A Elite Municipal Do Funchal 1834-1878
A Elite Municipal Do Funchal 1834-1878
A Elite Municipal Do Funchal 1834-1878
N.º: 1
ANO: 2009
EDIÇÃO:
DEPÓSITO LEGAL:
ISSN: 1647-3949
2009
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Resumo: O presente estudo tem por finalidade definir o perfil sócio-económico da elite política
dos municípios do Funchal, da Ponta do Sol e do Porto Santo, tendo como pressuposto o exercício
do poder municipal, ou seja, o grupo de homens que esteve à frente dos destinos daquelas
câmaras municipais entre 1834 e 1878. Se no Antigo Regime a escolha dos elencos camarários
era feita com base no sangue e no parentesco, recaindo, invariavelmente, sobre o grupo dos
homens que costumam andar na governação, com a implantação definitiva do Liberalismo, em
1834, foi introduzida uma importante alteração: a escolha do elenco municipal passou a ser feita
exclusivamente por eleição, sendo o critério censitário aquele que iria definir a capacidade de um
indivíduo ser eleitor e elegível. Esta profunda mudança teria causado alterações significativas na
composição da elite municipal madeirense. Assim, pretende-se perceber se os novos critérios de
elegibilidade, definidos pelas leis da Monarquia Constitucional, tiveram influência na composição
dos elencos municipais, e analisar os elementos que possibilitam estabelecer uma definição do
perfil social e económico do grupo que exerceu o poder nos municípios do Funchal, da Ponta do
Sol e do Porto Santo, entre 1834 e 1878.
Palavras chave: Madeira; Municípios; Eleições; Elite Municipal.
Abstract: The present essay focuses on the definition of the social and economic profile
of the political élite that ruled some municipal councils in Madeira island (Funchal, Ponta do
Sol and Porto Santo), between 1834 and 1878. Before 1834, the choice of those that would
govern a municipal council was based, invariably, on kinship relation. However, with the Liberal
Revolution’s triumph in 1834, an important change is made: the criterion that defines an individual
as voter and also as eligible is only wealth. Such change would introduced a significant alteration
on the composition of those municipal councils. So, our main purpose is to understand if the new
eligibility criteria, defined by the Constitutional Monarchy’s laws, had influenced the composition
of the municipal institution. We also analyze which elements allow a definition of the social and
economic profile of the group that exercised political power in the municipalities of Funchal, Ponta
do Sol and Porto Santo, between 1834 and 1878.
Keywords: Madeira; Municipalities; Elections; Municipal Elite.
1 Investigadora Auxiliar do Centro de Estudos de História do Atlântico (CEHA), Funchal, Madeira. Desenvolve
investigação no domínio da história da instituição municipal do arquipélago da Madeira. Publicou, dentro desta temática,
os seguintes estudos: “Os Municípios do Funchal e de Machico e as Reformas Pombalinas; Que Consequências na
sua Administração”, in O Município no Mundo Português. Seminário Internacional, Funchal, CEHA, 1998, pp. 303-326;
“Poder Municipal e Poder Central: A Câmara do Funchal e a Cobrança do Finto na Segunda Metade de Setecentos”,
in História dos Municípios: Administração, Eleições e Finanças. II Seminário Internacional – História do Município no
Mundo Português, Funchal, CEHA, 2001, pp. 85-107; O Exercício do Poder Municipal na Madeira e Porto Santo na
Época Pombalina e Post-Pombalina, Funchal, CEHA, 2004; “Os Provimentos dos Corregedores nos Municípios da
Madeira e Porto Santo: 1768-1834”, in História do Municipalismo. Poder Local e Poder Central no Mundo Ibérico. III
Seminário Internacional, Funchal, CEHA, 2006, pp. 137-170. Email: madalena.sousa@madeira-edu.pt
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Introdução
O
presente estudo, inserido no projecto de investigação – Os Municípios do Arquipélago
da Madeira de 1834 a 1878: Política, Administração e Finanças –, pretende apresentar
os resultados da nossa pesquisa em relação ao ponto subordinado à questão do
recrutamento do pessoal político das câmaras2.
O estudo sobre as elites municipais madeirenses do século XIX justifica-se por
ser uma temática praticamente desconhecida, ao contrário daquilo que sucede para Portugal
continental onde, ao longo dos últimos anos, o estudo das elites políticas, onde incluímos as
municipais, tem constituído um dos principais assuntos de investigação e objecto de diversas
sínteses3.
A finalidade do estudo que se apresenta é fazer uma identificação e definir qual era o perfil
sócio-económico da elite política dos municípios do Funchal, da Ponta do Sol e do Porto Santo,
tendo como pressuposto o exercício do poder municipal, ou seja, o nosso enfoque foi sobre
o grupo de homens que esteve à frente dos destinos das câmaras municipais, entre 1834 e
1878. Sabemos que no Antigo Regime, a escolha dos elencos camarários era feita tendo em
consideração os critérios do “sangue” e do “parentesco”, logo, esta recaía, inevitavelmente,
sobre o grupo dos “homens que costumam andar na governança” e que eram filhos e netos
de vereadores. Contudo, com a implantação definitiva do Liberalismo, em 1834, foi introduzida
uma importante alteração: a escolha destes homens passa a ser feita por eleição, e o critério
que definia a capacidade de ser eleitor e elegível era o censitário. Esta profunda mudança teria
introduzido alterações significativas na composição da elite municipal, daí o facto de este estudo
começar no ano de 1834, que assinala a aclamação da restauração do Regime Constitucional na
Madeira e que iniciou uma nova fase no âmbito do funcionamento da administração municipal,
designadamente, na forma de recrutamento das suas elites. A nossa investigação prolongou-se
até ao ano de 1878, por ser o momento de aprovação de um novo Código Administrativo que
trouxe alterações relevantes no domínio da administração municipal, em concreto, o aumento
dos mandatos camarários de dois para quatro anos, a extinção do conselho municipal e uma
modificação dos critérios de elegibilidade4.
A investigação centrada nos municípios do Funchal, da Ponta do Sol e do Porto Santo foi
ditada, única e exclusivamente, pelo problema das fontes. Com efeito, as fontes que se revelaram
fundamentais para a concretização desta investigação foram as seguintes:
• Legislação eleitoral promulgada;
• Códigos Administrativos (1836 e 1842);
• Livros das Actas das Câmaras Municipais ou Vereações;
• Livros do Recenseamento Eleitoral.
2 Gostaria de expressar o meu agradecimento a todos os funcionários da Sala de Leitura do Arquivo Regional da
Madeira pela amabilidade e profissionalismo com que fui atendida no decurso deste trabalho de investigação. Igual
reconhecimento é dirigido à Dr.ª Fátima Barros, Directora do ARM, e à Dr.ª Maria Favila Vieira, responsável pela Sala
de Leitura. No CEHA, agradeço o apoio prestado pelos colegas Dr. Filipe dos Santos e Dr. Nélio Pão.
3 Citemos, a título de exemplo, alguns dos estudos mais conhecidos como o de Maria Antónia Almeida sobre as elites
políticas no concelho de Avis no final do século XIX; de Amílcar Braga sobre o concelho de Cambra; de Carla Faustino
incidindo sobre Arraiolos; de Paulo Jorge Fernandes sobre o município de Lisboa; de Paulo Jorge da Silva Fernandes
sobre Montemor-o-Novo; de João Pereira acerca de Torres Vedras; de Nuno Pousinho sobre o concelho de Castelo
Branco e de Paulo Silveira e Sousa sobre as elites do distrito de Angra do Heroísmo. As referências completas sobre
estas obras estão na bibliografia que consta no final deste estudo.
4 O ano de 1878 como termo duma investigação desta natureza foi adoptado por PEREIRA, 1996, “Elites Locais e
Liberalismo. Torres Vedras”, pp. 127-187 e por POUSINHO, 2004, Castelo Branco. Governo, Poder e Elites [...].
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e de que forma deviam decorrer as eleições municipais. Pelas actas das câmaras municipais
podem-se verificar os registos das tomadas de posse dos presidentes, dos vereadores, assim
como a formação do conselho municipal. Dessa forma, é possível uma reconstituição dos elencos
camarários e do conselho municipal. As listas de nomes obtidas devem ser confrontadas com os
respectivos livros de recenseamento eleitoral. A importância desta fonte revela-se, crucial, pois é
nela que se encontra um conjunto de informações, respectivas a cada indivíduo identificado nos
elencos municipais, a saber: a freguesia de residência, a sua ocupação ou emprego, o seu grau
de instrução, o rendimento auferido e a contribuição paga. Será a análise desta informação que
nos permitirá compreender qual era o perfil da elite municipal madeirense, concretamente, da
cidade do Funchal e das vilas da Ponta do Sol e do Porto Santo, por serem os únicos municípios
que possuem esta fonte com alguma regularidade cronológica, exceptuando o Porto Santo onde
se revelou muito escassa.
Em 1835, o arquipélago da Madeira contava, para além dos três já referidos, com os
municípios da Calheta, de São Vicente, de Santa Cruz, de Machico e com os recém-criados
concelhos de Câmara de Lobos, Santana e Porto do Moniz, instituídos nesse ano. Em relação
aos municípios da Calheta, de Santa Cruz e de Machico, foi possível, através dos seus livros
de vereações, fazer o levantamento da composição dos elencos, quer da câmara, quer do
conselho, mas a ausência do recenseamento eleitoral não nos permitiu fazer o estudo destas
elites políticas. Relativamente a São Vicente, só existem actas das sessões da câmara a partir
do ano de 1868, não havendo livros de recenseamento eleitoral. A composição da sua vereação,
de 1868 em diante, encontra-se na obra de Alberto Vieira relativa ao concelho5. Quanto aos
municípios de Câmara de Lobos, de Santana e de Porto Moniz, o panorama revela-se ainda mais
difícil, pelos seguintes motivos: no espólio que compõe o fundo relativo ao concelho de Câmara
de Lobos não consta a existência de livros de actas de sessões da sua câmara, nem de livros
de recenseamento eleitoral para a época que nos interessa6; o município de Santana viu o seu
arquivo ser destruído num incêndio, do qual só restaram dezanove volumes que se reportam ao
recenseamento militar7; por seu turno, a documentação do arquivo da câmara do Porto do Moniz,
não chegou a ser incorporada no Arquivo Regional da Madeira8, além disso, a sua atribulada
existência, durante o século XIX (foi suspenso três vezes, em 1849, em 1867 e em 1895)9, leva-
nos a não o incluir neste estudo que, pelas características que se reveste, necessita de séries
documentais com alguma abundância e continuidade.
Outra documentação, depositada no Arquivo Regional da Madeira, foi, igualmente, alvo da nossa
atenção. Assim, os fundos do Governo Civil, nomeadamente, a correspondência entre governadores
e o Reino; a Administração do Concelho, onde, naquela relativa ao Funchal, conseguimos encontrar
os testamentos de alguns dos indivíduos identificados; o Registo Geral do Funchal, muito importante,
pelos alvarás e determinações do governador civil; finalmente, alguma imprensa, instrumento de
consulta que uma investigação de história contemporânea não pode prescindir.
Por último, este estudo encontra-se dividido em quatro partes, cuja composição é a seguinte:
• Na primeira, será dada uma breve explicação sobre a conturbada evolução política, na
sequência da Revolução Liberal de 1820 até 1834, ano da aclamação definitiva da Monarquia
Constitucional na Madeira;
• A segunda parte está focada na evolução da organização administrativa a partir de 1834,
altura em que se começa a desenhar um novo quadro político – administrativo;
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• As eleições municipais constituem o terceiro ponto de análise, antecedido por uma breve
abordagem sobre as novas concepções acerca do grau de participação dos cidadãos neste
acto eleitoral. Assim, pretende-se saber quais foram os critérios que o Liberalismo trouxe em
relação às condições de elegibilidade dos indivíduos, como se processava o recenseamento
eleitoral e como decorriam as eleições;
• O quarto ponto dedica-se à análise da elite municipal do Funchal, da Ponta do Sol e do Porto
Santo. Estabelecidos os critérios de elegibilidade, e a formação dos elencos municipais, na
sequência do respectivo processo eleitoral, procederemos a uma análise dos elementos
que nos vão permitir definir o perfil social e económico do grupo que exerceu o poder.
Nas conclusões deste estudo, será estabelecido se, na composição da elite municipal da
Monarquia Constitucional, houve uma continuidade ou, pelo contrário, uma ruptura, em relação
ao Antigo Regime. Este estudo conta ainda com um conjunto de anexos, onde foram incluídos
os elencos da câmara e do conselho municipais do Funchal, da Ponta do Sol, do Porto Santo,
da Calheta, de Santa Cruz e de Machico para o período a que se reporta este estudo; a listagem
dos administradores efectivos destes concelhos; e as tabelas onde consta a informação relativa
aos indicadores sociais e económicos retirados dos recenseamentos eleitorais do Funchal, da
Ponta do Sol e do Porto Santo10.
A 24 de Agosto de 1820 deu-se, cidade do Porto, o movimento militar que, com o apoio de civis
pertencentes aos grupos burgueses locais, ficou conhecido com a designação de Revolução Liberal.
Era o início de um longo e complexo processo de transformação da sociedade e do sistema político
em Portugal11. Formou – se, em Dezembro desse ano, a Junta Provisional do Governo Supremo do
Reino e elegeram-se os deputados para estarem presentes nas Cortes Extraordinárias Constituintes,
convocadas para 24 de Janeiro de 1821, na capital do reino. As Cortes Extraordinárias seriam
responsáveis pela promulgação da Constituição Política da Monarquia Portuguesa, em 23 de Setembro
de 1822. Com ela, deu-se a ruptura total com o sistema político da monarquia absoluta ao declarar
que a soberania residia na Nação e só podia ser exercida pelos seus representantes, legitimamente
eleitos, e ao declarar a existência de três poderes independentes entre si: o poder legislativo que
residia nas Cortes constituídas pelos deputados eleitos pela nação, o poder executivo que residia no
rei e nos seus secretários de Estado, por último, o poder judicial que passava a pertencer, única e
exclusivamente, aos magistrados12.
Na Madeira, a notícia da revolta do Porto chegou um mês depois do sucedido, por via de um
navio inglês que fez escala no porto do Funchal. Por seu turno, a correspondência oficial, que
dava conhecimento da nova situação política do reino, viria em Outubro seguinte13. Contudo, a
10 As principais siglas utilizadas neste texto são as seguintes: AHU – Arquivo Histórico Ultramarino; ARM – Arquivo
Regional da Madeira; ACC – Administração do Concelho da Calheta; ACF – Administração do Concelho do Funchal;
ACPS – Administração do Concelho da Ponta do Sol; ACPSTº – Administração do Concelho do Porto Santo; ACSC
– Administração do Concelho de Santa Cruz; CMC – Câmara Municipal da Calheta; CMF – Câmara Municipal do
Funchal; CMM – Câmara Municipal de Machico; CMPS – Câmara Municipal da Ponta do Sol; CMPSTº – Câmara
Municipal do Porto Santo; CMSC – Câmara Municipal de Santa Cruz.
11 Sobre as causas e repercussões da Revolução Liberal em Portugal, veja-se: PERES, 1935, História de Portugal.
Edição Monumental [...], Volume VII; REIS, 1990, Portugal Contemporâneo [...], Volume I; MEDINA, 1994, História
de Portugal Contemporâneo [...]; MATTOSO, 1998, História de Portugal [...], Volume V; CARNEIRO, MATOS, 2001,
Memória de Portugal [...]; MARQUES, SERRÃO, 2002, Nova História de Portugal [...], Volume IX.
12 CAETANO, 1986, Constituições Portuguesas [...], p. 15. Por ser, na Europa contemporânea, um texto revolucionário
e em ruptura total com o passado monárquico português, a Constituição de 1822 teve uma existência curta e atribulada.
Teve uma primeira vigência de Outubro de 1822 a Junho de 1824 e uma segunda vigência de Setembro de 1836 a
Abril de 1838.
13 BARROS, 2003, Os Deputados Brasileiros [...], pp. 43-70; VIEIRA (coord.), 2001, História da Madeira [...], pp.
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258-70.
14 BARROS, 2003, Os Deputados Brasileiros [...], p. 53. Diz-nos a Autora que nesse manifesto, entregue ao
governador, estava patente um desejo de comunhão com os portugueses do reino porque: “como Portugueses,
primeiro pertencemos à Nação (...). O Governo supremo de Portugal nos exorta a jurarmos a Constituição que as
Cortes vão formar e reclama pelos nosso Representantes. Haverá razão que justifique a nossa apatia?”.
15 LOJA, 2008, Crónica de uma Revolução [...], p. 115 e seguintes; LOJA, 1986, A Luta do Poder contra a Maçonaria
[...], p. 247 e seguintes e p. 258 e seguintes. Em ambas as obras, o Autor chama a atenção para o facto de que essas
novas ideias políticas serem divulgadas, no Funchal, pela maçonaria e por forças militares, em concreto, pelas tropas
inglesas que ocuparam a Madeira em 1801-1802 e 1807-1814. Aliás, a primeira loja maçónica portuguesa foi fundada
no Funchal por dois militares franceses, Alincourt e du Boulay, que tinham vindo para a Madeira como membros da
comitiva do governador João António de Sá Pereira (1767 – 1777). Na altura da adesão da Madeira à Revolução
Liberal, existiam, no Funchal, três lojas maçónicas: a Constância, a Fidelidade e a União. Néli Barros refere que quase
todos os indivíduos da governança local pertenciam a uma delas, BARROS, 2003, Os Deputados Brasileiros [...], pp.
43-70.
16 Sem dúvida que a Constituição de 1822 era um texto revolucionário e o excessivo cerceamento da autoridade do
rei estabelecido por este documento foi uma realidade alvo de contestação por parte dos sectores mais conservadores
que iriam apoiar o infante D. Miguel numa revolta contra os partidários da Constituição. O êxito deste movimento que
ficou conhecido por Vilafrancada deveu-se ao contexto político internacional marcado pela intervenção das potências
da Santa Aliança na política interna da Espanha, em Abril de 1823, acabando por restaurar plenamente a autoridade
do rei Fernando VII que dissolveu as Cortes e revogou a Constituição em Outubro desse mesmo ano. Relativamente
a Portugal, em 3 de Junho de 1823, o rei D. João VI que aderira ao movimento de contestação liderado pelo seu filho,
dissolveu as Cortes e, um ano mais tarde, pela Lei de 4 de Junho de 1824, declarou em pleno vigor as leis tradicionais
da monarquia absoluta, mandando preparar uma convocação dos Três Estados. HESPANHA, 2004, Guiando a Mão
Invisível [...], pp. 153-54, CAETANO, 1986, Constituições Portuguesas [...], pp. 22-23.
17 VIEIRA (coord.), 2001, História da Madeira [...], p. 261.
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estivessem conotados com o Liberalismo. O resultado desta Alçada foi uma condenação ao
degredo de várias personalidades, na sua maioria pertencentes às lojas maçónicas do Funchal,
das quais destacamos o ex – corregedor, Francisco Assis Saldanha e Nicolau Betencourt Pita,
fundador do Patriota Funchalense, o primeiro jornal que a Madeira conheceu e que funcionou
entre 1821 e 1823, silenciado pelas leis de censura impostas pelo regresso ao absolutismo18.
O falecimento do rei D. João VI, em Março de 1826, e o estabelecimento de uma regência do
trono presidida pela infanta D. Isabel Maria, propiciaram a aclamação de D. Pedro, então imperador
do Brasil, como rei de Portugal. Tratava-se de uma solução delicada, pois em Portugal eram vários
os sectores mais conservadores que tinham simpatia por D. Miguel e, no Brasil, a união entre os dois
reinos era algo muito mal aceite. Logo, D. Pedro, apercebendo-se da complexidade da situação e da
necessidade de tentar agradar às elites portuguesa e brasileira, toma três decisões: em primeiro lugar,
outorga uma Carta Constitucional à Monarquia Portuguesa (29 de Abril de 1826), manda proceder à
eleição de deputados ao parlamento, finalmente, abdica dos seus direitos à coroa portuguesa em favor
da sua primogénita, D. Maria da Glória, com a condição de esta casar com o seu tio, D. Miguel, e pôr
em vigor a Carta Constitucional. A grande inovação trazida por este documento é o reconhecimento
da existência de quatro poderes: assim, para além do poder legislativo (da competência das Cortes,
com a sanção do rei), do poder executivo (atribuído aos ministros do Estado, cujo chefe era o rei) e
do judicial (pertença única e exclusiva dos juízes), surge um quarto poder – o moderador – pertença
privativa do monarca, como chefe da nação, com a finalidade de zelar pela manutenção do equilíbrio
entre os vários poderes políticos19.
A informação oficial da outorga da Carta Constitucional só chegava ao Funchal no início do
mês de Agosto desse ano. O seu juramento decorreu no dia 8, um acto que foi acompanhado de
efusivas celebrações que duraram três dias. A vida política madeirense decorreria num ambiente
de normalidade até 182820. Efectivamente, nesse ano, D. Miguel era proclamado rei de Portugal,
terminando o primeiro período de vigência da Carta Constitucional (31 de Julho de 1826 a 3 de Maio
de 1828). A Carta Constitucional foi um documento mal aceite em Portugal, originando uma divisão
no país, entre aqueles que eram seus partidários e aqueles que ansiavam por um regresso ao Antigo
Regime. D. Miguel, subindo ao trono, revogou a Carta Constitucional, na sequência da dissolução da
Câmara dos Deputados e da convocação dos Três Estados do reino21.
A proclamação de D. Miguel como monarca absoluto, em 1828, teve, apenas, a adesão da
ilha do Porto Santo. O governador da ilha da Madeira, Travassos Valdez, manteve a sua lealdade
a D. Pedro e à Carta Constitucional. Contudo, só o pôde fazer até Agosto desse ano, altura em
que se viu obrigado a rumar para o exílio, tal como muitos outros liberais, perseguidos pelo novo
governador, José Maria Monteiro, recém-chegado à Madeira, com poderes para reprimir todos
aqueles que não aceitassem o novo rei22.
D. Pedro refugiou-se na ilha Terceira onde, rodeado de um grupo de adeptos da causa
liberal, preparou a estratégia de recuperação do trono para a sua filha D. Maria da Glória. Em
18 Sobre o resultado destas diligências judiciais veja-se AHU, Madeira e Porto Santo, Documentos Catalogados,
Caixa 22, Documento 7267-68.
VIEIRA (coord.), 2001, História da Madeira [...], p. 261. Refere-se que em 1823, por altura da aclamação do infante
D.Miguel, eram publicados outros três jornais, cujos títulos eram: O Pregador Imparcial da Verdade, A Atalaia da
Liberdade e O Regedor. O período de interregno na imprensa madeirense só terminou em 1827, data da publicação
de O Funchalense Liberal, resultado de uma nova conjuntura política que proporcionou a reforma da lei de imprensa
em 1826.
19 CAETANO, 1986, Constituições Portuguesas [...], pp. 36-37. Diz-nos o Autor que a prerrogativa de o rei velar pela
manutenção do equilíbrio entre os vários poderes políticos implicava, em termos práticos, exercer o poder de designar
os ministros, de dissolução das Cortes e de nomeação dos pares do reino. Sem dúvida, um conjunto de atribuições
de extrema importância, fazendo da Carta Constitucional uma das mais monárquicas das constituições do seu tempo.
20 VIEIRA (coord.), 2001, História da Madeira [...], pp. 261-262.
21 CAETANO, 1986, Constituições Portuguesas [...], pp. 36-37.
22 Sobre a perseguição aos liberais, veja-se, LOJA, 2008, Crónica de uma Revolução [...], SILVA, MENESES, 1998,
Elucidário Madeirense, Volume I, pp. 33-34.
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Julho de 1832, o exército chefiado por D. Pedro entrava na cidade do Porto, marcando o início
de uma guerra civil que só terminaria dois anos mais tarde, em Maio de 1834, com a derrota e
posterior rendição de D. Miguel na Convenção de Évora-Monte23.
Acabada a guerra civil, decorreram as eleições para deputados em Julho, estando as
Cortes a funcionar no mês seguinte. Simultaneamente, começava a segunda vigência da Carta
Constitucional24.
A Madeira esteve sob o regime absolutista até Junho de 1834. A 5 desse mês, o então
governador e capitão-general, D. Álvaro de Sousa de Macedo, fez uma Proclamação aos
habitantes das Ilhas da Madeira e Porto Santo, na qual era reconhecido o fim do reinado de
D. Miguel e se informava da recepção de uma missiva de D. Pedro, duque de Bragança, que
ordenava a proclamação e juramento de fidelidade à rainha D. Maria II e à Carta Constitucional da
Monarquia Portuguesa. À principal câmara municipal do arquipélago, a do Funchal, era enviado
um ofício determinando a realização da mesma proclamação e juramento, num acto que deveria
decorrer no dia seguinte, dia 6 de Junho, “[...] dispondo que nos três dias seguintes se dêem
todas as demonstrações de publico festejo e regozijo” 25.
As cerimónias formais de legitimação da nova rainha e do regime constitucional decorreriam,
de forma idêntica, nos vários concelhos do arquipélago26.
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27 Constituição Política de 23 de Setembro de 1822, Título II – Capítulo Único, Artigo 20. In Constituições Portuguesas
[...].
28 Carta Constitucional da Monarquia Portuguesa, Título I, Artigo 2º e Constituição Política da Monarquia Portuguesa
(1838), Título I, Artigo 2º. In Constituições Portuguesas [...].
29 LEITE, 1995, Política e Administração nos Açores [...], pp. 227-234.
30 JOÃO, 1991, Os Açores no Século XIX [...], pp. 13-18.
31 HESPANHA, 2004, Guiando a Mão Invisível [...], pp. 45-51.
32 SILVEIRA, 1997, Território e Poder [...], pp. 65-67.
33 MANIQUE, 1989, Mouzinho da Silveira: Liberalismo e Administração Pública [...], pp. 80-81. Para além deste
Decreto n.º 23, de 16 de Maio de 1832, sobre a organização administrativa, Mouzinho da Silveira também redigiu,
durante a sua permanência na Ilha Terceira, outros decretos igualmente reformistas. Mencionamos o Decreto de 4
de Abril de 1832, relativo à abolição dos pequenos vínculos, o Decreto de 19 de Abril de 1832, sobre a extinção das
sisas gerais, o Decreto de 30 de Julho de 1832 sobre a extinção dos dízimos e o Decreto de 13 de Agosto de 1832 que
propunha a extinção dos forais e bens da coroa.
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34 MANIQUE, 1989, Mouzinho da Silveira: Liberalismo e Administração Pública […], pp. 80-81.
35 MANIQUE, 1989, Mouzinho da Silveira: Liberalismo e Administração Pública […], p. 97 e p. 111. Ainda segundo
o Autor, foram vários os argumentos invocados contra este decreto de Mouzinho da Silveira, destacando-se o da
“ilegalidade”, ou seja, os seus críticos entendiam este documento como uma “medida provisória”, precisamente por
ser produto de um governo que se arvorou da capacidade de legislar (o governo da Ilha Terceira, constituído durante
o exílio de D. Pedro naquele local), quando tal seria da competência, única e exclusiva, das Cortes. Logo, pela sua
ilegalidade, não poderia ser aplicado.
36 LOJA, 2008, Crónica de uma Revolução […], p. 401.
37 RODRIGUES, 2006, A Madeira entre 1820 e 1842 […], pp. 697-717.
38 ARM, CMPSTº, Leis, Alvarás e Ordens Régias, Livro n.º 119, fl. 43-43vº.
39 ARM, CMF, Registo Geral, Livro n.º 1228, fl. 92vº e seguintes. Em ofício para o ainda Ministro e Secretário de
Estado da Marinha e Ultramar, em 15 de Julho de 1834, a Câmara Municipal Provisória da cidade do Funchal noticiava
a violência do sucedido na vila da Calheta e apelava à vinda das “autoridades legítimas”, pois a ilha continuava sob o
comando de D. Álvaro da Costa Macedo a quem a Câmara de Funchal acusava de ser o responsável pelos tumultos
da Calheta. Tendo D. Álvaro resignado e recolhido a bordo da fragata D. Pedro, estacionada na baía do Funchal,
decidiu a Câmara designar o seu comandante, H. Bertrand, no governo interino da Madeira, até à chegada da nova
autoridade, o prefeito Mousinho de Albuquerque, nomeado no dia 30 de Junho de 1834.
40 LOJA, 2008, Crónica de uma Revolução […], p. 402.
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e rara a freguesia do campo em que ele não esteja promovendo alguma obra de publica utilidade
(…) o que é um verdadeiro bem para a Província, não só pelo objecto imediato dessas obras
como também pelo emprego de uma parte da população que à mingua de trabalhos próprios
viria imediatamente lançar-se nos braços da mendicidade. A educação pública igualmente tem
merecido ao Prefeito uma boa parte dos seus decretos”41.
A Prefeitura na Madeira era formalmente extinta em Setembro de 1835, no âmbito da
legislação nacional aprovada em Abril e regulamentada em Julho42.
