Livro Completo Final Lancamento
Livro Completo Final Lancamento
Livro Completo Final Lancamento
Organizadora
Mulheres
Negras na
BIBLIOTECONOMIA
MULHERES NEGRAS
NA BIBLIOTECONOMIA
Florianópolis, SC
Rocha Gráfica e Editora Ltda.
2019
Nyota
Coordenação do Selo
Franciéle Carneiro Garcês da Silva
Nathália Lima Romeiro
Site: https://www.nyota.com.br/
Comitê Científico
Andreia Sousa da Silva (UDESC) Priscila Sena (UFSC)
Daniella Camara Pizarro (UDESC) Gláucia Aparecida Vaz (UFMG)
Dirnéle Carneiro Garcez (UFSC) Graziela dos Santos Lima (UNESP)
Nathália Lima Romeiro (UFMG) Andreza Gonçalves (UFMG)
Bruno Almeida (UFBA) Erinaldo Dias Valério (UFG)
M958
Mulheres negras na Biblioteconomia / Franciéle Carneiro Garcês da Silva
(Org.) - Florianópolis, SC: Rocha Gráfica e Editora, 2019. (Selo Nyota)
339 p.
Inclui Bibliografia.
Disponível em: <https://www.nyota.com.br/>.
ISBN 978-85-60527-07-6 (e-book)
ISBN 978-85-60527-06-9 (impresso)
Condições:
ATRIBUIÇÃO
Você deve dar o crédito apropriado ao(s) autor(es) ou à(s) autora(s) de cada
capítulo e às organizadoras da obra.
NÃO-COMERCIAL
Você não pode usar esta obra para fins comerciais.
PREFÁCIO ...............................................................................7
Ana Paula Meneses Alves
A CIÊNCIA É MASCULINA E BRANCA: BREVES
REFLEXÕES ...........................................................................17
Geisa Müller de Campos Ribeiro
ESCREVIVÊNCIAS NA BIBLIOTECONOMIA:
AFROCENTRAR PARA EXISTIR ......................................41
Elisângela Gomes
BIBLIOTECÁRIAS NEGRAS CEARENSES:
CONTRIBUIÇÕES PARA A LUTA ANTIRRACISTA .... 67
Dávila Maria Feitosa da Silva
CLARA STANTON JONES E SUA CONTRIBUIÇÃO
PARA A BIBLIOTECONOMIA NEGRA AMERICANA ...
................................................................................................. 87
Franciéle Carneiro Garcês da Silva
BAMIDELÊ: TRAJETÓRIA HISTÓRICA-
INFORMACIONAL DA ORGANIZAÇÃO DAS
MULHERES NEGRAS DA PARAÍBA ............................. 105
Leyde Klebia Rodrigues da Silva
KETTY VALÊNCIO E A IMPORTÂNCIA DE LIVRARIAS
ESPECIALIZADAS EM AUTORIA NEGRA .................. 143
Graziela Barros Gomes
APRENDENDO COM CAROLINA MARIA DE JESUS A
ENFRENTAR OS PRECONCEITOS E AS
INFORMAÇÕES E NOTÍCIAS FALSAS ........................ 173
Dandara Baçã de Jesus Lima
RACISMO IMPRESSO E EXPRESSO: A CULTURA DO
RACISMO EM LETRAS, NÚMEROS E IMAGENS ...... 199
Denise Maria da Silva Batista
Elisete de Sousa Melo
REPRESENTACIONES SOCIALES DE LA LECTURA-
ESCRITURA-ORALIDAD EN MUJERES NEGRAS DE LA
CIUDAD DE MEDELLÍN (HISTORIAS DE VIDA) ...... 227
Natalia Duque Cardona
DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL À REPRESENTAÇÃO
DO CONHECIMENTO: PERSPECTIVAS TEÓRICAS
DAS MULHERES NEGRAS NA CIÊNCIA .................... 261
Vanessa Jamile Santana dos Reis
José Carlos Sales dos Santos
A HORA DO CONTO COMO RECURSO DE
MEDIAÇÃO DE LEITURA NA BIBLIOTECA ESCOLAR
E DISSEMINAÇÃO DA CULTURA AFRO BRASILEIRA
............................................................................................... 291
Raissa Gabrielle Cirilo
SOBRE AS AUTORAS ....................................................... 333
Mulheres Negras na Biblioteconomia
PREFÁCIO
3Segundo Silvio Almeida (2018, p. 38), o racismo é estrutural porque “[...] é uma
decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo “normal” como se
constituem as relações políticas, econômicas e jurídicas e até familiares, não
sendo uma patologia social, e nem um desarranjo institucional”.
7
que trazem do esquecimento e conclamam para o protagonismo
mentes e corpos que estavam silenciados.
O protagonismo desta obra é, obviamente, o da MULHER.
Escrevo mulher com todos os destaques possíveis, para que esses
recursos tipográficos possam, de alguma maneira, representar o
peso que essa palavra evoca. Heleieth Saffioti (2013, p. 507, grifo
da autora), em sua obra de 1969, A mulher na sociedade de classes:
mito e realidade, já nos alertava: “A determinação sexo é selecionada
socialmente para operar como um filtro anterior e concomitante
ao processo de competição, objetivando restringir o número de
pessoas em condições de, legitimamente, dele [ordem social]
participar”.
Nas mais diversas épocas e na atualidade, observa-se que as
desigualdades entre homens e mulheres ocorre em todos os
espaços e nas mais diversas situações na nossa sociedade.
Heleieth Saffioti (2013) reitera que a marginalização do trabalho
da mulher se fez mais contundente após a Revolução Industrial,
na origem do capitalismo. Em um trabalho hodierno, do recém
lançado Observatório da Diversidade e da Igualdade de
Oportunidades no Trabalho, criado no âmbito da iniciativa
SmartLab de Trabalho Decente, uma cooperação do Ministério
Público do Trabalho brasileiro (MPT) e da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), são revelados que:
No Brasil, o rendimento mensal de mulheres no setor formal
da economia é, em média, de 2,7 mil reais, ao passo que o dos
homens é de 3,2 mil reais, apontam dados de 2017. Além disso,
mulheres brancas recebem, em média, 76% do rendimento dos
homens brancos, valores que são ainda menores para homens
negros (68% dos homens brancos) e mulheres negras (55% dos
homens brancos).
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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ociosa, inútil, sem função social e funcionária pública (dado
também ao clichê do mal atendimento). Observa-se, o quão
aviltante é essa ideia preconcebida e indignamente repassada
durante muitas décadas. Felizmente, há alguns anos, uma nova
geração de profissionais tem se esforçado em subverter a forma
como o profissional é visto pela sociedade. Mas, infelizmente, o
ponto que queremos tocar, é que mesmo sob essa imagem
estereotipada e depreciativa, a profissional negra, era
invisibilizada no imaginário geral.
Deste modo, é dentro do lugar de falar da mulher negra, na
Biblioteconomia, que se concentra as publicações dessa obra. Os
discursos se alinham para se fazerem ouvir por outras mulheres
negras na área. Mas, para além destas mulheres, também se
fazerem ouvir por toda a Biblioteconomia, rompendo os muros da
invisibilidade e mostrando a intelectualidade e a prática das
mulheres negras da área. Para encetar a imersão nessa questão,
segue a descrição dos textos que compõem este livro.
Os trabalhos começam com a autora Geisa Müller de
Campos Ribeiro, que inaugura as discussões com o texto “A
ciência é masculina e branca: breves reflexões”. A autora discute a
ausência de mulheres na ciência, endossa e apresenta uma
argumentação contundente a respeito do complexo debate de a
ciência ser branca e masculina. Posso destacar, como a principal
contribuição da autora, a capacidade de irromper o silêncio que
cerca a discussão do tema e ser um mote, para estimular o
protagonismo de mulheres na ciência, em especial as mulheres
negras, averiguando maneiras de diminuir os estereótipos de
gênero e raça no cenário acadêmico.
Elisângela Gomes é a responsável pelo segundo capítulo,
intitulado Escrevivências na Biblioteconomia: afrocentrar para existir.
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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destaca-se a direção da Biblioteca Pública de Detroit, na qual sua
nomeação confrontou um protesto de membros brancos da
Comissão de Biblioteca. Já na ALA, buscou transformar as
bibliotecas do paradigma de grandes repositórios de livros para o
paradigma de espaços de informação, recursos, serviços e
ferramentas educacionais e teve grande importância na luta
antirracista com a aprovação da “Resolução de Conscientização
sobre Racismo e Sexismo”.
Bamidelê: trajetória histórica informacional da Organização das
Mulheres Negras da Paraíba, de Leyde Klebia Rodrigues da Silva, é
o quinto capítulo dessa obra, e foca nas ações da Organização de
Mulheres Negras da Paraíba - Bamidelê, uma organização não-
governamental parceira do Movimento Negro Organizado da
Paraíba e de outras entidades. A Bamidelê foi criada em 2001 por
feministas negras e tem como propósito contribuir para a
eliminação do racismo e sexismo, buscando a equidade de gênero
numa perspectiva étnico-racial. O capítulo se embasa na trajetória
histórica-informacional da organização e no papel que a Bamidelê
tem para desconstruir (ou minimizar) as relações hierárquicas e
assimétricas, ainda muito presentes na sociedade paraibana. A
autora destaca o papel da ONG em prover às mulheres negras,
jovens e adolescentes informações necessárias para discutir
abertamente as relações étnico-raciais e a promoção dos direitos
humanos.
Ressaltar a importância de livrarias especializadas em
autoria negra feminina no Brasil é o âmago do capítulo elaborado
por Graziela Barros Gomes, intitulado Ketty Valêncio e a
importância de livrarias especializadas em autoria negra. Durante a sua
revisão, a autora investigou a ausência de trabalhos na área de
Biblioteconomia e da Ciência da Informação brasileira sobre
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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mesmo que de forma velada, peculiaridades daqueles discursos
na atualidade e nos conclamam a agir, para retirar do papel, o que
nos é direito garantido.
Natalia Duque Cardona, autora do nono capítulo, rompe
com a sequência de apresentações da realidade brasileira, para
nos difundir aspectos importantíssimos da realidade das
mulheres negras colombianas. Com o título Representaciones
sociales de la lectura-escritura-oralidad en mujeres negras de la ciudad
de Medellín (historias de vida), a autora nos apresenta uma pesquisa
na qual buscou compreender quais as representações sociais que
as mulheres, que se reconhecem como afrodescendentes, possuem
em relação à leitura, à escrita e à oralidade, por meio de um estudo
de caso nas práticas de leitura em bibliotecas educacionais na
cidade de Medellín, Colômbia. A autora se valeu de narrativas
autobiográficas, que incluem a história da vida das mulheres, e
fragmentos destas histórias em diferentes formatos: escritos,
orais, icônicos, entre outros. Obteve, em decorrência,
representações que mostraram que as atitudes relacionadas à
leitura-escrita-oralidade não são unidirecionais, ou seja,
proporcionam relações positivas (como ser indispensáveis para a
formação de qualquer ser humano) e negativas (quanto usadas
para invisibilizar e homogeizar a sociedade), mas mostram-se
importantes para constituição da própria história da mulher, para
reconhecer-se enquanto mulher negra e para lhes dar voz e
espaço.
O décimo capítulo, redigido pela autora Vanessa Jamile
Santana dos Reis e pelo autor José Carlos Sales dos Santos, é
denominado Da representação social à representação do conhecimento:
perspectivas teóricas das mulheres negras na ciência. Os autores
debruçaram-se sob um levantamento a respeito da produção
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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REFERÊNCIAS
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
1 INTRODUÇÃO
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norteadores da Ciência Moderna, que segundo Silva (2008, p. 135),
“balizaram a construção do conhecimento científico, abstraindo,
declaradamente, toda possibilidade de considerar as mulheres
como sujeitos de conhecimento e do conhecimento”. Além disso,
estruturas sociais, o desenvolvimento econômico do país, o
sistema educativo e a ausência de sistemas que viabilizem a vida
profissional e familiar da mulher, são elementos que dificultam o
seu avanço.
Isso expressa que a inserção das mulheres na ciência é um
problema de relações de gênero (e neste contexto, precisam ser
observadas as especificidades das diferentes mulheres,
considerando aspectos sociais, culturais, raciais e étnicos),
consequência de um processo histórico e cultural que estabelecem
lugares que são valorados de forma hierárquica para mulheres e
para homens.
Na perspectiva Foucaultiana, o sujeito está imerso em redes
de relações de saber/poder, e se constitui e é constituído nessas
redes imerso a um processo histórico e cultural. Estas redes
podem ser consideradas dispositivos que regulam, deslocam e
produzem os discursos na (e para a) ciência enquanto atividade
masculina e branca, já que o sujeito das ciências tem sido o homem
pelo viés patriarcal, gerando invisibilidade à mulher, e mais ainda
à mulher negra (RAGO, 1998).
Esta ciência, marcada pela produção de verdades científicas,
e que possui suas dinâmicas no sistema de produção de
conhecimento científico, sujeita também a mecanismos de
mercado, que é controlada e controlam os “trabalhadores” do
conhecimento, que possui suas leis, enunciados científicos, dentre
outras características que estão no interior do que Foucault chama
de dispositivo, forma e regula, pelas múltiplas relações no
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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algumas reflexões sobre a exclusão das mulheres na ciência e
problematizar esta ciência como branca e masculina.
Sabe-se que a afirmativa “mulher negra na ciência”, pela
diferença, reforça e fixa a identidade negando outros corpos, o
que não é a proposta deste estudo. Mas é preciso considerar que
o princípio redutor identitário colocou a mulher negra em outros
lugares enquanto demarcação cultural. E romper com este
discurso só é possível pela afirmação epistêmica e política.
Enquanto luta, é preciso afirmar, e por enquanto, só é possível
desta forma.
A primeira parte do trabalho busca refletir sobre a ciência
enquanto construto simbólico de dispositivo de verdade que
funda e fixa um sujeito universal de produção de conhecimento
deixando de lado aqueles que escapam do seu modelo de
referência. Portanto, possui um corpo social bem específico.
Em segundo momento, será tensionado o corpo da mulher,
não existindo a priori, mas sendo construído e atravessado por
técnicas de saber/poder que operaram nos discursos: “um corpo
feito”. Estes discursos formulam, constituem, recriam, fundam e
legitimam este corpo principalmente pelo racismo estrutural.
Por último, discutir de forma provocativa esta ciência que
“mata corpos negros” ao dar privilégio epistêmico a quem possui
privilégio social; apresentar a luta feminista negra e discutir os
silenciamentos as quais fomos/somos submetidas ao longo da
história como um processo social brutal de produção e
reprodução de padrões de subalternidade cognitivamente e
materialmente a nós impostos.
Acredita-se que as reflexões apresentadas constituem uma
forma de contribuir para romper com o silêncio, e neste sentido,
fortalecer a produção científica de mulheres negras como um
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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Os discursos da ciência introduzem suas raízes em
camadas, regras e ordens cuja gênese é complexa e remonta a
épocas diversas (CASTELFRANCHI, 2008). Se instaura em
determinado momento para determinada sociedade e tem na
comunicação seu princípio constitutivo relacionado aos processos
de produção e difusão do conhecimento.
Desde as civilizações anteriores à Idade Moderna, como os
gregos e os romanos, a humanidade já investigava a natureza das
coisas e a verdade se dava através da argumentação e da
divindade religiosa. No entanto, houve um momento chave de
transição marcado pelo nascimento da Ciência Moderna e as
consequências epistemológicas deste nascimento. Esta ciência
passa a ter centralidade e enquanto modelo totalitário se defendia
de duas formas de conhecimentos não científicos: o senso comum
e os estudos humanísticos. O método, no contexto do seu
surgimento e como uma forma de se apropriar da realidade que a
cerca e com ela interagir serve de direção e o que possibilita
argumentar o que é verdadeiro ou não (RIBEIRO, 2016).
Segundo Chaui (2001, p. 255) “a ciência moderna nasce
vinculada à ideia de intervir na natureza, de conhecê-la para
apropriar-se dela, para controlá-la e dominá-la”, é o exercício de
poderio humano sobre a natureza. É o surgimento da razão que
se posiciona à frente como uma forma de dominar a vida e a
sociedade. Este momento é conceituado como o período da
cultura científica. Cultura esta que obteve um desenvolvimento
extraordinário e modificou todos os sentidos dos campos sociais,
alterando o mundo do saber, a economia, as relações sociais, as
políticas e, posteriormente, consolidou uma sociedade capitalista.
Era o surgimento da modernidade e a imagem do progresso
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Um conjunto decididamente heterogêneo que
engloba discursos, instituições, organizações
arquitetônicas, decisões regulamentares, leis,
medidas administrativas, enunciados
científicos, proposições filosóficas, morais,
filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são
os elementos do dispositivo. O dispositivo é a
rede que se pode tecer entre estes elementos
(FOUCAULT, 2000, p. 244).
