Harmonicos
Harmonicos
Harmonicos
Pomilio
Para f=50 Hz e k=0,1 resulta a característica (t) por i(t) da Figura 5.1, que se aproxima de
uma curva de magnetização típica. Essa é uma função denominada de ímpar, pois f(x) = - f(-x) ou,
no caso específico, (i) = -(-i)
Neste exemplo hipotético, a corrente, apesar de distorcida, estará “em fase” com o fluxo e
estará deslocada temporalmentea da tensão, de acordo com a relação (5.1.c). Deve-se recordar ainda
que o efeito da histerese do material magnético torna mais complexo analisar a relação entre estas
grandezas. Mesmo assim, o exemplo serve para mostrar que harmônicas de corrente são produzidas
por funções não lineares.
B(G)
5.0K
Bmax
A
(t)
Br
-Hc
-3.0 -2.0 -1.0 0.0 Hc 1.0 2.0 3.0
-Br H (A.esp/m)
1 T = 10000 G
-Bmax
-5.0K
Figura 5.1 Curva de magnetização (t) x i(t) e curva B x H típica de núcleo ferromagnético, com
histerese.
a
Não é correto, embora seja usual, fazer referência à fase de sinais periódicos não senoidais. Na verdade defasagem só é
possível ser definida entre sinais senoidais de mesma frequência.
Impondo-se uma tensão de excitação senoidal (400 Hz), resulta um fluxo senoidal. A
corrente de magnetização, no entanto, tem a forma de onda mostrada na Figura 5.2.
200V
0V
SEL>
-200V
>
4.0mA
0A
-4.0mA
0s 2ms 4ms 6ms 8ms 10m
s
Time
3.0mA
2.5mA
2.0mA
1.5mA
1.0mA
0.5mA
0A
0Hz 1.0KHz 2.0KHz 3.0KHz 4.0KHz 5.0KHz
Frequency
Figura 5.2. Efeito distorcivo devido à característica não linear de núcleo ferromagnético. Tensão
senoidal imposta, corrente resultante e espectro da corrente.
Nota-se que para esse tipo de não linearidade aparecem harmônicas ímpares (ordem 3, 5,
7...) com amplitudes decrescentes.
Nas aplicações normais de um transformador, à corrente de magnetização se soma a corrente
da carga. Se for uma carga linear, dado que a tensão é senoidal, a corrente resultante (na carga)
também será senoidal. Tipicamente o projeto dos dispositivos com núcleo magnético define um
fluxo que se aproxima do “joelho” da curva de magnetização que modo que a corrente de
magnetização se torna distorcida. No entanto, essa componente da corrente é de poucos porcento
em relação à corrente nominal do dispositivo, de modo que a distorção relativa se torna pequena.
No entanto, caso haja um aumento na tensão aplicada (ou uma redução na frequência), de modo a
elevar o fluxo magnético, o efeito da saturação se torna mais intenso, ampliando a distorção, como
mostra a figura 5.3, na qual a tensão CA foi elevada de 115 para 155 V.
Não linearidades com características de função par (f(x)=f(-x)) não são típicas das cargas
elétricas. A presença de harmônicas pares está, em geral, associada a problemas de mau
funcionamento das cargas não lineares, à exceção dos fenômenos relacionados a arcos elétricos.
200mA
100mA
0A
0Hz 1.0KHz 2.0KHz 3.0KHz 4.0KHz 5.0KHz
I(L1)
Frequency
500mA
0A
SEL>>
-500mA
0s 2ms 4ms 6ms 8ms 10ms
I(L1)
Time
Condução direta
- ângulo de disparo
i
- ângulo de condução
v
i
L
v 2 V
com gatilho
t
anodo
gatilho Breakdown reverso
+
Quando associado a um banco capacitivo (fixo), configura o SVC (Static var Compensator),
que permite obter uma potência reativa ajustável tanto capacitiva quanto indutiva, como ilustra a
figura 5.5.
AT =90
=180
TP Y
V
- V VREF
VREF
+ TC
Capacitor
V IL RCT
Principal
Carga Filtros
Controle variável sintonizados
Qcap
Qc Q
Qind
Q
Figura 5.5. Modelo por fase de SVC com a finalidade de regulação de tensão no PAC
cos() cos(t )
Vi
i(t ) (5.2)
L
é o ângulo de disparo do tiristor, medido a partir do cruzamento da tensão com o zero. Vi é o
valor de pico da tensão.
Figura 5.6. Forma de onda da corrente de fase de um RCT e respectivo espectro da corrente pelo
reator.
As componentes harmônicas (valor eficaz) são dadas pela equação (5.3). A figura 5.7 mostra
o comportamento de algumas harmônicas em função do ângulo. Note que a terceira componente
pode atingir quase 14% do valor da fundamental máxima (correspondente ao ângulo de disparo de
90º).
0.5
3
5
0
2 2.5 3
Figura 5.7 Variação do valor eficaz de cada componente harmônica de corrente em relação à
fundamental máxima (correspondente ao ângulo de disparo de 90º e condução de 180º).
Em redes trifásicas, para evitar que as harmônicas múltiplas de 3 se propaguem pela rede,
utiliza-se a conexão do RCT ou SVC em triângulo, o que confina tais harmônicas, como mostra a
figura 5.8. Dessa forma reduz-se o conteúdo harmônico nas correntes de linha e se evita a
necessidade de filtragem dessas harmônicas na rede.
6.0A
3.0A
0A
-3.0A
-6.0A
I(R10)
6.0A
3.0A
0A
-3.0A
SEL>>
-6.0A
20ms 30ms 40ms 50ms 60ms 70ms 80ms 90ms 100ms
I(R3)
Time
5.0A
4.0A
2.0A
SEL>>
0A
I(R10)
5.0A
4.0A
2.0A
0A
0Hz 0.1KHz 0.2KHz 0.3KHz 0.4KHz 0.5KHz 0.6KHz 0.7KHz 0.8KHz 0.9KHz 1.0KHz
I(R3)
Frequency
Figura 5.8 Circuito e formas de onda de corrente de fase (inferior) e de linha (superior) para
conexão em com carga indutivaEspectro das correntes de fase (inferior) e de linha (superior).
