Introducao SEE1b
Introducao SEE1b
Introducao SEE1b
I.2 – O transformador
Os transformadores de força são os equipamentos utilizados para viabilizar a transmissão de energia elétrica
em alta tensão. Desta forma, são instalados nas usinas de geração, para elevar a tensão em níveis de
transmissão (no Brasil de 69 kV a 750 kV), nas subestações dos centros de consumo (subestações de
distribuição ou subestações de grandes consumidores), para rebaixar o nível de tensão em níveis de
distribuição (tipicamente 13,8 e 23 kV) e também nas subestações de interligação para compatibilizar os
diversos níveis de tensão provenientes das diversas linhas de transmissão que aportam.
Para se ter uma noção da importância destes equipamentos no setor elétrico, apresenta-se o Quadro I.3 no
qual a potência instalada em subestações corresponde aos equipamentos de transformação.
O objetivo deste capítulo é a definição do modelo do transformador para estudos de transmissão de potência
elétrica em regime permanente, ou seja, considerando tensões e correntes senoidais em freqüência industrial.
Além disto, considera-se que os transformadores operam em condições equilibradas. Desta forma, os
modelos e resultados apresentados a seguir não se aplicam a estudos de transitórios de alta freqüência, de
curto-circuito ou de harmônicos.
O modelo dos transformadores de força para estudos de fluxo de potência são similares aos transformadores
de menor porte, desconsiderando-se os efeitos da corrente de magnetização.
Em um transformador ideal considera-se que a resistência elétrica dos enrolamentos é nula (logo não existe
queda de tensão na espira em função desta resistência e a tensão induzida pela variação do fluxo é igual à
tensão terminal) e que a permeabilidade do núcleo é infinita (portanto todo o fluxo fica confinado ao
núcleo e enlaça todas as espiras). Levando em conta as polaridades indicadas na Figura I.11, têm-se as
seguintes relações entre as tensões terminais:
v1 (t ) = N1 φ1 (t ) = N1 φ m (t )
d d
dt dt
v2 (t ) = N 2 φ 2 (t ) = N 2 φ m (t )
d d
dt dt
Assim, a relação entre as tensões terminais é dada por:
v1 (t ) N1
= (I.17)
v2 (t ) N 2
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Introdução a Sistemas de Energia Elétrica
N1 espiras φm (t )
N2 espiras
i1 (t ) φ () i 2 (t )
+ +
v1 (t ) v 2 (t )
– –
Fluxo em 1: Fluxo em 2:
φ1 (t ) = φ m (t ) φ 2 (t ) = φ m (t )
Os enrolamentos onde se ligam as fontes de energia e as cargas são geralmente denominados primário e
secundário, respectivamente.
De forma alternativa, as relações (I.17) e (I.18) podem ser obtidas levando-se em consideração que um
transformador ideal constitui um caso particular de circuitos magneticamente acoplados no qual o coeficiente
de acoplamento entre os enrolamentos é igual a unidade, ou seja, K = 1 . Para as polaridades indicadas na
Figura I.12, são válidas as seguintes expressões:
v1 (t ) = L1 i1 (t ) − M i2 (t )
d d
(I.19)
dt dt
v2 (t ) = M i1 (t ) − L2 i2 (t )
d d
(I.20)
dt dt
i1 (t ) i 2 (t )
i1 (t ) i 2 (t )
K=1
+ • • +
+ • • +
L1 L2 M = K L1 L2
v1 (t ) v 2 (t ) v1 (t )
+ v 2 (t ) M = L1 L2
– – di (t ) di (t )
N1 : N 2 M 2 M i
dt dt
+
– –
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Introdução a Sistemas de Energia Elétrica
– Ideal –
Considerando as polaridades indicadas na Figura I.13 e as expressões gerais (I.17) e (I.18), o regime
permanente senoidal do transformador ideal pode ser descrito por:
V 1 N1 N2
= ⇒ V2 = V1
V 2 N2 N1
I1 N2 N
= ⇒ I 2 = 1 I1
I 2 N1 N2
N
fazendo a = 2 , a relação de espiras do transformador ideal, pode-se escrever:
N1
1
V 2 = aV 1 ⇒ V1 = V 2
