Revista ABO
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Revista ABO
Revista
Científica da
2019
EXPEDIENTE
Esta revista científica é uma publicação da Associação Brasileira de Ouvidores/Ombudsman (ABO) voltada à promoção
e difusão de estudos científicos sobre a atuação de Ouvidorias.
Os textos aqui publicados foram apresentados por profissionais e acadêmicos de instituições públicas e privadas. As
opiniões, dados e informações contidos nos artigos são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não caracteri-
zando posicionamentos oficiais da ABO e dos membros da Comissão Científica desta publicação.
Conselho Fiscal: Cláudio Augusto Montoro Puglisi; Florêncio dos Santos Penteado Sobrinho;
Rui Maldonado
Suplentes: Eleonor Mekari; Maria Auxiliadora Medeiros Valle; Maria Zélia César Correia de
Andrade
Produção editorial: TAG Content (editor: Demetrius Paparounis; revisão: Rosane Albert;
arte: Nuvem Studio)
ABO – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE OUVIDORES/OMBUDSMAN
Rua Frederico Abranches, 389, cj. 22, Santa Cecília – São Paulo (SP) – CEP: 01225-001.
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Pg. Editorial
10 Maria Inês Fornazaro
Apresentação
12
Luciana Bertachini
ARTIGOS
Tendo como diretriz uma Ouvidoria voltada para o cidadão, a qual demonstra a
necessidade premente de construir espaços de representação social e de solução
de conflitos, a Revista Científica se propõe a discutir temas relevantes para o seg-
mento, publicando artigos técnicos e acadêmicos que refletem a posição e a opinião
dos seus autores.
A segunda edição conta com 26 artigos, sob a tutela da atual Diretora de Publi-
cações da ABO, Luciana Bertachini, e o apoio da Comissão Científica, que analisa-
ram em conjunto e minuciosamente cada material enviado à entidade.
Atuar, com vistas à cultura da paz e do respeito aos direitos humanos, na defesa
dos legítimos interesses dos cidadãos, é função social do Ouvidor e colabora para
uma sociedade mais justa e equilibrada. Esta também é a missão da ABO Nacional
e suas Seccionais.
É com imensa alegria que queremos apresentar aos Ouvidores brasileiros e suas equipes
de trabalho a segunda edição da Revista Científica da Associação Brasileira de Ouvidores /
Ombudsman – ABO Nacional, cuja obra reafirma e amplia o debate de proposições práticas e
reflexivas a partir de pesquisas e vivências de Ouvidorias na atualidade.
Este olhar nos convida a aprofundar os estudos éticos com base no exposto na Decla-
ração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, Art. V, “a autonomia das pessoas no que
respeita à tomada de decisões, desde que assumam a respectiva responsabilidade e respei-
tem a autonomia dos outros, deve ser respeitada” (UNESCO, 2005). Com efeito, o espaço
democrático da Ouvidoria reconhece o cidadão como sujeito de direitos e deveres, que ele,
por si, terá a responsabilidade e coerência em, por meio de diálogo, concretizar.
Para cumprir seu papel de intermediário isento, o Ouvidor não pode ignorar que as ordens
sociais possuem costumes e valores éticos específicos. Reunimos nesta edição um conjunto
Por fim, estendemos nossos parabéns e agradecimentos a todos os autores desta obra
por compartilharem suas convicções e experiências exitosas. Certamente seus relatos se
constituirão em bibliografia obrigatória para os profissionais que não somente acreditam num
mundo mais justo, ético, saudável, mas que também lutam por ele.
Luciana Bertachini
Diretora de Pesquisa e Publicações da ABO Nacional
Luciana Bertachini1
Resumo
Fortalecidas pelo período de redemocratização, as Ouvidorias Brasileiras têm expressão
como componentes organizacionais em instituições públicas e privadas por formalizar um es-
paço de acolhida aos cidadãos, tendo como essência de trabalho a escuta ativa e qualificada
das manifestações das pessoas. Trata-se de um espaço aberto para a facilitação do diálogo
com o compromisso de prover informações com qualidade e veracidade, destacando a força
de contribuição do cidadão nos processos de transformação e aprimoramento da gestão. No-
ta-se que a sociedade contemporânea está cada vez mais crítica ao observar as fragilidades
éticas, injustiças, indiferenças e desinformações, impactando em vulnerabilidade e retração
de autonomia no exercício de cidadania. É indispensável aprofundar as questões éticas nas
práticas da Ouvidoria para sua legalidade e transparência, examinando os fundamentos da
Bioética nas práticas do Ouvidor. Parece lícito afirmar que há uma aproximação de ambas as
disciplinas, sendo a Bioética da Proteção um instrumento fundamental de suporte reflexivo à
Ouvidoria no sentido de potencializá-la como dispositivo social para minimizar as assimetrias,
valorizando as diferenças e atuando com o objetivo claro de inclusão e de proteção dos va-
lores humanos. Para tanto, sugere-se que o Ouvidor amplie sua visão sobre os referenciais
(bio)éticos como um princípio e um instrumento a mais em suas competências, visando a
consolidação das democracias, da cidadania e da justiça social.
1 Fonoaudióloga. Doutora em Bioética e Ouvidoria pela CUSC/SP. Mestre e Especialista em Distúrbios da Co-
municação Humana pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina – Unifesp-EPM, e pelo
Conselho Federal de Fonoaudiologia CFFa. Ouvidora/Ombudsman, Docente e Diretora de Pesquisa e Publicações
da Associação Brasileira de Ouvidores/Ombudsman – ABO Nacional.
Ao propor a Bioética nos anos 1970, a grande intuição de Van Rensselaer Potter, biólogo, bio-
químico e bioeticista americano, se caracterizava pela convicção de que a sobrevivência num futuro
próximo estava pendente de posturas éticas consistentes. Em outros termos, se diria hoje que “o
século XXI ou será ético ou nós simplesmente não existiremos” (PESSINI; BERTACHINI; BAR-
CHIFONTAINE, 2014). De fato, os avanços conquistados pela sociedade contemporânea trazem
benefícios e contribuições, mas têm exigido reflexões éticas relativas ao comportamento humano,
sendo indispensável o resgate de valores fundamentais para a convivência respeitosa e a manu-
tenção de um sistema saudável. O cuidado humanizado, como responsabilidade ética assumida,
é uma exigência para existirmos e evitarmos nossa autodestruição. Dentro desse apelativo ético,
a presente análise busca defender a aproximação da Bioética com as Ouvidorias, por atuarem na
defesa e proteção de direitos sociais com implicações na autonomia das pessoas e na proteção de
seus valores. Sendo a Bi-o-é-ti-ca s.f.: a Biologia combinada a uma diversidade de conhecimentos
humanísticos, formando uma ciência que define um sistema de prioridades médicas e ambientais
para uma sobrevivência aceitável (POTTER, 2018).
A evolução propositiva da Bioética teve uma polarização bastante acentuada na direção de dire-
trizes e normas voltadas para a área clínica de pesquisas e cuidados de saúde. Beauchamp e Chil-
dress na obra Principles of biomedical ethics (1979) sistematizaram quatro princípios fundamentais da
Bioética: Autonomia, Não Maleficência, Beneficência, Justiça (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2012).
No entanto, o chamado principialismo norte-americano não visava propriamente aos princí-
pios, mas à redução da Bioética a eles, e a Bioética latino-americana veio superar a restrição dos
seus conceitos à área das pesquisas e dos cuidados clínicos de saúde, para ganhar os espaços
das estruturas culturais, sociopolíticas, econômicas e ambientais (LEPARGNEUR, 1996). A Bioética
amplia suas discussões sobre as relações interpessoais, os sistemas sociais e suas estruturas mais
amplas (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2012). Numa incursão inicial, destaca-se a Bioética Global
como inspiração ética, ao tratar as relações entre indivíduos, as relações entre os indivíduos e a
sociedade e as relações dos seres humanos com seu meio ambiente (LEOPOLD, 1949). O adjetivo
“global” demonstra a perspectiva de abrangência sobre os desafios nos aspectos social, cultural e
ambiental, propondo uma atenção ampliada a todo o planeta (perspectiva antropológica, cósmica e
ecológica) e, ao mesmo tempo, apresentando um paradigma sobre um sistema inclusivo. Busca-se
uma visão consensual que pode ser denominada Bioética Global, destacando os dois significados
do termo global: um sistema de ética é global, de um lado, se for unificado e abrangente e, de outro,
se tem como objetivo abraçar o mundo todo, unindo esforços interdisciplinares para a retomada de
valores (POTTER, 1971).
Uma das formas de resgatar os valores (bio)éticos para proporcionar a participação cidadã é
por meio das Ouvidorias, que atuam como dispositivos sociais abrangentes e conectados com os
anseios dos cidadãos, capazes de exercer o poder legítimo de pressão para aprimorar processos
estabelecidos ou sugerir alternativas de ações correcionais. As Ouvidorias institucionalizam os ca-
nais de participação do cidadão e oferecem recursos concretos, como a escuta ativa, para o apri-
moramento de ações pedagógicas e propositivas a partir de novas posturas ético-profissionais, que
2 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
O método de aproximação temática pelo recorte bibliográfico recorre a escritos sobre Ouvidoria
e Bioética e, embora não de forma restritiva, privilegia o contexto brasileiro, dentro do conjunto lati-
no-americano. Busca-se explicitar pela abordagem analítica os referenciais que são identificáveis de
forma correspondente na prática de ambas as disciplinas, em função de confluírem em afinidades
de eventos no campo ético. Eventos esses que permitem identificar ações práticas das Ouvidorias,
coincidentes ou não com a Bioética enquanto referencial ético-crítico nas suas responsabilidades e
decisões na prática profissional.
Nesta linha, sugere-se discorrer sobre duas dimensões de sujeitos implicados em Ouvidorias:
a do Sujeito Profissional – o Ouvidor – e a do Sujeito Organização – as Instituições. Enquanto a
primeira privilegia relações interpessoais, em que se põe à prova a ética do profissional Ouvidor, da
segunda emergem com mais clareza as relações sociais como um encontro de sujeitos-cidadãos,
desafiados a contribuírem com a ética das organizações. A autonomia, vulnerabilidade, confiabilida-
de, privacidade, escuta empática e prudência ocupam um lugar privilegiado para a análise bioética,
que permite delinear os espaços de força e fragilidade que habitam no trabalho da Ouvidoria.
O sociólogo Max Weber tornou célebre, no início do século, sua classificação das instituições
em três tipos: as “carismáticas”, as “tradicionais” e as “burocráticas”. As instituições carismáticas
são personalistas, com o modo mais clássico de exercer o poder. As tradicionais baseiam-se nos
costumes e tradições culturais de um determinado grupo ou sociedade, representadas pelas figuras
de patriarcas. Enquanto as instituições burocráticas são impessoais como estruturas formais, sem
rosto, “carentes de alma” e de sentimentos. Surge então, nos anos 1990, a “ética das empresas” e
a “ética das organizações”, devendo equacionar os fins lucrativos com os deveres, como os que se
convencionou chamar “deveres de boa cidadania” (JENNINGS, 1990).
[...] os valores não existem sem os seres humanos, estão enraizados na pessoa, que tem
a capacidade de rejeitar, internalizar, ou seja, torná-los seus. A pessoa é o lugar central de
valores morais e, com eles e por eles, são capazes de dar sentido à sua existência. Os
valores não são inatos, podem ser desenvolvidos e incorporados livremente, e a melhor
forma de incorporá-los nos atos e ações é através de uma análise cuidadosa da realidade
(os fatos) e, acima de tudo, através do exemplo dos outros. Ao dizer “tal ação é injusta”, há
um evento que contém mais do que um fato perceptível, pois expressa um valor que não
pode ser visto, mas pode ser estimado. (2010, p. 568)
As Organizações decidem implantar o Instituto da Ouvidoria quando estão sensíveis aos valo-
res humanos, mantendo-se atentas e não acomodadas na “disacusia” – ou não ouvir. É tempo de
partejar o novo, diluir resistências e enfrentar as sombras que mergulham os conflitos de interesses
e a impessoalidade com os valores humanos (IASBECK, 2010). Nessa perspectiva, a Ouvidoria cria
ritmo e escuta permanentes com o cidadão, expondo suas percepções à Organização para despertar
a correção de rumos, com menos danos e mais dignidade. A Ouvidoria é reconhecida como “fonte
ética” e segura de informações. O desafio do Ouvidor é o de mudar aspectos disfuncionais de uma
cultura organizacional e “fazer com que as pessoas percebam que, apesar de sermos representantes
do usuário e defendermos os seus direitos, não somos inimigos da empresa [...]”. “[...] também dize-
mos ‘não’ ao manifestante, mas explicamos as razões envolvidas [...]” (BERTACHINI, 2012a, p. 14). É
muito difícil mudar procedimentos arraigados, por isso é fundamental a relação de transparência com
os manifestantes para que possam compreender determinados processos e a obtenção de diretos e
limitações. A Ouvidoria não deve ser entendida como mais um canal de atendimento ao público, pois
há diferenças significativas no sentido de gerenciar informações relevantes da vida da organização e
de prover participação concreta do cidadão nos processos de melhoria (BERTACHINI, 2013).
Seríamos ingênuos se acreditássemos na existência de Instituição perfeita, mas reconhecemos
que existem iniciativas corporativas que buscam alinhar rotas de aprimoramento contínuo dos pro-
cessos, das dinâmicas organizacionais, aperfeiçoando-se e se corrigindo. Com efeito, as Ouvidorias
são valorizadas por não permitirem “frouxidão moral” no tratamento dos problemas individuais e de
interesse organizacional, por demonstrarem posturas éticas, lisura, honestidade e a verdade nos
processos em que atua. Parece justo afirmar que o sentido de “Ouvir o outro para olhar-se por den-
tro” é uma visão (bio)ética da Ouvidoria na cultura organizacional, que promove o aprimoramento da
administração, realçando os valores humanos.
Os Ouvidores brasileiros, em sua maioria, têm visão ampliada sobre uma atuação intermulti-
O campo da Bioética tem sido um lugar para discorrer sobre alguns valores fundamentais na
área do comportamento humano, ajudando a construir referenciais para a atuação das Ouvidorias.
São os referenciais que convidam a repensar a relação profissional entre as macroestruturas e a
qualidade de vida das pessoas, identificando suas chances de aprimoramento, na forma de prote-
ção de direitos, por meio da ausculta de seus valores e necessidades.
ANJOS e SIQUEIRA (2007) explicam que a Bioética resulta de uma confluência de forças em
um ambiente humano diversificado e mesmo contraditório, onde a Bioética principialista voltada
para a ética em procedimentos clínicos certamente não abrange reflexões sobre o amplo contexto
social. Os autores questionam “como entender os referenciais da Bioética, por exemplo a autono-
mia, em países marcados pela marginalização, por diferentes formas de pobreza e pelo desam-
• Vulnerabilidade: deve ser observada nas condições dos seres vivos que, por qualquer ra-
zão ou motivo, tenham a capacidade de autodeterminação reduzida. Todos os seres têm em
comum um tipo de defesa diante da vulnerabilidade – é a defesa instintiva, decorrente do ins-
tinto da sobrevivência (HOSSNE, 2009a, p. 47). A diferença fundamental é a plena consciência
que o ser humano tem de que é vulnerável e, portanto, ele sofre com a angústia decorrente
desse fato. A vulnerabilidade como um dos referenciais da Bioética pode ser um estado ou con-
dição possível, ou estado ou condição provável. Em 2005, a Declaração Universal de Bioética
e Direitos do Homem reconheceu a vulnerabilidade como um princípio ético, reconhece que
ela pode advir de enfermidades, incapacidades ou outros condicionantes individuais, sociais
e ambientais. PORTO e GARRAFA (2005) asseguram que a vulnerabilidade social interfere
nas relações ambientais e nas inter-relações humanas, sendo que, nas sociedades contem-
porâneas, a economia de mercado aprofunda as desigualdades entre os indivíduos, grupos,
segmentos e populações. Há a necessidade de compreender como a iniquidade se imprime na
vida social, para que se possa intervir individual e coletivamente, com o objetivo de minimizar
a vulnerabilidade dos que têm menor possibilidade de se defender e superar a iniquidade. Pa-
rece lícito pensar a Ouvidoria como uma experiência dialógica emancipadora capaz de propor
a aproximação necessária entre o cidadão e as organizações para a construção de um diálogo
que legitime a autonomia de ambos e diminua a vulnerabilidade, prevenindo a imposição de
“poderes” e direcionando de maneira objetiva a aplicação de direitos e deveres. O Ouvidor
atua com o princípio de representatividade mediante a escuta, acolhendo as demandas do
cidadão como “sujeito vulnerável” da relação de consumo, claramente observada na escassez
de comunicação e informações. O sujeito vulnerável é aquele que não encontra “eco” dentro
das instituições, que solicita respostas e não as recebe, ou as que recebe são insuficientes e
incertas. Por consequência, desiste, desacredita e se enfraquece diante do desinteresse das
empresas. Nesse cenário, a Ouvidoria identifica onde estão os pontos de fragilidade e vulnera-
bilidade das pessoas que recorrem com reclamações, ou que buscam soluções milagrosas e
imediatistas resultantes do “desgaste” e das tentativas frustradas de acolhimento. Nessa pers-
pectiva, surgem oportunidades para as instituições ressignificarem suas práticas na perspec-
tiva de que “os clientes e colaboradores têm seus valores auscultados pela empresa”. Os re-
ferenciais da Bioética contribuem de maneira significativa para as competências da Ouvidoria
desde o acolhimento ao cidadão, identificando as condições de vulnerabilidade e promovendo
condutas baseadas no referencial da prudência, sendo possível incrementar e formalizar al-
guns critérios de trabalho nos três eixos principais de atuação: escuta do cidadão, contribuição
na gestão organizacional e enriquecimento das próprias competências técnico-profissionais.
• Responsabilidade: O filósofo alemão Hans JONAS (2006) apresenta uma ética fundamen-
tada no princípio da responsabilidade para com o mais frágil e o mais ameaçado, ou, em ou-
tras palavras, uma ética heterônoma do futuro. Estabelece-se um novo imperativo categóri-
co: “Age de tal maneira que os efeitos de suas ações sejam compatíveis com a permanência
de uma vida humana autêntica sobre a Terra o mais tempo possível” (RAMIEX, 1996, p. 11-
14). O referencial bioético da responsabilidade tem o sentido de uma missão, com equidade
em prol do mais frágil e daquele mais ameaçado no futuro. É a responsabilidade sobre aqui-
lo que se deve fazer em prol do mais frágil, como, por exemplo, as gerações futuras. Um
compromisso responsável de cuidado levará à promoção das pessoas, respeitando e pro-
movendo a expressão autonômica, a realização e potencialização das capacidades, a cida-
dania e a saúde para todos, em um nível compatível com a dignidade humana, sendo a res-
ponsabilidade vista como um componente da bioética clínica amplificada (POTTER, 1971).
• Alteridade: Há um conhecido ditado popular que afirma: “Falar é fácil, ouvir é que é difícil”. De
certa forma, a sabedoria popular admite que haja uma tendência do ser humano a promover
o processo da comunicação em torno de si mesmo, num ato egoísta e individualista. Ao
afirmar que “ouvir é difícil”, requer sair do egoísmo, voltar-se ao outro, é tarefa árdua para
• Acolhimento: é o elemento que, de certa forma, conecta uma conversa à outra e interco-
necta os diferentes espaços de conversa. Em qualquer encontro do Ouvidor com o cidadão,
não cessamos de “acolher” e prover o diálogo, um princípio importante nas competências de
Ouvidoria. O acolhimento-diálogo é definido como uma dimensão pragmática do encontro,
que busca compreender as necessidades da pessoa e os modos de satisfazê-las, o que
revela a mais fina característica de todas as formas de conversa, individuais ou em grupo.
São assimilados pelo Ouvidor os domínios de ação (emoções) e de significação (linguagem)
da pessoa (usuária de um serviço) e de suas demandas (o que pode envolver, muitas vezes,
um sofrimento importante). É justo estabelecer uma interface com a comunicação quando é
preciso desenvolver formas de saber ouvir os cidadãos que reclamam seus direitos, respei-
tando o momento existencial de cada um. O bom acolhimento consiste em agir com postura
e atitude humanizadas em todas as oportunidades de encontros e diálogos no âmbito orga-
nizacional e individual, pois é ela a razão de ser das Ouvidorias (BERTACHINI, 2010, p. 114).
Para tanto, destaca-se em Ouvidoria: (a) utilizar uma escuta empática; (b) explicar os proce-
dimentos e como deverá prosseguir o tratamento dos problemas apresentados, mesmo que
seja necessário atendimento por outras instâncias da instituição, e/ou por outros serviços
fora da unidade; (c) facultar ao cidadão condições para um vínculo de confiança pautado por
parâmetros humanitários de solidariedade e, sobretudo, de cidadania; (d) apresentar com
clareza as soluções possíveis, oferecendo segurança ao cidadão, com base na agilidade
dos serviços e no uso racional dos recursos disponíveis; (e) proporcionar uma comunicação
adequada, que vai além de simplesmente oferecer informações. Quando a Ouvidoria acolhe
e escuta o indivíduo, permite que ele se sinta protegido por um espaço que é destinado ao
exercício da proteção de seus direitos, valorizando suas contribuições para mudanças e
transformações coletivas.
Na linha que estamos refletindo sobre a Bioética no campo da Ouvidoria, destacamos a im-
portância das competências do Ouvidor em construir caminhos equânimes ante os conflitos, numa
perspectiva de valorização e proteção do indivíduo vulnerável, mitigando implicações de desigual-
dades. Encontramos na Bioética da Proteção uma dimensão de análise de contribuição concreta
para as Ouvidorias. SCHRAMM (1994) e KOTTOW (2003) consideram a Bioética da Proteção como
o conjunto de conceitos, argumentos e normas que valorizam e legitimam fatos da realidade, sendo
a ética prática que pretende dirimir os conflitos e dilemas, a partir de processos de crítica e interven-
ção, bem como prover uma tarefa protetora.
Com efeito, há forte aproximação com as práticas da Ouvidoria que são concebidas na defesa
dos direitos e deveres do cidadão, com metodologias específicas de proteção em diferentes cená-
rios institucionais. Assim, a Bioética da Proteção torna-se reflexão fundamental para dar amparo
aos sujeitos e populações que não possuem “capacitação” para realizar seus projetos de vida ra-
zoáveis e justos, na chamada cultura dos direitos humanos. Faz-se necessário propor soluções, em
bases racionais, para a construção de uma sociedade equânime, comprometida com a proteção
dos direitos de cidadania.
Parece lícito abordar a Ouvidoria como agente de proteção, o que significa dizer que ela age
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Representar o cidadão é um papel social implícito na defesa da cidadania, que muitas vezes
encontra resistências no campo sociopolítico ou na cultura institucional ao resgatar medidas de pro-
teção dos direitos individuais e coletivos. Nesse contexto, a Ouvidoria representa a voz do cidadão
ouvindo suas demandas e provendo instrumentos para a prática da autonomia e independência. As
Ouvidorias têm deflagrado questões éticas que precisam ser estudadas na mediação de conflitos,
estimulando as pessoas a exercerem com propriedade seus questionamentos e suas decisões,
mitigando o litígio e a vulnerabilidade.
As bases da Bioética e da Ouvidoria confluem à medida que nutrem as boas práticas, que afe-
tam a qualidade de vida das pessoas. A Ouvidoria se insere encontrando na Bioética um valioso
suporte reflexivo no sentido de aprimorar-se como um “dispositivo social” facilitador, e a passos
largos o Ouvidor busca aprofundar competências teóricas e práticas, sobretudo suas proposições
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2010.
Resumo
A gestão pública atual pressupõe atuação e foco em resultados, primando pela qualidade,
transparência, lisura e adequação dos serviços públicos prestados às necessidades da so-
ciedade. Nesse contexto torna-se relevante o papel do cidadão como principal agente de con-
trole da qualidade desses serviços. Para isso é mister que a Administração Pública ofereça
canais efetivos de atuação para o exercício do controle social. De acordo com a Controlado-
ria-Geral da União (CGU), a Ouvidoria é considerada um relevante canal de diálogo entre o
cidadão e a Administração Pública, de modo que as manifestações decorrentes do exercício
da cidadania provoquem contínua melhoria dos serviços públicos prestados. Desde a criação
da Ouvidoria-Geral da União (OGU) pela Lei 10.689/2004 (que alterou a denominação de
Ouvidoria-Geral da República para Ouvidoria-Geral da União), a qual possui competência
primária de coordenar tecnicamente as Ouvidorias do Poder Executivo Federal (conforme De-
creto nº 4.785/2003), uma série de normas, procedimentos e sistemas vem sendo colocada
em prática no sentido de fortalecer, padronizar, orientar e expandir a atuação das Ouvidorias,
não somente no Poder Executivo Federal mas também nas esferas estaduais e municipais,
assim como nos demais poderes da União. O objetivo deste artigo é analisar o contexto e
identificar os impactos da implementação da Lei nº 13.460/2017, um dos mais recentemente
publicados instrumentos legais de participação, proteção e defesa dos direitos do usuário dos
serviços públicos da Administração Pública, sob a ótica da mudança de cultura e inovação.
1 Mestre em economia, regulação e concorrência dos serviços públicos pela Universidade de Barcelona. Servidora
pública da Agência Nacional do Cinema – ANCINE, lotada na Ouvidoria-Geral do órgão. (camila.bastos@ancine.gov.
br) (camilasanson@gmail.com)
2 Mestre em Sistemas de Gestão pela Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense. Servidora pú-
blica e Ouvidora-Geral da Agência Nacional do Cinema – ANCINE. (carolina.cazarotto@ancine.gov.br) (ccazarotto@
yahoo.com.br)
A democracia tem como princípio fundamental o poder que emana do povo e que é exercido em
seu nome. No Brasil, como Estado Democrático de Direito, são conferidas atribuições para fiscaliza-
ção e controle dos governantes em todas as instâncias. Atualmente, após a falta de participação do
cidadão nessas funções de controle, estamos num momento de resgate de cidadania.
Assim, depois do fim da ditadura militar, a partir da década de 1980, há uma crescente cria-
ção de organizações sociais para proteção da cidadania. Elas surgiram primeiramente nas empre-
sas privadas, depois nas prefeituras e, gradualmente, na esfera federal. Com a Emenda Consti-
tucional 45/2004, as Ouvidorias de justiça passaram a ter caráter constitucional (CALLEGARI e
DE MELLO, 2016).
A Ouvidoria é um instrumento de controle social na medida em que objetiva satisfazer o interes-
se público dando oportunidade para o cidadão se manifestar acerca da atuação de órgãos públicos.
Sendo assim, exercendo ou não o controle da instituição através da Ouvidoria, é caracterizado o
interesse público, dando abertura ao cidadão para se manifestar sobre a atuação das entidades
públicas. Desse modo, independentemente de se estar exercendo ou não o controle institucional
por meio da Ouvidoria, o cidadão exerce o controle social porque a atividade precípua da entidade
é o interesse social (SOUSA, 2016).
De acordo com OLIVEIRA (2005), a Ouvidoria reforçou uma aspiração social que veio junta-
mente com a nova postura cidadã, que demandava uma gestão eficaz , transparente e honesta do
bem público. Também foi exigida uma postura da administração a serviço do cidadão por meio da
criação de canais de comunicação que permitissem a participação popular.
Uma maior transparência é conseguida através da participação social direta realizada por meio
da Ouvidoria. A população, com essa forma de participação, pode interagir com a administração
para formular políticas públicas, diminuir erros, melhorando assim o serviço e efetivamente sendo
ativa na execução da gestão pública (ANTUNES, FREITAS e RIBEIRO FILHO, 2016). Esse papel
vem sendo reconhecido pela população conforme pesquisa recente que aponta que 73% dos ci-
dadãos que interagiram com as Ouvidorias tiveram solução dos temas reclamados (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE OUVIDORES, 2018).
A perspectiva da qualidade foi introduzida quase simultaneamente ao momento em que a Ad-
ministração Pública voltava suas atenções aos usuários. Essa foi uma das principais conquistas
trazidas pelo modelo gerencial (ABRUCIO,1997).
Segundo Schikmann (2010), o novo contexto da gestão pública parte de uma sociedade que
exige foco de atuação em resultados, onde a qualidade e a adequação dos serviços às necessida-
des dos usuários são consideradas aspectos relevantes para o desempenho da administração. A
aplicação desse conceito, na prática, exige aumento da flexibilidade, da prontidão e da capacidade
de adaptação dessas organizações, implicando o uso de novas tecnologias, com a modernização
da estrutura normativa, organizacional e de pessoal.
Imbuída desses princípios, em 1995 foi criada a Ouvidoria-Geral da República, como parte da
estrutura do Ministério da Justiça. O estado de São Paulo, em 1999, promulgou a Lei de proteção
ao usuário do serviço público, determinando a criação de Ouvidorias em todos os órgãos públicos
O código de defesa do usuário dos serviços públicos, Lei 13.460/2017 (BRASIL, 2017), tem
seu fundamento no art. 37, § 3º, inciso I da Constituição Federal, que prevê que os usuários dos
serviços públicos devem ter meios de “participar” da Administração Pública. Um desses meios é a
possibilidade de reclamar sobre a qualidade dos serviços públicos. O diploma legal é aplicado à
Administração Pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
e, subsidiariamente, aos serviços públicos prestados por particular.
A nova lei, no seu art. 2º, traz um significado mais amplo para Serviço Público. A definição
abrange a prestação direta de bens e serviços por órgãos e entidades públicas, atividades realiza-
das por particulares e até atividades administrativas, também conhecidas como “atividades meio”,
onde o usuário do serviço prestado é a própria Administração Pública.
A aplicação da lei considera usuário qualquer pessoa física ou jurídica que se beneficie ou uti-
lize, seja de forma efetiva e direta ou mesmo de forma potencial, um serviço público. Isso significa
que em situações em que o cidadão possui um serviço disponível, como por exemplo o Sistema
Único de Saúde, mesmo que não o utilize, ele é considerado um usuário daquele serviço.
Como a lei visa ampliar os direitos e a proteção aos usuários dos serviços públicos, ela não
se sobrepõe a outros instrumentos normativos tais como o Código de Defesa do Consumidor (Lei
8.078/1990), Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011) e Lei de Procedimento Administrativo
(Lei 9.784/1999), que devem ser utilizados de forma complementar ou subsidiária.
A Ouvidoria é um dos canais mais importantes para o exercício da participação e controle
social, logo possui papel fundamental na aplicação dessa lei. O instrumento normativo apresenta
inovações significativas que fortalecem o controle social e a democracia, no entanto, alguns pontos
merecem atenção e são objetos de ponderações.
Quanto aos princípios para prestação de serviço e atendimento ao usuário, é correto afirmar
que a lei trouxe os parâmetros de presteza, acessibilidade, racionalidade, proporcionalidade, quali-
dade, segurança, cortesia e eficiência para a prestação dos serviços públicos, assim como o cum-
primento desses princípios pelo próprio destinatário (através do controle social), pelos meios e ca-
nais de acesso previstos no diploma legal ou por órgãos fiscalizadores (controles interno e externo).
No campo de atuação das Ouvidorias, uma inovação que merece destaque foi a criação dos
Conselhos dos Usuários. O Conselho poderá ser consultado quanto à indicação do Ouvidor, o que
legitima a representatividade e minimiza o risco de captura política. Essa, segundo a lei, representa
a forma de participação dos usuários no acompanhamento da prestação e na avaliação dos servi-
ços públicos. Tais conselhos serão compostos de maneira a observar os critérios de representativi-
dade e pluralidade das partes interessadas, para que a representação seja equilibrada. A escolha
dos representantes será feita em processo aberto ao público e diferenciado por tipo de usuário a
ser representado.
3 CONCLUSÕES
Da análise dos pontos da norma, observa-se que as inovações trazidas pelo código dos usuá-
rios do serviço público têm um viés preponderantemente positivo, mas com aspectos que poderiam
ser objeto de ponderação.
REFERÊNCIAS
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internacional recente. Cadernos ENAP, Brasília, n. 10, p. 1-52, 1997.
