Displasia Coxofemoral
Displasia Coxofemoral
Displasia Coxofemoral
Se você tem um cão de porte grande ou gigante já deve estar careca de ouvir falar da displasia coxofemoral, doença caracterizada pela incongruência
e degeneração da articulação da bacia com a cabeça do fêmur. Bastante freqüente, essa displasia também acomete cães de raças médias e pequenas –
e até os gatos.
As justificativas mais citadas para o aumento dos casos da doença estão relacionadas a:
* Acasalamento de animais que apresentam displasia (graus D e E, principalmente). Por esse motivo recomenda-se fortemente afastar da reprodução
os exemplares displásicos;
* O alto grau de consangüinidade ou inbreeding (acasalamento entre animais de parentesco próximo). Essa prática adotada por muitos criadores com
o intuito de fixar características físicas desejáveis nos filhotes pode acentuar também predisposições para doenças hereditárias.
Esses seriam os principais fatores que determinam a predisposição ou tendência genética para o aparecimento da displasia. Mas é preciso esclarecer
que a predisposição genética por si só não resulta necessariamente no aparecimento da doença. Atualmente acredita-se que outros desencadeadores
da displasia podem ser fatores ambientais e de manejo, principalmente durante a fase de crescimento do animal.
Essa pode ser uma explicação por trás de um casal de cães saudáveis que produz filhotes com displasia. Ou ainda, da ocorrência de alguns irmãos de
ninhada se tornarem severamente displásicos enquanto outros estão isentos da doença.
Mas aquela cochilada na frente da janela ou porta de vidro fechada não conta. O animal tem que ficar diretamente exposto aos raios solares. Sol
“filtrado” por superfícies de vidro perde os raios ultravioletas e fica reduzido a uma fonte de calor. Essa orientação é particularmente importante para
filhotes que crescem em apartamento, principalmente os de porte grande.
* Animais que sofrem de artrose, artrite e outros males osteoarticulares em geral sentem mais dor e desconforto, especialmente durante os meses
frios. Garanta que ele tenha um local macio e aquecido para se deitar.
* Filhotes e jovens apresentam articulações e ossos vulneráveis e não devem ser estimulados a praticar atividades físicas intensas, como agility ou
corrida. Brincar ainda é o melhor exercício para os animais em crescimento. Cães adultos displásicos podem se beneficiar com a prática regular de
exercícios físicos de baixo impacto como natação e caminhadas leves.
* Não permita que os cães corram ou mesmo permaneçam por muito tempo sobre pisos escorregadios. Principalmente em se tratando de pets de
porte grande e gigante. A força exigida para o animal se equilibrar coloca pressão demais sobre a frouxa articulação coxofemoral. Se as unhas
estiverem compridas e os pêlos entre os coxins (“almofadas” das patas) estiverem longos, pior ainda. Apare-os para aumentar a aderência das patas
ao piso. Para deixar as unhas dos cães bem curtinhas, sem tirar sangue e sem causar dor ao animal, você pode utilizar um aparelho chamado Dremel.
Existem modelos próprios para uso em pets, mas um Dremel convencional, encontrado em lojas comuns de ferramentas, também lixa as unhas.
Consulte esse site (em inglês) para aprender a usá-lo.
* A qualidade da água também pode contribuir com o aparecimento de doenças articulares degenerativas. Um estudo revelou que os cães que
bebem água de poço em vez de água de encanamento são mais predispostos a desenvolver a osteocondrite, um mal osteoarticular. Isso porque águas
mais “duras” (com alta concentração de minerais) podem conter mais cálcio. A água de sua região é assim? Se possível ofereça ao pet somente água
destilada, ou purificada com filtro que elimina ou minimiza o problema.
* Está comprovado que alguns fármacos podem prejudicar o desenvolvimento osteoarticular de filhotes e pets jovens. É o caso da Enrofloxacina
(Baytril) um antibiótico eficiente que é muito empregado na rotina do médico-veterinário clínico geral. O site do laboratório Biovet, especifica o
seguinte: “Enrofloxacina está contra-indicada para cães na fase de crescimento rápido (de 2 a 8 meses) devido a relatos de lesões à cartilagem
articular. Nas raças gigantes, este período poderá estender-se até os 18 meses. Não é recomendado o uso em gatos com menos de 8 semanas de
idade.”
Dieta
Diz o Dr. Richard Pitcairn que “gerações de más práticas nutricionais contribuíram com o desenvolvimento da displasia coxofemoral; com efeitos
cumulativos cada vez maiores a cada geração. Uma boa prevenção inclui alimentar as cadelas prenhes ou o filhote recém-adquirido com uma dieta
saudável, fresca e variada.” (Dr. Pitcairn’s Complete Guide to Natural Health for Dogs & Cats)
Se possível, passe a oferecer uma alimentação caseira natural para seu pet displásico. Um número cada vez maior de criadores e proprietários relata
os impactos positivos desse tipo de dieta na redução da incidência da displasia e na vida dos pets acometidos. Também pudera: a dieta natural é rica
em ômega-3 e antioxidantes advindos de vegetais variados, ovos, peixes e óleos; além de oferecer diariamente protetores articulares naturais, como a
condroitina presente na cartilagem de pés, pescoços, asas e carcaças de frango crus.