a
1
I 2 = I1 ⇒ I 1 = aI 2
a
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Z2 = = = 15 30 o
Ω Z 2 = = = 240 30o Ω
I 2 20 − 30 o
I 1 5 − 30 o
N1
V2 2 2 2
ref V 1 N2 N 1 V 2 N1 2000
ou Z2 = = = = Z 2 = 15 30 = 240 30 Ω
o o
N2 N N 500
I1 I2 2 I 2 2
N1
Utilizando a magnitude das tensões nominais como base para normalização das tensões terminais, têm-se os
seguintes valores de tensões base para o primário e secundário, respectivamente:
pri
Vbase – Tensão de base do primário [kV]
N 2 pri
– Tensão de base do secundário: Vbase =
sec sec
Vbase Vbase [kV]
N1
Sendo S base a potência de base para ambos enrolamentos (primário e secundário), as correntes de base para o
primário e secundário, respectivamente, são determinadas por:
S S S base N pri
pri
I base = base
pri
sec
I base = base
sec
= = 1 I base
Vbase Vbase N 2 pri N2
Vbase
N1
Desta forma, os valores normalizados em pu (por unidade) das tensões e correntes serão dados por:
N2
V1
V1 V2 N1 V1
V 1 pu = pri V 2 pu = sec = = pri ⇒ V 2 pu = V 1 pu (I.24)
Vbase Vbase N 2 V pri Vbase
base
N1
N1
I1
I1 I2 N2 I1
I 1 pu = pri I 2 pu = sec = = pri ⇒ I 2 pu = I 1 pu (I.25)
I base I base N1 pri I
I base base
N2
Portanto, quando as grandezas estiverem em pu, o transformador ideal com relação nominal pode ser
substituído por um curto-circuito, conforme mostrado na Figura I.14, pois tanto a tensão quanto a corrente
apresentam o mesmo valor em ambos enrolamentos – vide equações (I.24) e (I.25).
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I 1 pu I 2 pu I 1 pu I 2 pu
+ + + +
Transformador
V 1 pu Ideal V 2 pu V 1 pu V 2 pu
em pu
– – – –
No transformador real de dois enrolamentos, as resistências dos enrolamentos não são nulas (serão notadas
por r1 e r2 , respectivamente, para o primário e secundário), nem todo o fluxo que enlaça um enrolamento
enlaça o outro pois a permeabilidade do núcleo não é infinita, isto é, existem fluxos dispersos nos
enrolamentos cujos efeitos são representados por intermédio das reatâncias de dispersão x1 e x2 ,
respectivamente, para o primário e secundário. Além disto, ocorrem perdas devido às variações cíclicas do
sentido do fluxo (histerese) e também devido às correntes parasitas induzidas no núcleo. Assim, mesmo
com o secundário em aberto, existe uma pequena corrente circulando no primário quando este é energizado,
denominada corrente de magnetização – o efeito deste fenômeno é representado pela impedância de
magnetização rm e x m , colocada em derivação no primário do transformador (ou no secundário).
Considerando os efeitos anteriormente mencionados, o transformador real de dois enrolamentos pode ser
representado por um circuito composto por transformador ideal de dois enrolamentos e algumas
impedâncias para representar o efeito das perdas ôhmicas, devido ao fluxo disperso e à magnetização,
conforme ilustra a Figura I.15
Fluxo disperso em 1: Fluxo disperso em 2:
φm (t )
φ1disp (t ) φ 21 (t ) φ 2disp (t )
i1 (t ) i 2 (t )
+ +
v1 (t ) v 2 (t )
– –
N1 espiras N2 espiras
I1 r1 + jx1 r2 + jx 2 I2
N1 : N 2
+ +
• •
Transformador
Real V1 V2
rm jx m
– Ideal –
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+ +
Im ≈0
V1 Magnetização V2 =0
desprezada rm jx m
– –
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Como exemplo das características elétricas dos transformadores em nível de distribuição, têm-se os valores
do Quadro I.4. Em transformadores de maior potência e nível de tensão, as perdas em vazio e as perdas totais
apresentam valores percentuais (em função da potência nominal) menores, sendo inferiores a 0,1 e 0,5%,
respectivamente.