A forte contestação ao decreto n.º 23, de 16 de Maio de 1832, feita nos debates parlamentares,
levou à elaboração da lei de 25 de Abril de 1835 e à sua posterior regulamentação, no decreto
de 18 de Julho do mesmo ano.
O decreto de 18 de Julho de 1835 estabelecia uma divisão administrativa de três níveis:
distritos que se subdividiam em concelhos que, por seu turno, eram compostos por uma ou
mais freguesias. Relativamente aos magistrados, temos o governador civil (responsável máximo
no distrito), o administrador do concelho (à frente do concelho) e o comissário de paróquia (à
frente da freguesia). Os corpos administrativos eram constituídos pela junta geral de distrito
e pelo conselho de distrito (este só na capital de cada distrito) para dar apoio às decisões do
governador civil; a câmara municipal tinha de trabalhar com o administrador do concelho e a
junta de paróquia com o comissário de paróquia43.
O primeiro governador civil foi um madeirense, João de Carvalhal Esmeraldo, 1º conde de
Carvalhal, nomeado por carta régia de 13 de Setembro de 183544. A figura do administrador do
concelho surge em 1835 nos municípios madeirenses (ver anexos n.º 13 a 18: administradores
efectivos dos concelhos do Funchal, da Ponta do Sol, da Calheta, de Machico, de Santa Cruz e
de Porto Santo).
A Junta Geral de Distrito teve a sua primeira sessão em 29 de Julho de 183645 e o Conselho
de Distrito em 18 de Janeiro do mesmo ano46. Relativamente às Juntas de Paróquia, dizem-nos
Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo de Meneses, que estas chegaram a instalar-se em
algumas freguesias, mas, pouco se sabe sobre a realidade do seu funcionamento47.
Será o decreto de 12 de Setembro de 1835 a estabelecer, formalmente, a instituição do
41 ARM, CMF, Registo Geral, Livro n.º 1228, fl. 261 e seguintes.
42 Mousinho de Albuquerque foi exonerado por carta régia de 11 de Setembro de 1835, ARM, CMF, Registo Geral,
Livro n.º 1228, fl. 268.
43 Decreto de 18 de Julho de 1835, Artigos 1 a 7. In Colecção de Leis e Outros Documentos Oficiais Publicados desde
15 de Agosto de 1834 até 31 de Dezembro de 1835, 4ª Série, Lisboa, Imprensa Nacional, 1837, pp. 194-211.
44 ARM, CMF, Registo Geral, Livro n.º 1228, fl. 269vº. Era a primeira vez que um madeirense era colocado no cargo
máximo da administração insular. De acordo com Paulo Miguel Rodrigues, o novo governador contou também com
outro madeirense, João Agostinho Jérvis de Atouguia, nomeado para o lugar de secretário do governo civil. Estas
escolhas foram da responsabilidade do então ministro do reino, Rodrigo da Fonseca Magalhães, de um governo
liderado por Saldanha que, por sua vez, era aliado e amigo pessoal de um outro madeirense, António Aluísio Jérvis
de Atouguia, ministro da Marinha desde Julho de 1835. Sem dúvida que esta teia de relacionamentos pessoais e
políticos contribuiu para a escolha do 1º conde de Carvalhal para o cargo de governador civil do distrito do Funchal,
RODRIGUES, 2006, A Madeira entre 1820 e 1842 […], pp. 697-717.
Entre fins de 1836 e 1842, o termo “governador civil” é substituído pelo de “administrador geral de distrito”, ou seja,
durante a vigência do Código Administrativo promulgado em 31 de Dezembro de 1836. Pelo Código Administrativo de
18 de Março de 1842, voltava-se à designação anterior. As competências de ambos os cargos eram as mesmas, assim
como a sua nomeação, da responsabilidade do rei, cf. Código Administrativo Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional,
1836; Código Administrativo. Nova Edição Oficial. Annotado. 18 de Março de 1842, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865.
45 ARM, Governo Civil, Livro n.º 567, fl. 2-2vº.
46 ARM, Governo Civil, Livro n.º 250, fl. 2-2vº.
47 SILVA, MENESES, 1998, Elucidário Madeirense [...], Volume II, p. 205. Com efeito, após análise dos catálogos
da documentação do Arquivo Regional da Madeira, só encontrei um único livro de Actas da Junta de Paróquia (1840-
1852) no núcleo da Câmara Municipal do Funchal. Infelizmente, este livro encontra-se fora de leitura, devido ao mau
estado de conservação em que se encontra.
2009
525
Distrito Administrativo da Madeira e Porto Santo, cuja capital era a cidade do Funchal48. Esse
distrito era subdividido em concelhos e estes eram subdivididos em freguesias. Os concelhos
que nele constam são sete: Funchal, Ponta do Sol, Calheta, Machico, Santa Cruz, São Vicente
e Porto Santo. Ou seja, aqueles que vinham da organização administrativa do Antigo Regime.
Contudo, o ano de 1835 trouxe uma importante alteração neste quadro concelhio em virtude da
instituição de três novos municípios: Câmara de Lobos, na costa sul, e Santa Ana e Porto do
Moniz, na costa norte49.
Os dez concelhos que passaram a existir na Madeira, apresentavam diferenças ao nível dos
seus efectivos populacionais, como é visível no quadro n.º 1:
48 Decreto de 12 de Setembro de 1835. In Colecção de Leis e Outros Documentos Oficiais Publicados desde 15 de
Agosto de 1834 até 31 de Dezembro de 1835, 4ª Série, Lisboa, Imprensa Nacional, 1837, pp. 317-319.
A circunscrição territorial do distrito é uma inovação do Liberalismo. A sua origem remonta ao mapa das comarcas
apresentado, em 1827, à Câmara dos Deputados pela Comissão de Divisão do Território. Segundo Espinha da Silveira,
os critérios em que se baseou são os mesmos que estiveram subjacentes à reforma das comarcas, desencadeada
pela Coroa em 1790. Esses critérios foram, em 1790 como em 1835, o equilíbrio entre a extensão e a população da
nova circunscrição – o distrito – e as características físicas do espaço, condicionantes das comunicações, SILVEIRA,
1997, Território e Poder […], pp. 117-118.
49 VERÍSSIMO, 2001, “A Fundação do Concelho de Santana”, pp. 106-108. O Autor chama a atenção para a
portaria de 25 de Maio de 1835 que aprovou, provisoriamente, o distrito administrativo da Madeira e Porto Santo,
compreendendo a ilha maior nove concelhos: Funchal, Ponta do Sol, Calheta, Machico, Santa Cruz, São Vicente;
em Câmara de Lobos, Porto do Moniz e Santa Ana seriam criados novos municípios. O facto de estes três novos
municípios não figurarem no decreto de 12 de Setembro de 1835 devia-se à não ocorrência das necessárias eleições,
não estando as novas câmaras, obviamente, instaladas.
A instituição dos três novos municípios na Madeira revelou a existência de uma tendência inversa em relação ao que
estava a decorrer no reino, onde se deu um redimensionamento dos seus concelhos que, a partir de 1836, cresceram
em área e em população. O decreto de 6 de Novembro de 1836 reduziu os cerca de 800 concelhos que existiam nos
finais do Antigo Regime a 351. Em 1855, verificou-se uma nova redução, ficando a existir 256 municípios no espaço
continental do reino, HESPANHA, 1990, “A Revolução e os Mecanismos de Poder”, pp. 107-136; SILVEIRA, 1997,
Território e Poder […], pp. 119-124.
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526 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Calheta, apesar de ter uma menor dimensão territorial. Por seu turno, a região leste revela-
se menos povoada. As vilas de Santa Cruz e Machico têm efectivos populacionais inferiores a
10.000 habitantes. O caso de Machico estava relacionado com a instituição do concelho de Santa
Ana, a norte, que implicou uma subtração de freguesias e sua gente, que outrora pertenciam a
Machico. De facto, Santa Ana tinha uma população superior à de São Vicente, único concelho na
costa norte até 1835. Porto do Moniz, também na costa norte da Madeira, era menos povoado
que os dois anteriores, mas tinha mais habitantes que os antigos municípios de Machico e Santa
Cruz. Câmara de Lobos, na orla sul junto ao Funchal, apresenta valores superiores a 10.000
habitantes. Assim, ao observarmos a população dos três novos concelhos, verifica-se que ela
era numerosa, sem dúvida, um elemento que teria contribuído para a sua criação. O factor
demográfico e as dificuldades de comunicação com as suas antigas sedes de poder, notórias no
caso de Porto do Moniz em relação a São Vicente e de Santa Ana em relação a Machico, teriam
estado na origem da sua instituição como municípios.
Finalmente, o Porto Santo, ilha e concelho, com uma população reduzida, tendência que
vinha desde os séculos anteriores.
A apresentação dos efectivos populacionais para cada concelho revela-se importante. É do
confronto com estes dados que iremos constatar como era reduzido o universo dos indivíduos
a quem a Monarquia Constitucional outorgou o estatuto de cidadão apto para votar e para ser
eleito, obtendo, por esta via, o acesso ao poder municipal.
3. As Eleições Municipais
2009
527
fundamental para que os “impulsos cegos da turba não se sobrepusessem à vontade racional
das pessoas de merecimento”. Em consequência, a Carta Constitucional apenas reconhece
direitos políticos, designadamente, direitos eleitorais, somente a alguns cidadãos e em função
dos seus rendimentos53.
Foi a Carta Constitucional e os princípios nela consignados que vingaram no contexto
político português até à implantação da República. Logo, a ideia de que entre os cidadãos,
(no fundo, à semelhança daquilo que sucedera durante o Antigo Regime), existiam diferenças.
Essas diferenças seriam verificadas no âmbito da capacidade de participação do cidadão na vida
política. Tal participação só era possível se o cidadão auferisse um determinado rendimento, só
assim é que ele conseguia ser “politicamente activo”, no sentido de possuir a capacidade de
votar e ser eleito54. Foi desta forma que nasceu o regime eleitoral censitário que a legislação
eleitoral de oitocentos consagrou.
No âmbito da legislação eleitoral aplicada aos municípios, são cinco os documentos
fundamentais ao longo do período abrangido por este estudo: o decreto de 9-I-1834, o Código
Administrativo de 1836, a Carta de Lei de 27-X-1840, a Carta de Lei de 29-X-1840 e o Código
Administrativo de 1842. Para tornar mais claros os seus articulados, apresentamos a sua
informação nos quadros 2 a 5, discriminando a identificação e as características dos eleitores e
dos elegíveis, para que possamos perceber quem era este grupo dos “cidadãos politicamente
activos”.
Fonte – Colecção de Decretos e Regulamentos Mandados Publicar por S. M. Imperial, o Regente do Reino,
desde a sua Entrada em Lisboa até à Instalação das Câmaras Legislativas, 3ª Série, Lisboa, Imprensa Nacional, 1840,
pp. 80-82.
53 HESPANHA, 2004, Guiando a Mão Invisível […], pp. 198-209, ANTUNES, 1981, “Direito Eleitoral e Pensamento
Político no Século XIX”, pp. 69-102. O Autor analisa o pensamento político de dois importantes vultos de Oitocentos,
Almeida Garrett e Alexandre Herculano, cujas ideias revelam como eram avessos à participação do elemento popular
na vida política portuguesa.
54 VAQUINHAS, CASCÃO, 1998, “Evolução da Sociedade em Portugal […]”, pp. 379-392. Os Autores salientam que
a ideia de que só os homens com rendimentos podiam assumir responsabilidades políticas e beneficiar, plenamente,
dos direitos de cidadania, acabou por remeter grande parte da população, a começar pelas mulheres, a um estatuto
de menoridade, que o Código Civil acabaria por consagrar, em muitos aspectos.
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528 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
529
A legislação apresentada revela questões de maior importância e que nos permitem perceber
como é que o sistema eleitoral, elaborado pela Monarquia Constitucional, foi o responsável pela
criação de uma nova elite de poder que se desejava ao serviço dessa mesma instituição.
A desigualdade política foi instituída com a Carta Constitucional, como já foi referido atrás.
O decreto de 9 de Janeiro de 1834 e o Código Administrativo de 1836 têm em comum o
facto de fazerem coincidir a capacidade de votar com a elegibilidade para os cargos municipais,
dando oportunidade a um maior número de cidadãos aceder ao poder. Contudo, o ano de 1840
é um ano de mudança que visou restringir a elegibilidade dos cidadãos55. Por um lado, a forma
de verificação do censo passou a ser feita através dos rendimentos obtidos e dos montantes
das contribuições pagas, por outro lado, instituiu-se o Conselho Municipal que, composto pelos
cidadãos “maiores contribuintes” do município, dava um sinal de que a monarquia pretendia
outorgar o poder local àqueles que detivessem mais riqueza. O Código Administrativo de 1842
manteve todos os critérios adoptados em 1840, porém determinou uma subida acentuada dos
55 Estas mudanças inserem-se no contexto de mudança do governo, decorrida em Novembro de 1839, que iniciou
o processo de afastamento progressivo dos partidários do Setembrismo. Com efeito, foi no governo presidido pelo
Conde do Bonfim (contando já com a presença de muitos Cartistas) que o seu ministro do Reino, Rodrigo da Fonseca
Magalhães, concretizou a revisão do Código Administrativo de 1836 que se iniciou com a promulgação das leis de
27 e de 29 de Outubro de 1840. Estas, sobre o modo de verificação do censo eleitoral, completadas pela lei de 16
de Novembro de 1841, sobre o Conselho Municipal, inverteram a tendência descentralizadora, iniciada em 1834-35,
que, no âmbito eleitoral, assumiu um carácter mais abrangente no estabelecimento dos critérios de participação dos
cidadãos no acto eleitoral, como eleitor e como elegível.
2009
530 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
56 Verificamos como se ficou muito longe daquilo que determinava a Constituição de 1822. Segundo o texto, eram
eleitores todos os moradores do concelho que já tivessem votado na eleição dos deputados às Cortes, com excepção
da tropa de 1ª e 2ª linhas. Não eram excluídos os cidadãos que não soubessem ler e escrever (Artigo 220º). Quanto
aos elegíveis, eram os cidadãos que estivessem no exercício dos seus direitos civis, maiores de 25 anos, residentes
no distrito do concelho há, pelo menos, dois anos, com meios honestos de subsistência e sem emprego incompatível
com o desempenho dos cargos municipais (Artigo 222º).
57 SOUSA, 2004, O Exercício do Poder Municipal [...], p. 101.
58 SILVEIRA, 1997, “Estado Liberal e Centralização [...]”, pp. 65-84.
59 VAQUINHAS, CASCÃO, 1998, “Evolução da Sociedade em Portugal […]”, pp. 379-392.
2009
531
municipais.
O processo de recenseamento eleitoral encontra-se descrito nas leis já citadas, nos quadros
n.º 2 a n.º 5.
O decreto de 9 de Janeiro de 1834 estabelece que a câmara municipal, ainda em exercício,
nomeie, em cada freguesia, entre três a sete pessoas de boa reputação moral e política que,
juntamente com o pároco, irão formar a comissão de recenseamento, com a finalidade de apurar
os cidadãos considerados politicamente activos, nos termos do descrito no quadro n.º 2. Feito o
recenseamento, é formada uma lista dos cidadãos apurados, devidamente assinada pelo pároco
e pelo secretário da comissão recenseadora. Os cidadãos que se sentiram lesados no seu direito
de votar, por serem excluídos da lista, têm três dias para fazer a respectiva reclamação junto da
câmara municipal. Findo este prazo, a comissão recenseadora decide sobre as reclamações,
em sessão pública e à pluralidade de votos. Finalmente, e a partir das listas de cidadãos
estabelecidas em cada paróquia ou freguesia, é elaborada a lista geral dos cidadãos com direito
a voto, contendo, por ordem alfabética, os nomes dos cidadãos do concelho habilitados a votar
na eleição da câmara60.
O Código Administrativo de 1836 mantém os procedimentos expressos no decreto acima
mencionado, contudo, introduz uma preocupação com a fixação do calendário eleitoral. Assim,
no primeiro dia de Novembro de cada ano, as juntas de paróquia ou as comissões recenseadoras
anunciam, por editais, o dia, o local e a hora das suas reuniões onde se procede ao recenseamento
dos cidadãos aptos para votar. No dia 10 do mesmo mês, afixam-se as listas com os nomes
dos cidadãos apurados nas freguesias. O processo culmina com a afixação da lista geral dos
cidadãos apurados pelo concelho, no final de Novembro, e com a decisão sobre as reclamações
entretanto surgidas, já no início do mês seguinte61.
A legislação de 1840 introduz importantes modificações. O recenseamento passa a abranger
dois campos: eleitores e elegíveis. Acaba-se, portanto, com a lista geral de cidadãos eleitores, como
acontecera até então. Contudo, continua a ser um processo a decorrer sob a responsabilidade
das câmaras municipais, mas agora com a participação de outras autoridades, a saber: o
administrador do concelho que deve prestar aos recenseadores todos os esclarecimentos e
interpor os recursos competentes, com vista a uma fiel execução da lei; o recebedor do concelho
munido com os róis do pagamento da décima, e os regedores de paróquia na qualidade de
informadores sobre os seus co-paroquianos. Contamos, igualmente, com uma outra inovação:
das decisões das câmaras municipais haverá recurso para o Conselho de Distrito62. A portaria
de 10 de Novembro de 1840, por seu turno, designa os prazos em que o processo tem de
decorrer: o recenseamento deve ser elaborado, em todos os concelhos, no 1º Domingo do
mês de Dezembro. A 20 do mesmo mês, devem afixar-se as listas dos eleitores e elegíveis,
sendo as reclamações decididas, em primeira instância, pelas câmaras e respectivas comissões
recenseadores, até ao final do mês. Os recursos que das suas decisões se interpuserem são
remetidos para o Conselho de Distrito, tal como tinha previsto a lei anterior63.
O Código Administrativo de 1842 determina a permanência do recenseamento eleitoral mas
60 Decreto de 9-I-1834. Colecção de Decretos e Regulamentos Mandados Publicar por Sua Majestade Imperial,
o Regente do Reino, desde a sua Entrada em Lisboa até à Instalação das Câmaras Legislativas, 3ª Série, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1840, pp. 80-82, Artigos 1º a 9º. O Decreto de 18-VII-1835 mantém o mesmo articulado com
uma única alteração: as funções da comissão recenseadora passam a ser exercidas pelas juntas de paróquia e a
dos párocos pelos presidentes das ditas juntas. Nos concelhos onde não existe a junta de paróquia não há qualquer
alteração. Colecção de Leis e Outros Documentos Oficiais Publicados desde 15 de Agosto de 1834 até 31 de Dezembro
de 1835, 4ª Série, Lisboa, Imprensa Nacional, 1837, pp. 194-211, Artigo 9º.
61 Código Administrativo Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional, 1836, Artigos 28º a 32º.
62 Carta de Lei de 27-X-1840. Colecção de Leis e Outros Documentos Oficiais Publicados no Ano de 1840, 10ª Série,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1840, 2º Semestre, pp. 59-62, Artigos 14º e 16º.
63 Portaria de 10-XI-1840. Colecção de Leis e Outros Documentos Oficiais Publicados no Ano de 1840, 10ª Série,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1840, 2º Semestre, pp. 126-130, Artigos 10º a 24º.
2009
532 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
sendo prevista uma revisão anual para se poderem inscrever os habilitados que ainda não constassem
nele e para se riscar o nome dos falecidos e daqueles que tenham perdido as qualidades legais. Essa
revisão seria feita durante o mês de Julho. O recenseamento dos eleitores e dos elegíveis era feito
separadamente e dele constam: o nome e o apelido do sujeito, o seu lugar de nascimento, a idade,
o estado, a profissão e emprego que exerce, a sua qualificação literária e, finalmente, as quotas da
décima ou dos vencimentos que em conformidade com o disposto no quadro n.º 5, lhe dão o direito
de ser eleitor e elegível. Os sujeitos recenseados são classificados por paróquia ou freguesia e por
ordem alfabética. A publicação decorria no mês de Agosto, durante o qual podiam ser apresentadas
as reclamações. No final do mês, seria publicada a lista final, com as alterações eventualmente feitas
em virtude de alguma reclamação. O processo ficava concluído com o envio deste documento ao
administrador do concelho que, por sua vez, enviava um duplicado ao governador civil. As rectificações
do recenseamento eleitoral continuavam a ser possíveis mas só mediante intervenção do Conselho
de Distrito. É este órgão que procede à marcação das eleições municipais, de forma a estarem
concluídas até ao dia 30 de Novembro64.
Os artigos do Código Administrativo de 1842, relativos ao recenseamento eleitoral, serão
revogados pelo decreto de 30 de Setembro de 1852. Estabelecia este decreto que a capacidade
eleitoral e a elegibilidade dos cidadãos continuava a ser verificada, em cada concelho, pelo
recenseamento eleitoral que passava a ser feito da seguinte forma: no domingo designado
pelo governador civil, pelas 10 horas da manhã, devem comparecer na câmara municipal o seu
presidente, os vereadores, o administrador do concelho e o escrivão da fazenda, este munido
da relação, por si feita e assinada, dos 40 maiores contribuintes da décima no concelho, do
ano imediatamente anterior. A câmara municipal, em sessão pública, examina essa relação e
forma, sem recurso, a relação definitiva dos 40 maiores contribuintes do concelho, a ser afixada
à porta da câmara. Devem os 40 maiores contribuintes comparecer nos Paços do Concelho,
no prazo de alguns dias, pois é deste grupo que é feita a escolha dos dois indivíduos que,
juntamente com o presidente da câmara, vão eleger a comissão de recenseamento, formada
por sete cidadãos elegíveis para os cargos municipais. É à comissão de recenseamento,
supervisionada pelo administrador do concelho, que compete elaborar o recenseamento dos
eleitores e elegíveis, utilizando a informação relativa ao lançamento da décima, impostos anexos
e demais contribuições directas do ano imediatamente anterior. No segundo sábado, a contar do
dia da instalação da comissão, terá de estar organizado o livro de recenseamento, dividido por
freguesias, cujos nomes são ordenados por ordem alfabética. Para cada sujeito recenseado, tem
de constar: 1º, a quota da décima ou das contribuições que paga; 2º, o emprego ou profissão;
3º, o seu estado; 4º, a morada; 5, idade; 6º, se é só eleitor ou também elegível. Este livro estará,
durante cinco dias, patente ao público no local das reuniões da comissão, para se apresentarem
as reclamações consideradas necessárias, contra a inscrição ou exclusão de qualquer cidadão.
Das decisões da comissão de recenseamento sobre as reclamações eventualmente feitas,
haverá recurso para o juiz de direito da respectiva comarca. É por este recenseamento que se
realizam todas as eleições para os cargos públicos65.
O principal elemento que podemos reter das alterações ao processo de recenseamento
eleitoral, que o decreto de 30 de Setembro de 1852 estipulou, é a criação da figura institucional
dos 40 maiores contribuintes. A sua função de colaboração com a câmara municipal na elaboração
do recenseamento eleitoral, decretando quem era eleitor e quem era elegível, consagrou a
capacidade de influência política do grupo economicamente mais poderoso da comunidade, num
64 Código Administrativo. Nova Edição Official. Annotado. 18 de Março de 1842, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865,
Artigos 18º a 46º.
65 Decreto de 30-IX-1852. Colecção Oficial de Legislação Portuguesa. Ano de 1852, Lisboa, Imprensa Nacional,
1853, pp. 479-512, Artigos 20º a 37º. Estabelecem os artigos 153º a 157º, que o recenseamento tem de ser revisto
todos os anos na forma determinada por este decreto, devendo esses trabalhos começar no primeiro domingo de
Janeiro de cada ano, com a formação da assembléia dos 40 maiores contribuintes. A sua conclusão deverá ocorrer a
31 de Maio do ano em questão, mediante a ratificação do documento final.
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Total por
Freguesia 1834 1837 1838 1839
freguesia
Sé 188 255 281 360 1084
São Pedro 216 265 264 579 1324
St.ª Maria Maior 114 323 454 407 1298
Santa Luzia 124 206 455 549 1334
N.ª Sª. Do Monte 36 38 355 449 878
São Martinho 36 36 276 295 643
São Gonçalo 69 39 159 190 457
Santo António 64 302 511 533 1410
São Roque 115 96 80 177 468
Caniço 9
Curral das Freiras 14
Câmara de Lobos 60
Estreito de Câmara de 54
Lobos
Campanário 24
Ribeira Brava 24
Serra de Água 3
Tabua 30
Lombada dos Esmeraldos 24
Total anual 1204 1560 2835 3539
Fonte – ARM, CMF, Recenseamento Eleitoral, Livro n.º 1052
O primeiro comentário que nos suscita o quadro n.º 6 relaciona-se com a evolução da divisão
administrativa do território do concelho do Funchal. Desta forma, o ano de 1834 mantém, pela
66 Apesar da inexistência de livros de recenseamento eleitoral nos fundos documentais dos restantes municípios,
os dados obtidos no Funchal, Ponta do Sol e Porto Santo permitem-nos especular no sentido de que a situação nos
outros concelhos não seria muito diferente. Isto é, seria, igualmente, restrito o universo dos eleitores e, sobretudo, dos
elegíveis.
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534 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
última vez, as delimitações do Antigo Regime. A partir de 1835, verificamos uma nova realidade.
Com efeito, a criação do concelho de Câmara de Lobos, nesse mesmo ano, retirou ao Funchal
as freguesias de Câmara de Lobos, Estreito de Câmara de Lobos e Curral das Freiras. Por
seu turno, as freguesias de Campanário, Ribeira Brava, Serra de Água, Tabua e o lugar da
Lombada dos Esmeraldos, na Ponta do Sol, ficam integrados no município com o mesmo nome.
A freguesia do Caniço, na parte que pertencia ao Funchal, é inserida no concelho de Santa Cruz.
O número de cidadãos com capacidade para votar e ser eleitos (conforme referimos acima,
o decreto de 9 de Janeiro de 1834 e o Código Administrativo de 1836 fizeram coincidir direito de
votar e elegibilidade) revela-se algo elevado, com valores em crescimento, que chegam a um
total de 3.539, em 1839. Das nove freguesias que passam a compor o concelho do Funchal,
cinco apresentam um número de eleitores e elegíveis superior a mil. Contudo, atendendo ao
total da população do Funchal (ver quadro n.º 1), verificamos como eram poucos os cidadãos a
quem a Monarquia Constitucional concedia a faculdade de participação política, mesmo durante
o período em que o direito de voto e a elegibilidade foram coincidentes.
A partir de 1840-1842, assistimos a uma tendência inversa, com o estabelecimento da
diferenciação entre eleitores e elegíveis, consoante os rendimentos dos cidadãos (ver quadros
n.º 4 e n.º 5). Tal revela-se, plenamente, nos quadros n.º 7 a n.º 14, relativos aos anos de 1846,
1856, 1857, 1862, 1866, e 1868 a 1877.
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536 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
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538 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
* Acaba na letra M; por estar incompleto, optamos por não apresentar os totais
De acordo com uma informação expressa no fólio 85, houve uma revisão do
recenseamento em 1847 e 1848. Contudo, para esses anos, não há qualquer discriminação
dos eleitores e dos elegíveis. Para o ano de 1849, só consta a discriminação dos que são
eleitores, não havendo nenhuma indicação relativamente aos elegíveis.
Fonte – ARM, CMPS, Recenseamento Eleitoral, Livro n.º 351
2009
539
* Por estar em falta uma freguesia, optamos por não apresentar os totais em relação ao ano
de 1768.
Fonte – ARM, CMPS, Recenseamento Eleitoral, Livro n.º 360
2009
540 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
A informação que se reporta ao concelho da Ponta do Sol apresenta alguns aspectos cuja
importância é de salientar. Dentro da categoria dos eleitores, é possível verificar uma distribuição
relativamente homogénea pelas freguesias que compunham o município, com destaque para a
Vila e sede municipal, com valores sempre superiores à centena, até 1849, e com uma manifesta
subida que chegou aos 644 indivíduos, em 1867. Ao longo do período em questão, o grupo
dos eleitores apresenta algumas oscilações. Do início da década de quarenta até 1846, vemos
valores que vão dos 313 indivíduos até aos 429. A partir de 1866, os números ascendem a mais
de 1000, uma tendência que cessa em 1871, altura em que descem para cerca de 900. A descida
continua a verificar-se nos anos seguintes, fixando-se o seu número na ordem dos 700, em
1878. O maior número de elegíveis é observado nas freguesias da Vila, da Ribeira Brava e dos
Canhas, esta a partir de 1866. Em contrapartida, as freguesias da Serra de Água e da Tabua,
são as que apresentam um número muito mais reduzido. Na década de quarenta, os elegíveis
2009
541
totalizam valores entre 60 a 70 indivíduos. Tal será uma constante até ao ano de 1874. Contudo,
no ano seguinte, os elegíveis apresentam o seu valor mais baixo: 47 indivíduos. Em 1876, voltam
a aumentar, chegando a ultrapassar os 100, em 1877 e 1878.
