O Romantismo - J. Guinsburg PDF
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J. Guinsburg
O rg a n izaç ão
1. ROMANTISMO, HISTORICISMO E
HISTÓRIA
J. Guinsburg
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pelo menos um “mundo sempre melhor” como cosmo como uma harmonia universal operada
uma proximidade terrena, dentro do tempo histó por leis e funções mecânico-matemáticas de um
rico, dependente apenas da atuação do homem. Deus não-intervencionista ou de um a tnáquina-
Contudo, se Voltaire e Diderot já conhecem este -m undo), promovendo pelo exercício reformador
conceito, cuja expressão mais radical no Ilumi- do entendimento critico e do juízo esclarecido a
nismo surgira com Condorcet ( “A perfectibili- história pela civilização, o Romantismo, aprofun
dade do homem é absolutamente infinita” e nun dando a trilha aberta por Vico, o grande precur
ca'p o d e ser “retrogressiva” ), 6 evidente que não sor da sócio-história da “sociedade civil” e do
o vêem como uma lei condutora ou uma causa historicismo, inverte em toda linha esta maneira
do processo histórico, mas como resultado de de ver. O discurso histórico sofre mudança revo
atuações e ilustrações discretas, individuais. Co lucionária. Deixa de ser meramente descritivo e
mo exemplo, basta mencionar a posição de am repetitivo, para se tornar basicamente tanto in-
bos em face dos déspotas esclarecidos, como Fre tcrpretativo quanto formativo, genético. É a his
derico o Grande, Catarina II da Rússia, Jo toria que produz a civilização’. Mas não a His
sé II da Áustria ou o Marquês de Pombal, para tória, e sim as histórias. Suas fontes propulsoras
citar um caso próximo. Esta posição traduz de estão menos na ação isolada do homem abstrato,
certo modo a de grande parte do racionalismo singularizado na sua ratio, do que, de um lado,
ilustrado na primeira metade do século X V III e, no indivíduo, fantasioso, imprevisível, de alta com
inclusive, na segunda metade, a de Kant, ape plexidade psicológica, centrado na sua imagina
sar de sua noção “cultural” e “racial” da Histó ção e sensibilidade, gênio intuitivo investido de
ria, pois as Idéias da Tazão são para ele, em últi missão por lance do destino ou impulso inerente
ma análise, os fins e valores “práticos” mas po à sua personalidade, que é o herói romântico, en
lares do curso histórico desencadeado por via carnação de uma vontade antes social do que
das “causas” e “predisposições” empírico-natu- pessoal, apesar da forma caprichosamente subje
rais no homem. Transparece, portanto, quão lon tiva de seus motivos e decisões, e, de outro lado,
ge, mesmo quando bastante perto, se encontram num ser ou organismo coletivo dotado de corpo
ainda as Luzes, pelo menos em formulações mais e alma, de alma mais do que de corpo, cujo es
específicas ou positivas na ordem das atribuições pírito é o centro nevrálgico e alimentador de uma
causais sobre as origens e motores históricos, de existência conjunta. Procedendo a uma espécie
concepções ou idéias-força como nação, povo, de “onticização” fenomenológica das caracterís
massa, opinião pública, classe, e outros agentes ticas e das expressões grupais, o Romantismo, na
históricos, políticos, sociológicos, econômicos, sua propensão historicizante, aglutina as socieda
culturais e ideológicos que são tidos como fonte des em mundos, comunidades, nações, raças, que
dos processos, dos dinamismos, dos movimen têm antes culturas do que civilizações, que secre-
tos, das consciências, dos espíritos e das vonta tam uma individualidade peculiar, uma identi
des coletivas que surgiram em praça pública com dade, não de cada indivíduo mas do grupo es
a Revolução Francesa e, mais especialmente, com pecífico, diferenciado de quaisquer outros. Já
o Romantismo. no Pré-Romantismo, sobretudo em sua face histo-
De fato, se a Ilustração acredita fundamen ricista, essas manifestações começam a salientar
talmente no poder exemplar e didático da razão com Herder, por exemplo, na Alemanha, a fusão
natural, que se propõe enquanto cógito cartesia- de natureza e cultura nas peculiaridades do povo
no em e para o indivíduo ou a pessoa humana, teutônico, da raça nórdica, as quais teriam m ar
e atua em termos de “bom senso” , equilíbrio, cado as suas produções em diferentes épocas com
verdade lógica (não é à-toa que, metafisicamente o selo de seu Volksgeist, “Espírito do Povo” (mi
exaltada ou cientificamente contida, projeta o tologia germânica, Lutero, Shakespeare, e t c . . . ) .
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A Liberdade Conduzindo o Pvvo, 1830. por Dalacroix. Paniãa puta ú xuerra, buixo-rckvo do Arco do Triunfo
de l Etoilc, por Rude, 1792.
por ela anteriormente. A própria inflexão épica quanto, já num universo civil e burguês, carre
e “civil”, esta apesar do culto napoleônico, que gado de atrações críticas e científicas, de reivin
lhe é dada, a obriga, já pelo vetor mesmo de dicações liherais e pressões democratizantes, on
seu movimento basicamente burguês, a desdo de pode haver um monarca como Luís Filipe
brar-se de uma forma mais colada ao m undo e que é “rei-cidadão” e que jura fidelidade à Cons
aos acontecimentos, desvendando no ocorrer des tituição e à Nação, as ações e relações que re
tes sua ponta de “fato” . U m a evolução muito cebem o nome de históricas, em virtude de seu
semelhante, enform ada sem dúvida pelo mesmo efeito e significado para a massa de procedi
processo e pelas mesmas forças, ocorre contem- mentos e acontecimentos que os precede, envolve
poraneamente na épica ficcional, onde, em meio e segue num dado quadro e momento da asso
ao gótico, ao romântico, ao fantástico das nar ciação humana, vão necessariamente se dessacra-
rativas de Scott, Novalis, E.T.A. Hoffmann, ou lizando, por sublimes e augustas que pareçam,
do histórico-aventuroso e sócio-melodramático pois perdem a incondicionalidade da inspiração
dos folhetins de Dumas pai e de Sue, ou dos M i celestial, da unção divina ou até da determina
seráveis de Hugo, despontam, com os romances ção lógico-racional, devendo haurir seu sentido
de Balzac, Stendhal e Flaubert, as grandes com do fato de acontecerem num certo contexto e
ponentes da efetiva expressão realista, sem que no num certo tempo que as orienta e, em função
entanto percam de todo a sua impregnação e, com disto, organiza em rede de nexos. O papel da
freqücncia, param entação românticas. cronologia cresce, pois, consideravelmente. Ela
Assim, porque tudo se faz '‘história” no R o ascende em status semântico, uma vez que a
mantismo, a História se faz então "realidade”, História no seu todo fica submetida à tempo-
integrando historiograficamente o estudo do de ralidade cronografada, que dá significação às suas
senvolvimento dos povos, de sua cultura erudita e ocorrências, segundo semas que parecem estar
de seu saber popular (folclore), de sua persona no Povo, na Revolução Francesa, no Gênio do
lidade coletiva ou espírito nacional, de suas ins Cristianismo, em 1789, na Restauração, na Con-
tituições jurídicas e políticas, de seus mores e tra-Reforma, mas que lhe são inerentes ou a en
práticas típicas, de seus modos de produção e tidades estritamente dependentes dela.
