em frutas no
casos de aves que aceitam e estão se alimentando normalmente (CARDOSO et al., 2009;
HUEZA, 2008).
206
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
(aves que não voam: avestruzes, emas e emus), por exemplo, possuem um esterno sem quilha
e com pouca massa muscular, inviabilizando injeções no músculo peitoral. A musculatura da
coxa é bem desenvolvida, porém injeções em membros pélvicos nestas e em outras espécies de
aves não são indicadas devido a possibilidade de rápida excreção do fármaco pelo sistema porta-
renal, interferindo na sua eficácia, sendo preferível nestas espécies outras vias de administração.
(LOVATO; SANTOS, 2014).
A via endovenosa tem uso restrito em aves muito pequenas e somente empregada em
casos emergenciais, e geralmente em medicamentos de dose única para evitar hematomas. As
veias utilizadas são as jugulares, facilmente visualizada na maioria das espécies, até em aves
menores; a veia braquial localizada sobre a ulna; e a veia metatársica usada em aves com mais
de 300g, sendo mais fácil a punção em espécies que possuem o metatarso longo como no caso
das ratitas e aves da ordem Galliformes, por exemplo. A via intraóssea supera a via intravenosa,
principalmente por possibilitar o acesso em aves menores e geralmente são utilizados a porção
distal da ulna ou porção proximal do tibiotarso (GONÇALVES, 2016).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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210
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
211
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
13
212
Capítulo 13. Aspectos gerais e terapêutica das principais dermatopatias fúngicas na rotina de cães e
gatos
1 INTRODUÇÃO
2 MALASSEZIOSE
213
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
maior ocorrência de infecções secundárias por esta levedura, sobretudo até a décima semana de
vida (NAGLE, 2006).
A malasseziose é observada maioritariamente nos casos de otite. É sabido que condutos
auditivos que apresentam naturalmente produção exagerada de cerúmen, seja por características
conformacionais do canal ou excesso de pelos, por exemplo, representam grande parte dos
casos da forma otológica da doença (GOMES, 2012; LEITE; ABREU; COSTA, 2003).
214
Capítulo 13. Aspectos gerais e terapêutica das principais dermatopatias fúngicas na rotina de cães e
gatos
Para se obter sucesso na terapia antifúngica envolvendo Malassezia sp. é primordial que
se investigue e controle a causa primária que levou à disbiose da microbiota da pele e elevou o
número de fungos, haja vista que os mesmos estão presentes normalmente na pele de cães e
gatos, tornando-se problema apenas quando há crescimento excessivo (MAZZEI, 2016;
MILLER; GRIFFIN; CAMPBELL, 2013).
A terapia tópica tem papel fundamental no controle da malasseziose, pois, além de agir
no fungo é possível controlar a oleosidade da pele, bem como reinstituir fatores
queratoplásticos, amenizando e por vezes até cessando, a descamação observada na maioria dos
casos. Abaixo, a Tabela 1 apresenta os princípios ativos utilizados nas formulações em forma
de xampu (principal forma farmacêutica utilizada no tratamento tópico, que não otológico, da
malazessiose), com as suas respectivas concentrações recomendadas, bem como o efeito que
terão sobre a pele dos animais (MAZZEI, 2016; MILLER; GRIFFIN; CAMPBELL, 2013).
215
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
alternativa para animais que estão muito debilitados e/ou possuem respostas fracas aos
derivados azólicos, pois, na dose supracitada a mesma não provoca efeitos colaterais
(ROSALES et al., 2005). Gimmler et al. (2015) corroboram a ideia que a terbinafina é uma
opção para o tratamento oral dos cães, provando em seu estudo que, quando utilizada por meio
tópico, o princípio ativo não alcançou uma concentração tão eficaz no tratamento da
malasseziose, sendo recomendada a utilização em associação com a forma oral da droga.
Fluconazol é um antifúngico que possui ampla distribuição pelos tecidos, podendo
atingir o sistema nervoso central e leva os animais a sérios efeitos colaterais. Por esse motivo,
opta-se por utilizá-lo somente quando o fungo não consegue ser controlado por outros azólicos
(MAZZEI, 2016). A dose recomenda é de 2,5 a 5,0 mg/kg a cada 12 ou 24 horas em cães e de
5 a 10mg/kg a cada 12 ou 24 horas em gatos, até o desaparecimento dos sinais clínicos e controle
da quantidade de leveduras na pele (MILLER; GRIFFIN; CAMPBELL, 2013).
É importante salientar que estudos mais recentes demonstraram que, quando azois,
sobretudo o itraconazol, são utilizados por um longo período de tempo, pode ocorrer resistência
fúngica ao fármaco, tornando o tratamento ineficaz. Por isso, não é comum tratamentos
prolongados na prática clínica (ANGILERI et al., 2019)
Nas otites causadas por Malassezia os antifúngicos mais indicados são clotrimazol a 1%
(LOBELL; WEINGARTEN; SIMMONS, 1995), nistidina a 3% e tiabendazol a 4%, que podem
ser em soluções, pomadas e géis e são utilizados a cada 12 ou 24 horas, por um período mínimo
de 14 dias (GROOTERS; TABOADA, 2003).
Antes da aplicação otológica de antifúngicos, é recomendada a limpeza do ouvido
externo com ceruminolíticos e/ou a lavagem otológica (MAZZEI, 2016).
As apresentações para uso otológico se tornam mais potentes quando associadas a
glicorticoides, tanto no controle do prurido, da quantidade produzida de cerúmen e no eritema
local. Raramente é necessária a associação de terapia sistêmica no tratamento de otites
levedúricas (MAZZEI, 2016).
3 DERMATOFITOSE
217
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
ocorrências (GOMES, 2012; MORIELLO et al., 2017), sendo responsáveis pelas infecções em
humanos. A ocorrência da dermatopatia é principalmente relatada em animais jovens,
relacionando-se ao fato do sistema imunológico estar em desenvolvimento (GOMES, 2012).
Alguns animais, sobretudo felinos, podem se apresentar como portadores assintomáticos da
doença, exercendo importante papel como reservatórios do fungo (FERREIRO et al., 2007;
PRADO et al., 2008).
A maioria das lesões observadas estão presentes nas camadas mais superficiais da pele
(DEGREEF, 2008). As diferenças entre elas se atribuem à características pontuais como espécie
fúngica causadora da doença e ao estado imunológico do paciente, pois é sabido que quanto
mais imunocomprometido está o animal, piores e em maior número estarão as lesões (BALDA,
2016; DEGREEF, 2008; MILLER; GRIFFIN; CAMPBELL, 2013). A lesão clássica
inicialmente se dá por pequenas crostas na base de tufos de pelos. Esses tufos irão cair
voluntariamente ou serão de fácil epilação, formando uma área alopécica focal ou disseminada,
descamativa, podendo ou não apresentar eritema e de evolução centrífuga lenta, com diâmetro
variando de 1 a 8 cm, podendo apresentar prurido (BALDA, 2016; BRUNE, 2009). As lesões
são localizadas principalmente na face, ao redor dos olhos, lábios, orelhas, pescoço,
extremidades e plano nasal, porém sem alterações sobre o nariz (CARLOTTI, 2008;
CORNEGLIANI; PERSICO; COLOMBO, 2009).
Nos felinos é comum ocorrer dermatite miliar decorrente da dermatofitose. As lesões
são observadas frequentemente em região dorsal, de cabeça e pescoço. Na espécie também é
comum que esse padrão lesional ocorra em animais com dermatite alérgica a picada de pulga
ou atopia. A extensão das lesões está correlacionada a fatores como: cronicidade da doença,
pois já é sabido que na dermatofitose crônica as lesões são maiores e mais evidentes, bem como
quando o animal se encontra imunossuprimido ou devido ao uso excessivo e/ou inadequado de
medicações (BALDA, 2016; MORIELLO et al., 2017).
O pseudomicetoma ou granuloma dermatofítico é uma forma atípica e rara de
dermatofitose, e quando observada ocorre principalmente nos gatos persas. Essas lesões são
nódulos firmes, irregulares e/ou ulcerados que drenam (NOBRE et al., 2010). O tratamento é
difícil e desfavorável, sendo indicada a remoção cirúrgica, todavia há grande número de casos
218
Capítulo 13. Aspectos gerais e terapêutica das principais dermatopatias fúngicas na rotina de cães e
gatos
que apresentam recidivas frequentes e essas lesões apresentam baixa resposta aos antifúngicos
(KANO et al., 2009; NUTTALL et al., 2008).
Uma outra forma pouco observada de manifestação clínica é dermatofitose nodular ou
quérion, de ocorrência quase exclusiva na espécie canina (CORNEGLIANI; PERSICO;
COLOMBO, 2009). Essa lesão é caracterizada como um nódulo edematoso, circunscrito e
alopécico, podendo ser exsudativo, doloroso e pruriginoso. Na maioria dos casos é observado
em regiões de cabeça, face e pescoço, bem como nos membros distais, podendo ocorrer como
nódulos solitários ou múltiplos (BRUNE, 2009; CARLOTTI; PIN, 2002). Vale ressaltar que,
ao contrário das lesões de apresentação mais comuns da doença, o quérion quando ocorre,
geralmente é observado em cães adultos à idosos (CARLOTTI; PIN, 2002; CORNEGLIANI;
PERSICO; COLOMBO, 2009).
Em relação a apresentações dermatofitóticas, ainda é possível se observar e caracterizar
a onicomicose e perionicomicose, sendo incomuns na espécie felina, estando mais presente em
cães. Essas lesões se manifestam como regiões alopécicas nas bordas das unhas, podendo
apresentar manchas esbranquiçadas, tornando as unhas quebradiças e com deformações, sendo
difíceis de detectar e de tratar (BRUNE, 2009; CHERMETTE; FERREIRO; GUILLOT, 2008).
219
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Os cães e gatos que apresentam lesões multifocais, lesões localizadas, mas que vivem
com outros contactantes ou tem baixa resposta a terapia tópica após quatro semanas de
tratamento e ou refratariedade, bem como animais de pelo longo, devem ter a terapia sistêmica
instituída (MORIELLO et al., 2017).
Os antifúngicos sistêmicos empregados no tratamento das dermatofitoses, em maioria,
agem sobre o citocromo P450 do fungo, inibindo a síntese de ergosterol levando a morte celular
fúngica. Porém, como os mamíferos possuem colesterol em suas células, efeitos tóxicos podem
ocorrer. Os princípios ativos mais novos atuam de uma forma mais pontual no sistema fúngico,
sendo assim, é importante conhecer as diversas drogas que podem ser empregas no tratamento
da dermatofitose (BALDA, 2016).
220
Capítulo 13. Aspectos gerais e terapêutica das principais dermatopatias fúngicas na rotina de cães e
gatos
221
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
alimentação, uma vez que isso aumentará sua absorção, levando a maior efetividade do
tratamento (MORIELLO et al., 2017).
A terbinafina pertence à classe das alaninas e tem seu mecanismo de ação parecido com
os demais antifúngicos supracitados, pois, mesmo que indiretamente, vai atuar sobre a síntese
de ergosterol. Para isso, a droga vai inibir a escaleno oxidadase dos fungos, que atuaria na
conversão de esqualeno em lanosterol, e como produto final produziria o ergosterol. Não
havendo conversão do ergosterol ocorrerá morte celular. Também é sabido que ocorre acúmulo
de esqualeno intracelular e possivelmente, a potencialização do efeito fungicida de terbinafina
(DARKES; SCOTT; GOA, 2003).
A dose de 5mg/kg a cada 24 horas, possui um baixo custo e tem se mostrado bem eficaz
e com efeitos colaterais quase nulos. Por possuir efeito fungicida, o tratamento com terbinafina
se torna mais rápido, o que também diminui custos, sendo uma ótima alternativa aos tutores
(MORIELLO et al., 2017)
Ao contrário das demais medicações, os gatos apresentam-se menos sensíveis a
terbinafina, sendo utilizado nessa espécie a dose diária de 20 mg/kg, enquanto em cães deve-se
utilizar 10mg/kg diárias, a fim de evitar vômito, inapetência, hepatoxicidade e distúrbios
intestinais (BALDA; OTSUKA; LARSSON, 2007).
Uma alternativa no tratamento da dermatofitose em gatos é a pulsoterapia. Essa
modalidade consiste na administração de antifúngicos que se depositam em tecidos
queratinizados, como é o caso do itraconazol e terbinafina, e são liberadas lentamente. O
protocolo instituído consiste na administração das drogas a cada 24 horas, durante 7 dias
seguidos e uma pausa na administração do antifúngico escolhido de 21dias. Feito isso teremos
um “ciclo medicamento”. Cada ciclo dura 30 dias, e podem ser feitos quantos forem necessários
até a resolução das lesões e dois exames micológicos negativos. Esse esquema terapêutico é
indicado, principalmente, para animais que vivem em gatis (BALDA, 2008).
Outra alternativa no manejo das dermatofitoses, principalmente para fêmeas prenhes,
por não possuir efeitos teratogênicos (MORIELLO, 2004) é o uso de Lufenuron. Acredita-se
que o mesmo altera as estruturas fúngicas, modificando os macroconídeos dos dermatófitos em
microcultivo. As doses recomendadas variam de 50-60 mg/kg em aplicação única ou duas
aplicações com intervalo de 15 dias. Alguns trabalhos observaram eficácia de cura clínica
(desaparecimento das lesões) com dosagens de 120mg/kg, com intervalos de 15 a 21 dias, sendo
repetidas de duas a quatro aplicações. Como não possui efeito fungicida deve-se ter cautela ao
utilizar o Lufenuron como terapia única, recomendando-se utilizar a droga em terapia
222
Capítulo 13. Aspectos gerais e terapêutica das principais dermatopatias fúngicas na rotina de cães e
gatos
combinada, a fim de auxiliar na restituição das lesões, não sendo eficaz na cura micológica
(DEBOER et al., 2003; MANCIANTI; DABIZZI; NARDONI, 2009).
Apesar de ainda ser utilizado como adjuvante na terapia da dermatofitose, o Lufenuron
vem sendo cada vez menos recomendado para essa dermatopatia. Segundo Moriello et al.
(2017) a eficácia in vitro da droga não tem comprovação, bem como não previne as infecções
pelo fungo ou tão pouco potencializa o efeito de outras drogas antifúngicas sistêmicas ou
tópicas, não tendo eficiencia no tratamento de dermatofitoses.
4 ESPOROTRICOSE
223
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
224
Capítulo 13. Aspectos gerais e terapêutica das principais dermatopatias fúngicas na rotina de cães e
gatos
A terapia correta da doença pode ser comprometida por diversos fatores, tais como: o
reduzido número de antifúngicos efetivos disponíveis para a o tratamento, o diagnóstico tardio
da doença e, principalmente, pela longa duração e desistência dos tutores frente as dificuldades
de manipulação dos fármacos fornecidos aos animais (BLANCO; GARCIA, 2008; MADRID
et al., 2010).
Observações muito importantes no manejo da esporotricose é o não uso de glicorticoides
e fármacos imunossupressores durante o tratamento ou após, pelo menos, seis meses de
observada a cura da enfermidade. Esses fármacos podem causar recorrência da doença mesmo
após os animais apresentarem a cura clínica. Outro ponto relevante é que antibióticos sejam
utilizados somente quando estritamente necessários, pois podem facilitar a recorrência da
doença em cães e gatos (MILLER; GRIFFIN; CAMPBELL, 2013; ROSSER; DUNSTAN,
2006).
Nos cães a droga mais utilizada, embora haja muitos efeitos colaterais, é a administração
oral de Iodeto de potássio na dosagem de 40 mg/kg, a cada 8 a 12 horas, juntamente com
alimentação. O uso dessa terapia se dá por longos períodos e a recomendação é que a terapia
seja estendida 30 dias após cura clínica das lesões a fim de se evitar recidiva (MILLER;
GRIFFIN; CAMPBELL; 2013; ROSSER; DUNSTAN, 2006;).
Souza e colaborados (2009) realizaram tratamento de um canino utilizando a dose de
itraconazol 5mg/kg BID por 60 dias. Após esse período houve desaparecimento total das lesões
dermatológicas do animal e a terapia foi mantida por mais 30 dias, a fim de evitar reemissão da
doença. Durante a terapia, não foram observados efeitos colaterais, confirmando a boa
segurança e baixa toxidade dos triazólicos. Nobre e colaborados (2002b) indicaram a dosagem
de 10-20 mg/kg a cada 24 horas para caninos. Todavia, é importante ressaltar que os caninos
podem apresentar mais efeitos colaterais que os felinos com o uso do itraconazol, sendo assim,
recomenda-se começar o tratamento de esporotricose nessa espécie com a menor dosagem
possível (LARSSON, 2016).
Nos felinos as micoses subcutâneas e profundas são tratadas com 10- 20mg/kg/dia
(LARSSON, 2016), sendo o itraconazol, principalmente em forma de solução, a mais indicada
para a espécie (LARSSON, 2016; MILLER; GRIFFIN; CAMPBELL; 2013). Alguns autores
consideram, principalmente em literatura internacional, que as dosagens entre 1,5 e 5 mg/kg a
cada 24 horas efetivas (MILLER; GRIFFIN; CAMPBELL; 2013; MORIELLO, 2004),
entretanto trabalhos publicados no Brasil tem consenso que a droga possui melhor ação e menor
225
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As dermatopatias fúngicas estão cada vez mais presentes na clínica médica de animais
de companhia, com número crescente de casos. Uma vez que essas doenças podem ser
transmitidas aos seres humanos é essencial aos médicos veterinários estarem preparados para
diagnosticar e tratá-las da forma correta. É preciso levar em consideração sempre o bem-estar
do paciente e buscar atualização acerca dos tratamentos descritos na literatura, a fim de evitar
efeitos nocivos aos animais, pois, como descrito no capítulo, as terapias tendem a se estender
por longos períodos. Assim, é de suma importância que o médico veterinário e os tutores desses
226
Capítulo 13. Aspectos gerais e terapêutica das principais dermatopatias fúngicas na rotina de cães e
gatos
animais estejam cientes da importância do emprego correto dos fármacos e do manejo adequado
do animal durante o tratamento.
5 REFERÊNCIAS
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231
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
14
1
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: winner.duque@gmail.com
2
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: fernandaroldi@hotmail.com
3
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: rosinhafarma25@gmail.com
4
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: elisabeth.prado7@gmail.com
5
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: ju.alves.resende@gmail.com
6
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: juseveri@yahoo.com.br
232
Capítulo 14. Contribuição das plantas medicinais para o tratamento de dermatopatias infecciosas de
origem fúngica
1 INTRODUÇÃO
Desde os tempos mais remotos que a busca por agentes promotores de saúde e bem-
estar junto à natureza faz parte do cotidiano do homem e dos demais animais. Com a expansão
das pesquisas científicas e a introdução de novas tecnologias, grandes avanços ocorreram na
área de desenvolvimento de fármacos e medicamentos destinados à terapêutica humana e
veterinária (ALBUQUERQUE, 1989; ALONSO, 1998; ALVES; SILVA, 2003; AMOROSO,
1996). No âmbito da farmacoterapia antimicrobiana, uma das razões que estimula a procura por
novas alternativas é o crescente aumento no número de casos de resistência aos medicamentos
convencionais. Importante destacar que a compreensão dos fatores de resistência está longe de
ser completa. No entanto, sabe-se que os fungos podem ser primariamente resistentes à ação de
drogas antifúngicas (resistência intrínseca), ou podem ser inicialmente suscetíveis, mas
desenvolver mecanismos secundários de resistência após exposição a antifúngicos e a seleção
de clones resistentes (resistência adquirida). Desta forma, há uma necessidade urgente de
abordagens integradoras, com o intuito de otimizar o uso da terapia antimicrobiana e controlar
a resistência sem afetar a saúde de plantas, animais e seres humanos (PRECOTT; DESMOND,
2013; ROILIDES; IOSIFIDIS, 2019).
