Gadamer e Habermas
Gadamer e Habermas
Gadamer e Habermas
ISSN: 2237-0579
ARTIGO
HERMENÊUTICA FILOSÓFICA
E O DEBATE GADAMER-HABERMAS
Micheline Batista1 *
Introdução
Na introdução de Verdade e método (2005:29-34), Hans-Georg Gadamer nos fala de
uma verdade que não pode ser verificada através de uma metodologia científica. É
aquela verdade que surge com a experiência, seja a experiência da filosofia, da arte
ou da própria história. A partir disso, o autor critica “a pretensão de universalidade
da metodologia científica” e busca um conceito de conhecimento e de verdade
que esteja relacionado ao todo da experiência do ser humano no mundo, que
é a experiência hermenêutica ela mesma. Nesse universo “verdadeiramente
hermenêutico”, entram ingredientes como “o modo como experimentamos uns
aos outros, como experienciamos as tradições históricas, as ocorrências naturais de
nossa existência e de nosso mundo”. E nele não estamos fechados, separados do
outro e do mundo. Estamos sempre abertos, a eles ligados pela linguagem e pelo
pensamento.
Jürgen Habermas, apesar de considerar a hermenêutica gadameriana
superior à análise da linguagem feita por Wittgenstein e à fenomenologia, tece
uma crítica à pretensão de universalidade da hermenêutica desenvolvida por
Gadamer (HEKMAN, 1986). Para este autor, existe algo que está além do diálogo
e da consciência hermenêutica. “O argumento de Habermas contra Gadamer pode
resumir-se na afirmação de que, apesar de a compreensão hermenêutica ser um
primeiro passo necessário na compreensão, não pode ser o último” (Ibidem:189).
Teria que haver a possibilidade da crítica, da reflexibilidade. O debate entre
Gadamer e Habermas durou uma década e foi bastante relevante para as ciências
sociais, não apenas na Alemanha. Neste trabalho abordaremos a hermenêutica,
desde sua versão clássica à virada ontológica emergente do romantismo e do
idealismo alemão, concentrando-nos em seguida nas ideias de Gadamer, de
Habermas e no debate que se estabeleceu entre os dois autores tendo a teoria do
conhecimento como pano de fundo.
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Micheline Batista
1
Platão chamava os poetas de hermenes, ou intérpretes dos deuses (INWOOD, 1998).
Segundo a mitologia grega, o deus Hermes fazia a mediação entre deuses e humanos,
tendo a habilidade de resolver mal-entendidos e apaziguar conflitos.
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Hermenêutica filosófica e o debate Gadamer-Habermas
Crítica
das ciências humanas era compreender a ação humana. Aqueles
que defendiam o positivismo e aqueles que propunham a
unidade das ciências mantinham-se fiéis à ideia de que a
finalidade de qualquer ciência (se ela de fato deve ser chamada
de ciência) é oferecer explicações causais de fenômenos sociais,
comportamentais e físicos. (SCHWANDT, 2006:195)
e
Com os idealistas alemães da escola de Baden (Windelband, Lask, Rickert)
Sociedade
surge uma importante distinção entre as ciências nomotéticas (que operam leis ou
que procedem de forma generalizadora) e as ciências idiográficas, de procedimento
individualizador. Schwandt cita nominalmente Dilthey, Rickert, Windelband,
Simmel e Weber como representantes dessa tradição do Verstehen nas ciências
humanas, que teria dado origem ao interpretativismo e à hermenêutica. Eu citaria
mais um, Ernst Cassirer, da escola neokantista de Marburgo.