existência material e espiritual, cada vez mais Engatado no tempo, como se quisesse ilustrar
nas linhas de um tempo cada vez menos mítico a doutrina kantiana sobre o espaço e o tempo co
ou idealizado. Por aí a cronologia, que ao lado mo formas primeiras do conhecimento a priori,
do "fato” , da “lei”, da “observação", da “fonte", o Romantismo, em sua consciência historicista,
do “documento” , dominará inconteste a subse tampouco podia fugir à relativização que Cronos
qüente historiografia positivista, começa a instau impõe a tudo quanto toca, deuses e mortais. E
rar-se “realmente” na História. Ela passa a fazer- certo que, sob a tutela de seus numes ou espí
-se valer com efetividade, não só balizando o mo ritos (geiste) e de seus heróis por eles inspirados,
vimento histórico por um a datação mais precisa, a história romântica traça a trajetória de cada
como plasmando-o em “etapas”, “períodos” , “ida povo, país ou nação como se ela fosse imbuída
des”, o que reúne em estruturações temporais de de um íelos, de uma finalidade a presidir-lhe o
certa organicidade, e mais ou menos comandadas sentido dc sua existência e nascida de um ontos
por denominadores comuns, as ações e os su intrínseco, do ser-do-grupo e do ser-em-grupo,
cessos que fulcram a vida das nações e dos cuja verdade específica, irrefutável em seu cam
grandes complexos históricos no seu âmbito po específico porque não sujeita a prova empí
geocultural (a derivação positivista de “meio” rica ou lógica, inapreensível só pela razão sem
e “clima”, devida a Taine, é ulterior). Esta es- o sentimento e a intuição, guiaria a grei, reali
scncialízação cronológica é tanto mais acentuada zando-se nela e levando-a através de crises e tra
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gédias personalizadas ou coletivas às realizações rico-político e sócio-cultural, forças estas dota
expressivas de seus fastos e dos feitos de seus das de alta energia e poder de transformação,
expoentes. Um exemplo marcante é Michelet. viu-se na contingência de mobilizar e criar um
novo instrumental intelectual para apreender e
H á um a missão particular a esta época, tanto na operar a realidade que se lhe propunha.
França como na A lem anha — escreve A lbert Tbibau-
d e t2 — e da qual Michelet parece particularm ente o No setor específico que ora nos ocupa, mas
delegado: cia consiste em pensar a história como um não só nele se se quiser aprofundar a questão,
absoluto, em sentir e exprimir um a mística da histó tal encargo importou em largo uso de conceitos
ria.
e fatores, encarecidos ou desenvolvidos em fun
E mais adiante, ao salientar os elementos ção desta demanda social, que, embora dispondo
que formam a obra e a figura do autor da His- de generalidade num certo conjunto, dependem
toire de France e Histoire de la Rêvolution Fran- em sua capacidade significativa e operativa de
çaisc: um contexto particular onde foram gerados, ca
recendo da universalidade que o Iluminismo, pelo
Uma arte de ressuscitar o passado, uma filoso domínio do juízo de razão, e os períodos de pri
fia da hum anidade enquanto ela dura, um a mística dos mazia das grandes religiões, pelo poder do arti
povos que se criam e criam, é com estas forças, estas
divindades suas, que a pessoa de M ichelet coincidiu e go de fé, pareciam conferir às suas representações
vibrou. e veículos. Os deuses por direito próprio estavam
substituídos por semideuses ou simples heróis,
Mas, não obstante o fervor místico do culto autóctones, talvez, mas sem dúvida cruzando o
que lhes dedicou não só o historiador francês, telúrico e o celestial. Em lugar dos porten
as novas deidades não o eram “pela graça de tosos sistemas a more geometrico (S p n o za),
Deus", mesmo quando proclamadamente auto monadológicos (Leibniz) ou mecânico-matemáti-
cráticos. Na realidade, seus poderes não mana- co (Holbach, La Mettrie e os Enciclopedistas, em
vam de uma fonte com autovalor absoluto, boa parte) e das vastas polifonias teológicas (Es-
a-histórico ou sobre-histórico, como era o caso
colástica árabe-judio-cristã, Bossuet no Discurso
do Deus Onipotente da religião monoteísta em sobre a História Universal), todas axiomática ou
suas várias formas ou mesmo do Ser Supremo ou
dogmaticamente arrimadas nas “esferas superio
Inteligência-Máquina da metafísica racionalista, res", tinha-se agora uma espécie de nova mi-
porém de valores decantados, no plano das idéias, topoética histórica, defroquée, rica pela variedade
pelo processo histórico e que agora, quando se e colorido nacionais de suas epopéias coletivas e
verificava uma historicização geral do modo do
de seus heróis culturais, mas carregado de ele
homem conceber-se no universo, assumiam am mentos semilendários, emblemas patrióticos ou
plo sentido e vigência. De outro lado, tendo que paroquiais e idealizações acríticas, acientíficas,
atender igualmente a configurações nacionais, não obstante intuições certeiras e descobertas fe-
étnicas, sociais e culturais diversas, com tradições edndas, mais tarde verificadas com os recuraos
e reivindicações muitas vezes conflitantes, ainda de uma ciência histórica mais apurada e rigoro
que consistentes e justificadas em si e para si, o sa, cujo desenvolvimento, aliás, só pôde dar-se
historicismo romântico precisou recorrer, tam graças a essas contribuições românticas. Em si,
bém aqui, às “classes médias” das idéias-signo porém, era um discurso arraigado em particularis-
e das idéias-força. Isto significa que, para res mos, quase sempre envoltos em gloriosa auréola
ponder no nível ideológico à dinâmica e direção nacional e em simbólicas vestes talares, senão sa
das novas forças propulsoras do processo histó cerdotais, parecendo falar de coisas eternas e
verdades indiscutíveis. N a realidade, este brilho
2. TiH D A iu»ET, A lb e r t. H i s to i r e dc h l it té r a tu r c f r a n ç a i je .
Paria, Stock, 1938» pp, 271, 272. e matizamento das cores locais mal conseguiam
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do mundo, para ele. Com tal premissa, é fácil
depreender o papel que fica reservado à História.
E que ela o assume, testemunha-o o processo
avassalador de historicização que se desenca
deou, não apenas sob form a hlstoriográfica, mas
também antropológica com o historicismo ro
mântico. Em seu bojo é que foi gerada a ciên
cia histórica moderna. Ainda que se lhe oponha
muitas vezes em espírito e tendências e, certa
mente, n a metodologia de pesquisa e síntese,
ela recebeu dele não apenas uma idéia de His
tória, mas a efetiva percepção do homem como
ser histórico, na praxis e no pensamento. Por
isso talvez não seja exagero dizer que com o Ro
mantismo e sua revolução historícista se enceta a
era propriamente historiocêntrica da História.