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Tocantins, 2016. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,controle-social-na-administracao-publica-
-eficacia-da-Ouvidoria-no-tribunal-de-contas-do-estado-do-tocantins,57116.html>
Resumo
O presente artigo reflete sobre a vocação das Ouvidorias para ser um espaço neutro, que
permite a participação dos cidadãos no controle da qualidade na Administração Pública, no
sistema democrático da atualidade. Observa-se uma crise de confiança na Administração Pú-
blica, alavancada por inúmeros problemas político-administrativos, e uma urgência pela sua
adaptabilidade na composição de uma rede participativa e de controle da qualidade das ati-
vidades administrativas que acompanhe e responda à moderna concepção da sociedade em
rede. A transparência e a eficiência na Administração Pública são princípios que fazem parte
da missão das Ouvidorias na estrutura do Estado. Com isso elas se tornam representantes
legítimas dos cidadãos para reivindicar o aperfeiçoamento das instituições, a propositura de
correções, adequação de políticas públicas e o desenvolvimento de ações em atenção aos
cidadãos. As Ouvidorias, como espaços de interação e conexão dos cidadãos com a Adminis-
tração Pública, constituem a melhor opção para a restituição da confiança dos representados
em seus representantes, dando-lhes legitimidade política para executar as mudanças. Repre-
sentam espaços inteligentes para uma gestão pública moderna e eficiente. A ausência desse
espaço na moderna Administração Pública significa a demora na identificação de problemas
e consequentemente dificuldades de reação às crises, a perda de capacidade e legitimidade
administrativa, o distanciamento das realidades sociais, a perda da confiança e a piora da
qualidade de vida dos cidadãos.
1 Advogado na área do consumo com atuação por mais de 25 anos no Sistema Financeiro Nacional e em Ouvido-
rias. Especialista em direitos do consumidor e direito ambiental. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP.
Doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP pela mesma faculdade. (dionisio.254@adv.oabsp.org.br)
Como bem salientaram Stephen GOLDSMITH e William D. EGGERS2 “no século XX, a burocra-
cia governamental hierárquica foi o modelo organizacional predominante utilizado para a prestação
de serviços públicos”( 2006, p. 21).
No Brasil não foi diferente. Nossa República, desde sua origem, mostrou ser incapaz de ofere-
cer qualidade de vida de forma igualitária e justa aos seus cidadãos.
O sistema democrático brasileiro demonstra fragilidades sedimentadas há décadas, “não é exa-
gero a constatação segundo a qual historicamente a democracia no Brasil foi intermitente e efême-
ra” (SEGATTO, 2015, p. 25).
Um sistema clientelista, patrimonialista e corporativista, que dificulta a emancipação de grande
parte da população, impossibilitando uma experiência democrática em plenitude, foi o que per-
maneceu historicamente em nosso país. Essa característica presente ao longo de nossa história
republicana causava o distanciamento entre representantes e representados, e estes, por sua vez,
desprovidos de informação, mantinham-se numa situação passiva de receptividade.
Não houve uma experiência participativa efetiva na vida pública. As decisões sempre foram
tomadas à margem da sociedade. Diferentemente do que muitos acreditam, com a ditadura militar,
a situação política do Brasil em termos de participação do povo pouco mudou efetivamente, apenas
institucionalizou-se a rejeição às manifestações.
Com a ditadura houve o sufocamento definitivo das manifestações populares e da sociedade
civil organizada, reprimindo com o uso da força as manifestações de inconformidade com o sistema
vigente. Nesse sistema não houve espaços que autorizassem a existência de uma Ouvidoria no
âmbito da Administração Pública.
Como foi expresso pelo ilustre professor Goffredo TELLES JÚNIOR (1977), na Carta aos Brasi-
leiros, “a ditadura é o regime que governa para nós, mas sem nós”. Toda essa inoperância sistêmica
que dominou as esferas políticas e determinou um governo “para o povo, mas sem o povo”, teve
como seu principal resultado a ineficiência sistêmica do Estado e dos serviços públicos.
Nesse contexto, não é possível a constituição de espaços para que a população possa ma-
nifestar-se participando da Administração Pública por meio de reclamações, críticas, denúncias
ou sugestões.
No Brasil, essas manifestações, ao inverso do entendimento que levou ao desenvolvimento do
Ombudsman escandinavo, não eram vistas de forma benéfica, mas sim como um malefício para o
Governo, que entendia a participação popular ou do cidadão apenas como questionamento e mani-
festação subversiva à ordem política.
Com a redemocratização e com a promulgação da Constituição Federal de 1988, considerada
uma resposta às aspirações históricas por direitos sociais sustentadas por décadas pela população,
2 Stephen Goldsmith foi prefeito da cidade de Indianápolis (EUA) entre 1992 e 1999. É professor de governança
e políticas públicas da John F. Kennedy School of Government e chefe de departamento no Ash Institute for Demo-
cratic Governance and Innovation, ambos da Universidade de Harvard. William D. Eggers é diretor global da Deloitte
Research/Public Sector, membro sênior do Manhattan Institute Center on Civic Innovation.
Toda essa inovação legislativa, surgida em razão da complexidade social e política na reaber-
tura democrática, ampliou as garantias e os direitos, que agora passam a estar contidos na nova
Constituição Federal, criando uma nova realidade democrática e política para o Brasil. Contudo,
chegava a democracia política sem o desenvolvimento de uma cultura cívica enraizada, com ma-
turidade e participação dos cidadãos na Administração Pública de forma “efetiva”, ou, como prefe-
rem alguns, de forma “ativa”, permanecendo infelizmente aquela passividade histórica.
A falta de atenção aos principais anseios da população, às suas principais carências e vul-
nerabilidades esvaziara a execução de políticas públicas; governo após governo permanecia-se
sem grandes mudanças. Somente após a reabertura democrática, com a promulgação da Consti-
tuição Federal de 1988, em que se firma a vontade em corrigir ou ao menos atenuar essa falta de
diálogo e de atenção reduzindo as distâncias, a inovação ganhou impulso em alguns segmentos
da sociedade, como foi o caso dos movimentos sanitaristas, dos direitos dos consumidores e do
jornalismo, dos quais julgamos oportuno especificar algumas qualidades marcantes na construção
dos diálogos participativos em torno da Administração Pública e dos quais entendemos derivar
importantes ações que colaboraram com a formação do instituto das Ouvidorias no Brasil.
É nesse período que a imprensa jornalística, como portadora da informação, que é o instru-
mento de emancipação social das liberdades, resolve criar oficialmente e com certa publicidade
a primeira experiência de Ombudsman do jornalismo brasileiro e na América Latina. Trata-se do
Ombudsman do jornal Folha de S. Paulo, tendo à frente o jornalista Caio Túlio Costa, na tenta-
tiva de trazer para nossa imprensa jornalística experiências bem sucedidas do Washington Post
e El País.
Como relata Paula Cesarino COSTA (2017, p. 39), em 24 de setembro de 1989, a primeira
página anunciava: “Ombudsman traz ao leitor os erros da Folha”, anunciando ao grande público
a coluna de estreia de Caio Túlio Costa, como primeiro Ombudsman do jornalismo brasileiro e
latino-americano. O destaque dizia: “quando alguém é pago para defender o leitor”.
Estamos falando de um momento em que não existiam os avanços das Tecnologias da In-
formação e Comunicação (TICs), em que a imprensa jornalística era exclusivamente impressa e
Como nos relata Paula Cesarino COSTA (2017, p. 39), a iniciativa da Folha de S. Paulo
em criar em 1989 o primeiro Ombudsman do jornalismo brasileiro não foi uma ação pioneira
apenas no âmbito do Brasil. Essa iniciativa foi uma novidade também na América Latina e no
mundo lusófono. No contexto latino-americano, as Ouvidorias encontraram muita resistência para
sua instituição.
A falta de infraestrutura adequada para a prestação de serviços públicos de qualidade e de
forma equânime para todos os cidadãos é uma realidade em muitos países latino-americanos. As
crises econômicas agravam as dificuldades de realização plena dos direitos sociais básicos, como
saúde, educação, segurança, segurança alimentar e saneamento básico, que ainda permanecem
distantes de muita gente.
A presença de antigas formas colonialistas que se perpetuaram ao longo de séculos na Amé-
rica Latina cria dificuldades estruturais para a realização democrática em sua plenitude. Os avan-
ços na justiça social em países repletos de carências e vulnerabilidades se devem em grande
parte aos movimentos reivindicatórios por políticas sociais igualitárias, que acabaram tomando
corpo em razão da ausência de uma política de atenção e correção a essas carências, resultado
da força transformadora de seu ativismo, como comentamos no capítulo anterior.
Como nos conta Margot Soria SARAIVA (1997, p.135):
O controle da atividade governamental e dos órgãos do poder, em defesa dos direitos dos
habitantes, é uma coroação necessária para a realização do Estado de Direito e o fortale-
cimento das novas instituições. Como o defensor do povo deve resolver sobre situações
concretas, sobre fatos reais, muitas vezes conflituosos (na verdade, sempre conflituosos),
suas competências são altamente participativas.
Todo esse histórico, tanto no Brasil como na América Latina, foi um processo evolutivo em
termos legislativos e de participação democrática, não obstante, como dissemos anteriormente,
nossa cultura participativa trazer em sua memória pouca experiência em ativismos e reivindicações
sociais; foram porém esses movimentos referenciados anteriormente que iniciaram as mudanças
constitucionais e estruturais, fazendo-se constar nos termos da lei esses direitos. Assim, denota-se
que os avanços foram muito mais na esfera legal que em termos culturais e de consciência parti-
A escala de mudanças mantém ritmo acelerado e contínuo. Temos a percepção de que o tempo
urge em meio a tantas novidades científicas e tecnológicas. A inovação aparece como uma palavra-
-chave, de ordem, nos cenários econômicos. Nesse sentido, não é mais possível uma Administração
Pública alheia aos principais problemas de qualidade de vida da população. Para solucionar isso tor-
nou-se imprescindível a criação de canais de acesso, para que os cidadãos estejam em sintonia com
os novos tempos e os novos modelos tecnológicos de comunicação. Não há mais espaços para pro-
cessos arcaicos e burocráticos que dificultem esse diálogo entre cidadãos e Administração Pública.
Na tentativa de manter os níveis de aproximação e de efetividade no tratamento das manifes-
tações dos cidadãos, entra em vigor a Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017, que dispõe sobre a
proteção e defesa dos direitos do usuário dos serviços públicos da Administração Pública, com um
cronograma de adequação, conferido pelo art. 25 e incisos.
Como podemos observar, a lei sancionada estabelece regras básicas para a participação, pro-
teção e defesa dos direitos do usuário dos serviços públicos prestados (caput do art. 1º, da Lei nº
13.460/2017). Essa lei foi sancionada quase um ano após o Banco Central do Brasil, por meio do
Conselho Monetário Nacional, editar a Resolução nº 4.539, que veio a público no DOU de 28/11/2016.
Faremos aqui um importante paralelo entre essas duas importantes normas, mesmo que de
hierarquias e competências bem diferentes, na tentativa de demonstrar o quanto nossa sociedade
democrática tem avançado positivamente à revelia dos abusos e escândalos que têm afetado a Ad-
ministração Pública e manchado sua reputação e a confiança perante a população.
Um dos pontos relevantes dessas novas normas é sem dúvida a atenção à questão da trans-
parência. Como sabemos, em 2011, foi sancionada a Lei nº 12.527, que definiu regras em nosso
ordenamento jurídico sobre o acesso à informação na Administração Pública.
Merece destaque o disposto no caput do art. 3º, que define: “Os procedimentos previstos nesta
Lei destinam-se a assegurar o direito fundamental de acesso à informação”, o qual traz regras para
o cumprimento do direito à informação constante no inciso XXXIII, do art. 5º da Constituição Federal.
Além disso, informa que esses acessos “devem ser executados em conformidade com os princípios
básicos da Administração Pública”, ou seja, em conformidade com os princípios do art. 37 da Cons-
tituição Federal.
Todos esses dispositivos possibilitam a garantia do acesso a informações sobre a Administração
[...] esta tendência de digitalização está atualmente caminhando para a maior transparên-
cia, significando mais dados da cadeia de fornecimento, mais dados na ponta dos dedos
dos consumidores e, portanto, mais comparações ponto a ponto (peer-to-peer) sobre o
desempenho dos produtos que transferem poder aos consumidores.
Se por um lado o mercado aumenta seu poder de captura de dados para utilizá-los a seu
favor, os consumidores por sua vez também passam a fazer uso de informações manifestadas por
outros consumidores nas redes sociais, plataformas e aplicativos, que conferem um empowerment
diante dos fornecedores de produtos e serviços.
Na Resolução nº 4.539, do Banco Central, estão inseridos nos princípios da política institucio-
nal de relacionamento com clientes e usuários a transparência (art. 2º) e, logo na sequência, no
parágrafo único do art. 3º , temos no inciso I – a prestação de informações a clientes e usuários de
forma clara e precisa, a respeito de produtos e serviços; e no inciso II – o atendimento a demandas
de clientes e usuários de forma tempestiva.
Toda essa movimentação regulatória demonstra total sintonia com os demais diplomas legais
comentados, possibilitando uma mudança no relacionamento com os consumidores e na forma de
relacionar-se com eles, sendo que isso se reflete também no âmbito da Administração Pública e de
seus serviços oferecidos aos cidadãos.
Nas análises sempre muito precisas de Néstor García CANCLINI (2006, p. 29.), “mudanças na
maneira do consumidor alteraram as possibilidades e as formas de exercer a cidadania”, que passa
a viver uma ambivalência cotidiana na sociedade, “junto com a degradação da política e a descren-
ça em suas instituições, outros modos de participação se fortalecem”.
A velha estrutura de governo constituída por séculos de história passa por uma transformação
nas bases. Como salienta Donald KETTL, professor da Universidade da Pensilvânia, no prefácio do
livro de GOLDSMITH e EGGERS, “tornou-se emergente uma nova forma de gestão pública para
[...] temas como “inteligência emergente” (Steven JOHNSON, 2001), “coletivos inteligen-
tes” (Howard RHEINGOLD, 2002), “cérebro global” (HEYLIGHEN et al., 1999), “socieda-
de da mente” (Marvin MINSK, 1997), “inteligência conectiva” (Derrick de KERCKHOVE,
1997), “redes inteligentes” (Albert BARABASI, 2002), “inteligência coletiva” (Pierre LÉVY,
2002) são cada vez mais recorrentes entre teóricos reconhecidos.
Todas essas novas realidades passam a fazer parte da vida das pessoas. É preciso urgência
por parte da Administração Pública na aplicação dessas novas tecnologias a serviço da qualidade
dos serviços e eficiência na administração.
Nesse sentido nos impressiona como uma criação do início do século XIX na Escandinávia se mos-
tra tão atual e tão necessária, em meio a tantas transformações sociais, nas modernas democracias.
Evidencia-se uma impressionante atualidade do Ombudsman ou Ouvidor nas democracias
atuais. Nesse modelo percebemos com muita clareza a adaptação da chamada identidade so-
cioespacial para a identidade sociocomunicacional. Essa mudança está no âmago das sociedades
democráticas atuais. A constituição do chamado Ombudsman no início do século XIX estava muito
arraigada em competências espaciais das burocracias. Hoje, as Ouvidorias modelaram uma nova
perspectiva de atuação que deixa de ser espacial para ser comunicacional e fluida.
Tomando por base a definição de sociedade moderna feita por Anthony GIDDENS (2000), po-
demos entendê-la como “um complexo de práticas recorrentes que criam instituições”, ou seja,
nossas instituições são criadas a partir de práticas cotidianas recorrentes e contínuas. E segue o
prestigiado autor: “tais práticas dependem dos hábitos e modos de vida adotados pelos indivíduos”.
Nessa perspectiva, podemos compreender que nas modernas democracias a sociedade deve
modelar as instituições como resultado de sua participação. As Ouvidorias são espaços de comuni-
cação e informação entre a população e a Administração Pública que têm legitimidade para propor
mudanças, modelando-a de acordo com a vontade de seus cidadãos.
A necessidade de espaços de diálogos entre a Administração Pública e os cidadãos usuários
dos serviços está presente no § 3º do art. 37 da Constituição Federal, cuja redação foi dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998: “A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
Administração Pública direta e indireta, regulando especialmente”, continuando, mais especifica-
mente ainda no inciso I do mesmo parágrafo: “as reclamações relativas à prestação dos serviços
públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação
periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços”.
Esse espaço de diálogo entendemos ser por vocação as Ouvidorias. Sua relevância institucio-
nal como facilitadora da participação, reclamação, reivindicação e avaliação dos serviços públicos
possibilita o aperfeiçoamento dos órgãos públicos na visão dos cidadãos usuários dos serviços.
Pode-se dizer, de modo geral, que a sua disseminação é resposta a um fenômeno co-
mum: a potencialidade de todas as burocracias de se manifestarem de modo insensível
aos indivíduos. Demora, procrastinação, indiferença, tratamento rude, negligência, arbi-
trariedade, comportamento opressivo, arrogante e ilegítimo podem ser problemas estru-
turais de todas as hierarquias nas quais os empregados recebem ordens, poderes e re-
compensas derivados de escalões superiores. (VALDÉS, 2006, s/p.)
Cabe-nos abrir um pequeno parêntese nas conclusões finais para trazer os conceitos democrá-
ticos da antiga Grécia, o qual o fazemos, pela obra de Platão, nas palavras “os governantes devem
governar com sabedoria”. Esse preceito platônico, referência para qualquer cargo público, ainda
repousa sobre a finalidade da res publica de produzir “o máximo de benefícios para o maior número
de pessoas”.
Da antiga democracia grega, passando pela escandinava do século XIX, chegando finalmente
às democracias modernas, fica evidente a importância do Ombudsman ou Ouvidor para o aperfei-
çoamento do sistema político, produzindo o máximo de satisfação para o maior número de cidadãos.
Assim sendo, impressionam-nos as possibilidades de governabilidade que as Ouvidorias pro-
porcionam, essencialmente em razão da volumetria das informações que são captadas pelas mani-
festações dos cidadãos e disponíveis para uso da Administração Pública.
Vale a pena recordarmos as palavras do professor de ciências políticas da Universidade de
Munique, WEINDENFELD (1997, p. 1), “nenhum ordenamento político está definitivamente esta-
belecido. Todo sistema político é constantemente questionado”. Essas constatações fáticas feitas
por Weidenfeld nos alertam para a mutabilidade da vida pública e suas instituições, e nos explicita
ainda o dinamismo como uma condição da sociedade atual, cada vez mais suscetível às mudanças
acontecendo progressivamente mais aceleradas.
Inevitavelmente, as instituições precisam acompanhar o dinamismo da sociedade, mantendo-
-se adequadas às novas realidades impostas pelas mudanças estruturais da civilização.
No cerne das mudanças estruturais da sociedade está o direito à informação que reclama cada
vez mais por transparência na administração. Em nossos dias já não basta somente a informação
para o empowerment do cidadão, embora sua essencialidade seja inquestionável, o dinamismo das
inovações tecnológicas, a aceleração das relações humanas, a comunicação e a fluidez dos dados
digitalizados, implicam novas exigências por parte da população, e a transparência é uma delas.
Não é por acaso que a Lei nº 13.460/2017 tem vários dispositivos ancorados na transparência que
transmite aos cidadãos, uma mensagem de observância aos princípios democráticos e probidade
nos atos administrativos.
Nesse contexto o conceito de Ouvidor ganha contornos definidos e específicos muito bem sin-
tetizado por VALDÉS (2006) quando afirma que “fundamental ao conceito do Ouvidor, no Brasil, é
sua habilidade de inverter a atenção da burocracia na direção do indivíduo, ao qual tem o dever de
servir”. O Ouvidor na Administração Pública está posicionado numa área de tensão, num espaço de
questionamentos permanentes, e entende a transparência como um valor essencial para a continui-
dade do diálogo, ético, franco e aberto entre a Administração Pública e os cidadãos.
A participação democrática, a gestão pública e as políticas públicas se realizam plenamente
nesse instituto. A perda de canais de comunicação permanentes como as Ouvidorias significa na
prática a perda na capacidade informacional, um distanciamento das realidades sociais e, conse-
quentemente, a demora na identificação de problemas e de reação a crises pela administração;
por outro lado, sua criação e disseminação representam para os cidadãos empowerment, ou seja,
empoderamento diante das decisões e consequentemente accountability administrativo.
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Resumo
A pesquisa traz uma análise acerca da importância dos dispositivos democráticos de controle
sobre os atos praticados pelo Estado e seus agentes, tendo como premissa o ordenamento
jurídico brasileiro, sob a égide da transparência e acesso à informação. Para isso, fez-se uma
discussão inicial dos conceitos de accountability, transparência e publicidade, procurando,
em seguida, identificar suas dimensões essenciais e resultantes na sociedade contemporâ-
nea, relacionando-as com as Ouvidorias e a Lei de Acesso à Informação – LAI. Para melhor
compreensão da análise proposta, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e documental com
base em materiais já publicados, tais como livros, artigos, teses, dissertações e, também, do-
cumentos de domínio público, como coletâneas, relatórios, leis, decretos, declarações e pac-
tos. Baseando-se nos princípios da transparência, da fiscalização e da cidadania, a pesquisa
possibilitou constatar diferenças conceituais entre transparência e publicidade, sem, contudo,
inviabilizar o poder da participação.
1 Ouvidor e Docente do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM. Possui Mestrado em Educação pela
Universidade de Uberaba – UNIUBE (2009), MBA em Comunicação Empresarial (2004), Bacharelado em Secretaria-
do Executivo pela União Pioneira de Integração Social – UPIS (2002) e Bacharelado em Ciência Política pelo Centro
Universitário Internacional – UNITER (2018). É avaliador de Cursos de Graduação/Instituições de Ensino Superior
– IES do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP/Ministério da Educação –
MEC. É parecerista da Editora Intersaberes. É Presidente do Fórum Nacional de Ouvidores Universitários – FNOU /
Gestão 2016-2018.
2 Ouvidora-Geral da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, onde também atua como Docente nos cursos do
Centro de Educação Profissional da UNISC. Possui Pós-graduação Stricto Sensu Mestrado em Letras pela UNISC
(2016), Pós-graduação Lato Sensu em Gestão Universitária pela UNISC (2013), Graduação em Comunicação Social
– Jornalismo pela UNISC (2006) e é Graduanda em Letras pela Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA. É
Vice-presidente da Região Sul do Fórum Nacional de Ouvidores Universitários – FNOU / Gestão 2016-2018.
3 Ouvidor-Geral da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC desde 2004. Possui Mestrado em Engenharia
de Produção – Área de Qualidade e Produtividade pela UFSC, Especialização em Recursos Humanos pela UFSC
e Graduação em Administração pela UFSC. É Secretário-Geral do Fórum Nacional de Ouvidores Universitários –
FNOU / Gestão 2016-2018.
A concepção da presente pesquisa teve como elementos instigadores alguns instrumentos con-
temporâneos, advindos com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Tais mecanismos,
como a Lei de Acesso à Informação – LAI e as Ouvidorias, podem ser analisados a partir de prin-
cípios basilares, que norteiam a legitimação do poder, a participação, a fiscalização e o controle,
considerando o agir comunicativo, possibilitando maior transparência com a publicação de atos do
poder público, ocasionando, consequentemente, maior permeabilidade dos cidadãos nos proces-
sos de gestão governamental.
Assim, procurou-se investigar, no cenário político contemporâneo brasileiro, a disponibilidade
de mecanismos que possibilitem aos cidadãos – para além das eleições – o acompanhamento, a
fiscalização e o controle das ações dos seus representantes. Nesse sentido, o problema central da
pesquisa pôde ser expressado com a seguinte indagação: em um cenário com oportunidades tec-
nológicas, de um lado, e políticas, de outro, quais os efeitos obtidos e os resultados alcançados a
partir da institucionalização das Ouvidorias e da LAI como mecanismos de estímulo à participação,
fiscalização e controle dos atos dos agentes públicos?
Desde 1985, a partir da redemocratização, a sociedade brasileira tem se organizado, identifi-
cando seus direitos e questionando práticas que eventualmente deixem de atender aos interesses
sociais e coletivos. Sob a ótica das autoridades, muitas vezes, a população brasileira é caracteriza-
da como contribuinte, pagadora de impostos, mantenedora das máquinas estatais ou, simplesmen-
te, como partícipe temporária do processo, apenas nos períodos eleitorais.
A partir da Constituição Federal de 1988 e, de forma gradual, com o Código de Defesa do Con-
sumidor (Lei nº 8.078/1990), a criação da Controladoria-Geral da União (Lei nº 10.683/03), a criação
da Ouvidoria-Geral da União (Lei nº 10.689/2004), a promulgação da Emenda Constitucional nº
45/2004 (que determina a criação de Ouvidorias também no Poder Judiciário e no Ministério Públi-
co), a Lei de Acesso à Informação – LAI (Lei nº 12.527/2011) e o Código de Proteção dos Usuários
dos Serviços Públicos (Lei nº 13.460/2017), o cidadão passou a dispor de mecanismos de empode-
ramento político que, aliados às tecnologias da informação e comunicação, possibilitam uma nova
dimensão no relacionamento com as instituições governamentais.
Considerando o reconhecimento do aspecto da cidadania, em que “cidadãos” não são apenas
eleitores ou destinatários dos serviços públicos, mas devem, de forma contínua, participar ativa-
mente dos processos de monitoramento, fiscalização e controle dos atos praticados pelos agentes
do poder público, é fatual e notório um crescente interesse pela institucionalização de meios que
possibilitam a aproximação entre governantes e governados.
Atualmente, mais de mil Ouvidores atuam em todo o Brasil. Eles estão na iniciativa privada
(área financeira e de seguros, concessionárias de serviços: rodovias, metrô, energia elétrica, telefo-
nia, portos, aeroportos) e na Administração Pública, seja na União, nos Estados, no Distrito Federal
e nos Municípios, seja nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além do Ministério Público.
Nesse contexto, a Ouvidoria foi sendo implantada dentro das instituições, fazendo parte da
estrutura organizacional. Isso tanto nas organizações públicas como nas privadas, mostrando-se
dinâmica e aliada na escuta e na apresentação de soluções das mais variadas demandas.
Nesta sessão, busca-se a análise de alguns dos principais conceitos na área política, tais como
accountability, publicidade e participação. Outro ponto é a verificação das suas inter-relações e
contribuições para o fortalecimento da representação política no Brasil.
Inicialmente, sem desmerecer outros instrumentos que muito contribuem para a consolidação
da democracia, como é o caso da eleição, parte-se do princípio de que, após os anos 1980, o
cenário político brasileiro passou por transformações, deixando de ser a democracia uma ideia
subjacente para se tornar um ideal organizador da representação. Assim se enfatiza, para este es-
tudo específico, a criação e o fortalecimento de canais que possibilitem a interação entre Estado e
Sociedade, ultrapassando a informalidade, tendo como base arranjos formais e institucionalizados.
Diante desse propósito, em que há um deslocamento de campo da representação política, até
então baseada na esfera eleitoral, verificam-se práticas participativas e representativas que vão
desde as mais tradicionais, como é o caso do plebiscito e do referendo, passando pelas conferên-
cias de políticas públicas, audiências públicas e conselhos, até outras menos tradicionais e conhe-
cidas, como é o caso das Ouvidorias e mesas de negociação e diálogo (ALMEIDA, 2014).
Ainda para além das eleições, que limitam a representação ao sinônimo de democracia elei-
toral, ampliar a comunicação entre governantes e governados significa, também, possibilitar mais
acesso às variadas fontes de informação, garantindo a prestação de contas e fortalecendo a repre-
sentação política. Como bem destaca FILGUEIRAS (2011, p. 71), accountability, bem mais do que
um processo contábil de prestação de contas, é também “[...] um processo político e democrático,
de exercício da autoridade por parte dos cidadãos [...]”.
O autor frisa que esse processo sempre depende da interação entre controles horizontais e
verticais, mantida a tarefa das instituições políticas de construir mecanismos de prestação de con-
Ainda com reflexão em accountability, LAVALLE e ISUNZA VERA (2010 apud ALMEIDA, 2014)
destacam outros dispositivos de prestação de contas, denominados de: a) “societal pró-horizontal”
ou “pró-vertical” (em que a mobilização da sociedade civil vai ao encontro das agências horizontais
de controle em busca da responsabilização dos atores estatais); b) “transversal cidadã” (quando o
cidadão atua dentro do aparelho de Estado); e c) “cidadã pró-horizontal” (em que o cidadão ativa a
agência de controle horizontal mediante queixas).
LUCHMANN (2012 apud ALMEIDA, 2014) propõe uma reflexão sobre as instituições participati-
vas de uma forma mais dinâmica, com olhar voltado para o impacto nas estruturas governamentais,
bem como para as relações com o ambiente social. Um ponto a ressaltar na abordagem em tela é o
controle institucional sobre os governos e nas relações com a sociedade.
Mesmo com as mais variadas dificuldades – ocasionadas pelos níveis de dependência entre os
atores, tais como a vontade política, a tramitação nos órgãos governamentais e a implementação
nos mais diversos contextos sociais –, as instituições participativas servem, de um lado, de ferra-
menta para a sociedade civil na tentativa de induzir o governo ao atendimento das suas demandas.
Os governos e seus agentes, por sua vez, usam as instituições participativas para o atendimento das
demandas individuais e coletivas e, ao mesmo tempo, para analisar suas habilidades de mobilização.
Com olhar sobre os mecanismos que podem auxiliar na legitimação do processo representativo,
destaca-se amplamente a necessidade de os representantes da sociedade civil estabelecerem um
movimento constante de informação, poder e representação. Dessa forma, visando estreitar os laços
de participação diretamente com a população, é necessário o desenvolvimento de canais permanen-
tes de transparência e de interação.
Fonte: elaboração própria dos autores, a partir de base de dados da Controladoria-Geral da União – CGU, disponí-
vel em: https://esic.cgu.gov.br/sistema/Relatorios/Anual/RelatorioAnualPedidos.aspx
[...] No fim das contas, o objetivo de autores que defendem uma versão mais sofisticada
de transparência é fazer não apenas com que a esfera civil mantenha um domínio
diligente sobre o conjunto de informações públicas, mas que, em um momento pos-
terior, pressione o Estado a criar modos de escutar o cidadão. (Destaque ausente no
original.)
21.656.473
19.746.745
16.339.094
14.608.603
11.057.696
8.170.046
3.369.275
2.938.152
1.704.284
1.443.610
64.326 285.968 377.078 646.702
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: elaboração própria dos autores, a partir de base de dados do Ministério da Transparência, Fiscalização e
Controladoria-Geral da União (CGU). Disponível em: http://www.portaldatransparencia.gov.br/sobre.
Por outro lado, e muito além do acesso às informações, existe a Ouvidoria. Ela se configura
como mecanismo que possibilita ao cidadão o registro de suas demandas (informações, sugestões,
denúncias, reclamações ou elogios), integrando em sua natureza e em seus princípios a verificação
e análise de cada registro recebido, a confirmação da sua veracidade e a adoção de medidas para
posterior resposta ao demandante.
Deve-se salientar que o tema Ouvidoria ainda esteve presente na agenda pública do Brasil na
passagem do período ditatorial para a (re)democratização, ganhando relevância nas discussões
constituintes e na redação do texto da Carta Magna de 1988. Destaca-se, nesse contexto, a pro-
posta de criação da Defensoria do Povo, pela Comissão Provisória de Estudos Constitucionais,
presidida por Afonso Arinos.
O Defensor do Povo seria alguém escolhido a partir de nomes indicados pela sociedade civil,
conforme ocorria na Constituição Espanhola de 1978. A redação do Anteprojeto da Comissão de
Estudos Constitucionais (BRASIL, 1986) considerava:
[...] Art. 37
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na Administração Pública
direta e indireta, regulando especialmente:
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, assegu-
radas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica,
externa e interna, da qualidade dos serviços;
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos
de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII. (Destaque ausente no original.)
