2019 Clínica Médica - Livro 01-QualityEducaçãoMédica PDF
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EDUCAÇÃO MÉDICA
Clínica Médica
LIVRO 01
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EDUCAÇÃO MÉDICA
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EDUCAÇÃO MÉDICA
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SUMÁRIO
Sepse .............................................................................................................................. 08
Ressuscitação inicial ......................................................................................... 09
Processamento de sepse e melhoria de performance.............................. 09
Diagnóstico.......................................................................................................... 09
Terapia antimicrobiana............................................................................................ 09
Controle de foco ................................................................................................ 09
Terapia líquida..................................................................................................... 10
Drogas vasoativas .............................................................................................. 10
Corticosteróides................................................................................................. 10
Hemoderivados................................................................................................... 10
Anticoagulantes .................................................................................................. 11
Ventilação mecânica.......................................................................................... 11
Sedação e analgesia ......................................................................................... 11
Controle da glicose ........................................................................................... 11
Terapia com bicarbonato.................................................................................. 11
Profilaxia de tromboembolismo venoso ..................................................... 11
Nutrição ................................................................................................................ 11
HIV - Vírus da imunodeficiência humana................................................................. 12
Prevenção e controle ........................................................................................ 12
Aspectos clínicos da infecção pelo HIV ....................................................... 13
Testes e diagnósticos ....................................................................................... 14
Roteiro para abordagem inicial da PVHIV .................................................... 15
Terapia anti-retroviral ......................................................................................... 16
Tuberculose.................................................................................................................... 17
Modos de transmissão...................................................................................... 17
Formas clínicas ................................................................................................... 17
Detecção de casos ................................................................................................ 18
Diagnóstico.......................................................................................................... 18
Prova tuberculínica ............................................................................................ 19
O exame sorológico anti-HIV........................................................................... 19
Tratamento........................................................................................................... 20
Casos de tuberculose meningoencefálica ................................................... 21
Casos de recidiva após cura ou retorno após abandono......................... 21
Tratamento da tuberculose multirresistente................................................. 21
Os ciclos de vida, suas características e as tarefas a cumprir ............... 21
Substituição de drogas frente aos efeitos adversos ................................. 21
Critérios para encerramento do tratamento................................................. 22
Hanseníase..................................................................................................................... 23
Agente etiológico.................................................................................................... 23
Modo de transmissão............................................................................................. 23
Período de incubação ....................................................................................... 23
Manifestações clínicas...................................................................................... 23
Diagnóstico.......................................................................................................... 24
Tratamento........................................................................................................... 24
Esquema terapeutico ........................................................................................ 25
Notificação............................................................................................................... 25
Dengue............................................................................................................................ 26
Vetores.................................................................................................................. 26
Período de transmissibilidade ......................................................................... 26
Fase febril............................................................................................................. 26
Fase crítica.......................................................................................................... 27
Dengue grave...................................................................................................... 27
Choque................................................................................................................. 27
Avaliação hemodinâmica .................................................................................. 28
Fase de recuperação......................................................................................... 28
Diagnóstico diferencial ..................................................................................... 28
Classificação de risco....................................................................................... 29
Fluxograma para classificação de risco de dengue ................................... 30
Confirmação laboratorial .................................................................................. 31
Prova do laço ...................................................................................................... 32
Leptospirose........................................................................................................... 33
Manifestações clínicas...................................................................................... 33
Fase da convalescença .................................................................................... 33
Conduta diagnóstica ......................................................................................... 34
Indicações para internação hospitalar........................................................... 34
Critérios de alta hospitalar ............................................................................... 35
Hepatites............................................................................................................................ 36
Diagnóstico clínico............................................................................................. 38
Diagnóstico laboratorial .................................................................................... 38
Tratamento........................................................................................................... 40
Imunização .......................................................................................................... 41
Doença de chagas ....................................................................................................... 43
Febre amarela ................................................................................................................ 47
Malária ............................................................................................................................. 50
Raiva ................................................................................................................................ 54
Artrite reumatóide ......................................................................................................... 58
Diagnóstico.......................................................................................................... 58
Tratamentos......................................................................................................... 61
Tempo de tratamento e monitorização.......................................................... 62
Espondilite ancilosante................................................................................................ 63
Diagnósticos........................................................................................................ 63
Tratamentos......................................................................................................... 65
Lúpus eritematoso sistêmico ..................................................................................... 67
Diagnósticos........................................................................................................ 68
Casos especiais ................................................................................................. 69
Tratamento........................................................................................................... 70
Manifestações..................................................................................................... 71
Artrite reativa.................................................................................................................. 73
Diagnósticos........................................................................................................ 74
Tratamentos......................................................................................................... 74
Gota (artrite gotosa)................................................................................................... 76
Etiologia/ Patogênese/ Classificação............................................................ 76
Quadro clínico..................................................................................................... 76
Conduta e tratamento ....................................................................................... 77
Vasculites ou angiite .................................................................................................... 79
Patogênese.......................................................................................................... 79
Classificação ....................................................................................................... 80
Tratamento........................................................................................................... 82
Febre reumática ........................................................................................................... 84
Diagnóstico......................................................................................................... 84
Faringoamigdalite estreptocócica .................................................................. 85
Critérios maiores de jones ............................................................................... 85
Critérios menos de jones ................................................................................. 88
Profilaxia secundária e duração ...................................................................... 89
Anemias........................................................................................................................... 90
Diagnósticos........................................................................................................ 91
Tratamento........................................................................................................... 93
Fármacos e esquemas de administração ..................................................... 94
Anemia aplástica ........................................................................................................... 95
Diagnóstico.......................................................................................................... 95
Tratamentos......................................................................................................... 96
Anemia em paciente com isuficiência renal crônica............................................. 98
Diagnóstico......................................................................................................... 98
Tratamento .......................................................................................................... 99
Doença falciforme......................................................................................................... 100
Diagnóstico.......................................................................................................... 101
Tratamento........................................................................................................... 101
Prevenção de infecções ................................................................................... 101
Anemia Megaloblástica ............................................................................................... 103
Diagnóstico e conduta...................................................................................... 104
Talassemias.................................................................................................................... 105
Talassemia beta e alfa....................................................................................... 105
Epidemiologia...................................................................................................... 106
Diagnóstico e tratamento ................................................................................. 106
Hemostasia e disúrbios da coagulação................................................................... 107
Hemostasia primária .......................................................................................... 107
Coagulação ......................................................................................................... 108
Sistema fibrinolítico............................................................................................ 110
Avaliação da hemostasia .................................................................................. 110
Leucemia linfoide aguda ........................................................................................... 115
Diagnóstico.......................................................................................................... 115
Hemograma, Mielograma e Morfologia celular............................................ 116
Tratamento........................................................................................................... 116
Leucemia mieloide aguda do adulto......................................................................... 117
Diagnóstico e avaliação.................................................................................... 117
Tratamento e Terapêuticas .............................................................................. 118
Linfoma de Hodgkin ..................................................................................................... 120
Epidemiologia..................................................................................................... 120
Manifestações clínicas .................................................................................... 120
Estadiamento e tratamento .............................................................................. 120
Linfoma não Hodgkin ........................................................................................ 123
Patogênese e classificação ............................................................................. 123
Diagnóstico e tratamento ................................................................................. 124
Recidiva do linfoma............................................................................................ 125
Doença Inflamatória Intestinal .................................................................................... 126
Incidência........................................................................................................................ 126
Diagnóstico em adultos................................................................................... 127
Sintomas ............................................................................................................. 127
Complicações.................................................................................................... 128
Exames de laboratório...................................................................................... 129
Exames de sangue............................................................................................ 129
Imagenologia e Endoscopia ........................................................................... 130
Considerações diagnósticas.......................................................................... 131
Medicamentos no manejo clínico da DII...................................................... 131
Tratamento cirúrgico ........................................................................................ 132
Doença Celíaca............................................................................................................. 133
Diagnóstico ........................................................................................................ 134
Fluxo para o diagnóstico da doença celíaca .............................................. 135
Tratamento e prognóstico............................................................................... 136
Doença Meningocócica .............................................................................................. 137
Agente etiológico .............................................................................................. 137
Reservatório ....................................................................................................... 137
Modo de transmissã ......................................................................................... 137
Período de incubação / Transmissibilidade................................................ 137
Suscetibilidade, vulnerabilidade e imunidade ............................................ 137
Manifestações clínicas..................................................................................... 138
Complicações.................................................................................................... 139
Diagnósticos ...................................................................................................... 139
Tratamento.......................................................................................................... 140
Quimioprofilaxia ................................................................................................. 140
Imunização .......................................................................................................... 141
Outras meningites............................................................................................. 141
Diarreias .......................................................................................................................... 148
Abordagem clínica ............................................................................................ 148
Classificação da diarreia segundo a duração dos sintomas .................. 148
Principais etiologias da diarreia ..................................................................... 149
Tratamentos........................................................................................................ 149
Gastrite............................................................................................................................ 153
Quadro clínico ................................................................................................... 153
Diagnóstico / Tratamento................................................................................ 154
Cefaleias ......................................................................................................................... 155
Cefaléia tipo tensional...................................................................................... 155
Cefaléia em salvas ............................................................................................ 155
Critérios de diagnósticos da Cefaléia em salvas................................................... 156
Migrânea (Enxaqueca) ..................................................................................... 157
Diagnóstico ........................................................................................................ 157
Critérios de diagnósticos de Migrânea sem aura.................................................. 160
Critérios de diagnósticos de Migrânea com aura ................................................. 160
Tratamento das crises agudas de Cefaleia................................................. 161
Recomendações gerais.......................................................................................... 161
Migrânea sem aura ........................................................................................... 162
Migrânea com aura ........................................................................................... 163
Acompanhamento e Profilaxia........................................................................ 163
Cefaleia tensional tratamento da crise ..................................................... 163
Cefaleia em salvas tratamento profilático e sintomático.......................... 163
Cefaleia secundária .......................................................................................... 164
Doenças Cerebrovasculares...................................................................................... 165
Acidente vascular cerebral isquêmico...................................................................... 165
Diagnóstico ........................................................................................................ 166
Tratamento.......................................................................................................... 167
Critérios de inclusão para uso de rtPA........................................................ 167
Critérios de exclusão........................................................................................ 167
Controle de pressão arterial antes, durante e
após ouso do trombolítico .......................................................................................... 168
Acompanhamento pós-tratamento................................................................ 168
Prevenção secundária do AVC...................................................................... 169
Acidente isquêmico transitório ...................................................................... 170
Escore ABCD2.................................................................................................. 170
Exames que devem ser realizados após a avaliação inicial..................... 170
Tratamento .......................................................................................................... 171
Acidente vascular hemorrágico ..................................................................... 173
Fatores de risco................................................................................................. 173
Etiologia............................................................................................................... 174
Manifestações clínicas..................................................................................... 174
Diagnóstico ........................................................................................................ 174
Tratamento.......................................................................................................... 177
Hemorragia subaracnoide............................................................................... 178
A escala Hunt e Hess na HSA................................................................................... 179
Diagnóstico ........................................................................................................ 180
A escala Fischer...................................................................................................... 180
Tratamento.......................................................................................................... 180
Tratamento do aneurisma................................................................................ 181
Alterações do estado de consciência...................................................................... 182
Nível de consciência ........................................................................................ 183
Epilepsia e convulsão .................................................................................................. 184
Esquema diagnóstico para a classificação das epilepsias ..................... 184
Estado de mal epiléptico................................................................................. 185
Tratamento ............................................................................................................ 185
Convulsão febril................................................................................................. 185
Principais tumores do sistema nervoso central e classificações....................... 186
Astrocitoma pilocítico (OMS Grau I)............................................................ 186
Glioblastoma ...................................................................................................... 187
Meningiomas ...................................................................................................... 187
Craniofaringeoma.............................................................................................. 187
Metastases............................................................................................................. 188
Sintomatologias................................................................................................. 189
Parkinson ........................................................................................................................ 190
Diagnóstico ........................................................................................................ 190
Tratamentos / Prevenção ................................................................................ 191
Doença de Alzheimer................................................................................................... 194
Diagnósticos ...................................................................................................... 194
Tratamento / Fármacos.................................................................................... 195
Miastenia gravis............................................................................................................. 197
Diagnósticos ...................................................................................................... 199
Casos especiais ................................................................................................ 200
Tratamentos........................................................................................................ 201
Crise miastênica................................................................................................ 202
Síndrome de Guillain-Barré ........................................................................................ 203
Diagnósticos ...................................................................................................... 205
Tratamento.......................................................................................................... 206
Esclerose múltipla ....................................................................................................... 206
Diagnóstico ........................................................................................................ 206
Tratamento.......................................................................................................... 207
Tempo de tratamento....................................................................................... 208
Esclerose lateral amiotrófica ...................................................................................... 209
Diagnóstico ........................................................................................................ 210
Tratamento.......................................................................................................... 210
SEPSE
A
sepse é uma disfunção orgânica potencialmen-
te fatal causada por uma resposta do hospe-
deiro desregulada à infecção. Sepse e choque
séptico são grandes problemas de saúde,
afetando milhões de pessoas em todo o mundo a cada
ano.
NÃO
O uso de um escore SOFA simplificado, deno-
minado “quick SOFA” (qSOFA) é uma ferramenta para Quadro sugestivo Dar seguimento ao
atendimento, via
ser utilizada a beira do leito para identificar rapidamen- de doenças atípicas SIM
protocolo específi-
(dengue, malária,
te pacientes adultos com maior probabilidade de ter leptospirose)? co, fora do
protocolo de sepse
desfechos clínicos desfavoráveis, se eles apresenta-
rem infecção. Assim, trata-se de critérios apenas para
triagem, que procura identificar pacientes graves, e
SIRS: DISFUNÇÃO ORGÂNICA:
que não deve ser utilizada para definição de sepse. Ele FC > 90 bpm Hipotensão: PAS ≤ 90 mm Hg
é positivo quando o paciente apresenta pelo menos FR > 20 rpm Sonolência, confusão, agitação ou
T > 37,8º ou T < 35,0ºC Coma SatO² ≤ 90% , necessidade de
dois dos critérios clínicos a seguir: frequência respira- Leucócitos > 12.000mm³ O ou dispneia Diurese < 0,5mL/k-
²
ou < 4.000 mm³ ou g/hora
tória > 22/incursões por minuto, alteração do nível de desvio à esquerda
consciência (escore segundo a Escala de Coma de EXAMES LABORATORIAIS
(caso disponíveis)
Glasgow inferior a 15), ou pressão arterial sistólica de Creatinina > 2.0 mg/dL
< 100mmHg. Lactato ≥ 2,0 mmol/L
Plaquetas < 100.000 /mm
3 ou INR > 1.5 ou TTPA > 60 seg
Bilirrubinas > 2 mg/dL
08
RESSUSCITAÇÃO INICIAL TERAPIA ANTIMICROBIANA
Antibimicrobianos
CONTROLE DO FOCO
Fluidos Coleta de segundo lactato
Recomendamos que um diagnóstico anatômi-
Vasopressores
co específico da infecção que requer o controle do
foco seja identificado ou excluído tão rapidamente
quanto possível em pacientes com sepse ou choque
séptico e que qualquer intervenção de controle de
DIAGNÓSTICO origem requerida seja implementada logo que clinica-
mente e logisticamente prático após o diagnóstico
Recomenda-se a obtenção de culturas micro- ser feito.
biológicas de rotina (incluindo sangue) apropriadas
antes de iniciar a terapia antimicrobiana em pacientes Recomendamos a remoção rápida de disposi-
com suspeita de sepse ou choque séptico se isso tivos de acesso intravascular que são uma possível
não resultar em atraso substancial no início dos anti- fonte de sepse ou choque séptico após a criação de
microbianos. outro acesso vascular.
09
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
TERAPIA LÍQUIDA
10
glicose no sangue ≤180mg/dL ao invés de um nível
VENTILAÇÃO MECÂNICA de glicose no sangue ≤ 110mg/dL.
Não fazemos nenhuma recomendação sobre Sugerimos contra o uso da terapia com bicar-
o uso da ventilação não-invasiva (VNI) em pacientes bonato de sódio para melhorar a hemodinâmica ou
com SDRA induzida pela sepse. reduzir os requerimentos de vasopressores em
pacientes com acidemia láctica induzida por hipoper-
Sugerimos o uso de bloqueadores neuromus-
fusão com pH ≥ 7,15.
culares (NMBAs) por ≤ 48 horas em pacientes adul-
tos com SDRA induzida por sepsia e uma relação
Pao2 / Fio2 <150mm Hg 56. Recomendamos uma PROFILAXIA DE TROMBOEMBOLISMO VENOSO
estratégia conservadora de fluidos para pacientes
com SDRA estabelecida com sepse induzida, que Recomendamos a profilaxia farmacológica
não apresentam evidência de hipoperfusão tecidual. (heparina não fracionada [HNF] ou heparina de baixo
peso molecular [HBPM]) contra a tromboembolia
Recomenda-se a não utilização de agonistas venosa (TEV) na ausência de contra-indicações ao
β-2 no tratamento de pacientes com SDRA induzida uso desses agentes.
por sepse sem broncospasmo.
Recomendamos HBPM em vez de HNF para
Recomenda-se não usar o cateter de artéria
pulmonar em pacientes com SDRA induzida pela profilaxia de TEV na ausência de contra-indicações ao
sepse. uso de HBPM. Sugerimos profilaxia farmacológica de
TEV combinada com profilaxia mecânica, sempre que
Recomenda-se que os pacientes com sepse possível.
em ventilação mecânica sejam mantidos com a
cabeça do leito elevada entre 30 e 45 graus para NUTRIÇÃO
limitar o risco de aspiração e prevenir o desenvolvi-
mento de PAV.
Recomenda-se que não se administre nutrição
parenteral precoce ou nutrição parenteral em combi-
SEDAÇÃO E ANALGESIA nação com alimentação enteral (mas sim iniciar a
nutrição enteral precoce) em pacientes críticos com
Recomendamos que a sedação contínua ou sepse ou choque séptico que podem ser alimentados
intermitente seja minimizada em pacientes com enteralmente.
sepse ventilados mecanicamente, objetivando titula-
ção de doses alvo específicas por droga. Sugerimos o início precoce da alimentação
enteral em vez de um jejum completo ou apenas glico-
se IV em pacientes críticos com sepse ou choque
CONTROLE DA GLICOSE séptico que podem ser alimentados enteralmente.
11
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
HIV - VÍRUS DA
IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA
O
HIV ((Human Immunodeficiency Virus ou vírus qualidade pelos bancos de sangue. Os profissionais
da imunodeficiência humana) é um retrovírus de saúde devem estar atentos, e denunciar as irregu-
com genoma RNA, da família Retroviridae e laridades às autoridades sanitárias. Estarão, dessa
subfamília Lentivirinae. Pertence ao grupo dos forma, desempenhando papel de grande relevância
retrovírus citopáticos e não-oncogênicos. O HIV utiliza na prevenção e controle da transmissão do HIV/HTL-
para se multiplicar uma enzima denominada transcrip- V/Hepatites e outras doenças que podem ser trans-
tase reversa, responsável pela transcro RNA viral para mitidas pelo sangue. Outra importante ação dos
profissionais de saúde é solicitar o teste anti-HIV,
uma cópia DNA, integrando-se ao genoma do hospe-
após aconselhamento, na própria UBS, desestimu-
deiro.
lando, com isso, a procura dos bancos de sangue
para a realização desse teste.
As principais formas de transmissão do HIV são:
sexual, sanguínea e vertical. Além dessas três formas Prevenção em usuários de drogas injetáveis
mais frequentes, pode ocorrer também a transmissão (UDI) – Os UDI representam uma população particu-
ocupacional, ocasionada por acidente de trabalho, em larmente importante, em virtude da alta prevalência
profissionais de saúde. do HIV nesse grupo. Consequentemente, represen-
tam risco de transmissão para os parceiros sexuais e
para os que compartilham agulhas e seringas. Res-
salta-se, também, o risco da transmissão vertical
quando ocorre a infecção da parceira.
TRANSMISSÃO VERTICAL
12
TRANSMISSÃO OCUPACIONAL
13
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
EXAMES COMPLEMENTARES
14
ROTEIRO PARA ABORDAGEM INICIAL DA PVHIV
Explicar a doença: transmissão, história natural, signifi cado da contagem de LT-CD4+ e do exame de
carga viral, impacto da terapia antirretroviral (TARV) na morbimortalidade
Discutir uso de ARV e se houve eventos adversos prévios (ex.: com uso de PEP e PrEP)
Avaliar:
• História de tuberculose, prova tuberculínica, profi laxia e/ou tratamentoprévio
• História de doença mental
História médica atual e • IO prévia ou atual e necessidade de profi laxia para IO
passada
• Outras infecções ou comorbidades atuais e/ou pregressas
• Histórico de imunizações
• Uso de medicamentos, práticas complementares e/ou alternativas
Avaliar:
• Parcerias e práticas sexuais
Riscos e • Utilização de preservativos e outros métodos de prevenção
vulnerabilidades • História de sífi lis e outras IST
• Uso de tabaco, álcool e outras drogas
• Interesse em reduzir os danos à saúde
Avaliar:
• Reação emocional ao diagnóstico
História psicossocial • Análise da rede de apoio social (família, amigos, organizações não governamentais)
• Nível educacional
• Condições de trabalho, domicílio e alimentação
Discutir / Avaliar:
• Desejo de ter fi lhos
Saúde reprodutiva • Métodos contraceptivos
• Estado sorológico da(s) parceria(s) e fi lho(s)
15
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
cos e imunológicos, e não deverá ser suspensa após critérios elencados EFV – DFC
poderá ser feita a
abaixo)
o parto, independentemente do nível de LT-CD4+. A 1x/dia
mudança (switch)
RAL=Raltegravir
os com imunodeficiência grave. Recomenda-se que
pacientes com contagem de LT-CD4+ abaixo de 50 Fonte: DIAHV/SVS/MS.
16
TUBERCULOSE maior nas periferias das grandes cidades, podendo,
porém, acometer qualquer pessoa, inclusive em
áreas rurais. A transmissão ocorre geralmente em
ambientes fechados, nos quais as partículas expeli-
das pelo doente de Tuberculose (TB) podem perma-
necer no ar, principalmente em locais escuros e
pouco ventilados, por longos períodos.
É
uma doença infecciosa e contagiosa, causada tuberculose-doença. Os linfócitos e macrófagos
por uma bactéria, o Mycobacterium tuberculo- formam o granuloma, uma espécie de barreira em
sis, também denominado de Bacilo de Koch torno dos bacilos provocando sua destruição por
(BK). O termo tuberculose se origina no fato meio da fagocitose. Graças à formação do granulo-
da doença causar lesões chamadas tubérculos. ma, a pessoa pode permanecer infectada, não
desenvolvendo a doença e, portanto, não transmitin-
do o germe para as pessoas suscetíveis.
MODOS DE TRANSMISSÃO
17
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
18
O exame radiológico
PROVA TUBERCULÍNICA
O EXAME SOROLÓGICO ANTI-HIV
A prova tuberculínica é indicada como
método auxiliar no diagnóstico da tuberculose. A todo doente com diagnóstico de tuberculo-
Pessoa reatora ao teste isoladamente é um indicativo se confirmado, deve ser oferecido o teste sorológico
tão somente da presença de infecção, não sendo anti-HIV. O profissional de saúde deve conversar
suficiente para o diagnóstico da doença tuberculose. com o doente sobre a possibilidade de associação
No Brasil, a tuberculina usada é o PPD RT23, aplica- das duas infecções e dos benefícios do diagnóstico
do por via intradérmica, no terço médio da face ante- precoce e tratamento da infecção pelo HIV.
rior do antebraço esquerdo, na dose de 0,1 ml, equi-
valente a 2 UT (unidades de tuberculina).
19
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
20
dose, horários de administração da medicação, além
CASOS DE TUBERCULOSE daqueles fatores predisponentes, como alcoolismo,
MENINGOENCEFÁLICA - 2 RHZ/7RH idade avançada, estado nutricional comprometido,
doença hepática ou renal ou infecção pelo HIV. Into-
Nos casos de concomitância entre tuberculo- lerância gástrica, manifestações cutâneas variadas,
se meningoencefálica e qualquer outra localização, icterícia e dores articulares são os efeitos mais
usar o esquema II. A internação é mandatória sempre freqüentemente descritos durante o tratamento com
que se suspeitar do diagnóstico de tuberculose o esquema I. Os pacientes devem ser advertidos
meningoencefálica. Nos casos de tuberculose sobre estas possibilidades; caso ocorram, devem ser
meningoencefálica em qualquer idade, recomenda- orientados a procurar o serviço de saúde para con-
-se o uso de corticosteróides (prednisona, dexame- sulta, o mais rapidamente possível.
tasona ou outros) por um período de 1 a 4 meses, no
início do tratamento.
Pacientes que não se curam após tratamento • Intolerância à pirazinamida: substituir pelo
com os esquemas padronizados e portadores de etambutol, durante os dois meses previstos para o uso
bacilos resistentes a mais de duas drogas, dentre as da pirazinamida (2 RHE/4RH);
quais a rifampicina e a isoniazida, constituem um
grupo de doentes classificados no último Consenso • Intolerância à isoniazida: substituir pelo
Brasileiro de Tuberculose como portadores de tuber- etambutol e pela estreptomicina, nos 2 primeiros
culose multirresistente (TBMR). Esses pacientes e meses, e etambutol, durante os quatro últimos meses
seus familiares serão atendidos por equipe multipro- (2 RESZ/4RE);
fissional especializada, em centros de referência que
• Intolerância à rifampicina: substituir pela
cumpram as normas de biossegurança.
estreptomicina e etambutol, durante os dois primeiros
meses, e pelo etambutol, durante os 10 meses
REAÇÕES ADVERSAS AO USO DE restantes, devendo o período de tratamento passar a
ser de 12 meses (2 SEHZ/10 HE).
DROGAS ANTITUBERCULOSE
A grande maioria dos pacientes submetidos a Obs.: ao estimar o tempo total de tratamento,
tratamento para tuberculose apresenta boa tolerân- considerar, inclusive, o que antecedeu a intolerância
cia aos medicamentos e completa o tempo recomen- medicamentosa.
dado sem sentir qualquer efeito colateral. Todavia, os
maiores determinantes dessas reações se referem à
21
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
22
HANSENÍASE
É
uma doença infecciosa, crônica, de grande
importância para a saúde pública devido à
sua magnitude e seu alto poder incapacitante,
atingindo principalmente a faixa etária econo-
micamente ativa. Acomete principalmente a pele e os
nervos periféricos, mas também manifesta-se como
uma doença sistêmica comprometendo articulações,
olhos, testículos, gânglios e outros órgãos. O alto
potencial incapacitante da hanseníase está direta-
mente relacionado à capacidade de penetração do
Mycobacterium leprae na célula nervosa e seu poder
imunogênico.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO
AGENTE ETIOLÓGICO
Devido ao padrão de multiplicação do bacilo, a
O M. leprae é um bacilo álcool-ácido resisten- doença progride lentamente. Entre o contato com a
te e gram-positivo, em forma de bastonete. É um pessoa doente e o aparecimento dos primeiros sinais
parasita intracelular, sendo a única espécie de mico- pode levar em média 2 a 5 anos.
bactéria que infecta nervos periféricos, especifica-
mente as células de Schwann. Este bacilo não cresce MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
em meios de cultura artificiais, ou seja, não é cultivá-
vel in vitro.
Os principais sinais e sintomas da doença
MODO DE TRANSMISSÃO são:
• Manchas esbranquiçadas (hipocrômicas),
O homem é considerado a única fonte de acastanhadas ou avermelhadas, com alterações de
infecção da hanseníase. A transmissão se dá por sensibilidade (a pessoa sente formigamentos, choques
meio de uma pessoa doente, sem tratamento, que e câimbras que evoluem para dormência – se queima
elimina o bacilo para o meio exterior infectando outras ou machuca sem perceber);
pessoas suscetíveis. Estimase que 90% da popula-
• Pápulas, infiltrações, tubérculos e nódulos,
ção tenha defesa natural contra o M. leprae, e sabe-
normalmente sem sintomas ;
-se que a susceptibilidade ao M. leprae tem influência
genética. • Diminuição ou queda de pêlos, localizada ou
A principal via de eliminação do bacilo pelo doente e difusa, especialmente sobrancelhas;
a mais provável via de entrada deste no organismo
• Falta ou ausência de sudorese no local - pele
são as vias aéreas superiores (mucosa nasal e orofa- seca.
ringe), através de contato íntimo e prolongado, muito
frequente na convivência domiciliar. As lesões da hanseníase geralmente iniciam
com hiperestesia - sensação dequeimação,
Por isso, o domicílio é apontado como impor- formigamento e/ou coceira - no local, que evoluem
tante espaço de transmissão da doença. A hansenía- para ausência de sensibilidade e, a partir daí, não
coçam e o paciente refere dormência - diminuição ou
se não é de transmissão hereditária (congênita) e
perda de sensibilidade ao calor, a dor e/ou ao tato - em
também não há evidências de transmissão nas rela-
qualquer parte do corpo.
ções sexuais.
23
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
POLIQUIMIOTERAPIA - PQT/OMS
24
ESQUEMA TERAPEUTICO
PAUCIBACILAR: 6 cartelas
Rifampicina (RFM): uma dose mensal de 600 mg (duas cápsculas de 300 mg ) com administração supervisionada.
ADULTO
Dapsona (DDS): uma dose mensal de 100 mg supervisionada e uma dose diária de 100 mg auto-administrada.
Rifampicina (RFM): uma dose mensal de 450 mg (uma cápscula de 150 mg e uma cápsula de 300 mg ) com adminis-
CRIANÇA tração supervisionada.
Dapsona (DDS): uma dose mensal de 50 mg supervisionada e uma dose diária de 50 mg auto-administrada.
MULTIBACILAR: 12 cartelas
Rifampicina (RFM): uma dose mensal de 600 mg (duas cápsculas de 300 mg ) com administração supervisionada.
Dapsona (DDS): uma dose mensal de 100 mg supervisionada e uma dose diária de 100 mg auto-administrada.
ADULTO
Clofazimina (CFZ): uma dose mensal de 300 mg ( três cápsulas de 100 mg) com administração supervisionada e uma
dose diária de 50 mg auto-administrada.
Rifampicina (RFM): uma dose mensal de 450 mg (uma cápscula de 150 mg e uma cápsula de 300 mg ) com adminis-
tração supervisionada.
CRIANÇA Dapsona (DDS): uma dose mensal de 50 mg supervisionada e uma dose diária de 50 mg auto-administrada.
Clofazimina (CFZ): uma dose mensal de150 mg ( três cápsulas de 50 mg) com administração supervisionada e uma
dose diária de 50 mg auto-administrada em dias alternados.
• Orquiepididimite;
ESTADOS REACIONAIS • Mãos e pés reacionais;
• Glomerulonefrite;
Também conhecidos como reações hansêni- • Comprometimento de nervos periféricos (neurite).
cas são manifestações agudas ocasionadas por alte-
rações do sistema imunológico da pessoa atingida Essas ocorrências deverão ser consideradas
pela hanseníase, os quais se exteriorizam por meio como situações de urgência e encaminhadas às
de manifestações inflamatórias agudas e subagudas, unidades de referência para tratamento nas primeiras
que podem ocorrer antes, durante ou depois do 24 horas. Nas situações em que há dificuldade de
tratamento com PQT/OMS, tanto nos casos PB encaminhamento imediato, os seguintes procedi-
como nos MB. Podem ser: mentos deverão ser aplicados até a avaliação:
I . Reação Tipo um ou Reação Reversa (RR) • Orientar repouso do membro afetado em caso de
caracteriza-se por: suspeita de neurite;
• Iniciar prednisona na dose de 1mg/kg peso/dia,
• infiltração, alterações de cor e edema nas lesões devendo ser tomadas as seguintes precauções para a sua
antigas; utilização: registrar o peso, a pressão arterial e a taxa de
• surgimento de novas lesões dermatológicas glicose e fazer tratamento para estrongiloidíase.
(manchas ou placas);
• Comprometimento de nervos periféricos (neurite),
com ou sem lesões cutâneas agudas.
NOTIFICAÇÃO
A Hanseníase é uma doença de notificação compulsó-
II . Reação Tipo dois ou Eritema Nodoso ria em todo Território Nacional e de investigação obrigatória.
Hansênico (ENH) caracteriza-se por: Cada caso diagnosticado deve ser notificado na semana epide-
miológica de ocorrência do diagnóstico, utilizando-se a ficha de
• Apresentar nódulos subcutâneos dolorosos, notificação e investigação do Sistema Nacional de Agravos de
acompanhados ou não de febre; Notificação/SINAN.
• Dores articulares e mal-estar generalizado;
• Irite ou iridociclite Fontes:
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad21.pdf
25
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
DENGUE
D
Doença infecciosa febril aguda, que pode ser
assintomática ou sintomática. Quando sinto- PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE
mática, causa uma doença sistêmica e dinâmi-
ca de amplo espectro clínico, variando desde O período de transmissibilidade da doença
formas oligossintomáticas até quadros graves, poden- compreende dois ciclos: um intrínseco, que ocorre
do evoluir para o óbito. Três fases clínicas podem ocor- no ser humano, e outro extrínseco, que ocorre no
rer: febril, crítica e de recuperação. vetor. A transmissão do ser humano para o mosquito
ocorre enquanto houver presença de vírus no sangue
Considera-se a dengue um dos maiores proble- do ser humano, chamado período de viremia. O
mas de saúde pública do mundo, especialmente nos homem está apto a infectar o mosquito a partir de 1º
países tropicais, cujas condições sócio-ambientais dia antes do aparecimento dos sintomas até o 6º dia
favorecem o desenvolvimento e a proliferação de seu da doença.
principal vetor o Aedes aegypti.
Período de incubação: varia de 3 a 15 dias,
A dengue é, hoje, uma das doenças mais sendo em média de 5 a 6 dias
frequentes no Brasil, atingindo a população em todos
os estados, independente da classe social. MOSQUITO AO PICAR MOSQUITO AO PICAR
ADQUIRE VÍRUS ADQUIRE VÍRUS
Período de Período de
incubação incubação
VIREMIA extrínseco intrínseco VIREMIA
0 5 8 12 16 20 24 28
DIAS
DOENÇA DOENÇA
SER HUMANO 1 SER HUMANO 2
26
pando plantas de pés e palmas de mãos, podendo
apresentar-se sob outras formas com ou sem prurido, DENGUE GRAVE
frequentemente no desaparecimento da febre. Ano-
rexia, náuseas e vômitos podem estar presentes. A As formas graves da doença podem manifes-
diarreia está presente em percentual significativo dos tar-se com extravasamento de plasma, levando ao
casos, habitualmente não é volumosa, cursando choque ou acúmulo de líquidos com desconforto
apenas com fezes pastosas numa frequência de três a respiratório, sangramento grave ou sinais de disfun-
quatro evacuações por dia, o que facilita o diagnóstico ção orgânica como o coração, os pulmões, os rins, o
diferencial com gastroenterites de outras causas. fígado e o sistema nervoso central (SNC). O quadro
Após a fase febril, grande parte dos pacientes recupe- clínico é semelhante ao observado no comprometi-
ra-se gradativamente com melhora do estado geral e mento desses órgãos por outras causas. Derrame
retorno do apetite. pleural e ascite podem ser clinicamente detectáveis,
em função da intensidade do extravasamento e da
quantidade excessiva de fluidos infundidos. O extra-
FASE CRÍTICA vasamento plasmático também pode ser percebido
pelo aumento do hematócrito, quanto maior sua
Esta fase pode estar presente em alguns elevação maior será a gravidade, pela redução dos
pacientes, podendo evoluir para as formas graves e, níveis de albumina e por exames de imagem.
por esta razão, medidas diferenciadas de manejo clíni-
co e observação devem ser adotadas imediatamente.
Tem início com a defervescência da febre, entre o
CHOQUE
terceiro e o sétimo dia do início da doença, acompa-
nhada do surgimento dos sinais de alarme. O choque ocorre quando um volume crítico de
plasma é perdido através do extravasamento, o que
Dengue com sinais de alarme: Os sinais de alarme geralmente ocorre entre os dias quatro ou cinco (com
devem ser rotineiramente pesquisados e valorizados, intervalo entre três a sete dias) de doença, geralmen-
bem como os pacientes devem ser orientados a procu- te precedido por sinais de alarme. O período de extra-
rar a assistência médica na ocorrência deles. A maioria vasamento plasmático e choque leva de 24 a 48
dos sinais de alarme é resultante do aumento da horas, devendo a equipe assistencial estar atenta à
permeabilidade vascular, a qual marca o início do dete- rápida mudança das alterações hemodinâmicas.
rioramento clínico do paciente e sua possível evolução
para o choque por extravasamento de plasma.
• Vômitos persistentes.
• Sangramento de mucosa.
27
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Intensidade do
pulso periférico Pulso forte Pulso fraco e filiforme Tênue ou ausente
Oliguria persistente.
Diureses Normal 1,5 a 4 ml/kg/h Oliguria < 1,5 ml/kg/h
< 1,5 ml/kg/h
O choque na dengue é de rápida instalação e tes podem apresentar um rash cutâneo acompanha-
tem curta duração. Podendo levar o paciente ao óbito do ou não de prurido generalizado. Infecções bacte-
em um intervalo de 12 a 24 horas ou a sua recupera- rianas poderão ser percebidas nesta fase ou ainda no
ção rápida, após terapia antichoque apropriada. O final do curso clínico. Tais infecções em determinados
choque prolongado e a consequente hipoperfusão de pacientes podem ter um caráter grave, contribuindo
órgãos resulta no comprometimento progressivo para o óbito.
destes, bem como em acidose metabólica e coagula-
ção intravascular disseminada. Isso, por sua vez, pode
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
levar a hemorragias graves, causando diminuição de
hematócrito agravando ainda mais o choque. Podem
Devido às características da dengue, pode-se
ocorrer alterações cardíacas graves (insuficiência
destacar seu diagnóstico diferencial em síndromes
cardíaca e miocardite), manifestando-se com redução
clínicas:
de fração de ejeção e choque cardiogênico. Síndrome
da angústia respiratória, pneumonites e sobrecargas Síndrome febril: enteroviroses, influenza e outras viroses
de volume podem ser a causa do desconforto respira- respiratórias, hepatites virais, malária, febre tifoide,
tório. chikungunya e outras arboviroses (oropouche, zika).
28
infecção urinária, colecistite aguda etc.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: DENGUE X ZIKA
Síndrome do choque: meningococcemia, septicemia,
meningite por influenza tipo B, febre purpúrica brasileira, MANIFESTAÇÃO DENGUE ZIKA
síndrome do choque tóxico e choque cardiogênico CLÍNICA/LABORATORIAL
(miocardites).
Intensidade da febre ++ +/ausente
Síndrome meníngea: meningites virais, meningite
bacteriana e encefalite. Exantema + (D5-D7) +++ (D2-D3)
Verde:
Neutropenia +++ + GRUPO B Prioridade não-urgente
Evolução após fase aguda Fadiga Artralgia Amarelo: Urgência, atendimento o mais rápido
crônica GRUPO C possível
29
30
SUSPEITA DE DENGUE
Relato de febre, usualmente entre dois e sete dias de duração, e duas ou mais das seguintes manifestações: náusea,
vômitos; exantema; mialgias, artralgia; cefaleia, dor retro-orbital; petéquias; prova do laço positiva; leucopenia. Também
pode ser considerado caso suspeito toda criança com quadro febril agudo, usualmente entre dois e sete dias de duração,
Notificar todo caso suspeito de dengue
CLÍNICA MÉDICA
CLÍNICAMÉDICA
NÃO SIM
Iniciar hidratação dos pacientes de imediato de acordo com a classificação, enquanto aguarda exames laboratoriais.
Hidratação oral para pacientes do grupo A e B. Hidratação venosa para pacientes dos grupos C e D.
FLUXOGRAMA PARA CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DE DENGUE
Condições clínicas especiais e/ou risco social ou comorbidades: lactentes (< 2 anos), gestantes, adultos com idade > 65 anos, com hipertensão arterial
ou outras doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, Dpoc, doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme), doença renal crônica,
doença ácido péptica e doenças autoimunes. Estes pacientes podem apresentar evolução desfavorável e devem ter acompanhamento diferenciado.
Métodos indicados:
31
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
PROVA DO LAÇO
Fontes:
32
LEPTOSPIROSE
A
leptospirose é uma zoonose de importância
mundial, causada por leptospiras patogênicas MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
transmitidas pelo contato com urina de animais
infectados ou água e lama contaminadas pela O período de incubação da doença varia de 1
bactéria. Um amplo espectro de animais sinantrópicos, a 30 dias, sendo mais frequente entre 5 e 14 dias. A
domésticos e selvagens serve como reservatório para doença apresenta manifestações clínicas variáveis,
a persistência de focos de infecção. No meio urbano, desde formas assintomáticas e oligossintomáticas
os principais reservatórios são os roedores (especial- até quadros clínicos graves associados a manifesta-
mente o rato de esgoto); outros reservatórios são os ções fulminantes. Didaticamente, as apresentações
suínos, bovinos, equinos, ovinos e cães. clínicas da leptospirose foram divididas dentro das
fases evolutivas da doença: a fase precoce (leptos-
O homem, hospedeiro terminal e acidental da pirêmica) e a fase tardia (fase imune). A fase precoce
doença, infecta-se ao entrar em contato com a urina de da doença é caracterizada pela instalação abrupta de
animais infectados de modo direto ou indireto, por febre, comumente acompanhada de cefaleia e mialgia
meio do contato com água, lama ou solo contamina- e, frequentemente, não pode ser diferenciada de
dos. A penetração do microrganismo ocorre através da outras causas de doenças febris agudas. Em aproxi-
pele com lesões, pele íntegra quando imersa em água madamente 15% dos pacientes, a leptospirose
por longo tempo ou mucosas. A transmissão inter-hu- progride para a fase tardia da doença, que é associa-
mana é muito rara e de pouca relevância epidemiológi- da a manifestações graves e potencialmente letais.
ca.
FASE DA CONVALESCENÇA
É uma doença infecciosa febril de início abrup-
to, cujo espectro clínico pode variar desde quadros
Por ocasião da alta do paciente, astenia e
oligossintomáticos, leves e de evolução benigna a
anemia podem ser observadas. A eliminação de
formas graves. A síndrome de Weil, comumente des-
leptospiras pela urina (leptospirúria) pode continuar
crita como icterícia, insuficiência renal e hemorragias,
por uma semana ou, mais raramente, por vários
é a manifestação clássica de leptospirose grave. No
meses após o desaparecimento dos sintomas. A icte-
entanto, a síndrome de hemorragia pulmonar vem
rícia desaparece lentamente, podendo durar dias ou
sendo reconhecida como uma forma grave e emergen-
semanas. Os níveis de anticorpos, detectados pelos
te da doença. A letalidade de formas graves de leptos-
testes sorológicos, diminuem progressivamente, mas,
pirose é de aproximadamente 10% e chega a 50%
em alguns casos, permanecem elevados por vários
quando ocorre a síndrome de hemorragia pulmonar.
meses.. Uveíte unilateral ou bilateral, caracterizada
por irite, iridociclite e coriorretinite, pode ocorrer até
18 meses após a infecção, podendo persistir por
anos.
33
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
• sufusão conjuntival
Fase tardia: hepatites virais agudas, dengue hemorrá-
• sinais de insuficiência renal aguda (incluindo
gico, hantavirose, febre amarela, malária grave, febre
alterações no volume urinário)
tifoide, endocardite, riquetsioses, doença de Chagas
• icterícia e/ou aumento de bilirrubinas
aguda, pneumonias, pielonefrite aguda, apendicite
• fenômeno hemorrágico
aguda, sepse, meningites, colangite, colecistite aguda.
34
CONDUTA ANTIBIOTICOTERAPIA
Fase tardia:
3. Os pacientes que não apresentarem sinais de
Adultos - Penicilina G Cristalina: 1.5 milhões UI, IV, de
alerta deverão ser orientados quanto à hidratação, uso
6/6 horas; ou - Ampicilina : 1 g, IV, 6/6h; ou - Ceftriaxo-
de sintomáticos e busca por atendimento médico para
na: 1 a 2 g, IV, 24/24h ou Cefotaxima: 1 g, IV, 6/6h. Alter-
reavaliação após 24 a 72 horas, ou retorno, a qualquer
nativa: Azitromicina 500 mg, IV, 24/24h
momento, se constatarem o aparecimento de sinais de
alerta ou piora do quadro clínico.
Crianças - Penicilina cristalina: 50 a 100.000 U/kg/dia,
IV, em quatro ou seis doses; ou - Ampicilina: 50-100
mg/kg/dia, IV, dividido em quatro doses; ou - Ceftriaxo-
na: 80-100 mg/kg/dia, em uma ou duas doses, ou Cefo-
taxima: 50-100 mg/kg/dia, em duas a quatro doses.
CONDUTA
Alternativa: Azitromicina 10 mg/kg/dia, IV
35
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
HEPATITES
A
s hepatites virais são doenças provocadas por
diferentes agentes etiológicos, com tropismo
primário pelo tecido hepático, que podem
apresentar características epidemiológicas,
clínicas e laboratoriais semelhantes, porém, com
importantes particularidades.
36
etc.) sem cuidados com as normas de biossegurança. nação da infecção nos países em desenvolvimento
A transmissão sexual é pouco frequente (risco menor onde a contaminação dos reservatórios de água
que 2% para parceiros estáveis) e ocorre principal- perpetua a doença. A transmissão interpessoal não é
mente em pessoas com múltiplos parceiros e com comum. Em alguns casos os fatores de risco não são
prática sexual de risco (sem uso de preservativo), identificados. A doença é autolimitada e pode apre-
sendo que a co-existência de alguma DST – inclusive sentar formas clínicas graves, principalmente em ges-
o HIV – constitui-se em um importante facilitador tantes.
dessa transmissão. A transmissão vertical é rara
quando comparada à hepatite B. Entretanto, já se
demonstrou que gestantes com carga viral do HCV
elevada ou coinfectadas pelo HIV apresentam maior
risco de transmissão vertical.
37
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
atipia linfocitária. A hepatite crônica é assintomática
local de residência/procedência também devem ser ou oligossintomática na grande maioria dos casos.
pesquisados. De modo geral, as manifestações clínicas aparecem
apenas em fases adiantadas de acometimento hepá-
Em função da alta circulação do vírus da hepati- tico. Muitas vezes o diagnóstico é feito ao acaso, a
te A em crianças e adultos jovens, esta deve ser a partir de alterações esporádicas de exames de avalia-
primeira a ser pesquisada em casos de suspeita de ção de rotina ou da triagem em bancos de sangue.
hepatite aguda, salvo se o paciente apresenta algum Não existem manifestações clínicas ou padrões de
vínculo epidemiológico ou risco específico para outro evolução patognomônicos dos diferentes agentes. O
tipo de hepatite. As hepatites B e C devem ser pesqui- diagnóstico etiológico só é possível por meio de
sadas antes da A se o paciente já apresentar diagnós- exames sorológicos e/ou de biologia molecular.
tico sorológico prévio de hepatite A, se for encaminha-
do por algum serviço de triagem (p.ex: banco de CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES DAS HEPATITES VIRAIS:
sangue) com sorologia reagente para hepatite B ou C,
ou se apresentar risco específico, como contato sexual AGENTE PERÍODO DE FORMA
CRONIFICAÇÃO
ETIOLÓGICO INCUBAÇÃO ICTÉRICA
com portador de hepatite B ou exposição profissional
a sangue (p. ex: pessoal da área da Saúde). 5% a 10% em
Não existem
HAV 15 a 50 dias menores de 6 anos relatos de
(média de 30 dias) 70% a 80% nos formas crônicas
Considerando a sobreposição das vias de adultos
infecção das hepatites B e C, elas sempre devem ser 90% em recém-
pesquisadas em conjunto. Apesar do risco de trans- HBV 15 a 180 dias 30%
nascidos
5% a 10% após
missão por via sexual da hepatite C ser bem menor do 5 anos
que a hepatite B, pessoas com múltiplos parceiros e
21 a 140 dias
com prática sexual de risco apresentam maior chance HCV (média de 49 dias) Cerca de 20% 70 a 85%
de infecção. É semelhante ao da
hepatite B, porém me-
HDV nor na superinfecção:
Variável Variável
14 a 56 dias.
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
Não existem
15 a 60 dias
Os quadros clínicos agudos das hepatites HEV (média de 40 dias) Variável relatos de
formas crônicas
virais são muito diversificados, variando desde
formas subclínicas ou oligossintomáticas até formas
fulminantes. A maioria dos casos cursa com predomi- DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
nância de fadiga, anorexia, náuseas, mal-estar geral e
adinamia. Nos pacientes sintomáticos, o período de Os testes de função hepática, especialmente
doença aguda se caracteriza pela presença de colú- os níveis séricos da ALT/TGP e AST/TGO, apesar de
ria, hipocolia fecal e icterícia. serem indicadores sensíveis do dano do parênquima
hepático, não são específicos para hepatites. Os
As aminotransferases (ALT/TGP e AST/TGO) exames específicos para o diagnóstico do tipo de
são marcadores sensíveis de lesão do parênquima infecção são os sorológicos e os de biologia molecu-
hepático, porém não são específicas para nenhum lar.
tipo de hepatite. A elevação da ALT/TGP geralmente
é maior que da AST/TGO e já é encontrada durante HEPATITE A: INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS SOROLÓGICOS
38
HEPATITE B AGUDA: SIGNIFICADO DOS MARCADORES SOROLÓGICOS HEPATITE B: INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS SOROLÓGICOS*
Anti-HBc Anti-HBc
MARCADOR SIGNIFICADO INTERPRETAÇÃO HBsAg HBeAg
IgM IgG**
Anti-HBe Anti-HBs
Imunidade, inf-
Anti-HBe Surge após o desaparecimento do HBeAg,
ecção passada (-) (-) (-) (+) (+) (+)
indica o fim da fase replicativa.
recente.
HEPATITE B CRÔNICA: SIGNIFICADO DOS MARCADORES SOROLÓGICOS. HEPATITE C: SIGNIFICADO DO MARCADOR SOROLÓGICO
Sua presença por mais de seis meses é indicativa de Indica contato prévio com o vírus da hepatite C,
HBsAg mas não define se recente ou tardio. O diagnóstico
hepatite crônica Anti-HCV
de infecção aguda só pode ser feito com a viragem
Na infecção crônica está presente enquanto ocorrer sorológica documentada.
HBeAg replicação viral, exceto nas cepas com mutação
pré-core (não produtoras da proteína “e”).
Sua presença sugere redução ou ausência de HEPATITE DELTA: SIGNIFICADO DOS MARCADORES SOROLÓGICOS
Anti-HBe replicação viral.
MARCADOR SIGNIFICADO
39
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
ção viral, genótipo do vírus, pesquisa de mutações no
HEPATITE B: INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS SOROLÓGICOS*
genoma viral, etc. Os testes de biologia molecular
têm elevado custo e, por vezes, difícil interpretação.
Anti-HBc Anti-delta Anti-delta
INTERPRETAÇÃO HBsAg HBVAg
IgM IgM IgG
TRATAMENTO
Co-infecção* ou
superinfecção ** (+) (–) (+) (–) (–)
recente Hepatite aguda:
Superinfecção
antiga (–) (–) (–) (–) (+) A sua duração e intensidade, se absoluto ou
não, são questões muito discutidas. Como norma geral,
* Co-infecção: infecção aguda simultânea pelos vírus B e delta da hepatite. recomenda-se repouso relativo até praticamente a
** Superinfecção: infecção pelo vírus delta da hepatite em paciente
portador crônico do vírus B da hepatite.
normalização das aminotransferases, liberando-se
progressivamente o paciente para atividades físicas.
Dieta pobre em gordura e rica em carboidratos é de uso
INTERPRETAÇÃO DOS MARCADORES SOROLÓGICOS DE HEPATITE E popular, porém seu maior benefício é ser mais
agradável para o paciente anorético. De forma prática,
Anti-HEV Total Anti-HEV IgM INTERPRETAÇÃO deve ser recomendado que o próprio paciente defina
(+) / (-) (+)
Infecção recente pelo vírus da sua dieta de acordo com seu apetite e aceitação
hepatite E alimentar. A única restrição está relacionada à ingestão
Exposição prévia pelo vírus da
(+) (-) de álcool, que deve ser suspensa por seis meses no
hepatite E
Nunca teve contato com o vírus da
mínimo e, preferencialmente, por um ano. As drogas
(-) (-)
hepatite E consideradas “hepatoprotetoras”, associadas ou não a
complexos vitamínicos, não tem nenhum valor
terapêutico.
EXAMES DE BIOLOGIA MOLECULAR
A administração de vitamina K durante um a
Os testes de biologia molecular são utilizados três dias pode ser recomendada nos casos de queda da
para detectar a presença do acido nucléico do vírus atividade de protrombina devido à absorção intestinal
inadequada da vitamina. A administração de
(DNA para o vírus da hepatite B e RNA para os
corticosteróide é totalmente contra-indicada.
demais vírus da hepatite). Os testes podem ser: quali-
tativo (indicam a presença ou ausência do vírus na
O critério de alta inclui:
amostra pesquisada), quantitativo (indicam a carga
viral presente na amostra) ou de genotipagem (indi- • Remissão dos sintomas, podendo persistir
cam o genótipo do vírus). Para realização dos testes discreta adinamia e sintomas digestivos vagos.
de biologia molecular existem varias técnicas (Polime- • Normalização das bilirrubinas.
rase Chain Reaction ou PCR, hibridização, branched- • Normalização do tempo de protrombina.
-DNA ou b-DNA, seqüenciamento, Transcription-Me- • Normalização das aminotransferases, com pelo
diated Amplification ou TMA). A definição da técnica a menos duas dosagens normais com intervalo de quatro
ser utilizada depende da informação clínica que se semanas devido à possibilidade de recrudescência.
quer obter – presença ou ausência do vírus, replica-
40
ESQUEMAS TERAPÊUTICOS PARA HEPATITE VIRAL CRÔNICA
41
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
42
DOENÇA DE CHAGAS
A
doença de Chagas (DC) é uma das consequ- riais com ovos aderidos (como folhas de palmeiras
ências da infecção humana pelo protozoário para cobertura de casas e lenha) pode favorecer o
flagelado Trypanosoma cruzi. Na ocorrência da processo de colonização. A oviposição ocorre entre
doença observam-se duas fases clínicas: uma 10 e 30 dias após a cópula e o número de ovos varia
aguda, que pode ou não ser identificada, podendo de acordo com a espécie e principalmente em
evoluir para uma fase crônica. função do estado nutricional da fêmea. Uma fêmea
fecundada e alimentada pode realizar posturas por
todo o seu período de vida adulta.
TRANSMISSÃO
Ciclo de transmissão
AGENTE ETIOLÓGICO
43
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
• Oral: ocorre pela ingestão de alimentos II. Fase crônica: existem raros parasitos
contaminados com parasitas provenientes de circulantes na corrente sanguínea. Inicialmente,
triatomíneos infectados ou, ocasionalmente, por secreção essa fase é assintomática e sem sinais de
das glândulas de cheiro de marsupiais (mucura ou comprometimento cardíaco e/ou digestivo. Pode
gambá); apresentar-se como uma das seguintes formas:
• Acidental: ocorre pelo contato da pele ferida ou de • Forma indeterminada: paciente assintomático
mucosas com material contaminado (sangue de doentes, e sem sinais de comprometimento do aparelho
excretas de triatomíneos, animais contaminados) durante circulatório (clínica, eletrocardiograma e radiografia de
manipulação em laboratório (acidental), em geral sem o tórax normais) e do aparelho digestivo (avaliação
uso adequado de equipamentos de proteção individual. clínica e radiológica normais de esôfago e cólon). Esse
quadro poderá perdurar por toda a vida da pessoa
infectada ou pode evoluir tardiamente para uma das
Transmissibilidade: o parasito só se transmite formas a seguir;
de pessoa a pessoa por meio do sangue, órgãos ou
• Forma cardíaca: evidências de acometimento
placenta. A maioria dos indivíduos com infecção pelo
cardíaco que, frequentemente, evolui para quadros de
T. cruzi alberga o parasito nos tecidos e sangue, duran-
miocardiopatia dilatada e insuficiência cardíaca
te toda a vida, o que significa que devem ser excluídos
congestiva (ICC). Essa forma ocorre em cerca de 30%
das doações de sangue e de órgãos. dos casos crônicos e é a maior responsável pela
mortalidade na doença de Chagas crônica;
44
infecção pelo T. cruzi. Em alguns casos por transmis-
SINTOMATOLOGIA INESPECÍFICA são oral, foram observados sangramento digestivo
(hematêmese, hematoquezia ou melena) e outros
tipos de sinais hemorrágicos concomitantes.
Na maioria dos casos aparentes, ocorrem:
SINTOMATOLOGIA ESPECÍFICA
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
45
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Tratamento específico:
• Lâmina corada de gota espessa ou esfregaço:
embora apresente sensibilidade inferior aos métodos O Benznidazol é a droga disponível para o tratamento
anteriores, essa técnica vem sendo largamente utilizada específico da DC. O Nifurtimox pode ser utilizado como
na região da Amazônia Legal em virtude de sua praticidade alternativa em casos de intolerância ao Benznidazol,
e disponibilidade nas ações de diagnóstico da malária. embora seja um medicamento de difícil obtenção. No
caso de falha terapêutica com uma das drogas, a outra
pode ser tentada, apesar de eventual resistência
cruzada. Na fase aguda, o tratamento deve ser realiza-
Exames sorológicos: do em todos os casos e o mais rápido possível após a
confirmação diagnóstica. O tratamento específico é
Têm utilidade complementar aos exames parasitológi- eficaz na maioria dos casos agudos (> 60%) e congêni-
cos e devem sempre ser colhidos em casos suspeitos tos (> 95%), apresentando ainda boa eficácia em 50% a
ou confirmados de DCA. As metodologias utilizadas são 60% de casos crônicos recentes. O tratamento etiológi-
a hemoaglutinação indireta (HAI), a imunofluorescên- co tem como objetivos: curar a infecção, prevenir
cia indireta (IFI) e o método imunoenzimático (Elisa). A lesões orgânicas ou a evolução delas e diminuir a
reação de fixação de complemento (reação de Guerrei- possibilidade de transmissão do T. cruzi.
ro-Machado) não é mais utilizada pelos laboratórios da
rede do Sistema Único de Saúde. O Benznidazol é apresentado na forma de comprimidos
de 100 mg e deve ser usado em duas ou três tomadas
• Anticorpos IgG: a confirmação de caso por diárias, por via oral, durante 60 dias. A dose varia de
pesquisa de IgG demanda duas coletas que possibili- acordo com a idade e o peso do paciente:
tam comparar a soroconversão ou a variação de pelo
menos dois títulos sorológicos (IFI), com intervalo ADULTOS 5 mg/kd/dia
mínimo de 21 dias entre uma coleta e outra;
CRIANÇAS 5-10 mg/kd/dia
• Anticorpos IgM: método recentemente incor- LACTENTES 10 mg/kd/dia
porado na rotina de poucos laboratórios no Brasil.
O Nifurtimox pode ser encontrado em comprimidos de
120 mg e, de forma semelhante ao outro medicamento
Na prática, recomendam-se que, diante de um (Beznidazol), deve ser usado em duas ou três tomadas
caso suspeito de DCA, sejam realizados exames diárias, por via oral, durante 60 a 90 dias. A dose indica-
parasitológicos diretos para leitura imediata, da também está relacionada à idade e peso do pacien-
repetidos quantas vezes forem necessário. Caso te:
resultem negativos ou não possam ser lidos no local
da coleta, recomenda-se coleta de sangue total com ADULTOS 8-10 mg/kd/dia
anticoagulante, para realizar método de CRIANÇAS 15 mg/kd/dia
concentração, e de sangue para sorologia, os quais
serão enviados para laboratórios de referência
estadual (Lacen) ou nacional (Funed).
NOTIFICAÇÃO
TRATAMENTO
Todos os casos de DCA devem ser imediata-
mente notificados ao Sistema de Informação de Agra-
Tratamento de suporte: vos de Notificação – Sinan (BRASIL, 2006). Os
casos de reativação da doença que ocorrem nos qua-
Afastamento das atividades profissionais, escolares ou dros de imunodeficiência (HIV) e os casos crônicos
desportivas fica a critério médico. Dieta livre, evitando- não devem ser notificados.
-se bebidas alcoólicas. A internação hospitalar é
indicada em casos de maior comprometimento geral,
cardiopatia de moderada a grave, quadros hemorrági- Fontes:
cos e meningoencefalite.
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_a
b/abcad22.pdf
46
FEBRE AMARELA
A
febre amarela é uma doença infecciosa febril
aguda, não contagiosa, transmitida por vetores
artrópodes e causada por um vírus do gênero
Flavivirus, família Flaviviridae, de curta duração
(no máximo 12 dias), que pode se apresentar desde
formas leves com sintomatologia febril inespecífica até
formas graves com icterícia, albuminúria, oligúria, mani-
festações hemorrágicas, delírio, obnubilação e
choque, com alta morbidade e letalidade.
QUADRO CLÍNICO
Todos os anteriores
Icterícia intensa
Plaquetopenia intensa
O quadro clínico clássico caracteriza-se pelo Grave
Manifestações
Aumento de creatinina
hemorrágicas
surgimento súbito de febre alta, geralmente contínua, Elevação importante
Oligúria de transaminases
cefaleia intensa e duradoura, inapetência, náuseas e Diminuição de consci-
mialgia. O sinal de Faget (bradicardia acompanhando ência
febre alta) pode ou não estar presente.
47
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Na enfermaria deve-se prescrever sintomáti-
hemorrágicas sendo residente ou procedente de área cos para febre e dor, hidratação oral ou parenteral e
de risco para febre amarela, nos 15 dias anteriores, iniciar controle de diurese usando recipientes ade-
que não tenha comprovante de vacinação de febre quados, graduados e de boca larga, calculando o
amarela ou que tenha recebido a primeira dose há volume a cada hora (diurese >1 mL/Kg/hora é ade-
menos de 30 dias. 11 Exames laboratoriais inespecífi- quada). Não é necessário sondagem vesical, que
cos podem apresentar alterações e auxiliam na identifi- deve ser evitada especialmente em pacientes com
cação de formas mais graves e no manejo clínico. manifestações hemorrágicas. A avaliação dos parâ-
metros clínicos e de proteinúria deve ser repetida
O diagnóstico específico de febre amarela frequentemente (pelo menos a cada 4 horas) e os
pode ser feito de forma direta pela detecção do vírus exames laboratoriais diariamente, ou a qualquer
em amostras clínicas (sangue e/ou tecidos) ou de momento caso apareçam sinais de alerta para formas
forma indireta pela detecção de anticorpos. graves e malignas, caso em que o paciente deve ser
transferido para unidade de terapia intensiva.
• Sorologia
A hospitalização em unidade de terapia inten-
• Biologia Molecular (RT-PCR)
• Isolamento Viral
siva está indicada para pacientes que apresentarem
• Histopatologia / Imunohistoquímica qualquer alteração clínica ou laboratorial de formas
graves e malignas a qualquer momento desde a
avaliação inicial. Cuidados implementados o mais
A conduta após a avaliação inicial depende dos brevemente possível como ventilação mecânica
achados clínicos e laboratoriais. O acompanhamento protetora, hemodiálise e suporte hematológico
ambulatorial pode ser feito para pacientes nas seguin- influenciam o desfecho dos casos, muito embora con-
tes condições: siderável proporção ainda vá ter desfecho fatal.
• Formas clínicas leves ou moderadas. Não existe, até o momento, tratamento especí-
fico para febre amarela, sendo o manejo limitado ao
• Paciente em regular estado geral, hidratado ou tratamento dos sintomas e intercorrências.
com desidratação leve, sem vômitos, sem história ou
sinais de hemorragias, com nível de consciência
normal.
48
Os critérios de alta são:
IMUNIZAÇÃO
A vacinação contra febre amarela (VFA –
atenuada) é a medida mais importante e eficaz para
prevenção e controle da doença. É um imunobiológi-
co seguro e altamente eficaz na proteção contra a
doença, com imunogenicidade de 90% a 98% de
proteção. Os anticorpos protetores aparecem entre
o sétimo e o décimo dia após a aplicação da vacina,
razão pela qual a imunização deve ocorrer dez dias
antes de se ingressar em área de risco da doença.
Fontes:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/febre_amare
la_guia_profissionais_saude.pdf
49
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
MALÁRIA
A
malária é uma doença infecciosa cujo agente parasitos se desenvolvem rapidamente, enquanto
etiológico é um parasito do gênero Plasmo- outros ficam em estado de latência no hepatócito.
dium. As espécies associadas à malária São, por isso, denominados hipnozoítos (do grego
humana são: Plasmodium falciparum, P. vivax hipnos, sono). Esses hipnozoítos são responsáveis
P. malariae e P. ovale. No Brasil, nunca foi registrada pelas recaídas da doença, que ocorrem após perío-
transmissão autóctone de P. ovale, que é restrita a dos variáveis de incubação (geralmente dentro de
determinadas regiões da África. A transmissão natural seis meses).
da malária ocorre por meio da picada de fêmeas infec-
tadas de mosquitos do gênero Anopheles, sendo mais Na fase sanguínea do ciclo, os merozoítos
importante a espécie Anopheles darlingi, cujos cria- formados rompem a hemácia e invadem outras,
douros preferenciais são coleções de água limpa, dando início a ciclos repetitivos de multiplicação
quente, sombreada e de baixo fluxo, muito frequentes eritrocitária. Os ciclos eritrocitários repetem-se a
na Amazônia brasileira. cada 48 horas nas infecções por P. vivax e P. falcipa-
rum e a cada 72 horas nas infecções por P. malariae.
A infecção inicia-se quando os parasitos (espo- Depois de algumas gerações de merozoítos nas
rozoítos) são inoculados na pele pela picada do vetor, hemácias, alguns se diferenciam em formas sexua-
os quais irão invadir as células do fígado, os hepatóci- das: os macrogametas (feminino) e microgametas
tos. Nessas células multiplicam-se e dão origem a (masculino). Esses gametas no interior das hemácias
milhares de novos parasitos (merozoítos), que rompem (gametócitos) não se dividem e, quando ingeridos
os hepatócitos e, caindo na circulação sanguínea, vão pelos insetos vetores, irão fecundar-se para dar
invadir as hemácias, dando início à segunda fase do origem ao ciclo sexuado do parasito.
ciclo, chamada de esquizogonia sanguínea. É nessa
fase sanguínea que aparecem os sintomas da malária.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA MALÁRIA
O desenvolvimento do parasito nas células do fígado
requer aproximadamente uma semana para o P. falci-
parum e P. vivax e cerca de duas semanas para o P. O período de incubação da malária varia de 7
malariae. Nas infecções por P. vivax e P. ovale, alguns a 14 dias, podendo, contudo, chegar a vários meses
em condições especiais, no caso de P. vivax e P.
malariae. A crise aguda da malária caracteriza-se por
episódios de calafrios, febre e sudorese. Têm dura-
ção variável de 6 a 12 horas e pode cursar com tem-
peratura igual ou superior a 40ºC. Em geral, esses
paroxismos são acompanhados por cefaléia, mialgia,
náuseas e vômitos. Após os primeiros paroxismos, a
febre pode passar a ser intermitente.
50
primoinfectados estão sujeitos a maior gravidade,
principalmente por infecções pelo P. falciparum, que TESTES RÁPIDOS IMUNOCROMATOGRÁFICOS
podem ser letais.
Baseiam-se na detecção de antígenos dos
Pela inespecificidade dos sinais e sintomas parasitos por anticorpos monoclonais, que são revela-
provocados pelo Plasmodium, o diagnóstico clínico dos por método imunocromatográfico. Comercial-
da malária não é preciso, pois outras doenças febris mente estão disponíveis em “kits” que permitem diag-
agudas podem apresentar sinais e sintomas seme- nósticos rápidos, em cerca de 15 a 20 minutos. A
lhantes, tais como a dengue, a febre amarela, a sensibilidade para P. falciparum é maior que 90%,
leptospirose, a febre tifóide e muitas outras. Dessa comparando-se com a gota espessa, para densida-
forma, a tomada de decisão de tratar um paciente por des maiores que 100 parasitos por µl de sangue. São
malária deve ser baseada na confirmação laboratorial de fácil execução e interpretação de resultados,
da doença, pela microscopia da gota espessa de dispensam o uso de microscópio e de treinamento
sangue ou por testes rápidos imunocromatográficos. prolongado de pessoal. Entre suas desvantagens
estão:
Prostração
Alteração da consciência 1. Não distinguem P. vivax, P. malariae e P. ovale;
Dispnéia ou hiperventilação
Convulsões 2. Não medem o nível de parasitemia;
Sintomas e Hipotensão arterial ou choque
sinais Edema pulmonar ao RX de tórax 3. Não detectam infecções mistas que incluem o P. 14
Hemorragias Ministério da Saúde falciparum.
Icterícia
Hemoglobinúria
Hiperpirexia (>41ºC) Além disso, seus custos são ainda mais eleva-
Oligúria dos que o da gota espessa e pode apresentar perda
de qualidade quando armazenado por muitos meses
Anemia grave em condições de campo.
Hipoglicemia
Alterações Acidose metabólica
laborato- Insuficiência renal
Hiperlactatemia
Hiperparasitemia
DIAGNÓSTICO MICROSCÓPICO
51
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
malária deve ser precedida de informações - Cloroquina: comprimidos de 150 mg, Primaquina infantil: comprimidos de 5 mg e Primaquina adulto:
comprimidos de 15 mg.
sobre os seguintes aspectos: - Sempre dar preferência ao peso para a escolha da dose.
- Todos os medicamentos devem ser administrados em dose única diária.
- Administrar os medicamentos preferencialmente às refeições.
• Espécie de plasmódio infectante, pela - Não administrar primaquina para gestantes ou crianças menores de 6 meses (nesses casos usar a Tabela 3).
- Se surgir icterícia, suspender a primaquina.
especificidade dos esquemas terapêuticos a serem - Se o paciente tiver mais de 70 kg, ajustar a dose de primaquina (Quadro 3).
utilizados;
• Idade do paciente, pela maior toxicidade para
TRATAMENTO DAS INFECÇÕES PELO P. VIVAX, OU P. OVALE
crianças e idosos; COM CLOROQUINA EM 3 DIAS E PRIMAQUINA
• História de exposição anterior à infecção uma vez EM 14 DIAS (ESQUEMA LONGO)
que indivíduos primoinfectados tendem a apresentar formas
mais graves da doença; Número de comprimidos por medicamento por dia
4º ao 14º
• Condições associadas, tais como gravidez e outros Idade/ 1º dia 2º dia 3º dia
dias
Peso
problemas de saúde; Primaquina Primaquina Primaquina Primaquina
Cloroquina Cloroquina Cloroquina
INFANTIL INFANTIL INFANTIL INFANTIL
• Gravidade da doença, pela necessidade de
6-11 meses 1/2 1/2 1/4 1/2 1/4 1/2 1/4
hospitalização e de tratamento com esquemas especiais de 5-9 kg
antimaláricos. 1-3 anos 1 1 1/2 1/2 1/2 1/2 1/2
10-14 kg
4-8 anos 1 1 1 1 1 1 1
15-24 kg
52
atividades do pôr-do-sol ao amanhecer.
Vale ressaltar, entretanto, que nenhuma dessas
• Condições de acomodação: dormir ao ar livre, em drogas apresenta ação contra esporozoítos (formas
acampamentos, barcos, ou habitações precárias sem proteção infectantes) ou hipnozoítos (formas latentes hepáti-
contra mosquitos. cas), não prevenindo, portanto infecção pelo Plasmo-
dium sp ou recaídas por P. vivax ou P. ovale. A QPX
• Duração da viagem: período da viagem maior que o
deve ser indicada quando o risco de doença grave e/
período de incubação da doença, ou seja, permanecer no local
tempo maior que o período mínimo de incubação da doença
ou morte por malária P. falciparum for superior ao risco
(sete dias). de eventos adversos graves relacionados às drogas
utilizadas. Viajantes em uso de quimioprofilaxia (QPX)
• Época do ano: viagem próxima ao início ou término da devem realizar pesquisa de hematozoário em sangue
estação chuvosa. periférico (gota espessa) ao término da profilaxia,
mesmo que estejam assintomáticos e, a qualquer
• Altitude do destino: destinos até 1.000 m de altitude.
tempo, caso apresentem quaisquer sintomas de
• Acesso ao sistema de saúde no destino distante em
doença.
mais de 24 horas.
Fontes:
Proteção contra picadas de insetos:
http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/m
• Informação sobre o horário de maior atividade de aio/27/Guia-pr--tico-de-tratamento-da-mal--ria-no-Bras
mosquitos vetores de malária, do pôr-do-sol ao amanhecer. il.pdf
• Uso de roupas claras e com manga longa, durante
atividades de exposição elevada.
QUIMIOPROFILAXIA
53
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
RAIVA
A
raiva é uma antropozoonose transmitida ao
homem pela inoculação do vírus presente na
saliva e secreções do animal infectado, princi-
palmente pela mordedura. Apresenta letalida- animais infectados.
de de aproximadamente 100% quando não realizada a Não se têm relatos de caso de imunidade natural nos
profilaxia, e alto custo na assistência preventiva às pes- seres humanos. A imunidade é adquirida pelo uso da
soas expostas ao risco de adoecer e morrer. Apesar de vacina e a imunidade passiva, pelo uso do soro.
ser conhecida desde a antiguidade, continua sendo
um problema de saúde pública. Outras vias de transmissão (respiratória,
sexual, vertical) também são relatadas, mas têm
O vírus da raiva é neurotrópico e sua ação no probabilidades muito remotas de ocorrência em
sistema nervoso central – SNC causa quadro clínico seres humanos. Existe relato de transmissão por via
característico de encefalomielite aguda, decorrente da digestiva somente em animais. Não há tratamento
sua replicação viral nos neurônios. Pertence ao gênero comprovadamente eficaz para a raiva. Poucos pacien-
Lyssavirus, da família Rhabdoviridae, possui a forma de tes sobrevivem à doença, a maioria com sequelas
projétil e seu genoma é constituído por ácido ribonu- graves. Em 2004, há o relato de uma paciente que foi
cléico – RNA envolvido por duas capas de natureza exposta a um morcego nos Estados Unidos e con-
lipídica. Apresenta dois antígenos principais, um de traiu raiva. A paciente foi submetida a um tratamento
superfície, composto por uma glicoproteína responsá- à base de antivirais e indução ao coma, denominado
vel pela formação de anticorpos neutralizantes, e outro Protocolo de Milwaukee, e sobreviveu sem receber
interno, que é formado por uma nucleoproteína. vacina ou soro. Em 2008, outros dois pacientes
foram submetidos ao Protocolo de Milwaukee adap-
Apenas os mamíferos transmitem e adoecem tado com sucesso na terapia, sendo um da Colômbia
pelo vírus da raiva. No Brasil, o morcego é o principal e outro do Brasil, o qual originou o Protocolo de trata-
responsável pela manutenção da cadeia silvestre, mento de raiva humana no Brasil – Protocolo de
enquanto o cão, em alguns municípios, continua sendo Recife.
fonte de infecção importante. Outros reservatórios
silvestres são: macaco, cachorro-do-mato, raposa, CONDUTA EM CASO DE POSSÍVEL EXPOSIÇÃO
gato-do-mato, mão-pelada, guaxinim, entre outros. AO VÍRUS DA RAIVA
54
polpas digitais e planta dos pés); podem acontecer em
polivinilpirrolidona-iodo, povidine e digluconato de decorrência de mordeduras ou arranhaduras causadas por
clorexidina ou álcool-iodado. Essas substâncias deve- unha ou dente.
rão ser utilizadas somente na primeira consulta. Nas
seguintes, devem-se realizar cuidados gerais orienta- • Lambedura de pele com lesões superficiais.
CARACTERÍSTICAS DO FERIMENTO
CARACTERÍSTICAS DO ANIMAL ENVOLVIDO
Em relação à transmissão do vírus da raiva, os NO ACIDENTE
ferimentos causados por animais devem ser avaliados
quanto ao: Cão e gato :
Local: ferimentos que ocorrem em regiões próximas ao As características da doença em cães e gatos, como período
sistema nervoso central (cabeça, face ou pescoço) ou em de incubação, transmissão e quadro clínico, são bem
locais muito inervados (mãos, polpas digitais e planta dos conhecidas e semelhantes. Por isso, esses animais são
pés) são graves, porque facilitam a exposição do sistema analisados em conjunto. Em caso de acidente com estes
nervoso ao vírus. A lambedura de mucosas é considerada animais é necessário avaliar:
grave, porque as mucosas são permeáveis ao vírus, mesmo
quando intactas, e as lambeduras geralmente abrangem • O estado de saúde do animal no momento da
áreas mais extensas. A lambedura da pele íntegra não agressão: avaliar se o animal estava sadio ou se apresentava
oferece risco. sinais sugestivos de raiva. A maneira como ocorreu o
acidente pode fornecer informações sobre seu estado de
Profundidade: os ferimentos devem ser classificados saúde. O acidente provocado (por exemplo, o animal que
como superficiais (sem presença de sangramento) ou reage em defesa própria, a estímulos dolorosos ou outras
profundos (apresentam sangramento, ou seja, ultrapassam a provocações) geralmente indica reação normal do animal,
derme). Os ferimentos profundos, além de aumentar o risco enquanto que a agressão espontânea (sem causa aparente)
de exposição do sistema nervoso, oferecem dificuldades à pode indicar alteração do comportamento e sugere que o
assepsia, contudo, vale ressaltar que os ferimentos animal pode estar acometido de raiva. Lembrar que o animal
puntiformes são considerados como profundos, ainda que também pode agredir devido à sua índole ou adestramento.
algumas vezes não apresentem sangramento.
• A possibilidade de observação do animal por 10 dias:
Extensão e número de lesões: deve-se observar a se o animal estiver sadio no momento do acidente, é
extensão da lesão e se ocorreu apenas uma única lesão ou importante que ele seja mantido em observação por 10 dias.
múltiplas, ou seja, uma porta de entrada ou várias. Por Nos cães e gatos, o período de incubação da doença pode
exemplo, uma mordedura pode ter várias portas de entrada. variar de alguns dias a anos, mas, em geral, é de cerca de 60
Considerar cada perfuração como uma porta de entrada. dias. No entanto, a excreção de vírus pela saliva, ou seja, o
período em que o animal pode transmitir a doença, só ocorre
a partir do final do período de incubação, variando entre dois
De acordo com os critérios acima estabeleci- e cinco dias antes do aparecimento dos sinais clínicos,
persistindo até sua morte, que ocorre em até cinco dias após
dos, as exposições podem ser assim classificadas:
o início dos sintomas. Por isso, o animal deve ser observado
por 10 dias. Portanto, se em todo esse período (dez dias)
Acidentes leves: permanecer vivo e saudável, não há riscos de transmissão do
vírus.
• Ferimentos superficiais, pouco extensos,
geralmente únicos, em tronco e membros (exceto mãos,
55
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
• A procedência do animal: é necessário saber se a região
de procedência do animal é área de raiva controlada ou não Observação válida para todos os animais de
controlada. risco:
• Os hábitos de vida do animal: o animal deve ser Sempre que possível, coletar amostra de tecido cerebral e
classificado como domiciliado ou não domiciliado. Animal enviar para o laboratório de referência. O diagnóstico
domiciliado é o que vive exclusivamente dentro do domicílio, laboratorial é importante tanto para definir a conduta em
não tem contato com outros animais desconhecidos e só sai à relação ao paciente quanto para conhecer o risco de
rua acompanhado do seu dono. Desse modo, esses animais transmissão da doença na área de procedência do animal. Se
podem ser classificados como de baixo risco em relação à o resultado for negativo, o esquema profilático não precisa
transmissão da raiva. Ao contrário, aqueles animais que passam ser indicado ou, caso tenha sido iniciado, pode ser suspenso.
longos períodos fora do domicílio, sem controle, devem ser
considerados como animais de risco, mesmo que tenham
proprietário e tenham recebido vacinas, o que geralmente só ESQUEMA PARA PROFILAXIA DA RAIVA HUMANA
ocorre nas campanhas de vacinação.
COM VACINA DE CULTIVO CELULAR
Animais silvestres:
• É necessário orientar o paciente para que ele
notifique imediatamente a Unidade de Saúde se o animal
Animais silvestres como morcego de qualquer espécie, micos
morrer, desaparecer ou se tornar raivoso, uma vez que
(sagui ou soim, como é mais conhecido em algumas regiões),
podem ser necessárias novas intervenções de forma rápida,
macaco, raposa, guaxinim, quati, gambá, roedores silvestres
como a aplicação do soro ou o prosseguimento do esquema
etc. devem ser classificados como animais de risco, mesmo
de vacinação.
que domiciliados e/ou domesticados, haja vista que, nesses
animais, a raiva não é bem conhecida.
• É preciso avaliar, sempre, os hábitos do cão e gato e
os cuidados recebidos. Podem ser dispensados do esquema
Muitos relatos na literatura médica mostram que o risco de
profilático as pessoas agredidas pelo cão ou gato que, com
transmissão do vírus pelo morcego é sempre elevado,
certeza, não tem risco de contrair a infecção rábica. Por
independentemente da espécie e da gravidade do ferimento.
exemplo, animais que vivem dentro do domicílio
Por isso, todo acidente com morcego deve ser classificado
(exclusivamente); não tenham contato com outros animais
como grave.
desconhecidos; que somente saem à rua acompanhados dos
seus donos e que não circulem em área com a presença de
morcegos. Em caso de dúvida, iniciar o esquema de profilaxia
Animais domésticos de interesse econômico indicado. Se o animal for procedente de área de raiva
ou de produção : controlada não é necessário iniciar o esquema profilático.
Manter o animal sob observação e só iniciar o esquema
Animais domésticos de produção ou de interesse econômico profilático indicado (soro+vacina) se o animal morrer,
(bovinos, bubalinos, equídeos, caprinos, ovinos, suínos e desaparecer ou se tornar raivoso.
outros) também são animais de risco. É importante conhecer
o tipo, a frequência e o grau do contato ou exposição que os • O soro deve ser infiltrado na(s) porta(s) de entrada.
tratadores e outros profissionais têm com esses animais e a Quando não for possível infiltrar toda dose, aplicar o máximo
incidência de raiva na região para avaliar também a indicação possível e a quantidade restante, a menor possí- vel, aplicar
de esquema de pré-exposição ou de pós-exposição. pela via intramuscular, podendo ser utilizada a região glútea.
Sempre aplicar em local anatômico diferente do que aplicou a
vacina. Quando as lesões forem muito extensas ou múltiplas
Animais de baixo risco : a dose do soro a ser infiltrada pode ser diluída, o menos
possível, em soro fisiológico para que todas as lesões sejam
Os seguintes roedores e lagomorfos (urbanos ou de criação) infiltradas.
são considerados como de baixo risco para a transmissão da
raiva e, por isso, não é necessário indicar esquema profilático • Nos casos em que se conhece só tardiamente a
da raiva em caso de acidentes causados por esses animais: necessidade do uso do soro antirábico ou quando o mesmo
não se encontra disponível no momento, aplicar a dose de
• ratazana de esgoto (Rattus norvegicus); soro recomendada antes da aplicação da 3ª dose da vacina de
• rato de telhado (Rattus rattus); cultivo celular. Após esse prazo o soro não é mais necessário.
• camundongo (Mus musculus); 5.Nas agressões por morcegos deve-se indicar a
• cobaia ou porquinho-da-índia (Cavea porcellus); soro-vacinação independentemente da gravidade da lesão,
• hamster (Mesocricetus auratus); e ou indicar conduta de reexposição.
• coelho (Oryetolagus cuniculus).
56
ESQUEMA PARA PROFILAXIA DA RAIVA HUMANA COM VACINA DE CULTIVO CELULAR
• Lavar com água e sabão. • Lavar com água e sabão. • Lavar com água e sabão.
Contato Indireto
• Não tratar. • Não tratar. • Não tratar.
• Ferimentos superficiais, pouco extensos, geralmente 1 • Observar o animal durante 10 dias após a exposição1
• Observar o animal durante 10 dias após a exposição . • Lavar com água e sabão.
únicos, em tronco e membros (exceto mãos e polpas
• Se o animal permanecer sadio no período de observa- • Se a suspeita de raiva for descartada após o 10º dia de • Iniciar imediatamente o esquema profilático com
digitais e planta dos pés); podem acontecer em decor-
ção, encerrar o caso. observação, suspender o esquema profilático e encerrar 5 (cinco) doses de vacina administradas nos dias 0,
rência de mordeduras ou arranhaduras causadas por
o caso. 3, 7, 14 e 28.
unha ou dente. • Se o animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso,
administrar 5 doses de vacina (dias 0, 3, 7, 14 e 28). • Se o animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso,
• Lambedura de pele com lesões superficiais.
completar o esquema até 5 (cinco) doses. Aplicar
uma dose entre o 7º e o 10º dia e uma dose nos dias
14 e 28.
Fontes:
http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2015/outubro/19/Normas-tecnicas-profilaxia-raiva.pdf
57
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/esquema_profilaxia_raiva_humana.pdf
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
ARTRITE REUMATÓIDE
A
Artrite reumatoide (AR) é uma doença autoimu-
ne, inflamatória, sistêmica e crônica, caracteri-
zada por sinovite periférica e por diversas mani-
festações extraarticulares. No Brasil, um estudo de
2004 mostrou prevalência de 0,46%, representando
quase um milhão de pessoas com essa doença, o que
confirma o achado do estudo multicêntrico, realizado
em 1993, que verificou uma prevalência de AR em
adultos variando de 0,2%-1%, nas macrorregiões
brasileiras, ocorrendo predominantemente em mulhe-
res entre a quarta e sexta décadas de vida.
Apesar de a etiopatogenia de AR ainda não ser Dados de um estudo brasileiro de pacientes com AR
inteiramente conhecida, muito se avançou no tema nos inicial sugerem que a apresentação clínica mais
últimos anos. No início, a observação do aumento da comum seja a poliartrite aguda (70%) com sinovite
incidência de AR entre familiares, principalmente entre persistente nas mãos (91%) e rigidez matinal prolon-
gêmeos monozigóticos, sugeria um componente gené- gada (mais de 2 horas). A rigidez matinal pode ser o
tico em sua etiopatogênese. Com o avanço dos estu- sintoma inicial e costuma ser um indício de doença
dos, foi identificado o antígeno leucocitário humano ativa. As articulações interfalangianas proximais (IFP)
(human leukocyte antigen - HLA), considerado o princi- e metacarpofalangianas (MCF) são acometidas em
pal fator genético no desenvolvimento dessa doença. mais de 90% dos casos.
Diversos alelos de HLA-DRB1 vêm sendo associados
a AR em populações variadas. Em estudo brasileiro
com pacientes em sua maioria com herança mista, os DIAGNÓSTICO
principais fatores de risco para o desenvolvimento de
AR foram a presença dos alelos HLA-DRB1 SE (sha-
O diagnóstico de AR é estabelecido com base
red epitope - epitopo compartilhado) e a detecção de
em achados clínicos e exames complementares.
anticorpos contra peptídios citrulinados cíclicos (anti-
Nenhum exame isoladamente, seja laboratorial, de
-CCP). No entanto, variações fenotípicas e de incidên-
imagem ou histopatológico, estabelece o diagnósti-
cia apontam para fatores ambientais que, além da
co.
predisposição genética, contribuem para o surgimento
Sem tratamento adequado, o curso da doença
da doença, tais como tabagismo e infecções periodon-
é progressivo, determinando deformidades decorren-
tais.
tes da lassidão ou ruptura dos tendões e das erosões
articulares. Entre os achados tardios, podem-se iden-
A AR é bastante variável quanto à apresenta-
tificar desvio ulnar dos dedos ou “dedos em ventania”,
ção clínica, à gravidade e ao prognóstico. Sua forma
deformidades em “pescoço de cisne” (hiperextensão
clínica mais comum é a poliartrite simétrica de peque-
das articulações IFP e flexão das interfalangianas
nas e grandes articulações com caráter crônico e des-
distais - IFD), deformidades em “botoeira” (flexão das
trutivo, podendo levar a relevante limitação funcional,
IFP e hiperextensão das IFD), “mãos em dorso de
comprometendo a capacidade laboral e a qualidade de
camelo” (aumento de volume do punho e das articula-
vida, resultando em significativo impacto pessoal e
ções MCF com atrofia interóssea dorsal), joelhos
social, com elevados custos indiretos, segundo
valgos (desvio medial), tornozelos valgos (eversão da
estimativas nacionais. A associação de AR a neutrope-
articulação subtalar), hálux valgo (desvio lateral do
nia e esplenomegalia, que ocorre mais nos casos de
hálux), “dedos em martelo” (hiperextensão das articu-
AR de longa evolução, é chamada de Síndrome de
lações metatarsofalangianas - MTF e extensão das
Felty.
58
e devem ser identificados desde o momento do diag-
IFD), “dedos em crista de galo” (deslocamento dorsal nóstico. Os fatores de mau prognóstico são sexo
das falanges proximais com exposição da cabeça dos feminino, tabagismo, baixo nível socioeconômico,
metatarsianos) e pés planos (arco longitudinal achata- início da doença em idade mais precoce, FR ou anti-
do). -CCP em títulos elevados, provas inflamatórias (velo-
O acometimento da coluna cervical (C1-C2) cidade de hemossedimentação ou proteína C reativa)
com subluxação atlantoaxial geralmente manifesta-se persistentemente elevadas, grande número de articu-
por dor irradiada para a região occipital, perda da lações edemaciadas, manifestações extra-articulares,
lordose fisiológica cervical e resistência à movimenta- elevada atividade inflamatória da doença, presença
ção passiva. Quando sintomas neurológicos, como precoce de erosões na evolução da doença e presen-
parestesias periféricas ou perda do controle esfincte- ça do epítopo compartilhado, este um exame não
riano, surgem, a mortalidade é de 50% em 1 ano. A utilizado na rotina assistencial.
suspeita clínica pode ser comprovada por radiografia
de coluna cervical funcional, em que a distância entre
• O diagnóstico de AR deve ser feito
o processo odontoide e o arco anterior de C1 acima considerando-se achados clínicos e exames
de 3 mm (ou entre o processo odontoide e o arco pos- complementares;
terior de C1 abaixo de 14 mm) indica aumento de risco
• O diagnóstico diferencial de AR deve ser
de compressão medular.
elaborado com atenção, considerando-se artrites
secundárias a infecções, neoplasias e artrite
psoriásica, dentre outras;
59
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
60
que permitam definir a superioridade de um agente
sobre o outro. No entanto, um MMCD biológico asso-
TRATAMENTO ciado a metotrexato é melhor do que metotrexato
isoladamente. Os MMCD biológicos não devem ser
O tratamento de AR deve ser iniciado o mais prescritos de forma associada entre si pelos riscos
breve possível, uma vez que a terapia medicamentosa de eventos adversos graves. Há risco de aumento de
intensiva instituída precocemente previne danos estru- infecções graves em pacientes com AR tratados com
turais (erosões), melhorando a capacidade funcional. MMCD biológicos.
O período inicial da doença, principalmente os doze
primeiros meses (AR inicial), configura uma janela de
oportunidade terapêutica, isto é, um momento em que FÁRMACOS
a intervenção farmacológica efetiva pode mudar o
curso da doença. Em alguns países, o acompanha- Anti-inflamatórios não esteroides (AINE)
mento por reumatologista é uma política assistencial
- Ibuprofeno: comprimidos revestidos de 200, 300 e
custo-efetiva, devendo ser o preferencial. 600 mg; solução oral de 50 mg/ml. - Naproxeno:
comprimidos de 250 mg ou de 500 mg.
Glicocorticoides
TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO
- Metilprednisolona (acetato) (intra-articular):
frasco de 40 mg/2 ml. - Metilprednisolona
Em resumo, para pacientes com AR, inclusive (succinato) (intravenoso): frascos de 40, 125, 500 ou
1.000 mg.
os casos especiais, recomendam-se exercício físico
- Prednisona: comprimidos de 5 ou 20 mg. -
regular, terapia ocupacional, órteses, fisioterapia e Prednisolona: solução oral de 1 e 3 mg/ml.
terapia psicológica de forma individualizada.
Medicamentos modificadores do curso da doença -
sintéticos
61
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
MONITORIZAÇÃO
Fontes:
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Artrite Reumatoide
62
ESPONDILITE ANCILOSANTE
lobos pulmonares superiores, compressão nervosa
ou neurite, nefropatia ou amiloidose renal secundária.
No Brasil, a maioria dos doentes de espondiloartrites
com acometimento visceral apresenta EA ou artrite
psoríaca. Das manifestações extra-articulares, a UAA
é a manifestação extraesquelética mais comum, aco-
metendo até 40% dos pacientes, especialmente os
com HLA-B27 positivo. Dados observacionais de
pacientes provenientes de 10 países ibero-america-
nos revelam que a UAA está associada, de forma
positiva, a acometimento axial e HLA-B27 e, de forma
negativa, a acometimento periférico e artrite psoríaca.
A
espondilite ancilosante ou anquilosante (EA) é estruturas do esqueleto apendicular (por exemplo,
uma doença inflamatória crônica classificada dedos, calcâneo, joelhos). Em estudo multicêntrico
no grupo das espondiloartrites que acomete brasileiro, os pacientes que tiveram o início da espon-
preferencialmente a coluna vertebral, podendo diloartrite (incluindo EA) antes dos 40 anos, apresen-
evoluir com rigidez e limitação funcional progressiva tavam predomínio de sintomas axiais; os pacientes,
do esqueleto axial. Assim, as formas mais iniciais de predominantemente do sexo feminino, com início de
EA, nas quais o dano estrutural é menor ou inexisten- sintomas mais tardio apresentavam sintomas periféri-
te, podem ser classificadas como espondiloartrites cos.
axiais. A EA envolve adultos jovens, com pico de
incidência em homens dos 20 aos 30 anos, especial- Fatores de mau prognóstico de EA incluem
mente em portadores do antígeno HLA-B27, o que, mudanças estruturais radiográficas à avaliação inicial,
no Brasil, representa cerca de 60% dos pacientes. acometimento do quadril, baixo nível socioeconômi-
Dados nacionais revelam que 65% dos doentes de co, idade jovem no início da doença, velocidade de
espondiloartrites são brancos e que pacientes hemossedimentação (VHS) ou proteína C reativa
negros apresentam pior qualidade de vida e avalia- persistentemente elevadas e atividade de doença
ção global da doença do que brancos. Além disso, persistentemente alta.
mulheres com espondiloartrites representam um
terço dos pacientes e têm piores níveis de atividade
de doença e de qualidade de vida do que homens. DIAGNÓSTICO
O sintoma inicial costuma ser lombalgia, Inexistem critérios diagnósticos para EA, mas
caracterizada por dor noturna, de início insidioso, que critérios de classificação facilitam a identificação das
não melhora com repouso (mas melhora com exercí- características mais importantes para o diagnóstico
cios). Além do comprometimento axial, a EA também (16).
costuma acometer articulações periféricas (oligoartri-
te de grandes articulações de membros inferiores) e Os critérios ASAS (Assessment of Spondylo-
pode causar manifestações extraesqueléticas, tais Arthritis International Society) permitem a inclusão de
como uveíte anterior aguda (UAA), insuficiência aórti- pacientes com inflamação ainda sem destruição
ca, distúrbios de condução cardíacos, fibrose de óssea, e os critérios de classificação modificados de
63
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Nova Iorque, a oclusão de pacientes já com dano Para o diagnóstico de doença estabelecida,
estrutural, numa fase mais avançada da doença. Na são úteis os critérios de classificação modificados de
prática assistencial, ambos podem ser empregados, Nova Iorque, nos quais são consideradas lombalgia,
mas a tendência atual é usar preferencialmente os limitação de mobilidade axial e sacroiliíte radiográfica.
critérios ASAS. Para ser classificado como portador de espondilite
ancilosante, o paciente deve apresentar, pelo menos,
Para o diagnóstico de doença inicial, os crité- 1 critério clínico e 1 critério radiográfico.
rios ASAS são mais úteis para espondiloartrites axiais,
podendo ser utilizados também para as espondiloartri-
tes periféricas, segundo os quais pacientes com até CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO MODIFICADOS DE
45 anos e lombalgia por mais de 3 meses são classifi- NOVA IORQUE PARA ESPONDILITE ANCILOSANTE
cados como portadores de espondiloartrite axial em
dois cenários. a) Lombalgia inflamatória por, no
Critério obrigatório mínimo, 3 meses e idade de início da
doença até 45 anos.
CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO ASAS * Dor lombar que melhora com exercícios, mas não com repou-
PARA ESPONDILOARTRITES AXIAIS so, que ocorre predominantemente à noite, com início insidio-
so, antes dos 40 anos.
a) Lombalgia inflamatória por, no ** Em ortostatismo, mede-se a distância entre o terceiro quiro-
Critério obrigatório mínimo, 3 meses e idade de início da dáctilo de cada mão e o chão na posição ereta e em flexão
doença até 45 anos. lateral máxima para cada lado; calcula-se a média das varia-
ções de altura.
b) Sacroiliíte em exames de imagem* *** Variação da distância mediana de 10 cm acima da quinta
e, pelo menos, 1 característica de vértebra lombar (L5) à flexão do tronco com membros inferio-
Critérios possíveis espondiloartrite.** res estendidos.
(a ou b)
c) HLA-B27 e 2 ou mais característi- **** Variação da circunferência torácica inframamária na inspi-
cas de espondiloartrite.** ração e expiração máximas.
* Radiografia simples (com sacroiliíte bilateral graus 2-4 ou ***** Graus de sacroiliíte à radiografia simples de articulações
unilateral graus 3 ou 4) ou ressonância magnética de articula- sacroilíacas: 0, normal; 1, alterações suspeitas; 2, alterações
ções sacroilíacas (com edema de medula óssea). Graus de mínimas (áreas localizadas e pequenas com erosão ou escle-
sacroiliíte à radiografia simples de articulações sacroilíacas: 0, rose, sem alterações na largura da linha articular); 3, altera-
normal; 1, alterações suspeitas; 2, alterações mínimas (áreas ções inequívocas (sacroiliíte moderada ou avançada, com
localizadas e pequenas com erosão ou esclerose, sem altera- erosões, esclerose, alargamento, estreitamento ou anquilose
ções na largura da linha articular); 3, alterações inequívocas parcial); 4, anquilose total.
(sacroiliíte moderada ou avançada, com erosões, esclerose,
alargamento, estreitamento ou anquilose parcial); 4, ancilose
total.
** Características de espondiloartrite: lombalgia inflamatória,
artrite, entesite, uveíte, dactilite, psoríase, doença de Crohn ou
retocolite ulcerativa, boa resposta a antiinflamatórios não
esteroidais (em 24-48 horas de máxima dose tolerada), histó-
ria familiar de espondiloartrite, HLA-B27, proteína C reativa
elevada.
64
uma opção terapêutica para o tratamento da EA, prin-
cipalmente para aqueles pacientes com maior risco
TRATAMENTO
para eventos cardiovasculares e gastrintestinais. O
Os objetivos do tratamento da EA são aliviar a naproxeno tem se revelado mais seguro com relação
dor, a rigidez e a fadiga e preservar a postura adequa- aos eventos cardiovasculares do que os outros
da e as funções física e psicossocial. AINEs utilizados para o tratamento da EA.
65
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Fontes:
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Espondilite Ancilosante.
66
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO
O
Lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma sistema nervoso central (SNC), a maior risco de
doença autoimune sistêmica caracterizada infecções graves decorrentes da imunossupressão e,
pela produção de autoanticorpos, formação e tardiamente, às complicações da própria doença e do
deposição de imunocomplexos, inflamação em diver- tratamento, sendo a doença cardiovascular um dos
sos órgãos e dano tecidual. Sua etiologia permanece mais importantes fatores de morbidade e mortalidade
ainda pouco conhecida, porém sabe-se da importan- dos pacientes.
te participação de fatores hormonais, ambientais,
genéticos e imunológicos para o surgimento da Fadiga é uma das queixas mais prevalentes do
doença. As características clínicas são polimórficas, LES em atividade. Febre, geralmente moderada e
e a evolução costuma ser crônica, com períodos de com resposta rápida ao glicocorticoide (GC), é verifi-
exacerbação e remissão. A doença pode cursar com cada na maioria dos pacientes no momento do diag-
sintomas constitucionais, artrite, serosite, nefrite, nóstico. Mialgias, perda de peso e linfadenopatia
vasculite, miosite, manifestações mucocutâneas, reacional periférica podem ser comumente encontra-
hemocitopenias imunológicas, diversos quadros neu- das nos pacientes com LES. O envolvimento articular
ropsiquiátricos, hiperatividade reticuloendotelial e é a manifestação mais frequente, depois dos sinto-
mas constitucionais, sendo detectado em mais de
90% dos pacientes durante a evolução da doença.
Necrose asséptica de múltiplas articulações, princi-
palmente da cabeça do fêmur, pode ocorrer, particu-
larmente nos pacientes em uso de GC em dose
elevada por longos períodos. Perda de massa óssea
com aumento do risco de osteoporose e fraturas
geralmente está associada com uso crônico de GC e
deficiência de vitamina D decorrente da baixa exposi-
ção solar.
A mortalidade dos pacientes com LES é cerca No lúpus cutâneo subagudo, as lesões são
de 3 a 5 vezes maior do que a da população geral e simétricas, superficiais, não cicatriciais, localizadas
está relacionada a atividade inflamatória da doença, em áreas fotoexpostas. Elas iniciam como pequenas
especialmente quando há acometimento renal e do pápulas eritematosas, progredindo para lesões anula-
67
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
res policíclicas ou papuloescamosas (psoriasiformes)
e costumam cursar com a presença do anticorpo anti-
-Ro/SSA. O fenômeno de Raynaud, caracterizado por
alterações vasculares (vasoconstrição e vasodilata-
ção) que determinam mudança na coloração das extre-
midades (palidez, cianose e rubor), está presente em
cerca de 16% a 40% dos pacientes e geralmente se
associa com estresse emocional ou frio. Na experiên-
cia clínica, alopecia, geralmente difusa ou frontal, é um
achado frequente, constituindo-se em um bom marca-
dor de agudização do LES.
68
• Bilirrubinas total e frações; b) psicose – na ausência de fármacos implicados ou
alterações metabólicas conhecidas (por exemplo,
• Desidrogenase láctica (LDH);
uremia, cetoacidose, distúrbios hidroeletrolíticos).
• Ureia e creatinina;
• Eletrólitos (cálcio, fósforo, sódio, potássio e cloro); 9. Alterações hematológicas:
• Exame qualitativo de urina (EQU); a) anemia hemolítica com reticulocitose; ou
• Complementos (CH50, C3 e C4); b) leucopenia de menos de 4.000/mm3 em duas ou
• Albumina sérica; mais ocasiões; ou
• Proteinúria de 24 horas; c) linfopenia de menos de 1.500/mm3 em duas ou mais
• VDRL; e ocasiões; ou
• Avaliação de autoanticorpos (FAN, anti-DNA nativo, d) trombocitopenia de menos de 100.000/mm3 na
anti-Sm, anticardiolipina IgG e IgM, anticoagulante ausência de uso de fármacos causadores.
lúpico, anti-La/SSB, anti-Ro/SSA e anti-RNP).
10. Alterações imunológicas:
a) presença de anti-DNA nativo; ou
A solicitação dos exames deve basear-se na b) presença de anti-Sm; ou
avaliação clínica de cada paciente. c) achados positivos de anticorpos antifosfolipídios
baseados em concentração sérica anormal de
anticardiolipina IgG ou IgM, em teste positivo para
O diagnóstico é estabelecido a partir da presença
anticoagulante lúpico, usando teste-padrão ou em
de pelo menos 4 dos 11 critérios de classificação,
VDRL falso-positivo, por pelo menos 6 meses e
em qualquer momento da vida dos pacientes,
confirmado por FTA-Abs negativo.
propostos pelo American College of Rheumatology
(ACR) em 1982 e revisados em 1997, aceitos
11. Anticorpo antinuclear (FAN): título anormal de FAN
universalmente, conforme descritos abaixo:
por imunofluorescência ou método equivalente em
qualquer momento, na ausência de fármacos
sabidamente associados ao lúpus induzido por
1. Eritema malar: eritema fixo, plano ou elevado nas
fármacos.
eminências malares, tendendo a poupar a região
nasolabial.
Embora FAN esteja presente em mais de 95%
2. Lesão discoide: lesão eritematosa, infiltrada, com
escamas queratóticas aderidas e tampões dos pacientes com a doença ativa, o teste apresenta
foliculares, que evolui com cicatriz atrófica e baixa especificidade. Títulos de FAN acima de 1:80
discromia. são considerados significativos. Nos casos com pes-
quisa de FAN negativa, particularmente com lesões
3. Fotossensibilidade: eritema cutâneo resultante de
reação incomum ao sol, por história do paciente ou cutâneas fotossensíveis, recomenda-se a realização
observação do médico. da pesquisa de anticorpos anti-Ro/SSA e anti-La/S-
SB. Anticorpos anti-DNA nativo e anticorpos anti-Sm
4. Úlcera oral: ulceração oral ou nasofaríngea, são considerados testes específicos, mas têm baixa
geralmente não dolorosa, observada pelo médico.
sensibilidade. A presença de anticorpos tem valor
5. Artrite: artrite não erosiva envolvendo 2 ou mais clínico quando ocorrer em pacientes com manifesta-
articulações periféricas, caracterizada por dor à ções compatíveis com o diagnóstico de LES.
palpação, edema ou derrame.
6. Serosite:
a) pleurite – história convincente de dor pleurítica ou CASOS ESPECIAIS
atrito auscultado pelo médico ou evidência de
derrame pleural; ou LÚPUS INDUZIDO POR MEDICAMENTOS
b) pericardite – documentada por eletrocardiografia (“LÚPUS DROGA RELACIONADO” - LDR)
ou atrito ou evidência de derrame pericárdico.
As manifestações clínicas surgem após a administra-
7. Alteração renal:
a) proteinúria persistente de mais de 0,5 g/dia ou
ção de medicamentos, sendo hidralazina e procaina-
acima de 3+ (+++) se não quantificada; ou mida os mais frequentemente envolvidos. Recente-
b) cilindros celulares – podem ser hemáticos, mente, têm sido descritos casos tratados com agen-
granulares, tubulares ou mistos. tes anti-TNF. Os sintomas podem ser semelhantes
8. Alteração neurológica:
aos de LES, havendo comprometimento cutâneo,
a) convulsão – na ausência de fármacos implicados musculoesquelético, sintomas constitucionais e sero-
ou alterações metabólicas conhecidas (por exemplo, sites. Raramente ocorrem alterações hematológicas
uremia, cetoacidose, distúrbios hidroeletrolíticos); ou graves, acometimento neuropsiquiátrico ou renal.
69
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Caracteriza-se pela presença de anticorpos anti-histo- avaliada pelo escore SLEDAI. Os pacientes tratados
na. As manifestações desaparecem com a retirada do com HCQ desenvolveram, no final do seguimento,
fármaco desencadeante. O tratamento envolve uso de menos artrite. Não foram observadas diferenças signi-
medicamentos para o controle dos sintomas, como ficativas para serosite, lesões cutâneas ou febre. O
analgésicos comuns e anti-inflamatórios não esteroi- risco relativo de exacerbação grave do LES que
des (AINES) e, em casos refratários, glicocorticoides, necessitou exclusão do paciente do estudo foi 6,1
como a prednisona em dose de 0,5 mg/kg/dia até a vezes maior no grupo placebo, não havendo diferença
resolução do quadro clínico. entre as alterações da dose de GC utilizada entre os
grupos. Uma nova análise desses pacientes foi reali-
LÚPUS NA GESTAÇÃO zada após 3 anos de seguimento. Dos pacientes
randomizados, 50% do grupo placebo e 28% do
Mulheres lúpicas geralmente têm fertilidade grupo HCQ tiveram pelo menos uma reativação
preservada. Durante a gestação, as complicações caracterizada pelo uso de GC sistêmico ou imunos-
obstétricas são maiores, assim como o risco de supressores, ou aumento de 10 mg/dia de predniso-
exacerbação da doença, especialmente no puerpério. na ou equivalente. Não houve diferença entre os
O prognóstico é melhor para ambos, mãe e feto, grupos no tempo decorrido até a reativação.
quando a doença está em remissão há pelo menos 6
meses antes da concepção. Durante a gestação, há Os glicocorticoides (GC) são os fármacos
maior prevalência de pré-eclâmpsia, eclâmpsia, sofri- mais utilizados no tratamento de LES, e as doses
mento fetal e morte fetal, principalmente em mulheres diárias variam de acordo com a gravidade de cada
com nefrite lúpica e presença de anticorpos antifosfoli- caso. Tendo prednisona como padrão pela via oral, as
pídios. O tratamento pode ser realizado com GC e doses podem ser divididas em:
antimaláricos, nas doses indicadas no item esquema
de administração, além de todos os cuidados e orien- • Dose baixa: 0,125 mg/kg/dia;
tações recomendadas para os demais pacientes com
• Dose moderada: 0,125-0,5 mg/kg/dia;
LES. Imunossupressores geralmente são contraindica-
• Dose alta: 0,6-1 mg/kg/dia;
dos durante a gestação.
• Dose muito alta: 1-2 mg/kg/dia;
LÚPUS NEONATAL • Pulsoterapia com GC: aplicação endovenosa
de metilprednisolona (15-20 mg/kg/dia) até 1.000
mg/dia, administrada em 1 hora, habitualmente por 3
É uma condição clínica caracterizada por graus dias consecutivos.
variados de bloqueio cardíaco fetal, trombocitopenia,
alterações hepáticas e cutâneas relacionados com a
passagem transplacentária de autoanticorpos mater-
nos, especialmente anti-Ro/SSA e anti-La/SSB. O
tratamento do bloqueio cardíaco fetal depende da
gravidade e é realizado com GC que atravessem a
barreira placentária, tais como dexametasona ou beta-
metasona, em doses que variam de acordo com a
gravidade. As demais manifestações tendem a ser
leves e geralmente estarão resolvidas até o 6o mês de
vida da criança.
TRATAMENTO
Entre os medicamentos utilizados podem ser
citados os antimaláricos (cloroquina e hidroxicloroqui-
na) e os GCs, independentemente do órgão ou siste-
ma afetado pela doença. Em ensaio clínico randomiza-
do, o uso de hidroxicloroquina (HCQ), foi comparado
com o de placebo em pacientes com atividade leve
70
isolados ou em combinação com terapia tópica. Para
Esquemas usuais de prednisona utilizados em os pacientes com lesões cutâneas disseminadas,
pacientes com LES também podem ser ajustados da recomenda-se o uso de GC sistêmico em associação
seguinte maneira:
com imunossupressores.
• Dose baixa: menos de 7,5 mg/dia
• Dose moderada: 7,5-30 mg/dia MANIFESTAÇÕES ARTICULARES
• Dose alta: 30-10 mg/dia
• Dose muito alta: mais de 100 mg/dia Artrite crônica com recidivas frequentes
ocorre em cerca de 10% dos pacientes. O tratamen-
• Pulsoterapia com GC: aplicação endovenosa
de metilprednisolona 500-1.000 mg/dia, administrada to geralmente é feito com AINES, antimaláricos (62)
em 1 hora, habitualmente por 3 dias consecutivos. ou GCs. Nos casos refratários, pode-se optar por
MTX.
Os GC apresentam inúmeros efeitos colaterais
e, por isso, devem ser utilizados na menor dose efetiva
para o controle da atividade da doença e, assim que MANIFESTAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS
possível, reduzidos gradualmente até a suspensão.
Para pacientes em uso de antimaláricos e que não Complicações neuropsiquiátricas em pacien-
conseguem atingir a dose de manutenção de predni- tes com LES incluem manifestações focais ou difu-
sona até 7,5 mg/dia, há indicação de associação de sas, agudas ou crônicas. As mais graves são convul-
outro medicamento para poupar GC. Azatioprina sões, psicose, mielite transversa, doença cerebrovas-
(AZA) e metotrexato (MTX) têm comprovada ação pou- cular e distúrbios do movimento. O diagnóstico deve
padora de GC. ser confirmado após a exclusão de infecções, efeitos
adversos de medicamentos e alterações metabólicas.
Nas demais situações, o tratamento medica- O tratamento dos pacientes com acometimento neu-
mentoso depende da extensão e da gravidade da ropsiquiátrico grave envolve o uso de terapia de con-
doença, considerando os órgãos e sistemas acometi- trole específico para cada manifestação (por exem-
dos. plo, anticonvulsivante para convulsões e antipsicóti-
cos para psicose), GC sistêmico em doses imunos-
supressoras e ciclofosfamida.
MANIFESTAÇÕES RENAIS
Os objetivos do tratamento são normalizar ou
prevenir a perda de função renal, induzir remissão da
atividade renal, prevenir reativações renais e evitar ao
máximo a toxicidade do tratamento. Entre as medidas
gerais deve-se considerar:
71
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
O tratamento sistêmico envolve o uso de GC dos, podem ser tratadas com GC associado ou não
e outros imunossupressores. A utilização de predni- a imunossupressores.
sona por via oral ou de pulsos de metilprednisolona
endovenosa, evidencia melhora ou estabilização da
função renal. Pacientes com glomerulonefrite (GN)
proliferativa devem ser tratados com GC em doses
altas por um período de 6-8 semanas, com posterior
redução gradativa da dose. A pulsoterapia com metil-
prednisolona é recomendada para casos graves com
disfunção renal aguda.
MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS
Os pacientes com LES podem desenvolver
complicações hematológicas graves, como anemia
hemolítica autoimune ou plaquetopenia. O tratamento
de escolha para anemia hemolítica tem sido GC em
doses que dependem da gravidade da apresentação.
O período de tratamento é variado, em média 4-6
semanas, com posterior redução, dependendo da
resposta. Nos casos graves, pode ser usada pulsote-
rapia com metilprednisolona. Nos casos refratários ao
GC ou mesmo corticodependentes, podem-se usar
imunossupressores, como AZA e CYC.
72
ARTRITE REATIVA
A
AR, anteriormente denominada doença de mento do esqueleto axial e de maior agressividade da
Reiter, pertence ao grupo das espondiloartropa- doença.
tias soronegativas, as quais são doenças
reumáticas crônicas que afetam articulações periféri- A AR é uma entidade nosológica cujo concei-
cas e da coluna, com características clínicas, radiológi- to ainda está em evolução, não havendo critérios
cas e genéticas semelhantes. diagnósticos ou de classificação definitivos e valida-
dos. Um consenso de especialistas reunidos em
O termo artrite reativa refere-se a uma artrite Berlim em 1999 sugeriu que a identificação de
que se desenvolve logo após ou durante uma infecção alguns fatores pode ser de utilidade no diagnóstico
bacteriana, geralmente genitourinária ou gastrointesti- de AR:
nal, desencadeada por patógenos que não se conse-
gue isolar nas articulações acometidas. É, pois, uma
• Patógenos causadores:
artrite asséptica que ocorre subsequentemente a uma
infecção extra-articular. •clássicos: Chlamydia trachomatis, Yersinia
sp., Salmonella sp., Shigella sp. e Campilobacter sp.;
•prováveis: Clostridium difficile e Chlamydia
pneumoniae.
73
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
A síndrome clínica caracterizada por artrite,
uretrite, conjuntivite e lesões mucocutâneas, comu-
mente conhecida como AR ou doença de Reiter, é
multissistêmica desencadeada por uma resposta
imune do hospedeiro após exposição a um antígeno.
A tríade clássica - artrite, uretrite e conjuntivite –
ocorre apenas em um terço dos casos, e o quadro
clínico acompanhado de sinais mucocutâneos é
pouco frequente.
74
para as uretrites em atividade. Os AINE são a primei-
eficaz para a doença articular periférica em doses de
ra linha de tratamento para a fase aguda de dor e
até 2.000 mg/dia(1,5,22). Além da ação antibacteria-
inflamação da artrite. São usados nas suas doses
na, a sulfassalazina diminui os níveis de imunoglobuli-
máximas e de forma contínua por pelo menos 2 sema-
na (Ig) sérica, principalmente a IgA, e reduz a VSG.
nas, sendo geralmente bastante eficazes no controle
Pela possibilidade de hipersensibilidade cruzada a
dos sintomas. Apesar da melhora dos sintomas, não
salicilatos e sulfonamidas, o uso de sulfassalazina
existem evidências de que os AINE alterem o curso
está contraindicado em pacientes com hipersensibili-
da doença.
dade a esses medicamentos. Há relatos de benefício
As medidas de mobilidade da coluna e os reagentes
com agentes antifator de necrose tumoral no trata-
de fase aguda (VSG e PCR) não mostram modifica-
mento de AR. Uma vez que não há estudos controla-
ção significativa com o uso de AINE. O uso de glico-
dos avaliando a eficácia e segurança desses agentes,
corticoide intra-articular pode ajudar de forma segura
seu uso não está recomendado.
e eficaz o tratamento de uma lesão única e com sinto-
mas incapacitantes, nos casos em que o AINE não Fontes:
controlou os sintomas satisfatoriamente. As injeções Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Artrite Reativa.
locais de glicocorticoide também são efetivas no con-
trole dos sintomas nas entesites. Raramente o glico-
corticoide sistêmico é indicado, sendo empregado
apenas nos raros casos de doença grave, prolongada
ou sistêmica em que ocorre resistência aos AINE .
Nesses casos, o glicocorticoide pode ser administra-
do pelo período de 1 a 12 semanas.
75
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
76
Existem vários critérios diagnósticos para
Gota. Os critérios de Roma exigem pelo menos 2 dos
EXAMES COMPLEMENTARES
critérios. Os critérios de Nova York são mostrados
abaixo. O Colégio Americano de Reumatologia
GERAIS: Hemograma completo, VHS, PCR,
(ACR) também propôs 13 critérios para classificar
ácido úrico sérico, ureia, creatinina, clearance de
artrite gotosa aguda conforme mostrado a seguir . A
creatinina, raios X de articulações envolvidas,
presença isolada do critério de número 12 ou a
sinovioanálise (pesquisa de cristais no microscópico
presença de tofos confirmados são suficientes para o
de luz polarizada, bacterioscopia e cultura para
diagnóstico. Para os outros critérios, são necessários
microrganismos), uricosúria de 24 horas.
a presença de 6 critérios para o diagnóstico.
INVESTIGAÇÃO E CONTROLE DE SÍNDROME
METABÓLICA: glicemia, colesterol total, HDL, LDL,
CRITÉRIOS DE ROMA PARA DIAGNÓSTICO DE GOTA
triglicérides.
1. Concentração de urato sérico ≥ 7mg/dl em homens
e ≥ 6mg/dl em mulheres.
2. Artrite de início abrupto, resolvendo em
1-2semanas.
3. Presença de urato no líquido sinovial.
4. Presença de tofos.
77
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
TRATAMENTO DA HIPERURICEMIA
b) uricosúricos (probenecide,
benzobromarona);
Fontes:
http://bibliofarma.com/protocolo-e-diretrizes-terapeuticas-artrite-gotosa
78
VASCULITES ou ANGIITE
A
s vasculites constituem processos clínico-pato- avanço nos últimos dez anos, porém ainda restam
lógicos caracterizados pela inflamação e lesão muitos pontos a serem esclarecidos neste grupo de
da parede dos vasos sangüíneos. Freqüente- doenças, dado o seu caráter heterogêneo e freqüen-
mente, a luz vascular está comprometida, resultando temente, de difíceis decisões terapêuticas.
em alterações isquêmicas dos tecidos vizinhos. As
vasculites podem assumir diferentes formas de expres- PATOGÊNESE
são, que vão desde um processo inflamatório local
autolimitado, até uma forma de acometimento difuso e A patogênese é desconhecida na maioria das
extremamente grave. Vasos sangüíneos de qualquer síndromes vasculíticas. Estudos clínicos e experimen-
tamanho, localização ou tipo podem estar envolvidos, tais têm demonstrado que os mecanismos imunológi-
incluindo artérias de grande, médio ou pequeno cos são os mais prevalentes, embora freqüentemente
calibre, arteríolas, capilares, vênulas e veias. não esteja estabelecido como eles são deflagrados e
perpetuados.
Esta categoria heterogênea de doenças englo-
ba desde síndromes com características próprias, até Entre os principais mecanismos presumivel-
diferentes doenças com sobreposição de aspectos mente envolvidos nas vasculites, a deposição de
clínicos e patológicos. As vasculites podem constituir imunocomplexos circulantes (ICC), com subseqüente
lesão vascular, tem despontado como evento principal
em grande parte das vasculites. No entanto, cabe
ressaltar que a presença de ICC não constitui prova
formal de que a doença associada seja causada por
eles, mesmo naquelas condições nas quais lesões
vasculares características estão presentes.
79
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
• Elevação recente da pressão diastólica acima
de 90 mmHg
CLASSIFICAÇÃO • Elevação da creatinina sérica acima de 1,5
mg/dl
• Sorologia positiva para o vírus da hepatite B
VASCULITES DE GRANDES VASOS: ARTERITE DE • Presença de microaneurismas em
TAKAYASU E ARTERITE TEMPORAL OU DE CÉLULAS arteriografia
GIGANTES. • Biópsia arterial com infiltrado contendo
neutrófilos
Neste grupo de vasculites estão acometidas
as grandes artérias, como a aorta e seus ramos na
ARTÉRIA NORMAL
arterite de Takayasu, e a artéria temporal, no caso da FLUXO NORMAL DE SANGUE
80
capilares, incluindo o capilar glomerular. Existem duas • Processo inflamatório da mucosa oral ou
formas de expressão clínica da doença: uma forma nasal
difusa ou clássica, em que ocorrem sintomas gerais, • Imagens pulmonares de nódulos, infiltrados
alterações do trato respiratório alto, dos pulmões e ou cavitações
dos rins; a outra é localizada, com lesões • Sedimento urinário com hematúria ou
preferencialmente granulomatosas do trato cilindros hemáticos
respiratório alto e/ou pulmões, sem outras evidências • Vasculite granulomatosa demonstrada em
de vasculite sistêmica. Histologicamente, a lesão biópsia
granulomatosa das vias respiratórias e do parênquima
pulmonar se caracteriza por um exsudato inflamatório A presença de dois ou mais destes critérios
com predomínio de polimorfonucleares, vasculite confere uma sensibilidade diagnóstica de 88% e uma
necrozante e granuloma com células gigantes e especificidade de 92%. Desta forma, uma radiografia
epitelióides. O comprometimento pulmonar ocorre em torácica alterada ou o achado de inflamação
aproximadamente 85% dos pacientes e constitui uma granulomatosa em biópsia não são requisitos
das manifestações iniciais desta doença. A imagem absolutos para diferenciar a GW de outras formas de
radiológica mais característica é a de nódulos vasculites.
pulmonares que, ocasionalmente, evoluem para a
cavitação. Observam-se também infiltrados uni ou A poliangeíte microscópica caracteriza-se
bilaterais, de distribuição irregular e que não se por vasculite necrozante que acomete pequenos
resolvem com a correção da hiperidratação, na vasos, principalmente arteríolas de pequeno calibre,
eventual presença de insuficiência renal. Em 40% dos vênulas e capilares, com especial predileção para o
pacientes ocorre alveolite hemorrágica e insuficiência território glomerular e pulmonar. As manifestações
respiratória grave, freqüentemente fatal. O renais da poliangeíte são semelhantes às descritas
envolvimento das vias aéreas superiores manifesta-se na GW; a insuficiência renal pode estar presente,
por sinusopatia, otites e rinites purulentas e/ou sendo tanto mais severa quanto maior o retardo no
hemorrágicas. Uma das lesões nasais mais típicas na diagnóstico da doença. O acometimento pulmonar
GW avançada é a rotulada de "nariz em sela", ocorre em 40 % dos pacientes, geralmente sob a
decorrente da destruição da cartilagem nasal. O forma de infiltrados e quadro de alveolite
envolvimento renal se manifesta por microhematúria hemorrágica. As manifestações cutâneas são
em praticamente todos os pacientes. A proteinúria comuns, na forma de púrpura palpável e de lesões
também está presente, mas é raro o quadro de necrozantes. Tanto a sintomatologia renal, como a de
síndrome nefrótica. No momento do início da doença, outros órgãos, costuma ser acompanhada ou
mais da metade dos pacientes têm função renal precedida por sintomas constitucionais como febre,
normal; os demais apresentam disfunção moderada ou mal estar geral, artralgias e perda de peso. A
insuficiência renal grave, necessitando de suporte determinação do ANCA é quase sempre positiva,
dialítico (10 a 20%). podendo ocorrer tanto o padrão citoplasmático
quanto o padrão perinuclear (ANCA- p), com
A determinação do ANCA é praticamente especificidade antigênica para a mieloperoxidase.
sempre positiva na forma difusa da GW, sendo
tipicamente observado o padrão citoplasmático (ANCA Na síndrome de Churg-Strauss, o
c) e especificidade antigênica para a proteinase-3 (PR envolvimento respiratório ocorre em 100 % dos
3). Na forma localizada, a determinação do ANCA nem casos, manifestando-se por asma acompanhada de
sempre é positiva. O Colégio Americano de eosinofilia. Outros sintomas importantes são de
Reumatologia, em 1990, estabeleceu quatro critérios natureza neurológica (polineurites), cutânea (úlceras
clínicos para o diagnóstico da GW, antes que estivesse necrotizantes) e cardíaca (arritmias, angina e infarto
disponível o teste do ANCA: do miocárdio). O Colégio Americano de Reumatologia
propôs seis critérios para o diagnótico da arterite de
Churg-Strauss; a presença de quatro ou mais destes
critérios fornece uma sensibilidade diagnóstica de
85% e uma especificidade de 99,7 %:
• Presença de asma
• Mononeuropatia ou polineuropatia
• Sinusopatia
81
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
TRATAMENTO
82
de 12 meses, após ser obtida a remissão. Nesta fase,
deve-se optar pelo esquema mais eficiente e menos
tóxico. As alternativas possíveis seriam: ciclofosfami-
da por via endovenosa mensal, clorambucil em dose
baixa, azatioprina, metotrexate ou ciclosporina. A
indicação de plasmaferese está reservada aos casos
mais severos de insuficiência respiratória por alveolite
hemorrágica. A utilização de gama-globulina endove-
nosa em altas doses (0,4 mg/kg) tem sido proposta
nas situações de resistência ao esquema imunossu-
pressor convencional, porém não existem estudos
conclusivos sobre este procedimento. Com o objetivo
de reduzir as recidivas das vasculites, desencadea-
das por infecções do trato respiratório, recomenda-se
a administração diária de doses baixas trimetoprim-
-sulfametoxazol, especialmente na granulomatose de
Wegener e na poliangeite microscópica.
Fontes:
http://www.asbai.org.br/revistas/vol214/vasc.htm#col
83
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
FEBRE REUMÁTICA
A
Febre Reumática (FR) é uma complicação não Considera-se como alta probabilidade de
supurativa da faringoamigdalite aguda provoca- febre reumática o indivíduo que se apresente com
da pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo dois critérios maiores ou um critério maior e dois crité-
A (EBGA), decorrente de resposta imunológica tardia rios menores de Jones, associados à evidência de
a essa infecção em populações geneticamente predis- infecção estreptocócica recente. A definição de crité-
postas. A doença acomete principalmente crianças e rio maior ou menor se baseia na sua especificidade e
jovens, estando frequentemente associada à pobreza não sensibilidade. A infecção pregressa pelo EBGA
e a condições de vida adversas. deve ser pesquisada pela história clínica sugestiva ou
dosagens elevadas de exames sorológicos, como a
antiestreptolisina O (ASLO). Manifestações clínicas
atípicas podem estar presentes e devem ser avalia-
das quanto à possibilidade de “febre reumática prová-
vel”, na ausência de outros diagnósticos alternativos.
84
Existem situações para as quais os critérios Em nosso meio, tratar com penicilina benzatina
modificados de Jones não se aplicam adequadamen- os casos clínicos sugestivos de infecção por EBGA,
te e, portanto, não devem ser usados para diagnosti- em especial, nas crianças, adolescentes e adultos
car FR de modo restrito. São exemplos a coréia, a jovens, mesmo na ausência de comprovação bacterio-
cardite indolente e as recorrências de FR, desde que lógica, é uma estratégia que deve ser considerada
outros diagnósticos alternativos também tenham sido após julgamento clínico criterioso, principalmente
excluídos. No caso da coreia, a raridade de outras diante do fato de que resistência do EBGA à penicili-
etiologias, em especial na faixa etária jovem acometi- na nunca foi documentada até então.
da pela coreia reumática, sugere muito o diagnóstico
de FR, mesmo na ausência dos outros critérios ou da O tratamento antimicrobiano da faringoamig-
comprovação da infecção estreptocócica anterior. dalite estreptocócica constitui a ação de prevenção
primária da FR. O antibiótico de escolha é a penicilina,
baseado em sua elevada eficácia e segurança para
erradicar o EBGA. A indicação principal é a penicilina
G benzatina pela dose única eficaz e baixo custo.
Esquemas baseados em outras penicilinas, macrolíde-
os ou cefalosporinas devem ser usados durante 10
dias.
ARTRITE
85
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
um papel importante nessa situação.
ção estreptocócica, porém mais precocemente e com A endocardite reumática é a apresentação
características diversas da artrite reumática. A artrite mais característica da FR e também a mais temível,
reativa pós-estreptocócica tende a ser cumulativa em pois é a responsável pela cardiopatia reumática crôni-
grandes e pequenas articulações, não apresentar ca. O acometimento valvar mitral é o mais freqüente
outros sinais de FR e não responder de modo tão da FR inicial, seguido da lesão valvar aórtica. Tipica-
efetivo aos anti-inflamatórios não hormonais quanto à mente, observa-se sopro sistólico em foco mitral,
artrite reumática. associado ou não ao sopro diastólico aórtico ou a um
sopro mesodiastólico mitral (sopro de Carey
CARDITE Coombs), que decorre do turbilhonamento do
sangue ao passar por folhetos mitrais espessados
A cardite representa a manifestação clínica durante a diástole. Lesões estenóticas não são
mais importante da FR, pois é a única que pode provo- encontradas na FR aguda, sendo características do
car sequela crônica, representada pela cardiopatia acometimento crônico da cardiopatia reumática
reumática. Caracteriza-se por uma pancardite, embora (sequela).
a endocardite (valvulite) reumática seja a anormalidade
mais associada ao prognóstico da FR. Pericardite e A cardite é classificada, conforme a sua gravidade,
miocardite ocorrem em associação à valvulite, deven- nas seguintes categorias:
do-se sempre pesquisar intensamente a presença de
1- Cardite subclínica: sem sintomas cardíacos,
refluxo valvar mitral (associado ou não à insuficiência exames cardiovasculares normais, exceto pelo
valvar aórtica) para admitir a etiologia reumática nas prolongamento do intervalo PR ao ECG, que pode
situações suspeitas de acometimento do pericárdio e estar presente na ausência de outras alterações. Ao
miocárdio. ecocardiograma, há evidências de regurgitações
valvares mitral e/ou aórtica discretas, porém
patológicas.
A incidência de cardite no primeiro surto de FR
varia de 40 a 70%, havendo frequência ainda mais 2- Cardite leve: presença de taquicardia
elevada nas recorrências de FR em pacientes que desproporcional à febre, abafamento de bulhas,
tiveram cardite previamente. Ocorre precocemente no prolongamento do intervalo PR ao ECG, sopro
curso da doença, em geral, nas primeiras três sema- sistólico mitral leve; refluxos leves ou
nas no início da FR. leves/moderados em valva mitral e/ou aórtica.
Câmaras cardíacas têm dimensões normais.
O envolvimento pericárdico pode se manifestar
3- Cardite moderada: sinais incipientes ou
pela presença de atrito pericárdico, abafamento de leves de insuficiência cardíaca; sopros de
bulhas ou dor/desconforto precordial. A pericardite regurgitação mais intensos, porém sem frêmito. Ao
reumática pode ser assintomática, e apenas o ecodo- ECG, além do PR prolongado, podem ocorrer
pplercardiograma poderá auxiliar na identificação de alterações de ST-T e intervalo QT. Ao raio X do tórax,
pequenos derrames. Derrame pericárdico volumoso congestão pulmonar e cardiomegalia leves. Ao
ecodopplercardiograma, refluxos mitral e/ou
com ou sem sinais de tamponamento são raros, e
aórticos leves/moderados ou moderados, podendo
evolução para constricção não ocorre. haver dilatação de câmaras esquerdas de grau leve
ou moderado.
A miocardite reumática pode se manifestar pela
presença de terceira bulha, abafamento de bulhas, 4- Cardite grave: sinais mais evidentes de
sinais de insuficiência cardíaca e cardiomegalia. insuficiência cardíaca, congestão pulmonar e
Apesar do frequente achado histológico de inflamação cardiomegalia. Os sopros são mais intensos,
podendo ocorrer frêmito sistólico em área mitral.
miocárdica na cardite reumática, a insuficiência cardía-
Arritmias podem acontecer, bem como
ca tem sido associada à gravidade da lesão valvar, em acometimento pericárdico mais proeminente. Os
especial, mitral, e não ao acometimento miocárdico. A achados do ECG, raio X do tórax e ecocardiograma
função sistólica do ventrículo esquerdo está preserva- apontam para sobrecarga ou aumento moderado a
da na maioria dos surtos iniciais de FR. Importante grave das câmaras esquerdas e insuficiências mitral
investigar outras etiologias para miocardite na ausên- e/ou aórtica significativas.
cia de envolvimento valvar. O ecocardiograma exerce
86
ERITEMA MARGINATUM
COREIA DE SYDENHAM
87
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
88
diminuir a dor durante aplicação da penicilina benzati-
na devem ser observadas, objetivando uma melhor
PROFILAXIA SECUNDÁRIA aderência à profilaxia: usar agulha 30x8 mm ou 25x8
mm para aplicar a medicação, injetar o líquido lenta e
A profilaxia secundária consiste na administra- progressivamente (2-3 min.) e evitar friccionar o local.
ção contínua de antibiótico específico ao paciente O uso de 0,5 ml de lidocaína 2% sem vasoconstrictor
portador de FR prévia ou cardiopatia reumática com- reduz a dor durante a aplicação e nas primeiras 24
provada, com o objetivo de prevenir colonização ou horas, além de não interferir significativamente nos
infecção de via aérea superior pelo EBGA, com con- níveis séricos da penicilina, podendo ser uma medida
sequente desenvolvimento de novos episódios da a ser usada naqueles pacientes que relutam em fazer
doença.
89
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
ANEMIAS
A
anemia é definida por valores de hemoglobina
(Hb) no sangue abaixo do normal para idade e
gênero. É um dos principais problemas de
têmese, hemoptise, menstruações, partos ou por
múltiplas gestações. Pode também apontar para uma
doença grave subjacente com sangramento oculto,
saúde pública mundial, chegando a afetar mais de um que deve ser afastada com investigação adequada
quarto da população do planeta, ou seja, mais de 2 em homens e mulheres na pós-menopausa, principal-
bilhões de pessoas em todo o mundo. A metade dos mente no que diz respeito ao diagnóstico precoce da
casos é determinada por deficiência de ferro (DF), a doença maligna colorretal.
deficiência nutricional mais prevalente e negligenciada
no mundo, particularmente entre as mulheres e as Independente da etiologia, quando o sangue
tem células vermelhas insuficientes ou estas carre-
gam hemoglobina insuficiente para entregar oxigênio
adequadamente para os tecidos significa que houve
falha na produção das hemácias e sobrevém anemia,
muitas vezes multifatorial num mesmo indivíduo e por
isto uma síndrome complexa para avaliação e estabe-
lecimento da conduta a adotar.
90
cia e estimada pelos níveis de Hb e hematócrito (Ht), cados, os mais afetados pela deficiência de ferro. São
considerando grave a prevalência igual ou maior que eles também os mais beneficiados com a reposição.
40% numa população. Este seria o caso de muitas
regiões do Brasil.
91
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
A depleção de ferro ocorre de forma progressi- mente. A anemia da puérpera é definida com uma
va, de acordo com a extensão e a rapidez da instala- taxa de Hb abaixo de 10 g/dL nas primeiras 48 horas
ção. Primeiro há depleção das reservas de ferro e ou abaixo de 12 g/dL nas primeiras semanas após o
depois do ferro disponível para a síntese da Hb. Se a parto.
deficiência continua, pode haver suspensão da produ- Para os idosos as taxas que definem anemia são de
ção das células vermelhas. Portanto, o desenvolvimen- Hb abaixo de 13,2 g/dL para homens e 12,2 g/dL
to da DF e depois da ADF vai depender das reservas para mulheres brancas. Para os idosos negros, estes
iniciais do indivíduo que, por sua vez, vão depender da valores são um pouco menores, com o corte na Hb
sua idade, gênero, taxa de crescimento e balanço abaixo de 12,7 g/dL para os homens e de 11,5 g/dL
entre a absorção e as perdas de sangue. para as mulheres.
Embora a Hb seja amplamente utilizada para a avalia-
A ADF pós parto se caracteriza por sintomas ção de ADF, ela tem baixas especificidade e sensibili-
não específicos, como astenia, fadiga, dispneia, palpi- dade, e um biomarcador do status do ferro, como a
tações ou infecções e dificuldades físicas, cognitivas e ferritina sérica, deve ser solicitado em conjunto.
depressão, que dificultam a relação mãe filho e a nutri- Inicialmente aparece anemia (Hb abaixo dos valores
ção do RN. O diagnóstico diferencial da ADF inclui determinados para idade e gênero) normocítica (volu-
doenças parasitárias, como malária, ancilostomíase e me corpuscular médio - VCM – normal), com valor
esquistossomose; causas nutricionais como carências absoluto de reticulócitos normais e com marcadores
de ácido fólico, vitamina A e vitamina B12 e causas do status do ferro baixos, como ferritina abaixo de 30
genéticas, como as hemoglobinopatias hereditárias mcg/L, ferro abaixo de 330 mcg/L, capacidade ferro-
tipo talassemias. péxica sérica acima de 4 mg/L, aumento de transferri-
na e diminuição da saturação da mesma (abaixo de
20%). Com a continuação da perda sanguínea, apa-
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL recerá anemia hipocrômica clássica (com hemoglobi-
na corpuscular média - CHCM baixa) e microcitose
Na suspeita de ADF, deve-se solicitar um (com VCM baixo). Com a piora da anemia e da DF,
hemograma completo (com os índices hematimétricos surgem a anisocitose (células de tamanhos variados)
e avaliação de esfregaço periférico) e dosagem de e a poiquilocitose (células de formas variadas).
ferritina. Outras medidas, como ferro sérico, transferri-
na e a saturação da transferrina não são obrigatórios. A concentração da ferritina sérica (FS) é o
Pacientes com ADF têm ferro sérico baixo, transferrina mais confiável marcador das reservas de ferro do
alta e uma saturação da transferrina baixa. corpo, substituindo a avaliação da medula óssea reali-
zada anteriormente. Os valores normais variam de 40
De acordo com os padrões diagnósticos da a 200 ng/mL (mcg/L), não havendo nenhuma situa-
OMS, a ADF é leve a moderada, se a Hb fica entre 7 a
12 g/ dL, e grave, se a Hb for menor que 7 g/dL, com
pequenas variações de acordo com a idade, gênero
ou presença de gestação.
92
ção clínica em que índices baixos não signifiquem
deficiência de ferro. Portanto, todo indivíduo com con-
centração de ferritina menor do que 10 a 15 ng/mL
tem deficiência de ferro, com uma sensibilidade de
59% e uma especificidade de 99%. No entanto,
devido à baixa sensibilidade do nível abaixo de 15
ng/mL, um valor de corte mais alto é mais apropriado.
Desde que os pacientes com ADF não tenham uma
infecção ou uma doença inflamatória junto, o valor
limite de 30 ou 41 ng/mL dá uma melhor eficiência
diagnóstica com uma sensibilidade e especificidade
de 92% e 98% ou 98% e 98%, respectivamente.
Como a ferritina é um reator de fase aguda, com níveis
aumentados em doenças inflamatórias, infecciosas,
malignas ou hepáticas, pode haver uma ferritina falsa-
mente elevada na presença destas doenças e ADF. O
efeito da inflamação sobre a ferritina é de aumentá la no jejuno proximal, onde as proteínas carreadoras do
em três vezes. Portanto, nestes pacientes a regra de ferro expressam se mais fortemente. As preparações
ouro é dividir o valor da ferritina por 3 e valores meno- que liberam ferro adiante destas porções intestinais
res ou igual a 20 ng/mL sugerem ADF concomitante. são, pois, ineficazes. Os sais de ferro não devem ser
administrados com as refeições, porque os fosfatos,
O diagnóstico de deficiência funcional de ferro fitatos e tanatos da dieta se ligam ao ferro e dificultam
ocorre em situações clínicas em que a taxa aumenta- a sua absorção. Assim como não devem ser ingeridos
da de eritropoese ocorre por perda sanguínea signifi- com antiácidos, bloqueadores da bomba de prótons,
cativa de sangue, flebotomias terapêuticas repetitivas bebidas e suplementos com cálcio, antibióticos (qui-
ou por uso de estimuladores da eritropoese, e os nolonas e tetraciclinas), café, chá, leite ou ovos. Deve
suprimentos de ferro, embora normais ou até aumen- ser administrado 2 horas antes dos antiácidos ou 4
tados, não são suficientes para fornecer ferro rapida- horas após. No entanto, como é fundamental melhorar
mente, conforme exigido por esta demanda aumenta- a aderência do paciente e tornar eficaz o tratamento
da. Isto atenua a resposta eritropoética, resultando pela via oral, sugere se muitas vezes a administração
numa produção de células vermelhas insuficientes em das doses junto às refeições ou até a diminuição da
ferro, a menos que uma fonte extra seja adicionada, dose para amenizar os efeitos adversos. É essencial
como a preparação para aplicação intravenosa (IV) de motivar a adesão, com mensagens educativas e infor-
ferro. Esta situação é chamada de deficiência funcio- mações dos benefícios do tratamento para mãe, feto e
nal de ferro e é comumente vista, por exemplo, na crianças, comprometendo os envolvidos com a tera-
anemia da insuficiência renal crônica, em que se pia.
indica o uso de estimulador da eritropoese.
O ferro é também mais bem absorvido como
sal ferroso (Fe++) num ambiente levemente ácido, daí
TRATAMENTO
a indicação de tomá lo com meio copo de suco de
laranja. Inexiste evidência de diferença de eficácia
A escolha da preparação de ferro vai depen-
para o tratamento de DF entre as diferentes prepara-
der da gravidade da doença e da tolerância do
ções orais de ferro, tais quais fumarato, gluconato e
paciente ao ferro oral que, por ser eficaz e barato, é
sulfato. Existem muitas outras preparações além
considerado a primeira linha de tratamento. No
destas, geralmente mais caras e algumas com pior
entanto, existem indicações para o uso parenteral de
absorção. Estudo randomizado comparou prepara-
ferro atualmente, cujas preparações se tornaram mais
ções de ferro férrico (Fe+++) com ferro ferroso
eficazes e seguras.
(Fe++) no tratamento da ADF em mulheres em relação
à eficácia e efeitos adversos e concluiu que ambos
O ferro é mais bem absorvido no duodeno e
são seguros em relação aos efeitos gastrintestinais,
93
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Quanto à reposição parenteral de ferro, a via IV As doses terapêuticas usuais dos medicamen-
é melhor que a intramuscular, pois esta apresenta tos preconizados neste Protocolo são:
complicações locais (dor, abscesso, pigmentação
cutânea) e sistêmicas (febre, artralgias, reações alérgi- Sulfato ferroso – tratamento:
cas potencialmente graves). Há relutância ao uso IV • Crianças: 3 a 6 mg/kg/dia de ferro elementar,
pelos médicos pelos graves efeitos adversos das anti- sem ultrapassar 60 mg/dia.
gas preparações de ferro associadas com o alto peso
molecular do ferro dextran (anafilaxia, choque e morte). • Gestantes: 60 a 200 mg/dia de ferro
elementar associadas a 400 mcg/dia de ácido fólico.
Porém, há muitas situações em que a administração IV
é necessária ou preferível. Casos de anemia grave em • Adultos: 120 mg/dia de ferro elementar.
que não há resposta ao tratamento oral (sem aumento
da Hb em 8 semanas, por exemplo) ou que haja intole- • Idosos: 15 mg/dia de ferro elementar.
rância absoluta do paciente ao uso oral (náusea ou
vômitos incoercíveis). Quando uma quantidade muito Sacarato de hidróxido férrico – tratamento:
grande de ferro for necessária para repor as perdas
Fórmula para cálculo da dose total IV de ferro a ser
sanguíneas diárias que superam a capacidade de
administrada:
absorção pelo TGI (estima-se que a quantidade
máxima de ferro elementar que pode ser absorvida Ferro (mg) = (Hb desejada conforme sexo e idade do
pelo TGI é de 25 mg/ dia; dependendo da preparação paciente – Hb atual em g/dL) x Peso corporal (kg) x
2,4 + 500 mg
de ferro utilizada, até 1.000 mg de ferro elementar
podem ser administrados numa única infusão IV). Na A dose deve ser administrada em hospital, em infusão
anemia da doença inflamatória intestinal, o ferro IV já é IV lenta, por 30 minutos, de uma a três vezes na
considerado uma opção precoce de tratamento, de semana, com intervalos mínimos de 48 horas e não
ultrapassando 300 mg em cada dose. Para as
acordo com algumas evidências, sendo já utilizada
gestantes o peso corporal deve ser o de antes da
como primeira linha de tratamento, com ou sem intole- gestação.
rância à VO. Conforme diretrizes, para pacientes em
quimioterapia ou em diálise, a IV é a via de preferência
quando o ferro é necessário. Após cirurgias de by pass Fontes:
gástrico, pelas dificuldades do estômago restante em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolos_clinicos_diretriz
oxidar o ferro para facilitar a absorção no duodeno e es_terapeuticas_v3.pdf
jejuno, a via IV é uma boa opção quando necessário.
FÁRMACOS
94
ANEMIA APLÁSTICA
A
Anemia aplástica (AA) ou aplasia de medula
óssea é uma doença rara, caracterizada por
pancitopenia moderada a grave no sangue peri-
férico e hipocelularidade acentuada na medula óssea,
sendo a mais frequente das síndromes de falência
medular. Entretanto, seu diagnóstico, por não ser fácil,
deve ser de exclusão, tendo em vista que várias outras
causas de pancitopenia podem apresentar quadro
clínico semelhante ao de aplasia. É uma doença
desencadeada por causas congênitas ou adquiridas.
Uso de medicamentos, infecções ativas, neoplasias
hematológicas, invasão medular por neoplasias não
hematológicas, doenças sistêmicas (como as colage- normal pelo método) e medula óssea hipocelular à
noses) e exposição a radiação e a agentes químicos biópsia, com diminuição de todos os elementos
encontram-se entre as causas adquiridas. hematopoiéticos e seus precursores, na ausência de
células estranhas à medula óssea, fibrose ou hemato-
Postula-se que a AA ocorra devido a uma fagocitose.
agressão à célula-tronco hematopoiética pluripotente,
acarretando sua diminuição em número ou até sua O diagnóstico diferencial entre as síndromes
ausência na medula óssea. A doença pode se manifes- que cursam com pancitopenia, como síndrome mielo-
tar de diferentes formas e intensidades, desde falência displásica hipocelular, hemoglobinúria paroxística
medular fulminante até apresentação indolente manti- noturna com medula óssea hipocelular (HPN) e
da sob observação clínica e suporte transfusional leucemias agudas hipoplásicas é difícil. Pacientes
individualizado. Estima-se que a incidência de AA com AA têm maior probabilidade de desenvolver
adquirida seja de 2-4 pessoas por 1.000.000 ao ano, mielodisplasias e doenças neoplásicas hematológi-
com dois picos de incidência: o primeiro entre os cas do que a população geral. As análises citogenéti-
indivíduos de 10-25 anos e o segundo nos maiores de ca e imunofenotípica complementares podem auxiliar
60 anos, sem diferenças entre os sexos. na diferenciação diagnóstica, porém isoladamente
não devem ser utilizadas como ferramenta diagnósti-
A aplasia geralmente decorre de quadros infec- ca. Cabe lembrar que diversas outras doenças não
ciosos recorrentes, por vezes graves pela neutropenia, hematológicas podem simular um quadro de aplasia,
sangramentos cutaneomucosos secundários à trom- como infecções virais e bacterianas (hepatites, mico-
bocitopenia e astenia devido à síndrome anêmica. A bactérias), deficits vitamínicos (vitamina B12 e ácido
grande maioria dos casos de AA é adquirida, com uma fólico), doenças reumatológicas (lúpus eritematoso
pequena proporção de pacientes apresentando a sistêmico, artrite reumatoide) e neoplasias sólidas
forma congênita da doença. com invasão medular.
DIAGNÓSTICO
95
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
96
TRATAMENTO IMUNOSSUPRESSOR TEMPO DE TRATAMENTO
FÁRMACOS
• Prednisona: comprimidos de 5 e 20 mg
97
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
ANEMIA EM PACIENTES
COM INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA
A
anemia na IRC pode se desenvolver em decor- A correção da anemia através do uso de alfae-
rência de qualquer uma das condições hemato- poetina praticamente suprimiu a necessidade de
lógicas que afetam a população geral. Porém a transfusões sanguíneas e os riscos a elas associados
causa mais comum, sobretudo nos pacientes com e, além disso, promoveu benefícios em relação à
doença mais avançada, é a deficiência de eritropoeti- melhora da qualidade de vida e do desempenho físico
na. Essa glicoproteína, produzida pelos rins, atua na e cognitivo e a redução do número de hospitaliza-
medula óssea estimulando as células progenitoras da ções. Entretanto, estudos recentes têm demonstrado
série eritroide. Os maiores estímulos para sua produ- que a manutenção de um alvo de hemoglobina > 13
ção são anemia e hipóxia tecidual. Em pacientes com g/dl associou-se a aumento da morbimortalidade.
IRC, os níveis produzidos estão aquém do esperado Diante disto, a faixa terapêutica atualmente recomen-
para o grau de anemia apresentado deficiência relativa dada para hemoglobina situa-se entre 10-12 g/dl.
de sua produção. Isso decorre da perda progressiva
de néfrons ao longo da história natural da IRC, com
consequente limitação à produção de eritropoetina.
98
ESQUEMA DE ADMINISTRAÇÃO
Pacientes em tratamento conservador ou em
programa de diálise peritoneal podem ser tratados
inicialmente com uma das seguintes opções, ajusta-
das posteriormente de acordo com a resposta tera-
pêutica:
99
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
DOENÇA FALCIFORME
A
doença falciforme (DF) é uma das enfermidades
genéticas e hereditárias mais comuns no
mundo. Decorre de uma mutação no gene que
produz a hemoglobina A, originando outra, mutante,
denominada hemoglobina S, de herança recessiva.
Existem outras hemoglobinas mutantes, como, por
exemplo, C, D, E etc. Em par com a S, integram o
grupo denominado DF. A mais conhecida é a SS, que
inicialmente se denominou anemia falciforme (SS).
Existem ainda a S/Beta talassemia (S/B tal.), as doen-
ças SC, SD, SE e outras mais raras. Apesar das parti-
cularidades que as distinguem, todas essas combina-
ções têm manifestações clínicas e hematológicas
semelhantes, por isso, universalmente, as condutas
são iguais para todas, levando-se em consideração
meses e nos adultos, pode ser realizado pelas dife-
apenas o curso mais ou menos severo de cada uma
rentes metodologias existentes.
delas.
O fenômeno de afoiçamento das hemácias é
Entre essas associações para a DF, a de maior
responsável por todo o quadro fisiopatológico. As
manifestação clínica é identificada como anemia falci-
hemácias, quando assumem essa forma, apresentam
forme (AF), determinada pela presença da hemoglobi-
maior rigidez e vivem na circulação sanguínea em
na S em homozigose (SS), ou seja, a pessoa recebe
média 10 dias, muito menos que o tempo médio
de cada um dos pais um gene para hemoglobina S.
usual de 120 dias, estando mais sujeitas à destrui-
Essa combinação é a que se denomina anemia falcifor-
ção. Isso resulta em anemia crônica intensa.
me.
Os sinais clínicos observados são decorren-
A presença de apenas um gene para hemoglo-
tes da forma afoiçada das hemácias. Esse formato
bina S, combinado com outro para hemoglobina A,
influencia intensamente no fluxo do sangue da micro-
possui um padrão genético AS (heterozigose), que não
circulação, pois a irregularidade da superfície de con-
produz manifestações da DF, sendo o indivíduo identi-
tato das hemácias alteradas permite reações quími-
ficado como portador de traço falciforme (TF). Cabe
cas interativas entre estas e as células endoteliais,
reiterar que o estado heterozigoto (AS) denominado
fazendo-as aderir à parede do vaso sanguíneo. As
traço falciforme, de acordo com estudos internacional-
consequências da aderência são caracterizadas pela
mente considerados, não acarreta qualquer sintomato-
vaso-oclusão, com redução do fluxo do sangue nos
logia clínica, e sua importância é para orientação gené-
capilares, causando estases venosa e hipóxia, que
tica ao portador ou à sua família, de acordo com a
acarretam crises agudas intensamente dolorosas e
publicação Consenso brasileiro sobre atividades
lesão tecidual orgânica crônica e progressiva.
esportivas e militares e herança falciforme.
Além das manifestações clínicas, como em
Uma mulher com TF pode gestar uma criança
outras doenças, os sinais e sintomas da DF causam
com DF se o pai da criança também tiver o traço S ou
repercussão em vários aspectos da vida das pesso-
traço C, D, E ou outros, e vice-versa. No caso de
as, como a interação social, as relações conjugais e
casais que desejam a identificação genética para HbS,
familiares, a educação e o emprego. Embora essas
o exame indicado e presente na tabela SUS é a eletro-
manifestações sejam intensas, podem ser prevenidas
forese de hemoglobina que, na criança com mais de 4
100
enfermidade degenerativa, considerando-se que a
e tratadas, garantindo às pessoas longevidade com precocidade e a integralidade da atenção podem ser
qualidade. O transplante de medula óssea tem sido determinantes na limitação dos agravos.
praticado em centros de pesquisa, e definido por
protocolos para esse fim, o que faz com que haja pes- A eletroforese de hemoglobina preconizada
soas indicadas e outras, não, para tal procedimento. pelo PNTN para essa faixa etária é realizada pela
Mas os estudos têm avançado muito nessa área, con- metodologia do High-Performance Liquid Chromato-
tribuindo para a existência de uma pequena popula- graphy (HPLC) ou da Focalização Isoelétrica, méto-
ção nacional e mundial curada da DF, de acordo com dos de maior especificidade e sensibilidade e,
os dados da Sociedade Brasileira de Transplante de portanto, mais seguros quanto ao diagnóstico de
Medula Óssea. certeza. A partir dos 4 meses de idade, o diagnóstico
pode ser feito por quaisquer das metodologias exis-
Ainda não há dados consistentes sobre a mor- tentes para eletroforese de hemoglobina. Quanto
talidade e a letalidade por DF no Brasil. A inexistência mais precoce for o diagnóstico e, consequentemente,
de informação nos atestados de óbito, a ausência de o estabelecimento de uma linha de cuidado à saúde,
cadastros informatizados nos centros de referência e maiores serão os benefícios individuais para as pes-
hemocentros e a existência de população sem diag- soas com DF.
nóstico revelam a necessidade de estruturação da
rede de informação em DF, para que se possa avaliar
o impacto das políticas implementadas, nos índices TRATAMENTO
de letalidade da doença. Outro fator importante é a
necessidade, já manifestada em vários centros de Prevenção de crises e complicações: A hidro-
especialidade de todo o mundo, da adequação da DF xiureia (HU) atua na inibição da enzima ribonucleotí-
ao Código Internacional de Doenças (CID), desatuali- deo redutase. Leva a aumento da produção de HbF,
zado, em face dos grandes avanços no conhecimento da hidratação do glóbulo vermelho e da taxa hemo-
da doença. globínica, além de diminuição da hemólise, maior
produção de óxido nítrico e diminuição da expressão
de moléculas de adesão. Até o momento, a HU é con-
siderada a terapia medicamentosa mais eficaz da DF.
A prescrição de HU para a população pediátrica tem
demonstrado claros benefícios, e o medicamento
parece ser bem tolerado, podendo prevenir tanto o
GLÓBULO SAUDÁVEL GLÓBULO COM ANEMIA
FALCIFORME
infarto esplênico quanto as manifestações neurológi-
cas (convulsões, paralisias, distúrbios da fala, ceguei-
ra transitória e alterações da consciência). A terapia
com HU apresenta risco de toxicidade hematológica,
necessitando de monitorização rigorosa das conta-
gens de células sanguíneas. Além disso, o potencial
carcinogênico e teratogênico do fármaco deve ser
FLUXO SANGUÍNEO NORMAL
CÉLULAS FALCIFORMES considerado.
DIFICULTANDO O FLUXO
PREVENÇÃO DE INFECÇÕES
Pacientes com doença falciforme são frequen-
DIAGNÓSTICO DA DF E DO TF temente acometidos por asplenia funcional (ausência
da função normal do baço), com consequente
O diagnóstico laboratorial da DF é realizado aumento da susceptibilidade a infecções por bacté-
pela detecção da Hb S e da sua associação com rias com parede celular. O Streptococcus pneumo-
outras frações. Quando a detecção da DF se faz nos niae é responsável por 70% das infecções nessa
testes de triagem neonatal, o diagnóstico possibilita o população. As infecções são mais frequentes e
início de cuidados específicos exigidos por uma graves em crianças com menos de 5 anos, podendo
101
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
O Transplante de células-tronco hematopoéti-
se apresentar de maneira fulminante e levar à morte cas (TCTH) é o único tratamento curativo da doença
em menos de 24 horas. O risco de meningite pneumo- falciforme. Conforme recomendação da CONITEC, o
cócica é estimado em 600 vezes maior do que na Ministério da Saúde estabeleceu a indicação do
população em geral, e a frequência de bacteremia é TCTH alogênico aparentado mieloablativo de sangue
estimada em até 300 vezes maior que o esperado para de cordão umbilical, de sangue periférico ou de
a idade; 90% dos casos ocorrem nos três primeiros medula óssea o para tratamento da doença falcifor-
me. Pacientes homozigotos SS ou S beta em uso de
anos de vida.
HU e com complicações graves não infecciosas rela-
cionadas a vasoclusão são potencialmente candida-
A eficácia da profilaxia de infecções bacteria- tos ao procedimento e devem ter os irmãos avaliados
nas com penicilina oral em crianças com DF foi quanto à compatibilidade. Na presença de doador
demonstrada em estudo randomizado controlado por compatível, os familiares devem ser informados sobre
placebo e duplo-cego. Nesse estudo, em que foram essa possibilidade terapêutica; havendo consenti-
incluídas 215 crianças HbSS de até 3 anos de idade, mento, o paciente deverá ser encaminhado para con-
cluir a avaliação em centro transplantador.
observou-se redução da incidência de bacteremia por
Streptococcus pneumoniae em 84% com a adminis-
tração de duas doses ao dia; além disso, nenhuma
morte por septicemia causada por esse agente ocor-
reu no grupo tratado, enquanto no grupo placebo Fontes:
ocorreram três óbitos. http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/fevereiro/22/Port
aria-Conjunta-PCDT-Doenca-Falciforme.fev.2018.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doenca_falciforme_conduta
Essa profilaxia antibiótica deve ser iniciada a s_basicas.pdf
partir do segundo ou terceiro mês de idade, com peni-
cilina sintética V (fenoximetilpenicilina em suspensão),
cuja principal característica é a resistência à degrada-
ção pelo ácido gástrico, tornando possível sua admi-
nistração por via oral. Quando administrada em jejum,
alcança níveis séricos máximos em 30 minutos e sua
eliminação é quase completa após 6 horas. É ativa
contra estafilococos (exceto cepas produtoras de
penicilinase), estreptococos (grupos A, C, G, H, L e
M) e pneumococos. Na impossibilidade de uso por via
oral, a penicilina G injetável (benzilpenicilina benzatina
intramuscular) deve ser considerada. No caso de
crianças alérgicas à penicilina, utiliza-se a eritromicina
por via oral, na dose de 20 mg/kg/dia, dividida em
duas administrações diárias.
TRATAMENTO ADJUVANTE
102
ANEMIA MEGALOBLÁSTICA
A
anemias megaloblásticas são ocasionadas por causas congênitas, podem ser por Acidúria orótica,
inúmeros defeitos na síntese do DNA ocasio- Síndrome de Lesch-Nyham e anemia diseritropoéti-
nando, assim, um conjunto comum de anormali- ca, enquanto nas adquiridas por drogas estão os
dades hematológicas do sangue periférico e da contraceptivos, Fenitoína, Fenobarbital, Hidroxiureia,
medula óssea. Para a síntese normal do DNA e da Primidona, Aciclovir, entre outras.
hematopoese, são necessárias duas vitaminas: a Vita-
mina 9, conhecida como Ácido Fólico, e a Vitamina As manifestações clínicas dessa deficiência
B12, conhecida como Cobalamina. Quando há alguma são polimórficas, variando de estados mais suaves
deficiência de um destes fatores, as hemácias não até condições severas. Essa desordem, classificada
conseguem produzir DNA, prejudicando a maturação como anemia megaloblástica, está associada a sinto-
nuclear (a hemácia em formação possui núcleo) (OLI- mas neurológicos com frequente aparecimento da
VEIRA, 2009). tríade: fraqueza, glossite e parestesias.
A vitamina B12 está presente em, praticamen- Os sintomas, como cansaço e palidez acentu-
te, todas as formas de tecidos animais, os quais adqui- ada, são características dos efeitos fisiopatológicos
rem a vitamina B12 indiretamente a partir das bacté- da anemia megaloblástica, assim como língua lisa e
rias. Seu nível mais alto encontra-se no fígado de careca, ardor lingual, sensações parestésicas em
animais, com 50% dos estoques corporais encontra- membros inferiores e mãos (neuropatia periférica)
dos neste órgão, e não podem adquiridos através de dificuldade para locomoção, perturbações esfincte-
hortaliças e frutas. rianas, hipo ou hiperflexia e perturbação mental mais
ou menos acentuada (alucinações ou demência). Os
A anemia megaloblástica pode apresentar, no sintomas neurológicos são decorrentes da degene-
hemograma e na leitura de lâmina em microscopia, ração dos cordões laterais e posteriores da medula
como resultado, uma macrocitose, muitas vezes, espinhal.
acompanhada de uma hipocromia, além da hiperseg-
O transtorno de humor pode estar associado
NORMAL ANEMIA MEGALOBLÁSTICA à deficiência dessa vitamina, isso porque a proprie-
dade da vitamina B12 e o ácido fólico possuem o
papel de metilar moléculas precursoras de monoami-
HEMÁCIA MAIOR
QUE O NORMAL nas, como serotonina, noradrelina e dopamina. Além
HEMÁCIA
das monoaminas, a síntese S-adenosil-metionina
(SAM), responsável por várias reações de metilação
no cérebro e com possíveis efeitos de humor,
também depende da vitamina B12 e do ácido fólico.
NEUTRÓFILO
Em crianças, praticamente, só ocorre por
HIPERSEGMENTADO raríssimos defeitos genéticos e já nos adultos é muito
mentação dos neutrófilos. Um desequilíbrio no cresci- raro, a sua incidência aumenta a partir da meia idade
mento das células que gera a expressão da própria até a velhice. A dosagem do exame de vitamina B12
anemia. O aumento da Homocísteina e a diminuição está se tornando um componente indispensável da
das quantificações séricas de cobalamina e ácido revisão médica dos pacientes idosos e, com isso,
fólico também são diagnóstico da doença. vem apresentando uma prevalência de 2 a 3% aos
As causas dessa doença estão associadas a dietas 60 anos e aumento com o decorrer da idade.
inadequadas, perdas excessivas, má absorção e
outras causas, como o alcoolismo e hepatopatias. Nas Na gravidez, os riscos de malformações fetais
103
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
DIAGNÓSTICO
CONDUTA
Investigar as principais causas da deficiência
de ácido fólico: nutricional, má absorção intestinal e
uso de anticonvulsivantes, pirimetamina, trimetropim e
álcool.
Fontes:
http://atualizarevista.com.br/wp-content/uploads/2017/01/a-anemia-m
egalobl%C3%A1stica-e-seus-efeitos-fisiopatol%C3%B3gicos-v-5-n-5.pdf
http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v41n5/a07v41n5.pdf
104
TALASSEMIAS
C
onhecidas como “Anemia do Mediterrâneo”, a
maioria dos casos inicialmente identi¬ficados
ocorreu em famílias residentes próximo do Mar
Mediterrâneo, em países como Itália, Grécia, Turquia e
Líbano, e essa associação geográ¬fica foi responsável
pela sua nominação. Talassemia deriva da combinação
das palavras gregas thálassa, para “mar“, e haema
para “sangue”. Talassemias são hemoglobinopatias
quantitativas, hereditárias, genéticas, decorrentes de
mutações nos genes das globinas (alfa ou beta na
maioria dos casos), que promovem redução ou ausên-
cia de síntese de uma ou mais das cadeias de globina,
formadoras da hemoglobina. O resultado dessas alte-
rações moleculares ocasiona desequilíbrio na produ-
ção das cadeias tendo como maior consequência a
eritropoese ine-ficaz. Apresentam uma enorme varie-
dade de manifestações clínicas e laboratoriais, de
acordo com a cadeia afetada e com o grau de desequi-
líbrio na produção quantitativa. São classi¬ficadas, de
acordo com a cadeia polipeptídica afetada; as mais
frequentes são as talassemias do tipo alfa e do tipo
beta. Também são descritas as talassemias do tipo
delta-beta, delta e gama-delta-beta, porém são muito
raros estes tipos de talassemia.
cada 2–4 semanas desde os primeiros meses de
As cadeias produzidas em excesso formam vida).
precipitados na hemácia, lesam a membrana e provo-
cam destruição prematura. A quantidade e o tipo Mutações genéticas para talassemia beta são
desses precipitados determinam a gravidade da talas- oriundas dos países do Mediterrâneo, Oriente Médio,
semia. A medula óssea das pessoas com talassemia Índia, Ásia central, sul da China, Extremo Oriente,
produz as hemácias menores e com menos hemoglobi- norte da África, e chegaram ao Brasil por meio dos
na, o que causa anemia hemolítica e hipocromia. A movimentos imigratórios, principalmente com os
Talassemia não é contagiosa e não é causada por defi- italianos e gregos.
ciência na dieta, carência de vitaminas ou sais mine-
rais.
TALASSEMIA ALFA
TALASSEMIA BETA A talassemia alfa abrange quatro apresenta-
ções clínicas, conforme a alteração genética apresen-
A talassemia beta abrange três apresentações
tada no cromossomo 16: portador silencioso (sem
clínicas, conforme a alteração genética ocorrida no
manifestações), traço talassêmico alfa (anemia leve),
cromossomo 11: talassemia beta menor/traço talassê-
doença da hemoglobina H (anemia moderada a
mico beta (anemia leve), talassemia beta intermediária
grave) e síndrome da hidropsia fetal da hemoglobina
(anemia leve a grave, podendo necessitar transfusões
Bart’s (anemia muito grave e incompatível com a
de sangue esporadicamente) e talassemia beta maior
vida). Mutações genéticas para talassemia alfa
(anemia grave, necessitando transfusões de sangue a
105
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
TRATAMENTO
Fontes:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/talassemias_folder.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_diagnostico_tra
tamento_talassemias_beta.pdf
106
HEMOSTASIA E DISTÚRBIOS
DA COAGULAÇÃO
A
hemostasia pode ser definida como uma série vasos sanguíneos devem constituir um sistema tubular
complexa de fenômenos biológicos que ocorre não trombogênico capaz de desencadear, por meca-
em imediata resposta à lesão de um vaso san- nismos locais, os processos que iniciem a coagulação
guíneo com objetivo de deter a hemorragia. O meca- e que, após a recuperação da lesão anatômica,
nismo hemostático inclui três processos: hemostasia possam remover o coágulo e restabelecer a circula-
primária, coagulação (hemostasia secundária) e fibri- ção local (fibrinólise).
nólise. Esses processos têm em conjunto a finalidade O endotélio é de singular importância no controle de
de manter a fluidez necessária do sangue, sem haver vários aspectos da hemostasia posto que, além da
extravasamento pelos vasos ou obstrução do fluxo capacidade de secretar substâncias tais como a pros-
pela presença de trombos. taciclina (PGI2) — um potente vasodilatador com ativi-
dade antiagregante plaquetária —, é responsável pelas
características não trombogênicas da superfície inter-
HEMOSTASIA PRIMÁRIA na dos vasos sanguíneos. De outra forma, tanto a
lesão anatômica quanto os distúrbios funcionais do
É o processo inicial da coagulação desenca-
endotélio aumentam o risco de ocorrência de trombo-
deado pela lesão vascular. Imediatamente, mecanis-
ses, com freqüência variável, em qualquer segmento
mos locais produzem vasoconstrição, alteração da
da rede vascular. A remoção do endotélio, por qual-
permeabilidade vascular com produção de edema,
quer mecanismo, expõe o sangue ao contato com o
vasodilatação dos vasos tributários da região em que
colágeno da região subendotelial, o que por si só
ocorreu a lesão e adesão das plaquetas. Assim, a
promove a adesão das plaquetas na presença do fator
vasoconstrição diminui o fluxo de sangue no sítio de
vonWillebrand (VIII:vWF). Quando isto ocorre, as
sangramento, tornando preferencial o fluxo pelos
plaquetas tornam-se ativadas e liberam o conteúdo
ramos colaterais dilatados. Simultaneamente, a
dos grânulos citoplasmáticos. Entre outras substân-
formação de edema intersticial diminui o gradiente de
cias, estes grânulos contêm adenosina-difosfato
pressão entre o interior do vaso lesado e a região
(ADP), serotonina e tromboxane A2 (TXA2). O ADP é
adjacente, produzindo um tamponamento natural e
responsável pela ativação de outras plaquetas e pela
auxiliando a hemostasia. Em condições normais, os
107
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
ponto de interação com a cascata. O fator VI, que foi
modificação da sua forma, que passa de discóide para
utilizado para designar um produto intermediário na
esférica com aparecimento de pseudópodes. Estas
formação da tromboplastina, não possui mais qual-
plaquetas ativadas vão se agregar umas às outras
quer designação, não existe. O fator III é a trombo-
formando um tampão que fornecerá a superfície ade-
plastina tecidual, chamada atualmente de fator teci-
quada ao processo de coagulação do sangue, produ-
dual ou tissular (TF). O fator IV é utilizado para desig-
zindo um coágulo resistente. Neste estágio, as plaque-
nar o cálcio iônico (Ca++), que deve ser mantido na
tas exteriorizam uma lipoproteína denominada fator
concentração sérica acima de 0,9 mM/L para a otimi-
plaquetário, que desempenha papel de superfície
zação da formação do coágulo.
fosfolipídica (superfície ativadora) que participa de
inúmeras reações da cascata de coagulação.
O modelo da cascata dividiu a seqüência da
coagulação em duas vias: a via intrínseca na qual
COAGULAÇÃO todos os componentes estão presentes no sangue e
na via extrínseca na qual é necessária a presença da
A coagulação sanguínea consiste na conversão
proteína da membrana celular subendotelial, o fator
de uma proteína solúvel do plasma, o fibrinogênio, em
tecidual (TF). Os eventos comuns da coagulação (via
um polímero insolúvel, a fibrina, por ação de uma
final comum), quer sejam iniciados pela via extrínseca
enzima denominada trombina. A fibrina forma uma rede
ou intrínseca, são a ativação do fator X(Xa), a conver-
de fibras elásticas que consolida o tampão plaquetário
são de trombina a partir da protrombina pela ação do
e o transforma em tampão hemostático. A coagulação
fator Xa, formação de fibrina estimulada pela trombina
é uma série de reações químicas entre várias proteínas
e estabilização da fibrina pelo fator XIIIa.
que convertem pró-enzimas (zimógenos) em enzimas
(proteases). Essas pró-enzimas e enzimas são denomi-
A coagulação, pela via intrínseca, é desenca-
nadas fatores de coagulação. A ativação destes fato-
deada quando o fator XII e ativado pelo contato com
res é provavelmente iniciada pelo endotélio ativado e
alguma superfície carregada negativamente (por
finalizado na superfície das plaquetas ativadas e tem
exemplo, colágeno ou endotoxina). Além do fator XII,
como produto essencial a formação de trombina que
estão envolvidos neste processo o fator XI, a pré-cali-
promoverá modificações na molécula de fibrinogênio
creína e o cininogênio de alto peso molecular
liberando monômeros de fibrina na circulação. Estes
(HMWK = high molecular weight kinogen). Tanto o
últimos vão unindo suas terminações e formando um
fator XI quanto a pré-calicreína necessitam da
polímero solúvel (fibrina S) que, sob a ação do fator
HMWK para efetuar a adsorção à superfície em que
XIIIa (fator XIII ativado pela trombina) e íons cálcio,
está ligado o fator XIIa. Da interação destes elemen-
produz o alicerce de fibras que mantêm estável o agre-
tos é ativado o fator XI, que transforma o fator IX em
gado de plaquetas previamente formado.
IXa. O fator IXa e o fator VIIa associam-se à superfície
de fosfolipídio através de uma "ponte" de cálcio
A clássica cascata da coagulação foi introduzi-
estimulando a conversão de fator X para Xa.
da em 1964. Neste modelo a ativação de cada fator da
coagulação leva a ativação de outro fator até a eventu-
De modo mais simples, na via extrínseca, a
al formação da trombina. Esses fatores são numerados
coagulação é desencadeada quando os tecidos lesa-
de I ao XIII, com seus respectivos sinônimos. O
dos liberam o fator tecidual (tromboplastina tecidual),
número correspondente para cada fator foi designado
que forma um complexo com o fator VII, mediado por
considerando a ordem de sua descoberta e não do
íons cálcio. Este complexo age sobre o fator X
estimulando sua conversão em Xa. A partir deste
ponto, as duas vias encontram um caminho comum
em que ocorre a conversão de protrombina em trom-
bina que, por sua vez, estimula a transformação de
fibrinogênio em fibrina.
108
sistema multifacetado, extremamente balanceado, no brand, os quais formam ligações entre plaquetas e
qual participam componentes celulares e molecula- fibras de colágeno para ativar as plaquetas. A peque-
res. na quantidade de trombina gerada na fase de inicia-
ção amplifica o processo da coagulação proporcio-
O modelo da cascata da coagulação foi um nando ativação de mais plaquetas, aumentando a
grande avanço para compreender a formação do coá- adesão das plaquetas e ativando os fatores V, VIII e
gulo in vitro e para monitorização laboratorial, porém XI. Plaquetas ativadas liberam fator V na sua forma
várias falhas ocorreram em observações clinicas in parcialmente ativada que é então completamente
vivo. Um exemplo é que embora deficiências de ativada pela trombina ou fator Xa. O fator de vonWille-
cininogênio de alto peso molecular, pré-calicreína e brand é partido pela trombina para liberar o fator VIIIa.
fator XII prolongam o tempo tromboplastina parcial, Plaquetas ativadas têm agora fatores ativados Va,
eles não causam alterações significativas no sangra- VIIIa e IXa em sua superfície.
mento. Assim como esta, outras alterações da coagu-
lação não conseguiam ser explicadas com o modelo
PROPAGAÇÃO
da cascata. Pesquisadores de coagulação concluí-
A fase de propagação é caracterizada pela
ram que a via intrínseca não tem papel fisiológico
produção de complexos tenases e protombinases
verdadeiro na hemostasia. O complexo formado pelo
que são agrupados na superfície das plaquetas ativa-
fator tecidual e fator VII (TF/FVII) iniciador da via
das. O complexo tenase, fator VIIIa e fator IXa, é
extrínseca pode também ativar o fator IX da via intrín-
formado quando o fator IXa move-se da célula expres-
seca. Outra importante descoberta foi que a trombina
sadora FT, onde é ativado, para ligar-se ao receptor
é ativadora fisiológica do fator XI, “pulando” as
expressado nas plaquetas ativadas. O complexo fator
reações iniciais induzidas pelo contato. Estes acha-
VIIIa/IXa ativa fator X que juntamente com o fator Va
dos levam a conclusão que a ativação do complexo
formam o complexo protrombinase. O complexo
TF/FVII é o maior evento desencadeador da hemosta-
protrombinase intensifica em muito a produção de
sia. Ao invés do modelo de cascata da hemostasia, o
trombina que converte o fibrinogênio solúvel em fibri-
modelo baseado nas células da hemostasia foi
na e também ativa o fator estabilizador da fibrina, fator
proposto. Nesse modelo, o processo de hemostasia
XIII, para formar o coágulo de fibrina hemostático.
é descrito com três fases sobrepostas: iniciação,
Embora o fator XII não esteja envolvido na hemosta-
amplificação e propagação.
sia, existem evidências que ele tem papel fundamen-
tal na hemostasia anormal ou trombose. A deficiência
INICIAÇÃO de fator XII em ratos tem hemostasia normal, mas
O processo de coagulação sanguínea se falha para desenvolver trombose em resposta a lesão
inicia com a exposição do fluxo sanguíneo a células vascular. Administração de fator XII humano reverteu
que expressam fator tecidual. A expressão de FT é esse efeito com rápida formação de trombos. Fator
iniciada por lesão vascular ou por ativação endotelial XII parece ser necessário somente para coagulação
através de substâncias químicas, citocinas ou mesmo patológica e não para hemostasia.
processos inflamatórios. Uma vez combinado com o
FT, o fator VII é ativado (FVIIa). O complexo FT/FVIIa Em relação ao fator XI, sua deficiência em
ativado ativa o fator X e fator IX, tornando-os fator Xa ratos também foi protetor contra trombose. Em estu-
e fator IXa. Fator Xa pode ativar fator V. Se o fator Xa dos humanos, não apresentou quadro tão claro.
dissociar-se da superfície celular, ele é inativado pela Níveis aumentados de fator XI são associados com
antitrombina III e pelo inibidor da via do fator tecidual risco aumentado de tromboembolismo venoso, infarto
(TFPI). O fator Xa, permanecendo na superfície celu- do miocárdio e AVC, mas pacientes com deficiência
lar juntamente com o fator V convertem uma pequena grave de fator XI não estão protegidos contra infarto
quantidade de protrombina em trombina, que partici- agudo do miocárdio.
pa fundamentalmente da fase de ampliação.
O sistema de coagulação é contido e inibido
AMPLIFICAÇÃO
por anticoagulantes específicos que incluem inibidor
A adesão de plaquetas no colágeno subendo-
da via do fator tecidual (TFPI), proteína C, proteína S
telial é mediado pelo receptor de colágeno plaquetá-
e antitrombina III. Para impedir que a produção de
ria específica (glicoproteína Ia/IIa) e fator de vonWille-
109
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
110
Quando surgem evidências de coagulação
sangüínea deficiente, a determinação da idade em PLAQUETAS - O valor normal médio é de
que os distúrbios começaram pode auxiliar a identifi- aproximadamente 240.000/mm, porém raramente
car o tipo de acometimento. Os defeitos da hemosta- ocorre sangramento até que a diminuição do número
sia que surgem na infância são deficiências congêni- de plaquetas atinja 50-70.000/mm.
tas geralmente limitadas a um único elemento da coa-
TEMPO DE SANGRAMENTO SEGUNDO DUKE
gulação — plaquetas ou um fator isolado. O apareci-
(TS) - Requer um número suficiente de plaquetas
mento de defeitos adquiridos é predominantemente
com função normal. Deve ser realizado segundo as
na idade adulta e afeta um número variável de
normas de padronização. O resultado normal é menor
elementos.
que três minutos. Está aumentado quando a resposta
LABORATÓRIO vascular é alterada, na plaquetopenia e na disfunção
plaquetária.
Os exames tradicionais utilizados para avalia-
TESTES DA ATIVIDADE DOS FATORES DE
ção da coagulação devem ser interpretados em con-
COAGULAÇÃO - Devido ao fato de que a seleção da
junto, associados aos eventos clínicos observados e,
via extrínseca ou intrínseca é determinada pelo tipo
desta forma, poderão ajudar a determinar a causa
de superfície fosfolipídica, pode-se escolher a via a
básica do sangramento anormal. Entretanto, os
ser avaliada acrescentando determinados
exames tradicionais nem sempre estão disponíveis
fosfolipídios à amostra de sangue a ser analisada (os
com a rapidez necessária nas situações críticas que
três primeiros informando a respeito da via intrínseca
ocorrem habitualmente nas salas de operação e nas
e da via comum final): Tempo de Tromboplastina
unidades de tratamento intensivo.
Parcial (TTP). Acrescenta-se, à amostra de sangue
pobre em plaquetas, o fosfolipídio plaquetário,
O coagulograma determina, principalmente, o
cronometrando o tempo de formação do coágulo. O
perfil quantitativo dos elementos envolvidos no
FP3 pode ser substituído por outros fosfolipídios (por
processo de coagulação. A dosagem dos fatores de
exemplo, cefalina). O tempo normal varia entre 60 a
coagulação e a contagem das plaquetas determinam
110 segundos. Como as plaquetas foram
se os diversos componentes da hemostasia estão
substituídas pela suspensão de fosfolipídios, o
dentro de limites compatíveis com a coagulação
alargamento do TTP estará relacionado com
normal. Muitas vezes, entretanto, o resultado dos
alterações dos fatores XII, XI, IX ou VIII. Deve-se
exames não coincide com o comportamento do san-
descartar a presença de anticoagulante (por exemplo,
gramento no campo operatório.
heparina).
111
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
112
níveis compatíveis com atividade normal e raramente
podem ser responsabilizados pelas coagulopatias da
transfusão maciça.
DROGAS
113
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Fontes:
http://sites.usp.br/dcdrp/wp-content/uploads/sites/273/2017/05/hemost
asia_revisado.pdf
114
LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA
A
s leucemias agudas são neoplasias do sistema
hematopoiético, compreendidas por um grupo
heterogêneo de doenças caracterizadas pela
rápida expansão de um clone celular anormal na
medula óssea, com acúmulo de células jovens e perda
da capacidade de diferenciação em células maduras.
São classificadas conforme a origem da linhagem
hematológica, divididas em mielóide ou linfóide. Poste-
riormente, atingem a circulação periférica e podem se
infiltrar em outros sistemas orgânicos.
115
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
116
LEUCEMIA MIELOIDE
AGUDA DO ADULTO
DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO PRÉ-TRATAMENTO
A
s leucemias agudas resultam de uma transfor- Sudam e esterase inespecífica) das células blásticas,
mação maligna das células hematopoéticas como auxiliares ao diagnóstico;
primitivas, seguida de uma proliferação clonal • Biópsia de medula óssea no caso de aspirado
e consequente acúmulo dessas células transforma- medular “seco”;
das. A Leucemia Mieloide Aguda (LMA) sofre, carac-
• Imunofenotipagem das células blásticas do
teristicamente, uma parada maturativa celular na fase SP ou da MO;
de blastos ou promielócitos, levando à redução dos
• Avaliação citogenética convencional com um
elementos normais no sangue periférico. As células mínimo de 20 metáfases analisadas ou citogenética
apresentam marcadores mieloides específicos, molecular com hibridização in situ por fluorescência
incluindo bastões de Auer (grânulos aberrantes), alte- (FISH); e
ração citoquímica (negro de Sudan, mieloperoxidase • Avaliação por biologia molecular
ou esterase não específica) e antígenos de superfície preferencialmente da medula óssea. A porcentagem
específicos. O evento inicial que determina a prolife- de blastos exigida para o diagnóstico de LMA é 20%
ou mais de mieloblastos ou monoblastos/
ração neoplásica é desconhecido, mas é resultante promonócitos ou megacarioblastos no SP ou na MO.
de mutação somática e ocorre na célula-tronco (stem
cell) comprometendo a maturação mieloide.
O diagnóstico de leucemia eritroide aguda é
A incidência da LMA ajustada por idade é de feito nos casos com 50% ou mais de precursores
3,6 casos novos por 100.000 habitantes por ano, eritroides na MO, associado a 20% ou mais de blastos
com uma idade mediana ao diagnóstico de 66 anos. de células não eritroides da MO. Mieloblastos, mono-
As deficiências da hematopoese na medula óssea, blastos e megacarioblastos são incluídos na contagem
dos blastos. Na LMA com diferenciação monocítica ou
com a substituição das células normais por células
mielomonocítica, os monoblastos e promonócitos, mas
imaturas que nela se acumulam, resultam numa insufi-
não os monócitos anormais, são considerados e con-
ciência funcional da medula óssea que, em consequ- tados como blastos. Eritroblastos não são contados
ência, se expressa clinicamente por anemia, sangra- como blastos, exceto no caso da leucemia eritroide
mento, infecções e síndrome de hiperviscosidade. A pura. Por sua vez, os seguintes itens visam a determi-
medula óssea e o sangue periférico são principalmen- nar a invasão leucêmica extramedular e as condições
te caracterizados por leucocitose com predomínio de clínicas do doente:
células imaturas, mormente os blastos.
117
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
atuais distinguem os pacientes jovens dos pacientes
• Anamnese e exame físico;
idosos (idade igual ou maior de 60 anos), pois o
• Exames de coagulação, incluindo a dosagem idoso está associado a índice de capacidade funcio-
de fibrinogênio;
nal mais alto (ou seja, pior) e a anormalidade no
• Dosagem bioquímica sérica: glicose, sódio, exame citogenético. Independentemente da idade, o
potássio, cálcio, creatinina, dosagens das objetivo inicial do tratamento da LMA é atingir a RC
transferases/ transaminases, fosfatase alcalina,
DHL, bilirrubinas, ureia, proteína total, ácido úrico, (medula óssea com menos de 5% de mieloblastos e,
colesterol total, triglicerídios, creatinofosfoquinase e no sangue periférico, neutrófilos acima de 1.000/
enzimas pancreáticas; mm3 e plaquetas acima de 100.000/mm3 ) para o
• Punção lombar, se clinicamente indicada; controle da hematopoese. Para ser considerado
potencialmente curado, os pacientes devem perma-
• Exames bacteriológicos de secreções e necer em RC por 2 a 3 anos, quando, então, o risco
líquidos orgânicos, se clinicamente indicada;
de recaída da LMA diminui seguramente para menos
• Testes sorológicos para hepatites A, B e C e de 10%.
para HIV;
• Exame de fezes;
• Exame de urina;
• Eletrocardiograma e ecocardiograma; e
TRATAMENTO
O tratamento da LMA exige uma quimioterapia
inicial de indução de remissão, com o objetivo de atin-
gir remissão completa (RC) da doença e consequente
restauração das células sanguíneas normais. Esta fase
é seguida por uma terapia de pós-remissão para erra-
dicar a doença residual mínima (DRM). Depois, dois a
quatro cursos de “consolidação” com ou sem trata-
mento prolongado de “manutenção”. MODALIDADES TERAPÊUTICAS
A cura da LMA ocorre ainda numa minoria de TERAPIA DE INDUÇÃO – Três dias de
pacientes adultos que se submetem aos diversos antraciclina (ou daunorrubicina ou idarrubinia ou
protocolos de quimioterapia e, nos casos de prognós- mitoxantrona) e 7 dias de citosina arabinosídio
tico intermediário ou desfavorável, apesar do elevado (protocolo “7 + 3”) continua sendo o tratamento
potencial de morbidade, os resultados do transplante padrão para a indução de remissão da LMA do
de células-tronco hematopoéticas alogênico (alo-TC- adulto. Este tratamento ocasiona um período de
TH) ou autólogo (auto-TCTH) são melhores do que os pancitopenia grave durante 3 a 4 semanas,
obtidos com a quimioterapia padrão, sendo que o necessitando-se de tratamento de suporte e por
auto-TCTH é reservado para o paciente que atingiu vezes com internação em Unidade de Tratamento
resposta molecular após recaída da leucemia do subti- Intensivo. A maioria dos protocolos de tratamento
po promielocítica aguda (LPMA). As indicações de preconiza o exame de medula óssea uma semana
TCTH devem observar os critérios do Regulamento após o término do esquema quimioterápico e, se
Técnico do Sistema Nacional de Transplantes. houver células leucêmicas residuais, administra-se
um segundo curso de quimioterapia com outros
Existem dois obstáculos para a cura: a mortali- antineoplásicos e doses mais intensas. O índice de
dade relacionada ao tratamento (MRT) e a resistência remissão completa é de 60% a 80% no grupo de
à quimioterapia. Com isso, os protocolos terapêuticos pacientes jovens.
118
HEMOTERAPIA – A anemia deve ser corrigida com
TERAPIA DE CONSOLIDAÇÃO – Cerca de 30% dos concentrado de hemácias. A transfusão de plaquetas
pacientes de LMA recidivam nos primeiros 6 meses e reduziu dramaticamente a morte por hemorragia nos
mais de 50% no primeiro ano. Com o objetivo de casos de LMA. A transfusão de plaquetas deve ser
retardar ou prevenir a recidiva do paciente jovem, instituída quando a contagem for menor que
tem-se preconizado a terapia pós-remissão, que 10.000/mm3 em paciente estável, ou menor que
consiste em ciclos repetitivos (pelo menos 3 ciclos) 50.000/mm3 em paciente com sangramento ou que
de citosina arabinosídio em altas doses (HiDAC, sigla necessite de procedimento invasivo, que deve ser
em Inglês). O uso de consolidação intensiva evitado tanto pelo risco hemorrágico, quanto pelo
prolongada ou de poliquimioterapia não parece ser risco de circulação bacteriana e sepse. Além do
superior a HiDAC isolada. número de plaquetas, a indicação de transfusão deve
Terapia de Manutenção – Exceto nos casos de leuce- ser considerada nos casos de sangramento de
mia promielocítica aguda (LPMA), o tratamento de mucosa, infecção, mucosite grave e febre. Os
manutenção não deve ser administrado rotineiramen- hemocomponentes devem ser irradiados, em vista do
te no adulto com LMA. risco de doença do enxerto versus hospedeiro
transfusional. Inexiste evidência para a indicação de
TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO
transfusão de granulócitos no paciente com LMA.
HEMATOPOÉTICAS – Apesar do elevado potencial
de morbidade, talvez seja a terapia anti-LMA mais
efetiva para os casos de prognóstico intermediário ou
desfavorável. Essa morbidade, entretanto, assim
como a mortalidade vêm declinando com a melhora
da terapia antimicrobiana e com o controle da doença
do enxerto contra o hospedeiro. Além disso, o número
de doadores não aparentados e a doação de sangue
de cordão umbilical vêm se expandindo, aumentando
progressivamente a chance de identificação de
doadores compatíveis.
TRATAMENTO DE SUPORTE
ANTIBIOTICOTERAPIA – No período da
granulocitopenia, o paciente permanece em alto risco
de infecção bacteriana, necessitando de vigilância
constante e pronta ação a qualquer processo febril,
para evitar septicemia. A detecção do foco infeccioso
é fundamental na orientação terapêutica, sendo
preconizadas coletas de hemo- e uroculturas, além
de avaliação rigorosa da pele, mucosas e pulmão. A
lavagem das mãos, a higiene pessoal e o cuidado
dentário são ações essenciais na prevenção das
infecções.
119
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
LINFOMA DE HODGKIN
O
linfoma de Hodgkin (LH), assim chamado
porque foi descrito pela primeira vez, em 1832,
por Thomas Hodgkin, define-se como uma neo-
plasia do tecido linfóide caracterizada pela presença
de células de Reed-Sternberg e/ou células de Hod-
gkin, inseridas num contexto inflamatório característi-
co, constituído por estroma, linfócitos, histiócitos, eosi-
nófilos e monócitos. Geralmente ocorre em tecido gan-
glionar ou, mais raramente, em tecido extra-ganglionar,
nomeadamente a medula óssea, pulmão ou osso. As
células de Reed-Sternberg constituem apenas 1 a 2%
da população total de células. São células linfóides,
que apresentam um núcleo multilobulado, com nucléo-
los eosinofílicos exuberantes. Ao contrário, as células
de Hodgkin apresentam um núcleo unilobulado. Acei-
CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DA OMS, 1999
ta-se hoje serem células de Reed-Sternberg, visualiza-
das num plano diferente, que apenas evidencia um
lobo do núcleo. 1. LH Nodular Predomínio de Linfócitos
EPIDEMIOLOGIA 2. LH Clássico
120
tem pouco significado clínico; a clássica dor ganglio- ESTADIAMENTO
nar após ingestão de álcool, apesar de estar presente
em menos de 10% dos doentes, é muito característi- O modelo de estadiamento em vigor continua
co. Podemos ainda encontrar queixas de dor óssea a ser a classificação de Ann Arbor, com a modifica-
associada a fenómenos compressivos e, no caso de ção de Cotswold de 1989. Esta classificação realça
doença torácica muito extensa, queixas respiratórias. a importância do envolvimento de áreas ganglionares
No exame objectivo, o achado mais comum é a presen- e/ou extraganglionares de um ou ambos os lados do
ça de adenomegalias não dolorosas, com localização diafragma, para diferenciar doença limitada de
característica nas cadeias ganglionares do pescoço, doença avançada. Uma questão que frequentemente
supraclaviculares e axilares. Pode ocorrer síndrome da se coloca no estadiamento destes doentes consiste
veia cava superior por compressão por adenomegalias em saber quando se justifica efectuar mielograma ou
mediastínicas, embora não seja frequente. Um exame biopsia óssea. Uma vez que o atingimento medular
objetivo cuidadoso do tórax pode revelar sinais de apenas ocorre em 5 a 20% à data do diagnóstico, e
derrame pleural. Podemos também encontrar hepato quase nunca ocorre em jovens assintomáticos com
ou esplenomegalia. As manifestações cutâneas são doença limitada, muitos autores advogam que só
raras. Destas, a mais frequente é o eritema nodoso. deverá ser feita na doença supradiafragmática com
Laboratorialmente, no hemograma, podemos encon- sintomas B, nos estádios III e IV ou na presença de
trar citopenias, particularmente em doença avançada e citopenias. Na avaliação do fígado, deve ter-se em
na histologia de deplecção linfocitária, podendo inclu- conta que o atingimento hepático só é considerado
sivamente ocorrer por fenómenos auto-imunes. Pelo
contrário, também podemos encontrar granulocitose
ou trombocitose. Aumentos da VSE e/ou LDH asso-
ciam-se a doença avançada e sintomática. Numa fase
limitada pode existir uma elevação inespecífica da
fosfatase alcalina, mas esse aumento também pode
ser resultado de doença avançada com atingimento
hepático, ósseo ou medular. Note-se que podemos
encontrar um padrão de colestase não só por colesta-
se intra-hepática, mas também por obstrução biliar por
adenomegalias porto-hepáticas. Alterações laborato-
riais mais raras são a hipercalcemia ou a hipoglicemia,
esta última mediada por anticorpos anti receptores de
insulina. Relativamente aos exames imagiológicos, na
radiografia de tórax é frequente encontrarmos alarga-
mentos do mediastino, principalmente em mulheres
jovens com o padrão histológico de Esclerose Nodular.
121
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
(QT), cujo esquema standard é o ABVD, associado a
RT da área envolvida. Numa tentativa de diminuir os
efeitos adversos, o futuro poderá passar pelo trata-
I. Uma região ganglionar ou estrutura linfóide mento com QT combinada isolada. Estão neste
(baço, timo, anel de Waldeyes) momento a decorrer dois estudos, do grupo do
Canadá e do grupo Europeu, para comparar a eficá-
II. ≥ duas regiões ganglionares, mesmo lado do cia da QT isolada e da associada à RT. Actualmente
diafragma
preconiza-se, ainda, a utilização de terapêutica com-
III. Atingimento ganglionar nos dois lados do binada (QT e RT) na doença limitada. O tratamento
diafragma atualmente aceito da doença avançada é a QT combi-
III.I. Gânglios do hilo esplénico, celíaco ou portais nada, esperando-se uma resposta completa em 70 a
80% dos doentes.
III.II. Gânglios para-aórticos, ilíacos ou mesentéricos
Fontes:
https://www.spmi.pt/revista/vol11/vol11_n4_2004_207-215.pdf
IV. Extra-ganglionar, além de E
CARACTERÍSTICAS MODIFICADORES
A. Sem sintomas B
TRATAMENTO
122
LINFOMA NÃO HODGKIN
O
s Linfomas são transformações neoplásicas de
células linfóides normais que residem predomi- PATOGÊNESE
nantemente em tecidos linfóides. São morfolo-
gicamente divididos em linfomas de Hodgkin (LH) e Diferentes tipos de neoplasias linfóides impli-
não-Hodgkin. O linfoma não-Hodgkin (LNH) é a quarta cam em características clínicas, morfológicas e mole-
neoplasia mais incidente nos Estados Unidos, excluin- culares distintas. Os linfomas de baixo grau caracteri-
do o câncer de pele não melanoma, sendo responsável zam-se por baixo índice de proliferação celular, célu-
por 4% de todas as malignidades. É também a nona las de tamanho pequeno, formação de grandes
causa de morte por câncer no sexo masculino e a massas linfonodais, envolvimento freqüente de
medula óssea e de sítios extranodais. Paradoxalmen-
sétima no sexo feminino, envolvido em 5% das mortes
te, são tumores de baixa agressividade, com sobrevi-
por câncer.
da de anos mesmo sem tratamento específico. Este
tipo de apresentação indolente de certos linfomas
A incidência vem aumentando nas últimas parece se dever a alterações na regulação da apopto-
quatro décadas, principalmente os linfomas agressi- se, com conseqüente acúmulo celular. Por outro lado,
vos, o que parece ser apenas parcialmente explicado linfomas de alto grau apresentam alto índice de proli-
pela maior incidência de Síndrome da Imunodeficiên- feração celular, células grandes, linfonodomegalias
cia Adquirida (SIDA) e pela exposição a fatores localizadas, porém com alta agressividade, cursando
ambientais. A maioria dos casos não tem etiologia defi- com sobrevida de semanas a meses se não tratados.
nida, porém sugere-se que fatores hereditários, São considerados linfomas de alto grau o linfoma
ambientais, ocupacionais e dietéticos possam estar não-Hodgkin difuso de grandes células B (LNHDG-
envolvidos. Indivíduos acometidos por imunodeficiên- CB), o linfoma folicular pouco diferenciado (grau 3), o
cia hereditária, como hipogamaglobulinemia, imunode- linfoma de células do manto, o linfoma de células T
ficiência comum variável, síndrome de Wiskott-Aldrich, periférico, o linfoma de grandes células anaplásico e
o linfoma de Burkitt.
ataxia-teleangiectasia têm até 25% de risco de desen-
volver LNH. Além desses fatores, alguns agentes
infecciosos têm sido implicados na gênese do LNH, CLASSIFICAÇÃO
incluindo o vírus do Epstein-Barr, vírus linfotrópico de
A classificação mais utilizada atualmente é a
células T humano tipo 17, herpes vírus tipo 8, vírus da
da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desenvol-
hepatite C, vírus simiano 4011 e a bactéria Helicobac-
ter pylori. vida em 1995 por membros da Sociedade de Hema-
topatologia e da Associação Européia de Hematopa-
tologistas, a classificação se baseia em dados de
morfologia, imunofenotipagem, genética e informa-
ções clínicas e divide os vários tipos de neoplasias
linfóides em três grandes grupos: neoplasias de célu-
las B, neoplasias de células T/NK e linfoma de Hod-
gkin. Segundo a OMS, linfoma e leucemia do mesmo
tipo celular são representações da mesma doença,
porém em estágios diferentes de evolução. O LNHD-
GCB é o linfoma mais comum em adultos, responsá-
vel por 30% a 40% dos casos. Suas variantes e sub-
tipos morfológicos são: centroblástico, imunoblásti-
co, rico em células T, grandes células anaplásico, tipo
granulomatoso linfomatóide, plasmablástico, medias-
tinal, efusão primária e intravascular.
123
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
124
pacientes totalmente responsivos são curados e as
COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTO
recidivas após dois anos sem o tratamento são raras.
Como as taxas de cura melhoraram com o uso de
R-CHOP, o transplante autólogo é reservado para Uma sequela tardia da dose padrão e de dose
pacientes com linfomas agressivos de células B, alta de quimioterapia é a ocorrência de tumores
alguns pacientes mais jovens com linfoma de células secundários, em especial mielodisplasias e leucemia
do manto e alguns pacientes com linfomas agressivos mielógena aguda. A quimioterapia combinada com a
de células T. radioterapia eleva os riscos, embora sua incidência
ainda seja de apenas cerca de 3%.
RECIDIVA DO LINFOMA
Fontes:
A primeira recidiva após a quimioterapia inicial http://www1.inca.gov.br/rbc/n_47/v02/pdf/normas.pdf
125
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
DOENÇA INFLAMATÓRIA
INTESTINAL
A
doença inflamatória intestinal (DII) representa
um grupo de afecções intestinais inflamatórias
estudos mostra que quando a incidência começa a
aumentar ocorre geralmente nas classes sociais mais
crônicas idiopáticas. O termo engloba duas altas, e que a doença se torna mais ubíqua com o
categorias nosológicas principais como a doença de tempo.
Crohn (DC) e a colite ulcerativa (CU) que se caracteri-
zam por apresentar características clínico-patológicas Se os indivíduos migram a países desenvolvi-
que se superpõem e outros que diferem claramente. A dos antes da adolescência, aqueles que inicialmente
patogênese da DII não está completamente compre- pertenciam a populações de baixa incidência mos-
endida. Fatores genéticos e ambientais, como a modifi- tram um aumento da incidência da DII. Isto se vê
cação das bactérias luminais e ou aumento da permea- particularmente na primeira geração de indivíduos
bilidade intestinal, desempenham um papel importante das famílias nascidos em um país com uma alta
na má regulação da imunidade intestinal, o que leva à incidência.
lesão gastrointestinal.
• Uma hipótese que explica a diferença da incidência
entre as nações desenvolvidas e em desenvolvimento é a
hipótese da higiene que sugere que as pessoas menos
expostas a infecções na infância ou a condições insalubres
perdem organismos potencialmente amigáveis ou microor-
ganismos que promovem o desenvolvimento das células T
reguladoras; outra possibilidade seria que não desenvol-
vem um repertório imunológico suficiente, porque não
estão expostos a organismos nocivos. Esses indivíduos
apresentam uma maior incidência de doenças autoimunes
crônicas, inclusive a DII.
126
DIFERENÇAS NAS CARACTERÍSTICAS
DE APRESENTAÇÃO DA DII
A DC se distingue da CU por apresentar
envolvimento proximal do cólon, doença perianal,
fístulas, granulomas histológicos e envolvimento de
todas as camadas da parede intestinal, comparado
com o envolvimento limitado à mucosa. Na DC, os
granulomas são evidentes em até 50% dos pacientes
e as fístulas em 25%. É de destacar que as apresen-
tações de DC e CU são bastante parecidas em áreas
tão dispares do mundo como América do Norte,
América do Sul, Europa, Austrália e Nova Zelândia.
127
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Neoplasia maligna:
COMPLICAÇÕES — Após 8 anos do diagnóstico da CU se vê um aumento
significativo do risco de câncer de cólon; na DC existe um
risco similar quando há envolvimento de uma área impor-
As complicações intestinais incluem: tante do cólon. O risco aumenta paralelamente com a dura-
ção da doença, a instalação da doença a uma idade precoce
Hemorragia: sangramento profuso de úlceras em CU. e se existem antecedentes familiares de câncer colorretal
Sangramento menos comum em DC. Na DC é mais frequen- esporádico.
te observar sangramento massivo devido a ulceração ileal — A colangite esclerosante primária (CEP) na CU também se
do que à colite. acompanha de um aumento do risco do colangiocarcinoma
— 5–10% das pessoas com DC apresentam ulcera- e do câncer colorretal. A CEP também está aumentada na
ções no estômago ou duodeno. doença de Crohn, embora seja mais comum na CU.
— O envolvimento do intestino delgado proximal é — Apesar do adenocarcinoma de intestino delgado ser raro,
mais frequente nas crianças. na DC se observa um aumento de seu risco.
• Perfuração intestinal.
• Abscessos intra-abdominais em DC. Complicações extraintestinais:
• Estenose e obstrução (o estreitamento do intestino • Afetam até 25% dos pacientes com DII, embora
pode ser produzido por inflamação e edema agudos ou por 15–20% apresentem artralgias, enquanto os restantes têm
fibrose crônica): patologia inflamatória franca em outros órgãos e sistemas.
Algumas complicações podem se apresentar mesmo antes
Na DC as estenoses são frequentemente inflama- de ser feito o diagnóstico da DII, e outras podem apresentar
tórias uma evolução independente da DII (inclusive a colectomia
• As estenoses inflamatórias podem ser resolvidas praticada a pacientes com CU não afeta a evolução de sua
com tratamento médico. espondilite anquilosante ou da colangite esclerosante
• As estenoses cicatriciais (fixas ou fibróticas) primária. No entanto, para muitos sujeitos a atividade das
podem requerer endoscopia ou intervenção cirúrgica para artralgias vai em paralelo com a atividade da doença intesti-
aliviar a obstrução. nal).
Megacólon tóxico:
— É uma complicação da colite relativamente rara que
ameaça a vida (se caracteriza pela dilatação do cólon
diagnosticada na radiografia simples de abdômen) e requer
tratamento médico agressivo, devendo se recorrer à inter-
venção cirúrgica urgente se não há resposta dentro das 24
horas (mais comum em CU do que na DC).
128
anticorpos anti- Saccharomyces cerevisiae (ASCA) para os
casos de DII não classificados.
EXAMES DE LABORATÓRIO
• Testes positivos para antígeno p-ANCA e negativos para
Exame de fezes: ASCA sugerem CU.
• Exames coprológicos e coproculturas de rotina para elimi- • Testes negativos para o antígeno p-ANCA e positivos para
nar causas de diarreia bacterianas virais ou parasitárias. ASCA sugerem DC.
• Clostridium difficile (deve ser considerado mesmo na • Estes testes são desnecessários como testes de triagem,
ausência de antecedentes de antibióticos). em particular se vai se prosseguir com endoscopia e image-
nologia para um diagnóstico mais definitivo. O antígeno
• Quando um paciente se apresenta sem história de sangue p-ANCA pode ser positivo na colite de Crohn; portanto, talvez
nas fezes, a possibilidade de detectar a presença de sangue não permita diferenciar DC da CU em uma colite ainda não
oculto ou leucócitos fecais pode fortalecer a indicação de classificada. ASCA é mais específico da DC.
uma endoscopia baixa. Quando a endoscopia baixa é fácil de
obter, estes exames raras vez são indicados. • Testes de anticorpos da doença celíaca devem ser realiza-
dos, a não ser que as apresentações incluam traços não
• Citomegalovírus (CMV; nos sujeitos que recebem imunossu- celíacos óbvios como fístulas, patologia perianal e presença
pressores ou corticosteroides crônicos). de sangue nas fezes.
• Calprotectina, lactoferrina, α1-antitripsina • Para excluir TBC intestinal (em áreas de alta probabilidade
pré-teste):
— Teste cutâneo (PPD: derivado proteico purificado
da tuberculina). Em certos países como o Brasil, o PPD é
EXAMES DE SANGUE considerado positivo quando a reação é maior a 10 mm; nos
EUA, é positivo quando é superior a 5 mm.
— Teste de anticorpo PPD sérico.
• Hemograma completo (HC).
— Ensaio de interferon γ (QuantiFERON-TB, T-SPOT,
testes de TBC).
• Velocidade de eritrossedimentação, proteína C reativa e
orosomucoide; os níveis não se correlacionam exatamente
com a inflamação e a atividade da patologia.
129
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
IMAGENOLOGIA E ENDOSCOPIA
130
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL MEDICAMENTOS NO MANEJO CLÍNICO DA DII
DA SAÚDE PARA A DOENÇA DE CROHN
131
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Úteis para:
Cirurgia em CU
• Reduzir ou eliminar a corticodependência em DII.
• 25–30% dos pacientes com CU podem precisar
• Pacientes com DII selecionados quando os aminos-
cirurgia se o tratamento médico não for completamente
salicilatos e corticosteroides são ineficazes ou parcialmente
bem-sucedido, ou na presença de displasia.
eficazes.
• Na CU a ressecção cirúrgica é considerada curativa
• Manutenção da remissão em DC e CU se os aminos-
da doença.
salicilatos fracassarem.
• Tratamento primário das fístulas.
As opções cirúrgicas são:
• Tratamento alternativo para recidivas por DC
— Ileostomia transitória
depois da corticoterapia.
— Proctocolectomia total mais ileostomia permanente
• Para a dependência de corticosteroides, para
— Anastomose ileoanal (IPAA)
manter a remissão e retirar os corticosteroides
Antibióticos:
• Metronidazol e ciprofloxacino são os antibióticos
mais comumente usados em DC. — Utilizados para o
tratamento das complicações da DC (patologia perianal,
fístulas, tumoração inflamatória, sobreinfecção bacteriana
em estenose existente). Existe um risco aumentado de
doença associada a C. difficile– (CDAD), e os pacientes
apresentando surto de doença diarreica deveriam ser
controlados para detecção de C. difficile e outros patóge-
nos fecais.
• Não existem dados mostrando que nenhum
antibiótico seja eficaz em CU, mas eles são utilizados em
caso de colite fulminante.
TRATAMENTO CIRÚRGICO
132
DOENÇA CELÍACA
A
Doença Celíaca (DC) é uma enteropatia crôni-
ca do intestino delgado, de caráter autoimune,
desencadeada pela exposição ao glúten (prin-
cipal fração proteica presente no trigo, centeio e
cevada) em indivíduos geneticamente predispostos.
Estudos de prevalência da DC têm demonstrado que
esta doença é mais frequente do que anteriormente se
acreditava e sua frequência ainda é subestimada. A
falta de informação sobre a doença e dificuldade de
MUCOSA NORMAL
acesso aos meios diagnósticos reduzem as possibili-
dades de tratamento adequado e consequente melho-
ra clínica. Estudos revelam que o problema atinge pes- MUCOSA COM
DOENÇA CELÍACA
soas de todas as idades, mas compromete principal-
mente crianças de 6 meses a 5 anos. Também foi Forma não clássica (atípica): caracteriza-se
observada uma frequência maior entre mulheres, na por quadro mono ou oligossintomático, em que as
proporção de duas mulheres para cada homem. Outra manifestações digestivas estão ausentes ou, quando
particularidade é o fato de a DC ser predominante presentes, ocupam um segundo plano. Os pacientes
entre os indivíduos faiodérmicos, embora existam rela- podem apresentar manifestações isoladas, como,
tos de sua ocorrência em indivíduos melanodérmicos. por exemplo, baixa estatura, anemia por deficiência
Devido ao caráter hereditário, parentes de primeiro de ferro refratária à reposição de ferro por via oral,
grau de celíacos devem ser submetidos ao teste soro- anemia por deficiência de folato e vitamina B12, oste-
lógico para sua detecção. oporose, hipoplasia do esmalte dentário, artralgias ou
artrites, constipação intestinal refratária ao tratamen-
Três formas de apresentação clínica da DC são to, atraso puberal, irregularidade do ciclo menstrual,
reconhecidas, quais sejam: clássica ou típica, não esterilidade, abortos de repetição, ataxia, epilepsia
clássica ou atípica e assintomática ou silenciosa. (isolada ou associada à calcificação cerebral), neuro-
patia periférica, miopatia, manifestações psiquiátri-
Forma Clássica (típica): caracteriza-se pela cas (depressão, autismo, esquizofrenia), úlcera
presença de diarreia crônica, em geral acompanhada aftosa recorrente, elevação das enzimas hepáticas
de distensão abdominal e perda de peso. Também sem causa aparente, fraqueza, perda de peso sem
pode haver diminuição do tecido celular subcutâneo, causa aparente, edema de surgimento abrupto após
atrofia da musculatura glútea, falta de apetite, altera- infecção ou cirurgia e dispepsia não ulcerosa.
ção de humor (irritabilidade ou apatia), vômitos e
anemia. Esta forma clínica pode ter evolução grave, Forma assintomática (silenciosa): caracteri-
conhecida como crise celíaca, ocorrendo quando há za-se por alterações sorológicas e histológicas da
retardo no diagnóstico e no tratamento, particularmen- mucosa do intestino delgado compatíveis com DC,
te entre o primeiro e o segundo anos de vida, e na ausência de manifestações clínicas. Esta situação
frequentemente desencadeada por infecção. Esta pode ser comprovada especialmente entre grupos
complicação potencialmente fatal se caracteriza pela de risco para a DC como, por exemplo, parentes de
presença de diarreia com desidratação hipotônica primeiro grau de pacientes celíacos, e vem sendo
grave, distensão abdominal por hipopotassemia e des- reconhecida com maior frequência nas últimas duas
nutrição grave, além de outras manifestações como décadas, após o desenvolvimento dos marcadores
hemorragia e tetania. sorológicos para esta doença.
133
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
A dermatite herpetiforme, considerada DC da pele, se Com relação ao TTG da classe IgA, determinado por
apresenta com lesões cutâneas do tipo bolhoso e ELISA, tem elevada sensibilidade (92% a 100% em
intensamente pruriginoso e se relaciona também com crianças e adultos) e especificidade (91% a 100%).
a doença celíaca. Em resumo, há superioridade dos testes para deter-
minação de anticorpo antiendomísio e do TTG,
ambos da classe IgA, principalmente o TTG recombi-
DIAGNÓSTICO nante humana IgA, em relação ao teste para antiglia-
dina. Considerando a maior facilidade da dosagem
Para o diagnóstico definitivo da DC é impres-
do TTG, aliado a elevadas sensibilidade e especifici-
cindível a realização de endoscopia digestiva alta com
dade na população pediátrica e adulta, este é o teste
biópsia de intestino delgado com vista à realização de
sorológico de escolha para avaliação inicial dos indiví-
exame histopatológico, considerado o padrão-ouro
duos com suspeita de intolerância ao glúten.
para o diagnóstico. A biópsia deve constar de pelo
menos quatro fragmentos, incluindo amostra do bulbo
A deficiência de imunoglobulina A é responsá-
e das porções mais distais do duodeno.
vel por resultados falsos negativos dos testes soroló-
gicos antiendomísio e TTG da classe IgA. Por este
Os marcadores sorológicos são úteis para
motivo, indica-se como testes diagnósticos iniciais da
identificar os indivíduos que deverão ser submetidos à
DC a dosagem sérica simultânea do TTG da classe
biópsia de intestino delgado. Os marcadores sorológi-
IgA e da imunoglobulina A. A avaliação sorológica
cos também são úteis para acompanhamento do
deve ser feita em vigência de dieta com glúten.
paciente celíaco, como, por exemplo, para detectar
Deve-se enfatizar que, até o momento, os marcadores
transgressão à dieta. Os principais testes sorológicos
sorológicos para DC não substituem o exame histo-
para a detecção da intolerância ao glúten são o anti-
patológico do intestino delgado, que continua sendo
corpo antigliadina, o anticorpo antiendomísio e o anti-
o padrão-ouro para o diagnóstico de DC. No entanto,
corpo antitransglutaminase (TTG).
a biópsia intestinal deve ser solicitada mesmo com
sorologia negativa nos casos de deficiência de IgA e
Com relação ao anticorpo antigliadina, determi-
nos casos com alta suspeição clínica, como nos
nado pela técnica de ELISA, a especificidade do anti-
parentes de primeiro grau de doentes celíacos com
corpo da classe IgA (71% a 97% nos adultos e 92% a
sinais ou sintomas compatíveis.
97% nas crianças) é maior do que da classe IgG
(50%), sendo a sensibilidade extremamente variável
Em relação à biópsia de intestino delgado,
em ambas as classes.
para que a interpretação histológica do fragmento
seja fidedigna, é fundamental o intercâmbio entre o
O anticorpo antiendomísio da classe IgA é iden-
médico endoscopista e o médico responsável direto
tificado por meio de imunofluorescência indireta. Apre-
pelo doente – de preferência médico experiente em
senta alta sensibilidade em adultos (87% a 89%) e em
Gastroenterologia Pediátrica ou Clínica – com o
crianças maiores de dois anos (88% a 100%), e alta
médico patologista. A orientação do fragmento de
especificidade (91% a 100% nas crianças e 99% em
biópsia pelo endoscopista e a inclusão correta deste
adultos). Entretanto, apresenta pior relação custo/be-
material em parafina pelo histotecnologista são de
nefício e técnica mais trabalhosa.
extrema importância para a avaliação anátomo-patoló-
gica dos fragmentos biopsiados.
134
fosse estabelecido antes dos 2 anos de idade ou
• estágio 0 (padrão pré-infiltrativo), com fragmento quando houvesse dúvida com relação ao diagnóstico
sem alterações histológicas (normal); inicial, como, por exemplo, falta evidente de resposta
clínica à dieta sem glúten, não realização de biópsia
• estágio I (padrão infiltrativo), em que a arquitetura inicial ou biópsia inadequada ou exame histopatológi-
da mucosa apresenta-se normal com aumento do infiltrado co não típico da DC. Consensos de especialistas têm
dos linfócitos intraepiteliais (LIE); sido realizados nos últimos anos com vistas a uniformi-
zar os termos e critérios diagnósticos, bem como fazer
• estágio II (lesão hiperplásica), caracterizado por recomendações baseadas em evidências a respeito
alargamento das criptas e aumento do número de LIE; do tratamento.
135
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Por isso, deve-se verificar a intolerância temporária à
lactose e sacarose, que se reverte com a normaliza-
ção das vilosidades.
136
DOENÇA MENINGOCÓCICA
A
doença meningocócica é uma infecção bacte-
riana aguda. Quando se apresenta na forma RESERVATÓRIO
de doença invasiva, caracteriza-se por uma ou
O homem, sendo a nasofaringe o local de
mais síndromes clínicas, sendo a meningite meningo-
colonização do microrganismo. A colonização assin-
cócica a mais frequente delas e a meningococcemia a
tomática da nasofaringe pela N. meningitidis caracte-
forma mais grave.
riza o estado de portador que ocorre frequentemente,
chegando a ser maior que 10% em determinadas
faixas etárias nos períodos endêmicos, podendo o
MENINGES indivíduo albergar o meningococo por período prolon-
NORMAIS
gado. As taxas de incidência de portadores são maio-
res entre adolescentes e adultos jovens e em cama-
das socioeconômicas menos privilegiadas.
MENINGES
MODO DE TRANSMISSÃO
INFLAMADAS
Contato direto pessoa a pessoa, por meio de
secreções respiratórias de pessoas infectadas, assin-
tomáticas ou doentes. A transmissão por fômites não
é importante.
137
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
A doença meningocócica invasiva ocorre gocócica invasiva e associa-se, em cerca de 60%
primariamente em pessoas suscetíveis recentemente dos casos, à presença de lesões cutâneas petequiais
colonizadas por uma cepa patogênica. Inúmeros fato- bastante características. Em lactentes com meningi-
res de risco têm sido associados, tais como: infecções te, a pesquisa de sinais meníngeos é extremamente
respiratórias virais recentes (especialmente infuenza), difícil e a rigidez de nuca nem sempre está presente.
aglomeração no domicílio, residir em quartéis, dormir Nestas circunstâncias, deve-se realizar o exame
em acampamento militar ou em alojamentos de estu- cuidadoso da fontanela bregmática:
dantes, tabagismo (passivo ou ativo), condições socio-
econômicas menos privilegiadas e contato íntimo com • Abaulamento e/ou aumento da tensão da fontane-
portadores. O risco de desenvolver doença invasiva la, aliados a febre, irritabilidade, gemência, inapetência e
entre contatos domiciliares de um doente é cerca de vômitos.
500 a 800 vezes maior que na população geral.
Em lactentes jovens, sobretudo no período neonatal, a
Asplênia (anatômica ou funcional), deficiência suspeita de meningite torna-se notadamente mais difícil,
de properdina, de C3 e de componentes terminais do pois a sintomatologia e os dados de exame físico são os
complemento (C5 a C9) também estão associadas a mais diversos possíveis:
um maior risco de desenvolvimento de doença menin-
• No recém-nascido nem sempre a febre está
gocócica. As pessoas com tais condições clínicas, em
presente
função da incapacidade de provocar a morte intracelu-
• Observa-se, muitas vezes, hipotermia, recusa
lar da bactéria, apresentam maior risco de episódios alimentar, cianose, convulsões, apatia e irritabilidade que se
recorrentes de doença meningocócica e, portanto, são alternam, respiração irregular e icterícia.
consideradas grupos prioritários para profilaxia com
vacinas.
Em 15 a 20% dos pacientes com doença
Em portadores, a colonização assintomática da meningocócica, identificam-se formas de evolução
nasofaringe por meningococos tipáveis e não tipáveis muito rápidas, geralmente fulminantes, devidas
e por outras espécies de Neisseria – como, por exem- somente à septicemia meningocócica, sem meningi-
plo, a N. lactamica – acaba funcionando como um te, e que se manifestam por sinais clínicos de choque
processo imunizante e resulta em produção de anticor- e coagulação intravascular disseminada (CIVD),
pos protetores. caracterizando a síndrome de Waterhouse-Friderich-
sen. Trata-se de um quadro de instalação repentina,
que se inicia com febre, cefaleia, mialgia e vômitos,
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS seguidos de palidez, sudorese, hipotonia muscular,
taquicardia, pulso fino e rápido, queda de pressão
A infecção invasiva pela N. meningitidis pode arterial, oligúria e má perfusão periférica. Suspeita-se
apresentar um amplo espectro clínico, que varia desde da síndrome Waterhouse-Friderichsen nos quadros
febre transitória e bacteremia oculta até formas fulmi- de instalação precoce, em doente com sinais clínicos
nantes, com a morte do paciente em poucas horas de choque e extensas lesões purpúricas. A CIVD que
após o início dos sintomas. se associa determina aumento da palidez, prostração,
hemorragias, taquicardia e taquipneia. Um rash macu-
A meningite e a meningococcemia são as lopapular, não petequial, difícil de distinguir de um
formas clínicas mais frequentemente observadas, exantema de origem viral e geralmente de curta dura-
podendo ocorrer isoladamente ou associadas. A deno- ção, pode estar presente no início do quadro em até
minação doença meningocócica torna-se apropriada 15% das crianças com meningococcemia.
nesse contexto, sendo adotada internacionalmente.
COMPLICAÇÕES
O quadro de meningite pode se instalar em
algumas horas, iniciado com intensa sintomatologia, As convulsões estão presentes em 20% das
ou mais paulatinamente, em alguns dias, acompanha- crianças com meningite meningocócica. Sua ocor-
do de outras manifestações, geralmente indistinguíveis rência, assim como a presença de sinais neurológi-
de outras meningites bacterianas. A meningite menin- cos focais, é menos frequente que nas meningites
gocócica é a forma mais frequente de doença menin- por pneumococo ou por Haemophilus in"uenzae
138
sorotipo B. Nos casos de meningococcemia, o coma DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
pode sobrevir em algumas horas. Associa-se a eleva-
das taxas de letalidade, geralmente acima de 40%, Dependerá da forma de apresentação da
sendo a grande maioria dos óbitos nas primeiras 48 doença.
horas do início dos sintomas.
Nas formas clínicas mais leves, bacteremia
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL sem sepse, deve ser feito com doenças exantemáti-
cas, principalmente as virais e doenças do trato respi-
Os principais exames para o esclarecimento ratório superior.
diagnóstico de casos suspeitos são:
Para meningoccemia, os principais são sepse
• Cultura – pode ser realizada com diversos tipos de de outras etiologias, febres hemorrágicas (dengue,
fuidos corporais, principalmente líquido cefalorraquidiano febre amarela, hantavirose), febre maculosa, leptospi-
(LCR), sangue e raspado de lesões petequeais. É considera- rose forma íctero-hemorrágica (doença de Weill),
da padrão ouro para diagnóstico da doença meningocócica, malária (Plasmodium falciparum) e endocardite bac-
por ter alto grau de especificidade. Tem como objetivo o teriana.
isolamento da bactéria para identificação da espécie, e
posteriormente o sorogrupo, sorotipo e sorossubtipo do
Nas meningites, o diagnóstico diferencial prin-
meningococo invasivo.
cipal deve ser feito com outros agentes causadores,
• Exame quimiocitológico do LCR – permite a conta-
principalmente o Streptococcus pneumoniae e o H.
gem e o diferencial das células; e as dosagens de glicose e in"uenzae, além das formas virais e outras causas de
proteínas do LCR. Traduz a intensidade do processo infec- meningoencefalite.
cioso e orienta a suspeita clínica, mas não deve ser utilizado
para conclusão do diagnóstico final, pelo baixo grau de
especificidade.
139
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
casos suspeitos de doença meningocócica.
Grupo Dose
Antibióticos (endovenosa) Intervalo Duração
etário
Contatos próximos são os moradores do
200.000-400. 4 em 4
mesmo domicílio, indivíduos que compartilham o
Penicilina ou 000
UI/kg/dia
horas mesmo dormitório (em alojamentos, quartéis, entre
outros), comunicantes de creches e escolas, e pesso-
as diretamente expostas às secreções do paciente.
200-300 6 em 6
Ampicilina ou mg/kg/dia 5 a 7 dias
Crianças horas
A quimioprofilaxia também está indicada para
o paciente no momento da alta ou na internação no
100 12 em 12 mesmo esquema preconizado para os contatos próxi-
Ceftriaxone
mg/kg/dia horas mos, exceto se o tratamento da doença foi realizado
com ceftriaxona.
2g 12 em 12 7 dias
Adultos Ceftriaxone
horas Não há recomendação para os profissionais
da área de saúde que atenderam o caso de doença
meningocócica, exceto para aqueles que realizaram
O uso de corticoide nas situações de choque é procedimentos invasivos (intubação orotraqueal, pas-
discutível, pois há controvérsias a respeito da influên- sagem de cateter nasogástrico) sem utilização de
cia favorável ao prognóstico. equipamento de proteção individual adequado (EPI).
140
ESQUEMA QUIMIOPROFILÁTICO INDICADO PARA DOENÇA MENINGOCÓCIA
Droga Idade Dose Intervalo Duração
< 1 mês 5 mg/kg/dose 12 em 12 horas
Rifampicina 2 dias
Crianças ≥ 1 mês e adultos 10 mg/kg/dose (máximo de 600mg) 12 em 12 horas
IMUNIZÇÃO
A vacinação é considerada a forma mais eficaz
na prevenção da doença, e as vacinas contra o menin-
gococo são sorogrupo ou sorossubtipo específicas.
São utilizadas na rotina para imunização e também
para controle de surtos.
Agente Etiológico
141
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
MODO DE TRANSMISSÃO
Em geral é de pessoa a pessoa, através das
vias respiratórias, por gotículas e secreções da naso-
faringe.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO
Em geral, de 2 a 10 dias, em média 3 a 4 dias.
Pode haver alguma variação em função do agente
etiológico responsável.
PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE
É variável, dependendo do agente infeccioso
capsulares, imunologicamente distintos, que causam e da instituição do diagnóstico e tratamento.
doença pneumocócica invasiva (meningite, pneumonia
bacterêmica, sepse e artrite) e não invasiva (sinusite, SUSCETIBILIDADE, VULNERABILIDADE,
otite média aguda, conjuntivite, bronquite e pneumo-
IMUNIDADE
nia).
A suscetibilidade é geral. As crianças meno-
Haemophilus influenzae res de 5 anos, principalmente as menores de 1 ano,
Bactéria gram-negativa que pode ser classificada em e pessoas maiores de 60 anos são mais suscetíveis
seis sorotipos (A, B, C, D, E, F), a partir da diferença à doença.
antigênica da cápsula polissacarídica. O H. influenzae,
desprovido de cápsula, se encontra nas vias respirató- Em relação à meningite pneumocócica,
rias de forma saprófita, podendo causar infecções idosos e indivíduos portadores de quadros crônicos
assintomáticas ou doenças não invasivas, tais como ou de doenças imunossupressoras – tais como
bronquite, sinusites e otites, tanto em crianças quanto síndrome nefrótica, asplenia anatômica ou funcional,
em adultos. insuficiência renal crônica, diabetes mellitus e infec-
ção pelo HIV – apresentam maior risco de adoeci-
mento.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O quadro clínico, em geral, é grave e caracte-
riza-se por febre, cefaleia, náusea, vômito, rigidez de
nuca, prostração e confusão mental, sinais de irrita-
ção meníngea, acompanhadas de alterações do líqui-
Outras bactérias do cefalorraquidiano (LCR).
Destacam-se: Mycobacterium tuberculosis; Strepto-
coccus sp. – especialmente os do grupo B; Strepto- No curso da doença podem surgir delírio e
coccus agalactie; Listeria monocytogenes; Staphylo- coma. Dependendo do grau de comprometimento
coccus aureus; Pseudomonas aeruginosa; Klebsiella encefálico (meningoencefalite), o paciente poderá
pneumoniae; Enterobacter sp.; Salmonella sp.; apresentar também convulsões, paralisias, tremores,
Proteus sp transtornos pupilares, hipoacusia, ptose palpebral e
142
nistagmo. Casos fulminantes com sinais de choque DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
também podem ocorrer. A irritação meníngea asso-
cia-se aos seguintes sinais: Os principais exames para o esclarecimento
diagnóstico de casos suspeitos de meningite bacteria-
Sinal de Kernig – resposta em flexão da na são:
articulação do joelho, quando a coxa é colocada em
certo grau de flexão, relativamente ao tronco. • Cultura (padrão-ouro) – LCR, sangue, raspado de
lesões petequiais ou fezes
Há duas formas de se pesquisar esse sinal: • Reação em cadeia da polimerase (PCR)- LCR, soro e
outras amostras
• Aglutinação pelo látex – LCR e soro
• paciente em decúbito dorsal – eleva-se o tronco, • Bacterioscopia direta - LCR e outros fluidos
fletindo-o sobre a bacia; há flexão da perna sobre a coxa e estéreis
desta sobre a bacia; • Exame quimiocitológico do líquor
COMPLICAÇÕES
143
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
144
TERAPIA ANTIBIÓTICA PARA ADULTOS COM MENINGITE BACTERIANA, SEGUNDO ETIOLOGIA
Dose diária
Agente etiológico Antibiótico (endovenosa) Intervalo (horas) Duração (dias
Haemophilus influenzae 7
Enterobactérias 10 a 14
Pseudomonas Meropenem 6g 8 em 8
Processo inflamatório das meninges, membra- No caso dos enterovírus, podem ser elimina-
nas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, cau- dos nas fezes por diversas semanas e pelas vias
sado por vírus. aéreas superiores por períodos que variam de 10 a
15 dias.
Agente Etiológico
VULNERABILIDADE
Os principais são os vírus do gênero Enteroví-
rus. Neste grupo estão incluídos os três tipos de polio- As crianças constituem o grupo mais vulnerá-
vírus, 28 tipos antigênicos do vírus echo, 23 tipos do vel às infecções causadas pelos enterovírus.
vírus Coxsackie A, seis do vírus Coxsackie B e cinco
outros Enterovírus. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Entretanto, outros vírus também podem causar Quando se trata de enterovírus, as mais
meningite viral. frequentes são: febre, mal-estar geral, náusea e dor
abdominal na fase inicial do quadro, seguidas, após
cerca de 1 a 2 dias, de sinais de irritação meníngea,
PRINCIPAIS AGENTES ETIOLÓGICOS DA MENINGITE VIRAL com rigidez de nuca geralmente acompanhada de
RNA DNA vômitos.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
O diagnóstico etiológico dos casos suspeitos
de meningite viral é de extrema importância para a
vigilância epidemiológica, quando se trata de situa-
ção de surto.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Exames Meningites
Laboratoriais Bacteriana Tuberculosa Viral
Aspecto Turvo Límpido ou ligeiramente turvo (opalescente) Límpido
Cor Branca-leitosa ou ligeiramente xantocrômica Incolor ou xantocrômica Incolor ou opalescente
Coágulo Presença ou ausência Presença (Fibrina delicada) ou ausência Ausente
Cloretos Diminuídos Diminuídos Normal
Glicose Diminuídas Diminuída Normal
Proteínas totais Aumentadas Aumentadas Levemente aumentadas
146
TRATAMENTO
O tratamento antiviral específico não tem sido
amplamente utilizado. Em geral, utiliza-se o tratamento
de suporte, com avaliação criteriosa e acompanha-
mento clínico. Tratamentos específicos somente estão
preconizados para a meningite herpética (HSV 1 e 2 e
VZV) com aciclovir endovenoso. Na caxumba, a gama-
globulina específica hiperimune pode diminuir a
incidência de orquite, porém não melhora a síndrome
neurológica.