2 OS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DO
ROMANTISMO
Nachman Falbel
I. Introdução
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presa. A regulamentação da indústria e, ao mes inventores fossem homens sempre destituídos de
mo tempo, sua limitação por meio de corpora saber teórico, como muitos autores afirmam com
ções, leis municipais e pelo Estado, cede lugar à insistência, pois ninguém ignora que físicos e
livre-iniciativa, e foi nas regiões menos submeti químicos, assim como cientistas de várias áreas,
das à regulamentação c onde não se faziam sentir estavam vinculados por diferentes laços de ami
as organizações corporativas, tais como Manches- zade a muitas das personalidades da indústria, o
ter e Birmingham na Inglaterra, que se deu um Hue envolve de certo modo uma via de comuni
rápido desenvolvimento industrial. cação entre a ciência do pesquisador de gabinete
O espírito inventivo, devido aos fatores con ou laboratório e a experimentação na oficina de
cretos mencionados anteriormente, levou a uma trabalho, para a solução dos problemas surgidos
verdadeira eclosão de inventos, que vieram so na produção.
lucionar problemas ligados diretamente à técnica Uma longa série de inventos ocorrem em pri
de produção. A indústria, a tecnologia e a ciência meiro plano na indústria do algodão, livre dos
estavam indiscutivelmente atendendo às mesmas entraves corporativos e em rápido desenvolvimen
necessidades econômicas e sociais, ainda que mui to. Em 1733 John Kay introduziu no tear im
tas vezes o sistema de patentes, destinado a esti portante melhoria, a lançadeira. Ligada a um
mular o inventor, apresentasse o paradoxo de di sistema de duas rodas era atirada de uma ourela
ficultar o caminho a novas criações pelo fato de a outra por meio de martelos, atravessando com
confirmar privilégios durante espaço de tempo a tram a toda a urdideira. Tal inovação, a lan
excessivo. Contra esses abusos criaram-se asso çadeira volante, acarretava grande economia de
ciações que não só visavam a contestar a legali trabalho e permitia a um único tecelão confeccio
dade dos direitos exigidos pelos patenteadores, nar panos de uma largura que antes exigia o tra
mas procuravam convencer os inventores a colo balho de dois homens. Já em 1760, após serem
carem seus inventos à disposição de todos, como vencidas as dificuldades da inovação, a lançadeira
no caso da Sociedade Prom otora das Artes, M a estava difundida na indústria têxtil. Em 1738 Le-
nufaturas e Comércio, fundada em 1754, que wis Paul introduziu o cilindro de torção que de
também os premiava. O Parlamento, por seu la sempenhou enorme papel na indústria da fiação.
do, concedeu igualmente recompensas àqueles A partir desse marco, os aperfeiçoamentos
que abrissem mão dos produtos de seu engenho técnicos na indústria têxtil se sucederam num
em favor da sociedade e em benefício direto dela. encadeamento contínuo, tais como a fiação com
Desta forma podemos encarar a Revolução In mais de um fuso ou spinning-jenny. em 1764,
dustrial como ligada à divisão de trabalho, sendo de James Hargrcaves; a wal.er-fiame, a máquina
em parte causa e em parte efeito dessa divisão, movida a íg u a, em 1767. de Thomas Highs; o
que significava uma ampliação do princípio da engenho mecânico de fiação, um desenvolvimento
especialização. da máquina automática de Lewis Paul, foi a con
Devemos ainda considerar que o surto de tribuição decisiva de Richard Arkwrighl, em 1768,
invenções durante o período em questão, especial para o avanço da técnica têxtil; a mule-jenny,
mente na Inglaterra, é fruto de um processo de cm 1774, de Samuel Compton, que permitiu a
acúmulo de conhecimentos teóricos, a partir de urdidura de fios finos e resistentes; em 1784,
Francis Bacon, que contribuiu para o estabeleci Cartwright constrói o tear inteiramente mecânico
mento da ciência experimental, com a contribui e, no mesmo ano, Delaroche, na França, a m á
ção de uma plêiade de filósofos e cientistas, tais quina de aparar o tecido. Na metalurgia, a fun
como Robert Boyle e lsaac Newton, que assen dição do coque, em 1735, por Darby, resolve o
taram os fundamentos do método científico m o problema da escassez do carvão vegetal, devido
derno. Não parece ser algo firmado que os à constante ampliação dos pastos e a conse-
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este processo mobilizava e proletarizava, junta dições de trabalho assaz precária para a vida
mente com suas famílias, e que, no fundo, eram do trabalhador que consumia seus dias junto às
a base humana na qual se apoiava a profunda m áquinas.'
transformação sofrida pela sociedade européia O desenvolvimento econômico-industrial des
daquele tempo. M uito já se escreveu sobre as crito anteriormente apresentaria as contradições
difíceis condições de trabalho que envolveram que passaram a ser conhecidas, devido a certas
a vida operária durante a Revolução Industrial. freqüências, como os fenômenos de superpro
/O s ganhos desses trabalhadores eram insuficien dução, da Iivre-concorrência descontrolada e, por
tes e na maioria das vezes recebiam seus magros outro lado, das tentativas de regulamentar a pro
salários de uma forma irregular, através de in dução, assim como controlar os preços e o mer
termediários duros, que viam unicamente a quan cado. Do mesmo modo que se formavam clubes e
tidade produzida, pois normalmente a paga era associações de indústrias e de homens de negó
feita pelo número de peças produzidas. A pre cios nos mais diversos níveis, também os traba
cariedade das instalações industriais, a falta de
lhadores (e isto desde a primeira metade do
segurança, as péssimas condições higiênicas dos século X V III) se associavam em organizações
locais onde mulheres e crianças constituíam a
várias, tais como as de cardadores de lã, alfaia
mão-de-obra ao lado de homens, respirando o
tes, tecelões, fabricantes de prego, segundo um
ar contaminado das minas, das oficinas mal ins
molde que em média se aproximava da antiga
taladas, tudo isso convertia o período em um
corporação e do sindicato moderno. Tais asso
dos mais cruéis para a grande massa que sempre
ciações visavam a vários objetivos ligados aos seus
viveu do suor do rosto. Da escravidão na Anti
guidade à nova escravidão, poucas eram as di interesses de classe. Enquanto a dos industriais
ferenças, mesmo se do ângulo jurídico-legal o procurava ampliar sua influência junto ao poder
trabalhador agora não fosse propriedade do em governamental, a ponto de fundar na Inglaterra,
pregador ou do industrial. Na realidade, a depen uma Câm ara Geral da Indústria em 1785, para
dência do operário sob o aspecto financeiro, combater a política de admitir a participação da
muitas vezes, era tal que o peso das dívidas o le Holanda no comercio externo e colonial inglês; a
vava a ficar inteiramente ao dispor de seu pa dos trabalhadores, além de procurar regulamen
trão. A falia de regulamentação quanto à jornada tar questões ligadas diretamente ao salário, assu
de trabalho, ao emprego de aprendizes e à limita mia posições cada vez mais radicais, chegando a
ção de idade tom ava o labor nas fábricas em um organizar greves, quebrar engenhos, máquinas e
castigo divino e um sofrimento sem fim, por mais casas, motivados pela fome e opressão. Tais asso
que se procurassem justificativas para tal fato. ciações tinham na maioria das vezes caráter pro
Os contratos de trabalho, em certas atividades, visório e se desfaziam logo que eram atendidas
eram de longos anos, ainda que com o tempo co em suas reivindicações imediatas. Somente no
meçassem a ser restringidos, como no caso do fim do século é que a organização sindical apa
serviço nas minas. Os salários passaram a depen recerá como capaz de impor uma política traba
der do jogo da oferta e da procura, sujeitando-se lhista de longo alcance. P or isso mesmo será
às variações do mercado de m ão-de-obra, mas combatida pela legislação vigente na época em
vale notar que uma boa parte subiu, o que se tra que, segundo a lei de 1799, qualquer pessoa que
duziu na melhoria do nível de vida, ocasionando se unisse a outra para tentar obter um aumento
melhores condições de alimentação e saúde e, de salário ou redução de horas de trabalho, se
por conseqüência, prolongando a duração da ria levada a juízo. Este período de individualismo
existência humana. Porém, muitos setores da ati e de laisser-faire, que eliminou a interferência do
vidade industrial continuaram apresentando con poder do Estado nos assuntos econômicos nada
ao
O í'at!tio de Terceiru Classe, por Daumicr.