No grupo dos fármacos antimicrobianos, os antifúngicos tiveram um avanço
quantitativo e qualitativo menor do que os antibacterianos e restringem-se a poucos grupos
farmacológicos, devido à dificuldade de se obter fármacos com alvos específicos e importantes
contra a célula fúngica (AMOROSO, 1996; ALONSO, 1998; BONTEMPO, 1994; NOBRE et
al., 2002). Esta restrição terapêutica acontece devido a similaridade existente entre as células
fúngicas e humanas, uma vez que ambas são organismos eucarióticos. Isso irá resultar em
menor seletividade para o alvo pretendido e, portanto, mais efeitos colaterais ao hospedeiro
(LACAZ; NEGRO, 1991; SELITRENNIKOFF, 2001).
A falta de opções terapêuticas para o tratamento de infecções fúngicas também se reflete
na medicina veterinária. Em parte, isso se deve também à maior diversidade de animais e suas
particularidades fisiológicas, as quais ampliam as possibilidades de nichos para fungos parasitas
ainda pouco investigados. A terapêutica antifúngica na clínica veterinária está embasada na
terapia medicamentosa humana, revelando a carência de bioativos e a necessidade de estudos
das propriedades farmacodinâmicas e farmacocinéticas dos animais (ALBUQUERQUE, 1989;
ALONSO, 1998; ALVES; SILVA, 2003; NOBRE et al., 2002).
Mesmo com a crescente procura por alternativas, o emprego de produtos naturais na
233
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
saúde animal ainda é prematuro e pouco explorado. O Brasil possui a maior biodiversidade do
mundo, mas apenas 1% do mercado de fitoterápico do país é voltado para o setor veterinário
(OZAKI; DUARTE, 2006). A utilização de plantas medicinais está estabelecida na terapêutica
humana e vem se expandindo no ramo veterinário através da cultura do uso dos conhecimentos
empíricos e comprovações científicas (ALBUQUERQUE, 1989; ALVES; SILVA, 2003).
Sabendo da diversidade de plantas no mundo, esta prática torna-se uma alternativa
favorecida e vantajosa por apresentar, na maioria das vezes, baixo custo e fácil aquisição, além
de consequentemente elucidar novos princípios ativos com diferentes propriedades terapêuticas
e servir como fonte de inspiração para novos modelos moleculares e no desenvolvimento de
fármacos (ALONSO, 1998; AMOROSO, 1996; BONTEMPO, 1994).
2 PROPRIEDADE ANTIFÚNGICA
Os fungos são seres eucariotos e constituem mais de 100 mil espécies já descritas. Sabe-
se que pelo menos 200 destas espécies são patogênicas ao homem e aos demais animais
(TORTORA; FUNKE; CASE, 2016). As doenças infecciosas causadas por fungos são
denominadas micoses e em geral são de natureza crônica (NOBRE et al., 2002; OZAKI;
DUARTE, 2006). Algumas das infecções micóticas mais comuns são superficiais e envolvem
a pele (micoses cutâneas que se estendem até a epiderme). Adicionalmente, os fungos também
penetram a pele, causando infecções subcutâneas. As infecções fúngicas mais difíceis de tratar
são as micoses sistêmicas, que em geral ameaçam a sobrevivência do organismo infectado
(CLARK et al., 2013).
Os fármacos antifúngicos, também conhecidos como antimicóticos, podem ter ação
fungistática, na qual o crescimento celular dos fungos é interrompido, ou fungicida, a partir da
qual ocorre morte celular. Os fármacos antifúngicos têm características singulares quanto ao
mecanismo de ação, vias de administração, e modo de ação frente às micoses superficiais e
sistêmicas. Podem ser classificados com base na estrutura química ou no sítio-alvo. Neste
sentido, a classificação quanto ao sítio-alvo geralmente é a mais adotada. O alvo principal de
ação antifúngica de muitos compostos é a membrana celular (Figura 1), com ação dos inibidores
da síntese do ergosterol (alilaminas, derivados imidazólicos e derivados morfolínicos) e por
danos direto a membrana com alteração da sua permeabilidade (derivados poliênicos,
anfotericina B e nistatina) (CARRILLO-MUNOZ et al., 2006). A anfotericina B, clássico
representante do grupo, estabelece interação com poros em toda a membrana fúngica
234
Capítulo 14. Contribuição das plantas medicinais para o tratamento de dermatopatias infecciosas de
origem fúngica
3.1 MALASSEZIOSE
235
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
236
Capítulo 14. Contribuição das plantas medicinais para o tratamento de dermatopatias infecciosas de
origem fúngica
somente para cães. O tratamento deve permanecer até a resolução completa do quadro e
negativação do exame citológico, o que dura em média quatro semanas (HNILICA;
PATTERSON, 2016). Cavana et al. (2015) utilizaram lenços contendo clorexidine 0,3%,
climbazole 0,5% e Tris-EDTA com a finalidade de reduzir as populações de M. pachydermatis
na pele de cinco cães da raça Shar-Pei e obtiveram 100% de atividade contra as leveduras de
Malassezia após 15 minutos de contato com a solução, sugerindo que esta abordagem possa ser
útil na terapia tópica envolvendo lábios, patas, região perianal e dobras cutâneas.
O tratamento de escolha para casos moderados a severos é o cetoconazol ou fluconazol
a 10% por via oral a cada 24 horas, permanecendo até o desaparecimento das lesões e
negativação da citologia cutânea. Alternativamente, o tratamento com terbinafina 5-40 mg/kg
VO a cada 12 horas ou itraconazol 5-10 mg/kg VO a cada 24 horas durante 4 semanas pode ser
eficaz (HNILICA; PATTERSON, 2016; RHODES; WERNER, 2018).
O prognóstico da Malasseziose é bom, desde que a causa de base seja identificada e
corrigida. A enfermidade não é contagiosa para humanos ou outros animais, exceto em
indivíduos imunocomprometidos (HNILICA; PATTERSON, 2016).
3.2 DERMATOFITOSE
237
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
238
Capítulo 14. Contribuição das plantas medicinais para o tratamento de dermatopatias infecciosas de
origem fúngica
interesse e ainda possibilitam uma interpretação rápida dos resultados devido à alteração de cor
do meio de cultura frente ao resultado positivo (SINGH; ZAMZACHIN; SINGH, 2016).
A abordagem terapêutica está condicionada à manifestação clínica do paciente. Hnilica
e Patterson (2016) preconizam que em cães a terapia tópica seja empregada tanto em casos
focais quanto generalizados e a terapia sistêmica somente em casos refratários. Os felinos com
dermatofitose devem sempre ser tratados sistemicamente. Beale (2005) indicam a terapia
sistêmica no tratamento de todos os felinos com dermatofitoses, cães com dermatofitose
generalizada ou multifocal e de cães e gatos com onicomicose.
Segundo as Diretrizes de Consenso Clínico da Associação Mundial de Dermatologia
Veterinária, os fármacos de ação tópica com melhor resposta terapêutica são as formulações de
miconazol a 2%, clorexidine 2% ou a combinação de ambas as substâncias na concentração de
2% cada. Alternativamente, cita-se a terapêutica com terbinafina a 1% ou climbazol 0,5%,
sempre associados a clorexidine (MORIELLO et al., 2017). As formulações mais comumente
utilizadas na terapia tópica da dermatofitose localizada são os cremes, loções ou sprays
aplicados a cada 12 horas sobre as lesões até sua completa resolução. Para quadros
generalizados, recomenda-se banhos com shampoos antifúngicos duas vezes por semana por
no mínimo 4 a 6 semanas até que a cultura fúngica seja negativa (HNILICA; PATTERSON,
2016).
Dentre as opções terapêuticas sistêmicas, citam-se terbinafina na dose de 30-40 mg/kg
a cada 12 horas, cetoconazol ou fluconazol na dose de 10mg/kg a cada 24 horas, itraconazol a
5-10 mg/kg a cada 24 horas (HNILICA; PATTERSON, 2016) e griseofulvina na dose de 5-10
mg/kg, porém o seu uso é restrito aos cães (BEALE, 2005; MORIELLO et al., 2017). O
itraconazol é considerado o fármaco de escolha para o tratamento por via oral devido a sua
segurança e eficácia (BEALE, 2005; MORIELLO et al., 2017). Os demais fármacos, embora
eficazes, apresentam efeitos adversos importantes que devem ser considerados no momento da
escolha (BEALE, 2005; HNILICA; PATTERSON, 2016; MORIELLO et al., 2017).
Devido ao seu caráter zoonótico e à possibilidade de transmissão por fômites,
recomenda-se que em ambientes cujos animais foram diagnosticados com dermatofitose sejam
descontaminados com hipoclorito de sódio a 10% ou formaldeído a 1%. É altamente
recomendável examinar os animais contactantes que se encontram assintomáticos visando
identificar possíveis reservatórios e, assim, eliminar a fonte de infecção (BEALE, 2005;
HNILICA; PATTERSON, 2016; MADRID; MATTEI, 2011; MORIELLO et al., 2017).
Exceto nos pacientes portadores de doenças imunossupressoras, onde o prognóstico de
239
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
240
Capítulo 14. Contribuição das plantas medicinais para o tratamento de dermatopatias infecciosas de
origem fúngica
241
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
242
Capítulo 14. Contribuição das plantas medicinais para o tratamento de dermatopatias infecciosas de
origem fúngica
estudo realizado por Ferri et al. (2003) relata que o ajoene reage com os grupos sulfidrila dos
resíduos de cisteína nas proteínas da membrana que estão relacionados com funções de adesão
na interação parasita-hospedeiro, patogenicidade, receptores de superfície celular, transdutores
de sinalização celular, etc.
Liu et al. (1990) isolaram o alcaloide 3-metoxi-sampangina da raiz de Cleistopholis
patens, que mostrou atividade inibitória frente ao crescimento de Candida albicans e C.
neoformans e o fungo filamentoso Aspergillus fumigatus. Outro alcaloide com a mesma
propriedade foi extraído de algas marinhas do gênero Haliclona spp, identificado como
papuamina (=haliclodiamina), eficaz contra o crescimento de Trichophyton mentagrophytes
(BAKER; SCHEUER; SHOOLERY, 1988). A jatrorrizina, berberina, palmatina, são alcaloides
extraídos das raízes de Mahonia aquifolium, e promoveram a diminuição do crescimento de
espécies do gênero Trichophyton spp., Microsporum spp. e Candida spp. de forma semelhante.
Além disso, os compostos berberina e palmatina inibiram o crescimento de C. tropicalis e
Malassezia spp (VOLLEKOVÁ et al., 2001; 2003). Recentemente, também foi relatado que a
berberina e palmatina contra C. albicans resulta da sua capacidade de inibir esterol 24-metil
transferase (24-SMT) e quitina sintase, enzimas chave nas vias de biossíntese do ergosterol e
de quitina (PARK et al., 1999).
Hakkakifard e Alipasandi (2014) avaliaram a atividade antidermatofíticas da
Echinophora platyloba em cães com dermatofitoses. De acordo com os estudos, a principal
causa de micose em cães sob teste foi devido à presença de Microsporum canis. O extrato de
E. platyloba mostrou recuperação completa em 50% dos animais tratados. As plantas
medicinais do gênero Pterocaulon possuem grande espectro de atividades contra patógenos
oportunistas sendo elas, P. alopecuroides, P. interruptum e P. polystachyum possuem
componentes positivos no uso contra infecções fúngicas em seres humanos e animais
(BONTEMPO, 1994; STEIN et al., 2005).
A polpa de calabaça (Crescentia cujete) é aplicada em dermatites, cortes, queimaduras
de sol, problemas de pele de cachorros e tem propriedades repelentes contra pulgas (LANS et
al., 2000). O crisântemo de jardim também possui propriedades repelentes para cães e gatos
(BERSCHNEIDER, 2002). O Hydrastis canadensis é usado para problemas na pele e pelagem
do animal (STEIN, 1998). Também é usado em problemas gastrintestinais e possui ação
antifúngica. O extrato de Bixa orellana pode ser usado em micoses cutâneas e têm sido
responsável pela causa de hiperglicemia em cachorros quando é dado ao cachorro em
quantidades de 2 g por dia, durante 14 dias (CUNHA; SILVA; ROQUE, 2003). Fenner et al.
243
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250
Capítulo 15. Tratamento da endometrite fúngica em éguas
Capítulo
15
251
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
2.2 ETIOLOGIA
252
Capítulo 15. Tratamento da endometrite fúngica em éguas
253
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
2.4 DIAGNÓSTICO
254
Capítulo 15. Tratamento da endometrite fúngica em éguas
de lavado uterino demanda maior tempo, pois o material coletado necessita de passar por
centrifugação antes de ser realizado o imprint na lâmina de citologia (COCCHIA et al., 2012;
LEBLANC; MAGSIG; STROMBERG, 2007).
Nas infecções por C. albicans verifica-se a presença de leveduras e menos comum a
forma filamentosa, já nas aspergiloses observa-se a forma filamentosa. É importante fazer o
rastreamento minucioso das amostras, pois os elementos fúngicos podem ser raros
(ALVARENGA, 2008). As inflamações causadas por fungos costumam ser crônicas,
apresentando mais macrófagos e linfócitos do que as endometrites agudas (COUTO;
HUGHES, 1984).
A biópsia uterina é um método confiável, todavia, possui custo elevado, relativamente
invasivo e não apresenta diferença significativa de diagnóstico quando comparado a técnica
com escova de citologia uterina. É recomendado realizar a técnica de escova citológica
associada a cultura microbiológica para se obter um diagnóstico completo da doença
(BUCZKOWSKA et al., 2014).
255
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Algumas substâncias não específicas, são utilizadas para a lavagem uterina como
solução de N-acetilcisteína, DMSO, peróxido de hidrogênio, Tris-EDTA e ácido acético
(vinagre) em combinação com 0,9% solução salina estéril ou Ringer Lactato (FERRIS, 2017;
LIU; TROEDSSON, 2008) . Já foi comprovado que o vinagre não causa alteração
significativa do pH intraluminal uterino, mostrando seguridade para o seu uso quanto a
alteração de pH (THOMPSON et al., 2018). Iodopolvidona foi recomendada por alguns
pesquisadores, porém, devido aos riscos associados de fibrose e formação de aderências no
endométrio, é preterível utilizar outros métodos (SCOTT, 2018).
A estrutura da membrana dos fungos contém polissacarídeos e lipídeos, tendo como
principal esterol da camada de membrana o ergosterol, além de apresentarem a membrana
plasmática circundada por uma parede celular formada por quintina (CAMPOY; ADRIO,
2017).
As classes de medicamentos antifúngicos mais utilizadas na rotina clínica em equinos
são os compostos azólicos e os polienos (FERRIS, 2017), ambos atuam na membrana
plasmática dos fungos. Enquanto os azóis atuam alterando a síntese do ergosterol, os polienos
ligam-se diretamente ao ergosterol, desestabilizando a membrana. Acredita-se que o
mecanismo de ação destes fármacos explica a crescente resistência aos compostos azólicos,
uma vez que os fungos conseguem desenvolver novas formas de sintetizar o ergosterol. A
dificuldade em se administrar os polienos via sistêmica no tratamento é a alta hepato e
nefrotoxidade que esses medicamentos causam, quando comparados aos compostos azóis
(CAMPOY; ADRIO, 2017).
As doses e terapias antifúngicas em equinos são realizadas com base em cálculos
alométricos ao uso em humanos. A administração oral de fluconazol demonstrou alcançar
boas concentrações endometriais para o tratamento de C. albicans em éguas (DASCANIO;
LEY; SCHWEIZER, 2000), sendo recomendada dose de ataque de 14mg/kg via oral no
primeiro dia, seguido de administração de 5mg/kg a cada 24 horas durante 2 a 3 semanas. O
Itraconazol também pode ser administrado na dose de 3-5mg/kg via oral a cada 24 horas
durante 2 a 3 semanas (FERRIS, 2017).
O tratamento sistêmico deve ser realizado de acordo com a sensibilidade do
microrganismo ao fármaco e a fim de combater formas sistêmicas ou invasivas no endométrio
que não são alcançadas pela terapia local. Devido ao uso difundido do fluconazol, a resistência
ao medicamento é uma realidade, não se recomenda seu uso para o tratamento da endometrite
fúngica causada por fungos com hifas septadas, como Aspergillus spp. (BELTAIRE;
CHEONG; COUTINHO DA SILVA, 2012).
256
Capítulo 15. Tratamento da endometrite fúngica em éguas
257
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
258
Capítulo 15. Tratamento da endometrite fúngica em éguas
compostos tem atraído a atenção de pesquisadores devido à sua estabilidade, baixa toxicidade
e um número variado de atividades, dentre elas atividade fungicida.
Nalawade e colaboradores (2019) sintetizaram derivados tiazolil-pirazolil-1,2,3-
triazólicos empregando a sequência sintética mostrada no Esquema 1.
Esquema 1 – Rota sintética utilizada para a síntese dos compostos triazólicos (1-25).
Comp. = composto
Fonte: Nalawade e colaboradores (2019)
Tabela 2. Atividade antifúngica dos compostos 1-25 conforme determinado pelo método de
difusão. Os fungos foram desafiados contra as substâncias avaliadas em meio de cultura sólido
e relaciona o tamanho da zona de inibição de crescimento do microrganismo desafiado com a
concentração da substância ensaiada. A inibição dos compostos triazólicos é apresentada em
(mm) (continua).
Composto C. albicans A. niger R. glutinis
1 n.a n.a n.a
2 11,8 14,0 19,5
3 15,8 16,4 14,6
4 11,5 13,6 19,0
5 16,4 14,0 17,5
6 15,8 - 18,4
259
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Tabela 2. Atividade antifúngica dos compostos 1-25 conforme determinado pelo método de
difusão. Os fungos foram desafiados contra as substâncias avaliadas em meio de cultura sólido
e relaciona o tamanho da zona de inibição de crescimento do microrganismo desafiado com a
concentração da substância ensaiada. A inibição dos compostos triazólicos é apresentada em
(mm) (conclusão).