Em Filosofia das formas simbólicas, de 1923, Cassirer nos dá uma definição de
conhecimento mais ampla que não se aplica apenas ao entendimento científico e à
explicação teórica – para ele, conhecimento refere-se a uma “apreensão” humana de
“mundo”, essa sempre mediada (Cf. ROSENFELD, 2009:12-13). A fenomenologia
do conhecimento de Cassirer também contamina todo o ensaio Linguagem e mito
(2009), onde ele critica a presunção de verdade no conteúdo da linguagem: “não só
o mito, a arte e a linguagem, mas até o próprio conhecimento teórico chegam a ser
mera fantasmagoria, pois nem este pode refletir a autêntica natureza das coisas,
tais como são” (CASSIRER, 2009:21). Conceitos, para o autor, são “formações e
criações do pensar”.
Também formado na escola kantiana – ainda que nunca tenha sido kantiano
de pleno direito, inclinando-se mais ao romantismo do que ao realismo –, Friedrich
Schleiermacher é quem articula uma concepção de hermenêutica universal
desvinculada de um tipo particular de texto, como a Bíblia. Ele interpretou,
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ideia de uma hermenêutica universal em Schleiermacher2. Ele dizia que “em todo
lugar onde houver qualquer coisa de estranho, na expressão do pensamento pelo
discurso, para um ouvinte, há ali um problema que apenas pode se resolver com a
ajuda de nossa teoria”, isto é, com a ajuda da hermenêutica (SCHLEIERMACHER,
2008:31).
Para Schleiermacher, o uso da linguagem está situado em algum lugar entre
de
2
Em A universalidade do problema hermenêutico, texto de 1966, Gadamer (2002:259) critica o
fato de Schleiermacher definir a hermenêutica como a arte de evitar mal-entendidos. Para
o autor, essa perspectiva estaria limitada pelo pensamento moderno de ciência. “Quando
afirmamos que compreender significa evitar mal-entendidos, será que todo mal-entendido
não pressupõe um acordo latente?”, indaga Gadamer. Chamar o outro de “tu” pressupõe,
para Gadamer, um profundo consenso.
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precisava ser complementada com uma teoria de como o mundo nos é dado através
de práticas simbolicamente mediadas. E essa teoria, sustentava o autor, deveria ser
o objeto da filosofia das humanidades. O problema de Dilthey, diz Gadamer (2003b:
38), foi não ter conseguido se desfazer da “concepção cartesiana da ciência” e isso
teria contaminado suas ideias acerca das “tendências ‘contemplativas’ da vida” e
da experiência vivida ela mesma, na tentativa de colocar as ciências humanas no
e
mesmo patamar das ciências da natureza.
Sociedade
De qualquer maneira, a compreensão vista por Dilthey, assim como por
Schleiermacher, não se estende apenas aos textos e discursos, mas a qualquer
expressão da vida humana (gestos, ações, eventos passados etc.). E também
Dilthey está preocupado com as falhas e mal-entendidos. Como explica Inwood
(1998), existem dois tipos de compreensão em Dilthey. O primeiro é a compreensão
de expressões simples, como um discurso, uma ação, um gesto ou o medo, que
só é possível porque existem uma cultura e uma linguagem compartilhadas. O
segundo tipo de compreensão é mais elevado, uma vez que provocado por uma
falha na compreensão elementar. “Para compreendermos o que o autor diz ou
faz, precisamos compreendê-lo em sua individualidade. Portanto, a compreensão
mais elevada geralmente envolve a compreensão dos indivíduos, e não somente a
compreensão geral” (Ibidem).
Na avaliação de Ramberg & Gjesdak (2005), sem as importantes contribuições
de Schleiermacher e Dilthey não seria possível entender a virada ontológica da
hermenêutica, desencadeada nos anos 1920 por Martin Heidegger e seu aluno
Gadamer. Para Gadamer, entretanto, explorar as consequências dessa virada só
seria possível abandonando a sua versão romântica, tanto a de Schleiermacher
quanto a de Dilthey. Gadamer retorna a Vico a aos neo-aristotélicos para combinar
a noção heideggeriana de síntese dos mundos reveladores da compreensão. Esse
seria o projeto de Verdade e método, publicado em 1960 depois de mais de 30 anos
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de trabalho.