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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dimensões que o definem. Por essa razão, partiremos da
concepção de corpo sob uma perspectiva pós-estruturalista que o
considera como uma rede de múltiplas variações e evoluções. É
sempre mais do que a “ciência determina que ele seja por
modelos”. O corpo é um permanente devir, indefinido, um fluxo
constante que não se deixa apreender na solidez das
classificações, que se mistura entre elementos e dimensões que ao
mesmo tempo se alteram e se encadeiam (SILVA; ZABOLI;
CORREIA, 2016, p. 6).
Foucault (1996) aponta para um corpo fragmentário,
basicamente em contingência, que pode ser feito, refeito e
desfeito. Sua proposta, segundo Rago (1998, p. 5), parte das
desconstruções das sínteses das unidades e das identidades ditas
naturais em busca da totalização das multiplicidades para
compreender como o sujeito se constitui ante a verdade instituída.
Isto é, o sujeito para Foucault que busca a verdade é um tipo de
sujeito construído discursivamente em dado momento histórico.
Nestas verdades estão presentes funções de relações de
saber4/poder, como um modo também de dominação.
São os efeitos das produções de saberes, como mecanismos
de dominação, que incitam a produção de discursos. O poder
nessa esfera produz corpos, onde vários dispositivos atuam. É a
partir das relações que se estabelecem entre o corpo que este é
continuamente produzido, não existindo a priori, mas sendo
construído. Por isso, é considerado dinamicamente como efeito
das determinações culturais, e atravessado por redes e linhas de
forças, inserido em um campo de complexas relações sociais,
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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destinada a permitir o exercício do biopoder6”, e além disso, do
silenciamento, da negação, da morte, tanto física quanto política
ou simbólica. E, portanto, está na estrutura da sociedade que
“normaliza e concebe como verdade padrões e regras baseadas
em princípios discriminatórios de raça”, com mecanismos
sistemáticos (GAUDIO, 2019, p. 215).
O racismo, como tecnologia de poder, pode ser
compreendido, por meio de Foucault (2000), ao elaborar a
categoria biopoder que opera na gestão política da vida.
Apresenta-se em fenômenos coletivos e se dirige aos
acontecimentos aleatórios e implanta mecanismos com funções
inclusive regulamentadoras. Portanto, é um dispositivo “essencial
do poder do Estado que classificou os sujeitos de acordo com as
características fenotípicas, além de definir uma linha que divide
os grupos superiores e inferiores” (GAUDIO, 2019, p. 216).
Sobre isso, podemos exemplificar a história de Sarah
Baartman, a Vênus Hotentote, “atração especial” que tinha o
corpo seminu exibido no Museu do homem de Paris próximo dos
cérebros de franceses como Renée Descartes e Pierre Broca, por
possuir quadris e nádegas que despertavam curiosidade e
interesse científico, e também por possuir genitália hipertrofiada
(HALL, 1997).
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Eu sou, Eu vou, Até o fim
Cantar”
Mulher do fim do mundo
(Romulo Fróes e Alice Coutinho).
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de mulheres brancas, que são legítimas, mas que não refletem as
lutas das mulheres negras. Como é possível pensar na luta por ser
mulher, se o racismo funda um abismo entre indivíduos do
próprio gênero? “Se, de um lado, promove a afirmação das
mulheres em geral como novos sujeitos políticos, de outro exige o
reconhecimento da diversidade e desigualdades existentes entre
essas mesmas mulheres” (CARNEIRO, 2003, p. 119).
Não se pretende ignorar os grandes avanços apresentados
pelos feminismos, principalmente nas chamadas “primeira onda,
segunda onda, e terceira onda”, mais sim tensionar o movimento
de ciência que ao longo dos anos contribuiu para construir e fixar
e invisibilizar por meio dos discursos o lugar da mulher negra e
da mulher.
A verdade é que a luta da mulher negra é anterior, com as
histórias de resistências, conforme apresenta Arraes (2014):
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legitimou como superior a explicação
epistemológica eurocêntrica conferindo ao
pensamento moderno ocidental a
exclusividade do que seria conhecimento
válido, estruturando-o como dominante e,
assim, inviabilizando outras experiências do
conhecimento.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
37
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SCHWARTZMAN, Simon. Ciência, Universidade e Ideologia: a
política do conhecimento. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
ESCREVIVÊNCIAS NA BIBLIOTECONOMIA:
AFROCENTRAR PARA EXISTIR
Elisângela Gomes
1 INTRODUÇÃO
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O método de escrita que busco é desafiante, visto que, para
acessar o ambiente acadêmico, nós mulheres negras, tivemos que
nos despir dos elementos que nos constituem. Enquanto negras e
negros precisam imitar o modelo eurocêntrico de produção do
conhecimento, acadêmicos(as) brancos(as) se apropriam dos
símbolos africanos e afrodiaspóricos, e têm suas pesquisas
legitimadas.
Por compreender a agência organizadora deste livro como
uma possibilidade de transgressão, para a escrita desse capítulo,
o conceito de “escrevivência” será empregado. Este neologismo
proposto pela escritora e pesquisadora Conceição Evaristo (1996),
compreende a escrita do vivido, para ela: “a nossa ‘escrevivência’
conta as nossas histórias a partir das nossas perspectivas, é uma
escrita que se dá colada à nossa vivência, seja particular ou
coletiva, justamente para acordar os da casa-grande” (EVARISTO,
2017. s.p.).
Construir uma narrativa pelo entendimento da
escrevivência amplia as possibilidades de ocupar o espaço
acadêmico. Trata-se de inscrever a nossa história e de nossas
ancestrais, transformando a universidade em um ambiente
humanizador das relações sociais e coletivas à medida que as
identidades são construídas afirmativamente.
Nessa perspectiva, este ensaio aborda algumas reflexões
sobre identidade, letramento e relações raciais a partir da vivência
discente e docente no curso de biblioteconomia.
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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O corpo chega primeiro que a nossa fala, e a escola é um dos
primeiros lugares que vivenciamos experiências coletivas nas
quais as diferenças sociais, culturais e raciais são salientadas em
tom de “brincadeira”, mas que, na verdade, revelam preconceito
e racismo. Quando estava no ensino fundamental, embora
estudasse em uma escola da periferia, os poucos colegas brancos
representavam uma superioridade racial. Lembro de inúmeros
apelidos atribuídos a mim e a um outro colega negro, em especial.
Na época, 1999, a Rede Globo estava transmitindo uma
novela chamada “Terra Nostra”, uma das personagens,
representada pela atriz Adriana Lessa, chamava-se Naná.
“Escrava Naná” era um dos apelidos, entre outros, atribuídos a
mim.
Na Cohab, também conhecida como Companhias de
Habitação Popular, onde eu morava, não tinha muitas
possibilidades de acesso à cultura e as condições financeiras
precárias da minha família não poderiam oferecer além de comida
e moradia. Com falta de opções educativas e culturais no bairro,
restavam as poucas ações propostas pela escola. Ainda no ensino
fundamental, concorri ao concurso e disputei a várias faixas: Miss
beleza, Miss simpatia, Miss inteligência, mas a mim e ao meu
colega negro, foram atribuídas as faixas Miss doidinha e Mister
doidinho.
Essas duas escrevivências estão também presentes na
narrativa literária. Destaco o conto “metamorfose” (1991), da
escritora Geni Guimarães, em que a personagem principal, de
mesmo nome da autora, relata uma situação de humilhação na
escola. Era quase 13 de maio, dia em que se comemora a abolição
da escravatura, a professora relata: “hoje comemoramos a
libertação dos escravos. Escravos eram negros que vinham da
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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baseada na cordialidade racial (MOREIRA,
2019, p. 95).
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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memória, ancestralidade, oralidade e ludicidade e afirmamos que
o saber passa pelo corpo. No corpo estão expressas as memórias
das experiências de vida, por isso, é necessário afirmarmos as
marcas desse corpo a partir dos vários pertencimentos. Capoeira,
candomblé, samba, as cozinhas de nossas avós, são os lugares que
nos possibilitam construir uma epistemologia negra que irá
modificar o espaço universitário, contemplando os saberes
trazidos por acadêmicas(os) negras(os).
48
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49
3 NARRATIVAS NEGRAS NA BIBLIOTECONOMIA
50
Mulheres Negras na Biblioteconomia
51
A base do conhecimento científico é comprovadamente
africana11. Entretanto, o ocidente, ao apoderar-se desse saber, pelo
apagamento e silenciamento, transformou-o em algo distante e
praticamente inacessível para africanos e seus descendentes.
Ainda estamos sendo assaltadas e violentadas com o
projeto, em curso, para uma supremacia branca, que comete o
epistemicídio (CARNEIRO, 2005), ou seja, assassina nosso
conhecimento, mas também mata nossos corpos.
Em 2007, quando ingressei na graduação, não me sentia
pertencente à universidade. Não compreendia como a estrutura
universitária funcionava, ouvia pelos corredores uma conversa
sobre iniciação científica, o tripé do ensino, pesquisa e extensão;
mas não compartilhava das minhas dúvidas com as(os) demais
colegas, pois não queria que soubessem da minha incapacidade
de compreensão, e também porque eu percebia que nós não
estávamos no mesmo “nível”.
Hoje é perceptível como o racismo estrutural operou e
opera, não só no meu processo de aprendizagem, mas no das
pessoas negras que acessam a universidade. A aprovação no
processo seletivo12 para o ingresso no ensino superior não é
garantia de permanência, pois a manutenção de pessoas negras
no espaço universitário exige outra dinâmica.
Produzir conhecimento científico demanda participação em
grupos de pesquisa, palestras no contraturno das aulas, leituras
11Para o aprofundamento dessa discussão ver: DIOP, Cheikn Anta. The African
origin of civilizacion: myth or reality. Westport: Lawrence Hill, 1974.
12 Importante destacar que os processos seletivos das universidades e os
52
Mulheres Negras na Biblioteconomia
53
Das poucas pessoas negras que ingressaram no mesmo ano
que eu, as que conseguiram concluir a graduação, a duras penas,
até mesmo na hora da tão esperada entrega de diploma, ouviram
na cerimônia de colação de grau: “povo que não tem virtude,
acaba por ser escravo13”.
Essa lógica perversa e institucionalizada do racismo,
contudo, não impediu que pessoas negras acessassem à
universidade. Nosso grito, após inúmeras tentativas de
silenciamento, ecoa. “Tudo que quando era preto era do demônio,
depois que virou branco e foi aceito eu vou chamar de blues: o
samba é blues, o rock é blues, o jazz é blues, o funk é blues, o soul
é blues, jesus é blues”. Nessa perspectiva trazida do rapper baiano
Baco Exu do Blues (2018), vamos descortinando os discursos
branco-referenciados e construindo novos caminhos.
54
Mulheres Negras na Biblioteconomia
55
eurocêntrico e único de conhecer, esses
sistemas acabam por transformar todo
conhecimento produzido por esses diferentes
grupos em saberes ora desqualificados como
aqueles que não se entende ora sujeitados aos
cânones da ciência (MIRANDA, 2009, p. 3).
56
Mulheres Negras na Biblioteconomia
57
com quem se fala e de quem se fala (GOMES,
2012, p. 105).
58
Mulheres Negras na Biblioteconomia
15Este conceito nos ensina a respeitar cada milímetro do corpo humano, que
deve estar presente em cada ação e em diálogo com outros corpos. As demandas
corporais devem ser consideradas. Afinal, o corpo atua, registra nele próprio a
memória de várias maneiras, seja através da dança, da brincadeira, do desenho,
da escrita, da fala. Das músicas as danças, com tudo o que elas anunciam e
denunciam. Os corpos dançantes revelam memórias coletivas (A COR DA
CULTURA, 2013, s.p.).
59
Lembro que pensei: “Isto tem a ver com poder.
Realmente sinto que tenho mais ‘controle’
quando estou atrás da escrivaninha do que
quando caminho na direção dos alunos, fico
em pé ao lado deles, às vezes até encosto
neles.” Reconhecer que somos corpos na sala
de aula foi importante para mim,
especialmente no esforço para quebrar a noção
do professor como uma mente onipotente,
onisciente (hooks, 2013, p. 185).
60
Mulheres Negras na Biblioteconomia
61
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
62
Mulheres Negras na Biblioteconomia
REFERÊNCIAS
63
GOMES, Elisângela. Afrocentricidade: discutindo as relações étnico-
raciais na biblioteca. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina,
Florianópolis, v. 21, n. 3, p. 738-752, ago./nov., 2016.
GOMES, Elisângela; WENCZENOVICZ, Thaís Janaina. Eu transformo:
bibliotecário como formador de leitores em literatura negro-brasileira.
In: ENCUENTRO DE LAS CIENCIAS HUMANAS Y TECNOLÓGICAS
PARA LA INTEGRACIÓN DE LA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE
INTERNACIONAL DEL CONOCIMIENTO: DIÁLOGOS EN
NUESTRA AMÉRICA, 3., Goiânia, 7 a 9 de maio de 2015.. Anais...
Goiânia: UFG, 2015. p. 2333-2349.
GOMES, Elisângela. Falas insubmissas: memória e comunicação na
obra da escritora Conceição Evaristo. 2019. 107 f. Dissertação (Mestrado
em Comunicação) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2019.
GOMES, Nilma Lino. Relações étnico-raciais, educação e
descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, v. 12, n. 1, p.
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GUIMARÃES, Geni. A cor da ternura. São Paulo: FTD, 1991.
HOOKS, bell. Ensinando a transgredir: A educação como prática da
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KASHINDI, Jean-Bosco Kakozi. Filosofia africana: a luta pela razão e
uma cosmovisão para proteger todas as formas de vida. Geledés, São
Paulo, maio 2018. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/filosofia
-africana-luta-pela-razao-e-uma-cosmovisao-para-proteger-todas-as-
formas-de-vida/>. Acesso em: 2 ago. 2019.
LOPES, Nei. A Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São
Paulo: Selo negro, 2004.
64
Mulheres Negras na Biblioteconomia
65
66
Mulheres Negras na Biblioteconomia
1 INTRODUÇÃO
67
protagonistas de suas escritas, ressaltando aqui as mulheres
negras do interior do Cariri cearense.
Sabendo das muitas dificuldades em trabalhar sobre as
questões das relações raciais no ambiente educacional e
acadêmico devido ao pensamento colonizador instaurado no
Brasil e que perpassa toda a estrutura brasileira, os movimentos
negros há tempos lutam para a inserção da temática como
disciplina obrigatória nos mais variados níveis de ensino. A Lei nº
10.639/2003 que obriga o ensino de história e cultura africana e
afro-brasileira na educação regular em escolas públicas e privadas
foi uma conquista que trouxe consigo várias discussões,
produções e reflexões em torno do amplo debate que a temática
em tela proporciona.
Para uma melhor exposição, foi abordada, em primeiro
lugar, questões sobre silenciamento e invisibilidade da escrita, da
fala e do protagonismo negro feminino como um projeto político
colonial, sua continuidade e consequências; em seguida, é
apresentado um breve relato sobre mulheres negras do Cariri
cearense; após, são apresentadas as monografias escritas por
mulheres negras do curso de Biblioteconomia da UFC, campus
Cariri e Universidade Federal do Cariri (UFCA); e por fim, as
considerações finais.
68
Mulheres Negras na Biblioteconomia
69
fala própria, é a criança que se fala pela
terceira pessoa, porque falada pelos adultos),
que neste trabalho assumimos nossa própria
fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa.
(GONZÁLEZ, 1984, p. 225).
70
Mulheres Negras na Biblioteconomia
71
Meus silêncios não tinham me protegido.
Tampouco protegerá a vocês. Mas cada
palavra que tinha dito, cada tentativa que
tinha feito de falar as verdades que ainda
persigo, me aproximou de outras mulheres, e
juntas examinamos as palavras adequadas
para o mundo em que acreditamos, nos
sobrepondo a nossas diferenças. E foi a
preocupação e o cuidado de todas essas
mulheres que me deu forças e me permitiu
analisar a essência de minha vida.
72
Mulheres Negras na Biblioteconomia
73
população negra (escravizada ou liberta) deste
período que ultrapassa a visão dicotomizada
entre o conformismo e a resistência, pois
demonstra “uma experiência construída
historicamente pela etnia negra” (FUNES)
estabelecida através de sua sociabilidade,
engajamento e luta inserida em seu cotidiano.
(ALVES, 2014, s.p.).
