MARCAS
MARCAS
MARCAS
CURITIBA
2004
MARCELA FILUS COELHO
/as fy
Orientador: Q; -/O
Prof”. Má cia a Pereira Ribeiro
Departamento de Direito Privado, UFPR.
Í,
/ ' /“./`
u "
JJ
1 HQ R W/Cóz/A414 i
Prof. LDÊ Daniel Rodrigues j Mussi
Departamento de Direito Privado, UFPR.
I
Sumário
1 MORO, Maitê Cecília Fabri. Direito de marcas: abordagem das marms notórias da Lei 9279/1996 e nos
acordos intemacionais. p. 23.
2 DOMINGUES, Douglas Gabriel. Marcas e expressões de propaganda. p. 1-2.
3 DI BLASI, Clésio Gabriel. A propriedade Industrial. 1982. p. 115.
Í* PAES, P. R. Tavares. Nova Lei da Propriedade Industrial: lei 9279 de 14.05. 1996: anotações. p. 81.
Í' DOMINGUES, Douglas Gabriel. op. cit., p. 3.
6 MORO, Maitê Cecília Fabri. Op. cit., p. 24.
2
autora entende que a função da marca se restringia a indicar a propriedade do
objeto.
Este também é o entendimento de DOMINGUES, segundo o qual, “naqueles
tempos não encontramos a função comercial que depois as marcas vieram a adquirir
e conservam até nossos dias”. 7
FABRI MORO8 destaca que a origem do uso das marcas de fábrica, com
função e características mais aproximadas da atual, data da Idade Média. Destaca
que só nesta época, em que o comércio adquiriu o relevante papel econõmico e
jurídico, as marcas se revestiram do sentido jurídico que hoje têm. Assim mesmo,
não como assinaladoras de produtos de indústria individual, senão da época
desenvolvida sob os auspícios das corporações de artes e ofícios.
DOMINGUES entende que é nessa época que as marcas adquiriram seu
sentido juridico. Tempos nos quais aquele que utilizasse a marca de outrem,
segundo FRANCESCHELLI, cometia crimen fa/si, “sujeito às sanções de confisco, e
às vezes destruição da mercadoria marcada falsamente, a proibição do exercicio da
profissão corporativa por algum tempo ou em definitivo, um prêmio ao denunciante
como sanções corporativas”.9
Surgiu, juntamente com a noção de marca, a concorrência desleal, assim,
LUCAS ROCHA FURTADO'° expõe que a ordem jurídica sentiu necessidade de
proteger a marca para que individuos não se aproveitassem da imagem de um bem
pertencente a terceiro, no sentido de obter vantagens e incrementar sua atividade
mercantil.
Para NEVVTON SILVEIRA" a marca evoluiu da “assinatura” do produtor
aposta ao produto, ou de sinal de propriedade aposto às mercadorias em trânsito ou
depositadas em armazéns, a um sinal que vai atuar diante dos consumidores para
identificar a procedência constante de determinado produto, mercadoria ou serviço,
oferecidos em concorrência com outros de procedência diversa.
No Brasil, a primeira lei de marcas foi criada em 1875. Neste ano, TAVARES
PAES” relata que:
1.2 NOÇÃO
4
ao produto por sua própria forma, não é caso de marca, mas de desenho
industrial”.16
Deve ainda se considerar que a marca não se refere à forma ou cor que um
fabricante dá aos seus produtos. “A marca é a caracterização extrínseca do produto,
nada tendo a ver com as suas propriedades geométricas, físicas ou químicas”. 17
A marca pressupõe a existência, ao menos potencial, de produtos idênticos
ou similares oferecidos perante o mesmo mercado, sendo, pois, um instrumento de
concorrência e não de monopólio, conforme explica SILVEIRA.”
O autor entende que a aposição da marca ao produto significa que ele foi
feito sob responsabilidade do proprietário do sinal, por ele fabricado ou como se
tivera sido fabricado por ele.