300 285
271
250
200
165
150 133 138
114 124
100 85
50 40
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2010 2011 a 2013 2014
Fonte: Coleta OGU 2014: Relatório de Pesquisa (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA/Controladoria-
-Geral da União – CGU/Ouvidoria-Geral da União – OGU). Disponível em: http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/Ouvi-
doria/coleta-ogu.
As Ouvidorias são espaços da esfera pública que permitem a participação dos cidadãos na
discussão sobre a prestação de serviços, o atendimento de normas, a resolução de conflitos, além
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Resumo
O presente artigo tem o objetivo de indicar os pontos de convergência entre a atuação
das Ouvidorias e a adoção da educação corporativa como ferramenta que potencializa
resultados na organização, seja ela pública ou privada. Sistematizando as afinidades a
partir das competências do Ouvidor, é possível delinear ações estruturadas que contribuam
para o desenvolvimento humano dos colaboradores e que, por consequência, se refletirão
nos relacionamentos internos e externos e na entrega de melhores serviços. A qualidade
percebida pela interação entre Ouvidoria e educação corporativa se expande porque também
indicará um compromisso do gestor com a ética e a responsabilidade social.
Abstract
This article aims to indicate the points of convergence between the activities of the Ombuds-
man and the adoption of corporate education as a tool that enhances results in the organi-
zation, whether public or private. By systematizing the affinities, from the competencies of
the Ombudsman, it is possible to delineate structured actions that contribute to the human
development of the employees, which will consequently be reflected in internal and external
relationships and in the delivery of better services. The quality perceived by this interaction,
Ombudsmanship and corporate education, expands because it will also indicate a manager’s
commitment to ethics and social responsibility.
1 Advogada, especialista em Gestão Pública, certificada em Ouvidoria pela Unicamp, certificada em mediação de
conflitos pela USF (Universidade São Francisco), Ouvidora-Geral do Município de São Paulo.
2 Publicitária, especialista em Gestão Estratégica de Pessoas (Universidade Presbiteriana Mackenzie).
Certificada em Ouvidoria pela ABO (Associação Brasileira de Ouvidores/Ombudsman) e Mediação de Conflitos pela
USF. Foi assessora técnica na Ouvidoria-Geral do Município de São Paulo e Ouvidora-Geral do Hospital das Clíni-
cas (HCFMUSP). (kelly.alpr@gmail.com)
2 DESENVOLVIMENTO
Nas ações de treinamento, segundo BORGES (2005), também é importante descrever quais
são os comportamentos desejados, pois eles irão consequentemente construir os objetivos e os
conhecimentos, as habilidades e as atitudes correspondentes; e, a partir disso, os conteúdos serão
ministrados.
No caso do desenvolvimento de pessoas, o resultado é obtido a longo prazo, considerando
que prepara o colaborador para a sua carreira profissional, não apenas em treinamento para uma
função específica. Dentre as necessidades de treinamento, podem estar relacionadas: melhoria do
conhecimento técnico dos colaboradores, habilidades e atitudes, comportamento interpessoal com
os clientes ou usuários do serviço etc.
Quando acrescentamos ao conceito de projeto o adjetivo educacional, encontramos a seguinte
referência:
São inúmeras as atividades humanas nas quais, atualmente, a ideia de projetos educacio-
nais está colocada como uma nova forma de organizar e realizar as atividades profissionais.
Profissionais dotados de maior autonomia para tomar decisões, valorização do trabalho em
grupo, desenvolvimento de vínculos de solidariedade e aprendizado constante são algu-
mas das características incentivadas pela realização de projetos educacionais. Em uma
equipe que trabalha com vistas a realizar um projeto, são mais importantes a solidariedade
e o cuidado com a contribuição de cada um para o todo do que os níveis hierárquicos.
Nesse contexto, para a construção de equipes de alto desempenho, todos os membros devem
estar engajados no cumprimento da tarefa de acordo com seus objetivos em comum. A questão não
é quem manda em quem, mas se o projeto está se tornando realidade.
Assim, pode-se dizer que a noção corrente de projeto educacional contempla dois elementos
fundamentais: trabalho colaborativo, posto que é fruto de uma equipe, e objetivo de desenvolvimento
profissional.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por todo o exposto, chega-se à conclusão de que o Ouvidor deve, entre as dimensões de
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Cristiane Hazin1
Resumo
Este artigo apresenta um novo olhar dos clientes e empresários sobre a Ouvidoria. Sua im-
portância estratégica para as instituições, seu papel de facilitador para os clientes e a inesti-
mável contribuição que oferece por meio de proposituras de ações de melhorias que agradam
não só aos clientes, mas também aos “Donos do Negócio”, que percebem maior rentabilida-
de. Não há como esquecer o papel valioso desempenhado pelas Ouvidorias na mediação de
conflitos, solucionando ou minimizando os danos, contribuindo para a redução da judicializa-
ção das demandas. Os hospitais, onde a percepção de qualidade alinhada à satisfação se
apresenta de forma mais sutil, para se tornarem competitivos no mercado e oferecerem um
diferencial de qualidade, têm buscado cada vez mais os selos de acreditação ou a introdução
em programas de gestão de qualidade (ISO), e isto fez com que percebessem a necessidade
de um setor apropriado para ouvir o cliente, uma vez que é ele, o cliente, o maior ativo de uma
empresa e, portanto, uma valiosa fonte de informação que garantirá sua sustentabilidade. A
metodologia aplicada para desenvolver este trabalho foi a Revisão Bibliográfica.
O sentimento de impor as normas e ter a certeza de que o cliente somente tem que acatá-las
está ficando cada vez mais para trás. Hoje, é o cliente quem dita as normas. É ele quem diz como
quer ser atendido e o que espera das instituições. Ciente do poder que detém, está cada vez mais
exigente e, portanto, obrigando as instituições que desejam prosperar no mercado competitivo a
buscar a excelência no serviço prestado.
Com todas essas transformações, surgem no mercado diversas empresas que se propõem
A Ouvidoria por meio das informações dos clientes produzirá insumos valiosos para a alta gestão
da instituição, uma vez que a análise de desempenho sob a perspectiva do cliente poderá indicar
decisões tanto estratégicas como operacionais que influenciem a qualidade dos serviços prestados.
As organizações que não se preocupam em agradar seus clientes têm a própria existên-
cia ameaçada, porque altos lucros estão mais correlacionados com a melhor qualidade
percebida pelo cliente do que com a participação de mercado ou qualquer outra variável.
Essa chamada de retorno ao cliente como principal centro de atenção da qualidade, em
conjunto com a certeza cada vez mais forte de que, em qualquer que seja a organização,
mesmo nas indústrias, sempre haverá um momento de prestação de serviço, foi o fator
que trouxe a qualidade em serviços à esfera de discussões no mundo dos executivos de
primeiríssima linha.
Hoje, muitos modelos de pesquisas são divulgados com a proposta de entregar aos gestores o
caminho para a conquista dos clientes, entendendo o que eles esperam do serviço ofertado e que
os fazem felizes. O mais importante, porém, não é a quantidade de pesquisas realizadas, mas o
que é feito com todas as informações coletadas nessas pesquisas. Quais ações de melhorias estão
verdadeiramente sendo implantadas e qual o comprometimento de todos da instituição, viabilizando
a implantação dessas ações. Somente com o entendimento e engajamento de todos é que os dados
obtidos por meio das pesquisas realizadas serão transformados em informações que irão contribuir
com o aumento da rentabilidade por meio da efetiva satisfação.
A gama de insumos produzidos através das pesquisas e relatos dos clientes nos permite cons-
truir relacionamentos. Assim, as empresas devem buscar na satisfação uma forma de fidelizar o
cliente e estreitar essa relação, tornando-os parceiros do negócio. Esse é o diferencial.
Estamos vivendo a era do empoderamento do consumidor. Estamos migrando da era do “pra-
zer em ter” para o “prazer em experimentar”, e ele quer resultado além da expectativa.
O risco das empresas ao interpretarem a satisfação de seus clientes tomando por base
a qualidade está no fato de que os aspectos atinentes à qualidade são determinados,
normalmente, pela percepção dos gerentes, ressaltando que, em muitos casos, tal en-
tendimento pode diferir totalmente da visão dos clientes. (MILAN; TREZ, 2005, apud ZEI-
THAML; BERRY; PARASURAMAN, 1988)
Conhecer o cliente e entender sua expectativa é fazer dele seu maior aliado. O relaciona-
mento instituição-cliente deve ser construído a todo o momento com transparência e integridade.
Para tanto, é necessário muitas vezes que a instituição tenha a disposição de ceder diante de um
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Paulo Marzionna1
Resumo
Este artigo visa destacar o papel central que as Ouvidorias podem exercer na gestão de
conflitos no ambiente de trabalho no Brasil, indicando caminhos para o futuro da pesquisa
acadêmica e o crescimento das Ouvidorias em organizações brasileiras. Conflitos são parte
integrante de qualquer relação de trabalho, gerando impactos negativos e positivos em indiví-
duos, equipes e organizações. A centralidade deste tema leva organizações a buscarem gerir
conflitos no ambiente de trabalho, de modo a minimizar suas consequências negativas sem
impossibilitar a obtenção de seus benefícios. Nos EUA, em face das limitações do sistema
judicial de resolução de conflitos, organizações têm adotado cada vez mais métodos alterna-
tivos de resolução de conflitos, especialmente arbitragem e mediação. Os dados atualmente
disponíveis sobre o Brasil sugerem que as Ouvidorias podem estar, de fato, exercendo esse
papel central de gestão de conflitos no ambiente de trabalho. No entanto, é necessário apro-
fundar a pesquisa sobre o tema, para compreender efetivamente como as Ouvidorias têm
atuado no país diante de conflitos no ambiente de trabalho de diferentes naturezas. Ademais,
destaca-se como as Ouvidorias podem exercer um papel central na gestão de temas como
assédio moral dentro de organizações brasileiras. Por fim, indica-se a Ouvidoria brasileira
como potencial líder na expansão de outros métodos alternativos de resolução de conflitos no
ambiente de trabalho, como a mediação, e na estruturação de sistemas integrados de gestão
de conflitos.
1 Advogado, consultor e pesquisador. Mestre e Doutorando em Relações do Trabalho pela School of Industrial and
Labor Relations, Cornell University, EUA. Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo. Pós-Graduado em
Administração de Empresas pela FGV-EAESP. (pef35@cornell.edu)
Conflitos são parte integrante das relações de trabalho e da vida organizacional, com diversas
consequências no plano individual, de equipe e organizacional. Neste sentido, é natural que a so-
ciedade e as organizações busquem administrar os conflitos de modo a dirimir as consequências
negativas e potencializar os eventuais benefícios. No entanto, a limitação inerente aos métodos
tradicionais de resolução de conflitos por via judicial levou à expansão acelerada de métodos alter-
nativos, inclusive com relação ao ambiente de trabalho.
Este artigo busca analisar os dados disponíveis sobre a adoção de métodos alternativos de
resolução de conflitos nos EUA e compará-los com os dados disponíveis sobre organizações bra-
sileiras, com especial destaque para o papel exercido pelas Ouvidorias no ambiente de trabalho.
Conclui-se com considerações sobre os futuros caminhos a serem percorridos pela pesquisa aca-
dêmica sobre as Ouvidorias no ambiente de trabalho brasileiro, bem como os caminhos para a
expansão das Ouvidorias em organizações brasileiras.
Frise-se que a opção por utilizar os EUA como referencial é motivada não só pela grande dis-
ponibilidade de informações de qualidade sobre a utilização de métodos alternativos de resolução
de conflitos por organizações naquele país, mas porque é inegável que, no mundo organizacional e
da administração, as práticas adotadas nos EUA são muitas vezes observadas e reproduzidas por
organizações em diversos países, muitas vezes tomadas como sinônimo de um discutível conceito
de “melhores práticas de gestão” (PUDELKO e HARZING, 2007). No entanto, não é raro que o con-
texto institucional americano seja ignorado quando da opção pela mera reprodução de prática de
gestão em outro país. Desse modo, embora a opção por usar os EUA como referencial comparativo
seja natural, neste artigo toma-se o cuidado de destacar peculiaridades institucionais que explicam
as diferenças com relação aos fenômenos observados nos EUA e no Brasil.
Em 1997, pesquisa realizada com as maiores empresas americanas de diversos setores (For-
tune 1000 companies) revelou o quão presentes na vida organizacional americana eram os meca-
nismos alternativos de resolução de conflitos. Naquele momento, o percentual de empresas res-
pondentes que afirmaram ter tido experiências nos três anos anteriores com mediação e arbitragem
foi de 88% e 80%, respectivamente. Apenas 10% das empresas respondentes afirmaram ter expe-
riência com o uso de Ouvidorias (Ombudsman)2. Dentre os respondentes, 18,7% afirmaram usar
mediação frequentemente ou muito frequentemente, e 20,6% afirmaram usar arbitragem frequente-
mente ou muito frequentemente (LIPSKY e SEEBER, 1998).
Em 2011 essa pesquisa foi conduzida novamente nos EUA, apontando algumas mudanças na
utilização de mecanismos alternativos de resolução de conflitos nesse intervalo de catorze anos.
O índice de utilização de mediação subiu de 87% para 98% e o índice de utilização de arbitragem
subiu de 80% para 83%. O número de empresas com experiência com Ouvidoria, por sua vez, subiu
de 10% para 14% (STIPANOWICH e LAMARE, 2014).
Especificamente com relação a conflitos de natureza trabalhista, o uso de mediação subiu de
78,6% em 1997 para 85,5% em 2011. No entanto, o uso de arbitragem para casos trabalhistas
observou uma queda de 62,2% em 1997 para 37,8% em 2011, sugerindo um possível desgaste no
2 Optou-se por omitir aqui outros métodos cobertos pela referida pesquisa, em face do objetivo do presente artigo.
No Brasil inexiste estudo com a extensão e profundidade dos acima citados. No entanto, há al-
guns indicativos importantes sobre o crescimento da utilização de mecanismos alternativos de reso-
lução de conflitos ao longo das últimas décadas. Tendo como foco disputas de natureza comercial,
pesquisa conduzida por LEMES (2017) em seis das principais câmaras de arbitragem brasileiras
revela o aumento de 95% no número total de casos levados à arbitragem por ano, entre 2010 e
2016. No mesmo sentido, a Câmara de Comércio Internacional aponta o Brasil como o quinto país
no ranking da própria câmara em relação ao número total de arbitragens no ano de 2016 (VIVIANI,
2016). Os números sobre mediação extrajudicial também são limitados, embora a promulgação da
Lei Brasileira de Mediação (Lei 13.140/2015) seja reveladora quanto à importância que o tema tem
recebido em conflitos das mais diversas naturezas.
No caso específico dos conflitos de natureza trabalhista, por muito tempo os tribunais coloca-
ram barreiras quanto à utilização de métodos alternativos que estivessem fora do domínio do judi-
ciário. Os casos mais evidentes dizem respeito às impossibilidades quanto à arbitragem trabalhista,
comumente entendida como inaplicável a conflitos individuais em face da indisponibilidade dos
3 Tal queda na utilização da arbitragem possivelmente está ligada à perda de suas características como método
simples, rápido e barato, aproximando-se cada vez mais do processo judicial que visava substituir.
As hipóteses para o papel central exercido pelas Ouvidorias no ambiente de trabalho brasilei-
ro, conforme descrito na seção anterior, são variadas. Passam pela barreira institucional a outros
mecanismos, como arbitragem e mediação extrajudicial, mas podem também refletir o histórico de
sucesso da utilização das Ouvidorias brasileiras para lidar com outros tipos de conflitos, notadamen-
te envolvendo consumidores e usuários de serviços públicos. Se nos EUA empresas sem sindicato
olharam para o ambiente sindical para buscar inspiração (COLVIN, 2003), é possível se argumentar
que no Brasil organizações olharam para suas experiências com outros tipos de conflitos para bus-
car inspiração sobre como tratar os conflitos de natureza trabalhista. Tal fenômeno é identificado
pela sociologia como isomorfismo institucional (DIMAGGIO e POWELL, 1983).
Entender as origens e os fatores que colocam as Ouvidorias em lugar de destaque no ambiente
de trabalho brasileiro tem valor que vai além da mera curiosidade acadêmica. Responder a estas
perguntas pode ajudar pesquisadores e profissionais de Ouvidoria a identificar o papel que as Ouvi-
dorias podem de fato exercer nas organizações brasileiras com relação ao conflito no ambiente de
trabalho e como elas se encaixam no sistema geral de resolução de conflitos composto por ferra-
mentas internas e externas à organização, como o Poder Judiciário.
Como destacado anteriormente, os dados hoje disponibilizados pelas pesquisas brasileiras já
citadas sofrem com a falta de uma definição clara sobre o que é a Ouvidoria no contexto do am-
biente de trabalho organizacional. É evidente que uma maior clareza sobre o conceito da Ouvidoria
no ambiente de trabalho é essencial para a correta mensuração de sua relevância nas relações de
trabalho brasileiras, mas a missão pode ser mais complexa do que parece. Em pesquisa qualitativa
realizada com empresas brasileiras de diversos setores, verificou-se que Ouvidorias voltadas para o
público interno das organizações podem apresentar as mais diversas características quanto ao seu
papel, métodos e estratégias adotadas diante dos mais variados temas. Por exemplo, identificou-
-se: 1) estratégias diversas diante de diferentes tipos de conflitos trabalhistas (ex.: assédio moral,
assédio sexual, conflitos comportamentais etc.); 2) estratégias diversas diante dos sindicatos da ca-
tegoria; e 3) diferentes posições da Ouvidoria dentro da estrutura organizacional e do organograma
(MARZIONNA, 2016).
Desse modo, a pesquisa sobre o papel das Ouvidorias no ambiente de trabalho brasileiro hoje
parece ter dois importantes campos a cobrir antes de tentar alçar voos mais altos quanto às per-
guntas que deve buscar responder. De um lado, a pesquisa sobre Ouvidorias deve se encaixar no
esquema maior da ainda incipiente pesquisa sobre métodos alternativos de resolução de conflitos
no ambiente de trabalho brasileiro, de modo a identificar os métodos mais utilizados pelas organi-
zações no Brasil e as razões por trás dessas escolhas. Por outro lado, há espaço para a pesquisa
acadêmica identificar de fato qual o papel hoje exercido pelas Ouvidorias nos conflitos no ambiente
de trabalho brasileiro: quem é o Ouvidor? Onde a Ouvidoria se encaixa na estrutura da organiza-
ção? Quais os métodos e estratégias adotadas pela Ouvidoria? Qual o grau de independência que
a Ouvidoria brasileira possui para lidar com os conflitos de natureza trabalhista? Estas e tantas
outras perguntas devem ser respondidas de modo a se traçar um retrato cada vez mais claro das
Ouvidorias no país.
Se os caminhos para a pesquisa sobre Ouvidorias no ambiente de trabalho brasileiro estão aber-
tos e são promissores, o mesmo pode se afirmar sobre as possibilidades que se abrem na prática para
Ouvidorias em organizações brasileiras. Embora não se negue a importância do tema dos conflitos
no ambiente de trabalho e se reconheçam as limitações do judiciário para lidar adequadamente com
os diversos tipos de conflito dessa natureza, o ambiente institucional brasileiro apresentou ao longo
das últimas décadas uma série de barreiras para o desenvolvimento dos mecanismos alternativos
mais popularmente adotados em países como os EUA. Nessas circunstâncias, observou-se o flores-
cimento das Ouvidorias como importante canal para lidar com esses conflitos, muito mais presentes
no Brasil do que no contexto norte-americano. Nessa conjuntura, quais os possíveis caminhos que
se abrem para as Ouvidorias no país no que diz respeito ao ambiente de trabalho organizacional?
Há razões para acreditar que o futuro pode elevar as Ouvidorias a uma posição ainda mais des-
tacada no ambiente de trabalho brasileiro. Em um sistema de relações do trabalho em que o tema de
assédio moral ocupa um papel cada vez mais central na vida organizacional, as Ouvidorias possuem
características próprias, como independência e imparcialidade, que as tornam preparadas para lidar
com tais temas (MARCELINO, 2017). Tais características faltam a outros departamentos, como Re-
cursos Humanos, por exemplo, muitas vezes vistos como próximos demais da gestão, notadamente
em modelos de consultoria interna (HARRINGTON et al., 2012).
Ademais, é possível enxergar nas Ouvidorias o potencial de liderar a expansão de métodos alter-
nativos de resolução de conflitos no ambiente de trabalho, potencialmente capitaneando a constru-
ção de sistemas integrados de gestão de conflitos. É da natureza da Ouvidoria a adoção de diferentes
métodos de resolução de conflitos, bem como a disponibilidade de diferentes canais de acesso àque-
les por ela atendidos. Resultados preliminares da citada pesquisa com profissionais de Ouvidoria
apontaram no sentido de ampla utilização de técnicas de mediação e crença no espaço para que a
mediação seja ainda mais utilizada no futuro.
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Resumo
O presente artigo reflete e atenta para a diversidade e o quanto ela é presente nos institu-
tos de Ombudsman/Ouvidoria, que, no Brasil, tiveram como bases o Código de Defesa do
Consumidor em 1990, a criação da Fundação Procon e a criação da Associação Brasileira
de Ombudsman/Ouvidores em 1995, assim como os aparatos legais das agências e enti-
dades de regulação do mercado, que determinaram em instâncias públicas e privadas sua
implantação. Sabe-se que muitas ações têm sido realizadas, observa-se no entanto que a
gestão de pessoas e equipes ainda sente grandes dificuldades quando se trata da gestão
da diversidade, quase sempre pela falta de conhecimento das “vozes” dos cidadãos ou pela
ausência de um sistema de escuta que leve em consideração a forma como o sujeito se cons-
titui dentro das corporações, como ele dimensiona o pessoal com o profissional e o social e
vice-versa. Ou seja, há falta de educação formal dos modos de existência, de ética e governa-
bilidade de si para com o outro dentro das corporações para que seja possível trabalhar com
os sujeitos na sua forma de ler, interpretar e se expressar dentro do ambiente de trabalho.
Para que essa educação formal se faça, as autoras sugerem um projeto de pesquisa sobre o
tema nos institutos de Ombudsman/Ouvidoria no Brasil, de forma quantitativa e qualitativa. A
partir da análise dos resultados obtidos, far-se-á a elaboração de e-book educacional sobre
diversidade e equidade de gênero, bem como a elaboração de curso presencial sobre educa-
ção sexual formal para Ombudsman/Ouvidores.
1 Graduada em Psicologia na FMU. Mestranda no Programa de Mestrado em Educação Sexual. Unesp, Araraquara/
SP. (elaine.terceiro@atento.com)
2 Graduada em Letras. Mestre em Comunicação. Doutora em Linguística (Analista de Discurso). Professora, Dou-
tora e Pesquisadora do PPG em Educação Escolar e em Educação Sexual. Unesp, Araraquara. Líder do Grupo de
Pesquisa Gesteld vinculado ao CNPq (www.gesteld.com) do CTI/FEB/UNESP, Bauru, SP. (regina.momesso@unesp.br)
O Estado liberal moderno define homem e mulher como cidadãos iguais, mas o código sexual
dominante define homem e mulher como opostos. Comumente ideias sobre a divisão do trabalho
na vida familiar definem as mulheres como donas de casas e cuidadoras de crianças. Esse pen-
samento advém do modelo patriarcal em que os homens são uma classe de sexo dominante, o
estupro uma afirmação do poder dos homens sobre as mulheres e a imagem das mulheres como
midiáticas, passivas e estúpidas.
Ao longo dos séculos as forças colonizadoras tomavam os corpos das mulheres da mesma
forma que a terra. Uma hierarquia gerada da fusão entre gênero e raça se tornou característica
central da sociedade colonial, persistindo no mundo contemporâneo e dentro das organizações,
onde a predominância do poder é ditada por homens, brancos, com maior poder aquisitivo. Esse
modelo também estabeleceu os parâmetros da sociedade capitalista de consumo, que por conse-
quência sempre desprivilegiou o elo mais vulnerável da cadeia, o cidadão comum, em favor das
empresas em sua busca incessante por lucratividade, motivo da importância do estabelecimento
de aparatos de proteção ao cidadão e da instalação de instâncias de mediação dessa relação.
A publicação Manual de Boas Práticas – Ouvidorias Brasil, da Associação Brasileira das Rela-
ções Empresa-Cliente, na página 74, dispõe que:
A abordagem sobre o poder de Michael FOUCAULT (1979) é cética quanto à ideia de que há
uma agência unificada de poder na sociedade – ele situa que o poder é disperso e opera de forma
difusa, gerando identidades e práticas comportamentais.
O poder é também tema central na opressão gay por meio da criminalização, da violência e
de opressões culturais. As mesmas estatísticas que mostram as mulheres como alvos da violên-
cia doméstica, mostram gays como alvos mais comuns de outras formas de crime, normalmente
cometidos por outros homens.
De acordo com FOUCAULT (1979), a modernidade trouxe duas novidades fortemente interli-
gadas: poder disciplinar, no âmbito dos indivíduos; e sociedade estatal, no âmbito do coletivo. O
Após décadas em que as palavras “orientação sexual” e “identidade de gênero” eram ra-
ramente proferidas em encontros formais e intergovernamentais nas Nações Unidas, um
debate se desenvolveu no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, sobre os direitos
de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. As discussões no Conselho focaram sua
atenção política nas leis discriminatórias, nas práticas em nível nacional e nas obriga-
ções dos Estados perante o regime internacional de direitos humanos, para enquadrá-las
através de medidas legislativas e outras normas. Em junho de 2011, o Conselho adotou
a resolução 17/19 – primeira resolução das Nações Unidas sobre direitos humanos, orien-
tação sexual e identidade de gênero. A resolução foi aprovada por uma margem pequena,
mas recebeu significativo suporte dos membros do Conselho de todas as regiões. Sua
adoção abriu caminho para o primeiro relatório oficial das Nações Unidas sobre o assunto,
preparado pelo Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos.
Entre os países, 94 apoiam o Conselho de Direitos Humanos, contra 54 países que assinaram
a declaração de 2008 contra os direitos LGBT.
3 METODOLOGIA
1ª Etapa: Visitar a(s) empresa(s) buscando a identificação inicial do(s) objeto(s) de estudo, para
aplicação de questionário estruturado com perguntas quantitativas fechadas, identificação e ca-
racterização dos Ouvidores (nesta fase serão avaliados dados objetivos, tal como: faixa etária,
gênero, escolaridade, histórico profissional, cargo, remuneração).
2ª Etapa: Submeter o questionário de pesquisa para apreciação do Comitê de Ética da
Universidade.
3ª Etapa: Visitar (retorno) a(s) empresa(s) selecionada(s), abordando o(s) Ouvidor(es) para a
realização de entrevista aberta, visando uma análise aprofundada relacionada ao tema “diver-
sidade e equidade de gênero” nos institutos de Ouvidoria no Brasil, para que expressem livre-
mente anseios, vivências e até mesmo preconceitos sofridos.
4ª Etapa: Analisar e tabular os dados, evidenciando-se a problemática.
5ª Etapa: Elaborar e-book educacional sobre diversidade e equidade de gênero e educação
sexual para Ouvidores.
A diversidade (do termo latino diversitate) está ligada aos conceitos de diferença, oposição, plu-
ralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade, comunhão
de contrários, intersecção de diferenças ou tolerância mútua, mas, apesar do tema ser amplamente
discutido na sociedade atual, notamos que as oportunidades no mercado de trabalho e a ascensão
profissional estão intimamente ligadas ao gênero e à orientação sexual do indivíduo, além de outros
marcadores identitários.
O Ouvidor tão intimamente ligado aos Direitos Humanos e à Ética, mediador dos conflitos en-
tre empresas e cidadãos, agente de transformação nos processos e políticas em seu segmento de
atuação, público ou privado, necessita estar aberto e acompanhar as evoluções, como indivíduo,
da sociedade contemporânea. O esclarecimento dos fundamentos da concepção de diversidade
e gênero na educação sexual num contexto histórico social, bem como da subjugação pelo poder
e a influência dos vieses inconscientes em suas análises e recomendações, devem fazer parte do
arcabouço de formação do Ouvidor, uma vez que o preconceito coletivo organizacional por vezes é
fruto da ausência de informação qualificada.
Nesse sentido, este artigo sugere um projeto de pesquisa sobre a diversidade e equidade de
gênero nos institutos de Ouvidoria no Brasil, de forma amostral quantitativa e qualitativa e, a partir
da análise dos dados obtidos, a elaboração de e-book educacional sobre diversidade e equidade de
gênero e elaboração de curso presencial sobre educação sexual formal para Ombudsmen/Ouvido-
res, para que possam aprender a analisar os discursos como efeito de sentido entre interlocutores
e, para condição de produção, circulação e recepção desses discursos, possam eleger estratégias
discursivas que construam um ambiente de inclusão, tolerância, inovação e melhoria do ser huma-
no nas suas relações pessoais e interpessoais.
Visando compartilhar com o segmento em questão os dados obtidos na pesquisa a ser realiza-
da pelas autoras, através do Grupo de Estudos em Educação, Sexualidade, Tecnologias, Lingua-
gens e Discursos – GESTELD do CTI/FEB/UNESP de Bauru – SP, eles serão publicados no ano de
2019, na Revista Científica da ABO – Associação Brasileira de Ouvidores/Ombudsman.
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Ariane Rigotti1
Silvana Ap. Perseguino2
Resumo
Este artigo reflete, através de um relato de experiência, sobre como as parcerias institucionais
podem ser benéficas no âmbito das Ouvidorias universitárias. No contexto de evento forma-
tado pela Ouvidoria da Universidade Federal da Grande Dourados no ano de 2017, com o
intuito de fomentar o debate visando ao combate às violências no ambiente universitário, den-
tre elas o assédio moral, estabeleceu-se uma parceria com o Ministério Público do Trabalho
de Dourados e com a Ouvidoria da Universidade Federal de São Carlos. Através da troca de
experiência, utilizando a metodologia da roda de conversa, foi possível demonstrar à comuni-
dade que as violências não são exclusividade de uma única instituição e que trazer à tona o
debate é o começo da prevenção. Respeitando as identidades próprias de cada universidade,
também foram identificadas similaridades institucionais e as possibilidades de protagonismo
das Ouvidorias no processo de combate ao assédio moral no ambiente de trabalho.
1 Ouvidora-Geral da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) desde 2015, com formação em Direito
pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul e MBA em Gestão de Pessoas pela Anhanguera Educacional.
(rigotti81@gmail.com)
2 Ouvidora-Geral da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) no período de 2014 a 2017; Doutora e Mestre
em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos; Especialista em Gestão Organiza-
cional e Recursos Humanos pela Universidade Federal de São Carlos; e Licenciada em Letras (Português-Francês)
pela Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). (silvana.perseguino@gmail.com)
A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoali-
dade, moralidade, publicidade e eficiência. (BRASIL, 1988)
Instituída pelo Decreto nº 8.243/2014, a Política Nacional de Participação Social, em seu art. 2º,
inciso V, define a Ouvidoria Pública federal como:
Art. 13. As Ouvidorias terão como atribuições precípuas, sem prejuízo de outras estabele-
cidas em regulamento específico:
I - promover a participação do usuário na Administração Pública, em cooperação com
outras entidades de defesa do usuário;
II - acompanhar a prestação dos serviços, visando a garantir a sua efetividade;
III - propor aperfeiçoamentos na prestação dos serviços;
IV - auxiliar na prevenção e correção dos atos e procedimentos incompatíveis com os
princípios estabelecidos nesta Lei;
V - propor a adoção de medidas para a defesa dos direitos do usuário, em observância às
determinações desta Lei;
VI - receber, analisar e encaminhar às autoridades competentes as manifestações, acom-
panhando o tratamento e a efetiva conclusão das manifestações de usuário perante órgão
ou entidade a que se vincula; e
VII - promover a adoção de mediação e conciliação entre o usuário e o órgão ou a entida-
de pública, sem prejuízo de outros órgãos competentes.
Desde muito tempo, no mundo globalizado, não é novidade que a tônica dos ambientes cor-
porativos tem sido a competição e a rivalidade, muitas vezes incentivadas pelos próprios gesto-
res na busca por melhores desempenhos, em detrimento da cooperação e solidariedade. Nesse
contexto, o assédio moral vem se destacando como um fenômeno mundial com contornos de
violência difusa, muitas vezes invisível, acarretando resultados nefastos para o indivíduo e para
a organização. Assim, entender o que é e como se manifesta configura o primeiro passo para a
prevenção.