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ministro, Luís XVT acabou por dissolver a As Com a formação da Assembléia Nacional, o
sembléia, encerrando com este ato a primeira o Terceiro Estado estava preparado para uma in
manifestação da nobreza contra a monarquia. vestida política que procurava representar os inte
Isto serviria de preâmbulo ao futuro movimento resses do povo francês, começando por impor os
político da revolução. Quando o ministro Brienne seus projetos ao rei, a ponto de Luís XVI permi
recorreu ao Parlam ento de Paris para aprovar os tir aos nobres que se juntassem aos “comuns”, na
seus projetos de reforma, viu-se rechaçado no Assembléia, A interpretação desse movimento
mais importante de todos, que era o da subven político por parte da burguesia e do campesinato,
ção territorial, e mais ainda, o Parlam ento exi a certa altura, foi de temor e desconfiança em rela
giu a convocação dos Estados Gerais. Mediante ção a um possível complot da aristocracia contra
tal pressão, e em conseqüência da agitação aris os interesses do povo. Em princípios de julho de
tocrática que estava se formando, o governo foi 1789, tanto o campo como as cidades francesas, e
forçado a ceder. A monarquia, a essa altura, em especial Paris, passaram a hostilizar aberta
começara a perder o apoio da aristocracia, e os mente a aristocracia. Com a destituição de Necker,
parlamentares para obter o apoio da burguesia a rebelião explodiu com violência, e, em 14 de
falavam em nome dos “direitos da nação” . Não julho, o povo de Paris, após ter assaliado os depó
é de se estranhar que se tenha formado um par sitos de armas, se dirigiu à Bastilha, símbolo do
tido de luta contra o governo com o nome de “na poder real. A revolta alastrou-se por toda a Fran
cional” ou “patriota” , liderado pelos nobres li ça em pouco tempo e o povo, desenfreado, pôs-se
berais, por alguns magistrados, periodistas, “filo- contra os poderes municipais. O campesinato em
sófos" e advogados. Um comitê de coordenação fúria, encontrando resistência, queimava os caste
centralizava a ação desse “partido" e uma de los feudais e as mansões senhoriais, querendo
suas exigências básicas era a convocação dos abolir pela violência o regime feudal. A violência
Estados Gerais, ainda que divergisse da aristocra gerou o terror e entre os próprios insurgentes im
cia quanto ao número de representantes do Ter perava o pânico, Ia grande peur. O medo ao ter
ceiro Estado e à exigência do “ voto por cabeça” e ror campesino impôs à Assembléia Nacional uma
de ama “constituição” . A situação política torna- alteração em sua ação política, pois se tom ou
va-se cada vez mais delicada, quando um decreto urgente a necessidade de terminar com a insurrei
anunciou que os Estados Gerais deveriam ser con ção do campo antes que ela atingisse a proprie
vocados a primeiro de maio de 1789. Desde os dade burguesa. A forma de fazê-lo era canalizar
primórdios de 17SP começaram os preparativos as reivindicações dos camponeses para os do
para as eleições dos Estados Gerais, dando opor Terceiro Estado. Por isso a Assembléia Na
tunidade à burguesia de reivindicar livremente a cional decretou a abolição do regime de privilé
supressão dos privilégios, a elaboração de uma gios, a igualdade perante os impostos, a supressão
constituição e também a introdução do liberalis dos dízimos, resoluções que repercutiram por todo
mo econômico. Em suma. a Revolução Francesa o país e arrefeceram o ímpeto revolucionário do
principia como uma revolta dos corpos consti campo.
tuídos pela oposição aristocrática e passa em A Assembléia Nacional, através de seus cons
seguida a ser substituída por uma revolta da bur tituintes, iniciou em seguida a elaboração da De
guesia, que recebe o apoio maciço do campe- claração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
sinato./Este movimento no seu todo resultará na cujo teor acentuadamente universalista ultrapas
queda do velho regime fi. sou, em significado, o documento elaborado pelos
revolucionários americanos. A ênfase dada à
liberdade, fundamentada na afirmação de que
0. 4 T o m 1* 11*11 , \ /*(< / i ,■: .t ( / I 7• > - / > [ í ; i r c i ‘ ’. u n ; u
N urva S lio. 1969, p 44. "os homens nascem livres e devem viver livres”.
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Revolução Francesa causava o maior impacto subsistência. Os observadores da vida social tam
na vida social européia. O pensamento social, a bém perceberam o paradoxo criado pela riqueza,
partir desse tempo, criticou os sistemas sociais do de um lado, e a extrema miséria, do outro, de
passado como fundamentados na violência e no modo que, em meio da abundância, grassava a
egoísmo que impediam o livre desenvolvimento fome provocada muitas vezes por crises decorren
da natureza privilegiada do ser hum ano, ápice da tes de um regime de produção desordenado e
criação divina. O socialismo passou a fazer parte anárquico, conceituado pelo liberalismo econô
de todas as doutrinas políticas que procuravam mico.
criar condições que permitissem o surgimento de Os pensadores mais extremados, como Blan-
uma sociedade harmoniosa e justa, onde o homem qui, Babeuf, Buonarrotti, partiram das posições
poderia dar expressão ao seu ser e à criatividade, jacobinas radicais para formularem uma doutri
livre de entraves econômicos e sociais. na social esteada na igualdade absoluta. Esses
A Revolução Francesa, ainda que abolisse os pensadores não tratam somente da revolução po
direitos e as instituições feudais, não aboliu a lítica mas também da revolução social e acredi
desigualdade entre os homens. A liberdade sem tara na transform ação do homem considerado
a igualdade foi considerada insatisfatória, pro como um animal social capaz de evoluir cada
pondo-se, já naquela ocasião, que a propriedade vez mais, se o meio o favorecer. Na afirmação de
fosse limitada perante a lei e se reduzisse a dis Blanqui, de que a moralidade é o fundamento da
tância abissal entre pobres e ricos, ou entre os sociedade, encontra-se uma crença otimista quan
possuidores e “os que nada tinham a perder” . A to à natureza humana, bem como fé na ciência e
política revolucionária formulou a teoria da to no valor da educação. Mas esse progressismo de
mada do poder e a tática de m anutenção no poder. Blanqui não o impede, por outro lado, de se
A resistência dos privilegiados e da aristocracia mostrar intolerante, chauvinista e anti-semita,
provava que toda transform ação social era im atributos que passarão a ser típicos da burguesia
possível sem coação ou opressão social através francesa no fim do século XIX.
do uso da violência. A idéia de que a revolução O jargão revolucionário que antecede o sur
exigia a formação de um governo revolucionário gimento do marxismo, posteriormente, aparece
ou de uma d:tadura revolucionária tinha como nos escritos daqueles pensadores cujo “socialis
fundamento a experiência francesa e os dias do mo” transparece em concepções confusas e
Terror que visava a com bater a reação contra-re- muito vagas, ainda que um Blanqui escreva ser
volucionária.