Dl BLASl19 demonstra que a marca é para o seu titular o meio eficaz para
constituição de uma clientela, sob este mesmo aspecto, porém, IRINEU STRENGER
observa que “a marca não se dá a conhecer a nenhuma empresa, nem cria uma
clientela para esta, mas somente uma clientela para o produto”. 2°
A nova lei de propriedade industrial, n° 9279/96, em seu art. 122 dispõe que
“são suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente
perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais”.
De forma sintética, TAVARES PAES conceitua marca como sendo “o sinal
ou expressão destinado a individualizar os produtos ou serviços de uma empresa,
identificando-os”.21
Complementando esta conceituação, Dl BLASI22 explica que “marca é um
sinal que permite distinguir produtos industriais, artigos comerciais e serviços
profissionais de outros mesmo gênero ou atividade”.
A função exercida pela marca na Idade Média não é mais a mesma nos dias
de hoje. MARIA ANTONIETA LYNCH DE MORAES destaca que a marca, sendo
conceituada como sinal distintivo, deixa clarividente sua função fundamental de
distinguir o produto ou serviço no qual é aposta. Diante dessa característica,
completa a autora, deve o sinal ter a particularidade de permitir a perfeita
individualização do bem independentemente da origem do mesmo.”
No mesmo sentido FABRI MORO28 entende que as marcas destinam-se, na
noção atualmente empregada pela maioria dos autores, a individualizar os produtos
e artigos aos quais se referem, diferenciando-os de outros idênticos ou similares.
DOMINGUES29 também compartilha desse pensamento, adotando a teoria
de Franceschelli, que entende que a função da marca, registrada ou não, é assinalar
e distinguir a mercadoria, o produto ou sen/iço.
“Verifica-se, então, uma evolução na função da marca, que na Idade Média
se referia ao produtor, indicava o estabelecimento da produção ou venda do artigo,
para uma marca que, nos dias atuais, faz referência ao próprio produto”. 3°
27 MORAES, María .Antonieta Lynch de. - bem incorpóreo protegido pelo direito indusmâl. Revista dos
Tribunais. Ano 92. Volume 814. agosto de 2003. p. 76.
28 MORO, Maitê Cecília Fabri. op. cit., p. 26.
29 DOMINGLES, Douglas Gabriel. op. cit., p. 88.
3° Idem, ibidem.
3' MORAES, Maria Antonieta Lynch de. op. cit., p. 73.
7
seus produtos e mercadorias, constituindo-se, portanto, um direito e não uma
obrigação. Em seguida obsen/a que a marca serve para identificar o produto e sua
origem. Finalmente, expõe que a marca discrimina um produto de outros da mesma
espécie, de proveniência diversa ou idêntica, operando com assinatura do industrial
ou do comerciante.
Já DOMINGUES32 entende como caracteres essenciais ser a marca
facultativa, nova ou especial, distinta e inconfundível, aparente ou visível. O sentido
de a marca ser facultativa é o mesmo dado pela autora LYNCH DE MORAES.
Apenas completa o autor que “o uso da marca constitui um direito previsto em lei,
jamais uma obrigação legal que alias seria incompatível com a liberdade de trabalho
tutelada pela Carta Magna”.
No tocante à necessidade de a marca ser nova ou especial, o autor ensina
que significa que o sinal distintivo deve ser realmente capaz de diferenciar-se dos
produtos do mesmo gênero lançados no mercado. “Todavia, essa novidade da
marca é apenas relativa, vez que é possível existirem marcas iguais em classes
diferentes(...)".33
A marca deve, ainda, segundo o autor, ser aparente e visível, no sentido de
identificar o produto de forma a impedir o consumidor a ser levado a erro ou
confusão ao adquirir a mercadoria. Ressalta o autor, porém, que tal visibilidade pode
até não ser imediata ou exterior.
42 BERTOLD1, Marcelo M. curso avançado de direito comercial, V- 1: teoria geral do direito comercial, direito
societário. p. 133.