Levando em conta as características reais dos grandes transformadores, as perdas nos enrolamentos1 (devido
a r1 e r2 ) e no núcleo2 (devido a rm e x m ) são muito pequenas quando comparadas com a potência do
transformador sendo, geralmente, desprezadas. Desta forma, o modelo equivalente do transformador fica
bastante simplificado, conforme mostra a Figura I.19.
I1 jx I2
+ +
jx = jx1 + jx2
V1 V2
– –
Figura I.19 – Circuito por fase simplificado em pu do transformador real de dois enrolamentos.
1
Cujo valor nominal corresponde à diferença entre as perdas totais e as perdas em vazio.
2
Ou perdas em vazio.
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Exemplo I.7 – Um transformador monofásico tem 2000 espiras no enrolamento primário e 500 no
secundário. As resistências dos enrolamentos são r1 = 2 Ω e r2 = 0,125 Ω ; as reatâncias de dispersão são
x1 = 8 Ω e x 2 = 0,5 Ω . A carga ligada ao secundário é resistiva e igual a 12 Ω. A tensão aplicada ao
enrolamento primário é de 1200 V. Determinar o fasor tensão secundária e a regulação de tensão do
transformador:
vazio carga
V2 −V2
Regulação% = carga
100%
V2
carga vazio
onde V 2 é a magnitude da tensão no secundário com plena carga e V 2 é a magnitude da tensão no
secundário em vazio.
pri
Z base =
(V )
pri 2
1200 2
base
=
= 192 Ω sec
Z base
V sec
= base =
300 2
= 12 Ω 3
( )2
I1 Z 1 = r1 + jx1 Z 2 = r2 + jx 2 I2
+ +
carga
V 1 = 1 pu V2 Z2
– –
Valores em pu
Circuito primário Circuito secundário
Com a carga conectada, a tensão nos terminais do secundário do transformador é dada por:
carga
carga Z2 1
V 2 = V1 = 1
Z1 + Z1 +
carga
Z2 0,0104 + j 0,0417 + 0,0104 + j 0,0417 + 1
carga carga
V 2 = 0,9764 − 4,67o pu V2 = 300 × 0,9764 − 4,67o = 292,9 − 4,67 o V
3
Observar que a potência de base foi previamente escolhida para que a impedância da carga fosse igual a 1 pu.
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X = x1 + x 2 (a NOM ) = 8 + 0,5 ⋅ 4 2 = 16 Ω
2
+ +
carga
V 1 = 1200 V Z ref a NOM V 2
– –
Com a carga conectada, a tensão nos terminais do secundário do transformador é dada por:
carga
carga Z ref 192
a NOM V 2 = V1 = 1200 = 1171,6 − 4,67o V
Z+
carga
Z ref 4 + j16 + 192
carga 1171,6 − 4,67 o
1171,6 − 4,67 o carga
V2 = = = 292,9 − 4,67 o V V2
a NOM 4
Em vazio (sem a carga conectada), como não existe corrente circulando, não existe queda de tensão na
impedância série e a tensão nos terminais do secundário do transformador é igual à tensão primária:
vazio
a NOM V 2 = V 1 = 1200 V
vazio 1200 1200 vazio
V2 = = V2 = 300 V
a NOM 4
Daí, a regulação percentual do transformador é:
vazio carga
V2 −V2
300 − 292,9
Regulação% = carga
100% = 100% Regulação % = 2,42%
V2 292,9
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Introdução a Sistemas de Energia Elétrica
Exemplo I.8 (Provão 2000) – Questão relativa às matérias de Formação Profissional Específica (Ênfase
Eletrotécnica).