Segundo HELOANI (2003), as pesquisas sobre assédio moral têm raízes históricas na
Suécia, através dos trabalhos desenvolvidos a partir de 1996 pelo psicólogo do trabalho Heinz
Leyman, a respeito do que denominou “psicoterror”. Porém, foi com o sucesso do livro Assédio
moral, publicado dois anos depois pela psiquiatra e psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen,
que o termo se popularizou e impulsionou os debates no âmbito do trabalho e na esfera familiar.
Uma das grandes contribuições de Hirigoyen foi discordar de algumas teorias psicanalíticas que
atribuíam a culpa ao agredido, trazendo à tona uma abordagem mais humana da temática.
Embora seus agressores tentem desqualificá-las, as vítimas não costumam ser indivídu-
os doentes ou frágeis. São pessoas que tomam, de forma consciente ou inconsciente,
posições de enfrentamento, algumas vezes questionando privilégios ou situações injus-
tas. Com isso, tornam-se os alvos das agressões. Isso ocorre justamente por não se
deixarem dominar, por não se curvarem.
O Conselho Nacional de Justiça, em seu portal, esclarece que não há legislação ou lei espe-
cífica para “repressão e punição daqueles que praticam o assédio moral. No entanto, na Justiça
do Trabalho, a conduta de assédio moral, se caracterizada, gera indenização por danos morais e
físicos” (CNJ, 2016, p. 1), podendo ser enquadrada no âmbito da Consolidação das Leis Trabalhis-
tas (CLT) e da Justiça Criminal. Em função da dificuldade de caracterização, faz recomendações
para quem sofre o abuso, como: anotar os fatos relevantes, evitar encontros com o agressor sem
testemunhas, buscar apoio dos colegas que testemunharam, da família e dos amigos.
De acordo com HELOANI (2003, p. 61):
apesar dessas dificuldades, esforços vêm sendo realizados em diversos países, inclusi-
ve no Brasil, para tornar a prática do assédio moral passível de pena. Mais do que a lei,
no entanto, é preciso criar a consciência geral de transparência, contribuindo para que o
ambiente de trabalho seja saudável e adequado ao desenvolvimento das potencialida-
des dos indivíduos.
• Vertical Descendente: tipo mais comum, no qual a pessoa que detém o poder prejudica
o(s) subordinado(s).
• Horizontal: o(s) agressor(es) apresenta(m) o mesmo nível hierárquico da vítima.
• Vertical Ascendente: acontece quando um subordinado ou vários assediam uma pessoa
que pertence a um nível hierárquico superior. (SANTA CATARINA, 2010, p. 17)
Com base nesses princípios, a autora reconhece a Ouvidoria como “uma instância com auto-
nomia em relação às demais áreas de gestão” e que pode ser um recurso com possibilidades de
“apoio à superação das dificuldades nas relações no trabalho” (SOBOLL, 2017, p. 41).
Dentro do espaço de ação possível, foi nessa perspectiva que o evento da UFGD foi formatado
e possibilitou-se a parceria com o Ministério Público do Trabalho de Dourados e com a Ouvidoria
da UFSCar.
A Ouvidoria da UFGD existe praticamente desde o ano de criação da Universidade por meio
da previsão na estrutura organizacional. A partir de 2015, passou por um processo de reestrutu-
ração, sistematizando os fluxos internos e externos, elaborando seu Regimento Interno e adotan-
do o sistema e-Ouv, desenvolvido pela Controladoria-Geral da União, possibilitando sua atuação
em rede.
Seguindo os preceitos de uma Ouvidoria Pública, isto é, a promoção do aprimoramento cons-
tante de políticas e de serviços públicos, tendo em vista o fortalecimento da participação social
como meta e como método de realização do Estado Democrático de Direito, a Ouvidoria da UFGD
sempre primou pelo atendimento de excelência às manifestações dos cidadãos.
Assim, com base em manifestações de 2015 e 2016, a Ouvidoria elaborou um projeto de ex-
tensão denominado “#UFGD Sem Opressão”, submetido e aprovado em edital de 2016, e execu-
tado no ano de 2017. O projeto contou com o apoio da Reitoria e teve como objetivos: (i) incentivar
a melhoria das relações nos ambientes de trabalho; e (ii) contribuir para a melhoria institucional
através da disseminação de conhecimento relacionado às violências em geral, propondo a troca
de ideias e a busca de soluções compartilhadas.
Inspirado na obra de HIRIGOYEN (2006) e do Ministério Público Federal (BRASIL, 2016), o
projeto buscou proporcionar à comunidade espaços de apresentação, discussão e geração de
conhecimento a respeito de temáticas que pudessem integrar uma formação social mais ampla,
voltada para o exercício da cidadania.
Em formato de rodas de conversa, o projeto também se pautou pelos princípios das meto-
dologias ativas, que valorizam o diálogo, a problematização da realidade vivenciada e a ampla
Nesse formato, ao longo do ano de 2017, foram realizados três eventos sobre as seguintes te-
máticas: violência contra mulheres no ambiente de trabalho, assédio moral no ambiente de trabalho
e LGBTfobia, conforme material de divulgação da Figura 1.
A face pedagógica do trabalho realizado nas Ouvidorias envolve o papel proativo do Ou-
vidor enquanto disseminador de conceitos positivos quanto à importância da participação
do cidadão nos processos de gestão pública, conclamando-o e estimulando-o a utilizar-
-se dos canais colocados à sua disposição.
No que tange às parcerias institucionais com o MPT e a Ouvidoria da UFSCar, o evento pos-
sibilitou à comunidade esclarecer dúvidas no âmbito jurídico, bem como conhecer as similarida-
des entre as duas instituições universitárias, a partir da constatação de que as violências rela-
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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-investimentos,10000068526 >. Acesso em: 08 abr. 2017.
Resumo
O presente artigo se propõe a abordar o desafio de ser Ouvidor, refletindo acerca de alguns sa-
beres necessários a uma atuação de qualidade e a uma prática educativa eficaz a fim de tornar
o atendimento nas Ouvidorias o mais humano possível, ao responder a algumas inquietações:
Por que eu atendo? O que represento? Como devo atuar? A quem atenderei? Reconhece-se,
assim, a importância dessa tarefa, bem como a necessidade de o profissional valorizar a for-
mação continuada e estar atento à implementação de novas habilidades, competências e tec-
nologias provenientes de ou para a sua atuação no contexto das Ouvidorias das universidades
públicas federais.
The present article proposes to address the challenge of being a listener, reflecting on some
knowledge necessary for a quality performance and an effective educational practice to make
attendance in Ombudsman offices as human as possible, when answering some questions:
Why do I answer? What do I represent? How should I act? Who will I attend? Thus, the impor-
tance of this task is recognized, as well as the need for the professional to value continuing
education and be aware of the implementation of new skills, competencies and technologies
from or for his work in the context of the Ombudsman’s offices of federal public universities.
Os Ouvidores devem ser sujeitos com alma de poeta. Possuidores de um coração gigante fas-
cinado pela alteridade e que, imbuídos da condição de homem-ferramenta, buscam respostas às
perguntas e inquietações de seu cotidiano, desmistificando e desmitificando seu ambiente de traba-
lho, seja na condição de Ombudsman, como legítimo representante do cidadão, seja no exercício de
Nesse contexto, Paulo FREIRE (2018) – exímio educador brasileiro, pensador comprometido
com a vida, com o método, com a prática da liberdade, com o biografar-se, com o existenciar-se e
com o historicizar-se do cidadão (o aprendente) e, ainda, do próprio educador, papel cuja vestimenta
é perfeita para o Ouvidor, denominado, doravante, Ouvidor-Educador, a saber: um profissional que,
no auge de sua atuação, na prática, fomenta o papel da Ouvidoria enquanto “Pedagogia da Admi-
nistração Pública” – notifica que, para que haja uma educação de qualidade, em particular na área
da educação superior, na qual estejam cultivados os vários saberes necessários à prática educativa
transformadora, são indispensáveis ao educador e, por que não, ao Ouvidor, os seguintes atributos
e/ou atitudes: estabelecer uma pedagogia administrativa – o que, no contexto deste artigo, implica
um espaço de atuação que tenha o ser humano como sujeito ativo e passivo, aquele que executa e
sofre a ação –, fundada na ética, no respeito à dignidade e à autonomia do cidadão, visto que o Ou-
vidor-Educador resplandece como reflexo para aqueles que o rodeiam e o procuram, visando contri-
buir para a construção de um espaço universitário que resgate e valorize o papel social da equidade
e de coesão social, enquanto fonte de reflexão social e proposições para o País.
Ter consciência entre o saber-fazer e o saber-ser-pedagógico, ou seja, estar cônscio de que
atuar, executar suas funções, é muito mais do que puramente treinar suas habilidades e competên-
cias, mas também as da equipe que o acompanha no desempenho de suas atribuições. É permitir
a construção de uma cidadania plena, tanto de sua parte quanto da parte da equipe de trabalho e,
por fim, do próprio manifestante que procura os serviços da Ouvidoria.
Ter formação científica, comprometimento com a pesquisa, já que não há relação de apren-
dizagem sem pesquisa e pesquisa sem ensino, pois é oportuno que o Ouvidor obtenha conheci-
mentos precisos a respeito da aquisição da linguagem, da ideologia, das técnicas e das práticas
de leitura, da escrita, de comunicação, de métodos de resolução de conflitos, entre outros tantos
conhecimentos provenientes dos normativos e das legislações vigentes que abarcam seu contexto
de atuação. Essa formação também inclui correção ética, respeito ao outro, coerência, capacidade
de viver e de aprender com o diferente, não permitindo que as diferenças sejam as justificativas
para uma educação de pior qualidade. Portanto, o Ouvidor-Educador deverá rejeitar qualquer tipo
de discriminação, sendo-lhe notória a cautela, a discrição, o respeito às diferenças e à diversidade,
a ausculta sensível.
Todos os saberes supracitados compõem um itinerário formativo para o Ouvidor-Educador, sen-
do, talvez, seu grande desafio buscá-los e fazê-los presentes em sua atuação diária, contemplando,
desta feita, alguns dos pilares da educação, o de aprender a aprender e aprender a fazer.
Ainda segundo FREIRE (2018), é relevante executar reflexão crítica (criticidade) acerca da rela-
ção teoria/prática, visto que quem forma se forma e re-forma ao formar, pois quem ensina aprende
Essa credibilidade contextual deve ser considerada suficiente para que o saber em causa
tenha legitimidade para participar de debates epistemológicos com outros saberes, notada-
mente o saber científico. A ideia central da sociologia das ausências neste domínio é que
não há ignorância em geral nem saber em geral. Toda a ignorância é ignorante de um certo
saber e todo o saber é a superação de uma ignorância particular. Deste princípio de incom-
pletude de todos os saberes decorre a possibilidade de diálogo e de disputa epistemológica
entre os diferentes saberes. O que cada saber contribui para esse diálogo é o modo como
orienta uma dada prática na superação de uma certa ignorância. O confronto e o diálogo
entre os saberes é um confronto e diálogo entre diferentes processos através dos quais
práticas diferentemente ignorantes se transformam em práticas diferentemente sábias.
É preciso que ele entenda que a formação e a atuação do Ouvidor exigem estética – ou seja, a
compreensão de que o homem se expressa de várias formas, mediante uma beleza que lhe é pecu-
liar, o que será refletido mediante seu próprio testemunho (suas ações) – e apreender a relação de
como o seu espaço de trabalho e sua atuação estão fomentados e refletidos nos demais espaços de
trabalho e de aproximação com o outro. Na prática, objetiva-se levar em consideração, por exemplo,
sua condição de servidor público, mediante a análise de suas atitudes e de seus pensamentos que,
para os demais, podem funcionar como um espelho ético do Ouvidor e, desse modo, da Ouvidoria,
o que se dá por meio da execução de uma ação educativa que, segundo RIOS (2006), abranja a
dimensão técnica, política, estética e moral, visando competências inovadoras, uma práxis criadora.
Ato que coaduna com o seguinte pensamento: “seres relacionais que somos, educamo-nos, educa-
mos outros e pelos outros somos educados”.
Ao Ouvidor-Educador é necessário, ainda, executar uma tarefa oportuna: a prática-crítica do
ato de atender, de acolher, de formar e autoformar-se, o que permite a ele, à equipe de trabalho na
qual esteja inserido e ao cidadão que é atendido que se assumam como seres sociais e históricos,
pensantes, comunicantes, transformadores, criadores de sua própria realidade e da do outro, ca-
pazes de produzir e disseminar conhecimento, emancipando-se, cada vez mais, mediante o papel
transformador da educação.
Portanto, é preciso ensinar a unidade dos três destinos, porque somos indivíduos, mas
como indivíduos somos cada um, um fragmento da sociedade e da espécie Homo sapiens
a qual pertencemos, e o importante é que somos uma parte da sociedade, uma parte da
espécie, seres desenvolvidos sem os quais a sociedade não existe, a sociedade só vive
dessas interações.
Nesse viés, constata-se que, atualmente, a implementação de novas tecnologias é uma das
soluções encontradas para suprir algumas das grandes demandas de trabalho nas Ouvidorias:
a necessidade de produção de relatórios para a administração superior, decanatos, assessorias
de planejamento ou para outras áreas, o registro das manifestações e, ainda, para que possam
contribuir para a simplificação de procedimentos nos seus espaços de atuação e, de forma plena,
deem visibilidade às ações e interlocuções das Ouvidorias.
Nessa direção, pontua-se que, conforme RODRIGUES (2001), a denominação de tecnolo-
gia é definida como “tecno”, ou seja, representa o saber fazer, e “logia” proveniente de estudo
ou razão. Desta feita, implica o motivo, a razão do saber fazer, e pode ser classificada de acor-
do com várias funcionalidades e subdividida em várias dimensões, saberes e habilidades, entre
outros aspectos.
Outrossim, uma grande preocupação dos Ouvidores com esta modalidade de estruturação
das Ouvidorias certamente é a questão pedagógica, pois muito se tem privilegiado os recursos
tecnológicos digitais e os materiais impressos e audiovisuais, e pouco interesse se tem notado
no que concerne à discussão pedagógica (VALENTE, 2003). Vale ainda ressaltar, no âmbito
pedagógico, a diferença entre informação e construção do conhecimento.
Nesse sentido, privilegiando uma educação baseada no conhecimento, VALENTE (2003, p.
139) afirma que “é ilusório, para não dizer enganoso, esperar que uma atividade educacional que
privilegie a transmissão de informação tenha como produto a construção de conhecimento”. No
caso específico das novas tecnologias essa distinção ganha força, uma vez que a interação entre
o público (o cidadão) e a Ouvidoria é, por conseguinte, intermediada por uma tecnologia, sendo
A questão da competência da ação do Ouvidor-Educador em sua área de atuação tem sido ob-
jeto de várias propostas de programas de capacitação e/ou certificação que enfatizam a aquisição
de conteúdos, as habilidades, as competências, além de reflexões a respeito da prática pedagógica
na relação com o cidadão e no contexto do atendimento, bem como abarcam a construção de flu-
xos de trabalho e de processos e propiciam distinto grau de conhecimento e de maturidade sobre o
fluxograma e o organograma da instituição na qual esteja inserido, entre múltiplos outros aspectos.
Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de re-
pente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia,
enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Resumo
Este trabalho objetiva compartilhar a experiência na disseminação dos conceitos de Ouvidoria
em uma instituição privada baseada na metodologia “aprender fazendo”. A apropriação dos
conhecimentos de Ouvidoria por meio da prática resulta no desenvolvimento de um ambiente
de conscientização propício à resolução de conflitos pela via administrativa, estimulando o
uso dos canais de comunicação das organizações.
Abstract
This work aims to share the experience in the dissemination of Ombudsman concepts in a
private institution based on the methodology “learning by doing”. The appropriation of the
Ombudsman knowledge, through practice, results in the development of a conscientization
conducive to the resolution of conflicts by administrative means, stimulating the use of the
communication channels of the organizations.
2 DESENVOLVIMENTO
A Instituição onde foi implantada a experiência objeto deste trabalho, Caixa de Assistência
dos Funcionários do Banco do Brasil (CASSI), é uma associação de assistência social à saú-
de, sem fins lucrativos, constituída em janeiro de 1944, que opera plano privado de assistência
à saúde sob a modalidade de “Autogestão em Saúde” e é direcionado às pessoas vinculadas a
uma empresa patrocinadora.
Na operação do plano de saúde, a CASSI assume a responsabilidade de garantir aos seus
beneficiários, por meio do acesso a prestadores de serviços de saúde credenciados/contratados
(hospitais, médicos, clínicas, laboratórios), a realização de procedimentos com base nos regula-
mentos e nos contratos dos planos que administra.
Em contrapartida, recebe as contribuições dos beneficiários e da patrocinadora, as quais
são utilizadas para pagar os serviços de saúde que lhes forem prestados pelos credenciados/
contratados.
2.2 Contextualização
O filósofo John Dewey (1859-1952), em seu livro Democracia e educação, de 1916, detalha a
ideia do aprendizado a partir da prática, demonstrando que o ser humano aprende melhor fazendo.
Dewey propôs um novo tipo de aprendizagem, o da Escola Progressista ou Democrática (BA-
LOI), onde cada aluno aprende fazendo e se enriquece com as experiências dos outros alunos.
Apesar de a metodologia “learning by doing” ou “aprender fazendo” ter sido originalmente con-
cebida para a educação de crianças, ela passou a ser utilizada no meio empresarial, especialmente
em razão do baixo investimento e da rapidez na obtenção dos resultados.
Nessa mesma linha, mas já direcionado às organizações, surgiu o método intitulado 70:20:10,
popularizado por Michael Lombardo e Morgan McCall no livro The Lessons of Experience, de 1988.
Esse método analisou o resultado do aprendizado de diversos executivos de empresas, concluindo,
resumidamente, que:
Com base nesses referenciais, a solução implementada pela Equipe de Ouvidoria incorporou
essas duas abordagens ao implantar o treinamento em serviço, buscando torná-lo um instrumental
de suporte para a melhoria da qualidade das respostas às demandas apresentadas pelo público de
relacionamento da Instituição.
2.5 Metodologia
O treinamento foi concebido para ser realizado totalmente no formato presencial, no ambiente
físico onde está instalada a Equipe de Ouvidoria.
3 CONSIDERAÇÕES
Os resultados obtidos até o momento indicam a assertividade da ação para difundir os concei-
tos de Ouvidoria, utilizando a sistemática de treinamento em serviço.
REFERÊNCIAS
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Resumo
A Ouvidoria Pública se firmou como um importante canal de acesso do cidadão brasileiro à
Administração Pública. Ela é responsável pelo recebimento de reclamações, denúncias, elo-
gios, solicitações e sugestões que podem se relacionar ao interesse particular do manifestan-
te ou se referir à coletividade. A instituição cresceu em número e em importância nas últimas
décadas e está fortemente ligada ao controle social e ao exercício da cidadania. Da mesma
forma que a Ouvidoria evoluiu o cidadão também o fez. Hoje o que se vê é um cidadão mais
consciente de seus direitos e mais participativo. A era do cidadão passivo, que encarava os
serviços públicos como favores do Estado, ficou para trás. Diante disso, a Ouvidoria precisa
encarar os desafios e atualizar sua forma de trabalhar, ficando preparada para interagir com
o cidadão moderno.
1 Gestora de regulação de serviços públicos lotada na Ouvidoria da Arsae-MG. Graduada em Nutrição pela Uni-
versidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Graduanda em Direito pela Universidade Estácio de Sá.
(katherynne.mcr@gmail.com)
2 DESENVOLVIMENTO
As Ouvidorias são instâncias de participação e controle social, nas quais os cidadãos podem re-
gistrar suas reclamações, denúncias, solicitações, sugestões e elogios referentes às políticas e aos
serviços públicos (BRASIL, 2015). No Brasil, a Ouvidoria Pública, como vista hoje, é uma instituição
relativamente nova, que começou a ser delineada na Constituição Federal de 1988. MORAES et
al. (2010), em uma análise da evolução histórica das Ouvidorias desde o Brasil-Colônia, relata que
a figura do Ombudsman/Ouvidor está presente no país desde esse período. Afirma o mesmo autor
que a primeira Ouvidoria Pública no Brasil foi criada na cidade de Curitiba-PR, pelo Decreto-lei nº.
215/86, e tinha como principal atribuição a defesa dos interesses legitimamente protegidos dos seus
cidadãos.
Segundo SANTOS (2017), apesar de a Constituição não trazer expressamente a instituição
das Ouvidorias, ela o faz de forma indireta em seu art. 37, § 3, inciso I, ao preconizar o direito de
reclamação.
Mais de duas décadas se passaram até que o instituto ganhasse uma definição legal. A con-
ceituação de Ouvidoria coube ao Decreto nº 8.243, de 2014, no art. 2°, inciso V, que considera
Ouvidoria Pública:
MENEZES (2017) discorre que a Ouvidoria “assume um papel de extrema relevância para a
valorização da cidadania, na condição de instância de promoção e defesa de direitos, viabilizando a
participação e o controle social e assegurando o fim público da ação administrativa”.
Desde a redemocratização, que foi concluída em 1985, os poderes Legislativo, Executivo e Ju-
diciário vêm criando suas Ouvidorias nos âmbitos federal, estadual e municipal. O maior número de
Ouvidorias fortalece a participação social a partir do momento em que elas se firmam como canal
que funciona de portas abertas para ouvir a sociedade.
Com a retomada da democracia, a Constituição de 1988 buscou assegurar em seu bojo que
a sociedade pudesse exercer livremente a cidadania. MADRIGAL (2016) entende que a cidadania
é um processo que se efetiva através do conhecimento e que está em permanente construção. O
cidadão deve conhecer seus direitos, ter consciência de seus deveres e saber que, como parte da
comunidade em que vive, ele pode intervir na vida pública.
Hoje, não se pode falar em gestão pública eficaz sem levar em conta os direitos fundamentais
e sociais assegurados constitucionalmente e o permanente diálogo entre a sociedade e o Estado
(SERRA; CARVALHO; CARNEIRO, 2012). O cidadão atual é mais exigente, participativo e não
aceita ser marginalizado das decisões políticas. Ele quer ser ouvido nas instituições públicas e ter o
direito de influenciar os rumos das políticas públicas e a qualidade dos serviços recebidos.
Pode-se dizer que o cidadão está mais consciente da sua posição diante da coisa pública em
dois eixos principais: como financiador, pois ele contribui financeiramente para o custeio das ativida-
des estatais, e como usuário ou beneficiário dos serviços públicos (SANTOS, 2017).
A sociedade dispõe atualmente de inúmeras formas de entrar em contato com a Administração
Pública. Dentre esses canais podemos citar: agências de atendimento presencial, telefonia gratuita,
sites institucionais, correios eletrônicos, cartas, entre outros. O Estado se mostra aberto a receber
as demandas da sociedade e busca disponibilizar uma gama variada de meios, de forma a atingir
os diversos perfis presentes na sociedade.
Com o amadurecimento da consciência cidadã, a democracia participativa é consolidada quan-
do o cidadão utiliza todas as possibilidades participativas expressas na legislação e por meio delas
Nos tempos atuais o cidadão entende sua força na sociedade e exerce seu poder de influenciar a
atuação pública por meio do controle social. MORAES et al. (2010) assim descreve o controle social:
O controle social é um termo designado dentro das políticas públicas como uma forma
de participação democrática nos processos de gestão das instituições/organizações
no Brasil. O controle social se caracteriza pela participação da sociedade nas funções
de planejamento, monitoramento, acompanhamento e avaliação de resultados das
políticas públicas.
Na era de um cidadão mais participativo e ciente dos seus direitos, as Ouvidorias enfrentam
desafios que carecem ser debatidos e confrontados de forma a tornar o atendimento cada vez
mais satisfatório.
Um dos desafios que a Ouvidoria Pública vem encarando é a relação do cidadão com as mídias
sociais e os meios de comunicação. Nos tempos da web 3.0 a Ouvidoria necessita preparar-se para
lidar com um cidadão que busca respostas de forma tempestiva e não se contenta com respostas
que, apesar de estarem no prazo legal, demoram dias para serem disponibilizadas.
A qualificação do atendimento é outro ponto a ser focalizado. O atendente de Ouvidoria preci-
sa ser um profissional treinado e qualificado para estar ali. Segundo BRASIL (2015), o atendente
deve identificar a necessidade do cidadão, atenuar a burocracia, ter empatia, cortesia e presteza.
Art. 10, § 1º A identificação do requerente não conterá exigências que inviabilizem sua
manifestação.
§ 2º São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos determinantes da
apresentação de manifestações perante a Ouvidoria.
§ 3º Caso não haja Ouvidoria, o usuário poderá apresentar manifestações diretamente ao
órgão ou entidade responsável pela execução do serviço e ao órgão ou entidade a que se
subordinem ou se vinculem.
As Ouvidorias não são o canal prioritário de atendimento ao público, devendo ser procuradas
nos casos de esgotamento das possibilidades de atendimento ou solução pelas áreas competentes.
O serviço não é prestado pela Ouvidoria, ela atua como órgão de auxílio ao usuário na resolução
de problemas com a Administração (MANUAL OGE MG, 2015). Contudo, quando o usuário chega
até a Ouvidoria sem conseguir êxito nos canais anteriores, ele anseia por uma resposta conclusiva.
Nesse ponto, a Ouvidoria precisa buscar uma resposta que satisfaça, que atenda à solicitação e,
nisso, ela esbarra na baixa autonomia do Ouvidor. A pouca autonomia para mobilizar as áreas ne-
cessárias e dar uma rápida solução à manifestação é uma grande barreira a ser vencida dentro das
instituições públicas.
SERRA, CARVALHO e CARNEIRO (2012) declaram que o Ouvidor e sua equipe devem ter
sua atuação pautada pela probidade, ética, correção, além de possuir independência e autonomia
para o desempenho de suas funções. O Ouvidor também precisa ter habilidade para a mediação,
pois ele contribuirá para a solução de conflitos envolvendo o cidadão e o gestor. Outra característica
fundamental, discorre o autor, é a necessidade de comunicação eficaz, com a correta compreensão
das informações trazidas pela sociedade.
Em tempos de um maior número de vias de acesso, o cidadão às vezes recorre a mais de uma
Ouvidoria na ânsia de resolver rapidamente o seu problema. Todavia, nesse ponto, a Administração
Pública peca novamente. O isolamento entre as Ouvidorias, pelo qual cada uma atua restritamente
3 CONSIDERAÇÕES
Como visto, a Ouvidoria Pública avançou nas últimas décadas e se concretizou como uma
ponte entre o cidadão e a Administração Pública. Todavia, é inevitável que a instituição atualize sua
forma de atuação buscando estar alinhada com a sociedade e atender às expectativas de um cida-
dão bem mais consciente de seus direitos em face da coisa pública.
O cidadão moderno tem avançado no exercício do controle social, atuando ativamente no con-
trole e fiscalização da coisa pública para obter serviços com maior qualidade e eficácia. A Ouvidoria,
REFERÊNCIAS
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teria/1684.pdf>. Acesso em: 13 maio 2018.
Resumo
Existe de certa forma uma jornada que o consumidor traça para exigir seus direitos, e a
Ouvidoria se apresenta como seu mais estratégico canal de manifestação. Compreendê-la
e, sobretudo, saber as consequências que ignorá-la pode trazer aos fornecedores e às
partes interessadas é entender a sociedade da informação e seus impactos. Essa jornada
consiste em, quando necessário, não judicializar uma reclamação ou desjudicializá-la.
Entendê-la como um conjunto de canais de atendimento ou relacionamento e como as
oportunidades oferecidas auxiliam na construção de uma Governança de Relacionamento,
atendimento a regulamentações específicas e observância do Código de Defesa do Con-
sumidor, além do alto nível de fidelização dos clientes.
Abstract
There is in a way a journey that the consumer traces to demand their rights, and the Ombuds-
man presents himself with his most strategic channel of manifestation. Understanding it, and
above all understanding the consequences that ignore it can offer to suppliers and stakehold-
ers, is understanding the information society and its impacts. This journey consists in, when
necessary, not prosecuting a claim or disqualifying it. To understand it as a set of channels of
service or relationship and the opportunities offered, help in the construction of a Relationship
Governance, compliance with specific regulations and the Code of Consumer Protection, in
addition to the high level of customer loyalty.
1 PhD – Business Administration (FCU/EUA); MSc – Mestre em Direito da Sociedade da Informação (FMU); MBA
– Gestão Estratégica e Econômica de Negócios (FGV); Especialista em Negociações Econômicas Internacionais
(UNESCP/UNICAMP) BSc – Bacharel em Direito (FDSBC); Contabilista (ETESP); advogado, consultor e professor
na FGV – Fundação Getúlio Vargas.
2 A JORNADA DO CONSUMIDOR
Sabe-se que consumidores detêm direitos e deveres. Contudo, a harmonia de suas relações
ocorre também pela plena compreensão dos direitos e deveres do fornecedor, tanto da iniciativa
privada como do poder público.
Quando os direitos de um consumidor passam a ser desrespeitados, inicia-se uma trajetória,
algumas vezes de forma frustrada, pela busca da defesa dos direitos lesados: a essa trajetória deno-
minamos Jornada do Consumidor.
Essa Jornada passa por registrar, nos canais disponíveis para sua manifestação, a media-
ção necessária, nem sempre restaurativa do conflito, mas ao menos conciliadora ou mitigadora
do problema.
O gestor dessa Jornada passa a ser a Ouvidoria, tanto pelo seu aspecto estratégico como, para
alguns setores da economia e do poder público, por seu caráter regulatório.
Se compreendermos que cada canal viável que o consumidor detém para reclamar possibilita
que a empresa ouça essa voz, a soma desses canais oferece mecanismos de melhor relaciona-
mento, tanto pela solução pontual como pela função mais nobre do aspecto gestor da Ouvidoria: a
solução de demandas coletivas ou de volumes de manifestações através de sistemas complexos de
resolução de conflitos e de análise de causas raiz.
Métodos cada vez mais modernos e testados são apresentados para compreensão dessa Jor-
nada. É o caso da TCNR – Teoria do Custo da Não Reclamação, em que sistemas jurimétricos de
análise de causa raiz são capazes de compor modelos de Governança de Relacionamento.
Consumidor
Interno Externo
Mas quem são essas áreas denominadas Ouvidorias e como ao longo do tempo seu modelo
influenciou um relacionamento tão estratégico e com propostas capazes de fazer com que áreas
então entendidas como de custo passassem a se tornar centros de resultados?
Por essas razões e com olhar histórico, uma Ouvidoria deve ser reconhecida por ser a mais
pura representação da voz do cidadão na organização, direcionando ações de melhorias, fideli-
zando clientes, gerando o valor que antes era obtido em pequenas interações com a organiza-
ção, pautando-se em processos gerenciais e uma ética de convivência capaz de harmonizar as
relações, contribuindo para a melhoria de produtos e serviços, tanto da iniciativa privada como no
poder público.
A Ouvidoria passou a ser em países como o Brasil um componente organizacional específico
para gestão das manifestações dos consumidores e cidadãos, o que também lhe ofereceu condi-
ções de gerenciar as informações relativas aos ativos intangíveis ligados a reclamações.
Uma Ouvidoria aliada às áreas estratégicas de relacionamento com clientes tem a função de
salvaguardar ativos intangíveis, ao lado das controladorias financeiras tradicionais, com foco na
prevenção e otimização de processos, produtos e serviços, servindo tanto o consumidor quanto a
empresa/órgão público.
Apesar de muito já ter sido estudado e escrito a respeito das Ouvidorias, observa-se que, por
conta da atual conjuntura econômica e de problemas de controles internos, a questão atendimento
fez com que o relacionamento com clientes em todas as suas fases – antes, durante e depois – fos-
se entendido como diferencial estratégico.