1-Sala do operador
2-Transformador do forno
3-Cabos de alimentação
4-Eletrodos de carbono
5-Suporte móvel da tampa
6-Cuba com refratário
7-Plataforma basculante
O arco elétrico é também um grande gerador de distorções harmônicas devido à relação não
linear entre a tensão de arco e a corrente. Essa não linearidade varia com o comprimento do arco e
com as características do próprio meio condutor do plasma como temperatura, pressão, secção
transversal, tipo de gás, etc. O comprimento do arco é uma variável de controle, que é exercido
através da elevação dos eletrodos sobre a sucata ou sobre o material fundente. Na fase mais crítica,
a ignição para início da fusão, os eletrodos são abaixados até se curto-circuitarem através da sucata.
cada fase. Essas variações provocam a flutuação da tensão da rede responsável pelo efeito flicker e
modificam o nível de harmônicas e inter-harmônicas responsáveis pela distorção e produzindo,
além disso, desequilíbrios momentâneos [6].
À medida que o material vai sendo fundido, o arco se estabiliza e o nível de perturbações
também diminui. Durante a fase final de refino do material fundido, a operação do forno costuma
ser bastante estável, com níveis aceitáveis de flutuação, desequilíbrio e distorção. A Figura 5.11
mostra uma corrente de arco típica, obtida por simulação e o respectivo espectro [7].
Retificadores trifásicos
A figura 5.12 mostra um retificador trifásico a diodos alimentando uma carga do tipo RL, ou
seja, que tende a consumir uma corrente constante, caso sua constante de tempo seja muito maior do
que o período da rede. A mesma figura mostra a forma de tensão de saída do retificador, numa
situação ideal.
Retificadores trifásicos são usados, tipicamente, em aplicações industriais podendo, assim,
apresentar potências muito elevadas, a depender do uso específico.
Na figura 5.13 tem-se, supondo uma corrente CC constante, sem ondulação, a forma de onda
da corrente na entrada do retificador e o respectivo espectro.
As amplitudes das harmônicas, normalizada pela fundamental, seguem a equação (5.4)
1
Ih
h (5.4)
h k q 1
h é a ordem harmônica;
k é qualquer inteiro positivo;
q é o número de pulsos do circuito retificador (6, no exemplo).
300
vr1( t )
Lo +
+ 200
va( t )
va Ro
vb Vr
Vo vb( t )
vc( t )
100
vc
- Id -
0
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0.018 0.02
t
Figura 5.12 Circuito retificador trifásico, com carga RL e tensão de saída de retificador (Vr).
1.2V
400
va( t ) vc( t ) 1.0V
vb( t )
200 Ia 0.8V
0.6V
0
0.4V
200
0.2V
400 0V
0 0.005 0.01 0.015 0.02 0Hz
V(I2:+)
0.2KHz 0.4KHz 0.6KHz 0.8KHz 1.0KHz
Frequency
t
Figura 5.13 Tensões e corrente de entrada com carga indutiva ideal e espectro da corrente.
Isto permite determinar que a DHT da corrente é 31,08% e que o fator de deslocamento
(ângulo entre a tensão e a componente fundamental da corrente) é unitário.
Um comportamento similar ocorre nos retificadores controlados, como o mostrado na figura
5.14. A forma da corrente é retangular, com duração de 2/3 do semiciclo. A diferença é que o início
da condução ocorre em um instante que depende do ângulo de disparo dos tiristores. Dessa forma
não há alteração das componentes harmônicas, embora haja uma alteração de fase da componente
fundamental e, por conseguinte, no fator de potência visto pela rede. A componente fundamental
está atrasada, o que confere ao circuito um comportamento “indutivo”, embora isso se deva ao
atraso no início da condução e não à efetiva existência de uma indutância no circuito visto pela
rede.
A corrente da rede é simétrica, apresentando apenas componentes espectrais de ordem
ímpar, exceto os múltiplos da terceira, que não existem. A tensão média no barramento CC é dada
por:
3 2
Vo Vlinha cos (5.5)
RMS
Vp.sin(wt) T1 Lf
Li + +
van(t)
vo(t) Vo
400
200
200
-200
16.7ms 20.0ms 25.0ms 30.0ms 35.0ms 40.0ms 45.0ms 50.0ms
Associação de Retificadores
Em determinadas situações pode ser conveniente fazer uma associação de circuitos
retificadores. A análise que se segue, embora tome como exemplo retificadores a diodo, pode ser
estendida também para circuitos com tiristores e mistos.
São essencialmente 3 as situações em que são feitas associações de retificadores:
Uma associação série é normalmente empregada em situações em que se deseja uma tensão CC
de saída elevada, que não poderia ser obtida com um retificador único;
Uma associação paralela, quando a carga exige uma corrente que não poderia ser fornecida por
um único retificador;
Em ambos os casos, quando se deseja reduzir o conteúdo harmônico da corrente drenada da
rede.
Lo Transformador de interfase
+
Io +
Vr Io
Vr
+
+
-
-
Vo
Vo
+
+
Vr Vr
- -
Em ambos os circuitos as tensões de entrada de cada retificador não são as mesmas. Isto é
feito para melhorar a forma de onda da corrente de entrada, como mostra a figura 5.16.
No exemplo, no qual se têm um retificador de 12 pulsos, cada um dos retificadores é
alimentado por tensões de mesmo valor eficaz, mas com defasagem de 30o entre os sistemas
trifásicos. Isto faz com que a corrente da rede se apresente de uma forma “multinível”. Neste caso,
têm-se 6 níveis e o respectivo espectro mostra que só existem harmônicos em frequências de ordem
12k+1, ou seja, após a fundamental, teremos as componentes de ordem 11a, 13a, 23a, 25a, e assim
por diante.
600
Tensão total
400
Tensão em cada retificador
200
Tensão de fase
0
Corrente de fase 11a 13a 23a 25a
0A
-200
0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms 0Hz 0.5KHz 1.0KHz 1.5KHz 2.0KHz 2.5KHz 3.0KHz
Figura 5.16 Formas de onda e espectro da corrente na rede para retificador de 12 pulsos.
Vp.sin(wt) Vo
10A
1.0A
0 100mA
10mA
-
1.0mA
0Hz 0.2KHz 0.4KHz 0.6KHz 0.8KHz 1.0KHz 1.2KHz 1.4KHz 1.6KHz
-
0
(a) (b)
Figura 5.17 Retificador monofásico com filtro capacitivo.
(a) Corrente de entrada e tensão de alimentação de retificador alimentando filtro capacitivo.
(b) Espectro da corrente.
A comutação
Uma forma de corrente retangular, como a suposta na figura 5.13, pressupõe a não
existência de indutâncias em seu caminho, ou então uma fonte de tensão infinita, que garante a
presença de tensão qualquer que seja a derivada da corrente.