Composto C. albicans A. niger R. glutinis
1 n.a n.a n.a
2 11,8 14,0 19,5
3 15,8 16,4 14,6
4 11,5 13,6 19,0
5 16,4 14,0 17,5
6 15,8 - 18,4
7 13,0 - 22,3
8 12,5 16,3 16,2
9 10,0 16,0 19,0
10 14,0 14,4 18,8
11 16,2 15,8 16,0
12 12,2 13,0 16,2
13 12,8 11,0 13,3
14 10,4 13,5 14,5
15 14,4 16,8 16,5
16 15,2 12,3 15,2
17 13,8 11,4 11,4
18 13,8 12,5 20,0
19 11,3 12,3 14,0
20 17,6 12,0 18,8
21 14,6 13,4 16,2
22 14,6 12,4 13,3
23 12,0 17,0 11,7
24 14,8 13,5 14,8
25 15,0 - -
Estreptomicina - - -
Fluconazol 20,25 18,35 25,30
Ravuconazol 28,64 20,18 20,15
n.a. = não se aplica; (-) = inativo;
Concentração utilizada para avaliar os compostos = 1000 µg/mL
Fonte: Nalawade e colaboradores (2019)
260
Capítulo 15. Tratamento da endometrite fúngica em éguas
261
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
262
Capítulo 15. Tratamento da endometrite fúngica em éguas
Tabela 4. Zona de inibição (mm) dos compostos triazólicos 27-36 avaliados nas concentração
de 100 e 50 µ/mL contra Aspergillus niger, Penicillium notatu, Aspergillus fumigatus e
Candida albicans
Aspergillus Penicillium Aspergillus Candida
Composto niger notatu fumigatus albicans
100 50 100 50 100 50 100 50
27 5 3 4 3 6 4 7 4
28 8 6 5 3 7 5 6 4
29 10 8 9 7 9 5 8 6
30 17 12 24 18 14 10 25 19
31 9 7 6 5 10 8 9 7
32 9 6 8 5 11 8 10 7
33 7 4 6 3 7 6 8 6
34 6 4 6 5 6 3 7 6
35 5 4 6 4 7 5 7 5
36 7 4 9 7 10 8 8 6
Cetoconazol 10 7 18 14 18 12 20 15
Fonte: Miniyar e colaboradores (2017)
263
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
264
Capítulo 15. Tratamento da endometrite fúngica em éguas
265
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
(Figura 2) (SOLIMAN, 2017; VOLTAN et al., 2016). Entretanto, ainda não houve relatos da
sua utilização no tratamento da endometrite uterina fúngica em éguas.
Os lipossomas foram as primeiras NPs contendo fosfolípides a serem usadas na entrega
de medicamentos, no início dos anos 80. São sistemas caracterizados por apresentarem uma
bicamada lipídica, contendo uma ou mais membranas fosfolipídicas concêntricas, contendo
um núcleo aquoso. Esta estrutura permite que os lipossomas atuem como sistemas de
distribuição eficazes para fármacos hidrofílicos e hidrofóbicos
(IMMORDINO; DOSIO; CATTEL, 2006; SOLIMAN, 2017; VOLTAN et al., 2016).
O Ambisome® é um sistema lipídico lipossomal contendo AmB, considerado como
formulação lipídica comercial que obteve maior sucesso dentre os fármacos antifúngicos. Esse
sistema é capaz de interagir fortemente com as moléculas de AmB ancorando-a fortemente na
bicamada lipídica devido a interações favoráveis com os lípides. Essa forte associação é
responsável pela liberação lenta da AmB para a corrente sanguínea, modificando sua
biodistribuição. Isto possibilita a redução da sua captação por células renais e,
consequentemente, ocorre diminuição da nefrotoxicidade (IMAN et al., 2011; ROMERO;
MORILLA, 2008; VYAS; GUPTA, 2006). É importante destacar que a AmB é o único
medicamento antifúngico comercializado em nanoformulações (WEISSIG; GUZMAN-
VILLANUEVA, 2015).
Formulações lipossomais de antifúngicos triazólicos ainda estão sob investigação e
não disponíveis comercialmente. Vale destacar os lipossomas de fluconazol. Entretanto, estas
formulações foram testadas apenas em coelhos através da via ocular, demonstrando taxas de
cura superiores que a formulação convencional para doenças fúngicas oculares (HABIB et al.,
2010; VELPANDIAN et al., 2006).
As SLN são formadas por gotículas lipídicas dispersas em uma fase aquosa
estabilizada por uma camada de surfactante e apresenta os mesmos constituintes de uma NE,
diferindo quanto aos lipídeos que constituem as gotículas, que são líquidos. No caso da SLN,
os lípideos são sólidos à temperatura ambiente (ex. ceras, glicerídeos e ácidos graxos). Os
lípides sólidos geram liberação controlada do fármaco encapsulado, além de oferecer uma
maior proteção dos fármacos contra a degradação, levando a uma melhor estabilidade
(BUNJES, 2010; KUMAR; RANDHAWA, 2013; MULLER; SHEGOKAR; KECK, 2011).
Existe ainda outro tipo de sistema, no qual as gotículas são compostas tanto por lípides
sólidos quanto por líquidos, denominado por carreadores lipídicos nanoestruturados (NLC)
(MULLER; RADTKE; WISSING, 2002). Algumas formulações de antifúngicos triazólicos
vêm sendo investigadas tanto in vitro, quanto in vivo, destacando-se as SLNs e NLCs de
266
Capítulo 15. Tratamento da endometrite fúngica em éguas
itraconazol (ITZ) (LIM et al., 2014; MIRZA et al., 2016; PARDEIKE et al., 2016) e de
fluconazol (GUPTA; VYAS, 2012). Embora vários destes produtos já estejam disponíveis no
mercado de cosméticos, nenhuma das formulações de antifúngicos azólicos foi testada
clinicamente em éguas com endometrite fúngica.
As NE têm sido utilizadas há anos para a nutrição parenteral e como carreadora de
fármacos devido à sua biocompatibilidade, capacidade de solubilizar altas quantidades de
compostos hidrofóbicos, capacidade para reduzir a toxicidade de fármacos citotóxicos e de
protegê-los a partir da hidrólise e degradação enzimática em condições fisiológicas (ARAÚJO
et al., 2011). Dentre as NE carreadoras de antifúngicos triazólicos, as NE contendo ITZ foram
desenvolvidas e incorporadas em um gel mucoadesivo para tratamento de candidíase
intravaginal, utilizando ratos infectados com C. albicans. Os resultados demonstraram que o
gel de NE contendo ITZ apresentou uma permeabilidade significativamente maior em
comparação com o gel convencional (MIRZA et al., 2013; MONDELLO et al., 2006).
Além de aumentar a permeabilidade tópica do ITZ, as NE também foram responsáveis
pelo aumento da biodisponibilidade oral do fármaco. A ação antifúngica das NE de ITZ foi
superior em relação a suspensão do fármaco contra Aspergillus niger.
Além disso, as NE de ITZ tiveram uma melhor permeação através do estômago e do
intestino em comparação com a suspensão do fármaco e sua formulação comercial
(Sporanox®). Estudos in vivo em ratos Wistar machos saudáveis mostraram uma
biodisponibilidade cerca de 2 vezes superior para as NE de ITZ em comparação com a
suspensão do fármaco (THAKKAR et al., 2015).
Quanto a ação de nanopartículas em biofilmes, estudos apontam que a aplicação da
nanotecnologia em sistemas de liberação de fármacos possui grande potencial para o
tratamento de biofilmes fúngicos. A capacidade das nanopartículas de potencializar moléculas
ativas inibidoras de biofilmes revela-se como uma alternativa eficaz, possibilitando o uso de
fármacos disponíveis na prática clínica de forma melhorada (DOS SANTOS et al., 2018).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
267
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
são de extrema importância para melhorar a eficiência do tratamento, tanto para a saúde
humana quanto das éguas.
6 AGRADECIMENTOS
7 REFERÊNCIAS
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of subclinical endometritis in mares. Reproductive Biology and Endocrinology, v. 12, n.
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272
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
16
273
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
1 INTRODUÇÃO
2 ANTI-HELMÍNTICOS
274
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Eprinomectina N Ruminantes
Avermectinas Ivermectina Equinos
Ruminantes
N
Suínos
Cães
Selamectina Cães
N
Gatos
Paralisia
Milbemicina Ions cloro N Cães
flácida
Milbemicina
Ruminantes
Moxidectina N
Equinos
Potencialização Paralisia Aves
Piperazina Piperazina Ascarididae
do GABA flácida Suínos
Paralisia Ruminantes//
Bloqueio da Equinos
Morte por
Albendazol polimerização da T2/C3/N Suínos
inanição
tubulina Cães
Ovicida Gatos
Ruminantes
Equinos
Fembedazol T/C/N
Cães//
Aves
Benzimidazóis
Ruminantes/
Oxbendazol C/N Aves
Equinos
Oxfendazol N Bovinos
Ruminantes
Tiabendazol N Equinos
Suínos
Triclabendazol T Ruminantes
275
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
276
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Conhecidas também como avermectinas, onde o termo é formado pelo prefixo grego a
que significa “sem”, verme, do latim vermis e ecto, do grego ektós, que significa externo,
indicando que sua ação é para eliminação de endo e ectoparasitos (GERENUTTI; SPINOSA,
1997).
As lactonas macrocíclicas (ou macrolídeos) são moléculas provenientes de substâncias
produzidas por microorganismos estreptomices e apresentam grandes estruturas macrocíclicas
que compartilham propriedades estruturais e físico-químicas, com potenciais endectocidas e o
mesmo mecanismo de ação que revela as várias moléculas conhecidas como avermectinas e
milbemicinas, as principais moléculas são Abamectina, Ivermectina, Doramectina, Selamectina
e Eprinomectina. São classificadas como semissintéticas (Ivermectina e moxidectina) e
sintéticas (Doramectina). As lactonas são altamente eficazes em baixas doses, muito seguras e
possuem amplo espectro de ação contra nematoides e artrópodes (BOWMAN, 2010;
SPINOSA; GORNIAK; BERNARDI, 2011).
As milbemicinas diferem das avermectinas por um componente em sua constituição
química, sendo a moxidectina derivada da fermentação de uma espécie de estreptomices
diferente (SPINOSA; GORNIAK; BERNARDI, 2011).
De acordo com Bowman (2010) esses parasiticidas são os mais eficazes e menos tóxicos
desenvolvidos, onde sua ação se dá pela afinidade ao canal de cloro regulado pelo glutamato
que desencadeiam o influxo de cloro, há uma hiperpolarização nos neurônios do parasito e
previne o início ou a propagação de potenciais de ação normais, levando a uma paralização
flácida e morte. Apesar de suas atividades benéficas, as lactonas apresentam diversas falhas,
pois são ineficazes contra cestódeos e trematódeos e possuem alto valor agregado.
A farmacocinética ocorre por administração via oral, subcutânea ou transcutânea. A
absorção é mais rápida pela via oral, exceto nos ruminantes que absorvem até 30% do total
por inativarem parcialmente o fármaco no rúmen. A distribuição é ampla, entretanto não
atinge o Sistema Nervoso Central (SNC) em quantidades significativas normalmente, exceto
em cães dolicocefálicos, onde uma maior permeabilidade da barreira hemato-encefálica faz
com que o fármaco possa atingir o SNC, causando intoxicação, seu metabolismo é hepático,
a eliminação primariamente se dá pelas fezes, embora possa aparecer na urina (VIANA, 2014).
277
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
2.1.1 Ivermectina
2.1.2 Abamectina
278
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
2.1.3 Doramectina
2.1.4 Eprinomectina
É uma molécula que apresenta ação de amplo espectro, formulada para aplicação tópica
localizada e não exige período de carência para leite e carne (SHOOP; MROZIK; FISHER,
1995). O agente é o único macrocíclico que pode ser utilizado no gado leiteiro lactante, sendo
mais hidrofílica diminuindo o provável resíduo no leite (FURLONG; PRATA; MARTINS,
2007; HOLSTE et al., 1997; SHOOP; MROZIK; FISHER, 1995). Além disso, possui ação
efetiva frente a Haemonchus placei, Cooperia punctata, Oesophagostomum radiatum,
Trichuris discolor e Agriostomum vryburgi em bovinos (COUMENDOUROS et al., 2003).
2.1.5 Selamectina
279
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
Foi a segunda lactona a ser aprovada pelo FDA, atua como preventiva de Dirofilaria
immitis para cães e gatos, também apresenta atoxicidade para cães Collie e pode ser utilizada
em animais prenhes e lactantes (BOWMAN, 2010).
2.1.7 Moxidectina
2.2 PIPERAZINA
280
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
2.3 BENZIMIDAZÓIS
281
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
2.3.1 Tiabendazol
2.3.2 Fenbendazol
2.3.3 Oxfendazol
282
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
origem. Não pode ser utilizado em vacas de leite em idade de reprodução, por não ter
estabelecido o tempo de retirada de leite (BOWMAN, 2010). É o mais absorvido dos
benzimidazóis pelo trato gastrointestinal, sua utilização em animais debilitados deve ser com
cautela e é relativamente seguro para potros (VIANA et al., 2000). Amarante e colaboradores
(1992) relataram resistência de Haemonchus e Trichostrongylus em ovinos frente a oxfendazol
e outras moléculas.
2.3.4 Febantel
2.3.5 Oxbendazol
2.3.6 Albendazol
283
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
2.3.7 Triclabendazol
2.4 PIRIMIDINAS
284
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
2.5 PRAZINOQUINOLONA
285
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
utilizado em felinos parasitados com Platynosomum fastosum e foi efetivo (CAMPOS et al.,
2018), nos cestódeos de aves Raillietina cesticillus e Amoebotaenia cuneata apresentou
controle de 100% dos parasitos (MARTINS et al, 2003). Além disso, foi testado para cães,
gatos, ratos, cabras, veados e galinhas infectados com Dipylidum caninum, Spirometra sp.,
Taenia pisiforme, Taenia taeniaeformis, Hymenolepis nana, Moniezia expansa, Moniezia sp. e
Raillietina sp., demonstrando eficiência (EOM; KIM; RIM, 1988).
2.6.2 Nitroscanato
286
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
2.6.3 Nitroxil
2.6.4. Disofenol
O disofenol é um vermicida que apresenta ação residual, indicado para bovinos, ovinos
e caprinos, há indicação para seu uso em animais com fasciolose, funcionando contra formas
maduras e imaturas, além de apresentar efeitos frente a verminoses intestinais causadas por
Haemonchus sp., Bunostomum sp. e Oesophagostomum sp. (LIVROZILLA, 2019). É indicado
para cães e possui atividade contra Ancylostoma caninum, A. braziliense, Spirocerca lupi e
Uncinaria stenocephala (EPUB, 2007).
Porém, apresentou baixa eficácia frente a Fasciola hepatica (ECHEVARRIA;
PINHEIRO, 1979). E Silva et al. (2017) relataram que no tratamento de ovinos jovens que
apresentavam Haemonchus spp., Trichostrongylus spp. e Bunostumun spp., a molécula não foi
efetiva, demonstrando resistência parasitária. Entretanto, Oliveira et al (2014) demonstraram
em seu estudo que o disofenol no tratamento de ovelhas mostrou-se eficaz, eliminanto 100%
de Trichostrongylus sp. e Haemonchus sp.
2.7 SALICILANILIDAS
287
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
aos benzimidazois e lactonas macrocíclicas. Os medicamentos que representam esta classe são
a niclosamida, rafoxanida e o closantel, sendo este o de maior destaque no controle de
nematódeos em ruminantes (SPINOSA; GÓRNIAK; BERNADI, 2011).
2.7.1 Closantel
2.7.2 Niclosamida
O princípio ativo niclosamida, por ser insolúvel em meio aquoso tem baixa absorção no
trato gastrointestinal. Encontra-se na formulação de suspensão, pasta e comprimido. Possui
ação contra cestodas e Paramphistomum sp. (SPINOSA; GÓRNIAK; BERNADI, 2011). No
compendium de produtos veterinários do SINDAN (2019), apenas um produto é registrado com
niclosamida, sendo associado a oxbendazole e com ação nos principais helmintos de cães e
gatos.
2.7.3 Rafoxanida
288
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
2.8 ORGANOFOSFORADOS
2.8.4 Triclorfon
De maneira geral, este grupamento químico foi originalmente desenvolvido para atuar
sobre ectoparasitos. Entretanto, alguns estudos demonstraram que estes fármacos, apresentam
eficácia contra cepas de nematódeos de bovinos resistentes a elevadas concentrações de
ivermectina (LOPES et al., 2009).
Com relação ao uso, pelo fato de sofrer alteração na biotransformação em meio alcalino,
quando administrado por via oral em bovinos requer 4,5 vezes a dose recomendada quando
usado de maneira tópica. Deve-se respeitar a carência para consumo da carne de 1 dia, não
tendo restrições com relação ao consumo do leite (SPINOSA; GÓRNIAK; BERNADI, 2011).
289
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
2.10 IMIDAZOTIAZÓIS
Este grupamento começou a ser utilizado nos anos 60, sendo o primeiro fármaco
disponível o tetramisol, posteriormente desenvolvido o levamisol, sendo este o único que ainda
apresenta efeito (LIMA et al., 2010; VIEIRA et al., 2009). O mecanismo de ação dos
imidazotiazóis é a partir da entrada por permeabilidade na cutícula do parasito, atuando como
agonista colinérgico em sua musculatura, levando a um quadro de contração muscular e
paralisia espástica, que serão eliminados junto ao muco das fezes no trato gastrointestinal e no
muco dos brônquios no pulmão (SPINOSA; GÓRNIAK; BERNADI, 2011).
290
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
291
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
3 CONCLUSÕES
A revisão mostrou uma grande variedade de moléculas com ação anti-helmíntica, com
diferentes mecanismos de ação, bem como indicações específicas, o que leva a limitações no
uso e restrições em algumas espécies e ações específicas em alguns helmintos.
4 REFERÊNCIAS
ARIEL, T.; LOURDES, V.; WILLY, M. L.; MANUEL, L. M.; Determinação da eficácia anti-
helmíntica de albendazol e fenbendazol em Moniezia expanza (Rudolphi 1810) e
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293
Capítulo 16. Anti-helmínticos de importância veterinária no Brasil
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
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296
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
VIANA, F. A. B. Guia terapêutico veterinário. 3. ed. Lagoa Santa: Editora Cem. 2014.
297
Capítulo 17. Ação de compostos naturais e sintéticos sobre tecidos de carrapatos do gênero
Rhipicephalus
Capítulo
17
298
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
299
Capítulo 17. Ação de compostos naturais e sintéticos sobre tecidos de carrapatos do gênero
Rhipicephalus
2 O GÊNERO Rhipicephalus
Figura 1: Representação do ciclo de vida do carrapato da espécie Rhipicephalus microplus. Fase parasitária: 1)
larva infectante realizando a fixação no bovino; 2) ninfa; 3) teleógina em estágio final de ingurgitamento. Fase de
vida livre: 4) teleógina logo após desprendimento, em período de postura no solo; 5) ovos, no solo, em período de
incubação; 6) larva, no solo, em período de incubação.
Fonte: Andreotti et al., 2002.
300
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Barcker (2003), através de estudo molecular e morfologia onde Boophilus passou a ser
subgênero. E entre os cinco gêneros de ixodídeos encontrados no país (Rhipicephalus,
Haemaphysalis, Dermacentor, Amblyoma e Ixodes), a espécie Rhipicephalus (B.) microplus se
destaca em relação ao impacto econômico gerado na pecuária brasileira (ANDREOTTI;
GARCIA; KOLLER, 2019).
Figura 2: Fêmeas adultas ingurgitadas de Rhipicephalus microplus (A) e Rhipicephalus sanguineus (B) fazendo
postura de ovos
Fonte: Araújo 2015.
Já a espécie Rhipicephalus sanguineus (Figura 2B), apesar de não causar relevante perda
econômica por ter como principal hospedeiro o cão doméstico, tem grande importância sendo
responsável por problemas em saúde pública, visto que pode ser transmissora de doenças e
parasitar o ser humano (RODRÍGUEZ-VIVAS et al., 2016).
Essas duas espécies do gênero Riphicephalus se diferenciam morfologicamente em
função da quantidade de pares de placas adanais e formato do peritrema. Nos carrapatos machos
da espécie R. sanguineus observa-se um par de placas adanais desenvolvidas e geralmente um
par pouco desenvolvido, com peritrema em forma de vírgula (Figura 3A), enquanto os
indivíduos machos da espécie R. microplus possuem dois pares de placas adanais bem
desenvolvidas e peritrema circular (Figura 3B) (MARTINS et al., 2007).