A constatação de que o relacionamento com clientes se transformou em commodity para as
empresas é fruto da livre concorrência e da adequação das empresas ao Código de Defesa do
Consumidor e ao recente Código do Usuário de Serviços Públicos. Porque, ao estabelecerem as
regras para o correto equilíbrio entre os consumidores e quaisquer fornecedores de serviços e pro-
dutos, eles determinaram os direitos e deveres de ambas as partes, exigindo das empresas diferen-
ciais que viabilizassem seus negócios e oferecessem crescimento sustentável.
Algumas empresas demonstram o diferencial estratégico de serviços de relacionamento capa-
zes de superar as expectativas dos consumidores, garantindo assim sua justa fidelização, contudo
os rankings de reclamações, a perda de base de clientes e, sobretudo, os índices de judicialização
têm demonstrado o desafio no que se entende, atualmente, como relacionamento.
As empresas não suportam mais simplesmente atender ou demonstrar ações de marketing so-
bre marcas que ainda desrespeitam o cliente: o consumidor moderno quer interagir, dialogar e exige
valor agregado. Em verdade, a integração do cliente não denota mais função estratégica, mas sim
uma questão de sobrevivência do negócio.
Uma Ouvidoria por excelência deve ser a mais pura representação da voz do cliente na empre-
sa, cuja subordinação deve estar diretamente ligada ao presidente da empresa, autoridade máxima,
ou ao conselho executivo.
Essa voz, que interage e não mais reclama em um SAC, direciona as ações de melhoria, fide-
liza novos clientes e gera o valor que antes era obtido em pequenas interações com a empresa.
Essa voz se faz representar na figura dos Ouvidores que não podem ser tidos como simples
canal de atendimento, mas sim como diferencial estratégico em forma de componente organizacio-
nal. A Ouvidoria deve ser assumida como parte da empresa, capaz de recomendar e redirecionar o
rumo das decisões, acompanhadas das necessidades, dos valores, da imparcialidade, da legalida-
de e da conduta ética, atributos dessa nova entidade corporativa.
Uma Ouvidoria deve ser independente, fruto da evolução dos valores internos e consequência
da correta integração com o cliente, cujo resultado final é a garantia da perenidade da empresa, do
crescimento de seus negócios, capaz de alterar processos e gerenciar estratégias comerciais: ela
passou a representar sistemas mais complexos de cadeias de valor no tempo para que, com isso,
se tornem centros de resultado e inovação.
5 GOVERNANÇA DE RELACIONAMENTO
Para que se possa propor instrumento capaz de gerar Governança de relacionamento, deve-
mos utilizar métodos que mensurem as reclamações de consumidores em base de dados tal capaz
Quando observamos as ações mais demandadas nos recursos judiciais, aquelas ligadas a Re-
lacionamento com Consumidores (Direito do Consumidor) se destacam:
Esse sistema também oferece os limites externos de aceitação de reclamações para consumi-
dores e cidadãos, na medida em que o modelo de negócios de empresas internalizado pela deno-
minada Sociedade da Informação não aceita mais excessos por falta de qualidade ou qualquer tipo
de prática abusiva, gerando manifestações a todo e qualquer tipo de canal de atendimento, o que
se reflete nos ativos das empresas.
A Governança de Relacionamento passa a ser uma mescla entre Governança Corporativa e
Cidadã aplicada didaticamente como meio de harmonia nas relações de consumo, respeitado o di-
reito individual previsto na Constituição Federal e capaz de determinar o limite do risco empresarial,
aqui apresentado como a melhor compreensão da Harmonia das Relações de Consumo perante a
Sociedade da Informação.
À medida que percebemos um ajuste nos controles para tratamento de demandas individuais,
constatamos que a dificuldade de gestão aumentou no que diz respeito ao tratamento das deman-
das coletivas e que ela prejudica diretamente os ativos intangíveis de empresas e órgãos públicos.
Dentro dessa breve Jornada do Consumidor, a Desjudicialização iniciada pela Enajud (Estraté-
gia Nacional de Não Judicialização) se faz mais do que importante e essencial.
Se faz necessária uma relação de consumo pautada na Não Judicialização, capaz de oferecer
canais e meios de solução que afastem do Judiciário demandas simples, cujo respeito ao consumi-
dor e empática demonstração de confiança e boa-fé reduziriam o custo para fornecedores e sobre-
tudo fariam uso de orçamento público de forma adequada.
Entender que a prática e a construção de políticas no relacionamento com clientes e cidadãos
devem ser em sentido vertical e não horizontal, capazes de construir uma jornada profunda de mu-
dança cultural aliada a estudos jurimétricos e, sobretudo, de empatia, tanto na ética da convivência
como no olhar maduro e presente do coletivo, priorizando a Não Judicialização, garante o direito
básico à tutela jurisdicional quando as tentativas de superar a falta da harmonia na relação entre as
partes forem esgotadas. A tutela jurisdicional é um direito constitucional, portanto a apreciação pelo
Poder Judiciário não pode ser afastada ou garantida pela gestão do relacionamento.
7 CONCLUSÃO
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Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar o Serviço de Ouvidoria da SCMM (Santa Casa de Mi-
sericórdia de Maceió) como uma área que inclui o instrumento de pesquisa de satisfação e
pesquisa de lealdade do cliente aos serviços ofertados pela SCMM. A Ouvidoria da SCMM é
um canal de comunicação entre o cliente e a Instituição que propõe ações somadas à ativida-
de essencial de escuta dos clientes/pacientes e usuários dos serviços oferecidos pela Santa
Casa de Misericórdia de Maceió. Por meio da pesquisa de satisfação pudemos diagnosticar
os gargalos e promover melhorias necessárias, abrangendo aspectos institucionais e de pres-
tação de serviços setoriais. Destacamos como resultado fidedigno da pesquisa a definição
da quantidade de clientes abordados, o nível de confiança e a margem de erro. Foi aplicada
como metodologia a escala de Likert e o NPS (Net Promoter Score), utilizados para avaliar
serviços e identificar o nível de satisfação e lealdade de acordo com o serviço que foi ofer-
tado, sejam pacientes ambulatoriais ou pacientes internos. Neste artigo iremos apresentar o
resultado da pesquisa feita no período de março a maio de 2018 dos clientes/pacientes da
SCMM. Pudemos identificar que o índice de satisfação e NPS dos clientes pesquisados refle-
tem a experiência deles no hospital e, assim, sugerimos ações de melhorias, com a finalidade
de promover maior satisfação aos clientes do Complexo Santa Casa de Maceió.
3 SERVIÇO DE OUVIDORIA
BAPTISTA (1999) lembra que o sistema de Ouvidoria é por si só estático, fazendo-se necessá-
rio que os gestores incentivem a participação, divulgando o sistema, mostrando os benefícios poten-
ciais da participação e fornecendo constantemente feedback aos envolvidos. Independentemente
da reclamação ou sugestão, o feedback é essencial para a existência de uma Ouvidoria.
Utilizamos diversos meios para realizar a pesquisa com o cliente/paciente, como formulário de
pesquisas nas urnas de sugestão e chamadas telefônicas, nomeadas de busca ativa, pois buscam
o cliente e não são demandas espontâneas. A intenção é ouvir o cliente não apenas quando se trata
de queixa, mas para saber como foi sua experiência conosco, positiva ou negativa, uma vez que o
cliente tende a buscar o serviço de Ouvidoria apenas quando deseja realizar uma reclamação.
Diferentemente das urnas de sugestão e via telefone, em que as pesquisas devem ser transfe-
ridas para a plataforma utilizada pela Ouvidoria na SCMM, contamos também com duas soluções
digitais, que são os totens e o QR CODE, ferramentas de fácil acesso e mais rápidas pelas quais os
dados são encaminhados automaticamente para a nossa plataforma via intranet conhecida como
SOV WEB (Sistema de Ouvidoria Web), criada e desenvolvida pela equipe de desenvolvimento de
Tecnologia da Informação da SCMM em parceria com o serviço de Ouvidoria.
Saber o que o cliente busca e/ou o que importa ao cliente é possível por meio de pesquisa,
com perguntas fechadas ou abertas, mas é sempre importante que o cliente tenha um espaço para
colocar suas considerações, caso ache necessário.
4 METODOLOGIA
A Ouvidoria da Santa Casa utilizou duas metodologias de pesquisa: a escala de Likert e o NPS
(Net Promoter Score). A escala de Likert foi criada em 1932 pelo norte-americano Rensis Likert,
conhecido por desenvolver trabalhos de pesquisa como diretor do Instituto de pesquisas sociais.
Por meio da escala de Likert, podemos mensurar e entender atitudes ou comportamentos do
cliente. A grande vantagem da escala de Likert é sua facilidade de emprego, pois é fácil para o
pesquisado (COSTA, 2011). Apresenta-se uma afirmação autodescritiva e, em seguida, é oferecida
como opção de resposta uma escala de pontos com descrições verbais que contemplam extremos.
Promotores: pessoas com notas de 9 a 10, indicando que sua vida melhorou depois do rela-
cionamento com a empresa, geralmente compram mais de uma vez e recomendam a amigos
ou colegas, são leais a empresa e oferecem feedback construtivo e sugestões.
Neutros: pessoas com notas de 7 a 8, compram o que precisam e nada mais, são clientes
passivamente satisfeitos, não leais, quase não fazem recomendações e, quando fazem, é com
ressalvas e sem entusiasmo. Não podem ser contabilizados como ativo de longo prazo. A meta
das empresas para os clientes neutros é melhorar seus serviços/produtos e processos para
tentar transformá-los em promotores.
Detratores: pessoas que dão nota inferior ou igual a 6, indicando que sua vida piorou depois
do relacionamento com a empresa. É um grupo de indivíduos insatisfeitos, decepcionados, que
se sentem consternados pelo tratamento recebido e criticam a empresa a amigos e colegas.
(REICHHELD, 2011)
De acordo com as notas do Net Promoter Score é possível classificar as empresas em quatro
zonas, que em termos gerais exemplificam a posição ocupada pela empresa em relação à satisfa-
ção de clientes. As zonas são: Zona de Excelência – NPS entre 75 e 100; Zona de Qualidade – NPS
entre 50 e 74; Zona de Aperfeiçoamento – NPS entre 0 e 49; Zona Crítica – NPS entre -100 e -1.
5 MATERIAL E MÉTODO
6 RESULTADOS E INDICADORES
Os resultados das pesquisas de satisfação e lealdade nos possibilitaram uma leitura rápida da
visão dos clientes para os serviços ofertados. Os resultados podem ser analisados de uma visão ge-
ral (todos os serviços do hospital) ou por serviços setoriais. Assim, facilitam identificar os problemas
e definir estratégias de melhoria, como também possibilitam perceber o que os clientes gostam em
determinado serviço.
Os resultados geram indicadores mensais: o indicador de satisfação do cliente e o indicador de
lealdade do cliente ao serviço que lhe foi ofertado (internamento, emergência ou ambulatorial). Utiliza-
mos esses indicadores como base nas reuniões estratégicas para alta direção, os quais são comple-
mentados com outros dados extraídos das manifestações dos clientes. A meta estipulada é de 90% de
clientes/pacientes satisfeitos e nota 80 de NPS, classificada como zona de excelência.
A seguir, apresentamos os gráficos de satisfação e lealdade do cliente e a Tabela 1 apresentando
o principal motivo que contribuiu para a avaliação – a pergunta complementar ajuda a entender a nota
e os pontos fortes e fracos do serviço.
Os resultados dos Gráficos 1 e 2 apresentados são das pesquisas realizadas com os clientes/
pacientes do Complexo Santa Casa de Maceió, no período de março a maio de 2018. Percebe-se no
Gráfico 1, na pesquisa de NPS, o índice de 64% de clientes promotores, em contrapartida ao índice
de 21% dos clientes detratores. Os clientes passivos correspondem ao índice de 15%. A partir desses
resultados podemos calcular a nota NPS. O percentual de promotores menos o percentual de detra-
tores, ou seja, NPS: 64 - 21 = 43. No Gráfico 2, o resultado mostra o percentual de clientes satisfeitos
com sua experiência no hospital. Considerando os dados abaixo, podemos concluir que 66% dos
clientes se encontram satisfeitos, seguido do índice de 9% de clientes neutros e do índice de 25% de
clientes insatisfeitos.
De acordo com as zonas de classificação do NPS, o resultado revela que os serviços ofertados
pela instituição estão classificados na zona de aperfeiçoamento, ou seja, são necessárias ações de
21%
Detratores
Passivos
Promotores
25% Satisfeito
Neutro
Insatisfeito
9% 66%
Fonte: SOVWEB/2018
Fonte: SOVWEB/2018
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Resumo
O Ombudsman do Mercado surgiu como uma iniciativa pioneira da antiga Bolsa de Valores de
São Paulo (Bovespa), em 2001. Hoje, seu sucessor, o Ombudsman da B3, funciona como um
canal de comunicação da Bolsa com seus públicos de relacionamento, atuando como pilar de
governança e proteção aos investidores, prestando um serviço único ao mercado.
Abstract
The Ombudsman do Mercado was as a pioneering initiative of the former São Paulo Stock
Exchange (Bolsa de Valores de São Paulo - Bovespa) in 2001. Today, its successor, the B3
Ombudsman, works as a communication channel for the stock exchange with its stakeholders,
acting as a pillar of governance and protection of the investors, providing a unique service to
the market.
1 Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da USP, LLM pela London School of Economics – LSE
do Reino Unido, Doutor em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP. Professor do Insper
Direito. Advogado inscrito na OAB/SP. Superintendente de Ombudsman da B3 – Brasil, Bolsa, Balcão.
Dentro do ecossistema do mercado de capitais regulado pela CVM, existem diversas institui-
ções que desempenham vários papéis e funções visando possibilitar a canalização de recursos da
poupança popular para atividades onde tais recursos são necessários. Dessa forma, por exemplo,
há os bancos de investimento, que são instituições responsáveis por auxiliar as empresas (compa-
nhias emissoras de ações ou debêntures) a decidir o momento certo de acessar o mercado e a es-
truturar a captação de recursos entre o público investidor; existem as distribuidoras e corretoras de
valores que atuam na efetiva formalização dos investimentos do público, ou seja, seus clientes são
os investidores que estão dispostos a comprar determinada ação oferecida por uma companhia; há,
ainda, entes de caráter reputacional como empresas de auditoria e agências de classificação de
risco. Destacam-se aqui as Bolsas de Valores, pois cabem a elas, entre outros e de forma resumi-
da, propiciar ambiente (hoje integralmente eletrônico) para a negociação de ações e outros valores
mobiliários. As Bolsas (no Brasil há apenas a B3 – Brasil, Bolsa, Balcão) são o local de circulação
e centro de liquidez para as ações e outros valores mobiliários. Assim, qualquer pessoa que tenha
investido em uma companhia aberta adquirindo suas ações poderá vendê-las na Bolsa, e quem
desejar comprar um determinado papel pode se dirigir também à Bolsa para fazê-lo, sem a neces-
sidade de verificar se a empresa emissora, naquele momento, tem ações disponíveis em oferta;
ressalte-se que as ofertas ocorrem em períodos determinados e não continuamente.
Historicamente, as Bolsas de Valores nasceram para ser um polo de liquidez onde afluem os
interessados em negociar determinado ativo (títulos, instrumentos financeiros, moedas, mercado-
rias, produtos agrícolas, participações societárias, títulos de dívida etc.); como resultado, acabaram
se tornando um centro de informação sobre bens negociados. As pessoas procuravam as Bolsas
por confiarem que o melhor preço possível era o praticado naquele local, já que os interessados no
bem negociado lá estavam e tudo o que se referia àquele produto era conhecido e divulgado em tal
praça, pois os interessados em tais produtos afluíam para lá.
Para a Bolsa poder cumprir seu papel de centro de liquidez é essencial que existam investido-
res. Quanto mais investidores disponíveis, mais democrático, maior e mais líquido será o mercado.
Dentro desse cenário, todos os perfis de investidores são necessários, grandes e profissionais, na-
cionais, estrangeiros e pequenos poupadores, sobretudo os investidores individuais pessoas físicas.
Em linha com os objetivos regulatórios da CVM, a Bolsa sempre procurou trazer segurança
para os investidores pessoas físicas, já que, sob alguns aspectos, precisam de uma atenção dife-
renciada, diferentemente dos grandes investidores ou profissionais. Inovadora na América Latina, a
Bovespa instituiu, em abril de 2001, o Ombudsman do Mercado.
Em março de 2017, finalmente, a BM&FBovespa combinou suas atividades com a Cetip S.A.
– Mercados Organizados (Cetip), dando origem à B3 – Brasil, Bolsa, Balcão (B3). Assim, o Ombuds-
man da BM&FBovespa passou a ser denominado Ombudsman da B3.
O Ombudsman da B3 é o canal de comunicação da B3 com o público externo, com os parti-
cipantes de negociação, liquidação e custódia, investidores dos mercados administrados pela B3,
profissionais da imprensa, instituições públicas e privadas, emissores de valores mobiliários listados
na B3, empresas fornecedoras e acionistas da própria B3. Suas atribuições são: (a) receber, regis-
trar, instruir, analisar e dar tratamento formal e adequado a reclamações, sugestões, elogios e soli-
citações dos públicos que se relacionam com a Companhia e dos usuários de seus produtos e ser-
viços; (b) prestar esclarecimentos necessários e dar ciência aos reclamantes acerca do andamento
de suas demandas; (c) informar aos reclamantes o prazo previsto para a resposta final; (d) encami-
nhar resposta conclusiva para a demanda dos reclamantes; e (e) propor medidas corretivas ou de
aprimoramento de procedimentos e rotinas, em decorrência da análise das reclamações recebidas5.
Hoje, então, o Ombudsman da B3 desempenha a função de uma Ouvidoria clássica, reativa,
recebendo demandas dos interessados, mantendo também sua função de origem, que é auxiliar na
busca de solução consensual de conflitos entre investidores e as corretoras das quais são clientes;
também é por meio delas que acessam os mercados e sistemas de negociação da B3. Estas duas
funções coexistem e se complementam, pois a B3 tem interesse no desenvolvimento do mercado
4 Disponível em: http://www.bsm-autorregulacao.com.br/ressarcimento-de-prejuizos/como-funciona. Acesso em: 20
jun. 2018.
5 Item 1.1 do Regulamento do Ombudsman da BM&FBovespa, atualmente Ombudsman da B3.
O contexto do mercado de capitais atual (realidade do Ombudsman da B3) difere muito da-
quele de 2001 (momento de criação do Ombudsman do Mercado). Uma das diferenças é que as
corretoras, como já vimos, devem obrigatoriamente ter Ouvidorias, tanto por disposição do CMN
atualmente prevista na Resolução do CMN nº 4.433/15 (Resolução 4.433), norma em vigor e atual
sucessora da Resolução 3.477, assim como por determinação da CVM contida na Instrução CVM
nº 529/2012 (ICVM 529). Entretanto, verificamos que, apesar de todas as corretoras contarem
com componente organizacional de Ouvidoria, os investidores seguem procurando o Ombudsman
da B3.
Diversas vezes os investidores vêm até o Ombudsman da B3 sem ter feito contato com o canal
de Ouvidoria das corretoras. Aliás, a maior parte das demandas do Ombudsman da B3 decorre de
sua função original7, ou seja, a maioria refere-se a investidores reclamando contra instituições das
quais são clientes. Para ilustrar, tomemos os números de 2017, em que 70% das demandas foram
referentes às corretoras e 6% apenas contra a B38. Em outras palavras, o Ombudsman da B3 atuou
como Ouvidoria da B3 como empresa, no interesse de seus stakeholders diretos, em apenas 6%
dos casos apresentados, em 2017, ao Ombudsman.
O perfil das demandas apresentadas ao Ombudsman da B3, ou sua distribuição considerando
a instituição demandada, tem possíveis explicações. A primeira decorreria de razões históricas:
como o Ombudsman do Mercado surgiu antes das corretoras terem suas Ouvidorias, os investido-
res se acostumaram a recorrer ao Ombudsman da Bolsa quando em situação de conflito com as
corretoras. Essa justificativa poderia explicar o fato de diversos investidores terem procurado a B3
sem antes tentar resolver o assunto diretamente com a corretora, ou terem feito apenas contato
6 Em linha com as melhores práticas para a função e atividade preconizadas no Manual de Boas Práticas Ouvido-
rias Brasil da Abrarec – Associação Brasileira das Relações Empresa Cliente. Disponível em: http://abrarec.com.br/
wp-content/uploads/2015/07/Vs_pb.pdf. Acesso em: 20 jun. 2018.
7 Conforme divulgado no Relatório de Anual de Atividades do Ombudsman da B3 referente a 2017. Disponível em:
http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/institucional/ombudsman/relatorios/. Acesso em: 20 jun. 2018.
8 Além disso, houve 24% de demandas contra instituições financeiras, notadamente bancos, que prestam serviços
de agente escriturador de companhias abertas ou de agentes de custódia. De qualquer forma, refere-se, também, à
demanda apresentada ao Ombudsman da B3 contra instituições diferentes da B3, de forma análoga às demandas
contra corretoras.
Pelo exposto, o investidor do mercado de capitais, no que se refere a operações de Bolsa, conta
com uma estrutura de proteção ampla: (a) o regulador, CVM; (b) a B3 com seu Ombudsman e a
estrutura de autorregulação da BSM; e (c) as Ouvidorias das corretoras.
Importante destacar que as opções mencionadas não se excluem e cada uma tem seu escopo
bem definido, mas com o objetivo comum, entre outros, de proteção e orientação aos investidores.
O que caracteriza e diferencia o Ombudsman da B3 é sua atuação pautada pelo sigilo, isenção
e autonomia. Em outras palavras, conta com a reputação e estrutura da B3, mas age auxiliando o
investidor com espírito independente de colaboração e podendo ser um representante ou porta-voz
do investidor. Vale ressaltar que o Ombudsman recebe diversas demandas que não configuram
reclamação ou conflito, mas, apenas, pedidos de informações ou esclarecimentos. Dessa forma,
outro papel relevante desempenhado, em decorrência da vontade dos investidores, é aquele de
orientação e educação. Sempre que possível, as respostas do Ombudsman têm um componente
educacional ou de orientação.
Assim, seja como Ouvidor da B3 ou como auxiliar de investidores na solução de conflitos com
corretoras, o Ombudsman tem o compromisso de detectar oportunidades de melhorias e apresentar
propostas para a B3. Todas as demandas, independentemente de seu conteúdo ou tipo, são opor-
tunidades de aprender e evoluir. O ideal de Ouvidoria é intrínseco, assim, ao Ombudsman da B3,
apesar de ter uma natureza ou função sui generis: o Ombudsman atua como Ouvidor da instituição
à qual está vinculado e também como facilitador de diálogo e auxiliar na solução de conflitos entre
stakeholders da Bolsa, e faz isso legitimado pela sua independência e a confiança que o mercado,
em especial os investidores, deposita nele.
REFERÊNCIAS
AGGARWAL, Reena. Demutualization and Corporate Governance of Stock Exchanges. Journal of Applied Corporate
Finance, v. 15, Spring 2002. Disponível em SSRN: <https://ssrn.com/abstract=327360> ou <http://dx.doi.org/10.2139/
ssrn.327360>. Acesso em: jun. 2018.
CENTURIÃO, Alberto. Ombudsman: a face da empresa cidadã: como e por que instalar uma Ouvidoria. São Paulo:
Educator, 2003.
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. O mercado de valores mobiliários brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: CVM,
2014.
PEREIRA FILHO, Valdir C. Ouvidoria no mercado financeiro é ferramenta para redução de litígios. In Consultor Jurí-
dico, 29 de junho de 2015. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2015-jun-29/valdir-filho-ouvidoria-mercado-fi-
nanceiro-ajuda-reduzir-ligitios>. Acesso em: jun. 2018.
Resumo
Na atual sociedade da Informação e do Conhecimento, que se caracteriza principalmente
através da revolução tecnológica e acesso às informações, as organizações têm de lidar
com cidadãos mais exigentes e informados de seus direitos. Nesse contexto, os Serviços
de Ouvidorias ganham destaque, uma vez que a excelência no atendimento torna-se funda-
mental. Como apoio às Ouvidorias, os sistemas de Informação são essenciais para subsidiar
um processo decisório de alta qualidade, proporcionando vantagens através da integração
entre setores e troca de informação. Dessa forma, o objetivo deste trabalho, fundamentado
nos pressupostos teóricos básicos de Sistemas de Informação, é descrever o sistema de Ou-
vidoria desenvolvido em uma instituição de Ensino Superior em Belém do Pará. A pesquisa
apresenta os principais aspectos e relatórios desenvolvidos para suporte da gestão no nível
operacional e gerencial da IES, aumentando assim a qualidade do serviço prestado e melho-
rando o atendimento aos clientes da empresa em estudo.
Segundo ARAÚJO (2002), as organizações têm como base no desempenho de suas atividades
um conjunto de tomadas de decisões. As decisões ocorrem em todos os níveis hierárquicos. Tanto
na rotina diária quanto na alta administração acontecem tomadas de decisão e, para isso, as orga-
nizações utilizam-se das informações.
As informações para as operações do cotidiano permitem à organização levar adiante suas
atividades de rotina, o dia a dia do negócio, o que ocorre no nível operacional. As decisões no nível
estratégico possibilitam aos gestores tomar decisões que mudam a organização ou seus métodos
empresariais (FREITAS; KLADIS, 1995). Na figura abaixo representamos o fluxo das rotinas e de-
cisões em uma organização.
Administração
Estratégica
Abrangência
e importância
Planejamento e controle das decisões
Administrativo
O sistema de informação objeto desta pesquisa foi implementado em 2014, quando da reestru-
turação da Ouvidoria institucional, tendo como foco um papel mais atuante do setor e o advento de
ferramenta de gestão para a IES.
A Ouvidoria recebe as demandas exclusivamente através do sistema online disponibilizado na
home page da instituição e, caso o demandante solicite momento presencial, é feito o agendamento
do horário para o atendimento. As demais áreas da IES acessam o sistema através da rede interna,
cujo processo já faz parte da cultura institucional. As demandas são encaminhadas para manifesta-
ção e conhecimento ao setor responsável, que responde à Ouvidoria pelo próprio sistema. Todas as
demandas obedecem ao caráter de sigilo.
O sistema apresenta relatórios operacionais, com o nível de detalhamento que o cotidiano
institucional demanda, e também relatórios gerenciais, subsidiando assim a gestão da média e da
alta direção.
Como demandantes, tendo em vista o universo de sujeitos do contexto, foram classificados
quatro tipos: aluno, público externo, funcionários e professores. O sistema gera um relatório estra-
tificando a quantidade absoluta de demandas registradas por cada sujeito, bem como o percentual
equivalente. A Tabela 1 apresenta os tipos de demandantes, bem como seu peso total nas deman-
das reportadas.
DEMANDA
DESCRIÇÃO QUANTIDADE %
Aluno 18 78,26
Externo 5 21,74
Funcionário 0 0
Professor 0 0
TOTAL 23 100
TIPOS
DESCRIÇÃO QUANTIDADE %
Elogio 15 3,77
Sugestão 34 8,54
Reclamação 199 50,00
Denúncia 14 3,52
Informação 136 34,17
TOTAL 398 100
Outra necessidade identificada para os relatórios gerenciais foi a estratificação por assunto. Foi
criada uma lista inicial de tópicos dinâmica, que é atualizada à medida que novos assuntos recor-
rentes são registrados pelos demandantes. Exemplo disso foi a inclusão do tópico Vestibular, que
inicialmente não constava na listagem, mas que, após um período com o registro de dez demandas
no sistema em um mês, foi incluído na lista de opções (Figura 2).
DESCRIÇÃO QUANTIDADE %
Coordenação dos Cursos 1 16,67
Unidades de Serviços 1 16,67
Depto. Financeiro 3 50,00
Outros 1 16,66
TOTAL 6 100
Outra informação gerencial apresentada pelo sistema é quanto à resolução das demandas.
Como modo operacional de trabalho, a Ouvidoria especificou o prazo de atendimento de até 5 dias
úteis. Para avaliar o desempenho de atendimento, o sistema gera informações quanto às demandas
que foram resolvidas no prazo e fora do prazo, conforme tabela abaixo (Tabela 4).
RESOLVIDOS
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Andréa Cristina Marques de. A Administração na Era da Informação: Uma abordagem teórica sobre a im-
portância da informação e do seu gerenciamento para sucesso estratégico das organizações. Rio de Janeiro: Editora
Papel Virtual, 2002.
______; GOUVEIA, Luis Borges. Os digitais nas instituições de ensino superior. Rio de Janeiro: Publit, 2017.
BORGES, Maria Alice Guimarães. A compreensão da sociedade da informação. Ciência da Informação, Brasília,
DF, v. 29, n. 3, p. 25-32, set./dez. 2000. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/214>.
Acesso em: 23 abr. 2013.
FREITAS, H; KLADIS, C. M. O processo decisório: Modelos e dificuldades. Revista Decidir, ano II, n. 8, p. 30-34,
mar. 1995.
LAUDON, Kenneth C.; LAUDON, Jane Price. Gerenciamento de sistemas de informação. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2001.
______. Sistemas de informação gerenciais. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2007.
STAIR, Ralph M.; REYNOLDS, George W. Princípios de sistemas de informação: uma abordagem gerencial. 2. ed.
Rio de Janeiro: LTC, 1998.
Resumo
Este artigo tem por objetivo apresentar a capacidade da Ouvidoria de liderar mudanças e
estratégias organizacionais, com base na revisão bibliográfica e análise estatística de dados
apontados pela população, elevando substancialmente a capacidade de os gestores desen-
volverem projetos prioritários que possam contribuir para o aprimoramento de ações, desbu-
rocratização e eficiência dos serviços públicos ou privados, incentivando a economicidade da
gestão na qual está inserida.
Abstract
This work aims to show the Ombudsman’s capability of leading changes and organizational
strategies, based on literature review and statistical analysis of the data pointed out by the
population, increasing, substantially, the capacity that managers may acquire to develop prior-
ity projects which can contribute to the improvement of actions, de-bureaucracy and efficiency
in public or private services by encouraging the economicity in which the management is
inserted.
1 Graduada em Marketing pela Faculdade Boa Viagem (FBV); Especialista em Gestão de Ouvidorias
pela Escola Superior de Relações Públicas (Esurp); Consultora Organizacional; Formação em Gestão
e Implantação de Ouvidoria pela Faculdade de Ciências e Administração Publica (FCAP); Curso de Ca-
pacitação profissional em Ouvidoria pela Universidade de Brasília (UNB). Atualmente exerce o cargo de
Ouvidora-Geral do Município do Recife. (izabelape@hotmail.com)
2 OUVIDORIA E MODERNIZAÇÃO
Muito se fala na modernização dos serviços, porém nos dias atuais faz-se necessário reinventar,
buscando equilibrar as relações entre administração, cidadão e questões políticas. Para alcançar e
acompanhar as mudanças das organizações, sejam elas públicas ou privadas, é imprescindível des-
centralizar as responsabilidades, gerenciar, avaliar os resultados e os impactos das ações. Tudo isso
implica debate político sobre os serviços propostos e não pode se resumir à disputa de posições.
O papel da Ouvidoria é de suma importância no processo de modernização, pois possibilita que
a gestão aprimore suas ações e aproxime-se da população. Porém a Ouvidoria não consegue de-
senvolver esse papel sozinha, para que as mudanças aconteçam é imprescindível o envolvimento
de todos os setores da organização, pois cabe a eles a resolutividade. Outro fator primordial que
deve ser apontado é a elaboração de um plano de comunicação interno e externo, considerando que
a Ouvidoria não tem só a atribuição de captar informações, e sim de informar, cabendo aos profis-
sionais de Ouvidoria transmitir aos que entram em contato com esse canal as informações e ações
positivas desenvolvidas pela organização.
Segundo SIMANTOB (2008):
De acordo com DUTRA (2004, p. 16), o acompanhamento das tendências mundiais de apren-
dizagem e conhecimento estabelece um grande desafio para as organizações nesse momento de
Apenas um trabalho sistematizado e integrado será capaz de prover aos gestores a compreen-
são dos impactos das ações, possibilitando monitoramento constante, correções, comparações e
compartilhamento dessas práticas entre todos os agentes envolvidos.