74
Mulheres Negras na Biblioteconomia
75
Preservação da memória: as falas Marilucia Antonia de
das mulheres negras caririenses Sousa Joselina da 2014
acima de setenta anos Silva
A biblioteca universitária como
Dávila Maria Feitosa
auxiliar na implementação da Lei
da Silva Joselina da 2013
10.639/03 nos cursos de História e
Silva
Pedagogia
Análise da Lei 10.639/03 nas Ana Cláudia Emídio
bibliotecas das escolas estaduais de da Silva Joselina da 2012
Juazeiro do Norte – CE Silva
História e cultura afro-brasileira: Nicácia Lina do
um olhar sobre o acervo das Carmo 2011
bibliotecas públicas do CRAJUBAR Joselina da Silva
A produção científica sobre os (as)
Erinaldo Dias Valério
negros(as) nos ENANCIBs: um 2011
Joselina da Silva
olhar cientométrico
Fonte: http://www.brapci.inf.br/index.php/res/v/71526
76
Mulheres Negras na Biblioteconomia
77
que contemplem a diversidade informacional e racial para e de
seus usuários.
Por fim, a autora constata que as contações de estórias com
a temática étnico-racial, além de incentivar e levar a criança e
jovem ao hábito prazeroso da leitura, deve incentivar, despertar o
respeito às diferenças e elevar a autoestima das crianças e jovens
negras e negros.
78
Mulheres Negras na Biblioteconomia
79
Informação, e para a recuperação de uma memória recente em
vistas da temporalidade, porém, invisibilizada por sofrer com as
consequências do silenciamento de gênero e racial.
O objeto de estudo foi o Jornal da Comunidade Negra do
Estado de São Paulo que atuava como veículo informacional e de
comunicação para a comunidade, para os movimentos sociais e
entre o Conselho da comunidade negra. No entanto, o foco é para
a escrita das mulheres negras integrantes do Conselho e para
quais grupos sociais eram direcionados tais produções.
Foi realizada análise de conteúdo de quatro artigos que
versavam sobre aspectos específicos das mulheres negras, a saber:
“A mulher negra” e “Mulheres reivindicam o direito à saúde” de
Vilma Lúcia de Oliveira, “O congresso em que a trabalhadora
negra falou” de Rosângela de Paula e “A sexualidade da mulher
negra” de Raimunda Nilma Bentes. É perceptível a importância
documental e social que tem essas obras. Ou seja, a necessidade
de preservação desses jornais por tratarem de escritos
importantes de um determinado período histórico que conta
aspectos específicos e do conteúdo de valor simbólico e
transformador ao tratar das especificidades das mulheres negras.
80
Mulheres Negras na Biblioteconomia
81
instituição. Para uma explanação detalhada, foi abordada a
chegada das bibliotecas no Brasil, que se deu ainda no período
colonial trazidas pelos padres jesuítas.
Em seguida, discute-se sobre as bibliotecas universitárias
resultantes da expansão de universidades no país, tendo como
uma de suas principais atribuições disponibilizar informações
que contribuam para o desenvolvimento do conhecimento
científico e tecnológico, direcionadas como suportes e difusoras
dos conteúdos discutidos em sala de aula sobre os mais variados
temas e que, por fim, atendam às necessidades informacionais dos
cursos de graduação e pós-graduação que oferecem as
universidades.
Discute também a implementação da Lei nº 10.639/2003 nos
cursos de graduação, considerando que a qualificação de
professoras e professores deve vir na formação, ou seja, ainda na
graduação. Por fim, discorre sobre a responsabilidade social da
biblioteca, sabendo que sua atuação vai além do processo de
emprestar, renovar e devolver livros, mas sim de atender às
necessidades informacionais do corpo universitário que acontece
pelas atividades descritas acima.
Finalmente, expõe as vantagens de se desenvolver políticas
de desenvolvimento de acervo. Dessa forma, é possível atender a
comunidade acadêmica de forma eficiente para assim os discentes
obterem uma formação amparada por fontes de informações que
atendam os conteúdos das disciplinas.
82
Mulheres Negras na Biblioteconomia
83
são realizadas, muitas vezes, sem aprofundamento com o que é a
história e cultura africana e afro-brasileira.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
84
Mulheres Negras na Biblioteconomia
REFERÊNCIAS
85
Monografia (Graduação em Biblioteconomia) – Universidade Federal
do Cariri, Juazeiro do Norte, 2014.
SILVA, D. M. F. A biblioteca universitária como auxiliar na
implementação da Lei 10.639/03 nos cursos de História e Pedagogia.
79 f. Monografia (Graduação em Biblioteconomia) – Universidade
Federal do Ceará, campus Cariri, Juazeiro do Norte, 2013.
SILVA, M. J. Etnografia do bullying racial na escola: contribuições da
Biblioteconomia e Ciência da Informação. 59 f. Monografia (Graduação
em Biblioteconomia) – Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do
Norte, 2014.
SOUSA, M. A. Preservação da memória: a fala das mulheres negras
acima de 70 anos. 2014. 53 f. Monografia (Graduação em
Biblioteconomia) – Universidade Federal do Ceará, campus Cariri,
Juazeiro do Norte, 2014.
VALÉRIO, E. D.; SILVA, D. M. F. Discutindo as relações raciais: os
trabalhos de conclusão de curso em biblioteconomia da universidade
federal do Cariri – UFCA. Revista Brasileira de Educação em Ciência
da Informação, v. 4, p. 132-145, 2017.
86
Mulheres Negras na Biblioteconomia
1 INTRODUÇÃO
87
Graduação em Ciência da Informação, do Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) convênio com a
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Neste sentido, resolvi produzir um estudo que traga para a
visibilidade esta bibliotecária e educadora afro-americana, bem
como relatar sua contribuição para a Biblioteconomia Negra
Americana. Para a composição desta pesquisa, utilizei-me de
informações disponibilizadas no site da Universidade de
Michigan, no site da American Library Association (ALA), no site da
Biblioteca Pública de Detroit17, assim como dos volumes
publicados do Handbook of BlackLibrarianship (1977, 2000) e da
revista Ebony, volume 27, número 1, de novembro de 1971, na
qual encontra-se uma reportagem sobre a bibliotecária aqui
evidenciada.
88
Mulheres Negras na Biblioteconomia
89
Figura 1 - Clara Stanton Jones.
90
Mulheres Negras na Biblioteconomia
91
'mais bem qualificados' haviam sido
preteridos em favor dela (o que significava
que eram brancos). A sra. Jones sabia que
nunca venceria esses racistas; ela os ignorou e
concentrou-se nos profissionais mais jovens,
aqueles que vieram a Detroit com novas ideias
e sem o viés racial que atormentava a sra. Jones
e outros por tantos anos antes e durante o
movimento pelos direitos civis. Ela e outras
pessoas tiveram que lutar simplesmente para
serem tratadas como senhor ou a senhorita ou
a senhora como eram tratados outros
profissionais, em vez do primeiro nome.
(KNIFFEL apud AMERICAN LIBRARIES,
2012b, s.p., tradução minha).
92
Mulheres Negras na Biblioteconomia
22Traduzido de I very strongly believe that libraries are at the heart of a civilization.
Clara Stanton Jones (1970).
93
2012). Conforme a sua criadora descreveu, o TIP visou atender à
necessidade de “orientação através do labirinto de agências
sociais, legais, governamentais e outras, independentemente da
classe socioeconômica” (JONES apud JAMES, 2018, s.p., tradução
minha). Atualmente, o TIP continua em funcionamento na
Biblioteca Pública de Detroit, a qual afirma que:
94
Mulheres Negras na Biblioteconomia
95
província profissional” (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION,
1976, s.p., tradução nossa); c) “Resolve-se, portanto, que a ALA
comprometa ativamente seu prestígio e recursos a um programa
de ação coordenado que combaterá o racismo e o sexismo na
profissão de bibliotecário e no serviço de bibliotecas [...]”
(AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1976, s.p., tradução
minha).
Dessa forma, institui etapas buscando conscientizar sobre o
preconceito de raça e contra mulheres para serem executadas pela
ALA, tais como: a) pesquisar em cursos de Biblioteconomia sobre
a existência de treinamentos para conscientização do racismo e
sexismo dentro dos currículos e, caso não existir, realizar a
inserção de tais treinamentos nos referidos cursos; b) verificar se
a seção de administração realizará o desenvolvimento de
programas e treinamentos sobre conscientização de racismo e
sexismo junto ao pessoal contratado pela biblioteca; c) solicitar às
associações de bibliotecas e divisão de serviços para
desenvolverem programas para aumentar a conscientização dos
usuários das bibliotecas para os problemas do racismo e do
sexismo, entre outras ações (AMERICAN LIBRARY
ASSOCIATION, 1976). No entanto, durante a Reunião de Inverno
da ALA do ano de 1977 foi solicitado que fosse rescindida a
Resolução, pois haviam:
96
Mulheres Negras na Biblioteconomia
24 A Black Caucus of the American Library Association (BCALA) foi criada em 1970
por E. J. Josey para atender às necessidades dos bibliotecários negros e para “agir
ao invés de reagir” (JOSEY, 1994 apud RAYMAN, 2015). A Missão da BCALA é
servir “[...] como uma defensora do desenvolvimento, promoção e melhoria dos
serviços e recursos da biblioteca para a comunidade afro-americana da nação; e
fornece liderança para o recrutamento e desenvolvimento profissional de
bibliotecários afro-americanos” (BLACK CAUCUS..., 2018, s. p., tradução
minha).
25 Tradução de “Award for Distinguished Service to librarianship”.
97
havia falecido de forma repentina. Conforme Cara Bertram (2016,
s.p., tradução minha):
98
Mulheres Negras na Biblioteconomia
99
(1962) (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1976). Dessa
forma, o objetivo da referida Política foi garantir “que as
bibliotecas-membro e as Escolas de Biblioteconomia estejam de
fato atraindo o maior mercado de recursos humanos para fins de
pessoal e que uma revisão crítica esteja em andamento”
(AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1976, p. 1). A Política
propõe ainda, concentrar esforços para atrair feiras de emprego e
recrutamento de pessoas pertencentes às minorias sociais. Assim,
aconteceriam entrevistas em instituições educacionais
predominantemente minoritárias, publicação de avisos de
emprego em mídias minoritárias ou femininas, entre outras ações
(AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1976).
Como presidenta da ALA, Jones concedeu a primeira bolsa
de estudos destinada aos estudantes de populações minoritárias,
intitulada Louise Giles Minority Scholarship. No ano de 1978, Jones
se aposentou da Biblioteca Pública de Detroit, mesmo ano em que
publicou o livro por ela editado intitulado Serviço de Referência e
Informação da Biblioteca Pública32. Além dele, escreveu Biblioteca
Pública Urbana: provando utilidade33 (1976), Branches: uma
presença visível34 (1977), A presidenta da ALA vê a Resolução
Racismo/Sexismo como libertadora, não repressiva 35 (1977) e A
Biblioteca e o futuro de Detroit36 (1977).
No mesmo ano, Jones foi nomeada pelo presidente Jimmy
Carter para integrar a Comissão Nacional de Bibliotecas e Ciência
100
Mulheres Negras na Biblioteconomia
101
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
102
Mulheres Negras na Biblioteconomia
103
JOSEY, Elonnie Junius; DELOACH, Marva L. (Ed.). Handbook of
Black librarianship. 2. Ed. Lanham, Maryland and London: The
Scarecrow Press Inc., 2000.
JONES, Clara Stanton. Liberating, Not Repressive: ALA President
Views the Racism/Sexism Resolution. American Libraries, v. 8, n. 5, p.
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PICKENS, Jennifer. Guide to the Black Women Stirring the Waters
Collection. African American Museum & Library at Oakland, 28 maio
2014.
RAYMAN, Denise. Action, Not Reaction: Integrating the Library
Profession. American Library Association Archives, 2015. Disponível
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SCHWARTZ, Meredith. Obituary: Clara Stanton Jones, Detroit Director
and ALA President. Library Journal, 03 October 2012. Disponível em:
<https://bit.ly/2m880np>. Acesso em: 14 mar. 2018.
TO BE BLACK and a Librarian: Talking with E. J. Josey. American
Libraries, v. 31, n. 1, January, 2000.
104
Mulheres Negras na Biblioteconomia
1 INTRODUÇÃO
105
a pautar a importância de participarem da elaboração e do
conteúdo da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, com o objetivo de desconstruir a
ideologia da democracia racial reeditada, até então, na orientação
de leis e diretrizes das políticas públicas (RODRIGUES, 2005).
Atualmente, esses grupos são considerados porta-vozes de
negros/as – pretos/as e pardos/as – que obtêm a valorização da
identidade de membros socialmente marginalizados, que
“construíam suas significações e manifestavam seu
pertencimento” (FERNANDES, 2009).
Essas estratégias resultaram na III Conferência Mundial
Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
Conexa realizada na cidade de Durban, África do Sul, entre os
dias 31 de agosto e 8 de setembro de 2001. A partir daí o Brasil
assumiu um posicionamento de criar políticas públicas para
combater o preconceito, discriminação e racismo e iniciativas para
implementação da Lei nº 10.639/2003 que obriga o ensino da
história e cultura afro-brasileira no currículo oficial da rede de
ensino.
Nesse sentido, a problemática deste trabalho tem como foco
a Organização de Mulheres Negras da Paraíba – Bamidelê44, de
característica não governamental, e parceira do Movimento
Negro Organizado da Paraíba – MNOPB e de outras entidades45.
Zumbi etc); grupos artísticos (Banda YlêOdara, Bateria Show da Escola de Samba
106
Mulheres Negras na Biblioteconomia
2 PERCURSO METODOLÓGICO
107
valores e atitudes, correspondendo a um espaço mais
aprofundado das relações, processos e fenômenos que não podem
ser reduzidos à operacionalização de variáveis (AQUINO, 2009).
Os autores Alves e Aquino (2012), ao fazer um estudo sobre
a pesquisa qualitativa, suas origens, desenvolvimentos e
utilizações nas dissertações do Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação – PPGCI da UFPB, de 2008 a 2012, alertam
que:
108
Mulheres Negras na Biblioteconomia
109
de situação pela qual os(as) negros(as) passavam, submetendo-se
ao empregador de maneira a repetir a relação existente entre
senhor feudal e escravo, foram surgindo as primeiras aspirações
de organizações no meio dessa população.
Fernandes (1978) revela as mobilizações de grupos negros
durante a primeira metade do século XX em São Paulo,
organizados em prol da “tomada da consciência, de crítica e de
repulsa à situação do negro”. Essas associações existiram no
período compreendido entre 1927 e 1945, porém, muitas tiveram
curta duração; foram poucas as que deram continuidade às suas
atividades.
Contudo, no final da década de 1970, a manifestação do
povo negro fez eclodir uma forte organização: o Movimento
Negro Unificado (MNU), fundado em 1978, em meio ao contexto
da Ditadura Militar que estava em declínio no país. O MNU foi o
resultado da efusão dos ânimos diante do assassinato de Robson
Silveira da Luz, trabalhador negro que foi agredido até a morte
por policiais, em São Paulo. O fato gerou fortes protestos dos
movimentos negros e naquele momento iniciava uma articulação
ampla entre si (XAVIER, 2010).
O MNU foi quem lutou incessantemente pela implantação
da lei contra discriminação racial no Brasil vindo a ser
promulgada em 5 de janeiro de 1989, uma grande conquista para
os(as) negros(as) do Brasil. Essa lei passou a considerar qualquer
ato de discriminação contra homens, mulheres, crianças,
adolescentes ou jovens negros/as como um ato criminoso.
Daí por diante, o MNU impulsionou o surgimento de outras
organizações pelo Brasil. Na Paraíba, em 1979, surgiu o
Movimento Negro de João Pessoa (MNJP) que veio a se consolidar
no final dos anos 1990, daí por diante denominado Movimento
110
Mulheres Negras na Biblioteconomia
111
atualmente, constituem um universo próprio no cenário das
organizações populares, com distintas formas de expressões e
atuações. Isso não quer dizer que os movimentos sociais se
esgotaram, pelo contrário, estes se reestruturaram e continuam
atuando frente aos problemas sociais, alguns mais fortes do que
nunca.
As ONGs e os movimentos sociais para além dos seus
conceitos devem ser analisados à luz das ações que desenvolvem
na sociedade, pois são expressões do seu movimento dialético e
integram a categoria sociedade civil, onde ocorrem as relações
entre os organismos de participação política. Dessa maneira, seus
conceitos mudam de acordo com o movimento contraditório da
sociedade (FROZ, 2005).
Ao tratar do papel das ONGs na atualidade, a autora Sônia
Beatriz dos Santos (2009), em seu artigo “As ONGs de mulheres
negras no Brasil”, coloca que elas continuam tendo papel
fundamental no debate e na negociação entre Estado e sociedade
civil – em níveis local, regional, nacional e global,
desenvolvimento de estratégias de confrontamento das
desigualdades raciais, de gênero, sociais, e de orientação sexual,
bem como da violência, dos entraves nas áreas de saúde,
educação, emprego, dentre outros (SANTOS, 2009, p. 280).
Atualmente, ONGs e movimentos sociais vêm assumindo
funções relevantes, pois podem ser mecanismos importantes para
que os sujeitos sociais possam se expressar e lutar por melhores
condições de vida. Portanto, ambos são formas de ações coletivas,
dotados de contradições, mas fundamentais no atual momento
político brasileiro.
