Dissertação de Mestrado
Dissertação de Mestrado
Dissertação de Mestrado
Porto Alegre
2015
I
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Escola de Engenharia
PPGE3M
Porto Alegre
2015
II
Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de Mestre em Engenharia, área
de concentração em Ciência e Tecnologia dos Materiais, e aprovada em sua forma final, pelo
orientador e pela Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação.
Banca Examinadora:
AGRADECIMENTOS
À minha namorada, noiva, esposa e melhor amiga, Rafaela, minha mais sincera e
profunda gratidão pela presença fundamental e decisiva em todos os momentos da minha
carreira profissional e grande responsável pela minha realização pessoal. Obrigado pelo
suporte, pela parceria e por sempre estar ao meu lado.
Agradeço a toda minha família, em especial, meus pais, André e Carla, pelos maiores
legados que puderam me dar: valores sólidos e educação.
Ao Professor Doutor Carlos E. F. Kwietniewski pelo suporte e orientação neste
trabalho e pela oportunidade a mim dada no LAMEF.
Aos Engenheiros e Mestres Fabiano Bertoni e Facundo Lopez pelas oportunidades
profissionais, pelo grande apoio e ajuda, pelo fomento ao crescimento e pelo grande
conhecimento transmitido durante o início de minha trajetória profissional.
Aos ex-colegas do Grupo de Tecnologia Submarina do LAMEF, pelo modelo de
determinação que são, pela grande experiência de encarar com eles grandes desafios
profissionais e técnicos, compartilhar de bons momentos, churrascos, gols e muitas risadas.
Ao Engenheiro e Mestre Guillermo Mudry, pela grande ajuda e contribuição com este
trabalho, além dos conhecimentos transmitidos.
Aos colegas do Grupo de Ensaios Mecânicos, em especial aos engenheiros Bill Paiva
e Jefferson Haag, pelo grande auxílio na realização de testes.
Ao PPG3M, programa de excelência nacional em Pós-Graduação, e à UFRGS.
À CAPES, pela bolsa de estudos e fomento à pesquisa no Brasil.
IV
Winston Churchill
V
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 18
2. OBJETIVO ............................................................................................................. 23
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 24
3.1. DUTOS FLEXÍVEIS ................................................................................................ 24
3.1.1. Arames da armadura de tração ............................................................................ 25
3.2. FALHAS EM DUTOS FLEXÍVEIS ........................................................................ 27
3.3. DEFEITOS EM ARAMES DA ARMADURA DE TRAÇÃO ................................ 28
3.4. MECÂNICA DA FRATURA .................................................................................. 31
3.4.1. Tenacidade à fratura .............................................................................................. 34
3.4.1.1. Configuração de corpos de prova ........................................................................... 35
3.4.1.2. Orientação de corpos de prova ................................................................................ 36
3.4.1.3. Pré-trincamento por fadiga ..................................................................................... 37
3.4.2. Desenvolvimento da técnica de CTOD ................................................................. 37
3.4.3. Determinação do CTOD ......................................................................................... 38
3.5. FADIGA ................................................................................................................... 43
3.5.1. Aspectos Gerais ....................................................................................................... 43
3.5.1.1. Iniciação de trinca ................................................................................................... 44
3.5.1.2. Crescimento de trinca .............................................................................................. 46
3.5.2. Efeitos de carregamentos ....................................................................................... 48
3.5.2.1. Tensão – vida ........................................................................................................... 50
3.5.2.2. Deformação – vida ................................................................................................... 51
3.5.2.3. Configurações de carregamento ............................................................................. 57
3.5.3. Efeitos Geométricos ................................................................................................ 61
3.5.3.1. Fator de concentração de tensões - Kt .................................................................... 62
3.5.3.2. Fator de concentração de tensões de fadiga (Kf) e sensibilidade ao entalhe (q) ... 62
3.5.4. Efeitos do material .................................................................................................. 67
3.5.4.1. Inclusões não metálicas........................................................................................... 67
3.5.4.2. Tensões residuais ..................................................................................................... 68
3.5.4.3. Dureza ...................................................................................................................... 69
3.5.4.4. Acabamento superficial ........................................................................................... 71
4. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 72
VI
LISTA DE FIGURAS
Figura 4.1. Dimensões (em mm) dos corpos de prova dos materiais P (perlítico) e M
(martensítico) para o ensaio de tração, conforme a norma ISO 6892-1. .............. 74
Figura 4.2. Corpos de prova de tração para os materiais P (perlítico) e M (martensítico). ...... 75
Figura 4.3. Dimensões dos corpos de prova do tipo SE(B) para medição da tenacidade à
fratura pelo método de CTOD. ............................................................................. 76
Figura 4.4. Corpo de prova do material martensítico (M) para o ensaio de CTOD. ................ 76
Figura 4.5. Medição do CMOD por um clip-gage para um corpo de prova do tipo SE(B). .... 77
Figura 4.6. Corpos de prova do material M após o processo de usinagem e acabamento
superficial. ............................................................................................................ 78
Figura 4.7. Ilustração que representa o corte transversal de uma amostra, rente ao defeito
inserido em um corpo de prova de fadiga, indicado pela seta. ............................. 79
Figura 4.8. Inserção de defeito em corpo de prova com uma broca de aço. ............................ 79
Figura 4.9. Dimensões do defeito. ............................................................................................ 80
Figura 4.10. Distribuição de tensões no corpo de prova imposta pela flexão a 4 pontos. ........ 80
Figura 4.11. a) Teste de fadiga por flexão a 4 pontos em arames instrumentados com strain-
gages. b) Sistema de monitoramento de strain-gages. .......................................... 81
Figura 5.1. Macrografias das seções (a) transversal e (b) longitudinal do material P (perlítico).
.............................................................................................................................. 84
Figura 5.2. Macrografias das seções (a) transversal e (b) longitudinal do material M
(martensítico). ....................................................................................................... 84
Figura 5.3. Microestrutura do material P. Seção transversal. Ataque Nital 2%. ...................... 85
Figura 5.4. Microestrutura do material M. Seção transversal. Ataque Nital 2%...................... 86
Figura 5.5. Dureza Vickers para os materiais perlítico (P) e martensítico (M). ....................... 87
Figura 5.6. Curvas de tensão-deformação para o material martensítico (M). .......................... 88
Figura 5.7. Curvas de tensão-deformação para o material perlítico (P). .................................. 88
Figura 5.8. Curvas de abertura da boca do entalhe (CMOD) em função da carga aplicada para
o material perlítico (P) para corpos de prova do tipo SE(B). ............................... 89
Figura 5.9. Avaliação de Fm e Vm a partir de uma curva típica de força em função do CMOD
para um corpo de prova P1 - tipo SE(B) – material perlítico (P). ........................ 90
Figura 5.10. Imagem ampliada de uma superfície de fratura após teste de CTOD para o
material perlítico (P). ............................................................................................ 91
XI
Figura 5.11. Material perlítico (P). (a) Final da trinca de fadiga e início da fratura do teste de
CTOD. (b) Região de transição aumentada entre a pré-trinca de fadiga e a região
de fratura, onde há a presença de microcavidades. ............................................... 92
Figura 5.12. Curvas de abertura da boca do entalhe (V) em função da carga aplicada para o
material martensítico (M). .................................................................................... 93
Figura 5.13. Avaliação de Fu e Vu a partir de uma curva típica de força em função do CMOD
para o corpo de prova M-3 – tipo SE(B) – material martensítico (M). ............... 93
Figura 5.14. Superfície de fratura típica de um corpo de prova do tipo SE(B) – corpo de prova
M3 – material martensítico (M). ........................................................................... 94
Figura 5.15. a) Fim da pré-trinca por fadiga e início da região de fratura, que possui aspecto
de fratura mista pela presença de microcavidades em planos preferenciais de
crescimento da fratura. (b) Fractografia aumentada da região de início da fratura.