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Introdução a Sistemas de Energia Elétrica
Com o objetivo de possibilitar um melhor controle da tensão no sistema elétrico, muitas vezes os
transformadores operam com relação de transformação diferentes da nominal N1NOM : N 2NOM . Neste caso, ( )
os transformadores apresentam um enrolamento especial provido de diversas derivações (taps), comutáveis
sob carga ou não. Quando a seleção da derivação é realizada sob carga, o transformador apresenta um
dispositivo denominado comutador de derivações em carga (ou comutador sob carga) que se encarrega de
realizar as conexões necessárias para que seja selecionada a relação de transformação desejada. Para operar
tais comutadores utilizam-se acionamentos motorizados, possibilitando comando local ou à distância,
inclusive com controle automático de tensão. Quando a seleção da derivação é realizada sem carga o
dispositivo é muito mais simples, sendo utilizada apenas uma chave seletora que opera quando o
transformador está desligado.
Por norma, as derivações são numeradas, sendo a derivação “1” a de maior tensão, conforme mostra o
Quadro I.5 no qual encontram-se exemplos de valores de derivações e relações de tensão para
transformadores em nível de distribuição. Neste caso, no interior do tanque o transformador apresenta uma
chave seletora que possibilita o ajuste do tap quando este estiver desligado.
Tensão [V]
Tensão máxima do
Derivação Primário Secundário
equipamento
N° Trifásicos e
[KV eficaz] Monofásicos (FN) Trifásicos Monofásicos
Monofásicos (FF)
1 13.800 7.967
15,0 2 13.200 7.621 2 terminais
3 12.600 7.275 220 ou 127
1 23.100 13.337 ou
380/220
3 terminais
24,2 2 22.000 12.702 ou
440/220 ou
3 20.900 12.067 220/127
254/127 ou
1 34.500 19.919 240/120 ou
36,2 2 33.000 19.053 230/115
3 31.500 18.187
(FF) - tensão entre fases
(FN) - tensão entre fase e neutro
Fonte: Trafo Equipamentos Elétricos S.A. (disponível em http://www.trafo.com.br/)
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Introdução a Sistemas de Energia Elétrica
Em nível transmissão de energia elétrica os transformadores podem possuir dispositivos para comutação sob
carga, apresentando um maior número de derivações, conforme exemplifica a Tabela I.1. Observar que as
derivações são realizadas no enrolamento de maior tensão, visando operar com menores correntes no
comutador sob carga.
Considerando toda a impedância série concentrada em apenas um dos enrolamentos (refletida para o
primário, por exemplo) e desprezando as perdas no núcleo, o circuito equivalente do transformador com
relação não-nominal encontra-se na Figura I.20. Observar, neste caso, que a relação de espiras dos
enrolamentos N1 : N 2 pode ser diferente da relação nominal, dada por N1NOM : N 2NOM .
N1 : N 2
I1 R + jX I2
1: a
+ + + +
• •
V1 E1 E2 V2
– – Ideal – –
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Introdução a Sistemas de Energia Elétrica
I1
I 1 pu = pri
I base
1
I1
I2 a a I1 a NOM
I 2 pu = sec
= = NOM pri I 2 pu = I 1 pu (I.27)
I base 1 pri a I base a
I base
a NOM
Portanto, mesmo quando as grandezas estão em pu, o transformador com relação não nominal não pode
ser substituído por um curto-circuito pois tanto a tensão quanto a corrente apresentam valores distintos nos
enrolamentos – vide equações (I.26) e (I.27).