O cardápio indicado para esse quadro é o modelo tradicional de Alimentação Natural para adultos e para filhotes. Procure omitir da dieta fontes de
carboidratos como pães e grãos cozidos a fim de reduzir a quantidade de calorias da dieta e não favorecer o ganho de peso. Se seu pet estiver acima
do peso, calcule a quantidade de alimentos a ser oferecida diariamente com base no peso que ele deveria ter, em vez de fazer o cálculo com base no
sobrepeso atual. Clique aqui para aprender a calcular essa porcentagem. Isso, por si só, já deve ajudar seu cão a enxugar os quilinhos extras.
Ofereça fontes de ômega-3 como óleo de peixe (preferencialmente), azeite de oliva, óleo de linhaça ou óleo de canola. Peixes ricos em ômega-3,
como a sardinha e a cavalinha (inteiras e sempre cozidas), devem fazer parte do cardápio semanal dos pets displásicos.
Uma a duas vezes por semana ofereça peças cartilaginosas contendo um pouco de carne. Esses alimentos são fonte de substâncias que protegem as
articulações, como a condroitina. Boas opções são pescoços e pés de galinha crus e a “garganta do boi”, que na verdade é a traquéia (tubo
cartilaginoso). É possível encontrar a “garganta de boi” em feiras-livres. Custa por volta de R$ 2,50 o quilo.
Ofereço semanalmente para meus cães e gatos. Peço para o feirante retirar o excesso de gordura e de glândulas e deixar só a traquéia com a
musculatura em volta. Ele já me entrega a peça cortada em rodelas, o que facilita muito a separação em tupperwares e o congelamento. Cartilagem é
um tecido pobre em cálcio. Por isso sempre sirvo a “garganta” acompanhada de algum meaty bone com bastante cálcio, como pé de frango cru, ou
pedaços de queijo minas frescal, também rico em cálcio.
Vitamina C e bioflavonóides
A vitamina C, conforme discutimos anteriormente, faz parte da prevenção e até do controle da displasia coxofemoral. O cão pode ingerir essa
vitamina de duas maneiras: comendo alimentos ricos em vitamina C e/ou por meio de suplementação com vitamina C sintética (ácido ascórbico).
Sempre que possível, opte pela primeira opção.
As vitaminas presentes nos alimentos são infinitamente melhor aproveitadas pelo organismo, dificilmente ocasionam excessos e sua ação é
potencializada pela presença de outros elementos químicos (enzimas, minerais, antioxidantes) presentes no alimento. Um bom exemplo desse
sinergismo (combinação benéfica) entre micronutrientes é o da vitamina C com os bioflavonóides, também conhecidos como vitamina P.
Bioflavonóides são compostos vegetais polifenólicos similares às vitaminas. Estão presentes naquela película branca que fica sob a casca das frutas
cítricas e dos pimentões e complementam a ação da vitamina C também presente nos mesmos alimentos. Reduzem a dor e a inflamação, apresentam
ação anti-alergênica e antioxidante, além de inibirem a hialuronidase, uma enzima que danifica as articulações e a pele.
Para saber mais sobre as vantagens de oferecer as vitaminas de forma natural, ou seja, diretamente através da ingestão do alimento, clique aqui.
Ofereça regularmente alimentos ricos em vitamina C, preferencialmente crus, como:
Frutas: acerola, caju, goiaba branca e vermelha, manga, laranja e morango. Observação: muita gente reluta em oferecer frutas cítricas, com receio
de que a acidez possa fazer mal ao estômago do cão. Isso é uma inverdade. O pH do estômago canino é baixíssimo, ou seja, nem mesmo a fruta mais
ácida supera a acidez natural do estômago dos cães. Ofereça pedaços dessas frutas se possível diariamente, como lanche, mas sem exageros.
Legumes: pimentões (principalmente os amarelos), brócolis, batata, couve, nabo.
Preparo dos legumes
A vitamina C é um componente bastante vulnerável ao calor do cozimento. Se possível ofereça os alimentos citados acima crus (com exceção da
batata, que precisa sempre ser cozida), batidos no liquidificador ou processador com um pouquinho de água para facilitar a digestão. Ao cozinhar
batatas e outros alimentos, utilize pouca água e não deixe os vegetais amolecerem muito. Durante o cozimento boa parte dos nutrientes é perdida
para a água. Prefira cozinhar os vegetais no vapor – é a alternativa que melhor preserva a vitamina C.
Vitamina C sintética (ácido ascórbico)
Prefira vitamina C com bioflavonóides – se não encontrar em drogarias, é possível mandar manipular. Do contrário, use vitamina C pediátrica em
gotas ou em comprimidos de 500mg ou 1 grama. Cada gota tem, em média, 250mg de vitamina C. Não a pingue sobre alimentos quentes, sob risco
de anular a vitamina. Sirva a refeição imediatamente para que a vitamina não sofra oxidação.