A igualdade social e o regime de propriedade a emancipação dos trabalhadores, o fim do regime de ex
foram alvo de novas teorizações por parte dos ploração . . . o advento de uma nova ordem social destina
pensadores franceses e ingleses. Esses últimos da a libertar os trabalhadores da tirania do capitalismo
seguiam princípios filosóficos que vinham desde aquilo que a república deve re a liz a r8.
Locke e se estendiam através de Adam Smith,
penetrando no terreno mais sólido da economia. Buchez, em 1833, na Introduction à Ia Science
O capital, na interpretação dos socialistas, era de 1’Hisloire, considera que é a sociedade dividida
o fruto do trabalho dos operários, após terem em classes, uma das quais possui os instru
eles recebido o seu quinhão em forma de salá mentos de trabalho, terra, fábricas, casas, capi
rio; portanto, eram os trabalhadores os criadores tais, nada possuindo a outra, “que trabalha para
da riqueza social. Assim sendo, era injusto que a primeira” s.
não tivessem o direito ao valor integral do pro
duto de seu trabalho e ficassem limitados apenas R. T c m t iia m ij,
Ed. T tcniw , 1970, p. 442.
J f/istona Jr lu
* 'X
jP f f là iY W .
9 C.É ' )
^ A ln ilr i,
a uma parte do valor que permite apenas a sua 9. fdvm, ibidfm, p. 445.
36
Deus mesmo o quer", sendo a causa do po de Blanc, muitas vezes mal interpretado, teve
vo uma causa santa, a causa de Deus. M ui aceitação bastante ampla no meio operário da
tos o verão como o precursor da democra época e calou fundo no romantismo popular,
cia cristã. Buchez (1796-1865), que escreveu próprio do movimento revolucionário daquelas
uma significativa Histoire Parlementaire de la décadas.
Revolution Française, entre 1834-1838, influen Uma boa parte das idéias socialistas que fer
ciado pelas doutrinas de Saint-Simon, procura mentavam no século passado derivou das doutrinas
rá demonstrar que os princípios do Revolu propagadas pelo aristocrata Conde de Saint-Simon
ção Francesa não se acham em contradição com (1760-1825), que havia participado na Guerra
os princípios cristãos, mas que decorrem deles. de Independência americana, à qual assistiu e deu
Para Buchez, a civilização cristã culmina na R e um significado histórico-político transcendental,
volução Francesa e a civilização m oderna se crendo, mesmo, que levaria a transformação à
inspira no Evangelho. Entre as idéias socializan- sociedade européia então vigente. O saint-simo-
tes que Buchez desenvolve, já nos deparamos com nismo chegou a formar uma verdadeira escola
a afirmação teórica da associação operária e do com a multiplicação de adeptos que o seguiram
cooperativismo de produção. Sua influência foi e adaptaram as doutrinas originais do fundador.
importante nos meios operários e constata-se Um centro de irradiação de suas doutrinas foi a
certa relação entre suas idéias, que formulam um Escola Politécnica de Paris, onde se destacaram
socialismo cristão, e as de Picrre Leroux (1797- nomes, como Enfantin, Michel Chevalier e ou
-1871), que tenta uma síntese entre o Evange tros engenheiros, que seguiram o espírito positivis
lho e a Revolução em um vasto conjunto de obras ta das férteis idéias de Saint-Simon. O positivis
dedicadas às questões sociais. No mesmo período mo filosófico sairá do arsenal de idéias de Saint-
temos o nome de Louis Blanc (1811-1882) cujas -Simon através de seu famoso secretário Augusto
idéias deixaram a burguesia francesa preocupada, Comte. Touchard dirá com razão que o saint-si-
devido a ênfase dada à "organização do trabalho”. monismo é um positivismo apaixonado, impregna
Em um folheto publicado em 1840, sob o título do de romantismo u .
ÜOrganisation du Travail, propõe um plano de Saint-Simon ressalta, antes de tudo, o papel
reforma com o objetivo de eliminar a concorrên vital da produção na existência da sociedade hu
cia e melhorar o destino de todos, mediante a mana, exemplificando o seu ponto de vista com
participação livre dos indivíduos e a sua frater a famosa parábola segundo a qual a perda de
nal associação11. Blanc propaga a idéia de “ofici três mil dos principais sábios, artistas e artesãos
nas sociais”, que dariam aos trabalhadores a possi da França, envolveria praticamente todas as clas
bilidade de comprar os instrumentos de produção, ses produtoras, causando uma catástrofe bem
preconizando que estes deveriam pertencer-lhes, à maior do que poderia causar a perda de trinta mil
medida que fossem educados e preparados para representantes mais eminentes do Estado, desde
tanto. O Estado seria o veículo natuTal e capaz de a família real, ministros, altos funcionários, alto
criar tais oficinas sociais, podendo-se ainda contar clero, juizes e os proprietários mais ricos do país.
com a generosidade dos capitalistas, que estariam Portanto, os produtores ou o que ele chama de
interessados no empreendimento como sócios, de classe industrial, passam a ser a classe mais impor
modo que todos acabariam se beneficiando igual tante na sociedade. No pensamento saint-simonia-
mente, e, dadas as vantagens reais que o fato no encontramos a afirmação de que organização
traria, ao fim substituiria todo e qualquer outro econômica é primordial e mais relevante do que a
tipo de organização econômica. O pensamento de preocupação político-institucional, pondo mesmo
38
sobre a natureza humana, mas que sc empenhou reinará uma nova moral e imperará a felicidade
com energia e aplicação metódica em realizar a entre os homens, concepções que expressa no
reforma social. R obert Owen (1771-1858) co Catecismo do Novo Mundo Moral em O Novo
meça seu programa de reforma assumindo uma Mundo Moral. O pragmatismo de Owen, qne con
atitude filantrópica perante o trabalhador de sua fiava na reforma da sociedade sem a necessidade
própria empresa, melhorando sua habitação, re do emprego de meios políticos, contrasta com o
duzindo a jornada de trabalho, construindo esco cartismo, que no início foi impulsionado por
las, desenvolvendo as condições de higiene, au owenistas dissidentes e antigos discípulos do indus
mentando os salários e dando-lhe boas condições trial inglês. O movimento cartista adotou essen
de trabalho. Nesse sentido, o experimento em New cialmente uma linha política e a W orking M en’s
Lanark foi uma inovação para os padrões da Association, fundada em 1836, era composta
época, apresentando-se Owen como um empre somente de trabalhadores, apresentando-se como
sário pioneiro e ilustrado, assim como um capi uma organização popular. Animado por uma ideo
talista inovador em relação à classe produtora. logia de classe, transforma-se em um movimento
Por outro lado, o pensamento de Owen recorre à revolucionário que penetrará nas regiões mais
ajuda do Estado para que se imponha uma le industrializadas da Inglaterra, mas que começará
gislação social capaz de proteger o trabalho de a esmorecer a partir de 1848.