A Figura I.21 mostra um transformador monofásico de três enrolamentos juntamente com o seu circuito
equivalente em pu. Observar que o ponto comum O representado no circuito equivalente, mostrado na Figura
I.21(b), é fictício e não tem qualquer relação com o neutro do sistema.
φm (t ) Fluxo disperso em 2:
Fluxo disperso em 1:
φ 2disp (t )
φ1disp (t ) i2 (t )
i1 (t ) +
+ v2 (t )
–
v1 (t )
i3 (t )
N2 espiras
– +
N1 espiras v3 (t )
–
N3 espiras
Fluxo disperso em 3:
φ3disp (t )
(a) Transformador de três enrolamentos.
Z 2 = r2 + jx2 I2
I1 Z 1 = r1 + jx1 +
O
+ Z 3 = r3 + jx3 I 3
+
V2
V1 V3
rm jxm
– – –
As impedâncias de qualquer ramo da Figura I.21(b) podem ser determinadas através da impedância de curto-
circuito entre os respectivos pares de enrolamentos, mantendo o enrolamento restante em aberto (ensaio de
curto-circuito). Desta forma, sendo z12 a impedância obtida no ensaio no qual é aplicada tensão no
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Introdução a Sistemas de Energia Elétrica
enrolamento primário suficiente para fazer circular a corrente nominal quando o secundário está em curto-
circuito e o terciário aberto (vide Figura I.22), tem-se (desprezando o ramo de magnetização):
Z 12 = Z 1 + Z 2
I 2 = 1 0 pu
Z 2 = r2 + jx2
I 1 ≈ I 2 = 1 0 pu
Z 1 = r1 + jx1 +
O
+ Z 3 = r3 + jx3 I 3
Im ≈ 0 +
V2 = 0
V1
V3
rm jx m
– – –
I.2.5 – Autotransformador
• •
• •
• •
• •
Conexões Aditivas Conexões Subtrativas
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Introdução a Sistemas de Energia Elétrica
Em geral utiliza-se a conexão aditiva nas duas formas de operação possíveis, ou seja, como
autotransformador elevador ou rebaixador, conforme ilustra a Figura I.24.
I2 Iy Ix
+ • + + + •
V2 V1 I1
Ix Iy
– –
Vy Vx + +
+ +
• •
Vx V1 I1 V2 I2 Vy
– – – – – –
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A representação por fase de transformadores em fase, mostrada na Figura I.25, consiste de um transformador
ideal com relação de transformação 1 : akm e uma impedância série Z km . Observar que neste modelo as
perdas no núcleo são desprezadas.
V p = a km V k = a kmV k θ k
V k = Vk θ k V m = Vm θ m
k p Z km = rkm + jx km m
I km I mk
1 : a km I pm
(
I mk = − I pm = −Y km akm V k − V m ) I mk = −akm Y km V k + Y km V m (I.29)
Deste modo, o transformador em fase pode ser representado por um circuito equivalente do tipo π, conforme
está ilustrado na Figura I.26.
k m
I km I mk
Vk A Vm
B C
A, B, C admitâncias
Para o modelo π da Figura I.26, onde A, B e C são as admitâncias dos componentes, as correntes I km e I mk
são dadas por:
4
Lembrar que não há dissipação de potência ativa ou reativa no transformador ideal, logo:
* *
* * I km Vp I km V p
S km = S pm ⇒ V k I km =V p I pm ⇒ = ⇒ =
I pm
*
Vk I pm V k
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Introdução a Sistemas de Energia Elétrica
( )
I km = A V k − V m + BV k = ( A + B )V k − AV m I km = ( A + B )V k + (− A)V m (I.30)
I mk = A(V
m −V k ) + CV
m = − AV k + ( A + C )V m I mk = (− A)V k + ( A + C )V m (I.31)
Comparando as expressões (I.28) com (I.30) e (I.29) com (I.31), tem-se:
A = a km y km
B = a km (akm − 1)Y km
C = (1 − akm )Y km
Observar que o valor de a determina o valor e a natureza dos componentes do modelo π da Figura I.25:
a km = 1 pu, ou seja, a km = a NOM : A = y km , B = C = 0
a km < 1 pu, ou seja, a km < a NOM : B < 0 (capacitivo) e C > 0 (indutivo)
a km > 1 pu, ou seja, a km > a NOM : B > 0 (indutivo) e C < 0 (capacitivo)
NOTA IMPORTANTE: As grandezas de base utilizadas para fazer a conversão da impedância série do
transformador para pu devem ser, obrigatoriamente, relativos ao enrolamento no qual esta impedância está
ligada. Mais especificamente, no modelo de transformador adotado, que é mostrado na Figura I.25, deve-se
utilizar a tensão de base do enrolamento conectado à Barra m.