Considera-se que, com o uso de indicadores disponibilizados por meio de relatórios estatísti-
cos, torna-se possível viabilizar o conhecimento e a interferência dos gestores para o alcance dos
objetivos estabelecidos, gerando com isso o impacto positivo nas decisões. Quando conseguirmos
alcançar esse nível de detalhamento estratégico, causaremos não só impacto nas ações, teremos
alcançado a excelência, por meio da estratificação do sentimento de quem recorre e acredita no
papel desenvolvido pela Ouvidoria, que vai além de ouvir.
5 EFICIÊNCIA NA GESTÃO
Para que a tão falada eficiência aconteça, é necessária a participação ativa da sociedade, seja
no ambiente público ou privado, pois o consumidor tem o direito de fiscalizar e exigir a prestação de
serviços com qualidade. Conforme MEIRELLES (1996, p. 90-91):
Eficiência é o que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com pres-
teza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função adminis-
trativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo
resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades
da comunidade e de seus membros.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Ouvidoria canaliza os anseios da sociedade por meio das manifestações recebidas e con-
segue extrair dos relatórios gerenciais a carência da população por uma relação equilibrada com a
gestão. A mudança comportamental das organizações precisa acontecer com urgência. As ações
e as políticas públicas e administrativas devem assegurar a qualidade, desburocratizar o acesso
aos serviços oferecidos à sociedade de forma efetiva, ética, descentralizada, transparente e parti-
cipativa, respeitando o direito adquirido, reverenciando o olhar de quem vivencia as dificuldades.
Ouvir a população dispensa custos, aproxima e permite ao usuário opinar sobre o que ele espera
da organização.
A acessibilidade da população ao gestor de um ente administrativo dota as relações da ges-
tão e seus beneficiários com características de equidade, sejam elas filantrópicas, consumeristas
ou públicas. Mesmo que uma verdadeira relação de isonomia não possa ser alcançada, ela se
torna menos díspar quando há uma troca entre gestor e seus colaboradores. A partir disso, pode-
mos entender a urgência da mudança comportamental das organizações, a fim de propiciar essa
relação plurilateral.
Nesse sentido, cabe à Ouvidoria, como finalidade, facilitar a comunicação do público com a
gestão. Para que isso ocorra, o processo precisa ser simplificado, de forma que todos os cidadãos,
independentemente de privilégios sociais, possam utilizar esse mecanismo. Ressalta-se, assim, a
necessidade de meios de acesso ao público diversificados, atendendo às mais diversas dificulda-
des de comunicação. Paralelamente a isso, faz-se necessário o conhecimento do mecanismo de
Ouvidoria pelas instituições, promovendo dessa forma a conscientização não só da população, mas
também da gestão, que terá ciência da importância da Ouvidoria como ferramenta de mudanças
estratégicas. Ferramenta esta que vem se tornando indispensável para uma liderança de qualidade.
É preciso acreditar na melhoria das instituições, cobrar desses agentes ações inovadoras que
priorizem o cidadão, com transparência e qualidade no atendimento. A população tem que se cons-
cientizar que só participando ativamente desse processo de construção é que de fato a Ouvidoria
poderá agir como instrumento que lidera mudanças.
DUTRA, Joel S. Competências: conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa moderna. São Pau-
lo: Atlas, 2004. p. 16.
SIMANTOB, Moysés. A importância da inovação para a sobrevivência das organizações. 2008. Disponível em: http://
www.fnq.org.br/informe-se/artigos-e-entrevistas/entrevistas/a-importancia-da-inovacao-para-a-sobrevivencia-das-or-
ganizacoes. Acesso em: 21 jun. 2018.
OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologias e práticas. 28. ed.
São Paulo: Atlas, 2010. p. 63.
SILVA, Reinaldo O. da. Teorias da Administração. São Paulo: Pearson, 2008. p. 433.
Resumo
O presente artigo aborda a preocupação necessária no momento de identificar o conteú-
do temático dos documentos no caso das Ouvidorias, referenciando quais serão analisados
para extrair termos pertinentes e a necessidade de manter o controle dos termos utilizados,
visando a busca e o acesso à informação, tendo em vista a indexação como base para a re-
presentação do que trata um documento, por meio da análise documentária que é traduzida
em linguagem padronizada. Enfatiza a recuperação da informação e considera o vocabulário
controlado uma forma de padronização.
1 Graduada em Estudos Sociais pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Biblioteconomia –
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pós-graduada em Arquivo pela UFPE e Gestão Ambiental – Faculda-
de Santa Helena (FSH), certificada em Ouvidoria pela Associação Brasileira de Ouvidores Seccional Pernambuco
(ABO/PE), funcionária pública da Agência Estadual de Tecnologia da Informação do Estado de Pernambuco (ATI).
Atualmente exerce o cargo de Assistente de Ouvidoria na Secretaria de Administração de Pernambuco. (fatima.
azevedo@ati.pe.gov.br)
Indexação é um processo de análise documental que tem por finalidade identificar o assunto
que o documento trata e representá-lo através de descritores, de modo que permita sua pronta
recuperação. Ou seja, representar adequadamente o assunto tratado no documento, levando para
o contexto das Ouvidorias a ideia passada pelos manifestantes.
LANCASTER (1993) salienta que a indexação de assuntos eficiente implica uma decisão não
somente quanto ao assunto que é tratado num documento, mas também quanto à razão que o re-
veste de um provável interesse para determinado grupo de usuários.
É de fundamental importância a leitura documentária apurada e criteriosa para identificar e se-
lecionar conceitos expressos em um documento e, posteriormente, representar esses conceitos em
termos (palavras-chave) que serão adotados no sistema da Ouvidoria.
Partindo do princípio de que as Ouvidorias lidam com informações e tais informações são ar-
mazenadas em um sistema, são levantadas questões relativas ao tratamento, controle, acesso e
difusão dos conteúdos que são armazenados no sistema utilizado pelas Ouvidorias. Enxergamos
os sistemas usados pelas Ouvidorias como similares a outros sistemas de informação que visam à
recuperação da informação, precisando para tanto uniformizar seus dados. Não esquecendo, con-
tudo, de observar as especificidades da documentação recebida, no caso, as manifestações.
Na Ouvidoria, os documentos lidos são as manifestações recebidas e também aqueles dire-
tamente ligados à instituição que representa, como sua missão, sua estrutura organizacional, seu
funcionamento e as competências de suas unidades administrativas. Por exemplo, no caso de um
órgão do governo, o responsável pela indexação se concentraria na elaboração de termos que re-
presentem os serviços, programas e processos da máquina pública do Estado, considerando que a
Ouvidoria recebe as manifestações, analisa, trata e identifica o assunto e direciona para o respon-
sável pela área competente responder e que se utiliza de um sistema para acesso a informações.
Por meio deste estudo será possível não só conhecer a dinâmica das Ouvidorias, ampliar co-
nhecimentos com a assimilação de alguns fundamentos teóricos na área de indexação, contribuir
na padronização dos assuntos, como também pensar na questão da gestão da informação no âm-
bito das Ouvidorias. Sabemos que existem assuntos relacionados à Administração Pública que são
comuns entre as Ouvidorias, o que nos leva à uniformização das entradas desses assuntos.
2 DINÂMICA DA OUVIDORIA
3 REVISÃO DA LITERATURA
• Poderão ser utilizadas uma ou mais palavras como descritor, no entanto, o ideal será a uti-
lização do menor número possível de palavras.
• Os termos deverão ser apresentados no singular. Os termos no plural somente serão permi-
tidos nos casos onde a compreensão do significado da palavra for prejudicada.
• Em relação aos sinônimos, o critério de escolha será do termo mais utilizado pelo público-
-alvo (cidadão/servidor).
Exemplo: Informe de Rendimento e Comprovante de Rendimento – escolher um dos ter-
mos para fazer parte da lista.
À medida que os termos vão sendo escolhidos, devem ser inscritos numa lista de termos au-
torizados (vocabulário controlado). Lembrando que no caso das Ouvidorias a construção da lista
é fruto do conhecimento da missão, estrutura organizacional e funcionamento e competências das
unidades administrativas da instituição que a Ouvidoria representa.
Com base no estímulo teórico recebido, apresentamos a seguir alguns exemplos de manifesta-
ções “hipotéticas”, embora se baseiem em fatos existentes de manifestações registradas no Siste-
ma da Rede de Ouvidorias do Estado de Pernambuco. Por questão ética e legal, os dados (nome,
matrícula, CPF) são fictícios. Assim, procuramos extrair as palavras ou expressões que represen-
tam a análise conceitual e, em seguida, traduzimos cada um desses enunciados para um termo ou
termos e escolhemos o termo que mais representa o conteúdo da manifestação em análise.
Como foi mencionado anteriormente, a indexação é um processo pautado na subjetividade. As-
sim, exige conhecimento prévio do assunto. Nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente quando
o documento é uma manifestação.
Exemplos:
• Exoneração
• Férias proporcionais
• Revisão de indenização
• Verba indenizatória
• Inquérito administrativo
• Pagamento de salário
• Processo administrativo
Sou servidora pública e gostaria de saber se tenho direito a licença para acompanhar filha
menor grávida, após o parto, tendo em vista que ela está sob meus cuidados e reside
comigo, não tendo outra pessoa para acompanhá-la. Se sim, como devo proceder.
• Licença
• Licença interesse particular
Estamos em ano eleitoral, sou servidor público e vou concorrer a cargo eletivo. Sei que,
ao funcionário ou servidor, é permitido afastar-se para concorrer a cargo político. Gostaria
de saber qual o prazo para afastamento.
Peço ao responsável pelo imóvel localizado na Rua Tupi, s/n, onde funciona um órgão
público, para cuidar da sua lixeira: organizar o lixo para não invadir a calçada e limpar a
lixeira para não exalar mau cheiro, pois a lixeira é muito suja. Lembrem-se de que cada
um é responsável pelo lixo que produz.
• Educação ambiental
• Higiene e limpeza
• Contrato temporário
• Direito trabalhista
• Estabilidade gestante
• Estabilidade provisória
• Ambiente insalubre
• Insalubridade
• Lei antifumo
Prezados, estou denunciando um funcionário que detém três vínculos, o que é ilegal,
sendo dois no Estado e um na Prefeitura do Caçote, nome dele é Tupi Falcão, matrícula
da Prefeitura 0001; matrículas no Estado: 00002 e 00003. Informo que, se alguém tentar
protegê-lo das medidas cabíveis, faço a denúncia ao Ministério Público e irei citar o proto-
colo desta denúncia para que as pessoas sejam punidas também.
• Acumulação de cargo
• Cargo público
• Vínculo empregatício
Cidadã relata que um carro Gol, branco, de placa ABC 1000, do Governo do Estado, fez
ultrapassagens perigosas, na contramão e quase bateu em seu veículo na Rua Arara em
frente à Churrascaria Braz, bairro da Fé, hoje (05/01), por volta das 10h40. Não soube
informar a qual secretaria pertencia o carro.
• Frota
• Veículo
Boa tarde, meu nome é Airam Maria, sou servidora pública lotada no Hospital Otaviano
Serrano, matrícula 2018. No dia 17 de abril do corrente, fiz uma solicitação de redução de
carga horária porque tenho um filho especial e até o momento não recebi a resposta da
Secretaria. Tenho urgência nessa solicitação, pois a minha gerente depende do documen-
to (horário reduzido) para planejamento da escala de trabalho.
• Carga horária
• Horário especial
• Horário especial de trabalho
• Horário reduzido
7 CONSIDERAÇÕES
Pela importância das manifestações recebidas nas Ouvidorias para a gestão pública como ins-
trumentos de participação social e seu aprimoramento pelo uso de um sistema de informação para
armazenar os dados, acreditamos que este estudo poderá plantar a ideia da construção de uma
Lista de Termos Autorizados (Vocabulário Controlado) a fim de usar o processo da indexação como
base para a representação do conteúdo dos documentos, o que vai facilitar o trabalho no momento
da definição do assunto, bem como oferecer uniformidade e qualidade às informações inseridas
no sistema da Ouvidoria, propiciando dessa forma sua efetiva recuperação. E, para as Ouvidorias
que trabalham em rede, teríamos um modelo padrão dos assuntos comuns da Rede de Ouvidoria.
Como dito anteriormente, o uso do vocabulário controlado evita que existam várias entradas com
termos diferentes para o mesmo assunto.
REFERÊNCIAS
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avaliação das Ouvidorias. Revista Científica da Rede de Ouvidoria do Estado de Pernambuco, Recife, n.1, 2. ed., p.
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Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 132-146, jul./dez. 2013. Disponível
em: http://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/249/265. Acesso em: 9 out. 2014.
Resumo
A proposta “Administração por Exceção” advém de solicitações dos empregados desde 1996,
quando o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), subsidiado pela sua área
de Qualidade, realizou o curso “Flexibilidade para mudanças na Qualidade”, ocasionando
alterações de normas e processos administrativos que resultaram, dentre outros, em “Horário
Flexível”. Ela é reforçada com a criação da Ouvidoria Interna Serpro, em 2001: um dos assun-
tos relatados pelos empregados é a “Administração por Exceção”. Os relatos, bem como as
solicitações apresentadas, servem de subsídios para o aperfeiçoamento da máquina adminis-
trativa, contribuindo para a qualidade dos serviços e para a mudança na cultura da empresa.
Abstract
The “Administration by Exception” proposal comes from the requests of employees since
1996, when the Federal Data Processing Service (Serpro), subsidized by its Quality area,
conducted the course “Flexibility for changes in Quality”, leading to changes in standards and
administrative processes that resulted, among other things, in “Flexible schedule”. And it is
reinforced with the creation of the Serpro Internal Ombudsman in 2001: one of the subjects re-
ported by the employees is “Administration by Exception”. The reports, as well as the requests
presented, serve as subsidies for the improvement of the administrative machinery, contribut-
ing to the quality of services and to the change in the company culture.
Em 1996, o Serpro, subsidiado pela sua área de Qualidade, alterou a norma que regia a fre-
quência dos Empregados para adaptá-la ao novo momento da Empresa e do mundo: a busca da
produtividade, da gestão por resultados e do elemento diferencial da qualidade como marca. Essa
alteração na norma é o que se chama até hoje de “Horário Flexível”, aplicado para “humanizar” o
cartão de ponto tradicional/catraca.
Após a flexibilização (um avanço em 1996), a empresa continuou avançando no domínio
tecnológico da microinformática e conseguiu disponibilizar micro 1x1 aos seus empregados, e
todos passam a ter acesso direto a correio eletrônico. A empresa assim se modernizou e, a partir
de 1999, adotou o Ponto por Exceção, que tem embutido o horário flexível sem a necessidade de
bater o ponto.
O assunto Administração por Exceção veio à tona, novamente, com a criação da Ouvidoria
Interna do Serpro, em julho de 2001, que estabeleceu um canal vivo de comunicação por meio
do qual os empregados (corpo funcional e gerencial) podem se manifestar diante da Direção da
Empresa, ou seja, ele é um elo direto entre a diretoria e os empregados.
A Ouvidoria Interna revelou-se um instrumento importante de participação dos empregados
no levantamento de problemas e de apresentação de propostas de solução, propiciando um cons-
tante feedback à organização no sentido de atendimento às necessidades dos empregados. Ob-
serve-se que o empregado ao reclamar e sugerir revela sua confiança de que a organização tem
vitalidade e pode ser mais eficiente e eficaz com a participação de todos.
A partir dos assuntos relatados pelos empregados e com o intuito de promover a correção
de processos e práticas administrativas, a Ouvidoria Interna reuniu-se com a Diretoria e com as
áreas e divisões da empresa para apresentar sugestões de solução para os problemas e tratar a
relação empresa-empregado.
Uma das principais sugestões da Ouvidoria Interna, baseada em demanda de empregados,
foi a Administração por Exceção, a saber:
a) Implantar na Empresa, como um todo, a Administração por Exceção, como uma norma ad-
vinda da Diretoria.
b) Como norma, haverá espaço para tratar os casos específicos.
c) Os casos específicos, em especial os abusos (estatisticamente, no máximo de 20%) serão
tratados pela chefia imediata.
2 ANÁLISE
Horário é outra dor de cabeça. Assiduidade, pontualidade e disciplina são grandes pre-
ocupações da empresa. Pois não deviam ser. Não há razão nenhuma para isso. É só
fazermos de conta que a empresa só contrata adultos responsáveis. Esta questão do
horário é um desvirtuamento de ótica que causa profundas irritações aos dois lados, des-
necessariamente. Uma outra maneira de olhar a coisa é a seguinte:
2. Implante o horário móvel. Especialmente num aglomerado urbano como São Paulo, é
insensato esperar que as pessoas consigam cronometrar os sinais, os ônibus e o trânsito
para chegarem na hora. Isto causa estresse aos funcionários e faz com que já comecem
o dia irritados ou desgastados. Um grande argumento contra o horário móvel é que as
pessoas dependem uma das outras e não conseguem trabalhar se todas não estiverem
lá. Na verdade, isso é só planejamento inadequado, porque em algumas horas do dia
todos estarão juntos.
É interessante observar que existe um entendimento de que “o ponto nos protege”. Sobre o
“ponto nos protege”, cabe esclarecer:
a) De fato, foram os trabalhadores que pediram o ponto. Isto quando nas fábricas não se tinha
garantia de férias, licença-maternidade, hora extra, hora de almoço etc.
b) Com a era da TIC, as relações de trabalho se alteram e até o cartão de ponto deve ser
modernizado e adequado às novas relações de trabalho.
c) Daí o surgimento do ponto inteligente, que é a Administração por Exceção/Registro de
Frequência por Exceção.
A aposentadoria do cartão de ponto traz alívio aos empregados enquanto surgem novas fór-
mulas de organização industrial, com descentralização de poder e flexibilidade nas relações entre
chefe e empregado.
O alívio provocado pela retirada do cartão de ponto melhora as atitudes e os sentimentos
dos empregados em relação ao trabalho. O deleite no trabalho produz muito mais gente feliz em
relação às suas vidas profissionais, pessoais, familiares e sociais. O resultado são pessoas com
energia positiva, que não opõem resistência, com o coração e a mente abertos para acolher o
diverso, em suma, uma organização saudável e produtiva.
Diversas corporações adotam políticas de qualidade de vida, tomando como base alguns
conceitos que trazem retornos substanciais, entre eles:
a) Atendimento às demandas do negócio, ao mesmo tempo que ocorre o equilíbrio entre ob-
jetivos e interesses pessoais.
b) É o cliente quem faz o negócio, não só o cliente externo, mas também o interno (o colaborador).
c) Satisfação: as pessoas veem nas tarefas suas próprias realizações como seres humanos;
e na organização, a possibilidade de fazer e ter um futuro melhor.
d) Os interesses da organização e das pessoas são inseparáveis.
e) Foco em resultados e não em estatística de horas trabalhadas.
• Humanização do trabalho.
• Modernização dos métodos de trabalho.
• Maior integração chefe-empregados.
• Responsabilidades compartilhadas.
• Melhoria da imagem da empresa.
• Economia de recursos humanos e financeiros.
• Evidência de que há constante busca de ganhos em qualidade.
• Transparência na relação empresa-empregado.
• Estímulo ao exercício do talento de cada um, com o reconhecimento do senso de responsa-
bilidade do profissional.
• Obtenção de melhores resultados.
• Impacto positivo, com aumento da produtividade e da motivação.
• Concordância com os preceitos preconizados pela Qualidade e pelos canais de cidadania.
No decorrer das últimas décadas, as organizações vêm se definindo no cenário mundial: cada
vez mais estão assumindo a participação dos empregados nos resultados, interessadas que es-
tão em motivá-los e integrá-los para a boa gestão.
Equipes integradas aos processos produtivos e motivadas caminham na busca dos objetivos
para elas definidos, constituindo assim requisitos fundamentais de sobrevivência das organiza-
ções para alcançar os resultados essenciais para a perenização de seus negócios.
As organizações têm de estar preparadas para as tendências futuras das necessidades de
seus empregados. O investimento em aspectos físicos, tecnológicos e em recursos humanos traz
como efeito tanto o aumento da produtividade quanto o de credibilidade – nacional e internacional.
Há de se traçar, então, programas de adequação às novas realidades, com uma forte atuação
da gestão estratégica de pessoas e avançando em pontos relevantes no ambiente organizacional.
Assim, surge a Administração por Exceção, uma ousadia.
Com a Implantação da Administração por Exceção, a Bayer (em 1992) ganhou em produti-
vidade e chamou a atenção, na época, de empresas como (só para citar) a Telecomunicações
do Estado do Rio de Janeiro (Telerj, absorvida pela Telemar e atual Oi), IBM, Souza Cruz, Alcoa
Alumínios, Acesita (atual Aperam South America, em Timóteo/MG), Albras – Alumínio Brasileiro
S.A. (Belém/PA), ATH – Albarus Transmissões Homocinéticas Ltda. (Rio Grande do Sul) e o Gru-
po LPC (dono das marcas Danone, Terra Branca e Poços de Caldas), que também aboliram o
cartão de ponto.
Cada vez mais, as empresas deixam de relacionar produtividade, criatividade e eficiência à
Como já está no contrato de trabalho, como fica o horário do empregado no sistema Adminis-
tração por Exceção:
Nas duas formas de espelho de ponto descritas acima, a empresa tem a prova que se faz
necessária para o atendimento do artigo 74 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
No sistema Administração por Exceção, ficam mantidos:
a) Permanência diária superior à jornada de trabalho gera crédito. Inferior à jornada de traba-
lho gera débito.
b) O intervalo mínimo para almoço.
c) Os abonos estabelecidos em acordo coletivo.
d) Os códigos de ocorrência de frequência.
e) A flexibilidade permitida pela empresa.
BOTELHO, Eduardo Ferreira. Do gerente ao líder: a evolução do profissional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1991. 169 p.
CROSBY, Philip B. Qualidade – falando sério. Tradução de José Carlos Barbosa dos Santos. Revisão técnica Carlos
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GRISCI, C. L. I. Trabalho, tempo e subjetividade: a reestruturação do trabalho bancário. 2000. Tese de Doutorado
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Resumo
A Ouvidoria ganha evidência e seriedade no mercado por prover as instituições com relevan-
tes informações a respeito dos clientes e dos serviços ofertados. As informações oriundas da
Ouvidoria devem ser um caminho efetivo na busca da qualidade dos serviços, contribuindo
para um melhor planejamento da assistência prestada e promoção do cuidado humanizado,
atendendo assim às expectativas dos clientes. E, como serviço de escuta, deve estreitar a
relação entre os clientes e o hospital, visando garantir eficiência e transparência em suas rela-
ções. Este artigo aborda o tema “Desenvolvimento da Qualidade” a partir das experiências do
Serviço de Ouvidoria do Hospital São Camilo e São Luís – HSCSL. Neste estudo objetivou-se
demonstrar a evolução da qualidade nos serviços de saúde; discutir a Ouvidoria no ambiente
hospitalar e a importância do serviço como canal de comunicação do cliente. O procedimento
metodológico teve abordagem de pesquisa quantitativa e análise documental. Para coleta de
dados foram analisadas 3.459 manifestações registradas na Ouvidoria no período de 2014 a
2017. Os resultados revelam que o quantitativo de manifestações foi maior nos serviços: in-
ternação, enfermagem e médico, todos relacionados ao tempo de espera para o atendimento.
1 Auxiliar Administrativa do Serviço de Ouvidoria do Hospital São Camilo e São Luís. (ouvidoria@saocamilomaca-
pa.org.br) (96 3312-2435)
2 Tecnóloga em Gestão Hospitalar. Gerente de Atendimento do Hospital São Camilo e São Luís. (ger.ambulato-
rios@saocamilomacapa.org.br) (96 3312-2455)
3 Mestra em Gestão de Empresas. Especialista em Gestão. Especialista em Gestão de Projetos Sociais. Gradua-
ção em Serviço Social. Gerente da Qualidade do Hospital São Camilo e São Luís. (ger.qualidade@saocamilomaca-
pa.org.br) (96 3312-2439)
A área hospitalar está se tornando competitiva pelas transformações que estão ocorrendo no
meio empresarial, exigindo uma nova estrutura organizacional, com a inclusão de novos conceitos
que tornem os processos mais eficientes e seguros, possibilitando assim atingir melhores resultados.
A gestão de uma unidade hospitalar traz muitos desafios inerentes a uma área tão complexa quanto
a da prestação de serviços a seres humanos com um amplo espectro de necessidades e anseios.
O cenário de insatisfação associado à má qualidade na prestação de serviços instigou a criação
de um padrão de qualidade, processo definido como um conjunto de atributos que inclui nível de
excelência profissional, uso eficiente de recursos, mínimo de risco ao usuário, alto grau de aceitação
por parte dos clientes e efeito favorável na saúde.
Com a introdução dos programas de Gestão da Qualidade e a busca da certificação hospitalar,
verificou-se a necessidade da implantação de um canal de escuta do cliente, haja vista a quantidade
de manifestações expressas e que permitem a melhoria contínua dos processos. As instituições de
saúde, ao utilizarem essas informações, podem descobrir como os clientes se sentem e por que
agem de uma determinada maneira.
A necessidade de avaliar a percepção de satisfação dos clientes para com a qualidade no aten-
dimento prestado está se consolidando entre os administradores hospitalares como resultado de
grandes transformações no cenário de atuação das organizações de saúde. Dessa forma, analisar
o índice de satisfação dos clientes com os serviços de saúde é relevante, haja vista que atualmente
os hospitais buscam atender seus clientes com total qualidade.
Nesse contexto, a implantação do serviço de Ouvidoria constitui-se num instrumen-
to para a melhoria dos serviços ofertados, pois favorece a avaliação e o aprimoramento das
atividades da organização.
Diante disso, espera-se que os resultados apresentados neste artigo possam contribuir para o
avanço das discussões e novas perspectivas sobre a Ouvidoria como instrumento imprescindível
para o processo de melhoria contínua da qualidade dos serviços de saúde.
Para NOGUEIRA (2008), a literatura sobre a qualidade do atendimento nos sistemas de saúde
é muito extensa e, ao mesmo tempo, difícil de sistematizar. Dependendo do paradigma disciplinar,
qualidade pode ser entendida de diversas maneiras, usando termos diferentes, etiquetas e modelos.
A mesma autora cita que os autores do Institute of Medicine – IOM revisaram mais de cem defi-
nições sobre qualidade dos cuidados de acordo com dezoito dimensões. Com base nessa revisão,
chegaram à definição de qualidade do atendimento como sendo o grau em que os serviços de saú-
de para os indivíduos aumenta a probabilidade de obter resultados desejados e consistentes com o
conhecimento profissional atual.
Nos últimos anos, percebem-se importantes modificações na área de saúde no que se refere à
necessidade de alcançar maior competitividade e conquistar novos mercados.
As seções são compostas por três níveis de complexidade crescente e com princípios
específicos:
As Ouvidorias hospitalares foram implantadas como uma das formas pelas quais os hospi-
tais podiam auscultar os “dizeres” sobre a qualidade de seu atendimento. Constituíam-se, portan-
to, em modelos institucionais para averiguar suas falhas, as quais apontavam problemas estrutu-
rais e de funcionamento.
Segundo CANCLINI (2010, p.59), “a chave para atingir os objetivos da organização consiste
em determinar as necessidades e os desejos dos consumidores-alvo e satisfazê-los mais eficaz e
eficientemente do que os concorrentes”.
Hoje em dia, trabalha-se para que o indivíduo, através do interesse particular, atue como agente
participativo no crescimento e desenvolvimento dos serviços, não apenas denunciando mas tam-
bém sugerindo, dessa forma consolidando a imagem das instituições como a de prestadoras de
serviços atuantes e eficientes.
Para LUONGO (2011), as críticas deixadas pelos clientes devem ser analisadas de modo a
que sejam encontradas soluções para os problemas. Os gerentes de cada área ou os responsáveis
pela atividade falha devem encontrar as causas e os fatores que levaram ao descontentamento do
cliente e trabalhar medidas/ações de melhoria.
ALVES JÚNIOR (2004) cita que as instituições devem ter maturidade para corrigir e aperfeiçoar
por iniciativa própria os processos e resultados frágeis apontados pela clientela. Dessa forma, a Ou-
vidoria constitui-se como um serviço complementar no processo de identificação das necessidades
e anseios dos clientes em relação aos serviços prestados pelos estabelecimentos de saúde.
O feedback do cliente significa o processo pelo qual a instituição recebe informações vin-
das do público. Essas informações podem resultar de pesquisas, contatos com o serviço
de atendimento do cliente (SAC), reclamações verbais ou escritas, sugestões, elogios e
satisfações. (LUONGO et al., p. 182, 2011)
5 METODOLOGIA
Segundo GIL (1999, p. 27), “para que um conhecimento possa ser considerado científico, torna-
-se necessário identificar as operações mentais e técnicas que possibilitam sua verificação. Ou, em
outras palavras, determinar o método que possibilitou chegar a esse conhecimento”.
Esse mesmo autor enfatiza ainda que se pode definir método como caminho para se chegar
a determinado fim. E método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos
adotados para se atingir o conhecimento.
Para a realização deste estudo foram utilizadas a pesquisa quantitativa e a análise docu-
mental. Na abordagem quantitativa foram analisados os tipos de manifestações que chegaram à
Ouvidoria no período de 2014 a 2017. Para a análise documental, foi necessária a utilização dos
6 RESULTADOS
100,00%
90,00% Meta não atingida
Segundo KOTLER (1996, p. 46), “a chave para atingir os objetivos da organização consiste em
determinar as necessidades e os desejos dos consumidores-alvo e satisfazê-los mais eficaz e efi-
cientemente do que os concorrentes”. No caso da instituição de saúde o diferencial é o atendimento
com qualidade ao longo de todo processo de prestação de serviço.
Para os pacientes internados é realizada a pesquisa pelos aprendizes dos Serviços de Ouvido-
ria e Internação através do formulário para avaliação da estadia e atendimento. Todos os dados de
avaliação da satisfação irão compor base de dados informatizada de onde serão extraídas estatís-
ticas estratificadas por setor, período, tipo de atendimento e outros.
1400
1151 Manifestações
1200
Resolutividade
969
1000
875
813 770
800
600
526
503
400
353
200
0
2014 2015 2016 2017
400
363 2016
350
2017
300
250
228
200
199
150 139
102 92
100 81
50 39 34
19
0
Serviço de Serviço de Atendimento Nutrição e Higienização
Internação Enfermagem Médico Dietética e Hotelaria
De acordo com o Gráfico 3, no ano de 2016 o quantitativo de manifestações foi maior nos servi-
ços: internação, enfermagem e médico. Das 866 manifestações, 36,95% (320) estão relacionados
ao tempo de espera para o atendimento em todos os serviços.
GRÁFICO 4
100
Registro
80 de Evento
60 54
40
20
20
5
0
2015 2016 2017
No período de 2015 a 2017, foram formalizadas 2.308 reclamações. A partir de 79 dessas recla-
mações foram geradas notificações de evento ao Setor da Qualidade pelo Serviço de Ouvidoria. As
notificações cadastradas foram classificadas como: ocorrência comunicável, quase erro e inciden-
tes sem dano relacionados à assistência ao paciente, e durante o acompanhamento pelo Setor da
Qualidade observou-se que o desfecho final se deu favorável para 100% dos pacientes envolvidos
nas notificações geradas pelo Serviço de Ouvidoria.
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PESSINI, L.; GIANELLA JÚNIOR, F. G. (Org.). Missões camilianas na foz do rio Amazonas. São Paulo: Centro Uni-
versitário São Camilo, Província Camiliana Brasileira, 2012.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo avaliar o sistema de Ouvidoria do Ceará sob os aspectos
de estrutura e eficácia, representado pela contribuição para a melhoria da gestão e políticas
públicas. As Ouvidorias são importantes ferramentas à disposição dos cidadãos e do estado
para facilitar a construção de uma administração que atenda com qualidade aos anseios da
sociedade. Metodologicamente, a pesquisa é qualitativa e descritiva, tendo como estratégia a
realização de um estudo de caso de caráter descritivo. Foram aplicadas pesquisa documental
e entrevistas presenciais, baseadas em questionários aplicados a uma amostra de 32 res-
pondentes. Os resultados indicaram um sistema estruturalmente preparado para permitir que
o cidadão participe da administração do serviço público de Ouvidoria, mas com contribuição
ainda incipiente para a melhoria da gestão. Essa limitação resulta das posturas divergentes
dos gestores quanto ao uso das informações.