Os motivos da oscilação do número de eleitores e de elegíveis serão idênticos aos já
apontados no município do Funchal. Temos, no entanto, de acrescentar que a constatação da
existência de falhas na elaboração do recenseamento eleitoral nos anos de 1847, 1848, 1849
e 1868, leva-nos a supor que este processo não estaria, ainda, devidamente interiorizado pelas
autoridades competentes. Tal poderia acontecer por várias razões: a ignorância ou o desleixo,
ou talvez uma intenção deliberada em não discriminar, correctamente, eleitores e, sobretudo,
elegíveis, e, assim, afastar do acesso ao poder municipal alguns indivíduos que, por questões
pessoais e/ou políticas, não seriam desejáveis.
Finalmente, atendendo ao total da população do concelho da Ponta do Sol (ver quadro n.º
1), concluímos que era muito limitado o universo dos cidadãos possuidores de direitos políticos,
uma realidade semelhante ao município do Funchal.
O município do Porto Santo é o terceiro, e último, possuidor de livros de recenseamento
eleitoral. A informação sobre os eleitores e elegíveis é muito escassa e a que foi possível obter
encontra-se no quadro n.º 25:
Com uma única freguesia, Nossa Senhora da Piedade, e com os efectivos populacionais
mais baixos do arquipélago (ver quadro n.º 1), o concelho do Porto Santo, apresenta, logicamente,
o mais reduzido universo de cidadãos com capacidade política.
Os oito anos de recenseamento eleitoral que constam no quadro n.º 25, levantam-nos alguns
problemas de análise. Em 1838 e 1839, sabemos que coincidiam eleitores e elegíveis. Idêntica
situação ocorre em 1840, em virtude de o processo de recenseamento eleitoral ter decorrido no
ano anterior, ainda ao abrigo das disposições contidas no Código Administrativo de 1836. Mas,
em 1841, a distinção entre os dois campos está feita, notando-se apenas uma pequena diferença
entre os números apresentados para as duas categorias. Os anos de 1863 e 1866 revelam
um acentuado aumento dos eleitores e uma, igualmente, acentuada, diminuição dos elegíveis.
A situação afigura-se ainda mais estranha com a não referência dos elegíveis, nos anos de
1867 e 1869. A explicação para esta realidade assume, necessariamente, uma componente
especulativa e, em tudo semelhante ao já referido, especialmente, para o caso da Ponta do Sol.
A análise dos livros de recenseamento eleitoral dos municípios do Funchal, da Ponta do
Sol e do Porto Santo permitiu-nos retirar uma importante conclusão: o universo eleitoral do
Liberalismo, apesar de ser ditado por legislação que impunha numerosos constrangimentos,
alargou-se, consideravelmente, face ao que era praticada durante o Antigo Regime. O número
de eleitores e de elegíveis que foi possível apurar é, indubitavelmente, muito superior face aos
anos anteriores a 1834, pois, não nos esqueçamos, que até essa data, a faculdade de votar e,
2009
542 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
sobretudo, a de ser eleito era, exclusivamente, concedida aos filhos e netos de vereadores67.
O recenseamento eleitoral era o processo que permitia, através da determinação dos
eleitores e dos elegíveis, que o acto eleitoral acontecesse posteriormente. É nos diplomas citados
anteriormente que encontramos os artigos que regulam as eleições municipais.
O decreto de 9 de Janeiro de 1834 determinava que, anualmente, a câmara municipal em
exercício, convocasse os eleitores para a eleição da nova vereação, no primeiro domingo a
contar da afixação da lista geral dos cidadãos aptos para votar. No dia designado para o evento,
estando reunidos na casa do concelho e em assembléia pública, os membros da câmara e
os cidadãos votantes, era constituída a mesa eleitoral. Esta ficava composta pelo respectivo
presidente, pelos escrutinadores e por um secretário. Salientamos a presença do pároco neste
processo de votação pois tinha a responsabilidade de confirmar a identidade dos cidadãos
eleitores. Os eleitores dirigiam-se à mesa eleitoral, seguindo a chamada feita a partir da lista
geral, para colocar o seu voto na urna. Concluída a votação, procedia-se à contagem dos votos
e à posterior publicação dos resultados. Eram eleitos os cidadãos que tivessem obtido maior
número de votos. De tudo se fazia uma acta, com declaração de todos os sujeitos votados e
do número de votos que cada um teve. As listas dos votantes eram queimadas. Os vereadores
eleitos entravam, imediatamente, no exercício das suas funções, sendo, nomeado presidente da
câmara, aquele que tivesse sido mais votado68.
O Código Administrativo de 1836 manteve o processo de eleição. As câmaras continuavam a ser
eleitas anualmente, realizando-se as eleições no primeiro domingo do mês de Dezembro, devendo os
vereadores eleitos entrar no exercício das suas funções no primeiro de Janeiro de cada ano69.
A legislação de 1840, para além de alargar os mandatos dos vereadores para dois anos,
trouxe algumas inovações que podemos encontrar na portaria de 10 de Novembro. Passava a
ser da responsabilidade do Conselho de Distrito designar o dia das eleições municipais, cujo
processo deverá estar concluído antes de 30 de Janeiro seguinte. Oito dias depois de verificada
a eleição, os eleitos tomam posse dos respectivos cargos. O presidente da câmara é escolhido
entre os vereadores70.
O Código Administrativo de 1842 manteve as disposições estabelecidas. A eleição municipal
continuava a ser feita de dois em dois anos, agora no mês de Novembro, num dia designado
pelo Conselho de Distrito, sendo as assembléias eleitorais convocadas por alvará do governador
civil. A câmara tinha a responsabilidade de enviar, a cada assembléia eleitoral (estas, por norma,
ficavam situadas na sede municipal ou nas igrejas paroquiais), o caderno com os nomes dos
eleitores e dos elegíveis recenseados. Para o acto eleitoral, era constituída uma mesa presidida
pelo presidente de câmara. Nas outras assembléias de voto, as mesas eram presididas por
mandatários designados pelo município. Além do presidente da mesa, contava-se com a
presença de um escrutinador e de um secretário, previamente escolhidos pela sua probidade e
inteligência, e do pároco da freguesia que tinha a incumbência de fazer o reconhecimento dos
eleitores. No dia da eleição, os cidadãos recenseados deviam apresentar-se perante a mesa
eleitoral. À medida que iam sendo chamados a votar, descarregado o nome do eleitor no caderno
eleitoral, entregavam a lista com a votação dos indivíduos que deviam compor a vereação. Essa
lista, dobrada e sem a assinatura do votante, era colocada na urna. Quando não se apresentasse
mais nenhum eleitor, era ordenada uma chamada geral daqueles que ainda não tivessem
67 COELHO, MAGALHÃES, 1986, O Poder Concelhio: das Origens às Cortes Constituintes [...].
68 Decreto de 9-I-1834. In Colecção de Decretos e Regulamentos Mandados Publicar por S.M. Imperial, o Regente
do Reino, desde a sua Entrada em Lisboa até à Instalação das Câmaras Legislativas, 3ª Série, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1840, pp. 80-82, artigos 10º a 21º.
69 Código Administrativo Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional, 1836, Artigos 33º a 44º.
70 Carta de Lei de 29-X-1840. In Colecção de Leis e Outros Documentos Publicados no Ano de 1840, 10ª Série,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1840, 2º Semestre, pp. 62-68, artigo 4º. Portaria de 10-XI-1840. in Colecção de Leis e
Outros Documentos Publicados no Ano de 1840, 10ª Série, Lisboa, Imprensa Nacional, 1840, 2º Semestre, pp. 126-
130, artigos 25º, 26º, 44º, 45º.
2009
543
votado. Duas horas após essa chamada, o presidente da mesa dava início à contagem das listas
depositadas na urna, tendo o cuidado de confrontar o seu número com as descargas dos nomes
que constavam no recenseamento. Feito o apuramento dos votos, elaborava-se uma acta onde
se mencionava os nomes dos eleitos e o número de votos que cada um teve. Os resultados eram
divulgados por edital afixado à porta da assembléia eleitoral. Por último, queimavam-se as listas
da votação, sendo a acta original da eleição remetida ao governo civil. A câmara eleita entrava
em exercício no dia 2 de Janeiro, imediato às eleições71. O presidente da câmara continua a ser
eleito pelos respectivos vereadores, mediante um escrutínio secreto, e, a partir de 1855, passa a
ser eleito, pelo mesmo método, um vice-presidente72.
Uma verificação do decurso do processo eleitoral dos municípios da Madeira revela-se
difícil, uma vez que só nos foi possível encontrar uma cópia de uma acta de apuramento da
eleição do município do Funchal, em 1877, para o mandato de 1878-79, que teria decorrido com
normalidade, com formação de mesas eleitorais e votação nas freguesias, não se especificando
quais e se houve votação em todas elas. De acordo com o documento, estando reunidos os
membros da mesa da assembléia municipal da Sé com os portadores das actas das demais
assembléias do concelho, foi formada a assembléia de apuramento dos votos da eleição
municipal, decorrida entre os dias 18 e 20 de Novembro. Apresentadas as actas eleitorais das
freguesias, devidamente lacradas, procedeu-se à sua abertura e ao apuramento geral dos votos
que, em todo o concelho, totalizaram o valor de 1836. Este valor foi devidamente confirmado
com o das descargas feitas nos cadernos de recenseamento eleitoral. Feita a lista dos indivíduos
votados, apurou-se o resultado final, isto é, os sete primeiros, que se fez público por meio de
um edital afixado à porta dos Paços do Concelho73. Temos de referir que a abstenção teria sido
elevada porque, da observação do quadro n.º 14 (eleitores e elegíveis do município do Funchal),
verificamos que, no recenseamento feito em 1877, o total de votantes era de 3061 indivíduos.
No entanto, ao observarmos a constituição dos elencos das câmaras municipais que constam
nos Anexos n.º 1 a 6, verificamos que no Funchal era usual haver uma repetição ou uma grande
semelhança na constituição dos mesmos. Nos outros municípios, a rotação parece maior, mas com
uma concentração do cargo de presidente do município em certos indivíduos. Se a formação de
uma câmara resultava de um processo eleitoral, se os elegíveis eram em numero razoável, como é
que eram sempre, ou quase sempre, os mesmos a ser eleitos? Não é nada fácil responder a esta
questão. Colocando a hipótese, perfeitamente plausível, de ter havido falta de lisura no processo de
eleição, é óbvio, por outro lado, que semelhante acontecimento não ia deixar rasto na documentação.
Os conluios, as negociações e arranjos entre os poderosos locais, são muito difíceis de estudar,
sobretudo nas eleições locais que despertavam menos interesse junto da opinião pública do que as
dos deputados da nação. Da prospecção efectuada junto dos periódicos que existiram na altura74, só
n’ O Clamor Público aparece uma referência clara à eleição municipal do Funchal, em Junho de 1855,
na qual se afirma que “de todas as freguesias de que se compõe o Concelho do Funchal, somente na
de Santo António houve mesa para a eleição da Câmara Municipal. Na freguesia da Sé compareceu
grande número de votantes, porém não houve pessoas habilitadas para a meza”75. Logo, qual seria a
credibilidade do processo eleitoral? Sem nos querermos alongar sobre esta matéria, pois os elementos
concretos são praticamente inexistentes, podemos especular no sentido de que a preponderância dos
poderosos, a nível local, continuava a ser uma realidade que, aliada à falta de interiorização do direito
71 Código Administrativo. Nova Edição Oficial. Annotado. 18 de Março de 1842, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865,
artigos 47º a 93º.
72 Lei de 6-VII-1855. In Colecção Oficial da Legislação Portuguesa. Ano de 1855, Lisboa, Imprensa Nacional, 1856,
p. 161, artigo 1º.
73 ARM, CMF, Cópia da Acta de Apuramento da Eleição para a Câmara, Livro n.º 887.
74 Citemos os periódicos A Flor do Oceano, O Funchalense, O Independente, O Amigo do Povo, O Boletim Oficial, O
Defensor, A Discussão. Em nenhum deles foi encontrada qualquer referência às eleições municipais.
75 O Clamor Público, n.º 56, Volume II, 11 de Junho de 1855.
2009
544 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
de votar por parte de muitos cidadãos, fazia com a eleição municipal se decidisse, na negociação
entre os poderosos locais e não na urna.
Contudo, qualquer que tenha sido o processo eleitoral, verifica-se que, entre 1835 e
1878, foram constituídas câmaras municipais, cuja entrada em funções e respectiva duração
podemos observar nos quadros n.º 26 a n.º 31:
Entrada Duração
Observações
em funções do mandato
20-10-1834 Anual
10-10-1835 Anual
22-5-1837 Anual A data é mais tardia porque, entretanto, entrou em vigor o
Código Administrativo em Dezembro de 1836.
1-1-1838 Anual
1-1-1839 Anual
1-1-1840 Anual
28-3-1841 1841-42 Os mandatos passam a ser de dois anos de acordo com o
disposto na legislação de Outubro de 1840.
2-1-1843 1843-44 Dissolvida em 11-5-1843.
13-5-1843 Comissão Municipal nomeada pelo governador civil.
30-1-1845 1845-46 Dissolvida em 25-6-1846.
27-6-1846 Comissão Municipal nomeada pelo governador civil.
15-10-1846 1847-48 Dissolvida em Maio de 1847.
5-5-1847 Comissão municipal fiel à Junta Governativa do Distrito do
Funchal.
27-7-1847 Comissão municipal nomeada pelo governador civil, após
dissolução da Junta Governativa do Distrito do Funchal.
25-11-1847 1848-49
2-1-1850 1850-51
2-1-1852 1852-53
2-1-1854 1854-55 Dissolvida em 4-1-1855.
5-1-1855 Comissão Municipal nomeada pelo governador civil.
?-?-1855 1856-57 Ignoramos a data da tomada de posse. Sabemos pelo
periódico O Clamor Público que as eleições decorreram no
início de Junho.
2-1-1858 1858-59
2-1-1860 1860-61
2-1-1862 1862-63
2-1-1864 1864-65
2-1-1866 1866-67
13-4-1868 1868-69
3-1-1870 1870-71
2-1-1872 1872-73
2-1-1874 1874-75
3-1-1876 1876-77
2-1-1878 1878-79
Fonte – ARM, CMF, Vereações, Livros n.º 1372 a n.º 1381
2009
545
Entrada Duração
Observações
em funções do mandato
13-10-1834 Anual
14-10-1835 Anual
24-4-1837 Anual A data é mais tardia porque, entretanto, entrou em vigor o
Código Administrativo em Dezembro de 1836.
1-1-1838 Anual
1-1-1839 Anual
1-1-1840 Anual
28-3-1841 1841-42 Os mandatos passam a ser de dois anos de acordo com o
disposto na legislação de Outubro de 1840.
2-1-1843 1843-44
2-1-1845 1845-46
22-10-1846 1847-48 Nomeada pelo Conselho de Distrito.
29-11-1847 1848-49
2-1-1850 1850-51 Nomeada pelo Conselho de Distrito.
29-12-1851 1852-53 Nomeada pelo Conselho de Distrito.
11-1-1854 1854-55
10-3-1856 1856-57
2-1-1858 1858-59
2-1-1860 1860-61
2-1-1862 1862-63
2-1-1864 1864-65
2-1-1866 1866-67
13-4-1868 1868-69
2-1-1870 1870-71
2-1-1872 1872-73
2-1-1874 1874-75
2-1-1876 1876-77
2-1-1878 1878-79
Fonte – ARM, CMPS, Vereações, Livros n.º 163 a n.º 172
Entrada Duração
Observações
em funções do mandato
13-10-1834 Anual
14-10-1835 Anual
8-5-1837 Anual A data é mais tardia porque, entretanto, entrou em vigor o
Código Administrativo em Dezembro de 1836.
17-1-1838 Anual
1-1-1839 Anual
5-1-1840 Anual
2009
546 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Entrada em Duração do
Observações
funções mandato
20-10-1834 Anual
4-10-1835 Anual
19-4-1837 Anual A data é mais tardia porque, entretanto, entrou em vigor o
Código Administrativo em Dezembro de 1836.
1-1-1838 Anual
1-1-1839 Anual
1-1-1840 Anual
21-3-1841 1841-42 Os mandatos passam a ser de dois anos de acordo com o
disposto na legislação de Outubro de 1840.
2-1-1843 1843-44
2-1-1845 1845-46
18-10-1846 1847-48
2-1-1847 1847-48 Nova eleição em observância do decreto de 12-10-1846. A
câmara demite-se, em 4 de Maio de 1847. Retoma as suas
funções em 1 de Agosto do mesmo ano.
2-11-1847 1848-49
2-1-1850 1850-51
2-1-1852 1852-53
2-1-1854 1854-55
2009
547
2-1-1856 1856-57
2-1-1858 1858-59
2-1-1860 1860-61
2-1-1862 1862-63
2-1-1864 1864-65
2-1-1866 1866-67
13-4-1868 1868-69
2-1-1870 1870-71
2-1-1872 1872-73
2-1-1874 1874-75
20-7-1876 1876-77 Entra em funções por provisão do Supremo Tribunal
Administrativo que suspendeu o acórdão do Conselho de
Distrito de 28-12-1875.
2-1-1878 1878-79
Fonte – ARM, CMM, Vereações, Livros n.º 135 a n.º 143
Quadro n.º 30 – Câmara Municipal de Santa Cruz: Entrada em Funções e Duração dos
Mandatos 1834-1878
Entrada em Duração do
Observações
funções mandato
15-10-1834 Anual
14-10-1835 Anual
19-4-1837 Anual A data é mais tardia porque, entretanto, entrou em vigor o
Código Administrativo em Dezembro de 1836.
15-1-1838 Anual
5-1-1839 Anual
1-1-1840 Anual
8-5-1841 1841-42 Os mandatos passam a ser de dois anos de acordo com o
disposto na legislação de Outubro de 1840.
18-1-1843 1843-44
8-1-1845 1845-46
4-7-1846 1847-48 A câmara demite-se em 3 de Maio de 1847 sendo
reintegrada em 28 de Julho do mesmo ano. Entre estas
datas, é uma comissão municipal que gere o município.
17-11-1847 1848-49
8-1-1850 1850-51
8-1-1852 1852-53
18-1-1854 1854-55
16-1-1856 1856-57
2-1-1858 1858-59
2-1-1860 1860-61
2-1-1862 1862-63
2-1-1864 1864-65
2-1-1866 1866-67
13-4-1868 1868-69
2-1-1870 1870-71
2009
548 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
3-1-1872 1872-73
14-1-1874 1874-75
2-1-1876 1876-77 Nomeada pelo Conselho de Distrito.
2-1-1878 1878-79
Fonte – ARM, CMSC, Vereações, Livros n.º 348 a n.º 356
Entrada em Duração do
Observações
funções mandato
12-10-1834 Anual
4-10-1835 Anual
24-4-1837 Anual A data é mais tardia porque, entretanto, entrou em vigor o
Código Administrativo em Dezembro de 1836.
11-12-1837 Anual O mandato é para o ano de 1838.
1-1-1839 Anual
1-1-1840 Anual
19-4-1841 1841-42 Os mandatos passam a ser de dois anos de acordo com o
disposto na legislação de Outubro de 1840.
4-1-1843 1843-44
4-1-1845 1845-46
2-1-1847 1847-48
3-11-1847 1848-49
2-1-1850 1850-51
2-1-1852 1852-53
4-2-1854 1854-55
2-1-1856 1856-57
6-2-1858 1858-59
16-3-1860 1860-61 Nomeada pelo Conselho de Distrito.
11-1-1862 1862-63 Nomeada pelo Conselho de Distrito.
2-1-1864 1864-65
2-1-1866 1866-67
25-4-1868 1868-69
22-1-1870 1870-71 Nomeada pelo Conselho de Distrito.
12-2-1872 1872-73 Nomeada pelo Conselho de Distrito.
28-1-1874 1874-75
26-2-1876 1876-77
26-1-1878 1878-79
Fonte – ARM, CMPSTº, Vereações, Livros n.º 2 a n.º 6 e n.º 173 a n.º 176
A análise dos quadros n.º 26 a n.º 31 suscita alguns comentários. Em primeiro lugar, é
possível constatar que a observação do calendário eleitoral foi uma realidade nos municípios
em questão. Os anos de 1834 e 1835 são aqueles em que as eleições se fizeram nos termos do
decreto de 9 de Janeiro de 1834. As câmaras entraram em funções no mês de Outubro, pois o acto
eleitoral de 1834 foi desencadeado pelo ofício da prefeitura emanado em Agosto desse mesmo
ano, tendo os trabalhos de recenseamento decorrido no mês de Setembro e as eleições no início
de Outubro. Sendo uma eleição anual, verificamos que, no ano seguinte, foi o ofício da prefeitura
2009
549
com data de 10 de Setembro que deu início ao processo eleitoral76. A primeira modificação pode
ser constatada em 1837, altura em que verificamos que os municípios entraram em funções mais
tarde, em concreto, nos meses de Abril e Maio. Com efeito, nesse ano, sabemos pelo ofício do
então administrador geral do concelho, António de Gamboa Liz, que as eleições municipais não
se tinham verificado “em tempo competente” e, ao ordenar que elas ocorressem, o administrador
geral lembra que estas devem regular-se pelo Código Administrativo promulgado em Dezembro
de 183677. A tomada de posse e entrada em funções decorria, por norma, no início de Janeiro.
É uma determinação que se encontra em ambos os Códigos Administrativos. De uma forma
geral, esse calendário foi cumprido, com alguns atrasos em situações pontuais, certamente, por
motivos burocráticos. O ano de 1841 marca o início dos mandatos de dois anos, pois assim o
determinou a legislação eleitoral municipal de Outubro de 1840. O exercício de um mandato de
dois anos será uma realidade até 1878.
Nos quadros acima apresentados, destacam-se algumas situações de que fogem à norma:
as dissoluções da câmara do Funchal, em 1843, 1846 e 1855 com a respectiva nomeação de
comissões municipais; as nomeações da autoria do Conselho de Distrito; e as eleições em
Novembro de 1847, resultado da conjuntura que, nesse ano, afectou o funcionamento dos
municípios.
O Código Administrativo de 1842, dotado de um acentuado espírito centralizador, determinava
no seu artigo 106º que uma câmara municipal podia ser dissolvida por decreto do rei. Acrescentava,
o artigo 107º, que o decreto de dissolução devia ser acompanhado da respectiva ordem de se
proceder a nova eleição. Nas disposições aplicadas às Ilhas Adjacentes, constatamos que o
artigo 347º determinava que, na Madeira e nos Açores, os corpos administrativos eleitos podiam
ser dissolvidos, mas por ordem do governador civil. O alvará de dissolução, assinado por este
magistrado, tinha de ser acompanhado da ordem de nova eleição, a decorrer no prazo de trinta
dias, tal como estipulava o artigo 107º.
A dissolução da câmara do Funchal, em 1843, ocorreu na sequência de um pedido feito,
nesse sentido, pela própria câmara ao governador civil. O município funchalense alegava que
os conflitos com o Conselho de Distrito eram de tal ordem que inviabilizavam o exercício do
poder municipal, pois este Conselho, fazendo uso da sua prerrogativa de supervisionar e aprovar
as decisões da câmara, mostrava estar sistematicamente contra essas deliberações78. O então
governador civil, Domingos Olavo Correia de Azevedo, aceitou o pedido, dissolvendo a câmara.
Em ofício para a Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, minimiza o conflito entre a câmara
e o Conselho de Distrito, dizendo que o principal problema era o conflito interno entre o presidente
da câmara e os seus vereadores79. A dissolução da câmara do Funchal em 25 de Junho de 1846,
seguida da nomeação da respectiva comissão municipal com atribuições de gestão corrente até à
entrada em funções da nova câmara, decorreu por motivos pouco claros, na nossa perspectiva80.
E não foi só a câmara do Funchal a ser dissolvida, pois essa decisão teria sido extensível ao
município de Santa Cruz. Com efeito, em ofício para o Reino, o governador civil referia, de forma
vaga, o motivo desta sua decisão. Este esteve relacionado com as eleições para deputados às
Cortes em que, segundo este ofício, as ditas câmaras do Funchal e de Santa Cruz tinham sido
“as mais salientes” nas últimas eleições para a escolha dos deputados e que “semelhante medida
não foi resultado de acontecimento algum extraordinário que alterasse o sossego público, mas
unicamente motivada pela manifestação de reprovação dos actos praticados pelas ditas câmaras
76 ARM, CMF, Registo Geral, Livro n.º 1228, fl.173 e seguintes, e fl. 265 e seguintes.
77 ARM, CMF, Registo Geral, Livro n.º 1229, fl.114vº-115vº.
78 ARM, CMF, Vereações, Livro n.º 1374, fl.153 vº. Sobre as competências do Conselho de Distrito face aos
municípios, vide Código Administrativo. Nova Edição Official. Annotado. 18 de Março de 1842, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1865, artigo 278º.
79 ARM, Governo Civil, Livro n.º 643, fl. 32vº-33vº.
80 ARM, CMF, Vereações, Livro n.º 1375, fl. 77vº.
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550 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
na época referida”81. As palavras do governador são pouco claras, mas conseguimos perceber
um ponto importante e este estava relacionado com a questão da eleição dos deputados da
nação, um momento de tensão na vida política portuguesa e a situação na Madeira não teria
sido uma excepção82. A dissolução da câmara do Funchal e consequente nomeação de uma
comissão municipal, por alvará do governador civil de 4 de Janeiro de 185583 verificou-se por
um outro tipo de razão. Novamente, verifica-se que esta dissolução foi feita ao abrigo do artigo
347º do Código Administrativo de 1842. As razões desta tomada de posição por parte do então
governador civil, José Gerardo Ferreira Passos, relacionaram-se com o problema da cobrança
de impostos da responsabilidade municipal: ”as inumeráveis questões, dúvidas e resistências a
que iam dando lugar a cobrança dos impostos lançados pela câmara e o sistema de fiscalização
por ela adoptado, e à excitação em que havião chegado os ânimos pela pouca disposição que
mostrava a câmara em modificar algumas dessas medidas que havião provocado uma oposição
quase geral a todos os actos da sua administração”84.
A questão das nomeações das câmaras municipais pelo Conselho de Distrito é um outro
problema que a análise dos quadros acima nos suscita. Foi uma realidade observada nos
concelhos da Ponta do Sol, do Porto Santo, de Santa Cruz e de Machico.
No município da Ponta do Sol, o recurso à nomeação do elenco camarário por parte do
Conselho de Distrito deu-se em três mandatos: 1847-48, 1850-51 e 1852-53. Em todos os
casos, a justificação apresentada foi a não afluência de eleitores em número suficiente para
se realizar a eleição municipal no dia designado para o efeito. Perante este cenário, cabia ao
Conselho de Distrito, proceder à nomeação da nova câmara, dando cumprimento ao n.º 3 do
artigo 278º do Código Administrativo de 184285. Em relação às quatro nomeações do elenco
do município do Porto Santo pelo Conselho de Distrito, não nos foi possível encontrar a sua
justificação nem nos livros de actas do Conselho de Distrito, nem na correspondência do governo
civil com as câmaras. Mas, é nossa convicção de que o motivo teria sido o mesmo invocado na
Ponta do Sol, pois sendo o município do Porto Santo já de si pouco povoado, com um número
de eleitores muito reduzido, por força das circunstâncias legislativas, bastava a não afluência
às urnas de alguns para comprometer a realização do acto eleitoral. A nomeação da câmara
de Santa Cruz pelo Conselho de Distrito decorreu porque, segundo o acórdão deste Conselho,
na eleição para o mandato de 1876-77, tinham sido eleitos indivíduos que estavam sujeitos à
acção fiscal da câmara o que os tornava incompatíveis para o exercício do poder municipal86. No
caso de Machico, o mesmo acórdão do Conselho de Distrito, determinava a não validação da
eleição municipal para o mandato de 1876-77, em virtude de terem sido apresentados protestos
denunciando a formação “tumultuosa” da mesa da assembléia eleitoral de Machico, tendo sido
“praticados outros actos irregulares e atentatórios dos direitos dos cidadãos e da liberdade do
sufrágio”87. Mas, a questão central era a mesma verificada no município de Santa Cruz, ou seja,
a eleição tinha recaído em indivíduos que eram devedores aos cofres municipais. Contudo, os
visados deste acórdão recorreram para o Supremo Tribunal Administrativo que acabaria por lhes
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551
dar razão, suspendendo o citado acórdão do Conselho de Distrito e determinando a sua entrada
em funções, o que aconteceu em Julho de 1876, como consta no quadro respectivo.
O ano de 1847 é aquele que apresenta uma irregularidade em todos os municípios. Este
cenário esteve relacionado com a conjuntura política do reino, em 184688, cuja repercussão se fez
sentir na Madeira em Abril de 1847. Com efeito, a 29 de Abril de 1847 deu-se um pronunciamento
local que propiciou a instituição de uma Junta de Governo, em contestação ao governo do
marquês de Saldanha e defensora, segundo João José Abreu de Sousa, de uma corrente
liberal democrática, mais à “esquerda” e em sintonia com os ideais propagados pela Revolução
Francesa89. O então governador civil, José Silvestre Ribeiro, manteve a sua lealdade ao governo
liderado pelo marquês de Saldanha. A Junta de Governo conseguiu manter-se até Julho de
1847. A 21 de Julho, chegava ao Funchal uma esquadra inglesa e, uns dias mais tarde, a Junta
Governativa do Funchal abdicava dos seus poderes. Era o início de uma fase politicamente
ordeira que a Regeneração iria dar continuidade90.
As consequências da formação da Junta Governativa do Distrito do Funchal foram uma
realidade na vida municipal. No Funchal, a câmara foi dissolvida em 5 de Maio de 1847 sendo
substituída por uma comissão municipal fiel à Junta Governativa, que esteve em funções até
ao final de Julho. A 27 desse mês, na sequência da abdicação da Junta Governativa, era
nomeada uma nova comissão, agora pelo governador civil Silvestre Ribeiro que, entretanto,
havia retomado as suas funções91. Os vereadores de Santa Cruz e de Machico, em lealdade
para com o governador Silvestre Ribeiro, pediram a sua demissão, respectivamente, nos dias
3 e 4 de Maio, recusando prestar juramento à Junta Governativa. Em Machico, verifica-se um
interregno na actividade municipal, só retomada a 1 de Agosto do mesmo ano com o juramento
de obediência à rainha D. Maria II; em Santa Cruz, por seu turno, é constituída uma comissão
municipal que, tendo só reunido uma vez, é substituída pela anterior vereação em 28 de Julho92.
Na Ponta do Sol, verificamos a existência de uma interrupção das sessões camarárias, entre 26
de Abril e 2 de Agosto de 1847, sem nenhuma informação que nos faça perceber a posição que
88 A consolidação do Liberalismo em Portugal revelou-se um processo complexo e, por vezes, extremamente violento.
De 1834 até 1851, a luta política foi uma constante entre as facções que apoiavam os princípios defendidos na Carta
Constitucional e aqueles, considerados mais radicais, que a entendiam como atentatória da doutrina democrática e
herdeira dos ideais da Revolução Francesa. Essa luta atinge o seu auge em 1846-1847, em que acontecimentos como
a revolta da Maria da Fonte, contra as leis de saúde e a reforma tributária, minaram a autoridade central ao precipitar
a demissão do governo e o consequente exílio de Costa Cabral. O golpe palaciano, no início de Outubro de 1846,
em que a rainha D. Maria II demitiu o duque de Palmela e substituiu-o pelo marquês de Saldanha, deu início a uma
violenta guerra civil – a Patuleia – que, acabando por exigir a intervenção de potências estrangeiras como a Inglaterra
e a Espanha, só terminaria em Maio de 1847. Cf. MARQUES, 2002, “A Conjuntura”, pp. 607-615.
89 SOUSA, 1994, “A Patuleia na Madeira.1847”, pp. 5-21. A Junta Governativa do Funchal era constituída por Luís
de Ornelas e Vasconcelos, presidente, Francisco Correia Herédia, vice-presidente, Diogo Berenguer, Luís Agostinho
de Figueiroa, José Júlio Rodrigues e António Correia Herédia, secretário. Na formação desta Junta encontram-se
grandes proprietários, pertencentes às famílias dominantes da Madeira que pretendiam, de acordo com Abreu de
Sousa, uma sóbria aplicação da Constituição de 1822. Acrescenta o Autor que a ausência do elemento popular foi uma
importante realidade, típica da administração madeirense, que em nome da essencial “ordem pública” preferia, sempre,
a inércia das camadas populares. Aqui, a ordem significava a permanência de estruturas sociais que os privilegiados
pretendiam manter, pois desordem era a “detestável possibilidade de instalar-se no poder a irresponsabilidade dos
que nada tinham”.
90 Com a Regeneração foi posto termo ao conflito entre os Cartistas e os Setembristas. Abria-se um novo ciclo
do Liberalismo, doravante marcado, essencialmente, pelas políticas de fomento. Esta pacificação política ficaria
enquadrada no contexto do “rotativismo partidário”, ou seja, da alternância no poder entre o Partido Regenerador
e o Partido Histórico. Este sistema de alternância dos dois maiores partidos revelar-se-ia um importante aliado da
ordem monárquica e um garante de uma estabilidade política mantida à custa da subjugação do sistema eleitoral
e, consequentemente, do domínio do parlamento por parte desses mesmos partidos. Cf. TENGARRINHA, 1975,
“Rotativismo”, pp. 392-394.
91 ARM, CMF, Vereações, Livro n.º 1375, fl. 147 e fl. 159vº.
92 ARM, CMM, Vereações, Livro n.º 137, fl. 362vº-363 e Livro n.º 138, fl.1-1vº; CMSC, Vereações, Livro n.º 350, fl.
170 e fl. 171vº-172.
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552 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
este município tomou93. A Calheta e o Porto Santo foram os dois municípios que se revelaram
em sintonia com quem estivesse no poder. A câmara da Calheta prestou o seu juramento à
Junta Governativa em Maio de 1847, e, igualmente, à rainha, em Julho de 1847. Durante esses
meses, as sessões municipais decorreram com normalidade94. Relativamente ao Porto Santo,
constatou-se a existência de um único acto de juramento de obediência, em 6 de Junho, com a
particularidade de ser dirigido à “Junta do Supremo Governo do Reino, à Rainha Constitucional
e à Junta Governativa do Funchal”95. Tal como na Calheta, o expediente municipal continuou
a ser tratado. A entrada em funções dos municípios em Novembro de 1847, concluindo um
processo eleitoral verificado em todo o reino96, marca o início de um período de estabilidade na
vida municipal madeirense.
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553
ao Antigo Regime. A análise da vereação do município de Cambra entre 1834 e 1851 revelou,
segundo Amílcar Braga, algumas linhas de continuidade, pois parte significativa dos vereadores
pós-1834, eram filhos ou familiares de antigos camaristas100. Em Torres Vedras, João Pereira,
afirma que as práticas políticas mantêm-se, praticamente, inalteráveis com o Liberalismo.
Trata-se de uma situação visível na concentração dos cargos municipais num núcleo restrito
de indivíduos composto pelos principais proprietários rurais da zona101. No concelho das Velas,
ilha de São Jorge, Paulo Silveira e Sousa demonstra que a transição para o Liberalismo foi
assegurada pela mesma elite dirigente que dominava o aparelho administrativo local, desde o
século XVIII. É um município que constituiu um verdadeiro exemplo de oligarquização do poder
local durante o século XIX102.
Finalmente, o município de Castelo Branco onde o estudo de Nuno Pousinho nos revela um
cenário que junta as duas tendências atrás delineadas: por um lado, o Liberalismo aumentou,
significativamente, o número de indivíduos com capacidade de aceder ao governo do município,
acabando por haver uma mudança ao nível dos indivíduos que passaram a ocupar os cargos
da vereação. Por outro lado, o Autor assegura que as famílias que foram mais importantes
da comunidade, durante o Antigo Regime, continuam presentes na câmara, após 1834,
compartilhando o poder com indivíduos de outras categoriais, nomeadamente negociantes,
advogados, militares ou funcionários públicos103.
Pelos vários casos numerados, verifica-se que o Liberalismo, ao alterar as regras do sistema
político de acesso ao poder municipal mediante a consagração do regime censitário, propiciou uma
diversificação social e profissional na composição das câmaras. Propiciou, através da legislação
eleitoral e nas exigências nela definidas, a ascensão de uma nova elite no âmbito do poder municipal.
Acabavam, definitivamente, a importância do nome e a ascendência do indivíduo, típicas do Antigo
Regime, como requisitos fundamentais no acesso ao governo de uma câmara. Agora, eram a posse
de riqueza e o merecimento individual, os critérios essenciais no processo de recrutamento da nova
elite. Se no Antigo Regime foram as leis emanadas pela monarquia que moldaram as elites municipais,
o mesmo sucedeu durante a Monarquia Constitucional. Portanto, a formação do grupo dos poderosos
é definida pelo rei ao determinar quem são os que podem votar mas, sobretudo, quais são os que
podem ser eleitos. Assim, a Monarquia Constitucional propicia a existência de um pequeno grupo de
elegíveis que, finalizado o processo eleitoral, acabavam nomeados para a câmara municipal, onde
iam exercer o poder em sua defesa e da Carta Constitucional.
A questão que colocamos é, precisamente, a de compreender se, nos municípios da Madeira,
após 1834, houve continuidade ou ruptura na composição da sua elite local.
Para analisar esta questão, é necessário estabelecer, previamente, os motivos pelos quais
escolhemos utilizar o termo “elite”. Em nossa perspectiva, a adopção deste termo justifica-se pela
sua plasticidade na medida em que a elite municipal é constituída por um conjunto de indivíduos
com origens sociais diversas. Daí ser preferível ao termo “oligarquia” pois este pressupõe a
existência de um governo exercido por um pequeno número de pessoas ou famílias, revelando
uma maior homogeneidade na sua composição. Como nos afirma Rui Santos, o termo oligarquia
“denota a restrição do status de governante aos maiores, mais do que a designação de um
grupo ou de um conjunto de grupos sociais”, enquanto que o termo elite tem a vantagem de
obrigar a pluralizar: “à imagem homogénea de uma oligarquia, substitui-se a de uma estrutura
de oportunidades estratificada, distribuindo posições de destaque relativamente a diferentes
grupos de referência”104. Idêntica posição pode ser encontrada em Nuno Monteiro que colocou
100 BRAGA, 2001, “As Eleições no Concelho de Cambra no Período de Consolidação do Regime Liberal (1834-
1851)”, pp. 245-259.
101 PEREIRA, 1996, “Elites locais e Liberalismo. Torres Vedras (1792-1878)”, pp. 127-187.
102 SOUSA, 1998, As Elites Periféricas [...], pp. 306-314.
103 POUSINHO, 2004, Castelo Branco. Governo, Poder e Elites [...], pp. 11-13, pp. 115-120, pp. 131-144.
104 SANTOS, 2005, “Questões para uma Sociologia Histórica das Instituições Municipais”, pp. 263-274.
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554 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
em causa a utilização do termo genérico “oligarquia camarária”, defendendo que o termo elite
é preferível para caracterizar os membros de um município, precisamente porque a base dos
oficiais camaristas era muito diversificada, não sendo possível conferir-lhe uma categoria social
uniforme105. Por seu turno, Maria Antónia Pires de Almeida revela que a aplicação do termo “elite”
assume uma abordagem teórica que tem por base os conceitos, definidos por Pierre Bourdieu,
que são usados na caracterização das várias classes sociais que a compõem em função da posse
de diversas espécies de capitais: económico, cultural, social e simbólico. Nesta perspectiva, e de
acordo com as palavras da Autora, entende-se o capital económico como aquele que decorre da
propriedade fundiária e de rendimentos de negócio ou emprego; o capital cultural como aquele
que decorre do monopólio das qualificações escolares e académicas; o capital social e simbólico
como algo inerente ao valor da posição pessoal e familiar no espaço social que, assumindo
contornos de prestígio, é reconhecida e, por vezes, reverenciada, pelos demais106.
Portanto, assumimos a aplicação do termo elite para designar o grupo que, composto por
indivíduos de várias origens sociais, exerceu o poder nos municípios, quer como presidentes de
câmara e vereadores, quer como membros do conselho municipal, órgão instituído em 1840 e
que, pela carta de lei de 16 de Novembro de 1841, passou a ser composto pelos indivíduos que
pagassem maior quantia de décima predial, tornando-se num meio de os mais ricos alcançarem
lugares de destaque e influir nos destinos do município107.
Para uma identificação do perfil sócio-profissional da elite dos municípios da Madeira, as
principais fontes utilizadas foram os livros de recenseamento eleitoral. Salientamos, uma vez
mais, que só foi possível localizar essa fonte nos municípios do Funchal, da Ponta do Sol e de
Porto Santo, conforme foi referido atrás. Apesar dos hiatos temporais que foram encontrados, a
sua utilização revelou-se fundamental, concretamente, a partir da década de quarenta, onde se
encontram discriminados os cidadãos elegíveis para os cargos municipais.
Tendo procedido ao apuramento da composição das câmaras e conselhos municipais do
Funchal, da Ponta do Sol, da Calheta, de Machico, de Santa Cruz e de Porto Santo a partir da
leitura das actas das sessões das respectivas câmaras, foi possível, nos três casos em evidência,
comparar os nomes dos indivíduos que aí constavam com as extensas listas de eleitores e
elegíveis registadas nos livros de recenseamento eleitoral. Assim, o cruzamento entre as listas
dos nomes dos indivíduos que ocuparam a câmara e o conselho municipal e a informação que
sobre eles existe no recenseamento eleitoral, foi a base para tentarmos estabelecer as principais
características deste grupo que exerceu o poder local.
Posteriormente, a análise e o tratamento desses dados permitiu-nos elaborar, para cada
um dos municípios em análise, uma ficha individual dos sujeitos identificados, onde constam
os seguintes elementos, retirados do recenseamento eleitoral: nome, freguesia da residência,
profissão, grau de instrução, rendimento anual, valor da contribuição paga. A partir das actas
das sessões camarárias foi-nos possível contabilizar o número de mandatos que os sujeitos em
questão desempenharam, quer na câmara, quer no conselho municipal.
O tratamento da informação contida nas fichas individuais permitiu-nos elaborar, para
cada município em estudo, um conjunto de quadros que, pela sua dimensão, se encontram no
anexo deste estudo. Partindo destes quadros, pretendemos perceber, através do apuramento
das situações estatisticamente mais frequentes, quais eram as características essenciais do
105 Citado em FERNANDES, 2001, “Os Processos Eleitorais na Definição das Elites de Poder […]”, p. 214, nota 4.
106 ALMEIDA, 1996, “Elites Políticas Alentejanas: Continuidade e Mudança no Concelho de Avis [...]”, pp. 191-240.
107 Carta de Lei de 29 de Outubro de 1840, in Colecção de Leis e Outros Documentos Oficiais publicados no ano de
1840, 10ª Série, Lisboa, Imprensa Nacional, 1840, 2º Semestre, pp. 62-68, artigo 5º.
Carta de Lei de 16 de Novembro de 1841, in Colecção de Leis e Outros Documentos Oficiais publicados no ano de
1841, 11ª Série, Lisboa, Imprensa Nacional, 1841, p. 245, Artigo 4º. Determinava-se que este órgão seria composto
pelos eleitores que pagassem maior quota de décima no concelho. As suas atribuições eram, em conjunto com
a câmara, a discussão e aprovação do orçamento municipal, a votação das contribuições municipais e garantir a
faculdade de a câmara contrair empréstimos.
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555
grupo que dominou a câmara e o conselho municipais, estabelecendo, uma tipologia da elite que
esteve à frente dos destinos daquelas duas instituições do poder local. Pretendemos, igualmente,
perceber se existiam diferenças entre a elite do maior município do arquipélago – o Funchal – e a
dos outros dois, Ponta do Sol e Porto Santo, com menos população e menores recursos.
A nossa linha de exposição, feita município a município, visa dar resposta às seguintes
questões:
• Proveniência, no âmbito do espaço concelhio, dos membros da elite municipal;
• Categorias sócio-profissionais presentes e quais as predominantes;
• Grau de instrução detido por estes homens;
• Número de mandatos exercidos na câmara municipal;
• Número de mandatos exercidos no conselho municipal e apreciação dos valores da
contribuição paga, nas situações de maior permanência;
• Apreciação qualitativa global do rendimento auferido pela elite municipal.
Em todos os itens, a câmara e o conselho são tratados separada e comparativamente, uma
vez que são dois órgãos de poder municipal distintos.
Analisados os elencos da câmara e do conselho municipal do Funchal, entre 1834 e 1878, foram
identificados 111 indivíduos. Deste universo não conseguimos reunir elementos em relação a nove
sujeitos que, com uma excepção, foram homens que exerceram os seus mandatos na câmara municipal
antes de 1846, quando os livros de recenseamento eleitoral não continham a discriminação dos
eleitores e dos elegíveis. A excepção reporta-se a um indivíduo que, tendo servido como conselheiro
municipal, em 1858-59, não dispõe, o recenseamento eleitoral, de informações a seu respeito.
Dos restantes 102 indivíduos, 58 exerceram funções exclusivamente na câmara, 24 foram
apenas conselheiros municipais, e 20 desempenharam funções em ambos os órgãos. Por essa
razão, esses 20 sujeitos, aparecem contabilizados, nos gráficos que se seguem, quer na câmara,
quer no conselho municipal. Os gráficos n.º 1 e n.º 2108 dão-nos informações sobre as freguesias
onde residiam os homens ligados ao poder local:
Fonte – ARM, CMF, Recenseamento Eleitoral, Livros n.º 902, 906, 907, 908, 909, 910, 913, 914, 915, 916, 920,
921, 925, 926, 927
108 Os quadros de suporte da informação contida em todos os gráficos apresentados, desta página em diante,
integram o Anexo n.º 28.
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556 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Da observação dos gráficos n.º 1 e 2, podemos constatar que os homens que estiveram
ligados ao poder local residiam, na sua grande maioria, nas duas principais freguesias situadas
dentro do perímetro urbano: Sé e São Pedro. Com efeito, as freguesias da Sé e de São Pedro,
localizadas junto ao mar, contavam, nesta época, com um elevado número de habitantes109.
Ao mesmo tempo, eram os espaços da cidade onde se concentravam os principais edifícios
públicos e religiosos, testemunho de uma vitalidade económica e política que se manifestava
desde os inícios do século XVI. Era na freguesia da Sé que se localizavam os principais órgãos de
poder sediados na fortaleza de São Lourenço, residência dos governadores civis, nos Paços do
Concelho, local de reunião da câmara municipal, na Alfândega, fundamental numa cidade voltada
para o comércio externo, assim como os principais edifícios religiosos, designadamente, a Sé
Catedral, o Paço Episcopal, a Igreja de São João Evangelista e a Misericórdia110. Relativamente
à freguesia de São Pedro, a sua importância provinha do facto de, desde há muitos anos, ser o
local de residência das famílias mais abastadas e importantes, uma realidade visível no conjunto
arquitectónico da freguesia, onde se destacavam as casas particulares, de estilo apalaçado.
“sobressaindo o excelente trabalho de cantaria lavrada, ferragens das vergas das varandas e
ainda importantes pormenores de decoração interior, como tectos estucados, silhares e paredes
pintadas”111. Deste conjunto, destacavam-se, no século XIX, o Palácio de São Pedro, propriedade
dos Carvalhais, a Casa da Calçada, do visconde e, mais tarde, conde da Calçada, a Quinta das
Cruzes, da família Lomelino. E, mais a ocidente, a Quinta de São João, do morgado Berenguer.
A presença de palácios era, igualmente, uma realidade na freguesia da Sé, demonstração da
riqueza de alguns dos seus habitantes, como o do morgado Aires de Ornelas e Vasconcelos, na
rua do Bispo, e o da família Torre Bela, na rua dos Ferreiros112. Portanto, foi das duas freguesias
mais importantes e ricas da cidade que saíram os homens que ocuparam, predominantemente, os
lugares na câmara e conselho municipais. A predominância destas duas freguesias é reveladora
de uma importante realidade: são os habitantes do espaço privilegiado, do ponto de vista
económico e social, que acedem, facilmente, às instâncias de poder. Em contrapartida, quanto
mais distante do centro de poder esteve uma freguesia, menor foi o número de residentes que
desempenhou cargos quer na câmara, quer no conselho municipais. Tal é visível, em ambos os
gráficos: a freguesia de Santa Luzia, fora do perímetro urbano, surge em terceiro lugar; por seu
turno, a freguesia de Santa Maria Maior, apesar de ser central, era habitada, essencialmente,
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557
pela população laboral. As outras que nos surgiram foram, no caso do gráfico n.º 1, as freguesias
de Santo António, São Gonçalo e São Martinho, e no gráfico n.º 2, as freguesias de Nossa
Senhora do Monte, São Martinho e Santa Maria Maior. Em ambos os casos, com uma muito
reduzida expressão.
Para uma caracterização social e profissional da elite municipal, apresentamos os gráficos
n.º 3 e n.º 4:
113 Cf. SOUSA, 2004, O Exercício do Poder Municipal na Madeira [...], pp. 98-122.
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558 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
114 Cf. RODRIGUES, 1996, Organização dos Poderes e Estrutura Social [...].
115 FERREIRA, 1998, “Arquivo da Família Ornelas Vasconcelos […]”, pp. 25-27.
116 CLODE, 1983, Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses [...], p. 40.
117 COUTO, 1989, “O Projecto do Barão de São Pedro de Abolição dos Vínculos no Arquipélago da Madeira (1850)”,
pp. 671-688.
118 ARM, Governo Civil, Livro n.º 647, fl. 66-67.
119 SILVA, MENESES, 1998, Elucidário Madeirense […], Volume I, pp. 254-56. Referem os Autores que a Casa
Carvalhal abrangia diversos morgadios, sendo o mais importante o do Espírito Santo, na Lombada da Ponta do Sol,
instituído em 1511. Contava ainda com o morgadio da Ponta Delgada e com os vínculos de Água de Mel, do Paul do
Mar, dos Lemes e muitos outros situados em diversos pontos da ilha. Em 1862, o conde de Carvalhal tinha de renda
anual a quantia de 25:000$000, ARM, Governo Civil, Livro n.º 647, fl. 66-67. Sobre a ascendência do 2º conde de
Carvalhal, ver BARROS, 2001, Dona Guiomar de Sá Vilhena […], quadro genealógico desdobrável.
120 CLODE, 1983, Registo Bio-Bibliográfico […], pp. 86-87, pp. 428-429. SOUSA, 2004, O Exercício do Poder
Municipal na Madeira e Porto Santo […], pp. 104-116.
121 PACHECO, 2007, Sociedades e Estratégias Empresariais […], p.63 e p.180. Ambos eram proprietários de
estabelecimentos dedicados ao fabrico de açúcar e álcool; VIEIRA, 2004, Canaviais, Açúcar e Aguardente na Madeira
[...], pp. 219-221.
122 ARM, CMF, Diplomas, Livro n.º 233, fl. 31-31vº.
123 RODRIGUES, 2006, A Madeira entre 1820 e 1842 [...], pp. 998-999.
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559
proporcionavam a este grupo o acesso ao exercício do poder municipal. Temos informação de que
o Funchal era o único espaço do arquipélago onde se concentravam os negociantes, de grosso
e de pequeno trato, devido ao seu porto, único em todo o arquipélago, gerador de um intenso
movimento de importação e exportação de produtos124. Igualmente importante, nesta época, foi
o desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar devido às graves doenças que afectaram a
vinha. A crise do vinho, uma realidade que marcou a segunda metade do século XIX, obrigou
os seus antigos produtores a recorrer ao cultivo da cana de açúcar como alternativa económica,
procurando auferir os mesmos lucros que tinham obtido durante o período áureo de exploração
da vinha e exportação do vinho125. As possibilidades do novo sector sacarino eram bastante
apelativas, na medida em que existia um retorno do investimento na reconversão agrícola ao fim
de pouco tempo, tendo em consideração o elevado lucro demonstrado pelos mercados do açúcar,
mas sobretudo para os do álcool e aguardente126. Foi neste ramo de actividade empresarial
que encontrámos António Ferreira Nogueira, que surge como proprietário, e do seu sobrinho,
Vitorino Ferreira Nogueira, com a categoria de negociante, que apostaram os seus investimentos
nesta área: disso foi testemunho o estabelecimento “Ferreira Nogueira” que se dedicava ao já
mencionado fabrico de açúcar e de álcool127. Por seu turno, Alexandre de Oliveira, com o estatuto
de proprietário, apostou, com elevada rentabilidade, na actividade de importação-exportação
através de uma sociedade mercantil, denominada “Oliveira e Davies”, em parceria com o seu
sócio, Richard David128. Numa escala mais modesta encontramos os irmãos João Higino e
Severiano Alberto Ferraz, cujo pai, Severiano Alberto de Freitas Ferraz é o único que nos surge
com a categoria de “fabricante”. Precisamente este último que, em Janeiro de 1822 era um dos
procuradores dos mesteres da câmara do Funchal129, estabelecera, em 1848, a Fábrica da Ponte
Nova, dedicada à produção de açúcar de cana, e fora o primeiro a construir um engenho a vapor,
na ilha da Madeira, em 1856. Quando faleceu, nesse mesmo ano de 1856, os seus dois filhos,
João Higino e Severiano, criaram a sociedade Ferraz Irmãos dedicada à produção de açúcar de
cana, na mesma fábrica da Ponte Nova130.
Identificamos 9% dos membros da câmara com a profissão de advogado. Neste grupo,
destacam-se Domingos Olavo Correia de Azevedo, magistrado da comarca oriental do Funchal,
em 1835, que viria a ser nomeado administrador geral, em 1841131, Francisco Vieira da Silva
Barradas que chegou a ter banca de advogado em Lisboa, com muita clientela132, Joaquim
Ricardo da Trindade Vasconcelos, um dos mais relevantes advogados do seu tempo, tanto no
foro civil como no crime, e director da Companhia Fabril de Açúcar Madeirense, fundada em
1866133, e Sérvulo Drummond de Meneses que, para além de advogado e membro da câmara, foi
redactor e colaborador de vários periódicos e publicou a importante obra, relativa à administração
124 Ver Classificação da população por géneros de indústria, profissões, misteres, etc, In Uma Época Administrativa
da Madeira e Porto Santo [...], Volume II, em anexo desdobrável.
PERY, 1875, Geographia e Estatística Geral de Portugal e Colónias [...], pp. 321-322.
125 VIEIRA, 2004, Canaviais, Açúcar e Aguardente na Madeira [...], p. 204.
126 PACHECO, 2007, Sociedades e Estratégias Empresariais [...], pp. 11-15.
127 PACHECO, 2007, Sociedades e Estratégias Empresariais […], p. 30 e p. 63.
128 Estas informações constam no testamento de Alexandre de Oliveira pelo qual se pode constatar que este detinha
várias quintas e casas, com recheio de peças de ouro e prata, mobílias, alfaias; a sociedade mercantil “Oliveira e
Davies” e respectivo espólio, além de inscrições da Junta do Crédito Público e várias acções em Londres relacionadas
com a extracção mineira no Brasil. ARM, ACF, Registo de Testamentos, Livro n.º 9, fl.25vº e seguintes.
129 RODRIGUES, 2006, A Madeira entre 1820 e 1842 [...], p. 998.
130 VIEIRA (coord.), 2005, João Higino Ferraz. Copiadores de Cartas [...], pp. 39-43.
131 RODRIGUES, 2006, A Madeira entre 1820 e 1842 [...], pp. 988-989.
132 CLODE, 1983, Registo Bio-Bibliográfico [...], pp. 58-59.
133 CLODE, 1983, Registo Bio-Bibliográfico [...], p. 485. PACHECO, 2007, Sociedades e Estratégias Empresariais
[...], p. 114 e p. 123.
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560 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
do conselheiro José Silvestre Ribeiro, Uma Época Administrativa da Madeira e Porto Santo, em
1849-50134. Ainda dentro do grupo de profissionais especializados, verificamos a presença de
médicos (6%), dos quais destacamos João Nepomuceno Gomes que maior número de presenças
registou como vereador, como veremos mais adiante, e Pedro Júlio Vieira, três vezes presidente
da câmara do Funchal. As ocupações ligadas à saúde estão, igualmente, representadas pelos
farmacêuticos, com duas ocorrências. Foram eles António Machado Costa e Ricardo Augusto
Figueira, figuras que se destacaram na sociedade funchalense: o primeiro por ter estado à frente
da primeira botica que existiu na Madeira, e o segundo pela sua formação académica, obtida no
estrangeiro. Acabariam por juntar os seus destinos profissionais com a fundação de uma farmácia,
de nome Dois Amigos, que ainda hoje existe no Funchal135. No âmbito do ensino verificamos a
presença, nos elencos municipais, dos professores Júlio da Silva Carvalho e Marceliano Ribeiro
de Mendonça que foram figuras relevantes no panorama cultural funchalense. Júlio da Silva
Carvalho esteve durante muitos anos à frente do Colégio Funchalense, que fundou em 1845;
por sua vez, Marceliano Ribeiro de Mendonça, para além do exercício dos cargos públicos, fez
parte do corpo docente do recém-criado Liceu do Funchal, vindo a ser nomeado reitor daquele
estabelecimento e comissário dos estudos. Os seus relatórios sobre instrução e docência teriam
sido famosos, chegando alguns a ser publicados na revista científica O Instituto136. Finalmente,
um grupo que se revela uma novidade no contexto municipal. Referimo-nos aos sujeitos que
surgem com profissões modestas, em concreto, um alfaiate, três lojistas e três caixeiros ou
guarda-livros, representando uma faixa social que, apesar de numerosa no contexto da urbe,
teria pouco peso sócio-económico e, consequentemente, político. No entanto, estes sujeitos
tinham rendimentos que lhes permitiram figurar como elegíveis, tendo acabado por ser eleitos.
Uma realidade impensável antes de 1834, mas que a Monarquia Constitucional e o seu sistema
eleitoral censitário permitiu. Os casos de Cândido Henriques de Freitas e de João José de
Macedo, ambos lojistas, revelam-se interessantes, na medida em que são reveladores de uma
ascensão económica, fruto, certamente do seu trabalho árduo, ascensão essa que lhes permitiu,
no caso de João José de Macedo, chegar ao estatuto de proprietário, em 1873, e a Cândido
Henriques de Freitas deixar no seu testamento um “conjunto de bens, direitos e acções, além de
mobílias, pratas, e vinhos”137.
Entre os conselheiros municipais observamos uma situação muito semelhante à dos
membros da câmara. É notória a preponderância dos proprietários (63%), seguindo-se os
negociantes em muito menor número (23%). Tal como na câmara, encontramos a presença de
médicos e advogados, mas numa expressão muito reduzida, dois casos cada, assinalando-se
ainda, a presença de um militar e de um recebedor do concelho.
Dentro da categoria dos proprietários, devemos salientar, novamente, a presença de
indivíduos pertencentes às famílias tradicionais madeirenses, ou seja, aquelas que detinham
a maior parte da riqueza fundiária, por via do morgadio. Assim, mencionemos, a título
exemplificativo, os casos de Agostinho de Ornelas e Vasconcelos, 14º morgado do Caniço, filho
de Aires de Ornelas e Vasconcelos138, já referenciado, João Sauvaire da Câmara Vasconcelos,
João Teixeira Dória, Mendo Ornelas Cisneiro de Brito e Pedro Agostinho Teixeira de Vasconcelos,
todos administradores de vínculos e capelas do distrito do Funchal139 e, ainda, Tristão Joaquim
Betencourt da Câmara, pai de Tristão Joaquim da Câmara, júnior, mencionado anteriormente.
Mas, ao lado das velhas fortunas, constatamos a presença de proprietários, detentores de
2009
561
uma riqueza mais recente, como Roberto Leal que, apesar de nos surgir classificado como
proprietário, adquiriu a sua riqueza e prestígio social, em virtude de uma actividade empresarial
muito intensa e lucrativa no sector da produção de derivados da cana sacarina140. Da leitura
do seu testamento, datado de 1868, sobressai a vastidão do seu legado, bem como a sua
filantropia. Assim, ao Hospital da Misericórdia do Funchal deixou 70 camas, 70 cobertores e 149
lençóis e, ao Asilo de Mendicidade e Órfãos, igual quantidade de artigos, bem como um vestuário
completo aos pobres que ali estivessem recolhidos; na relação de bens e dinheiros, são referidos
“Juros ou rendimentos de 34 mil libras esterlinas que corresponde a 163 contos e 200 mil réis,
moeda desta praça, do dinheiro que tem em acções, bancos e hipotecas e em poder dos seus
correspondentes em Inglaterra, na Rússia e nos Estados Unidos da América”, na parte dos bens
imóveis, constatamos a existência de uma quinta, denominada da Paz, sua residência à data
deste testamento, que incluía a respectiva fazenda, a casa de habitação com as suas mobílias,
pratas e o vinho engarrafado. São, igualmente, referidas casas, fazendas e benfeitorias nas
freguesias do Porto da Cruz, Machico, Santa Cruz, Faial, Santana, São Gonçalo, Estreito de
Câmara de Lobos, uma casa na rua das Mercês, no Funchal, e várias casas e armazéns na rua
dos Moinhos141.
Entre os conselheiros municipais dedicados ao mundo dos negócios, surge uma distinção
entre “negociante” ou “negociante e proprietário”, sendo esta última, com certeza, o resultado
de uma bem sucedida ascensão social, pois aquele que começava a sua actividade em tratos
e tráficos diversos, certamente que ambicionava alcançar um estatuto mais elevado e em tudo
semelhante ao dos proprietários tradicionais. Assim o teriam conseguido João de Freitas Martins,
João de Sales Caldeira, Tomás da Silva Torres e Vicente Cândido Machado, que se distinguiram
em virtude do lucro gerado pelos seus investimentos nos sectores agro-industriais do vinho e da
cana sacarina142. João de Sales Caldeira foi responsável pela introdução da cultura do tabaco,
sem grande êxito, e das vinhas americanas refractárias com novos processos de enxertia143.
O grau de instrução da elite funchalense, é o terceiro ponto que nos interessa apurar. Tal é
passível de ser visualizado nos gráficos n.º 5 e n.º 6.
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562 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Todos os indivíduos que fizeram parte dos órgãos de poder municipal – câmara e conselho –
eram possuidores de uma formação de base, requisito das condições de elegibilidade que exigiam
que se soubesse ler, escrever e contar. Porém, é reduzido o número dos que detinham uma
qualificação de nível superior, verificada, somente, nos advogados e nos médicos, possuidores
de qualificações outorgadas pelas universidades. Nos dois outros graus de ensino, verifica-
se uma prevalência da instrução primária em relação à secundária. Numa época marcada por
elevadíssimas taxas de analfabetismo, o conhecimento das primeiras letras, de algum latim e
gramática, além da aritmética, teria sido considerado o adequado para os indivíduos nascidos
no meio privilegiado.
Os cargos da câmara municipal do Funchal compreendiam o de presidente, vice-presidente,
a partir de finais da década de 50, e vereador.
Houve uma distribuição do exercício destes cargos, ou pelo contrário, uma concentração?
Os gráficos n.º 7, 8 e 9, procuram dar resposta a esta questão.
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563
144 Devemos especificar que foi incluído o desempenho nas comissões municipais por entendermos que estas,
substituindo uma câmara, actuavam com as mesmas obrigações e com a mesma dinâmica, sendo as suas actas
registadas juntamente com as da câmara municipal. Salientamos, igualmente, que nos gráficos 7 a 10, está presente
a totalidade dos indivíduos que desempenharam funções na câmara e no conselho, ou seja, incluímos aqueles que
não constam no recenseamento eleitoral, por tal ser perfeitamente possível no tratamento e análise da distribuição dos
mandatos. Esta observação aplica-se, igualmente, nos casos da Ponta do Sol e do Porto Santo.
Para a aferição das conclusões aqui expostas, ver Anexo n.º 1: Elencos da Câmara Municipal do Funchal (1834-1879).
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564 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Vieira. Nesta coincidência, no sentido literal do termo, terão pesado as afinidades pessoais e
políticas, pois a escolha do vice era, tal como a do presidente, da responsabilidade da vereação.
Relativamente à distribuição dos mandatos de vereador podemos observar o gráfico n.º 9:
O cargo de conselheiro municipal, determinado não pela eleição mas em função dos valores
da contribuição predial paga anualmente, apresenta uma distribuição que consta no gráfico
seguinte:
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A informação contida no gráfico relativo aos sujeitos que exerceram funções no conselho
municipal do Funchal, permite-nos perceber que a maioria dos conselheiros figurou na instituição
uma ou duas vezes. Ressaltam, com evidência, os quatro indivíduos que estiveram no conselho
municipal nove, dez, doze e treze vezes, respectivamente, o conde de Carvalhal, o visconde
de São João, o visconde da Calçada e o morgado Nuno de Freitas Lomelino. Se a câmara
era um órgão eleito, o mesmo não sucedia com o conselho municipal que era constituído, nos
termos da lei, pelos maiores contribuintes da décima predial do concelho145, logo pelos mais
ricos, chamados a exercer funções.
Verificamos, com os quatro casos apurados, que esses eram, precisamente, os descendentes
das velhas famílias terratenentes, demonstrando-se que a riqueza e tradição continuavam
intimamente ligadas. Dentro deste restrito grupo de quatro indivíduos, os valores da contribuição
paga pelo conde de Carvalhal apresentam-se como os mais elevados: entre 1866 e 1876,
oscilaram entre 856$728 e 1:052$572, respectivamente. O visconde de São João revelou valores
entre 167$149, em 1866, e 222$338, em 1875; por seu turno, o visconde da Calçada, mostra
cifras um pouco mais baixas, entre 106$790, em 1866, e 157$660, em 1876. Finalmente, Nuno
145 A partir da década de sessenta a aferição dos eleitores e dos elegíveis, na Madeira, passou a ser feita através
dos valores da “contribuição paga”. Segundo Eugénia Mata, a contribuição podia ser de dois tipos: predial ou
industrial. A contribuição predial era um imposto de repartição que se calculava em função do valor de registo dos
imóveis. Por seu turno, a contribuição industrial tinha dois âmbitos de aplicação: o primeiro aplicava-se às empresas
capitalistas e o segundo às unidades artesanais e às profissões liberais. As empresas capitalistas eram tributadas com
montantes calculados de acordo com indicadores da capacidade produtiva, tais como o número de trabalhadores ou
de máquinas existentes. Quanto às unidades artesanais e às profissões liberais, estas eram tributadas com montantes
tabelados em função do ramo de actividade e da importância do lugar onde esta era exercida. Ver VALERIO (coord.),
2001, As Finanças Públicas no Parlamento Português [...], p.94. Apesar da existência desta distinção, não nos surge
discriminado, na fonte consultada, se era a contribuição industrial ou predial, surgindo apenas o termo “contribuição
paga”, o que nos dificulta uma análise aprofundada.
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566 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
146 Ver Anexo n.º 21: Indicadores Sócio – Económicos dos Membros da Câmara e do Conselho Municipais do
Funchal (1834-1879).
147 Ver Anexos n.º 19, 20, 21: Indicadores Sócio – Económicos dos Membros da Câmara e do Conselho Municipais
do Funchal (1834-1879).
148 Código Administrativo. Nova Edição Offcial. Annotado. 18 de Março de 1842, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865,
artigo 345º.
Decreto de 30 de Setembro de 1852. In Colecção Oficial da Legislação Portuguesa. Ano de 1852, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1853, pp. 479-512, Artigo 10º.
149 Cf. ARM, CMF, Recenseamento Eleitoral, Livros n.º 910 e 913.
150 Ver, para todas as situações referenciadas, os Anexos n.º 19, 20 e 21 relativos aos Indicadores Sócio – Económicos
dos Membros da Câmara e Conselho Municipais do Funchal (1834-79).
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Pela informação apresentada no quadro n.º 32, vemos que foi numeroso o conjunto
de membros da elite funchalense que desempenhou funções nas principais instituições
administrativas. A Junta Geral de Distrito e o Conselho de Distrito eram, juntamente com as
câmaras municipais, os principais órgãos de poder local, tendo os dois primeiros sido estabelecidos
pela reforma administrativa de 1835151. Afigurou-se, igualmente, importante, saber quem chegou
a deputado da nação e a dirigente de partidos políticos e quem exerceu funções de direcção
na Associação Comercial do Funchal que, instituída em 1836, foi a mais notória colectividade
deste ramo, existente no Funchal de oitocentos152. Na última coluna, relativa a “outros cargos”,
interessou-nos ver se os sujeitos referenciados estiveram presentes noutras instâncias de poder,
de beneficência, financeiras, etc.
Faça-se a ressalva de que este quadro está longe de ser exaustivo, em virtude da escassez
informativa e da sua elevada dispersão. Contudo, é possível fornecer alguns elementos que
nos permitem perceber que os indivíduos em análise se moveram, com facilidade, no seu meio
político e económico, apesar de terem sido muito poucos aqueles que exerceram funções a nível
nacional, nomeadamente, como deputados da nação.
A presença destes sujeitos na Junta Geral do Distrito do Funchal, como procuradores, foi
uma realidade, presente de forma significativa e, por vezes, de uma forma contínua, como se
constata da observação do quadro153. Tal denota a existência de uma relação de proximidade
entre os dois corpos administrativos: ser presidente, vice-presidente ou vereador nuns anos e
membro da Junta noutros, afigurava-se, certamente, interessante na medida em que possibilitava
o acesso a um fórum de discussão dos problemas que afectavam a Madeira e de propor, junto
do governo central, medidas para solucionar esses mesmos problemas154. Relativamente ao
Conselho de Distrito, foi-nos muito difícil apurar os seus elencos, sobretudo a partir de 1842.
Sabemos que, entre 1836 e 1842, os vogais deste Conselho eram eleitos em sessão da Junta
Geral155. Contudo, a partir de 1842, com a promulgação de um novo Código Administrativo, de
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cariz centralizador, o método de escolha destes vogais altera-se: a Junta Geral procede à eleição
e proposta de doze indivíduos, com as qualidades requeridas, para serem vogais do Conselho
de Distrito. Elaborada a lista dos votados, remetia-se ao rei que, por seu turno, escolhia os quatro
conselheiros efectivos e substitutos156. O problema foi conseguir localizar a nomeação feita pelo
rei. Com efeito, tal só foi possível para os anos de 1845 e 1850157.
Pela observação do quadro n.º 32, vemos que foram poucos os membros da câmara do
Funchal que estiveram, como vogais efectivos, no Conselho de Distrito. Mas, repetimo-lo, a
informação sobre este item estará incompleta pelos motivos expostos.
Encontramos os três membros da elite municipal da cidade que foram eleitos deputados da
nação: Agostinho de Ornelas e Vasconcelos, entre 1868 e 1874, António da Luz Pita, em 1851-52,
e Manuel José Vieira para o qual apontamos um mandato. Saliente-se que Agostinho de Ornelas
Vasconcelos esteve no exercício de funções em representação da coroa portuguesa, neste caso,
como diplomata ao serviço do Ministério dos Negócios Estrangeiros158. Por seu turno, Manuel
José Vieira seria, após 1879, deputado pela Madeira nas legislaturas de 1882-1884; 1887-1889;
e 1894-1895159.
São alguns os nomes que nos surgem, no meio do complicado e fluído xadrez político da
época, como dirigentes de partidos políticos. Nada de surpreendente, pois, durante o século XIX,
os partidos eram, ao nível concelhio, liderados pelos membros da elite local que, em virtude da sua
influência pessoal e do seu peso social e económico, arregimentavam os votantes necessários
para eleger o seu partido160.
A relação entre o mundo da política e dos negócios é visível pelos sujeitos que estiveram na
direcção da Associação Comercial do Funchal. A presença sucessiva de Alexandre de Oliveira,
António Joaquim Marques Bastos, Cândido de Freitas Abreu, Fidélio de Freitas Branco, João
António da Silva Rego, João de Sales Caldeira, João da Silva Torres, Silvano de Freitas Branco
e Vicente José de Antas atestam a importância de circular, com fluidez, num e noutro campo,
pois o sucesso dos negócios poderia depender dos contactos políticos que, por seu turno,
condicionariam o êxito empresarial.
Em relação à última coluna, observamos que vários dos elementos em análise exerceram cargos
em diversas instituições. Fidélio de Freitas Branco foi tesoureiro do Asilo de Mendicidade, em 1850, e
Henrique Camacho fundou a Associação de Socorros Mútuos 4 de Setembro, em 1862161. O exercício
de funções judiciais foi uma outra realidade, demonstrada pela informação contida neste quadro:
Domingos Olavo Correia de Azevedo foi juiz de direito da comarca oriental, entre 1835 e 1838, e João
de Freitas Almeida, delegado do procurador régio da mesma comarca, em 1836, e juiz ordinário do
julgado da dita, em 1842162. A presença de alguns destes indivíduos no governo civil é outro ponto a
assinalar: Alfredo de Freitas Leal e Sérvulo Drummond de Meneses exerceram, por sua vez, como
secretários daquela instituição163. Manuel de Santana Vasconcelos e Valentim de Mendonça Drummond
156 Código Administrativo. Nova Edição Official. Annotado. 18 de Março de 1842, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865,
artigo 266º.
157 ARM, Governo Civil, Livro n.º 657, fl. 42vº e fl. 219vº-220. Pelas Actas do Conselho de Distrito que existem no
fundo do Governo Civil, cujas datas extremas são 1836-1886, fomos confrontados com a não-especificação do seu
elenco, ou seja, existe apenas a afirmação, no início de cada reunião, “conselheiros presentes e abaixo assinados”,
sendo que essas assinaturas constam de um só apelido, o que torna a tarefa muito difícil.
158 FERREIRA, 1998, “Arquivo da Família Ornelas Vasconcelos […]”, pp. 28-34; GOMES, 1997, “Agostinho de
Ornelas Vasconcelos: O Morgado Liberal e a Decisão Criativa”, pp. 79-109.
159 VIEIRA (coord.), 2001, História da Madeira [...], p. 274.
160 Ver ALMEIDA, 1991, Eleições e Caciquismo no Portugal Oitocentista [...].
161 CLODE, 1983, Registo Bio-Bibliográfico [...], p. 91; RODRIGUES, 2006, A Madeira entre 1820 e 1842 [...], p. 990.
162 RODRIGUES, 2006, A Madeira entre 1820 e 1842 [...], p. 986 e p. 988.
163 ARM, CMF, Diplomas, Livro n.º 233, fl. 90vº; RODRIGUES, 2006, A Madeira entre 1820 e 1842 [...], pp. 1005-
1006; SILVA, MENESES, 1998, Elucidário Madeirense [...], Volume III, pp. 210-211.
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foram administradores do concelho do Funchal164; por seu turno, Aires de Ornelas Vasconcelos e
Domingos Olavo Correia de Azevedo chegaram ao cargo mais alto do distrito, administrador geral,
sendo nomeados em 1840 e em 1841, respectivamente165. Sérvulo Drummond de Meneses foi ainda
governador civil interino, em 1848-49166, tendo acontecido o mesmo com Valentim de Freitas Leal em
1846167. Destacamos, uma vez mais, Agostinho de Ornelas e Vasconcelos que, como diplomata ao
serviço do Ministério dos Negócios Estrangeiros, foi o único membro da elite local que, nesta época,
exerceu funções, ao mais alto nível, em representação da coroa portuguesa. Alexandre de Oliveira foi
um caso de polivalência: além de proprietário, com os seus negócios e membro da câmara e conselho
municipais, foi secretário da Sociedade das Corridas Funchalense, director da Levada Nova do Curral
e agente da Companhia das Obras Públicas de Portugal168. Idêntica situação encontra-se no caso de
João de Sales Caldeira que, além de todas as funções já assinaladas, esteve na gestão do Asilo de
Mendicidade e Órfãos e ainda como director do Banco Comercial da Madeira169.
António da Luz Pita e Juvenal Honório de Ornelas, na sua qualidade de médicos, exerceram
funções na Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, tendo o primeiro chegado a ser director daquela
instituição de ensino170.
Em suma, podemos concluir que quase metade dos 102 indivíduos, identificados nos elencos
municipais, exerceu funções para além do âmbito da vereação e do conselho municipais, em relevantes
órgãos e instituições do distrito, demonstrando o peso do seu papel político, social e económico,
perfeitamente articulado numa complexa e dinâmica rede de relações pessoais e políticas.
No município da Ponta do Sol, os seus elencos municipais (câmara e conselho) totalizaram a
presença de 95 indivíduos, dos quais conseguimos reunir elementos, a partir do recenseamento
eleitoral, para 87 casos.
Os gráficos n.º 11 e n.º 12 dão-nos uma informação relativamente às freguesias de residência
dos membros da câmara e do conselho municipais da Ponta do Sol.
Fonte – ARM, CMPS, Recenseamento Eleitoral, Livros n.º 351, 355, 356, 358, 360, 363, 364
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171 VIEIRA, RODRIGUES, 1993, “Ponta do Sol: Um Século de Vida Municipal (1594-1700)”, pp. 265-280.
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João Agostinho Ferreira de Freitas, cujos apelidos coincidem com os daqueles que ocuparam os
lugares do município, uma ou duas gerações atrás172. No que toca aos sujeitos discriminados com a
categoria “proprietário e indústria”, é nosso entendimento que estes pertenciam a um grupo que se
dedicava ao fabrico artesanal de vários produtos, sendo também proprietários das terras de cultivo da
matéria-prima. Aqui, podemos dar o exemplo de José Maria Barreto que, além de administrador de
vínculos, se dedicava à produção de derivados da cana sacarina, sendo possuidor de um engenho
de moer canas, a tracção animal, e de um alambique de destilação, localizado no antigo solar de
São José, na Ribeira Brava173. Mas a utilização do termo “indústria” podia, também, significar outras
realidades, no âmbito da produção artesanal. As estatísticas de oitocentos referiam, em relação ao
distrito administrativo do Funchal, a presença de actividade económica designada por “indústria” que
contabilizava, no ano de 1862, a existência de 1.407 “estabelecimentos industriais”, compreendendo,
em razoável número, aqueles destinados ao fabrico de açúcar e seus derivados, concretamente de
aguardente174. Encontramos, nesta mesma estatística, a referência a outros ramos, que surgem em
número significativo, como a moagem de cereais, os curtumes, os lagares de vinho e as estufas para
o melhorar. Qualquer uma destas actividades estaria presente, ainda que em pequeno número, no
concelho da Ponta do Sol175 e podia aplicar-se aos indivíduos inseridos na categoria “proprietário e
indústria” que constam do grupo em análise.
Os indivíduos que surgem como “lavradores”, representariam um grupo que se distinguia do
restante campesinato por possuírem um rendimento próprio, suficiente para acederem à condição
de elegíveis, derivado do facto de serem donos das suas parcelas de terra e por, certamente, as
não cultivarem directamente, pois a sua condição de proprietários permitia-lhes recorrer à sua
exploração em regime de colonia, uma característica do mundo agrícola madeirense176. Saliente-
se que, ao contrário do Funchal, a presença de indivíduos ligados ao comércio é quase nula, o que
não é de estranhar, atendendo à ruralidade característica do concelho da Ponta do Sol. Assim,
encontramos apenas um comerciante, um fanqueiro e um estanqueiro. Com excepção deste
último, cujo estanco desconhecemos, achamos que os dois primeiros significavam, na prática, o
mesmo, isto é, seriam indivíduos que tinham uma pequena venda, associada, certamente, a uma
taberna, que distribuía, localmente, não os produtos agrícolas locais, mas sim bens de segunda
necessidade, geralmente adquiridos no Funchal.
Dentro da categoria designada por “outros” encontramos profissões diversificadas: um
curador geral dos órfãos, um procurador do auditório, um advogado, um escrivão da câmara, um
feitor, um organista; devemos ainda mencionar a presença de dois escrivães do judicial e de três
indivíduos com o cargo de cirurgião.
Em relação aos conselheiros municipais, destaca-se, logo a seguir aos proprietários, a
presença significativa dos eclesiásticos. Tal leva-nos a aferir que seria o segmento da sociedade
que, juntamente com os proprietários, detinha o rendimento mais avultado, num espaço rural e
periférico como o da Ponta do Sol. Gostaríamos de fazer uma breve referência aos casos do
padre João António Macedo Correia e Freitas, de Nuno de Freitas Pestana, nomeado, por duas
vezes, administrador do concelho da Ponta do Sol, e Valério Rodrigues da Cova, na medida
em que todos estiveram ligados à principal actividade económica de oitocentos, a produção
de derivados da cana sacarina. Efectivamente, o padre João António Macedo Correia e Freitas
surge referenciado como o administrador da firma José Maria Barreto & C.ª, dedicada ao fabrico
de aguardente e pertença de um dos membros da câmara da Ponta do Sol, José Maria Barreto,
172 SOUSA, 2004, O Exercício do Poder Municipal na Madeira e Porto Santo […], pp. 315-316.
173 VERÍSSIMO, GUERRA, 1996, “O Hospício Franciscano e a Capela de S. José da Ribeira Brava”, pp. 61-94.
Referem os Autores que José Maria Barreto era administrador dos bens do vínculo da capela de São José da Ribeira
Brava.
174 PERY, 1875, Geographia e Estatística Geral de Portugal e Colónias […], p. 320.
175 Cf. RIBEIRO, 1993, Ponta do Sol. Subsídios para a História do Concelho […].
176 Sobre o contrato de colonia, ver CÂMARA, 2002, A Economia da Madeira […], pp. 31-33.
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referenciado atrás177. Por sua vez, Nuno de Freitas Pestana, era proprietário de duas unidades
de produção de açúcar e aguardente, localizadas na freguesia dos Canhas e na própria vila
da Ponta do Sol; finalmente, Valério Rodrigues da Cova era dono de um engenho na freguesia
da Tabua178. Nenhum surge referenciado com a categoria sócio-profissional “indústria”, mas
sim, respectivamente, “eclesiástico”, “proprietário” e “lavrador”, o que denota a dificuldade de
classificar, com precisão, todos estes indivíduos, tendo em conta a fluidez das actividades por
eles exercidas, e a percepção que o recenseador teria das mesmas.
À semelhança dos membros da câmara, encontramos, na categoria designada por “outros”,
um conjunto de actividades diversificadas, a saber: um professor primário, um avaliador, um
organista, um advogado, um feitor e dois cirurgiões.
Para uma apreciação do grau de instrução da elite da Ponta do Sol, deparamo-nos com o
problema da ausência deste elemento, visível numa percentagem significativa de indivíduos,
conforme nos revelam os gráficos n.º 15 e n.º 16:
177 VERÍSSIMO, GUERRA, 1996, “O Hospício Franciscano e a Capela de São José, da Ribeira Brava”, pp. 61-94.
178 VIEIRA, 2004, Canaviais, Açúcar e Aguardente na Madeira […], p. 219.
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A formação escolar dos indivíduos que fizeram parte dos órgãos municipais da Ponta do Sol
coloca-nos alguns problemas na sua interpretação, precisamente, porque não consta a informação
em 36% dos casos, entre os membros da câmara, e em 56% entre os conselheiros municipais.
A presença de indivíduos que liam e escreviam mal ou que apenas conseguiam escrever
o seu nome, é outro problema a considerar. Há, também, uma distinção entre os que apenas
lêem e escrevem e os que possuem o conhecimento das primeiras letras. Aliás, o conhecimento
das primeiras letras revela-se maioritário entre os membros da câmara e com uma percentagem
razoável entre os conselheiros municipais. Numa tentativa de interpretação destes gráficos,
temos de considerara que estamos perante uma graduação escolar em sintonia com o meio,
onde, a coincidência entre os lavradores e os menores níveis escolares, era uma realidade.
O aumento do número de eleitores e dos elegíveis, característico desta época, implicou nos
meios rurais, a entrada na política municipal de indivíduos que estavam longe do exigido pela
legislação eleitoral e administrativa. Uma situação, certamente, inevitável, porque não existiriam
outros sujeitos possíveis de recensear e eleger. Destacamos, ainda, a pequena percentagem
de conselheiros municipais que liam e escreviam mal, uma situação claramente contrária ao
disposto na legislação relativa às condições de elegibilidade.
A distribuição dos mandatos dos cargos de presidente, de vice-presidente e de vereador é
possível de visualizar nos gráficos n.º 17, n.º 18 e n.º 19:
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A distribuição dos mandatos de conselheiro municipal revela que mais de metade dos
sujeitos em apreço esteve uma ou duas vezes nesse órgão. Contudo, tal como nas anteriores
situações, observa-se uma presença de um pequeno número de indivíduos que exerceram um
considerável número de mandatos. Assim, destacam-se os casos de Manuel Ferreira Pestana,
escrivão do juízo ordinário, que foi oito vezes conselheiro, desde 1843-44 até 1856-57, sempre em
mandatos consecutivos; João Augusto de Oliveira, cirurgião, com nove presenças consecutivas,
entre 1858-59 e 1874-75; e o padre João António de Macedo Correia e Freitas que esteve neste
órgão catorze vezes, entre 1842 e 1866-67, e, à semelhança dos casos anteriores, em mandatos
sucessivos. Saliente-se que estes três sujeitos foram, exclusivamente, conselheiros municipais.
Afigura – se difícil fazer um breve comentário aos valores da contribuição que estes indivíduos
pagavam, uma vez que esta alínea só começa a constar no recenseamento eleitoral da Ponta do
Sol a partir do ano de 1874179. Assim, esta informação só foi possível apurar para João Augusto
179 ARM, CMPS, Recenseamento Eleitoral, Livro n.º 364, fl. 79vº-80.
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de Oliveira que apresenta valores de contribuição paga que oscilam entre 20$123, em 1874, e
7$056, em 1878.
Numa apreciação qualitativa global dos valores do rendimento auferido pelos membros da
elite municipal da Ponta do Sol, é possível verificar a existência de valores muito variados, mas,
globalmente, muito inferiores aos verificados no Funchal. O rendimento anual era constituído
pelos valores de receita proveniente de bens de raiz, de capitais, de comércio e indústria.