Presença de microcavidades. ................................................................................ 95
Figura 5.16. Distribuição de tensões e linha neutra no arame para flexão a quatro pontos. .... 96
Figura 5.17. Tensões trativas na face inferior do arame. .......................................................... 97
Figura 5.18. Malha hexaédrica na região do furo, indicada pela seta, e ao longo de toda seção
do arame................................................................................................................ 98
Figura 5.19. Refinamento da malha na região do defeito pela utilização de elementos
tetraédricos. ........................................................................................................... 98
Figura 5.20. Distribuição de tensões máximas principais na raiz do defeito, conforme detalhe
A. .......................................................................................................................... 99
Figura 5.21. Resposta da força para deformação imposta para corpos de prova do materiais
perlítico (P) e martensítico (M) sob mesmo nível de deformação. .................. 100
Figura 5.22. Comparação entre pontos de deformação-vida para corpos de prova íntegros dos
materiais P (perlítico) e M (martensítico). .......................................................... 101
Figura 5.23. Superfícies de fratura para corpos de prova de fadiga íntegros. As regiões de
iniciação de trincas por fadiga estão indicadas pelas setas. Material M
(martensítico). ..................................................................................................... 102
Figura 5.24. Superfícies de fratura para corpos de prova de fadiga íntegros. Regiões de
iniciação de trincas por fadiga indicadas pela seta – Material P (perlítico). ...... 103
Figura 5.25. Superfície de fratura de um corpo de prova entalhado para o material perlítico
(P). 1) Defeito; 2) Região de crescimento de trinca de fadiga. ........................... 104
XII
LISTA DE TABELAS
Tabela 5.1. Resultados de análise química dos materiais perlítico (P) e martensítico (M). ..... 83
Tabela 5.2. Resultados a partir de testes de tenacidade à fratura e CTOD calculado para corpos
de prova do tipo SE(B) – material perlítico (P). ................................................... 90
Tabela 5.3. Resultados a partir de testes de tenacidade à fratura e CTOD calculado para corpos
de prova do tipo SE(B) – material martensítico (M). ........................................... 94
Tabela 5.4. Valores médios dos principais resultados experimentais para os materiais P
(perlítico) e M (martensítico)................................................................................ 96
Tabela 5.5. Valores obtidos a partir das curvas de fadiga para corpos de prova lisos e
entalhados. .......................................................................................................... 107
XIV
LISTA DE SÍMBOLOS
N número de ciclos;
n’ expoente de endurecimento cíclico;
Nf número de ciclos para falha por fadiga;
q sensibilidade ao entalhe;
r raio da raiz do entalhe;
R razão de carregamento;
rp fator de rotação plástica;
S distância entre apoios;
Vp deslocamento da abertura da boca da trinca;
W largura do corpo de prova de Mecânica da Fratura;
Y constante adimensional contida na fórmula para cálculo de K;
Z Distância do ponto de medição do extensômetro em relação à face do corpo de
prova.
δ deslocamento da abertura na ponta da trinca;
Δσ variação de tensão;
σ tensão;
σ’f coeficiente de resistência à fadiga
σa amplitude de tensão;
σe tensão elástica local máxima;
σg tensão global de um componente;
σm tensão média;
σmax tensão máxima;
σmin tensão mínima;
σn tensão limite de fadiga para um corpo de prova com entalhe;
σnom tensão nominal de um componente;
σo tensão inicial;
σu tensão limite de resistência à tração para um curva tensão-deformação de
engenharia;
σy tensão de escoamento;
tensão limite de fadiga para um corpo de prova liso;
υ coeficiente de Poisson
RESUMO
ABSTRACT
The tensile armor of flexible pipes is the layer responsible for support axial loads of
this equipment in field. With the trend of deep increase in offshore oil exploration and
production, mainly in pre-salt fields, the use of materials with high performance becomes
necessary. The aim of this dissertation is evaluate and compare two high strength steels for
such application, one with perlite and other with martensitic matrix. During service life of
these components, they are damaged by cyclic loading associated with corrosion process
which promote corrosion pits like stress concentrators. Considering these aspects, the
materials were evaluated according their fatigue behavior with and without a small defect that
act as a notch and simulates a corrosion pit. In addition, they were characterized metallurgical
and mechanically and their fracture toughness was estimated through CTOD test. From
experimental data, notch sensitivity was quantified. This was driven by initiation process, and
fracture toughness was not decisive. The martensitic material showed higher fatigue
performance and lower notch sensitivity and presented itself promising for tensile armor wire
application.
Keywords: Flexible pipe, high strength steels, fracture toughness, fatigue, notch sensitivity.
18
1. INTRODUÇÃO
Figura 1.3. Principais conceitos de plataformas para exploração de petróleo offshore: a) plataforma fixa; b)
Compliant Tower; c) nova geração de TLP; d)TLP convencional; e) semi-FPS; f) SPAR em treliça; g)
SPAR clássico; h) célula SPAR; i) Buoy; j) FPSO k) Manifold; l) Tieback submarino
Fonte: KYRIAKIDES AND CORONA, 2007
corrosão-fadiga de um duto flexível quando composto por armaduras de tração feitas de cabo
de aço, após uma série de experimentos em escala reduzida e teste do equipamento em escala
real.
sem e com a presença de defeitos, considerando as condições destes materiais em serviço nos
campos de petróleo offshore.
23
2. OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo selecionar previamente aços de alta resistência
mecânica através da investigação e comparação do desempenho em fadiga sem e com a
presença de pequenos entalhes, tomando como cenário a presença de pites de corrosão em
arames da armadura de tração de dutos flexíveis, aplicação para a qual tais materiais são alvo
de estudo.
Os objetivos específicos são:
Caracterizar mecânica e metalurgicamente os materiais investigados;
Mensurar a tenacidade à fratura de cada um dos materiais;
Avaliar e comparar o desempenho em fadiga dos aços e sua sensibilidade a
pequenos defeitos, assim como quantificá-la.
24
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O material típico usado nesta aplicação é o aço carbono. Aços com altos teores de
carbono são utilizados quando o projeto do equipamento demanda altos valores de resistência
mecânica, frequentemente em dutos de altas pressões, e onde o ambiente permitir. Já os aços
de baixo e médio teor de carbono são utilizados em projetos onde o ambiente é agressivo, com
presença de água do mar, óleo e difusão de gases, como o metano, CO 2 e H2S (API 17B,
2002).
As duas principais propriedades mecânicas dos arames da armadura de tração de dutos
flexíveis que afetam o seu desempenho estrutural, ou seja, sua capacidade e aptidão de
suportar cargas estáticas e dinâmicas extremas, são resistência à tração e à fadiga. Logo, estas
propriedades merecem atenção especial na etapa de projeto destes equipamentos (TROINA et
al., 2003).
27
b
a
Figura 3.3. Falhas em dutos flexíveis: a) Colapso hidrostático (ZHANG et al., 2003); b) corrosão generalizada e
c) ruptura indicada na armadura de tração. (AL-MASLAMANI, 1996)
28
Como discutido por ZHANG et al. (2003), a limitação da vida em serviço destes
equipamentos se dá tipicamente pelas armaduras de pressão e tração. Logo, a análise da vida
em fadiga desses equipamentos é focada nessas camadas.
O maior dano em fadiga para a maioria dos risers, em especial para aqueles de
configuração free hanging utilizados em águas ultraprofundas, ocorre na conexão de topo com
a unidade flutuante, feita por uma terminação do flexível, conhecido como conector (end-
fitting).