112
Mulheres Negras na Biblioteconomia
113
Latino-Americana e Caribenha, comemorado com eventos
especiais pelas organizações de mulheres negras em todo o
mundo. No Brasil, um importante passo para o segmento foi a
criação da Articulação de Mulheres Negras do Brasil (AMNB), no
ano 2000, rede composta por ONGs de todo o país, que fortaleceu
movimentos por todo o território brasileiro e influenciou novas
organizações.
A AMNB é atualmente constituída de 23 organizações
provenientes das diferentes regiões do Brasil. Criada com o
objetivo inicial de permitir o protagonismo das mulheres negras
durante o processo de realização da III Conferência Mundial
contra o Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas (África do
Sul, 2002). Após a Conferência, a AMNB passa a se dedicar ao
monitoramento das recomendações e do plano de ação e a
formulação de estratégias de desenvolvimento inclusivo para o
Brasil, centradas na proteção e na promoção dos direitos; na
geração de oportunidades no mundo do trabalho na cidade e no
campo; na igualdade de tratamento na vida e no respeito à
diversidade humana, sem racismo, sexismo, lesbofobia ou
classismo, seja para o Brasil ou para a América Latina (AMNB,
2013).
As Organizações integrantes são: ACMUN – Associação
Cultural de Mulheres Negras – RS, Bamidelê – Organização de
Mulheres Negras da Paraíba – PB, CACES – RJ, Casa da Mulher
Catarina – SC, Casa Laudelina de Campos Melo – SP, CEDENPA
– Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – PA, Coletivo de
Mulheres Negras Esperança Garcia – PI, CONAQ – Coordenação
Nacional das Comunidades Quilombolas – MG, Criola – RJ,
Eleekó – RJ, Grupo de Mulheres Felipa de Sousa – BA, Geledés –
Instituto da Mulher Negra – SP, Grupo de Mulheres Negras Mãe
114
Mulheres Negras na Biblioteconomia
115
pelo de mulheres do país, “enegrecendo” as reivindicações das
mulheres e promovendo a feminização também das
reivindicações do movimento negro.
116
Mulheres Negras na Biblioteconomia
117
2001, da Bamidelê – Grupo de Mulheres Negras da Paraíba.
Assim, foi firmada uma organização com identidade própria, com
o principal objetivo de desenvolver trabalhos com mulheres
negras, na zona rural e na urbana, com o intuito de conscientizá-
las sobre a discriminação racial e trabalhar com jovens negras por
meio de artes, visando trazer os valores da cultura e criar um
trabalho de educação com crianças e adolescentes.
Portanto, a Bamidelê surge com a finalidade de dar
visibilidade às demandas específicas das mulheres negras na
Paraíba e garantir a participação delas na vida política do estado
da Paraíba. Vale salientar que a organização se insere em um
contexto histórico-social, nos âmbitos internacional e nacional,
que foi a declaração pela ONU, de 2001, como o Ano Internacional
de Mobilização contra o Racismo.
Nesse sentido, houve a realização, no mesmo ano, da III
Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a
Xenofobia e as Intolerâncias Correlatas, em Durban, na África do
Sul. Em síntese, na Conferência de Durban, foram elaborados dois
documentos: a Declaração e o Programa de Ação, compostos de
propostas para efetivar o fim do racismo e da discriminação racial.
Tratando da III Conferência, a ex-ministra da SEPPIR, Matilde
Ribeiro (2004, p. 102), destaca que ela fortaleceu a construção de
propostas para políticas públicas para a população negra e o
comprometimento dos países com a “erradicação do racismo e
[com a missão de] estimular o desenvolvimento político,
econômico e social da população negra, particularmente das
mulheres.”
A Bamidelê iniciou suas atividades, efetivamente, no ano de
2001, com dois grupos de mulheres e adolescentes negras nos
municípios de Santa Rita, nas comunidades de Marcos Moura e
118
Mulheres Negras na Biblioteconomia
119
adolescentes negras mencionados, onde temas referentes à
história e à cultura afro-brasileira foram tratados com o intuito de
despertar a reflexão desses sujeitos sociais para os elementos que
constituem as identidades raciais possíveis de serem construídas.
No ano de 2003, a Bamidelê deu continuidade às atividades
do projeto “Redes de solidariedade”, mas foram acrescidas outras
ações como a capacitação de lideranças dos grupos de mulheres e
jovens negras para que reivindicassem políticas públicas e
intervissem no processo de aplicação dessas políticas. Além disso,
iniciou-se um trabalho com parteiras tradicionais da comunidade
quilombola Caiana dos Crioulos (BAMIDELÊ, 2003).
No ano de 2004, iniciaram-se as atividades do projeto
“Mulher negra, saúde reprodutiva e direitos sexuais: construindo
caminhos para a felicidade de viver”, que objetivou dar
continuidade às ações do projeto anterior, principalmente aos
trabalhos com os grupos de mulheres e adolescentes de Caiana
dos Crioulos, Marcos Moura e Tibiri II. Os eixos do projeto foram
as Políticas Públicas e o Controle Social no campo da saúde.
Dentro das ações, destacamos que, no processo de reflexão e
organização das atividades da Semana da Consciência Negra
pelas adolescentes, foi abordada, nas oficinas, a história de
personagens negros e negras de destaque em vários momentos
históricos e trabalhada a identificação das adolescentes com
personagens com participação na história brasileira (BAMIDELÊ,
2005).
Nesse projeto, foram enfocadas as temáticas ligadas à saúde
pública e ao controle social nessa área. Assim, as mulheres e até
mesmo as jovens negras debateram e agiram no sentido de exigir
melhoria no atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), e
entender seu funcionamento, para demandar políticas públicas
120
Mulheres Negras na Biblioteconomia
121
no Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente – FDCA; A
Bamidelê na Afirmação dos Direitos Humanos da Mulher e da
Mulher Negra; A Bamidelê no Fórum ONG/AIDS; O Dia 25 de
Julho – data alusiva às mulheres negras da América Latina e do
Caribe na sua IX edição que aconteceu com o tema “As mulheres
negras reinventam o mundo”; o Seminário Saúde Reprodutiva
das Mulheres Negras na Grande João Pessoa; A Bamidelê na Rede
de Jovens do Nordeste entre outros (BAMIDELÊ, 2008).
Ainda em 2007, foi desenvolvido o projeto “Adolescentes e
Jovens Negras Multiplicando Informações Sobre Saúde Sexual e
Reprodutiva”. Este projeto apresentava como objetivo geral
capacitar 20 adolescentes e jovens negras para serem
multiplicadoras de informações em três comunidades periféricas
de João Pessoa. O desdobramento do objetivo geral em objetivos
específicos compreendeu fortalecer o protagonismo juvenil;
trabalhar o conceito de saúde e direitos sexuais e reprodutivos;
promover a elevação da autoestima e da identidade negra, além
de sensibilizar sobre a importância do conhecimento e do cuidado
com o corpo, a prevenção das DSTs/HIV/AIDS e a gravidez não
planejada (BAMIDELÊ, 2008). Este projeto foi apoiado pelo Fundo
Municipal de Adolescentes – FUNDEC por três meses e pelo
Fundo Global para Mulheres por seis meses (BAMIDELÊ, 2008).
O projeto de pesquisa “Saúde reprodutiva de mulheres
negras: vulnerabilidade, percepções de saúde e tratamento às
gestantes da Grande João Pessoa”, de natureza comportamental
desenvolvido em parceria com a Universidade Federal da Paraíba
– Departamento de Biologia Molecular tinha como objetivos:
obter o perfil étnico racial das gestantes; levantar as principais
dificuldades apresentadas por elas para terem acesso ao
atendimento; descobrir o itinerário realizado pelas mulheres entre
122
Mulheres Negras na Biblioteconomia
123
Os projetos desenvolvidos para sua construção e afirmação
passam pelo reconhecimento e pela valorização de sua história e
das referências culturais que lhes pertencem. Acreditamos que
essa construção identitária é fundamental para combater as
desigualdades sociais/raciais e o racismo e o sexismo que atingem
as mulheres negras, principalmente o empoderamento delas, para
que possam exercer plenamente sua cidadania. Assim, para que
atuem como protagonistas é sobremaneira relevante que suas
identidades sejam afirmadas, sobretudo, como mulheres negras.
124
Mulheres Negras na Biblioteconomia
125
Figura 1 - Fontes formais utilizadas pela Bamidelê.
126
Mulheres Negras na Biblioteconomia
127
dinamismo no design característico da Internet. Vejamos a Figura
3.
128
Mulheres Negras na Biblioteconomia
129
Figura 4 - Continuação...
130
Mulheres Negras na Biblioteconomia
131
Figura 5 - Imagens dos vídeos promocionais da campanha
“Moren@ não eu sou negr@”47.
132
Mulheres Negras na Biblioteconomia
133
Figura 6 - Material arquivado na Bamidelê.
134
Mulheres Negras na Biblioteconomia
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
135
disseminação e democratização da informação étnico-racial pela
Bamidelê enquanto processos informacionais são fundamentais a
fim de atingir os objetivos da instituição e de sobremaneira
incentivar a promoção de uma informação étnico-racial aos vários
setores e públicos da sociedade em geral, desde as fontes de
informação mais tradicionais até as mais tecnológicas e
contemporâneas. Ao utilizar essa diversidade de fontes, a ONG
possibilita e potencializa o acesso a um público bem mais diverso
e amplo, minimizando as barreiras, sejam elas de ordem
geográfica, educacional, política, econômica ou linguística.
A utilização da web como campo de luta pela entidade, na
qual figura uma de suas principais fontes (o Facebook), tornou-se
um espaço não apenas de disseminação de informações, mas
compartilhamento, troca e muito feedback, pois também foi
percebido que nem sempre os canais responsáveis por esse
serviço chegam até esse grupo, desfavorecido socialmente. Nesse
sentido, essas ferramentas facilitam o acesso a essas fontes,
colaborando para o fortalecimento e permanência do grupo.
Os resultados também mostram que todas as ações da
Bamidelê são voltadas para as especificidades e particularidades
da mulher negra, mesmo até quando são convidadas a se
pronunciarem sobre questões mais gerais como: racismo, saúde,
cotas, trabalho e outros, exercendo, assim, os princípios da
democratização, especialmente em prol da valoração,
fortalecimento e construção de uma identidade negra feminina
positiva, mostrando o respeito à cultura local, ao papel que essas
mulheres ocupam/desempenham e combatendo as diferenças e
injustiças sociais.
Também identificamos a Bamidelê enquanto um lugar de
memória que serve como fonte de informação para mulheres e
136
Mulheres Negras na Biblioteconomia
137
REFERÊNCIAS
138
Mulheres Negras na Biblioteconomia
139
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Luís: PPGPP/UFMA, 2005.
140
Mulheres Negras na Biblioteconomia
141
142
Mulheres Negras na Biblioteconomia
1 INTRODUÇÃO
143
colonizadores portugueses: a Biblioteca Real. Ela incorporou em
seu acervo cerca de 60 mil livros trazidos de Portugal. Em
decorrência disso, as livrarias brasileiras que, em 1808, eram duas
passam a crescer significativamente para 15 em 1818. Logo, em 10
anos, houve um crescimento de 750% da quantidade de livrarias.
No século XIX é a Imprensa Régia que detém o monopólio
da edição (HALLEWELL, 1985). Esse domínio comercial, que é
livreiro e/ou editorial, não se limita a esse período histórico.
Quando consideramos a autoria das obras produzidas,
publicadas e amplamente divulgadas no século XXI, observamos
que as personagens, as ambientações e os escritores ainda
possuem uma etnia, um gênero e uma classe específicos. As
manchas deixadas pelos europeus são atemporais na
configuração da produção literária e sua comercialização. Surge,
então, uma outra questão a partir dessa afirmação: não são os
donos das maiores livrarias e editoras brasileiras, desde a chegada
dos primeiros livros em terras brasílicas, figuras masculinas e
brancas? Não há ainda um monopólio e uma censura prévia
vigente?
Esse capítulo tem como objetivo geral: ressaltar a
importância de livrarias especializadas em autoria negra
feminina. Os objetivos específicos são: a) identificar a ausência de
trabalhos indexados dentro da Biblioteconomia e da Ciência da
Informação (BCI) brasileira nessa temática; b) analisar como a
criação de livrarias especializadas em autoria negra tem potencial
para alterar esse paradigma; e c) propor um novo campo de
trabalho/oportunidade para atuação do profissional de
informação da BCI tendo como base o trabalho pioneiro
desenvolvido por Ketty Valêncio.
144
Mulheres Negras na Biblioteconomia
145
escravatura e a construção do mito da democracia racial. Ainda
sobre o que tange a memória e a escrita, Sousa (2019) afirma que,
se o texto literário é o local de construção da memória, ele é
também o local de partida para luta pela igualdade, sendo o uso
da “escrita literária como via de reconstrução de suas histórias,
suas representações sociais e culturais”.
Retomando sobre o aspecto da história oficial, a visão de
subalternidade do negro amplamente difundida pela ciência e
pela literatura, tem o poder de ser contestada. Ana Flávia
Guimarães Pinto, historiadora negra, com a obra “Escritos de
liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil
oitocentista” (2018), contrapôs o estereótipo de sujeição de
homens negros apagados da luta abolicionista no Brasil do século
XIX, evidenciando através do destaque de seus escritos, as
articulações diretas e indiretas vivenciadas por homens negros,
livres, letrados e atuantes no cenário político-cultural das cidades
de São Paulo e do Rio de Janeiro. Essas reconstruções da história
oficial utilizam como meio o empoderamento para se apoderar e
retomar a história segundo uma perspectiva preta e têm como
instrumentos a escrita e sua respectiva literatura, pesquisa
científica e as publicações como consequências desse ciclo.
Em conformidade com as pontuações das autoras citadas
anteriormente, raciocina-se que, na medida que inferiorizam a
intelectualidade do povo negro, validam uma superioridade
sobre suas produções. O “desaparecimento” de obras raras de
autoria negra como “Úrsula” de Maria Firmina dos Reis, a
primeira romancista brasileira feminina no século XIX, não é
aleatório. Poucos escritores negros têm obras raras e valiosas nos
acervos das grandes bibliotecas brasileiras. Como discorre Sousa
(2019), Esperança Garcia e Maria Firmina são exemplos de
146
Mulheres Negras na Biblioteconomia
48O termo foi usado pela antropóloga Marimba Ani para definir o povo branco.
Yurugu, pois sua cultura é baseada na individualidade, enquanto a unidade
cultural africana tem base na complementaridade e no senso de comunidade.
ANI, Marimba. Yurugu: an afrikan-centered critique of european cultural
thought and behavior. Trenton: Africa World Press, 1994.
147
de obras com características específicas. Sobre isso, Gomes (2019,
p. 9) discorre:
148
Mulheres Negras na Biblioteconomia
149
do Quilombhoje, de São Paulo, e sua primeira publicação
individual acontece apenas em 1993. Em entrevista ao Correio
Braziliense, a escritora foi questionada se o mercado literário
sofria com racismo. Ela respondeu positivamente, salientando
que tipo de produção cultural se espera das mulheres negras e que
a “literatura, até hoje, está na mão de homens e homens brancos”.
Sintonizando com a fala da escritora, Dalcastagnè (2011) realizou
uma pesquisa onde analisou a personagem do romance brasileiro
contemporâneo entre o período de 1965 e 2014 indicando que 70%
eram homens e 90% desses homens, brancos". Na Tabela 1,
encontram-se os dados retirados da pesquisa que ilustram o
domínio homogêneo de um perfil específico, onde:
150
Mulheres Negras na Biblioteconomia
151
códigos de leitura, desloca intenções e
compreensão, além de semear,
obstinadamente, a dúvida ou as expectativas
em uma história africana, cujo mérito - e não o
menor - é ter domesticado o instrumento-livro.
152
Mulheres Negras na Biblioteconomia
153
anos, se pode destacar: Editora Malê (cujo editor é um
bibliotecário negro), Mazza, Selo Negro Raul, Ogum’s Toques
Negros, Ciclo contínuo, Editorial figura de linguagem, Bantu 51,
Nandyala, Kitabu, Lekti52 (cujo a idealizadora, Francilene do
Carmo Cardoso, é bibliotecária, professora e pesquisadora),
Kitembo literatura, Sobá livraria e café, Livraria Eboh e outras.
No âmbito dos vários campos emergentes para atuação do
bibliotecário que Freire, Alauzo e Spudeit (2016) focalizam, dois
harmonizam com essa expansão especializada de mercado: a
editoração e as empresas de comércio eletrônico. Em ambos os
casos, se caracterizam como empreendimentos tanto sociais
quanto culturais desacoplados de um financiamento e
mantimento governamental. As livrarias e editoras de cunho
étnico afro outrora mencionadas, são solidificadas a partir do e-
commerce e, posteriormente, algumas se ampliam para o meio
físico. Salienta-se ainda que essa tipologia especializada propicia
inovações de marketing assim como de produtos oferecidos e
processos realizados.