301
Capítulo 17. Ação de compostos naturais e sintéticos sobre tecidos de carrapatos do gênero
Rhipicephalus
A B
1 2
Figura 3: A - Representação de vista ventral do carrapato macho de Rhipicephalus sanguineus. 1 - Um par de
placas adanais desenvolvidas; e B - do carrapato macho da espécie Rhipicephalus microplus. 2 - Segundo par de
placas adanais; 3 - Peritrema circular.
Fonte: Adaptado de Martins et al., 2007.
302
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
303
Capítulo 17. Ação de compostos naturais e sintéticos sobre tecidos de carrapatos do gênero
Rhipicephalus
O início da utilização de acaricidas sintéticos ocorreu por volta do ano de 1949 com o
desenvolvimento de carrapaticidas arsênicos (FURLONG; MARTINS; PRATA, 2004).
Atualmente no mercado estão disponíveis carrapaticidas químicos de contato (piretróides
sintéticos, organofosforados, fenilpirazois e amidínicos) e os carrapaticidas sistêmicos (lactonas
macrocíclicas e difluorobenzoilureia) (HIGA et al., 2019).
Os piretróides foram os acaricidas mais vendidos nas últimas décadas, correspondendo
a, aproximadamente, um terço de todos os pesticidas utilizados no mundo (CAMPOS et al.,
2012). Originalmente o composto piretrina era obtido de plantas do gênero Chrysanthemun,
sendo desenvolvidos posteriormente os piretróides sintéticos, que possuíam vantagem de serem
mais estáveis, menos tóxicos, não acumularem no tecido animal e com efeito mais duradouro
(SODERLUND et al., 2002).
Já para as lactonas macrocíclicas, foram disponibilizados no mercado dois grupos: as
avermectinas (abamectina, ivermectina, doramectina, eprinomectina e selamectina) e a
moxidectina. As benzofenilureas agem inibindo a produção de quitina, impedem mudança de
fase e crescimento do carrapato e a eclosão de ovos, controlando assim a população de
carrapatos na pastagem (FURLONG; MARTINS; PRATA, 2007).
A administração incorreta dos acaricidas, como a superdosagem ou o uso constante do
mesmo princípio ativo, pode causar o desenvolvimento de populações de carrapato resistentes
aos produtos comerciais disponíveis no mercado, fazendo com que o controle da espécie seja
praticamente inviável nesta situação (LE GALL; KLAFKE; TORRES, 2018).
Mudanças no metabolismo e eliminação do ingrediente ativo, redução na taxa de
penetração e alterações no local de ação do produto são alguns dos mecanismos em que as
populações de carrapatos podem sobreviver a aplicação de carrapaticidas. A resistência de uma
população de carrapatos a determinado produto pode ainda estender-se para outros produtos
químicos da mesma família ou grupo químico (FURLONG; MARTINS; PRATA, 2007).
Os carrapaticidas organofosforados, amidínicos, piretróides sintéticos e fenilpirazóis, de
aplicação tópica, podem ser aplicados por meio de pulverização, imersão ou “pour on”. Após a
aplicação, o produto penetra pelos orifícios ou pela cutícula do carrapato promovendo a
304
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
305
Capítulo 17. Ação de compostos naturais e sintéticos sobre tecidos de carrapatos do gênero
Rhipicephalus
306
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
A B
10 µm 10 µm
A B C D
Figura 5: Cortes histológicos de ovário de Rhipicephalus sanguineus corados por H-E, grupo controle e grupos
tratados com fipronil. (A) Detalhe dos oócitos estágios II e III do grupo I (controle). (B) Detalhe do oócito III do
grupo II (1 ppm). (C) Detalhe do oócito III do grupo III (5 ppm). (D) Detalhe do oócito III do grupo IV (10 ppm).
gv = vesícula germinativa; I = oócito estágio I; II = oócito estágio II; III = oócito estágio III; IV = oócito estágio
IV; V = oócito estágio V; nu = nucléolo; p = pedicelo; pm = membrana plasmática; v = vacúolos. Barras: A – D =
0,02 mm.
Fonte: Adaptado de Oliveira; Bechara; Carmago-Mathias, 2008.
307
Capítulo 17. Ação de compostos naturais e sintéticos sobre tecidos de carrapatos do gênero
Rhipicephalus
Figura 6: Observação estereoscópica dos órgãos reprodutores de fêmeas ingurgitadas de R. microplus do grupo
tratado 5 dias após tratamento. A) Vista dorsal de fêmea ingurgitada do grupo não tratado (controle). B) vista
dorsal de fêmea ingurgita tratada com etil- (4-bromofenil) carbamato. C) Ovário de fêmea ingurgitada do grupo
controle. D) ovário de fêmea do grupo tradado com etil- (4-bromofenil) carbamato. mo = oócitos maduros; io =
oócitos imaturos; ov = oviduto.
Fonte: Prado-Ochoa et al. (2014).
308
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
morfológicos que podem indicar modificações na fisiologia das glândulas salivares. Os autores
observaram que a vacualização ocorrida nas estruturas das glândulas salivares pode ter sido
causada pelo efeito dos compostos do óleo de neem (Figura 7) sobre ácinos glandulares. Efeito
este que apresenta semelhança às alterações observadas em carrapatos expostos ao fipronil e
permetrina.
A B
C D
Figura 7: Micrografias eletrônicas de ácinos em glândulas salivares de carrapatos R. sanguineus do grupo controle,
captadas por microscopia eletrônica de transmissão. Acino glandular grupo controle (A e C). Acino glandular
grupo tratado (B e D). Legendas: (chr) cromatina, (cy) citosol, (m) mitocôndria, (ne) envoltório nuclear, (nu)
nucleolo, (rer) retículo endoplasmático rugoso, (sg) grânulos de secreção, subunidades de grânulos secretórios
(sub), (vac) vacualização.
Fonte: Remedio et al. (2016).
309
Capítulo 17. Ação de compostos naturais e sintéticos sobre tecidos de carrapatos do gênero
Rhipicephalus
A B C D
Figura 8: Secções histológicas de óocitos III de ovário de Rhipicephalus sanguineus tratados com extrato de
Acmella oleracea. Coloração H e E. III: oócito estágio III. A) grupo controle. B) grupo tratado (25 mg / mL). C)
grupo tratado (33 mg / ml). D) grupo tratado (40 mg / ml). gv: vesícula germinativa; nu: nucléolo; pm: membrana
plasmática; v: vacúolos. Barras (A-D) 50 µc.
Fonte: De Oliveira et al., 2019.
310
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Figura 9: Secções histológicas dos ovários de fêmeas ingurgitadas de Rhipicephalus microplus do grupo controle
(tratadas com 5% de DMSO e água) e corados com azul de toluidina. Oócito estágio I (A); oócito estágio II (B);
oócito estágio III (C, D); oócito estágio IV (E); oócito estágio V no oviduto (F). Corion (ch); vesícula germinativa
(gv); nucleolo (nu); pedicelo (p) (barra de escala= 100 µm).
Fonte: Barbosa et al., 2016.
Figura 10: Secções histológicas dos ovários de fêmeas ingurgitadas do carrapato Rhipicephalus microplus expostas
ao 3b-O-tigloylmelianol (0,01%) e coradas azul de toluidina. Oócito estágio I (A); oócito estágio II (B); oócito
estágio III (C, D); oócitos estágios III / IV (E); oócito estágio V (F). Corion (ch); vesícula germinal (gv); nucleolo
(nu); pedicelo (p); vacúolos (va) (barra de escala= 100 µm).
Fonte: Barbosa et al., 2016.
311
Capítulo 17. Ação de compostos naturais e sintéticos sobre tecidos de carrapatos do gênero
Rhipicephalus
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 AGRADECIMENTOS
7 REFERÊNCIAS
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
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Capítulo 17. Ação de compostos naturais e sintéticos sobre tecidos de carrapatos do gênero
Rhipicephalus
DENARDI, S. E. et al. Inhibitory action of neem aqueous extract (Azadirachta indica A. Juss)
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
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Capítulo 17. Ação de compostos naturais e sintéticos sobre tecidos de carrapatos do gênero
Rhipicephalus
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia de invertebrados. São Paulo: Roca,
7. ed. 2005.
316
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
18
317
Capítulo 18. Descarte domiciliar de medicamentos de uso veterinário: legislação e impactos
1 INTRODUÇÃO
318
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
Medicamentos e produtos de higiene e beleza, bem como seus resíduos, são considerados
poluentes emergentes (BORRELY et al., 2012). Tais substâncias, enquanto resíduos presentes
no meio ambiente e sujeitos as condições adversas de umidade, temperatura e luz, podem se
transformar em substâncias potencialmente tóxicas, provocando desequilíbrio ambiental,
modificando ciclos biológicos e alterando teias e cadeias alimentares (PINTO et al., 2014).
A contaminação por este tipo de resíduo ocorre tanto na zona rural quanto zona urbana.
Nesta última, o principal responsável é o consumo de medicamentos, com excreção de
metabólitos ou dos fármacos inalterados pela urina ou fezes e, também, pelo descarte dos
produtos não utilizados no lixo ou na rede de esgoto doméstico. Estes compostos não são
removidos a partir dos sistemas convencionais de tratamento de água (PINTO et al., 2014).
Inúmeras pesquisas relatam a presença de fármacos provenientes de medicamentos no
meio-ambiente e atribuem os crescentes relatos deste tipo de contaminiação em função do
fenômeno da automedicação, do aumento da média de idade da população e do maior acesso
da população aos medicamentos, culminando com o aumento do descarte incorreto
(CARVALHO et al., 2009). Um levantamento realizado por Melo et al. (2005), constatou que
cerca de 75% de pessoas entrevistadas relataram descartar medicamentos no lixo doméstico e
cerca de 6,5%, o fazem na pia ou no vaso sanitário. Figueiredo et al. (2011) encontraram
resultados semelhantes ao entrevistar 2000 indivíduos, visto que 30,45% relataram efetuar o
descarte das sobras de medicamentos no lixo urbano, sendo cerca de 89% no lixo seco e 7,5%
no lixo úmido. Um fato ressaltado pelos autores é que alguns catadores de lixo, muitas vezes,
utilizam os medicamentos descartados e sofrem intoxicações, colocando em risco a saúde dos
319
Capítulo 18. Descarte domiciliar de medicamentos de uso veterinário: legislação e impactos
320
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
3.1 HORMÔNIOS
321
Capítulo 18. Descarte domiciliar de medicamentos de uso veterinário: legislação e impactos
3.2 ANTIBIÓTICOS
322
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
ambiente, a excreção de metabólitos e fármacos inalterados por animais na água e solo através
de fezes e urina levam a poluição da água, visto que estes resíduos têm sido encontrados em
águas subterrâneas e suprimentos de água potável (ALBANAZ, et al., 2017; TANNUS, 2017).
A principal via de entrada de agentes antibióticos que leva a contaminação de ambientes
aquáticos e terrestres consiste na elevada disseminação de uso destes fármacos como aditivos
de alimentação na aquicultura e criação de suínos e na promoção do crescimento em rebanhos
bovinos e manejo de aves. Os ecossistemas aquáticos são alvos de mudanças prejudiciais
quando os antibióticos são lançados diretamente nas águas superficiais acarretando em elevada
carga residual levando ao acúmulo de sedimentos. Ainda, de forma direta os antibióticos podem
atingir o ambiente por meio de excreções dos animais em pastejos e de maneira indireta pela
aplicação de esterco animal no solo de lavouras. No solo estes resíduos por processos de
escoamento supeficial ou lixiviação alcançam o ambiente aquático afetando organismos tanto
aquáticos quanto terrestres (REGITANO; LEAL, 2010).
Um estudo realizado no estado de São Paulo por Locatelli (2011) objetivou o
desenvolvimento de uma metodologia analítica para determinação de antibióticos em matrizes
aquosas. Por meio desta metodologia de análise foram encontradas concentrações significativas
de antibióticos como cefalexina e amoxicilina em amostras coletadas de diferentes pontos ao
longo do Rio Atibaia contemplando os municípios de Atibaia e Campinas.
A resistência bacteriana cruzada pode surgir quando os mesmos antibióticos utilizados
nas infecções humanas são usados nas infecções em animais e, as bactérias causadoras destes
agravos, passam a se tornar resistentes, afetando tanto a saúde humana quanto animal (KORB,
et al., 2011). A resistência bacteriana aumenta os agravos nos quadros clínicos de pacientes
hospitalizados e prejudica a saúde pública de um ponto de vista econômico, dado que aumenta
o tempo de internação, leva a falhas no tratamento de pacientes com infecções simples e em
alguns casos requer a utilização de uma associação medicamentosa para minimizar a infecção
(LOUREIRO et al., 2016). Dentre os parâmetros de maior contribuição para evolução e
desenvolvimento da resistência bacteriana tem-se a presença de genes de resistência e sua
transferência entre as bactérias e a pressão seletiva exercida pelo uso abusivo e indiscriminado
dos antibióticos (NEVES, et al., 2007).
323
Capítulo 18. Descarte domiciliar de medicamentos de uso veterinário: legislação e impactos
324
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
325
Capítulo 18. Descarte domiciliar de medicamentos de uso veterinário: legislação e impactos
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
326
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
educativas para a população, bem como ações preventivas e fiscalizadoras por parte dos
governos e de órgãos sociais, demandando comprometimento de todos, se configuram como
essenciais para a proposição e implementação que regulamentam o descarte. Dotada de
informações acerca dos impactos ambientais e na saúde gerados a partir da presença de
fármacos na água e no solo, a população possui maiores subsídios para se organizar e cobrar
dos governantes, em todas as esferas, medidas efetivas para a redução dos níveis de fármacos
no meio ambiente, de forma semelhante àquelas já existentes para determinadas categorias de
produtos, como pneus, pilhas, baterias, embalagens com agrotóxicos e lâmpadas fluorescentes.
6 REFERÊNCIAS
BILA, D.; DEZOTTI, M. Fármacos no meio ambiente. Química Nova, v. 26, n. 4, p.523-530,
2003.
327
Capítulo 18. Descarte domiciliar de medicamentos de uso veterinário: legislação e impactos
328
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
KORB, A. et al. Riscos para a saúde humana do uso de antibióticos na cadeia produtiva
leiteira. Revista Saúde Pública, v. 4, n. 1, p. 21-36, 2011.
329
Capítulo 18. Descarte domiciliar de medicamentos de uso veterinário: legislação e impactos
330
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
SORENSEN, B. H.; et al. Ocurrence, fate and effects of pharmaceutical substances in the
environment - A reiew. Chemosphere, v. 36, n. 2, p. 357-393, 1998.
TANNUS, M. M. Poluição ambiental causada por fármacos para usos humanos e veterinários.
Revista Acadêmica Oswaldo Cruz. v. 4, n. 15, p. 2357-8173, 2017.
331
Capítulo 19. Uma abordagem sobre os cães-guia
Capítulo
19
1
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: raphapaixao28@gmail.com
2
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: mayara.fernanda201@gmail.com
3
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: luizfilippe.soares@gmail.com
4
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: karen.carvalho@hotmail.com.br
5
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: francielymota94@gmail.com
6
Mestre em educação pela Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: maria.zache@ifes.edu.br
7
Instituto Federal do Espírito Santo - Campus de Alegre, e-mail: mvpaulojr@gmail.com
8
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: kapreising@gmail.com
332
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
O cão guia é um cão de serviço, treinado para conduzir seu tutor, deficiente visual. São
animais dóceis, treinados para não comer, brincar ou fazer suas necessidades fisiológicas
durante o serviço. No momento em que estão conduzindo seus tutores, devem utilizar uma guia,
contendo um colete com informações: nome do cão, nome do tutor e o CNPJ do projeto de onde
foi treinado. Enquanto estão em serviço, esses animais não devem ser tocados, ou estimulados
a brincadeiras, para evitar esse tipo de interação, são usados lenços com aviso “Estou
trabalhando, não me toque”. Assim, ao serem colocadas as suas guias, eles entendem que estão
em serviço e devem conduzir seu tutor da melhor maneira (TAVARES, 2013).
As raças de cães para melhor treinamento para cães-guia são o Pastor Alemão, o
Labrador Retriever, o Golden Retriever, e o cruzamento entre essas duas raças - o Flat Coated
Retriever. A escolha dessas raças é devido ao seu temperamento calmo, obediência, boa
adaptação, capacidade de aprendizagem e facilidade de interação social devido sua aparência
(CARMO; FONSECA; ROSA, 2014; ENNIK et al., 2006).
O Labrador apresenta uma excelente companhia devido sua tolerância, necessidade de
brincar, ter uma personalidade jovem. Já o Golden Retriever, sua principal característica é
devido a sua calma, confiança, sendo um cão muito obediente e inteligente. O Flat-Coated
333
Capítulo 19. Uma abordagem sobre os cães-guia
Retriever é um cão muito usado no Reino Unido, devido manter sua juventude e apresenta uma
grande característica em agradar seu dono (HELEN KELLER, 2019).
Para a seleção de cães-guia é feita uma triagem com os animais ainda filhotes. É feita
uma seleção analisando o fator comportamental, genético, saúde, interação entre outros animais
e com fatores ambientais até a oitava semana de vida (IRIS, 2019). Os cães passam por diversos
estímulos controlados para avaliar suas reações e prever como será seu possível comportamento
no futuro. Avalia-se ainda se o animal conseguirá se adaptar a família ou a sua atividade como
guia (HARVEY et al., 2016).
O ideal para realização da triagem é que seja feita entre 9 e 18 semanas de idade, mas
alguns testes são sugeridos serem feitos entre 6 e 8 semanas, pois é o momento em que o cão
começa a ter contato com desconhecidos, permitindo avaliar seu comportamento. Esta
avaliação com os filhotes é denominada como Avaliação do Perfil do Filhote, em inglês Puppy
Profiling Assessment (PPA), onde são registradas as reações desses animais, em relação aos
estímulos ambientais realizados. A capacidade de resposta do cão aos estímulos realizados
refletirá no seu treinamento como guia, sendo um método para selecionar potenciais cães-guia
no futuro (ASHER et al., 2013).
Harvey et al. (2016) descreveram alguns testes que ajudam na seleção de animais jovens,
analisando o comportamento de futuros cães-guia. O estudo foi realizado no período de cinco
e oito meses de idade, com animais de raças Labrador Retriever, Golden Retriever e Flat Coated
Retriever. Foram avaliados frente a pessoas estranhas, resposta a comandos (parar, sentar,
largar), risco de perigo (áreas escorregadias), sensibilidade corporal, uso de objetos sobre o
animal, alimentos pelo caminho, uso de brinquedos, pombos de plástico e distração humana.
Dessa maneira, analisavam as reações dos cães como: obediência, responder aos comandos,
reações frente a uma pessoa estranha, distrações, agitação, arranhões e entre outros.
Por meio dos testes utilizados, foi possível identificar animais que teriam aptidão para
se tornar um cão-guia. Analisando o comportamento de cada um, os animais que não
respondiam aos comandos, que se distraíam facilmente, ou não associavam o risco de perigo,
não foram selecionados. Os animais que não são selecionados são retirados do programa e
vivem como animais pet. Mesmo com todo período de testes, pode ser que com decorrer do
334
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
Após a seleção dos filhotes, antes de iniciar o treinamento específico para o cão-
guia, os animais são socializados, sendo recebidos por família socializadoras. Essas famílias
são pessoas voluntárias que se disponibilizam a ficar com o cão durante 15 meses
aproximadamente. Para receber o cão, essas pessoas passam por entrevistas, visitas e uma
seleção. Os animais devem acompanhar essa família para todos os lugares, como:
supermercados; lojas; universidades; bancos e todas as rotinas comuns do dia-a-dia, para que o
animal tenha maior socialização. Durante o processo de socialização, todos os gastos com o
cão, são custeados pelo centro de treinamento (informação verbal)1.