A virada ontológica
A ideia de verdade, neste sentido, surge como um acordo entre o meu julgamento
e o mundo, considerando, pois, meus pressupostos.
Se muda a ideia de verdade, muda também o conceito de círculo
Revista
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interpretação, pois as tradições e os prejulgamentos influenciam quem somos.
Para Gadamer (2002:261), preconceitos “são antecipações de nossa abertura para
o mundo”.
e
Sociedade
A atitude de quem se abre para o mundo no intuito de compreender o outro
e a si mesmo (autocompreensão), sem desprezar as tradições e prejulgamentos,
não é a de um exegeta. Essa seria, de acordo com Schwandt (2006:198), a
diferença fundamental entre a hermenêutica filosófica de Gadamer e as filosofias
interpretativistas, incluindo aí a sociologia fenomenológica influenciada por Alfred
Schutz, a etnometodologia de Harold Garfinkel e as abordagens da linguagem
desenvolvidas por Ludwig Wittgenstein e Peter Winch. Nesses autores, a relação
epistemológica que se dá entre sujeito/intérprete e objeto (texto/ação humana)
seria metodologicamente exegética, onde o intérprete não se envolve, isto é, não se
deixa afetar pelo ato de interpretação.
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compreensão não pode ser controlada por procedimentos ou regras, posto que é
uma condição do ser humano. Em segundo lugar, como também já foi colocado,
o preconceito não é algo que devemos desconsiderar, uma vez que a tradição não
é vista como algo externo, objetivo nem pertencente unicamente ao passado. Pelo
contrário, “na maioria das vezes, as tradições funcionam ‘às nossas costas’, elas já
estão lá, à nossa frente, condicionando nossas interpretações” (GALLAGHER apud
SCHWANDT, 2006:199). Ou seja, o que somos e o modo como compreendemos o
mundo dependem, fundamentalmente, das nossas tradições. Em terceiro lugar,
somente quando nos confrontamos com nossas tradições e preconceitos é que
podemos chegar à compreensão do que nos é estranho, utilizando o método de
pergunta e resposta.
A compreensão, portanto, surge como algo produzido no diálogo, e não
Política
não é como tínhamos pensado, de uma maneira diferente e nós mesmos somos
transformados nesse processo. Diferentemente de Kant, que duvida de tudo e
postula a existência de um conhecimento fora da experiência – as propriedades a
priori da mente, imanentemente objetivas, como massa, peso, tempo, espaço etc.
É dessa forma que Gadamer vai se opor ao mito de um conhecimento
puramente conceitual e verificável – com o seu conceito histórico e dialético da
de
utilizado por Gadamer é menos técnico e está mais próximo do uso habitual que
se faz dele, referindo-se a uma acumulação de compreensão que muitas vezes
chamamos de sabedoria (a sabedoria popular, por exemplo). Experiência que
nem sempre é agradável ou indolor, mas que através dela podemos conhecer as
fronteiras da existência humana, sua finitude. Jogando ou ouvindo uma música,
por exemplo.
não nos surpreende que Gadamer se refira à tragédia grega e à
fórmula de Ésquilo pathei mathos – “aprender pelo sofrimento”.
Esta fórmula não significa que adquiramos um tipo de
conhecimento científico, nem mesmo um tipo de conhecimento
que nos permita “saber melhor para a próxima vez” quando nos
deparamos com uma situação semelhante: antes quer dizer que,
por meio do sofrimento, conhecemos as fronteiras da própria
existência humana. Aprendemos a compreender a finitude do
homem (PALMER, 1969:199).