Por seu turno, o termo “contribuição paga” (sem especificar se era a contribuição predial ou
industrial), surge nesta documentação, a partir de 1874. Daí, o motivo pelo qual é notória a
escassez de dados relativos a este item (ver Anexos n.º 22, 23 e 24, relativos aos indicadores
sociais e económicos da elite municipal da Ponta do Sol). Os valores do rendimento anual
dos membros da câmara da Ponta do Sol são, de uma forma geral, inferiores aos observados
no Funchal, e apresentam uma relativa homogeneidade. Com efeito, a maioria das situações
apuradas situa-se entre 100$ e 500$ de rendimento anual. Somente em três indivíduos (todos
proprietários) foi possível constatar valores superiores a 500$: António Correia Herédia com
600$, em 1862; António Mesquita Spranger que nos revela valores que oscilam entre 400$, em
1866, e 600$, em 1867; e, por último, Jaime de França Neto que atinge 1:000$, em 1862. O nível
de rendimento dos conselheiros municipais é, de uma forma global, mais alto em relação ao
verificado para os membros da câmara. A razão é óbvia, uma vez que este órgão era composto
pelos sujeitos maiores contribuintes do concelho, na sua qualidade de detentores dos maiores
rendimentos. A grande maioria dos conselheiros municipais apresenta um rendimento entre 200$
e 600$. Contudo, houve duas situações em que a fasquia de 600$ foi, claramente, ultrapassada,
designadamente, com Francisco Correia Herédia e Diogo Berenguer de França Neto, ambos com
3:000$. Este último, já identificado no concelho do Funchal, foi membro do conselho municipal da
Ponta do Sol uma única vez, em 1850-51, e aparece recenseado neste município, certamente na
qualidade de proprietário de bens no território daquele concelho.
Tal como no Funchal, interessa saber quais foram os membros da elite municipal da Ponta
do Sol que desempenharam cargos noutras instituições. Tal está patente no quadro n.º 33.
Procurador Deputado da
Administrador
à Junta Nação / Outros Cargos no
Nome Efectivo do
Geral do Dirigente de Concelho
Concelho
Funchal Partido Político
Agostinho Teodoro Juiz de Paz da Ponta do
Pita Sol (1844, 1854, 1856)
António Correia 1856 Deputado Secretário Geral interino
Herédia 1858 1857-58; 1858- do Governo Civil (1861)
1862 59; 1865-68
Dirigente
político
Partido
fusionista
(1865);
Progressista-
Histórico (1876)
António Félix Pita Juiz de Paz da Ponta do
Sol (1850)
António Jacinto 1837-1839
Pestana, sénior
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O quadro acima estará, seguramente, incompleto, pois os elementos que nele constam
foram os possíveis de localizar, em virtude da escassez e da dispersão da informação. Contudo,
esses dados permitem-nos afirmar que a maioria dos indivíduos que nele constam exerceu
diversas funções no âmbito dos poderes que existiam no concelho da Ponta do Sol.
A administração do concelho era um dos pólos de poder onde era usual constatar a
presença de antigos ou futuros membros dos órgãos de poder municipal. Na realidade, todos os
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administradores efectivos do concelho da Ponta do Sol, entre 1835 e 1879, foram membros da
câmara e/ou do conselho municipais, denotando a proximidade entre estas instâncias do poder
local. A situação observada na Ponta do Sol, atesta a hipótese de que as administrações do
concelho ficavam, habitualmente, entregues aos influentes locais e suas clientelas180.
Igualmente relevante foi uma presença destes sujeitos no exercício dos cargos judiciais,
criados na sequência das reformas administrativas, de cariz judicial, de 1837: a existência de
juizes eleitos que, nas freguesias, desempenhavam funções análogas às juízes pedâneos da
monarquia absoluta, de juízes ordinários, restabelecidos pela Nova Reforma Judiciária de 1837,
e de juízes de paz, criados pelo decreto de 16 de Maio de 1832, destinados a conciliar as
partes, com o seu respectivo funcionalismo, nomeadamente, escrivães, foram um meio de dar
cargos e funções a muitos indivíduos com relevância social e económica nas comunidades181. A
situação observada na Ponta do Sol, não teria sido uma excepção, pelos dados que constam no
quadro em análise, onde é possível verificar uma presença muito considerável destes sujeitos
no exercício dos cargos judiciais. O mesmo se constata em relação à administração paroquial
que, apesar de ter deixado de fazer parte da organização administrativa municipal, em 1842182,
continuava a ser um meio de os notáveis locais poderem exercer o seu quinhão de poder fora do
município, nomeadamente, como membros de uma Junta de Paróquia, órgão cuja existência se
revelou constante neste concelho.
O desempenho de cargos militares continuava a ser, à semelhança do que ocorrera durante
o Antigo Regime, uma forma de aquisição de mais prestígio e, ao mesmo tempo, um direito
concedido aos mais importantes da localidade, tal como o foram as antigas Ordenanças. O
Corpo de Artilharia Auxiliar, do qual fez parte António Joaquim de Mesquita Spranger, foi uma
instituição militar regulamentada em 1834, por Mousinho de Albuquerque, mas criada em 1805,
cuja principal função era a guarnição e vigilância dos fortes, vigias e pontos acessíveis do litoral
da ilha183.
Vemos, apenas, quatro indivíduos que não ficaram confinados ao exercício de cargos de
poder no interior da administração local. Assim, Francisco Correia Herédia e António Correia
Herédia, pai e filho, Jaime de França Neto e Francisco António de Ornelas saíram dos limites do
concelho para entrar no mundo da política distrital e mesmo nacional. Têm em comum o facto de
serem dos mais ricos do concelho e de serem vistos, com alguma assiduidade, a desempenhar
funções nos órgãos municipais, especialmente Jaime de França Neto e Francisco António de
Ornelas. No caso dos Herédias, morgados e administradores de vínculos e capelas, devemos
salientar a sua presença activa na vida política distrital (Francisco Correia Herédia foi Vice-
180 SOUSA, 1998, AS Elites Periféricas […], pp. 300-301. Esta posição é defendida pelo Autor na sua análise dos
municípios do Distrito de Angra do Heroísmo, em meados do século XIX. Para Paulo Silveira e Sousa, “um filho da
terra chegava com a carta de bacharel e logo as portas da política local se abriam. Se o neófito manifestava ser capaz
de gerir os interesses e de distribuir os bens e serviços dos aparelhos do Estado, se tinha boas protecções e ligações
fortes a uma família importante no meio local, o seu percurso estava traçado”. Não nos esqueçamos que as atribuições
do administrador do concelho eram vastas no domínio da fiscalização dos bens e rendimentos da fazenda pública, da
vigilância dos estabelecimentos de beneficência e de ensino público do concelho; era responsável pelo policiamento
concelhio e pela vigilância da correcta execução das posturas e regulamentos municipais; tinha competências na
organização do recrutamento militar e na organização do recenseamento e eleições municipais. Genericamente, era
o encarregado de, sob a autoridade do governador civil, executar todas as leis e regulamentos administrativos. Ver
Código Administrativo. Nova Edição Oficial. Annotado. 18 de Março de 1842, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865, artigos
240º a 258º.
181 SILVA, MENESES, 1998, Elucidário Madeirense [...], Volume II, pp. 195-196.
182 Mesmo não fazendo parte da organização da administração pública, as Juntas de Paróquia assumiam funções
de grande importância no contexto da comunidade como a administração da fábrica da igreja e dos bens da paróquia,
assim como o desempenho de actos de beneficência. Ver Código Administrativo. Nova Edição Oficial. Annotado. 18
de Março de 1842, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865, artigo 306º.
183 SILVA, MENESES, 1998, Elucidário Madeirense [...], Volume I, p. 90. Dizem-nos os autores que, no tempo do
governo absoluto, era uso os mancebos pertencentes às principais famílias alistarem-se como cadetes no Corpo de
Artilharia Auxiliar.
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Fonte – ARM, CMPStº, Recenseamento Eleitoral, Livros n.º 93, 94, 95, 98; ARM, CMF, Recenseamento Eleitoral,
Livro n.º 1051
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586 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Observamos uma clara predominância da vila do Porto Santo como local de residência da
maior parte dos membros da sua elite municipal. Esta realidade, também observada no Funchal
e na Ponta do Sol, revela a proximidade física existente entre o centro do poder – a vila, o
município – e os homens que o exerciam. Neste espaço – vila – assim como em toda a ilha
reflectiam-se as características de um clima adverso, muito seco e árido, sendo a falta de água
um problema grave, fazendo com que o seu solo não fosse propício ao desenvolvimento de
culturas de exportação (cana sacarina e vinha) à semelhança da Madeira. A modéstia da vila era
uma realidade, em tudo contrastante com o centro do Funchal: “é esta vila composta de muitas
casas cobertas de barro e colocadas sem ordem, e quase todas sem ventilação [...] existindo
várias casas de telha edificadas ao gosto moderno [...] na dita vila existe a casa da câmara
reparada com toda a decência no largo do Pelourinho que faz frente à Igreja Paroquial com a
invocação de Nossa Senhora da Piedade” 186.
Os outros locais de residência dos membros dos órgãos municipais eram, para além da Vila,
do Tanque e do Campo de Baixo, que constam nos gráficos acima, a Serra de Fora, a Serra de
Dentro, o Farrobo, a Ponta, o Campo de Cima, a Barroca e o Ribeirinho, pequenos núcleos de
casais, localizados fora da vila.
A categoria sócio–profissional dos membros dos órgãos municipais está representada nos
gráficos no 23 e n.º 24:
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187 Ver Classificação da população por gêneros de indústria, profissões, misteres, etc. In Uma Época Administrativa
da Madeira e Porto Santo [...], Volume II, em anexo desdobrável.
188 Anais do Município do Porto Santo [...], p. 52 e p. 56. Segundo este documento, quando a produção de vinho
era boa e os seus preços cresciam, havia uma maior abundância de alimento, proporcionando uma melhoria nas
condições de vida da população.
189 Anais do Município do Porto Santo [...], p. 39, p. 54, p. 65, p. 78, p. 83.
190 Cf. SOUSA, 1998, As Elites Periféricas [...], pp. 23-27, pp. 44-66, pp. 112-118.
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590 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Pela observação dos gráficos acima expostos, vemos que o exercício dos cargos de presidente
e de vereador do município do Porto Santo, apresentou uma boa rotatividade. Relativamente
ao cargo de presidente, o maior número de mandatos foi três, sendo desempenhado por igual
número de indivíduos: Luís de Castro Ferreira Drummond em 1856-57, 1864-65 e 1870-71, e
Luís Teixeira de Vasconcelos em 1834, 1843-44 e 1845-46. Por seu turno, Manuel da Câmara
Ferreira, cujo nome não consta no recenseamento eleitoral analisado, presidiu este município
em 1839, 1847-48 e 1848-49 (ver Anexo n.º 6: Elencos da Câmara Municipal do Porto Santo).
É visível que só em duas ocasiões é que se verificaram mandatos consecutivos. Quanto ao
cargo de vereador, é possível aferir que este esteve muito distribuído. Apenas nove indivíduos
estiveram neste lugar três vezes; e só quatro atingiram igual número de mandatos, o máximo
observado. Foram eles António Manuel Vasconcelos Perestelo, entre 1862-63 e 1878-79,
Domingos de Castro Drummond, entre 1834 e 1852-53, Felisberto José Lomelino de Velosa,
entre 1858-59 e 1876-77 e, por último, Luís de Castro Ferreira Drummond, entre 1835 e 1845-46.
Em nenhuma das situações foi verificada a existência de mandatos consecutivos, ou seja, foram
sempre alternados, o que nos revela uma elevada rotatividade na composição das vereações do
Porto Santo (ver Anexo n.º 6: Elencos da Câmara Municipal do Porto Santo).
Por último, a distribuição do cargo de conselheiro municipal é apresentada no gráfico n.º 29:
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elite municipal do Porto Santo não se revela possível de concretizar uma vez que, pela informação
contida no recenseamento eleitoral, vemos que era o valor do dízimo pago que constituía o
único modo de aferir a elegibilidade do indivíduo, ao contrário do que sucedia nos municípios
atrás estudados. De facto, no título VI do Código Administrativo de 1842, relativo às Disposições
Gerais para as Ilhas Adjacentes estava estipulado que “o dízimo e as mais imposições que
se pagam nos distritos administrativos da Madeira e dos Açores servirão para regular a quota
das contribuições municipais”191. Refira-se que esta disposição teria cessado a partir de 1863,
altura em que passou a ser aplicável nas ilhas dos Açores e da Madeira, a legislação geral do
reino sobre as contribuições pessoal, predial e industrial192. Contudo, na ilha do Porto Santo, a
aferição pelo dízimo pago continuaria a ser o método usado, pelo menos até 1869, data do último
recenseamento eleitoral que possuímos para a época a que se reporta este estudo.
Ao observarmos os valores do dízimo pagos pelos sujeitos em questão, verificamos que
estes eram muito inferiores aos valores da contribuição paga nos municípios do Funchal e da
Ponta do Sol. Além disso, é constatável a sua variedade (ver Anexos n.º 25, 26 e 27: Indicadores
Sociais e Económicos da Elite Municipal do Porto Santo). A maioria dos valores de quota do
dízimo que foram apurados situa-se ente 10$ e 40$. Nalgumas situações, estes mostraram ser
inferiores a 10$ e noutras, mais numerosas, situaram-se acima de 40$. Os indivíduos com valores
superiores a 50$ são Cândido Joaquim da Silva Caldeira, júnior, que atingiu um valor de quota
de dízimo de 62$957, em 1869, José Sebastião da Silva e Moura, júnior, com 65$517, em 1866,
e Pedro Júlio de Vasconcelos, com 58$294, em dois anos consecutivos, 1866 e 1867. Eram
todos proprietários, o que denota que dentro deste grupo estariam concentrados os maiores
rendimentos derivados, precisamente, da posse das parcelas de terra cuja produção de cereal
e vinha se revelaria mais rentável. Contudo, as oscilações visíveis nos valores apresentados
poderão ser reveladoras de uma maior ou menor rentabilidade da produção anual do cereal e
da vinha e da sua consequente comercialização. Se voltarmos aos três exemplos acima dados,
vemos que Cândido Joaquim da Silva Caldeira, júnior, além do valor já referido, apresentou uma
quota de dízimo de 40$000, em 1863, e de 45$966, em 1866 e em 1867; por seu turno, José
Sebastião da Silva e Moura, júnior, revelou 60$000, em 1863, 45$479, em 1867 e 50$397, em
1869, ou seja, uma flutuação notória tendo em conta que tal ocorreu num período de seis anos;
finalmente, o caso de Pedro Júlio de Vasconcelos que se mostra ser mais constante com 50$000,
em 1863 e 58$274, em 1869. De uma forma geral, trata-se de um panorama revelador de um
concelho rural onde a inconstância os frutos da terra e uma reduzida actividade económica,
assente em produções artesanais e em alguma troca comercial, impossibilitaria a obtenção de
um rendimento mais avultado por parte dos seus proprietários.
191 Código Administrativo. Nova Edição Oficial. Annotado. 18 de Março de 1842, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865,
artigo 346º.
192 Código Administrativo. Nova Edição Oficial. Annotado. 18 de Março de 1842, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865,
p. 415 – Nota relativa ao artigo 346º.
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592 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Deputado
Procurador da
Administrador
à Junta Nação /
Nome Efectivo do Outros Cargos no Concelho
Geral do Dirigente
Concelho
Funchal de Partido
Político
António Manuel de Membro da Junta de Paróquia
Vasconcelos Gavião (1858)
António Manuel Membro da Junta de Paróquia
de Vasconcelos (1858, 1878)
Perestrelo
Basílio António Telo Membro da Junta de Paróquia
(1868 e 1870)
Cândido Joaquim 1862-68
da Silva Caldeira,
sénior
Cândido Joaquim da 1876-79 Juiz Ordinário (1860)
Silva Caldeira, júnior
Estêvão António Telo Juiz de Paz (1858)
Isidoro Augusto da Juiz Eleito (1862); Juiz de Paz
Silva (1875)
João Alexandre Juiz Eleito (1870); Membro
Lomelino da Junta de Paróquia (1873,
Drummond, júnior 1875)
João Augusto Escrivão do Juízo Ordinário
de Vasconcelos (década de 60)
Lomelino
João José de 1835-37 Juiz Eleito (1873); Membro da
Alencastre Rego Junta de Paróquia (1875); Juiz
de Paz (1878)
João José Lomelino Juiz Eleito (1862); Membro da
Junta de Paróquia (1873)
José Fausto Moniz Escrivão da Administração do
de Betencourt Concelho (década de 60)
José Sebastião da Capitão do Batalhão de
Silva Moura, júnior Auxiliares
José Tomás de Juiz Eleito (1858, 1862, 1868)
Castro
Luís de Castro Juiz Ordinário (1862); Juiz de
Ferreira Drummond Paz (1868, 1873)
Manuel António Juiz Eleito (1875)
Penas
Narciso Ferreira Membro da Junta de Paróquia
Vasconcelos (1870)
Pedro Júlio de 1868-69
Vasconcelos 1870-76
Severiano Marcial da Escrivão da Fazenda (década
Câmara de 60)
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Entre os membros da elite municipal do Porto Santo, aqui representados, é notória a sua
ausência dos órgãos de poder distrital. Assim, a sua presença concentrou-se nas instâncias de
poder de âmbito concelhio. Todos os administradores do concelho, entre 1835 e 1879, estiveram
presentes nos órgãos municipais, quer na câmara, quer no conselho (ver Anexo n.º 6: Elencos
da Câmara Municipal do Porto Santo; Anexo n.º 12: Vogais Efectivos dos Conselho Municipal do
Porto Santo e Anexo n.º 18: Administradores Efectivos do Concelho do Porto Santo). Assinalamos,
de igual modo, uma presença significativa no desempenho dos cargos judiciais e da junta de
paróquia, relevando-se, ainda, a existência de alguns militares e de indivíduos ligados à fazenda
pública, nomeadamente, como escrivães. Devemos realçar que estão aqui alguns membros da
comissão de redacção dos Annaes do Município, designadamente, João Alexandre Lomelino
Drummond e João José de Alencastre Rego, comissão que se manteve em exercício até Março
de 1851. O concelho do Porto Santo revela, desta forma, o seu carácter periférico em relação à
Madeira, e o isolamento da sua elite municipal. São circunstâncias ditadas, fundamentalmente,
pelas dificuldades económicas originadas por um espaço físico que, ao longo de Oitocentos,
trouxe a fome e a doença aos seus habitantes sujeitando, mesmo os mais ricos, a duras condições
de vida, conforme nos relatam os Annaes do Município do Porto Santo.
5. Conclusão
2009
594 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
capacidade para o desempenho dos cargos. Aqui, só constatamos uma mudança: o pressuposto
que permitia estabelecer quais eram os mais probos. Esse passou a ser a capacidade de o
indivíduo obter riqueza material e de possuir capital simbólico (instrução, ligações políticas e
partidárias), que se transformaram em factores de reconhecimento social e de influência
política. A nova legislação eleitoral propiciou a existência de uma nova elite de poder sendo o
recenseamento eleitoral o meio de definir os eleitores e os elegíveis, cuja elaboração pertence
às câmaras. Fecha-se, assim, o círculo de definição do poder. Este só pode ser atribuído ao
cidadão, do sexo masculino, adulto (maior de 25 anos), com rendimentos e que soubesse ler,
escrever e contar. Em resultado destes critérios, a maior parte da população adulta (uma parte
significativa dos homens e todas as mulheres) ficou afastada da possibilidade de integrar as
listas eleitorais e de ser eleita para os cargos do município. Logo, o poder municipal continuava
a ser exercido por uma elite.
A análise sobre a composição das elites municipais do Funchal, da Ponta do Sol e do Porto
Santo, entre 1834 e 1878, permite estabelecer um conjunto de conclusões relativamente ao seu
perfil sócio-económico:
• Os seus membros eram, predominantemente, oriundos das freguesias do centro urbano,
como se viu no Funchal, ou da sede do poder municipal, casos da Ponta do Sol e do Porto Santo.
Tal denota a existência de uma proximidade física, entre os homens e a instituição de poder,
como condição importante para se ser eleito.
• A composição das vereações e dos conselhos municipais, denota uma predominância,
clara e inequívoca, do grupo dos proprietários. É uma realidade reveladora da existência de
uma continuidade da antiga ordem social e do seu sistema de valores, nomeadamente, da
instituição vincular que, aliás, só seria extinta, definitivamente, em meados da década de 1860,
e do predomínio de uma economia essencialmente rural. Contudo, no município do Funchal
constatámos, em segundo lugar, uma presença, algo significativa, dos negociantes, homens
que foram enriquecendo por via de diversos tratos e tráficos, mais concretamente, nos sectores
da transformação e exportação do vinho e dos derivados da cana-sacarina. Foi, igualmente, no
Funchal que vimos a presença de alguns advogados, médicos e outros profissionais oriundos de
um sector intermédio, típico de um meio urbano e único no contexto do arquipélago. O panorama
revelou-se diferente nos outros dois municípios: quer na Ponta do Sol, quer no Porto Santo,
o segundo lugar é ocupado pelo grupo dos lavradores, um reflexo das novas condições de
elegibilidade, assentes no rendimento e não no nascimento. O cenário que observámos nos três
casos estudados permitem-nos afirmar, com segurança, que a Revolução Liberal não trouxe,
uma mudança substancial na composição da elite municipal, entre 1834 e 1878, que continuou a
ser dominada pelos proprietários, membros e/ou oriundos das famílias tradicionais.
• O grau de instrução da elite municipal revela a predominância de uma formação escolar de
base exigida pelas condições de elegibilidade. O Funchal foi o único caso em que se encontraram
indivíduos com uma formação de nível universitário, nomeadamente os advogados e os médicos.
Na Ponta do Sol e no Porto Santo, verificou-se, com uma muito reduzida expressão, a presença
de indivíduos que liam e escreviam mal ou sem qualquer escolarização, contrariando-se o
disposto na legislação em vigor.
• Em todos os municípios, vimos que houve, globalmente, uma boa distribuição dos
mandatos de presidente da câmara, vice – presidente e vereador. Mas tal não impediu a
existência de situações, em reduzido número, de uma repetição consecutiva de mandatos por
parte de alguns indivíduos, sobretudo no Funchal onde, igualmente, se constatou que alguns
elencos camarários, saídos de um processo eleitoral, eram praticamente idênticos em anos
seguidos. O problema da falta de lisura dos mecanismos eleitorais permanece em aberto, por
falta de elementos, aguardando futuras investigações que nos permitam verificar esta hipótese,
aliás, perfeitamente plausível. Em relação ao cargo de conselheiro municipal, o maior número de
mandatos foi visível, nos três casos estudados, num pequeno grupo de indivíduos, precisamente,
por serem os maiores contribuintes dos respectivos concelhos, logo, com acesso ao conselho
municipal, um meio da elite económica alcançar um lugar de destaque e influenciar a política
2009
595
local.
• No âmbito dos rendimentos auferidos pelas elites municipais analisadas, vimos que a
elite funchalense se destacou devido à presença de um conjunto de indivíduos cuja riqueza
era, sem qualquer dúvida, notória. O facto de tal se verificar apenas no Funchal explicar-se-á
pela presença dos proprietários aí residentes que tinham a particularidade de possuir património
fundiário em toda a ilha, do qual retiravam avultados rendimentos. Por outro lado, os negociantes
que estiveram presentes, quer na câmara quer no conselho, movimentavam-se nos circuitos
nacionais e internacionais de negócio do qual lucrariam consideravelmente. Na Ponta do Sol,
município cuja economia era eminentemente rural, a sua elite de proprietários locais detém
rendimentos muitíssimo menos significativos, tendo-se destacado apenas, um restrito grupo de
sujeitos. Por sua vez, a elite do município do Porto Santo, revelou-se fortemente condicionada
pelas duras condições agrícolas daquela ilha que impediram a extracção de boas colheitas e,
com ela, a obtenção de rendimentos mais avultados.
• A análise da presença dos membros destas elites municipais noutras instâncias de
poder revelou elementos a ter em consideração. Assim, o município do Funchal sobressai,
novamente, pois grande parte dos sujeitos identificados exerceu funções em órgãos de poder
ao nível distrital, como a Junta Geral de Distrito, o Conselho de Distrito ou o Governo Civil.
Igualmente significativa foi a sua presença na Associação Comercial do Funchal e, não menos
importante, a sua actividade política como dirigentes de alguns dos principais partidos de então.
No entanto, foram poucos os que chegaram a deputados da nação. Na Ponta do Sol, apenas
quatro indivíduos estiveram fora do círculo restrito do poder concelhio, marcando presença no
poder distrital, tendo, apenas dois deles, chegado a ser eleitos deputados da nação. Entre os
restantes, é predominante a presença na administração do concelho e, sobretudo, no exercício
dos cargos judiciais, criados no final da década de trinta. O município do Porto Santo revelou,
neste ponto, a sua condição periférica em relação à Madeira. Assim, nenhum dos membros
da sua elite municipal acedeu, nesta fase, ao poder distrital, e nenhum foi eleito deputado.
Tal como na Ponta do Sol, os sujeitos identificados a exercer funções fora da câmara e do
conselho, estiveram na administração do concelho e a desempenhar funções judiciais a nível
local. Finalmente, pelas ideias que ficaram patentes, é possível afirmar que grande parte dos
elementos que fizeram parte das elites municipais analisadas moveu-se na complexa rede de
influências locais, e procurou dominar as instituições em seu redor. Contudo, foi a elite municipal
do Funchal que se revelou como a melhor posicionada, política e economicamente, para aceder
às instâncias de poder distrital e mesmo nacional.
2009
596 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
6. Fontes e Bibliografia
A) Fontes Manuscritas
2009
597
Governo Civil
Actas do Conselho de Distrito: Livros n.º 250, 256, 257, 263
Actas da Junta Geral: Livros n.º 567, 568, 569, 571, 572, 573, 574, 575
Censo no 1º de Janeiro de 1878, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881: Livro n.º 541
Registo de Correspondência com a Administração do Concelho: Livros n.º 8, 10
Registo de Correspondência com o Ministério do Reino: Livros n.º 643, 645, 647, 648, 650,
654, 656, 657
B) Fontes Impressas
Anais do Município do Porto Santo, Introdução e notas de Alberto Vieira e João Adriano Ribeiro,
Câmara Municipal do Porto Santo, 1989.
AZEVEDO, Álvaro Rodrigues de, As Saudades da Terra. História das Ilhas do Porto Santo,
Madeira, Desertas e Selvagens, Funchal, Tipografia Funchalense, 1873.
Constituições Portuguesas, Lisboa, Edição da Assembleia da República, 1992.
Uma Época Administrativa da Madeira e Porto Santo a contar do dia 7 de Outubro de 1846.
Publicada por Sérvulo Drummond de Menezes, Secretário Geral do Governo Civil do
Funchal, Volumes I e II, Funchal, Tipografia Nacional, 1849 e 1850.
PERY, Gerardo, Geographia e Estatística Geral de Portugal e Colónias, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1875.
SILVEIRA, Luís Espinha da (Coordenação), Os Recenseamentos da População Portuguesa de
1801 e 1849. Edição Crítica., Lisboa, Instituto Nacional de Estatística, 2001, Volumes I, II,
III.
C) Legislação
Código Administrativo Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional, 1836.
Código Administrativo. Nova Edição Oficial. Annotado. 18 de Março de 1842, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1865.
Colecção de Leis e Outros Documentos Oficiais Publicados desde 15 de Agosto de 1834 até 31
de Dezembro de 1835, 4ª Série, Lisboa, Imprensa Nacional, 1837.
Colecção de Decretos e Regulamentos Mandados Publicar por S. M. Imperial, O Regente do
Reino, desde a sua Entrada em Lisboa até à Instalação das Câmaras Legislativas, 3ª
Série, Lisboa, Imprensa Nacional, 1840.
Colecção de Leis e Outros Documentos Oficiais Publicados no Ano de 1840, 10ª Série, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1840, 2º Semestre.
Colecção de Leis e Outros Documentos Oficiais Publicados no Ano de 1841, 11ª Série, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1841.
Colecção Oficial da Legislação Portuguesa. Ano de 1852, Lisboa, Imprensa Nacional, 1853.
Colecção Oficial da Legislação Portuguesa. Ano de 1855, Lisboa, Imprensa Nacional, 1856.
2009
598 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
D) Imprensa
O Clamor Público, n.º 34, Volume I; n.º 56, Volume II.
E) Bibliografia Geral
ALMEIDA, Fortunato de (sd), História das Instituições em Portugal, 3ª Edição, Coimbra, Imprensa
Académica.
CAETANO, Marcelo (1986), Constituições Portuguesas, 6ª Edição, Lisboa, Verbo.
CARNEIRO, Roberto, MATOS, Teodoro de, (Direcção) (2001), Memória de Portugal. O Milénio
Português, Lisboa, Círculo de Leitores.
MATTOSO, José, (Direcção) (1998), História de Portugal, Volume V – O Liberalismo, Lisboa,
Estampa.
MEDINA, João (1994), História de Portugal Contemporâneo – Político e Institucional, Lisboa,
Universidade Aberta.
