Fichamento - Textos 7a, 7b

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS


DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA IV - MORFOLOGIA
DOCENTE: Prof. Dr. Ivo da Costa do Rosário

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

• A morfologia tem por objeto de estudo:


o A forma interna das palavras, ou seja, sua estrutura.
o A relação formal entre as palavras.
o Os princípios que regem a formação de novas palavras.
• Há dois tipos de significado: o significado lexical e o significado gramatical. Palavras são os
vocábulos que apresentam significado lexical, ou seja, os nomes, pronomes e verbos, além de
alguns advérbios. Os vocábulos que não são palavras são os instrumentos gramaticais, ou, na
terminologia de Camara Jr. (1979), as formas dependentes (preposições, conjunções etc.)
• Morfemas são as menores unidades formais dotadas de significado. Portanto, teoricamente, só há
morfemas quando a unidade mínima apresenta significado.
• Morfe é a realização concreta de um morfema, já que morfema é uma entidade abstrata.
• Alomorfe é a variação do morfema.
• Semantema, segundo a terminologia de alguns autores, é a parte da palavra em que se concentra o
significado lexical básico, confundindo-se com o que geralmente se denomina de raiz. Trata-se na
realidade de uma espécie de morfema, o que concentra o núcleo significativo da palavra.
• Num sentido restrito, reserva-se o termo morfema aos elementos que se opõem ao semantema.

CLASSIFICAÇÃO DOS MORFEMAS

• Várias são as classificações entre os morfemas. Uma delas os divide em:

o Morfema lexical (semantema)


▪ Constitui o núcleo semântico da palavra. É a parte comum a um grupo de palavras
aparentadas pelo vínculo de significação, ou seja, é a raiz das palavras. Ex: [caval]
nas palavras cavalo, cavalete, cavalaria etc.

o Morfema derivacional
▪ Possibilitam a criação de novas palavras a partir de uma primitiva. São os prefixos,
sufixos e infixos. Ex: [eiro] nas palavras cavaleiro, cabeleireiro, brasileiro etc.

o Morfema categórico (morfema flexional ou morfema gramatical)


▪ Indicam as flexões que as formas assumem. Nos nomes, são as desinências de
gênero e de número. Nos verbos, são as desinências modo-temporais e número-
pessoais. Ex: [a] em menina, esposa; [s] em casas, moças; [mos] em cantamos,
brindamos, etc.

o Morfemas relacionais
▪ Distinguem-se dos morfemas derivacionais e categóricos porque não são formas
presas. São vocábulos autônomos utilizados para ligar palavras (preposições,
conjunções, artigos, pronomes relativos). Ex: Falo com João; Livro de José.

o Morfema classificatório
▪ Nada acrescenta ao significado do vocábulo, mas serve para definir sua estrutura,
se nominal ou verbal. São as vogais temáticas. Ex: menino; cadeira; doente;
estudar; correr; cair.
• Pottier chama os morfemas lexicais de lexemas. Para o autor, os morfemas gramaticais são
gramemas.

MORFES E ALOMORFES
Morfe zero
• Muitas vezes um morfe deixa de estar presente na palavra. Isso não quer dizer que ele inexista,
mas sim que está ausente. Esta ausência tem uma função ou significado e, por isso, é chamada de
ausência significativa. Quando isso ocorre, costuma-se aplicar na análise o artifício do morfe zero,
convencionalmente simbolizado por Ø. Lembramos que só podemos postular a existência de um
morfe zero, se houver um outro vocábulo em oposição à forma que estamos analisando. Vejamos:

o No masculino:
▪ autor Ø x autora
▪ freguês Ø x freguesa
o No plural:
▪ tigre Ø x tigres
▪ jardim Ø x jardins

o Nas formas verbais:


▪ (tu) estud + a + va + s
▪ (ele) estud + a + va + Ø
▪ (ele) estud + a + Ø + Ø

• Nas palavras ourives, lápis, bíceps, pires etc. não é possível considerar o [s] final como indicador
do número dos substantivos, porque ele já existe no singular. Não há oposição. Nesses casos, o
mecanismo de indicação do plural é sintático, e não morfológico.
• No caso das palavras estudante, dentista, doente etc., também não é possível abstrair um morfema
indicador de gênero. Nesses casos, o gênero passa a ser identificado pelo morfema categórico dos
termos que a eles se referem.

