Aplicacoes Da Psicoeducacao No Contexto PDF
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Aplicacoes Da Psicoeducacao No Contexto PDF
ISSN: 2175-3652
Sociedade Brasileira de Psicologia
DOI: 10.9788/TP2017.1-02
Resumo
A psicoeducação é uma técnica que relaciona os instrumentos psicológicos e pedagógicos com obje-
tivo de ensinar o paciente e os cuidadores sobre a patologia física e/ou psíquica, bem como sobre seu
tratamento. Assim, é possível desenvolver um trabalho de prevenção e de conscientização em saúde. O
presente trabalho tem como objetivo investigar o uso da psicoeducação no âmbito da saúde relatando
a sua aplicabilidade nas doenças físicas e mentais, bem como seu envolvimento nessa área. O método
consiste em uma revisão sistemática da literatura cuja palavra-chave utilizada foi “psicoeducação” nas
bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), PePSIC
(Periódicos Eletrônicos de Psicologia) e SciELO (Scientific Electronic Library Online). Em um total de
59 artigos, foram incluídos 29. Destes, 9 artigos eram repetidos, resultando em um total de 20 estudos.
A psicoeducação pode ser utilizada tanto para transtornos psicológicos quanto para doenças orgânicas,
correspondendo a 85% e 15% dos artigos, respectivamente. Ela pode ser aplicada tanto em cuidadores
quanto em pacientes, correspondendo a 40% e 45% dos estudos, respectivamente. A sua técnica pode
ser aplicada nos seguintes contextos: cuidados paliativos, doenças crônicas, grupoterapia e saúde pú-
blica. A partir dos resultados e da discussão, a psicoeducação é uma técnica que possui aplicações em
diversas áreas da saúde, englobando transtornos psicológicos e doenças orgânicas.
Palavras-chave: Psicoeducação, intervenção, saúde.
Abstract
Psychoeducation is an approach that relates psychological and pedagogical tools having as its objective
the teaching directioned to patients and caregiver about physical and/or psychic pathology and its tre-
atment as well. Thus, it is possible to develop a prevention and awareness work in health. The present
work has as its aim to investigate the usage of psychoeducationin the area of health relating its appli-
cation in mental and physical illnesses and its involvement in the area as well. The method consists of
a systematic review of literature whose keyword is “psycho education”, and its results were found in
the following data basis: LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde),
PePSIC (Periódicos Eletrônicos de Psicologia) and SciELO (Scientific Electronic Library Online). To-
talizing 59 articles, only 29 were used. It is possible to conclude that psycho education can be used for
1
Endereço para correspondência: Avenida Anita Garibaldi, 2381, Boa Vista, Porto Alegre, RS, Brasil. Fones:
(051) 999595949 / (051) 999595914. E-mail: ninablemes@gmail.com e j.ondere@gmail.com
18 Lemes, C. B., Ondere Neto, J.
both psychological disorders and organic illnesses, as in 85% and 15% of the articles respectively. It
can be applied for both caregivers (30% of the studies) and patients (45% of the studies). Its technique
can be practiced in the following contexts: palliative care, chronic diseases, group therapy, and public
health. From the results and the discussion it is possible to notice that psycho education is a technique
that contains applications in many health areas, covering psychological disorders and organic illnesses.
Keywords: Psychoeducation, intervention, health.
Resumen
Psicoeducación es una técnica que relaciona las herramientas psicológicas y pedagógicas con el fin de
enseñar a los pacientes y cuidadores sobre la condición física y/o psíquica, así como su tratamiento. Así
que se puede desarrollar un trabajo de prevención y de concienciación sobre la salud. Este estudio pre-
tende investigar el uso de la psicoeducación en salud informando sobre su aplicabilidad en las enferme-
dades físicas y mentales, así como su participación en este ámbito. El método consiste en una revisión
sistemática de la literatura, cuya palabra clave “psicoeducación” fue buscada en las siguientes bases de
datos: LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), PePSIC (Periódicos
Eletrônicos de Psicologia) y SciELO (Scientific Electronic Library Online). En un total de 59 artículos
fueron utilizados 29. De estos, nueve artículos se repitieron, dando lugar a un corpus de 20 estudios.
Por lo tanto se concluyó que la psicoeducación puede ser utilizada tanto para los trastornos psicológicos
cuanto para enfermedades orgánicas, que corresponde a 85% y el 15% de los artículos, respectivamente.