Exemplo I.9 – Dado um transformador trifásico, 138/13,8 kV, 100 MVA, cuja reatância de dispersão vale
5% (na base do transformador), determinar o circuito equivalente do transformador se as bases do sistema
são:
a) 138/13,8 kV, 100 MVA
b) 169/16,9 kV, 200 MVA
c) 169/15 kV, 250 MVA
V1 V2
Admitância em pu
– –
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V1 V2
Admitância em pu
– –
15 13,8
c) Neste caso, tem-se a NOM = = 0,0888 e a = = 0,1 . Calculando em pu, tem-se:
169 138
13,8
a
apu = = 15 = 1,1267 pu
a NOM 138
169
2
VL pu (base 1) S 3φ pu (base 2 )
Z pu (base 2 ) = Z pu (base 1)
VL pu (base 2 ) S 3φ pu (base 1)
Para o modelo de transformador adotado, que é mostrado na Figura I.25, deve-se utilizar a tensão de base do
enrolamento conectado à Barra m, ou seja, a tensão do lado de média tensão do transformador, sendo o valor
em pu na base 169/15 kV, 250 MVA dado por:
′ ′
2
13,8 250
Z TR = j 0,05 = j 0,1058 pu Y TR = − j 9,4518 pu
15 100
Os parâmetros do circuito equivalente π são dados por:
′
A = apu Y TR = 1,1267(− j 9,4518) = − j10,65 pu
′
(
B = apu apu − 1 Y ) TR = 1,1267(1,1267 − 1)(− j 9,4518) = − j1,349 pu
′
(
C = 1 − apu Y ) TR = (1 − 1,1267 )(− j 9,4518) = j1,198 pu
e o circuito equivalente correspondente é:
I1 − j10,65 I2
+ +
V1 − j1,349 j1,197 V2
Admitâncias em pu
– –
Exemplo I.10 – Considerando que o transformador do Exemplo I.9 alimenta uma carga de 50 MVA, com
fator de potência 0,9 indutivo, no enrolamento de menor tensão e que este é representado pelos três modelos
determinados na solução do Exemplo I.9 (em função das bases adotadas para o sistema pu), determinar o
valor da tensão no lado de alta tensão em pu e em kV quando a tensão na carga é igual a 13,8 kV.
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Introdução a Sistemas de Energia Elétrica
1
Do circuito equivalente mostrado na solução do Exemplo I.9, a tensão no lado de alta é dada por:
V 1 = V 2 + Z TR I 2 = 1 + j 0,05(0,45 − j 0,2179) = 1,0109 + j 0,0225 = 1,0111 1,28o pu
V 1 = 138 × 1,0111 1,28o = 139,50 + j 3,11 = 139,54 1,28o kV
I1 − j10,65 I2
+ +
SH
I2
V1 − j1,349 j1,197 V2
Admitâncias em pu
– –
V1 = V 2 +
1 1
(
I 2 + I 2 = V 2 + I 2 + CV 2 = 0,92 +
A
SH
A
) 1
− j10,65
(0,1956 − j 0,0948 + j1,197 × 0,92)
V 1 = 169 × 0,8257 1,28o = 139,50 + j 3,11 = 139,54 1,28o kV
Observar que o valor obtido em kV é idêntico ao dos Itens anteriores, mostrando que o resultado não
depende das bases adotadas.