O empreendedorismo, apesar de ser um campo novo de
estudo (SPUDEIT et al., 2016), não é uma prática tão nova no
mercado de trabalho. Em conformidade com a pesquisa de
Madalena e Laurindo (2018), que citam os dados apresentados
significa “leitura”, oferece livros novos e usados de autoria negra. Além desse
aspecto, trabalham como agentes culturais disponibilizando seu espaço físico
para realização de cursos e oficinas, lançamento de livros e rodas de conversas.
154
Mulheres Negras na Biblioteconomia
155
Valêncio une todos os aspectos anteriormente apontados e
efetiva o livro como instrumento de emancipação de um povo.
Além de unir todos esses aspectos, Ketty propaga ainda a ação
cultural mediada a partir do ambiente de uma livraria,
demonstrando um novo campo de atuação para os profissionais
de informação da BCI. Promove saraus, feiras e outras
intervenções culturais no espaço físico de sua livraria e divulga a
autoria de coletivos historicamente apagados.
Para a proprietária da livraria Africanidades (física e e-
commerce), edificar um universo para autores independentes
concede a apresentação de narrativas sem interferências e se
afasta da restrição de mercado, de ser reduzida a “apenas uma
mercadoria”. As obras selecionadas por Ketty possuem o valor
simbólico, político, social e ancestral para cada um de seus
clientes-leitores. O diferencial de seu negócio está também na
organização e localização das obras. Em livrarias tradicionais, as
obras de autoria negra estão indisponíveis posto que, mesmo que
estejam fisicamente presentes, ainda há uma maioria de literatura
de autoria branca europeia e uma organização que favorece a
evidenciação dessas obras. Quando falamos de uma livraria
especializada, tomamos ciência de que, a essência daquele espaço
será ocupada pela temática. Poderíamos, por conseguinte, dizer
que a maioria das livrarias brasileiras são especializadas em
literaturas e autorias brancas?
Ketty favorece a soberania da autoria negra, a
independência financeira coletiva e o acesso à literatura
selecionada dessa composição específica. Em decorrência disso,
ela promove o reconhecimento das personagens e narrativas e
para além, provocando, em consequência, a busca por direitos
advindo da informação. Valêncio realiza tudo isso assente de sua
156
Mulheres Negras na Biblioteconomia
3 METODOLOGIA
157
trabalhos anteriormente publicados pelos autores através da
Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e da BRAPCI, selecionando as
autorias, e com base nelas, localizando os artigos disponibilizados
na base de dados. Essa última análise teve como intuito verificar
quais dos pesquisadores que publicam sobre mercado editorial e
livreiro ou empreendedorismo, pesquisam também sobre relações
étnico-raciais. Com base nessa estrutura, pretende-se atingir os
objetivos anteriormente descritos.
4 RESULTADOS
4.1 EDITORA
158
Mulheres Negras na Biblioteconomia
4.2 LIVRARIA
159
4.3 BIBLIOTECONOMIA E EMPREENDEDORISMO
160
Mulheres Negras na Biblioteconomia
161
“Perspectivas empreendedoras dos discentes do curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Amazonas”
(HOLANDA; CATIVO; SPUDEIT, 2019), “Empreendedorismo
social na Biblioteconomia: Análise da atuação bibliotecária em
ações com foco na Agenda 2030” (SOUZA; SPUDEIT, 2019) e
“Cenário petrolífero: sua evolução, principais produtores e
tecnologias” (SCHIAVI; HOFFMANN, 2015), não possuem nem
conteúdo e nem autoria referentes ao propósito deste estudo.
162
Mulheres Negras na Biblioteconomia
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
163
trabalhos indexados dentro BCI que tivessem em seu cerne o
mercado editorial e livreiro aliado à uma abordagem racial,
apesar de indicar que alguns dos pesquisadores produzam
trabalhos com temáticas que podem se aproximar do tema.
Diante do exposto, considera-se que o objetivo geral da
pesquisa foi satisfatoriamente respondido na medida em que,
através do trabalho de Ketty Valêncio, se pode observar o vazio
deixado pela ausência de livrarias que possuam obras de autorias
negras e, consequentemente, a alteração desse paradigma que se
origina a partir de seu trabalho. Os objetivos específicos também
foram devidamente atendidos, pois, como apresentado
anteriormente, existe a ausência de trabalhos que associam o
oportuno mercado editorial à temática objeto da pesquisa e
somente a criação de livrarias especializadas no tema teriam
potencial de alterar esse modelo. Portanto, tendo como referência
Valêncio, e alicerçado nos dados aqui apresentados sobre o
empreendedorismo, constata-se uma nova oportunidade de
ocupação para o profissional de informação da BCI. Devemos
refletir, por fim, que o seu afroempreendedorismo, não é “a saída
digna para sua sobrevivência e realização pessoal”. O trabalho de
Ketty Valêncio representa uma ação coletiva de resgaste cultural
das africanidades e ao invés de ser apenas uma saída para uma
única sobrevivência, é a porta sempre aberta para entrada de
muitas sobrevivências. E, por isso, em conformidade com essa
reflexão, Bidima (2003) argumenta que o livro é uma promessa e
que o importante não se encontra no conteúdo, mas no ímpeto
promissor, onde pelo livro:
164
Mulheres Negras na Biblioteconomia
REFERÊNCIAS
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1 INTRODUÇÃO
173
mudança de pensamento é uma das formas de enfrentamento dos
preconceitos.
Esse enfrentamento é crucial para a mudança de posturas
de exclusão que o racismo proporciona. No âmbito educacional,
diversas normativas como as resoluções do Ministério da
Educação e a Lei Federal nº 11.645/2008, preconizaram esse
encontro com a diferença com o objetivo de construir relações
étnico-sociais positivas. Mas devido ao racismo estrutural, essas
normativas não tiveram o impacto e implantação necessários para
a mudança paradigmática para a reconstrução de uma sociedade
com mais equidade racial. Almeida (2018, p. 25) define o racismo
como:
174
Mulheres Negras na Biblioteconomia
175
Ao ampliar o rol de itens verificáveis em uma informação, oferece
ao leitor a possibilidade de crítica contextual da informação. O
resultado binário não permite uma crítica aprofundada e volta à
dicotomia tradicional que divide entre duas alternativas todas as
coisas da vida.
O método dos “Aos Fatos” é apresentado no site da
iniciativa. Realizado diariamente em sete etapas buscam verificar
informações declaradas por pessoas públicas.
1. Seleção de informação a partir da sua relevância;
2. Consulta à fonte original para verificar a veracidade;
3. Busca em fontes confiáveis;
4. Busca em fontes oficiais para confirmar ou refutar a
informação;
5. Consulta em fontes alternativas para confirmar ou
refutar a informação oficial;
6. Contextualização temporal da informação;
7. Classificação da informação nas categorias.
A formação em Biblioteconomia prima pela pertinência da
informação para o demandante da informação. Quando se foca
somente na pertinência, pode-se disponibilizar ao usuário a
informação que ele deseja para confirmar o que ele já pressupõe
como verdadeira. Somente a pertinência é insuficiente para
disponibilizar uma informação ao usuário. Isso não implica em ter
que fornecer ao usuário dois lados da informação, mas em se
aproximar mais da informação mais fidedigna. Isso é um exercício
difícil, pois o mediador da informação tem cada vez mais um
papel diminuto em que o usuário é cada vez mais autônomo. Mas
esses filtros podem ser acionados na seleção dos materiais de
informação que irão adentrar no serviço de informação. Em uma
biblioteca universitária inserir livros que tenham novas
176
Mulheres Negras na Biblioteconomia
177
11 de janeiro … Ouvi falar varias coisas dos
ciganos. E ele não tem as más qualidades que
propalam. Parece que este cigano quer
hospedar-se no meu coração. No inicio receeei
a sua amisade. E agora, se ela medrar para
mim será um prazer. Se regredir, eu vou
sofrer. Se eu pudesse ligar-me a ele! (JESUS,
2014, p. 152).
178
Mulheres Negras na Biblioteconomia
179
Por estarem em movimento, os ciganos nômades não
podem comprovar residência fixa. E sedentarizarão tem sido
parâmetro para acesso a serviços e políticas públicas. O
comprovante de residência foi retirado por meio da Lei nº
13.714/2018 (BRASIL, 2018) do rol de documentos obrigatórios do
Sistema Único de Saúde e Assistência Social para permitir que
essa população nômade e pessoas em situação de rua,
vulnerabilidade e risco social pudessem ter acesso aos serviços
públicos.
Quando as bibliotecas públicas solicitam esse tipo de
comprovante para que o acesso aos serviços seja franqueado estão
fazendo racismo institucional contra a população cigana. Em
outras palavras, estão sobrepondo documentos ao objetivo das
instituições. Em uma breve pesquisa, verificou-se algumas
bibliotecas que solicitam o comprovante de residência como
requisito para empréstimo de livros:
180
Mulheres Negras na Biblioteconomia
181
Moreira (2018, p. 36) ocorre quando pessoas não têm acesso a uma
instituição e quando os serviços são oferecidos de forma
discriminatória.
Impedir o acesso à informação de grupos subalternizados é
uma forma também de mantê-los na subalternidade. Mesmo que
ciganos e pessoas em situação de rua possam fazer a consulta
local, continua a ser uma barreira ao empréstimo domiciliar e o
gozo completo dos serviços oferecidos aos usuários, criando
diferenças entre os que podem comprovar residência e os que não
podem. Isso também afeta os que não recebem correspondência e
os que não terão comprovantes de residência no próprio nome.
A informação é um dispositivo social que pode permitir
acesso a direitos e ativos sociais que permitem o indivíduo mudar
sua situação de vulnerabilidade. Essa mudança não
necessariamente precisa ser financeira, mas por descolonizar o
pensamento, refazer as referências, desfazer as amarras subjetivas
construídas pelos grupos hegemônicos. A ascensão dos não
brancos na sociedade estruturalmente racista é obstada por
inúmeros mecanismos, como a obrigatoriedade do comprovante
de residência.
Essa forma de exclusão por meio da necessidade de
apresentação de um documento que parte da população não o
detém pode ser inserida também na dimensão institucional do
racismo. Segundo Almeida (2018, p. 29), essa concepção de
racismo “é resultado do funcionamento das instituições, que
passam a atuar em uma dinâmica que confere, ainda que
indiretamente, desvantagens e privilégios a partir da raça”.
182
Mulheres Negras na Biblioteconomia
183
Voltando à discussão das notícias falsas, Carolina também
foi objeto de notícias falsas. Na adolescência de Carolina, quando
ela habitava a cidade de Sacramento em Minas Gerais, esta foi
interpelada por dois policiais que ao verificar o peso do livro e por
não serem alfabetizados tomaram um dicionário como livro de
São Cipriano. Farias (2017, p. 95) relata que Carolina foi acusada
de fazer “feitiços” contra os brancos e durante cinco dias ela e sua
mãe ficaram presas sofrendo violências físicas e mentais.
As notícias falsas causaram a prisão e as violências contra
Carolina e sua mãe e também causaram a morte de Fabiane Maria
de Jesus em 2014, após acusação de “magia negra” (CARPANEZ,
2018). O homicídio de Fabiane começou com uma postagem na
página do Facebook “Guarujá Alerta” que informava sobre uma
mulher que supostamente raptava crianças para fazer “magia
negra”. Carpanez (2018) informa que as agressões começaram
quando ela ofereceu uma banana para uma criança e que dezenas
de pessoas se juntaram no linchamento.
A violência é um dos efeitos das notícias falsas que podem
repercutir em diversos âmbitos da vida. Os profissionais da
informação já não podem terceirizar para os ativistas sociais a
disseminação de informação crítica de fenômenos sociais. As
bibliotecas escolares, públicas, universitárias, especializadas e
todos os serviços de provisão de informação no qual um
bibliotecário esteja inserido é espaço para desconstrução e
reconstrução de informações. Silva, Pizarro e Saldanha (2017, p.
18) informam que o bibliotecário é essencialmente social e precisa
ter:
184
Mulheres Negras na Biblioteconomia
185
O Deutsche Welle (DEUTSCHE WELLE, 2018) enfatizou
que a tenista adversária foi retratada como uma mulher pequena
e loira, sendo uma mulher de origem haitiana e japonesa e mais
alta que a Serena Williams. A imagem ainda traz uma chupeta ao
lado de Serena e o árbitro pedindo à adversária que deixe Serena
ganhar.
Esse tipo de imagem não é novidade na representação de
mulheres negras e Carolina é uma escritora/personagem que
rompe estereótipos sobre a mulher negra, como por exemplo e de
“Mammy”. Segundo esse estereótipo, a mulher negra abandona
os próprios filhos para cuidar de outras crianças brancas e tem
vocação somente para servir e não alcançar melhores postos de
trabalho (JARDIM, 2016). Carolina subverte o local “destinado a
ela”, almeja ser escritora mesmo que sua vida a tenha conduzido
trabalhar no serviço doméstico e habitar em uma favela.
Nas bibliotecas, os registros de viajantes, geralmente
europeus, em viagens aos trópicos são classificados na
Classificação Decimal Universal no número 910.4. Nos livros que
registram os diários de bordo de viajantes europeus estão
impressos inúmeros preconceitos e visões distorcidas.
Santos (2002, p. 277) registra que:
186
Mulheres Negras na Biblioteconomia
187
como minorias raciais são representadas para alicerce para ação
de grupos raciais dominantes.
O racismo age contra todas as minorias raciais. O
bibliotecário pode ser antirracista na biblioteca escolar, por
exemplo, mudando a forma de comemorar as datas na escola. No
dia do indígena, em 19 de abril, ao invés de expor fotos
antropológicas, apresentar a diversidade indígena brasileira por
meio de diversos formatos de informações. Ao invés de exotificar,
trabalhar as temáticas sugeridas pela Lei nº 11.645/2008.
Importante lembrar a situação global dos povos indígenas, que o
secretário-geral da ONU, António Guterres ao proferir mensagem
no Dia Internacional dos Povos Indígenas (NAÇÕES UNIDAS,
2019), apontou que estes enfrentam a realocação forçada, as
desigualdades educacionais, pressão para assimilação cultural,
acesso limitado a serviços de saúde, emprego, serviços de
informação e internet.
Essa possibilidade de a biblioteca ser um espaço antirracista
já foi explorada por Fontes e Martins Filho (2018, p. 298), que
declararam que “a biblioteca é considerada como um espaço
propício para a o desenvolvimento de ações educativas
antidiscriminatórias e antirracista”. Pode-se realizar ações usando
somente as datas comemorativas, como por exemplo, no dia da
consciência negra ir além do estereótipo construído para pessoas
negras. No dia da independência, resgatar os personagens negros
que participaram da construção do país. No dia 13 de maio, deixar
de relacionar a falsa abolição e registrar a história da Revolta de
Carrancas, que Rodrigues (2019, p. 16) registra que:
188
Mulheres Negras na Biblioteconomia
189
mesmo foi eleito pelo mesmo estado que foi vilipendiado pela
corrupção e pelo silenciamento violento da vereadora Marielle
Franco. De juiz desconhecido passou a ser o representante de
cerca de 17,2 milhões de habitantes (SILVEIRA, 2018).
A estimativa é que os efeitos dos resultados eleitorais na
população negra serão diversos dos que serão observados no
restante da população. Esta população já sofre um genocídio
contínuo com o extermínio da sua população masculina jovem
(CERQUEIRA; BUENO, 2019). Essa mesma população não tem
garantidos os seus direitos sociais, tendo diversas dificuldades
para acessar serviços e políticas públicas. As mulheres negras
tendem a sofrer duplamente os efeitos por sua condição de
mulher numa sociedade machista, patriarcal, misógina e racista.
Quando se olha com interseccionalidade para essa população,
percebe-se que os retrocessos dos direitos irão atingi-la de forma
contundente.
Existem outros grupos, que assim como os negros, irão
sofrer de forma demasiada com os retrocessos políticos e sociais
que se vislumbram no futuro, como os indígenas, comunidades
tradicionais, comunidades rurais, pessoas em situação de refúgio,
migrantes e pessoas LGBTQIs. Esses grupos foram
estereotipados, quilombolas foram animalizados, durante o
processo eleitoral (AFFONSO; MACEDO, 2017). A possibilidade
de ter um filho LGBTQI ou se relacionando com pessoas negras
foi caracterizado pelo presidente eleito como uma
impossibilidade pela educação dada aos seus filhos e pela
agressão física que poderia deferir a eles (O GLOBO, 2011).