Se puede aplicar tanto a los cuidadores (30% de los estudios) y a los pacientes (45% de los estudios).
Su técnica se puede practicar en estos contextos: cuidados paliativos, enfermedades crónicas, terapia de
grupo y salud pública. A partir de los resultados y de la discusión, parece que la psicoeducación es una
técnica que tiene aplicaciones en muchas áreas de la salud, que abarca trastornos psicológicos y enfer-
medades orgánicas.
Palabras clave: Psicoeducación, intervención, salud.
A psicoeducação é uma intervenção psico- a maneira mais efetiva para auxiliar as pessoas é
terapêutica a qual tem como objetivo enfocar ensiná-las a se ajudarem, propiciando conscien-
mais as satisfações e ambições relacionadas aos tização e autonomia (Authier, 1977).
objetivos almejados pelo paciente do que uma O modelo psicoeducacional envolve dife-
técnica voltada para curar determinada doença rentes teorias psicológicas e educativas, além
(Authier, 1977). Segundo o autor, a psicoeduca- disso, utiliza dados teóricos de outras disciplinas
ção propiciou uma maneira de auxiliar o trata- como a educação, a filosofia, a medicina e en-
mento das doenças mentais a partir das mudan- tre outras com intuito de ampliar o fornecimen-
ças comportamentais, sociais e emocionais cujo to de informações ao paciente para que obtenha
trabalho permite a prevenção na saúde. Dessa um entendimento não fragmentado acerca de
forma, a psicoterapia iniciou um processo de ter seu diagnóstico (Cole & Lacefield, 1982). Sen-
um caráter também educativo tanto para o pa- do assim, as informações teóricas de distintas
ciente quanto para seus cuidadores cujo objetivo disciplinas são fornecidas no sentido de que o
é ensiná-los sobre o seu tratamento psicoterápico paciente possa obter um entendimento holístico
para que possam ter consciência e preparo para de seu padecimento. Também não há apenas um
lidar com as mudanças a partir de estratégias de ambiente em que a psicoeducação possa ser em-
enfrentamento, fortalecimento da comunicação e pregada, ela pode ser utilizada em instituições
da adaptação (Bhattacharjee et al., 2011). Assim, hospitalares, ambulatoriais, militares, industriais
Aplicações da Psicoeducação no Contexto da Saúde. 19
e educacionais (Cole & Lacefield, 1982). Inclu- envolver um grupo propiciando a ele a conscien-
sive, o uso da psicoeducação, como recurso tera- tização de seus comportamentos, ideologias e va-
pêutico, pode ser realizado via internet (Wood, lores sociais, a psicoeducação cognitivo-afetiva
Brendro, Fecser, & Nichols, 1999). Os autores que engloba a relação recíproca entre o aspecto
também destacam que, além das diferentes áreas afetivo e cognitivo, a psicoeducação ecológica e
disciplinares e instituições em que a psicoedu- a psicoeducação do desenvolvimento (Wood et
cação pode ser utilizada, é possível aplicá-la em al., 1999).
diferentes problemáticas como: terapia de luto, Em um trabalho de familiares com pacien-
comportamento passivo-agressivo, ansiedade in- tes diagnosticados com Alzheimer, Rahmani,
fantil, redução de estresse e etc. Ranjbar, Ebrahimi, e Hosseinzadeh (2015) rea-
A Psicoeducação teve seu início em 1970, lizaram uma pesquisa para investigar se a psi-
surgindo como um modelo que envolve o para- coeducação é uma técnica que possui eficácia.
digma da complexidade da espécie humana, nes- Para isso, aplicaram o Questionário OMI, que
se caso, ela envolve distintas disciplinas e teorias avalia as atitudes frente à pessoa com deficiên-
que podem ser inter-relacionadas para compre- cia mental, em um grupo experimental antes e
ender e aplicar suas técnicas frente ao adoeci- depois da psicoeducação; em um grupo controle,
mento do indivíduo (Wood et al., 1999). No en- aplicaram o OMI sem realizar a intervenção. A
tanto, a ressalva dos autores é que esse modelo, o partir dos resultados obtidos, foi possível veri-
qual pretende englobar as diferentes dimensões ficar que, a partir da aplicação psicoeducativa,
do humano, não pode ser aplicado de qualquer o grupo experimental teve um aumento de 80%
maneira, ou seja, deve haver um método siste- em suas atitudes positivas frente ao paciente
mático com aplicação de testes e de técnicas es- com Alzheimer, enquanto o grupo controle teve
pecíficas para averiguar qual é o procedimento 28,57%. Portanto, a psicoeducação possui dados
psicoeducativo que possibilita resultados positi- que comprovam a sua eficácia a partir do ques-
vos. Isso justifica o desenvolvimento de projetos tionário utilizado.