Consulte seu médico-veterinário para saber as dosagens recomendadas para seu cão
Observações:
* Se preferir, alterne o uso de vitamina C sintética com a oferta de alimentos ricos nesse nutriente. Isso evita que o organismo “se acostume” com a
vitamina C sintética e ela perca parte do efeito.
* Cães e gatos diabéticos ou que apresentam cálculos renais não devem receber suplementação de vitamina C. Na dúvida, consulte o médico-
veterinário.
Glucosamina, Sulfato de Condroitina e Manganês
Suplementos à base dessas substâncias são recomendadas para prevenir e tratar as doenças osteoarticulares. Como existem inúmeros produtos no
mercado, peça uma indicação ao seu médico-veterinário. A glucosamina e o sulfato de condroitina são moléculas glicídicas que compõem os
proteoglicanos, elementos que formam as cartilagens articulares.
A glucosamina favorece a formação da nova cartilagem, agindo de forma complementar à condroitina, que por sua vez, inibe a destruição da
cartilagem. Embora ambas sejam encontradas nos tecidos cartilaginosos dos animais, a principal fonte de glucosamina é a quitina, substância que
reveste a casca dos camarões e as conchas dos caranguejos e das lagostas. Já o manganês é um mineral-traço que ajuda a relaxar a musculatura e atrái
a glucosamina e a condroitina para as áreas que estão sofrendo degeneração.
Ação da condroitina
Fonte: livro Nutrientes que Alimentam, Previnem e Curam Cães e Gatos
Vitamina E
Em doses altas atua como um poderoso antioxidante, beneficiando também a saúde vascular e imunológica.
Consulte seu médico-veterinário para saber as dosagens recomendadas para seu cão
Óleo de peixe (Fish Oil)
Rico em ômegas-3, ajuda a reduzir a inflamação e melhora a pele e a pelagem, além de fortalecer a imunidade. Não confundir com óleo de fígado de
bacalhau.
Óleo de coco
O óleo de coco é um suplemento um pouco caro (em média, R$ 40 o frasco com 400mL), mas que tem propriedades fantásticas. Segundo esse
artigo publicado pelo médico Dr. Marcio Bontempo,
“Recentes pesquisas comprovam a atividade antiinflamatória do óleo de coco extra virgem devido à sua capacidade de elevar os níveis da
interleucina 10, um poderoso agente antiinflamatório. Além disso, (…) aumenta a absorção de nutrientes, acelera o metabolismo, favorece aa perda
de peso pela “queima” de gorduras, ajuda a prevenir a osteoporose, aumenta os níveis de energia, e, pela sua ação antioxidante (é rico em
vitamina E), reduz o processo de envelhecimento.”
Você pode adquirir óleo de coco em lojas de produtos naturais, como essa, ou por meio de sites, como oCrianças na Cozinha, um endereço que
sempre traz dicas interessantes sobre alimentação saudável.
L-Glutamina
Aminoácido que ajuda a retardar a atrofia muscular.
Consulte seu médico-veterinário para saber as dosagens recomendadas para seu cão
Yucca
Um eficiente anti-inflamatório vegetal. Como a parte líquida dessa planta é a mais concentrada em propriedades, prefira comprar yucca em forma de
tintura. Não deve ser oferecida ao pet de estômago vazio.
Consulte seu médico-veterinário para saber as dosagens recomendadas para seu cão
Homeopatia e Acupuntura
Não subestime os efeitos de terapias alternativas como a Homeopatia e a Acupuntura. Ambas podem fazer muito pelo animal displásico no sentido
de potencializar a regeneração das cartilagens, fortalecer os músculos adjacentes e reduzir quadros de dor, inflamação e rigidez articular. E o melhor:
não provocam efeitos colaterais ou estresse. Certamente valerá a pena buscar indicação de um bom médico-veterinário especialista em Acupuntura
e/ou Homeopatia em sua região.
Referências Bibliográficas
Sites
* Orthopedic Foundation for Animals
* B-Naturals
* Canil Totem American Bulldogs (o link direciona a um artigo imperdível sobre displasia coxofemoral em cães – altamente recomendado por
ser bem escrito e muito completo!)
Livros
* Canine Nutrition – What Every Owner, Breeder and Trainer Should Know. D.V.M. Lowell Ackerman. 1999
* Veterinary Textbook of Internal Medicine. Ettinger, Feldman. 2006
* Tabela de Composição Química dos Alimentos. Guilherme Franco. 2008
* Dr. Pitcairn’s Complete Guide of Natural Health for Dogs & Cats. D.V.M. Richard Pitcairn. 2005
* Natural Health Bible for Dogs and Cats. D.V.M. Shawn Messonnier – 2001
* The Nature of Animal Healing. D.V.M. Martin Goldstein – 1999
* Nutrientes que Alimentam, Previnem e Curam Cães e Gatos. Prof. Dominique Grandjean – 2003
* Em Defesa da Comida – um manifesto. Michael Pollan – 2008
* Plumb’s Veterinary Drug Handbook. Donald C. Plumb – 2004
* Food Pets Die For. Ann Martin – 2008
Bom apetite e uma lambida do Cachorro Verde!
Atualizado em 21 de julho de 2009 por Sylvia Angélico