Na presença de indutâncias, como mostrado na figura 5.18, no entanto, a transferência de
corrente de uma fase para outra não pode ser instantânea. Ao invés disso, existe um intervalo no
qual estarão em condução o diodo que está entrando e aquele que está em processo de
desligamento. Isto configura um curto-circuito na entrada do retificador. A duração deste curto-
circuito depende de quão rapidamente se dá o crescimento da corrente pela fase que está entrando
em condução, ou seja, da diferença de tensão entre as fases que estão envolvidas na comutação.
A figura 5.19 mostra um resultado experimental relativo a um retificador deste tipo. Neste
caso a corrente não é plana e apresenta uma ondulação determinada pelo filtro indutivo do lado CC.
Mesmo assim pode-se notar que as transições da corrente de entrada não são instantâneas e que
durante as transições há uma perturbação na tensão na entrada do retificador. O valor instantâneo
desta tensão é a média das tensões das fases que estão comutando, supondo iguais as indutâncias da
linha. Este “afundamento” da tensão é chamado de “notching”.
Vi Corrente de fase
Lo
Li +
Vp.sin(wt)
Vo
Tensão de fase
intervalo de comutação
Figura 5.18 Topologia de retificador trifásico, não controlado, com carga indutiva . Formas de onda
típicas, indicando o fenômeno da comutação.
seguem valem desde que fundamental e harmônicas estejam equilibradas. Qualquer desequilíbrio
faz surgir componentes da sequência oposta, em cada harmônica.
A Figura 5.20 mostra as harmônicas de ordem 3 e as tensões trifásicas com sequência
positiva (abc). Como se pode ver, as 3as harmônicas estão todas em fase e, portanto, se caracterizam
como componentes de sequência zero (aquelas cuja soma algébrica não se anula).
Pode-se verificar que isso acontece com todas as harmônicas múltiplas de 3 (3n, n=1,2,3...).
O fato de apresentarem sequência zero indica que poderá haver uma significativa corrente
circulando pelo neutro, no caso de conexão Y a 4 fios, ou então pela malha do triângulo, no caso de
conexão em .
A Figura 5.21 mostra o que ocorre com a 5a harmônica equilibrada. Como se pode ver, tais
harmônicas apresentam sequência negativa.
a b c
abc
seg
Figura 5.20 Harmônicas de 3ª ordem apresentam sequência zero
a b c
ac b
seg
a
Figura 5.21 Harmônicas de 5 ordem apresentam sequência negativa
Esse sinal é mostrado na Figura 5.22. As sobretensões devido às harmônicas são evidentes.
Invertendo-se a fase da 5a harmônica, obtém-se o sinal seguinte:
A onda agora assume a forma mostrada na Figura 5.23. A simples comparação visual das
ondas mostra que não é óbvio que se trata de sinais com a mesma composição espectral. Por isso é
importante recorrer aos métodos de processamento matemático para analisar os sinais no domínio
da frequência.
Apenas os espectros das fases relativas acusam a inversão da 5a harmônica, como indicam as
Figuras 5.25 e 5.26. Esse exemplo mostra que uma dada composição harmônica pode apresentar
efeitos que não são percebidos pela simples avaliação do valor eficaz ou mesmo apenas do espectro
de amplitude.
Como se pode ver, a presença de distorções na tensão da rede pode criar problemas dos mais
variados e de difícil diagnóstico com antecedência.
Suponha que essa onda quadrada seja o sinal cuja distorção em relação à fundamental se
queira analisar. Da somatória (5.6) pode-se isolar a onda fundamental, obtendo:
4 1 4
vT ( t )
cos( 2f 1t )
h2 k 1 h
cos( h2f 1t ) k 1, 2 ,3...
( 1 )k (5.8a)
4 4
v1 ( t ) cos( 2f 1 t ) sen( 2f 1 t / 2 ) (5.8b)
2
1
q ( t)
h1( t)
h3( t) 0
h5( t)
h7( t)
1
2
0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035 0.04
t
Ou seja, a amplitude da fundamental vale 4/. Notar que essa amplitude é maior (4/>1) que
a amplitude da onda quadrada, da qual foi extraída.
Pode-se definir o sinal distorcivo como sendo o que resta de (5.8.a), eliminada a
fundamental. Para quantificar o efeito distorcivo dessa parcela, normaliza-se o sinal restante pela
onda fundamental:
4 1
v (t ) v1 (t ) h2 k 1
(1) k cos(h2f1t )k 1,2...
h
vres (t ) T (5.9)
v1 (t ) 4
cos(2f1t )
Pode-se ainda expressar essa relação em termos do valor eficaz das componentes, resultando
(letra maiúscula indica valor eficaz da onda):
V h
2
Vh
2
Vres h2
h 2 V1
(5.10)
V1
1 2
T T
onde: Vh v h ( t ). dt é o valor eficaz da tensão harmônica vh(t)
Comparando a relação (5.10) com a definição usual da grandeza designada nas normas
como Distorção Harmônica Total (DHT, ou THD da sigla em inglês):
50
V h
2
50
V
2
DHT h 2
h (5.11)
V1 h 2 V1
Conclui-se que o DHT é uma aproximação do valor eficaz normalizado da tensão distorciva,
considerando as harmônicas até uma dada ordem. Essa constatação permite estabelecer uma
maneira de estimar o valor de DHT diretamente no domínio do tempo através do cálculo do valor
eficaz do resíduo da tensão após filtrar a fundamental. Esse processo para estimar a distorção
harmônica será visto com mais detalhes na segunda parte do Curso.
A DHT definida para a tensão é geralmente uma boa indicação do valor das harmônicas,
uma vez que o valor da componente fundamental é relativamente constante. O mesmo não vale para
a corrente, uma vez que a alteração da componente fundamental (associado a variações da carga)
pode ser muito significativa. Para a análise do efeito das distorções da corrente é mais significativo
considerar os valores absolutos das harmônicas do que a DHT.
b
Fator de qualidade (Q) é um parâmetro adimensional que relaciona a energia acumulada no filtro e as perdas. Equivale
a uma relação entre a frequência central do filtro e sua largura de banda. Um Q elevado indica uma taxa de perda de
energia baixa e uma banda estreita, ou seja, uma sintonia mais precisa.
.1 .25m
Figura 5.28 Filtragem passiva de corrente em carga não linear com comportamento de fonte de
corrente.
A figura 5.29 mostra a resposta em frequência da tensão sobre a carga. A carga, dado seu
comportamento de fonte de corrente, é considerada um circuito aberto neste teste. Nota-se que nas
ressonâncias dos filtros, dado que a impedância vai ao mínimo, tem-se uma redução da tensão.