e de pesquisas acerca da psicoeducação desde Por fim, há uma pesquisa que teve como ob-
seu surgimento até hoje, onde buscam explorar jetivo investigar se a psicoeducação promove in-
as evidências de sua eficácia como técnica psi- sight em pacientes com esquizofrenia (Ruzanna,
coterapêutica. Marhani, Parveen, & Cheah, 2010). Os autores
Wood et al. (1999) sugerem separar o ter- obtiveram a confirmação de diagnóstico de es-
mo, a parte psico se refere ao âmbito das teorias quizofrenia a partir da Mini International Neu-
e técnicas psicológicas existentes; a educação, ropsychiatric Interview (MINI) em 70 pacientes,
por sua vez, está relacionada à área pedagógica então, avaliaram-nos utilizando a Schedule for
a qual envolve o processo de ensino-aprendi- the Assessment of Insight (SAI), que consiste em
zagem. Nesse caso, a psicoeducação engloba o uma escala que investiga a capacidade de insi-
desenvolvimento social, emocional e comporta- ght, antes do programa de psicoeducação. A par-
mental do sujeito, sendo que o profissional atua tir da intervenção psicoeducacional, os autores
como um agente de mudanças, fornecendo assis- aplicaram a SAI e obtiveram, como resultado,
tências às habilidades adquiridas e propiciando quase o dobro da capacidade de insight (3,40
práticas que tenham embasamento científico ao para 6,34). Portanto, foi possível verificar, a par-
paciente. Sendo assim, existe a psicoeducação tir dos dados da SAI, que a psicoeducação é uma
psicodinâmica voltada mais para os aspectos técnica que possui eficácia para pacientes com
afetivos e conflitivos do sujeito, a psicoeduca- diagnóstico de esquizofrenia.
ção comportamental a qual enfoca as mudanças Portanto, a psicoeducação é um modelo
comportamentais utilizando a observação do complexo, visto que envolve diferentes teorias
comportamento e desenvolvendo um programa e técnicas tanto psicológicas quanto pedagógi-
de reforço ou positivo ou negativo, a psicoe- cas voltadas ao âmbito social, comportamental
ducação sociológica a qual tem como proposta e cognitivo do indivíduo, possibilitando uma
20 Lemes, C. B., Ondere Neto, J.
compreensão multiperspectival a qual envolve o ídos, visto que não cumprem com o objetivo do
adoecimento. Como visto, a psicoeducação pode presente trabalho.
ser empregada em diferentes locais e problemá- Na base de dados da LILACS foram encon-
ticas, sendo seu uso de significativa importância, trados um total de 26 artigos, destes, foram in-
pois tem como objetivo realizar prevenção, pro- cluídos 12 na amostra, pois os demais não estão
moção e educação em saúde. Além disso, a partir dentro do período de cinco anos. Na base PePSIC,
dos estudos de Chien (2008) e de Rahmani et al. obteve-se 13 artigos sendo que 8 foram excluídos
(2015), é possível verificar que os dados obtidos pelo mesmo motivo citado. Já na base SciELO,
a partir dos instrumentos utilizados comprovam foram encontrados 20 artigos e 9 foram excluídos
a eficácia da psicoeducação. também em função da data. Assim, em um total
de 59 artigos, foram incluídos 29. Destes, 9 eram
Objetivo repetidos, resultando em um total de 20 estudos
Investigar o uso da psicoeducação no âm- para serem discutidos no presente trabalho.Vale
bito da saúde relatando a sua aplicabilidade nas destacar que os quadros de Alzheimer e demên-
doenças físicas e mentais, bem como seu envol- cia foram englobados em uma mesma catego-
vimento na área da saúde. ria denominada “Disfunções Cognitivas”, visto
que, a partir da leitura, estão relacionados com
Método quadro cuja cognição é o enfoque do distúrbio.
