Análise Da Música Breed Apart, Da Banda Sepultura.
Análise Da Música Breed Apart, Da Banda Sepultura.
Análise Da Música Breed Apart, Da Banda Sepultura.
Trabalho de análise IV
SÃO PAULO
2018
1
Introdução
Pela primeira vez na carreira do Sepultura, a bateria apresentava toques tribais. Tinha
um pouco a ver com uma celebração da nossa identidade, pois era uma época na
música em que muitos brasileiros estavam vendo a si mesmos como realmente eram.
Estavam escavando as suas raízes e descobrindo uma nova sonoridade própria. As
canções também eram um pouco mais lentas. Não que não gostássemos mais de thrash
metal ou algo do gênero, mas sim porque a música assume aquela forma durante o
nosso amadurecimento como compositores.(CAVALERA, 2013, Editora Agir, p.79)
1
Em homenagem à tribo Kaiowas, que cometeu suicídio coletivo em protesto às constantes mortes
na tribo causadas por invasões e interesses do homem branco.
2
principalmente pelo Chico Science & Nação Zumbi2, que tinha a idéia de se manter
firme às suas origens, em meio à uma forte globalização da música, em que a
música se tornaria unificada, ou sempre seguindo os mesmos padrões, como a
música comercial. O movimento não focava apenas na música, era na verdade uma
crítica à tudo que acontecia no mangue no nordeste brasileiro. Como diz Carlos
Calado3:
"Assim como os tropicalistas pegaram o baião que era esnobado na época da bossa
nova para mostrar o que brasileiro, a turma do Mangue Beat nos anos 90 pegaram os
ritmos típicos de Pernambuco; ciranda, coco e embolada e misturaram com o que tem
de mais atual como rap e rock pesado para fazer uma coisa diferente. Uma síntese do
que seria o muito nacional com o que seria o muito internacional.(CALADO, 2008).”
Conta não só com a usual seção rítmica pesada, guitarras distorcidas e vocais gritados
e roucos, mas também com cantos Xavante (gravados numa visita da banda à tribo) e
uma festa percussiva de surdos, djembes, latas, tanques de água e chocalhos, todos
tocados pelo multi percussionista Carlinhos Brown. [...] “Ratamahatta” completa um ciclo
que havia se iniciado com a negação de todo conteúdo nacional, no começo da
revolução heavy. O Sepultura faz a volta completa para abraçar a nação em Roots, mas
o que entra aí como significante do Brasil não é o gênero nacional, o samba, nem a
forma canônica de música popular sofisticada (MPB). Entram formas marginais,
consideradas “primitivas” (música indígena) ou regionalizadas / racializadas (a batucada
afro atlântica de Brown). A intervenção do Sepultura chama a atenção para as práticas
de exclusão através das quais se codifica a nação na música. É a internacionalização
conquistada pelo Sepultura ao longo de duas décadas de coerência notável que permite
sua “vitória” neste debate nacional. (AVELAR, 2005, p. 5)
Neste trabalho serão analisadas duas músicas em específico para traçar seu
“perfil identitário musical”7. Para isso usaremos o conceito de identidade abordado
2
Nação Zumbi é uma banda formada em 1990, em Recife, Pernambuco. Chico Science entrou
3
Carlos Calado, jornalista e crítico musical brasileiro. Escreve para o jornal Folha de S. Paulo desde
1986, entre outros veículos da imprensa nacional. Nasceu em 1956 em São Paulo.
4
Grupo de percussão da Bahia, fundada em 1979. Se apresentou ao lado de diversos artistas
nacionais e internacionais.
5
Tribo indígena localizados ao leste de Minas Gerais e Goiás, que já haviam tido contato com os
brancos.
6
Antonio Carlos Santos de Freitas, cantor, compositor, produtor e percussionista da Bahia.
7
Entende-se por conjunto de características musicais que fazem com que determinados
músicos/artistas possam ser reconhecidos como tal. Sejam estas características relacionadas com o
âmbito de composição, por meio de estruturas musicais e/ou concepção estética, como também à
escolha de um determinado repertório a ser arranjado e/ou interpretado.
3
por Stuart Hall8, junto com Renato Ortiz9, para compreendermos o que seria a
identidade que o grupo desejou, e como essa identidade nacional se construiu,
através de estudos que nos ajude a entender o que seria uma identidade tradicional
ou como isso é inventado, como afirma Eric J. Hobsbawm10 em sua obra A invenção
das tradições11.
