Duns Scotus 5
Duns Scotus 5
Duns Scotus 5
RESUMO
O presente artigo analisa a vida e a obra de John Duns Scotus, filósofo e teólogo
franciscano medieval. Dotado de uma inteligência e sutileza de pensamento ímpares,
o Doutor Sutil – como foi intitulado, foi considerado o representante mais qualificado
da Escola franciscana pelo Papa Paulo VI. Inicialmente, o texto traz informações da
vida do beato e de suas obras mais conhecidas. Posteriormente, aborda a filosofia e
teologia de Scotus, evidenciando sua originalidade e capacidade analítica, e sua visão
do cristocentrismo. Finalmente, o texto aborda a contribuição do teólogo ao dogma da
Imaculada Conceição de Maria.
1
O autor é graduado em Engenharia Eletrônica, Mestre e Doutor em Economia pela Universidade de Brasília -
UnB, e graduando em Teologia na Faculdade de Teologia da Arquidiocese de Brasília – FATEO.
2
Esta seção está baseada no livro “Juan Duns Scotus – Introducción a su pensamiento filosófico-teológico”, de
José Antonio Merino, Biblioteca de Autores Cristianos, 2007.
2
nome de sua região, Escócia, ao passo que o de Duns – pequena cidade escocesa,
o lugar de seu nascimento.
Duns Scotus pertencia a uma família economicamente abastada. Seu pai se
chamava Niniano Duns de Litteldean, e um tio seu – Elias Duns, entrou para a ordem
dos franciscanos. Em 1278, Scotus teria cerca de treze anos, quando frequentou a
escola dos franciscanos de Haddington, onde estava seu tio. Quando completou
quinze anos (em 1280), ingressou no noviciado da ordem franciscana, acolhido por
seu tio Elias, que era então o custódio da Custódia da Escócia.
Estudou em colégios da própria Ordem, completando sua formação em Oxford.
Há opiniões sobre se esteve em Paris para aperfeiçoar sua formação. O conhecimento
que tinha sobre a lógica de Paris se pode explicar pelo fato de que os manuscritos e
o ensinamento de Simon de Faversham3 circulavam por Oxford naquela época.
Entre 1300 e 1301, Scotus comenta os livros das Sentenças de Pedro
Lombardo4, em Oxford. Em junho de 1302, por recomendação do ministro provincial
da Inglaterra, foi chamado a lecionar na Universidade de Paris, interrompendo, assim,
seu Comentário às Sentenças, iniciado em Oxford.
Sua estada em Paris foi interrompida no final de junho de 1303, pois foi expulso
da França porque se recusou em subscrever a petição do rei Filipe IV – o Belo5, o qual
apelava por um concílio contra o papa Bonifácio VIII. Assim, Scotus retorna a Oxford
para continuar a lecionar. Quando o Papa Bento XI, em 18 de abril de 1304, revogou
o decreto que privava a Universidade de Paris de conferir títulos acadêmicos, Scotus
retornou àquela Universidade, a pedido de seu antigo mestre, Gonzalo de España,
ministro geral, que escrevia ao ministro provincial da França nos seguintes termos:
“Recomendo a vossa caridade nosso caríssimo irmão em Cristo, p. John
Scotus, de quem conheço suficientemente sua digna vida, seu excelente
saber, sua sutilíssima inteligência e outras muitas qualidades, em parte, em
razão de uma larga convivência comunitária com ele, e, em parte, em razão
de sua grande reputação”.
3
Simon de Faversham foi um filósofo escolástico medieval inglês, educado em Oxford, que provavelmente
lecionou em Paris por volta de 1280, e cuja obra consiste quase que inteiramente de comentários à lógica de
Aristóteles.
4
Redigidos em meados do século XII pelo bispo de Paris Pedro Lombardo, os quatro livros das Sentenças são
uma obra fundamental no campo da especulação teológica e constituem-se uma cuidadosa compilação de textos
bíblicos e frases (sentenças) de Padres da Igreja e outros pensadores medievais que juntos compõem uma
detalhada exposição da teologia cristã da época.
5
Filipe IV foi um rei francês polêmico, estando na origem da tentativa de deposição do papa Bonifácio VIII e da
transferência do papado para a cidade de Avinhão, e criando as condições, algumas décadas depois da sua morte,
para a eclosão da Guerra dos Cem Anos.
3
6
São Boaventura foi teólogo e filósofo escolástico do século XIII. sétimo ministro-geral da Ordem dos Frades
Menores, canonizado em 1482 pelo papa Sisto IV e declarado Doutor da Igreja em 1588 pelo papa Sisto V com o
título de “Doutor Seráfico”.
7
Gilberto de Tournai foi um teólogo e filósofo escolástico franciscano, professor de Artes e Teologia em Paris,
que redigiu a enciclopédia pedagógica mais detalhada da Idade Média: Rudimentum doctrinae christianae, entre
os anos 1260 e 1270.
8
Mateus de Aquasparta foi um filósofo escolástico italiano da Ordem dos Frades Menores, autor das
Quaestiones disputatae.
9
Pedro de João Olivi tratou do poder do Papa, levado, principalmente, por duas situações de conflito: quanto
ao alcance do poder espiritual, devido aos debates sobre a pobreza dentro da Ordem franciscana e, nesse caso,
foi dos primeiros a afirmar a “inerrabilidade” do Sumo Pontífice.
5
para construir seu âmbito científico por um conhecimento certo pela noção de ser e
dos primeiros princípios:
Assim, para Duns Scotus, o acontecimento Jesus Cristo como “bem tão
supremo entre os entes” (tam summum bonum in entibus) no desígnio de Deus não
está subordinado a nenhuma outra realidade; por isto, a glória destinada à alma de
Cristo está pré-ordenada à glória concedida por Deus a Adão nas origens. O desígnio
de Deus tampouco está subordinado à previsão do pecado de Adão por parte de Deus,
que o haveria realizado igualmente; contudo, com a previsão do pecado de Adão e
dos outros homens nele (Adão) e por ele, Jesus Cristo entra no desígnio de Deus
também como redentor e talvez submetido à passibilidade, dado que, na ausência de
pecado não teria havido nenhum motivo para retardar a glória ao corpo de Cristo no
caso de que não houvesse acontecido a redenção. Jesus Cristo, então, na doutrina
10
SCOTUS, D. Ordinatio, I.
11
Ibidem.
7
do Doutor Sutil, é a obra máxima de Deus (summum opus Dei) querida por Deus por
si mesma.
Considerações finais
John Duns Scotus não era um místico nem um poeta como São Boaventura,
mas um excepcional metafísico, sagaz e penetrante, que soube oferecer uma visão e
interpretação global, unitária e dinâmica de Deus, do homem e do mundo em perfeita
sintonia com o espírito do fundador de sua Ordem. Se Boaventura foi definido como
“o segundo príncipe da escolástica”, Duns Scotus é considerado seu aperfeiçoador e
o representante mais qualificado da Escola franciscana13.
12
SCOTUS, D. Ordinatio, III.
13
Cf. Papa Paulo VI em sua carta apostólica Alma parens.
9
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS