Viag11 Doido Morte
Viag11 Doido Morte
Grupo I
Governador Civil – Caramba! Não estou para ninguém. Isto é demais, Nunes! Castigo-o com
três dias de vencimento.
5 Governador Civil – O Sr. Milhões? que entre… que vida esta! que país este! Exatamente no
momento psicológico, no momento em que retomava. Nunes!
Ai do Lusíada coitado…
Isto não é um país, é uma selva onde os homens de génio têm de ser ao mesmo tempo
governadores civis. (Lendo o bilhete) O Sr. Milhões. Diz-lhe que entre, diz-lhe depressa
10 que entre. (Abre a porta) É o próprio ministro que recomenda o homem mais rico de
Portugal.
Nunes introduz o Sr. Milhões e uma caixa que é colocada no chão entre as duas mesas com
muitas precauções: – Aqui. Cuidado… Está bem… Pode retirar-se. – O sr. Milhões é um homem
importante e severo, de grandes suíças cuidadas e lunetas de aro de oiro. Sobrecasaca.
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Governador Civil – V. Ex.ª tenha a bondade de se sentar. Há que tempos que tenho a honra
de conhecer de vista e de nome. Então?...
Mas o senhor Milhões embezerrado não diz palavra. Com a maior indiferença dispõe a caixa e
faz dum fio elétrico para a campainha da mesa que está em frente da secretária do governador
20 civil. O outro segue-lhe os movimentos com uma curiosidade crescente.
Sr. Milhões – (Aproximando-se dele, confidencialmente) O senhor sabe o que está aqui
dentro?
Sr. Milhões – Muito grave. Vim de propósito de automóvel para não dar nas vistas. V. Ex.ª já
leu a carta do presidente do ministério? Há muito tempo que o admiro.
Governador Civil – (Lisonjeado) – E eu! e eu! Tenho por V. Ex.ª a maior consideração.
(Levanta-se e ao passar entre as mesas dá um pontapé na caixa).
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Sr. Milhões – Cuidado que podemos ir todos pelos ares.
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Sr. Milhões – Repito, o negócio que me traz aqui é muito grave. (Senta-se cerimoniosamente
e o governador civil vai postar-se na sua secretária).
Sr. Milhões – Pode vir o Nunes e todos os regimentos da capital… Quando eu tocar nesta
campainha arraso tudo. O peróxido de azote é a maior invenção deste século. Basta
carregar aqui com o dedo… (Ele, de lá, faz-lhe um gesto de súplica, sem poder falar, para
o outro retirar o dedo) Mas nós ainda não nos explicámos. (Tirando o relógio) Temos
50 tempo.
Sr. Milhões – Chame quem o senhor quiser. Chame lá o Nunes por uma vez. É-me indiferente.
(O governador civil levanta-se e vai a sair precipitadamente) O que não é indiferente é que
o senhor saia daqui. Ah, isso não! Ao senhor escolhi-o para morrer comigo.
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Sr. Milhões – E se dá um passo para fora daquela porta, faço saltar tudo.
Governador Civil – Mau! O senhor não se ponha com brincadeiras. Eu sou um governador
civil, uma autoridade constituída, e o senhor lembre-se tem mulher e filhos. É um homem
de ordem, é um homem rico… O senhor… Então eu estou aqui sossegado, no
60 cumprimento do meu dever, a escrever uma peça, nunca lhe fiz mal nenhum, tenho por V.
Ex.ª a maior consideração... V. Ex.ª está incomodado? quer tomar alguma coisa? (E
sempre mais alto) Ó Nunes!
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BRANDÃO, Raul, 2001. O Doido e a Morte. Lisboa: Edições Colibri
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3. Interpreta a utilização das expressões “Temos tempo” (l. 51) e “Temos muito tempo” (l. 52) pelo
Sr. Milhões e pelo Governador Civil, respetivamente.
4. Analisa comparativamente os retratos do Governador Civil e do Sr. Milhões, conforme vão sendo
construídos ao longo do excerto transcrito.
Grupo II
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2. Refere um dos sentidos produzidos pela interrogação “Que faço eu no mundo?” (v. 4).
3. Atenta nos três primeiros versos da terceira estrofe. Explicita, sucintamente, a relação entre a
“noite” e a “manhã” estabelecida nos versos 14 e 15.
4. Tendo em conta todo o poema, identifica duas das razões do sentimento de “horror” referido no
verso 8.
(in Exame Nacional de Português B, 2007, 2.ª fase)
Grupo III
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Questões Cotação
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