Apresentacao - in Kevin Vanhoozer. A TR PDF
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Apresentação 7
* * *
No primeiro capítulo, o autor começa demonstrando a
importância de uma compreensão correta sobre Deus para
a adoração e o discipulado cristãos. A falta de conheci-
mento adequado do Deus revelado nas Escrituras gera um
culto repleto de anseios idólatras que não agrada o Senhor.
Portanto, uma doutrina de Deus correta é o remédio para o
mal de adorar o que não é Deus que assola a igreja evangélica.
O próprio adjetivo “evangélico” implica a crença no Deus
trino e uno que se revela e atua de forma salvadora no evan-
gelho. Deste modo, a questão central está na fonte a partir
da qual os cristãos elaboram sua compreensão do ser divino.
Em uma breve análise histórica do desenvolvimento
do teísmo, Vanhoozer argumenta que a igreja primitiva e
a igreja medieval formularam suas concepções do Senhor
por meio da síntese entre as Escrituras e a filosofia grega.
Consequentemente, a noção do ser infinitamente perfeito
dominou a reflexão teológica durante séculos e a preocupa-
ção estava mais em “o que” Deus é — sua existência e
atributos — do que em “quem” Deus é — a identidade do
Senhor revelada em palavras e ações. Essa concepção passou
a ser questionada por filosofias modernas e pós-modernas,
bem como por reavaliações dentro do próprio movimento
evangélico, culminando na proposta do teísmo aberto: um
Deus que se autolimita em poder e em seu conhecimento
futuro. Claramente, esse conceito não corresponde ao Deus
bíblico; por isso, Vanhoozer propõe uma alternativa que
preserve os atributos divinos expressos nas Escrituras.
* * *
Como podemos afirmar que as palavras de Moisés, Pedro e
Paulo são a Palavra a Deus? De que forma um livro escrito
por homens pode ser também considerado de origem divina?
Vanhoozer se propõe lidar com essas questões no segundo
capítulo e o faz, novamente, de uma perspectiva trinitária.
Ele expõe, inicialmente, duas posições distintas sobre a Bíblia.
A primeira é a concepção de que Deus é o autor absoluto
das Escrituras e de que os autores humanos atuaram apenas
como escribas, sem participação efetiva na composição do
texto bíblico. A segunda posição é a de que a autoria divina
foi fraca e os autores humanos tiveram grande liberdade ao
redigir o material, havendo, por isso, passagens nas Escrituras
que não são confiáveis nem inspiradas por Deus.
Vanhoozer demonstra que essas duas visões são fruto
de doutrinas equivocadas a respeito de Deus: a primeira
crê em Deus como o determinador de todas as coisas, não
havendo espaço para a agência humana; a segunda limita
seu poder e sua atuação, crendo que ele age por meio
de estímulos e orientação, sem de fato ter o controle do
processo de produção do texto.
* * *
Para que servem os teólogos? Qual é a utilidade deles para
a igreja? Nesse capítulo, fruto de uma palestra ministrada
em duas instituições de ensino teológico, Vanhoozer trata
da função do teólogo por meio de ilustrações e imagens que
demonstram a importância do teólogo-pastor para a igreja
ao longo da história. Inicialmente, descreve questionamen-
tos de outros autores sobre a razão da existência humana e
mostra a necessidade de sabermos viver da melhor forma o
pouco tempo que nos resta, o que implica, da perspectiva
cristã, dedicar a vida ao ser que é o mais digno da nossa
devoção, o próprio Deus. Como pessoas responsáveis por
“falar bem de Deus”, os teólogos ajudam os crentes em
Cristo a melhor conhecer o Deus que adoram e a dedicarem
a vida somente a ele.
* * *
A doutrina correta é fundamental para a igreja, e essa
doutrina deve ter seu ponto de partida no Deus trino e
uno, que atua na história e nos chama a sermos agentes
nela também. As Escrituras são a agência comunicadora da
Trindade e servem, junto com a doutrina de Deus, de fun-
damentação para a elaboração da doutrina cristã. Por fim, os
teólogos têm a tarefa de pensar e proclamar o Deus trino e
uno que se revelou no evangelho, o remédio fundamental
para a edificação da igreja de Cristo.
É com grande satisfação que Edições Vida Nova oferece
esses três ensaios de Kevin J. Vanhoozer em um só volume.
Nossa oração e nosso desejo é que os ensinamentos e as per-
cepções desta obra sejam usados por Deus para levantar teó-
logos-pastores que alimentem suas comunidades de fé com
as Escrituras Sagradas, o instrumento da autocomunicação
do Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e as levem a amar e a
adorar em Espírito e em verdade o Deus que é digno de
toda a nossa devoção.
Os Editores
2
John Frame, The doctrine of God (Phillipsburg: P & R, 2002), p. 1
[edição em português: A doutrina de Deus (São Paulo: Cultura Cristã,
2014)].
3
David Wells, God in the wasteland (Grand Rapids: Eerdmans, 1994),
p. 88-117.
4
Um dos melhores exemplos de teólogo evangélico que mantém o
equilíbrio correto entre mente e coração é J. I. Packer, em Knowing God
(Downers Grove: InterVarsity, 1973) [edição em português: O conheci-
mento de Deus, tradução de Cleide Wolf; Rogério Portela (São Paulo:
Mundo Cristão, 1996)].
5
Teólogos calvinistas ou “reformados” enfatizam a soberania de
Deus, em especial no que diz respeito à provisão divina para a salvação:
os crentes escolhem Deus porque Deus os escolhe primeiro. Em con-
traste, teólogos arminianos-wesleyanos sustentam que o motivo de Deus
escolher salvar alguns e não salvar outros é porque as pessoas do primeiro
grupo livremente escolheram crer. Ambas as tradições reconhecem a
necessidade da graça de Deus, embora discordem sobre os pormenores
da distribuição dela.
6
Cf. o comentário de Roger Olson: “se a teologia evangélica em
geral tem uma interpretação distintiva sobre a crença cristã tradicional
em Deus, é possível que isso se deva a uma ênfase na natureza pessoal
dele” (The Westminster handbook to Evangelical theology [Louisville:
Westminster John Knox, 2004], p. 188).
7
David Wells, “Introduction: the Word in the world”, in: John H.
Armstrong, org., The compromised church (Wheaton: Crossway, 1998), p. 23.