Tabela 1
Fluxograma da Revisão Sistemática
LILACS
LILACS
Data da busca
N=12
24.06.2015
N=26
PEPSIC Exclusão de
Data da busca PEPSIC N=8
artigos
24.06.2015 duplicados:
N=13 N= 9
SCIELO
Data da busca SCIELO N=9
24.06.2015
N=20
Novas exclusões e
resultado final da
estratégia de busca:
N=20
Câncer (CA; Alcântara et al., 2013); Dependên- Referente ao uso da psicoeducação para
cia Química (Andretta & Oliveira, 2011); Dis- paciente e cuidador, 9 artigos (45%) enfocam o
função Cognitiva (Gonçalves-Pereira & Sam- paciente, 8 artigos (40%) o cuidador e 3 (15%) o
paio, 2011; Lopes & Cachioni, 2012, 2013a, paciente e o cuidador. Portanto, a psicoeducação
2013b; Sampaio, 2011); Doença Cardiovascular pode ser utilizada tanto para pacientes quanto
(Gomes & Pergher, 2010); Esquizofrenia (Sou- para cuidadores.
sa et al., 2012); Estresse (Tabeleão et al., 2014); Pode-se, também, destacar a utilização da
Fobia de Deglutição (Scemes et al., 2011); Hi- psicoeducação como sendo de uso exclusivo
pertensão (HÁ; Lima-Silva & Yassuda, 2012); no sentido de apenas ela ter sido utilizada como
Síndrome da Fadiga Crônica (Wielenska & Ba- intervenção psicoterapêutica (Alcântara et al.,
naco, 2010); Transtorno Afetivo Bipolar (TAB; 2013; Andretta & Oliveira, 2011; Lopes & Ca-
Menezes & Mello e Souza, 2011, 2012; Mussi chioni, 2013a, 2013b; Menezes & Mello e Souza,
et al., 2013); Transtorno de Ansiedade (Olivei- 2011, 2012; Mussi et al., 2013); diferentemente
ra, 2011; Petersen, 2011); Transtorno de Es- dos trabalhos os quais ela é inclusa como sendo
tresse Pós-Traumático (TEPT; Gonçalves et al., uma das técnicas do conjunto que compõem o
2010); e Transtornos Psiquiátricos (Ponciano tratamento como um todo (Gomes & Pergher,
et al., 2009). A partir disso, pode-se perceber a 2010; Gonçalves et al., 2010; Lima-Silva & Yas-
diversidade de quadros tanto psicopatológicos suda, 2012; Oliveira, 2011; Petersen, 2011; Sce-
e patológicos em que a psicoeducação pode ser mes et al., 2011; Wielenska & Banaco, 2010).
empregada como recurso psicoterapêutico, de- Independentemente do uso ou exclusivo ou em
monstrando sua amplitude frente às demandas conjunto com outras técnicas, os resultados des-
do sofrimento tanto físico quanto mental. tes estudos identificaram um retorno positivo da
22 Lemes, C. B., Ondere Neto, J.
Tabela 2
Resultado da Revisão Sistemática
Transtorno
Gonçalves et al.
de Estresse Paciente Quantitativo - Diminuição dos sintomas.
(2010)
Pós-traumático
-Ganhos cognitivos.
Lima-Silva & - Psicoeducação como recurso
Hipertensão Paciente Quantitativo
Yassuda (2012) psicoterapêutico adicionado ao treino
cognitivo propiciou resultado positivo.
Tabeleão,
Tomasi, - Programa de Psicoeducação para
Estresse Cuidador Quantitativo
& Quevedo a saúde pública.
(2014)
Aplicações da Psicoeducação no Contexto da Saúde. 23
Ponciano,
Calvacanti, Transtornos - Compartilhamento de experiências entre
Cuidador Qualitativo
& Ferés-Carneiro Psiquiátricos os cuidadores permitiu apoio mútuo.
(2009)
Wielenska Síndrome
Estudo - Psicoeducação como recurso
& Banaco da Fadiga Paciente
de Caso que auxilia na psicoterapia.