Fontes:
http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/outubro/06/Volu
me-Unico-2017.pdf
147
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
DIARREIAS
A
diarreia consiste na alteração da função intesti-
nal com perda excessiva de água e eletrólitos
pelas fezes. Manifesta-se clinicamente pelo
aumento do número de evacuações e/ou pela diminui-
ção da consistência das fezes.
ABORDAGEM CLÍNICA
Iniciamos a abordagem clínica coletando dados
importantes na anamnese, como: início do quadro,
número de evacuações, presença de muco ou sangue
nas fezes, febre, náuseas e vômitos; perguntar se
parentes ou conhecidos estão com os mesmos sinto-
mas, presença de doenças crônicas etc. A principal causa de diarreia aguda é infeccio-
sa. O quadro do usuário irá variar conforme o tipo de
Essa primeira abordagem permite definirmos o patógeno e as condições clínicas do hospedeiro. Na
quadro sindrômico. Classicamente, a diarreia é dividi- diarreia aquosa, ocorre secreção ativa de água e
da em aguda, prolongada e crônica, como mostra o eletrólitos para a luz intestinal, resultando em inúme-
quadro a seguir. Essa classificação ajuda a direcionar ras evacuações diárias. Nessa situação o principal
nossa investigação diagnóstica e terapêutica. mecanismo de agressão dos agentes é a elaboração
de toxinas.
CLASSIFICAÇÃO DA DIARREIA SEGUNDO
A DURAÇÃO DOS SINTOMAS Como não ocorre invasão intestinal, em
grande parte dos casos não há sinais sistêmicos,
Aquosa: secreção ativa de água e como febre, ou locais, como cólica e tenesmo. Já a
eletrólitos sob a estimulação de
grande parte dos agentes invasores da mucosa
Diarreia determinadas substâncias.
Aguda
Duração menor que Disenteria: agente infeccioso invade intestinal causa quadro de disenteria, em que a exsu-
14 dias a mucosa do cólon. A exsudação de
muco, pus, proteínas e sangue é dação de muco, pus, proteínas e sangue é mais
responsável pelas caracteríticas
clínicas dessa síndrome.
característico, assim como sintomas gerais e locais.
148
PRINCIPAIS ETIOLOGIAS DA DIARREIA
149
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Deve-se evitar o uso de antitérmico caso haja febre.
PLANOS DE TRATAMENTO PARA DESIDRATAÇÃO Esta costuma ceder à medida que a desidratação vai
sendo reparada. O usuário deve ser avaliado constan-
diarreia sem desidratação. Usuário atendido e dispensado
com orientações de cuidados domiciliares levando sais temente, pois o Plano B termina quando desapare-
Plano A:
hidratantes para a casa. cem os sinais de desidratação, a partir do qual se
deve adotar ou retornar ao Plano A. Se houver uma ou
Plano B:
diarreia com desidratação. Usuário em observação mais contraindicações para TRO, deve-se iniciar
com TRO.
imediatamente a terapia de reidratação endovenosa –
Plano C: diarreia com desidratação grave. Reidratação endovenosa. ver Plano C.
Fonte: (SÃO PAULO, 2008, adaptado).
CONTRAINDICAÇÕES DA TRO
PLANO A
Perda ou ganho insuficiente de peso após as primeiras horas de TRO.
O tratamento para usuários com diarreia sem Vômitos persistentes.
desidratação pode ser realizado no domicílio, sempre
orientando os cuidadores sobre o caráter autolimitado Recusa persistente da solução.
da doença. Não suspender ou modificar a dieta habitu- Distensão abdominal grave íleo paralítico.
al, porém oriente maior oferta líquida. Caso haja vômi-
tos, recomende o fracionamento da dieta, pode melho- Alteração de consciência.
rar a aceitação. A solução de reidratação oral (SRO)
Evolução para choque hipovolêmico.
deve ser oferecida à vontade após cada evacuação,
Fonte: (SÃO PAULO, 2008, adaptado).
porém não deve ser misturada com outros líquidos
como chás, leite ou refrigerante. Sempre orientar que a PLANO C
SRO não substitui as refeições.
Deve-se iniciar o Plano C quando o paciente
PLANO B apresentar dificuldade de ingestão de líquidos devido
à hiperemese, quadro de desidratação grave ou
Quando o usuário já apresenta alguns sinais de colapso circulatório (choque). Essa situação se cons-
desidratação, porém sem gravidade, deve permanecer titui em emergência médica e o usuário deverá ser
na Unidade Básica de Saúde para realizar a reidrata- transferido o mais rapidamente possível. Os primeiros
ção. Sempre pesar a criança sem roupa para monitora- cuidados na unidade de saúde são importantíssimos
ção do ganho de peso. Pode-se realizar controle da e já devem ser efetuados à medida que se aguarda a
diurese, usando saco coletor, se necessário, em crian- chegada do Samu. Para a reidratação de adultos,
ças sem controle vesical. Nesse momento, suspender alguns pontos são importantes:
a alimentação enquanto o usuário permanecer desi-
dratado. A exceção são crianças alimentadas com leite
materno, que podem continuar fazendo uso deste
alimento à vontade.
150
• Administrar, por via venosa periférica (duas veias
TRATAMENTO ANTIMICROBIANO
de bom calibre), volumes iguais de soro fisiológico 0,9% e
ringer lactato em, aproximadamente, 10% do peso do
paciente, em cerca de duas horas. Se estiver faltando uma Os antibióticos ficam reservados para os
das soluções, usar apenas uma. casos de cólera, manifestações sistêmicas da infec-
ção por Clostridium difficile, Shigella, Salmonella em
• Reavaliar o paciente após duas horas, se persisti- crianças menores de três meses de idade ou imuno-
rem os sinais de choque, repetir a prescrição; caso contrário, deprimidos e outros raros casos em que após a
iniciar balanço hídrico com as mesmas soluções. reidratação e normalização do equilíbrio acidobásico
mantém-se o comprometimento do estado geral,
• Administrar a solução de SRO em doses pequenas sugerindo translocação bacteriana ou sepse. As
e frequentes, tão logo o paciente a aceite. Isso acelera a sua infecções causadas por parasitas específicos, como
recuperação e reduz drasticamente o risco de complicações
Giardia lamblia e Entamoeba histolytica, também
pelo manejo inadequado.
devem ser tratadas.
• Suspender a hidratação endovenosa quando o
paciente estiver hidratado, com boa tolerância ao SRO e sem
vômitos.
V. cholerae > 8 anos: Tetraciclina 500mg/dose 6/h6h, VO, por três dias
Gestantes e nutrizes: ampicilina 500mg/dose 6h/6h, VO, por três dias
151
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Fontes:
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_a
b/caderno_28.pdf
152
GASTRITE
A
gastrite é inflamação da mucosa do estômago, nômicos, ambientais e práticas culturais, além de
que tem como principal fator etiológico o Heli- possível predisposição genética. Diversos estudos
cobacter pylori, com grande prevalência sugerem que o fator genético tem menor influência
(cerca de 50% na população mundial). Tem distribui- que os fatores relacionados às condições de mora-
ção universal e aumenta conforme a idade. dia.
Um em cada seis indivíduos infectados pela Além do H. pylori, há diversos fatores etiológi-
bactéria tem risco de desenvolver úlcera péptica; 1% cos que podem estar envolvidos no desenvolvimento
a 3% da população dos EUA e 12% da população do da gastrite. O uso crônico de bebidas alcoólicas, por
Japão têm chances de desenvolver câncer de estô- exemplo, pode causar eritema e erosões, sendo que
mago ao longo da vida. as lesões que são produzidas pela ingestão do álcool
resultam no rompimento da barreira da mucosa gás-
trica e, como consequência, a retrodifusão dos íons
H+.
153
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
DIAGNÓSTICO
Atrófica
Hemorrágica
Refluxi
Pregas mucosas hiperplásicas
TRATAMENTO
Fontes:
http://www.scielo.br/pdf/abcd/v25n2/07.pdf
154
CEFALEIAS
INTRODUÇÃO
-
-
155
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
CRITÉRIOS DE
DIAGNÓSTICOS
DA CEFALEIA EM SALVAS:
Resolução de Questão 22
Prova Revalida 2017
156
Na migrânea com aura, estão presentes os
MIGRÂNEA sintomas neurológicos focais que se instalam de
forma gradual, geralmente em 5 a 20 minutos, duran-
(ENXAQUECA)
do 60 minutos ou menos, ocorrendo, na maioria das
vezes, antes da fase de dor. Os sintomas mais
De acordo com a classificação de cefaleias comuns são os fenômenos visuais positivos (cintila-
da International Headache Society, os principais ções, linhas em zigue-zague) e ou negativos (estoco-
tipos de migrânea são a sem aura e a com aura. A mas), seguidos por hemiparestesias e por disfasia. A
primeira é conhecida como a enxaqueca comum, em cefaleia geralmente é de localização unilateral, de
que a dor costuma apresentar duração, característi- intensidade moderada a forte, de caráter pulsátil e
cas e fenômenos associados típicos, porém não é que piora com as atividades físicas rotineiras. Pode
acompanhada de sintomas ou sinais neurológicos ter início em qualquer momento do dia, estendendo-
focais transitórios, como ocorre na migrânea com -se por horas a dias.
aura. A crise migranosa divide-se em quatro fases:
fase premonitória, aura, cefaleia e fase de resolução.
Essas fases não estão necessariamente presentes
em todos os casos.
DIAGNÓSTICO
Os sintomas premonitórios ocorrem até 48
horas antes da crise em 60% dos pacientes. Os
sintomas mais comuns são: alteração do humor, Anamnese: Na maioria dos casos de cefaleia,
irritabilidade, hiperatividade, sonolência, dificuldade a história clínica é o principal fator para a elaboração
de concentração, bocejar excessivo, hiperosmia, do diagnóstico correto, complementada pelo exame
foto e fonofobia, diarreia ou constipação, sede, poliú- físico. A seguir serão listados alguns elementos
ria, retenção de fluidos, anorexia e apetência por fundamentais a serem abordados em casos agudos
alimentos específicos. de cefaleia:
- -
- -
157
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Localização:
A cefaleia tipo tensional é habitualmente
generalizada, descrita na maioria dos casos
como uma dor em aperto ou “como uma faixa
em torno da cabeça”. Na migrânea é mais
comum a dor unilateral, como já descrito
anteriormente.
Intensidade da dor:
É importante na classificação do tipo de cefa- Fenômenos associados:
leia e, por isso, para o tratamento mais ade-
quado. Para classificar a intensidade da dor, Podem estar presentes fatores associados
podem ser utilizadas diversas escalas consa- ao desencadeamento da crise de migrânea,
gradas, a mais utilizada é a Escala numérica: tais como: estresse, insônia ou hipersonia,
o médico assistente pergunta ao paciente, estímulos sensoriais, ingestão de alimentos
numa escala de 0 a 10, significando zero gordurosos, menstruação e esforço físico.
ausência de dor e 10, dor incapacitante. Essa No caso da cefaleia tipo tensional, o estres-
escala também pode ser utilizada para o se pode estar associado.
acompanhamento de pacientes com quadros
álgicos crônicos.
Sintomas associados:
Nas crises de migrânea, é muito comum
encontrar náuseas, vômitos, fotofobia e
Motivação com atividade fonofobia. Caso ocorram vômitos em jato,
rotineiras: sem náuseas, pode ser um caso de hiperten-
são intracraniana qualquer que seja a etiolo-
Dor da migrânea costuma ser pulsátil e piorar gia. Nos processos infecciosos do sistema
com atividade física rotineira, enquanto a nervoso central, temos náuseas, vômitos,
cefaleia tipo tensional não piora, na maioria fotofobia e irritabilidade.
dos casos.
158
Fatores de melhora:
Na migrânea e nas cefaleias que têm como
mecanismo fisiopatogênico uma dilatação
das artérias cranianas, todos os procedimen-
tos que diminuem o aporte de sangue para o
segmento cefálico (escalda-pés, compressão
digital da artéria carótida externa ou da tem-
poral superficial, aposição de gelo no local da
dor) melhoram a intensidade da dor.
Antecedentes familiares:
A história familiar de cefaleia é referida por
cerca de 70% dos casos de migrânea, percen-
tual que chega a 100% quando se trata de
migrânea hemiplégica familiar.
-
-
159
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
CRITÉRIOS DE
DIAGNÓSTICOS DE
MIGRÂNEA SEM AURA:
1. localização unilateral
2. qualidade pulsante
3. intensidade da dor moderada ou severa
agravamento ou causando evitação da
4. rotina atividade física (por exemplo, andar
ou subir escadas).
E. Não atribuída a outra alteração. C. Pelo menos três das seguintes caracte-
rísticas:
1. Pelo menos um sintoma de aura que se
desenvolva gradualmente por 5 ou mais
CRITÉRIOS DE minutos.
DIAGNÓSTICOS DE 2. Dois ou mais sintomas de aura ocorrem
MIGRÂNEA COM AURA: sucessivamente.
3. Cada sintoma de aura individual dura 5-60
minutos.
A. Pelo menos duas crises que preen-
chem os critérios B e C. 4. Pelo menos um sintoma de aura é positivo.
5. Pelo menos um sintoma de aura é positivo.
B. Um ou mais dos seguintes sintomas
6. A aura é acompanhada ou seguida dentro60
de aura totalmente reversíveis:
minutos, por dor de cabeça
1. visual 4. motor
2. sensorial 5. tronco cerebral D. Não atribuída a outra alteração.
3. fala e / ou linguagem 6. retiniano
160
TRATAMENTO DAS
CRISES AGUDAS DE
CEFALEIA
RECOMENDAÇÕES GERAIS:
161
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
RECOMENDAÇÕES
A escolha do triptano e sua via de administra-
ESPECÍFICAS: ção deve levar em consideração peculiarida-
des da crise, tais como: total do tempo neces-
sário para chegar ao auge da intensidade da
MIGRÂNEA SEM AURA dor e presença de náusea e/ou vômito.
Exceto com o uso dos triptanos, o emprego
de gastrocinéticos e antieméticos é sempre
recomendado. O emprego de ergóticos deve
Tratamento de crise leve: ser o mais precoce possível, pois não tem
efeito quando tardiamente usados. Os tripta-
Nas crises fracas, é recomendado tentar nos, por outro lado, podem ser utilizados em
repouso em quarto escuro, evitar barulho e, qualquer momento da crise. Na recorrência
se possível, conciliar o sono. Medidas como o frequente da cefaleia após uso de triptano, é
uso de bolsas de gelo e/ou compressão das recomendada a associação com antiInflama-
artérias temporais podem ser úteis. Nas tórios não esteroidais (AINES) (por exemplo,
crises fracas, que não cedem com as medidas ácido tolfenâmico ou naproxeno sódico).
gerais, sugere-se o uso de analgésicos
comuns (ácido acetilsalicílico, paracetamol,
dipirona), anti-inflamatórios não esteroidais
(naproxeno sódico, ibuprofeno, diclofenaco
de sódio, ácido tolfenâmico e clonixinato de
lisina). Além disso, recomenda-se o uso de Tratamento de crise forte:
metoclopramida ou domperidona quando Nas crises fortes recomenda-se o uso de
sintomas de náusea ou vômito estão associa- triptanos, indometacina ou clorpromazina. O
dos. uso de dexametasona ou de haloperidol pode
também ser recomendado. Na vigência de
Essas drogas podem ser usadas 30 minutos recorrência da cefaleia, após uso de tripta-
antes dos medicamentos propostos para a nos, deve-se associar AINES. .
dor, mesmo quando o paciente não apresenta
náusea, para obter-se efeito gastrocinético
ou mesmo impedir a progressão da crise. A
presença de intensa sedação ou história
prévia de distonia, ou outras manifestações
extrapiramidais, deve contraindicar o uso de
metoclopramida. Associações de fármacos,
tão frequentemente encontradas no comér-
cio, são desaconselhadas em virtude da
somatória de possíveis efeitos colaterais e
das doses inadequadas habitualmente
encontradas nessas formulações.
162
MIGRÂNEA COM AURA ACOMPANHAMENTO E
PROFILAXIA
Antes do tratamento da migrânea com aura
ser iniciado, dois pontos devem ser considerados:
Naqueles casos em que se identificar
que a migrânea é recorrente e leva a prejuízos
na qualidade de vida das pessoas, deve-se
1. Presença de fatores de risco para compli- pensar em fazer o acompanhamento ambulato-
cações vasculares (hipertensão arterial, rial, com consultas agendadas periodicamente,
Diabetes Mellitus, dislipidemia, doença e iniciar a profilaxia das crises. Para isso, podem
vascular periférica ou coronariana, uso de ser utilizadas drogas como o propranolol
anticoncepcionais orais e tabagismo asso- (40mg) ou amitriptilina (25mg), conforme avalia-
ciado) deve ser levada em consideração no ção médica.
tratamento abortivo das crises de migrâ-
nea, especialmente naquelas de migrânea
com aura.
CEFALEIA TENSIONAL
TRATAMENTO DA CRISE
2. Drogas vasoconstritoras, como os ergota-
mínicos, o isometepteno e os triptanos, Algumas crises leves de cefaleia tensio-
devem ser evitadas em algumas subfor- nal aliviam quando o paciente relaxa ou pratica
mas da migrânea com aura, como na algum exercício físico. As demais devem ser
migrânea basilar, na migrânea hemiplégica tratadas com analgésicos comuns ou anti-infla-
e na migrânea com aura prolongada. Sua
matórios não esteroidais. A combinação de
paracetamol com cafeína (1.000mg + 130mg,
utilização deve ser feita de forma judiciosa
respectivamente) e ibuprofeno com cafeína
na presença dos fatores de risco supra-
(400mg + 200mg, respectivamente) aumenta a
mencionados. Não há consenso sobre o
eficácia das medicações.
tratamento da aura migranosa.
163
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Tratamento sintomático:
As opções mais eficazes são o sumatriptano sub-
cutâneo e a inalação de O2. A taxa de resposta é
de 75%-80%. O oxigênio em alto débito (7-10
L/min) é inalado por máscara nasal, durante 15
minutos, de preferência com o doente sentado e
inclinado para diante. A sua administração
provoca alívio em 5 a 10 minutos e não tem efei-
tos adversos (na ausência de patologia respira-
tória).
CEFALEIA SECUNDÁRIA
Fontes:
164
DOENCAS
CEREBROVASCULARES
INTRODUÇÃO
ACIDENTE VASCULAR
CEREBRAL ISQUÊMICO
165
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
166
Exame físico:
Como triagem, pode-se utilizar uma Escala
de avaliação pré- hospitalar, que possui boa
acurácia quando qualquer um dos seguintes
itens é positivo: queda facial - assimetria,
quando o paciente é solicitado a mostrar os
dentes ou sorrir; fraqueza nos braços,
quando o paciente é solicitado a estender os
braços para a frente em um ângulo de 90
graus com o tronco e mantê-los na posição
por 10 segundos: um dos braços não se
move ou não fica mantido na posição em
relação ao contralateral; fala anormal,
quando o paciente é solicitado a pronunciar
a frase "na casa do padeiro nem sempre tem
trigo: o paciente pronuncia palavras incom-
preensíveis, usa palavras incorretas ou é Tomografia de crânio sem contraste, que mostra AVCI
incapaz de pronunciar. Em regime hospita- (hipodensidade) na região da artéria cerebral média
lar, no atendimento pela equipe responsá- esquerda. Fonte: https://radiopaedia.org/cases/
vel, deve-se priorizar o uso do NIHSS (Natio- stroke-progression-on-ct
nal Institute of Health and Stroke Scale), que
tem grande utilidade diagnóstica, prognósti- Ressonância magnética é bem mais sensível e
ca e na avaliação sequencial do paciente. precisa na identificação e localização da lesão
vascular, especialmente quando são utilizadas
técnicas de difusão/perfusão, no entanto, con-
some um tempo de realização maior que pode
ser decisivo para a indicação do tratamento
Exames de imagem: com trombolítico. A realização de uma radio-
Tomografia computadorizada de crânio é o grafia de tórax é recomendada quando houver
método de imagem mais utilizado, mais suspeita de doença pulmonar.
disponível e de menor custo para a avaliação
inicial do AVC isquêmico agudo, demonstran-
do sinais precoces de isquemia em até 67%
dos casos nas primeiras 3 horas do início dos
sintomas, e em até 82% dos casos nas
primeiras 6 horas do icto. A detecção aumen- Outros exames complementares:
ta para aproximadamente 90% após 1
semana. Além disso, tem boa capacidade Frente a suspeita clínica de AVC, os seguintes
para identificar sangramentos associados. exames devem ser solicitados: eletrocardio-
grafia de repouso; glicemia capilar; hemogra-
A lesão isquêmica aparece como uma hipo- ma completo (com contagem de plaquetas);
densidade que não se impregna pelo contras- tempo de protrombina com medida do RNI
te, geralmente no território suprido pela (razão internacional normalizada); tempo par-
artéria cerebral média. cial de tromboplastina ativada; níveis séricos
de potássio, sódio, ureia e creatinina.
167
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
168
AVC isquêmico ou traumatismo cranio- Infarto do miocárdio recente (3 meses)
encefálico grave nos últimos 3 meses; – contraindicação relativa;
169
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
PREVENÇÃO
SECUNDÁRIA DO AVC
170
ESCORE ABCD2
CARACTERÍSTICA
PARÂMETRO
CLÍNICA
Uréia, creatinina
Troponina sérica
171
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Idealmente pacientes com AIT devem ser Heparinização e anticoagulação nos casos
avaliados rapidamente quanto a presença de esteno- caracterizados como cardioembolia com
ses ou oclusões em artérias extra e intracraniana. A
escolha de que teste utilizar depende da disponibilida- alto risco de recorrência (ex. fibrilação
de e experiência de cada instituição, além da presen- atrial)
ça ou não de fatores de contraindicação a realização
de determinados testes (por exemplo Ressonância
Controle dos fatores de risco como dislipi-
Magnética em pacientes portadores de marca-passo,
ou angiotomografia em pacientes com insuficiência demia e tabagismo
renal).
Educação para o paciente e seus familia-
Para avaliação das artérias cervicais e intracra-
res, além de orientações constantes
niana podem ser utilizados a angioressonância, angio-
tomografia ou o ultrassom com Doppler. durante a internação e na alta.
172
ACIDENTE VASCULAR
HEMORRÁGICO
173
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
174
ruptura de aneurisma é sugerida pela pre- MAV, aneurismas, fístulas, trombose de
sença de sangue no espaço subaracnóideo; seio venoso e vasculites.
uma HIC por coagulopatia pode se acompa-
nhar de níveis de fluidos dentro do hema- A angiografia por cateter é o método de
toma e, nas hemorragias traumáticas, cos- escolha para identificação de malforma-
tumam-se encontrar contusões e fraturas ções arteriais de alto fluxo, quando o
ósseas associadas. O volume da hemorra- hematoma pode atrapalhar a identifica-
gia é o principal fator prognóstico em ção pela angiografia por TC53-56. Angio-
pacientes com HIC. Este pode ser estimado grafia por TC ou RM com uso de gadolínio
através da TC de crânio pelo método são alternativas menos invasivas com
ABC/2. boa sensibilidade quando comparadas à
angiografia convencional.
Este método, desenvolvido por Khotari et
al., baseia-se no fato de que a maioria das Estas técnicas são usualmente escolhi-
HIC se apresenta de forma aproximada- das para investigação de trombose de
mente arredondada, e extrapola o cálculo seio venoso como causa de HIC.
do volume do hematoma pelo cálculo do
volume do elipsóide (r1r2r34¶/3).
Ressonância magnética:
A ressonância magnética (RM) tem sensibi-
lidade e especificidade comparáveis às da
TC para o diagnóstico de HIC na fase aguda,
porém, devido ao custo mais elevado, é
geralmente reservada para acompanha-
mento dos pacientes, ou realizada quando
há suspeita de etiologia não hipertensiva
(cavernomas, angiopatia amilóide, neopla-
sias).
Angiografia:
Pacientes com HIC de localização atípica ou
com idade abaixo de 45 anos (independen-
Tomografia de crânio evidenciando hemorragia no
temente da presença de HAS) devem ser hemisfério lateral direito.
submetidos ao estudo angiográfico para Fonte:https://radiopaedia.org/cases/
haemorrhagic-stroke-basal-ganglia-teaching-1
investigação de causas secundárias como
175
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
TRATAMENTO
176
Recomenda-se que a hipertermia (tempe- Não recomendamos o uso de Fator VII ativado
ratura axilar ≥37,5o C) seja tratada na fase em pacientes com HIC espontânea.
aguda da HIC.
Em pacientes com HIC restrito ao leito, reco-
Mobilização e reabilitação precoce são mendamos a instituição de dispositivos de
recomendadas para pacientes com HIC. compressão pneumática intermitente dos
membros o mais breve possível, para a profila-
Recomendamos que o tratamento inicial xia de trombose venosa profunda.
da hipertensão intracraniana incluía medi-
das simples como elevação da cabeceira,
analgesia e sedação. Adicionalmente, em Após as primeiras 48 horas e após a documen-
casos podem ser empregados agentes tação da estabilidade do volume do hemato-
osmóticos (manitol, salina hipertônica, ma, se recomenda considerar o uso de profila-
etc.), drenagem liquórica por cateter ven- xia para trombose venosa profunda com hepa-
tricular, bloqueio neuromuscular e hiper- rina subcutânea ou heparina de baixo peso
ventilação. molecular deve ser considerada.
177
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Urgência Hipertensiva
178
Pacientes hipertensos crônicos comumente A HSA é claramente mais comum em mulheres
desenvolvem processos degenerativos das peque- e negros. Sua incidência aumenta com a idade.
nas artérias que resultam em lipo-hialinose, necrose
fibrinóide e dilatação miliares conhecidas como A manifestação clínica típica é a cefaleia
aneurismas, esse enfraquecimento da parede arterial súbita, de forte intensidade, referida pelos pacientes
cria condições para a sua ruptura, principalmente como “a pior dor da vida”, que pode se desenvolver
associados ao aumento da pressão arterial intravas- após esforço físico. A cefaleia é o primeiro e mais
cular. característico sintoma, que pode ser acompanhada
por outros sinais e sintomas, como, hemorragia retinia-
A maneira pela qual o álcool aumenta o risco na, rigidez de nuca, diminuição do nível de consciên-
de hemorragia subaracnóidea é desconhecida. Uma cia. A cefaléia pode estar presente por mais de duas
possibilidade é de que a ingestão de etanol em longo semanas, possivelmente provocada pela irritação da
prazo poderia contribuir para a formação de um aneu- dura-máter suprajacente ou pelo efeito de massa.
risma por hipertensão, visto que o consumo freqüen-
te de álcool é uma causa independente de hiperten-
são.
ÍNDICE DE MORTALIDADE
GRAU ESCALA DE HUNT E HESS NA HSA
PERIOPERATÓRIA (%)
179
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
DIAGNÓSTICO
Paciente com TC de crânio negativa inicial-
mente, mas com história clínica sugestiva, devem
O diagnóstico da HSA pode ser feito pela
ser submetidos a punção lombar para avaliação do
tomografia computadorizada (TC) de crânio não con-
liquido cefalorraquidiano (LCR). A ressonância
trastada. A sensibilidade da tomografia depende do
magnética e a angioressonância ficam limitadas
tempo de apresentação pós hemorragia e do sangra-
para o diagnóstico pelo caráter de urgência, dificul-
mento que o paciente apresenta, podendo chegar a
dades técnicas e pouca disponibilidade.
98-100% nas primeiras 12h, caindo para 93% após
24h e menos de 85% após 1 semana.
O padrão ouro para o diagnóstico é a angio-
grafia cerebral, que pode ser usada para diagnósti-
A angiotomografia (angioTC) de vasos crania-
co e tratamento por embolização por molas, no
nos tem sensibilidade entre 95-100% para aneuris-
mesmo procedimento. A desvantagem do método
mas > 5mm e é geralmente reservada para aqueles
se traduz em ser invasivo, com risco de complica-
pacientes que já tem diagnóstico de HSA pela TC não
ções como AVC, dissecção arterial e hematomas.
constrastada. A sensibilidade do método pode ser
significativamente menor para aneurismas <5mm, e
em instituições com aparelhos de pior qualidade ou
radiologistas menos experientes. TRATAMENTO
180
TRATAMENTO DO
ANEURISMA
Fontes:
181
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
ALTERAÇÕES DO
ESTADO DE CONSCIÊNCIA
C
onsciência é definida como a capacidade do indivíduo de
reconhecer a si mesmo e aos estímulos do ambiente. As
alterações da consciência podem se dar no estado de
alerta ou nível de consciência ou no conteúdo da consciência,
que englobariam as funções mentais e cognitivas do indivíduo. As
alterações do nível de consciência podem variar entre dois extre-
mos, desde uma desorientação têmporo-espacial até um estado
de coma profundo.
182
NÍVEL DE CONSCIÊNCIA
Fonte:
http://medicina.fm.usp.br/gdc/docs/
revistadc_101_123-131%20863.pdf
183
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
EPILEPSIA E CONVULSÃO
E
pilepsia é uma doença neurológica que pode ser preveni-
da e controlada em até 70% dos pacientes. O não ESQUEMA DIAGNÓSTICO PARA A
tratamento é um risco à morte súbita e a traumatismos. As
CLASSIFICAÇÃO DAS EPILEPSIAS.
causas da epilepsia podem ser genéticas ou adquiridas. As
causas adquiridas constituem a grande maioria e incluem: trauma- TIPOS DE CRISES *
tismo craniano, lesões perinatais e infecções encefálicas, entre
Focais Generalizadas Desconhecidas
elas a neurocisticercose e o acidente vascular cerebral. Em alguns
COMORBIDADES
casos, a causa não é identificada.
O segundo nível de classificação é o dos Tipos de Epilep- Epilepsias Focais incluem distúrbios unifocais e multifo-
sia que assume que o paciente tem o diagnóstico de epilepsia. Se cais bem como crises envolvendo um hemisfério. Uma variedade
divide em: Epilepsias focais, Epilepsias generalizadas, Epilepsia de tipos de crises epilépticas pode ser encontrada incluindo
com Crises Focais e Generalizadas Combinadas. Também inclui crises focais perceptivas, crises focais disperceptivas ou com
uma categoria Desconhecida. Vários tipos de epilepsias incluem comprometimento da percepção, crises focais motoras e não
múltiplos tipos de crises epilépticas. motoras e crises focais evoluindo para crises tônico-clônicas
bilaterais. O EEG interictal tipicamente mostra descargas
Para o diagnóstico de Epilepsia Generalizada, o paciente deve epileptiformes focais, mas o diagnóstico deve ser feito com
apresentar atividade de complexos de espícula-onda generaliza- bases clínicas, corroborado pelos achados de EEG.
dos no EEG. Indivíduos com epilepsias generalizadas podem
apresentar um conjunto de diferentes tipos de crises que incluem O novo grupo de Epilepsias com Crises Focais e Gene-
crises de ausência, mioclônicas, atônicas, tônicas e tônico-clôni- ralizadas Combinadas existe, já que existem pacientes que
cas. O diagnóstico de Epilepsia Generalizada é feito com base apresentam tanto crises focais como generalizadas. O diagnós-
nos dados clínicos, corroborados pelo achado de descargas tico de ambos os tipos de crises é feito com bases clínicas,
interictais típicas no EEG. corroborado pelas descargas no EEG. Registros ictais são úteis
184
mas não essenciais. O EEG interictal pode mostrar tanto
espícula-onda generalizada como descargas epileptiformes
CONVULSÃO FEBRIL
focais, mas atividade epileptiforme não é exigida para o
diagnóstico. Exemplos comuns nos quais ambos os tipos de Convulsões febris devem-se a uma suscetibilidade
crises estão presentes são as síndromes de Dravet e de aumentada a crises epilépticas, são dependentes da idade (6
Lennox-Gastaut. meses - 5 anos) e geneticamente determinadas. As crises são
precipitadas por febre, sem evidência de infecção do sistema
O termo “Desconhecido” é usado para denotar a nervoso central (SNC) ou outra causa. Há uma leve predominân-
situação na qual sabe-se que o paciente tem epilepsia mas cia do sexo masculino (60%). A prevalência é de cerca de 3%
não é possível determinar se o tipo de epilepsia é Focal ou das crianças. As crises duram menos de 15 minutos, são generali-
Generalizado porque há pouca informação disponível. zadas e não se acompanham de deficits neurológicos. Não há
necessidade de medicamentos anticonvulsivantes preventivos.
Cerca de 3% das crianças que tiveram crises febris desenvolvem
algum tipo de epilepsia na idade adulta. Em geral, o prognóstico é
ESTADO DE MAL EPILÉPTICO
bom, com desenvolvimentos cognitivo e comportamental adequa-
dos.
É uma crise epiléptica com duração maior ou igual a
30 minutos ou repetidas crises de duração menor, porém sem
recuperação da consciência entre as crises. É uma emergên-
cia neurológica que necessita diagnóstico imediato e
tratamento agressivo para prevenir lesão neuronal.
TRATAMENTO
185
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
PRINCIPAIS TUMORES
DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E CLASSIFICAÇÕES
A
classificação histológica é um meio de prever o compor-
tamento biológico de uma neoplasia. No cenário clínico, LOCALIZAÇÃO
o grau do tumor é um fator chave que influencia a esco-
lha de terapias, particularmente para determinar o uso de radia- Os astrocitomas pilocíticos surgem ao longo do neuro-
ção adjuvante e protocolos de quimioterapia específicos. A eixo; no entanto, na população pediátrica surgem na região
OMS incorpora e inter-relaciona morfologia, citogenética, gené- infratentorial. Os locais preferidos incluem o nervo óptico
tica molecular e marcadores imunológicos para classificação (glioma do nervo óptico), quiasma óptico/ hipotálamo, tálamo e
histológica dos tumores. gânglios basais, hemisférios cerebrais, cerebelo (astrocitoma
cerebelar) e tronco encefálico (exofítica dorsal glioma do tronco
A OMS estabelece uma escala de malignidade basea- cerebral). Astrocitomas pilocíticos da medula espinal são menos
da em graus histológicos: frequentes, mas não incomuns.
186
GLIOBLASTOMA
LOCALIZAÇÃO
MENINGIOMAS CRANIOFARINGEOMA
187
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
LOCALIZAÇÃO METASTASES
O local mais comum é na região suprasselar, com um
Tumores que se originam fora do SNC e se espalham
menor componente intrasselar.
secundariamente ao SNC via hematogênica ou por invasão
direta de tecidos adjacentes.
LOCALIZAÇÃO
Mais de 80% das metástases cerebrais estão localiza-
das nos hemisférios cerebrais. Aproximadamente 15% são
encontrados no cerebelo. A grande maioria das metástases
que afetam a medula espinhal se expandem a partir da tecidos
corporais ou paravertebrais no espaço epidural.
NEUROIMAGEM
NEUROIMAGEM Na RM, as metástases intraparenquimatosas são
geralmente circunscritas e mostram Hipointensidade T1,
As TCs mostram realce do contraste das partes sólidas hiperintensidade em T2 e realce difuso ou semelhante a um
e da cápsula do cisto, bem como as calcificações típicas. Na RM anel com uma zona circundante de edema parenquimatoso.
ponderada em T1, as áreas císticas aparecem como estruturas Metástases hemorrágicas e melanomas metastáticos contendo
hiperintensas homogêneas, enquanto os componentes sólidos e melanina podem manifestar hiperintensidade em ressonância
nódulos murais são isointensos com uma qualidade ligeiramente magnética ou CT sem contraste. Em pacientes com metástase
heterogênea. O craniofaringioma papilar não é calcificado e tem leptomeníngea, RM pode revelar espessamento leptomeníngeo
um aspecto mais uniforme em imagens de tomografia computa- focal ou difuso e realce de contraste (às vezes com nódulos
dorizada e ressonância magnética. tumorais dispersos no espaço subaracnóideo); além disso, o
Fig RM demonstrando grande realce e o alargamento dos nervos cranianos e da hidrocefalia
lesão cística supra-estelar comunicante podem ser encontrados.
(Craniofaringeoma) com Fig. Imagem em RM. Massa
nódulo mural. Após a adminis- de realce perifericamente
tração do contraste, há realce arredondada, circundada por
marginal do cisto e aumento uma quantidade moderada de
do componente do tecido edema vasogênico. As
mole (Traduzido e adaptado características são consisten-
de Radiopaedia.org). tes com a doença metastática
conhecida do paciente
(Traduzido e adaptado de
Radiopaedia.org).
188
SINTOMATOLOGIAS LOBO PARIETAL
Cefaléia, náuseas, perda do apetite, vômitos, altera- • Dist. contralateral da sensibilidade, inatenção,
ções de personalidade, humor, capacidade mental, concen- convulsões
tração e crises epilépticas (20%). • Astereognosia
• Síndrome talâmica
LOBO FRONTAL • Alt. visuais( quadrantanopsia inferior)
• Giro angular esquerdo: Síndrome de Gerstmann (
• Declínio intelectual progressivo alexia, agrafia, acalculia, confusão direita/esquerda, agnosia
• Atividade mental lentificada de dedos)
• Alterações de personalidade • Giro supramarginal esquerdo: apraxia ideacional. A
• Reflexo de preensão contralateral direita: anosognosia (negligência)
• Afasia de expressão
• Anosmia
LOBO OCCIPITAL
• Crises focais motoras ou déficits piramidais contra-
laterais
• Hemianopsia homônima cruzada ou defeito parcial
de campo visual
• Agnosia visual para cor-prosopagnosia- e objetos(
lesão a esquerda ou bilateral)
• Alucinações visuais (lesões irritativas)
• Cegueira cortical (lesão bilateral)
LOBO TEMPORAL
189
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
PARKINSON
doença de Parkinson (DP), descrita por James
Parkinson em 1817, é uma das doenças neuro-
lógicas mais comuns e intrigantes dos dias de
hoje. Tem distribuição universal e atinge todos os
grupos étnicos e classes sócio-econômicas. Estima-se
uma prevalência de 100 a 200 casos por 100.000
habitantes. Sua incidência e prevalência aumentam
com a idade.
190
Critérios negativos para DP (sugestivos de outras
formas de parkinsonismo) TRATAMENTO
• História de acidente vascular cerebral (AVC)
de repetição;
A natureza progressiva da DP e suas manifes-
• História de trauma craniano grave; tações clínicas (motoras e não motoras), associadas
• História definida de encefalite; a efeitos colaterais precoces e tardios da intervenção
• Crises oculogíricas; terapêutica, tornam o tratamento da doença bastante
complexo.
• Tratamento prévio com neurolépticos;
• Remissão espontânea dos sintomas;
Estima-se que a taxa de morte dos neurônios
• Quadro clínico estritamente unilateral após dopaminérgicos da substância nigra se situe ao redor
3 anos;
de 10% ao ano. Consequentemente, com o tempo, a
• Paralisia supranuclear do olhar;
sintomatologia parkinsoniana piora e a necessidade
• Sinais cerebelares; de medicamentos sintomáticos aumenta. O grau de
• Sinais autonômicos precoces; resposta aos medicamentos vai decrescendo com a
• Demência precoce; progressão da doença e novos sintomas vão surgin-
do. o tratamento da DP deve visar à redução da
• Liberação piramidal com sinal de Babinski;
progressão da doença (neuroproteção) e ao controle
• Presença de tumor cerebral ou hidrocefalia
comunicante; dos sintomas (tratamento sintomático).
• Resposta negativa a altas doses de
levodopa; PREVENÇÃO DA PROGRESSÃO DA DOENÇA
• Exposição ao metilfeniltetrapiridínio
(MPTP).
Com base em várias vias bioquímicas que
poderiam ter participação na morte neuronal, diver-
Critérios de suporte positivo para o diagnóstico de sos fármacos são potenciais candidatos ao papel de
DP (três ou mais são necessários para o neuroprotetores ou modificadores do curso clínico.
diagnóstico)
No entanto, ensaios clínicos controlados e randomi-
• Início unilateral;
zados para mostrar a modificação do curso da
• Presença do tremor de repouso; doença são controversos. Não há como medir direta-
• Doença progressiva; mente a perda neuronal in vivo, e não se sabe clara-
• Persistência da assimetria dos sintomas; mente qual a correlação da sintomatologia com a
• Boa resposta a levodopa; morte neuronal. Além disso, é difícil separar clinica-
mente efeito sintomático de efeito protetor. Um des-
• Presença de discinesias induzidas por
levodopa; fecho clínico comumente utilizado, por exemplo, é o
• Resposta a levodopa por 5 anos ou mais; momento em que o paciente virgem de tratamento
apresenta piora funcional e necessita da introdução
• Evolução clínica de 10 anos ou mais.
de levodopa.
TRATAMENTO SINTOMÁTICO
191
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
192
ENTACAPONA: comprimidos de 200 mg.
TRATAMENTO DOS SINTOMAS PSICÓTICOS
CLOZAPINA: comprimidos de 25 mg e 100 mg.
Sintomas psicóticos caracterizados pela
presença de alucinações ou delírios são frequentes à RASAGILINA: comprimidos de 1mg.
medida que a DP progride. São sintomas que podem
atingir proporções graves, sendo uma causa relevante
de institucionalização e internação hospitalar.
FÁRMACOS
LEVODOPA/CARBIDOPA: comprimidos de 200/50 mg
e 250/25 mg.
193
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
DOENÇA DE ALZHEIMER
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
O diagnóstico clínico de DA parte de um diag-
nóstico sindrômico de demência de qualquer etiolo-
gia de acordo com os critérios do National Institute on
Aging and Alzheimer's Association Disease and Rela-
ted Disorders Association, endossados pela Acade-
mia Brasileira de Neurologia (ABN).
194
efeito benéfico sobre a cognição de pacientes com
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL demência devido a DA, embora o número de estudos
A depressão é uma comorbidade comum e incluídos na meta-análise tenha sido pequeno e a
tratável em pacientes com demência e deve ser rastre- heterogeneidade tenha sido muito grande entre eles,
ada. A deficiência de vitamina B12 é comum em impedindo recomendações sobre qual tipo de exercí-
idosos, devendo a dosagem de nível sérico de B12 ser cio deveria ser feito.
incluída na rotina de avaliação. Devido à frequência, o
hipotireoidismo deve ser pesquisado nos pacientes FÁRMACOS
idosos.
DONEPEZILA: comprimidos de 5 e 10 mg.
Um exame de imagem cerebral – tomografia
computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM)
– é útil para excluir lesões estruturais que podem con- GALANTAMINA: cápsulas de liberação prolongada
tribuir para a demência, como infarto cerebral, neopla- de 8, 16 e 24 mg.
sia e coleções de líquido extracerebral. O processo de
investigação diagnóstica para preencher os critérios RIVASTIGMINA: - cápsulas de 1,5 mg, 3 mg, 4,5 mge
inclui história completa (com paciente e familiar ou 6 mg; solução oral de 2 mg/mL.
cuidador), avaliação clínica – incluindo a escala de - adesivos transdérmicos de 5 cm² contendo 9
avaliação clínica da demência, rastreio cognitivo –
mg de rivastigmina com percentual de liberação de
testes cognitivos como o Mini-Exame do Estado
Mental, exames laboratoriais – hemograma completo, 4,6 mg/24 h e de 10 cm² contendo 18 mg de rivastig-
eletrólitos (sódio, potássio, cálcio), glicemia, ureia e mina, percentual de liberação de 9,5 mg/24 h.
creatinina, TSH e alaninoaminotransferase (ALT/TGP),
aspartato-aminotransferase (AST/TGO), vitamina B12, MEMANTINA: comprimidos revestidos de 10mg.
ácido fólico –, sorologia sérica para sífilis (VDRL) e
HIV (em pacientes com menos de 60 anos), e imagem
cerebral (TC sem contraste ou RM). ESQUEMAS DE ADMINISTRAÇÃO
DONEPEZILA: iniciar com 5 mg/dia por via oral. A
Normal Alzheimer
dose pode ser aumentada para 10 mg/dia após 46
semanas, devendo ser administrada ao deitar.
195
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Fontes:
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Doença de Alzheimer
196
MIASTENIA GRAVIS
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
A história e os achados físicos dão usualmente
as pistas iniciais mais importantes para a definição da
MG, seguidos pelos exames complementares.
197
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
muscular composto evocado maior que 10% na
miastênica. Uma maneira eficaz de avaliar disfunção comparação entre o primeiro e o quarto ou quinto
respiratória à beira do leito é solicitar aos pacientes estímulo, apresentando 75% de sensibilidadE. As
que contem em voz alta até 20 após uma inspiração conduções neurais sensitiva e motora são normais,
máxima. Caso seja incapaz de realizar tal tarefa sem enquanto que a eletromiografia pode eventualmente
interromper para respirar novamente, sua capacidade demonstrar um padrão miopático concomitante.
vital forçada pode ser estimada em menos de um litro. Caso o estudo seja normal e ainda permaneça a
suspeita diagnóstica, recomenda-se a realização da
DEMAIS PARTES DO EXAME NEUROLÓGICO: Sensibi- eletromiografia de fibra única, que apresenta uma
lidade e reflexos usualmente são normais. sensibilidade de 99%, excluindo virtualmente MG
caso sua análise seja normal.
PREVA-
OUTROS EXAMES: Uma vez confirmado o diagnósti-
GRUPO LÊNCIA SINAIS co, deve-se investigar a ocorrência concomitante de
outras doenças frequentemente associadas com
Grupo 1 : Ocular 25% Ptose, diplopia. MG. Para tal, recomenda-se realização de tomografia
computadorizada de tórax para investigar aumento
de volume do timo e planejar intervenção cirúrgica,
Acometimento ocular e de
Grupo 2a : Generalizada 35% extremiadades, sem sinais se indicada. Hemograma, função renal e hepática,
leve bulbares proeminentes. eletrólitos, velocidade de eritrossedimentação,
Sinais oculares ou bulbares, provas de função tiroidiana e de atividade reumática
Grupo 2b : Generalizada acometimento variável da são exames necessários para excluir outras doenças.
moderada-grave 20%
musculatura aprendicular,
sem crises.
CÉLULAR
Sinais generalizados com CÉLULAR NERVOSAS
Grupo 3 : Aguda fulmi- 11% acometimento bulbar
nante proeminente, com crises. NERVOSAS
EXAMES COMPLEMENTARES
198
curare, procainamida, quininas e aminoglicosídeos. casos com azatioprina, ciclosporina e imunoglobulina.
Quando o acometimento for proeminente, a MG pode
ser confundida com esclerose lateral amiotrófica. GRAVIDEZ
Lesões intracranianas com efeito de massa ou lesões
de tronco encefálico podem causar achados oculares A longo prazo, não há piora do desfecho. O
de nervos cranianos que mimetizam a miastenia. curso da doença é altamente variável e imprevisível
Outras síndromes incluem a síndrome de Eaton-Lam- durante a gestação e pode mudar nas gestações
bert, tiroideopatias, oftalmoplegia externa progressiva subsequentes. Em revisão da literatura envolvendo
e distrofia óculo-faríngea. 322 gestações de 225 mães miastênicas, observou-
-se piora dos sintomas em 41% das pacientes.