43 FURTADO, Lucas Rocha. op. cit., p. ill.
14 BERTOLDI, ixziarceio M. op. cú., p. 133.
45 MORAES, Maria Antonieta Lynch de. op. cit., p. 75-76.
12
algarismos romanos e/ou arábicos, desde que esse elementos não se apresentem
sob forma fantasiosa ou estilizada.
A marca figurativa é mais conhecida como logotipo, e consiste naquela
apresentada através de um desenho, colorido ou não, ou até mesmo através de
letras e números, desde que escritos de maneira diferenciada e original.
Ensina LYNCH DE MORAES46, que as marcas figurativas ou emblemáticas
são os sinais compostos de desenhos, imagens, figuras, simbolos ou quaisquer
formas fantasiosas de letra e caracteres, palavra e número, isoladamente, vêm
compor ideogramas de línguas tais como o japonês, chinês e hebraico.
Marca mista configura-se quando, numa mesma marca consegue-se
identificar formas figurativas e nominativas juntas, ou ainda, de elementos
nominativos cuja grafia se apresente de forma estilizadaf”
Finalmente, a marca tridimensional é aquela representada pelo formato
característico, não funcional e particular que é dado ao próprio produto ou ao seu
recipiente. “O exemplo tipico desta espécie é o frasco da Coca-cola ou ainda o
formato característico do recipiente de alguns perfumes”. 48
Observa, ainda, DOMIGUES49 que a condição essencial à admissibilidade
da marca de forma ou tridimensional é que a mesma realmente possua uma forma
distinta, diferente e não funcional dos produtos iguais encontrados no mercado.
46 Idem, Íbidem.
47 Idem. op. cit., p. 76.
4* BERTOLDI, Marcelo M. op. cu., p. 133.
49 DOMINGUES, Douglas Gabriel. op. cit., p. 203.
13
3. PROTEÇÃO DAS MARCAS
14
4. PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS MARCAS
15
4.2 PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE
61 idem? p. 77.
62 BARBOSA, Denis Borges. Notas sobre a proteção da marca notória. Ajuris- Revista da Associação de Juizes
do Rio Grande do Sul. li (32). Porto Alegre, nov. 1984. p. 225.
63 Morto, Maitê cecilia Fabú. op. cit., p. 79.
64 GUSMÃO, José Roberto D”Afi`onseca. op. cit., 80.
17
A notoriedade representa um valor a mais para a marca. A notoriedade
existe, é difícil de ser mensurada, mas não é por isso que deve deixar de ser
reconhecida e protegida.65
65
66
MORO, Maitê Cecíha Fabri. op. cit., p. 81.
BARBOSA, Denis Borges. op. cit., p. 226.
67 MORO, Maitê Cecília Fabri. op. cit., p. 84.
68 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial (de acordo com o novo Código Civil e alterações da LSA).
6. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva. 2002. vol. I. p. 172.
69 MORO, Maitê cezinzz Fzzbú. op. Cir., p. as
18
ultrapassa os limites e seu mercado, setorial ou geográfico, conquistando grande
conhecimento do público.
Por esta razão, tem-se que a notoriedade é dotada de um caráter
eminentemente subjetivo, qual seja, saber se os consumidores realmente conhecem
determinada marca, em determinado setor ou localidade.
Não obstante, FABRI MORO7° esclarece que a doutrina e o INPI
desenvolveram alguns critérios buscando dar uma delimitação maior à questão,
introduzindo parâmetros objetivos para que não se cometam graves injustiças.
A autora destaca ainda que o INPI fez tal delimitação através de requisitos
constantes na portaria 8/74 e nos Atos Normativos O7/002 e 46, quando da vigência
da Lei 5.772/71.
Deve-se, portanto, quando da utilização desses requisitos, fazer uma
adaptação, porquanto o art. 67 da referida lei, revogado pela lei atual, regulava a
marca notória de forma bastante alargada.
Tais critérios, assim, devem ser vistos como auxiliares para aferição de
notoriedade, e não como essenciais.
Reporta-se a autora citada", ao voto do Ministro Eduardo Ribeiro, em voto
na AC 94.541- RJ, em 1986, que escreveu:
7.
O Idem, op, ont., p. 86.