A seleção dos cães deve ser realizada antes de serem destinados às famílias
socializadoras, pois os cães são separados e ficam isolados, indo para várias casas diferentes,
sendo submetidos a diferentes atividades no cotidiano, não tendo por isso, uma avaliação do
grupo em geral (BRAY et al., 2017a).
Após a socialização, o animal volta para o centro e inicia o treinamento durante três a
cinco meses. Durante o processo, o cão usa um tipo de colete, indicando que está em serviço.
Os treinadores ensinam os comandos básicos para o animal se tornar um cão-guia: identificar
degraus, obstáculos, veículos, entre outros. Os exercícios são realizados diariamente para se
tornar um hábito para o animal, onde voltará a sua vida de animal pet, só após a retirada do
colete de serviço (IRIS, 2019).
1
Notícia fornecida pelo Treinador e Instrutor de Cães-Guia | IFC - Campus Camboriú, em outubro de 2017
335
Capítulo 19. Uma abordagem sobre os cães-guia
Durante o processo de treinamento, é feita a escolha do futuro tutor que formará a dupla
com o cão-guia. Para determinar qual cão será destinado ao deficiente visual, é analisado o
perfil de ambos. Por exemplo, caso o futuro tutor tenha a caminhada mais rápida, seja mais
agitado, o animal deve apresentar o mesmo perfil para acompanhar sua rotina. Além de ser
realizada uma entrevista para determinar o melhor perfil de cão-guia que será destinado a ele
(IRIS, 2019).
Na última etapa do treinamento, o cão-guia e o deficiente visual passam por um processo
de adaptação e treinamento em conjunto. A dupla passa por um tempo no instituto onde serão
feitas adaptações de caminhada, o tutor aprende a seguir os comandos do cão e após adaptação
e todo processo de aprendizagem, são liberados e realizam alguns treinamentos para ajustes,
quando necessário (IRIS, 2019).
Os cães, ao atingirem a idade de oito a dez anos, são aposentados e param seu trabalho
como guia. Alguns animais podem se aposentar mais cedo antes de atingirem a velhice, devido
a problemas de saúde, por exemplo, pois se tornam incapazes de realizar suas funções no
trabalho. Razões para a aposentadoria precoce seriam alterações musculoesqueléticas, seguida
por alterações sensoriais nervosas e dermatite atópica (CARON-LORMIER et al., 2016).
5 LEGISLAÇÃO
336
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
Em outubro de 1927, nos Estados Unidos, Dorothy Harrison Eustis escreveu um artigo
sobre a escola de cães-guia que havia conhecido na Alemanha. Devido a essa publicação, vários
deficientes visuais foram em busca de como adquirir um cão-guia. Por essa grande demanda,
através de Dorothy Harrison Eustis, em 1929, foi criada a primeira escola para cães-guia, nos
Estados Unidos (FISHMAN, 2003).
O Instituto IRIS, foi criado em 2002 pela advogada Thays Martinez, localizado em
São Paulo (SP), onde atualmente a instituição apresenta uma lista de pessoas à espera
de um cão-guia. É uma das poucas ONGs que apresenta instrutor reconhecido pela
Federação Internacional de Escolas de Cães-guia (International Guide Dog Federation,
Inglaterra) e qualificado pela Royal New Zealand Foundation For The Blind – Guide
Dog Services (Nova Zelândia) (IRIS, 2019).
A Escola de Cães Guias Helen Keller foi fundada em 8 de julho de 2000, em
Florianópolis - Santa Catarina, pelo Dr. Augusto Luiz Gonzaga, Médico Catarinense. Devido
às dificuldades para se manter a escola em Florianópolis, no dia 8 de março de 2008, ocorreu
sua transferência para Balneário Camboriú-SC. No período de 2013 a 2015, junto ao Instituto
Federal Catarinense (campus Camboriú), a escola Helen Keller foi responsável pela formação
dos cães-guia no programa Federal (HELEN KELLER, 2019).
337
Capítulo 19. Uma abordagem sobre os cães-guia
338
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
9 REFERÊNCIAS
ASHER, L. et al. A standardized behavior test for potential guide dog puppies: Methods and
association with subsequent success in guide dog training. Journal of Veterinary
Behaviour, v. 8, p. 431-438, 2013.
BRAY, E. E. et al. Effects of maternal investment, temperament, and cognition on guide dog
success. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 114, n. 34, p. 9128-9133,
2017b.
CARON-LORMIER, G. et al. Using the incidence and impact of health conditions in guide
dogs to investigate healthy ageing in working dogs. The Veterinay Journal, v. 207, p. 124-
130, 2016.
ENNIK, I. et al. Suitability for field service in 4 breeds of guide dogs. Journal of
Veterinary Behavior: Clinical Applications and Research, v. 1, n. 2, p. 67-74, 2006.
FISHMAN, G. A. When your eyes have a wet nose: the evolution of the use of guide dogs
and establishing the seeing eye. Survey of Ophthalmology, v. 48, n. 4, p. 452-458, 2003.
HARVEY, N. D. et al. Test-retest reliability and predictive validity of a juvenile guide dog
behavior test. Journal of Veterinary Behavior: Clinical Applications and Research, v. 11,
p. 65-76, 2016.
339
Capítulo 19. Uma abordagem sobre os cães-guia
PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE – 2013. Ciclos de vida, Brasil e grandes regiões. Rio
de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2015. 92 p.
PETER, J. et al. “She’s a dog at the end of the day”: Guide dog owners’ perspectives on the
behaviour of their guide dog. Plos One, v. 12, n. 4, p. 01-19, 2017.
340
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
20
1
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: adrianostelzer48@gmail.com
2
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: cesarliesner01@hotmail.com
3
Universidade Estadual do Norte Fluminense, e-mail: vetcalais@hotmail.com
4
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: louisianecn@gmail.com
341
Capítulo 20. Anatomia e histologia do trato digestório de tartaruga-verde (Chelonia mydas): revisão
de literatura
1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo o trato digestório será dividido em: bico, boca, tubo digestório (esôfago,
estômago, intestino delgado e grosso e cloaca) e glândulas anexas (fígado e pâncreas).
342
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
A boca (cavidade oral) abriga estruturas como mandíbulas, faringe, palato, língua,
esôfago, glote, tubas de Eustáquio e coanas internas (WYNEKEN, 2001).
2.2.1 Língua
A língua é um órgão muscular que está fixado no assoalho da cavidade oral e auxilia a
tartaruga-verde durante a deglutição do alimento. Apresenta formato de losângulo e superfície
áspera contendo pequenas projeções. Em sua porção final está localizada a glote e em sua
porção basal tem-se o início do esôfago (MELO et al., 2019; WYNEKEN, 2001).
Histologicamente é constituída por mucosa de reveste extensa camada de músculo
estriado esquelético. O epitélio é estratificado pavimento queratinizado e forma projeções
curtas e achatadas de queratina, sem a formação de uma estrutura papilar, como no esôfago
(descrito a seguir). A lâmina própria é de tecido conjuntivo frouxo e denso (MELO et al., 2019).
2.3.1 Esôfago
343
Capítulo 20. Anatomia e histologia do trato digestório de tartaruga-verde (Chelonia mydas): revisão
de literatura
(M), distal (D) e junção gastroesofágica (JGE) e tem a função de transportar o alimento da boca
ao estômago e expulsar o excesso de água. O seu comprimento médio varia de 17,25 a 20,47
cm em indivíduos juvenis e de 24,70 a 55,6 cm em adultos (CALAIS JÚNIOR; DAVID;
NUNES, 2015; MAGALHÃES et al., 2007; MAGALHÃES et al., 2010; WYNEKEN, 2001).
A mucosa esofágica é caracterizada por papilas cônicas e pontiagudas, que se orientam
no sentido do estômago, tornando-se progressivamente maiores em direção à região caudal do
órgão. São numerosas e delgadas na região proximal, e de tamanho e diâmetro aumentados na
região medial e distal, nesta apresentando também a redução do seu número. As papilas estão
ausentes na região gastroesofágica, sendo substituídas por pregas reticulares longituinais, que
após o estreitamento da musculatura formam o esfíncter gástrico, caracterizando a transição do
esôfago para o estômago (CHEN et al., 2015; CALAIS JÚNIOR; DAVID; NUNES, 2015;
PRESSLER et al., 2003; WYNEKEN, 2001).
As papilas esofágicas facilitam a deglutição e retêm o alimento recém-ingerido,
impedindo o seu refluxo durante a contração do esôfago para expelir do excesso de água
(VALENTE et al., 2007; WYNEKEN, 2001). Em contrapartida, as papilas podem favorecer a
ingestão acidental de resíduos sólidos de origem antrópica, uma vez que o plástico, por
exemplo, ao ser ingerido, pode permanecer retido juntamente com o alimento (CALAIS
JÚNIOR; DAVID; NUNES, 2015; MACEDO et al., 2011).
Histologicamente o esôfago de C. mydas é constituído por mucosa, muscular externa,
adventícia e serosa. A mucosa esofágica das regiões proximal, medial e distal apresenta papilas
revestidas por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado e lâmina própria aglandular de
tecido mixóide. Na região gastroesofágica observa-se mucosa pregueada constituída pelo
mesmo epitélio citado anteriormente e lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo contendo
nódulos linfoides e glândulas produtoras de muco (CALAIS JÚNIOR; DAVID; NUNES,
2015). Este tipo de epitélio protege a mucosa contra atritos decorrentes da passagem do
alimento pelo esôfago, enquanto que as glândulas auxiliam no transporte da ingesta para o
estômago (CALAIS JÚNIOR; DAVID; NUNES, 2015; JUNKEIRA; CARNEIRO, 2013).
Na transição do esôfago para estômago é observada a mudança de epitélio estratificado
pavimentoso para colunar estratificado e, por fim, colunar simples (CHEN et al., 2015).
A muscular é composta de músculo estriado esquelético, entremeado por abundante
tecido conjuntivo frouxo, com sua disposição relacionada com a função e variando entre as
porções esofágicas. Os feixes musculares são observados em forma circular e longitudinal,
sendo responsáveis pela constrição e dilatação do esôfago, respectivamente. As regiões
344
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
proximal e medial possuem uma camada circular interna e uma longitudinal externa. Enquanto
que as regiões distal e gastroesofágica, apresentam uma espessa camada longitudinal interna e
uma delgada camada circular externa (CALAIS JÚNIOR; DAVID; NUNES, 2015;
MAGALHÃES et al., 2012).
Externamente, o esôfago é recoberto por uma adventícia de tecido conjuntivo denso na
porção inicial da região proximal e por serosa (revestida por mesotélio) de tecido conjuntivo do
tipo denso na região medial, do tipo frouxo na região distal e na junção gastroesofágica
(CALAIS JÚNIOR; DAVID; NUNES, 2015; MAGALHÃES et al., 2010).
Vale ressaltar a existência de um divertículo esofágico, observado por Magalhães et al.
(2010), Wyneken (2001) e Work (2000). A ocorrência da estrutura é rara, sendo relatada em
poucos animais, e caracterizando-se por uma saculação com mucosa lisa, na região
gastroesofágica. Acredita-se que o divertículo esofágico atua como local para armazenamento
de alimento ou câmara de fermentação e permite que o animal mantenha a ingesta por mais
tempo no trato gastrointestinal com digestão completa do conteúdo (MAGALHÃES et al.,
2010; WORK, 2000).
2.3.2 Estômago
O estômago é um órgão sacular com fundo cego, em forma de “J”, localizado a esquerda
na cavidade celomática, com desvio para direita, quando se aproxima da primeira alça intestinal.
Liga-se dorsalmente aos lobos pulmonar e hepático esquerdos, por meio dos ligamentos
gastropulmonar e gastrohepático, respectivamente. Após o esfíncter gástrico, o estômago
apresenta forma de “S” e mostra uma curvatura para esquerda (região cárdica) com posterior
formação de uma grande bolsa (região fúndica), em seguida ascende para direita (região
pilórica) e termina no esfíncter pilórico, que antecede o duodeno (CALAIS JÚNIOR; DAVID;
NUNES, 2015; MAGALHÃES et al., 2007; MAGALHÃES et al., 2010; WYNEKEN, 2001).
Em tartarugas-verdes o comprimento do estômago é de 78,50 cm nos adultos e nos juvenis varia
de 22,37 a 26,38 cm (CHEN et al., 2015; MAGALHÃES et al., 2007; MAGALHÃES et al.,
2012).
Por apresentar hábito alimentar herbívoro, C. mydas possui estômago complexo, pois
funciona como reservatório ou câmara fermentativa. A mucosa é caracterizada por pregas
longitudinais lisas nas regiões cárdica e pilórica (que desaparecem com a distensão do órgão) e
estão completamente ausentes na região fúndica. A transição do estômago para o duodeno é
345
Capítulo 20. Anatomia e histologia do trato digestório de tartaruga-verde (Chelonia mydas): revisão
de literatura
2.3.3 Intestinos
346
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
347
Capítulo 20. Anatomia e histologia do trato digestório de tartaruga-verde (Chelonia mydas): revisão
de literatura
2.3.4 Cloaca
2.4.2 Pâncreas
348
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
ou posterior ao mesmo. Apresenta um ducto biliar comum que conduz as enzimas pancreática
para o intestino também por meio da ampola de Valter (WORK, 2000; WYNEKEN, 2001).
3 REFERÊNCIAS
CHEN, H. et al. Structure and function of the gastrointestinal tract of the green turtle
(Chelonia mydas) Hatchling. Asian Herpetological Research, v. 6, n. 4, p. 317-330, 2015.
GEORGE, L. L.; CASTRO, R. R. L. Histologia comparada. 2. ed. São Paulo, Roca, 1998.
JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013.
MELO, L. F. de. et al. Morphological description of the green turtle tongue (Chelonia mydas).
International Journal of Advanced Engineering Research and Science, v. 6, n. 5, p. 291-
296, 2019.
PARSONS, T. S.; CAMERON, J. E. The internal relief of the digestive tract. In: GANS, G.;
PARSONS, T. S. Biology of the reptilia. New York, Academic Press, 1977, p. 159-200.
349
Capítulo 20. Anatomia e histologia do trato digestório de tartaruga-verde (Chelonia mydas): revisão
de literatura
SIKIWA,T. et al. Histological study of postmortem juvenile green sea turtle (Chelonia mydas)
from royal thai navy sea turtle nursery, Phang-nga, Thailand. International Journal of
Bioengineering and Life Sciences, v. 7, n. 8, p. 771-774, 2013.
350
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
21
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, e-mail: silviapopedearaujo@gmail.com
2
Instituto Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre, e-mail: layoncdeassis@gmail.com
3
Instituto Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre, e-mail: gilbertosprojetos@gmail.com
4
Instituto Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre, e-mail: alisonzcastro@hotmail.com
5
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: ppierrom@gmail.com
351
Capítulo 21. Aplicações biotecnológicas das microalgas na produção animal
1 INTRODUÇÃO
2 MICROALGAS
Embora o termo microalgas não possua valor taxonômico, é comumente utilizado pelos
cientistas para a denominação de micro-organismos capazes de realizar fotossíntese, possuindo
clorofila a e outros pigmentos acessórios (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2001). As
352
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
microalgas são formadas por grupos distintos, sendo os mais abundantes os eucariotos,
compreendendo as diatomáceas (Bacillariophyceae), as algas verdes (Chlorophycea) e as algas
douradas (Chrysophyceae). Além disso, há também as cianobácterias (Cyanophyceae ou algas
verde-azuladas), que são organismos procariotas, embora consideradas no grupo das
microalgas. A maioria das microalgas é autotrófica e organismos fotossintéticos, mas também
existem microalgas heterotróficas (ENZING et al., 2014). As microalgas heterotróficas são
facilmente cultivadas e controladas em biorreatores, elas utilizam carbono orgânico em vez de
luz solar como fonte de energia. São capazes de usar fontes de carbono economicamente
vantajosas para a produção de biomassa (HAN; MIAO; WU, 2006). Entretanto, as microalgas
autotróficas são capazes de usar o dióxido de carbono como fonte de carbono e luz solar como
fonte de energia, contribuindo para a fixação de carbono na biomassa (CHRISTI, 2007).
Necessitam principalmente de três componentes principais para o crescimento, incluindo luz
solar, a água e a fonte de carbono (NIGAM; SINGH, 2011). Através dos nutrientes obtidos nos
habitats aquáticos, da luz absorvida do sol, do CO2 capturado do ar, produzem cerca de 50% do
oxigênio atmosférico, sendo um sistema biológico eficiente, para a produção de compostos
orgânicos (SINGH; GU, 2010). Seu potencial fotossintético é reconhecido, na produção de
compostos valiosos ou para energia, devido ao aproveitamento eficiente da energia solar,
superando as plantas superiores. A literatura aponta que as microalgas são responsáveis por
pelo menos 60% da produtividade primária global do planeta (SCHMITZ; MAGRO; COLLA,
2012).
Para o crescimento, as algas requerem uma ampla variedade de nutrientes minerais,
além de luz, água e carbono. O nitrogênio e o fósforo são nutrientes essenciais necessários por
algas em grandes quantidades (GRAHAM; GRAHAM; WILCOX, 2009). O nitrogênio é um
componente indispensável de muitos componentes celulares de algas, tais como aminoácidos,
nucleotídeos, clorofila e ficobilinas (RAVEN; GIORDANO, 2016). A maioria das espécies de
microalgas é capaz de utilizar uma variedade de fontes de nitrogênio, nomeadamente de
nitrogênio orgânico e de nitrogênio inorgânico (por exemplo, amônia, nitrato, nitrito)
(LOURENÇO et al., 2002). O fósforo desempenha um papel importante nos processos
metabólicos celulares, tais como transferência de energia (ATP) e constitui muitos
componentes estruturais e funcionais necessários para o crescimento e desenvolvimento, como
DNA, RNA e fosfolípideos (DYHRMAN, 2016). A composição bioquímica da célula pode ser
manipulada pela concentração e forma de suprimento dos nutrientes (BOROWITZKA, 2016).
As condições de cultivo das microalgas também podem influenciar na composição bioquímica
da biomassa. A maioria das microalgas sofre mitose durante um intervalo definido, com
353
Capítulo 21. Aplicações biotecnológicas das microalgas na produção animal
exceção das diatomáceas. Essas alterações impostas nos conteúdos celulares de proteínas,
carboidratos, lipídeos e pigmentos, podem ser observados quando as culturas ficam sob uma
luz de 12h:12h ciclo escuro, onde o nitrogênio é assimilado á noite, e o carbono é consumido
sobre lipídios. No entanto, os macronutrientes e pigmentos foram acumulados durante o período
de luz (FÁBREGAS et al., 2002). Em situações de limitação de nutrientes, o teor lipídico total
pode ser superior a 40%. O nitrogênio em caso de limitação pode aumentar a produção de
lipídeos, especialmente TAGs, contendo ácidos graxos saturados e monoinsaturados. No caso
de altas irradiância e limitação de nutrientes (nitrogênio e fósforo), há um aumento no tamanho
da fração lipídica e estimulam a acumulação de TAG, mas em caso de baixas irradiância, ocorre
acúmulo de lipídeos polares (fosfolipídios e glicolipídeos), acumulando estruturalmente
funcionalmente associados ás membranas celulares (VILLARRUEL-LÓPEZ et al., 2017).