A experiência operacional em campos de produção tem mostrado que há de fato uma
grande incidência de falhas nestes equipamentos, em sua vasta maioria ligada à ruptura de
arames da armadura de tração, como tratado no trabalho de CAMPELLO (2014), LEMOS
(2005) e SOUSA (2014). A Figura 3.4 ilustra bem esta ocorrência. Desta forma, é necessária
e, de certa forma urgente, a otimização do projeto e dos materiais empregados que garanta um
melhor desempenho em fadiga destes equipamentos.
a
b
Figura 3.6. a) Defeitos geométricos oriundos do processo de corrosão em um arame de tração rompido
(4SUBSEA, 2013); b) corrosão generalizada. (BUENO, 2010)
Dentre as principais formas de corrosão que estes componentes são submetidos estão:
Corrosão uniforme, causada por gases difundidos que entram em contato com os arames ou
mesmo pela água do mar. Essa forma de corrosão é limitada pela pequena quantidade de
gases agressivos geralmente encontrados no anular; corrosão por pites, similar à forma
anterior, exceto que nesse caso ocorre um ataque localizado ao aço; e corrosão sob tensão
devido a presença de H2S, caracterizada por uma fratura frágil quando sob tensão no regime
elástico.
A presença de H2S promove a fragilização da superfície devido à absorção de átomos
de hidrogênio pelo material, que se aloja em posições intersticiais, ocasionado uma fratura
31
fratura tipicamente dúctil, caracterizada por uma alta dissipação de energia, associada a uma
considerável deformação plástica, são os conceitos da Mecânica da Fratura Elasto-Plástica
(MFEP) os mais adequados para sua análise (BROEK, 1988; PEREZ, 2004).
O parâmetro utilizado na Mecânica da Fratura Linear Elástica como medida da
tenacidade à fratura de um material é fator de intensidade de tensões K. Esse pode se
diferenciar de acordo com o modo de carregamento puro que promove a abertura da trinca. Os
três modos puros, conhecidos como modos I, II e III, estão ilustrados na Figura 3.7.
Figura 3.7. Representação dos três modos de carregamento puros possíveis aos quais a trinca pode ser submetida.
Fonte: JANSSEN et al. (2004).
Assumindo que um dado material falhe localmente por uma combinação de tensões e
deformações, o crescimento instável de trinca ocorre para um valor crítico de K (Kc). Esse
valor crítico é uma constante do material e independe do tamanho e da geometria da peça
(ANDERSON, 1995). Contudo, ele depende da geometria do defeito e do tipo ou forma de
carregamento através de uma constante Y. A equação geral de K (Equação 3.1) é dada por:
√ (Equação 3.1)
de suma importância o comportamento dos materiais à fratura no regime plástico, regime este
que trata da maioria dos materiais empregados em projetos de engenharia (ANDERSON,
1995).
Tenacidade à fratura
KIC válido?
Sim Não
KIC CTOD J
crítico crítico
qual significativos pontos (valores) são determinados. A curva é obtida pelo crescimento
estável de trinca até o ponto de instabilidade.
O parâmetro KIC caracteriza a resistência à propagação de uma trinca aguda se: i) o
estado de tensões à frente de uma trinca for fundamentalmente de deformação plana; ii) a
zona plástica na frente da trinca é pequena em relação ao volume de material à frente da
trinca.
Da mesma forma, os parâmetros δ e J caracterizam a resistência de um material à
propagação instável de uma trinca. Contudo, são sensíveis ao tamanho da amostra e, portanto,
caracterizam apenas a amostra na sua espessura específica.
Figura 3.9. Corpos de prova, em ordem (da esquerda para a direita): dobramento a três pontos [Single Edge
Bending SE(B)], compacto [Compact tension C(T)] e forma de disco compacto [Disc compact
tension DC(T)].
36
Figura 3.10. Notação ASTM para orientação de extração de corpos de prova para testes de tenacidade à fratura:
a) materiais laminados e forjados; b) barras redondas e cilindros ocos. Direções: L longitudinal, T
transversal, S espessura, C circunferencial, R radial.
Adaptado de ANDERSON (1995).
No caso de materiais laminados e forjados, são seis (6) as orientações possíveis para o
corpo de prova, considerando seu alinhamento com os eixos de simetria. São necessárias duas
letras para a identificação da orientação: a primeira indica a direção da tensão de tração
principal, que é sempre perpendicular ao plano da trinca em testes do Modo I (Figura 3.7), e a
segunda indica a direção de propagação da trinca. Correspondem às letras as seguintes
direções: L – longitudinal; T – transversal; S – espessura.
Para barras redondas e cilindros ocos, a notação é similar, e as orientações possíveis
também são seis (6). Neste caso, as letras correspondentes às direções simétricas são: C –
circunferencial; R – radial e L – longitudinal.
Ao serem escolhidas uma ou mais orientações dos corpos de prova, é importante
considerar o propósito do teste, as características do material e restrições geométricas do
componente (ANDERSON, 2005).
37
Segundo a norma ASTM E1820 (11), é impraticável reproduzir uma trinca aguda e
estreita o suficiente por algum processo de usinagem que consiga simular uma trinca natural
com resultados satisfatórios para os testes de tenacidade à fratura. A maneira mais efetiva de
obter um entalhe agudo para este propósito é pela obtenção de uma pequena trinca de fadiga,
chamada de pré-trinca. Para isso, este procedimento deve ser realizado no material em seu
estado final, sem sofrer processos posteriores de usinagem, tratamentos térmicos,
conformação mecânica etc.
Para facilitar o trincamento por fadiga a baixos níveis de tensão, um entalhe
previamente usinado é inserido no corpo de prova. Existem alguns tipos de entalhes sugeridos
por norma, conforme mostra a Figura 3.11. A partir de sua raiz, propaga-se uma pequena
trinca até um valor desejado para o tipo de corpo de prova.
Figura 3.11. Tipos de entalhes sugeridos pela norma ASTM E1820 (2011).
Já Cottrell empregou este conceito para explicar o fato de pequenos corpos de prova
extraídos de chapas de aço de navios fraturarem em serviço com tensões nominais bem
inferiores à de escoamento do material, com uma aparência completamente fibrosa após
escoamento generalizado.
Suas definições mais comumente usadas são: deslocamento na ponta da trinca original
(Figura 3.13 – a) e interceptação a 90o (Figura 3.13 – b). Esta última é utilizada para estimar o
parâmetro CTOD em medidas por elementos finitos.
a b
Figura 3.13. a) Separação das faces de uma trinca aguda, dada por δ; b) modelo de interceptação a 90o.
Fonte: ANDERSON (1995)
Esta técnica é normatizada, sendo as principais normas: ASTM E1290, ISO 12135 e
BS 7448. Para a medição do parâmetro CTOD de um material, o corpo de prova tipicamente
utilizado é o de flexão a três pontos, tipo SE(B). À medida que o teste é executado, é feito um
registro da força aplicada (F) em função da medida de abertura da boca da trinca (Vp), tendo
como produto um gráfico, ilustrado na Figura 3.14. Diferentes respostas são obtidas, sendo as
principais ilustradas na Figura 3.15. O ponto para determinação de V é definido pela ruptura
do material ou pela propagação instável da trinca, chamado de pop-in. Esse último é definido
como sendo o crescimento instável de trinca ou instabilidade de fratura, que ocorre quando é
identificada uma queda abrupta de força em um pequeno intervalo de deslocamento Vp.
De acordo com o comportamento à fratura, são utilizadas pelas principais normas as
notações δc, δu e δm (oriundas dos respectivos valores Fc, Fu e Fm - Figura 3.15) para valores
críticos de CTOD. δc representa o valor de CTOD crítico no início da extensão instável da
fratura ou pop-in, quando a extensão de crescimento estável de trinca é menor do que 0,2 mm
em relação à linha paralela (offset) “a” de construção. Geralmente, apresentam este
comportamento aços de alta resistência, onde o mecanismo de fratura é por clivagem pura.