71 Idem. op. cit., p. 88.
72 GUSMAO, José Robcflo D°Afi`onseca. op. cit., 89.
19
GÉRARD DASSAS, conforme obra de FABRI MORO73, atenta para outro
aspecto. Afirma que, se os produtos são destinados ao grande público, a
notoriedade deverá ser geral. Por outro lado, não se pode exigir que marcas
bastante específicas ultrapassem o círculo de seus consumidores habituais. Neste
caso, é suficiente que a marca seja conhecida da quase totalidade dos
consumidores daquele produto.
Também ressalte-se que o parâmetro para aferir eventual violação de direito
do titular do produto deverá ser sempre o consumidor daquele produto ou serviço.
Assim, o exame que é feito quando se tratarem de marcas de produtos ou serviços
que se destinem a crianças ou pessoas idosas, cuja capacidade de discernimento é
mais reduzida, deverá considerar essa condição pessoal do consumidor. Ao
contrário, em produtos ou serviços que se destinem a especialistas em determinadas
áreas, eventuais distinções, ainda que sutis, serão capazes de dar suficiente
distintividade ao produto ou serviço, sendo descabido falar em colidência de marcas
quando inexistir possibilidade de confusão para o consumidor."
Não obstante, FABRI MORO75 conclui que, a forma mais eficaz de aferir a
notoriedade de uma marca, tendo em vista a variedade de critérios, é uma pesquisa
de opinião realizada por organismo independente. Mas não se pode deixar de
considerar o seu alto custo.
Uma vez analisada de forma geral a marca notória, passa-se então a uma
classificação da mesma, e, consequentemente, a uma abordagem mais específica.
6.1 TERMINOLOGIA
Idem, p, 131,
:Is MORO, Maitê CCCÍIÍH Fflbfi. op. cit., p. 102.
22
A necessidade de proteção da marca notoriamente conhecida surge
exatamente porque ela não está registrada no país. A sua especificidade decorre
pontualmente de sua proteção, mesmo que não registrada.”
Assim, a caracteristica mais marcante da marca notoriamente conhecida
consiste na exceção ao princípio da territorialidade, base do direito das marcas.
Passa-se a reconhecer, portanto, que determinada marca notoriamente
conhecida, ainda que não registrada ou depositada, tem um dono. A marca é
reconhecida pelo público, mas ainda não foi apropriada por seu titular de direito no
país.
Por titular de direito, FABRI MORO8° ensina que se deve entender aquele
que é proprietário original do signo distintivo, aquele que investiu no signo distintivo
fazendo com que ele atingisse um elevado conhecimento do público.
Tal marca deve ser, além de reconhecida, protegida pelo direito interno do
pais da mesma forma que se procederia se houvesse registro ou deposito pelo titular
de direito.
Assim, os países que compõe a União de Paris se comprometem a recusar
ou a invalidar o registro de marca de fabrica ou de comércio (ou serviço),
pertencente a terceiro amparado pela CUP que reproduzir, imitar ou traduzir, de
forma a provocar confusão com a marca que a autoridade competente do país de
uso ou de onde foi requerida da proteção, considere que é notoriamente conhecida e
utilizada para identificar produtos idênticos ou similares.
A Lei 9279/96, porém, não faz qualquer menção aos tipos de critérios que
devem estar presentes em uma marca para ela ser considerada notoriamente
conhecida. FABRI MORO entende que o fato pode ser considerado uma medida de
prudência, em razão de a notoriedade ser uma noção tão subjetiva. Critérios
objetivos poderiam representar uma limitação equivocada do instituto.
6.2.2 Características
Destaque-se, porém, que ainda que não haja critérios objetivos, a redação
da Lei, bem como a noção geral do instituto, faz com que se retirem quatro
23
características essenciais para reconhecimento de uma marca notoriamente
conhecidas*
O primeiro deles é a exceção ao princípio da territorialidade. Conforme já
destacado, a notoriedade faz com que se reconheça uma marca ainda que não
registrada ou depositada no INPI, como tendo um dono. A marca já é conhecida do
público de um país, mas neste país ainda não foi apropriada pelo titular de seu
direito, devendo ser protegida como se já o tivesse.
