Aristoteles
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Aristoteles
Introdução
O Filósofo grego Aristóteles nasceu em 384 a.C., na cidade antiga de Estágira, e morreu em 322 a.C. Seus
pensamentos filosóficos e ideias sobre a humanidade tem influências significativas na educação e no
pensamento ocidental contemporâneo. Aristóteles é considerado o criador do pensamento lógico. Suas obras
influenciaram também na teologia medieval da cristandade.
Aristóteles foi viver em Atenas aos 17 anos, onde conheceu Platão, tornando seu discípulo. Passou o ano de
343 a.C. como preceptor do imperador Alexandre, o Grande, da Macedônia. Fundou em Atenas, no ano de
335 a.C, a escola Liceu, voltada para o estudo das ciências naturais. Seus estudos filosóficos baseavam-se em
experimentações para comprovar fenômenos da natureza.
O filósofo valorizava a inteligência humana, única forma de alcançar a verdade. Fez escola e seus pensamentos
foram seguidos e propagados pelos discípulos. Pensou e escreveu sobre diversas áreas do conhecimento:
política, lógica, moral, ética, teologia, pedagogia, metafísica, didática, poética, retórica, física, antropologia,
psicologia e biologia. Publicou muitas obras de cunho didático, principalmente para o público geral. Valorizava
a educação e a considerava uma das formas crescimento intelectual e humano. Sua grande obra é o livro
Organon, que reúne grande parte de seus pensamentos.
As Quatro Causas
- Causa material: daquilo que a coisa é feita como, por exemplo, o ferro.
- Causa eficiente: aquilo que dá origem a coisa feita como, por exemplo, as mãos de um ferreiro.
- Causa final: seria a função para a qual a coisa foi feita como, por exemplo, cortar carne.
"A educação tem raízes amargas, mas os frutos são doces". Aristóteles (D.L. 5, 18).
- Ética e Nicômano
- Política
- Órganon
- Retórica das Paixões
- A poética clássica
- Metafísica
- De anima (Da alma)
- O homem de gênio e a melancolia
- Magna Moralia (Grande Moral)
- Ética a Eudemo
- Física
- Sobre o Céu
Frases de Aristóteles
"O homem que é prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo quanto diz."
"O homem livre é senhor de sua vontade e somente escravo de sua própria consciência."
"Devemos tratar nossos amigos como queremos que eles nos tratem."
A Vida e as Obras
Aos dezoito anos, em 367, foi para Atenas e ingressou na academia platônica, onde ficou por vinte anos, até à
morte do Mestre. Nesse período estudou também os filósofos pré-platônicos, que lhe foram úteis na
construção do seu grande sistema.
Em 343 foi convidado pelo Rei Filipe para a corte de Macedônia, como preceptor do Príncipe Alexandre, então
jovem de treze anos. De volta a Atenas, em 335, treze anos depois da morte de Platão, Aristóteles fundava,
perto do templo de Apolo Lício, a sua escola. Daí o nome de Liceu dado à sua escola, também
chamada peripatética devido ao costume de dar lições, em amena palestra, passeando nos umbrosos
caminhos do ginásio de Apolo. Esta escola seria a grande rival e a verdadeira herdeira da velha e gloriosa
academia platônica. Morto Alexandre em 323, desfez-se politicamente o seu grande império e despertaram-se
em Atenas os desejos de independência, estourando uma reação nacional, chefiada por Demóstenes.
Aristóteles, malvisto pelos atenienses, foi acusado de ateísmo. Preveniu ele a condenação, retirando-se
voluntariamente para Eubéia, Aristóteles faleceu, após enfermidade, no ano seguinte, no verão de 322. Tinha
pouco mais de 60 anos de idade.
Aristóteles dedicou sua vida à investigação científica. A atividade literária de Aristóteles foi vasta e intensa,
como a sua cultura e seu gênio universal. Escreveu sobre todas as ciências, constituindo algumas desde os
primeiros fundamentos, organizando outras em corpo coerente de doutrinas e sobre todas espalhando as
luzes de sua admirável inteligência. Não lhe faltou nenhum dos dotes e requisitos que constituem o
verdadeiro filósofo: profundidade e firmeza de inteligência, agudeza de penetração, vigor de raciocínio, poder
admirável de síntese, faculdade de criação e invenção aliados a uma vasta erudição histórica e universalidade
de conhecimentos científicos.