PERES, Damião (1935), História de Portugal. Edição Monumental Comemorativa do 8º Centenário
da Fundação da Nacionalidade, Volume VII, Barcelos, Portucalense Editora.
REIS, António (Direcção), (1990), Portugal Contemporâneo, Volume I, Lisboa, Alfa.
SERRÃO, Joel, MARQUES, A. H. Oliveira, (Direcção) (2002), Nova História de Portugal, Volume
IX – Portugal e a Instauração do Liberalismo, Lisboa, Presença.
SERRÃO, Joel, MARQUES, A. H. Oliveira, (Direcção) (2004), Nova História de Portugal, Volume
X – Portugal e a Regeneração 1851-1900, Lisboa, Presença.
TENGARRINHA, José (1975), “Rotativismo”. In Dicionário de História de Portugal, Volume V,
Porto, Iniciativas Editoriais, pp. 392-394.
F) Bibliografia Específica
ALMEIDA, Maria Antónia (1996), “Elites Políticas Alentejanas: Continuidade e Mudança no
Concelho de Avis nos Finais do Século XIX e Primeira Metade do Século XX”. In Estudos
Autárquicos. Boletim do Centro de Estudos e Formação Autárquica, Ano IV, n.º 6 e 7, pp.
189-240.
ALMEIDA, Pedro Tavares de (1991), Eleições e Caciquismo no Portugal Oitocentista, Lisboa,
Difel.
ANTUNES, Luís Filipe Colaço (1981), “Direito Eleitoral e Pensamento Político no Século XIX”. In
Economia e Sociologia, n.º 31, pp. 69-102.
Arquivo Histórico da Madeira. Boletim do Arquivo Regional da Madeira, Volume XX, 1997.
BARROS, Bernardete (2001), Dona Guiomar de Sá Vilhena. Uma Mulher do Século XVIII,
Funchal, Centro de Estudos de História do Atlântico.
BARROS, Néli (2003), Os Deputados Brasileiros nas Primeiras Constituintes e a Ilha da Madeira
(1821-1823). Subsídios para a História das Constituintes de 1822, Funchal, Centro de
Estudos de História do Atlântico.
BRAGA, Amílcar (2001), “As Eleições no Concelho de Cambra no Período de Consolidação
do Regime Liberal (1834-1851)”. In História dos Municípios: Administração, Eleições e
Finanças. II Seminário Internacional – História do Município no Mundo Português, Funchal,
2009
599
2009
600 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
601
243-290.
SOUSA, Paulo Silveira e (1998), As Elites Periféricas: Poder, Trajectórias e Reprodução Social
dos Grupos Dominantes no Distrito de Angra do Heroísmo (1860-1910), Dissertação
de Mestrado apresentada ao Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa,
Policopiado.
VALÉRIO, Nuno (Coordenador) (2001), As Finanças Públicas no Parlamento Português. Estudos
Preliminares, Lisboa, Edição da Assembleia da República.
VAQUINHAS, Irene, CASCÃO, Rui (1998), “Evolução da Sociedade em Portugal: A Lenta e
Complexa Afirmação de uma Civilização Burguesa”. In História de Portugal, Direcção de
José Mattoso, Volume V – O Liberalismo (1807-1890), Lisboa, Estampa, pp. 379-392.
VERÍSSIMO, Nelson, GUERRA, Jorge (1996), “O Hospício Franciscano e a Capela de São José,
da Ribeira Brava”. In Revista Islenha. Temas Culturais das Sociedades Insulares Atlânticas,
n.º 19, pp. 61-94.
VERÍSSIMO, Nelson (2001), “A Fundação do Concelho de Santa Ana”. In Revista Islenha. Temas
Culturais das Sociedades Insulares Atlânticas, n.º 28, pp. 106-108.
VIEIRA, Alberto, RODRIGUES, Victor (1993), “Ponta do Sol: Um Século de Vida Municipal (1594-
1700)”. In Actas do III Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, Centro de
Estudos de História do Atlântico, pp. 265-280.
VIEIRA, Alberto (1997), São Vicente. Um Século de Vida Municipal (1868-1974), Funchal, Centro
de Estudos de História do Atlântico.
VIEIRA, Alberto (Coordenação) (2001), História da Madeira, Funchal, Secretaria Regional de
Educação.
VIEIRA, Alberto (2003), A Vinha e o Vinho na História da Madeira. Séculos XV a XX, Funchal,
Centro de Estudos de História do Atlântico.
VIEIRA, Alberto (2004), Canaviais, Açúcar e Aguardente na Madeira. Séculos XV a XX, Funchal,
Centro de Estudos de História do Atlântico.
VIEIRA, Alberto (Coordenação) (2005), João Higino Ferraz. Copiadores de Cartas (1898-1937),
Funchal, Centro de Estudos de História do Atlântico.
Elenco Entrada em
Funções
Presidente – Aires de Ornelas e Vasconcelos
Procurador Fiscal – João Ferreira Uzel
20-10-1834
Vereadores – Domingos Ferreira Garcês, Manuel de Santana e Vasconcelos,
Severiano Alberto de Freitas Ferraz, João Florença Pereira; Alexandre de Oliveira
Presidente – Daniel Ornelas e Vasconcelos
Fiscal – João António Gouveia Rego
10-10-1835
Vereadores – António Ferreira Nogueira, Cândido Joaquim da Silva, Carlos
Frederico Acciaioly, Valentim de Freitas Leal, Valentim de Mendonça Drummond
Presidente – Sérvulo Drummond Meneses
Fiscal – João Coelho Meireles
22-5-1837
Vereadores – Valentim de Matos, Alexandre José do Coito, João Justino
Mendonça, Fidélio de Freitas Branco, Joaquim Monteiro de Afonseca
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602 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
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604 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Nota – A câmara do Funchal é composta por sete elementos, conforme estava estipulado na
lei de 9 de Janeiro de 1834, no alvará do prefeito da província da Madeira, de 10 de Setembro
de 1835, e na demais legislação eleitoral. Contudo, nos anos de 1843 e de 1845, surge apenas
com seis elementos, uma situação que não conseguimos explicar, pois procurámos, em vão, o
sétimo elemento que, supostamente, devia existir.
Entrada em
Elenco
Funções
Presidente – Narciso Ferreira Pita
Procurador Fiscal – Roque Joaquim de Faria Betencourt 13-10-1834
Vereador – Francisco Gomes de Sousa
Presidente – António Jacinto Pestana
Vereadores – Manuel António de Sousa, António Vito Ferreira Gago, João 14-10-1835
Joaquim de Abreu Macedo, António Gonçalves Henriques, júnior
Presidente – Narciso Ferreira Pita
Fiscal – Roque Joaquim de Faria Betencourt
24-4-1837
Vereadores – Jerónimo José Betencourt, José Maria Barreto, António Gonçalves
Henriques, júnior, António da Trindade, Francisco Pestana Duarte
Presidente – Jacinto José de Faria Betencourt
Fiscal – Januário Silvano Ferreira de Faria e Castro
1-1-1838
Vereadores – António Vito Ferreira Gago, Manuel de Andrade Barreto, António
da Trindade, Francisco Pestana Duarte, Narciso Ferreira Pita
Presidente – Telésfero José Camacho
Fiscal – Manuel António de Sousa
1-1-1839
Vereadores – Jerónimo José Betencourt, Ildefonso Abreu de Faria, António
Jacinto de Andrade Mesquita, João José de Macedo, José Felício de Aguiar
Presidente – Telésfero José Camacho
Fiscal – Manuel António de Sousa
1-1-1840
Vereadores – Luís Vicente de Vasconcelos, Caetano João de Castro, Joaquim
Abreu de Faria, João Aires Correia de Macedo, sénior, José Maria Barreto
2009
605
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606 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Nota – A câmara da Ponta do Sol é composta por três membros em 1834, por cinco, em
1835, em virtude da determinação contida no alvará do prefeito da província da Madeira, de 10
de Setembro de 1835, e por sete, a partir de 1837, em cumprimento no estipulado no Código
Administrativo de 1836, e mais tarde, na legislação de 1840, segundo a qual um concelho com
mais de 3000 fogos devia eleger sete indivíduos.
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Entrada em
Elenco
Funções
Presidente – António João França Andrade
Procurador Fiscal – João António de França Brazão
13-10-1834
Vereadores – António Sebastião de Vasconcelos, Joaquim António Ferreira da
Silva, Rufino Alberto de Gouveia
Presidente – Filipe Joaquim Ferro
Fiscal – Diogo Ornelas de França Dória
14-10-1835
Vereadores – João Freitas Spínola, Roque Amaral de Afonseca, António João
Matos Câmara
Presidente – Luís José da Trindade
Fiscal – Joaquim António Ferreira Silva
8-5-1837
Vereadores – José António Cabral, Joaquim José França Brazão, José Francisco
de Sousa
Presidente – José António de Betencourt Perestrelo
Fiscal – João António França Brazão
17-1-1838
Vereadores – João de Freitas Spínola, Francisco Telo Soutomaior, Manuel Justino
de Moura
Presidente – Gregório António do Coito
Fiscal – Joaquim António Ferreira da Silva
1-1-1839
Vereadores – Gregório Joaquim de Freitas, Francisco Betencourt Pimenta, João
Francisco Pereira
Presidente – Manuel Justino de Moura
Fiscal – António João Fernandes
5-1-1840
Vereadores – António José de Gouveia, Paulo Júlio Barbeito, Miguel Dionísio
Vasconcelos
Presidente – Gregório António do Coito
Fiscal – Filipe Joaquim Ferreira Ferro
21-3-1841
Vereadores – José António Cabral, Francisco Ladislau de França, António
Sebastião de Vasconcelos
Presidente – Luís Marcial
Fiscal – António João França Betencourt
2-1-1843
Vereadores – António José de Gouveia, Nicolau João da Câmara, José António
de Betencourt Perestrelo
Presidente – João Spínola de Freitas
Fiscal – Gregório António do Coito
30-1-1845
Vereadores – João António de França Andrade, António João de França Andrade,
júnior, Nicolau João da Câmara
Presidente – João de Freitas Spínola
Fiscal – ?
4-2-1847
Vereadores – João Joaquim César de Faria, Joaquim José de França Brazão,
António Sebastião de Vasconcelos, José Francisco de Sousa
Presidente – João de Freitas Spínola
Fiscal – Vicente de Moura Vasconcelos
2-12-1847
Vereadores – Joaquim José de França Brazão, Nicolau João da Câmara, João
Joaquim César de Faria
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608 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
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Nota – A câmara da Calheta foi composta por cinco elementos, entre os anos de 1834 e
1850, por ser um concelho que não atingia os 3000 fogos habitacionais, cumprindo o disposto
na legislação já citada. Contudo, verificamos que, a partir de 1852 até 1858, passa a ter sete
elementos; volta a cinco, entre 1860 e 1870; e, novamente, com sete membros, a partir dessa
data. Estas oscilações estiveram relacionadas com as naturais oscilações demográficas (ver
quadro n.º 1, no texto), e com a situação institucional no Porto do Moniz. Com efeito, este concelho
foi extinto, pela primeira vez, entre 1849 e 1855, e pela segunda, em 1867-1868. Este processo
resultou na integração da freguesia da Ponta do Pargo na jurisdição do município da Calheta
(as outras haviam sido integradas no concelho de São Vicente), traduzindo-se, esta alteração do
mapa administrativo, num aumento de efectivos populacionais na Calheta.
Entrada em
Elenco
Funções
Presidente – Paulo José Fernandes Pimenta
Procurador Fiscal – Alberto de Oliveira
20-10-1834
Vereadores – Sebastião Joaquim de Mendonça e Vasconcelos, Francisco
António Bisforte, Nicolau Joaquim de Sousa
Presidente – José Cupertino da Câmara
Fiscal – Sebastião Joaquim Vasconcelos
4-10-1835
Vereadores – António José de Vasconcelos, Teodoro Joaquim de Freitas,
Francisco José de Freitas
Presidente – Paulo José Fernandes Pimenta
Fiscal – Alberto de Oliveira
19-4-1837
Vereadores – Maximiano de Mesquita e Câmara, Francisco José de Freitas,
Pedro Henriques da Câmara, Augusto Telo Cabral, Teodoro Joaquim de Freitas
2009
610 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
611
Nota – A câmara de Machico era composta por cinco elementos por ser um concelho com
pouco mais de mil fogos. Contudo, entre 1837 e 1840, atinge sete elementos em função do
estipulado no Código Administrativo de 1836 que indicava que os municípios que tivessem entre
1000 a 6000 fogos podiam eleger sete membros.
Referimos que nem sempre aparece discriminado o nome do vice-presidente e do procurador
fiscal. A razão desta omissão podia estar relacionada com a não obtenção de maioria na votação
2009
612 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
destes dois elementos, como foi especificado no ano de 1862 [ARM, CMM, Vereações, Livro n.º
140, fl. 133-133vº].
Entrada em
Elenco
Funções
Presidente – João Betencourt Esmeraldo Agrela
Procurador Fiscal – Augusto César Oliveira
15-10-1834
Vereadores – Ezequiel Drummond Meneses, José Gonçalves, Leandro
António Rego
Presidente – António Sebastião Spínola Ferreira
Fiscal – João Nepomuceno Cabral Freitas
14-10-1835
Vereadores – João Francisco Rodrigues, Pedro Vicente Vasconcelos, António
Jacques Alencastre Mascarenhas
Presidente – João Betencourt Esmeraldo Agrela
Fiscal – ?
19-4-1837
Vereadores – Remígio Silva Barreto, João Francisco Rodrigues, Filipe Moniz
Drummond, António Luís Rodrigues de Gouveia
Presidente – Remígio Silva Barreto
Fiscal – João Betencourt Esmeraldo Agrela
15-1-1838
Vereadores – Leandro António do Rego, João Agostinho Pereira de Meneses,
António Joaquim de Freitas
Presidente – Nuno Cardoso Vasconcelos
Fiscal – João Francisco Rodrigues
5-1-1839
Vereadores – Pedro António da Silva, Leandro António do Rego, António
Joaquim de Freitas
Presidente – Ezequiel Drummond Meneses
Fiscal – António Joaquim Freitas Cunha
1-1-1840
Vereadores – Leandro António do Rego, António Joaquim de Freitas, Gonçalo
Agostinho
Presidente – António Sebastião Spínola Ferreira
Fiscal – Leandro Meneses Cabral
8-5-1841
Vereadores – Manuel Martins Malheiro, Luís António de Andrade, Leandro
António do Rego
Presidente – Augusto César Oliveira
Fiscal – ?
18-1-1843
Vereadores – Romão Moniz Betencourt, António Joaquim de Freitas, Nuno
Cardoso Vasconcelos, Leandro António do Rego
Presidente – Joaquim António Teles
Fiscal – João Nepomuceno Cabral e Freitas
8-1-1845
Vereadores – José Manuel da Câmara, João Daniel Betencourt, João
Cupertino da Câmara
Presidente – Leandro António do Rego
Fiscal – Leandro de Meneses Cabral
4-7-1846
Vereadores – Ricardo da Fonseca, Gonçalo Agostinho, Nuno Cardoso
Vasconcelos
Presidente – Leandro de Meneses Cabral
Fiscal – ?
17-11-1847
Vereadores – Nuno Cardoso Vasconcelos, Ricardo da Fonseca, João Daniel
Betencourt, Gonçalo Agostinho
2009
613
2009
614 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Nota – A câmara de Santa Cruz foi integrada por cinco membros, desde 1834 até ao final
deste quadro. É de referir que, sendo um município com pouco mais de 1000 fogos, à semelhança
de Machico, não se verificou, contudo, um aumento de elementos na sua vereação, entre 1837
e 1840.
Entrada em
Elenco
Funções
Presidente – Luís Teixeira de Vasconcelos
12-10-1834
Vereadores – Domingos de Castro Drummond, José Sebastião da Silva Moura
Presidente – Felisberto José Lomelino de Velosa
Vereadores – Luís de Castro Ferreira Drummond, António Manuel de Vasconcelos 4-10-1835
Betencourt
Presidente – Justiniano José Lomelino
Vereadores – Nicolau António Telo, Sebastião António Drummond, Diogo Luís 24-4-1837
Drummond, José Pestana de Vasconcelos
Presidente – João de Santana e Vasconcelos
Vereadores – Luís Teixeira de Vasconcelos, José Tomás de Castro, Francisco 11-12-1837
António de Alencastre, sénior, José do Espírito Santo Ornelas
Presidente – Manuel da Câmara Ferreira
Vereadores – Nicolau António Telo, Cândido Joaquim da Silva Caldeira, Basílio 1-1-1839
António Telo, Francisco António de Alencastre, júnior
Presidente – João José de Alencastre
Vereadores – Luís Teixeira de Vasconcelos. Cristóvão Ferreira de Vasconcelos, 1-1-1840
Luís de Castro Ferreira Drummond, João de Santana e Vasconcelos
Presidente – Diogo António de Vasconcelos
Vereadores – Manuel da Câmara Ferreira, Nicolau António Telo, Estevão António 19-4-1841
Telo, João Alexandre Lomelino, júnior
Presidente – Luís Teixeira de Vasconcelos
Vereadores – João José de Alencastre, Luís de Castro Ferreira Drummond, 4-1-1843
Domingos de Castro Drummond, José do Espírito Santo Ornelas
Presidente – Luís Teixeira de Vasconcelos
Vereadores – José Sebastião da Silva Moura, Tomás António da Câmara, 4-1-1845
Domingos de Castro Drummond, Luís Ferreira Drummond
Presidente – Manuel da Câmara Ferreira Vasconcelos
Vereadores – Raimundo João Perestrelo, Francisco António de Alencastre, 2-1-1847
júnior, Valentim José de Alencastre, Francisco António Pestana
Presidente – Manuel da Câmara Ferreira
Vereadores – Raimundo João Perestrelo, Estevão António Telo, Luís Teixeira de 3-11-1847
Vasconcelos, João Alexandre Lomelino Drummond
2009
615
2009
616 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Nota – A câmara de Porto Santo é integrada por três elementos, entre 1834 e 1837. A
partir dessa data, e em cumprimento do Código Administrativo de 1836 e da legislação de 1840,
passa a ter cinco membros. Por motivos que desconhecemos, não aparece discriminado nem o
procurador fiscal, nem o vice-presidente.
Entrada em
Elenco
Funções
João António de Gouveia Rego, Pedro de Santana e Vasconcelos, Pedro
Agostinho Teixeira de Vasconcelos, António Pestana Ferreira, Diogo Ornelas
de França, Nuno de Freitas Lomelino, Mendo de Ornelas Sisneiro, Tristão 19-3-1841
Joaquim da Câmara, sénior, Manuel Joaquim da Trindade, António Ferreira
Nogueira
Pedro Agostinho Teixeira de Vasconcelos, João António de Gouveia Rego,
30-12-1842
António Pestana Ferreira, Diogo Ornelas de França, João José Betencourt,
(1843-44)
António Ferreira Nogueira, Manuel Joaquim da Trindade
Pedro Agostinho Teixeira de Vasconcelos, João António de Gouveia Rego,
18-12-1844
António Ferreira Nogueira, Diogo Berenguer, João José Betencourt, Nuno de
(1845-46)
Freitas Lomelino, João Frederico da Câmara Leme
João António de Gouveia Rego, Pedro Agostinho Teixeira de Vasconcelos,
2-10-1847
Diogo Ornelas de França, Nuno de Freitas Lomelino, Diogo Berenguer, António
(1847-48)
Ferreira Nogueira, João José de Ornelas Cabral
António Ferreira Nogueira, Diogo Ornelas de França, João António de Gouveia
13-12-1849
Rego, Roberto Leal, Francisco Araújo Esmeraldo, João José Betencourt,
(1850-51)
Manuel Joaquim da Trindade
Pedro Agostinho Teixeira de Vasconcelos, António Ferreira Nogueira, Diogo
28-1-1852
Ornelas de França, Nuno de Freitas Lomelino, Alexandre de Oliveira, Lourenço
(1852-53)
Soares, Jacinto Aluísio Jérvis
João António de Gouveia Rego, Diogo Berenguer, Diogo Ornelas de França,
30-12-1853
Mendo Ornelas Sisneiro, Luís Ornelas e Vasconcelos, Pedro Cipriano de
(1854-55)
Ornelas, Manuel Joaquim da Trindade
Conde de Carvalhal, Nuno de Freitas Lomelino, Roberto Leal, Diogo Ornelas
22-12-1855
de França, Diogo Berenguer, Valentim de Freitas Leal, Juvenal Honório de
(1856-57)
Ornelas
Roberto Leal, Nuno de Freitas Lomelino, Diogo Ornelas de França, Valentim de
25-11-1857
Freitas Leal, Paulo António da Silva Rito, Diogo Berenguer, António Gonçalves
(1858-59)
de Almeida
Conde de Carvalhal, Roberto Leal, Nuno de Freitas Lomelino, Valentim de
7-12-1859
Freitas Leal, António da Luz Pita, António Gonçalves de Almeida, Vicente José
(1860-61)
de Antas
Nuno de Freitas Lomelino, António da Luz Pita, Roberto Leal, Diogo Berenguer,
7-12-1861
Valentim de Freitas Leal, António Gonçalves de Almeida, Diogo Ornelas de
(1862-63)
França
Nuno de Freitas Lomelino, Francisco Araújo Betencourt Esmeraldo, João
12-3-1864
Teixeira Dória, João Sauvaire da Câmara, Conde de Carvalhal, João de Freitas
(1864-65)
Correia e Silva, Manuel de Gouveia Rego
Conde de Carvalhal, Nuno de Freitas Lomelino, João de Freitas Martins, António
20-12-1865
Joaquim da Silva, Diogo Berenguer, Vitorino Ferreira Nogueira, Francisco
(1866-67)
Gomes dos Santos
2009
617
Nota – O conselho municipal era inicialmente composto pelos dez maiores contribuintes
do concelho. A partir de 1842, nos termos da legislação em vigor, passa a ser constituído pelo
mesmo número de indivíduos que o elenco camarário.
Entrada em
Elenco
Funções
? 20-3-1841
António Vicente de Faria e Castro, João António Correia e Freitas, António
Gonçalves Henriques, júnior, Agostinho Teodoro Pita, João Nepomuceno 11-5-1842
Camacho, Francisco Gomes de Sousa, Francisco Joaquim Gonçalves
José Joaquim Martins Maria, João António Correia de Freitas, António Vicente
2-1-1843
de Faria e Castro, Manuel Andrade Barreto, Agostinho de Sousa Brasão,
(1843-44)
Augusto dos Prazeres Ornelas, Manuel Ferreira Pestana
Manuel Pereira, Augusto dos Prazeres Ornelas, Manuel Ferreira Pestana,
2-1-1845
António Vicente de Faria e Castro, João António Correia e Freitas, Agostinho
(1845-46)
de Sousa Brasão, Manuel Joaquim da Trindade
Augusto dos Prazeres Ornelas, Manuel Ferreira Pestana, júnior, António
22-10-1846
Gonçalves Henriques, júnior, Manuel Joaquim da Trindade, João António
(1847-48)
Correia e Freitas
António Joaquim Mesquita Spranger, Augusto dos Prazeres Ornelas, Manuel
23-10-1847
Ferreira Pestana, júnior, José Joaquim Martins Maria, João António Correia e
(1848-49)
Freitas, Agostinho Teodoro Pita, António Gonçalves Henriques, júnior
Diogo Berenguer de França Neto, Francisco Correia Herédia, Augusto dos
28-12-1849
Prazeres Ornelas, Manuel Ferreira Pestana, júnior, João António de Macedo
(1850-51)
Correia e Freitas, João José da Trindade, Agostinho de Sousa Brasão
Francisco Correia Herédia, Jaime de França Neto, Manuel Ferreira Pestana,
29-12-1851
júnior, Augusto dos Prazeres Ornelas, João António Correia e Freitas, Agostinho
(1852-53)
Teodoro Pita, Agostinho de Sousa Brasão
2009
618 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Nota – No ano de 1841 é referido que o conselho municipal foi formado e que os seus
membros tinham sido convocados, mas não constam os seus nomes.
Na formação efectuada em 1846, não consta o nome de dois vogais.
2009
619
Entrada em
Elenco
Funções
Francisco José Brazão, João de Freitas Spínola, António João de França
Betencourt, João António de França Brazão, Luís José da Trindade, Francisco
21-3-1841
Pedro de Afonseca, João António de França e Andrade, Francisco Anacleto de
Ornelas, Joaquim José de França Brazão, Nicolau João da Câmara
António João de França Betencourt, António Betencourt Perestrelo, Francisco
14-5-1842
Pedro de Afonseca, João de Freitas Spínola, Nicolau João da Câmara
João Joaquim César de Faria, Francisco Pedro de Afonseca, António Betencourt 2-1-1843
Perestrelo, Filipe Joaquim Ferreira Ferro, Fernando José de Vasconcelos (1843-44)
António Sebastião de Vasconcelos, António Agostinho de Sousa, Francisco 7-2-1845
Pedro de Afonseca, Manuel António da Silva, Joaquim António Ferreira da Silva (1845-46)
Francisco Pedro Alves de Afonseca, João António de França Andrade, José 20-2-1847
António de Afonseca, Rufino Ricardo Teixeira (1847-48)
Francisco Pedro Alves de Afonseca, João António de França Andrade, José 11-12-1847
António de Afonseca, Rufino Ricardo Teixeira (1848-49)
Francisco Pedro de Afonseca, Eduardo António de Abreu, Rufino Ricardo 7-1-1850
Teixeira, António Gonçalves de Gouveia, Inácio Correia de Gouveia (1850-51)
Carlos de Freitas, Nicolau João da Câmara, Inácio Correia de Gouveia, António
16-1-1852
Homem de Gouveia, Francisco António de Freitas, João de Freitas Spínola,
(1852-53)
Manuel Alberto Mendes
Manuel António da Silva, João Augusto do Coito, Heliodoro Afonso de Freitas
4-2-1854
Albuquerque, José António de Afonseca, Joaquim António Ferreira da Silva,
(1854-55)
Francisco Justino Correia, António Gonçalves Gouveia
António Homem de Gouveia, Inácio Correia de Gouveia, Florêncio Telo de
16-2-1856
Meneses, Agostinho António Jardim, Tadeu de Sousa Drummond, Anselmo José
(1856-57)
Ferro, Hilário Gomes
Florêncio Telo de Meneses, Tadeu de Sousa Drummond, António Fernandes
20-3-1858
Rocha, José António de Afonseca, Manuel Gonçalves Jardim da Ponte, João
(1858-59)
Augusto do Coito, António da Silva Rocio
António João de França Dória, Ricardo de França Dória, José António de 28-3-1860
Afonseca, Luís Marcial Lemos, Tadeu Drummond (1860-61)
José Maria de Faria, Ricardo de França Dória, António Sebastião de Vasconcelos, 31-12-1861
António da Silva Rocio, José António de Afonseca (1862-63)
Luís Agostinho Henriques, José Joaquim de Freitas, João Augusto de 2-3-1864
Vasconcelos, Joaquim António Ferreira da Silva, Guilherme de Albuquerque (1864-65)
Manuel Joaquim de Gouveia, António João de França Dória, Manuel Joaquim 16-12-1865
Gouveia, Francisco Ladislau de França, José António de Afonseca (1866-67)
Nicolau João da Câmara, Francisco Carvalhal França, António Homem de 27-3-1868
Gouveia, Francisco Ladislau de França, Manuel Rodrigues Correia (1868-69)
Heliodoro Afonso Albuquerque, Francisco Carvalhal França, José António de 21-12-1869
Afonseca, Manuel António da Silva, Fernando José de Vasconcelos (1870-71)
Francisco Freire Almeida, Manuel Narciso de Gouveia, José António de Afonseca,
30-12-1871
Tadeu de Sousa Drummond, Domingos João dos Santos, Ricardo de França
(1872-73)
Dória, Manuel António da Silva
Manuel Narciso de Gouveia, Manuel Gonçalves Jardim da Ponte, Júlio de Freitas
15-12-1873
Albuquerque, Manuel Rodrigues Brás, Francisco Ladislau de França, Manuel
(1874-75)
Gomes de Santana, Francisco de França e Almeida
2009
620 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Nota – Na formação do ano de 1847, não consta o nome do seu 5º vogal efectivo.