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certa: penetrando no próprio tema, em um diálogo verdadeiro. Ao contrário da
discussão, no diálogo não se quer derrotar ninguém. Testamos as afirmações do
Outro sem enfraquecê-las. Se estamos sempre imersos na tradição, na herança,
a tarefa da hermenêutica seria tirar o texto de sua alienação, de sua rigidez,
trazendo-o para o presente vivo, que é sempre contingente, através do esquema
pergunta-resposta, pois
e
Não se fazem experiências sem a atividade do perguntar. O
Sociedade
conhecimento de que algo é assim, e não como acreditávamos
inicialmente, pressupõe evidentemente a passagem pela
pergunta para saber se a coisa é assim ou assado. Do ponto de
vista lógico, a abertura que está na essência da experiência é essa
abertura do “assim ou assado”. (GADAMER, 2005:473)
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Gadamer defende que os animais não têm mundo pois não têm
linguagem. Certamente que têm uma maneira de se entenderem
mutuamente, mas isso não é linguagem, excepto para o cientista
Política
se ajustar ao mundo, não ao indivíduo e é neste sentido (mas não num sentido
científico) que a linguagem é objetiva na concepção de Gadamer. O mundo seria,
nesse caso, a compreensão compartilhada entre as pessoas e é a linguagem que
viabiliza essa compreensão. O ser humano é essencialmente um ser interpretativo.
Animais não interpretam, apenas se comunicam.
A grande contribuição de Gadamer, como coloca Palmer, parece ter sido a
de
defesa da hermenêutica como um meio universal de ser da filosofia, não uma mera
base metodológica para as disciplinas do Verstehen. Para Gadamer, “As chaves
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Crítica
linguístico-compreensiva, Habermas define a ação comunicativa como sendo, ao
mesmo tempo, livre, racional e crítica.
e
del cual retomarse aquel proyecto de estudios interdisciplinarios
sobre el tipo selectivo de racionalización que representa la
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modernización capitalista. (HABERMAS, 1987:562-563).
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Pelo que vimos até aqui, podemos dizer que as ideias de Gadamer são
essencialmente antifundacionais, pois se opõem à forma positivista de fazer
ciência, baseada na razão e em padrões permanentes, invariáveis, por meio dos
quais a verdade poderia ser alcançada. A verdade, para Gadamer, é produzida
na experiência e tem sempre um caráter contingente, posto que é fruto de uma
contínua negociação entre Eu e Tu. Como observam Leithäuser & Goldenberg
(2007:14), a relação entre Eu e Tu em Gadamer é uma relação viva entre sujeito e
objeto, “na qual esse Eu e esse Tu possuem em si tanto aspectos de Sujeito como de
Objeto”. A abertura que o autor defende é justamente o ato de colocar-se no lugar
do outro, reconhecer que o Outro tem algo a nos dizer. E nesse reconhecimento,
“do outro como Outro e de mim mesmo como Outro”, existe uma reciprocidade.
A crítica que Habermas faz a Gadamer começa com um ataque às suas
abordagens antifundacionais. Para ele, a perspectiva hermenêutica tem suas
limitações. “Ainda que a auto-reflexão hermenêutica tenha em consideração a
Crítica
transcendência dos jogos de linguagem particulares, não a leva, segundo ele
(Habermas), suficientemente longe” (HEKMAN, 1986:188), porque não é possível
“transcender o diálogo que nós somos”. A consciência hermenêutica permaneceria
incompleta porque não incluiria o julgamento e a reflexão sobre os limites da
compreensão, indicando que Habermas rejeita a pretensão de universalidade
da hermenêutica. “Esta afirmação, e muitas outras como ela que se podem
e
encontrar ao longo da obra de Habermas, representam o ponto fundamental de
Sociedade
discordância entre Habermas e Gadamer” (Ibidem:189). Para Habermas, ainda
que a compreensão hermenêutica seja um passo importante na compreensão, ele
não pode ser o último.