Microalgas apresenta uma enorme diversidade de formas e funções ecológicas, sendo
mais de 100.000 tipos diferentes de espécies de microalgas presentes nos oceanos e na água
doce (lagos, lagoas e rios), entre estas espécies, apenas 30.000 foram estudadas (RICHMOND,
2004). O estudo de microalgas é menos desenvolvido que o de macroalgas marinhas, mas suas
vantagens de crescimento mais rápido, maior eficiência fotossintética e produção interna
oferecem uma oportunidade para pesquisa de novos produtos nutricionais e suas aplicações
econômicas (DRAGONE et al., 2011).
354
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
produzir enzimas, esteróis, vitaminas, como, por exemplo, tiamina, riboflavina, niacina, ácido
pantotênico, piridoxina, biotina e ácido fólico. Além desses, encontra-se relatada à presença de
compostos que atuam na resposta imune, anticancerígenos, antiinflamatórios e antibióticos
(ABED; DOBRETSOV; SUDESH, 2009; PASQUET et al., 2011).
Além de todas essas utilidades econômicas, as microalgas também têm sido utilizadas
como suplementos nutricionais para humanos e animais. Suplementos nutricionais produzidos
a partir de microalgas tem sido o foco primário da biotecnologia de microalgas (SUGANYA et
al., 2016). Além das microalgas serem utilizadas como alimento há centenas de anos por
humanos, elas ainda apresentam proteínas de alto valor nutricional, maiores que as proteínas de
outras fontes vegetais, por exemplo, trigo, arroz e legumes. Por outro lado, as microalgas são
mais pobres que fontes de proteínas animais, como leite e carne (MATA; MARTINS;
CAETANO, 2010). A biomassa seca de microalgas dos gêneros Chlorella, Dunaliella, e
Spirulina tem dominado o mercado. Esses produtos são dirigidos principalmente para o
mercado nutracêutico e de alimentos saudáveis podendo gerar centenas de milhões de dólares
(GOUVEIA et al., 2010).
Uma expansão na pesquisa sobre a utilização desta biomassa para alimentos, rações e
biocombustível tem crescido bastante ao longo dos anos (CHEW et al., 2017). Além disso, a
biodiversidade das microalgas permite aumentar o número de diferentes fontes de compostos
bioativos, como carboidratos, lipídios, proteínas e pigmentos, micronutrientes, aditivos
alimentares e cosméticos, ingredientes e suplementos dietéticos para alimentação animal e
humana (PRIYADARSHANI; RATH, 2012).
Além da grande importância na natureza, as microalgas também são aproveitadas em
atividades econômicas. A elevada gama de aplicações comerciais das microalgas está
relacionada à elevada taxa de crescimento, condição que proporciona uma alta produção de
biomassa em curtos intervalos de tempo, e à sua composição química, balanço dos componentes
majoritários (proteínas, lipídeos e carboidratos) ou pelas concentrações de substâncias
específicas (pigmentos fotossintéticos e ácidos graxos) (LOURENÇO, 2006).
A grande variabilidade de espécie possibilita que as microalgas sejam exploradas como
fonte ilimitada de produtos. A imensa biodiversidade, aliada ao emprego de melhoramento
genético e ao estabelecimento de tecnologias de cultivo em grande escala, vem permitindo que
as microalgas sejam utilizadas em diversas aplicações biotecnológicas (BARCELLOS et al.,
2012).
Becker (2004) relatou que as microalgas são uma fonte abundante de vitaminas e
minerais, como as vitaminas A, B1, B2 e C e E, nicotinato, biotina, ácido fólico, ácido
355
Capítulo 21. Aplicações biotecnológicas das microalgas na produção animal
pantotênico, niacina, iodo, potássio, ferro, magnésio e cálcio. Sendo assim, uma dieta
nutricional equilibrada é necessária para a saúde e deve conter vitaminas, minerais, PUFAs. A
biomassa de microalgas é rica em vitaminas, podendo acumular α/β-tocoferol, α-tocotrienol
(vitamina E) e fenóis lipossolúveis com propriedades antioxiantes. A vitamina E tem uma ampla
aplicação biotecnológica, utilizado nos tratamentos de câncer, doenças cardíacas, doenças
ocular, doenças de Alzheimer, Parkinson (PHAM-HUY; HE; PHAM-HUY, 2008; RUNNING,
SEVERSON; SCHNEIDER, 2002).
As espécies de microalgas D. tertiolecta e Tetraselmis suecica quando cultivadas em
condições de privação de nitrogênio aumentam a produção de vitamina E (DURMAZ, 2007).
As microalgas também podem ser utilizadas na indústria alimentícia, como aditivo e
conservante, que melhora a saúde e fotoproteção em cremes para a pele (ALBERTS et al.,
1996).
A cobalamina (vitamina B12) é uma vitamina solúvel em água que pode ser produzida
por algumas microalgas, um exemplo é a Spirulina sp., que pode chegar a produzir quantidades
de vitamina B12 maiores quando comparado com alimentos vegetais ou animais. A vitamina C
(ácido acórbico) podem ser acumulados por algumas espécies de microalgas, que é uma
vitamina hidrossolúvel com propriedades antioxidantes. A vitamina C é utilizada na biossíntese
de colágeno, nitrina e neurotransmissores (RUNNING; SEVERSON; SCHNEIDER 2002).
A Figura 1 fornece uma visão geral esquemática dos principais produtos de microalgas,
como lipídios, pigmentos, proteínas, carboidratos, biopolímeros, compostos bioativos, oxigênio
ou bio-hidrogênio. Também, são indicadas as áreas de aplicações desses produtos, como
aquicultura, aplicações farmacêuticas, nutrição humana e animal, entre outras aplicações.
356
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
Figura 1: Visão geral dos produtos sintetizados por cepas de microalgas e áreas de aplicação. Traduzido e
modificado de Miller, Muhr e Braunegg 2014.
As microalgas são consideradas uma fonte natural notável, são utilizadas há mais de
2000 anos pelos chineses como alimento, mais tarde, as formas comerciais de microalgas
(Chlorella sp. e Spirulina sp.), foram consumidas como alimentos saudáveis no Japão.
Atualmente, a maioria dos produtos comercializados de microalgas está disponível nos
mercados como alimento saudável, nas formas de comprimidos, cápsulas e líquidos, e seus
produtos misturados com pastas, salgadinhos, balas, gomas, macarrão, vinho, bebidas e cereias
matinais (PULZ; GROSS, 2004). Algumas espécies de microalgas merecem uma avaliação,
mais focada, devido ao seu potencial. A Chlorella, é considerada uma importante fonte de
nutrientes em muitas áreas, sendo amplamente vendida para suplementos para seres humanos e
utilizados para animais aquáticos (BISHOP; ZUBECK, 2012). A concentração de proteína da
biomassa seca de Chlorella pode chegar a uma faixa de 50 a 60% do seu peso seco, sendo sua
qualidade semelhante a farinha de soja, proteína do leite e levedura (KOVAČ et al., 2013).
Existem mais de 70 empresas envolvidas no cultivo de Chlorella, e o maior produtor é a Taiwan
Chlorella Manufacturing and Co., que produz 400 toneladas de biomassa seca/ano, sendo que
as vendas anuais de Chlorella excedem US$ 38 bilhões. Barrow e Shahidi (2008) observaram
que o extrato de Chlorella sp. apresentou vários benefícios a saúde, por exemplo, aumentou a
concentração e hemoglobina, baixou os níveis de açúcar no sangue. Isochrysis galabana
357
Capítulo 21. Aplicações biotecnológicas das microalgas na produção animal
O elevado consumo de proteína leva o ser humano a investir cada vez mais em técnicas
de criação de gado, onde se utiliza uma imensa área de solo para pastagem, além de outros
cultivarem que são destinados á alimentação complementar desses animais. A produção
agrícola, também é outra opção para a obtenção de proteína, que depende de melhoramento
genético, onde exigem elevados gastos com sementes, adubações do solo, irrigação e o uso de
pesticidas no combate as pragas. Como alternativa, tem-se as microalgas com um alto potencial
biotecnológico da sua biomassa, uma vez que estes micro-organismos podem ser cultivados em
locais impróprios para a agricultura e pecuária. As condições de saúde do animal, como
crescimento, sobrevivência, desenvolvimento, produtividade e fertilidade, dependem de uma
alimentação balanceada (RAMARAJ et al., 2019). As microalgas são provedoras de excelentes
compostos nutricionais, tais como proteína, lipídios e carboidratos, além de minerais e
358
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
antioxidantes, essenciais para as condições de saúde do animal, uma vez que apresentam um
papel importante em alimentos para nutrição animal, podendo ser utilizado na aquicultura e
animais de fazenda.
A crescente demanda de proteína e energia na dieta animal e a busca pela substituição
de aditivos sintéticos colocam as microalgas em posição de destaque para fornecimentos desses
ingredientes. O crescente consumo de proteína animal gera uma enorme busca por novas fontes
de proteína adequadas para a produção de alimentos. Várias espécies de microalgas apresentam
um alto teor de proteína, sendo um dos principais fatores que favorecem sua utilização na
produção de rações (KOVAČ et al., 2013). Na alimentação animal, os valores nutritivos das
microalgas variam de acordo com a espécie utilizada e a forma de manipulação do cultivo, e
também da própria adaptação animal aos ingredientes (MADEIRA et al., 2017). Muitos estudos
têm sugerido que as algas podem ser utilizadas como fontes protéicas na forma de suplemento
ou substituindo fontes convencionais, como farelo de soja e farinha de peixe (BECKER, 1994;
SPOLAORE et al., 2006).
Segundo Shields e Lupatsch (2012) a utilização das microalgas favorecem o aumento
no metabolismo lipídico, na resistência ao estresse, na função intestinal e na melhora do sistema
imunológico dos animais. Uma das dez maiores empresas do mundo em nutrição animal, a All
Tech, produz rações á base de microalgas, nos Estados Unidos. O produto foi introduzido no
Brasil, pela empresa All Tech, no mercado pet. A ração é rica em Ômega 3, atrai pessoas que
buscam para os animais de estimação os mesmos benefícios que os compostos proporcionam á
saúde humana.
A suplementação dietética com microalgas aumentou a qualidade nutricional dos
músculos de cordeiro em relação a ácidos graxos poli-insaturados e saturados, ácidos linoleicos
e Omega 3 e 6 (DÍAZ et al., 2017). As dietas que incorporam produtos a base de microalgas,
apresentaram ser mais eficientes do que as formuladas com produtos vegetais, elas elevam o
conteúdo de PUFA de cadeia longa (EPA (C22:5n3) e DHA) (DÍAZ et al., 2011). Outros
estudos anteriores relatam o efeito da suplementação de cordeiros, utilizando microalgas na
composição de ácidos graxos, PUFA n3 de cadeia longa (HOPKINS et al., 2014;
PONNAMPALAM et al., 2016).
Avaliações nutricionais e toxicológicas têm sido realizadas para a adequação da
utilização da biomassa de algas como suplemento alimentar (BECKER, 2004). A biomassa
algacea possui grandes perfis de vitaminas naturais, minerais e ácidos graxos essenciais, que
melhora a resposta imunitária, o controle do peso e aparência externa, como pele saudável e
uma pelagem brilhante nos animais (CERTIK; SHIMIZU, 1999).
359
Capítulo 21. Aplicações biotecnológicas das microalgas na produção animal
Na alimentação das aves, as microalgas podem ser utilizadas na substituição das fontes
convencionais de proteína, com uma taxa de incorporação de 5 a 10%. A incorporação desta
biomassa algacea na avicultura traz uma perspectiva promissora da sua utilização no uso
comercial na alimentação animal. Estudos realizados com a espécie de Porphyridium sp.na
alimentação de aves, mostrou níveis baixos (10%) de colesterol nas gemas, e intensidade na
coloração da gema devido á maior quantidade de catotenóides (BECKER, 2007; GINZBERG
et al., 2000; SPOLAORE et al., 2006). Carotenoides são pigmentos lipofílicos com estruturas
isoprenóides que ocorrem em plantas superiores e microalgas, utilizados como corante natural
de alimentos e na alimentação de animais, são também conhecidos por seu valor terapêutico,
incluindo atividades antiinflamatória e anticancerígenas, em grandes partes atribuídas às suas
propriedades antioxidantes, que são em grande parte atribuídas ao seu forte efeito antioxidante
que é usado para proteger os organismos contra estresse oxidativo (CHU, 2013; TAKAICHI,
2011).
Os lipídios produzidos pelas microalgas são um nutriente inestimável. O
enriquecimento de ração com os lipídios LCPUFA de cadeia longa n-3 que são benéficos para
a saúde, assim como o EPA e DHA, torna esse nutriente fundamental na dieta dos animais.
Ovos de galinhas enriquecidos com DHA e leite de vaca enriquecido com LCPUFA n-3, ácidos
graxos obtidos de diferentes espécies de microalgas, já podem ser encontrados nos mercados
(BRUNEEL et al., 2013; RAPOSO; DE MORAIS; DE MORAIS, 2013). Hadley, Bauer e
Milgram (2017) estudaram a microalga Schizochtrium, rica em ácidos graxos poli-insaturados,
ômega-3 de cadeia longa (n-3 LCPUFA), incluindo p ácido docosahexaenoico (DHA), um
importante nutriente para o cérebro. O estudo foi realizado com cães já envelhecidos para
avaliar o estado de memória de trabalho dos cães. Eles obtiveram resultados consistentes em
relação a utilização da microalga como fonte de nutrição de ácido graxos em grandes
mamíferos, trazendo uma função cerebral saudável para os cães.
Os carboidratos de microalgas compreendem uma grande parte da fibra dietética o que
pode ser benéfico para o intestino dos animais (GUTIÉRREZ-SALMEÀN et al., 2015). A
concentração de carboidratos em microalgas depende das condições de cultivo. Além disso, no
caso da microalga Arthrospira, há ingestão eficiente de sua fração de carboidratos pelos
ruminantes deve ser usada em níveis de ate 20% do consumo total de ração, quando comparado
a outros tipos de rações de algas, como Scenedesmus obliquus e Chlorella (GOUVEIA et al.,
2008). A utilização das microalgas em ruminantes tem sido como ingrediente ou suplemento
alimentar para melhorar o desempenho do crescimento dos animais. Estudo realizados por
Holman; Kashani; Malau-Aduli, (2012), demonstrou a utilização de Arthrospira platensis como
360
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
ingrediente, para ganho de peso de cordeiro desmamados foi alcançada no nível de 10%. El-
Sabagh et al. (2014), aplicaram a mesma espécie de microalga como complemento de ração, e
concluíram que poderia ser incorporado com sucesso em dietas como aditivo alimentar para
crescimento em vacas leiteiras. Kovač et al. (2013) relata que nas rações os carboidratos são os
principais contribuintes e energia para os animais, exibindo um papel importante em manter o
trato gastrointestinal saudável.
O uso de microalgas como ingrediente alimentar é muito promissor, como alternativa
de culturas alimentares básicas, como soja e milho, contribuindo com a cadeia alimentar
humana e para a sustentabilidade da agricultura. As microalgas também destacam como
alternativa sustentável na aquicultura, contribuindo contra a exploração pesqueira excessiva e
para a produção de animais e a promoção da saúde humana (MADEIRA et al., 2017).
5 MICROALGAS NA AQUICULTURA
361
Capítulo 21. Aplicações biotecnológicas das microalgas na produção animal
362
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
com que sua coloração presente seja diferente da coloração do mesmo em seu ambiente natural
(MORIEL et al., 2005). As espécies de microalgas Dunaliella sp. e Haematococcus sp.
produzem carotenoides e a luteína, que desempenham um papel importante no crescimento de
larvas de peixes (DEL CAMPO et al., 2000). A suplementação da ração com a microalga
Dunaliella salina para a alimentação da lagosta marrom (Cherax tenuimanus) demonstrou um
aumento no crescimento e na pigmentação do animal (SOMMER; MORRISSY; POTTS, 2011).
Para as espécies de camarão, salmão, truta, ouriço-do-mar, lagosta e peixe ornamental a
astaxantina, β-caroteno demonstrou ser essencial para o crescimento, sobrevivência e
pigmentação destes organismos no período inicial de alimentação (LAKEH et al., 2010; NIU
et al., 2009; SKJANES; REBOURS; LINDBLAD, 2013). A utilização da microalga na
alimentação de Artemia aumenta a taxa de crescimento devido à dieta com β-caroteno,
fornecendo uma correlação positiva entre as taxas de sobrevivência e concentração de
pigmentos no tecido do camarão, indicando que o pigmento desempenha um papel vital na
melhoria das taxas de sobrevivência dos camarões (CHIEN; JENG, 1992).
Comparados aos outros animais, os peixes exigem uma maior quantidade de proteína
dietética. Rações completas para peixes contêm entre 28 a 50% de proteína bruta (PB),
dependendo da fase de desenvolvimento, do ambiente e da espécie. Os peixes aproveitam muito
bem os carboidratos e as gorduras como fonte de energia. Isto permite poupar a proteína das
rações para uso predominante no crescimento. Conhecer a energia digestível dos alimentos é
fundamental na formulação de rações suplementares e completas. O balanço entre a energia
digestível e a proteína nas rações é fundamental pra maximizar a eficiência alimentar e o
crescimento dos peixes (KUBITZA, 2011).
Recentemente, a biomassa de microalgas seca foi apresentada como matéria prima em
substituição parcial das proteínas e fontes lipídicas nos alimentos para peixes (CHINI-
ZITTELLI et al., 2013). Muito interesse tem sido focado no potencial biotecnológico das
microalgas, principalmente devido à identificação de diversas substâncias sintetizadas por estes
micro-organismos. A imensa biodiversidade e a variabilidade da composição da biomassa
decorrente das condições de crescimento, aliadas ao emprego de melhoramento genético e ao
estabelecimento de tecnologia de cultivo em grande escala, vêm sido realizado visando à
produção de biomassa tanto para uso na elaboração de alimentos quanto para a obtenção de
compostos naturais com alto valor no mercado mundial (DERNER et al., 2006).
A grande variedade de produtos a partir do metabolismo das microalgas demonstra a
importância deste organismo na produção de biomassa. Porém, os cultivos devem ser feitos de
363
Capítulo 21. Aplicações biotecnológicas das microalgas na produção animal
maneira adequada e eficaz, para que haja produtos eficientes para poderem ser utilizados de
forma correta, podendo ser benéfico para a humanidade.
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369
Capítulo 22. Farinha de insetos na alimentação de peixes
Capítulo
22
370
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
371
Capítulo 22. Farinha de insetos na alimentação de peixes
2 FARINHA DE INSETOS
Para atender à crescente demanda do mercado são necessárias novas fontes de proteínas
em substituição total ou parcial às atuais fontes utilizadas. Para a utilização adequada de
ingredientes não convencionais é necessário avaliar a qualidade, disponibilidade, presença de
fatores antinutricionais e a composição nutricional desses ingredientes em potencial
(VASCONCELLOS, 2010). Ramos et al. (1997), afirmam que de modo geral os insetos podem
ser considerados boa fonte de proteína, vitaminas e energia, pois como todo ser vivo, possui em
sua composição corporal nutrientes de diferentes classificações que são essenciais à vida.
Através disso, os insetos ou suas farinhas podem representar alternativa de alimento não
convencional para peixes (RUMPOLD; SCHLÜTER, 2013).