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Exercício I.6 – Dado um transformador trifásico, 230 (+4)(–8)×1,875%/69 kV, 50 MVA, cuja reatância de
dispersão vale 5%, determinar o circuito equivalente do transformador, indicando os valores mínimos e
máximos da relação de transformação em pu (a), se as bases do sistema são 230/69 kV, 100 MVA.
Como para a linha de transmissão, é possível escrever a expressão do fluxo de potência complexa da barra k
para a barra m:
*
S km = V k I km = V k akm 2
[Y km V k − akm Y km V m = ]*
Exercício I.7 – Conhecidos os parâmetros que definem o transformador em fase e os fasores das tensões
terminais, mostrar como é possível determinar as perdas de potência ativa e reativa neste transformador.
I pm
1 : e jϕ km
Figura I.25 – Representação por fase de um transformador defasador puro.
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( ) (
I pm = Y km V p − V m = Y km t km V k − V m )
I km = t km
*
I pm = t km
*
( )
Y km t km V k − V m = Y kmV k − t km
*
Y kmV m (
I km = Y km V k + − t km
*
)
Y km V m (I.36)
( )
I mk = − I pm = −Y km t km V k − V m = −t km Y km V k + Y km V m ( )
I mk = − t km Y km V k + Y km V m (I.37)
Assim, o transformador defasador não pode ser representado por um circuito equivalente do tipo π,
conforme está ilustrado na Figura I.25, pois o coeficiente de V m da expressão (I.36) é diferente do
coeficiente de V k da expressão (I.37).
Como anteriormente, é possível escrever a expressão do fluxo de potência complexa da barra k para a barra
m:
*
[
S km = V k I km = V k Y km V k − t km
*
Y km V m = ]
*
= V k Y km V k − t km Y km V m = Vk2 Y km − t km Y km V k V m =
* * * * * * *
= Vk2 ( g km − jbkm ) − 1 ϕ km (g km − jbkm )VkVm θ km
= Vk2 ( g km − jbkm ) − Vk Vm ( g km − jbkm )[cos(θ km + ϕ km ) + j sen(θ km + ϕ km )]
Exercício I.8 – Determinar a expressão do fluxo de potência complexa da barra m para a barra k. Utilizando
esta expressão equacionar as perdas de potência ativa e reativa neste transformador.
(
I km = t km
*
t km Y km + jbkm
sh
)
V k + − t km
*
(
Y km V m) (
I km = akm
2
Y km + jbkm
sh
) ( )
V k + − akme − jϕkm Y km V m (I.40)
( ) (
I mk = − t km Y km V k + Y km + jbkm
sh
Vm ) ( ) (
I mk = − akme + jϕ km Y km V k + Y km + jbkm
sh
)
Vm (I.41)
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Tabela I.2 – Parâmetros para os diferentes equipamentos nas expressões gerais dos fluxos.
Equipamento a km ϕ km sh
bkm
Linha de transmissão 1 0
Transformador em fase 0 0
Transformador defasador puro 1 0
Transformador defasador 0
Os fluxos de potência ativa e reativa em linhas de transmissão, transformadores em fase, defasadores puros e
defasadores, obedecem às seguintes expressões gerais:
Pkm = (a kmVk ) g km − (a kmVk )Vm [g km cos(θ km + ϕ km ) + bkm sen (θ km + ϕ km )]
2
(I.42)
(
Qkm = −(a kmVk ) bkm + bkm
2 sh
)
− (a kmVk )Vm [g km sen (θ km + ϕ km ) − bkm cos(θ km + ϕ km )] (I.43)
Assim, as expressões (I.40) a (I.43) podem ser utilizadas indistintamente para o cálculo dos fluxos de
corrente e de potência em linhas de transmissão, transformadores em fase, defasadores puros e defasadores,
bastando utilizar os parâmetros conforme a Tabela I.2.