Figura 3.15. Curvas típicas de força por deslocamento em testes de fratura. a – fratura; b – pop-in.
Fonte: ISO 12135 (2002).
Figura 3.16. Relação entre a abertura da boca do entalhe (Vp) e abertura da ponta da pré-trinca (δ).
Fonte: STROHAECKER (2010).
(Equação 3.2)
A Equação 3.2 pode ser mais bem descrita pela Equação 3.3.
( ) ( ) (Equação 3.3)
( )
[ 1, ( )] (Equação 3.4)
3.5. FADIGA
Desde 1830, falhas em componentes metálicos têm sido observadas para cargas
repetitivas ou flutuantes, muito abaixo daquelas requeridas para uma falha catastrófica sob um
único carregamento. As falhas ocorridas sob condições de carregamento dinâmico são
chamadas de falhas por fadiga. Segundo a norma ASTM E1823 (2013):
não existir (MEYERS AND CHAWLA, 2008). No caso de arames da armadura de tração,
norma ISO 13628-2 (2006), seção 6.3.4.3, indica que a utilização de um limite de resistência à
fadiga pode ser utilizado em análise de dutos flexíveis sob aplicações dinâmicas, desde que a
flutuação de tensão não esteja acima deste limite.
O processo de fadiga é usualmente dividido em uma etapa de iniciação, outra de
crescimento estável da trinca, e a ruptura final, de propagação rápida. Cada qual é descrita por
diferentes fenômenos, descritos a seguir.
processo de iniciação por fadiga. São exemplos de fatores que contribuem para tal: a
rugosidade superficial; a presença de pites, pequenos defeitos e entalhes, entre outros. O
período de iniciação de trinca é um fenômeno de superfície do material, e toma uma parcela
importante da vida em fadiga.
O processo de iniciação é completado quando o crescimento da microtrinca não
depende mais das condições de superfície. O seu tamanho na transição da iniciação para o
crescimento é significantemente diferente para cada tipo de material. Desta forma, o tempo de
iniciação na vida em fadiga do material pode variar muito conforme suas características
superficiais (SCHIJVE, 2004).
Figura 3.20. Iniciação de uma trinca em banda de escorregamento seguido de propagação estável.
Fonte: Adaptado de SCHIJVE (2004).
Figura 3.21. Representação da iniciação e propagação de trinca por fadiga e ruptura final do componente.
Fonte: (CAMPBELL, 2008)
De acordo com DIETER (1988) e ASM HANDBOOK (1990), para que o processo de
fadiga de fato ocorra, três fatores necessariamente precisam estar presentes: 1) cargas trativas
48
como sendo a diferença entre a tensão máxima (σmáx) e a tensão mínima (σmin).
A amplitude de tensão, σa, é definida como a metade da variação de tensão (Equação
3.6):
má σmin
a (Equação 3.6)
A tensão média (σm) é definida como a média algébrica entre a tensão máxima e
mínima de carregamento (Equação 3.7):
má σmin
m (Equação 3.7)
min
(Equação 3.8)
σmá
a
(Equação 3.9)
σm
( ) (Equação 3.10)
51
A fadiga de baixo ciclo passou a receber mais atenção a partir das décadas de
cinquenta e sessenta com os trabalhos de Coffin (COFFIN JR., 1962) e Manson (MANSON
AND HIRCHBERG, 1964). Enquanto que o mecanismo de fadiga de alto ciclo em uma
macroescala é descrito por um fenômeno praticamente elástico, na fadiga de baixo ciclo há a
presença de deformação plástica microscópica em cada ciclo. Este fenômeno pode ser
observado em estruturas submetidas a altos carregamentos, mas a um baixo número de ciclos.
Um exemplo pertinente são vasos de pressão que são pressurizados por algumas dezenas de
vezes em muitos anos.
Neste tipo de fadiga, a falha se apresenta com um baixo número de ciclos, situados na
faixa de 1 a 105. Como há a presença de deformação plástica, mesmo localizada, já nos
primeiros ciclos, seguidos por uma baixa amplitude de carregamento nos ciclos subsequentes,
o controle por deformação constante é o mais adequado para a realização de testes (SCHIJVE,
2004).
A amplitude de tensão pode variar sob sucessivos ciclos de deformação constante.
Assim, os materiais metálicos apresentam diferentes respostas quando submetidos a
carregamentos cíclicos completamente reversíveis por controle de deformação. Na Figura
3.23 estão representadas algumas respostas típicas.
No endurecimento cíclico, a amplitude de tensão desenvolvida em cada ciclo aumenta
com a evolução no número de ciclos. De maneira contrária, no amolecimento cíclico a
52
Figura 3.23. Comportamento de aços sob carregamentos cíclicos de deformação constante: a) endurecimento
cíclico; b) amolecimento cíclico e c) relaxação.
Fonte: PEREIRA, 2006.
discordâncias para posições mais estáveis, fazendo com que ocorra a deformação plástica em
tensões menores daquelas observadas inicialmente. Por outro lado, quando a densidade de
discordâncias inicial é pequena, a deformação cíclica provoca o seu aumento, aumentando a
quantidade de deformação e posterior tensão elástica do material (CAMPBELL, 2008).
Quando a tensão é tal no material que a deformação plástica é induzida, a resposta do
material é complexa comparada ao comportamento elástico, e se comporta como um loop de
histerese, conforme mostra a Figura 3.24.
Esse loop é definido pela variação da deformação total (Δε) e da tensão total (Δσ) e
representa o trabalho elástico mais o trabalho plástico de um material sob carregamentos
cíclicos. Esse representa um comportamento estacionário sob tensão-deformação cíclicas,
conforme citado por LEE et al. (2005), e geralmente é obtido na meia vida de fadiga de um
componente. A partir deste comportamento, é possível obter as seguintes propriedades de um
material: K’ – coeficiente de endurecimento cíclico e n’ – expoente de endurecimento cíclico.
(Equação 3.11)
( ) (Equação 3.12)
55
( ) (Equação 3.13)
Esta pode ser reduzida à seguinte equação de loop de histerese estabilizados, como mostra a
Equação 3.14:
( ) (Equação 3.14)
( f) (Equação 3.15)
Onde εe, que é igual a Δεe/2, é a amplitude total de deformação elástica; E é o módulo de
elasticidade do material; Nf é igual ao número de ciclos de deformação (ou de tensão) para a
falha e é o coeficiente de resistência à fadiga. Já b é o expoente de resistência à fadiga,
geralmente variando entre -0,02 e -0,12 para a maioria dos metais.
56
( f) (Equação 3.16)
Onde εp, que é igual a Δεp/2, é a amplitude total de deformação plástica; Nf é o número
de ciclos de deformação para a falha; é o coeficiente de ductilidade cíclica; c é o expoente
de ductilidade cíclica, que varia de -0,5 e -0,7 para a maioria dos metais.
A combinação das relações de Basquin e de Coffin-Manson (Equações 3.15 e 3.16),
obtidas a partir da abordagem de deformação elástica e deformação plástica da curva de
fadiga, resulta na proposta de Morrow (1965), que é base para a abordagem de fadiga por
deformação. A relação entre a amplitude total de deformação, εa, e o número de ciclos para a
falha, Nf, pode ser expressa pela Equação 3.17:
ε ε ( f) ( f) (Equação 3.17)
média na resistência à fadiga de alto ciclo dos aços. Estes podem ser plotados como
diagramas de vida constante e podem ser determinadas experimentalmente a partir de uma
família de curvas S-N geradas a partir de valores específicos de amplitude de tensão (σa) e
tensão média (σm), como mostra a Figura 3.27. Na parte esquerda da figura há uma família de
curvas (ou retas) S-N (ou σ-N). Os pontos desta família foram representados em um diagrama
(lado direito da figura) como função da tensão média ao invés do número de ciclos.