Mesmo com essas declarações homofóbicas e racistas, a
maioria do Brasil escolheu para a representar o político que
expressa essas ideias. Elas receberam a informação que gostariam,
190
Mulheres Negras na Biblioteconomia
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
191
transcendem o indivíduo que tem o comportamento considerado
errado. Esse movimento de Carolina pode ser considerado
transformador porque ela começa com um conceito que vale para
todos os ciganos, sem distinção, e termina falando de um cigano
em específico. Essa mudança de pensamento é a chave que
desejamos discutir neste texto, sair de um pensamento
determinado sobre todo um grupo de pessoas para um
pensamento que possa refletir sobre o comportamento específico
de pessoas que fazem parte desse grupo.
REFERÊNCIAS
192
Mulheres Negras na Biblioteconomia
193
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
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197
198
Mulheres Negras na Biblioteconomia
1 INTRODUÇÃO
199
discussão nesse sentido só foi retomada nos anos de 1980, como
parte da luta do movimento negro organizado, que tinha entre
seus membros o Deputado Federal (1983 a 1987) e Senador (1997-
199), Abdias Nascimento (PDT/RJ), que apresentou o projeto de
Lei nº 1.332, de 1983, que,
200
Mulheres Negras na Biblioteconomia
201
enquanto os negros não fazem parte da
sociedade que manda. A situação deles é
estrutural e cumulativa, onde cada progresso
obtido ao nível do país não representa
melhoria efetiva correspondente de sua
situação como grupo.
202
Mulheres Negras na Biblioteconomia
203
2 OS VIAJANTES ESTRANGEIROS: UMA VISÃO DO
COMÉRCIO E DA EXPLORAÇÃO DOS
ESCRAVIZADOS
204
Mulheres Negras na Biblioteconomia
56Desde 1830 já era possível aos negros comprar a alforria, ainda que com muita
dificuldade. Mas mesmo bem antes disso alguns relatos de viajantes dão conta
que existiam negros livres na cidade do Rio de Janeiro.
205
Mal tínhamos caminhado cinquenta passos no
Recife, quando ficamos absolutamente
enojados com a primeira visão de um mercado
de escravos. [...]. A visão nos mandou de volta
ao navio com o coração pesado e a resolução
“silenciosa, mas profunda” de que tudo que
estivesse em nosso poder seria feito para abolir
ou atenuar a escravidão. (GRAHAM, 1824, p.
105, tradução nossa).
206
Mulheres Negras na Biblioteconomia
207
Sabe-se que os comerciantes não aceitavam devolução do
escravo comprado, após o prazo comumente estabelecido de 15
dias. Os guardas, para facilitar a inspeção, os apresentavam
completamente nus ou em trajes sumários. Eram submetidos a
exames e exercícios físicos para comprovar que estavam
saudáveis. Segundo Spix e Martius (1981, p. 68, v. 1), “defeitos
orgânicos ocultos, sobretudo a tão comum disposição para a
catarata, é o que mais se receia nessas compras”.
Os autores (1981, p. 44, v. 2) ainda descrevem uma hipótese
para a doença da catarata, ligando-a à geografia do local de
trabalho, além de apontar outras doenças comuns entre os negros
principalmente como a hidropsia, inflamações na garganta e nos
pulmões e elefantíase, entre outras, ligando-as ainda aos hábitos
alimentares, incluindo a cachaça, considerados por eles nada
saudáveis.
A venda e aluguel de negros era anunciada nos jornais e
revistas da época conforme podemos ler, em um recorte de jornal,
no manuscrito de Expilly ([19--]): “Vende-se na rua da Alfândega
n. 53, uma bonita negrinha de 10 para 11 anos, sabendo coser já
muito bem, prática em todo o arranjo de casa, e sem o mais
pequeno defeito”. Há, na mesma obra, um recibo de um
estabelecimento de nome Godinho & Com., localizado no Largo
do Rosário, n. 96, sobrado, defronte da Igreja da Sé, que trabalha
entre outras “coisas”, vende ou aluga escravos de ambos os sexos.
Ao final da obra há a informação de que os negros escravizados
no Brasil pertenciam a 35 nações africanas distintas.
Os absurdos presenciados no Brasil, no que concerne à
escravidão, mereceu também crítica por parte dos religiosos,
missionários da London Missionary Society, que aqui aportaram
208
Mulheres Negras na Biblioteconomia
209
Foram exatamente esses maus tratos empregados por uma
vizinha espanhola que tinha a seu serviço três ou quatro escravos,
aos quais tratava com tremenda crueldade, chicoteando-lhes e
aplicando-lhes à palmatória por mínima que fosse a falha, que fez
com que Toussaint-Samson (2003, p. 97), chamasse a sua atenção,
chamando-a de carrasco. Qual não foi sua surpresa ao descobrir
que se não escutava mais os gritos e gemidos de dor desses
escravos eram simplesmente porque a vizinha os amordaçava
para aplicar o castigo.
O viajante James Forbes, que aqui desembarcou em 1765,
tinha uma postura bastante crítica em relação aos portugueses que
aqui viviam e o tratamento que davam aos escravizados:
210
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211
4 OS NEGROS PELOS VIAJANTES: A
DESUMANIZAÇÃO DO OUTRO
212
Mulheres Negras na Biblioteconomia
213
Esse relato de um viajante desconhecido que aqui ancorou
na metade do século XVIII, expõe uma das táticas dos portugueses
para facilitar o controle dos escravos, já mencionadas em outras
pesquisas:
214
Mulheres Negras na Biblioteconomia
215
Figura 6 - Jogo de capoeira ou dança de guerra (MEA 3300).
216
Mulheres Negras na Biblioteconomia
217
específico, tanto somática quanto
psiquicamente, as demais raças.
218
Mulheres Negras na Biblioteconomia
219
Figura 10 - Angú da quitandeira (MEA 0241).
220
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
221
Figura 13 - Um jantar brasileiro (MEA 0199).
REFERÊNCIAS
222
Mulheres Negras na Biblioteconomia
223
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OLIVEIRA, Reinaldo José de; OLIVEIRA, Regina Marques de Souza.
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224
Mulheres Negras na Biblioteconomia
225
226
Mulheres Negras na Biblioteconomia
REPRESENTACIONES SOCIALES DE LA
LECTURA-ESCRITURA-ORALIDAD EN
MUJERES NEGRAS DE LA CIUDAD DE
MEDELLÍN (HISTORIAS DE VIDA)
1 INTRODUCCIÓN
227
de sus elementos: la lectura y la escritura; y más recientemente la
oralidad.
El ejercicio académico que emprendí se ubica en relación
con mis años de formación como bibliotecóloga, mi praxis como
Promotora de lectura y la labor investigativa sobre el tema el que
ahora me ponen en escena. Así, la investigación tuvo como
propósito comprender las representaciones sociales que mujeres
que se reconocen como afrodescendientes poseen respecto a la
lectura, la escritura y la oralidad, en el marco de un estudio de
caso particular; las prácticas bibliotecarias de educación lectora en
la ciudad de Medellín, Colombia.
Para llevar a cabo esta investigación hice uso de un método
narrativo, el cual se concreta en historias de vida y escrituras de
sí, en las que no sólo aparecen las de las mujeres que hicieron
posible la investigación. Sino las mías propias. La elección de la
metodología, y además de ello mi postura ética y política como
mujer que se reconoce como negra, hacen imperativo que este
texto esté escrito en primera persona, una vez la idea de abstraerse
y distanciarse de la práctica investigativa radica en una
perspectiva positivista de la cual me distancio.
De este modo, en términos metodológicos ha sido todo un
reto considerar la manera más apropiada de acercarse al mundo
social a partir de sus márgenes, visibilizando una nueva forma de
hacer investigación. Esto teniendo presente que la comprensión
de la realidad puede tornarse equivalente al abordar la dimensión
instituyente de una sociedad (…) no simplemente designando
prácticas, sujetos y colectividades, se trata de escuchar, leer,
reconocer que en las subjetividades invisibilizadas se tejen
representaciones sociales a diversos fenómenos sociales que están
en permanente construcción y de-construcción. Así, esta apuesta
228
Mulheres Negras na Biblioteconomia
229
encuentra inmerso y construirse a sí mismo. Y es por esto, que
parte de la comprensión de la realidad que cada quien dé al
mundo social y sus elementos.
Lo expuesto anteriormente conlleva a proponer la
investigación de corte cualitativo (SANDOVAL, 2002) y fundada
en un paradigma crítico, teniendo presente que la elección
metodológica parte de los elementos constitutivos de la misma:
las representaciones sociales, la lectura-escritura-oralidad y la
comunidad con la que se trabajará representada por mujeres
"negras”; lo cual posibilita considerar una metodología feminista.
Así pues la tendencia elegida en consonancia con los presupuestos
epistemológicos y ontológicos de la investigación de las
representaciones sociales se enmarca en la escuela clásica
desarrollada por Denise Jodelet, cuyo énfasis está más en el
aspecto constituyente que en el aspecto constitutivo de las
representaciones sociales. Y en esta escuela se ubica en el enfoque
procesual, lo cual implica que para acceder al contenido de una
representación social se recurre a la recopilación de material
discursivo producido en forma espontánea.
De este modo son cuatro elementos observados de las
representaciones sociales, los que Denise Jodelet y Moscovici
proponen como aspectos constitutivos. Cada uno de ellos se
abordará a través de una pregunta:
● Información. Qué sé;
● Imagen. Qué veo;
● Opiniones. Qué creo;
● Actitudes. Qué siento.
De acuerdo con la posibilidad del material discursivo la
elección del método narrativo recurre a las historias de vida, como
posibilidad de revelar los vínculos entre el sujeto y el mundo.
230
Mulheres Negras na Biblioteconomia
231
El método feminista no está creado de antemano se va creando a
medida que se desarrolla el trabajo. Hay tres horizontes de
sentido que metodológicamente concuerdan con el enfoque
crítico de la apuesta investigativa, y por supuesto con la elección
del método de historias de vida y el enfoque procesual de las
representaciones sociales, la investigación feminista posibilita:
● Nuevos recursos teóricos y empíricos, se visibiliza y da
lugar a las experiencias de las mujeres;
● Nuevos objetos de investigación, ya que permite situar a
la investigadora en el mismo plano crítico que el objeto
explícito de estudio. Así la investigadora es un sujeto
histórico, social, cultural, real y con deseos e intereses
particulares y no solo una voz anónima, invisible y
cargada de verdad absoluta;
● Nuevos propósitos para las ciencias sociales, ofreciendo
posibilidades de resignificarse.
De este modo la metodología se teje a partir del
reconocimiento y el saber que descansa en las voces negras. La
propuesta investigativa consideró tres momentos metodológicos,
los cuales se describen a continuación:
1. Caracterización de la comunidad. Tomando como punto
de partida la etnografía se hará un primer acercamiento a
la comunidad, con el fin de realizar una lectura crítica de
las significaciones, símbolos y rituales que hacen el mundo
social. A partir de esta observación se tendrá un primer
acercamiento a las representaciones sociales de la
comunidad lo cual ayudará a implementar un espacio de
trabajo comunitario para conocer y comprender algunos
elementos de la comunidad en relación con la lectura-
escritura-oralidad;
232
Mulheres Negras na Biblioteconomia
2 JUSTIFICACIÓN
233
Desde instituciones socio-culturales como la biblioteca el
proyecto fue una apuesta política pues buscó visibilizar elementos
representativos de la cultura afrocolombiana, dispuestos a
dialogar con la sociedad. Por último, y no menos importante, está
mi sentir como mujer, profesional y descendiente de una herencia
africana que traspasa un color de piel.
Esta es una oportunidad de escuchar a la comunidad
afrocolombiana permitiendo que sea la palabra femenina, de
acuerdo con su herencia histórico-social que permita a las
instituciones sociales construir presupuestos con-sentido, acordes
a las necesidades, deseos y pulsiones de lo afrocolombiano. Así,
la biblioteca podrá conocer y comprender un imaginario oculto y
por tanto ausente, en sus prácticas de educación lectora.
En este orden de ideas, comprender las representaciones
sociales que la comunidad afrocolombiana tiene referente a la
lectura-escritura-oralidad podría permitir la reflexión del Plan
Nacional de Lectura y Bibliotecas de Colombia –PNLB - en
relación con la comunidad afro, ya que éste solo ha considerado
el desarrollo de actividades puntuales como la creación de
bibliotecas públicas en algunas comunidades.
A estas acciones se suman esfuerzos que desde el Ministerio
de Cultura se realizaron para consolidar una bellísima biblioteca
de literatura afrocolombiana y algunos talleres de promoción de
lectura con los materiales editados. Plantear un proyecto que
tenga como cimiento partir de las representaciones sociales de la
comunidad afrocolombiana permite darle una configuración con
sentido a los planes de lectura municipales. Además, fortalece las
dinámicas bibliotecarias al dar prioridad a una población poco
incluida y escuchada en procesos lectores. Hoy día es imperante
que las bibliotecas promuevan y apoyen la diversidad cultural y
234
Mulheres Negras na Biblioteconomia
235
económico, natural, cultural y social, sus valores artísticos, sus
medios de creación y sus creencias religiosas.
Además de razones sociales, políticas y culturales, hay una
de carácter personal-vital. Este proyecto me permite encontrarme
con mi herencia africana y ser parte activa de un legado histórico
que debe ser reconfigurado y aprehendido por el mundo social,
donde los afro descendientes son mucho más que un color de piel.
236
Mulheres Negras na Biblioteconomia
237
sostenido en el espacio…las minas abiertas por debajo de las casas
forman una enorme colmena”… Doña Ana de Castro, española
codiciosa, de carácter autoritario y quien obtuvo dichos filones
por herencia de su padre don Agustín de Castro, fue, además,
traficante de esclavos, razón por la cual en Marmato predomina
el apellido Castro, aunque también abundan los Ortiz y Moreno,
que los negros tomaban de sus amos. …En Marmato se conserva
mucho el ancestro africano, aunque la raza se ha mezclado un
tanto, si se tiene en cuenta que a esta población llegaron gentes de
todas las latitudes”
“La marca era de suma importancia para sus amos, Pues con
ella reconocían una remesa que les correspondía y rubricaban con
sus iniciales”
238
Mulheres Negras na Biblioteconomia
239
A mamá le tocó muy duro porque trabajaba de interna
mientras estaba embarazada, más aún sola porque el papá de la
bebé la abandonó. Pero Dominga, como se llama mi madre no
estuvo sola por mucho tiempo, consiguió otro novio el cual hasta
ahora la ha acompañado en sus tristezas y alegrías. Y mamá viajó
a Medellín buscando mejores oportunidades. Desde nuestros
antepasados hemos estado luchando por una dignidad para
nuestra raza que ha estado estigmatizada social, cultural,
económica y políticamente. Los afrocolombianos hemos estado
marcados por solo ser de otro color “negro” Vienen a mí muchos
recuerdos de niña cuando los chicos y chicas mestizos(as) se
burlaban de los peinados afro, desconociendo que el llevar el
cabello de cierto modo para mí y muchos más afrocolombianos es
llevar una cultura, unas costumbres, pero lo más importante unas
raíces que son imposibles de olvidar.
Sin embargo los mestizos creen feos los peinados de los(as)
afro y mucho más que eso. El cabello afro, muestra lo que somos
donde cada uno(a) de nosotros(as) decide si llevar un cabello
bueno o malo. Usar el cabello afro a lo a natural debería ser algo
bueno. Hace unos días escuchando un programa de radio me dio
por pensar en mi propia relación con el cabello y el peso que
cargaron sobre nosotras, las mujeres negras desde la vanidad y los
medios de comunicación. Y no solo el cabello, el mismo hecho del
lenguaje está cargado de estereotipos de pesos y subjetividades
que no tendríamos por qué cargar.
Por ejemplo la expresión usada por muchos colombianos,
“me tienen negreado” se usa desprevenidamente cuando quieren
decir que se sienten ignorados. Me negrearon dice alguien cuando
en un cóctel se da cuenta que es el único al que no le ofrecieron
Whisky. Esa frase expresa en su sentido literal que lo están
240
Mulheres Negras na Biblioteconomia
241
la historia de mi madre y mi padre. Siempre quise “superarme”
nunca entendí porque papá no sabía ni siquiera firmar, tal vez sea
por esto 90 que soy la primer profesional de la familia, y por esto
mismo no solo doy licencia a ese lenguaje sino que también lo
cuestiono.
HISTORIAS DE CABELLOS
242
Mulheres Negras na Biblioteconomia
Así que ahorre unos meses y compré el mejor de todos que obvio
era el más fuerte, y cuando me lo aplique en la cabeza, horror
comencé a ver lo que es el infierno. La cabeza me quemaba y yo
corría con eso por todas las calles de Istmina gritando
despavorida y pidiéndole perdón a Dios por mi vanidad. Una que
había heredado de lo que escuchaba de lo que veía en los medios
de comunicación. Solo hasta hoy lo entiendo. En ese entonces no
entendía nada solo quería dejar atrás el pelo malo. Hoy por
ejemplo se de la importancia del cabello y de su historia en las
mujeres negras. Además que es el cabello uno de los principales
rasgos que se conserva desde lo afro, así que una mujer que tenga
su cabello crespo conserva una de las pocas señales de áfrica, una
que es imborrable, pues el color de piel va cambiando se va
“aclarando”
Además ahora veo cómo las mujeres están sublevadas al
mundo comercial de los productos de belleza, son esclavas de un
sistema. Por eso digo que el cabello dice que tan libre o esclava
eres en tu vida. Hoy por ejemplo sé que el cabello guarda
historias, muestra rutas y permitía alcanzar la libertad. El lenguaje
esclaviza pero también libera, y las lecturas que se hacen de cada
momento de la vida te permiten seguir caminando o detenerte.