I. Escritos lógicos: cujo conjunto foi denominado Órganon mais tarde, não por Aristóteles. O nome, entretanto,
corresponde muito bem à intenção do autor, que considerava a lógica instrumento da ciência.
II. Escritos sobre a física: abrangendo a hodierna cosmologia e a antropologia, e pertencentes à filosofia
teorética, juntamente com a metafísica.
III. Escritos metafísicos: a Metafísica famosa, em catorze livros. É uma compilação feita depois da morte de
Aristóteles mediante seus apontamentos manuscritos, referentes à metafísica geral e à teologia. O nome
de metafísica é devido ao lugar que ela ocupa na coleção de Andrônico, que a colocou depois da física.
IV. Escritos morais e políticos: a Ética a Nicômaco, em dez livros, provavelmente publicada por Nicômaco, seu
filho, ao qual é dedicada; a Ética a Eudemo, inacabada, refazimento da ética de Aristóteles, devido a Eudemo;
a Grande Ética, compêndio das duas precedentes, em especial da segunda; a Política, em oito livros,
incompleta.
V. Escritos retóricos e poéticos: a Retórica, em três livros; a Poética, em dois livros, que, no seu estado atual, é
apenas uma parte da obra de Aristóteles. As obras de Aristóteles as doutrinas que nos restam - manifestam
um grande rigor científico, sem enfeites míticos ou poéticos, exposição e expressão breve e aguda, clara e
ordenada, perfeição maravilhosa da terminologia filosófica, de que foi ele o criador.
O Pensamento: A Gnosiologia
Segundo Aristóteles, a filosofia é essencialmente teorética: deve decifrar o enigma do universo, em face do
qual a atitude inicial do espírito é o assombro do mistério. O seu problema fundamental é o problema do ser,
não o problema da vida. A filosofia aristotélica parte da experiência; é dedutiva, mas o ponto de partida da
dedução é tirado - mediante o intelecto da experiência. A filosofia, pois, segundo Aristóteles, dividir-se-ia
em teorética, prática e poética, abrangendo, destarte, todo o saber humano, racional. Aristóteles é o criador
da lógica. A ciência e a filosofia - conforme Aristóteles, bem como segundo Platão - tem como objeto o
universal e o necessário. No sentido estrito, a filosofia aristotélica é dedução do particular pelo universal,
explicação do condicionado mediante a condição, porquanto o primeiro elemento depende do segundo. O
fenômeno particular depende da lei universal e o efeito da causa. O seu processo característico, clássico, é o
silogismo. O universal, o necessário, o inteligível, é anterior ao particular, ao contigente, ao sensível: mas,
gnosiologicamente, psicologicamente existe primeiro o particular, o contigente, o sensível, que constituem
precisamente o objeto próprio do nosso conhecimento sensível, que é o nosso primeiro conhecimento.
Aristóteles elaborou uma doutrina de indução.
Aristóteles reconhece que é impossível uma indução completa, nos restando apenas a possível indução
incompleta, mas certíssima, no sentido de que os elementos do juízo os conceitos são tirados da experiência.
Filosofia de Aristóteles
Partindo como Platão do mesmo problema acerca do valor objetivo dos conceitos, mas abandonando a
solução do mestre, Aristóteles constrói um sistema inteiramente original. Os caracteres desta grande síntese
são:
1. Observação fiel da natureza - Aristóteles busca na realidade um apoio sólido às suas mais elevadas
especulações metafísicas.
2. Rigor no método - Aristóteles procede por partes separadas para não dar razão ao erro.
3. Unidade do conjunto - Sua vasta obra filosófica constitui um verdadeiro sistema, uma verdadeira síntese.
Todas as partes se compõem, se correspondem, se confirmam.