Morfe vazio
• Serve para designar um segmento residual ao qual não corresponde nenhum significado e, por
isso, em tese não deve constituir um morfema. Entre os exemplos apresentados por Hockett
(1947), está o caso das vogais temáticas na flexão verbal. De fato, nas vogais temáticas, não
encontramos nenhuma noção ou idéia; entretanto, há controvérsias, já que podemos postular para
elas a função de indicar a que conjugação pertence o verbo.
• Outro exemplar de morfe vazio é a chamada vogal de ligação, que é uma forma vazia de
significado encontrada entre o radical e o sufixo ou entre dois radicais. Por exemplo: saudável;
passatempo. Contudo, também há controvérsias, já que há a possibilidade de incorporá-la ou ao
radical ou ao sufixo. Parece que no caso das composições, ela deve agregar-se ao radical; no caso
das derivações, deve-se agregá-la ao sufixo. A crítica feita a essa agregação é a de que esse
procedimento aumentaria muito o número de alomorfes na língua. Além disso, em alguns casos, a
chamada vogal de ligação não apresenta vacuidade semântica.

Morfe cumulativo
• O morfe cumulativo se relaciona a mais de um significado. Todas as desinências verbais
portuguesas se enquadram nesse caso, já que a desinência de modo acumula a noção de tempo, e a
desinência de número acumula a noção de pessoa.
Morfe alternante
• É o caso em que a oposição entre duas formas se verifica não em termos de acréscimo de um
segmento, mas da permuta entre dois ou mais fones. Ex: pude x pôde; fiz x fez; avô x avó; pus x pôs.

Morfes redundantes
• Quando a alternância é o único traço que opõe duas formas, pode tratar-se de um mecanismo de
flexão interna. Exemplos: avô x avó; tive x teve; fui x foi.
• No português, o que ocorre geralmente é a flexão externa, desde que para tanto se utilizem morfes
aditivos. Nesses casos, não é só a alternância que produz os contrastes, mas também as marcas
desinenciais. Por esse motivo, esses são exemplos de verdadeiros morfes redundantes. Exemplos:
poço x poços; ovo x ovos; grosso x grossos.

Morfes homônimos
• Caracterizam-se pelo fato de que a um único morfe correspondem dois ou mais morfemas
distintos. Assim, o morfe [s] tanto pode designar plural (casas, chinelos, mesas), como pode
designar a segunda pessoa do singular de vários verbos (cantas, brincas, vendes). Da mesma
forma, o morfe [a] tanto pode designar uma desinência de gênero feminino (menina, esposa,
cunhada), como pode designar a vogal temática dos verbos da primeira conjugação (brincava,
namorava, rezava).
• Em ambos os casos, verifica-se que a forma isolada não identifica o morfema. Na verdade, são
dois morfes diferentes com a mesma forma, por isso são chamados de homônimos.

Alomorfes

• O princípio da alomorfia simplifica em muito a descrição da estrutura mórfica.


• O alomorfe constitui um desvio. Portanto, em pedra e petrificar, podemos postular que o
morfema é [pedr] e o alomorfe é [petr], já que o primeiro é muito mais freqüente e regular que o
segundo, haja vista as palavras pedrada, pedraria, pedreiro, pedregulho etc. Em suma, o critério é
referente à produtividade do morfema.
• Em alguns casos, os alomorfes podem ter uma forma muito diferente do morfema dito regular.
Assim, as formas fui e vou constituem alomorfes do verbo ir.
• Pode ocorrer alomorfia:

o Na raiz: o Na vogal temática:


▪ Cabra x caprino. ▪ Vendemos x vendido
▪ Ouro x áureo. ▪ Pão x pães
▪ Noite x noturno. ▪ Belo x belaØ

o No prefixo: o Na desinência verbal:


▪ Transpassar x trasladar. ▪ Cantávamos x cantáveis
▪ Inapto x ilegal ▪ Cantais x cantastes
▪ Aposto x adjunto ▪ Cantas x cantaste

o No sufixo: o Na desinência nominal


▪ Amável x amabilidade ▪ Avô x avó. Nesse caso, /ô/ pode ser
▪ Beleza x altivez considerado alomorfe de Ø e /ó/ pode
▪ Bebedouro x lavatório ser considerado alomorfe de [a].

• Referência Bibliográfica:
MONTEIRO, José Lemos. Morfologia Portuguesa. Campinas: Pontes, 2002. (edição revista e ampliada).
Textos 7a, 7b

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