BAJALEKERÁ: MI VOZ
243
permanecían se tornaron viejos, grisáceos. Inmersa en el diario
vivir, ese agitado momento de vida repleto de ocupaciones olvidé
volar. Sin embargo siempre algo en mí resistía al olvido me pedía
a gritos darle voz a mi vida, permitirle volar.
Y en esos ires y venires, en mis propias pesquisas me
encontré rodeada de la palabra, habitada por el lenguaje y en una
búsqueda de mi memoria histórica, esa que a gritos pedía ser
visibilizada, nombrada. Esa mujer, esa negra que aguarda en mí.
¿Cómo lo supe? Solo debo decir que en ocasiones escuchamos
muy poco el alma, nos ausentamos de las palpitaciones que sin ser
científicas dan ruta para continuar e investigar desde “otros”
lugares de enunciación, esto solo lo supe tiempo después. Y así
emprendí una búsqueda propia, que atañe a mí ser, como mujer
negra. A mi saber como ser humano histórico parte de una
realidad. A mi hacer como profesional que hace uso continuo de
la palabra para resistir y re-existir. Y fue en ese camino que junto
a la palabra escrita, hablada y leída, en compañía de una abuela
de ochenta y tres años supe el porqué de esta búsqueda.
Encontré en mi historia una tatarabuela esclava, que como
Sojoumer Truh se valió de la palabra para contagiar a otros de
vida, fue esa primera mujer en mi genealogía femenina, esclava
quien sirviendo a otras mujeres dio vida a la vida, y se resistió sin
siquiera saber leer y escribir a la esclavitud que le había sido
impuesta. Mi tatarabuela que hoy quiero llamar Lucero, dio vida
a la vida con mi bisabuelo Luis. Un hombre de baja estatura,
juguetón, bailarín quien sin saberlo llamó la atención de una
mujer blanca, una como esas que fue ama de Lucero, una que lo
llevó al altar, una que le dio cinco hijos, una que sin pensarlo y
con el odio a ese color que habitaba a mi bisabuelo, lo acompañó
hasta su muerte..
244
Mulheres Negras na Biblioteconomia
245
camino que pervive a esta apuesta investigativa. Así pues que
ahora no estoy sola, me acompañan otras mujeres que como yo
han descubierto lo vital del alma cuando puede re-encontrarse.
Una joven negra nacida en esta ciudad para quien la palabra
es vital y quien no concibe la vida sin ella y menos aún puede
comprender cómo su familia no la tiene. Una mujer madura que
entre el trabajo con las comunidades y el teatro se ha redescubierto
como una negra, una como las tantas que Amalia Lu Posso
Figueroa lleva el ritmo en el alma. Una madre, como yo, que busca
la posibilidad de resignificar un color para que su hijo se apropie
de él y lo haga parte de su vida pues como dice Fanon “si soy
negro, no es como resultado de un maleficio”.
Sino porque, habiendo tensado mi piel, puedo captar todos
los efluvios cósmicos. Soy verdaderamente una gota de sol en la
tierra”. Y una abuela que con menos años que la mía nos enseña
la libertad, y la reivindicación del ser negra en cuerpo y alma. Al
inicio en su compañía me sentía intimidada, todas escuchaban
atentamente el porqué de nuestra presencia en el espacio. Creo
que lo mejor que pude hacer en ese momento fue ser sincera, abrir
mi alma a cada una de ellas y posibilitar que el espacio se
configurara como debe hacerlo sin prisa. La actriz, ese día llevó
un regalo maravilloso que no puedo dejar de citar, un relato,
palabras cantadas, ritmos negros… “Mi negrito José asunción hoy
amaneció cantando Ya llego diciembre Viene el niño Dios Negros
son mis taitas Negro es mi color Y es negrito el niño Que viene
donde yo…” Además de palabras cantadas y contadas las
nuestras habitaron el espacio, surgieron de cada boca, dando
cuerpo y alma a lo que somos. Mujeres cantaoras, escritoras,
luchadoras, activistas. Mujeres que atendieron mi voz y me dieron
246
Mulheres Negras na Biblioteconomia
247
constituye a partir de nuestras experiencias,
pero también de las informaciones,
conocimientos y modelos de pensamiento que
recibimos y transmitimos a través de la
tradición, la educación y la comunicación
social. De este modo, ese conocimiento es en
muchos aspectos un conocimiento
socialmente elaborado y compartido.
(JODELET, 1984, p. 473).
5 IMÁGENES
248
Mulheres Negras na Biblioteconomia
249
En cuanto a la información hay diversidad de datos para
estos elementos del lenguaje, cada uno asociado con la propia
historia de vida, algunos de ellos se enuncian a continuación:
● La lectura y la escritura son prácticas asociadas al progreso
económico;
● La lectura y la escritura posibilitan un posicionamiento
político en la sociedad;
● Leer permite conocer y comprender el mundo;
● Escribir es una posibilidad para narrar las historias,
además permite que “otros” puedan acercarse a la
memoria histórica de cada quien;
● La palabra hablada es un medio para conservar la
memoria, tradiciones y cultura de una generación a otra;
● El lenguaje en todos sus elementos constitutivos lectura-
escritura-oralidad instaura estereotipos en cuanto a las
diferencias existentes en la sociedad por ejemplo la gente
negra;
● La lectura y la escritura pueden convertirse en elementos
liberadores que posibilitan otros lugares de comprensión
para la realidad;
● La lectura-escritura-oralidad son elementos con doble filo
que pueden usarse para emancipar o colonizar.
6 CREENCIAS
250
Mulheres Negras na Biblioteconomia
7 ACTITUDES
251
del hecho. Es el elemento más primitivo y resistente de las
representaciones y se halla siempre presente aunque los otros
elementos no estén. Es decir, una persona o un grupo puede tener
una reacción emocional sin necesidad de tener mayor información
sobre un hecho en particular (ARAYA, 2002).
Las actitudes que se comparten respecto a la lectura-
escritura-oralidad en el grupo de mujeres no son unidireccionales.
Pues la misma persona responde y reacciona tanto de modo
positivo como negativo en relación con la lectura, la escritura y la
oralidad - En cuanto a las actitudes positivas. Hay quienes
muestran su beneplácito al considerar estos elementos del
lenguaje como elementos indispensables en la formación de
cualquier ser humano. Se reconoce la importancia y valor de este
tipo de prácticas - En cuanto a las actitudes negativas respecto a
la lectura-escritura-oralidad surgen al momento de considerarse
estos elementos como prácticas manipuladas por un poder
particular para invisibilizar y homogeneizar la sociedad.
8 NARRACIONES
252
Mulheres Negras na Biblioteconomia
253
han reconfigurado y resignificado a partir de la palabra escrita y
hablada, a partir de las historias de vida.
254
Mulheres Negras na Biblioteconomia
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259
260
Mulheres Negras na Biblioteconomia
DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL À
REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO:
PERSPECTIVAS TEÓRICAS DAS MULHERES
NEGRAS NA CIÊNCIA57
1 INTRODUÇÃO
261
[...] por um lado, representação social é
concebida como um processo social de
comunicação e discurso. Por outro,
representações sociais são vistas como
atributos individuais, como estruturas de
conhecimento individualmente acessíveis,
embora compartilhadas.
262
Mulheres Negras na Biblioteconomia
263
referenciais com intuito de estabelecer o controle social. A
representação é uma visão funcional do mundo, permitindo ao
indivíduo compreender e explicar a realidade através do próprio
sistema de referências. O controle social e ideológico delimita o
lugar do indivíduo na organização social, a história do sujeito e
do grupo, cumprindo a função de orientação, guiando
comportamentos e práticas sociais.
Nessa perspectiva, o ideal de representação é naturalizar o
lugar do sujeito negro, haja vista o anseio em manter e reforçar as
estruturas da posição social do branco, enquanto detentores e
produtores de um conhecimento válido. A abordagem estrutural
da teoria do núcleo central de Abric (2000) explica como está se
constitui como elemento delimitador na formação de crenças e
opiniões, constituindo a formação do sistema sociocognitivo.
2 METODOLOGIA
264
Mulheres Negras na Biblioteconomia
265
a um legado de crioulas, pardas e negras que eram detentoras de
terras, por decorrência da paternidade ou relações concebidas de
forma legítima e ilegítima. Outras estratégias de acolhimento e
afetividade também passaram a ser demonstradas no número
expressivo de mulheres negras libertas que se beneficiaram e
sociabilizaram com outras mulheres a fim de estabelecer uma
ascendência social entre os seus.
A participação das mulheres negras estabeleceu-se de forma
expressiva desde os relatos de donativos para a construção de
irmandades do Rosário dos Pretos de Salvador, com doações de
ouro por muitas “rainhas”58 em várias localidades do país. No
entanto, essa participação expressiva das “mulheres de cor” não
foi suficiente para garantir um status social. As mulheres negras
eram sempre convidadas ao lugar de origem, relacionados aos
estereótipos sexuais e de vivacidade dada a caracterização da
malandragem da raça atribuída. As relações de gênero no
cotidiano das mulheres negras do século XIX escondiam anseios
e esperanças, embora as estratégias de sobrevivência relutassem
por uma libertação que correspondesse ao afastamento do que o
sistema escravista os imputava com retratos de violência e
opressão masculina.
Algumas ressignificações são apresentadas na literatura
brasileira do século XIX, oportunizando ressaltar a mulher negra
escravizada com representações relacionadas à questão da cor, a
exemplo de Gregório de Matos e Castro Alves e, sobretudo, ao
estereótipo de que Gilberto Freyre ficou famoso e conhecido, com
a reflexão da “Branca para casar, mulata para f... e negra para
266
Mulheres Negras na Biblioteconomia
267
autoridades governamentais, transformando em perseguição
toda e qualquer atividade destinada à manutenção da raça negra.
Grupos ideológicos como a Frente Negra Brasileira (FNB)
permaneceram como um movimento de resistência e luta por
novas formas de representações e disputa por uma identidade que
valorizassem a pauta dos negros no Brasil. De acordo com Lélia
Gonzalez e Carlos Hasenbalg (1982, p. 24), “O período que se
estendeu de 1945 a 1948 caracterizou-se, portanto, pela
intensificação das agitações intelectuais e políticas dessas
entidades que agora, tratavam da redefinição e implantação
definitiva das reivindicações da comunidade negra.”
O movimento negro no Brasil enfrentou altos e baixos,
atravessando períodos de turbulência e desarticulações, como
registram Lélia Gonzalez e Carlos Hasenbalg (1982), com
abordagens da queda da elite intelectual negra no golpe de 1964.
Contudo, o auge de demarcação da inclusão das mulheres negras
no movimento negro no Brasil data de 1975, quando, à época da
participação no Congresso de Mulheres Brasileiras, foi
apresentado o “Manifesto de Mulheres Negras”, reunindo a pauta
de vivências e experiências das mulheres negras, denunciando a
exploração sexual, a perspectiva das identidades sociais, a
dimensão racial como marcador de uma dominação masculina e
os aspectos de gênero sob a raça.
A pauta das mulheres negras brasileiras com o movimento
feminista, de acordo com Núbia Moreira (2006), também
apresenta um marco em 1985, com o surgimento dos primeiros
coletivos de mulheres negras, época marcada por encontros
nacionais e estaduais dessas mulheres. Esse é um marcador
histórico que configura a formação de um movimento que surge
nas ruas, mas que adentra o âmbito da discussão para a academia,
268
Mulheres Negras na Biblioteconomia
269
uma visibilidade representativa, em vista de tradução por uma
representação aproximada da condição de racialidade dos sujeitos
protagonistas, bem como direcionam a condição legítima de
representar sujeitos que emanam do texto em lugar de fala. É o
retrato do que Núbia Moreira (2011, p. 23) nos chama atenção
quanto à representação da mulher negra:
270
Mulheres Negras na Biblioteconomia
4 A REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO EM
INSTRUENTOS DE REPRESENTAÇAO DA
INFORMAÇÃO SOB O VIÉS DA ALTERIDADE
271
abordagem da informação, será possível
consolidar a parceria autor/mediador/leitor,
tão necessária às práticas cotidianas de leitura
e de representação informacional. (MOURA,
2006, p. 34).
272
Mulheres Negras na Biblioteconomia
273
Trivelato e Maria Aparecida Moura (2017) relatam que os
instrumentos de representação da informação não são
necessariamente neutros. Com isso é possível inferir o quanto o
referencial de representatividade da informação é influenciado
pelo discurso dominante e desfavorece os contextos de
diversidade cultural voltados para a perspectiva de invisibilidade
e de controle social.
274
Mulheres Negras na Biblioteconomia
275
O conceito de representação assume atributos de
complexidade que inviabilizam o engessamento de sua
compreensão. Kant já presumia um conceito no contexto filosófico
moderno:
276
Mulheres Negras na Biblioteconomia
277
informacional, inseridas em procedimentos e etapas da análise de
assunto também denominada “leitura técnica”, associada à
tradução linguística para a destinação de atribuição de conceito.
A base representacional do imaginário intelectual sofre
influências durante todo o processo de tradução, interpretação e
compreensão. A representação só pode ser aproximada quando o
sujeito é parte de um contexto que integra, compartilha de
vivências e experiências ou que ao menos coloca-se à disposição
de conhecer, averiguar e apreender o universo da sua
representação. A qualidade de desligamento das suas bases
históricas, políticas e sociais é preliminar no processo da
compreensão contextual, o que infere e incide diretamente nas
estratégias de representação informacional.
278
Mulheres Negras na Biblioteconomia
279
administrativas de dominação e das categorias sociais, a fim de
pontuar uma consciência alienada e dividida nas mulheres.
A condição de pensar uma ciência polifônica, polivalente,
inclusiva e equitativa do ponto de vista de gênero, com
perspectivas de desconstrução de valores desenvolvido nas
ciências tradicionais como a neutralidade, objetividade,
universalidade e metodologia, é questionada, como suscita Neide
Osada e Maria Costa (2006), o que não reverbera uma investida
de construção social pacífica. A formação social já estabelecida
que coloca mulheres em condições hierárquicas de
subalternização social reforça a predominância de algumas
teorias e condiciona práticas subversivas da produção intelectual
feminina.
A demarcação da produção intelectual das mulheres na
ciência enfrentou desafios marcados por rupturas e
enfrentamentos. As tentativas de invisibilizar as mulheres na
ciência escondiam o jogo machista e opressor dos homens na
tentativa de ridicularizar e demonizar as mulheres que se
arriscavam a estabelecer contribuições nas ciências.
O contexto que marca a revolução científica do qual expõe
Lucia Tosi (1998) é a concepção de caça às bruxas como um
momento histórico para o despertar para a ciência no século XVII
em participação ativa das mulheres destacando importantes
contribuições em paralelo ao cenário de perseguições e
demonização das mulheres que demonstravam interesse pela
ciência dos saberes.
A inserção das mulheres na ciência perpassa do século XVII
e XVIII, desde a biologia molecular, como retratam Neide Osada
e Maria Costa (2006), quando a participação das mulheres foi
marcada pela abertura à profissionalização no século XIX. No
280
Mulheres Negras na Biblioteconomia
281
Discutir os parâmetros de formação e visibilidade da ciência
mercantilista ocidental é desestabilizar formas de construção do
conhecimento e de estruturas de poder. É trabalhar na perspectiva
de construção em condições de subjetividade, saberes situados e
relativização de poderes, dissociados de estruturas de
subalternização e tendenciosas do cartesianismo e patriarcalismo
ocidental.
Nesse cenário as mulheres negras estão a pleitear espaços
na ciência marcada pela negativa de um capital intelectual, social
e cultural, que delimita e influencia a participação destas no
exercício da contribuição e articulação do conhecimento. As
mulheres acadêmicas e profissionais estão a construir um espaço
de disputa, segundo o qual Djamila Ribeiro (2018, p. 59) defende
que “[...] é porque se está desnaturalizando o lugar de submissão
que foi construído para nós; e o incômodo não está mais em nós,
por julgarmos que certos espaços não nos pertencem”.
As mulheres negras estão a protagonizar a quebra de um
racismo institucionalizado que delimita e condiciona o lugar de
acesso aos espaços de produção e detentores de um conhecimento
pautado na centralidade social, condiciona a pensar o lugar de
marginalidade como uma possibilidade de usufruir perspectivas
e reflexões diversas que possibilitem construções do feminismo
negro.