menores e, em 1819, tal legislação foi adotada, Notável será a influência de Proudhon (1809-
ainda que com um espírito diverso ao de seu au -1865) na formação do pensamento socialista do
tor. À semelhança de Fourier, adota uma posição século XIX. Após estar ligado ao gmpo e à pessoa
crítica perante a indústria e favorece a agricultura, do fundador do chamado socialismo científico,
sonhando com a criação de pequenas comunida que foi Karl M arx, Proudhon a partir de 1846,
des coletivas, onde seria abolida a propriedade ano em que publicou o Système des Contradictions
privada e a produção seria fundamentalmente Economiques ou Philosophbe de la Misère, rom
agrícola. O modelo de tal comunidade se realizou perá com os radicais alemães, para cultivar con
em New Harmony nos Estados Unidos, mas, cepções sociais próprias mas nem sempre expostas
após certo período de existência, a experiência sistematicamente. Daí associar-se, muitas vezes,
redundou em fracasso. Owen toma a iniciativa de seu nome a um socialismo francês independente
fundar um banco onde se intercambiam bônus de do marxismo. Proudhon, assim como Owen, tam
trabalho, pois considera o trabalho como a me bém considera que a questão social não po
dida de valor. Tal projeto também malogrará logo de ser resolvida pela política mas que deve ser
após sua fundação em 1832. Esse socialismo objeto da ciência da sociedade representada pela
mutualista está muito próximo das idéias preconi economia política. Tampouco acredita na demo
zadas pelos francês Proudhon, mas tal socialismo, cracia parlamentar, porém aceita como importante
que se mantém no âmbito do intercâmbio, não a educação do povo para a modificação da socie
será levado à produção econômica. P or esse moti dade. Anti-religioso convicto, justifica sua ruptura
vo, os seguidores de Owen são participantes no com M arx por se colocar o marxismo na posi
desenvolvimento de cooperativismo, que recebeu ção de uma nova religião, “ainda que essa religião
ajuda imensa do empresário-filântropo. Owen fosse a religião da lógica, a religião da razão"
acredita profundamente na possibilidade de mol Assim como não crê na democracia, muito menos
dar a natureza humana, produto de condições confia no Estado ou em outro tipo qualquer de
exteriores, e na educação do homem para uma autoridade. Sua visão social, em última instância,
vida melhor. Talvez seja essa a razão pela qual é de uma sociedade anárquica, onde o poder polí
nos últimos anos de sua vida se fixa na idéia e tico seria substituído pela livre associação dos tra
na crença de que se aproxima o tempo em que balhadores. A sua concepção de Estado é federa-
14. De (a usticc, quarto esludo, a p u d T o v cíia ju ), O p. cit., 1 f\. W o o d c o c k , C i. Anarchism. P e n iíu in R u i> k s. 1970. f.. 9
p. 4J7. 17. L a jk i. U . J. E l liberalismo eurppca. M éxico, E d . Fondo
15. T ou ch aro, Op. cit., p. 437. dô Cultura E cunónnca, I95J, p. 206,
40
um marco histórico não somente para a França esses utilizados na literatura patriótica do século
mas tambcm para o continente europeu. Além de passado. Foi Rousseau quem deu ênfase ao patrio
estabelecer um regime autoritário apoiado na força tismo republicano que identificaria a Revolução
militar, desencadeará um novo processo de conso com a nação. Em seu Discurs Sur L ’Origine ei
lidação da Revolução Francesa perante os Esta Les Fondemenís de UInégaliié Parmi Les
dos europeus. As guerras empreendidas p o r N a- Hommes, transparece esse patriotismo sob a for
poleão Bonaparte faziam parte desse desenvolvi ma de am or à liberdade e às leis e costumes tra
mento político-militar que levaria os exércitos da dicionais. Na Encydopédie escreve que o amor à
França a enfrentarem as forças coligadas da In pátria é o meio mais seguro para alguém ser um
glaterra, Áustria, Nápoles e os Estados satélites bom cidadão: “O amor à pátria é ó meio mais efi
que dependiam dos aliados. Com habilidade de caz; pois, como já disse, todo homem é virtuoso
estadista e gênio militar, Napoleão havia impos quando sua vontade particular é conforme em tudo
to em 1801 um a verdadeira pacificação geral com a vontade geral, e nós queremos de bom
entre os beligerantes europeus, mas os trata grado aquilo que querem as pessoas que ama
dos assinados nesse ano foram de pouca duração. mos” 18. M as é necessário ressaltar que, em Rous-
Outros planos se escondiam atrás da política do scau, o cidadão individual continua sendo a base
ditador corso, pois logo ficou evidente que cons da pátria, e o fim do Estado é a felicidade e a li
truíra um a estratégia ligada a um a forte ambição berdade individuais. Com razão um autor ressal
pessoal, que deveria assumir a form a de uma ta que, em Rousseau, a natureza mais íntima
monarquia expansionista tendo por objetivo a do homem é constituída pelos simples sentimen
conquista de todo o Continente. Durante o seu tos morais e gostos estéticos que são desfigura
poder, as vitórias e as derrotas, a g u e r T a e a paz, dos e embotados pelas exigências da civilização.
contribuíram para transform ar o panoram a políti O Estado ideal seria aquele que pudesse restabe
co europeu e, mais ainda, ajudaram à emergência lecer urna primeira idade de ouro, onde uma co
de novos Estados nacionais inspirados, de um lado, munidade natural está unida por sentimentos mo
nas idéias revolucionárias e, de outro, nas tradi rais e um a vontade comum 1B, A sua contribuição
ções culturais e populares despertadas em na maior para o nacionalismo moderno foi a de ape
cionalidades que haviam recém-descoberto a sua lar aos fundamentos sentimentais e morais da co
consciência nacional e ambicionavam um lugar ao munidade e do Estado para levar o cidadão a
sol entre as nações. A figura romântica do im participar ativamente como responsável por seu
perador francês aparece, ao mesmo tempo, co destino. O amor à pátria e à virtude eram possí
mo o “libertador” das nações, a ponto de um veis em um Estado no qual os cidadãos fossem li
Beethoven dedicar-lhe uma de suas composições vres e iguais.
musicais, para retirar a dedicatória pouco depois, Rousseau já compreendia o papel que as
com forte sentimento de decepção para com o condições históricas e ambientais assumiam ao
“opressor” das nacionalidades. Cedo ou tarde, diferenciar os agrupamentos humanos e criar as
essas nacionalidades reivindicariam o direito à individualidades nacionais. Em um de seus úl
autodeterminação, convictas de que eram do timos escritos políticos, Considérations Sur Le
nas de seu próprio destino, não devendo obe Gouvernement de Pologne, esclarece qual de
diência a nenhum poder, vendo na liberdade ve ser o método acertado para educar os ci
coletiva e na igualdade da cidadania a realiza dadãos desde a infância para que adquiram o
ção dos ideais supremos da humanidade.