Objetivo
Este trabalho tem como objetivo entender como a banda inseriu em suas
composições sua cultura regional, em meio à um período extenso em que a banda
possuía uma postura de estética que se baseava na do Thrash Metal, para assim
alcançar sua legitimidade identitária. Cruzando estéticas, instrumentações e
conteúdo literário, que eles foram atrás e estavam empolgados para contribuir à sua
produção até este período. Usando uma análise crítica sobre suas escolhas de
ritmos e características, que sob o ponto de vista de tradição inventada da época,
eles julgaram serem representados. Atribuindo com uma forte expressividade
através do uso do ruído e da técnica vocal Gutural12, que estava sendo trazida pela
música estrangeira da época, que eles tiveram contato quando gravaram discos em
Nova York quando estavam com a gravadora Roadrunner Records13
8
Stuart Hall foi um filósofo nascido em 1932, em Kingston na Jamaica. Foi escritor e pioneiro em
estudos culturais.
9
Renato Ortiz é um escritor, sociólogo e professor nascido em 1947 em Ribeirão Preto, São Paulo.
10
Eric J. Hobsbawm foi um historiador, escritor, nascido em 1917 em Alexandria, no Egito.
11
Livro publicado em 1983 pelo Eric Hobsbawm e T.O. Ranger, que foi um historiador do século XX.
12
Técnica vocal muito usada no Metal e seus subgêneros, que consiste em produzir uma voz rouca e
bastante grave, através das distorções produzidas pelas pregas vocais e laringe.
13
Gravadora indie de Nova York, com fama de contratar bandas de metal.
14
Tomaz Tadeu da Silva é um escritor e professor nascido em 1948 em Santa Catarina.
4
que fica dentro e o que fica fora [...] e essa demarcação de fronteiras, essa separação e
distinção, supõem e, ao mesmo tempo, afirmam as relações de poder (Idem, pp. 82,83).
Análise
A obra possui 4 minutos , abordaremos apenas as partes que se inserem
como música tradicional brasileira, segundo o que foi discutido anteriormente.
15
Obteve mais de 500.000 vendas só nos Estados Unidos da América.
5
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Eu rastejarei
Sobre o pó de concreto
Na selva de asfalto
Pilhas de crostas
Pensamentos antiquados
Para te forçar para baixo
Estuprando as raças
Separando as etnias
lém disso ela é executada com a mesma rítmica característica do Baião.
A
16
Para entender a notação de bateria tomaremos o livro de Christiano Rocha Bateria Brasileira, que
explica: onde seria a nota dó na pauta (pensando em clave de sol) temos a rítmica para a Caixa,
onde seria a nota lá temos a rítmica para o Surdo e por fim onde teríamos a nota fá seria o Bumbo.
17
Gênero nordestino originalmente tocado por uma zabumba, sanfona e triângulo.
18
Luiz Gonzaga do Nascimento foi um compositor, cantor e sanfoneiro no nordeste, nascido em 1912
em Pernambuco.
6
A música do 2:30 - 2:45 tem uma passagem em que podemos perceber de
novo o ritmo exemplificado acima, mas acelerado e feito com mais instrumentos,
sendo eles, bateria, guitarra, berimbau e chocalho. Mas podemos perceber adições
de notas, e forte distorção nas guitarras talvez pela influência de sua bagagem
musical de álbuns lançados anteriormente.
Conclusão
Em síntese podemos perceber que as escolhas de instrumentos como
berimbau, vindo originalmente da África, com os escravos, percussões cheias,
característica de músicas ritualísticas indígenas e de religiões africanas, e usos de
ritmos nordestinos como o baião, colocam em pauta uma nova tradição, diferente do
que era pensado antes, como Bossa Nova e MPB, que ainda são tidas como as
músicas tradicionais principais. Além disso, a fusão dos gêneros permitiu à eles uma
sonoridade muito pouco explorada e dessa forma faz com que suas obras sejam
únicas e diferenciadas, ou seja, com características próprias, o que lhes garantem
uma identidade bastante sólida.
Bibliografia
AVELAR, Idelber. Heavy Metal Music in Post Dictatorial Brazil: Sepultura and the
Coding of Nationality in Sound. Journal of Latin American Cultural Studies, Oxford,
vol. 12, n.3, p.329-346, 2003.
BARCINSKI, Renato; GOMES, Silvio. Sepultura: toda história. São Paulo: Editora
34, 1999.
19
Forma moderna, devido recursos de gravações, de finalizar músicas, em que a música vai ficando
piano até ficar inaudível.
7
DHEIN, Gustavo. A besta que se recusa a morrer: Identidade, mídia, consumo e
resistência na subcultura heavy metal. 2012. Dissertação (mestrado) - Faculdade
Cásper Líbero
SILVA, Tomaz Tadeu da; HALL, Stuart & Kathryn Woodward. Identidade e
diferença: a perspectiva dos estudos culturais, editora Vozes, 2003.