A Teologia
Objeto próprio da teologia é o primeiro motor imóvel, ato puro, o pensamento do pensamento, isto é, Deus, a
quem Aristóteles chega através de uma sólida demonstração. Deus, o real puro, é aquilo que move sem ser
movido; a matéria, o possível puro, é aquilo que é movido, sem se mover a si mesmo. Deus não pode agir e
querer, mas unicamente conhecer e pensar, conhecer a si próprio e pensar em si mesmo. Deus é, portanto,
pensamento de pensamento, pensamento de si, que é pensamento puro.
A Moral
A característica fundamental da moral aristotélica é, portanto, o racionalismo, visto ser a virtude ação
consciente segundo a razão, que exige o conhecimento absoluto, metafísico, da natureza e do universo,
natureza segundo a qual e na qual o homem deve operar.
A razão aristotélica governa, domina as paixões, não as aniquila e destrói, como queria o ascetismo platônico.
A virtude ética é uma ação com ciência.
Pelo que diz respeito à virtude, tem, ao contrário, certamente, maior valor uma outra doutrina aristotélica:
precisamente a da virtude concebida como hábito racional.
Aristóteles sustenta o primado do conhecimento, do intelecto, da filosofia, sobre a ação, a vontade, a política.
A Política
A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do estado é a virtude, isto é, a
formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso
O estado, então, é superior ao indivíduo, porquanto a coletividade é superior ao indivíduo, o bem comum
superior ao bem particular.
Segundo Aristóteles, a família compõe-se de quatro elementos: os filhos, a mulher, os bens, os escravos; além,
naturalmente, do chefe a que pertence a direção da família. Deve ele guiar os filhos e as mulheres, em razão
da imperfeição destes. Deve fazer frutificar seus bens, porquanto a família, além de um fim educativo, tem
também um fim econômico. E, como ao estado, é-lhe essencial a propriedade, pois os homens têm
necessidades materiais. No entanto, para que a propriedade seja produtora, são necessários instrumentos
inanimados e animados; estes últimos seriam os escravos.
O fim da educação é formar homens mediante as artes liberais, importantíssimas a poesia e a música, e não
máquinas, mediante um treinamento profissional.
De qualquer maneira a condição indispensável para uma boa constituição, é que o fim da atividade estatal
deve ser o bem comum e não a vantagem de quem governa despoticamente.
A Metafísica
A metafísica aristotélica é "a ciência do ser como ser, ou dos princípios e das causas do ser e de seus atributos
essenciais". Podem-se reduzir fundamentalmente a quatro as questões gerais da metafísica aristotélica:
potência e ato, matéria e forma, particular e universal, movido e motor. A primeira e a última abraçam todo o
ser, a segunda e a terceira todo o ser em que está presente a matéria.
I. Todo ser, que não seja o Ser perfeitíssimo, é portanto uma síntese - um sínolo - de potência e de ato, em
diversas proporções, conforme o grau de perfeição, de realidade dos vários seres.
II. Segundo Aristóteles, a mudança, que é intuitiva, pressupõe uma realidade imutável, que é de duas espécies.
Um substrato comum, elemento imutável da mudança, em que a mudança se realiza; e as determinações que
se realizam neste substrato, a essência, a natureza que ele assume. Não existe forma sem a matéria, ainda que
a forma seja princípio de atuação e determinação da própria matéria.
III. Mediante a doutrina da matéria e da forma, Aristóteles explica o indivíduo, a substância física, a única
realidade efetiva no mundo, que é precisamente síntese - sínolo - de matéria e de forma. A essência - igual em
todos os indivíduos de uma mesma espécie - deriva da forma. O indivíduo é, portanto, potência realizada,
matéria enformada, universal particularizado. Mediante esta doutrina é explicado o problema do universal e
do particular.
IV. Da relação entre a potência e o ato, entre a matéria e a forma, surge o movimento, a mudança, o vir a ser,
a que é submetido tudo que tem matéria, potência. A mudança é, portanto, a realização do possível. Mesmo
que um ser se mova a si mesmo, aquilo que move deve ser diverso daquilo que é movido, deve ser composto
de um motor e de uma coisa movida. Eis a grande doutrina aristotélica do motor e da coisa movida, doutrina
que culmina no motor primeiro, absolutamente imóvel, ato puro, isto é, Deus.