Nesse sentido, certos conceitos são emprega 18 , K .O H N , I T jd s . f f i s t or i a </«.'/ >104 M éxico, E d,
dos como se possuíssem o mesmo significado, tais Foml*' *lt* C u liu ra EccKiomica. 1‘M^. pp. 2Q&-209.
19. C rossm an , R..H ,S R io a ra fiú ãcí F.stada M ftd rrn n . M é x i
como república, pátria, nação, Estado, termos co. Ld. Fondo de C u l lu r n I ic u n o n ic iJ , iy 7 0 , U J-4 .
J. / r*M•f',r v Jt/irr/irr m l>, i f i - i . i ■n u ti. S< ll s * h »*. H. <> V i n / ' \/.\. Sfln l' :ii il n . I J-urn-
Barceliin;*. Nu*va |>. 11? Ip r i í j 1 1f ■ l.iv r n , jv R fl
como representante do rei da Prússia; Lorde Cas- ja Rom ana recupera seu prestígio e assume nova
tlereagh atuando pela Grã-Bretánha e Tallsyrand mente uma elevada posição, recebendo apoio
pela França, tinha por objetivo apaziguar as ques do Estado e participando ativamente na socieda
tões européias, atacando de frente as velhas pen de. Mesmo na França onde fora perseguida, ela
dências. Antes de tudo, devia-se evitar uma nova ganha terreno com a reação ao racionalismo do
agressão da França e restaurar os legítimos go século anterior e ao livre pensamento dos grupos
vernantes em seus respectivos territórios a fim de mais radicais.
estabelecer o equilíbrio do poder entre os gran Os anos de 1815-1816 não foram favoráveis
des Estados. Tal princípio condutor da política do às colheitas e os resultados se fizeram sentir em
Tratado de Viena acabou por designar territórios todos os setores da vida econômica, provocando
a poderes contra a vontade de seus habitantes. A uma depressão geral. Desemprego, altos impos
Bélgica e a Holanda formaram os Países Baixos tos. falência de bancos e de muitas companhias
como um Estado-tam pão contra a França. A N o comerciais caracterizaram esses anos difíceis, que
ruega passou da Dinamarca para a Suécia. O já faziam parte do grande processo de revolução
Palatinado se agregou à Bavária. As províncias industrial descrito anteriormente. Tal situação
alemãs da Saxônia, Vestfália e da Renânia, bem não trazia simpatias políticas ao regime monár
como as polonesas de Posen e Pomorze passaram quico restaurado. O crescimento demográfico ex
à Prússia, incluindo-se também a Pomerânia sue plosivo, acompanhando o desenvolvimento econô
ca. A Alemanha foi constituída em confederação mico que forçou a mudança na técnica de pro
de Estados dominados pela Áustria, englobando dução e na formulação das ciências em toda a ex
a Lombardia e Veneza. A Polônia perdeu a sua tensão, exigiu e formou novas classes, remodelou
independência como Estado, caindo boa parte a organização estatal, criou novas forças políti
de seu território nas mãos da Rússia. Esta obteve cas que disputaram o poder político com a aristo
ainda a Finlândia e a Bessarábia. A Grã-Bretanha, cracia. Banqueiros influentes, financistas e indus
além de conservar boa parte de suas conquistas, triais exigiam a participação na conduta dos as
acabou ganhando M alta e Heligolândia, além das suntos de governo e Estado e começaram a
cotôaias holandesas do Cabo, Ceilão e as Ilhas substituir nobres, clérigos e militares com a í d -
Maurício. A Grã-Bretanha, Prússia, Á ustria e tenção de defenderem seus interesses. A aristo
Rússia se propuseram a manter o estabelecido cracia estava pouco habilitada a enfrentar e di
segundo o princípio do equilíbrio do poder durante rigir uma sociedade política inteiramente trans
muito tempo, mas pouco duraria a união entre os formada e avançando para novos rumos históri
grandes Estados europeus. A Inglaterra se mos cos. A revolução econômica se refletiu nas rela
trava pouco propensa a intervir em outros E sta ções entre os povos europeus e os de outros con
dos para manter o combinado; no Congresso de tinentes, levando à emancipação das colônias
Aix-Ia-Chapelle de 1818 e novamente no de americanas, bem como à abolição da escravatura.
Troppau em 1820, ela se negou a fiscalizar a po A fermentação política caracteriza o período a
lítica européia. T al papel caberia à Áustria, que partir de 1815. Espanha, Portugal, Piemonte e Ná
o aceitou de boa vontade e Metternich tornou-se poles, inspirados na tentativa fracassada da Espa
o cão de guarda do Continente, estabelecendo um nha, de conseguir um a Constituição em 1812, se
sistema de espionagem e repressão contra todo e vêem envoltos por agitações e revoltas que es
qualquer lugar que apresentasse sinais de agita touram nos anos de 1820-1821. Os revoltosos
ção revolucionária. exigem constituições democráticas para os seus
A Restauração trouxe de volta a monarquia países e reinos. E enquanto as tropas austríacas se
e o princípio dinástico, que atTaíram as forças de dispuseram a sufocar os levantes do Piemonte e
maiores oposição contra si. Além do mais, a Igre de Nápoles, as rebeliões em Portugal e Espanha
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luta e obter a independência grega em 1830. Em cípios liberais. Logo em seguida ao levante fran
1826-1827, a Inglaterra também interferiu em cês, uma revolução de caráter nacionalista estou
Portugal, para preservar um governo constitucio rou na Bélgica, que se encontrava unida à Holan
nal. Boa parte dos levantes de 1820-1821, como da, em virtude das resoluções do Congresso de
já dissemos, não foram vitoriosos, mas serviram Viena. A aspiração dos insurretos belgas era a
para pavimentar o caminho que levaria às gran de realizar a separação e criar um reino indepen
des insurreições de 1830. Na França, o Conde dente. Com a ajuda da esquadra inglesa, que
de Artois, sob o nome de Carlos X, provocou a bloqueou a costa da Holanda, os revolucionários
ira dos revolucionários com a sua política osten belgas foram bem sucedidos, impondo como so
sivamente reacionária que chegou a indenizar os berano do novo reino, Leopoldo de Saxe-Cobur-
antigos nobres pelos bens a eles expropriados, go. Em 1839, a Bélgica foi reconhecida como
durante a Revolução de 1789. Os melhores repre reino independente. Em outros lugares da E u
sentantes da vida intelectual francesa e dos cír ropa, tais como nos Estados confederados da Ale
culos liberais lideraram a oposição à monarquia manha, em Hanover, Saxônia e Brunswick irrom
pouco habilidosa de Carlos X , figurando, entre peram revoltas locais que lograram certas conces
eles, Lamartine, Victor Hugo, Thiers e Royer- sões de seus governantes. Em alguns Estados, co
-Collard, que não pouparam esforços em apon mo Baden e Bavária, que já haviam instaurado
tar a política retrógrada do governo. O maior sistemas parlamentares, os liberais chegaram a
embate entre o rei e a opinião pública se deu ter vitórias políticas que favoreceram a liberda