Têm-se ainda outras três ressonâncias série que surgem da combinação entre a reatância do
alimentador e cada um dos quatro ramos do filtro. Em tais frequências observa-se uma amplificação
da tensão sobre o filtro. Caso existam componentes espectrais de tensão nestas frequências estas
serão amplificadas.
Na figura 5.30 tem-se a impedância vista pela carga. Neste teste a fonte de tensão é curto-
circuitada. Em baixa frequência, pode-se esperar que a corrente flua pela rede. Nas ressonâncias do
filtro, as respectivas componentes presentes na corrente da carga fluirão pelo filtro. No entanto, nas
frequências em que a impedância se eleva, eventuais componentes presentes na corrente da carga
produzirão distorções na tensão no barramento de instalação do filtro. Assim, do ponto de vista da
carga, o que se tem são ressonâncias paralelas entre os ramos do filtro e a reatância da rede.
Assim, pode-se concluir que a presença de vários filtros numa mesma rede produz
interferências mútuas. O comportamento de cada filtro pode ser influenciado pela presença dos
outros filtros e outras cargas.
Figura 5.29 Ganho (em dB) de tensão do filtro, em relação à tensão da fonte CA.
A figura 5.31 mostra o sistema simulado, com uma carga não linear, que absorve uma
corrente retangular (como ocorreria em um retificador controlado, alimentando uma carga altamente
indutiva). A ação do filtro permite compensar o fator de deslocamento (desde que seja constante),
assim como reduzir o conteúdo harmônico da corrente da rede em relação à da carga. A distorção
harmônica total (DHT) da corrente da carga é de 29%, enquanto na rede têm-se 15%. Os espectros
destas correntes são mostrados na figura 5.32. A redução na componente fundamental deve-se à
melhoria do fator de deslocamento.
A figura 5.33 mostra a tensão no ponto de conexão da carga e seu espectro. Observem-se os
afundamentos na tensão quando há a variação acentuada da corrente da carga. Sem os filtros, a
distorção harmônica total da tensão no ponto de conexão da carga é de 13%. Com o filtro, o
afundamento não é compensado plenamente, mas a DHT se reduz para 8%. Mesmo com a
atenuação introduzida neste ramo passa-altas tem-se alguma oscilação em torno de 3 kHz, conforme
se poderia antever pelo resultado da figura 5.29. Verifica-se assim que o uso do filtro melhora não
só a corrente como a tensão, que é, na verdade, a grandeza elétrica que é compartilhada pelos
usuários.
a) b)
Figura 5.33 Tensão no barramento da carga e seu espectro: antes da conexão do filtro (a) e depois
da conexão do filtro (b).
Ii Zf
(5.13)
Vo Z o Zi Z o Z f Zi Z f
Ii Zi Ic Ii Zi Ic Zo
Vi Zf Zo Io Vi Zf Vo
If If
a) b)
Ii Zi Ic Ii Zi I c Zo
PCC
Vi V
o
Vi Zf I Zf II
If If
Figura 5.34 Filtro passivo em derivação para cargos tipo fonte de corrente e fonte de tensão.
a) Filtro série
Neste caso, em geral, o objetivo é o de minimizar a distorção da tensão de alimentação de
uma carga, corrigindo as eventuais componentes harmônicas presentes na tensão da rede local. A
tensão produzida pelo filtro é de alguns por cento da tensão nominal da rede, enquanto a corrente
que o percorre é a própria corrente da carga. A figura 5.35 mostra um circuito de filtro série
monofásico.
Na figura 5.36 tem-se uma forma de onda distorcida, por efeito da carga (“notches”) e pela
presença de distorção na rede (3% de 5ª harmônica). A atuação do filtro (iniciada no instante 50ms)
cancela o efeito da distorção harmônica e minimiza o afundamento da tensão, embora não o consiga
eliminar. A rede e a carga são as mesmas utilizadas nos exemplos dos filtros passivos em derivação.
Rede
Referência
Tensão distorcida
Erro
PWM
D2 T2 D1 T1
Filtro
passa- Tensão de
Vcc Vs baixas compensação
Tensão senoidal
D4 T4 D3 T3
Carga
Figura 5.36 Formas de onda na tensão sobre a carga e da tensão produzida pelo filtro série
(a partir de 50ms).
Rede
Referência
“senoidal)
Corrente a
Erro ser corrigida
PWM
D2 T2 D1 T1
Filtro
passa-
Vs baixas
Vcc
D4 T4 D3 T3
Carga
Figura 5.38 Formas de onda do FAP no transitório de partida: Acima, corrente no FAP e abaixo,
corrente da rede.
Figura 5.39 Tensão (sup.- 150V/div.) e corrente (meio- 5A/div.) da rede após compensação.
Corrente da carga (inf. - 5A/div.) para carga com filtro LC. Horiz.: 5ms/div.
A Figura 5.41 mostra o caso de uma carga trifásica não linear balanceada (retificador de 6
pulsos). Depois da compensação, as correntes na rede são similares às respectivas tensões, incluindo
as distorções. As transições rápidas não são completamente compensadas devido à limitação da
resposta em frequência da malha de corrente.
Figura 5.41 Carga trifásica não linear balanceada: Acima : Tensão (500V/div.); Meio : Corrente de
linha (5 A/div.); Abaixo : Corrente de carga (5 A/div).
A Figura 5.42 mostra a resposta do FAP trabalhando com uma carga não linear
desbalanceada (retificador monofásico). Também neste caso o FAP é capaz de compensar a carga,
refletindo na rede uma carga linear balanceada.
Figura 5.42 Carga não linear monofásica: Acima: Tensão (500 V/div.); Meio: Correntes de linha (1
A/div.); Abaixo: Corrente de carga (1 A/div).
A Figura 5.43 mostra o espectro da tensão antes da atuação do FAP. Neste caso a DHT é
significativamente alta (4,2%) e a distorção na tensão é evidente, incluindo uma importante 3a
harmônica. Depois da compensação, a DHT é reduzida a 2,8%, que é aproximadamente o valor da
distorção da tensão local. O Fator de Potência medido foi de 0,995. A eficiência do FAP foi 96,5%,
para uma frequência de comutação de 20 kHz.