O alto grau de conhecimento pelo púbico é o segundo elemento essencial
para que a marca possa ser notoriamente conhecida.
A proteção especial prevista na lei justifica-se pelo alto grau de
conhecimento e relação que o público faz entre a marca e o produto que ela
identifica, e que se fosse utilizada por terceiro em produto similar ou idêntico poderia
trazer confusão e prejuízos pra o titular da primeira.
FABRI MORO destaca que a notoriedade é setorial, isto é, deve ser
constatado o elevado conhecimento entre os consumidores do produto assinalado
por essa marca_82
A lei brasileira, assim como o art. 6 bis da CUP, não restringe a proteção da
marca notoriamente conhecida aos casos de marca estrangeiras notoriamente
conhecidas. Assim, um nacional brasileiro que não tenha registrado sua marca no
Brasil também pode invocar a proteção de marca notoriamente conhecida.
A quarta característica que decorre da redação da lei é a restrição a
produtos similares ou idênticos, o que significa que o conhecimento que se exige
restringe-se ao público consumidor desses tipos de produtos.
A noção de produto idêntico não necessita de muita explicação, ao contrario
da noção de produto similar. FABRI MORO, reportando-se a CHAVANNE E BURST,
menciona dois métodos que podem ser adotados para se especificar a noção de
produto ou serviço similar. O primeiro, objetivo e jurídico, só considera como
similares os produtos ou serviços cuja natureza e uso são muito próximos ou têm um
destino comum. Já o segundo critério, econômico, é mais flexível, e considera
similar o produto ou sen/iço que possa ser confundido na sua origem. A autora
27
6.3 MARCA DE ALTO RENOME
6.3.1 Introdução
30
10) extensão temporal da divulgação efetiva da marca no Brasil e,
eventualmente, no exterior;
11) valor investido pelo titular em publicidade/propaganda da marca na mídia
brasileira nos últimos 3 (três) anos;
12) volume de vendas do produto ou a receita do serviço nos últimos 3 (três)
anos;
13) valor econômico da marca no ativo patrimonial da empresa.
Verifica-se que alguns deles coincidem com os critérios existentes em 1994,
e, da mesma forma como naquela época, a resolução fala em elementos
informativos em caráter suplementar às provas ordinariamente por coligidas pelo
requerente da proteção especial, não se caracterizando, portanto como requisito
obrigatório para caracterização do alto renome de uma marca, mas sim indicadores
que auxiliam em tal caracterização.
6.3.4 Caracteristicas
6.3.4.3 Reputação
W
1 O8
MORO, Maitê Ceciha Fabri. op. cit., p. 118.
GUSMAO, José Roberto D”Aft`onseca. op., cit., p. 119.
“”° MORO, Mzúúê Ctezmzz Fzzbú. op. cú., p. us.
35
8. NOTORIEDADE NOS ACORDOS INTERNACIONAIS
8.2.1 Introdução
125
_Idem_ lbidem.
“Í” DI BLASI, Clésio Gabriel. op. cit.. 120.
U' MORO, Mzúiê cecilia Fabri. op. cú., p. 167.
40
Foi o art. 6 bis o responsável pela introdução nos ordenamentos jurídicos da
noção de marca notoriamente conhecida, bem como pela extensão da proteção de
uma marca levando em consideração sua notoriedade.
Conforme já abordado, a marca notoriamente conhecida excepciona o
princípio da territorialidade das marcas, pois reconhece às marcas pertencentes a
nacionais dos países-membros da União proteção independente de registro.
Não há, como já considerado quando da analise da lei 9279/96, uma
definição precisa de marca notoriamente conhecida. Mas, conforme FABRI MORO128
“pode-se depreender do te›‹to convencional que são marcas que possuem um
elevado grau de conhecimento por parte do publico consumidor, no país onde se
reclama a proteção”.