(2010) Crônica
2011), TAB (Menezes & Mello e Souza, 2011, pais possam significar essa vivência (Alcântara
2012; Mussi et al., 2013), TEPT (Gonçalves et et al., 2013).
al., 2010), o Transtorno de Ansiedade (Oliveira, Os autores referem que “nessa pesquisa,
2011; Petersen, 2011), Transtornos Psiquiátricos 3,56% das intervenções foram picoeducativas, o
(Ponciano et al., 2009) – estas de acordo com a que possibilitou a compreensão dos pacientes e
American Psychiatric Association [APA], 2002) acompanhantes acerca dos procedimentos” (Al-
- e o estresse (Tabeleão et al., 2014). É perceptí- cântara et al., 2013, p. 115). No entanto, não ava-
vel um número maior de doenças psíquicas, cor- liam, a partir de dados empíricos, o quanto, de
respondendo a 85% dos estudos, em comparação fato, a psicoeducação possibilitou a compreensão
às orgânicas (15%). dos pacientes, além disso, pode-se verificar que
Em relação aos resultados obtidos, a revisão o uso da psicoeducação é estatisticamente baixo
de literatura acerca da sobrecarga de cuidadores em comparação às outras intervenções emprega-
de idosos com demência teve neutralidade, re- das, a saber: intervenções lúdicas (41,18%), es-
ferindo mais investigações e pesquisas na área cuta psicológica (16,23%), intervenções mistas
(Sampaio, 2011). Nos estudos quantitativos de (33,86%) e intervenção psicoeducativa (3,56%).
Tabeleão et al. (2014), que também investiga a Portanto, ressalta-se a realização de mais estu-
sobrecarga de cuidadores, mas no contexto de dos acadêmicos nessa área para que possam, a
transtornos psíquicos como esquizofrenia, e de partir de dados obtidos, comprovar a eficácia da
Sousa et al. (2012), que investiga as atitudes intervenção psicoeducativa.
estigmatizantes de familiares de pessoas com
esquizofrenia, a psicoeducação não é aplicada, Intervenção Psicoeducativa
os autores concluem que o seu uso é necessário, em Doenças Crônicas
mas não a utilizam. A partir destes três estudos, O uso da psicoeducação também pode ser
não é possível concluir resultados positivos nem utilizado para doenças crônicas como as Dis-
negativos da psicoeducação; enquanto nos de- funções Cognitivas (Gonçalves-Pereira & Sam-
mais, o retorno de sua aplicação é positivo ou ao paio, 2011; Lopes & Cachioni, 2012, 2013a,
paciente ou ao cuidador. 2013b; Sampaio, 2011), a Hipertensão (Lima-
-Silva & Yassuda, 2012), a Síndrome da Fadiga
Psicoeducação nos Cuidados Paliativos Crônica (Wielenska & Banaco, 2010) e a TAB
Apesar do crescimento de tratamentos bem (Menezes & Mello e Souza, 2011, 2012; Mussi
sucedidos, o câncer infantil é uma doença que et al., 2013). A intervenção psicoeducacional
gera um quadro de modificações no sistema e na pode ser aplicada nos cuidadores envolvidos
estrutura familiar o qual envolve tanto o paciente no cuidado ao paciente crônico, dessa forma,
quanto seus pais frente ao tratamento, sendo este ela propicia melhora na avaliação do cuida-
acompanhamento motivo de desgastes aos pais do, gerando aos cuidadores motivação porque
(Lau et al., 2015). Por isso, o trabalho de psi- percebem ganhos positivos em seu acompa-
coeducação realizado na sala de espera propicia nhamento desempenhado (Lopes & Cachioni,
um espaço para esclarecer dúvidas e aliviar an- 2012, 2013a, 2013b). Para analisar a eficácia da
gústias vivenciadas nesse processo, permitindo psicoeducação em cuidadores de pacientes com
uma melhora no bem-estar psicológico tanto aos Alzheimer, Lopes e Cachioni (2013a, 2013b)
pais quanto ao paciente (Alcântara et al., 2013). realizaram uma avaliação pré e pós-intervenção
Além disso, há uma probabilidade de o paciente utilizando o Inventário de Ônus e Benefícios
não resistir ao tratamento, isso significa que ele e Associados ao Cuidado (2013a) e as Escalas
seus pais estão em uma situação de perda ambí- de Satisfação com a Vida, de Ânimo Positivo
gua, podendo gerar um processo de enlutamento e Negativo e de Depressão Geriátrica (2013b).