Cinquenta e nove por cento ou melhoraram dos sinto-
CASOS ESPECIAIS mas ou não apresentaram alteração. Das mães que
pioraram, 30% o fizeram no período pós-parto. A
CRISE MIASTÊNICA regra geral na condução dessa situação é evitar uso
de outros agentes imunossupressores além da pred-
Definida como insuficiência respiratória asso- nisona pelos efeitos teratogênicos, embora a plasma-
ciada a fraqueza muscular grave, é uma complicação férese e a imunoglobulina tenham se mostrado segu-
potencialmente fatal que ocorre em aproximadamente ras nessas situações, quando estritamente necessá-
15%-20% dos pacientes com MG. A mortalidade rias. Sulfato de magnésio deve ser evitado em mãe
nesses casos caiu de 40% no início da década de préeclâmpticas, em função do seu efeito bloqueador
1960 para apenas 4% a partir de meados da década neuromuscular. A maior preocupação acaba sendo a
de 1970, devido em grande parte à melhora dos cuida- miastenia neonatal transitória, resultante da transfe-
dos respiratórios e das unidades de terapia intensiva rência passiva de anticorpos maternos antirrecepto-
e, em menor parcela, devido ao amplo uso de imunote- res de ACh através da placenta. Há um risco teórico
rapias como plasmaférese e imunoglobulina humana. da passagem desses anticorpos através do leite
Um dos diagnósticos diferenciais importantes nas materno, mas a grande maioria dos bebês não apre-
crises miastênicas são as chamadas “crises colinérgi- senta problemas durante a amamentação.
cas”, geralmente por excesso de medicamentos anti-
colinesterásicos (neostigmina, piridostigmina). Em MIASTENIA GRAVIS AUTOIMUNE NEONATAL
ambas as situações, o paciente pode apresentar visão TRANSITÓRIA
borrada, dispnéia, aumento de secreções, disartria e
fraqueza generalizada. Por essa razão é que usualmen- Pode ocorrer em até 10% dos neonatos filhos
te recomenda-se a redução ou mesmo a interrupção de mães com MG. Tal condição resulta da transferên-
do medicamento anticolinesterásico vigente na even- cia passiva de anticorpos maternos antirreceptores
tualidade de um quadro respiratório fulminante asso- de ACh através da placenta, tendo início usualmente
ciado à MG em atividade. nos primeiros 3 dias de vida, manifestando-se através
de choro fraco, dificuldade de sucção, fraqueza gene-
MIASTENIA GRAVIS JUVENIL ralizada, tônus diminuído, dificuldade respiratória,
ptose e diminuição da expressão facial e com resolu-
Trata-se de uma situação definida pelo surgi- ção espontânea após 18-20 dias. A MG autoimune
mento de sinais e sintomas miastênicos entre o 1º e o neonatal transitória não pode ser confundida com
18º ano de idade, perfazendo 10% de todos os casos miastenia congênita, doença de caráter não autoimu-
de MG. No entanto, alguns casos relatados na literatu- ne e com apresentação clínica distinta e mais tardia.
ra podem representar, na verdade, miastenia congêni- Os pacientes com essa condição podem ser tratados
ta (doença sem caráter autoimune), particularmente sintomaticamente com medicamentos anticolineste-
nos pacientes com anticorpos antirreceptores de ACh rásicos. Crianças com crise miastênica podem
negativos. Se houver sintomas desagradáveis, reco- necessitar de plasmaférese. A imunoglobulina
menda-se iniciar piridostigmina na dose de 1,0 mg/kg humana parece não ser efetiva nesses casos.
de peso, com ajuste gradual da dose conforme os
sintomas. Para pacientes com doença moderada a MIASTENIA GRAVIS ANTI-MUSK
grave, utiliza-se prednisona em dose de 1,0 mg/kg,
com alternância de dose após 2-4 semanas. Transcor- Aproximadamente 50% dos pacientes com
rido esse período, recomenda-se diminuir gradativa- MG sem anticorpos antirreceptores de ACh apresen-
mente a dose (aproximadamente 1-5 mg a cada 2-4 tam anticorpos contra uma enzima da membrana
semanas, dependendo do peso do paciente) até a muscular denominada tirosinoquinase músculo-espe-
suspensão total. Outros imunossupressores são cífica (antiMuSK).
desencorajados nesses pacientes, embora tenham-se
obtido alguns resultados satisfatórios em séries de
199
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
TRATAMENTO
FÁRMACOS
CRISE MIASTÊNICA PIRIDOSTIGMINA: comprimidos de 60 mg.
200
ção dos eventos adversos. A maioria dos adultos
requer 60-120 mg a cada 4-6 horas; dose máxima de
720 mg/dia, por risco de crise colinérgica.
CRISE MIASTÊNICA
201
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ
Síndrome de Guillain-Barré (SGB é a maior
causa de paralisia flácida generalizada no
mundo, com incidência anual de 1–4 casos por
100.000 habitantes e pico entre 20 e 40 anos de
idade. Inexistem dados epidemiológicos específicos
para o Brasil, apenas a distribuição dos subtipos da
doença. A SGB é uma doença de caráter autoimune
que acomete primordialmente a mielina da porção
proximal dos nervos periféricos de forma aguda ou
subaguda.
202
DIAGNÓSTICO ELETROFISIOLÓGICO: A SGB
DIAGNÓSTICO CLÍNICO é um processo dinâmico com taxa de progressão
variável. O ideal seria reexaminar o paciente após a
O diagnóstico da SGB é primariamente clíni-
co. No entanto, exames complementares são neces- primeira semana do início dos sintomas, quando as
sários para confirmar a hipótese diagnóstica e excluir alterações eletrofisiológicas são mais evidentes e
outras causas de paraparesia flácida. mais bem estabelecidas. É importante salientar que a
ausência de achados eletrofisiológicos dentro desse
Os pacientes com SGB devem obrigatoria- período não exclui a hipótese de SGB.
mente apresentar graus inequívocos de fraqueza em
mais de um segmento apendicular de forma simétrica,
incluindo musculatura craniana. Os reflexos miotáti- CRITÉRIOS DIAGNÓSTICO
cos distais não podem estar normais. A progressão
dos sinais e sintomas é de suma importância, não EXISTEM VÁRIOS CRITÉRIOS PROPOSTOS PARA A
podendo ultrapassar 8 semanas e com recuperação DEFINIÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE SGB, SENDO
2-4 semanas após fase de platô. Febre e disfunção EXIGIDOS TODOS OS ESPECIFICADOS ABAIXO:
sensitiva são achados pouco frequentes, devendo
levantar suspeita de uma etiologia alternativa, de • Presença de dois critérios essenciais
(conforme a seguir);
causa provavelmente infecciosa.
• Presença de pelo menos três critérios clínicos
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL sugestivos (conforme a seguir);
Análise do líquido cefalorraquidiano (líquor): • Ausência de mais de uma situação que reduza
a possibilidade de SGB;
Elevação da proteína no líquor acompanhada por
poucas células mononucleares é o achado laborato- • Ausência de situação que exclua o diagnóstico
rial característico, evidente em até 80% dos pacien- de SGB; e
tes após a segunda semana. Entretanto, na primeira
• Análise do líquor e estudo neurofisiológico
semana, a proteína no líquor pode ser normal em até compatíveis com a doença e investigação adicional
1/3 dos pacientes. Caso o número de linfócitos no criteriosa com intuito de afastar outras etiologias.
Nessas situações, deve ser avaliado por consultor
líquor exceda 10 células/mm3, deve-se suspeitar de
médico especialista em doenças neuromusculares. A
outras causas de polineuropatia, tais como sarcoido- seguir estão indicados os critérios essenciais que
se, doença de Lyme ou infecção pelo HIV. sugerem, reduzem ou excluem o diagnóstico da SGB,
bem como uma escala de gravidade da SGB.
203
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICO
CLÍNICOS:
204
TRATAMENTO ESCALA DE GRAVIDADE CLÍNICA PROPOSTA
POR HUGHES ET AL
Existem dois tipos de tratamento na SGB: (1) a
antecipação e o controle das comorbidades associa-
das; (2) tratamento da progressão dos sinais e sinto- 0 Saudável
mas visando a um menor tempo de recuperação e mini-
mização de déficits motores. Não há necessidade de
1 Com sinais e sintomas menores de neuropa-
tratamento de manutenção, fora da fase aguda da tia, mas capaz de realizar tarefas manuais.
doença.
Apto a caminhar sem auxílio da bengala,
2 mas incapaz de realizar tarefas manuais.
Assim, pacientes com SGB necessitam ser
inicialmente admitidos no hospital para observação
rigorosa. O cuidado para eles é mais bem encontrado Capaz de caminhar somente com bengala
3 ou suporte.
em centros terciários, com facilidades de cuidados
intensivos e uma equipe de profissionais que esteja
familiarizada com as necessidades especiais dos 4 Confinado a cama ou cadeira de rodas.
pacientes com SGB. Vigilância estrita e antecipação
das potenciais complicações são necessárias para a
5 Necessita de ventilação assistida.
otimização das chances de um desfecho favorável. As
áreas de atenção incluem prevenção de fenômenos
tromboembólicos, monitorização cardíaca, avaliações Morte.
6
seriadas de reserva ventilatória e de fraqueza orofarín-
gea, proteção de vias aéreas, manutenção da função
intestinal, controle apropriado da dor e nutrição e • Imunoglobulina humana: : 0,4 g/kg/dia, por via
suporte psicológico adequado. A fisioterapia motora intravenosa.
• Plasmaférese
deve ser iniciada nesta fase com o intuito de auxiliar na
mobilização precoce. Para a correta indicação do Não há indicação de glicocorticoides no trata-
tratamento, faz-se necessária a determinação da gravi- mento da SGB.
dade clínica proposta por Hughes et al., sendo consi-
derada doença leve de 0 a 2 e moderado-grave de 3 a Deve-se realizar avaliação prévia da função
6. renal (especialmente em pacientes diabéticos), hidra-
tação prévia e controle de sinais clínicos para anafila-
xia e de eventos adversos, tais como dor moderada
no peito, no quadril ou nas costas, náusea e vômitos,
calafrios, febre, mal-estar, fadiga, sensação de
fraqueza ou leve tontura, cefaleia, urticária, eritema,
tensão do tórax e dispneia.
Fontes:
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Síndrome de Guillain-Barré
205
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
ESCLEROSE MÚLTIPLA
Esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimu-
ne que acomete o sistema nervoso central
(SNC), mais especificamente a substância
branca, causando desmielinização e inflamação. Afeta
usualmente adultos na faixa de 18-55 anos de idade,
mas casos fora destes limites têm ocorrido. No Brasil,
sua taxa de prevalência é de aproximadamente 15
casos por cada 100.000 habitantes.
mielites, disfunções esfincterianas e disfunções cogni- A) 2 ou mais Apenas 1 ou 2 lesões sugestivas de EM àRM
surtos mais
tivo- comportamentais, de forma isolada ou em combi- evidência
nação. Recomenda-se atentar para os sintomas cogni- clínica de 2 ou
tivos como manifestação de surto da doença, que mais lesões.
atualmente vem ganhando relevância neste sentido. Disseminação no espaço, demonstrada por RM com critérios de Barkho-
B) 2 ou mais
nais e sintomas por mais de 8 surtos mais
ff, presença de pelo menos 3 das 4 características a seguir: (a) pelo
menos 1 lesão impregnada pelo gadolínio ou pelo menos 9 lesões
evidência
supratentoriais em T2; (b) pelo menos 3 lesões periventriculares; (c) pelo
clínica de 1
DIAGNÓSTICO lesão.
menos 1 lesão justacortical; (d) pelo menos1 lesão infratentorial); OU
RM com 2 lesões típicas e presença de bandas oligoclonais ao exame
do líquor; OU Aguardar novo surto.
O diagnóstico é feito com base nos Critérios de
C) 1 surto Disseminação no tempo, demonstrada por RM após 3 meses com novas
McDonald revisados e adaptados. Exame de resso-
mais evidên- lesões ou pelo menos 1 das antigas impregnada pelogadolínio; OU
nância magnética (RM) do encéfalo demonstrará cia clínica de Aguardar novo surto.
lesões características de desmielinização; devem ser 2 lesões.
realizados alguns exames laboratoriais (exames de Disseminação no espaço, demonstrada por RM com Critérios de
anti-HIV e VDRL e dosagem sérica de vitamina B12) D) 1 surto Barkhoff ou RM com 2 lesões típicas e presença de bandas
mais evidên-
no sentido de excluir outras doenças de apresentação oligoclonais no exame do líquor E Disseminação no tempo, demonstrada
cia clínica de por RM após 3 meses com novas lesões ou pelo menos 1 das antigas
semelhante à EM. Deficiência de vitamina B12, neuro- 1 lesão. impregnada pelo gadolínio; OU
lues ou infecção pelo HIV (o vírus HIV pode causar Aguardar novo surto.
uma encefalopatia com imagens à RM semelhantes às
206
QUARTA LINHA (natalizumabe) Em casos de falha
Uma lesão desmielinizante medular à RM de terapêutica ao tratamento da terceira linha ou con-
coluna pode ser considerada equivalente a uma lesão traindicação ao fingolimode após falha terapêutica ao
infratentorial para fins diagnósticos de EM; uma lesão tratamento preconizado, indica-se o natalizumabe.
impregnada pelo gadolínio deve ser considerada equi-
valente a uma lesão impregnada pelo contraste no
encéfalo; lesões medulares podem ser associadas às
lesões encefálicas para totalizar o número mínimo de
lesões em T2 definido pelos Critérios de Barkhoff. A
necessidade de o paciente apresentar 2 surtos para o
diagnóstico atualmente pode ser substituída por 1
surto associado à progressão de lesões à RM (novas
lesões ou surgimento de impregnação pelo gadolínio
em lesões anteriormente não impregnadas, ou aumen-
to do tamanho de lesões prévias), após o primeiro
surto. Após o estabelecimento do diagnóstico, deve-
-se estadiar a doença, ou seja, estabelecer seu estágio
ou nível de acometimento por meio da Escala Expandi-
da do Estado de Incapacidade (ExpandedDisability
Status Scale – EDSS). ESQUEMAS DE ADMINISTRAÇÃO
207
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
Fontes:
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Esclerose Múltipla.
208
ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA
esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma das
principais doenças neurodegenerativas ao lado
das doenças de Parkinson e Alzheimer. Sua
incidência na população varia de 0,6 a 2,6 por
100.000 habitantes. A idade é o fator preditor mais
importante para a sua ocorrência, sendo mais preva-
lente nos pacientes entre 55 e 75 anos de idade. Trata-
-se de um distúrbio progressivo que envolve a degene-
ração do sistema motor em vários níveis: bulbar, cervi-
cal, torácico e lombar.
209
CLÍNICAMÉDICA
CLÍNICA MÉDICA
210
treinamento muscular inspiratório. Exercícios físicos de
leve intensidade parecem ser benéficos e não prejudi-
ciais como se acreditava anteriormente. Infelizmente,
não há evidências suficientes para recomendação do
uso de equipamentos com interfaces cérebro-compu-
tador, estimulação magnética transcraniana repetitiva,
que possam atenuar os sinais e sintomas motores da
doença. Da mesma forma, suplementos alimentares,
tais como a creatina, parecem não auxiliar os pacientes
com ELA.
ESQUEMA DE ADMINISTRAÇÃO
TEMPO DE TRATAMENTO
Fontes:
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Esclerose Lateral
211
QUESTÕES
Clínica Médica
QUESTÕES -CLÍNICAMÉDICA
QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 01
Uma mulher com 38 anos de idade deu entrada em uma Unidade de Emergência apresentando dispneia e dor
torácica. O quadro teve inicio 5 dias antes com tosse seca, dor torácica à direita e febre alta. No dia seguinte ao de início
do quadro, ela procurou assistência médica, tendo-lhe sido prescrito tratamento com levofloxacina para pneumonia bacte-
riana comunitária. A paciente relatou evolução com manutenção do quadro febril e das demais queixas; posteriormente,
passou também a se sentir cansada, dispneica e com dor precordial do tipo pleurítica. Como não viu melhora do quadro,
procurou a Unidade de Emergência onde se encontra no momento. No primeiro atendimento na Unidade de Emergência,
a paciente negou tabagismo, etilismo e uso de drogas ilícitas. Sua história patológica pregressa revela apenas cistites de
repetição, com último episódio há 2 meses, sempre tratadas com quinolona por via oral. Ao exame físico, apresentou
pressão arterial = 85 x 40 mmHg; frequência cardíaca = 120 bpm; frequência respiratória = 28 irpm; temperatura = 38,7
ºC; exame pulmonar compatível com condensação lobar à direita. Foi iniciada oxigenioterapia sob máscara e considerado
o diagnóstico de sepse através dos critérios clássicos (síndrome da resposta inflamatória sistêmica com infecção compro-
vada ou suspeita). Foram colhidas hemoculturas, o lactato sérico foi dosado, o esquema antibiótico foi modificado para
cefalosporina de terceira geração + macrolídeo e foi iniciado resgate volêmico generoso. Os exames complementares
realizados confirmam a existência de disfunção orgânica grave, com presença de 3 disfunções no escore SOFA (sequential
organ-failure assessment): grave injúria renal, com creatinina sérica = 5,8 mg/dL; hipercalemia acentuada, com K+ sérico
= 7,2 mEq/L; acidose metabólica importante, com pH = 7,18 e bicarbonato sérico = 12 mEq/L. Foram então instituídas
medidas terapêuticas intensivas para controle das disfunções orgânicas, mas, na manhã seguinte, logo após a realização
do registro eletrocardiográfico ilustrado a seguir, a paciente apresentou parada cardiorrespiratória em atividade elétrica
sem pulso, que foi revertida com a realização das manobras do suporte básico de vida e administração intermitente de
adrenalina, bicarbonato de sódio e gluconato de cálcio. Após estabilização hemodinâmica da paciente, foi indicada a
instituição imediata de suporte dialítico. Considerando que o registro eletrocardiográfico apresentado indica a causa da
parada cardiorrespiratória da paciente, o que motivou a instituição de terapêutica dialítica?
QUALITY 213
EDUCAÇÃO MÉDICA
QUESTÕES -CLÍNICAMÉDICA
QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 02
Durante uma campanha de prevenção de acidentes ocupacionais em ambiente hospitalar, uma mulher com 32
anos de idade, auxiliar de enfermagem, foi submetida à sorologia para Hepatite C, por teste rápido presencial, revelando-se
reativa. Está ansiosa, pois não entende bem o que tal resultado significa, já que “não sente nada” e “não tem ideia de como
foi contaminada”. É referenciada ao Serviço de Apoio ao Trabalhador (SAT), no ambulatório do hospital onde trabalha. Na
primeira etapa de investigação, além de responder às dúvidas que a paciente apresentar durante o atendimento, é necessá-
rio que o médico do SAT priorize:
Questão 03
Em um município foram registradas epidemias de dengue em 2004, 2010 e 2014, associadas à introdução do
vírus dengue (DEN-V) dos tipos 3, 2 e 4, respectivamente. Em 2016, há notificação de casos de zika e chikungunya. Na
Unidade Básica de Saúde desse município, foi atendida uma mulher com 23 anos de idade e 16 semanas de gestação
relatando febre não medida, cefaleia e mialgia de início abrupto e com piora progressiva de intensidade até a manhã do dia
do atendimento, quando acordou melhor e notou a pele avermelhada; o quadro teve início há 4 dias. Não apresenta queixa
de artralgia, sangramentos ou qualquer outro sinal de alarme. Relata ter tido dengue clássica há 4 anos. Nega comorbida-
des e uso recente de medicamentos. O cartão vacinal da paciente encontra- -se em dia. Ao exame físico, apresenta-se
afebril e com discretos exantemas máculo-papulares por todo o corpo, sem outras alterações; a prova do laço teve resulta-
do negativo. O resultado dos exames revela hematócrito = 41% (valor de referência: 33,0 a 47,8%); hemoglobina = 13,1
g/dL (valor de referência: 12,0 a 15,8 g/dL); plaquetas = 108.000/mm3 (valor de referência: 130.000 a 450.000/mm3 );
leucócitos = 4.800/mm3 (valor de referência: 3.600 a 11.000/mm3 ); eosinófilos = 3% (valor de referência: 0 a 7%);
segmentados = 53% (valor de referência: 40 a 70%), linfócitos = 35% (valor de referência: 20 a 50%), monócitos = 9%
(valores de referência: 3 a 14%); AST = 43 U/L (valor de referência: inferior a 34 U/L); ALT = 38 U/L (valor de referência:
10 a 49 U/L); ureia = 43 mg/dL (valor de referência: 19 a 49 mg/dL); creatinina = 1,1 mg/dL (valor de referência: 0,53 a
1,00 mg/dL). No exame de ultrassonografia, observa-se que o feto está ativo e normal. Esse caso deve ser notificado à
Vigilância Epidemiológica e a mãe deve ser tranquilizada com a informação de que está tudo bem com ela e com o feto,
que apenas uma minoria dos recém-nascidos é afetada nesses casos e que a Equipe de Saúde da Família irá acompanhá-la
durante toda a gestação. Que outras condutas devem ser adotadas pelo médico?
A) Devem ser coletadas amostras para isolamento viral de zika e dengue, além de internar a paciente para observação e
orientar hidratação endovenosa até a normalização das plaquetas.
B) Devem ser coletadas amostras para isolamento viral de zika e chikungunya, além de orientar hidratação oral, repouso
relativo, acompanhamento laboratorial e retorno em caso de piora dos sintomas.
C) Devem ser coletadas amostras para isolamento viral de zika, dengue e chikungunya, além de internar a paciente para
observação, prescrever medicamentos sintomáticos e orientar hidratação endovenosa até a realização de novos exames,
em 12 horas.
D) Devem ser coletadas amostras para isolamento viral de zika, dengue e chikungunya, além de orientar hidratação oral,
prescrever medicamentos sintomáticos e agendar retorno da paciente em até 48 horas para realização de novos exames,
ou no caso de surgimento de sinais de alarme para dengue.
214 QUALITY
EDUCAÇÃO MÉDICA
QUESTÕES -CLÍNICAMÉDICA
QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 04
Em uma Unidade de Saúde da Família, um adolescente de 16 anos de idade procura atendimento. Ele conta que
há 3 dias está com febre de 37,9 °C e dores no corpo, especialmente na região abdominal. Hoje ficou assustado, pois teve
importante sangramento gengival. O exame físico no momento está normal. O teste do laço é negativo. Qual deveria ser a
conduta adotada em relação a esse paciente?
A) Orientar repouso domiciliar e hidratação oral, pois ainda não existe sinal de alarme.
B) Solicitar hemograma, pois o quadro de leucocitose indicará a gravidade da doença na fase aguda.
C) Solicitar internação hospitalar, pois a fragilidade capilar associada à dor abdominal indica gravidade da doença.
D) Solicitar sorologia para dengue e aguardar o resultado para instituir o tratamento, orientando repouso e hidratação oral
em casa.
Questão 05
Uma mulher de 23 anos de idade, casada, do lar e nuligesta, iniciou atividade sexual há 3 anos, após casamento.
No momento, essa mulher está em tratamento para condilomatose vulvar em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e
apresenta boa evolução. Ela não mantém relações extraconjuguais, seu marido é saudável e não tem histórico de doença
sexualmente transmissível (DST) e (ou) uso de drogas injetáveis. Após aconselhamento, realizou sorologia para HIV e o
resultado foi positivo. Diante disso, foi solicitada pesquisa sorológica para HIV em nova amostra sanguínea. A paciente
retorna hoje à UBS para conhecer o resultado. Ambas as amostras foram processadas no mesmo laboratório e seus resul-
tados são apresentados nas figuras a seguir.
QUALITY 215
EDUCAÇÃO MÉDICA
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QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 06
Paciente, com 57 anos de idade, vai à Unidade Básica de Saúde com queixa de aparecimento, há um mês, de
lesão avermelhada em braço direito. Procurou atendimento médico, quando foi prescrita nistastina creme durante 14 dias
e fluconazol 150 mg em dose única, sem melhora do quadro. Relata que posteriormente apresentou dor no cotovelo direito,
sendo feito diagnóstico de tendinite e prescrito anti-inflamatório. Informa não ter outra doença e não faz uso de medicamen-
tos. O exame físico mostra mácula eritematosa com bordas eritematosas elevadas e centro atrófico. Qual a hipótese
diagnóstica e a propedêutica a ser realizada?
Questão 07
Paciente do sexo masculino, com 26 anos de idade, procura ambulatório de Clínica Médica com queixas, há uma
semana, de mal estar, febre de baixa intensidade não aferida, inapetência, vômitos ocasionais e aversão à fumaça de cigar-
ro, evoluindo com colúria e acolia fecal há três dias. Relata que costuma alimentarse em bares com baixo nível de higiene,
próximos à universidade onde estuda; e viagem, há um mês, para acampamento. Informa manter relações sexuais sem uso
de preservativos, com parceiros e parceiras desconhecidos. Ao exame físico apresenta-se em bom estado geral, corado,
hidratado, ictérico ++/4+, lúcido, orientado, Pressão arterial =120 x 70 mmHg , Frequência cardíaca= 64bpm. Fígado
palpável a três centímetros do rebordo costal direito; baço impalpável. O restante do exame físico não mostrou alterações
significativas. Foram solicitadas dosagens de aminotransferases, que se mostraram muito elevadas (>1000 UI/ml) e marca-
dores sorológicos virais das hepatites determinaram que o paciente era carreador crônico do vírus da hepatite B e apresen-
tava também hepatite viral aguda pelo vírus da hepatite A. A infecção pelo vírus da hepatite C foi excluída por sorologia e
técnicas moleculares. O perfil sorológico compatível com o diagnóstico do paciente é
A) anti-HAV IgG reativo e IgM não reativo; anti-HBc IgM e IgG reativos; HBsAg reativo.
B) anti-HAV IgG e IgM reativos; anti-HBc IgG e IgM não reativos; HBsAg não reativo.
C) anti-HAV IgG e IgM não reativos; anti-HBc IgG reativo e IgM não reativo; HBsAg não reativo.
D) anti-HAV IgG não reativo e IgM reativo; anti-HBc IgM e IgG não reativos; HBsAg não reativo.
E) anti-HAV IgG e IgM reativos; anti-HBc IgM não reativo e IgG reativo; HBsAg reativo.
Questão 08
Na diferenciação entre as hepatites virais deve-se considerar que
216 QUALITY
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Questão 09
Uma mulher de 29 anos iniciou tratamento para tuberculose pulmonar cavitária há duas semanas, com o esquema
Rifampicina + Hidrazida + Pirazinamida + Etambutol. Durante a consulta para avaliação dos exames solicitados, o médico
observa que o teste confirmatório para detecção do HIV é positivo. Nesse contexto, além do aconselhamento da paciente
e testagem de parceiros, a conduta mais adequada para a paciente é
A) manutenção do tratamento para tuberculose e encaminhamento para serviço de referência, mantendo o acompanha-
mento à paciente.
B) suspensão do tratamento para tuberculose e encaminhamento para serviço de referência, mantendo o acompanhamento
à paciente.
C) suspensão temporária do esquema terapêutico para a tuberculose, início da terapia antirretroviral; retomada do
tratamento para tuberculose após 30 dias.
D) alteração do tratamento, com prolongamento da duração para 9 meses: Rifampicina + Hidrazida + Pirazinamida + Etam-
butol por 2 meses e Rifampicina + Hidrazida por 7 meses.
E) substituição do esquema terapêutico da tuberculose para Estreptomicina + Etambutol + Linesolida + Pirazinamida +
Terizidona por 2 meses e Etambutol + Linesolida + Terizidona por 4 meses
Questão 10
Uma mulher de 37 anos de idade vem à consulta com queixa de febre (temperatura axilar = 38°C), náuseas, vômi-
tos, mialgia, dor nos braços, pernas e nas articulações dos pés e mãos há cerca de dez dias. Refere já ter tido esse quadro
há cerca de um mês, tendo obtido melhora com o uso de analgésicos e antiinflamatórios. Atualmente, refere piora do
quadro clínico. Ao exame físico, evidencia-se que a paciente se encontra em regular estado geral, descorada, anictérica,
com dificuldade à deambulação – tem sinais clínicos de polineurite, artralgia e artrite de pequenas e médias articulações.
Apresenta nódulos cutâneos de vários tamanhos e estádios evolutivos diferentes, róseo-eritemato-edematosos, violáceos,
acastanhados, isolados e confluentes, manchas acastanhadas, pústulas, vesículas hemorrágicas e nódulos necrótico-ulce-
rativos, em especial nas coxas e pernas. Apresenta, ainda, cicatrizes de lesões anteriores e hepato-esplenomegalia doloro-
sa. Qual o diagnóstico mais provável nesse caso?
A) Farmacodermia.
B) Lúpus eritematoso sistêmico.
C) Leishmaniose tegumentar americana.
D) Eritema nodoso por doença reumática.
E) Reação por imunocomplexos da hanseníase.
Questão 11
Uma mulher de 32 anos procura a Unidade Básica de Saúde com queixa de dores intensas nas articulações das
mãos e dos pés associadas à rigidez matinal, com duração de cerca de 15 minutos e prejuízo funcional. Relata que os sinto-
mas começaram há 3 meses, quando, ao passar as férias de verão em outro estado, apresentou quadro de febre alta, além
de manchas vermelhas no rosto, nos braços e no tórax, as quais persistiram por cerca de 10 dias. Informa que não procurou
atendimento médico na ocasião, passando a fazer uso de dipirona para alívio da dor, com melhora não satisfatória. O exame
clínico atual evidencia edema e dor nas articulações interfalangianas distais, bilateralmente, e em tornozelos, não sendo
observados, no momento, lesões de pele, mucosas ou nódulos subcutâneos. Os resultados do hemograma completo e do
exame de urina de rotina revelaram-se normais. Diante desse quadro, quais são o diagnóstico e o tratamento adequado?
A) osteoartrose; acetaminofeno
B) artrite reumatoide; metotrexato
C) chikungunya; hidroxicloroquina
D) lúpus eritematoso sistêmico; prednisolona
QUALITY 217
EDUCAÇÃO MÉDICA
QUESTÕES -CLÍNICAMÉDICA
QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 12
Um homem de 39 anos de idade é trazido à Unidade de Pronto Atendimento por familiares, com história de febre
há quatro dias, que cedeu nas últimas doze horas, bem como cefaleia, astenia e vômitos. Refere sangramento gengival ao
escovar os dentes. Entre os exames solicitados, o resultado do hematócrito é 47% (valor de referência: 47 ± 7%) e a prova
do laço é positiva. Frente a esse quadro, a conduta mais adequada é
A) proceder à hidratação oral vigorosa, pois há fortes indícios de dengue com complicação.
B) pesquisar sinais de alerta como dor abdominal intensa e contínua, hipotensão postural, hipotensão arterial, pressão
diferencial < 20 mmHg (PA convergente), hepatomegalia dolorosa, extremidades frias, cianose, pulso rápido e fino e, se
presente algum, instalar hidratação com solução de reidratação oral copiosa supervisionada.
C) indicar tratamento ambulatorial com hidratação oral, antitérmicos e analgésicos, se necessários, orientar sobre sinais de
alerta para o retorno, a fim de repetir exames laboratoriais.
D) manter o paciente em leito de observação, iniciar hidratação oral supervisionada e repetir exames laboratoriais após
quatro horas de hidratação.
E) notificar a Vigilância Epidemiológica e indicar tratamento ambulatorial com hidratação oral, antitérmicos e analgésicos,
pois se trata de caso grave de febre hemorrágica da dengue.
Questão 13
Um paciente do sexo masculino, 30 anos de idade, procedente do Rio de Janeiro, foi admitido na Emergência
hospitalar referindo febre, dor de cabeça, diarreia e dor articular, iniciados há 6 dias. Informa que a febre cessou há dois
dias e, há um dia, passou a apresentar dor abdominal contínua de forte intensidade, sem melhora com o uso de paraceta-
mol. O paciente nega doenças prévias. Ao exame físico, apresenta estado geral regular, eupneico, hidratado, corado, cons-
ciente e orientado; ausculta respiratória e cardíaca normais; pressão arterial = 120 x 80 mmHg; prova do laço negativa;
abdome depressível, doloroso à palpação em hipocôndrio direito, sem visceromegalias. Nesse caso, a melhor conduta a
ser tomada é
A) dar alta após solicitação de hemograma e sorologia viral e orientar o paciente a retornar após seis horas para avaliar o
resultado do hemograma.
B) colocar o paciente em observação por 12 horas na unidade de emergência e administrar medicamentos sintomáticos e
hidratação oral.
C) transferir o paciente para unidade de cuidados semiintensivos para monitorização contínua e realização de exames.
D) dar alta com orientações para acompanhamento ambulatorial na unidade de atenção primária.
E) internar o paciente por 48 horas para observação e realização de exames complementares.
218 QUALITY
EDUCAÇÃO MÉDICA
QUESTÕES -CLÍNICAMÉDICA
QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 14
Homem com 26 anos de idade procura atendimento na Unidade Básica de Saúde por apresentar, há três dias,
febre alta, mialgia, astenia e náuseas. O paciente não relata comorbidades e nega uso de qualquer medicação. O paciente
nega viagens recentes, contato com vetores ou com água potencialmente contaminada. O calendário vacinal está em dia.
Exame físico: temperatura axilar = 38 ºC, estado geral bom, acianótico, anictérico, normocorado, pressão arterial sentado
e deitado = 120x80 mmHg, frequência cardíaca = 106 bpm e peso = 70 kg. Apresenta exantema com padrão maculopa-
pular, associado a prurido cutâneo generalizado, sem comprometimento da região palmar. Prova do laço apresenta resulta-
do negativo. A região em que reside o paciente teve epidemia de dengue no ano anterior. A conduta mais adequada para
esse paciente é:
A) solicitar coleta de sangue para realização de hemograma e para sorologia, com isolamento viral no momento do atendi-
mento.
B) mantê-lo em observação na Unidade de Saúde para repetir a prova do laço após seis horas, a fim de afastar dengue
hemorrágica, e realizar hidratação oral de 2,5 litros de líquidos por dia.
C) encaminhá-lo para internação por um período mínimo de 48h. Colher hemograma completo, realizar dosagem de albumi-
na sérica e transaminases. Fazer reposição volêmica endovenosa. Notificar imediatamente o caso e orientar retorno após a
alta.
D) orientá-lo a realizar tratamento em regime ambulatorial, com reavaliação clínica diária na Unidade de Saúde e hidratação
oral de 2 litros de líquidos por dia. Preencher cartão de acompanhamento de dengue; prescrever sintomáticos e repouso;
notificar o caso e orientar retorno.
E) liberá-lo para o domicílio, com orientação de ingerir 5 a 6 litros de líquidos/dia, sendo 1/3 com solução salina e os 2/3
restantes de líquidos caseiros (água, suco de frutas, soro caseiro, chás, água de coco etc.). Prescrever sintomáticos e
repouso; notificar o caso e orientar retorno.
Questão 15
Mulher com 48 anos de idade, durante investigação laboratorial de rotina em Ambulatório de Clínica Médica, é
surpreendida com achado de aminotransferases cerca de duas vezes o limite superior da normalidade. Na investigação de
órgãos e sistemas, a paciente relata apenas “cansaço frequente”. Foram solicitados marcadores virais de hepatites, os
quais revelaram: Anti-HAV IgG não reativo; HBsAg não reativo, Anti-HBc IgG não reativo, Anti-HCV reativo. Diante dos
resultados, foram adicionados à investigação a solicitação de PCR quantitativo para HCV, genotipagem do HCV, ultrasso-
nografia abdominal e indicada vacinação para hepatite A e B. No encaminhamento para hepatologista, o conjunto de resul-
tados que indicaria a maior probabilidade de resposta virológica sustentada para tratamento antiviral com ribavirina e
peg-interferon é:
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QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 16
Homem com 45 anos de idade procurou a Unidade Básica de Saúde com queixa de “manchas brancas pelo
corpo” que persistem há aproximadamente dois anos e que foram aumentando em número e tamanho. Ao exame verificou-
-se a presença de quatro lesões, todas apresentando as mesmas características, sendo duas máculas hipocrômicas na
face anterior da coxa direita e duas em região dorsal. As lesões apresentavam bordas bem definidas e ausência de pelos.
O teste de sensibilidade térmica demonstrou anestesia em toda a extensão das lesões e a avaliação do grau de incapacida-
de física foi zero. A baciloscopia foi positiva. Em relação ao tratamento indicado para este paciente, podemos afirmar que:
A) o tratamento deverá ser feito por seis meses, usandose doses supervisionadas e autoadministradas.
B) a dapsona deverá ser usada na dose de 50 mg/mês supervisionada e 50 mg/dia autoadministrada.
C) a rifampicina deverá ser usada na dose de 300 mg/mês supervisionada e 100 mg/dia autoadministrada.
D) a clofazimina deverá ser usada na dose de 300 mg/mês supervisionada e 50 mg/dia autoadministrada.
E) a ofloxacina poderá ser usada em substituição à rifampicina nos casos de intolerância, na dose de 200 mg/mês supervi-
sionada e 200 mg/dia autoadministrada.
Questão 17
Mulher com 57 anos de idade, portadora de diabetes tipo II não controlado, apresenta quadro de febre associada
a dor, edema e eritema de limites mal definidos em coxa esquerda, medindo 20 cm em seu maior diâmetro. Ao exame físico:
temperatura axilar = 38,9 o C, FC = 110 bpm, FR = 21 irpm, PA = 120 x 70 mmHg. Entre as opções abaixo, que exame
laboratorial é indicativo da gravidade do comprometimento tecidual no quadro infeccioso?
A) Leucometria.
B) Lactato sérico.
C) Haptoglobina.
D) Ferritina sérica.
E) Proteína C reativa.
Questão 18
Um paciente com 45 anos de idade, casado e com três filhos (8 meses, 7 anos e 12 anos de idade), trabalhador
da construção civil, tem histórico de febre vespertina, tosse e emagrecimento há seis meses. Radiografia de tórax mostra
infiltrado em lobo superior direito contendo cavitação e a baciloscopia do escarro é positiva para tuberculose. Em relação
à avaliação dos contatos do paciente, é correto afirmar que:
A) nos contatos crianças (<10 anos), a Prova Tuberculínica menor que 5mm exclui o diagnóstico de tuberculose.
B) nos contatos crianças (<10 anos), assintomáticos, o tempo de vacinação com BCG é fator importante na definição da
conduta.
C) nos contatos adultos ou adolescentes (> 10 anos ), assintomáticos, não há necessidade de solicitação da Prova Tuber-
culínica.
D) nos contatos sintomáticos adultos, o diagnóstico de tuberculose é estabelecido pela cultura de escarro positiva para
Bacilo de Koch ( BK ).
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QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 19
Uma mulher com 47 anos de idade procura atendimento em Posto de Saúde com queixa de astenia. Foram solici-
tados exames de sangue que revelaram aumento (2,5 vezes o valor normal) nos níveis séricos de aspartato amino transfera-
se (AST) e alanino amino transferase (ALT). A investigação inicial mostrou que a paciente encontra-se monoinfectada pelo
vírus da hepatite C (VHC), sendo, portanto, encaminhada ao hepatologista, que solicitou novos exames complementares,
cujos resultados foram: RNA-VHC = 381.420 UI/mL, genótipo viral 1b e ultrassonografia abdominal com moderada altera-
ção da ecogenicidade do parênquima hepático. Apresenta ainda escore de Child-Pugh igual a 4. A biópsia hepática realiza-
da revelou fibrose discreta (F1 da classificação histológica Metavir). Com base no quadro apresentado, que fator está asso-
ciado com uma pior resposta ao tratamento antiviral?
A) Carga viral.
B) Genótipo viral.
C) Escore de Child-Pugh.
D) Grau de fibrose hepática.
Questão 20
Um paciente com 42 anos de idade é atendido no ambulatório de uma Unidade Básica de Saúde com quadro de
tosse com expectoração amarelada há mais de três semanas, acompanhada de febre vespertina. É submetido à realização
de exame de escarro para pesquisa de bacilos álcool-ácido-resistentes (BAAR), que é positiva (+++/4+). Informa que
reside com a esposa, que apresenta os mesmos sintomas. O casal não tem filhos. Diante dessas informações, a investiga-
ção da esposa deverá ser feita com
Questão 21
Um homem com 24 anos de idade, geólogo, irá viajar em expedição na Amazônia Legal daqui a 20 dias, onde
deverá passar cerca de dois meses em localidades diferentes, coletando amostras de solo para sua tese de doutorado. Ele
procurou a Unidade Básica de Saúde do seu bairro para orientações sobre a profilaxia da malária. Qual é a conduta
adequada neste momento para garantir a segurança do paciente?
A) Solicitar ao paciente o seu itinerário e pedir que ele retorne em dois dias para que seja informado acerca da conduta
adequada, pois a estimativa do risco do viajante adquirir malária no destino deve levar em consideração a Incidência Parasi-
tária Anual ( IPA ).
B) Orientar o paciente a vacinar-se pelo menos dez dias antes da viagem, tendo em vista que, apesar de a malária ser uma
doença grave sem tratamento específico, possui uma vacina segura e eficaz. Informar que não é necessário tomar a vacina
se ele já foi vacinado nos últimos dez anos e orientá-lo a levar o cartão de vacinação na bagagem.
C) Orientar o paciente a tomar as seguintes medidas de proteção contra picadas de mosquitos: uso de roupas claras e
com manga longa; uso de mosquiteiro impregnado com piretroides e uso de repelentes à base de dietilmetaloamida ( DEET
), principalmente ao amanhecer e ao pôr do sol.
D) Informar ao paciente que a medida de prevenção mais segura contra a malária é a quimioprofilaxia ( QPX ), que consiste
no uso de drogas antimaláricas em doses subterapêuticas. O esquema não previne, no entanto, infecção pelo Plasmodium
sp ou recaídas por P. vivax ou P. ovale.
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Questão 22
Um homem, com 35 anos de idade, é removido para Hospital após dar entrada em Unidade de Pronto Atendimento
com quadro súbito de calafrios, febre alta, mialgia intensa, principalmente em panturrilhas, e hiperemia conjuntival. Familia-
res informaram que o paciente residia em área de alagamento, ocorrido recentemente. Ao dar entrada no Hospital, foram
solicitados hemograma completo, que revelou leucocitose com neutrofilia e desvio para a esquerda, e radiografia de tórax,
cujo laudo foi de pneumonite intersticial. Foi iniciada antibioticoterapia venosa com amoxicilina + clavulanato de potássio
associada a claritromicina. No terceiro dia de internação, o paciente evoluiu com piora do quadro clínico, sem oligúria,
aparecimento de icterícia, hipocalemia, elevação dos níveis séricos de ureia, creatinina e creatinofosfoquinase (CPK). O
exame físico evidenciou hepatomegalia e diátese hemorrágica. O paciente evoluiu com insuficiência respiratória aguda e
necessidade de intubação orotraqueal, onde foi visualizado sangramento de vias aéreas. Nova radiografia de tórax mostrou
áreas de condensação alveolar difusas. Foi realizada ultrassonografia renal que evidenciou rins aumentados de tamanho,
com ecogenicidade normal. Qual a hipótese diagnóstica?
A) Dengue.
B) Hantavirose.
C) Leptospirose.
D) Febre macular
Questão 23
Um homem de 42 anos de idade, morador de rua, usuário de crack e de drogas ilícitas injetáveis, comparece à
Unidade de Saúde da Família apresentando quadro de tosse produtiva e febre ao final do dia, há 2 meses. Relata despertar
na madrugada por sudorese, inapetência e perda ponderal de 20 kg no período. Ao exame físico, apresentava-se conscien-
te, orientado, hipocorado (+/4+), anictérico, desidratado, febril (temperatura axilar = 37,8°C), com frequência cardíaca =
120 bpm e pressão arterial = 120 x 60 mmHg. Aparelho respiratório com tiragem intercostal bilateral e diminuição global
do murmúrio vesicular. Aparelho cardiovascular: ritmo cardíaco regular em 2
tempos e bulhas hiperfonéticas. Abdome indolor à palpação superficial e
levemente doloroso à palpação profunda sobre a loja hepática, hepatimetria a
2 cm do rebordo costal direito, de consistência lisa e borda romba. Baço
palpável a 1,5 cm do rebordo costal esquerdo. Resultados de exames: teste
rápido para HIV positivo; hemograma completo - hemoglobina = 8,0 g/dL
(normal de 12 a 15 g/dL), hemotócrito = 24% (normal = 35 a 45%) e leucope-
nia = 800 leucócitos/mm 3 (normal entre 4.000 e 11.000/mm 3 ); pesquisa de
BAAR negativa em 3 amostras de escarro. Foi realizada tomografia computa-
dorizada de tórax, reproduzida na figura a seguir.
A partir do quadro clínico, laboratorial e da imagem apresentada, qual seria uma conduta terapêutica adequada?
A) 0 Iniciar o tratamento com antirretroviral (lamivudina + efavirenz + tenofovir) e, após 2 semanas, RIPE (rifampicina +
isoniazida + pirazinamida + etambutol) por 6 meses.
B) Inciar o tratamento com antirretroviral (lamivudina + zidovudina + efavirenz), simultaneamente com o esquema antituber-
culose estruturado, com rifabutina, por 6 meses.
C) Iniciar tratamento com RIPE (rifampicina + isoniazida + pirazinamida + etambutol) com duração de 6 meses e, após 4
semanas, introduzir tratamento com antirretrovirais (lamivudina + tenofovir + efavirenz).
D) Iniciar o tratamento com RIPE (rifampicina + isoniazida + pirazinamida + etambutol) recomendado por 6 meses e, após
1 semana, introduzir o tratamento antirretroviral ( lamivudina + zidovudina + lopinavir com ritonavir).
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Questão 24
Em uma Unidade de Saúde da Família, um adolescente de 16 anos de idade procura atendimento. Ele conta que
há 3 dias está com febre de 37,9 °C e dores no corpo, especialmente na região abdominal. Hoje ficou assustado, pois teve
importante sangramento gengival. O exame físico no momento está normal. O teste do laço é negativo.
Qual deveria ser a conduta adotada em relação a esse paciente?
A) Orientar repouso domiciliar e hidratação oral, pois ainda não existe sinal de alarme.
B) Solicitar hemograma, pois o quadro de leucocitose indicará a gravidade da doença na fase aguda.
C) Solicitar internação hospitalar, pois a fragilidade capilar associada à dor abdominal indica gravidade da doença.
D) Solicitar sorologia para dengue e aguardar o resultado para instituir o tratamento, orientando repouso e hidratação oral
em casa.
