A Ceia Do Senhor
A Ceia Do Senhor
A Ceia Do Senhor
A ceia do senhor é uma ordenança de Jesus Cristo para seus discípulos e ao longo da tradição
cristã protestante tem sido classificada juntamente com o batismo como um sacramento. Um
sacramento pode ser simplesmente definido como um sinal exterior visível de uma graça
interior invisível.
Jesus instituiu a ceia no episódio conhecido como “a Última Ceia” na noite em que foi traído
(I Coríntios 11:23). Ele estabeleceu a ceia como uma ordenança que deveria ser praticada
continuamente pelos seus discípulos.
a. O significado redentor
Há fundamento suficiente na narrativa dos evangelhos para afirmar que a Última Ceia se
tratou de uma tradicional refeição de Páscoa, a festa judaica que celebra a redenção dos
Israelitas do cativeiro egípcio.
Jesus, porém, deu à refeição pascal um novo significado. Quando Jesus afirmou “isto é o meu
corpo...este é o cálice da nova aliança...fazei isto em memória de mim” (Lucas 22:19) referiu-
se ao seu corpo e seu sangue como um meio para uma nova páscoa, um novo êxodo e o
estabelecimento de uma nova aliança. Um paralelo claro pode ser traçado: no primeiro êxodo
a libertação foi geopolítica, e o cordeiro pascal foi um animal. No novo êxodo a libertação é
espiritual, e o cordeiro é Jesus, o Cristo de Deus. O êxodo que a Ceia do Senhor nos remete
não se refere a uma libertação geopolítica, com foi o primeiro, e sim a uma libertação
espiritual. Somos libertos do pecado, da morte e das trevas, através do sacrifício do
verdadeiro cordeiro pascal – Cristo.
Da mesma forma que os judeus deveriam repetir sempre a refeição pascal, confessando sua
dependência desse ato histórico de redenção e apropriando-se de seus benefícios (Êxodo
12:14; 13:9), a igreja, na celebração repetida da ceia do Senhor, dá testemunho do grande
ato histórico da redenção em que se fundamenta (I Coríntios 11:24-26) – a cruz - e prova de
novo, pela fé os benefício desse sacrifício.
A páscoa levava os judeus a reviverem o êxodo1, já a Ceia do Senhor nos leva a reviver o
calvário e assim a termos um encontro poderoso com nosso salvador.
b. O significado escatológico
1
Na refeição pascal acreditava-se que os acontecimentos passados voltavam a vida no presente; segundo a
Mishanah “em cada geração o homem deve considerar-se como se ele mesmo tivesse saído do Egito”. (MILNE,
Bruce. Estudando as doutrinas da bíblia. P.243).
Além disso, é bíblico afirmar que a celebração da Ceia do Senhor tem um aspecto
escatológico, isto é, nos leva a pensar na cruz, mas também na consumação do plano redentor
de Deus. Jesus, no contexto da ceia afirmou que somente voltaria a beber do fruto da videira
com os discípulos no reino vindouro (Mateus 26:29; Marcos 14:25).
Assim fica claro que no pensamento de Jesus e no ensino apostólico a ceia aponta para o
grande banquete escatológico e assim é a antecipação dessa comunhão perfeita e plena que
gozaremos com Cristo em seu Reino.
c. O significado comunitário
Na ceia comemos do mesmo pão, bebemos do mesmo vinho, tomamos parte no mesmo
sacrifício (a cruz) e testemunhamos da mesma esperança, logo a ceia anuncia que o corpo de
Cristo é um corpo (cf. I Coríntios 10:17)
Por essa razão o apóstolo Paulo repreende os cristãos de Corinto que se alvoroçavam em
tomar a ceia sem demonstrar preocupação com a participação dos demais na mesma (cf. I
Coríntios 11:17-34).
2
TILLICH, Paul. História do pensamento Cristão. São Paulo, ASTE, 2000. P. 217
Os reformadores defenderam que todas as vezes que a ceia é ministrada, a mensagem da
ceia deve ser proclamada, pois os benefícios da eucaristia somente são recebidos por aqueles
que abordam o pão e o vinho com fé genuína em Cristo e não porque os elementos
eucarísticos estão envolvidos por um poder especial.
Podemos concluir o seguinte sobre a presença de Cristo na ceia: presença real, sim! corpórea
não! A presença de Cristo de maneira corpórea nos elementos da ceia não é apenas infundada
como também é desnecessária pois temos o Espírito Santo, e é ele que na celebração da ceia
nos conduz a uma experiência singular com Cristo.
Usando o Sol como ilustração, Calvino afirmou que assim como o Sol transmite para a terra
seu calor por meio de seus raios, Cristo comunica sua carne e seu sangue a nós por meio do
seu Espírito3. Pelo Espírito, na ceia, Cristo nos alimenta dele mesmo.
3. Os benefícios da Ceia
Devemos manter uma posição equilibrada sobre a eficácia do rito da eia. Não podemos
pender para o extremo romano, que atribui aos elementos eucarísticos uma natureza quase
“mágica”, tampouco cair no erro de subestimar o potencial que existe na celebração da ceia
tratando-a como um mero simbolismo.
Na ceia tempos a oportunidade de nutrir a nossa alma com Jesus. Nos alimentamos
espiritualmente de Cristo pelo Espírito Santo e assim recebemos vida em nosso ser pois “se
vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão
vida em si mesmos” (João 6:53).
Quando celebrar a ceia receba vida, renovo e alimento para sua fé.
a. O ministrante
A ceia pode ser ministrada por qualquer crente em Cristo Jesus, pois fomos feitos sacerdócio
real (I Pedro 2:9) por Ele. Assim não há pessoas especiais a quem cabe a celebração da ceia.
Você pode celebrar a ceia em família, como casal, visitando amigos ou no grupo de
crescimento.
b. Os elementos
Não é preciso usar pão e vinho para manter a integridade da ceia. Mas não é coerente fazer
o uso de batata frita e refrigerante, pois não nos remetem ao simbolismo do corpo e do
sangue. A utilização de um suco de uva e um pão é suficiente.
c. A periodicidade
3
CALVINO, Institutas da Religião Cristã. VOL IV. P.18.
A ceia costuma ser celebrada em comunidade uma vez ao mês, mas não há uma orientação
bíblica restrita sobre isso. O importante é não deixar a celebração da ceia tornar-se um ritual
feito de maneira ordinária, sem o devido peso que esse momento deve ter.