e, nesse sentido, a psicoeducação pode ser um Além disso, é possível pensar no uso da psi-
recurso psicoterapêutico importante para que os coeducação no contexto das doenças terminais
Aplicações da Psicoeducação no Contexto da Saúde. 25
nal (EM) em grupo experimental e a psicoedu- to físicas. O que se pode também concluir é a
cação em grupo controle. Ambos grupos foram escassez de trabalhos que a utilizam em outras
avaliados pré e pós-intervenção com o Inventá- doenças crônicas como a artrite cujo quadro gera
rio de Depressão de Beck (BDI) e de Ansiedade dor constante, em doenças de difícil adesão ao
(BAI), o URICA que consiste em uma escala tratamento como a tuberculose e, também, em
para motivação de mudança comportamental, transtornos de personalidade, por exemplo.
uma ficha de dados sócio-demográficos e uma É importante destacar que o uso da psi-
entrevista semi-estruturada. A EM foi empre- coeducação no âmbito da saúde engloba não
gada em cinco sessões utilizando o Cannabis somente a Psicologia, mas, também, envolve
Youth Treatment que consiste em um programa outros enfoques disciplinares, visto que a saúde
dos Estados Unidos voltado a adolescentes in- também permeia os aspectos comportamentais,
fratores e a psicoeducação teve duas sessões so- emocionais e sociais. Nesse sentido, a psicoe-
bre informações dos efeitos da drogadição e três ducação se faz por um modelo cuja interdisci-
sessões individuais com aplicação de técnicas plinaridade é uma ferramenta necessária para a
cognitivo-comportamentais. Após a aplicação intervenção, inclusive, cumprindo com o prin-
das intervenções, realizou-se uma pós-avaliação cípio da integralidade do Sistema Único de Saú-
para investigar a eficácia obtida. de (SUS).
A partir da discussão, as autoras afirmam A intervenção psicoeducacional é importan-
que “os resultados mostraram que tanto o grupo te para dar suporte e apoio ao cuidado ao cui-
que recebeu a EM quanto o grupo que recebeu dador. O que se pode destacar é que os estudos
Psicoeducação, diminuíram o consumo de dro- enfocam os cuidadores como sendo, principal-
gas demonstrando que as duas técnicas podem mente, familiares do paciente e não profissionais
ser aplicadas à esta população” (Andretta & Oli- da saúde, visto que estes também poderiam se
veira, 2011, p. 224), ou seja, a EM e a psicoe- beneficiar com a psicoeducação.
ducação demonstram evidências de eficácia para Por fim, o desenvolvimento de projetos e
adolescentes com dependência química. Vale programas de psicoeducação envolvida com
ressaltar que, nesta pesquisa, a EM teve maior um tipo de doença é importante para o trabalho
eficácia na diminuição do uso de maconha e de de promoção de saúde, propiciando um retorno
tabaco; a psicoeducação, por sua vez, no álcool e positivo à saúde pública. A psicoeducação pode
na maconha. Quanto às fases de motivação para utilizar recursos como vídeos, áudios, panfletos,
mudança de comportamento, a pré-contemplação campanhas e etc. Sendo que nesses planejamen-
teve diminuição em ambos os grupos. Portanto, tos psicoeducacionais podem estar envolvidos
é possível verificar que a psicoeducação possui por profissionais de diferentes áreas da saúde,
eficácia na dependência de maconha e álcool; no fornecendo um trabalho interdisciplinar o qual
entanto, sugerem-se mais pesquisas englobando fornece ao paciente um atendimento cuja inte-
outras substâncias químicas para averiguar sua gralidade se faz presente.
eficácia. Além disso, reduz, a partida da pesqui-
sa, a média na fase de pré-contemplação, ou seja, Referências
a psicoeducação permite maior conscientização
acerca dos malefícios da dependência química, American Psychiatric Association. (2002). DSM-
-IV-TR – Manual Diagnóstico e Estatístico de
tornando o usuário mais responsável.
Transtornos Mentais (4. ed.). Porto Alegre, RS:
Artmed.
Conclusão
Alcântara, T. V., Shioga, J. E. M., Lima, M. J. V.,
Lage, A. M. V., & Maia, A. H. N. (2013).
A partir da revisão sistemática da literatu-
Intervenções psicológicas na sala de espera:
ra, a psicoeducação é uma técnica psicológica Estratégias no contexto da oncologia pediátrica.
a qual pode ser aplicada em diferentes tipos de Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar,
doenças, englobando tanto às psíquicas quan- 16(2), 103-119.
Aplicações da Psicoeducação no Contexto da Saúde. 27
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