A Psicologia
A característica da vida do homem, que tem por princípio a alma racional, é o pensamento. O corpo humano
não é obstáculo, mas instrumento da alma racional, que é a forma do corpo. O homem é um animal racional,
quer dizer, não é um espírito puro, mas um espírito que anima um corpo animal.
A Cosmologia
Uma questão geral da física aristotélica, como filosofia da natureza, é a análise dos vários tipos de movimento,
mudança, que já sabemos ser passagem da potência ao ato, realização de uma possibilidade. Aristóteles
distingue quatro espécies de movimentos:
As Quatro Causas
Para ele, a investigação filosófica é acima de tudo uma investigação sobre as causas das coisas, das
quais há quatro diferentes tipos:
1. A causa material
2. A causa eficiente
3. A causa formal
4. A causa final
Os primeiros filósofos, que viviam na área costeira da Grécia, na Ásia Menor, concentram-se na
causa material: eles buscavam os ingredientes fundamentais do mundo em que vivemos. Tales e os
que o sucederam propuseram a seguinte questão: Em que nível fundamental, seria o mundo feito de
água, ar, fogo, terra ou de uma combinação de todas essas causas?
Aristóteles pensava que mesmo se tivéssemos uma resposta para esta questão isso claramente não
bastaria para satisfazer nossa curiosidade científica.
Nesse ínterim, na atual Itália – e mais uma vez de acordo com Aristóteles -, havia em torno
a Pitágoras filósofos de inclinação matemática cujas investigações tomaram um rumo bem
diverso. Os pitagóricos tinham mais interesse no números da receita do mundo do que os próprios
ingredientes. Ele supunham, diz Aristóteles, que os elementos dos números eram os elementos de
todas as coisas, e que o universo inteiro era uma escala musical. Eles foram inspirados na busca por
sua descoberta de que a relação entre as notas de um escala tocada em uma lira correspondia a
diferentes razões numéricas entre os cumprimentos de suas cordas. A partir disso, eles
generalizaram a noção de que as diferenças qualitativas poderiam ser a consequência de diferenças
numéricas. Sua investigação, nas palavras de Aristóteles, foi uma investigação sobre as causas
formais do universo.
Chegando a seus predecessores imediatos, Aristóteles afirma que Sócrates preferiu concentrar-se
na ética antes que no estudo do mundo natural, enquanto Platão, em sua teoria filosófica,
combinou as abordagens das escolas de Tales e Pitágoras.
Pitágoras é mais célebre não por ter respondido a qualquer das questões aristotélicas, mas por
provar o teorema que afirmava que o quadrado da hipotenusa de um triângulo-retângulo é igual à
soma dos quadrados dos lados a ela opostos. Quanto a Tales, os gregos a ele posteriores acreditavam
ter sido o primeiro a fazer uma previsão exata de um eclipse, no ano 585 a.C. Os dois feitos,
seguramente, são conquistas nos campos da geometria e da astronomia, mas não da filosofia.
O fato é que a distinção entre religião, ciência e filosofia não era então tão nítida quando veio a ser
em séculos posteriores. As obras de Aristóteles e de seu mestre Platão forneceram um modelo de
filosofia para qualquer é época, e até hoje qualquer um que faça uso do título de filósofo alega ser
um de seus herdeiros. Escritores de publicações de filosofia do século XX podem ser observado
utilizando as mesmas técnicas de análise conceitual, e com frequência repetindo ou refutando os
mesmo argumentos teóricos, exatamente como se apresentam nos escritos de Platão e Aristóteles.
Mas naqueles escritos há muito mais que não seria atualmente considerado discussão filosófica. A
partir do século VI, elementos de religião, ciência e filosofia fermentaram juntos em um único caldo
de cultura. Do nosso ponto de vista temporal, filósofos, cientistas e pensadores podem todos
recordar esses primeiros pensadores como seus antepassados intelectuais.
A peculiaridade que se nota nos gregos seria a que houve um rompimento da concepção mítica do Oriente
Próximo e, tendo em vista que, imaginaram uma nova forma de considerar a natureza e a sociedade, que é a
base da tradição filosófica e científica do Ocidente.