Entrada em
Elenco
Funções
José Joaquim Fernandes de Sousa, Sebastião Joaquim de Mendonça e
Vasconcelos, José Cupertino da Câmara, Alberto de Oliveira, Teodoro Joaquim
21-3-1841
de Freitas, Fernando José de Mesquita, Cláudio Lomelino da Câmara, Manuel
Nunes Ferreira, António José de Vasconcelos, Lourenço de Mendonça
Teodoro Joaquim de Freitas, Joaquim António Teles, António Joaquim de Olim,
13-4-1842
António de Freitas Betencourt, Manuel Nunes Ferreira
Manuel Nunes Ferreira, António Joaquim de Olim, Manuel Joaquim Berenguer, 11-1-1843
Joaquim Ferreira Lomelino, João José Furtado de Mendonça (1843-44)
Sebastião Joaquim de Mendonça e Vasconcelos, Paulo José Fernandes
7-2-1845
Pimenta, João Pedro Franco, Manuel Joaquim Berenguer, António Joaquim de
(1845-46)
Olim
? 30-10-1847
(1848-49)
Jacinto da Câmara Teles de Meneses, Sebastião Joaquim de Mendonça
29-12-1849
e Vasconcelos, João Joaquim Espinosa Martel, António Luís Rodrigues de
(1850-51)
Gouveia, Fernando José de Mesquita e Câmara
Sebastião Joaquim de Mendonça e Vasconcelos, Cláudio Lomelino da Câmara, 29-12-1851
Teodoro Joaquim de Freitas, João Pedro Franco, João Joaquim Espinosa Martel (1852-53)
Manuel Raimundo Torrezão, Paulo José Fernandes Pimenta, Marcelino João 1-1-1854
Nunes Caldeira, Cláudio Lomelino da Câmara, Álvaro Teixeira de Ornelas (1854-55)
Manuel Raimundo Torrezão, Paulo José Fernandes Pimenta, Sebastião Joaquim
19-12-1855
de Mendonça Vasconcelos, António Luís Rodrigues de Gouveia, Teodoro
(1856-57)
Joaquim de Freitas
João de Betencourt Baptista Esmeraldo, Sebastião Joaquim de Mendonça e
30-12-1857
Vasconcelos, Caetano Velosa Carvalhal Esmeraldo, Marcelino Caldeira, Álvaro
(1858-59)
Teixeira de Ornelas
Manuel Raimundo Torrezão, Sebastião Joaquim de Mendonça e Vasconcelos,
14-12-1859
Albino João da Silva, José Cupertino da Câmara, Cláudio Lomelino Câmara
(1860-61)
Vasconcelos
Manuel Raimundo Torrezão, Joaquim Carlos de Mendonça e Vasconcelos, 19-12-1861
António Luís Gouveia, José Cupertino da Câmara, João Pedro Franco (1862-63)
Manuel Raimundo Torrezão, José Cupertino da Câmara, António Luís de 19-12-1863
Gouveia, Jorge da Câmara Leme, Teodoro Joaquim de Freitas (1864-65)
Jorge da Câmara Leme, José Cupertino da Câmara, Fernando Pio de Freitas, 29-12-1865
Fernando João de Oliveira, António Germano da Silva (1866-67)
2009
621
Entrada em
Elenco
Funções
Pedro António da Silva, Augusto César de Oliveira, Ezequiel Moniz Drummond
9-6-1841
Meneses
? 23-12-1842
(1843-44)
? (1845-46)
? (1847-48)
? 31-12-1849
(1850-51)
? 1852-53
Romão Agostinho Moniz Betencourt, Nuno Cardoso Vasconcelos, António 26-12-1853
Leandro de Vasconcelos, Leandro de Meneses Cabral, Pedro António da Silva (1854-55)
Romão Agostinho Moniz Betencourt, Remígio António da Silva Barreto,
14-1-1856
José Manuel da Câmara, António da Cunha Dutra, Nuno Fernando Cardoso
(1856-57)
Vasconcelos
João José Betencourt, Ricardo Porfírio da Fonseca, Joaquim António Teles
28-12-1857
de Meneses, Romão Agostinho Moniz Betencourt, Nuno Fernando Cardoso
(1858-59)
Vasconcelos
Nuno Fernando Cardoso Vasconcelos, Leandro António do Rego, António
28-12-1859
Leandro de Vasconcelos, Amâncio de Castro Teles de Meneses, José Manuel
(1860-61)
da Câmara
Nuno Fernando Cardoso Vasconcelos, António Leandro de Vasconcelos, José 30-12-1861
Manuel da Câmara, Manuel Joaquim de Freitas, João Baptista do Rego (1862-63)
Manuel Pereira Camacho, Manuel de Freitas Reis, Nuno Fernando Cardoso 30-12-1863
Vasconcelos, João Baptista do Rego, João Pio Jacques (1864-65)
Bartolomeu de Ornelas Frazão, Januário Agostinho de Ornelas Moniz, João Pio 15-2-1866
Jacques, João Baptista do Rego, Manuel de Freitas Reis (1866-67)
Pedro Agostinho de Meneses Agrela, Agostinho Albino do Rego, António Leandro 24-3-1868
de Vasconcelos, Francisco de Freitas, Manuel de Freitas Reis (1868-69)
António de Castro Spínola Barreto, Bartolomeu de Ornelas Frazão, José Manuel 29-12-1869
da Câmara, António Leandro de Vasconcelos, João Baptista do Rego (1870-71)
2009
622 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Entrada em
Elenco
Funções
Cândido Joaquim da Silva Caldeira, Felisberto José Lomelino de Velosa, João 13-4-1841
de Santana e Vasconcelos, José Pestana de Vasconcelos Teixeira, João José
de Alencastre, José Sebastião da Silva e Moura, Justiniano José Lomelino de
Velosa, Luís Teixeira de Vasconcelos, sénior, Luís de Castro Ferreira Drummond,
Nazário da Câmara
Justiniano José Lomelino de Velosa, Cândido Joaquim da Silva Caldeira, 13-5-1842
Cristóvão Coelho de Meneses, José Pestana de Vasconcelos Teixeira, Teodoro
João Pestana
José Sebastião da Silva e Moura, Justiniano José Lomelino de Velosa, José 7-1-1843
Pestana de Vasconcelos Teixeira, Manuel de Vasconcelos Ferreira, Luís Mendes (1843-44)
Escórcio
Cristóvão Coelho de Meneses, Justiniano José Lomelino de Velosa, José 4-1-1845
Pestana de Vasconcelos Teixeira, Manuel de Vasconcelos Ferreira, Luís Mendes (1845-46)
Escórcio
Manuel de Vasconcelos Ferreira, Cristóvão Coelho de Meneses, Justiniano 14-10-1846
José Lomelino de Velosa, Luís de Castro Ferreira Drummond, José João de (1847-48)
Alencastre
Manuel de Vasconcelos Ferreira, Cristóvão Coelho de Meneses, José João de 30-10-1847
Alencastre, Domingos de Castro Drummond, Pedro Júlio de Vasconcelos (1848-49)
Cristóvão Coelho de Meneses, Cândido Joaquim da Silva Caldeira, António 22-12-1849
Manuel de Vasconcelos Gavião, Tomás Leandro de Vasconcelos, Anacleto (1850-51)
Joaquim Telo
Raimundo João Perestrelo, Anacleto Joaquim Telo, Manuel da Câmara Ferreira, 4-12-1851
Cristóvão Coelho de Meneses, José do Espírito Santo Ornelas (1852-53)
Cristóvão Coelho de Meneses, José Sebastião da Silva e Moura, Nazário 4-2-1854
Pestana de Vasconcelos, Anacleto Joaquim Telo, António Manuel Vasconcelos (1854-55)
Perestrelo
Estevão António Telo, Cristóvão Jacinto Ferreira Drummond, Raimundo João 1-12-1855
Perestrelo, João Joaquim de Vasconcelos, Anacleto Telo (1856-57)
João Balbino Gomes, Teodoro João Pestana e Vasconcelos, Pedro Júlio de 4-2-1858
Vasconcelos, Estevão António Telo, Domingos de Castro Drummond (1858-59)
João Balbino Gomes, José João Alencastre Rego, José Fausto de Santana e 16-3-1860
Vasconcelos, Luís de Castro Ferreira Drummond, José João de Velosa (1860-61)
2009
623
João Balbino Gomes, Teodoro João Pestana e Vasconcelos, José Fausto de 11-1-1862
Santana e Vasconcelos, João Augusto de Vasconcelos Lomelino, Nazário (1862-63)
Pestana de Vasconcelos
Cândido Joaquim Silva Caldeira, sénior, José Sebastião da Silva Moura, Teodoro 16-12-1863
João Pestana e Vasconcelos, António Manuel de Vasconcelos Perestrelo, João (1864-65)
Augusto de Vasconcelos Lomelino
João Balbino Gomes, Teodoro João Pestana e Vasconcelos, João Augusto de 23-12-1865
Vasconcelos Lomelino, Tomás Maria Telo, João José Lomelino (1866-67)
Teodoro João Pestana e Vasconcelos, Cândido Joaquim da Silva Caldeira, 25-4-1868
júnior, António Manuel de Vasconcelos Gavião, João Augusto de Vasconcelos (1868-69)
Lomelino, Severiano Marcial da Câmara
José Sebastião da Silva e Moura, Estevão Sebastião Drummond, Teodoro João 19-1-1870
Pestana e Vasconcelos, João Augusto de Vasconcelos Lomelino, José Pestana (1870-71)
Teixeira de Vasconcelos
José Sebastião da Silva e Moura, José Pestana Teixeira de Vasconcelos, Estevão 23-12-1871
Sebastião Drummond, Narciso Ferreira de Vasconcelos, Tomás Maria Telo (1872-73)
Cândido Joaquim da Silva Caldeira, júnior, João Alexandre Lomelino Drummond, 6-5-1872
Severiano Marcial da Câmara, Luís de Castro Ferreira Drummond, Manuel da (1872-73)
Câmara Perestrelo
Cândido Joaquim da Silva Caldeira, júnior, João José Lomelino, Luís de Castro 24-1-1874
Ferreira Drummond, Manuel da Câmara Perestrelo, Justiniano José Lomelino (1874-75)
Serpa
Cândido Joaquim da Silva Caldeira, júnior, Justiniano José Lomelino Serpa, 24-1-1876
Anacleto Telo, Tomás Maria Telo, Isidoro Augusto da Silva (1876-77)
Pedro Júlio de Vasconcelos, Severiano Marcial da Câmara, Cândido Joaquim da 26-1-1878
Silva Caldeira, júnior, Manuel da Câmara Perestrelo, Anacleto Telo (1878-79)
Fonte – ARM, CMPSTº, Vereações, Livros n.º 2 a 6 e n.º 173 a 176
Nota – A ocorrência de duas formações para o mandato de 1872-73, justifica-se pela não
observância do artigo 165º do Código Administrativo na primeira [ARM, CMPSTº, Vereações,
Livro n.º 5, fl.92vº-93].
2009
624 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
625
Francisco José Inocêncio 29 de Novembro de 1864 ARM, Gov. Civil, n.º 10, fl. 44
Camacho Exonerado a 8 de Maio de Ibidem, fl. 62
1866.
Nuno de Freitas Pestana 8 de Maio de 1866 ARM, Gov. Civil, n.º 10, fl.62
Exonerado a 3 de Março de Ibidem, fl. 165 vº-166
1870.
João Maria de Faria 3 de Março de 1870 ARM, Gov. Civil, n.º 10, fl.
Betencourt 165 vº-166
Nuno de Freitas Pestana Desconheço a data da sua
nomeação.
Está, novamente, a assinar ARM, ACPS, n.º 41, fl. 348 vº
a correspondência como
administrador do concelho a
partir de 2 de Junho de 1870.
Continua no cargo, pelo Ibidem, n.º 42 a n.º 46, fl.66
menos, até ao fim de 1879. vº
2009
626 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Luís Marcial 21 de Maio de 1870 ARM, Gov. Civil, n.º 10, fl.
178
Diogo Perestrelo da Câmara 25 de Julho de 1876 ARM, Gov. Civil, n.º 8, fl. 236
vº
Continua a exercer em 1878. ARM, ACC, n.º 47, fl. 23 vº e
Em 1879, está em exercício seguintes
interino o administrador
substituto, Francisco Ladislau
de França Dória.
2009
627
Frederico Teles de Meneses Desconheço a data em que ARM, CMM, Vereações, n.º
foi nomeado. 143, fl. 259 vº
Aparece como administrador
do concelho nos actos
municipais a partir de 14 de
Dezembro de 1879.
2009
628 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Cândido Joaquim da Silva 23 de Abril de 1862 ARM, Governo Civil, n.º 10,
Caldeira fl. 14
Exoneração – 24 de Ibidem, fl. 87 vº
Fevereiro de 1868
Pedro Júlio de Vasconcelos 24 de Fevereiro de 1868 ARM, Governo Civil, n.º 10,
fl. 82 vº
Exoneração – 13 de Junho Ibidem, fl. 127
de 1869
Manuel Gregório Pestana 23 de Junho de 1869 ARM, Governo Civil, n.º 10,
fl. 126 vº
Exoneração – 4 de Fevereiro Idem, n.º 648, fl. 92 vº-93
de 1870
Pedro Júlio de Vasconcelos Desconheço a data de ARM, ACPSTº, n.º 12, fl. 27
nomeação. Em Julho de vº
1870 já está a exercer o ARM, Governo Civil, n.º 8, fl.
cargo. 229
Suspenso em 13.6.1876.
Cândido Joaquim da Silva Desconheço a data de ARM, ACPSTº, n.º 12, fl. 93
Caldeira, júnior nomeação. Em 28 de Agosto vº
de 1876 recebe o arquivo da ARM, CMPS, Vereções, n.º
administração do concelho. 6, fl. 27 e seguintes
Em 1879 continuamos a ver
a sua presença nos actos
administrativos municipais.
2009
629
Alfredo de Freitas Leal Proprietário Vice-Pres.: 1868- 400$ – 1873 Não consta
São Pedro Instrução superior 69, 1870-71 1:000$ –
Vereador: 1872- 1876
73
António Caetano Proprietário Vereador: 1876- Não consta 40$455 – 1870
Aragão Instrução 77, 1878-79 67$646 – 1872
São Pedro secundária 42$515 – 1873
61$595 – 1874
e 75
65$360 – 1876
António Joaquim Negociante Vereador: 1854- 600$ – 1846 Não consta
Marques Bastos Instrução primária 55, 1860-61 2:000$ –
Sé 1853
António José Proprietário Membro 400$ – 1846 64$880 – 1866
Gonçalves de Ornelas Instrução Comissão 600$ – 1853 66$825 – 1868
Santa Maria Maior secundária Municipal: 1846, 800$ – 1856 67$921 – 1869
1855 400$ – 1862
Vereador: 1846,
1856-57, 1858-59
António José de Proprietário Membro 400$ – 1853 Não consta
Vasconcelos Instrução Comissão
Santa Luzia secundária Municipal: 1847
Vereador: 1848-
49
António Machado Farmacêutico Vice–Pres.: 1848- 600$ – 1846 Não consta
Costa Instrução 49 1:200$ –
Sé secundária Membro 1853
Comissão
Municipal: 1847
António Pacheco Advogado Vereador: 1868- 1:000$ – 9$600 – 1866
Ribeiro Nunes Instrução superior 69 1853 21$697 – 1868
Santa Luzia 4:200$ – 21$625 – 1869
1862 23$380 – 1870
Cândido Casimiro Caixeiro // Vice–Pres.: 1876- 400$ – 1846 33$562 – 1866
Cunha Proprietário, após 77 600$ – 1853 27$184 – 1868
Santa Maria Maior 1866 Vereador: 1874- 32$538 – 1869
Instrução primária 75 32$758 – 1870
71$471 – 1875
Cândido de Freitas Negociante // Vereador: 1845 600$ – 1846 Não consta
Abreu Proprietário, após 1:000$ –
Sé 1873 1853
Instrução
secundária
Cândido Henriques de Lojista Vereador: 1868- Não consta 11$908 – 1868
Freitas Instrução primária 69, 1870-71, 6$502 – 1869
Santa Luzia 1872-73 7$142 – 1870
14$590 – 1875
2009
630 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
631
João Augusto da Silva Negociante Vereador: 1850- 400$ – 1846 49$294 – 1866
Carvalho Instrução primária 51, 1852-53, 600$ – 1853 62$382 – 1868
Sé 1856-57, 1858- 1:000$ – 23$071 – 1869
59, 1862-63 1857 31$925 – 1870
Membro 800$ – 1862 72$745 – 1875
Comissão
Municipal: 1855
João Correia Vasques Proprietário Vereador: 1858- 600$ – 1853 Não consta
Olival Instrução primária 59
Sé
João Francisco Proprietário Vereador: 1834 800$ – 1853 Não consta
Florença Pereira Instrução primária Membro 1:200$ –
Sé Comissão 1857
Municipal: 1855
João de Freitas Advogado Vereador: 1856- 600$ – 1846 Não consta
Almeida Instrução superior 57 2:000$ –
Sé Membro 1853
Comissão
Municipal: 1855
João Higino de Freitas Negociante Vereador: 1870- 300$ – 1853 44$719 – 1866
Ferraz Instrução primária 71, 1872-73 400$ – 1856 52$829 – 1868
Sé 600$ – 1857 37$269 – 1869
1:000$ – 58$769 – 1870
1862
João José de Macedo Lojista // Vereador: 1874- Não consta 21$301 – 1866
Sé Comerciante, 75 21$000 – 1868
após 1868 // 16$295 – 1869
Proprietário, após 12$800 – 1870
1873 82$028 – 1875
Instrução primária
João Lúcio de Lagos Proprietário Vereador: 1850- 1:000$ – Não consta
Teixeira Instrução primária 51, 1852-53 1846
Santa Maria Maior 800$ – 1853
400$ – 1856
João Nepomuceno Médico Vereador: 1846, 600$ – 1853 Não consta
Gomes Instrução superior 1856-57, 1860- 800$ – 1857
Sé 61, 1864-65, 600$ – 1862
1866-67
Membro
Comissão
Municipal: 1847
Joaquim Coelho Negociante // Vereador: 1854- 1:800$ – 123$737 –
Meireles Proprietário, após 55, 1860-61, 1853 1866
Sé 1868 1876-77 1:000$ – 111$006 –
Instrução primária 1856 1869
1:500$ – 120$981 –
1857 1870
1:000$ – 72$410 – 1873
1862 189$955 –
1875
2009
632 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
633
2009
634 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
635
2009
636 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
637
Categoria Sócio-
Rendimento Contribuição
Nome e Freguesia Profissional
N.º de Mandatos Anual Paga
de Residência e Grau de
(réis) (réis)
Instrução
Alexandre de Proprietário Presidente: 4:000$ – 1846 Não consta
Oliveira Instrução 1843, 1845 4:800$ – 1853
Sé secundária Vereador: 1834,
1841
Conselheiro:
1852-53
António Ferreira Proprietário Vereador: 1835 2:000$ – 1846 Não consta
Nogueira Instrução Conselheiro: 3:000$ – 1853
Sé primária 1841, 1843-44,
1845-46, 1847-
48, 1850-51,
1852-53
António Gonçalves Proprietário Presidente: 1:000$ – 1846 146$233 – 1866
Almeida Instrução 1850-51, 1852- 2:000$ – 1853 150$666 – 1868
Santa Luzia primária 53 2:400$ – 1857 145$102 – 1869
Vereador: 1843 3:000$ – 1862 56$ – 1871
Conselheiro: 92$415 – 1875
1858-59, 1860-
61, 1862-63
António João Proprietário Vice-Pres.: 1860- 600$ – 1853 106$476 – 1866
Betencourt da Silva Instrução 61, 1864-65, 800$ – 1857 120$202 – 1868
Favila primária 1866-67 1:000$ – 1862 111$834 – 1869
São Martinho Vereador: 1850- 115$005 – 1870
51, 1852-53, 151$635 – 1872
1858-59, 1862- 155$030 – 1874
63 179$740 – 1875
Conselheiro:
1872-73, 1874-
75
2009
638 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
639
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640 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Categoria Sócio-
Rendimento Contribuição
Nome e Freguesia Profissional
N.º de Mandatos Anual Paga
de Residência e Grau de
(réis) (réis)
Instrução
António Basílio Reis Proprietário e Vereador: 1843- 80$000 – 1842 6$062 – 1874
Macedo Indústria 44, 1845-46, 100$000 – 1843 6$069 – 1875
Ponta do Sol Primeiras letras 1854-55, 1856-57,180$000 – 1866
1864-65, 1866-67,280$000 – 1867
1870-71, 1872-73,180$000 – 1868
1874-75, 1878-79 280$000 – 1870
200$000 – 1876
António Félix Pita, Curador Geral Vereador: 1843-44 115$000 – 1842 Não consta
sénior dos Órfãos 100$000 – 1843
Ponta do Sol Primeiras letras
2009
641
2009
642 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
João Aires Correia Lavrador Vereador: 1847- 100$000 – 1842 1$000 – 1874
de Macedo, júnior Primeiras letras 48, 1848-49
Ribeira Brava
João Augusto Proprietário Vereador: 1870- 100$000 – 1862 6$734 – 1874
Camacho Não consta 71, 1876-77 150$000 – 1866
Canhas 200$000 – 1873
100$000 – 1875
João Evangelista de Proprietário Vereador: 1856-57 250$000 – 1854 Não consta
Abreu Não consta
Ponta do Sol
João Jacinto de Lavrador Vereador: 1876- 200$000 – 1867 8$620 – 1874
Meneses Proprietário, após 77, 1878-79 300$000 – 1872 8$260 – 1876
Ribeira Brava 1874 100$000 – 1875 11$095– 1877
Não consta 13$055– 1878
João José de Lavrador Vereador: 1839, 100$000 – 1842 1$719 – 1874
Macedo Lê e escreve mal 1841 200$000 – 1866
Ribeira Brava
Joaquim Abreu de Lavrador Vereador: 1840 50$000 – 1842 Não consta
Faria Lê e escreve mal 80$000 – 1843
Ribeira Brava
Joaquim de Freitas Proprietário e Vereador: 1847- 100$000 – 1842 Não consta
Pestana Indústria 48, 1850-51 50$000 – 1843
Ponta do Sol Primeiras letras 100$000 – 1849
José Carlos de Faria Proprietário e Vereador: 1876-77 80$000 – 1842 2$013 – 1874
e Castro Indústria 100$000 – 1843
Ponta do Sol Escreve o seu
nome
José Felício de Lavrador Vereador: 1839 100$000 – 1854 Não consta
Aguiar Não consta
Ribeira Brava
José Maria Barreto Proprietário e Vereador: 1837, 100$000 – 1842 Não consta
Ribeira Brava Indústria 1840, 1841
Lê e escreve mal
José Maria Ferreira, Proprietário e Vereador: 1854-55 50$000 – 1846 4$282 – 1874
júnior Indústria 100$000 – 1867
Ponta do Sol Lê e escreve 200$000 – 1874
Luís Vicente de Lavrador Vereador: 1840 50$000 – 1842 Não consta
Vasconcelos Escreve o seu 40$000 – 1843
Tabua nome
Manuel António de Proprietário Presidente: 1841 250$000 – 1842 Não consta
Sousa Primeiras letras Vereador: 1835, 150$000 – 1844
Ribeira Brava 1839, 1840, 1856-
57
Manuel Ferreira Pita Cirurgião Presidente: 1878- 150$000 – 1872 3$335 – 1874
Ponta do Sol Não consta 79 200$000 – 1874 7$000 – 1878
Vereador: 1876-77
Narciso Ferreira Pita Procurador do Presidente: 1834, 150$000 – 1845 Não consta
Ponta do Sol Auditório 1837
Primeiras letras e Vereador: 1838
latim
2009
643
Roque Joaquim Escrivão do Juiz Vereador: 1834, 80$000 – 1842 Não consta
Betencourt Eleito 1837 100$000 – 1843
Ponta do Sol Primeiras letras
Telesfero José Proprietário e Presidente: 1839, 100$000 – 1842 Não consta
Camacho Indústria 1840 150$000 – 1866
Tabua Primeiras letras Vice-Pres.: 1858-
59, 1860-61
Vereador: 1847-
48, 1848-49,
1850-51, 1852-53
Teodoro António de Escrivão da Presidente: 1852- 200$000 – 1845 Não consta
Freitas, sénior Câmara (1845 e 53, 1854-55
Ponta do Sol 1849)
Primeiras letras
Teodoro António de Proprietário Vice-Pres.: 1874- 180$000 – 1871 3$872 – 1874
Freitas, júnior Não consta 75, 1876-77,
Ponta do Sol 1878-79
Vereador: 1872-73
Tomás Aquino Lavrador Vereador: 1841 60$000 – 1842 Não consta
Correia Escreve o seu 50$000 – 1843
Tabua nome 100$000 – 1866
Vicente Severiano de Lavrador Vereador: 1860- 150$000 – 1862 Não consta
Meneses Proprietário, após 61, 1862-63, 200$000 – 1866
Ribeira Brava 1870 1864-65
Não consta
Viriato Vilhena de Proprietário Vereador: 1868-69 100$000 – 1865 4$521 – 1874
Lagos Não consta 150$000 – 1874
Ponta do Sol
Fonte – ARM, CMPS, Recenseamento Eleitoral: Livros n.º 351, 355, 356, 358, 360, 363, 364
Vereações: Livros n.º 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172
Categoria Sócio-
Rendimento Contribuição
Nome e Freguesia de Profissional Número de
Anual Paga
Residência e Grau de Mandatos
(réis) (réis)
Instrução
Agostinho de Sousa Eclesiástico 1843-44, 200$000 – 1844 Não consta
Brasão Estudos 1845-46,
Ponta do Sol Regulares 1850-51,
1852-53
António de Abreu Macedo Eclesiástico 1860-61 200$000 – 1860 Não consta
Serra de Água Não consta
António Feliciano de Eclesiástico 1860-61, 250$000 – 1862 5$995 – 1874
Freitas Não consta 1864-65, 320$000 – 1866 8$020 – 1877
Ponta do Sol 1868-69, 400$000 – 1867
1870-71,
1872-73
2009
644 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
645
2009
646 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
647
2009
648 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
649
Categoria
Sócio-
Nome e Local de Número de Renda Quota do Dízimo
Profissional
Residência Mandatos Anual (réis)
e Grau de
Instrução
António Manuel Lavrador Vereador: Não 10$000 – 1863
Vasconcelos Perestrelo, Proprietário, 1862-63, 1866-67 consta 8$435 – 1866, 1867,
júnior após 1866 1872-73, 1878-79 1869
Serra de Fora Instrução
primária
Basílio António Telo Lavrador Vereador: Não 12$000 – 1863
Farrobo Instrução 1839 consta 4$701 – 1866, 1867,
primária 1869
Emiliano António Telo Lavrador Vereador: Não 10$000 – 1863
Serra de Dentro Instrução 1874-75 consta 1$725 – 1866, 1867,
primária 1869
2009
650 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
Categoria Sócio-
Nome e Local de Número de Renda Quota do Dízimo
Profissional e
Residência Mandatos anual (réis)
Grau de Instrução
Anacleto António Telo Proprietário 1850-51, 1852-53 Não 16$000 – 1863
Campo de Baixo Instrução primária 1854-55, 1856-57 consta 15$752 – 1866, 67
1876-77, 1878-79 16$731 – 1869
João Augusto de Funcionário 1862-63, 1864-65 Não 2$000 – 1863
Vasconcelos Lomelino Judicial 1866-67, 1868-69 consta 17$153 – 1866
Vila Instrução primária 1870-71 15$325 – 1867, 69
João Balbino Gomes Eclesiástico 1858-59, 1860-61 Não 40$000 – 1863,
Vila Instrução 1862-63, 1866-67 consta 1866, 1867
secundária 45$000 – 1869
2009
651
Categoria Sócio-
Nome e Local de Profissional Renda Quota do Dízimo
N.º de Mandatos
Residência e Grau de Anual (réis)
Instrução
António Manuel Proprietário Vereador: 1854- Não 15$000 – 1863
Vasconcelos Gavião Instrução 55 consta 12$683 – 1866,
Campo de Cima primária Conselheiro: 1867, 1869
1850-51, 1868-69
António Manuel Proprietário Vereador: 1850- Não 14$000 – 1863
Vasconcelos Perestrelo Instrução 51 consta
Tanque primária Conselheiro:
1854-55, 1864-65
Cândido Joaquim da Proprietário Vereador: 1839, Não 40$000 – 1863
Silva Caldeira Instrução 1852-53 consta 29$418 – 1866
Campo de Baixo primária Conselheiro: 30$578 – 1867,
1841, 1842, 1850- 1869
51, 1864-65
Cândido Joaquim da Proprietário Vereador: 1862- Não 40$000 – 1863
Silva Caldeira, júnior Instrução 63 consta 45$966 – 1866, 67
Vila primária Conselheiro: 62$957 – 1869
1868-69, 1872-73,
1874-75, 1876-77,
1878-79
Domingos de Castro Proprietário Presidente: 1854- Não 12$000 – 1863
Drummond Instrução 55 consta
Barroca primária Vereador: 1834,
1843-44, 1845-46,
1852-53
Conselheiro:
1848-49, 1858-59
Estevão António Telo Proprietário Vereador: 1841, Não 18$000 – 1863
Campo de Baixo Instrução 1848-49, 1852-53 consta 7$256 – 1866
primária Conselheiro: 7$258 – 1867, 69
1856-57, 1858-59
2009
652 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
653
2009
654 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
655
Farmacêutico 2
Professor Primário 1
Professor de Liceu 1
Alfaiate 1
Fabricante 1
2009
656 Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico
2009
657
2009