A proposta inicial, elaborada por Gerber, consistiu-se em uma representação
parabólica do limite de fadiga. Posteriormente, Goodman introduziu uma linha teórica que
representava dados de fadiga disponíveis, baseados em critérios de impacto para aços
utilizados em projetos de pontes. Ele justificou a utilização do respectivo critério como fácil
de executar, simples de se utilizar e que fornece um bom ajuste dos dados.
[ ( ) ] (Equação 3.18)
( ) (Equação 3.19)
( ) (Equação 3.20)
60
Escorrega- Crescimento
Nucleação da Crescimento da Fratura
mento rápido da
trinca macrotrinca final
cíclico microtrinca
Kt K0 K KC, KIC
Limiar de propagação Fator de intensidade Tenacidade à
Fator de concentração de tensões
da trinca curta de tensões fratura
e
t= (Equação 3.21)
nom
onde σe é a tensão elástica local máxima na descontinuidade e; σnom é a tensão nominal, que
ocorreria na seção que contém a descontinuidade caso esta não produzisse uma perturbação na
distribuição de tensões causada pela mudança abrupta de geometria.
O fator de concentração de tensões elástico é função da geometria do entalhe (ou
defeito) e do tipo de carregamento, e não depende das propriedades do material, a não ser pelo
módulo de elasticidade. Para os casos onde a geometria do componente e as condições de
carregamento são relativamente simples, e a tensão nominal pode ser facilmente definida, os
valores de Kt podem ser encontrados na literatura e descritos por equações analíticas.
Contudo, para geometrias e carregamentos complexos, caso da maioria dos componentes, Kt
pode ser determinado computacionalmente, pelo método dos elementos finitos, e
experimentalmente via métodos como fotoelasticidade e sensores medidores de deformações
locais (strain gages) (PIKLEY E PIKLEY, 2008).
Para o caso de tensões alternadas, a resistência de um dado componente pode ser bem
diferente daquela advinda da utilização de um fator concentrador de tensões (Kt). Testes
indicam que, no limite de fadiga, a presença de um entalhe reduz a resistência à fadiga de um
63
componente não entalhado por um fator Kf e não pelo Kt. Assim, é razoável a introdução do
conceito de fator de concentração de tensão de fadiga, Kf, para a caracterização do efeito de
entalhes sob o comportamento em fadiga.
Inicialmente, este parâmetro foi definido como a razão entre o limite de resistência à
fadiga de um componente liso e de um componente entalhado. Mais recentemente, este fator
tem sido definido pela Equação 3.22 como:
s Nf
Nf (Equação 3.22)
n Nf
a
a
Figura 3.31. a) Efeito do raio na raiz do entalhe em Kf.. b) Efeito da resistência mecânica dos aços em Kf.
Fonte: (LEE et al., 2005).
(Equação 3.23)
( ) (Equação 3.24)
(Equação 3.25)
Onde r é o raio da raiz do defeito. Esta foi desenvolvida considerando uma razão de
carregamento . Para aços de relativamente alta resistência mecânica, ap pode ser
relacionada com a tensão limite de resistência à tração do material σu para casos de
carregamentos axiais e em flexão (Equação 3.26) e para torção (Equação 3.27):
Segundo LEE et al (2005), a Equação 3.28 foi desenvolvida por Neuber em 1946. Ela
assume que uma falha por fadiga ocorre se a tensão média através de uma distância aN da raiz
do entalhe é igual ao limite de fadiga para um componente liso.
√ (Equação 3.28)
√
Onde aN é chamada de constante de Neuber do material e tem relação com o tamanho de grão;
r é o raio na raiz do defeito.
A Equação 3.29, conhecida como Neuber modificada ou de Heywood (HEYWOOD,
1962), aplica-se a ferros fundidos. Diferente de aços de grão uniformemente refinados, ferros
66
fundidos cinzentos possuem um baixo fator de sensibilidade pela ação dos pequenos flocos de
grafita como pequenos defeitos, que reduzem consideravelmente o efeito de defeitos externos.
√ (Equação 3.29)
( )
√
(Equação 3.30)
√
e p
f
(Equação 3.31)
√ [ ( f) ]
f
67
De forma geral, as inclusões não metálicas não são consideradas nocivas para a
resistência à tração do material. Já para a fadiga, elas afetam a distribuição de tensões em
microescala, podendo contribuir para o processo de iniciação de trinca, principalmente em
aços de alta resistência mecânica.
De acordo com SCHIJVE (2004), o limite de fadiga para diferentes tipos de aços
aumentam com o aumento da resistência mecânica do material. Contudo, em valores muitos
altos, essa resistência atinge um valor máximo e passa a cair. A explicação para tal
comportamento foi encontrada considerando as inclusões presentes nestes materiais. Já que
estas atuam como concentradores de tensões que podem nuclear trincas de fadiga, aços de
elevada resistência tendem a ser mais sensíveis à presença de defeitos agudos do que aços de
baixa e média resistência. A purificação do material, tendo em vista a eliminação de
68
inclusões, foi uma forma de aumento da resistência à fadiga para os aços de alta resistência,
segundo o autor.
MURAKAMI (2002) indica em seu trabalho que o efeito de inclusões no
comportamento em fadiga de um material é contraditório. Não há um método quantitativo
bem estabelecido que possa avaliar esse efeito para a maioria dos aços. Contudo, a Mecânica
da Fratura tem um grande potencial para se produzir resultados quantitativos. Para SCHIJVE
(2004), o processo de nucleação de trincas de fadiga em inclusões não metálicas não está bem
consolidado e ainda é alvo de especulação.
(Equação 3.32)
(Equação 3.33)
3.5.4.3. Dureza
Para uma grande parte dos aços, é possível relacionar-se razoavelmente bem o limite
de fadiga com outras propriedades mecânicas, como a tensão limite de resistência à tração do
material (σu) e a dureza (ver Figura 3.33).
70
Algumas equações empíricas (3.34 e 3.35) podem ser utilizadas para a estimativa da
vida em fadiga de um aço:
(Equação 3.34)
(Equação 3.35)
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1. Materiais
Foram objeto de estudo deste trabalho dois aços de alta resistência mecânica. Um
destes, martensítico, foi retirado de chapas de cinco (5) mm de espessura. O outro é
empregado comercialmente em arames da armadura de tração de dutos flexíveis. Este último
foi recebido no formato reto, ou seja, não conformado helicoidalmente como aqueles
encontrados nos próprios dutos. Os corpos de prova produzidos a partir do primeiro aço,
identificados como M, foram usinados via corte por jato d’água. Já aqueles preparados do
73
4.2.2. Microdureza
Para o teste de microdureza, os materiais foram cortados com um disco de corte, com
fluido de corte, para a obtenção de uma superfície o mais plana possível e sem alterações
microestruturais que pudessem impactar os valores de dureza.
As superfícies a serem analisadas, após o corte, foram lixadas até #1000 e polidas com
pasta de diamante, já que o acabamento superficial é fundamental para a determinação exata
do comprimento da diagonal da impressão.
As indentações foram obtidas tendo como parâmetros a carga de 0,5 kg por 10
segundos. A partir delas, foi obtido o valor de microdureza calculado pelo equipamento.
de tração, cujas seções transversal e longitudinal foram objeto de observação. Para a análise
micrográfica, as amostras foram atacadas quimicamente com solução Nital 2% para, em
seguida, serem observadas em microscópio óptico.
4.2.4. Tração
Os ensaios de tração foram realizados conforme a norma ISO 6892-1 (2009). Foram
retirados cinco corpos de prova para cada material. Os materiais recebidos em chapas foram
usinados pelo processo de corte por jato d’água. As dimensões dos corpos de prova estão
especificadas na Figura 4.1 e seu aspecto real está ilustrado na Figura 4.2.