Na dieta animal os alimentos são incluídos em forma de farelos ou farinhas, sendo os
farelos obtidos através da moagem de ingredientes após a retirada do óleo e as farinhas obtidas
através da moagem de ingredientes inteiros. Diante disso, os insetos utilizados na alimentação
animal, passam pelo processo de moagem dos insetos secos e são incluídos na forma de farinha
na dieta animal, o que possibilita ao produto maior vida útil. Tal processo elimina estruturas
rígidas pertencente aos insetos, como patas e o exoesqueleto de quitina, tornando o alimento
mais palatável (VILELLA, 2018). A farinha de insetos possui grande potencial como alimento,
devido ao seu valor nutricional de boa qualidade, a proteína e os lipídeos podem apresentar
variação de 42 a 63%, necessitando de pouco espaço para criação e boa aceitabilidade
(VELDKAMP et al., 2012).
Entre as pesquisas realizadas, é também avaliado as frações digestíveis da farinha de
insetos, pois é a partir dessas avaliações que torna se possível descrever a qualidade do
ingrediente estudado quantificando o que o animal utiliza para a síntese de tecidos corporais
(LIRA, 2015). Conhecendo a digestibilidade, será possível alcançar maior eficiência com a
elaboração de rações, com melhores índices de ganho de peso e conversão alimentar (VIDAL
JUNIOR et al., 2004) melhorando assim o lucro da atividade.
O uso de insetos como fonte protéica também é vantajoso quando comparado ao uso da
soja e outras plantas ricas em proteínas e lipídeos, pois as mesmas contêm fatores
372
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
3 FATOR ANTINUTRICIONAIS
A farinha de inseto pode apresentar a quitina como fator antinutricional, que está
presente na carapaça dos insetos, que pode influenciar no metabolismo do animal, interferindo
no ganho de peso e na conversão alimentar (SHIAU; EYU, 1999).
A quitina é o segundo polissacarídeo mais abundante na natureza, constituído por
unidades recorrentes de N-acetil-D-glicosamina em ligação β (BOSCOLO et al., 2004). Olsen
et al. (2006) afirma que a quitina atua como efeito benéfico aos peixes, como prebiótico, agindo
com as bactérias patogênicas do trato gastrintestinal dos peixes. No entanto, alguns autores
relatam que a quitina é um dos fatores que limitam o uso de insetos em rações para peixes, pois
está relacionada a redução de consumo e da disponibilidade de nutrientes, portanto, reduz o
desempenho zootécnico em ocorrência da menor utilização de nutrientes (KROECKEL et al.,
2012).
Chaet al. (2008) diz que a partir da desacetilação da quitina, forma-se a quitosana, que
apresentou melhora no sistema imune, além de refletir em melhorias na qualidade da água. No
entanto, Rust (2002) descreve que animais não ruminantes não podem digerir esse nutriente,
pela ausência e/ou baixa eficiência da quitinase.
373
Capítulo 22. Farinha de insetos na alimentação de peixes
Figura 1: (A) Tenébrio (Tenebrio) - fase larval e adulta, (B) Mosca soldado negra (Hermetia illucens) - fase larval
e adulta, (C) Bicho da seda (Bombyx mori) - fase larval, (D) Grilos (Gryllidae spp.), (E) Gafanhotos (Acridídea e
Pyrgomorphidae spp.).
Fonte:Istockphoto (2019).
4.1 TENÉBRIO
374
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
larval são mais fáceis de serem alimentados e acondicionados em caixas plásticas, onde são
criados. Esses são conhecidos como “larvas gigantes” e podem atingir 2 cm e pesar mais de
300 mg (FINKE, 2002; MIRANDA; TAKAHASHI, 2002.)
Essas larvas, na dieta de animais, podem ser incluídas vivas ou naforma de farinha
(FAO, 2013). De acordo com MAKKAR et al. (2014), para criação das larvas com fim do uso
em alimentação animal, são utilizados para o cultivo farelo de milho, farelo de trigo, leite em
pó, farinha de soja, legumes e frutas frescas.
O valor de proteína bruta (PB) nesses insetos varia de de 47 a 60 %, teor de gordura de
31 a 43 %, apresentam 5,4 % de lisina e 1, 5 % de metionina, valores esses em base na matéria
seca (MAKKAR et al., 2014)
Na literatura são encontrados trabalhos com substituição de farinha de peixe e de soja
por farinha de tenébrio em até 40 %, para várias espécies; porém as dietas das larvas devem ser
suplementadas com cálcio com o objetivo de melhorar os níveis desse mineral na farinha a ser
fornecida para os peixes; a composição de aminoácidos essenciais presentes na farinha é boa
(VILELLA, 2018).
Estudos realizados por Lira (2015) com o uso de farinha de tenébrios na dieta de juvenis
de tambaqui, demonstrou que não houve influência na digestibilidade dos nutrientes, fato que
ressalva a potencialidade da utilização desse tipo de farinha para peixes, sem prejudicar o
aproveitamento dos nutrientes pela espécie utilizada; até 30 % de inclusão de farinha na dieta
de tambaquis não a efeito negativo sobre o desempenho, porém níveis mais elevados desse
produto devem ser testados.
Pertecente a ordem díptera a mosca soldado negra (Hermetia illucens), destaca-se como
inseto resistente às condições ambientais adversas, como seca e falta de alimento por longo
período de tempo sem que ocorra morte dos mesmos. Esses insetos alimentam-se
preferencialmente de resíduos orgânicos em decomposição como: resíduos de grãos, de
legumes e frutas (DIENER et al., 2011).
Com dois meses as larvas atingem a maturidade, no entanto a fase larval pode ser
prolongada até quatro meses, caso ocorra escassez de alimentos. A duração do estádio de pupa
é de aproximadamente 14 dias, sendo afetado assim como o estádio da larva em virtude de
condições climáticas adversas e falta de alimentos. As fêmeas acasalam dois dias após a saída
375
Capítulo 22. Farinha de insetos na alimentação de peixes
do casulo, em ambientes adjacente a fonte de alimentos (BARROS, 2017; DIENER et al. 2011;
HARDOIUN; MAHOUX, 2013)
Normalmente são utilizadas as larvas para a produção das farinhas, uma vez que, na fase
final de desenvolvimento larval, elas esvaziam seu trato digestivo e param de se alimentar
(DIENER et al., 2011). Os adultos não se alimentam e dependem assim das reservas obtidas na
fase larval (DICLARO e KAUFMAN, 2009). Nesse sentido, recomenda-se a formulação das
rações de larvas antes de sua etapa final do seu desenvolvimento.
De acordo com Newton et al. (1977) o valor de proteína bruta (PB) presente nas larvas
da mosca soldado negra, varia entre 40% a 44%, o teor de gordura entre 15% a 35%, o teor de
cinza entre 11% a 28%, de cálcio entre 5% a 8% e de fósforo entre 11% a 28%.
A farinha da mosca soldado negra pode ser utilizada na alimentação de peixes em
substituição de 20 a 40 %, reduzindo consideravelmente a utilização de rações comerciais.
Contudo, o autor ressalta que as farinhas destes insetos não são capazes de suprir totalmente as
exigências em matéria seca e proteína bruta para os peixes (VILELLA, 2018).
376
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
377
Capítulo 22. Farinha de insetos na alimentação de peixes
seca (PATIL et al., 2013). Devido ao seu alto teor de proteínas, a farinha foi indicada como
alimento para animais não ruminantes (TRIVEDY et al., 2008).
As larvas frescas não são recomendadas, devido ao seu alto teor de água, geralmente as
pupas são secas ao sol, a larva de bicho da seda libera odor típico, que foi atribuído à presença
de óleos essenciais, este odor afeta a palatabilidade da farinha (FINKE, 2002).
Estudos realizados por Nandeeshaet al. (1999) com o uso de farinha de pupa do bicho
da seda na alimentação de carpas-comum, demostrou que houve aumento na digestibilidade
lipídica sem aumentar a deposição de gordura na carcaça.
Dentre os insetos mais estudados, cada um possui sua particularidade em relação a
valores nutricionais (proteína bruta, fibra bruta, extrato etéreo, cinza, aminoácidos e minerais)
e % de matéria seca, mostrados na (tabela 1).
Tabela 1-Valor nutricional dos insetos com base na matéria seca mais utilizados na produção
de farinha (continua).
ANÁLISE PRINCIPAL
Unidade Tenébrio Mosca Soldado Grilos e Bicho
Negra Gafanhotos da Seda
Matéria seca % 42,2 91,3 91,7 91,4
Proteína Bruta %MS 52,8 42,1 57,3 60,7
Fibra bruta %MS 12,0 7,0 8,5 3,9
Extrato etéreo %MS 6,5 25,0 8,5 25,7
Cinza %MS 36,1 20,6 6,6 5,8
Energia bruta Mcal/Kg MS 6214 5258 5019 5975
MINERAIS
Cálcio g/Kg MS 2,7 75,6 1,3 3,8
Fósforo g/Kg MS 7,80 9,00 1,10 6,0
Potássio g/Kg MS 8,90 6,9 1,1 -
Sódio g/Kg MS 0,9 1,3 3,2 -
Magnésio g/Kg MS 2,3 3,9 1,5 3,7
Manganês mg/kg MS 9 246 - 18
Zinco mg/kg MS 116 108 10 224
Cobre mg/kg MS 16 6 - 15
Ferro mg/kg MS 57 1370 13 326
378
Tópicos Especiais em Ciência Animal VIII
Tabela 1-Valor nutricional dos insetos com base na matéria seca mais utilizados na produção
de farinha (conclusão).
Unidade Tenébrio Mosca Soldado Grilos e Bicho
Negra Gafanhotos da Seda
AMINOÁCIDOS
Alanina %PB 7,3 7,7 4,6 5,8
Arginina %PB 4,8 5,6 5,6 5,6
Ác. aspártico %PB 7,5 11,0 9,4 10,4
Cistina %PB 0,8 0,1 1,1 1,0
Ác. glutâmico %PB 11,3 10,9 15,4 13,9
Glicina %PB 4,9 5,7 4,8 4,8
Histidina %PB 3,4 3,0 3,0 2,6
Isoleucina %PB 4,6 5,1 4,0 5,1
Leucina %PB 8,6 7,9 5,8 7,5
Lisina %PB 5,4 6,6 4,7 7,0
Metionina %PB 1,5 2,1 2,3 3,5
Fenilalanina %PB 4 5,2 3,4 5,2
Prolina %PB 6,8 6,6 2,9 5,2
Serina %PB 7,0 3,1 5,0 5,0
Treonina %PB 4,0 3,7 3,5 5,1
Triptofano %PB 0,6 0,5 0,8 0,9
Tirosina %PB 7,4 6,9 3,3 5,9
Valina %PB 6,0 8,2 4,0 5,5
Fonte: (Adaptado de VILELLA, 2018).
5 REFERÊNCIAS
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382
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Capítulo
23
383
Capítulo 23. Qualidade e tecnologia de ovos de poedeiras comerciais
1 INTRODUÇÃO
Figura 1: Destinos dos ovos produzidos na região de Santa Maria de Jetibá – ES.
Fonte: Aves (2018).
No Brasil, os ovos que devem seguir para comercialização, principalmente na forma “in
natura” devem apresentar condições mínimas de qualidade, seguindo normas regidas pelo
Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA), onde externamente, os
ovos devem apresentar peso ideal dentro de cada classificação regida pela legislação, além de
cascas limpas, sem trincas e defeitos, podendo estas características serem vistas a olho nu, ou
por meio de ovoscopia. Já internamente, os ovos devem apresentar gema translúcida e firme,
ocupando a parte central do ovo, albúmen límpido, viscoso, sem turvação, revistindo toda a
gema, e câmara de ar com no máximo 6 mm de altura (BRASIL, 1997), uma vez que estas
características podem ser verificadas quando ocorre a quebra do ovo sobre superfície plana.
384
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
O ovo é um alimento completo com alto valor biológico, podendo sua qualidade ser
facilmente alterada, seja por problemas fisiológicos das aves no momento da postura, uma vez
que a idade das poedeiras pode ser considerada, na coleta, pelas condições de armazenamento,
como a exposição em ambientes úmidos, sujos e com temperaturas elevadas, no beneficiamento
e transporte, necessitando assim de cuidados mínimos desde o momento da postura (LANA et
al., 2017; SOUZA, 2016).
Oferecer um produto ao mercado consumidor próximo ao original é o desafio da
indústria. A referigeração de ovos para consumo humano no Brasil não é obrigatória, pois ainda
se torna uma alternativa inviável economicamente, visto que se trata de uma proteína de baixo
custo e baixa margem de lucro quando comparada às demais proteínas de origem animal
(SOUZA, 2016). Mas, o mercado consumidor está cada vez mais exigente quanto à qualidade,
mesmo se tratando de uma proteína de fácil acesso.
Por este motivo, esta revisão tem como objetivo elucidar a importância de adotar
parâmetros que ajudem a aferir a qualidade de ovos comerciais (galinha e codorna), bem como
a composição e estrutura dos mesmos.
Entende-se por ovo, ovos de galinha envolto por casca, sendo os demais acompanhados
da indicação da especíe que procedem, como codornas, avestruz, patas, etc (BRASIL, 1997).
O ovo, independente da espécie, pode ser dividido por camadas e/ou proporções, onde
a maior é composta pela casca, albúmen e gema. Já a proporção menor, é composta pela cutícula
(aderida a casca), membranas testáceas internas e externas, membrana vitelina (membrana que
envolve a gema), câmara de ar, disco germinativo e calaza (Figura 2) (BARBOSA, 2013;
SOUZA, 2016).
385
Capítulo 23. Qualidade e tecnologia de ovos de poedeiras comerciais
A casca possuí a função de proteção de todo conteúdo interno. Nela possuem cerca de
8.000 poros/por ovo, que permitem trocas gasosas do interior para a o ambiente, sendo esta
troca realizada por meio de difusão passiva, ou seja, entra oxigênio (O2) e sai dióxido de
carbono (CO2), podendo este processo ser acelerado e influenciado por temperaturas elevadas,
nutrição e idade da poedeira, uma vez que, aves com maiores idades tendem a depositar ovos
com cascas mais finas, frágeis e porosas (GONZALES; BLAS, 1991; RUTZ et al., 2007).
A cutícula está aderida a casca, que têm como função proteger o conteúdo interno do
ovo, impedindo a entrada de patógenos e perda de água. Sabe-se que no processo de limpeza
dos ovos, os mesmos não devem ser limpos realizando fricção e abrasão sobre a casca, pois por
se tratar de uma película muito fina, a mesma pode romper-se com facilidade e propiciar a
entrada de microorganismos (BENITES; FURTADO; SEIBEL, 2005).
O albúmen representa 60% do peso total do ovo, tendo como composição principal água
(88%-90%), além de representar a maior parte proteica, como a ovoalbumina, ovomucina,
ovomucoide e ovoglobina, estando presentes tanto no albúmen denso como no fluido. A calaza
é caracterizada por um espiral, formada a partir do momento que houve o giro do ovo
internamente antes da postura, podendo ser vista atravessando todo albúmen denso, estando
aderida a membrana vetelina, indo de uma ponta a outra do ovo, e passando por cima da
membrana da gema, impedindo que a gema se desloque da parte central do ovo (BENITES;
FURTADO; SEIBEL, 2005; PARDI, 1977).
386
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
A gema é constituída em sua maior parte por lipídeos (65%), principalmente por
triglicerídeos, fosfolipídeos, colesterol, ácidos graxos livres, além de vitaminas lipossolúveis,
zeaxantina e luteína, além de constituir 30% do peso total do ovo. Ainda na gema consegue-se
visualizar o disco germinativo, formado no ovário, onde poderá surgir o embrião quando o ovo
for fecundado (RAMOS, 2008).
Cada parte do ovo exerce importância física, química e nutricional para que ele seja
considerado um alimento completo, e pode haver diferenças nestas composições de acordo com
a espécie (Tabela 1).
Tabela 1. Composição de ovos de galinha e codornas, inteiros “in natura” e recém postos
Características Galinha Codorna
Peso (g) 56,74 10,05
Espessura da casca (mm) 0,311 0,183
Casca (%) 10,74 12,66
Albúmen (%) 57,06 55,74
Gema (%) 31,06 31,58
Energia (Kcal) 143,0 177,0
Proteínas (g) 13,0 13,7
Lipídeos (g) 8,9 12,7
Carboidratos (g) 1,6 0,8
Fonte: Albino e Neme (2002); Taco – Campinas (2011).
Nota: Adaptado pelo autor.
387
Capítulo 23. Qualidade e tecnologia de ovos de poedeiras comerciais
Os ovos classificados como C apresentam, casca limpa, íntegra, com defeitos de textura,
contorno e presença de manchas; câmara de ar solta, com no máximo dez mm de altura;
albúmen com ligeira turvação, ligeiramente consistente e chalazas intactas; gema
descentralizada e deformada, porém com contorno definido e sem desenvolvimento de germe
(BRASIL, 1997).
Quanto ao peso, o ovo é classificado como: jumbo com peso mínimo de 66g/unidade,
extra com 60 a 65g/unidade, grande de 55 a 59g/unidade, médio com 50 a 54g/unidade, pequeno
de 45 a 49g/unidade e, industrial com menos de 45g, que são destinados à industrialização,
tendo como resultado produtos como, o ovo em pó, gema e albúmen líquidos pasteurizados
(BRASIL, 2003).
Diferentemente dos ovos de galinha, os ovos de codorna ainda não possuem decreto,
resolução e nomenclatura própria. As normas para estabelecimento das instalações, aquisição,
manipulação das aves e de seus produtos devem seguir as mesmas estabelecidas para as galinhas
de postura, evidenciando para os parâmetros de comercialização o nome da espécie de
procedência (BRASIL, 2003).
3 QUALIDADE DE OVOS
388
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
(CO2) para o ambiente externo através dos poros da casca, processo que é acelerado em altas
temperaturas (ORNELLAS, 2001). O pH considerado normal da gema e do albúmen estão
próximo de 7,9 e 6,2 respectivamente, porém, esses valores podem ser alterados quando o
tempo e a temperatura forem inadequados (SEIBEL, 2005). Segundo Alleoni e Antunes (2001),
ovos armazenados em temperatura ambiente (25 °C) e refrigeração (8 °C) após uma semana,
podem elevar o pH do albúmen a 9,34.
A refrigeração é importante na preservação da qualidade interna dos ovos
(CARVALHO et al., 2007). Lopes et al. (2012) em experimentos avaliando a qualidade de ovos
de casca marrom de galinhas poedeiras de granja comercial, armazenados em temperatura
ambiente e em geladeira, em diferentes períodos de tempo, concluíram que ovos estocados sob
refrigeração por até 25 dias após a postura apresentam qualidade interna apropriada para o
consumo.
Além do período e condições de armazenamento, manejo com as aves afetam a
qualidade dos ovos, diferentes linhagens e raças de poedeiras podem determinar a qualidade do
albúmen e gema (CARVALHO et al., 2007). A altura do albúmen está diretamente relacionada
com a linhagem e idade da poedeira (LOBET et al., 1989), onde ovos oriundos de poedeiras
mais velhas apresentam maior peso e maior porcentagem de gema e menor porcentagem de
casca e albúmen, interferindo negativamente na qualidade dos ovos (GARCIA et al., 2010).