Esse processo tem início na altura do século V a.C, quando alguns pensadores rejeitaram as explicações
míticas dos fenômenos naturais. No entanto, isso não significa, que o restante da população não tenha
deixado de crer nos antigos deuses, para eles o mundo continuava a ser controlado pelas forças divinas.
Nesse contexto histórico e de desenvolvimento social, verificamos que para Pitágoras e seus seguidores, que
viveram nas cidades gregas da Itália meridional, a natureza das coisas não estava numa substância particular
mas em relações matemáticas. Descobriram os pitagóricos que os intervalos na escala musical podiam ser
expressos de forma matemática.
Pitágoras (580 a.C – 572 a. C ; 500 a.C – 490 a.C) enfatizou, outrossim, que a peculiaridade dos homens é que eles
sabem que não sabem, e isso diferentemente de não saber, como é o caso dos animais, segundo seu
entendimento, acarreta na própria consolidação do pensamento filosófico, tendo em vista que, por saber que
não sabe, haverá uma busca pela sabedoria ocasionando, portanto, na origem da filosofia.
Esse pensador pretendeu, também, que a educação ética da escola se tornasse uma reforma política, no entanto,
essa pretensão causou inquietações a diversos indivíduos de seu meio social. Para melhor compreender o que se
trata essa reforma, cito a frase: " Educai as crianças e não será preciso punir os homens". Assim, notamos que a
educação torna-se fundamental para o desenvolvimento de indivíduos conscientes de sua inserção na sociedade
e ciente, portanto, de seus deveres e direitos como cidadãos.
Adentrando as idéias de Sócrates (470 a.C – 399 a. C), notamos que existe uma crítica aos sofistas, mais
precisamente, quando ele explana que eles "ensinavam o ambicioso a triunfar na política, mas a oratória da
persuasão e o raciocínio inteligente não instruíram o homem na arte de viver".
Sócrates acreditava que os filósofos anteriores não haviam oferecido ao indivíduo nada que o pudesse substituir
construtivamente o antigo sistema de crenças. Suas ideias, portanto, se relacionam na valorização a perfeição do
caráter de cada homem com as conquistas de uma excelência moral. Nesse sentido, que podemos realizar
maiores reflexões do significado de educação para esse filósofo, tendo em vista que essa excelência moral, não se
originava de um Deus transcendental como acreditavam os hebreus. Ela era atingida quando o indivíduo pautava
sua vida por padrões objetivos alcançados por meio de uma reflexão racional, isto é, quando a razão se torna o
instrumento formador, orientador e condutor da alma.
Portanto, para Sócrates a educação significava a formação do caráter dos indivíduos desenvolvido através do uso
ativo e crítico da razão.
A prática do diálogo significava que a razão devia ser usada nas relações entre os indivíduos, afim de eles
aprenderem entre si, ajudar-se e aperfeiçoar-se mutuamente. Desse modo, percebemos a forma que Sócrates
entendia o processo de aprendizagem interligado com o tratamento racional a si mesmo e ao outro, que seria
a marca distintiva do ser humano.
Platão (428/27 a.C – 348/47 a. C) usou dos ensinamentos de Sócrates para realizar um sistema filosófico
amplo no qual ficou conhecido como "Teoria das Ideias", sendo nada mais que os padrões considerados
imutáveis, eternos, absolutos e universais.
Como paladino da razão, procurou estudar e organizar a vida humana mediante modelos universalmente
válidos, com intento de consolidar uma transformação moral do indivíduo através do pensamento racional.
Esse filósofo rejeitava o princípio fundamental da democracia ateniense, no qual o cidadão comum era
considerado capaz de participar dos negócios públicos. Nesse vez, que torna-se possível atingir uma melhor
percepção sobre o papel da educação e da infância para Platão.
Esse pensador realizou uma crítica aos amadores que tomavam as rédeas do governo e aos que
supervisionavam a educação dos jovens. Para ele, somente os dentetores de um conhecimento legítimo,
possuirão competência para tais funções.