Figura 4.1. Dimensões (em mm) dos corpos de prova dos materiais P(perlítico) e M (martensítico) para o ensaio
de tração, conforme a norma ISO 6892-1.
Vale ressaltar o efeito geométrico dos corpos de prova nos resultados de tração
deformação dos materiais. A maior largura dos corpos de prova martensíticos, quando
comparado aos perlíticos, pode acarretar menor deformação plástica durante o teste, o que
implica menor alongamento até a ruptura. Caso a largura fosse idêntica aos corpos de prova
do material perlítico, provavelmente a deformação e, quiçá, a tensão de ruptura, seriam
maiores.
As amostras foram fixadas por garras hidráulicas na máquina de ensaios. Antes do
início de cada um dos testes, aplicou-se uma pré-carga de 0,3 kN. Os valores de deformação
foram medidos por um extensômetro (clip-gage), tendo como base um comprimento útil de
medição (span) de 50 mm. Foram registrados os valores de carga e deformação.
Detalhe
Figura 4.3. Dimensões dos corpos de prova do tipo SE(B) para medição da tenacidade à fratura pelo método de
CTOD.
Figura 4.4. Corpo de prova do material martensítico (M) para o ensaio de CTOD.
No caso da pré-trinca a, seu tamanho deve ser maior do que 1,3mm ou 2,5% da
largura do corpo de prova. Para a sua obtenção, adotou-se uma razão de carregamento R = 0,1
e frequência de carga cíclica de 20 Hz. Todo o aparato de teste é mostrado na Figura 4.5.
A partir das informações prévias dos corpos de prova, foi obtido um valor de KQ para
cada qual. Com este, foi possível avaliar as relações para validar a relação KQ = KIC. Além das
relações dimensionais anteriores, são condições as estabelecidas nas Equações 4.1 e 4.2:
( ) ( ) (Equação 4.1)
e
(Equação 4.2)
77
( ) (Equação 4.3)
( ) [ ( )( )( )]
( ) (Equação 4.4)
( )( )
Figura 4.5. Medição do CMOD por um clip-gage para um corpo de prova do tipo SE(B).
78
a b
Figura 4.6. Corpos de prova do material M após o processo de usinagem e acabamento superficial.
ao entalhe, em cada um dos corpos de prova foi inserido um pequeno defeito (ver Figura 4.7)
que pudesse simular a presença de pites ou outros concentradores de tensão.
As dimensões e geometrias escolhidas para os defeitos foram baseadas nas
ferramentas disponíveis no mercado que pudessem reproduzir, ao menos em parte, um pite de
corrosão. Foi introduzido um pequeno defeito em cada corpo de prova a partir de uma
máquina fresadora, com graduação de 0,025mm, utilizando-se uma broca de aço rápido de um
1,0 mm de diâmetro, como ilustrado na Figura 4.8. A profundidade dos defeitos foi de 0,3mm.
Já o ângulo de abertura do defeito seguiu o padrão da ponta da broca, que corresponde a 118 o.
Suas dimensões e posição estão identificadas nas Figuras 4.7 e 4.9.
Figura 4.7. Ilustração que representa o corte transversal de uma amostra, rente ao defeito inserido em um corpo
de prova de fadiga, indicado pela seta.
Figura 4.8. Inserção de defeito em corpo de prova com uma broca de aço.
80
Roletes
Roletes
Figura 4.10. Distribuição de tensões no corpo de prova imposta pela flexão a 4 pontos.
a
b
Figura 4.11. a) Teste de fadiga por flexão a 4 pontos em arames instrumentados com strain-gages. b) Sistema de
monitoramento de strain-gages.
Foram obtidas duas curvas de fadiga para cada material, uma para corpos de prova
íntegros e outra para aqueles contendo o defeito. Cada uma contou com, no mínimo, oito
pontos, cada qual correspondente a um nível de carregamento.
O programa de simulação por elementos finitos Abaqus foi utilizado para avaliar a
influência da geometria e profundidade de diferentes defeitos na concentração de tensões
junto ao corpo de prova, além de estimar os valores de Kt relativos ao entalhe selecionado
para cada um dos materiais.
Dos dados de simulação numérica para a estimativa de Kt, juntamente com os obtidos
para obtenção das curvas deformação-vida, foi possível estimar experimentalmente o fator de
concentração de tensão de fadiga, Kf, e da sensibilidade ao entalhe para cada um dos materiais
em estudo.
82
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1.2. Inclusões
a b
Figura 5.1. Macrografias das seções (a) transversal e (b) longitudinal do material P (perlítico).
a b
Figura 5.2. Macrografias das seções (a) transversal e (b) longitudinal do material M (martensítico).
85
5.1.3. Microestrutura
5.1.4. Dureza
550
500
Dureza Vickers (Hv)
450
400
P
350 M
300
250
200
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Número de medidas
Figura 5.5. Dureza Vickers para os materiais perlítico (P) e martensítico (M).
1600
Tensão (MPa)
1200
M1
M2
800 M3
M4
400
0
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06
Deformação (mm/mm)
1200
Tensão (MPa)
P1
800 P2
P3
P4
400 P5
0
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06
Deformação (%)
Material P
6000
5000
4000
Força P (N)
P1
3000 P2
P3
2000 P4
P5
1000
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
Abertura na boca do entalhe V (mm)
Figura 5.8. Curvas de abertura da boca do entalhe (CMOD) em função da carga aplicada para o material perlítico
(P) para corpos de prova do tipo SE(B).
90
Material P
6000
Pm
5000
4000
3000
Força (N)
2000
1000
Vm
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
Abertura da boca da trinca (V)
Linha Vm Curva de teste Linha secante
Figura 5.9. Avaliação de Fm e Vm a partir de uma curva típica de força em função do CMOD para um corpo de
prova P1 - tipo SE(B) – material perlítico (P).
A partir dos dados de ensaio e dimensões dos corpos de prova, não foi possível obter
um valor de KIC válido. Assim, para quantificação da tenacidade à fratura dos materiais, foram
calculados seus valores de CTOD.
A síntese dos valores obtidos para cada um dos corpos de prova, assim como o valor
de CTOD calculado, estão contidos na Tabela 5.2. Não foi encontrada nenhuma norma
específica que estabelecesse um valor de tenacidade como aceitável para esta aplicação
específica.
Tabela 5.2. Resultados a partir de testes de tenacidade à fratura e CTOD calculado para corpos de prova do tipo
SE(B) – material perlítico (P).
CTOD
Corpo de B W a0 Vm Pm Km
0,5 δm
prova (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (MPa.m )
(mm)
P–1 4,98 14,98 8,05 0,21 5022 3102,4 0,070
P–2 4,98 15,01 8,02 0,17 4916 2998,6 0,060
P–3 5,7 14,98 7,92 0,19 5222 2740,1 0,062
P–4 4,99 14,8 8,64 0,16 3856 2859,1 0,049
P–5 5 14,97 8,17 0,24 4846 3071,6 0,076
defeito segue a seguinte ordem da direita para a esquerda: entalhe usinado por eletroerosão,
correspondente à região marrom escura (1); crescimento de pré-trinca por fadiga, região cinza
clara (2); região referente ao teste de tenacidade à fratura (3) e fratura final (4). A superfície
de fratura, do ponto de vista macroscópico, não apresentou sinais claros de deformação
plástica antes da ruptura final.
1 2 3 4
Figura 5.10. Imagem ampliada de uma superfície de fratura após teste de CTOD para o material perlítico (P).
Pré-trinca Fratura a
Pré-trinca Fratura
b
Figura 5.11. Material perlítico (P). (a) Final da trinca de fadiga e início da fratura do teste de CTOD. (b) Região
de transição aumentada entre a pré-trinca de fadiga e a região de fratura, onde há a presença de
microcavidades.