O art. 126 da Lei de Propriedade Industrial, introduz, expressamente, o art. 6
bis em seu texto. Ainda que tal artigo já tenha sido abordado, restam algumas
considerações a fazer.
No tocante ao âmbito de incidência, FABRI MORO'29 destaca que o
mencionado art. 6 bis da convenção faz três restrições.
O texto do artigo menciona que a marca notoriamente conhecida é protegida
de reprodução, imitação ou tradução, suscetíveis de estabelecer confusão.
“Por enumerar de forma exaustiva os casos em que se podem verificar
casos de confusão - imitação, reprodução ou tradução de marca ou imitação ou
reprodução de parte essencial dela -, deve-se considerar que a proteção esta restrita
a esses casos”.13°
Ressalte-se, por outro lado, que o artigo faz menção à proteção tanto do uso
como do registro por terceiro que não seu titular original, ou terceiro por ele
licenciado. Assim, ocorrendo nesses casos, os países da União deverão recusar ou
invalidar o registro da marca, ou proibir seu uso.
Esta proibição de terceiros não autorizados pelo titular da marca
notoriamente conhecida a registrá-la ou utilizá-la encontra ainda um segundo tipo de
limitação: restringe-se a produtos idênticos ou semelhantes. “O que significa dizer
que a marca notoriamente conhecida só será protegida se utilizada, por terceiro não
41
autorizado, para produtos idênticos ou semelhantes. Não abarcando, portanto, casos
em que concorram produtos distintos"."31
O art. 6 bis não faz menção às marcas de serviço, dirigindo-se somente às
marcas de indústria e comércio. FABRI MORO132 destaca, porém, que o na
Convenção da União de Paris apenas há uma recomendação superficial acerca das
marcas de serviço, que encontra-se no art. 6 sexies e estabelece que: “Os países da
União se comprometem a proteger a marca de serviço. Não são obrigados a prever
o registro dessas marcas”.
Não obstante, a mesma autora'33, explica que o fato de não citar as marcas
de serviço em nada impediu que os paises, individualmente, utilizassem o
dispositivo, por analogia, para sua proteção.
Da interpretação do art. 6 bis, pode-se falar ainda, em uma restrição de
caráter territorial, que surge sobre dois aspectos.
O primeiro, refere-se ao território no qual deverá verificar-se a notoriedade.
Segundo FABRI MORO, não é necessário que a marca seja notória no seu pais de
origem, mas deve ser notória no país em que se requer a proteção. Conclui, assim,
“ser impraticável exigir que a notoriedade seja internacional”.
Já o segundo aspecto diz respeito à necessidade do uso anterior ao registro
no referido território. Acerca desta questão, a autora, baseando-se na doutrina
internacional, entende que o uso não é condição necessária para consideração da
notoriedade de uma marca. E isto porque cada vez são maiores as possibilidades de
uma marca ser notória sem ter sido utilizada, sendo um dos principais motivos o
“poder” que hoje tem a publicidade, que pode fazer com que o produto seja notório
em um país antes mesmo de ser utilizado.
Importante, ainda, mencionar a restrição de caráter temporal, que diz
respeito ao momento em que a notoriedade da marca deve ser considerada.
GUSMÃO” destaca que a notoriedade deverá estar presente em dois
momentos. Primeiramente no momento da usurpação da marca, para poder
caracteriza-la. Depois no momento em que a anulação da marca é proposta perante
o Judiciário, para justifica-la. Depreende-se, daí, que “a notoriedade de que goza a
marca notoriamente conhecida deve ser anterior ao registro ou uso da marca
42
atacada, o que possibilita caracterizar a usurpação daquela marca, devendo persistir
ate o momento de reclamar a anulação da marca atacada”.135
“Como no caso da CUP, o TRlPs não é de uma lei uniforme, mas sim
um documento gerador de padrões, bases mínimas que devem ser
obsen/adas pelos paises ratificantes. Objetiva com isso uma linha de
comportamento mais ou menos parecida nos países signatários do
acordo, no tocante ao tratamento da propriedade intelectual, pois os
standards mínimos nele contidos devem ser observados por todos os
Estados signatários”."6
Por este motivo (não ser lei uniforme), o TRlPs depende de incorporação
aos Direitos Internos nos países, sendo que os Estados-Partes têm liberdade para
escolher a forma apropriada para implementar as disposições do Acordo, desde que
respeitados os padrões mínimos de proteção.
FABRI MOROW destaca, porém, que, apesar da similaridade com a
Convenção de Paris, o TRlPs é um acordo mais eficaz. Isso em razão de fazer parte
da base jurídica do GATT como acordo multilateral, caso em que não se admitem
exceções, e por estar sujeito a um efetivo sistema de soluções de controvérsias
instalado na OMC, o qual sanciona os paises que deixarem de cumprir suas normas.
47
O princípio do tratamento nacional prevê que os nacionais dos demais
paises signatários do acordo não podem receber tratamento menos favorável que o
outorgado aos próprios nacionais. FABRI MOROM8 lembra que este principio já
estava previsto na Convenção da União de Paris, desde sua versão original.
BASSO149 complementa no sentido de que o princípio já integrava o esquema
estrutural do GATT, e se manteve na estrutura da OMC, atingindo todos os seus
acordos constitutivos.
“Este princípio, que faz parte da historia do GATT - 1947 é um dos pilares
sobre o qual se apóia a oMc”.l5° Este está previsto no art. 4, e determina que “toda
vantagem, favorecimento, privilégio ou imunidade que um membro conceda aos
nacionais de qualquer outro país será outorgada imediata e incondicionalmente aos
nacionais de todos os demais membros” mas apenas no que tange á propriedade
intelectual, conforme observa FABRI MOROÍ51
A autora observa ainda que este princípio foi pela primeira vez utilizado no
GATT. A obrigatória extensão das vantagens concedidas a um dos países-membros
para todos desencoraja os países a preverem acordos bilaterais paralelos ao TRlPs,
favorecendo uma negociação sempre de caráter multilateral. Não obstante, ocorrem
inúmeras exceções ao da nação mais favorecida, os quais estão enumeradas no
próprio art. 4 do TRlPs.
FABRI MORO faz menção há apenas estes dois princípios do TRlPs, já
BASSO inclui outros seis em sua obra, dentre eles, o principio do esgotamento
internacional dos direitos, o princípio da transparência, o princípio da cooperação
internacional, o princípio da interação entres os tratados internacionais sobre a
W Idem ibidem.
148
MORO, Maitê Cecília Fabri. op. cit., p. 195.
“Í BASSO, Maristela. op. cit., p. 179.
“U Idem. p. 180.
151 MORO, Maitê Cecília Fabri. op. cit., p. 195.
48
matéria, o princípio da interpretação evolutiva, os quais, pela sua generalidade em
relação aos tratados não serão detalhados.
Porém é importante destacar o princípio do single undertaking mencionado
pela autora152, expresso no art. 2°, inciso 2 e 3 da Ata Final da Rodada do Uruguai, o
qual consiste na impossibilidade de um Estado-Membro aderir a apenas parte dos
Acordos, sob pena de quebrar seu equilíbrio e lógica estrutural (nota: exceção feita
aos Acordos Comerciais Plurilaterais do anexo 4). “Deste princípio decorre a unidade
do sistema, razão pela qual chamávamos atenção para o fato de que o TRlPs deve
ser examinado dentro da estrutura da oMc”.153
'fv
'°~ RASSO,l\,1arisíelaz op. cai., p. 178.
'ÊB Idem. p. 179.
W* MORO, Maitê Cecília Fzibú. op. cn., p. 199.
155 BASSO, Maristela. op. cit.. p. 209.
49
as marcas tridimensionais, que se referem a forma ou invólucro do produto, ao qual
o Acordo não faz menção.
No art. 15.1 não há referência às marcas coletivas nem às marcas de
certificação. Contudo, tais marcas podem ser protegidas pelas legislações nacionais,
como no caso do Brasil.
No acordo TRlPs dois são os artigos que versam sobre marcas notórias: os
arts. 16.2 e 16.3, sendo que cada um deles excepciona um dos princípios do direito
à marca.
De acordo com o art. 16.2, “o disposto no artigo 6 bis da Convenção de Paris
(1967) aplicar-se-á, 'mutatis mutandis', a serviços. Ao determinar se uma marca é
notoriamente conhecida, os Membros levarão em consideração o conhecimento da
marca no setor pertinente do público, inclusive o conhecimento que tenha sido
obtido naquele Membro, como resultado de promoção da marca”.
FABRI MORO'56 observa que esta disposição incorpora expressamente o
art. 6 bis da CUP a seu te›‹to, e amplia sua proteção. O art. 6 bis protege as marcas
notoriamente conhecidas num país pertencente à União, onde ainda não se
encontrem registradas, impedindo o registro e uso destas para produtos idênticos ou
similares.
BASSO157 destaca que o artigo estende a aplicação do art. 6 bis da
Convenção de Paris aos serviços, já que se refere somente às marcas de fabrica ou
de comércio, utilizando o critério Paris-Plus, conforme expressão da autora. No
mesmo sentido, FABRI MORO ressalta que, antes mesmo da entrada em vigor do
art. 16.2 , alguns países utilizavam o art. 6 bis, por analogia, para proteger marcas
de serviço. “Com a entrada em vigor do Acordo TRlPs esse artificio não se fez mais
necessário para aqueles que já vinham protegendo, e tornou obrigatória a proteção
para aqueles que não as reconheciam como passíveis de tal proteção”.'58
51
ela assinalados. Terceiros estes que, conforme destaca FABRI MORO'63 muitas
vezes aproveitavam-se da fama da marca notoriamente conhecida, buscando obter
algum tipo de associação que eventualmente lhes trouxesse vantagens.
Desta forma, amplia-se o âmbito de incidência da marca. “A opção do
legislador convencional foi pela proteção do caráter distintivo da marca, evitando
dessa foram sua diluição, bem como uma possivel associação de marcas”."64
Deve-se, porém, observar a existência de algumas restrições à aplicação do
artigo. A primeira trata-se da utilização ou pedido de registro de uma marca
notoriamente conhecida para produtos distintos. Deve, ainda, o uso dessa marca
indicar uma conexão entre os bens e serviços do titular da marca notoriamente
conhecida e do terceiro que a esta utilizando, além de uma probabilidade de prejuizo
aos interesses daquele titular. Não havendo por parte dos consumidores qualquer
tipo de associação entre os produtos ou sen/iços comercializados pelos diferentes
titulares, não haverá prejuizos a estes, não se justificando a proteção. Não obstante,
em havendo uma relação equivocada entre os produtos ou serviços dos distintos
titulares, dessa relação possam advir prejuizos ao titular da marca mais conhecida,
se justifica a proibição de seu uso ou registro para produtos ou serviços diversos
daqueles por ela assinalados. Busca-se, também, proteger a marca do risco de
diluição.
FABRI MORO'65 destaca ainda que o art. 16.3 do TRlPs não limita de forma
expressa o âmbito em que deve ser aferido o conhecimento do público, que
dependerá da possibilidade de conexão e prejuízo. Segundo a autora,
provavelmente a aferição da notoriedade para efeito de aplicação do artigo, ficaria
num patamar intermediário entre a marca de alto renome do direito brasileiro, e a
marca notoriamente conhecida (prevista nos art. 16.2 do TRlPs, e 6 bis da CUP e
126 da LPI). Então, não necessariamente aferir-se-ia a notoriedade a todos os
ramos de atividade, mas tampouco somente no setor onde esta atividade se
desenvolve.
Destaque-se, também, que não se exige reputação da marca notoriamente
conhecida para enquadrar-se no art. 16.3 do TRlPs, de forma diversa do que ocorre
5
Conclusão
55
STRENGER. Irineu. Marcas e patentes: análise sucinta da Lei n. 9279, de 14
de maio de 7996. - Rio de Janeiro; Forense Universitária, 1996.
57