Segundo Marvin Perry, Platão dizia que na sociedade existiam três grupos: os com a capacidade de filosofar,
que deveriam ser os governantes, os que possuíam uma coragem excepcional, que deveriam ser os soldados e
os guiados pelos desejos, aqui se encaixariam os comerciantes, agricultores e artesãos. Nesse sentido, na
obra A República, notamos que os filósofos deveriam ser selecionados por meio de um rigorosos sistema de
educação aberto a todas as crianças, portanto, as que não demonstrassem inteligentes, estavam relegadas a
outras funções, como guerreiro, por exemplo, dependendo de suas aptidões naturais.
Depois, portanto, de muitos anos de educação é que os indivíduos estariam prontos a exercer o poder
político. Aqueles filósofos que receberam uma educação adequada não buscariam riqueza ou poder pessoal;
estariam preocupados em ser justos e servir a comunidade.
Seguindo o debate proposto, deparamos com Aristóteles (384 a.C – 322 a. C), situando-se no "ápice do
pensamento grego", ele organiza e sistematiza os pensamentos dos pré-socráticos, de Sócrates e de Platão.
Através da crítica da "Teoria das Ideias" de Platão, Aristóteles tentava trazer a filosofia "de volta a Terra",
argumentando que aquelas formas não se situavam num mundo exterior mas existiam nas próprias coisas em
si. Ele reforça a importância do conhecimento por meio de um exame racional da experiência sensória, o que
propiciou o desenvolvimento das ciências empíricas, tais como a física, a biologia e a zoologia, que se
fundamentavam na observação e investigação da natureza.
Considero que, para Aristóteles, o desenvolvimento educacional dos homens se fundamenta na premissa em
que as pessoas não são inteiramente racionais, no entanto, elas podem aprender a dominar seus desejos e
alcançar o bem estar moral, por muitas vezes, escolhendo racionalmente o caminho da moderação. Sendo
assim, notamos, em seu pensamento, uma relação entre a felicidade dos indivíduos interligada com o uso da
razão e a busca para uma consolidação de uma "vida questionada" acarretando em um comportamento
baseado na inteligência.
Mesmo com esses pequenos recortes abordados, tornou-se possível realizar reflexões de temas relacionados à
educação e ao conhecimento que a sociedade grega deixou como herança para o futuro do Ocidente. Esses
pensadores viveram em um momento histórico de transição de mentalidade, no qual o caminho para a busca
da verdade é redefinido, os velhos deuses são deixados de lado e a razão, apesar de não pensada da mesa
forma por todos os filósofos, ganha espaço para explicar a realidade em si, da forma em que ela se apresenta
para esses homens.
Analisando os escritos de Paulo Ghiraldelli Jr., verificamos a possibilidade de realizar maiores reflexões em
relação a ideia de "filosofia da educação", tendo em vista o período histórico que o autor analisa, no qual seus
autores são considerados "os filósofos da modernidade".
Segundo Ghiraldelli,
As filosofias elaboradas por Descartes e Rousseau, bem como as tradições que elas originariam, podem ser
consideradas filosofias da educação por duas razões: a) pretenderam fundamentar todo e qualquer saber e,
nesse sentido, também o saber pedagógico, a própria pedagogia moderna, b) determinaram o caminho da
"busca da verdade" (afinal a "a busca da verdade" é, como sabemos, a tarefa tradicional da filosofia) (...).
Adentrando, dessa forma, para os escritos de René Descarte (1596 – 1650) torna-se possível realizar um
paralelo com o mundo antigo no que remete ao "escândalo da condição humana", uma vez que para Platão
isso se devia ao simples fato de homem estar no mundo, e para Descartes seria que o homem está fadado a
começar por ser criança.
Desse modo, justamente, por sermos crianças é que estávamos sob o governo de apetites e de preceptores,
isto é, o corpo e a cultura. Nesse sentido, o filósofo moderno decorrerá que a causa dos nossos erros deriva
dos preconceitos de nossa infância. Não obstante, quando René afirma que é na substituição da criança para
o homem que existem possibilidades de se formar um sujeito de conhecimento, ele não está desconsiderando
a infância, pelo ao contrário, está hipervalorizando, mesmo que negativamente, como afirma Ghiraldelli.