Material M
8000
7000
6000
5000
Força P (N)
M1
4000 M2
M3
3000
M4
2000 M5
1000
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
Abertura na boca do entalhe V (mm)
Figura 5.12. Curvas de abertura da boca do entalhe (V) em função da carga aplicada para o material martensítico
(M).
Material M
8000
7000 Fu
6000
5000
Força P (N)
4000
3000
2000
1000
Vu
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
Abertura da boca do entalhe V (mm)
Linha Vu Curva de teste Linha secante
Figura 5.13. Avaliação de Fu e Vu a partir de uma curva típica de força em função do CMOD para o corpo de
prova M-3 – tipo SE(B) – material martensítico (M).
94
1 2 3 4
Figura 5.14. Superfície de fratura típica de um corpo de prova do tipo SE(B) – corpo de prova M3 – material
martensítico (M).
Pré-trinca Fratura
Pré-trinca Fratura
Figura 5.15. a) Fim da pré-trinca por fadiga e início da região de fratura, que possui aspecto de fratura mista pela
presença de microcavidades em planos preferenciais de crescimento da fratura. (b) Fractografia
aumentada da região de início da fratura. Presença de microcavidades.
Tabela 5.4. Valores médios dos principais resultados experimentais para os materiais P (perlítico) e M
(martensítico).
Material P M
5.3. Estimativa de Kt
Figura 5.16. Distribuição de tensões e linha neutra no arame para flexão a quatro pontos.
97
Figura 5.18. Malha hexaédrica na região do furo, indicada pela seta, e ao longo de toda seção do arame.
Figura 5.19. Refinamento da malha na região do defeito pela utilização de elementos tetraédricos.
Como o trabalho está voltado para a avaliação dos materiais perante defeitos, maiores
aprofundamentos relativos à análise por elementos finitos são dispensados.
A distribuição da tensão máxima principal na raiz do defeito é apresentada na Figura
5.20. As maiores tensões desenvolvem-se próximas à região mais profunda do furo, no
mesmo sentido da seção transversal do arame. Contudo, as tensões não são homogêneas por
toda a geometria do defeito, sendo consideravelmente menores no sentido longitudinal,
próximo à borda.
99
Detalhe A
Figura 5.20. Distribuição de tensões máximas principais na raiz do defeito, conforme detalhe A.
5.4. Fadiga
do gráfico corresponde a um corpo de prova testado. Assim, neste trabalho, não há uma
abordagem estatística dos dados, apenas uma estimativa do comportamento das curvas de
fadiga para arames íntegros e com defeitos.
Para a determinação do número de ciclos de ruptura para cada corpo de prova, foi
analisada a resposta da força obtida para a deformação imposta. A Figura 5.21 apresenta esta
resposta em função do tempo de teste para os materiais P e M.
Figura 5.21. Resposta da força para deformação imposta para corpos de prova do materiais perlítico (P) e
martensítico (M), respectivamente, sob mesmo nível de deformação.
O critério de definição do ponto de falha de cada corpo de prova foi arbitrado em 80%
da resposta inicial de força à correspondente deformação imposta. Este critério foi definido
considerando-se os seguintes aspectos: Conforme a especificação técnica da Petrobras I-ET-
3500.00.6500-291-PAZ-001, seção 5.2.9, arames trincados são considerados arames rompidos
101
em testes de dinâmicos de risers flexíveis; a escolha de 80% da resposta inicial de força como
ponto de falha garante que trincas de fadiga tenham nucleado e crescido componente adentro.
Durante testes prévios, foi observado que valores maiores que este não garantem a presença
de trincas por fadiga no componente para todos os casos e, portanto, podem gerar dados não
representativos.
Inicialmente, foram construídas curvas de deformação-vida para os materiais perlítico
e martensítico na condição íntegra. A comparação entre o comportamento em fadiga dos
materiais em estudo pode ser feita visualmente na Figura 5.22. Como previsto, o material
martensítico, por possuir maior resistência mecânica, apresentou um maior limite de
resistência à fadiga. Para esse material (M), não foram identificadas falhas por fadiga em
amplitudes de deformação menores do que 0,0054. O material perlítico (P) falha em
amplitudes de deformação muito menores, na ordem de 0,004.
Comparação entre dados de fadiga para corpos de prova íntegros
0,007
0,006
0,005
Deformação (mm/mm)
M
P
0,004
0,003
0,002
1,E+03
1,E+04
1,E+05
1,E+06
1,E+07
Figura 5.22. Comparação entre pontos de deformação-vida para corpos de prova íntegros dos materiais P
(perlítico) e M (martensítico).
Quando observados os dados da resposta de força para cada um dos testes (Figura
5.21), é visível uma redução abrupta no momento da ruptura para o aço martensítico, o que
evidencia um comportamento frágil e baixa capacidade de propagação de trinca por
deformação plástica. Sua vida útil está relacionada basicamente ao tempo de iniciação da
trinca por fadiga. Depois de formada, o material rompe em poucos ciclos.
102
O material perlítico (P) possui um tempo de iniciação de trinca menor. Por outro lado,
uma vez nucleada a propagação é consideravelmente mais lenta. Este indício é constatado na
redução gradual na resposta de força.
Detalhes dos pontos de iniciação de trincas por fadiga estão ilustrados nas Figuras
5.23 e 5.24. Na primeira, correspondente ao material martensítico (M), é possível identificar
pontos de iniciação de trincas subsuperficiais, caracterizadas por pequenos círculos. A
superfície de fratura que os circunda é praticamente toda de aspecto frágil.
A iniciação da trinca por fadiga foi nucleada em um ponto no interior do material,
como uma possível inclusão não metálica. O crescimento estável da trinca é pequeno, o que
evidencia fragilidade do material perante a mesma. Contudo, não foi observada em todos os
casos a iniciação desta forma. Para alguns corpos de prova submetidos a carregamentos de
alto ciclo, foi observada a iniciação na superfície do corpo de prova.
Figura 5.23. Superfícies de fratura para corpos de prova de fadiga íntegros. As regiões de iniciação de trincas por
fadiga estão indicadas pelas setas. Material M (martensítico).
trinca por fadiga na superfície e uma região considerável de sua propagação estável. Contudo,
a propagação instável se dá em planos paralelos à direção de laminação do material.
Vale ressaltar que o processo de iniciação da trinca por fadiga se deu na superfície da
face inferior dos corpos de prova. Uma região de crescimento estável maior em relação ao
material M evidencia maior capacidade de deformação plástica localizada na frente da trinca.
Figura 5.24. Superfícies de fratura para corpos de prova de fadiga íntegros. Regiões de iniciação de trincas por
fadiga indicadas pela seta – Material P (perlítico).
Como esperado, o entalhe foi o agente iniciador de trincas de fadiga. A análise das
superfícies de fratura indica a iniciação de trincas no defeito introduzido, tendo um
crescimento considerável até a ruptura final para ambos os materiais. Mesmo o material
martensítico, de maior resistência mecânica e dureza, se mostrou tolerante ao crescimento de
trinca de fadiga, conforme mostram as Figuras 5.25 e 5.26.
104
1 2
Figura 5.25. Superfície de fratura de um corpo de prova entalhado para o material perlítico (P). 1) Defeito; 2)
Região de crescimento de trinca de fadiga.
1
2
Figura 5.26. Superfície de fratura de um corpo de prova entalhado para o material martensítico (M). 1) Defeito;
2) Região de crescimento de trinca de fadiga.
Material P
0,007
0,006
0,005
Deformação (mm/mm)
Entalhados
0,004 Lisos
0,003
0,002
1,E+03
1,E+04
1,E+05
1,E+06
1,E+07
Número de ciclos (Nf)
Figura 5.27. Pontos de deformação- vida para corpos de prova íntegros e entalhados - material P (perlítico).