Figura 5.43 Espectro da tensão da rede com carga não linear, antes e depois da atuação do FAP
5.6 Estudos de caso em redes de distribuição
12.0
11.0
10.0
9.0
8.0
7.0
6.0
5.0
4.0
3.0
2.0
23.00 24.00 25.00 26.00 27.00 28.00 29.00
Dia . Hora
40.0
35.0
30.0
25.0
20.0
15.0
10.0
5.0
0.0
23.00 24.00 25.00 26.00 27.00 28.00 29.00
Dia . Hora
22.0
20.0
18.0
16.0
14.0
12.0
10.0
8.0
6.0
4.0
2.0
23.00 24.00 25.00 26.00 27.00 28.00 29.00
Dia . Hora
Figura 5.46. Terceiro harmônico da corrente, medido em rede secundária, ao longo de 7 dias.
Das medições foram extraídos alguns resultados significativos para a análise do tipo de
carga conectada. Por exemplo, a carga total está razoavelmente bem balanceada (Figura 5.47). No
entanto, as cargas não lineares estão concentradas em duas fases, como se pode concluir da análise
da Figura 5.48.
O 3º harmônico aumenta durante o horário comercial apenas em duas fases, sugerindo
cargas bifásicas não lineares (reatores sem correção de fator de potência). Comportamento análogo
se nota também nas demais componentes harmônicas da corrente. Tal desequilíbrio leva a uma
propagação de componentes harmônicas da corrente para o lado de alta tensão do transformador, o
que resultará na distorção da tensão no sistema de distribuição para outras cargas.
Potência Aparente [kVA]
30.0
25.0
20.0
15.0
10.0
5.0
0.0
28.00 28.00 30.00 31.00 01.00 02.00
Dia . Hora
Figura 5.50. Aumento na tensão junto ao transformador com compensação capacitiva (dia 30).
VhPAC Z i // Z f
(5.14)
Voh Z o Z i // Z f
5.7 Inter-harmônicas
A presença de harmônicas não múltiplas da fundamental [22] pode ter diferentes causas,
algumas já citadas, como o comportamento complexo de uma carga como um forno a arco. Outras
razões são devidas à interação entre conversores eletrônicos que operam com frequências
diferentes, como é o caso de uma conversão de 50 para 60 Hz, ou ainda um sistema como o
mostrado na figura 5.53, na qual um retificador alimentado em 60 Hz serve de estágio de entrada
para um inversor que opera em frequência variável (por exemplo, 50 Hz). A depender do
comportamento do barramento CC, os efeitos da corrente da carga (motor) se refletirão na rede CA,
produzindo componentes espectrais decorrentes da interação entre as frequências envolvidas.
A figura 5.54 mostra formas de onda e espectro de um sistema composto por um retificador
monofásico e um inversor, também monofásico. O primeiro é alimentado por uma fonte de 60 Hz,
enquanto o segundo tem uma saída PWM com comutação em 5 kHz, seguindo uma referência
senoidal de 50 Hz. A corrente na rede apresenta-se, vista no tempo, com sua forma característica,
em 60 Hz. A ondulação na saída do inversor se deve ao ripple do capacitor do barramento CC e tem
uma frequência típica de 120 Hz.
idcr idci
iss ios
M
Figura 5.53 Sistema de dupla conversão com frequências distintas na entrada e saída.
Figura 5.54 Forma de onda e espectro em sistema monofásico com dupla conversão (60/50Hz).
Acima: corrente na rede. Abaixo saída do inversor PWM.
a) Distorção Harmônica
Dado que a gestão de harmônicas em um sistema de energia é considerada uma
responsabilidade conjunta envolvendo usuários finais e proprietários ou operadores do sistema, os
limites de harmônicas são recomendados para ambas: tensões e correntes.
Para unidades consumidoras (e não para equipamentos individuais), a Norma 519 estabelece
limites de correntes harmônicas em função da demanda máxima da carga em relação ao nível de
curto-circuito local.
O documento é explícito ao afirmar que “os limites recomendados nesta cláusula aplicam-se
apenas no ponto de acoplamento comum e não devem ser aplicados a partes individuais de
equipamento ou em locais dentro de instalações de um utilizador.”
Dado que o valor das harmônicas se altera ao longo do dia, é preciso um tratamento
estatístico para a avaliação da conformidade com a norma.
A largura da janela de medição usada por instrumentos digitais que empregam técnicas DFT
(Discrete Fourier Transform) deve ser de 12 ciclos (aproximadamente 200 ms) para sistemas de
energia de 60 Hz (10 ciclos de 50 Hz sistemas de energia). Com esta largura de janela, os
componentes espectrais estarão disponíveis a cada 5 Hz. Para os fins da quantificação, a magnitude
da componente harmônica é considerada como sendo o valor da uma frequência central, combinada
com os dois valores de 5 Hz adjacentes. Os três valores devem ser combinados em um único valor
eficaz que define a magnitude harmônica para a frequência central em particular.
A norma define o “valor de harmônicas em tempo muito curto”, o qual é avaliado em um
intervalo de 3 segundos com base na agregação de 15 janelas consecutivas, cada uma de 200 ms.
Componentes de frequência individuais são agregadas com base num cálculo rms, conforme
mostrado na Equação (5.15) em que F representa a tensão (V) ou corrente (I), n representa a ordem
harmônica. O índice s é utilizado para designar a característica de "muito curta duração" (short). Em
todos os casos, F representa um valor rms.
(5.15)
Os valores em “tempo muito curto” devem ser acumulados ao longo de um dia, enquanto os
valores em “tempo curto” devem ser acumulados por uma semana. Para medições de tempo “muito
curto”, o valor do percentil 99 (isto é, o valor que é excedido em 1% do período de medição) deve
ser calculado em cada período de 24 horas para comparação com os limites. Para medições
harmônicas de “tempo curto”, os valores dos percentis 95 e 99 (ou seja, aqueles valores que são
ultrapassados durante 5% e 1% do período de medição) devem ser calculados a cada período de 7
dias para comparação com os limites.
Os limites estão indicados nas tabelas a seguir. Observe-se que, à medida que cresce o nível
de curto-circuito, admite-se um maior conteúdo harmônico na corrente. A lógica está no fato de que
a grandeza importante a preservar é a qualidade da tensão suprida. Assim, alimentadores com
menor impedância podem ter maiores níveis de harmônicas na corrente que, ainda assim,
produzirão uma limitada distorção na tensão.
Pela mesma razão, à medida que cresce a ordem harmônica se reduz o nível admissível,
dado que a impedância do alimentador, dominantemente indutiva, se eleva com a frequência.
h = ordem da harmônica.
Icc = corrente de curto-circuito do alimentador.
DDT = distorção de demanda total.
Harmônicas pares são limitadas a ¼ dos valores da Tabela 5.1.