389
Capítulo 23. Qualidade e tecnologia de ovos de poedeiras comerciais
390
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Da mesma forma ocorre com o albúmen, onde em ovos mais velhos, o albúmen denso
apresenta-se mais aquoso, apresentando menores valores relativos de IA, que pode ser medido
através da fórumala: IA = (altura do albúmen espesso (mm) / diâmetro do albúmen (mm)) x
100 (CARBÓ, 1957).
Figura 5: Medição do índice de gema de ovos brancos de galinha, por meio de paquímetro digital.
Fonte: O autor.
Percentagem da casca – Realizada após o ovo ser quebrado, a casca é lavada e seca em
estufa de ventilação forçada a 65°C por 24 horas e após este período, é pesada em balança
eletrônica. O resultado é obtido dividindo o peso da casa pelo peso do ovo inteiro multiplicado
por 100 (SILVERSIDES; TWIZEYIMANA; VILLENEUVE, 1993).
pH – Verificado por meio de pHmetro. Após a separação do albúmen e gema, faz-se a
imersão direta do eletrodo no conteúdo, realizando assim a leitura do pH.
Figura 6: Medição do pH de gema de ovos brancos de galinha, por meio de pHmetro digital.
Fonte: O autor.
391
Capítulo 23. Qualidade e tecnologia de ovos de poedeiras comerciais
Unidade de Haugh (UH) – Avalia a qualidade interna do ovo. Que consiste em realizar
a avaliação do albúmen por meio da fórmula: UH = 100 x Log (H + 7,57 – 1,7 W0,37) (CARD;
NESHEIM, 1966), conseguindo predizer a qualidade através da altura do albúmen (H),
corrigida pelo peso do ovo (W). Método este de uso universal, devido a sua fácil aplicação
(WILLIAMS, 1992), e possui alta correlação com a aparência visual interna do ovo ao ser
quebrado (XAVIER et al., 2008).
As indústrias têm utilizados este método desde sua introdução, pois suas análises dão
uma indicação das condições de armazenamento e duração dos ovos (SILVERSIDES;
TWIZEYIMANA; VILLENEUVE, 1993). Para serem considerados ovos de excelente
qualidade, a UH deve ser superior a 72; para ovos de qualidade alta a HU deve ser entre 60 e
72, e UH com valores abaixo de 60, são considerados ovos de qualidade ruim (USDA, 2000).
Figura 7. Medição da altura do albúmen denso de ovos brancos de galinha, por meio de paquímetro digital.
Fonte: O autor.
392
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
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395
Capítulo 24. Leite A2: correlações com a saúde humana e perspectivas de produção no Brasil
Capítulo
24
1
Zootecnista autônomo, e-mail: paulovictorfaustini@hotmail.com
2
Zootecnista autônomo, e-mail: otofilho@gmail.com
3
Zootecnista autônomo, e-mail: eduardomoreirabarradas@hotmail.com
4
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: mara.i.almeida@ufes.br
5
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: gisele.moreira@ufes.br
396
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
397
Capítulo 24. Leite A2: correlações com a saúde humana e perspectivas de produção no Brasil
aminoácidos na cadeia proteica, mas as formas mais comuns no leite bovino são as β-caseínas
A1 e A2, de acordo com Farrell Junior et al. (2004). Essas duas variantes vêm recebendo maior
atenção da pesquisa, em função da correlação entre o seu consumo com a ocorrência, ou não,
de problemas de saúde na população humana. A β-caseína A1 tem sido apontada como
potencial causadora de patogenias associadas ao consumo de leite, fato até então não
correlacionado à β-caseína A2. Experimentos ex situ realizados recentemente por
ASLEDOTTIR et al. (2017) evidenciaram que o leite contendo β-caseína A2 também libera a
β-casomorfina 7 (BCM7), levando a crer que a mesma também pode possuir impacto negativo
na saúde, embora em menor em menor proporção que a β-caseína A1.
Aproximadamente 99% da β-caseína produzida pelas raças zebuínas são da variante A2,
o que implica em dizer que vacas zebuínas não são produtoras naturais de β-caseína A1
(MISHRA et al., 2009). Tal fato foi reforçado por Woodford (2007), que afirmou que em
rebanhos zebuínos africanos e asiáticos a β-caseína A1 estaria ausente.
2 CASEÍNAS
398
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
399
Capítulo 24. Leite A2: correlações com a saúde humana e perspectivas de produção no Brasil
400
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Supõe-se que a β-caseína A1 não era originariamente produzida pelas vacas, que
produziam apenas a β-caseína A2, mas em função de uma mutação ocorrida entre 5.000 a
10.000 anos atrás no gene CSN2, responsável pela produção dessa proteína, algumas raças
começaram a produzir a variante A1 deste alelo. Pouco se sabe sobre o motivo que inicialmente
desencadeou esta mutação, o que se pode inferir é que este gene é considerado altamente
polimórfico, sendo assim suscetível a sofrer alterações na sua sequência de bases nitrogenadas,
o que teria resultado em alterações na sua expressão. Esta mutação afetou apenas o gado de
origem europeia, principalmente nas raças com cores mescladas de preto e branco, e em menor
proporção os rebanhos de coloração marrom e amarela. As raças zebuínas supostamente
estariam livres da ocorrência desta mutação específica para o alelo A1, consequentemente para
a variante A1 de β-caseína (WOODFORD, 2007). Dessa forma, depreende-se que as raças
zebuínas ainda permaneçam naturalmente produzindo o “leite A2”.
Ao serem digeridas, as β-caseínas são clivadas em peptídeos e, por último, a
aminoácidos, sendo estes absorvidos em seguida. Entretanto, muitos destes peptídeos, os assim
chamados peptídeos bioativos, possuem a capacidade de se ligar a receptores celulares
específicos no corpo humano, podendo causar efeitos desejáveis ou indesejáveis diversos
(NONGONIERMA; FITZGERALD, 2015).
Pesquisas recentes têm correlacionado a presença de peptídeos bioativos provenientes
da digestão da β-caseína A1 e da β-caseína B a diversas patologias (ASLEDOTTIR et al., 2017;
VERCESI FILHO, 2011). Um heptapepitídeo bioativo vem chamando a atenção em diversos
trabalhos, a β-casomorfina 7 (BCM7), cuja sequência de aminoácidos é Tyr-Pro-Phe-Pro-Gly-
Pro-Ile. Trata-se de uma exorfina com potencial afinidade de ligação aos receptores de opioides
µ do corpo humano, que atua de forma similar à morfina e desencadeia diversas reações pelo
corpo nos diferentes sistemas do organismo (JIANQIN et al., 2015).
Autores têm destacado que as β-caseínas podem promover prejuízos à circulação
sanguínea, levando ao acúmulo de placas de gordura na parede das artérias por causa da
oxidação do LDL (Low Density Cholesterol). Isso se daria em função de grupamentos tirosil
liberados após a digestão das mesmas, pois estes possuem a capacidade de oxidar o LDL e
estimular a geração de autoanticorpos que fazem o mesmo (STEINEROVÁ et al., 2001;
STEINEROVÁ et al., 2004), levando ao acumulo de placas de gordura na parede das artérias.
Este efeito negativo no sistema circulatório seria justamente o potencial causador de
aterosclerose observados em coelhos por (TAILFORD, 2003), mas também em outros animais
como roedores, porcos e macacos, conforme mencionado por (MCLACHLAN, 2001).
401
Capítulo 24. Leite A2: correlações com a saúde humana e perspectivas de produção no Brasil
De acordo com Kamiñski et al. (2007), como toda característica herdável, a produção
de β-caseínas, sejam elas A1 ou A2, dependerá de informações contidas no código genético do
animal. Há uma relação de codominância entre os diferentes tipos de β-caseínas produzidos,
402
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
sendo que três combinações são possíveis, bem como seu produto para os haplótipos A1 e A2,
conforme apresentado na Tabela 1.
403
Capítulo 24. Leite A2: correlações com a saúde humana e perspectivas de produção no Brasil
404
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
podem ter causado mistura entre genes de taurinos e zebuínos, onde mesmo nos animais
zebuínos de plantéis aparentemente considerados puros, pode haver resquícios do material
genético dos seus antepassados taurinos, assim como resquícios genéticos de antepassados
zebuínos em alguns plantéis nacionais da raça Holandesa, por exemplo.
Contudo, outros resultados obtidos por Otaviano et al. (2008), Vercesi Filho (2011) e
Rangel et al. (2016) no Brasil, mostram que as raças zebuínas puras Gir e Guzerá, bem como a
Girolando ainda apresentam expressiva predominância do alelo A2, com as frequências de 96,5;
97,0 e 83,0%, respectivamente (Tabela 2).
405
Capítulo 24. Leite A2: correlações com a saúde humana e perspectivas de produção no Brasil
406
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Contudo, o que se espera é que o mercado para esse tipo de leite remunere melhor o
produtor, a exemplo do que acontece nos sistemas orgânicos de produção. Segundo o site
MilkPoint (2016), no mercado do “leite A2”, os produtores buscam principalmente receber um
valor extra pelo leite certificado, a exemplo do que ocorre na Austrália, onde o valor pago ao
produtor por esse tipo de leite chega a ser mais que o dobro daquele pago pelo leite comum não
certificado. O mercado externo do leite “A2” também pode ser uma opção viável, pois além da
patente de comercialização internacional da marca “A2 Milk”, há demanda crescente deste
produto mais saudável por países onde a população possui maior poder de compra e maior
conhecimento sobre os impactos do leite A1 na saúde. Soma-se a isso o fato de que os rebanhos
dos países desenvolvidos são em maior parte compostos por animais de raças taurinas e,
portanto, mais susceptíveis à produção da β-caseína A1.
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411
Capítulo 25. Produção in vitro de embriões bovinos na pecuária de leite
Capítulo
25
1
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: izabellelacerda@hotmail.com
2
Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: joseocneto@hotmail.com
412
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
1 INTRODUÇÃO
413
Capítulo 25. Produção in vitro de embriões bovinos na pecuária de leite
414
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
100
90
80
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30
20
10
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Leite Corte
Figura 2: Proporção do total de embriões bovinos produzidos no Brasil de 2007 a 2016 provenientes de raças
leiteiras ou de corte.
Fonte: adaptado de Viana e Figueiredo (2017).
Com o crescente uso da PIVE na pecuária leiteira, foi otimizado a produção de embriões
pelo cruzamento de animais taurinos e zebuínos, gerando raças mestiças, como Girolando para
reposição do rebanho. Além disso, o uso de fêmeas mestiças (Bos taurus x Bos indicus) como
doadoras de ovócitos, permite a produção de animais de diferentes graus sanguíneos, gerando
animais de elite e alta produção leiteira (VIANA et al., 2012).
Entretanto, mesmo com todo crescimento e posição de destaque no cenário mundial,
ainda existem desafios a serem superados dentro da indústria de PIVE no Brasil, como a
criopreservação de embriões in vitro com resultados de prenhez semelhantes ao de embriões
transferidos a fresco, o que consequentemente viabilizará novos mercados para a PIVE
(VIANA et al., 2012; VIANA; FIGUEIREDO, 2017).
415
Capítulo 25. Produção in vitro de embriões bovinos na pecuária de leite
Neste sentido, é importante que seja respeitada uma sincronia reprodutiva entre as fêmeas
doadoras e receptoras, devendo ser seguido um cronograma das atividades realizadas durante
as etapas da PIVE. Na figura 2 é apresentado um possível cronograma para a realização da
PIVE (GONÇALVES; DE FIGUEIREDO; DE FIGUEIRÊDO FREITAS, 2008), sendo que tal
cronograma de execução, tanto de sincronização da receptora, quanto do protocolo de PIVE,
pode apresentar variações de acordo com o laboratório.
Figura 3: Etapas para procedimento de produção in vitro de embriões. A: Dia -11, início do protocolo de
sincronização de cio na receptora, com aplicação de benzoato de estradiol e colocação do implante de
progesterona; B: Dia -3, aplicação de prostaglandina e retirada do implante de progesterona na receptora; C: Dia
-2, aplicação de indutor de ovulação (benzoato de estradiol) na receptora; D: Dia -1, Aspiração folicular guiada
por ultrassonografia (OPU) na doadora e início da maturação in vitro dos ovócitos da doadora; E: Dia 0,
fecundação in vitro dos ovócitos da doadora; F: Dia 1, transferência dos possíveis zigotos para cultivo in vitro; G:
Dia 2, avaliação da taxa de clivagem dos embriões; H: Dia 7, avaliação dos embriões produzidos e transferência
dos embriões para as receptoras.
Fonte: os autores.
Para a realização das etapas laboratoriais da PIVE, são necessários meios específicos
que mimetizam o ambiente do trato reprodutor feminino em cada etapa da técnica.
Considerando a ampla utilização da técnica e a quantidade de laboratórios comerciais e centros
de pesquisa que a dominam, é importante ressaltar que a composição destes meios pode variar
de acordo com o laboratório que está realizando o procedimento (GONÇALVES; DE
FIGUEIREDO; DE FIGUEIRÊDO FREITAS, 2008).
416
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
(MONTEIRO et al., 2017), a qual pode ser conduzida em um dia aleatório do ciclo estral. Para
este procedimento, a OPU é realizada com auxílio de um aparelho ultrassonográfico equipado
com um transdutor microconvexo, o qual está acoplado a uma guia de aspiração folicular. No
momento da OPU, todos os folículos maiores que 2 mm de diâmetro presentes nos ovários são
aspirados, utilizando-se uma agulha hipodérmica descartável de 18 ou 20 gauge, acoplada a um
circuito de teflon, conectado à um tubo cônico de 50 mL (LACERDA, 2017). Uma bomba de
vácuo acoplada ao tubo coletor de ovócitos, com pressão de 12-15 mL/min, realiza pressão
negativa neste tubo para que os folículos sejam aspirados e armazenados (VIANA et al., 2004).
Na figura abaixo (Figura 3) estão representados os materiais utilizados para a OPU.
3 6
417
Capítulo 25. Produção in vitro de embriões bovinos na pecuária de leite
Os COCs selecionados após a OPU são transferidos para gotas de meio de maturação,
sendo alocados em estufa de cultivo durante 20-24 horas, a uma temperatura de 38,5ºC e
atmosfera controlada, para que ocorra a maturação (GONÇALVES; DE FIGUEIREDO; DE
FIGUEIRÊDO FREITAS, 2008).
No momento da aspiração folicular, os folículos, encontram-se em diferentes estágios
de desenvolvimento, estando os oócitos em prófase I da primeira divisão meiótica, não estando
aptos a serem fecundados. Desta forma, a etapa da maturação in vitro (MIV) ocorre para que
todos os COCs alcancem a competência necessária para serem fecundados, devendo progredir
sua divisão meiótica até a fase de metáfase II (GOTTARDI; MINGOTI 2009).
A maturação do ovócito compreende modificações nucleares, citoplasmáticas e
moleculares necessárias para que que o ovócito seja capaz de conduzir o desenvolvimento
inicial do embrião (GOTTARDI; MINGOTI 2009). A maturação nuclear compreende a
progressão do estágio de prófase I da primeira divisão meiótica até a fase de metáfase II. Já a
maturação citoplasmática, está relacionada com as modificações celulares, como, aumento na
síntese lipídica, redução no tamanho do complexo de Golgi e alinhamento dos grânulos corticais
(DODE, 2006; GONÇALVES; DE FIGUEIREDO; DE FIGUEIRÊDO FREITAS, 2008). A
reorganização das organelas permite que as mesmas se encontrem nas condições ideias para
desempenharem sua função após a fecundação (GOTTARDI; MINGOTI, 2009). Além disto,
durante o processo da MIV, os ovócitos realizam estoque de mRNAs, que serão traduzidos em
418
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
A B
Figura 4: Complexos cúmulos ovócitos imaturos no momento em que são rastreados e classificados (A) e após a
maturação in vitro, com a expansão das células do cúmulos (B).
Fonte: os autores.
Após a MIV, os ovócitos maturados serão transferidos para gotas contendo meio
específico para a fecundação, onde serão co-incubados com os espermatozoides durante 18-22
horas, a uma temperatura de 38,5ºC e atmosfera controlada (GONÇALVES; DE
FIGUEIREDO; DE FIGUEIRÊDO FREITAS, 2008).
No momento da fecundação in vitro, os espermatozoides precisam ser preparados, com
a separação destas células do plasma seminal, crioprotetores e diluentes (PARRISH, 2014).
Esta separação pode ser realizada por lavagem, migração ascendente ou gradiente de densidade
e centrifugação (GONÇALVES; DE FIGUEIREDO; DE FIGUEIRÊDO FREITAS, 2008).
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Capítulo 25. Produção in vitro de embriões bovinos na pecuária de leite
420
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
sendo mais comum embriões em fase de Bl e Bx (Figura 5). Após avaliação, os embriões são
envasados em palhetas de 0,25 mL e transportados até as propriedades, onde serão transferidos
para as fêmeas receptoras previamente sincronizadas (LACERDA, 2017).
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Capítulo 25. Produção in vitro de embriões bovinos na pecuária de leite
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Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
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Capítulo 25. Produção in vitro de embriões bovinos na pecuária de leite
vitro dos ovócitos de doadoras Gir, Holandês e mestiças com sêmen sexado de touros Gir
(n=18) e Holandês (n=51). Foi identificado que a raça do touro não apresentou influência
apenas no número de embriões produzidos a partir da fecundação de ovócitos de doadoras
cruzadas, não sendo encontrado efeito da raça do touro na produção de embriões ou na taxa de
prenhez gerada nos demais cruzamento (Tabela 1).
Tabela 1. Efeito da raça do touro na média (erro médio do desvio) e porcentagem de embriões
e prenhez utilizando ovócitos de doadoras de diferentes genótipos.
Holandês Gir (7) 2000 1,9 ± 0,2 22,5 1,2 ± 0,1 35,0
(109/265) Holandês (4) 388 2,0 ± 0,5 14,8 1,2 ± 0,3 35,8
½ Holandês-Gir Gir (5) 577 4,2 ± 1,1a 35,9 1,7 ± 0,6 31,2
(145/462) Holandês (28) 8351 4,8 ± 0,2b 23,0 1,8 ± 0,1 36,4
424
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
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Capítulo 25. Produção in vitro de embriões bovinos na pecuária de leite
426
Tópicos especiais em Ciência Animal VIII
Holandês foram fecundados com sêmen de touros Nelore, Gir ou Holandês. Noventa e seis
horas após a inseminação, embriões com mais de 16 células foram divididos em grupos
controle, com os embriões cultivados a 39ºC, e grupo sob estresse, com os embriões submetidos
a 41ºC por 12 horas. Os embriões submetidos ao estresse por calor, apresentaram diminuição
nas taxas de formação de blastocisto para todos os cruzamentos (Nelore x Nelore; Holandês x
Holandês; e Holandês x Gir). No entanto, o cruzamento entre doadora e touro Nelore apresentou
maior taxa de clivagem quando comparado com cruzamento de doadora e touro Holandês. Com
relação ao cruzamento das doadoras Holandês com touros de diferentes raças, a taxas de
produção de embriões foram semelhantes, independente da raça do touro, mostrando que a raça
de origem do ovócito teve maior influência que a do espermatozoide para o desenvolvimento
da termotolerância.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção in vitro de embriões apresenta uma série de vantagens com relação a outras
biotecnologias reprodutivas, o que proporcionou sua difusão e aplicação mundial com
resultados satisfatórios.
Mesmo com todo o crescimento e posição de destaque no cenário mundial, ainda
existem desafios a serem superados dentro da indústria de PIVE no Brasil, com melhores
resultados para as raças taurinas. Estes avanços, consequentemente, abrirão novos mercados
para esta biotecnologia.
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