Hermenêutica e Constituição
Hermenêutica e Constituição
Hermenêutica e Constituição
HERMENÊUTICA
CONSTITUCIONAL
2018
1. Hermenêutica
Não há consenso acerca da origem da expressão “Hermenêutica”, mas,
ao que tudo indica, a razão está com Heidegger, para quem a expressão
deriva de Hermes. Na mitologia grega, Hermes foi considerado (também)
como mensageiro dos “deuses”, desempenhando uma função essencial-
mente interpretativa. Tal como uma professora de libras, que interpreta
essa linguagem e é capaz de traduzi-la para o destinatário, Hermes inter-
pretava a mensagem divina, transmitindo-a para os mortais. Ao decodifi-
cá-la, proporcionava-lhes o conhecimento e a compreensão.
Segundo Ari Marcelo Solon, em sua primorosa obra Hermenêutica Ju-
rídica Radical, Hermes é “tanto aquele transmuta, traduz, conduz a lingua-
gem sagrada para uma compreensão humana de forma palpável, racional,
inteligível, enfim, comunicável entre homens, quanto o deus do Liminar,
da zona limítrofe, sendo um ultrapassador de limites, um mediador entre
sonho e realidade, entre dia e noite, entre o natural e o sobrenatural, entre
o mais celestial e o mais telúrico” (2017, p. 15). O autor, portanto, sublinha
que a palavra hermeios é uma referência ao sacerdote do Oráculo de
Delfos, elucidando ainda que a palavra hermenêutica é proveniente do
verbo hermeneuein, que significa interpretar, decifrar, traduzir, dizer e
expressar (2017, p. 14).
Embora a hermenêutica se ocupe preponderantemente da interpreta-
ção de textos, é um equívoco supor que somente textos podem ser inter-
pretados. Hoje, tem prevalecido que tudo aquilo que pode ser conheci-
do também pode ser objeto de estudo da hermenêutica, não apenas
as leis. Apenas para exemplificar, na Psicanálise, Freud construiu métodos
de interpretação dos sonhos. A rigor, cuida-se de uma hermenêutica oníri-
ca (dos sonhos). Exatamente nesse contexto, Ronald Dworkin, na sua obra
“A Raposa e o Porco-Espinho: Justiça e Valor”, prefere falar em gêneros
de interpretação, aduzindo que “os historiadores interpretam épocas e
acontecimentos, os psicanalistas interpretam sonhos, os sociólogos e an-
tropólogos interpretam sociedades e culturas, os advogados interpretam
documentos, os críticos interpretam poemas, quadros e peças de teatro,
os padres e rabinos interpretam textos sagrados, e os filósofos interpretam
conceitos controversos” (2014, p. 187).
HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL • Samuel Sales Fonteles
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1.2 Pré-compreensão
Quando dois homens olham ao mesmo tempo para a lua, nenhum
deles vê a mesma lua. Um mesmo texto pode ser compreendido de
HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL • Samuel Sales Fonteles
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ATO INTERPRETATIVO
1. Conhecimento 2. Interpretação 3. Aplicação
ATO INTERPRETATIVO
Conhecimento Interpretação Aplicação