A IEEE 519 recomenda para as concessionárias os limites harmônicos por níveis de tensão
dados na Tabela 5.4.
No PAC, os proprietários ou operadores de sistemas devem limitar as harmônicas na tensão
fase-neutro como segue:
⎯ avaliação diária: percentil 99, considerando a medição de “tempo muito curto” (3 s), os
valores devem ser inferiores a 1,5 vezes os indicados na Tabela 5.4.
⎯ avaliação semanal: percentil 95, considerando a medição de “tempo curto” (10 min), os
valores devem ser menores do que os valores dados na Tabela 5.4.
Sistemas de alta tensão (> 161 kV) podem ter DHT de até 2,0% se a causa for uma conexão
terminal HVDC cujos efeitos deverão ser atenuados em pontos da rede onde futuros usuários
podem vir a ser conectados.
b) Inter-harmônicas
Para componentes inter-harmônicas, proprietários ou operadores do sistema podem limitar
as harmônicas tensões no percentil 95 (dados de “ tempo curto” – análise semanal) nos valores
mostrados graficamente na Figura 5.55, até 120 Hz para sistemas de 60 Hz. Dependendo do nível
de tensão, limites mais restritivos devem ser usados.
É importante frisar que estes limites sugeridos são baseados nas normas de flicker, avaliado
pela técnica de medição descrita em IEEE Std 1453 e IEC 61000-4-15. Tais limites se
correlacionam com o valor de Pst igual a 1,0 para sistemas de 60 Hz.
Os limites recomendados não estão baseados em efeitos de inter-harmônicas sobre outros
equipamentos e sistemas. A devida consideração deve ser dada a esses efeitos e limites apropriados
correntes inter-harmônicas devem ser desenvolvidos caso-a-caso, utilizando conhecimento
específico do sistema, cargas de usuários e provisões de os futuros utilizadores.
Figura 5.55 Limites para inter-harmônicas de tensão com base nas normas de flicker.
c) Recortes (Notching)
A norma dá especial atenção às descontinuidades causadas pela comutação de chaves
eletrônicas ("notching"), que é uma distorção muito frequente provocada pelos retificadores
eletrônicos na presença de indutâncias no acoplamento com a rede CA.
w
prof=d/v.100%
area=w.d
d v
Tabela 5.6 Níveis de compatibilidade para componentes individuais de tensão em redes de baixa
tensão (valores eficazes % em relação ao valor eficaz da componente fundamental).
Harmônicas ímpares não Harmônicas ímpares múltiplas Harmônicas pares
múltiplas de 3 de 3
Ordem % Ordem % Ordem %
5 6 3 5 2 2
7 5 9 1,5 4 1
11 3,5 15 0,4 6 0,5
13 3 21 0,3 8 0,5
17<h<49 2,27 x (17/h) – 0,27 21<h<45 0,2 10<h<50 0,25 x (10/h) + 0,25
Para a verificação do comportamento em tempo “muito curto” (janela de 3 s), a DHT total
admissível é de 11%, enquanto os limites individuais da Tabela 5.6 devem ser acrescidos por um
fator dado por:
(5.17)
b) IEC 61000-3-2: Limites para emissão de harmônicas de corrente (<16 A por fase)
Esta norma [25] refere-se às limitações das harmônicas de corrente injetadas na rede pública
de alimentação por equipamentos individuais. Aplica-se individualmente a equipamentos elétricos e
eletrônicos que tenham uma corrente de entrada de até 16 A por fase, conectado a uma rede pública
de baixa tensão alternada, de 50 ou 60 Hz, com tensão fase-neutro entre 220 e 240 V. Para correntes
maiores aplica-se a norma IEC 61000-3-4 [26]. Para tensões inferiores, os limites não foram
estabelecidos, pois esta norma tem aplicação principalmente na comunidade europeia, onda as
tensões fase-neutro encontra-se na faixa especificada.
Os equipamentos são classificados em 4 categorias:
Harmônicas Ímpares
3 2,30 3,45 30.FP 3,4
5 1,14 1,71 10 1,9
7 0,77 1,155 7 1,0
9 0,40 0,60 5 0,5
11 0,33 0,495 3 0,35
13 0,21 0,315 3 0,296
15<n<39 15 15 3 3,85/n
.
015 0.225
n n
Harmônicos Pares
2 1,08 1,62 2
4 0,43 0,645
6 0,3 0,45
Figura 5.57 Forma de onda da corrente para verificação de conformidade de equipamento Classe C,
com potência igual ou menor que 25 W.
Para fins de comparação com outras normas e mesmo para considerações sobre os possíveis
impactos da atual regulamentação da ANEEL, considere os valores da Tabela 5.9, a qual mostra o
que estava vigente nas versões anteriores do PRODIST.
Tabela 5.9 – Antigos níveis de referência para distorções harmônicas individuais de tensão
(em percentagem da tensão fundamental) – Versões do PRODIST anteriores a 2017
Ao indicar apenas limites de DTT a ANEEL deixa de considerar o efeito (presente em todas
as demais regulamentações) de relevância do aumento da impedância do alimentador com a
frequência. Considerando o limite DTTi95% = 10% (Vn < 1 kV), tal distorção pode ser devida
exclusivamente a componentes de ordem elevada (17ª, por exemplo). Com a limitação anterior (em
2,5%, neste caso), a restrição na corrente (considerando que a distorção na tensão é proveniente da
passagem de correntes harmônicas pela rede) é muito menos severa.
Outro fator já enfatizado é o impacto degenerativo que a distorção da tensão causa em
bancos de capacitores, lembrando que para um capacitor a corrente cresce com a ordem harmônica
da tensão. Assim, 10% de uma 25ª harmônica produzem corrente cinco vezes maior em um
capacitor do que 10% de quinta harmônica. Consequentemente, as perdas por efeito Joule são 25
vezes maiores.
Outro aspecto relevante na nova regulamentação são os níveis elevados de DTT admitidos
em todas as faixas de tensão. Observe-se que os valores são mais elevados do que os estabelecidos
pelo IEEE e pela IEC.
2
I RMS
FD 1 (5.18)
I 12
No eixo vertical à direita da figura tem-se os valores eficazes equivalentes aos valores em
dBV (na base de 1 V – valor eficaz) colocados no eixo à esquerda.
No caso dos barramentos CC, não cabe o conceito de harmônicas, uma vez que não há uma
frequência fundamental. Os componentes espectrais eventualmente presentes são devidos ao
processo de produção dessa tensão CC (retificação da tensão CA, por exemplo) ou por ação da
corrente associada a cada carga alimentada. A figura 5.59 mostra os limites para o barramento de 28
V. Na faixa de 1 a 5 kHz são aceitáveis componentes espectrais de até 1 V, e valores menores
abaixo de 1 kHz e acima de 5 kHz. O Fator de Distorção aceitável é de 3,5%, com amplitude de
rippled de 1,5 V máximo.
Figura 5.58 Limites de distorção de tensão para sistema CA de 400 Hz ou de frequência variável.
d
Ripple (ondulação): é a variação da grandeza elétrica (tensão ou corrente) sobre o valor médio, em uma situação de
regime permanente. A amplitude do ripple é o máximo valor da diferença entre o valor médio e o valor instantâneo.
A Tabela 5.11 mostra os limites para equipamentos com alimentação trifásica. As restrições
são mais severas do que no caso monofásico, com 3ª, 5ª e 7ª harmônicas limitadas, cada uma, a 2%
da fundamental. Por outro lado, a 11ª pode atingir 10% da fundamental, enquanto a 13ª pode ir a
8%. Há, assim, uma grande restrição às harmônicas de baixa ordem, o que tem grande influência da
escolha dos conversores que podem ser conectados ao barramento CA os quais, por exemplo,
devem ser isentos (ou quase) de 3ª, 5ª e 7ª harmônicas.
O equipamento deve ser testado em duas condições de distorção na tensão. Em ambos os casos
a tensão de alimentação será de 115V e as frequências de ensaio serão:
A(CF): 400 Hz +1%.
Condição de Teste 1:
A tensão na entrada do EUT deve ter distorção menor que 1,25% durante todo procedimento. Se a
potência do equipamento for superior a 2 kVA, pode ser que a impedância de saída da fonte não
seja baixa o suficiente para garantir essa baixa distorção na tensão. Nesse caso, é aceitável uma
distorção de até 4%.
Condição de Teste 2:
A THD da tensão na entrada do EUT deve ser maior ou igual a 8% para equipamentos
A(CF) e A(NF) e 10 % para a categoria A(WF).
Devem ser tabulados os valores até a 40ª harmônica, para cada fase da alimentação. A
resolução espectral deve ser melhor que 20 Hz. O cálculo da fase das harmônicas é opcional.
Os testes devem ser realizados para máxima e mínima potência em regime permanente. Se a
diferença entre estes valores for menos que 25%, toma-se apenas a situação de máxima potência. O
sensor de corrente deve ter um erro de amplitude menor que 3% e erro de fase menor que 5º, na
faixa até 50 kHz.
Componentes espectrais menores que 10 mA ou que 0,25% da fundamental (o que for maior)
devem ser desconsideradas.
O analisador de espectro, ou outro aparelho de análise, deve garantir um erro no valor da
harmônica menor que 5% do limite estipulado. A resolução deve ser melhor que 20 Hz. Como
indicativo tem-se uma frequência de amostragem mínima de 100 kHz; janela de amostragem de 50
ms ou maior; filtro de anti-aliasing com frequência de corte entre 25 e 50 kHz; janelamento tipo
retangular, Hanning, Hamming ou Blackman-Harris.
Figura 5.60 Estrutura de medidor para análise espectral de acordo com a IEC 61000-4-7 (2011)
Estritamente falando, a FFT produz resultados precisos apenas para sinais em estado
estacionário. Os sinais cujas amplitudes variam com o tempo não podem ser descritos corretamente
apenas pelas componentes harmônicas. A fim de obter análises reprodutíveis de emissões
harmônicas quando analisando cargas de potência (e possivelmente conteúdo espectral) variável,
uma combinação de técnicas de medição pode ser usada. A norma fornece um método simplificado,
empregando métodos de amostragem suficientemente longa com o objetivo de minimizar o impacto
de variações na carga. A saída OUT 1 fornece os componentes espectrais determinados a cada
janela de 200 ms.
Para avaliação dos harmônicos, a saída (OUT 2) faz uma agregação espectral por meio de
uma soma quadrática dos componentes intermediários que porventura surjam entre dois harmônicos
adjacentes. Tais componentes poder aparecer em função do processamento digital (isso será
discutido na Parte B do curso), por um comportamento não estacionário da carga ou por existir de
fato. Tal agregação é feita de acordo com a equação a seguir e ilustrado pela figura 5.61. Devem ser
utilizados apenas componentes intermediários acima de segunda ordem harmônica
(5.19)
Figura 5.62 Realização de um filtro digital passa-baixa: z-1 designa um atraso da largura de janela,
e são os coeficientes de filtro.
. L1
. L2
. 9 a 150 kHz
L1=250uH
150kHz a 30MHz
L1=0
C1 C2 C3 L2=50uH L2=50uH
Fonte C1=4uF C1=0
Rede Vo C2=8uF C2=1uF
CA R1 R2 R3 C3=250nF C3=100nF
.. . . R1=10
R2=5
R3=1k
R2=0
R3=1k
Analisador
de Espectro
(50 ohms)
90
80
70
60 Classe A
50 Classe B
2 E sin(n f ) n
Vn sin 2 (5.20)
n n f 2
Tensão de entrada
Corrente de entrada
+E/2
-E/2 T/2
Figura 5.66 Tensão típica entre coletor de transistor e terra em fonte chaveada
rede
.. fonte
aterramento
Filtro de linha
Figura 5.67 Circuito típico com filtro de linha.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1]
Phipps, J. K., Nelson, J. P., Sen, P. K. (1994): “Power Quality and Harmonic Distortion on Distribution
Systems”, IEEE Trans. on Industry Applications, vol. 30, no. 2, March/April 1994, pp. 476-485
[2]
J.A.Pomilio, S.M.Deckmann. "Efeito Flicker produzido pela Modulação Harmônica". SBQEE'97 -
Seminário Brasileiro de Qualidade da Energia Elétrica, Nov. 1997, São Lourenço, MG.
[3]
T.J.E. Miller, “Reactive Power Control in Electric Systems”, Ed. John Wiley&Sons, 1982.
[4]
J.Arrillaga, A.Bradley, P.S. Bodger “Power System Harmonics”. John Wiley&Sons, 1989.
[5]
Steeper, D. E. and Stratford, R. P. (1976): “Reactive compensation and harmonic suppression for
industrial power systems using thyristor converters”, IEEE Trans. on Industry Applications, vol. 12, no.
3, 1976, pp.232-255.
[6]
A.Tang et al. “Analysis of DC Furnace Operation and Flicker Caused by 187 Hz voltage distortion”.