Material P
-2,15
-2,20
-2,25
-2,30
log (ε)
y = -0,1825x - 1,3934
-2,35
y = -0,3254x - 0,7344
-2,40
-2,45
-2,50
4 4,4 4,8 5,2 5,6
log (Nf)
Lisos Entalhados Linear (Entalhados) Linear (Entalhados)
Esta abordagem evidencia a diferença entre as retas à medida que o número de ciclos
para a falha aumenta. O aumento gradual desta diferença indica um aumento no fator de
intensidade de tensões em fadiga (Kf) e, consequentemente, na sensibilidade ao entalhe.
Como no caso anterior, o material M também apresentou diferenças evidentes entre as
curvas para corpos de prova íntegros e com defeitos (ver Figura 5.29), quando em regime de
baixa deformação ou em alto ciclo. Em baixo ciclo, esta diferença não é visível.
Os resultados para este material foram mais dispersos, o que dificultou a estimativa de
uma tendência razoável, principalmente tratando-se de corpos de prova íntegros. Ao se
observar a Figura 5.30, é possível identificar vários pontos fora da linha de tendência de
íntegros. Podem ter influência nesta dispersão o aparato experimental e a usinagem dos
corpos de prova.
Material M
0,007
0,006
0,005
Deformação (mm/mm)
Lisos
0,004 Entalhados
0,003
0,002
1,E+03
1,E+04
1,E+05
1,E+06
1,E+07
Figura 5.29. Pontos de deformação- vida para corpos de prova íntegros e entalhados - material M (martensítico).
107
Material M
-2,15
-2,20
y = -0,0167x - 2,1603
-2,25
-2,30
log (ε)
-2,35
y = -0,0607x - 1,9782
-2,40
-2,45
-2,50
4 4,8 5,6 6,4
log (Nf)
A partir do Kt calculado por elementos finitos e da diferença entre as curvas (ou retas)
experimentais de corpos de prova íntegros em entalhados para cada um dos materiais, foi
estimado o valor de Kf como forma de possibilitar quantitativamente a comparação entre a
sensibilidade ao entalhe de cada qual. Através da Equação 3.23, calculou-se o q. Os valores
obtidos estão na Erro! Fonte de referência não encontrada..
.
Tabela 5.5 Valores obtidos a partir das curvas de fadiga para corpos de prova íntegros e entalhados
Material Nf Kt Kf q
Como citado em ASM HANDBOOK (1990), o fator Kf varia de acordo com o número
de ciclos para a ruptura do material e a tensão média aplicada. Em níveis de carregamento
elevados, que correspondem a um baixo número de ciclos, o fator Kf é muito pequeno. Já em
níveis de baixo carregamento e alto ciclo seu valor é alto, sendo máximo no limite de fadiga
para cada um dos materiais na condição testada. Sua variação em função do número de ciclos,
assim como a variação q, estão apresentadas na Figura 5.31. Esta variação foi baseada em
108
Kf e q
2,0
1,5
1,0 Kf - P
q-P
Kf - M
0,5 q-M
0,0
0,E+00
4,E+05
8,E+05
1,E+06
2,E+06
2,E+06
Número de ciclos
Seguindo a mesma lógica, os resultados indicam que o material perlítico não possui
uma capacidade de deformação plástica tal que possa promover encruamento na raiz do
defeito e compensar sua menor tensão de escoamento e resistência mecânica no fenômeno de
iniciação de trinca por fadiga.
Uma característica típica deste material, a delaminação, facilmente identificável nas
superfícies de fratura, sugere que há planos outros não contidos na seção transversal do arame
onde a trinca propaga mais facilmente, o que indica menor qualidade microestrutural em
relação ao material martensítico.
110
6. CONCLUSÕES
Para que o material esteja qualificado como arame da armadura de tração de um duto
flexível, são necessários testes que atestem sua aptidão para tal função. São eles:
Composição química (ISO8457-2);
Tensão de escoamento/ deformação no escoamento (ISO 8692);
Dureza (ISO 6507-1);
Corrosão sob tensão induzida por H2S (SSC) e falhas induzidas por hidrogênio (HIC)
(API 17J e NACE TM 0177);
Resistência à corrosão (API 17J);
Resistência à fadiga (API 17J/ ISO 13628-11);
Fragilização por hidrogênio (API 17J);
Neste trabalho já foi mostrado que o aço martensítico possui propriedades mecânicas
superiores em relação ao material perlítico - este último atualmente empregado na indústria -
como maior tensão de escoamento e resistência mecânica, além de maior dureza e maior
114
resistência à fadiga ao ar. Contudo, testes posteriores de SSC, HIC, resistência à corrosão e
fragilização por hidrogênio são necessários para a avalição do comportamento deste material
em meios que não o ar e para sua qualificação na aplicação em arames da armadura de tração
de dutos flexíveis.
A norma NACE MR0175/ISO 15156 especifica a severidade de um meio aquoso
contendo H2S à temperatura ambiente através de sua pressão parcial (PP) e pH do meio, como
mostra a Figura 8.1. Cada aço deve ser qualificado de acordo com as condições do meio no
qual será exposto. O meio pode apresentar nenhuma ou muito pouca severidade até alta
severidade (Região 0 e região 3 da Figura 8.1, respectivamente).
Em casos gerais, aços de elevada resistência mecânica são bastante susceptíveis ao
H2S. Aços resistentes a meios inseridos nas regiões 2 e 3 possuem baixa/média resistência
mecânica, assim como baixos teores de carbono e elementos de liga. Já os de elevada
resistência geralmente possuem médio a altos teores de carbono, e situam-se nas regiões 0 ou
1 (NACE TM0175, 2001).
Figura 8.1.Gráfico de severidade do meio com presença de H2S para aços carbono ou baixa liga. Região 0:
nenhuma ou pouca severidade. Região 1: severidade leve. Região 2: severidade intermediária. Região
3: severidade alta.
Fonte: Adaptado de NACE TM0175/ ISO 16156 (2001)
115
satisfatória. Tendo em vista que o aço em questão passa por tratamentos termomecânicos
especiais durante sua fabricação, até atingir seu estado final, é necessário o desenvolvimento
dos métodos adequados de soldagem, de seus parâmetros e tratamentos térmicos, para que
seja possível uma junta com as propriedades ideais. A solda também deve ser qualificada e,
portanto, deve ser submetido aos mesmos testes estipulados para o arame (API 17B, 2002).
Figura 8.2. Dobramento dos arames da armadura de tração durante o processo de montagem do conector.
Fonte: CAMPELLO (2014)
9. REFERÊNCIAS
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124
APÊNDICE I
Dados de fadiga brutos e gráficos de tensão vida para corpos de prova íntegros e
entalhados - materiais perlítico e martensítico.
Material P
1400
1200
1000
Tensão (MPa)
Entalhados
800 Íntegros
600
400
1,E+03
1,E+04
1,E+05
1,E+06
1,E+07
Número de ciclos (Nf)
Material M
1400
1200
Tensão (MPa)
1000
Íntegros
800 Entalhados
600
400
1,E+03
1,E+04
1,E+05
1,E+06
1,E+07
Material P
3,10
3,05
3,00
y = -0,1825x + 3,8786
log (σ)
2,95
2,90
y = -0,3254x + 4,5376
2,85
2,80
2,75
4 4,4 4,8 5,2 5,6
log (Nf)
Íntegros Entalhados Linear (Íntegros) Linear (Entalhados)
Material M
3,10
3,00
log (σ)
2,95
y = -0,0607x + 3,3062
2,90
2,85
2,80
2,75
4 4,8 5,6 6,4
log (Nf)