1 Mestre em Planejamento e Políticas Públicas pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). Analista de Gestão de
Tecnologia da Informação da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice). (rossanaluduena@gmail.com)
(85) 98888 2587.
2 PhD em Economia pela University of Illinois, Estados Unidos. Membro efetivo do Programa de Pós-Graduação
em Administração da Uece. Membro efetivo do Programa de Pós-Graduação de Políticas Públicas da Uece. (batista.
pcs@gmail.com) (85) 98899 8675.
Para a pesquisa, foram feitas consultas bibliográficas iniciais aos autores VIEIRA e LIMA (2011),
VISMONA (2011) e NASSIF (2009), que afirmam a necessidade dos governantes de ouvir os re-
clames da sociedade, pois é para esse atendimento que eles foram dotados do poder de governar.
Esse poder não é exclusivo do gestor público, visto que, num processo democrático, toda a socie-
dade é responsável pela Administração Pública. Segundo os autores, a Constituição de 1988 afirma
que o cidadão passa a fazer parte do cenário político como personagem importante para a constru-
ção da sua realidade. Existe a necessidade da criação de instrumentos que modernizem o Estado,
estimulando a participação da sociedade na fiscalização do uso de recursos públicos e no combate
ao desperdício e à corrupção, garantindo transparência ao exercício do poder público. Essa prática,
chamada de controle social, passa a ter destaque na atual Administração Pública.
A Ouvidoria apresenta-se como um desses instrumentos, com o propósito de apoiar os gestores
públicos na missão de oferecer serviços que atendam às demandas da sociedade, em consonância
com as políticas públicas, além de atuar como instrumento de controle social. Alguns autores real-
çam o papel da Ouvidoria como parceira do gestor dentro da organização.
No Decreto Estadual nº 30.938, de 10 de julho de 2012 (CEARÁ, 2012a), foram definidas no-
vas políticas para a Ouvidoria do governo do estado, voltadas para a participação da sociedade e
o exercício do controle social, iniciando uma experiência cuja análise e avaliação será útil a outros
entes públicos envolvidos na melhoria dos serviços de Ouvidoria.
Diante disso, os autores deste trabalho elegeram como objetivos da pesquisa descrever a es-
trutura e o funcionamento da Ouvidoria do Ceará e o uso das informações produzidas por ela como
contribuição para a gestão pública do estado. Metodologicamente, a pesquisa tem natureza mista,
qualitativa e quantitativa. Como estratégia, foi realizado um estudo de caso da experiência de con-
cepção e implantação do Sistema de Ouvidoria, com recurso a técnicas de pesquisa documental e
a realização de entrevistas presenciais e aplicação de questionários. A amostra da pesquisa com-
preende 32 respondentes, Ouvidores, técnicos e gestores das unidades setoriais e do órgão central
dessa Ouvidoria. O tratamento e a interpretação das informações coletadas foram feitos recorrendo
à análise de conteúdo, segundo BARDIN (1977, p. 117 apud VERGARA, 2005, p. 18).
O Sistema de Ouvidoria do Ceará é composto pelo órgão central, inserido na Controladoria e
Ouvidoria-Geral do Estado (CGE), e pela rede de Ouvidoria do governo, formada pelos órgãos e
entidades do Poder Executivo estadual.
Para o cumprimento dos objetivos, o artigo está estruturado nesta introdução, seguida do de-
senvolvimento e das considerações finais. Dentro do desenvolvimento, encontram-se a fundamen-
tação teórica, os procedimentos metodológicos e o resultado da pesquisa.
O controle social, segundo MORAES et al. (2010, p. 24), é um termo utilizado em políticas
públicas como uma “forma de participação democrática nos processos de gestão das instituições/
O universo dessa pesquisa é formado pelos gestores, Ouvidores e técnicos da rede de Ouvi-
dorias do estado, a qual abrange 66 órgãos/entidades setoriais do executivo cearense e o órgão
central de Ouvidoria localizado na CGE. Desse total, foi selecionada uma amostra de 32 respon-
dentes, sendo 22 do órgão central e 10 Ouvidores de órgãos do estado que concentravam 80%
das manifestações da sociedade em todos os canais disponíveis. Os órgãos selecionados foram:
Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Secretaria da Educação (Seduc), Secretaria da Fazenda
do Estado (Sefaz), Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Secretaria de Segurança
Pública e Defesa Social (SSPDS), Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE), Instituto de Saúde
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados apresentados a seguir baseiam-se nas informações coletadas por meio de pes-
quisa documental e das entrevistas com os integrantes do Sistema de Ouvidoria do Estado do
Ceará. Os resultados mostram o atual modelo de estrutura e funcionamento da Ouvidoria – compre-
endendo as categorias de análise detalhadas na metodologia deste trabalho – e as evidências de
mudanças realizadas pelos órgãos setoriais em resposta às recomendações e denúncias recebidas.
São realizadas ações pelos órgãos setoriais em resposta às recomendações e denúncias re-
cebidas do cidadão, oriundas dos Relatórios Gerenciais de Ouvidoria. A seguir são relatadas ações
que provocaram mudanças significantes para o serviço público do estado motivadas pela Ouvidoria.
A exemplo, foi sugerido à Secretaria da Saúde (Sesa) melhorar a articulação entre a gestão de
pessoas e o processo de agendamento e a realização de procedimentos nas unidades assistenciais
da Sesa, além de apresentar as necessidades de melhorias na dinâmica interna de trabalho, com a
reestruturação dos fluxos de informações, normas e rotinas, para garantir maior agilidade e eficiên-
cia nos serviços. Ações implementadas pela Ouvidoria da Sesa nesse sentido foram a construção
de unidades de saúde e, na área da gestão, o encaminhamento das demandas relacionadas a
estrutura e funcionamento às áreas administrativas das unidades, para aprimoramento e melhoria
das instalações.
À Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz), foi sugerido implementar o sistema de cupom
eletrônico para dinamizar o processamento dos documentos fiscais da Campanha Sua Nota Vale
Dinheiro, bem como agilizar o pagamento dos créditos dos participantes. Para isso, foi efetivada
a implantação do Sistema de Cupom Eletrônico (DANFE), no ano de 2015, contribuindo para a
diminuição na quantidade de manifestações relacionadas ao Programa Sua Nota Vale Dinheiro.
Outra área de grande incidência de reclamações foi a de Consultoria Tributária. As informações da
Ouvidoria possibilitaram algumas transformações, como inclusão de pessoas com melhor perfil e
mudanças de gestão e procedimentos, reduzindo o índice de reclamações.
As providências tomadas pela Ouvidoria da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social
(SSPDS) foram relacionadas ao aumento do policiamento ostensivo/preventivo; reforço nas ações
integradas na área de segurança pública no Ceará, com o cumprimento das metas estabelecidas;
aumento de abordagens e autuações pelo Batalhão de Policiamento do Meio Ambiente nas ocorrên-
cias de poluição sonora; melhoria nos atendimentos da Ciops (tecnológica, pessoal, capacitação,
política de segurança), bem como redução na fila de espera, o que impactou na redução do tempo
de atendimento das ocorrências; implementações e melhorias nos sistemas tecnológicos de moni-
toramento e ações de segurança pública; continuidade das ações do Programa em Defesa da Vida
em todo o Estado do Ceará por meio de Áreas Integradas de Segurança (AISs); continuidade nas
ações de meritocracia para o alcance da meta de redução de crimes; intensificação em ações estra-
tégicas nas grandes operações; o Pacto por um Ceará Pacífico apresenta novas diretrizes no com-
bate às drogas e prevenção à violência com a redução no índice de crimes violentos, e o programa
“Crack, é possível vencer” registra queda de 27% em mortes violentas nas comunidades atendidas.
Na Polícia Militar (PMCE), a Ouvidora citou: soluções sobre pensão alimentícia; esclarecimen-
tos ao cidadão sobre como proceder em relação à poluição sonora, objeto de grande quantidade
de reclamações.
Na Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), foi implantado o fluxo de apuração de
denúncias como melhoria para dar mais transparência ao cidadão. Outra ação para fluir o fluxo de
respostas entre as áreas da companhia foi a implantação de facilitadores em cada unidade de ne-
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resultado da investigação revela que, como parte do Sistema de Ouvidoria, foram implanta-
dos um órgão central de Ouvidoria – com atribuições associadas ao controle público – e unidades
setoriais descentralizadas. O órgão central está vinculado à governadoria, o que atribui à Ouvidoria
uma posição organizacional de prestígio e poder para o exercício de suas funções, em linha com a
legislação e com as recomendações dos modelos teóricos de Ouvidoria presentes na literatura da
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Resumo
A experiência exitosa descrita no presente artigo teve como principal objetivo estruturar um
monitoramento de excelência das Ouvidorias Descentralizadas pertencentes à estrutura da
Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Para atingir o objetivo proposto, a equipe
da Ouvidoria da SES utilizou como metodologia a realização de ciclos de reuniões com os
serviços de Ouvidoria dos Hospitais da SES/RJ, acompanhamento contínuo por amostragem
do sistema OuvidorSUS – utilizado pelas Ouvidorias Descentralizadas para a inserção das
manifestações cidadãs –, emprego da estratégia “Ouvidoria Itinerante”, monitoramento dos
relatórios gerenciais e elaboração de ferramentas eficazes de gestão da informação, assim
como foram ofertadas atividades permanentes de qualificação profissional com o intuito de
propiciar as condições adequadas para o pleno desenvolvimento laborativo dos funcioná-
rios que atuam nas Ouvidorias Descentralizadas, dependentes administrativa, hierárquica
e tecnicamente da Ouvidoria da SES/RJ. Como resultado, temos um panorama completo e
substancial no banco de dados da Ouvidoria da SES/RJ que possibilita o real monitoramento
das Ouvidorias Descentralizadas.
As Ouvidorias Descentralizadas são serviços que funcionam nas unidades hospitalares perten-
centes à estrutura administrativa da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Atualmente
existem 29 serviços em atividade, que realizaram o quantitativo de atendimentos conforme descrito
no gráfico 1:
25.000
20.711
2015
20.000
2016
2017
15.000
10.923 2018
10.000
6.880
4.738
5.000
Insuficiente
34%
Regular
Bom
Excelente
66%
Em branco
Durante todo o período em que a Ouvidoria da SES realiza o monitoramento dos serviços de
Ouvidorias Descentralizadas das unidades hospitalares, a equipe da Ouvidoria da SES acom-
panha os Relatórios Gerenciais que os serviços produzem. Tal monitoramento consiste em uma
avaliação minuciosa tanto da parte quantitativa como da parte qualitativa de tal ferramenta. Os
parâmetros para monitorar as conformidades e não conformidades na elaboração de tais relató-
rios são:
Por meio do acompanhamento desenvolvido ao longo dos anos, o suporte técnico da Ouvidoria
da SES notou que havia a necessidade de substanciar as informações contidas na análise crítica.
Para tanto, foi elaborado um modelo com o intuito de servir de guia para a confecção das análises
críticas. Tal modelo segue anexado a este artigo.
A partir das análises dos relatórios gerenciais produzidos pelas Ouvidorias Descentralizadas,
é elaborado periodicamente um panorama geral quantitativo e qualitativo dos atendimentos regis-
trados e das análises críticas com base nas questões levantadas pelos Ouvidores Coordenadores.
Desde o ano de 2015, as Ouvidorias Descentralizadas lançam mão do sistema disponibilizado
pelo Departamento de Ouvidoria-Geral do SUS (DOGES), órgão ligado ao Ministério da Saúde, qual
seja: o sistema OuvidorSUS. A referida plataforma online é oferecida pelo DOGES gratuitamente e
é utilizado pela Rede de Ouvidorias do SUS existente no plano nacional. As Ouvidorias Descentrali-
zadas são capacitadas no sistema OuvidorSUS pela equipe da Ouvidoria da SES de acordo com a
necessidade de qualificação apresentada. A inserção de manifestações no referido sistema é moni-
torada por profissionais da equipe da SES, e esse monitoramento é realizado por amostragem – são
analisados 10% do total de manifestações inseridas por cada equipe de Ouvidoria Descentralizada,
e tal controle é realizado mensalmente.
Para além das capacitações no sistema OuvidorSUS, a Ouvidoria da SES presta respaldo
teórico metodológico que oferece a qualificação necessária para que os Ouvidores possam atuar
nos serviços das Ouvidorias Descentralizadas. Dessa forma, são realizados diversos encontros de
aprimoramento com o intuito de estabelecer a educação permanente dos profissionais lotados nas
unidades hospitalares. Durante o ano de 2017 foram realizados oito eventos no total, entre reuni-
ões, capacitações e o 3º Seminário de Ouvidorias do SUS no estado do Rio de Janeiro, reunindo
156 profissionais.
Ressalta-se que a SES RJ possui contratos com Organizações Sociais que realizam a gestão
operacional de unidades hospitalares. No intuito da manutenção dos serviços de Ouvidoria foram
inseridos nos contratos de gestão os critérios de implantação das Ouvidorias Descentralizadas, bem
como o indicador de resolubilidade no rol de indicadores que são acompanhados pelos setores de
fiscalização da SES. Conforme o indicador de resolubilidade, a unidade hospitalar deve apresentar
um percentual de demandas resolvidas/respondidas referente às demandas classificadas como re-
clamação, solicitação e denúncia. Acreditamos que o acompanhamento desse indicador possibilita
o envolvimento de toda a instituição nas questões pertinentes à percepção do cidadão que está
utilizando o serviço. O método de cálculo apresenta-se da seguinte forma:
Em conformidade com a meta inscrita no PES de “Realizar Ouvidoria Itinerante em 100% das
unidades de saúde da SES/RJ”, objetiva-se desenvolver estratégias de Ouvidoria Itinerante com o
intuito de promoção e ampliação desse canal de comunicação, favorecendo o encontro do cidadão
com a gestão estadual do SUS. Seus objetivos específicos:
Para tanto, utiliza-se uma equipe de aproximadamente quatro técnicos que fazem a divulgação
do serviço de Ouvidoria da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, o acolhimento das
manifestações quando necessário e a disseminação de informações em saúde.
No quadro que se segue, apresentam-se algumas informações sobre as atividades de Ouvido-
ria Itinerante realizadas no período de 2015 a 2018:
QTD.
AÇÃO DATA REGISTROS
Ouvidoria Itinerante - Central do Brasil 15/10/2015 104
Ouvidoria Itinerante - Nova Iguaçu 17/11/2015 80
Ouvidoria Itinerante - São Gonçalo 24/11/2015 71
Ouvidoria Itinerante - Niterói 11/12/2015 47
Ouvidoria Itinerante SES - Hospital Estadual Adão Pereira Nunes 17/08/2017 6
Ouvidoria Itinerante SES - Hospital Estadual Getúlio Vargas 22/08/2017 4
Ouvidoria Itinerante SES - Central do Brasil 12/09/2017 18
Ouvidoria Itinerante SES - Hospital Estadual Azevedo Lima 20/09/2017 5
Ouvidoria Itinerante SES - Hospital Estadual da Mulher Heloneida 26/09/2017 1
Studart
Ouvidoria Itinerante SES - Hospital Estadual Alberto Torres 05/10/2017 5
Ouvidoria Itinerante SES - Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio
09/11/2017 4
de Castro
Ouvidorias Públicas - Largo da Carioca 16/03/2018 2
TOTAL 347
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Resumo
O presente artigo científico discorrerá acerca das Ouvidorias Públicas no setor do sanea-
mento básico, relatando a experiência do projeto de Ouvidoria Itinerante “A AGIR quer ouvir
você!”, desenvolvido pelo setor de Ouvidoria da AGIR – Agência Intermunicipal de Regulação
do Médio Vale do Itajaí. O objetivo principal do projeto é estreitar os laços com os cidadãos,
indo ao encontro deles nas ruas e praças de cada município regulado, oportunizando espaço
para registro de demandas relacionadas aos serviços de saneamento, pedidos de esclare-
cimentos, participação em pesquisa de satisfação, entre outras interações. Nesse sentido,
serão detalhadas todas as rotinas de trabalho desenvolvidas pela equipe responsável pela
execução do projeto, bem como os métodos e materiais utilizados para divulgação e realiza-
ção de visitas a cada município atendido. Ao final, serão demonstrados os resultados obtidos
com a realização dessa prática, destacando, dentre eles, o aumento significativo de manifes-
tações registradas na Ouvidoria da AGIR.
1 Bacharel em Direito; Especialista em Gestão e Políticas Públicas Municipais; Pós-Graduando em Gestão Ambien-
tal em Municípios; Ouvidor da AGIR – Agência Intermunicipal de Regulação do Médio Vale do Itajaí. (ouvidoria@agir.
sc.gov.br) (www.agir.sc.gov.br) Tel. (47) 3331-5827
2 Bacharel em Secretariado Executivo; Bacharel em Administração; Tecnóloga em Processos Gerenciais; Especia-
lista em Auditoria em Sistemas e Serviços de Saúde; em Gerência de Cidades; em Controladoria da Gestão Pública
Municipal; em Educação a Distância: Gestão e Tutoria; Mestre e Doutoranda em Desenvolvimento Regional. (vanes-
sa@agir.sc.gov.br)
3 Administradora; Especialização em Gestão e Políticas Públicas Municipais; Pós-Graduanda em Educação a Dis-
tância: Gestão e Tutoria; Mestranda em Desenvolvimento Regional. Atualmente é Agente Administrativa na Agência
Intermunicipal de Regulação do Médio Vale do Itajaí – AGIR. (ana@agir.sc.gov.br)
Visando estimular a participação ativa da população na gestão dos serviços públicos de sanea-
mento básico e ao mesmo tempo fazer a divulgação institucional da Agência Reguladora, em espe-
cial do canal de Ouvidoria, surgiu o projeto “A AGIR quer ouvir você!”, que percorre mês a mês as
ruas e praças dos catorze municípios fiscalizados na região do Médio Vale do Itajaí em Santa Cata-
rina, quais sejam: Apiúna, Ascurra, Benedito Novo, Blumenau, Botuverá, Brusque, Doutor Pedrinho,
Gaspar, Guabiruba, Indaial, Pomerode, Rio dos Cedros, Rodeio e Timbó. O intuito dessas visitas é
promover a resolução de demandas apresentadas pela comunidade local e inseri-la no contexto da
regulação dos serviços de saneamento básico em seu município.
Assim, será abordado neste estudo o propósito de uma Ouvidoria com postura proativa contra-
pondo-se à tradicional postura eminentemente reativa das Ouvidorias Públicas, a qual depende da
manifestação do cidadão para que sejam demandados os órgãos responsáveis para resolução das
questões registradas (ABO; OMD, 2014).
Em contrapartida, atitudes proativas da Ouvidoria, como o referido projeto de Ouvidoria Itineran-
te, buscam inserção dos usuários dos serviços públicos de saneamento básico por meio da partici-
pação popular e controle social, indo ao encontro deles nas ruas e praças dos municípios para ouvir
suas opiniões, conscientizá-los por meio de educação ambiental e registrar eventuais reclamações
quanto a esses serviços prestados pelo Poder Público ou concessionárias de serviços públicos.
Outrossim, assevera ROMÃO (2011), ex-Ouvidor-Geral da União, que o atendimento realizado
pelas Ouvidorias implica “alçar” o cidadão à condição de coautor das soluções e resultados produ-
zidos no processo de participação popular. Da mesma maneira, BIAGINI e GOMES (2013, p. 13)
entendem que “o instituto das Ouvidorias, quando consolidado, pode tornar-se um verdadeiro instru-
mento de controle social, atendendo às necessidades da sociedade e contribuindo poderosamente
para o fortalecimento da democracia”.
Foi então, em meados do mês de agosto de 2015, que o setor de Ouvidoria da Agência Re-
guladora deu início a essa prática, cujo objetivo é ofertar amplo acesso aos usuários dos serviços
de saneamento básico à Ouvidoria, pois, mesmo considerando a existência dos canais tradicionais
ofertados ao público, como site, correio eletrônico, telefone e atendimento presencial, faz-se neces-
sário ir ao encontro do cidadão, nos municípios regulados, para aproximar o cidadão da Agência
e também incentivá-lo ao exercício do controle social da prestação dos serviços de saneamento
básico em seu município.
1 OUVIDORIA ITINERANTE
Cada visita da Ouvidoria Itinerante aos municípios regulados conta com a participação de uma
equipe composta por três funcionários da Agência Reguladora, dentre eles um Ouvidor, um asses-
sor de imprensa e um estagiário, que promovem a divulgação institucional por meio de panfletagem
de fôlderes e informativos acerca da atuação da Agência no âmbito da regulação, controle e fisca-
lização dos serviços públicos municipais de saneamento básico. Também é realizada pesquisa de
Além das ações de divulgação e abordagem da população, os agentes envolvidos neste projeto
aproveitam as visitas aos municípios para realizar vistorias in loco nos SAC (Serviço de Atendimento
Adesivos da AGIR sendo colados na Agência da CASAN, em Guabiruba/SC, no dia 26 de novembro de 2015.
O conjunto dessas ações é que constitui o projeto “A AGIR quer ouvir você!”, que percorre uma
vez por mês cada um dos catorze municípios associados promovendo as ações acima descritas e
pretendendo atingir o número máximo de usuários dos serviços de saneamento básico.
O projeto “A AGIR quer ouvir você!” vai ao encontro do cidadão onde quer que ele esteja, assim,
a Ouvidoria não aguarda apenas as demandas chegarem até a Agência, mas, pelo contrário, visa
atingir o usuário que sequer tem noção de quais funções competem a um prestador de serviços
de saneamento básico ou ao próprio Poder Público, bem como não sabe que pode contar com um
canal de Ouvidoria para resolução de problemas no âmbito do saneamento básico. Nesse sentido,
VOLPI, FORNAZARO e SAMPAIO (2011) asseveram que o Ouvidor é o legítimo representante dos
interesses dos cidadãos, investido de autoridade para agir em sua defesa, bem como para conduzir
a pretensão do cidadão perante as instâncias aptas ou competentes para apreciá-las.
As ações de uma Ouvidoria Itinerante têm a missão de atingir os usuários além daqueles que já
sejam demandantes na Ouvidoria, isto para que, por meio das sugestões e reclamações da popu-
lação, a Ouvidoria possa intervir positivamente para a solução de conflitos com as companhias de
saneamento básico e/ou com o Poder Público.
Ouvidor da AGIR junto ao usuário que recebeu material informativo da Agência em Benedito Novo/SC, no dia 22 de
setembro de 2016.
Como reflexo das ações de uma Ouvidoria proativa, notamos que foi estimulado o senso crítico
dos cidadãos, pois, a partir do momento que tomam ciência de seus direitos perante os prestadores
de serviços de saneamento, passam a exigir que sejam cumpridos, via canal de Ouvidoria. Logo,
CAMPOS e ALVES (2014, p. 11) afirmam que “são as Ouvidorias elementos de otimização da admi-
nistração estatal; contudo, são também porta-vozes qualificados das demandas dos indivíduos, as
quais devem ser atendidas a contento”.
Doravante, convém demonstrarmos os resultados parciais da pesquisa de satisfação que está
sendo realizada com a população dos catorze municípios visitados durante a segunda rodada de
visitas do projeto, que ocorre com periodicidade mensal. Esta pesquisa é composta por sete ques-
tionamentos, o primeiro deles é se o cidadão entrevistado conhece a AGIR. Caso não conheça, a
equipe presta breves esclarecimentos quanto à atuação e competências da Agência Reguladora,
apresentando, também, o canal de Ouvidoria ao usuário para que encaminhe as demandas que
40%
35%
30%
20%
10% 8%
10%
6% 4% 4% 4% 4% 4% 4% 4% 4% 4% 4%
0%
r l
au pa de ía na rra vo rá ue ho ba os io bó
en as ro da iú cu No ve sq rin iru dr de m
e In p s tu u d b ce o Ti
um G m A A ito Bo Br e ua s R
Bl Po ed orP G do
en u t io
B Do R
Fonte: AGIR (2017)
SIM
NÃO
Satisfeito 61%
Insatisfeito 22%
Muito
Satisfeito 16%
Satisfeito 59%
Insatisfeito 33%
Muito
Satisfeito 8%
Satisfeito 67%
Muito
Satisfeito 29%
Insatisfeito 4%
Satisfeito 51%
Insatisfeito 29%
Muito
Satisfeito 20%
Satisfeito 71%
Insatisfeito 21%
Muito
Satisfeito
6%
Sem
Avaliação 2%
Satisfeito 52%
Sem
Avaliação
24%
Muito
Satisfeito
20%
Insatisfeito 4%
2.500
1.941
2.000 1.755
1.407
1.500
1.000
500
0
2015 2016 2017
Fonte: AGIR (2017)
Destacamos que no gráfico acima foram consideradas as demandas registradas por meio tele-
fônico, e-mails, sistema virtual de atendimento da Ouvidoria e atendimentos presenciais nesse pe-
O Ouvidor, Vitor Zanella Junior, recebe em nome da AGIR o certificado de “Boa Prática” em Gestão Pública na pre-
miação da UDESC/ESAG, em 16 de junho de 2016.
Selo recebido pela premiação de “Boas Práticas” em Gestão Pública da UDESC/ESAG 2016.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, este trabalho científico expôs uma prática exitosa idealizada pela AGIR com intuito
de instigar a participação popular e o controle social dos usuários dos serviços de saneamento bási-
co mediante uma Ouvidoria Itinerante, para garantir maior representatividade aos cidadãos que, por
intermédio dela, podem participar ativamente da gestão dos serviços de saneamento básico com
suas sugestões, reclamações, elogios, denúncias, entre outras manifestações.
O cidadão, como destinatário final dos serviços públicos de saneamento básico prestados pela
Administração Pública, seja por meio da administração indireta ou até mesmo por concessionárias
de saneamento, usufrui desses serviços essenciais sem muitas vezes ter garantido um direito de
preferência, ou seja, habitualmente o Poder Público, e/ou seus permissionários, detém um monopó-
lio natural sobre a atividade de saneamento básico desenvolvida, seja ela abastecimento de água,
esgoto, limpeza urbana, coleta de resíduos sólidos ou drenagem de águas pluviais. Assim, é função
da Ouvidoria da Agência Reguladora assegurar que sejam respeitados os direitos dos cidadãos
nessa relação de consumo e proporcionar amplo acesso para encaminhamento de solicitações à
Ouvidoria, seja via canais virtuais, telefone, pessoalmente ou por meio do projeto “A AGIR quer ouvir
você!” em suas edições.
Por fim, o projeto “A AGIR quer ouvir você!” demonstrou-se uma prática relevante por permitir
a inserção social no âmbito da regulação, controle e fiscalização dos serviços públicos de sanea-
mento, por intermédio de um canal de Ouvidoria atuante, cuja responsabilidade é a de representar
a vontade popular perante a Agência Reguladora e quaisquer órgãos ou empresas que sejam de-
mandados em virtude dos serviços públicos prestados.
REFERÊNCIAS
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ção e certificação em Ouvidoria, 9-11 dez. 2014. Florianópolis-SC.
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VOLPI, Edna Lúcia; FORNAZARO, Maria Inês; SAMPAIO, Maria Lumena Balaben. Mediação e Ouvidoria. In: PE-
REZ, José Roberto Rus; BARREIRO, Adriana Eugênia Alvim; PASSONE, Eric (Org.). Construindo a Ouvidoria no
Brasil: avanços e perspectivas. Campinas: UNICAMP; 2011. p. 77-104.
Resumo
O objetivo deste artigo é demonstrar que, na gestão participativa do UniSL, a Ouvidoria esta-
belece um relacionamento com a comunidade acadêmica interna e externa, e para tal foi apli-
cado um trabalho de sensibilização através de reuniões, envolvendo todos os colaboradores
do corpo administrativo, alunos, professores, coordenadores de graduação e pós-graduação,
gestores e gerentes de setores da IES – Instituição de Ensino Superior, em que foi apresenta-
do o objetivo da Ouvidoria do UniSL de informar a comunidade acadêmica interna e externa
sobre o que é a Ouvidoria e sua missão, que é receber a comunidade acadêmica interna
e externa, reconhecendo-a como sujeito pleno de direitos. A partir das sensibilizações,
notou-se uma maior participação e o aumento das demandas feitas pela comunidade acadê-
mica com interesse em registrá-las, por ter conhecimento da existência e do papel ético
desenvolvido pela Ouvidoria, que em muito tem contribuído para a resolução de problemas
e a indicação de melhoria de serviços e processos.
1 Licenciada em Letras – Português (Furg – Universidade Federal do Rio Grande/RS). Especialista em Metodolo-
gia do Ensino Superior (UniSL – Centro Universitário São Lucas). Mestre em Letras (Unir – Universidade Federal de
Rondônia). Ouvidora do UniSL. (marivanda.goncalves@saolucas.edu.br)
Um modelo acadêmico eficiente é aquele que não somente garante resultados positivos nos indi-
cadores de qualidade externos – como Enade, CPC (Conceito Preliminar de Curso), IGC (Índice Geral
de Cursos), desempenho do exame da OAB –, alocação dos recursos financeiros e a qualidade do
corpo de professores, mas que também garante resultados positivos nos indicadores internos, princi-
palmente com a satisfação dos alunos e dos colaboradores.
O Brasil é um mercado grande em termos de Educação, um setor com aproximadamente 7,5
milhões de alunos. Mesmo com opiniões contrárias, a educação é uma prioridade e o governo tem
tentado, de alguma forma, fazer com que a educação cresça na população de 18 a 25 anos, então, o
primeiro fato importante é que o Brasil tem mais de 60 anos de expansão da educação superior priva-
da e muitas vezes não lembramos disso, mas é uma trajetória longa e vemos outros países que ainda
discutem essa questão. A segunda coisa importante é que, hoje, o Brasil é um país que já se adequou
à questão da educação com fins lucrativos, então isso não é mais um tabu, e a terceira coisa importan-
te é que quase 80% da educação superior no Brasil é privada, com as variações naturais entre regiões
e estados da Federação. O Brasil tem criado inovações, algumas condições especiais que fazem com
que a educação superior cresça em taxas aceleradas, podemos falar de Prouni, Fies, EAD, cursos
para tecnólogos, que são coisas específicas do Brasil. Além disso, o Brasil tem um mercado competiti-
vo, são mais de 2 mil instituições de ensino, com grupos regionais, escolas que estão avançando para
o ensino superior, além dos fundos de investimentos, bancos e uma série de analistas olhando com
muita atenção para esse mercado, o que nos faz refletir sobre um ponto importante: o Brasil é um país
que tem um cenário favorável para o ensino superior, em especial o ensino superior privado.
E nesse cenário surgiu, em 2000, o UniSL – Centro Universitário São Lucas, uma instituição de
educação e ensino superior, em Porto Velho, no estado de Rondônia. Após 18 anos de atuação, o Cen-
tro Universitário São Lucas oferece, atualmente, cursos reconhecidos pelo MEC e recebe acadêmicos
de vários estados da Federação. Hoje, o Centro Universitário São Lucas consolida-se como o maior
Centro Universitário privado do estado de Rondônia e um dos maiores da região Norte, o que aumenta
o seu compromisso com a ética e com a responsabilidade social. A missão do Centro Universitário
São Lucas consiste em estimular o desenvolvimento do conhecimento, das habilidades, dos talentos
e das atitudes de seus alunos, para que atinjam a realização profissional, pessoal, social, além de se
preparar para o exercício pleno da cidadania. Ao lado da tríplice missão de ministrar o ensino, estimu-
lar a pesquisa e promover a extensão, o UniSL não abdica de seu papel como centro de reflexão dos
problemas do Brasil e do mundo e atua em áreas que possam conduzir à melhoria da qualidade de
vida, estando inserido numa das regiões do país que apresentam índices de qualidade de vida que
variam de regular a baixo.
E, como importante instrumento de controle social, a Ouvidoria do UniSL se configura como um
espaço para o exercício da cidadania e da democracia. Diante disso, surge a necessidade de fazer um
trabalho de conscientização através das sensibilizações, objeto de estudo deste artigo, para divulgar
amplamente as formas de acesso, buscando incentivar a participação dos colaboradores administrati-
vos, alunos, professores e demais integrantes da comunidade acadêmica interna, visando a melhoria
da qualidade do ensino, pesquisa e extensão oferecidos pelo UniSL.
Como o UniSL é respeitado pelo seu público e tem como proposição uma gestão participativa,
que ouve a comunidade acadêmica interna e externa, transformando-a em melhorias de serviços e
processos, criação de novos serviços e incremento da qualidade do atendimento, o trabalho feito pela
Ouvidoria estabelece um relacionamento com a comunidade fundamentado na transparência e no
respeito. Este texto aborda, então, o modelo de Ouvidoria implantado no UniSL, cuja intenção é que
as informações possam ajudar a comunidade a compreender o trabalho da Ouvidoria, bem como os
benefícios que pode obter ao encaminhar suas sugestões, queixas, reclamações, elogios, consultas
e denúncias.
A Ouvidoria do Centro Universitário São Lucas é uma unidade de apoio estratégico e pedagógico
que concilia na busca de soluções de conflitos e incentiva mudanças de processos e serviços. Sem-
pre atenta aos princípios de legalidade, impessoalidade e imparcialidade, a Ouvidoria é um veículo de
comunicação autônomo e independente, alicerçada como ferramenta de participação da comunidade
acadêmica, que busca defender os direitos individuais e coletivos para reduzir a judicialização. É por
meio das manifestações que chegam através dos canais de acesso (e-mail, sistema online, telefone
e atendimento presencial) que acontece o aperfeiçoamento de rotinas e processos de trabalho, além
da melhoria da qualidade dos serviços prestados. A Ouvidoria aproxima a instituição da comunida-
de acadêmica de forma simples: levando a manifestação do demandante (comunidade acadêmica
interna e externa) para a área responsável em busca de resolução. Por meio dos canais de acesso,
qualquer pessoa consegue reclamar, denunciar, elogiar, sugerir, fazer consulta e pedir informação.
A Ouvidoria representa cada aluno, professor, colaborador administrativo, fornecedor, prestador
de serviço do UniSL, das Clínicas e dos Ambulatórios, recebendo suas manifestações e monitorando-
-as até uma resposta final. Diferentemente dos demais canais de comunicação da instituição, a Ou-
vidoria recebe, avalia e dá encaminhamento às demandas, observando o sigilo de dados pessoais,
quando solicitado, garantindo o DIREITO de resposta no menor prazo possível. A independência e
a autonomia do Ouvidor garantem maior mobilidade e rapidez na busca de soluções. A comunidade
acadêmica pode recorrer à Ouvidoria em caso de discriminações e violências decorrentes de orien-
tação sexual, identidade de gênero, identificação religiosa, questões étnico-raciais ou qualquer mani-
festação de preconceito ou racismo.
É preciso salientar que, primeiramente, as demandas devem ser apresentadas às áreas de aten-
dimento de primeiro nível, como a CEAL, Central de Atendimento ao Aluno, setor competente para a
maioria dos atendimentos de rotina, como solicitação de documentos, negociação financeira, vistas
de prova e pedido de segunda chamada. A Ouvidoria só deve “entrar em cena” se o demandante não
obtiver resposta ou se sentir insatisfeito com o resultado encaminhado pelos canais de comunicação
de atendimento de primeiro nível. A comunidade externa que precise se relacionar com o UniSL pode
apresentar sua manifestação à Ouvidoria, que a recebe, analisa, trata e encaminha para a área res-
ponsável. Caso a questão não seja de competência da Ouvidoria, o manifestante é orientado quanto
à forma mais adequada para o seu atendimento.
A Ouvidoria é o lugar onde colaborador, aluno, gestor, gerente, professor e comunidade externa
podem fazer denúncias, reclamações, elogios, pedidos de informação ou sugestões sobre as ati-
vidades desenvolvidas pelo UniSL, com o objetivo de efetivar, aprimorar e aperfeiçoar os serviços
oferecidos. Os atendimentos realizados pela Ouvidoria abrangem tanto o público interno do UniSL
(colaboradores, alunos, contratados terceirizados e estagiários), quanto o público externo (popu-
lação em geral). Ao receber cada manifestação, a Ouvidoria busca as respostas, informações,
orientações e esclarecimentos necessários para o devido atendimento ao manifestante. A Ouvi-
doria funciona nas dependências do Centro Universitário São Lucas, com horário de atendimento
presencial, e as manifestações podem ser realizadas através:
Do ponto de vista da estrutura física da Ouvidoria, para que o Ouvidor e a equipe desenvolvam
suas atividades essenciais com confidencialidade, neutralidade e independência, além da postura
comportamental, o espaço físico adotado é um local reservado, silencioso, que propicia concen-
Para fomentar o relacionamento entre a comunidade interna e o UniSL, foi aplicado um tra-
balho de sensibilização envolvendo todos os colaboradores da IES por setores, iniciando com os
gestores, s e g u i d o s d o s funcionários administrativos, incluindo os jovens aprendizes, com
demonstrações sobre a importância da Ouvidoria quanto aos reais benefícios para a instituição.
Foram sensibilizados 460 colaboradores através de reuniões em que foi apresentado o objetivo da
Ouvidoria do UniSL, que é informar a comunidade acadêmica sobre Ouvidoria e sua relação com
clientes, fornecedores, colaboradores, comunidade e usuários dos serviços da instituição, assim
como a missão, que é receber a comunidade, reconhecendo seus direitos. Assim, a Ouvidoria pas-
sa a ser percebida como agente de realização dos direitos da comunidade acadêmica dentro da ins-
tituição, intermediando e dialogando. Essa missão determina que a Ouvidoria do UniSL tenha foco
no diálogo entre a comunidade e a instituição, garantindo que as manifestações contribuam para
a melhoria da qualidade dos serviços prestados, bem como para o aperfeiçoamento da gestão.
As reuniões de sensibilização de Ouvidoria do UniSL geram grande expectativa na comunida-
de acadêmica interna, tanto para conhecer o papel da Ouvidoria de escutar de forma qualificada e
profissional os que fazem parte da comunidade, quanto para ter um canal a fim de solucionar ques-
tões relacionadas ao seu dia a dia no trabalho. Nas reuniões fica clara a intenção de tornar aquele
momento o primeiro passo em direção à busca e ao acesso à informação. A partir das reuniões, a
comunidade acadêmica passa a compreender como é o fluxo de trabalho da Ouvidoria para obter
respostas de suas solicitações em tempo breve.
Embora a porta de entrada para o atendimento sejam protocolos abertos na CEAL, onde todos
fazem considerações e/ou solicitações, nas reuniões de sensibilização de Ouvidoria se dimensiona
a importância de atender às solicitações de maneira rápida e objetiva. Nas sensibilizações foram
feitos esclarecimentos sobre a Ouvidoria do UniSL e respondidos questionamentos e dúvidas, já
que a Ouvidoria é um recurso que contribui para a avaliação e melhoria dos serviços prestados
pela IES. A sensibilização funciona como uma reorganização para a prestação de um serviço de
qualidade e contribui na busca da excelência.
As reuniões de sensibilização buscam valorizar a Ouvidoria, porque a falta de conscientização
do papel do Ouvidor prejudica a execução dos atendimentos prestados. Dessa forma, é necessá-
As sensibilizações foram divididas por setores e foi relatado o papel desempenhado pela Ou-
vidoria juntamente com as diretrizes apropriadas para potencializá-la como instrumento de quali-
ficação dos serviços prestados à comunidade acadêmica, além do fato de que suas informações
são bastante utilizadas pelos gestores na tomada de decisões a fim de promover melhorias nos
processos, produtos ou serviços oferecidos pelo UniSL.
As sensibilizações abordam assuntos pertinentes ao dia a dia do trabalho, estimulando a troca
de experiências entre os participantes, além do papel do Ouvidor, transparência, mediação, ética
e cidadania.
As sensibilizações promovem a integração, amparadas pela imparcialidade e responsabili-
dade, e consolidam todos os serviços oferecidos pela Ouvidoria, uma importante ferramenta que
serve como canal de participação da comunidade acadêmica interna e externa em relação à
instituição, com destaque para as demandas de sugestões e críticas que são encaminhadas para
a reitoria, após a triagem, na tentativa de solucionar o pedido do manifestante. A Ouvidoria é o
canal direto entre os colaboradores e a reitoria do Centro Universitário São Lucas.
A Ouvidoria representa uma quebra de paradigmas que, em muitos casos, causa desconforto,
principalmente para quem está habituado com práticas burocráticas dentro da instituição. Através
da conscientização entre coordenadores pedagógicos, gerentes administrativos, líderes de seto-
res, professores, diretores e alunos, pretende-se que a comunidade acadêmica compreenda a
importância da Ouvidoria para o UniSL.
Como toda a instituição, o UniSL define sua Ouvidoria partindo de suas crenças, valores e
princípios, com propostas de boas práticas que valorizam a confiança perante a comunidade aca-
dêmica interna e externa. Percebe-se que, na relação entre a comunidade e a instituição, ainda
há muito para ser construído, mas esse caminho é um grande desafio para a Ouvidoria que, por
meio de compromissos e práticas adotadas pelos gestores, possibilita a harmonia nas relações,
princípios e valores.
A partir das sensibilizações, nota-se o aumento das demandas feitas pelos colaboradores da
instituição, que revelam que têm medo de procurar o DTH, Departamento de Talentos Humanos,
por conta de retaliações, mas se sentem motivados a dar sugestões e que, agora, têm interesse em
registrar suas demandas, por ter conhecimento da existência e do papel ético desenvolvido pela
Ouvidoria. Portanto, a Ouvidoria se tornou uma “porta” para o registro de manifestações, as quais
em muito têm contribuído para a resolução de problemas, além de servir como indicação para a
3. CONSIDERAÇÕES
A busca pelo equilíbrio e harmonia nas relações evidencia o desafio assumido pelo UniSL para
ampliar um diálogo com a comunidade acadêmica interna e externa, estabelecendo uma relação
próxima, transparente e de confiança, que resulte em uma gestão participativa. A Ouvidoria do
UniSL contribui para fortalecer esta relação através de um diálogo acolhedor, profissional, isento e
imparcial, traduzindo as sugestões em melhorias. Da mesma forma, a intenção é conscientizar toda
a comunidade acadêmica interna e externa, através das sensibilizações (alunos, professores, corpo
técnico administrativo, prestadores de serviços terceirizados e comunidade externa em geral), a fim
de incentivá-la a participar efetivamente das melhorias dos serviços prestados e poder contar
com sua fidelidade e estímulo para trabalhar em prol do crescimento da empresa e da manutenção
de bons resultados.
Vale destacar que, sendo a Ouvidoria do UniSL um agente de transformação, ela atua na
busca de soluções sensibilizando os gestores e apoiando-os na tomada de decisão correta e de
acordo com os direitos dos cidadãos. As práticas adotadas pela Ouvidoria do UniSL, na relação
com a comunidade acadêmica interna e externa, fortalecem a imagem da instituição perante a
sociedade, reduzem custos, promovem um ambiente de inovação, benefícios esses que levam a
ABO – Associação Brasileira de Ouvidores a eleger a Ouvidoria como um benefício para as insti-
tuições, além de obter a adesão, a confiança e uma postura colaborativa dos funcionários.
ALVES JÚNIOR, Mário Nelson. A contribuição estratégica das Ouvidorias para melhoria dos serviços prestados
pelas organizações: um estudo de caso na Secretaria de Estado e Saúde de Santa Catarina. Florianópolis, 2012.
LIMA, Alessandra Rodrigues de Almeida. Boas práticas na Ouvidoria do SUS do estado de Goiás. Disponível em:
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VISMONA, E. L.; BARREIRO, A. E. A (Org.) Ouvidoria Brasileira: o cidadão e as instituições. São Paulo: Associa-
ção Brasileira de Ouvidores, 2015.
Resumo
Partindo-se de uma análise do referencial teórico e revisão bibliográfica sobre o tema, foi ana-
lisada a implantação da Ouvidoria Municipal de Caruaru, visando conhecer o funcionamento
de suas atividades desde a chegada das manifestações até a sua resposta e a constituição
de uma cadeia de dados em formato de relatório eficiente na tomada de decisões e plane-
jamento de soluções e projetos da Administração Pública. Com base na vivência diária e na
pesquisa realizada para escrever este artigo, conclui-se que a Ouvidoria Municipal é instru-
mento de gestão participativa e resguarda a transparência e a democracia.
O presente artigo tem como foco o estudo da implantação da Ouvidoria Municipal de Caruaru e
de como sua implantação traz um instrumento de gestão capaz de promover a mediação dos inte-
resses da população e o exercício das funções dos agentes públicos.
O trabalho foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica, em livros e artigos científicos,
visando à conceituação teórica sobre o tema e, ainda, traz elementos do dia a dia da Ouvidoria, pelo
conhecimento pessoal das autoras e de sua vivência na área.
A Ouvidoria é o órgão de comunicação entre o cliente e a empresa, no caso da iniciativa priva-
da, ou entre a população e a Administração Pública.
Na esfera privada a figura responsável por essa comunicação é conhecida como Ombudsman,
termo de origem nórdica, mas aplicado em diversos países, incluindo o Brasil, valendo citar Odila
de LARA PINTO (1998, p. 26):
- man significa, em germânico ocidental (nórdico, gótico, holandês, alemão, frisão, anglo-
-saxão), homem.
- bud equivalente ao alemão Bod, ao flamengo Bode, é o enviado, embaixador, delegado.
- om, em alemão um e em holandês om, significa movimento ao redor de um ponto médio,
em torno, de direção para. De modo que Ombudsman, literalmente, significa “homem que
dá trâmite”. E de acordo com COSTA (1991), ombud significa representante, delegado e
man, homem. Ombudsman, portanto, seria o procurador, o defensor ou, ainda, aquele
que representa. (Destaque ausente no original)
Já Ouvidor é palavra mais antiga entre nós, porém com significado diverso em sua ori-
gem. O Ouvidor do Rei de tempos coloniais era representante da coroa imperial, em seu
nome fiscalizando e aplicando justiça. O completo oposto do Ouvidor da máquina estatal
de hoje, que é representante do cidadão perante o Estado.
Apesar de o emprego original do termo ser de sentido diametralmente oposto, entende-se por-
que se faz adequada sua utilização para designar o Ouvidor moderno, visto que na época ele era o
contato direto com a população enquanto o rei era uma figura distante e até intangível. Tanto o Om-
Nesse sentido, há que se falar também que a transparência atende ao artigo 5º, inciso XXXIII,
da Constituição Federal, segundo o qual “todos têm o direito a receber dos órgãos públicos informa-
ções de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado”.
No entanto, apesar de mencionada na Lei 5.282/2013, a Ouvidoria Municipal de Caruaru foi
criada através da Lei Municipal 5.843, de março de 2017, e, segundo o art. 37 dessa lei, a Ouvidoria
está vinculada à Controladoria-Geral do Município, sendo, portanto, um dos instrumentos do exercí-
cio do controle interno, aquele exercido pela própria administração, na cidade.
A Ouvidoria Municipal de Caruaru foi efetivamente implantada na data de 22 de novembro de
2017, após seis meses de elaboração e concretização de um plano de trabalho, que teve como pi-
lares a sustentabilidade normativa, a solidez de uma equipe bem preparada e a disponibilização de
material educativo à população.
A Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017, também chamada de Lei de Proteção e Defesa dos
Usuários de Serviços Públicos, é um dos principais complementos à Lei de Acesso à Informação e,
em seu art. 13, traz as principais atribuições das Ouvidorias:
Art. 13. As Ouvidorias terão como atribuições precípuas, sem prejuízo de outras estabe-
lecidas em regulamento específico:
I - promover a participação do usuário na Administração Pública, em cooperação com
outras entidades de defesa do usuário;
II - acompanhar a prestação dos serviços, visando a garantir a sua efetividade;
III - propor aperfeiçoamentos na prestação dos serviços;
IV - auxiliar na prevenção e correção dos atos e procedimentos incompatíveis com os
princípios estabelecidos nesta Lei;
V - propor a adoção de medidas para a defesa dos direitos do usuário, em observância às
determinações desta Lei;
VI - receber, analisar e encaminhar às autoridades competentes as manifestações, acom-
panhando o tratamento e a efetiva conclusão das manifestações de usuário perante órgão
ou entidade a que se vincula; e
VII - promover a adoção de mediação e conciliação entre o usuário e o órgão ou a entida-
de pública, sem prejuízo de outros órgãos competentes.
Estabelecida a Ouvidoria, observa-se que captar a demanda não é seu único papel, é somente
o primeiro passo. O Ouvidor precisa possuir competência gerencial de análise crítica, para com ela
gerar os relatórios gerenciais necessários e as propostas a serem apontadas para a gestão, como
forma de fortalecer o serviço público oferecido e garantir a eficácia e efetividade da administração
enquanto garantidora de direitos.
Um grande obstáculo para a implantação da Ouvidoria é a falta de conhecimento da população
sobre sua existência e sua função. O primeiro passo dado no sentido de vencer esse empecilho no
município foi, num primeiro momento, a capacitação dos interlocutores para orientar a população
no sentido de acesso ao canal correto, além da visibilidade do canal do sistema de Ouvidoria em
formato de banner na página oficial da prefeitura.
Porém a ação que vem se destacando e fomentando a cultura de participação social na so-
ciedade caruaruense é o trabalho de divulgação e educação “corpo a corpo” efetuado nas mais
diversas ações da prefeitura e perante os órgãos que contemplam a sociedade civil organizada,
como associações e conselhos. Existe uma cartilha desenvolvida especificamente para informar ao
cidadão qual o seu papel como possuidor de direitos perante a Administração Pública, indicando a
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Ouvidoria de Caruaru procura incutir a ideia de que a população tem, portanto, não só o direito
de contar com esse canal de comunicação, como o dever cidadão de se manifestar e trazer essa
informação ao conhecimento da gestão.
O trabalho realizado nos trouxe muita alegria, por entendermos que a ferramenta de Ouvidoria
traz grande, e importante, contribuição para a garantia da Democracia, bem como para o fortaleci-
mento da Gestão Pública, uma vez que, sendo implementada de forma estruturada, trará resultados
rápidos e satisfatórios na melhoria da qualidade dos serviços públicos.
Escutar a população é um grande passo na transformação do serviço público, pois o gestor,
assim como o administrador de uma empresa, traçando um paralelo, não está na linha de frente do
atendimento ao público, não está naquela escola onde a demanda de vagas é maior que a ofertada
e não saberá desses fatos, a menos que eles lhes sejam informados. Destaca-se aqui a visão que
têm as autoras deste artigo, na qualidade de membros da Ouvidoria Municipal de Caruaru, de que
ela possui imensa importância estratégica para a gestão do município.
Esperamos num momento futuro dar continuidade ao presente estudo apresentando um tra-
balho estatístico de análise das manifestações recebidas, bem como dos resultados aferidos pelos
trabalhos da Ouvidoria Municipal de Caruaru a fim de demonstrar o efetivo papel desempenhado
por ela desde sua implantação.
Por último, reafirmamos a relevância científica do presente estudo, que traça um importante
relato da implantação e da vivência de uma Ouvidoria municipal, observando que, concretamente,
a literatura sobre essas Ouvidorias específicas ainda é escassa no país.
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Resumo
O presente artigo tem como objetivos: apresentar a Ouvidoria do HMLJ – Hospital Municipal
Lourenço Jorge como instrumento de gestão e valorização dos colaboradores da instituição;
entender a importância de valorizar cada servidor em função do crescimento pessoal e orga-
nizacional; e estipular o que pode ser feito para que o colaborador se sinta satisfeito, reconhe-
cido e mais engajado no seu ambiente de trabalho. É vital entender a Ouvidoria como uma
ferramenta de grande impacto na organização, não apenas servindo o público externo, mas
altamente capacitada para identificar meios de prestigiar e destacar os colaboradores mais
comprometidos, empenhados, responsáveis e habilitados, que exercem suas atividades com
mais eficiência. Essa prática produz resultados positivos para todos os envolvidos no sistema
organizacional, principalmente para os usuários do SUS, que passam a receber os cuidados
de profissionais que, valorizados na sua essência como ser humano, sentem-se estimulados
a trabalhar mais e melhor, fazendo da instituição não apenas um local de trabalho, mas uma
fonte de realização pessoal.
1 Graduada no Curso de Pedagogia da UERJ. Pós-graduada em Gestão e Docência do Ensino Superior. (cristiane.
ferreira@smsdc.rio.rj.gov.br)
Conduzir e gerenciar uma pequena ou média equipe de trabalho requer muita atenção a diversas
questões para que a gestão de pessoas seja realizada com êxito. Todavia, maior desafio representa
administrar um grande hospital público, referência em emergência numa grande capital, que possui
em seu quadro funcionários concursados em diversas categorias.O reconhecimento e a valorização
pela qualificação e competência do colaborador integram, de forma fundamental, o processo de moti-
vação e crescimento de uma equipe. Sabe-se que motivação é uma força interna e pessoal que, bem
trabalhada pela gestão, impulsiona e incentiva. Entretanto, em alguns casos, a própria estabilidade do
servidor público impede que ele ouse mais ou se motive.
Um profissional motivado demonstra dedicação e empenho maiores e mais relevantes, seja na
execução de tarefas, na gestão e até mesmo no convívio com os demais no ambiente de trabalho.
Políticas que visam esse objetivo devem ser adotadas e colocadas em prática por gestores e organi-
zações. Pensando em quebrar paradigmas, a Ouvidoria do Hospital Municipal Lourenço Jorge decidiu
apostar na valorização do servidor público, tornando-o mais positivamente competitivo e satisfeito com
seu trabalho.
O Hospital Municipal Lourenço Jorge, do município do Rio de Janeiro, acolhe uma média mensal
de 10 mil atendimentos nas suas diversas especialidades médicas (Cirurgia Bucomaxilofacial, Clínica
Médica, Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular, Pediatria e Ortopedia).
Com relação à natureza dos atendimentos, pode-se afirmar que ela se divide nos três polos de
assistência, sendo eles: SPA (Serviço de Pronto Atendimento), Emergência/Politrauma e Serviço Am-
bulatorial. O SPA da Unidade atende, diariamente, as especialidades de Pediatria, Clínica Médica,
Cirurgia Geral, Ortopedia, Cirurgia Vascular e Bucomaxilo; a Emergência recebe as demandas mais
graves, das mesmas especialidades atendidas no Serviço de Pronto Atendimento. Todavia, é neces-
sário ressaltar que, em ambos os setores, dependendo da gravidade do caso e após avaliação médi-
ca, são gerados atendimentos no centro cirúrgico da Unidade.
Com relação ao Serviço Ambulatorial, pode-se afirmar que este tem caráter pós-cirúrgico e aten-
de as seguintes especialidades: Bucomaxilo, Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular, Cirurgia Ortopédica e
Terapia Ocupacional.
O cenário atual de crise no setor público da saúde e a grande demanda recebida pelo SUS são
problemas que as unidades hospitalares enfrentam diariamente, assim, para manter seus colaborado-
res motivados, elas precisam buscar estratégias. A Ouvidoria do HMLJ considera que é essencialmen-
te pelo capital intelectual que as organizações podem alcançar resultados positivos e eficazes. Mas
como valorizar cada funcionário fazendo com que ele se sinta mais entusiasmado com o seu trabalho?
Todas as organizações, públicas ou privadas, que se preocupam com a valorização dos seus
funcionários são mais humanizadas, mais produtivas e possuem colaboradores felizes, satisfeitos e
comprometidos com o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Os servidores não são números,
não são apenas matrículas, eles têm sentimentos, emoções e problemas. Cada um deve ser conheci-
do e reconhecido na sua essência.
Trabalhador valorizado gera aumento de produtividade e realiza atendimentos mais humanizados,
pois se sente parte importante da instituição e apresenta mais comprometimento e prazer em exercer
2 CONCEITO DE VALORES
Pode-se compreender como valor tudo aquilo que é importante para o ser humano em sua
vida pessoal, social ou profissional. As pessoas precisam ser valorizadas e reconhecidas no am-
biente profissional por serem os recursos mais importantes de uma instituição.
Quando os funcionários são admirados e reconhecidos, automaticamente se sentem
mais envolvidos e comprometidos com a organização, porque se sentem parte essencial dela.
É fundamental o gestor valorizar seu colaborador, enfatizando que ele não só faz parte, mas
é responsável direto pelo sucesso da organização. São os funcionários que, verdadeiramente,
dão vida a uma empresa.
Dessa forma, é de grande importância valorizar cada colaborador, pois é através de seu de-
sempenho que a empresa pode atingir suas metas e alcançar excelentes resultados. Com referên-
cia ao ambiente organizacional hospitalar, o funcionário valorizado gera atendimento e prestação
de serviços mais humanizados. É importante ressaltar que humanização no SUS é um princípio
fundamental para o atendimento de qualidade.
Todo profissional deseja trabalhar em instituições que o valorizem integralmente e que lhe per-
mitam exercer suas potencialidades. Do mesmo modo, a sociedade valoriza as organizações que
dão valor às pessoas, e a gestão que atua dessa forma serve de exemplo para outros gestores.
A valorização no ambiente organizacional gera satisfação para toda a equipe de trabalho,
melhora o clima e gera aumento na produtividade e, como dito anteriormente, no ambiente do
Pensando em uma maneira de destacar o valor dos funcionários de sua unidade hospitalar, a
Ouvidoria do Hospital Municipal Lourenço Jorge criou em 2017 a eleição do “Funcionário Padrão”
(ver anexo 1).
Seria injusto afirmar que esse trabalho gerou uma onda motivacional no hospital, mais proce-
dente atestar que provocou um “tsunami motivacional”.
Além das reclamações, sugestões e denúncias, a Ouvidoria do Hospital Municipal Lourenço
Jorge também recebe dezenas de elogios feitos aos funcionários em todas as categorias presentes:
administrativos, assistentes sociais, copeiros, dentistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais,
médicos, técnicos em análises clínicas, técnicos em radiologia, entre outros.
Ao receber os elogios, a Ouvidoria coloca numa planilha excel o nome e a matrícula, em ordem
alfabética, dos referidos funcionários. O funcionário mais elogiado no mês ganha o título de “Fun-
cionário Padrão”, no período correspondente. A partir daí, são confeccionados dois certificados: um
a ser fixado no mural do refeitório da unidade (local de grande circulação diária) e outro para ser
entregue ao funcionário homenageado.
Os funcionários testemunham que a premiação os deixa em situação de extrema satisfação e
felicidade, pois são parabenizados pela Direção-Geral do hospital e pelos seus colegas de jornada.
Após um ano da implementação dessa ferramenta de valorização, a Ouvidoria do Hospital
Municipal Lourenço Jorge pôde afirmar que houve uma redução significativa de 37% no número
total de reclamações dos usuários do Sistema Único de Saúde. Este resultado foi constatado após
um estudo comparativo entre os anos 2016 e 2017, visto que essa prática fora em implantada em
janeiro de 2017.
Observou-se que em 2016 houve 924 solicitações classificadas como reclamação de usuários.
Em contrapartida, em 2017 este número caiu para 582 solicitações de reclamação.
Ainda com base nesse estudo, tendo como referência os períodos de não implementação e
de implementação da boa prática, constatou-se que houve um aumento de 43% das solicitações
referentes a elogios a profissionais e a setores da Unidade. Durante todo o ano de 2016, houve 312
atendimentos classificados como elogio aos funcionários e setores. No ano seguinte, a demanda
subiu para 446 casos classificados como elogio.
A Ouvidoria HMLJ, após análise dos indicadores, considerou a proposta de valorização do ser-
vidor o instrumento necessário para estimular o bom trabalho individual e de equipe, gerando um
atendimento mais humanizado e com mais qualidade.
É importante lembrar que tal prática, com todo benefício que proporciona à organização, é um
método de trabalho que demanda despesas mínimas, com excelente custo-benefício, gerando re-
sultados edificantes.
Outro trabalho desenvolvido e implantado pela Ouvidoria do Hospital Municipal Lourenço Jorge
é a PCO – Pesquisa de Clima Organizacional (ver anexo 2).
A Ouvidoria acredita que tão importante quanto, literalmente, ouvir o público externo é ouvir o
público interno, ou seja, funcionários e colaboradores.
Numa organização como o Hospital Municipal Lourenço Jorge, com mais de mil funcionários, é
necessário um trabalho para analisar e redirecionar possíveis funcionários que, não satisfeitos com
o atual setor, possam ser mais produtivos e felizes em outro departamento.
A pesquisa funciona como uma entrevista de RH, porém sem caráter cerimonioso e protocolar.
Por essa pesquisa constata-se que, numa grande organização, não raro há funcionários su-
baproveitados em funções aquém de sua capacidade profissional e pessoas insatisfeitas que, com
um simples redirecionamento, podem se tornar mais realizadas e produtivas.
A pesquisa é composta por 34 questões, que traduzem o nível de satisfação e insatisfação
dentro da Unidade.
No item 32, é solicitado ao entrevistado que escolha as duas principais razões pelas quais ele
trabalha na empresa. Dos trezentos entrevistados, 86% declararam como razão principal a estabili-
dade profissional, 9% o relacionamento com a chefia e 5% as respostas restantes.
No item 33, são apurados os três principais fatores que geram mais insatisfação no trabalho,
sendo eles: 47% sobrecarga de trabalho, 28% baixa remuneração (no campo outros) e 25% falta
de treinamento.
A Pesquisa de Clima Organizacional representa um importante instrumento de gestão, auxilian-
do os administradores de empresas de pequeno, médio e grande porte.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa forma, conclui-se que é essencial a organização valorizar seus funcionários no setor de
trabalho, porque são eles os responsáveis pelo sucesso final. Quando a organização prioriza valori-
REFERÊNCIAS
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CHIAVENATO, Idalberto. Gerenciando com as pessoas: transformando o executivo em um excelente gestor de pes-
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ELTON, C.; GOSTICK, A. O princípio do reconhecimento. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
FRASER, 1983; LOCKE, 1976; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999. In: Cadernos de Psicologia Social do Trabalho. v. 6,
2003.
GARRET, Alexandre; TACHIZAWA, Takeshy. Crenças e valores em nossas organizações. São Paulo: Cultura, 2006.
HUNTER, J. O monge e o executivo. Tradução de M. C. F. de Magalhães. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
KUCZMARSKI, Susan Smith; KUCZMARSKI, Thomas D. Liderança baseada em valores. São Paulo: Educator, 1999.
MATOS, Gustavo Gomes de. Comunicação empresarial sem complicação. 2. ed. São Paulo: Manole, 2009.
SIQUEIRA, M. M. M. (Org.). Medidas do comportamento organizacional: ferramentas de diagnóstico e de gestão.
Porto Alegre: Artmed, 2008.
02. A empresa exige um procedimento rígido para a execução das atividades pertinentes
às suas funções?
( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não tenho opinião
03. É você que organiza sua rotina de trabalho para melhor aproveitamento de suas
atividades?
( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não tenho opinião
04. Até que ponto você cumpre as responsabilidades que são destinadas à sua função?
( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não tenho opinião
05. Você considera que é sua responsabilidade contribuir para o sucesso da empresa?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não tenho opinião
06. Você desempenha seu trabalho buscando obter resultados melhores do que aqueles
esperados pela empresa?
( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não tenho opinião
14. As orientações que você recebe sobre o seu trabalho são claras e objetivas?
( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não tenho opinião
32. Indique as duas principais razões pelas quais você trabalha na empresa.
Coloque número 1 na principal e número 2 na segunda mais importante.
( ) Benefícios oferecidos pela empresa
( ) Estabilidade no emprego
( ) Relacionamento com a chefia
( ) O trabalho que realizo
( ) Ambiente de trabalho
( ) Prestígio da empresa
( ) Autonomia no trabalho
( ) Possibilidade de treinamento
( ) Reconhecimento
Que sugestões você daria para tornar a empresa um lugar melhor para se trabalhar?
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