Questão 25
Uma mulher de 45 anos de idade, portadora do vírus da hepatite C, genótipo 1b, compareceu à consulta para
mostrar resultados de exames e definir continuidade de tratamento. Ela apresenta quadro de cirrose compensada (escore
de Child-Pugh = 6 pontos) e critérios de fibrose hepática extensa, sem tratamento específico prévio. Na avaliação pré-trata-
mento, ela apresentava carga viral de 2 milhões de cópias/mL. Foi prescrita terapia tripla para o vírus C (interferon peguila-
do, ribavirina e telaprevir). A paciente está em uso da medicação há 12 semanas e a carga viral na semana 12 foi de 500
cópias/mL. A paciente não apresenta outras infecções.
Com base nas Diretrizes Terapêuticas para Hepatite C do Ministério da Saúde de 2013, conclui-se que não houve
resposta ao telaprevir. Em vista disso, qual é o esquema terapêutico recomendado para essa paciente?
Questão 26
Uma mulher de 50 anos de idade, branca, empregada doméstica, procura atendimento ambulatorial por apresentar
artralgias de mãos, punhos, ombros e tornozelos há cerca de 4 meses. O quadro articular é aditivo, mesmo em uso de diclo-
fenaco de sódio (150 mg/dia). Ela se queixa de limitação do movimento por dor no período da manhã, com duração de
aproximadamente 1 hora. Ao exame encontra-se em bom estado geral, afebril, com sinais de artrite nas articulações interfa-
langeanas proximais e metacarpofalangeanas de 2° e 3° dedos das mãos, mas sem desvios. Ao exame da pele, observam-
se “nódulos” subcutâneos nas superfícies extensoras e regiões periarticulares.
Considerando o quadro descrito, quais são, respectivamente, o diagnóstico e o medicamento a ser indicado nesse momen-
to?
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Questão 27
Menina, com seis anos de idade, foi levada pela mãe à consulta em Unidade Básica de Sáude por apresentar, há
uma semana, intensa adinamia, quadro febril intermitente (temperatura = 38o C) e dor articular, localizada inicialmente no
joelho esquerdo, acompanhada de calor e rubor discreto e que, há dois dias, acomete o tornozelo direito. A mãe informa
que, há cerca de seis semanas, a criança apresentou quadro de infecção de vias aéreas superiores (faringite), que regrediu
com o uso de amoxicilina durante cinco dias. Ao exame físico a criança encontrava-se afebril, eupneica, hidratada, com
intensa adinamia, hipocorada (+/4), Frequência cardíaca=125 bpm, Pressão arterial= 100 x 60 mmHg. A ausculta cardíaca
e a ausculta pulmonar foram normais. Foi observada hiperemia, calor e dor no tornozelo direito, com limitação de movimen-
tos e a presença de áreas eritematosas com centros esbranquiçados no tronco e na região proximal de membros superio-
res e inferiores. Os exames laboratoriais revelaram:
hemoglobina=10 g/dL,
hematócrito=34%,
leucócitos=14000/mm3,
velocidade de hemossedimentação = 26mm/h,
proteína C reativa= 2,0 ng/ml (valor de referência= <0,1 ng/mL);
glicose, ureia e creatinina normais.
O eletrocardiograma mostra um prolongamento do intervalo P-R (0,20 s).
Com base no quadro clínico descrito e nos exames complementares realizados, qual o provável diagnóstico dessa criança?
Questão 28
Mulher, com 20 anos de idade, branca, é recebida no pronto-socorro com queixa de edema há uma semana. Inicial-
mente, o edema era nos membros inferiores, porém, agora, nota a face edemaciada. Relata, ainda, diminuição do volume
urinário, astenia, hiporexia, mal-estar e febre baixa. Quanto aos antecedentes patológicos, artralgia de interfalangeanas
proximais há cerca de oito meses. Na ocasião, fez uso de prednisona com desaparecimento do quadro. Não usa nenhuma
medicação no momento. O exame clínico demonstra estado geral regular, hipocorada (++/4), edema de membros inferio-
res (++/4) e de face. Ausculta pulmonar com murmúrio vesicular presente e simétrico, sem ruídos adventícios. Ausculta
cardíaca com ritmo cardíaco regular, em 2 tempos, sem sopros, Pressão arterial = 160 x 110 mmHg, Frequência cardíaca
= 120 bpm. Abdome flácido, sem visceromegalias. Exames no pronto-socorro:
A) Endocardite infecciosa.
B) Dengue.
C) Pielonefrite.
D) Insufi ciência renal crônica.
E) Lupus Eritematoso Sistêmico.
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Questão 29
Uma mulher branca de 22 anos vem à consulta ambulatorial com queixa de inchaço há uma semana, inicialmente
nos pés, com piora progressiva. Atualmente, percebe até o rosto inchado. Há cerca de um mês refere astenia, náuseas, falta
de apetite e malestar, bem como dores nos punhos e articulações interfalangeanas proximais. Ao exame, encontra-se em
regular estado geral, hipocorada (++/4+), hidratada, temperatura axilar = 37,7ºC. Murmúrio vesicular presente e simétrico,
sem ruídos adventícios; ritmo cardíaco regular em 2 tempos, sem sopros, PA = 160 x 110 mmHg, FC = 120 bpm. Abdome
flácido, sem visceromegalias. Edema de MMII ++/4+. Trouxe exame de sangue realizado no pronto socorro há três dias, de
acordo com o quadro a seguir
A) sumário de urina, avaliação de função renal e pesquisa de autoanticorpos específicos (anti-Sm e anti-DNA nativo). Iniciar
enalapril 10 mg/dia para controle da pressão arterial.
B) avaliação do oftalmologista para investigação de uveíte, sumário de urina, proteína C reativa e VHS. Iniciar dieta hipossó-
dica, com acompanhamento semanal da artrite.
C) ecocardiograma bidimensional, radiografia de tórax e avaliação de função renal. Iniciar dieta e exercício físico, com retor-
no em um mês para reavaliar a pressão arterial.
D) radiografia das mãos e punhos e auto-anticorpos como antipeptídeos citrulinados (anti-CCP) e fator reumatóide. Iniciar
anti-inflamatórios não hormonais.
E) radiografia de tórax, cultura de orofaringe e anticorpo antiestreptolisina O. Iniciar anti-inflamatório não esteroide para
controle da febre e artrite.
Questão 30
Uma mulher de 45 anos, com queixas de dores articulares há 5 meses, comparece ao ambulatório para mostrar
resultado de exames. Seu quadro começou com dores em mãos e pés, pela manhã, com melhora durante o dia. Evoluiu há
um mês com um surto de dor em articulações interfalangeanas proximais, punhos, cotovelos e joelhos, com sinais de flogo-
se, que melhorou com o uso de indometacina por 10 dias. Ao exame, apresenta hipocromia de mucosas, edema e sinais
de flogose discretos em mãos, com presença de nódulos justa-articulares e ausência de deformidades. Traz exames
complementares solicitados na consulta anterior: hemograma com Hb = 11,0 g/dL (valor de referência: 13,8 ± 2,5 g/dL),
VHS = 56 mm na primeira hora (valor de referência: ≤20 mm/h), prova do látex para fator reumatoide positiva, e radiografia
das mãos que mostram redução da densidade óssea periarticular em articulações interfalangeanas proximais e punhos. A
paciente, costureira, teme não poder trabalhar mais. Qual a medicação que poderia impedir a progressão da doença?
A) Aspirina.
B) Colchicina.
C) Metotrexate.
D) Indometacina.
E) Metilprednisona.
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QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 31
Homem com 49 anos de idade apresenta, há um ano e meio, quadro recorrente de monoartrite aguda, durando
cada episódio cerca de três a cinco dias. Inicialmente foi acometido o joelho esquerdo, posteriormente o direito, em segui-
da o tornozelo direito e, há três semanas, houve recorrência do quadro no joelho esquerdo. Refere alívio dos sintomas com
o uso de diclofenaco, que toma por conta própria. Notou que o intervalo entre os episódios, que inicialmente era de até seis
meses, é agora mais reduzido, sendo o intervalo entre os dois últimos episódios, de apenas um mês. Apresentase na
consulta após dois dias do início da última crise. O joelho esquerdo tem sinais flogísticos (calor, rubor, aumento de volume),
limitação para flexão, o que causa dificuldade na deambulação. Relatou um episódio febril ontem (37,6 ºC). O paciente é
hipertenso e diabético há dez anos, em uso de hidroclorotiazida 25 mg/dia e glibenclamida 10 mg/dia. Refere tabagismo
(5 cigarros/dia) e etilismo (cerveja, especialmente nos finais de semana). O diagnóstico do paciente e a conduta inicial a
ser adotada são, respectivamente:
Questão 32
Mulher com 35 anos de idade procura a Unidade Básica de Saúde com queixas de vermelhidão na face, que piora
com a exposição solar, e dor em punhos e joelhos bilateralmente. Ao exame apresenta eritema malar, diminuição do murmú-
rio vesicular na base direita, com macicez à percussão neste local, dor à mobilização, edema e rubor em joelhos e punhos.
Sem alterações nos demais aspectos do exame físico. Traz hemograma recente com hematócrito = 35%, hemoglobina =
12 g/dL, leucócitos totais = 3.500/ml, com contagem diferencial normal. Considerando a principal hipótese diagnóstica
para o quadro da paciente, o autoanticorpo com maior especificidade para a doença é:
A) anti-Ro.
B) anti-RNP.
C) anti-DNA nativo.
D) fator antinuclear.
E) anti-fosfolípide
Questão 33
Uma adolescente, com 15 anos de idade, vem à consulta com queixa de dor precordial, febre intermitente, com um
ou dois picos diários noturnos de 39 ºC, acompanhados de dores musculares generalizadas e manchas avermelhadas na
pele do tronco e raiz de coxa. Relata também dificuldade de se movimentar pela manhã e dores nas articulações dos
joelhos, punhos, mãos, pés e nuca. Ao exame físico, observa-se temperatura = 38,5 ºC, lesões máculo-papulares de cor
rosa-salmão em tronco e áreas proximais de membros, nódulos subcutâneos em região de cotovelo, linfoadenomegalia
simétrica (cervicais, axilares e inguinais), esplenomegalia e artrite nas regiões referidas. Exames laboratoriais trazidos pelo
paciente mostraram os seguintes resultados: hemograma com anemia, leucocitose e trombocitose; elevação de proteína C
reativa, da velocidade de hemossedimentação e dos níveis de enzimas hepáticas (ALT e AST). A hipótese diagnóstica
correta é
A) doença de Kawasaki.
B) artrite idiopática juvenil.
C) artrite reativa pós-estreptocóccica.
D) lupus eritematoso sistêmico juvenil.
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QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 34
Uma adolescente, com 15 anos de idade, vem à consulta com queixa de dor precordial, febre intermitente, com um
ou dois picos diários noturnos de 39 ºC, acompanhados de dores musculares generalizadas e manchas avermelhadas na
pele do tronco e raiz de coxa. Relata também dificuldade de se movimentar pela manhã e dores nas articulações dos
joelhos, punhos, mãos, pés e nuca. Ao exame físico, observa-se temperatura = 38,5 ºC, lesões máculo-papulares de cor
rosa-salmão em tronco e áreas proximais de membros, nódulos subcutâneos em região de cotovelo, linfoadenomegalia
simétrica (cervicais, axilares e inguinais), esplenomegalia e artrite nas regiões referidas. Exames laboratoriais trazidos pelo
paciente mostraram os seguintes resultados: hemograma com anemia, leucocitose e trombocitose; elevação de proteína C
reativa, da velocidade de hemossedimentação e dos níveis de enzimas hepáticas (ALT e AST). A hipótese diagnóstica
correta é
A) doença de Kawasaki.
B) artrite idiopática juvenil.
C) artrite reativa pós-estreptocóccica.
D) lupus eritematoso sistêmico juvenil.
Questão 35
Uma mulher com 34 anos de idade, em atendimento ambulatorial, refere palpitação, fraqueza e sensação de
desmaio, iniciadas há três meses e que vêm se agravando. A paciente não refere emagrecimento ou febre e está em uso
irregular de anticoncepcional oral e de fluoxetina – 40 mg/dia. Ao exame encontra-se descorada, hidratada, sem viscerome-
galias, taquicárdica, com bulhas rítmicas e normofonéticas. O resultado do hemograma revela: hemoglobina: 7,8 g/dL (Valor
de referência = 12 - 16 g/dL ); hematócrito: 25% (Valor de referência= 36% - 46% ); volume corpuscular médio: 70 fl (Valor
de referência= 80 - 100 fl ); RDW diminuído; leucócitos totais: 7.470/mm3 (Valor de referência = 4.500 - 11.000/mm3 ) -
[3% bastões, 55% segmentados, 35% linfócitos, 7% monócitos]; plaquetas: 234.000/mm3 (Valor de referência =
150.000 - 350.000/mm3 ). Sobre as hipóteses diagnósticas e a investigação laboratorial complementar para essa pacien-
te, é correto afirmar que se trata de provável anemia
A) ferropriva e espera-se que a dosagem de ferro sérico, a ferritina e o índice de saturação de transferrina estejam baixos.
B) por perda crônica de sangue, por via menstrual ou gastrointestinal, e espera-se aumento na contagem de reticulócitos.
C) secundária a neoplasia, sendo necessário o rastreamento nos sítios mais comuns para mulher: mama e colo de útero.
D) devido a deficiência ou erro alimentar na ingestão de ferro, não sendo necessária investigação adicional para a paciente.
Questão 36
Mulher com 48 anos de idade, parda, comerciante, procura o posto de saúde por apresentar astenia, palidez e
fadiga fácil ao realizar suas tarefas diárias. Na história da doença atual relata que esteve bem de saúde até há 15 dias,
quando iniciaram estes sinais e sintomas. Nega doenças como diabetes, hipertensão, doenças da tireóide. Nega também
o uso de medicamentos. Ao exame físico apresenta palidez, icterícia (2+/4+), esplenomegalia de 4 cm do rebordo costal
esquerdo e hepatomegalia de 2 cm do rebordo costal direito. Exames laboratoriais realizados mostram hemoglobina = 4,2
g/ dL; hematócrito = 13 %; VCM = 110 fL (VR = 80 – 100 fL); HCM = 32 pg (VR = 26 – 34 pg); leucograma = 10.500 /
mm3 com diferencial normal; plaquetas = 240.000 / mm3; reticulócitos aumentados; bilirrubina total = 4,0 mg/dL (VR=0,3
-1,2 mg/dL) com fração direta de 0,8 mg/dl (VR = 0 - 0,2 mg/dL). Qual o diagnóstico mais provável para a anemia da
paciente?
QUALITY 227
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Questão 37
Mulher com 50 anos de idade procura Ambulatório de Clínica Médica com queixa de fadiga e dispneia aos esfor-
ços. Informa ser portadora de refluxo gastroesofágico, em uso frequente de cimetidina para alívio sintomático. Tem endos-
copia digestiva normal. Não tem outras queixas. Ao exame físico apresenta palidez cutâneo-mucosa e não há outros acha-
dos relevantes. Hemograma mostra: Ht = 22%; Hb = 7,1 g/dL; VCM = 102fL; CHCM = 33%; Leucócitos = 2.500/mm3
(neutrófilos = 1.200, linfócitos = 800, monócitos = 500); Plaquetas = 95.000/mm3 ; Reticulócitos ausentes. Com base
nestes achados, qual o diagnóstico mais provável?
A) Anemia perniciosa.
B) Anemia aplásica.
C) Anemia hemolítica.
D) Anemia de doença crônica.
E) Anemia por deficiência de folato.
Questão 38
Um homem com 30 anos de idade apresenta linfadenomegalia da cadeia cervical posterior e subclavicular. Refere
episódios de febre, sudorese – principalmente no período noturno – e perda de peso. Nega outras queixas. O exame físico
geral e o específico não mostraram outras alterações. O resultado da punção biópsia aspirativa de um linfonodo cervical foi
compatível com Linfoma de Hodgkin. Foi realizada tomografia computadorizada de tórax e abdome que não mostrou
massas ou envolvimento de outras cadeias de linfonodos, além das citadas acima. Qual a opção terapêutica mais adequa-
da para o paciente?
A) Radioterapia.
B) Cirurgia e radioterapia.
C) Cirurgia e quimioterapia.
D) Quimioterapia e radioterapia
Questão 39
Um homem de 26 anos de idade, previamente saudável, procurou assistência médica com queixa de “tumor” no
pescoço, com aumento progressivo há 3 meses, acompanhado de perda de peso e sudorese noturna. O exame físico
apresentava múltiplos nódulos pequenos em cadeias cervical posterior e subclávia, de consistência endurecida, aderidos
aos planos profundos e à pele. Foi realizada biópsia da lesão, cuja análise histopatológica evidenciou: material de biópsia
de linfonodo apresentando células típicas de Reed-Sternberg circundadas por bandas de material esclerótico.
O diagnóstico mais possível e o tratamento inicial correto para esse paciente são, respectivamente,
A) linfossarcoma e radioterapia.
B) linfoma de Hodgkin e quimioterapia.
C) linfoma de Burkitt e remoção cirúrgica.
D) linfangioma e esclerose com bleomicina
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QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 40
Paciente do sexo feminino, com 34 anos de idade, sem antecedentes patológicos pregressos significativos, procu-
rou a Unidade Básica de Saúde com história de pirose e regurgitação há mais ou menos seis meses, e piora do quadro no
último mês. Relata ganho ponderal de 10 kg nos últimos três meses (Índice de massa corpóreo atual = 36,8 kg/m2 ). Faz
uso irregular de antiácido por conta própria. Trazia consigo um resultado de endoscopia digestiva alta com o seguinte
laudo: “erosões lineares de até 5 mm, não confluentes, localizadas em esôfago distal”. Baseado no diagnóstico acima, você
prescreve um inibidor de bomba de prótons durante oito semanas e orienta a paciente a
Questão 41
Homem, com 45 anos de idade, com dor epigástrica diária, ocorrendo no período pós-prandial e à noite, e perda
ponderal de 4 kg, começou uso de inibidor de bomba de próton (IBP) com alguma melhora. Informa que não usa álcool ou
antinflamatórios não hormonais. Ainda na vigência da medicação realizou endoscopia digestiva alta que revelou gastrite
nodosa de antro e corpo, e úlcera duodenal em fase de cicatrização. Biópsias de mucosa gástrica foram realizadas durante
o procedimento, e submetidas ao teste rápido de urease em fase líquida, cujo resultado foi negativo. Quanto ao tratamento
para Helicobacter pylori nesse paciente, conclui-se que
Questão 42
Um homem de 39 anos de idade vem, há três anos, em tratamento ambulatorial para doença do refluxo gastroeso-
fágico (DRGE), em uso contínuo de inibidores de bomba de prótons (IBP). Sempre que tenta fazer desmame dos IBP, volta
a apresentar graves sintomas da DRGE. Esofagogastroduodenoscopia com biópsia realizada há dois anos evidenciou
esofagite, pequena hérnia de hiato (< 3 cm) e estômago normal. O paciente interrompeu o uso de IBP há quatro meses e,
devido ao quadro de pirose e dor retroesternal, foi submetido a nova endoscopia digestiva, que revelou processo inflamató-
rio grave e úlceras no terço distal do esôfago. O estômago apresenta-se normal e o teste da urease é positivo. Não foi
visualizada hérnia hiatal. Devido ao intenso processo inflamatório, não foi realizada biópsia. O paciente, que não apresenta
outras queixas ou co-morbidades, é etilista social, tabagista (média de 1,5 maços/dia há 22 anos) e apresenta obesidade
leve. Não há outras alterações ao exame físico. O que deve ser feito para encaminhar corretamente o caso acima descrito?
A) Reiniciar o tratamento com IBP, utilizando o dobro da dose. Após seis semanas de tratamento, repetir endoscopia com
biópsia.
B) Manter o tratamento com IBP na dose habitual e encaminhar, de imediato, o paciente para ambulatório especializado de
Cirurgia Laparoscópica.
C) Solicitar imediatamente nova endoscopia, já que a biópsia é indispensável, e encaminhar o paciente para ambulatório
especializado de Cirurgia Laparoscópica.
D) Reiniciar o tratamento com IBP, utilizando o dobro da dose, associado ao tratamento do H.Pylori. Em seguida, tratamen-
to de manutenção com IBP por tempo indefinido.
E) Reiniciar tratamento com IBP, utilizando o dobro da dose por seis semanas. Após esse período, tratamento de manuten-
ção com IBP por tempo indefinido.
QUALITY 229
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Questão 43
Um paciente de 51 anos de idade, do sexo masculino, procura ambulatório de atenção secundária com queixa de
pirose intermitente, frequentemente deflagrada por ingestão de alimentos gordurosos e álcool, por prática de exercícios
físicos e por deitar-se após alimentação. Relata ainda eventuais episódios de regurgitação. Nega vômitos, náuseas, disfagia
ou odinofagia. Não faz uso de medicamentos em sua rotina diária. Além de sobrepeso, nada foi encontrado de anormal no
exame físico. A abordagem mais custo-efetiva e benéfica para esse paciente é
Questão 44
Um homem de 40 anos de idade apresentou úlcera duodenal com biópsia positiva para Helicobacter Pylori. Fez
tratamento durante 7 dias com omeprazol, amoxicilina e claritromicina, em doses padrão. Endoscopia de controle repetida
após oito semanas de tratamento revela persistência de H. Pylori na biópsia. Qual a conduta mais adequada para o
tratamento desse paciente?
Questão 45
Homem com 35 anos de idade, obeso, com hérnia de hiato, é acompanhado clinicamente há cerca de dez anos.
Sua última endoscopia de controle mostrou esofagite com esôfago de Barret em uma extensão de cerca de 5 cm. Foram
colhidas biópsias cujo resultado foi metaplasia de Barret. A conduta inicial para o seguimento deste paciente é:
Questão 46
Homem com 50 anos de idade foi atendido no ambulatório de Clínica Médica por apresentar dor epigástrica em
queimação pós-prandial, de moderada intensidade. Informa que, ocasionalmente, acorda durante a noite por causa da dor.
O exame físico é sem alterações. O paciente foi submetido a endoscopia digestiva alta que revelou pequena ulceração em
bulbo duodenal, de aspecto endoscópico benigno e teste da urease positivo. A conduta terapêutica indicada para o
paciente é prescrever:
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QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 47
Um paciente com 52 anos de idade, atendido no Ambulatório com queixa de dor epigástrica há quatro meses,
retorna ao Ambulatório com o resultado de endoscopia digestiva alta, que evidenciou úlcera duodenal com pesquisa positi-
va para a presença do H. Pylori. Além do inibidor da bomba de prótons duas vezes ao dia, o tratamento medicamentoso
recomendado para o paciente é
Questão 48
Um paciente com 25 anos de idade é encaminhado pela Unidade de Saúde da Família do seu bairro para avaliação
no Ambulatório de Clínica Médica por apresentar quadro de diarreia não acompanhada de cólicas há 5 meses, com três a
quatro evacuações ao dia, em grande quantidade, sem presença de muco ou sangue. O paciente refere perda de 15 kg
nesse período, sem que tenha modificado a sua dieta ou apresentado mudança de apetite. O paciente trouxe à consulta
cinco exames protoparasitológicos das fezes realizados nesse período, sendo que o primeiro demonstrou a presença de
tricocéfalos, o que motivou tratamento, por duas vezes, com albendazol durante 3 dias, sem melhora do quadro. O paciente
apresentou igualmente hemogramas que demonstravam anemia hipocrômica, microcítica, com anisocitose, sem alteração
nas séries branca ou megacariocítica. A investigação complementar indicada e o diagnóstico são
A) realizar pesquisa (dosagem) de gordura fecal e, se anormal, considerar a realização de biópsia de intestino delgado pela
possibilidade de doença celíaca.
B) realizar tomografia computadorizada de abdome para avaliar a ocorrência de calcificações pancreáticas e determinar o
diagnóstico de pancreatite crônica.
C) realizar colonoscopia com biópsias de intestino devido à possibilidade de doença inflamatória intestinal, como a retocoli-
te ulcerativa.
D) realizar dosagens de hormônio estimulador da tireoide ( TSH ) e de T4 livre para avaliar a possibilidade de hipertireoidis-
mo.
Questão 49
Uma mulher de 25 anos de idade procurou o ambulatório com queixa de febre e diarreia há mais de um mês, com
cerca de seis evacuações por dia, seguidas por sangramento, dor abdominal e perda de peso de aproximadamente 10
quilos. Ao exame físico, apresentava-se emagrecida, com pele e mucosas descoradas ++/4+ e temperatura = 38,5°C. Foi
observada a presença de fissuras perianais. Exames laboratoriais mostraram Hb = 8,2 g/dL (valor de referência = 11,3 a
16,3 g/dL), volume corpuscular médio = 70 fL (valor de referência = 79 a 93,3 fL), leucócitos = 15 000/mm³ (valor de
referência = 3 800 a 10 600/mm3 ), plaquetas = 520 000/mm3 (valor de referência = 165 000 a 415 000/mm3 ), veloci-
dade de hemossedimentação = 70 mm/h (valor de referência: < 20 mm/h). Imediatamente, o médico decidiu encaminhar a
paciente para um serviço especializado devido à suspeita diagnóstica de doença inflamatória intestinal grave. Os critérios
de inclusão nessa categoria de gravidade devem considerar
QUALITY 231
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Questão 50
Homem, com 26 anos de idade, foi internado há dois dias com o diagnóstico de doença inflamatória intestinal na
forma fulminante com megacólon tóxico. Há cerca de uma hora apresentou piora súbita da dor abdominal, vômitos e
desconforto respiratório. O exame físico revela paciente taquicárdico, taquidispneico e com abdome muito doloroso difusa-
mente. A complicação é frequente e o principal recurso diagnóstico para demonstrá-la são
Questão 51
Um paciente com 35 anos de idade, controlador de voo, retorna à consulta na Unidade Básica de Saúde apresen-
tando resultados negativos de exame protoparasitológico de fezes e de teste de tolerância à lactose. Relata que desde a
adolescência tem episódios de evacuações explosivas com fezes amolecidas. Atualmente, queixa-se de alteração de hábito
intestinal há seis meses, quando passou a apresentar desconforto abdominal em andar inferior do abdome, que dura em
média dois a três dias por semana, alternando quadros de obstipação com diarreia e urgência fecal, com a presença de
muco de cor clara, quase transparente. O quadro de desconforto abdominal piora em situação de estresse e melhora
quando evacua ou elimina flatos. Em relação ao quadro clínico apresentado, qual das alternativas abaixo representa critério
para o diagnóstico?
Questão 52
Num mesmo turno de trabalho na Unidade Básica de Saúde, o médico atende dois pacientes com quadro de
diarreia aguda após terem consumido um prato à base de mariscos no mesmo restaurante. O quadro clínico de ambos foi
de cólicas abdominais, febre e episódios de diarreia com muco e sangue, que se iniciou cerca de 24 horas após o consumo
de alimentos. A partir da descrição acima, qual o diagnóstico que deve ser notificado à Vigilância Sanitária municipal?
A) Botulismo.
B) Shiguelose.
C) Colibacilose.
D) Giardíase.
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Questão 53
Trinta e cinco indivíduos, adolescentes e adultos, alimentam-se em um restaurante com buffet de comida “por
quilo”. Cerca de quatro horas depois, sete integrantes do grupo apresentam diarreia com várias evacuações aquosas, sem
febre, acompanhadas de cólicas abdominais e vômitos. Ao serem avaliados apresentam-se apiréticos, desidratados, alguns
deles necessitando de hidratação venosa. Dois dias depois, três outros membros do grupo, que também haviam comido
no mesmo buffet, apresentam quadro de diarreia, eliminação de fezes com muco, pus e sangue, acompanhado de febre e
mal estar. Na avaliação clínica apresentam-se desidratados, febris e toxemiados. Quais são os agentes etiológicos que
melhor explicam a epidemiologia e as características clínicas dos quadros diarreicos descritos?
Questão 54
Mulher com 22 anos de idade vem à consulta ambulatorial com diarreia há seis meses. Apresenta cerca de seis
evacuações ao dia, com fezes pastosas volumosas, de odor fétido, amareladas e espumosas, sem muco ou sangue. Nega
tenesmo ou febre. Piora com a ingestão de leite. Tem cólicas eventuais e distensão abdominal gasosa. Teve perda ponderal
de 5 kg desde o início do quadro. É solteira, sem atividade sexual. Nega uso de drogas ou álcool. Nega cirurgias prévias.
Ao exame físico apresenta-se com índice de massa corpórea de 22 kg/m2 . Mucosas hipocrômicas. Evidente perda de
massa muscular. Abdome discretamente distendido por gases, sem ascite, visceromegalias ou tumorações. Presença de
lesões de pele, de aspecto herpetiforme, em tronco. No relatório, para justificar o encaminhamento da paciente para o espe-
cialista, deverá ser especificada a necessidade de que a paciente seja submetida a:
Questão 55
MUm paciente com 55 anos de idade vem à Unidade Básica de Saúde com queixa de alteração do hábito intesti-
nal. Notou afilamento das fezes há cerca de quatro meses. Refere que vem emagrecendo há cerca de seis meses. É
tabagista (carga tabágica de 30 maços/ano) e hipertenso leve. Nega etilismo, diabetes ou outras doenças associadas.
Relata cirurgia para retirada da vesícula biliar há cerca de 20 anos. Ao exame físico apresenta-se corado, hidratado, eupnei-
co, acianótico e anictérico. Auscultas cardíaca e pulmonar sem alterações. Abdome sem alterações, exceto pela cicatriz
subcostal de cirurgia prévia. Exame proctológico sem alterações. Qual a conduta correta a ser seguida?
A) Receitar acréscimo de fibras na dieta e líquidos (2.500 mL/dia) e retorno após um mês para verificar se o quadro está
normalizado.
B) Receitar acréscimo de fibras na dieta e líquidos (2.500 mL/dia) e solicitar um ultrassom, uma vez que o exame proctoló-
gico foi negativo.
C) O tratamento não é dietético; solicitar diretamente uma colonoscopia, pois o paciente apresenta suspeita diagnóstica
que justifica a realização do exame.
D) O tratamento não é dietético; solicitar uma tomografia por ser exame menos invasivo que a colonoscopia e pelo afilamen-
to das fezes, que pode ser indicativo de estenose.
QUALITY 233
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Questão 56
Homem com 65 anos de idade procura a Unidade de Pronto Atendimento porque está há cinco dias sem evacuar,
com dor abdominal contínua, no hemiabdome esquerdo, de baixa intensidade, sem outras queixas. Nega operações
prévias, não faz uso de nenhuma medicação e refere peso estável. Quando questionado sobre a dieta, informa que somente
come arroz, feijão e bife, tanto no almoço como no jantar. Hábito intestinal a cada três dias, com fezes endurecidas. O
paciente informa que há cerca de dois meses fez exame de fezes com pesquisa de sangue oculto negativa. Ao exame:
frequência cardíaca = 68 bpm, pressão arterial = 120x80 mmHg, corado, hidratado, anictérico, com dor discreta à palpa-
ção da fossa ilíaca e flanco esquerdo, onde se palpa massa imprecisa, móvel. Radiografia de abdome em decúbito e ortos-
tatismo evidencia grande quantidade de fezes no trajeto de todo o cólon. Para este paciente, a melhor conduta é:
Questão 57
Mulher com 28 anos de idade foi internada por apresentar quadro de confusão mental progressiva e rebaixamento
do nível de consciência. Os familiares informam que ela apresenta perda progressiva de peso (de aproximadamente 10 kg),
além de episódios febris (até 38,5 ºC) nos últimos três meses. Negam a ocorrência de tosse ou diarreia; relatam o uso de
drogas endovenosas há pelo menos cinco anos, além do consumo excessivo de álcool e cigarros. Há uma semana iniciou
quadro de confusão mental e há dois dias evolui com rebaixamento do nível de consciência, apresentando-se torporosa no
momento da internação. Foi iniciada, empiricamente, ceftriaxona. Os exames iniciais demonstraram leucócitos =
3.600/mm3, com 70% de neutrófilos, 20% de linfócitos e 10% de eosinófilos; anemia hipocrômica, microcítica, com aniso-
citose; plaquetas normais; VHS = 102 mm na primeira hora; ureia, creatinina, TGO/AST, TGP/ALT e eletrólitos normais; a
tomografia computadorizada de crânio foi normal. Após a realização dos exames e 48h de antibioticoterapia, a paciente
apresentava-se sem melhora do quadro clínico. Foi então realizada uma punção lombar diagnóstica evidenciando: 220
leucócitos/mm3, com 70% de linfócitos, níveis elevados de proteína e baixos níveis de glicose. O diagnóstico da paciente
é:
A) meningite viral.
B) encefalite viral.
C) meningite tuberculosa.
D) meningite estafilocócica.
E) meningite por bacilo gram-negativo
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Questão 58
Um homem com 68 anos de idade é admitido em um Serviço de Emergência com febre alta, calafrios, cefaleia
intensa, náuseas e vômitos, iniciados há 48 horas. A acompanhante do paciente informou que ele apresentou quadro de
prostração e dor de garganta há cinco dias, porém não procurou atendimento médico. Ao exame físico, apresentava-se em
regular estado geral, letárgico e com raras lesões petequiais em tornozelos. O exame neurológico revelou sinais de irritação
meníngea - rigidez de nuca, sinais de Kernig e Brudzinski. Foram solicitados exames complementares: 1) sangue - hemoglo-
bina = 12,3 g/dL (Valor de referência = 13,5 - 17,5 g/dL); leucócitos = 17.500/mm3(Valor de referência = 4.500 -
11.000/mm3 ), às custas de neutrofilia, com desvio à esquerda; plaquetas = 127.000/mm3 (Valor de referência = 150.000-
-350.000/mm3 ); velocidade de hemossedimentação = 76 mm/h (Valor de referência = 0-17 mm/h); 2) liquor − turvo, de
aspecto purulento, com aumento do número de leucócitos e predomínio de neutrófilos polimorfonucleares; glicose e clore-
tos diminuídos, proteínas aumentadas; pesquisa direta para fungos negativa, bacterioscopia evidenciando a presença de
diplococos Gram-negativos e cultura em andamento. Com base no quadro apresentado, qual o antibiótico de primeira
escolha a ser administrado?
A) Ampicilina.
B) Cloranfenicol.
C) Ceftriaxona.
D) Penicilina cristalina.
Questão 59
Um homem de 32 anos de idade, saudável, procura o Pronto Socorro com queixa de febre, cefaleia e vômitos há
três dias. Trabalha como feirante e refere casos de febre na família. Fez uso de um comprimido de amoxicilina. O exame
físico revela: estado geral regular, desidratado (+/4+), corado, febril, deambulando sozinho, consciente, orientado e com
discreta rigidez de nuca. Não há outras alterações ao exame. Diante do quadro, foi realizada punção lombar com retirada
de 2 mL de líquido cefalorraquidiano (LCR) discretamente turvo. O exame laboratorial do LCR revelou: 203 células com
90% de células linfomononucleares (VR = 0 - 5 células/mm3 ), proteína = 60 mg/dL (VR = 8 - 32 mg/dL) e glicose = 50
mg/dL (VR = 40 - 70 mg/dL) (glicemia: 75 mg/dL); coloração ao Gram, Zielh-Nielsen e coloração para fungos negativas.
Considerando os dados apresentados, qual o diagnóstico mais provável nesse caso?
Questão 60
Um adolescente do sexo masculino de 12 anos de idade é levado à Emergência para avaliação clínica. Apresenta
quadro de febre, cefaleia e vômitos com 12h de evolução. A mãe nega antecedentes patológicos relevantes. Exame físico:
bom estado geral, com fotofobia, hipocorado 1+/4+, desidratado 1+/4+, anictérico e acianótico. Aparelho respiratório,
ausculta cardíaca e exame abdominal sem anormalidades. Não apresenta sinais focais e as pupilas são isocóricas e fotorre-
ativas. Apresenta sinal de Brudzinski positivo. Exame do líquor evidencia glicose = 40 mg/dL (VR = 40 - 70 mg/dL); 1.000
células/mm3 , 80% de neutrófilos (VR = 0 - 5 células/mm3); proteínas = 150 mg/dL (VR = 8 - 32 mg/dL).
Tendo em vista o quadro acima descrito, o diagnóstico mais provável e o respectivo tratamento são
QUALITY 235
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QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 61
Um menino, com 8 anos de idade, é atendido na Unidade Básica de Saúde (UBS) do seu bairro com quadro
suspeito de meningite. O paciente é transferido para uma Unidade Hospitalar, onde é confirmado o diagnóstico de meningi-
te meningocócica 24 horas após o início dos sintomas. O serviço de Vigilância Epidemiológica do município entra em
contato com a UBS da área de abrangência onde reside o menino e solicita adoção de medidas para prevenção de casos
secundários da doença, não sendo identificado nenhum outro caso suspeito de meningite até 36 horas após o início dos
sintomas. O menino atendido mora com a mãe e uma irmã de 3 anos de idade e estuda em uma escola municipal localizada
na área de abrangência da UBS.
Considerando as medidas de prevenção e controle de casos secundários de doença meningocócica, a equipe da UBS
deverá providenciar
A) quimioprofilaxia com ceftriaxona para mãe, irmã e todas as crianças que estudam na mesma sala do paciente.
B) quimioprofilaxia com rifampicina para mãe, irmã e para os profissionais de saúde da UBS que realizaram o atendimento
inicial da criança.
C) quimioprofilaxia com ceftriaxona para mãe e irmã, e vacina conjugada contra o meningococo tipo C para todas as crian-
ças que estudam na mesma sala do paciente.
D) quimioprofilaxia com rifampicina para mãe e irmã, e vacina conjugada contra o meningococo tipo C para todas as crian-
ças que estudam na mesma sala do paciente.
Questão 62
Lactente com 8 meses de idade, previamente hígido, foi admitido no Pronto-Socorro com história de febre não
aferida, recusa alimentar, irritabilidade e vômitos há dois dias. A mãe informou que a criança não foi vacinada adequadamen-
te. Ao exame físico foi observado choro intenso e fontanela abaulada, sem outros sinais. Foi realizada punção lombar que
mostrou líquor (LCR) com aspecto turvo, citometria de 2.300 células/mm3, com 86% de neutrófilos, glicorraquia = 8 mg%
(abaixo de 2/3 da glicemia sanguínea), dosagem de proteína no líquor = 123 mg%. A bacterioscopia revelou a presença
de bacilo gram-negativo.
Considerando o quadro clínico, a faixa etária e os achados no LCR, o agente etiológico provável é:
A) Escherichia coli.
B) Neisseria meningitidis.
C) Haemophilus influenzae.
D) Streptococcus pneumoniae.
E) Mycobacterium tuberculosis
Questão 63
Um homem de 65 anos de idade, com diabetes e hipertensão arterial não controladas, é trazido à Emergência de
um hospital terciário com hemiplegia direita e afasia iniciadas há 2 horas. Ao exame, encontra-se sonolento, acorda ao
estímulo verbal, obedece aos comandos. Apresenta afasia de expressão, pupilas isocóricas e fotorreagentes, hemiple-
gia do dimídio direito. Pressão arterial = 190 x 120 mmHg, frequência cardíaca = 100 bpm, saturação de oxigênio de
96% em ar ambiente, auscultas cardíaca e pulmonar normais. A tomografia computadorizada de crânio sem contraste,
realizada na Emergência, foi normal. Qual a melhor conduta a ser realizada na sequência do atendimento?
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QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 64
Mulher com 60 anos de idade, hipertensa, vai à consulta em Unidade Básica de Saúde porque apresentou quadro
de parestesias e hemiparesia no membro superior esquerdo há uma semana, com reversão espontânea completa em 12
horas. Pressão arterial = 180x110 mmHg, ausculta cardíaca com ritmo irregular, em 2 tempos, exame neurológico sem
alterações significativas. Traz tomografia computadorizada de crânio sem contraste, realizada no dia dos sintomas, que é
normal. Realizou eletrocardiograma conforme mostrado abaixo - DII (traz exame semelhante feito há 60 dias).
Qual outro fármaco, além do tratamento anti-hipertensivo, é o mais indicado para essa paciente como medida de maior
impacto na prevenção de novos episódios do quadro neurológico?
A) Warfarina.
B) Clopidogrel.
C) Ticlopidina.
D) Atorvastatina.
E) Ácido acetilsalicílico.
Questão 65
Uma mulher de 32 anos de idade apresentou quadro de cefaleia de forte intensidade, de início abrupto, seguido
de náuseas, vômitos, fotofobia e rigidez de nuca nas últimas 2 horas. Ela foi atendida em um serviço de emergência. Duran-
te a anamnese, negou febre ou uso de drogas ilícitas. Em relação a seus antecedentes pessoais, informou hipertensão
arterial sistêmica controlada com uso de captopril 25 mg, duas vezes ao dia. Ao exame físico, apresentava-se sonolenta,
sem sinais neurológicos de localização. Os sinais vitais indicaram pressão arterial = 100 x 65 mmHg; frequência cardíaca
= 104 bpm; frequência respiratória = 18 irpm. Os exames laboratoriais iniciais mostraram:
O exame fundoscópico revelou a presença de hemorragias pré-retinianas, com papilas ópticas mal definidas.
Considerando esse caso, após avaliação da relação risco-benefício, qual procedimento diagnóstico imediato deve ser
empreendido para investigação etiológica do quadro neurológico?
A) Angiografia cerebral.
B) Ecodoppler transcraniano.
C) Ressonância magnética cerebral.
D) Tomografia computadorizada cerebral.
QUALITY 237
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QUESTÕES -CLÍNICAMÉDICA
QUESTÕES - Clínica Médica
Questão 66
Um homem com 38 anos de idade vem à consulta no ambulatório de Clínica Médica encaminhado da Unidade
Básica de Saúde por apresentar episódios recorrentes de cefaleia. As crises iniciaram-se há dois anos, com cefaleia unila-
teral esquerda, de forte intensidade, acompanhada de lacrimejamento, rinorreia e ptose palpebral do mesmo lado da dor,
durando de 20 a 30 minutos. O paciente relata que as crises ocorrem diariamente por cerca de duas semanas, cessando
completamente e reiniciando, aproximadamente, seis meses depois. Os últimos episódios ocorreram há quatro meses. O
paciente refere uso de analgésicos comuns e naproxeno durante as crises, relatando alívio apenas parcial, e nega a
ocorrência de aura ou presença de fatores desencadeantes. A hipótese diagnóstica e a conduta a ser adotada para esse
paciente são
Questão 67
Uma menina com 10 anos de idade é atendida na Unidade Básica de Saúde, com queixa de dor de cabeça recor-
rente há 6 meses. Refere que a dor é de moderada intensidade, localizada na região frontal, intermitente, com duração
aproximada de 2 horas, de caráter pulsátil e acompanhada de náuseas e fotofobia. Relata ainda que os episódios são
desencadeados por atividade física, jejum prolongado ou privação do sono. O exame físico é normal. Diante desse quadro,
quais são o diagnóstico e o tratamento inicial recomendado?
Questão 68
Uma mulher de 40 anos é atendida em hospital, queixando-se de ter tido cefaleia súbita de forte intensidade, com
náuseas e vômitos, seguida de perda de consciência. Ao exame, mostra-se consciente, orientada, sem déficit motor, com
pupilas isocóricas e rigidez de nuca importante. Nesse caso, o diagnóstico mais provável é:
A) enxaqueca complicada
B) hemorragia subaracnóidea
C) hematoma intraparenquimatoso
D) acidente vascular cerebral isquêmico
Questão 69
Um menino de 5 anos e 11 meses faz seguimento de rotina em Unidade Básica de Saúde desde o nascimento,
sem antecedentes mórbidos relevantes. Em sua última consulta, há 1 ano, sua estatura era de 110cm; na consulta atual,
está medindo 111cm. Há 4 meses, passou a apresentar cefaleia holocraniana diária, de intensidade moderada a forte, e
dificuldade visual. A avaliação oftalmológica revelou hemianopsia bitemporal. A principal hipótese diagnóstica para esse
caso é:
A) cordoma
B) schwannoma
C) craniofaringioma
D) tumor do plexo coroide
238 QUALITY
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GABARITO
Clínica Médica
QUESTÕES -SUS
QUESTÕES - SUS
Questão 01 - D
É uma paciente que está apresentando um quadro de sepse de origem pulmonar. Para diagnós-
tico de sepse: Foco infeccioso + SIRS (FC, FR, PA, T) + Leucócitos, se alterações de 02 ou mais
sinais vitais + disfunção orgânica = SEPSE. Lembrando que o novo conceito para sepse é: Disfunção
orgânica ameaçadora à vida que nesse caso clínico existem essas disfunções. Atualmente protocolo
de sepse: início de ATB até 1h do diagnóstico, coleta de culturas (pelo menos 2) e culturas pertinen-
tes. Hipercalemia é uma das principais causas de parada cardiorrespiratória nesse ritmo AESP. No
ECG: A onda T é apiculada como mostra o traçado acima, bem fácil de identificar.
Questão 02 - D Questão 15 - D
Questão 03 - C Questão 16 - B
Questão 04 - C Questão 17 - B
Questão 05 - D Questão 18 - B
Questão 06 - E Questão 19 - D
Questão 07 - B Questão 20 - A
Questão 08 - A Questão 21 - C
Questão 09 - C Questão 22 - C
Questão 10 - C Questão 23 - C
Questão 11 - C Questão 24 - D
Questão 12 - E Questão 25 - C
Questão 13 - E
Questão 14 - E
Questão 26 - A
A paciente apresenta normalização da função da tireoide de acordo com o laboratório apresen-
tado, o que mostra que o tratamento foi eficaz e não há necessidade de aumentar as doses da medica-
ção. Seu quadro atual é compatível com outra patologia, provavelmente depressão, que deverá ser
investigado para realizar o tratamento
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QUESTÕES -SUS
QUESTÕES - SUS
Questão 27 - C Questão 48 - A
Questão 28 - E Questão 49 - B
Questão 29 - A Questão 50 - A
Questão 30 - C Questão 51 - A
Questão 31 - C Questão 52 - B
Questão 32 - C Questão 53 - A
Questão 33 - B Questão 54 - E
Questão 34 - B Questão 55 - C
Questão 35 - A Questão 56 - B
Questão 36 - B Questão 57 - C
Questão 37 - B Questão 58 - C
Questão 38 - D Questão 59 - A
Questão 39 - B Questão 60 - B
Questão 40 - A Questão 61 - A
Questão 41 - C Questão 62 - C
Questão 42 - A Questão 63 - B
Questão 43 - C Questão 64 - A
Questão 44 - B Questão 65 - D
Questão 45 - D Questão 66 - D
Questão 46 - D Questão 67 - C
Questão 47 - D Questão 68 - B
Questão 69 - C
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