Habermas entende que a compreensão hermenêutica revela um pré-
dado no pensamento. Uma vez que vem à tona, não é mais necessário que seja
considerado um “preconceito”, pois ele pode ser dissolvido “pelo poder de
um método a que ele chama ‘profundidade hermenêutica’”. O preconceito, em
Gadamer, é “um elemento universal da compreensão” que, mesmo depois da
reflexão, continua sendo um preconceito. Como explica Hekman, “Subjacente à
posição de Habermas sobre o preconceito, está a sua convicção de que Gadamer
foi demasiado precipitado ao rejeitar a tradição do Iluminismo” (Ibidem:189).
Habermas admitia que o objetivismo do pensamento iluminista era prejudicial às
ciências sociais, mas acreditava que o Iluminismo trazia elementos essenciais à
compreensão das disciplinas interpretativistas. Uma das vantagens dessa tradição
seria enxergar, em todo diálogo, um contexto de dominação. Se a tradição é lugar
de verdade, também pode ser lugar da força e da ausência de verdade e o que pode
nos livrar tanto do preconceito quanto das forças de dominação não é outra coisa
senão a razão. Lembrando que a razão, no Iluminismo, é emancipatória. Pertence
ao reino da liberdade e da autodeterminação.
Na teoria habermasiana, portanto, nem tudo é interpretação (Verstehen).
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teoria dos sistemas a uma teoria da ação, que ele acaba por chamar de teoria da
ação comunicativa, seguindo o modelo marxista (HABERMAS, 1989). Se todo
diálogo contém um elemento de dominação, pois nem todos sempre têm a mesma
chance de falar, é a dominação que permite a ação do sujeito. Os movimentos
sociais, por exemplo, seriam formas de agência coletiva que surgem no mundo
da vida para fazer oposição ou resistência ao sistema, pois é o sistema que retira a
Cultura
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compreensão do ser humano. Para Gadamer, a historicidade é o que engrandece a
nossa compreensão, tornando-a possível.
Nos complementos de Verdade e método, Gadamer (2002) vai dedicar muito
espaço aos debates com diversos autores, mas fica evidente que o centro de suas
atenções é Habermas. Ele vai dizer, por exemplo, que Habermas considera que
as ciências sociais modernas reivindicam elevar a compreensão de um exercício
e
pré-científico para o nível de um procedimento reflexivo. Para Gadamer, “Esse é
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o caminho que trilha a ciência, desde antigamente, a fim de alcançar, através de
procedimentos ensináveis e controláveis, o que a inteligência individual às vezes
também consegue, mesmo que de modo inseguro e não controlável” (Ibidem:278).
Gadamer postula que nossa origem e nosso futuro dependem, fundamentalmente,
de um saber que não é a ciência nem é esse saber técnico. Pergunto-me, então, se
seria o saber prático.
Gadamer também não deixa de criticar o paralelo que Habermas traça entre
psicanálise e teoria social, apoiando-se na primeira para justificar a reflexão crítica
necessária à hermenêutica. Para Habermas, a consciência emancipatória é livre da
tradição, da autoridade e da obediência (Cf. HEKMAN, 1986:195). Se o paciente da
psicanálise aprende a superar as coerções ocultas, a dissolver as repressões tomando
consciência delas, no mundo social ocorreria o mesmo. Gadamer, porém, sustenta
que, na situação hermenêutica, a relação é outra. Isso porque, se eu me coloco fora
do papel de paciente e conto um sonho a alguém sem ter uma intenção analítica,
a comunicação deixa de ter o sentido de introduzir uma interpretação analítica.
Hermenêutica e psicanálise seriam, portanto, linguagens diferentes. O problema
todo, sugere Gadamer, é que Habermas vê na hermenêutica um “método” que
pode ser “útil” para as ciências sociais, enquanto que, como vimos ao longo deste
trabalho, a experiência hermenêutica é anterior a qualquer método. Trata-se, antes,
de uma ontologia, posto que constitutiva do ser.
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Considerações finais
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Referências
Crítica
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Sociedade
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RICKERT, H. Introduction. In: RICKERT, H. The limits of concept formation in natural science.
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