O historiador Phillipe Ariés, na obra História social da criança e da família, já nos apontava que a forma como
os homens da Europa Ocidental entendiam sobre o que é ser criança, mudou ao longo do tempo e que nem
sempre a ideia de infância existiu na estrutura social, como por exemplo, nos tempos medievais as crianças
eram vistas como pequenos adultos. Já na concepção de Descartes, a criança não é mais esse adulto em
miniatura, nem a infância considerada expressão de inocência, ela já aparece como parte de um patamar para
os indivíduos chegarem na vida adulta racional.
Mas, então, chegamos aos pensamentos de Rousseau que colocará mais alguns ingredientes para realizar
nosso perigoso intento de compreender algumas ideias sobre educação e infância, desde dos tempos de
Pitágoras.
Diferentemente de Descartes, que a verdade estava dada ao sujeito de conhecimento, em Rousseau (1712 –
1778), ela se põe a uma subjetividade mais individualizada, ligada a intimidade. Sendo assim, analisamos o
seguinte trecho de Ghiraldelli para entendermos essa afirmação:
Em Rousseau a verdade é, no limite, avalizada pelo coração, e se no coração não há perversidade original –
como ele de fato afirma com a frase "o homem nasce bom mas a sociedade o corrompe"-, então a
subjetividade íntima melhor se apresenta na infância; eis então que, ao contrário de Descartes, para quem a
infância é uma ameaça a filosofia, com Rousseau, diríamos, ela é condição essencial para o desenvolvimento
da filosofia como tarefa de busca da verdade.
A valorização da infância, para a concepção de Rousseau, ocorre porque nela o filósofo encontra uma maior
proximidade com a natureza humana. Em relação as questões educacionais, " a filosofia da educação
romântica, prognosticada em Rousseau, quer ver o homem como pessoa harmoniosamente desenvolvida,
capaz do autêntico sentimento de verdade’’. (GHIRALDELLI, pp 18)
O que observamos, nesses dois primeiros pensadores, corresponderia a uma educação relacionada com a
filosofia do sujeito, ou seja, a questão era como fazer da criança um homem. Essa forma de raciocínio, será
criticada quando o ponto de chegada desse projeto pedagógico, isto é, o sujeito, sofrer questionamentos
contundentes. Paulo Ghiraldelli nos evidencia que essa desconstrução está baseada nos escritos de Darwin,
Marx, Nietzsche, Freud e Wittgenstein.
Considerado o último pensador dos "filósofos da modernidade", Immanuel Kant (1724 – 1804) decorrerá
importantes escritos, no que tangem as questões que envolvem a educação e o aprendizado. Seguindo a linha
que é através da educação que se forma o sujeito, o filósofo escreve bastante sobre liberdade, pensamento
próprio e esclarecimento.
Segundo seus escritos, o homem precisa ser educado, por isso, deve-se ter um cuidado com sua infância. Por
meio da disciplina, ocorre a conversão da animalidade em humanidade, tendo em vista que o homem por não
ter instinto, deve formar por si o projeto de sua conduta, por isso, existe sua necessidade de cuidados e
formação.
Entende-se por educação, então, a arte a ser aperfeiçoada por várias gerações e que será capaz de tirar os
homens de sua selvageria. Desse modo, os indivíduos serão treinados, disciplinados e instruídos. Kant sustenta
que não seria suficiente, apenas treinar as crianças tornando-se importante, também, fazê-las aprenderem a
pensar, portanto, a educação e a instrução necessitariam apoiar-se em princípios.
Um dos problemas da arte de educar, para esse autor, corresponderia o como conciliar a submissão dos
educandos ao constrangimento das leis, uma vez que a liberdade estaria submetida ao constrangimento de
um terceiro. O que compreendi como uma possível solução para essa questão, pelos escritos do autor, seria
provar aos educandos que o constrangimento imposto possui uma finalidade, ou seja, ensinar e usar bem da
liberdade que está sendo educada para o educando ser livre um dia, para, doravante, dispensar os cuidados
de outro.