IEEE Trans. on Power Delivery, V.l. 9, No. 2, Apr. 1994.
[7]
S. M. Deckmann, G. F. Rabelo. "A Quality Index Based on Voltage Flicker and Distortion Evaluations."
IEEE APEC'97 - Applied Power Electronics Conference and Exposition, Atlanta, USA, Fev. 1997.
[8]
C. L. Fortescue, Method of Symmetrical Co-Ordinates Applied to the Solution of Polyphase Networks,
Transactions of the American Institute of Electrical Engineers, 1918, Volume: XXXVII, Issue: 2, Pages:
1027 - 1140, DOI: 10.1109/T-AIEE.1918.4765570
[9]
Almonte, R.L. e Ashley, A.W. (1995) “Harmonics at the utility industrial interface: a real world
example”, IEEE Trans. on IA, Vol. 31, No. 6, Nov. Dec., pp. 1419-1426.
[10]
A.V.Oppenheim, R.W Schaffer, “Digital Signal Processing”. Ed. Prentice Hall, NJ,1989.
[11]
Bonner, J.A. and others, (1995) “Selecting ratings for capacitors and reactors in applications
involving multiple single-tuned filters”, IEEE Trans. on Power Del., Vol.10, January, pp.547-555.
[12]
Czarnecki, L. S. e Ginn III, H. L. (2005) “The Effect of The Design Method on Efficiency of Resonant
Harmonic Filters”, IEEE Trans. on Power Delivery, vol. 20, no. 1, pp. 286-271, Jan. 2005.
[13]
Czarnecki, L. S., (1997) “Effect of minor harmonics on the performance of resonant harmonic filters in
distribution systems”, IEE Proc. Of Electric Power Applications, vil 144, no. 5, Sept. 1997, pp. 349-
356.
[14]
Peng, F. Z., Su, G-J., e Farquharson, G. (1999): “A series LC filter for harmonic compensation of AC
Drives”. CD-ROM of IEEE PESC’99, Charleston, USA, June 1999.
[15]
Deckmann S. M., J.A.Pomilio, E.A.Mertens, L.F.S.Dias, A.R.Aoki, M.D.Teixeira e F.R.Garcia (2005b),
“Compensação Capacitiva em Redes de Baixa Tensão com Consumidores Domésticos: impactos no
nível de Tensão e na Distorção Harmônica”, Anais do VI SBQEE Belém, PA. Ago. 2005
[16]
Deckmann, S. M. e Pomilio, J. A. (2005) “Characterization and compensation for harmonics and
reactive power of residential and commercial loads”, Anais do 8º Congresso Brasileiro de Eletrônica de
Potência, COBEP 2005, Recife, 14-17 de junho de 2005.
[17]
Pomilio, J.A. e Deckmann, S. M. (2006): “Caracterização e Compensação de Harmônicos e Reativos de
Cargas não-lineares Residenciais e Comerciais”, Eletrônica de Potência, Vol. 11, nº 1, pp. 9-16, Março
de 2006
[18]
Oliveira A. M., e outros (2003) “Energy Quality x Capacitor Bank”, Anais do 7ºCongresso Brasileiro
de Eletrônica de Potência – COBEP 2003, Fortaleza, Ceará.
[19]
Macedo Jr., J. R. e outros, (2003) “Aplicação de Filtros Harmônicos Passivos em Circuitos
Secundários”, Anais do II CITENEL, Salvador, Nov. 2003, pp.845-852.
[20]
Tanaka, T., Nishida, Y., Funabike, S., (2004) “A Method of Compensating Harmonic Currents
Generated by Consumer Electronic Equipment Using the Correlation Function”, IEEE Transactions on
Power Delivery, Vol. 19, No.1, Jan. 2004, pp. 266- 271.
[21]
ANEEL (2016), Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional –
PRODIST. Módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica
[22]
Testa, A., “Interharmonics and related issues: Aspects Related to Effects, Modeling and Simulation,
Measurement and Limits”, VIII International Conference on Industry Applications, Poços de Caldas,
Minas Gerais – Brazil – August 2008
[23]
IEEE Std. 519 "IEEE Recommended Practices and Requirements for Harmonic Control in Electric
Power Systems". 2014.
[24]
IEC 61000-2-2, “Part 2-2: Environment —Compatibility levels for low-frequency conducted
disturbances and signaling in public low-voltage power supply systems”, 2002
[25]
IEC 61000-3-2 “Limits for harmonic current emissions (equipment input current 16A per phase)”.
2014
[26]
IEC/TR 61000-3-4, Electromagnetic compatibility (EMC) – Part 3-4: Limits – Limitation of emission of
harmonic currents in low-voltage power supply systems for equipment with rated current greater than
16 A
[27]
Department of Defense, Interface Standard, MIL-STD-704F, Aircraft Electric Power Characteristics,
1991.
[28]
Radio Technical Commission for Aeronautics – RTCA, Standard DO-160F Environmental Conditions
and Test Procedures for Airborne Equipment, 2008
[29]
International Electrotechnical Comission - IEC 61000-4-7: Testing and measurement techniques –
General guide on harmonics and interharmonics measurements and instrumentation, for power supply
systems and equipment connected thereto, 2011
[30]
International Standard IEC-CISPR16, International Committee on Radio Interference: "C.I.S.P.R.
Specification for Radio Interference Measuring Apparatus and Measuring Methods", 1993.
[31]
International Standard CISPR11, International Committee on Radio Interference: "Limits and Methods
of Measurements of Electromagnetic Disturbance Characteristics of Industrial, Scientific and Medical
(ISM) Radio-frequency Equipment", 1990
[32]
E. F. Magnus, J. C. M. de Lima, V. M. Canali, J. A. Pomilio and F. S. dos Reis: “Tool for Conducted
EMI and Filter Design”, Proc. Of the IEEE IECON 2003, Roanoke, USA, Nov. 2003, pp. 23262331.
[33]
European Standard 50065-1, European Committee for Eletrotechnical Standardization: “Signaling on
low-voltage electrical installations in the frequency range 3 kHz to 148.5 kHz - Part 1: General
requirements, frequency bands and electromagnetic disturbances”, Jan. 1991
[34]
IEC Technical Specification, IEC TS 62578, “Power electronics systems and equipment – Operation
conditions and characteristics of active infeed converter (AIC) applications including design
recommendations for their emission values below 150 kHz”, 2nd edition, April 2015.
[35]
International Electrotechnical Comission - IEC 61000-4-30: Testing and measurement techniques —
Power quality measurement methods, 2015.