A dificuldade em construir uma identidade negra na ciência
é um dos maiores desafios apontados pelas pesquisadoras negras,
e é o que afirma Bárbara Carine Pinheiro (2019), ao trazer dados
que caracterizam a baixa representatividade da produção
intelectual negra no país:
282
Mulheres Negras na Biblioteconomia
283
sucesso na carreira da física, mas que conduziram suas trajetórias
marcadas por um isolamento social e, com isso, dedicam-se à
pesquisa. Afro-americanas negras de perspectivas de vidas
variadas, algumas de classe média, outras de baixa renda, mas
com suas trajetórias marcadas pelo processo de exclusão no
ambiente acadêmico e uma cobrança exacerbada quando
comparada aos demais colegas.
No entanto, as mulheres negras ainda são minorias nos
espaços de produção de conhecimento, na ciência e nas
universidades, isso sem falar na área de ciências exatas, na qual a
concentração é ainda menor, como aponta a pesquisa Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq):
284
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285
recente acesso dessas mulheres por meio das universidades tem
contribuindo significativamente para o despertar para a
necessidade de tratar a pertinência dessas temáticas na ciência.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
286
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REFERÊNCIAS
287
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290
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1 INTRODUÇÃO
Rosa (1994, p. 140) citado por Sisto (2010, s.p) afirma que “a
memória é quem comanda tudo, sendo ao mesmo tempo
“repositório e veículo” da cultura”. Sisto (2010, s.p.) ainda
completa dizendo que a contribuição da memória assegura a
“comunicação e continuidade” da comunidade cultural.
291
Através da união da memória e oralidade se dá a
disseminação de histórias, lendas, costumes, provérbios, contos,
tradições, e vários outros conhecimentos tidos como “sabedoria
popular” (DANTAS, 2011, p. 18). E é nesse contexto que nasce a
figura do contador de histórias. Para Luciano (2014, p. 2):
292
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293
2 O BIBLIOTECÁRIO ESCOLAR
294
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295
eles: acervo selecionado e atualizado, compreendendo todos os
tipos de suporte; ambiente físico adequado e a presença de um
bibliotecário que exerça a função de mediador de leitura (RAMOS
E CÔRTE; BANDEIRA, 2011, p. 3).
O bibliotecário escolar é definido como “aquele que
reconhece sua profissão como importante e necessária para a
sociedade e se reconhece como um agente de transformação”
(ALMEIDA JÚNIOR, 2006, p. 53 apud ALBUQUERQUE;
TEDESQUI, 2014, p. 120). Desse modo, o bibliotecário escolar
exerce suas funções tradicionais, como processamento técnico de
livros, mas, acima de tudo, o bibliotecário trabalha como um
agente transformador na comunidade escolar que se destina,
sendo o mediador de leitura (ALMEIDA JÚNIOR, 2006 apud
ALBUQUERQUE; TEDESQUI, 2014).
Caldin (2005, p. 1) explicita que “o bibliotecário tem de
largar seu papel passivo, de mero processador técnico de livros e
desempenhar um papel ativo: agente de mudanças sociais”.
Diante dessa transição do profissional, surgem novas
competências para o bibliotecário escolar, resultando em um
profissional mais dinâmico visando atrair um leitor que busca
sempre novas informações.
As competências designadas ao bibliotecário escolar devem
perpassar desde a área técnica até a área cultural, visando que a
biblioteca se torne um grande centro de informação. Ramos e
Côrte e Bandeira (2011, p. 15) explicitam as competências
específicas que o bibliotecário escolar demanda. São elas:
296
Mulheres Negras na Biblioteconomia
297
ligados à sua área profissional, de atuação
específica e também de modo geral a temas
referentes às questões sociais, políticas e
econômicas de maneira a atuar de forma
relevante e competente em seu meio,
procurando sempre redimensionar suas
atividades de acordo com a realidade,
mudanças e necessidades de sua comunidade.
298
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299
Figura 1 - Contadores de histórias.
300
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301
No livro Le renouveau du conte (2001, p. 12) citado por Matos
(2005, p. XVIII), afirma-se que:
302
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303
Figura 3 - Fafá conta.
304
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305
4 MEDIAÇÃO DE LEITURA NA BIBLIOTECA ESCOLAR
306
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307
livros e pelas histórias” (DANTAS, 2019, p. 66). Ainda para a
autora supracitada, o mediador de leitura:
308
Mulheres Negras na Biblioteconomia
1. ser leitor;
2. conhecer as teorias da leitura;
3. valorizar as narrativas orais (mediação oral da
literatura);
4. viabilizar o acesso à informação em seus
diferentes suportes;
5. conhecer as políticas públicas para o livro e
literatura;
6. estar atento às multiplicidades culturais;
7. estabelecer relações afetivas com o leitor;
8. trabalhar em equipe; estabelecer parcerias;
9. ter competências aplicadas às TOCS;
10. conhecer e utilizar as ferramentas da Web 2.0;
11. buscar a educação continuada (RASTEL,
CAVALCANTE, 2013, p. 169).
309
pratique para ter uma boa entonação
durante a leitura; aliás, você pode alterar
seu tom de voz, dependendo dos
personagens do livro e das situações que
ele apresenta (tragédia, comédia, medo,
suspense, alegria);
abra o livro e apresente as ilustrações, caso
a obra as possua;
leia o texto em voz alta e, vez ou outra,
faça algumas pausas para olhar nos olhos
dos seus interlocutores; sempre que
possível, faça uma associação da história
com outras linguagens artísticas. Pode ser
uma música, um filme, uma pintura, uma
peça de teatro, uma escultura;
se a história, faz você, mediador, se
lembrar de algo especial, fale sobre isso
durante a mediação. Pode ser alguma
passagem da sua vida, de alguém de sua
família, de um amigo;
ajude a pessoa a entrar de cabeça no
universo da obra; não precisa parar para
explicar as palavras difíceis do texto, mas
se alguém perguntar o significado delas e
você souber, responda;
ao final, sugira outros títulos do mesmo
autor, ou ainda títulos de outros autores
que têm temática semelhante ao que você
acabou de ler;
pergunte o que as pessoas acharam da
história, o que sentiram durante a leitura
se já passaram por alguma situação
310
Mulheres Negras na Biblioteconomia
311
neles que os alunos vão encontrar o incentivo para utilizar o
acervo e frequentar a biblioteca” (GOMES, 2011, p. 160). Rastel e
Cavalcante (2013, p. 168) afirmam que o bibliotecário, enquanto
mediador de leitura, deve “buscar o aprendizado contínuo e
melhoria de suas competências, envolvendo-se e colaborando
com a crescente demanda evidenciada nos diversos segmentos da
sociedade [...]”.
Entretanto, é importante salientar que o mediador deverá
respeitar os gostos dos usuários, pois o interesse pela leitura não
acontece de forma rápido. É uma construção, que deverá ser
formada entre mediador e leitor, de modo que este último
conheça a variedade textual existente (GOMES, 2011). Silva e
Bortolin (2006, p. 62) afirmam que o “Bibliotecário, o educador, a
pessoa que irá mediar a leitura deve conhecer particularmente os
seus leitores para que não caia no erro de “medicar” doses fortes
de leitura”. Em relação à biblioteca, muito se fala da hora do
conto.
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313
Caros bibliotecários, guardiões do templo, é
excelente que todos os títulos do mundo
tenham encontrado refúgio na perfeita
organização das vossas memórias [...], é
prodigioso que estejam a par de todos os
temas ordenados nas estantes que vos
cercam… Mas como seria bom, também,
ouvir-vos contar os vossos romances
preferidos aos visitantes perdidos na floresta
das leituras possíveis… com seria bom que
lhes desse a conhecer as vossas melhores
memórias de leitura! Sejam contadores -
mágicos - e os livros saltarão directamente [sic]
das estantes para as mãos do leitor.
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315
Além da hora do conto, outras atividades de mediação de
leitura podem e devem ser realizadas na biblioteca escolar. Gomes
e Bortolin (2014) citam algumas: a) exibição de filmes; b) oficinas
de leitura; c) conto dramatizado; d) encontros com escritores; e)
lançamentos de livros; f) banca de troca-troca de gibis; g)
discussão com os pais sobre leitura; h) murais e; i) exposições de
produções dos alunos.
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317
por fim, pensar na função principal do relato
(manter as origens, ressaltar identidades,
recuperar trajetos históricos, reforçar as
culturas materiais, servir de peça de
resistência ou modelo de conduta). São tantos
caminhos! (SISTO, 2010, s.p).
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
319
Então, velha decrépita, como ousa deter o saber e, pior ainda,
transmiti-lo?
- Oh, não! - respondeu a mulher. - O que ´sei é apenas uma
gota no oceano do conhecimento!
Muito bem, vejamos se esta sua gota vai boiar ou afundar
no oceano! Vou fazer uma pergunta e, se você não conseguir
responder, cortarei sua cabeça, como de costume… E depois
cortarei a de todas as crianças que você queira ensinar a ler
e, por que não?, a refletir!
Diante do déspota, havia uma pequena fogueira. Com uma
pinça, ele pegou uma brasa bem vermelha e a jogou num
cântaro cheio de água. Psssshhhhiiiitttt!!!
Então, velha ridicula, diga-me, se este pshittt que você
acabou de ouvir é da água ou da brasa?
Acredito que seja tanto da água como da brasa… -
respondeu a mulher.
Sim, mas qual a exata proporção de intensidades? - zombou
o déspota.
A velha não sabia o que responder. Ela ficou pálida e esperou
a morte. Mas de repente lembrou-se de que as crianças
também teriam a cabeça cortada. Então, a raiva a invadiu.
Uma raiva enorme, fantástica, cataclísmica, uma raiva
histórica!
E essa raiva foi boa conselheira. Dominando-a por alguns
segundos, ela se aproximou do déspota com muito respeito,
inclinou-se humildemente, levantou seu braço e, com toda a
força do seu ódio, sua mão - claque! - esbofeteou a cara do
tirano.
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
Quem foi que fez o claque que você acabou de ouvir, minha
mão ou seu rosto? E, principalmente, em qual proporção de
intensidade? – perguntou a velha.
O déspota, atordoado, esfregou o rosto. Ele estava com um
ar tão espantado que o povo começou a rir, uma risada com
tanto ardor, tanta intensidade que até mesmo o medo que
sentiam se dissipou. E eles eram muitos! Atiraram-se sobre
os generais, sobre os espiões e sobre o rei. Eles os amarram e
os largaram completamente nus na floresta.
Certamente o leão os atacou, o crocodilo os devorou, o
leopardo os mastigou, a hiena lambeu seus ossos e a terrível
pantera vermelha sorveu o pequeno cérebro deles… Mas
não vamos chorar!
Depois, naquele país, todas as crianças aprenderam que a
raiva e o riso são as armas dos pobres.
321
primitivismo, apresentando uma estereotipia e simplificação
característica” (GOUVÊA, 2005, p. 84).
Gonçalves e Silva (s.d, s.p) expressam que para os
educadores são necessários constantes aprendizagem e
conhecimento sobre a cultura Afro. Afirmam ainda, que é
necessário conhecer seus “traços culturais, sua contribuição na
construção da nacionalidade brasileira. Busquemos também
embasamento em estudiosos que se dedicam ao estudo do negro,
sua cultura e sua história” (GONÇALVES; SILVA, sd., sp.).
No Brasil, há diversos escritores e estudiosos da cultura
Afro. Em Belo Horizonte há um destaque para a autora Maria do
Carmo Ferreira da Costa (Madu Costa). Madu Costa é Pedagoga
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Pós-
Graduada em Arte-Educação pela Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Atualmente, é contadora
de histórias e assessora pedagógica, tendo mais de 40 anos de
carreira. A autora conta que “Desde pequena gostava de escrever,
desenhar, cantar e contemplar a natureza. Meus primeiros escritos
foram em versos” (TOLEDO, 2008, s.p.). Com 15 títulos
publicados com a temática em literatura infanto-juvenil e cordel,
possui duas de suas publicações em âmbito internacional
lançadas em Maputo/Moçambique. Os títulos de Madu são:
1 - A Janta da Anta.
2 - Meninas Negras.
3 - Koumba e o tambor Diambê.
4 - Cadarços Desamarrados.
5 - Zumbi dos Palmares.
6 - Lápis de Cor.
7 - Caixa de Surpresa.
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Mulheres Negras na Biblioteconomia
8 - Embolando Palavra.
9 - Cabelos de Maila e outros contos.
10 - Mais uma batalha.
11 - Dandara Guerreira em cordel.
12 - Aedes aegypit em cordel.
13 - Cultura Yorubá.
14 - Luisa Mahin em cordel.
15 - Infância em cordel.
323
Em 2017, foi homologada a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) para educação Infantil e Ensino Fundamental
em escolas Particulares e Públicas. O documento para Ensino
Médio foi homologado em 2018 (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO,
2018).
324
Mulheres Negras na Biblioteconomia
325
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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TOLEDO, Andrea. Apresentamos Madu Costa. 2º Encontrão
escrevendo com o escritor. 27 mar. 2008.
332
Mulheres Negras na Biblioteconomia
SOBRE AS AUTORAS
333
assuntos. Para saber mais sobre a história da autora ainda tem uma
entrevista dela ao CRB 6. Porque ela gosta sempre de falar sobre a
cobrança das taxas do CRB e falar de temas polêmicos:
http://blog.crb6.org.br/artigos-materias-e-entrevistas/crb-6-entrevista-
dandara-baca/ Atuou no Departamento do Livro, Leitura, Literatura e
Bibliotecas, da Secretaria de Cidadania e da Diversidade Cultural do
Ministério da Cultura como Coordenadora do Sistema Nacional de
Bibliotecas Públicas. Atuou na Equipe para Implementação da Política
Nacional de Saúde Integral da População Negra no Departamento de
Apoio à Participativa e ao Controle Social (DAGEP/SGEP/MS), atuou na
Assessoria Parlamentar do Ministério da Saúde. Atuou na Secretaria de
Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde na Política Nacional de
Promoção da Saúde.
334
Mulheres Negras na Biblioteconomia
Elisângela Gomes
Mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás/UFG
(2019). Pós-Graduação/Lato Sensu em Teoria e Prática da Formação do
Leitor pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul/UERGS (2015).
Possui graduação em Letras pelo Instituto Superior de Educação Elvira
Dayrell/ISEED (2018) e Biblioteconomia pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul/UFRGS (2012). Professora na escola Ubuntu -
Formação política e preparatório para o ENEM, capoeirista angoleira,
idealizadora do Coletivo Pretas Angoleiras - GO. Pesquisadora do
Núcleo de Pesquisa Comunicação e Diferença - Pindoba; Observatório
Social/ABECIN e Observatório em Ações Afirmativas - CAAF/UFG.
Áreas de pesquisa: narrativas negras, literatura negra, literatura
marginal, oralidade, memória, ancestralidade, processos de letramento,
África e diáspora, relações étnicoraciais e de gênero.
335
membro da equipe gestora 2018-2020 da Associação Catarinense de
Bibliotecários (ACB). Faz parte do Conselho Editorial da Revista ACB:
Biblioteconomia em Santa Catarina. Participou como bolsista de
extensão e voluntária no Projeto Biblioteca de Referência e Projeto
Espaço Ações Afirmativas do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da
UDESC (2013-2017) e foi bolsista de iniciação científica do Grupo de
pesquisa Didática e Formação Docente - GpDD (2016). Faz parte da
organização das obras: “Bibliotecári@s Negr@s: ação, pesquisa e atuação
política” (2018) e “Bibliotecári@s Negr@s: informação, educação,
empoderamento e mediações” (2019) juntamente com Graziela dos
Santos Lima; do livro “O protagonismo da Mulher na Biblioteconomia e
Ciência da Informação” (2018) e “O protagonismo da mulher na
Arquivologia, Biblioteconomia, Museologia e Ciência da Informação”
(2019) em parceria com Nathália Lima Romeiro; do livro “Mulheres
negras na Biblioteconomia” (2019) e, do livro “Epistemologias Negras:
relações raciais na Biblioteconomia” (2019) com Danielle Barroso,
Graziela dos Santos Lima, Elisângela Gomes e Erinaldo Dias Valério.
Temas de pesquisa: Ensino de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
Black Librarianship Americana e Biblioteconomia Negra Brasileira,
Branquitude, Epistemologia, Representações Sociais, Temática Africana
e Afro-brasileira e Educação das Relações Étnico-Raciais, Mulheres
negras na BCI, Mídias sociais, Bibliotecas especializadas, NEABs.
336
Mulheres Negras na Biblioteconomia
337
Acadêmico de Pesquisa e Extensão (CAPEX/UFBA). Desenvolve
pesquisas relacionadas ao: 'comportamento informacional',
'necessidades de Informação' e 'informação e psicologia', 'mediação e
circulação da informação' e 'apropriação da informação'.
338
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