no momento em que Carlos X propôs a supres de de imprensa e permitiram atitudes abertamen
são da liberdade de imprensa contra a vontade te críticas em face da política governamental. Mas
da Câmara, o que levou à dissolução desta. A em 1832, a Áustria e a Prússia forçaram a Con
seguir, o rei assinou as “Ordenações de Julho” federação, em Frankfurt, a aprovar resoluções
que decretavam: a ) a supressão da liberdade que possibilitaram controlar a imprensa e oprimir
de imprensa; b ) a modificação da lei eleitoral, a oposição em todos os Estados germânicos. Na
alterando o censo exigido aos eleitores; c ) a dis Itália e nos Ducados de Parma, de M odena e na
solução da Câm ara; d) a convocação de novas Romagna, que pertenciam ao Papa, o movimen
eleições. Era o que faltava para que se deflagrasse to revolucionário, a partir de fevereiro de 1831,
a insurreição dos grupos republicanos e bonapar- procurará estabelecer regimes constitucionais em
tistas que, com armas, invadem as casas e arrastam lugar dos déspotas do poder e também criar as
atrás de si o povo revoltado. Os amotinados con “províncias unidas da Itália” , como início de uma
seguem enfrentar as tropas legalistas e provo grande unificação nacional. Os austríacos, não
cam a abdicação de Carlos X que se refugiou na consentindo que se chegue a concretizar tal inten
Inglaterra. Tudo indicava que a república como ção poUtica, esmagarão a revolta com os seus
o ideal político almejado pelos insurretos triunfa exércitos. Por fim, as lutas e insurreições de 1830
ria em 1830, mas, na verdade, o novo governo entre forças conservadoras, dinásticas e clericais,
por orientação de Thiers, coube à pessoa de Luís de um lado, e as liberais nacionalistas e republi
Filipe de Orleans, que deu início a uma nova canas, de outro, tornaram-se generalizadas na
realeza, embora mascarada por um soberano bur m aior parte dos territórios do continente euro
guês. As “Ordenações de Julho” e a censura são peu. A maioria dos liberais, que desejava criar
abolidas e o monarca passa a usar o título de regimes parlamentares e representativos, também
“Rei dos Franceses”, que substitui o de “R ei da era nacionalista, e visava à unificação e à inde
França”. No fundo, a revolução dos republicanos pendência das nacionalidades que tinham cons
e bonapartistas levou à criação de um a m onar ciência de suas diferenças em relação às demais.
quia constitucional, inspirada, é verdade, em prin E ra um período favorável às sociedades secretas
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ralistas depositavam suas esperanças políticas no vam-se governos fortes, como o de Schwarzenberg
papado e os republicanos de Mazzini aspiravam a ná Áustria, o de Brandenburg na Prússia, o Car
uma república democrática. A demissão de Metter- deal Antonelli cm Roma. As esperanças das pe
nich favoreceu em geral os levantes dc caráter quenas nacionalidades se desvaneceram em boa
nacionalistas e também o da Itália, mas ainda parte c muitas seriam obrigadas a esperar muito
levaria algum tempo ate que Camilo de Cavour tempo até que lhes fosse dada uma nova oportu
conseguisse chegar à unidade nacional. nidade histórica para realizarem os anseios, de
Autodeterminação. Mas não só as nacionalidades
O Império dos Habsburgo eslava agora sen
saíram frustradas desse período de agitações,
tado sobre um barril de pólvora, pois o movi
também as classes operárias veriam seus sonhos
mento revolucionário adquirira caruter interna
cairem por terra frente à violenta reação con
cional, chegando mesmo ao coração do seu do
servadora. que separou e alertou, atemorizada,
mínio, como evidenciava a rebelião de Lajos Kos-
os antigos aliados burgueses contra a ameaça
suih, na Hungria. Se não fossem as profundas di
do "perigo vermelho" que despontava nos céus
visões internas desses movimentos, eles teriam co
da Europa a .
lhido maiores êxitos políticos.
Na Alemanha e na Áustria, a agjiaçáo po-
VII. Uma palavra final
lítica entre os intelectuais que pregavam a unidade
nacional e uma Constituição que favorecesse a li
berdade política, fizeram com que, em maio de Apesar de tudo, devemos distinguir no século
1848, um corpo representativo se reunisse em XIX. em relação a luta entre o nacionalismo c
Frankfnrt para servir de Assembléia Constituin a legitimidade, dois períodos, o de 1815 a 1851,
te e atender as aspirações nacionalistas do po onde a reação conservadora procura conter a
vo. Os motins populares dc Berlim haviam alcan grande onda revolucionária e manter com certo
çado seu primeiro sucesso efetivo com o Parla equilíbrio o mapa político europeu, e a etapa
mento eleito por sufrágio universal. Porém, a ten- que vai ile 1851 a 1871, quando se dá o triunfo
tiva de oferecer a coroa imperial a Frederico Gui do princípio das nacionalidades em suas bases
lherme da Prússia foi recebida com solene re essenciaisM. Os dois grandes impérios, o Aus
cusa. Mesmo assim, o Parlamento dirigiu-se aos tríaco e o Otomano receberão os golpes mais for
príncipes alemães para realizar a tarefa de uni tes de parte do movimento nacionalista, sendo
ficação n&cional em 1850 com a “União Restri que o primeiro durará até o término da Primeira
ta”, mas um ultim ato austríaco terminou com o Guerra Mundial, enquanto o segundo desmoro
projeto. Com o “recuo de Olmutz", a Alemanha nará às vésperas do grande conflito de 1914.
voltava aos anos anteriores aos da grande onda No Império Austríaco encontramos tchecos, es-
revolucionária. Na Áustria, o Im perador Fernan lovacos, poloneses, eslavos do sul (eslovenos,
do I, pressionado pelas circunstâncias, teve que croatas,» sérvios), húngaros, romenos, além dos
outorgar uma Constituição liberal e favorecer a italianos e dos austríacos de língua alemã. A Sér
criação de um regime parlam entar, porém esse via será uma das primeiras pequenas nacionalida
mesmo im perador sufocou com sangue a subleva- des a conquistar a autonomia, seguindo-se, em
ção dos tchecos. Seu sucessor, Francisco José,
impôs de novo o absolutismo, suprimindo a Cons 2 3 . P ara uma visão de cunjuulo da disptila (Kilitica entre aa
nações européias uo período que vai Uu ttrgiuida m etade do téciilo
tituição outorgada anteriormente. E m fins de X IX aô início dn séculu X X , consultar a obra im portante de
J . P T a y lo b , Th? StruOUie f ú t Xl ostery i« J iu rp pf i I848-IÍM8,
1850, a grande onda revolucionária, iniciada dois O xford, 1960.
anos antes em quase toda a Europa, obtivera
.M , O f R O W u K , F n ;/,• /.V /j y j m j j oi trS, P q ils ,
poucos resultados e, à testa do poder, encontra N o u v eJIt Cllo, 1967, p . 107.
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