O sistema elétrico possui duas classes de componentes, os empregados na conexão entre dois nós elétricos
(elementos série, como as linhas de transmissão e transformadores) e aqueles que são conectados a apenas
um nó elétrico (elementos em derivação). O segundo grupo inclui os geradores e as cargas que constituem a
razão de existir do sistema elétrico. Os demais componentes em derivação (reatores e capacitores) são
empregados no controle da tensão/potência reativa.
Para todos os componentes em derivação é adotada a convenção gerador, ou seja, são consideradas
positivas aa potências ativa e reativa injetadas.
I.4.1 – Gerador
A Figura I.26 mostra o sentido positivo da potência injetada em uma barra que contém um gerador.
V k = Vk θ k V k = Vk θ k
k k
Pk + jQk
G Pk + jQk
Figura I.26 – Convenção da potência para um gerador.
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I.4.2 – Reator
A Figura I.27 mostra o sentido positivo da potência injetada por um reator em uma barra.
V k = Vk θ k Para um Reator V k = Vk θ k
k xL > 0 k
Ik −1
bL = <0
Z k = jxL Pk + jQk xL
Y k = jbL
jQk
Figura I.27 – Convenção da potência para um reator.
Ik =
0 −V k −V k
Zk
=
jx L
= j
Vk
xL
ou ( )
I k = Y k 0 − V k = − jbL V k
* 2
*
* 0 −V k −V kV k Vk 2
Sk =V kIk = V k =
= − j = jb V k
− jxL
L
jxL xL
Portanto, para um reator (como xL > 0 e bL < 0 ), a injeção de potência reativa é negativa, ou seja, Qk < 0 .
I.4.3 – Capacitor
A Figura I.28 mostra o sentido positivo da potência injetada por um capacitor em uma barra.
V k = Vk θ k Para um Capacitor V k = Vk θ k
k xC < 0 k
Ik −1
bC = >0
Z k = jxC Pk + jQk xC
Y k = jbC
jQk
Figura I.28 – Convenção da potência para um capacitor.
Ik =
0 −V k −V k
Zk
=
jxC
= j
Vk
xC
ou ( )
I k = Y k 0 − V k = − jbC V k
* 2
*
* 0 −V k −V kV k Vk 2
Sk =V kIk= V k =
= − j = jb V k
− jxC
C
jxC xC
Portanto, para um capacitor (como xC < 0 e bC > 0 ), a injeção de potência reativa é positiva, ou seja,
Qk > 0 .
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I.4.4 – Carga
A Figura I.29 mostra o sentido positivo da potência injetada por uma carga constituída por uma impedância
em uma barra.
V k = Vk θ k V k = Vk θ k
k k
Ik
Z k = rk + jxk Pk + jQk
Pk + jQk
Figura I.29 – Convenção da potência para uma carga.
No fluxo de carga, as cargas são representadas por injeções constantes de potência ativa e reativa ou por
intermédio de uma expressão mais geral que considera a dependência da carga com relação à magnitude da
tensão, sendo as injeções de potência determinadas por:
(
Pk = a P + bPVk + c PVk2 PkNOM )
Qk = (a Q + bQVk + cQVk2 )Q
NOM
k
sendo a P , bP e c P constantes que definem o tipo de dependência que a potencia ativa tem com a tensão e
aQ , bQ e cQ constantes que definem o tipo de dependência que a potencia reativa tem com a tensão.
Observar que devem ser válidas as seguintes relações para que quando a tensão assuma seu valor nominal
(Vk = 1 pu ) , as injeções correspondam ao valor nominal PkNOM e Q kNOM :( )
a P + bP + cP = 1
aQ + bQ + cQ = 1
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Exemplo I.11 (Provão 2002) – Questão relativa às matérias de Formação profissional Específica (Ênfase
Eletrotécnica).
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